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INTEGRIDADE

INTELECTUAL
Richard B. Ramsay
EDITORIAL CLIE
Galvani, 113
08224 TERRASSA (Barcelona) España
E-mail: libros@clie.es
Web: http://www.clie.es
INTEGRIDAD INTELECTUAL
Richard B. Ramsay
© 2005, Richard B. Ramsay
(Con breves modificaciones en la edición de 2009)
Todos los derechos reservados.
Depósito Legal:
ISBN: 84-8267-376-9
Impreso en Publidisa
Printed in Spain
Clasifíquese: 65 TEOLOGÍA: Pensamiento Cristiano
CTC: 01-01-0065-13
Referencia: 22.45.84
INTEGRIDADE INTELECTUAL
O desenvolvimento de uma cosmovisão cristã
Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
Capítulo 1 A esquizofrenia intelectual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Capítulo 2 A guerra pela verdade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Capítulo 3 Atacar ou retroceder? O cristão e sua relação com a sociedade. . . . . . . . . .47
Capítulo 4 Cosmovisões não cristãs. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
Capítulo 5 Para um enfoque cristão da política. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77
Capítulo 6 Para um enfoque cristão da economia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93
Capítulo 7 Para um enfoque cristão das ciências naturais e da matemática. . . . . . . .105
Capítulo 8 Para um enfoque cristão da arte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .117
Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .......131
GUIA DE ESTUDO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .135
INTEGRIDADE
INTELECTUAL

O desenvolvimento de uma
cosmovisão Cristã
Prefácio

Por mais que tivesse sido criado em uma família cristã, comecei a duvidar da
minha fé durante meu primeiro curso de filosofia na universidade. Em meio da minha
peregrinação espiritual, o Senhor me mostrou sua presença uma noite de brilhantes
estrelas. Entreguei meu coração ao Senhor, e voltei à minha casa espiritualmente
renovado. Entretanto, sem saber no momento, todavia me faltava entregar meu cérebro
ao Senhor também. Todavia assistia às aulas nas que me estavam ensinando em forma
sutil que eu mesmo deveria ser juiz da verdade, que a verdade era relativa e subjetiva.
Estavam-me lavando o cérebro com essa mentalidade, sem que eu desse conta. Eu
seguia vivendo uma dualidade entre minha vida «espiritual» e minha vida intelectual.
Despertei à essa realidade quando fiz um curso sobre a ética. Primeiro pensei
que meu professor fosse um pensador profundo, pela maneira que fazia boas perguntas.
Sempre dizia, «Por que pensa assim?» Me dei conta de que devia saber defender meu
ponto de vista. Um dia fomos à uma conferência de um conhecido filósofo que falou
sobre o tema da ética. Me chamou a atenção que em todo seu discurso não defendeu
nenhuma posição. Simplesmente arrojava suas opiniões sobre qualquer tema. Voltei à
aula indignado, e seguro de que nosso professor o ia criticar duramente por isso.
Quando o professor pediu nossa opinião do discurso, levantei a mão, convencido de que
todos iam aplaudir meu comentário. Eu disse, «Foi interessante, mas não defendeu
nenhuma de suas opiniões». Sabe o que me disse o professor? «Por que pensa que
deveria defender suas opiniões?» Não pude acreditar! Em um instante tudo me ficou
claro. O professor esteve jogando conosco durante todo o semestre. Ele não tinha
nenhuma resposta, e somente pretendia ser sábio, fazendo-nos defender qualquer
comentário com sua fácil pergunta, «por que?»
Depois desta revelação, comecei a questionar as pressuposições mais
fundamentais do meu ensino universitário. Foram os livros de Francis Schaeffer e
Cornelius Van Til os que me ajudaram a ver o problema do relativismo e da pretendida
subjetividade da verdade. Me levaram a entregar, não somente meu coração, mas
também minha cabeça, a Jesus Cristo. Na realidade, foi como uma «segunda
conversão».
Não me entendam mal. A Bíblia ensina que há uma só conversão,
teologicamente falando. Entretanto, alguns vivem uma vida tão dividida entre nossa fé
cristã e nossos pensamentos não cristãos, que necessitamos uma mudança radical em
nossa forma de pensar, tão radical que poderíamos chamar uma conversão intelectual.
Depois de minhas lutas, prometi ajudar a outros que estivessem duvidando de
sua fé. Na realidade, isso é o que me tem motivado a trabalhar no ministério. Quisera
entregar este livro ao Senhor como um cumprimento parcial dessa promessa que fiz.
Capítulo 1
A esquizofrenia intelectual1
«Já não há uma mente cristã.»
HARRY BLAMIRES2

Os evangélicos padecem de «esquizofrenia intelectual». Quando se trata de um


tema teológico ou «espiritual», buscam respostas baseadas nos ensinos das Escrituras,
mas quando se trata de outros temas como a política, a economia, ou a arte, por
exemplo, freqüentemente nossas opiniões não têm nenhuma relação com nossa fé cristã.
O resultado é que projetamos uma espécie de «dupla personalidade».
No momento de escrever estas linhas, há um tema discutido mundialmente: a
guerra de Estados Unidos contra Iraque (2003). Alguns estão a favor, e outros contra.
Não pretendo resolver esta discórdia, mas o que me chama a atenção é a maneira que se
conversa acerca do tema entre cristãos. Escuto comentários simplistas como «Isto é
imperialismo!» por um lado, e «Sadam Hussein é uma ameaça!» por outro lado. Alguns
reclamam que não foi provado que Iraque tenha armas nucleares, e que portanto
devemos deixá-los tranqüilos. Outros advertem que se não detemos o Iraque, eles nos
atacarão. O curioso é que não escutei quase ninguém falar de uma perspectiva cristã da
guerra. Há bastante literatura cristã e há passagens bíblicas que nos podem orientar
acerca da guerra, mas não escuto referências a isto em nossas conversas. E eu sou tão
culpado como os demais. Por que não formamos nossas opiniões acerca deste tema atual
da mesma maneira que formamos nossas convicções teológicas? Tenho a impressão de
que muitos cristãos repetem simplesmente o que tem lido no diário ou em sua revista
secular favorita.
Também creio que muitas opiniões acerca de temas atuais refletem mais
pragmatismo que cristianismo. “Quero dizer, em vez de perguntar quais são os
principios éticos bíblicos, perguntamos o que aconteceria se...», e baseando em nossa
especulação das possíveis consequencias, tomamos decisões importantes. Recordo,
quando vivia em Costa Rica em 1977, conversando com outros missionários acerca do
Canal do Panamá. Alguns diziam que os Estados Unidos não deveria entregar o canal
aos panamenhos porque não saberiam administrar bem. Não escutei comentários acerca
do que seria justo. Quando fui ao Chile em 1978, havia uma diferença marcada de
opiniões acerca do presidente Pinochet. Alguns defendiam a dureza dos primeiros anos
do seu regime, dizendo que era «necessária» para frear a oposição. Repito que não
pretendo analisar estes temas neste momento, porque são bastante complexos. Somente
quero mostrar a maneira em que frequentemente formamos opiniões baseadas em nada
mais que nos «resultados».
Faça uma experiência: trate de conversar com um amigo cristão acerca de
algum, candidato político do seu país. É muito provável que somente fará comentários
pragmáticos (positivos ou negativos) acerca do que aconteceria se fosse eleito. «Se este
fosse presidente, nossa economia melhoraria». «Se este outro fosse eleito, aumentaria o
crime». Não há nada de mal em especular acerca das possíveis consequencias da eleição
de algum político. Entretanto, isto não é suficiente, porque não reflete uma avaliação
profunda baseada em princípios bíblicos. Devemos estar fazendo perguntas como:
Quais são as pautas bíblicas acerca da economia e a política? Qual é o propósito de um
governo civil, segundo a Bíblia? Qual é a posição de tal candidato acerca destes temas?

A. A falta de integridade intelectual


Tal como nos falta integridade moral, nos falta integridade intelectual. Recordo
quando estava estudando no seminário, muitas pessoas que eu considerava
espiritualmente maduros e teologicamente astutos. Entretanto, não podia crer a mudança
de personalidade que se via quando saíamos a praticar esportes! Alguns destes gigantes
espirituais se convertiam em crianças travessas no campo. Quando saía a bola um
pouquinho fora do campo, diziam que não havia saído. Quando um companheiro estava
em seu caminho, não tinham escrúpulos em golpeá-lo forte com seu corpo, colocando-o
ao chão. Quando perdiam a partida, ficavam barvos. Os amigos do seminário que
estavam na outra equipe eram arqui-inimigos no campo. Isto parecia o mais natural, e
jamais questionavam esta ética deportiva. Eu vejo que sucede algo parecido no campo
intelectual, e com nossas convicções. Sem dar-nos conta, frequentemente nos
transformamos em pensadores não crentes quando falamos de certos temas. Inclusive,
alguns nem sequer se tem perguntado se há uma perspectiva cristã da ciência, do
governo, da economia, da arte, ou da música.
Em parte, esta inconsequencia se debe a secularização da educação pública.
Insistem que deixemos Deus de fora quando entramos na sala de ciências naturais. O
instrutor pode ensinar a teoria da evolução como se fosse um fato comprovado, mas se
um aluno se atreve a falar da criação, será acusado de mesclar a religião com a ciência.
Estudamos as conclusões dos psicólogos acerca da natureza do homem, sem dereito a
questionar as pressuposições. Em meu primeiro ano na universidade, o primeiro dia de
aula, o professor de filosofia perguntou quantos acreditavam em Deus. Quando a
metade dos alunos levantou a mão, ele disse: «Bom, espero que no final do semestre,
todos vejam que não há nenhuma razão para crer em Deus». Seu plano deu bons
resultados com meu irmão maior, mas foi precisamente este desafio que me fez
aproximar-me mais do Senhor. Me tenho perguntado muitas vezes, que sucederia a um
professor que declara sua intenção de convencer a todos seus alunos que Deus existe?
Estou bastante seguro que seria despedido!
Também podemos culpar em parte a Tomás de Aquino por ter feito uma
separação entre a fé e a razão, entre o «espiritual» e o «secular». Usamos nossa razão
para estudar a natureza até certo ponto, e depois temos que usar a fé e olhar as
Escrituras para entender as coisas espirituais. Por exemplo, podemos chegar a crer em
Deus através da natureza e o uso da razão, mas temos que ler a Bíblia e exercer a fé para
crer na Trindade. Esta dicotomia permitiu uma separação entre a fé e a razão, entre o
espiritual e o natural, que tem sido daninha. Muitos cristãos pensam que podem falar da
ciência sem referir-se à fé ou à Bíblia, e outros pensam que podem falar da fé,
rechaçando a ciência e a razão.
Kant também destacou esta separação. Distinguiu entre o mundo dos
«noúmenos» e o mundo dos «fenômenos», entre o mundo metafísico e o mundo físico.
A razão «pura» funciona no mundo físico, mas no mundo metafísico, somente funciona
a razão «prática». A religião, a moralidade a liberdade, e a ética estão no mundo dos
«noúmenos», um mundo cheio de contradições.

NOUMENOS (religião, moralidade, liberdade,


ética)
RAZÃO PRÁTICA
Mundo metafísico
FENÔMENO Mundo Físico
RAZÃO PURA
S
(ciência, experiência)
Assim se formou uma dicotomia daninha. A ciência chega a ser racional e
objetiva, enquanto os assuntos religiosos são ambíguos e contraditórios. Alguns negam
o uso da fé para a interpretação da natureza, e outros negam o uso da razão para
interpretar os assuntos «religiosos» (o existencialismo).
Entretanto, as instituições de educação não tem a maior parte da culpa, Tomás de
Aquino não tem a culpa, e Kant não tem culpa. A culpa principal é nossa os evangélicos.
Temos abandonado a batalha pela verdade. Ingenuamente temos posto as lentes dos não
crentes para investigar a criação de Deus. Temos entregado o mundo de bandeija aos
incrédulos.
Harry Blamires argui que «já não há uma mente cristã», que o pensamento
cristão foi secularizado. Com «mente cristã», não se refere a indivíduos que pensam,
mas a «um conjunto de conceitos e atitudes coletivamente aceitos», uma corrente de
pensamento cristão para guiar-nos, uma escola de pensamento com que possamos
dialogar. Opina que temos que buscar amigos não crentes para conversar com
profundidade temas da atualidade ou temas da literatura séria3. Gostaria poder dizer que
não tem razão, mas creio que sua observação é bastante acertada em geral.
Entretanto, há exceções, e creio que houve uma melhoria durante os últimos
anos. Permita-me mencionar somente alguns exemplos para despertar o interesse neles.
Um dos meus autores favoritos é C. S. Lewis. Muitos não sabem que ele era evangélico
(anglicano), mas suas novelas para crianças (série de Nárnia) foram traduzidas e lidas
em muitos países do mundo. Seus livros teológicos e filosóficos estão ao nível dos mais
eruditos de nossa época. Lewis foi modelo de testemunho claro e brilhante de uma
cosmovisão cristã. Ele propôs que nossa influência cristã é ainda mais forte quando
tratamos temas diversos com um enfoque cristão que temas propriamente «espirituais».
Francis Schaeffer foi um modelo para muitos em sua maneira de analisar o pensamento
e a cultura ocidental de uma perspectiva cristã. Há muitos holandeses que esteve
refletindo cristianamente acerca de distintos aspectos da cultura. H. R. Rookmaaker
ensinou acerca da arte (A arte moderna e a morte de uma cultura).

«Creio que qualquer cristão que está qualificado para escrever um bom livro
popular acerca de qualquer ciência pode conseguir muito mais que algum trabalho
diretamente apologético. A dificuldade que enfrentamos é esta. Podemos fazer
(frequentemente) que as pessoas escute o ponto de vista cristão durante uma meia
hora ou mais; mas no momento em que se vão da sala em que fazíamos o discurso,
ou no momento em que deixam de lado nosso artigo, são submergidos
imediatamente de novo em um mundo em que a posição oposta se dá por certo.
O que queremos não são mais livros acerca do cristianismo, mas mais livros
escritos por cristãos acerca de outros temas — com seu cristianismo latente. Isto
se pode ver mais facilmente quando vemos ao revés. Nossa fé não será sacudida
facilmente quando lemos um livro acerca do hinduismo. Mas se lêssemos um livro
básico acerca da geologia, a biologia, a política, ou a astronomia, e
encontrássemos que suas implicações eram hindús, isso sim nos sacudiria. Não são
os livros escritos diretamente em defesa do materialismo os que fazem que o
homem moderno seja materialista; são as pressuposições materialistas de todos os
demais livros. Da mesma maneira, não são os livros acerca do cristianismo os que
realmente inquietarão uma pessoa. Melhor ainda o inquietará quando, buscando
uma introdução breve a alguma ciência, encontra que o melhor livro no mercado
foi escrito por um cristão.»4

Herman Dooyeweerd aprofundou acerca da filosofia (As raízes da cultura


ocidental). Cornelius Van Til fez uma análise importante da filosofia em seus livros de
apologética (A defesa da fé). O exemplo de Abraham Kuyper (1837-1920) deu ânimo a
alguns evangélicos que sentem o chamado a participar na política, ao ser primeiro
ministro de Holanda. Na América Latina os autores de artigos e livros da Editorial
Certeza deu um impacto no pensamento cristão: René Padilla, Samuel Escobar, e Pablo
Deiros, por exemplo. Salvador Dellutri escreveu livros sobre filosofia (A aventura do
pensamento e O mundo que pregamos). A teologia da libertação foi uma corrente pouco
bíblica, mas produziu muita reflexão do cristão, como reação a seus erros, acerca da
política, a economia, e a situação atual de pobreza. Um dos autores hispanos mais
recentes que está fazendo um impacto com sua análise cristã é Antonio Cruz de España
(Pós-modernidade, Sociologia; uma desmitificação, Bioética cristã). No campo da
sicologia tem muito progresso, já que o aconselhamento tem sido um aspecto chave do
ministério da igreja (para mencionar uns poucos: Larry Crabb, Norman Wright, Paul
Tournier, Clyde Narramore, Jorge León, o grupo EIRENE, e o grupo do PEPP no Chile
—Ricardo Crane, Jorge Sobarzo, Felipe Cortés, e Vladimir Rodríguez). Charles Colson
está fazendo um esforço admirável por analisar os acontecimentos atuais, as correntes
do pensamento, e as novidades culturais, desde uma perspectiva cristã (E agora como
viveremos?).William Romanowski (Eyes Wide Open; Looking for God in Popular
Culture), Kenneth Myers (All God’s Children and Blue Suede Shoes), Douglas
Groothuis (Truth Decay), e John Fischer (Finding God Where You Least Expect Him)
são nomes de alguns autores que estão refletindo cristianamente acerca da cultura atual
nos Estados Unidos. Há muitos mais que poderíamos nomear, mas tenho mencionado
alguns para dar uma ideia de que se trata. Não é que esteje de acordo com todos os
ensinos destes autores, mas pelo menos devemos felicitá-los por seu esforço em fazer
um aporte a uma «mente cristã».
Alguns dos pensadores mais destacados da história ocidental tem sido cristãos:
filósofos-teólogos como Agustinho, Anselmo, e Tomás de Aquino, escritores como
Dante, Dostoievsky, e Tolstoi, pintores como Rembrandt, músicos como Johann
Sebastián Bach, por exemplo. Não obstante, em nossa época, poucos cristãos seriam
nomeados entre os mais destacados.
Os evangélicos sempre tem sido uma minoria, especialmente na Espanha e
América Latina. Tem tido que lutar para ter uma voz e uma participação nos
acontecimentos culturais e civis. Creio que com o crescimento da igreja evangélica e
com a superação do nível educacional entre os evangélicos, a situação mudará, mas
sempre haverá um longo caminho para andar.

B. O desafio bíblico
As Escrituras nos desafiam a pensar cristianamente, a «renovar nosso
entendimento», e a «levar todo pensamento cativo».

Romanos 12.2
Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

2 Coríntios 10.5
...anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e
levendo cativo todo pensamento à obediência de Cristo.
A primeira parte da armadura que devemos por é a «verdade».

Efésios 6.14.
Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade.

Quando Deus criou o homem, deu a tarefa de «dominar» sobre os animais, e a


«subjulgar a terra».

Gênesis 1:26-28
Também disse Deus: façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;
tenha ele domínio sobre peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais
domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou
Deus, pois, o homem à sua imagem, a imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céus e sobre todo animal
que rasteja sobre a terra.

Imaginemos que o homem não tivesse caído em pecado; que teria acontecido?
Eu creio que teria desenvolvido uma sociedade perfeita. Haveria povoado a terra, e
haveria criado maneiras de alimentar-se e subsistir, fazendo necessárias algumas formas
de organização. Por exemplo, teria estabelecido pautas para o intercâmbio de produtos,
teria aprendido a cooperar no cuidado das ovelhas, o gado, e outros animais, teria
possivelmente cooperado na educação dos seus filhos, e haveria organizado estruturas
de supervisão das atividades da população. Isto é, haveria feito muitas das mesmas
coisas que fez o homem, mas sem os efeitos daninhos e conflitivos do pecado. Isto
chamaria «o reino de Deus». Esta ordem de ser mordomos sobre a terra tem sido
chamada «o mandato cultural», porque sugere um processo de domínio sobre cada
aspecto da vida humana.
O problema é que o homem falhou e acabou com o plano de um progresso
perfeito do reino de Deus. Agora o reino de Dios somente pode ser estabelecido através
de uma prévia renovação espiritual. Jesus Cristo teve que entregar-se a si mesmo como
castigo em nosso lugar, para que pudéssemos ser reconciliados com Deus e renovados,
antes de poder começar a reconstruir o reino de Deus.
A redenção que Cristo nos comprou inclui mais que uma simples apólice de
seguro eterno. Nossa salvação inclui uma restauração total de todos os efeitos negativos
da queda.

Efésios 1:7-10
...no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundao a
riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda
sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da
plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra.

Colossenses 1:19-20
...por que aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a
paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as
coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.

A primeira atividade «científica» do homem foi o processo de por nomes aos


animais.

Gênesis 2.19
Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as
aves do céus, trouxe-os ao homem para ver como este lhes chamaria; e o nome que o
homem desse a todos os seres viventes esse seria o nome deles.
Isto não pode ter sido um simples jogo, pondo nomes ao azar. Imagino que
incluía algum tipo de classificação, algo parecido ao que fazem os biólogos hoje, ainda
que de uma maneira menos sofisticada.
Jesus é o Senhor de tudo. Não há nenhum aspecto da vida, não há nenhuma área
de pensamento que não seja Seu território. Como cristãos, desejamos que Deus seja
glorificado em tudo.

C. Como desenvolver uma cosmovisão cristã


Uma cosmovisão cristã é uma mentalidade formada por pressuposições bíblicas
para refletir cristianamente acerca de todas as áreas da vida. Foi chamada um «enfoque
de vida cristão », uma «mente cristã», uma «filosofia cristã», uma «weltanshaung »
(alemão), ou uma «world and life view» (inglês). É um processo em que o Senhor nos
sara de nossa «enfermidade» de «esquizofrenia intelectual».
A cosmovisão cristã não inclui todas as respostas, mas que são pautas baseadas
em ensinos bíblicos para guiar a reflexão. Se emprega a base cristã como ponto de
referência para conversar sobre qualquer tema. Reflete de uma maneira cristã acerca de
tudo. Em uma frase, são «lentes cristãs» para ver o mundo5.

1. O conceito cristão da verdade.


Uma cosmovisão cristã pressupõe um conceito cristão da verdade:

- A verdade não é relativa, mas absoluta. Não é diferente para cada pessoa. Não
muda de um dia para outro. Segue sendo a verdade, ainda que eu não entenda ou não
acredite.
- Não é subjetiva, mas objetiva. Não depende da minha mente, mas da mente de
Deus. Não está dentro de mim, mas dentro de Deus.
- Não é independente de Deus, mas que Deus tem que revelá-la ao homem.
- Não há verdades «soltas» que eu possa conhecer, sem a ajuda de Deus. Não é
algo que o homem alcance por si mesmo. Se Deus não me revela a verdade, não a posso
conhecer.
Toda a verdade provém da mente de Deus.
- Não é dialética, mas exclusiva. O que não está de acordo com a mente de Deus,
está equivocado. Não é uma «sopa» em que muitos ingredientes melhoram o sabor. É
um «filé» rico que se come só. A verdade é um sistema unido na mente de Deus. Alguns
ingredientes fazem perder o sabor, porque não são a verdade.
- Não evolui, mas que é eterna. O mais novo não é necessáriamente o mais
correto. Inclusive, se penso em algo realmente «original», é uma mentira!, porque se
penso em algo verdadeiro, Deus já o pensou.
- A verdade se encontra revelada ao homem na Bíblia e na criação. As duas
fontes não se contradizem. Portanto, para pensar corretamente, há que «pensar os
pensamentos depois de Deus» (Cornelius VanTil)6, e para pensar os pensamentos de
Deus, há que pensar de acordo com a Bíblia.

2. O uso da Bíblia na cosmovisão cristã.


A Bíblia nos dá as pressuposições, as pautas, para estudar a criação. A Bíblia nos
orienta para refletir acerca de todos os aspectos da vida. Nos ajusta as lentes para ver o
mundo com mais exatidão. É possível que nesta tarefa não encontremos sempre textos
bíblicos que tratem diretamente nosso tema de estudo, mas os princípios bíblicos
servem como fundamento.

LINGUAGEM
CIÊNCIA

BÍBLIA

ARTE HISTÓRIA

3. A relação entre a filosofia cristã e a teologia


A filosofia cristã é um ramo da teologia.
1) A teologia sistemática estuda a Bíblia para sistematizar temas de Deus, o
homem, e a salvação.
2) A teologia bíblica estuda temas bíblicos na ordem da história da revelação e
no contexto do plano da redenção.
3) A teologia histórica estuda a história do desenvolvimento das doutrinas.
4) A apologética estuda a defesa da fé.
5) A filosofia cristã utiliza pautas bíblicas para estudar temas extra-bíblicos
relacionados com a cultura, as ciências, as humanidades e as belas artes.
A teologia sistemática e a teologia bíblica se concentram mais na Bíblia mesma,
enquanto que a teologia histórica enfoca a história, a apologética põe ênfase em
compreender o pensamento não cristã, e a filosofia cristãa estuda temas como a política,
a economia, a arte, a música, e as ciências, usando principios bíblicos. Portanto, a Bíblia
não proporciona respostas tão exatas e claras muitas vezes no campo da filosofia cristã
como na teologia sistemática. Entretanto, a Bíblia é o fundamento de toda teologia.
A Bíblia provê as pressuposições fundamentais para orientar-nos. Por exemplo,
ainda que a Bíblia não explica especificamente qual é o melhor programa econômico ou
qual é o melhor sistema de governo civil, nos ensina alguns principios acerca do uso das
propriedades, da mordomia, e da autoridade do estado. Ao dizer que não explica
«especificamente» o melhor programa econômico, não significa que isto seja uma falha
na Bíblia, mas que não é o propósito da Bíblia. A Bíblia nos dá pautas, e cada um tem
que tirar as conclusões específicas, de acordo com os princípios bíblicos, e tomar as
decisões na melhor forma possível. Isto implica que há mais «áreas cinzas» na filosofia
cristã que na teologia, e que deveríamos permitir mais liberdade de opinião na filosofia
cristã. Onde a Bíblia não ensina algo específico, há liberdade.

4. Como fazê-lo.
Os pré-requisitos:
Para desenvolver uma cosmovisão cristã, em primeiro lugar temos que conhecer
a Bíblia. As Escrituras são a fonte principal de nossas convicções. Mas ademais,
devemos conhecer o mundo em que vivemos. O processo de desenvolver uma
cosmovisão não é um exercício teórico simplesmente; está relacionado com tudo o que
nos rodeia: a natureza, o governo, a arte, e a escola, por exemplo. Finalmente, devemos
conhecer o pensamento secular e cristão acerca do tema. Entramos em um diálogo com
os demais.

Os passos:
Fazer perguntas
Antes de realizar nosso estudo, começaremos com alguma inquietude. Sem
perguntas, não encontraremos respostas. Por exemplo, poderíamos perguntar: Qual é a
melhor forma de economia? Qual é o melhor partido político em nosso país? Qual é a
diferença entre a arte cristã e a arte secular?
Examinar o ensino bíblico
Depois de estabelecer alguma pergunta, investigamos o ensino bíblico
relacionada com o tema. Possivelmente não encontremos ensino explícito ou
diretamente relacionado, mas sim princípios gerais.

Ler o que os outros dizem


É necessário informar das opiniões de outros, tanto cristãos como não crentes.
Durante séculos de estudo, deve ter bastante escrito sobre os temas mais importantes.

Examinar a Bíblia de novo


Depois de investigar os postulados dos outros, convém voltar a estudar a Bíblia
de novo. Certamente os escritos examinados fizeram refletir de outra maneira sobre o
tema, e convém revisar as Escrituras de novo.

Refletir e meditar
Agora o processo requer reflexão e meditação. Que o Senhor guie nossos
pensamentos. Isto não é um exercício meramente intelectual. É um exercício espiritual.
Devemos consagrar nossos pensamentos ao Senhor e pedir Sua sabedoria.

Tirar conclusões próprias


Finalmente, temos que chegar a algumas conclusões. Possivelmente não sejam
conclusões finais, e provavelmente vamos modificá-las com o passar dos anos.
Entretanto, temos que viver neste mundo de acordo com nossas convicções cristãs.
Exemplo
Por exemplo, alguém poderia ter uma preocupação sobre a melhor forma de
economia.
1) Talvez queira comparar o socialismo com o capitalismo. Que sistema reflete
melhor os valores cristãos?
2) Devo estudar primeiro a Bíblia, por exemplo passagens como Levítico 25, os
profetas, 2 Coríntios 8, e Atos 2-4.
3) Depois, tem multidões de livros acerca do tema, como O espírito do
capitalismo democrático de Michael Novak, A fé na busca da eficácia de José Míguez
Bonino, e Nem pobreza nem riquezas de Craig Blomberg. Poderíamos ler livros clásicos
e polêmicos como A riqueza das nações de Adam Smith e O capital de Marx.
4) Devo voltar a estudar a Bíblia, comparando os conceitos da leitura com os
ensinos bíblicos.
5) Deve refletir, anotar ideias, tratar de pensar como cristão e biblicamente sobre
o tema.
6) Tiro minhas conclusões. Serão tentativas no princípio, mas posso ganhar mais
segurança enquanto as ponho a prova em diálogo com outros, e enquanto sigo lendo
acerca do tema.

Este é um processo contínuo de análise. A reflexão gira em torno do mundo e da


Bíblia. Quanto mais conhecemos a Bíblia, melhor compreendemos o mundo, e quanto
mais conhecemos o mundo, melhor compreendemos a Bíblia. O bom desta aventura é
que estamos sempre descobrindo algum aspecto novo da verdade! Seremos como um
escalador que sobe cada vez mais perto do cume da montanha; quanto mais alto sobe,
mais claramente vê o panorama.

D. Não temos desculpa


É de se esperar que o não crente viva de forma inconsequente. Está tratando de
viver em um mundo criado por Deus de acordo com uma filosofia que exclui Deus. Isto
o leva inevitavelmente a contradizer-se. Miguel de Unamuno aponta a incongruência
entre os dois tomos de Kant: A crítica à razão pura e A crítica à razão prática. Diz que
há um Kant filósofo e um Kant homem «de carne e osso». Opina que na segunda obra
acerca da razão prática, «Kant reconstruiu com o coração o que com a cabeça havia
abatido». Enquanto o filósofo racional nega a Deus, o homem sentimental crê no «Deus
da consciência», o «autor da ordem moral»7.
Unamuno considera que o homem sentimental é o verdadeiro homem.
O homem, diz, é um animal racional. Não sei por que não se diz que é um
animal afetivo ou sentimental. E acaso o que dos demais animais o diferencia
seja mais o sentimento que não a razão. Mais vezes tenho visto raciocinar um
gato que não rir ou chorar. Acaso chora ou ri por dentro, mas por dentro acaso
também o carangueijo resolve equações do segundo grau.
E assim, o que em um filósofo nos deve mais importar é o homem8.

Como cristãos, devemos esperar algo mais consequente da parte de nós mesmos.
Temos um conceito de vida com o qual podemos viver de forma harmoniosa. Por um
lado, quando não fazemos, estamos negando o que dizemos crer. Por outro lado, quando
fazemos, é um testemunho forte à verdade do evangelho. Devemos buscar maior
integridade entre nossa teologia e nossas ideias acerca de outros aspectos da vida, entre
nosso intelecto e nosso sentimento, entre nossos pensamentos e nossas ações.
Há um filme chamado «A Beautiful Mind» [Uma mente brilhante], que
proporciona uma excelente ilustração da situação do não crente. Está baseada na historia
verídica de John Nash, um gênio matemático que recebeu o prêmio Nóbel por uma
teoría nova. Este gênio sofria de esquizofrenia, vendo pessoas que não existiam. (Assim
era no filme; na vida real, somente escutava vozes.) Desejando tanto fazer algo
importante, imaginava que ajudava o governo dos Estados Unidos a decifrar códigos
dos russos, e a encontrar mensagens de atividades de espionagem. Entre as pessoas que
imaginava, havia uma menina de aproximadamente dez anos de idade. Um dia, Nash
descobriu uma inconsequencia importante em seu mundo imaginário: haviam passado
muitos anos, mas a menina seguia sendo uma menina de dez anos! Assim pôde dar
conta de que era não era real. Isto foi o começo de um processo de melhoramento.
Assim é o não crente. Não é que seja um enfermo mental, mas está tratando de viver
uma vida que não coincide com o que Deus pôs em sua mente e em seu coração.
A esposa de John Nash é um modelo para nós, porque teve um papel chave em
seu processo de cura. Ela o amava e ajudava, apesar das suas dificuldades. Estava
sempre a seu lado, vivendo uma vida «normal», e não o abandonava. Esse é nosso papel
entre os não crentes. Devemos amá-los e ficar ao seu lado, apesar de sua
inconsequência, vivendo a verdade que afirmamos. Assim eles poderão ver nossa
coerência de vida e pensamento, em contraste com sua própria confusão e insegurança.
A integridade intelectual e a harmonia entre nosso pensamento e nossa vida são aspectos
fundamentais do nosso testemunho.

Perguntas de verificação
1. Em que sentido padecem os evangélicos de «esquizofrenia intelectual?
2. En que sentido muitos comentários acerca de temas atuais refletem um
«pragmatismo»?
3. Mencione três causas parciais da inconsequência intelectual.
4. Quem tem a maior culpa em permitir uma dicotomia no pensamento cristão?
5. Que quer dizer Blamires quando diz que não há uma «mente cristã»?
6. Mencione as primeiras duas passagens bíblicas citadas no texto que nos
desafiam a desenvolver uma cosmovisão cristã.
7. Que ´e o «mandato cultural»?
8. Que inclui nossa salvação?, segundo Efésios 1.7-10 e Colossenses 1.19-20.
9. Qual foi a primeira atividade «científica» do homem?
10. Que é uma «cosmovisão cristã»?
11. Como se usa a Bíblia no desenvolvimento da cosmovisão cristã?
12. Qual é a relação entre a filosofia cristã e outros ramos da teologia?
13. Quais são os passos para desenvolver uma perspectiva cristã de algum tema?
14. Em que sentido a esposa de John Nash é um modelo para nós?

Perguntas de reflexão
1. Em que aspecto da sua vida você está atuando de forma inconsequente com
suas crenças?
2. Em que áreas de estudo tem mais problemas em harmonizá-las com sua fé
cristã?
3. Em que medida você sofre de «esquizofrenia intelectual»?

Capítulo 2
A guerra pela verdade9

Introdução
A tragédia de Nova York em 11 de setembro de 2001 despertou uma grande
peocupação entre os cristãos acerca das intenções dos muçulmanos. Ainda que foi um
ato político de terrorismo, não deixa de ser uma mostra de sua atitude para com os
cristãos. Sabemos que os Estados Unidos já não é um país tão caracterizado por uma
ideologia ou uma ética cristã. Entretanto alguém como Bin Laden, equivocado ou não, o
considera um país «cristão», e portanto promove atos de violência contra ele. Na
realidade não deveria surpreender-nos tanto. Faz séculos que os fiéis do Islã perseguem
aos cristãos. Em países como Sudão, torturam os cristãos, cortando suas pernas para que
não evangelizem. É impressionante escutar que seguem caminhando de joelhos para
compartilhar sua fé. Há outros países como Paquistão e Arábia Saudita, onde sofrem
diariamente os cristãos. Creio que temos subestimado a ameaça desta religião unida
com a política em uma teocracia.
Os cristãos estão sofrendo mais que nunca na história. Houve mais de 100
milhões de mártires cristãos no século XX 10, mais que as vítimas de todas as guerras
combinadas do mesmo século 11. 160.000 cristãos perderam a vida por causa da sua fé
somente no ano 1996 12.
Não obstante, me preocupa ainda mais outra guerra que é menos visível, mas
mais perigosa. É a guerra das ideias. É a guerra entre a verdade e a mentira. Jesus nos
advirtiu que seríamos entregues à tribulação e que seríamos odiados (Mateus 24.9). Mas
também o Novo Testamento aclara que nossa luta verdadeira não é contra sangue e
carne, mas contra principados, potestades, governadores das trevas e hostes espirituais.
Na mesma passagem, Paulo nos exorta:

Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau
e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estais, pois, firmes,
cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a
preparação do evangelho da paz; (Efésios 6.13-15)

Tenho um filho de dezessete anos e uma filha de dezesseis. As vezes vejo


televisão com eles e escuto a música que eles gostam, e converso com eles acerca da
mensagem que se está comunicando. Na realidade, estão constantemente bombardeados
com mensagens sutilmente enganadoras. Por exemplo, nos programas de televisão,
quase nunca tem um personagem cristão. Se há um, normalmente é um fanático fechado
e negativo, pouco agradável. Enquanto 66 % da população nos Estados Unidos assiste
uma igreja pelo menos uma vez ao mês, a televisão indiretamente ensina que quase
ninguém vai à igreja. Os espectadores, sem que ninguém lhes diga diretamente esta
descarada mentira, começam a crer. Para um jovem que busca aceitação entre seus
companheiros, esta influência faz esconder suas crenças e sua participação na igreja.
Vejo uma hostilidade cada vez mais aberta e mais intensa para com os cristãos.
Há um site de Internet chamado «Perdendo minha religião», mantido por pessoas que
antes compartilhavam a mensagem cristã com seus companheiros da universidade.
Agora estão dedicados a destruir a fé cristã. Distribuem seu próprio folheto titulado
«Fique em casa aos domingos; economize 10%», que explica «Cinco razões por que já
não somos cristãos». Publicam diálogos com cristãos ingênuos que terminam sendo
ridiculizados, porque fazem perguntas que não podem responder. Por exemplo,
perguntam como Deus pode mandar alguém ao inferno simplesmente porque não crê
nele. «Que diria de um pai», perguntam, «que diz a seu filho, ‘se não me amas antes de
que cumpra seis anos, vou te queimar no forno da cozinha?’». «Existe livre arbítrio no
céu?», especulam. Quando o cristão responde que sim, então lança o desafio feio:
«Como sabe, então, não vai perder tua fé no céu e ser expulso, tal como sucedeu a
Lucifer?» Há pouco escutamos nas notícias de uma senhora que dirigia um ônibus
escolar e orava o Pai Nosso com os passageiros antes de sair da escola. Para estar segura
que não incomodaria os pais, escreveu uma carta a cada responsável, perguntando se
estavam de acordo. Todos, sem exceção, responderam, dando seu apoio a esta prática.
Entretanto, algum supervisor proibiu, dizendo que estava contra a separação de igreja e
estado. Não somente proibiram orar com os alunos; disseeram que se observasse algum
jovem orando, tinha que repreendê-lo! Muitos escutaram do caso na Califórnia em que
um pai processou a escola por obrigar a sua filha a dizer a saudação à bandeira, porque
contém a frase, «uma nação, sob Deus...». O que nem todos sabem é que esta menina
era cristã, e não tinha nenhum problema em dizer esta frase. Ela e sua mãe assistem
regularmente a uma igreja batista. Seus pais estão divorciados, e somente seu pai é ateu,
e fez um escândalo pela saudação à bandeira que se usou durante muito tempo.
Seguramente vocês podem contar suas próprias anedotas de perseguição. Conto estes
casos como exemplos da crescente oposição, e da guerra das ideias.
Nesta época pós-moderna e anticristã, temos que saber defender nossa fé. Esse é
o propósito da apologética. Quisera animar a estar:

Estando sempre preparado para responder a todo aquele que vos pedir razão da
esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa
consciência (1 Pedro 3.15,16)

e a obedecer o mandato de Paulo:

Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
(Romanos 12.2)

Analisaremos o pensamento filosófico atual, comparando especialmente os


conceitos da verdade.

I. O pensamento atual
A. O transfundo filosófico
Para entender o pensamento atual, temos que analisar o transfundo. A idade
moderna (desde Descartes) colocava sua fé na razão e na ciência. Não obstante, em
nossa época chamada «pós-moderna» se perdeu a confiança na razão e na ciência13.
Paul Johnson, em Tempos modernos, estabelece que a atitude chave do século vinte era
a insegurança. Devido a teoria da relatividade de Einstein, a declaração da «morte» de
Deus da parte de Nietzsche, e uma instabilidade política internacional, a insegurança
cativou a mentalidade do homem pós-tmoderno. O homem vive «em um mundo sem
guia e à deriva em um universo relativista»14.
• (Rookmaaker, A arte moderna e a morte de uma cultura, CLIE, 2003)

Há um quadro pintado no ano 1949 por Francis Bacon, chamado «Cabeça VI»,
que expresa o terror do homem atual. Mostra uma autoridade religiosa sentada,
aparentemente encerrada dentro de um cubo de vidro, como se estivesse em uma
exposição; sua cabeça está desaparecendo, e não se vê nada do nariz para cima, mas
somente manchas negras e as cavidades dos olhos. A única parte da sua cabeça que se
vê claramente é sua boca, aberta em um grito calafrio. Creio que este quadro reflete a
reação atual à filosofia anterior; filosofia de pensadores como Francisco Bacon (que
curiosamente leva o mesmo nome) do século XVI (1561-1626). O filósofo anterior foi
um empirista que criou na razão, a lógica indutiva, e o método científico.
Que passou entre o primeiro Francisco Bacon e o segundo? Se deram conta de
que se tinham razão os filósofos modernos, então o homem perdia sua dignidade e seu
significado. Se tudo é resultado de um processo impessoal, como haviam estabelecido
os filósofos, para ser consequentes, devem aceitar que os mesmos pensamentos também
são parte desse processo impessoal, e portanto, não tem significado verdadeiro. Se o
mundo é um grande relógio, movendo-se de forma mecânica, meus próprios
pensamentos são nada mais que outro «tic tac, tic tac» do relógio. O resultado é que não
posso defender minha própria filosofia. O mesmo postulado de que o universo é
fechado se destrói sozinho. Não é de surpreender-se que o homem atual esteje gritando
desesperadamente como a «Cabeça» no quadro de Bacon.

B. A linha da insegurança
Se pode observar uma «linha da insegurança» na filosofia ocidental.
Basicamente é uma vacilação entre a segurança e a insegurança.

segurança

insegurança

Mas a situação é um pouco mais complexa que o que mostra o gráfico. Esta
linha de insegurança para os gregos passou por cinco etapas: 1) começaram com a
esperança de conhecer algo da verdade, 2) depois duvidaram e 3) perderam totalmente a
segurança, chegando ao desespero, 4) lutaram para sair do poço do desespero, e 5)
finalmente terminaram falando da ética, mas acéticos acerca da possibilidade de obter
conhecimento seguro.

5.Ascetismo e ética
1.Esperança de
conhecimento

2. Dúvida

4. Luta

3. Desespero
O filósofo Tales pensava que podia descobrir a realidade básica detrás de tudo;
pensava que esta era a água (etapa 1). Mas Heráclito destaca o fato de que tudo muda,
que «nunca se toma banho duas vezes no mesmo rio» (etapa 2). Gorgias conclui que se
tudo muda, não pode estar seguro de nada, nem comunicar nada. No momento que se
acredita saber algo, esse algo já mudou. Cratilo, consequente com isto, simplesmente
deixou de falar (etapa 3). Neste bajón epistemológico aparecen Platão e Aristóteles,
tratando de resgatar a possibilidade do conhecimento, ou através de uma experiência
mística (Platão, segundo a alegoria da cova), ou através da lógica (Aristóteles) (etapa 4).
Observa-se que o homem não pode suportar a desespero e a falta total de segurança. O
próximo ciclo na filosofia grega é dominado pelos ascéticos e o tema da ética da parte
dos estóicos e os epicureos. Aceitam a inconsequencia e a falta de segurança, mas de
todas maneiras querem falar da ética (etapa 5).
Ascetismo e ética
acéticos, estóicos,
Os filósofos gregos
epicureos
Esperança de conhecimento
Tales

Dúvida Luta
Platão, Aristóteles
Heráclito

Sucede algo parecido na filosofia moderna. Os racionalistas (Descartes: «Penso,


logo existo») e os empiristas (Locke: O que se vê é o que se sabe) confiavam em sua
capacidade de conhecer a verdade. Outros empiristas como Hume eram acéticos. Kant
(1724-1804) e Hegel (1770-1831) imediatamente trataram de evitar el bajón do
desespero, resgatando alguma forma de conhecimento, apesar do questionamento da
lógica e a percepção. Inclusive se adiantaram aos mais pessimistas, não como sucedeu
entre os gregos. Kant estabeleceu que nosso conhecimento é produto de uma
combinação de duas coisas: a matéria crua que vem de fora da nossa mente, e nosso
Acetismo e ética
Teologia liberal Teologia de libertação
Esperança de conhecimento (José Míguez Bonino)
Descartes, Locke

Luta
Kant, Hegel
Dúvida Existencialismo (Sartre, Camus)
Hume

Desespero
Nietzsche, Marques de Sade

filtro mental que processa toda percepção. Hegel propôs a dialética das ideias. Segundo
ele, o conhecimento humano é a evolução dos pensamentos do grande Espírito na mente
dos homens. Nietzsche (1844-1900), que vem depois de Kant e Hegel historicamente,
representa o ponto mais baixo, onde nada tem sentido (o niilismo). Um escritor mais
próximo ao tempo de Kant que representa o desespero é o Marquês de Sade (1740-
1814), conhecido por sua libertinagem moral e por receber prazer da crueldade sexual,
de onde se deriva o nome «sadismo» 15. Os existencialistas como Sartre e Camus, que
vem depois de Nietzsche, lutaram para evitar as consequências do niilismo. Camus
disse, «Nas profundidades mais escuras de nosso niilismo, buscou somente a maneira de
sair do niilismo» 15. Os teólogos liberais também perderam a noção da verdade absoluta,
e não crêem na autoridade infalível das Escrituras, mas todavia defendem seus
princípios éticos. Para muitos deles, Jesus é simplesmente um bom exemplo de
moralidade. A teologia da libertação é outro exemplo desta insegurança acompanhada
por uma ênfase na ética, advogando pela justiça para os pobres.
O Marquês de Sade era cínico, entregue a seus vícios, sem se preocupar com as
consequências.
[Foi] Criado pela natureza com inclinações ardorosas, com paixões
fortíssimas, unicamente colocado neste mundo para entregar-me a elas e
para satisfazê-las. Renuncia a ideia do outro mundo, não há, mas não
renuncies ao prazer de ser feliz e de fazer a felicidade neste17.

Disse em uma carta da prisão:

Te escandaliza isto talvez, oh ser virtuoso? Te queima esses ouvidos que desde a
infância tem sido assaltados pelas fábulas da Igreja? Pois bem, vê-te em paz; se
os absurdos que te tem ensinado são certos, se —como te tem dito— há um
inferno no que serão castigados os que se abandonem ao vício, então não cabe
dúvida de que haveremos de arder nele. Mas, como diria Blangis, um inferno
habitado pelos de nossa mesma espécie, apesar de todas as torturas, é muito
mais desejável que um céu ocupado pelas criaturas monótonas a que se nos
apresenta como modelos de virtude18.

Nietzsche declarou que Deus «está morto», que a vida não tem sentido, e que
não há base para a moralidade. Propõe que o «superhomem» se libera da ética do fraco
e cria suas próprias normas; é autosuficiente e tem uma vontade forte. Não só suporta o
sofrimento, mas pode fazer sofrer a outros sem sentir-se mal. Este enfoque influiu no
desenvolvimento dos tiranos como Hitler, Mussolini, e Stalin. O resultado pessoal na
vida do filósofo mesmo foi a enfermidade mental. Tanto no Marquês de Sade como em
Nietzsche, podemos olhar o poço imundo da crueldade que é produto do desespero.
José Míguez Bonino é um representante protestante da teologia da libertação.
Ele aceita um conceito da comunicação que elimina toda certeza. Para ele, o significado
de alguma comunicação envolve todo seu contexto: o tom de voz, a expressão na cara,
os gestos, o transfundo de cada um, enfim, uma infinidade de fatores que rodeiam e que
afetam as duas pessoas que estão tratando de comunicar-se entre si. Já que é impossível
comunicar uma infinidade de fatores, também é impossível estar seguro da validez da
comunicação19. Ninguém pode estar seguro de que tenha comunicado algo
perfeitamente ou que tenha entendido algo corretamente. (Isto nos lembra a Gorgias e a
Cratilo!) Para Bonino, este problema afeta também a comunicação entre Deus e o
homem; é impossível ter a segurança de ter entendido a Deus. Bonino animava aos
cristãos a comprometer-se com o movimento marxista revolucionário para ajudar aos
pobres e oprimidos, mas admitia que este compromisso era uma «aliança inquietante», e
que a teologia da libertação poderia estar equivocada.

Que ninguém pense, então, que eu estou proclamando a


«teologia da libertação» tal como apareceu na América Latina e em
outras partes, como a teologia do novo mundo, ou como o precursor
de um novo cristianismo.
É uma simples resposta inicial e ambígua a uma percepção tênue de
uma nova tarefa e uma nova responsabilidade. Está destinada a
morrer, que Deus permita que sua vida e sua morte sejam
frutíferas20.

O problema é que, apesar desta insegurança, tinha convicções muito fortes


acerca da injustiça, as causas da pobreza, e a ética. Pedia um compromisso com a
revolução marxista, incluindo o possível uso da violência, algo bastante radical,
considerando a incerteza de sua filosofia.
Quase qualquer indivíduo que está buscando a verdade sem Cristo também passa
por este mesmo ciclo de certeza, insegurança, e ética inconsequente. Muitas pessoas
primeiro crêem que sabem algo, depois começam a duvidar de tudo. Mas como não
podem viver com essa incerteza total, finalmente desenvolvem um estilo de vida
baseado em sua própria ética. Curiosamente, algums pessoas que sabem que não tem
nenhuma base para sua ética a defendem ferozmente.
O único coisa boa desta insegurança atual é que é uma excelente oportunidade
para falar do evangelho e da Palavra de Deus. Jesus é a verdade, o caminho a vida. A
Bíblia é a revelação de Deus para a humanidade. Temos uma mensagem de esperança e
segurança para nossos amigos não crentes!
II. O conceito bíblico da verdade
A. Dependência ou independência de Deus
Quando estava na universidade, comecei a duvidar de tudo o que me haviam
ensinado na igreja e em meu lar. Mas o Senhor me mostrou uma noite olhando as
estrelas que Ele é real, que está ali, e eu entreguei minha vida a Ele. Disse que fizesse o
que queria comigo. Mas logo me encontrei com pessoas que me faziam duvidar da
Bíblia. Eu fui ao seminário, não porque senti um chamado a ser pastor ou missionário,
mas porque buscava respostas. Sabia que se não podia estar seguro da Bíblia, não podia
estar seguro de nada! Tinha o desejo que crer nela, mas não podia justificar em minha
mente.
Tive a benção de estudar com Cornelius Van Til, um apologista de renome. Foi
sua exposição da história de Adão e Eva no jardim do Edén que falou, não a minha
cabeça, mas a meu coração. Dizia que, quando Deus disse que iam morrer se comessem
da árvore da ciência do bem e do mal, eles não tinham que duvidar da Sua palavra. Deus
era seu criador, e eles eram simples criaturas. Seu erro, e o começo da queda, era o fato
de questionar a Deus. «Imaginem!», dizia Van Til nas nossas aulas, «Adão e Eva
pensaram: Me pergunto...., me pergunto....quem terá a razão, Deus ou a serpente?» Seu
pecado, dizia, foi pretender ser independente de Deus e julgar Sua Palavra como se eles
fossem superiores a Ele. Mas que insolência!
Quando li isto, e quando escutei nas aulas, me dei conta que eu tinha a mesma
atitude acerca das Escrituras. Estava pondo-me por cima da Palavra de Deus,
perguntando-me se tinha razão. Pedi perdão ao Senhor, e deixei de questionar a Bíblia.
Já sabia que Ele era a fonte de toda verdade. Pensei: Se Deus diz que a lua é de queijo
verde, eu mudarei meu conceito da lua, do queijo, e da cor verde! Se Ele diz, é verdade!
Este é o ponto que quiz destacar. Não é que Deus simplesmente seja tão
inteligente que Ele saiba a verdade. Deus inventa a verdade! Quando Deus pensa, é
verdade simplesmente porque Ele pensa!
Eis aqui o problema do homem que não nasceu de novo: todavia pretende ser o
centro do seu próprio universo, e considera que sua própria mente tem direito de decidir
o que é a verdad. Tem duas opções básicas: a) crê que a verdade está fora da sua mente,
mas que decide o que aceita, b) crê que a verdade está dentro da sua própria mente e que
ele mesmo determina o que é a verdade. No primeiro caso, o mais comum, não se
considera tão descaradamente a fonte da verdade, mas se faz o juiz da verdade. No
segundo caso, obviamente está tomando o lugar de Deus.
No primeiro caso, onde a verdade está fora da sua mente, o pensador tem um
problema sério: não pode estar seguro de nada. Todas as verdades fora da sua mente
estão relacionadas entre si, e qualquer nova verdade que descubra poderia contradizer
algo que acredita. A conclusão é que teria que saber tudo para estar seguro de algo. E ele
sabe que não sabe tudo. Se não reconhece suas limitações, podemos perguntar algo
como: Há uma estrela a dois milhões de anos luz diretamente ao norte do polo norte da
terra? Qualquer um admitiria que não sabe a resposta. Então, se não sabe isso, há muitas
outras coisas que não sabe. Uma simples maçã contém uma infinidade de fatores
relacionados; é óbvio que há muitas coisas que não sabemos acerca dela. Por exemplo,
Como se formou? Quanto tempo demorou para madurar? O que sucederá com ela? Se
tratamos de descrever o que é uma maçã, dizendo por exemplo que são vermelhas ou
verdes, ficamos com a incerteza de não haver maçãs também de outras cores. Estamos
totalmente seguros de que não há maçãs brancas em algum lugar remoto, onde não as
hemos visto?

O homem processa as verdades que


Observa

???? RESULTADO:
Insegurança total.

No segundo caso, em que a verdade realmente vem da sua própria mente, é mais
fácil para a pessoa defender sua posição filosoficamente. Esta pessoa simplesmente
insiste que ela determina o que é a verdade. Dizem o que dizem, ela sempre decide o
que é verdade. O problema neste caso é que não pode viver consequentemente com sua
teoria. É dizer, no fundo do seu coração, ele ou ela sabe que não é a fonte da verdade.
Podemos levar à pessoa a linha do trem, e fazer que espere parada ali nos trilhos até que
escute vir o trem. Quando escuta o barulho, veremos sei pode decidir que não venha o
trem! Qualquer um saberia que sua mente não pode controlar isso, e saltará rapidamente
dos trilhos! O ser humano sabe instintivamente que a verdade está fora da sua própria
mente.

O homem processa as verdades em sua


própria mente.

RESULTADO: inconsequência

O conceito cristão bíblico da verdade está centrado em Deus. Reconhece que


Deus é a fonte, o autor, a origem, de toda verdade. Deus, sabendo TUDO, sendo a
própria FONTE da verdade, decidiu em sua misericórdia revelar-nos algo da verdade.
Portanto, podemos estar seguros do que Ele nos diz. Somos parte da Sua criação, e
devemos submeter-nos a Ele. Devemos reconhecer nossa absoluta dependencia dele, até
em nossos pensamentos. O resultado desta submissão é conhecimento seguro. É a única
maneira de estar seguro de algo

DEUS
Deus revela a verdade ao homem

RESULTADO:
CRIAÇÃO
Conhecimento e segurança

Para José Míguez Bonino, a comunicação é insegura porque há uma infinidade


de fatores no contexto que são impossíveis de compreender. Isto o obriga a saber tudo
para estar seguro de algo. Tem razão em que há uma infinidade de fatores no contexto
que influem na comunicação. Mas a solução deste problema está em nosso Deus
soberano e onisciente que se compraz em revelar-nos algo da verdade de forma eficaz.
Deus não somente conhece todos esses fatores, mas Ele é o criador deles, e é a fonte de
toda verdade. Portanto, Ele pode explicar-nos também o significado verdadeiro de
qualquer aspecto da sua criação ou de qualquer evento da história. Se Deus nos
comunica algo, e nos promete guiar à verdade, devemos confiar que podemos saber
algo da verdade, sem saber toda a verdade. Como dizia Francis Schaeffer, podemos
conhecer algo verdadeiramente, sem conhecê-lo exaustivamente21.

Deus nos promete que podemos conhecer a verdade.

João 8. 31-32
Se vós permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus
discípulos; e conhecereis a verdade....
João 16.13
E quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade....

A Bíblia diz de si mesma que é «inspirada (literalmente "exalada") por Deus» (2


Timóteo 3.16), e que é segura, produto de Deus.
2 Pedro 1.19-21
Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em
atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a
estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma
profecia da escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer
profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens (santos) falaram da parte de
Deus, movido pelo Espiríto Santo.

B. Levemos cativo todo pensamento a Cristo


Uma das consequencias do conceito bíblico da verdade é que toda a verdade está
relacionada com Cristo. Jesus é «o caminho, a verdade, e a vida» (João 14.6). Quando
Jesus veio se fez homem e caminhou na terra, nos mostrou de forma pessoal como é
Deus. Nos explicou a verdade acerca do sentido da vida, acerca da nossa origem e nosso
futuro, acerca do Pai e do Espírito Santo. Já que o propósito da história é a salvação em
Cristo, cada evento está relacionado com ele de alguma maneira. Parte da nossa tarefa
em estudar a história e em investigar a criação é buscar a Cristo, e buscar Sua glória.
Deus criou a natureza com uma mensagem impressa em cada detalhe. As estrelas
revelam Sua glória, as montanhas nos recordam da Sua grandeza, o mar nos fala da
profundidade da Sua graça. Como dizia Van Til em suas aulas, toda a criação tem as «as
digitais » de Deus.

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também
a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são indesculpáveis.
(Romanos 1.20)

Tal como uma pintura comunica uma mensagem do artista, a natureza comunica
algo de Deus. Porém necessitamos ajuda para interpretar a criação. A Bíblia é o código
divino para interpretá-la.
G. K. Chesterton falou do homem atual como um sobrevivente de um naufrágio
que desperta só na praia de uma ilha. Tem amnésia, mas está rodeado de objetos do
barco em que navegava: moedas, uma bússola, e roupa. Estas lembrança indicam algo
do mundo do qual veio, mas necessita que alguém explique o que aconteceu 22. Assim a
criação nos dá pistas de Deus, e da vida antes da queda, porém necessitamos de mais
explicação. A Bíblia não somente explica como sucedeu a tragédia da queda, mas
também nos explica como salvar-nos.
Francis Schaeffer nos ajuda com outra ilustração: Nos convida a imaginar que
encontramos em um armazém um livro que foi mutilado, deixando somente dois
centímetros de cada página, mas todas as páginas estão unidas, presas a lombada do
livro. Saberíamos que estas porções não chegaram a estar unidas por casualidade, e
poderíamos discernir com dificuldade algo da sua mensagem. Entretanto, não
poderíamos entender muito bem o conteúdo. Isto representa a criação, o universo. Agora
imagine que encontramos partes das folhas soltas que completam cada página do livro
mutilado. Depois de pegar estas folhas as porções cortadas, teríamos o livro completo,
que agora tem mais sentido. As folhas soltas representam a Bíblia23. O ponto é que não
entenderemos o universo até que leiamos a Bíblia, e a Bíblia tem uma «folha» para cada
aspecto do universo.
Isto significa que cada área do estudo, seja ciência, linguagem, história, ou a
arte, necessita ser avaliada à luz da revelação especial encontrada na Bíblia. Devemos
por as lentes bíblicas para estudar qualquer aspecto da criação. Por exemplo, quando
estudamos a lingüística, podemos encontrar no relato da Torre de Babel a explicação da
origem da variedade de idiomas. Quando estudamos a arte, podemos tomar conta que o
homem é criativo porque Deus o fez a Sua imagem. Quando estudamos a ciência,
podemos apontar a maravilha e a beleza da criação de Deus. Quando estudamos a
história, podemos apoiar nos dados históricos que estão na Bíblia.
Se perguntarem, «Mas o que tem a ver a Bíblia com algo como a matemática?»
Meu irmão estudou matemática, fez doutorado na Universidade de Harvard, e é
professor de matemática da Universidade de Colorado. Ele me disse que a matemática é
um terreno de estudo bastante em harmonia com conceitos cristãos da vida. O que
sucede é que o cristão faz a matemática sendo mais consequente com seu enfoque de
vida, enquanto o não crente é inconsequente quando faz a mesma matemática. Por
exemplo, se alguém crê que o mundo vem do caos, de forma impessoal, não tem por
que confiar na matemática, ou em sua aplicação no mundo. Também me diz que nos
niveis mais altos, o estudo da matemática se volta bastante filosófico.
Vern Poythress, doutor em teologia e em matemática, que também se formou na
Universidade de Harvard, escreve acerca das diferenças entre o enfoque cristão da
matemática e o enfoque não cristão. Dá o exemplo do valor de «π» (pi). Este é um valor
usado para geometria, por exemplo para calcular a área de um círculo ( A = π. r²).
Entretanto, é um valor que nunca se pôde calcular com exatidão, porque tem decimais
que não terminam (3.141592......). Há um site na Internet dedicado a calcular o valor de
π , que mostra uma larga série de números que seguem passando pela monitor, sem fim.
A pergunta é: existe realmente π ? Alguns matemáticos dizem que não, porque não se
pode saber o valor verdadeiro. Outros dizem que sim. O cristão pode reconhecer a
existência de algo que nenhum homem pode calcular, porque sabe que Deus sabe o
valor24. Eu concluo que, se a matemática pode levar-nos a falar de Deus, então qualquer
estudo pode levar-nos a Deus!
Qualquer tema nos dá a oportunidade de chegar ao evangelho. Cristo é o centro
da história e o centro do universo. Paulo diz que devemos derrubar «argumentos e toda
altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus», e levar «cativo todo pensamento
à obediência de Cristo» (2 Coríntios 10.5).

C. A verdade se vive
Ainda que não compartilho seus postulados principais, creio que os teólogos da
libertação tem chamado a atenção a um aspecto importante da verdade: saber a verdade
também significa vivê-la. José Míguez Bonino critica a teologia ocidental por ser
tradicionalmente muito abstrata e teórica, desapegada da realidade. Disse que está «fora
do conflito e a tensão, revoando sobre a história e o mundo»25, e que é «introvertida»26.
Opina que o conceito tradicional da verdade recebeu muita influência do idealismo
platônico. Este conceito separa a verdade da ação. Supõe-se que um pode saber a
verdade por somente formular corretamente os conceitos em sua mente. O fato de que
viva ou não de acordo com aqueles conceitos não afeta seu «conhecimento» da verdade.
O importante é que o conceito corresponda precisamente à «realidade».
Nesta perspectiva, a verdade pertence a um “universo da verdade”,
completo em si mesmo, que pode ser mais ou menos reproduzido ou
copiado em proposições “corretas”, em uma teoria (a saber uma
comtenplação desse universo) que corrsponde a essa verdade. Logo, em
um segundo passo, aparece a “aplicação” dessa teoria a uma situação
histórica particular. A verdade é pois preexistente a sua efetividade
histórica e independente dela. Sua validez ou legitimidade tem de ser
comprovada em relação com esse “céu de abstrato da verdade”,
totalmente aparte da sua historização. É esta concepção da verdade a que
tem feito crise na teologia latino americana27.

Míguez Bonino insiste que, segundo a Bíblia, conhecer a verdade é vivê-la. O


conhecimento da verdade não se pode separar da obediência. Citando João 7.17, «Se
alguém quiser fazer a vontade de dele, conhecerá a respeito da sua doutrina se ela é de
Deus...», sustenta que se não temos o coração disposto a obedecer, Deus não permite
que entendamos a verdade, nem sequer intelectualmente. Também argui que
biblicamente, conhecer a Deus significa ter uma relação fiel e pessoal com ele28-29.
Míguez Bonino tem razão em sua advertência. Talvez inconscientemente, muitos
cristãos assimilam um conceito não-bíblico da verdade. Tendem a crer que saber a
verdade significa simplesmente ter uma ideia na mente que corresponde a realidade,
como se a verdade fosse uma galáxia de proposições flutuando no ar. Porem o conceito
bíblico do conhecimento não permite concebê-lo como algo meramente intelectual e
teórico. Jesus disse, «Se vós permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente
meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará». O conhecimento
da verdade, a fé na doutrina do evangelho, traz mudanças na vida. Tiago 2.17 diz,
«Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta». Crer algo da verdade
significa viver de acordo com o que se crê. «Saber» a verdade implica uma relação de
fidelidade com Deus.
Não obstante, aqui temos que evitar o extremo que afirma que a verdade não
inclui nada de proposições ou de conhecimento intelectual. Ainda que a verdade não é
somente intelectual, tem que incluir um aspecto cognitivo. Em Hebreus 11.1, lemos que
a fé é
«a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem». Os heróis
da fé em Hebreus 11 atuaram de acordo com sua convicção de que o que Deus havia
dito era verdade. Paulo menciona algumas proposições que devemos aceitar como parte
essencial da nossa fé, os dois fatos da morte e ressurreição de Cristo.

1 Corintios 15.1-5
Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no
qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como
vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que
também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as escrituras, e que
foi sepultado e ressucitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a cefas e
depois aos doze.

Perguntas de revião
1. Qual é a primeira peça da armadura mencionada por Paulo em Efésios 6.13-
15?
2. Qual é a diferença fundamental entre o modernismo e o pos-modernismo?
3. Segundo Paul Johnson, em Tempos modernos, qual é a atitude chave do século
vinte?
4. Explique como o quadro de Francis Bacon, «Cabeça VI» expressa a atitude do
homem atual.
5. Explique a «linha da insegurança».
6. Quais são as cinco etapas da linha da insegurança dos filósofos gregos?
7. Trace a linha da insegurança e ponha exemplos de filósofos gregos.
8. Trace a linha da insegurança e coloque os nomes de exemplos de filósofos
modernos.
9. Qual é o problema epistemológico principal do homem não crente?
10. Explique as duas opções epistemológicas básicas que tem o não crente e as
consequencias de cada uma.
11. Explique o conceito cristão da verdade e faça o desenho que corresponde.
12. Explique a ilustração de G. K. Chesterton acerca da situação do homem
atual.
13. Explique a ilustração de Francis Schaeffer das folhas do livro.
14. Que princípio bíblico importante acerca da verdade podemos aprender da
teologia da libertação?

Perguntas de reflexão

1. Vovê passou pelas etapas da segurança, insegurança, e ética inconsequente?


2. Seu conceito da verdade concorda com o que se estabeleceu neste capítulo?,
ou se identifica mais com um dos conceitos não cristãos?
3. Você sente que está submetido ao Senhor em cada área do pensamento?
4. O que pode fazer para «levar todo pensamento cativo a Cristo»?
Capítulo 3
Atacar ou retroceder?
(o cristão e sua relação com a sociedade)
«São pobres, mas enriquecem a muitos.
(...) Para dizê-lo simplesmente, a alma é para o
corpo o que os cristãos são para o mundo30.»
CARTA ANÔNIMA A DIOGNETUS,
POSSIVELMENTE DO SEGUNDO SÉCULO

Quando fui ao Chile em 1978, o país estava vivendo todavia sob o regime militar
de Augusto Pinochet (desde 1973 até 1990). Alguns me disseram que ele havia salvo o
país do caos econômico e social causado pelo governo marxista de Salvador Allende.
Outros me falaram de tortura, opressão e matanças perpetrados pelo governo militar.
Curioso mas ingênuo, comecei a falar com muitas pessoas acerca da situação.
Frequentemente os cristãos me diziam algo como «os cristãos não nos metemos na
política». Logo um dos missionáros maiores me admoestou, dizendo que não deveria
fazer perguntas acerca de assuntos tão polêmicos.
Em seu livro Haven of the Masses [Refugio das massas], Christian Lalive
d’Epinay sugere que os evangélicos no Chile tem usado a igreja como um refúgio do
mundo, e que não se envovem nos acontecimentos sociais. Em uma da suas pesquisas,
mostra que 64% dos pentecostais no Chile opinam que a igreja não deveria preocupar-se
com os problemas políticos e sociais. Por suposto que há mudanças pessoais na vida dos
evangélicos, mas tendem a ilhar-se do «mundo». Postula que os pentecostais estão
todavia terminando um processo de transição da estrutura social da antiga fazenda para
uma democracia. Diz que por um lado goatam da liberdade, mas que por outro lado, o
desorienta. Logo tem que tomar mais decisões, sem um patrão sobre eles. A igreja
evangélica provê uma figura de autoridade bondadosa na pessoa do pastor. Isto
significa, o pastor chega a ser um novo «patrão», e a igreja é a nova sociedade
estendida. Em lugar de lutar para mudar a sociedade do país, formam uma subcultura
em sua igreja, onde se sentem mais seguros31.
Nos Estados Unidos há muitas distintas posições acerca de como relacionar-se
com o mundo. Eu fui criado em uma igreja pequena e bastante estrita. Quando era um
menino, pensava que havia poucos cristãos verdadeiros no mundo, e que eu deveria
evitar formar amizades com pessoas más «ali fora». Há outras igrejas que estão bastante
envolvidas em problemas sociais, mas não falam da sua fé pessoal em Cristo, e não se
referem muito à Bíblia quando buscam respostas.
Recordo quando estava na universidade (1966-1970), que os estudantes
protestavam contra a guerra no Vietnã, e falavam contra o racismo. Quando ia à igreja
aos domingos, os temas de conversa pareciam completamente distante do «mundo real».
Parecia que não havia muito interesse nos problemas atuais. Em meu quarto ano da
universidade, conclui (equivocadamente, por suposto) que a igreja não era a instituição
que mudaria o mundo.
Um dos temas mais discutidos através da história da Igreja é, como devem os
cristãos relacionar-se com a sociedade? O tema é complexo e tem implicações práticas
para a vida cotidiana. Alguns põe a ênfase no lado negativo da sociedade, que é
pecaminosa, e tendem a distanciar-se do «mundo». Outros põe mais ênfase no lado
positivo, e tendem a envolver-se na sociedade a tal ponto que perdem sua identidade
cristã. Nesta lição buscaremos a posição bíblica a este tema.

A. Os cinco modelos da relação entre o cristão e a sociedade


Em seu livro Cristo e cultura, H. Richard Niebuhr estabelece cinco tendências
históricas com respeito à relação entre os cristãos e a cultura. Primeiro, ele define a
cultura como «o âmbito artificial secundário que o homem superpõe o âmbito
natural32». Basicamente a cultura inclui os costumes, as artes, a linguagem, as ideias, os
valores, as estruturas sociais, enfim, tudo o que dá a uma sociedade sua identidade
particular, sua «personalidade».
Há duas atitudes básicas para a cultura: que é boa ou que é má. Destas duas
posições se derivam cinco modelos:
1. Cristo contra a cultura.
2. Cristo na cultura.
3. Cristo sobre a cultura.
4. Cristo em tensão com a cultura.
5. Cristo transforma a cultura.
1. Cristo contra a cultura.
Este modelo enfatiza o pecado na sociedade e estabelece que devemos apartar-
nos do mundo. Um exemplo desta tendência é o monasticismo.

2. Cristo na cultura.
Crêem que Cristo está operando na cultura, e portanto que é boa. Minimiza o
pecado, e pensa que devemos cooperar com as tendências culturais. Um exemplo é o
intento de mesclar as filosofias orientais e gregas com o cristianismo nos primeros
séculos, como no gnosticismo. (Hoje em dia o modernismo, a teologia da libertação, e o
movimento Nova Era se aproximam a este modelo.)

3. Cristo sobre a cultura.


Aceitam o fato de que a cultura é basicamente boa, como a posição #2, mas
crêem que devemos acrescentar o aspecto cristão à cultura. Significa, Cristo está na
cultura, mas também mais além dela, superando a cultura. Um exemplo é São Tomás de
Aquino e o catolicismo tradicional. (Por exemplo, ele diz que a razão serve para saber
que Deus existe, mas necessitamos a fé para crer na Trindade.)

4. Cristo em tensão com a cultura.


Este modelo estabelece que a cultura aé basicamente má, mas que é inevitável
participar nela. Há que submeter-se a Cristo, mas também a cultura, ainda que muitas
vezes estão em oposição. Dois exemplos são Martinho Lutero e Sören Kierkegaard.

5. Cristo transforma a cultura.


Crêem que a cultura é basicamente má, mas que contém a graça de Deus
também. Não há que separar do mundo (como a posição #1), nem tampouco submeter-
se a ela (como #2 e #4), nem tampouco simplesmente agregar a graça por cima (#3),
mas transformá-la desde as raízes. Exemplos: João Calvino e Agustinho.

Niebuhr mesmo adota uma posição dialética a respeito, propondo que cada
modelo é parte da obra de Cristo na história, e que não é necessário assumir uma
posição contra outra. Preferimos assumir uma posição e defendê-la.
Talvez ninguém seja totalmente consequente com um só modelo, e seguramente
cada modelo tem algo de verdade. Entretanto, a tendência que parece mais bíblica é #5,
transformar a cultura. Por que? Primeiro vejamos os problemas com as outras posições:

B. Problemas com os quatro primeiros modelos


1. Cristo contra a cultura.
Esta atitude isola o cristão do mundo, e produz hostilidade e arrogância. Jesus
ora, «Não peço que vos tires do mundo, mas que vos guardes do mal» (João 17:15). Esta
posição não assume a responsabilidade de mudar o mundo («Vós sois a luz do mundo»,
Mateus 5:14), e permite que os não-crentes dominem a cultura. Tampouco reconhece a
«graça comum» que Deus deu a cada ser humano. A Bíblia ensina que cada pessoa é a
imagem de Deus. Deus «faz sair o sol sobre os bons e os maus» (Mateus 5:45). Os não
crentes podem fazer coisas externamente boas, ainda que seja por motivos equivocados,
devido a graça universal que Deus tem dado a todos os homens (Marcos
9.38-40).

2. Cristo na cultura.
Esta posição não reconhece suficientemente a influência do pecado na cultura.
Romanos 12:2 diz, «Não vos conformeis com este mundo». 1 João 2:15 diz, «Não ameis
o mundo, nem as coisas que nele há». A história de Israel no Antigo Testamento nos
ensina que o Senhor detesta a mistura da verdade com a mentira, a adoração de Jeová
com a idolatria. Ele quer que Seu Povo seja santo, puro, diferente aos demais.

3. Cristo sobre a cultura.


Esta atitude produz uma «dicotomia de vida», onde os cristãos vivem uma vida
«espiritual» na igreja, ou quando lêem a Bíblia, mas vivem uma vida «secular» no
trabalho, no campo de futebol, na sala de aula. Em vez de integrar sua fé com tudo o
que fazem, simplesmente agregam o «espiritual» ao «secular».

Colossenses 3:17.
E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus.

Também produz uma «dicotomia de pensamento», uma «esquizofrenia intelectual».


Quando estudam a Bíblia, o fazem com a mente submetida a Deus, mas quando estudam
a economia, a política, a psicologia, etc., o fazem de forma independente de Deus.
Supõe que estas áreas de pensamento são «neutras», que não necessitam da fé para
adquirir o conhecimento adequado delas.

Romanos 12:2
Não vos conformeis com este século, mas tranformai-vos pela renovação do vosso
entendimento.

2 Coríntios 10:5
...Levando cativo todo pensamento a obediência de Cristo.

O resultado é uma separação perigosa. A fé já não tem a ver com a razão. Não
aproveitamos o bom da cultura, tampouco ajudamos a melhorar o mau que tem. Nossa
fé se empobrece e a cultura se corrompe.

4. Cristo em tensão com a cultura.


Esta posição tem certa razão. Significa, temos que viver em um mundo caído,
gostemos ou não, e tampouco podemos totalmente vencer o pecado até que Jesus volte.
Entretanto, é muito pessimista enquanto ao que podemos fazer para melhorar o mundo.
Parece demasiado fácil simplesmente aceitar a influência pecaminosa como algo
inevitável.

Mateus 5:14
Vós sois a luz do mundo.

João 16:33b
Eu venci o mundo.

Romanos 12:21.
Não sejam vencido pelo mal, mas vençam o mal com o bem.

1 João 5:4.
todo que é nascido de Deus vence o mundo.
Em resumo, a única posição que reconhece que o mundo está corrupto, mas que Deus
está operando no mundo para obter algo bom, ainda que seja entre não crentes, é a
quinta posição: Cristo transforma o mundo.

C. Apoio bíblico-teológico para a transformação da sociedade


Ademais dos textos que se citaram acima, há alguns conceitos bíblicos
fundamentais que apontam a um dever de transformar a cultura.

1. O mandato cultural
Antes da queda, Deus deu uma grande tarefa ao homeme:

Gênesis 1:28
E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo animal
que rasteje sobre a terra.

Deus pôs Adão no jardim para cuidá-lo. Trouxe todos os animais para que lhes
desse nomes. Tudo isto indica que Deus o deixou encarregado da terra para administrá-
la.
O Salmo 8 diz:
Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória de honra o
coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras de tuas mão e sob seus pés tudo lhe puseste.
(v. 5 e 6).

Administrar a criação envolve muito mais que cuidar das plantas. Para «sujeitai-
a», o homem tem que organizar-se e criar as estruturas sociais necessárias. Tem que
manter ordem devido a multiplicação da população. Isto nos leva imediatamente a
pensar no comércio, a política e a economia. A tarefa de nomear os animais sugere uma
atividade científica de classificá-los. Isto nos faz pensar nas ciências, a investigação e a
educação. Sem o pecado, o homem haveria desenvolvido uma sociedade complexa e
ordenada, com uma cultura sã, e com organizações sociais que funcionariam bem.
Gênesis 1:28 tem sido chamado «o mandato cultural», porque Deus manda o homem a
desenvolver a cultura de acordo com Sua vontade.
2. O homem é a imagem de Deus
Gênesis 1:27
E criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem
e mulher os criou.

A imagem de Deus no homem inclui seu senhorio sobre a terra, e também sua
criatividade. Portanto, o homem deveria expressar sua semelhança a Deus em todas as
suas atividades, em seu trabalho, em sua recreação, em suas relações humanas etc.
Quando o homem cumpre o mandato cultural, se sente bem, porque está manifestando a
imagem de Deus nele. Quando o homem cuida um jardim, ou arrumar uma máquina, se
sente realizado. Quando se expressa de forma artística, na pintura, na música, na
literatura, dá uma grande satisfação.
Este conceito embelece toda atividad cultural. Não devemos menosprezar a arte,
o trabalho, os estudos, como algo «secular» ou «mundano», mas apreciá-los como
manifestação da graça de Deus. O cristão pode participar nestas atividades, e também
desfrutar das atividades do não crente. Apesar da influência do pecado, o homem segue
refletindo algo da glória de Deus. (Até depois da queda, a Bíblia diz que todos os
homens são a imagem de Deus, sem fazer distinções. Ver Gênesis 9:6.)

3. A queda afetou todas as dimensões da vida


Todas as relações foram quebradas como consequencia do pecado: entre o
homem e Deus, entre o homem e seu próximo, entre o homem e a criação, e entre o
homem e seu próprio ser. A harmonia original se perdeu e o conflito começou a afetar
cada dimensão da vida. O homem ficou incapacitado para realizar o mandato cultural, e
a imagem de Deus nele foi danificada. Isto significa que o progresso da cultura vai por
um caminho pecaminoso, que a humanidade destrói a criação em vez de cuidá-la, que a
corrente do mundo vai distanciando-se de Deus e Seus propósitos.

4. A salvação restaura todas as dimensões da vida


Entretanto, Jesus Cristo veio para reconciliar-nos com Deus, e a «reunir todas as
coisas» (Efésios 1:10, Colossenses 1:20). Em Cristo, Deus restaura a criação, sarando as
consequências da queda. Onde Deus encontra a influência do pecado, ali é onde faz a
guerra!
Isto significa que não podemos excluir nenhum aspecto da vida na tarefa de
trazer a salvação ao mundo. As vezes se enfatiza quese exclusivamente nossa
reconciliação com Deus (a justificação) quando falamos da salvação, mas se deixamos
de lado as outras dimensões, a salvação parece incompleta. Nossa salvação como
indivíduos inclui cada dimensão de nossa vida, e nos leva a buscar a salvação da
sociedade, sua restauração em todos os aspectos. Fazemos nosso trabalho melhor,
expressamos nossa criatividade artística melhor, estudamos melhor, e amamos a nossa
família mais. Ademais, influimos para o bem em toda a sociedade, trabalhando para um
mundo mais justo, mais ordenado, e mais unido.

5. O reino de Deus já chegou


Alguém poderia perguntar, «Por que a Bíblia não fala muito do mandato
cultural?» A resposta é que fala muito do conceito, sem usar o termo. A ideia está
incluída no conceito do «reino de Deus», um termo usado com muita frequência na
Bíblia. O reino de Deus é o cumprimento do mandato cultural.
O Antigo Testamento é a história do reino de Israel como uma «sombra» do
reino verdadeiro de Jesus Cristo. Ainda que Israel teve seu período de glória,
especialmente no tempo de Davi e Salomão, logo caiu na idolatria e na injustiça, se
dividiu e foi levado ao cativeiro humilhado. Um pequeno remanescente voltou a
Jerusalém e esperou quatrocentos anos sem revelação divina.
Quando Jesus se encarnou, viveu uma vida justa, morreu pelos pecados do seu
povo e ressuscitou dentre os mortos, Ele estabeleceu o reino verdadeiro. Anuncia-se sua
chegada com a mensagem: «Arrependei-vos, porque o reino dos céus está próximo».
(Mateus 3:2, 4:17, 10:7) Jesus confirma Sua autoridade como Messias com os sinais do
reino (Mateus 11:1-19, 12:28), e explica as parábolas do reino. Entra em Jerusalém
proclamado como rei (João 13), e confessa ante Pilatos que Ele é o rei (João 18:33-37).
Ressuscita com toda autoridade na terra e no céu (Mateus 28:18).
O Reino inclui um povo (a Igreja), um país (todo o mundo), um poder (do
Espírito Santo), e a presença do Rei (Jesus Cristo). Envolve cada aspecto da vida, com
estruturas sociais, leis e relações. Ao estender o reino de Deus, a sociedade se melhora e
se conforma mais e mais à vontade de Deus.
Tudo isto implica que os cristãos devem participar em cada aspecto da cultura e
da sociedade para transformá-la. O reino de Deus não está limitado à Igreja, mas a
Igreja é o instrumento humano para seguir estabelecendo o reino, e a Igreja é um
modelo do que toda a sociedade deveria ser.

Conclusão
Juntemos as ideias da seguinte maneira: o homem foi criado à imagem de Deus
com a tarefa de desenvolver a cultura e organizar a sociedade (o mandato cultural,
Gênesis 1:28). Este processo estabelece o reino de Deus. Entretanto, o pecado tem
mudado a forma de estabelecer o reino e cumprir o mandato cultural. Agora é necessário
realizar no contexto da salvação. O fato de participar no reino de Deus e no processo da
salvação implica necessariamente a transformação da cultura. Sem tal transformação, o
reino de Deus seria como uma árvore sem galhos.
Há um aspecto positivo e um aspecto negativo em nossa tarefa sócio-cultural. O
positivo é que devemos desenvolver a cultura. Até antes da queda, o homem tinha esta
responsabilidade de formar uma sociedade ordenada, de conhecer a criação e dominá-la
para a glória de Deus. Tem que usar sua criatividade no progresso cultural. O negativo é
que esta tarefa inclui eliminar a influência do pecado. Lutamos contra o mal.
Deus faz com a sociedade o mesmo que faz com o homem: a redime, a restaura,
a reforma. Isto implica tanto continuação como mudança. Deus deixa que o homem siga
com o mesmo corpo e com a mesma personalidade, mas começa a mudá-lo
interiormente, desde o mais profundo da sua alma. Assim também Deus transforma a
sociedade, desde as raízes. O trabalho não é somente contra o mal, mas também em pró
do desenvolvimento criativo.
A sociedade é como uma árvore que começou a desviar-se do seu crescimento
normal. Há que por uma tala para que cresça de forma direita. Segue crescendo, mas
corrigindo o problema. O pecado é como uma enfermidade. Quando alguem fica
enfermo, o médico tem que eliminar a enfermidade, mas também assegurar a
alimentação correta e a continuação do processo normal de crescimento. É assim com
nossa tarefa sócio-cultural. Temos que corrigir o mal, mas seguir com o processo normal
de desenvolvimento.
Este enfoque de vida oferece tudo a Deus, coroando a Jesus Cristo como Rei.
Permite integrar nossa fé com nossos estudos. Nos desafía a usar as pressuposições
bíblicas para estudar as ciências, as artes, as humanidades, e todas as demais áreas. Há
que usar lentes cristãs para ver o mundo. Restaura a dignidade do nosso trabalho. Nos
faz pessoas íntegras, não de «ânimo dobre». (Tiago 1:8). Nos capacita para penetrar a
cultura e a sociedade com novos valores, novas ideias, e um novo estilo de vida, criando
um mundo melhor. Nos devolve a vida, fazendo-nos realmente «humanos», conformes à
imagem de Jesus Cristo.
Por exemplo, uma secretária glorifica a Deus, não somente em seu bom trato
com suas companheiras, ou quando compartilha a Palavra de Deus com elas (sem negar
a importância disto), mas também enquanto escreve a máquina, por tedioso e
insignificante que pareça no momento. Por quê? Porque está manifestando a imagem de
Deus e porque seu trabalho faz um aporte valioso ao desenvolvimento da sociedade de
alguma maneira, e isso é parte do mandato cultural, a extensão do reino de Deus, e a
salvação do mundo.

Perguntas de revião
1. O que sugere Christian Lalive d’Epinay em seu livro Haven of the Masses
[Refúgio das massas]?
2. Nomeie os cinco modelos da relação entre o cristão e a sociedade, segundo
Richard Niebuhr, explique cada um brevemente e mencione um exemplo de cada um.
3. Explique os problemas dos primeiros quatro modelos.
4. Nomeie e explique cinco pontos bíblico-teológicos que apóiem a quinta
posição.

Perguntas de reflexão
1. De que maneiras você possivelmente esteve «fugindo do mundo» em vez de
transformá-lo?
2. De que maneiras você tem estado seguindo a corrente do mundo, perdendo
sua identidade cristã?
3. Segundo Atos 1:6-8, qual é a tarefa mais importante em transformar o mundo?
Em que sentido a tarefa mencionada nesta passagem leva à transformação do mundo?
4. Mencione outras formas em que os cristãos podem trabalhar para uma
transformação positiva da sociedad:
Capítulo 4
Cosmovisões não cristãs
Durante um período da minha vida, tive medo de ler filosofia e literatura não
cristã, por temor de perder minha fé. Recordo que uma vez tratei de ler a novela Náusea
de Jean Paul Sartre, e de verdade me deu náusea! Tive que deixar de lê-la, e esperei
vários anos antes de tocá-la de novo. Entretanto, depois de entender mais das outras
perspectivas, vi que as filosofías não cristãs não tem fundamentos sólidos, e realmente
não há nada que temer. Neste capítulo vamos a examinar brevemente outras filosofias, e
veremos que todas se destróem sozinhas.

A. O «universo próximo»
Há um texto excelente por James Sire que faz uma análise dos enfoques de vida
mais comuns, The Universe Next Door [O universo próximo33]. Faremos um resumo
destas perspectivas, e depois examinaremos os problemas fundamentais das posições
não cristãs.
Sire define um «enfoque de vida» como «um conjunto de pressuposições
(hipóteses que pode ser verdadeira, parcialmente verdadeira, ou totalmente falsa) que
sostentamos (conscientemente ou inconscientemente, consequentemente ou
inconsequentemente) acerca das características básicas do nosso mundo 34». Diz que há
sete perguntas fundamentais que, ao respondê-las, revelam o enfoque da vida da pessoa:
1. O que é a realidade primária —a realidade real?
2. Qual é a natureza da realidade externa, isto é, do mundo que nos rodeia?
3. O que é o ser humano?
4. O que sucede a uma pessona quando morre?
5. Por que é possível saber algo?
6. Como sabemos distinguir entre o bem e o mal?
7. Qual é o significado da história humana?

Sire apresenta oito enfoques de vida35:


1) o teísmo cristão
2) o deísmo
3) o naturalismo
4) o niilismo
5) o existencialismo
6) o monismo panteísta oriental
7) a nova era
8) o pós-modernismo

1. O teísmo cristão
O teísmo cristão (o enfoque cristão da vida) sustém que existe um Deus pessoal
que é transcendente mas imanente, onisciente, soberano e bom. Deus criou o universo
do nada para funcionar segundo as leis de causa e efeito, mas em um sistema aberto.
Isto significa que o universo não é caótico, mas tampouco está programado de uma
maneira fatalista em que o homem não tem liberdade. O ser humano foi criado à
imagem de Deus com personalidade, inteligência, um sentido moral, sociabilidade e
criatividade. O homem pode conhecer o mundo e a Deus, porque Deus o criou com essa
capacidade. O homem foi criado bom, mas por meio da queda, a imagem de Deus nele
foi desfigurada. Através de Jesus Cristo, Deus redimiu o homem e iniciou o processo de
restauração do seu povo. A morte é a porta a outra vida, uma vida com Deus e seu povo,
ou uma vida separada de Deus. A ética está baseada no caráter de Deus. A história é
linear, uma sequencia de eventos que leva ao cumprimento dos propósitos de Deus.

2. O deísmo
Para os deístas, Deus é transcendente, mas não pessoal, a primeira causa de tudo,
que criou tudo mas logo o abandonou e que funcionará sozinho como um grande
relógio. O cosmos que Deus criou é determinado e fechado, sem intervenção de Deus, e
sem a possibilidade de milagres. O ser humano é parte da máquina do grande relógio do
universo. O mundo está em seu estado normal, não caído nem anormal. Podemos
conhecer o universo e decidir como é Deus por meio do estudo científico do universo. A
ética também se revela no universo, isto é, o que é, é correto. A história é linear, e o
curso da história já foi determinada na criação. O deísmo teve muita influência na
França e Inglaterra no começo do século dezoito, mas foi substituído pelo naturalismo.
3. O naturalismo
Segun o naturalismo, a matéria existe desde a eternidade, e isso é tudo o que
existe. Deus não existe. O cosmos funciona de acordo com as leis de causa e efeito, e
está fechado. O homem é nada mais que uma máquina complexa. A personalidade é
uma interrelação de propriedades químicas e físicas. A morte é a extinção da
personalidade e da individualidade. A história é uma corrente linear de eventos, sem
propósito. A ética se deriva da experiência humana, e basicamente consiste em fazer o
que convém, no que produz harmonia. O marxismo é um exemplo do naturalismo.

4. O niilismo
O niilismo é mais um sentimento que uma filosofia, segundo Sire. Inclusive, é
uma negação da filosofia, da possibilidade do conhecimento, e de tudo de valor. Se
expressa na escultura de Marcel Duchamp, «Fonte», que é nada mais que um urinol
comum e corrente, ou no drama de Samuel Beckett, «A respiração», em que há 35
segundos de som: primeiro um choro, depois respiração para dentro, respiração para
fora, e no final outro choro. Assim é a vida. O niilismo é o resultado de aceitar as
consequencias práticas dos postulados do naturalismo. Se tudo é natural, nada tem
sentido, nem minha própria filosofía. Nietzsche é o precursor deste enfoque, filósofo
que morreu mentalmente enfermo.

5. O existencialismo
O homem não pode seguir vivendo com a convicção de que nada tem sentido.
Portanto, o existencialismo surgiu como um esforço para superar o niilismo. Há duas
formas de existencialismo: ateísta e teísta. O existencialismo ateísta sustém que o
cosmos somente contém matéria, mas que o ser humano tem uma consciência. Isto é,
está consciente de si mesmo, e pensa. O mundo externo parece absurdo, mas o homem
autêntico se rebela contra o absurdo e cria seus própios valores e seu próprio significado
como indivíduo. Sartre e Camus representam este enfoque. O existencialismo teísta
aceita os postulados do teísmo, mas desconfia na razão humana. A fé é algo subjetivo e
individual, e a verdade é um paradoxo. Sören Kierkegaard representa este pensamento.

6. O monismo panteísta oriental


As religiões orientais vão até mais longe que o existencialismo em sua
desconfiança na razão; renunciam totalmente a luta pela verdade. Ademais, renunciam a
luta por mudar o mundo; preferem simplesmente existir. O monismo panteísta é o
enfoque mais popular no oriente: existe um só tipo de ser, e Deus está em tudo. O
budismo Zen, por exemplo, diz: «Atman é Brahman», a alma de cada ser humano é a
alma do cosmos. Tudo o cosmos é bom, e não há verdadeiras contradições. O homem
não está consciente de sua unidade com o cosmos e deve despertar a essa realidade.
Tratam de chegar a um estado mental em que não sentem distinções entre o bem e o
mal, a verdade e a mentira, a realidade e a ilusão.

7. A nova era
A nova era é uma versão ocidental das religiões orientais, mas com ênfase no
indivíduo, que para eles é a realidade primária. O cosmos se manifesta de duas
maneiras, o universo visível, ascessível por meio da consciência normal, e o universo
invisível, ascessível por meio de estados alterados de consciência (por exemplo com
drogas). O homem deve dar conta de que ele é Deus. «Saiba que você é Deus; saiba que
você é o universo», diz Shirley MacLaine 36. Em contraste com o monismo panteísta, a
nova era aceita o conceito animista da existência de muitos seres espirituais.

8. Pos-modernismo
O «modernismo» começou com Descartes e a confiança na razão e a ciência. O
«pós-modernismo» já não confía na razão, e não tem um enfoque de vida. Não se
preocupa por entender como é o ser (ontologia) ou por como saber a verdade
(epistemologia), mas somente pelo significado da linguagem. O homem é o que decide
dizer de si mesmo. A ética é determinada pela sociedade. O correto é o que decidimos
ser correto.

Resumo
Podemos resumir estes enfoques de vida no quadro da seguinte página. A
filosofia fez uma distinção entre a ontologia (o estudo do ser, que existe?), a
epistemologia (estudo do conhecimento, como sabemos a verdade?), e a ética (Como
devemos viver?), categorias que usaremos para explicar os distintos enfoques, ademais
das categorias importantes de como é Deus, e como é o homem.

B. O animismo e outros enfoques


Devemos incluir outro enfoque de vida que é muito antigo, muito comum, e que
tem deixado muita influência na América Latina: o animismo. O termo vem de «anima»
ou «alma», e seus crentes sustém que todas as coisas, incluindo animais, plantas, pedras
e todos os objetos, tem vida espiritual. Alguns estimam que 40% da população do
mundo hoje é animista. Frequentemente esta religião inclui a prática de bruxaria, magia,
superstições e ritos. Normalmente há uma crença em um só Deus criador por sobre
muitos deuses pequenos. Não obstante, o homem não se relaciona com o criador, mas
com os deuses pequenos da saúde, do tempo, e de tudo o que afeta sua vida diária. Na
realidade, para muitos o animismo é outra forma do panteísmo, porque tudo o que existe
contém a alma universal de Deus37.

Enfoque Deus Homem Ontologia Epistemologia Ética


Teísmo Cristão Pessoal Imagem de Dois Por revelação de Devemos
Deus Aspectos: Deus Fazer a
Deus e a vontade de
criação Deus, que se
resume em
amar a Deus e
ao próximo
Deísmo Impessoal. Parte da Dois Por meio do estudo Se revela no
Criou o grande Aspectos: do universo, universo. O
universo e máquina Deus e a experiência que é, é
o criação (empirismo) correto.
abandonou
Naturalismo Não existe É uma Somente o Por meio da razão Fazer o que
máquina material convém, o que
produz
harmonia
Niilismo Não existe A vida não Somente Conhecimento Não tem valor
tem sentido material impossível
Existencialismo Ateísta, não Somente Ateísta, Ateísta; universo O homem cria
existe matéria, mas somente existe absurdo, homem seus próprios
teísta: não tem matéria, cria seu próprio valores
pessoal consciência, universo significado. Teísta:
vive um absurdo: salto de fé,
paradoxo teísta: dois paradoxo
aspectos: Deus
e criação
Monismo Unido com Unido com o Um só ser, Renunciam as Renunciam as
panteísta o universo universo mas Deus está distinções entre distinções
oriental em tudo verdades e mentira. entre o bem e
Tudo é verdade o mal. Tudo
está bem.
Preferem
somente o
existir
Nova era Unido com O homem é Um só ser, Consciência normal O homem
o universo Deus Deus está em (universo visível), deve dar conta
(o homem é tudo, e o estado alterados de de que é Deus
Deus) homem é Deus consciência
(universo invisível)
Pós- Não existe O homem é o Não se Não confia na razão O correto é
modernismo que decide preocupa em e na ciência. Não se determinado
dizer de si saber como é a preocupa em saber pela sociedade
mesmo realidade a verdade

Na América Latina, desde o tempo da colonização, a Igreja Católica cultivou um


sincretismo entre o cristianismo e o animismo que existia na religião dos indígenas.
Alguns missionários no México tiraram de uma cova a imagem de Oztocteotl, o deus
dos bruxos, e o substituiram com uma imagem de Cristo, contando que havia aparecido
de forma milagrosa. O problema é que isto foi uma troca de forma somente; o «Cristo»
tem as mesmas características do deus anterior. Tanto os bruxos como os católicos o
visitam cada ano. A famosa Virgem de Guadalupe de México está situada no mesmo
lugar onde havia um templo dedicado a Cihuacoatl (mãe terra, mãe serpente) muito
tempo antes dos conquistadores, também conhecido como Tonantzin. Em sua imagem, a
virgem está parada sobre a lua, deidade importante indígena, mostrando que ela é
superior, mas que não a destrói. Essa imagem expressa graficamente como tem
agregado o cristianismo por cima do animismo, sem eliminar as velhas crenças38.
Também devemos mencionar o panenteísmo, que é uma mescla de panteísmo e
teísmo. Sustentam que Deus é pessoal, mas que é finito e temporal. O mundo é o corpo
de Deus. Deus está em um processo de realizar, mudando enquanto muda o mundo. O
mundo cria Deus e Deus cria o mundo 39. Há uma escola de teologia panteísta chamada
«a teología do processo» que teve bastante influência nos últimos anos.
Há outras religiões que são praticadas por uma grande quantidade de pessoas,
como o Islão, o Judaísmo, e as seitas como o Mormonismo e as Testemunhas de Jeová.
Estas religiões são distorsões derivadas do cristianismo, e portanto, seus enfoques de
vida são bastante semelhantes ao cristianismo em termos filosóficos. Também crêem
que Deus é pessoal, que existe aparte da criação, que o homem foi criado à imagem de
Deus, e que a verdade foi revelada. Entretanto, as doutrinas chave são muito diferentes.
Não é o propósito destes capítulos comparar as religiões do mundo, mas as diferenças
entre estas religiões e o cristianismo estão no conteúdo da revelaçã que tem aceitado, e
especialmente na natureza e no lugar de Jesus Cristo na salvação. Somente o
cristianismo ortodoxo prega a um Deus que é uma Trindade, e um evangelho da graça,
em que a salvação é por fé. Somente o cristianismo tem a verdadeira resposta para os
problemas do mundo: o perdão, a salvação, e a transformação em Cristo.

C. A auto-destruição dos enfoques não cristãos


Todos os enfoques exceto o enfoque cristão (e os que tem tomado esse enfoque
emprestado e o tem distorcido) contém em si sua própria destruição, filosoficamente
falando; são contraditórios dentro de si. Por um lado, alguns enfoques propõem uma
ontologia monista que não permite defender nenhum pensamento. Por outro lado, outros
enfoques negam a possibilidade da certeza de conhecimento, que tampouco permite
defender nenhuma teoria.
Vejamos primeiro o problema da ontología. A maioria dos enfoques sustentam
que o universo é uma unidade, seja material ou espiritual (o naturalismo, o niilismo, o
existencialismo ateísta, o monismo panteísta oriental, a nova era, e o animismo). O
dilema inevitável com este esquema é que o homem também é parte da unidade, e perde
sua identidade e liberdade como indivíduo. Portanto, seus próprios pensamentos não
tem significado.

Por exemplo, se o deísmo tem razão em que o universo é uma grande máquina
como um relógio, e o homem é parte desse relógio, seus pensamentos são nada mais que
os «tic tac, tic tac» do relógio. O que significam seus pensamentos então? O mesmo
sucede se cremos que o universo é uma unidade espiritual ou qualquer tipo de unidade,
sem intervenção de Deus.
Façamos uma revisão do que vimos no capítulo dois. Os antigos filósofos gregos
captaram o problema que origina o crer que tudo é uma unidade, o qual os levou ao
asceticismo. Heráclito sustentava que o universo era uma unidade que estava em
constante movimento como um rio. «Tudo flui». «Não te podes banhar duas vezes no
mesmo rio», dizia40. Logo Gorgias decidiu que todo conhecimento e toda comunicação
eram impossíveis41. Por que? Porque não posso sustentar que o universo é um grande
rio fluindo constantemente, e pretender que eu estou na margem do rio, observando
objetivamente, externamente. Tenho que ser parte do rio também. Portanto, se somente
sou uma gota de água no rio, com que autoridade estou opinando acerca da natureza do
rio? Cratilo foi consequente com este esquema e deixou de falar totalmente 42. Essa seria
a reação mais honesta. Se o conhecimento e a comunicação não são possíveis, por que
falar? Sócrates exclamou o lema dos ascéticos, «Só sei que nada sei». Foram Platão e
Aristóteles que trataram de resgatar a possibilidade do conhecimento. Platão dizia que
um homem pode saber algo porque a alma recordava o conhecimento que tinha antes de
habitar o corpo. Aristóteles confiava na lógica. Não obstante, depois da época destes
grandes pensadores, os gregos voltaram ao asceticismo.
Na filosofia moderna, este dilema gerou o existencialismo. Hegel havia proposto
que o universo era unido, que era um grande espírito que evoluía. Com a dialética, ele
pretendia eliminar todo conflito. Dizia que quando uma tese encontra sua antítese, em
vez de que decidamos qual é a correta, simplesmente deixemos que se forme uma
síntese. Significa, quando alguém afirma algo, e outra pessoa afirma o contrário, não
temos que julgar quem terá a razão, mas combinar as duas opiniões em um só novo
conceito. Com isto, se perde a noção de verdade absoluta, e da distinção entre o bem e o
mal. Ademais, se o homem é parte deste processo impessoal do ocorrido, perde sua
liberdade e sua identidade. Kierkegaard discerniu este problema, mas não soube
oferecer uma alternativa racional. Somente pôde propor que a razão não funciona, que
existe um paradoxo: o homem é parte deste processo impessoal, mas de alguma maneira
também está livre. Isto é um salto de fé, uma fé irracional.
Pense na teoria da evolução. Se o mundo é somente um produto de um processo
de evolução impessoal, e não existe nada mais que a matéria, meus pensamentos são
simplesmente um movimento de átomos, uma reação química. Já vimos outra forma
mais crua de dizer: «O cérebro segrega pensamentos como o fígado segrega bilis43».
Portanto, por que devo pretender que meus pensamentos são corretos? Por que devo
pensar que significam algo? A mesma teoria que sustenho é nada mais que uma reação
química. Assim a teoria se destrói sozinha. É como cortar o galho da árvore em que
estou sentado! Darwin mesmo escreveu em uma carta,

A dúvida horrenda sempre surgirá se as convicções da


mente de um homem, que tem desenvolvido da mente dos
animais inferiores, terão valor ou serão de confianza.
Confiaria alguém nas convicções da mente de um mono,
C. S. Lewis
se existem convicções em tal mente44?
explica a
contradição:
Se tudo o que existe é natureza, o grande evento interconectado
sem mente, se ainda nossas convicções mais profundas são meramente
produtos secundários de um processo irracional, então claramente não
existe nem um fundamento mais fraco para supor que nosso sentido de
cordura e nossa consequente fé na uniformidade nos digam algo acerca
da nossa realidade externa. Nossas convicções são simplesmente uma
característica nossa —como a cor do cabelo. Se o naturalismo é verdade,
não temos nenhuma razão para confiar em nossa convicção da qual a
natureza é uniforme45.
Também argumentou:
O naturalista não pode condenar a outros por seus pensamentos
porque tem causas irracionais, e seguir crendo em seus próprios
pensamentos que tem causas igualmente irracionais (se o naturalismo é
verdade46).
Lewis cita o argumento de J.B.S. Haldane:
Se meus processos mentais são totalmente determinados pelo
movimento dos átomos em meu cérebro, não tenho razões para supor que
minhas crenças são corretas...e portanto não tenho razões para supor que
meu cérebro está composto de átomos47.

Os enfoques que negam a possibilidade de conhecimento (o nihilismo e o pós


modernismo) tem um problema mais óbvio. Ao afirmar que não se pode afirmar nada,
se contradizem rotundamente. Se não podem ter certeza de nada, como podem estar
seguros que não podem estar certos de nada? É como dizer, «Tudo o que digo é uma
mentira!» Outra vez voltemos a Cratilo, e seria melhor não dizer nada!
Quando estava estudando no seminário, trabalhava como supervisor noturno em
uma biblioteca universitária para pagar meus estudos. Havia uma aluna que também
trabalhava ali, e as vezes conversava comigo acerca de minha fé. Ela dizia que «Não se
pode saber nada». Quando lhe perguntei como sabia isso, se irritou e se foi. Voltou
depois de algumas horas, e me falou, «Eu penso que não se pode saber nada!», deu meia
volta e saiu sem esperar qualquer resposta.
Os existencialistas reconhecem este problema, mas também sabem que o homem
não pode viver com essa completa insegurança. Portanto, sem poder defender suas
crenças racionalmente, dão um salto cego de fé. O problema com a epistemologia
existencialista é que qualquer coisa pode ser verdade. Se cada um inventa seus próprios
valores e decide por si mesmo que é a verdade, então tudo é verdade. E se tudo é
verdade, nada é verdade.
É como o homem que se apresentou a sua igreja para ser avaliado para ser
pastor. Quando lhe perguntaram se cria na divindade de Jesus, disse, «Não nego a
divindade de Jesus, Não nego a divindade de ninguém!» O problema é que, se todos
somos divinos, a divindade perde sentido. Jesus já não seria especial. Se podemos
afirmar que A é verdade e também que A não é verdade, temos perdido a cordura. Já não
estamos funcionando como pessoas mentalmente sãs.
O monismo panteísta oriental também sofre deste dilema. Querem negar as
distinções entre verdade e mentira, entre o bem e o mal. Porém não podem viver
consequentemente com isso. Se pergunto a um deles se posso pegar em seu nariz, ou se
posso fraturar o braço, seguramente alguém vai gritar que NÃO! Porém se eu perguntar
por que? como podem responder? Se não há distinção verdadeira entre o bem e o mal,
seria bom feri-lo ou não feri-lo!

D. A resposta cristã
Somente o enfoque cristão permite a possibilidade de conhecimento e liberdade.
O enfoque cristão não é monista, senão afirma que há dois tipos de realidade: Deus e
Sua criação. Assim o homem não é simplesmente uma parte de uma máquina, ou de um
rio espiritual. É uma criatura de Deus, feita a Sua imagem, com pensamentos livres,
com o uso da razão e com emoções. Deus, que é a fonte de toda verdade, lhe revela a
verdade. O cristianismo é o único enfoque de vida que não destroi a si mesmo.
Ao defender nossa fé, podemos perguntar por que a outra pessoa crê o que crê.
Quando explica por que, por exemplo se diz que seu conceito é lógico, podemos
perguntar por que confiar na lógica. Isto não é um jogo. Deve-se fazê-lo com amor e
com respeito. De outro modo, podemos perder a oportunidade de mostrar lhe o
evangelho. Porém seguimos perguntando até que não haja mais respostas. Até onde
chegará o não crente? Terá que chegar a uma resposta final. Esta resposta será, expressa
de alguma maneira, simplesmente que ou crê porque ele crê, é verdade porque ele disse
que é verdade. Quer dizer, o não crente no final é seu próprio juiz da verdade. Pretende
decidir por si mesmo o que é a verdade.

DEUS

Deus revela a verdade ao


homem.
CRIAÇÃO RESULTADO

Conhecimento e segurança

Isto por suposto lhe tira toda certeza, porque teria que saber tudo para estar
seguro de algo. A alternativa cristã é que cremos porque Deus o diz. Como sabemos que
Deus diz? Porque Deus diz que disse! Ponto final! Deus se defende solo, e Sua Palavra
se ampara apenas. Se apelamos para outra fonte acima de Deus, temos escavado nosso
próprio fundamento e destruido nossa filosofía de vida.

E. O método apologético
Queria sugerir algumas pautas para a defesa do evangelho. Na realidade, quando
se trata do evangelho, creio que a melhor defesa é uma boa ofensiva. Não devemos
pedir desculpa pela verdade, nem tratar de dar razão ao não crente em seus postulados,
e sim mostrar-lhe as inconsequências de sua posição. Por suposto, devemos tratar de
responder suas perguntas, mas não deixar que ele manipule toda a conversação para
conseguir escapar de seu criador.
Proponho uma metodología «TIRA». Devemos começar com nosso próprio
testemunho, logo mostrar-lhe as inconsequências de sua posição, responder suas
perguntas, e finalmente voltar a anunciar o evangelho, mostrando sua necessidade de
Cristo.
Testificar
Inconsequências
Responder perguntas
Anunciar o evangelho
O Senhor abrirá as portas no momento apropiado, dando ocasião para
compartilhar nosso testemunho. O testemunho é pessoal, e ninguém discute nossa
experiência. Este aspecto pessoal dá a entender que temos uma relação pessoal com o
Senhor, e que não é simplesmente uma filosofía de vida ou uma ética de vida.
Enquanto às inconsequências, temos que mostrar amor e humildade, porque é
doloroso para o não crente ver suas contradições vitais. As vezes nossa atitude é mais
importante que nossas palavras. Paulo disse :
Eu, irmãos quando fui ter convosco, anunciando-vos o
testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de
sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e
este crucificado. E foi em fraqueza temor e grande tremor que eu estive
entre vós; A minha palavra e a minha pregação não consistiram em
linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demostração do Espírito e de
poder, para que a vossa fé não se apoiasse em Sabedoria humana, e sim
no poder de Deus. (1 Corintios 2.1-5)
Entretanto, também há lugar para defender a verdade com palavras. Paulo
passou meses dialogando em Éfeso, «discutindo e persuadindo Com respeito ao reino de
Deus» (Atos 19.8).
Como mostrar as contradições de sua posição? Já temos visto alguns pontos
importantes para a apologética: o não crente não pode estar seguro do conhecimento, e
não pode viver consequentemente com seus próprios conceitos, porque pretende ser
independente de Deus. Assim podemos perguntar como pode estar certo de sua posição
se não pode ter certeza de nada. Também podemos fazê-lo ver que não é a fonte da
verdade, por exemplo com a ilustração do trem.
As inconsequências que mostramos não tem que ser necessariamente negativas.
Por exemplo, podemos perguntar como pode explicar a existência da alegria e do amor.
A alegria foi o ponto chave na conversão de C. S. Lewis. Não posso explicar a alegria
sem aceitar a existência de Deus. G. K. Chesterton e Philip Yancey insistem de que,
enquanto o não crente nos pede explicações do «problema do mal», também podemos
desafiar ao não crente a explicar «o problema do bem» num mundo supostamente
caótico e sem sentido48.
Temos dois conceitos bíblicos que são chave, dois conceitos que empedem que o
não crente seja consequente com sua negação de Deus. Estes são nossos pontos de
contato com qualquer pessoa: 1) todos sabem que Deus existe no fundo do seu coração,
e 2) todos tem uma consciência e sabem que são culpados.
Porque o que de Deus se conhece é manifesto, pois Deus se
manifestou. Porque as coisas invisíveis dele, seu eterno poder e deidade,
se fazem claramente visíveis desde a criação do mundo, sendo entendidas
por meio das coisas feitas, de modo que não tem desculpa. Pois havendo
conhecido a Deus, não glorificaram como a Deus, nem deram graças,
mas que se vaidaram em seus pensamentos, e seu néscio coração foi
entenebrecido. (Romanos 1.19-21)

Porque quando os gentios que não tem lei, fazem por natureza o
que é da lei, estes, ainda que não tenham lei, são lei para si mesmos,
mostrando a obra da lei escrita em seus corações, dando testemunho sua
consciência, e acusando-os ou defendendo-os seus argumentos (Romanos
2.14,15)
O mais difícil já está faeito! Somente temos que ajudar a destapar este
conhecimento inato de Deus e a ver a solução para sua culpa.
Quando Paulo falou no Areópago em Atenas, chamou a atenção para o altar ao
«Deus desconhecido», e lhes declarou como era. Nós podemos explicar o evangelo,
confiando no Espírito Santo, que utilizará este conhecimento inato. A mente do homem
não é uma «tabla rasa»; ainda que trate de fazê-lo, não pode apagar totalmente o
conhecimento do Deus verdadeiro. Tampouco Paulo vacilou em chamar os atenienses
ao arrependimento. O não crente não buscará a salvação em Cristo até que reconheça
seu pecado. Em nosso diálogo com ele, temos que mostrar que seu problema principal é
tratar de ser independente do seu Criador e viver centrado em si mesmo.
Sempre temos a tarefa de dar razões de nossa fé (1 Pedro 3.15). Entretanto, não
temos que responder todas suas perguntas. As vezes temos que admitir humildemente
que não sabemos a resposta. Depois de tudo, queremos comunicar que somente
podemos conhecer a verdade quando nos submetemos a Deus. Só Deus sabe tudo, e a
única razão pela qual podemos saber algo é porque Ele nos tem revelado algo.
Isto nos leva ao último passo. Depois de falar de todos estes conceitos, não
esquecemos de voltar a mostrar Cristo. Em vez de mostrar nossa inteligência e produzir
polêmica, nossa tarefa principal é levar a pessoa a Cristo e por sua mão na mão do
Senhor. O Senhor se encarrerá de responder as perguntas que não podemos responder.
Sigamos o exemplo da esposa do esquizofrênico John Nash no filme «Uma
mente brilhante». Com muito amor, ficamos ao lado do não crente, mostrando com
humildade suas contradições. Com a obra do Espírito Santo em seu coração,
reconhecerá esta inconsequencia.
Quando escuta o evangelho e as verdades bíblicas, se está sendo chamado a
Cristo, ele sentirá que se abrem os olhos. Sentirá que havia estado sonhando, e agora
está desperto, que havia estado enfermo, e agora está curado. Que o Senhor nos dê
sabedoria para praticar uma apologética efetiva e sábia!

Perguntas de revisão
1. Usando a tabela da seguinte página, nomeie os postulados chave dos seguintes
enfoques de vida:
2. Explique as crenças do animismo.
3. Que tem cultivado a Igreja Católica na América Latina, desde o tempo da
colonização?
4. Explique por que os enfoques de vida que sustentam que o universo é uma
unidade são auto-destrutivos.

COSMOVISÕES NÃO CRISTÃS


Enfoque Deus Homem Ontologia Epistemologi Ética
a
1 Teísmo
cristão
2 Deísmo
3 Naturalismo
4 Niilismo
5
Existencialism
o
6 Monismo
panteísta
oriental
7 Nova era
8 Pos-
modernismo

5. Explique por que os enfoques de vida que negam a possibilidade de


conhecimento são auto-destrutivos.
6. Explique o conceito cristão da ontologia, a epistemologia e a ética.
7. Explique o método apologético «TIRA».

Perguntas de reflexão
1. Você pensa que realmente tem um enfoque de vida cristão?
2. Crê que poderiam ser atrativos alguns aspectos de outros enfoques de vida?
Quais? Por que?
3. Tem outras sugestões para métodos de fazer a apologética?

Capítulo 5
Um enfoque cristão da política
Introdução
O refrão popular diz que para manter boas amizades não há que falar de sexo,
nem de religião, nem de política. Entretanto, seja conflitivo ou não, é quase impossível
evitar estes temas! Além do mais, a meu ver, a religião e a política são dois dos temas
mais interessantes! Neste capítulo vamos fazer o imperdoável- vamos misturar os dois
temas e falar de um enfoque religioso e da política! É verdade que estes temas são
delicados, e há que praticar a tolerância que mencionamos anteriormente quando
explicamos o significado de uma cosmovisão cristã. Não estamos falando aqui da
doutrina da salvação. Estamos falando de algo que não tem respostas dogmáticas nas
Escrituras. Existem áreas destacadas em que podemos dialogar e expressarmos, porém
sem ser divididos.
Não pretendo em um só capítulo tratar um tema tão extenso e complexo.
Teremos que limitar-nos a alguns temas fundamentais e a examinar os ensinos de uns
poucos teólogos. Que o leitor veja isto simplesmente como uma exposição de algumas
ideias. Lhe servirá para começar um estudo próprio do tema da política.
Vejamos os seguintes temas:
A. A origem do estado.
B.A tarefa do estado.
C. Pautas de justiça no Antigo Testamento.
D. Os limites da autoridade do estado.

Quase todas as discussões atuais nos obrigam a resolver estas perguntas


primeiro. Por exemplo, possivelemente nos perguntamos: Qual é a melhor forma de
governo? Qual é o melhor partido político? ou Qual é o papel civil do cristão? Para
responder este tipo de pergunta, primeiro temos que estabelecer uma filosofia básica
acerca da origem, a tarefa, e os limites do estado.

A. A origem do estado
Não há muitas opções quando se trata da origem do estado; ou o homem o
inventou, ou Deus o ordenou. Alguns opinam que o homem tem estabelecido o governo
para promover o bem ou para evitar o mal. Por exemplo, na república, Platão sugere que
o homem se organizou para buscar a justiça e assim satisfazer seus próprios
interesses49. Tomás Hobbes (1588-1679) propôs que o estado é produto de um
«contrato social» entre os homens, feito para evitar o conflito. Já que todos os homens
buscam satisfazer seus próprios desejos, isto leva inevitávelmente a uma luta de
interesses, e a única forma de aceitar as desigualdades e evitar o conflito é ter um estado
governado por um soberano (Leviatã) que impõe seu poder absoluto sobre o povo50.
Qual é o enfoque cristão acerca da origem do estado? Como chegou a existir o
governo civil? Uma das passagens bíblicas chave para entender a origem do estado é
Romanos 13. Diz: «não há autoridade que não proceda de Deus, e as autoridades que
existem, foram por ele instituidas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste
a ordenação de Deus» (versículos 1 e 2). João Calvino observou que o estado havia sido
estabelecido depor causa da «a Providência de Deus e a sua santa ordenação», citando
depois esta mesma passagem.51
Abraham Kuyper distingue entre um desenvolvimento «mecânico» e um
desenvolvimento «orgânico» de instituições sociais. Por um lado, as instituições ou
«esferas» sociais que se desenvolvem de forma «orgânica» são necessárias e «naturais»;
haviam se desenvolvido ainda sem a existência do pecado no mundo. Por outro lado, as
instituições ou esferas que se desenvolvem de forma «mecânica» são necessárias
somente por causa do pecado. São como um «pau de apoio» colocado ao lado de uma
árvore para ajudá-la a crescer ereta. Para Kuyper, então, o estado é uma instituição que
se desenvolveu de forma «mecânica». O estado é necessário por causa do pecado. Se
não fosse pelo pecado, a sociedade se desenvolveria de forma patriarcal, como uma
grande família52.
Henry Meeter, na igreja e no estado53, diz que o estado é uma «consequência
natural», que «surge de um impulso social implantado por Deus no homem». Meeter
utiliza a distinção de Kuyper entre desenvolvimento «mecânico» e «orgânico». Sem o
pecado, o estado se desenvolveria de todas maneiras, mas de forma «orgânica». Haveria
sido um «império» com Adão o cabeça. Haveria sido o reino de Deus, porém sem leis,
tribunais, policias, exército e navios de guerra. Porém já que existe o pecado, o reino de
Deus somente se realiza por meio de Jesus Cristo, por intermédio da graça sobrenatural
e não por meios naturais. O estado então, como o conhecemos, com leis, policias, etc.,
teve que desenvolver de forma «mecânica» para frear a influência do pecado.
Israel começou como uma família, uma tribo patriarcal (Gênesis: Abraão,
Isaque, Jacó). No Sinai, se formou uma nação teocrática (Êxodo), com leis para frear o
pecado (um desenvolvimento «mecânico»). Deus indicava e guiava aos líderes
diretamente. Moisés era seu profeta, libertador, e governador, porém todos sabiam que
Moisés representava o Senhor, e não era somente escolhido pelo povo. Seguindo o
conselho de seu sogro, Moisés dividiu a nação em grupos e indicou líderes para ajudá-lo
a dirigir e a tomar decisões (Êxodo 18). Ao entrar na terra prometida, Israel tinha juízes
para governar. Todavia era uma teocracia. Em Deuteronômio 17.14,15, Deus disse que
teriam um rei.
Quando entrares na terra que te dá o Senhor teu Deus, e a possuíres e, nela
habitares e disseres : Estabelecerei sobre mim um rei, como todas as nações que se
acham em redor de mim; estabelecerás, com efeito, sobre ti como rei aquele que o
Senhor teu Deus escolher.

Não obstante, em 1 Samuel 8, quando Israel pede um rei «como as outras


nações» (v. 5), algo extranho acontece: Deus lhes concede sua petição, porém expressa
Seu incômodo com a ideia. Deus disse a Samuel,

E disse o Senhor a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te diz pois
não te rejeitou a ti, smas a mim, para eu não reinar sobre eles. (v. 7) Então naquele dia
clamareis por causa do vosso rei que houverdes escolhido; mas oSenhor não os ouvirá
naquele dia. (v. 18)

Por meio de Samuel, Deus os advertiu das consequências de ter tal rei. Seus
filhos teriam que ser soldados, e trabalhariam fazendo armas de guerra e arando os
campos. Suas filha serão perfumistas, cozinheiras e padeiras. O rei exigirá um décimo
de suas colheitas e de seus rebanhos (vs. 8-17). Apesar desta advertência, o povo
todavia pede um rei, e Deus instrui a Samuel a atendê-los. Obviamente, ter um rei assim
não foi a situação ideal. Haveria sido melhor continuar sob o governo direto do Senhor.
Além do mais, o motivo de Israel não foi bom; queriam ser como as demais nações.
Entretanto, Deus lhes deu um rei.
Por que? Sabemos que às vezes Deus concede nossas petições inapropriadas
para ensinar-nos uma lição. Neste caso, possivelmente foi para mostrar-lhes que foi uma
grande benção te-lo como seu Rei verdadeiro. Além do mais, os fracassos do reino de
Israel no Antigo Testamento apontam necessidade da salvação, e a necessidade de Jesus
como o Rei perfeito.
Podemos supor também que isto foi um passo necessário na preparação dos
crentes para viver sob governantes estrangeiros. Na monarquia, vemos uma separação
dos ofícios de profeta, sacerdote, e rei. Então quando os israelitas chegam a ser cativos
de países estrangeiros durante o exílio, os ofícios de profeta e de sacerdote continuam,
enquanto estão submetidos a reis de outras nações. Esta situação continuou até o tempo
do Novo Testamento, e mais tarde.
O que isto nos ensina acerca da origem do estado? Concluiu que Meeter tinha a
ideia correta. A origem primordial do estado é a imagem de Deus no homem. Quer
dizer, se deve à necessidade natural do homem (que vive em sociedade) de ter alguma
ordem. O homem é um ser social, a humanidade tem aumentado muito, e a sociedade é
muito complexa. Portanto, algum tipo de organização é necessário para manter ordem.
Poderíamos especular que, ainda sem a presença do pecado, o homem se organizaria
com algum tipo de governo.
Entretanto, o estado tal como o conhecemos, com um sistema penal, com cortes,
e com polícia, se estabeleceu para frear a injustiça, e é necessário somente por causa do
pecado. A forma atual dos governos que existem no mundo hoje não é a forma ideal. A
forma ideal todavia seria uma teocracia, porém não é possível sob as circunstâncias de
um mundo caído. É uma lástima que este tipo de governo seja necessário, mas o é.”

B. A tarefa do estado
Ao falar da origem do estado acima, não se pode evitar em tocar no tema da
tarefa do estado. Porém queremos analisar este aspecto mais detalhadamente. Romanos
13.3-6 é o texto bíblico chave:

Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando
se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o beme terás louvor dela; visto
que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entrtanto, se fizeres o mal, teme;
porque não é sem motivo queela traz a espada, pois é ministro de Deus, vingador para
castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por
causa do temor da punição,mas também por dever de consciência. Por esse motivo,
também pagai os tributos, porque são ministros de Deus, atendendo constantemente, a
este serviço.

João Calvino propõe que o estado tenha várias funções. Básicamente o estado
deveria:

- Promover o bem-estar.
- Prevenir a idolatría, a blasfêmia e as ofensas religiosas.
- Garantir a paz.
- Proteger a propriedade
- Assegurar o comércio justo.
- Preservar a honestidade.

Em resumo, disse que o Estado deve fazer «brilhar uma forma pública de
religião entre os cristãos, e que exista humanidade entre os homens.» 54 É necessário
recordar que na sua época, todavia não haviam visto a necessidade de separar a igreja e
o estado.
Abraham Kuyper opina que o dever principal é promover a justiça. Em segundo
lugar, deve cuidar das pessoas. Para ele, a «espada» mencionada em Romanos 13 inclui:

a) fazer justiça, castigando o crime,


b) fazer a guerra, defendendo ao país, e
c) manter a ordem, resistindo a rebelião.

Meeter julga que há duas «diretrizes» gerais:

a) A administração da justiça, e
b) A promoção do bem estar geral.

Por «justiça», quer dizer defender a lei de Deus (não a vontade do povo, nem do
estado como absoluto). Por «bem estar» quer dizer serviços públicos como o correio (dá
exemplos de Genebra no tempo de Calvino como: emprestamos aos pobres, fixar os
preços do vinho e do trigo, construir uma indústria de seda para dar empregos e
ingressos, e fixar normas para governar tipos de interesses financeiros). Meeter disse
que Calvino estava equivocado em incluir a defesa da religião como uma tarefa do
estado. Opina que o estado não deve entrometer-se em «aqueles assuntos que são
puramente do coração; somente pode intervir na esfera da conduta exterior».55
Fixe-se nas tarefas mencionadas em Romanos 13:

vv. 3 «para infundir temor ... ao mal»


vv. 4a «porque é servidor ... de Deus para teu bem»
vv. 4b «leva a espada ... para castigar o que pratica o mal».
vv. 6 recebe tributos.

Eu creio que a tarefa principal do estado é garantir a ordem e a justiça social (ou
expressado negativamente: evitar a desordem social e a injustiça social). É dizer, deve
promover a ordem e a justiça nas relações entre os indivíduos e entre as outras
instituções. Quando há um conflito de interesses, ou quando há uma falha que constitui
uma injustiça social, o estado tem direito de atuar para estabelecer uma situação mais
justa. O estado é como o «sistema nervoso» da sociedade. Ajuda aos outros membros a
funcionar em coordenação e avisa quando há dor ou quando algo não funciona bem.
Eu creio que tarefa principal do estado é garantir a ordem e a justiça social (ou
expressado negativamente: evitar a desordem social e a injustiça social). É dizer, deve
promover a ordem e a justiça nas relações entre os indivíduos e entre as outras
instituções. Quando há um conflito de interesses, ou quando há uma falha que constitui
uma injustiça social, o estado tem direito de atuar para estabelecer uma situação mais
justa. O estado é como o «sistema nervoso» da sociedade. Ajuda aos outros membros a
funcionar em coordenação e avisa quando há dor ou quando algo não funciona bem.

C. Pautas de justiça no Antigo Testamento


Não temos que guardar as leis civis de Israel, tal como as tinham que praticar no
tempo do Antigo Testamento, mas estas leis nos dão princípios de justiça que se
devemos respeitar todavia hoje em dia. Havia três aspectos da lei: ceremonial, civil, e
moral. Já que Jesus veio fazer o último sacrifício, não temos que cumprir o aspecto
ceremonial da lei. É dizer, não fazemos sacrifícios, e não observamos as ceremônias
relacionadas com o templo. Ademais, como o povo de Deus já não é somente uma
nação política (Israel), mas crentes de todas as nações, tampouco se aplicam as leis civis
como naquela época. Por exemplo, não castigamos com a pena de morte uma criança
que maldiz a seus pais (Êxodo 21.17). Havia muitas leis acerca do uso de propriedades
que seriam impossíveis de aplicar hoje, como o ano do jubileu (Levítico 25). Não
obstante, os princípios morais, resumidos nos dez mandamentos, todavia devem ser
guardados. Ademais, ainda que não as observamos como o povo de Israel no Antigo
Testamento, as leis ceremoniais todavia nos ensinam verdades espirituais, e as leis civis
todavia nos ensinam princípios de justiça.
Por exemplo, vejamos como devemos aplicar os ensinos de Levítico 25 hoje. Em
primeiro lugar, não é necessário observar o ano sabático ou o ano de jubileu, tal como
foi mandado neste capítulo. Isso era principalmente uma lei civil para a nação de Israel
naquela época. Entretanto, o capítulo nos dá pautas de justiça. Deus quiz evitar uma
acumulação egoísta de riquezas, de uma geração a outra. Cada cinquenta anos as
propriedades voltavam ao dono original. Mas também podemos ver que Deus quiz
animar o povo a ser diligente e a tomar iniciativa, porque os que eram sábios e
diligentes podiam receber benefício de seus esforços, e podiam ter mais terreno, pelo
menos durante alguns anos. Também vemos uma verdade importante relacionada com
as propriedades: a terra pertence a Deus, e não a nós. Ademais, o povo tinha que
aprender a confiar plenamente no Senhor para cuidá-los, já que durante o sétimo ano, e
depois dos anos seguidos durante o ano quarenta e nove e o ano cinquenta, tinham que
descansar de trabalhar a terra. Finalmente, podemos ver algumas verdades espirituais
neste capítulo: o conceito do descanso aponta o descanso espiritual em Cristo. A
salvação nos chega quando deixemos de fazer obras de mérito e começamos a confiar
somente nele. A vida eterna é um descanso completo nele.”

D. Os límites da autoridade do estado


Antes de Cristo a tarefa da justiça social estava unida a tarefa «religiosa» no
estado. O rei era soberano em tudo porque representava a Deus mesmo. Entretanto,
depois de Cristo, o povo de Deus já não é uma nação, mas que é a igreja como corpo de
crentes, dispersos em todas nações. Este fato obriga a fazer certa separação entre estado
e igreja. A igreja é um reino eterno e universal, entrelaçado em toda a sociedade. Em
certo sentido esta separação não é ideal, mas é necessária nesta época, até que volte
Jesus a estabelecer seu reino de forma final e completa. Até então haverá algo de tensão
por causa desta «anormalidade». Finalmente, já que há tantos governos que são
corruptos, ou inclusive anti-cristãos, o fato de permitir que legislem sobre as crenças
religiosas traria somente mais sofrimento para muitos cristãos.
Uma teocracia é o estado ideal, em que Deus governa diretamente. Assim será a
forma eterna do reino de Deus. Entretanto, sabemos que por agora, estamos vivendo
entre não crentes, como «estrangeiros e peregrinos» (1 Pedro 2.11). Portanto, não
queremos ter um estado que esteje por sobre toda atividade humana. Isso seria
totalitarismo, e significaria submeter à igreja por debaixo do governo civil. Tampouco
queremos por o estado debaixo da igreja, porque até a igreja como instituição pode estar
corrupta. Esse foi o problema no tempo da Reforma. A igreja romana abusava do seu
poder, dominando cada aspecto da sociedade, mas os reformadores em vez de
reconhecer a necessidade de separar o governo eclesiástico do governo civil,
simplesmente trataram de mudar a religião dos países. Isto produziu muitos conflitos e
muitas guerras. Os anabatistas foram ao outro extremo, insistindo em que os cristãos
deviam separar-se totalmente dos assuntos civis.
João Calvino estava comaçando a discernir uma solução para este problema, mas
não conseguiu ser totalmente consequente. Ele propôs que o estado governasse «os
costumes e a conduta exteriores», e que a igreja supervisionasse as coisas do homem
«interior»56
Um século mais tarde, seus seguidores na Inglaterra redigiram a Confissão de Fe
de Westminster, em meio dos conflitos violentos entre a igreja e o estado; propondo que
o estado não devia intervir em assuntos da fé, mas proteger a igreja e garantir sua
liberdade.
Os magistrados civis não devem tomar para si a administração da Palavra
e dos sacramentos, ou o poder das chaves do reino dos céus, nem se
entrometerão no mínimo em assuntos da fé. Entretanto, como pais cuidadosos, é
o dever dos magistrados civis proteger a igreja de nosso Senhor comum, sem dar
preferência a alguma denominação de cristãos sobre os demais, de tal modo, que
todas as pessoas eclesiásticas, quaisquer que sejam, gozem de completa, gratuita
e inquestionável liberdade, para desempenhar cada parte das suas funções
sagradas sem violência nem perigo.57

Porém de uma maneira similar a Calvino, não fizeram uma separação


suficientemente clara entre igreja e estado. Segundo a versão original da Confissão de
fé, o magistrado civil tem a autoridade para convocar concílios e para suprimir erros
religiosos. Deve garantir....

...que a verdade de Deus seja mantida pura e integra, que toda blasfêmia
e heresia sejam suprimidas, que toda corrupção e abuso no culto de adoração e
na disciplina sejam prevenidos ou reformados, e que toda ordenança de Deus
seja devidamente resolvida, administrada, e observada. Para melhor efetuar do
anterior, terá autoridade para convocar sínodos, estar presente neles, e assegurar
que qualquer deliberação deles seja de acordo com a mente de Deus. 58

Depois do período da Reforma, a igreja protestante começou a fazer uma


separação mais clara entre a igreja e o estado. Inclusive, versões posteriores da
Confissão de fé de Westminster, tão logo como no ano 1788, tiraram a seção citada
acima acerca de heresias e abusos, e acerca da autoridade do magistrado para convocar
sínodos. Abraham Kuyper (no século 19) destaca uma distinção entre três esferas sociais
básicas: igreja, estado, e família. Segundo ele, cada esfera tem sua própria soberania sob
a soberania de Deus, e nenhuma esfera deve interferir na outra. Henry Meeter segue a
posição de Kuyper.

«O estado não há de fazer sua o labor destas esferas...»

«Por outra parte o governo tampouco pode permitir que estas esferas
operem sem controle algum e dando renda solta aos intentos do pecado...»

«Negativamente, o labor do estado consiste em impedir que aquelas


forças que tendem impedir o labor das diferentes esferas cheguem a prevalecer; e
positivamente o labor do estado tem de ir encaminhada à promoção daquelas
condições que façam possível o que estas esferas possam levar a término suas
tarefas culturais».59
Segundo Meeter o estado deve:
1) evitar conflitos entre as distintas esferas
2) proteger os grupos ou indivíduos dentro da sociedade, e
3) exigir a ajuda necessária para sua própria preservação.

Conclusão
Se a tarefa do estado é promover a ordem e a justiça social, os limites da sua
autoridade são definidos por esta área. Não deveria interferir no desenvolvimento
natural das outras esferas sociais, como por exemplo a igreja ou a família, exceto
quando existe alguma desordem ou alguma injustiça entre elas ou entre os indivíduos.
De outro modo, deveria deixá-los em liberdade, respeitando a soberania de cada esfera.
O estado deveria ajudar as outras instituções a cumprir suas respectivas tarefas. Deve
funcionar como um árbitro. Por exemplo, se alguém rouba de um supermercado, sua
“liberdade” chegou a ser uma falta de liberdade para o dono do negócio. Se ocorreu
uma injustiça. Portanto, o governo civil deve intervir, fazer leis contra roubo, e castigar
ladrões. Normalmente, o governo deve deixar os negócios livres, mas no momento que
abusam de seus empregados ou que paguem salários injustos, o governo tem que
corrigir a injustiça. O governo não deve ditar qual religião os cidadãos devem aceitar,
mas se as práticas de alguma religião constituem violência a outros, chega a ser um
assunto para os magistrados civis.

E. A política de Jesus
O tema de Jesus e a política é suficientemente amplo para escrever vários livros,
porém somente teremos que limitar-nos a algumas pinceladas, para despertar o interesse
em seguir estudando a perspectiva bíblica. Temos dito que toda a verdade está
relacionada com Cristo, e que devemos voltar sempre a Ele no estudo de qualquer tema.
Alguns tratam de mostrar que Jesus foi politicamente radical e revolucionário, porque se
opôs aos ricos e poderosos. É verdade que falou contra os abusos e contra as
autoridades, chamando-os ao arrependimento. Mas chamá-lo um «revolucionário» no
sentido político é uma grande distorsão. A verdade é que se submeteu ao governo
vigente. Para surpresa inclusive dos discípulos, não tratou de remover as autoridades
romanas nem mudar o sistema corrupto de autoridade. O que está claro é que Jesus não
se pronunciou acerca de que algum sistema de governo era melhor que outro. Sua vida
concorda com o ensino de Romanos 13.
Quando os fariseus trataram de fazer uma armadilha para Jesus, perguntando se
devia pagar tributos (Mateus 21.15-22), Jesus respondeu com outra pergunta acerca de
uma moeda, «De quem é esta imagem, e a inscrição?» Então concluiu, «Dai a César o
que é de César, e a Deus o que é de Deus». Aparentemente Jesus não se opunha a pagar
os tributos, mas queria deixar claro o fat de que Deus é soberano. Se a moeda leva a
imagem de César, César leva a imagem de Deus e portanto ele pertence a Deus. Theo
Donner o leva um passo mais todavia e o aplica a todos nós:

Se devemos dar a César a moeda porque leva sua imagem, a conclusão


lógica é que temos de dar a Deus o que leva a imagem de Deus —significa que
temos de entregar-nos a ele de forma integral60.

Creio que isto nos dá uma pauta importante: É verdade que deve mos submeter-
nos às autoridades, mas nunca devemos permitir que as autoridades tenham supremacia
sobre Deus. Quando proibiram aos discípulos a pregar no nome de Jesus, tiveram que
desobedecer e obedecer a Deus. (Atos 4.19).
Depois da ressurreição e antes da sua ascensão, Jesus pronunciou suas últimas
palavras na terra. Os discípulos perguntaram se ia restaurar o reino de Israel (Atos 1.6-
8). Provavelmente estavam recordando os tempos maravilhosos do reino de Davi,
quando Israel dominava o mundo. Provavelmente esperavam que Jesus agora tomasse
armas para expulsar os romanos e restaurar a posição da nação de Israel que
correspondia ao povo de Deus. Entretanto, a resposta de Jesus deve tê-los confundido.
Talvez pensariam que não havia entendido a pergunta, e que não havia respondido nada
acerca do reino, porque responde,

Atos 1.7,8
<Não vos compete conhecer tempos ou épocas, que o Pai reservou pela
sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minha testemunhas tanto em Jerusalén, como em toda a Judéia, e
Samaria, e até aos confins da terra.
Estaria dizendo que o reino já não é importante? Que somente a evangelização é
importante agora? Que não importa mudar o mundo? Não! Isso não gera Sua resposta!
Além do mais, não estava confundido, e se respondeu a pergunta. Só que é
difícil captar a relação do principio. Jesus é o Rei dos reis, e quando ele chegou, o reino
de Deus chegou. Porém seu reino não é «deste mundo» (João 18.36). Não é algo visível,
senão é algo espiritual (Lucas 17.20-21). Quer dizer, é algo muito maior do que os
discípulos estavam pensando, porque é eterno e não temporal, e atinge toda a terra e não
apenas um país. O método de estabelecer o reino não é com armas, senão com o
testemunho acerca de Jesus. O Espírito Santo viria com mais poder que nunca, e os
levaria a todos os cantos da terra com a mensagem.
Um tempo eu duvidava da eficácia da igreja como instrumento para mudar o
mundo. Pensava que os ativistas sociais tinham melhores resultados. Porém agora me
dou conta de que a única maneira de trazer mudanças verdadeiros na sociedade seria
através de uma mudança espiritual no coração das pessoas. Quando alguém se converte
a Cristo, começa a viver melhor em familia, em sua igreja e na sociedade e geral.
Qualquer sistema de governo não funcionará bem se os líderes que o manejam
são corruptos. E muitos sistemas funcionarão bem se as pessoas que o manejam são
justas e honestas.
Creio que é por isso que o Novo Testamento não se pronuncia claramente contra
a escravidão ou contra os governos corruptos. Jesus sabia que as pessoas que chegavam
a ser transformadas pelo Espírito Santo iam ter outros valores e assim realizariam
mudanças mais radicais e mais duradouras. Se o dono de um escravo trata-o como
irmão (Filemom, v. 16), já não haverá problemas em assumir essa posição. Isso no final
é mais efetivo que mudar as leis, e consentir que as pessoas continuem tratando-se mal.
As leis contra racismo nos EUA. tem sido muito positivas, porém não tem eliminado o
racismo, porque isso está no coração.
Devemos reconhecer as raízes de transformações positivas na história. As vezes
somos tão pessimistas que não vemos o que o Senhor tem feito pelo seu povo. Se
pensamos que há muita violência hoje, temos que recordar as barbaridades e crueldades
cometidas nos tempos antes de Jesus. Os hospitais e universidades tem sua origem na
influência cristã. A escravidão demorou dois milênios para ser abolida, e muitos cristãos
confundidos defenderam a implantação por anos, e no final foi vencida graças a valores
cristãos.
Quando Jesus morreu e ressuscitou, realmente trouxe vitoria sobre o pecado e
Satanás. Não vemos todos os resultados, mas sim vemos alguns efeitos. Se dizemos que
o mundo é pior hoje em dia, estamos negando a obra de Cristo. A «política» de Jesus é
mais radical do que os revolucionários políticos pensam; Ele traz uma mudança interna
e espiritual, que é permanente e eterno. Como consequência, toda a sociedade disfrutará
dos benefícios.

Revisão
1. Segundo Platão, por que o homem se organizou em governos?
2. Segundo Hobbes, qual é a origem do estado?
3. Qual é a passagem bíblica chave para entender a origem do estado?
4. Qual á a diferença que faz Kuyper entre um desenvolvimento «mecânico» e
um desenvolvimento «orgânico» de instituições sociais?
5. Qual era a primeira forma de organização do povo de Deus no tempo de
Abraão?
6. Como se organizou o povo de Deus no Sinai na época de Moisés?
7. Quem governava a Israel quando entraram na Terra Prometida?
8. Segundo 1 Samuel 8, era correto pedir um rei para Israel?
9. Qual é a origem primordial do estado?
10. Segundo Calvino, quais são as funções do estado?
11. Segundo Abraão Kuyper, qual é a tarefa principal do estado?
12. Segundo Meeter, quais são as duas «diretrizes» gerais do papel do estado?
13. Segundo o autor, o estado é como qual parte do corpo humano?
14. Por que é necessária uma separação entre estado e igreja?
15. O que diz a Confissão de Fé de Westminster acerca do dever do estado com
relação a igreja?
16. Quais são as três esferas socias? Segundo Abraão Kuyper.
17. Segundo o autor, quais são os límites da autoridade do estado?
18. Qual foi a atitude de Jesus sobre a política?
19. O que aprendemos de Mateus 21.15-22 acerca do governo?
20. Como Jesus traz mudança na sociedade?, segundo Atos 1:6-8.

Perguntas de reflexão
1. Qual sua opinão acerca da origem, a tarefa e os limites do estado?
2. Em sua opinião, que tipo de governo reflete melhor a tarefa e os limites do
estado? Por que?
3. Pode dar exemplos de abuso de poder por parte do governo? Da falta de
exercício de seu dever?
4. Pode dar outros exemplos da influência cristã positiva na sociedade?

Capítulo 6
Um enfoque cristão da economia
Outro tema polêmico é o da economia. Lamentavelmente, muitas vezes o
diálogo cristão acerca desta assunto não contém muita referência nas Escrituras. E nesta
breve introdução, apresentaremos as duas formas econômicas mais comuns, o
capitalismo e o socialismo, e analisaremos algumas passagens bíblicas relacionadas com
o debate.

A. O capitalismo
O valor chave do capitalismo é a liberdade. Se considera Adam Smith (escocês)
o pai do conceito. Em 1776, publicou La riqueza de las naciones( A riqueza das
nações) onde propõe que há uma «mão invísivel» que guia a economia segundo um
interesse próprio e benefício próprio. Observou a «lei da oferta e procura»: quando há
mais demanda, sobem os preços, e quando há mais concorrência, baixam os preços.
Opinava que, se todos buscam seu bem próprio, ao longo todos se beneficiarão.

«Não é por causa da benevolência do açougueiro nem do cervejeiro, nem


do padeiro que esperamos nosso almorço, mas por causa de um interesse
próprio61».

O capitalismo deu início na revolução industrial na Inglaterra, junto com o motor


a vapor. A produção e o consumo aumentaram na Inglaterra em 1.600% durante o século
XIX. Na Europa se abreram fábricas de tecido (na Bélgica e França) e de aço (na
Alemanha). Nos Estados Unidos se construíram canais e trens. O lado triste da
revolução industrial foi a exploração dos trabalhadores, incluindo crianças que
trabalhavam longas horas nas fábricas da Inglaterra. Estas são as coisas que observou
Carl Marx e que o motivou a estabelecer outro sistema econômico.
Talvez a prova mais dura para o capitalismo foi a grande depressão nos Estados
Unidos que começou em 1929. A estagnação era de 25%, a produção nacional caiu em
50% e 11.000 bancos fecharam. Diz que John Maynard Keynes «salvou» o capitalismo
com sua teoria de que o governo deveria gastar quantidades enormes de dinheiro para
dar novo vigor à economia.
Os capitalistas insistem que seu sistema produz incentivo de trabalho, e que
melhorou a economia de muitos países. Os críticos do capitalismo sustentam que produz
uma desigualdade injusta. Em vez de combater o egoísmo, se aproveita dele.
B. O socialismo
O valor chave do socialismo é a igualdade. Ainda que Carl Marx é considerado
o pai do socialismo, existia um movimento socialista na França e Inglaterra até antes
dele. Os participantes tinham seus bens em comum, repartiam o trabalho igualmente, e
tinham os meios de produção e objetos de consumo em comum.
Marx (1818-1883) estudou leis e filosofia. Quando estava em Berlim, se
impregnou com o conceito da dialética de Hegel. Depois como periodista, viu os
problemas sociais, especialmente os abusos dla revolução industrial na Inglaterra.
Escreveu o Manifesto comunista, obra chave do movimento. Marx queria dedicar O
Capital a Darwin, mas este se negou. Morreu pobre exilado na Inglaterra.
Marx seguiu a dialética de Hegel, combinando com o materialismo de Fuerbach,
e desenvolveu o materialismo dialético (ou materialismo histórico). Ele dizia que havia
«posto de pé» a Hegel, porque mudou o ideal pelo material. A dialética de Marx é como
uma evolução lenta com mudanças abruptas e dramáticas de vez em quando. Estuda a
história segundo as leis empíricas. Encontra que a estrutura econômica é a base
fundamental da sociedade que determina sua história, que leva consigo toda a cultura.
Enfatiza a luta das classes como a causa das mudanças. Disse no Manifesto: «A história
de toda a sociedade é a história da luta de classes». Cria que a religião era o «ópio do
povo». A verdadeira salvação da humanidade será a formação de uma nova sociedade
justa. Para Marx, a revolução era inevitável. O proletariado se rebelará contra a
burguesia.
Engels enfatizou o materialismo dialético e apoiou a reforma sem revolução. Na
Alemanha, se formou o partido social-democrata, que buscava o poder político dentro
do sistema existente, sem promover uma revolução violenta.
Lenin (Rússia), ao contrário, sustentava que se necessitava um partido
«vanguarda» de revolucionários intelectuais que conscientizasse os trabalhadores, e que
a revolução violenta era necessária para conseguir o socialismo. Os «bolchevique» (a
«maioria») seguiram Lênin, e os «menchevique» (a «minoria») se opuseram. Stalin
estabeleceu um totalitarismo cruel; enviou milhões a Sibéria e executou os líderes
bolcheviques.
Os países da Europa adotou formas muito mais moderadas do socialismo, que
realmente não tem muito em comum com o marxismo ou o leninismo. Os líderes
chegaram ao poder por caminhos parlamentários, muitos através do partido social-
democrata. Simplesmente são sistemas econômicos que buscam eliminar diferenças
drásticas entre os ricos e os pobres. A chave está em cobrar impostos mais altos para
poder prover serviços aos cidadãos, especialmente a educação e a atenção médica. Na
Dinamarca, por exemplo, os impostos individuais variam entre 41% e 60%. Na
Holanda, se calculam entre 36% e 60%62. Os críticos observam que há muita burocracia,
falta de incentivo, e muita ausência no trabalho nestes países.
Na América Latina, os países oscilaram entre ditaduras militares e democracias,
entre sistemas capitalistas e sistemas socialistas. Com a teologia da libertação, o
movimento marxista fez amigo com alguns ramos do cristianismo. Fidel Castro disse
uma vez que estava maravilhado porque «os teólogos estãon se convertendo em
marxistas e os marxistas estão se convertendo em teólogos» 63. A situação de alguns
países se complica com uma reação contra o predomínio econômico e cultural da
Europa e os Estados Unidos. As vezes é difícil saber que influi mais, o desejo de
independencia dessa influência, ou um ideal próprio.
Alguns dizem que Fidel Castro começou lutando para Se tornar independente da
Espanha e dos Estados Unidos, sem ser socialista. Dizem que se converteu em socialista
quando EUA. viu a revolução como comunista, boicotou a Cuba, e invadiu a Bahia de
Cochinos. Muitos comerciantes se foram para EUA. e a política de Castro se pôs mais
socialista. Em 1961 se formou o Partido da Revolução Socialista.
Outros como Peter Bourne, em sua biografia, Fidel64, indicam que Castro já
tinha ideias socialistas antes de levar a cabo a revolução. Estudou muito quando estava
no cárcere depois de seu primeiro intento revolucionário, e saiu com uma ideologia
formada. Opina que também muito do impulso de Castro foi por sua admiração de
prévios libertadores.
Os defensores do socialismo insistem que seu sistema busca maior igualdade e
que tem as prioridades corretas, pondo mais atenção aos serviços médicos, a educação, a
alimentação, e os serviços básicos em geral. Seus críticos dizem que o estado socialista
se converte em um poder absoluto no que se perde muita liberdade. Observam que
historicamente se prestou para estabelecer um estado totalitarista, com uma elite no
poder. Também manifestam que não deu bons resultados, que não produziu economias
que realmente tenham ajudado aos pobres.

C. Por que a América Latina é pobre?


1) Uma resposta socialista-liberacionista
A resposta da teologia da libertação a esta pergunta chave é que a relativa
pobreza dae América Latina se deve à injustiça e a opressão da parte dos países
capitalistas dominantes. Segundo José Míguez Bonino, o capitalismo favorece o forte e
poderoso, que eleva a produção econômica por sobre o desenvolvimento humano 65. Os
países mais pobres vivem dependentes dos ricos, os quais manejam tudo para seu
próprio benefício. Como diz o refrão, «O que paga a orquestra manda no baile». Bonino
reclama que, desde a colonização, quando Espanha levou o ouro e a prata, «o
subdesenvolvimento latinoamericano é a sombra do desenvolvimento norteatlântico 66».
Um dos exemplos favoritos dos marxistas é o caso do Chile. Segundo eles, quatro
companhias de cobre norteamericanas levaram do Chile mais de US$110 milhões
durante um período de 60 anos, mais que todo o produto nacional líquido de todo o país
em toda sua longa história de 400 anos67!

2) Uma resposta capitalista


Michael Novak, em O Espírito do capitalismo democrático, provê outra
perspectiva68. Diz que não é justo culpar somente o estrangeiro. Inclusive, América
Latina nem sempre foi mais pobre. No ano de 1850, o ingresso de pessoa da América
Latina era quase igual que nos EUA. Ademais, o intercâmbio econômico as vezes
favoreceu a América Latina. No ano de 1892, os EUA exportou US$ 96 milhões à
América Latina e América Latina exportou US$ 290 milhóes à EUA. Novak argui que
os EUA. Inverteram tanto ou mais em países como Alemanha e Japão, sem produzir
dependência ou pobreza.
Para responder a acusação de que EUA. ganha uma quantidade enorme e injusta
com suas inversões na América Latina, Novak diz que haveria ganhado mais todavia se
tivesse depositado o mesmo dinheiro em um banco nos EUA. Para refutar o argumento
de que EUA. se desenvolve a custa dos países mais pobres, aponta o fato de que o 80%
de suas inversões estão em países desenvolvidos.
Qual é a causa da pobreza na América Latina, então? Sem negar que houve
abusos e injustiças, Novak destaca outros fatores:

a) A população
Em 1940 EUA. e América Latina tinham a mesma população: 130 milhões.
Em 1977 EUA. tinha 220 milhóes, enquanto que América Latina tinha 342
milhões.
b) A mentalidade católica anticapitalista
Na Europa, durante a contrar-reforma, a igreja estava estreitamente relacionada
com o governo, e assim se aplacava o esforço capitalista. Os capitalistas abandonaram
os países católicos, e foram aos países protestantes, onde tiveram êxito. Os governos dos
países católicos restringiam a empresa privada, e davam licença para monopólios
estatais. Isto sucedeu especialmente nos países dependentes da Espanha, impedindo
iniciativa e crescimento econômico.
c) A estrutura social importada da Espanha
Ademais, os espanhóis exportaram da América Latina a estrutura social dualista de
senhor/servo. Este sistema também impedia a liberdade e desanimava a iniciativa
privada.

Novak opina que a economia em geral não está tão fraca na América Latina,
comparada com outras regiões do mundo. Entretanto, a distribuição dos ingresos foi
desigual.

D. A Inflação
A inflação é um dos piores inimigos da economia. Comumente se observa a
inflação como um aumento nos preços. Entretanto, a inflação fundamentalmente
significa que o dinheiro tem menos poder de compra. Qual é a causa? Gary North 69
analiza as seiguintes causas:
a) Debilitar o metal das moedas (Ezequiel 14:21-23, Proverbios 25:4-5). North
observa que na Roma antiga, quando o governo queria fazer mais moedas, em vez de
buscar mais ouro ou prata simplesmente tiravam um pedaço da boda das moedas
existentes, e usavam o metal para fazer moedas novas. Hoje se faz o mesmo, fazendo
moedas «sandiche» (com prata por fora e cobre por dentro), ou mudando o metal
totalmente (cobre em vez de ouro, níquel em vez de prata). O resultado desta manobra é
que cada moeda vale menos, o qual equivale a inflação.
b) Fazer dinheiro sem respaldo de metais preciosos. Originalmente, os EUA.
tinham respaldo de ouro por todo o dinheiro. Por cada cédula de um dólar, havia um
pedaço de ouro desse valor. Depois, o governo começou a imprimir muitas cédulas sem
suficientes fundos de metais preciosos. Vascilaram um tempo entre um respaldo total,
nenhum respaldo, e um respaldo parcial, até a presidência de Nixon, quando se pôs fim
a política de apoiar as cédulas com ouro. North opina que isto equivale falsificar
cédulas. O resultado é que cada cédula vale menos no mercado, o qual significa
inflação.
Por que «vale menos» cada cédula? Suponhamos uma situação: Há cem cédulas
de um dólar em existência, cem pessoas em existência, cada pessoa tem um dólar, e se
oferecem cinquenta garrafas de refresco por um dólar cada uma. Cinquenta pessoas
podem comprar um refresco, não é verdade? Se todos querem um, será questão de
vender às primeiras cinquenta pessoas que chegam. Agora suponhamos que começamos
com a mesma situação de cem cédulas, cem pessoas, e cinquenta refrescos, mas que
agora o governo imprime cinquenta cédulas adicionais e os distribui a cinquenta
pessoas. Agora cinquenta pessoas tem dois dólares, e cinqüenta pessoas tem só um
dólar. Suponhamos que se vendem cinqüenta refrescos de novo. Se o vendedor é astuto,
se dará conta de que enfrenta uma boa situação: ele pode subir o preço a dois dólares e
todavia vender todos os refrescos! Agora quem pode comprá-los? Obviamente os que
tem dois dólares estão com uma vantagem! O que tinha uma cédula antes não fez nada,
mas sua cédula abaixou no valor. Assim funciona a inflação. Por suposto, a historinha
está muito simplificada, mas o conceito é válido.
Os primeiros bancos eram literalmente bancas de madeira situadas na praça,
onde guardavam e mudavam moedas. Alguém podia deixar suas moedas e o banqueiro
lhes dava uma nota. Logo os banqueiros se deram conta de que muitos não pediam suas
moedas quando voltavam a fazer um intercâmbio, smas que somente intercambiavam
suas notas. Assim que os banqueiros coxmeçaram a fazer empréstimos, até além do
dinheiro que tinham guardado. De repente estavam circulando muitas notas, é dizer,
muito «dinheiro», sem ter o respaldo de moedas. Se todos quisessem pedir suas moedas
de uma vez, quebraria o banco. Muitos governos atuais fazem o mesmo. O resultado é
que o dinheiro vale muito menos na competência do mercado, tal como vimos no caso
dos refrescos.
c) O sistema de inversões com interesses («reservas fracionais »). Hoje em dia
um banco tem que guardar somente uma porcentagem do dinheiro depositado. Esta
porcentagem pode variar, normalmente em torno de dez ou vinte por cento, e depende
do país. O resto o podem emprestar. Este sistema se chama «reservas fracionais».
Suponhamos que a porcentagem é de 10% (o requisito legal nos EUA. em 2006). Isto
significa que uma pessoa pode depositar mil dólares, e quando o banco terminar de
manejar este dinheiro, no final «existem» como 10 mil dólares em circulação. O
resultado é que cada dólar vale menos para competir no mercado (= inflação).
A matemática é assim no caso de 10% reservado:

Pessoa # 1 tem $1.000 e os deposita no banco.


O banco guarda $100 e empresta o resto ($900) a pessoa # 2.
Pessoa # 2 tem $900 e os deposita no outro banco.
O banco guarda $90 e empresta o resto ($810) a pessoa # 3.
Pessoa # 3 tem $810 e os deposita em outro banco.
O banco guarda $ 81 e empresta o resto ($729) a pessoa # 4.
Pessoa # 4 tem $729, etc., etc.

Se continuarmos este exercício ad infinitum (e não temos agregado os interesses


que paga o banco pelas inversões), o total de dinheiro que «existe» são como $10.000!
A pessoa #1 todavia tem $1.000, #2 tem $900, #3 tem $891 etc. Fixe que o dinheiro se
multiplicou sem fazer quase nada. O trabalho invertido foi simplesmente o tempo dos
empregados em receber ou emprestar o dinheiro e manejar as cifras no computador. O
resultado: Ainda que a pessoa #1 pense que está ganhando dinheiro com os interesses,
há 10 vezes mais dinheiro em circulação, assim que seu dinheiro tem muito menos
poder de compra (= inflação). É como seguir jogando mais água ao suco; tem cada vez
menos sabor.
O sistema capitalista está baseado neste processo de crédito e inversões. O que
maneja muito dinheiro, ganha mais, mas o pobre que não pode inverter seu dinheiro
para ganhar interesses perde o poder de compra, e seu dinheiro vale menos. O tema de
reservas fracionais tem causado muito debate. Alguns economistas não estão de acordo
com a perspectiva de Gary North. Justificam o sistema, dizendo que o dinheiro
emprestado pelo banco se utiliza para produzir algo, e portanto, não causa inflação. Por
exjemplo, se um comerciante pede dinheiro emprestado para abrir uma padaria, terá
mais pão disponível, e a maior oferta fará que se abaixem os preços. Não obstante, ainda
que o fator da produção minimiza o problema, a inflação segue sendo um problema
sério no sistema capitalista.

E. Princípios econômicos no Antigo Testamento


Se encontram duas pautas éticas no Antigo Testamento que nos ajudarão a
desenvolver uma filosofia econômica: 1) Devemos trabalhar com diligência, e 2)
Devemos mostrar compaixão aos demais. Como vimos anteriormente, o Pentateuco (em
passagens como Levítico 25) nos ensina que temos a liberdade para melhorar nossa
situação, sempre que estamos ajudando aos necessitados. Haviam ordenado muitas
formas de prover para os pobres, como a instrução de deixar algo de grão no campo,
sem colher (Levítico 23.22). Ninguém devia morrer de fome em Israel! A história do
maná no deserto ilustra vários princípios. Os que recolhiam demasiado tinham justo o
suficiente, e os que recolhiam muito pouco também tinham suficiente. Isto nos ensina
que devemos evitar o excesso egoísta, e que devemos cuidar aos que tem menos. Os que
tratavam de guardar o maná durante a noite perdiam tudo pela manhã. Isto nos ensina a
confiar no Senhor para nossa provisão diária. Os Provérbios põem ênfase no fato de que
é sabio trabalhar diligentemente e honestamente (6.6, 11.1, 19.1, 20.4, 24.27, 26.13-
14). Os profetas põem ênfase na compaixão e a justiça para os necessitados (Isaías 3.14-
15, Amós 2.6-7). Estas duas pautas da diligência e a compaixão não se contradizem,
mas que se complementam. Se praticássemos somente estes dois princípios,
consegueríamos estabelecer uma economia mais sã e mais justa.
Enquanto a empréstimos e interesses, se proibia que um israelita cobrasse
interesses a outro irmão israelita, mas não a um estrangeiro.
Deuterônomio 23.19,20
A teu irmão não emprestarás com juros, seja dinheiro, seja comida ou
qualquer coisa que é costume se emprestar com juros. Ao estrangeiro
emprestará com juros, porém ao teu irmão não emprestarás com juros, para
que o senhor teu Deus te abençoe em todos os teus empreendimentos na terra a
qual passas a possuir. (Veja também Êxodo 22.25 e Levítico 25:35-38)
Isto não significa necessariamente que hoje em nossos bancos sempre
seja um pecado cobrar interesses, especialmente a alguém que pediu um
empréstimo voluntariamente para criar ou melhorar um negócio que produz
algo. Entretanto, significa que a justiça e a compaixão se devem incorporar nas
práticas bancárias.

F. Jesus e a economia
Tal como vimos no capítulo anterior acerca da política, encontramos que Jesus não se
pronunciou sobre algum sistema econômico. Mas nos inculca novos valores éticos e
novas atitudes. Não devemos fazer tesouros na terra (Mateus 6.19,20), nem trabalhar
excessivamente por coisas materiais, mas confiar no Pai celestial (Mateus 6.25-34). A
abundância aparentemente faz difícil ver a necessidade de Deus, e portanto é difícil para
um rico entrar no reino de Deus (Mateus 19.23). Devemos dar aos pobres, dispostos a
entregar tudo se necessário (Lucas 18.18- 30). Jesus mesmo nos deu um exemplo de
deixar nossa comodidade para ajudar os demais.

2 Corintios 8.9
Pois conhoceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se
fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza vos tornásseis ricos.

A Igreja Católica, graças a teologia de libertação, adotou o lema de um «amor de


preferência» para os pobres70. Creio que se isto se refere somente aos que são
materialmente pobres, está muito limitado e mal enfocado. Mas creio que Deus tem
preocupação especial para qualquer pessoa necessitada, seja que sofra de depressão, que
viva em uma família conflitiva, que esteje propenso ao alcool ou drogas, que não tenha
pais, que viva longe da sua família, ou que seja materialmente pobre. Os que são
economicamente pobres não são os únicos que sofrem, e creio que devemos mostrar um
amor especial a todos eles, sem deixar de amar a todo tipo de pessoa.
Se pudéssemos praticar os valores que nos deixou Jesus, e se pudéssemos
assumir a atitude de Jesus para os que sofrem, a economia funcionaria bem.

Perguntas de revisão
1. Qual é o valor chave do capitalismo?
2. Como se chama o «pai» do capitalismo? Qual foi sua teoria?
3. Qual foi a prova mais difícil para o capitalismo?
4. Que solução deu John Maynard Keynes a este problema?
5. Qual é o valor chave do socialismo?
6. Quem é considerado o pai do socialismo?
7. Por que este dizia que havia «posto de pé» a Hegel?
8. Em que consiste fundamentalmente a história da sociedade?, segundo Marx.
9. O que disse Marx acerca da religião?
10. Como se distingue a posição de Marx e Engels da posição de Lênin quanto a
maneira de conseguir uma reforma?
11. Qual é a resposta da teologia da libertação à pergunta de por que América
Latina é pobre?
12. Quais são três causas importantes da pobreza na América Latina?, segundo
Michael Novak.
13. Quais são as causas da inflação?, segundo Gary North.
14. Quais são as duas pautas éticas no Antigo Testamento que nos ajudarão a
desenvolver uma filosofia econômica?
15. Que podemos aprender de Jesus acerca da economia?

Perguntas de reflexão
1. Que sistema econômico reflete valores mais cristãos?
2. Por que América Latina é pobre em comparação com a Europa e Estados
Unidos?
3. Quais são os problemas econômicos de seu país, e que soluções pode sugerir?

Capítulo 7
Um enfoque cristão das
ciências naturais e da matemática
Quando estava na escola, meu professor de ciências naturais disse uma vez que
os cientistas deveriam ser as pessoas que mais crêem em Deus. Afirmou que, quanto
mais estudava a natureza, mais óbvio ficava que Deus existia. Deveria ser assim, porque
a natureza revela a Deus.

Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de


suas mãos. (Salmo 19.1)

Porque as coisas invisíveis dele, seu eterno poder e deidade, se fazem


claramente visíveis desde a criação do mundo, sendo entendidas por meio das
coisas feitas, de modo que não tem desculpa. (Romanos 1.20)

Mas lamentavelmente não é sempre assim. Nos últimos séculos, se desenvolveu


uma luta entre a ciência e o cristianismo. Isto se deve ao intento da ciência de ser
independente da fé. Para ser «objetivos», pretendem deixar a Deus fora da sala de
biologia, química, física, ou psicologia.
Felizmente, a graça comum (ou «universal») de Deus alcança a todo ser
humano, e muita atividade científica é válida e beneficiosa para toda a humanidade.
Ainda que o cirurgião não fosse cristão, dou graças por salvar a vida de minha mãe
quando sofria de problemas cardíacos. Devemos dar graças a Deus pela descoberta de
medicamentos, pelo estudo de problemas psicológicos e sociais, pelo invento de tantas
máquinas que fazem que o mundo seja mais cômodo, e pelo prognóstico do tempo.
Entretanto, nestos capítulos estamos analisando a forma de pensar. No âmbito
intelectual, a ciência se foi distanciando da fé cristã.

A. O conflito
Para nós, há duas fontes principais de revelação: a natureza e as Escrituras.
Como Deus é o autor das duas formas de revelação, não se contradizem. Portanto,
quando se pratica a ciência corretamente e quando se estuda a Bíblia corretamente, não
há conflito. Não obstante, há aparentes contradições causadas por interpretações
errôneas, seja da Bíblia ou seja da natureza. A teoria da evolução é uma aparente
contradição entre a evidência científica e o ensino bíblico. As teorias psicológicas de
Sigmund Freud não concordam com a doutrina cristã do homem, da culpa e do pecado.
Estes temas nos obrigam a formular um enfoque cristão da ciência.
Os filósofos dos últimos séculos tem separado a fé e a razão. Temos mencionado
anteriormente a Kant, por exemplo, que destacou esta separação. Ele distinguiu entre o
mundo dos «noumênos» e o mundo dos «fenômenos», entre o mundo metafísico e o
mundo físico. A razão «pura» funciona no mundo físico, mas no mundo metafísico,
somente funciona a razão «prática.» Este mundo está cheio de contradições e
antinomias. A religião, a moralidade a liberdade e a ética estão no mundo dos
«noumênos».

religião, moralidade liberdade, ética

noumênos RAZÃO PRÁTICA

Mundo metafísico

Mundo físico

fenômenos RAZÃO PURA

Ciência , experiência

Assim se formou uma dicotomia daninha. A ciência chega a ser racional e


objetiva, enquanto os assuntos religiosos são ambíguos e contraditórios. Alguns negam
o uso da fé para a interpretação da natureza, e outros negam o uso da razão para
interpretar os assuntos «religiosos».
Agora na época chamada «pós-moderna» se perdeu a confiança na ciência e na
razão. O problema é mais dramático porque o homem havia posto toda sua confiança na
razão para saber a verdade, e sem essa confiança, o homem perdeu a esperança de saber
algo.
El Dr. H. van Riessen, em Enfoque cristão da ciência, nos recorda que os
reformadores trataram de incentivar o desenvolvimento das ciências para servir a Deus,
e que se opuseram a separar a ciência da fé. Foi o humanismo que derrubou este
conceito e deixou a ciência com sua autonomia. Observa que a mesma confiança no
progresso que estava detrás das filosofias de Hegel, Darwin, e Marx foi a causa da sua
própria morte. Por que? Porque segundo seu esquema, tudo é relativo. Se tudo muda
como dizem, de manhã poderia encontrar que minhas convicções de hoje já não são
verdadeiras! Como posso confiar inclusive em minhas próprias teorias? O positivismo
(Comte) cria no conhecimento seguro («positivo»), porque pretendia estudar somente os
fatos observáveis, algo verdadeiro e «neutro». Entretanto, se somente os «fatos
observáveis » são verdadeiros, por que confiar em uma teoria, ou em uma filosofia? E
se não posso confiar em uma teoria, tampouco é válida minha própria teoria positivista,
o postulado de que os fatos observáveis são verdadeiros. Van Riesen diz que o problema
fundamental do enfoque moderno da ciência é a pretendida autonomia e «objetividade»
da ciência e a razão. Diz: «A causa da crise está na crença do homem em seu poder
independente e em seu domínio do mundo por meio da ciência71».
Não há tal coisa como um «fato objetivo», ou um «fato bruto», como diz
Cornelius Van Til. Somente existem fatos interpretados72. Por exemplo, alguém poderia
«crer» na ressurreição de Jesus como um fato histórico. Não obstante, isso não significa
muito se não entende por que morreu Cristo. Cada evento na história tem uma
interpretação, e ninguem pode ser objetivo em relatá-lo. Para entender um «fato»
corretamente, temos que aceitar a interpretação que Deus dá.
O erro foi em subestimar a influência do pecado, e o dano feito à imagem de
Deus na queda. O pensamento do homem também foi afetado. O uso da razão está
danificado. Inclusive, no cristã, ainda que seu espírito está sendo renovado, todavia
sofre as consequências da queda. Portanto, a dimensão da fé deve ter certa prioridade
sobre a dimensão da razão. A revelação das Escrituras deve ter a prioridade sobre a
interpretação da natureza por meio da razão. A Bíblia é uma forma mais direta, sendo
verbal. A razão e a ciência devem submeter-se às Escrituras.

B. O evolucionismo
Talvez o ataque científico mais forte contra a fé cristã tanha vindo da teoria
ateísta da evolução. Hoje em dia se ensina a teoria como se fosse um fato. A perspectiva
evolucionista tem tido uma enorme influência, não somente na ciência, mas também na
filosofia (a dialética), a economia (Carl Marx), a religião (Teilhard de Chardin), e todo
tema de pensamento. Se pressupõe que não somente o mundo material, como também o
pensamento do homem veio se desenvolvendo constantemente para algo melhor. Este
enfoque fez com que muitos duvidem de sua fé, porque pretende explicar a existência
de tudo, sem levar Deus em conta.
A Biblia ensina claramente que Deus criou tudo com o poder de sua palavra de
forma milagrosa. Esta revelação deve orientar nossa investigação científica, e qualquer
teoria deve submeter-se às Escrituras e ser compatível a elas.
Além do mais, há alguns problemas sérios com a evidência científica da
evolução como um processo largo e gradual. Um dos problemas mais sérios está
relacionado com o registro fóssil: a falta de amostras transicionais. Quer dizer, não há
evidência das mudanças graduais entre as espécies! Só existem fósseis de animais muito
distintos entre si. Por exemplo, segundo a teoria da evolução, devemos encontrar
numerosas amostras que conectem os peixes com os anfíbios, porém não há73. Isto é a
chave para provar sua teoria, mas a evidência sugere «saltos» em vez de processos
graduais. O cavalo tem sido um exemplo clássico da evolução, mas ao examinar a
evidência, não há exemplos de transição entre um animal pré-cavalo que se transformou
pouco a pouco em um cavalo como conhecemos atualmente, senão só espécies de
animais muito distintos. No entanto, estas distintas espécies não se encontram em
sucessivas camadas segundo sua complexidade, senão que estão todas praticamente na
mesma idade histórica e em lugares muito distantes74.

Não há forma de
transição
Duane Gish (Ph.D., bioquímico), em seu livro breve porém convincente,
Creación, evolución y el registro fósil, cita alguns dos mesmos evolucionistas acerca
desta contradição:
«Esta ausência regular de formas de transição não está limitada aos
mamíferos, senão que é um fenômeno quase universal.»

«Assim, é possível afirmar que tais transformações não estão registradas


porque não existiram, que as mudanças não foram por transição, senão por saltos
repentinos na evolução.»

«Brevemente, cada grupo, ordem ou família, parece haver nascido


repentinamente, e a duras penas, sem jamais, encontrarmos as formas que unem
ao grupo precedente.» (L. DuNouy76)

«Não importa o quão longe cheguemos no registro fóssil da vida animal


prévia sobre a terra, não encontramos nenhum desenho de qualquer forma
animal que seja intermédio entre qualquer dos principais grupos, ou filo.» (A. H.
Clark77)

Como harmonizar o relato bíblico com a suposta evidência de uma terra muito
antiga? Alguns propuseram que os «dias» mencionados nos primeiros capítulos de
Gênesis não são de vinte quatro horas, mas são períodos largos de tempo. Outros
sugerem que houve um lapso de tempo largo entre a criação inicial e os dias em que
Deus ordenou tudo. Estas teorías são possíveis, porém não seriam as interpretações mais
naturais e óbvias de Gênesis.
Outros sustentam que Deus criou a terra com a aparência de ter existido desde
milhões de anos. Esta teoria se chama a teoria da «terra madura». Tal como Adão foi
criado adulto e não bebê, as árvores foram criadas grandes , e assim tudo foi criado com
a aparência de muita idade. Os vales e os troncos de árvore, por exemplo, foram feitos
grandes, como se os rios houvessem corroído a terra por milênios. Deus fez tudo como
se fosse uma foto tirada em meio a um período de tempo.
Na realidade, haveria sido difícil que algumas coisas funcionassem sem ser
totalmente desenvolvidas. Antonio Cruz fala da «complexidade irredutível78». Isto
significa que há coisas tão complexas que não funcionam sem estar totalmente
desenvolvidas. Sua complexidade não se pode reduzir. O olho é um exemplo; não
funciona sem o nervo, sem a retina, ou sem a pupila, por exemplo. Agora, pensemos no
suposto processo da evolução. Imagine se durante uma etapa histórica todos os
cachorros tivessem um olho parcialmente desenvolvido. Estariam cegos! Como
sobreviveriam? Imagine se uma espécie de cachorro com patas subdesenvolvidas de
dois ou três centímetros de comprimento Não poderiam caminhar, e não teriam
sobrevivido! Francis Schaeffer menciona o caso do peixe que está desenvolvendo
pulmões. Se afogaria79! Este conceito da complexidade irredutível sugere que toda a
criação tenha sido feito de forma completa em pouco tempo. Haveria sido necessário
criá-lo assim para que tudo funcionasse.
Whitcomb e Morris observam que as plantas necessitam de substâncias que
normalmente vem de um processo de decomposição e erosão. Portanto, as primeiras
plantas teriam se alimentado de terra que tinha a aparência de muita idade. Assim todas
as plantas e animais foram colocados em um ambiente apropiado para sua
sobrevivência80.
Além do mais, eles combinam a interpretação de uma criação madura com a
teoria dos efeitos do Grande Dilúvio. Pensam que o dilúvio trouxe uma mudança
drástica no clima, com resfriamento e a formação de gelo em algumas partes, causando
a morte instantânea de animais grandes como os dinossauros. Também pode haver
causado o deslizamento de glacis, formando vales acidentados que dão a impressão de
ter sido o efeito de muito tempo. Creem que o dilúvio produziu não somente chuva, mas
também terremotos e erupções. A passagem bíblica também sugere que houve outros
aspectos do desastre além da chuva no tempo do Grande Dilúvio (Gênesis 7:11). Isto
explicaria as camadas de sedimentação com fósseis também. As espécies muito simples
haveriam sido pegas pelas primeiras ondas de destruição, enquanto os animais mais
complexos haveriam tido a capacidade de mover-se e escapar até mais tarde, sendo
enterrados em uma camada superior. (O fato de que há exceções neste grupo é fácil de
explicar com uma catástrofe, mas impossível de explicar no esquema evolucionista81!)
Pense nisto: Que «idade» tinha Adão no momento quando Foi criado? Teria o
corpo de um homem de trinta anos? Possivelmente. Agora, se você tivesse chegado um
minuto depois da criação de Adão, possivelmente teria pensado que fora criado trinta
anos atrás. Quando na realidad, só teria a aparência de tanta idade. Pense nas plantas.
Adão e Eva necessitavam de alimentos, por isso Deus teve que colocar, não semites, e
sim plantas crescidas no jardim do Edém. Agora, suponhamos que você chega um
minuto depois da criação e começa a examinar uma árvore. Se corta o tronco, pode
contar os anéis para saber sua idade. Você pensaria que a árvore houvesse crescido
durante 100 anos, mas somente tem um minuto de existência. Seria um engano da parte
de Deus? Não! Foi necessário. Se foi assim com Adão e as plantas, possivelmente foi
assim também com todo o resto da criação.
A interpretação de que Deus fez tudo por período parece concordar melhor com
o relato bíblico, e lhe outorga ao Senhor a honra que merece por uma criação do nada,
instantânea, e com o poder de Sua Palavra. Devemos levar em conta também os
resultados catastróficos do Grande Dilúvio. Qualquer coisa que dê evidência de muita
antiguidade pode ser explicada com o enfoque de uma criação madura. É práticamente
impossível comprovar que NÃO tenha sido assim!
Isto não significa que as interpretações de um longo lapso de tempo ou dos dias
como períodos longos sejam heresias. Já que não estávamos ali quando Deus fez tudo, e
já que a Biblia não pretende dar todos os detalhes, devemos formar nossas convicções
próprias com humildade e uma mente aberta, evitando o dogmatismo.

C. O lugar da Bíblia na ciência


A Bíblia não é um texto científico. Entertanto, quando fala de dados e fatos
científicos, diz a verdade. Não está separada da ciência. Não está ao lado da ciência,
mas proporciona a base para cada área de estudo. Não necessariamente provê versículos
específicos para responder perguntas científicas, mas nos dá présuposições e conceitos
básicos. Pelo menos, o fato de que Deus criou o mundo atinge cada aspecto de
investigação científica.
O que devemos fazer quando há aparentes conflitos entre a ciência e a Biblia?
Temos que começar com a convicção de que Deus não se contradiz, e que não há
conflito verdadeiro entre a e vidência e a Bíblia. Então, quando parece que há
contradições, deve haver um novo estudo na Bíblia e uma nova investigação da
evidência científica, buscando a harmonia. É possível que em nossa vida nunca
encontremos a resposta, mas temos que crer que há uma verdadeira harmonia.

D. A matemática
Se supõe que a matemática é um campo que é «neutro», que não debe haver
diferença entre um enfoque cristão e um enfoque ateu da matemática. É justamente por
essa razão que queremos incluir uns breves comentários acerca desta ciência «exata».
Se podemos ver que a matemática ainda deve ser estudada com olhos cristãos,
estaremos convencidos de que TUDO deve ser analisado com base bíblica.
Vern Poythress nos apresenta «Um enfoque bíblico da matemática82». Como se
mencionou no capítulo 2, o Dr. Poythress é uma boa autoridade no campo, porque tem
um doutorado em matemática e também na teologia. Explica alguns exemplos de como
influenciam as presuposições filosóficas na matemática. Os matemáticos
«intuicionistas», por exemplo (L.E.J. Brouwer y Arend Heyting), não aceitam
argumentos por redução ao absurdo. (Provar que a negação produz uma contradição).
Por exemplo, vejamos a suposição de que há uma só linha reta entre dois pontos. Eles
dizem que a verdade matemática tem sua «colocação básica » na mente humana. Por
isso, se não podemos saber ou experimentar alguma verdade, então não se pode falar
inteligentemente do assunto. Portanto, não podemos afirmar com certeza que há uma
apenas uma linha reta entre dois pontos. Algo tão importante como pi«π», que se usa
2
para calcular a área de um círculo ( A=π r ) é um tema de controvérsia filosófica.
Já que é um número infinito, algunsquestionam a validez de falar de sua existência. Em
contraste, o cristão diz que Deus sabe estas coisas, assim que é legítimo conversar
destes temas. As perguntas são válidas, ainda que não saibamos as respostas.
O não crente que tenha uma filosofía que afirma a origen desordenada do mundo
(por evolução ao acaso), terá problemas em explicar por que o mundo corresponde
também à matemática. O cristão sabe que o mundo é ordenado e corresponde à leis de
funcionamento que Deus impôs sobre o universo.
Poythress propõe várias présuposições cristãs para fazer matemática:
1) Todo conhecimento provém da mente de Deus.
2) Há unidade e pluralidade no universo. Isto tem sua origem e sua explicação
no Deus trino, que é três em hum.
3) Deus conhece tudo, e por isso se pode falar de coisas como o infinito e de
π(pi).
4) O homem é a imagem de Deus. Tem uma capacidade de pensamento
matemático a priori e também tem a capacidade de examinar o mundo a posteriori.
5) Deus criou tudo com ordem. As estruturas matemáticas não são parte da
criação, mas um reflexo da natureza de Deus na criação.

E. Jesus e a ciência
É difícil pensar em textos bíblicos onde Jesus tenha dito algo específico acerca
da «ciência» como entendemos a palavra hoje. Na Bíblia «ciência» significa
simplesmente «conhecimento».
Entretanto, não esqueçamos que Jesus participou da criação (Hebreus 1.1), e que
Ele é o «resplendor da glória do Pai». Portanto, toda a criação reflete Seu caráter e Sua
natureza. Não podemos exatamente entender o evangelho através da natureza, porém há
símbolos e pistas do evangelho em toda a criação. Jesus ilustrou muitas verdades
espirituais com coisas naturais (por exemplo, as sementes, as árvores, a videira, o trigo,
as flores, e os pássaros).
É importante reconhecer que Jesus também mostrou que o universo não está
«fechado», como pensam alguns filósofos. De fato, Sua própria encarnação foi uma
forma de romper as barreiras do universo, de romper as regras e as leis físicas. Cada
milagre que Ele realizou mostra que Ele é soberano, que está acima da função «normal»
da natureza, e que pode sacudir o mundo com Suas ações sobrenaturais quando quer.
Inclusive, a natureza depende a cada momento de Seu cuidado. Hebreus 1.3 diz que Ele
«sustenta todas as coisas com a palavra de seu poder».
Devemos reconquistar os campos científicos para Cristo. Temos entregado estes
terrenos aos não crentes, aceitando sua pretensão de «objetividade» e «neutralidade».
Não obstante, estão longe de ser «objetivos». A ciência deveria voltar a ser uma grande
aliada dos cristãos.
Os «magos» que foram ver o menino Jesus não faziam «magia», Mas eram
estudiosos, sábios, possivelemente astrólogos, e possivelmente religiosos. O fato de que
foram tão longe para «adorar» a Jesus simboliza a postura correta de toda ciência, de
todo conhecimento, de todo impulso religioso, de toda instituição, e de toda pessoa:
postrada aos pés do Senhor.

Revisão
1.A que se deve o esforço entre a ciência e o cristianismo nos últimos séculos?
2. A que se deve para que a atividade científica seja válida e benéfica para toda a
humanidade?
3. Explique a distinção que Kant faz entre os «noúmenos» e os fenômenos».
4. Qual é o problema fundamental do enfoque moderno da ciência?, segundo H.
van Riessen.
5.O que quer dizer Van Til quando diz que não há «atos brutos»?
6. Explique a importância da falta de amostras transicionais ao considerar a
teoria da evolução.
7. Explique as três possíveis maneiras de harmonizar o relato bíblico da criação
com a aparente antiguidade da terra.
8. Explique o significado do conceito da «complexidade irredutível » e sua
importância ao considerar a teoria da «terra madura».
9. O que devemos fazer quando há aparentes conflitos entre a ciência e a Biblia?
10.Por que os matemáticos «intuicionistas» dizem que não podemos afirmar com
certeza que há só uma linha reta entre dois pontos e que não podemos falar da validez
do valor de «π»?
11. Por que toda a natureza nos ensina algo a respeito de Jesus?
12. O que simboliza o fato de que os «magos» foram adorar ao menino Jesus?

Perguntas de Reflexão
1.Qual deve ser nossa atitude com relação à ciencia?
2.Qual é sua teoria de como harmonizar o relato bíblico com a aparente larga
idade da terra?
3.Acredita que há muita diferença entre a maneira em que um cristão faz a
matemática e a maneira em que um não crente a faz? Por que?
4.Pode pensar em outros ensinos bíblicos acerca de Jesus e a ciência?
Capítulo 8
Um enfoque cristão da arte

Alguns evangélicos desprezam a arte como algo insignificante ou desnecessário.


Mas a arte é um dos aspectos mais importantes de uma cosmovisão cristã. Inclusive, os
cristãos devem estar mais interessados na arte que ninguém! Por que? Porque, ao
analisar a arte, podemos detectar as condições filosóficas, psicológicas e espirituais da
sociedade. Já que os artistas tendem a ser pessoas espiritualmente profundas e sensíveis,
frequentemente compreendem os problemas de uma maneira intuitiva, e expressan suas
inquietudes através da sua arte. Os pintores, os escritores e os compositores sérios são
profetas culturais. Ademais, quando o cristão produz arte, está refletindo a imagem de
Deus. Os que desprezam a arte não apreciam a importância da criatividade do homem.
Apesar da apatia geral entre evangélicos, há escritores como Francis Schaeffer, H.R.
Rookmaker, e Dorothy Sayers, que nos tem dado pautas para desenvolver uma
perspectiva bíblica da arte.

A. Perspectivas de alguns escritores cristãos


Francis Schaeffer
Schaeffer, ainda que não foi artista, fez muito para renovar o interesse na arte
entre os evangélicos. Em Art and the Bible [A arte e a Bíblia83], destaca o fato de que
Cristo redimiu o homem inteiro e que Cristo é o Senhor de cada aspecto da vida. Mostra
que a arte teria um lugar na Bíblia, por exemplo na construção do tabernáculo (Êxodo
25-28) e no templo (2 Crônicas 3-4). A Bíblia contém bela poesia e formosas canções.
Os Salmos nos animam a glorificar o Senhor com dança e com instrumentos musicais
(Salmos 149 e 150). Schaeffer insiste que a arte tem valor em si misma, simplesmente
por sua beleza, e não necessariamente por sua utilidade. Nos desafia a fazer uma obra de
arte da nossa vida inteira.
Recomenda quatro normas para avaliar uma obra de arte:
a. Por sua excelência técnica. (Está bem feito?)
b. Por sua validez. (Se fez em harmonia com o enfoque da vida do artista, ou
somente para ganhar dinheiro ou para ser aceito?)
c. Por seu conteúdo intelectual. (É verdade a mensagem ou enfoque da vida que
se comunica?)
d. Por sua integridade. (O conteúdo e a forma de comunicação estão em
harmonia?)

H.R. Rookmaaker
Rookmaaker era professor de arte, e pôde fazer um aporte muito valioso para
uma perspectiva cristã da arte. Em sua obra magnífica, A arte moderna e a morte de
uma cultura84, analisa a mensagem de muitas obras de arte, desde a idade média até o
século vinte. Quiz mostrar que a arte moderna comunica o fim de uma época, uma
época em que o homem confiava na razão e na verdade. A época da Ilustração enfatizou
o homem como centro do universo, confiando no uso da razão e na ciência. A corrente
católica deixou a fé em um mundo separado da razão (Aquino), e a Reforma caiu em
um misticismo, deixando o humanismo dominante na cultura. O primeiro passo para a
arte moderna era o realismo. Os realistas pintavam «os fatos». (Goya, A execução dos
espanhóis pelos franceses). O Segundo passo para a arte moderna foi o impressionismo.
Eles pintavam o que viam, não como atos mas como suas próprias impressões subjetivas
(Renoir, Le Moulin de La Galette). Os últimos passos para a arte moderna foram o
expressionismo e o dadaísmo. Os expressionistas pintavam, não os fatos, e tampouco
suas impressões do que observavam, mas o que eles queriam expressar (Picasso, Les
Demoiselles d'Avignon). Segundo o dadaísmo a vida não tem sentido. Se ri de tudo o
que tem valor. Se abriu um dicionário ao azar para encontrar um nome para o
movimento. (O nome «dada» significa «cavalo marchador» em francês). No século XX,
a cultura morre. Karel Appel diz: «Eu não pinto. Eu pego. A pintura é destruição».
Francis Bacon pinta a cabeça do homem gritando da jaula, e escreve: «Agora... o
homem é consciente de que é um acidente, de que é um ser completamente fútil, de que
tem que terminar o jogo sem razão85».
Em seu livro, Art Needs no Justification [A arte não necessita justificação86],
Rookmaaker explica que a arte tem funções, mas não por isso tem o valor que tem. A
arte tem valor por si mesmo, por sua beleza. Fala da ilustração de uma árvore, que tem
muitas funções: produz sombra, oxígenio, e madeira, por exemplo, mas sua maior
importância está em ser parte da criação de Deus. O mesmo vale para o ser humano:
nosso valor não está no que conseguimos, mas em ser criaturas de Deus. Se um
pregador perde sua voz, por exemplo, não deixa de ser uma pessoa importante. Deus
deu à humanidade a capacidade para fazer coisas belas: a música, a poesia, decorações e
esculturas, e o simples fato de usá-las já agrada a Deus porque de certa forma devolve a
Ele uma dádiva. Por tanto, a arte não necessita justificar-se. Sua justificação está em ser
uma capacidade dada por Deus. Por suposto a arte também tem muitas funções (decorar
o ambiente, ou fazer algum objeto para usar na igreja, por exemplo), mas estas funções
não são necessárias para que a arte seja legítima. A arte tem seu próprio valor e pode ser
apreciada por si mesma.

Dorothy Sayers
Em The Whimsical Christian [O cristão impredizível], Sayers escreve um
capítulo relevante ao tema, «Para uma estética cristã». Diz que uma obra de arte é algo
novo, e não simplesmente uma cópia. É uma «criação», usando materiais que Deus já
criou, mas aplicando a criatividade, que é parte da imagem de Deus no homem. Tal
como Deus criou o mundo a sua imagem, o homem também faz obras de arte «a sua
imagem». É dizer, refletem algo do seu caráter e sua pessoa. Não é que o artista diga,
«Ah, que linda a lua! Vou buscar as palavras que expressem o que gente deveria pensar
acerca dela» (isto se chama «artesania»), mas se encontra dizendo palavras em sua
cabeça e quando as anota e as lê, se diz a si mesmo, «Assim é! Isso é o que foi para mim
a experiência de ver a lua! Agora o reconheço e sei o que foi!» Envolve sua experiência,
sua expressão da experiência, e o reconhecimento da validez da expressão. A arte
contém algo do que viu, mas também algo de si mesma. Ela sustenta que a «arte» que
serve para entreter somente, realmente não é arte, mas uma falsificação. Está bem fazer
algo assim para divertir-se de vez em quando, mas não deve substituir a arte verdadeira,
porque conduz o espectador a perder o contato com a realidade87.

B. A música contemporânea88
No ano de 1994, Walt Mueller analisou os estilos de música que eram
representativos do gosto da juventude, e dizia que eram uma «janela da alma dos nossos
filhos». Portanto, é importante conhecê-los. Sua lista de músicos já necessita atualizar-
se, porque a música está mudando vertiginosamente, mas temos selecionado alguns
exemplos da sua lista que todavia vendem CDs e que se escutam na rádio hoje em dia.
Ademais, suas explicações dos estilos todavia são válidas.

Música alternativa
Esta música é progressiva, moderna, e difícil de entender. Trata de ser mais
sincera, e não seguir as fórmulas da música popular. É elétrica e não pretende ser
racional. A letra é introspectiva, abstrata, poética e crítica. Inclui outros sub estilos
como: gótica (sons tristes funerários, letra sem esperança), grunge (com sons fortes de
baixo e de percursão, letra hostil e rebelde), e rave, ou tecno (computadorizada,
repetitiva, rápida, projetadas para festas chamadas «rave», em que utilizam efeitos de
luzes, e em que frequentemente há consumo de drogas).
Exemplos que todavia se escutam: U2, Nine Inch Nails, R.E.M., Red Hot Chili
Peppers, Counting Crows, Beck, The Cranberries, Tori Amos, e Bjork.

Rap
Este estilo começou no ano de 1976 entre os disk jockey negros nos clubes de
Nova York. Eles inseriam seus próprios comentários enquanto mudavam rapidamente de
um disco para outro. A ênfase está na letra falada, e na percursão. Frequentemente
dirigem uma mensagem contra o racismo e outros males sociais, mas seu conteúdo é
dominado em grande parte pelo sexo e a violência. Seu vocabulário distinto mudou a
linguagem da juventude, e sua roupa solta deu pauta para a vestimenta juvenil.
Exemplos: L.L. Cool J, Beastie Boys, Ice Cube, Queen Latifah, Run-D.M.C.,
Hammer, TLC, Salt’N’Pepa, Snoop Doggy Dogg, e Dr. Dre.

Heavy Metal
Este estilo se caracteriza pelos golpes poderosos e continuados do tambor baixo,
os golpes da guitarra baixo, e os gritos do cantor. A guitarra principal também dá a
impressão de estar gritando. A ênfase está no poder, e é composta muitas vezes por
jóvens que vivem em situações de muita frustração. É frequantemente rebelde, hostil, e
moralmente promíscuo, e em alguns casos é satânico (black metal).
Exemplos: Bon Jovi, Aerosmith, KISS, Ozzy Osbourne, AC/DC, Metallica.

Rock
Ainda que já não há tantos novos grupos deste estilo, todavia há muitos
seguidores que preferem o som «ao vivo», sem tantos sons artificiais e
computadorizados. Este estilo representava a geração dos anos sessenta, que se rebelava
contra o consumismo, do governo, e da igreja tradicional. Já não é o estilo mais popular,
mas todavia atrai muitos que estão refletindo acerca dos temas sociais atuais.
Exemplos: Black Crowes, The Rolling Stones, Eric Clapton, Bruce Springsteen,
Lenny Kravitz, e Led Zeppelin.

Pop/Baile
Esta música é simples, com um ritmo pulsante, adequada para baile. Inclui
música eletrônica, e as canções são fáceis de aprender. Os temas são tipicamente
românticas.
Exemplos: Madonna, Janet Jackson, Mariah Carey, Gloria Estefan, Amy Grant,
Sade, e Mary J. Blige89.

Eu diria que a mentalidade pós-moderna se manifesta especialmente na letra das


canções da música alternativa e de heavy metal. Por exemplo, observe a letra de uma
canção «Plain», por um grupo chamado «311». A frase «tabla rosa» aparentemente faz
referência à ideia filosófica empirista de uma tabla rasa (uma mente em branco, sem
nada escrito). O Yin e o Yang são termos da religião chinesa, o bem e o mal, que
segundo eles são somente aparentes opostos, mas na realidade são unidos.

Original Tradução
... ...
Tabla Rosa is my brain Tabla Rosa é minha mente
don’t have to guess just what não tem que adivinhar o que
I’m sayin’ estou dizendo
don’t mean to bug or drive you não quero incomodar ou voltar
insane louco se tivesse um ponto, diria
if I had a point I’d say it plain claramente oh, maldita minha mente
oh, dammit my brain is blank está em branco e agora digo
and now I say seria uma mentira se dissesse que
it would be a lie if I said I was estou surpreendido
inspired por não ter nada que dizer
by nothin’ to say but that’s ok mas está bem
nod your head to this mostra com tua cabeça que
... está de acordo
Don’t you know the devil is in ...
me and God she is too Não sabe que o diabo está
my Yin hits my Yang But what em mim e Deus ela também
the heck ya gonna do meu Yin toca meu Yang mas que
I choose a rocky ass path but diabos vai fazer
that’s how I like it Eu escolho um caminho pedregoso
life’s a bowl of punch go ahead mas assim eu gosto
and spike it90 a vida é uma taça de refresco
há que encher de licor

Se não existem os absolutos, não se pode distinguir entre o bem e o mal, nem
entre Deus e o diabo!
É difícil discernir a letra destas canções, e até depois de saber o que diz, as vezes
todavia não se entende! Frequentemente há frases que tem sentido, mas o conjunto das
frases não é coerente. Por exemplo, um grupo popular chamado System of a Down,
canta «Toxicity»:

Original Tradução
... ...
Conversion, software version 7.0 Conversão, versão de software
looking at life through the eyes of a 7.0, olhando a vida através dos
tire hub olhos do centro de uma roda
eating seeds as a pastime activity comendo sementes como passatempo
the toxicity of our city, of our city a toxicidade de nossa cidade,
You, what do you own the world? de nossa cidade
how do you own disorder, disorder Tu, que és dono do mundo?
Now, somewhere between the como és dono da desordem,
sacred silence desordem?
Sacred silence and sleep Agora, em algum lugar entre o
somewhere, between the sacred silêncio sagrado
silence and sleep Silêncio sagrado e o sono
disorder, disorder, disorder...91 em algum lugar, entre o silêncio
... sagrado e o sono
desordem, desordem, desordem
Suponho que queriam comunicar que a vida é uma desordem, e portanto, a letra
da sua canção também é uma desordem.
Não queremos dar a impressão de que toda a música contemporânea seja como
estas canções da «vanguarda». De fato a maioria das canções que se vendem e que se
escutam na rádio são simplesmente românticas. O tema do amor é universal, e reflete
algo da imagem de Deus. Queremos destacar estes estilos novos justamente porque
saem do esquema. O novo sempre dá uma pista acerca das condições da sociedade, mas
não representa a maioria dos artistas. É como a saúde humana; o médico se fixa
especialmente nas mudanças em nossa saúde para analisar nosso estado físico.

C. Nossa atitude para com a arte


Creio que devemos usar discernimento, mas desenvolver umaatitude mais
positiva para com a arte em geral. Existe uma grande pluralidadede estilos e expressões,
e devemos reconhecer que muitos delesrefletem conceitos verdadeiros e estilos
maravilhosos. Temosque recordar que Deus compartilha Sua graça comum e universal
com todo ser humano, e que todos levam a imagem de Deus.
As vezes a influência cristã é aparente e óbvia. Em seu belíssimo livro, Huellas
del cristianismo en el arte, Miguel Ángel Oyarbide traça a história das pinturas que
manifestam temas que são claramente cristãos92.
Mas também podemos encontrar resíduos da verdade cristã em expressões
artísticas que não são tão obviamente cristãs. William D. Romanowski propõe esta
atitude em sua análise da cultura popular 93. Ele considera que a criatividade artística é
um dom de Deus, e cita João Calvino em seu comentário de Gênesis:

O invento das artes, e de outras coisas que servem para o uso


comum e a conveniência da vida, é um dom de Deus que não deve ser de
nenhum modo desprezado, e é uma faculdade digna de elogio94.

Romanowski encontra temas, especialmente na música e nos filmes, que


claramente refletem aspectos da doutrina cristã. Por exemplo, diz que Bruce Springsteen
canta acerca do pecado, a tentação, o perdão, a morte, e a esperança, entre outros temas.
Sem pronunciar-se sobre o verdadeiro compromisso espiritual do cantor sugere que a
presença destes conceitos em suas canções se deve a sua criança católica. Devemos
reconhecer que muitos filmes, programas de televisão e canções apresentam uma
perspectiva do mundo que inclui a presença do sobrenatural, ainda que por certo não é
um enfoque bíblico (por exemplo, as aventuras de Indiana Jones, os filmes de ficção
científica como a Guerra nas estrelas, e o programa de televisão Tocado por um anjo).
Não é difícil pensar em exemplos de filmes baseados no tema da luta entre o bem e o
mal; O gladiador e A lista de Schindler, por exemplo, despertam o rechaço instintivo
para a injustiça e a crueldade95.
Sem impor uma interpretação cristã onde não foi a intenção dos productores, o
filme Matrix ilustra claramente o tema da redenção, inclusive os temas da morte
substitutiva e a ressurreição. No final do filme, o protagonista dá sua vida pelos demais,
ressuscita, e destrói o inimigo, fazendo uso de seus novos poderes. Já que Jesus Cristo é
o herói maior de todos os tempos, não devemos surpreender-nos quando os produtores,
conscientemente ou inconscientemente, fazem que os heróis do cine reflitam algumas de
suas características.
Os temas cristãos aparecen na arte secular, porque a graça de Deus alcança a
todos. Deus revelou algo da Sua verdade a todos, e ainda que tratem de tapá-la, segue
manifestando-se. Segundo Romanos, capítulos 1 a 3, por exemplo, todo homeme sabe
que Deus existe, tem um sentido de bem e mal, e tem um sentido de culpa. O homem
não pode apagar totalmente estes conceitos do seu coração, por que foram colocados ali
por seu Criador. Por suposto, estes conceitos são suficientemente interessantes para
fazer kilômetros de filmes cinematográficos e para compor milhares de canções.
Se é muito difícil encontrar conceitos cristãos em alguma expressão artística,
podemos aproveitar a oportunidade para mostrar o vazio espiritual do não crente, e a
necessidade de Deus que se aprecia em sua arte. É dizer, até a arte mais pagã nos serve
como ponto de partida para falar do evangelho. Portanto, podemos olhar de forma
otimista a desorientação da sociedade atual, porque é uma tremenda oportunidade para
mostrar a solidez e a beleza da revelação divina. No desespero e a falta de segurança, os
cristãos podem escutar as inquietações do mundo, mostrar compreensão, e compartilhar
o evangelho.
Devemos também aprender a identificarmos com a dor do artista. Kierkegaard
nos ajuda a entender:
Que é um poeta? Um poeta é um ser infeliz cujo coração está
machucado por sofrimento secreto mas cujos lábios se tem formado de
tal forma estranha que os suspiros e os prantos que escapam deles saem
como música bela96.

Por exemplo, podemos captar a profunda tristeza nas obras da artista mexicana,
Frida Kahlo. Ela sofreu um acidente quando era jovem, e vivia constantemente com a
dor física. Não obstante, seu maior sofrimento era sentimental, em sua relação com
Diego Rivera, famoso pintor de murais. Segundo ela, seu matrimônio com ele foi seu
«segundo acidente», pior que o acidente de ônibus. Ela pintou auto-retratos, com a cara
triste, com cravos em sua cabeça, com lágrimas, e com um coração que goteja sangue
sobre seu vestido97.
A arte é uma radiografía do artista e da situação atual. Segundo Francis
Schaeffer, a arte é o «segundo passo» na linha de influência cultural, depois da filosofia.
Mas opina que a arte toca mais pessoas que a filosofia. A música e a cultura geral
seguem depois da arte98.
Enfim, nossa atitude para com a arte secular se transforma em algo mais positivo
quando começamos a buscar a evidência da graça de Deus nele, e quando começamos a
interessar-nos pelo mundo que nos rodeia. Já não temos que condenar tudo o que
vemos, mas podemos avaliar o bom e o mal. Podemos aprender muito dos artistas,
porque são pessoas profundamente sensíveis. Não devemos ser ingênuos, chamando
«cristã» qualquer canção que mencione o nome de Deus (como alguns fizeram com a
canção dos Beatles dedicada a Hare Krishna, «My Sweet Lord»). Tampouco convém
expor-nos a muito do que se apresenta ao público hoje em dia. (Paulo diz, «Tudo me é
lícito, mas nem tudo convém; tudo me é lícito, mas nem tudo edifica» 1 Coríntios
10.23.) Entretanto, não devemos perder a oportunidade de aprender algo da arte, e de
buscar resíduos da verdade em qualquer lugar. Sejamos como os antigos mineiros,
buscando as pepitas de ouro no barro.

D. Jesus e a arte
Podemos imaginar, ainda que a Bíblia não diz muito acerca de Sua juventude,
que quando Jesus era jovem, seguramente aprendeu a ser carpinteiro como seu pai
terrenal, José. Se foi assim, creio que podemos supor que se destacava por sua
excelência. Também podemos imaginar que agradava cantar os louvores no templo e na
sinagoga. Sua forma de expressar-se era realmente poética. Ademais, recordemos
que a criação é Sua obra de arte. Enfim, Jesus era um grande artista.
Devemos seguir Seu exemplo e desenvolver nossas habilidades artísticas. Todos
podemos desenvolver passatempos, aprender a tocar guitarra ou o piano, a cantar, ou a
pintar. A dona de casa pode usar sua casa para expressar seus talentos, e pode usar sua
criatividade na preparação da comida e no arranjo da mesa. Há muitos trabalhos que são
dignos de ser chamado arte, como a joalheria, a carpintaria, a arquitetura, ou o desenho.
Cada vez que realizamos algo criativo, estamos refletindo a imagem de Deus e de Jesus.
Finalmente, quando abrimos o livro de Apocalipse, vemos uma abundância de
arte, tudo centrado em Jesus Cristo. O livro mesmo está cheio de simbolismo artístico.
Sempre pensei que seria uma grande benção se um produtor cristão pudesse fazer um
filme do Apocalipse. Há cânticos, trombetas, roupa finíssima, e banquetes. Há novos
céus e nova terra, e há uma nova Jerusalém com ruas de ouro, rios limpos, e a árvore da
vida. A nova criação será uma obra de arte maravilhosa, além da nossa imaginação!

Perguntas de revisão
1.Por que o cristão deve estar mais interessado na arte que ninguém?
2.Qual é a perspectiva de Francis Schaeffer acerca do valor da arte?
3. Mencione as quatro normas de Schaeffer para avaliar uma obra de arte.
4. O que quer mostrar Rookmaaker em seu livro A arte moderna e a morte de
uma cultura?
5. Qual é a filosofia detrás do dadaísmo?
6. O que Dorothy Sayers diz acerca da «arte» que serve para entreter somente?
7. Mencione cinco estilos de música contemporânea identificados por Walt
Mueller.
8. Em que estilos de música a letra especialmente manifiesta a mentalidade pós-
moderna?, segundo o autor.
9. Qual deve ser nossa atitude para com a arte?, segundo o autor.
10. Mencione alguns temas cristãos que se encontram na música e nos filmes
não cristãos.
11. Por que aparecem temas cristãos na arte secular?
12. Onde Francis Schaeffer situa a arte na linha de influência cultural?
13. Em que sentido devemos ser como os antigos mineiros quando analizamos a
arte?
14. Em que diferentes sentidos Jesus era um grande artista?

Perguntas de reflexão
Qual foi sua atitude para com a arte? Este capítulo te fez mudar sua atitude de
alguma maneira? Como?
Que você diz dos novos estilos de música? O que diz da letra das canções?
Que temas cristãos, ademais dos que são mencionados no capítulo, você
encontrou na música e nos filmes contemporâneos?
Em que maneiras Jesus inspira a desenvolver habilidades artísticas?
Como poderia fazer da sua vida uma «obra de arte»?
Conclusão

Não pretendo ter dado respostas definitivas e completas para temas tão
complexos como são a política, a economia, a ciência e a arte. Somente quero dar umas
pautas e animar aos leitores a seguir trabalhando no desenvolvimento de uma
cosmovisão cristã. Ninguém terá completa integridade intelectual nesta vida, mas
devemos seguir para a meta.
Não podemos ir ao extremo de alguns autores que foram citados no livro, que
reclamam que não existe a possibilidade de conhecer a verdade. Graças ao Senhor,
estamos pelo menos no caminho correto, porque Jesus é «o caminho, a verdade, e a
vida». Nos identificamos com Tolstoi quando diz:

Se conheço o caminho para casa, e estou caminhando nele, ainda


que esteje ébrio, será o caminho equivocado, somente porque estou
cambaleando de um lado para outro?99

Ainda que nos encontremos manquejando, não abandonemos o caminho!


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Tuchman, Phyllis. «Frida Kahlo», Smythsonian, tomo 33, número 8, Noviembre,
2002, pp. 51-56.
Unamuno, Miguel de. Del sentimiento trágico de la vida. Madrid: Akal, 1983.
Van Riesen, Enfoque cristiano de la Ciencia. Barcelona: Fundación Editorial de
Literatura Reformada, 1973.
Van Til, Cornelius. The Defense of the Faith [La defensa de la fe]. Phillipsburg,
New Jersey: Presbyterian and Reformed, 1979.
________ Defense of the Faith; Doctrine of Scripture. Phillipsburg, New Jersey,
Presbyterian and Reformed, 1967.
Whitcomb, John C. Jr. y Henry M. Morris, The Genesis Flood; The Biblical
Record and Its Scientific Implications [El diluvio de Génesis; el relato bíblico y sus
implicaciones científicas]. Nutley, New Jersey: Presbyterian and Reformed Publishing
Company, 1961.
Yancey, Philip. Soul Survivor; How My Faith Survived the Church
[Sobreviviente]. New York: Doubleday, 2001.
GUÍA DE ESTUDIO
Integridade Intelectual

Introdução
Uma das bençãos mais extraordinárias que temos em Cristo é o desenvolvimento
de uma nova forma de pensar. Tal como o Senhor nos santifica moralmente, também
nos transforma mentalmente. O apóstolo Paulo nos exorta a «renovar» nossa mente e
tomar «cativo» todo pensamento para Cristo.

Romanos 12.2
Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos por meio da
renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa agradável e
perfeita vontade de Deus.

2 Coríntios 10.5
...derribando argumentos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de
Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo...

Entretanto, não aproveitamos esta benção como devemos. Este curso ajudará a
levar a sério este aspecto de nosso crescimento cristão, e a começar a tarefa de formar
uma mente cristã. Terá multidões de aplicações práticas. Creio que o estudo deste tema
pode ser uma das experiências mais importantes da sua vida!

Descrição do curso
O propósito desta trabalho é orientar o aluno em sua forma de pensar, para que
inicie a desenvolver um enfoque cristão de vida, tanto nos aspectos filosóficos como nos
aspectos sociais e culturais, e para que possa defender este enfoque frente às opções não
cristãs.
Para obter isto, 1) se mostra a necessidade de desenvolver uma «mente cristã»,
2) se comparam os enfoques não cristãos com a posição bíblica, 3) se sugerem métodos
para defender a posição cristã, 4) se apresenta o desafío de transformar cada aspecto de
pensamento e cada área da sociedade, e 5) se dão algumas pautas bíblicas para reflexión
em certas áreas das ciências sociais, as ciências naturais e as belas artes.

Como estabelecer um seminário em sua igreja


Para desenvolver um programa de estudos em sua igreja, usando os cursos
oferecidos pela Universidade FLET, se recomenda que a igreja nomeie um comitê ou
um Diretor de Educação Cristã. Logo, se deverá escrever a Miami para solicitar o
catálogo oferecido gratuitamente pela FLET.
O catálogo contém:
1. A lista dos cursos oferecidos, junto com programas e ofertas especiais,
2. A acreditação que a Universidade FLET oferece,
3. A maneira de afiliar-se a FLET para estabelecer um seminário em sua
igreja.

Logo de estudar o catálogo e o programa de estudos oferecidos pela FLET, o


comitê ou o diretor poderá fazer suas recomendações ao pastor e aos líderes da igreja
para o estabelecimiento de um seminário ou instituto bíblico creditado pela FLET.

Universidade FLET
14540 SW 136 Street No 108
Miami, FL 33186
Telefone: (305) 378-8700
Fax: (305) 232-5832
e-mail: admisiones@f
Página web: www .flet.edu

Como obter um curso creditado pela FLET


Se o estudante deseja receber crédito por estes cursos, deve:
1. Preencher a solicitação para ingresso.
2. Providenciar uma carta de referência do seu pastor ou um líder cristão
reconhecido.
3. Pagar o custo correspondente. (Ver «Política financeira» no Catálogo
acadêmico.)
4. Enviar ao escritório da FLET ou entregar ao representante da FLET
autorizado, uma cópia do seu diploma, certificado de notas ou algum documento
que comprove que tenha terminado o ensino fundamental e médio 5. Fazer todas
as tarefas indicadas nesta guia.

Nota: Ver «Requisitos de admissãon» no Catálogo acadêmico para mais


informação.

Como fazer o estudo


Cada curso tem seu próprio método de estudos e suas próprias tarefas. Siga cada
passo com cuidado. Uma pessoa pode fazer o curso individualmente, ou se pode unir
com outros membros da igreja que também desejam estudar.

Em forma individual:
Se o estudante faz o curso como indivíduo, se comunicará diretamente com o
escritório da Universidade FLET. O aluno enviará seu exame e todas suas tarefas a este
escritório, e receberá toda comunicação diretamente dele. O texto mesmo servirá como
«professor» para o curso, mas o aluno poderá dirigir-se ao escritório para fazer
consultas. O estudante deverá ter um pastor ou monitor autorizado pela FLET para
tomar seu exame (sugerimos que seja a mesma pessoa que firmou a carta de
recomendação).

Em forma de grupo:
Se o estudante faz o curso em grupo, se nomeará um «facilitador » (monitor,
guia) que se comunicará com o escritório da FLET. Portanto, os alunos se comunicarão
com o facilitador, em vez de Comunicar-se diretamente com o escritório da FLET. O
grupo pode escolher seu próprio facilitador, ou o pastor pode selecionar alguém do
grupo para ser guia ou conselheiro, ou os estudantes podem desempenhar este rol por
turno. Seria aconselhável que a igreja tenha vários grupos de estudo e que o pastor sirva
de facilitador de um dos grupos; quando o pastor se envolve, seu exemplo anima a
congregação inteira e ele mesmo se faz partícipe do processo de aprendizagem.
Estes grupos tem de reunir-se regularmente (normalmente uma vez por semana)
sob a supervisão do facilitador para que juntos possam cumprir com os requisitos do
estudo (os detalhes se encontrarão nas próximas páginas). Recomendamos que os
grupos sejam compostos de 5 e não mais de 10 pessoas.
O facilitador seguirá o «Manual para o facilitador» que se encontra no final do
livro. O texto serve como «professor», enquanto que o facilitador serve de coordenador
que assegura que o trabalho seje feito corretamente.

O plano de ensino FLET


O processo educacional deve ser desfrutado, não suportado. Portanto não deve
converter-se em um exercício legalista. A sua vez, deve estabelecer metas. Preencha os
seguintes espaços:
Anote sua meta diária ou semanal de estudos:___________________________
Horário de estudo:_______________________________________________
Dia da reunião:________________________________________________
Lugar da reunião:______________________________________________

Opções para realizar os cursos


Este curso se pode realizar de três maneiras. O aluno pode escolher o plano
intensivo com o qual pode completar seus estudos em um mês e então, se deseja, pode
fazer o exame final da FLET para receber creditação. Se deseja fazer o curso a um passo
mais cômodo o pode realizar no espaço de dois meses (tempo recomendado para
aqueles que não tem pressa). Igualmente que na primeira opção, o aluno pode fazer um
exame final para obter crédito pelo curso. Outra opção é fazer o estudo com o plano
extendido, no qual se completam os estudos e o exame final em três meses.

Metas e objetivos gerais do curso


Metas
1. (Cognitiva) O aluno conhecerá as diferenças entre uma cosmovisão cristã e as
cosmovisões não cristãs principais, especialmente nas áreas de ontologia, epistemologia
e ética. Saberá identificar os pontos de inconsequencia das posições não cristãs e saberá
defender a posição cristã. Conhecerá algumas pautas bíblicas gerais acerca das ciências
sociais, as ciências naturais, e as belas artes.

2. (Afetiva) O aluno terá o desejo de desenvolver e aplicar um enfoque cristão


em todas as áreas da sua vida.
3. (Volitiva) O aluno desenvolverá seu próprio enfoque cristão acerca de algum
tema das ciências sociais, as ciências naturais, ou as belas artes.

Objetivos
1. O aluno expressará com suas próprias palavras as diferenças entre uma
cosmovisão cristã e as cosmovisões populares dos não cristãos, ao responder as
perguntas de revisão e as perguntas para reflexão.

2. O aluno mostrará seu interesse em desenvolver um enfoque cristão e seu


desejo de aplicar o que aprendeu acerca do tema, ao escrever um projeto em que explica
seu próprio enfoque de alguma área de estudo.

Tarefas em geral do curso


O aluno pode fazer este curso para cumprir os requisitos do programa de licenciatura ou
do programa de mestrado da Universidade FLET em que esteja inscrito. As tarefas
variam segundo o programa. As diferenças nas tarefas consistem em que o aluno do
programa de mestrado lerá três textos principais em vez de um, lerá mais páginas de
leitura adicional (500 em vez de 300), e elaborará um ensaio mais longo (15-20 páginas
em vez de 10-15).

LICENCIATURA:
1. Leitura do texto principal e respostas às perguntas de revisão e de reflexão:
O aluno lerá:

Integridade intelectual por Richard B. Ramsay

O aluno responderá as perguntas de revisão e de reflexão que correspondem a


cada lição (Ver as «Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão» no final de cada
capítulo.)

2. Leitura adicional
O aluno lerá 300 páginas adicionais acerca dos temas do curso e entregará um
informe de sua leitura, usando o formulário que está mais adiante. O aluno pode
selecionar textos da lista de livros recomendados, ou pode buscar outros textos
relacionados com os temas do curso.

3. Ensaio
O aluno escreverá um ensaio de 10-15 páginas acerca do enfoque cristão de
algum tema da área de seu interesse, seguindo as instruções que se indicam mais abaixo.
(Ver «Pautas gerais para escrever um ensaio» e «Pautas específicas para o ensaio deste
curso».)

4. Exame final
O aluno fará um exame final. O exame estará baseado nos textos de leitura e as
perguntas de revisão. O aluno fará o exame na presença de um supervisor ou monitor
que tenha sido aprovado pela oficina da Universidade FLET, que dará testemunho
de que o exame foi completado de forma honesta.

MESTRADO:
1. Leitura de textos principais e respostas às perguntas de revisão e de reflexão:
O aluno lerá os seguintes textos:

a. Integridade intelectual por Richard B. Ramsay


b. Fé e pós-modernidade; uma cosmovisão cristã para um mundo fragmentado
por Theo Donner
c. Pós-modernidade por Antonio Cruz

O aluno responderá as perguntas de revisão (ou estudo) e de reflexão que


correspondem aos textos mencionados anteriormente (Ver «Perguntas de revisão» e
«Perguntas de reflexão» no final de cada capítulo do livro Integridade intelectual,
«Perguntas de estudo » no final do livro Fé e pos-modernidade; uma cosmovisão cristã
para um mundo fragmentado, e «Perguntas de revisão» no guia de estudo no final do
livro Pos-modernidade.)

2. Leitura adicional
O aluno lerá 500 páginas adicionais acerca dos temas do curso e entregará um
informe de sua leitura, usando o formulário que está mais adiante. O aluno pode
selecionar textos da lista de livros recomendados, ou pode buscar outros textos
relacionados com os temas do curso.

3. Ensaio
O aluno escreverá um ensaio de 15-20 páginas acerca do enfoque cristão de
algum tema da área de seu interesse, seguindo as instruções que estão mais abaixo. (Ver
«Pautas gerais para escrever um ensaio» e «Pautas específicas para o ensaio deste
curso».)

4. Exame final
O aluno dará um exame final. O exame estará baseado nos textos de leitura e as
perguntas de revisão. O aluno fará o exame na presença de um supervisor ou monitor,
que foi aprovado pela oficina da Universidade FLET, e que dará testemunho de que o
exame foi completado de forma honesta.

Avaliação final
A avaliação final será calculada da seguinte maneira:
Para Licenciatura:
Caderno de respostas sobre as leituras ................................................................20%
Leitura adicional .................................................................................................20%
Ensaio .................................................................................................................40%
Exame Final .......................................................................................................20%
Total .................................................................................................................100%
Para Mestrado:
Caderno de respostas sobre as leituras ..............................................................30%
Leitura adicional ...............................................................................................20%
Ensaio ................................................................................................................30%
Exame Final ......................................................................................................20%
Total ................................................................................................................100%
Livros recomendados para leitura adicional
(Os livros marcados com asterisco podem ser difíceis de se encontrar.)

Blomberg, Craig. _i pobreza ni riquezas. Barcelona: CLIE, 2002.

Colson, Charles. ¿Y ahora cómo viviremos? Miami: Unilit, 1999.

Cortés, Crane, Rodríguez, Sobarzo. Psicología general. Miami: Unilit/Logoi, 2002.

Crabb, Larry. El arte de aconsejar bíblicamente. Miami: Unilit/Logoi, 2001.

Cruz, Antonio. Sociología; una desmitificación. Barcelona: CLIE/Logoi, 2001.

Dellutri, Salvador. La aventura del pensamiento. Miami: Unilit/Logoi, 2002.

*El evangelio y la cultura. Informe de la Consulta de Willowbank, celebrada en


Willowbank, Somerset Bridge, Bermudas entre el 6 y el 13 de enero, 1978, Monografías
ocasionales de Lausana, Comité Lausana Para la Evangelización Mundial.

Gish, Duane. Evolución y la evidencia de fósiles.

*Machen, J. Gresham. Cristianismo y cultura. Barcelona: Fundación Editorial de


Literatura Reformada.

*Meeter, Henry. La Iglesia y el Estado. Grand Rapids, Michigan: TELL.

Niebuhr, H. Richard. Cristo y cultura. Barcelona: Península, 1968.

Novak, Michael. El espíritu del capitalismo democrático. Buenos Aires: Tres Tiempos,
1983,

Nyenhuis y Eckman. Ética. Miami: Unilit/Logoi, 2002.


Rookmaaker, H.R. Arte moderno y la muerte de una cultura. Barcelona: CLIE/Logoi,
2003.

*Schaeffer, Francis. El arte y la Biblia.

*Schaeffer, Francis. Huyendo de la razón. Barcelona: Ediciones Evangélicas Europeas.

*Van Riesen. Enfoque cristiano de la ciencia. Barcelona: Fundación Editorial de


Literatura Reformada, 1973.

Sites da Internet:
El concepto calvinista de la cultura, Henry R. Van Til, trad. Donald Herrera
Terán. Libro en formato PDF, 216 páginas.
http://www.visi.com/~contra_m/castellano/libros/concepto/CCC.pdf

La teoría política de Juan Calvino, G . José Gatis


http://www.thirdmill.org/files/spanish/94976~3_9_01_1-28-
27_PM~sCalvinsPolitics.html

Filosofía cristiana, Seminario Teológico Presbiteriano San Pablo (México)


http://www.thirdmill.org/files/spanish/97648~8_14_01_5-07-59_PM~Filos01.html

FORMULÁRIO PARA INFORME DE LEITURA

DADOS BIBLIOGRÁFICOS

Leitura:__________________________________________________________
Capítulo: ________________________Páginas.:_________________________
Autor(es) ________________________________________________________
Tomado de (Livro/revista/?) _________________________________________
Editorial _________________________________________________________
Cidade _____________________________ Ano _______________________-*
ESBOÇO: BREVE RESUMO
(Faça uma síntese do que diz o autor, sem seus próprios
comentários.)

AVALIAÇÃO CRÍTICA
(Elabore sua opinião do que diz o autor: É claro, preciso, confuso, bem documentado,
fora de contexto, muito simples, muito profundo, anti-bíblico, muito técnico, etc. etc.?
Respalde sua opinião)
AVALIAÇÃO CRÍTICA
(continuação)
PROVEITO PESSOAL E MINISTERIAL
(Que impacto teve esta leitura sobre mim e meu ministério? Como me ajudou?
Gostei, não gostei, por que? Seja concreto.)

PERGUNTAS QUE SURGEM DA LEITURA

Nome ___________________________________________________________
Data ____________________________________________________________
Curso da FLET ____________________________ onde __________________
Facilitador _______________________________________________________
Professor: ________________________________________________________
Qualificação ______________________________________________________
Pautas gerais para escrever um ensaio
A Universidade FLET exige um nível universitario nas tarefas escritas. Se os
ensaios não cumprem com os requisitos, serão reprovados. As seguintes pautas devem
ser seguidas estritamente. Para maior informação, consulte o livro Um manual de estilo,
por Mario Llerena (Unilit/Logoi). Ademais dos textos principais do curso, o estudante
deve ler outros materiais acerca do tema para aumentar seu conhecimento do tema e
para melhorar a qualidade do ensaio.

1. Expresse uma ideia própria


Um ensaio deve ser a expressão da ideia do seu autor, e não simplesmente uma
recopilação de ideias de outros. O autor deve ter algo em mente que ele ou ela quer
comunicar, idealmente um só conceito principal. Por exemplo, o ensaio poderia ter o
propósito de convencer o leitor que Cristo é suficiente para nossa salvação, ou que
Agustinho era o teólogo mais importante de sua época, ou que Gênesis 3 explica todos
os problemas da humanidade. Por suposto, o autor toma em conta as ideias de outros,
mas utiliza estas fontes para apoiar sua teoría, ou melhor para mostrar o contraste com
ideias contrárias. As distintas partes do ensaio apresentam evidência ou argumentos para
apoiar a ideia central, para mostrar idéias contrastantes, ou para ilustrar o ponto. O leitor
deve chegar à conclusão sabendo qual foi a ideia principal do ensaio. O aluno deve
mostrar, não só o conhecimento do tema, mas também a capacidade criativa de discernir
a importância deste tema em relação com sua própria situação atual, fazendo uma
aplicação prática.

2. _o uso demasiado de citações bíblicas


Um bom ensaio não deve citar passagens bíblicas longas, simplesmente para
encher as páginas requeridas. Uma citação bíblica de mais de 10 versículos é demasiado
longo. No caso de referir-se a um texto extenso, é melhor por a referência bíblica
somente ou citar alguns versículos ou frases chave da passageme. Não mais de 25% do
ensaio deve ser citações bíblicas. Por suposto, o argumento deve estar baseado na
Bíblia, mas se tiver muitas citações, o autor deve por simplesmente as referências de
algumas, para reduzi-las a 25% do conteúdo do ensaio.

3. Indique suas fontes


Quando o autor utiliza ideias de outras fontes, é absolutamente necessário
indicar quais são essas fontes. Se o autor não o fizer, dá a impressão de que as ideias
citadas sejam dele, o qual não é honesto e é chamado «plágio». Se o autor menciona
uma ideia contida em outro livro ou artigo que tenha lido, ainda que não seja uma
citação textual, deve colocar um número ao final da mesma, ligeiramente sobre a linha
do texto (voado)1, e uma nota de rodapé na página, com a informação do texto
empregado, usando o seguinte formato:

1 Autor [nome primeiro, sobrenome depois], Nome do livro [em letra


cursiva] (local de publicação: editorial, ano) [entre parêntesis, com dois pontos e
uma virgula, tal como aparece aqui], a página, ou as páginas citadas.

Oferecemos o seguinte exemplo:


2 Federico García Lorca, Bodas de Sangre (Barcelona: Ayma, S.A., 1971), p. 95.

Ver Mario Llerena, Un manual de estilo, para outros possíveis tipos de nota, por
exemplo quando há vários autores, ou quando a citação corresponde a um artigo de uma
revista.
Quando citar diretamente, a citação deve estar entre aspas, e também deve por
uma nota de rodapé na página com a informação da fonte.

4. Organize bem suas ideias com um bom esboço


O bom ensaio sempre está bem organizado, e as ideias que contém seguem
alguma ordem lógica. Portanto, faça um bom esboço para assegurar uma boa
organização. O ensaio deve ter divisões principais, e estas a sua vez subdivisões que
contenham idéias subordinadas ao tema da divisão maior. As divisões principais devem
estar em paralelo, já que são distintas em conteúdo mas iguais em importância. O
sistema tradicional de enumeração é usar números romanos para as divisões principais,
letras maiúsculas para as primeiras subdivisões, e números árabes para as segundas
subdivisões. Nos ensaios da FLET, que não contenham mais de 15 páginas, não é
conveniente dividir os esboços em seções menores que estas. Por exemplo, um possível
esboço da Carta aos Romanos sería assim:
A Carta aos Romanos
I. Doutrina
A. O pecado
1. A ira de Deus contra o pecado
2. Todos os homens são pecadores
B. A justificação pela fé
C. A santificação pela fé
D. A segurança eterna
II. Exortações práticas
A. O amor
B. A submissão às autoridades etc.
A introdução e a conclusão do ensaio não levam numeração.

Introdução
I.
A.
1.
2.
B.
II.
III.
Conclusão

5. Use bons parágrafos


O parágrafo é a unidade chave de um ensaio. Revise cada parágrafo para
assegurar-se de que:
a. Tem várias orações. Se há uma oração só, deve ser incluída com outro
parágrafo.
b. Todas as orações do parágrafo tratam o mesmo tema.
c. A ideia central do parágrafo está na primeira ou na última oração
(normalmente).
d. As demais orações contribuem ao tema central do parágrafo, ou apoiando ou
mostrando contraste ou dando ilustrações.
Não tenha cuidado em eliminar orações que não estejam relacionadas Conm o
tema do parágrafo. Possivelmente seria melhor pô-las em outro parágrafo, ou talvez
deva começar um novo parágrafo.

6. Inclua uma bibliografia


Ao final do ensaio, se deve incluir uma bibliografia, uma lista de todas as fontes
(livros e artigos) utilizadas em sua investigação. O formato para a bibliografia é um
pouco distinto do formato da nota de rodapé da página. Por exemplo:

García Lorca, Federico. Bodas de Sangre. Barcelona: Ayma, S.A., 1971.

Note que o sobrenome vai na frente do nome, não se indicam as páginas, e a


pontuação é distinta.

7. Use boa forma


Utilize um tipo de letra de tamanho 10-12 pontos. Não use uma letra grande para
encher o espaço! O ensaio deve incluir uma introdução, uma conclusão, e uma
bibliografia. Insistimos em boa ortografia, pontuação e sintaxe. Se tiver problemas ou
dúvidas com respeito, revise um curso de gramática e ortografia. A Universidade FLET
exige que seus estudantes estejem adequadamente capacitados no uso correto da
ortografia e gramática espanhola. Erros comuns são:
a) Ortografia e pontuação, especialmente a falta de tils ou o uso incorreto dos
mesmos, e o uso incorreto de vírgulas. (Se escrever com um computador, aproveite do
corretor ortográfico automático!)
b) Orações extensas que devem ser divididas em dois ou mais orações. (Se
começa uma ideia nova, deve fazer uma nova oração.)
c) Parágrafos com uma só oração. (Se há uma só oração, deve pô-la sob outro
parágrafo, ou simplesmente eliminá-la, se não há suficiente que dizer com respeito ao
tema.)

Pautas específicas para o ensaio deste curso


O ensaio deste curso deve ser de 10-15 páginas para licenciatura, e de 15-20
páginas para mestrado, a espaço duplo. O aluno deve selecionar um tema na área do seu
interesse, e escrever acerca de «Um enfoque cristão de ________________ ». Poderia
ser algo geral, por exemplo, um enfoque cristão da economia, da música, da educação,
da sicologia, ou da ciência. Poderia ser algo mais específico, como: um enfoque cristão
do aborto, da clonagem, da inflação, da música «rap», ou da guerra, por exemplo. Se o
aluno deseja, pode eleger um tema das notícias atuais do seu próprio país, como: Qual é
a solução para o problema de drogas em meu país?, Qual é a melhor forma de governo
para meu país?, Como poderíamos melhorar a educação em meu país?, ou como
poderíamos melhorar a economia do meu país? Estes são somente algumas sugestões. O
aluno pode escolher um tema do seu próprio interesse, ou do seu campo de estudos. Não
tem que pretender dar a resposta definitiva, mas fazer um aporte para um enfoque
cristão, e estimular o diálogo cristão sobre o tema.
O aluno deve ler outra literatura acerca do tema e fazer referência a ela no
ensaio. Veja uma lista de livros recomendados acerca de alguns temas. Um possível
esboço do ensaio seria:
Introdução (despertar o interesse, indicar o tema)
I. A inquietude (estabecer o problema, a pergunta)
II. O que dizem outros autores (citar, explicar outras fontes)
III. Pautas bíblicas (explicar passagens relacionadas com o tema)
IV. Uma resposta tentativa (apresentar sua resposta)
Conclusão (fazer um resumo)

Metas, objetivos, e tarefas para cada lição

LICENCIATURA

Lição 1
Meta
O aluno estará convencido da necessidade de desenvolver uma cosmovisão
cristã.

Objetivos
O aluno explicará com suas próprias palavras: a) o problema da falta de
integridade intelectual entre os cristãos, e b) algumas passagens bíblicas que nos
desafíam a desenvolver uma mente cristã.
Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulo 1, e responder as
«Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão» no final do capítulo.)
2. Ler 60 páginas adicionais e escrever o informe de leitura correspondente.

Lição 2
Meta
O aluno conhecerá a diferença entre o conceito cristão e o conceito não cristão
da verdade.

Objetivos
O aluno explicará com suas próprias palavras a diferença entre o enfoque não
cristão e o enfoque cristão da verdade.

Tarefas
Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulo 2, e responder as
«Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão » no final do capítulo.)
Ler 60 páginas adicionais e escrever o informe de leitura correspondente.

Lição 3
Meta
O aluno conhecerá o enfoque bíblico acerca da relação entre o cristão e a
sociedade.

Objetivo
O aluno expressará com suas próprias palavras os distintos enfoques mais
populares acerca da relação entre o cristão e a sociedade, e explicará qual parece mais
bíblico.

Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulo 3, e responder as
«Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão » no final do capítulo.)
2. Ler 60 páginas adicionais e escrever o informe de leitura correspondente.
Lição 4
Meta
O aluno conhecerá a diferença entre as cosmovisões não cristãs mais populares e
o enfoque cristão, e conhecerá as incongruências autodestrutivas dos enfoques não
cristãos.

Objetivo
O aluno identificará os postulados das cosmovisiões não cristãs mais populares,
explicará a diferença entre estes enfoques e o enfoque cristão, e explicará as maneiras
em que os enfoque não cristãos se auto-contradizem.

Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulo 4, e responder as
«Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão » no final do capítulo.)
2. Ler 60 páginas adicionais e escrever um informe de leitura correspondente.

Lição 5
Meta
O aluno conhecerá algumas pautas cristãs fundamentais acerca da política.

Objetivo
O aluno explicará com suas próprias palavras algumas pautas bíblicas acerca da
origem, e a tarefa e autoridade do estado.

Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulo 5, e responder as
«Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão » no final do capítulo.)
2. Ler 60 páginas adicionais e escrever o informe de leitura correspondente.

Lição 6
Meta
O aluno conhecerá algumas pautas cristãs fundamentais acerca da economia.
Objetivo
O aluno fará uma comparação com suas próprias palavras entre os valores e os
postulados do capitalismo e do socialismo.
Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulo 6, e responder as
«Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão» no final do capítulo.)
2. Começar a elaborar o ensaio. Organizar ideias e fazer um esboço.

Lição 7
Meta
O aluno conhecerá algumas pautas cristãs fundamentais acerca da ciência.

Objetivo
O aluno explicará com suas próprias palavras algumas pautas bíblicas acerca da
ciência, da evolução, e da matemática.

Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulo 7, e responder as
«Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão » que estão no final do capítulo.)
2. Continuar a elaboração do ensaio. Escrever um rascunho do ensaio.

Lição 8
Meta
O aluno conhecerá algumas pautas cristãs fundamentais acerca da arte e da
música.

Objetivo
O aluno explicará com suas próprias palavras algumas pautas bíblicas para
avaliar e apreciar a arte e a música.

Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulo 8, e responder as
«Perguntas de revisão» e as «Perguntas de reflexão» que estão no final do capítulo.)
2. Escrever a apresentação final do ensaio.
MESTRADO
Lição 1
Meta
O aluno estará convencido da necessidade de desenvolver uma cosmovisão
cristã.

Objetivos
O aluno explicará com suas próprias palavras: a) o problema da falta de
integridade intelectual entre os cristãos, b) algumas passagens bíblicas que nos desafiam
a desenvolver uma mente cristã, c) a diferença entre o enfoque não cristão da verdade e
o enfoque cristão, e d) a diferença entre as cosmovisões não cristãs mais populares e o
enfoque cristão.

Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulos 1—4 e
responder as perguntas de revisão e de reflexão correspondentes (Ver as «Perguntas de
revisão» e as «Perguntas de reflexão» no final de cada capítulo.)
2. Ler 100 páginas adicionais e escrever o informe de leitura correspondente.

Lição 2
Meta
O aluno conhecerá algumas pautas bíblicas acerca da política, da economia, da
ciência e da arte.

Objetivos
O aluno explicará com suas próprias palavras algumas pautas bíblicas acerca da
política, da economia, da ciência e da arte.

Tarefas
1. Ler Integridade intelectual por Richard B. Ramsay, capítulos 5—8 e
responder as perguntas de revisão e de reflexão correspondentes (Ver as «Perguntas de
revisão» e as «Perguntas de reflexão» no final de cada capítulo.)
2. Ler 100 páginas adicionas e escrever o informe de leitura correspondente.
Lição 3
Meta
O aluno conhecerá os postulados filosóficos do pós-modernismo e saberá
diferenciá-los de uma cosmovisão cristã.

Objetivo
O aluno expressará com suas próprias palavras as bases históricas e filosóficas
do pensamento pós-moderno e as comparará com as pautas bíblicas.

Tarefas
1. Ler Fé e pós-modernidade; uma cosmovisão cristã para um mundo
fragmentado por Theo Donner, capítulos 1—4, e responder as perguntas de revisão que
estão no final do livro.
2. Ler 100 páginas adicionais e escrever o informe de leitura correspondente.

Lição 4
Meta
O aluno conhecerá a diferença entre os postulados não cristãos e os postulados
cristãos acerca da história, a economia, a ciência, e a sicologia.

Objetivo
O aluno expressará com suas próprias palavras os postulados não cristãos e os
postulados cristãos acerca da história, a política, a economia, a ciência, e a sicologia.

Tarefas
1. Ler Fé e pós-modernidade; uma cosmovisão cristã para um mundo
fragmentado por Theo Donner, capítulos 5—9, e responder as perguntas de revisão que
estão no final do livro.
2. Ler 100 páginas adicionais e escrever um informe de leitura correspondente.

Lição 5
Meta
O aluno saberá distinguir entre os valores da cultura moderna e os valores da
cultura pós-moderna.

Objetivo
O aluno expressará com suas próprias palavras os valores da modernidade e os
valores da pós-modernidade.

Tarefas
1. Ler Pós-modernidade por Antonio Cruz, capítulos 1—3, e responder as
perguntas de revisão que estão no guia de estudo no final do livro.
2. Ler 100 páginas adicionais e escrever o informe de leitura correspondente.

Lição 6
Meta
O aluno conhecerá algumas pautas para comunicar o evangelho no contexto pós-
moderno.

Objetivo
O aluno expressará com suas próprias palavras as características da religião na
pós-modernidade e algumas pautas para a comunicação do evangelho hoje.

Tarefas
1. Ler Pós-modernidade por Antonio Cruz, capítulos 4—7, e responder as
perguntas de revisão que estão no guia de estudo no final do livro.
2. Começar a elaborar o ensaio. Organizar as ideias e fazer um esboço do ensaio.

Lição 7
Meta
O aluno desenvolverá seu próprio enfoque cristão de alguma área de estudo que
seja do seu interesse.

Objetivo
O aluno escreverá sua própria análise cristã de alguma área de estudo que seja do
seu interesse especial.
Tarefas
Escrever um rascunho do ensaio.

Lição 8
Meta
O aluno expressará de uma maneira, clara, coerente e convincente um enfoque
cristão de alguma área de estudo que seja do seu interesse.

Objetivo
O aluno escreverá um ensaio acerca da sua própria análise cristã de alguma área
de estudo do seu interesse.

Tarefas
Escrever a apresentação final do ensaio.

Manual para o facilitador


Este material ha sido preparado para el uso del facilitador de um grupo. O
facilitador serve para guiar um grupo de 5-10 estudantes a fim de que completem os
cursos no tempo estipulado. A tarefa demandará esforço da sua parte, já que, ainda que o
facilitador não é o instrutor em si (o livro de texto serve de «mestre»), deve conhecer
bem o material para ajudar os alunos.

A. O tempo e horário
a. A reunião deve ser sempre no mesmo dia, na mesma hora, e no mesmo lugar
já que isto evitará confusão. O facilitador sempre deve tratar de chegar com meia hora
de antecedência para assegurar-se de que tudo esteje preparado para a reunião e resolver
qualquer situação inesperada.
b. Tenha muito cuidado em cancelar reuniões ou mudar horários. Comunique os
participantes do grupo com responsabilidade mútua que tem um com outro. Isto não
significa que nunca se deve mudar uma reunião sob
c. O facilitador deve completar o curso nas oito semanas indicadas (ou de acordo
com o plano de estudos escolhido).
B. A participação de todos
a. O facilitador deve permitir que os alunos respondam sem interrumpções. Deve
dar tempo suficiente para que os estudantes reflitam e compartilham suas respostas.
b. O facilitador deve ajudar os alunos a pensar, a fazer perguntas e a responder,
em lugar de dar todas as respostas ele mesmo. nenhuma circunstância. Mais bem quer
dizer que se tenha cuidado e que não se façam mudanças desnecessárias por conta de
pessoas que por uma ou outra razão não podem vir à reunião citada.
c. A participação de todos não significa necessariamente que todos os alunos
tenham que falar em cada sessão, quer dizer, que antes de chegar à última lição todos os
alunos
devem sentir-se a vontade para falar, participar e responder sem temor a ser
ridicularizados.

C. A estrutura da reunião

1. Dê as boas-vindas aos alunos que vieram à reunião.


2. Ore para que o Senhor acalme as ansiedades, abra o entendimento, e se
manifeste nas vidas dos estudantes e do facilitador.
3. Revise a lição.
a. Converse com os alunos sobre as perguntas de revisão. Assegure que tenham
entendido a matéria e as respostas corretas. Podem falar acerca das perguntas que
tiveram mais dificuldade, que foram de maior edificação, ou que expressam algum
conceito com o qual estão em desacordo.
b. Anime os estudantes a completar as metas para a próxima reunião.
c. Converse acerca das «perguntas para reflexão». Não há um só resposta correta
para estas perguntas. Permita que os alunos expressem suas próprias ideias.
d. Revise os cadernos dos alunos para assegurar que estejem fazendo suas tarefas
para cada lição.
4. Termine a reunião com uma oração.

D. A revisão das tarefas

1. Caderno de respostas
O facilitador deve revisar o caderno de respostas às perguntas de revisão e
reflexão no meios do curso e o final deste. Para meiados do curso, o facilitador não tem
que qualificar o caderno, somente tem que revisá-lo para assegurar que o aluno esteje
progredindo no curso. Para o final do curso, o facilitador deve dar uma nota por
porcentagem de respostas escritas no caderno. Se o aluno escreveu as respostas para as
perguntas de revisão de todas as lições, o facilitador assinará uma nota de «100%». Se
não fez nada disto, assinará 0 puntos. Se respondeu somente algumas perguntas,
receberá a porcentagem correspondente. Por exemplo, se respondeu somente 60
perguntas de um total de 80 (75%), receberá uma nota de «75%». O facilitador não tem
que avaliar quão bem escrito estão as respostas, mas somente se fez ou não. (Sua
compreensão correta da matéria será avaliada no exame final.) Quando tiver revisado o
caderno, o facilitador deve enviar um informe à oficina de FLET, mostrando as
qualificações dos alunos por esta tarefa.

2. Informes de leitura
O facilitador deve revisar os informes de leitura a meiados do curso, somente
para assegurar que o estudante esteje progredindo e que não esteje deixando sua leitura
para último momento. Também deve pedir que os alunos entreguem seus informes ao
final do curso, o dia que se toma o exame final. Estes informes de leitura devem ser
enviados a oficina de FLET junto con as folhas de respostas dos exames finais para sua
avaliação.

3. O ensaio
A meiados do curso, o aluno deve entregar uma folha ao facilitador que inclua o
tema e um esboço do seu projeto. Se o projeto consiste de cinco parágrafos, é suficiente
anotar algumas ideias que pense incluir nos parágrafos. O facilitador não tem que
qualificar esta tarefa, mas assegurar que o aluno esteje planificando seu trabalho. Se o
aluno não começou, anime-o a começar. O projeto final deve ser enviado à oficina de
FLET para sua qualificação, junto com as folhas de respostas do exame final e os
informes de leitura.

4. O exame final
O exame será qualificado na oficina de FLET.
O facilitador deve pedir cópias do exame, e as folhas de respostas, com
suficiente antecipação para tomar o exame na data estabelecida.

E. Avaliação
A nota final será calculada segundo as seguintes porcentagens:

Para Licenciatura:
Caderno de respostas sobre as leituras ...........................................................20%
Leitura adicional ............................................................................................20%
Ensaio .............................................................................................................40%
Exame Final ...................................................................................................20%

Total .............................................................................................................100%

Para Mestrado
Caderno de respostas sobre as leituras .........................................................30%
Leitura adicional ...........................................................................................20%
Ensaio ...........................................................................................................30%
Exame Final .................................................................................................20%

Total ...........................................................................................................100%

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