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Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, v. 36, n.

1, 1301 (2014)
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Artigos Gerais

Análise newtoniana de um sistema mecânico com uma força dependente


da velocidade e a existência de condições para a conservação de energia
(Newtonian analysis of a mechanical system subjected to a velocity dependent force and the existence
of conditions to energy conservation)

R.V. Sampaio1 , R. Fracalossi2 , A.M. Oliveira3


1
Grupo de Fı́sica Aplicada, Departamento de Fı́sica, Universidade Federal do Espı́rito Santo, Vitória, ES, Brasil
2
Faculdades Integradas de Aracruz, Aracruz, ES Brasil
3
Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências da Natureza, Guarapari, ES, Brasil
Recebido em 10/1/2013; Aceito em 19/7/2013; Publicado em 6/2/2014

Um sistema mecânico com forças dependentes da velocidade é estudado. Mostra-se que, sob escolhas muito
particulares para os termos da força resultante em cada direção, é possı́vel obter o resultado de que a energia
total do sistema se conserva, podendo ainda ser dividida em três parcelas, associadas a cada direção, e que
também se comportam como uma lei de conservação para a energia individualmente.
Palavras-chave: conservação de energia, forças dependentes da velocidade, mecânica newtoniana.

A mechanical system with a velocity-dependent force is analyzed. It is shown that with very particular choi-
ces for the resulting force terms it is possible to obtain the result that the total energy of the system is conserved
and that it can be divided into three groups, associated with each direction, that hold as individual conservation
laws.
Keywords: energy conservation, velocity-dependent forces, newtonian mechanics.

1. Introdução de radiação por parte do misterioso corpo celeste. Exis-


tem outros exemplos semelhantes em que, de maneira
Desde o advento da fı́sica moderna, problemas em geral, a mecânica newtoniana fornece excelentes resul-
mecânica clássica têm perdido parte de seu prestı́gio de- tados em diversos segmentos da astrofı́sica e cosmolo-
vido ao fato de se tratarem de situações que, se não ple- gia, desde a teoria de formação de estruturas até mo-
namente discutidas, ao menos já possuem seus possı́veis delos de matéria e energia escuras, tais como a teoria
comportamentos bem estabelecidos. Desta forma, cria- MOND [2, 3] que, propondo uma modificação na teoria
se uma tendência em muitas partes da fı́sica de não newtoniana, é capaz de resolver o problema da curva
mais se preocupar com novos problemas em mecânica de rotação das galáxias espirais sem ter que recorer ao
newtoniana mas de buscar entender novos sistemas cu- artifı́cio da matéria escura. Portanto, mesmo sem o
jas ferramentas matemáticas e teorias fı́sicas sejam mais status de uma teoria fundamental, o qual já possuiu, a
sofisticadas. Entretanto, a relativamente recente abor- mecânica newtoniana conserva ainda grandes e interes-
dagem de problemas fı́sicos a partir de sistemas ditos santes aplicações em cenários puramente teóricos e liga-
“análogos” têm revelado que problemas complexos po- dos a fı́sica contemporânea de ponta, além de todas as
dem eventualmente ser tratados a partir de um trata- incontáveis aplicacões técnicas que estão intimamente
mento mais simples que aqueles impostos pela relati- ligadas ao nosso dia-a-dia.
vidade geral ou pela mecânica quântica. Um exemplo, O grau de acuidade de uma teoria fı́sica é medido
em outro contexto, pode ser visto no estudo de buracos sob seu teste em determinado experimento. Este for-
negros acústicos [1], o que constitui a análise de certas nece três caminhos: ou a teoria não descreve e nem se
propriedades desta entidade astrofı́sica utilizando ferra- adapta ao modelo proposto, ou ela precisa ser modifi-
mentas de matéria condensada usual, isto é, a fı́sica de cada com a inserção de novos e, em geral, mais comple-
buracos negros é tratada a partir das caracterı́sticas hi- xos termos em suas equações, o que leva a considerações
drodinâmicas de um fluido, permitindo determinar com menos idealizadas tais como termos de viscosidade, aco-
isso a formação dos horizontes de eventos e a emissão plamentos entre coordenadas, dentre diversos outros,
3 E-mail: adriano.oliveira@ifes.edu.br.

Copyright by the Sociedade Brasileira de Fı́sica. Printed in Brazil.


1301-2 Sampaio et al.

ou ainda a teoria é plenamente satisfatória e descreve Escolheu-se aqui utilizar coordenadas esféricas para
com precisão o sistema ao qual se propõe, algo que de- tratar um caso particular onde o termo que depende
pende em muito do quão próximo à realidade deseja-se explicitamente da velocidade está contido apenas em
descrever um determinado modelo. Tendo o segundo uma componente da força, na direção de ϕ̂. Ou seja,
destes caminhos em mente, propomos neste trabalho, as outra duas componentes r̂ e θ̂ não dependerão da
seguindo uma abordagem newtoniana, o estudo de um velocidade. Em geral para que um sistema com três ou
sistema clássico com alto grau de acoplamento entre dois dimensões seja dissipativo basta que apenas uma
as coordenadas e forte dependência com as velocida- das componentes da força seja dependente da veloci-
des em algumas direções. Em geral forças dependentes dade, ou seja, mesmo que as outras componentes da
da velocidade têm seu caráter atribuı́do à sistemas que força NÃO sejam dependentes da velocidade o sistema
dissipam ou ganham (menos comum) energia. Contudo como um todo é não-conservativo. Pretende-se mostrar
pode-se observar que em corridas de automóveis, por que mesmo com essa dependência especı́fica da força o
exemplo, quando um carro entra no chamado vácuo do sistema poderá ser conservativo, o que contraria o caso
carro imediatamente a frente, a diferença de pressão geral, pois era de se esperar, a priori, que o sistema
entre a traseira do carro perseguidor e sua dianteira, como um todo fosse não-conservativo.
o impulsiona para frente, o que caracteriza um ganho Em grande parte dos casos, considera-se que a força
de energia. Esse fato está diretamente relacionado com não depende da velocidade, pelos motivos discutidos
a economia de combustı́vel do carro perseguidor. Ou- no parágrafo anterior e ainda porque, em muitos ca-
tro exemplo de ganho ou dissipação de energia, com sos, inviabiliza um estudo analı́tico ou uma descrição
forças dependentes da velocidade, pode ser obtido em completa do sistema a ser estudado. Isso ocorre pois, a
sistemas envolvendo o oscilador harmônico (com termos inclusão de tais termos, causam um aumento na com-
que o fazem ganhar ou perder energia) cuja expressão plexidade matemática e, além disso, podem inviabili-
é dada por zar, por exemplo, obtenção das soluções explı́citas e
ẍ ± γ ẋ + ω02 x = 0. (1) não-numéricas para as equações de movimento e, ainda,
A variação da energia com o tempo é dificulta (ou impossibilita) o entendimento do papel de
determinada força no sistema. Uma proposta de forma
dE ( ) para a força resultante sobre um sistema curiosa, por
= mẋẍ + mω02 xẋ = mẋ ẋ + ω02 x = ∓mγ ẋ2 , (2)
dt depender da velocidade e resultar em uma conservação
que é positivo ou negativo. Quando positivo tem-se de energia, é dada por (lembrando que ϕ̇ = dϕ dρ
dt e ρ̇ = dt )
uma solução correspondente ao exemplo do carro per- [ ] [ ]
fr (ρ) fθ (ρ)
seguidor acima mencionado. Entretanto, existem siste- FR = + gr r̂ + + gθ θ̂ +
mas [4] que, mesmo contendo dependências deste tipo sin θ cos θ
[ ]
em suas forças associadas, tem ainda assim sua energia η ϕ̇ γ d
conservada, o que é um resultado curioso. Tal fato se (ρ) ϕ̂ , (4)
2 r2 sin2 θ dt
repete neste trabalho com um conjunto de forças ainda
mais complexas. O aparente excesso de parâmetros sendo ρ = r sin θ a componente radial em coordenadas
ajustáveis na segunda lei de Newton associada ao mo- cilı́ndricas. Essa forma foi escolhida pois é um modelo
delo visa, ao contrário do que sugere, estabelecer da muito particular onde a força depende da velocidade e
maneira menos restritiva possı́vel as situações em que − dependendo da escolha das funções: gr , gθ , fr e fθ
comportamentos conservativos são encontrados. Além − possibilita a obtenção de uma solução não numérica
disso, observa-se que a conservação da energia, neste para as equações diferenciais que resultam na equação
caso, pode ocorrer eixo a eixo, isto é, associando a cada de movimento para a partı́cula submetida a tal força.
força que participa do sistema o eixo no qual se encontra As funções gr , gθ , fr e fθ são as forças que definirão as
decomposta, é possı́vel verificar que, mesmo individu- caracterı́sticas dinâmicas do sistema fı́sico o qual trata-
almente, a energia se conserva. Estes resultados serão remos neste trabalho; duas são conservativas (fr e fθ ) e
apresentados na seção seguinte e as considerações finais duas não conservativas (gr e gθ ). O potencial resultante
serão tratadas nas conclusões. da força dada pela Eq. (4) poderia ser empregada em
estudos das trajetórias de sistemas fı́sicos sobre a in-
2. Forças e energias fluência de potenciais gravitacionais newtonianos ou de
Manev.
Em coordenadas esféricas a força resultante atuando so- Note que o termo da componente ϕ̂, na Eq. (4),
bre um sistema tem sua forma geral descrita por uma é quem carrega a dependência da velocidade1 nessa
relação do tipo direção, que é exatamente a mesma utilizada no traba-
lho em duas dimensões [4], mas com ρ = r sin θ. Ainda
FR = Fr (r, θ, ϕ, ṙ, θ̇, ϕ̇) + Fθ (r, θ, ϕ, ṙ, θ̇, ϕ̇) + assim será obtida uma conservação de energia no sis-
Fϕ (r, θ, ϕ, ṙ, θ̇, ϕ̇). (3) tema. Além disso, dividimos as forças nas direções r̂ e θ̂
1 De acordo com os livros didáticos, para que a energia se conserve essa força deve ser nula. Ver maiores detalhes nas Refs. [5, 6].
Análise newtoniana de um sistema mecânico com uma força dependente da velocidade... 1301-3

com suas contribuições conservativa e não-conservativa, não deve depender de p como de fato ocorre. Desse
fi e gi respectivamente, sendo o ı́ndice i igual a r ou modo, temos
θ, serão definidas posteriormente possibilitando a ge- [ ( )p ] [ ]
neralização das forças. As constantes η e γ garantem d r4 sin4 θϕ̇2 d 1
log 2 = pηγ .
a dimensão de força da contribuição associada a coor- dt r4 sin4 θ0 ϕ˙0 dt 2µr2 sin2 θ
0
denada ϕ̂. O trabalho [4] tratou de um problema se-
Acima, r0 , θ0 e ϕ̇0 são constantes de integração. In-
melhante em que a força na direção ϕ̂ era exatamente
tegrando novamente e isolando a velocidade angular ϕ̇,
a mesma que a proposta acima, substituindo-se ρ por
obtemos
r sin θ. Aqui porém o grau de complexidade é aumen- ( ) ( )
tado devido a presença de mais uma força ortogonal. 2 k 2 ϕ̇20 r04 sin4 θ0 ηγ
ϕ̇ = exp , (12)
Vale relembrar as relações entre os versores em coorde- r4 sin4 θ 2µr2 sin2 θ
nadas esféricas e seus correspondentes cartesianos. As-
onde k 2 é uma nova constante de integração. O desapa-
sim,
recimento de p deve-se à propriedade de log, a log b =
r̂ = sin θ cos ϕî + sin θ sin ϕĵ + cos θk̂, (5) log ba . Talvez o comportamento da matéria que compõe
os anéis de Saturno, por exemplo, devido às perdas e
θ̂ = cos θ cos ϕî + cos θ sin ϕĵ − sin θk̂, (6) ganhos da velocidade angular (causada pelas sucessivas
ϕ̂ = − sin ϕî + cos ϕĵ. (7) colisões entre as partı́culas que o compõe) poderiam
corresponder a esse comportamento.
e da posição r = rr̂, obtem-se a velocidade e a ace- O passo seguinte consiste em aplicar a segunda lei
leração sendo dadas por de Newton à força atuante na direção de θ̂. Com isso,
( )
v = ṙr̂ + rθ̇θ̂ + r sin θϕ̇ϕ̂, (8) Fθ = µaθ = µ rθ̈ + 2ṙθ̇ − r sin θ cos θϕ̇2 . (13)
( )
a = r̂ r̈ − rϕ̇2 − r sin2 θϕ̇2 + Substituindo a Eq. (12) na Eq. (13), encontramos
( ) [ ( )
θ̂ rθ̈ + 2ṙθ̇ − r sin θ cos θϕ̇2 + k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20
Fθ = µ rθ̈ + 2ṙθ̇ − cosθ ×
( ) r3 sin3 θ
ϕ̂ r sin θϕ̈ + 2 sin θṙϕ̇ + 2r cos θθ̇ϕ̇ . (9) ( )]
ηγ
exp . (14)
Ao aplicarmos a segunda lei de Newton a compo- 2µr2 sin2 θ
nente ϕ̂ da força, Com a aplicação da segunda lei de Newton na com-
( ) ponente r temos
Fϕ = µ r sin θϕ̈ + 2 sin θṙϕ̇ + 2r cos θθ̇ϕ̇ , [ ]
Fr = µar = µ r̈ − rθ̇ − r sin2 θϕ̇2 .
e multiplicá-lo por 2r3 sin3 θϕ̇, Utilizando novamente a Eq. (12) temos
[ ( )
2r3 sin3 θϕ̇Fϕ k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20
= 2r3 × Fr = µ r̈ − rθ̇ − ×
µ r3 sin2 θ
( ) ( )]
sin3 θϕ̇ r sin θϕ̈ + 2 sin θṙϕ̇ + 2r cos θθ̇ϕ̇ .(10) ηγ
exp . (15)
2µr2 sin2 θ
Note
[ que o ]lado direito da Eq. (10) é igual a Combinando as Eqs. (14) e (15), de forma a obter
d 4 4 2
dt r sin θ ϕ̇ , então Fr sin θ + Fθ cos θ, teremos
[
( ) ( )
d [ 4 4 2 ] 2r3 sin3 θϕ̇Fϕ µ sin θ r̈ − rθ̇ + cos θ rθ̈ + 2ṙθ̇ −
r sin θϕ̇ = , (11)
dt µ ( ) ( )]
( 2 2
) k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 ηγ
onde µ é a massa do corpo em estudo ou a massa sin θ + cos θ exp =
reduzida, localizada no centro de massa, de um sis- r3 sin3 θ 2µr2 sin2 θ
tema constituı́do por dois ou mais componentes mas- Fr sin θ + Fθ cos θ.
sivos. Substituindo a força Fϕ na equação acima ( )
[ ]p−1 d2
Visto que dt 2 (r sin θ) = sin θ r̈ − rθ̇ +
e multiplicando-a por p r4 sin4 θϕ̇2 , sendo p um ( )
cos θ rθ̈ + 2ṙθ̇ e sin2 θ + cos2 θ = 1 então,
número arbitrário diferente da unidade. A inclusão do
número p é apenas para ampliar as possibilidades de es- [ ( ) ( )]
d2 k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 ηγ
colha dos termos polinomiais que podem ser utilizados µ (r sin θ) − exp =
para multiplicar a equação em questão. Tal escolha não dt2 r3 sin3 θ 2µr2 sin2 θ
deve influenciar o resultado final, ou seja, o resultado Fr sin θ + Fθ cos θ.
1301-4 Sampaio et al.

Já que ρ = r sin θ então pode-se escrever a expressão Da condição (17), ou seja,
acima em termos de ρ. Para isso vamos multiplica-la
por ρ̇ e substituir as componente das forças dadas pela sin θ
gθ = − gr , (22)
Eq. (4), assim cos θ
[ ( ) ( )]
k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 ηγ temos
µ ρ̇ρ̈ − ρ̇ exp =
ρ3 2µρ2 gr
µz̈ = fr (ρ) cot θ − fθ (ρ) tan θ + , (23)
ρ̇fr (ρ) + ρ̇fθ (ρ) + ρ̇gr sin θ + ρ̇gθ cos θ. (16) cos θ

Para que o lado direito da Eq. (16) tenha apenas ter- onde foi utilizado sin2 θ + cos2 θ = 1. Note que a
mos ligados a forças conservativas vamos escolher um equação acima exibe um termo ligado a forças não-
gr e gθ de forma que conservativas. É importante salientar ainda que fr ,
fθ e gr são até o momento arbitrários. Vamos tra-
gr sin θ + gθ cos θ = 0. (17) tar aqui um caso muito particular onde escolheremos
Então, assumindo a Eq. (17) temos as funções fr (ρ) e fθ (ρ) como funções proporcionais e
[ inversamente proporcionais a ρ, respectivamente. E a
( ) ( )]
k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 ηγ função gr é escolhida como uma composição de termos
µ ρ̇ρ̈ − ρ̇ exp = proporcionais e inversamente proporcionais a r e a cos θ.
ρ3 2µρ2
Assim, a forma analı́tica destas três funções pode ser
ρ̇fr (ρ) + ρ̇fθ (ρ). (18) dada por
Integrando a Eq. (18), a partir da Ref. [5], obtemos fr (ρ) = −ξr ρ, (24)
uma parcela da energia total
( ) ξθ
1 L2 ηγ fθ (ρ) = − , (25)
Eρ = µρ̇2 + 0 exp + Ur (ρ) + Uθ (ρ) , (19) ρ
2 ηγ 2µρ2
( ) ∞
∑ ∑∞
2 λn
onde L20 = k 2 r04 sin4 θ0 ϕ˙0 tem dimensão de mo- gr = − n+1 n
− βn rn−1 cosn θ. (26)
n=1
r cos θ n=2
mento angular ao quadrado e os termos Ur e Uθ são
as energias potenciais relacionados com fr (ρ) e fθ (ρ). Essa pode não ser a única escolha para os parâmetros
O fato de termos introduzido duas energias potenciais que resulta numa conservação de energia. Contudo, é
Ur (ρ) e Uθ (ρ) não é de maneira alguma um complicador um bom exercı́cio matemático que resulta em uma in-
e nem invalida os cálculos pois fr (ρ) e fθ (ρ) dependem terpretação fı́sica interessante.
somente de ρ. Além disso os lados direitos das equações A forma escolhida para gr , na Eq. (26), nos per-
das forças em r e θ não dependem da velocidade em ne- mite generalizar as possı́veis soluções cuja energia será
nhuma direção. Isso não significa que estejamos dizendo conservativa. O somatório infinito é apenas para gene-
que haja conservação de energia por eixos coordenados. ralizar a expressão. Na prática só serão diferentes de
Obtemos portanto uma parcela da energia total do zero os coeficientes que representarem um modelo para
sistema que é dependente apenas da coordenada ρ e um especı́fico potencial fı́sico. Esse argumento serve
de sua derivada em primeira ordem. Mais ainda, este para todos os somatórios desse trabalho. Ou seja, para
termo de energia corresponde a uma quantidade con- qualquer ordem de potência como escrita acima resul-
servada, o que é esperado tendo em vista a condição tará numa conservação da energia. Vale salientar que
(17), a qual anula os termos não-conservativos. tanto gr quanto gθ são aqui definidas como uma mis-
Observemos agora o cálculo de Fr cos θ − Fθ sin θ. tura de coordenadas cilı́ndricas e esféricas e isso se faz
Aqui, teremos após algumas manipulações algébricas necessário para que as “energias” associadas aos eixos
[ ( ) ( )] z e a possam ser conservadas.
µ cos θ r̈ − rθ̇ − sin θ rθ̈ + 2ṙθ̇ =
Com isso a Eq. (23) assume a forma
Fr cos θ − Fθ sin θ,
∞ ∞
( ) ξθ ∑ λn ∑
mas note que d2
(r cos θ) = cos θ r̈ − rθ̇ − µz̈ = ξr z+ − − βn rn−1 cosn−1 θ .
( ) dt2 z n=0 rn+1 cosn+1 θ n=2
sin θ rθ̈ + 2ṙθ̇ . Como z = r cos θ, temos
Multiplicando por ż e integrando, podemos escrever
µz̈ = Fr cos θ − Fθ sin θ. (20)
1 2 1
Substituindo as componentes Fr e Fθ fornecidas pela Ez =µż + ξr z 2 −
2 2
Eq. (4), podemos escrever ( ) ∑ ∞ ∑∞
z λn βn z n
ξθ log + + . (27)
µz̈ = fr (ρ) cot θ − fθ (ρ) tan θ + (cos θgr − sin θgθ ) . (21) z0 n=1
nz n
n=1
n
Análise newtoniana de um sistema mecânico com uma força dependente da velocidade... 1301-5

Finalmente, reescrevendo a Eq. (19) em termos das Isso pode ser interpretado como uma rotação de π/2
Eqs. (24, 25), após a integração, temos em θ na Eq. (22), e somente nela. Note ainda que a
( ) forma da força e consequentemente da energia para os
1 L2 ηγ dois referênciais (o de antes e depois do giro de π/2 no
Eρ = µρ̇2 + 0 exp +
2 ηγ 2µρ2 ângulo θ) serão diferentes. Isso ocorre devido a forma
1 ρ matemática da força que atua no sistema ser diferente,
ξr ρ2 + ξθ log . (28)
2 ρ0 o que resulta em expressões diferentes para a energia
total.
Note que a Eq. (27), assim como a Eq. (28), constitui Da Eq. (21) com a condição (32) e utilizando os va-
também uma parcela da energia total do sistema de- lores de fr (ρ) e fθ (ρ) fornecidos pelas Eqs. (24) e (25),
pendente apenas da coordenada z e de sua derivada em temos que
primeira ordem ż. Mais uma vez, assim como ocorrido
para a coordenada ρ (ver Ref. 28), a Ref. (27) mos- ξθ
µz̈ = −ξr z + . (33)
tra um legı́timo comportamento de energia total (isto z
é, com um termo cinético e um potencial associado) e Multiplicando a equação acima por ż e integrando, ob-
ainda conserva-se, o que é curioso tendo em vista que temos
( )
com as escolhas feitas, os termos não-conservativos não 1 2 1 z
se anulam trivialmente. Isto sugere que a combinação µż + ξr z 2 − ξθ log = Ez . (34)
2 2 zc
dos termos escolhidos, a qual é uma condição muito
particular, é tal que estes permitem a obtenção de uma Utilizando a Eq. (16) e substituindo gθ = cotθgr , ver
quantidade conservada. Eq. (32), temos para a coordenada ρ
[ ( ) ( )]
Para obter a parcela de energia dependente apenas k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 ηγ
da coordenada ϕ basta partir da Eq. (12) e multiplicá- µ ρ̇ρ̈ − ρ̇ exp =
ρ3 2µρ2
la por µ2 r2 sin2 θ. Deste modo
gr ( 2 )
( ) ρ̇fr (ρ) + ρ̇fθ (ρ) + ρ̇ sin θ + cos2 θ ,
µ 2 2 2 µ k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 [ sin θ
r sin θϕ̇ − × ( ) ( )]
2 2 r2 sin2 k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 ηγ
( ) θ µ ρ̇ρ̈ − ρ̇ exp =
ηγ ρ3 2µρ2
exp = 0=E
˙ ϕ. (29)
2µr sin2 θ
2
gr
ρ̇fr (ρ) + ρ̇fθ (ρ) + ρ̇ , (35)
A energia total será a soma das Eqs. (27), (28) e sin θ
(29) onde usamos também ρ = r sin θ e z = r cos θ. onde foi feito sin2 θ + cos2 θ = 1. Propondo para gr a
Então forma seguinte,

∑ ∑ ∞
E = Ez + Eρ + Eϕ , λn
gr = − βn rn−1 sinn θ , (36)
1 ( ) n
n=1
rn+1 sin θ n=2
E = µ ṙ2 + r2 θ̇2 + r2 sin2 θϕ̇2 +
2 ( ) ao substituir a Eq. (36) na Eq. (35) e integrarmos,
L20 ηγ 1 teremos
exp 2 2 + ξr r2 + ( )
ηγ 2µr sin θ 2 1 2 L2o ηγ 1
∑∞
λn ∑∞
βn rn cosn θ Eρ = µρ̇ + exp + ξr ρ 2 +
+ + 2 ηγ 2µρ2 2
n n
nr cos θ n=1 n ( ) ∑ ∞ ∑∞
n=1 ρ λn βn ρn
( ) ( ) ξθ log + + . (37)
tan θ µ k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 ρc nρ n n
ξθ log − × n=1 n=1,n̸=2
tan θ0 2 r2 sin2 θ
( ) Portanto, neste caso, a energia total do sistema é a
ηγ soma das Eqs. (29), (34) e (37), onde usamos também
exp (30)
2µr sin2 θ
2
ρ = r sin θ e z = r cos θ ou seja
Há ainda outra possibilidade para a energia total. E = Eρ + Ez + Eϕ ,
Ao invés de utilizar a condição (17) escolhemos uma 1 ( )
nova condição a partir da Eq. (21). Essa escolha E = µ ṙ2 + r2 θ̇2 + r2 sin2 θϕ̇2 +
2 ( ) ( )
também resultará em um sistema conservativo. Para L20 ηγ 1 2 tan θ
que isso ocorra temos exp + ξr r + ξθ log +
ηγ 2µr2 sin2 θ 2 tan θ0
∑∞ ∑∞
cos θgr − sin θgθ = 0. (31) λn βn rn sinn θ
n n + −
Com isso a Eq. (22) fica modificada para n=1
nr sin θ n
n=1,n̸=2
( ) ( )
cos θ µ k 2 r04 sin4 θ0 ϕ20 ηγ
gθ = gr . (32) exp . (38)
sin θ 2 r2 sin2 θ 2µr2 sin2 θ
1301-6 Sampaio et al.

E novamente note que a energia total é conservada como newtoniana largamente conhecida.
um todo mas também eixo a eixo.
Agradecimentos
3. Conclusões
Os autores desejam agradecer aos árbitros da RBEF pe-
Neste trabalho uma abordagem newtoniana para des- las correções e sugestões que enriqueceram muito esse
crição de um sistema com alto grau de acoplamento artigo. As discussões acerca dos cálculos e conceitos
entre forças em diferentes coordenadas foi proposta. foram de grande valia para os autores. A.M. Oliveira
Apesar da presença de uma força dependente da veloci- gostaria de agradecer à FAPES pelo apoio financeiro.
dade, o que confere a sistemas, em geral, caracterı́sticas
dissipativas, é possı́vel mostrar analiticamente que a
Referências
energia é conservada e, curiosamente, a energia total
pôde ser separada em parcelas referentes a cada direção [1] W.G. Unruh, Phys. Rev. Lett. 46, xxx (1981).
ortogonal (ρ̂, θ̂ e ẑ) isto é, somente sob escolhas pro- [2] M. Milgrom, Astrophys. J. 270, 365 (1983); Astrophys.
fundamente particulares das forças envolvidas pode ser J. 270, 371 (1983); Astrophys. J. 270, 384 (1983).
possı́vel escrever a energia total de um sistema como
[3] H.E.S. Velten, Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica
uma soma de energias conservadas para cada direção
30, xxx (2008).
ortogonal sem comprometer, entretanto, a validade do
teorema de conservação de energia. Enfatizamos mais [4] R.V. Sampaio, R. Fracalossi e A.M. Oliveira, Revista
uma vez que a especificidade deste resultado está re- Brasileira de Ensino de Fı́sica 33, 1306 (2011).
lacionada às forças pouco convencionais analisadas de [5] S.T. Thornton and J.B. Marion, Classical Dynamics of
modo que esta pseudo-conservação de energia “por ei- Particles and Systems (Brooks Cole, 2003), 5a ed.
xos” não constitui de maneira alguma uma genera- [6] Kazunori Watari, Mecânica Clássica (Livraria da
lização e muito menos reformula os resultados da teoria Fı́sica, São Paulo, 2003), 1a ed, v. 2.

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