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A Glória do Seu Nome

(The Honour of His Name)

Sir Robert Anderson


(1841-1918)

PREFÁCIO
O título deste livro, que é uma citação do Salmo 66 ("Cantai a glória do seu nome"), indica não apenas o
seu assunto, mas também o seu objetivo e propósito. Devo agradecer à minha amiga Miss A. R. Habershon
por ter-me permitido o uso de sua Concordância dos nomes e títulos do Senhor. Enquanto estudiosos da
Bíblia darão valor a esse apêndice [do livro "O Senhor do Céu"], temo que ele seja negligenciado pelo leitor
comum. Aliás, estas páginas jamais precisariam ter sido escritas se o Novo Testamento não fosse tratado
também com negligência, a ponto de o Apocalipse ser considerado um apêndice dispensável aos evangelhos
e epístolas. Mesmo assim, as visões de Patmos são divinamente entregues, a fim de nos capacitarem pela
fé a contemplar o que o discípulo amado viu, ao ser "arrebatado no Espírito no dia do Senhor". Que alguns
deles não tivessem conhecimento algum de Deus foi a censura do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto. (1
Coríntios 15:34) E se ele se encontrasse conosco hoje não iria também nos acusar de falta do conhecimento
do Senhor da Glória? Pois os cristãos que aceitam a visão de abertura do Apocalipse como sendo a
revelação divina do Senhor Jesus Cristo, conforme Ele se encontra hoje entronizado no céu, não precisam
de admoestação nem de apelo para evitar toda a irreverente liberdade em nomeá-Lo, deixando, até
mesmo, de dar a impressão de ter esquecido a maneira correta de honrar Seu Nome.

CAPÍTULO 1
Durante a visita a uma casa de campo, alguns anos atrás, fui indagado a respeito dos nomes de alguns
homens a quem meus amigos não apenas pudessem dar boas vindas como hóspedes seus, mas ainda
convidá-los para um culto dominical vespertino em sua capela particular. Foi grande minha surpresa com a
maneira como eles receberam o primeiro nome que lhes apresentei. Era o de um clérigo que eu supunha
que seria uma persona grata em ambos os aspectos. Contudo, meus amigos disseram que ele já havia sido
seu hóspede. Embora eles o estimassem e gostassem dele, o clérigo havia escandalizado os seus moços,
quando começou a tratá-los pelos nomes cristãos, já no primeiro dia de sua visita. Em seguida, tendo eu
apanhado um livro seu, recentemente publicado, encontrei em todas as páginas o Senhor da Glória
mencionado pelo nome de Sua humilhação. Conhecendo pessoalmente esse homem, fiquei muito surpreso
com o seu lapso na esfera social e, mais surpreso ainda, nessa esfera mais elevada. Um cristão tão devoto
e tão reverente em tudo, pôde ser traído por um hábito que teria escandalizado e ofendido os discípulos dos
tempos antigos. Falo disso como admoestação, pois nos tempos do Novo Testamento os discípulos sempre
se identificavam pela maneira como chamavam o seu Mestre. E, como todos sabemos, o nome "Jesus"
ocorre centenas de vezes nos evangelhos. Mas isso empresta grande ênfase ao fato adicional de que
sempre que a narrativa introduz palavras ditas pelos discípulos, quer sejam dirigidas ao próprio Senhor ou a
outras pessoas a Seu respeito, Ele é sempre, invariavelmente, chamado por um título de reverência.

Nos quatro evangelhos apenas uma exceção a essa regra pode ser encontrada e com uma importância
peculiar. Refiro-me aos discípulos no caminho de Emaús, quando questionados pelo estranho que a eles se
havia juntado na caminhada: "... as que dizem respeito a Jesus Nazareno, que foi homem profeta, poderoso
em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo." (Lucas 24:19) "A Jesus Nazareno" foi a maneira
como eles O designaram. Embora a frase não contivesse qualquer elemento de desprezo, sendo o seu
propósito apenas distingui-Lo de outros homens que tinham o nome comum de Jesus, o seu uso por esses
discípulos continha um toque de censura. Não fora apenas a negação de Pedro na corte de Caifás que havia
dado uma prova evidente de que a árdua e terrível tragédia da Paixão havia anulado a fé em Seu
messianismo. "Nós esperávamos que fosse ele que remisse Israel" (v. 21) foi o seu triste lamento. Eles O
haviam exaltado como o Cristo e haviam aprendido a adorá-Lo como o Filho de Deus. Mas tudo aquilo havia
agora se desvanecido, pois eles O viram ser crucificado como um criminoso comum e três dias haviam se
passado "desde que essas coisas aconteceram." (v. 21)

Nestes nossos dias de mente liberal, os judeus cultos O consideram o maior dos seus rabinos e, do mesmo
modo, aqueles discípulos ainda respeitavam Sua memória como "homem profeta, poderosos em obras." (v.
19) Contudo Ele era apenas um homem - Apenas "Jesus Nazareno". E não era dessa maneira que eles O
tratavam, enquanto Ele era ainda vivo e presente.
A significação desta narrativa se torna vibrante, se verificarmos que o escritor se encontrava na companhia
de Cléopas. E se questões desse tipo foram fixadas sobre bases de evidência, poderiam se admitidas.
Vamos colocar as coisas dessa maneira. Suponhamos que os eventos registrados no capítulo tivessem
envolvido alguma violação à lei romana, porventura o evangelista não teria o exato conhecimento dos
incidentes e os teria considerado como prova de Sua culpa? Em verdade, o cristão poderia garantir que o
Espírito Santo poderia inspirar esse registro, até mesmo se o escritor não tivesse um conhecimento pessoal
dos fatos. Mas o cristão também reconhece que nesta, bem como em outras esferas, Deus tem-se
habituado a "fazer uso dos meios". E na ausência de tudo que possa sugerir uma conclusão diferente,
devemos admitir confiantemente que o escritor foi um dos que estiveram informados de tudo sobre o que
ele escreveu, desde o princípio. (Lucas 1:3) Isso explica uma aparente dificuldade. Nós, alegremente,
trocaríamos muitas páginas dos escritos sagrados pelo mais leve resumo desse maravilhoso ensino do
caminho de Emaús, quando o Senhor, "começando por Moisés, e por todos os profetas explicava-lhes o que
dele se achava em todas as Escrituras." (v. 24) Não teria sido isso um desperdício, conforme diriam os
homens, com dois discípulos, dos quais um, como sabemos, nada tinha de importante e o outro, por
hipótese, era tão insignificante que nem mesmo o seu nome foi registrado? Contudo, se o segundo discípulo
foi o evangelista, a supressão do seu nome dispensa explicação. E o que é de maior importância é que
podemos entender o profundo conteúdo da narrativa. Todos os maravilhosos incidentes permanecem como
clara ajuda na parte do seu treinamento para a obra que ele estava destinado a executar. Pois se ele não
fosse divinamente escolhido, como poderia ter compartilhado com o grande Apóstolo aos Gentios a
autoridade de quase metade dos escritos do Novo Testamento e ter-se tornado ainda o seu principal auxiliar
e companheiro no ministério de muitas facetas?

Essa digressão foi sugerida pelo modo como esses discípulos chamavam o seu Mestre. Os membros da
família real não falam do soberano usando nomes cristãos, contudo falamos desse modo sobre os reis que
já faleceram. E, se analisarmos nossos pensamentos, talvez possamos descobrir que quando falamos de
"Jesus" não estamos pensando em nosso Senhor vivo, o qual escuta nossas palavras e diante de quem
iremos comparecer em breve, mas do grande Mestre que viveu e morreu há dezenove séculos.

Quão longe isso está do extraordinário fato de que, mesmo nos dias de Sua humilhação, os cristãos jamais
O nomearam sem algum título de reverência e, contudo, neste tempo de Sua exaltação e glória, eles
costumam fazer isso tão habitualmente? Isso costuma acontecer com os cristãos meramente nominais e em
todas as classes de cristãos racionalistas, os quais tanto contribuem com a nossa literatura "cristã".
Contudo, alguma explicação adicional deve ser buscada para o fato de que entre os cristãos devotos
prevalece essa prática, sem qualquer respaldo escriturístico, a qual, repito, teria chocado os discípulos no
tempo do Novo Testamento. Os racionalistas podem, talvez, objetar que, como um rabino judeu, Ele nunca
era chamado pelo Seu próprio nome e como a palavra grega para "Senhor" tem, algumas vezes, a mesma
conotação de "Sir" em inglês, seria de esperar que Cristo fosse chamado "Mestre e Senhor". Mesmo assim,
nenhum cristão deve cair na ilusão de que na boca dos Seus discípulos o uso desses títulos expressava
simplesmente uma convencional cortesia, à qual Ele fazia jus, até mesmo dos judeus incrédulos. Este seria
um fundamento trivial para o ensino sobre o qual Ele se embasou na solenidade da última ceia. Nem
contaria com as calorosas palavras de aprovação, com as quais Ele elogiou os seus discípulos pelo uso das
mesmas.

É verdade que, em razão da superstição judaica, que proibia o uso do nome "YAHWEH", a língua grega não
possuía um vocábulo que equivalesse à palavra "Senhor", como um título de Divindade. Mas não se pode
ter dúvida quanto à significação da palavra kyrios, entre os que O aclamavam como "o Cristo, o Filho do
Deus vivo", confissão que separava o discípulo do incrédulo. E, à medida em que estudamos os escritos dos
apóstolos, devemos nos lembrar que ao longo da versão Septuaginta do Velho Testamento, sobre a qual a
língua do Novo Testamento é formada, essa mesma palavra kyrios é usada em cada ocorrência no grego,
como o equivalente a "YAHWEH" na Bíblia Hebraica.

CAPÍTULO 2
Uma conversa durante uma viagem de trem à Escócia há muitos anos, chamou minha atenção de um modo
muito especial para o assunto destas páginas. Eu estava dividindo a cabine com um cavalheiro e sua
mulher, ambos estranhos para mim. E, conforme nossos hábitos ingleses, nem uma palavra foi trocada
entre nós durante várias horas. Mas quase chegando ao fim de nossa viagem, aconteceu um incidente que,
não apenas nos levou a conversar, mas até levou o meu companheiro de viagem a declinar o seu nome. Foi
interessante descobrir que ele era um editor muito conhecido. Quando terminamos o assunto que o fizera
dirigir-se a mim, nossa conversa tomou um rumo diferente e ele fez algumas observações desagradáveis
sobre os cristãos. Sua amargura contra estes era pelo fato de que eles costumavam usar nomes sagrados, a
fim de tornarem mais atraentes os títulos de seus livros. Citou uma porção de exemplos nesse caso. E
quando os desculpei, dizendo que um título era um meio de indicar o caráter e conteúdo de um livro, ele
explicou que, do ponto de vista de um livreiro, essa era a marca registrada a ser usada em todo o país. Ele
ilustrou suas palavras, dizendo que, ao visitar uma certa firma publicadora em Londres, ouviu um
funcionário dirigir-se a outro colega na mesma seção, que estava arrumando livros em uma prateleira
assim: "Jogue para mim um 'Sangue de Jesus!'

As palavras me cortaram como uma lâmina afiada. O autor do citado livro era conhecido como um ministro
cristão devoto e reverente, e eu jamais havia observado a profanação desse título. A partir daquele dia,
todos os títulos dessa espécie passaram a me aborrecer. Então, admitindo para nós o lamento divino por
causa da apostasia de Israel, os cristãos que não pesquisam a Palavra de Deus "são gente falta de
conselhos, e neles não há entendimento." (Deuteronômio 32:28).

Se pelo menos os cristãos considerassem este assunto, evitariam uma prática que teria chocado os
discípulos, nos tempos antigos. Contudo, a verdade é que alguns, cujo uso do nome "Jesus" é habitual,
estão completamente alheios a uma intenção irreverente; mas o mal é operado pelo desejo do coração. O
Rev. A. T. Pierson foi um dos homens mais intensamente reverentes que conheci. Quando no fim de uma
palestra, no antigo Exeter Hall, ele veio me cumprimentar, agradeci-lhe cordialmente a edificação que suas
palavras me haviam trazido, mas acrescentei: "Houve um deslize. Por que o amigo nomeia o Senhor
conforme a maneira dos judeus exorcistas de Atos 19?" Ele respondeu: "Isso é culpa do treinamento
teológico que recebi... Por isso, continue chamando minha atenção".

De fato, o treinamento teológico tem sido censurável no que diz respeito a esse hábito deplorável. Pois não
apenas toda a teologia da cristandade tem sido influenciada pelos escritos dos Pais mas, sobretudo, porque
nossas obras teológicas estão levedadas pelo ceticismo alemão. De fato, os modernos "dicionários" e
"enciclopédias" bíblicos são essencialmente racionalistas e o tratamento correto ao Senhor Jesus Cristo
raramente é encontrado em suas páginas, onde lemos sempre "Jesus" ou "Jesus Cristo". E isso acontece até
mesmo com autores cuidadosos no sentido de prefixar o nome dos apóstolos com o título de "São".

Se os apóstolos voltassem à terra, não iriam apreciar uma honra a eles conferida pela Igreja dos papas
carniceiros, que abençoaram as torturas da Inquisição e os massacres, como o da noite de São Bartolomeu.
Uma honra, além do mais, que eles compartilhavam com esses criminosos, mas que é negada aos santos
mártires da Reforma. Como o uso profanamente familiar do nome do Senhor é tão comum, nunca se torna
agradável censurar qualquer ofensor em particular. Mas, para ilustrar o mal, atrevo-me a citar o seguinte
excerto de uma "Circular do Editor". O livro ao qual ela se refere não é a obra de um incrédulo, mas de um
clérigo, o capelão examinador de um bispo inglês e seu confrade na faculdade teológica. Diz a circular: "É
forçoso responder à questão sobre qual tipo de pessoa S. Marcos ou o seu informante S. Pedro achavam ser
Jesus?’ Sob os títulos de ‘A Família e os Amigos de Jesus’; ‘Modo de Vida de Jesus’; ‘Mente de Jesus’; ‘Visão
Social de Jesus’; ‘Moralidade de Jesus’ e ‘Religião de Jesus’, ele chega ao assunto final do ‘Próprio Jesus’’".

Sempre se usam "S. Marcos" e "S. Pedro", mas simplesmente "Jesus". Não fica evidente que esse "Jesus" é
o Buda racionalista? Ninguém deveria falar desse modo sobre o "nosso Deus e grande Salvador", o Senhor
Jesus Cristo, diante de cujo Trono do Julgamento todos deveremos comparecer. Certamente, a prevalência
da literatura racionalista, falsamente se autodenominando cristã, é a razão definitiva para que um escritor
cristão declare sua fé pela maneira como nomeia o Senhor. Uma olhada nas páginas de um livro poderia
possibilitar, pelo menos ao leitor instruído, julgar se o autor do mesmo é um crente no Senhor Jesus Cristo,
ou apenas um seguidor do "Jesus" dos críticos.

Pois o "Jesus" dos críticos não é o Cristo de Deus. O Senhor se esvaziou de Si mesmo, a ponto de abrir mão
de Sua liberdade, até mesmo como homem, e jamais falou, a não ser as palavras que recebeu do Pai,
conforme declarou aos judeus: "Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele
me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar." (João 12:49) Então foi assim que
Ele renunciou ao conhecimento que não provinha do Pai, isso porque Suas palavras eram eternas: "Passará
o céu e a terra mas as minhas palavras não passarão" (Marcos 13:31) foi Sua solene declaração. E serão
julgados, pela Palavra, todos os que rejeitam as Suas palavras (João 12:48), quer sejam pecadores
comuns, os dos púlpitos, ou os assentados na "cadeira de Cristo".

Assim era o Cristo de Deus. Mas o que dizer do "Cristo" dos críticos? Aqui temos suas próprias palavras:
"Tanto Cristo como os apóstolos e escritores do Novo Testamento mantinham as noções judaicas da época
com respeito à autoridade e revelação divina do Velho Testamento". Numa palavra, o "Jesus" dessa gente
era um ignorante entusiasta e vitima dos erros judaicos que Ele erroneamente aceitava como a verdade
divina, que Ele impôs aos Seus seguidores, numa linguagem de tremenda solenidade. O que é verdade para
os criminosos não é menos verdadeiro para os hereges. Eles conseguem, com um ou outro descuido se
livrarem e a teoria da kenosis dos críticos nos faz lembrar dos artifícios pelos quais os marginais tentam
ludibriar a polícia! Pois esses professores racionalistas e contraventores ignoram até mesmo o que uma
criança da Escola Dominical deveria saber, que após a Ressurreição, quando o Senhor ficou liberto de todas
as limitações de Sua humilhação, Ele adotou e repetiu o Seu ensino anterior sobre o Velho Testamento. E o
relato acrescenta: "Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras." (Lucas 24:45) No
Novo Testamento esse ensino é compreendido sob a égide do Espírito Santo, mas os críticos detectaram
isso e começaram a dizer que ele é falso. Não é de admirar, portanto, que o Buda dessa gente seja apenas
"Jesus", o Rabino, o qual, mesmo sendo admitido como superior a todos eles, moral e espiritualmente, não
era tão inteligente nem tão bem informado.

(Nota: Este não é o único ponto em que os críticos mostram a sua ignorância. Até seria de esperar que
uma criança pudesse observar isso em Marcos 13:32 (o texto no qual eles se apóiam no sentido de
respaldar a sua teoria do kenosis) de que não foi como homem, que o Senhor demonstrou não saber o
tempo do Seu grande Advento público, mas como o Filho de Deus. O problema aqui não é entre o homem e
Deus, mas entre o Filho e o Pai.)

CAPÍTULO 3
Devemos manter, conforme nos sugerem os capítulos anteriores, que o cristão é aquele que crê no Senhor
Jesus Cristo? Uma conclusão por demais surpreendente é esta, pois enfurece o "espírito da época". Num
simples piscar de olhos põe de lado o limite, não apenas na massa daqueles que professam "ser e se
autodenominam cristãos", mas ainda sobre uma grande minoria dos que ocupam diariamente os púlpitos
cristãos. Marquem bem as palavras: "Quem crê em Jesus Cristo" e não no "Jesus histórico", o Buda de 19
séculos atrás, mas no Senhor vivo, que morreu pelos nossos pecados, reina agora no céu e voltará em
glória.

O professor Harmack escreve: "É importante lembrar à humanidade que um homem chamado Jesus Cristo
esteve um dia no meio dela". Contudo isso é um anacronismo. Pois a cega e estúpida incredulidade, que se
recusou a crer no "Jesus histórico", era a que pertencia a uma época menos esclarecida que a nossa. Hoje o
incrédulo apela, tão confiantemente quanto o cristão, ao exemplo daquela vida inigualável.

O Senhor Jesus declarou com grande solenidade que todo aquele que nEle crê tem a vida eterna. Quando
pronunciou essas palavras, como homem no meio dos homens, não estava tentando convencer os ouvintes
de que não era um fantasma ou um "espírito"! Seu propósito era ensinar que ali estava o Filho de Deus, o
Messias, sobre quem Moisés e os profetas escreveram. Entre os que participaram no hediondo crime do
Calvário havia alguns que, como Nicodemos, criam Nele como "um mestre vindo de Deus" e mesmo assim
O crucificaram por blasfêmia, porque, "sendo homem, Ele se fazia como Cristo, o Filho de Deus". A
aceitação dessa afirmação pelos Seus discípulos incluía uma fé outorgada por Deus. Tanto que a confissão
de Pedro O levou a dizer: "Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o
sangue, mas meu Pai, que está nos céus." (Mateus 16:17) Isso explica a declaração do apóstolo João:
"Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé."
(1 João 5:4)

Mas tudo isso, repito, ofende o "espírito da época". Afirmar que a graça divina é necessária para nos
capacitar a crer é considerado um insulto à dignidade humana! Ora, não somos todos filhos de Deus? A
tolice caracteriza a heresia. A licença poética nos leva a descrever-nos como filhos de Adão, visto como
somos seus remotos descendentes. Contudo, exceto numa acepção puramente figurada da expressão, nem
mesmo Adão era filho de Deus! Ele era Sua criatura. A humanidade foi gerada, não a partir do Adão
inocente do Éden, mas do Adão decaído, que dali fora expulso. Então qual o sentido aqui de pretendermos
ser filhos de Deus? Ora, mas o apóstolo não disse aos pagãos de Atenas que eles eram "geração de Deus?"
(Atos 17:28) Não! Claro que não! Para resgatá-los de sua idolatria, Paulo citou as palavras do próprio poeta
grego, de um hino composto em louvor a Júpiter: "Pois dele somos geração, o seu genos". A questão não é
o que a mente predisposta possa ler aqui, mas o que o locutor quis dizer e o que os seus ouvintes
entenderam. Será que alguns deles imaginaram que o apóstolo era um filho de Júpiter? Se o objetivo do
apóstolo fosse ensinar-lhes que eles eram filhos do Deus que fez o céu e a terra, teria ele citado o ensino de
uma divindade pagã? O apelo do apóstolo à sua literatura clássica teve o propósito de censurá-los,
mostrando que Deus nada tinha a ver com os seus ídolos mortos, "dignificados na arte e na contravenção
humana". O argumento teria sido igualmente válido se ele tivesse apontado à criação inferior. O Deus, cujas
criaturas têm vida, tem de ser um Deus vivo. Cada um de nós é filho dos pais que nos geraram e de
ninguém mais podemos ser filhos. O crente no Senhor Jesus Cristo torna-se filho de Deus por que foi
gerado de Deus: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos
que crêem no seu nome." (João 1:12) E aos que foram gerados de Deus ele diz, no verso 13: "Os quais não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." O cristão nasce
duas vezes; uma vez como filho de pai biológico e, no Espírito, como filho de Deus. A Escritura é enfática e
explícita em que os dois nascimentos são totalmente distintos. Como disse o próprio Senhor Jesus Cristo:
"O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito." (João 3:6) Ao mesmo tempo,
Suas terríveis palavras dirigidas aos judeus que estavam tramando Sua morte foram estas: "Vós tendes por
pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai." (João 8:44) E, se alguém ainda acha que essas
palavras não são definitivas, vamos repeti-las: "os que são da carne não são filhos de Deus". Poderia uma
declaração vetar mais claramente a ilusão de que todos os homens são, por natureza, filhos de Deus?

A manutenção desta verdade sobre o assunto principal destas páginas deve ser bem clara para os
inteligentes. Começamos, por assim dizer, a rebaixar a relação de "filho de Deus" como não tendo esta
qualquer significação. Então, quando tomamos "filhos de Deus" como um sinônimo para "crianças de Deus",
somos tentados a aceitar o culto da "irmandade de Jesus". E logo suprimos o incrédulo com o colorido
pretexto de rebaixar o Senhor da Glória ao nível comum da humanidade - blasfêmia que chega ao ápice na
declaração: "Ora, se Jesus era Deus, nós também somos deuses".

Em Sua infinita graça, o Filho de Deus não se envergonha de nos chamar irmãos, "Dizendo: Anunciarei o
teu nome a meus irmãos, cantar-te-ei louvores no meio da congregação." (Hebreus 2:12). Contudo, esse
"nós" não pertence à raça adâmica, mas aos que "são santificados" (v. 11) A resposta de cada coração
conquistado por essa graça é chamá-Lo sempre de Senhor. Temos o mesmo Pai e o mesmo Deus, mas nas
próprias palavras com que Ele nos ensina a proximidade dessa relação, também proíbe a inferência que o
homem carnal poderia dela retirar. E disse a Maria Madalena: "... vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu
subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus." (João 20:17)

Em português, a palavra "filho" significa "filho homem". Claro que ela foi usada algumas vezes no Novo
Testamento com esse sentido. Por exemplo, quando lemos que Tiago e João eram filhos de Zebedeu. Mas
na Escritura, como geralmente entre os orientais, ela tem um sentido mais profundo, como quando o
Senhor chama Tiago e João de "filhos de trovão". Do mesmo modo, José foi renomeado de "filho da
consolação", assim como os não convertidos ao Senhor são chamados "filhos da desobediência". Nessa e
em inúmeras outras passagens, a palavra tem a conotação do caráter e da natureza, sem qualquer idéia de
"geração". Contudo, os tradutores da Bíblia inglesa ignoraram a distinção entre "son" e "child" e nas várias
passagens em que essas palavras ocorrem, uma referência ao grego, ou até mesmo à Edição Revisada,
provará ser tão interessante quanto instrutiva. Ela nos conduzirá, por exemplo, à descoberta muito curiosa
de que na Escritura os cristãos, como tais, nunca são chamados de filhos de Deus, conforme a citação:
"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu
nome." (João 1:12), porém "os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus." (Romanos
8:14) E, como todo cristão deve saber, a Filiação do Senhor Jesus Cristo é absolutamente exclusiva, por ser
essencial e eterna. A tradução de João 3:16 e passagens semelhantes, em ambas as versões da Bíblia
inglesa, sugere um duplo erro. Ela nega implicitamente a verdade que todo crente é gerado de Deus,
afirmando, implicitamente, que a Filiação de Cristo depende de um ato de "geração". Se tal acontecesse, o
Filho deveria ter um princípio, deixando de ser eterno e, então, não poderia reivindicar Sua Divindade. Foi
esse o argumento de Ário e sua lógica é inexorável. Mas, conquanto a palavra grega aqui empregada -
monogenes - tenha a significação de "unigênito" não é exatamente essa a sua significação. Em cinco das
nove ocorrências no Novo Testamento, ela é usada para Cristo. Em três, significa "filho único" (Lucas 7:12;
8:42 e 9:38); na nona (Hebreus 11:17) ela se refere a Isaque. Ora, Isaque não era o filho "unigênito" de
Abraão, mas o seu preferido. Merece uma observação que a palavra darling (predileto) no inglês é usada
para Cristo, pelos nossos tradutores, nos Salmos 22:20 e 35:17, onde o vocábulo grego monogenes
representa o termo hebraico para "predileção". Em seis das doze ocorrências dessa palavra na Bíblia
hebraica, a versão grega diz "amado", a palavra exata pela qual o Senhor Jesus foi exaltado do céu, após
Seu batismo, e outra vez no Monte Santo. Nestas passagens a palavra only (único) foi usada pelos
tradutores ingleses da Bíblia.

É fato de vital importância que a palavra begotten (gerado) jamais seja usada referindo-se ao Senhor,
exceto em Sua Ressurreição. Pois nem o Seu título de "Filho de Deus", nem também o de "Filho do Homem"
dependem do Seu nascimento virginal. Exatamente como por "Filho do Homem", Ele declarou ser homem,
no mais alto e absoluto sentido, do mesmo modo, ao declarar ser "Filho de Deus", reivindicou Sua
Divindade. Foi essa a significação dada pelos que ouviram os Seus ensinos. Seus discípulos assim
entenderam, tendo-O adorado como Deus. E os que se recusaram a nEle crer, também o entenderam e por
isso O crucificaram como blasfemador.

(Nota: - Os parágrafos acima estão embasados no livro O Senhor do Céu, no qual este assunto é
cabalmente discutido em seus vários aspectos, e as Escrituras relativas ao mesmo são citadas e
consideradas, incluindo as passagens nas quais a palavra "primogênito" é usada para Cristo.)

CAPÍTULO 4
É a circunstância peculiar dos nossos próprios dias que mostra, tanto a necessidade como a urgência a um
apelo e protesto neste presente volume. E essa consideração pode pesar a qualquer um que se ressinta
contra o que possa parecer que estamos lançando calúnia sobre os escritos de homens devotos e
espirituais, nestes dias em que a incredulidade se coloca tão afastada do pensamento cristão. Um jornal
incrédulo gloriou-se, recentemente, de que tudo pelo que Thomas Paine foi perseguido é publicamente
pregado nos púlpitos cristãos pelos descendentes dos homens que o perseguiram. É a pura verdade. E o
curso de profanação da "Nova Teologia" não é tão perigoso como a promulgação de suas blasfêmias por
homens de cultura e sentimentos cavalheirescos.

Para ilustrar essas palavras vou dar o resumo de um sermão pregado no dia de Natal, em uma das mais
importantes igrejas de Londres. Estou fazendo isso, não para criticar um clérigo em particular, mas para
indicar o que está sendo ensinado agora em alguns seminários teológicos e pregado em alguns púlpitos em
nosso país.

"Os relatos do nascimento, inclusive no primeiro e terceiro Evangelhos Sinóticos, não parecem ter
pertencido à mais antiga tradição sobre o Salvador... O evangelho que os apóstolos pregavam não incluía
qualquer história sobre o nascimento de Jesus. Essas narrativas ficavam à parte, sem qualquer relação
perceptível com o restante do Novo Testamento... Os cristãos do segundo século não foram capazes de
aplicar às tradições mistas, que haviam recebido da era apostólica, aquelas leis da evidência, que hoje
receberam a adesão dos estudiosos históricos, de que a Divindade de Jesus não recebeu e nem carece
agora de um dogma quanto ao Seu nascimento miraculoso."

Isso é bastante para indicar o conteúdo do sermão, ou seja, a negação do "nascimento virginal". A objeção
de que a pregação dos apóstolos não incluía essa verdade é extraordinária. A ressurreição foi o fato público
ao qual os apóstolos puderam apelar e do qual eles foram testemunhas oculares. Mas achar que eles
deveriam ter testemunhado pessoalmente, também, a virgindade de Maria é um grotesco absurdo! Se,
como esse pregador implicitamente afirmou no sermão, esse fato básico, do qual a verdade da Encarnação
é inseparável, não é um fato consumado, mas apenas ficção, o Nazareno ainda pode reivindicar nossa
homenagem como o melhor e o mais nobre dos homens; mas adorá-Lo como Divino é rotular-nos de
idólatras e tolos. Em apoio a essa heresia, o pregador apelou às "leis da evidência", as quais deveriam ser
deixadas, de preferência, àqueles que têm experiência prática com elas. A não ser que as narrativas dos
evangelhos sejam totalmente indignas de crédito, e até mesmo de registro humano, é tão certo, como o
testemunho humano pode oferecer, que o primogênito de Maria não era filho do seu marido. E que isso era
do conhecimento geral dos judeus, testemunha a injúria com que eles receberam a recusa do Senhor de
reconhecê-los como filhos de Abraão. Se, portanto, o Nazareno não fosse o Filho de Deus, no sentido em
que a fé cristã o mantém, ele seria um rejeitado da espúria classe à qual a lei de Deus negava o direito de
cidadania na comunidade de Israel. Se essa história do "nascimento virginal" fosse ficção, o incrédulo
poderia assumir facilmente que ela foi inventada para camuflar a vergonhosa circunstância da origem do
Senhor. E se o Nazareno não fosse o Filho de Deus, o Senhor da Glória, que significado teria a expiação?
Bem poderíamos exclamar:

A árvore do conhecimento agora


dá a sua última colheita frutífera!
Agora o cego conduz o cego
e o homem se torna Deus!
A cruz está fora de moda
e o grande sepulcro
é apenas uma tumba hebraica,
pois Cristo morreu em vão!
O Cristo das eras passadas
já não é mais o Cristo.
O altar e o fogo se evadiram
e a vítima é apenas um sonho!

"O Senhor da Glória" é um dos Seus títulos divinos. Como escreveu o inspirado apóstolo, os líderes
ignorantes da sabedoria divina, "crucificaram ao Senhor da Glória". (1 Coríntios 2:8) Contudo, se o cético
cristianizado está certo, o homem que eles crucificaram era apenas um filho de judeu que, de modo
profano, reivindicava honra divina. Portanto, ao conduzi-Lo à morte, eles estavam simplesmente
obedecendo ao mais claro dos mandamentos da lei de Deus.

Então, repito a pergunta: O que significa a expiação? O total incrédulo encara essa questão com audácia e
exige: "O que a morte de Jesus efetuou de modo oculto, a fim de tornar possível que Deus nos perdoe?" E
aqui temos a sua resposta: "Nada demais e nada que fosse necessário... Pois Jesus era filho de José e Maria
e não existe essa história de castigo, Dia do Julgamento, Grande Trono Branco e nem um Juiz que vai julgar
a nós todos!" [Eles também poderiam acrescentar: "A Bíblia é um livro repleto de lendas, nada mais"!]

Isso seria tão consistente quanto inteligível. Pois nenhuma pessoa, cuja mente não esteja cega e crivada de
superstições religiosas, poderia tolerar a ilusão que a morte de um carpinteiro judeu pudesse influenciar de
algum modo nossas atuais relações com Deus, ou o nosso destino futuro. O incrédulo se norteia e
permanece fiel à razão humana. A fé cristã repousa sobre a revelação divina. Uma posição, efetivamente, é
tão inatacável quanto a outra. Porém... "Com tantos conhecimentos do lado dos céticos e com tanta
fraqueza pelo orgulho dos estóicos, o cético cristianizado fica suspenso entre ambos."

Ao citar o sermão de Natal, não tive a intenção de atacar o indivíduo. O pregador é um representante
excepcionalmente considerado de uma classe ampla e crescente de professores religiosos, os quais estão
usando os púlpitos cristãos para espalhar amplamente a incredulidade neste país. Foi, portanto, com o
objetivo de fortalecer o meu apelo aos cristãos espirituais que citei, para que diante da apostasia em franco
desenvolvimento nos dias atuais, eles evitem o hábito prevalecente de nomear o Senhor da Glória com uma
familiaridade não permitida pelas Escrituras e, assim, em cada citação do Seu Nome, esses cristãos possam
dar prova que pertencem ao número dos que O têm como Senhor e honram o Seu Nome.

Tendo respeito à solene declaração de irrestrita crença na Escritura Sagrada, que é exigida do candidato à
ordenação, à linguagem do credo que o clérigo repete continuamente e aos ensinos doutrinários com os
quais ele publicamente concorda, para receber o benefício de uma prebenda, sermões como o supracitado
parecem indicar que a moralidade clerical é diferente daquela que conduz os homens honrados no centro
financeiro e nos clubes londrinos. Cincoenta anos atrás, um sermão como esse teria recebido um feroz
protesto de indignação, mas hoje em dia passa totalmente despercebido.

CAPÍTULO 5
No início de minha vida cristã, privei da amizade de um ilustre teólogo daquele tempo e, certa vez, pedi que
me explicasse qual seria a melhor maneira de lidar com as diferenças entre as epístolas do Novo
Testamento e os escritos dos Pais. Ele era muito paciente ao tratar com minhas dificuldades, por isso fiquei
aguardando uma resposta elaborada. Contudo, após uma pausa, ele me indagou abruptamente se eu já
havia estudado a Teologia Patrística. Quando respondi negativamente, ele acrescentou: "Depois que você
ler algumas das melhores obras, então vou discutir com você". Assumi a tarefa que ele me impôs e o
resultado é que não precisei perturbá-lo novamente. As melhores obras dos pais são, de fato, uma herança
inestimável, porém um golfo as separa das Escrituras inspiradas.

Tendo em mente que dentro de dois anos de êxodo a "igreja judaica" apostatou de Deus, não precisamos
nos admirar de que a "igreja cristã" tenha resvalado seriamente da fé, em apenas dois séculos após o
Pentecostes. E quando cessou a árdua disciplina da perseguição, a decadência se tornou mais acentuada.
De fato, os erros que deploramos na apostasia totalmente desenvolvida da cristandade é fruto da semente
plantada pelos escritos patrísticos. E quando comparamos "os pais" com os apóstolos, não podemos deixar
de ver a que extensão o "Jesus" da "religião cristã" já estava suplantando o Senhor vivo da verdadeira fé
cristã. E o "religioso cristão" que levar em conta a igreja patrística, como corte de apelação em todas as
questões de fé e prática, irá encontrar motivo suficiente para nomear o Senhor Jesus Cristo da maneira
comum dos cristãos da atualidade. Mas todos os cristãos que se orientam apenas pelas Sagradas Escrituras
acatarão uma admoestação e protesto contra essa prática desconhecida nos tempos do Novo Testamento.

(Nota: Um exemplo ilustrativo explicará o que quero dizer. Os evangelistas contam que na última ceia
"Jesus tomou o pão". Mas em 1 Coríntios 11:23 lemos "O Senhor Jesus tomou o pão" e vejam que a
declaração do apóstolo é que ele recebeu esta fórmula do próprio Senhor.)

"O moderno uso familiar do nome simples 'Jesus' tem pouca autoridade no uso apostólico". Se substituirmos
o "pouco" por "nenhum" estaremos falando a pura verdade. Com um exame das várias passagens em que o
"nome simples" ocorre nas epístolas, veremos claramente que o uso moderno não tem qualquer respaldo
apostólico. Uma olhada na Concordância vai indicar que essa tarefa não é tão laboriosa. Pois embora nos
evangelhos as ocorrências do "nome simples" possam chegar a centenas, as passagens em que ele é usado
nas epístolas são apenas algumas. E aqui outro fato surpreendente nos chama a atenção. Nos evangelhos,
as narrativas que mencionam Cristo, sempre o fazem segundo o nome de Sua humilhação, mas isso nunca
acontece nas epístolas. Como pode acontecer isso? Se a ordem cronológica dos escritos do Novo
Testamento fosse diferente, e uma porção de anos tivesse separado as epístolas dos evangelhos, uma
explicação óbvia poderia ser sugerida. Mas em vista dos fatos conhecidos, devemos procurar uma solução
de outro tipo. E se a solução seguinte for rejeitada, o enigma deve continuar sem solução. Como todos os
que adoram o Homem de Belém e Nazaré como sendo o Filho de Deus, certamente deve parecer
inacreditável que Deus não tivesse feito provisão no sentido de que possuíssemos um registro exato da
missão e ministério do Senhor na terra. E esse tipo de provisão, que é chamado "Providência", seria
totalmente inadequado em se tratando dos evangelhos. Uma prova cabal disso necessitaria de um tratado,
porém até mesmo algumas sentenças podem ser suficientes. Seus autores têm compartilhado o mesmo
ensino. E o seu íntimo acompanhamento durante todo o Seu ministério continuou após a Ressurreição.
Como, então, podemos dar conta das extraordinárias diferenças que caracterizam os Seus evangelhos,
diferenças que o racionalista aponta como prova de que estes são desesperadamente conflitantes? O
Primeiro Evangelho - Mateus - começa com a genealogia do Senhor, como sendo filho de Abraão e filho de
Davi - os recipientes das duas grandes Alianças de bênçãos e da soberania terrena de Israel - e prossegue
dando particularidades sobre Seu nascimento e infância. E ao lidar com essa abertura, o grosso do livro, da
primeira até a última página, trata da apresentação de Cristo como o Messias de Israel. Em contraste com
este, o Quarto Evangelho começa com a declaração: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus,
e o Verbo era Deus." (João 1:1) E em lugar de uma narrativa sobre o crescimento do Salvador, lemos: "E o
Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de
graça e de verdade." (v. 14) E a única referência especial à missão do Senhor a Israel é encontrada nas
palavras: "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam." (v. 11)

Não é que o apóstolo João não tivesse conhecimento dos detalhes apresentados nos dois primeiros capítulos
de Mateus. Pelo contrário, ele devia ter um conhecimento mais completo destes do que os demais
evangelistas. Afinal, foi com ele que, após a crucificação, a mãe do Senhor encontrou um lar. Dos lábios
dela ele deve ter ouvido, sempre e sempre repetido, tudo que um coração materno poderia recordar sobre o
nascimento sagrado em Belém e a não menos santificada vida do Senhor em Nazaré. Contudo, nem uma só
palavra a respeito disso nos é dada nesse Evangelho. Embora ele tenha sido o único dos evangelistas a
testemunhar a transfiguração, o registro da mesma não aparece, sendo o único a não conter esse relato.
Não são esses os únicos exemplos de um silêncio tão extraordinário em seu evangelho, mas esses nos
bastam para o objetivo atual. Qual a explicação que poderia ser dada para isso?

"Ponha-se no lugar dele" é um desafio que gentilmente lançamos àqueles que zombam da inspiração.
Poderia um homem possuidor de tão especial conhecimento sobre um assunto de tão extraordinário
interesse escrever um tratado a ele relacionado sem fazer a mais leve menção dos detalhes extremamente
importantes e de modo peculiar, dele próprio? Uma inspiração tão limitada que significa nada mais além da
razão humana agindo sob direção providencial, não adianta nada aqui. A não ser que os evangelhos sejam o
"sopro divino", no melhor sentido, eles apresentam um fenômeno psicológico sem paralelo, em toda a
literatura mundial, quer seja moderna ou antiga.

Ao cristão inteligente e observador, a autoria divina da Escritura é tão claramente manifesta como a da
autoridade humana que todos os homens reconhecem. Portanto, tendo sido o discípulo amado comissionado
para escrever sobre Ele como sendo o Filho de Deus, o Divino Espírito o conduziu estritamente à trilha
dourada e controlou todo o seu anseio natural de contar sobre o nascimento humano virginal do Senhor em
Belém e a visão do Monte Santo, que manifestou o Senhor em Sua glória como o "Filho do Homem".

Aqui temos, portanto, a solução do problema. Foi o próprio Senhor quem nos deu o registro dessa "Vinda",
a qual foi o grosso de todas as Escrituras, desde a promessa do Éden sobre a semente da mulher, até a
última palavra do último dos profetas hebreus. Portanto, em todos os evangelhos o Filho de Deus sempre é
chamado de 'Jesus', visto que foi Seu Pai quem nos deu a história de Sua vida.

Para predizer Sua vinda Ele usou os lábios dos profetas para falar as palavras de Deus, quando eram
movidos pelo Espírito Santo. Ele guiou a pena dos apóstolos e evangelistas para emoldurar os registros do
Seu Advento, em palavras inspiradas por Deus.

Mesmo assim, alguns vão exclamar: "E as epístolas não são inspiradas por Deus?" Mais que certamente elas
são. No entanto, o propósito delas é totalmente diferente e em hipótese alguma isso aparece mais
claramente do que pela maneira como os vários escritores das mesmas nomeiam o Senhor. Não que as
mudanças sejam devidas às "idiossincrasias" dos autores humanos. De fato, em parte alguma isso é tão
notável como nos escritos do apóstolo João. Pois, embora em seu evangelho o "nome simples" seja usado
mais de 200 vezes, nem uma só vez ele o usa nas epístolas. E em cada uma de suas quatro ocorrências, ele
é usado com uma significação doutrinária e em conjunção com outro título conotando Divindade. Ninguém
pode deixar de ver que existe algo de excepcional interesse, merecendo nossa mais profunda atenção.

E quanto mais investigamos, mais clara se torna essa prova de que, enquanto nos evangelhos o Senhor é
habitualmente chamado "Jesus", esse nome sozinho nunca é usado nas epístolas, salvo com alguma
significação especial de doutrina ou de ênfase. O apóstolo Pedro não o emprega sequer uma vez. E em nem
um só caso, "Tiago, o irmão do Senhor" O nomeia sem algum título de Divindade. Nas passagens já citadas
de 1 João, o "nome sozinho" é usado com uma significação óbvia. Dizer que Cristo é o Cristo ou que o Filho
de Deus é o Filho de Deus não teria significação alguma. Mas crer que Jesus, o homem de Nazaré, "o judeu
crucificado" é o Cristo, o Filho de Deus, esta é a fé que vence o mundo, indicando um novo nascimento pelo
Espírito de Deus.

CAPÍTULO 6
Ao considerar o uso do "nome simples" em Atos dos Apóstolos, o local e propósito deste livro no Cânon
Sagrado nos chamam a atenção. Este é um assunto importante, pois ninguém que entenda o plano
construtor da Bíblia pode deixar de ver o que Pusey chama de "harmonia oculta". E saber isso é ter
imunidade aos ataques da simulada "Alta Crítica". A Bíblia tem um aspecto tanto exterior como espiritual.
Cristo é o objeto do seu ensino espiritual, enquanto em seu lado exterior ela se relaciona principalmente
com o povo da aliança. Um breve prefácio de onze capítulos contém tudo que ela nos diz sobre a história
mundial durante milhares de anos, antes da chamada de Abraão. E a história dos descendentes de Abraão
monopoliza o restante do Velho Testamento. Pois é somente em relação a Israel que os poderes gentílicos
entram em cena.

A Abraão foi dada a promessa de bênção terrena e a Davi a promessa de soberania terrena. A revelação
mosaica se torna a revelação e complemento da aliança com Abraão. E o Novo Testamento começa com o
nascimento de Cristo, filho de Davi, filho de Abraão, Aquele em quem se realiza o cumprimento das
promessas de todo o Velho Testamento. Os evangelhos contam a história de Sua vida e morte - Seu
ministério e rejeição pelo povo favorecido. O livro de Atos faz o registro de uma dispensação durante a qual
esse povo, mesmo com a sua apostasia e culpa, recebeu a oferta do perdão divino com base na graça. É
impossível ler bem esse livro se deixarmos de reconhecer a missão e o ministério especiais a Israel,
comissionados ao apóstolo Paulo. Por causa dessa comissão é que ele deu testemunho aos judeus, em cada
lugar que visitava, sem deixar Roma de lado, mesmo que uma igreja cristã já estivesse ali se reunindo. Isso
explica por que o livro de Atos termina abruptamente com o registro da rejeição do evangelho pelos judeus
de Roma, sendo que os dois últimos versos contêm tudo que nos é ensinado sobre os seus dois anos de
ministério na cidade imperial. Ele ainda explica por que nem uma palavra é acrescentada sobre o ministério
do apóstolo, após o relaxamento de sua primeira prisão. Pois o livro não é a história inicial do cristianismo,
mas a história, divinamente entregue, da dispensação do Pentecostes, durante a qual Israel recebeu a
prioridade da pregação do evangelho.

Quando reconhecemos tanto o propósito como o caráter histórico de Atos, ficamos preparados para
encontrar aqui, como nos evangelhos, o porquê de o Senhor ser nomeado pelo Seu nome pessoal nas
narrativas. Contudo, essas ocorrências se limitam a sete. A primeira é na sentença de abertura do livro
(capítulo 1); a segunda, no verso 14 e a terceira, nas palavras de encerramento do verso 16, que pertence
claramente ao parêntese que conclui com o verso 19. A suposição grotesca é que quando o apóstolo Pedro
mencionou Judas, ao dirigir-se aos irmãos, alguns dias antes da crucificação, ele teve de explicar que se
referia ao traidor com esse nome (versos 16-20)!

As demais passagens de Atos, nas quais o Senhor é narrativamente mencionado como "Jesus", são
encontradas nos capítulos 7:55; 8:35, 9:27 e 28:23. Devemos observar que o Senhor foi nomeado dessa
maneira pelos mensageiros celestiais que apareceram aos discípulos após Sua ascensão (Atos 1:11). E mais
notável ainda é que em cada caso em que o registro contém palavras faladas pelos descrentes o Senhor é
sempre nomeado como "Jesus".

A narrativa do martírio de Estevão tem um interesse especial: "Mas ele, estando cheio do Espírito Santo,
fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus." (Atos 7:55). Aqui o
nome sozinho também é usado. Quanto ao título "Filho do Homem", que o Senhor usou diante de Caifás
(Mateus 26:64), tendo-o retirado do livro de Daniel, este era um título Divino. E que os judeus assim o
consideravam está claro, tanto que a aceitação do mesmo pelo Senhor, quando estava diante do conselho e
Lhe foi indagado se Ele era o Cristo, o Filho de Deus, o Senhor respondeu afirmativamente e por isso foi
condenado à morte. (Lucas 22:70,71) O título "Filho do Homem" nunca é usado na Escritura referindo-se à
Encarnação. Como homem Ele nasceu em Belém, mas como "Filho do Homem" desceu do céu. Que Estevão
tenha visto "Jesus" à direita de Deus é o registro da narrativa divina, mas "Senhor Jesus, recebe o meu
espírito" foi a sua oração final (Atos 7:59). "Ó Jesus" seria provavelmente a linguagem de muitos dos
nossos compositores de hinos, hoje em dia!

CAPÍTULO 7
Ao considerar o uso do "nome simples" nas passagens de Atos, em que o registro mostra os apóstolos Pedro
e Paulo usando-o, algumas explicações são necessárias, como o uso na epístola aos Hebreus. O propósito
deles era enfatizar a humilhação e rejeição ao Senhor. Muito claramente esse uso aparece no capítulo 13:33
(na KJV e 32 na ACF), a única vez em que o Senhor foi assim nomeado pelo apóstolo Paulo. O leitor
inteligente poderá ver que ao dirigir-se aos judeus, se ele tivesse usado outro nome ou título, suas palavras
teriam perdido a força especial. E isso se torna igualmente claro no uso do "nome simples" pelo apóstolo
Pedro, conforme Atos 2:32,36. Segundo a Versão Autorizada (KJV), excluímos dois textos que nesta versão
podem cair dentro da mesma categoria, a saber: Atos 3:13, 26. O "Servo de YAHWEH" é um dos títulos do
Senhor no Velho Testamento, conotando Divindade. E é um fato admirável que este aspecto do ministério
de Cristo caracteriza o evangelho de Marcos, com o qual se crê que o apóstolo Pedro esteve particularmente
associado. Embora o uso desse título pelo próprio Senhor não tenha respaldo sobre o assunto aqui em
pauta, não devemos ficar desapercebidos. O nome de "Jesus, o crucificado" foi o que inflamou o ódio de
Paulo como perseguidor e foi esse o nome que ele ouviu na visão celestial da glória, que o deixou cego,
tendo sido por ela alcançado no caminho de Damasco, quando ia cumprir sua maligna missão de perseguir
os cristãos. "Eu sou Jesus, a quem tu persegues." (Atos 9:5) A partir desse momento, a verdade foi
impressa em sua alma de que haviam "crucificado ao Senhor da Glória".

Nas treze epístolas atribuídas à autoria do Apóstolo aos Gentios, existem apenas oito passagens nas quais o
"nome simples" ocorre. E nessas oito vezes isso acontece na epístola aos Hebreus Essa parte de nossa
pesquisa é de excepcional interesse, pois o uso do apóstolo Paulo do "nome simples" está de acordo com o
ensino doutrinário. Hebreus foi escrita na linguagem da tipologia do Velho Testamento. E para apreciar a
significação do "nome simples" nessa epístola, precisamos entender essa tipologia.

Contudo, introduzir aqui um tratado sobre esse importante assunto seria impraticável e a sentença seguinte
da passagem antes citada do Comentário de Ellicot é suficiente: "Na Epístola aos Hebreus esse uso é pelo
menos raro (Ver caps. 2:9;6:20;7:22;12:2,24;13:12) e pode-se ver que em todos os casos uma ênfase
especial é colocada sobre a humanidade sofredora do Senhor e os fatos históricos do Seu ministério na
terra, aos quais ela se refere". O que já foi dito sobre o uso do "nome simples" em 1 João aplica-se
igualmente a algumas passagens, como Romanos 3:26. E ao capítulo 8:11: "E, se o Espírito daquele que
dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós..."

Citando novamente o Comentário de Ellicot, "A ressurreição de Cristo aponta para o ministério efetivo dEste
sobre aqueles de quem Ele é o Mediador".

Uma explicação similar sugere em si mesma o que diz respeito ao uso do "nome simples", no capítulo
4:10,11,14 de 2 Coríntios. O leitor inteligente não deixará de observar o grande contraste entre "Jesus" e
"O Senhor Jesus" nas passagens. "A vida de Jesus" (vs. 10, 11) deveria significar Sua vida na terra,
enquanto o princípio vital que Ele compartilhou com o Seu povo na terra, seria "A vida de Cristo".

A leitura dos Revisores de Gálatas 6:17 exemplifica o interesse e a importância da pesquisa atual. Sua
devoção aos três MSS mais antigos - tolice usual do leigo em dar um indevido valor à "evidência direta" -
levou os revisores a destruir a significação do texto. "As marcas de Jesus" significariam que (conforme o
caso do lendário Francisco de Assis) o corpo do apóstolo fora marcado com cicatrizes similares àquelas
levados pelo próprio Senhor, após Sua crucificação. Seria possível acreditar que o apóstolo pudesse ter feito
essa declaração? A significação das palavras que ele usou não deixa dúvida. Era uma prática normal dos
proprietários de escravos marcá-los e as cicatrizes das feridas do apóstolo recebidas em seu ministério por
Cristo significavam para ele "as marcas de Jesus", marcas registradas pelas quais o seu Divino Mestre
afirmava que ele era o Seu escravo. Nas últimas cartas do apóstolo Paulo, escritas durante seu cativeiro em
Roma, o "nome simples" ocorre duas vezes. Essas passagens, mesmo ultrapassando o nosso propósito
atual, são Efésios 4:21: "Se é que o tendes ouvido, e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus"
e Filipenses 2:10: "Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e
debaixo da terra." "A verdade em Jesus" é um sinônimo popular, embora não escriturístico, para "a verdade
evangélica". Na linguagem da Escritura esta deveria ser "A verdade de Cristo". Contudo, a exortação não se
relaciona à doutrina, mas à prática. É que a vida cristã deveria ser o reflexo da verdade, conforme foi
manifestada pela vida do nosso Divino Salvador, nos dias de Sua humilhação, daí a expressão: "A verdade
em Jesus".

Alguns poderiam dizer que em Filipenses 2:10 "Jesus" é o nome de exaltação do Senhor. E como prova
disso, apelam às palavras do anjo anunciando o nome divinamente escolhido para a Sua humilhação.
Contudo, isso não tem muito suporte e destrói, não apenas a força, mas a significação da passagem.
"Jesus" é o Seu nome de nascimento, pois, até mesmo em Sua humilhação, Ele era o Salvador. Mas temos
aqui o nome que Lhe foi dado na Glória, em razão de Sua morte na cruz. E não é em relação à Sua obra
como Salvador dos pecadores que a cruz é aqui mencionada, mas incidentalmente como exibição da
coroação pela desprezível rejeição que Lhe foi dada pelo mundo, principal e enfaticamente, como o ápice de
Sua humilhação. E foi por causa da Sua auto-renúncia, da Sua auto-humilhação, se pudermos usar esta
palavra, que "Deus o exaltou sobremaneira". E qual pode ser esse nome, senão "o nome grande e tremendo
de YAHWEH." (Salmos 99:3) Mesmo assim, é diante do nome de Jesus que todo joelho se dobrará. Claro
está que todos irão se prostrar na presença da glória, diante da qual o discípulo amado caiu como morto.
Mas, como essa passagem nos diz, sua homenagem será prestada Àquele Deus a Quem estão adorando - o
"Jesus", cuja Divindade o incrédulo hoje nega, ou então reconhece apenas na hipócrita recitação de um
credo. Não é, conforme o profano ensino dos racionalistas cristãos, que Ele tenha suplantado o "cruel
YAHWEH" de Israel, mas que Ele é a manifestação do Deus do Velho Testamento.

E sendo Ele "a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação" (Colossenses 1:15), refulgindo
toda a Sua glória como a imagem da substância do Pai, é o único Deus diante de quem o mundo inteiro
deverá se prostrar. "E toda língua confessará que Ele é o Senhor", confissão que os discípulos declararam
nos dias de Sua humilhação, e que deveria caracterizar os cristãos nestes dias em que Ele está ausente. Daí
por que no capítulo 10 de Romanos lemos que, ao contrário da justiça que procede da lei, que consiste em
obras, a justiça da qual nos fala a fé em Cristo é esta: "Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e
em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo." (Romanos 10:9)

Este ensino nos lembra outra passagem vibrante da mesma importância. Em 1 Coríntios 12:3, o apóstolo
nos dá a entender que "ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer
que Jesus é o SENHOR, senão pelo Espírito Santo". Contudo, poucos entendem que ninguém pode dizer
"Senhor Jesus", assim como é fácil a qualquer incrédulo dizer simplesmente "Jesus". Qualquer pessoa pode
papaguear o que aprendeu a falar, mas dificilmente escutamos esta expressão "Senhor Jesus" dos lábios de
um incrédulo. Para este o Senhor é "Jesus", "o Salvador", ou simplesmente "Jesus Cristo", (nome este
usado com a significação de nome e sobrenome), mas nunca "o Senhor Jesus" ou "o Senhor Jesus Cristo",
como Ele deve ser nomeado.

O capítulo 4 de 1 Tessalonicenses nos chama a atenção neste sentido. Dean Alford escreve: "As palavras
são a expressão do pensamento e quando encontramos uma construção incomum, ela demonstra uma
razão especial na mente do escritor no sentido de usá-la. [NT: Conhecemos este pensamento mais
desenvolvido como: "Você pensa o que lê; fala o que pensa e é o que fala", daí que a pessoa que estuda a
Bíblia com sincera dedicação tem um linguajar mais saudável e pode melhor dar um bom testemunho de
sua fé.] Contudo, nos versos finais deste capítulo os tradutores nos entregam o que supõem que o apóstolo
quis dizer e não o que ele realmente escreveu. E assim eles fazem a tradução do verso 14: "Porque, se
cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer
com ele", como simplesmente "os mortos em Cristo" [Ou "os que nele dormiram", como na NVI]. A frase
"dormir em Jesus" está de tal modo incrustada no pensamento cristão que chamá-la de anti-escriturística
até parece um sacrilégio! E, contudo ela nos rouba o profundo e importante ensino desta maravilhosa
passagem. Uma tradução literal e acurada das palavras do apóstolo seria: "Aqueles que foram postos a
dormir por (ou através de) Jesus, Deus os trará com Ele." A explicação desta aparentemente estranha
declaração pode ser encontrada nas circunstâncias que levaram o apóstolo a escrever esta carta. Quem são
esses "que dormem" e o que lhes causou a morte? A resposta a esta pergunta encontra-se na explicação da
passagem e pode ser deduzida em 1 Tessalonicenses 2:14-16.

Aprendemos em Atos 17 que, depois que o apóstolo chegou a Beréia, partindo de Tessalônica, os judeus o
expulsaram e ele fugiu para Atenas. Sua estada em Atenas foi ainda mais breve do que em Beréia. Mas,
antes de seguir para Corinto, ele recebeu notícias que provocaram o receio de que o seu trabalho em
Tessalônica tivesse sido em vão (1 Ts. 3:5). Então ele comissionou Timóteo a voltar depressa a Tessalônica
e o registro de Timóteo, que o alcançou em Corinto, foi o que levou o apóstolo a escrever esta carta. É que
nos primeiros meses, desde que o apóstolo havia estado com eles, havia acontecido uma porção de mortes
numa comunidade pequena demais como a dos tessalonicenses convertidos e isso parecia estranho. E era
inacreditável que quaisquer mortes naturais tivessem afetado tanto a fé dos cristãos do tipo descrito no
capítulo 1. Claro está que o que havia testado a fé deles não fora o fato dessas mortes, mas a maneira
como elas haviam acontecido... E a epístola indica claramente que elas tinham sido fruto de uma
tempestuosa perseguição surgida naquela cidade. Numa palavra, alguns dos seus líderes haviam sido
martirizados. Ora, eles não tinham ouvido dizer que o Senhor "tem todo o poder nos céus e na terra" e que
jamais abandona Seu povo? Como então haviam caído presa dos seus inimigos? Ou o ensino era errôneo ou
então seus entes queridos haviam caído no desagrado divino, daí por que eles os estavam pranteando
"como alguns que não têm esperança." (4:13) Eles deveriam lembrar-se de que o próprio Senhor Jesus
havia sido morto pelo seu inimigo comum (2:15) e que os apóstolos, quando estava com eles, já os havia
advertido no sentido de esperarem tribulações iguais às que estes estavam sofrendo (1 Ts 3:4). Finalmente
ele lhes envia uma mensagem de esperança, recebida diretamente do Senhor para o seu conforto (3:11-
13). Por isso ele diz: "nas palavras do Senhor". Esta é uma das revelações especiais (como as de 1 Coríntios
11:23 e 15:3) que o apóstolo teria recebido.
Os "mortos em Cristo" do verso 16 são os santos mortos em geral, mas os que dormem, dos versos 13 e
14, são as pessoas individuais, cujas mortes os tessalonicenses estavam pranteando. E porque fora por
amor do Seu nome que eles haviam sofrido, é que o Senhor fala deles como tendo-os posto a dormir. É
como se Ele dissesse: "Bem, eu fui a causa de sua morte, mas mesmo assim não falhei com eles. Não fui eu
mesmo levado à morte? E tão certo como eu morri e ressuscitei, eles também vão ressuscitar e Deus os
trará comigo em minha vinda". E a infinita graça e ternura são intensificadas pelo fato de que a mensagem
de conforto e esperança é entregue em o nome de Sua humilhação - o nome sob o qual Ele foi assassinado!
Esta é a Sua primeira mensagem registrada para os santos na terra, após Sua ascensão. E com esse
mesmo nome Ele entregou sua mensagem final em Apocalipse 22:16: "Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para
vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da
manhã." Então, vamos dar a resposta que o Espírito Santo colocou em nossos lábios: "Ora vem, Senhor
Jesus!" Ele se dirige ao Seu povo com o nome de Sua humilhação, esperando que estes respondam
confiantemente usando o Seu Nome de Glória!

CAPÍTULO 8
O capítulo 8, completando esta breve revisão das passagens da Escritura, vai observar o último livro do
cânon sagrado. Os evangelhos estão de tal modo ligados às Escrituras hebraicas e ao povo da aliança, que
se o livro de Atos tivesse se perdido, a transição às epístolas das comunidades gentílicas iria parecer um
estranho enigma. Se o livro de Apocalipse tivesse desaparecido, esse enigma tornar-se-ia insolúvel. De fato,
uma Bíblia assim mutilada teria proporcionado uma justificativa à profana zombaria do incrédulo, de que
Deus havia sido frustrado em Sua tentativa de realizar Seus declarados propósitos na terra, portanto agora
pretende destruir seus problemas com um foguetório.

Mas o Apocalipse é o livro da grande prestação de contas das permanentes promessas divinas. Em suas
páginas, todos os retalhos da história e tipos de profecias que estavam dispersos nas antigas Escrituras, são
reunidos e conduzidos à sua destinada consumação. E com todo o respeito pela narrativa e solenidade do
livro, a aparição do "nome simples" em cada capítulo do mesmo não oferece desculpa alguma para o uso
familiar desse nome, como tem sido comum hoje em dia. Embora suas ocorrências sejam poucas,
limitando-se ao uso do mesmo pelo próprio Senhor, e a certas passagens onde é empregado, nas seguintes
frases:

"No reino e paciência de Jesus" - (Apocalipse 1:9)


"O testemunho de Jesus" - (1:9;19:10;20:4)
"A fé em Jesus" - (14:12)
"Testemunhas de Jesus" - (17:6)

Nenhum cristão poderia atribuir estas frases contundentes ao capricho do escritor sagrado, mesmo não
sendo elas encontradas em parte alguma da Escritura. O caráter e propósito do Apocalipse talvez nos dêem
uma visão sobre a sua significação.

Que a atual "dispensação cristã" é o clímax do cumprimento de todos os propósitos e bênçãos divinas sobre
a terra é uma heresia pela qual os Pais latinos prepararam a apostasia romanista [conforme a teologia de
Agostinho de Hipona] que se autodenomina "Santa Igreja Católica Romana". Essa heresia tem permeado de
tal maneira a teologia da cristandade que nos enormes cabeçalhos das edições da última porção de Isaías,
na Bíblia Inglesa, todos os julgamentos e ais se destinam exclusivamente aos judeus, enquanto as visões de
bem-aventuranças se destinam ao triunfo espiritual da "Igreja". Tanto se coloca a presente dispensação de
ser o cumprimento das profecias de bênçãos terrenas que ela acentua a mais definitiva maneira de ir
postergando o seu cumprimento. Os propósitos divinos revelados para a terra estão relacionados ao Seu
povo terreno e a sua realização aguarda o "fim dos tempos dos gentios", cujo poder terreno - transferido de
Jerusalém para a Babilônia há 25 séculos - continua nas mãos dos gentios. Até que sejam consumados "os
tempos dos gentios", o Reino de Cristo não será estabelecido. [NT: O que prova a falácia da Teologia do
Reconstrucionismo, tão comumente adotada pelos líderes das seitas neopentecostais.] A dispensação
pentecostal [não nos referimos a esta denominação pseudo-pentecostal, mas à verdadeira, vigente nos dois
primeiros anos após o Pentecostes] poderia ter conduzido o povo de Deus a um grande evento. Mas em
razão da constante apostasia de Israel [consumada em sua rejeição ao Messias Jesus Cristo] essa
dispensação foi interrompida.

O assassinato de Estevão foi a resposta dos importantes líderes judeus à inspirada proclamação apostólica
de uma anistia divina. Estevão foi o mensageiro como que enviado pelo rei para dizer: "Não queremos que
esse homem reine sobre nós". Logo depois, o Apóstolo aos Gentios recebeu a comissão divina e, por meio
dele, foram reveladas as grandes verdades do "mistério" da atual dispensação, verdades que haviam, até
então, sido mantidas em segredo, nenhuma delas tendo sido revelada no Velho Testamento. Elas
constituem o "mistério" do Reino da Graça, o qual é, certamente, incompatível com o governo divino da
retidão, antes expressamente declarado. O "mistério da igreja" - o corpo de Cristo - uma relação celestial
com uma glória celestial, é o "mistério" dessa fase especial da Vinda do Senhor, que conduzirá esta
dispensação ao seu término. [Reconhecer-se com um pecador indigno de salvação; aceitar pela fé o
sacrifício de Cristo na cruz e nele confiar plenamente e viver uma vida reta por amor do Seu nome, é tudo
que um cristão deve fazer para ficar em paz com Deus (Romanos 5:1) e aguardar confiantemente Sua
gloriosa vinda.]

E no fim da mesma, a legítima dispensação pentecostal do início será restaurada. Seu estágio inicial incluirá
o cumprimento da profecia de Joel referida por Pedro em Atos 2:16 e seguintes [a partir daí e até a
consumação dos tempos dos gentios não haveria revelações do tipo mencionado em Joel 2:28-32, como
tem sido propagado pelos segmentos ditos pentecostais da atualidade]. Esse retorno à dispensação
pentecostal será marcado pelas mais terríveis perseguições que o povo de Deus jamais terá sofrido na terra
(Mateus 24:21,22). [Quem aplica o livro de Mateus aos gentios está perdendo a maravilhosa mensagem
que aí existe, destinada exclusivamente ao povo de Deus.]

O cânon sagrado é encerrado e a Escritura Sagrada é a Palavra de Deus para o Seu povo na terra, até que o
fim dos tempos se concretize. Ela contém ensinos que têm provado serem definitivamente aplicáveis às
mais variadas circunstâncias pelas quais têm passado os filhos da fé, em eras passadas e, especialmente,
no contexto atual. Pode-se acreditar que ela não contenha mensagem alguma de admoestação e conforto
para os dias tenebrosos que estão no porvir? Será que devemos considerar essas mensagens agora? As
visões do Apocalipse, embora limitadas ao povo de Deus para os dias da provação de sofrimentos e perigos
sem precedentes, conforme Mateus 24:21,22, podem significar que naqueles dias os "eleitos" estarão
ligados ao próprio Senhor pelo nome de Sua humilhação - um nome tão evocativo de memórias do Seu
sofrimento e dor. Haverá aquelas "testemunhas de Jesus" (Apocalipse 17:6), que serão Sua propriedade,
em um sentido muito especial.

Eles terão a "fé em Jesus" (Apocalipse 14:12), a fé que os sustenta na trilha que terminou na cruz. É "o
testemunho de Jesus", que foi dado por Ele diante de Pilatos, quando com algumas palavras Ele poderia ter-
se livrado da condenação e obtido Sua liberdade, recebendo proteção do poder romano contra Seus
perseguidores.

Levando tudo isso em consideração, não é como "apóstolo do Senhor" que o vidente escreve, mas como
"irmão e companheiro na aflição": "Eu, João, que também sou vosso irmão, e companheiro na aflição, e no
reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus, e pelo
testemunho de Jesus Cristo." (Apocalipse 1:9)

Aqui o Senhor não é apresentado conforme a Sua glória, mas ainda sofrendo, em vista do Seu povo estar
sofrendo, também, e esperando pacientemente, do mesmo modo como Ele tem estado esperando. É certo
traçar uma conexão entre as palavras de 1 Timóteo 6:13 e as "testemunhas de Jesus" nestas passagens. O
verbo usado na passagem supra citada é martu’reo e aqui o nome é marturia. E certamente ambas as
cláusulas da sentença "os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus" (Apocalipse 12:17) devem ser
lidas do mesmo modo como se lê Apocalipse 14:12: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que
guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus."

CAPÍTULO 9
Ninguém que possua uma mente aberta e tenha seguido esta pesquisa sobre o nome pessoal do Senhor no
Novo Testamento pode resistir à conclusão a que ela conduz: "O uso moderno familiar do 'nome simples' -
Jesus - não tem qualquer autoridade no uso apostólico." Alguns cristãos que reconhecem ser essa prática
comum errada e não condizente com as Escrituras, adotam o que pode ser descrito como um compromisso
de acrescentar sempre a palavra "Cristo" ao nome simples. O motivo deles é por demais louvável, mas
faríamos bem em considerar, não apenas a profundidade da significação que o nome completo "Jesus
Cristo" possa ter com os que o usam assim, mas o que significa à vasta maioria das pessoas que os
escutam ou lêem as suas palavras. Os incrédulos têm usado "Jesus Cristo" da mesma maneira livre como os
cristãos o fazem. Até mesmo com os cristãos, por mais consagrado que seja, e evoque memórias sagradas,
ele é obviamente considerado (como "Jesus") apenas um nome pessoal, o qual aponta, não para o Senhor
da Glória, assentado no trono eterno, mas retrocede ao "Jesus histórico". Alguns teólogos poderiam nos
levar a crer que até mesmo no Novo Testamento "Cristo" é algumas vezes usado meramente como um
sobrenome - uma ilusão que demonstra quão totalmente pode estar a exegese gentílica fora de harmonia
com o pensamento judaico. Pois para um judeu devoto, bem como para um hebreu cristão, esse era um
título divino de grande solenidade. Vamos verificar melhor o seu pressuposto na Escritura: se para "Cristo"
(no grego) lemos "Messias" (em hebraico) e para "Jesus Cristo", "Jesus, o Messias", isso nada significava
para os ouvidos dos gentios e os gentios convertidos precisavam receber o ensino do seu significado
sagrado.

A maioria dos cristãos peca neste sentido e costuma se desculpar, dizendo que esse erro provém do mau
treinamento ou falta de concentração. Mas dando atenção ao assunto, eles bem poderiam ser guiados pelo
próprio ensino e prática primitiva da Escritura. As pesquisas do Dr. Adolph Deissmann concluíram que na
era apostólica, falar de Cristo como "o Senhor" era um modo total e definitivo de reconhecer Sua Divindade.
Ele diz: "No tempo do apóstolo Paulo, ‘Senhor’ era por todo o mundo oriental uma concepção religiosa
universalmente compreendida. A confissão do apóstolo do seu mestre como "nosso Senhor Jesus Cristo" ...
era logo entendida na totalidade de sua significação em todo o oriente grego". Sob a perseguição dos
imperadores, conforme nos conta novamente o mesmo escritor, tal confissão "levava os cristãos ao
martírio". Se falar de Cristo como "o Senhor" fosse encarado com esses mesmos perigos, hoje em dia os
cristãos seriam mais cuidadosos em evitar essa prática, do que agora parecem ser.

E as pesquisas do Dr. Deissmann podem nos capacitar a melhor entender a narrativa de Atos 2:36: "Saiba,
pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e
Cristo", conforme a pregação do apóstolo Pedro no Dia de Pentecostes. "Senhor e Cristo". Conquanto o
testemunho especial dado aos judeus é que Ele era o Cristo, entre os gentios era dada a ênfase sobre a
verdade de que Ele era o Senhor. Do mesmo modo como lemos que em Jerusalém os apóstolos pregavam
"a Jesus Cristo" (Atos 5:42). Porém quando os cristãos foram dispersos, após a morte de Estevão, entraram
em contato com os gentios e começaram a pregar o Senhor Jesus Cristo como "o Filho de Deus". (Atos
9:20) Aos coríntios, o apóstolo Paulo declarou enfaticamente: "Porque não nos pregamos a nós mesmos,
mas a Cristo Jesus, o SENHOR; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus." (2 Coríntios 5:4)
Os escritos do apóstolo Pedro mostram como esta consideração o influenciou, ao nomear o Senhor na
Primeira Epístola de Pedro endereçada aos cristãos hebreus, conforme 1 Pedro 1:1-2: "Pedro, apóstolo de
Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia; eleitos segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus
Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas." O Senhor é nomeado oito vezes como "Jesus Cristo",
enquanto na Segunda Epístola dirigida aos crentes gentílicos, ele escreve: "Simão Pedro, servo e apóstolo
de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador
Jesus Cristo: graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor."

Ao estudar as epístolas nesta conexão, devemos levar em conta o texto revisado. Pois em muitas
ocorrências de "Cristo Jesus", na V. A. King James, a leitura revisada coloca "Jesus Cristo", o que demonstra
como a autoridade dos MSS é conflitante. Na versão de Dean Alford, por exemplo, lemos "Cristo" em 2
Coríntios 4:6 e "Cristo Jesus" em Filipenses 1:6, sendo assim em toda parte. De fato, a leitura correta é
duvidosa em quase metade das passagens onde ocorre "Jesus Cristo" em nossa V. A. Essa distinção tem
uma significação doutrinária. Pois "Jesus Cristo" nos fala do Senhor como Pessoa, enquanto "Cristo Jesus" é,
segundo o termo de alguns escritores, o "Cristo Oficial" - o Cristo em relação ao Seu povo. Comparem, por
exemplo, "o homem Jesus Cristo", em Romanos 5:15, com "Batizados em Jesus Cristo" em Romanos 6:3.
[Na KJV e na ACF lemos "Jesus Cristo", na BLH e na NVI é "Cristo Jesus", conforme defendido pelo escritor].
Em 2 Coríntios 13:5, se o texto adotado nas duas versões inglesas for aceito, deve ser entregue como
"Jesus Cristo está em vós" (KJV e ACF), exatamente como em 1 Coríntios 14:25, onde o apóstolo fala de
"Deus entre eles". A Escritura não fala de um cristão estar em Jesus Cristo, ou de Jesus Cristo estar em um
cristão, pois a verdade "em Cristo" ou "em Cristo Jesus" é tão clara como preciosa. (2 Coríntios 5:17)

Muitos estudiosos da Bíblia poderiam encontrar resultados surpreendentes no estudo do uso do nome "Jesus
Cristo" no Novo Testamento. Por exemplo, em todos os quatro evangelhos ele ocorre cinco vezes, oito vezes
incluindo o seu uso pelo próprio Senhor em João 17:3. Ele é usado sete vezes em Atos e nunca de maneira
incidental ou narrativa, conforme é tão comum nos dias de hoje. Com respeito às epístolas, tendo em vista
as diferentes leituras, uma completa análise das passagens onde Ele é citado envolveria uma digressão
séria demais. Basta que se diga, primeiro, que nos escritos apostólicos o uso de um ou outro dos nomes ou
títulos do Senhor tem sempre uma significação definida e não é, como acontece conosco, devido
meramente à eufonia ou ao capricho. Segundo, todos os que crêem na inspiração divina da Sagrada
Escritura devem reconhecer que até mesmo as declarações humanas mais formais e solenes estão em nível
diferente e inferior. Portanto, um assunto desse tipo, ao que nos concerne, não é copiar a linguagem da
Palavra de Deus, mas ser governados pelos seus preceitos e pelo exemplo daqueles, cujos caminhos e
palavras foram controlados pela presença e pelo ensino individual do Senhor.

"O que faria Jesus?" é a mais do que irreverente fórmula pela qual algumas pessoas desejariam estabelecer
cada questão. Há alguns anos, segundo o relato dos jornais, os criados da casa de um certo nobre inglês,
onde o socialismo havia se estabelecido, foram encorajados a dirigir-se ao nobre patrão pelo nome cristão.
Mas, certamente, até mesmo na degradação de um lar como esse, a linguagem de saudação dos criados
não era "O que Jorge faria?" Mas "O que ele deseja que façamos?"
E neste assunto não devemos apenas nos mirar nos exemplos dos santos antigos, pois temos palavras de
definida direção do próprio Senhor: "Vós me chamais mestre e Senhor e fazeis bem..." E certamente isso
deveria bastar para todos nós que O amamos e tememos. Mas também devemos nos lembrar de Suas
palavras registradas em João 5:22,23, palavras por demais explícitas e solenes, apoiando exatamente essa
questão diante de nós: "Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho
vivifica aqueles que quer. E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo."

Elas são lidas, geralmente, como se nada significassem além de que devemos honrar o Pai, mas também o
filho. Contudo a linguagem não pode ser mais definitiva e clara. A prerrogativa divina do Julgamento foi a
Ele confiada, a fim de que Ele, o Filho, possa receber a mesma homenagem que é prestada ao Pai. Suas
palavras não podem ter outra significação. E cada um de nós deve fixar bem isso na consciência, tendo em
vista o Tribunal de Cristo, meditando se estamos agindo da mesma maneira pela qual Ele é nomeado hoje
em dia, não apenas na conversação normal, mas também nos púlpitos e na literatura "cristã".

O fato tão definitivamente observado nas páginas anteriores é que, nas epístolas, o Senhor é
ocasionalmente chamado "Jesus" ou "Jesus Cristo", nomes tão apropriados por muitos com a desculpa de
relaxamento ou indiferença neste sentido. Não é para esses que estou fazendo o apelo, embora até mesmo
esses deveriam estudar os versos iniciais de 1 Coríntios, como ilustração do pensamento e uso apostólico.
Citando a edição revisada, o apóstolo se dirige aos coríntios como "santificados em Cristo Jesus" (KJV e
ACF). Após a saudação em Jesus Cristo, ele agradece a Deus pela graça que lhes foi dada em Jesus Cristo,
falando do testemunho de Cristo, etc., abrindo a epístola com a nomeação de "nosso Senhor Jesus Cristo"
(v. 8). Pois em muitos livros cristãos, em 200 páginas, esse título de glória não é encontrado tão
freqüentemente como aqui ocorre em menos de 200 palavras.

Este capítulo deve terminar apropriadamente chamando a atenção para um preceito que o texto da edição
revisada recobrou para nós: "Santificai a Cristo em vossos corações como Senhor." [Na KJV é "Lord God",
na ACF é "Senhor Deus", enquanto na BLH é "respeito por Cristo" e na NVI é "Santificai a Cristo"]. Alguns
cristãos, ansiosos para confessá-Lo diante dos homens, muitas vezes se retraem pelo temor de causar
escândalo. Temos aqui, então, uma maneira de confessá-Lo, tão eficiente como inofensiva. Se esses
cristãos se habituarem a nomeá-Lo sempre com a reverência que Lhe é devida, a confissão habitual dos
lábios irá ajudar a santificá-Lo como Senhor na vida diária.

Um documento que me tem tocado, desde que este capítulo foi escrito, supre um vibrante comentário sobre
minhas palavras na página 58 [do livro original]. Um trabalho apresentado diante do Victoria Institute por
um dos eminentes bispos irlandeses dá a seguinte resposta à questão onde deve ser encontrada a base
para a verdade. "Devemos encontrá-la, não em um mero livro, mas na revelação que ele contém. Ao longo
de todas as eras, a fonte do poder tem sido, não a simples letra de certos documentos, mas a personalidade
e a influência de Jesus Cristo... O maravilhoso caráter de nosso Senhor... Isso é o que torna Jesus Cristo a
personalidade mais vívida na história da literatura".

Tais pensamentos são expressos com muito maior entusiasmo por Renan, o incrédulo. Mas não é isso que o
apóstolo quer dizer com "conhecer Cristo segundo a carne"? Uma vívida personalidade na história e na
literatura bem pode ser uma base permanente para a "religião cristã", mas não para a fé em Cristo. Ela não
trará paz à consciência despertada às tremendas realidades do pecado e do juízo vindouro. O cristianismo
está embasado na revelação de Jesus Cristo, que viveu e morreu, mas que agora está entronizado em glória
- uma revelação que vem a nós não em um mero livro, mas em escritos sagrados inspirados pelo Divino
Espírito. Nenhum pensador mais esclarecido e destemido pode encontrar qualquer contemporização
inteligente entre a "fé simples" e o agnosticismo.

CAPÍTULO 10
Diz Renan que "o deismo do século 18 e um certo tipo de Protestantismo têm nos habituado a pensar sobre
o fundador da fé cristã como sendo apenas um grande moralista, um benfeitor da humanidade". Esse é o
"Jesus" do racionalista - o "Jesus" de muitos livros "cristãos" e de certos púlpitos "cristãos". Mas o
racionalismo é apenas um dos três "R"s pelos quais tem sido solapado o cristianismo. O romanismo e uma
certa fase do reavivalismo, embora se opondo ao racionalismo e um ao outro, tende em vários graus a
produzir idênticos resultados. A autoridade da "Igreja" é o lábaro de um; o sentimentalismo é a
característica de ambos e a descrença é a base do Racionalismo. Sob o engodo do romanismo encontramos
um erudito e grande pensador bestificando a si mesmo pelas superstições da sua religião e, em seguida,
apelando a uma "luz tremulante" para conduzi-lo "pelo nevoeiro religioso que o cerca", nevoeiro esse
decorrente de ter ele fechado os olhos, tanto à razão como à revelação. E essa "luz tremulante" o leva a
adorar a mítica "Mãe de Deus", a qual excede até mesmo ao "Homem Deus" em ternura e piedade.
O bispo Whatley ensinou que os erros de Roma têm suas raízes na natureza humana. E a mesma tendência
que leva o católico romano a criar a mitológica Virgem Maria, conduz o protestante a personalizar as suas
qualidades femininas no mítico "Jesus" de certos populares livros de devoção e alguns dos nossos hinos.

A hinologia é um assunto delicado de tratar. E mesmo sendo tão grande a influência dos hinos, seria bom
que os cristãos considerassem, com atenção inteligente, as letras que estão cantando. Não me refiro aqui
aos hinos sentimentalistas e irreverentes, que nenhum cristão deveria tolerar, mas ao verso de um hino
familiar, muito menos tolerável do que possa ilustrar a minha objetividade.

Salvo nos braços de Jesus


salvo em seu terno seio
ali coberto pelo seu amor
docemente minha alma deve repousar.
Ouço a voz dos anjos
cantando uma canção para mim
nos umbrais da glória
sobre o mar de jaspe.

Temos aqui "os braços maternais e o seio terno", que nada combinam com o Senhor da Glória. Temos ainda
"a voz dos anjos, nos umbrais da glória", tudo isso navegando "num mar de jaspe", totalmente embasado
no sentimentalismo.

Quanta diferença das palavras e pensamentos dos homens poderosos na fé, que conquistaram para nós a
liberdade, trazendo-nos de volta a Bíblia! Quanta diferença das palavras e ações dos apóstolos do Senhor!
Poderia alguém imaginar o discípulo amado cantando um hino com essas palavras tolas? Mesmo tendo
mantido um lugar de proximidade com o Senhor e tendo até se debruçado sobre o seu seio, durante a
última ceia, ele também caiu aos Seus pés, quando O viu na glória celestial que Ele desfruta hoje, à destra
do Pai.

Existem outros hinos, nos quais o pensamento deveria se levantar em louvor, mas que se expandem em
puro sentimentalismo. E muitos deles são considerados de alto nível. O hino que inicia com "Vinde a mim,
vós cansados!" pode servir de exemplo. Poderia realmente ser um belo hino, se como uma ode a "Jesus",
ele fosse mudado como segue para uma letra de fé e adoração ao Senhor.

Vinde a mim, vós cansados


e eu vos darei descanso.
A bendita voz, Senhor Jesus
que chega ao coração oprimido
Ela fala de bênção,
de perdão, de graça e paz
Oh, alegria sem fim
amor que não pode cessar.

Dou estes exemplos e muitos hinos deveriam ser testados do mesmo modo.

Vinde a mim, vós errantes


e luz eu vos darei
é a voz amorosa do Senhor Jesus,
que nos chega para confortar a noite.
Nossos corações estão cheios de tristeza
e perdemos nosso rumo
Mas Tu nos trouxeste alegria
e canções no romper do dia.
Vinde a mim, vós desmaiados
e vida vos darei.
Tua voz consoladora, Senhor Jesus
põe fim à nossa tristeza.
O inimigo é forte, tenaz e ansioso
a luta é feroz e longa
Mas Tu nos tens dado força
e nos tornado mais fortes que os fortes
Qualquer um que venha
não o lançarás fora
Vossa voz bem-vinda, Senhor Jesus,
jogas para longe as nossas dúvidas.
Que nos chama, grandes pecadores
embora sendo indignos
de amor tão gracioso e sem fronteiras
para vir, Senhor, a Ti.

As exigências de ritmo e rima têm muito a ver em nossa hinologia. Mas, até mesmo sem essa desculpa,
alguns dos nossos hinos são maculados em nome destes, o que tem acontecido até mesmo em nossos hinos
mais nobres.

Por todos os santos que descansam de suas obras


que pela fé Te confessam diante do mundo
Teu Nome, ó Jesus, para sempre bendito seja, Aleluia!

Até mesmo como um poema este hino poderia ser melhorado, se a confissão fosse mudada para "Senhor
Jesus" em lugar do anticristão "Ó Jesus" da terceira linha. Se algum membro da família real se dirigisse a
Sua Majestade como "Ó Jorge!", a indignação do palácio seria maior do que aquela causada nos dias
antigos, se algum ministro, ao conduzir as orações de louvor na igreja, tivesse se dirigido ao Senhor como
"Ó Jesus!" E o que dizer dos "hinos infantis"?

Muitos livros escritos para os jovens nos causam grande tristeza. A idéia prevalecente é que no caso dos
pequeninos é necessário recorrer ao que um cínico descreveria como "bobos". Deus é deixado no pano de
fundo, para os policiar e castigar, quando se comportarem mal. Esse mesmo "Jesus" é apresentado como
um ser gentil, o qual lhes dará carinho, se forem bons meninos. Estes hinos deveriam ser repelidos pela
verdade, tal como mudam o caráter e as guerras antigas de Samuel e do Rei Davi, de João Batista e de
Timóteo. Será que já existiu uma tolice assim?

Nenhum livro de "bondade-bondade" é tão fascinante para uma criança como a grande alegoria de John
Bunyan. E nenhum desses hinos irreverentes poderia atrair e encantar esses meninos como os Salmos de
Davi. As crianças nunca se impressionam em tristeza no que é inspirado com ais. E para elas o que é
sentimental e familiar é mais prejudicial, até mesmo do que para as pessoas maduras. Se desejamos
"santificar a Cristo como Senhor em nossos corações", é na vida inicial que os hábitos podem ser mais
facilmente formados. Mesmo assim, em muitos lares cristãos é permitido que as crianças falem sobre o tio
predileto da família. O que admira é que os filhos dos cristãos precisem se converter. Converter-se é voltar-
se para Deus, abandonando os maus caminhos, mas um pai que cria seus filhos na disciplina e admoestação
do Senhor deve confiar que o Senhor cumprirá Sua promessa de que a criança que foi ensinada no caminho
em que deve andar nunca se apartará dele.

"Nunca podemos chamar o Senhor de Jesus ou de Jesus Cristo?" Essa pergunta vem de um lar que é
considerado, não apenas pelo refinamento e cultura, mas por um alto teor de cristianismo. Não é
extraordinário que essas pessoas, em vez de buscar oportunidades de confessá-Lo como Senhor, desejem
encontrar ocasião de negar-Lhe a reverência e a honra que Ele exige de todos os que O conhecem?

Estas páginas já excederam os limites previstos originalmente. Contudo, não posso concluir sem antes
declamar com ênfase a intenção ou desejo de baixar regras para guiar os outros nesse assunto. Meu
propósito foi despertar um inteligente interesse no assunto e tornar urgente entre os cristãos a importância
de também seguirem aquele instinto espiritual ao qual apela o apóstolo João, quando escreveu: "E a unção
que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a
sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele
permanecereis." (1 João 2:27) Como indica o contexto, não é que o apóstolo credite os discípulos com a
compreensão de todos os mistérios e todos os conhecimentos, mas está apelando aos instintos espirituais
deles, a fim de torná-los intolerantes a tudo que possa manchar a honra do Senhor.

Nas cartas de Wiliam Carey (o sapateiro que se tornou, não apenas um pioneiro e um príncipe entre os
missionários, mas um conselheiro e amigo de três grandes vice-reis da Índia), encontraremos a seguinte
frase inspiradora: "Ser cavalheiro é o mais próximo melhor caráter de um cristão e ser cristão inclui ser
cavalheiro!" No espírito dessas palavras eu sugeriria que à parte, até mesmo dos instintos espirituais, se o
povo bem considerado seguisse seu sentido natural do que é certo e adequado, descobriria a impropriedade
de nomear o Senhor Jesus Cristo como um herói morto, ou coisa assim...

O caráter de um cavalheiro não é formado a partir de um "livro de boas maneiras". É por um instinto de
cortesia que nossas palavras e atos são regulados. Contudo, se o socialismo tivesse prevalecido nesta terra,
até mesmo por uma geração apenas, e pelo intercurso diário com os seus degradados aderentes tivéssemos
esquecido aquele código que não foi escrito, o qual Edmund Burke descreve como "a gratuita graça da
vida", precisaríamos de uma não pequena escolaridade hoje em dia na esfera social. Então, não é estranho
que, após tantos séculos de "Religião da Cristandade", precisemos ter nossos instintos espirituais acelerados
e treinados por meio de um estreito e habitual contato com a Escritura Sagrada?

"Cingi os lombos de vossas mentes" é um preceito do qual ninguém é mais carente e negligente. Pois na
esfera da verdade cristã a "mente relapsa" é o que mais existe por aí. Em nenhuma outra esfera ela seria
tolerada. Na literatura, na arte e na ciência, a exatidão e o cuidado na terminologia de cada assunto são
considerados essenciais. Contudo, nesta sagrada esfera, honoráveis professores exibem uma chocante
indiferença e ignorância da terminologia cristã bíblica.

A mente relapsa influencia a conduta. Ela tende a fazer com que se esqueça "o temor do Senhor" e a
solenidade do julgamento de Cristo. Daí que alguns de quem coisas melhores poderiam ser esperadas,
mantêm comunhão com homens que não apenas difamam o Senhor, desprezando Sua Santa Palavra, mas
pela falsa afirmação de serem Seus ministros, cometem o pecado de Judas de traí-Lo com um beijo. Nestes
dias de apostasia é nosso dever buscar a presença de nosso Mestre e Senhor, tanto pela denúncia como
pela demonstração de intolerância a homens tão degradados. Não com os pecadores comuns - pelos quais
eles não nutrem qualquer compaixão - mas com os pecadores das "sinagogas", para quem Ele tem
reservado apenas advertências e ais. A Reforma Protestante resgatou a doutrina da salvação
exclusivamente pela fé, mas a salvação pela graça tem sido a grande verdade do reavivamento evangélico.

Esta verdade descortinada como um sol de abril, nos escritos dos reformadores protestantes, tornou-se
novamente obscurecida pelo agrupamento de nuvens. Logo foi esquecido que a graça que traz salvação
também ensina o salvo a viver sóbria, reta e piedosamente neste mundo. O cristão foi relegado à escola da
lei, quando deveria viver com a "liberdade com que Cristo nos libertou" (Gálatas 5:1). Mas do que tudo,
devemos nos lembrar que a verdade distintiva do cristão de modo algum anulou a revelação procedente de
um Deus de infinita santidade e majestade. Nem um pouco da pregação e do ensino atual sugere que o
Cristo dos evangelhos suplantou "o grande e tremendo Deus" da antiga Aliança. Mas o "Jesus" apresentado
nesse tipo de ensino é apenas um mito. "Aquele que foi manifestado em carne" não é outro senão o Deus
do Sinai, e o "nosso Deus é um fogo consumidor". Na presença da glória do Sinai Moisés falou: "Grande
temor e terremoto". Mas quando o discípulo amado contemplou a Sua Glória, mesmo tendo se reclinado em
Seu seio, na noite da traição, caiu aos seus pés como morto.

Entre os que proclamam em altíssima voz que "toda Escritura é inspirada por Deus..." (2 Timóteo 3:16)
quão poucos são os que realmente dão importância ao Apocalipse, como sendo realmente a Palavra de
Deus, tanto quanto o sermão a Nicodemos, no capítulo 3 do Evangelho de João! O Apocalipse é tratado
como um apêndice desprezível do Novo Testamento, um livro a ser estudado pelas pessoas cultas e com
tempo livre. Não existe um livro mais necessário para os nossos dias. Para uma mente esclarecida pelo
capítulo de abertura, cada detalhe apresentado na narrativa da humilhação do Senhor tem um significado
mais completo e brilha com uma luz celestial. Vamos ao registro dessa visão, conforme Apocalipse 1:13-18:

"E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa
comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã
branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; e os seus pés, semelhantes a latão reluzente,
como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na
sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol,
quando na sua força resplandece. E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua
destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou
vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno."

Na presença de uma glória tão tremenda, uma pessoa que depende da "religião do crucifixo" [ou da
prosperidade], a figura de um "Jesus" criado segundo a imagem do homem se desvanece como a neblina à
luz do sol. Mas o fulgor "do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2 Coríntios 4:4) traz
uma paz eterna e infalível. Não que devamos desistir de um "jota" ou um "til" do registro de Sua obra
terrena, mas nossa fé deve repousar sobre isso, resultando na glorificação do Senhor que há de voltar. E,
voltando do Cristo da glória para o Cristo da humilhação, o Seu "Está consumado" dito na cruz é coroado
pelo "não temas" do trono.

E se os "olhos do nosso coração" ficarem repletos de Sua glória, em vez de indagar: "Nunca devemos
chamá-Lo Jesus?" será o nosso mais profundo e incessante objetivo "servi-Lo com reverência e temor
divino", a fim de ganharmos um lugar no Livro de Memória escrito diante Dele, onde estão inscritos todos os
nomes dos que O temem e meditam no Seu Nome.
Fim de "A Glória do Seu Nome"
Traduzido a partir do original em http://www.newble.co.uk/anderson/literature.html

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