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Paulo Cavalcante∗
Abstract: This works relates the principles of the Ancient Regime society to the process of
colonization that took place in Portuguese America to investigate the ethos of going astray,
that is, from the set of illicit and licit relations created to gather and embezzle tributes and
rights, in the case, the fifth. Was it “normal” to go astray or was it simply acceptable? Was it
acceptable for reasons based on custom and jurisprudence or, on the other hand, for
pragmatic reasons tied to the need to colonize saving means and to the incapacity to control
with rigor? What is the relationship between the venality of the trade and what we call
corruption today? Between the society of contemporary market, founded on impersonal
relations and the slave-oriented society of the Ancient Regime in Portuguese America,
founded on interpersonal relations, what are the risks concerning the broaching of going
astray as an object of investigation? In a word: between contemporary moral condemnation
and the historiographical comprehension of a social practice, what is the optimal point of
objectivization of the historiographical judgment?
Key words : Going Astray, Colonization, Ancient Regime.
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Professor Adjunto de História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
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De um jato, o jogo de palavras permite entrever algo mais, isto é, não se trata apenas
de palavras, trata-se de um jogo real, afinal ocupei-me de práticas sociais, mas perigoso, dado
o risco de cair no nada. Numa palavra: o pensamento que caminhou no estranho encontrou o
descaminho, que é a anulação do caminho, e deixou a si próprio – pensamento – à deriva. Eis
o risco a correr para evitar que o pensamento se instale comodamente no óbvio.
Bom exemplo dessa matriz coeva que informa o pensamento contemporâneo instalado
no óbvio é o relato de Pedro Leolino Mariz, feito na Bahia, para Martinho de Mendonça de
Pina e Proença, em 17 de julho de 1734.
Desordem e colônia; será que a associação entre essas duas palavras não necessita de
alguma explicação prévia? Desde logo antecipo o ponto principal: a associação entre
desordem e colônia não é direta nem simples. Quem pensa assim é o senso comum. Ele diz:
“a colônia é o território da desordem”. E disso resulta uma visão negativa do ambiente
colonial. Negativa e, em certo sentido, a-histórica, pois não leva em conta o processo de
formação da sociedade colonial. E levar em conta o processo não quer dizer responsabilizar
alguém nem muito menos encontrar um culpado para a desordem – essa é a cilada em que cai
o historiador bastante “recortado” pelo estado-nação. Para ele, o culpado de plantão é o
colonizador, em nosso caso, o português ou genericamente o europeu. Não se trata disso.
Trata-se de levar em conta o movimento diferenciado e incessantemente transformador da
realidade social conforme o tempo. Não lidamos com coisas estáticas, lidamos com processos
e relações sociais.
Em face disso, a associação entre desordem e colônia, penso, deve ser mediada pela
palavra dimensão, e no plural: “as dimensões da desordem em colônias”. A desordem possui
sentidos e extensões variados que se configuram e se reconfiguram diferenciadamente. A
palavra dimensão sugere o movimento. Mas sugere mais. Sugere a relevância. Ela sugere que
a desordem é um aspecto significativo da realidade. Mas, vamos cuidar de não cair em outra
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cilada. Não estou dizendo que tudo é desordem. Digo que ela existe, que merece estudo
elaborado, numa palavra, que merece ser dialeticamente trabalhada.
Georges Balandier em seu livro O Poder em Cena nos formula com sutileza e engenho
a chave para tratar o tema da desordem. Ele abre o capítulo O Inverso dessa maneira:
A imagem da moeda é boa e má. Má, porque é uma coisa. Boa, porque sugere a
unidade entre verso e anverso. Verso e anverso são diferentes, transmitem mensagens
diferentes, se complementam, podem se reforçar mutuamente, mas também se contradizem.
Constituem uma totalidade contraditória.
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