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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2016.0000261264

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0228634-33.2011.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que são apelantes
LUCIA FERNANDES PEREIRA e FRANCISCO PEREIRA NETO, são apelados
FUNDAÇÃO CASPER LIBERO, RADIO E TELEVISÃO RECORD S/A e
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS.

ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Julgaram prejudicada a
sustentação oral em razão do resultado. Deram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ


JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente) e ALVARO PASSOS.

São Paulo, 19 de abril de 2016.

GUILHERME SANTINI TEODORO


RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Apelação nº 0228634-33.2011.8.26.0100

Comarca: São Paulo

APTE: Francisco Pereira Neto e Lúcia Fernandes Pereira

APDO: Rádio e Televisão Record S/A, Fundação Cásper Líbero e Igreja


Universal do Reino de Deus

Voto nº 3735
RESPONSABILIDADE CIVIL. Direito de imagem.
Violação. Ocorrência. Legitimidade passiva reconhecida.
Mérito julgado de acordo com o art. 515, § 3º do
CPC/1973. Divulgação não autorizada de entrevistas
concedidas para noticiário televisivo em programa
religioso veiculado cinco anos depois em outra emissora.
Inexistência de razões que dispensem a autorização
(notoriedade, exigências científicas, didáticas ou culturais,
captação de imagens em lugar público ou vinculadas a
fatos de interesse público ou que hajam ocorrido
publicamente). Dano moral in re ipsa. Configuração
mesmo se a exposição não autorizada da imagem não for
vexatória, ofensiva ou ridícula nem haja fins publicitários,
econômicos ou comerciais. Arbitramento da reparação
segundo os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. Ação procedente contra as emissoras de
televisão. Provimento do recurso dos autores na demanda
principal a implicar, por via de consequência lógica, a
reforma do capítulo da sentença sobre a denunciação da
lide, extinta apenas por suposta ilegitimidade da
denunciante. Relação de garantia própria fundada em
cláusula de contrato entre uma das emissoras e a igreja
produtora do programa religioso. Denunciação da lide
procedente. Apelação provida.

Da respeitável sentença de relatório adotado de


extinção, sem resolução do mérito, dos processos de ação de indenização e
de denunciação da lide os autores, depois de rejeitados seus embargos de
declaração, apelam porque sua imagem e privacidade foram violadas por
meio da divulgação não autorizada de entrevistas concedidas cinco anos
antes, por indicação de médico, para veiculação em noticiário televisivo
sobre agravamento de riscos de infarto no inverno. A ré Record, produtora
da entrevista, sem autorização cedeu as imagens à fundação ré ou permitiu
sua veiculação sem oposição. A fundação ré, por sua vez, responsável pela

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TV Gazeta, divulgou sem autorização a entrevista em programa da Igreja


Universal do Reino de Deus destinado à difusão da fé evangélica, o que
traduziu ofensa à identidade pessoal dos autores, que são católicos
praticantes. O contrato de cessão de espaço televisivo não pode ser oposto a
terceiros como os autores. As rés respondem objetivamente pelo risco da sua
atividade (artigos 37, § 6º e 223 da Constituição Federal), pouco importando
se a produção é independente. Os apelantes sustentam a legitimidade das
rés e postulam a reforma do julgado, mantida a lide secundária contra a
referida igreja, com a procedência da demanda.

Há resposta da fundação e da igreja denunciada.

É o relatório, em essência.

A respeitável sentença não deu adequada solução


à controvérsia.

A ilegitimidade da fundação responsável pela TV


Gazeta foi reconhecida porque a cláusula 7.1 do contrato de cessão de
espaço televisivo celebrado com a igreja prevê responsabilidade integral da
cessionária por comentários e opiniões divulgados no programa, não sendo
exigível da cedente prévio conhecimento e censura do que será divulgado
no espaço cedido (fls. 130 e 360).

Porém, essas considerações atinem ao mérito da


causa, não às condições da ação.

A petição inicial atribui à fundação exibição não


autorizada de entrevistas concedidas pelos autores muito antes a noticiário
de outra emissora e atribuem a ela violação dos direitos de personalidade
deles.

Ora, apenas da narração dos fatos extrai-se a


legitimidade passiva da fundação.

O exame das condições da ação deve ser feito à luz da


situação jurídica de direito material posta pelos autores na petição inicial. Isto é, examina-se
hipoteticamente a relação substancial, para extrair dali a possibilidade jurídica da demanda,
o interesse e a legitimidade. Trata-se de análise realizada in statu assertionis, ou seja,
mediante cognição superficial que o juiz faz da relação material (TJSP, 22ª Câm. Dir.
Priv., AI 991.09.039792-5, rel. Des. ROBERTO BEDAQUE, j. 25/11/2009).

No mesmo sentido precedente desta 2ª Câmara


de Direito Privado no AI 994.09.278927-6, relator o Desembargador BORIS
KAUFFMANN, j. 23/2/2010: (...) é pela asserção feita na petição inicial que se
examinam as condições da ação, e não pelo que fique demonstrado na instrução do

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processo.

Basta, então, que da narração dos fatos na petição


inicial decorram, em abstrato, as consequências jurídicas pretendidas pelos
autores, como se dá na espécie.

Assim, a respeitável sentença não andou bem em


proclamar a ilegitimidade da fundação, contrariando, aliás, anterior (e
correta) decisão do Juízo (fls. 177).

A fundação denunciou a lide para a igreja (fls.


88), o que foi deferido (fls. 177). Com isso, a fundação implicitamente
admitiu sua legitimidade. Não fosse parte legítima, não poderia denunciar a
lide. (...) quem é (ou pretende ser) parte ilegítima passiva “ad causam”, na ação principal,
“ipso facto” sê-lo-á parte ilegítima ativa na denunciação (ARRUDA ALVIM, Manual
de Direito Processual Civil, ed. RT, 1986, vol. II/101). Nesse sentido, JTACSP-
LEX 149/92; JTACSP-RT 121/232 e 114/83.

O julgado também considerou a ré Record parte


ilegítima porque, como a igreja alegou acesso ao vídeo das entrevistas pela
internet, não haveria como imputar àquela a veiculação da imagem dos
autores em programa de outra emissora televisiva sem documentos
comprobatórios da cessão indevida (fls. 360 e verso).

Contudo, esses são fundamentos de mérito, com a


devida vênia. Aplica-se também aqui o quanto antes exposto sobre o exame
das condições da ação pela asserção feita na petição inicial. E lá os autores
alegam que a ré Record cedeu as entrevistas sem autorização deles (fls. 12, §
2º), causando-lhes danos morais por violação a direitos de personalidade. É
o quanto basta, evidentemente, para reconhecimento da legitimidade
passiva.

De acordo com o art. 515, § 3º do CPC/1973, em


casos de extinção do processo sem resolução do mérito, como na espécie, o
tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão
exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.

A aplicação prática da regra independe de pedido


expresso do apelante, bastando que o tribunal considere a causa pronta para
julgamento (STJ, 4ª T., REsp 836.932) (apud THEOTONIO NEGRÃO,
CPCLPV, ed. Saraiva, 46ª ed., 2014, pág. 688, art. 515: 16). O tribunal tem o
poder-dever de julgar imediatamente o mérito do litígio nas condições da
regra em questão (STJ, 3ª T., AI 836.287-AgRg) (idem, ibidem).

Pois bem, o mérito pode desde logo ser julgado e

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é procedente a pretensão dos autores.

A prova dos autos revela que os autores foram


entrevistados em noticiário televisivo da ré Record com nítido caráter
informativo sobre os cuidados com o coração. A imagem dos autores foi
claramente exibida durante as entrevistas com menção aos seus nomes, tudo
vinculado a problema cardíaco sofrido e seu tratamento (fls. 3, 5/11, 48, 50 e
52).

Aproximadamente cinco anos depois, as mesmas


entrevistas foram veiculadas pela emissora da fundação ré em programa
televisivo da igreja denunciada (fls. 13, 21/2 e 63 aproximadamente entre
1h20 e 1h21 na gravação em DVD).

Os autores afirmam autorização para exibição das


suas imagens apenas no noticiário. Negam autorização para qualquer uso
subsequente, menos ainda para emissora e finalidade diversas. E têm razão.
O contrário as rés não provaram. E não há dúvida de que o contexto das
entrevistas no noticiário é diferente do contexto ou propósito do programa
da igreja denunciada, cujo caráter religioso é facilmente perceptível e
reconhecido também nas cláusulas 1.1 e 2.5 do instrumento a fls. 125 e 128,
respectivamente.

A ré Record, em contestação (fls. 134/149), alegou


desconhecer a maneira pela qual a fundação ré obteve o material, no qual o
logotipo dela foi embaçado. Disse que as imagens poderiam ser obtidas
pelos mais diversos meios, pois inicialmente exibidas em rede nacional.
Negou a ré Record qualquer participação no evento ou fornecimento das
imagens e salientou que a entrevista não foi inserida em contexto vexatório,
mantendo seu caráter informativo em horário alternativo, sem nenhuma
deturpação da imagem ou identidade dos autores, muito menos
constrangimento. Segundo a ré Record, se não quisessem os autores ter sua
imagem exposta, então que não participassem do programa produzido por
ela.

Verifica-se, assim, que, sem negar a produção das


entrevistas e sua primeira veiculação no seu noticiário televisivo, a ré
Record, de uma maneira ou de outra, cedeu as imagens porque elas
acabaram utilizadas justamente em programa religioso da mesma igreja, ora
denunciada, que tem vasta e notória participação em sua grade de
programação.

Não se trata de mera coincidência. Se as imagens


pudessem ser obtidas com qualidade aceitável pelas mais diversas formas,

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então haveria notícia de outras veiculações irregulares, e não apenas no


programa da mesma igreja que tem participação na grade da ré Record.

Portanto, a ré Record responde pela cessão e uso


indevidos, porque não autorizados, das imagens dos autores.

Se, como alega a igreja denunciada na contestação


a fls. 297, fim, as imagens estavam disponíveis na internet, de que extraídas
para veiculação no programa religioso, maior ainda a falha da ré Record
porque não teria guardado adequadamente as imagens nem obtido
autorização dos autores para torná-las disponíveis nesse meio virtual.

Aliás, se as imagens foram mesmo obtidas por


esse meio, -- o que não está provado --, a circunstância de o logotipo da
Record ter sido embaçado, -- ao que tudo indica pela igreja produtora do
programa religioso --, confirma a ilicitude do uso, jamais autorizado pelos
autores.

Por sua vez, a fundação ré, que contestou a fls.


81/104, malgrado não tenha produzido o programa religioso (fls. 84), cedeu
espaço na sua grade de programação televisiva conforme instrumento
contratual a fls. 125/133.

Sua responsabilidade pela transmissão do


programa alheio é objetiva por danos causados a terceiros de acordo com a
teoria do risco-proveito. Como obtém proveito econômico pela cessão
onerosa do espaço televisivo (cláusula 3ª do instrumento contratual), a
fundação ré arca com os ônus correspondentes. Ubi emolumentum, ibi onus;
ubi commoda, ibi incommoda.

Assumiu o risco de lesar terceiros ao permitir a


transmissão de programas que não produziu, de modo que não pode eximir-
se da correspondente responsabilidade. O serviço público em que investida
a fundação ré acarreta-lhe responsabilidade objetiva também sob o prisma
da atividade em si mesma (artigos 37, § 6º e 223 da Constituição Federal).

Naturalmente, ante o princípio da relatividade


dos contratos, a cláusula que exime a fundação ré de qualquer
responsabilidade pelo conteúdo do programa (7.1) não é oponível contra os
autores. Cuida-se de res inter alios acta.

Dentre os direitos subjetivos de que o homem é titular pode-


se facilmente distinguir duas espécies diferentes, a saber: uns que são destacáveis da pessoa
de seu titular e outros que não o são. Assim, por exemplo, a propriedade ou o crédito contra
um devedor constituem um direito destacável da pessoa de seu titular; ao contrário, outros

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direitos há que são inerentes à pessoa humana e, portanto, a ela ligados de maneira
perpétua e permanente, não se podendo mesmo conceber um indivíduo que não tenha
direito à vida, à liberdade física ou intelectual, ao seu nome, ao seu corpo, à sua imagem e
àquilo que ele crê ser sua honra. Estes são os chamados direitos da personalidade. Tais
direitos, por isso que inerentes à pessoa humana, saem da órbita patrimonial, portanto são
inalienáveis, intransmissíveis, imprescritíveis e irrenunciáveis (SÍLVIO RODRIGUES,
Direito Civil, Parte Geral, volume I, ed. Saraiva, 18ª ed., 1988, pág. 85).

A Constituição Federal, no art. 5º, inciso X,


declara invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas.

O Código Civil, no artigo 11, consagra a


intransmissibilidade e a irrenunciabilidade dos direitos da personalidade,
salvo nos casos previstos em lei, e o artigo 20 do mesmo diploma legal
condiciona a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
pessoa para fins comerciais à necessária autorização, além de garantir
indenização na hipótese de violação.

Dúvida alguma pode haver, portanto, sobre a


proteção que o ordenamento jurídico confere aos direitos da personalidade,
dentre eles o direito à própria imagem, seja a pessoa famosa ou
desconhecida, trabalhe ou não como modelo profissional.

Aliás, como as manifestações da personalidade


são várias e variadas suas lesões (muitas vezes não especificadas
juridicamente) e possibilidades de lesão (pois estamos em uma sociedade de
alta tecnologia e massificada), a pessoa (em sentido ético-jurídico) é titular
do direito geral de personalidade, de modo que fica protegida em sua
totalidade. Esse direito pode ter especificações também devidamente
protegidas, mas funciona basicamente como elemento de captação para
determinar se houve ofensa à esfera da personalidade por meio do balanço
do conflito de interesses envolvidos em cada caso. Esse direito geral de
personalidade supre eventuais ausências de especificações protetoras de
bens da personalidade (anotações de aulas proferidas pelo Professor
ALCIDES TOMASETTI JR. no 2º ano do curso de Bacharelado da Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo, em 1989).

Por outras palavras, os direitos da personalidade


conformam o conteúdo do direito geral de personalidade.

O direito geral de personalidade é direito


subjetivo absoluto de tal forma que os bens que integram a esfera jurídica
nuclear ou da personalidade são, em princípio, inalienáveis ou
intransmissíveis, gratuita ou onerosamente, embora alguns direitos, como o

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direito à própria imagem, sejam passíveis de cessão com restrições.

A esfera jurídica nuclear ou esfera da


personalidade é protegida em atenção à dignidade da pessoa humana,
consagrada como fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º,
inciso III da Constituição Federal). É princípio geral de direito o respeito
mútuo. A pessoa deve ser tratada e respeitada como pessoa.

A inviolabilidade da imagem da pessoa consiste na tutela


do aspecto físico, como é perceptível visivelmente, segundo ADRIANO DE CUPIS, que
acrescenta: “Essa reserva pessoal, no que tange ao aspecto físico - que, de resto, reflete
também personalidade moral do indivíduo -, satisfaz uma exigência espiritual de
isolamento, uma necessidade eminentemente moral (JOSÉ AFONSO DA SILVA,
Curso de Direito Constitucional Positivo, ed. RT, 7ª ed., 1991, pág. 186).

O direito à imagem não abrange apenas o aspecto


físico. WALTER MORAES, com base nas doutrinas de OPET, OTTO
LIEBMANN, ADRIANO DE CUPIS e PONTES DE MIRANDA, explica, em
artigo publicado em RT 443/64, que toda expressão formal e sensível da
personalidade de um homem é imagem para o Direito. A idéia de imagem não se restringe,
portanto, à representação do aspecto visual da pessoa pela arte da pintura, da escultura, do
desenho, da fotografia, da figuração caricata ou decorativa, da reprodução em manequins e
máscaras. Compreende, além, a imagem sonora da fonografia e da radiodifusão, e os gestos,
expressões dinâmicas da personalidade.

Mais adiante, do mesmo precioso artigo de


WALTER MORAES, colhem-se os seguintes ensinamentos: Se, além do mais,
imagem é forma da pessoa, expressão sensível da individualidade como foi dito, assentada
fundamentalmente no corpo físico do homem, segue que é um bem inerente à natureza do
homem, naturalmente integrante da personalidade, o que vale dizer: um bem essencial da
personalidade. (...) Como bem essencial, a imagem determina uma regra categórica, isto é,
uma regra de dever geral de não violação e preservação, correspondente a um direito
absoluto cujo exercício constante é intrinsecamente garantido pela essencialidade do bem e
concomitante irrenunciabilidade do direito.

Em razão da natureza do direito de


personalidade e da extensão da sua proteção jurídica, a autorização de uso
da imagem há de ser específica ou bem delimitada não só no tempo como
também na forma, no modo e no lugar.

A interpretação da autorização, da cessão ou de


qualquer contrato sobre direito de personalidade é restritiva. Assim,
entende-se como não autorizada toda forma de uso não prevista e não
delimitada. É o caso dos autos.

Ninguém pode apropriar-se da imagem alheia e a


ausência de licença ou autorização do titular do direito não pode ser suprida

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a não ser pelo consentimento do próprio titular ou de seu representante.

Na espécie, é inequívoca a falta de autorização


dos autores para publicação de suas imagens em programa televisivo fora
do noticiário produzido pela ré Record.

Não se verificam razões que dispensem a


autorização, como notoriedade dos entrevistados ou exigências científicas,
didáticas ou culturais.

Ademais, as imagens das entrevistas não foram


captadas em lugar público, mas sim dentro da residência dos autores, e não
se vincularam a fatos de interesse público ou que hajam ocorrido
publicamente, de modo que a autorização concedida para a divulgação no
noticiário, a qual se interpreta restritivamente, jamais poderia estender-se,
cinco anos depois, para programa religioso (contexto totalmente diferente),
mesmo produzido por igreja com grande participação na programação da
emissora produtora do noticiário.

Os danos morais configuram-se ainda que a


exposição não autorizada da imagem não seja vexatória, ofensiva ou ridícula
nem haja fins publicitários, econômicos ou comerciais, como na espécie.

Com efeito, o direito à imagem reveste-se de duplo


conteúdo: moral, porque direito de personalidade; patrimonial, porque assentado no
princípio segundo o qual a ninguém é lícito locupletar-se à custa alheia. Em se tratando de
direito à imagem, a obrigação da reparação decorre do próprio uso indevido do direito
personalíssimo, não havendo de cogitar-se da prova da existência de prejuízo ou dano, nem
a conseqüência do uso, se ofensivo ou não. O direito à imagem qualifica-se como direito de
personalidade, extrapatrimonial, de caráter personalíssimo, por proteger o interesse que
tem a pessoa de opor-se à divulgação dessa imagem, em circunstâncias concernentes à sua
vida privada (STJ, 2ª Seção, EREsp 230.268/SP, rel. Min. SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, j. 11/12/2002).

CONSTITUCIONAL. DANO MORAL: FOTOGRAFIA:


PUBLICAÇÃO NÃO CONSENTIDA: INDENIZAÇÃO: CUMULAÇÃO COM O DANO
MATERIAL: POSSIBILIDADE. Constituição Federal, art. 5º, X. I. Para a reparação do dano
moral não se exige a ocorrência de ofensa à reputação do indivíduo. O que acontece é que,
de regra, a publicação da fotografia de alguém, com intuito comercial ou não, causa
desconforto, aborrecimento ou constrangimento, não importando o tamanho desse
desconforto, desse aborrecimento ou desse constrangimento. Desde que ele exista, há o
dano moral, que deve ser reparado, manda a Constituição, art. 5º, X. II. - R.E. conhecido e
provido (STF, 2ª Turma, RE 215.984/RJ, rel. Min. CARLOS VELLOSO, j.
4/6/2002).

A obrigação da reparação pelo uso não autorizado de


imagem decorre do próprio uso indevido do direito personalíssimo e não é afastada pelo

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caráter não lucrativo do evento ao qual a imagem é associada. Para a configuração do dano
moral pelo uso não autorizado de imagem não é necessária a demonstração de prejuízo,
pois o dano se apresenta in re ipsa (STJ, 3ª Turma, REsp 299.832/RJ, rel. Min.
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, j. 21/2/2013).

Como os direitos de personalidade não são


patrimoniais (embora alguns possam, com restrições, ser usados com
objetivo econômico), a sua violação acarreta dano moral que está in re ipsa. O
prejuízo está na própria violação (RSTJ 68/358 e RT 714/253) (apud YUSSEF
SAID CAHALI, Dano Moral, ed. RT, 2ª ed. revista, atualizada e ampliada,
1998, pág. 550, nota de rodapé 16).

A vítima de uma lesão a algum daqueles direitos sem


cunho patrimonial efetivo, mas ofendida em um bem jurídico que em certos casos pode ser
mesmo mais valioso do que os integrantes de seu patrimônio, deve receber uma soma que
lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo às circunstâncias
de cada caso, e tendo em vista as posses do ofensor e a situação pessoal do ofendido. Nem
tão grande que se converta em fonte de enriquecimento, nem tão pequena que se torne
inexpressiva (CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA Responsabilidade Civil,
Forense, 3ª ed., 1992, nº 49, pág. 60).

Por outras palavras, a reparação do dano moral


tem por finalidade compensar o abalo moral e prevenir novas falhas sem
promover enriquecimento indevido.

O arbitramento há de realizar-se com prudência e


moderação, conforme os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, sem ignorar a condição das partes, a natureza da falha e
a extensão do dano. O montante não pode ser ínfimo nem excessivo,
devendo corresponder à realidade do gravame.

Presentes tais parâmetros, considerando a


amplitude nacional (cláusula 1.1 a fls. 125/6) e o horário da divulgação não
autorizada (espaço nobre noturno entre segunda-feira e sábado - cláusula 2.1
a fls. 127), mas sem esquecer que as imagens foram exibidas por apenas um
minuto, aproximadamente, a indenização é arbitrada em trinta mil reais (R$
30.000,00) para cada autor com correção monetária pela tabela deste
Tribunal de Justiça desde o julgamento colegiado (Súmula 362 do STJ) e
juros moratórios de um por cento ao mês a contar da data do ilícito absoluto
(Súmula 54 do STJ), que as rés Record e fundação solidariamente pagarão
juntamente com custas, despesas processuais e honorários advocatícios de
quinze por cento da condenação, tendo em vista o tempo de tramitação da
causa, sua natureza, a qualidade do trabalho advocatício e o tempo para sua
execução.

Por fim, como entre a fundação ré e a igreja

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denunciada existe relação de garantia própria, fundada na cláusula 7.1 do


instrumento contratual a fls. 130, o que determinou o correto deferimento da
denunciação da lide (fls. 177), o provimento do recurso dos autores na
demanda principal implica, por via de consequência lógica, a reforma do
capítulo da sentença sobre a denunciação da lide, extinta apenas por suposta
ilegitimidade da denunciante.

O efeito translativo do recurso transfere ao tribunal o exame


e o reexame das matérias de ordem pública, independentemente de haverem sido alegadas
pelas partes. Isto porque não se trata de efeito devolutivo. A norma comentada é
manifestação do efeito translativo do recurso, quanto ao exame dessas questões em outro
grau de jurisdição (NERY e NERY, CPC Comentado e legislação extravagante, 10ª
ed., pág. 815).

Considerando que a fundação é parte legítima na


lide principal e que há relação de garantia própria, é procedente a
denunciação da lide para a igreja, cuja responsabilidade é inequívoca por ter
produzido e divulgado o programa religioso com uso não autorizado das
imagens dos autores.

Então, na lide secundária, a igreja denunciada é


condenada a ressarcir a fundação denunciante do quanto esta pagar para os
autores, além de custas e despesas processuais suportadas pela denunciante
e de honorários advocatícios de dez por cento do ressarcimento devido.

Ante o exposto, dou provimento à apelação.

É como voto.

GUILHERME SANTINI TEODORO


Relator

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