Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
C1
HISTÓRIA DA HIDROPONIA
1.1 -INTRODUÇÃO
O cultivo de plantas sem solo, técnica agrícola conhecida hoje por Hidroponia, de-
senvolveu-se ao longo dos anos a partir das experiências laboratoriais, levadas a efeito
por cientistas determinados a identificar quais substâncias compõem as plantas, bem co-
mo quais delas fazem com que essas cresçam e se desenvolvam.
Esta técnica, a qual já é aceite por muitos como ciência, desenvolveu-se também a
partir das pesquisas laboratoriais, sôbre nutrição de plantas.
Os documentos conhecidos, mostram-nos que tais pesquisas têm seu início nos
idos de 1600. Todavia, as plantas têm sido cultivadas sem solo, há muito mais tempo.
Na verdade, desde que se iniciou a vida aquática em nosso planeta.
As raízes dessa história vão desde a formação dos mares rios e lagos, à China an-
tiga. Da Arábia à Grécia de Aristóteles. Da Babilónia aos Estados Unidos. Do antigo
Egito ao povo Asteca. De Leonardo da Vinci a Joseph Priestley. De Robert Boyle a Fritz
Haber. Enfim, da Idade Antiga à Idade Moderna, e desta até aos dias atuais.
Para nosso pesar, extende-se nossa história da Primeira à Segunda Guerras Mun-
diais. No entanto, corre da fria Rússia aos desertos do Norte da África, do nosso Planeta
ao Espaço Sideral, e dêste, dentro em breve, para outros Planetas.
Como já dissémos, a hidroponia, como técnica agrícola, nasceu dos estudos sobre
a nutrição das plantas, razão pela qual é nosso entender, que tudo e todos aqueles que
se relacionaram e ou relacionem com estes estudos, sejam parte integrante de sua histó-
ria.
1
Manual de Hidroponia
C1
Estamos cientes de que algumas vezes sairemos um pouco da linha histórica que
pretendemos transmitir ao nosso leitor.
Porém, nossa intenção é desfazer alguns mitos, ou então melhor transmitir fatos
históricos não muito divulgados, e com isto, solidificar conhecimentos esparsos.
Acreditamos ainda que conhecendo os fatos históricos que aqui relatamos, o hidro-
ponista se tornará mais consciente das origens da técnica hidroponica, podendo assim
valorizar ainda mais aquilo que está utilizando ou pretende vir a utilizar.
Passará ainda nosso leitor a ter em mãos, informações que lhe permitirão defender
esta tecnologia, ainda tão combatida por razões meramente comerciais ou por outras ori-
undas do desconhecimento dos fatos reais que a ela deram origem
1.2 - O PASSADO
Outro registro bastante antigo sobre o cultivo sem solo, é o dos Jardins Suspensos
da Babilónia, os quais integram as Sete Maravilhas do Mundo Antigo.
No entanto, temos nossas restrições a este registro, pois, até esta data, não pode-
mos afirmar categòricamente que tais jardins tenham existido.
É comprovado, seja por fatos históricos, seja por passagens Bíblicas, e mesmo por
ruinas existentes até hoje, a existência de Babilónia, à margem leste do rio Eufrates, cêr-
ca de 50 Km ao sul de Bagdá, no atual Iraque.
Fig. 1.2 Jardins Suspensos de Babilónia (Aquarela mostrando como poderiam ter sido)
Os documentos mais antigos, que datam de 3000 anos A.C., falam de Babilon, que
floresceu no reinado de Hamurabi (1792 a 1750 A.C.).
Babilon foi capturada pelos Hititas em 1595 A.C., os quais mantiveram controle so-
bre a mesma, durante a dinastia Cassita, entre 1590 e 1150 A.C., época em que o nome
da cidade foi mudado para Babilonia, tornando-se capital central, e mais tarde, também,
centro religioso.
O curioso é que, todos os fatos históricos destas épocas, estão escritos em placas
de argila, as quais foram encontradas em escavações arqueológicas, porém, nenhuma
fala da existência dos Jardins Suspensos, apesar de descreverem com detalhes tanto a
cidade, como o palácio real e dependências de órgãos de governo, centros de comércio,
além das muralhas que cercavam a cidade.
Mais curioso ainda, é que os historiadores citam os jardins, como sendo a cobertu-
ra do palácio real, pelo que deveriam ser citados nas placas encontradas.
Dizia Diodorus Siculos: " A entrada dos jardins é inclinada, como a lateral de uma
colina, e as várias partes da estrutura erguem-se umas sobre as outras, fiada após fiada.
Sôbre tudo isto, foi amontoada a terra, e nela plantadas árvores de todas as espécies, as
quais pelo seu tamanho e beleza, proporcionavam encanto a quem as observava. As
máquinas de água elevavam-na em grande abundância desde o rio, embora não pudes-
sem ver-se".
Outra descrição diz - "O jardim é quadrado, e cada lado mede quatro "plethra"
(1 plethra ± = 100 pés ± = 30 metros) de comprimento. É formado de abóbadas em arco
apoiadas em fundações de blocos mais ou menos de formato cúbico. O acesso aos ter-
raços da parte superior, que formam a cobertura, é feito através de uma escada".
"O jardim suspenso tem plantas cultivadas acima do nível do solo, e as raizes das
árvores ficam embebidas num terraço superior, mas não na terra. Todo o conjunto é su-
portado por colunas de pedra".
"Correntes de água que emergem de fontes elevadas, fluem por canais inclinados.
Estas águas irrigam todo o jardim, saturando as raizes das plantas, mantendo toda a área
úmida. Assim sendo, a grama é permanentemente verde, e as folhas das árvores cres-
cem firmemente agarradas aos galhos flexíveis".
"Isto é um trabalho artístico de luxo real, e o detalhe mais chocante, é que o traba-
lho de cultivo fica acima das cabeças dos espectadores".
Seu trabalho está coalhado de incorreções, desde datas a épocas inteiras, além de
estar cheio de ficções, de caráter novelesco. Também é muito difícil utilizar-se a crono-
logia de Siculus.
Mas, sòmente no século XX é que alguns mistérios que cercam os Jardins Sus-
pensos começaram a ser revelados. Os arqueologistas continuam lutando para conse-
guir evidências, tentando chegar a uma conclusão final sôbre tais jardins, sua verdadeira
aparência, e seu sistema de irrigação.
No entanto, outras escavações mais recentes, mostram paredes sólidas com cêrca
de 25 metros de espessura, junto aos bancos de areia do rio, as quais poderiam ter tido a
conformação em degraus, para formação dos canteiros dos Jardins Suspensos, o que
confirmaria os relatos dos historiadores gregos.
O sistema de irrigação dos jardins, também foi descrito com detalhes por Berossus,
sacerdote Babilonio que viveu em torno do ano 200 A.C.
"Um quadrado de tijolos com cerca de 120 metros de lado, e 23 metros de altura.
5
Manual de Hidroponia
C1
A irrigação das flores e árvores, era feita com água do rio Eufrates, que era elevada dês-
Fig. 1.4 Jardins Suspensos de Babilonia - Desenho reconstrutivo de acôrdo com escavações arqueológicas
de esse até aos jardins, por um sistema de rosca sem fim, constantemente movida por
escravos que se revezavam em turnos."
"Esta água era suficiente também para formar pequenas, mas altas quedas de á-
gua artificiais, que lhes conferiam maior beleza. E nos canais condutores de água, exis-
tiam belas plantas que não eram plantadas na terra, mas que mesmo assim eram exube-
rantes e permaneciam sempre verdes, algumas das quais até se podiam comer".
Koldeway também verificou que várias das colunas de sustentação dos supostos
jardins, eram ôcas, deduzindo que, nos terraços por elas sustentadas, eram plantadas as
árvores, de forma que suas raizes penetravam pelas colunas, cheias de terra.
Já alguns dos historiadores gregos citados, dizem que a água de irrigação vinha
das montanhas, através de canais revestidos de pedra.
Como pode verificar-se, tudo são dúvidas e suposições. Nada de concreto, até
hoje, prova a existência dos Jardins Suspensos de Babilonia.
Porém, muitas conclusões podem ser tiradas dentre os relatos históricos aqui des-
critos.
Os métodos usados nos supostos Jardins Suspensos de Babilonia, tal como foram
descritos pelos historiadores que jamais os viram, deveriam ser conhecidos à época de
Nabucodonosor entre os anos 500 e 600 Antes de Cristo, ou, no mínimo à época de tais
historiadores, onde a mais recente, seria em 200 A.C., época de Berossus.
6
Manual de Hidroponia
C1
Cultivar plantas em água, sem uso de solo, também já era algo conhecido, haja
visto o que disse Berossus, "E nos canais condutores de água, existiam belas plantas que
não eram plantadas na terra, mas que mesmo assim eram exuberantes e permaneciam
sempre verdes, algumas das quais até se podiam comer".
Plantas produzidas em canais com água corrente? Isto é a pura hidroponia que
hoje conhecemos como Sistema Hidroponico NFT.
Sistema semelhante seria usado em época mais recente pelos Astecas, de quem
falaremos oportunamente.
Marco Polo, de quem já falámos, também nos relatou nos seus diários, bastantes
detalhes sôbre os jardins flutuantes da China, em tudo semelhantes às plantações flutu-
antes egípcias.
Êstes dois relatos, são típicos exemplos do que hoje chamamos de Sistema Hidro-
ponico de Leitos Flutuantes normalmente usados até hoje.
Quando Platão morreu, em 347 A.C., Aristóteles mudou-se para Atarnéia, na Mísia,
onde se casou. Sua mulher, parente do rei Hermias, propiciou sua entrada para a côrte.
Em 335 A.C., retorna para Atenas, onde funda sua própria escola, o Liceu de Ate-
nas, também denominada Escola Peripatética, porque o mestre ministrava suas aulas
7
Manual de Hidroponia
C1
Após a morte de Alexandre Magno em 323 A.C., foi duramente perseguido pelos
gregos anti-macedonianos, vindo a ser condenado à morte pelo Areópago (Tribunal Su-
premo de Atenas), após um refúgio na ilha de Eubéia.
Sua extensa obra filosófica, pela qual se tornou famoso, é bastante conhecida, po-
rém, seu trabalho científico, foi tão ou mais importante ainda.
Seus outros trabalhos, incluem "de Partibus Animalium (das Partes dos Ani-
mais),"de Generatione Animalium" ( da Reprodução dos Animais), e "de Motu Animalium"
( do Movimento dos Animais), e, nestes trabalhos, Aristóteles explica porque os animais
"são do jeito que são".
Foi o primeiro cientista que classificou os animais em dois grandes grupos: os ver-
tebrados, a que denominava como "sanguíneos", e os invertebrados, que denominou co-
mo "exangues".
Não sabemos ao certo se a criação do Jardim Botânico foi para ele próprio se dedi-
car ao estudo das plantas, ou se o fez para que seus alunos levassem a efeito tais estu-
dos, o que realmente aconteceu através de Teofrasto.
Grande filósofo, foi aluno de Aristóteles no Liceu de Atenas, do qual assumiu a di-
reção após a morte de seu fundador, pois era seu mais proeminente aluno.
Provàvelmente influenciado por seu mestre, dedicou a maior parte de seu trabalho
no estudo das plantas, o qual deu origem às suas obras "Historia Plantarum", e "Causis
Plantarum".
"Historia Plantarum", é uma introdução em nove volumes, nos quais o autor se de-
dica principalmente à descrição e classificação das plantas.
9
Manual de Hidroponia
C1
Aqui, Teofrasto explica os efeitos que as ações da natureza causam nas plantas,
como condições climáticas e condições de solo, comparando-as às ações do homem sô-
bre as mesmas, como irrigação, adubação e manejo.
Também divide as plantas em Raízes, Caule e Ramos. Não considera como es-
senciais, as folhas, as flores e os frutos, pois que são de renovação anual, e não perma-
nentes.
O conceito de flor (anthos) que utilizou, como sendo a parte da planta que rodeia e
protege os frutos, qualquer que seja sua aparência, é usado até hoje, como são usados
também os conceitos de folhas simples e compostas, e o de Pericarpo (perikarpion), co-
mo sendo a cobertura que protege as sementes.
Os títulos dos nove livros que compõem o "História Plantarum" de Teofrasto, são:
VI - Dos Sub-arbustos
VII - Das Plantas Herbáceas, Outras Que Não As Coronáreas: Plantas De Vaso E
Ervas Silvestres Similares
VIII - Das Plantas Herbáceas
IX - Dos Sucos Das Plantas E Das Propriedades Medicinais Das Ervas
Seu grande trabalho foi a escrita de um tratado sobre a descrição e uso de drogas
medicinais obtidas de plantas, nos anos de 60 a 78 D.C., cêrca de 400 anos depois de
Teofrasto.
Sua obra, composta de cinco volumes, intitulada "De Materia Medica", foi a primei-
ra farmacopéia sistemática que se conhece, e contém a descrição de cêrca de 600 plan-
tas, além de 4740 utilidades médicas e receitas de medicamentos.
Infelizmente, sua obra tão logo foi publicada, ficou perdida no Ocidente, e jamais foi
reintroduzida.
No entanto, foi integralmente preservada pelos Árabes, que a editaram várias ve-
zes, e a utilizam até hoje.
Parte de seu trabalho,sòmente começou sendo superado nos anos 1400, pelo mui-
to conhecido Philippus Aureolus Paracelsus cujo verdadeiro nome era Theophrastus
Bombastus von Hohenheim, médico e alquimista suíço, que viveu entre 1493 e 1541.
Fig. 1.7 Pedanios Dioscorides recebendo a mandrágora das mãos da Deusa das Descobertas
Ilustração do manuscrito em Latim do livro "De Materia Medica"
11
Manual de Hidroponia
C1
No prefácio de seu trabalho, diz Dioscorides ter viajado muito com o exército roma-
no, mas não é claro quanto ao ter feito isso na função de médico ou como farmacêutico.
É de se acreditar que o fez com ambas as atribuições.
Há muitas evidências, de que viajou tanto dentro como fora das fronteiras do Impé-
rio Romano pelo que teve grandes oportunidades para conhecer e estudar os mais varia-
dos tipos de plantas.
Os cinco volumes de "De Materia Medica", cada um com seu prefácio próprio são:
Na sua obra, surge-nos sempre uma pergunta: O que de fato Dioscorides quer
dizer quando fala das propriedades das plantas?
A lista dessas propriedades para cada planta, é longa. Uma descrição genérica
inclui aquecimento, pacificação ou amolecimento, adstringência, propriedades diuréticas,
secagem, cozimento, apuração, diluição ou afinamento, indução de sono, relaxamento,
limpeza, endurecimento, e, poder alimentício.
A riqueza nos detalhes de seus livros, mesmo os traduzidos para o Latim e especi-
12
Manual de Hidroponia
C1
almente para o Árabe, forçou-nos a transmitir ao nosso leitor parte deles, mesmo sabendo
que estamos pecando na extensão de nossas palavras, que poderão à primeira vista pa-
recer fugir ao nosso assunto principal.
Fig. 1.8 Planta e seus detalhes - Ilustração do manuscrito em Latim do livro "De Materia Medica"
Fig. 1.10 Pedanios Dioscorides e um aluno - Manuscrito em árabe do livro "De Materia Medica"
Ilustração de Yusuf al Mawsili - Mosul – 1228
Porém, o legado que nos ficou de Dioscorides, é de tal maneira valioso, que ainda
hoje, em toda a Europa, suas informações detalhadas e ensinamentos profundos, são a
base dos tratamentos fitoterápicos para cura de muitos males que afetam o ser humano.
Como se isso não bastasse, fazem parte de seu legado as informações referentes
às condições ambientais necessárias à produção de ervas medicinais e espécies aromáti-
cas em ambientes controlados, pelas diversas variantes da técnica Hidroponica.
O ser humano traz dentro de si, uma imensa capacidade destrutiva, que tanto atin-
ge seu meio ambiente, quanto o que estiver à sua volta. Consequência disso, quem sa-
be, dentro em pouco, seremos obrigados a procurar medicamentos naturais, partindo de
espécies vegetais produzidas hidroponicamente.
Eis porque demos aqui grande valor ao trabalho de Dioscorides, embora êste, dire-
tamente, não nos tenha dado nenhuma informação possível de ser considerada como
parte direta da História da Hidroponia.
Fig. 1.11 Videira com frutos e detalhes - Manuscrito em árabe do livro "De Materia Medica"
Ilustração de Yusuf al Mawsili - Mosul - 1228
Muito antes da ascensão do império Asteca, o hoje Vale Central do México já era o
centro de uma civilização altamente desenvolvida.
Uma bacia bastante fértil, o vale localiza-se a cêrca de 2.400 metros acima do nível
do mar, e no seu centro, existem cinco lagos que se conectam naturalmente, nos quais
existem algumas ilhas pantanosas.
Entre os anos 100 e 650 D.C. o norte do México era dominado pelo povo Tolteca,
reunido à volta da cidade conhecida como Teotihuacan, a qual era o centro de um estado
político, religioso e económico altamente poderoso.
Com o declínio de Teotihuacan o povo Tolteca migrou do norte para o México Cen-
tral, onde estabeleceram um estado de conquista.
15
Manual de Hidroponia
C1
Aqui, a civilização Tolteca atingiu o seu auge entre o século X e o século XII.
No século XIII, uma série de bandos de guerreiros vadios, os Xiximecas, cuja ca-
racterística comum era o falarem o idioma Nahuatl, invadiram o vale.
Fig. 1.12 Planta de mostarda com sementes e detalhes - Manuscrito em árabe do livro "De Materia Medica"
Ilustração de Yusuf al Mawsili - Mosul - 1228
16
Manual de Hidroponia
C1
O grupo que se acredita tenha fundado o Império Asteca, foi o dos Mexicas, em
meados do século XIII.
Este grupo, formado por caçadores, e o último a chegar ao vale, foi empurrado pe-
los grupos já estabelecidos, para duas ilhas no lado ocidental do lago Texcoco, um dos
cinco lagos do vale.
Os Mexicas acreditavam numa lenda, pela qual, deveriam estabelecer uma grande
civilização num local pantanoso, no qual deveriam primeiramente ver um cacto crescendo
das pedras, tendo sôbre ele uma águia empoleirada.
Para manterem segurança contra invasões de outros grupos, durante 100 anos
pagaram tributos a grupos vizinhos mais poderosos, especialmente aos Tepanec, da ci-
dade-estado de Azcapotzalco, a quem também serviram como mercenários.
Por volta de 1427, os Mexica de Tenochtitlan, formaram uma tríplice aliança com
as cidades-estado de Texcoco e Tlacopan (hoje Tacuba).
As terras das ilhas eram muito escassas, se bem que férteis, e as que foram con-
quistadas às margens do lago, embora também férteis, não eram suficientes para produzir
alimento na quantidade necessária à sua população crescente.
Para tornar as terras das margens mais férteis, mesmo sendo nas encostas de co-
linas à volta do lago, os Astecas desenvolveram sistemas de irrigação, e formaram terra-
17
Manual de Hidroponia
C1
Porém sua mais importante técnica agrícola, desenvolvida antes de terem conquis-
tado as terras das margens do lago, foram os "chinampas", também conhecidos como
"hortas flutuantes".
Estes eram pequenas ilhas flutuantes, criadas artificialmente, sobre as quais plan-
tavam verduras, milho (sua principal base de alimentação), arbustos frutíferos e flores.
Sua construção começava pela montagem de grandes jangadas feitas com feixes
de junco e caniço, firmemente amarrados uns aos outros.
Após serem colocadas a flutuar, eram cheias com terra lamacenta e altamente a-
dubada, retirada do fundo do lago, que era muito raso, formando assim um substrato.
Essa terra, onde eram feitas as plantações, mantinha-se bastante úmida, pois a
água onde flutuava o chinampa, irrigava-a por capilaridade.
As raizes dos salgueiros iam se desenvolvendo até o fundo do lago, e após se an-
18
Manual de Hidroponia
C1
Diz-se que, em dias de feira, estes eram arrastados para as margens, e a colheita
era feira no momento da venda.
O sucesso desta técnica passou então a ser utilizado como um processo de drena-
gem nas margens pantanosas do lago.
Estas camadas, escoradas lateralmente pelos salgueiros, iam afundando até en-
contrar camadas de solo rígidas, formando assim, leiras de terra sólida, entremeadas de
canais de água, por onde os agricultores se deslocavam com barcos.
Todos os ornamentos de ouro encontrados, foram fundidos para facilitar seu trans-
porte, e Montezuma foi obrigado a jurar vassalagem ao rei de Espanha. Os espanhois
ainda ficaram na cidade por cêrca de seis meses, sem oposição dos Astecas, período
este em que Cortéz regressou à Espanha.
Voltando ao ataque, Cortéz veio a derrotar os Astecas em 1521, cujas armas sim-
ples não superavam o aço e os canhões.
A queda de Tenochtitlan marcou o fim do Império Asteca, uma das maiores civiliza-
ções do mundo, e uma das únicas grandes civilizações nativas Americanas.
Tenochtitlan foi arrasada, e sôbre ela está hoje edificada a Cidade do México. Sua
catedral, foi erigida sôbre o Grande Templo Asteca, e o palácio do governo ergue-se sô-
bre onde um dia foi o palácio de Montezuma.
Ao correr do tempo, grande parte dos chinampas à volta da Cidade do México fo-
ram aterrados, bem como quase todo o lago Texcoco, em função do crescimento da Cida-
de.
Os fatos históricos que aqui relatamos, embora um pouco extensos, dão-nos antes
de tudo uma compreensão melhor da situação que levou toda uma civilização a buscar
soluções para sua sobrevivência.
Sem dúvida que esse deve ter sido um processo relativamente lento, cheio de ten-
tativas e coalhado de erros, ao longo do qual adquiriram uma série de conhecimentos de
alto valor.
Porém, se analisarmos os fatos históricos com algo mais de atenção, fica-nos uma
pergunta. Será que esse povo, sediado ao norte do México, não se sabe precisamente
originário de onde, teve de descobrir seu processo agrícola, ou já era dono do mesmo?
Afinal, processos muito semelhantes, e muito mais próximos do que é hoje o Sis-
tema Hidroponico de Leitos Flutuantes, existiam no Egito e na China, em épocas muito
anteriores.
Eis porque cabem aqui algumas restrições quanto à semelhança ou mesmo quanto
às conclusões de que os chinampas eram hortas flutuantes comparáveis ao atual sistema
hidroponico já citado.
Os relatos dos escrivães da expedição de Cortez falam dessas hortas e dêsse sis-
tema agrícola com grande admiração, pois jamais na Europa haviam visto ou experimen-
tado sistema agrícola tão eficiente e produtivo.
Desta feita, criaram-se alguns mitos, que permanecem até hoje, e ainda são manti-
dos divulgados em especial por guias turísticos de Xochimilco.
Entendamos que a hidroponia é uma técnica agrícola pela qual não se utiliza o so-
lo, e as plantas são mantidas com as raízes na água, a qual possui nela dissolvidos os
nutrientes necessários ao seu desenvolvimento.
Por essa razão ela também é conhecida como Cultura sem Solo.
22
Manual de Hidroponia
C1
Ora, os chinampas são constituídos por um solo, formado pelo lodo do fundo dos
lagos, em camadas intercaladas com plantas aquáticas como adubação verde.
Também não podemos afirmar com segurança que os chinampas eram hortas flu-
tuantes que em dias de feira eram arrastados para as margens dos lagos para comerciali-
zação dos produtos.
É preciso lembrar que os Astecas não conheciam a roda, e as cargas eram movi-
mentadas em sacos ou cestas carregadas nas costas dos agricultores. A movimentação
dessas cargas em barcos facilitava o seu trabalho.
Os lagos também eram povoados com peixes, e os canais lhes facilitavam não só a
pesca, mas também a caça de aves aquáticas.
Consideremos também alguns outros aspectos locais, que nos podem mostrar até
onde este povo era desenvolvido em técnicas agrícolas.
As águas dos lagos eram muito salinas, e essa salinidade, até certo ponto era re-
gulada pelas águas do degelo das neves das montanhas vizinhas, que às vezes causa-
vam cheias desastrosas.
Estes diques serviam também como vias de circulação de pedestres, e sôbre eles
também montavam hortas usando como solo o lodo retirado do fundo dos lagos.
Após a destruição dos Astecas, Cortez desmantelou estes diques para usar as pe-
dras na construção da nova Cidade do México, deixando as águas livres para inundar e
tornar férteis terras circunvizinhas.
Na verdade, ele destruiu tais terras, salinizando-as com as águas salinas dos la-
gos.
Assim é que muitos chinampas tiveram que ser reconstruídos, pois eram a base
para alimentação dos espanhois.
23
Manual de Hidroponia
C1
Mesmo assim, embora se diga que Cortez não destruiu os chinampas e a agricultu-
ra chinampeira, ele provocou em grande escala a sua destruição, da mesma forma como
destruiu toda uma civilização e sua cultura tão avançada.
Como dissemos, não vemos nenhuma semelhança dos chinampas com alguma
técnica ou sistema hidroponico.
Mas esse mito foi criado, e acreditamos irá permanecer por anos e anos.
Eis porque entendemos, como já dissemos anteriormente, que fazem parte da His-
tória da Hidroponia, tudo e todos aqueles que através dos séculos nos mostraram e ou
comprovaram que a água é fator primordial na sobrevivência e desenvolvimento dos se-
res do Reino Vegetal.
Poucas pessoas existem que não tenham ouvido falar deste eminente persona-
gem, no mínimo pelos seus trabalhos artísticos.
Filho ilegítimo de Antonio, filho mais velho (25 anos) de Ser Piero, com Catarina,
uma camponesa menor de idade. ("Ser" - título dado à ocupação de membro da família
tradicional de Notários Públicos ou Advogados).
Ser Piero era casado com Albiera di Giovanni Amadori, que tinha sòmente 16 anos
de idade, e consta que essa era sua quarta esposa. No total, teve onze filhos.
Leonardo era canhoto, e jamais, como era costume da época, teve oportunidade
para corrigir esta característica. Talvez isto lhe facilitasse escrever de forma espelhada,
da direita para a esquerda.
Não teve chances de ir para escolas adequadas, pelo que não sabia Grego nem
Latim. Não existem evidências de que sua falta de escolaridade, tenha tido alguma rela-
ção com a sua ilegitimidade paternal.
A falta de conhecimento do Grego e do Latim impediu seu acesso a livros que po-
deriam proporcionar-lhe aumento em seus conhecimentos, além dos que poderia obter
através de livros humanísticos escritos em Toscano.
24
Manual de Hidroponia
C1
Poderíamos aqui escrever muito sôbre a vida de Leonardo, porém, a parte dela que
nos interessa mais, é referente aos últimos sete ou oito anos de sua vida.
É preciso lembrar aqui, que, em 1499, os exércitos franceses haviam invadido Mi-
lão, então sob o domínio de Ludovico Sforza, depondo-o.
Como consequência de nova guerra que eclodiu ao norte da Itália, Leonardo veio
para Roma em 24 de Setembro de 1513, onde levou a efeito muitas experiências em
Química, para o seu então patrão Giuliano di Médici, irmão do Papa Leão X.
Fig. 1.17 Leonardo da Vinci (1452 a 1519) - Auto-retrato em carvão sobre papel
25
Manual de Hidroponia
C1
"A água é como se fora a alma das plantas, assim como os elementos minerais são
como se fossem a alma do solo".
"Se conseguíssemos transmitir para a alma das plantas a força da alma do solo,
talvez não necessitássemos dele para fazer as plantas sobreviverem e se multiplicarem".
"Acredito que num futuro que a mim não pertence, isso será possível".
Nos anos após o falecimento de Leonardo, não aparecem grandes estudos sobre
plantas, e tampouco registros de utilização de seus conselhos e orientações.
Porém, o conhecimento mais profundo das plantas, não só aquelas para fins ali-
mentícios, quanto as aplicáveis à medicina, foi sempre alvo dos cientistas.
E esse conhecimento, estamos certos que faz parte integrante da História da Hi-
droponia, pois que é a partir dele, que saberemos lidar com as plantas hidroponicas.
É assim, ois, que achamos serem parte da História da Hidroponia, cientistas e pes-
quisadores que se dedicaram com afinco à ampliação dos nossos conhecimentos sôbre
as plantas, que não sejam sòmente os relativos à sua nutrição.
Citemos, ois, Luca Ghini, nascido na Croara, próximo a Imola, na Itália, em 1490, e
falecido em 1556.
Luca Ghini foi o primeiro botânico a usar plantas sêcas para fins de estudos, crian-
do o primeiro herbário do mundo.
Seguidor assíduo de Dioscorides, cuja obra "De Materia Medica" era seu livro didá-
tico, orientava suas aulas no sentido prático, apesar de mesmo assim também criticar o
livro pelo qual se orientava.
Após fundar o Jardim Botânico de Pisa, que foi o primeiro jardim universitário desse
tipo em todo o mundo, ainda a convite de Cosimo I de Médici, em 1544, fundou o Jardim
Botânico de Florença, o qual, em antiguidade era o terceiro do mundo, após o de Pisa e o
de Pádua.
Começava nesta época também, com Paracelsus, o uso de produtos químicos para
a cura de algumas doenças.
28
Manual de Hidroponia
C1
No entanto, sua contribuição para a ciência foi sempre acompanhada por uma in-
compreensível adesão ao lado místico da pesquisa alquimista, embora fosse um grande
experimentador, sempre desejoso de melhor compreender o corpo humano.
Embora mais voltado para a medicina, foi, no entanto um dos grandes pesquisado-
res na área da Química, especialmente na busca e aplicação de compostos químicos pu-
ros.
Seu grande trabalho, que o distinguiu acima de tudo, foi como Botânico, na Univer-
sidade de Pisa, onde foi aluno de Luca Ghini, após a morte de quem, assumiu a direção
do Jardim Botânico.
O grande trabalho de Cesalpino, que o tornou imortal, está em seu livro "De Plantis
Libri XVI", publicado em Florença em 1583, e antes de Linnaeus, é a maior obra sôbre
Botânica jamais escrita. Por incrível que pareça, este livro não é ilustrado, o que contras-
ta muito com a obra de Dioscorides.
29
Manual de Hidroponia
C1
Cesalpino também usava plantas sêcas para seus estudos, tendo montado vários
herbários, um dos quais, e o mais importante, nos anos de 1550 a 1560, para o Bispo Al-
fonso Tornabono.
Este herbário, foi compilado no Jardim Botânico de Pisa, e está guardado no Mu-
seu Botânico de Florença. É composto de três volumes encadernados em couro verme-
lho, num total de 260 páginas, contendo 768 variedades de plantas.
Várias figuras de destaque na história tiveram sua participação nesta fase, inclusive
algumas que a muitos poderão parecer muito estranhas na área científica.
Filho mais novo de Nicolas Bacon, Lorde Guardião do Sêlo Real da Rainha Elisa-
beth I, entrou aos 12 anos para o Trinity College em Cambridge, vindo a formar-se em
Direito.
Concluiu que a água é o principal alimento das plantas, e que a principal função do
solo, é sustentar as plantas na posição vertical.
Concluiu ainda que, as plantas retiram seus nutrientes do solo, através da água, e
que, se cultivarmos uma planta num determinado volume de solo, ela retirará todos os
nutrientes nele contidos, até que tal parcela de solo não mais terá condições de alimentar
a planta considerada.
30
Manual de Hidroponia
C1
Para a época, eram conclusões até certo ponto, revolucionárias, mas temos que
considerar, que os conhecimentos de química eram muito pequenos, e, como ciência, a
Química começava ainda a dar seus primeiros passos, independente da Alquimia.
conheciam processos para produzir sua maior parte, seja em laboratório, muito menos a
nível comercial.
Mas a Hidroponia, ainda inexistente como técnica, estava prestes a dar o primeiro
passo. Não que este passo tenha na realidade iniciado a sua prática, pois muitos anos
decorreram até que isso acontecesse.
No entanto, ele foi marcante, uma vez que se baseou numa experiência determina-
da a colher um resultado comprobatório do que há muito se verificava, mas que era rele-
vado a planos secundários, ou seja, que o principal alimento das plantas, é a água.
Todo começou através de Johanes Baptiste Van Helmont, ou como é mais conhe-
cido, Jan Van Helmont.
Durante vários anos viajou pela Suíça, Itália, França e Inglaterra, e voltando ã sua
terra natal, fixou-se em Antuérpia durante a grande praga de 1605, onde contratou um
casamento rico, fixando-se em Vilvorde em 1609.
Por outro lado, era tocado pelos novos conhecimentos que produziam celebridades
como Harvey, Galileo e Bacon, sendo ao mesmo tempo um grande observador da nature-
za e um experimentador exato, que em alguns casos concluía que a matéria não pode ser
criada nem destruída.
Credita-se a ele a invenção ou criação da palavra “gás”, e afirmava que o “gás sil-
vestre” (nosso atual gás carbonico), produzido pela queima do carvão, era o mesmo pro-
duzido pelas fermentações, tornando a atmosfera das caves vinícolas, às vezes, insupor-
tável.
Negava veementemente que nem o fogo nem a terra eram elementos, e que esta
poderia ser convertida para água.
Seu grande trabalho, o tratado "De Magnetica Vulnerum" , também foi impugnado
no ano seguinte, e ainda foi condenado pela Universidade de Louvain, de 1622 a 1634,
por aderir às idéias de Paracelsus.
Foi colocado sob custódia Eclesiástica durante quatro dias, em 1634, e então,
transferido para o Convento Minorite em Bruxelas.
Após vários interrogatórios, foi colocado sob prisão domiciliar, a qual foi levantada
em 1636, porém mesmo assim os processos eclesiásticos contra ele, continuaram até
1642, e sòmente em 1646, após sua morte, sua viúva recebeu sua reabilitação oficial das
mãos do Arcebispo de Malines.
33
Manual de Hidroponia
C1
Por este motivo Van Helmont não publicou nada entre 1624 e 1642.
Embora fosse médico, sua carreira como tal foi muito curta, pois que, por princípio,
recusava-se a ganhar sua vida pelo sofrimento de seus semelhantes. Assim sendo, em
1605, abandonou a carreira médica profissional, e passou a praticar a medicina gratuita.
Em 1609, pelo seu casamento com Margarita Van Ranst, da classe média alta
Flamenga, assume como lorde feudal em Merode, Royenborch, Oorschot e Pellines, e
dos impostos aqui coletados, obtém suas rendas, com as quais subsidia seus trabalhos e
suas pesquisas científicas.
Neste particular, Van Helmont jamais recebeu subsídios, tendo mesmo recusado
tais proventos de várias ofertas feitas por Ernst da Bavária, pelo Arcepispo de Colónia, e
pelos Imperadores Rudolph II, Matthias, e Ferdinand II. Foi também apresentado à rai-
nha da Inglaterra, mas também recusou suas ofertas.
Acredita-se que a única ajuda que aceitou, foi a interferência de Maria de Médici,
nos processos que lhe foram movidos pela Igreja, o que não se confirmou até hoje.
De acôrdo com a Biografia Nacional da Bélgica, Van Helmont era membro da Or-
dem Rosacruz, o que não é confirmado por outros autores.
Nosso cientista plantou uma muda de salgueiro com 2,5 Kg de pêso, num vaso
com 100 Kg de terra adubada, coberta, para não receber poeiras e algum outro elemento
estranho. Durante 5 anos, regou esta planta com água da chuva coada (filtrada). E após
este tempo, pesando as partes, verificou que o salgueiro aumentou 80 Kg de pêso, en-
quanto a terra utilizada sòmente perdeu 1 Kg do seu pêso inicial.
Van Helmont considerou a perda de pêso da terra como erro de medição, e conclui,
com pertinência, que as plantas alimentam-se e se desenvolvem a partir da água.
Esta situação começa a reverter-se a partir de Johann Rudolph Glauber, nascido em Kar-
lstadt na Alemanha em 1604, e falecido na Holanda, em Amsterdã, em 10 de Março de
1670.
Mas, sua vida profissional também girou temporàriamente à volta da indústria viní-
cola, e através de sua empresa Dess Teutschlands-Wohlfahrt (de 1655 a 1661), defendeu
a exportação de vinho e cerveja, oferecendo receitas de concentrados estáveis, e fàcil-
mente exportáveis.
Esta foi uma, de uma série de inovações na indústria agrícola, que Glauber levou a
efeito para incrementar o comércio Alemão, ajudando sua recuperação após a guerra.
Nesta época, afirmou categòricamente: "O salpeter é o principal alimento das plan-
tas. Como os animais comem as plantas, e o salpeter é oriundo das mesmas, sendo re-
ciclado para o solo, através das fezes dos animais". Este foi o primeiro reconhecimento
da reciclagem de nutrientes na natureza.
O amonio resultante nitrifica-se produzindo o ion Nitrato que reage com o Potássio
também encontrado na urina dos animais, formando o Salpeter, ou Nitrato de Potássio.
Hoje, a uréia é sintetizada artificialmente, para uso como adubo.
Como pode ver-se, Glauber, um autodidata, além da contribuição que deu à agri-
cultura no campo de adubações, foi na verdade o primeiro industrial a fabricar produtos
químicos em escala comerciável. Foi como se vê, o fundador da primeira indústria quí-
mica do mundo.
Que importância terão estes fatos na Hidroponia? Sem os sais minerais solúveis
em água, para preparo de soluções de nutrientes, a Hidroponia torna-se extremamente
difícil, e em alguns casos, impossível.
36
Manual de Hidroponia
C1
Eis porque os livros escritos por cientistas, e mesmo a maioria dos livros didáticos
eram normalmente escritos em Latim, que era tido como idioma universal. Isto pode no-
tar-se pelos títulos de algumas obras que temos citado.
Da mesma forma, muitos cientistas hoje de renome, tiveram suas obras esquecidas
ou relegadas a segundo plano, porque não as escreveram em Latim. Sòmente em tem-
pos mais recentes, é que viemos a conhecer seus trabalhos, pois foram traduzidos para
outras línguas mais acessíveis modernamente.
Hoje, enfrentamos uma situação inversa. O Latim e o Grego não mais são ensi-
nados nas escolas e universidades, a não ser para aqueles que queiram dedicar-se ao
estudo dessas línguas.
Assim, para nós, torna-se difícil o acesso a obras de antigos cientistas, a não ser
que tenhamos traduções das mesmas para nosso idioma, ou no mínimo para idiomas ho-
je considerados internacionais, como o Francês, o Inglês e o Espanhol.
Eis porque verificamos, por exemplo, que o Médico, no mínimo, também era Filóso-
fo, Químico ou Alquimista, e conforme a época, Farmacêutico e Botânico.
Não nos esqueçamos que até Paracelsus, as terapias médicas eram naturais, e os
medicamentos bàsicamente fitoterápicos, na maior parte das vezes, preparados e forneci-
dos pelo próprio médico.
É muito fácil hoje, aliviarmos uma azia com aquela pequena dose de bicarbonato
de sódio dissolvida em água.
É muito natural, para nós, simplesmente respirarmos, ou usar nosso sôpro, para
enchermos as bolas de borracha que enfeitam as festas de aniversário de crianças.
Quem não sabe que a pressão de ar nos pneus dos automóveis aumenta nos dias
quentes, e diminui nos dias frios?
37
Manual de Hidroponia
C1
É certo que há trezentos anos, não tínhamos bolas de borracha para encher, e
tampouco pneus de automóvel para calibrar, mas tínhamos soluções ácidas e alcalinas
para identificar, e tínhamos azias para curar. E isso não era fácil.
Saber das horas? É fácil. É só olhar para o pulso, e consultar nosso relógio. Há
trezentos anos, teríamos que consultar o relógio da torre ou então prestar atenção nas
batidas de seu sino. Os mais velhos, em dias de sol, olhavam para a posição do astro, e
conseguiam dizer as horas até que bem certas.
O que tem tudo isto a ver com a História da Hidroponia, ou ainda, com a Hidroponia
em si? Tem, e muito.
Iniciou seus estudos no Eaton College de Windsor, sendo que dos doze aos de-
zessete anos continuou seus estudos com seu tutor e professor particular, na Suiça, país
que acaba escolhendo para residir, até 1644, quando retorna à Inglaterra, para viver com
sua irmã Catherine, Lady Ranelagh, na companhia de quem ficou sòmente um ano.
Retorna por curto espaço de tempo à Irlanda, onde por falta de laboratório, se de-
dica à dissecação anatomica.
De 1656 a 1668, fixou residência em Oxford, onde, já com boas condições financei-
ras, contrata como auxiliar, Robert Hooke, que o ajuda nas suas experiências com ar
comprimido, com vácuo físico, com a respiração e com a combustão.
Em 1660, publica seu principal trabalho, "The Sceptical Chymist" (A Química Cépti-
ca), que o tornou renomado em Física e Filosofia. Nesta obra, exprime seu pensamento
àcerca de certas teorias que acredita estarem erradas, como as de Aristóteles.
Nesta época, junto com Sir Christopher Wren (1632 a 1723), arquiteto e matemáti-
co, com John Wallis (1616 a 1703), matemático e William Brouncker (1620 a 1684), ma-
38
Manual de Hidroponia
C1
temático, funda a "Royal Society of London For The Promotion of Natural Knowledge", ou
simplesmente como a conhecemos até hoje, a "Royal Society", à qual, pouco tempo de-
pois, se junta Robert Hooke, assistente de Boyle.
Ainda nesta época, Boyle descobre as relações entre o volume dos gases e as
pressões a que estão submetidos, e estabelece a conhecida Lei de Boyle, ou Lei dos Ga-
ses Perfeitos.
Esta lei foi redescoberta alguns anos após por Edme Mariotte, pelo que passou a
chamar-se "Lei de Boyle-Mariotte", e por ela, Boyle conseguiu explicar o mecanismo da
respiração.
Publica outro livro em 1664, onde explica várias descobertas, entre as quais encon-
tramos o processo de digestão dos alimentos, e ainda, a propriedade apresentada pelo
suco das violetas, de mudar de coloração ao contacto de soluções ácidas ou alcalinas.
Boyle era um seguidor das idéias de Francis Bacon, o que muito influenciou seu
temperamento.
Fez várias tentativas para explicar os fenomenos químicos em termos de uma teo-
ria atomica. Seu sonho declarado, era emitir uma teoria corpuscular ou atomica, com a
39
Manual de Hidroponia
C1
Não conseguiu concretizar este sonho, porém, discutiu uma gama enorme de fe-
nomenos e processos químicos em termos atomicos.
Boyle conseguiu mudar completamente a visão da química como um todo. Sua po-
sição na Química é comparável à de Copérnico na Astronomia.
Porém, como na Astronomia, muitos anos tiveram de passar, para que a estrutura
da Química Moderna viesse a ser delineada por Lavoisier e por Dalton.
É difícil de acreditar, mas a grande verdade, é que até há pouco tempo atrás, não
se tinha conhecimento da existência de nenhum retrato ou gravura de Robert Hooke, o
grande auxiliar de Boyle. Até seu nome, ainda hoje, é relativamente obscuro.
E isto se deve, na maior parte, ao seu famoso, influente e vingativo inimigo e cole-
ga, Sir Isaac Newton. Por outro lado, segundo alguns biógrafos, isto se deve também a
que Hooke jamais se deixou retratar, por se achar, segundo suas palavras, "magro, torto,
e um homem feio".
Por esse motivo, achamos por bem colocar aqui um retrato de Sir Isaac Newton,
para que nosso leitor possa conhecer tão grande cientista, porém extremamente genioso
e traumatizado.
Aliás, Newton consumiu grande parte de sua vida em conflitos com diversos cien-
tistas, como Leibnitz e Flamstead, entre muitos outros, armando contra todos suas vin-
ganças, especialmente contra aqueles de quem recebeu colaboração para levar a efeito
seu trabalho.
Jamais admitiu críticas de quem quer que fosse, respondendo furiosamente a to-
das. Muitos acreditam que esta personalidade tenha sido causada pelo abandono a que
foi submetido enquanto criança.
40
Manual de Hidroponia
C1
Em Oxford, cidade onde conheceu Boyle, de quem se tornou empregado, para aju-
dá-lo na construção da bomba de ar, frequentou o Christ College.
Em 1665, foi nomeado para o Gresham College de Londres, onde foi professor de
Geometria durante 30 anos.
41
Manual de Hidroponia
C1
Em 1672, tentava provar que a Terra se movia numa órbita elíptica à volta do Sol,
e, seis anos mais tarde, para explicar o movimento dos planetas, propunha uma lei base-
ada no inverso dos quadrados das distâncias entre eles.
Hooke não foi capaz de fornecer as provas matemáticas de suas conjecturas, po-
rém, sempre clamou por sua prioridade na descoberta da lei dos inversos dos quadrados,
o que o levou à sua maior disputa com Newton.
Essa disputa chegou a tal ponto, que Newton, usou este fato como desculpa, para
retirar o nome de Hooke de seu livro "Principia".
Dentre suas invenções, podemos citar algumas, como a junta mecânica universal,
o sistema de diafragma íris, um protótipo de respirador artificial, o sistema de escapamen-
to de âncora e cabelo (mola espiral) pelo uso do qual se fazem os mais precisos relógios
mecânicos.
42
Manual de Hidroponia
C1
Desenvolveu para um microscópio de três lentes, que ele mesmo construiu, basea-
do na "luneta" de Huygens, um sistema de iluminação incidente, o qual, para o seu tempo,
foi o mais perfeito do mundo.
Através de seu microscópio, observou e estudou objetos tão diversos quanto inse-
tos, esponjas, briozoários, penas, e outros tantos. De tudo o que observou, fez os mais
detalhados e precisos desenhos, os quais foram publicados em "Micrographia".
Talvez a sua mais importante observação microscópica tenha sido a de finas lâmi-
nas de cortiça, onde pela primeira vez foram vistas as células. Na verdade, o que obser-
vou, foram as membranas das células, pois que a cortiça é formada pelas membranas de
células mortas.
Porém, ele as chamou de "células", pela semelhança que encontrou entre elas e as
células dos conventos religiosos, e foi o primeiro a fazê-lo. Esse nome permanece até
hoje.
Mas quando falamos de microscópio também nos lembramos de Antony Van Le-
euwenhoek, com quem Robert Hooke se correspondeu largamente.
Não tinha fortuna, não recebeu nenhuma instrução de grau universitário, e só fala-
va seu idioma, o Holandês. Isto seria o suficiente para ser excluído por completo da co-
munidade científica de sua época.
e de espírito muito aberto, completamente livre dos dogmas dos cientistas seus contem-
porâneos, obteve um enorme sucesso ao fazer algumas das maiores e mais importantes
descobertas na história da Biologia.
Suas descobertas, que circularam pelo mundo de então, abriram por inteiro o mun-
do microscópico ao conhecimento dos cientistas.
Foi educado numa escola comum de Warmont, após o que viveu com seu tio em
Benthuizen.
No ano de 1676, foi síndico da massa falida de seu amigo de infância, o pintor Jan
Vermeer.
44
Manual de Hidroponia
C1
veu fazer observações microscópicas após ter lido o livro "Micrographia" de Robert Hoo-
ke, que o próprio autor ilustrou.
Sabe-se que Leeuwenhoek construiu mais de 500 microscópios, dos quais apenas
cêrca de dez existem até hoje em museus.
Eram constituídos por uma pequena chapa de metal, onde era fixada a lente, dota-
da de um parafuso traseiro no sentido vertical.
Êste parafuso ficava atrás da lente, tinha um segundo parafuso que servia de trava
ao primeiro, o qual terminava por uma ponta, onde era espetada a amostra a ser analisa-
da. Não havia sequer uma boa regulagem de foco.
Embora muitos acreditem que Antony Van Leeuwenhoek tenha inventado o mi-
croscópio, isso não é a realidade, pois esse instrumento foi inventado em 1595 por Zacha-
rias Jansen, um holandês de Middleburg, quarenta anos antes de Leeuwenhoek ter nas-
cido.
Inclusive, há dúvidas quanto a Hooke ter construído seu primeiro microscópio, sen-
do que muitos acreditam que o comprou de Jansen, e sòmente desenvolveu o sistema de
iluminação.
ral.
Como não era habilidoso para desenhar, contratou um desenhista para desenhar
tudo o que descrevia seja oralmente, seja por escrito.
Suas cartas, escritas em Holandês, eram traduzidas para o Inglês e para o Latim, e
impressas no "Philosophical Transactions of the Royal Society", e muitas vezes reimpres-
sas em separado.
Em 1698, chegou a receber em sua casa o Czar Pedro "o Grande" da Rússia, a
quem demonstrou a circulação nos vasos capilares de uma enguia.
"Antony Van Leeuwenhoek considerou que aquilo que é verdadeiro na filosofia na-
tural pode ser investigado com melhores resultados pelo método experimental, suportado
pela evidência dos sentidos; por tal razão, com diligência e trabalho incansável fez suas
lentes, e com sua ajuda, descobriu muitos segredos da Natureza, que agora são conheci-
dos e famosos através de todo o mundo filosófico".
46
Manual de Hidroponia
C1
E como acontece frequentemente, o grande impulso rumo ao caminho que nos le-
varia finalmente à técnica hidroponica, vem de um personagem destituído dos grandes
conhecimentos científicos universitários.
Falamos de Sir John Woodward, aquele que na verdade foi o Grande Marco Inicial
da Hidroponia.
Aprendeu medicina prática, como aprendiz de Peter Barwick, médico do rei, entre
1684 e 1688.
Recebeu seu “Master Doctorate” como prémio especial concedido pelo Arcebispo
de Cantebury, em 1695, com o grau Lambeth, o que foi confirmado por Cambridge em
1697, porém não se conhece com certeza, em que formação ou profissão foi doutorado.
47
Manual de Hidroponia
C1
O interesse de Woodward pela ciência, foi muito variado, e durante suas viagens
no exercício da medicina, as quais começou a fazer muito jovem, estudou profundamente
as plantas, os minerais, e os fósseis.
Sua reputação ganhou corpo, quando apresentou um ensaio intitulado "Essay To-
ward a Natural History of the Earth" (Ensaio Sôbre a História Natural da Terra), em 1695,
o que foi uma teoria muito avançada para explicar a estratificação dos solos, com os fós-
seis nele incrustados, a partir de resíduos depositados provenientes de dilúvios ou de i-
nundações.
Insistia que os fósseis eram restos de animais e plantas que viveram em eras pas-
sadas, relacionando tais fósseis com a formação das rochas.
Por todo este trabalho, foi considerado como sendo a maior figura na Geologia In-
glesa.
Era muito genioso, arrogante, sensível e briguento, o que lhe valeu inúmeras inimi-
zades, porém, mesmo assim, em 1693 foi eleito membro da Royal Society, onde por vá-
rias vezes integrou o conselho administrativo, e foi também eleito membro do Medical Col-
lege e do Royal College of Physicians, em 1703.
Sôbre medicina, sòmente publicou um trabalho, "The State of Physick and of Dise-
ases", em 1718, o qual lhe valeu muitas discussões e brigas, as quais eram frequentes na
sua vida.
O Dr. Peter Barwick, médico do rei e seu instrutor de medicina, além de Robert
Plot, um de seus poucos amigos, influenciaram sua nomeação como professor do Gre-
sham College, onde lecionou entre l692 e 1728
Notou que realmente as plantas absorviam a água, pelo que tinha que completá-la
nos vasos de vidro onde as mantinha.
Porém quando mantinha o nível de água abaixo do colo das raízes, sua vida era
mais longa, pelo que passou a deixar sòmente cerca de metade das raízes imersas. Ho-
je sabemos, que as plantas absorvem Oxigenio pelo corpo das raízes.
Verificava também, que as plantas que mantinha em vasos com terra, sobreviviam
se a terra fosse periòdicamente regada. Não adiantava molhar as folhas.
Tomou então a decisão final, e dissolveu terra na água, deixando sedimentar a par-
te não dissolvida.
Na solução obtida, suspendeu plantas de menta, e verificou então, que elas sobre-
viviam, e se desenvolviam. Experimentou outros tipos de plantas, e outros tipos de terra,
e os resultados foram sempre positivos.
Porém, quando usava terra oriunda de locais de pisoteio de gado ou de aves, mui-
tas vezes, suas plantas morriam.
John Woodward jamais imaginaria que acabara de dar início à moderna tecnologia
Hidroponica.
Para o nosso cotidiano, sem dúvida que é mais fácil dizermos "alface", "tomate" ou
49
Manual de Hidroponia
C1
Como se isso não bastasse, a cada par de palavras em Latim, ainda se juntam
umas letras como "Lin", ou "Linn".
Mas se, por exemplo, estivermos nos Estados Unidos, e quisermos comprar umas
sementes de alface, uma vez que dominemos relativamente bem o idioma, poderemos
pedir Lettuce Seeds.
E isto acontece, porque todos os seres vivos, hoje estão classificados numa deter-
minada ordem, e de acôrdo com certas características que são peculiares para cada um.
E a cada ser vivo foi dado um nome. Porque o Latim desde tempos idos era con-
siderado língua universal, o nome foi dado nessa língua, para que tal nome fosse reco-
nhecido por qualquer pessoa, falando qualquer idioma.
E aquelas letras no final de cada nome? Bem, essas geralmente são uma home-
nagem a quem pela primeira vez classificou tal ser, ou algum personagem célebre dentro
do mundo científico. No nosso exemplo, "Lin", ou "Linn", são uma homenagem a Linna-
eus, ou melhor, a Carl Linnaeus.
Como já mostramos várias vezes ao longo destas páginas, desde a época de Teo-
frasto, que diversos cientistas e pesquisadores têm dedicado vários anos de suas vidas
na tentativa de estabelecer uma classificação para os seres vivos.
No entanto, a mais perfeita classificação dos seres vivos, começou pela classifica-
ção de plantas feita por Carl Linnaeus.
Temos juntado também esclarecimentos a certas dúvidas que persistem até hoje,
como é o caso dos Jardins Suspensos de Babilonia.
Porque então, não falarmos de um personagem, que conseguiu juntar todos os ci-
entistas mundiais ligados às ciências da vida na Natureza, sejam eles de ontem, de hoje
ou de amanhã?
Dizemos que juntou, porque que todos, a partir de certa data passaram a usar o
sistema de classificação de seres vivos, conhecidos ou a conhecer, idealizado por esse
cientista. Falemos então alguma coisa sôbre ele.
Carl Linnaeus, como foi seu nome de batismo, nasceu na Suécia, em Stenbrohult,
na província de Smaland, a 23 de Maio de 1707, vindo a falecer, vítima de um derrame
cerebral, em 1778.
Nos seus livros, Linnaeus usou seu primeiro nome, numa transformação para o
Latim, Carolus, mantendo seu sobrenome.
Em 1762, foi armado cavaleiro, e recebeu título de nobreza do rei Adolf Frederik,
tendo seu nome mudado para Carl von Linné. O "von" foi-lhe adicionado ao nome para
dar-lhe a marca da nobreza Alemã, dado que tal tipo de marca não existe na língua Sue-
ca. Na mudança de seu nome dotado de marca de nobreza, foi acentuado o "e".
51
Manual de Hidroponia
C1
Seu pai, Nils Ingemarsson Linnaeus, era um profissional jardineiro, e pastor Lute-
rano, ao passo que Carl, desde criança, mostrava um profundo amor pelas plantas e seus
nomes, desapontando enormemente sei pai, por não apresentar nenhum interesse pelo
sacerdócio.
Apesar disso, não tinha interesse pelo curso que seguia, aproveitando-se dele sim-
plesmente pelas aulas de Botânica, e gastando a maior parte de seu tempo em colecionar
e estudar plantas.
Temos que entender, que à época, os cursos de medicina eram muito completos
na cadeira de Botânica, uma vez que as terapias médicas eram essencialmente fitoterápi-
cas, e os próprios médicos preparavam os medicamentos que ministravam.
Em 1731, apesar de suas péssimas condições financeiras, Carl montou uma expe-
dição botânica à Laponia (no retrato de Linnaeus que mostramos, ele usa o traje Lapão
típico). Em 1731, montou mais uma expedição, também botânica, à Suécia central.
Nesse mesmo ano, publicou a primeira edição de seu livro "Systema Naturae", on-
de apresenta seu sistema de classificação dos seres vivos, passando a manter contato ou
a corresponder-se com os maiores botânicos da Europa, e continua a aperfeiçoar seu sis-
tema de classificação.
Seus últimos anos de vida foram marcados por incrível depressão, vindo a falecer,
como já dissémos, em 1778, vítima de um derrame cerebral.
Seu sistema de classificação era binomial, ou seja cada ser vivo recebia um nome
composto de duas palavras sendo a primeira o nome do genero do ser, e a segunda o
nome da sua espécie.
Muito se poderia falar de Carl Linnaeus, mas para tanto, fugiríamos exageradamen-
te à meta de nosso trabalho.
Além disso, durante o período em que se dedicava à classificação dos seres vivos,
a Química continuava avançando cada vez mais, com grandes descobertas, de enorme
importância para o conhecimento da Nutrição das plantas, e paralelamente, para o de-
senvolvimento da Hidroponia.
Ainda jovem decidiu seguir a carreira do Sacerdócio, e para tanto, estudou Latim,
Grego e Hebreu.
53
Manual de Hidroponia
C1
Ao saber que Priestley havia descoberto que o carvão vegetal era condutor elétrico,
pediu-lhe que editasse o livro "History of Electricity", que Benjamim havia escrito recente-
mente.
Durante toda a sua vida, Priestley se dividiu entre o sacerdócio e a ciência, para a
qual, desde jovem, sempre mostrara grande vocação.
Aos nove anos de idade, Priestley havia sido adotado por sua tia, Sarah Keighley, a
qual, como seu marido, era uma "Dissenter".
Os "dissenters" eram pessoas que pertenciam a outras igrejas, que não a Igreja da
Inglaterra, e neste grupo estavam incluídos os Católicos, os Quackers, os Calvinistas, os
Presbiterianos, e outros. Priestley era Presbiteriano.
A carreira religiosa de Priestley foi muito atribulada, e até certo ponto prejudicou-o
por toda a vida, porém, aqui dedicar-nos-emos mais à sua carreira científica.
Em 1766, foi admitido para a Royal Society. Em 1772, foi eleito membro da Aca-
demia Francesa de Ciências, e em 1780, nomeado membro da Academia de São Peters-
burgo, na Rússia.
Em Leeds, Priestley morava perto de uma cervejaria, e lá, descobriu uma maneira
de coletar o gás que exalava dos tanques de fermentação de cerveja, verificando posteri-
ormente que esse gás se dissolvia na água, e em outros líquidos.
Pensou que, dissolvendo esse gás no vinho, poderia fazer vinho gasoso, como a
cerveja, sugerindo que isso poderia também prevenir o escorbuto nos marinheiros, duran-
te as viagens longas.
Priestley conseguiu isolar uma série de gases, como o óxido de Nitrogenio, o amo-
nio, o dióxido de enxofre, o monóxido de carbono, e o dióxido de carbono, para o que
54
Manual de Hidroponia
C1
Queremos aqui fazer uma ressalva quanto à descoberta do Oxigenio por Priestley.
Na verdade, o Oxigenio foi descoberto pelo farmacêutico sueco Karl Wilhelm Sche-
ele, em 1772.
Porém, seu trabalho sòmente foi publicado e dado a conhecer ao mundo científico,
em 1777, pelo que Priestley o desconhecia.
Das muitas experiências levadas a efeito por Priestley, a que se tornou bastante
extensa e valiosa para nós, foi a do gás carbonico.
Como de seu hábito, nosso cientista procurava sempre as aplicações para os ga-
ses que descobriu, e notou que, quando colocava um rato dentro de uma campânula com
Oxigenio, este morria dentro de certo tempo.
Por outro lado, nas experiências com gás carbonico, sabendo que um rato não so-
breviveria numa campânula com esse gás, experimentou uma planta.
Para manter a planta viva dentro da campânula, ele a colocava numa solução de
solo, como já havia sido experimentado por John Woodward, e da mesma forma que es-
te, usou plantas de menta.
55
Manual de Hidroponia
C1
Com estes experimentos, também se conseguiu explicar mais uma parte das dife-
renças encontradas por Jan Van Helmont. O grande aumento de pêso de sua muda de
salgueiro, proveio não só da água, mas também do carbono que absorvera do gás carbo-
nico do ar.
Joseph Priestley, conhecido por sua calma, seu modo carinhoso de falar, mesmo
quando prègava no púlpito conseguiu conciliar a religião e a ciência, sem, no entanto mis-
turá-las, e foi tido como um dos grandes cientistas precursores da química moderna.
"I have been so happy as by accident to hit upon a method of restoring air which
has been injuried by the burning of candles and to have discovered at least one of the res-
toratives which Nature employs for this purpose. It is vegetation".
Uma das características de Priestley, a qual até certo ponto lhe foi prejudicial, era a
de relatar tanto os sucessos quanto os insucessos de suas experiências.
E assim ficamos sabendo que nem sempre tinha sucesso quando colocava plantas
em gás carbonico para obter Oxigenio. Quando fazia suas experiências em dias obscu-
ros ou encobertos, seus resultados eram negativos.
Descobriu também, que sòmente as partes verdes das plantas é que tinham a ca-
pacidade para produzir Oxigenio.
Além disso, também verificou, que havia uma razão direta entre a intensidade da
luz, e a produção de Oxigenio, ou seja, quanto maior a intensidade da luz, maior a quanti-
dade de Oxigenio produzida.
56
Manual de Hidroponia
C1
E, mais um passo foi dado, pelo fisiologista suíço, Nicholas Theodore de Saussure
(1767 a 1845).
Seu pai decidiu educá-lo, e com ele fez várias viagens e expedições científicas.
Foi membro da expedição de seu pai ao Monte Branco nos Alpes Suíços em 3 de
Agosto de 1787, e conduziu várias experiências que confirmaram o trabalho de Edmé Ma-
riotte sôbre o pêso do ar a várias altitudes.
57
Manual de Hidroponia
C1
Seu trabalho mais importante foi na área da fotossíntese. Ainda em 1804, de-
monstrou que as plantas ganham pêso, convertendo gás carbonico em Oxigenio e Carbo-
no.
Todavia, posteriormente verificou que havia um ganho de pêso nas plantas, maior
do que aquele devido ao Carbono, deduzindo que a água também podia ser incorporada
ao pêso das plantas.
Confirmou assim, em 1804, que a água também era parte integrante do processo
de produção de Oxigenio, e que é absorvida pelas raízes, e transpira pelas folhas.
58
Manual de Hidroponia
C1
Além disso, descobriu que o verde das folhas e outras partes das plantas, era cau-
sado por uma substância, que foi denominada "clorofila", sendo ela responsável pela ab-
sorção da luz, e pela transformação do gás carbonico em Carbono e Oxigenio, fenómeno
denominado por "fotossíntese".
Dos elementos químicos então conhecidos, de Saussure elaborou uma lista de no-
ve deles, encontrados nas plantas.
Como pode ver-se mais uma vez, os conhecimentos sôbre a Nutrição das Plantas,
foram se desenvolvendo juntamente aos da Química, e lentamente, nos processos de
pesquisa onde se envolviam plantas vivas dentro dos laboratórios, estas eram mantidas
em "soluções de solo".
Também, como já vimos anteriormente mais de uma vez, várias descobertas, fos-
sem elas ligadas à química ou não, influíram nos caminhos da Hidroponia ao longo de sua
história.
Talvez este tenha sido o caso do isolamento de vários elementos químicos, exem-
plo dos quais, seriam o Sódio, o Potássio, o Cálcio, e muitos outros.
Sem dúvida que eram elementos já conhecidos, mas como tantos outros, no seu
estado puro, eram às vezes um sonho.
Na sua maior parte, os elementos químicos puros conhecidos, eram os que se en-
contravam na natureza nesse estado, como era o caso do Enxofre e do Mercúrio.
E é nesta fase de nossa história, que nos aparece Humphry Davy, por muitos tam-
bém conhecido como Humphrey Davy. Não podemos afirmar se, pelo seu batismo, seu
nome correto seria Humphry ou Humphrey, porém, nos seus escritos, sempre assinava
Humphry, pelo que adotamos esta ortografia como sendo a correta.
Pela morte de seu pai, em 1794, viu-se obrigado a trabalhar para ajudar no susten-
to da família, o que fez como aprendiz do cirurgião e farmacêutico J. Binghan Borlase.
59
Manual de Hidroponia
C1
Assim, dedicou-se com afinco aos estudos de várias controvérsias sobre a química
de sua época, além de Ótica, Física, e Natureza da Eletricidade.
Isto despertou grande interesse nele por parte de Thomas Beddoes, que o reco-
mendou para o Pneumatic Institution of Bristol, organização dedicada ao estudo das apli-
cações clínicas de vários gases.
Assim é que, em 1800, publica seu trabalho "Researches, Chemical and Philoso-
phical", onde descreve os efeitos de vários gases, como os do monóxido de carbono, ob-
tido pela produção do gás da água, cuja inalação quasi o matou.
Nesta obra, inclui suas descobertas do efeito analgésico e anestésico do gás hilari-
ante, recomendando-o para uso na redução de dores em cirurgias, o que lhe rendeu a
nomeação de conferencista do recém fundado Royal Institution of Great Britain.
Account of a Method of Copying Paintings on Glass, and Making Profiles, by the Agency
of Light Upon Nitrates of Silver".
Davy fez as primeiras fotografias usando placas de vidro revestidas com Nitrato de
Prata, mas as imagens eram temporárias, ficando totalmente pretas ao separá-las dos
negativos, e em contato com a luz.
Desde a descoberta da pilha elétrica por Volta, em 1800, o que causou verdadeira
tempestade no mundo científico, Davy se interessou pelo seu estudo, tentando explicar
seu funcionamento, e procurando desenvolvê-la em aplicações práticas.
Como contava seu irmão, o Dr. John Davy, quando Davy observou os pequenos
glóbulos brilhantes de Potássio aparecerem no pólo negativo de sua cuba eletrolítica, co-
meçou dançando, cantando e pulando à volta de seu laboratório.
Seguido a isto, construiu a maior pilha do mundo, à época, com 2.000 elementos,
com a qual passou a alimentar sua cuba, e denominou o processo de decomposição ele-
trolítica, como "Eletrólise".
Isto foi uma honra internacional fora do comum, dado que nessa época, a França e
a Inglaterra estavam em guerra.
Em 1812, casa-se com Jane Appreece, jovem e rica viúva. Em 1813, contratou
como seu assistente, o então jovem Michael Faraday, que viria a tornar-se um dos mais
famosos e importantes cientistas da geração seguinte.
Pede então demissão do Royal Institution, e sai de viagem pela Europa, na compa-
nhia de sua esposa e de seu assistente, inclusive para a França, onde para entrar e viajar
teve autorização particular, entregue em mãos por Napoleão.
Viajou sempre com seu laboratório portátil, e fez inúmeros contatos no ambiente da
Europa Continental, onde realiza importantes trabalhos com Cloro.
61
Manual de Hidroponia
C1
O Cloro, já havia sido identificado e separado por Carl Wilhelm Scheele em 1774,
mas este identificou-o como "ácido marinho deflogisticado", que na Inglaterra era conheci-
cido por "ácido oximuriático".
Davy descobriu que esse "ácido" era um elemento, e batisou-o como Cloro, e ainda
que, reagindo-o com amonio, o resultado era um composto gasoso formado por Cloro e
Hidrogenio, e ainda Nitrogenio puro.
Esta lâmpada, que como todas as da época, era de chama, poderia ser usada nas
minas de carvão, comumente cheias de misturas de ar e metano, chamada de grisú, al-
tamente explosivo.
Jamais patenteou sua invenção, o que foi um erro, pois deu margem a que o enge-
nheiro ferroviário George Stephenson se creditasse de tal invenção. Porém, Stephenson
também não a patenteou.
Inquirido quanto ao patentear ou não sua invenção, dizia Davy: "Não, meus ami-
gos, nunca pensei em tal coisa. Meu único objetivo foi servir a causa da humanidade, e,
se tiver sucesso, estarei altamente premiado e recompensado por tê-lo feito".
Durante toda a sua vida, foi um poeta, mas nunca publicou seu livro de poemas.
Em 1827, ficou muito doente, e isso foi atribuído, mais tarde, ao abuso de inalação
de muitos gases, durante toda a sua vida.
A ciência de Humphry Davy foi motivada por problemas relativos à vida, à matéria,
a Deus, ao pensamento, e à imortalidade.
a realização de seu intelecto, e desta forma, penetrar nos segredos do Universo de Deus.
Talvez esta forma de pensar, mostrasse que Davy sentia-se singularmente avan-
çado na escala da existência.
Mostrou-nos que o ser humano, mesmo sem o saber, é um pesquisador por exce-
lência, característica típica e fundamental daqueles que são, ou pretendem vir a tornar-se
hidroponistas, a quem, provàvelmente caberá, em futuro próximo, boa parte da responsa-
bilidade na alimentação dos seres vivos.
Apesar dos princípios hidroponicos já começarem a tomar corpo, mesmo como prá-
tica laboratorial, nos anos de 1800 e mesmo em boa parte dos anos de 1900, resultado de
milenios de uso, adubar o solo com resíduos orgânicos, era a prática mais convencional
para se obterem melhores e maiores colheitas.
No entanto, o trabalho dedicado dos fisiologistas das plantas, nunca parou, tanto
aquele levado a efeito por mestres da ciência, quanto o concretizado por aqueles que se
atinham ao lado experimental.
Filho de um velho soldado que possuía uma tabacaria, e era burgomestre de Wet-
zlar, incapaz de suportar os liceus napoleonicos, formou-se de forma autodidata seguindo
os cursos públicos do Collège de France e do “Museum”.
Seu livro L’Économie Rurale, tornou-se uma sensação em 1843, e o consagra co-
mo o primeiro químico agrícola no mundo dessa época.
Entre 1860 e 1891, publica uma série de trabalhos sob o título Agronomie, Chimie
Agricole Et Physiologie, que ràpidamente foi traduzido para o Inglês e para o Alemão.
64
Manual de Hidroponia
C1
Confirmou que a água é essencial ao desenvolvimento das plantas, pois é dela que
elas retiram Oxigenio e Hidrogenio.
Analisando a matéria seca vegetal, verificou que esta era essencialmente constituí-
da por Oxigenio, Hidrogenio e Carbono, bem como de outros elementos minerais que pro-
vinham do solo, dissolvidos na água que usava.
Consequência do seu trabalho teve que abandonar a escola secundária com ape-
nas 16 anos, retornando ao estudo de química e farmacologia, em 1820, recebendo seu
doutorado em 1822.
Mudou-se para Paris, para continuar seus estudos junto aos melhores professores
da época, tendo estagiado e permanecido como funcionário do laboratório particular de
Gay Lussac, o mais conceituado químico da época.
Neste laboratório, seu trabalho com o ácido fulmínico, levou seu nome ao conheci-
mento do mundo da química.
Assim foi que, por insistente recomendação de Alexander von Humboldt junto ao
Grão Duque de Hessen, Liebig foi nomeado professor extraordinário de química, na Uni-
versidade de Giessen, em 1824.
65
Manual de Hidroponia
C1
Já em 1825, Liebig era apontado como o melhor, o mais perfeito e o mais organi-
zado professor da Universidade.
Pelo seu trabalho, até hoje é conhecido como o pai da química orgânica, e foi con-
siderado o maior químico de sua época.
Emitiu a teoria dos radicais químicos (em conjunto com Friedrich Woehler, profes-
sor de química da Universidade de Berlim, e posteriormente na Universidade de Goettin-
gen), descobriu a isomeria e a polivalência dos elementos químicos.
Seu maior trabalho foi dedicado à química agrícola, e em 1840, publicou sua obra
Agrikulturchemie (Química Agrícola), onde descreve seus trabalhos sobre a aplicação da
química orgânica à agricultura e à fisiologia vegetal.
Emitiu então a "Lei dos Mínimos", que estabelece serem as produções agrícolas,
proporcionais à quantidade do nutriente mais limitante, qualquer que seja ele.
Por esta lei, conclui-se que, se fornecermos ao solo o nutriente deficitário, aumen-
taremos a produção de determinado plantio ao máximo que dito solo pode produzir, até
ao ponto em que outro nutriente passe a ser deficitário, aplicando-se então a mesma lei, a
este último nutriente.
Em sua homenagem, após a Segunda Guerra Mundial, foi dado seu nome à então
Universidade de Giessen, que hoje se chama Universidade Liebig, e, em 1955, o ex- pre-
sidente alemão, Prof. Theodor Heuss, falando de Liebig, disse "Nenhuma outra pessoa
deu a tantas outras, a possibilidade de viver".
Hoje, podemos adubar solos com facilidade e com adubos corretamente formula-
dos. Podemos analisar com certa facilidade e rapidez os compostos orgânicos que com-
põem as plantas. Podemos fazer análises de solo corretas, e baseados nelas, corrigir as
deficiências de nutrientes de acôrdo com o cultivo que vamos efetuar.
67
Manual de Hidroponia
C1
Fig. 1.36 Laboratório de Fisiologia e Química Analítica de Justus von Liebig (Museu Liebig - Giessen - Alemanha)
Os livros que escreveu, eram de tal forma bem ilustrados, e com desenhos deta-
lhados com tanta precisão, que imediatamente se tornaram livros padrão para ensino em
todas as escolas de botânica do mundo. Ainda hoje, as ilustrações de tais livros, são
copiadas para ilustrar trabalhos e livros de outros autores.
Em 1868, publicou "Textos Sôbre Botânica" (Lehrbuch der Botanik), em 1875, "His-
tória da Botânica" (Geschichte der Botanik) e, em 1882, "Leituras Sôbre Fisiologia das
Plantas" (Vorlesungen Uber Pflanzenphysiologie).
A quase totalidade das plantas que utilizou para pesquisas laboratoriais, foram cul-
tivadas em soluções aquosas de nutrientes, utilizando-se das técnicas descobertas e de-
senvolvidas de Boussingault e Horsmar.
69
Manual de Hidroponia
C1
Isto marcou, o final de uma longa pesquisa na busca do conjunto e proporções dos
nutrientes vitais para as plantas, e na verdade, deu um parâmetro de partida não só para
o aperfeiçoamento das soluções de nutrientes, como também para o início de uma nova
tecnologia.
Estas investigações sobre nutrição das plantas, que hoje podemos dizer que foram
preliminares, demonstraram que é possível conseguir o desenvolvimento normal de uma
planta, imergindo suas raízes numa solução aquosa de sais de Nitrogenio, Fósforo, Enxo-
fre, Potássio, Cálcio e Magnésio.
Uma vez descoberto que a água adicionada dos elementos químicos selecionados,
e nas quantidades equilibradas, suportam a vida das plantas, em 1920 foram estabeleci-
dos padrões para a preparação laboratorial de culturas em água, bem como os métodos
para sua utilização.
Muitas de suas fórmulas são usadas até hoje, em trabalhos de laboratório nas pes-
quisas de fisiologia e nutrição de plantas.
Porém, o que podia concluir-se quando eram usados, era que determinada solução
era mais ácida ou menos ácida, ou mais alcalina ou menos alcalina, podendo ainda verifi-
car-se a reação neutra.
Não havia uma escala lógica para medição, apesar de os cientistas citados, sem o
notarem, já começassem a delineá-la, especialmente a partir da recomendação de Frie-
denthal, para que se usasse a concentração ionica do Hidrogenio para caracterizar as
71
Manual de Hidroponia
C1
soluções.
Definida uma escala, poderiam, então fazer-se medições mais precisas da acidez e
ou alcalinidade das soluções.
Sua mãe faleceu durante o parto, pelo que foi filho único durante os primeiros anos
de sua vida, até o segundo casamento do pai, do qual teve três irmãs que lhe devotaram
muito afeto, embora fosse sempre dez anos mais velho do que sua irmã mais velha.
72
Manual de Hidroponia
C1
Foi um enteado muito devotado e amoroso, e era seu hábito presentear a madrasta
com lírios brancos na época do Natal.
O currículo desta escola estava centrado em Humanidades, pelo que estudou La-
tim, Grego, Literatura e Filosofia. O pouco que lhe era ensinado em ciências, era uma
mistura de Religião, Filosofia, e um estudo da natureza a que chamavam História.
Como era típico dos homens de sua época, acreditava fortemente no progresso e
iluminação da mente através da cultura.
Para tanto, trabalhou com Ludwig Knorr em Jena, com quem publicou um trabalho
de estudo do éster diacetosuccínico.
Em 1911, foi apontado para suceder Engler como Diretor do Instituto de Física e
Eletroquímica em Berlim-Dahalen, aí permanecendo até 1933, quando as leis racistas do
Nazismo obrigaram à demissão de todos os seus colaboradores, em apoio aos quais Ha-
ber também se demitiu.
Foi então convidado por Sir William Pope a ir para Cambridge, na Inglaterra, onde
permaneceu por pouco tempo, pois era cardíaco, e tinha receio dos invernos rigorosos.
73
Manual de Hidroponia
C1
Em 1898, Haber publicou seu primeiro livro de textos sobre Eletroquímica, baseado
em suas conferências na Universidade de Karlsuhe, e nesse trabalho, expressou suas
intenções de dedicar-se à pesquisa da Química para processos industriais.
Mesmo assim seu trabalho não parou, embora muitas vezes lamentasse a utiliza-
ção do "gás mostarda" (dicloro-dietil-sulfeto), de seu descobrimento, durante a Primeira
Guerra Mundial.
Mas, em sua máxima, dizia: "Em tempos de guerra, um cientista pertence à sua
pátria, e em tempos de paz, pertence à humanidade".
Porém a grande descoberta de Haber, que mais uma vez o relaciona profundamen-
te à Hidroponia e à agricultura como um todo, foi a síntese do amonio, a partir do Nitroge-
nio e do Hidrogenio gasosos, retirados do ar.
Quando em 1905, publicou seu trabalho sobre termodinâmica das reações dos ga-
ses, já mencionava que tinha conseguido pequenas quantidades de amonio, partindo de
o
Nitrogenio e Hidrogenio, aquecidos a 1000 C, usando Ferro como catalisador.
trial.
Haber viveu para a ciência, seja por satisfação pessoal, seja pela influência que
tinha na moldagem da cultura e da civilização humana.
O solo das estufas precisa ser substituído periòdicamente, para poderem resolver-
se problemas com sua estrutura, pragas, e fertilidade.
Até 1930, a maior parte do trabalho desenvolvido com culturas sem solo, foi sem-
pre orientado no sentido dos experimentos laboratoriais com plantas.
E é entre o final de 1929 e início de 1930, que o Dr. William Frederick Gericke, en-
genheiro agronomo e professor de nutrição de plantas na Universidade da Califórnia, em
Berkeley nos Estados Unidos, extendeu seus trabalhos laboratoriais sôbre nutrição de
plantas, para plantações desenvolvidas em campo, visando aplicações comerciais.
Não sabemos muito sôbre a vida de Gericke, seja a nível familiar, seja a nível esco-
lar. Até na Universidade da Califórnia, onde trabalhou, pouco se registrou sôbre sua vi-
da.
75
Manual de Hidroponia
C1
76
Manual de Hidroponia
C1
Uma das plantas de que se orgulhava, era uma bananeira que crescia hidroponi-
camente até ao cume de uma de suas estufas.
Em Abril de 1937, numa entrevista para a revista Time, discutiu e expressou sua
preocupação em dar um nome para sua técnica de cultivo.
77
Manual de Hidroponia
C1
Aqui, acreditamos que desempenhou um grande papel, seu colega de corpo do-
cente da Universidade, o Dr. William Albert Setchell.
De 1890 a 1895, lecionou Biologia e Botânica em Yale, e de 1895 a 1934 foi pro-
fessor e diretor do departamento de Botânica na Universidade da Califórnia em Berkeley,
quando se tornou colega e amigo de Gericke.
O maior interesse científico de Setchell era o estudo de algas, e neste assunto tor-
nou-se uma grande autoridade mundial.
Dentre suas contribuições científicas, uma das mais importantes foi o estudo e elu-
cidação do papel das algas na formação dos recifes de corais.
78
Manual de Hidroponia
C1
Gericke gostou dêsse nome, porque, como dizia, “é uma conotação forte, economi-
ca e útil e, além disso, lembra a palavra “Geoponics (Geoponya), o termo usado na Idade
Média para conotar Agricultura”.
Isto gerou um mito que permanece até hoje, pelo qual se credita a Gericke a inven-
ção da palavra Hydroponics (Hidroponia).
Na verdade, Hidroponia é uma palavra comum do idioma grego, e pode ser encon-
trada em qualquer dicionário, seja do grego antigo seja do grego atual.
Note-se que em Grego, água é Hydor, e não Hydro. Além disso, no Grego atual,
Ponos significa dor, e no Grego antigo, Ponos significa trabalho, no sentido do "resultado
de um trabalho físico executado" (ex.: o quadro executado por um pintor, ou o livro escrito
por um escritor). Assim, o termo usado é Ponos do grego antigo.
Devemos notar também que em Grego, Hydor é uma palavra do genero feminino.
Por outro lado, Ponos apresenta três generos, a saber, Masculino, Feminino e Neu-
tro, respectivamente, Ponos, Ponya e Ponion.
Em Grego, para juntar duas palavras e formar uma palavra composta, ambas ne-
cessitam estar no mesmo genero, e assim temos que usar as palavras HYDOR + PONYA.
Nas línguas latinas, o “Y”s são substituídos por “I”s, e temos finalmente HIDRO-
PONIA.
É bom lembrar que antigamente tanto em Portugal como no Brasil, o “Y” era co-
nhecido como “I grego”, e ainda que em Grego, existem cinco “I”s. Conforme o “I” utiliza-
do, uma mesma palavra grega pode ter cinco significados diferentes.
Vemos assim, que foi o Dr. William Albert Setchell, e não o Dr. William Frederick
Gericke, quem denominou a nova técnica agrícola como Hidroponia. Também vemos
que nem Setchell nem Gericke inventaram ou formaram essa palavra.
Quizemos aqui simplesmente esclarecer nosso leitor, e quem sabe, quebrar esse
mito, que acreditamos permanecerá por muito tempo, senão para sempre.
79
Manual de Hidroponia
C1
Nosso cientista tinha até um fã clube, no qual chegava a receber 500 cartas por
semana.
Sabe-se também que tentou patentear a sua técnica, mas nisso não teve sucesso,
pois que a hidroponia é uma técnica agrícola, e como tal, é de domínio público. Conse-
guiu apenas patentear um tanque para dissolução dos sais minerais usados na prepara-
ção das soluções nutritivas.
Quando inquirido sôbre se desejava fazer fortuna com sua invenção, apenas sorria,
mostrando seus dois dentes de ouro. Jamais cobrou taxas de consultoria de ninguém, e
sempre dizia: “Tudo o que eu quero é que tenham sucesso e ganhem dinheiro para que
possam ajudar-me a prosseguir com minhas experiências”.
Imediatamente após o início da utilização de sua técnica por vários agricultores, al-
gumas companhias começaram a vender sais nutrientes e misturas de sais para agriculto-
res amadores e para alguns profissionais.
Com isto, dizendo ter obtido informações sigilosas de Gericke, conseguiu incorpo-
rar-se à Chemical Garden Co., que passou a produzir e vender misturas de sais para so-
luções nutritivas, além de contratar um fisiologista de plantas treinado, e instalar tanques
hidroponicos para pesquisa.
80
Manual de Hidroponia
C1
Diziam com desprezo que por um lado, Gericke mantinha muito segredo de suas
pesquisas e desenvolvimentos técnicos, e por outro estava mais preocupado com publici-
dade e comercialização.
Talvez por estas dificuldades de relacionamento, poucos dos seus trabalhos foram
publicados pela Universidade, sendo um dos raros, denominado “Some Effects of Salts on
the Absortion of Water by Seeds”.
Através de uma editora não ligada à Universidade, em 1940, publicou o livro “The
Complete Guide to Soilless Gardening”, onde descreve seu trabalho de anos em cultivos
hidroponicos, obra até hoje necessária na biblioteca de qualquer pesquisador de hidropo-
nia.
E pela primeira vez, em Maio de 1938, a hidroponia sai das fronteiras continentais
dos Estados Unidos.
Sua finalidade? Abastecer seu pessoal fixo e as suas aeronaves com frutas e ver-
duras frescas, tudo sob a orientação graciosa do Dr. William Frederick Gericke.
Tentamos aqui mostrar algumas facetas que conseguimos levantar da vida dêsse eminen-
81
Manual de Hidroponia
C1
te cientista, a quem o mundo tanto deve, e como sói acontecer, incompreendido e desva-
lorizado até nos centros de pesquisa onde desenvolveu seu trabalho.
O termo Hidroponia, hoje, abrange um conceito mais amplo, sendo usado para
descrever os vários métodos pelos quais podemos cultivar plantas sem solo.
Estes métodos, muitas vezes também conhecidos como jardinagem sem solo, in-
cluem a cultura de plantas em vasos com de água, junto com qualquer substrato inerte.
Esta água será sempre, na verdade, uma solução aquosa de nutrientes.
O substrato poderá ser cascalho, areia, vermiculite, além de outros mais exóticos,
tais como pedra britada, fragmentos de lava vulcânica, e mesmo, poliestireno expandido
(Styrofoam - Isopor), ou aparas de PVC (cloreto de polivinila).
Há várias razões para substituir o solo por um meio estéril. As pragas provenien-
tes do solo são eliminadas, bem como também o são, as ervas daninhas. Desta feita, o
trabalho na eliminação de tais ervas, bem como aquele dispendido na vigilância das plan-
tas, é fortemente reduzido, quando não, eliminado.
Um dos fatores mais importantes da Hidroponia, é que, pela sua prática, podemos
aumentar a densidade de plantas, ou seja, podemos cultivar mais plantas por unidade de
área de cultura, a níveis maiores do que os permitidos no solo, razão pela qual esta técni-
ca proporciona maior produtividade.
Este processo permite que se exerça maior controle sobre as plantas, conseguin-
do-se com isso assegurar resultados mais uniformes, pois que se mantém um perfeito
relacionamento delas com seu meio de desenvolvimento.
As plantas não necessitam do solo, mas da reserva de água e nutrientes nele con-
tidos, os quais necessàriamente deverão estar dissolvidos, para que estas consigam ab-
sorvê-los . Quanto ao resto, o solo servirá apenas como seu meio de suporte.
Quando plantamos num meio de crescimento inerte, sem reserva própria de nutri-
entes, podemos estar certos de que as plantas irão procurar seu alimento na solução nu-
tritiva com que iremos umedecer tal meio.
O Dr. Gericke cultivou vários vegetais na água, incluindo os aproveitados pelas raí-
zes, como beterrabas, rabanetes e cenouras, e os aproveitados pelos tubérculos, como
batatas.
Apesar de muito espetacular, seu sistema era prematuro para aplicações comerci-
ais, pois apresentava-se muito sensível, exigindo monitoramento técnico constante.
Além desses conhecimentos ainda não serem acessíveis a qualquer um, o sistema
exigia também bastante engenhosidade na sua construção.
Mesmo assim, a imprensa americana fez o seu habitual estardalhaço, dizendo que
havia sido feita a descoberta do século, no que não deixava de haver uma pequena par-
cela de razão.
Rico, Hawai, Israel, e Índia. Nos Estados Unidos, já agora sem grande conhecimento
público através da imprensa, a Hidroponia tornou-se um grande negócio, e mais de qui-
nhentas estufas foram instaladas para produções hidroponicas.
A técnica do Dr. Gericke provou, por si só, ser capaz de produzir alimentos para
tropas do exército americano acampadas nas ilhas desérticas do Pacífico.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o envio de vegetais frescos para postos ultra-
marinos nas ilhas do Pacífico, era demasiadamente caro e pouco prático, e as ilhas onde
se localizavam tais postos, eram desérticas, e inadequadas à agricultura.
Assim é que as Forças Armadas Americanas fizeram com que a Hidroponia pas-
sasse pelo seu maior teste de viabilidade, quando montaram em tais ilhas, várias instala-
ções de tanques hidroponicos com cascalho, para produção de verduras.
Uma das várias instalações hidroponicas montadas pelo Exército Americano, foi na
Ilha de Ascensão no Atlântico Sul, região completamente árida, usada para descanso e
reabastecimento de tropas.
O pessoal permanente na ilha era bastante numeroso, dado que na mesma, tam-
bém se fazia o serviço de manutenção de aviões. O suprimento de alimentos para este
local, era feito por via marítima e aérea, e a falta de vegetais frescos, era um problema
constante.
84
Manual de Hidroponia
C1
Tanto o Exército Americano quanto a Real Fôrça Aérea Inglesa montaram suas
instalações hidroponicas, que produziram milhares de toneladas de vegetais, as quais
alimentaram milhares de militares.
Era prática japonesa adubar suas hortas com dejetos humanos compostados, e
assim sendo, seu solo e suas verduras eram infestadas de amebas e várias outros vírus.
Curiosamente, o povo local era imune a tais infestações, provàvelmente por terem
seus organismos adaptados através dos séculos, ao contacto e ingestão dos causadores
dessas doenças gastrointestinais, o que não acontecia com os ocidentais.
Assim sendo, estes evitavam comer vegetais “in natura”, para evitar ditas doenças.
É sabido que sòmente cêrca de trinta por cento das vitaminas assim produzidas
são assimiladas pelo organismo humano, e este tratamento gerava custos exorbitantes,
os quais aumentavam ainda mais quando se traziam vegetais “in natura” de fontes muito
distantes para tentar resolver esta situação.
Convém notar, que foi nesta época que os japoneses conheceram a hidroponia.
Certo é, que hoje temos imensas instalações no Japão, mas até bem pouco tempo
atrás, neste país ainda não se usavam técnicas muito atualizadas.
85
Manual de Hidroponia
C1
pelos Estados Unidos, especialmente na Flórida, a maioria a céu aberto, sujeitas aos ri-
gores do tempo.
Além disso, os metais usados nas tubulações e válvulas, também afetavam as so-
luções, especialmente o Zinco e o Ferro utilizado nos tubos de Ferro galvanizado, que se
corroem fàcilmente, sendo que seus componentes entram na solução em teores de tal
forma elevados que se tornam tóxicos às plantas.
Mesmo assim o interesse nas culturas hidroponicas continuou, por muitas razões.
Primeiro, porque não havia necessidade de solo, e a população de plantas era mui-
to mais concentrada, o que permitia grandes produções em áreas muito pequenas.
Ainda nos Estados Unidos, grandes instalações foram montadas em Illinois, Ohio,
Arizona, Indiana, Missouri e na Florida. Também foram montadas instalações no México
e na América Central.
Afora os grandes sistemas comerciais construídos entre 1945 e 1960, muito foi fei-
to em pequenas instalações em apartamentos, casas e quintais, para plantar flores e ver-
duras.
Muitas destas não foram um grande sucesso por causa de fatores diversos, como
substratos inconvenientes, uso de materiais de construção inadequados, especialmente
86
Manual de Hidroponia
C1
Pesquisas mais recentes indicam que só nos Estados Unidos, temos mais de
1.000.000 de instalações caseiras em funcionamento produzindo verduras. Rússia,
França, Canadá, África do Sul, Holanda, Japão, Austrália e Alemanha, estão entre os paí-
ses que têm dado à hidroponia o lugar que merece.
E não é só. Entre 1930 e 1960, trabalho similar ao desenvolvido para produção de
alimentos humanos, foi efetuado para a produção de alimentos para animais domésticos.
Pesquisadores verificaram que era possível produzir grama para forragem animal a
partir de grãos germinados.
Usando grãos como cevada, aveia, centeio, trigo e milho, verificaram que 2,5 Kg
dêstes, podem ser convertidos em 18 Kg de erva fresca em apenas sete dias. Esta, usa-
da como suplementação de rações convencionais, tornou-se altamente benéfica a ani-
mais e pássaros.
Assim sendo, com técnicas atuais, bom equipamento e bons materiais, hoje temos
unidades comerciais, que trabalham sem problemas. Muitos dêstes estão em pleno fun-
cionamento em sítios, fazendas e em jardins zoológicos espalhados por todo o mundo.
87
Manual de Hidroponia
C1
Hoje, com esse sistema simples e barato, milhares de agricultores produzem vege-
tais essenciais, nos telhados e quintais das casas, provando que o sistema é útil mesmo
em condições adversas.
Porém, surge sempre a pergunta: Porque usar a hidroponia, se temos tanto solo
agricultável? Não é mais fácil melhorar os processos de manejo, os tipos de adubos, e o
uso mais difundido de compostagem orgânica?
Estas afirmações trazem-nos à mente uma afirmação atribuída a Carlos II (Rei Car-
los II, monarca Britânico de 1660 a 1685). Enfatizando a diferença entre ele e seu ir-
mão, o Duque de York (depois James II), consta que Charles disse "Jamie faria se pudes-
se, mas eu posso, e faço".
As críticas às culturas sem solo caem quase todas na categoria desta frase. Ne-
nhum destes críticos atenta para o fato de que, para melhorar o solo da Índia, ou de qual-
quer outro pais semelhante, de forma a torná-lo agricultável, precisaríamos de 50 a 100
anos, se é que se conseguisse um solo ideal.
Cultivar em estufas, usando solo, exige muita cautela e trabalho custoso, como pe-
riódica desinfecção do mesmo e da estrutura da estufa.
Mesmo assim, periòdicamente, o solo deverá ser substituído, mesmo após se ter
levado a efeito a rotatividade de culturas. Só assim, em estufas, se pode, por curtos pe-
ríodos, ter solos que se aproximam do ideal.
Na mesma época, o jornal New York Times trazia um artigo intitulado "Hidroponia:
Um novo Capítulo na Tecnologia dos Alimentos", onde se afirmava que "nos últimos anos,
a hidroponia foi refinada a tal ponto, que é hoje um sistema comercialmente viável para
produzir alimentos".
Lendo artigos de jornais e revistas, qualquer um pode ser levado a acreditar que a
hidroponia é uma descoberta recente da tecnologia científica, predestinada a salvar o
mundo da fome. Sem dúvida, a hidroponia pode colaborar, e muito, na falta de alimen-
tos, mas, de forma alguma é um novo desenvolvimento científico.
Estamos falando, das plantas que se desenvolvem no corpo da água que cobre
mais de 70 por cento da superfície terrestre, nos lagos, rios e oceanos.
Não há solo nos oceanos. As plantas aquáticas marinhas retiram todos os nutrien-
tes de que necessitam, da mais completa solução nutritiva que se conhece, a água do
mar.
Outros pioneiros da hidroponia foram o Boyce Thompson Institute for Plant Resear-
ch, em New York, a New Jersey Agriculture Experimental Station, o Alabama Polytechnic
Institute e a Horticultural Experimental Station, em Naaldwijk - Holanda.
Hoje, a hidroponia é uma técnica agrícola já bem definida, mas as pesquisas e es-
tudos não param. Variantes do processo continuam sendo testadas e aperfeiçoadas.
Por exemplo, as indústrias de estufas da Inglaterra, frente aos custos elevados das
instalações, além do conhecimento técnico exigido para fazê-las funcionar a contento,
clamavam por um sistema de mais fácil operação, e de menor custo inicial de montagem.
Assim foi que, no Glasshouse Crops Research Institute em Little Hampton no sul
da Inglaterra, reuniu-se uma equipe de pesquisadores comandada pelo Dr. Allen Cooper.
Este grupo de cientistas estava plenamente convicto de que a hidroponia era algo
comercialmente viável, e dele surgiu, por meados de l975, um sistema que revolucionou a
hidroponia: o NFT - Nutrient Film Technique ou Nutrient Flow Technique.
89
Manual de Hidroponia
C1
Este sistema não foi resultado de uma experiência que deu certo. Ele se baseia
em conceitos muito profundos de nutrição e fisiologia das plantas.
Alem disso, nele o Dr. Coopper colocou em prática uma série de conceitos próprios
que quebram uma série de mitos criados à volta das plantas, como, por exemplo, o de
que “as plantas são seres vivos perfeitos, pois alimentam-se do que lhes é estritamente
necessário, não necessitando de dejetar, pelo que não possuem nem necessitam de um
sistema excretor”. O Dr. Coopper tem provado que isto é um mito
O sistema tem as suas limitações e dependências, porém estas têm sido supera-
das ràpidamente, e consequência disto, tem dado margem a muitas variações, que às
vezes chegam até a deturpar parcialmente o seu princípio básico de funcionamento.
Hoje, cêrca de oitenta ou mais por cento das verduras produzidas por hidroponia,
são-no pelo Sistema Hidroponico NFT.
Ao escrevermos estas linhas, o Dr. Cooper está com 83 anos de idade, e ainda
continua pesquisando e desenvolvendo um novo sistema NFT, onde não é necessário
usar-se a energia elétrica.
91
Manual de Hidroponia
C1
Não poderíamos aqui deixar de citar o trabalho realizado Dr. Franco Massantini, da
Universidade de Pisa na Itália, pai da hoje denominada Aeroponia.
Massantini idealizou um processo, pelo qual as plantas ficam com as raízes sus-
pensas no ar, e estas são alimentadas com uma solução nutritiva que é periòdicamente
aspergida sobre as mesmas, por meio de microaspersores.
As instalações do processo são muito baratas, e o que é muito importante, por não
serem ligadas rigidamente às estufas, são fàcilmente móveis e adaptáveis a vários tipos
de cultura.
1.3 - O PRESENTE
Na verdade, se existe algum fator a quem por si só se deve creditar o grande su-
cesso da indústria hidroponica de hoje, ele o desenvolvimento dos plásticos
Com o advento do "fiberglass" (resinas reforçadas com fibra de vidro), bem como
diferentes tipos de plásticos vinilicos, filmes de polietileno, e os diversos tipos de tubos
plásticos, estes problemas foram virtualmente eliminados.
Nos melhores sistemas de produção construídos hoje pelo mundo afora, os plásti-
cos são usados em toda a sua extensão, e podemos dizer que nelas não existem metais.
Até as bombas de água são revestidas com resinas epóxi, ou inteiramente fabrica-
das com estas. Usando tais materiais, e materiais inertes para meios de enraizamento, o
hidroponista estará no caminho certo para o sucesso.
Uma premissa básica que se deve ter em mente sôbre a hidroponia, é a sua sim-
plicidade.
Depois da invenção da roda, muitos ficaram confusos, e pensaram que era algo
muito complicado.
Foi porque não puderam imaginar de imediato, quanto trabalho ela lhes pouparia.
É assim com a hidroponia.
A maioria é boa, mas sòmente algumas, se é que existe alguma, funcionará corre-
tamente sem o uso de adições durante os vários estágios de desenvolvimento das plan-
tas, mas, para a maioria dos produtores, ainda é melhor começar por uma delas.
No início, quase todas as estufas, quando necessário, eram aquecidas por siste-
mas a vapor, e o custo dêstes equipamentos era uma grande barreira à entrada de pe-
quenos produtores nesta área.
Com o advento de aquecedores de alta velocidade, que usam gás ou óleos leves,
foi possível construir unidades de aquecimento muito menores, de alto rendimento, e mui-
to mais baratas.
Além disso, o uso de gás liquefeito de petróleo (GLP), tornou estas unidades fàcil-
mente móveis, permitindo instalar-se uma estufa em qualquer lugar.
Mesmo assim, em grandes instalações, usar caldeiras ainda é a opção mais eco-
nomica. Da mesma forma que os equipamentos de aquecimento, também houve grande
desenvolvimento nas unidades de resfriamento.
Ainda no que tange a estufas, o uso de novos materiais, como filmes de polietileno
e de vinil, bem como placas de fiberglass, permitiram técnicas completamente novas na
construção das mesmas, reduzindo dràsticamente seus custos de fabricação.
Mas, pelo uso de filmes finos demais, ou mesmo de vidro, quando houver danos às
coberturas, inevitàvelmente teremos perdas de culturas, às vezes, perdas totais. Os fil-
mes são bons para coberturas temporárias ou semitemporárias.
Alguns materiais de cobertura, hoje, proporcionam difusão de luz, que para as cul-
turas é muito importante e benéfico.
Isto tem tornando tais alimentos cada vez mais caros, devido não só às grandes
distancias que têm que percorrer, como também aos custos de sua conservação.
Hoje, temos hortas hidroponicas instaladas nos submarinos nucleares, nas esta-
ções espaciais, e nas estações marítimas de perfuração de poços petróleo, sem falar nos
grandes jardins zoológicos, que mantêm saudáveis grande parte de seus animais, graças
à erva hidroponica produzida dentro suas próprias instalações.
Temos hoje grandes e pequenas instalações usadas por companhias ou por pes-
soas em suas próprias residências. Até na ilha de Baffin e no Eskimo Point no Ártico Ca-
nadense. Produtores comerciais usam esta maravilhosa técnica para produzir alimentos
em larga escala, desde Israel até à Índia, da Arménia ao Saara.
Porquê produzir alimentos? Há muitas e boas razões. Nos nossos grandes cen-
tros consumidores, o alimento é algo tido como garantido, embora alguns itens dêste, não
há muitos anos, seja por necessidade, ou por passa-tempo, muitas famílias o produziam
de modo caseiro.
Mas, nestes últimos anos, as coisas estão mudando. O consumidor está mais in-
teressado nos custos, e mais ainda, preocupado com o paladar e o índice nutricional dos
alimentos que dá à sua família.
Paises como as Ilhas Canárias, equilibram sua economia anual, exportando gran-
des quantidades de tomates, pepinos e verduras hidroponicas, para países industrializa-
dos, como a Inglaterra. O Caribe, Porto Rico e México, embarcam grandes quantidades
de frutas e verduras hidroponicas, para os mercados dos Estados Unidos e Canadá.
Na Rússia, a cultura sem solo tem sido considerada uma bio-indústria, posicionada
entre a agricultura e o sistema industrial.
Outros paises, alguns dos quais ainda não mencionamos, e onde a hidroponia é
extensivamente usada, incluem a Espanha, África do Sul, Israel, particularmente no de-
serto de Negev e ao longo do Mar Morto, Itália, Escandinávia, Bahamas, África Central,
África Oriental, Kuwait, Brasil, Polonia, Seychelles, Cingapura, Malásia e Iran.
Esta lista é incompleta, e não é tão extensa, mas ela pode dar a idéia real de quan-
to a hidroponia está hoje espalhada pelo mundo.
A cada dia que passa, mais e mais pessoas têm que ser alimentadas, e por incrível
que pareça, as áreas agricultáveis, desta ou daquela maneira, vão diminuindo, bem como
vão diminuindo os agricultores, seja pelo mau retorno financeiro do seu trabalho, seja pela
fascinação que os grandes centros urbanos exerce sôbre os mais humildes dentre eles.
Quem sabe se não teremos que recorrer a regimes de dieta, ou pelo menos, a pro-
gramas para reduzir ou eliminar nosso desperdício alimentar, como tivemos para econo-
mia de energia desde a crise do petróleo.
Não queremos alarmar ninguém, nem prever uma catástrofe. Acreditamos que
ninguém irá passar fome, mas teremos que rever nossa posição quanto ao poder nutritivo
de nossos alimentos, para que menores volumes dêstes, alimentem maior número de se-
res humanos.
95
Manual de Hidroponia
C1
Não há muitos anos que na cidade de São Paulo - Brasil, por exemplo, nosso cintu-
rão verde não distava mais do que 25 ou 30 Km do centro geográfico da Cidade, a qual
estava cercada de horticultores.
Nesse tempo, alimento "fresco", era fresco mesmo, e os produtores locais, não e-
ram conhecedores de técnicas como são hoje. Os produtos frescos eram oferecidos à
porta de nossas casas, e jamais pensaríamos em comprá-los congelados ou enlatados,
se é que tal passava pelo nosso pensamento.
Hoje o quadro que se nos apresenta é bem diferente. Os produtores locais desa-
pareceram. Temos hoje grandes produtores centralizados em grandes propriedades a-
grícolas, e grandes empresas beneficiadoras de alimentos junto com ... produtos químicos
conservantes.
Teremos que sacrificar os alimentos "frescos", e deixar de usar ou ter oferta dos
"realmente frescos". Teremos provàvelmente menor controle de qualidade alimentar,
maiores custos, e certamente maiores rações de alimentos em conserva.
Por ela, produzem-se vários tipos de forragens para alimentação de gado e aves, e
tem sido bastante usada também na alimentação de animais herbívoros em zoológicos.
E aquela plantinha chamada "confrey"? No solo, é uma praga que pode infestá-lo
como se fora uma erva daninha, porém as aves, em especial galinhas, gostam dela de tal
maneira, que entram em desespero ao sentirem seu odor a 20 ou 30 metros de distância.
Produzi-la hidropònicamente, jamais será uma praga, e é tão fácil quanto produzir
uma cabeça de alface. Quanto ao seu poder alimentício, sem considerar suas caracterís-
ticas medicinais, bem, perguntemos aos russos, que alimentam seus plantéis quase só
com ela.
1.4 - O FUTURO
Todavia, mesmo neste curto período de tempo, foi adaptada às mais diversas situ-
ações, desde cultura ao ar livre, em estufas, e até em culturas especializadas em subma-
rinos nucleares para obter vegetais frescos para tripulações.
É uma ciência da era espacial, e, no entanto, pode ser usada em paises sub-
desenvolvidos do terceiro mundo, para produzir grandes quantidades de alimentos em
áreas reduzidas.
Suas únicas restrições são água limpa, nutrientes e às vezes energia elétrica.
Onde não houver água potável, a hidroponia pode usar água salobra ou água do mar de-
salinizada. Onde não houver nutrientes, pode usar os extraídos de dejetos animais trata-
dos em biodigestores.
Mas, por esse mundo fora, felizmente, existem pessoas que não só têm mentes
abertas, mas também são generosas o suficiente para auxiliar os produtores a instalar
seus complexos hidroponicos.
Mas, nestes casos, uma luz vem surgindo no fundo do túnel, com os equipamentos
de aquecimento solar. Muito ainda tem que ser feito e pesquisado neste sentido, mas já
existem unidades para esta finalidade disponíveis no mercado.
Também têm surgido publicações com detalhes de projeto e construção para que
as unidades solares possam ser fabricadas pelo usuário.
Existem planos para o uso da hidroponia em vôos espaciais, e mesmo para insta-
lação de unidades na Lua, ou mais além.
Essas promoções e propagandas, têm tido pouca duração, mas, infeliz e maldosa-
mente outros continuam a aparecer.
tada com bases num bom controle de ambiente em estufa, pode atingir alguns milhares
de reais.
Para aqueles que desejarem montar a sua própria instalação, desenvolvendo seu
próprio projeto, o que hoje no nosso país ainda é recomendável senão necessário, lem-
brem-se que um principiante sem nenhuma experiência em agricultura, pode produzir a-
través da hidroponia com bastante sucesso.
Terá algumas dificuldades? Sim, mas onde elas não existem? Acreditem, aquele
que tiver uma pequena estufa de 3 x 4 metros, com o sistema hidroponico, poderá produ-
zir todos os vegetais frescos para uma família de quatro ou cinco pessoas, uma vez que
mantenha a sua produção durante todos os dias do ano. E isso é fácil.
Quer produzir tomates? A produção destes frutos por hidroponia, é 18 vezes mai-
or do que pelos processos convencionais em solo. Será muito difícil ter que usar um a-
grotóxico na sua produção.
Poderá então o leitor confirmar o que dizia em seus relatórios ao rei, aquele padre
que aportou no Brasil com os descobridores, - " Majestade, nesta terra, em se plantando,
tudo dá ". Só é preciso plantar. Plantemos pois.
99