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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

CURSO DE BACHARELADO
EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIÃO ESTÁVEL - DIREITOS E DEVERES DOS COMPANHEIROS

Daniela Oliveira Leal

São Paulo
2018
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL
CURSO DE BACHARELADO
EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIÃO ESTÁVEL – DIREITOS E DEVERES DOS COMPANHEIROS

Daniela Oliveira Leal

Monografia de conclusão de curso, sob


orientação do professor André Gualtieri de
Oliveira

São Paulo
2018
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL
CURSO DE BACHARELADO
EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIÃO ESTÁVEL – DIREITOS E DEVERES DOS COMPANHEIROS

Daniela Oliveira Leal

Banca Examinadora:

_____________________________________________

Presidente:

_____________________________________________

2º Membro:

_____________________________________________

3º Membro:

São Paulo, 02 de novembro de 2018


DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Jaci e Carlos que representam o mais


sagrado alicerce da minha vida, e aos meus filhos,
Guilherme e Isabella, por minha ausência durante toda a
jornada e confecção deste trabalho.
Aos meus irmãos Juares e Willian e familiares, pelo
amor e dedicação nos momentos mais difíceis.
Ao meu noivo Fábio, pelo fiel companheirismo, na
mais ampla acepção e pela imensurável alegria que trouxe
para minha vida.
AGRADECIMENTOS

À Deus, pois até aqui me ajudou o Senhor.


Ao Professor André Gualtieri de Oliveira, pelas sábias
orientações nos momentos de dúvida.
Aos professores: José Carlos Viana, Marise Reis,
Crhistiane Cavalcante, e todos os que tive o privilégio de
conhecer nesta jornada e, em memória do querido
Sebastião Batista de Oliveira, muito obrigada!
EPIGRAFE

Josué 1:8

“Não aparte da tua boca a palavra desta Lei, medita


nele dia e noite, para que tenhais cuidado de fazer
conforme tudo quanto nele está escrito; porque, então,
farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te
conduzirás.”

Versículo constante do livro: “A Bíblia Sagrada”


RESUMO

O presente trabalho tem objetivo de esclarecer o instituto da união estável de


acordo com a Constituição da república e do novo Código Civil, estando também
normatizadas em leis esparsas como nas Leis N.S 8.971/94 e 9.278/96. Este trabalho
tem uma linguagem clara, visando primeiramente, apresentar uma breve evolução
histórica da família, desde o matriarcado até a formação da família no Brasil. Dessa
forma, para que seja compreendida a união estável perante a Carta Maior, a qual não
faz diferença entre o homem e a mulher dentro da instituição familiar, é essencial
apresentar seus requisitos para configuração jurídica. Será abordado também a
diferença entre o concubinato e a união estável, e a conversão da união estável em
casamento. Posteriormente, há o estudo profundo dos direitos e deveres daqueles
que optaram por constituir uma família pelo instituto da união estável, os direitos a
guarda, meação, herança, dentre outros. Podemos verificar que nos dias atuais se
torna cada vez mais comum, ocupando um papel de grande relevância em nossa
sociedade por não necessitar de burocracia, formalidade ou solenidade que são
exigidas no casamento, tendo os companheiros direitos garantidos e consagrados no
corpo do Código Civil vigente, o qual dedica o Título III especialmente para essa
entidade familiar.
ABSTRACT

The present work has the purpose of clarifying the institute of the stable union
according to the Constitution of the republic and the new Civil Code, being also
regulated in sparse laws like Laws Nos. 8,971 / 94 and 9,278 / 96. This work has a
clear language, aiming at first, to present a brief historical evolution of the family, from
the matriarchy to the formation of the family in Brazil. Thus, in order to understand the
stable union before the Greater Charter, which makes no difference between men and
women within the family institution, it is essential to present their requirements for legal
configuration. The difference between concubinage and stable union will also be
addressed, and the conversion of the stable union into marriage. Subsequently, there
is an in-depth study of the rights and duties of those who chose to establish a family
by the institute of stable union, the rights to guard, mediation, inheritance, among
others. We can see that nowadays it becomes increasingly common, playing a very
important role in our society because it does not require bureaucracy, formality or
solemnity that are required in marriage, and the companions have rights guaranteed
and consecrated in the body of the current Civil Code, which devotes Title III especially
to this family entity.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
1.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA .......................................... 12
2. A FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO ANTES DA PROMULGAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. .................................................................... 13
2.1 A UNIÃO ESTÁVEL COM A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE
1.988. ................................................................................................................... 15
3. A UNIÃO ESTÁVEL NO CÓDIGO CIVIL DE 2.002 ........................................... 16
3.1 CONCEITO DE UNIÃO ESTÁVEL E CONCUBINATO ................................ 20
3.2 UNIÃO ESTÁVEL PUTATIVA ..................................................................... 21
3.3 DO CASAMENTO ....................................................................................... 22
3.4 CONVERSÃO DE UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO ............................ 25
4. DIREITOS E DEVERES DECORRENTES DA UNIÃO ESTÁVEL .................... 26
4.1 DIREITO DE ALIMENTOS .......................................................................... 28
4.2 REGIME PATRIMONIAL APLICÁVEL......................................................... 29
4.3 DIREITO NA DIVISÃO DOS BENS ............................................................. 30
4.3.1 Período anterior a edição da lei 9.278/96 .......................................... 30
4.3.2 Período posterior a edição da lei 9.278/96 ........................................ 31
4.4 DIREITO A HERANÇA NA UNIÃO ESTÁVEL ............................................. 32
4.5 DIREITO SUCESSÓRIO DO COMPANHEIRO ........................................... 33
4.6 A INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL ..... 34
5. DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL ............................................................... 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 40
11

1. INTRODUÇÃO

A união estável sempre esteve presente em nossa sociedade, podemos


perceber tal fato, pois na antiguidade não havia casamento civil, mas somente o
religioso. Bastava somente a vida em comum para que se figurasse o casamento, e
necessitava da benção de um sacerdote, sem ela o casamento era considerado
marginalizado, ou seja, não poderia se relativizar a importância do casamento, que
era de grande importância para moral social.
Com o passar dos anos, o tema foi ganhando força entre as sociedades, ao
passo que evoluiam, existindo assim as famílias de fato, ou seja, aquelas que surgiam
na sociedade, sem as formalidades do casamento.
Durante muitos anos, qualquer tipo de união que nascia sem formalidade
exigida pelo casamento era chamada de concubinato, que era classificado em
concubinato puro, quando a união ocorria entre duas pessoas sem impedimentos
matrimoniais; e concubinato impuro, englobando o concubinato incestuoso, quando a
união se dava entre conviventes de parentesco próximo, e adulterino, quando ao
menos um dos conviventes era casado com outra pessoa.
No Brasil com o advento da Constituição Federal de 1.998, a união estável foi
elevada para o status de entidade familiar, sendo equiparada ao instituto do
casamento. Todavia, com o Código Civil de 2.002, possibilitou aos companheiros a
instituir a família através do afeto, sem prazo para existir ou terminar.
Nos dias atuais, a união estável ocupa grande espaço frente a sociedade,
sendo muito comum este tipo de entidade familiar, desta forma o nosso ordenamento
jurídico vem se posicionando cada vez com mais clareza frente aos direitos e deveres
dos companheiros.
O trabalho busca tratar da união estável desde o príncipio, trazendo sua
evolução histórica no campo doutrinário, ressaltando a omissão que existia no Código
Civil de 1.916, e posteriormente, o reconhecimento através das leis, jurisprudências,
seguinda da Constituição Federal de 1.989 e do Novo Código Civil de 2.002, com a
finalidade de contribuir com o estudo do direito de família, em especial o instituto da
união estável.
12

1.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA

Podemos dizer que a família é o instituto mais antigo do ser humano, que
historicamente, muito antes do homem se organizar, contituia-se em um grupo de
pessoas que se relacionavam a partir de um ancestral.
Os membros da família assumiam obrigações morais entre si, onde eram
liderados por um ancestral comum conhecido “patriarca” normalmente da linhagem
masculina, onde reuniam-se na mesma comunidade seus descendestes, que
compartilhavam uma identidade cultural e patrimonial. Foram essas as primeiras
entidades familiares, que eram unidas por laços consanguíneos de parentesco,
denominadas de “clâs”.
Ao passar do tempo, o crescimento territorial e populacional desses clãs, que
chegavam a possuir milhares de membros, passaram-se a unir-se formando as
primeiras tribos, grupos sociais da mesma etinia. Desta forma, esse organização
primitiva ligada por relações de parentescos consanguíneos, deram a origem as
primeiras sociedades humanas organizadas. E foi a partir de uma dessas
organizações sociais que surgiu a expessão família.
O termo família deriva da expressão latina “famulus”, que significa “escravo
doméstico”, que determinava os escravos a trabalharem de forma legalizada na
agricultura familiar das tribos latinas, que eram situadas onde hoje se localiza a Itália.
Com o desenvolvimento e a complexidade foram se desolvendo esse
estrutaura de família, desta forma, ganhou importância no Direto de Roma Antiga a
expessão “famíia natural”, que era composta apenas por um casal e seus filhos, que
originavam-se através de uma relação jurídica, o casamento.
A instituição da família era dividida em “confarreatio”, casamento de carater
religioso, era restrito a uma classe que se denominava patricia, sua caracteristica era
a oferenda de pão aos deuses Já na classe dos plebeus eram feitos os casamentos
denominados “coemptio”, celebrado mediante a venda de fictícia, do pai para o
marido, onde o marido adquiria a mulher pela posse, ou seja, vida em comum no
ínterim de um ano.
Os pressupostos para caracterização do casamento romano eram a coabitação
chamada de “affectio maritalis”, onde consistia na manifestação expressa dos
nubentes de conviverem como marido e mulher. Na ausência dos pressupostos
extinguia-se o casamento, valorizando apenas o afeto entre os cônjuges.
13

A “família natural” foi trazida pela igreja católica, que transformou o casamento
em uma instituição indissolúvel e sacralizada, que era formada por duas pessoas de
diferentes sexos, que se uniam através de 5um ato solene, e por seus descendentes
diretos, ao qual prevalece até os dias atuais.

Cânon 1055, parágrafo 1º: “A aliança matrimonial, pela qual o homem


e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por
sua índole natuaral ao bem dos cônjuges e à geraçãoe a educação da prole,
e foi elevada, entre os batizados, à dignidade do sacramento”

Esse modelo de família, ainda hoje é reconhecida por grande parte das
legilações ocidentais vigentes, tanto o ato jurídico formal como o sacramento, por
exemplo no Brasil, noções formadas com fundamentos em preceitos da Igreja Católica
Apostolólica Romana, resumido por Orlando Gomes:

“Na organização jurídica da família hodierna é mais decisiva a


influência do direito canônico. Para o cristianismo, deve a família fundar-se
no matrimônio, elevado a sacramento por seu fundador. A igreja sempre se
preocupou com a organização da família, disciplinando-a por sucessivas
regras no curso de dois mil anos de sua existência, que por largo período
histórico vigoraram, entre os povos cristãos, como seu exclusivo estatuto
matrimonial. Considerável, em consequência, é a influência do direito
canônico na estruturação jurídica do grupo familiar.” (GOMES, 1998, p.40)

Todavia, como veremos adiante, a consaguinidade e a milenar instituição do


casamento vem perdendo espaço nas mais recentes doutrinas e jurispudências,
refletida na legislação, onde o afeto se encontra mais condizente com a nossa
realidade.

2. A FAMÍLIA NO DIREITO BRASILEIRO ANTES DA PROMULGAÇÃO DA


CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.
14

Em razão da colonização portuguesa no Brasil, fundados nos preceitos da


igreja Católica Apostólica Romana, o que se refletia no direito vigente no país, ou seja,
as Ordenações Filipinas de 1.954.
Nas Ordenações Filipinas, a única entidade familiar reconhecida era aquela
formada pelo casamento, que poderia se dar de forma solene, realizada na igreja
submetido a conjunção carnal entre os nubentes, e o casamento decorrente do trato
público e da fama, renomado como casamento com marido conhecido, o que não era
reconhecido pelo direito canônico.
Contudo, ainda que essa forma de casamento não solene contrariasse a
doutrina católica, em especial o Sagrado Concílio Tridentino de 1.954, ambas as
formas da legislação filipina deveriam observar os preceitos católicos, como a
indissolubilidade.
No Brasil a igreja católica por muito tempo foi a titular absoluta dos direitos
matrimoniais; pelo decreto de 3 de novembro 1.827 os direitos canônicos que regiam
todos os atos nupciais, tendo como base o Concílio Tridentino e a Constituição do
Arcebispo da Bahia.
Os preceitos canônicos perduraram até 1.890, quando o decreto nº 181, de
autoria de Rui Barbosa, que somente considerava válido o casamento realizado pelas
autoridades civis, e relativizou a indissolubilidade do matrimônio, autorizando apenas
a separação de corpos, e o matrimônio religioso deixou de ter qualquer valor jurídico.
O mencionado decreto perdurou até a promulgação do Código Civil de 1.916
(Lei n. 3.071/16), onde foi mantido o patriarcado, no qual o homem era o chefe da
família, a mulher era incluida no rol dos individuos relativamente incapazes, tal
legislação consagrou o casamento como o único instituto jurídico formador da família.
Ademais, o diploma Civil de 1.916, consagrou de tal forma a instituição do
matrimônio que não adimitia-se dissolução do vínculo conjugal, perimtindo apenas o
chamado desquite, que foi substituída posteriormente pela separação judicial da
polêmica Lei n. 6.515/77, e foi a partir desta que se criou a instituição do divórcio.
O legislador ao criar as leis do código de 1.916, ignorou completamente as
uniões de carater convencional, de companheirismo, onde não era reservado
quaisquer tipo de direito para aquelas uniões que não fossem formadas pelo
intermédio do casamento, como o concubinato e as uniões estáveis, que é conhecida
nos dias atuais como união legítima, sem a celebração do matrimônio.
15

No entanto, as demais cartas constitucionais pouco modificaram as normas


descritas no código civil de 1.916, estes paradigmas só vieram a ser relativizados em
especial a partir das Lei de Adoção (Lei n. 3.133/57), da Lei do Divórcio (Lei n.
6.515/77), bem como pelo Estatuto da Mulher Casada (Lei n. 4.121/62), onde esta
última devolveu a capacidade á mulher casada.
Desta forma, mesmo com as alterações constitucionais e legislativas desde a
promulgação do Código Civil de 1.916, até o advento da Constituição Federal de
1.988, o casamento era a única forma de instituir uma família, onde o afeto não tinha
relevância na esfera jurídica.

2.1 A UNIÃO ESTÁVEL COM A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1.988.

Como vimos anteriormente, por muito tempo só era reconehecida a união pelo
instituto do casamento, mas com o advento da Cosntituição Federal de 1.988, inseriu
em seu ordenamento o reconhecimento de entidade familiar a União Estável entre o
homem e a mulher, igualando-os na sociedade conjugal.

A constituição de 1988 realizou enorme progresso na conceituação e


tutela da família. Não aboliu o casamento como forma ideal de
regulamentação, mas também não marginalizou a família natural como
realidade social digna de tutela jurídica. Assim a família que realiza a função
de célula provém do casamento, como a que resululta da união estável “entre
o homem e a mulher” (artigo 226, § 3º da Constituição Federal de 1988)
(THEODORO JÚNIOR, H. apud. GOMES, 1998, p. 34)

Em consonância com a Constituição Federal de 1.988 foi promulgada a Lei n.


8.971/ 94, que garante os direitos dos companheiros a alimentos e a sucessão, e a
Lei n. 9.278/ 96 que regula o disposto no artigo 226, § 3º da Constituição Federal, que
trata da união estável.
Sendo assim, não poderia o Código Civil infringir tais dispositivos consolidados
na Carta Magna, com uma nova interpretação referente a instituição de família, o
Código Civil de 2.002 trouxe relevantes novidades, dentre elas a regulamentação da
união estável entre o homem e a mulher, bem como o reconhecimento de direitos
decorrentes das relações concubinas.
16

Desta forma, verifica-se que o novo diploma Civil, diferentemente dos diplomas
passados, recebe o afeto como um formador da família, vez que não dependem de
um ato solene para caracterização da instituição da família.

3. A UNIÃO ESTÁVEL NO CÓDIGO CIVIL DE 2.002

Com as evoluções sociológicas que ocorreram no século XX pressionaram o


legislador a regulamentar o Código Civil de acordo com as novas situações, em 1.988
o constituinte originário elevou a união estável ao status de entidade familiar, nos
seguintes termos:

“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do


Estado
1º (…)
2º (…)
3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar a
sua conversão em casamento”

Após alguns anos depois da Cosntituição legislar sobre o tema, foram


aprovadas as Leis nº 8.971 de 29 de dezembro de 1.994 e nº 9.278 de 10 de maio de
1.996, que legulavam a previsão Contitucional. Atualmente o Código Civil de 2.002
trata da união estável a partir do artigo 1.723.
O atual Código Civil se tornou mais contemporâneo, pois deixou as influências
francesas e alemãs do Código anterior e passou a ser influenciado pela Constituição
de 1.988, ou seja, deixou em segundo plano a propriedade privada e passou a ter
carater fundamental, a pessoa humana, tratando da matéria em um título próprio no
campo do Direito da Família, influênciado pelas leis ordinárias, foram introduzidos
novos conhecimentos, porém foi mantido a linha de pensamento da Lei nº 9.278 de
10 de maio de 1.996.
No entanto, com a mais recente decisão do STF, o pressuposto de adversidade
de sexo, restou prejudicada os requisitos para união estável. O Ministro Ayres Britto,
relator das ações, entende que a pópria Constituição Federal em seu artigo 3º, inciso
17

IV, veda qualquer tipo de discriminação relacionadas em virtude de raça, sexo, cor,
idade ou qualquer outra, assim, decidiu que ninguém pode ser diminuído por sua
opção sexual.
Como prevê a Constituição Federal, seu artigo 3º, inciso IV:

Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil:
[…]
IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Baseado neste artigo. constitucional, o STF julgou por unanimidade pelas


procedências das ações acima citadas, tendo efeito vinculante. reconhecendo assim,
a união de pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.
Vale resaltar que o artigo 226, paragrafo 3º da Carta Magna reconhece como
entidade familiar, para efeitos de proteção estatal, a união estável entre o “homem e
a mulher”, sendo prejudicada diante do novo entendimento da Corte.
Portanto, são requisitos para configurar a união estável:
a) Inexistência de impedimentos matrimoniais (conforme artigo 1.723, § 1º).
É possível haver a união estável ainda que um os conviventes forem casados,
mas separados de fato, sendo impossível a caracterização por qualquer outro
impedimento matrimonial.
Como explica Caio Mário da Silva Pereira:

Neste aspecto, o legislador de 2002 solucionou a questão ao


reconhecera possibilidade de união estável à pessoa que “se achar separada
de fato”, concedendo a ela os efeitos jurídicos da união estável. Consolidou-
se a orientaçãojurisprudencial que já permitia, inclusive, a partilha dos bens
adquiridos, comprovadamente na constância da vida em comum, e objetos
de interesse recíprocos, mesmo sendo um dos companheiros ligados pelo
vínculo do matrimônio (PEREIRA, 2.007, p. 546).

b) Notoriedade
18

O artigo 1.723 do Cídigo Civil, exige que a união seja “pública”, ou seja, devem
se tratar- se socialmente como se casados fossem, desconfigurando a união se o
casal mantiver encontros secretos;

c) Continuidade
A união deve ser um ato contínuo, não podendo haver interrupções, pois não
se caracteriza por um único ato, mas sim com o tempo;

d) Estabilidade (sem prazo mínimo de duração)


Este elemento é indispensável, tendo em vista que a própria denominação
“união estável” já remete à ideia de relacionamento duradouro, prolongado com o
tempo, a Lei 8.971/94 exigia um lapso de tempo de cinco anos de convivência ou
existência da descendência, porém a Lei 9. 278/96 e o Código Civil de 2002 foram
omissos quanto a isso, de acordo com as decisões do judiciário:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL – RECORRENTE SOB PÁLIO DA


JUSTIÇA GRATUITA – DESERÇÃO – INOCORRÊNCIA – DIREITO DE
FAMÍLIA – UNIÃO ESTÁVEL – REQUISITOS – CASAMENTO RELIGIOSO –
INSUFICIÊNCIA – INEXISTÊNCIA DE ESTABILIDADE E DURABILIDADE
DA RELAÇÃO NO PERÍODO ALEGADO – NÃO CONFIGURAÇÃO DA
UNIÃO ESTÁVEL – PEDIDO DE PERTILHA PREJUDICADO. – Tendo sido
expressamente reconhecida pela sentença a litigância do autor sob o pálio
da assistência judiciária, está ele dispensado do preparo prévio da apelação.
– A união estável entre o homem e a mulher, constitucionalmente
reconhecida como entidade familiar, para efeito de proteção do Estado, tem
por requisitos a convivência pública, contínua e duradoura, estabelecido com
o objetivo de constituição de família. – O casamento religioso, por si só , é
insuficiênte para configuração da união estável, não podendo ser analisado
sem o cotejo dos demais elementos pertinentes à hipótese. – Inocorrendo o
animus familiae por um tempo razoável que qualifique a convivência
como estável, não há que se falar união estável. – Assentada a
inexistência da união estável, torna-se prejudicado o pedido de partilha,
sendo irrelevante, por conseguinte, a aferição da efetiva contribuição da parte
autora na formação do patrimônio. Relator (a): Elias Camilo, Comarca: Belo
Horizonte, Proc. n. 1.0024.06.020778-4/001(1), Data do julgamento:
01/10/2009, Data do registro: 29/10/2009. (grifamos)

Sobre o tempo da união estável, explica Caio Mário:

Situano-mos, assim, entre aqueles que não consideram prioritário o


tempo de convivência. Há que se indicar, como prova, outros elementos
19

objetivos que identifiquem o animus de se constituir uma relação familiar


estável (PEREIRA, 2.007, p. 542).

e) Ânimo ou objetivo de constituir família


Este é um elemento subjetivo essencial, uma vez que é estritamente necessário
que haja entre os companheiros uma inteção real de constituir uma família.
Em resumo, para configuração da união estável, é necessário uma comunhão
de vidas que se baseie na mútua assitência material e imaterial, como atenção, gestos
de carinho, guarda e educação dos filhos, como nas palavras de Maria Helena Diniz
“o que importa é que nessa convivência haja afeição recíproca, comunhão de
interesses, conjunção de esforços em benefício do casal e da prole, se houver,
respeito e assistência moral e material, ou seja, companheirismo” (DINIZ, 2.007, p.
361).
Assim também pondera Caio Mario: “o que importa é serem as uniões
duradouras, inspiradas no elemento anímico, a gerar a convicção de que pode
marchar para a relação matrimonial” (PEREIRA, 2.007, p. 535).
Este doutrinador, por fim, sintetiza o que constitui a união estável:

Em nosso entendimento, há de existir uma duração, a sucessão de


fatos e eventos, a permanência do relacionamento, a continuidade do
envolvimento, a convivência more uxoriu, a notoriedade, enfim, a soma de
fatores subjetivos e objetivos que, do ponto de vista jurídico, definem a
situação” (PEREIRA, 2.007, p. 542).

O entendimento dos tribunais:

Ementa: UNIÃO ESTÁVEL – Cerceamento de defesa – Não


ocorrência – Revelia da ré – Impossibilidade de concessão de novo prazo
para resposta – Rol de testemunhas apresentado fora do prazo – Incidência
do art. 470 do Código de Processo Civil – PRELIMINAR AFASTADA. UNIÃO
ESTÁVEL – Pretendido o reconhecimento da sociedade de fato, dissolução
e partilha de bens – Revelia da ré – Presunção da veracidade dos fatos
articulados pelo autor é relativa (art. 319 CPC) – Relação negocial entre as
partes – Ausência, todavia, de prova de unaninades de propósitos,
convivência duradoura, pública e contínua com vista à constituição de
família – Relação que não atende aos pressupostos fixados pelo artigo 1.723,
do Código Civil – Entidade não caracterizada – sentença reformada –
Recurso Provido. Relator: elcio Trujillo, Comarca: Jacareí, Orgão julgador: 7ª
20

Câmara de Direito Privado, Data do julgamento: 07/04/2010, Data de registro:


14/04/2010. (grifo nosso)

Dessa forma, é de grande importância destacar que as relações meramente


afetivas, como namoro, noivado ou simples relações sexuais não constituem união
estável. Nas palavras de Washington de Barros Monteiro: “Para que se figure a união
estável é necessária a constituição da família, não sendo suficiente ‘objetivo de
constutuição de família’” (MONTEIRO, 2.004, p. 31).

3.1 CONCEITO DE UNIÃO ESTÁVEL E CONCUBINATO

Com a evolução da sociedade e seus costumes, em primeiro momento houve


o casamento religioso, nos dias atuais é formalizado o de natureza civil, e ainda
existem os casos de uniões informais.
Neste entendimento, Frederico Augusto de Oliveira, conceitua a união estável
como sendo:

“A convivência estável e séria entre um homem e uma mulher, sem


que nenhum deles seja ligado por um vínculo precedente matrimonial, é um
fenômeno social, antes de jurídico, que não pode certamente incorrer nas
qualificações de ilicitude ou ilegitimidade, pondo em risco os fundamentos de
ordem pública sobre os quais o casamento se assenta”. (SANTOS, 2.001, p.
15)

Ainda nos esclarece Belmiro Pedro:

“Para que haja união estável é necessário cumprir os deveres


exigidos pelo casamento, listados no artigo 231 do Código Civil: fidelidade
recíproca; vida em comum; no domicílio conjugal; mútua assistência,
sustento, guarda e educação dos filhos, porque somente assim haverá
igualdade de tratamento ditada pelo paragrafo terceiro do artigo 226 da
Constituição Federal e pelas Leis N.S. 8.971/94 e 9.278/96 e, agora pelo
projeto de Lei nº. 2.686/96, denominado Estatuto da União Estável”.
(WELTER, 1.998, p. 21)
21

Há uma distinção básica entre união estável e concubinato, pois como vimos
acima, a união estável não há impedimentos matrimoniais, podendo dar-se sua
conversão a qualquer momento em casamento. O que não ocorre com o concubinato,
pois este sempre haverá impedimentos para a realização do casamento.
Com isso, a antiga confusão entre os institutos união estável e concubinato não
existe mais, agora verifica-se uma linha distintivas entre os dois institutos.
Como define Washington de Barros:

“A união estável é a relação lícita entre um homem e uma mulher, em


constituição de família, chamados os partícipes desta relação de
companheiros. Concubinato é a relação que não merece a proteção do direito
da família, por ter caráter adulterino, denominados concubinos os seus
partícipes”. (MONTEIRO, 2.004, p. 30)

Atualmente a expressão concubinato é utilizada para caracterizar os


relacionamentos de pessoas que mantêm mais de uma união de fato, ou seja, possui
mais de uma família reconhecida de sociedade, ficando desta forma a margem da lei.
No artigo 1.727 do Código Civil, é apresentado um conceito impróprio do
instituto em análise, vejamos:
“Art. 1.727. As relações não eventuais entre um homem e uma mulher,
impedidos de casar, constituem concubinato.”
Mesmo sendo institutos diferentes, possuindo cada um suas particularidades,
tanto o concubinato quanto a união estável, são uniões livres, marcadas pela
característica da informalidade, pois não existe uma solenidade ou formalidade inicial
para a contagem de sua duração, sendo atos sucessivos, estáveis e contínuos que
caracterizam sua formação.

3.2 UNIÃO ESTÁVEL PUTATIVA

A união estável putativa poderá ocorrer, quando uma das partes, ou o homem
ou a mulher, encontra-se em total ignorância diante ao outro relacionamento do
companheiro, ou seja, acredita-se viver em um relacionamento único, desconhecendo
totalmente o fato de fazer parte de uma união paralela.
22

É importante esclarecer que para ser configurada a união estável putativa, deve
haver a boa-fé do companheiro que vivia em total ignorância em relação ao outro
relacionamento do companheiro, podendo este estar em concomitância em uma outra
união estável ou em um casamento.
O fato da total ignorância, e do relacionamento paralelo do companheiro, dará
a capacidade de conferir o status de família para o companheiro que desconhecia a
outra relação, lhe conferindo todos os efeitos de uma união estável.
Para que seja reconhecida a união estável putativa, é necessário preencher
alguns requisitos, como a publicidade, estabilidade, continuidade e ânimo de constituir
família.
Sobre a putatividade no casamento, Yulssef Said, ensina: “mais tão duro
castigo pode ser injusto, ao punir pessoas que não visaram contrariar a lei, ferindo
gente que foi levada ao matrimônio na ignorância do impedimento, ligando-se através
de uma união que parecia regular aos olhos de todos”. (CAHALI, 1.979, p.2)
Havendo o reconhecimento da relação simultânea a uma união estável ou um
casamento, mesmo que de boa-fé, inclusive sendo reconhecido na jurisprudência,
conclui-se que poderá haver produção dos efeitos terem duplicidade de famílias. A
união estável putativa, independente das razões, fere a lógica do sistema
monogâmico, deixando claro que este princípio não é absoluto e em alguns casos não
só pode como deve ser relativizado.
Como vimos em relação ao concubinato, onde o principal argumento para o
seu não reconhecimento como entidade familiar é justamente o respeito ao princípio
ordenador do sistema, então, podemos presumir que o fundamento da proibição não
está somente elencado na obediência ao que preceitua a monogamia, mas sim em
convenções e preconceitos.

3.3 DO CASAMENTO

Por sua vez, é considerado casamento o negócio jurídico no qual um homem e


uma mulher se unem através de uma relação matrimonial, sendo de carater
personalíssimo e permanente, ou seja, comunhão de vida ampla e duradoura.
A doutrina não tem um concenso quanto a natureza jurídica do casamento:
seria uma instituição ou um contrato?
23

Para os contratualista, o casamento é um contrato civil apricando-se-lhe as


regras comuns de um contrato; para a corrente institucionalista, o matrimõnio é uma
“instituição social”. Nas palavras de Maria Helena Diniz:

Tendo uma vez aderido ao estado matrimonial, a vontade dos


nubentes é impotente, sendo automáticos os efeitos da instituição por serem
de ordem pública ou coagentesas normas que a regem, portanto iniludíveis
por simples acordo dos conjugês. (DINIZ, 2.007, p. 39).

Ainda, existe uma doutrina mista, que torna o casamento um ato complexo,
unindo o elemento volitivo ao elemento instituição.
Grande parte da doutrina concorda com esta última, uma vez que o casamento
une, como caráter de contrato, a manifestação da vontade do casal ao que esta
previsto pelas normas, que é de caráter institucional.
Isto quer dizer que o consentimento dos nubentes é o principal elemento
constitutivo do casamento, e a partir desta vontade manifesta perante ao Poder
Público, produz os efeitos do ato matrimonial, que estão previsto na lei.
Como explica Sílvio Rodrigues:

O casamento assume a feição de um ato complexo, de natureza


institucional, que depende da manifestação livre da vontade dos nubentes,
ao qual, porém, se completa pela celebração, que é ato privativo de
Representante do Estado. Não há inconveniente, dada a peculiaridade do
fenômeno, de chamar ao casamento de contrato de direito da família.
(RODRIGUES, 2.004, p. 22).

É de grande importância lembrar que as normas que regem o casamento


impõem restrições de caráter impeditivo ou coagente, tendo em vista proteger o
interesse geral da sociededa, sendo de grande importância para o direito, como por
exemplo, em casos específicos e determinados pela idade o regime de bens não pode
ser livremente escolhido. Como destaca Silvio de Salvo Venosa:

O casamento é o centro do direito da família. Dele irradiam suas


normas fundamentais. Sua importância, como negócio jurídico formal, vai
desde as formalidades que antecedem sua celebração, passando pelo ato
material de conclusão dos seus efeitos do negócio que deságuam nas
24

relações entre os cônjuges, os deveres recíprocos, a criação e assistência


material e espiritual recíproca e da prole etc. (VENOSA, 2.005, p. 44).

Podemos destacar outros elementos que caracterizam o casamento:


a) é um ato solene, pois o ordenamento jurídico impõe formalidades para celebração,
não sendo observados podem acarretar a inexistência do ato; sendo reconhecida
sua importância, o matrmônio inicia-se com com o processo de habilitação e a
publicação em editais, desenvolve-se na cerimônia em se é celebrado, seguindo
no registro do livro próprio, assim dispõe o artigo 1.525 ao 1.536 do Código Civil
de 2002;

b) sendo regulamentado por normas de ordem pública, desse modo, estão acima das
convenções particulares, como já afimado acima;
c) representa a união permanente, como explica Maria Helena:

[…] se duas pessoas contraem matrimônio, não o fazem por tempo


determinado, mas por toda a vida; mesmo que venham a separar-se ou
divorciar-se e tornem a casar novamente existe sempre, em regra, um desejo
íntimo de perpetuidade, ou seja, de permanência da ordem conjugal e familiar
(DINIZ, 2.007, p.42);

d) é permitida a liberdade de escolha do nubente por ser um ato pessoal, salvo em


casos em que a lei determina os consentimentos dos pais, conforme artigo 1.517
do Código Civil;
e) exige a diversidade dos sexos, disposto na Constituição Federal;
f) determina a comunhão plena de vida, “com base na igualdade de direitos e
deveres dos conjugês”, conforme dispõe o artigo 1.511 do Código Civil, tal
comumhão é manifestada através do companheirismo, dever de fidelidade, mútua
assistência, respeito, dentre outros, elencados no diploma citado:

Art. 1.565 – Pelo casamento, homem e mulher assumem


mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos
encargos da família.
[…]
Art. 1.566 – São deveres dos conjugês:
I – fidelidade recíproca;
II – vida em comum, no domicílio conjugal;
III – mútua assistência;
25

IV – sustento, guarda e educação dos filhos;


V – respeito e consideração mútuos.

Whashington de Barros Monteiro enfatiza: “A ajuda mútua, está sim, sempre foi
e será não só a finalidade, mas também efeito jurídico do casamento”. (MONTEIRO,
2.004, p. 22).
Diante das peculiaridades da união estável e do casamento até aqui
analisados, faz-se necessário pautar um paralelo entre os dois institutos para que se
possa imaginar melhor os contornos de cada um, diante ao preceito constitucional de
proteção à família.

3.4 CONVERSÃO DE UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

Com a evolução, e introdução da união estável na Constituição Federal de


1.988, sendo reconhecida como entidade familiar, estabelece em seu §3º o seguinte
enunciado: “devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”.
É de grande importância ressaltar sobre a escolha da conversão da união
estável em casamento:

“Se os companheiros desejarem manter a união estável até o fim de


suas vidas podem fazê-lo, sem impedimento legal. Serão livres para
converse-la em casamento, se quiserem, sem imposição ou indução legal; da
mesma forma que as pessoas casadas podem dissolver seu casamento e
constituírem união estável, o que ocorrido com certa frequência com casais
divorciados que se reconciliam, mas não desejam retornar à situação
anterior.” (LOBÔ. Famílias, p. 162)

O Código Civil de 2.002 exige que os companheiros façam o pedido ao juiz e


assento no Registro Civil para a converter a união estável em casamento.

Art. 1.726 – A união estável poderá ser converter-se em casamento, mediante


pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.
26

Podemos verificar que, ao exigir a interferência judicial ao pedido de conversão,


dificulta o processo, e por isso a doutrina vem considerando a inconstitucionalidade
desse dispositivo.
Maria Berenice Dias, aponta uma outra solução:

“A outra solução é casar. Hipótese, além de mais barata, certamente


romântica. Cabe lembrar que o casamento é gratuito (CF 226§1º), e o
procedimento de transformação depende da propositura de demanda judicial,
implicando contratação de advogado e pagamento de custas. Ao depois,
existe a possibilidade de os noivos firmarem pacto antenupcial, no qual
podem, ao seu bel-prazer, fazer o acerto de ordem patrimonial que quiserem,
inclusive com efeito retroativo sobre os bens particulares” (DIAS, Maria
Berenice. Manual de direito das famílias. p. 174)

Embora a lei não traga qualquer forma de operacionalização da conversão da


união estável em casamento, os Tribunais estaduais através de Resoluções vêm
regulamentando o procedimento. Porém, continuaram estas normas sem
aplicabilidade, pois não foram eliminadas e afastadas as formalidades e a burocracia.

4. DIREITOS E DEVERES DECORRENTES DA UNIÃO ESTÁVEL

Com influência na Lei 9.278 de 10 de maio de 1996, o Código Civil impôs em


seu artigo 1.724 os mesmos direitos exigidos aos cônjuges na sociedade conjugal aos
companheiros de união estável, vejamos: “Art. 1.724 – As relações pessoais entre
companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de
guarda, sustento e educação dos filhos”.
Dentre alguns dutrinadores há uma reprovação em relação a essa comparação
entre o casamento e a união estável em na matéria de direitos e deveres. Pois
entende-se que as pessoas que vivem sobre esse regime, estão submetidos a ele por
opção, ou seja, para não assumir as responsabilidades impostas ao casamento.
Deveria o legislador apenas se preocupar somente com a prole dessa relação, pois
está sim não haveria opção.
Outros doutrinadores essa equiparação levariam a impulsionar às pessoas por
optarem pelo casamento, assumindo assim, uma status jurídico com maior segurança.
27

Alguns acreditam ainda que o legislador teve a intenção de proteger ambos os


companheiros, um exemplo seria em relação aos direito sucessório, onde o
companheiro sobrevivente ficasse a mercê dos herdeiros do “de cujus”.
A Constituição Federal determina no artigo 226, § 5º que “os direitos e deveres
referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”.
Em relação ao dever de respeito, este por sua essência esta intimamente ligado
a uma união monogâmica, não podendo existir sua separação do dever de fidelidade.
Foi estabelecido pelo legislador que o dever de assistência compreende ao
auxilio que um companheiro tem a obrigação de prestar ao outro, ou seja, assistência
moral, e a assistência de prestar alimentos quando devida, ou seja, assistência
material, tendo escopo na Lei nº 5. 478 de 25 de julho de 1.968 que trata da ação de
alimentos, como autoriza o artigo 1º da Lei nº 8.971 de 29 de dezembro de 1.994:

“Art. 1º. A companheira comprovada de um homem solteiro, separado


judicialmente, divorciado ou viúvo, que com ele viva a mais de cinco anos, ou
dele tenha prole, poderá valer-se do dispositivo na lei 5.478 de 25 de julho de
1968, enquanto não constituir nova união e desde que prove a necessidade.”

Está previsto no Código Civil em seus artigos 1.694 e 1.702.


Aplica-se o dispositivo já mencionado no artigo 226, § 5 da Constituição em
ambos os casos de assistência.
Referente ao dever de coabitação, este não é absoluto, podendo em algumas
condições ser dispensado, como em casos de necessidade profissional, pois em
algumas vezes pode não haver a coabitação no mesmo teto, mas é preenchido todos
os demais requisitos para caracterização da união estável.
Quanto o dever de guarda e sustento dos filhos comuns, esse é indiscutível,
pois este é um dever decorrente de qualquer relação que se resulte em uma prole, e
não somente derivado de uma união estável, conforme o artigo 1.630 e seguintes do
Código Civil.
Temos que ressaltar que o filho havido de relação de afeto, tanto no casamento,
união estável ou concubinato, tem direitos e deveres em relação ao genitor, e este
com aquele, mas não há obrigação de companheiro(a) de nova relação a este filho,
senão o afeto, pois não existe mais a figura do filho bastardo ou ilegítimo.
28

Com tudo, podemos salientar que os direitos assegurados para família que foi
constituída por uma união estável são tanto pessoais quanto material, desta forma o
dever de assistência material compreende tanto o direito à alimentos quanto os
direitos sucessórios.

4.1 DIREITO DE ALIMENTOS

Quando falamos em pensão alimentícia, imaginamos o mero dever de sustento,


porém alimentos compreende todas as necessidades pessoais, como vestuário,
educação, saúde, lazer, quando o alimentado estiver impossibilitado de suprir suas
próprias necessidades.
Em Relação ao direito de alimento no direito brasileiro, Francisco José ensina:

Nas ordenações Filipinas, o texto mais expressivo a respeito da


obrigação alimentar encontra-se no liv. 1, Tít. LXXXVIII, 15, na medida em
que, embora provendo sobre a proteção orfanológica, tráz a indicação dos
elementos que comportariam a obrigação: “Se alguns órfãos forem filhos de
tais pessoas, que não devam ser dados para soldadas, o Juiz lhes ordenarás
o que lhes necessário for para seu mantimento, vestido e calçado e tudo mais
em cada um ano. E mandara escrever no inventário, para se levar em conta
a seu Tutor, ou curador. E mandará ensinar a ler e escrever aqueles, que
forem para isso, até a idade de 12 anos. E daí em diante lhes ordenará sua
vida e ensino segundo a qualidade de suas pessoas e fazenda”. (Cahali,
2002, p. 28)

No Código Civil de 1916, a definição de alimentos estava prevista no artigo


1.920, conforme segue:

Art. 1.920 O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a


casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor.

Antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, os alimentos não eram


concedidos aos companheiros e se fossem concedidos tinham caráter indenizatório
por serviços prestados. Com a nova Constituição, a união estável passou a ter o status
de entidade familiar, devido isso, passaram os companheiros a ter direito a pretensão
alimentar.
Como explica Rodrigo da Cunha:
29

O novo Código Civil incorporou em seu texto todas as novas


concepções sobre união estável e consequentemente sobre os alimentos
decorrentes dessa forma de constituição família. O art. 1.694 desse novo
Código, semelhante ao de 1916 na parte relativa aos alimentos, incorporou a
expressão conviventes ao seu texto, ficando, portanto, consolidado aquilo
que já estava consagrado nas Leis n.s. 8.971/94 e 9.278/96 e na doutrina e
Jurisprudência. (PEREIRA, 2.001, p. 86)

No que se refere a guarda, e prestação de alimentos aos filhos, os pais devem


atendê-los, materialmente, e de forma igualitária assumindo as responsabilidades e
obrigações na criação dos mesmos.
Desta forma, o poder familiar não está relacionado com a situação matrimonial
dos companheiros, que deverá ser exercido independentemente de ter sido
constituído de casamento ou não.

4.2 REGIME PATRIMONIAL APLICÁVEL

Conforme o artigo 5º da Lei 9.278/96, todos os bens adquiridos de forma


onerosa na constância da união estável, pertencem a ambos os companheiros, e no
caso da dissolução é utilizada as normas que regem o regime de comunhão parcial
de bens, salvo estipulação contrária em contrato escrito, é o que está previsto no artigo
1.658 do Código Civil.

Como explica Maria Berenice:

A presunção de propriedade do titular aparentemente no registro não


é mais absoluta, e o companheiro é patrimonialmente equiparado ao cônjuge.
Adquirido o bem por um, transforma-se em propriedade comum, devendo ser
partilhado pela metade na hipótese de dissolução do vínculo. (DIAS, Maria
Berenice. Manual de direitos da família. p. 166)
30

Porém pode ser afastada essa forma se convencionado através de contrato


escrito dispondo de forma diversa, ou seja, sendo feito outra forma de regime,
prevalecerá o que foi acordado entre os companheiros.
Isso ocorre pelo poder de isonomia entre os cônjuges ou conviventes que se
encontra previsto no artigo 226, §5º, Constituição Federal.
Se tratando de contrato que limita-se a permitir a administração dos bens
comuns, deve ser interpretado de forma restrita, ou seja, aqueles que envolvem
apenas atos de gerencia e não de alienação, salvo hipótese de alienação de bens de
fácil deterioração, Contudo, para demais atos de disposição patrimonial, necessita de
poderes especiais, não podendo ser incluídos nos poderes de administração, que
devem ser interpretados de forma restritiva.
As ações judiciais que envolvam o patrimônio comum, devem ser promovidas
contra ambos os companheiros. Deverão ainda, ambos serem citados naquelas
movidas somente contra um, para que a decisão possa repercutir sobre o patrimônio
da sociedade, sob pena de ineficácia em relação aquele que não integrou a lide.

4.3 DIREITO NA DIVISÃO DOS BENS

4.3.1 Período anterior a edição da lei 9.278/96

Antes da edição da nova Carta Magna, em relação ao direito de meação


podemos destacar dois momentos distintos. O primeiro onde se era negado qualquer
direito decorrente da relação do concubinato, e outro momento em que a
jurisprudência começou a conceder a indenização a concubina por serviços prestados
ao seu companheiro.
O Código Civil de 1.996, em seu capítulo XI, do Título V, mais precisamente no
artigo 1.363, versava da seguinte forma: “Celebram contrato de sociedade de
pessoas, que mutualmente se obrigam a combinar seus esforços ou recursos, para
lograr fins comuns”.
Foi editada posteriormente a Súmula 380 do Supremo Tribunal Federal, que
considerou então, um lado a convivência e de outro lado a sociedade de fato, que
estava descrito “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos,
31

é cabível a sua dissolução judicial com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço
comum”.
Por sua vez a jurisprudência formou a “teoria da sociedade de fato”, que
conferia aos participes da relação concubinária , que hoje é denominada união
estável, o direito de partilhar os bens decorrentes de sua contribuição, ou seja, não
era baseada na relação familiar entre os concubinos, mas sim entre uma sociedade,
e a divisão dos bens era feita através da contribuição direta de cada convivente no
patrimônio em comum.
Após a Constituição de 1.988, veio a interpretação correta no que se refere a
proteção do Estado à união estável, dando uma nova e justa interpretação nas
relações concubinárias.
Sendo assim, a jurisprudência deixou de fazer as exigências da colaboração
direta dos concubinos para meação do patrimônio comum, ou seja, para que fosse
caracterizada a sociedade de fato, não era mais necessário que o concubino
entregasse dinheiro ao outro, foi admitida a contribuição das atividades exercidas no
lar, como a administração da casa, criação dos filhos, entre outros.
Com o advento da Lei 8.971/94 no artigo 3º, foi instituído o direito de meação
entre os companheiros, quando da morte de um deles. “Quando os bens deixados
pelo(a) autor(a) da herança resultem de atividade de que haja colaboração do(a)
companheiro(a), terá o sobrevivente direito a metade dos bens”
Porém, deixou de esclarecer a espécie de colaboração que deveria ser
considerada, desta forma, apenas editou o que já estava previsto na Súmula 380 do
Supremo Tribunal Federal, exigindo-se a comprovação da contribuição dos
conviventes na formação do patrimônio em comum.

4.3.2 Período posterior a edição da lei 9.278/96

No que tange a divisão de patrimônio, quando se dá a ruptura da união estável,


a Lei em seu artigo 5º, dispõe que há uma presunção dos bens móveis e imóveis
adquiridos por apenas um ou ambos os companheiros na constância da mesma a
título oneroso, são considerados frutos do trabalho e da colaboração comum, portanto
pertencente a ambos, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação contrária
por escrito, revogando assim o artigo 3º da Lei. 8.971/94.
32

Os bens em condomínio, é iuris tantum, ou seja, adite-se prova ao contrário, e


deveram ser provadas judicialmente.
Desta forma, a regra é que cada um fique com 50% (cinquenta por cento) dos
bens adquiridos durante a união estável, ainda que este bem tenha sido adquirido por
apenas um dos companheiros, equiparou tal determinação o contido no artigo 1.660,
I, do Código Civil, que trata da comunhão parcial dos bens, sendo observados ainda,
a igualdade no que se refere à comunhão dos frutos civis do trabalho, conforme inciso
V do mesmo dispositivo, que neste caso, se somam ao que se refere à aquisição de
bens móveis e imóveis.
Contudo, como já visto anteriormente, é necessário para o bem pertenceres a
ambos, que sejam adquiridos a título oneroso, ou seja, título de compra e venda.
Sendo assim, não se admite para reconhecimento de patrimônio em comum, aqueles
adquiridos por doação.
No artigo 5º da Lei 8.971/94, admitiu a estipulação dos conviventes, através de
contratos por escrito, acerca da proporção em que cada um ficará no caso de rescisão
da relação. O contrato tem efeitos erga omnes, ou seja, sua finalidade é apenas para
regulamentar a relação dos próprios conviventes, e não tira a importância de ser
registrado no Cartório de Títulos e Documentos, visando que seja prova segura da
convivência.
Existia uma obscuridade na Lei referente ao regime de bens para pessoas
acima dos 70 anos, o que hoje é pacificado pelo entendimento do Supremo Tribunal
Federal, sendo regime obrigatório de bens, predominando o mesmo do casamento.

4.4 DIREITO A HERANÇA NA UNIÃO ESTÁVEL

Podemos conceituar a herança conforme o entendimento de Fiuza:

[...] “o conjunto patrimonial transmitido causa mortis. Diz-se acervo


hereditário, massa ou monte ou, ainda, espólio. Constituiu-se de ativo e de
passivo. Sem entrar em detalhes contábeis, pode-se dizer que o ativo
consiste dos bens e créditos, enquanto o passivo consiste dos débitos”
(FIUZA, 2009, p.1.007)
Ainda de acordo com Oliveira e Amorim:
33

“Aos bens que se transferem ao sucessor em virtude da morte de


alguém dar-se o nome de herança, isto é, patrimônio que se herda, acervo
hereditário ou, no aspecto formal e de representação, espólio. A transmissão
da herança preserva a continuidade do próprio ente familiar, sendo elencada
entre os direitos e garantias individuais, conforme artigo 5º, inciso XXX, da
Constituição Federal de 1988.” (OLIVEIRA E AMORIM, 2013, p. 31)

Neste contexto, ressalta-se que “Constitui universalidade de direito o complexo


de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico.”, conforme
disposto no artigo 91, Código Civil de 2.002.
Desta forma podemos dizer que a herança é o conjunto de direitos e obrigações
transferidas pelo de cujos aos seus sucessores.

4.5 DIREITO SUCESSÓRIO DO COMPANHEIRO

O direito de suceder ocorre com o falecimento de um dos cônjuges, ela


determina a abertura da sucessão hereditária, e independe de qualquer formalidade.
Com a morte do de cujus transmite-se não só apenas a propriedade e a posse
dos bens, transmite-se também tudo em que ele era titular, como as dívidas, as
pretensões e ações contra ele, pois é compreende o ativo e passivo.
O direito sucessório em relação aos companheiros está previsto no artigo 1.790
do Código Civil.

Art. 1.790. A companheira ou companheiro participará da sucessão


do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união
estável, nas condições seguintes:
I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II – se concorrer com descendentes só do autor da herança, trocar-
lhe-á metade do que couber a cada um daqueles;
III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um
terço da herança;
IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da
herança.

Para estudarmos a divergência sobre a caracterização do companheiro como


herdeiro necessário ou não, é preciso analisar o artigo 1.845 do Código Civil que
34

dispõe “são herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge”


como podemos verificar o companheiro não se encontra no rol do artigo citado.
Ainda que a união estável não se confunda com casamento, gera um “quase
casamento” no que se refere aos seus efeitos, dispondo de regras patrimoniais
praticamente iguais.
De acordo com Lôbo:

[...] “A sucessão concorrente converte tanto o cônjuge quanto o


companheiro em herdeiros necessários. O companheiro concorre com
qualquer herdeiro do de cujus, do descendente ao colateral de quarto grau,
sendo nesse sentido herdeiro necessário. Assim, não pode o testador excluí-
lo de sua sucessão, se tiver deixado qualquer parente sucessível.” (LOBÔ,
2.014, p. 148)

Para ser reconhecido o direito de suceder na união estável, é necessário a


existência da união com o de cujus, que não precisa necessariamente ser reconhecida
em vida, podendo o companheiro pleitear o reconhecimento após a morte.
Relacionado aos bens, é necessário que tenha sido adquirido onerosamente
na constância da união. Porém, a doutrina observa a confusão que o legislador fez
em relação a sucessão e meação, isso porque, conforme o disposto do artigo 1.725,
do Código Civil, não havendo contrato escrito entre os companheiros, é aplicado no
que couber o regime de comunhão parcial de bens, logo, na meação não se exige
prova de esforço na aquisição de bens, basta apenas existir a união estável para que
a meação seja devida, assim, é de grande importância analisar os direitos sucessórios
na união estável no atual Código Civil, a fim de delimitar em que medida esse
tratamento desigual se torna inconstitucional.

4.6 A INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL

Ao analisar o dispositivo 1.790, do Código Civil, é evidente o tratamento


discriminatório e injustificado conferido ao instituto da união estável.
Como explica Carlos Roberto Gonçalves:
35

“A nova disciplina dos direitos sucessórios dos companheiros é


considerada pela doutrina um evidente retrocesso no sistema protetivo da
união estável, pois no regime da Lei n. 8.971/94 o companheiro recebia toda
a herança na falta de descendentes ou ascendentes. No sistema do aludido
art. 1.790, todavia, só receberá a totalidade dos bens adquiridos
onerosamente na vigência da união estável, se não houver nenhum parente,
descendente, ascendente ou colateral até quarto grau. Se houver, concorrerá
com eles, recebendo apena um terço da herança se concorrer com os
ascendentes e colaterais” (GONÇALVES, 2.013, p. 640)

É vedado retrocesso aos direitos sociais que é um dos princípios que rege o
Direito de Família, está correlacionado a outros princípios como o do Estado
Democrático de Direito, da dignidade da pessoa humana, da máxima efetividade das
normas constitucionais e da segurança jurídica. Tem como objetivo proibir que o
legislador reduza, suprima, diminua mesmo que parcialmente, o direito já
materializado no âmbito legislativo e positivado na sociedade.
Podemos destacar, a afronta ao referido princípio quando o novo diploma
suprimiu direitos que já havia sido alcançado previstos nas Leis 8.971/94 e 9.278/96
que eram mais benéficas ao companheiro.
Acontece a inconstitucionalidade ao tratar de forma diversa a sucessão legítima
do companheiro em relação ao cônjuge, sendo que a Constituição não permite
diferenciar famílias constituídas pelo casamento daquelas constituídas da união
estável, nos aspectos que são idênticas, que são vínculo de afeto, solidariedade e
respeito, tais vínculos norteadores da sucessão legítima
Desta forma o legislador suprimiu direitos que já havia sido alcançado em
relação aos direitos sucessórios, como por exemplo o direito real de habitação do
companheiro, que era previsto no artigo 7º da Lei 9.278/96.
A própria constituição assegurou direitos ao estabelecer a união estável quando
estabeleceu a união estável como entidade familiar, desta forma, não poderia
retroceder, e atingir princípios, pelo contrário, deveriam regulamentar e ampliar tais
direitos.
Diante da inconstitucionalidade do artigo, a sucessão aos que vivem em união
estável, deve acompanhar as mesmas regras daquelas estabelecidas aos cônjuges,
ou seja, com os mesmo direitos e as mesmas limitações, de modo que o companheiro
na concorrência com os descendentes tenha o direito de herdar nos bens particulares,
e não só nos que já tem meação.
36

Pelo princípio da isonomia, deve ser respeitar tanto a família constituída


formalmente, como aquelas que constituídas por simples fato, dando tratamento igual
tanto para os cônjuges como os companheiros.
Como explica Maria Berenice Dias:

“É preciso chamar o legislador à sua função, exigindo-lhe o cumprimento do


preceito constitucional de proceder e garantir a idêntica proteção dispensada pelo
Estado à entidade familiar, seja qual for a origem e a gênese de suas relações,
certamente fundadas no afeto vivenciado originalmente. Todo e qualquer tratamento
discriminatório levado a efeito pelo legislador ou pelo judiciário mostra-se
escancaradamente inconstitucional. Assim, a melhor solução é reconhecer a
inconstitucionalidade do artigo 1.790 do CC e, deste modo, permitir a continuidade da
lei pretérita” (DIAS, 2.013, p. 73)
O S.T.F em decisão nos recursos Extraordinários 64721 e 878694, rompeu o
paradigma que existia acerca do artigo, entendendo que este é incosntitucional,
inclusive em relações homoafetivas, o artigo que irá dispor sobre a sucessão será o
artigo 1.829, o mesmo que trata da sucessão legítima, sendo assim, o posicionamento
do Tribunal passificou o entendimento que para os fins de sucessão, os companheiros
são equiparados aos cônjuges.
Diante de todo o exposto, é evidente a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do
Código Civil, onde desrespeita princípios e restringe direitos já antes alcançados,
dando tratamento desigual entre o cônjuge e companheiros.

5. DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL

Embora a união estável não se confunda com o casamento, podemos dizer que
gera efeitos quase idênticos no que se refere as regras patrimoniais.
Como comenta Paulo Lôbo acerca da extinção da união estável:

“A união estável termina como se inicia, sem qualquer ato jurídico dos
companheiros ou decisão judicial. A causa é objetiva, fundada
exclusivamente na separação de fato. Portanto, dispensa-se a imputação ou
investigação da culpa. Não se dissolve qualquer ato jurídico, como no
casamento, mas a convivência more uxório.” (LOBÔ. Famílias, p. 163)
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Assim como no casamento, a união estável pode ser dissolvida de forma


amigável ou pode ser de forma litigiosa. A forma amigável pode ser determinada por
instrumento particular, onde os companheiros definem acerca de eventual prestação
de alimentos, guarda dos filhos, e demais respectivos direitos relacionados a
convivência como também sobre a partilha de bens, evitando-se assim uma
dissolução litigiosa.
Foi baseada em dezenas de acórdão, que foram proferidos entre 1.946 e 1.963,
a Súmula 380 nos traz o seguinte texto: Comprovada a existência de sociedade de
fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do
patrimônio adquirido pelo esforço comum.
Após varias decisões, passou-se a admitir a partilha dos bens mesmo se o
concubino ainda fosse casado, precisando apenas comprovar a sua separação de
fato.
Para que seja aplicada a Súmula, é preciso observar se houve o aumento do
patrimônio existente antes da união, pois não há que se fala em repartir os bens se
nada ganharam durante sua relação.
No tocante patrimonial da dissolução da união estável, o companheiro poderá
ter direito à alimentos, meação, sucessão hereditária e direitos previdenciários.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo trabalho exposto, vimos de uma forma breve a evolução


histórica da família para que fosse melhor compreendida a união estável, onde o
matrimônio era de grande importância para constituir uma família marcado pelo
modelo patriarcal onde o homem era o chefe da família, e acompanhamos a evolução
da sociedade perante a instituição da família, o que foi sendo acompanhado pelas leis
e jurisprudências, sendo o afeto principal elemento para formação da instituição.
A união estável veio ganhando espaço, e o que era visto como uma forma
irregular de relacionamento, está ganhando força, pelo fato de não haver formalidades
para se constitui-lo.
A Constituição de 1.988 deu um grande avanço quando regulamentou a União
Estável como entidade familiar, o legislador equiparou a união estável ao casamento,
garantindo proteção estatal para ambas as entidades.
O Código Civil de 2.002 ampliou a idéia constitucional, e resguardou um título
próprio para União Estável no campo Direito de Família.
Vimos a diferença do casamento, união estável e concubinato. O concubinato
há impedimentos, sendo assim, não podem contrair matrimônio e não caracteriza-se
a união estável não tendo os mesmo direitos e deveres da entidade.Na união estável,
os companheiros fazem a opção de conviverem sem formalidades onde o principal é
o afeto, para tanto precisam preencher alguns requisitos como, de forma pública,
duradoura, contínua, sem impedimentos matrimonias e com o objetivo de constituir
família. Verificamos que na instituição do casamento, o Estado interfere na relação,
ou seja, desde a habilitação até a celebração, podendo desta forma a união estável
poder ser convertida em casamento, desde que observados os requisitos
estabelecidos em lei.
A monografia, abordou os direitos e deveres dos companheiros que estão
amparados pelo Estado, concluímos que, os conviventes possuem além de deveres
de respeito e considerações mútuos, assistência moral e material recíproca, tem
direitos a guarda dos filhos; pensão alimentícia; ao direito de visita e partilha dos bens.
Os companheiros que não puderem suprir suas próprias necessidades poderão
ter direitos a alimentos. O atual Código Civil trata dos alimentos dos companheiros
juntamento com os dos cônjuges, sendo assim, podemos observar no decorrer da
matéria há um tratamento igualitário entre as duas entidades.
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O direito sucessório inserido pelo Código Civil de 2.002, ainda trás muitas
discussões doutrinárias acerca da da constitucionalidade do artigo 1.790, isso porque
o artigo restringe direitos, e dando tratamento diverso daquele que já havia sido
alcançados, neste sentido o S.T.F pacificou o entendimento do referido artigo, dando
aos companheiros tratamento igual aos cônjuges na sucessão.
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