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ENERGIA PSÍQUIC A*

*Prof. Dr. Waldemar M agaldi Filho

Email: w magaldi@gmail.com

Site: www .ijep.com.br

Para conceituarmos a energia psíquica, na abordagem da psicologia


analítica, é interessante fazermos uma pequena explanação sobre o ego, pois
é ele quem mais sofre as influencias das mudanças da configuração da energia
psíquica, que acontecem no dia a dia da nossa existência. A formação do ego
começa a partir da ativação do complexo de diferenciação da consciência. Ele
é um arquétipo muito identificado com o corpo, com a persona (que é o
conjunto de personagens usadas nas várias relações da vida), e
completamente suscetível à configuração energética da psique. Por isso, Jung
afirma que o ego é uma espécie de gestor da consciência que, apesar de não
representar a sua totalidade, está no centro e na periferia dela. No seu
contraponto, o inconsciente, também existe um arquétipo gestor que é a
sombra, e como ela transita livremente no inconsciente, é por meio dela que
podemos adquirir consciência da existência da nossa alma – a psique; dos
nossos contrapontos sexuais - anima ou animus, dependendo da estrutura
corporal de gênero de cada indivíduo; do self – que é o arquétipo central e que
pode nos remeter ao si - mesmo, ou Self – a totalidade; além de todo conteúdo
reprimido e acumulado desde a nossa concepção, que é o nosso inconsciente
pessoal, e de toda história evolutiva da vida senciente, incluindo a da
humanidade, presente no inconsciente coletivo.

O maior desafio do ego é o de manter, conscientemente, uma


configuração energética favorável ao caminho evolutivo do ser, reconhecendo
a existência da alma, para se entregar a ela, cumprindo sua missão teleológica
que é o processo de individuação, apesar da constante ativação dos
complexos, acionados por uma infinidade de estímulos, conscientes ou
inconscientes, que afetam e desvirtuam sua evolução. Além disso, temos o
risco do ego ficar inflacionado e fascinado pelo mundo da forma, da ilusão, da
posse e de ter poder, controle e liberdade. Pensamentos que mantêm o
indivíduo alienado de si mesmo e, conseqüentemente, neurótico e distante da
alma. Porque, aquele que não estiver rendido conscientemente ao processo de
individuação, geralmente por estar tomado por algum complexo que sempre é
formado por núcleos afetivos, é uma pessoa neurótica, suscetível aos sintomas
de adoecimento físicos, mentais ou relacionais.

Os sintomas, por sua vez, são manifestações sombrias carregados de


imagens arquetípicas. Por isso, são psicóides e podem ser expressos em todo
o espectro luminoso da consciência, transitando livremente do infravermelho ao
ultravioleta, passando pelas polaridades da forma, do vazio, da matéria, da
energia, do instinto e da espiritualidade. Além disso, os sintomas, devido suas
características psicóides, invadem, penetram, infiltram e provocam alterações e
transformações, independentemente das questões do tempo e do espaço, no
sentido de possibilitar a ampliação do ego consciência rumo a seu processo de
individuação, que começa inevitavelmente por meio do confronto com a
sombra.

Portanto, vivemos num mundo preponderantemente neurótico, ou


sicótico na abordagem homeopática, que necessita começar a perceber sua
sombra, para poder diligentemente se entregar para seu caminho de
integração/individuação, adquirindo sentido e significado existencial, e uma
nova configuração da energia psíquica. Porém, nosso ego consciência,
identificado com o corpo e com a persona, geralmente fica paralisado tanto nas
queixas e temáticas repetitivas, quanto nas demandas mais arcaicas e
instintivas do sobreviver, crescer e perpetuar – fome, segurança e sexo. Assim,
a grande massa não consegue perceber e se orientar para o processo de
individuação que, geralmente, se manifesta nos sonhos, nos eventos de
sincronicidade e até nos sintomas, que são feridas por onde atravessam os
deuses e toda potencialidade existencial, podendo interferir construtiva ou
destrutivamente na configuração da energia psíquica.

Nossa consciência egóica não tem capacidade infinita, apenas o


inconsciente que tem! Seu espaço é minúsculo, precioso e valioso. Por isso, é
crucial que o ego decida o que manter e o que jogar fora. Ou seja, temos o livre
arbítrio. Mas, devido à existência dos complexos, que são autônomos,
corremos o risco de ficarmos no automatismo, mantendo fixas tanto a
configuração energética quanto nossas crenças e emoções, e sua bioquímica
correspondente, paralisados nas dores do passado, nas injustiças sofridas e
com as intercorrências que nos causaram tristeza. Então, precisamos aprender
com as lições do passado, mas não devemos ficar com elas no presente,
dando espaço para a dor e para um contínuo sofrimento. Porém, só por meio
de um processo de autoconhecimento é que poderemos superar as queixas e
os sintomas físicos ou relacionais, transformando positivamente nossa
dinâmica energética.

Toda nossa existência humana, desde a concepção, está pautada pelos


afetos. Tudo aquilo que direta ou indiretamente, física ou energeticamente,
consciente ou inconscientemente nos atinge e produzem mudanças na nossa
dinâmica energética, que vão do físico ao espiritual, passando pelo psíquico,
familiar, profissional e social, podemos chamar de afetos. Muitos afetos são
percebidos pela nossa consciência atingindo uma ou mais das quatro funções
psíquicas estudadas na psicologia junguiana. Porém, mesmo quando eles
surgem subliminarmente, ficando imperceptíveis para nossa mente consciente,
eles produzem efeitos no pensamento, sentimento, intuição ou sensação,
podendo despertar emoções e, conseqüentemente, os complexos, interferindo
na configuração energética da psique. Sendo que, em muitas vezes, surgem
desejos regressivos, advindos das experiências de segurança primordial
vivenciados nos estágios pré egóicos da relação mãe-bebê. Lembrando que
nos primeiros seis meses de vida, também vivenciamos a experiência da
solidão primordial.

Além disso, devido ao processo associativo que nossa psique opera, e


toda a formação de rede existente em nosso cérebro, um afeto pode surgir de
um modo, com intensidade e forma específica, e acabar desencadeando
mudanças no ser total. Ou seja, devido à rede associativa, um cheiro ou uma
música podem despertar mudanças bioquímicas que interferem no nosso
pensamento, sentimento, intuição ou na percepção. Mudanças completamente
injustificáveis para quem está de fora, como mero observador. Essa realidade é
muito percebida nas questões relativas à sexualidade humana, aonde qualquer
afeto que venha mudar a dinâmica energética do momento pode tirar
completamente a libido sexual de um dos parceiros. Por isso, temos registros
de consumo exagerado de drogas para disfunção erétil, porque a maioria dos
homens, em função da nossa cultura machista, acaba depositando no seu
desempenho sexual os sentimentos de boa auto-estima e poder, deixando-os
mais temerosos do fracasso e muito expostos a ativação dos complexos,
situação que contribui, ainda mais, para a perda da ereção, pois impede que
eles se entreguem plenamente para a relação. Então, esses produtos químicos
acabam garantindo a manutenção da ereção, mesmo que eles tenham suas
mentes ocupadas com o medo do fracasso, evitando apenas o efeito fisiológico
indesejado, advindo da ativação dos complexos e conseqüente mudanças da
configuração energética.

Isso porque os complexos são autônomos, deixando-nos reativos aos


afetos, sempre num padrão de emoções repetitivas que, devido à reprodução
constante, acabam tornando-nos dependentes até das suas bioquímicas
correspondentes. Só por meio do autoconhecimento é que poderemos quebrar
esses padrões, diminuindo a potencia dos complexos. Porém, esse processo
não segue um caminho linear e sua manifestação acontece em saltos,
geralmente de forma descontínua e assimétrica, do ponto de vista do mundo
manifesto. Mas, para o Self, ele tem continuidade. Então, para que o
autoconhecimento aconteça, precisamos fomentar crises, situações de
desarranjo e desconstrução do automatismo dos complexos, possibilitando
novas configurações energéticas. Sendo que, na minha experiência junguiana,
conteúdos metafóricos, símbolos, imaginações, sonhos e fantasias são
grandes ferramentas para a ampliação da consciência, deixando o ego menos
defendido e impermeável.

Como já mencionei na apresentação do livro, acredito que o ego é o


responsável pela evolução da alma, porque ela depende dele para poder dar
continuidade às suas temáticas evolutivas que seguem um tropismo, em minha
opinião, na direção de um poder superior, que podemos chamar de Deus.
Sendo esse poder superior o responsável pela contínua aceleração evolutiva,
que é geradora de toda elegância ordenada do universo e pelo surgimento dos
seres humanos, contrariando o princípio da entropia, causador da desordem,
naturalmente remetendo tudo para a degradação da energia e paro o caos, até
uma futura estagnação inercial. Ou seja, existe um atrator estranho acelerando
a evolução e contrariando a entropia, criando eventos de sincronicidade, que
são acausais e atemporais, e mantendo constantes os níveis de energia no
cosmos e nos seres humanos, apesar das infinitas transduções que, pelas leis
da termodinâmica, deveriam produzir perdas constantes de energia.

Por isso, o ego, que é equivalente a nossa consciência mental – nous –


tem a incumbência de contribuir com a jornada evolutiva da alma – psique –,
que é mantida unida ao corpo – soma – graças à energia psíquica – pneuma.
E, para isso ele tem que lidar com toda dinâmica psíquica e seu entorno
relacional. Então, para facilitar didaticamente coloco a seguir uma figura
esquemática mostrando todos os principais conceitos da dinâmica psíquica
sugeridos por Jung, reafirmando que cada um destes termos será abordado
mais profundamente no transcorrer do livro:

Self Kósmico

Self Coletivo

Self

Consciente
•Consciência natural
EGO •Consciência reflexiva

S
self Persona

•Memória
•Instintos
Sombra
Inconsciente
•Pessoal
•Coletivo
•Arquétipos e Complexos

Meio Ambiente Anima/us


Entorno Social

O conceito de energia psíquica foi um dos principais fatores que


contribuiu para o rompimento entre Freud e Jung. Porque, para Jung, a energia
psíquica não pode se expressar em um único sentido, e de caráter
exclusivamente sexual. Visto que a energia psíquica, ou libido, é limitada em
quantidade, além de ser indestrutível. Sendo seu sentido, neutro em caráter,
podendo se expressar sob vários aspectos e direções. Então, a totalidade
psíquica de um indivíduo equivale a um sistema energético fechado, mantendo-
se com a mesma quantidade. O que muda são os canais de investimento
energético, pois o abandono de uma via de investimento acabará
desembocando sob outra forma, no mesmo psiquismo. Sendo que a psique
está em constante dinamismo, com suas correntes energéticas se direcionando
continuamente, em todos os sentidos e temáticas da alma humana. E as
alterações do fluxo não acontecem ao acaso, geralmente respeitando as
estruturas arquetípicas, no sentido de compensar e preservar a integridade
psíquica.

Essas idéias já estavam bem elaboradas no livro de Jung: “Símbolos de


transformação da libido”, que foi publicado em 1913, culminando oficialmente
com o término dos quase sete anos da parceria entre os dois maiores
pensadores da alma humana, no ocidente do século XX. Sendo que, neste
livro, podemos compreender como que os símbolos contribuem para as
transformações da configuração da energia psíquica, deixando o ego menos
impermeável, lembrando que a psique jamais fica impermeável, devido seu
caráter psicoíde, gerando mais tensão para o ego neurótico identificado com o
herói contemporâneo.

Energia psíquica é uma metáfora que, atualmente, pode incorporar


muitos dos conceitos da física moderna, que afirma que tudo é manifestação
energética, na forma de onda ou de partículas, percebida por meio das
variações da intensidade de vibrações ou movimentos, aparecendo sob muitos
aspectos como o elétrico, mecânico, térmico, nuclear, solar, etc. Assim, não
existe coerência, nem lógica, na afirmação de que a energia psíquica se
manifesta apenas na forma de pulsão sexual, como os antigos psicanalistas
apregoavam. Sendo que, coloquialmente, a energia psíquica também pode ser
chamada de libido, elã, tesão, excitação, motivação, entusiasmo, energia vital,
vitalidade, inspiração, ânimo ou animação, entre outros nomes que conotam
vontade direcionada com investimento energético ou pulsão psíquica, ou da
alma.

Dentre os vários canais que a energia psíquica pode fluir e se expressar


tem o moral, biológico, psíquico, profissional, espiritual, familiar, social, além de
todas as formas patológicas que vão dos sintomas de adoecimento físicos, até
os psíquicos, ou seja, tudo é expressão energética. E, quando um canal de
expressão da energia, por razões diversas como repressões ou defesas,
estiver bloqueado para o livre fluxo dela, a energia se desviará para os outros
canais mais disponíveis, pois seu fluir não pode parar. Assim percebemos as
diferenças interpessoais, pois o investimento e a configuração energética de
uma pessoa nunca serão iguais aos de outra, variando em graus quantitativos,
canais e configurações específicas.

Imaginemos uma roda d’água que movimenta um dínamo, que é


impulsionada pela energia gravitacional da queda da água sobre ela. Como o
dínamo, ao ser movimentado produz energia elétrica, nessa passagem houve
duas transduções da energia: da gravitacional para a mecânica e desta para a
elétrica. Continuando nosso caminho imaginativo, onde esse sistema não tem
mais nenhuma perda de energia, como um moto continuum e perpétuo,
continuaremos usando vários transdutores, que são capazes de transformar
uma forma de energia em outra. Assim, faremos a energia elétrica desembocar
numa resistência que emite calor, onde a energia térmica emanada por ela irá
aquecer a água que está numa caldeira que produzirá vapor e irá movimentar
um novo dínamo, e este, aquecerá uma resistência, que produzirá vapor numa
caldeira que girará o dínamo, que aquecerá... Ou seja, com os transdutores:
dínamo, resistência elétrica, caldeira, roda d’água, entre outros, nós podemos
mudar a forma da expressão energética infinitamente. Sendo que, para o
psiquismo, o equivalente aos transdutores são os símbolos.

Os símbolos são as "usinas" que vão transformar a energia psíquica,


redimensionando-a e direcionando-a. Eles são responsáveis pela transdução
da energia, podendo modificar a configuração da expressão energética. Ou
seja, tanto podem fazer com que o bloqueio de um canal de expressão, como o
social, seja manifesto na forma de sintoma físico como uma úlcera, quanto
podem, pelo mesmo caminho simbólico da transdução, transformar sintomas
em produções saudáveis, expressas em uma das seis áreas da demanda
existencial humana: corpo físico, emoções, relações familiares, atividades
laborais, questões sociais e espiritualidade. Como os símbolos possibilitam o
deslocamento do investimento energético do inconsciente para o consciente, e
vice-versa, fica mais possível acontecer à união dos opostos, que nominamos
de coniunctio, facilitando com que o ego lide com a angústia da tensão dos
opostos. Porque os símbolos sempre vão ter alguma coisa desconhecida e
inesgotável, com isso eles promovem a transcendência, pois fazem a síntese
do consciente com o inconsciente.

Como a energia é limitada, em quantidade, e indestrutível, ninguém


pode dar ou tirar energia de ninguém. O que acontece é apenas a mudança da
configuração energética que, por sua vez, acaba dando a impressão de queda
ou aumento da carga energética. Isso porque somos seres afetivos! Com isso,
da mesma forma que somos afetados, afetamos tudo que está a nossa volta,
desencadeando emoções, mudanças na configuração energética e até
constelando complexos. Porém, apesar da energia ser limitada em quantidade,
é importante deixarmos bem claro que todo indivíduo possui energia psíquica
suficiente para realizar seu processo de individuação.

Nessa premissa, tudo que nos afeta pode mudar nossa configuração
energética no sentido da saúde ou da doença, dependendo apenas das nossas
crenças e, conseqüentemente, da nova configuração energética que o estímulo
produziu. Assim, a meu ver, os remédios homeopáticos, todas as modalidades
de imposição de mãos, os tratamentos com cristais, aromas, acupuntura,
músicas, pinturas, massagens, as psicoterapias e até os rituais e cultos
religiosos, são estímulos capazes de nos afetar, consciente ou
inconscientemente, e mudar nossa configuração energética para melhor ou
para pior, dando a impressão de aumento ou queda da vitalidade. Da mesma
forma, a medicina da sociedade de consumo, que é reducionista, mecanicista,
causal, invasiva e baseada em evidencias, também pode interferir na nossa
configuração energética, apesar de, na maioria das vezes, provocar muito mais
dano, com a supressão do sintoma, do que promover a cura, por agir de fora
para dentro do ser.

Empiricamente, Jung percebeu que o sentido final da energia psíquica é


na direção teleológica do processo de individuação, como se cada vida tivesse
um objetivo a ser alcançado, diferenciado e integrado. Porém, quem individua é
o ego e, por isso mesmo, é ele que precisa estar comprometido com o
processo de individuação. Caso contrário, do ponto de vista da alma, é
equivalente a uma vida não vivida, sem transformação evolutiva. Mas, como a
persona coletiva da nossa atual sociedade de consumo nos força na
permanência do automatismo alienante do si mesmo, tendemos a ficar
paralisados diante do chamado da individuação, numa atitude meramente
adaptativa à normalidade patológica contemporânea, mantendo o ego
aprisionado na jornada do herói poderoso, destemido e conquistador de muitos
tipos de posses.

O ego identificado com a imagem arquetípica do herói, que é patológica


apesar de ser muito estimulada na nossa atual sociedade de consumo, busca
sentimentos de unificação totalitarista para afugentar a angústia e o mal-estar
do vazio e da falta de sentido existencial. Assim, o ego heróico, iludido nas
certezas reducionistas, polarizadas e unilaterais, e na contínua busca de
controle, posse e segurança, acaba fixado nas justificativas do certo, muitas
vezes respaldado pela ciência, valorizando apenas o imediato e a realidade
física. Como a medicina atual que é baseada apenas nas evidencias concretas
da bioquímica e da genética, deixando de lado a alma e toda a subjetividade
humana. A resultante dessa atitude heróica é a nossa sociedade polifóbica,
com muita dificuldade para estabelecer relações de troca, desembocando na
plastificação1 das coisas e dos homens. Um simulacro onde tudo e todos ficam
impermeáveis e incapacitados de trocar, mantendo a maioria dos indivíduos
formatados e condicionados na ilusão fantasiosa, mágica e regredida, de
conquistarem autonomia, autodeterminação, independência, liberdade,
sucesso, riqueza, poder e felicidade. Essa é a persona do self-made man
(homem feito por si mesmo), do super-homem poderoso e indestrutível, apesar
de infeliz por não conseguir estabelecer relações amorosas verdadeiras. Como
deus Apolo: perfeito, belo, indestrutível, só e infeliz por não saber trocar.

1
Nosso planeta está intoxicado, viciado e dependente do carbono. Estamos desenterrando
nossa ancestralidade com a extração excessiva e inconseqüente de gases e petróleo
derivados dos nossos fósseis, favorecendo o consumo excessivo do inútil, do descartável e do
desnecessário. Com isso, estamos contaminando e envenenando tudo e todos.
É uma ilusão e um tremendo auto-engano acreditarmos que extraímos os derivados do
carbono para produzir energia. Pois, a meu ver, nosso atual conhecimento científico e
tecnológico já é capaz de encontrar e direcionar, em escala, e a nível global, energias advindas
de fontes renováveis e não poluentes como a hidráulica, solar, eólica, dos bicombustíveis,
entre outras. Mas, estamos totalmente dependentes dos derivados de petróleo, nosso maior
vilão oculto, que podem assumir várias formas e apresentações, estando presentes nos
defensivos agrícolas, fertilizantes, rações animais, cosméticos, tecidos, construção civil,
indústria automobilística, eletroeletrônica e praticamente todas as coisas do nosso dia a dia,
incluindo as próteses, obturações, asfalto, vedantes dos refrigerantes, embalagens, objetos de
decoração, brinquedos, tintas, plásticos, borrachas, óleos, combustíveis, solventes, e
infinidades de aplicações que tornariam essa relação muito extensa.
O interessante é que os plásticos, que são polímeros sintéticos derivados do petróleo
(poliéster, polipropileno, polietileno, poliamida, silicone, lycra, ABS, PET, PVC, acrílico, fórmica,
viscose, nylon, etc.) podem assumir formas, texturas, cores, translucidez, opacidade, dureza,
flexibilidade, resistência ou maleabilidade, como a persona, mas todos possuem uma
característica comum que é a impermeabilidade e, conseqüente, não biodegradabilidade. Com
isso, estamos sofrendo a crise do impermeável, deixando o planeta impermeável, tanto no solo
quanto na atmosfera, produzindo erosões, enchentes e aquecimento global. Além de estarmos
também ficando impermeáveis e incapacitados de trocar, negando todo o ciclo da dádiva que
implica em dar, receber e retribuir numa espiral evolutiva ascendente.
Nossa sociedade impermeável vive sob a égide do descartável, onde tudo tem que ser novo e
rapidamente substituído, incluindo as relações humanas e o sistema Gaia, que é a nossa
morada planetária. Por isso, devido a nossa dependência do plástico, apesar de podermos
usar fontes de energia renováveis e auto-sustentáveis, não podemos deixar de extrair petróleo
e parar de incomodar nossos fósseis ancestrais com o intuito de diminuir a impermeabilidade
do planeta e da vida. Porque não existem interesses do mercado econômico, regido pelas
grandes corporações, em mudar seus parques industriais, abandonando o uso do plástico na
cadeia econômica da produção, que deve representar mais de 50% de tudo que é
manufaturado.
Com isso, estimula-se a negação da essência humana, com toda sua
tensão natural da assimetria, do diverso, da impermanência e do
indeterminado, que é repleta de polaridades e, simultaneamente, complexa,
criativa, bela, patética, prazerosa, dolorosa, triste, alegre, justa ou injusta. E
que só irá adquirir sentido e significado quando conseguir prestar o serviço de
servir o Ser – doando cuidados para todos os seres sencientes, começando por
nós mesmos (na dinâmica do amar ao próximo como a si mesmo). Mas, para
isso, a energia psíquica deve estar fluida e diluída de forma integral em todas
as direções e segmentos humanos, do mais físico e denso ao mais espiritual e
sutil, na direção consciente da teleologia do processo de individuação. Sendo
necessária, para isso, uma atitude consciente, simultaneamente egocêntrica e
altruísta, advinda do autoconhecimento, da auto-estima, do amor próprio e da
fé.

Para Jung, o constante confronto entre a natureza e o espírito é que vai


promover e contribuir para o crescimento, a auto-regulação e o equilíbrio
psíquico. Sendo que, quando um indivíduo fica paralisado diante de um
problema, ele está dando existência literal para sua dificuldade, fixando sua
mente na queixa e interditando as soluções criativas que podem surgir. Quando
olhamos o problema de maneira permeável, podemos reconhecer que não
existe nada absoluto e que uma determinada situação adversa só se converte
em problema insolúvel quando não conseguimos integrá-la em nossa vida. Ou
seja, quando deixamos de ser impermeáveis poderemos deixar nossos
problemas permeáveis, atravessando-os e libertando os conteúdos simbólicos
que estão secretos em suas secreções dolorosas ou tristes, possibilitando uma
nova configuração energética, possivelmente mais prazerosa e alegre.

Mas, infelizmente, a maioria das pessoas, por terem o ego identificado


com a persona do herói, negam o processo de individuação, permanecendo
impermeáveis e paralisadas diante dos problemas ou crises, que deveriam ser
transformados em oportunidades para o crescimento evolutivo do Ser. Deste
modo, acabam, equivocadamente, atuando diante da dificuldade, agora
concretizada e fixa, nessas quatro maneiras: atacando, fugindo, submetendo-
se ou negando o problema. Com isso, transformam o problema em símbolo
patológico, muitas vezes na forma de sintomas de adoecimento. É interessante
percebermos que para cada forma heróica e equivocada de atitude diante do
problema existe a possibilidade de um sintoma específico. Ou seja, para quem
quer, no seu íntimo, atacar, enfrentar ou destruir o problema surge a
suscetibilidade do aparecimento de hipertrofias. Assim como, o desejo de fugir
predispõe o indivíduo às disfunções, o de se submeter às inflamações e o de
negar às escleroses.

Esses quatro tipos de sintomas englobam todas as possibilidades de


expressões de adoecimento, que podem surgir isoladas ou conjugadas, como a
maioria dos cânceres que, inicialmente, denuncia uma disfunção (desejo de
fuga), devido a falhas do sistema imunológico, e depois hipertrofias (desejo de
atacar), muitas vezes mobilizando o indivíduo a viver exclusivamente para
enfrentar o próprio câncer que, nesta situação, passou a ser mais um problema
concreto e fixo para o ego heróico. A maior dificuldade do ego heróico é
entender que atacar, fugir, submeter-se ou negar e ficar paralisado são atitudes
ou intenções íntimas ou inconscientes que não produzem transformação
criativa e transcendência diante do problema. Porque, como já citei
anteriormente, o ego precisa diferenciar-se do problema, para depois,
seqüencialmente: fazer a separação, superação e posterior integração, para
transcendê-lo. Esse é o caminho da espiral evolutiva do processo de
individuação, que possibilita que a energia psíquica flua diluída e distribuída em
todas as seis direções e seis demandas da vida.

É interessante notarmos que o plástico, de um lado, devido sua não


biodegradabilidade, nos dá a sensação de durabilidade, mas por outro lado,
devido sua impermeabilidade, que lhe impede interagir e formar vínculo, nos
remete a descartabilidade. Ou seja, nosso ego identificado com a persona do
herói, está cada vez mais plastificado, simultaneamente, e paradoxalmente,
permanente e descartável, acumulando egoisticamente e incapaz de
estabelecer vínculos. Essa plastificação humana, que lhe deixa mais durável e
impermeável, impede o preenchimento do vazio existencial advindo da
angústia existencial.

Com isso, diante dessas premissas, podemos fazer várias aproximações


simbólicas para qualquer tipo de sintoma de adoecimento para
compreendermos como que a energia psíquica está configurada e distribuída,
facilitando a ampliação da consciência e a abdicação do ego heróico
patológico, em função da constatação de que o ego pertence à alma e sua
maior realização é servi-la. Nesta direção, para favorecer a atitude
transcendente diante do problema e o autoconhecimento, podemos usar e
abusar das metáforas e seus símbolos, além de todo registro de mitos e contos
de fadas que ficaram eternizados tanto na memória consciente, quanto no
inconsciente coletivo da humanidade.

Na alquimia, onde encontramos vários textos esotéricos e iniciáticos que


fascinaram Jung devido à semelhança com seus conceitos de energia e
individuação, temos a palavra: V.I.T.R.I.O.L. Essa palavra, em latim, é formada
pela fórmula iniciática que sintetiza a doutrina alquimista: “Visita Interiorem
Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem". E quer dizer: "visite o seu
interior para encontrar sua pedra oculta que irá retificar-lhe" Com isso podemos
deixar de ser pedras brutas. Porque, devido à contínua lapidação do
autoconhecimento e do domínio da máquina, vamos ficando mais cristalinos
até atingirmos o diamante original – que é a nossa essência! Ou seja, devemos
entrar em contato com a prima matéria, retificando-a por meio de várias
passagens, ritos e conhecimentos até alcançarmos a tintura mãe! Sendo essa
metáfora simbólica um excelente modelo para conseguirmos transformar os
problemas e as crises em possibilidades criativas e evolutivas. Porém, para
atingirmos a capacidade de transmutar, transcender, ressignificar ou
transformar as adversidades com eficácia devemos conseguir realizar a
seguinte seqüência: diferenciar, separar, superar, e integrar. Assim poderemos
dar sentido e significado para nossa existência que sai e volta do estado
original de não dualidade em cada ciclo de vida, como nesta citação de Jung:

“A vida é um processo como qualquer outro, mas, em princípio,


todo processo energético é irreversível e, por isto, é orientado
univocamente para um objetivo. E este objetivo é o estado de repouso.
No fundo, todo processo nada mais é do que, por assim dizer, a
perturbação inicial de um estado de repouso perpétuo que procura
restabelecer-se sempre. A vida é teleologia par excellence, é a própria
persecução de um determinado fim, e o organismo nada mais é do que
um sistema de objetivos prefixados que se procura alcançar (...). A curva
da vida é como a parábola de um projétil que retorna ao estado de
repouso, depois de ter sido perturbado no seu estado de repouso inicial”.
(Jung 1984 - VIII: 798).

Sendo que, no transcorrer da parábola deste “projétil”, nossa energia


deveria fluir livremente fazendo muitas idas e vindas, para não corrermos o
risco de sermos pegos de surpresa com as ocorrências enantiodromicas, que
surgem no sentido de reparar os excessos, a hybris, ou a ultrapassagem do
metron – nossa justa medida e as unilateralidades de temas ou direções. Na
medida em que a energia flui vamos ampliando nossa consciência e ficando
mais harmônicos diante das demandas existenciais, até alcançarmos a meta
final que é o estado integral, uma experiência de unicidade ou unitiva, muito
diferente da ausência de tensão do pleroma, período pré-egóico vivenciado no
início da nossa existência terrena. Sendo este estágio evolutivo a meta final do
processo de individuação, onde ao invés de termos experiências fragmentadas
e esporádicas com o sagrado 2 , passamos a ser consagrados, ou seja, nos
tornamos a expressão consciente do sagrado, permanecendo um com Ele.
Para isso o ego deve estar estruturante e permeável, permitindo que a energia
flua evolutivamente, percorrendo todas as etapas do desenvolvimento
psicológico humano, conforme a tabela a seguir:

2
O sagrado é um vocábulo que tem o significado de “separado”. Nesta condição, exprime aquilo que é
apartado do homem e, ao mesmo tempo, na perspectiva junguiana, pode ser a representação do
inconsciente ou indicar que é diferente do ego em relação ao conhecimento já existente. Por isso, o
sagrado se diferencia do profano fazendo com que nossas experiências com o numinoso, por produzirem
fascínio, atração e medo, sejam sempre associadas a tudo aquilo que produz o alívio da angústia do
desconhecido, que é o outro lado do si-mesmo. (Magaldi, 2006 – pg.53). Por outro lado, Girard (1990 –
pg 47) comenta: “O sagrado é tudo que domina o homem, e com tanta mais certeza quanto mais o homem
considera-se capaz de dominá-lo. Inclui, portanto, entre outras coisas, embora secundariamente, as
tempestades, os incêndios das florestas e as epidemias que aniquilam uma população. Mas é também, e
principalmente, ainda que de forma mais oculta, a violência dos próprios homens, a violência vista como
exterior e confundida, desde então, com todas as forças que pensam de fora sobre ele. É a violência que
constitui o verdadeiro coração e a alma secreta do sagrado”.
(Magaldi, 2006 – pg. 247)

Assim, a energia pode e deve fluir, numa espécie de eixo tridimensional,


com as seguintes polaridades de direção:

1. Para cima ou para baixo – projetando ou introjetando a energia


psíquica (depositando a sombra no mundo exterior, ou
reconhecendo ela em si mesmo).
2. Para fora e para dentro – extrovertendo ou introvertendo a
energia psíquica (dando mais atenção ao mundo externo e
deixando a interioridade de lado, ou valorizando só o mundo
interno e descuidando do externo).

3. Para frente ou para traz – progressão ou regressão da energia


psíquica (muito voltado para o futuro sem levar em conta as
experiências passadas e a história, ou fixado no passado com
dificuldades de planejamentos e conquistas futuras).

Um indivíduo saudável é aquele que vivencia o presente como um


presente, sem deixar sua energia psíquica ficar unilateralizada ou fixa em uma
dessas seis direções. Mas, para isso é necessário a superação do encanto
ilusório do ego heróico identificado com o poder, o controle e a ausência de
tensão. Pois o sentido da existência é seguir o caminho teleológico numa
espécie de espiral evolutiva, que tem em cada ciclo o processo do ter, do servir
e do ser. Ou seja, devemos direcionar a energia psíquica como um meio de
transformação, onde sua orientação é no movimento ascendente, porém
analógico e circular, partindo dos impulsos mais instintivos e primitivos para as
áreas da espiritualidade e da transcendência.
Agora vou fazer algumas ampliações em cada uma das seis direções da
energia, com o intuito de proporcionar maior esclarecimento sobre cada uma
delas na forma de pares de opostos que necessitam ser conciliados e
integrados no ego consciência. Ressaltando que a nossa cultura impermeável
e consumista acaba valorizando e até beneficiando quem direciona sua energia
psíquica para fora, para frente e para cima (progressão, extroversão e
projeção). Por isso, que, enantiodromicamente, vemos tantas crises de
depressão e síndrome do pânico, pois o Self sempre dará um jeito de fazer
com que o ego se volte para ele. Provocando situações sintomáticas, onde a
configuração energética pode manter o ego heróico nos mecanismos de defesa
do ego, produzindo fixação, depressão, negação ou repressão, termos que
também serão abordados a seguir. Sendo que cada um desses aspectos
podem ser considerados normal ou patológicos, variando de indivíduo para
indivíduo.

PROJEÇÃO E INTROJEÇÃO

Para cima ou para baixo – projetando ou introjetando a energia psíquica


(depositando a sombra no mundo exterior, ou reconhecendo ela em si mesmo).

A projeção, em muitos casos, é uma defesa contra a ansiedade ou


angústia gerada pelo inconsciente e, conseqüentemente, pela sombra e a
totalidade psíquica. Porque, por mais que o ego se mantenha impermeável, a
psique é absolutamente permeável, pois o inconsciente é continuamente
dinâmico e está em contínua transformação. Então, toda vez que a estrutura
egóica não estiver capacitada para lidar com os conteúdos sombrios é natural e
até positivo o surgimento das projeções. Nesse sentido fica claro que para o
processo de individuação acontecer é necessário, primeiramente, que o ego
esteja estruturado, mesmo projetando toda sombra no mundo exterior. Depois,
na medida em que o ego fica mais permeável, adquirindo condições de lidar
com os conteúdos projetados, introjetando e integrando-os à consciência, de
estruturado ele se transforma em ego estruturante, ou seja, vai deixando de
ficar identificado e fixado na imagem do herói, produzindo a ampliação da
consciência.

Desta forma, numa pessoa saudável, a projeção deve ir diminuindo na


mesma proporção que ela vai amadurecendo. Ou seja, os níveis de projeção
que são considerados normais para a criança podem ser patológicos para o
adulto. Para Jung, grande parte do conteúdo projetado, com o amadurecimento
psíquico, ficará disponível à consciência do ego. Essa hipótese fica bem
evidente com as projeções de anima e animus, geralmente depositadas em
mulheres e homens reais, facilitando o encontro com o si mesmo, por meio do
encontro com o outro.

Porém, para o processo evolutivo do autoconhecimento, é necessário


que se alcance alguma reintegração ou recuperação do conteúdo projetado.
Para isso, segue-se esta a seqüência de etapas: indiferenciação, diferenciação,
separação, superação e integração. Assim, o ego indiferenciado da projeção
necessita reconhecer o outro, fiel depositário do conteúdo sombrio, diferente do
material projetado, além de perceber que o material projetado pertence a seu
psiquismo. Só assim o ego heróico e estruturado poderá permitir que o ego
estruturante ganhe espaço. Após isso, deve acontecer a separação e posterior
integração consciente do conteúdo projetado. Ou seja, acontecerá a introjeção
da sombra.

Na introjeção acontece a internalização da projeção ou de conteúdos


externos que são sombrios e indiferenciados à luz da consciência. Sendo que a
sombra, para a psicologia junguiana, é um arquétipo e, como tal, é psicóide. Ou
seja, ela transita tanto nas dimensões materiais quanto nas espirituais, sem
pertencer a nenhuma delas, apesar de poder provocar grandes alterações por
onde passa! Como todo arquétipo, ela não é absoluta, ou seja, não se prende
a princípios morais e éticos do bem ou do mal, podendo destruir ou construir
com a mesma naturalidade e intensidade.

A sombra é representante de grande parte do inconsciente humano e,


por isso mesmo, incomoda as estruturas conscientes do ego, geralmente
aprisionado em seus apegos e intimidado pela angústia existencial e pelo medo
do novo. Com isso, egoicamente, geralmente tendemos a criar vários
mecanismos de defesa para nos sentirmos protegidos e confortáveis diante
desta realidade psíquica que é a sombra. Dentre eles, os mais comuns são a
negação ou a repressão da sombra.

A negação da sombra é o mais praticado inconscientemente pelas


pessoas. Geralmente, quem nega a sua sombra não consegue reconhecer sua
incompletude e acredita ser uma pessoa, ou uma persona, absolutamente
correta, beirando a perfeição, apesar de sempre estar assombrada por algum
sentimento de mal estar, que rapidamente é justificado por algo do mundo
externo. Jung sempre afirmava que toda sombra negada, inevitavelmente será
projetada. E as projeções geralmente provocam grandes movimentos de
energia, despertando passionalidade em todas as partes envolvidas. Além
disso, a sombra pode estar projetada de forma positiva ou negativa, ou seja, a
pessoa pode ficar fascinada pelo outro tentado possuí-lo ou destruí-lo
doentiamente – Amor ou ódio dependerá da influência que o conteúdo
projetado provoque no projetor.

Na repressão, por sua vez, a pessoa já reconhece que existe dentro dela
algumas potencialidades que lhe tiram da zona do conforto, desejos e pulsões
não muito agradáveis, que podem provocar crescimento ou destruição, mas, de
qualquer modo, produzem ansiedade e medo. Então, todo o conteúdo
reprimido, que já ganhou algum espaço na consciência, pode virar sintoma de
adoecimento e causar grandes estragos. Por isso Jung afirmava que a nossa
sociedade, por ter “matado” os deuses, transformou-os em doenças. Porque
esses deuses eram os representantes de toda potencialidade arquetípica da
humanidade, revelando todos os excessos, aberrações, pulsões, instintos e
sentimentos que povoam nosso inconsciente pessoal ou coletivo.

EXTROVERSÃO E INTROVERSÃO
Para fora e para dentro – extrovertendo ou introvertendo a energia
psíquica (dando mais atenção ao mundo externo e deixando a interioridade de
lado). O trabalho de pesquisa e de exploração do comportamento humano,
que Jung fazia tanto da consciência como do inconsciente e, principalmente
nas relações com o meio exterior, permitiu-lhe perceber tipos diferentes de
comportamento, muitas vezes gerando desavenças e desentendimentos, não
pelo princípio básico de um determinado assunto, mas pela forma de cada um
agir e reagir frente ao tema ou, ao mundo. Com isso Jung desenvolveu o
estudo das tipos psicológicos, não como um quadro de referência, mas como
uma orientação e para percebermos como que as funções auto reguladoras da
energia psíquica atuam na chamada função compensatória, entre a
consciência e o inconsciente. Esta função compensatória é análoga à
homeostase do organismo físico, mantendo e objetivando, sempre, o equilíbrio.

Inicialmente Jung percebeu dois grandes grupos de indivíduos, uns


partiam de forma rápida e confiante aos estímulos externos e, outros hesitam,
recuam, parecendo sentir receio em se relacionar com o externo. O primeiro
grupo era de pessoas muito adaptadas ao meio coletivo, mas com um grande
subdesenvolvimento do plano individual, o qual ele denominou de
extrovertidos, onde a energia fluí, sem maior dificuldade, na direção dos
objetos. O segundo grupo era formado por indivíduos desadaptados ao meio,
por serem mais individualistas apesar de terem desejos íntimos de viverem
mais voltados para a coletividade, denominando-os introvertidos, onde o fluxo
de energia recua diante dos objetos, pois estes parecem ameaçadores.

Assim, visto no conjunto, todos os introvertidos tem um fluxo de energia


extrovertida em seu inconsciente, da mesma forma que os extrovertidos
possuem um fluxo de energia introvertida. Desta maneira, percebemos a
circulação constante da energia, num caráter contínuo, inesgotável e
compensatório.

Posteriormente, Jung percebeu que existiam muitas outras variações


dentro de cada um destes grandes grupos de atitudes típicas, pois dois
indivíduos introvertidos poderiam divergir muito na forma de pensar. Assim
Jung concluiu que as funções psíquicas, que cada indivíduo usava de maneira
predominante e preferencial para lidar adaptativamente com o mundo externo
era o que os diferencia ainda mais.

São dois subgrupos que originam duas funções antagônicas cada,


perfazendo-se um total de quatro funções de adaptação, onde reconhecemos o
mundo exterior e, nos adaptamos a ele. O primeiro subgrupo Jung denominou
de racionais, que atuam ou na função pensamento ou na função sentimento. O
segundo subgrupo são os empíricos, que atuam ou na função sensação /
percepção ou na função intuição. Todos nós possuímos as quatro funções,
porém uma delas vai se apresentar mais atuante e desenvolvida, por ser mais
próxima da consciência. A esta função chamamos de função principal. Em
oposição à função principal, temos a função inferior, estando muito mais
próxima do inconsciente, vindo muitas vezes junto com as projeções da
sombra, sendo grande auxiliar no processo analítico, pois irá fazer a ponte
entre o consciente e o inconsciente. As outras duas funções são chamadas de
auxiliares, com menor grau de diferenciação que a função principal.

Existe, desta forma, a possibilidade de oito tipos de funções principais.


Ao conhecermos a função principal de um indivíduo imediatamente saberemos
qual é a sua função inferior, por estar em oposição a ela. Assim, se um
indivíduo for sensação extrovertida sua função inferior será intuição
introvertida. Isto nos dá uma cruz, onde as funções auxiliares serão o
sentimento e o pensamento.

Com o conhecimento de cada tipo psicológico poderemos perceber


como o indivíduo estabelece as relações com o meio e, ajudá-lo a diminuir a
carga de energia investida na função principal, para permitir que as funções
auxiliares e até a função inferior contribuam com a totalidade. Assim não
acontecerá uma super diferenciação do ego, mas um rebaixamento deste,
permitindo a percepção do inconsciente. Sendo a adaptação um mecanismo
psíquico extremamente importante para equilibrar fatores internos e externos.
Porém, devemos distinguir a adaptação do conformismo, da normose ou da
normopatia, pois a adaptação é um mecanismo psíquico muito importante para
o processo de individuação.

Para Jung, a falha na adaptação é um sintoma da neurose, pois ela é


responsável em conciliar as demandas tanto do mundo interno quanto do
mundo externo, que podem fazer solicitações completamente antagônicas,
gerando muita tensão e angústia. Porém, para o ego heróico, muitas vezes a
adaptação vira normopatia, deixando o indivíduo fixado. Desta forma, no início
da análise, muitas vezes acontece uma espécie de destruição desta adaptação
estagnaste que a pessoa construiu, na maioria das vezes, por meio dos
mecanismos de gratificação e recompensa social e cerebral, deixando de lado
o Self.

PROGRESSÃO E REGRESSÃO

Para frente ou para traz – progressão ou regressão da energia psíquica


(muito voltado para o futuro sem levar em conta as experiências passadas e a
história, ou fixado no passado com dificuldades de planejamentos e conquistas
futuras).

A progressão da libido é resultante da necessidade vital, que todos nós


temos, para a adaptação ao meio externo, gerando conquistas, crescimento
social, expansão, etc. Já o retrocesso da energia vai reativar os conteúdos do
mundo interior, provocando introspecção, melancolia e até depressão. Assim
percebemos que esta energia está em permanente e inacabável movimento de
fluxo e refluxo, como a tábua das marés, as estações do ano, o dissolve e
coagula da alquimia, ondas e partículas quânticas, etc.

A progressão e a regressão da energia psíquica, não pode estar


diretamente proporcional à evolução e involução do desenvolvimento da
personalidade como um todo. Com isso percebemos que é frágil, tanto aquele
indivíduo que vive investindo toda a sua energia no sentido progressivo e
futuro, pois vai ficando "vazio" de referencias históricas, conteúdos vivenciados
e de autoconhecimento, como aquele que fica constantemente nostálgico e
saudoso, pois toda a sua libido esta fixada no passado, não se permitindo à
troca e ao crescimento que a relação com a realidade presente trará.

Jung via a regressão como uma consulta às bases, à ancestralidade e a


toda história de vida herdada, que pode trazer sentido e significado existencial
para o indivíduo. Bem diferente de Freud que sempre compreendia a regressão
como um fenômeno negativo, uma espécie de medo ou negação para a vida.
Porém, na análise, percebemos que investir a energia no sentido da regressão
pode ser muito auspicioso, possibilitando religação e regeneração psíquica,
uma espécie de entrincheiramento antes de uma nova fase de avanço, porque
a conexão com a ancestralidade sempre irá fornecer segurança e diretrizes
mais claras. Principalmente porque, na maioria das vezes, somos
condicionados para reparar a vida psíquica dos nossos genitores e até dos
ancestrais mais longínquos.

Muitas vezes associamos a depressão, que é uma espécie de


represamento da energia com a regressão patológica da energia. Mas, a meu
ver, esses sintomas são distintos e estão diretamente vinculados aos excessos
unilaterais nas seis direções em que a energia psíquica deveria fluir. Ou seja, o
depressivo é aquele indivíduo que, por muito tempo, ficou direcionando sua
energia para fora, para frente e para cima. Desta maneira, surge o sintoma
depressivo como um meio enantiodrômico e compensatório, para que a
totalidade psíquica seja contemplada e o processo de individuação resgatado
pelo ego. Com isso, na depressão o ego é obrigado a ver a energia psíquica
ser investida para traz, para baixo e para dentro. Podendo ser uma grande
oportunidade para que uma nova configuração energética, muito mais saudável
e menos fixada no ego heróico possa surgir. Porém, infelizmente, a maioria dos
profissionais de saúde rapidamente suprimem a depressão com intuito se
manter o indivíduo apenas como um zumbi, com um sorriso de paisagem na
cara e engajado na roda do consumo alienante, totalmente plastificado e
impermeável ao si mesmo.

Depressão é sinônimo de negação de vida. Vida, por sua vez, depende


das relações e das trocas. Por isso é muito importante entendermos que
depressão não é sinônimo de tristeza. A tristeza é oposta da alegria e a
depressão é oposta da felicidade. Uma pessoa que conquistou a felicidade, por
ter encontrado sentido e o significado da sua vida, saberá lidar tanto com os
momentos de tristeza, sem cair em depressão, quanto com os de alegria, sem
pender para a euforia ou mania. Ou seja, a felicidade é um estado de espírito
que, depois de conquistado poderá ser perene, apesar das oscilações naturais
da vida. Sendo que a felicidade é uma conquista consciente daquele que teve a
coragem de se enfrentar num processo de autoconhecimento, encarando as
personas, a sombra e o inconsciente.

O tratamento da depressão baseado exclusivamente aos aspectos


físico-químicos ou comportamentais se restringirá à exterioridade adaptativa do
paciente. Mas, na maioria das vezes, fica limitado da compreensão do
significado emocional do sintoma, incluindo as vivências individuais, familiares,
socioculturais e espirituais presentes na vida do depressivo, e o papel que
essas vivencias produziram no desenvolvimento da personalidade e da cultura
do indivíduo. Principalmente porque entendo que somente por meio da
atribuição de significados simbólicos aos sintomas de adoecimento que
poderemos compreender a alma humana, estudar o sistema nervoso e o
funcionamento dos neurotransmissores. Por isso, apesar dos 20 anos do
lançamento da fluoxetine (princípio ativo do Prozac), e uma sucessão de novos
produtos prometendo cura para essa epidemia que vem atingindo a
humanidade, infelizmente, os problemas emocionais continuam crescendo e
provocando muitos danos tanto relacionais quanto orgânicos. Apesar do
registro de consumo exagerado de antidepressivos ou estabilizantes de humor
de última geração.

Isso, porque não podemos “terceirizar” a responsabilidade que devemos


ter com a nossa felicidade. A felicidade não pode vir por meio de coisas
externas, pois a verdadeira e perene felicidade só pode acontecer na jornada
do autoconhecimento e do encontro de sentido e significado existencial. Nem o
dinheiro pode ser instrumento para se atingir a felicidade, pois feliz é quem
gosta de viver e tem fé na própria vida, independente dos percalços tristes que
possam atingi-lo. A meu ver a felicidade é o resultado da conquista das
experiências de plenitude, liberdade e amor próprio. Pois só quem consegue se
livrar dos desejos e das esperanças é que pode se entregar para o agora e
experimentar o presente do presente, ou seja, a vida fluindo evolutivamente na
amorosidade divina, apesar de todas as situações adversas. Sempre afirmo
que a felicidade só pode surgir pela aquisição do autoconhecimento, que
depois de alcançado jamais é perdido, pois passamos a perceber os estados
de alegria ou tristeza, prazer ou dor, nascimento ou morte, como eventos
transitórios, inerentes a vida e a diversidade da nossa existência.

O sentimento de plenitude surge quando podemos estar satisfeitos e


desfrutar o que temos e somos, obviamente sem abrir mão dos planos e do
compromisso evolutivo. O de liberdade acontece quando compreendemos que
o amor jamais irá aprisionar e nos libertamos dos apegos e dos desejos
egóicos, que são mundanos e muito diferente das necessidades instintivas e da
vontade do Self ou chamado existencial, que dá sentido e significado para a
vida. E o de amor próprio que é atingido pelo reconhecimento e cura das
feridas narcísicas, onde passamos a nos compreender como seres em
evolução.

O medicamento pode ser um instrumento momentâneo para quem está


sofrendo e não está conseguindo se libertar dos pensamentos e emoções
destrutivas. Hoje nós sabemos que existe uma estreita relação entre a emoção
e a bioquímica corporal e, neste caso, a medicação pode, de fora para dentro,
tentar restabelecer o equilíbrio. Porém, se não houver uma mudança no padrão
de crenças e de pensamentos, o organismo vai criando resistência ao remédio
e todos os sintomas reaparecem. Nesse momento é que os novos produtos,
que obviamente são mais caros, substituirão os antigos e a cura, infelizmente,
fica de lado, porque o tratamento fica limitado à dimensão bioquímica das
emoções, deixando a subjetividade do ser.

As emoções produzem mudanças químicas, principalmente no equilíbrio


dopaminégico. A dopamina é um mensageiro químico que estimula os centros
cerebrais de prazer e satisfação, capaz de alterar o humor. As sinapses são as
ligações que acontecem entre os neurônios, que são as células cerebrais.
Quanto mais rede sináptica mais maduro e eficiente é o cérebro. As sinapses
excitadoras aumentam o fluxo de substâncias químicas, como a dopamina,
associada ao sentimento de euforia, enquanto as sinapses inibidoras impedem
estes fluxos. Ambas são importantes para a homeostase neuropsíquica.

É importante saber que qualquer célula é uma pequena unidade de


consciência que age exclusivamente dentro dos princípios de sobrevivência
biológica e de sua especificidade. Com isso, cada célula aprende com as
experiências de gratificação e recompensa, além de transmitir para sua
descendência esse aprendizado. Então, as novas células serão muito mais
capacitadas para a realidade bioquímica, equivalente ao ambiente emocional
mais dominante da pessoa, com o aumento ou a ativação dos receptores da
bioquímica mais disponível. O cérebro, por sua vez, é formado por células
muito mais específicas para formar rede de relacionamento e informação.
Desta forma, os antidepressivos são substancias que interferem quimicamente
no sistema de recompensas, mudando a configuração energética de fora para
dentro. Porém, sem uma transformação mental, a metanóia proposta pelos
curadores da Grécia antiga, a cura não acontecerá.

REFERENCIAS DAS CITAÇÕES

GIRARD, René. A Violência e o Sagrado, SP, Ed. Unesp Paz e Terra, - 1990.
JUNG, C. G., Obras completas, Petrópolis, Ed. Vozes.

MAGALDI FILHO, Waldemar. Dinheiro, saúde e sagrado, SP, Ed. Edicta, -


2006.

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