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O Rei Demônio Foca Em Sua Carreira Por Questões
Monetárias Parte 2
A partir das informações que conseguiram na estação,
descobriram que, para viver no Japão, precisariam de duas coisas:
um “registro no censo” e um “endereço”. Sem isso, parecia que não
seriam capazes de conseguir o trabalho que precisavam para
ganhar dinheiro.

Um “registro no censo” e um “endereço” eram coisas que


podiam ser conseguidas em um local chamado “subprefeitura”. Eles
decidiram que esta seria a primeira missão. Arrastando os corpos
maltratados pela guerra, se dirigiram até a “Subprefeitura de
Shibuya”, a mais próxima deles... apenas para descobrir que não
abriria até a manhã seguinte.

Tão miserável quanto parecia, Satan e Alciel passaram a noite


em frente à porta da subprefeitura, com os joelhos dobrados diante
do peito.

Era uma cidade onde parecia que as luzes nunca se


apagavam, mas as coisas ficaram mais animadas quando a manhã
chegou. Humanos andavam de um lado para o outro usando roupas
de milhares de cores diferentes. Conforme mais e mais homens
passavam, usando trajes uniformes e coloridos de preto e azul
escuro, a Subprefeitura de Shibuya abriu. Correndo em direção à
janela, Satan controlou a mente do trabalhador do outro lado, um
que se surpreendeu ao ver aqueles dois homens. Rapidamente,
conseguiram criar algo chamado de “registro familiar” para eles
mesmos.

A próxima parada era uma “imobiliária”, um local que poderia


arrumar aposentos para eles.

Satan e Alciel ficaram fluentes na língua humana de Ente Isla


em apenas três dias. Agora resolveram fazer o que fosse
necessário para aprender esta nova língua: japonês, até um nível
prático.

Ao perceber que os dois tinham um japonês emperrado e


roupas estranhas, o agente imobiliário, assumindo que eles deviam
ser homens de negócio de um pais estrangeiro, começou a
bombardeá-los com casas grandiosas de preços igualmente
grandiosos.

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Satan precisou explicar ao ansioso agente que eles não
poderiam viver em locais que tinham aluguéis altos.

Hipnotismo não consumia grande quantidade de poder mágico


se usado apenas uma vez, mas, já que seriam recusados por não
poderem pagar, a vida em uma cobertura que ocupava todo o
andar, sem o salário adequado, exigiria uma hipnose continua sobre
o senhorio. Por isso eles disseram ao agente que queriam algum
lugar que fosse barato, contato que tivesse um teto para se
abrigarem.

O agente, mais do que desapontado, lhes mostrou um


possível local.

— A senhoria desse aqui é bem... digamos... única.

Era um quarto em um prédio de apartamentos localizado em


“Sasazuka”, aparentemente uma subseção de Shibuya.

O aluguel era 45.000 ienes por mês, sem depósito, sem


pagamento adiantado e fiador não era necessário. Era o Quarto 201
nos apartamentos do Vila Rosa Sasazuka, de sessenta anos,
aproximadamente cem pés quadrados, sem área para banho,
apenas um banheiro simples por quarto.

— A senhoria disse que ela dá tratamento preferencial a


pessoas como vocês, que são... deixa eu pensar, incomuns?
Melhor dizendo, com circunstâncias incomuns.

Era uma aproximação de vendas pouco ortodoxa, mas se era


tudo o que ele tinha para oferecer, tanto faz. Depois de uma carona
no “carro” do agente — então é assim que eles chamam essas
carruagens! —, chegaram em um prédio de dois andares localizado
em uma vizinhança quieta, quase que desolada. Gesso descolava
das paredes, e o teto não tinha algumas telhas aqui ou ali. A calha
anexada ao teto cedera completamente à desgraça marrom, a
ferrugem, e a escadaria até o segundo andar estava inclinada em
vários ângulos precários ao mesmo tempo. Não havia uma alma
sequer por ali; parecia que todos os quartos estavam vazios.

— Isso... isso é espantoso. — Alciel resmungou para si


mesmo.

— Sim. Até eu consigo perceber isso.

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Os dois conversavam entre si na língua dos demônios. Como
ainda eram inexperientes neste mundo, a dilapidação total que lhes
foi apresentada ainda era óbvia.

Eles eram, acredite se quiser, a elite dos demônios, dois


homens que rastejaram e lutaram até o topo do submundo. Eles
caíram depois disso, sim, mas era difícil aceitar viver neste casebre
durante sua estadia. E se cada quarto estava vazio, significava que
nem mesmo pobres humanos se rebaixariam tanto a ponto de viver
ali, não é?

Era simplesmente impossível.

Justo quando Satan virou-se para dizer isso ao jovem agente,


percebeu que outra pessoa estava lá.

— Aquilo é... uma pessoa?

Para os sentidos demoníacos deles, era uma criatura


totalmente enigmática e estranha. Era alta, quase da altura de
Alciel, que ficava acima de quase todos os outros até mesmo em
sua forma humana. O corpo roliço e arredondado — a palavra
“dotado” não era o suficiente para descrevê-lo — a tornava quase
irreconhecível como uma mulher.

Um chapéu com hortênsias decorava sua cabeça, de cor roxo-


prateado e apontado para o céu. Um cachecol violeta estava sobre
seus ombros, cobrindo um vestido de verão roxo, extremamente
vibrante. Cada um de seus dedos tinha um grande anel de
ametista, e seu salto-alto estava coberto por uma laca roxa. Ela
tinha uma sombra de olho roxa-avermelhada e creme de base
branco e espesso, o qual parecia que poderia rachar se alguém
desse um tapa. A grande quantidade de blush vermelho sobre a
bochecha parecia brilhar mais que o sol. A imagem apresentada era
a de uma gigantesca batata roxa que foi descascada em locais
randômicos.

— Olá! Não me diga que vocês dois querem se mudar para


cá?

— Aquilo... aquilo fala!

A resposta instintiva de Alciel era compreensível, dada a visão


assustadora diante deles.

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— Meu nome é Miki Shiba, sou a proprietária do Vila Rosa
Sasazuka.

Ainda imóveis, Satan e Alciel conseguiam ver o carro do


agente imobiliário se afastando atrás da presença roxa na frente
deles.

— O nome Miki é composto pelos caracteres “Bonito” e


“Brilhante”. Mas, por favor, sintam-se à vontade para me chamar de
Mikitty.

Os demônios pensavam que estavam começando a pegar o


jeito do japonês falado, mas algo dentro do instinto deles fez com
que rejeitassem as palavras sendo ditas por aquele intrigante
tsunami de intenção, a tal Shiba, que chamava a si mesma de
senhoria.

Eles deviam manter distância dela a todo custo. Conseguiam


sentir aquilo em suas veias, mas ainda acabaram sendo arrastados
para dentro de um quarto do prédio de apartamentos em ruínas,
sendo forçados a assinar uma pilha de documentos e receber um
resumo das instalações próximas.

— Muito bem então! A partir de hoje, este será o pequeno


santuário de vocês! Eu vivo na casa ao lado daqui, então, caso
tenham qualquer dúvida, por favor, não tenham medo de dar uma
passadinha lá. Vejo vocês mais tarde!

Em seguida, o ciclone roxo partiu. Tudo o que permaneceu


dentro do quarto foram os completamente estupefatos Satan e
Alciel, também em silêncio, e um contrato de aluguel no qual uma
marca de lábios, roxa, foi deixada.

O lugar mais parecia um depósito, e sua senhoria, um colosso


inumano. Mas qual outro lugar estaria disposto a receber dois
jovens sem-teto e desempregados, um conceito que faria qualquer
senhorio sair correndo no mesmo instante? Eles se conformaram
com o destino, sabendo muito bem a resposta. Pelo menos, se
protegeriam da chuva.

Então, no fundo do coração, os dois demônios juraram


trabalhar duro, pagando o aluguel todo mês para que tivessem o
mínimo de contato possível com a senhoria.

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— “Você precisa começar a partir de algum lugar”, é isso o
que dizem por aí. Talvez seja exatamente o que precisamos.

Eles foram esmagados na batalha contra a Heroína, abatidos


pela jornada frenética através dos fluxos do Portal e mentalmente
fatigados pelas aventuras no mundo desconhecido. Satan, o Rei
Demônio, estava rapidamente gastando sua força mágica, sua
respiração ficou irregular depois de apenas duas hipnoses. A
sensação de extrema exaustão era algo que nunca sentira antes.

Por este motivo, o Rei Demônio adormeceu. Permaneceu


dormindo por três dias e três noites, curando seu corpo cicatrizado
e alma drenada.

Então, após dormir direto sem comer ou beber, foi levado ao


hospital devido à desnutrição. A desidratação e falta de vitaminas o
imobilizaram.

Para resgatar seu mestre — à beira da morte, pele seca e


pálida, olhos vazios encarando o espaço —, Alciel foi forçado a
pedir ajuda à sua senhoria, Shiba, no terceiro dia após a mudança.
Ele não tinha ideia de que tipos de instalações médicas existiam
neste mundo.

Usando um aparelho de comunicação à longa distância, mais


conhecido como “telefone”, Shiba invocou uma “ambulância”, um
carro branco que, da mesma forma que o outro, piscava com uma
luz vermelha.

Sentado em um quarto de hospital, observando seu mestre


enquanto soro fluía em seu braço, Alciel percebeu que eles não
eram semelhantes aos humanos deste mundo apenas pela
aparência externa, mas também internamente. Ele começou a
chorar, incapaz de suportar a humilhação.

A realidade, no entanto, se provaria cruel para eles de


maneiras que Alciel ainda não havia previsto.

Neste mundo, receber cuidados médicos custava uma grande


quantidade de dinheiro. Aparentemente, havia um sistema público
para reduzir os custos médicos individuais, mas, naturalmente, nem
ele nem Satan tinham se inscrito em tal programa.

As taxas médicas apresentadas só poderiam ser descritas


como um assalto, algo que Alciel conseguia entender mesmo com

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seu pouco conhecimento sobre a moeda daquele país. Quando
recebeu alta, Satan foi forçado a usar sua hipnose mais uma vez
para fazer com que a conta fosse embora.

Agora mesmo, o que eles mais precisavam era dinheiro.


Dinheiro ganho com métodos que não envolvessem prisão ou
desperdício de magia.

Isso e o sistema de saúde nacional. Essas duas coisas eram


necessárias.

Para o uso final da hipnose de Satan, ambos concordaram em


ir até um “banco” e obterem uma conta e alguns recursos
monetários. Colocando o caixa sob seu feitiço, Satan pegou dez mil
ienes do funcionário e usou isso para abrir uma conta de poupança
regular.

Isso era ilegal, sem dúvidas, mas nenhum demônio sensível


iria sequer hesitar diante do conceito de roubo. A emoção de
finalmente conseguir o dinheiro inicial para a nova vida superou a
impressão irritante dentro da mente de Satan, a qual dizia que eles
estavam fazendo algo errado.

Os dez mil ienes foram usados para comprar a comida


necessária para a sobrevivência, além de algo chamado de
“formulários de candidatura à vaga”. Um “currículo”. Isso era
considerado indispensável para conseguir um emprego.

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Tudo o que eles precisavam fazer era preencher os espaços
em branco, levar o documento ao local apropriado, marcar uma
“entrevista” e dar as respostas certas. Só então seriam capazes de
trabalhar.

Havia apenas um empecilho. Satan e Alciel não tinham


nenhuma habilidade que poderia ser facilmente aplicada neste país.
Satan também não poderia escrever “Histórico Profissional: Rei do
Reino dos Demônios; Hobbies/Habilidades: Dominação mundial”
em seu currículo. Além disso, a única opção era focar em trabalhos
que diziam “Iniciantes São Bem-Vindos!” em seus anúncios.

Os dois sentaram-se e prepararam vários currículos.

Suportando a frustração e humilhação, sonhando com o dia


em que derrotariam a Heroína e recuperariam o poder sobre todos
os seres vivos de Ente Isla, eles escreveram seus nomes.

— Nome... “Sadao Maou”. Perfeito.

— Nome... “Shirou Ashiya”. Não soa estranho, né?

— Tarde demais para reclamar agora. Não foi isso o que


escrevemos em nosso registro no censo?

Além disso, o Rei Demônio Satan — também conhecido como


Sadao Maou, o sobrenome que era escrito perfeitamente com
caracteres japoneses, cuja pronúncia era a mesma que “Rei
Demônio” — e o Grande General Demônio, Alciel — também
conhecido como Shirou Ashiya — partiram em busca para
reconquistar Ente Isla, com o quarto 201 nos apartamentos do Vila
Rosa Sasazuka servindo como Castelo Demoníaco, por enquanto.

Os dois estabeleceram para si mesmos uma posição no


caminho para encontrar o mínimo de trabalho, mas eles tinham
pouco tempo para descansar. Dinheiro também seria necessário
para coisas como: eletricidade, água, gás e bens essenciais.

Uma lágrima apareceu nos olhos de Satan quando ele se


lembrou da época em que conseguia reunir nuvens tempestuosas,
invocar ondas poderosas e devastar a terra com chamas da
punição, tudo isso com um estalar de dedos.
Agora, Satan e Alciel eram apenas Maou e Ashiya, dois
jovens, que não pareciam ter mais de vinte anos, desempregados e
pobres.

O Rei Demônio e seu antigo General Demônio leram de cima


a baixo todas as revistas de emprego que puderam encontrar. Logo
descobriram a existência de algo chamado “trabalho diário”.

Tudo o que precisavam fazer era se registrar com uma dada


empresa, e lhes seriam atribuídos trabalhos de curto período.
Receberiam um pagamento diário, entre cinco mil a dez mil ienes,
dependendo do desempenho, talvez até mais caso se saíssem
bem.

Jogando uma das últimas moedas de dez ienes que restavam


na abertura de um telefone público, os dois marcaram uma
entrevista.

Ao viajarem até o escritório em Shinjuku, descobriram que era


mais uma reunião de orientação de trabalho do que uma entrevista.
Eles se inscreveram uma única vez, encontraram os diretores
menos exigentes sobre as qualificações e trabalharam como
prometido para eles antes de o dia terminar.

Já que ambos eram iniciantes e inexperientes, tinham a tarefa


de auxiliar um grupo colocando instalações para um evento ao ar
livre, realizando o trabalho atribuído pelo salário acordado.

Encarando os sete mil ienes que cada um deles ganhou pelo


trabalho do dia, Satan sentiu-se confiante em suas convicções.

Se continuassem assim, conseguiriam ganhar o dinheiro que


precisavam por agora. E, quando juntassem o suficiente, poderiam
se focar em encontrar trabalhos de meio período para se manterem
trabalhando com um contrato de longo termo.

Essa missão, no entanto, foi frustrada em apenas duas


semanas.

Eles exerceram os seus deveres de forma consistente, ao


ponto onde os empregados assalariados que trabalhavam juntos
começaram a gravar seus rostos.

Mas, depois, a empresa recebeu uma notícia de proibição de


trabalho do governo, forçando-os a deixar o negócio de trabalho-
atribuído. Foi algo que os pegou de surpresa.
Cabisbaixos e sem fonte de renda, os dois voltaram para
casa. Passando por uma TV ligada no noticiário, eles ficaram
sabendo mais sobre a história.

O noticiário condenava a empresa, acusando-os de atribuir


funcionários a terrenos de obras ilegais e tirando uma grande
porcentagem do trabalho deles.

Satan focou-se no noticiário, pensando consigo mesmo sobre


por que ele, um grandioso demônio, precisou perder seu emprego
por causa de leis idiotas, que, acima de tudo, foram criadas por
humanos.

De repente, chegou a uma conclusão.

— Ei, Ashiya, espere um pouco.

— Eu prefiro Alciel, por favor.

— Nossa missão aqui é conquistar o mundo humano, não é?


Não passar todos os dias de nossas vidas juntando trocados para
sobreviver.

— S... sim. Isso mesmo.

— Então, o que acha de você se focar em encontrar uma


maneira de restaurar nossa magia? Eu posso trabalhar daí. Pode
até ser que eu tenha mais físico e magia, mas você... você é o
único estrategista que tenho. Preciso que você encontre uma fonte
de magia para mim aqui, no Japão.

— M-Maou...

— É “Vossa Majestade Demoníaca”. Mas enfim, mesmo que


possa ser mais confortável se os dois trabalharem, não devemos
perder nossos objetivos de vista. Demônios e magia podem até não
existirem aqui, mas os conceitos existem. E cada um deles tem uma
origem. Se conseguirmos encontrar essa origem, talvez...

— ... talvez possamos encontrar uma forma de recuperar essa


magia?

Satan assentiu sabiamente.

— Muito melhor do que nós dois presos a trabalhos de meio


período juntos, não acha? E também não há necessidade de focar
apenas em magia. Talvez consigamos encontrar um novo tipo de
poder, algo exclusivo neste mundo. Então poderemos usar isso
para dominar Ente Isla uma vez mais!

Ashiya... ééé, Alciel caiu de joelhos, profundamente comovido


pelo primeiro discurso motivacional de seu mestre em muitos dias.

— Com toda certeza, Vossa Majestade Demoníaca! Eu


colocarei minha vida em jogo para encontrar um caminho de volta
para Ente Isla; para encontrar um método de recuperar os poderes
de meu soberano!

— Alciel, levante-se logo. Estamos no meio da calçada. Você


está me deixando envergonhado.

Os pedestres encaravam conforme passavam, não revelando


um pingo de emoção ao verem Alciel ajoelhando-se repentinamente
e gritando idiotices no meio da tarde.

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