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Eliana Rodrigues
Universidade Federal de São Paulo
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Participative ethnobotany: conservation and local development in Serra do Mar State Park - Picinguaba, Ubatuba, SP, Brazil. View project
All content following this page was uploaded by Eliana Rodrigues on 07 March 2016.
Introdução
Na busca de novos medicamentos, a academia e indústria farmacêutica têm seguido cinco
abordagens principais para a seleção de espécies vegetais, otimizando a probabilidade de
acerto. Segundo alguns autores (Balick, 1990; Cox & Balick, 1994; Verpoorte, 1998; Kate &
Laird, 1999; Khafagi & Dewedar, 2000; Krief et al., 2005; Carlini et al., 2007; Queiroz et al.,
2009), estes são:
Coletas randômicas
Baseiam-se na obtenção de amostras de todas as plantas encontradas em uma determinada
área de estudo estabelecida, priorizando aquelas em frutificação e floração. Deste modo, a
escolha da planta é realizada sem um critério específico, dando-se preferência, no entanto,
a lugares com alto grau de biodiversidade1 e endemismo2.
Os sete países considerados megadiversos: Brasil, Colômbia, México, Zaire (atual
República Democrática do Congo), Madagascar, Indonésia e Austrália; concentram 50%
das espécies vegetais do mundo (Joffe & Thomas, 1989). Comparando-se o número de
espécies endêmicas por país/região (tabela 1) é possível perceber melhor essas diferenças e
entender porque os trópicos são o foco de perspectiva da descoberta de novas drogas.
1. Riqueza e variedade do mundo natural (flora, fauna e microrganismo). World Wildlife Fund, 2009.
2. Refere-se às espécies cujas ocorrências naturais são exclusivas de uma determinada região geográfica.
39
Apesar dessa riqueza, aproximadamente 6% da biodiversidade do mundo tiveram
a sua atividade biológica testada, enquanto cerca de 15% possuem estudos fitoquímicos
(Verpoorte, 1998). Um exemplo de sucesso de coleta randômica pode ser dado com a
descoberta do taxol em 1970, um diterpeno com ação anticancerígena derivado da casca
da árvore Taxus brevifolia, durante uma pesquisa conduzida pelo Instituto Nacional do
Câncer dos Estados Unidos.
Suíça 1
Alemanha 16
Reino Unido 73
México 3 376
Quimiotaxonomia
Essa abordagem pode apontar um maior índice de acerto em relação à primeira, pois indica
quais plantas ou suas partes apresentam maior probabilidade em conter os metabólitos secun-
dários a serem estudados, que muitas vezes estão restritos a uma família taxonômica ou até
mesmo a gêneros (Verpoorte, 1998). Ainda segundo o autor, a quimiotaxonomia pode ser-
vir também como indicador negativo. Assim, no caso de um composto tóxico e sem valor
terapêutico ser encontrado em várias espécies relacionadas do ponto de vista taxonômico,
torna-se prudente a interrupção da pesquisa com a espécie potencialmente tóxica.
Os limonoides, substâncias triterpênicas de grande variação estrutural e muitas ati-
vidades farmacológicas (Champagne et al., 1992), são quase exclusivos da ordem Rutales,
especialmente das famílias Rutaceae e Meliaceae. O conhecimento de que essas substâncias
têm distribuição restrita à ordem Rutales, aliado ao conhecimento de sua importância far-
macológica, tem sido importante estímulo para o desenvolvimento de pesquisas químicas e
farmacológicas entre suas espécies.
Um exemplo de sucesso utilizando esta abordagem pode ser dado pelo estudo farma-
cológico conduzido com três espécies do gênero Hypericum (Daudt et al., 2000), baseado no
fato de que a Hypericum perforatum L. (erva-de-são-joão) apresenta comprovada atividade
Ecologia química
Esta abordagem baseia-se na observação das inter-relações (animais-plantas; animais-
animais; plantas-microrganismos e animais-microrganismos) resultantes da produção de
metabólitos secundários como estratégias de defesa química (qualitativas e quantitativas)
que os organismos adquirem ao longo da evolução. Sendo assim, tais observações podem
levar à identificação de potenciais bioativos. Por exemplo, a borboleta monarca (Danaus
plexippus) que na fase larval se alimenta da planta Asclepias curassavica L. (rica em glico-
sídeos cardioativos, sendo o principal a calotropina – agente emético) acumula este agente
nas suas asas. Os pássaros atraídos pela sua coloração avermelhada, ao entrarem em contato
com suas asas repletas desse agente têm uma sensação desagradável e, portanto, passam a
evitar esta e outras borboletas com o mesmo padrão de coloração.
Um exemplo da relação plantas-insetos é a presença de um limonóide – com anel
C-seco, azadiractina, com grande potencial inseticida – exclusivamente em dois gêneros
relacionados: Azadirachta e Melia. Extratos preparados com este limonóide obtido das
plantas Azadirachta indica A. Juss. e Melia azedarach L. (Meliaceae), afetaram mais de 200
espécies de insetos e ácaros (Huang et al., 1996; Kumar et al., 1996). Champagne et al.
(1992) especulam sobre o papel dos limonoides nessa possível relação coevolutiva, ou seja,
na resposta química dessas plantas à herbivoria por insetos.
Zoofarmacognosia
A observação de animais que procuram plantas e outros animais para solução de seus pro-
blemas de saúde constitui uma especialidade denominada zoofarmacognosia. Dröscher
(1979) cita vários exemplos que refletem essas interações (animais-plantas, animais-ani-
mais) com finalidade terapêutica. Entre eles, cita a observação de que corços e veados
quando feridos deitam-se no chão coberto de musgo; enquanto as focas procuram campos
inibição da acetil-
8% 42,3% Oliveira et al., 2011
colinesterase
endemismo. Para a Mata Atlântica, por exemplo, estima-se que oito mil das cerca de vinte
mil espécies de plantas sejam endêmicas; enquanto a flora do Cerrado é estimada em no
mínimo dez mil espécies, e só recentemente começou a ser conhecida. A relevância desses
dois biomas é de tal ordem que são considerados hotspots3.
O Brasil não é apenas rico sob o ponto de vista da biodiversidade, mas também da
diversidade cultural e, justamente, esse dueto (recurso biológico + cultura) compõe as múlti-
plas possibilidades de informações resultantes da interação de determinado grupo humano
em uma área geográfica. Além disso, a extensão do território brasileiro, 8 547 403,5 km2, e
as dificuldades de acesso resultantes dela acabam impedindo que todos os grupos humanos
que ocupam esse território sejam contemplados pelo atendimento promovido pela rede
pública/privada de saúde. Muitas vezes, esse isolamento geográfico acaba contribuindo
para o fortalecimento da medicina tradicional/popular local, assim como para a seleção de
um recurso natural, podendo resultar na descoberta de um novo medicamento.
3. Regiões com grande biodiversidade e endemismo, porém altamente ameaçadas de extinção (Conserva-
ção Internacional, 2009).
Etnobotânica e Etnofarmacologia
A EB é uma disciplina que possui objetivos e metodologias em comum com a EF. Segundo
Harshberger (1896 apud Soejarto et al., 2005), a EB é o estudo da relação utilitária entre
seres humanos e o ambiente primitivo vegetal na sua totalidade. Já a EF é definida como
uma subárea da EB, referindo-se ao uso médico ou pseudomédico de plantas e animais pelas
sociedades pré-letradas (Schultes, 1988). Estudos atuais de EF incluem, além de plantas e
animais, outros recursos naturais, tais como as algas, os fungos, os minerais entre outros.
Embora a EB tenha uma abrangência maior do que o mero resgate das plantas medicinais,
por ser muito comum encontrarmos estudos de EB voltados para esse foco, optou-se por
incluí-la aqui junto à EF.
Trabalho de campo
O pesquisador que deseja realizar trabalhos de campo em EB e EF deve ter disponibilidade
em passar longos períodos no local de estudo, possibilitando seu convívio com o grupo que
participa do levantamento e promovendo a mencionada interação e confiança recíproca
com a comunidade. Não existe um período ideal, pois depende do grau de envolvimento
entre pesquisador-entrevistados, porém não deve ser inferior a um ano. Esse tempo tam-
bém favorece a coleta das plantas nos seus estágios de floração e/ou frutificação, que variam
ao longo dos meses, sendo imprescindível para sua identificação até espécie.
Entrevistas e observações
A Etnografia é uma abordagem de campo da Antropologia que permite a imersão do pes-
quisador na cultura estudada. Um instrumento muito utilizado dentro da etnografia é a
observação participante. Nesta, o pesquisador acompanha o entrevistado e participa de
suas atividades cotidianas, como por exemplo, festas, caças, pescas, participação em rituais,
entre outras. Desta forma, ele interage com os hábitos da população, compreendendo sua
linguagem, história e práticas medicinais.
Para a obtenção das informações sobre os dados pessoais dos entrevistados, bem
como dos usos de plantas medicinais podem ser utilizadas:
• entrevistas informais: muito utilizadas ao longo do trabalho de campo, consistem
em conversas informais, caracterizadas pela total falta de estrutura e controle. O pesqui-
sador lembra-se de tópicos de interesse, abordados ao longo dos dias e tenta investigá-los
mais profundamente;
• entrevistas não estruturadas ou etnográficas: realizadas periodicamente com os
entrevistados, que sabem o objetivo do encontro. O pesquisador tem fixo para si suas per-
guntas, mas não controla as respostas do entrevistado. O ideal é que esse tipo de entrevista
seja utilizada quando o pesquisador dispõe de muito tempo para a pesquisa de campo;
• entrevistas semiestruturadas: quando o pesquisador não terá mais de uma chance de
entrevistar determinado entrevistado, o melhor é utilizar esse tipo de entrevista. Baseia-se
Código:
Nome:
Sexo:
Idade:
Local de nascimento:
Ascendências:
Estudou em escola? Até que série ou por quanto tempo?
Há quanto tempo mora neste lugar?
Ocupação atual:
Com quem aprendeu/aprende sobre o uso dos remédios do mato? (parentes, vizinhos, amigos, espírito?)
Costuma repassar seus conhecimentos sobre remédios do mato para alguém da sua comunidade? E de fora dela?
Posição que ocupa na sua comunidade (mãe de santo, pajé, rezador, parteira, outros):
Data:
Obs.:
Código da receita:
Código do entrevistado:
Nome(s) popular(es) da(s) planta(s), animal(is) e mineral(is) utilizados na receita e respectivos códigos de coleta:
Uso:
Partes (considerando plantas: folhas, cascas, flores, sementes, frutos, raízes, tubérculos, pecíolo, galhos, planta
toda – considerando animais: penas, pele, dentes, escamas, pênis, entre outros) ou produtos (biles, látex,
resinas, óleos) de cada recurso utilizado:
Quantidade de cada parte/produto utilizado na receita:
Modo de preparo: (descrever a técnica utilizada pelo entrevistado, que geralmente são reconhecidas por:
infusão, decocção, macerado, cigarro, emplastro, in natura, sumo, defumação, garrafada, entre outros)
Via de administração: (ingestão, dérmica, inalação, retal, entre outras)
Dose, dosagem e duração de uso: (é diferenciada para idosos, adultos e crianças?)
Já experimentou outras doses dessa receita? O que verificou?
Contraindicações:
Se consumida/utilizada acidentalmente quando contraindicada, existe alguma planta/animal que reverte/
neutraliza o efeito nocivo?
No caso da(s) planta(s) que compõe(m) essa receita: Sabe se alguma parte específica dela pode ser venenosa?
Essa receita pode ser utilizada junto com outros remédios (outras plantas e/ou medicamentos de farmácia)? Em
caso negativo, conte-me mais sobre isso.
Existe alguma restrição alimentar, sexual ou de outro tipo relacionada ao uso dessa receita?
Nativa Exótica
para as naturais
Descrição:
Cor:
Dureza:
Traço:
Clonagem:
Local de coleta:
Tipo de afloramento:
rocha colúvio elúvio alúvio solo
Coordenadas UTM:
Unidade geológica/formação:
Para as artificiais
Tipo de material:
Local:
Fotógrafo(a):
N° da foto:
Coletor(a):
N° de registro no laboratório:
Data da coleta:
Código do entrevistado:
Código da receita:
4. As medidas internacionais das exsicatas são 28 x 42 cm e o material padrão é cartolina 80 kg, sendo as
capas confeccionadas com papel pardo ou kraft 45 kg (Mori et al., 1985) .