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Santarém – Pará
2018
JOSÉ RENATO DA COSTA OLIVEIRA JÚNIOR
Santarém – Pará
2018
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBI/UFOPA
116f.
Inclui bibliografias.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
2 COMPREENDENDO O SERVIÇO PÚBLICO BRASILEIRO, A MODERNIZAÇÃO
DO ESTADO E A REFORMA UNIVERSITÁRIA A PARTIR DA TEORIA
MARXISTA ............................................................................................................................ 16
2.1 A VISÃO MARXISTA ACERCA DE ESTADO E TRABALHO COMO
COMPONENTES PARA COMPREENSÃO DO ASSÉDIO MORAL LABORAL. ......... 16
2.2 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA, CONTRARREFORMAS TRABALHISTA,
SINDICAL E PREVIDENCIÁRIA E ASSÉDIO MORAL LABORAL - UMA PRIMEIRA
APROXIMAÇÃO. ................................................................................................................ 27
2.3 O SERVIÇO PÚBLICO NO BRASIL, SUAS ESPECIFICIDADES E CONFLITOS . 34
2.5 REFORMA OU MODERNIZAÇÃO DO ESTADO, REUNI E NOVA
UNIVERSIDADE ................................................................................................................. 39
3 ASSÉDIO MORAL ORGANIZACIONAL NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA BRASILEIRA: . ................................................................................................... 44
3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE O ASSÉDIO MORAL LABORAL –
ESTUDOS INICIAIS E AVANÇOS .................................................................................... 44
3.2 O ASSÉDIO MORAL ORGANIZACIONAL ............................................................... 47
3.3 DISCRIMINAÇÃO E ASSÉDIO SEXUAL .................................................................. 58
3.4 PRODUÇÃO LEGISLATIVA ACERCA DO ASSÉDIO MORAL LABORAL .......... 61
3.5 ASSÉDIO MORAL COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ........... 69
3.6 DECISÕES LEGAIS QUE CARACTERIZAM ASSÉDIO MORAL LABORAL ....... 73
4 ASSÉDIO MORAL NA UFOPA: DOSSIÊ SINDUFOPA .............................................. 80
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 103
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 108
10
1 INTRODUÇÃO
Principiarei pela época dos meus dezessete anos, altura em que entrei para o lugar que
hoje ocupo; completo, em breve trinta anos de atividade como funcionário. Devo
dizer-lhe que durante este período gastei muitos fardamentos, transformei-me num
homem mais prudente e avisado, conheci e convivi com muita gente, vivi... Sim —
porque não dizê-lo? —, também eu vivi e ganhei experiência. Como prémio dos meus
serviços, quiseram até agraciar-me com uma condecoração. [...] Mas a que vem tudo
isto? Vai ver. Neste mundo há de tudo: bons e maus.
[...] Não calcula, querida Bárbara, quanto me fizeram sofrer os maus colegas de
trabalho! Até tenho vergonha de o contar. « Porquê?» — perguntará. Precisamente
porque sou uma pessoa pacata, um homem modesto, um bom rapaz. Não gostavam
do meu feitio e atribuíam-me sempre as culpas de tudo. Ao princípio, quando alguém
fazia qualquer coisa malfeita, diziam logo: « Ah, sim! Devem ser coisas do Makar
Alexeievitch!»
Com o andar do tempo, esta frase transformou-se noutra: « Ah, naturalmente foi
Makar Alexeievitch! Não pode ter sido outro!»
Até que, por fim, só diziam: « Foi Makar Alexeievitch! É escusado indagar!»
Já vê no que parou a história. Makar Alexeievitch era o culpado de tudo o que
sucedesse de mau. Chegaram ao extremo de converter o meu nome não só em
sinónimo de « tudo o que havia de mau» na repartição, mas ainda, não satisfeitos em
fazer dele uma palavra amaldiçoada, uma censura digna de anátema — quase um
termo injurioso —, tinham sempre alguma coisa a dizer das minhas botas, do fato, do
cabelo e das orelhas. Numa palavra, tudo o que me dizia respeito lhes merecia reparo,
tudo o que era meu lhes parecia mau, nada era do gosto deles. E isto todos os dias,
durante inúmeros anos! Acabei por me habituar, porque sou um homem pacato, uma
criatura insignificante. É caso para perguntar: Ao fim e ao cabo, que fiz eu para
merecer tal trato? Fiz algum dia mal a alguém? Tirei a algum companheiro o seu lugar
na escala? Ou fui algum dia ao chefe com intriguices acerca de algum colega, para
conseguir qualquer recompensa pela delação? Tramei alguma conjura contra alguém?
Seria injusta se assim pensasse, minha querida. Sabe muito bem que eu seria incapaz
de praticar tais infâmias. Mas porquê, então, aquela antipatia? Perdoai-lhes, Senhor!
Desde que a Bárbara me tenha na conta de homem de bem, a opinião dos outros não
me interessa, pois você é incomparavelmente melhor do que todas as outras criaturas!
(DOSTOIÉVSKI, 2003, p. 18).
No trecho da obra intitulada Gente Pobre, com sua primeira edição publicada em 15 de
janeiro de 1846, Dostoiévski (2003) descreveu o que, séculos mais tarde, seria conhecido como
assédio moral laboral, na sua modalidade individual. Portanto, ao surgir em obra literária do
século XIX, que contém a narrativa da vida do servidor público Makar Alexeievitch, fica nítido
que condutas abusivas não são novidades no serviço público, figurando como instrumento de
exercício de poder e opressão.
Na modernidade, em uma sociedade denominada de controle, ele se aprofunda e é
absorvido pelas organizações do trabalho como parte de um modelo de gestão que possui, como
recurso sociotecnológico mais avançado, a manipulação da subjetividade dos trabalhadores e
trabalhadoras, fazendo surgir então, no interior do assédio moral, uma violência mais refinada,
caracterizada pelo assédio moral na modalidade organizacional, que tem como qualidade
principal a multiplicidade de participantes na sua implementação, comumente envolvendo
11
foram penalizados, com docentes das instituições federais de ensino superior experimentando
uma sobrecarga de trabalho ainda maior, em um ambiente laboral precarizado, constituindo
uma combinação fértil para a incidência do assédio moral laboral.
No segundo capítulo, debruça-se sobre o assédio moral com maior profundidade,
promovendo a revisão bibliográfica e estudo acerca das diversas correntes teóricas e seus
critérios, para definir o assédio moral laboral na modalidade organizacional, pautando os pontos
de aproximação e de distanciamento entre o assédio moral, o assédio sexual e a discriminação.
Após, volta-se para o Direito pátrio, apontando e avaliando os Projetos de Lei (PL’s)
que estão tramitando no Congresso Nacional que versam sobre a matéria, e além disso traremos
a visão dos Tribunais Regionais Federais (TRF’s) e do STJ (Superior Tribunal de Justiça) acerca
dessa modalidade de violência, por meio de acórdãos, tendo em vista a categoria profissional
abordada constituir-se de servidores públicos federais, e a inovadora compreensão quanto ao
enquadramento do assédio moral laboral como improbidade administrativa – que pode
representar um avanço no marco político-jurídico do tratamento dessa importante questão.
No terceiro capítulo, contextualiza o surgimento da Ufopa, como Instituição Federal de
Ensino Superior (IFES) criada nos marcos do Reuni e apresenta o documento, em formato de
dossiê, confeccionado pela Sindufopa, intitulado “Precarização das Condições de Trabalho
Docente na Universidade Federal do Oeste do Pará - Ufopa”, no qual são descritas condutas de
servidores na condição de colega e/ou chefia, identificadas como assediadoras, além da
descrição de precariedades no ambiente laboral e irregularidades administrativas por parte das
direções.
Esta obra é consequência da vivência universitária e contato com as diversas lutas dos
trabalhadores e trabalhadoras da Ufopa, em conjunto com estudantes, por uma educação
pública, gratuita, de qualidade, laica e universal – lutas inclusive, das quais o próprio autor,
juntamente com a comunidade universitária organizada fez parte, ativamente, e pôde ser
testemunha ocular dos problemas aqui levantados.
A discussão acerca do projeto a ser implementado pela nascente universidade, com
diversas divergências e convergências, permitiu que o autor compreendesse o potencial que
possuímos de atuar e promover transformações, mudando os rumos dos acontecimentos
coletivamente, por meio das diversas organizações que historicamente a classe trabalhadora e
seus filhos tem construído, como sindicatos e diretórios estudantis.
Ao ter contato com o dossiê produzido pela Sindufopa, e descobrir a existência de uma
abordagem do assédio moral com viés coletivizante, afinado com uma visão sistêmica e
próxima de uma compreensão do marxismo, das relações de trabalho sob o capitalismo, indo,
14
Por compreender que o assédio moral laboral não se trata apenas de um fenômeno
individual, conectado a subjetividade, Araújo (2012, p. 9) avalia ser ele, na sua modalidade
organizacional, uma conduta abusiva que “se produz de forma coletiva com vistas a
proporcionar certa utilidade”, referindo-se a um incremento no controle e produtividade, nas
diversas organizações do trabalho existentes, à custa do sofrimento dos trabalhadores e
trabalhadoras.
Tanto a forma como se compõe o trabalho socialmente, quanto a forma como se
constitui o Estado burguês e suas instituições, contribuem para a incidência do assédio moral
laboral, já que tais organizações esteiam o tecido social e o influenciam profundamente. Torna-
se relevante, portanto, traçar uma breve caracterização do trabalho, como atividade humana, e
do Estado como instituição política, pautada em uma visão marxista e interdisciplinar.
Para Loureiro (2006, p. 125), hodiernamente, os analistas de Marx reconhecem que ele
foi “um pensador transdisciplinar e autor de uma teoria revolucionária que procurava a ruptura
com os padrões culturais, filosóficos e científicos da época”, ou seja, “com o conjunto das
relações sociais que se configuravam em uma sociedade capitalista em expansão e
consolidação”. Portanto, a defesa do legado de Marx, como ferramenta de análise da realidade,
nesta monografia, acontece pela compreensão de que ela traz uma perspectiva revolucionária,
apta a perscrutar as relações sociais, em seu nível mais primordial.
No que tange à escolha por uma abordagem que busca uma visão interdisciplinar,
segundo Gadotti (1993), a interdisciplinaridade é uma resposta à necessidade, verificada
principalmente nos campos das Ciências Humanas e da Educação, de superar a fragmentação
dos saberes e o caráter de hiperespecialização do conhecimento. Em ressonância com o
pedagogo e filósofo, por compreender o assédio moral laboral como um fenômeno
multifacetado, que é estudado por diversas áreas do conhecimento, análises para além da
jurídica serão desenvolvidas neste trabalho.
A interação da Humanidade com a Natureza, da qual faz parte, é algo reiteradamente
discutido, desde o advento da Filosofia, tendo a aptidão humana para o trabalho destaque entre
as espécies, seja em seu potencial criador, seja em seu potencial destrutivo. Para traçar uma
breve caracterização acerca do trabalho, Navarro e Padilha (2007) assinalam que o verbete
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trabalho tem atributo plural e polissêmico, sendo também fonte de experiência psicossocial,
parte importante do espaço e do tempo em que se desenvolve a vida humana contemporânea,
ocupando o trabalho e a profissão postos relevantes para a formação da identidade e sentido
existencial.
Na linguagem cotidiana, o significado mais comumente ventilado, ao se procurar a
origem da palavra trabalho, conecta-o ao verbete tripálio, que Bonzatto (2011, p. 1) define
como derivado do latim tripaliu, “instrumento de tortura, consistente num gancho de três
pontas, cuja função é a evisceração ou a retirada e exposição das tripas, região de intensa dor e
de lenta agonia”.
Em uma investigação linguística aprofundada, Silva (2014, p. 193) assinala que a
origem da palavra pode revelar significados muito diferentes, não estando apenas
etimologicamente atrelada à ideia de sofrimento:
A palavra “trabalho” veio do latim tripalium, tripálio [...]. [...] A etimologia latina
formou-se a partir do prefixo tri-, três, e palus, pau, estaca, poste, mourão. No plano
mítico, este étimo foi abandonado, porém na Vulgata, como é conhecida a tradução
da Bíblia, do hebraico para o latim, que serviu de base às traduções portuguesas
durante séculos até que tivéssemos acesso a traduções vindas diretamente dos
originais hebraico e grego, ele continuou sendo usado. Quem trouxe a condenação de
Adão e Eva ao trabalho, do latim para o português, traduziu labor por trabalho, um de
seus sinônimos. São Jerônimo descartou tripalium e optou por labor. Traduzir é
escolher. Sua escolha evitou os vínculos de tortura, implícitos no étimo descartado,
mas manteve os de sofrimento no étimo escolhido. A ideia do trabalho como
sofrimento não estava presente na etimologia latina, uma vez que o verbo trabalhar
era laborare; e trabalho, labor. No italiano predominou este sentido, de que são
amostras as palavras lavorare e lavoro. No francês travail, ao contrário, a vertente é
a mesma do português. Mas para trabalhador a língua francesa preferiu ouvrier, do
étimo latino operarius, do verbo operare, formado a partir de operis, genitivo de opus,
obra, cujo plural é ópera. No latim vulgar, porém, operare transformou-se em operire.
Em inglês, trabalho é work, e no alemão, Werk, procedendo ambos do grego érgon,
ação, presente no português em outras palavras, como em ergoterapia, tratamento pelo
trabalho. [...]
Por meio do trabalho, a espécie humana liberta-se dos estreitos limites da reprodução
cega das formas biológicas, constituindo-se, por isso, numa nova forma de ser, numa nova
gradação ontológica – o ser social, interagindo em totalidade com os elementos biofísicos,
nunca independente da Natureza, a qual transforma e é por esta transformado, conforme Marx
(1985, p. 149-150):
Posto como categoria vital de distinção entra a espécie humana e os animais, o trabalho
constitui os meios de produção, chamados por Marx de meios de trabalho, que, por sua vez, ao
serem estudados, permitem a compreensão das formações econômicas e da individualidade que
se produz nas sociabilidades a elas correspondentes, como podemos ver abaixo:
Decca (1988, p. 7) afirma que “dentre todas as utopias criadas a partir do século XVI,
nenhuma se realizou tão desgraçadamente como a sociedade do trabalho”.
Considerando o conjunto de transformações operadas no mundo do trabalho no último
século – do taylorismo ao toyotismo – e, apesar de algumas crises, não houve uma verdadeira
1
Quando as relações sociais envolvidas na produção são vistas, não como entre seres humanos, mas como
relações econômicas entre o dinheiro e as commodities negociadas no mercado.
21
ruptura com o caráter capitalista do modo de produção e com seu complexo plano ideológico
de fragmentação da subjetividade para facilitar a manutenção de seu projeto hegemônico.
Exemplos disso são: apologia ao individualismo, o aumento do desemprego, da intensificação
e da precarização do trabalho em diferentes setores da economia, permanência da divisão de
classes entre burguesia e proletariado, da propriedade privada dos meios de produção etc.
Sennet (1999) denominou de “corrosão do caráter” uma das principais consequências
pessoais do modelo atual de organização do trabalho no capitalismo. A flexibilização trazida
pela reestruturação produtiva – que exige trabalhadores ágeis, abertos a mudanças a curto prazo,
que assumam riscos continuamente e que dependam cada vez menos de leis e procedimentos
formais – não causa apenas sobrecarga de trabalho para os que sobreviveram ao enxugamento
dos cargos, mas acarreta grande impacto para a vida pessoal e familiar de todos os
trabalhadores; sejam eles empregados ou desempregados.
Frente à supracitada conjuntura, os reflexos são sentidos em todas as categorias
profissionais dentro da classe trabalhadora. A fábrica é posta como referencial primeiro, pois
foi nela que se iniciou toda a disciplinarização do trabalho sob a égide do capitalismo.
Gomes (2008) defende que o Estado, ao atuar como empregador, torna-se também uma
instituição de trabalho e reproduz em seu interior as características da sociedade. Horkheimer e
Adorno (1978) argumentam que a sociedade atual promove a anulação do indivíduo, visto que
sua função deveria ser justamente o oposto disso, com a promoção da experiência particular e
o fortalecimento do sentido de humanidade.
Para Gomes (2008, np.), o servidor público situa-se na sociedade da seguinte forma:
O funcionário tem a formação atrofiada por ser um indivíduo nesta sociedade e por
não se identificar com o seu trabalho, não há possibilidade de se ressignificar no
trabalho que realiza, sendo um trabalho esvaziado de sentido. Além de tudo isso, sofre
a estereotipia na visão hegemônica da sociedade quanto à sua função profissional,
onde essa visão não diz do papel profissional, mas rotula o indivíduo que ocupa a
função, sendo objeto do preconceito e acaba por manter e fortalecer a estereotipia.
forma mais imediata podemos afirmar que há todas as condições para um adoecimento
no trabalhador público, que por diversos fatores aqui apresentados, estão
impossibilitados de se constituir no trabalho.
No serviço público, apesar de diversas perdas ao longo das últimas décadas, sob o
modelo de desenvolvimento político e econômico neoliberal, ainda existem ganhos
conservados por intermédio de muitas lutas - direitos e garantias como a estabilidade por tempo
de serviço, licença-prêmio por assiduidade, adicional por tempo de serviço, entre outros.
No entanto, o individualismo promove a erosão da solidariedade tanto de classe como
para com seus próprios colegas de trabalho, dentro de uma lógica de competição, cada vez mais
inserida no setor público, em que a maior produtividade ou resultados em avaliações individuais
ranqueiam e distanciam os trabalhadores, que silenciam quando testemunham alguma injustiça
perpetrada contra um colega, seja por receio de retaliações, seja por não se enxergar como parte
de uma coletividade de trabalhadores que pode, de forma organizada, enfrentar a violência
laboral.
Gomes (2008) defende que, inseridas na instituição estatal, as pessoas, ao terem contato
com o meio tecnológico e burocrático do serviço público, tendem a se tornar incapazes de se
vincular aos outros, ficando indiferentes, portanto, à reprodução da ordem social que produz e
reproduz a frieza.
Ainda que, modernamente, exista a defesa do alto grau de competição entre os
trabalhadores e a profusão do individualismo, como fatores responsáveis pelo desenvolvimento
da Humanidade em relação às questões sociais, culturais, científicas e ou tecnológicas,
empiricamente, estes avanços foram determinados pela cooperação, solidariedade e
mutualismo, que sempre estiveram presentes nos momentos em que se evidenciaram estes
processos de desenvolvimento da Humanidade. Portanto, muito ao contrário da ideologia
burguesa atual, que prima pelo individualismo. Em diversos episódios da história humana,
apenas foi possível realizar projetos incríveis e fundamentais por conta do trabalho coletivo,
essencialmente superior ao individual.
Pontuadas as falhas inerentes ao capitalismo, é pertinente abordar as consequências a
abolição da propriedade privada dos meios de produção. Segundo Saviani e Duarte (2010), a
superação da propriedade privada dos meios de produção, que tem como consequência a
superação da sociedade capitalista, não corresponde de forma alguma à abolição do trabalho,
ou ao abandono da riqueza material e espiritual produzida, sob a égide do capital, pelo trabalho
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alienado, mas apenas a superação dessa forma histórica de atividade humana, por meio da sua
transformação em autoatividade, consciente e autodeterminada.
O produto do trabalho contém a atividade humana nele fixada; é a atividade
transformada em objeto, conforme assevera Marx (1993), constituindo-se então a objetivação,
que é o resultado da realização efetiva do trabalho, a transformação da atividade do sujeito em
um objeto social. Porém, na sociedade capitalista, por ser o trabalho uma mercadoria
pertencente ao capital, ele paradoxalmente ao ser realizado, surge como força de desrealização
do trabalhador, sendo a objetivação nessas condições motriz da perda do objeto e servidão a
ele, tendo como resultado a alienação, a “exteriorização”.
Para Saviani e Duarte (2010), dentro da análise marxista, a palavra “exteriorização” não
deve ser confundida com objetivação, já que exteriorização refere-se à apropriação pelo capital
do produto do trabalho, que se torna algo que não expressa a individualidade do trabalhador, de
outro modo, antagoniza com o trabalhador como um ser hostil e estranho, como um ser alheio
ao ser do indivíduo que o produziu, identificando-se com o intelecto de alienação, pois a
objetivação, que é a única forma do ser humano se realizar, torna-se uma objetivação alienante.
As relações sociais capitalistas transformam o que seria humanização em seu oposto, que é a
alienação.
Feita a crítica à forma como a sociedade capitalista lida com o trabalho, segue um
prognóstico de como uma sociedade socialista e posteriormente comunista iria lidar com o
trabalho. Para Saviani e Duarte (2010, p. 427), “na sociedade comunista, superadas as relações
capitalistas de produção, o mundo resultante da objetivação [...] passa a ser a confirmação de
sua individualidade”.
No entendimento geral de Marx, Engels, Lênin, Luxemburgo e Trotsky, os principais
críticos e teóricos da sociedade atual e às futuras transições de novas formas societais do futuro,
o trabalho e o trabalhador passarão do embrutecimento dos trabalhadores, exaustão e
exploração, subjugados pelo capitalismo, para a livre associação de produtores diretos, estes
não apenas usufruirão do produto de seu trabalho, mas isto promoverá saltos: deverá se produzir
finalmente a “superação do reino da necessidade para o reino da liberdade”; satisfeitas as
necessidades materiais, terão os trabalhadores a liberdade de dispor de seu tempo e trabalho,
conforme melhor aprouver, ocorrerá então a plena realização humana, o trabalho não será
alienado e a humanidade terá alcançado a verdadeira civilização (COSTA, 2009).
Ao contrastar a sociedade capitalista à comunista, Saviani e Duarte (2010, p. 428)
arrazoam que:
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Para que a relação do ser humano mude radicalmente numa sociedade comunista, é
necessário que a atividade deixe de ser um meio para a satisfação de necessidades
externas a ela e passe a ser ela mesma um processo no qual o sujeito se desenvolva e
se realize como um ser humano. O trabalhador aliena-se de seu trabalho porque é
obrigado a vender sua atividade em troca de um salário que lhe assegure a
sobrevivência. Isso quer dizer que, para poder continuar a viver, o trabalhador deve
vender uma parte de sua vida e, mais do que isso, vender a parte mais importante de
sua vida, que é a atividade por meio da qual ele poderia formar-se, fazendo da essência
humana, isto é, das potências essenciais humanas formadas historicamente, a essência
de sua individualidade.
No que tange à superação do trabalho como atividade alienada, Saviani e Duarte (2010,
p. 429) prognosticam que:
Por fim, Saviani e Duarte (2010, p. 430) sumarizam qual a visão de uma sociedade
plena, superadas as relações sociais alienadas:
Pautando tais características, Souza (2009, p. 79) argumenta que o assédio moral surge
na modernidade, juntamente com o toyotismo, como expediente de gestão do mundo do
trabalho:
O assédio moral, anterior ao início dos anos 1970, seria apenas um esboço do que
existe hoje (SOUZA, 2009). Heloani (2002) defende que no Fordismo/Taylorismo o que norteia
a subjetividade dos empregados e empregadas é a alta cadência dos movimentos, já que a alta
produtividade é premiada com salários maiores, servindo como motivação.
Já no Toyotismo, a captação da subjetividade é basilar, acontecendo no nível
emocional, pretendendo subjugar a racionalidade. O Toyotismo surge como captador da
subjetividade emocional dos trabalhadores e trabalhadoras e potencial catalisador do assédio
moral no ambiente laboral. Corrobora-se com a compreensão de que assédio moral laboral
tornou-se um instrumento do exercício de poder, integrando e tornando abusiva a gestão do
espaço de trabalho.
Todas essas mudanças no mundo do trabalho tiveram como uns dos principais
objetivos aumentar a produtividade; assim, pela primeira vez na história, houve aumento na
produção sem que houvesse um correspondente aumento dos empregos. Combinado a isso, o
discurso majoritário, defendido por representantes das organizações patronais dos grandes
setores produtivos, prega que:
Para Barbara (1999, p. 47) “o nível de aprendizado do trabalhador não é a causa do seu
desemprego” sendo, no entanto, “[...] utilizado ideologicamente para legitimar a condição de
cada um”. A autora corrobora com Braverman (1981), segundo o qual, ainda que toda a
população apta ao trabalho fosse qualificada, “ainda assim não haveria lugar para todos, então,
o discurso ideológico encontraria outra falsa razão para justificar a exclusão”.
Isso ocorre porque o problema não está na “qualificação do trabalhador” e sim,
intrinsecamente, no modo de produção capitalista, que precisa formar e garantir sempre a
existência do “exército industrial de reserva”, para sempre pressionar os salários e a
concorrência entre os trabalhadores, conforme Marx (1993), pois o desemprego é uma forma
estrutural no capitalismo, que não pode ocupar todos.
29
A taxa de desocupação no país continua em alta e o país tem agora 14,2 milhões de
desempregados no trimestre encerrado em março, número 14,9% superior ao trimestre
imediatamente anterior (outubro, novembro e dezembro de 2016) – o equivalente a
1,8 milhão de pessoas a mais desocupadas.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(Pnad Contínua) divulgada hoje, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) com os resultados do primeiro trimestre. No trimestre
encerrado em fevereiro, o Brasil tinha 13 milhões de desempregados.
Segundo o IBGE, a taxa de desocupação fechou março em 13,7% com alta de 1,7
ponto percentual frente ao trimestre outubro/dezembro de 2016, quando o desemprego
estava em 12%. Em relação aos 10,9% da taxa de desemprego do trimestre móvel de
igual período do ano passado, a alta foi de 2,8 pontos percentuais. Essa foi a maior
taxa de desocupação da série histórica, iniciada no primeiro trimestre de em 2012.
Em relação ao primeiro trimestre móvel do ano passado, a alta da taxa de desocupação
chegou a 27,8%, o que significa que mais 3,1 milhões de pessoas estão procurando
(OLIVEIRA, 2017, np).
Dessa maneira, podemos visualizar que a reestruturação produtiva tem tido reflexos
profundos sobre a classe trabalhadora brasileira, tanto objetiva como subjetivamente.
A reestruturação produtiva também atingiu o Estado brasileiro, conforme defende
Santos et al. (2004), que o chamam de Estado capitalista brasileiro. Para eles, a reestruturação
industrial ou desindustrialização (sob a orientação dos capitalistas privados) e a reforma do
Estado (sob o comando de governos conservadores) são procedimentos de um mesmo
30
movimento, que visa a garantir aos capitais individuais e/ou às nações condições mais
favoráveis de concorrência no contexto das relações intercapitalistas.
A educação, conforme assevera Lopes (2011), no bojo das reformas neoliberais, passa
a ser classificada como serviço não-exclusivo do Estado. Além disso, para o autor, a reforma
da educação superior pública, por meio do Reuni, impactou negativamente as condições do
trabalho docente, havendo aumento da relação de estudantes nos cursos de graduação
(chegando a dezoito por professor), acarretando sobrecarga de trabalho, intensificação do ritmo
de trabalho e exacerbado o desgaste cotidiano.
A “privatização interna” das universidades públicas, com a adoção do modelo de
contrato de gestão, inserindo uma lógica de mercado nas instituições de ensino, tem alterado as
legislações educacionais, afetando a saúde física e emocional do docente, pela extensão de
horas trabalhadas, implementando, portanto, também nesse setor, o paradigma de
reestruturação produtiva que, conforme Freire (2010, p. 6), exige “uma pressão e um controle
muito maiores sobre o trabalhador, o que pode ensejar práticas abusivas como o assédio moral”.
No campo do serviço público, a Reforma do Estado tem sido discutida dentro da política
internacional desde o início dos anos 80. No Brasil, a agenda de reformas neoliberais foi
introduzida no Governo de Fernando Collor de Mello, adquirindo força no Governo de
Fernando Henrique Cardoso, no qual foi constituído o Ministério da Administração e Reforma
do Estado (MARE).
A partir daí, com o discurso de “enxugar” os gastos com a máquina pública, foi
implementada uma reforma que piorou as condições de trabalho no serviço público, com
extinção, ao longo das décadas, de diversos direitos, precarização das carreiras e sucateamento
da estrutura e infraestrutura de grande parte dos órgãos públicos.
Ao longo das últimas décadas, a reforma do Estado capitalista brasileiro tem se
aprofundando, promovendo o desmonte de diversos serviços públicos, estando, assim, para
Teixeira et al. (2017, p. 25), as contrarreformas trabalhista, sindical e previdenciária inseridas
no seguinte contexto nacional:
garantindo aos últimos a rentabilidade via redução dos gastos públicos e da reforma
da previdência.
Não é um debate novo, pois retoma as mesmas bases da discussão ocorrida nos anos
1990, em que se defendia a reforma com os mesmos argumentos. Algumas medidas
pontuais foram introduzidas naquela ocasião (como contrato por prazo determinado,
banco de horas, liberalização do trabalho aos domingos, contrato parcial, programa de
participação nos lucros e resultados). Essas medidas não contribuíram para resolver
os problemas propostos, pois o desemprego continuou elevado até o final da década.
Por outro lado, a dinâmica mais favorável do mercado de trabalho nos anos 2000
ocorreu por motivos contrários à agenda da flexibilização, uma vez que o crescimento
do emprego, da formalização e da melhora da renda do trabalho foram possibilitados
pelo crescimento econômico, pela presença das instituições públicas, pela política do
salário mínimo etc. Ou seja, a experiência brasileira recente mostra que os argumentos
de defesa do atual desmonte da legislação trabalhista são falaciosos e frágeis, pois não
se sustentam histórica e empiricamente. Portanto, a atual proposta de desmonte de
direitos é uma forma de desestruturar a vida social e de promover condições que
favorecem somente um ator na sociedade: o empregador. Com isso, os trabalhadores
estarão submetidos às inseguranças do mercado e à precarização do trabalho. Além
disso, a reforma inibe as perspectivas de futuro de boa parte da classe trabalhadora,
que terá poucas perspectivas de se aposentar e de desenvolver uma trajetória
profissional.
Cabe também pautar que, no tocante ao dano moral e assédio moral, a Lei nº
13.467/2017 acrescentou na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) o artigo 223-A e
seguintes, definindo critérios de fixação e valores na eventualidade de comprovação da
ocorrência dessa modalidade de violência no espaço laboral.
Ao implementar essas diversas modificações, permite que o empresariado promova o
achatamento salarial - já que o significativo contingente de mão de obra desempregada exerce
pressão sobre a empregada, sempre passível de demissão – além de, enxugando os custos com
pessoal e flexibilizando as condições de trabalho, aumentar a produtividade, com um
contingente cada vez menor de trabalhadores. Combinado a isso, a alteração das normas de
saúde e segurança no trabalho, com restrições à fiscalização, potencializam a incidência de
doenças ocupacionais, sejam físicas ou psicológicas, com proeminência das últimas, passíveis
de surgimento em quaisquer ambientes de trabalho. Assim, o assédio moral surge como
violência psicológica cada vez mais comum, seja na iniciativa privada ou no serviço público,
posto que transformações prejudiciais têm atingido ambos os espaços laborais.
Haja vista os efeitos tanto materiais como ideológicos da reestruturação produtiva, cabe
também recuperar a visão marxista do trabalho como direito e como obrigação do Estado, ou
seja, no patamar das leis produzidas, em vista da influência que o surgimento do marxismo teve
no mundo e nos movimentos populares, como contraponto ao capitalismo que ainda estava se
consolidando.
33
No Direito, a definição de serviço público nasce para apartar o direito público do direito
privado. Trata, portanto, do Direto Administrativo, ou seja, da atuação do Estado:
O serviço público em nosso país teve início em 1808, com a instalação da Real Família
Portuguesa, que implementou o serviço administrativo. No período, pessoas que faziam parte
do serviço público eram vistas como prolongamento do poder do colonizador, o que comumente
se traduzia em grande arbitrariedade, por conta de seus atos não se encontrarem atrelados a
qualquer embasamento legal para serem realizados, em uma administração profundamente
personalista:
Emenda Constitucional nº19). Em 11 de dezembro de 1990, foi publicado o novo Estatuto dos
Servidores Públicos Civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais,
consolidando-se, então, o termo “Servidor Público”.
Ao longo dos anos, a formatação do serviço público foi sendo modificada, combatendo-
se a administração personalista, houve grande avanço com o advento da Constituição Federal
de 1988, porém profissionais do setor público, na atualidade, não se encontram imunes ao
assédio moral, já que no seio do serviço público a tensão não é gerada pela produção, mas pela
reprodução do capital:
Para o caso do setor público, ou para a esfera interna do Estado capitalista, o termo
relações industriais evidentemente, não seria adequado. Por isso é mais adequado
adotar a noção de relações de trabalho no setor público, cuja especificidade, [sic] não
nega sua condição de pertencer a uma totalidade de relações sociais de produção,
predominantemente capitalistas, que informam as fontes dos conflitos do trabalho no
setor público e no Estado. (grifo meu) No entanto, as especificidades do setor público
devem ser apontadas. Em primeiro lugar, são relações de trabalho entre não
proprietários de meios de produção entre si (funcionários e governo ou governantes e
dirigentes), ao invés de relações sociais diretamente capitalistas. Isto significa, no
parâmetro de Marx, que não há no relacionamento coletivo dentro do Estado, nas
atividades de administração, controle e de prestação de serviços públicos, produção
direta de valor para acumulação de capital. Trata-se então de trabalho assalariado
improdutivo [...].
Isto, porém, não significa que não haja exploração direta do trabalho pelo Estado. A
exploração ocorre na esfera da reprodução do capital, ou seja, nos processos de
serviços e administração voltados à esfera da reprodução social e política do conjunto
da sociedade de classes. A taxa de exploração do trabalho no Estado envolve a
quantidade de salário em relação à jornada de trabalho e às condições necessárias de
vida em sociedade, mas, [sic] não é realizada para produzir, e sim reproduzir o capital.
A questão dos salários informa sobre o padrão de vida dos assalariados. Assim, as
políticas de contenção dos gastos públicos para enfrentar as crises dos Estados
capitalistas submetem os funcionários públicos a permanentes arrochos salariais e
deteriorações das suas condições de trabalho. Qualquer proposta atual sobre um
sistema de relações de trabalho para o setor público, [sic] depende do
encaminhamento dessas questões da defasagem salarial, das perdas salariais históricas
e da melhoria das condições gerais de trabalho (NOGUEIRA, 2007, p. 11).
O autor pontua ainda que é inerente o conflito entre trabalho e capital na sociedade,
havendo, portanto, uma dupla origem no conflito para os trabalhadores e trabalhadoras do
serviço público, sejam pelas relações diretas entre seus integrantes e níveis do governo do
Estado, sejam pelas contradições do capitalismo:
campanha de eleição ou que consigam subsídios econômicos para a sua realização, não é raro
a promessa de cargos no caso de vitória de seu candidato” (SILVA, 2013, p. 31).
Sendo de livre nomeação, os cargos em comissão independem de realização de concurso
público. Por este motivo, são indicações centradas na relação de confiança entre as pessoas
designadas para exercê-los e as autoridades superiores que promovem as nomeações.
Valadares e Emmendoerfer (2012) compreendem que pessoas ocupando cargos e
funções públicas por intermédio de apadrinhamento de partidos governamentais nas instituições
estatais é algo comum no Brasil e parte do sistema exigido pelos líderes, que financiam assim
suas atividades políticas.
A nomeação para cargos em comissão visa àqueles e àquelas que coadunam com a
execução da estratégia do governo vigente, portanto, favorece quem já está com o comando do
aparato estatal, evitando que partidos rivais tenham maior influência nesses órgãos públicos,
além de que, aqueles e aquelas ali postos comumente tornam-se mais preocupados em se manter
em seus cargos, do que em executar a política pública em prol da sociedade, sendo a disputa
pelos cargos corresponde à disputa por um instrumento de exercício de poder (SILVA, 2013).
Segundo Olivieri (2011), mais preocupante que a distribuição de cargos políticos entre
os aliados do governo, é existirem mecanismos democráticos de controle sobre a atuação desses
nomeados.
Ainda que tenha sido um grande avanço a implementação dos concursos públicos como
regra para o ingresso no serviço público, Silva (2013, p. 31) assevera que:
Diretor da Reforma do Estado, que teve como principal artífice o ex-ministro Luiz Carlos
Bresser Pereira, para quem a Reforma ou a Reconstrução do Estado era a grande tarefa política
da década de 1990.
Conforme assevera Paes de Paula (2005, p. 3), “como há uma estreita conexão entre
valores e ações de cunho gerencialista e as prerrogativas pós-fordistas da reestruturação
produtiva da economia mundializada, o gerencialismo passou a representar as necessidades das
mais diversas empresas e governos, transcendendo, portanto, as matrizes histórico-culturais
locais”. Então, ainda que originário de contextos sócio-econômicos-culturais bem distintos, o
gerencialismo consolidou-se na América Latina.
Como desdobramento da intervenção do neoliberalismo na educação, em diversos
países latino americanos, inclusive no Brasil, foi proposto o rearranjo das políticas educacionais
com o intuito de dar continuidade à subordinação destas às demandas do mercado de trabalho
e à produção capitalista, lastreado pelo discurso que sustenta essa lógica de funcionamento da
sociedade (SIEBIGER, 2011).
O processo de Bolonha, expoente de promoção do sistema europeu de educação
superior, revelou-se norteador quanto à opção pelo princípio da competitividade em termos não
só de emulação, de eficiência e financiamento, mas também de lógica mercantil (LIMA, 2008).
Segundo Siebiger (2011), a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – Lei 9.394/96 (LDB), e dos Decretos Federais 2207/97, 2306/97 e 3860/01,
verifica-se a abertura e a expansão do ensino superior de natureza privada.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP) indicam que 87,4% das Instituições de Ensino Superior do país são de natureza privada,
sendo a maioria desse montante constituído de IES (Instituições de Ensino Superior),
juridicamente estabelecidas como entidades com fins lucrativos e que atuam exclusivamente
com atividades de ensino, sem desenvolver pesquisa e/ou extensão (INEP, 2014).
Siebiger (2011, p. 3) avalia que a política assumida pelo Governo, ao expandir as IES
brasileiras, tem a seguinte finalidade:
Com o advento do Reuni, que previu o aumento da relação de estudantes nos cursos de
graduação (chegando a dezoito por professor), em diversas instituições federais de ensino
superior, houve um aumento significativo do corpo discente, com subsequente majoração da
carga de trabalho docente e intensificação do ritmo de trabalho, além da frustração de um
cotidiano marcado pelo insucesso de estudantes que aprendem mal, em face a todas as
precariedades elencadas (LÉDA e MANCEBO, 2009).
Cabe também destacar que, como o Reuni visou a expandir, sobretudo vagas em ensino
de graduação, promoveu a ruptura do tripé indissociável (ensino-pesquisa-extensão)
constituinte da educação pública de nível superior, posto que é a pesquisa o componente
definidor da universidade pública, sendo o que demanda maiores investimentos orçamentários.
A sobrecarga promovida no ensino de graduação acarreta significativo prejuízo ao
desenvolvimento de pesquisas por docentes sob o paradigma da reforma implementada
(LOPES, 2011).
Lopes (2011, p.8) depreende que a organização e caráter da educação têm
experimentado profundas alterações, posto que:
Nos anos 60 e 70 já havia estudos sobre o assédio moral, como o do médico sueco Peter-
Paul Heineman, que analisou o comportamento hostil de grupos de crianças em relação a outras
isoladas, alcunhando o termo “mobbing” (que vem do verbo inglês “to mob”, que significa
perseguir, maltratar) para descrever tal comportamento. O psiquiatra estadunidense Caroll
Brodsky analisou o trabalho como causa de estresse psicológico e esgotamento físico,
alcunhando o termo “harrasment” (que significa assédio, em inglês) tratando do problema do
assédio moral no ambiente de trabalho de maneira tangencial.
Os primeiros estudos documentados, tendo o assédio moral laboral como assunto
principal, datam da década de 1980, com pesquisadores como o psicólogo alemão Heinz
Leymann e a psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta de família, Marie-France Hirigoyen
estudando a conduta de trabalhadores no espaço empresarial.
Leymann (2005) focaliza a zona limítrofe em que o estresse causa enfermidades
psicossomáticas ou psicológicas. Em 1990, ele calcula que 3,5% dos assalariados suecos foram
vítimas de assédio moral e estima em 15% o percentual dos suicídios derivados dessa violência.
Para o estudioso, existe “mobbing” quando a vítima desenvolve doenças psíquicas ou físicas,
com a agressão se repetindo no mínimo uma vez por semana, pelo período mínimo de 6 meses,
não considerando atitudes mais sutis do agressor, que geralmente precedem o início da agressão
ou degeneração do conflito. Se levadas em conta essas atitudes, Araújo (2012) acredita que o
percentual de vítimas subiria significativamente, para algo em torno de 9 a 10% dos assalariados
suecos.
Hirigoyen (2002, p. 17) alcunhou a primeira definição de assédio moral implementado
no ambiente de trabalho:
[...] o assédio moral no trabalho é definido como qualquer conduta abusiva (gesto,
palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização,
contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu
emprego ou degradando o clima de trabalho.
45
Araújo (2012, p. 57) remete-se à pesquisa europeia, realizada no início de 2000, para
demonstrar o crescente interesse das organizações:
Denis Boissard (2003, p. 620), em ressonância, assevera que enxergar o assédio moral
apenas do ponto de vista das relações individuais provoca miopia analítica, que suprime
compreensões históricas quanto às relações de trabalho, não permitindo a visualização do
conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados como categoria social:
46
discriminatórios na medida em que eles estejam mais ou menos arraigados na vivência dos
trabalhadores e trabalhadoras envolvidas.
Ela pontua ainda que uma característica comum nos estudos feitos é incidência do
assédio moral laboral de maneira conjunta, sendo implementado por mais de uma pessoa, como
demonstrado abaixo:
Diante disso, podemos inferir que nos últimos vinte anos, houve um movimento de
discussão acerca do assédio moral laboral em nosso país, tendo, nos últimos dez anos, surgido
estudos voltados para a incidência dessa modalidade de violência laboral nomeadamente no
serviço público, como também ações de combate e prevenção. Cabe, portanto, ampliar e
aprofundar a discussão com os trabalhadores e trabalhadoras das diversas instituições que
compõem o Estado.
Assim, Araújo (2012) apresenta e analisa cada um dos critérios mais comuns para, ao
final, construir sua definição de assédio moral na modalidade organizacional. Segundo a autora,
seriam cinco as principais abordagens implementadas na identificação do assédio moral: 1) a
repercussão da conduta abusiva na saúde física e psicológica da vítima; 2) a periodicidade e a
durabilidade do ato faltoso; 3) as espécies de condutas abusivas; 4) a sua finalidade; 5) o perfil
e a intencionalidade do agressor.
O primeiro critério investigado, chamado por Araújo (2012) de biológico, exige que a
vítima desenvolva algum sintoma de estresse ou doença, de natureza psicossomática ou mental,
como reação à situação hostil a que foi submetida, para que possa ser caracterizado o assédio
moral laboral.
Segundo Araújo (2012, p. 61), o critério seria falho, posto que:
[...] o assédio moral no trabalho é definido como qualquer conduta abusiva (gesto,
palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização,
contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu
emprego ou degradando o clima de trabalho.
Araújo (2012, p. 62) aponta que, de acordo com estudos europeus, as condutas abusivas
no ambiente laboral comumente se estendem por lapsos de tempo significativos:
Já em território nacional, Barreto (2003) assevera que o assédio moral laboral perdura,
na iniciativa privada, em média, de seis a doze meses, incluídas entidades sem fins lucrativos;
no serviço público, tendem a durar, em média, tempos superiores a trinta e sete meses.
Ainda que diversos autores tenham estipulado tempos e frequências mínimas de
implementação das condutas abusivas, sendo a maioria deles favoráveis à marca mínima de
uma vez por semana, não se pode suprimir a relevância de condutas assediadoras cometidas em
frequência inferior a uma vez por semana, na medida em que sejam graves os malefícios
causados a pessoa ou pessoas assediadas. Araújo (2012), no entanto, ressalva que se a
frequência das atitudes ilegais for muita baixa, podendo ser enquadradas como raras, não se
caracterizaria o assédio moral laboral.
O terceiro critério, chamado por Araújo (2012) de material, enfatiza as condutas
abusivas propriamente ditas. De acordo com Hirigoyen (2002, p. 108-109), estudiosa das
condutas abusivas, existem quatro categorias de atos hostis:
Araújo (2012, p. 66) expõe uma crítica comum feita por empregadores franceses à
legislação que trata do assédio moral no país, por não descrever taxativamente quais seriam as
condutas passíveis de caracterização:
Já Alkimin (2005, p. 37) compreende que o assédio moral tem como finalidade a
eliminação do assediado da organização do trabalho, conforme descrito abaixo:
Araújo (2012) argumenta que, ainda que diversos estudiosos e estudiosas do assédio
moral, como Barreto (2003), defendam que existe um perfil preferencial de trabalhadores e
trabalhadoras passíveis de serem vítimas de assédio moral laboral (com problemas de saúde,
questionadores das políticas de gestão e os solidários com os colegas assediados, dentre outros),
a finalidade específica do assédio moral laboral é promover a homogeneização do
comportamento, ou seja, o controle da subjetividade dos trabalhadores e trabalhadoras, já que
em sua maioria as pessoas assediadas são consideradas fora do padrão almejado pela
organização do trabalho.
O assédio moral coletivo procura, portanto, promover o envolvimento subjetivo dos
trabalhadores e trabalhadoras às regras da administração, pressionando-os à resignação aos
parâmetros da organização do trabalho e excluindo aqueles com o “perfil inadequado”. A
52
O quinto e último critério, chamado por Araújo (2012) de subjetivo, foca a pessoa do
agressor e a sua intencionalidade destrutiva como fios condutores para a caracterização do
assédio.
A autora pondera que, à primeira vista, pode ser uma definição sedutora, em virtude do
desequilíbrio de forças entres chefias e subordinados e apresentaria soluções preventivas ou
repressivas conforme o delineamento do perfil psicológico do agressor. No entanto, a autora
pontua que:
[...] como indicam as pesquisas, o assédio moral tem-se mostrado como uma prática
difusa no ambiente de trabalho, dirigido a empregados dos mais diversos níveis
hierárquicos e praticado nos mais variados sentidos: vertical descendente, horizontal
ou vertical ascendente, e de modo geral ele é desencadeado pelos discursos e
estratégias adotados pela empresa em sua gestão do pessoal (ARAÚJO, 2012, p. 71-
72)
Esta também parece ser a explicação mais plausível para a existência do assédio moral
misto originado no grupo de subordinados (horizontal ou vertical ascendente) e que
conta com a omissão da direção, pois esse comportamento omissivo investe contra a
responsabilidade da organização do trabalho pela saúde física e mental de todos seus
integrantes e conduz, no mínimo, à cumplicidade de toda a organização com a prática
abusiva.
Para Araújo (2012), essa explicação igualmente serve à compreensão do assédio moral
misto em que os colegas de trabalho aderem ao assédio moral descendente (da chefia para com
os subordinados):
A defesa de Hirigoyen (2002) do assédio moral laboral como fruto das condutas de uma
pessoa desequilibrada e com perfil “perverso narcisista” gerou o amplo reconhecimento do
assédio moral como conduta isolada e individual, no entanto, para Araújo (2012) a viabilidade
de o assédio moral originar-se de um distúrbio individual do agressor não pode importar na
generalização dessa situação, posto que, por sempre haver como pano de fundo, seja de forma
direta ou indireta, a pressão econômica, o assédio moral laboral transforma-se em um método
de gerenciamento.
Araújo (2012, p. 74) argumenta que a vinculação do agressor como alguém com
distúrbios patológicos configura um desvirtuamento do estudo da psiquiatria e infelizmente tem
sido algo disseminado por meio de cartilhas e trabalhos doutrinários, sob rótulos engraçados e
de forte apelo popular, conforme exposto abaixo:
Para Araújo (2012), qualquer pessoa pode se tornar assediadora, bastando para isso, que
se sinta ameaçada por alguma modificação no seu cotidiano laboral, que gere alguma crise. Aí
então, ela seria levada a utilizar mecanismos perversos disponíveis para se defender,
promovendo o assédio moral. No entanto, ele jamais pode ser considerado uma atitude isolada
de um determinado trabalhador ou chefe. Mesmo quando sua decorre de um desvio de conduta
do agressor (narciso perverso), ou preconceito, ciúme e inveja, ao se inserir em uma
coletividade organizada, a mera omissão das autoridades internas com competência para
resolver o problema transforma-o em coletivo.
No outro polo, existem diversos autores e autoras que procuram identificar perfis de
pessoas que seriam mais suscetíveis ao assédio moral laboral. Guedes (2005, p.65-66) descreve
vários:
Araújo (2012) assevera que o estudo acerca das pessoas vítimas de assédio moral
laboral, que tem como intuito traçar perfis de quem seria mais suscetível, deve ser visto com
muita cautela, pois tende a imputar à própria vítima o assédio moral laboral sofrido.
Seu discurso reforça a crença de que o assediado é por natureza um fraco, merecedor da
violência a que é submetido. Essa situação esquece a possibilidade de a vítima ser selecionada
sem nenhum motivo diretamente a ela vinculado, mas simplesmente porque foi eleita como
“bode expiatório” em uma situação de crise da organização do trabalho.
Leymann (2005, np) refuta completamente qualquer tentativa de conexão dos traços da
personalidade da vítima como catalisadores do assédio moral laboral:
[...] a pesquisa até o momento não revelou particular importância aos traços da
personalidade tanto em respeito aos adultos no local de trabalho ou às crianças na
escola. Um local de trabalho é sempre regulado por regras de comportamento. Uma
dessas regras reclama cooperação efetiva, controlada pelo supervisor. Conflitos
podem sempre surgir, mas, de acordo com estas regras comportamentais, a ordem
deve ser restaurada para promover uma produtividade eficiente. [...] Uma vez que o
conflito atinja esse estágio de gravidade, não tem sentido culpar a personalidade de
alguém por isso. Se o conflito se desenvolver em um processo de mobbing, a
55
Por fim, Araújo (2012, p. 76) argumenta que, de maneira geral, o assédio moral laboral
atinge indistintamente todos os subordinados da organização do trabalho.
Tendo exposto os cinco principais critérios, que são fruto das várias vertentes de estudo
do assédio moral laboral, e tecendo as críticas pertinentes a cada um deles, Araújo (2012, p. 76)
define o que seria o assédio moral laboral:
Araújo (2012) destaca que o assédio moral laboral na modalidade organizacional pode
ser implementado tanto durante a atividade laboral propriamente dita, como também durante
atividades correlatas, sejam nas atividades conectadas ao sindicato, seja na vigência de
paralisações ou greves, ou nas atividades de diretor sindical, delegado sindical ou cipeiro, entre
outras. A autora cita, inclusive, a prática de divulgação difamante por meio de notícias de jornal
ou registro de queixa criminal forjada, que podem inserir-se no conjunto das agressões.
Araújo (2012, p. 77) define então, no contexto das agressões entabuladas, em que
patamar se dariam e o que atingiriam, no que tange ao regramento jurídico pátrio:
O indivíduo testemunhou algo além da experiência humana normal, que seria muito
traumatizante para a maioria das pessoas, como uma séria ameaça contra a vida ou
integridade física ou psicológica de alguém; uma séria ameaça ou lesão às crianças,
parceiros ou qualquer outro parente ou amigo próximo de alguém; a repetida e extensa
destruição da casa ou cidade de alguém; presenciar uma séria lesão ou morte de
alguém relacionado a um acidente ou ato violento; ou testemunhar todo o conjunto de
eventos (ARAÚJO, 2012, p. 77).
Araújo (2012, p. 80) argumenta que, por vezes, o assédio moral pode ser confundido
com prerrogativas legítimas da chefia:
Araújo (2012, p. 83) salienta que após a denúncia houve retaliações da empresa:
Cabe, por último, explicitar que, para Araújo (2012), a vinculação do assédio moral
laboral à degradação das condições de trabalho ou ao comprometimento do futuro profissional
são complementares, sendo o foco a comprovação da violação e desrespeito aos direitos
fundamentais dos trabalhadores e trabalhadoras, juntamente com a valoração do
comprometimento físico e mental, caso existam.
58
Ainda que possam se dar de maneira muito próxima e até haver superveniência ou
concomitância entre o assédio moral laboral, o assédio sexual e a discriminação, cada qual tem
características próprias e finalidades diferentes (ARAÚJO, 2012).
Araújo (2012, p. 86-87) perscruta o que seria o estereótipo e o preconceito, ao afirmar
que o primeiro seria “o lugar-comum, a ideia preconcebida resultante da falta de conhecimento
efetivo sobre o tema, com que se costuma classificar socialmente certas pessoas e se expressa
principalmente por meio de anedotas, contos populares, etc.”, sendo o preconceito “o
julgamento prévio, favorável ou desfavorável, concebido sem exame crítico, ou maior
conhecimento, ponderação ou razão, que se faz sobre o indivíduo”.
59
Araújo (2012, p. 87) assevera que a diferença entre o assédio moral laboral e a
discriminação dar-se-ia à medida que aquele se caracteriza por ser uma perseguição, cujo
instrumento é a pressão psicológica, dirigida a um ou vários trabalhadores:
[...] uma ação ofensiva que atenta contra a disponibilidade sexual da pessoa,
afrontando-lhe a liberdade sexual, isto é, o direito de dispor do próprio corpo, ou de
não ser forçada a praticar ato sexual indesejado. Tal ação constitui-se um uma ofensa
60
Barros (1995) distingue duas modalidades de assédio sexual: a primeira ocorre por
intimidação e a segunda ocorre por chantagem. O assédio sexual por intimidação caracteriza-
se por:
Já o assédio sexual por chantagem, segundo Barros (1995, p. 187), “traduz a exigência
formulada por superior hierárquico a um subordinado, para que se preste à atividade sexual,
sob pena de perder o emprego ou benefícios advindos da relação de emprego”.
A distinção do assédio sexual frente ao assédio moral dá-se por conta de, para aquele,
ser desnecessária a repetição e sistematização, imprescindível para o último. No entanto,
tratando-se de um único ato de assédio sexual, torna-se necessário que seja grave, pressupondo
agressividade na conduta, materializada no contato físico do agressor com a vítima (ARAÚJO,
2012).
De acordo com Araújo (2012), a literatura especializada defende a necessidade de o
assediador estar em nível hierárquico superior ao da vítima, prevista no art. 216-A do Código
Penal, inferindo que: constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento
sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. No entanto, a previsão legal não abarca
situações relevantes de assédio sexual, como aqueles em que colegas da vítima ou até
subordinados implementam condutas assediadoras (ARAÚJO, 2012).
Entender as concepções de assédio moral laboral, assédio sexual e discriminação torna-
se relevante para que se compreenda a diferenciação na sua incidência. Tendo em vista que as
diversas legislações estipulam penalidades específicas para cada uma dessas condutas ilícitas,
a sua precisa identificação é necessária, visto que, existindo ação judicial contestatória da
conduta, possa haver a correta punição.
61
Para Araújo (2012, p. 141), o assédio moral em regra “manifesta-se pelo exercício do
poder diretivo da chefia, utilizado como mecanismo de motivação e manutenção da disciplina
e da ordem internas” na organização do trabalho. Sendo os casos de atos abusivos com
contornos de tipos penais, como situações de violação de correspondência, ofensas à honra e
assédio sexual, entre outros, menos frequentes.
Como o assédio moral é sutil para Araújo (2012), ele se enquadra nos - assim chamados
por Ronald Dworkin – “casos difíceis”, obtendo melhor solução com a aplicação do princípio
da integridade, ou seja, para o cumprimento da relação de trabalho, as partes envolvidas devem
observar os direitos fundamentais individuais e proporcionar a sua aplicação da forma mais
ampla possível, consoante a melhor interpretação do direito.
Araújo (2012) defende que, na iniciativa privada, em vista de numerosa jurisprudência
contra a prática do assédio moral laboral, a proteção legal tem se mostrado robusta. A autora
inclusive destaca que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre abuso de
poder, implementado por agentes públicos, formou-se inicialmente analisando lides de cunho
trabalhista, como a transferência de empregados para locais distantes, ainda que no mesmo
município, e a despedida obstativa da aquisição de estabilidade no emprego.
Diversos estudiosos e estudiosas do tema defendem a regulamentação do assédio moral
laboral por norma específica, havendo diversos Projetos de Lei (PL’s) tratando do assédio moral
no Congresso Nacional que foram sendo apresentados e aglutinados, existindo, atualmente, dois
principais tramitando: o PL 4742/2001 (Pronta para Pauta no Plenário) e PL 6757/2010
(Aguardando Designação de Relator na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço
Público).
Ao analisar os dois Projetos de Lei, podemos inferir que o PL 4742/2001, ao propor
inserir a tipificação do assédio moral laboral no Código Penal Brasileiro, alcança todos os
regimes de trabalho, seja ele celetista ou estatutário, tornando seu alcance maior que o
apresentado pelo PL 6757/2001 que abarca apenas trabalhadores e trabalhadoras regidos pela
CLT.
Magalhães (2014) pontua que, ainda que não exista nenhuma legislação nacional ou
federal versando especialmente sobre o assédio moral, existe a Lei nº 11.948/2009, que aborda
transversalmente a conduta, implementando punição, conforme trecho abaixo:
62
No artigo 223-C, Santos (2017, p. 188) indica que vários direitos da personalidade
passíveis de salvaguarda não foram inseridos nesse artigo, como o direito à vida privada, à vida
familiar sã, plena e feliz, à beleza, à qualidade de vida etc., “o que exigirá do magistrado, no
caso concreto, a devida subsunção do fato real à norma legal”.
63
O artigo 223-D trata da pessoa jurídica poder sofrer dano moral, em sintonia com a
Súmula nº 227, do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O artigo 223-E contempla a possibilidade de responsabilidade solidária ou subsidiaria,
sendo tal possibilidade decorrente de lei ou contrato.
No artigo 223-F, visualiza-se em seu primeiro parágrafo, o acolhimento da Súmula nº
37 do STJ, que dispõe sobre a cumulação das indenizações por dano material e moral oriundos
do mesmo fato, já o seu segundo parágrafo torna-se desnecessário, na medida em que, por terem
natureza jurídica diversa, os danos patrimoniais e morais não se confundem.
Refutando o artigo 223-G, Santos (2017, p. 189) relembra que:
Dessa forma, o autor defende que não poderá haver tarifação da indenização por dano
moral, alegando que o artigo 223-G não leva em conta que:
a dignidade humana não é mensurável, não tem preço, possuindo um valor inestimável
em face da natureza insubstituível e única da personalidade humana, que nada tem a
ver com as funções ou atribuições que cada um exerce no dia a dia, seja na vida
profissional ou privada, surgindo a imponderabilidade de se usar idênticos parâmetros
para todos os indivíduos. Em outras palavras, colocar todos na mesma balança
(SANTOS, 2017, p. 189).
E exemplifica:
Um diretor de uma grande empresa, com remuneração elevada, certamente terá uma
indenização muito superior a um operário que labora no chão de fábrica, com
remuneração muito inferior. Será que a dignidade do diretor é superior
axiologicamente à dignidade do operário? Em termos de indenização pela ocorrência
do dano extrapatrimonial, o valor pecuniário da indenização do diretor se apresentará
muito superior à do operário, ensejando uma situação de não equidade, como se a
dignidade do operário fosse considerada de segunda linha (SANTOS, 2017, p. 189).
São inúmeros os percalços que deverão ser solucionados pela doutrina e pela
jurisprudência futura, posto que é válido estabelecer “parâmetros de fixação do valor da
reparação, em uma escala de valores, mas sempre deixando uma janela aberta ao magistrado,
para em seu juízo de ponderação, fixar a justa indenização em cada caso concreto que se lhe
fosse apresentado” (SANTOS, 2017, p. 190).
Araújo (2012) alerta que, evidentemente, a regulamentação legal, por si só, não irá coibir
a ocorrência da conduta abusiva ou possibilidade de falsa imputação de condutas assediadoras
64
a alguém. Dessa forma, iniciativas legislativas devem ser compreendidas como elementos a
serem somados ao processo de interpretação, não entregando, então, a pronta solução do
problema.
Para ter eficácia, qualquer medida legislativa pressupõe “necessariamente um conceito
aberto de assédio moral”, a despeito de pressões que possam existir para que aja o atrelamento
de indicação taxativa de procedimentos abusivos no texto legal, já que isso muito
provavelmente teria como consequência a exclusão de diversas situações legítimas de assédio
moral laboral do enquadramento normativo (ARAÚJO, 2012, p. 142).
Araújo (2012, p. 143) pontua também que tentativas de vincular o valor da indenização
ao da remuneração ou das verbas rescisórias devem ser rechaçadas, “pois a indenização advinda
da ofensa moral deve ser proporcional ao dano em sua extensão, nos termos das diretrizes
adotadas pelo art. 944 do Código Civil”.
Para a autora, “a extensão do dano deve considerar a lesão causada à vítima e também
a toda a sociedade”, devendo, assim, ser implementado o princípio do “punitive damage”, que
é descrito da seguinte forma:
[...] além do valor fixado pelo dano sofrido diretamente pela vítima, há o necessário
acréscimo na fixação da extensão e valor do dano, cujo objetivo e interesse da
sociedade é no sentido de que o agressor não volte a repetir a ato contra qualquer
pessoa e não apenas contra a vítima. Essa é a real extensão do dano.
Por conta do assédio moral no trabalho, na grande maioria das vezes, retratar uma
situação coletiva e uma forma de gestão da organização do trabalho, as soluções internas
apresentadas, por terem um viés individualizante, mostram-se ineficientes. E, dessa forma,
torna-se uma tarefa árdua para o trabalhador ter que lidar com mecanismos que tornam
individual um comportamento que, por vezes, faz parte do padrão interno de funcionamento,
escamoteando o traço organizacional do assédio moral (ARAÚJO, 2012).
Em seus estudos, Hirigoyen (2002, p. 289-290) apurou que somente a minoria dos casos
encontrou solução na própria organização. De acordo com a autora:
Araújo (2012) destaca que o trabalhador ou trabalhadora que sofre assédio moral pode
denunciar ao sindicato de sua categoria e em diversos outros órgãos, como o Poder Judiciário.
Para o trabalhador do serviço público, existem, além dos sindicatos, ouvidorias nas três esferas
de Governo, como também o Ministério Público.
A defesa do interesse público é um dos quatro princípios do Ministério Público,
elencados no artigo 127 da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB)/88. Na
eventualidade do assédio moral laboral, a atuação do Ministério Público tem respaldo em face
de diversos outros regramentos, quais sejam: a) da violação à dignidade do trabalhador (art. 1º,
III e IV; art. 3º, I e IV; art. 170, caput e III; art. 193, caput; todos da CF) e aos seus direitos de
personalidade (à imagem, à honra e à integridade psíquica – art. 5º, X, da CF), os quais tem
natureza indisponível (art. 11 do CC) ou coletiva (quando atinge vários obreiros) – art. 129 da
CF; b) do tratamento degradante e desumano (art. 5º, III, da CF); c) do abuso de direito e de
poder (Arts. 186 e 187 do CC).
Para além do combate ao assédio moral laboral pela via judicial, o Ministério Público
implementa diversas ações de prevenção e conscientização sobre essa modalidade de abuso,
com campanhas e cartilhas voltadas tanto para trabalhadores e trabalhadoras do setor privado
como do setor público.
Para demonstrar que existem também, o combate e prevenção internamente, foi
assinada a Portaria nº 583/2017, que instituiu a Política Nacional de Prevenção e
Enfrentamento do Assédio Moral e Sexual e da Discriminação no Ministério Público do
66
Trabalho (MPT), com o intuito de estabelecer princípios, diretrizes e ações visando a garantir
um ambiente de trabalho mais saudável para os servidores e servidoras do órgão.
Cabe destacar também o excelente documentário intitulado “A dor (in)visível – Assédio
Moral no Trabalho” (PTM - MPT/RS, SRTE – MTE e Governo Federal, 2014)2, em que são
exibidos diversos relatos de vivências de trabalhadores vítimas de assédio moral laboral, como
também a falas de diversos profissionais, desde servidores públicos integrantes do Ministério
Público, até médicos do trabalho estudiosos do tema, que analisam o assédio moral laboral no
ambiente empresarial.
No que tange à produção legislativa nacional que versa sobre o assédio moral laboral,
Aguiar (2008) assevera que o Projeto de Lei nº 425/1999, apresentado na Câmara Municipal de
São Paulo, foi pioneiro na proposição de aplicação de penalidades frente a condutas
assediadoras no âmbito da Administração direta municipal. No entanto, a autora pontua que o
município de Iracemápolis foi o primeiro a aprovar legislação atinente ao tema, por meio da
Lei nº 1.163 que entrou em vigor em 2000. Já o Projeto de Lei nº 425/1999 foi convertido na
Lei nº 13.288, apenas em 2002.
O município de Iracemápolis também possui a Lei municipal nº 1.159/2000, que dispõe
sobre o Dia de Reação ao Assédio Moral, que se realiza, anualmente, no dia 2 de maio e o
Decreto nº 1.134/2001, que regulamenta a Lei Municipal nº 1.163/2000. Cabe transcrever
abaixo a redação do trecho inicial da lei, que define o que seria o assédio moral laboral:
2
Realização colaborativa: MPT-RS (Ministério Público do Trabalho do Estado do Rio Grande do Sul) - PTM
(Procuradoria do Trabalho no Município de Caxias do Sul), MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) - SRTE
(Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Caxias do Sul) e Governo Federal.
67
Na comparação entre leis pioneiras, uma na esfera municipal e outra na esfera estadual,
a definição, amplitude e rol de condutas exemplificativas na lei sul-mato-grossense a torna mais
avançada que a lei iracemapolense.
Diversas outras Unidades Federativas implementaram leis sobre o assédio moral laboral,
com abordagens ligeiramente semelhantes. Atualmente, a maioria possui leis enquadrando o
assédio moral como conduta ilegal passível de punição. Das 27 Unidades Federativas, 16
possuem legislações tratando sobre o tema, a maioria enquadrando o assédio moral como
conduta passível de punição, como também instituindo datas que promovam a discussão,
prevenção e combate a essa modalidade de violência laboral.
Cabe destacar que a maioria das normatizações preveem o assédio moral laboral na
modalidade vertical e descendente, quando é implementando por ocupantes de cargos
hierarquicamente superiores, no entanto, conforme abordado anteriormente, Araújo (2012)
adverte que as outras modalidades de assédio moral, como o horizontal, implementado por
colegas, podem se combinar com o implementado por chefias, assim como a modalidade
vertical ascendente também é passível de acontecer, ainda que com menor frequência.
Podemos visualizar que, nas Unidades Federativas, a normatização punitiva do assédio
moral foi implementada ora por meio de lei ordinária, ora por meio de lei complementar. Em
duas Unidades Federativas, Rio Grande do Sul e São Paulo, foi movida Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI).
No Rio Grande do Sul, a argumentação contida na ADI foi a de que haveria afronta à
prerrogativa de garantia de iniciativa ao Chefe do Poder Executivo para regrar, privativamente,
tanto matéria atinente a servidores públicos e seu regime jurídico, como também a normas
referentes à estruturação e atribuições relativas aos órgãos da Administração pública estadual.
Em São Paulo, a argumentação contida na ADI foi a de que haveria vício de iniciativa,
por se tratar de propositura que somente poderia vir a integrar o ordenamento se revestisse a
forma de lei complementar, tendo em vista o sistema contemplado na Carta estadual, além de
haver dispositivos que subtraem do Executivo o poder de administrar que lhe é próprio pelo
princípio da separação de poderes.
Algumas normatizações estaduais definiram que o Poder Executivo posteriormente
regulamentará a lei por meio de Decreto, outras não. Como podemos ver, a regulamentação
implementada por cada Unidade Federativa no que tange à punição do assédio moral,
69
Com a Lei nº 8.429/1992, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos
nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na
administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências, também
conhecida como Lei de Improbidade Administrativa (LIA), houve a regulamentação do Art. 37
(artigo trinta e sete), § 4º (parágrafo quarto), da CRFB, que expressamente aduz sobre a
improbidade administrativa, conforme transcrito abaixo:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
[...]
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
A amplitude da Lei nº 8.429/1992, que pode ser visualizada em seus Art. 1º, 2º e 3º
(artigos primeiro, segundo e terceiro), os quais seguem transcritos abaixo:
Menezes (2016) assevera que, para a legislação, não é apenas o servidor público que
pode ser penalizado por atos de improbidade administrativa. Se o autor do ato ilícito não for
agente público, apenas não sofrerá a penalidade atinente à perda de mandato, cargo, emprego
ou função, por não existir vínculo laboral, porém sobre ele incidirão todas as outras penalidades
pertinentes.
A Lei nº 8.429/1992 descreve quatro modalidades de atos cometidos dolosamente que
caracterizam a improbidade administrativa. São elas: enriquecimento ilícito, descrito no art. 9º
(artigo nono); prejuízo ao erário, descrito no art. 10 (artigo dez); concessão ou aplicação
indevida de benefício financeiro ou tributário, descrito no art. 10-A (artigo dez “a”) e, por
último, violação aos princípios da boa Administração pública, descrito no art. 11 (artigo onze).
As penas vinculadas a cada uma das modalidades de atos de improbidade administrativa
possuem uma graduação, indo da mais grave até a mais leve, conforme a transcrição abaixo, do
art. 12 (artigo doze) da Lei nº 8.429/1992:
Art.11...........................................................................................................................
.....................................................................................................................................
IX - coagir moralmente subordinado, por meio de atos ou expressões reiteradas que
tenham por objetivo atingir a sua dignidade ou criar condições de trabalho
humilhantes ou degradantes da autoridade conferida pela posição hierárquica (PL
8.178/2014).
3
O PL 8.178/2014 encontra-se em tramitação no Senado Federal - estando atualmente na CCJC (Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania) - o Projeto de Lei (PL) 8.178/2014, ao qual estão apensados o PL 4544/2016
e PL 5698/2016.
74
seções, sendo alterada a nomenclatura, que antes constava como “Servidores Públicos
Militares”, para “Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”.
A despeito de algumas correntes que pleiteiam terem os militares deixando de se
enquadrar na categoria de servidores públicos, cabe pautar que, em sentido estrito, com a
Emenda Constitucional 18/1998, deixaram sim, de ser servidores públicos, pela possibilidade
de ser submetidos a estatutos jurídicos distintos dos servidores públicos anteriormente
enquadrados como civis, permanecendo, no entanto, como servidores públicos, em sentido
amplo. Seguem então, abaixo, as ementas dos supracitados acórdãos:
Frente a patentes atos ilegais, como podemos vislumbrar nos acórdãos em que militares
estão envolvidos com a implementação de assédio moral, torna-se mais fácil provar a
incidência dessa modalidade de violência laboral.
Se faz mister existir uma legislação nacional que defina o que seria o assédio moral
laboral e preveja um rol exemplificativo de condutas passíveis de serem caracterizadas como
arbitrárias, pois, segundo Araújo (2012), existem diversas correntes, cada uma com critérios
próprios para identificação de condutas assediadoras, quais sejam: o biológico, que leva em
conta a repercussão da conduta abusiva na saúde física e psicológica da vítima; o temporal, que
leva em conta a periodicidade e durabilidade do ato faltoso; o material, que leva em conta as
espécies de condutas abusivas; o teleológico, que leva em conta a finalidade das condutas
identificadas como abusivas; e o subjetivo, que leva em conta o perfil e a intencionalidade do
agressor.
Consoante ao que foi mencionado, Araújo (2012) avalia circunstanciadamente cada uma
das correntes doutrinárias, para, ao fim, definir a configuração mais acertada do que seria o
assédio moral organizacional.
A maioria das Unidades Federativas já possui legislações que versam sobre o assédio
moral, sendo a quase totalidade voltada para condutas de agentes públicos, seja em sentido
estrito, seja em sentido amplo, com apenas a normatização do Distrito Federal abarcando
também o setor privado.
Nos acórdãos, em consonância com Gasparini (2008), assevera-se que todo ato
administrativo deve ser motivado. Assim, cabe pontuar que a assédio moral mais facilmente é
caracterizado quando se encontra atos administrativos eivados de nulidade, posto que expedidos
com desvio de finalidade, amplamente reconhecido judicialmente, como a imotivada
transferência de seu local de trabalho. Manifestação do STJ, por intermédio do REsp 1.286/RS,
quanto à gravidade da conduta assediadora, pleiteia que o assédio moral, mais do que
provocações no local de trabalho - sarcasmo, crítica, zombaria e trote -, é campanha de terror
psicológico pela rejeição.
Os magistrados procuram na doutrina a definição do assédio moral laboral e escolhem
a qual tem mais afinidade, como podemos constatar no trecho de decisão do TRT - 3ª Região,
transcrita abaixo:
Bandeira de Mello (1998, p. 99) defende que, se a motivação do agente público fosse
prescindível “o ato administrativo apresentar-se-ia como definitivo, com força de verdade legal,
tão irreversível quanto uma decisão judicial transitada em julgado. Ganharia os atributos que
só assistem aos pronunciamentos judiciários finais”. No que tange à finalidade do ato
administrativo, Guimarães (2009, p. 104) assevera que:
a prática de ato com suposto fundamento em determinada lei, sem, no entanto, se visar
ao atendimento à finalidade legal, caracteriza desvio de poder. Acrescente-se que,
como é cediço, além da finalidade específica, cada norma de Direito Administrativo
que veicula competência traz consigo a obrigatoriedade de atendimento da finalidade
inerente a qualquer ato administrativo: a de satisfação ao interesse público.
78
Dromi (1996, p. 229) sustenta que, no que compete à publicidade do ato administrativo,
“a publicidade dos atos de governo é um elemento essencial na democracia, porque os
governantes administram coisa alheia e os administrados devem ser informados sobre a gestão”.
Para Guimarães (2009, p. 106) “evidentemente a publicidade ampla a que deve se
submeter à atividade de administração pública inclui a exposição de forma precisa e clara das
razões que levam à expedição dos atos administrativos [...]”.
“Entender-se que, para certos atos praticados por certos agentes, não é necessária a
motivação é, ao arrepio da ordem constitucional vigente, atribuir poder absoluto ao agente
em questão”, na compreensão de Guimarães (2009, p. 106).
Bandeira de Mello (1998, p. 103), quanto à relevância de consistente motivação para
validação dos atos dos agentes públicos, ultima, conforme trecho abaixo:
Gomes (2011) relata que Lula, tendo em vista sua plataforma de Governo, induz a lutas
políticas para que uma das quatro universidades propostas pelo Governo Federal viesse para a
Amazônia, entrando em disputa os governos dos Estados do Amazonas e Pará, saindo vitorioso
o último.
A disputa para que o município a sediar a nova Universidade fosse Santarém gerou um
documento chamado “Subsídios sobre a futura Universidade Federal do Oeste do Pará”, além
de uma coalisão de diversas entidades, como a Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA),
Associação dos Municípios das Rodovias Transamazônica, Santarém-Cuiabá e Região Oeste
do Pará (AMUT), Associação dos Municípios da Calha Norte (AMUCAN), Prefeituras e
Câmaras de Vereadores da região, optando então o Governo do Estado pela nossa cidade
(GOMES, 2011).
Ao analisar os discursos dos diversos atores políticos envolvidos na criação da Ufopa,
Gomes (2011, p. 108) infere que:
Gomes (2011, p. 115) evidencia que os atores políticos e burocratas elencados em seu
estudo “fazem parte de uma elite política, portanto com interesses, principalmente, no sentido
de manutenção do status quo.” Em vista disso, a autora procede argumentando que:
O estudo de Gomes (2011), analisa que a criação e implantação da Ufopa foi possível
por atores vinculados ao poder estatal, sejam eles agentes políticos, detentores de cargos
eletivos, sejam eles agentes públicos, prestadores de serviço ao Estado. Todos eles ocupantes
de cargos políticos no Legislativo ou de direção no Poder Executivo.
De acordo com Gomes (2011), a Universidade Federal do Pará (UFPA) foi incumbida
de elaborar o projeto de criação da Ufopa, tendo sido concluído em 2 de julho de 2007 e
82
sistemas normativos, por sua irrelevância, são aqui qualificadas e reprimidas” (ARAÚJO, 2012,
p. 29). Quanto ao duplo sistema de gratificação-sanção que a disciplina promove:
[...] a arte de punir, no regime do poder disciplinar, não visa nem à expiação, nem
mesmo exatamente à repressão. Põe em funcionamento cinco operações bem distintas:
relacionar os atos, os desempenhos, os comportamentos singulares a um conjunto, que
é ao mesmo tempo campo de comparação, espaço de diferenciação e princípio de uma
regra a seguir. Diferenciar os indivíduos em relação uns aos outros e em função dessa
regra de conjunto – que se deve fazer funcionar como base mínima, como média a
respeitar ou como o ótimo de que se deve chegar perto. Medir em termos quantitativos
a hierarquizar em termos de valor as capacidades, o nível, a “natureza” dos indivíduos.
Fazer funcionar, através dessa medida “valorizada”, a coação de uma conformidade a
realizar. Enfim, traçar o limite que definirá a diferença em relação a todas as
diferenças, a fronteira externa do anormal [...]
Opõe-se então termo por termo a uma penalidade judiciária que tem a função essencial
de tomar por referência, não um conjunto de fenômenos observáveis, mas um corpo
de leis e de textos que é preciso memorizar; não diferenciar indivíduos, mas
especificar atos num certo número de categorias gerais; não hierarquizar, mas fazer
funcionar pura e simplesmente a oposição binária do permitido e do proibido; não
homogeneizar, mas realizar a partilha, adquirida de uma vez por todas, da condenação.
(inc. XL) do já assinalado artigo, cabendo o controle jurisdicional amplo, conforme veremos
mais adiante.
Cabe, por conseguinte, estudar o PAD à luz da produção teórica que sonda sua corrupção
pelo assédio moral, como também verificar a jurisprudência dos Tribunais Superiores e órgãos
de fiscalização e controle, como a Controladoria-Geral da União (CGU), frente aos excessos
que podem intercorrer durante o PAD e sua instauração.
A Portaria nº 1.011 imputou a liderança do protesto ao docente Gilson Costa, conforme
podemos atestar no trecho abaixo:
Além disso, a Reitoria da Ufopa instituiu o PAD com a finalidade de “[...] apuração dos
fatos acima narrados, incluindo todas as ações e atos que vêm sendo praticados, como a
produção de textos, documentos e outros ofensivos contra pessoas e a própria Instituição [...]”
e também “o afastamento preventivo do referido docente pelo prazo de (60) dias [...]” (UFOPA,
2011).
Ao final, o docente Gilson Costa recebeu suspensão por 90 dias, além do afastamento
preventivo de 60 dias de suas atividades e o técnico administrativo Wallace Sousa foi advertido
por escrito, com enquadramento no art. 117, inciso V, que proíbe “promover manifestação de
apreço ou desapreço no recinto da repartição”.
Um primeiro ponto a ser avaliado é que a Portaria nº 1.011 não seguiu a orientação da
CGU, que em seus Pareceres GQ-12, GQ-35, GQ-37 e GQ-100, aprovados pela Presidência da
República e publicados no Diário Oficial da União (DOU), a partir de 1994, instrui que a
portaria de Instauração de PAD não deve mencionar os nomes dos servidores supostamente
envolvidos nos fatos a serem apurados, já que tal ocorrência, bem como a descrição dos ilícitos
e correspondentes dispositivos legais, embora não traga prejuízo à defesa nem seja causa de
nulidade da portaria, não é recomendável, uma vez que pode ferir a integridade dos acusados,
bem como pode induzir os trabalhos da Comissão dirigente do PAD e propiciar um pré-
julgamento.
De acordo com a CGU, em dados disponibilizados em seu portal on-line sobre os
procedimentos disciplinares (instaurados no âmbito dos órgãos, entidades, empresas públicas e
sociedades de economia mista do Poder Executivo Federal), em torno de cinquenta por cento
87
Não por outra razão, o Parecer GQ-12 da AGU estabelecendo que “A finalidade dos
princípios do contraditório e da ampla defesa e o exposto nos dois itens
imediatamente anteriores indicam a desnecessidade de se consignarem, no ato de
designação da c.i., os ilícitos e correspondentes dispositivos legais, bem assim os
possíveis autores, o que se não recomenda inclusive para obstar influências no
trabalho da comissão de inquérito ou alegação de presunção de culpabilidade”.
A exposição do nome do autor foi e continua sendo, mesmo após a conclusão do
procedimento, absolutamente desnecessária, como desnecessário o evidente
constrangimento a que esteve submetido, inquestionavelmente idôneo para atingir de
maneira significativa seu patrimônio moral (GRIFOS DO AUTOR) (JF, 2001).
Medeiros (2016, p. 1), argumenta que o assédio moral pode contaminar, inclusive,
instrumentos como o Processo Administrativo Disciplinar - PAD4, tornando-o “alto simulacro
legal”, mas que passa a carregar em seu organismo, vírus mortal capaz de exterminá-lo com
base no mais claro desvio de finalidade.
A CRFB (BRASIL, 1988), ao defender os “Princípios da Dignidade da Pessoa Humana,
dos valores sociais do trabalho, da impessoalidade, da moralidade e eficiência, entre outros
4
Instrumento que apresenta uma tríplice face: é um instrumento de exercício do poder, é instrumento de controle,
e, por fim, é instrumento de proteção dos direitos e garantias dos administrados.
88
[...]”, combate “qualquer ação ou omissão que contenha o assédio moral em sua gênese
constitutiva” (MEDEIROS, 2016, p. 2).
Medeiros (2016, p. 2), destaca que no artigo 41, parágrafo primeiro, inciso dois, da
CRFB (BRASIL, 1988) é feita uma previsão sobre o PAD, através da qual este é considerado
a “gênese legiferante protetora do servidor contra demissões equivocadas, garantindo, para
tanto a obrigatoriedade de processo administrativo para seu desligamento”.
O autor destaca que o PAD é previsto, dentro da Lei 8.112 (BRASIL, 1990), como:
Para Medeiros (2016, p. 2), o PAD possui pressupostos para existir, quais sejam:
como instrumento de fiscalização, hierárquico e punitivo, requer, para seu início, dois
braços de atuação, um, que seja iniciado por autoridade superior ao servidor
presumidamente infrator, como bem demonstra o art. 149 do novel estatuto; e dois,
que essa autoridade forme comissão de servidores estáveis de patamar hierárquico
idêntico ou superior ao investigado. Sem tais medidas, pensamos que o processo é
nulo de pleno direito.
Cabe breve exame do artigo 168 da CRFB (BRASIL, 1988), posto que Medeiros (2016)
defende sua inconstitucionalidade, sendo sua redação a seguinte:
[...] as regras da Lei 8.112/90 são frutos elastecidos das Leis francesas n.º 83-634/83
e 84-53/84, país que possui um sistema administrativo independente do próprio Poder
Judiciário, nos faz perceber, mediante análise de direito comparado, que o processo
administrativo brasileiro é consequência de conclusões distorcidas dos tribunais
franceses. A exemplo do afirmado, vemos a bipartição dos poderes instrutórios e
decisórios, o que se justifica numa estrutura independente, imparcial e indiferente aos
interessados e envolvidos nos processos administrativos, o que não ocorre no Brasil,
considerando que aqui, as comissões e autoridade julgadora pertencem a mesma
estrutura do investigado.
Cabe, também, pontuar o acórdão do STJ versando sobre instauração de PAD que
violara o direito constitucional de livre expressão, por conta de críticas e repúdios às políticas,
atos e decisões de Governança da Administração Pública. Ele refere-se ao PAD instaurado
contra o maior número de servidores da história do Departamento da Polícia Federal (DPF),
trinta e seis policiais federais, por conta de manifestação em que se postaram em silêncio
durante a execução do hino do DPF, em 2014.
Por conta disso, foi instaurado o PAD nº 009/2015-COGER/DPF, contra o qual foi
impetrado de segurança, que suspendeu sua tramitação, pois, de acordo com o desembargador,
não restou visível, na conduta dos policiais federais, a ocorrência de qualquer delito infracional
que justificasse a instauração de PAD, ressaltando ainda o magistrado que “o alegado
desrespeito à bandeira e ao hino, escrito, foi uma conclusão subjetiva e que esse ato pode
significar a expressão do descontentamento da categoria. Não parecendo razoável a instauração
de processo administrativo disciplinar em face do exercício da liberdade de expressão”.
Abaixo segue trecho da ementa:
passivo de nulidade do PAD, visto que estava eivado de vieses autoritários, inconsistências e
inconstitucionalidades – como o Direito de Cátedra, prevista na Constituição Federal que
assegura a livre manifestação dos docentes, além de infringir outras legislações já citadas.
O fato acima narrado está bem de acordo com Araújo (2012, p. 65) que assinala que a
maioria dos estudiosos da atualidade se filia ao posicionamento teórico de Marie-France
Hirigoyen, que
admite a manifestação do assédio desde os atos sutis até atos mais ostensivos, como
isolamento, avaliações rigorosas, obstrução da atividade por meio da sonegação de
informações e equipamentos necessários ou exigência acima ou abaixo da função
contratada e condutas de explícita agressão verbal, sexual e física, ainda que leves.
Entretanto, o docente afirma que nenhuma perícia foi realizada e que na referida data
encontrava-se na cidade de Santarém – desafiando a Comissão do PAD e a Direção da
Universidade a provar o contrário, uma vez que para estar na capital do estado, deveria constar,
em algum registro das companhias de transportes, aéreas, terrestres ou de navegação, que
constava seu nome na lista de passageiros no referido de alguma delas, no período que
antecedesse a alegada consulta/perícia médica, do laudo que atestasse sua veracidade,
constando, portanto, que em tal dia, horário, número, assento, etc., consta o nome do docente
Gilson Costa entre os passageiros de alguma companhia de transporte entre Santarém-Belém.
Considerando que um laudo pericial deve ser feito mediante presença do servidor, a
Diretoria da Sindufopa (2012) solicitou esclarecimentos sobre o procedimento adotado pela
instituição, sem ter resposta alguma. No entanto, no dia 12 de dezembro de 2011, via e-mail, o
docente foi informado sobre o “Cancelamento da Perícia”, posto que o referido não foi
submetido nem à primeira tampouco, à segunda, evidenciando a farsa5.
O Prof. Dr. Ricardo Scoles também é listado no dossiê confeccionado pela Diretoria da
Sindufopa, como tendo sido vítima de perseguição/assédio moral e retaliações por parte de
superior hierárquica à época, a Prof. Dra. Dóris Faria, que era Diretora do Centro de Formação
Interdisciplinar (CFI). Frente à primeira solicitação de remoção do docente, protocolada dia 17
de novembro de 2010 (SINDUFOPA, 2012, p. 11), a Prof. Dra. Dóris Faria responde à
solicitação desqualificando o docente repetidas vezes, ao longo do documento de análise do
pedido - essencialmente por conta das críticas tecidas pelo docente quanto ao Modelo
Acadêmico, sobremaneira ao CFI - alegando inclusive que “este professor deverá ser um
problema para a implantação da interdisciplinaridade como concebida no Plano de Implantação
esteja ele em que setor estiver”.
Em e-mail endereçado a docentes lotados no CFI (SINDUFOPA, 2012, p. 10), a referida
diretora à época afirma que “Pessoas contrárias a esta concepção de interdisciplinaridades
sequer deveriam estar no CFI ou mesmo na Ufopa pois este é o projeto que o governo federal
aprovou e financia”.
Por conta da discordância com a proposta do CFI e subaproveitamento de suas
qualificações, o professor pediu para ser removido e realocado em outro instituto. No entanto,
apesar da Prof. Dra. Dóris Faria, diretora do CFI à época, declarar publicamente que docentes
contrários ao modelo não deveriam estar ali. Manifestou-se, em extensa argumentação,
contrariamente à solicitação do servidor (SINDUFOPA, 2012, p. 15), influenciando delibarada
5
Para o cancelamento de perícia médica oficial, o servidor deve ser submetido à nova inspeção médica, que
concluirá pela volta ao trabalho ou pela prorrogação de sua licença para tratamento de saúde.
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em lugar de utilizar o verbo 'lesar' (ofender, violar), preferiu o legislador inserir como
abuso de autoridade o 'ato lesivo' (conduta ofensiva), tendo por objeto a honra (senso
de apreciação que se faz acerca da autoridade moral de uma pessoa, consistente na sua
honestidade, no seu bom comportamento, na sua respeitabilidade no seio social (e
podemos especificar, no seio profissional) … ou o patrimônio (conjunto de bens
materiais de uma pessoa). O exercício do poder estatal pode provocar lesões à
95
São dados dois exemplos mais comuns de abuso de autoridade perpetrados contra
subordinados hierárquicos, no material do MP-GO, sendo o primeiro caracterizado por
“xingamentos, insulto ou agressão verbal praticado pelo chefe contra o servidor” e o segundo
caracterizado por “avaliação negativa do servidor no sistema de pontuação para progressão
funcional ou na avaliação do estágio probatório”. Neste último, o ato administrativo encontra-
se desvinculado “dos objetivos legais ou normativos, ou seja, motivados por vingança,
arbitrariedade, perseguição etc.,” tornando-se, desta forma, condutas ofensivas, já que podem
ser lesivas
à honra (valoração que se faz sobre a honestidade de uma pessoa, sobre o seu
comportamento profissional ou social, sobre a respeitabilidade ou sobre sua postura
calcada nos bons costumes) e ao patrimônio, pois repercutirá na manutenção de seu
empregou e/ou na sua remuneração.
[...] um chefe imediato que sempre permite que os seus subordinados não cumpram
o horário integral de trabalho legalmente previsto. Porém, em razão de um entrevero
que teve com um deles, utiliza tal fundamento para fazer uma avaliação negativa desse
servidor, afastando-se do parâmetro até então adotado. Neste caso, o chefe imediato
deverá responder disciplinarmente e por improbidade administrativa não só por ter
deixado todos seus subordinados sem cumprir o horário, mas também responderá pelo
crime de abuso de autoridade, pois a mudança no seu comportamento padrão,
exclusivamente com um servidor, comprova que a motivação foi vingança ou
perseguição, caracterizando o desvio ou abuso de poder. Ou seja, o chefe pode e deve
avaliar negativamente o servidor que não cumpre com seus deveres, porém, deve fazer
isso de forma padronizada, adotando idênticos critérios, para todos os seus
subordinados.
96
Deste modo, como podemos averiguar em argumentação feita pelo MP-GO, também o
abuso de poder pode ser um catalisador do assédio moral, por intermédio de institutos como o
da avaliação do estágio probatório, nessa hipótese eivados por vício insanável. Cabe, ao final,
destacar que o abuso de poder diverge da improbidade administrativa e do assédio moral,
conforme dito anteriormente, em ponto específico.
No dossiê da Diretoria da Sindufopa consta o “Relatório de Assédio Moral de dirigentes
da Ufopa sobre o servidor Gilberto César Lopes Rodrigues”, em que são descritas, de acordo
com o docente, situações de perseguição/assédio moral promovidas pela Prof. Dra. Dóris Faria
(ex-Diretora do CFI) e pelo Prof. Dr. Aldo Queiroz, Pró-Reitor de Planejamento Pro Tempore
da Instituição à época (SINDUFOPA, 2012).
Dois pontos da narração do servidor público Gilberto César Lopes Rodrigues
mostraram-se relevantes para a monografia. Para abordar o primeiro, cabe contextualizá-lo em
meio a falas públicas da Prof. Dra. Dóris Faria - Diretora do CFI e superior hierárquica do
docente à época - como a de que os docentes “não estavam ali para criticar o modelo pedagógico
‘dela’, mas tão somente para implementá-lo”, conforme descrito no relatório feito pelo docente
(SINDUFOPA, 2012, p. 129), e dos pedidos do Prof. Dr. Gilberto César de desligamento da
coordenação do PARFOR, remoção do CFI e relotação em outro instituto.
Ao receber convite - posteriormente à sua remoção e relotação do CFI para o Instituto
de Ciências da Educação (ICED) - para participar do Programa de Educação Tutorial (PET)
/Ufopa/Capes, no dia 26 de agosto de 2010 (SINDUFOPA, 2012, p. 153) sob a Coordenação
Inicial dos trabalhos da Profa. Dra. Iani Lauer-Leite, enviou contribuição, configurando efetiva
participação (SINDUFOPA, 2012, p. 154). No entanto, após aprovação do projeto pelo MEC,
teve o nome abruptamente retirado do projeto, a pedido da Prof. Dr. Dóris Faria (SINDUFOPA,
2012, p. 155) do referido relatório, informando ainda à Diretora do CFI que na eventualidade
de alguma dúvida quanto à decisão, procurasse o Prof. Dr. Rodrigo Ramalho, nomeado ao cargo
de Pró-Reitor de Ensino Pro Tempore, à época.
Ao encaminhar pedido de esclarecimento quanto à retirada de seu nome do projeto PET,
teve como resposta do Prof. Dr. Rodrigo Ramalho que “Se o senhor, eventualmente, já não
participa do Centro e se a sua posição não é favorável à nova estrutura e conteúdo acadêmicos
da Ufopa, especialmente a este Centro, não seria contraditória esta participação?”
(SINDUFOPA, 2012, p. 156), ao que o docente responde que suas contribuições foram acerca
97
atividades na Instituição, apenas não tendo participado do PARFOR, por conta do estágio
avançado de gravidez, que conforme alega a servidora, era de conhecimento geral de colegas e
coordenação do CFI. Evidentemente, corroborado por recomendação profissional, médica.
Por conta desse envio de datação errôneo, a DGDP a todo momento estava entrando em
contato com a docente para saber sobre seu paradeiro e atividades, provocando grandes
transtornos à Prof. Ms. Márcia Saraiva, que, além disso, declarou que estava tendo grandes
dificuldades em formalizar seu pedido de licença-maternidade. Por conta disso, a docente
afirmou tratar-se de mais do que apenas “uma simples falta de informação” (SINDUFOPA,
2012, p. 67).
Deste modo, ao cruzarmos toda a construção doutrinária que define o que é assédio
moral na sua modalidade organizacional, juntamente com todo o estudo de caso até aqui posto,
podemos encontrar uma gama de indícios nas condutas de diversos dos integrantes do quadro
funcional elencados no dossiê confeccionado pela Sindufopa. Por consequência, existiria
cabimento na implementação, se assim os envolvidos desejassem, de medida administrativa ou
judicial, com o intuito de aprofundar a investigação das condutas relatadas e pleitear
indenizações.
Araújo (2012, p. 16) defende que,sob a égide do capitalismo, o recurso tecnológico mais
avançado implementado é a manipulação da subjetividade dos trabalhadores e trabalhadoras,
tendo o assédio moral laboral como uma de suas características a sistematização, podendo ser
implementado contra uma ou mais pessoas, com o intuito de “obter o engajamento subjetivo de
todo o grupo às políticas e metas da administração, por meio da ofensa a seus direitos
fundamentais, podendo resultar em danos morais, físicos ou psíquicos”.
A primeira gestão da Ufopa, composta por chefias pro tempore - tendo o Reitor Pro
Tempore Prof. Dr. Seixas Lourenço sido nomeado pelo Ministro da Educação à época - careceu
de órgãos colegiados deliberativos por anos, tendo o Conselho Universitário (Consun) sido
composto em agosto de 2011, quase três anos após a criação da universidade e ainda assim, em
caráter pro tempore.
O Estatuto entrou em vigor em agosto de 2013, quatro anos após a gênese da instituição,
ainda que, na sua lei de criação, estivesse estipulado um prazo de 180 dias para o envio da
proposta estatutária para o MEC, a contar do dia 9 de novembro de 2009. O Regimento Geral
entrou em vigor em julho de 2014.
Sem legislação própria, com chefias livremente nomeadas e sem o crivo de colegiados,
houve uma relevante concentração de poder na estrutura administrativa máxima da Ufopa.
Formou-se, então, um ambiente propício para a incidência do assédio moral, tendo em vista a
99
a manifestação do assédio moral desde atos sutis até atos mais ostensivos, como
isolamento, avaliações rigorosas, obstrução da atividade por meio da sonegação de
informações e equipamentos necessários ou exigência acima ou abaixo da função
contratada e condutas de explícita agressão verbal, sexual e física, ainda que leves
(ARAÚJO, 2012, p. 65).
A autora também argumenta que “[...] o assédio moral, se não reprimido a tempo, conta
no mínimo com a complacência da administração [...]”, havendo comumente a participação de
diversos níveis hierárquicos na consumação da violência laboral. Cabe pontuar que no relato
do Prof. Dr. Gilberto César são citados tanto a Diretora do CFI como o Pró-Reitor de
Planejamento Pro Tempore à época como promotores de condutas desrespeitosas e
ameaçadoras.
O Prof. Dr. Gilson Costa, ao responder o PAD, por conta de sua alegada conduta
transgressora na manifestação que foi realizada no decurso da Aula Magna de 2011, foi afastado
preventivamente por 60 dias de suas funções, sem que, no entanto, fosse registrada a motivação
para implementação do afastamento6.
Somando o tempo do afastamento preventivo do PAD, de 60 dias, mais a penalização
de 90 dias de suspensão, mais o tempo de afastamento da licença médica, de 90 dias, que se
deu da maneira como já foi narrado anteriormente, o docente ficou 240 dias afastado do
6
Deve ser produzido se houver indícios de que o servidor possa influir na apuração da irregularidade, coagindo
eventuais testemunhas ou destruindo/ocultando provas, havendo, portanto, inegável risco para a instrução
disciplinar, sendo medida cautelar cujo emprego excepcional, e mesmo assim, deve ser usado somente quando
outros meios legais de que dispõem a autoridade instauradora e o titular da unidade não sejam suficientes, já que
o instituto afasta o servidor de suas tarefas e impede seu acesso às dependências da repartição como um todo (e
não apenas de sua sala de aula).
100
trabalho, ou seja, oito meses afastado da sala de aula no período de um ano letivo. Estudiosos
do assédio moral laboral avaliam que pôr o trabalhador “na geladeira”, impedindo que ele
desempenhe suas atividades, também é uma modalidade de violência laboral.
A discussão na Ufopa acerca do assédio moral no ambiente de trabalho gerou diversas
ações, desde o surgimento da Universidade. Inicialmente, por meio dos sindicatos tanto de
docentes como de técnicos-administrativos, que denunciaram a ocorrência da violência em
Encontros Sindicais Regionais e Nacionais, como também protocolando denúncias junto à
Ouvidoria da instituição, além da publicização de moções de apoio aos trabalhadores e repúdio
a condutas assumidas por chefias.
Como consequência das contínuas ações de denúncia e combate ao assédio moral
laboral, por parte da Diretoria da Sindufopa, representando os docentes; e do SINDTIFES,
representando os técnicos-administrativos, junto à Administração Superior, começaram a surgir
ações institucionais de combate ao assédio moral no ambiente de trabalho, como o “I Encontro
das Relações de Trabalho na Contemporaneidade”, promovido pela Diretoria de Saúde e
Qualidade de Vida (DSQV), integrante da Pró-Reitora de Gestão de Pessoas e realizado no dia
27 de outubro de 2014, no Campus Tapajós; e o “Workshop para gestores: o papel dos líderes
na prevenção do assédio moral”, realizado nos dias 16 e 17 de novembro de 2015.
Evidenciando, que ocorria na prática dos gestores institucionais, o assédio moral,
concretamente, daí a necessidade de debate do problema no interior da Ufopa. Um processo
que se tornou possível, graças aos escândalos de assédio moral, suas repetições e a política
necessária de combatê-lo.
Cabe também destacar a Minuta de resolução para normatizar o combate ao assédio
moral no âmbito da Universidade, que foi produzida com a participação da Pró-Reitoria de
Gestão de Pessoas (PROGEP), DSQV, Comissão de Ética, Diretoria de Assistência Estudantil
(DAE) e Ouvidoria Geral da Universidade, encontrando-se disponível no sítio online da Ufopa
para contribuições de toda a comunidade acadêmica, no período de 15 de março a 5 de abril de
2018, por meio da plataforma virtual “Participa.br”, idealizada pelo Governo Federal .
Conforme defende Araújo (2012, p. 13), o assédio moral laboral, via de regra, é
implementado com a participação de diversos níveis hierárquicos da organização do trabalho,
citando o espaço empresarial: “o assédio do supervisor é seguido da adesão, pelo menos tácita,
dos demais subordinados, e o assédio oriundo de colegas ou subordinados, se não reprimido a
tempo, conta no mínimo com a complacência da administração da empresa”.
A autora adverte, inclusive, que a violência psicológica se mostrou tão ou mais nefasta
que a própria violência física, com reverberações tanto nas relações trabalhistas como nas
101
previdenciárias e cita levantamento feito pela Universidade de Brasília (UnB) no ano de 2002,
por intermédio do qual foi constatado “que 48,4% dos trabalhadores afastados por mais de 15
dias sofriam alguma forma de transtorno mental, em geral, de depressão”.
Guimarães et al. (2006) realizou um estudo epidemiológico de corte transversal,
objetivando estimar a prevalência anual de Suspeição para Transtornos Mentais (STM),
encontrou alta prevalência de STM, na ordem de 35% - que comparados a outros estudos
produzidos com diferentes grupos ocupacionais, mostrou-se aproximadamente o dobro do
obtido em uma amostra de mineradores de ferro (15,6%) e menor que entre trabalhadores de
uma indústria farmacêutica (43,4%) - que o estudo apontou como ligada a problemas de grande
magnitude na organização, evidenciando a urgência da implantação de medidas preventivas
relativas a fatores psicossocias de risco e a necessidade de intervenções adequadas para o seu
enfrentamento.
A análise das consequências do assédio moral laboral, pela doutrina, volta-se
majoritariamente para os prejuízos à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras sendo constatado,
em estudo, que 82,5% das vítimas apresentam perda de ânimo e problemas de memória como
resultado do assédio, sendo os demais, comprometimentos mentais correspondem à sensação
de enlouquecimento, para 75%; baixa estima, para 67,5%; e depressão, para 60% delas
(BARRETO, 2003).
Para Araújo (2012, p. 89), tais consequências à saúde indicam o quadro de Transtorno
por Estresse Pós-traumático. No entanto, ressalva a autora que, para a vítima “o direito
reconhece prejuízos a aspectos morais e sociais da sua personalidade ainda que esse quadro
clínico não se desenvolva” (ARAÚJO, 2012, p. 90).
No Brasil, existe uma recusa reiterada dos órgãos previdenciários em reconhecer o
direito de se afastar do trabalho na qualidade de acidentado, em virtude de apresentar uma
doença ocupacional decorrente de assédio moral, ou então em conceder a sua aposentadoria por
invalidez (ARAÚJO, 2012).
Tendo como metodologia o materialismo histórico dialético, que tenta alcançar a
totalidade dos fenômenos sociais, a análise dos diversos elementos constitutivos da realidade
dos trabalhadores da educação pública de nível superior, que abarca tanto o contexto mais
amplo, envolvendo reformas e disputas políticas, quanto o contexto mais restrito, no qual estão
inseridas as narrativas de suas vivências, ligadas ao assédio moral nos seus espaços de trabalho,
oportuniza a discussão e a elaboração de políticas públicas que previnam e combatam essa
modalidade de violência laboral.
102
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Administração e suas chefias indicadas estavam gerindo a instituição. Além disso, a sobrecarga
de trabalho e precariedade nas condições de trabalho são pontos sempre trazidos à baila. Ao
final, visualiza-se uma gama de indícios da incidência do assédio moral na sua categoria
organizacional, que poderiam ensejar investigação em processo administrativo ou judicial.
A escolha pela metodologia qualitativa com base bibliográfica e estudo de documentos
possui seus limites, tendo em vista a escolha por focar no dossiê confeccionado pela Sindufopa.
É sabido que atualmente diversas instâncias administrativas da Ufopa possuem registros de
situações descritas como envolvendo posturas assediadoras, como a Comissão de Ética da
Ufopa e a DSQV, setor ligado à PROGEP, sendo de grande valia o acesso, futuramente, desses
materiais, para pesquisas e estudos.
Surge como possibilidade o estudo mais aprofundado dos PAD’s envolvendo o docente
Prof. Dr. Gilson Costa e o técnico-administrativo Wallace Sousa – os primeiros da Ufopa –
procurando compreender todo o arcabouço argumentativo e legal empregado ao longo do
processo, à luz da construção teórica da doutrina e da interpretação dos tribunais sobre a
hipótese de instauração do PAD como recurso de intimidação.
O instrumento administrativo supracitado também pode ser estudado por outras
disciplinas científicas no âmbito das Ciências Sociais, especialmente envolvendo o arcabouço
teórico-analítico daquelas entorno do rebatimento da psicologia dos indivíduos, psicologia
organizacional e psicologia social – com fortes aportes sociológicos e antropológicos. Além,
evidentemente, de uma gama de estudos da Ciência Política, derivada da Teoria de Elites e da
Teoria do Poder, por exemplo. Como se observa, há um campo aberto para novos e mais
estudos, para que, ao serem conhecidos cientificamente, socialmente, possam servir de
referência e ajuda no combate a situações similares que por acaso possam ocorrer.
Em contato com o representante sindical do SINDTIFES, que representa os técnicos-
administrativos da Ufopa, foi informado que ainda não havia localmente um documento
semelhante ao que foi produzido pela Sindufopa. No entanto, diversas movimentações e eventos
já foram fomentados pelos técnicos-administrativos com o intuito de prevenir e combater essa
modalidade de violência laboral. Assim, seria de imensa relevância o levantamento e
sistematização de todo material, seja documental ou por meio do registro dos relatos dos
profissionais, conexo à incidência do assédio moral laboral, que se seguiu nesta e em outras
instituições de ensino superior na Amazônia.
Em outras IFE’s têm sido realizados estudos com o intuito de levantar dados quanto à
incidência do assédio moral entre seus trabalhadores, cabendo também o cruzamento dos dados
e troca de informações entre as instituições, ainda que as metodologias sejam diferentes, como
107
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