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Letícia Alves
Ele não tem nome, pois poderia ser qualquer um. Não porque se parece com todos os
jovens padres ingênuos, imaturos e idealistas, mas exatamente pelo contrário: ele
representa o único sacerdote entre tantos que ousa ir contra a mundanização da tradição
católica. Ele não tem nome porque, embora seja o protagonista da história, não é o seu
centro – este livro não é sobre um Pároco de Aldeia, mas sobre a santidade. O leitor atento
acompanha, página após página, a transformação deste pobre homem de hábitos infantis
em um santo.
Santo porque não se adapta à farsa geral do mundo nem falsifica seus objetivos para ser
aceito pela população: ele se mantém intacto na sua missão, mesmo diante da corrupção
que vigora ao seu redor, e tem a audácia de não ser um homem do seu tempo. “Cada época
é salva por um pequeno punhado de homens que têm a coragem de não serem atuais”,
disse certa vez o escritor inglês G. K. Chesterton, que não estava se referindo ao Pároco,
mas bem que poderia.
Há outra frase que define com primor o espírito do Pároco, e foi escrita por ele próprio:
“O ridículo está sempre tão próximo do sublime” – ele não sabe se é um ou se é outro e
passeia entre os dois durante toda a narrativa. Do meio para fim do romance, percebemos
que esse impasse vai perdendo importância para o protagonista: o desprestígio junto ao
povo, as dores da doença, a inadaptação ao “mundo real” vão se esvaindo junto com sua
vida.
O que ocorre é que, além de pobre e menosprezado, o Pároco também está doente, e a
gravidade desse mal vai se acentuando ao longo da narrativa. A forma como trata da sua
situação é desleixada, pois ele se contenta em sentir dor. Paralelamente, cuida da
catequese das crianças da Paróquia e tenta resolver os dramas internos (e interiores) de
uma família de nobres bastante respeitada na cidade, mas consumida pela vaidade e pela
arrogância. É desta pequena receita que se constitui a narrativa simples do romance.