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ANNIE BESANT

MORTE... E DEPOIS ?

Tradução MARIO DE ALEMQUER

EDITORA PENSAMENTO
SÃO PAULO
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Título do original:
Death ... and After?
Edição original: The Theosophical Publishing House,
Adyar , Madras, Índia.

SUMÁRIO

Prefácio 04
Morte ... e depois? 05
O Destino do Corpo 12
O Destino do Duplo Etérico 17
O Kãmaloka e o Destino do Prãna e do Kãma 20
O Kãmaloka. Os Invólucros 29
O Kãmaloka. Os Elementares 31
O Devachan 32
O Devachani 39
A Volta à Terra 44
O Nirvãna 46
Comunicações Entre a Terra e as Outras Esferas 47
Apêndice 54

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PREFÁCIO (1)

Poucas palavras bastam para a apresentação deste pequeno volume. É o quarto de


uma série de manuais (2) publicada para satisfazer o desejo daqueles que reclamam uma
exposição simples e clara das doutrinas teosóficas. Muita gente tem se queixado de que
nossa literatura é ao mesmo tempo muito abstrusa, demasiado técnica e bastante cara
para a grande maioria dos leitores. Estamos esperançosos em que esta nova série,
correspondendo a uma verdadeira necessidade, preencherá essa lacuna. A Teosofia não é
só para os sábios e eruditos; é para todos. É possível que, dentre aqueles que nestes
pequenos volumes elementares beberam as primeiras ideias de suas doutrinas, surjam
alguns que sejam levados por elas a penetrar mais a fundo em seus aspectos científico,
religioso e filosófico, encarando os problemas teosóficos com o zelo do investigador e com
o ardor do neófito. Mas não foi só para o investigador, ávido de conhecimento, para quem
não há dificuldades iniciais que o amedrontem, que se escreveram, mas sim para todos os
indivíduos, de ambos os sexos, que, mergulhados na labuta diária de suas ocupações,
procuram assimilar algumas das grandes verdades que tornam a vida mais fácil de viver e a
morte mais fácil de encarar. Escritos pelos servos dos Mestres, que são os Irmãos
Primogênitos de nossa raça, seu objetivo não pode ser senão o de servir aos nossos
semelhantes.

(1) Prefácio da 1ª edição, 1893.


(2). Outros manuais teosóficos: O que é teosofia, A vida depois da morte, O plano astral e
O plano mental - de C. W. Leadbeater; Os sete princípios do homem, Reencarnação,
Karma e O homem e seus corpos, de A. Besant.

4
MORTE ... E DEPOIS?

É bem conhecida a história do missionário cristão na Grã-Bretanha que se achava na


vasta sala de um rei saxão, rodeado por seus nobres, onde tinha ido pregar o evangelho de
seu Senhor; e no momento em que falava da morte, da vida e da imortalidade, entrou
voando uma avezinha por uma janela aberta, deu uma volta na sala e saiu de novo,
perdendo-se na escuridão da noite. O sacerdote cristão disse, então, que o rápido espaço
de tempo que a avezinha esteve no salão se podia comparar à transitória e rápida vida
humana, que, perante a imensidade do tempo que a precede e a segue é apenas um
segundo da eternidade. Mas que a sua religião ensinava que a alma humana, depois de
percorrer a vida terrena, voltava para outra vida, mas ao contrário da ave, que mergulhou
nas trevas da noite, a alma passava para o brilho do sol de um mundo muito mais radioso
do que este. Da obscuridade, e pela janela aberta do nascimento, vem o homem à Terra;
permanece durante algum tempo perante nossa visão, mas em breve desaparece na
obscuridade pela janela aberta da Morte. Nunca em tempo algum o homem deixou de
perguntar à religião: De onde venho? Para onde vou? E a resposta variou sempre com o
credo religioso. Atualmente, tantas centenas de anos depois dessa conversa do missionário
Paulino com o rei saxão Edwin, existe mais gente na cristandade que pergunta se
realmente o homem tem um espírito vindo de qualquer lado com destino a qualquer parte
do que talvez em nenhuma outra época da história do mundo. E esses mesmos cristãos,
que proclamam que a sua religião aboliu os terrores da morte, são os que mais têm
cercado de pavor e de pompas fúnebres e sinistras o féretro e a campa. Que pode haver de
mais triste que a escuridão em que se mantém envolvida a casa enquanto o cadáver está
na eça? Que haverá de mais repulsivo que os vestidos fúnebres de crepes negros e que
esses pesados toques negros, envoltos em véus sinistros, de fealdade e mau-gosto
premeditados, com que a viúva mostra ao mundo chorar a "libertação" do esposo do
"fardo da carne"? Que haverá de mais repugnante que os rostos artificialmente
compungidos dos "gatos-pingados", de mais estúpido que as carpideiras, que os lenços
brancos cuidadosamente preparados para o choro, e finalmente as capas semelhantes a
mantos funerários? Felizmente, nestes últimos anos, alguma coisa tem progredido a esse
respeito. As capas, as plumas e as carpideiras desapareceram. O carro funerário,
grotescamente espectral, tende a desaparecer, e os féretros vão cobertos de flores em vez
de envoltos nos pesados e tristes panos fúnebres. Os homens e as mulheres, embora se
vistam ainda de luto, deixaram de se enrolar em vestuários sem forma, semelhantes a
lençóis ao vento, com a preocupação de parecerem ainda mais desgostosos, impondo a si
mesmos o uso de um vestuário de todos os pontos de vista incômodo. O bem-vindo senso
comum destronou esses ridículos costumes e negou-se a contribuir ainda mais para o
natural desgosto humano com essas inúteis e incômodas máscaras de mau-gosto.
Na literatura, e também na arte, esta maneira sinistra de encarar a Morte deve-se ao
Cristianismo. A Morte tem sido representada ora por um esqueleto empunhando um
gládio, ora por um crânio de sorriso sinistro, ou por uma figura de fisionomia horrível
5
erguendo um dardo, e ainda por um espantalho esquelético empunhando uma ampulheta -
tudo o que é suscetível de aterrorizar e de causar repugnância foi reunido em torno dessa
figura, a que com propriedade se chama a Rainha dos Horrores. Milton, que tanto
contribuiu com o ritmo majestoso de seus versos para dar forma à concepção popular do
Cristianismo moderno, empregou todo o vigor de seu estilo magnífico para cercar de horror
a figura da Morte.

A outra forma,
Se de forma pode ser chamada, pois não tinha nenhuma
Distinguível em elemento, junta, membro
Ou substância, pois mais à sombra se assemelhava,
Parecendo uma e outra, negra como a noite se postava,
Fera como dez fúrias, terrível como o inferno,
E vibrou um medonho dardo; o que parecia ser sua cabeça
Encimava a semelhança de uma coroa régia.
Satã estava agora disponível e do seu trono
O monstro depressa ia avançando,
Com horríveis passadas; o inferno tremia enquanto ele andava (... )
(...) Assim falou o pavoroso terror; e, na forma
Assim falando, tão ameaçador ficou dez vezes
Mais horrível e deformada (...)
(...) mas ele, meu inimigo congênito,
Lançou-se para diante, brandindo o seu dardo fatal,
Criado para destruir; eu fugi e gritei: Morte!
O inferno tremeu ao nome nefando e suspirou
Em todas as suas cavernas, e ressoou: Morte. (3)

É muito estranho que essa perspectiva da Morte fosse aceita pelos partidários
declarados de um Mestre de quem se diz que "rasgou o véu da vida e da imortalidade".
Tanto mais que a pretensão de que há apenas dezoito séculos é que se revelou a ideia da
imortalidade da alma é completamente absurda, em face do testemunho esmagador de
inúmeras provas em contrário. O majestoso ritual egípcio com o seu Livro dos mortos, em
que se descrevem as jornadas post-mortem das Almas, seria por si só suficiente para deitar
irremediavelmente por terra tão pretensiosa afirmação. Ouvi as exclamações da Alma do
justo:

Ó vós, que formais a escolta de Deus, estendei os braços para mim, que em breve
serei um dos vossos (XVII, 22).
Salve Osíris, Senhor da Luz, que moras na mansão poderosa, no seio da
obscuridade absoluta. A ti venho, como alma purificada; minhas mãos estão em volta
de ti (XXI, 1).
6
Eu abro o céu; eu faço o que foi ordenado em Mênfis. Conheço o meu coração,
estou de posse absoluta do meu coração, estou de posse absoluta de meus braços,
estou de posse absoluta de minhas pernas, sou senhor da minha vontade. A minha
alma não está prisioneira de meu corpo às portas de Amênti (XXVI, 5, 6).

Para não cansar o leitor com citações de um livro que está todo cheio das obras e
palavras do homem desencarnado, limito-me a transcrever o juízo final da Alma Vitoriosa:

O defunto será deificado entre os Deuses, na região divina inferior; nunca será
expulso. [...] Beberá na corrente do rio Celestial. [...] Sua Alma não será aprisionada,
visto que é uma Alma que traz a salvação àqueles que estão próximo dela. Os vermes
não o devorarão (CLXIV, 14-16).

A crença geral na Reencarnação é suficiente para provar que as religiões, cuja doutrina
central é constituída por essa teoria, creram na sobrevivência da Alma depois da Morte; e
querendo um exemplo, podemos citar unia passagem das Leis de Manu, que vem
imediatamente após um exame de metempsicose e que responde à questão da maneira
como o homem se pode libertar dos renascimentos:

Dentre todas estas ações, o conhecimento do eu [deve traduzir-se o conhecimento


do Eu superior, Alma], diz-se [ser] o mais elevado, isto é, na verdade, a primeira de
todas as ciências, visto que dela se obtém a imortalidade. (4)

O testemunho da grande religião de Zaratustra é igualmente claro, como mostra a


seguinte passagem traduzida do Avesta, em que, na sequencia à descrição da jornada da
Alma depois da morte, se diz:

A alma do homem puro dá o primeiro passo e chega ao (o Paraíso) Humata; a alma


do homem puro dá o segundo passo e chega ao (o Paraíso) Hukhta; dá o terceiro passo
e chega ao (o Paraíso) Hvarst; a alma do homem puro dá o quarto passo e chega às
Luzes Eternas.
A ele se dirige um purificado, que morreu antes, e pergunta: Como vieste tu, ó
morto purificado, das moradas da carne, das possessões da Terra, do mundo corporal,
para cá, para o mundo invisível, do perecível para o imperecível, como parece ser o teu
caso? Salve, morto purificado!
Então responde Ahura-Mazda: Não perguntes a quem perguntas, (pois) ele vem
pelo terrível, temeroso, arrepiante caminho, a separação da alma e do corpo. (5)

O Desatir persa fala com a mesma clareza. Essa obra compõe-se de quinze livros,
escritos pelos profetas persas, originariamente na língua vesta; "Deus" é. Ahura-Mazda ou
Yazdan:
7
Deus escolheu o homem dentre os animais para lhe conferir a alma, que é uma
substância livre, simples, não composta e não apetitosa. E que se converte num anjo
pelo aperfeiçoamento.
Com sua profunda sabedoria e sublime inteligência pôs a alma em relação com o
corpo material.
Se procede bem [o homem] no corpo material, e tem bom conhecimento e religião,
é um Harstap.
[...] Assim que ele deixa o seu corpo material, eu (Deus) levo-o para o mundo dos
anjos para que possa conversar com eles e contemplar-me.
E se embora não seja Harstap, tem sabedoria e se abstém do vicio, elevá-Io-ei à
ordem dos anjo:
Todo o ente encontrará, em proporção com a sua sabedoria e a sua devoção, um
lugar nas fileiras dos sábios, no meio dos céus e das estrelas, e nessa região de
felicidade permanecera para sempre. (6)

O costume antiquíssimo na China de se prestar homenagem às Almas dos


antepassados demonstra até que ponto se considerava que a vida do homem ia ainda
além-túmulo. O Shü King - classificado por Mr. James Legge como o mais antigo dos
clássicos chineses, e que contém documentos históricos que remontam aos anos 2357 -627
a. C. - está cheio de alusões àquelas almas que, em outros seres espirituais, velem pelas
coisas de seus descendentes e pela prosperidade do reino. Assim Pankang, que governou
de 1401 a 1374 a. C., exorta seus súditos da seguinte forma:

É meu objetivo amparar-vos e alimentar-vos a todos. Penso em meus antecessores (que


são agora) os soberanos espirituais. [... ] Se eu não governasse bem e permanecesse muito
tempo aqui, meu soberano superior (o fundador de nossa dinastia), enviar-me-ia um grande
castigo por meu crime, dizendo: "Por que escravizar meu povo?" Se vós, todos, não cuidais
da perpetuidade de vossas vidas, e não vos unis de alma e de coração a mim, o homem Uno,
em meus planos, os reis antigos enviar-vos-ão, a vós, grandes castigos, dizendo: "Por que
não estais de acordo com vosso jovem descendente e continuais perdendo a vossa virtude?"
Quando eles vos castigam do alto não tendes meio de evitar o castigo. [...] Vossos
antecessores e pais desprezar-vos-ão [agora], deixando-vos no maior abandono, e não vos
salvarão da morte. (7)

Realmente essa crença chinesa, que ainda hoje se mantém como nos mais remotos
tempos, é tão prática que a "mudança que os homens chamam Morte" parece representar
um papel insignificante no pensamento e na vida dos habitantes da Terra Florida.
Essas citações, que poderíamos centuplicar, bastam para provar a insensatez da ideia
de que a imortalidade "foi revelada pelo Evangelho". O mundo antigo está todo banhado
na luz da crença na imortalidade do homem; vivia diariamente nela, encheu com ela sua
literatura e com ela cruzava em paz as portas da morte.
Continua de pé o problema: por que é que o Cristianismo, que confirmou e tornou a
8
confirmar essa crença, com tanto vigor e ao mesmo tempo com tanta serenidade, fez
desenvolver esse enorme terror perante a Morte, terror que tão predominante papel tem
representado na vida social, literária e artística dos povos cristãos. Não é apenas a
concepção do inferno que cercou o túmulo de um tão grande cortejo de horrores, porque
outras religiões há que também têm infernos e contudo seus adeptos não andam
arrepiados com esse terror sombrio. Os chineses, por exemplo, encaram a Morte como
uma coisa ligeira e trivialíssima e, contudo, têm uma coleção de infernos verdadeiramente
única pela natureza e variedade dos tormentos. É possível que esta diferença de
interpretação seja proveniente mais de uma questão de raça do que propriamente de
crença; talvez a vida vigorosa e ativa do Ocidente estremeça perante a antítese dessa vida,
e que o senso comum das nossas raças tão sem imaginação ache uma existência incorpórea
demasiado desconfortável, ao passo que o Oriente, mais místico e sonhador, mais inclinado
à imaginação, e sempre ansioso por se libertar da escravidão dos sentidos durante a vida
terrena, considere o estado incorpóreo como o melhor e como o que melhor conduz à
libertação do pensamento.
Antes de entrarmos no estudo da história do homem no estado post-mortem, é
conveniente lançar uma vista de olhos, embora rápida, à constituição do homem segundo o
critério da Filosofia Esotérica, pois, para podermos compreender a desintegração do ser
humano, é imprescindível o conhecimento de seus constituintes. O homem é constituído
por:

A Tríade Imortal: a Individualidade

Àtmã ................. Espírito como Vontade


Buddhi ....................................... Intuição
Manas .................................. Inteligência

O Quaternário Mortal: a Personalidade

Kãma ...........................Natureza emocional


Prãna .......................................... Vitalidade
Linga Sharira .......................... Duplo etérico
Sthula Sharira ............................Corpo físico

Desses sete corpos ou princípios, o corpo físico é a forma exterior visível e tangível,
composta de vários tecidos. O duplo etérico é o duplicado etérico do corpo, composto de
éteres físicos. O Prãna é a vitalidade, a energia que integra e coordena as moléculas físicas
conservando-as unidas num organismo definido; é o sopro de vida dentro do organismo, a
parte do Alento da vida universal de que o organismo se apropriou durante esse lapso de
9
tempo da existência, a que vulgarmente se chama "uma vida", e que aparece em duas
formas: vitalidade consciente e vitalidade automática. O Kãma é a conjunção de desejos,
paixões e emoções, comuns ao homem e ao animal, embora com um desenvolvimento
maior no homem sob a ação do espírito inferior. O Manas é o Pensador, aquilo que em nós
pensa e raciocina, a Inteligência. O Buddhi é o aspecto do Espírito que se manifesta acima
da Inteligência, é o veículo onde habita o Manas, e por meio do qual este se manifesta.
O laço entre a Tríade Imortal, permanente, e o Quaternário Mortal, perecível.
transitório, é a Inteligência, o intelecto que é dual durante a vida terrena ou encarnação, e
que funciona como Inteligência ou Manas superior, e como Espírito ou Manas inferior. A
Inteligência emite um Raio, o Espírito, que trabalhando no cérebro humano e por meio
dele, funciona como consciência cerebral, como consciência raciocinadora. Este une-se ao
Desejo, à natureza emocional, ao Kãma, e dessa união resulta as paixões e emoções
passarem a fazer parte integrante do Espírito, como o define a Psicologia do Ocidente. E
assim temos o elo que liga a natureza superior do homem à inferior, esse Espírito de
Desejos, ou Kãma-Manas, que pertence à superior pelos elementos intelectuais ou
manásicos, e à inferior pelos elementos emocionais ou kâmicos. Como este Kãma-Manas é
o campo onde durante a vida se desenrola a grande batalha entre as aspirações
progressivas e as inclinações regressivas, seu papel na vida post-mortem é
excepcionalmente importante. Podemos agora, tendo em vista esta junção, no Kãma-
Manas, dos elementos permanentes e transitórios, classificar nossos sete princípios da
seguinte forma:

Atmã
Buddhi Imortal
Manas superior
Kãma·Manas ............... Condicionalmente imortal
Prâna
Duplo etérico Mortal
Corpo físico

Alguns escritores cristãos adotaram uma classificação semelhante a esta,


considerando: o Espírito, inerentemente imortal, em virtude de sua natureza divina;·a Alma
condicionalmente imortal, isto é, suscetível de ganhar a imortalidade, unindo-se com o
Espírito, e o Corpo inerentemente mortal. Porém, a maior parte dos cristãos, geralmente
pouco cultos, contentam-se em dividir o homem em dois: o Corpo, que perece com a
Morte, e uma outra coisa - chamada indistintamente Alma ou Espírito que sobrevive à
morte. Esta última classificação - se assim pode ser chamada - é absolutamente disparatada
e com ela não é possível procurar uma explicação racional, nem sequer fazer qualquer
afirmação clara, acerca dos fenômenos da existência post-mortem. O ponto de vista da
tríplice divisão dá uma ideia mais racional da constituição do homem, mas não pode
conduzir à explicação de muitos fenômenos. A divisão setenária é a única que permite
edificar uma teoria consistente acerca dos fatos de que vamos tratar, e por isso, embora
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pareça uma divisão artificialmente arquitetada, será bom que o estudante se familiarize
com ela. Se ele tratasse de estudar apenas o corpo, e quisesse compreender suas funções,
teria de classificar-lhe os tecidos componentes muito mais detalhadamente, com muito
mais minúcias, do que estou fazendo. Teria de aprender as diferenças entre tecidos
musculares, nervosos, glandulares, cartilaginosos, epiteliais, conectivos, e todas as suas
variedades; e se sua ignorância se revoltasse contra uma divisão tão cheia de minúcias,
teria de se lhe dizer que só com uma semelhante análise dos diferentes elementos
constituintes do corpo é que se podiam compreender os diferentes e complicados
fenômenos da atividade funcional da vida. Esses tecidos são necessários, uns para a
manutenção do corpo, outros para o movimento, outros para a secreção, e ainda outros
para a absorção etc.; e se a cada classe não se tivesse dado um nome especial, privativo, a
confusão resultante seria imensa e nunca se chegaria a compreender as funções físicas. A
aprendizagem de meia dúzia de nomes técnicos imprescindíveis garante-nos uma economia
de tempo e aquisição dos conceitos com maior clareza; e como esta é indispensável, não só
para a explicação como para a compreensão dos complicadíssimos fenômenos post-
mortem, vejo-me obrigada, contra meus hábitos, a recorrer desde já a esses termos
técnicos, tanto mais que nas línguas europeias não há equivalentes para eles e o emprego
de longos circunlóquios, elucidativos de cada ideia representada por cada um deles, seria
enfadonho e constituiria um grande obstáculo à sequencia do raciocínio .
A meu ver, uma grande parte do antagonismo, que se manifesta entre os partidários
da Filosofia Esotérica e os do Espiritismo, resulta precisamente de uma confusão de termos,
cuja impropriedade determinou uma má compreensão das ideias e dos conceitos
encerrados em cada um. Um espiritualista eminente disse uma vez, num momento de
impaciência, que não compreendia a necessidade de uma definição exata, e que para ele
bastava dizer, por exemplo, que Espírito era toda a parte do homem que não sendo corpo
sobrevivia à Morte. Ora, isto, sem querer fazer humorismo, é o mesmo que se se teimasse
em dizer que o corpo do homem é formado por ossos e sangue e à pergunta sobre a
definição de sangue se respondesse: "0, Sangue é ... tudo que não é osso." Uma definição
clara dos termos e uma observância rigorosa destes têm, pelo menos, a vantagem de nos
podermos entender mutuamente e essa mútua compreensão é o primeiro passo para o
bom resultado de uma comparação de nossas respectivas experiências.

(3). Paraíso perdido,livro li, versos 666 a 789. A passagem toda está cercada de
horrores.
(4). XII 85. Tradução de Le Burnell e Hopkins.
(5). Da tradução de Dhunjeebhoy Jamsetjee Medhora. Zoroastrismo e alguns outros
antigos sistemas.
(6). Traduzido por Mirza Moamed Hedi. O platônico, 306.
(7). Os livros sagrados do Oriente III, 109, 110.

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O DESTINO DO CORPO

O corpo humano está continuamente sujeito a um duplo processo de destruição e


reconstrução. Construído primeiramente na forma etérica no seio materno, sua formação
vai-se fazendo constantemente graças à acumulação de novos materiais. A cada momento
do tempo, pequeninas moléculas o abandonam, separando-se dele. A corrente que sai
espalha-se no espaço, e vai contribuir para a reconstrução de corpos de todas as espécies
nos reinos mineral, vegetal, animal e humano, visto a base física de todos esses reinos ser
uma única.

A ideia de que o tabernáculo humano é construído por vidas em número infinito, à


semelhança do processo de construção da crosta terrestre, não tem em si nada de repulsivo
para o verdadeiro místico. [...] A ciência ensina-nos que tanto nos organismos vivos como
nos mortos, tanto no homem como no animal, se agita uma multidão imensa de bactérias
de centenas de espécies diferentes. De fora, temos a ameaça constante da invasão de
micróbios a cada inspiração e, dentro de nós mesmos, temos o perigo dos leucômenos,
aeróbios, anaeróbios etc. Mas a ciência ainda não chegou ao ponto de afirmar, como a
Doutrina Oculta, que nossos corpos, os corpos dos animais, as plantas e os minerais são
totalmente formados por seres, que, à exceção .de algumas espécies maiores, nenhum
microscópio conseguiu ainda descobrir. No que diz respeito à parte puramente material e
animal do homem, a ciência encontra-se atualmente em via de descobertas que, em grande
parte, vêm comprovar esta teoria. A química e a fisiologia são os dois grandes magos do
futuro; são elas que vão abrir os olhos da humanidade às grandes verdades físicas. Dia a
dia, aparece mais nitidamente demonstrada a identidade entre o animal e o homem físico,
entre a planta e o homem entre o réptil e seu ninho, e até entre a rocha e o homem:
Realmente, visto a química asseverar que os constituintes físicos e químicos de tudo que
existe são os mesmos pouco falta para asseverar também que não há diferença entre a
matéria que forma o boi e a que forma o homem. Mas a Doutrina Oculta é muito mais
explícita, porque afirma que não são apenas os componentes químicos que são os mesmos,
mas as próprias invisíveis vidas infinitesimais que compõem os corpos da montanha e o do
malmequer, do homem e da formiga, do elefante e da árvore. Cada partícula, chame-se-lhe
orgânica ou inorgânica, é uma vida. (8)

Essas "vidas" que, separadas e independentes, pertencem ao Prãna, formam, quando


agregadas, moléculas e células do corpo físico, e andam num vaivém contínuo, enquanto
dura a vida corpórea, constituindo uma ponte contínua entre o homem e aquilo que o
cerca. Por sua vez, estas estão sob a ação das "Vidas Ígneas", que as obrigam ao trabalho de
construção de células do corpo, de modo que esse trabalho executa-se na maior harmonia
e na mais absoluta ordem, numa subordinação completa a manifestação superior de vida
neste complexo organismo, chamado homem. Essas Vidas Ígneas do nosso plano
correspondem, nessas funções diretrizes e reguladoras, à Vida Una do Universo, (9) e logo
12
que elas deixem de exercer essas funções no corpo humano, as vidas inferiores começam a
correr desordenadamente, e é esse o início da decomposição do corpo até aí devidamente
organizado. Durante a vida do corpo são disciplinadas como um exercito; marcham em
ordem sob o comando de um general, executam várias evoluções, conservam o passo certo,
movem-se como um só corpo. Mas, chegado o momento da "Morte" esse exército, modelo
de disciplina, converte-se numa multidão desordenada e tumultuosa, que se precipita de
um lado para o outro, se atropela, se empurra violentamente sem um objetivo definido,
sem obediência a qualquer autoridade geralmente conhecida. É precisamente quando está
morto que o corpo tem mais vida; mas essa vida existe apenas em suas unidades, não em
sua totalidade; está vivo como massa, morto como organismo,
A ciência considera o homem como um agregado de átomos unidos temporariamente
por uma força misteriosa chamada princípio vital. Para o materialista, a única diferença
entre um corpo vivo e um corpo morto é que num caso essa força está ativa, no outro,
latente. Logo que essa força se extingue ou entra no estado latente, as moléculas passam a
obedecer a uma atração superior, que as separa e as dissemina pelo espaço. É a esta
dispersão que vulgarmente se chama "Morte", se realmente é racional considerar como
morte um estado em que as próprias moléculas do corpo morto manifestam uma energia
vital cheia de intensidade. [...] Diz Eliphas Levi: “Toda a transformação revela um
movimento, e só o movimento é que revela a vida. O corpo não se decomporia se estivesse
morto; todas as moléculas que o compõem estão vivas e lutam por sua separação. (10)
Quem leu Os sete princípios do homem (11) sabe que o duplo etérico é o veículo do
Prãna, o princípio vital ou vitalidade. É por meio desse veiculo que o Prãna exerce suas
funções coordenadoras e reguladoras, de que já se falou, e é quando esse duplo etérico se
separa definitivamente e o tênue fio que o liga ao corpo se parte, que a Morte triunfante
toma posse do corpo. O processo dessa separação tem sido observado por clarividentes e
dele existem descrições precisas. Assim, Andrew Jackson Davis "o Vidente de
Poughkeepsie", conta-nos suas observações pessoais acerca dessa separação do corpo
etéreo, e afirma que o fio magnético apenas se quebra trinta e seis horas depois a morte
aparente. Outros descreveram de maneira análoga a armação de uma névoa violácea, que,
erguendo-se do corpo morto, pouco a pouco se ia condensando numa figura, precisamente
o duplo do moribundo, apenas ligado a este por um fio luminoso. A quebra do fio significa a
desaparição do último laço magnético que unia ainda o corpo denso aos princípios
restantes da constituição humana; o corpo caiu, separou-se do homem; o homem está
desencarnado, incorpóreo, porém, logo imediatamente após a morte, restam ainda, de sua
constituição, seis princípios; apenas o sétimo, o corpo denso, foi posto à parte como uma
roupa usada.
A morte consiste, na verdade, num processo que se traduz em pôr sucessivamente à
parte invólucros usados, inúteis. A parte imortal do homem sacode sucessivamente de si os
seus invólucros externos e - como a serpente quando muda de pele, como a borboleta
quando deixa a crisálida - a cada vez renasce de si mesmo, num estado mais elevado de
consciência. Ora, é um fato sabido que esta saída do corpo e a permanência da entidade
consciente, quer no duplo astral, quer num Corpo de Pensamento ainda mais etéreo, pode
dar-se na vida terrena; e, desse modo, o homem pode familiarizar-se com o estado de
13
desencarnado, e assim deixar de viver apavorado com todos esses terrores que rodeiam o
desconhecido. Pode muito bem reconhecer-se como entidade consciente em qualquer
desses veículos e convencer-se, com grande satisfação, de que a "vida" não é privativa,
nem é consequência da atividade do corpo físico. Que motivos teria um homem, que já
sucessivas vezes tivesse "sacudido" de si os corpos inferiores, e tivesse reconhecido que
deste processo resultava não um estado de inconsciência, mas uma condição de liberdade
ilimitada e de intensa expansão da vida, por que um homem consciente desta verdade
haveria de tremer perante o rompimento de suas últimas algemas e perante a libertação
de seu Ego imortal daquilo que ele sabe ser apenas uma prisão de carne?
Este ponto de vista acerca da vida humana constitui uma parte essencial da Filosofia
Esotérica. O Homem é, na sua origem, divino, uma centelha da Vida Divina. Essa chama
viva, irrompendo do Fogo Central, tece para si mesma invólucros, conchas, em que passa a
residir e converter-se assim na Tríade, Atmã-Buddhi-Mãnas, ou Mente, reflexo do Ego
Imortal. Este emite um Raio, que se encarna em matéria mais grosseira, no corpo dos
desejos, ou elementos kâmicos, natureza emocional, e no duplo etérico e no corpo físico. A
Inteligência imortal, até então livre, vendo-se manietada a ferros, encadeada, trabalha
árdua e laboriosamente através das paredes que a envolvem. E, embora presa, há de ser
sempre, por natureza, a Ave do Céu, sempre livre, e sempre ansiosa de liberdade; e por isso
se esforça por soltar as asas da matéria densa em que mergulhou. Logo que o homem tem
conhecimento de sua natureza inerente, aprende imediatamente a abrir a tempo as portas
da prisão e a fugir da jaula em que o encerraram; começa por aprender a identificar-se com
a Tríade imortal, para se erguer acima do corpo e das paixões a este inerentes, para uma
vida mais moral e de maior espiritualidade; em seguida aprende que o corpo conquistado
não tem autoridade para aprisioná-lo e abre os ferrolhos, e lança-se no esplendor da
verdadeira vida. E assim, quando a Morte lhe abre as portas da masmorra, já conhece a
região onde vai ingressar, porque, sua vontade já o fez antes percorre-la toda, já a força de
vontade lhe trilhou todos os atalhos. E, por fim, revela-se-lhe esse fato de suprema
importância, que a "Vida" nada tem com o corpo, nem com o plano físico; que a vida é a
sua existência consciente, ininterrupta, insuscetível de interrupção, e que os rápidos lapsos
de tempo, durante os quais ele vive na Terra, são apenas uma fração mínima de sua
existência consciente, fração que, além de seu ínfimo valor, corresponde a seu mínimo de
intensidade de vida, por causa dos invólucros que o sobrecarregam, manietando-lhe a
energia. Porque - salvo casos muitos excepcionais - é só nestes intervalos crepusculares em
que vem à Terra, que o homem pode perder totalmente a consciência da continuidade da
vida, porque esses invólucros cercam-no de ilusão e cegam-no para a visão da verdade das
coisas, convertendo em real o que é ilusório, em permanente o que é transitório. Sobre o
Universo brilha em todo seu esplendor a luz de, um sol radioso, mas, a cada encarnação,
penetramos na luz crepuscular do corpo, e, durante o nosso encarceramento na carne,
apenas podemos ver as coisas num lusco-fusco enganador e traiçoeiro, que altera a
verdadeira face das coisas; a cada Morte, pelo contrário, saímos de novo da prisão e
ingressamos mais uma vez na, luz do sol, aproximando-nos cada vez mais da realidade.
Curtos e rápidos são esses crepúsculos, longos e demorados os períodos de luz do sol; mas
em nossa cegueira chamamos vida à obscuridade, e ela é para nós a verdadeira existência,
14
e às grandes claridades chamamos Morte, tremendo à ideia de termos de passar por ela.
Giordano Bruno, um dos mais ilustres mestres de nossa Filosofia na Idade Média,
descreveu admiravelmente a verdade acerca do corpo do Homem. O homem verdadeiro,
diz ele:

Estará presente em seu corpo de tal modo que a melhor parte de si mesmo estará dele
ausente e unir-se-á por meio de sacramento solene às coisas divinas, de maneira que não
sentirá nem amor, nem ódio pelas coisas mortais. Considerar-se-á o senhor e, portanto, não
deverá ser servo nem escravo do corpo, que reconhecerá ser a prisão que lhe tolhe a
liberdade, o visco que lhe prende as asas, a cadeia que lhe ata solidamente as mãos, o véu
que lhe cega a vista. Que não seja nem servo, nem escravo, nem cativo, que não se deixe
apanhar no laço, nem cegar, nem encadear, nem vencer pela inação, pois o corpo que
abandona não pode tiranizá-lo; de modo que assim o espírito apresenta-se-Ihe, até certo
ponto, como mundo corporal, e a matéria fica sujeita à divindade e a natureza. (12)

Uma vez chegados a considerar deste modo o corpo, e adquirida portanto nossa
liberdade, conquistando-a, a morte perde todos os seus terrores e abandonamos o corpo,
como quem despe uma roupa de que já não precisa e sem ela ficamos eretos e libertos.
Nessa mesma ordem de ideias, escreve o Dr. Franz Hartmann:

Segunda algumas opiniões do Ocidente, o homem é um macaco desenvolvido.


Segundo a visão dos Sábios Indianos, que também coincide com as visões dos filósofos da
Antiguidade e com as doutrinas dos Místicos Cristãos, o homem é um Deus, que, durante a
vida terrena, esta Unido, por meio de suas tendências carnais a um animal (a sua natureza
animal) O Deus que nele vive dá-lhe a sabedoria, o animal dá-lhe a força. Depois da Morte,
o Deus liberta-se do homem por sua separação do corpo animal. Portanto, tendo o homem
dentro de si essa consciência divina, seu dever é combater as inclinações animais e elevar-
se acima delas com a ajuda do princípio divino, tarefa que não pode ser levada a cabo pelo
animal e que, portanto, não lhe é exigida. (13)

O "homem", empregando a palavra no sentido da personalidade, que lhe dá a metade


final da passagem transcrita, é imortal condicionalmente; o homem verdadeiro, o Deus,
liberta-se e leva consigo a parte da personalidade que se uniu com o divino.
O corpo, entregue ao turbilhão das inúmeras vidas - que antes o Prãna mantinha em
obediência, atuando por meio de seu veiculo, o duplo etérico, - começa a desorganizar-se
e, à medida que as células e as moléculas se vão desintegrando, suas partículas passam a
fazer parte de outras combinações.
Ao retornar à Terra, podemos voltar a encontrar algumas dessas mesmas inúmeras
vidas que numa das encarnações passadas habitaram transitoriamente nosso corpo de
então; mas por agora o que nos interessa, e disso nos ocupamos, é a desorganização do
corpo cuja última contração vital se deu, e cujo destino é a desintegração total. Portanto,
para o Sthula-Sharira, ou corpo denso ou físico, a Morte significa dissolução de um
organismo, o afrouxamento dos laços que uniam os muitos num único todo.
15
(8). H. P. Blavatsky, A doutrina Secreta, vol. I, Editora Pensamento.
(9) Veja A doutrina secreta, vol. I.
(10) Ísis sem véu, voI. I.
(11) Também de Annie Besant
(12). De gli eroici furori, traduzido para o inglês por L. Williams, parte lI, pp. 22 e 23.
(13). Cremação, Triagens teosóficas, vol. 111.

16
O DESTINO DO DUPLO ETERICO
O duplo etérico, ou Linga Sharira ou corpo astral é, como seu nome indica, o duplicado
do corpo grosseiro do homem. É o corpo etéreo que se vê algumas vezes na proximidade
do corpo físico, e a sua ausência deste nota-se geralmente por uma espécie de semiletargia
que se manifesta no corpo da pessoa de onde saiu. Atuando como reservatório, ou veículo
do princípio vital durante a vida terrena, sua separação do corpo assinala-se naturalmente
por uma queda de todas as funções vitais, mesmo antes da quebra do fio que os une. Como
já foi dito, é a quebra desse fio que ultima a morte do corpo.
Quando o duplo etérico deixa finalmente o corpo físico, não se distancia deste.
Normalmente, conserva-se flutuando sobre ele, que passa a um estado de consciência
sonolento e tranquilo, a não ser que em volta do cadáver, que ele acabou de deixar, haja
grandes e violentas manifestações de dor e de emoção. E a propósito, convém observar
que, durante o lento processo da morte, enquanto o duplo etérico está realizando a
separação, e mesmo depois desta terminada, todos se devem conservar no maior sossego e
tranquilidade, tanto quanto possível senhores de si, na câmara mortuária. Pois é durante
esse tempo que o Ego passa em revista toda a vida passada, como nos contam aqueles que,
prestes a morrer afogados, já se encontraram nesse estado de inconsciência e quase de
morte. Um Mestre escreveu:

No último momento toda a nossa vida se nos reflete na memória e emerge de todos os
cantos e recantos esquecidos, quadro após quadro, acontecimento após acontecimenta. [...]
Um homem pode muitas vezes parecer já estar morto e, contudo, entre a última pulsação e
o momento final em que a derradeira centelha de calor animal abandona o corpo, medeia
um espaço de tempo em que o cérebro pensa e o Ego revive, durante esses rápidos
segundos, toda a sua vida passada. Falai em segredo, que não se ouça mais que um tênue
murmúrio, vós, que estais junto a um leito de um moribundo, na presença solene da Morte.
Acima de tudo, conservai-vos tranquilos, assim que a morte tenha estendido a mão viscosa
sobre o corpo. Falai baixinho, repito, porque, se o não fizerdes, vossa voz e vossos gritos e
soluços perturbarão o tranquilo marulhar do pensamento, tornar-se-ão em obstáculos à
laboriosa obra do passado, lançando seus reflexos sobre o véu do futuro. (14)

É durante esse tempo que as formas-pensamentos da vida terrena que termina,


enxameiam em volta de seu criador e aí se agrupam em cachos e se combinam, formando a
imagem completa dessa existência, e imprimindo-se em sua totalidade na Luz Astral. As
tendências dominantes, os hábitos de pensamento mais fortes, atestam e confirmam sua
proeminência e ficam estampados, formando as características que hão de vir a ser as
"qualidades inatas" na próxima reencarnação. Este balanço final das contas da vida, esta
leitura dos anais do Karma, é de uma tal importância e solenidade que não deve ser
perturbada por lamentações intempestivas dos parentes e amigos.

No momento solene da morte, todos os homens, mesmo aqueles acometidos de morte


17
súbita, passam toda a sua vida em revista, mesmo os mais insignificantes detalhes. Por um
rapidíssimo instante a personalidade funde-se com o Ego individual, conhecedor de tudo.
Mas esse instante é suficiente para a revelação de todas as causas que se criaram durante
a vida. É nesse momento que o homem se vê como é na realidade, despido de lisonjas e de
amor próprio. E faz a leitura de sua vida como um espectador; que contempla, pela última
vez, a arena que abandona. (15)

A este espetáculo cheio de vida segue-se, nas criaturas vulgares, essa tranquila e
sonhadora semiconsciência, de que já se falou, quando o duplo etérico flutua por sobre o
corpo a que pertenceu, agora completamente separado dele.
Algumas vezes, quando o pensamento do moribundo se fixou com intensidade em
alguém que vai deixar, quando qualquer grande preocupação lhe assaltou o espírito nos
últimos momentos, qualquer coisa que queria deixar feito e não fez - há pessoas da casa ou
das proximidades que veem esse duplo etérico. Nestas condições, e em outras de natureza
semelhante, pode ver-se ou ouvir-se o duplo; quando se deixa ver apresenta esse estado
de inconsciência a que se aludiu, apresenta-se silencioso, de aspecto vago e por assim
dizer, incomunicável.
Mas os dias vão passando; e com seu decorrer os cinco princípios superiores vão-se
soltando gradualmente do duplo etérico e sacodem-no de si, como fizeram com o corpo
físico. E tendo-o abandonado, passam, como entidade quíntupla, a um estado de que nos
ocuparemos mais adiante, deixando o duplo etérico, agora uma espécie de cadáver astral,
com o corpo, precisamente como aconteceu antes com o corpo físico, que se converteu
num cadáver físico. Esse cadáver astral conserva-se perto do físico, e ambos se desintegram
ao mesmo tempo. Os clarividentes veem esses despojos astrais nos cemitérios, umas vezes
dotados de grande semelhança com o corpo físico morto, outras, apenas com o aspecto de
uma luz violácea. Um de meus amigos, que, decerto, perante o terrível espetáculo que
presenciou, amaldiçoou sua faculdade de clarividência, viu um desses cadáveres astrais no
período repulsivo da putrefação. O processo vai seguindo pari passu, até que, por fim, tudo,
à exceção do esqueleto ósseo do corpo físico, se desintegra completamente e as partículas
vão entrar em novas combinações.
Uma das grandes vantagens da cremação - além do caráter higiênico para os vivos -
reside na rapidez da restituição à Mãe Natureza dos elementos físicos que compõem os
corpos físico e astral, provocada pelo fogo. Em vez de uma decomposição lenta e gradual, a
cremação provoca uma dissociação rápida, que não deixa vestígios físicos, capazes de ainda
vir a produzir perturbações no plano físico.
O cadáver astral pode, até certo ponto, recuperar um pouco de vida, durante alguns
momentos depois de sua morte. A este respeito diz o Dr. Hartmann:

O cadáver recente de um individuo morto subitamente pode ser galvanizado numa


aparência de vida pela aplicação de uma bateria galvânica. Da mesma forma, num cadáver
astral pode-se insuflar um pouco de vida artificial por meio de uma infusão de parte do
principio vital do médium. Se se trata de um cadáver de uma criatura muito intelectual,
pode falar com inteligência, e se for o cadáver de um doido, não dirá senão tolices. (16)
18
Esse fenômeno, cuja provocação é sempre de efeitos perniciosos, só se pode dar na
proximidade do cadáver e por muito pouco tempo, mas há casos registrados da
galvanização do cadáver astral à beira da sepultura do indivíduo. Desnecessário é dizer que
a provocação desses fenômenos obedece a preceitos de Magia Negra, e é da mais completa
perversidade. Os cadáveres astrais devem, caso não sejam, como os físicos, imediatamente
destruídos pelo fogo, ser deixados no silêncio e na obscuridade tais que ninguém, sob pena
de provocar a pior das profanações, deve de modo algum quebrar.

(14). Homem: fragmentos de uma história esquecida, pp. 119.120.


(15). H. P. Blavatsky, A chave da teosofia, Editora Pensamento.
(16). Magia, branca e negra, Dr. Franz Hartmann, 3ª ed., pp. 109, 110.

19
O KÃMALOKA E O DESTINO DO PRÃNA E DO KÃMA
Loka é uma palavra sânscrita que podemos traduzir por lugar, mundo, terra, e
Kãmaloka, quer dizer, literalmente, o lugar ou mundo do Desejo, visto "Kãma" ser o nome
dado a essa parte do organismo humano que encerra as paixões, os desejos e as emoções
que o homem tem em comum com os animais inferiores. (17) Nesta divisão do Universo, no
Kãmaloka, é que habitam todas as entidades humanas que sacudiram de si o corpo físico e
seu duplo etérico, mas que ainda não se desembaraçaram da natureza passional e
emocional. Além dessas entidades, muitas outras habitam também o Kãmaloka, mas neste
momento apenas nos interessam os seres humanos que passaram recentemente pelas
portas da Morte, e, portanto, a esses limitaremos nosso estudo.
Seja-nos, porém perdoada uma pequena digressão sobre a questão da existência de
regiões no Universo, diferentes do mundo físico, que são habitadas por seres inteligentes.
A existência dessas regiões é aceita pela Filosofia Esotérica, e é conhecida- dos Adeptos e
de muitos indivíduos de ambos os sexos em menor grau de evolução, por experiência
própria; para se poder conhecer essas regiões basta ter desenvolvido certo número de
faculdades latentes no homem; um homem "vivo", servindo-nos da linguagem vulgar, pode
abandonar os corpos físico e etéreo e explorar essas regiões, sem transpor as portas da
Morte. Assim lemos no Teosofista, que o verdadeiro conhecimento pode ser adquirido em
vida pelo homem que entre em relações conscientes com o mundo do Espírito.

Como, por exemplo, o caso de um Adepto iniciado que traz para a Terra memórias
pormenorizadas e verdadeiras até nos menores detalhes dos conhecimentos que adquiriu e
de tudo que presenciou na esfera invisível das Realidades. (18)

Desta forma, essas regiões tornam-se-lhe tão familiares, motivos de conhecimento


tão certo, tão positivo, como se tivesse empreendido uma viagem à África, lhe explorasse
as florestas, os desertos, e voltasse depois à terra de onde partiu, rico de novos
conhecimentos e cheio de novas impressões, adquiridos por experiência própria. Um
explorador da África, amadurecido e audaz, pouco se preocupará com a crítica a seu
respeito da parte daqueles que nunca viram o que ele viu; a opinião dos ignorantes não o
impede de descrever o que viu, de estudar os hábitos característicos de animais desses
climas, de esboçar as regiões atravessadas, e de enumerar os produtos e demais
peculiaridades locais. Se, por acaso, os críticos que nunca saíram de casa, o
contradisserem, se rirem dele, ou se desconfiarem de suas descrições, não seria isso
motivo de desânimo nem de aborrecimento; "deixe-os falar", diria, porque a
incompetência nunca pode chegar a convencer o conhecimento, apenas com a asserção
repetida de sua ignorância. A opinião de cem pessoas ignorantes de certo assunto, acerca
dele, pesa tanto como a de uma só, nas mesmas circunstâncias. A evidência de um fato
torna-se sem dúvida mais forte e mais sólida quanto mais numerosas forem as
testemunhas presentes, que voluntariamente atestem a existência dos fatos, cuja
realidade afirmam, mas zero multiplicado por mil há de ser sempre zero. E realmente seria
20
estranho, seria demais querermos que todo o Espaço que nos cerca seja um deserto vazio
e oco, e nós, os habitantes da Terra, as únicas formas em que a inteligência se pode instalar.
Como disse o Dr. Huxley:

Sem sairmos da analogia de tudo que é conhecido, é fácil povoar o cosmo de


entidades, numa escala ascendente, até chegarmos a qualquer coisa indistinguível da
onipotência, onipresença e onisciência. (19)

Não tendo essas entidades órgãos dos sentidos, como os nossos, respondendo os seus
sentidos a vibrações diferentes daquelas que afetam os dos seres humanos, é evidente que
o homem pode passar a seu lado, cruzar com elas a todos os instantes, sem contudo dar
por sua existência, e vice-versa. Mr. Crookes dá-nos uma ideia da possibilidade dessa
coexistência inconsciente de seres inteligentes, e basta um ligeiro esforço de imaginação
para apreender essa concepção:

Não é improvável que outros seres sencientes possuem órgãos dos sentidos que não
respondem a algum ou a nenhum dos raios para os quais nossa vista tem sensibilidade,
mas que sejam capazes de apreciar outras vibrações para as quais somos cegos. Esses
seres viveriam realmente num mundo diferente do nosso. Ponhamos no espírito a ideia de
que formaríamos daquilo que nos cerca, se, em vez de sermos dotados com olhos
impressionáveis pelos raios de luz, fôssemos dotados de olhos sensíveis às vibrações
concernentes aos fenômenos elétricos e magnéticos. O vidro e o cristal contar-se-iam entre
os corpos mais opacos. Os metais seriam todos dotados de um certo grau de transparência,
segundo sua condutibilidade elétrica ou magnética, e um fio telegráfico pelo espaço afora
dar-nos-ia a impressão de um furo comprido e estreito feito com uma broca num corpo
sólido, impenetrável. Um dínamo em movimento parecer-nos-ia um pavoroso incêndio, e,
pelo contrário, um ímã permanente realizaria o sonho dos místicos medievais, constituiria
uma lâmpada de luz eterna, sem a menor perda de energia, nem consumo de combustível.
(20)

O Kãmaloka é uma região habitada por entidades inteligentes e semi-inteligentes,


precisamente como a nossa; enxameia, como o nosso mundo, de tipos e formas de seres
vivos, tão diversos uns dos outros, como uma folha de erva de um tigre, como um tigre de
um homem. Os dois mundos interpenetram-se mutuamente, mas como os estados de
matéria diferem muito de um para o outro, eles coexistem sem o conhecimento dos seres
inteligentes que os habitam respectivamente. Só em circunstâncias muito anormais pode
haver consciência, da parte dos habitantes dos dois mundos, de sua presença mútua; por
meio de certa prática especial, pode um ser humano estabelecer em vida contato
consciente com muitos dos habitantes subumanos do Kãmaloka e mesmo controlá-los; os
seres humanos, que abandonaram a Terra, e em que os elementos kâmicos foram
poderosos, podem facilmente receber a atração dos elementos kâmicos dos homens
desencarnados, e chegar, com a ajuda destes, a presenciar outra vez conscientemente as
cenas passadas; e seres humanos, ainda encarnados, podem estabelecer meios de
21
comunicação com os desencarnados e, como já foi dito, abandonar momentaneamente os
próprios corpos e tornar-se conscientes no Kãmaloka servindo-se das faculdades que para
esse fim exercitaram e puseram a serviço da consciência. A ideia dominante do que
acabamos de dizer, e que importa frisar, é a existência de uma região, o Kãmaloka
diferente do nosso mundo habitada por uma grande diversidade de entidades entre as
quais existem seres humanos desencarnados.
Terminada essa necessária digressão, voltemos ao ser humano, em especial, cujo
destino, como tipo, podemos dizer que estamos traçando, depois de termos, de certo
modo, arrumado o que diz respeito ao corpo físico e ao corpo astral. Observemo-lo no
estado de rapidíssima duração que se segue ao abandono desses dois invólucros. H. P.
Blavatsky diz, depois de citar uma passagem de Plutarco, acerca do homem depois da
morte:

Eis aqui a nossa doutrina, que apresenta o homem como um ser sétuplo durante a
vida, e quíntuplo depois da Morte, no Kãmaloka. (21)

O Prãna, que é a parte de energia vital de que o homem no estado carnal se


apropriou, tendo perdido o seu veículo,· o duplo etérico que, juntamente com o corpo
físico se separou da energia retriz, vai voltar ao grande reservatório da vida do Universo.
Assim como a água contida num recipiente de vidro, mergulhado num tanque cheio de
água, se mistura e se dissemina nesta, logo que o recipiente se parta, assim também o
Prãna, uma vez solto dos corpos que o envolviam, se funde novamente na Vida Universal.
E apenas "logo após a morte" que o homem é um ser de constituição quíntupla, porque o
Prãna, em sua qualidade de princípio humano caracterizado, não pode continuar a ser
apropriado depois da desintegração de seu veículo.
Agora, o único revestimento do homem é o Kãma Rüpa, ou o corpo do Kãma, o corpo
dos desejos, também chamado "fluídico" pela facilidade com que adota qualquer forma
que se lhe imprima, vinda de fora, ou se molde sobre ele, vinda de dentro. Revestido
apenas pelo corpo dos desejos, o homem vivo é a Tríade Imortal e coberta ainda com os
últimos invólucros terrestres, com a forma sutil, sensível e reagente para as vibrações
exteriores, que durante a reencarnação lhe dá a faculdade de sentir, de desejar, de gozar,
de sofrer e de pensar no mundo físico.

Quando o homem morre, seus três princípios inferiores, isto é, o corpo, a vida e o
veiculo desta, o corpo etéreo ou o duplo do homem em vida, abandonam-no para
sempre. E então, os outros quatro princípios - o principio central ou médio (a alma
animal ou Kãma Rúpa, com o que assimilou do Mãnas inferior) e a Tríade superior _
encontram-se no Kãmaloka. (22)

Este corpo dos desejos sofre uma mudança notável logo após a morte. A matéria astral
que o compõe agrupa-se a segundo suas diferentes densidades em séries de cascas ou
invólucros kâmicos, ficando a mais densa exteriormente como que a defender a consciência
dos menores contatos e influências de fora. Livre de qualquer perturbação a consciência
22
encerra-se em si mesma e prepara-se para dar mais um passo a frente, enquanto o corpo
dos desejos se vai desintegrando, largando, uma a uma, suas cascas ou invólucros.
Até o ponto deste novo arranjo da matéria do corpo dos desejos, a experiência post-
mortem é em geral a mesma para todos; é uma espécie de “tranquila sonolência
semiconsciente”, como já foi dito, que nos casos mais felizes passa, sem se acordar
totalmente, à ainda mais profunda "inconsciência devachânica" vindo a terminar no
venturosíssimo despertar no Devachan, que é o período de repouso que medeia entre duas
encarnações. Mas como ao chegar a este ponto, se apresentam, nos vários casos,
possibilidades diferentes vamos traça primeiramente o processo normal e continuo do
Kãmaloka até o ingresso no Devachan, e depois voltaremos aos casos menos gerais.
No caso de uma pessoa que levou uma vida cheia de pureza, e sempre se esforçou com
constância para se identificar com sua natureza superior e não com a inferior, seus
elementos passionais, enfraquecidos por falta de exercício - consequência da separação do
corpo denso e do duplo etérico, e do reingresso do Prãna no oceano da vida - não têm força
para se afirmar com persistência no Kãmaloka. Ora, durante a vida terrena, o Kãma e o
Manas inferior estão intimamente unidos e estreitamente entrelaçados; no caso que
estamos tratando, o Kãma está enfraquecido e o Manas inferior tem concorrido em grande
escala para a purificação do Kãma. O espírito, amalgamado com as paixões, as emoções e
os desejos, purificou-os e assimilou a parte mais pura, observou-a em si, de forma que o
pouco que resta do Kãma é um simples resíduo que facilmente se solta e de que é
extremamente simples à Tríade Imortal ver-se totalmente livre. Essa Tríade Imortal, que é o
Homem verdadeiro, vai concentrando pouco a pouco suas forças; reúne em si as
lembranças da vida terrena que terminou, os amores, as esperanças, as aspirações e
prepara-se para passar do Kãmaloka ao feliz repouso do Devachan, a "terra dos Deuses",
ou, como já se lhe chamou, a "terra da Suprema Ventura". O Kãmaloka é uma localidade
astral, o Limbo da teologia escolástica, o Hades dos antigos; falando com propriedade, só
num sentido muito relativo é que se lhe pode chamar uma localidade: não tem nem área
definida, nem limites ou fronteiras; existe dentro de um espaço subjetivo, isto é, para além
de nossas percepções sensoriais. Contudo, existe e é lá que os eidolons (23) astrais de todos
os seres que viveram, até mesmo dos animais - esperam a segunda morte. Para os animais,
esta vem com a desintegração, e com o murchar total de todas as suas partículas astrais.
Para o eidolon humano, começa quando a Tríade Ãtmã Buddhi-Mãnásica se "separa" de
seus princípios inferiores, ou seja, da reflexão da ex-personalidade, ao cair no estado
devachânico. (24)

Essa segunda morte é, pois, a passagem da Tríade Imortal da esfera do Kãmaloka, tão
intimamente relacionada com a esfera terrestre, ao estado superior do Devachan, de que
nos ocuparemos mais adiante. O tipo de homem, cujo caso estamos considerando, passa
por este processo ao estado de suave letargo, já referido, e se nada o perturbar, não volta
a ter plena consciência, enquanto não tiver passado por estas etapas e esse repouso não
for totalmente substituído pela suprema bem-aventurança.
Mas, durante o período completo, seja ele pequeno ou grande, dure ele dias ou
séculos, em que os cinco princípios: a Tríade Imortal, o Espírito e o Kãma permanecem no
23
Kãmaloka, não cessam as influências terrenas. No caso do indivíduo considerado, este
pode ser desperto pela tristeza ou pela intensa saudade das pessoas queridas, que deixou
na Terra: esses elementos kâmicos, ao vibrar violentamente nas pessoas encarnadas,
podem dar lugar a vibrações no Kãma Rüpa das desencarnadas, alcançar e despertar o
Manas inferior, antes de sua junção com sua progenitora, a Inteligência Espiritual. Desse
modo, pode ele ser arrancado do estado de sonolência e mergulhar vivamente nas
recordações da vida terrena, que há tão pouco tempo deixou, e pode - ou diretamente, se
se trata de um sensitivo ou médium, ou indiretamente por meio de um desses desolados
entes queridos, em comunicação com o médium - servir-se dos corpos etéreo e físico do
médium para falar ou escrever àqueles que deixou na Terra. Esse despertar vem
geralmente acompanhado de um intenso sofrimento; e mesmo que este possa ser evitado,
o processo natural de libertação da Tríade é perturbado e retardado por essas emoções e
recordações da Terra. Referindo-se à possibilidade dessa comunicação ocorrer no período
que medeia entre o momento da morte e o ingresso do homem liberto no Devachan, diz H.
P. Blavatsky:

Que qualquer mortal em vida tenha obtido grandes vantagens e proveitos da volta do
"Espírito" ao plano objetivo - a não ser em alguns casos excepcionalíssimos, quando a
intensidade do desejo da pessoa moribunda de voltar à Terra por causa de qualquer
intenção particular force a consciência superior a conservar-se acordada e, neste caso, seria
a individualidade verdadeira, o "Espírito" que estabeleceria a comunicação - é muito
duvidoso. Depois da morte, o Espírito está num estado de grande perturbação e
depressa passa ao estado que chamamos "inconsciência pré-devachânica". (25)

Um desejo de grande intensidade pode impelir a entidade desencarnada a voltar


espontaneamente para os seres que deixou inconsoláveis na Terra; contudo, este regresso
espontâneo é bastante raro tratando-se de pessoas, cujo tipo estamos considerando. Se se
deixam em paz, continuarão tranquilamente seu sono até o despertar no Devachan,
evitando assim qualquer luta ou sofrimento relacionado com a segunda morte. Na
separação final da Tríade Imortal, no Kãmaloka fica apenas o Kãma Rüpa, o "tegumento"
ou casca, simples espectro vazio, que, por sua vez, se desintegra gradualmente. Mas
deixemos este ponto para quando tratarmos do tipo seguinte, o tipo humano médio, sem
espiritualidade marcada de um grau elevado, mas também sem tendências caracterizadas
para o mal.
Quando um desses indivíduos de tipo médio, chega ao Kãmaloka, a Inteligência
espiritual reveste-se de um corpo de desejos, ou Kãma Rüpa, dotado de um grande vigor e
de uma considerável vitalidade; o Manas inferior, que durante a vida terrena que termina
agora, esteve intimamente entrelaçado com o Kãma, e todo entregue aos prazeres dos
sentidos e às emoções, não tem facilidade em desembaraçar-se com rapidez da teia, que
ele próprio urdiu, para voltar à origem, o Manas Superior, nascente de seu próprio ser.
Daqui resulta um considerável atraso no mundo de transição, no Kãmaloka, não podendo
a evolução continuar sua marcha ascendente enquanto os desejos não se debilitam e não
se desvanecem, a ponto de perderem a energia que lhes dá a força que conserva a Alma
24
prisioneira em seus laços emocionais.
Como já foi dito, durante o período em que a Tríade Imortal e o Kãma estão unidos no
Kãmaloka, torna-se possível a comunicação entre a entidade desencarnada e as
encarnadas na Terra. Essas comunicações são geralmente bem-vindas aos desencarnados,
porque os desejos e emoções atraem-nos ainda para a Terra que deixaram, e os espíritos
ainda não viveram no próprio plano, o tempo suficiente para encontrarem satisfação e
contentamento completos. O Manas inferior ainda suspira pelos prazeres kâmicos e pelas
vívidas e intensas sensações da vida terrena, e nesse estado pode ainda ser atraído e
restituído às cenas de que com tanto pesar se separou. A propósito da possibilidade de
comunição entre o Ego de uma pessoa falecida e um médium, diz H. P. Blavatisky no
Teosofista, (26) segundo o que aprendeu dos Irmãos Adeptos, que essa comunicação se
pode dar durante dois intervalos.

O primeiro intervalo é o período que medeia entre a morte física e a entrada do Ego
espiritual no estado conhecido entre as doutrinas esotéricas dos Arhats pelo nome de
Bardo. Traduzimo-lo por período de "gestação" (pré-devachânica).

Algumas das comunicações obtidas pelos médiuns têm sua origem nesta atração da
entidade desencarnada para a esfera terrestre - cruel carinho que lhe retarda a evolução
progressiva e introduz um elemento de perturbação naquilo que deveria ser uma cadeia
contínua de progresso ordenado. É esta a causa da duração da estada no Kãmaloka; o
corpo de desejos continua a receber alimento e a ter em seu poder o Ego, de forma que a
libertação da alma é adiada, visto que a imortal Andorinha ainda se encontra presa ao visco
da Terra.
Aqueles que levaram uma vida perdida, que satisfizeram e estimularam as paixões
animais, e foram alimentando o corpo de desejos, deixando quase morto de fome o
espírito inferior - esses continuam por muito tempo a habitar o Kãmaloka, cheios de
desejos e de vontade de regressar à Terra, mortificados pela ânsia dos prazeres animais
que, por falta do corpo físico, não podem satisfazer. Estes formam como que um enxame
em volta do médium e do sensitivo, tentando utilizá-los para a satisfação própria de seus
impulsos, e constituem uma das forças mais perigosas com que, em sua ignorância, os
incautos e os curiosos têm de se defrontar.
Existe uma outra ordem de entidades desencarnadas formada pelos indivíduos cuja
vida na Terra foi abruptamente interrompida, quer por suicídio ou crime, quer por
desastre. Seu destino em Kãmaloka depende das condições de que se cercou a sua partida
da vida terrena, pois nem todos os suicidas são culpados de feIo de se, e a extensão de sua
responsabilidade pode variar dentro de limites muito amplos. A condição destes vem
claramente expressa na seguinte passagem:

Os suicidas, embora não completamente desligados do sexto e sétimo princípios, e


apesar de aparecerem cheios de vigor nas sessões espíritas, estão contudo, até o dia em,
que deviam morrer de morte natural, separados dos princípios superiores por um abismo.
Os sexto e sétimo princípios conservam-se passivos e negativos, ao passo que nos casos de
25
morte acidental o grupo superior e o inferior atraem-se mutuamente. Além disso, nos casos
de Egos bons e inocentes, o inferior gravita irresistivelmente para o sexto e o sétimo; de
modo que ou dormita rodeado de sonhos venturosos ou dorme profundamente sem sonhos
até que chegue sua hora. Refletindo um pouco, sem perder de vista a eterna justiça e o
arranjo perfeito de todas as coisas, facilmente se compreende a razão disso. A vítima, seja
boa ou má, não e responsável por sua morte. Mesmo que esta fosse devida a qualquer ato
praticado numa vida prévia ou nascimento anterior, isto é, fosse obra da Lei da Retribuição,
(27) não é, contudo, o resultado direto de um ato executado deliberadamente pelo Ego
pessoal daquela vida em que acidentalmente morreu. Se lhe tivesse sido dado viver mais
tempo, talvez se tivesse depurado mais eficazmente dos pecados anteriores, mas ainda
assim o Ego, que teve de pagar a divida do Ego pessoal, seu antecessor, está livre do peso
da justiça retributiva.
Os Dhyan Chohans, que não intervêm para guiar o Ego humano vivo, protegem a
vítima indefesa quando esta é violentamente atirada de um elemento para o outro, antes
de devidamente preparada para ingressar no segundo.

Esses desencarnados, quer mortos por suicídio, quer por desastre, podem, embora
com grande prejuízo seu, comunicar-se com a Terra. Como já foi dito, os bons e os
inocentes dormem tranquilamente até o dia em que deviam morrer naturalmente. Mas se
a vítima de um acidente foi perversa e sensual, sua morte é tudo o que há de mais triste.

Vagueiam como sombras desgraçadas, de um lado para o outro (não como invólucros
kâmicos, visto que sua ligação com os dois princípios superiores não está cortada), até a
hora da segunda morte. Arremessados para fora da vida terrena no apogeu das paixões,
que continua a prendê-los às cenas familiares, sentem-se induzidos pelas oportunidades
oferecidas pelos médiuns para as satisfazer, ainda que, indiretamente, por intermédio de
um substituto. São os Pisãchas, os Íncubos e Súcubos dos tempos medievais; os demônios
da sede, da gula, da luxúria e da avareza. Elementares de imensa força, de enorme maldade
e de intensa crueldade, impelem suas vitimas a cometer crimes horríveis, regozijando-se
com sua perpetração. Mas sua ação não se limita à perdição dos infelizes que lhes caem nas
garras: espécie de vampiros psíquicos, arrastados pela torrente dos impulsos que os
dominam são, por fim - ao chegar o termo final do período natural de sua existência, -
transportados para fora da aura terrestre, a regiões onde durante séculos experimentam os
mais agudos sofrimentos e terminam absolutamente aniquilados.
Ora, as causas que produzem "o novo ser" e que determinam a natureza do Karma são
Trishnã (Tanha) - sede desejo de uma existência senciente - e Upãdãna, que é a realização
ou a consumação de Trishnã, o desejo de que acabamos de falar. São esses dois que o
médium contribui para desenvolver nec plus ultra num Elementar, (28) seja um suicida ou
uma vítima de um crime. Como regra, uma pessoa que morra de morte natural fica, durante
um período de tempo que pode ser "de horas ou de alguns anos", na esfera de ação da
atração terrestre - isto é, no Kãmaloka. Mas o caso dos suicidas e, em geral, dos que
morrem violentamente, constituem exceções. Daqui resulta que um desses Egos que
estivesse destinado a viver, por exemplo, oitenta ou noventa anos mas que se matasse ou
26
morresse violentamente aos vinte anos, terá de passar no Kãmaloka não apenas "alguns
anos", mas, no caso considerado, sessenta ou setenta anos no estado de "judeu errante na
terra", porque, infelizmente para ele, não é nem sequer um "invólucro kâmico". Felizes, mil
vezes mais felizes, são aquelas entidades desencarnadas que dormem sua longa sonolência
e vivem sonhando no seio do Espaço! Mas desgraçados daqueles cujo Trishnã os atrai para
os médiuns, e desgraçados destes que os tentam com um Upãdãna tão fácil. Pois atraindo-
os e satisfazendo-lhes a sede de vida, o médium concorre para desenvolver neles - é mesmo
a causa principal desse desenvolvimento - um novo grupo de Skandhas, de um novo corpo
com tendências e paixões muito piores do que as que tinham o corpo abandonado. Todo o
futuro desse novo corpo será determinado não só pelo Karma de mérito do grupo anterior,
mas também pelo novo grupo do futuro ser. Se os médiuns e os espíritas soubessem que, a
cada novo "anjo protetor" que com tanto prazer acolhem, o induzem a um Upâdâna que
produzirá males sem conta para o novo Ego que renasce sob sua sombra nefasta, e que em
cada sessão espírita especialmente nas de materialização, concorrem para centuplicar
sofrimentos, obrigando o desgraçado Ego a um fracasso em seu nascimento espiritual, ou a
renascimento numa existência muito pior, talvez fossem menos pródigos na concessão de
sua hospitalidade.

A morte prematura devida a qualquer espécie de excessos, como surmenage, por


exemplo, ou a um sacrifício voluntário por qualquer grande causa, trará a competente
demora no Kãmaloka, mas o estado em que a entidade desencarnada se vai encontrar
depende do motivo "que determinou a morte.

São muito poucos, se é que realmente há algum, os indivíduos que se entregam a


excessos de qualquer natureza, os que sentem com segurança que essas práticas podem
determinar-lhes uma morte prematura. É esta a sentença de Mãyã. Os "excessos viciosos"
não fugirão ao castigo; mas é a causa que o faz sofrer e não o efeito, principalmente o
efeito não previsto, ainda que provável. Tanto se pode chamar "suicida" a um indivíduo que
encontrou a morte no mar, numa tempestade, como a um que se tivesse morto por um
"excesso de estudo". A água afoga, e um trabalho cerebral em excesso pode produzir um
amolecimento na matéria cerebral, que venha a causar a morte. Nesse caso nenhum
indivíduo deveria atravessar o Kalãpãni (mar), nem sequer tomar um banho com medo de
ter uma sincope e morrer afogado (todos conhecemos casos), assim nem cumprir o seu
dever e muito menos sacrificar-se, mesmo que fosse por uma causa louvável, como todos
nós tantas vezes fazemos. O móbil é tudo; o homem só é castigado quando tem uma
responsabilidade direta e nunca de outro modo. No caso de uma vítima de um acidente, a
hora natural da morte foi acidentalmente antecipada, ao passo que no caso de um suicida a
morte foi voluntariamente procurada, e com o conhecimento completo das consequências
imediatas. Assim, um homem que se mata num ataque de loucura ocasional não é um felo
de se, com grande pesar e muitas vezes apuro das Companhias de Seguros de Vida. Nem
também cai nas garras do Kãmaloka, e, pelo contrário, adormece tranquilamente.
A população do Kãmaloka é recrutada dessa forma com elementos caracteristicamente
perigosos, por todos os atos de violência legais ou ilegais, que arrancam ao corpo físico a
27
alma e a enviam para o Kãmaloka, revestida com o corpo de desejos, palpitante de ódio, de
paixões e de emoções, repleta de desejos de vingança e de ânsias de luxúria. Um assassino
encarnado não é um elemento saudável à sociedade; mas um assassino repentinamente
arrancado ao corpo é uma entidade ainda mais perigosa; do primeiro pode a sociedade
defender-se, mas contra o segundo não tem defesa porque seu estado atual de ignorância
não lhe permite achar forma de o combater.
Por último, a Tríade imortal liberta-se do corpo de desejos e sai do Kãmaloka; o Manas
superior retira seu raio, colorido com as cenas da vida a que assistiu e cheio das
experiências que adquiriu por meio da personalidade que informou. O lavrador é chamado
do campo e volta ao lar com sua colheita, rico ou pobre, conforme o que semeou. Quando
a Tríade e seu Raio partem do Kãmaloka, ficam completamente fora da esfera de atração
da Terra:

Logo que transpõe a saída do Kãmaloka – que cruzou a “Ponte de Ouro” que conduz às
“Sete Montanhas de Ouro” – o ego deixa de poder entrar em comunicação com os médiuns
vulgares.

Existem algumas possibilidade excepcionais de alcançar esse Ego, que mais adiante
explicaremos; mas o Ego esta fora do médium vulgar e não p ode ser atraído à esfera
terrestre. Mas antes de seguirmos a Tríade temos de estudar o destino do Kãma Rupa,
agora abandonado, que ficou no Kãmaloka como uma mera relíquia.

(17). Veja Os sete princípios do homem.


(18). Teosofista, março de 1882, p. 158, nota.
(19). Ensaios sobre algumas questões controversas, p, 36.
(20). Fortnightly Review, 1982, p. 176.
(21). A chave da teosofia.
(22). A chave da teosofia.
(23) Fantasmas (N. do T.)
(24). A chave da teosofia.
(25). A chave da teosofia.
(26). No artigo "Divergências aparentes", junho de 1882.
(27) Veja Karma, n9 V, da "Biblioteca do Teosofista" (N. do T.).
(28) Elementares, são os despojos do Kãma Rúpa dos seres humanos em via de
desintegração, suscetíveis de ser momentaneamente chamados de novo à Vida e a
readquirir parcialmente consciência, sob a influência de correntes de pensamento ou
magnéticas de pessoas vivas.
Elementais , são, de maneira geral, os seres conscientes, não·humanos, ou qualquer energia
natural, que se manifestam no plano astral. Há os naturais, que são os espíritos da
Natureza, fadas, gnomos etc., e os artificiais, que são as formas pensamentos que tomam
forma, constituída por essência elemental (N. do T.).

28
O KÃMALOKA. OS INVÓLUCROS
O Invólucro kâmico é o corpo de desejos, abandonado pela Tríade com o Raio, que
continuou o seu caminho; é a terceira das túnicas transitórias da alma, abandonada no
Kãmaloka em processo de desintegração.
Quando a vida terrena passada foi nobre e mesmo quando foi apenas de uma pureza e
de uma utilidade medianas, esse Invólucro conserva pouca vitalidade depois do abandono a
que o votou a Tríade, e desintegra-se rapidamente. Contudo, as moléculas que o
constituem retêm, durante esse processo de desintegração, as impressões nelas deixadas
durante a vida terrena, o que se manifesta numa tendência para vibrar em resposta aos
estímulos provenientes da influência constante desse período. Todos os estudantes de
psicologia sabem o que é a ação automática, a tendência das células para repetir as
vibrações originalmente provocadas por ações voluntárias; assim se formam os chamados
hábitos, que acarretam a repetição involuntária de movimentos que a princípio não foram
inconscientes, antes pelo contrário, foram "meditados" E esse automatismo do corpo é tão
forte e poderoso, que, como todos sabem por experiência própria, é dificílimo cortarmos
completam o costume de repetirmos certas frases ou certos gestos que se nos tornaram
um "hábito".
0ra, o corpo de desejos é, durante a vida na Terra o recipiente de todos os estímulos
que nos vem de fora, e é ele que continuamente registra e os transmite. Lá se encontram
os hábitos e as tendências de repetir automaticamente vibrações familiares, vibrações de
amor e de desejo e, em geral, as que refletem toda a espécie de experiências passadas.
Assim como a mão repete um gesto familiar, também o Kãma Rüpa pode repetir um
pensamento ou um sentimento habitual. E esse automatismo fica, quando a Tríade
continua o seu caminho e, desse modo, o Invólucro kâmico pode apresentar sentimentos e
pensamentos que estão absolutamente isentos de inteligência e de vontade propriamente
ditas. Muitas das respostas às pergunta; cheias de ansiosa curiosidade, que fazem nas
sessões espíritas, provém dessas formas, atraídas para junto dos amigos e presentes pela
influência magnética durante tanto tempo familiar e querida e que respondem
automaticamente às ondas de emoções e de saudosas recordações, ao decorrer da vida
terrena recentemente abandonada. Frases de afeto, banalidades morais, recordações de
coisas passadas. Etc., nisso se resumem todas as comunicações que podem ser devidas a
esses Invólucros; porém, estas podem literalmente transvasar em condições favoráveis, sob
a ação do estímulo magnético aplicado sem restrição pelos amigos e parentes encarnados.
No casos em que o Manas inferior esteve durante a vida terrena muito apegado a
objetos materiais ou a trabalhos intelectuais estimulados e provocados por um motivo
puramente pessoal, o corpo de desejos pode adquirir um considerável grau de
automatismo de caráter intelectual e pode dar respostas inteligentes e de raro valor. Mas,
contudo, há de lhe faltar o cunho da originalidade, "Visto que a inteligência aparente não
pode dar de si mais do que meras repetições, e nunca apresentará pensamentos novos,
que seriam manifestação de uma grande inteligência em ação no seio de circunstâncias
novas. A esterilidade intelectual é a característica da grande maioria das comunicações do
29
"mundo espiritual"; os reflexos das cenas terrenas, das condições da Terra, dos modos de
ser terrestres, aparecem muito nessas ocasiões, mas seria debalde que procuraríamos
pensamentos novos e poderosos, dignos das Inteligências que se libertaram da prisão da
carne.
Existe um perigo constante nessa convivência com as formas kâmicas. Precisamente
pelo fato de serem apenas Formas, e nada mais, respondem aos impulsos vindos de fora; é
com a maior facilidade que se convertem em maliciosas e prejudiciais, respondendo
automaticamente a vibrações perniciosas. E assim que os médiuns, ou em geral os
espectadores das sessões espíritas, de pouca moralidade, imprimem impulsos de ordem
inferior nos invólucros que pululam à volta deles; qualquer desejo animal e os pensamentos
tolos e ignorantes porão em ação vibrações de sua espécie nos invólucros cegos e de fácil
contravibração.
Por outro lado, os Elementais, forças inconscientes que funcionam nos diferentes
reinos da Natureza, apossam-se com facilidade dos invólucros e podem utilizá-los como
veículo de brincadeiras e truques. O duplo etérico do médium e os corpos de desejos
abandonados por seus moradores imorais fornecem a base material por meio da qual os
Elementais podem produzir resultados curiosos e verdadeiramente surpreendentes;
bastaria apelar-se para o testemunho dos frequentadores das sessões espíritas, que
decerto dariam resposta afirmativa se se lhes perguntasse se a maior parte das
brincadeiras e truques com que estão familiarizados, tais como puxões de cabelo, beliscões,
roubo de objetos, coisas escondidas etc. não se devem atribuir com mais razão a
extravagâncias burlescas de forças subumanas, que à ação de "espíritos", que, enquanto
encarnados, seriam decerto incapazes dessas banalidades, sem graça nem espírito.
Deixemos, porém, os Invólucros kâmicos entregues a sua desintegração e a seu
trabalho de regresso ao cadinho da Natureza. Os autores do Perfect Way [O Caminho
Perfeito] mostram primorosamente o que é esse Invólucro.

O verdadeiro "fantasma" é a porção exterior e terrestre da Alma, a parte mais


cheia de preocupações, aflições e lembranças puramente mundanas; que se desprende
da Alma, e permanece na esfera astral com uma existência mais ou menos definida e
pessoal, e é capaz de conversar com os vivos por meio de um sensitivo. Contudo, não
passa de uma túnica posta à parte pela Alma, túnica que, em sua qualidade de
fantasma, não é permanente. A verdadeira Alma, a pessoa real, a anima divina, separa-
se depois da morte de todos os afetos inferiores que poderiam retê-la perto do plano
terrestre. (29)

Se queremos encontrar aqueles que amamos, não é decerto entre os restos


decadentes do Kãmaloka que os acharemos. "Para que procurais os vivos entre os
mortos?"

(29). Edição de 1887, pp. 73-4.

30
O KÃMALOKA. OS ELEMENTARES
A palavra "Elementar" tem sido empregada com uma tal amplitude de sentido que tem
dado lugar a muitas confusões. H.P. Blavatsky definiu-a da seguinte forma:

Propriamente, as Almas desencarnadas dos perversos; as almas que algum tempo


antes da morte se separaram de seus espíritos divinos, perdendo assim as probabilidades de
alcançar a imortalidade. Porém, no estágio atual do estudo, preferiu-se aplicar o termo aos
restos ou espectros das pessoas desencarnadas, e, em geral, a todos aqueles cuja habitação
temporária é o Kãmaloka. [...] Uma vez separadas das Tríades superiores e dos corpos,
essas almas permanecem em seus invólucros do Kãma Rüpa e são irresistivelmente atraídas
para a Terra pelos elementos consentâneos com a sua natureza grosseira. A permanência
no Kãmaloka tem duração variável, mas sempre termina em desintegração, dissolvendo-se
como uma coluna de fumaça, átomo por átomo, nos elementos circundantes. (30)

Os leitores desta série de Manuais sabem que é possível o Manas inferior enredar-se
de tal modo no Kãma, a ponto de chegar a separar-se violentamente de sua origem, e é a
essa separação que em Ocultismo se chama "a perda da Alma". (31) Em outras palavras, é a
perda do eu pessoal, que se separou de seu Pai, o Ego Superior, condenando-se assim a
perecer. Essa Alma, deste modo segregada da Tríade Imortal durante a vida terrena,
converte-se num verdadeiro Elementar, ao abandonar os corpos físico e astral. Depois,
revestido do corpo de desejos, vive durante um certo tempo, maior ou menor, segundo o
vigor de sua vitalidade, convertido na personificação da perversidade; perigoso e maléfico,
ele tenta renovar sua vitalidade em decadência, por todos os meios que a loucura ou a
ignorância das almas encarnadas lhe sugerem. Seu destino final é, na verdade, a
aniquilação, mas, entretanto, enquanto percorre um dos caminhos que a ela conduzem - e
pode escolher qualquer um - pode ainda fazer muito mal.
A palavra Elementar usa-se, no entanto, também aplicada ao Manas inferior, revestido
do corpo de desejos, ainda não separado dos Princípios Superiores, mas ainda não unido ao
Manas superior. Esses Elementares podem encontrar-se em qualquer grau de evolução e,
portanto, a sua ação benéfica ou maléfica é muito relativa.
Outros escritores usam Elementar também como sinônimo de Invólucro kâmico,
concorrendo assim para tornar ainda maior a confusão. A palavra devia limitar-se, pelo
menos, a designar o Kãma Rüpa mais o Manas inferior, quer este esteja em via de
separação dos elementos kâmicos para ser absorvido por sua nascente, o Manas superior,
quer esteja solto do Ego Superior e, portanto, em via de aniquilamento.

(30). Glossário Teosófico, Elementares.


(31). Veja Os sete princípios do homem, pp. 44 -6.

31
O DEVACHAN
Entre os vários conceitos apresentados pela Filosofia Esotérica, poucos há, talvez, que
sejam de tão difícil compreensão para o Ocidente como o do Devachan, ou Devasthãn, a
Região dos Devas, ou a Região dos Deuses. (32) E uma das principais dificuldades nasceu da
exagerada liberdade no uso dos termos ilusão, estado de sono e outros semelhantes,
aplicados à consciência devachânica: e por isso uma impressão de falta de realidade veio
desvirtuar todo o conceito de Devachan. Quando o pensamento oriental, referindo-se à
vida presente, lhe chama Mãyã, ilusão, sonho, os positivistas ocidentais traduzem as
palavras literalmente, dando-lhe um caráter alegórico ou fantasioso, pois nada pode ser
menos ilusório dizem eles de que este nosso mundo de compras e vendas, de bifes mal-
passados e de cerveja engarrafada. Porém, quando qualquer desses termos é aplicado a
um estado post-mortem - estado que, segundo a religião lhes ensina, é todo nebuloso e
nada tem de realidade, e no qual, entendem eles, faltam todas as comodidades
substanciais tão queridas do homem acostumado ao conforto da família - então aceitam as
palavras em seu significado prosaico e tratam o Devachan de "ilusão", no sentido que a
palavra tem nos dicionários. E, pois, necessário ao abordar-se esse assunto de Devachan
apresentar essa questão da "ilusão" em seu verdadeiro aspecto.
No sentido metafísico profundo, tudo o que é condicionado é ilusório. Literalmente
todos os fenômenos são "aparências", máscaras exteriores com que a Realidade Una se
manifesta em nosso instável universo. Quanto mais "material" e mais sólida é a aparência,
tanto mais longe se acha da realidade e, portanto, tanto mais ilusória é. Haverá alguma
coisa mais falsa do que este nosso corpo aparentemente tão sólido, estável, visível e
tangível? É um agregado de pequeníssimas partículas com vida, que mudam
constantemente, um centro de atração para o qual convergem continuamente miríades
de seres invisíveis, que se tornam visíveis por sua acumulação nesse centro, de onde saem
ato contínuo, voltando, logo que se separem uns dos outros, à sua invisibilidade
proveniente de sua pequenez. Menos ilusório, em comparação com este corpo
imensamente instável, é o espírito que pode expor as pretensões do corpo e pô-las na
verdadeira luz. O espírito anda constantemente enganado pelos sentidos, e a Consciência,
que é o que em nós existe de mais real, está pronta a considerar-se a si mesma como
ilusória. Na verdade, é o mundo do pensamento que está mais próximo da realidade, e as
coisas tornam-se mais ou menos reais, conforme tomam um caráter mais ou menos
fenomenal.
Além disso, o espírito é permanente, comparado com o transitório mundo físico.
Porque "espírito" e "mente" não passam de nomes grosseiros do Pensador que vive em nós
Entidade verdadeira e consciente, o Homem interno "que foi, é e será, para quem a hora
nunca há de soar". Quanto menos profundamente este homem interno está submerso na
matéria, tanto mais real é sua existência; e depois de se ter desfeito dos invólucros, de que
se revestiu ao encarnar-se, isto é, os corpos físico, astral e as paixões, é que ele se encontra
próximo da Alma das Coisas; e se é certo que nesse estado ainda tem a visão obscurecida
por alguns véus, estes têm todavia um grau de transparência muito maior do que tinham,
32
quando se achava revestido de carne. Sua verdadeira vida, a mais livre e a menos ilusória, é
precisamente aquela que ele passa fora do corpo, e é nesse estado, quando desencarnado,
que, relativamente, ele vive sua vida normal. Sai desse estado normal e mergulha na vida
física durante curtos períodos para adquirir a experiência que de outro modo nunca
poderia colher, experiência que, ao abandonar o corpo físico, leva consigo para enriquecer
a sua condição de vida permanente. Assim como o mergulhador penetra nas profundezas
do oceano para lá colher uma pérola, e depois volta à superfície e põe o pé em terra firme,
assim também o Pensador mergulha no oceano da vida física para de lá colher a pérola da
experiência: mas pouco tempo se demora fora de seu elemento, retorna para cima, para a
atmosfera em cujo seio vive normalmente e atira para longe de si o elemento mais pesado.
É, pois, com um grande fundo de verdade e de realidade, que se diz que a Alma deixa a
Terra, e que volta à sua verdadeira mansão; porque, realmente seu lar é o "Mundo dos
Deuses", ao passo que na Terra é uma prisioneira desterrada. Este ponto de vista foi
exposto com muita clareza por um dos Mestres numa conversa com H. P. Blavatsky,
impressa com o título Life and Death [Vida e Morte]. A seguinte passagem é
suficientemente elucidativa: (33)

Os Vedantinos, que reconhecem duas classes de existência, a terrestre e a espiritual,


consideram esta última como uma realidade indiscutível. Quanto à vida terrena, em sua
instabilidade e curta duração, não passa da ilusão dos sentidos. A vida nas esferas
superiores é que tem realidade, porque é lá que vive o nosso Eu invariável e imortal, o
Sütrãtmã, ao passo que em cada nova encarnação se reveste de uma personalidade sempre
diferente, temporária e de curta duração. [...] A própria essência de tudo isto, a saber,
espírito, força e matéria, não tem principio nem fim, mas a forma adquirida por esta tríplice
unidade durante as suas encarnações; seu exterior, por assim dizer, não passa de uma mera
ilusão puramente subjetiva. É por isso que para nós a única vida real é a póstuma, e a vida
terrena, incluindo a própria personalidade, é simplesmente imaginária.

Por que, neste caso, devemos chamar de sonho a realidade e fantasma o estado
acordado?

Esta comparação foi feita por mim para facilitar a sua compreensão. Do ponto de vista
das nossas noções terrestres, ela é perfeitamente exata.

Notem as palavras: "Do ponto de vista das nossas noções terrestres", pois elas são a
chave para todas as frases usadas para Devachan como "ilusão". Nossa matéria física
grosseira não se encontra aí; as limitações por ela impostas não estão aí; mas a mente em
seu próprio domínio, onde querer é criar, onde pensar é ver.
Tendo-se perguntado a um Mestre: Se não seria melhor dizermos que a morte não é
mais que um nascimento numa outra vida, ou antes, um regresso à imortalidade?", eis o
que ele respondeu:

Assim é realmente, e nada tenho a dizer em contrário a essa maneira de pôr a questão.
33
Com as noções que temos da vida material, as palavras "viver" e "existir" não são aplicáveis
à condição puramente subjetiva posterior à morte; e se as empregássemos em nossa
Filosofia sem uma definição rigorosa de sua significação, os Vedantinos em breve
chegariam às ideias generalizadas em nosso tempo, entre os Espiritualistas Americanos,
que pregam acerca de espíritos que se casam não só uns com outros espíritos mas até com
mortais. O mesmo que acontece com o; cristãos - entre os verdadeiros, não os de nome
apenas - acontece com os Vedantinos: a vida além-túmulo é a região onde não há lágrimas,
nem suspiros, onde não há casar nem pedir em casamento, e onde o justo realiza sua
completa perfeição.

O horror a materializar os conceitos mentais e espirituais foi sempre enorme entre os


Filósofos e Mestres orais do longínquo Oriente. O esforço constante de todos eles tem
sido o de libertar o Pensador, tanto quanto possível, das prisões da matéria, mesmo
quando encarnado; abrir a gaiola à Divina Andorinha, mesmo que ela tenha de para lá
voltar por um momento. Eles têm sempre procurado "espiritualizar o material", ao passo
que no Ocidente a tendência constante tem sido precisamente o contrário, "materializar o
espiritual". Por isso o indiano se refere à vida da Alma liberta empregando todos os termos
que lhe deem um caráter de menos materialidade possível - ilusão, sonho etc. - ao passo
que o hebreu tenta apresentá-la usando termos que deem uma ideia da luxúria material e
do esplendor da Terra - bodas de casamento, ruas de ouro, tronos e coroas de sólidos
metais e de pedras preciosas; os ocidentais seguiram as concepções materialistas dos
hebreus e pintam um céu que não é mais do que uma cópia da Terra, tirando-lhe os
sofrimentos e pesares. Assim, chegamos à concepção mais grosseira de todas, a moderna
Summerland dos espiritualistas americanos, com os seus "maridos-espíritos", "mulheres-
espíritos", e "filhos-espíritos" que vão para a escola, depois para a universidade, e acabam
por tornarem-se "adultos-espíritos".
Nas "Notas sobre o Devachan" (34)? alguém, que evidentemente escreve com
conhecimento de causa, diz: "para chegardes a compreender a felicidade do Devachan e as
angústias do Avitchi, tendes de as assimilar, como nós fizemos", frase que só tem
significação na boca de um chela elevado ou de um Adepto. Sobre a entidade devachânica,
exprime-se deste modo:

As ideias a priori do espaço e do tempo não lhe governam as percepções, porque ele as
cria e as aniquila ao mesmo tempo de modo absoluto. A intensidade da existência física
aumenta da infância para a idade madura e diminui da velhice para a morte;
igualmente a vida-sonho do Devachan é vivida de um modo semelhante. A Natureza
não engana a entidade devachânica mais do que engana o homem físico. Lá, a
Natureza dá-lhe uma felicidade e uma bem-aventurança mais real do que aqui, onde
todas as probabilidades do mal conspiram contra ele. Chamar à existência no Devachan
"sonho ", a não ser por adoção de um termo convencional, é renunciar para sempre ao
conhecimento da Doutrina Esotérica, única salvaguarda da verdade.
"Sonho", sim, mas apenas no sentido de que não pertence a este plano de matéria
grosseira, que não pertence ao mundo físico.
34
Tentemos abranger, numa visão de conjunto, a vida do Eterno Peregrino, do Homem
Interior, da Alma humana, durante um ciclo de encarnação. Antes de começar a nova
peregrinação - porque antes desta já fez muitas em seu passado, e delas recolheu os
poderes que o tornam apto para a atual - ele é um ser espiritual, mas um ser que já passou
para fora da condição de puro Espírito, e a quem as experiências anteriores desenvolveram
a inteligência e um espírito consciente de si próprio. Mas essa evolução, devida à
experiência, está longe de ser tão completa, que ele se possa considerar senhor da matéria;
sua ignorância conserva-o ainda nas mãos de todas as ilusões da matéria grosseira; basta
que entre em contato com esta para ficar prisioneiro; e está ainda muito longe de ser um
construtor de um universo, por estar sujeito às visões ilusórias e enganadoras causadas
pela matéria grosseira - como uma criança olhando através de um vidro azul, vê tudo, dessa
cor, e julga que todo o mundo para além do vidro é todo da cor do céu. O objetivo de um
ciclo de encarnação é precisamente libertá-lo dessas ilusões, de forma que, mesmo
rodeado de matéria grosseira, ele possa separar o joio do trigo e não se deixe cegar pelo
que é ilusório. Ora, o ciclo de encarnação compõe-se de dois estados que se alternam: um
estado de pequena duração chamado vida terrena e um outro, relativamente muito mais
longo, chamado vida devachânica, durante o qual ele se acha no meio de uma esfera de
matéria sutil, ainda ilusória, é certo, mas muito menos do que a da Terra. A este segundo
estado pode muito bem chamar-se o seu estado normal, visto que é de uma duração
enorme perante a duração das interrupções que sofre para vir viver na Terra e por estar
menos longe de sua Vida Divina essencial; e, alem disso, estar mais liberto da matéria e,
portanto, menos sujeito as ilusões de suas aparências instáveis. Lenta e gradualmente. à
força de experiências repetidas, a matéria grosseira vai perdendo o poder que tinha sobre
ele e de tirana absoluta converte-se em serva fiel e obediente. Na liberdade parcial do
Devachan vai assimilando suas experiências da Terra, ainda dominado por elas - a princípio,
realmente, dominado quase em absoluto, de modo que a vida devachânica é a continuação
sublimada da vida terrena - mas liberta-se delas gradualmente, à medida que lhes vai
conhecendo seu caráter transitório e externo, até se poder mover livremente em qualquer
região de nosso Universo com uma autoconsciência ininterrupta. Verdadeiro Senhor do
Espírito, deus livre e triunfante. É este o triunfo da Natureza Divina manifestado na carne, a
subordinação de todas as formas da matéria ao instrumento obediente do Espírito. Assim
disse o Mestre:

O Ego espiritual do homem move-se na eternidade como um pêndulo entre as horas da


vida e da morte; mas enquanto essas horas, períodos de vida terrena e períodos de vida
póstuma, são limitadas em sua continuidade, e até o número desses intervalos, na
eternidade, entre sono e vigília, entre ilusão e realidade, têm princípio e fim, contudo, o
Peregrino espiritual, em si, é eterno. Por conseguinte, as horas de sua vida póstuma,
quando ele se encontra frente a frente com a realidade revelada, sem véu que a esconda, e
quando as miragens de suas existências terrenas de curta duração estão longe dele,
formam ou constituem em nós, a única realidade. Tais interrupções, apesar de finitas,
prestam um duplo serviço ao Sútrãtmã, o qual, aperfeiçoando-se constantemente, segue
sem vacilar, ainda que lentamente, o caminho que conduz à sua última transformação,
35
quando alcançado finalmente seu objetivo se transforma num Ser divino. Essas interrupções
não só concorrem para se chegar a essa meta, mas, mais do que isso; sem elas nunca o
Sútrãtmã-Buddhi conseguiria alcançá-la. O Sútrãtmã é o ator, e suas numerosas
encarnações diferentes são os papéis que tem a representar. Evidentemente não podemos
aplicar a esses papéis nem aos trajos correspondentes o termo personalidade. Precisamente
como faz um ator, a alma tem de representar, durante o ciclo de encarnações até o próprio
limiar do Parinirvana, vários papéis, e alguns deles bastante desagradáveis; mas, assim
como uma abelha recolhe o mel de cada flor e deixa o resto para servir de alimento aos
vermes da terra, assim também a nossa individualidade espiritual, o Sútrãtmã, recolhe
apenas o néctar das qualidades e da consciência moral de cada personalidade terrena de
que tem de revestir-se, e forçado pelo Karma acaba por reunir essas qualidades numa,
convertendo-se, então, num ser perfeito, num Dhyãn Chohen. (35)

Nessa assimilação, é muito significativo o fato de cada estágio devachânico estar


condicionado pelo estágio terrestre que o precedeu e de o Homem poder assimilar no
Devachan apenas diferentes espécies de experiências que teve na Terra.

Uma personalidade incolor e insignificante tem um estado devachânico incolor e pouco


acentuado. (36)

Seja marido, pai, estudante, patriota, artista, cristão ou budista, tem de sofrer no
Devachan os efeitos da vida terrena; não pode comer nem assimilar mais alimento do que
aquele que juntou; não pode colher mais do que o correspondente ao que semeou. Para
lançar uma semente à terra, basta um momento, mas para que a semente se transforme na
espiga madura, são precisos muitos meses; e conforme a espécie da semente, assim será a
espécie da espiga, que dela resulta: igualmente, a colheita do campo de Aanroo será o
resultado da espécie de vida que se teve na curta estada na Terra.

Há no Devachan uma mudança de ocupação, uma mudança continua, mesma, e ainda


maior do que a existente na vida de qualquer homem ou mulher, que durante toda ela não
tenha tido senão uma só ocupação, seja esta qual for, mas com a grande diferença que
para a entidade devachânica essa ocupação espiritual é sempre agradável e enche-lhe a
vida de encanto e êxtase. A vida no Devachan é a execução das aspirações da vida terrena;
não o prolongamento indefinido daquele "simples momento", mas seus desenvolvimentos
infinitos, os diferentes incidentes e acontecimentos, baseados nesse "simples momento" ou
momentos e que provêm deles... A recompensa que a Natureza concede aos homens que
são bons, sistemática e amplamente bons, que não se resumiram num indivíduo só ou em
qualquer objetivo exclusivo, consiste em fazê-los passar com mais rapidez dos planos do
Kãmaloka e Rüpa Loka à esfera superior do Tribhuvana, pois é aqui que a entidade ocupa o
pensamento com a expressão de ideias abstratas e a consideração dos princípios gerais.
(37)

No Devachan não entra nada que corrompa, pois a matéria grosseira ficou na Terra e
36
no Kãmaloka com todos os seus atributos. Porém, se o semeador deitou à terra poucas
sementes, escassa será a colheita devachânica e o desenvolvimento da Alma será
retardado por causa da pobreza dos alimentos de que tem de nutrir-se. Daqui vem a
importância imensa da vida terrena, o campo da semeadura, o lugar onde se faz a colheita
da experiência. É ela que condiciona, regula e limita o desenvolvimento da Alma; produz o
mineral em bruto que a alma extrai e trabalha durante o estado devachânico, fundindo-o,
forjando-o, e temperando-o, para dele fazer as armas com que vai lutar na próxima vida
terrena. A Alma, cheia de experiência, constrói no Devachan uma arma magnífica para a
próxima vida na Terra, ao passo que a Alma inexperiente apenas forjará uma fraca lâmina
embotada. No Devachan, a "Alma, por assim dizer, separa e classifica suas experiências,
tem uma vida relativamente livre e adquire pouco a pouco poder. de dar às experiências
terrenas seu verdadeiro valor; põe em prática, por completo, como realidades objetivas,
todas as ideias de que na Terra concebeu os germens. Desse modo, qualquer aspiração
nobre é um embrião que a Alma converterá numa esplendida árvore de verdade no
Devachan, e quando, na próxima encarnação, volta à Terra traz consigo a imagem mental
dessa realidade objetiva, que na primeira ocasião oportuna materializará: porque a esfera
do espírito é a esfera da criação, e a Terra é o lugar onde o pensamento persistente se
materializa. A Alma é uma espécie de arquiteto que traça um plano no silêncio e na
meditação profunda, e que, depois, o mostra em plena luz e por ele constrói o edifício;
com os conhecimentos adquiridos na vida anterior, a Alma esboça os planos para a
próxima e regressa à Terra para dar forma material aos edifícios que planejou em seu
isolamento. A passagem seguinte é a alegoria de Brama em atividade criadora:

Enquanto Brama, em outros tempos, no princípio dos Kalpas, meditava sobre a


criação, apareceu uma criação que principiou com a ignorância e permaneceu na
obscuridade [...] Brama, ao ver que esta era defeituosa, imaginou outra; e, enquanto
meditava sobre ela, manifestou-se a criação animal. [...] Vendo que esta também era
imperfeita, Brama meditou de novo e assim apareceu uma terceira criação em que
abundava a bondade. (38)

A manifestação objetiva segue-se à manifestação mental; primeiro a ideia, depois a


forma. Por isto se vê que a noção corrente entre muitos teosofistas de que a estada no
Devachan é um tempo perdido, é uma das ilusões devidas à matéria grosseira que os cega,
e que sua impaciência perante a ideia do Devachan nasce da ilusão de que a única atividade
real é andar atolado na matéria grosseira. Ao passo que, na realidade, qualquer ação
efetiva tem sua origem na meditação profunda, do silêncio sai sempre a palavra criadora. A
ação seria mais fraca e mais deficiente, neste plano, se fosse apenas fruto da raiz profunda
da meditação; e se a Alma encarnada deixasse com mais frequência o corpo físico para ir ao
Devachan, durante a vida terrena, haveria menos leviandades e menor perda de tempo,
porque o Devachan é um estado de consciência: a consciência da Alma que se liberta por
um momento de sua prisão de matéria grosseira, na qual pode ingressar em qualquer
momento aquele que aprendeu a isolar a Alma dos sentidos, da mesma forma que a
tartaruga sai da carapaça. E, então,·ao mostrar-se de novo, tem uma ação rápida, direta e
37
com intenção; o tempo "perdido" recupera-se sobejamente com a precisão e energia do
ato gerado pelo espírito.
O Devachan é a esfera do espírito e, como já foi dito, a Terra dos Deuses ou das Almas.
Nas "Notas sobre o Devachan", já citadas, lê-se:

Há dois campos de manifestação casual: o objetivo e o subjetivo. As energias mais


grosseiras têm sua manifestação na personalidade. As atividades morais e espirituais têm
sua esfera de efeitos no Devachan.

Como as mais importantes das atividades são as morais e as espirituais, e como de seu
desenvolvimento depende o desenvolvimento e aperfeiçoamento do verdadeiro Homem e,
por consequência, a realização do "objetivo da criação, a libertação da Alma", podemos por
este fato começar a compreender alguma coisa da grande importância do estado
devachânico.

(32). Em vez da palavra Devachan, usa-se também a palavra Sukhãvati, tirada do Budismo
do Tibete. Segundo Schlagintweit, o Sukhãvati é "a morada dos bem-aventurados, à qual
ascendem os que se tornaram dignos pela prática de virtudes"; e os que lá vivem "estão
libertos da metempsicose" (O Budismo no Tibete. p. 99). Segundo a escola Prasanga, o
Caminho superior conduz ao Nirvãna, o inferior ao Sukhãvati. Mas Eitel chama ao Sukhãvati
"o Nirvâna dos indivíduos vulgares, onde os santos vivem na maior bem-aventurança
durante anos, até reingressarem no círculo da Transmigração" (Dicionário Sânscrito-chinês).
Contudo, quando se refere à palavra Amithãba, diz que o "espírito popular" considera o
"paraíso do Ocidente" como "o posto da redenção final dos vendavais da transmigração".
Segundo um dos Mestres da Filosofia Esotérica, esse termo abrange os estados
devachãnicos superiores, dos quais a Alma volta à Terra.
(33). Veja Lúcifer, outubro de 1892, vol. XI, nº 62.
(34). O caminho, maio de 1890.
(35). caminho, maio de 1890.
(36). "Notas sobre o Devachan", op. cit.
(37). "Notas sobre o Devachan". Há uma grande variedade de estágios no Devachan: o
Rüpa Loka (lugar das formas) é um estado inferior, onde a Alma se acha ainda cercada de
formas. No Tribhuvana, acha-se já livre de todas essas personalidades.
(38). Vishnu Purãna, livro I, cap. V.

38
O DEVACHANI
Quando a Tríade se despoja do último invólucro, atravessa o limiar do Devachan e
converte-se num "Devachani", isto é, numa entidade devachânica. Já vimos que esta, antes
de dar o passo que a coloca fora da atração terrestre, ou seja, antes da "segunda morte",
ou "inconsciência pré-devachânica", se encontra num estado de tranquila sonolência. A
esse estado chama-se também período de "gestação", porque precede imediatamente o
nascimento do Ego na vida devachânica. Este passo, visto da vida terrena é a morte; visto
do Devachan é o nascimento. As "Notas sobre o Devachan" dizem:

No Devachan, o Ego passa por coisas semelhantes às que se dão na vida terrena; no
principio, as primeiras manifestações da vida psíquica: depois, a maturação dessa vida
psíquica: depois, por um esgotamento gradual da força, passa a uma semiconsciência, a um
letargo, a um esquecimento total, e por último, sobrevém, não a morte, mas o nascimento
em outra personalidade e a reaquisição das ações que diariamente geram novos agregados
de causas, que devem dar seus efeitos em outro período devachânico; e depois à
encarnação física numa nova personalidade. O que hão de ser, para cada caso, as vidas no
Devachan e na Terra, é determinado pelo Karma; e esta árdua roda de nascimentos tem de
girar umas poucas vezes, até chegar ao fim da sétima Ronda, ou então alcance, entretanto,
a sabedoria de um Arhat, depois a de um Buda, único meio por que se pode libertar de uma
ou de duas Rondas.

Quando a entidade devachânica nasce nessa nova esfera, está fora de toda a atração
terrestre. A Alma encarnada pode elevar-se até ela, mas esta não pode ser atraída ao nosso
mundo. Sobre este ponto falou um Mestre categoricamente:

Desde o Sukhãvat até o "Território da Dúvida", há uma grande variedade de estados


espirituais; mas [...] assim que o Ego saiu do Kãmaloka e cruzou a "Ponte de Ouro", que
conduz às "Sete Montanhas de Ouro", já não pode emparelhar com a vulgaridade dos
médiuns. Nunca nenhum Ernesto ou José voltou do Rúpa Loka, e muito menos do Arúpa
Loka, para se entreter em doce colóquio com os homens.

Lemos também nas "Notas sobre o Devachan":

É fato que o novo Ego, ao voltar a nascer (no Devachan) retém durante certo tempo,
proporcional a duração; da vida terrena, uma memória completa desta; mas do Devachan
não pode voltar à Terra, senão quando se reencarna.

Geralmente chama-se ao Devachan, Tríade Imortal, Ãtmã-Buddhi-Manas, mas convém


ter sempre presente que:

Ãtmã não é nenhuma propriedade individual, mas sim a Essência Divina que não tem
39
corpo, nem forma; que é imponderável, invisível e inaudível; aquilo que não existe, e
contudo é, como dizem os budistas acerca do Nirvana; apenas cobre com sua sombra
protetora o mortal; o que entra neste e lhe impregna o corpo todo são apenas os seus raios
a sua luz onipresente, que irradia por meio de Buddhi, seu veiculo e sua emanação direta.
(39)

Buddhi e Manas unidos, a essa sombra protetora que lhes dá o Ãtmã, formam o
Devachani; ora, como vimos ao estudar Os Sete Princípios, o Manas tem suas modalidades,
durante a vida terrena, e o Manas Inferior e de novo chamado ao Superior, durante o
intervalo de Kamaloka. Graças a esta nova união do raio ao Manas, sua fonte, este
converte-se de novo em uno e leva para o Devachan as experiências puras e nobres da vida
terrena, mantendo-se, desse modo a personalidade passada como qualidade característica
do Devachani; e é nesse prolongamento, chamemos-lhe assim do "Ego pessoal” que
consiste a "ilusão da personalidade", Se a entidade manásica estivesse livre de toda a ilusão,
veria em todos os Egos Almas irmãs e lançando um olhar ao passado, reconheceria a
variedade de relações que teve em outras vidas, como um ator que recordasse os papéis
que tivesse representado com outros atores e considerasse cada um destes não como a
personagem, pai, filho, juiz, assassino, ou amigo, interpretado nas peças mas como um
irmão seu. A relação humana mais profunda evitará que os atores-irmãos se identifiquem
com os seus papeis, e assim, os Egos espirituais aperfeiçoados, reconhecendo a sua
profunda unidade e plena fraternidade nunca se deixarão iludir pelas armadilhas das
relações terrestres Mas o Devachani, pelo menos nos estágios inferiores, ainda está dentro
dos limites pessoais da vida terrena passada; está encerrado nas relações nos parentescos
dessa encarnação; e o seu paraíso é povoado por aqueles que amou com um amor que não
morre, que e o único sentimento que sobrevive, como já foi dito o característico que
sobressai no Devachani Voltando as “Notas sobre o Devachan", encontramos:

"Quem vai para o Devachan?" Pelo que vimos é o Ego pessoal, mas beatificado,
purificado, santificado. Cada Ego - combinação do sexto e sétimo princípios (40) - que
depois do período de gestação inconsciente torna a renascer no Devachan, é por
necessidade tão inocente e tão pura como uma criança recém-nascida. O fato de um
renascimento demonstra a preponderância do bem sobre o mal em sua última
personalidade. E enquanto o Karma (o do mal) se afasta durante este tempo para o seguir
depois na encarnação futura, o Ego só leva consigo para o Devachan o Karma de suas
ações, palavras e pensamentos de bondade. "Mal" é um termo relativo para nós, como já se
disse antes mais de uma vez, e a Lei da Retribuição é a única lei que nunca falha. Por isso,
todos aqueles que não mergulharam no mar do pecado e da animalidade vão para o
Devachan. Mais tarde, então, pagarão pelos pecados voluntários ou involuntários.
Entretanto, vão recebendo a recompensa pelo bem; vão recebendo os efeitos das causas
que produziram.

Posto isto, encaremos com serenidade uma outra questão: muitos revoltam-se à ideia
de que os laços que formaram na Terra não sejam permanentes na eternidade. Ora,
40
quando uma mãe aperta ao peito pela primeira vez seu filhinho recém-nascido, a relação
entre eles parece ser perfeita; se a criança morresse, o desejo da mãe seria possuí-lo assim
mesmo; porém, geralmente vive, atravessa a mocidade, chega a homem, e nesta altura os
laços que o unem à mãe mudam; o amor protetor da mãe e a obediência passiva do filho
convertem-se num sentimento diferente, como entre camaradas e amigos, mas superior à
amizade vulgar graças às velhas recordações; porém, mais tarde, quando a mãe está velha
e o filho se encontra a meio da vida ou na idade madura, invertem-se os papéis e é, então,
o filho que passa a proteger a mãe que, por sua vez, passa a depender do filho, agora seu
guia e protetor. Pergunta-se agora: Qual dos laços será mais forte, o primeiro, o da infância,
ou este de agora? Evidentemente, o segundo. Pois é precisamente o que sucede com os
Egos; podem em muitas vidas manter relações mútuas, e finalmente, tendo chegado como
Irmãos da mesma Loja a unir-se estreitamente, podem olhar para trás, para as vidas
passadas, e ver-se nas vidas terrenas relacionados de todas as maneiras que aparecem nas
relações entre seres humanos, até que a corda esteja tensa e forte, formada por todos os
fios bem torcidos do amor e do dever. Não será a unidade final mais rica, em lugar de mais
pobre, em virtude da grande quantidade de fios que se entrelaçaram para formar o laço?
Digo “finalmente" mas esta palavra apenas se pode aplicar ao ciclo atual, porque não há
inteligência humana que possa saber que a vida de mais amplidão e de menos
separatividade se seguirá para além. A meu ver, acho que é precisamente essa variedade
de experiências que fazem mais fortes, e não mais fracos, os laços, e que é uma satisfação
mesquinha e sem valor conhecermo-nos a nós mesmos e aos outros apenas sob um único
aspecto, único e insignificante, dos muitos que a humanidade toma, durante séculos sem
fim; para mim seria suficiente conhecer uma pessoa sob um certo caráter, durante um
milhar de anos, por exemplo, e depois passar a conhecê-la sob um novo aspecto de sua
natureza. Porém, os que não concordam com essa maneira de ver não têm que se afligir,
nem sentir-se desgraçados, pois gozarão a presença daqueles que amam, sob a mesma
forma de que estavam revestidos durante a encarnação de que têm consciência, egoza-la-
ão por tanto tempo quanto dura o desejo dessa presença. Mas, se esta certeza os consola,
não devem querer impor aos outros a sua maneira particular de encarar a felicidade, nem
insistir em que a espécie de felicidade, que agora lhes parece mais apetecível e satisfatória,
se vá estereotipar na eternidade, e assim fique durante todos os milhões de anos que se
estendem diante de nós. A Natureza dá a cada um, no Devachan, a satisfação de todos os
desejos puros, e o Manas exerce ali a faculdade de sua divindade inata, que é "não desejar
nada em vão". Será isto suficiente?
Mas, pondo à parte essa questão do que será para nós a "felicidade", num futuro
separado do presente por milhões de anos, a tal ponto que nos é impossível determinar-lhe
as condições, à semelhança da criança, que, ao brincar com os seus brinquedos, é incapaz
de precisar as alegrias e interesses mais profundos de sua idade madura, tenhamos bem
presente que, segundo as doutrinas da Filosofia Esotérica, o Devachani se acha rodeado por
todos os que amou na Terra com um carinho puro e desinteressado, e que, realizando-se a
união no plano do Ego, e não no plano físico, se acha livre de todos os sofrimentos que
seriam inevitáveis, se ele estivesse conscientemente no plano físico com todas as suas
ilusórias alegrias e transitórios pesares. Está cercado de todos os seres amados na
41
consciência superior, mas sem passar pela tortura de saber que eles sofrem na consciência
inferior, mantida pelos laços da carne. Segundo o ponto de vista dos cristãos ortodoxos, a
morte é uma separação; os "espíritos dos mortos" têm de esperar que os entes queridos
cruzem também o vestíbulo da morte, para se reunirem, ou segundo outros, que passe o
dia do juízo final. Contrariamente a isto, a Filosofia Esotérica ensina que a Morte não pode
tocar a consciência superior do homem, e que não pode separar os que se amam, senão no
que diz respeito aos veículos inferiores; o homem que vive na Terra, cego pela matéria,
sente-se separado daqueles que a deixaram; mas o Devachani, diz H. P. Blavatsky, tem a
plena convicção "de que não existe Morte, nem nada que se lhe pareça, pois já arrojou para
longe de si todos os veículos sobre os quais a Morte pode ter poder". Portanto, seus olhos,
menos cegos, avistam em torno deles os seres que ama; para esses olhos rasgou-se o véu
da matéria que os separa deles.

Uma mãe morre, deixando na Terra seus pequeninos órfãos, a quem adora e, tantas
vezes, um esposo adorado também. Dizemos que o "Espírito" dessa mãe, ou seu Ego - essa
individualidade que agora, no período devachânico, se acha penetrada dos sentimentos
mais nobres que teve sua última personalidade, isto é, amor aos filhos, compaixão pelos
que sofrem etc. - que então se encontra completamente separado do "vale de lágrimas”;
que sua felicidade consiste na feliz ignorância de todos os males que deixou [...]; que a
consciência espiritual post-mortem da mãe lhe fará ver que vive rodeada de seus filhos e de
todos os que amou, que não haverá vácuo algum e não lhe faltará algum laço de amor para
que sua situação seja de uma felicidade absoluta e perfeita. (41)

A este respeito diz ainda:

Com respeito ao mortal comum, sua felicidade no Devachan é completa. É o


esquecimento absoluto de tudo que lhe causa dor ou tristeza na encarnação passada, e até
o esquecimento da existência de dores ou tristezas. O Devachani vive neste ciclo
intermediário entre duas encarnações, rodeado de tudo aquilo a que tinha aspirado em vão,
e em companhia de tudo que amava na Terra. No Devachan consegue a realização de todos
os desejos de sua alma, e assim vive durante longos séculos uma existência de felicidade
constante, que é uma recompensa dos sofrimentos que teve na Terra. Em resumo, banha-se
num mar de felicidade constante, tornada ainda maior de vez em quando por eventos de
maior ventura ainda. (42)

Quando permitimos ao pensamento o largo voo exigido pela Filosofia Esotérica,


desenvolve-se perante nós uma perspectiva de amor e de união entre os Egos individuais
muito mais fascinante e persistente do que a que nos oferecem as crenças do Cristianismo
Esotérico. "As mães amam os filhos com um amor imortal", diz H. P. Blavatsky; a razão
dessa imortalidade, no amor, compreende-se facilmente logo que nos compenetremos de
que são os mesmos Egos que desempenham os papéis do drama da vida; que a experiência
de cada um desses papéis fica impressa na memória da Alma, e que entre as Almas não
existe separação, ainda que durante a encarnação não se tenham compenetrado da
42
verdade do fato em toda a plenitude e em toda a sua beleza.

Estamos, então, com aqueles que perdemos na forma material e mais perto, muito
mais perto deles, do que estávamos quando nos achávamos encarnados. E isto não é uma
questão de fantasia, como muitos creem: pois o amor puro e divino não nasce só do coração
humano; tem suas raízes na eternidade. O amor sagrado espiritual é imortal, e o Karma faz
com que, mais cedo ou mais tarde, todos os que se amem, com um afeto espiritual
semelhante, encarnem de novo na mesma família. (43)

As raízes do amor estão na eternidade" e aqueles para quem nos sentimos fortemente
atraídos são Egos que amamos em vidas terrenas passadas e com quem estivemos no.
Devachan; ao voltar à Terra esses laços permanentes de amor voltam a reunir-nos e
aumentam o poder e a beleza da união, e assim sucessivamente até que se esgotem todas
as ilusões, e os Egos fortes e perfeitos participem unidos das experiências de seu passado
quase ilimitado.

(39). A chave da teosofia.


(40). Sexto e sétimo na nomenclatura antiga, quinto e sexto na moderna, isto é, Manas e
Buddhi.
(41). A chave da teosofia.
(42). A chave da teosofia.
(43). A chave da teosofia.

43
A VOLTA À TERRA
Por fim, as causas que levaram o Ego ao Devachan se esgotam; as experiências colhidas
foram completamente assimiladas e a Alma começa a sentir de novo a sede de vida
material senciente que só pode ser satisfeita no plano físico. Quanto maior é o grau de
espiritualidade alcançado, quanto mais pura e elevada foi a vida terrena precedente, tanto
mais longa será a demora no Devachan, mundo dos efeitos espirituais puros e elevados.
[Excetua-se apenas o caso daqueles que estejam apressando sua evolução, abrindo a
marchas forçadas de pureza de vida, num número limitado de encarnações, o caminho que
conduz ao Adeptado.] O "tempo médio [da estada em Devachan] é de dez a quinze
séculos", diz-nos H. P. Blavatsky, porque é de mil e quinhentos em mil e quinhentos anos
que os grandes fatos históricos se assinalam, como consequência da volta à Terra dos
mesmos Egos. (44) Mas na vida moderna este período tem-se reduzido em consequência
de os objetos físicos exercerem uma atração maior sobre o coração humano. Além disso,
deve lembrar-se que o "tempo médio" não é o que lá é passado por todos os indivíduos. Se
um deles passa lá mil anos e outro cinquenta, a "média" é quinhentos e vinte e cinco anos.
O período devachânico é mais ou menos longo conforme o gênero de vida que o precedeu;
quanto maior for a atividade espiritual, intelectual e emocionai, de espécie elevada, tanto
maior será a colheita; quanto maior era a atividade dirigida no sentido dos ganhos egoístas
na Terra, tanto menor será o período devachânico.
Assimiladas as experiências, em pouco ou muito tempo, o Ego está em condições de
voltar, e traz consigo não só as experiências aumentadas, mas também qualquer coisa a
mais que no Devachan conseguiu reunir, no campo do pensamento abstrato; pois, durante
a estada no Devachan:

Podemos, num certo sentido, adquirir mais conhecimento, isto é, podemos desenvolver
qualquer faculdade que na vida terrena estimaríamos ver desenvolvida e nos esforçamos
por desenvolver, contanto que se trate de coisas abstratas e puras, como música, pintura,
poesia etc. (45)

Mas ao cruzar o limiar do Devachan em seu caminho para a Terra, o Ego encontra "na
atmosfera do plano terrestre" as sementes do mal que semeou na vida terrena precedente.
Enquanto esteve no Devachan não soube o que eram desgostos nem tristezas, mas o mal
que fez no passado não morreu, conservou-se como que suspenso, num estado latente.
Assim como as sementes lançadas à terra na primavera. dormem sob sua superfície, e
graças ao calor do sol e ao alimento da água, vão inchando, e o embrião vai crescendo,
assim as sementes do Mal, semeadas por nós, dormem durante o Devachan, mas lançam
suas raízes na nova personalidade, que assim começa a formar-se para a próxima
reencarnação. O Ego tem de carregar o fardo do passado, e esses germens ou sementes,
que se desenvolvem e se transformam em culturas de semeaduras passadas, são os
Skandhas, para nos servirmos de um termo próprio, emprestado de nossos irmãos
budistas. São constituídos por qualidades materiais, sensações, ideias abstratas, tendências
44
espirituais, faculdades mentais; e ao passo que o puro aroma impregnou o Ego e o
acompanhou ao Devachan, tudo que era grosseiro, baixo e mau, ficou no estado latente, de
que falamos, e é retomado pelo Ego em seu caminho para a Terra e vai formar o novo
"homem de carne", que o homem verdadeiro vai habitar. E assim vai se sucedendo a ronda
dos nascimentos e das mortes, à volta da Roda da Vida, longa jornada no Ciclo da
Necessidade, até que, cumprida a tarefa, esteja completa a formação do Homem Perfeito.

(44). Veja Reencarnação – Annie Besant, Editora Pensamento, pp. 60 e 61.


(45). A chave da teosofia.

45
O NIRVÃNA
O que o Devachan é para cada vida terrena, o Nirvâna é para o ciclo terminado de
reencarnações; porém, aqui, estaria deslocada qualquer discussão acerca desse glorioso
estado. É apenas aflorado, como complemento do "depois da Morte", pois nenhum
conceito humano, estritamente circunscrito nos acanhados limites da consciência inferior,
pode chegar a explicar o que é o Nirvãna; qualquer tentativa de descrição pouco mais faria
do que desfigurá-lo. Mas se se não pode dizer o que é esse estado, pode dizer-se o que não
é: não é "aniquilamento", não é perda nem destruição da consciência. Mr. A. P. Sinnett
expôs de uma forma rápida e clara o absurdo de muitas ideias sobre o Nirvãna, correntes
no Ocidente. Depois de falar da ciência absoluta, prossegue:

Poderíamos servir-nos de expressões descritivas, mas elas não podem ter nenhuma
significação para uma inteligência ordinária - dominada pelo cérebro físico e pelo intelecto
que nasce desse cérebro. Tudo o que podemos exprimir por palavras, acerca do Nirvãna, é
que é um sublime estado de repouso consciente na onisciência. Seria ridículo, depois do que
já se tem dito a esse respeito, recomeçar as velhas discussões que têm havido entre os
cultores do Budismo Esotérico, para saber se o Nirvãna significa ou não "aniquilamento".
Não há comparação alguma deste mundo que possa dar uma ideia dos sentimentos que
essa questão faz nascer no espírito dos graduados da Ciência Esotérica. Será sensato dizer
que a última penalidade da lei é a honra mais elevada do pariato ? E uma colher de pau o
emblema mais elevado das eminências mais ilustres do saber? Essas perguntas são apenas
pálidos exemplos da extravagância dos que perguntam se o Budismo considera o Nirvãna
como sinônimo de aniquilamento. (46)

A Doutrina Secreta ensina-nos que o Nirvãna (entidade nirvânica) volta à atividade


cósmica num novo ciclo de manifestação e que:

O fio da irradiação, que é imperecível e que só se dissolve no Nirvãna, reemerge dele


em sua integridade no dia em que a Grande Lei novamente põe todas as coisas em ação.
(47)

(46). Budismo esotérico. 8ª ed. p. 197.


(47). Citação in A Doutrina Secreta, vols. II e III. O estudante fará bem em ler, para uma
explanação mais ampla do tema, "Nota sobre o Nirvãna", nos números de março, abril e
maio de 1893 da revista Lúcifer.

46
COMUNICAÇÕES ENTRE A TERRA E AS OUTRAS ESFERAS
Estamos agora em condições de discriminar as várias espécies de relações que existem
entre aqueles que tolamente chamamos "mortos" e "vivos", como se o homem fosse
apenas o corpo e pudesse morrer. A frase correta, ou, pelo menos, mais própria, seria
"comunicações entre encarnados e desencarnados".
Em primeiro lugar, ponhamos à parte, por imprópria, a palavra Espírito. O Espírito não
pode se comunicar com o Espírito de algum modo concebível pelo homem. Esse principio
de ordem mais elevada não está ainda manifestado na carne; conserva-se o que é, fonte
oculta de tudo, Energia eterna, um dos polos do ser em manifestação. A palavra é
empregada com liberdade para denotar inteligências elevadas que vivem e morrem fora
das condições de matéria imagináveis por nós, porém o Espírito puro é atualmente
inconcebível em nosso plano; e como, ao tratarmos das "comunicações" possíveis, nos
referimos à generalidade dos seres humanos que as recebem, podemos muito bem excluir
a palavra Espírito tanto quanto for possível, livrando-nos, assim, de ambiguidades. E
quando ela aparece, em citações, por uma questão de obediência a um hábito, significa o
Ego.
Considerando os estados por que passa o homem desencarnado depois da "Morte" ou
do abandono do corpo, é fácil fazer uma classificação das comunicações que podem ser
recebidas, ou das aparências de comunicações que se podem ver.
I. "Quando a Alma abandonou o corpo físico e ainda está revestida do duplo etérico ," É
um período de pequeníssima duração, mas, durante o qual, a Alma se pode mostrar
envolvida nessa túnica etérea:

Durante um período muito breve depois da morte, enquanto os princípios incorpóreos


permanecem dentro da esfera de atração da nossa Terra, é possível ao espírito aparecer em
condições especiais e favoráveis. (48)

Não há nenhuma comunicação durante esse curto intervalo, nem enquanto habita
dentro dessa forma. Estes "espectros" são silenciosos, sonhadores, como sonâmbulos, e
realmente se pode dizer que são sonâmbulos astrais. Não respondem, mas são capazes de
expressar um pensamento único, de pesar, de ansiedade, de desastre, de assassinato etc.;
são as aspirações provenientes apenas de um pensamento do moribundo que toma forma
no mundo astral, e é levado por sua própria vontade para uma determinada pessoa com
quem sinta um intenso desejo de comunicar-se. Um pensamento desta ordem, a que
algumas vezes se dá o nome de Mãyãvi Rüpa, ou forma ilusória:

Pode ser muitas vezes objetivado como sucede nos casos de aparições depois da morte;
mas, a não ser que seja projetado com conhecimento de causa (latente ou potencial), ou
seja, devido à intensidade do desejo de ver ou de aparecer a alguém, cuja lembrança cruza
o cérebro do moribundo, a aparição será simplesmente automática; não será devida a
alguma atração simpática nem a qualquer ato voluntário, da mesma forma que a imagem
47
refletida por uma pessoa que inconscientemente passa diante de um espelho, não é
resultado de nenhum ato da vontade.

Depois de a Alma ter abandonado o duplo etérico, sacudindo-o de si como sacudiu o


corpo denso, o duplo abandonado, espécie de cadáver vazio, pode ser galvanizado numa
"vida artificial", mas felizmente poucos conhecem a maneira de o conseguir.
lI. "Enquanto a Alma está no Kãmaloka." Este período é de duração muito variável. A
Alma está revestida de um corpo astral, que é o penúltimo de seus invólucros perecíveis, e
enquanto está dentro dele pode utilizar os corpos físicos de um médium, procurando,
assim, conscientemente um instrumento por meio do qual possa agir no mundo que
deixou, e comunicar-se com os que estão na Terra. Por este processo pode comunicar fatos
conhecidos dele apenas, ou dele e de um outro, acontecidos na vida terrena que acaba de
deixar; essas comunicações são sempre possíveis enquanto permanece dentro da
atmosfera terrestre. Mas representam um grande perigo, de que já se falou, tanto no caso
em que o Manas inferior está unido à Tríade Divina, e portanto a caminho do Devachan,
como quando está se separando dela, e portanto em via de desagregação.
III. "Enquanto a Alma está no Devachan", se uma Alma encarnada for capaz de se elevar
até essa esfera ou de se pôr em relação com ela. Com o Devachani já vimos que as pessoas
amadas podem se comunicar em plena consciência, visto os Egos estarem em contato,
apesar de um estar encarnado e o outro não, mas a consciência superior do encarnado
raras vezes afeta o cérebro. Em geral, o que conhecemos, no plano físico, de uma pessoa
querida, enquanto ambos estamos encarnados, é a imagem mental causada pela impressão
que ela faz em nós. Para a nossa consciência, essa imagem é essa pessoa querida, e nada
lhe falta em objetividade. Assim como a pessoa querida no plano físico é visível para um
observador que esteja na Terra, assim a pessoa querida no plano mental é visível para um
observador nesse plano. O grau de realização da imagem dessa pessoa depende de sua
própria evolução: uma criatura muito desenvolvida é capaz de um maior poder de
comunicação do que uma ainda atrasada em seu desenvolvimento. Durante o sono a
comunicação com o corpo é mais fácil do que quando se está acordado, e muitos dos
"sonhos" que temos, que confessamos serem de uma nitidez tal, que parecem realidades,
são entrevistas verdadeiras no Devachan ou no Kãmaloka.

Apesar de haver quem lhe chame ilusão, (49) o amor de além-túmulo tem uma potência
mágica e divina que vem reagir nos vivos. O Ego de uma mãe cheia de amor pelos filhos
imaginários que ele vê junto de si, vivendo uma vida de felicidade, tão real para ele como na
Terra - esse amor será sempre sentido pelos filhos encarnados. Senti-Io-ão nos sonhos e
frequentemente em muitas outras ocasiões - em proteções e salvações providenciais,
porque o amor é um escudo, forte e poderoso, independente do espaço e do tempo. E o que
acontece com esse amor de mãe, sucede com todas as relações e dedicações humanas,
exceto as que têm um caráter puramente egoísta e material. (50)

Sabendo que um pensamento se converte numa entidade ativa, capaz de produzir o


bem ou o mal, é fácil compreender como as Almas encarnadas podem enviar para os entes
48
queridos forças amigas de proteção, de modo que o Devachani, pensando nos que lhe são
queridos, pode fazer incidir nesses pensamentos de auxílio e de amparo, pensamentos que
vão agir como verdadeiros anjos da guarda em volta dos entes amados que deixou na
Terra. Mas não se trata da volta do "Espírito" da mãe à Terra, para servir de espectador
quase impotente das aflições do filho.
A alma encarnada pode, por vezes, libertar-se da prisão da carne e entrar em relações
com o Devachani. H. P. Blavatsky escreve:

Sempre que, anos depois da morte de uma pessoa, se afirma que seu espírito "voltou à
Terra", para aconselhar aqueles que ama, é sempre um caso de visão subjetiva, ou em
sonhos ou em êxtase natural ou provocado, e nesse caso é a Alma do vidente vivo que é
atraída para o espírito desencarnado, e não este que vem de novo pairar em nossa esfera.
(51)

Quando o sensitivo ou médium é de natureza pura e elevada, essa ascensão do Ego


libertado até o Devachan é praticável, o que naturalmente dá ao sensitivo a impressão de
que o Ego que partiu volta até ele. O Devachani está envolvido em sua venturosa "ilusão"
e:

As Almas ou os Egos astrais dos sensitivos impregnados de puro amor, laborando na


mesma ilusão, pensam que são aqueles que amam que descem à Terra, quando realmente
são seus próprios espíritos que se erguem para os que vivem no Devechan. (52)

Essa atração pode exercê-la a Alma desencarnada, do Kãmaloka ou do Devachan:

Um "espírito" ou o Ego espiritual não pode descer ao médium mas pode atrair a si o
espírito deste, e só pode fazê-lo durante os dois intervalos - antes e depois do "período de
gestação". O primeiro intervalo é o período de tempo que medeia entre a morte física e o
ingresso do Ego espiritual nesse estado que na Doutrina Esotérica Arhat se chama "Bardo".
Traduzimo-lo por "período de gestação", cuja duração vai de dias a anos, segundo o
testemunho dos Adeptos. O segundo intervalo dura enquanto os méritos do Ego antigo
[pessoal] dão ao ser o direito de colher o fruto da recompensa que lhe é devida por sua
regeneração em sua nova maneira de ser. Começa quando termina o período de gestação e
quando o novo Ego espiritual renasce - como Fênix das cinzas - do antigo. Ao lugar onde
este último habita, chamam os Budistas Ocultistas do Norte "Devachan". (53)

Da mesma forma, podem também os principias incorpóreos dos sensitivos puros


entrar em relação com as Almas desencarnadas, mas a informação obtida por este meio
não é de confiança, em parte devido à dificuldade de transferência para o cérebro físico das
impressões recebidas e em parte devido à falta de rigor na observação do vidente pouco
treinado. (54)

O Ego de um médium puro pode ser atraído e posto, por um instante, em relação
49
magnética [?] com um espírito desencarnado real, ao passo que a alma de um médium
impuro só se pode familiarizar com a Alma Astral ou Invólucro kâmico do morto. A primeira
possibilidade explica os casos extremamente raros da escrita direta em autógrafos
reconhecidos e das mensagens enviadas pelas classes mais elevadas das inteligências
desencarnadas.

Mas a confusão que sempre existe nessas mensagens e, em geral, em todas as


comunicações obtidas por esse modo, provém das causas acima apontadas e do fato de
que

mesmo os sensitivos da maior pureza conseguem apenas pôr-se em relação com uma
entidade espiritual particular, e apenas podem saber, ver e sentir o que essa entidade
particular sabe, vê e sente.

Daqui vem a possibilidade de se errar quando se quer entrar em generalizações visto


que cada Devachani vive no paraíso que lhe é próprio, e não lhe é possível "espreitar a
Terra".

Nem há espécie alguma de comunicação consciente com as Almas errantes que, por
assim dizer, vêm saber onde os Espíritos estão, o que fazem, pensam e veem.
O que é, então, um ser em comunicação? É simplesmente uma identidade de vibração
molecular entre a parte astral do sensitivo encarnado e a parte astral da personalidade
desencarnada. O espírito do sensitivo fica, por assim dizer, impregnado pela aura do
espírito , quer este se ache hibernando na região terrena, quer sonhando no Devachan;
estabelece uma identidade de vibração molecular, e, durante um breve espaço de tempo, o
sensitivo converte-se na personalidade que partiu, e escreve com a letra desta, emprega
sua linguagem e pensa por seus pensamentos. Nessas ocasiões os sensitivos acreditam que
aqueles com que estão momentaneamente em comunicação descem à Terra, quando, na
realidade, são afinal seus próprios espíritos que, vibrando em uníssono com os outros, se
acham, nessa ocasião, identiticedos.com eles. (55)

Num caso especial que observou, H. P. Blavatsky disse que a comunicação podia vir de
um Elementar, mas que era

muito mais provável que o espírito do médium se tivesse posto em relação com
qualquer entidade espiritual devechânica, cujos pensamentos, conhecimentos e
sentimentos formassem a substância da comunicação, e que fossem a personalidade do
médium e suas ideias preexistentes que influíssem mais ou menos em sua forma. (56)

Apesar de não se poder confiar nos fatos e nas opiniões manifestadas nessas
comunicações,

observaremos, no entanto, que é possível que haja realmente uma entidade espiritual
50
que vá influir no espírito do nosso correspondente. Em outras palavras, pode haver -
segundo o que se conseguiu apurar - um espírito com quem sua natureza espiritual se
encontre presentemente na mais completa harmonia, a ponto de tomar para si os
pensamentos, a linguagem etc. desse espírito, que passa a comunicar-se com ele. [...] É
possível também - embora com poucas probabilidades, se é que com alguma - que
habitualmente entre em relações com um espírito verdadeiro, fique durante esse tempo se
identifique com ele, tendo (em grande parte, se não por completo) os mesmos pensamentos
que esse espírito teria, escrevendo com a sua letra etc. Mas mesmo assim, não deve de
forma alguma Mr. Terry imaginar que essa comunicação é consciente da parte do espírito,
ou que esse espírito sabe alguma coisa dele ou de qualquer outra pessoa ou coisa que exista
na Terra. O que acontece simplesmente é que, uma vez estabelecida a comunicação, Mr.
Terry se identifica momentaneamente com essa personalidade e pensa, fala e escreve,
como ela o teria feito na Terra. [...] As moléculas de sua natureza astral podem, de vez em
quando, vibrar em uníssono com o espírito de uma determinada pessoa que esteja no
Devachan, e daí pode resultar a ilusão de estar em comunicação com o seu espírito, falar
com ele, receber dele conselhos e advertências etc., sendo até possível que os clarividentes
vejam na Luz Astral a imagem da forma que esse espírito teve em sua vida terrena.

IV. "Comunicações que não são de almas desencarnadas", passando por estados
normais post-mortem:
a) Invólucros kâmicos [Espectros]. Estas apenas se dão enquanto estes invólucros
abandonados pela alma libertada retêm a impressão de seu último habitante e lhe
reproduzem automaticamente os hábitos de pensamento e de expressão, precisamente
como um corpo físico repete automaticamente gestos habituais. A ação reflexa é tão
possível ao corpo de desejos como ao físico, mas toda a ação reflexa é evidenciada por seu
caráter de repetição e pela ausência de toda a iniciativa de movimento. Responde a um
estímulo com uma aparência de ação premeditada, mas não toma qualquer iniciativa seja
para o que for. As pessoas que, nas sessões espíritas, tratam de "desenvolver" faculdades
mediúnicas, ou esperam ansiosamente mensagens de pessoas amigas desencarnadas,
fornecem o estímulo necessário e obtêm os sinais de reconhecimento por que tão
ardentemente anseiam.
b) Dos Elementares. Estes, possuindo as capacidades inferiores do espírito, isto é, todas
as faculdades intelectuais cujo meio de expressão é o cérebro, podem dar lugar a
comunicações de um caráter altamente intelectual. São, porém, raros esses casos, como se
pode ver pelas mensagens publicadas a respeito das comunicações recebidas de "espíritos
desencarnados".
c) De Elementais ou Espíritos da Natureza. Estes representam um papel importante nas
sessões espíritas e constituem a grande maioria dos agentes que produzem fenômenos
físicos. São eles que ocasionam a queda de objetos, a produção de ruídos, de toques de
campainha etc. Algumas vezes fazem seus truques com os invólucros kâmicos, animando-
os e fazendo-os representar o papel de espíritos de personalidades conhecidas que
viveram na Terra, mas que, a julgar pelas efusões a que se entregam, degeneraram
lamentavelmente no "mundo dos espíritos". Algumas vezes, em sessões de materialização,
51
entretêm-se a lançar imagens da Luz Astral nas formas fluídicas, que se produzem fazendo-
as tomar aspectos de semelhança flagrante com outros indivíduos. Há ainda elementais de
ordem mais elevada, que de vez em quando se comunicam com médiuns de qualidades
excepcionais, os "resplandecentes" de outras esferas.
d) De Nirmãnãkãyas. Para estas comunicações, bem como para as duas seguintes, é
necessário que o médium seja de natureza puríssima e de grande elevação moral. O
Nirmãnãkãya é um homem perfeito que abandonou o corpo físico, mas que conserva os
outros princípios inferiores e se conserva na Terra para ajudar o progresso da
Humanidade. Os Nirmãnãkãyas

renunciaram, levados pele compaixão pela humanidade e por aqueles que deixaram
na Terra, ao estado nirvânico. Estes adeptos ou santos, chame-se-lhes como se lhes
chamar, convencendo-se de que é um ato de egoísmo viver na bem-aventurança,
enquanto a humanidade geme sob o peso da desgraça proveniente da ignorância,
renunciam ao Nirvãna, ficando, e resolvem viver invisíveis em espírito nesta nossa Terra.
Não têm corpo material, visto que se despojaram dele há muito; mas têm todos os outros
princípios mesmo na vida astral de nossa esfera. Essas entidades podem se comunicar e se
comunicam com certo número de eleitos, mas evidentemente não estabelecem qualquer
espécie de relação com médiuns vulgares. (57)

e) De Adeptos que vivem na Terra. Os Adeptos que vivem na Terra comunicam-se com
os seus discípulos sem se servirem de meios de comunicação usuais e conhecidos; quando,
às vezes, acontece um Adepto ter tido, em qualquer encarnação passada, qualquer ligação
com um médium, pode estabelecer-se comunicação entre eles, e e esta comunicação entre
o Adepto e seu discípulo que muitas vezes se confunde com a mensagem de um "Espírito"
recebida pelo médium. Há quem conheça a maneira de transmissão dessas mensagens, por
escritas ou por palavras pronunciadas de forma precipitada. (58)
f) Do Ego Superior do médium. Quando uma pessoa pura, homem ou mulher, busca
com ardor a luz, este esforço ascensional para o divino é correspondido pela natureza
superior e a luz do alto jorra para baixo e ilumina a consciência inferior. Então, o espírito
inferior une-se nesse momento com o seu progenitor, e transmite aquela parte do
conhecimento que pode reter.
Desse brevíssimo esboço se pode inferir a grande variedade de fontes de onde se
podem receber comunicações, que aparentemente vêm do "outro lado da morte". Como
diz H. P. Blavatsky:

A variedade das causas dos fenômenos é muito grande; e é preciso que seja Adepto, e
se possa ver realmente o que acontece em cada caso, para se poder explicar a causa e o
processo de formação de cada um. (59)

Para completar essa aclaração, pode se acrescentar que o que a generalidade das
Almas pode fazer depois de cruzar o limiar da Morte podem também fazê-lo do lado de cá;
e as comunicações por meio de escrita, de estados hipnóticos e pelos outros meios, podem
52
vir tanto de Almas encarnadas como de desencarnadas. Se todos nós nos esforçássemos
por desenvolver os poderes latentes em nossas Almas, em lugar de vaguearmos sem um
fim, sem um objetivo determinado, em lugar de nos entregarmos, sem saber o que
fazemos, a experiências perigosas, seria enorme e inofensivo o conhecimento que se
poderia adquirir para acelerar a evolução da Alma. Uma coisa, porém, pode-se afiançar: o
Homem é hoje uma Alma que vive e viverá, sem que sobre ela a Morte tenha algum poder;
e a chave da prisão do corpo, tem-na ele em suas mãos, e é de sua vontade que depende
poder servir-se dela. O fato de a Morte se ter convertido para o homem num abismo, em
vez de ser o que é, uma porta de comunicação entre as Almas encarnadas e as
desencarnadas, provém - e é esta a única causa - de seu Eu verdadeiro ter se deixado cegar
pelo corpo, e ter por isso perdido o contato com os outros Eus.

(48). Teosofista, setembro de 1882, p. 310.


(49). Veja o que se escreveu acerca da "ilusão" no capítulo sobre o Devachan.
(50). A chave da teosofia.
(51). Teosofista, setembro de 1881.
(52). O caminho, "Notas sobre o Devachan", junho de 1890, p. 80.
(53). Teosofista, junho de 1882, p. 226.
(54). Resumido de um artigo do Teosofista, setembro de 1882.
(55). Teosofista, setembro de 1882, p. 309.
(56). Idem, ibidem, p. 310.
(57). A chave da teosofia.
(58). Veja O mundo oculto (N. do T.).
(59). Teosofista, setembro de 1882, p. 310.

53
APÊNDICE
O trecho seguinte, sobre o destino dos suicidas, foi tirado do Teosofista, setembro de
1882.
Não temos o pretexto - não nós é permitido - de lidar exaustivamente com a questão
no momento, mas podemos falar a respeito de uma das mais importantes classes de
entidades que pode participar dos ·fenômenos objetivos, além dos elementares e dos
elementais.
Essa classe compreende os Espíritos dos Suicidas conscientes e sãos. Eles são Espíritos
e não Invólucros, porque, de qualquer modo, não há nem haverá no caso deles uma
preparação total e permanente entre o quarto e o quinto princípios, por um lado, e o sexto
e o sétimo, por outro. As duas díades estão divididas; elas existem separadamente, mas
uma linha de conexão ainda as une; elas podem, contudo, se reunir caso a personalidade
dolorosamente ameaçada evite o seu destino; o quinto principio ainda mantém em suas
mãos a chave pela qual, atravessando o labirinto dos pecados e paixões terrenas, pode
chegar novamente ao santuário sagrado. Mas, por enquanto, embora seja realmente um
Espírito e, por conseguinte, seja chamado de Espírito, não está praticamente longe do
invólucro.
Essa classe de Espírito pode, indubitavelmente, comunicar-se com os homens mas, em
geral, os seus membros têm de pagar muito caro pelo exercício desse privilégio, enquanto
nada mais lhes resta fazer senão rebaixar e degradar a natureza moral daqueles com quem,
e através de quem, eles costumam se comunicar. De modo geral, trata-se de uma simples
questão de grau; do muito ou pouco dano resultante dessa comunicação; os casos em que
pode surgir um benefício real e permanente são por demais excepcionais para merecerem
consideração.
Vejam como isso acontece. O ser infeliz, revoltando-se contra os caminhos da vida -
provas, resultado e suas próprias ações interiores; provas, remédio misericordioso dos
céus para os mental e espiritualmente doentes - decide, em vez de enfrentar
corajosamente um mar de problemas, deixar cair o pano e, como supõem, como dar as
provas por terminadas. Isso destrói o corpo, mas continua mentalmente tão vivo quanto
antes. Essa criatura teve um período de vida fixado por uma rede intrincada de causas
anteriores, que o seu ato intencional e repentino não pode abreviar. Esse tempo deve
correr como a areia colocada na ampulheta. Você pode estilhaçar a metade inferior do
vidro, de modo que a areia impalpável que corre da parte superior se dissipe nas correntes
aéreas que passam enquanto ela escoa; mas essa corrente continuará a correr, por mais
despercebida que permaneça, até que toda a reserva do recipiente superior se esgote.
Assim, vocês podem destruir o corpo, mas não o período fixado para a existência do
ente sensciente, predestinado de antemão (simplesmente pelo efeito de uma rede de
causas) para ser vivido antes da dissolução da personalidade; esta deve continuar em
atividade durante todo o período que lhe foi prefixado.
Assim também se dá em outros casos, por exemplo, os das vitimas de acidente ou
violência; elas também têm de completar seu período de vida e dessas também falaremos
54
em outra ocasião - mas aqui é suficiente notar que, boa ou má sua atitude mental no
momento da morte altera por completo a sua posição subsequente. Também elas têm de
esperar dentro dos limites da "Região dos Desejos", até que sua onda de vida se escoe e
alcance a praia que lhe foi designada; mas elas esperam envoltas pelos sonhos
apaziguadores e ditosos ou, ao contrário, de acordo com seu estado mental e moral antes
e na hora fatal, mas quase isentas de posteriores tentações materiais e, de modo geral,
incapazes (a não ser no momento da morte real) de se comunicarem scio motu com a
Humanidade, embora não estejam totalmente fora do possível alcance das formas mais
elevadas da "Ciência Malfadada", a Necromancia. A questão é profundamente intrincada;
seria impossível explicar, dentro do exíguo espaço de tempo que ainda nos resta, de que
modo as condições imediatamente após a morte diferem tão inteiramente como no caso
(1) do homem que deliberadamente sacrifica (não apenas arrisca) a própria vida por
motivos altruístas, na esperança de salvar a vida dos outros; e (2) daquele que
deliberadamente sacrifica a própria vida por motivos egoístas, na esperança de escapar das
provas e problemas que assomam à sua frente. Sendo a Natureza, ou a Providência, o
Destino ou Deus apenas uma máquina auto ajustadora, pareceria à primeira vista que o
resultado deveria ser idêntico nos dois casos. Mas, embora se trate de uma máquina,
devemos nos lembrar que é uma máquina sui generis:

Para fora de si ele estende


A eterna rede do bem e do mal;
E sente sempre a mais sutil vibração
Ao longo do fio mais delgado.

Uma máquina de sensibilidade e ajuste perfeitos, comparada com o mais elevado


intelecto humano, não passa de uma réplica grosseira e canhestra, in petto.
E devemos nos lembrar de que os pensamentos e motivos são materiais e, às vezes,
um material maravilhosamente vigoroso; são forças, e então poderemos começar a
compreender por que o herói, sacrificando a própria vida em terreno puramente
altruístico. sucumbe, enquanto o seu sangue vital reflui num doce sonho, onde

Tudo o que ele deseja e ama


Surge sorrindo no seu caminho ensolarado,

apenas para despertar numa consciência ativa ou objetiva, quando renasce na Região da
Felicidade; enquanto o pobre infeliz e desorientado mortal que, procurando iludir o
destino, solta egoistamente o fio prateado e rompe o recipiente dourado, se vê
terrivelmente vivo e acordado, ficando o seu instinto com todas as maléficas ansiedades e
desejos que amarguraram sua vida mundana, sem um corpo com que satisfazê-los e capaz
apenas de um alívio parcial, que se torna possível pela satisfação mais ou menos indireta, e
esta só a custo da ruptura final completa com os seus sexto e sétimo princípios, o do
aniquilamento final consequente depois de, ai! prolongar os períodos de sofrimento.
Não se vá pensar que não existe nenhuma esperança para esta classe - a do suicida
55
deliberado e são. Se carregando firmemente a sua cruz, ele sofrer com paciência o castigo,
lutando contra os apetites carnais ainda vivos nele, com toda a sua intensidade, embora,
naturalmente, cada um em proporção com o grau de sensualidade de sua vida terrena -
isto é, se ele suportar isso humildemente, nunca se deixando tentar, aqui ou ali, pela
satisfação ilícita de desejos ímpios - então, quando soar a hora predeterminada da sua
morte, os seus quatro princípios mais elevados se reúnem e, na separação final
subsequente, bem pode acontecer que tudo lhe corra bem e que ele passe para o período
de gestação e de evolução posterior.

56

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