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lítico, nem na Arqueologia como uma dentais podem valorizar outras moda-
disciplina estática, podemos pensar lidades sensoriais.;
que a versão dominante da Arqueo- b) que a experiência sensorial é multi-
logia modernista ocidental recai sobre facetada e age em conjunto.
uma estrutura filosófica e social que
sistematicamente: denigre a experiên- Neste contexto, Hamilakis argumen-
cia sensorial e reafirma a hierarquia ta que o ponto de partida para uma
sensorial aristotélica com seus sensos Arqueologia dos Sentidos poderia ser
uma reflexão sobre o próprio papel do
superiores e inferiores.
pesquisador e da ciência arqueológica,
Conforme Thomas (2009), a emergên- tomando por base: a interrogação dos
cia, durante o século XVIII, da visão modelos sensoriais do pesquisador,
como sentido principal no ocidente, sua educação sensorial, estruturas de
não representou apenas a emergência socialização dentro de modos específi-
de uma preferência cultural por um cos de interação corporal e conduta no
senso específico, mas uma situação na mundo; a análise dos sentidos em nos-
qual uma concepção particular e restri- sa disciplina; análise dos processos de
ta de visão se tornou o modo aprova- socialização e incorporação das infor-
do de apreender a realidade e produzir mações dentro do aparato arqueológi-
regimes de verdades. Esta maneira de co (aparato formado durante a moder-
ver o mundo implicava em uma distin- nidade ocularcentrista) e seus regimes
ção do mundo físico, inerte das coisas corporais e sensoriais dominantes.
isoladas e o mundo interior do pensa-
Segundo Hamilakis, não nos damos
mento.
conta normalmente de que a Arqueolo-
Verdade, realidade e objetividade pas- gia vive uma situação no mínimo para-
saram a ser construídas em termos doxal, pois há, tanto em campo quanto
visuais e, embora os cientistas sociais no laboratório, um grande engajamen-
hoje estejam, em sua maioria, cons- to corporal, sensorial, por exemplo, no
cientes da construção problemática da manusear sedimentos, artefatos, ferra-
visão como sentido da razão, a visão mentas, no ato de fotografar, desenhar,
permanece nosso instrumento episte- se movimentar, experimentar o gosto
mológico e ontológico mais penetrante de sedimentos etc., e o fato de estas
(Ouzman 2005). A despeito da conve- práticas terem sido criadas a partir do
niência analítica, o foco sobre um úni- discurso e do aparato da modernidade,
co sentido ignora dois fatos: o que torna os sensos estáticos e dis-
a) que o modelo sensorial com seus pensáveis.
cinco sentidos autônomos pode não Este aparato transforma a fisicalidade
ser o modelo mais apropriado para o dos objetos em narrativas sem alma,
entendimento das experiências senso- sem sangue, sequências abstratas e
riais do passado, desde que evidências exibições desencorpadas destinadas
históricas, etnográficas, antropológicas exclusivamente para serem aprecia-
têm demonstrado que grupos não oci- das pela observação distanciada. Ao
trabalhar com os sentidos e com sua radas por meio de interações sensoriais
significação, a Arqueologia dos Senti- e é por isso que Seremetakis (1994)
dos, segundo Hamilakis, oferece-nos a defende que a memória pode ser con-
possibilidade de confrontar o ocular- siderada como um metassenso coleti-
centrismo da disciplina. vo que ativa e estrutura o tempo e a
A Arqueologia dos Sentidos, de acordo experiência. Os sentidos são, portanto,
com Hamilakis, não pode ser desenvol- forma de produção de lembrar e es-
vida separadamente das arqueologias quecer a materialidade. Memórias são
do lembrar e do esquecer, pois nossa geradas nos corpos dos sujeitos crian-
experiência sensorial no mundo nun- do estratigrafias sensoriais complexas.
ca é um simples contato dos sentidos Como defende Hamilakis, se cada ex-
periência sensorial carrega dentro de si
com as materialidades presentes, afinal
o peso mnemônico de inúmeras outras
todas as nossas experiências estão im-
experiências, então a nossa tentativa de
pregnadas de memórias e imagens que
evocar experiências sensoriais de ou-
completam e são completadas confor-
tras pessoas no passado torna-se ainda
me vamos interpretando o mundo.
mais complicada. Sentidos e memórias
Como diria o fenomenólogo Henri Ber- são assim contingentes, tanto do ponto
gson (1999), não há nenhuma percep- de vista histórico quanto cultural.
ção que não esteja cheia de memórias.
A proposta da Arqueologia Sensorial,
As propriedades sensoriais da comida,
segundo Hamilakis, não é considerar os
por exemplo, são formadas tanto por
sentidos e a percepção sensorial como
nossas expectativas quanto por nossas
unidades autônomas, sua proposta é
memórias (Sutton 2011). Nossas expe-
pensar a experiência sensorial como
riências gustativas, ao se acumularem,
multifacetada e agindo em conjunto.
estabelecem padrões referenciais que
Os sentidos são habilidades ativas e
são ativados pela memória. Ao mesmo
não passivas. O paladar da comida, o
tempo, estas experiências estabelecem
toque da roupa, o cheiro do corpo são
expectativas a cada nova refeição que
todos sentidos e valorados e é através
fazemos, tomando por base aquilo que
desta valoração que discriminações são
já conhecemos.
criadas. Os sentidos dizem respeito à
Halbwachs (2006) salienta que a mais individualidade. Quem somos, depen-
solitária memória é, de fato, social, de do comportamento deles e de nosso
desde que ela seja estimulada e forma- corpo. Como nós nos sentimos parte
da por pessoas, objetos e instituições. ou não de uma unidade depende de
Relembrar é um processo coletivo, um como concebemos nós mesmos e os
canal de comunicação, através do qual outros.
nós formamos nossa interação com o Hamilakis em seu livro salienta que, ao
“outro” e com o mundo. trabalhar com os sentidos e as mate-
Se lembrar e esquecer são essencial- rialidades, a Arqueologia Sensorial não
mente experiências coletivas, devemos tenta reconstruir o passado e a experi-
destacar que essas experiências são ge- ência sensorial do passado nem é uma
O MASJ é uma dessas instituições tante diálogo que deve ser mantido en-
que desde 1972, ano da sua fundação, tre profissionais/pesquisadores ligados
visa colocar em prática “a divulgação aos museus e/ou instituições de cultu-
do patrimônio arqueológico aos mais ra com a sociedade.
distintos públicos” (2013:19). Segun- Sendo assim, optamos por resenhar a
do os organizadores da publicação, obra em quatro momentos. O primeiro
muitas estratégias já foram lançadas, diz respeito aos dois textos iniciais, “As
deixadas de lado e repensadas, sem- futuras gerações têm direito à herança
pre visando a melhor harmonia entre arqueológica? Premissas e desafios dos
o espaço museológico e a comunidade processos de musealização” e “Ação
circunvizinha ao museu e demais sítios educativa inclusiva e comunicação mu-
arqueológicos existentes no município seológica: mudança de paradigmas”,
de Joinville. O MASJ continua nessa escritos respectivamente pelas museó-
constante busca em compartilhar essas logas Maria Bruno (Museu de Arque-
experiências, além de refletir e discutir ologia e Etnologia da Universidade de
sobre os desafios que dizem respeito São Paulo) e Amanda Pinto da Fonse-
ao patrimônio cultural. Salientado pe- ca Tojal (Coordenadora do programa
los organizadores na apresentação des- Educativo para Públicos Especiais na
sa publicação, a coletânea é fruto dos Pinacoteca do Estado de São Paulo).
anos de trabalho e dedicação para com O ponto em comum entre estes artigos
o patrimônio. Sem sombra de dúvidas, é a temática da museologia. As autoras
esta obra atenderá as expectativas e entendem que o espaço museológico é
tornará mais límpido o horizonte de importante na fomentação de políticas
trabalho da Educação em Museus e na públicas que considerem a perpetuação
sua aproximação com a perspectiva da do material exposto, bem como da sua
Arqueologia Pública. apropriação e interpretação por parte
Adentrando a estrutura principal da do público visitante.
coletânea composta por oito artigos, a No texto da Maria Bruno, a análise é
obra como bem apontada no seu título direcionada para o material arqueoló-
se divide entre o compartilhar experi- gico, apresentando proposições e de-
ências e refletir sobre desafios atrela- safios no que tange a preservação da
dos ao patrimônio cultural. Como a cultura material, tendo como suporte a
iniciativa parte de integrantes e profis- museologia. O reduzido diálogo entre
sionais que já atuaram junto ao MASJ, a arqueologia e museologia acarretam
debates que envolvem Museologia, problemas quanto a sua conservação,
Educação Patrimonial e Arqueologia bem como da garantia de que as ge-
serão recorrentes. Contudo, o leitor rações futuras possam ter o direito de
encontrará também discussões acerca também usufruir das possibilidades de
da construção da memória social, das apropriação e interpretação que essa
políticas públicas de inclusão social ao cultura possa oferecer. A abordagem
espaço museológico, entre outros no- da “pedagogia museológica” é vista
vos paradigmas que desafiam o cons- pela autora como ferramenta de grande
res guerreiras aos “estranhos” hábitos pelo etnógrafo e usado como expe-
indígenas descritos pelos etnógrafos. A diente para “soltar a língua” de suas
questão é que a floresta amazônica ain- fontes. Mas apesar desta postura, ele
da é vista como um espaço mítico pelo não deixou de reconhecer que essas
europeu e seus habitantes ora inferio- populações tinham criado uma cultura
rizados, ora idealizados, os quais são e organização social, além de mostrar
geralmente associados a indígenas e que o europeu perturbara suas vidas,
outras populações tradicionais, não le- esta mudança de pensamento o coloca
vando em consideração que as comuni- no momento da virada etnográfica em
dades estão cada vez mais urbanizadas relação à região.
e que buscam o desenvolvimento de
Já no século XX, Tastevin e Nimuen-
suas regiões, a pergunta talvez devesse
daju viveram entre indígenas, pesqui-
ser: qual o preço do desenvolvimento
sando suas línguas e cultura, como a
na Amazônia, ambiental e social?
etnógrafa Priscila Faulhaber diz, eles
Orellana fez parte da empresa colo- trabalhavam sob o signo de uma “ur-
nizadora das Américas, em busca de gência etnográfica”, percebendo que as
riquezas, que com o uso da força pode- populações estavam fadadas a desapa-
ria se apossar das terras e subjugar seus recer, para muitos indígenas, Tastevin
moradores. Derrotar as terríveis Ama- e Niemundaju eram “pais protetores”
zonas tem um caráter simbólico de do- e tinham mesmo uma ação tutelar e
minação do mundo natural – os índios paternalista.
fazem parte da natureza tal qual planta
e animais – e das barreiras à coloniza- O distanciamento dos mitos e fábu-
ção. Porém, Carvajal, que acompanhou las, dando lugar aos fatos científicos,
Orellana, relata uma informação notá- acentuou-se no séc. XIX, no relato
vel no que diz respeito ao povoamento, de Spix e Martius sobre a sua viagem
ele fala de diversas aldeias às margens pela Amazônia (1819 e 1820), o mito
do Amazonas que eram densamente do Eldorado foi considerado superado
povoadas, em contraste com relatos e, quanto às Amazonas, Martius é ca-
posteriores. Ele descreveu aldeias com tegórico: “Não acredito na existência
5 léguas (12,5 km) de extensão sem se- delas no passado, quer no presente”.
paração entre as casas, ele se maravi- Na historiografia mais recente sobre
lhou com uma cidade com torres altas, a região, segundo Willi Bolle, as visões
imensas colunas e esculturas de felinos. mitológicas estão sendo relembradas,
porque a colonização que tem marcado
Paul Ehrenreich é apresentado como
a Amazônia nas últimas décadas, pode
um representante, em certa medida,
do pensamento de superioridade eu- ser melhor compreendida por estas
ropeu que sempre balizou as escolhas chaves, a política do Estado reatualiza
dos forasteiros, os indígenas das pági- estes elementos nos seus discursos so-
nas de seu “diário” são feios, doentes bre a região.
e inclinados a vícios, principalmente a O filme citado no livro: Aguirre, a cólera
cachaça, o que apesar de ser criticado de Deus, de Werner Herzog, retoma o