Sei sulla pagina 1di 20

SOBRE O CONCEITO DE OBJETO NO TRACTATUS LOGICO-PHILOSOPHICUS

1
E NAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS DE WITTGENSTEIN

César Romero Fagundes de Souza*


e-mail: caesarsouza@gmail.com

Resumo: O objetivo do trabalho é investigar como Wittgenstein utiliza o termo 'objeto', tanto no Tractatus
como nas Investigações, a fim de explicar a possibilidade de determinação do sentido da proposição e, com
este, a possibilidade da verdade.

No T.L2., através da investigação acerca da natureza da proposição -enquanto representação ou


figuração dos fatos, e, portanto, enquanto expressão simbólica do nosso pensamento- Wittgenstein
pretende ''traçar um limite para o pensar''3; i.e., pretende, de dentro da própria linguagem,
estabelecer o limite para o uso de proposições. E este limite, segundo ele, é a possibilidade de nos
expressarmos, por meio delas, com sentido. Conforme Wittgenstein, tudo o que ''estiver além do
limite será simplesmente um contra-senso''4.
Ao identificar, portanto, o pensamento com sua possibilidade de expressão -a proposição
com sentido-, Wittgenstein estabelece, ao mesmo tempo: a) o limite da proposição: seu sentido; b) o
limite do pensamento: a proposição com sentido; e c) o limite da nossa linguagem: a possibilidade
de expressarmos nosso pensamento através de proposições com sentido.
Nas I.F., seu propósito é investigar os tipos de afirmações (proposições) que fazemos sobre
os fenômenos, i.e., investigar o modo como os fenômenos podem ser enunciados, ou, ainda,
conforme Barbosa Filho, investigar os múltiplos ''modos de dizer o ser''5. Neste sentido,
Wittgenstein identifica sua investigação com uma ''reflexão gramatical'', que tem por finalidade,
basicamente, dissolver mal-entendidos decorrentes do uso equivocado de palavras, provocados,
''entre outras coisas, por certas analogias entre as formas de expressão em diversas áreas de nossa
linguagem''6.
Para Wittgenstein, podemos resolver mal-entendidos concernentes à linguagem, tornando
nossas expressões mais exatas. E essa tarefa encaminha-nos, tal como no T.L., à pergunta sobre ''a

1
Trabalho escrito em 1995.
*
Doutorando em Filosofia, PUCRS.
2
Com o intuito de simplificar as referências no texto às obras de Wittgenstein, utilizarei aqui as seguintes
abreviações: para a tradução do Tractatus Logico-Philosophicus do Prof. Luiz Henrique Lopes dos Santos:
T.L.; para a tradução portuguesa das Investigações Filosóficas de Wittgenstein: I.F.; para a tradução
portuguesa de The Blue Book: L.A.; para a tradução portuguesa de The Brown Book: L.M..
3
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus, trad. Prof. Luiz Henrique Lopes dos Santos,
SP, edUSP, 1993, p. 131.
4
Ibid., loc.cit.
5
BARBOSA FILHO, Balthazar, Nota Sobre o Conceito de Jogo-de-Linguagem nas ''Investigações'' de
Wittgenstein, SP, ITA-Humanidades, v. 9, 1973, p. 94-5.
6
WITTGENSTEIN, L., Investigações Filosóficas, trad. M.S. Lourenço, Lisboa, Gulbenkian, 1987, # 90, p.
249.
2
essência da linguagem, da proposição, do pensamento'' 7. Para Wittgenstein, essa essência da
linguagem pela qual se pergunta é ''algo que se situa no interior, algo que vemos quando
penetramos a coisa, algo que cabe à análise -leia-se: ''análise da linguagem, da proposição''
desenterrar''8.
Conforme Wittgenstein, o modo de apresentar o problema com o qual sua investigação se
ocupa é o seguinte: ''A essência [da linguagem] nos é oculta'' 9. E, para ele, é necessário que se
explique de uma vez por todas o que é a linguagem e a proposição. É isto que as I.F. procuram
fazer.
Como podemos ver, não há, propriamente falando, diferença evidente entre os objetivos de
Wittgenstein no T.L. e nas I.F., pois em ambos ele pretende, ao fim e ao cabo, determinar a essência
da proposição e da linguagem, e, com elas, a essência do pensamento e do mundo.
Nessa tarefa, é importante, para o T.L., a noção de substância e o que a fundamenta, a noção
de objeto. Para Wittgenstein, o fato de o mundo ter uma substância permite com que possamos
determinar absolutamente o sentido de nossas proposições. Do contrário, se com os nomes na
posição de sujeito não pudéssemos nomear imediatamente um objeto determinado e único, a
verdade de nossas proposições poderia estar na dependência da verdade de outra proposição, e
assim por diante. Em outros termos, a possibilidade da verdade repousaria, no T.L., na possibilidade
da determinação do sentido de nossas proposições, i.e., na possibilidade de determinarmos, por
meio de nomes, objetos simples.
Ao passarmos do T.L. ao L.A. e ao L.M. e destes às I.F., podemos perguntar o seguinte: O
conceito de objeto simples das I.F. é equivalente ao do T.L.? Em que medida, segundo às I.F., o
nome simples depende da existência do objeto simples? Em outros termos, estamos perguntando se,
nas I.F., a determinação do sentido da proposição depende, como no T.L., do fato de os nomes
simples terem de ser imediatamente referidos a objetos simples. Caso contrário, os nomes, na
ausência dos objetos, podem nomear, e, portanto, as proposições podem ter sentido
independentemente da referência imediata a objetos.
Pois bem, se as condições de possibilidade de determinação do sentido da proposição,
segundo as I.F., não estão necessariamente vinculadas à necessidade de os nomes simples terem de
se referir imediatamente a objetos simples na realidade, então: ou a condição de possibilidade da
determinação do sentido da proposição não depende, como no T.L., de que o mundo tenha uma
substância, e de que os objetos a que os nomes se refiram existam de fato; ou o conceito de objeto,
e, por conseguinte, de substância, nas I.F., não é o mesmo do T.L..
Se estas hipóteses se confirmam, as condições de possibilidade da determinação do sentido
das proposições, assim como a possibilidade de determinação de sua verdade ou falsidade, nas I.F.,
não dependem necessariamente da existência dos objetos a que se referem. Em outros termos, o
significado dos nomes em proposições e o sentido destas podem ser independentes do fato de existir
ou não aquilo a que se referem o que não equivale a dizer que não dependem daquilo que lhes
confere o sentido.
Repetindo: ou, nas I.F., a possibilidade de determinação do sentido da proposição não
depende da existência do objeto i.e., não depende de que os nomes que a compõem tenham de
referir-se imediatamente a objetos na realidade, ou, ao contrário, os nomes se referem

7
Ibid., # 92.
8
WITTGENSTEIN, L., Investigações Filosóficas, trad. de Marcos G. Montagnoli, Vozes, Petrópolis, 1994,
# 92.
9
Ibid., loc.cit.
3
imediatamente a objetos na proposição, mas o objeto do qual trata as I.F. não tem o mesmo sentido
daquele de que trata o T.L..
O meu propósito aqui é investigar como Wittgenstein utiliza o termo 'objeto' nesses
trabalhos a fim de explicar a possibilidade de determinação do sentido da proposição e, com este, a
possibilidade da verdade. O que está em questão aqui, portanto, é o conceito de objeto no T.L. e nas
I.F..
4

-I-

1. Para compreendermos o que é a proposição e o que lhe confere o sentido, segundo o T.L.,
devemos, antes, nos ocupar com a sua contrapartida, o fato. Para Wittgenstein, ''O mundo é a
totalidade dos fatos'' (1.1)1, e o fato, por sua vez, é tudo o que ocorre, ''é tudo o que é o caso''. O
fato ''é a existência de estados de coisas [objetos]'' (2). E o estado de coisas ''é uma ligação'' de
coisas (2.01). As coisas têm em si a possibilidade de ocorrerem em estados de coisas (2.012). Está
na própria coisa, como uma propriedade essencial a ela, a possibilidade de se encontrar ligada a
outra em um estado de coisas. Portanto, é necessário para uma coisa que ela possa ligar-se a outras.
Em outros termos, é necessário à coisa que ela ocorra em ligação com outras coisas diferentes dela.
Isso inclui o próprio espaço em que ela ocorre, pois se ''posso pensar no objeto na [ligação] do
estado de coisas, não posso pensar nele fora da possibilidade dessa [ligação]'' (2.0121).
Ora, o que significa dizer que ''está na coisa a possibilidade de ocorrer em estados de
coisas''? Significa que: ''Se conheço o objeto, conheço também todas as possibilidades de seu
aparecimento em estados de coisas. (Cada uma dessas possibildades deve estar na natureza do
objeto)'' (2.0123). Em outras palavras, se conheço um objeto, e se este objeto me for dado, ao ser-
me dado este objeto, são dadas também todas as suas possiblidades lógicas de combinação com
outros, i.e., são-me dadas as suas propriedades internas, que me permitem compatibilizá-lo com
outros objetos, com quais e em quais situações. Em suma, ao me ser dado um objeto, com ele me
são dadas também todas as situações em que ele pode ocorrer em ligação com outros objetos, i.e.,
todos os estados de coisas em que ele pode ocorrer (2.01231, 2.0124, 2.014); e assim com a
pluralidade dos objetos.
Essa propriedade de ocorrer em estados de coisas, i.e., de ocorrer em ligação com outros
objetos no espaço das ligações possíveis, é sua propriedade fundamental, pois ela diz o que o objeto
é essencialmente, dá a sua estrutura e a sua forma (2.0141). Ela é a essência do objeto. Ora,
conforme Wittgenstein, se o mundo é a totalidade dos fatos, e se os fatos são a existência de estados
de coisas, e se os estados de coisas são os objetos considerados em uma dada ligação, e se esta
ligação é a essência dos objetos -sua forma, sua estrutura-, então os ''objetos constituem a substância
do mundo'', sua essência, sua estrutura, sua forma (2.021)2. Mas em que medida os objetos
constituem a substância do mundo? Por que o mundo tem que ter uma substância?
Antes de respondermos, vejamos o seguinte: os objetos, considerados em sua ocorrência em
estados de coisas, aparecem sempre ligados, em conexão com outros ou com o próprio espaço que
ocupam; nunca absolutamente isolados. O conjunto das possibilidades de estados de coisas,
existentes ou não, é o espaço lógico (2.11). O estado de coisas é o modo como os objetos se
encontram conectados no momento de sua consideração, é a configuração atual dos objetos naquele
estado de coisas.
Assim como o objeto, que possui uma estrutura que determina seu modo de aparecimento
em estados de coisas, estes, por sua vez, também possuem uma forma, uma estrutura. A ''maneira
como os objetos se vinculam no estado de coisas é a estrutura do estado de coisas'' (2.032). Ora, se
o fato é o estado de coisas existente, então, a ''estrutura do fato consiste nas estruturas dos estados
de coisas'' (2.034).
2. Para Wittgenstein, nós ''figuramos os fatos'' (2.1). Mas o que é figurar um fato? O que é
uma figuração? ''A figuração é um modelo da realidade'' (2.12). E a realidade, para Wittgenstein, é o
mundo (2.063). Uma figuração, para afigurar a realidade, deve possuir algumas propriedades em

1
Conforme a numeração dos aforismos do T.L..
2
Cf Hintikka, ''No Tractatus, as formas de objetos regulam a maneira como esses objetos podem se
combinar entre si. A forma de um objeto é sua verdade a priori [...] as formas lógicas de entidades simples
(de diferentes tipos) determinam a maneira pela qual elas podem se combinar entre si, o que descobrimos ser
um dos dogmas mais essenciais do Tractatus... Wittgenstein julga que ... a possibilidade de todas as formas
lógicas está inclusa nos objetos. Tudo o que precisamos para apreender todas as formas lógicas é apreender
os objetos.'' . HINTIKKA, J., Uma Investigação Sobre Wittgenstein, trad. Enid Abreu Dobranszky, SP,
Papirus, 1994, pp. 85-9.
5

comum com ela, a saber: a) cada elemento da figuração deve corresponder a um objeto da
realidade; b) a forma dos elementos da figuração sua multiplicidade lógica de combinações deve
corresponder à forma dos objetos figurados; c) a forma dos elementos na figuração deve
corresponder à forma dos objetos no fato; a estrutura da figuração deve corresponder à estrutura do
fato; ou seja, a figuração, ao afigurar, deve afigurar também a forma do fato, sua estrutura. Pois, que
''os elementos da figuração estejam uns para os outros de uma determinada maneira representa que
as coisas assim estão umas para as outras'' (2.15). Nesse sentido, a ''figuração é [também] um fato''
(2.141).
A figuração, portanto, possui uma estrutura, e a possibilidade desta estrutura é a sua forma
de afigurar, é o modo como ela figura os objetos da realidade (2.15). ''A forma de afiguração
(Abbildung) é a possibilidade de que as coisas estejam umas para as outras tal como os elementos
da figuração (Bildes)'' (2.151). O que a figuração não pode afigurar, porém, é a sua própria forma.
Conforme Wittgenstein, ''ela a exibe'' (2.172).
Resumindo: até aqui temos as seguintes teses: 1 - a forma da afiguração (Abbildung) é
idêntica à forma da realidade que ela afigura; 2 - a forma da figuração (Bild) não pode ser afigurada;
3 - a forma da figuração só pode ser mostrada pela própria figuração da realidade no ato de afigurá-
la (abbilden); 4 - a forma da realidade não pode ser afigurada pela figuração; a forma da figuração
só pode ser mostrada na própria figuração; 5 - se a figuração afigura a realidade tal como ela é, e se
a forma da figuração, assim como a da realidade que ela afigura, não pode ser afigurada, mas
apenas exibida pela figuração, a forma da realidade é idêntica à forma da figuração e, inversamente,
a forma da figuração é idêntica à forma da realidade. Isto equivale a dizer que, ao afigurar a
realidade tal como ela é, a figuração exibe a forma da realidade, sua essência, sua estrutura (2.171,
2.18).

3. Conforme Wittgenstein, o que ''toda figuração, qualquer que seja sua forma, deve ter em
comum com a realidade para poder de algum modo [...] afigurá-la é a forma lógica, i.e., a forma da
realidade'' (2.18). A realidade é constituída de estados de coisas existentes ou possíveis os fatos ou
suas possibilidades. Portanto, a ''forma lógica'' da realidade é o poder existir um determinado estado
de coisas ou outro. Sendo assim, a figuração pode afigurar a realidade de modo verdadeiro, quando
o que ela afigura é o caso; ou falso, quando o que ela afigura não é o caso. É nesse sentido que, para
Wittgenstein, a figuração possui em comum com a realidade sua forma lógica, i.e., o poder estar de
acordo ou não com a realidade que afigura. Daí, a figuração afigurar ''a realidade ao representar
uma possibilidade de existência ou inexistência de estados de coisas'' (2.201) e concordar ou ''não
com a realidade''; ser ''correta ou incorreta, verdadeira ou falsa'' (2.21).
Mas, se a figuração pode afigurar a realidade mesmo quando o que ela afigura não é o caso,
então a figuração não depende da realidade? Não e sim. Não, conforme Wittgenstein, porque a
''figuração representa o que representa'', i.e., figura o que figura por meio de seus elementos,
''independentemente de sua verdade ou falsidade, por meio da forma de afiguração'' (2.22). ''O que a
figuração representa é seu sentido'' (2.221). Sim, conforme Wittgenstein, porque, para ''reconhecer
se a figuração é verdadeira ou falsa, devemos compará-la com a realidade'' (2.223), i.e., devemos
aferir o sentido da figuração, confrontar o que ela afigura com o afigurado (a realidade), para
sabermos se o que ela afigura é verdadeiro ou falso, pois, independentemente da realidade, uma
figuração não é nem verdadeira nem falsa. Não existe uma figuração verdadeira a priori (2.224). Do
mesmo modo, a realidade que a figuração figura não é nem verdadeira nem falsa. Ela simplesmente
é o caso ou não. O verdadeiro e o falso, o correto e o incorreto, são propriedades que pertencem à
figuração por referência ao que é afigurado (a realidade).

4. Para Wittgenstein, a ''figuração lógica dos fatos é o pensamento'' (3), por isso: a) tudo o
que é figurado logicamente é pensável; pois não ''podemos pensar nada de ilógico, porque, do
contrário, deveríamos pensar ilogicamente'' (3.03); e b) tudo o que é pensável é figurável
logicamente, pois ''o que é pensável é também possível'' (3.02, 5.61).
Conforme Wittgenstein, o lugar onde o pensamento se exprime ''sensível e
perceptivelmente'' é a proposição (3.1). A proposição é uma forma de afiguração que é escrita ou
6

sonora. E, enquanto figuração, a proposição é uma projeção de uma situação possível (3.11). Mas
como projetamos, a partir da proposição, o projetado por ela? Em outros termos, como, a partir da
figuração que é a proposição, figuramos o afigurado por ela? Ao pensarmos o seu sentido, i.e.,
quando pensamos o sentido da proposição, projetamos mentalmente a possibilidade do
representado por ela na realidade.
Portanto, de acordo com Wittgenstein, a ''proposição é o sinal proposicional em sua relação
projetiva com o mundo'' (3.12). Ela deve ser considerada não como composta de sinais escritos ou
falados, mas de objetos espaciais. ''A posição espacial relativa dessas coisas exprime, nesse caso, o
sentido da proposição'' (3.1431).
Em outros termos, de um lado temos o sinal proposicional escrito ou sonoro, de outro, o
mundo, o estado de coisas pelo qual o sinal proposicional pretende estar. A proposição constitui-se
no momento em que, por meio do pensar o seu sentido quando damos o correspondente dos
símbolos do sinal proposicional, e o sinal proposicional adquire um sentido para o pensamento,
projetamos este sentido, pensado por meio do sinal proposicional, para o mundo, ou momento do
mundo, que ele pretende representar. É somente depois de realizada a operação projetiva que o sinal
proposicional passa ao estatuto de proposição, e os símbolos do sinal proposicional, ao de objetos
espaciais; pois só na proposição os elementos do sinal proposicional estão por objetos do mundo.
Antes disso, o que temos é, de um lado, o mundo, e, de outro, o sinal proposicional. Não temos
ainda uma proposição, e, portanto, uma figuração do mundo, pois lhe falta o sentido. Tomemos,
como exemplo disso, uma frase da língua portuguesa escrita num papel, e perguntemos: ''Esta frase
é uma proposição?''. Não. Uma frase escrita num papel é somente um sinal proposicional. Não é
uma proposição, pois ainda não representa nada. Não é uma representação, pois falta-lhe a sua
propriedade fundamental: a de estar por algo diferente dela. Em outros termos, podemos dizer,
ainda, que, sem sentido, o sinal proposicional não é proposição, pois, sem que os elementos do sinal
proposicional sejam pensados como estando por, ele não representa nada. E, portanto, é só na
proposição que ''o pensamento pode ser expresso de modo que aos objetos do pensamento
correspondam elementos do sinal proposicional'' (3.2.).

5. Conforme Wittgenstein, os elementos do sinal proposicional são os sinais simples, que, na


proposição, equivalem aos nomes (3.201/3.202). Na proposição, o nome representa, substitui, o
objeto por ele designado. Por isso: ''à configuração dos sinais simples no sinal proposicional
corresponde a configuração dos objetos na situação'' (3.21). Por essa razão, a mesma multiplicidade
lógica de combinação que o objeto possui, o nome deve igualmente possuir. Esta propriedade é
conferida ao nome mediante a sua função lógica de estar pelo objeto na proposição. E, nesse
sentido, o nome ''é um sinal primitivo'' (3.26).
Os sinais simples da proposição, conforme Wittgenstein, no T.L., só são possíveis mediante
a possibilidade da determinação absoluta do sentido, i.e., um nome designa um objeto
imediatamente, sem mediação de nenhuma outra representação 3. O que isto quer dizer? Significa

3
Cf Hintikka., ''(...) os limites da totalidade dos objetos das minhas experiências são os limites do meu
mundo. Por conseguinte, a identificação entre a minha vida e o mundo, em última análise, deve-se ao fato de
o mundo consistir exatamente desses objetos que devem me ser dados na minha experiência de vida, para
que minha linguagem (e, conseqüentemente, meu pensamento) funcione. Isso nada tem a ver com a condição
metafísica dos objetos como fenômenos ou algo semelhante. O verdadeiro motivo é que, seja qual for a
condição metafísica dos objetos elementares, eles terão de se apresentar a minha experiência, a fim de que
sejam pertinentes à minha linguagem e ao meu pensamento. [...] a identificação da totalidade dos meus
objetos (simples) com minha vida não se deve ao fato suposto de que aqueles objetos sejam fenômenos ou de
algum modo dependentes de mim. Ao contrário, ela resulta do fato de que toda a minha linguagem e,
conseqüentemente, todo o meu pensamento dependem [...] dos objetos elementares que me são dados pela
minha experiência. [O mundo tem que ter uma substância; independentemente de mim, a fim de que os
objetos, que me sejam dados pela experiência, fundamentem minha linguagem -para evitar a regressão. Os]
objetos são meus (e por isso o mundo é meu) no sentido de que eles devem ser parte do conteúdo da minha
experiência [-no sentido de serem particulares, relativos à minha percepção, à minha imagem mental.] Os
objetos que me são dados pela minha experiência não são objetos dos quais posso falar na minha linguagem
7

dizer que, na linguagem o meio de afiguração, um nome representa está por um objeto. E o
nome, para Wittgenstein no T.L., e de acordo com Frege 4, não tem sentido mas apenas referência.
Por essa razão ele é uma representação imediata do objeto, ou seja, o nome não refere por meio de
definições verbais -por meio de outras palavras-, mas ostensivamente. Em outros termos, uma
proposição ser determinada quanto ao sentido tem a ver com o fato de ela se referir a um objeto
absolutamente determinado o único objeto que; i.e., por meio do nome, eu tenho de determinar
um único objeto, eu tenho de nomear um objeto absolutamente simples, que não possa ser
desmembrado em outros mais simples que ele. ''A possibilidade da proposição repousa sobre o
princípio da substituição de objetos por sinais'' (4.0312).
Por fim, pelo fato de os objetos constituirem a substância do mundo, conforme Wittgenstein,
no T.L., eles não podem ser compostos (2.021). Os objetos são simples (2.02). Por isso, o nome
tem de ser um sinal primitivo, pois ''não pode mais ser desmembrado por meio de uma definição''
(3.26). E, assim como o nome, aquilo que ele nomeia, o objeto, tem de ser simples e absolutamente
determinado. Porque, de acordo com Wittgenstein:

''Ou uma coisa possui propriedades que nenhuma outra possui, podendo-se então, sem mais,
destacá-la das outras por meio de uma descrição e indicá-la; ou, pelo contrário, há várias
coisas que possuem todas as suas propriedades em comum, sendo então impossível apontar
para uma delas. Pois se uma coisa não é distinguida por nada, não posso distingui-la, pois,
caso contrário, ela passaria a estar distinguida'' (2.02331).

Se não fosse assim, a verdade da proposição que expresso com esse nome poderia depender
da verdade de outra proposição e assim por diante; ou, se ''o mundo não tivesse uma substância, ter
ou não sentido uma proposição dependeria de ser ou não verdadeira uma outra proposição'' (2.011),
o que acarretaria um regresso ao infinito. Isto, parece-nos, responde às duas perguntas que
deixamos pendentes acima, a saber: por que, no T.L., os objetos constituem a substância do mundo
e por que o mundo tem de ter uma substância 5.

real. São objetos dos quais eu poderia dizer, na minha linguagem, que não existem ou não se tem
conhecimento de que existam. Mas dizer isso seria antecipar na minha linguagem o que ela -a única que eu
compreendo- seria se fosse diferente''. Ibid., pp. 90-1.
4
FREGE, G., Sobre Sentido e Referência, in: 'Lógica e Filosofia da Linguagem', seleção e trad. de Paulo
Alcoforado, SP, Cultrix, 1978.
5
Cf Hintikka, ''uma das conseqüências da tese da inefabilidade da existência individual é a suposição de que
todos os ''nomes'' [cf Wittgenstein., no T.L.] são não-vazios... Diferentemente de Frege, Wittgenstein cogita,
no Tractatus, de uma ontologia de possíveis estados de coisas. Por esse motivo, a inexprimibilidade da
existência individual torna-se, para ele, uma hipótese muito mais forte. Do mesmo modo que não podemos
dizer que um objeto particular existe ou não, também pouco sentido há, conforme Wittgenstein, em dizer que
ele poderia não existir ou poderia existir, muito embora ele realmente não exista. Wittgenstein toma esse fato
como ponto de partida para dizer que devemos tratar dos objetos que efetivamente existem, como se cada um
deles necessariamente existisse e como se fossem, como um todo, necessariamente esgotados.
Evidentemente, Wittgenstein não julga que possa dizer que os objetos necesariamente existam. Isso é o que
ele entende pela transcendentalidade dos objetos, que para ele é a essência da transcendalidade da lógica (cf
6.13). É claro, contudo que faz uma conjetura importante mas tácita da existência necessária e obrigatória
completa dos objetos.''. Parece-nos que isso equivaleria à consideração de que a lógica e a matemática não
pressupõem que existam tais e tais objetos, mas simplesmente que existem objetos, como em 2.022 e 2.023.
Cf Hintikka, a tese da inefabilidade da existência dos objetos implica a doutrina segundo a qual são os
objetos que constituem a substância do mundo. (2.026, 2.0124, 2.014, 2.0141). Portanto,''a tese de
Wittgenstein de que a existência dos objetos particulares é inefável destina-se a explicar por que ele
considerava os objetos como constitutivos da substância do mundo -do mundo real e de quaisquer outros
mundos possíveis.''. Porém, cf Hintikka, o que Wittgenstein ''realmente diz vai além e, aparentemente, numa
direção oposta. [ele] diz que os objetos são a forma e o conteúdo (2.025) e que eles constituem não apenas a
substância de qualquer mundo possível mas também sua forma (cf 2.022, 2.023). Ele igualmente identifica
essa forma de um objeto (cf 2.0141) com suas possibilidades de ocorrer em estados de coisas. É também
8

6. Como vimos até aqui, no T.L., duas noções importantes parecem ser a noção de objeto
simples e seu correspondente lingüístico, simbólico, o nome simples. A pressuposição de que
existem objetos simples no mundo, enquanto constituintes de sua substância, de sua forma, é o que
nos capacita ao uso das proposições.
Para Wittgenstein, a proposição ''mais simples'', que ''assere a existência de um estado de
coisas'' (4.21) é a ''proposição elementar''. Ela está na base da expressão de nosso pensamento,
porque, uma vez analisadas as proposições complexas, devemos ''chegar a proposições elementares,
que consistem em nomes em ligação imediata'' (4.221, 4.23). Nesse sentido, poderíamos conceber a
nossa linguagem como constituída de proposições elementares e de proposições complexas. As
proposições complexas da nossa linguagem seriam aquelas resultantes de operações com
proposições elementares. Em outros termos, as proposições complexas seriam as proposições que
não seriam constituídas por nomes em ligação imediata como as elementares, mas, ao contrário, por
nomes em ligação mediata.
Seguindo nesse raciocínio, as proposições complexas, que constituem a nossa linguagem,
seriam aquelas que teriam a determinação de seu sentido condicionada à determinação da verdade
de outras proposições. Por isso, uma vez analisadas essas proposições complexas, chegaríamos às
proposições elementares que têm como condição de determinação de seu sentido a referência
imediata a objetos do mundo.
A propriedade mais importante da proposição elementar, na argumentação de Wittgenstein,
é a de que ''nenhuma proposição elementar possa estar em contradição com ela'' (4.211). Em outros
termos, isso equivale a dizer que a proposição elementar tem por fundamento o princípio de não-
contradição, ou seja, ela não pode atribuir a um mesmo objeto a um mesmo tempo propriedades
contrárias (auto-excludentes).
Se pensamos, basicamente, por meio de proposições elementares, e se as proposições
elementares têm por fundamento o princípio de não-contradição, podemos considerar então que,
para Wittgenstein assim como para Aristóteles, o princípio de não-contradição está na base de nosso
pensamento no sentido em que Wittgenstein o define, enquanto proposição com sentido; i.e., a
condição de possibilidade do pensamento equivale à condição de possibilidade de determinação do
sentido, a unidade de significação dos termos da proposição. Porque, de acordo com Aristóteles, é

''necessário, então, que cada palavra seja conhecida e que revele algo, não muitas coisas,
senão só uma. Pois se a palavra significa distintas coisas, tem que se pôr a claro a qual destes
significados a palavra se aplica. Porque, o que diz que uma coisa é e não é, nega o que disse,
de modo que nega que a palavra signifique o que significa'' 6.

É por essa razão que as proposições elementares se encontram na base de nosso pensamento,
e, por conseguinte, na base de nossas proposições complexas. Caso contrário, se não houvesse
objetos absolutamente simples, não poderíamos tratar deles por meio de nossa linguagem,
nomeando-os, e, por conseguinte, não poderíamos pensá-los, nem conhecê-los. Em outros termos,
não poderíamos atribuir a eles nenhuma propriedade univocamente. Disso se segue que, sem a
possibilidade da determinação do sentido, não haveria proposição, e, sem a proposição, não haveria
pensamento.

7. Portanto, um objeto, para Wittgenstein, no T.L., é aquilo de que trata uma proposição
elementar. E como esse objeto é simples, o seu correspondente simbólico imediato, na linguagem,
também é simples, i.e., um nome simples. Por essa razão, o nome simples, por se referir
imediatamente, na realidade, a um objeto simples e absolutamente determinado, tem seu sentido
igualmente absolutamente determinado, i.e., o nome simples tem que nomear um algo que é o único

óbvio que essa forma de um objeto é considerada por Wittgenstein como a sua forma lógica.''. HINTIKKA,
op.cit., pp. 77-9.
6
Aristóteles, Metafísica, 1062a 14-18, trad. de Hernán Zucchi, Ed Sudamericana, B.Aires, 1986.
9

que. Ele nomeia um indivíduo inconfundível7, portanto. Mas isto, de acordo com Wittgenstein,
''apenas no contexto da proposição elementar'' (4.23). Daí: se é ''verdadeira a proposição elementar,
então o estado de coisas existe; [se] é falsa a proposição elementar, então o estado de coisas não
existe'' (4.25). Em outros termos, se a conexão dos nomes na proposição equivale à conexão dos
objetos no estado de coisas que ela procura afigurar (abbilden), então a proposição elementar é
verdadeira, i.e., ela representa o fato, o estado presente existente das coisas no mundo, tal como
ele é. Por essa razão a ''especificação de todas as proposições elementares verdadeiras descreve o
mundo completamente...'' (4.26).
Resumindo: se o nome é o correspondente simbólico do objeto, na linguagem, e se, por um
lado, o objeto possui propriedades internas , que dizem respeito à sua possibilidade de ocorrer em
estados de coisas e propriedades externas (4.122), que dizem respeito ao modo como ocorrem
efetivamente nos fatos; por seu turno, o nome igualmente poderá ser considerado como possuindo
propriedades internas, que digam respeito à sua possibilidade de ocorrer em diferentes combinações
com outros nomes na proposição, e propriedades externas, que digam respeito ao modo como
ocorrem efetivamente nas proposições, nas diferentes combinações possíveis com ele realizadas
para figurar fatos da realidade. Por essa razão, podemos identificar as propriedades internas e
externas dos objetos com as propriedades internas e externas dos nomes; e, se os nomes, que
representam objetos simples, compõem nossas proposições elementares que, por sua vez, figuram
os fatos, e se ao pensarmos utilizamos proposições elementares; se elas representam, figuram, os
fatos tal como eles na realidade são, então, a estrutura da proposição deve ser equivalente à
estrutura dos fatos que figura. Em outros termos, a forma lógica da proposição deve ser
equivalente à forma lógica do mundo; a estrutura da proposição, equivalente à estrutura do mundo;
a essência da proposição equivalente à essência do mundo. E esta forma lógica comum aos fatos
que figura, a proposição não pode por sua vez figurar, ela a exibe. Conforme Wittgenstein, a
''proposição mostra a forma lógica da realidade'' (4.121). E assim como a ''descrição de um objeto o
descreve pelas propriedades externas que ele possui, a proposição descreve a realidade pelas
propriedades internas que esta possui'' (4.023).

7
Cf Hintikka, a tese da inefabilidade da existência do objeto, no nível da linguagem, implica ''que a
existência de um objeto particular simples seja demonstrada pelo fato de que seu nome é usado na
linguagem.''. Esta tese implica à de que a existência não é um predicado. Diz respeito a, quanto a eles, não
ser possível dizer que existem ou não. HINTIKKA, op.cit., p.76. Ver T.L., 5.61, 3.221, 4.1272 (5-6), e I.F., I,
#58.
10

- II -

Retomemos, inicialmente, o conceito de objeto simples do T.L., agora nas I.F., e


perguntemos: ''O que é um objeto simples?'' e ''Quando podemos dizer que temos um objeto
simples?''. A resposta a esta pergunta encontramos claramente formulada no #46, das I.F., no qual
Wittgenstein, citando uma passagem do Teeteto de Platão, vai tentar dar resposta à pergunta acerca
do fundamento da idéia de que os nomes simples designam objetos simples. Citemos a passagem
pois ela é em muitos aspectos elucidativa, uma vez que só aqui começa a ficar clara a concepção de
Wittgenstein do T.L., acerca do que ele entende por um objeto simples, e qual ele passa a
desenvolver a partir das I.F.:

''Sócrates (no Teeteto): ''Se de todo não me engano, já ouvi dizer o seguinte: para os
protoelementos [os elementos originários] - se me permitem a expressão - a partir dos quais
nós próprios e tudo o resto é composto, não existe uma explicação; porque tudo o que existe
em e por si só pode ser designado com nomes; uma outra determinação não é possível, nem a
de que é nem a de que não é... Mas o que existe em e por si tem que ... se designar sem
qualquer outra determinação. Assim é impossível falar esclarecedoramente de qualquer um
destes protoelementos uma vez que para qualquer um deles existe a sua designação; só tem de
fato o seu nome. Mas como aquilo que se compõe a patir destes protoelementos é em si
próprio um encadeamento complexo, assim as suas designações nesta cadeia tornam-se em
linguagem descritiva, cuja essência é, pois, o encadeamento dos nomes.'' ... Estes
protoelementos eram ... os meus ''objetos'' [do T.L.]''.

1. De acordo com Wittgenstein, os objetos simples são todos aqueles que compõem a nossa
realidade e que são indestrutíveis (# 50). Eles não podem ser explicados 8, mas apenas designados
por nomes também simples (# 46-7). O que isto significa?
A fim de compreendermos essa formulação do problema, consideremos, inicialmente, para
nossos fins, um objeto nem do T.L. nem das I.F. sapato e seu nome 'sapato'. Alguém poderia
objetar que um sapato não é um objeto indestrutível, e, por essa razão, não satisfaria ao conceito de
protoelemento elemento originário das I.F.. Admitamos que sim, que o objeto sapato seja
destrutível. Na verdade, o objeto particular, o meu sapato, p.ex., é destrutível; posso queimá-lo e ele
desaparecerá, porém, o objeto enquanto tal a imagem mental? O seu conceito? (ver 3, a
seguir), enquanto instituído pelo uso, enquanto pertencente ao domínio da cultura em que ele é
admitido, não desaparece porque o meu sapato particular desaparece, uma vez que outros sapatos
continuam existindo. O nome 'sapato' também não se desfaz, i.e., não perde seu sentido porque um
sapato foi destruído. Porque a palavra, o nome 'sapato', pode continuar sendo usada em diferentes
contextos de enunciação, independentemente da existência do objeto, pois ele não tem de fazer
parte, necessariamente, de todas as ocorrências do nome 'sapato', ou, melhor dito, de todos os
contextos lingüísticos significativos que o nome 'sapato' integra.
Para dar conta dessa dificuldade, Wittgenstein introduz (# 40) a distinção freqüentemente
ignorada entre referência e denotação. Para ele, mesmo que o objeto designado pelo nome deixe de
existir, o nome não perde seu sentido, pois continua denotando. Conforme Wittgenstein, se o nome
'sapato' deixasse de ter denotação pelo fato de o objeto a que ele se refere ter deixado de existir, não
seria possível que ele participasse de nenhum contexto proposicional. Ou seja, não teriam sentido
nenhuma das proposições que viessem a ser constituídas com ele. ''Para uma grande classe de casos
embora não para todos do emprego da palavra ''sentido'' pode dar-se a seguinte explicação: o
sentido de uma palavra é o seu uso na linguagem... E a denotação de um nome explica-se, por
vezes, ao apontar-se para o seu portador'' (# 40). Em suma, a denotação, o sentido, de um nome

8
Cf Wittgenstein, I.F., : ''os objetos simples são os protoelementos dos quais nós e todo o resto é composto;
aquilo que existe em e por si mesmo; e é designado'' -por um nome simples em detrimento de qualquer outra
determinação. WITTGENSTEIN, Investigações Filosóficas, #46, p. 208.
11

pode persistir mesmo sem a sua referência. (Ora, esta posição parece ir contra os resultados
estabelecidos pelo T.L., acerca da necessidade da determinação absoluta do sentido da proposição).

Prossigamos mais um pouco na análise desse exemplo, e tomemos agora o objeto sapato e
vejamos se ele é um objeto simples ou um todo composto de objetos mais simples que ele, i.e., um
objeto complexo, portanto, não-simples.
2. Considerado no contexto de minha indumentária pessoal, o sapato é um objeto simples
que a compõe. Por outro lado, considerado isoladamente, veremos que ele, por sua vez, é composto
de outros elementos, e.g., cadarço, salto, sola, etc. Nesse sentido, poderiam nos objetar dizendo que
ele não pode ser considerado um objeto simples, e, por conseguinte, nem seu nome, um nome
simples. Porém, se não considerarmos os objetos isoladamente mas sempre nos contextos, nos
estados de coisas, em que ocorrem, o serem considerados objetos simples ou complexos vai
depender do meio em que ocorrem e da maneira como são considerados. Do mesmo modo, o nome,
tudo vai depender do uso que se fará dele na situação em que o estivermos empregando.
Para Wittgenstein, a ''palavra ''composto'' (assim como a palavra ''simples'') é utilizada por
nós numa infinidade de maneiras diferentes e aparentadas umas com as outras de diversos modos''
(# 47). Nesse sentido, a resposta de Wittgenstein à nossa pergunta acerca de se o objeto 'sapato' é
simples ou composto nos encaminharia a uma recusa da questão, uma vez que se basearia no
entendimento que temos acerca do que é simples ou composto. Pois, conforme Wittgenstein,
''''simples'' significa: não composto. E a questão é esta: ''composto'' em que sentido?''.
Com base nisso, que resposta dar às perguntas: ''A nossa realidade se compõe de átomos?
Particulas elementares?''? Ésta: Sim e não. Sim, porque ninguém estaria disposto a negar que, tal
como a química ensina, o mundo físico é composto de partículas elementares não-visíveis i.e., não
são dadas em nosso campo visual, à nossa realidade cotidiana, a realidade da qual trata nossa
linguagem, da qual tratamos em nossa comunicação diária. Não, porque, mesmo que assim seja,
aquilo que nos ocupa diariamente em nossas conversações, na nossa fala cotidiana, não são estes
elementos, porém outros, compostos, sim, por eles, ou seja, os objetos do mundo e as suas
ocorrências em conexão com os outros.
Na verdade, quando vemos o mundo, não vemos as partículas elementares, porém, tudo o
que delas é constituído. Os objetos que nos rodeiam, sejam os elaborados por mãos humanas sejam
os que são produzidos pela natureza, sejam ainda os que são construídos pelo intelecto e têm apenas
existência mental ou teórica, são estes os objetos de nossa consideração cotidiana. A eles devemos
chamar 'objetos simples'?. E na linguagem, quando vamos considerar o que nela sejam os nomes
simples, estes o são dos objetos simples 9. Mas, afinal, o que são estes objetos simples? O que
podemos considerar como um objeto simples: os particulares? Ou suas propriedades e relações,
também?
Experimentemos o seguinte teste proposto por Wittgenstein (# 58): ''Um nome genuíno é
todo aquele que não pode ocorrer na proposição ''X existe'' 10''. Tomemos, então, as seguintes
formulações: ''O lápis é vermelho'' e ''O copo está sobre a mesa''. Façamos a seguir o teste com as
palavras que compõem estas proposições e verifiquemos em que medida podemos, por meio deste

9
Cf Wittgenstein, sobre os nomes próprios e os indivíduos de Russell: ''(...) Sugeriu-se que palavras como
''ali'', ''aqui'', ''agora'', ''isto'' são os ''verdadeiros nomes próprios'', em contraste com o que habitualmente
chamamos nomes próprios, que, do ponto de vista a que me estou a referir, apenas podem / grosseiramente
ser assim chamados. Há uma tendência muito espalhada para considerar o que, na vida comum, se chama um
nome próprio, unicamente como uma aproximação grosseira ao que idealmente poderia assim ser chamado.
Comparem isto com a idéia de ''índivíduo'' de Russell. Ele refere-se aos indivíduos como sendo os últimos
constituintes da realidade, mas afirma que é difícil determinar quais os objetos que são indivíduos. A idéia é
a de que uma análise adicional os poderá revelar. Nós, por outro lado, introduzimos a idéia de um nome
próprio numa linguagem na qual ele era aplicado ao que, na vida quotidiana, chamamos ''objetos'',
''coisas''(''pedras de construção'').)'' [grifos meus]. WITTGENSTEIN, O Livro Marrom (The Brown Book,
1934-35,Cambridge), trad. Jorge Mendes, Edições 70, Lisboa, 1992, pp. 13-14.
10
Cf Wittgenstein:''Os nomes designam apenas aquilo que é elemento da realidade. Aquilo que não pode ser
destruído; o que permanece imutável''. WITTGENSTEIN, Investigações Filosóficas, # 59, p. 222,
12

teste, estabelecer quais destas palavras são nomes simples, e se o que representam, se representam,
na realidade, pode ser tomado como objeto. Portanto, fazem sentido as perguntas: ''O lápis existe'',
''O Vermelho a cor existe'', ''O copo existe'', ''O sobre a relação existe'', ''A mesa existe''? No
sentido de serem referidas imediatamente definidas ostensivamente, não. Pois eu digo: ''Isto é
um lápis'' e aponto para um objeto para a sua forma; ''Isto é vermelho'' e aponto para o que está
contido pela forma, para a superfície; ''Isto é um copo'' e ''Isto é uma mesa'' e aponto para dois
objetos diferentes duas formas diferentes; ''Isto é estar sobre'' e aponto para o modo como se
encontram conectados os objetos copo e mesa, a sua relação. Não tem sentido falar da existência ou
não dessas coisas. Parece ser isto o que Wittgenstein sugere.
Desse modo, os nomes simples não diriam respeito, então, apenas a objetos singulares,
individualizáveis particulares, mas também a propriedades e relações destes objetos conectados
na realidade, seus estados nos fatos, o modo de sua apresentação? Se é assim, podemos perguntar,
então: ''O número ''um'' existe?'' Faz sentido esta pergunta? A palavra ''um'' pode aparecer numa
proposição ''X existe?''. Caso não, ''um'' é um ''nome'' e o Número ''1'', um ''objeto'' 11? Uma saída
para uma resposta: Wittgenstein no T.L., ao se referir a propriedades de cor e relações de gradação
de cor como ''objetos'' (em 4.123), observa o seguinte: ''(Ao uso cambiante das palavras
''propriedade'' e ''relação'' corresponde aqui o uso cambiante da palavra ''objeto''.)''.
Continua em questão, aqui, a que se referem então os nomes simples, e o que são estes
elementos indestrutíveis constituintes da nossa realidade.
Examinemos, com atenção, agora, algumas teses de Wittgenstein que nos elucidam acerca
desse problema e parecem colocar a questão nos seus devidos termos.

3. Conforme Wittgenstein (# 55), os objetos simples constituem o conjunto de tudo aquilo


''que é designado pelos nomes da linguagem''. E como o estado de tudo o que é destruído tem de
poder ser descrito por meio de palavras, aquilo a que elas correspondem ''não pode ser destrutível
porque então as palavras não teriam qualquer denotação'', i.e., os nomes não teriam sentido
independentemente daquilo que nomeiam. É nesse sentido que os objetos simples são ditos
indestrutíveis.
Conforme Wittgenstein (# 59), os nomes ''designam apenas aquilo que é elemento da
realidade. Aquilo que não pode ser destruído; o que permanece imutável''. Mas o que é isso que dá
aos nomes o seu sentido: os objetos físicos? As nossas sensações? Os fenômenos? Não, pois todas
essas coisas podem ser destruídas. Wittgenstein (no # 55) indica um caminho: ''Aquilo que
corresponde ao nome e sem o qual ele não teria qualquer sentido é, p.ex., um paradigma'', um
instrumento da linguagem com o qual podemos efetuar comparações e acerca do qual podemos
afirmar ou negar algo. Conforme Wittgenstein (# 50), aquilo ''que parece ter de existir pertence à
linguagem, (...) uma coisa com a qual se podem efetuar comparações. E constatá-lo pode significar
que se faz uma constatação importante; mas é no entanto uma constatação acerca (...) do nosso
modo de representação''.
Portanto, os objetos simples, aos quais se referem os nomes na linguagem, não são objetos
físicos nem fenômenos nem sensações, mas algo que está para eles como um modelo, um padrão,
um paradigma do nosso modo de representá-los. Mas o que é esse 'paradigma': Um conceito do

11
Na determinação das condições de verdade, na determinação do sentido, de uma proposição, devemos
levar em conta o modo como se articulam os seus constituintes -o S (sujeito) e o P (predicado)-, i.e., o tipo de
relação que têm entre si. Porém, esta relação não pode ser considerada como um dos elementos, um objeto,
da proposição; esta relação não pode ser do mesmo nível lógico daquilo que ela relaciona, por quê? Porque
essa relação entre os constituintes das proposições elementares, o modo como se articulam dentro dela, é sua
propriedade essencial, é a sua forma lógica; portanto, toda proposição elementar tem, além dos seus
constituintes, uma forma lógica, o modo desses elementos se combinarem na proposição. A função do S na
proposição elementar é a de identificar um algo dentre uma pluralidade de objetos possíveis, do qual P
afirma ou nega uma propriedade; a função do S é exercida por um nome próprio, autêntico. Hintikka, porém,
é contrário a esta tese, e afirma que as propriedades e relações também são consideradas objetos segundo
Wittgenstein. Cf Hintikka, ''na linguagem ... do Tractatus, os objetos incluem propriedades e relações''.
HINTIKKA, op.cit., p. 60.
13

objeto? Uma imagem mental do objeto? Conforme Wittgenstein (# 59), a ''experiência não nos
revela'' este paradigma. Ele é ''o que permanece imutável'', e já está dado de antemão a nós. Para
Wittgenstein, é aquilo que já temos em mente quando pronunciamos uma frase. Em outros termos,
quando pronunciamos uma frase, já ''pomos em palavras uma concepção completamente
determinada. Uma imagem determinada que queremos utilizar'' (# 59).
Isso posto, podemos levantar, provisoriamente, a seguinte hipótese, que pretendemos
confirmar, a saber: se os objetos simples, para Wittgenstein nas I.F., não são objetos físicos nem
sensações nem fenômenos, e não são dados na experiência, porém, constituem os instrumentos com
os quais realizamos as operações na nossa linguagem; então, os elementos simples, as substâncias,
de que trata Wittgenstein nas I.F., ou são conceitos e/ou imagens mentais12. Se esta hipótese
procede, conceitos e imagens mentais são aquilo pelo que os nomes da linguagem estão, e aqui se
encontra a diferença que queríamos apontar entre o T.L. e as I.F., acerca do conceito de objeto.

4. Para tentar esclarecer um pouco melhor esse ponto, de acordo com Wittgenstein,
consideremos a distinção entre pensar e imaginar, i.e., distingamos, aqui, pensamento enquanto
proposição com sentido (como ele o define no T.L.) de imagem mental de objetos, e, sob essa
perspectiva, analisemos o aforisma 2.0123 do T.L. (já citado acima):

''Se conheço um objeto, conheço também todas as possibilidades de seu aparecimento em


estados de coisas. (Cada uma dessas possibilidades deve estar na natureza do objeto).''

Apliquemos a ele, a seguir, o objeto simples que exemplificamos acima, sapato. Digamos
que, quando me defronto na minha experiência com o objeto sapato, pressupondo que eu o conheça,
eu sei a priori todas as situações em que ele pode ocorrer. Ou melhor, eu sei em que tipos de
situações ele pode encontrar-se, em quais combinações com objetos e com quais ele pode vir a
encontrar-se. Na verdade, quando um objeto de experiência conhecido me é dado na experiência, o
que me é dado não é a totalidade de suas ocorrências, mas a sua possibilidade. Expliquemos melhor.

Suponhamos que, p.ex., olho para o chão e encontro um sapato. Perguntemos, então: ''Com
ele, o que me é dado?''. De acordo com Wittgenstein, como vimos acima, todo objeto possui
propriedades internas e externas. As propriedades internas são propriedades essenciais, sem as quais
o objeto não é o que é, ou deixa de sê-lo; e as externas são as propriedades acidentais, conferidas a
ele pelo modo como ele se encontra no arranjo atual do estado considerado.
Portanto, quando um objeto como o sapato me é dado, e eu o conheço, o que eu conheço?
Não é, necessariamente, aquele sapato particular, mas o objeto sapato, considerado como um
padrão, um paradigma. Em outros termos, o que eu conheço, de acordo com Wittgenstein, é o
conceito do sapato ou uma imagem mental conhecida que trago na memória como um padrão de
reconhecimento do objeto em questão (# 56). E o que preciso conhecer nesse caso não são suas
propriedades externas, mas as internas, porque este sapato particular dado poderia ser-me inclusive
desconhecido enquanto pertencente a fulano, ou enquanto de um determinado tipo, enquanto para
uma determinada finalidade, etc., etc..
O que importa considerar nesse caso, contudo, é que o que me é dado a priori acerca de um
objeto conhecido, na minha experiência, não são suas propriedades acidentais mas as suas
propriedades essenciais. Nesse sentido, se nosso raciocínio é correto, ser-me dado um objeto é ser-
me dado o conjunto de suas propriedades internas, portanto, essenciais.
Isso posto, consideremos o sapato do chão, dado a mim na minha experiência: O que tenho
de antemão em relação a este objeto? As propriedades que são essenciais a ele. Digamos que tenho
apenas um de dois sapatos. Com relação ao sapato dado então, consideremos aqui apenas uma
propriedade que reputaremos essencial, a saber: a de ser um sapato do pé direito. Ora, se sei deste
sapato dado que ele é do pé direito, eu sei a priori, p.ex., que ele não poderá jamais encontrar-se em

12
Cf Wittgenstein: ''Uma imagem mental não é uma imagem, mas uma imagem pode corresponder-lhe.''.
WITTGENSTEIN, Investigações Filosóficas, #301, p. 360.
14

conexão com um pé esquerdo. Na verdade, quando dizemos que com um objeto conhecido
nos são dadas as suas possibilidades lógicas de combinação com outros, estamos a dizer que, de
acordo com Wittgenstein, eu sei a priori em que situações ele pode ocorrer com outros, i.e., em que
combinações ele exerce suas propriedades essenciais, por assim dizer, e para isso, eu não necessito
percorrer toda a série de combinações em que o objeto sapato pode ocorrer, pois está como que
inscrito nele o conjunto dessas possibilidades, elas são dadas pelas suas propriedades essenciais,
suas propriedades internas o que poderia aqui ser descrito como o modo de sua aparição, o modo
como ele pode conectar-se nos estados de coisas.
No domínio dos objetos apenas, portanto, num domínio pré-lingüístico não-proposicional,
o das sensações e imagens mentais, se quiser, eu posso imaginar este objeto em combinações
possíveis, i.e., eu posso imaginar em quais situações, ele ocorre logicamente, se ele ocorre de
acordo com as suas possibilidades de combinação, i.e., de acordo com suas propriedades internas.
Resumindo: em outros termos, posso imaginar em que situações as condições de
possibilidade de sua ocorrência são satisfeitas e, o que é importante, em quais não. Portanto, ao
delimitar o campo das possibilidades lógicas de ocorrência de um objeto com outros objetos, eu
delimito também o campo das impossibilidades lógicas de sua ocorrência, ou seja, eu determino a
priori as situações em que ele não pode ocorrer, eu determino as combinações lógicas com
sentido deste objeto, i.e., em quais situações ele realiza suas propriedades internas. Porque eu
poderia encontrar um objeto num estado de coisas em que ele, de acordo com suas propriedades
internas, não pudesse ocorrer, p.ex., um sapato enfiado em uma cabeça, mas que de acordo com
suas propriedades externas sim. Porque, mesmo fora de sua possibilidade de combinação, mesmo
transgredindo sua natureza interna, posso descrevê-lo nessa situação, segundo suas propriedades
externas, segundo as propriedades que lhe são conferidas pelo modo como se encontra conectado na
realidade considerada.
Em relação ao objeto sapato -dadas as suas propriedades internas e, portanto, suas
possibilidades lógicas de combinação-, eu poderia imaginar quais situações seriam compatíveis
com as suas propriedades internas e quais não, p.ex.: a) um sapato direito com um pé esquerdo
enfiado nele; b) um sapato com uma cabeça enfiada nele; c) um sapato dentro do refrigerador; d)
um sapato furado; e) um sapato desamarrado; f) um sapato com um pé sem meia dentro dele; g) um
sapato com um pé com meia dentro dele; etc., etc.. Às situações imaginadas a, b, c eu poderia
considerar ilógicas ou absurdas; às situações imaginadas d, e, f, g, poderiam ser consideradas
logicamente possíveis.

5. Tomemos agora o pensar, no sentido em que Wittgenstein o define no T.L., como a


proposição com sentido. Paralelamente, no domínio da linguagem, podemos dizer em relação a
2.0123 que: Se conheço um nome, conheço também todas as possibilidades de seu aparecimento em
proposições. (Cada uma dessas possibilidades deve estar inscrita na essência na gramática do
nome).
De acordo com a doutrina do T.L., no domínio do pensamento, que é essencialmente
simbólico e figurativo, ou seja um modo de representação ''que não tem a menor semelhança com o
que representa''13, ser dado um objeto conhecido equivale a ser dado o nome conhecido de um
objeto conhecido. A relação, nesse caso, é idêntica, pois o que vale para o caso de o objeto dado me
ser conhecido vale para o caso do nome do objeto dado me ser conhecido.
Ora, se o nome deve possuir a mesma multiplicidade lógica que o objeto possui tal como
vimos acima, no espaço lógico das combinações possíveis, então, quando um nome conhecido de
um objeto conhecido me é dado, eu sei a priori em quais combinações ele pode ocorrer com sentido
e em quais não. ''Uma vez que sabes o que a palavra designa, compreendes a palavra, conheces toda
a sua aplicação'' (# 264). Ou seja, se me é dado o nome 'sapato' eu sei a priori todas as suas
possibilidades de ocorrência com outros nomes e com quais, i.e, eu sei a priori com quais outros ele
pode combinar-se e com quais não, mesmo que eu não tenha visto ou realizado todas as proposições

13
Id., O Livro Azul (The Blue Book, 1933-34, Cambridge), trad. Jorge Mendes, Edições 70, Lisboa,
1992., p.74.
15

possíveis em que ele ocorra, eu sei quando ele é mal empregado: quando o vejo em combinação
com nomes que não pertencem ao conjunto logicamente possível de combinações que com ele sou
capaz de fazer, ou quando o modo como ele se encontra conectado, encadeado, com outros na
proposição não obedece às suas propriedades internas às suas possibilidades de conexão, à sua
gramática.
Se assim como o objeto, o nome não ocorre isolado, mas só no contexto em que se encontra
conectado com outros, na proposição, quando um nome de um objeto conhecido me é dado, fora de
sua relação com outros, com ele me é dada a sua possibilidade de sentido, e não seu sentido. Por
que? Porque só na sua ligação com outros nomes, na proposição, um nome refere um objeto. E o
que ela atribui a ele, o seu sentido, no contexto de sua enunciação. (Esta pode ser considerada uma
outra maneira de interpretar o princípio do contexto de Frege e a concepção de Wittgenstein acerca
do sentido da proposição dado pelo seu uso no ato ou no contexto da enunciação. Pois, conforme
Wittgenstein, só ''a proposição tem sentido; é só no contexto da proposição que um nome tem
significado'' (3.3).).

6. Isso posto, considere agora a analogia que Wittgenstein estabelece entre a linguagem e o
jogo, nas I.F.. Conforme Wittgenstein, a linguagem é mais que as suas regras, as palavras e seus
significados, as proposições e seus sentidos. No processo de comunicação, a linguagem constitui
um jogo, e, deste, fazem parte os lances, ou seja, o uso que fazemos de proposições nos contextos
compartilhados com outros falantes. De acordo com Wittgenstein, a ''expressão ''jogo de linguagem''
deve salientar (...) que falar uma língua é parte de uma atividade ou de uma forma de vida'' (# 23).
Para Wittgenstein é vantajoso comparar a linguagem a um jogo porque, através desta comparação,
podemos esclarecer os fatos da nossa linguagem (# 130).
Tomemos o jogo de xadrez como o padrão de nossa comparação. Para Wittgenstein, o
xadrez se presta em inúmeros aspectos para ilustrar o modo de funcionamento de nossa linguagem,
pois, muitas vezes, falamos da linguagem ''como das figuras do jogo de xadrez, em que
especificamos as regras do jogo, sem no entanto descrevermos as propriedades físicas das peças'' (#
108). Para Wittgenstein, quando ouvimos ou lemos uma palavra numa proposição, não temos
dúvida de que a compreendemos e que o sentido dela está na sua aplicação, ''é como se pudéssemos
de um golpe captar toda a aplicação da palavra'' (# 197).
Mas como aprendemos a usar as palavras? Para Wittgenstein, é através do costume, do
treino, da repetição, do ensino e da prática diária do uso das palavras que eu aprendo o modo de
aplicá-las. Para Wittgenstein, compreender ''uma proposição significa compreender uma linguagem.
Compreender uma linguagem significa dominar uma técnica'' (# 199). Por exemplo, quando
intenciono jogar xadrez, todas as regras deste jogo estão contidas compreendidas no meu ato de
intencionar jogá-lo; porque não posso pensar em jogar xadrez se não sei já jogá-lo; i.e., se não
compreendo desde já suas regras; portanto, a conexão entre o sentido das palavras ''vamos jogar
xadrez'' e todas as regras deste jogo se encontra na lista das regras do jogo, no ensino do jogo, na
prática cotidiana de jogá-lo (# 197).
Conforme Wittgenstein, compreender, aqui, é em si um estado do qual surge a aplicação
correta de uma regra assimilada; e a aplicação da regra consiste num critério de compreensão (#
146). Em outros termos, se ''não houvesse a técnica do jogo de xadrez, então, também eu não
poderia intencionar jogar uma partida de xadrez. O fato de eu ser capaz de falar português é que me
torna possível que eu, até certo ponto, intencione previamente a construção da frase'' (# 337).
Para Wittgenstein, o que caracteriza aquilo que chamamos uma regra é a aplicação repetida
num número indefinido de casos; p.ex., um ''jogo em que são utilizadas, num tabuleiro de xadrez,
peças de várias formas. Uma regra define o modo como a peça se pode mover'' 14. O xadrez
tem um número de peças finito; diferentes tipos de peças com diferentes funções no jogo; um
número finito de regras para o uso dessas peças no jogo e um espaço lógico finito, em que essas
peças possam ser movimentadas de acordo com as regras do jogo o tabuleiro.

14
Ibid., p. 31.
16

As regras do jogo nos dão as direções possíveis em que cada peça pode movimentar-se e,
simultaneamente, as direções em que elas não podem. Com as regras, ou as funções das peças, são-
nos dadas também as possibilidades dessas peças combinarem-se entre si na configuração do jogo,
i.e., os lances. Porém, à medida em que nos são dadas com as regras as possibilidades de
movimentação das peças, não nos são dadas todas as combinações de lances possíveis dentro do
jogo, pois é necessário que os jogadores, de posse das regras, combinem particularmente os lances
configurando, particularmente o jogo. Nesse sentido, podemos conceber como infinita a
possibilidade de combinações de lances no jogo de xadrez, i.e., as combinações que incluam os
lances dos dois adversários. Porém, tudo o mais é previamente limitado: tipos e número de peças,
regras e espaço.
O que pode ser determinado a priori são os lances possíveis e não-possíveis, não o contexto
dessas combinações, i.e., não o jogo particularmente jogado pelos jogadores particulares, a situação
particular do jogo, o contexto em que ele é jogado. Por exemplo, dada uma das peças do xadrez, o
bispo preto do rei, eu sei, a priori, pelas propriedades internas desta peça do jogo, quais são as
possibilidades de combinações que com ele sou capaz de realizar. Por quê? Porque sei as regras, sei
como se movimenta esta peça, e sei qual seu significado valor dentro do jogo, portanto, sei como
movimentá-la, sei usá-la.
Mas sei quais os lances que posso fazer sem os fazer? Sim e não. Sim, porque quando surge
a oportunidade de jogar com ele, eu sei em que direção movê-lo e sei, inclusive, identificar quando
ele foi mal jogado, i.e., está fora de posição, ou quando com ele é realizada uma jogada que as suas
propriedades internas não permitem, ou seja, sei quando a jogada realizada com ele é possível, sei
quando ela é correta. Não, porque sem a situação para jogar com ele eu não posso saber antes qual
lance farei, posso apenas saber quais; ou seja, dependo dos lances do adversário, do modo como ele
movimentou suas peças, da última jogada que ele fez, e com qual peça, etc., etc..
Na verdade, é dentro do contexto do jogo, enquanto ele é jogado, que dou significado às
regras e ao jogo, i.e., mediante os lances do jogo, às jogadas, é que o jogo adquire a sua forma de
jogo e aquela forma particular do jogo que está sendo jogado. O tabuleiro, as peças de xadrez, com
suas cores, formas, valores, regras, não é jogo sem os lances, sem as jogadas o recorte no universo
lógico das possibilidades de movimentação das peças no tabuleiro. E esses lances, que conferem
aos elementos em questão o significado que têm, i.e., o de jogo, só fazem isto por meio dos
jogadores. Em última instância, são os sujeitos, que participam ativamente do jogo, que
movimentam as peças, e, ao assim fazerem, conferem ao xadrez o estatuto de jogo que ele possui.
Portanto, as peças, em seu uso, segundo as regras, dentro do tabuleiro, por parte dos
jogadores, são os lances do jogo. E são os lances, as peças em seu uso efetivo, que conferem ao
xadrez o estatuto de jogo. Os lances, porém, não são independentes dos jogadores. Sem ser jogado,
ele nada é, senão pedaços de madeira sobre um quadrado de madeira dividido em pequenos outros
quadrados. Sem que as peças sejam usadas nos lances, o xadrez não tem significado. Ele não é um
jogo.
Conforme Wittgenstein, as ''palavras podem ser comparadas de muitas maneiras às peças de
xadrez. Pensem nas várias maneiras de distinguir diferentes tipos de peças no jogo de xadrez (por
exemplo, peões e 'peças maiores')''15. Apliquemos, pois, a análise do xadrez ao caso da nossa
linguagem cotidiana.
Num momento presente, podemos considerar nossa linguagem como contendo um número
finito de palavras, um número finito de regras para que possamos combinar estas palavras em
proposições, e um espaço também finito de possibilidade dessas combinações o conjunto dessas
possibilidades, o espaço lógico. Podemos saber a priori também, como no caso do jogo de xadrez,
que lances nessa nossa linguagem são possíveis e quais não são possíveis nos diferentes jogos que
podemos jogar com ela, graças às propriedades internas das palavras. Porém, quais os jogos de
linguagem, os lances contextualizados, dados pelos falantes da língua, no ato de sua utilização e o
sentido, o significado, com o qual empregam diferentemente as palavras no seio de suas
proposições, isto não pode ser determinado a priori, pois somente através do uso efetivo das

15
Id., O Livro Marrom, p. 17.
17

palavras nos diferentes jogos de linguagem é que pode ser verificado e determinado o sentido tanto
das palavras16 como o das proposições.
(Interessa sobretudo destacar aqui que a linguagem, tal como no caso do jogo de xadrez, só
adquire seu estatuto de representação simbólica, sua significação, i.e., só exerce sua função
representativa, que é a de figurar os fatos que compõem a realidade, à medida em que seus
elementos, significados e regras são colocados em uso dentro do espaço lógico, pelos falantes, os
usuários da língua, na intenção de representar e/ou configurar estados de coisas. O jogo completo só
ocorre enquanto tal quando é efetivamente jogado. Por isso o xadrez sem os lances por parte dos
jogadores o uso das peças de acordo com as regras, não é ainda jogo, mas apenas possibilidade
de jogo. O xadrez não jogado, as suas peças, as suas regras, o tabuleiro, não têm significado sem os
lances dos jogadores, i.e., fora do jogo, as peças não têm significado; fora dos lances, as funções das
peças os seus movimentos possíveis não têm sentido. E o mesmo pode ser considerado dar-se na
nossa linguagem cotidiana. Fora do uso em proposições, as palavras não têm significado. Fora dos
lances nos jogos de linguagem as proposições não têm sentido. Caso contrário, seríamos ''como
pessoas que pensam que bocados de madeira com a forma aproximada das peças de xadrez e das
damas e colocadas num tabuleiro de xadrez constituem um jogo, mesmo que nada tenha sido dito
sobre o modo de as usar''.17).
Se recuarmos um pouco, podemos pensar o seguinte: considerada em si mesma, a língua
enquanto código, enquanto conjunto de símbolos gráficos passíveis de serem arranjados de modo a
representar objetos, enquanto palavras, e fatos, quando estas estão em proposições não é ainda
linguagem assim como o tabuleiro e suas peças em si mesmos não são um jogo. Para que a língua
passe ao estatuto de linguagem é necessário: primeiro, que os falantes ou usuários desta línguade
posse das regras de combinação dos signos para formar palavras, e, com essas, proposições se
coloquem na situação de enunciação o contexto comunicacional, o domínio em que o jogo de
linguagem será jogado; segundo, que estes falantes utilizem esta língua para expressarem seus
pensamentos; ou seja, é necessário que os usuários da língua, por meio de proposições, joguem com
a linguagem um jogo, numa situação enunciativa qualquer, em que suas proposições signifiquem,
figurem. Analogamente ao xadrez, os lances equivalem a proposições com sentido; o jogo, à
soma dos lances dentro das regras. Portanto, é só dentro do contexto de enunciação, dentro do jogo
ou jogos que a linguagem cumpre seu papel. As possibilidades lógicas de combinações dos
nomes entre si em proposições, na intenção de significar representar, são dados a priori; a
significação, porém, não. É somente no ato de utilização dos signos pelos falantes em contextos
compartilhados de enunciação os jogos de linguagem que a linguagem significa, representa.

7. Por fim, a nossa proposta de interpretar os conceitos e imagens mentais como os


indestrutíveis de Wittgenstein nas I.F. 18, e, portanto, como aquilo pelo que, na linguagem, os

16
Cf Wittgenstein: ''Pensem nas palavras como instrumentos caracterizados pelo seu uso, e em seguida
pensem no uso de um martelo, no uso de um escopo, no uso de um esquadro, de um frasco de cola, e no uso
da cola. (Igualmente tudo o que aqui dizemos apenas pode ser compreendido se se compreender que uma
enorme variedade de jogos é jogada com as frases da nossa linguagem: dar ordens e obedecer a ordens;
colocar questões e responder-lhes; descrever um acontecimento; contar uma anedota; descrever uma
experiência imediata; fazer conjeturas sobre acontecimentos no mundo físico; formular hipóteses e teorias
científicas; cumprimentar alguém, etc.).''. Id. O Livro Azul, p. 117. Ver também I.F., # 11, L.A., pp. 30-1, 61,
81, 112-14, 125; e L.M., pp. 11, 121.
17
Ibid., p. 122.
18
Cf Wittgenstein: ''Um objeto vermelho pode ser destruído, mas o vermelho não pode ser destruído; e por
isso o sentido da palavra ''vermelho'' é independente da existência de um objeto vermelho''. (...) ''Quando
esquecemos , qual é a cor que este nome tem [a que se refere a palavra ''vermelho''] então o nome perde para
nós o seu sentido, i.e., não podemos jogar mais com ele num determinado jogo de linguagem [não temos
mais acesso ao paradigma, pois a memória é como que um padrão (# 56)]. E a situação é similar àquela em
18

nomes estão, as substâncias, parece estar de acordo com os resultados gerais aos quais chega
Wittgenstein nas I.F..
Para Wittgenstein, a linguagem, enquanto meio de afiguração da realidade, é uma
construção humana, e portanto, arbitrária. Por essa razão, ''as palavras têm os sentidos que lhes
demos'', não têm um sentido que lhes tenha sido dado ''por um poder independente de nós'' 19. Em
outros termos, se as palavras são símbolos instituídos pelo homem para representar os objetos, na
proposição, em suas conexões na realidade, o sentido delas, por conseguinte, é igualmente instituído
pelos homens. Porém, a linguagem é arbitrária apenas ab initio, pois, uma vez estabelecido,
convencionado, que um determinado signo lingüístico simboliza, representa, determinado objeto,
seu uso não é mais uma convenção, mas uma regra, uma imposição advinda da convenção. É do
acordo entre os homens que depende a fixação dos termos da linguagem àquilo que eles
representam. E o mesmo se dá com relação à verdade e à falsidade.
Vimos, aqui, que a verdade e a falsidade, para Wittgenstein, são propriedades do modo de
representação, do meio de afiguração, que lhe são conferidas por referência ao que é representado,
ao que é afigurado. Ora, para Wittgenstein, é a concordância entre as pessoas o que decide também
sobre o que é verdadeiro e sobre o que é falso. E o ''verdadeiro e o falso é o que os homens dizem; e
é na linguagem que as pessoas concordam''.
Esta concordância, porém, não é de opiniões, mas de ''formas de vida'' (# 241-2). O que isto
quer dizer? Isto significa que, se os objetos, dos quais tratamos em nossas proposições na nossa
conversação cotidiana, são, na verdade, modelos, paradigmas, construídos, instituídos e
compartilhados por nós sejam eles conceitos ou imagens mentais, e que pertencem ao nosso
modo de representação, de afiguração, da realidade; e se estes paradigmas determinam o nosso
modo de ver, falar, agir e julgar a realidade, em suma, determinam o nosso comportamento, então, o
que temos, no fim das contas, não é de um lado os fatos e de outro a linguagem, mas o que
Wittgenstein chama (# 295) de ''uma espécie de maneiras de falar ilustradas'' 20. Porque, conforme
Wittgenstein (#503-19), usamos a linguagem para nos comunicarmos com os outros (# 501); ou
para influenciarmos as outras pessoas desta ou daquela maneira (# 503). E se sentimo-nos
''inclinados a dizer que, quando comunicamos [alguma coisa] a alguém, algo que nunca podemos
conhecer acontece na outra extremidade'', é porque tudo ''o que podemos receber dessa pessoa é, de
novo, uma expressão''21.
Para Wittgenstein, compreender uma frase da nossa linguagem é muito semelhante a
compreender um tema de música ou um poema; porque sei o que significa mas não sei dizer.
Compreender uma frase equivale a ela poder ou não ser substituída por outra. No caso da música,
isto significa que o pensamento expresso na frase é aquilo que só estes sinais, por esta ordem,
podem exprimir, pois se alguém me perguntar aquilo que entendi, eu mostro a própria frase ad
nauseam; no caso, da frase, o seu sentido, expressa-se por si mesmo (# 531).
Por fim, podemos dizer, conforme Wittgenstein, que compreender uma frase é definido
segundo o modo como é usada (# 532). E como se leva uma pessoa a compreender uma frase tal
como uma frase musical ou um poema? Repetindo-a, pois não é possível substituí-la por outra, pois
o modo como os símbolos estão arranjados na proposição é o que lhes confere a singularidade e a
impossibilidade de uma tradução que não seja por comparação (# 533)22. Por isso, o

''signo (a frase) obtém o seu significado do sistema de signos, da linguagem à qual pertence.
Numa palavra: Compreender uma frase significa compreender uma linguagem [g.n.]. A frase
tem vida (...) enquanto parte integrante do sistema da linguagem. Mas é-se tentado a imaginar

que um paradigma, que era um dos meios da nossa linguagem, se perdeu.''. Id., Investigações Filosóficas, #
56-7, pp. 219-20.
19
Id., O Livro Azul, p. 61.
20
Ver também # # 241, 354, 355 das Investigações Filosóficas.
21
Id., O Livro Marrom, p. 136.
22
Ver # 137, 182, 652, 655 das Investigações Filosóficas, e O Livro Marrom, p. 114 # 17.
19

o que dá vida à frase como algo que, numa esfera misteriosa, com ela coexiste. Mas, seja o
que for que com ela coexista, será para nós apenas um outro signo.'' 23.

Portanto, para Wittgenstein, o ''nosso erro consiste em procurar uma explicação onde
devemos ver os fatos como o ''fenômeno primordial''. Isto é, onde devíamos dizer: este jogo de
linguagem joga-se'' (# 654) , pois, não se ''trata de uma explicação do jogo de linguagem através das
nossas vivências, mas da constatação de um jogo de linguagem'' (# 655).

23
Id., O Livro Azul, pp. 30-1.
20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARISTÓTELES, Metafísica, trad. Hernán Zucchi, B. Aires, Ed. Sudamericana, 1986.


BARBOSA FILHO, B., Nota Sobre o Conceito de Jogo-de-Linguagem nas ''Investigações'' de
Wittgenstein, SP, ITA- Humanidades, v. 9, 1973.
FREGE, G., Lógica e Filosofia da Linguagem (cap. II: Sobre Sentido e Referência; cap. III:
Sobre Conceito e Objeto), trad. Paulo Alcoforado, SP, Cultrix, 1978.
GEACH, P.T. , Saying and Showing in Frege and Wittgenstein, Acta Philosophica -
''FENNICA'', 1978, v. 28.
HINTIKKA, J., Uma Investigação Sobre Wittgenstein, trad. Enid Abreu Dobranszky, SP, Papirus,
1994.
KENNY, A., Wittgenstein, trad. Alfredo Deaño, Madrid, Alianza Editorial, 1982.
STEGMÜLLER, Wittgenstein, A Filosofia Contemporânea (v.2, cap. I: Filosofias da Linguagem;
cap. II: Tendências Convergentes na Filosofia Atual), trad. Edwino A. Royer, SP, E.P.U.,
1977.
WITTGENSTEIN, L. , Tractatus Logico-Philosophicus, trad. Prof. Luiz Henrique Lopes dos
Santos, SP, edUSP, 1993.
__________ ., O Livro Azul (The Blue Book,1933-34, Cambridge), trad. Jorge Mendes, Edições
70, Lisboa, 1992.
__________ ., O Livro Marrom (The Brown Book, 1934-35,Cambridge), trad. Jorge Mendes,
Edições 70, Lisboa,1992.
__________ ., Investigações Filosóficas, trad. M. S. Lourenço, Lisboa, Gulbenkian, 1987.
__________ ., Investigações Filosóficas, trad. Marcos G. Montagnoli, RJ, Vozes, 1994.
__________ ., Investigações Filosóficas, trad. José Carlos Bruni, SP, Ed. Victor Civita, 1984.

Potrebbero piacerti anche