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Antonio Carlos Banzato Afonso Santos

Sandra da Costa Lacerda

Sociologia da
Educação

Adaptada/Revisada por Antonio Carlos Banzato (setembro/2012)


APRESENTAÇÃO

É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Sociologia da Educação,
parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo
que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma
apresentação do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!

Unisa Digital
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 5
1 SOCIEDADE................................................................................................................................................. 7
1.1 Durkheim.............................................................................................................................................................................7
1.2 Marx.......................................................................................................................................................................................9
1.3 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................11
1.4 Atividades Propostas....................................................................................................................................................11

2 PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS................................................................................................... 13
2.1 Paradigma do Consenso.............................................................................................................................................13
2.2 Paradigma do Conflito.................................................................................................................................................15
2.3 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................16
2.4 Atividades Propostas....................................................................................................................................................17

3 TEORIAS EDUCACIONAIS............................................................................................................... 19
3.1 Otimismo Pedagógico.................................................................................................................................................19
3.2 Pessimismo Pedagógico.............................................................................................................................................20
3.3 Teoria Crítica....................................................................................................................................................................22
3.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................23
3.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................23

4 GLOBALIZAÇÃO.................................................................................................................................... 25
4.1 Globalização e Educação............................................................................................................................................26
4.2 Era da Informação.........................................................................................................................................................29
4.3 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................30
4.4 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................30

5 ASPECTOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL................................................................................ 31


5.1 Analfabetismo.................................................................................................................................................................32
5.2 Espaços Escolares e não Escolares..........................................................................................................................33
5.3 Escola Rural......................................................................................................................................................................34
5.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................34
5.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................35

6 A MICROSSOCIOLOGIA.................................................................................................................... 37
6.1 O Sujeito e o Grupo.....................................................................................................................................................37
6.2 Liderança e Conflitos....................................................................................................................................................41
6.3 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................43
6.4 Atividades Propostas....................................................................................................................................................43

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 45
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 47
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 49
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a),

A complexidade social atual, as dificuldades e os dilemas da educação nos remetem a uma obser-
vação mais abrangente para além da escola e das propostas educacionais em busca de entendimento da
situação para a elaboração de alternativas e de ações profícuas para a melhoria da educação escolar que
é destinada à maioria da população brasileira.
Considera-se que muito se progrediu no aspecto do acesso à escola, embora o atendimento na
educação infantil seja muito pequeno diante da demanda existente. Por outro lado, estudos mostram
que o trabalho escolar não tem conseguido propiciar satisfatoriamente o acesso ao conhecimento, o
desenvolvimento de competências e habilidades elementares; tal situação fica patente ao se verificarem
as dificuldades e a falta de domínio básico da língua materna. Nesse sentido, evidencia-se que há um
trabalho hercúleo a se realizar para a melhoria da qualidade da escola brasileira, sobretudo a destinada
aos mais pobres.
Diante dessa situação, é imprescindível nos debruçarmos no estudo da problemática educacional.
O processo educacional pode ser estudado a partir das contribuições de vários campos do saber da
Filosofia, da História, da Psicologia, da Sociologia, da Didática etc.
A Sociologia nos auxilia a entender as relações entre a sociedade e a escola em um nível macro e
microssociológico, ou seja, da escola como um grupo social.
A Sociologia da Educação se constitui um elemento valioso para o estudo da Educação. Ela é um
dos ramos da Sociologia; dessa maneira, fundamenta-se nas teorias sociológicas. Alguns estudiosos afir-
mam que a primeira não se sustenta sem a segunda.
Nesta disciplina, buscaremos apontar as contribuições da Sociologia para a ampliação do nosso en-
tendimento da Educação. Nesse sentido, revisitaremos alguns aspectos dos estudos de Durkheim e Marx
que nos auxiliarão a entender as relações macrossociais da educação e da escola. Prosseguiremos com os
apontamentos a respeito dos paradigmas sociológicos que tiveram como fonte esses dois pensadores.
Os paradigmas sociológicos também fundamentaram e influenciaram o surgimento de teorias
educacionais que trataremos em seguida. Consideraremos essas teorias divididas em três grandes blo-
cos: otimismo pedagógico, pessimismo pedagógico e teorias críticas ou otimismo crítico.
Posteriormente a essa incursão nas discussões educacionais e seus estreitos vínculos com as con-
cepções sociais, retornaremos a nossa observação para a sociedade (em geral) por meio de alguns apon-
tamentos acerca da globalização e, na sequência, trataremos de alguns aspectos da educação na era da
globalização.
Prosseguindo, para encerrar, focalizaremos a escola no âmbito micro, ou seja, a escola como um
grupo social, tratando das relações interpessoais que se estabelecem em seu cotidiano.
Desejamos que você aproveite muito este módulo, que estude bastante, e que os conhecimentos tra-
zidos pela disciplina Sociologia da Educação lhe proporcionem um olhar mais abrangente sobre a escola e

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a sua função social. Queremos que, ao término da disciplina, você tenha muito mais perguntas e desejo de
aprofundar os seus conhecimentos sobre os conteúdos da matéria. Como você sabe, o conhecimento provo-
ca indagações cada vez mais profundas sobre o objeto de estudo, qualquer que seja ele.
Estamos à sua disposição para o que se fizer necessário.

Antonio Carlos Banzato A. Santos


Sandra da Costa Lacerda

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1 SOCIEDADE

Caro(a) aluno(a), você já teve, no segundo Muitos são os pensadores que se dedicaram
módulo, a disciplina Sociologia e estudou as prin- ao estudo da sociedade.
cipais teorias sociológicas que foram construídas Devido à enorme influência de suas ideias e
no século XIX, tendo como cenário o mundo euro- estudos para o entendimento das questões edu-
peu, marcado por uma era de revoluções sociais e cacionais, vamos revisitar, nesta disciplina, alguns
políticas. Lembremos, aqui, de duas importantes conceitos de Durkheim e Marx.
revoluções que produziram as condições para a
emergência da sociologia: a Revolução Francesa
e a Revolução Industrial.

1.1 Durkheim

O papel da sociologia deve justamente


consistir em libertar-se de todos os partidos,
não opondo uma doutrina às outras doutrinas
mas fazendo com que os espíritos partilhem,
face a estas questões uma atitude especial
que só a ciência pode dar pelo contato
direto com as coisas.
Durkheim

Você entrará em contato com um autor que A partir de 1887, quando Durkheim ingres-
contribuiu para que a sociologia se estabelecesse sou na Universidade de Bordéus, ele dedicou
como ciência autônoma. Preparado(a)? toda a sua carreira ao estudo da sociologia. Foi o
Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de fundador da escola francesa de sociologia.
1858 na cidade de Épinal, na França. Estudou no Durkheim escreveu várias obras impor-
Liceu e na Escola Normal Superior de Paris. Foi di- tantes para esta disciplina, tais como: Elementos
plomado em 1882, iniciando a lecionar filosofia de Sociologia (1889), A Divisão do Trabalho Social
nos liceus. (1893), As Regras do Método Sociológico (1895), O
Durkheim aprofundou seus estudos nas Suicídio (1897), As Formas Elementares da Vida Re-
obras de Herbert Spencer e Alfred Espinas. Esses ligiosa (1912), Educação e Sociologia (1922), Socio-
estudos impulsionaram-no na elaboração de um logia e Filosofia (1924), A Educação Moral (1925), O
projeto de transformar a sociologia em uma ciên- Socialismo (1928).
cia autônoma. Também participou ativamente durante
Durkheim tinha como objetivo constituir a a Primeira Guerra Mundial; era a favor da causa
sociologia como ciência, como uma disciplina ri- francesa, escrevendo panfletos nacionalistas.
gorosamente objetiva.

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Durkheim faleceu em Paris no dia 15 de no- Durkheim também criou o conceito de fa-
vembro de 1917. tos sociais. Os fatos sociais descrevem os fenôme-
É importante que você saiba que na época nos que não são limitados a apenas uma pessoa.
do sociólogo, as ciências naturais tinham mui- Eles têm uma existência independente e mais ob-
to prestígio, sobretudo a biologia. Durkheim foi jetiva do que as ações individuais.
muito influenciado por elas; por isso, utilizou uma Os fatos sociais definem o que as pessoas
abordagem metodológica que se baseava nessas sentem, pensam ou fazem, independentemente
ciências, criando vários conceitos para a socio- de suas vontades individuais; é um comporta-
logia. Alguns dos seus principais conceitos são: mento estabelecido pela sociedade.
instituição social; sociologia; socialização; fatos Os fatos sociais exercem uma coação exter-
sociais; consciência coletiva; solidariedade e ano- na sobre os indivíduos, como, por exemplo, leis,
mia. instituições, crenças. Eles formam a nossa cons-
ciência coletiva, e por meio da socialização, é for-
Saiba mais mada a consciência coletiva, que é o conjunto das
crenças e dos sentimentos comuns à média dos
Durkheim aconselhava o cientista a estudar os membros de uma mesma sociedade.
fatos sociais como “coisas”, fenômenos que lhe
são exteriores e que podem ser observados e Para Durkheim, a existência da sociedade
medidos de forma objetiva. só é possível a partir de um determinado grau de
consenso entre seus membros constituintes.
O consenso entre os indivíduos ele designa
de solidariedade, sendo que há dois tipos de soli-
Para ele, instituição social é o conjunto de dariedade: a mecânica e a orgânica.
todas as crenças e de todos os modos de conduta
A solidariedade mecânica foi assim chama-
instituídos pela coletividade. As instituições so-
da em analogia com a coesão que une entre si os
ciais agem pela manutenção da ordem e fazem
elementos dos corpos brutos, como fazem as mo-
força contra as mudanças. Algumas instituições
léculas dos corpos inorgânicos.
sociais são: família, escola, governo, polícia, igreja,
empresa etc. A solidariedade mecânica prevalece nas
sociedades ditas “primitivas” ou “arcaicas”. Nesse
Você verá agora a definição de Sociologia.
tipo de sociedade, os indivíduos compartilham as
Guarde-a bem: a Sociologia é definida como a
mesmas noções e valores sociais. Assim, a coesão
ciência das instituições, da sua gênese e do seu
social é assegurada pela correspondência de va-
funcionamento.
lores.
Para Durkheim, a existência, a continuida-
A solidariedade orgânica prevalece nas so-
de e a coesão de uma sociedade só são possíveis
ciedades ditas “modernas” ou “complexas”, do tipo
quando os indivíduos se adaptam ao processo de
da capitalista. Nelas, os membros não comparti-
socialização.
lham as mesmas crenças e valores sociais; por-
Ele denomina o processo de aprendizagem tanto, a coesão social não é mais pela similitude
ou socialização como um processo no qual os in- das crenças e valores sociais, como nas socieda-
divíduos assimilam valores, hábitos e costumes des “menos complexas”, nas quais os costumes e
que definem as maneiras de ser e de agir caracte- a tradição são compartilhados. A coesão social é
rísticas do grupo social ao qual pertencem. buscada pelo estabelecimento de leis, pelas nor-
Nesse sentido, a educação consiste em um mas jurídicas, pelas regras sociais.
esforço contínuo para impor à criança maneiras Para Durkheim, a sociedade é um todo in-
de ver, sentir e agir, às quais ela não teria chegado tegrado, sendo que tudo está interligado, e qual-
espontaneamente. quer alteração afeta toda a sociedade.

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Sociologia da Educação

Para ele, uma sociedade sem regras claras vida social. Ela tem como objetivo suscitar e de-
pode afetar a coesão social e a conduz a um es- senvolver na criança os valores sociais.
tado de anomia. A anomia, a ausência de regras, Assim, como você pode perceber, a educa-
é a grande inimiga da sociedade. Para que isso ção é um meio pelo qual a sociedade se perpe-
não ocorra, deve-se estabelecer a solidariedade tua, transmitindo valores morais que integram a
orgânica entre todos os membros, por meio de sociedade. Para ele, a educação é estruturada de
um sistema de direitos e deveres no qual todos modo a assegurar a sobrevivência da sociedade a
devem assumir a sua função na divisão do traba- que serve.
lho e, portanto, mantendo-se coesos e solidários
aos demais. Atenção
Segundo Durkheim, a educação é uma ação
Segundo Durkheim, a educação é uma ação
exercida das gerações adultas sobre as gerações
exercida das gerações adultas sobre as gerações
que ainda não se encontram preparadas para a que ainda não se encontram preparadas para a
vida social. Ela tem como objetivo suscitar e de-
senvolver na criança os valores sociais.

1.2 Marx

O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida


social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o
seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência.
Marx

Agora, você estudará um dos nomes mais da influência de Gans, Marx escreveu um tratado
importantes da sociologia: Karl Marx. Nascido em acerca da Filosofia do Direito, o qual abandonou
5 de maio de 1818 em Treves, na província alemã depois de ter escrito trezentas páginas; escreveu,
do Reno; fez o curso secundário em Treves mes- também, um romance satírico e poesias.
mo e, posteriormente, foi estudar Direito na Uni- Em 1837, Marx abandonou definitivamente
versidade de Bonn. o Direito e a Literatura e se concentrou no estudo
Retornou de Bonn em 1836 e ficou noivo da Filosofia. Doutorou-se pela Universidade de
secretamente de Jenny Von Westphalen; pude- Iena com a tese A diferença entre a Filosofia da Na-
ram se casar apenas oito anos depois. tureza de Demócrito e a de Epicuro, defendendo-a
No mesmo ano em que Marx retornou de com brilhantismo; sua tese foi considerada erudi-
Bonn, foi para Berlim e matriculou-se na Univer- ta e original.
sidade. Em Berlim, apaixonou-se pela História e Ao retornar a Treves, em 1841, tinha uma
pela Filosofia e afastou-se do Direito. série de textos incompletos sobre os mais varia-
Naquela época, em Berlim, as ideias de He- dos assuntos: direito, arte cristã etc. Nessa época,
gel eram dominantes, e Marx não ficou imune a seus méritos intelectuais eram reconhecidos, po-
elas. Participou ativamente das discussões que rém, ele não conseguiu ser professor universitário
se travavam em torno das ideias dos discípulos como pretendia, para ter uma base econômica
de Hegel, que formavam um grupo identificado para se casar. A razão disso esteve no governo de
como hegelianismo de esquerda. Frederico Guilherme IV, no qual a filosofia de He-
Marx foi influenciado para o hegelianismo gel passou a ser malvista, e os hegelianos de es-
de esquerda pelo professor Eduardo Gans. A partir querda passaram a ser perseguidos; o Governo,

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portanto, não queria nas Universidades nenhum A sociedade, portanto, é extremamente


professor que tivesse influência do hegelianismo conflituosa, e é composta por classes sociais que
de esquerda ou fosse crítico ao regime absolutista. lutam entre si. Há, na sociedade capitalista, duas
Saiba que acerca do reconhecimento inte- classes sociais fundamentais: o proletariado e a
lectual de Marx, Moses Hess, autor da obra Histó- burguesia.
ria Sagrada da Humanidade, escreveu uma carta Acerca do surgimento do proletariado, afir-
ao romancista Bertold Auerbach afirmando que ma-se que
Marx era “o maior e talvez o único filósofo atual-
mente vivo”. Hess afirmou ainda: “Imagine Rous- em virtude do próprio desenvolvimento
seau, Voltaire, Lessing, Heine e Hegel não digo do Estado moderno, surge uma classe,
somados, porém fundidos em uma só pessoa e desprovida de todos os direitos e de to-
terás o Dr. Marx” (KONDER, 1981, p. 29). dos os bens, por isso, de tal modo aliena-
da que sua liberação só pode ser feita por
Conforme você provavelmente já tenha ou- meio da supressão dos laços opressores
vido falar, Marx teve um grande amigo, Friedrich da sociedade como um todo, superando
Engels; essa amizade permaneceu durante toda a assim, qualquer tipo de alienação. Pela
suas vidas. Eles tiveram um primeiro contato pes- primeira vez Marx proclama, pois, a luta
de classes como motor da História, e o
soal na Gazeta Renana – jornal que Marx dirigia
proletariado como o germe que deveria
na época – e voltaram a se encontrar em 1844 em subverter a estrutura da sociedade mo-
Paris, quando Marx já estava morando lá. derna. (OS PENSADORES, 1987, p. 9).
Friedrich Engels nasceu em 28 de novem-
bro de 1820 em Barmen, na Prússia Renana, e
também fez parte da esquerda hegeliana. Segundo Konder (1981, p. 46),
Engels e Marx escreveram muitas obras jun-
tos, tais como O Manifesto Comunista, A Sagrada Marx chama de alienação do trabalho
precisamente este fenômeno pelo qual
Família, A Ideologia Alemã.
o trabalhador, desenvolvendo a sua ati-
Marx escreveu A miséria da Filosofia, O 18 vidade criadora em condições que lhe
Brumário de Luís Bonaparte, Crítica à Filosofia do são impostas pela divisão da sociedade
Direito de Hegel, A Guerra Civil na França, Manus- em classes, é sacrificado ao produto do
critos Econômico-Filosóficos, Crítica a Economia Po- trabalho. Para Marx, os regimes baseados
na propriedade privada dos meios sociais
lítica etc. Sua principal obra é O Capital, sendo que de produção – sobretudo o capitalismo
os Livros II e III foram publicados postumamente – tendem a transformar o homem num
por Engels. mero meio para a produção da riqueza
Considera-se que Marx elaborou uma nova particular (simbolizada pelo dinheiro). Em
lugar do produto ser criado livremente
concepção de mundo, que se fundamenta nas pelo produtor, é o produtor que fica su-
leis de movimento e transformação da natureza bordinado às exigências do produto, às
e do homem a partir da ação do próprio homem. exigências do mercado capitalista onde o
Para Marx, há um perpétuo movimento da produto vai ser vendido.
matéria e este possui leis próprias que se fazem
sentir na natureza e na sociedade. A alienação é, portanto,
Konder (1981, p. 58) afirma que
um processo ou o processo social como
para Marx, a vida, na sociedade capitalis- um todo. Não é produzida por um erro
ta, apresenta numerosas contradições. A da consciência que se desvia da verdade,
principal delas, porém, aquela que afeta mas é resultado da própria ação social
de maneira mais constante e socialmente dos homens, da própria atividade mate-
mais decisiva a existência dos indivíduos, rial quando se separa deles, quando não
é a contradição entre o trabalho e o ca- podem controlá-la e são ameaçados e go-
pital, quer dizer, entre o proletariado e a vernados por ela. (CHAUÍ, 1982, p. 79-80).
burguesia.

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Sociologia da Educação

Reflita um pouco sobre as ideias que expu- Segundo Chauí (1982, p. 21), por intermé-
semos até aqui e perceba que na sociedade ca- dio da ideologia “os homens legitimam as condi-
pitalista, o produto do trabalho não pertence ao ções sociais de exploração e dominação, fazendo
trabalhador, mas ao capitalista, que se apropria com que pareçam justas”.
do fruto do trabalho do operário. Perceba o poder da ideologia. Ela “é um dos
Quem é o capitalista? meios usados pelos dominadores para exercer
dominação, fazendo com que esta não seja per-
cebida como tal pelos dominados” (CHAUÍ, 1982,
O capitalista é o proprietário das fábricas,
dos meios materiais necessários à produ- p. 86).
ção, no sistema industrial moderno. O tra- As ideias de Marx influenciaram decisiva-
balhador nada possui a não ser a sua força mente os estudos em diversos campos do conhe-
de trabalho individual. Deste modo, para cimento humano, pois, segundo Konder (1981, p.
poder trabalhar, o trabalhador é forçado
a vender sua força de trabalho ao capi-
186-187),
talista; e essa venda se dá em condições
vantajosas para o capitalista e desvanta- Marx elaborou as bases de uma vasta
josas para o operário, já que o operário concepção do homem e do mundo. Por
tem mais urgência de vender sua força de força das condições em que viveu e em
trabalho (para poder comer) do que o ca- virtude da urgência das tarefas que se
pitalista de comprá-la (para movimentar impôs, não pôde desenvolver suas idéias
suas máquinas e obter lucros). (KONDER, no que concerne aos diversos planos da
1981, p. 45-46). atividade humana: concentrou-se no exa-
me dos problemas econômicos, sociais e
políticos. Sua contribuição à história da
As condições sociais, sobretudo a situação cultura, entretanto, ultrapassa os limites
de exploração de uma classe social sobre a outra, da economia, da sociologia e da política.
são ocultadas pela ideologia. “Ideologia são ideias
ou representações que tenderão a esconder dos Caro(a) aluno(a),
homens o modo real como as relações sociais fo- Após revisitarmos as teorias sociológicas de
ram produzidas e a origem das formas sociais de Durkheim e Marx, vamos verificar se você fixou
exploração econômica e de dominação política” bem o conteúdo. Assim, responda às perguntas
(CHAUÍ, 1982, p. 21). a seguir.

1.3 Resumo do Capítulo

Neste primeiro capítulo, você viu os principais conceitos das teorias sociológicas de Émile Dur-
kheim e de Karl Marx. Os dois pensadores viveram no século XIX e na agitada Europa, mas elaboraram
teorias diferentes para explicar a nascente sociedade capitalista. Durkheim via a educação como uma
forma de contribuir para a harmonia entre as classes sociais. Marx não tinha essa ilusão, pois, para ele, os
interesses da burguesia e do proletariado são inconciliáveis, e somente a luta de classes levará à constru-
ção do socialismo e da igualdade social.

1.4 Atividades Propostas

1. Como Durkheim define o conceito de socialização?

2. Quais são as principais classes sociais do capitalismo segundo Marx? Como é a relação entre elas?

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2 PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS

Caro(a) aluno(a), Elas também são fontes de dois paradigmas so-


ciológicos: o paradigma do consenso e o paradig-
Você já estudou as teorias sociológicas de ma do conflito.
Durkheim e Marx. Você sabia que essas teorias Acerca do conceito de paradigma, conside-
se tornaram paradigmas? Ou seja, suas ideias e ra-se que paradigmas são padrões ou modelos de
conceitos ainda servem de modelos explicativos comportamentos estabelecidos conforme as con-
para a compreensão da realidade social, econô- venções sociais.
mica, política, cultura e educacional do presente.
Dicionário
As teorias de Durkheim e Marx exerceram e
continuam a exercer muita influência nos estudos Paradigma: um exemplo que serve como modelo,
da sociologia e da educação, entre outras áreas. padrão (HOUAISS, 2009).

2.1 Paradigma do Consenso

Você estudará agora o paradigma do con- competição, quando não conflito decla-
senso. Sabendo o que é um paradigma, você se- rado, entre as superpotências. Dada a ne-
cessidade de integração interna gerada,
ria capaz de refletir sobre o que seria um paradig-
floresceu o paradigma do consenso, re-
ma do consenso? Convidamos você a pensar um presentado, sobretudo, pelo funcionalis-
pouco e tentar algumas hipóteses. mo, em Sociologia, e pela teoria do capi-
O paradigma do consenso entende a so- tal humano, em Economia. Basicamente
o paradigma do consenso vê a sociedade
ciedade como um conjunto de grupos sociais e/
como um conjunto de pessoas e grupos
ou de pessoas que se unem por crenças e valores unidos por valores comuns, que geram
comuns. Segundo esse paradigma, os valores e as um consenso espontâneo.
crenças comuns produzem um consenso espon-
tâneo. A concepção de sociedade, portanto, é de
O paradigma do consenso teve como prin-
“uma unidade que se baseia numa ordem moral”
cipais linhas teóricas o evolucionismo, o neoevo-
(GOMES, 1985, p. 17).
lucionismo e o funcionalismo.
Tal paradigma teve uma grande influência
Nessas linhas teóricas, a visão de sociedade
da década de 1940 até os primeiros anos da dé-
é inspirada no funcionamento de um organismo.
cada de 1960.
Elas se utilizam na explicação da sociedade da
Segundo Gomes (1985, p. 17),
analogia com um corpo vivo, no qual os órgãos
são interdependentes.
do pós-guerra até o início dos anos 60,
Comte, Spencer e Durkheim são alguns re-
verificam-se a guerra fria e uma intensa

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presentantes do evolucionismo. Eles foram muito “O funcionalismo enfatiza a integração so-


influenciados por Darwin, pelos seus trabalhos cial e a educação é um dos subsistemas integra-
acerca da evolução biológica. dores, responsáveis pela socialização.” (GOMES,
Para os evolucionistas, 1985, p. 24).
De maneira geral, o funcionalismo percebe
do mesmo modo que os organismos se a escola como uma agência de socialização e con-
transformam, as sociedades sofreriam
trole social. Por meio da escola, os indivíduos são
também modificações graduais e cons-
tantes. A história estaria dividida em eta- preparados para desempenhar os seus papéis na
pas, ao longo das quais as sociedades, sociedade. Socialização é um processo pelo qual
como os organismos, passariam de for- o indivíduo adquire o comportamento social
mas simples para formas complexas. Este aceito pelo grupo, ajustando-se a ele.
processo de mudança, ou progresso, seria
comum a todos. Assim, as sociedades ‘pri- Nessa concepção, “a obediência é alcança-
mitivas’ se transformariam em ‘modernas’, da através da internalização de valores e normas,
atingindo o ‘modelo’ de progresso, ou pelas crianças. A escola é, enfim, uma instituição
seja, a sociedade industrial do Ocidente.
que contribui para a construção do consenso so-
Da mesma forma que os biólogos desco-
brem leis do crescimento, caberia às Ciên- cial e da continuidade” (GOMES, 1985, p. 59).
cias Sociais identificar também as leis da Émile Durkheim é um dos mais importantes
mudança social. (GOMES, 1985, p. 18). precursores do moderno funcionalismo.
Segundo Gomes (1985, p. 24-25),
Esse modelo utilizado pela Sociologia de
estudo da sociedade, no qual ela é comparada a
um organismo vivo, foi chamado de modelo or- parte considerável da contribuição de
Durkheim para a Sociologia da Educação
gânico, constituído a partir da influência do evo- é o seu próprio trabalho pioneiro de de-
lucionismo. finir o processo educacional. Ele analisou
O funcionalismo é um modelo que enfati- várias definições anteriores, todas vagas
e preocupadas em descrever o que a edu-
za a interdependência das partes que compõem
cação deve ser, não o que a educação é.
o sistema social. Recorramos a um exemplo para Durkheim considerou a educação como
entendermos melhor a questão da interdepen- ‘ação exercida pelas gerações adultas so-
dência. Façamos uma analogia com uma indús- bre as gerações que não se encontram
tria. Em uma indústria, se há um mau funciona- ainda preparadas para a vida social; tem
como objeto suscitar e desenvolver, na
mento, ou mesmo se quebrarem as máquinas de
criança, certo número de estados físicos,
determinado setor, ou se houver a paralisação intelectuais e morais, reclamados pela so-
de um grupo de funcionários, a fábrica como um ciedade política no seu conjunto e pelo
todo ficará prejudicada. Isso ocorre porque os se- meio especial a que a criança, particular-
tores da indústria são interdependentes. mente, se destine’.

Esses elementos da sociedade formam uma


totalidade; contudo, essa totalidade não se reduz Acerca da definição de Durkheim, Gomes
à soma dos elementos. (1985, p. 25) considera que ela
O funcionalismo também considera que há
um estado normal de equilíbrio, “como a saúde apresenta grandes vantagens como pon-
para o organismo”. Nesse sentido, a sociedade to de partida e várias debilidades facil-
também se organiza ou cria mecanismos para mente identificáveis nos dias de hoje.
manter a sua estabilidade. O sociólogo francês clarifica as relações
entre educação e sociedade, mostrando
Muitos estudos têm como base teórica o que a primeira se insere no tempo e no
funcionalismo. E muitos sociólogos funcionalistas espaço. Não tem sentido a concepção
têm tido a educação como objeto de seus estu- ingênua – ainda hoje existente – de que
dos e de suas preocupações. a educação pode ser modelada quase

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Sociologia da Educação

à vontade dos seus reformadores. Dur- educação de Durkheim, pode-se apontar que ela
kheim apresenta vários exemplos históri- reduz o processo educacional da ação de uma ge-
cos e mostra que a educação é estrutura-
ração adulta sobre a geração que não se encontra
da de modo a assegurar a sobrevivência
da sociedade a que serve. O autor desta- preparada para a vida social, dos adultos sobre
ca também as funções uniformizadora e as crianças. Atualmente, o processo educacional
diferenciadora da educação: de um lado, não se restringe apenas às crianças e aos jovens.
ela visa à integração do indivíduo no con-
Outra limitação que se pode apontar é que,
texto da sociedade, transmitindo valores
e desenvolvendo atitudes comuns; de na definição durkheimiana, o processo educacio-
outro lado, a educação diferencia, res- nal não é unilateral (de uma geração adulta ou
pondendo à divisão social do trabalho madura para outra imatura). “Na verdade, as ge-
reforçando-a. rações interagem e entram em conflito, de modo
que a influência é recíproca (cf. PEREIRA; FORAC-
Contudo, a definição de educação apresen-
CHI, 1974)” (GOMES, 1985, p. 26).
tada por Durkheim apresenta limitações. Reflita
Para Durkheim, a educação é uma ação ex-
um pouco sobre quais poderiam ser essas limita-
clusiva do adulto sobre a criança. No entanto, Go-
ções. Você pensou em algo?
mes (1985) entende que as crianças não podem
Como sociólogo do consenso, o autor des-
ser consideradas apenas um objeto da ação edu-
considera os conflitos sociais entre os indivíduos,
cacional dos pais e professores. As crianças, sem
os conflitos advindos das demandas da socieda-
dúvida, são objeto do processo pedagógico, mas,
de como um todo e as do meio em que o aluno
ao mesmo tempo, são sujeitos desse processo e
está inserido.
também exercem uma ação sobre os educadores.
Com relação às limitações da definição de

2.2 Paradigma do Conflito

Conforme você pode perceber pela própria mentado, com diferentes grupos lutando
denominação, esse paradigma tratará dos confli- por recursos limitados.
tos da sociedade. O paradigma do conflito salien-
ta os aspectos conflitivos da sociedade. Para esse O paradigma do conflito tem como fonte
paradigma, a sociedade é constituída de grupos o marxismo. Marxismo é nome da obra de Karl
divergentes que vivem em constante conflito. Há Marx e de Friedrich Engels. Considera-se também
classes sociais antagônicas que lutam entre si, o marxismo como um sistema político e econô-
uma classe (a dominada) luta para sobreviver; por mico.
outro lado, a classe dominante se utiliza de todos Apresentaremos a você muito sucintamen-
os meios para manter o seu poder e hegemonia. te alguns pontos dos trabalhos de Marx, visando
Segundo Gomes (1985, p. 32), o paradigma situar o paradigma do conflito.
do conflito Segundo Marx, a sociedade é organizada
pelo modo de produção capitalista que condicio-
não nega a integração entre as pessoas, na as relações sociais e a superestrutura. Nesse
mas vê o consenso como algo imposto sentido, a organização social se constitui de três
pelo grupo dominante. Valores e idéias aspectos: as formas materiais de produção, as re-
são considerados mais como armas para
o conflito que como meio de integração.
lações de produção e pela superestrutura.
A sociedade é vista como um todo seg- As formas materiais de produção estão na

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base da sociedade, ou seja, são as formas pelas ção. Como conseqüência, as idéias da
quais os homens constroem a sua sobrevivência classe dominante são corporificadas sob
a forma de ideologia, de tal modo que a
relacionando-se com a natureza. As relações de
posição do grupo no poder seja legitima-
produção são as relações e direitos de proprieda- da. Assim, a ideologia impede as pessoas
de e que envolvem as relações entre os homens. de reconhecer seus reais interesses, de tal
A superestrutura se constitui de leis, regras, modo que elas adquirem uma ‘falsa cons-
normas e ideias que formam a consciência social. ciência’. (GOMES, 1985, p. 34).
A educação está incluída na superestrutura.
A educação, na concepção marxista, é um
Multimídia instrumento da classe dominante de manutenção
das condições sociais. Ela tem sido, no capitalismo,
Caro(a) aluno(a), para conhecer mais sobre as
ideias de Karl Marx e a luta de classes, assista ao um meio de dominação política. Contudo, ela tam-
filme Germinal, do diretor francês Claudio Berri, bém poderá servir para a conscientização da classe
baseado no livro de Emile Zola.
dominada. Você não acha que seja muito interes-
sante pensar a educação a partir dessa perspectiva?
Para Marx, citado em Gomes (1985, p. 34), “a
educação é peculiar no sentido de que […] ‘de um
lado, é preciso que as circunstâncias sociais mu-
Para Marx, a história é a história da luta de dem para que se estabeleça um sistema adequa-
classes. As classes sociais, como grupos mais im- do de educação, mas, de outro lado, é necessário
portantes da sociedade, encontram-se em cons- um sistema educacional adequado para produzir-
tante oposição devido às suas posições econômi- -se a mudança das circunstâncias sociais’”.
cas e políticas opostas. Segundo Gomes, a cultura
das sociedades de classe é caracterizada pela ideo- Atenção
logia.
Para Marx, a história é a história da luta de classes.
As idéias estão intimamente condicio- As classes sociais, como grupos mais importan-
nadas pelo modo de produção. Assim, a tes da sociedade, encontram-se em constante
classe que dispõe dos meios de produção oposição devido às suas posições econômicas e
políticas opostas.
controla também os meios de produção
e difusão intelectual, inclusive a educa-

2.3 Resumo do Capítulo

Agora que terminamos este capítulo, vamos verificar se você fixou bem o conteúdo. Assim, respon-
da às perguntas a seguir.
Neste capítulo, você viu as características principais dos paradigmas do consenso e do conflito,
duas concepções divergentes sobre a sociedade. Viu, também, as características de suas relações com a
educação que foram produzidas no século XIX e que ainda hoje se constituem como modelos explica-
tivos para a compreensão da sociedade e do fenômeno educacional. Ficou sabendo que o paradigma
do consenso é decorrente do pensamento sociológico de Durkheim e que o paradigma do conflito é
fundamentado nas ideias de Marx.

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2.4 Atividades Propostas

1. Explique as características principais do paradigma do consenso.

2. Explique as características principais do paradigma do conflito.

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3 TEORIAS EDUCACIONAIS

Caro(a) aluno(a), Os paradigmas sociológicos tiveram grande


influência no pensamento educacional. A partir
No capítulo anterior, você conheceu os pa- das suas concepções de sociedade e das relações
radigmas do consenso e do conflito, duas teorias desta com a educação, erigiram várias teorias
antagônicas que elaboraram conceitos próprios educacionais. Destacaremos dois grupos, que fo-
e diferentes para explicar a sociedade capitalista. ram (com algumas variações) denominados de
A partir deles, podemos verificar duas formas di- otimismo pedagógico e pessimismo pedagógico.
ferentes de analisar as relações entre educação e
sociedade.

3.1 Otimismo Pedagógico

O otimismo pedagógico foi uma concepção mamente e procuram entendê-la apenas a partir
muito presente no pensamento educacional bra- dela mesma.
sileiro até meados da década de 1970 do século A educação, nessa concepção, tem a “fun-
XX. Embora a sua influência não tenha a mesma ção de reforçar os laços sociais, promover a coe-
pujança, essa concepção ainda pode ser notada são e garantir a integração de todos os indivíduos
em alguns discursos de profissionais da educação no corpo social” (SAVIANI, 1984, p. 8).
e de outros setores e em alguns escritos acerca da Segundo o autor, no que se refere às rela-
educação. ções entre a educação e a sociedade, “concebe-
O otimismo pedagógico concebe a educa- -se a educação com ampla margem de autono-
ção como independente da sociedade. Há várias mia em face da sociedade. Tanto que lhe cabe
teorias que foram formuladas com base nos pre- um papel decisivo na conformação da sociedade
ceitos do otimismo pedagógico. evitando a desagregação e, mais que isso, garan-
Saviani (1984) denominou essas teorias tindo a construção de uma sociedade igualitária”
como teorias não críticas. Isso porque elas conce- (SAVIANI, 1984, p. 8).
bem a sociedade como essencialmente harmo- Cortella (2000, p. 132) “apelida” essa con-
niosa e que tende a integração de seus membros. cepção de otimismo ingênuo. Para ele, “essa con-
E você, o que pensa sobre isso? Você concorda cepção é otimista porque valoriza a escola, mas
que a sociedade seja harmoniosa ou não? Convi- é ingênua, pois atribui a ela uma autonomia ab-
damos você a uma reflexão, antes de prosseguir soluta na sua inserção social na capacidade de
sua leitura. extinguir a pobreza e a miséria que não foram por
Tais teorias são nomeadas de não críticas ela originalmente criadas”. Segundo ele (2000, p.
também porque concebem a educação autono- 131),

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o otimismo ingênuo atribui à Escola uma gada a nenhuma classe social específica e
missão salvítica, ou seja, ela teria um ca- servindo a todas indistintamente; assim,
ráter messiânico; nesta concepção, o o educador desenvolveria uma atividade
educador se assemelharia a um sacerdo- marcada pela neutralidade, não estando
te, teria uma tarefa quase religiosa e, por a serviço de nenhum grupo social, polí-
isso, seria portador de uma vocação. Na tico, partidário etc. Para ela, o educador
relação com a Sociedade, a compreensão seria um agente do bem comum, romanti-
é a de que a Educação seria a alavanca camente considerado. (CORTELLA, 2000,
de desenvolvimento e do progresso; a p. 133).
frase que resume isso é ‘o Brasil é um país
atrasado porque a ele falta Educação; se
dermos Escola a todos os brasileiros, o país O otimismo pedagógico, devido à concep-
sairá do subdesenvolvimento’. ção de sociedade, conforme apontamos anterior-
mente, relaciona-se com o paradigma do consen-
Para o autor, no otimismo ingênuo so.

a escola seria supra-social, não estando li-

3.2 Pessimismo Pedagógico

O pessimismo pedagógico concebe a edu- críticas uma vez que se empenham em


cação como completamente dependente da so- compreender a educação remetendo-as
sempre a seus condicionantes objetivos,
ciedade. Para essa concepção, a educação não
isto é, aos determinantes sociais, vale
possui nenhum espaço de autonomia ante a so- dizer, à estrutura sócio-econômica que
ciedade. Ela apenas tem a função de reproduzir condiciona a forma de manifestação do
a estrutura social e reforçar a ideologia da classe fenômeno educativo. Como, porém, en-
dominante. tendem que a função básica da educação
é a reprodução da sociedade, serão por
Para o pessimismo pedagógico, a socie- mim denominadas de ‘teorias crítico-re-
dade é formada por classes sociais antagônicas, produtivistas’. (SAVIANI, 1984, p. 9).
marcada pela injustiça social e pelo conflito.
O pessimismo pedagógico tem correspon-
Consideram-se no leque das teorias crítico-
dência com o paradigma do conflito; portanto,
-reprodutivistas as teorias formuladas por Bour-
essa concepção fundamenta-se para o entendi-
dieu-Passeron, Althusser e Baudelot-Establet, de-
mento da sociedade no marxismo.
nominadas respectivamente de Teoria do Sistema
Essa concepção surgiu no Brasil na década de Ensino enquanto Violência Simbólica, Teoria da
de 1970, quando entrou em declínio o otimismo Escola enquanto Aparelho Ideológico do Estado e
pedagógico. No campo educacional, várias teo- Teoria da Escola Dualista, conforme denominação
rias foram elaboradas tendo por base essa con- de Saviani (1984).
cepção e o entendimento da educação como ins-
Para Bourdieu-Passeron, há dois tipos de
trumento de discriminação e reprodução social.
violência: material e simbólica. A violência mate-
O que você pensa disso? Concorda que na socie-
rial é definida pela dominação econômica exer-
dade haja interesses conflitantes?
cida pelos grupos e classes dominantes sobre os
Essas teorias foram denominadas por Savia- grupos ou classes dominadas. Essa violência cria a
ni (1984) de teorias crítico-reprodutivistas. violência simbólica. “O ‘sistema de ensino’, a edu-
Para ele, essas teorias são cação familiar, a arte, a literatura, a religião, a pro-

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Sociologia da Educação

paganda, a moda, a opinião pública construída A teoria de Boudelot-Establet foi chamada


por jornal, revista, rádio, televisão... consistem em de Teoria da Escola Dualista por Saviani, pois seus
expressão da violência simbólica” (VIEIRA, 1994, p. autores visam demonstrar que a escola, embora
62-63). aparente unitária, é uma escola dividida em duas
Conforme Vieira (1994, p. 63), grandes redes. Essas redes “correspondem à divi-
são da sociedade capitalista em duas classes fun-
o chamado ‘sistema de ensino’ desempe- damentais: a burguesia e o proletariado” (SAVIA-
nha duas funções vitais para a dominação NI, p. 1984, p. 27).
na sociedade industrial e para o controle
Nessa Teoria, as únicas duas redes de escola-
dos dominados: a reprodução das classes
e a reprodução da cultura dessa socieda- rização existentes são: a rede secundário-superior
de. Estas se acham ligadas entre si, visan- (SS) e a rede primário-profissional (PP). A primeira
do a realizar a função geral do ‘sistema de para a burguesia, e a segunda para o proletariado.
ensino’, razão de sua existência: assegurar
a continuidade das relações de produção
estabelecidas entre os empresários que Multimídia
compram a força de trabalho e os traba-
lhadores que a vendem. Caro(a) aluno(a), para conhecer mais sobre a es-
cola dualista e a realidade educacional e social
do Brasil, assista ao documentário Pro dia nascer
Na Teoria da Escola enquanto Aparelho feliz, do diretor João Jardim.
Ideológico do Estado, Althusser distingue no Es-
tado dois Aparelhos: os repressivos e os ideológi-
cos.
Os Aparelhos Repressivos de Estado (ARE)
Portanto, também nessa teoria, a escola é
são constituídos pelo Governo, pela Administra-
considerada um aparelho ideológico e cumpre
ção, pelo Exército, pela Polícia, pelos Tribunais,
duas funções básicas:
pelas Prisões etc. Funcionam principalmente pela
violência física, pela força, pela coerção e, secun-
Contribui para a formação da força de
dariamente, pela ideologia.
trabalho e para a inculcação da ideologia
Os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE) burguesa. Cumpre assinalar, porém, que
são constituídos pelas igrejas, pelas escolas, pelas não se trata de duas funções separadas.
famílias, pelos sistemas jurídico, político, sindical, Pelo mecanismo das práticas escolares, a
formação da força de trabalho se dá no
pela informação (por meio da imprensa, do rádio, próprio processo de inculcação ideológi-
da televisão, do jornal etc.), pela cultura (por meio ca. Mais do que isso: todas as práticas es-
de arte, letras, esporte etc.). colares, ainda que contenham elementos
que implicam um saber objetivo (e não
Os AIEs atuam prioritariamente pela disse-
poderia deixar de conter, já que sem isso
minação da ideologia, afetando o modo de ser, a escola não contribuiria para a reprodu-
pensar e agir das pessoas. Apenas secundaria- ção das relações de produção), são práti-
mente os AIE atuam pela repressão ou pela força. cas de inculcação ideológica. A escola é,
pois, um aparelho ideológico, isto é, o as-
pecto ideológico é dominante e coman-
Como AIE dominante, vale dizer que a es- da o funcionamento do aparelho escolar
cola constitui o instrumento mais acaba- em seu conjunto. (SAVIANI, 1984, p. 31).
do de reprodução das relações de produ-
ção de tipo capitalista. Para isso ela toma
a si todas as crianças de todas as classes e Já Cortella (2000) apelida (como ele mesmo
lhes inculca durante anos a fio de audiên-
cia obrigatória ‘saberes práticos’ envolvi-
escreve) a visão fundamentada na concepção de
dos na ideologia dominante. (SAVIANI, educação como instrumento de dominação e de
1984, p. 27). reprodução social de pessimismo ingênuo.

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Segundo ele (2000, p. 134-135), sociais, atribuindo-lhes um perfil exclusiva-


mente conservador; as instituições sociais,
por não serem monolíticas, são permeá-
nessa concepção, a Escola não teria, de veis aos conflitos sociais e às mudanças
forma alguma, autonomia, sendo deter- contínuas do tecido político em confronto
minada, de maneira absoluta, pela classe nas classes sociais.
dominante da Sociedade, que a manejaria
livremente, por deter o poder político e
econômico. O educador, veículo de injusti- Apesar das críticas realizadas ao pessimismo
ça social, ficaria com a missão de adequar pedagógico, considera-se que essa concepção
as pessoas ao modelo institucionalmen- apresentou grandes contribuições no desvela-
te colocado. O pessimismo dessa posição
vem por conta de sua compreensão do pa-
mento das relações entre a educação e a socieda-
pel unicamente discriminatório da Escola, de, sobretudo da pretensa neutralidade da educa-
desvalorizando sua capacidade como fer- ção sugerida pelo otimismo pedagógico.
ramenta para a conquista da justiça social; Agora, convidamos você a refletir sobre es-
no entanto, dela surgiu uma grande contri-
sas concepções apresentadas e posicionar-se cri-
buição, que foi a de chamar a atenção para
o fato de a Educação não ser uma ativida- ticamente. Qual delas lhe parece mais coerente?
de socialmente neutra, estando envolvida
no conjunto da atividade política de uma Atenção
estrutura social, e, assim, o educador é um
profissional politicamente comprome- Os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE) são
tido (com consciência ou não disso). No constituídos pelas igrejas, escolas, famílias, pelos
entanto, essa concepção é também ingê- sistemas jurídico, político, sindical, pela informa-
nua, pois ela não radicaliza a análise e sim ção (por meio da imprensa, do rádio, da televisão,
a sectariza, ao obscurecer a existência de do jornal etc.), pela cultura (por meio da arte, das
contradições no interior das instituições letras, do esporte etc.).

3.3 Teoria Crítica

Surge, nos anos 80 do século XX, outra con- as elites a utilizam para garantir seu poder,
cepção que visa entender a educação e sua rela- mas, por não ser asséptica, ela também
serve para enfrentá-las. As elites contro-
ção com a sociedade em uma perspectiva crítica,
lam o sistema educacional, controlando
contudo para além do imobilismo causado pelo salários, condições de trabalho, burocracia
reprodutivismo. Essa concepção, a partir do en- etc., estruturando com isso a conservação;
tendimento das contradições internas das escolas porém, mesmo que não queira, a Educa-
e dos seus espaços de autonomia relativa, visava ção por elas permitida contém espaços
de inovação a partir das contradições so-
construir propostas educacionais que contribuís-
ciais. Para o otimismo crítico, o educador
sem para a transformação social. Foi chamada, é alguém que tem um papel político-pe-
por Cortella (2000), de otimismo crítico. Para ele, dagógico, ou seja, nossa atividade não é
neutra nem absolutamente circunscrita. A
educação escolar e os educadores têm, as-
esta concepção deseja apontar a nature-
sim, uma autonomia relativa... (CORTELLA,
za contraditória das instituições sociais, e,
2000, p. 135-136).
aí, a possibilidade de mudanças, a Educa-
ção, dessa maneira, teria uma função con-
servadora e uma função inovadora ao
mesmo tempo. A escola pode, sim, servir Essas concepções e teorias nos auxiliam no
para reproduzir as injustiças, mas, conco- entendimento do processo educacional e a per-
mitantemente, é também capaz de fun- cebermos mais nitidamente o funcionamento da
cionar como instrumento para mudanças;
sociedade. Com essa preocupação, pretendemos

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Sociologia da Educação

voltar a nossa observação para um tema da nossa


atualidade: a globalização.
Caro(a) aluno(a),
Agora que terminamos este capítulo, va-
mos verificar se você fixou bem o conteúdo. As-
sim, responda às perguntas a seguir.

3.4 Resumo do Capítulo

Neste capítulo, você estudou as diferentes concepções sobre a educação escolar e a sociedade.
O otimismo pedagógico concebe a educação como independente e separada da sociedade, com força
para tornar iguais as chances dos indivíduos que pertencem a classes sociais diferentes. O pessimismo
pedagógico tem um olhar radicalmente diferente para a relação escola e sociedade. Entende que, em
vez de democratizar a escola, reproduz as diferenças sociais. E, por fim, você estudou a perspectiva da
chamada teoria crítica, que concebe a escola como tendo dupla função: a de ser transformadora e con-
servadora.

3.5 Atividades Propostas

1. Como o otimismo pedagógico concebe a relação entre educação e sociedade?

2. Como o pessimismo pedagógico concebe a relação entre educação e sociedade?

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4 GLOBALIZAÇÃO

Caro(a) aluno(a), a globalização é, de certa forma, o ápi-


ce do processo de internacionalização
do mundo capitalista. Para entendê-la,
No capítulo anterior, você estudou as di- como de resto, a qualquer fase da histó-
ferentes abordagens acerca das relações entre ria, há dois elementos fundamentais a
educação escolar e sociedade. Agora, vamos en- levar em conta: o estado das técnicas e o
estado da política. A globalização não é
tender mais profundamente o novo momento da apenas a existência desse novo sistema
sociedade capitalista e do mundo no século XXI. de técnicas. Ela é também o resultado
Atualmente, reiteradas vezes temos contato das ações que asseguram a emergência
com citações de que a nossa época é a do reinado de um mercado dito global, responsável
pelo essencial dos processos políticos
da informação, e, também, ouvimos de sobejo fa- atualmente eficazes. Os fatores que con-
lar de globalização. Há alguma relação entre in- tribuem para explicar a arquitetura da
formação e globalização? O que é globalização? A globalização atual são: a unicidade da
globalização influencia a educação? técnica, a convergência dos momentos, a
cognoscibilidade do planeta e a existên-
cia de um motor único na história, repre-
sentado pela mais-valia globalizada. Um
Dicionário mercado global utilizando esse sistema
de técnicas avançadas resulta nessa glo-
Globalização: espécie de mercado financeiro mun-
dial criado a partir da união dos mercados de dife-
balização perversa. Isso poderia ser dife-
rentes países e da quebra das fronteiras entre esses rente se o uso político fosse outro.
mercados. (HOUAISS, 2009)

Santos (2003, p. 15), na obra supracitada,


O tema da globalização é relevante não aponta que a perversidade da globalização atual
apenas pela proporção que tem tomado nos de- fundamenta-se “na tirania da informação e do
bates, mas também pela sua repercussão na vida dinheiro, na competitividade, na confusão dos
de todo o planeta, tornando-se um assunto can- espíritos e na violência estrutural, acarretando o
dente e que nos desafia a um entendimento e po- desfalecimento da política comandada pelo Es-
sicionamento. tado e a imposição da política comandada pelas
Há um discurso de que a globalização exis- empresas”.
tente derrubou todas as fronteiras, transformando O autor apresenta dados estatísticos que
o mundo em “uma aldeia global”, sendo o único comprovam a perversidade da globalização. Ele
e melhor caminho para a humanidade. Contudo, a denomina perversidade sistêmica, pois esses da-
há posições que desnudam esse processo e reve- dos assustadores demonstram a ampliação do
lam o seu lado perverso, bem como relevam as ti- desemprego, da fome, da mortalidade infantil, do
ranias nas quais se alicerçam a globalização. Para número de pessoas que não tem acesso a água
Milton Santos (2003, p. 23-24), potável, a ampliação cada vez maior do número
de pobres etc.

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Antonio Carlos Banzato Afonso Santos e Sandra da Costa Lacerda

Segundo Santos (2000, p. 60-61), tuído pela construção de uma democra-


cia de mercado, na qual a distribuição do
poder é tributária da realização dos fins
a perversidade deixa de se manifestar por últimos do próprio sistema globalitário.
fatos isolados, atribuídos a distorções da Estas são as razões pelas quais a vida nor-
personalidade, para se estabelecer como mal de todos os dias está sujeita a uma
um sistema. A nosso ver, a causa essencial violência estrutural que, aliás, é a mãe de
da perversidade sistêmica é a instituição, todas as outras violências.
por lei geral da vida social, da competiti-
vidade como regra absoluta, uma com-
petitividade que escorre sobre todo o As reflexões de Milton Santos conduzem
edifício social. O outro, seja ele empresa,
instituição ou indivíduo, aparece como
diretamente para o âmago dos problemas e dores
um obstáculo à realização dos fins de do mundo atual, mostrando a realidade sem reto-
cada um e deve ser removido, por isso ques e sem fabulações.
sendo considerado uma coisa. Decorrem
Consideramos que adquirir uma visão mais
daí a celebração dos egoísmos, o alastra-
mento dos narcisismos, a banalização da nítida da realidade da situação social é um aspec-
guerra de todos contra todos, com a uti- to importante para um trabalho educacional que
lização de qualquer que seja o meio para objetive contribuir para a transformação da situa-
obter o fim colimado, isto é, competir e, ção vigente.
se possível, vencer. Daí a difusão, também
generalizada, de outro subproduto da Então, caro(a) aluno(a), reflita sobre o que
competitividade, isto é, a corrupção [...]. expusemos em relação à globalização e posicio-
Os papéis dominantes, legitimados pela ne-se. O educador precisa estar muito consciente
ideologia e pela prática da competitivi- sobre o mundo e a sociedade em que se insere.
dade, são a mentira, com o nome de se-
gredo da marca; o engodo, com o nome
de marketing; a dissimulação e o cinismo, Multimídia
com nomes de tática e estratégia. É uma
situação na qual se produz a glorificação Caro(a) aluno(a), para conhecer mais sobre o
da esperteza, negando a sinceridade, e tema da globalização e educação, assista ao
a glorificação da avareza, negando a ge- documentário Encontro com Milton Santos ou o
nerosidade. Desse modo, o caminho fica Mundo global visto do lado de cá, do diretor Silvio
aberto ao abandono das solidariedades e Tendler.
o fim da ética, mas, também, da política.
Para triunfo das novas virtudes pragmáti-
cas, o ideal de democracia plena é substi-

4.1 Globalização e Educação

Pedimos-lhe que tenha em mente o que moradia, enfim… diversos embates sociais trans-
você estudou no item anterior sobre a globaliza- formaram o mundo e a sociedade.
ção para prosseguir na leitura desse subcapítulo. A Educação, como um campo de conheci-
Nas últimas três décadas do século XX sur- mento em construção, ao tomar as questões pe-
giram, na sociedade brasileira, muitas ações liga- dagógicas como base para a sua produção, inse-
das à renovação social. A educação, sem dúvida, re-se nesse movimento e questiona-se a respeito
foi o grande foco dessas lutas encabeçadas por dos rumos apontados para a compreensão do
sindicatos e organizações sociais. Estes mesmos processo educativo escolar.
lutaram também pela defesa à saúde, à mulher, à

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Sociologia da Educação

Conforme você pode verificar, muitas são as nância, transforma-se em produto de crescimen-
discussões sobre a educação no Brasil, e sempre to, desenvolvimento e competitividade.
passam pela questão fundamental de acesso à es-
cola. A universalização da educação básica ainda Saiba mais
não se concretizou, e, apesar dos avanços ocor-
ridos, principalmente no ensino fundamental, o A informatização gerou modificações radicais nos
acesso de todas as crianças à educação infantil pa- processos produtivos, levando a uma reengenharia
industrial com a adoção crescente de sistemas au-
rece estar longe de se concretizar.
tomatizados em substituição à mão de obra.
Atualmente, o mundo vem passando por um
período de grandes e substanciais transformações,
transformações estas que vêm ao encontro de um
desenvolvimento macrossocial que engloba todos Segundo Ianni (1995), o padrão de comércio
os setores da política, da economia, das relações é hierárquico, pois segue as ordens e os ditames
sociais e, inclusive, do Direito. Todo esse processo preestabelecidos pelas grandes potências mun-
de estruturação hierárquico-administrativa mun- diais, que têm em seu poder o monopólio da força,
dial que se apresenta na atualidade é conceituado da tecnologia e, por fim, do capital. É administrati-
como globalização. vo, por ser controlado conforme as regras dessas
Fazendo uma retrospectiva histórica, saiba mesmas potências, seguindo preceitos normativos,
que os anos que marcaram a década de 50 – logo coerentes e análogos à sua administração, que, por
após a segunda guerra – iniciaram as grandes lu- conseguinte, não ferem os seus interesses econô-
tas em direção aos processos de integração eco- micos e expansionistas.
nômica na Europa. Isso foi possível por meio da No decorrer da nossa formação histórica,
formação da Comunidade Econômica Europeia. que consequentemente moldou toda a socieda-
Esse movimento fortalecedor contribuiu para a de mundial, passamos por várias revoluções, que,
recuperação da combalida e devastada Europa. para tal, exigiram das pessoas e dos mercados
Essa integração globalizada aproxima os Es- mudanças consideráveis na sua filosofia de vida
tados e os faz únicos e amplos totais, uma só so- e de capital. Como se sabe, a Globalização é fruto
ciedade; com isso, todos têm uma mesma direção de uma revolução tecnológica, que tem sua base
a seguir, a possível direção da modernidade e do vital na informação rápida e precisa, atuando ple-
desenvolvimento integrados. na e integralmente na estrutura e nas relações
humanas.
Com isso, formam-se grandes grupos com
objetivos semelhantes, blocos econômicos capa- Para Ianni (1995), em uma breve analogia
zes de se coordenar entre si quanto à criação de histórica sobre as nuanças econômicas mundiais,
tarifas e formações comerciais. São inexistentes veremos, já na Idade Média, uma mudança subs-
as barreiras, invisíveis as fronteiras. tancial nos modos de propriedade e de produ-
ção nas grandes áreas de terra conhecidas como
A modernidade, novas descobertas e in-
feudos. Naquela época, não existia o acúmulo de
venções colaboram para essa invisibilidade de
capital, sendo, portanto, secundário o valor em
fronteiras e visam a uma maior integração social.
espécie, e se fazia vital a influência perante os go-
Isso tudo revigora a globalização; é o Capitalismo
vernantes. Porém, com o passar do tempo, o valor
fortalecido.
dessas propriedades foi tornando-se pecuniário,
Essas descobertas e inovações partem das
isso pelo então processo capitalista já em expan-
grandes indústrias que estão sediadas em países
são.
ricos. Essas indústrias, que competem entre si
Mais tarde, no período colonial brasileiro,
para o lucro, são parâmetros para as demais. Esse
todos os escravos foram alforriados; uns mais
lucro, que, para muitos, pode representar a ga-
cedo, outros mais tarde. Será que tudo isso foi um

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surto esquizofrênico de bondade e benevolência A indispensável separação dessas institui-


dos monarcas ou foi uma grande e bem arqui- ções educativas é imprescindível e necessária
tetada manobra para aumentar o contingente para um eficiente funcionamento.
consumidor de suas ânsias capitalistas? A história A escola é a instituição que mais se separa
não nos deixa mentir. Com o fim da escravidão, das demais, buscando autonomia e necessária
formou-se uma relação atípica daquela conheci- independência. É com a família, a igreja e com o
da até então, que era a de dono e escravo. A nova Estado que a escola trava sua maior luta, com a
mentalidade agora era outra; o trabalho deveria finalidade de governar a si mesma, de se reger;
ser assalariado. Com o tempo, a exploração e as mas, incrivelmente, o que se percebe é os três se-
diferenças sociais foram aumentando vertigino- nhores que lutam contra; e esse fato vem confun-
samente até os dias atuais. dindo sua verdadeira função.
Em uma análise atual da conjuntura do pro- A evolução da instituição escola acontece
cesso evolutivo capitalista, deduz-se que o siste- em todos os momentos. Desse nome Escola, exis-
ma tem-se mostrado pouco criativo em relação tem muitos pontos que podem ser explorados.
ao meio em que se desenvolve, pois tende sem- Das mais humildes civilizações aos modernos sis-
pre a seguir um padrão de desenvolvimento com temas educacionais, todos têm um longo cami-
base em uma sequência anterior de fatos e ações. nho percorrido e mais longo ainda a percorrer, e é
Os homens vivem em sociedade, agrupam- nesse caminho em que se encontram todas as ou-
-se, organizam-se, têm vidas únicas, comuns, for- tras instituições sociais que se perdem os grandes
mam-se em sociedade, em grupos, e estes apare- e verdadeiros objetivos da escola, principalmente
cem organizando e ordenando a vida. Existimos o de manter e aprimorar o ser humano em seus
em sociedade e somos coesos, formamo-nos valores e princípios.
como únicos, e essa unidade é o reflexo.
Entre as instituições sociais que represen-
tam mais coletivamente a sociedade e os que a
compõem, destacam-se: a família que se respon-
sabiliza pelo início do desenvolvimento social e
humano; o Estado que defende e controla a vida
em grupo e sociedade; a igreja que difunde a reli-
giosidade e a fé; e a escola que socializa.
O mundo atual e sua evolução, suas indús-
trias e modo de vida da população contempo-
rânea representam nossa história, a história do
mundo moderno. Assim, caminhamos nós, seres
humanos modernos, e, conforme andamos, mais
evidentes ficam nossas características e as das
grandes instituições.
Essas instituições tentam fazer a relação
possível entre os homens, e são inúmeras as ma-
neiras de viabilizar isso. Domínio da família, in-
fluência grandiosa da igreja e tirania espiritual do
Estado: são esses os exercícios pelos quais temos
passado e nos quais deixou de existir a essência
das instituições, por meio de práticas inerentes
desses pilares.

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Sociologia da Educação

4.2 Era da Informação

O momento atual da globalização confun- Segundo Demo (2006), pessoas educadas


de-se com a informação em larga escala. A educa- e o conhecimento que produzem tornar-se-ão
ção representa o maior recurso de que se dispõe crescentemente a fonte de riqueza das nações.
para enfrentar essa nova estruturação do mundo, Há que se ter, nesse sentido, um cuidado: de que
dependendo dela a continuidade do atual pro- conhecimento não sirva mais aos interesses li-
cesso de desenvolvimento econômico e social, gados à ideia de riqueza (ligado às situações de
também conhecido como era pós-industrial, em competitividade do mercado) em detrimento de
que se nota claramente um recuo do emprego
sua relevância para os valores sociais e a melho-
industrial e a multiplicação das ocupações em
ria da qualidade de vida da coletividade, ao bem
serviços diferenciados: comunicação, saúde, tu-
comum.
rismo, lazer e informação.
De acordo com Shumacher (1983, p. 67), A sociedade vale pela qualidade de sua po-
pulação, e essa qualidade passa, necessariamente
(embora nunca exclusivamente), pela sua educa-
através da história e em virtualmente
toda a parte da Terra, os homens viveram ção. A qualidade da democracia, da cidadania, do
e multiplicaram-se, criando alguma for- Estado e do mercado, dos movimentos sociais,
ma de cultura. Sempre e em toda parte dos processos produtivos, da globalização, tudo
encontraram seus meios de subsistência passa pela Educação.
e algo para poupar. Civilizações foram
erguidas, floresceram e, na maioria dos Você percebe como é importante refletir cri-
casos, declinaram e pereceram. Este não ticamente sobre essas questões que acabamos de
é o lugar para examinar por que pere- lhe apresentar, uma vez que inúmeros aspectos
ceram; podemos dizer, porém, que deve perpassam a questão educacional?
ter havido alguma falta de recursos. Na
maioria dos casos, novas civilizações des-
pontaram no mesmo terreno, o que seria
assaz incompreensível se apenas os re-
cursos materiais tivessem falhado antes. Atenção
Como teriam podido reconstituir-se tais
recursos? Toda a história – assim como Há que se ter, nesse sentido, um cuidado: de que
toda a experiência atual – aponta para o conhecimento não sirva mais aos interesses li-
gados à ideia de riqueza (ligado às situações de
fato de ser o homem, e não a natureza,
competitividade do mercado) em detrimento de
quem proporciona o primeiro recurso: o sua relevância para os valores sociais e a melho-
fator-chave de todo o desenvolvimento ria da qualidade de vida da coletividade, ao bem
econômico brota da mente humana. Su- comum.
bitamente, ocorre um surto de ousadia,
iniciativa, invenção, atividade construti-
va, não em um campo apenas, mas em
muitos campos simultaneamente. Talvez Caro(a) aluno(a), terminamos mais um ca-
ninguém seja capaz de dizer de onde isso
surgiu, em primeiro lugar, mas podemos pítulo. Com base no texto, responda às questões
ver como se conserva e até se fortalece: propostas.
graças a vários tipos de escolas, por ou-
tras palavras, pela educação. Numa acep-
ção bastante real, por conseguinte, pode-
mos afirmar que a educação é o mais vital
de todos os recursos.

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4.3 Resumo do Capítulo

Neste capítulo, você estudou o novo estágio em que se encontra o capitalismo no mundo, chama-
do de globalização. O desenvolvimento da informática e das telecomunicações foi fator decisivo na cons-
tituição da globalização. Dessa forma, a informação ganha cada vez mais espaço no mundo globalizado,
a ponto de os sociólogos afirmarem que vivemos a era da informação e do conhecimento. Em função
disso, a educação passa a ter, cada vez mais, um papel decisivo na formação de pessoas capacitadas para
enfrentar os desafios dessa sociedade em permanente mudança. Não há consenso, no entanto, a respei-
to de qual deve ser o papel da escola nesse processo de formação. Alguns teóricos, como Milton Santos
e Pedro Demo, não concordam que a escola deva preparar as novas gerações apenas para atender às exi-
gências do mercado do trabalho, e defendem uma educação completa e integral para todas as pessoas.

4.4 Atividades Propostas

1. Explique o que significa globalização perversa.

2. De acordo com Demo, qual deve ser o papel da educação na era da globalização?

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5 ASPECTOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Caro(a) aluno(a), A finalidade da educação brasileira dos sé-


culos XVIII e XIX era formar o doutor. Ora, só re-
Como o próprio nome do capítulo diz, va- duzida minoria de brasileiros queria e podia visar
mos, agora, debruçar-nos sobre alguns aspectos a essa profissão, exclusivamente possível às pes-
da realidade social e educacional: o analfabetis- soas muito ricas de então. Toda a educação bra-
mo, os problemas da escola rural e o distancia- sileira, do primeiro ano primário ao último ano
mento da escola das questões da vida prática. do curso superior, era exclusivamente orientada
Para tanto, convidamos você a retomar de manei- para o doutor. Era, assim, uma educação antide-
ra breve e sucinta alguns aspectos da história da mocrática, injustamente elitista e seletiva, porque
educação brasileira. de antemão excluía as classes baixa e média, que
representavam o povo brasileiro em sua grande
O processo histórico de colonização a que o
maioria.
Brasil foi submetido, passando a integrar a civili-
zação cristã ocidental, deu lugar à transplantação No período compreendido entre 1850 e
da cultura europeia para o Brasil. 1930 começaram a surgir projetos para a educa-
ção brasileira e a decretarem-se reformas. Com a
As primeiras formas sistematizadas de edu-
Proclamação da República, passou-se a reconhe-
cação apareceram no Brasil em 1549, a partir da
cer a importância da educação e a considerá-la
chegada dos seis primeiros jesuítas com o Go-
como um problema nacional.
vernador-geral Tomé de Souza. Como foram os
jesuítas que monopolizaram a educação no Bra- No início do século XX, a situação da edu-
sil nos dois primeiros séculos e meio, a educação cação brasileira, quanto ao seu conteúdo, con-
baseou-se na doutrina cristã da Igreja Católica. sistia ainda em uma educação aristocrática, com
um ensino essencialmente acadêmico, livresco e
A partir de 1759, com a expulsão dos je-
intelectualista. Não havia um plano nacional de
suítas, iniciaram-se profundas modificações na
educação que traçasse diretrizes gerais para o en-
educação brasileira. Com a reforma do Marquês
sino e conferisse ao sistema escolar uma estrutura
de Pombal, todo o sistema educativo jesuítico foi
unitária.
desmantelado. O ingresso do Estado no campo
da educação sistemática no Brasil representou, A partir de 1930 começou uma tendência
pois, um traço inovador e significativo. à democratização escolar no Brasil, consideran-
do dois aspectos: a expansão das matrículas e a
Em 1808, com a chegada de D. João VI ao
eliminação das desigualdades formais estabeleci-
Brasil, o ensino era reduzido, limitando-se a pou-
das pela escola. Lentamente, foi ocorrendo uma
cas unidades escolares espalhadas pelo imenso
ampliação das oportunidades de acesso à escola.
território nacional. Dando ênfase ao ensino su-
perior e deixando praticamente de lado o ensino A Constituição da República Federativa do
primário e secundário, D. João VI incorreu em um Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, no
erro gravíssimo para a educação brasileira da épo- seu artigo 205, estabeleceu a educação como di-
ca e que veio a ter reflexos negativos posteriores. reito de todos e dever do Estado e da família.

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Assim, do ponto de vista legal, a educação os dias de hoje, temos crianças, jovens e adultos
brasileira evoluiu no sentido de dar igualdade de que continuam fora da escola ou, então, entram,
oportunidade a todos, independentemente de mas são excluídos ao longo do seu período de es-
sua origem de classe. Contudo, na realidade e até colaridade.

5.1 Analfabetismo

Antes de iniciarmos, pense um pouco: o que A inserção da proposta educacional em cur-


é analfabetismo? Você acredita que o analfabetis- so no País faz com que a cobertura escolar para
mo tenha diminuído no Brasil? Para acabarmos essa faixa etária continue a ser extremamente de-
de vez com ele, o que seria preciso fazer? ficitária e sem equidade, considerados os critérios
O Brasil continua a apresentar o maior con- territorial, de renda, gênero, etnia ou geração. A
tingente de analfabetos absolutos e pessoas jo- tendência à descentralização do atendimento em
vens e adultas com baixa escolaridade do conti- direção aos municípios pode ser interrompida
nente. Também em termos relativos, os índices pelas limitações ao financiamento decorrentes da
de analfabetismo e as taxas de escolaridade da implantação do FUNDEF,1 atualmente, FUNDEB.2
população são bastante inferiores aos de países Quando se apresenta a estrutura do conhe-
latino-americanos com nível de desenvolvimento cimento e aprendizagem, esquece-se das dificul-
equivalente, equiparando-se aos países menos dades que o professor encontra para trabalhar
desenvolvidos da América Latina e ao Caribe. com classes heterogêneas, considerando nossa
O analfabetismo absoluto apresentava re- história e a forma pela qual a educação escolar foi,
gressão em ritmo lento ao longo deste século, por muitos anos, estruturada – com alunos orga-
mas teve uma queda importante no transcor- nizados sempre em turmas homogêneas. Esque-
rer dos anos 90, declinando mais de cinco pon- ce-se, ainda, da forma como os profissionais da
tos percentuais entre 1991 e 1997. Pela primeira educação frequentemente se colocam diante do
vez na história, o analfabetismo começa a recuar ensino-aprendizagem, do tempo de maturação e
também em números absolutos. Para Haddad, o sedimentação do conhecimento de cada indiví-
analfabetismo no Brasil não é, pois, apenas um duo (que dificilmente é respeitado) e como con-
problema residual herdado do passado (suscetí- duzem a avaliação das atividades que os alunos
vel de tratamento emergencial ou passível de su- realizam (nem sempre avaliadas de acordo com
peração mediante a simples sucessão geracional), suas possibilidades).
e sim uma questão complexa do presente, que Exige-se que todos empreendam o mesmo
exige políticas públicas consistentes, duradouras tempo na aprendizagem e que alcancem os mes-
e articuladas a outras estratégias de desenvolvi- mos resultados. Aqueles que fogem desse quadro
mento econômico, social e cultural. são considerados como inaptos para tal. Assim,
esquece-se facilmente de que todos são capazes
Saiba mais de aprender, mas o tempo de sedimentação des-
se conhecimento dá-se em discordância.
O analfabetismo é o reflexo de um conjunto de fatores Considerando tais fatores, é preciso uma
de ordem econômica, política, social e cultural. Hoje, estrutura que respeite essas diferenças e resguar-
ser analfabeto significa um grau de marginalidade
muito maior que há 50 ou 100 anos. de o educando do compromisso com o sucesso.
É necessário que se construa um espaço onde é
permitido, sobretudo, buscar a aprendizagem
com a imaginação e a criatividade.

1
FUNDEF: Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério.
2
FUNDEB: Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação.

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Sociologia da Educação

Atenção

A educação não deve hoje apenas se preocupar


com a erradicação do analfabetismo, e sim com
a formação de cidadãos, que buscam seu espaço
na sociedade globalizada.

5.2 Espaços Escolares e não Escolares

Você concorda que a educação pode se dar do método de observação e da parte da realidade
em espaços diferentes? Vejamos quais são esses que constitui o objeto de estudo de cada ciência.
espaços. Esse movimento do processo de produção
A educação escolar difere da educação em da ciência, contudo, nem sempre é seguido pela
geral por ser institucionalizada. A escola é uma escola, ao selecionar os conteúdos das disciplinas
instituição, está organizada dentro de determi- escolares. Muitas vezes, eles são apresentados
nadas normas que acabam dando uma forma como verdades acabadas, desligados do real. Em
específica às ações que ali acontecem. A educa- geral, isso ocorre pelo uso que é feito dos livros
ção escolar distingue-se, portanto, da educação didáticos, que, perdendo sua característica de
informal (sem forma, sem normas) que acontece referência para alunos e professores, passam a
fora da escola. A escola tem horários, estabelece ser usados como guia exclusivo e determinante
critérios para o agrupamento dos alunos, tem da seleção de conteúdos escolares. Quando isso
profissionais executando papéis diferenciados acontece, a escola perde parte fundamental de
(o professor, o diretor etc.), possui um sistema de sua função, que é ser um local de criação e ela-
avaliação e deve cumprir uma função: transmitir boração de conhecimentos a partir do trabalho
e construir conhecimentos. Assim, a primeira dife- escolar, tornando-se mera reprodutora de um co-
rença entre o conhecimento escolar e aquele pro- nhecimento, muitas vezes, distorcido. Com essa
duzido no dia a dia está nas condições em que o prática, professores e alunos perdem sua condi-
conhecimento escolar é produzido e transmitido. ção de sujeitos do conhecimento, tornando-se
A segunda diferença é dada pela própria meros “tarefeiros”, à semelhança do que ocorre
função da escola, isto é, a transmissão e criação com os operários na linha de produção.
contínuas de conhecimento. Por essa função con- Como resultado dessa prática pode ocor-
tínua, a escola é obrigada a organizar o conheci- rer a terceira diferença. Fora da escola, o conhe-
mento a ser transmitido. Tal organização é feita cimento é produzido a partir das necessidades
a partir de critérios, entre os quais o mais usado imediatas da vida, na sobrevivência nas ruas dos
é aquele decorrente das ciências, cujo conheci- centros urbanos, no campo – o menino na feira
mento é a base de onde são extraídos os conteú- aprende a fazer o troco sem nunca ter ido à esco-
dos das disciplinas escolares. Refazer os passos da la; o pedreiro, da mesma forma, calcula o número
organização do conhecimento escolar é funda- de tijolos e a quantidade de cimento e areia ao
mental para se perceber o que ocorre na escola. fazer a parede; o plantador de cana sabe as “bra-
O conhecimento científico se caracteriza ças” que deverá receber na colheita etc. Já o saber
por sua sistematização a partir de um determina- escolar, embora possa e deva ter relação com a

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vida dos que frequentam a escola, muitas vezes, te, pela exclusão daqueles que deveriam dominar
apresenta-se como distante dela. Se o conheci- esse conhecimento, reproduzindo de forma con-
mento da escola se distancia das necessidades de servadora a vida desigual dessa sociedade, onde
vida dos alunos, impedindo que eles o assimilem, “poder” traz “saber”.
o resultado escolar será marcado, necessariamen-

5.3 Escola Rural

Para a maioria das famílias rurais, a passa- ses da Educação Nacional (LDB), de 1996, prevê
gem pela escola básica rural (do primeiro ao oita- isso, assim como as Diretrizes Operacionais para
vo ano) é a uma oportunidade de adquirir as com- a Educação Básica nas Escolas do Campo, apro-
petências que poderão contribuir para a melhoria vadas em 2001. Mas o conteúdo curricular ainda
da qualidade de suas vidas. A pergunta que colo- não é trabalhado no contexto da cultura das di-
camos a você é a seguinte: será que essas escolas ferentes regiões de abrangência do Brasil. Qual a
rurais estão desempenhando bem sua função? solução para um sistema que precisa privilegiar a
Infelizmente, essas escolas não estão cumprindo realidade dos sertanejos, de ribeirinhos, caiçaras,
com essa importantíssima função social porque extrativistas, remanescentes de quilombos, indí-
os seus conteúdos e métodos, muitas vezes, são genas e moradores de assentamento? “Qualquer
disfuncionais e inadequados às necessidades das proposta pedagógica, seja no campo, seja na ci-
famílias do meio rural. Nas referidas escolas, os dade, deve ser organizada de acordo com a LDB
objetivos essenciais não são atingidos, exigindo- e as diretrizes operacionais, mas com o pé finca-
-se frequentemente das crianças que memorizem do na realidade local”, afirma Edla Soares, relatora
temas de escassa e duvidosa relevância; não se das diretrizes das escolas do campo.
ensina de maneira criativa, participativa e prática Para finalizarmos, há a necessidade de
aquilo que realmente necessitam aprender. maior adequação do currículo e programa das es-
Reflita um pouco sobre o que expusemos. O colas rurais às condições de vida da comunidade,
que falta, então, para que essas escolas alcancem para que a escola não seja uma instituição social
seus objetivos? alienada do processo cultural existente – é inte-
Não faltam leis propondo a adequação da ressante que ela seja motivo de crescimento da
escola à vida do campo – a Lei de Diretrizes e Ba- população e da comunidade.

5.4 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a), com base no capítulo estudado, responda às questões propostas.

Neste capítulo, você teve contato com a sociologia da educação no Brasil. Viu que o analfabetismo
ainda é um dos maiores problemas da educação brasileira e herança do nosso passado colonial, que
sempre privilegiou a educação das elites.
Viu que a educação rural no Brasil ainda está longe de contemplar as necessidades e os interesses
da realidade do homem do campo e que é necessário adequar o currículo às realidades locais e regionais.
Estudou, também, as diferenças entre a educação escolar e a não escolar.

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Sociologia da Educação

5.5 Atividades Propostas

1. Quais são as principais características da educação escolar?

2. Qual é a crítica que o texto faz ao atual currículo da escola rural?

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6 A MICROSSOCIOLOGIA

Caro(a) aluno(a), Para o tema deste capítulo, especificamen-


te, contamos com as contribuições da Psicologia
Social.
Você estudou, até o momento, as relações
entre educação e sociedade, o fenômeno da glo- O homem é um ser social e se organiza em
grupos, nos quais estão presentes o que denomi-
balização e alguns dilemas da educação brasileira.
namos de relacionamento interpessoal. Em um
Agora, iremos ver as contribuições da microsso-
grupo que se reúne por uma tarefa (o chamado
ciologia para a compreensão das relações internas
grupo de trabalho ou de tarefa), estão presentes:
da escola. Pode dizer-se que a microssociologia a mediação, a negociação, a arbitragem, a in-
tem por objetivo estudar e compreender as rela- fluência, a criatividade, a participação, a lideran-
ções entre atores sociais, quer sejam entre indiví- ça e a decisão. No âmbito da escola, esse grupo
duos, quer sejam entre grupos, e as posições e os é denominado “pedagógico”, por sua intenção
papéis sociais que esses mesmos atores ocupam formadora e porque pode se realizar melhor em
e desempenham no seio dos espaços sociais em um contexto escolar sem se esquecer dos demais
que estão integrados. grupos e das pessoas com quem se relacionam.
A microssociologia nasceu da Psicologia e Alguns dos elementos presentes nesse grupo são:
da Sociologia. A microssociologia pode ser defi- a autoridade, a comunicação e a participação e as
atitudes que as acompanham. Vejamos, a seguir,
nida como a ciência do conflito entre o indivíduo e
alguns destaques que tratam do sujeito e do gru-
a sociedade.
po, da liderança e do conflito.

6.1 O Sujeito e o Grupo

Segundo Castoriadis (1999, p. 35), Um sujeito é aquele que apresenta traços


essenciais que são, por um lado, a reflexividade
[...] a questão do sujeito não é uma ques- – capacidade de receber o sentido, questionar o
tão de ‘substância’, mas de um projeto. A sentido e criar um novo sentido – e, por outro, a
questão do sujeito é, em primeiro lugar, a capacidade da atividade deliberada (vontade).
questão do ser humano [...], é uma ques-
tão do sentido e, também, a questão da A reflexividade diz respeito ao que sabe-
própria questão. O sujeito é essencial- mos e à possibilidade de nos interrogarmos sobre
mente aquele que faz perguntas e se tal saber. A dimensão reflexiva e a prática da ima-
questiona, seja no plano teórico ou no ginação representam, para o sujeito, para cada um
que chamamos prático.
de nós, uma fonte de criatividade. É preciso imagi-
nar algo mais do que é para ser imaginado. Nesse
sentido, a vontade é a dimensão reflexiva do que
somos como seres imaginantes.

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Antonio Carlos Banzato Afonso Santos e Sandra da Costa Lacerda

A verdadeira vontade não se refere à real, residindo aqui a possibilidade de uma


escolha entre duas possibilidades pré- relativa autonomia do sujeito diante da
-determinadas, mas a esse ato único, situação; não há a fatalidade, mas a possi-
incoativo, no e pelo qual surgem novos bilidade de escolher entre alternativas que
possíveis e, ao mesmo tempo, o sujeito se se mostrem viáveis e críveis. (SILVA, 1996,
dirige para eles. Tal sujeito não é uma rea- p. 77).
lidade, é um projeto, em parte realizado
pelos indivíduos e, em parte, sobretudo, a
ser realizado também em função de uma A capacidade de agir com autonomia rela-
transformação que não se refere não ape- tiva diante das situações implica responsabilizar-se
nas aos seres humanos na sua singulari-
pela(s) escolha(s) feita(s). No entanto, o livre arbítrio
dade, mas à sociedade em seu conjunto.
(CASTORIADIS, 1999, p. 45-46). permanece mesmo nesse estar condicionado, que
não é uma determinação total.
A capacidade de perseguir valores demons-
Há, na origem da realidade humana, social,
tra que o homem é dotado da possibilidade de
política, econômica e cultural, a presença do sujei-
transcender o dado imediato. O ser humano é
to humano, que constrói essa realidade e é, simul-
capaz de fazer a distinção entre diferentes alternati-
taneamente, por ela construído. A compreensão
vas, avaliando-as. É capaz de adiar a satisfação de
do que é sujeito está intimamente condicionada
prazeres imediatos, tendo em vista algo que consi-
à ideia de pessoa; compreensão, esta, elaborada
dere um bem futuro, por exemplo, a curto, médio
pelos próprios homens, ao longo da história da
ou longo prazo.
humanidade.3 Estudiosos, segundo Silva (1996),
Portanto, o homem é um ser dotado de uma
concordam que o homem é visto, então, mais
complexidade que lhe permite conhecer, decidir e
como um dos inúmeros elementos da natureza,
responsabilizar-se. Para exercer essas suas possi-
dotado de maior complexidade, mas tão somente
bilidades, não prescinde de realizar um trabalho
mais um entre os demais. O homem passa a ser vis-
de humanização, uma vez que a utilização dessas
to como uma totalidade completa em si mesma,
potencialidades não é espontânea nem automá-
mas aberta, necessariamente, para as outras tota-
tica. É necessário que haja um processo educativo
lidades que são os outros homens.
contínuo que faça presente o conhecer, o decidir e o
O ser humano é dotado de inteligência, o
responsabilizar-se.
que lhe permite conhecer, ter vontade própria,
A pessoa é uma totalidade aberta a outras
fazer escolhas. Assim, são atributos do homem
totalidades, ou, em outras palavras, é um ser rela-
o entendimento, a vontade e a memória, que lhe
cional. Para Silva (1996, p. 78),
garantem manter uma identidade constante, em-
bora esta sofra mudanças com o tempo. Esse ho-
mem é uma totalidade que perdura, que se apre- esta necessidade deriva de duas caracte-
rísticas humanas: a imperfeição e o amor.
senta com consistência; é uma pessoa, um sujeito.
Pela imperfeição o homem é levado a
depender estruturalmente dos demais
Se existe o sujeito humano, existe também homens, quer para sua sobrevivência físi-
a experiência humana, que é a prática com ca quer para sua sobrevivência humana,
significado para quem a realiza. Se existe para manter-se pessoa. Pelo amor, os ho-
o significado, existe a cultura, com suas di- mens buscam os outros para ajudá-los a
versas possibilidades de compreeender o sobreviver e para que vivam bem.

3
Compreender o conceito de humanidade remete ao que estudamos nas diferentes disciplinas deste curso, pois esse é um
conceito que tem conotações diferentes, dependendo do tempo e espaço. Por exemplo, na Antiguidade e no período colonial,
os escravos eram considerados mercadoria e, portanto, alijados da condição de humano. Na Idade Média, considerava-se que
as mulheres não tinham alma, e assim por diante. Essa é uma longa discussão, que foge ao escopo desta disciplina. Para melhor
entendimento, retome as ideias discutidas em Filosofia Geral, Filosofia da Educação I e II; História da Educação I.

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A pessoa vale por si mesma, independente- de unidade e solidariedade, dotada de identidade


mente de sua maior ou menor “utilidade” social. própria, capaz de iniciativa no seio da sociedade
Essa visão implica o fato de que as estruturas e orga- civil, no interior da qual vai elaborando as etapas
nizações sociais ou educativas, por exemplo, estejam sucessivas do projeto comum para uma nova con-
a serviço da pessoa, e não o contrário. Nesse sentido, vivência social”. (SILVA, 1996, p. 93).
poderíamos compreender a pessoa como alguém Nas sociedades contemporâneas, o poder é
dotado de dignidade intrínseca – a dignidade hu- exercido não mais pelo controle direto e coerci-
mana – e, desse modo, possuidor de direitos inalie- tivo, mas de forma mais profunda, embora mais
náveis – os direitos humanos. sutil, mediante a produção de identidades. De
Para existir, a pessoa precisa relacionar-se, e fato, a identidade é o que nos define como pes-
o ambiente fundamental e primeiro para que isso soa – nossa identidade é a resposta à pergunta
aconteça é o grupo familiar. A necessidade de um quem somos – e que estabelece os limites subje-
grupo de referência no qual ocorram relações dire- tivos de nossa ação. Fazemos o que acreditamos
tas de ajuda mútua, amparo e trocas afetivas, cog- ser possível fazer; ou seja, o poder, ao produzir
nitivas e valorativas é fundamental para a vida da identidades, produz a ação possível daqueles que
pessoa consigo mesma e para sua relação com o controla.
outro (relacionamento interpessoal).
Atenção
Multimídia
Para existir, a pessoa precisa relacionar-se, e o am-
biente fundamental e primeiro para que isso acon-
Caro(a) aluno(a), para conhecer mais sobre o teça é o grupo familiar. A necessidade de um grupo
processo de socialização e humanização do de referência no qual ocorram relações diretas de
homem, assista ao filme O garoto selvagem, do ajuda mútua, amparo e trocas afetivas, cognitivas
diretor francês François Truffaut. e valorativas é fundamental para a vida da pessoa
consigo mesma e para sua relação com o outro
(relacionamento interpessoal).

Sendo a pessoa um ser relacional e que de- Por isso, o sujeito coletivo, ao produzir e
pende intrinsecamente de um grupo, é possível dizer manter a identidade das pessoas que o com-
até que é esse relacionamento que a mantém pessoa. põem, torna-se alternativa ao poder existente,
Portanto, nos mais diversos campos do saber e do constituindo-se em sujeito político, no sentido de
fazer humano, a ideia de pessoa/sujeito como fa- que está apto a lutar pelo poder e, desse modo,
tor relevante a ser levado em consideração pode por possíveis mudanças sociais.
“produzir” uma verdadeira civilização humanista, Quando falamos na constituição do
no sentido de ter-se presente sempre o humano grupo, é preciso recorrer a vários autores que,
existente nas situações. dedicados ao estudo da Psicologia social, têm
Se o sujeito faz-se relevante, que dizer en- discutido esse tema, como Bion, Anzieu, Pichon-
tão... do sujeito coletivo! -Rivière e Madalena Freire.
A pessoa é um sujeito enquanto vive em Após a Segunda Guerra Mundial, Bion ocu-
relação com um grupo, e este torna-se sujeito na pou-se da readaptação de veteranos e antigos
medida em que se constitui por pessoas. Desse prisioneiros de guerra à vida civil. Ele procurava
modo, pode-se falar em verdadeiro sujeito quan- compreender as tensões que se manifestavam no
do se fala de um coletivo de pessoas. decorrer das reuniões e acabou por desembocar
Um coletivo de pessoas é o sujeito coletivo em dois enunciados fundamentais, os quais são
que move a história; não um coletivo qualquer, assim descritos por Anzieu (1993, p. 46):
mas somente aquele que “vive uma experiência

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Primeiro enunciado: o comportamento sua alimentação intelectual ou espiritual.


de um grupo se efetua em dois níveis, o O grupo não pode subsistir sem conflito,
da tarefa comum e o das emoções co-
a não ser que o chefe aceite o papel que
muns. O primeiro nível é racional e cons-
ciente: todo grupo tem uma tarefa, que lhe atribuem e os poderes e deveres que
recebe da organização na qual se insere isso implica. O resultado pode, então, não
ou que dá a si mesmo. O êxito dessa tare- ser ruim na aparência, mas o grupo não
fa depende da análise correta da realida- progride profundamente. Ele se compraz
de exterior correspondente, da distribui-
na euforia e no devaneio, e negligencia a
ção e coordenação sensatas dos papéis
no interior do grupo, da regulação das dura realidade. Se o chefe recusa, o gru-
ações pela pesquisa das causas dos fra- po sente-se frustrado e abandonado. Um
cassos e dos sucessos, da articulação dos sentimento de insegurança se apossa
meios possíveis para as metas visadas de dos participantes. Essa dependência em
forma relativamente homogênea pelos
diferentes membros. Trata-se unicamen- relação ao líder manifesta-se frequente-
te do que Freud chamou de processos mente em um grupo de diagnóstico por
psíquicos ‘secundários’: percepção, me- um longo silêncio inicial e pela dificulda-
mória, juízo, raciocínio. Eles constituem de em achar um assunto para discussão;
condições necessárias, mas não suficien-
o grupo fica aguardando as sugestões do
tes. Basta colocar em grupo pessoas que
se comportam habitualmente de forma monitor. A dependência é uma regressão
racional, enquanto estão sozinhas diante à situação da primeira infância, na qual o
de um problema, para que se tornem di- lactente está a cargo de seus pais, e em
ficilmente capazes de uma conduta racio- que a ação sobre a realidade é da conta
nal coletiva. É aí que intervém o segundo
deles, não da sua. A dependência res-
nível, caracterizado pela predominância
dos processos psíquicos ‘primários’. Em ponde a um sonho eterno dos grupos,
outras palavras, a cooperação conscien- sonho de um chefe inteligente, bom e
te dos membros do grupo, necessária ao forte, que assume em seu lugar as res-
êxito de suas empreitadas, requer entre ponsabilidades.
eles uma circulação emocional e fantas-
mática inconsciente. Aquela ora é parali- ƒƒ Luta-fuga (fight-flight). A recusa do
sada, ora estimulada por esta. pressuposto de dependência pelo mo-
Segundo enunciado: os indivíduos reu- nitor constitui um perigo para o grupo,
nidos num grupo se combinam de forma que acredita, então, não poder sobrevi-
instantânea e involuntária, para agir con- ver. Diante desse perigo, os participan-
forme os estados afetivos que Bion de- tes, em geral, reúnem-se, seja para lutar,
nomina ‘pressupostos de base’.4 Esses es-
tados afetivos são arcaicos, pré-genitais; seja para fugir. Nesse sentido, a atitude
remontam à primeira infância; são encon- luta-fuga é um sinal de solidariedade
trados em estado puro nas psicoses. do grupo. O perigo comum aproxima
os membros. Tomemos um exemplo:
um grupo de discussão livre toma como
Bion descreveu três pressupostos de base
assunto de discussão: “as crianças aban-
aos quais um grupo se submete alternadamente
donadas”. A reunião é enfadonha; a ati-
sem reconhecê-los:
tude de fuga domina; poucas pessoas
participam da discussão. Depois, o gru-
ƒƒ Dependência. Quando o grupo funciona po avalia seu trabalho. As críticas cho-
sob esse pressuposto, pede para ser pro- vem: “não se fez nada”, “foi fútil”, “não se
tegido pelo líder, de quem depende para aprendeu nada”. O monitor constata, en-

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Essa tradução de Basic assumptions nos parece mais correta que a correntemente empregada de “Hipóteses de base”. (N. do A.)

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tão, que se tratava de uma fuga: o grupo importunam-se com o assunto das
quis provar que era incapaz de se virar discussões anteriores: assiste-se a uma
sozinho. Os participantes riem. Segue- verdadeira sessão de “flerte agressivo”
-se uma discussão, animada, na qual as (ninguém mais fala). Formou-se, assim,
críticas abundam: à fuga sucedem-se um casal; ele pode tentar reformar o
os ataques contra a situação e contra o grupo inteiro (Bion fala de uma “espe-
monitor. A conduta de luta-fuga pode rança messiânica” suscitada então), mas
assumir inúmeras formas, mais ou me- o casal representa um perigo para o
nos camufladas. grupo porque tende a formar um sub-
ƒƒ Pareamento. Às vezes, a atitude luta- grupo independente.
-fuga desemboca na formação de sub-
grupos ou de casais. L. Nerbert citou Anzieu alerta-nos de que os três pressupos-
o seguinte exemplo: em um grupo de tos de base não surgem ao mesmo tempo. Um
diagnóstico, discutem-se as “chamas predomina e mascara os outros (que permane-
amorosas” nas escolas de meninas. As cem em potencial).
mulheres discutem sozinhas. Os ho-
Conforme você pode perceber, as ideias de
mens calam-se, dizendo que o fenô-
Bion e Anzieu ajudam-nos a compreender que a
meno não existe entre os meninos. Na
constituição de um grupo pressupõe, sempre, a
reunião seguinte, só os homens falam:
existência do conflito, tanto na relação horizon-
houve, pois, uma clivagem entre ho-
tal, entre pares, como na relação vertical – grupo-
mens e mulheres. Enfim, na reunião
-liderança.
imediata, um homem e uma mulher

6.2 Liderança e Conflitos

Pichon-Rivière, em seus estudos, constatou do sempre as melhores intenções de desenvolvê-


algumas características que permitem a classifi- -las, mas poucas vezes as cumpre, assume sempre
cação dos componentes de um grupo em cinco o papel de “advogado do diabo”.
papéis básicos: Contudo, o líder de mudança e o líder de
resistência não podem existir um sem o outro.
ƒƒ Líder de mudança Os dois são necessários para o equilíbrio do gru-
po. Para cada avanço do líder de mudança, maior
ƒƒ Líder de resistência
retrocesso do líder de resistência. Isso porque,
ƒƒ Bode expiatório muitas vezes, o líder de mudança radicaliza suas
ƒƒ Representantes do silêncio percepções, encaminhamentos, na direção dos
ƒƒ Porta-voz ideais do grupo, descuidando do princípio de rea-
lidade. Nesse momento, o líder de resistência traz
para o grupo uma excessiva crítica (princípio de
Líder de Mudança é aquele que se encarre- realidade exacerbado) provocando uma desidea-
ga de levar adiante as tarefas, enfrentando con- lização (desilusionamento), produzindo, assim,
flitos, buscando soluções, arriscando-se sempre um contrapeso às propostas do outro.
diante do novo. O contrário dele é o Líder de Re- O Bode Expiatório é quem assume as cul-
sistência. Este sempre “puxa” o grupo para trás, pas do grupo. Serve-se de depositário a esses
freia avanços; depois de uma intensa discussão conteúdos, livrando o grupo do que lhe provoca
ele coloca uma pergunta que remete o grupo ao
mal-estar, medo, ansiedade etc.
início do já discutido. Sabota as tarefas, levantan-

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Os Silenciosos são aqueles que assumem as Se o grupo tiver um projeto, existe maior
dificuldades dos demais para estabelecer a comu- facilidade em não se tomar as críticas como pes-
nicação, fazendo com que o resto do grupo sinta- soais.
-se obrigado a falar. Em um grupo falante, «quei- Reflita agora sobre o que estudamos e con-
ma-se» quem menos pode sobreviver ao silêncio, sidere as questões que envolvem a liderança e a
aqueles que calam representam essa parte nossa constituição do grupo. Como, então, “canalizar”
que desejaria calar, mas não pode. o conflito de modo a conseguir que o grupo dê
Em algumas situações, os silenciosos sus- conta do projeto, da tarefa que o motiva?
citam críticas por parte de elementos do grupo, Possivelmente, a partir da explicitação da
porque estes se permitem o ocultamento. Ocul- tarefa é que podemos pretender uma clareza de
tamento que poderá ser aparente, pois o uso da intencionalidade na ação do grupo, pois é na exe-
palavra pode, também, ocultar um enorme silên- cução das tarefas que os conflitos, as diferenças e
cio. Em outras situações, esse ocultamento é real, o que ainda não se conhece são operacionaliza-
produto da omissão. dos, elaborados, apropriados.
O Porta-Voz é quem se responsabiliza em Vemos, então, que a tarefa é o instrumento
ser a válvula de escape das ansiedades do grupo. para a elaboração do conhecimento, a construção
Por meio de sua sensibilidade apurada, o porta- da ação e a mudança. No exercício e na execução
-voz consegue expressar, verbalizar, dar forma aos da tarefa, o grupo constrói sua identidade, ganha
sentimentos, conflitos que, muitas vezes, estão la- uma cara própria. Mediados pela tarefa, cada par-
tentes no discurso do grupo. O porta-voz é como ticipante constrói o vínculo com o outro e entre
uma antena que capta de longe o que está por vir. iguais.
O conflito tem origem nos diferentes papéis No cumprimento das tarefas, cada partici-
que os indivíduos assumem em um grupo. pante descobre que é diferente, que faz parte do
Embora os conflitos incomodem, são con- grupo e, ao mesmo tempo, representa-o. Desco-
tingentes a qualquer relacionamento humano, já bre que cada parte desse todo o expressa em suas
que nem todos têm os mesmos valores, querem conquistas e limitações.
as mesmas coisas, enxergam a realidade da mes- Caro(a) aluno(a),
ma forma, têm as mesmas competências para a Terminamos o último capítulo da apostila.
ação. Com base no texto, responda às questões propostas.
Os conflitos precisam ser enfrentados. Não
há como anular diferenças, nem obter pleno “con-
senso”. Assim, por exemplo, se o educador não se
posicionar diante de algo que não está claro, aca-
ba por faltar com o respeito para com ele mesmo,
porque está pensando algo e não está se dando
o direito de expressar e acaba por desconsiderar
o outro, pois o toma como alguém frágil ou au-
toritário, que não tem condições de dialogar, de
argumentar. O debate, a discussão, constitui-se,
portanto, em uma forma de respeito consigo e
com o outro. Embora essa emergência dos con-
flitos assuste um pouco, é uma prática saudável
no grupo. Se alguém, eventualmente, considerar
que alguma polêmica esteja estendendo-se por
demais, precisa manifestar-se e ajudar o grupo a
se autogerir.

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6.3 Resumo do Capítulo

Neste capítulo, você estudou a importância do grupo social para o processo de humanização e
socialização dos homens, a formação do sujeito coletivo e os papéis desempenhados pelas pessoas nos
grupos. É por meio do grupo e da convivência com os outros que nos tornamos pessoas, formamos nos-
sa consciência e identidade, e passamos a interferir nos destinos dos grupos do qual fazemos parte. Viu,
também, que a microssociologia estuda as interações entre pessoas e pequenos grupos e o papel que os
indivíduos e grupos têm na formação de projetos individuais e coletivos de transformação social.

6.4 Atividades Propostas

1. Qual é a importância do grupo social na formação do indivíduo?

2. Compare o papel do líder de mudança com o líder de resistência.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os debates presentes na educação, o que estudamos ao longo deste módulo, faz-
-se necessário ressaltar que a escola, por meio dos seus processos educativos, evidencia a influência da
sociedade.
Dessa forma, ao analisarmos as propostas educacionais, é fundamental buscarmos as concepções
subjacentes a elas, pois sobejamente sabemos que a educação não é neutra, mas, geralmente, tem es-
tado a serviço da social dominante, pois, como afirmou Marx, as ideias dominantes são as ideias da classe
dominante.
Você pode observar que a pretensa neutralidade da educação tem servido para aprofundar as dife-
renças entre a escola destinada às classes mais ricas e a destinada para os mais pobres.
O desafio que se coloca, sobretudo, aos educadores, é o de contribuir para a construção de uma
educação escolar não discriminatória, que possibilite a todos um ensino da melhor qualidade possível.
Esperamos ter contribuído para essa reflexão e colaborado com seu crescimento. Lembramos que
mais informações a respeito dos conteúdos trabalhados nesta disciplina você poderá ter lendo as obras
indicadas e as citadas nas Referências.

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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS

Capítulo 1

1. Conforme estudamos, para Durkheim, socialização é o processo que torna o indivíduo membro
da sociedade. Por meio dela, os indivíduos assimilam valores e costumes que definem as ma-
neiras de ser e de agir característicos do grupo social ao qual pertencem.

2. Você deve ter respondido: a burguesia e o proletariado. Para Marx, a relação entre essas classes
é de conflito e de luta, pois os seus interesses são opostos e antagônicos.

Capítulo 2

1. Esperamos que você tenha percebido que o paradigma do consenso vê a sociedade como um
conjunto de pessoas que se unem por crenças e valores comuns. Segundo esse paradigma, os
valores e as crenças comuns produzem a harmonia e o consenso social. Nessa visão, as classes
sociais têm interesses e objetivos comuns.

2. Você deve ter respondido que na visão do paradigma do conflito, a sociedade é constituída
de grupos divergentes que vivem em constante conflito. As classes sociais são antagônicas
e lutam entre si. A classe dominada luta para sobreviver; por outro lado, a classe dominante
utiliza-se de todos os meios para manter o seu poder e hegemonia.

Capítulo 3

1. Conforme você estudou, a educação é vista com autonomia plena diante da sociedade e é
capaz de promover o progresso social, diminuir a desigualdade social e oferecer igualdade de
oportunidades para todos.

2. Espera-se que você tenha respondido que o pessimismo pedagógico concebe a educação
como completamente dependente da sociedade e apenas tem a função de reproduzir a estru-
tura social e reforçar a ideologia da classe dominante.

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Capítulo 4

1. Você deve ter identificado que o conceito elaborado por Milton Santos, que apresenta dados
estatísticos que comprovam a perversidade da globalização: a ampliação do desemprego, da
fome, da mortalidade infantil, do número de pessoas que não têm acesso à água potável, a
ampliação cada vez maior do número de pobres etc.
2. Espera-se que sua resposta tenha contemplado o fato de que a educação deve estar compro-
metida com a formação plena do indivíduo, teórica e prática, filosófica e profissional. Para Pe-
dro Demo, a escola não pode ficar refém do treinamento para o mercado de trabalho.

Capítulo 5

1. Você deve ter distinguido as duas formas da educação, como segue: a educação escolar distin-
gue-se, portanto, da educação informal (sem forma, sem normas) porque tem horários, esta-
belece critérios para o agrupamento dos alunos, tem profissionais executando papéis diferen-
ciados (o professor, o diretor etc.), possui um sistema de avaliação e deve cumprir uma função:
transmitir e construir conhecimentos.

2. Em relação às escolas rurais, espera-se que você tenha contemplado os seguintes pontos: os
conteúdos e métodos de ensino são disfuncionais  e inadequados às necessidades das famílias
do meio rural. Nas referidas escolas, os objetivos essenciais não são atingidos, exigindo-se, mui-
tas vezes, das crianças, que memorizem temas de escassa e duvidosa relevância; não se ensina
de maneira criativa, participativa e prática aquilo que realmente necessitam aprender.

Capítulo 6

1. Você deve ter respondido que para se tornar verdadeiramente humana, a pessoa precisa rela-
cionar-se, e o ambiente fundamental e primeiro para que isso aconteça é o grupo familiar. A ne-
cessidade de um grupo de referência no qual ocorram relações diretas de ajuda mútua, amparo
e trocas afetivas, cognitivas, valorativas é fundamental para a vida da pessoa consigo mesma e
para sua relação com o outro (relacionamento interpessoal).

2. Conforme você aprendeu, líder de Mudança é aquele que se encarrega de levar adiante as tare-
fas, enfrentando conflitos, buscando soluções, arriscando-se sempre diante do novo. O contrá-
rio dele é o Líder de Resistência. Este sempre “puxa” o grupo para trás, freia avanços; depois de
uma intensa discussão ele coloca uma pergunta que remete o grupo ao início do já discutido.
Sabota as tarefas, levantando sempre as melhores intenções de desenvolvê-las, mas poucas
vezes as cumpre; assume sempre o papel de “advogado do diabo”.

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