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Benjamin disse, certa vez, que a primeira experiência que a criança tem do
mundo não é a de que “os adultos são mais fortes, mas sua incapacidade de
magia”. A afirmação, proferida sob o efeito de uma dose de vinte
miligramas de mescalina, não é, por isso, menos exata. É provável, aliás,
que a invencível tristeza que às vezes toma conta das crianças nasça
precisamente dessa consciência de não serem capazes de magia. O que
podemos alcançar por nossos méritos e esforço não pode nos tornar
realmente felizes. Só a magia pode fazê-lo. Isso não passou despercebido
ao gênio infantil de Mozart, que, em carta a Bullinger, vislumbrou com
precisão a secreta solidariedade entre magia e felicidade: “Viver bem e
viver feliz são duas coisas diferentes, e a segunda, sem alguma magia,
certamente não me tocará. Para isso, deveria acontecer algo
verdadeiramente fora do natural”.
Contra essa sabedoria pueril, que afirma que a felicidade não é algo que se
possa merecer, a moral colocou desde sempre sua objeção. E o fez com as
palavras do filósofo que, menos do que qualquer outro, compreendeu a
diferença entre viver dignamente e viver feliz. “O que em ti tende
ardorosamente para a felicidade”, escreve Kant, “é a inclinação; o que
depois submete tal inclinação à condição de que deves primeiro ser digno
da felicidade é tua razão”. Mas de uma felicidade de que podemos ser
dignos, nós (ou a criança em nós) não sabemos o que fazer. É uma desgraça
sermos amados porque o merecemos! E como é chata a felicidade que é
prêmio ou recompensa por um trabalho bem feito!
Há, porém, outra e mais luminosa tradição, segundo a qual o nome secreto
não é tanto a chave da sujeição da coisa à palavra do mago, quanto,
sobretudo, o monograma que sanciona sua libertação com relação à
linguagem. O nome secreto era o nome com o qual a criatura havia sido
chamada no Éden, e, ao pronunciá-lo, os nomes manifestos e toda a babel
dos nomes acabaram em pedaços. Por isso, segundo a doutrina, a magia
chama por felicidade. O nome secreto é, na realidade, o gesto com o qual a
criatura é restituída ao inexpresso. Em última instância, a magia não é
conhecimento dos nomes, mas gesto, desvio em relação ao nome. Por isso,
a criança nunca fica tão contente quanto quando inventa uma língua
secreta própria. Sua tristeza não provém tanto da ignorância dos nomes
mágicos, mas do fato de não conseguir se desfazer do nome que lhe foi
imposto. Logo que o consegue, logo que inventa um novo nome, ela
ostentará entre as mãos o passaporte que a encaminha à felicidade. Ter um
nome é a culpa. A justiça é sem nome, assim como a magia. Livre de nome,
bem-aventurada, a criatura bate à porta da aldeia dos magos, onde só se
fala por gestos.