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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - FORO


CENTRAL DE CURITIBA
1ª VARA CÍVEL DE CURITIBA - PROJUDI
Rua Cândido de Abreu, 535 - Centro Cívico - Curitiba/PR

Autos nº. 0029435-78.2012.8.16.0001

Processo: 0029435-78.2012.8.16.0001
Classe Processual: Usucapião
Assunto Principal: Usucapião Extraordinária
Valor da Causa: R$8.000,00
Autor(s): ALCIR SILVA JUNIOR (CPF/CNPJ: 305.367.747-49)
Rua Cascavel, 270 CASA 16 - Boqueirão - CURITIBA/PR - CEP: 81.670-180
Réu(s): ESPOLIO DE ROBERTO GOMES (CPF/CNPJ: Não Cadastrado)
DESCONHECIDO, S/N - CURITIBA/PR

I – Relatório

Trata-se de demanda de usucapião de bem móvel promovida por Alcir


Silva Junior em face de Espólio de Roberto Gomes, ambos devidamente qualificados na
inicial.

Alegou a parte requerente que há mais de 20 (vinte) anos mantém a posse


de forma mansa, pacífica, contínua e inconteste do veículo VW PUMA, placa BMN 0255, chassi
SP 10.212.168. Pontuou que a posse de tal bem era antes exercida por terceiro à lide (Sr. Sinval
Perfeito) o qual adquiriu o veículo no ano de 1986 do de cujus Roberto Gomes, sem, contudo,
transferir-lhe a titularidade. Relatou que, em julho de 2010, a parte autora adquiriu deste
terceiro o bem pormenorizado em sede exordial, passando a possuir a coisa. Assim, requereu a
procedência dos pedidos a fim de ser declarado o domínio do requerente sobre o veículo
usucapiendo, expedindo-se ofício de transferência ao órgão de trânsito responsável. Carreou aos
autos documentos (fls. 08/16 – mov. 1.1).

Em deliberação de mov. 1.2 (fl. 22), tendo em vista que após diversas
diligências não foram localizados eventuais herdeiros do réu falecido, foi determinada a citação
destes por edital (fl. 64 – seq. 1.2), sendo nomeado curador especial, ante ao decurso in albis da
citação editalícia (cf. mov. 2.1 e mov. 4.1). Assim, ato contínuo, ao mov. 8.1 fora oferecida defesa
na forma de contestação por negativa geral.

Em despacho saneador foi deferida a produção de prova oral, consistente na


oitiva de testemunhas, bem como, como prova do juízo, determinou-se a colheita do depoimento
pessoal do autor, sendo, para tal, designada audiência de instrução e julgamento (cf. mov. 42.1).
Realizada a instrução do feito em audiência e sendo apresentada alegações
finais remissivas por ambas as partes, foi encerrada a fase instrutória e determinado o registro
dos autos para sentença (mov. 49.1/49.3).

Convertido o feito em diligência, foi oportunizada a manifestação das partes


quanto a possibilidade de se computar, a título de prescrição aquisitiva, o prazo decorrido desde
a propositura da demanda (mov. 53.1), sem, contudo, terem se manifestado os litigantes (cf.
mov. 60.1) e, assim, registrados, vieram-me os autos conclusos.

É o relatório.

DECIDO.

II – Fundamentação

Trata-se de demanda de usucapião de bem móvel, ajuizada por Alcir Silva


Junior em face de Espólio de Roberto Gomes, no bojo da qual afirmou que há 26 (vinte e seis)
anos vem mantendo a posse de forma mansa, pacífica e ininterrupta, do veículo pormenorizado
em peça vestibular.

Ressalta-se que a presente demanda foi ajuizada anteriormente à entrada


em vigor do novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), de modo que para análise das
questões é necessária a adequação ao novo regramento vigente (art. 14, CPC/2015).

Não havendo outras questões preliminares a serem enfrentadas, nem


nulidades a serem reconhecidas, estando satisfeitos os pressupostos processuais, passo
diretamente ao exame do mérito.

Mérito

Cinge-se a controvérsia no preenchimento dos requisitos para a declaração


da aquisição, mediante usucapião, de bem móvel.

Desde logo, salienta-se que, muito embora a transferência da propriedade


de bem móvel efetivamente dê-se pela mera tradição da coisa (art. 1.267 do Código Civil), tal fato
não impõe óbice ao ajuizamento de demanda de usucapião, uma vez que a ausência de
documentação do veículo/alteração do registro de propriedade obsta o pleno exercício do direito
de propriedade, como o de alienar ou de gravar o bem.

Sílvio de Salvo Venosa[1], em relação a matéria ventilada nos autos, destaca:


Por vezes, terá o possuidor de coisa móvel necessidade de comprovar e regularizar a
propriedade. Suponhamos a hipótese de veículos. Como toda coisa móvel, sua
propriedade transfere-se pela tradição. O registro na repartição administrativa não
interfere no princípio do direito material. No entanto, a ausência ou defeito no registro
administrativo poderá trazer entraves ao proprietário, bem como sanções
administrativas. Trata-se de caso típico no qual, não logrando o titular regularizar a
documentação administrativa do veículo, irregular por qualquer motivo, pode obter a
declaração da propriedade por meio da usucapião.

Em recente julgamento do REsp nº 1.582.177/RJ, a Min. Nancy Andrighi,


em situação análoga a destes autos, nas razões de seu voto, ressalta, in verbis:

“(...) 10. Dessarte, para a formalização da aquisição do domínio e o exercício pleno da


propriedade nos casos de veículos registrados em nome de terceiros, é indispensável
que o possuidor proponha ação própria contra aquele em cujo nome a
propriedade se encontre registrada.

11. Produzida a prova necessária e reconhecido o direito com a sentença judicial, o juízo
deverá determinar a expedição de mandado próprio, para efeito de registro nos órgãos
competentes.

12. Na hipótese específica, apesar de a recorrente ter a posse direta do bem, terá
que elidir a cadeia sucessória dos antigos proprietários, além dos sucessores
do proprietário constante dos registros do DETRAN, para exercer a
propriedade plena do veículo em questão.

13. Sob esse prisma, a ação de usucapião poderá ser utilizada para o fim
pretendido, mormente porque há notícia nos autos de falecimento do antigo
proprietário constante do registro, o que inviabiliza a transferência
administrativa do veículo no órgão de trânsito.” (grifei)

Assim, sigo tal entendimento e, deste modo, concluo que mesmo que pela
tradição a parte autora tenha adquirido a propriedade plena do bem descrito na exordial,
quando, a priori, se poderia argumentar a inexistência de interesse de agir quanto a necessidade
de declaração de domínio buscada por intermédio da presente demanda, no caso sub judice,
tendo em vista a inviabilidade de pleno exercício do direito de propriedade, o ajuizamento da
demanda de usucapião, a fim de ter reconhecida a propriedade para fins de regularização do
registro de propriedade junto ao departamento de trânsito, é plenamente viável.

Pontuada tal questão preambular, passo a análise do cerne da controvérsia.

Pois bem.

O Código Civil prevê duas modalidades para usucapião do bem descrito na


inicial, quais sejam, ordinário e extraordinário.

Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente
durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade.

Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá usucapião,
independentemente de título ou boa-fé.

Art. 1.262. Aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e 1.244.

O usucapião ordinário exige seis elementos para a sua caracterização:


animus domini, objeto hábil, justo título, boa-fé, posse e tempo - que nesse caso é de 03 (três)
anos (art. 1.260 CC/2002).

Por sua vez, no usucapião extraordinário dispensa-se o justo título e a


boa-fé, aumentando o lapso temporal para 05 (cinco) anos (art. 1.261 CC/2002).

Sobre o tema, é valiosa a lição do professor Caio Mário da Silva Pereira[2]:

“No primeiro plano está, pois, a posse. Não é qualquer posse, repetimos; não basta o
comportamento exterior do agente em face da coisa, em atitude análoga à do
proprietário; não é suficiente a gerar aquisição, que se patenteie a visibilidade do
domínio.

A posse ‘ad usucapionem’, assim nas fontes como no direito moderno, há de ser rodeada
de elementos, que nem por serem acidentais, deixam de ter a mais profunda significação,
pois a lei a requer contínua, pacífica ou incontestada, por todo o tempo estipulado, e com
intenção de dono. (...)

Requer-se, ainda, a ausência de contestação à posse, não para significar que ninguém
possa ter dúvida sobre a ‘conditio’ do possuidor, ou ninguém possa pô-la em dúvida, mas
para assentar que a contestação a que se alude é a de quem tenha legítimo interesse, ou
seja da parte do proprietário contra quem se visa a usucapir.

A posse ad usucapionem é aquela que se exerce com intenção de dono - com animo
domini. Este requisito psíquico de tal maneira se integra na posse, que adquire tônus de
essencialidade"

In casu, os requisitos previstos nos mencionados dispositivos legais


restaram devidamente preenchidos.

Isto porque, compulsando-se os autos, infere-se que a parte autora adquiriu


o automóvel VW PUMA, placa BMN 0255, chassi SP 10.212.168, em julho de 2010 de terceiro à
lide (Sr. Sinval Perfeito), o qual, por sua vez, tinha adquirido o bem em 1986 do proprietário
registrado do bem (Roberto Gomes).

Tratando-se de usucapião extraordinário, dispensando-se, portanto, o justo


título e a boa-fé, necessária a prova da posse, com animus domini, pelo prazo de prescrição
aquisitiva (cinco anos).

Ora, a priori, entre a aquisição do autor (julho de 2010) e o ajuizamento da


demanda (janeiro de 2012), não se evidencia a ocorrência da prescrição aquisitiva prevista no
art. 1.261 do CC/2002, qual seja, cinco anos.

Contudo, pontua-se que, se restando comprovada a posse do posseiro


anterior (Sinval Perfeito), nos termos do artigo 1243, do CC[3], é plenamente possível somá-la à
posse da parte autora para fins de contagem do prazo de usucapião pleiteada, tal fenômeno da
soma de posses é denominado como “accessio possessionis”.

Este é o entendimento uníssono de nossos tribunais:

CIVIL. PROCESSO CIVIL. USUCAPIÃO. PROCESSO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE


MÉRITO. CPC/1973, ART. 267, IV. RECURSO DA AUTORA: PROVAS QUE REVELAM O
EXERCÍCIO DA POSSE COM ANIMUS DOMINI, DE FORMA ININTERRUPTA E SEM
OPOSIÇÃO, POR MAIS DE 20 ANOS. ACESSIO POSSESSIONIS. APLICABILIDADE DO
ARTIGO 1.243 DO CÓDIGO CIVIL. PROVA DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL. ÔNUS
PROBATÓRIO CUMPRIDO. SENTENÇA CASSADA. RECURSO PROVIDO. 1. Em sendo
as posses contínuas e pacíficas, é possível, para fins de contagem do tempo
exigido, acrescentar a posse dos antecessores (art. 1243, Código Civil). 2.
Quando as provas produzidas demonstram que houve o exercício da posse sem oposição
pelo lapso de tempo previsto na lei, deve ser reconhecida a aquisição do domínio, com o
consequente registro na matrícula do imóvel. (TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1522661-8 -
Toledo - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - - J. 20.07.2016) (grifei).

Faz-se oportuno pontuar que a jurisprudência pátria por muito tempo


assegurava que para efeitos de usucapião, o fenômeno da ‘acessio possessionis’ só se realizaria
mediante ato transmissivo formal, contudo o atual posicionamento dos tribunais se pauta no
entendimento de que a existência de prova cabal de posse anterior, admitindo-se, inclusive,
prova testemunhal inconteste, é suficiente para assegurar os efeitos da soma das posses, vide:

PROCESSO CIVIL. USUCAPIÃO. PROCESSO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.


CPC/1973, ART. 267, IV. RECURSO DA AUTORA: PROVAS QUE REVELAM O
EXERCÍCIO DA POSSE COM ANIMUS DOMINI, DE FORMA ININTERRUPTA E SEM
OPOSIÇÃO, POR MAIS DE 20 ANOS. ACESSIO POSSESSIONIS. APLICABILIDADE
DO ARTIGO 1.243 DO CÓDIGO CIVIL. PROVA DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL.
ÔNUS PROBATÓRIO CUMPRIDO. SENTENÇA CASSADA. RECURSO PROVIDO. 1. Em
sendo as posses contínuas e pacíficas, é possível, para fins de contagem do
tempo exigido, acrescentar a posse dos antecessores (art. 1243, Código Civil).
2. Quando as provas produzidas demonstram que houve o exercício da posse
sem oposição pelo lapso de tempo previsto na lei, deve ser reconhecida a
aquisição do domínio, com o consequente registro na matrícula do imóvel.
(TJPR - 17ª C.Cível - AC - 1522661-8 - Toledo - Rel.: Lauri Caetano da Silva - Unânime - -
J. 20.07.2016) (grifei).

APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO (BENS IMÓVEIS). AÇÃO DE USUCAPIÃO. ACESSIO


POSSESSIONIS. QUALIFICAÇÃO E PROVA DA POSSE. REQUISITOS NÃO
DEMONSTRADOS. Para ser possível o reconhecimento da acessio possessionis,
com a junção de posses - da parte autora com a da possuidora anterior -, é
impositiva a existência de prova induvidosa, não só da posse própria como
também daquela que foi exercida pelo alienante . Ausente essa demonstração,
impositivo o juízo de improcedência da demanda. RECURSO DE APELAÇÃO AO QUAL SE
DÁ PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70061984175, Décima Oitava Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 11/12/2014)
(grifei).

Conforme se extrai das provas anexas aos autos não há prova cabal quanto a
posse anterior e seu período, a qual sustenta o requerente ter sido exercida pelo Sr. Sinval
Perfeito (terceiro à lide), há, de fato, a declaração firmada por este e anexa à peça exordial (fl. 12
– mov. 1.1) em conjunto com a declaração da própria parte autora.

Contudo, ressalta-se que a testemunha trazida pelo autor declara que não
presenciou as negociações relatadas pela parte requerente, isto é, a tradição do bem efetuada
pelo proprietário registral do veículo ao Sr. Sinval Perfeito, tampouco o negócio firmado entre a
parte autora e este terceiro (mov. 49.3).

Assim, não há como se reputar cumprida a exigência para reconhecimento


da ‘acessio possessionis’, conforme requer a parte autora em suas razões exordiais, ante,
novamente ressalte-se, a inexistência de prova induvidosa do exercício da posse anterior do
veículo, sua qualidade e seu tempo, pelo Sr. Sinval Perfeito, ônus este que não se desincumbiu a
parte autora de comprovar, nos termos do art. 373, inciso I do CPC/2015.

No mesmo sentido, em situações análogas, decidem nossos tribunais:

AÇÃO DE USUCAPIÃO. PROMITENTE COMPRADOR DO IMÓVEL USUCAPIENDO.


PARTE QUE NÃO É PROPRIETÁRIO OU CONFINANTE DO IMÓVEL (ART. 942 DO CPC
/73). DESÍGNIO DE RECEBIMENTO DE DINHEIRO PELA VENDA DA POSSE DO
IMÓVEL. INTERESSE MERAMENTE ECONÔMICO, E NÃO JURÍDICO. ILEGITIMIDADE
PASSIVA RECONHECIDA DE OFÍCIO.USUCAPIÃO. SOMA DO PERÍODO DE POSSE
DOS ANTIGOS POSSUIDORES (ACESSIO POSSESSIONIS).
IMPOSSIBILIDADE, NO CASO. AUSÊNCIA DE PROVA DO PERÍODO E DA
QUALIDADE DA POSSE SUPOSTAMENTE HAVIDA PELOS ANTECESSORES
DO APELANTE. PERÍODO DE EXERCÍCIO DA POSSE EFETIVAMENTE
COMPROVADO INSUFICIENTE PARA A AQUISIÇÃO DA POSSE POR USUCAPIÃO (ART.
1.238 DO CCB/02 ). RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO. (TJPR - 17ª C.Cível - AC -
1472936-3 - Umuarama - Rel.: Fernando Paulino da Silva Wolff Filho - Unânime - - J.
08.03.2017) (grifei).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE


PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS ELENCADOS NO ART. 1.238 DO
CC/2002 . ANIMUS DOMINI E LAPSO TEMPORAL DO EXERCÍCIO DA POSSE
NÃO COMPROVADOS. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA ACESSIO
POSSESSIONIS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. Em se
tratando de usucapião extraordinário, previsto no art. 1.238 do diploma civil, devem ser
atendidos, de forma concomitante, os seguintes requisitos: posse mansa, pacífica e
ininterrupta sobre o imóvel usucapiendo, com ânimo de dono, por 15 anos ou - observada
a regra de transição do art. 2.028 do Código Civil - por 20 anos, prazo previsto no
CC/1916 . Caso em que a prova constante dos autos é insuficiente para
demonstrar o animus domini e o lapso temporal do exercício da posse
alegada. Considerando-se que o imóvel sequer possui registro imobiliário, cerceando,
assim, as provas capazes de serem produzidas, incumbia ao autor ter arrolado como
testemunhas os confinantes do imóvel e os ditos antigos possuidores - o que não o fez.
Inviabilidade de aplicação da acessio possessionis, prevista no art. 1.243 do
diploma civil, porquanto sequer restou comprovada a posse anteriormente
exercida, desconhecendo-se seu dies a quo. Negaram provimento ao agravo.
Unânime. (Apelação Cível Nº 70058202946, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Dilso Domingos Pereira, Julgado em 09/04/2014) (grifei).

De outro vértice, o Superior Tribunal de Justiça já tem entendimento de que


é possível a contagem do tempo de transcurso do processo para efeito de usucapião, tendo em
vista o disposto no art. 493 do Código de Processo Civil:

Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou
extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em
consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão.

Portanto, no caso dos autos, o prazo que transcorreu durante o transcurso


da ação influi no julgamento, configurando fato constitutivo do direito da parte autora, de modo
que deve ser considerado no caso em comento.

Neste sentido destaco o seguinte precedente do STJ:

DIREITOS REAIS E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO.


INEXISTÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO. IMPRESCINDIBILIDADE. USUCAPIÃO.
CONTRATO DE ARRENDAMENTO RURAL FIRMADO ENTRE EXTINTA
FUNDAÇÃO PÚBLICA E A AUTORA. ANIMUS DOMINI. MOLDURA FÁTICA
PECULIAR QUE IMPOSSIBILITA A APURAÇÃO ACERCA DA SUA EXISTÊNCIA.
RESISTÊNCIA À POSSE PELO PROPRIETÁRIO. TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO
AQUISITIVA. DECLARAÇÃO DA USUCAPIÃO OCORRIDA NO TRANSCURSO DA AÇÃO.
POSSIBILIDADE. 1. O caso é bastante peculiar, pois, em que pese o réu sustentar não ter
havido animus domini, já que a posse era subordinada à da fundação pública,
contraditoriamente, reconhece que houve "notificação judicial em 1987,
interrompendo o prazo prescricional" dirigida, não à Fundação Pública, mas à genitora
da recorrente e que, mesmo cientificada acerca da propriedade do demandado sobre a
área, a usucapiente continuou se submetendo à pactuação firmada com a Fundação
Pública. 2. Ademais, se a Fundação Pública tivesse exercido posse própria, dado ao
decurso do tempo, a área seria pública, ora pertencente ao Distrito Federal, como
sucessor em direitos e obrigações daquela Fundação, todavia, por reiteradas vezes,
aquele ente federado manifestou seu desinteresse na presente lide, conforme consta da
sentença. 3. Como a usucapiente opôs resistência à posse do proprietário, passou a
fluir o prazo para reconhecimento do usucapião. Por isso, considerar não ter havido
posse com animus domini, nem mesmo com a ciência formal de quem era o
proprietário, aliada à resistência oferecida a esse, significaria conferir a contrato eivado
de vício efeito que nem mesmo um negócio jurídico hígido teria. 4. A contestação
oferecida na ação de usucapião não tem o condão de interromper o prazo da prescrição
aquisitiva, sendo incontroverso que a resistência oposta limitou-se ao protesto,
efetuado em fevereiro de 1987, tendo a ação ação reivindicatória sido ajuizada apenas
em maio de 2009. Portanto, cabe, tendo em vista o disposto no artigo 462 do Código
de Processo Civil, o reconhecimento e declaração da usucapião ocorrida durante a
tramitação do processo. 5. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1210396/DF,
Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 12/04/2012, DJe
19/06/2012)

Assim, na excepcional situação dos autos, incide o regramento


previsto no art. 462 do CPC/73 (art. 493 CPC/2015), de modo a permitir o cômputo
do lapso temporal implementado durante o trâmite da ação.

Nesta toada, demonstrado o exercício público da posse, com ânimo de dono,


de forma mansa e pacífica, sem qualquer oposição daquele que figura como proprietário, que se
mantém em situação passiva pelo lapso temporal prescrito em lei, tem-se como configurada a
aquisição da propriedade pela usucapião, imperando-se o reconhecimento do domínio do autor,
na forma do art. 1.238 do CC/02.

III - Dispositivo

Diante do exposto, com base no artigo 487, inciso I do CPC/2015, julgo


procedente o pedido, formulado por Alcir Silva Junior em face de Espólio de Roberto
Gomes, pelo que declaro o domínio da parte autora sobre o bem descrito em sede exordial,
extinguindo o feito, com resolução de mérito.

Oficie-se ao órgão de trânsito competente para que promova a transferência


da titularidade do veículo, objeto da presente demanda, à parte autora.
Em atenção ao princípio da sucumbência, condeno a parte requerida ao
pagamento das despesas processuais, e de honorários advocatícios fixados em 10% (dez por
cento) do valor atualizado da causa, em favor do causídico da parte autora, considerando o grau
de zelo do profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o
trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço, nos termos do art. 85, §§
2º e 8º do CPC/2015.

Cumpra-se, no que couber o Código de Normas da Corregedoria-Geral da


Justiça do Estado do Paraná.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Oportunamente, arquivem-se.

Patrícia de Fúcio Lages de Lima

Juíza de Direito

[1] Direito Civil: Direitos Reais. 15ª Ed. São Paulo: Atlas, 2015. fl. 264

[2] Instituições de Direito Civil, Forense, V. 4, p. 105

[3] Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos
antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas
sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.

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