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Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, v. 36, n.

1, 1311 (2014)
www.sbfisica.org.br

Modelo clássico para resfriamento atômico:


Uma forma pedagógica de entender o problema
(Classical model for laser cooling: a pedagogical way of understanding the problem)

N.D. Gomes1 , M.A. Caracanhas, V.S. Bagnato


Instituto de Fı́sica de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, SP Brasil
Recebido em 16/4/2013; Aceito em 27/5/2013; Publicado em 6/2/2014

Neste trabalho desenvolvemos um modelo clássico para descrever o processo de resfriamento atômico devido
à interação de um átomo com uma configuração de feixes de luz laser. Derivamos uma expressão para a força
de radiação sobre o átomo com a descrição detalhada da origem de cada um dos termos envolvidos. Por fim
construı́mos um paralelo entre o aspecto clássico e as particularidades da natureza quântica da interação radiação
matéria.
Palavras-chave: átomos, laser, resfriamento, radiação, fı́sica clássica.

In this work we develop a classical model to describe the laser cooling process due to the interaction between
an atom and a configuration of laser beams. We derive an expression for the radiation force exerted on the
atom, detailing the origin of each term involved. Lastly, we built a parallel between the classical model and the
peculiarities of the quantum nature of the interaction radiation-matter.
Keywords: atoms, laser, cooling, radiation, classical physics.

1. Introdução jam homogeneamente distribuı́das e no interior da qual


as cargas negativas podem mover-se (modelo de J.J.
O resfriamento de átomos utilizando luz é um tópico Thomson do átomo). Limitamos o nosso modelo à des-
moderno que tem conseguido avançar em diversas crição do átomo com apenas um elétron (elétron de
direções, abrangendo campos diversos da fı́sica. É valência do átomo) de massa m (m << M ). O elétron
comum alunos dos cursos de graduação lerem arti- está submetido ao campo das cargas positivas.
gos ou participarem de seminários sobre este tema. Seja R o raio da esfera atômica e r a posição do
No entanto, o entendimento de aspectos básicos do elétron em relação ao centro da esfera. Usando a lei
tema exige conhecimento de mecânica quântica, fi- de Gauss e considerando o átomo como uma esfera de
cando seu entendimento restrito àqueles alunos que já várias camadas, observamos que as camadas que pos-
tem domı́nio nesta área. Neste trabalho, apresenta- suem um raio maior que o raio r do elétron não exer-
mos de uma forma pedagógica o cálculo da pressão cerão nenhuma força sobre este, enquanto que as cama-
de radiação usando apenas a mecânica e o eletro- das internas ao raio r geram uma força total equivalente
magnetismo clássicos. Vamos também deduzir aspec- àquela que seria gerada caso toda a carga positiva que se
tos básicos do resfriamento de átomos com laser uti- encontra nessas camadas se concentrasse no seu centro.
lizando essas relações, além de obter expressões qua- Calculando a força resultante sobre o elétron obtemos
litativamente similares às expressões do tratamento
quântico do fenômeno da interação radiação-matéria, e2
F(r) = − r. (1)
realizando um paralelo entre esses dois resultados, a fim 4πε0 R3
de introduzir alguns dos conceitos básicos de mecânica
Podemos notar que é uma força restauradora do tipo
quântica.
F = −kr, o que significa que o elétron apresentará um
movimento harmônico. Mas sabemos que uma carga
2. Modelo clássico da força de radiação acelerada emite radiação, o que fará com que a ener-
gia do elétron não seja constante como no movimento
Consideraremos o átomo clássico como uma esfera de harmônico, mas apresente uma queda caracterı́stica de
massa M na qual as cargas positivas (prótons) este- um movimento harmônico amortecido. Se submetermos
1 E-mail: naomyduarteg@gmail.com.

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o elétron a um feixe de laser (campo eletromagnético), Pelas equações de Maxwell temos a relação entre os
sua equação de movimento será da forma campos magnético e elétrico

mẍ + mγ ẋ + mω02 x = −eE cos ωt, (2) E cos ωt


B= ŷ. (11)
onde o termo do lado esquerdo da equação repre- c
senta a força exercida pelo campo eletromagnético, cuja Substituindo a derivada da Eq. (9) e o valor do campo
frequência de oscilação é ω; ω0 representa a frequência magnético (Eq. (11)) na Eq. (10) teremos
própria de movimento do elétron e γ é o coeficiente de
dissipação dado por [1] −e2 E 2 ω cos(ωt) sin(ωt + φ)
Fmag = √ ẑ. (12)
2e2 ω02 mc (ω02 − ω 2 )2 + (γω)2
γ= . (3)
3mc3
Se tomarmos a média temporal ao longo de um perı́odo
A solução para a Eq. (2) será a parte real da solução de oscilação da radiação, teremos que a força magnética
complexa w(t) média agindo sobre o elétron será
−eE exp iωt
ẅ + γ ẇ + ω02 w = . (4) −e2 E 2 ω sin φ
m < Fmag >= √ ẑ
2mc (ω02 − ω 2 )2 + (γω)2
Supondo uma solução cuja frequência seja a mesma da
força, teremos
−e2 E 2 ω 2 γ
w = A exp i(ωt + φ). (5) = ẑ, (13)
2mc[(ω02 − ω 2 )2 + (γω)2 ]
Substituindo a Eq. (5) e suas derivadas na Eq. (4) onde
encontramos a solução para w γω
sin φ = √ 2 . (14)
−eE exp i(ωt + φ) (ω0 − ω 2 )2 + (γω)2
w = A exp i(ωt + φ) = . (6)
m(ω02 − ω 2 + iγω) Considerando que o elétron está fortemente aco-
Podemos agora determinar a amplitude A e a fase φ plado ao núcleo, a força magnética média não nula
usando as propriedades dos números complexos agindo sobre ele será transmitida ao átomo, que adi-
quirirá uma velocidade na direção do vetor de onda k
√ −eE
A= |w|2 = √ , (7) da radiação (direção z no nosso problema em particu-
m (ω0 − ω 2 )2 + (γω)2
2
lar). A velocidade adquirida pelo átomo acaba gerando
um deslocamento Doppler na frequência do laser por
Im[w] γω ele percebida. Assim, esta frequência será alterada para
φ = arctan = arctan 2 . (8)
Re[w] ω0 − ω 2 um valor ω ′ = ω(1−v/c) para um átomo que se move na
Com isso chegamos à solução da equação do movimento, direção de propagação da luz. Considerando essa nova
ou seja, x(t) = Re[w(t)] frequência ω ′ , o módulo da força média agindo sobre o
átomo será
−eE cos(ωt + φ)
x(t) = √ . (9)
m (ω02 − ω 2 )2 + (γω)2 e2 E 2 ω ′2 γ
< F >=
2mc[(ω02 − ω ′2 )2 + (γω ′ )2 ]
Lembrando que o elétron se move devido à força ge-
rada pelo campo eletromagnético, a velocidade que ele
adquire sendo acelerado pelo campo elétrico faz com e2 E 2 ω ′2 γ
= . (15)
que o campo magnético também passe a exercer uma 2mc[(ω ′ + ω0 )2 (ω ′ − ω0 )2 ]2 + (γω ′ )2 ]
força sobre ele. Segundo a força de Lorentz,
Substituindo o valor de ω ′ em função de ω na
Fmag = −eẋ(t) × B. (10) Eq. (15), obtemos

e2 E 2 γ[ω(1 − vc )]2
< F >= v 2 . (16)
2mc[(ω − ω0 − ωv 2
c ) (ω+ ω0 − ωvc ) + (γω(1 − c )) ]
2


Modelo clássico para resfriamento atômico: Uma forma pedagógica de entender o problema 1311-3

Adotando a frequência do laser ressonante com o para o seu elétron de valência, o fundamental e o exci-
átomo, isto é, ω ∼ ω0 e considerando que vc ≪ 1, a tado. A frequência de transição entre o estado funda-
Eq. (16) se reduz a mental e o excitado será dada pelo espaçamento entre
os nı́veis de energia, segundo a relação ω0 = E2 −E
~
1
. O
e2 E 2 γω 2 tempo de vida do elétron no estado excitado será dado
< F >=
2mc[(∆ − ωv 2 2 2
c ) (2ω) + (γω) ] por Γ−1 , onde Γ é a taxa com que a população do estado
excitado do átomo decai para o estado fundamental.
e2 E 2 γ Aplicamos sobre o átomo um laser, que será descrito
= , (17)
2mc 4(∆ − ωv 2
c ) +γ
2
por um campo eletromagnético clássico, cuja frequência
onde ∆ = ω − ω0 . ω apresenta uma dessintonia ∆ (= ω − ω0 ) [2] em
relação à frequência de ressonância ω0 do átomo. Con-
sideraremos também um parâmetro de saturação s
2
(= 2Ω Γ2 ), termo relacionado ao número de fótons absor-
3. O melaço óptico vidos e emitidos pelo processo de emissão espontânea.
Considerando agora um átomo em uma configuração O parâmetro de saturação limita a taxa com que a ener-
com dois feixes de laser contrapropagantes (Fig. 1), gia do laser pode ser absorvida, evitando que haja sa-
a força média total agindo no átomo será dada por turação dos estados excitados.
F = F+ + F− , com Levando em conta o efeito Doppler, um átomo se
movendo na mesma direção de propagação da luz verá
e2 E 2 γ uma variação na frequência do laser dada por k.v, onde
F± = ± , (18) k e v são os valores absolutos do vetor de onda e da ve-
2mc 4(∆ ∓ c ) + γ 2
ωv 2
locidade do átomo, respectivamente. Assim, podemos
onde o sinal superior refere-se à força no sentido po- substituir ∆ por ∆ − k.v.
sitivo do eixo z, e o sinal inferior, à força no sentido A força exercida no átomo é devida à absorção de
negativo do eixo z. Teremos então fótons de momento p = ~k. Os fótons emitidos não
e2 E 2 γ e2 E 2 γ contribuem para a média desta força, uma vez que a
F = − . emissão espontânea tem uma distribuição isotrópica.
2mc 4(∆ − c ) + γ
ωv 2 2 2mc 4(∆ + ωv 2
c ) +γ
2
Não trataremos aqui da força induzida, pois ela ocorre
(19)
quando há saturação dos estados excitados do átomo.
Para velocidades atômicas pequenas, vc ≪ 1, podemos
Considerando uma onda plana para a radiação, a
expandir os denominadores na Eq. (19), o que resultará
força agindo sobre o átomo será [3, 4]
na expressão

8e2 E 2 ∆ω 1 ΓΩ2 ~k
F= v. (20) F= , (22)
2 3
mc γ (1 + 4∆ 2
2 4(∆ − k.v)2 + Γ2 + 2Ω2
γ2 )

Por esta equação, podemos notar que a força depende onde Ω = µE(r,t)~ é a frequência de Rabi, que caracte-
linearmente da velocidade e que, para ∆ < 0, ela é do riza o acoplamento do átomo com a radiação, isto é, a
tipo viscosa, ou seja, F = −αc v, onde possibilidade ou não da excitação do elétron do átomo
ou da absorção do fóton da radiação; k é o vetor de
8e2 E 2 ∆ω 1 onda e v é a velocidade do átomo. Se introduzirmos
αc = − 2 3 2 (21)
mc γ (1 + 4∆
γ2 )
2 agora mais um feixe de laser contrapropagante ao pri-
meiro e considerarmos o regime de baixas velocidades
é coeficiente de amortecimento para o átomo clássico. iniciais do átomo, em termos do parâmetro de saturação
s teremos a força resultante sobre o átomo

8~k 2 s∆
F= 2 v. (23)
Γ(1 + s + 4∆Γ2 )
2

Figura 1 - Melaço óptico em uma configuração com dois feixes de Podemos ver que, para ∆ < 0, a força é sempre
laser contrapropagantes de frequência ω menor que a frequência
de ressonância ω0 do átomo.
contrária ao movimento do átomo e cresce linearmente
com sua velocidade. Temos novamente uma força vis-
cosa da forma F = −αq v, onde
4. Breve descrição do modelo semiclás-
sico 8~k 2 s∆
αq = − 2 (24)
Γ(1 + s + 4∆Γ2 )
2
No tratamento semiclássico consideraremos um
átomo quântico com dois nı́veis de energia possı́veis é o coeficiente de amortecimento para o átomo quântico.
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5. Estimativa numérica No caso clássico consideramos o átomo com ape-


nas uma carga elétrica livre acelerada por um campo
Na seção 2 do presente trabalho apresentamos o mo- eletromagnético, obtendo um modelo massa-mola para
delo clássico do aprisionamento atômico, chegando a o elétron. Este elétron acelerado emite radiação e in-
uma expressão de uma força do tipo viscosa agindo so- troduz na expressão da força um fator de dissipação
bre o átomo, cujo fator de proporcionalidade com a análogo à taxa de decaimento devido à emissão es-
velocidade ficou expresso pela Eq. (21). pontânea no caso semiclássico, onde consideramos o
Para estimar o valor numérico de αc , escolhemos os átomo como um sistema quântico de dois nı́veis. Ainda
parâmetros que maximizam a força dissipativa. Dessa no caso clássico, a força que atua sobre o átomo advém
forma relacionamos a dessintonia com o coeficiente de da componente magnética da força de Lorentz. Por
dissipação γ, que é calculado utilizando-se a Eq. (3), outro lado, no tratamento semiclássico, tı́nhamos essa
de modo que o valor de ∆ maximize a força dissipa- mesma força resultante na direção de propagação do
tiva, ou seja, maximize o próprio αc , o que ocorre feixe, mas devida à transferência de momento que
para ∆ = −γ/2. Mas γ por sua vez depende da ocorre entre o átomo e os fótons por ele absorvidos.
frequência própria ω0 do movimento do elétron. De Tais fótons possuem uma frequência ressonante com a
acordo com a força restauradora dada pela Eq. (1), separação dos nı́veis de energia do átomo, que os ab-
sendo a relação
√entre ω0 e a nossa constante elástica k sorve adquirindo um momento p = ~k. A energia cor-
ω02 respondente permite que o átomo passe a um estado
dada por k = m, obtemos a frequência caracterı́stica
excitado e posteriormente decaia emitindo fótons em
√ direções aleatórias, resultando assim em um movimento
e2 na direção e sentido do vetor de onda da radiação.
ω0 = . (25)
4πϵ0 mR3 Considerando o átomo submetido a dois feixes de
laser contrapropagantes, em ambos os modelos chega-
Agora vamos estimar o valor numérico de ω0 le- mos a uma força viscosa, cujos coeficientes foram αc
vando em conta o tamanho efetivo da nuvem eletrônica e αq , respectivamente para os tratamentos clássico e
do elétron de valência de um átomo de sódio, isto quântico. Comparando as expressões dos coeficientes,
é, o volume correspondente ao seu orbital s. Para vemos que a diferença entre eles está no parâmetro de
esse caso em particular, devemos considerar também saturação que aparece em αq e que tem natureza total-
a blindagem da carga nuclear devido à presença do de- mente quântica, pois depende da frequência de Rabi,
mais elétrons preenchendo as camadas internas ao or- a qual caracteriza o acoplamento entre o sistema ra-
bital de valência. Encontramos então o seguinte va- diação-matéria, além da taxa de decaimento Γ, associ-
lor: αc = −2.505663772 × 10−27 kg/s, considerando ada ao tempo de vida do estado quântico excitado.
no nosso cálculo o raio do núcleo do sódio dado por
Rnucleo = 3.554833725 × 10−15 m.
Já na seção 4 do presente trabalho apresentamos o 7. Conclusão
modelo semiclássico do aprisionamento atômico, che-
Nesse trabalho construı́mos um modelo clássico para
gando a uma expressão para a força que age sobre o
descrição do processo de resfriamento atômico. A in-
átomo dada pela Eq. (23). Conforme sugerido por esta
trodução da expressão quântica da força de radiação,
expressão, definimos um fator αq dado pela Eq. (24),
seguida da descrição detalhada dos termos que apare-
analogamente ao fator αc do nosso caso clássico. Rea-
cem na expressão da força nos dois modelos, clássico e
lizamos o cálculo numérico de αq para o caso do átomo
quântico, nos permitiu fazer uma abordagem didática
de sódio (λ = 589 nm), utilizando os seguintes valores
das particularidades da fı́sica quântica comparando-a
de máxima força de amortecimento [5]: parâmetro de
com a clássica.
saturação s = 1; ∆ = Γ2 ; k = 2π
λ . Com tais valores, che- Apesar do acordo qualitativo entre os resultados dos
gamos em αq = −5.333627714 × 10−21 kg/s, que está
dois modelos (clássico e quântico), dado pela mesma
de acordo com os valores previstos na literatura [5].
forma funcional para a força da radiação sobre o átomo,
não esperamos ser capazes de obter também uma con-
6. Analogias com o modelo quântico cordância quantitativa entre eles, e isso pode ser visto
pela diferença, principalmente no que se refere ao valor
Apesar da expressão funcional da força da radiação numérico, entre os parâmetros αc e αq .
ser bastante similar nos dois casos tratados (Eqs. (20)
e (23)), clássico e semiclássico, a fı́sica empregada na
sua derivação foi bastante distinta. A seguir detalhare- Referências
mos alguns dos pontos essenciais da derivação da força
em cada um dos tratamentos, contrastando melhor as [1] Roberto da Silva e Humberto M. França, Revista Bra-
particularidades de cada modelo, isto é, a fı́sica clássica sileira do Ensino de Fı́sica 24, 23 (2002).
e a quântica. [2] P.D. Lett, W.D. Phillips, S.L. Rolston, C.E. Tanner,
Modelo clássico para resfriamento atômico: Uma forma pedagógica de entender o problema 1311-5

R.N. Watts and C.I. Westbrook, J. Opt. Soc. Am. B 6, Rev. Mod. Phys. 71, 1 (1999).
2084 (1989).
[5] P.D. Lett, W.D. Phillips, S.L. Rolston, C.E. Tanner,
[3] R.J. Cook, Phys. Rev. A 20, 224 (1979). R.N. Watts and C.I. Westbrook, J. Opt. Soc. Am. B 6,
[4] J. Weiner, V.S. Bagnato, S. Zilio and Paul S. Julienne, 2085 (1989).

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