Sei sulla pagina 1di 31

OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM

Direito Civil
Cristiano Sobral
DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES pois consistem em obrigações de não fazer do pro-
prietário para respeito a direito de vizinhos.
1. INTRODUÇÃO
2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES
O direito das obrigações é o ramo do Direito
Civil que se ocupa em estudar a relação jurídica As modalidades de obrigações decorrem de
que existe entre devedor e credor, onde este pode dois tipos de classificações: básica e especial. Em
exigir daquele o cumprimento de uma prestação, uma classificação básica, a depender da natureza
que pode consistir em um dar, um fazer ou um não da prestação, a obrigação pode ser de três tipos:
fazer. obrigação de dar, obrigação de fazer e obrigação de
não fazer. Em uma classificação especial, o CC
A obrigação tem, portanto, três elementos: trata de mais três tipos de modalidades: obrigação
devedor, credor e vínculo jurídico. O vínculo jurídico alternativa, obrigação divisível ou indivisível e obri-
é a ligação que existe entre o devedor e o credor, gação solidária.
que é composta por dois elementos: débito e res-
ponsabilidade. Significa que há duas questões li- 2.1. Obrigação de dar
gando devedor e credor: a existência de uma dívida
(débito) e a possibilidade de cobrança judicial em A obrigação de dar é aquela em que a pres-
caso de inadimplemento (responsabilidade). tação do devedor consiste na entrega de um bem.
A obrigação de dar pode ser de dois tipos: dar coisa
Tema importante diz respeito à obrigação certa ou dar coisa incerta. Na obrigação de dar coi-
natural. É a obrigação em que o vínculo jurídico é sa certa, o devedor tem a prestação de entregar um
formado apenas pelo débito, não existindo respon- bem específico. Por exemplo, quando alguém vende
sabilidade. Existe uma dívida, mas, se não for cum- o cavalo campeão de sua fazenda. Já a obrigação
prida a prestação, o credor não tem o poder de exi- de dar coisa incerta é aquela em que o devedor
gi-la judicialmente. No entanto, se adimplida espon- assume a obrigação de dar um gênero em certa
taneamente ou até mesmo por engano, não se pode quantidade - por exemplo, quando alguém vende
exigir devolução, pois o débito existe (art. 882 do três cavalos de sua fazenda.
CC). É o que chamamos de soluti retentio (retenção
de pagamento). Exemplo de obrigação natural: dívi- 2.1.1. Obrigação de dar coisa certa
da de jogo ou aposta.
É a obrigação de dar um bem específico,
A obrigação propter rem (em razão da não servindo outro de mesma espécie, como quan-
coisa), como o nome sinaliza, é direito obrigacional do uma pessoa vende o cavalo campeão de sua
(confrontando devedor e credor) e não direito real. fazenda. Na verdade, há dois tipos de obrigação de
Todavia, tem uma especificidade: é a obrigação que dar coisa certa: dar e restituir. A razão é que quando
surge em razão da aquisição de um direito real. Ao tenho a obrigação de devolver um bem que recebi,
se adquirir um direito real, seu titular adquire algu- não posso impor a entrega de outro de mesma es-
mas obrigações de devedor perante credor. Exem- pécie. Portanto, tenho obrigação de dar coisa certa
plos: obrigação de pagar condomínio quando se tanto quando tenho que entregar um cavalo que
adquire o direito de propriedade de um apartamento vendi quanto quando tenho que devolver um cavalo
ou o dever que o proprietário tem de indenizar o que me foi emprestado.
possuidor que realiza benfeitorias em seu imóvel,
nos termos destacados em direitos reais. O tema vem previsto entre os arts. 233 e
242 do CC, onde um único tema é tratado: perda
Como a obrigação propter rem surge por ou deterioração do bem depois que assumo a obri-
força da titularidade de um direito real, acompanha gação de dar, mas antes da efetiva entrega. Como é
o bem se houver transferência dele, ou seja, o novo obrigação de dar coisa certa, não sendo possível a
titular do direito real a assume. Exemplo: quem entrega de outro bem equivalente, qual é a conse-
compra um apartamento assume as obrigações de quência? Quem suporta o prejuízo? É isso que a
pagar condomínio, até mesmo aquelas que estejam prova exigirá de você saber e as possibilidades são
em atraso. muitas, pois pode ser com culpa ou sem culpa do
devedor, pode ser um dar ou um restituir, pode ser
Cuidado: a obrigação propter rem não se perda ou deterioração ou até mesmo uma melhora
consubstancia apenas no pagamento de valor pe- no bem.
cuniário. Deve ser uma obrigação devedor/credor,
mas esta pode ser consubstanciada em um dar Questão recorrente em certames, apresento
(dinheiro ou qualquer bem), um fazer ou um não um macete para que você, caro leitor, conheça to-
fazer. Assim sendo, o respeito às limitações dos dos os casos previstos nos citados artigos. Basta
direitos de vizinhança são obrigações propter rem,

www.cers.com.br 1
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
conhecer uma regra básica, à qual somamos duas se acha acrescido de perdas e danos, incluindo o
regras acessórias lógicas: abatimento do valor em razão da deterioração.

REGRA BÁSICA: Se o devedor teve culpa d) Prestação de dar, deterioração do bem, sem
na perda do bem, a regra sempre será a mesma: culpa do devedor (art. 235): Devedor de um carro
deverá pagar ao credor o equivalente acrescido de por tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega o
perdas e danos. Se o devedor não teve culpa na carro é amassado por bater em um poste ao ser
perda do bem, a regra será sempre a mesma: res levado pela correnteza da inundação provocada por
perit domino (a coisa perece para o dono), será dele violenta tempestade. Consequência: credor poderá
o prejuízo. E quem é o dono? Depende se a obriga- optar em resolver a obrigação (desfazer o negócio)
ção é de dar ou de restituir. Na obrigação de dar, ou aceitar o carro amassado, abatendo do seu pre-
antes da entrega o dono é o devedor, pois a aquisi- ço o valor perdido pela deterioração. Note que é o
ção da propriedade só se dá com a entrega do bem. dono (devedor do carro) que sofre a perda, pois
Na obrigação de restituir, o dono é o credor, pois ele ficou sem dinheiro e com o carro amassado ou sem
sempre foi o dono, uma vez só ter emprestado para o carro pagando pela deterioração.
o devedor.
e) Prestação de dar, melhora do bem (art. 237):
REGRA ACESSÓRIA 1: Se ao invés de Devedor de uma fazenda por tê-la vendido ao cre-
perda, houver apenas deterioração do bem, a solu- dor, mas antes da entrega o bem se valoriza em
ção é a mesma, mas com uma diferença: ele poderá razão do acréscimo de terra trazido pela correnteza
optar entre a solução da perda supramencionada ou das águas (fenômeno chamado de avulsão). O ven-
receber o bem deteriorado, abatendo-se o valor da dedor poderá pedir aumento de preço, pois é o dono
deterioração. e ele se beneficia com a vantagem. Se o comprador
não aceitar pagar o acréscimo, poderá o vendedor
REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa perece resolver a obrigação, ou seja, desfazer a venda. E
para o dono, a coisa também melhora para o dono, se, ao invés de melhoramento ou acrescido, o bem
ou seja, se, ao invés da perda ou deterioração, hou- deu frutos? Os frutos percebidos ou colhidos antes
ver uma melhora no bem antes da entrega, quem da tradição são do devedor, pois ele ainda é dono
dela se beneficiará será o dono. do bem, mas se pendente quando da tradição, será
do credor, pois o bem acessório segue a sorte do
Vamos analisar, com base no macete apre- bem principal. Assim, se o devedor vende uma ca-
sentado, as regras dos arts. 234 a 242 do CC. Qual dela para entregar tempo depois e antes da entrega
a consequência da perda, deterioração ou melhora fica prenha, se na época da entrega o filhote já nas-
do bem antes da tradição, no caso da prestação de ceu será do vendedor, mas se estiver na barriga da
dar e no caso da prestação de restituir? cadela na época da entrega, será do comprador.

a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa do f) Prestação de restituir, perda do bem, com cul-
devedor (art. 234): Devedor de um carro por tê-lo pa do devedor (art. 239): Devedor de um carro por
vendido ao credor, mas antes da entrega o destrói tê-lo recebido emprestado do credor, mas antes da
porque provoca um acidente com perda total do entrega o destrói porque provoca um acidente de
carro por dirigir embriagado. Será devedor no equi- perda total do carro por dirigir embriagado. Será
valente (devolve o valor recebido ou não o recebe) devedor no equivalente (indeniza o valor do carro)
acrescido de perdas e danos. acrescido de perdas e danos.

b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa do g) Prestação de restituir, perda do bem, sem
devedor (art. 234): Devedor de um carro por tê-lo culpa do devedor (art. 238): Devedor de um carro
vendido ao credor, mas antes da entrega o carro cai por tê-lo em empréstimo do credor, mas antes da
em uma ribanceira por ser levado pela correnteza entrega o carro cai em ribanceira levado pela cor-
da inundação provocada por violenta tempestade. renteza da inundação provocada por tempestade. O
Consequência: resolve-se a obrigação, o que signi- dono é o credor e ele sofre a perda, ou seja, o de-
fica desfazer o negócio. Veja que o dono (devedor vedor não terá que indenizá-lo da perda do carro.
do carro) sofreu a perda, pois ficou sem o carro e
sem o dinheiro. h) Prestação de restituir, deterioração do bem,
com culpa do devedor (art. 240): Devedor de um
c) Prestação de dar, deterioração do bem, com carro por tê-lo recebido emprestado do credor, mas
culpa do devedor (art. 236): Devedor de um carro antes da entrega o amassa ao bater por dirigir em-
por tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega o briagado. O credor poderá escolher entre receber o
amassa ao bater por dirigir embriagado. O credor equivalente mais perdas e danos ou aceitar o bem
poderá escolher entre receber o equivalente mais no estado em que se acha acrescido de perdas e
perdas e danos ou aceitar o bem no estado em que

www.cers.com.br 2
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
danos, incluindo o abatimento do valor em razão da líssima quando não só o devedor, mas outra pessoa
deterioração. também puder cumprir a prestação, como a contra-
tação de um pintor para pintura das paredes de uma
i) Prestação de restituir, deterioração do bem, casa.
sem culpa do devedor (art. 240): Devedor de um
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, mas Por que diferenciar? Se for obrigação per-
antes da entrega o carro é amassado por bater em sonalíssima e o devedor se recusa a cumpri-la ou
um poste ao ser levado pela correnteza da inunda- por sua culpa se tornou impossível, responde por
ção provocada por violenta tempestade. O dono é o perdas e danos. Se for obrigação não personalíssi-
credor, que sofrerá a perda, pois a lei diz que ele ma, poderá o credor optar em reclamar indenização
receberá o bem deteriorado sem direito de indeni- por perdas e danos ou mandar executar às custas
zação. do devedor. Como isso é feito? Ajuizamento de
ação com orçamento do serviço, pedindo condena-
j) Prestação de restituir, melhora do bem (art. ção do devedor do fazer a pagar. Todavia, se for
241 e 242): Devedor de uma fazenda por tê-la rece- urgente, poderá o credor mandar executar o fato
bida emprestada do credor, mas antes da entrega o independente de prévia autorização judicial, bus-
bem se valoriza em razão do acréscimo de terra cando em juízo depois o ressarcimento do que foi
trazido pela correnteza das águas (fenômeno cha- gasto.
mado de avulsão). Por evidente, será do credor o
ganho, pois ele é o dono do bem, recebendo-o de As obrigações de fazer podem ser classifi-
volta valorizado, desobrigado de indenizar. Se para cadas em obrigação de meio e de resultado ou de
o melhoramento ou acréscimo houve trabalho do fim. Nas obrigações de resultado, o devedor se vin-
devedor, é benfeitoria, razão pela qual o art. 242 do cula a atingir determinado resultado, sob pena de
CC determina aplicar as regras do direito de indeni- inadimplemento e, consequentemente, dever de
zação que o possuidor de boa-fé e de má-fé tem em indenizar perdas e danos. Já na obrigação de meio,
razão das benfeitorias que faz no bem. o devedor não se vincula a atingir determinado re-
sultado, mas sim a corresponder no meio para atin-
2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta gi-lo, ou seja, a empregar a diligência na busca do
resultado. Não responde se o resultado não for atin-
É a obrigação de dar um gênero em certa gido, apenas se não empregou a diligência neces-
quantidade, como na venda de três cavalos de uma sária. Um advogado ou um médico tem obrigação
fazenda. Em dado momento, os bens a serem en- de meio, enquanto que, segundo a jurisprudência do
tregues deverão ser escolhidos, o que chamamos STJ, o cirurgião plástico, embora seja um médico,
de concentração da prestação. A quem cabe a es- tem obrigação de resultado, quando se tratar de
colha? A quem definido no contrato. Se nada for intervenção meramente estética ou embelezadora.
dito, a escolha caberá ao devedor, que não poderá
escolher o pior nem ser obrigado a escolher o me- 2.3. Obrigação de não fazer
lhor.
A obrigação de não fazer é uma obrigação a
Feita a escolha, a obrigação de dar coisa uma abstenção, por exemplo, não levantar um mu-
incerta se transforma em obrigação de dar coisa ro divisório. Se o devedor descumprir a obrigação,
certa, aplicando-se as regras que lhe são próprias. fazendo o que se obrigou a não fazer, deverá inde-
No entanto, se antes da escolha o bem se perder ou nizar o credor em perdas e danos? Nem sempre,
se deteriorar, mesmo que por caso fortuito ou moti- pois às vezes se tornou impossível, sem culpa do
vo de força maior, o devedor não se exime de cum- devedor, abster-se do ato. Nesse caso, apenas se
prir a prestação, pois o gênero não perece, podendo resolve a obrigação (volta ao estado anterior do
o bem ser substituído por outro da mesma espécie negócio), não tendo que indenizar perdas e danos.
para ser entregue ao credor. Exemplo: a pessoa se viu obrigada a levantar o
muro para impedir que a água invadisse sua casa.
2.2. Obrigação de fazer Se, porém, simplesmente decidiu fazer o que se
obrigara a não fazer, será condenado a indenizar
A obrigação de fazer é aquela em que a perdas e danos e, se o fizer, consistir em uma obra,
prestação do devedor consiste na realização de poderá o credor pedir judicialmente para desfazê-la.
uma atividade, como na contratação da prestação Se for urgente, poderá mandar desfazer indepen-
de um serviço. A obrigação de fazer pode ser de dente de autorização judicial, buscando em juízo o
dois tipos: personalíssima (infungível) ou não per- ressarcimento.
sonalíssima (fungível). Será personalíssima quando
só o devedor puder cumprir a prestação, como na 2.4. Obrigações alternativas
contratação de um pintor famoso para pintura do
retrato do credor em um quadro. Será não persona-

www.cers.com.br 3
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
A obrigação alternativa é aquela que com- cada um, presume-se dividida em partes iguais).
preende duas ou mais prestações, mas se extingue Entretanto, sendo obrigação indivisível, como cada
com a realização de apenas uma delas. Exemplo: um cobrará ou será cobrado em sua parte, já que o
obrigação de dar um carro ou uma moto. A quem objeto não pode ser dividido?
cabe a escolha de que prestação cumprir? Em regra
ao devedor, pois a obrigação se extingue com ele Havendo mais de um devedor em obrigação
cumprindo uma ou outra prestação. Todavia, o con- indivisível, cada um responde por toda a dívida,
trato pode prever que a escolha cabe ao credor. É o pois não há como fracionar a cobrança. Agora,
que diz o art. 252 do CC, que completa: não pode o aquele que pagar a dívida, sub-roga-se nos direitos
devedor obrigar o credor a receber parte em uma do credor perante os demais coobrigados (art. 259
prestação e parte em outra. do CC). Exemplo: se duas pessoas devem um cava-
lo, qualquer um deles pode ser cobrado, mas quem
Importante: o que ocorre quando uma ou pagar poderá cobrar do outro, em dinheiro, metade
todas as prestações não puderem ser cumpridas? do valor do animal.
A resposta irá variar se a escolha cabia ao devedor
ou ao credor. Havendo mais de um credor em obrigação
indivisível, qualquer um deles poderá cobrar a dívi-
a) Impossibilidade de uma das prestações: Se a da por inteiro, tornando-se devedor perante os de-
escolha couber ao devedor, subsiste a obrigação mais credores nas suas respectivas partes em di-
com a outra prestação (art. 253 do CC). Mesma nheiro (art. 261 do CC).
solução, se a escolha couber ao credor e a impossi-
bilidade se deu sem culpa do devedor. Todavia, se 2.6. Obrigações solidárias
por culpa dele, o credor poderá exigir a prestação
subsistente ou o valor em dinheiro da prestação Na pluralidade de credores ou devedores
impossibilitada, acrescido de perdas e danos (art. em obrigação indivisível, todos são obrigados ou
255 do CC). Exemplo: devedor de um carro ou uma têm direito a toda dívida por ser fisicamente impos-
moto destrói a moto ao dirigir embriagado. Conse- sível dividir o objeto da prestação. Todavia, é possí-
quência: se a escolha cabe ao devedor, obrigação vel haver obrigação divisível em que todos são obri-
simples de dar o carro; se cabe ao credor, pode gados ou têm direito a toda a dívida por determina-
cobrar o carro ou o valor em dinheiro da moto mais ção da lei ou da vontade das partes: é a obrigação
perdas e danos. Se a moto foi destruída acidental- solidária.
mente, mesmo cabendo a escolha ao credor, obri-
gação simples de dar o carro. Imagine dois amigos devendo vinte mil reais
a um credor. Em tese, cada um deve dez mil reais,
b) Impossibilidade de ambas as prestações: Se a mas, se for obrigação solidária, o credor pode co-
escolha couber ao devedor e este tiver culpa, ficará brar toda a dívida de qualquer deles (quem paga se
obrigado a pagar o valor da prestação que se im- sub-roga nos direitos do credor perante os demais
possibilitou por último, acrescido de perdas e danos devedores). Por outro lado, se um devedor deve
(art. 254 do CC). Se a escolha couber ao credor e o vinte mil reais a dois amigos, em tese, deve dez mil
devedor culpado, poderá reclamar o valor de qual- reais para cada um deles, mas, se for obrigação
quer uma delas acrescido de perdas e danos (art. solidária, qualquer dos credores pode cobrar toda a
255 do CC, in fine). No entanto, se ambas as pres- dívida (quem recebe se torna devedor perante os
tações tornaram-se impossível sem culpa do deve- demais credores).
dor, independe de quem cabe a escolha: extinta
estará a obrigação, ou seja, desfeito o negócio jurí- Portanto, haverá solidariedade quando hou-
dico (art. 256 do CC). ver mais de um devedor ou mais de um credor
obrigados ou com direito à totalidade da dívida. A
2.5. Obrigações divisíveis e indivisíveis solidariedade não se presume, resultando apenas
da lei ou da vontade das partes. A solidariedade
Obrigação divisível é aquela em que pode pode ser ativa ou passiva, a depender se a plurali-
ser fracionado o objeto da prestação, o que não é dade está no pólo ativo ou passivo da obrigação.
possível na obrigação indivisível. Como exemplo, a
obrigação de dar dinheiro é obrigação divisível e a 2.6.1. Solidariedade ativa
obrigação de dar um cavalo é obrigação indivisível.
É a obrigação em que há mais de um cre-
Só há importância em determinar o tipo de dor, cada um deles com direito a toda a dívida. No
obrigação quando houver pluralidade de devedores vencimento, qualquer credor pode se antecipar e
e/ou credores. Sendo obrigação divisível, não há cobrar toda a dívida ou, enquanto nenhum deles a
problema, pois cada um cobra ou é cobrado em sua cobrar, o devedor se libera pagando a qualquer
parte (se não for determinada a parte que cabe a deles. Quem receber, responde perante os demais

www.cers.com.br 4
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
credores, tornando-se devedor nas partes que lhes Se um dos devedores solidários falecer, a
cabe. solidariedade é transferida aos seus herdeiros?
Não, pois, como visto, a solidariedade é personalís-
O mesmo ocorre se um dos credores remitir sima. Significa que os herdeiros só podem ser co-
(perdoar) a dívida. Devedor deve trinta mil reais a brados na quota que corresponde ao seu quinhão
três credores solidários e um deles perdoa toda a hereditário. Todavia, há duas exceções: se a obri-
dívida. Este se tornará devedor de dez mil reais a gação for indivisível (ex: devedores solidários de-
cada um dos demais credores, como se ele tivesse vem um cavalo) ou se os herdeiros forem cobrados
se antecipado e cobrado o devedor (art. 272 do juntos através do espólio, pois o direito das suces-
CC). Cuidado: é diferente quando credor solidário sões preceitua que o espólio se sub-roga nos deve-
perdoa sua parte. Nesse caso, subsiste a solidarie- res do de cujos.
dade para os demais credores depois de sua parte
ser descontada. No exemplo citado, o devedor con- Atenção: a lei dá tratamento diferente
tinua a dever vinte mil reais a dois credores solidá- quanto à manutenção da solidariedade no que se
rios. refere ao pagamento de perdas e danos e de juros
que podem ser irradiados da obrigação, pois nas
A solidariedade é personalíssima, ou seja, perdas e danos não subsiste a solidariedade. Mas
se um dos credores falecer e deixar herdeiros, es- nos juros, sim.
tes não se tornarão credores solidários. Significa
que cada um de seus herdeiros só poderá exigir e Se devedores solidários têm obrigação de
receber a quota que corresponder ao seu quinhão dar um carro e, por culpa de um deles, este é des-
hereditário. Imagine um devedor devendo trinta mil truído, a obrigação se converte no pagamento do
reais a três credores solidários, sendo que um deles valor equivalente acrescido de perdas e danos. No
morre deixando dois filhos. Os filhos não poderão valor equivalente, todos continuam devedores soli-
cobrar os trinta mil, pois não se tornam credores dários, mas pelas perdas e danos só responde o
solidários. Cada um só poderá cobrar a parte que culpado (art. 279 do CC). Todavia, se um dos deve-
lhe cabe na herança, ou seja, cada um só pode dores solidários dá causa a acréscimo de juros ao
cobrar cinco mil reais. valor devido, todos respondem solidariamente pelo
valor dos juros, pois o pagamento de juros é uma
Todavia, em dois casos, os herdeiros pode- obrigação acessória e o acessório segue a sorte do
rão cobrar a dívida toda: se a obrigação for indivisí- principal (art. 280 do CC).
vel (exemplo: o devedor deve um cavalo aos três
credores solidários) ou, segundo jurisprudência do Importante (art. 285 do CC): Conforme vi-
STJ, se os herdeiros cobrarem juntos através do mos, o devedor solidário que paga a dívida pode
espólio, pois no direito das sucessões aprendemos cobrar dos demais devedores a parte que lhes cabe
que o espólio se sub-roga nos direitos do de cujos. (se nada for dito, presume-se dividida em partes
iguais). Todavia, se a dívida solidária interessar
Nos termos do art. 271 do CC, convertendo-se a exclusivamente a um dos devedores solidários,
prestação em perdas e danos, nelas subsistem a responderá este por toda a dívida quando da ação
solidariedade. Imagine um devedor de um carro a regressiva aos demais credores. O exemplo típico é
três credores solidários, mas o destrói ao dirigir o contrato de fiança. Quando há renúncia ao benefí-
embriagado. Trata-se de obrigação de dar coisa cio de ordem, devedor principal e fiador são devedo-
certa com perda do bem por culpa do devedor. Con- res solidários. Se o fiador for cobrado, poderá co-
forme visto, torna-se devedor no equivalente acres- brar em regresso do devedor principal não só a
cido em perdas e danos, no que permanecerá ha- metade da dívida, mas sim sua totalidade, pois é
vendo a solidariedade. uma dívida contraída no seu exclusivo interesse. Da
mesma forma, sendo caso de mais de um fiador e
2.6.2. Solidariedade passiva um deles sendo cobrado pela dívida, só terá ação
regressiva contra o devedor principal na totalidade
É a obrigação em que há mais de um deve- da dívida, não tendo ação contra os demais co-
dor, cada um deles obrigados a toda a dívida. Sig- fiadores.
nifica que o credor tem direito de exigir de qualquer
deles o valor total da dívida, mas quem pagar se 3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES
tornará credor dos demais devedores nas suas res-
pectivas partes (internamente não há solidariedade). Haverá transmissão da obrigação quando
Se o credor optar cobrar apenas parcialmente de houver uma substituição subjetiva em seus polos,
um dos devedores solidários, os demais continuam ou seja, uma troca de devedor ou de credor. São
obrigados solidariamente pelo resto. dois os tipos de transmissão das obrigações: ces-
são de crédito e assunção de dívida. Na cessão de
crédito há uma substituição no polo ativo, ou seja,

www.cers.com.br 5
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
há uma troca de credores, pois o credor cede a um contra o cessionário alegando o vício redibitório,
terceiro o seu crédito. Na assunção de dívida há mesmo sendo uma defesa pessoal contra o ceden-
uma substituição no polo passivo, ou seja, uma te.
troca de devedores, pois um terceiro assume a obri-
gação do devedor. 3.2. Assunção de dívida

3.1. Cessão de crédito A assunção de dívida se caracteriza pela


substituição no polo passivo da obrigação, havendo
A cessão de crédito se caracteriza pela uma troca de devedores. A lei permite que terceiro
substituição no polo ativo da obrigação, havendo assuma a dívida do devedor, mas exige a concor-
uma troca de credores em razão da alienação, gra- dância expressa do credor. No entanto, independe
tuita ou onerosa, de um crédito a um terceiro, que de consentimento do devedor, podendo a assunção
se tornará o novo credor da obrigação. A lei permite de dívida ser por delegação (com consentimento do
a cessão do crédito quando a isso não se opuser a devedor) ou por expromissão (sem consentimento
natureza da obrigação, a lei ou o acordo das partes. do devedor).
Quem cede o crédito é chamado de cedente e quem
o recebe é chamado de cessionário. O terceiro que assume a obrigação é cha-
mado de assuntor. Quando ele assume a obriga-
A cessão do crédito independe da concor- ção, o devedor primitivo está exonerado, pois dei-
dância do devedor. A lei exige apenas a notificação xou de ser o devedor. Todavia, há um caso em que
da cessão, para que ele não pague à pessoa erra- o devedor primitivo não estará exonerado, podendo
da. Caso o devedor não seja notificado e pague de ser cobrado pelo credor: se a cessão foi feita a
boa-fé ao antigo credor, ele estará desobrigado, só quem insolvente e o credor a aceitou por não saber
restando ao verdadeiro credor cobrar do cedente, do fato.
que indevidamente recebeu o pagamento.
Com a assunção de dívida, salvo consenti-
Em regra, o cedente não responde pela sol- mento expresso do devedor primitivo, estarão extin-
vência do devedor, ou seja, caso o cessionário não tas as garantias dadas por ele, afinal ele não é mais
consiga receber o crédito em razão da insolvência o devedor. Se a substituição vier a ser anulada,
do devedor, não poderá cobrar a dívida do cedente. restaura-se o débito do devedor primitivo, com todas
No entanto, ele responderá se vier expresso no as garantias que existiam. Exceção: não retornarão
contrato. Quando o cedente não responde pela sol- as garantias dadas por terceiros, por exemplo, hipo-
vência do devedor, a cessão é chamada de cessão teca de um bem de terceiro. Exceção da exceção: a
de crédito pro soluto; quando o cedente responde garantia dada por terceiro poderá retornar, caso ele
pela solvência do devedor, é chamada de cessão de soubesse da causa que gerou anulação da substi-
crédito pro solvendo. tuição.

Embora o cedente, em regra, não responda O assuntor, como novo devedor, poderá
pela solvência do devedor, ele responde pela exis- alegar que tipo de defesa ao ser cobrado pelo cre-
tência do crédito, ou seja, se ceder um crédito que dor? Com efeito, a defesa pode ser de dois tipos:
não existe, aí sim poderá ser cobrado pelo cessio- comum ou pessoal. Será comum quando for defesa
nário. O cedente responderá pela existência do de qualquer pessoa que venha a ser cobrado pelo
crédito tendo o cedido gratuita ou onerosamente. Se credor (ex. prescrição da dívida). Por outro lado,
ceder de forma onerosa, responderá tendo agido de será defesa pessoal quando for exclusiva de uma
má-fé ou até mesmo de boa-fé, pois recebeu pela pessoa (ex. compensação de dívida). O assuntor,
cessão, devolvendo o valor auferido. No entanto, ao ser cobrado, poderá se valer das defesas co-
na cessão gratuita, como nada recebeu em troca, só muns ou das suas pessoais, não podendo se valer
responderá se tiver procedido de má-fé, ou seja, se das defesas pessoais que cabiam ao devedor primi-
sabia da inexistência do credito que cedeu. tivo (art. 302 do CC).

Por fim, na cessão de crédito vigora o prin- 4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGA-
cípio da oponibilidade das exceções pessoais con- ÇÕES
tra terceiros. O que significa isso? Quando o cessi-
onário cobrar a dívida do devedor, este poderá se O meio normal de extinção da obrigação é o
defender alegando as defesas pessoais que cabiam devedor cumprir a prestação, o que chamamos de
contra o cedente (art. 294 do CC). Exemplo: o de- pagamento. Note que o sentido técnico de paga-
vedor comprou um carro usado do credor, mas não mento difere do seu sentido leigo, pois pagamento é
vai pagar porque apresentou vício redibitório. Só coloquialmente usado no sentido de dar dinheiro.
que o credor cedeu o crédito a um terceiro, que é Pagamento em sentido técnico é cumprir a presta-
quem cobra a dívida. O devedor poderá se defender

www.cers.com.br 6
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
ção, seja um dar (dinheiro ou qualquer outro bem), to, em dois casos, o pagamento feito a um terceiro
um fazer ou até um não fazer. libera o devedor: se o credor confirmar o pagamento
ou tanto quanto provar ter se revertido ao credor.
No entanto, a obrigação pode ser extinta por
meios anormais, havendo extinção da obrigação de Há um caso em que o pagamento é feito a
uma forma alternativa, de uma forma diferente do um terceiro e o devedor está liberado, mesmo que
que o cumprimento da prestação. São as formas o credor não confirme nem se prove a reversão em
anormais de extinção da obrigação: pagamento em seu benefício. É o caso do pagamento feito ao cha-
consignação, pagamento com sub-rogação, imputa- mado credor putativo. Putativo vem de putare, que
ção de pagamento, dação em pagamento, novação, significa crer, acreditar. Haverá credor putativo
compensação, confusão e remissão. quando se paga de boa-fé a quem não é o credor,
ou seja, se pagou à pessoa errada, mas havia moti-
4.1. Pagamento vos para acreditar ser ele o credor. Um exemplo já
foi visto quando da abordagem do tema cessão de
Pagamento é o meio normal de extinção da crédito. Vimos que o devedor não precisa concor-
obrigação, ou seja, o cumprimento da prestação dar, mas deve ser notificado da cessão de crédito
(dar, fazer ou não fazer). O CC inicia o tema abor- para saber que o credor mudou. Vimos que se não
dando quem deve pagar (chamado de solvens) e a for notificado e de boa-fé pagar ao cedente, ele está
quem se deve pagar (chamado de accipiens). exonerado e a razão é simples: pagou a credor pu-
tativo.
O CC trata de quem deve pagar, mas, na
verdade, o que se estabelece são regras sobre No que se refere ao objeto do pagamento,
quem pode pagar. A obrigação pode ser paga por este será o cumprimento da prestação. O credor
qualquer pessoa que tenha algum tipo de interesse, não é obrigado a aceitar prestação diversa da que
ou seja, pelo devedor ou por um terceiro. A lei, no lhe é devida, ainda que mais valiosa, afirma o art.
entanto, estabelece consequências diferentes para 313 do CC. Ainda que a obrigação seja divisível,
o pagamento sendo feito pelo devedor, por terceiro como dever dinheiro, não pode o credor ser obriga-
interessado ou por terceiro não interessado. Quan- do a receber nem o devedor ser obrigado a pagar
do se fala em terceiro interessado ou não interessa- por partes, se assim não se ajustou.
do, fala-se em interesse jurídico, pois, se o terceiro
paga, algum tipo de interesse ele tem. O terceiro Quem paga tem direito de receber uma pro-
será interessado quando puder ser cobrado pela va de que pagou. É o que chamamos de quitação.
dívida. Assim, um fiador que paga a dívida do afian- O instrumento da quitação é o recibo, que sempre
çado é um terceiro interessado, mas o pai que paga pode ser por instrumento particular. Se o credor se
a dívida de um filho maior de idade, embora tenha recusar a dar quitação, o devedor pode legitima-
um interesse sentimental, é considerado um terceiro mente reter o pagamento enquanto não lhe for da-
não interessado. da.

Se o devedor efetuar o pagamento, extinta Assim sendo, em regra, quem prova o pa-
estará a obrigação e ele estará exonerado. Se um gamento é o devedor, apresentando o recibo rece-
terceiro pagar, também estará extinta, mas ele po- bido como instrumento da quitação. No entanto, em
derá reaver o valor pago, embora de forma diferente três casos haverá presunção de pagamento, dis-
a depender de quem pagou: se terceiro interessado, pensando o devedor de provar que pagou. Ocorre
sub-roga-se nos direitos do credor; se terceiro não que é uma presunção relativa, ou seja, aquela que
interessado, apenas tem direito de reembolso, não admite prova em contrário. Desta forma, sendo um
se sub-rogando nos direitos do credor. Em ambos dos casos de presunção de pagamento, não se fixa
os casos, o terceiro cobra do devedor o que pagou uma verdade absoluta de que existiu pagamento,
por ele, mas diferem porque, ao se sub-rogar nos mas sim uma inversão do ônus da prova, pois o
direitos do credor, terá as garantias especiais dadas devedor não precisa provar que pagou, mas o cre-
a ele, o que não ocorre no mero direito de reembol- dor pode provar que o devedor não pagou.
so. Detalhe: isso ocorrerá se o terceiro pagar em
seu nome, pois se pagar em nome do devedor, é São os três casos de presunção de pagamento:
considerado uma mera ajuda, não tendo direito de
reaver o que pagou. a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em
quotas periódicas, a quitação da última estabelece,
A quem se deve pagar? O pagamento deve até em prova em contrário, a presunção de estarem
ser feito ao credor ou a quem de direito o represen- solvidas as anteriores;
te. Se o pagamento foi feito à pessoa errada, pa-
gou-se mal e quem paga mal, paga duas vezes,
pois o verdadeiro credor poderá cobrá-lo. No entan-

www.cers.com.br 7
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital sem processo tem procedimento especial previsto no
fazer reserva que os juros não foram pagos, estes CPC.
se presumem pagos; e
4.3. Pagamento com sub-rogação
c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma presun-
ção do pagamento, presunção que pode ser elidida Pagamento com sub-rogação é a operação
no prazo de sessenta dias. pela qual o crédito se transfere com todos os seus
acessórios a um terceiro que paga dívida alheia.
Para se efetuar o pagamento, importa saber Sub-rogar é substituir, o que significa que haverá
o lugar do cumprimento da obrigação. É nesse aqui uma substituição de credor, extinguindo a obri-
lugar que se devem reunir credor e devedor na data gação com relação ao credor originário. A ideia é: A
marcada, não podendo o devedor oferecer nem o deve a B e um terceiro C paga essa dívida e agora
credor exigir o cumprimento em lugar diverso. A deve a C, pois este se sub-rogou nos direitos de
B.
No direito comparado, há dois tipos de obri-
gação: quérable ou portable. A obrigação quérable Como é uma simples substituição no polo
(chamada no Brasil de quesível) é aquela que deve ativo, o vínculo se mantém e o novo credor tem
ser cumprida no domicílio do devedor e obrigação todos os privilégios e garantias que tinha o credor
portable (chamada no Brasil de portável) é aquela originário (art. 349 do CC). No entanto, é possível
que deve ser cumprida no domicílio do credor. No que um terceiro pague dívida alheia e não se sub-
Brasil, conforme previsão do art. 327 do CC, em rogue nos direitos do credor, caso em que terá mero
regra as obrigações devem ser cumpridas no domi- direito de reembolso contra o devedor, por não ser
cílio do devedor, ou seja, são quesíveis ou quérable. um dos casos de pagamento com sub-rogação. A
Poderá ser portável ou até em outro local a depen- diferença é que poderá cobrar dele o que pagou,
der da vontade das partes, da lei, da natureza da mas sem ter os privilégios e garantias do credor
obrigação ou das circunstâncias. Como exemplo, o originário, pois surge um novo vínculo, uma nova
art. 328 do CC determina que se o pagamento con- obrigação (de reembolso), extinguindo a obrigação
sistir na entrega de um imóvel ou de prestações primitiva.
relativas a ele deverá ser cumprido onde situado o
bem. A sub-rogação pode ser de dois tipos: legal
ou convencional, a depender se decorre de lei ou
4.2. Pagamento em consignação da vontade das partes. O CC prevê, em art. 346, os
casos em que a sub-rogação se opera de pleno
Consignação de pagamento significa o de- direito, ou seja, se um terceiro paga a dívida, ele se
pósito judicial ou em estabelecimento bancário da sub-roga automaticamente nos direitos do credor
coisa devida, o que a lei equipara a pagamento, primitivo, independente da vontade das partes. Se a
extinguindo a obrigação. O devedor tem não só o lei não prevê como caso de sub-rogação, teria o
dever de pagar, mas também o direito de fazê-lo terceiro mero direito de reembolso, mas as partes
para evitar as consequências de sua mora. A con- poderão prever a sub-rogação, passando o terceiro
signação em pagamento é, portanto, um valioso a ter os privilégios e garantias do credor primitivo, o
instrumento para o devedor não suportar os encar- que não existiria no mero direito de reembolso.
gos moratórios.
Como exemplo, trago um caso visto no es-
Poderá o devedor consignar pagamento ba- tudo do pagamento. Se terceiro interessado paga a
sicamente quando houver mora do credor ou algum dívida do devedor, sub-roga-se automaticamente
risco para o devedor na realização do pagamento nos direitos do credor, mantendo-se os privilégios e
direto. Nesse sentido, o art. 335 do CC arrola casos as garantias (art. 346, III, do CC). Se terceiro não
de cabimento da consignação em pagamento: se o interessado paga a dívida do devedor, apenas terá
credor se recusar sem justa causa a receber o pa- direito de reembolso, não se sub-rogando nos direi-
gamento ou não puder recebê-lo, se o devedor tiver tos do credor (sem os privilégios e garantias do
dúvida sobre quem é o verdadeiro credor ou se o credor originário). No entanto, se o terceiro não
credor for desconhecido, entre outros. interessado pagar a dívida do devedor condicionado
a sub-rogar-se nos direitos do credor, haverá paga-
Feito o depósito, a princípio, suspende a in- mento com sub-rogação convencional e terá o novo
cidência dos encargos moratórios, mas o devedor credor os privilégios e garantias do credor primitivo
deverá propor ação judicial para discussão da maté- (art.347, II, do CC).
ria, podendo o credor impugnar o pagamento, pois
só exonera o devedor se observados os mesmos 4.4. Novação
requisitos exigidos para validade do pagamento. Se
julgado improcedente, o depósito não terá efeito. O

www.cers.com.br 8
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
Novação é o meio de extinção da obrigação Antes de a lei definir quais obrigações estão
pelo surgimento de uma nova obrigação. A nova- extintas (imputação legal), as partes têm o direto de
ção pode ser de dois tipos: objetiva ou subjetiva. A definir (imputação convencional). Assim, em primei-
novação é objetiva quando a nova obrigação difere ro lugar, quem define é o devedor. No seu silêncio,
da obrigação anterior pela substituição da prestação o credor define em quais dá quitação. Se nenhum
(ex. obrigação de dar dinheiro transformada em deles definir, a lei definirá, estabelecendo a seguinte
obrigação de fazer ou obrigação veiculada em che- ordem: (i) primeiro se pagam os juros vencidos e só
que substituída por obrigação veiculada em nota depois o capital; (ii) pagamento imputado às dívidas
promissória). A novação será subjetiva quando a vencidas há mais tempo; (iii) se todas vencidas no
nova obrigação difere da obrigação anterior pela mesmo tempo, a imputação será na mais onerosa
substituição do credor (novação subjetiva ativa) ou (maiores juros ou multas); (iv) se todas no mesmo
do devedor (novação subjetiva passiva). tempo e mesmos ônus, a lei não dá solução, mas
jurisprudência diz ser de forma proporcional em
Importante: qual a diferença entre paga- cada uma das obrigações.
mento com sub-rogação e novação subjetiva ativa?
Em ambos os casos, há troca do credor, mas dife- 4.6. Dação em pagamento
rem porque no pagamento com sub-rogação o vín-
culo se mantém, havendo apenas a troca de credor, Dação em pagamento é a forma de extinção
enquanto que na novação, extingue-se o vínculo da obrigação através da qual o credor aceita rece-
anterior, surgindo uma nova obrigação com um no- ber prestação diversa da que lhe é devida. Confor-
vo vínculo. Consequência: no pagamento com sub- me visto, nos termos do art. 313 do CC, o credor
rogação se mantém para o novo credor os privilé- não é obrigado a aceitar prestação diversa da con-
gios e garantias do credor primitivo, enquanto que tratada, ainda que mais valiosa. Porém, nada impe-
na novação, extinguem-se os privilégios e garantias de que o credor aceite prestação diversa, caso em
do credor primitivo, não as tendo o novo credor. que haverá extinção da obrigação de uma forma
anormal, que não pelo pagamento, chamada de
Do exposto acerca da sub-rogação e nova- dação em pagamento.
ção, podemos chegar a uma conclusão: quando o
pagamento é efetuado por um terceiro, seja interes- A evicção é a perda judicial ou até adminis-
sado ou não interessado, ele poderá reaver do de- trativa de um bem em razão de vício jurídico anterior
vedor primitivo o que por ele pagou. A diferença é à alienação. Quem vende não poderia ter vendido e
que quando o pagamento é feito por terceiro inte- quem compra perde para um terceiro, buscando do
ressado, há pagamento com sub-rogação, enquanto alienante uma indenização. Se o devedor dá coisa
que no pagamento feito por terceiro não interessa- diversa em pagamento e o credor a perde pela evic-
do, há novação, pois se extingue o vínculo anterior, ção, restabelece-se a obrigação primitiva, ficando
surgindo uma nova obrigação com um novo vínculo sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos
(a obrigação de reembolso). Por isso, o terceiro de terceiro (art. 359 do CC).
interessado terá os privilégios e garantias do credor
primitivo, mas o terceiro não interessado não, a não 4.7. Compensação
ser que se valha do pagamento com sub-rogação
convencional, ou seja, condicionando o pagamento Compensação é a forma de extinção das
a sub-rogar-se nos direitos do credor. obrigações entre duas pessoas que são, ao mesmo
tempo, credora e devedora uma da outra. O meio
4.5. Imputação ao pagamento normal de extinção da obrigação é o pagamento, ou
seja, o cumprimento da prestação. Todavia, quando
Se um devedor tem várias dívidas diferentes duas pessoas são devedoras e credoras uma da
com um credor, mas não lhe entrega valor suficien- outra, não há sentido que os pagamentos sejam
te para pagamento de todas, é preciso identificar feitos para extinção das obrigações. Compensam-se
quais as dívidas foram extintas. as dívidas e extintas estão as obrigações até onde
se compensarem.
Imputação ao pagamento é a indicação da
dívida a ser paga quando uma pessoa se encontra A compensação pode ser de dois tipos: le-
obrigada por dois ou mais débitos com o mesmo gal ou convencional, a depender se decorre da lei
credor, sem poder pagar todos eles. Note que impu- ou da vontade das partes. A compensação legal se
tação ao pagamento não é bem um meio de extin- dará automaticamente, bastando presentes os re-
ção da obrigação, mas sim a determinação de que quisitos legais, quais sejam: reciprocidade das obri-
obrigação está extinta quando nem todas forem gações (um deve ao outro e vice versa), liquidez e
pagas. vencimento das prestações e envolverem bens fun-
gíveis entre si (não basta serem bens fungíveis,
devem ser substituíveis entre si, ou seja, homogê-

www.cers.com.br 9
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
neos, por exemplo, dinheiro por dinheiro ou saca de mil reais a três credores solidários, sendo um deles
café por saca de café, não podendo ser dinheiro por o pai do devedor (solidariedade ativa). Com a morte
saca de café). Mesmo ausentes tais requisitos, ain- do pai ou do filho ou se o pai perdoar só a dívida do
da sim poderá haver compensação, mas será con- filho, os outros dois credores serão solidários em
vencional, por depender da vontade das partes. vinte mil reais.
Nada impede, portanto, haver compensação de uma
dívida vencida com outra a termo, com bens infun- 5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
gíveis ou de natureza diferente (dinheiro por saca
de café), mas será compensação convencional, 5.1. Diferença entre inadimplemento e mora
onde o que importa é a vontade das partes.
Quando o devedor não cumpre a prestação,
A reciprocidade é um requisito para a com- estamos diante do inadimplemento, que pode ser
pensação legal, ou seja, devedor deve ao credor e de dois os tipos: absoluto ou relativo. O inadimple-
vice-versa, mas há uma exceção: quando envolver mento é absoluto quando a prestação não é cum-
o fiador. O devedor somente compensa sua dívida prida e não é mais útil ao credor que o devedor a
para o credor com a dívida do credor contra ele, cumpra - por exemplo, contratação de cantor para
mas o fiador pode compensar sua dívida para o cantar em um casamento que não comparece à
credor (é dele devedor porque é fiador) com a dívida cerimônia. O inadimplemento é relativo quando a
que o credor tem com o afiançado, ou seja, não com prestação não é cumprida, mas ainda é útil ao cre-
ele, pois o fiador não é devedor em causa própria, dor que o devedor a cumpra, por exemplo, não pa-
mas mero garantidor de uma dívida do afiançado gamento de uma dívida em dinheiro no dia do ven-
(art. 371 do CC). cimento. O inadimplemento absoluto é chamado
simplesmente de inadimplemento e o inadimple-
4.8. Confusão e Remissão mento relativo é chamado de mora.

Confusão é a forma de extinção das obriga- Note que a diferença entre inadimplemento
ções por reunirem na mesma pessoa a qualidade e mora reside no critério de utilidade para o credor.
de credor e devedor. Imagine um pai que deve uma Em ambos os casos, a prestação não é cumprida,
quantia em dinheiro a seu filho, que é seu único sendo inadimplemento se a prestação não é mais
herdeiro. Com a morte do pai, o filho assume o débi- útil ao credor e mora se a prestação ainda é útil ao
to, mas ele próprio é o credor, gerando extinção da credor.
obrigação pela confusão. A confusão pode se verifi-
car a respeito de toda a dívida (total) ou só de parte Por que diferenciar mora e inadimplemento?
dela (parcial). No exemplo citado, se são dois filhos, Se o caso é de inadimplemento, como a prestação
tendo o credor um irmão, só haverá extinção da não é mais útil ao credor, a única solução é o pa-
obrigação relativa à metade da dívida (espólio é gamento de indenização por perdas e danos (ar.
devedor de metade do valor para o filho credor). 389 do CC). Por outro lado, se o caso é de mora,
cabe o que chamamos de purgação ou emenda da
Remissão é a forma de extinção da obriga- mora. O que é isso? É cumprir a obrigação, porque
ção com o perdão da dívida pelo credor. Cuidado: ainda útil para o credor, acrescido dos encargos
não confunda remissão com remição. A causa de moratórios. Purga-se a mora pagando-se com retar-
extinção da obrigação é a remissão, é o ato de remi- do, acrescido de: correção monetária, juros de mo-
tir, que significa perdão, perdoar. Remição ou ato de ra, perdas e danos decorrentes da mora e eventual
remir não é causa de extinção da obrigação, pois honorários de advogado (art. 395 do CC).
significa resgate, resgatar.
5.2. Mora
Tanto na confusão quanto na remissão há
um aspecto importante para você saber sobre obri- O art. 394 do CC diz que se considera em
gações solidárias. Confusão ou remissão entre cre- mora o devedor que não efetuar o pagamento e o
dor e um dos devedores solidários ou entre o deve- credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e
dor e um dos credores solidários: mantém-se a soli- forma que a lei ou a convenção estabelecer. Note
dariedade entre os demais, descontada a parte re- haver mora não apenas quando não se paga no
mitida ou da confusão parcial. tempo devido, mas também se não se paga no lugar
e na forma devida. Note ainda não haver mora só
Exemplo: Imagine três devedores solidários do devedor, mas também do credor, que ocorre
em trinta mil reais ao pai de um deles (solidarieda- quando este não quiser injustificadamente receber o
de passiva). Com a morte do pai ou do filho ou se o pagamento, sendo o pagamento em consignação a
pai perdoar só a dívida do filho, os outros dois de- solução para o devedor se livrar dos encargos da
vedores serão solidários em vinte mil reais. Da mora.
mesma forma, imagine que um devedor deve trinta

www.cers.com.br 10
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
Segundo art. 395 do CC, configurada a mo- na, pois o devedor deve ser constituído em mora
ra, o devedor pode purgá-la, cumprindo a prestação por um ato do credor, propondo ação judicial (cita-
acrescida dos encargos moratórios. Todavia, se a ção válida constitui o devedor em mora). No entan-
prestação tornar-se inútil ao credor, este poderá to, tal entendimento é equivocado, pois a lei diz que
enjeitá-la e pedir perdas e danos. A razão é simples: essa mora é automática, independendo de qualquer
se inútil ao credor, deixou de ser mora e se trans- ato do credor. O art. neste momento em análise diz
formou em inadimplemento absoluto. que nas obrigações provenientes de ato ilícito, con-
sidera-se o devedor em mora desde que o praticou
Como exemplo, imagine uma costureira que (a responsabilidade de reparar o dano fixada na
deixa de entregar o vestido de noiva no prazo esti- sentença judicial retroage à data do ato para aplicar
pulado. É caso de mora ou inadimplemento? De- os efeitos da mora).
pende. Se ainda não houve a cerimônia, em razão
de a data marcada lhe ser bastante anterior, o caso Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois efei-
é de mora; se já houve a cerimônia, em razão da tos da mora, um para mora do devedor e outro para
data marcada ter sido na véspera do casamento, o a mora do credor:
caso é de inadimplemento, caso em que o credor
poderá rejeitar a coisa e pedir perdas e danos, pois a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC): O
ao se tornar inútil a ela, a mora se transformou em devedor em mora responde pela impossibilidade da
inadimplemento absoluto. prestação, ainda que esta se dê por caso fortuito ou
força maior. Se a prestação do devedor se torna
Completa a ideia de mora o art. 396 do CC, impossível sem culpa do devedor, simplesmente se
que preceitua não incorrer em mora o devedor resolve a obrigação sem qualquer ônus a lhe ser
quando não haja fato ou omissão imposta a ele. imposto. Todavia, se a impossibilidade ocorrer du-
Significa que a mora é o não cumprimento culposo rante seu atraso, o devedor ficará obrigado a inde-
da obrigação. Se não há culpa, não há mora. Se nizar o credor pela impossibilidade da prestação,
uma conta do devedor só pode ser paga no banco e mesmo que esta tenha se dado por caso fortuito ou
o vencimento cai em um domingo, ao se pagar no por força maior. Apenas em dois casos, estará de-
dia seguinte, não há de se falar em mora, tanto que sobrigado de indenização: quando provar isenção
se paga sem encargos moratórios. de culpa no seu atraso (evidente, pois nesse caso
não há mora, pois a mora é o não cumprimento
O art. 397 do CC nos faz perceber haver culposo da obrigação) e se provar que o dano ocor-
dois tipos de mora: ex re e ex persona. A mora ex reria mesmo se a prestação tivesse sido cumprida
re é automática, ou seja, é aquela que independe de no tempo, lugar ou forma devida, ou seja, mesmo se
ato do credor para o devedor ser constituído em não houvesse mora.
mora (interpelação judicial ou extrajudicial, notifica-
ção, protesto ou citação do devedor). Por sua vez, a b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): A
mora ex persona é aquela que precisa de um dos mora do credor, ou seja, se o credor se recusar
citados atos do credor para o devedor ser constituí- injustificadamente a receber o pagamento, gera três
do em mora. Quando a mora é ex re e quando é ex efeitos: (i) retira do devedor isento de dolo a res-
persona? ponsabilidade pela conservação da coisa (só inde-
niza perda ou deterioração do bem se teve dolo,
Há dois tipos de obrigações: com dia certo não respondendo se teve culpa stricto sensu, ou
de vencimento e sem dia certo de vencimento. seja, imprudência, negligência ou imperícia); (ii)
Quando a obrigação tem um dia certo de vencimen- obriga o credor a ressarcir o devedor das despesas
to, o devedor não precisa ser constituído em mora que teve para conservar o bem; e (iii) sujeita o cre-
por ato do credor, pois o simples não pagamento no dor a receber o bem pela estimação mais favorável
vencimento o constitui em mora (dies interpellat pro ao devedor se o seu valor oscilar entre o dia estabe-
homine, ou seja, o próprio dia interpela o devedor). lecido para o pagamento e o da sua efetivação.
Por outro lado, quando a obrigação não tem dia
certo de vencimento, o devedor só estará em mora 5.3. Responsabilidade Civil Contratual
se for constituído por ato do credor. Assim, quando
a obrigação é com dia certo de vencimento, a mora Responsabilidade civil é o dever de indeni-
é ex re e quando a obrigação é sem dia certo de zar um prejuízo causado. Há dois tipos de respon-
vencimento, a mora é ex persona. sabilidade civil: contratual e extracontratual. A res-
ponsabilidade civil contratual é aquela em que há
O art. 398 do CC demonstra que a mora é um contrato entre as partes, ou seja, um contratante
ex re quando a obrigação não cumprida decorre de não cumpre o contrato, causando prejuízo ao outro
ato ilícito. Com efeito, ato ilícito civil é causar dano a contratante, gerando dever de indenização. A res-
alguém, gerando ao causador o dever de indenizá- ponsabilidade civil extracontratual, também chama-
lo. Poderíamos pensar ser caso de mora ex perso- da de aquiliana, é aquela em que não existe um

www.cers.com.br 11
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
contrato entre quem causa e quem sofre o dano, Qual a diferença, então, entre responsabili-
como no caso de alguém bater no carro de outrem, dade civil contratual e responsabilidade civil extra-
tendo que indenizá-lo. Responsabilidade civil extra- contratual subjetiva? Em ambos os casos só há
contratual é tema do capítulo responsabilidade civil. responsabilidade civil diante da existência de culpa
Responsabilidade civil contratual é estudada aqui do devedor, mas na responsabilidade civil contratu-
em obrigações, pois ocorre diante de mora e ina- al, a culpa é presumida. Todavia, é uma presunção
dimplemento. relativa, ou seja, aquela que admite prova em con-
trário, representando, assim, a inversão do ônus da
O contratante que não cumpre o contrato prova. Na responsabilidade civil contratual, basta ao
será civilmente responsabilizado, mas apenas se contratante provar que o outro não cumpriu o con-
isso gerar um dano ao outro contratante, pois res- trato. Se este não teve culpa no inadimplemento, ele
ponsabilidade civil é o dever de indenizar um dano que prove. Por outro lado, se é responsabilidade
causado. Conforme o art. 402 do CC, o inadimplen- civil extracontratual subjetiva, a vítima do dano, ao
te deverá indenizar não só o dano emergente, mas cobrar perdas e danos, deverá provar que o agres-
também os lucros cessantes, que são os dois tipos sor teve culpa ao causar o dano, pois esta não é
de dano material. Dano emergente: prejuízo efeti- presumida.
vamente experimentado; lucro cessante: o que se
legitimamente se deixou de ganhar. A eles se Quando se diz que a responsabilidade sub-
acrescenta dano moral. jetiva exige a culpa, usa-se o termo culpa em senti-
do amplo, ou seja, é o dolo ou a culpa em sentido
Diante de inadimplemento, seja absoluto ou restrito (imprudência, negligência ou imperícia). A
relativo, quem não cumpre o contrato causando princípio, não há diferença na responsabilidade civil
dano ao outro contratante deverá indenizá-lo. A contratual se o inadimplemento foi por dolo ou por
questão é: a responsabilidade civil contratual é sub- culpa. O art. 404 do CC diz que não interfere no
jetiva (depende de culpa) ou objetiva (independe de valor da indenização se por dolo ou culpa, pois o
culpa)? valor da indenização será o valor do dano sofrido.
No entanto, a lei consagrou uma diferença entre
A responsabilidade civil contratual é subjeti- inadimplemento doloso ou culposo no negócio jurí-
va, pois só há mora se o não cumprimento da pres- dico benéfico, ou seja, no contrato gratuito.
tação for culposo. Significa que não há mora e, por-
tanto, não há responsabilidade civil contratual, se Nos termos do art. 392 do CC, se o contrato
não houver culpa do contratante em não cumprir a é oneroso, o contratante inadimplente responde por
prestação. O mesmo ocorre com o inadimplemento não ter cumprido o contrato por dolo ou por culpa,
absoluto, que pode ser culposo (com culpa do de- mas, se for um contrato benéfico ou gratuito, a parte
vedor) ou fortuito (sem culpa do devedor), mas, em que não é favorecida (aquela que não recebe nada
regra, só haverá obrigação de indenizar se o deve- em troca) só responde pelo inadimplemento se agiu
dor teve culpa no inadimplemento. Se um cantor é com dolo, ou seja, não será responsabilizado civil-
contratado para cantar no casamento e proposital- mente pelo não cumprimento do contrato por culpa
mente não aparece na cerimônia, será responsabili- em sentido estrito.
zado em perdas e danos, mas se não cumpriu o
contrato porque foi sequestrado na véspera, não há Assim sendo, ao doar um bem, o doador só
de se falar em dever indenizatório. responde pela impossibilidade de entregar a coisa
doada, caso tenha agido dolosamente, por exemplo,
Importante: O art. 393 do CC dispõe que “o se destruiu intencionalmente esse bem. Não res-
devedor não responde pelos prejuízos resultantes ponderá o doador, se o bem se quebrou porque foi
do caso fortuito ou de força maior, se expressamen- negligente ao usá-lo, caso em que simplesmente se
te não se houver por eles responsabilizado” Note resolverá a obrigação, desfazendo a doação sem
que, conforme visto, a responsabilidade civil contra- qualquer dever indenizatório ao doador. Se o con-
tual é subjetiva, mas as partes podem expressa- trato for de compra e venda e a coisa se perde com
mente prever no contrato que o inadimplente res- culpa do devedor, vimos que a solução é dar o
ponderá mesmo que não tenha cumprido o contrato equivalente acrescido de perdas e danos, que será
por caso fortuito ou motivo de força maior, ou seja, devido tanto no caso de dolo quanto de culpa, ou
sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou motivo de seja, se quebrou propositalmente ou se por negli-
força maior são situações inevitáveis, que o inadim- gência, pois compra e venda é contrato oneroso.
plente não podia impedir, como no caso do cantor
contratado para cantar em um casamento que não 5.4. Cláusula Penal
cumpre a obrigação por ter sido sequestrado na
véspera. Conforme vimos, tanto o inadimplemento
quanto a mora podem gerar responsabilidade civil
contratual. Em caso de inadimplemento, o contra-

www.cers.com.br 12
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
tante deverá indenizar o outro em perdas e danos extensão do dano em ação de conhecimento. E a lei
causados pelo não cumprimento do contrato e, em vai mais longe ainda com o art. 416 do CC, preven-
caso de mora, o devedor poderá purgá-la, cumprin- do que sequer é necessário provar que houve dano,
do a prestação com retardado, acrescida de perdas se este foi prefixado no contrato.
e danos causados pela mora, correção monetária,
juros de mora e honorários advocatícios. Uma questão pode ser levantada: se o pre-
juízo do contratante for maior do que o valor da
O grande problema na responsabilidade civil multa, poderá ele cobrar a diferença? A princípio
contratual é provar o valor da indenização, ou seja, não, pois o parágrafo único do art. 416 do CC diz
a extensão do prejuízo causado pelo não cumpri- que só poderá cobrar eventual valor a mais, se esta
mento do contrato. Para resolver esse problema, a possibilidade estiver expressa no contrato. Se assim
lei traz como solução a cláusula penal, que é uma for, o valor da multa já é objeto de execução e o
multa prefixando o valor das perdas e danos em valor a mais deverá ser provado em ação de conhe-
razão da mora ou do inadimplemento. cimento para seguir a execução por título executivo
judicial. Se não houver permissivo contratual, limita-
Cláusula penal, portanto, é um pacto inseri- se a executar a multa.
do no contrato, impondo multa ao devedor que não
cumpre ou que retarda o cumprimento da prestação. Há importante diferença na cobrança da
cláusula penal a depender se compensatória ou se
Note que há multa tanto para o caso de mo- moratória (arts. 410 e 411 do CC): no inadimple-
ra quanto de inadimplemento. Assim, há dois tipos mento o credor cobra cláusula penal compensatória
de cláusula penal: moratória e compensatória. A ou o cumprimento da prestação enquanto que na
cláusula penal moratória é para prefixar perdas e mora o credor cobra cumprimento da prestação e
danos em razão da mora, ou seja, pelo retardamen- cláusula penal moratória.
to no cumprimento da obrigação, e a cláusula penal
compensatória é para prefixar perdas e danos em No caso da cláusula penal compensatória,
caso de inadimplemento absoluto, ou seja, pelo não havendo inadimplemento, esta se converterá em
cumprimento da prestação. alternativa a benefício do credor, ou seja, este pode-
rá escolher entre cobrar do contratante inadimplente
Como exemplo, imaginemos um contrato de a multa ou o cumprimento da prestação. No exem-
locação, cuja prestação do locatário é pagar, duran- plo do cantor contratado para cantar no casamento,
te três anos, mil reais por mês ao locador. Se no diante do não comparecimento à cerimônia, o con-
contrato houver uma multa no valor de três meses tratante poderá cobrar a multa ou pedir para cantar
de aluguel para o caso do locatário devolver as cha- depois, por exemplo, no aniversário dele que será
ves antes do fim do contrato, será uma cláusula na semana seguinte. Sendo cláusula penal morató-
penal compensatória, pois o locatário pagará uma ria, sobrevindo mora, o credor pode exigir o cum-
multa por não ter cumprido sua prestação, pelo me- primento da prestação acrescido da multa, pois, se
nos em parte. Por outro lado, se houver no contrato não pagou a dívida no dia, o credor a cobrará
uma multa em razão do locatário atrasar o paga- acrescido da multa com os demais encargos mora-
mento do aluguel por não pagar no dia do venci- tórios.
mento, será uma cláusula penal moratória, pois o
pagamento da multa é para o retardamento no Para fechar o tema, é preciso saber que o
cumprimento da prestação. juiz pode reduzir o valor da cláusula penal compen-
satória em dois casos previsto no art. 413 do CC:
Note que há dois tipos de cláusula penal,
cada uma com uma finalidade específica. A cláusu- a) Se o valor é manifestamente excessivo: O art.
la penal compensatória tem a função de compensar 412 do CC estipula um valor máximo da cláusula
o contratante por não ter o outro contratante cum- penal compensatória ao afirmar que ela não pode
prido sua prestação. Já a cláusula penal moratória exceder o valor da obrigação principal. No entanto,
tem a função de intimidar, pois o contratante pagará mesmo dentro desse limite, o juiz poderá reduzi-la a
uma multa se retardar o cumprimento da prestação. pedido da parte se manifestamente excessivo se-
gundo as circunstâncias do caso.
O art. 408 do CC demonstra que a cláusula
penal é uma prefixação de perdas e danos e que a b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte:
responsabilidade civil contratual é subjetiva, pois diz a função da cláusula penal compensatória é com-
que incorre de pleno direito na cláusula penal o pensar o contratante pelo fato do outro não ter cum-
devedor que culposamente deixe de cumprir a obri- prido a prestação. Assim, se este cumpre parte da
gação ou que se constitua em mora. Significa que, prestação, a compensação deve ser apenas da
em caso de inadimplemento, o outro contratante parte não cumprida. Exemplo: se o contrato de lo-
pode executar a multa, independente de provar a cação diz que o locatário deve pagar multa de três

www.cers.com.br 13
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
meses de aluguel se devolver as chaves antes do Diferença: nas arras confirmatórias (quan-
fim do contrato, caso ele devolva tendo cumprido do não há direito de arrependimento), o contratante
metade do contrato, não deverá arcar com toda a pode cobrar indenização suplementar, enquanto
multa, mas apenas metade dela. que não poderá fazê-lo nas arras penitenciais
(quando há direito de arrependimento), pois se fixou
5.5. Arras um preço para isso.
Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que
é entregue por um dos contratantes ao outro como QUESTÕES DE CONCURSOS
princípio de pagamento quando da celebração do
contrato para confirmação do acordo. A vantagem 1 - (CESPE – 2015 – AGU - Advogado da União)
do adiantamento de um sinal é confirmar o negócio, Com relação aos atos, ao negócio jurídico, às obri-
pois se houver desistência, aquele que desistiu per- gações e à prescrição, julgue o item subsequente.
derá o valor das arras para compensar os prejuízos. De acordo com o que dispõe o Código Civil, a com-
Se quem deu o sinal desistir, não poderá cobrá-lo pensação legal opera-se de pleno direito quando há
de volta; se quem o recebeu desistir, devolverá o liquidez e exigibilidade do débito e fungibilidade das
valor em dobro (como recebeu arras, a perda efetiva prestações, não havendo impedimento para a com-
será no valor das arras) pensação devido a prazo de favor concedido por
uma das partes.
São dois os tipos de arras: confirmatória e ( ) Certo ( ) Errado
penitenciais. A diferença decorre se no contrato
existe ou não cláusula de arrependimento. COMENTÁRIOS
A afirmativa está ERRADA e tem por base legal o
a) Arras confirmatórias: As arras serão confirma- art. 882, CC/02: “Não se pode repetir o que se pa-
tórias quando não houver previsão no contrato de gou para solver dívida prescrita, ou cumprir obriga-
direito de arrependimento. É o normal, pois as par- ção judicialmente inexigível.”
tes celebram um contrato não esperando que a
outra parte desista. Assim, estipulam um valor de 2 - (CESPE - 2012 - AGU - Advogado da União) A
sinal a ser pago imediatamente para confirmar o respeito da prescrição, julgue os itens seguintes.
negócio. Se quem deu arras desistir, perderá o sinal O devedor capaz que pagar dívida prescrita pode
dado, mas se quem desistir foi quem recebeu o reaver o valor pago se alegar, na justiça, a ocorrên-
sinal, devolverá o dobro do valor. cia de pagamento indevido ao credor, estando o
direito de reaver esse valor fundado no argumento
b) Arras penitenciais: As arras serão penitenciais de que o credor que receba o que lhe não seja de-
quando houver previsão no contrato de direito de vido enriquece às custas do devedor.
arrependimento. Qualquer das partes terá direito de ( ) Certo ( ) Errado
se arrepender, mas tem um preço para isso, ou
seja, o valor das arras. Se quem desiste deu arras,
perderá o sinal dado, mas se quem desistir foi quem 3. (CESPE - 2013 - AGU - Procurador Federal) A
recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor. respeito do negócio jurídico, das obrigações, dos
contratos e da responsabilidade civil, julgue os itens
Ora, tanto nas arras confirmatórias como a seguir.
penitenciais, a consequência é a mesma: se quem Os contratos são passíveis de revisão judicial, ainda
desiste deu arras, perderá o sinal dado, mas se que tenham sido objeto de novação, quitação ou
quem desiste foi quem recebeu o sinal, devolverá o extinção, haja vista não ser possível a validação de
dobro do valor. Então, pergunto: para que diferenci- obrigações nulas.
ar uma da outra? ( ) Certo ( ) Errado

Para o caso do prejuízo com a desistência COMENTÁRIOS


ser maior que o valor fixado a título de arras. Se A afirmativa está CERTA e baseia-se no verbete da
forem arras confirmatórias, não há previsão de direi- Súmula n. 286 do STJ: “A renegociação de contrato
to de arrependimento e posso cobrar o prejuízo que bancário ou a confissão da dívida não impede a
a desistência me acarretar. Como já me beneficiei possibilidade de discussão sobre eventuais ilegali-
do valor das arras, cobro apenas o prejuízo que tive dades dos contratos anteriores.”
a mais. No entanto, se forem arras penitenciais, há
no contrato previsão de direito de arrependimento, 4. (CESPE – 2010 – AGU - Procurador Federal)
sendo fixado um preço para isso, ou seja, o valor de A respeito da responsabilidade contratual, julgue
arras, não podendo o prejudicado cobrar eventual os itens a seguir.
valor a mais que tenha tido de prejuízo com a desis- Se o contrato celebrado for de obrigação de resulta-
tência do outro contratante. do, o inadimplemento se presumirá culposo.
( ) Certo ( ) Errado

www.cers.com.br 14
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
serão produzidos ao praticarem o ato. É bilateral,
pois é formado pelo acordo de vontades, ou seja,
5. (CESPE - 2009 - AGU - Advogado da União) No são necessárias pelo menos duas vontades. O tes-
item a seguir, é apresentada uma situação hipotéti- tamento é um negócio jurídico, pois é atuação hu-
ca seguida de uma assertiva a ser julgada, com mana em que se escolhem os efeitos que dele se-
relação ao direito obrigacional. rão produzidos, mas não é um contrato, pois é um
Carla cedeu a Sílvia crédito que possuía com Luíza. negócio jurídico unilateral.
Na data avençada para pagamento do débito, Sílvia
procurou Luíza, ocasião em que ficou sabendo da 2. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS
condição de insolvência da devedora. Nessa situa-
ção, Carla será obrigada a pagar a Sílvia o valor 2.1. Contrato unilateral, bilateral e plurilateral
correspondente ao crédito, haja vista a regra geral
de que o cedente responde pela solvência do deve- Não se fala aqui no número de vontades
dor. envolvidas, pois vimos que não existe contrato com
( ) Certo ( ) Errado uma vontade apenas. Fala-se aqui em número de
prestações.
COMENTÁRIOS
A afirmação está ERRADA e a incorreção justifica- a) Contrato unilateral: é aquele em que há presta-
se na redação do art. 296, CC/02: “Salvo estipula- ção apenas para uma das partes. Doação é contra-
ção em contrário, o cedente não responde pela sol- to, pois há duas vontades, em razão da necessida-
vência do devedor.” de do donatário aceitá-la. Todavia, é contrato unila-
teral, pois só tem prestação para o doador (entregar
o bem).
6. (CESPE - 2007 - AGU - Procurador Federal -
Prova 1) No Código Civil de 2002, no capítulo da b) Contrato bilateral: é aquele que, além de duas
parte geral dedicado aos vontades, tem prestação para ambas as partes, por
bens reciprocamente considerados, introduziu-se a exemplo, contrato de compra e venda, pois o ven-
figura das dedor tem a prestação de entregar o bem e o com-
pertenças, verdadeira novidade legislativa no âmbito prador tem a prestação de dar o preço.
do direito
privado brasileiro. A respeito dos bens reciproca- c) Contrato plurilateral: é aquele em que há pelo
mente menos três vontades envolvidas. Exemplo: contrato
considerados, julgue os itens a seguir. de sociedade, em que são partes os sócios e a pró-
De acordo com o direito das obrigações, em regra, a pria sociedade, como parte credora das prestações
obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dos sócios (contribuição para o capital social).
dessa coisa, ainda que não mencionados.
( ) Certo ( ) Errado 2.2. Contrato oneroso e gratuito

COMENTÁRIOS a) Contrato oneroso: é aquele em que as partes


A afirmativa está CERTA e está em conformidade ganham algo equivalente à sua prestação, ou seja,
com a redação do art. 233, CC: “A obrigação de dar há equilíbrio econômico entre as partes porque am-
coisa certa abrange os acessórios dela embora não bos perdem e ganham na mesma proporção eco-
mencionados, salvo se o contrário resultar do título nômica, por exemplo, contrato de compra e venda.
ou das circunstâncias do caso.”
b) Contrato gratuito: é aquele em que a parte não
DIREITO DOS CONTRATOS ganha algo equivalente à sua prestação, ou seja, há
desequilíbrio econômico, pois uma das partes só
ganha e uma das partes só perde, por exemplo,
I. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS contrato de doação.

2.3. Contrato comutativo e aleatório


1. CONCEITO
a) Contrato comutativo: é aquele em que as par-
Contrato é o negócio jurídico bilateral for- tes podem antever os seus efeitos, ou seja, ao cele-
mado pela convergência de duas ou mais vonta- brar o contrato, já sabem os efeitos que serão pro-
des, que cria, modifica ou extingue relações jurídi- duzidos. Exemplo: contrato de compra e venda, pois
cas de natureza patrimonial. já se sabe que um entrega o bem e que outro entre-
ga o preço.
É um negócio jurídico, pois é uma atuação
humana em que as partes escolhem os efeitos que

www.cers.com.br 15
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
b) Contrato aleatório: é aquele em que as partes 2.4. Contrato consensual e real
não podem antever os seus efeitos, ou seja, ao
celebrar o contrato não há como saber os efeitos O contrato se forma, em regra, quando a
que serão produzidos. A razão é simples: contrato uma proposta se seguir uma aceitação, ou seja,
aleatório é o contrato de risco (álea significa risco). com o acordo de vontade das partes. Essa regra é
Exemplo: contrato de seguro, pois o segurado pode quebrada em alguns casos, quando o acordo de
ou não receber a indenização, a depender se ocorre vontades não é suficiente para a formação do con-
ou não o sinistro, o que não se sabe quando o con- trato, o que só ocorre com a prática de um ato pos-
trato é celebrado. terior: a entrega do bem objeto da prestação.

O contrato aleatório pode ser naturalmente a) Contrato consensual: é aquele que se forma
aleatório (aleatório típico) ou acidentalmente aleató- com o acordo de vontades das partes. É a regra em
rio (aleatório atípico). O contrato é naturalmente matéria de contratos, por exemplo, o contrato de
aleatório quando for da sua essência ser aleatório, compra e venda.
por exemplo, contrato de seguro. O contrato é aci-
dentalmente aleatório quando for da sua essência b) Contrato real: é aquele que se forma com a
ser comutativo, mas é aleatório em razão de uma tradição, ou seja, com a entrega do bem, que se
circunstância que lhe é específica. Exemplo: contra- segue ao acordo de vontade das partes. São três os
to de compra e venda é comutativo, mas o contrato contratos reais: mútuo, comodato e depósito.
de compra e venda de uma safra que está sendo
plantada é aleatório, pois não se sabe qual será a 2.5. Contrato de execução instantânea, continu-
quantidade da produção. ada e diferida

Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos a) Contrato de execução instantânea: é aquele
de contratos de compra e venda atipicamente alea- que é cumprido em uma só vez, no momento da
tórios: compra e venda de coisa futura e de coisa celebração do contrato (exemplo: compra e venda
exposta a risco. com pagamento à vista).

a) Compra e venda de coisa futura: O contrato de b) Contrato de execução continuada: é aquele em


compra e venda de coisa futura é aleatório, pois não que a prestação é cumprida em cotas periódicas
se sabe se a coisa virá a existir e em que quantida- (exemplo: compra e venda com pagamento parce-
de. Pode o contratante assumir o risco da coisa não lado).
vir a existir, pagando mesmo assim o preço (cha-
mado de contrato de compra e venda emptio spei) c) Contrato de execução diferida: é aquele em
ou assumir o risco de vir a existir em qualquer quan- que a prestação é cumprida em uma só vez, mas no
tidade, pagando o preço se vier a existir em quanti- futuro (exemplo: compra e venda com pagamento a
dade inferior à esperada, mas não pagando se nada prazo).
do avençado vier a existir (chamado contrato de
compra e venda emptio rei speratae). Em ambos os 2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes
casos, não pagará o preço se menos do esperado
vier a existir por culpa ou dolo do contratante. Como É uma classificação que se refere à forma-
exemplo, pense na compra de peixes que ainda ção do contrato. Pelos nomes, parece que depende
serão pescados, em que se paga o preço mesmo se as partes estão ou não na presença física um do
que nenhum peixe seja pescado (emptio spei) ou se outro. Não é bem assim, pois há tecnologias que
vier em qualquer quantidade, só não pagando se fazem com que uma conversa entre pessoas distan-
nenhum vier (emptio rei speratae). Em nenhum dos tes seja como se estivessem fisicamente presentes,
dois casos pagará, se o insucesso total ou parcial pois proposta e aceitação se dão em tempo real.
decorreu de dolo ou culpa do pescador.
a) Contrato entre presentes: é aquele em que
b) Compra e venda de coisa exposta a risco: O proposta e aceitação se dão em tempo real, sendo
contrato de compra e venda de coisa exposta a firmado não só entre pessoas fisicamente presen-
risco é de coisa que já existe, mas é atipicamente tes, mas também por telefone ou meio de comuni-
aleatório, pois o comprador assume o risco exposto. cação semelhante (vídeo conferência, chats, entre
Exemplo: compra de cerâmica a ser transportada outros).
em navio, cujo risco de vir a se quebrar o comprador
assuma. Deverá pagar todo o preço, mesmo que b) Contrato entre ausentes: é aquele em que pro-
alguns venham quebrados, a menos que dolosa- posta e aceitação não se dão em tempo real, cujos
mente o vendedor se aproveite, colocando alguns já principais exemplos são aqueles formados por carta
quebrados. ou por e-mail.

www.cers.com.br 16
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
3. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
São os elementos necessários para inci-
3.1. Princípio da autonomia da vontade dência da teoria da imprevisão ou da onerosidade
excessiva:
As partes são livres para contratar, ou seja,
contratam se quiserem, com quem quiserem e so- a) Contrato de execução continuada ou diferida:
bre o que quiserem. Isso decorre de simples razão: A teoria da imprevisão se aplica a contratos cuja
contrato é um acordo de vontades. O limite para execução se prolongue no tempo, ou seja, quando a
suas atuações é a lei e, como veremos mais à fren- execução é continuada ou diferida no tempo. Como
te, o interesse social e a boa-fé. o contrato de execução instantânea tem prestações
cumpridas quando da celebração do contrato, estas
3.2. Princípio da obrigatoriedade e a teoria da não serão atingidas pelo fato imprevisível superve-
imprevisão (pacta sunt servanda x cláusula re- niente.
bus sic stantibus)
b) Prestação excessivamente onerosa para uma
As partes contratam se quiserem, mas, se das partes: É a ideia da teoria, a excessiva onero-
contratarem, são obrigadas a cumprir o contrato. O sidade para uma das partes, desequilibrando o con-
contrato faz lei entre as partes, o que traduz o co- trato.
nhecido pacta sunt servanda, ou seja, os pactos
devem ser cumpridos. c) Extrema vantagem para a outra parte: Para a
resolução dos contratos, não basta este ter ficado
Essa é a noção básica do princípio, mas o muito oneroso para uma das partes. É preciso que,
seu estudo pode e deve ser aprofundado. O atual concomitantemente, tenha havido extrema vanta-
CC adotou o princípio do pacta sunt servanda, mas gem para a outra parte. Assim sendo, se o contra-
não de forma absoluta, pois foi mitigado pela previ- tante perde seu emprego e consegue outro rece-
são da chamada cláusula rebus sic stantibus. bendo metade do salário anterior, o contrato fica
excessivamente oneroso para ele, mas não poderá
Para entender essa cláusula, é necessária pedir a resolução pela onerosidade excessiva por-
uma breve análise histórica. Desde a origem dos que não houve extrema vantagem para a outra par-
contratos, vigora o princípio do pacta sunt servanda, te.
ou seja, o contrato sempre fez lei entre as partes.
No entanto, a Idade Média foi uma época que ame- c) Fato superveniente e imprevisível: A resolução
açou a sobrevivência desse princípio, pois foi um do contrato só terá lugar se o desequilíbrio das
período marcado por constantes guerras e conflitos prestações decorrerem de um fato superveniente
feudais, o que inviabilizava o cumprimento de um que as partes não podiam prever quando da cele-
contrato. Por isso, naquela época, tornou-se comum bração do contrato.
vir nos contratos com prestação que se prolongava
no tempo uma cláusula liberando o contratante em Atenção: não confunda teoria da onerosi-
caso de ocorrer uma guerra ou conflito feudal, per- dade excessiva com lesão e estado de perigo.
mitindo-lhe pedir o fim do contrato. Rebus sic stanti- Nesses defeitos do negócio jurídico, o ato já nasce
bus significa “coisa assim ficar”, ou seja, o contra- viciado, enquanto que na aplicação da teoria ora em
tante é obrigado a cumprir o contrato, mas apenas estudo, o contrato nasce conforme a lei, mas se
se a coisa assim ficar. vicia por fato superveniente. A consequência disso é
que na lesão e no estado de perigo o contrato é
A inovação do atual CC foi tornar a cláusula anulado, enquanto que na teoria da imprevisão ele é
rebus sic stantibus implícita aos contratos, quando objeto de resolução. Nos citados vícios da vontade,
passou a prever a teoria da imprevisão ou da one- como o ato é invalidado, a sentença anulatória re-
rosidade excessiva. Se um contrato for assinado e troage à data da prática do ato, desfazendo todos
sobrevier fato imprevisível que o desequilibre, tor- os efeitos produzidos, inclusive os anteriores à anu-
nando-o excessivamente oneroso para uma das lação. Na resolução do contrato pela onerosidade
partes e com extrema vantagem para a outra, pode- excessiva, a sentença não deveria retroagir, só ani-
rá aquela pedir a resolução do contrato (art. 478 do quilando os efeitos a partir da resolução. Todavia,
CC). O exemplo típico é o contrato de leasing de um por expressa previsão legal, efeitos anteriores à
carro, com valor atrelado ao dólar (locação com resolução serão desfeitos, pois a lei determina que
opção de compra ao fim do contrato mediante pa- a sentença retroaja à data da citação, ou seja, só
gamento de valor residual). O dólar vale um real e são preservados os efeitos anteriores à citação.
passa do dia para noite para dois reais, dobrando o
valor a ser pago. Poderá ser pedida a resolução do Importante lembrar que o contrato atingido
contrato com base na teoria da imprevisão ou da pela teoria da imprevisão ou onerosidade excessiva
onerosidade excessiva. pode se manter, sem ser objeto de resolução, o que

www.cers.com.br 17
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
ocorrerá se o contratante beneficiado concordar validade jurídica, mas, sobretudo, normas superio-
com a redução do seu ganho, reequilibrando as res de cunho moral e social.
prestações.
Essa concepção social do contrato chega
3.3. Princípio da relatividade dos efeitos dos ao seu ápice quando o CC, já em seu primeiro arti-
contratos go sobre contratos, diz que a função social do con-
trato representa uma limitação na liberdade de con-
O contrato só produz efeitos em relação às tratar (art. 421 do CC). As partes são livres para,
partes. É por isso que dizemos que o direito contra- dentro dos limites legais, colocarem no contrato as
tual é inter parte (entre as partes), diferente dos cláusulas que quiserem, mas a limitação à autono-
direitos reais, que são direitos oponíveis erga om- mia da vontade não se dá apenas pela lei, mas
nes (contra todos). Significa que o contratante só também pelo interesse social.
pode opor seu direito contratual ao outro contratante
e não a pessoas estranhas à relação contratual, Imagine um contrato para a construção de
pois só as partes podem ter direitos e deveres frutos uma obra de vulto ou de uma indústria. Não obstan-
do contrato que celebraram. te estejam observados os requisitos legais de vali-
dade (agente capaz, objeto possível, determinado
3.4. Princípio da função social do contrato ou determinado e forma prescrita ou não defesa em
lei), alguns questionamentos podem ser feitos: e os
O contrato não interessa apenas às partes reflexos ambientais? E os reflexos trabalhistas? E
contratantes, mas sim a toda sociedade, porque ele os reflexos sociais? E os reflexos morais, ou seja,
repercute no meio social. Essa é a ideia do princípio no âmbito dos direitos da personalidade? Por me-
da função social do contrato, que reflete a atual lhor que seja o contrato do ponto de vista econômi-
tendência de sociabilidade do direito, ou seja, de co para os contratantes, não se pode chancelar
subordinação da liberdade individual em função do como válido um negócio negativo para a sociedade
interesse social. Assim sendo, se o contrato reper- em razão do desrespeito de leis ambientais, que
cute negativamente para a sociedade, o juiz pode pretenda fraudar leis trabalhistas ou que viole a livre
nele intervir para preservação do interesse coletivo. concorrência, as leis do mercado ou postulados de
defesa do consumidor, mesmo sob o pretexto da
Como exemplo, podemos pensar em um livre iniciativa.
contrato com juros excessivamente elevados. Não
é ruim apenas para a parte devedora, mas para Analisando os exemplos supramenciona-
toda a sociedade, pois aumenta o risco de inadim- dos, podemos verificar que um contrato que não
plemento, o que aumenta ainda mais os juros, o que cumpre a sua função social pode ser bom apenas
dificulta a circulação do crédito, diminuindo os inves- para uma das partes, como ocorre com o contrato
timentos produtivos e fazendo com que o Estado com juros excessivos. Neste caso, caberá ao con-
não se desenvolva. O juiz, sob o fundamento da tratante prejudicado pedir a tutela jurisdicional com
função social do contrato, poderá intervir nessa base na função social do contrato. No entanto, até
relação entre particulares, trazendo os juros para mesmo quando o contrato for bom do ponto de vista
valor de mercado. econômico para ambas as partes, poderá ser alvo
de intervenção do juiz, caso contrarie o interesse
O CC, em várias oportunidades, tem regras social, como é o caso de um contrato muito lucrati-
que refletem essa tendência da sociabilidade do vo, mas que gera danos ambientais ou que fraude
direito. É o caso, por exemplo, da teoria da imprevi- leis trabalhistas. A questão é: nesse caso de mútuo
são, podendo o juiz pôr fim ao contrato em razão do benefício, a quem caberá pedir a intervenção judici-
seu desequilíbrio econômico pela superveniência de al?
um fato imprevisível. O mesmo ocorre no caso de
lesão e estado de perigo, podendo o juiz invalidar o O papel de guardião do princípio da função
contrato, por uma das partes ter assumido obriga- social do contrato deve recair sobre os ombros do
ção excessivamente onerosa em razão de determi- Ministério Público. A princípio, o parquet não teria
nadas circunstâncias que forçam a contratação. Isso legitimidade ativa para pedir a intervenção do juiz no
demonstra a preocupação socializante do atual CC, contrato, por tratar-se de interesse privado. Todavia,
pois, mesmo preenchidos os requisitos formais de como o contrato tem uma função social, não poden-
validade do negócio jurídico, a lei pretende amparar do prejudicar a sociedade como um todo, o interes-
um dos contratantes da esperteza ou ganância do se passa a ser coletivo, legitimando a atuação mi-
outro ou do prejuízo econômico imprevisível com nisterial.
extrema vantagem para o outro contratante. Qual a
razão disso? O Poder Judiciário só pode chancelar Com efeito, o princípio da função social do
contratos que respeitem não só regras formais de contrato possibilita uma nova tendência de controle
dos contratos inaugurada pelo atual CC: o dirigismo

www.cers.com.br 18
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
judicial dos contratos. O que significa isso? O con- volta, em função da quebra da boa-fé do vendedor,
trato sempre sofreu controle externo, limitando a que não informou um relevante aspecto do contrato,
atuação dos contratantes. Até então, prevalecia o que interferiria na escolha do modelo da aliança ou
controle feito pela lei, razão pela qual esse controle na própria realização do negócio.
é chamado de dirigismo legal dos contratos. Pense,
como exemplo, no contrato de locação, onde a lei O princípio que rege os contratos é o princí-
do inquilinato limita a atuação do locador. Hoje, com pio da boa-fé objetiva, mas, em realidade, existem
o CC vigente, prevalece o dirigismo judicial dos dois tipos: a objetiva ou a subjetiva. A subjetiva,
contratos, ou seja, não é a lei que controla o contra- como o nome sinaliza, é a boa-fé interior, psicológi-
to, mas sim o juiz, na análise do caso concreto. ca, ou seja, o que o contratante acredita ser correto.
Já a objetiva lhe é exterior, ou seja, é agir de forma
O que torna isso possível é a utilização das correta, segundo um padrão normal de conduta. A
chamadas cláusulas gerais ou conceitos jurídicos boa-fé que rege os contratos é a objetiva, pois é
indeterminados, que tem como exemplo a função mais segura, uma vez que não depende do que
social dos contratos. São expressões vagas em seu pensa o outro contratante, mas sim em verificar se o
conteúdo, exigindo do aplicador do direito uma aná- contratante agiu seguindo um comportamento nor-
lise do caso concreto para suprir a vacância. A lei mal das pessoas.
diz que o contrato deve atender a função social, ou
seja, não pode ir contra o interesse social. O que é O que é um comportamento normal? Como
atender ou ir contra o interesse social? A lei não saber se o contratante agiu seguindo um padrão
enumera casos, preferindo usar uma expressão normal de conduta? É o juiz que dirá na análise do
vaga, permitindo ao juiz dizer, analisando o contra- caso concreto. Com efeito, vimos que a tendência
to, se ele atende ou não o interesse social. atual em matéria de controle contratual é o chama-
do dirigismo judicial dos contratos, em substituição
Em conclusão, não se pretende aniquilar o da antiga prevalência do dirigismo legal. Cabe ao
princípio da autonomia da vontade ou o pacta sunt juiz controlar os contratos, o que lhe é permitido a
servanda, mas temperá-lo, tornando-os mais voca- partir do uso de cláusulas gerais ou de conceitos
cionados ao bem-estar comum, sem prejuízo do jurídicos indeterminados, que são expressões va-
interesse econômico pretendido pelas partes contra- gas, reclamando suprimento da vacância pelo apli-
tantes. A lei relativiza o princípio do pacta sunt ser- cador do direito na análise do caso concreto. É o
vanda com regras específicas, como a cláusula caso não só da função social dos contratos, mas
rebus sic stantibus ou com a previsão da lesão ou também da boa-fé objetiva. A lei obriga as partes a
do estado de perigo, mas também relativiza permi- agirem de boa-fé, sem, no entanto, enumerar as
tindo intervenção judicial em uma relação que deve- condutas permitidas e proibidas sob esse aspecto.
ria interessar unicamente às partes do contrato, mas Esse papel caberá ao juiz, que poderá intervir em
que interessa a toda a sociedade, pois a lei diz que um contrato, podendo até resolvê-lo, mesmo tendo
o contrato tem uma função social. sido observados os requisitos formais de validade
em uma livre negociação entre particulares.
3.5. Princípio da boa-fé objetiva
Atenção: Conforme o art. 422 do CC, a
Este princípio vem consagrado no art. 422 boa-fé deve nortear o comportamento dos contra-
do CC, que obriga as partes contratantes a agirem tantes não só no momento da conclusão do contra-
de boa-fé quando da celebração de um contrato. A to, mas também durante a sua execução. É o fun-
palavra chave do princípio é confiança, que significa damento da chamada responsabilidade civil pós-
parceria contratual. A ideia é que os contratantes contratual. Às vezes, um contrato produz efeitos
não são lutadores, um querendo prejudicar o seu após a sua celebração, devendo a boa-fé perdurar
adversário, mas sim parceiros, porque um confia no enquanto durarem esses efeitos. Imagine que uma
outro, uma vez que são obrigados a agir conforme pessoa compre um carro junto a uma concessioná-
os ditames da boa-fé. ria. O carro quebra, mas não existe peça para repo-
sição e o comprador não poderá mais utilizá-lo. Ele
Imagine um casal de noivos que compra poderá pedir a resolução do contrato alegando que-
suas alianças em uma joalheria, optando por um bra da boa-fé objetiva em razão de não ter informa-
modelo que é feito com ouro amarelo e ouro branco. do fato que poderia ocorrer após a execução do
Satisfeitos com a bela aliança, no dia da festa do contrato.
noivado, um casal de amigos informa que toda ali-
ança com ouro branco fica amarelada com o decor- Importante: embora não mencionado ex-
rer do tempo. Revoltados, reclamam junto à joalhe- pressamente no art. 422 do CC, a boa- fé deve nor-
ria, que diz nada poder fazer. Os noivos poderão tear o comportamento dos contratantes até mesmo
pedir a resolução do contrato de compra e venda, antes da proposta. É o fundamento da chamada
devolvendo as alianças e recebendo seu dinheiro de responsabilidade civil pré-contratual, que será anali-

www.cers.com.br 19
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
sada a seguir nas considerações sobre a formação acompanhar o surgimento de novos contratos em
dos contratos. Exemplo típico é a proibição da pro- razão da dinâmica social.
paganda enganosa. O contrato celebrado a partir de
uma propaganda enganosa poderá ser resolvido a Contratos típicos são aqueles previstos e
requerimento da parte prejudicada, pois a boa-fé já regulamentados em lei, enquanto que os contratos
deve fazer-se presente mesmo durante as negocia- atípicos não os são. São lícitos os contratos atípicos
ções preliminares para uma futura contratação. em razão do princípio da autonomia da vontade.
Que normas são aplicadas a eles, já que não há
4. PRELIMINARES regulamentação específica em lei? Nos termos do
seu art. 425, as normas gerais do CC, tanto da sua
O CC trata da teoria geral dos contratos a parte geral quanto da teoria geral dos contratos, ora
partir do seu art. 421, iniciando com questões pre- em estudo.
liminares. De todos os princípios vistos, trata do
princípio da função social dos contratos e da boa-fé 4.3. Pacto Sucessório
objetiva. A seguir, trata de três temas: contrato de
adesão, contratos atípicos e pacto sucessório, o que Pacto sucessório é o contrato que tem por
passamos a abordar. objeto herança de pessoa viva, sendo também
chamado de pacta corvina ou pacto de abutres. Nos
4.1. Contratos de adesão termos do art. 426 do CC, é um contrato proibido
por lei, sendo inválido se praticado. A questão é:
Contrato de adesão é o contrato elaborado será nulo ou anulável? A lei proíbe a prática sem
unilateralmente por uma das partes contratantes, dizer, no entanto, se nulo ou anulável, razão pela
opondo-se ao contrato paritário, em que elas elabo- qual é considerado nulo pela lei, conforme prevê o
ram conjuntamente as cláusulas do contrato. Não é art. 166, VII, do CC.
um negócio jurídico unilateral, pois o aderente, em-
bora não tenha o poder de negociar as cláusulas do Note não poder ser objeto de contrato he-
contrato, tem que aceitar a proposta, não perdendo, rança de pessoa viva, ou seja, após morte do de
portanto, sua natureza contratual de bilateralidade. cujos, após a abertura da sucessão, os herdeiros
podem negociar seus quinhões hereditários, mesmo
O aderente é parte mais fraca nessa relação antes da individualização obtida ao fim do inventário
contratual. Para garantir a isonomia material ou com o formal de partilha, sendo considerado por lei
real, o CC lhe confere duas proteções: um contrato de bem imóvel (art. 80, II, do CC).

a) Art. 423: quando houver no contrato de adesão 5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS


cláusulas ambíguas ou contraditórias, deve ser ado-
tada uma interpretação mais favorável ao aderente. O contrato se forma, em regra, quando a
uma proposta se seguir uma aceitação, seja com o
b) Art. 424: são nulas as cláusulas em um contrato acordo de vontades das partes. Como exceção,
de adesão que estipulem a renúncia do aderente de temos os contratos reais, em que este acordo não é
um direito seu resultante da própria natureza do suficiente para a formação do contrato, o que só
negócio. Exemplo: contrato de depósito é aquele em ocorre com um ato posterior: a tradição, ou seja, a
que o depositante entrega temporariamente ao de- entrega do bem. É o caso de três tipos contratuais:
positário a guarda e conservação de um bem, que mútuo, comodato e depósito.
tem o dever de devolver o bem tal como recebido.
Note que é um direito do depositário receber o bem Não confunda a formação do contrato com a
tal como entregou ao depositário. Sendo o estacio- sua validade. O contrato se formar significa passar
namento em estabelecimentos comerciais um con- a existir no mundo jurídico, obrigando as partes ao
trato de depósito e de adesão, é nula a cláusula que seu cumprimento, enquanto que ser válido é estar
diz não haver responsabilidade pelos objetos deixa- de acordo com a lei e, portanto, apto a produzir
dos no interior do veículo. seus regulares efeitos. O art. 107 do CC prevê que
a validade dos contratos não exige forma especial,
4.2. Contratos atípicos senão quando a lei exigir, ou seja, o contrato se
forma com o simples acordo de vontades, mas, em
O CC, nos arts. 481/853, trata da regula- alguns casos, sua validade reclama uma forma es-
mentação das várias espécies de contrato. Não há pecial para produzir efeitos. Assim, destacando que
como a lei prever todo tipo de contrato, pois este em alguns casos deve haver uma forma especial do
resulta do acordo de vontade das partes, que são contrato, o que tratamos aqui é do momento da sua
livres para negociar de acordo com suas necessida- formação, pois passando a existir no mundo jurídi-
des. Ademais, as alterações da lei não conseguem co, obriga as partes ao seu cumprimento, sob pena
de responsabilidade civil contratual, ou seja, indeni-

www.cers.com.br 20
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
zação de perdas e danos em razão da mora ou do extrato de tomate distribui gratuitamente sementes
inadimplemento (tema tratado em obrigações, para de tomate entre agricultores de uma região, procu-
onde remetemos sua leitura). rando-os na época da colheita para celebrar com
eles contrato de compra e venda de toda a produ-
O CC trata do tema formação dos contratos ção de tomate. No décimo ano distribuiu as semen-
nos arts. 427/435, mencionando a proposta e a tes, mas não apareceu para compra da safra. Pro-
aceitação. Todavia, a formação do contrato não é curada pelos agricultores, recusou-se, sem qualquer
composta apenas por esses dois atos. Normalmente justificativa, a celebrar o contrato. Nesse caso, há
existe uma fase prévia, de negociações prelimina- responsabilidade civil pré-contratual aquiliana do
res, chamada de fase de puntuação, que poderá fabricante de extrato de tomate, tendo que indenizar
culminar na formulação de uma proposta, que, se os agricultores em razão dos prejuízos que resulta-
aceita, formará o contrato. São as fases que pas- ram da não contratação, como os custos da produ-
samos a estudar. ção e eventual recusa de venda para outros com-
pradores. O fundamento da responsabilidade pré-
5.1. Fase de puntuação e a responsabilidade pré- contratual é a violação do princípio da boa-fé objeti-
contratual va nessa fase de negociações preliminares anterior
à proposta, pois o fabricante criou nos agricultores a
Fase de puntuação é a fase de negociações justa expectativa de contratação e, sem qualquer
preliminares que antecedem a proposta, marcada justificativa, por mero capricho, não formalizou a
por conversações prévias, ponderações, reflexões, proposta de compra e venda.
sondagens, cálculos e estudos de viabilidade de
negociação futura. Pode resultar, inclusive, em uma 5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar
minuta contratual se alguns pontos acordados forem
reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere da pro- O pré-contrato, também chamado de contra-
posta, pois esta é completa, uma vez bastar um sim to preliminar ou pacto de contrahendo, é um contra-
para o contrato se formar). to em que as partes assumem a obrigação de cele-
brar um contrato definitivo no futuro, por não ser
Sobrevindo uma proposta à fase de puntua- possível a contratação agora ou por não ser o me-
ção, esta vincula o proponente, pois, se a outra lhor momento.
parte a aceitar, o contrato estará formado e ambos
estarão obrigados em seus termos. A questão é: Exemplo: Um time de futebol quer contratar
podemos falar em responsabilidade civil nesta fase um jogador. Não pode celebrar um contrato definiti-
de negociações preliminares pela não conclusão do vo agora, pois ele tem contrato em vigor com outro
contrato? Em regra não, pois não há qualquer pro- clube. No entanto, poderão celebrar um pré-
blema em se iniciarem negociações e se perceber a contrato, em que se obrigam a contratar ao término
inviabilidade ou inconveniência da contratação. To- do contrato em vigor. Caso o jogador negocie seu
davia, em alguns casos, pode haver responsabilida- passe com outro clube ou este não queira mais
de civil extracontratual ou aquiliana, pois não há contratá-lo, haverá descumprimento do contrato,
ainda um contrato, sendo chamada de responsabili- devendo arcar com perdas e danos, que provavel-
dade civil pré-contratual. mente virá pré-fixada em uma cláusula penal.

Quando isso ocorre? Quando, nas negocia- Importante: O pré-contrato deve ter os
ções preliminares, uma das partes cria na outra a mesmos elementos do contrato definitivo, à exce-
justa expectativa de contratação e, sem qualquer ção de um deles: a forma. As partes e o objeto são
justificativa, por mero capricho, não formaliza a pro- os mesmos, mas a forma não precisa ser a mesma.
posta. O fundamento é a quebra da boa-fé objetiva Se o contrato definitivo tem que ser por escritura
na fase das negociações preliminares. Há um abuso pública, nada impede que o pré-contrato seja por
de direito, que é considerado pela lei ato ilícito a instrumento particular.
ensejar responsabilidade civil (art. 187 c/c art. 927,
ambos do CC). Ora, ao criar a justa expectativa de Qual a importância do pré-contrato? Em
contratação, legitima a outra parte a contrair gastos princípio, a responsabilidade civil na fase de nego-
e até a recusar outras propostas, e não concluir o ciações preliminares é extracontratual, pois ainda
contrato sem qualquer justificativa é causar o que não há um contrato. No entanto, se celebrarem um
chamamos de “dano de confiança”, em razão da pré-contrato, as partes transformarão essa respon-
quebra da boa fé objetiva, que deve nortear o com- sabilidade pré-contratual em contratual antes mes-
portamento dos contratantes até mesmo antes da mo da celebração do contrato definitivo, pois o pré-
proposta. contrato é um contrato. Qual a vantagem? A parte
prejudicada não precisará provar a culpa do inadim-
Como exemplo, cito um caso cobrado em plente no descumprimento do contrato nem tam-
prova. Imagine que durante anos um fabricante de pouco o dano, seja sua própria existência, seja a

www.cers.com.br 21
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
sua extensão. Você lembra o que vimos a respeito ta é chamada de fase de policitação ou fase de
do tema? oblação. Isso dá nome aos atores envolvidos: quem
faz a proposta é chamado de proponente ou de
Lembrando: tanto a responsabilidade civil policitante e quem a aceita é chamado de aceitante
extracontratual (em regra) como a contratual são ou de oblato.
subjetivas, mas esta tem culpa presumida. Assim,
se o caso é de responsabilidade contratual, basta Na fase de policitação, não deixa de haver
ao contratante prejudicado provar o inadimplemen- uma negociação entre as partes, o que já acontece
to, sem precisar provar que o outro teve culpa no na fase de puntuação. Ora, qual a diferença entre a
descumprimento do contrato (este poderá elidir sua fase de puntuação e a fase de policitação na forma-
responsabilidade provando não ter tido culpa, pois a ção dos contratos? É a existência de uma proposta.
presunção de culpa é relativa, admitindo prova em A fase de puntuação é a fase de negociações preli-
contrário, o que representa inversão do ônus da minares, ou seja, anterior à proposta. Já a fase de
prova). Por outro lado, se é caso de responsabilida- policitação se dá após a proposta, sucedendo-se
de civil extracontratual subjetiva, a vítima do dano, sucessivas contrapropostas. A pergunta se mantém:
ao cobrar perdas e danos, deverá provar que o como saber se uma conversa entre as partes já
agressor teve culpa em causá-lo. Assim sendo, a configura uma proposta ou apenas negociações
responsabilidade civil contratual é mais vantajosa preliminares, que até pode resultar em uma minuta,
para quem sofre o dano, pois não precisará provar o se reduzido a termo? É a seriedade da proposta.
difícil elemento subjetivo da culpa. Além disso, co- Significa que a proposta é pronta e acabada, abor-
mo há um contrato, podemos pré-fixar as perdas e dando todos os elementos do contrato, pois basta
danos em uma cláusula penal, dispensando a parte um sim para a formação do contrato. Se isso já exis-
prejudicada de provar não só o dano, mas, sobretu- te, é fase de policitação; se ainda não existe, sendo
do, a sua extensão. conversados apenas alguns pontos do contrato, a
fase é de puntuação.
No supramencionado exemplo da compra
dos tomates, o fabricante, por ser fase anterior à O aspecto mais importante da proposta é o
proposta, tem responsabilidade civil extracontratual, seu aspecto vinculatório, ou seja, a proposta obriga
somente sendo responsabilizado civilmente se os o proponente. Se eu faço uma proposta, crio na
agricultores provarem a justa expectativa de contra- outra parte a justa expectativa de contratação, que
tação e a recusa sem qualquer justificativa, mas pode levá-la a contrair gastos e até a recusar outras
também a sua culpa na não celebração do contrato. propostas. Feita a proposta, o proponente a ela se
No entanto, se na fase de negociações preliminares, obriga, ou seja, se houver aceitação, não poderá
as partes reduzirem as bases do contrato a escrito alegar desistência ou arrependimento, podendo o
em um pré-contrato, bastarão provar que o fabrican- aceitante pedir em juízo a execução forçada do
te assinou um pré-contrato e que houve inadimple- contrato ou indenização por perdas e danos. Já é
mento, além de sequer precisar provar o dano e a responsabilidade civil contratual, pois com a aceita-
sua extensão, pois poderão executar direto a cláu- ção o contrato se formou, passando a existir no
sula penal. mundo jurídico. A proposta só obriga o proponente e
a aceitação passa a obrigar ambas as partes.
O mesmo ocorre no exemplo da contratação
do jogador de futebol. Se o clube apenas conversa A questão é: a proposta sempre obriga o
em negociações preliminares, acertando as bases proponente? Não, pois nos termos do art. 427 do
de um futuro contrato, pode ser que, ao final do CC a proposta não obriga o proponente em três
contrato em vigor, o atleta quebre a confiança e casos:
resolva permanecer no clube que está ou contratar
com outro. Para responsabilizá-lo civilmente, deverá a) Se isso resultar dos termos da proposta: se no
provar que o atleta não contratou culposamente, próprio corpo da proposta vier expressa a não obri-
mas, se assinar um pré-contrato, bastará comprovar gatoriedade, não cria justa expectativa de contrata-
o inadimplemento, sem sequer precisar provar o ção na outra parte.
dano e a sua extensão.
b) A depender da natureza do negócio: há certos
5.3. A proposta negócios jurídicos que, por sua natureza, não obri-
gam o proponente, como proposta de venda de
O contrato se forma quando a uma proposta produto com quantidade limitada em estoque, a
se seguir uma aceitação. É raro uma pessoa fazer partir do fim do estoque.
uma proposta e a outra simplesmente a aceitar, pois
é normal se sucederem sucessivas contrapropostas c) A depender de determinadas circunstâncias:
até culminar em uma aceitação final. Essa fase de existem certas circunstâncias que fazem com que a
sucessivas contrapropostas a partir de uma propos- proposta deixe de ser obrigatória, estando elas

www.cers.com.br 22
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
elencadas no art. 428 do CC - a primeira delas para mação? Em regra, quando a aceitação é expedida,
contrato entre presentes e as três restantes para pois é quando o aceitante perde o controle de sua
contrato entre ausentes, a saber: vontade. Como exceção, o contrato entre ausentes
se forma quando a resposta chegar ao proponente,
(i) se feita proposta sem prazo à pessoa presente e se assim convencionado entre as partes.
esta não foi imediatamente aceita;
6. CONTRATOS QUE PRODUZEM EFEITOS A
(ii) se feita proposta sem prazo a pessoa ausente e TERCEIROS
tiver decorrido tempo suficiente para chegar a res-
posta ao conhecimento do proponente; Em razão do princípio da relatividade de
seus efeitos, o contrato só atinge as partes, ou
(iii) se feita proposta com prazo à pessoa ausente e seja, só quem é parte pode ter direito e deveres que
esta não expedir a resposta no prazo; dele decorrem. Todavia, há três contratos em que
um terceiro é por ele atingido, pois terão direitos e
(iv) se feita uma proposta entre ausentes e antes deveres decorrentes de um contrato em que não
dela ou simultaneamente chegar ao conhecimento celebraram originariamente:
da outra parte a sua retratação.
6.1. Estipulação em favor de terceiro: É o contra-
A proposta fixa o local de formação do con- to em que um dos contratantes estipula um terceiro
trato (art. 435 do CC). A importância em saber o para quem o outro contratante deverá cumprir a
local de sua formação é determinar qual lei será prestação. É um terceiro ao contrato tendo um direi-
aplicada ao contrato. to dele decorrente. Exemplo: contrato de compra e
venda em que o estipulante determina a entrega do
5.4. A aceitação bem para um beneficiário. Se a prestação não for
cumprida, o estipulante poderá exigi-la em juízo. O
Se a proposta obriga apenas o proponente, beneficiário também tem esse poder, desde que não
a aceitação vincula também o aceitante, pois ela haja essa restrição no contrato. Caso tenha sido
faz o contrato se formar, passando a existir no mun- retirado do beneficiário esse poder, poderá o estipu-
do jurídico, estando ambas as partes obrigadas ao lante exonerar o devedor de cumprir a prestação. E
seu cumprimento nos termos da responsabilidade a substituição do beneficiário é possível? Sim, inde-
civil contratual. pendente da anuência dele e do outro contratante,
se reservar esta faculdade no contrato.
A aceitação pode ser expressa ou tácita.
Expressa é a aceitação inequívoca, podendo ser 6.2. Promessa de fato de terceiro: É o contrato em
escrita, verbal ou até gestual (ex. leilão). Tácita é a que um dos contratantes promete que um terceiro
aceitação presumida pela prática de um ato incom- cumprirá a prestação para o outro contratante. É
patível com a não aceitação. Exemplo: doação de terceiro ao contrato com um dever dele decorrente.
vaso não aceita de forma expressa, mas o donatário Exemplo: contrato por meio do qual uma das partes
manda buscá-lo na casa do doador e o coloca ex- promete que seu irmão, um cantor famoso, conce-
posto em sua sala. É por isso que o art. 111 do CC derá uma entrevista exclusiva a um programa de
prevê que o silêncio, embora não seja a regra, até rádio. Se o terceiro não cumprir a prestação, o pro-
pode valer como aceitação, mas apenas quando as mitente responde por perdas e danos, mesmo que
circunstâncias indicarem que a pessoa aceitou taci- tenha feito todos os esforços para o cumprimento da
tamente e, evidente, a lei não exija aceitação ex- prestação. O promitente não responderá, mas sim o
pressa. terceiro, se este aceitar a prestação e depois não
cumpri-la. Ademais, o promitente não responde pelo
Conforme visto, a proposta obriga o propo- descumprimento da prestação do terceiro se, pen-
nente. No entanto, essa obrigatoriedade não é dendo sua aceitação, forem casados e, a depender
eterna, mas sim pelo prazo dado. Se houver aceita- do regime de bens do casamento, a cobrança sobre
ção fora do prazo ou até mesmo com modificações, o promitente recair de alguma forma sobre o tercei-
o proponente não é obrigado a concordar, mas se ro.
quiser poderá aceitá-la. Por isso, dizemos que a
aceitação fora do prazo ou com modificações tem 6.3. Contrato com pessoa a declarar: É o contrato
natureza de nova proposta. em que um dos contratantes pode indicar uma pes-
soa que irá assumir a sua posição no contrato. É um
O contrato se forma quando a uma proposta terceiro ao contrato tendo direitos e deveres que
se seguir uma aceitação. Se o contrato é entre dele decorrem. Exemplo: uma pessoa quer comprar
presentes, fácil será determinar o momento, pois uma casa, cujo dono jamais lhe venderá por pro-
proposta e aceitação se dão em tempo real. E se o blemas pessoais, podendo se valer de uma pessoa
contrato for entre ausentes, quando se dá sua for- para contratar com o proprietário, inserindo no con-

www.cers.com.br 23
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
trato cláusula que lhe permite indicá-lo a assumir na civil dos vícios redibitórios com a disciplina con-
sua posição no contrato. Essa indicação deve ser sumerista. Sendo o CDC uma lei especial em rela-
feita em quinze dias, se outro prazo não for estipu- ção ao CC, só aplicamos suas regras quando inapli-
lado, mas tem efeito retroativo à data da celebração cáveis as regras do CDC. Quando, então, aplicamos
do contrato, pois o indicado assume os direitos e as regras dos vícios redibitórios previstas no CC?
deveres do contrato desde a sua celebração e não Quando não houver relação de consumo, o que
apenas a partir da sua nomeação. Esse contrato ocorre em dois casos: (i) quando o alienante não é
exige muita confiança entre quem indicará e quem fornecedor, como ocorre na venda ocasional de um
será indicado, pois se não houver nomeação ou se bem usado, pois ser fornecedor exige habitualidade
esta não for aceita pelo indicado, o contrato produz da negociação; e (ii) quando o adquirente não for
efeitos entre os contratantes originários. consumidor, como ocorre no caso de alguém adqui-
rir um bem para renegociação, pois o CDC afirma
7. GARANTIAS IMPLÍCITAS IMPOSTAS AO ALI- que só é consumidor quem adquire um bem como
ENANTE destinatário final. Aqui nos concentraremos na dis-
ciplina civil do tema, deixando as regras da relação
Quando uma pessoa aliena um bem, deve de consumo para um estudo específico do tema.
garantir ao adquirente, em nome da boa-fé objetiva,
o seu normal uso e fruição, bem como a garantia de Por definição, vícios redibitórios são defeitos
que não o perderá para terceiros por razões de di- ocultos que tornam o bem impróprio para o uso a
reito. Assim sendo, o alienante responde perante o que se destina ou que lhe diminuem o valor. Note
adquirente do bem tanto por defeitos materiais co- que na disciplina civil, diferente da relação de con-
mo por defeitos jurídicos. sumo, o alienante só responde por defeitos ocultos,
ou seja, que não poderia ter sido facilmente detec-
O alienante, responder por defeito material tado pelos órgãos dos sentidos, pois se o vício era
é responder por vício redibitório, ou seja, o bem aparente, presume-se que o adquirente o admitiu,
apresenta um defeito físico que o torna inútil ao seu pois dele ciente.
uso ou que lhe diminui o valor. Por sua vez, respon-
der por defeito jurídico é responder pela evicção, ou Note que o vício redibitório é um defeito ma-
seja, quem alienou o bem não poderia tê-lo feito e o terial que pode tornar o bem impróprio para o seu
adquirente o perdeu para um terceiro, podendo bus- uso ou que pode apenas lhe diminuir o valor. Por-
car uma indenização do alienante. tanto, haverá vício redibitório tanto no defeito oculto
em um motor de um carro que o faz não mais funci-
Procederemos aqui ao estudo em separado onar, como também no defeito oculto de uma má-
do vício redibitório e da evicção. No entanto, de quina que produz determinado produto, diminuindo
plano, merecem destaque três observações comuns a sua produção, embora ela ainda funcione. Assim
a ambos os institutos, pois são questões muito re- sendo, o adquirente pode reclamar do vício redibitó-
correntes em prova e que merecem sua especial rio em juízo optando por uma de duas ações judici-
atenção: ais:

a) O alienante responde por eles mesmo que não a) Ação Redibitória: ação judicial em que se pede
haja previsão expressa em contrato, pois são garan- para redibir o contrato, ou seja, desfazer o negócio
tias implícitas, que decorrem de lei e não da vonta- jurídico. Trata-se de anulação e não de declaração
de das partes. de nulidade, pois a lei impõe prazo para reclamá-lo,
sob pena de convalescimento.
b) O alienante responde por eles apenas diante de
alienações onerosas. Atenção: a doação é uma b) Ação Quanti Minoris ou Ação Estimatória:
alienação gratuita, mas o alienante responderá por ação judicial em que se pede abatimento do preço,
eles quando a doação for com encargo, o que a lei ou seja, o adquirente quer permanecer com o bem,
chama de doação onerosa. mas quer devolução do valor da desvalorização em
razão do defeito oculto ou, se ainda não pagou,
c) O alienante responde por eles mesmo que a descontá-lo quando do pagamento. Nessa ação se
aquisição do bem tenha se dado em hasta pública, apura o valor a ser abatido do preço, o que justifica
ou seja, através da venda pública de bem penhora- o seu nomem iuris: “estimar” “quanto menos” vale o
do em processo de execução. bem.

7.1. Vícios Redibitórios Detalhe importante: o alienante responde


por vícios redibitórios estando ele de má-fé ou até
Aqui a responsabilidade é diante da exis- mesmo de boa-fé, ou seja, sabendo ou não do de-
tência de defeitos materiais, ou seja, o bem está feito oculto. A diferença é que apenas diante da má-
quebrado. Importante você não confundir a discipli- fé será obrigado a indenizar perdas e danos. Nos

www.cers.com.br 24
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
termos do art. 443 do CC, se o alienante agiu de que vende carro roubado, sendo o evicto parado em
boa-fé, apenas ressarcirá o adquirente dos gastos uma blitz e o carro levado à delegacia e devolvido
que teve com o negócio em si, ou seja, devolução ao seu real dono.
do valor recebido e ressarcimento das despesas do
contrato. Se o alienante procedeu de má-fé, não só Informação importante: Nos termos do art.
devolverá o valor recebido, mas também indenizará 448 do CC, as partes podem por cláusula expressa
o adquirente de todas as perdas e danos decorren- reforçar, diminuir ou até excluir a responsabilidade
tes do vício redibitório. do alienante pela evicção. Cuidado, pois a exclusão
só valerá se o evicto foi informado do risco da evic-
Qual o prazo que tem o adquirente para re- ção e o tenha assumido (art. 449 do CC).
clamar vício redibitório em juízo? Depende do bem
adquirido: trinta dias para bem móvel e um ano para Ao perder o bem, o evicto poderá cobrar in-
bem imóvel. A princípio, o prazo se inicia quando da denização do alienante. A regra é o ressarcimento
entrega efetiva do bem e não quando da alienação, da integralidade do dano do evicto, o que lhe permi-
pois só com o seu uso é que ele consegue perceber te cobrar do alienante não só a devolução do que
o defeito oculto. No entanto, se o adquirente já tinha pagou pelo bem, como também as perdas e danos
a posse do bem, o prazo se iniciará quando da prá- em razão da evicção, os frutos que eventualmente
tica do ato, pois é quando adquire legitimidade para tenha sido obrigado a restituir ao evictor e o que
reclamação em juízo, mas os prazos serão reduzi- gastou com custas judiciais e honorários advocatí-
dos à metade, por já ter tido contato com o bem. cios (art. 450 do CC).
Além disso, se for um defeito oculto que por sua
natureza seja de difícil percepção, o prazo só se Ainda dentro da regra da indenização da in-
inicia quando o adquirente dele tiver ciência. Toda- tegralidade do dano, o alienante responderá peran-
via, a lei confere um prazo máximo para ciência do te o evicto por eventual valorização do bem entre a
defeito a se somar ao prazo de reclamação: cento e época da alienação e da evicção. Se o bem se des-
oitenta dias para bem móvel e um ano para bem valorizou, o evicto cobrará do alienante o preço que
imóvel. Por fim, não se esqueça que eventual prazo lhe pagou, mas se houver valorização, cobrará o
de garantia convencional oferecida pelo alienante valor do bem da época em que se evenceu, ou seja,
não substitui o prazo de garantia legal, mas sim a da época em que perdeu o bem pela evicção.
ele se soma, pois, se houver garantia convencional,
o prazo de garantia legal só se inicia quando este Mais uma vez, ainda dentro da regra da in-
for encerrado. denização da integralidade do dano, ainda que o
bem esteja deteriorado, o evicto poderá cobrar do
7.2. Evicção alienante o valor total do bem, a menos que tenha
sido causado dolosamente por ele, quando só pode-
Evicção é a perda ou desapossamento judi- rá cobrar do alienante o valor que passou a valer o
cial, ou excepcionalmente administrativo, de um bem. Note que, se a título de culpa em sentido estri-
bem, em razão de um defeito jurídico anterior à to a deterioração, ainda assim o evicto cobrará do
alienação. Quem alienou o bem não poderia tê-lo alienante o valor integral do bem.
feito, e o adquirente o perdeu, tendo ação de inde-
nização contra o alienante. O adquirente que perde Conforme o estudo da posse, o possuidor
o bem é o evicto, e o terceiro que dele o toma é o que realiza benfeitorias no bem e vem a perdê-lo,
evictor. tem direito de ser indenizado quando as benfeitorias
forem necessárias e úteis. É o caso que ocorre aqui,
Exemplo: estelionatário invade terreno e, pois o evicto tem a posse do bem e a perde para o
falsificando a escritura pública, vende-o. O verda- evictor.
deiro dono ajuíza ação reivindicatória reclamando
seu terreno. Ao se constatar a falsidade da escritura Assim, se ele realizou benfeitorias necessá-
pública, o comprador perderá judicialmente o imó- rias ou úteis no bem antes da perda, poderá recla-
vel, o que chamamos de evicção, tendo apenas mar indenização do evictor. O art. 453 do CC diz
direito indenizatório contra o alienante. que o evicto pode cobrar do alienante o que gastou
com benfeitorias necessárias e úteis, se não foram
Note que a evicção pode se dar excepcio- abonadas, ou seja, se não foram pagas pelo evictor.
nalmente através de uma perda administrativa do No entanto, completa o art. 454 do CC, se as ben-
bem, pois, em alguns casos, a jurisprudência do feitorias foram feitas pelo alienante e abonadas, ou
STJ tem admitido a evicção independente de deci- seja, pagas ao evicto pelo evictor, o valor será de-
são judicial. Destaque para o caso em que há apre- duzido quando o evicto cobrar a indenização do
ensão policial da coisa em razão de furto ou roubo alienante.
anterior à alienação, podendo o caso ser resolvido
no próprio âmbito da delegacia. Exemplo: ladrão

www.cers.com.br 25
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
O caso é de inexecução quando não há
Por fim, fechando o tema evicção, precisa- cumprimento de um contrato perfeito, que é o tema
mos entender o que é evicção parcial, tema que é que aqui estudamos. Perceba a impropriedade do
tratado no art. 455 do CC. Haverá evicção parcial CC ao tratar do tema sob o título “da extinção dos
quando o evicto perder apenas parte do que adqui- contratos”, quando, na verdade, deveria tê-lo intitu-
riu na alienação, por exemplo, quando compra cem lado de “inexecução dos contratos” ou até mesmo
cabeças de gado e perde vinte ou trinta delas pela “da extinção dos contratos pela inexecução”.
evicção. Qual a consequência? Depende se a evic-
ção é considerável ou irrisória, pois uma coisa é A inexecução pode causar três tipos de ex-
perder uma ou duas cabeças de gado, outra é per- tinção do contrato: resilição, resolução e rescisão.
der noventa delas. Se a perda for considerável, o Vamos definir cada um dos institutos, para em se-
evicto pode pedir a rescisão do contrato ou restitui- guida aprofundar o estudo.
ção da parte do preço correspondente ao desfalque
sofrido, ou seja, devolver o que sobrou e cobrar a) Resilição: extinção do contrato por vontade de
devolução do que pagou ou ficar com o que sobrou um ou de ambos os contratantes, ou seja, é quando
e cobrar apenas o equivalente à sua perda. Se, no eu termino o contrato porque quero ou quando ter-
entanto, a perda for irrisória, só poderá o evicto minamos porque queremos, sem ter qualquer razão
cobrar a indenização pela perda sofrida, permane- jurídica para isso. Exemplo: celebrei contrato de
cendo com o que sobrou. aluguel pelo prazo de três anos e decido resili-lo
com dois anos por questão pessoal.
8. EXTINÇÃO DO CONTRATO
b) Resolução: extinção do contrato em razão do
Extinção do contrato é o fim de sua existên- inadimplemento da outra parte, ou seja, um dos
cia, é a sua morte, é o seu desaparecimento do contratantes não cumpre o contrato, legitimando a
mundo jurídico. Extinção é o gênero, que contempla outra parte pedir sua resolução. Exemplo: mesmo
várias espécies, pois é a expressão mais ampla contrato de aluguel de três anos, resolvido pelo
para o fim do contrato, seja pela causa que for. locador em razão do inquilino não pagar o aluguel.

Quando falamos em extinção do contrato, c) Rescisão: não há consenso na doutrina sobre o


esta pode se dar, em princípio, por duas formas significado de rescisão do contrato. Muitos usam o
diferentes: por causa anterior ou superveniente à termo rescisão como sinônimo de extinção do con-
formação do contrato. trato, até mesmo por causa antecedente, sendo,
inclusive, o sentido que caiu no gosto popular, que
Se a causa de extinção do contrato é ante- só fala em rescisão do contrato quando este chega
rior ou até concomitante à sua formação, temos um ao fim. Autores clássicos, como Orlando Gomes e
caso de imperfeição do contrato, pois ele já nasceu Caio Mário, no entanto, com base na doutrina italia-
viciado. Nesse caso, o contrato é inválido, podendo na, ensinam que rescisão em sentido técnico só
ele ser nulo ou anulável, a depender do vício. Não é ocorre quando um contrato é extinto em caso de
tema para aqui ser visto, pois é assunto da parte lesão ou de estado de perigo. Modernamente, esse
geral do direito civil, para onde remetemos sua leitu- não é o entendimento, até porque são defeitos do
ra. negócio jurídico, portanto, causas antecedentes ou
concomitantes à formação do contrato, caso de
Se a causa de extinção do contrato é super- invalidade e não de inexecução, quando pressupo-
veniente à sua formação, estamos tratando de um mos um contrato perfeito. Outros autores mencio-
contrato perfeito, ou seja, que se formou de forma nam rescisão como uma espécie de resolução do
válida, não sendo caso de nulidade nem de anulabi- contrato, significando a resolução culposa ou volun-
lidade. O contrato perfeito pode ser extinto de duas tária, ou seja, quando o contrato é extinto por ina-
formas diferentes: por execução ou por inexecução dimplemento culposo do outro contratante. O conse-
do contrato. lho é evitar o uso do termo rescisão, pois, como não
há consenso, é um risco desnecessário em prova.
Execução do contrato é quando ele é cum-
prido, o que pode ocorrer pelo pagamento ou até 8.1. Resilição do contrato
pelas formas anormais de extinção das obrigações,
quais sejam: pagamento em consignação, paga- Conforme visto, resilição do contrato ocorre
mento com sub-rogação, novação, imputação ao quando há extinção do contrato unicamente em
pagamento, dação em pagamento, compensação, razão da vontade das partes. A resilição pode ser
confusão ou remissão. Também não é tema para unilateral ou bilateral, a depender se a vontade é de
aqui ser tratado, pois é assunto de obrigações, para apenas um dos contratantes ou de ambos. Não se
onde remetemos a sua leitura. discute aqui culpa da parte fazendo surgir uma cau-
sa de extinção do contrato, pois não há causa jurídi-

www.cers.com.br 26
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
ca que motive o seu fim, simplesmente não quero do devedor, pois, se sem culpa, apenas haverá
ou não queremos mais. resolução do contrato.

a) Resilição unilateral: ocorre quando apenas uma Cláusula resolutória é a cláusula que permi-
das partes não quer mais manter o contrato, sem te ao contratante resolver o contrato diante do ina-
precisar externar qualquer razão para isso. O art. dimplemento da outra parte. O contrato pode trazer
473 do CC diz que se opera mediante denúncia uma cláusula resolutória expressa, mas esta tam-
notificada à outra parte, ou seja, o contratante deve bém pode ser implícita aos contratos. Quando isso
notificá-la formalmente. A resilição unilateral do ocorre?
contrato pode se dar quando a lei permitir ou quan-
do houver expressa previsão no contrato. Há casos Todo contrato bilateral tem implícita a cláu-
em que a lei permite a resilição unilateral do contra- sula resolutória. A razão é que todo contrato bilate-
to, razão pela qual não será devedor em perdas e ral é sinalagmático, o que significa que a prestação
danos à outra parte. Por exemplo: o direito de re- de uma das partes é causa da prestação da outra
vogação de contrato de mandato. Pode a lei não parte. Como uma das partes só cumpre a sua pres-
permiti-la, mas a vontade das partes sim, quando tação porque a outra cumpre a sua, o descumpri-
inserem no contrato cláusula permissiva, podendo mento autoriza a outra parte pedir a resolução do
ou não ser fixada uma multa a ser paga ao outro contrato, mesmo que não tenha nele cláusula per-
contratante se esta ocorrer. Se não houver previsão missiva expressa. Sendo contrato unilateral ou pluri-
legal nem contratual, a parte não poderá unilateral- lateral, necessária a cláusula resolutiva expressa no
mente resilir o contrato, podendo ser o caso de re- contrato, para que uma das partes possa pedir a
clamação judicial para sua execução forçada. resolução em razão do inadimplemento ou mora da
Exemplo: contrato de locação em que há previsão outra parte.
apenas para o locatário o resilir, tendo o locador que
esperar o fim do contrato pela total execução. Há vantagem da cláusula resolutória ex-
pressa em relação à implícita, o que justifica sua
b) Resilição bilateral: ocorre quando a extinção do inserção inclusive no contrato bilateral. Vindo ex-
contrato se dá unicamente por vontade, mas de pressa no contrato, haverá extinção automática do
ambas as partes, sendo chamado de distrato. É um contrato em caso de inadimplemento, enquanto que,
acordo das partes, pondo vim à avença contratual, se implícita, depende de interpelação judicial (art.
sem se externar qualquer causa para isso, razão 474 do CC). Além disso, vindo expressa no contra-
pela qual, em princípio, nenhuma das partes deve to, já se insere cláusula penal prefixando o valor da
qualquer indenização ao outro contratante. Impor- indenização por perdas e danos.
tante sobre o tema é o art. 472 do CC, que diz que o
distrato deverá ser feito na mesma forma exigida 8.2.1. Exceção de contrato não cumprido (excep-
para ser feito o contrato. Como exemplo, se o con- tio non adimplenti contractus)
trato de compra e venda de um imóvel de valor su-
perior a trinta salários mínimos deve ser por escritu- Se uma das partes é inadimplente, legitima
ra pública, o distrato assim também deve ser.A a outra a pedir a resolução do contrato. Agora,
imagine que antes disso o inadimplente ajuíze uma
8.2. Resolução do contrato ação cobrando o cumprimento da prestação da ou-
tra parte. O que ela poderá fazer? Sendo um contra-
Resolução do contrato é a sua extinção em to bilateral, poderá alegar a exceção de contrato
razão do inadimplemento ou da mora da outra par- não cumprido, ou seja, que não cumprirá sua pres-
te. Aqui o contrato não termina apenas em razão da tação em razão do autor da ação não ter cumprido a
vontade das partes, pois há uma causa que autoriza sua. A razão já foi exposta: como o contrato bilateral
uma delas a pedir sua extinção: o não cumprimento é sinalagmático, a prestação de uma das partes é
do contrato. causa da prestação da outra parte, razão pela qual
quem não cumpre a sua prestação não pode exigir
Esse descumprimento pode ser com culpa o cumprimento da prestação da outra parte (art. 476
ou sem culpa do contratante inadimplente, o que do CC).
faz com que existam dois tipos de resolução do
contrato: com culpa (voluntária) ou sem culpa (invo- 8.2.2. Resolução sem culpa ou involuntária
luntária). A grande diferença é que no caso de reso-
lução culposa, o inadimplente será devedor de per- A extinção do contrato se dá pelo inadim-
das e danos junto com a resolução, o que não será plemento da outra parte, sem ela ter tido culpa no
devido quando a resolução não for culposa. Perce- descumprimento contratual. Aqui não há indeniza-
ba que aqui falamos de mora e de inadimplemento, ção por perdas e danos, mas apenas resolução do
valendo lembrar que só há mora e inadimplemento contrato, pois o contratante quer cumprir o contrato,
indenizáveis em perdas e danos quando com culpa mas não consegue. Isso ocorre em dois casos: caso

www.cers.com.br 27
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
fortuito ou motivo de força maior e no caso de apli- será daquele que primeiro tinha a obrigação de
cação da teoria da imprevisão ou da onerosidade cumprir sua prestação. A razão disso é o princípio
excessiva. da exceção de contrato não cumprido, pois, se hou-
ver prestações simultâneas e um dos contratantes
a) Caso fortuito ou motivo de força maior: são não cumpre sua prestação, o outro está legitimado a
situações inevitáveis, insuperáveis, que impedem o não cumprir a sua prestação.
contratante de cumprir sua prestação. Imagine con-
trato de compra e venda de produto agrícola, que 8.3. Efeitos no tempo da resolução e da resilição
não pôde ser entregue em razão de violenta tem- dos contratos
pestade que destruiu toda a plantação. Não há cul-
pa no inadimplemento, havendo simples resolução Havendo resolução do contrato, essa deci-
do contrato, retornando as partes ao estado em que são tem efeito retroativo ou não retroativo? Depen-
se encontravam antes de sua celebração, sem direi- de se o contrato for de execução instantânea, diferi-
to de indenização da parte prejudicada. da ou continuada.

Cuidado: há dois casos em que haverá re- Se o contrato é de execução única, ou seja,
solução sem culpa do contratante inadimplente, por de execução instantânea ou até diferida, a decisão
decorrer de caso fortuito ou motivo de força maior, produz efeitos retroativos ou ex tunc, desfazendo-se
mas que haverá dever indenizar o outro contratante o que foi feito até então, pois resolver o contrato é
em perdas e danos: fazer retornar ao estado em que as partes se encon-
travam antes da sua celebração. Assim, se estamos
(i) quando houver previsão expressa no diante da resolução de um contrato de compra e
contrato impondo o dever de indenizar perdas e venda, o comprador devolve o bem e o vendedor
danos pelo seu descumprimento, mesmo em razão devolve o dinheiro recebido, buscando-se eventual
de caso fortuito ou motivo de força maior (art. 393 indenização diante da perda ou deterioração do
do CC); e bem ou até em razão de algum melhoramento por
que passou.
(ii) quando a impossibilidade da prestação
se dá por caso fortuito ou motivo de força maior Se, no entanto, o contrato for de execução
que ocorre durante a mora do contratante (art. 399 prolongada no tempo, ou seja, de execução conti-
do CC). nuada, os efeitos serão não retroativos ou ex nunc,
mantendo-se os efeitos até então produzidos. A
b) Teoria da imprevisão ou da onerosidade ex- razão disso é evitar um enriquecimento sem causa
cessiva: o tema já foi visto em contratos, quando do de um dos contratantes. Imagine um contrato de
estudo do princípio da obrigatoriedade mitigado pela locação: se a resolução tivesse efeito retroativo,
cláusula rebus sic stantibus, para onde remetemos faria com que o locador devolvesse o valor recebido
a sua leitura. É resolução do contrato sem culpa, durante o contrato, não tendo como o inquilino de-
pois acontece fato superveniente e imprevisível que volver o tempo que usou o bem, o que lhe geraria
desequilibra economicamente o contrato, legitiman- um enriquecimento sem causa por ter alugado o
do o pedido de resolução do contrato pelo fato da lei imóvel por um tempo sem por isso pagar.
não exigir mais o seu cumprimento.
O efeito retroativo (ex tunc) da resolução
8.2.3. Resolução com culpa ou voluntária (que, dos contratos de execução instantânea ou diferida
para alguns autores, é a rescisão) e o efeito não retroativo (ex nunc) da resolução dos
contratos de execução continuada valem tanto para
A extinção do contrato se dá pelo inadim- a resolução com culpa quanto para a resolução sem
plemento da outra parte, tendo ela culpa no des- culpa. A única diferença entre eles é que na resolu-
cumprimento do contrato. Exemplo: contrato de ção culposa o inadimplente será devedor de indeni-
aluguel resolvido em razão do inquilino não ter pago zação por perdas e danos, o que não ocorre, em
o aluguel porque não quis ou porque foi negligente. regra, na resolução sem culpa.
A diferença para a resolução não culposa é que
aqui o inadimplente, além de suportar a resolução Cuidado com um detalhe: no caso da reso-
do contrato, deve pagar indenização por perdas e lução sem culpa decorrente da aplicação da teoria
danos ao outro contratante (embora isso possa da imprevisão ou da onerosidade excessiva, para
ocorrer na resolução sem culpa, mas por exceção cuja abordagem remetemos sua leitura, seja contra-
nos casos supramencionados). to de execução continuada ou diferida, o efeito será,
por expressa previsão legal, retroativa, mas até à
A resolução com culpa não pode ser bilate- data da citação do processo em que o contratante
ral, apenas podendo ser unilateral. Se ambas as pede a sua resolução (a teoria não se aplica aos
partes tiverem culpa no inadimplemento, a culpa contratos de execução instantânea).

www.cers.com.br 28
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
E se o caso for de resilição do contrato, a A assertiva está errada, de acordo com a doutrina
decisão tem efeito retroativo ou não retroativo? os deveres anexos ou satelitários como integrantes
Quando falamos em resilição, estamos falando de da obrigação como um todo, e seu descumprimento
contrato de execução continuada, pois na resilição o se torna em ilícito contratual. Sobre o tema veja o
contratante quer interromper o cumprimento da sua Enunciado 24, CJF: “Art. 422: em virtude do princí-
prestação prolongada no tempo. Por isso, a resilição pio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código
do contrato tem efeito não retroativo ou ex nunc, Civil, a violação dos deveres anexos constitui espé-
não se desfazendo os efeitos produzidos até então, cie de inadimplemento, independentemente de cul-
mas apenas afastando a produção de efeitos daí pa.” E o disposto no art. 422 do CC: “Os contratan-
para frente, até porque não há qualquer causa jurí- tes são obrigados a guardar, assim na conlusão do
dica a gerar o seu término, apenas o acordo de contrato, como em sua conclusão, os princípios da
vontades em acabar com um contrato que produziu probidade e boa-fé.”
efeitos normalmente até então.
4. (CESPE - 2012 - AGU - Advogado da União)
QUESTÕES DE CONCURSOS Com base nas regras relativas à extinção e à reso-
lução dos contratos, julgue os itens subsequentes.
1 - (CESPE – 2015 – AGU - Advogado da União) De acordo com o STJ, contratada a venda de safra
A respeito dos contratos, julgue o próximo item à luz para entrega futura com preço certo, a incidência de
do Código Civil. pragas na lavoura não dará causa à resolução por
Se vendedor e comprador estipularem o cumpri- onerosidade excessiva, ficando o contratante obri-
mento das obrigações de forma simultânea em ven- gado ao cumprimento da avença.
da à vista, ficará afastada a utilização do direito de ( ) Certo ( ) Errado
retenção por parte do vendedor caso o preço não
seja pago. COMENTÁRIOS
( ) Certo ( ) Errado A afirmativa está correta, pragas em lavoura não
são consideradas como fatos imprevisíveis, não se
COMENTÁRIOS dando a resolução do contrato por onerosidade
A questão está errada, De acordo com o disposto excessiva, conforme podemos observar na ementa
no art. 491, CC: “Não sendo a venda a crédito, o do seguinte julgado:
vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes
de receber o preço.”.
DIREITO CIVIL. NÃO CARACTERIZAÇÃO DA
2 - (CESPE – 2013 - AGU - Procurador Federal) A "FERRUGEM ASIÁTICA" COMO FATO EXTRA-
respeito do negócio jurídico, das obrigações, dos ORDINÁRIO E IMPREVISÍVEL PARA FINS DE
contratos e da responsabilidade civil, julgue os itens RESOLUÇÃO DO CONTRATO.
a seguir.
Os contratos são passíveis de revisão judicial, ainda A ocorrência de “ferrugem asiática” na lavoura de
que tenham sido objeto de novação, quitação ou soja não enseja, por si só, a resolução de contrato
extinção, haja vista não ser possível a validação de de compra e venda de safra futura em razão
obrigações nulas. de onerosidade excessiva. Isso porque o advento
( ) Certo ( ) Errado dessa doença em lavoura de soja não constitui o
fato extraordinário e imprevisível exigido pelo art.
478 do CC/2002, que dispõe sobre a resolução do
COMENTÁRIOS contrato por onerosidade excessiva. Precedente
A afirmativa está correta. Trata-se do teor do verbe- citado: REsp 977.007-GO, Terceira Turma, DJe
te da Súmula n. 286, do STJ: "A renegociação de 2/12/2009. REsp 866.414-GO, Rel. Min. Nancy An-
contrato bancário ou a confissão da dívida não im- drighi, julgado em 20/6/2013. (Informativo n. 526)
pede a possibilidade de discussão sobre eventuais 5. (CESPE - 2009 - AGU - Advogado da União) No
ilegalidades dos contratos anteriores." que tange à responsabilidade civil, julgue o item
seguinte.
3 - (CESPE – 2012 - AGU - Advogado da União) Embora o CC somente tenha feito referência à boa-
Com relação à validade, existência e interpretação fé na conclusão e na execução do contrato, a dou-
de negócios jurídicos, julgue os próximos itens. trina entende haver lugar para a responsabilidade
O ilícito contratual caracteriza-se apenas pelo des- pré-contratual, a qual não se aplica aos chamados
cumprimento de regras expressamente convencio- contratos preliminares, mas aos contatos anteriores
nadas, devendo o descumprimento de deveres ane- à formalização do pacto contratual.
xos ser discutido na seara da responsabilidade civil. ( ) Certo ( ) Errado
( ) Certo ( ) Errado

COMENTÁRIOS

www.cers.com.br 29
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral
COMENTÁRIOS
A afirmativa está CERTA e tem por fundamento o
disposto no art. 422 do Código Civil: “Os contratan-
tes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé.” Insta mencionar também o
Enunciado n. 25 da I Jornada do CJF cujo verbete
dita que: “Art. 422: O art. 422 do Código Civil não
inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da
boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.”

6. (CESPE - 2009 - AGU - Advogado da União)


Com base na disciplina relativa à extinção dos con-
tratos, julgue os itens a seguir.
Para que o juiz resolva contrato entre particulares,
com base na aplicação da teoria da imprevisão,
basta a parte interessada provar que o aconteci-
mento ensejador da resolução é extraordinário, im-
previsível e excessivamente oneroso para ela.
( ) Certo ( ) Errado

COMENTÁRIOS:
A alternativa está ERRADA. De acordo com o art.
478 do Código Civil , para ser aplicada a teoria da
imprevisão além do acontecimento ensejador da
resolução ter de ser extraordinário, imprevisível e
excessivamente oneroso para ela, são requisitos
que o contrato seja de execução continuada ou
diferida e com extrema vantagem para outra parte.
Importante mencionar o Enunciado n. 365 da IV
Jornada do CJF cujo teor dispõe que: “Art. 478. A
extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada
como elemento acidental da alteração das circuns-
tâncias, que comporta a incidência da resolução ou
revisão do negócio por onerosidade excessiva,
independentemente de sua demonstração plena.”

7. (CESPE - 2007 - AGU - Procurador Federal -


Prova 1) No campo das obrigações e dos contratos,
várias novas teorias têm sido delineadas pela dou-
trina e pela jurisprudência. A esse respeito, julgue
os itens que se seguem.
A partir do princípio da função social, tem-se estu-
dado aquilo que se convencionou chamar de efeitos
externos do contrato, que constituem uma releitura
da relatividade dos efeitos dos contratos.
( ) Certo ( ) Errado

COMENTÁRIOS
A assertiva está certa, o princípio da função social
do contrato consta do Código Civil e pode ser vis-
lumbrado no art. 421 do referido diploma: “A liber-
dade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato.”

www.cers.com.br 30
OAB 1ª FASE XXI EXAME DE ORDEM
Direito Civil
Cristiano Sobral

GABARITO

QUESTÕES (DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES)

1-CERTO
2- ERRADO
3-CERTO
4- CERTO
5- ERRADO
6- CERTO

QUESTÕES (DIRETOS DOS CONTRATOS)

1- ERRADO
2-CERTO
3- ERRADO
4- CERTO
5- CERTO
6- ERRADO
7- CERTO

www.cers.com.br 31

Potrebbero piacerti anche