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REDE-A: vol.1, nº2, jul.-dez. 2011.

OS NEGROS E A INQUISIÇÃO

Neusa Fernandes
neusafer@terra.com.br

Resumo Abstrat

É grande o número de processos There is a great number of inquisitorial


inquisitoriais arquivados no Arquivo proceedings filed in the National Archives
Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, of Torre do Tombo in Lisbon against
contra negros, homens e mulheres, escravos blacks, men and women, slaves and
e alforriados, acusados de heresia, bruxaria, freedmen, accused of heresy, witchcraft,
superstição, de atentarem contra os seus superstition, attack their owners and even
proprietários e até de crimes de islamismo e crimes of Islamism and Judaism. It is worth
de judaísmo. Vale registrar que desde o noting that since the beginning of the
início do século XVI, a Igreja reconhecia sixteenth century, the Church officially
oficialmente a bruxaria como crime recognized witchcraft as a heinous crime,
abominável, punida com a fogueira. Todos punishable by being burnt on a stake. All
os processos inquisitoriais estudados se inquisitorial processes studied - considered
iniciaram com denúncias encaminhadas à crimes against the Church - had began with
Mesa do Tribunal do Santo Ofício pelos complaints forwarded to the Bureau of the
senhores dos escravos, por habitantes das Court of the Holy Office by slaves masters,
regiões ou pelo próprio clero, considerados inhabitants of the regions or by the clergy
como crimes contra a Igreja. A pesquisa itself. The research focuses on the
concentra-se na investigação desse investigation of this population, based on
segmento da população, baseada na análise the analysis of sources, with an emphasis
das fontes, com ênfase nos crime, nas penas on crime, punishment and torture
e nas torturas empregadas. employed.

Palavras- chaves: Colônia, Metrópole, Key words: colony, metropolis, Inquisition,


Inquisição, negros, feitiçaria. black people, witchcraft.

Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não
a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se
defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.

Karl Marx (O 18 Brumário).

A instituição inquisitorial moderna durou três séculos. Foi um aprimoramento


das origens medievais e moldou as mentalidades espanhola, portuguesa e brasileira. Foi
uma das instituições mais violentas do Brasil Colonial. Extinta em 1821, continua viva,
considerando-se as suas conseqüências e as heranças que deixou, como o

Fernandes, Neusa. Os negros e a Inquisição.


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recrudescimento do racismo, mascarado em novas ideologias, mais sensível nos países


onde houve escravidão.
O Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, abriga cerca de 39.000
processos inquisitoriais e 369 Cadernos do Promotor referentes aos Tribunais de Lisboa,
Évora e Coimbra. Esses documentos retratam a vida social, política e econômica da
Colônia, do século XVI ao XIX. Infelizmente a maior parte deles se encontra ainda sem
catalogação, o que dificulta a pesquisa e explica a ausência de tão importante fenômeno
histórico nos livros didáticos. O maior número dos processos arquivados, referentes à
Colônia. São, sobretudo do século XVIII, especialmente da região de Minas Gerais.
Foi nesse século, em função do descobrimento do ouro, que ocorreram os
maiores volumes de povos africanos transportados para o território brasileiro. O maior
contingente populacional foi para a região mineira, ao lado de mamelucos, parda e
branca, na maioria cristãos-novos. A descoberta das primeiras minas, entre 1692 e
1695, e o intenso processo de povoamento ocorrido determinou o aparecimento de um
novo centro de atenção, desviou a atividade econômica do Nordeste para o Sudeste,
deslocando escravos da agricultura para a mineração.
Calcula-se que, em 1720, cerca de 60.000 negros trabalhavam nas Minas.
Somente nas minas do Ribeirão do Carmo trabalhavam cerca de 5.000 escravos.
Numerosos foram também nas outras regiões onde a riqueza era descoberta, como
registra o quadro abaixo. Meio século depois, no ano de 1772, registrou-se, trabalhando
nas minas, somente na região do Serro Frio, uma grande população negra de cerca de
4600 pessoas.
No último quartel do século XVIII, a Capitania de Minas Gerais abrigava a
maior concentração de escravos nas Américas. Prova disso é que dos 800 mil escravos
libertados com a Lei Áurea, 230 mil se encontravam na região mineira.11

1
SALZANO, F.M. e Freire, Maia N. Populações Brasileiras. Aspectos Demográficos, Genéticos e
Antropológicos. São Paulo: Nacional/USP, p. 29.

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Quadro nº1:
Média da população negra existente em comarcas e vilas da capitania de Minas
Gerais, 1735 a 1749.

FONTE: CAMPOLINA, Alda Maria et al. Escravidão em Minas Gerais. Belo Horizonte: Secretaria do estado de
Minas Gerais. Arquivo Público Mineiro/COPASA/MG, 1988. (Cadernos do Arquivo, 1) p .31.
APUD, Paiva, Eduardo, França - Escravos e Libertos nas Minas Gerais do Século XVIII, França - São Paulo:
Anna Brume, 1995.

A amplitude do tema e as lacunas existentes na nossa historiografia a respeito


dos negros vítimas da Inquisição, impuseram muitas dificuldades à pesquisa. Por estas
razões, o trabalho foi quase que exclusivamente baseado em fontes primárias, processos
inquisitoriais, manuscritos dos séculos citados. Além das fontes, foi necessário compilar
e ordenar dados esparsos de outros documentos, manuscritos e impressos, referentes à
Metrópole, à Colônia e à Capitania de Minas Gerais.2
Vale ressaltar que muitos dos processos inquisitoriais contra negros envolvem
homens e mulheres, escravos e alforriados, acusados de heresia, bruxaria, superstição,

2
Processo: Inquisição Lisboa nº 10.874.
3
Processo: Inquisição Lisboa nº 3.382.
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de atentarem contra os seus proprietários e até de crimes de islamismo e de judaísmo,


Todos se iniciaram com denúncias encaminhadas à Mesa do Tribunal do Santo Ofício
pelos senhores dos escravos, por habitantes das regiões ou pelo próprio clero,
considerados como crimes contra a Igreja.
A escrava cativa Antônia Preta, natural de Jalofa, na África Ocidental,
moradora em Lisboa, solteira, com 30 anos de idade, foi presa em 1567, acusada de
islamismo. Depois de cumprir um ano de cadeia, foi sentenciada com cárcere a arbítrio
e penitências espirituais.
Domingos de Coimbra2 pardo, solteiro, filho de Antônio de Coimbra e da negra
Janeura Pires, tinha 25 anos de idade, quando foi acusado de heresia e entregue ao
Tribunal do Santo Ofício, em 1592, Depois de um ano de prisão, Domingos ouviu sua
sentença no auto de fé de 24 de janeiro de 1593.
No século XVII, na Bahia, foi duas vezes presa pela Inquisição, Maria
Barbosa, natural de Évora, mulata conhecida pelo seu passado de muitos pecados. 3 A
mulata era o motivo da desavença entre o bispo do Brasil, D. Constantino Barradas, e o
governador Diogo de Menezes, sempre acusado pelo bispo de proteger os crimes de
Maria Barbosa. Dos fatos tinha conhecimento Maria Barbosa que andou por
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ilha Fernando de Noronha, sempre pesquisando
ervas mais venenosas e eficientes para esmerar-se nos feitiços que fazia contra o bispo.
Acusada de prostituta e feiticeira, Maria Barbosa caiu nas garras do Santo
Ofício e foi presa, em 1609, juntamente com o seu marido, João da Cruz, ourives,
também natural da cidade de Évora.
Os dois processos de Maria Barbosa totalizam cerca de 330 páginas. No
primeiro processo foi Maria acusada de feitiçaria e, como pena, teve o degredo para
Angola. De volta ao Brasil, reiniciou suas práticas de feitiços, trabalhando com um
alguidar com água que lhe projetava o futuro de seus clientes. O segundo processo não
chegou ao julgamento e, por isso, não contém a sentença. Contudo, Maria Barbosa
somente ganhou a liberdade em 1619.
Acusado de sacrilégio, o mulato Antônio da Silva ou Antônio da Silva Maciel 4
foi preso com 20 anos de idade. Natural e morador do Vale de Penedo, Antônio era
filho de José da Silva e de Inácia Custódia. Foi julgado em 16 de outubro de 1664,
penitenciado com penas espirituais.3

4
Processo: Inquisição Lisboa nº 10.874.
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No início do século XVIII, foi processado o negro José5, escravo, natural de


Benguela, Angola e morador na Bahia. Tinha 20 anos de idade, solteiro, quando foi
preso, em 1705, acusado de sodomia. No ano seguinte recebeu a sentença: açoites em
praça pública, degredo de cinco anos para as galés e penitências espirituais.
Mariana de Andrade, 25 anos, parda, natural do Rio de Janeiro, moradora no
engenho de Manuel de Paredes, foi presa em 1711, pelo Santo Ofício da Inquisição,
acusada de crime de judaísmo.6 Era filha da escrava Catarina, preta natural de Angola e
de pai incerto. Sua mãe, grávida, a vendeu para Simão Rodrigues de Andrade, a quem
passou a servir como escrava. Mais tarde, Mariana foi vendida para Domingos
Rodrigues Ramirez. Mariana teve com o seu senhor 3 filhos: Antônio Rodrigues
Ramirez, Maria da Costa Ramirez, Francisco Gomes de Almeida.
Criada como cristã, tendo sido batizada e crismada, praticava todas as obras de
religiosa e sabia as orações do padre-nosso, ave-maria e salve-rainha. Converteu-se ao
judaísmo pelo ensino que lhe transmitiu Bento Henriques da Paz, irmão de seu segundo
senhor, Domingos Rodrigues Ramirez.
Mariana nunca saiu do Rio de Janeiro. Analfabeta, não possuía bens. Sua
riqueza consistia em alguns móveis, uma escrava chamada Margarida, que valia 80000
réis e muitas dívidas.
Depois de muitas idas e vindas à Mesa do Tribunal, Mariana depôs,
denunciando, como judaizantes 37 pessoas, todas moradoras no Rio de Janeiro. Desse
total, 23 eram mulheres.
Nessa mesma ocasião, confessou sua crença na Lei de Moisés, informando que,
por sua crença, praticava o jejum do Dia Grande, não comia carne de porco, nem de
lebre e nem peixe com pele. Disse que essa crença lhe durou até o momento de sua
prisão. Pediu perdão e, em 1713, o Tribunal considerou o seu arrependimento,
sentenciando-a com penas espirituais.
Em 1712, foi presa Leonor Mendes7, solteira, meia cristã–nova, parda, natural
e moradora no Rio de Janeiro. Tinha 50 anos de idade e era filha de Rodrigo Mendes
Paredes, cristão-novo, lavrador de cana, natural do Rio de Janeiro e de Úrsula, negra
escrava, natural de Angola.

5
Processo: Inquisição Lisboa nº 6.478 e MF- 2.595.
6
Processo: Inquisição Lisboa nº 11.784.

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Seus avós paternos se chamavam Manuel de Paredes e Guiomar Rodrigues.


Acusada de crime de judaísmo, Leonor ficou um ano nos cárceres. Foi julgada pelo
Santo Ofício, ouvindo sua sentença no auto de fé de 9 de julho de 1713, condenada a
cárcere e hábito penitencial perpétuo, penas e penitências espirituais.
Também por crime de judaísmo foram processadas Francisca e Antônia,
escravas da cristã-nova Guiomar Paredes, e outra Mariana, conhecida como Mariana
Pequena8, natural de Angola, escrava de Maria de Andrade e Diogo Bernal da Fonseca,
os quais lhe deram liberdade.
Católica praticante, Mariana Pequena foi batizada, crismada e frequentava a
missa. Quando foi presa em 1712, tinha 42 anos de idade e um filho, de 20 anos de
idade, que teve com Antônio Soares. Nos seus depoimentos, declarou que não sabia
quem eram os seus pais e que não possuía nenhum bem. Confessou que se convertera ao
judaísmo há 20 anos, pelos ensinamentos religiosos que Antônio da Costa lhe
ministrara. Honrando a Lei de Moisés, não comia carne de porco, lebre e peixe com
pele; praticava o jejum do Dia Grande e guardava os sábados como dias santos.
Mariana Pequena ouviu sua sentença no auto de fé de 9 de julho de 1713:
excomunhão maior, penas espirituais e confisco, embora declarasse não ter bem algum.
O Tribunal do Santo Ofício julgou-a arrependida e considerou-a reconciliada. 9
Nessa mesma década, foi presa a negra Antônia Maria10 acusada de feitiçaria.
Natural e moradora em Beja, casada com Vasco Janeiro, atendia a muitos clientes, dava
consultas, para conseguir casamentos, ministrar simpatias, invocando o demônio em
cerimônias especiais. Conhecia muitas orações, eficientes, para solucionar casos e fazer
previsões. 4

Antônia conhecia um ritual e tinha uma devoção a Nossa Senhora do pé da


cruz, que cumpria ajoelhada, com as mãos levantadas, segurando o rosário. Em seguida,

7
Processo: Inquisição Lisboa nº 9.985.
8
Processo: Inquisição Lisboa nº 11.786.
9
Réus confessos que eram readmitidos no seio da Igreja. Seus bens eram, entretanto, confiscados e tinha
que cumprir a pena de “hábito e cárcere penitencial perpétuo”, o que significava morar o resto da vida
numa aldeia determinada, usando o sambenito.
10
Processo: Inquisição Lisboa nº 1.377.

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acendia três velas de cera branca, de invocação à Nossa Senhora, ao Evangelista e a


Nosso Senhor. Este ritual era acompanhado da seguinte oração: “Deus vos salve,
Virgem da Piedade, vós sois sacrário da Santíssima Trindade, assim como isto é
verdade, acudi senhora à minha necessidade, vós Virgem bem o sabeis, remediai-a pois
podeis. Peço-vos Virgem me mostreis: se isto há de ser assim fique na vossa candeia, e
se não há de ser, fique na do Evangelista”
Antônia também confeccionava bolsas de mandinga11 para seus clientes
usarem e conseguirem sucessos nos negócios.
Penitenciada pelo Santo Ofício, foi degredada para Angola, por três anos.
Cumprida a pena, Antônia veio parar no Brasil, fixando-se em Recife, em 1718. No
Nordeste, continuou a dar consultas. Por quatro vinténs, a negra realizara uma
cerimônia para apressar o pedido que seu vizinho Francisco Xavier da Silveira fizera ao
bispo, para ser ordenado sacerdote. Antônia usou um alguidar com água, uma moeda,
uma tesoura, uma peneira e uma folha de caderno. Colocou tudo no alguidar, exceto a
tesoura que, aberta, cravou- a nos arcos da peneira. Cada um segurou em uma ponta,
enquanto Francisco negava as palavras de Antônia: “Por São Pedro e por São Paulo,
pela porta de Santiago em como Francisco Xavier há de ser clérigo.” 12
Pouco tempo depois, foi Francisco Xavier ordenado padre.
Incrédulo e ingrato, o novo padre denunciou Antônia Maria. Entretanto, está
em seu processo que uma sua cliente, Joana de Andrade, também processada por
bruxaria, viu e conversou com o diabo, em casa de Antônia Maria.
Muitas outras escravas, negras ou mestiças, mesmo sem descenderem de
famílias cristãs- novas, converteram-se ao judaísmo, por influência de seus senhores.
Descobertas, foram processadas pelo Tribunal da Inquisição, como Antônia, preta forra
5
de Esperança de Azevedo;
Sebastiana, escrava do cristão-novo Ignácio Cardoso; Francisca e Antônia, escravas da
cristã-nova Guiomar de Paredes e Mariana de Andrade, para citar alguns exemplos.

11
Bolsa de mandinga foi uma das primeiras manifestações de feitiçaria no Brasil colonial, mas teve seu
uso mais difundido no século XVIII. Para serem penduradas no pescoço, as chamadas bolsas de
mandinga, também conhecidas como patuás, eram minibolsas, feitas de pano, contendo pedras de corisco,
moedas, pólvora, bala de chumbo, enxofre, olho de gato e até escritos. O conteúdo das bolsas variava
conforme o fim a ser alcançado.
12
Ibidem.
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Conhecido foi o processo da parda Ana de Paredes,13 41 anos de idade, natural


e moradora do Rio de Janeiro, onde desfrutava de boa posição, casada com Gonçalo
Gomes, mestre de açúcar e lavrador de cana. Ana era filha ilegítima do senhor de
engenho Luís de Paredes e da negra forra Leonor. Foi presa pelo Tribunal da Inquisição,
em 1715, acusada de crime de judaísmo. Julgada, recebeu pena de cárcere e hábito
penitencial perpétuo.
Nesse século tão cheio de processos, bruxaria foi a acusação que várias
testemunhas fizeram ao preto Manoel Gonçalves14, também conhecido como João
escravo, ou preto João, morador em São Luís do Maranhão e escravo do capitão Marcos
da Boavida. A primeira foi feita por Serafim Álvares de Carvalho, 33 anos de idade,
morador na mesma cidade que acusou o negro de feiticeiro e curandeiro, por tratar de
doentes, como foi o caso da mulher moribunda Catarina Machado. Testemunhas
depuseram acusando-o de invocar o diabo, falando palavras inteligíveis, das quais só se
entendia a expressão: “Chega Diabo.” Com a ajuda do demo, curava os doentes, usando
ervas e um alguidar com água, contas e ervas, que era colocado em baixo da cama do
enfermo. Se alguma cura fez, também morte conseguiu. Muitas outras denúncias sofreu,
com as mesmas acusações, por parte de Sebastiana Francisca, Francisco Roiz, André
Nunes e Francisco Parim. Esta testemunha acrescentou que o falso curandeiro também
usava cordões que os amarrava ao doente e avisava que quem encostasse nele, morreria.
Depois de um emaranhado de acusações, foi o escravo João, ou Manuel
Gonçalves, preso pelo Tribunal no dia primeiro de abril de 1719 e encarcerado no
Colégio da Companhia de Jesus.
Manuel protagoniza um dos raros processos sem sentença. O Tribunal
considerou o processo sem sentido e as denúncias “sem fundamento”. 678
Pode-se concluir que valeu o prévio julgamento feito pelos Reitores do
Colégio: a princípio acusaram o réu de feiticeiro, mas depois concluíram que ele era
embusteiro, para ganhar a vida. Singularmente, parte do documento está transcrito na
capa do processo:

13
Processo: Inquisição Lisboa nº 4.944.
14
Processo: Inquisição Lisboa nº 15.559.
7
8

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“Desde há por estas partes, muitos e como ordinariamente são pretos e índios e
que lhes mandassem dar uns açoites (...) Também tenho notícia que alguns
soldados, homens brancos, fazem papéis com orações e coisas oriundas do
Marfim para alcançarem mulheres e não lhes fazerem nenhum mal (...) fazer-
lhes entregar os ditos papeis e adverti-los do perigo que expõem suas almas (...)
Como não temos faculdades para tanto, senão que tomamos as denunciações e
remetê-las (...)”15

Caso singular foi o de Thereza,16 preta da nação Mina que vivia no Pará, na
região de Santo Antonio de Ouro Branco, escrava que era do senhor Rodrigues. No ano
de 1728, em um dia de coragem, Thereza apresentou-se na casa do padre Francisco para
denunciar os abusos do padre Romão Furtado de Mendonça, vigário da mesma
Freguesia.
Contou Thereza que foi procurar o vigário Romão para se confessar e que
“chegando a porta do mesmo lhe mandara entrar para sua casa, para nela se confessar,
entrando para dentro, confessava (...) o vigário pegava dela e tinha cópula carnal e que
isto fora na Quaresma próxima passada deste mesmo ano”.17
Depois de narrar o episódio, disse Thereza que sentia a necessidade de
denunciar o fato e pedia ao padre para fazê-lo. E assim deu-se. O padre Feliz Simões de
Paiva escreveu carta de uma só página, verso e reverso, na qual narrou os
acontecimentos, assinou-a e encaminhou ao Tribunal do Santo Ofício. O documento foi
protocolado, ganhou número mas o processo não foi aberto.
Manuel da Piedade,18 preto escravo do capitão Gaspar de Valadares, era natural
da Bahia onde morou algum tempo. Mais tarde, transferiu-se para Pernambuco e pouco
tempo depois fugiu do seu senhor, indo para Portugal, morando em Viana, Porto e
Lisboa. Embora cristão batizado, foi denunciado em Coimbra, como mandingueiro,
pelos escravos Antônio Criança, Luis de Lima, José Luis, Sebastião Rocha e Ventura
Ramos.
Outras9pessoas fizeram depoimentos anônimos, acusando Manuel da Piedade
de mandingueiro conhecido e curandeiro. Quando foi preso pela Inquisição, em 1730,
trazia na algibeira uma oração usual no Brasil, para livrá-lo dos perigos do mar e de
pancadas.

15
Ibidem.
16
Processo: Inquisição Lisboa nº 15.485.
17
Ibidem.
18
Processo Inquisição Lisboa nº 9.972- MF nº 4.974.

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O Tribunal do Santo Ofício acusou Manuel da Piedade de ter “trato com o


Demônio, fazendo com ele pacto implícito.” Para tanto, fazia reuniões todas as quintas-
feiras, convocando outros negros para encontrar com o diabo”. Os convocados teriam
que levar aguardente, vinho e eram proibidos de falar em Jesus.
Durante o decorrer do processo, outras denúncias chegaram à Mesa de que
Manuel enforcava pessoas de certa idade; que conversava com o diabo, que lhe aparecia
em forma de cão ou de cabra. Manuel também foi denunciado por fazer mandingas para
serem vendidas aos negros, a fim de livrá-los de ferimentos, facadas e tiros. Manuel da
Piedade também vendia cartas de jogar, com o fim de atrair mulheres para fins torpes.
A princípio, Manuel negou tudo no Tribunal. Depois de admoestado, confessou
suas culpas, alegando que andava cego, enganado pelo demônio. Considerada a sua
confissão, foi julgado e reconciliado em 1731.
Mais inocente foi o processo contra Manoelina Maria19, filha dos escravos
Antônio e Luzia, cristã batizada e analfabeta. Manoelina tinha sido escrava de João da
Costa e Silva e no momento em que se apresentou, espontaneamente, à Mesa do
Tribunal do Santo Ofício, era escrava de João Eufrazio de Figueroa, no Rio de Janeiro.
Depois foi escrava do Infante D. Francisco. Carioca, cristã batizada, Manoelina era
solteira, mas tinha dois filhos. Apresentou-se à Mesa do Tribunal do Santo Ofício com
medo dos castigos que recebia. Confessou que nunca deixou de ser católica, entretanto,
costumava fazer breves invocações ao Demônio, com fins imediatos, para ajudá-la para
fazer com rapidez e brevidade o seu serviço. Confessou também que aprendera com
uma empregada moura que trabalhava na casa do seu primeiro senhor, doutor João,
umas fórmulas feitas com cravo e outras plantas, para amansar sua patroa que tinha
ciúmes dela com o patrão. Em conseqüência, era muito mal tratada e acabou sendo
vendida e mandada para a casa de Ignácio Botelho. Quando voltou, foi maltratada pelo
seu patrão que soube do seu envolvimento com um preto da casa. Castigou-a, com
muitos açoites, deixando-a nua na frente de sete homens, dentre eles o negro com quem
estava amancebada, o seu senhor e o seu filho mais velho. Neste instante, lembrou-se do
negro escravo Domingos que falava com o diabo e se lembrou também da moura
Antônia. Desesperada com o castigo, chamou pelo demônio e o ouviu dizer que fosse
buscá-lo em Campo Grande, para tudo alcançar. Decidida, ela saiu de casa à meia noite,
encontrando a porta aberta, quando todos já estavam recolhidos. Certa de que o diabo
abrira a porta para ela, dirigiu-se à rua São José, em Campo Grande, onde viu um vulto

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grande, como um bode e, em seguida, aconteceu um enorme pé de vento. Voltando à


casa, encontrou, novamente, a porta aberta. Não conseguiu dormir, por vários dias, com
medo, e ouvindo pancadas, até que resolveu levar para a sua cabeceira uma imagem de
10
Cristo Senhor Nosso.
Durante esse depoimento, Manoelina revelou nomes de outros negros
mandigueiros e feiticeiros e confessou que passou o remédio para a negra Damásia ou
Francisca. Torturada,
com medo dos castigos, foi confessar-se no Convento de São Domingos e procurou o
Tribunal do Santo Ofício, numa segunda-feira, dia santo. Manoelina Maria foi acusada
de superstições, abjuração de leve suspeita da Fé e sentenciada com penitências
espirituais, em 1734. Considerando os inquisidores que ela se apresentara para confessar
suas culpas, foi ouvida em confissão, recebeu os sacramentos e foi instruída em tudo
que fosse necessário para salvar a sua alma.
Processos grandes e interessantes foram os dois respondidos por Domingos
Álvares20, que totalizaram 590 páginas. Negro natural da Costa da Mina e analfabeto,
Domingos era cristão batizado e escravo do senhor João Cardoso de Almeida. Morou
em Pernambuco e no Rio de Janeiro, onde era conhecido curandeiro, praticante de
calundu21 e dono de um terreiro de candomblé. Adquiriu fama e era constantemente
procurado por vários senhores, como foi o caso de Francisco Rodrigues, proprietário de
uma roça em São João de Meriti e de uma casa na cidade do Rio de Janeiro, que
contratou Domingos para tratar de seus negros doentes.
Várias testemunhas denunciaram Domingos Álvares ao Tribunal do Santo
Ofício: Maria de Jesus, Vigário Manuel da Costa Alvarenga, Antônio Viegas de
Mendonça, Manuel Martins, Maria da Silva, mulher de Domingos Pacheco e Manuel
Pereira da Fonseca. 11
Domingos Álvares foi preso em 1742 e julgado em Évora. Recebeu penas
espirituais e foi sentenciado com degredo de quatro anos para Castro- Mirim no
Algarve. Decidiram também os inquisidores que Domingos Álvares não mais entraria

19
Processo Inquisição Lisboa nº 631- MF nº 2.611..
20
Processo: Inquisição Lisboa nº 7.759. MF- 2.724.
21
A palavra Calundu veio do quimbundo, significando ente sobrenatural.f. NASCENTE, Antenor.
Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1967. 1º tomo-A-C,
p.364. “Calundu é um conjunto de festas ou celebrações de origem ou caráter religioso, acompanhadas de
canto, dança, batuque e que geralmente representavam um pedido ou consulta a divindades ou entidades
sobrenaturais.” In: HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico da língua portuguesa.

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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
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no Rio de Janeiro. Antes do cumprimento da pena deveria se apresentar na Inquisição


de Coimbra, para receber as ordens necessárias ao seu degredo.
Domingos Alvarez não cumpriu o que prometeu e continuou a praticar curas,
rezas e feitiços que alegou ter aprendido no Brasil. Nessas práticas, usava raízes, ervas,
galinha preta, fumo branco, cordão de São Francisco, moedas de dez réis, verônicas,
peixes, língua de vaca, pedra para curar dores, sangue dos braços e dos artelhos dos
consulentes, sempre murmurando palavras ininteligíveis. Tratou com sucesso de um
marinheiro, da mulher do estanqueiro de Portimão e de outra mulher em Silves.
Inteligente, profissionalizou-se também em procurar tesouros mouros, ajudado por seus
dons sobrenaturais.
Por tudo isso, novamente a Inquisição o pegou. Foi Domingos Álvares preso
em Silves em 2 de agosto de 1747, acusado de ter pacto e amizade com o demônio,
além de ser considerado diminuto, impenitente e herege
Na prisão, primeiramente, Domingos Alvarez negou tudo. Depois, confessou
que fazia remédios com ervas e raízes, conforme os achaques dos doentes. Afirmou que
as pessoas melhoravam por conta dos remédios, não por conta dos feitiços. Atribuía aos
remédios a melhora dos doentes, não à sua pessoa, que não tinha virtude alguma para
curar, nem aprendera Medicina, mas que em sua terra se curava muita gente com a
aplicação de certas raízes e deu exemplos delas. E disse que tinha “confessado toda a
verdade, porque a causa de ter feito curas e rezas foi muita pobreza e a grande fome em
que se viu.”22
Em 4 de setembro de 1749 Domingos Alvarez foi julgado e reconciliado pela
Inquisição.
O uso de bolsas de mandinga levou muitos outros negros à Mesa da Inquisição.
O escravo Antônio Mascarenhas23 foi, em 1742, denunciado, por inúmeras pessoas,
como mandingueiro. Impelido a se apresentar, Antônio confessou as práticas de
feitiçarias e superstições, informando que teve conhecimento do uso das bolsas de
mandinga, quando morou na cidade do Rio de Janeiro e era escravo do senhor
Fernandes de Aguiar. 12
Nascido em Angola, Antônio sabia ler e escrever, era batizado e crismado.
Ainda criança mudou-se para o Funchal, na Ilha da Madeira, onde conheceu o estudante

22
Ibidem.
23
Processo Inquisição Lisboa nº 254. MF- 2.591.

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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
REDE-A: vol.1, nº2, jul.-dez. 2011.

Antônio da Silva, com quem trocou informações acerca do uso das bolsas. Com o
estudante aprendeu que as cestas de mandinga protegiam de ferimentos e livrava de
ferros e do fogo. Também foi informado que para a mandinga ficar forte era necessário
colocá-la na mesa do altar da igreja, entre a toalha e a pedra d’ara.
Acusado de feitiçaria e de ter trato com o demônio, Antônio Mascarenhas foi
preso pelo Tribunal do Santo Ofício. Inúmeras testemunhas foram ouvidas em seu
esbranquiçado e repetitivo processo, de difícil leitura. Foi açoitado e, em 17 de agosto
de 1743, Antônio foi colocado na Casa de Tormenta.
O Tribunal considerou-o herege, mas reconheceu nele sinais de
arrependimento. Por isso, foi reconciliado.
Nesse mesmo ano ouviu sua sentença: rezar uma semana o rosário à Virgem
Nossa Senhora; cinco padres-nossos e cinco ave-marias, cada sexta feira, em honra das
Chagas de Cristo; degredo de cinco anos para as galés e proibição de voltar ao Reino e à
Ilha da Madeira.
24
A mesma acusação sofreu o negro forro José Martins , de 26 anos de idade.
Toda a sua família era de escravos: seus pai, Leandro Martins, sua mãe Josefa Nunes e
sua mulher Luísa. Nascido e morador em Riachão, na Bahia, José foi preso pelo
Tribunal em 1752. Seu processo durou quatro anos. Em 1756, recebeu a sentença:
açoitado publicamente e degredo de cinco anos para Miranda, além de receber
penitências espirituais e cárcere a arbítrio
Por crime de bigamia, aos 31 anos de idade, foi preso Clemente da Fonseca da
Silva,25 também conhecido com o nome de Antônio da Fonseca. De profissão alfaiate,
era pardo, natural de Sabará e morador nas minas de Paracatu, em Minas Gerais. Sua
genealogia registra que seus pais foram os cariocas Antônio da Fonseca Barcelos,
senhor de engenho e Bárbara Cabral, escrava, tendo como avô paterno Gregório da
Fonseca e a avó materna Joana Gonçalves da Silva. Casou-se pela primeira vez com
Maria Teresa e a segunda vez com Florência Pereira da Silva.
Julgado pelo Tribunal do Santo Ofício, Clemente da Fonseca e Silva foi
encarcerado em 1757 e sentenciado em 1761, em auto-de-fé realizado nos claustros do
Convento de São Domingos, em Lisboa, recebendo as seguintes sentenças: açoites pelas
ruas da cidade, degredo de seis anos para as galés e penas espirituais, além do
pagamento das custas do processo.13

24
Processo: Inquisição Lisboa nº508.
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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
REDE-A: vol.1, nº2, jul.-dez. 2011.

Processo maior, com mais de mil páginas, sofreu Antonio de Carvalho Serra,26
25 anos de idade, pardo livre, filho de Manoel Carvalho Serra, homem branco, lavrador
de ouro em Serro Frio e de Ana Barbosa, preta forra. Natural de Brumado, em Minas
Gerais, Antônio vivia como sapateiro e lavrador na cidade de Serro Frio, nas Minas,
onde também atendia pelo apelido de “Requibimba”. Antonio era neto de escravo de
Angola e era casado com Florência Costa. Foi acusado de roubar hóstias e, por isso, foi
preso em 1757, gozando de perfeitas condições mentais, portador de atestado de juízo e
capacidade.
Após dois anos de prisão, Antônio começou a se queixar de dificuldade para
escrever e, pouco depois, adquiriu total loucura “nascida da desesperação em que pôs o
seu gênio áspero e ardente vendo-se preso e doente” 27.
Foi Antônio removido para o Hospital de Todos os Santos, para loucos, em
1761 e, no ano seguinte, faleceu ignorando-se o seu estado.
Luiz Pereira de Almeida28, menor de 25 anos, analfabeto, era casado com
Maria Ferreira e escravo de D. Antonia Pereira de Almeida. Natural da Vila de Jacobina
e morador no Sítio do Riacho, na Bahia, Luiz era filho de João Correa, escravo do
senhor João Rodrigues Santiago e de Agostinha Pereira, preta forra, natural do Congo.
Apesar da superstição, o negro Luiz era batizado e praticante da fé católica.
Assistia regularmente às missas, comungava, ouvia as pregações e demais obras de
cristão.
Em 1756, Luiz Pereira de Almeida foi preso acusado de usar bolsas de
mandinga, com partículas sagradas, por oito testemunhas. No mesmo ano foi condenado
pelo Tribunal do Santo Ofício a degredo por dois anos em Lamego, apesar de ter
denunciado, minuciosamente, Joseph Martins e Mateus Pereira Machado.
Solteiro, filho de Joseph e Jacinta de Andrade, Mateus Pereira Machado29 era
natural de Cachoeira, e morador no Sítio Riachão. Nasceu em São José da Pereroca,
Vila da Cachoeira, na Bahia, e era escravo do senhor Veríssimo Pereira Machado.
Antes de ser preso, viveu em Portugal, nos sertões de Santo Antônio de Jacobina e na
Bahia, sendo conhecido como Mateus de Airó Nogueira de Andrade.14

25
Processo: Inquisição Lisboa nº 8.662.
26
Processo Inquisição Lisboa nº 1.078.
27
Ibidem.
28
Processo Inquisição Lisboa nº 1.134-. MF- 4. 971.
29
Processo Inquisição Lisboa nº 1.131.
.
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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
REDE-A: vol.1, nº2, jul.-dez. 2011.

O preso Luiz Pereira de Almeida informou ao Tribunal que vira o senhor


Veríssimo chamar seu escravo Mateus para levar umas camisas às minas de Canavieiras
e, nessa ocasião, observou que ele portava uma bolsa de couro que continha
“sanguinho”, pedra de ara e papeis de processos, com blasfêmias. Informou que todo o
material foi entregue ao vigário. Outra testemunha, João Álvares Lima, informou que
Mateus, quando recebia a comunhão, sempre tirava uma parte da hóstia sagrada e
guardava na bolsa de mandinga. Entretanto, nos depoimentos que fez, Mateus Pereira
Machado declarou que era católico, cristão batizado e crismado, tendo como padrinhos
Catarina de Sá, Matias Cavaleiro e a sua mulher.
Como religioso, sabia rezar o padre-nosso, ave-maria, salve-rainha e conhecia
os Mandamentos da lei de Deus. Quanto ao uso de bolsas de mandinga, declarou que as
portava com pedra de rio, não de altar, para fazer curas. Nada sensibilizou o Tribunal do
Santo Ofício que, em 24 de julho de 1756, no Colégio da Purificação, condenou Mateus
Pereira Machado a pena de quatro anos de reclusão.

Consta do seu processo, uma petição que o preso Mateus fez solicitando fosse
perdoado o seu degredo para Castro Mirim.
O carpinteiro pardo José Fernandes30 foi acusado de superstição. Natural e
morador na
Bahia, José era viúvo de Isabel da Conceição e tinha 26 anos quando foi preso, em
1760.
Após um ano de prisão, foi dada a sua sentença, em 20 de setembro de 1761:
açoitado pelas ruas públicas da cidade e degredo de cinco anos para as galés.
Também roubava hóstias e pequenas partículas de pedra da sacristia, o celeiro
pardo Salvador de Carvalho Serra31. Cristão batizado e crismado, solteiro, natural de
Brumado e morador em Mariana, Salvador de Carvalho Serra fazia o serviço durante à
noite e de madrugada. Ficava com uma parte do material surrupiado e dava outra parte
ao amigo Antônio Correa. Preso em 1761, foi julgado pela Inquisição, que o instruiu
nos mistérios da Santa Fé Católica. Recebeu penas espirituais e foi obrigado ao
pagamento das custas do processo.15

30
Processo: Inquisição Lisboa nº 8.909
31
Processo: Inquisição Lisboa nº 4684.
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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
REDE-A: vol.1, nº2, jul.-dez. 2011.

A africana Rosa Egipciana,32 nascida Rosa Maria, natural da Costa da Mina, da


nação courana, nasceu em 1719. Era uma mulher alta, desenvolta, negra retinta. Aos
seis anos de idade veio para o Brasil, desembarcando, na cidade do Rio de Janeiro,
juntamente com uma leva de 5.700 escravos, após cinqüenta dias de viagem. Foi logo
posta à venda no comércio de escravos que se fazia na Rua Direita, atual Primeiro de
Março, no centro do Rio de Janeiro. Foi comprada pelo senhor José de Souza de
Azevedo, que a mandou batizar, na Igreja da Candelária, com o nome de Rosa.
Encarregada de pequenos serviços domésticos, a escrava viveu com o senhor José
durante oito anos. Aos 14 anos de idade, foi Rosa vendida para as Minas, para Dona
Ana Garcês de Morais. Viajou por 12 dias, fazendo o trajeto do Caminho Novo e
chegou àquela Capitania no auge da produção do ouro. Foi morar no Infeccionado, um
pequeno arraial de mineiros, situado a menos de quatro léguas de Mariana. Aí viveu
durante dezoito anos, quinze dos quais, trabalhando como prostituta, de acordo com o
seu próprio depoimento à Mesa do Tribunal da Inquisição. Durante esse tempo,
conseguiu amealhar dinheiro e jóias. Posteriormente, foi comprada por Dona Maria
Teresa de Jesus.
Vivendo sempre nas comarcas de Ouro Preto e do Rio das Mortes, em 1748,
com 30 anos de idade, Rosa adoeceu. Acometida de incontrolável sonolência, Rosa
desfalecia e tantas vezes caiu que lhe acarretou um inchaço na região do estômago.
Nessa ocasião surgiram as suas primeiras manifestações diabólicas, suas primeiras
visões. Era acometida de ataques, como o que lhe acometeu na missa durante a pregação
do capuchinho frei Luis de Perugia, da matriz do Pilar em São João Del Rei. Rosa,
irada, gritava como um diabo Nesta ocasião também foi acometida de estranha doença.
Vários foram os diagnósticos: tumor no ventre, epilepsia, mal lunático.16
Daí em diante a escrava passou a contar com a proteção do padre presbítero
Francisco Gonçalves Lopes, que a comprou para dar-lhe alforria. Foi o religioso quem
lhe ministrou os primeiros exorcismos e a introduziu no seio da Igreja Católica.

32
Devo o interesse maior por essa escrava ao antropólogo Luiz Mott que, baseado no processo
inquisitorial da negra, escreveu obra biográfica completa intitulada: Rosa Egipcíaca - uma santa africana
no Brasil. Dela retirei os primeiros dados para essa síntese, completada à vista do Processo : Inquisição
Lisboa nº 9.065.
33
Ibidem.
.

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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
REDE-A: vol.1, nº2, jul.-dez. 2011.

Apesar do assíduo tratamento do padre, Rosa somente piorava. Os ataques


eram mais frequentes, fazendo com a negra tombasse, em convulsões, clamando pelo
Demônio. Em consequência, passou a ter mais pessoas tratando dela: a negra Leandra, o
português Antônio Tavares e sua ex- proprietária Dona Maria Teresa de Jesus.
No ano seguinte, Rosa mudou-se para a Comarca do Rio das Mortes,
acompanhada da amiga, negra Leandra, e foi residir com a família do fazendeiro Pedro
Rois Arvelos, sobrinho do padre Francisco, que morava em frente à casa da família do
poeta Santa Rita Durão. Ali permaneceu durante um ano, desfrutando de um convívio
fraterno, alimentado por laços de forte amizade que a família lhe dedicava. Entretanto,
nas ruas, era Rosa hostilizada, conhecida como feiticeira e mulher de má fama. Nesse
mesmo ano, foi presa por desacato ao Pregador da Igreja Nossa Senhora do Pilar.
Permaneceu na Cadeia, hoje sede do Museu de Arte Sacra, em São João Del Rei.
Recebeu como castigo, torturas e açoites e foi amarrada ao pelourinho, na praça pública,
assistida por muitos curiosos. Desfalecida, foi socorrida pelo seu antigo proprietário,
Arvelos, e levada à casa do padre Francisco, que estava aquartelado em Passagem a uma
légua de Mariana. Na casa de seu protetor, Rosa morou quatro meses para convalescer,
ficando, entretanto, paralítica do lado direito. Depois de curada, Rosa foi hospedada em
casa de Dona Escolástica, que residia próximo a Caeté.333
Rosa insistia sempre, junto ao seu protetor, o padre Francisco, para se
mudarem para o Rio de Janeiro. Assim, aos 32 anos de idade, Rosa Egipcíaca fará
novamente o caminho de São João Del Rei para o Rio de Janeiro, agora a cavalo.
Instalou-se próximo à Igreja Nossa Senhora da Lapa, seu primeiro contato religioso na
cidade. Nessa igreja ouvia missa, e dedicava-se à devoção do Menino Jesus.
A partir de 1751, a negra, aconselhada por uma voz transcedental, que saía do
34
Cristo crucificado, mudou seu nome para Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz em
homenagem a sua padroeira, Santa Maria Egipsiaca.
De 1752 a 1754, Rosa viveu feliz, fixando residência no recolhimento de Dona
Maria de Pinho, defronte à Igreja de Santa Rita, matriz da freguesia. Meses depois, já
estava frequentando o Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca, à procura do
famoso rei Agostinho de São José, que se tornou seu orientador espiritual, até 1758. Sob
a proteção e guia dos frades, tornou-se Rosa uma exemplar franciscana, comungando
todas as terças, sextas e domingos, assistindo às missas, nas igrejas de Santo Antônio e
da Candelária.

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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
REDE-A: vol.1, nº2, jul.-dez. 2011.

No segundo semestre deste mesmo ano, Rosa foi viver, primeiramente, na Rua
da Ajuda, em casa da viúva Maria Tecla de Jesus e, posteriormente, na própria casa do
padre Francisco, um dos mais ferrenhos batalhadores pela beatificação da negra. Já
alfabetizada pelos seus dois mestres, Maria Teresa do Sacramento e José Gomes,
durante esse tempo, Rosa escreveu, ou ditou muitas cartas e depoimentos, descrevendo
suas visões.
Segundo Luis Mott, Rosa fundou, junto à igreja de Nossa Senhora do Parto, um
recolhimento para mulheres negras e ex-prostitutas. Entretanto, seu nome como
fundadora foi omitido pelos historiadores que se dedicaram à história do Rio de Janeiro.
Enquanto ali viveu, sua cela foi frequentada pelo padre Francisco, com quem já vivia
amancebada desde as Minas Gerais, segundo voz corrente na Capitania.
Aos 44 anos de idade, Rosa Egipcíaca foi denunciada ao Tribunal da
Inquisição, pelo próprio representante do Tribunal no Rio de Janeiro, padre Antônio
José dos Reis Pereira de Castro. Acusada de feitiçaria e de auto imputar-se santidade,
Rosa foi presa em fevereiro de 1762, levada para Lisboa, onde enfrentou as sessões do
inquérito, iniciadas em 26 de janeiro. Ficou um ano encarcerada no aljube e contra ela
depuseram dezenove pessoas. Somente as duas últimas testemunhas, as cozinheiras do
17
Recolhimento do Parto, procuraram eximir ou atenuar as culpas da negra.
Em seguida, foi Rosa transferida para os “Cárceres Secretos” e encaminhada
para a sala de audiências. Logo nos primeiros depoimentos, confessou seus dons, não
omitindo nenhuma de suas experiências místicas e fixando o ano de 1760, como o mais
generoso para as suas “visões beatíficas.”
Entre os anos de 1764 e 1765, seu processo ficou parado. A última referência
no documento data de 4 de junho de 1765, quando Rosa foi chamada para a sexta
audiência. Daí em diante foi o processo interrompido, não constando dele a sentença
final atribuída a ré Rosa Egipcíaca.
O sacerdote Francisco de Paredes,35 meio cristão-novo, homem pardo, foi
acusado do crime de judaísmo e preso em 1716 aos 40 anos de idade. Natural e morador
do Rio de Janeiro, Francisco era filho de Gregório Brandão, alferes de ordenança, e de
Leonor da Costa, mulher parda.18

34
O autor Luis Mott, na obra supracitada, faz um minucioso levantamento do nome adotado pela escrava,
reportando-se à história religiosa, desde o século VI.
35
Processo: Inquisição Lisboa nº 8.198 e MF- 2.671.
36
Processo: Inquisição Lisboa nº 252.
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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
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O processo durou muito tempo e somente em 1780, Francisco de Paredes foi


julgado e recebeu a seguinte sentença: ir ao auto de fé, cárcere e hábito penitencial
perpétuo sem remissão; degredado para sempre de suas ordens; degredo para as galés
por cinco anos e penitências espirituais.
Todas essas relações da Inquisição com mulheres de outras etnias, negras,
mestiças, ciganas e índias são assuntos nebulosos em nossa historiografia, merecendo
pesquisa profunda, no tocante ao gênero, à política e aos processos de aculturação
sofridos.
Singular é o processo de Luzia Pinto36, preta forra de Angola, moradora na
Vila de Sabará, junto à Capela Nossa Senhora da Soledade. Acusada de bruxaria, Luzia
Pinta foi presa em 1742, pelo Santo Ofício da Inquisição. Era filha de Manoel da
Graça, natural de Angola e de Maria da Conceição, natural do Congo. Tinha dois
irmãos: João e Angela. Jovem, veio de Angola para a Bahia de onde seguiu para Minas.
Nesta Capitania dava consultas, curava doentes, como foi o caso de Luis Coelho
Ferreira que, desprezando a Medicina, procurou a africana para ser medicado.36
As pessoas cercavam-na, enquanto os atabaques eram tocados. Dançando,
vinham-lhe “os ventos de adivinhar” e o dom de curar os “defeitos”. Saltando como
cabra, Luzia fazia trejeitos, bramidos e algazarras. Uma das testemunhas informou que a
preta forra praticava essas danças com cascavéis enroladas nas pernas e invocando o
demônio.
Tudo começara quando tinha 12 anos e morava em Angola, na casa de seu amo
Manoel Lopes de Barros.
Para ilustrar contava que um dia, saindo pela manhã para o quintal,
repentinamente, perdeu os sentidos. Foi levada até a margem de um grande rio, onde
encontrou uma velha que lhe perguntou para onde ia. Continuando o caminho,
encontrou mais duas velhas e uma bifurcação indicando um caminho sujo e um caminho
limpo. As velhas mandaram-na seguir pelo caminho sujo, onde encontrou um velho
com vários meninos. Contando esses fatos ao clérigo de Angola, Manoel João, este lhe
disse que o velho era Deus.
Considerava-se cristã, tendo sido batizada e crismada na Igreja Nossa Senhora
da Conceição. Seu padrinho foi um negro chamado João, mas de sua madrinha não

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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
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sabia o nome. Comungava e praticava todas as obras de cristã . Afirmava que seus feitos
e palavras provinham de Deus.19
Luzia depôs que não tinha pacto com o demônio, não o invocara, nem nunca o
tinha visto em parte alguma, que Deus sabia estar dizendo a verdade. Articulava suas
rezas para atingir o objetivo das curas, com a prática de pagamento aos santos, pedindo
“aos enfermos duas oitavas de ouro, as quais repartia para Santo Antônio e São
Gonçalo”.
Vale lembrar que São Gonçalo era o padroeiro dos quilombolas. O Instituto
Histórico e Geográfico de Niterói, em pesquisas recentes, constatou vestígios da
devoção desse santo nos quilombos de Campos; de São Gonçalo, no Estado do Rio de
Janeiro.
Cumpridas as suas obrigações com os santos, Luzia ainda teve de responder a
inúmeras e repetidas perguntas. Após um ano de prisão, foi-lhe dado tormento,
amarrada no potro. 37
Durante o ano em que transcorreu o seu processo, a preta forra confundiu os
inquisidores ao afirmar sempre sua crença em Deus, que lhe dera os dons sobrenaturais,
para exercer o seu ofício de curandeira.
Longe de omitir suas opiniões ou de responder evasivamente, Luzia Pinto
negou sempre que tivesse algum pacto com o demônio. Pelo contrário, disse que tudo
obrava por destino que Deus lhe deu. Afirmava que suas aptidões eram virtudes com
que Deus a dotara.
Os inquisidores consideraram que a “ré” vivia apartada da fé católica e que
firmara um pacto com o demônio, fazendo curas supersticiosas e adivinhando coisas
ocultas.
A tarefa de condenar Luzia Pinto demandou 127 páginas de interrogatórios,
depoimentos, pareceres inquisitoriais sobre suas crenças e curas.
No convento de Santo Domingos, em ato público, ouviu Luzia Pinto sua
sentença: a condenação a quatro anos de degredo e a rezar cinco padres- nossos e cinco
ave- marias todas as sextas- feiras, a confessar-se na Páscoa, no Natal, na Ressurreição e

37
Potro, segundo descrição de Lúcio de Azevedo era “espécie de cama de ripas onde, ligado o paciente
com diferentes voltas de corda nas pernas e braços, se apertavam aquelas com um arrocho, cortando-lhes
as carnes”. Uma das vítimas deste tormento foi o jornalista Hipólito da Costa, que afirmou serem as
cordas causas de violentas compressões no corpo inteiro.

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FERNANDES, Neusa. Os negros e a Inquisição.
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na Ascensão de Nossa Senhora. Havia, ainda, a ameaça de penas mais pesadas, se


reincidisse no crime. 38
Tendo vivido na África (Angola) e no Brasil (Bahia e Minas Gerais), Luzia
realizou uma complexa rede de cruzamentos culturais, mesclando crenças africanas com
a religião católica, trazendo e levando elementos de um universo cultural para outro.
E o processo não abriu espaço para considerar as diferenças étnicas nem para
investigar o sincretismo religioso. Luzia, na verdade, cruzou duas devoções, praticando
o catolicismo revestido por suas crenças africanas.20
É aos “santos” do terreiro que se oferecem preciosas prendas. Da mesma
forma, no catolicismo, os devotos presenteiam seus santos milagreiros. Introduzindo o
culto e a fé nos santos milagreiros do catolicismo no ritual religioso que trouxe do berço
africano, Luzia Pinto praticou um novo padrão cultural. Rezava aos santos e lhes
oferecia pagamentos, como se estivesse obedecendo a uma voz divina de comando.
Acreditava estar agindo em nome de uma religiosidade colonizadora. Era a voz do Deus
do colonizador que guiava sua ação herética.

Fontes Manuscritas
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Secção de Manuscritos, 18, 2, 6. pág.91. “Do
Mestre de Campo Ignácio Correia Pamplona sobre a Expedição do Campo Grande, Cuieté e
Abaeté, termo de Paracatu. De todos os sujeitos que escreveram sobre esta matéria”, 1769.,
Processos Inquisição Lisboa nºs : 210, 212, 213, 218, 252, 254, 258, 508, 631, 1.078,
1.131, 1.134, 1.377, 1.894, 2.279, 2.595, 2.691, 2.704, 2.706, 3.025, 3.382, 3.808, 4.684, 4944,
6.478, 7.759, 8.198, 8.284, 8.662, 8.862, 8.909, 9.065, 9.368, 9.972, 9.985, 10.068, 10.631,
10.874, 11.163, 11.774, 11.786, 11.874, 13.264, 13.356, 15.485, 15.559, 16.722,

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38
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