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br/app/noticia/saude/2015/11/23/noticias-
saude,186712/associacao-mundial-de-psiquiatria-admite-relevancia-da-
espiritualidade.shtml. Acesso: 1º ago. 2018, às 20:55.
“Todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece
principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara loucura.”
Em 1956, quando lançou sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa antevia
uma discussão que até hoje não encontrou consenso. A ligação entre espiritualidade e
psiquiatria é um campo de estudo antigo, mas que só agora é considerado passível de
investigação científica. No início deste mês, durante a 33ª edição do Congresso Brasileiro
de Psiquiatria, a Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) divulgou um posicionamento
sobre o tema. Segundo a entidade, “nas décadas recentes, tem havido uma crescente
conscientização pública e acadêmica sobre a relevância da espiritualidade e da religião
para os problemas de saúde”. Até agora, a WPA já identificou mais de 3 mil estudos afins.
Não restam dúvidas de que a população brasileira é extremamente religiosa. Mas até que
ponto isso influencia na saúde? “Há uma grande complexidade na relação entre os dois.
Não é simplesmente dizer que a religião é boa ou ruim”, frisa o psiquiatra. A religiosidade,
segundo ele, é algo multidimensional: é possível começar a investigação a partir das
crenças religiosas do indivíduo, da frequência de orações, sobre o modo como a pessoa
lida com os problemas por meio da religião. Cada uma dessas dimensões terá relações
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Para os idosos, a religiosidade foi a principal fonte de suporte social. Venceu, inclusive,
família e amigos. Em um estudo de 2009, intitulado “Religiosidade e espiritualidade no
transtorno bipolar do humor”, Alexander Moreira-Almeida pesquisou 168 pacientes
bipolares e descobriu que os pacientes que frequentavam serviços religiosos tinham
menor frequência de quadros de depressão. O coping (termo da psicologia que se refere à
forma com que encaramos os eventos da vida) religioso positivo também ajudou a manter
a tristeza a uma distância segura.
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"Quanto
maior o nível de religiosidade, menor o abuso de drogas" - Alexander Moreira-Almeida,
psiquiatra membro da Associação Mundial de Psiquiatria e da Associação Brasileira de
Psiquiatria (foto: Ilustração: CB / D.A Press)
O outro lado da fé
De modo geral, as questões religiosas enfatizam cuidar, valorizar o corpo como uma
dádiva divina. Essa valorização da vida, por sua vez, estaria relacionada a menores níveis
de violência, comportamento sexual de baixo risco e uma maior inserção na comunidade.
Mas se a doutrina foge do controle, pode ocasionar sentimentos não tão amigáveis, como o
fanatismo, a intolerância (não só religiosa), episódios depressivos, de pânico ou de
ansiedade.
psiquiatra André Caribé, também pode ter relação com a espiritualidade: em indivíduos
espiritualizados, a probabilidade de atentar contra a própria vida cai pela metade.
Um dos problemas é que quando alguém considera algo sagrado, imediatamente tem
medo de “perder” aquilo ou de que suas crenças sejam violadas. Kenneth Pargament e sua
equipe realizaram um estudo sobre os atentados terroristas que derrubaram os prédios
do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. “Perguntamos se as pessoas
consideravam os ataques uma violação de seus valores sagrados”, explica. “Descobrimos
que aqueles que encaravam o episódio como uma ofensa estariam mais dispostos a apoiar
ações extremas, incluindo o uso de armas nucleares e biológicas.” Em outras palavras:
quando as pessoas sentem que o sagrado foi violado, parecem desinibir qualquer controle
emocional sobre a violência e a raiva.
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Outra postura que pode causar problemas emocionais e psíquicos é como se encara o
conceito de deus. “Deuses pequenos”, segundo Pargament, não nos preparam para lidar
com os problemas e as experiências da vida. Alguns exemplos: o “deus da absoluta
perfeição” (demanda uma conduta sempre perfeita), o “seio celeste” (deus é amoroso em
qualquer circunstância e nunca espera nada de nós em troca) e o “deus policial” (que tudo
registra para futuras punições). “O problema do deus da absoluta perfeição é que ele não
aceita nossos erros, assim como um deus ininterruptamente amoroso não nos prepara
para a dor ou para decepções”, resume o médico.
A religião no mundo
Um levantamento feito em 65 países divulgado este ano pela empresa WIN/Gallup ouviu
64 mil pessoas e revelou os países mais espiritualizados do mundo:
* 37% frequentavam um serviço religioso pelo menos uma vez por semana;