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Giselle Medeiros da Costa One

Maria Luísa Souto Porto


(Organizadores)

os desafios DO MUNDO
CONTEMPORÂNEO

IMEA
João Pessoa - PB
2018
Instituto Medeiros de Educação
Avançada - IMEA
Editor Chefe
Giselle Medeiros da Costa One

Corpo Editorial
Beatriz Susana Ovruski de Ceballos
Giselle Medeiros da Costa One
Helder Neves de Albuquerque
Julianne Freitas Moreno
Roseanne da Cunha Uchôa

Revisão Final
Ednice Fideles Cavalcante Anízio

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados de Acordo com AACR2, CDU e CUTTER
One, Giselle Medeiros da Costa.
O59s Saúde: os desafios do mundo contemporâneo, 3./ Organizadores:
Giselle Medeiros da Costa One; Maria Luisa Souto Porto
1087 fls.
Prefixo editorial: 53005
ISBN: 978-85-53005-08-6 (on-line)
Modelo de acesso: Word Wibe Web
<http://www.cinasama.com.br>

Instituto Medeiros de Educação Avançada – IMEA – João


Pessoa - PB

1. Farmácia 2. Microbiologia 3. Biotecnologia 4. Genética I.


Giselle Medeiros da Costa One II. Maria Luisa Souto Porto III.
Saúde: os desafios do mundo contemporâneo, 3
CDU: 911

Laureno Marques Sales, Bibliotecário especialista. CRB -15/121

Direitos desta Edição reservados ao Instituto Medeiros de Educação Avançada –


IMEA
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
IMEA
Instituto Medeiros de Educação
Avançada
Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer
meio ou processo, seja reprográfico, fotográfico,
gráfico, microfilmagem, entre outros. Estas proibições
aplicam-se também às características gráficas e/ou
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A violação dos direitos autorais é punível como Crime
(Código Penal art. 184 e §§; Lei 9.895/80), com
busca e apreensão e indenizações diversas (Lei
9.610/98 – Lei dos Direitos Autorais - arts. 122, 123,
124 e 126)

Todas as opiniões e textos presentes


neste livro são de inteira responsabilidade
de seus autores, ficando o organizador
isento dos crimes de plágios e
informações enganosas.

IMEA

Instituto Medeiros de Educação Avançada

Av Senador Ruy Carneiro, 115 ANDAR: 1; CXPST: 072;


João Pessoa - PB
58032-100
Impresso no Brasil
2018
Aos participantes do CINASAMA pela
dedicação que executam suas
atividades e pelo amor que escrevem os
capítulos que compõem esse livro.
“A complexidade dos problemas planetários exige uma
profunda reflexão sobre a indissociabilidade das interações
humanas e ambientais. Não obstante, o papel da educação é
provocar o debate e a reflexão em torno das formas pelas
quais nosso modo de pensar e de agir impactam na saúde do
planeta e ameaçam a vida de inúmeras espécies. Por isso
precisamos de educadores capazes de arquitetar o futuro,
cultivando mensagens de esperança e de cuidado nas novas
gerações sementes de hoje, árvores do amanhã.”
Joselito Santos
PREFÁCIO

A citação de Soren Kierkegaard no século XIX diz que


a vida só pode ser comprrendida olhando-se para trás, mas
só pode ser vivida olhando-se para frente. Esta é a proposta
deste que apresenta diversidade sobre uma temática com
abordagens variadas demonstrado ser um livro para
contribuir com o conhecimento do leitor na área da saúde
sob conteúdo dividido nos módulos de saúde, atenção a
saúde, farmácia e saúde mental.
O CINASAMA é um evento que tem como objetivo
proporcionar subsídios para que os participantes tenham
acesso às novas exigências do mercado e da educação. E ao
mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico,
Nutricional e Ambiental de direcionar todos que formam a
Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana e
Educação socioambiental para a Vida.
O que é saúde? O assunto foi discutido durante esse
evento e aqui apresentado em forma resumida para
registrar a preocupação dos profissionais envolvidos com o
tema portanto, desejamos boa leitura e reflexão.
Os livros “SAÚDE: os desafios do mundo
contemporâneo 1, 2, 3 e 4” tem conteúdo interdisciplinar,
contribuindo para o aprendizado e compreensão de varias
temáticas dentro da área em estudo. Esta obra é uma
coletânea de pesquisas de campo e bibliográfica, fruto dos
trabalhos apresentados no Congresso Nacional de Saúde e
Meio Ambiente realizado entre os dias 17 e 18 de novembro
de 2017 na cidade de João Pessoa-PB.
Os eixos temáticos abordados no Congresso Nacional
de Saúde e Meio Ambiente e nos livros garantem uma
ampla discussão, incentivando, promovendo e apoiando a
pesquisa. Os organizadores objetivaram incentivar,
promover, e apoiar a pesquisa em geral para que os leitores
aproveitem cada capítulo como uma leitura prazerosa e com
a competência, eficiência e profissionalismo da equipe de
autores que muito se dedicaram a escrever trabalhos de
excelente qualidade direcionados a um público vasto.
Em SAÚDE: os desafios do mundo contemporâneo 1,
estão os títulos relacionados a saúde da criança,
adolescente, homem, mulher, trabalhador e idoso. Nos
textos é observado reflexão a saúde do indivíduo em
crescimento físico e ser social inseridos nos direitos,
cuidados e os fatores de riscos associados a falha na
prestação dessa atenção.
No segundo “SAÚDE: os desafios do mundo
contemporâneo 2 tema é atenção a saúde apresentado em
títulos que enfatizam a vantagem do planejamento,
ferramentas utilizadas para diagnóstico situacional,
experiências vivenciada e estratégias para redução de
danos a saúde.
Em SAÚDE: os desafios do mundo contemporâneo 3
estão os títulos de farmácia que destacam a utilização dos
recursos naturais como adjuvantes na terapêutica
medicamentosa, novas abordagens de auxílio diagnóstico,
biotecnologia e relato de experiência profissional.
O último livro, “SAÚDE: os desafios do mundo
contemporâneo 4 apresenta interdisciplinaridade entre
saúde mental, fisioterapia, educação física, anatomia e
fisiologia concentrado em títulos com temas que relatam
experiência profissional nas áreas afins, estudos de
comportamentos humano, avaliação fisioterápica e
aboradagens teóricas sobre fisiopatologia e anatomia.
Esta publicação pode ser destinada aos diversos
leitores que se interessem pelos temas debatidos.
Espera-se que este trabalho desperte novas ações,
estimule novas percepções e desenvolva novos humanos
cidadãos.
Aproveitem a oportunidade e boa leitura.
SUMÁRIO
FARMÁCIA _________________________________________________ 18

CAPÍTULO 1 ________________________________________________ 19
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA _______ 19
CAPÍTULO 2 ________________________________________________ 34
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÈRGICA ____________________________ 34
CAPÍTULO 3 ________________________________________________ 53
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO ______________ 53
CAPÍTULO 4 ________________________________________________ 74
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL:
UMA REVISÃO SISTEMÁTICA __________________________________ 74
CAPÍTULO 5 ________________________________________________ 94
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB _______________ 94
CAPÍTULO 6 _______________________________________________ 114
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES DE
TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PEDIÁTRICO ___________________ 114
CAPÍTULO 7 _______________________________________________ 132
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO ____________________________________ 132
CAPÍTULO 8 _______________________________________________ 152
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS ______________________________ 152
CAPÍTULO 9 _______________________________________________ 173
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE DIVERSAS
CONDIÇÕES DOLOROSAS ____________________________________ 173
CAPÍTULO 10 ______________________________________________ 193
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO _____________ 193
CAPÍTULO 11 ______________________________________________ 213
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS _________________________________ 213
CAPÍTULO 12 ______________________________________________ 232
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA ____________________________ 232
CAPÍTULO 13 ______________________________________________ 254
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS ________________ 254
CAPÍTULO 14 ______________________________________________ 269
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS_______ 269
CAPÍTULO 15 ______________________________________________ 288
SOROPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO _________________________ 288
CAPÍTULO 16 ______________________________________________ 310
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO __________________________ 310
MICROBIOLOGIA ___________________________________________ 328

CAPÍTULO 17 ______________________________________________ 329


ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM
PERIODOS DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO _________________ 329
CAPÍTULO 18 ______________________________________________ 348
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL ______________________ 348
CAPÍTULO 19 ______________________________________________ 367
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA ENTEROCOCCUS FAECALIS __________________________________ 367
CAPÍTULO 20 ______________________________________________ 385
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – Α – PINENO PARA A
ESPÉCIE PROTEUS MIRABILIS ____________________________________ 385
CAPÍTULO 21 ______________________________________________ 404
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA Β-LAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS ____________________________________ 404
CAPÍTULO 22 ______________________________________________ 424
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE CANDIDA ALBICANS ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA ______________________________________________ 424
CAPÍTULO 23 ______________________________________________ 444
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO ______________ 444
CAPÍTULO 24 ______________________________________________ 466
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE _____________________ 466
CAPÍTULO 25 ______________________________________________ 484
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE
RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS ________________________________ 484
CAPÍTULO 26 ______________________________________________ 505
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES _____ 505
CAPÍTULO 27 ______________________________________________ 525
EFEITO DA PRÓPOLIS DE APIS MELLIFERA SOBRE ESPÉCIES DE CANDIDA __ 525
CAPÍTULO 28 ______________________________________________ 543
FORMAÇÃO DE BIOFILME POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA AO
TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO____________________ 543
CAPÍTULO 29 ______________________________________________ 563
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS ________________ 563
CAPÍTULO 30 ______________________________________________ 581
OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
_________________________________________________________ 581
CAPÍTULO 31 ______________________________________________ 599
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA ____________________________________ 599
CAPÍTULO 32 ______________________________________________ 616
PESQUISA DE ESCHERICHIA COLI EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO _______________________________________________ 616
CAPÍTULO 33 ______________________________________________ 639
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES NO
SORO DO LEITE DE CABRA ____________________________________ 639

BIOTECNOLOGIA ___________________________________________ 654

CAPÍTULO 34 ______________________________________________ 655


EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS ______________ 655
CAPÍTULO 35 ______________________________________________ 673
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO ___ 673
CAPÍTULO 36 ______________________________________________ 694
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR - UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO ______________________ 694
CAPÍTULO 37 ______________________________________________ 713
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC E UVB _________________________________ 713
CAPÍTULO 38 ______________________________________________ 742
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO ______________ 742
CAPÍTULO 39 ______________________________________________ 761
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP _______________________________________________ 761
CAPÍTULO 40 ______________________________________________ 781
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS _________________________________________ 781
CAPÍTULO 41 ______________________________________________ 798
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO___________________________________________________ 798
CAPÍTULO 42 ______________________________________________ 816
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA _ 816
CAPÍTULO 43 ______________________________________________ 838
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR ____________________________________ 838
CAPÍTULO 44 ______________________________________________ 864
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV ______________________ 864
CAPÍTULO 45 ______________________________________________ 883
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
USO DE CATETER VENOSO CENTRAL ____________________________ 883
CAPÍTULO 46 ______________________________________________ 902
EFEITO IMUNOMODULADOR DE CANISTROCARPUS CERVICORNIS ________ 902
CAPÍTULO 47 ______________________________________________ 923
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDES CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO _____________ 923
CAPÍTULO 48 ______________________________________________ 944
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (CAPSICUM
CHINENSE) _________________________________________________ 944
CAPÍTULO 49 ______________________________________________ 963
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO _______________________________________________ 963

NANOTECNOLOGIA _________________________________________ 983

CAPÍTULO 50 ______________________________________________ 984


AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE. ______________________ 984

MELHORAMENTO DOS RECURSOS GENÉTICOS __________________ 1008

CAPÍTULO 51 _____________________________________________ 1009


COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO DE SECAGEM E VELOCIDADE DO AR __________________ 1009
CAPÍTULO 52 _____________________________________________ 1029
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
ZIZIPHUS JOAZEIRO MART. _____________________________________ 1029
BIOLOGIA MOLECULAR _____________________________________ 1044

CAPÍTULO 53 _____________________________________________ 1045


DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA ____________ 1045
CAPÍTULO 54 _____________________________________________ 1065
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO ________________________________ 1065
FARMÁCIA

18
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
CAPÍTULO 1

A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO
NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA
DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Vanêssa Miranda da SILVA 1


Vanessa Domingos de MORAIS 2
1
Residente(R1) da Residência Multiprofissional em Saúde Mental-RESMEN , UFPB;
2
Farmacêutica especialista em saúde da Família e Comunidade.
vanessamirandafb@gmail.com

RESUMO: A gravidez é um período de inúmeras


transformações na vida da mulher, pois é um momento de
mudanças hormonais, físicas, emocionais, laborais entre
outras. A gestante se vê desafiada a mudar quase que
completamente sua rotina, à medida que os meses vão
passando e, limitações começam a aparecer. Tantas
variações, algumas vezes, deixam essas mulheres confusas e
inseguras, necessitado de acompanhamento da equipe de
saúde da família bastante intenso e integral. Essa mulher deve
ser vista como um conjunto de vários itens e fatores, que
precisam ser trabalhados e cuidados. Nas Unidades de Saúde
da Família (USF’s) tem-se obtido resultados positivos
mediante o desenvolvimento de consultas multiprofissionais,
onde cada trabalhador contribui de forma diferenciada, mas
conjunta e associada aos demais. Além das interconsultas,
algumas USF’s conseguem desenvolver grupos operativos
onde são trabalhados temas de interesse da gestante ou
mesmo de seus familiares, onde estes são empoderados
sobre o tema discutido e dúvidas são sanadas sempre que
possível, por quem está facilitando o grupo ou por qualquer

19
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
pessoa que esteja participando e que tenha propriedade do
assunto. O farmacêutico, como profissional de saúde do
medicamento, estando inserido nessas ações
multidisciplinares, demanda contribuições já que constrói
vínculos com a usuária, a medida que lhe oferta orientações e
retira duvidas que são especificas de sua área ou mesmo de
áreas afins.
Palavras-chave: Gestantes. Farmacêutico. Atenção Básica.

1 INTRODUÇÃO

As condições de saúde da população do Brasil e a atual


conjuntura do Sistema Único de Saúde (SUS) estabelecem a
necessidade da integralidade do cuidado, isto é, do
atendimento e acompanhamento multidisciplinar, com
possibilidade de realizarem-se ações coletivas, tanto na forma
de consultas como em grupos operativo-educacionais. O
cuidado integral à saúde do usuário ocorre mediante a soma
de saberes de diversas áreas profissionais, à medida que se
consegue realizar consultas multidisciplinares com os mais
diversos integrantes da equipe de saúde (CORRER; OTUKI,
2013).
Isto propicia entender que o processo saúde-doença
precisa acontecer sob assistência de uma equipe integrada,
onde cada um é detentor dos seus conhecimentos, mas que
olham e percebem o usuário de forma coletiva e humanitária,
criando vínculos e cor responsabilizando os indivíduos pela
sua própria saúde, focando ações de promoção e prevenção
da saúde, de forma individualizada e coletiva (ALMEIDA &
MISHIMA, 2001).
Inúmeras podem ser as classes de profissionais que
podem integrar as equipes multiprofissionais, isto pode variar,

20
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
mediante a oferta de trabalhadores que se tem no serviço. O
grupo que realiza as interconsultas colabora à medida que
troca experiências e consegue olhar o usuário como “um
todo”; quando desenvolve táticas que auxiliam o tratamento
e/ou acompanhamento deste; no momento que identifica
problemas e juntos conseguem entender a situação,
esclarece-lo e dá o devido encaminhamento ao caso. A
consulta multiprofissional objetiva, principalmente, o bem-estar
dos usuários. (ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL, 2002).
Além das interconsultas, enfatizam-se os grupos de
trabalho operativo, que objetiva gerar conhecimento para
todos os participantes. Nesses grupos são trabalhados
diversos temas e os integrantes vão construindo relações à
medida que partilham seus discursos de situações diárias.
Para o autor Pichon-Rivière (1998), a formação do vínculo é
uma estrutura psíquica complexa, que apresenta caráter
social, tendo em consideração que nas relações pessoais
sempre existem figuras internalizadas.
Um momento importante para a realização da consulta
multiprofissional e do trabalho de grupos operativos ocorre
durante o período gestacional através da consulta de pré-natal
e dos grupos de gestantes. Tendo em vista, que a gravidez é
um momento único na vida da mulher, principalmente por
representar diversas mudanças em sua vida pessoal, conjugal
e profissional, uma condição que traz consigo muitas dúvidas,
medos e mitos com relação ao contexto familiar e social da
gestante.
É imprescindível que a Assistência Farmacêutica passe
a integrar o conjunto de atendimentos ofertados pela Atenção
Básica, qualificando o acesso dos usuários aos
medicamentos, a partir de uma dispensação correta e da

21
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
promoção do uso racional destes. A admissão da Assistência
Farmacêutica (AF) no nosso país, no campo das Políticas
Públicas, aconteceu mediante a publicação da Política
Nacional de Medicamentos, que traz:
 A garantia da necessária segurança, da e¬ficácia e da
qualidade dos medicamentos;
 A promoção do uso racional dos medicamentos;
 O acesso da população aos medicamentos
considerados essenciais (BRASIL, 1998).

Dessa maneira, para a Estratégia de Saúde da Família


a importância do profissional farmacêutico está na união entre
ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde,
tendo como centro destas ações o usuário e todo o processo
que envolve, principalmente, a utilização de medicamentos.
Um dos maiores problemas na atenção primária à
saúde esta relacionado a terapia medicamentosa, envolvendo
erros de prescrição, interação medicamentosa, posologia
administrada de forma inadequada, automedicação,
acarretando diversos custos diretos à atenção básica e
indiretos à saúde pública. Tais análises reforçam a real
necessidade do profissional farmacêutico na composição na
equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) para a
melhoria da assistência (BRASIL, 1988; BOTEGA, 2013;
OLIVEIRA, OLIVEIRA, DINIZ, 2015).
A nova política Nacional de Educação em Saúde traz
consigo a ideia de formar profissionais de saúde de uma
maneira diferenciada, de forma descentralizada e
multidisplinar, trabalhando na perspectiva de democratizar os
espaços de trabalho e os conhecimentos. As Residências
Multiprofissionais vêm reafirmar essa ideologia, formando

22
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
profissionais e agregando valores e técnicas que os tornam
mais humanizados e que não se detêm somente ao seu
conhecimento, mas que valorizam os demais profissionais, e
que “compartilha o usuário” em um trabalho de equipe. Com
isso se consegue trabalhar nas gestantes aspectos subjetivos
tidos como fragilizados, e que com o decorrer das atividades
vão sendo fortalecidos, tornando-as mulheres mais fortes,
seguras, preparadas e empoderadas de si dos seus direitos e
da perspectiva de desenvolvimento do período gravídico de
forma plena (LOBATO, 2010).
Este trabalho objetiva relatar a experiência vivenciada
pelas farmacêuticas no cuidado e apoio às consultas
multiprofissionais do pré-natal e do grupo operativo de
gestante pertencentes a duas Unidades Integradas Saúde da
Família, no município de João Pessoa – PB, demonstrando o
quão relevante é para as Unidades de Saúde poder dispor de
consultas multidisciplinares e grupos operativos que
contemple o ciclo da Assistência Farmacêutica que envolve
seleção, programação, aquisição, armazenamento,
distribuição e dispensação/uso.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo na


modalidade de relato de experiência, a partir das atividades
desenvolvidas na Residência Multiprofissional em Saúde da
Família e Comunidade – RMSFC1 que objetiva auxiliar na
consolidação do SUS, aumentando o poder de resolutividade
das ações em saúde com ênfase nas necessidades e
diversidades da realidade do território.

23
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Descrevendo a vivência/atuação das residentes
farmacêuticas nas consultas multidisciplinares na atenção
básica de pré-natal e grupo de gestantes no período de
fevereiro de 2015 a agosto de 2016 pertencentes as Unidades
Integradas Saúde da Família Nova Conquista, situado no
bairro Alto do Mateus e a Unidade Integrada Saúde da Família
São José, situado no bairro São José, ambas do município de
João Pessoa/PB.
As atividades do pré-natal foram desenvolvidas nas
Equipes de Saúde da Família - ESF Mateus III e São José II e
a partir do agendamento semanal das gestantes, na qual é
atendida por uma equipe multiprofissional que inclui
enfermeiro, psicólogo, nutricionista/estudantes de nutrição e
farmacêutico. Participam do pré-natal cerca de 4 a 5 gestantes
por turno, algumas destas levam a consulta o companheiro ou
algum outro familiar o que torna a consulta um momento não
apenas focado na gestante, mas também envolve todo o
contexto familiar na qual está inserida.
As ações nos grupos de gestantes foram desenvolvidas
pela Equipe de Saúde da Família - ESF Mateus III e a Unidade
Integrada de Saúde da Família São José. O grupo da ESF
Mateus III ocorre quinzenalmente no Centro de Referência de
Assistência Social, visando buscar a intersetorialidade entres
os serviços o que proporcionou um melhor espaço físico mais
tranquilo e voltado para o desenvolvimento do grupo de
gestantes no qual dispôs de uma sala para as atividades,
equipamentos, como aparelho de datashow e computador
portátil e também disponibilizam lanche após o termino da
atividade. O grupo de gestantes da Unidade Integrada de
Saúde da Família São José acontece toda terça-feira de cada
semana, pela manhã e antes de começarem os atendimentos

24
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
de pré-natal. O grupo se encontra na sala de reuniões da
própria unidade, onde, a depender do tema a ser trabalhado
se material institucional e atividades lúdicas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As consultas de pré-natal aconteceram semanalmente


sendo realizadas no consultório de atendimento da enfermeira
da ESF onde a equipe multiprofissional que inclui enfermeiro,
psicólogo, nutricionista/estudantes de nutrição e farmacêutico
atendem simultaneamente a usuária, com período de duração
para cada consulta em média quarenta minutos para cada
gestante. Um ponto importante que se levou em consideração
nestas consultas foi a otimização do tempo, evitando com isso
que a consulta seja longa e cansativa para a gestante, por
isso, preferiu-se que o atendimento multiprofissional fosse
realizado concomitantemente por todos os profissionais no
mesmo espaço físico e que cada profissional dentro da sua
área de conhecimento se insira no transcorrer da consulta com
perguntas a gestante que julgue necessário e importante para
a sua avaliação profissional. Estudo realizado por Pereira;
Rivera e Artmann (2013) revela que as potencialidades do
trabalho em equipe integrado de forma articulada nas equipes
de saúde ampliam a capacidade de cuidado e de resolução
dos problemas de saúde, uma vez que conseguem tornar os
dispositivos de atenção à saúde existentes mais acessíveis,
proporcionando uma atenção mais integral e compartilham a
responsabilidade pela melhoria da qualidade de saúde e de
vida de uma dada população.
A unidade produtora dos serviços de saúde não é
um profissional isoladamente, mas sim a equipe;
que o foco central de atenção não é o indivíduo
25
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
exclusivamente, mas a família; que as
intervenções necessárias para proporcionar o
cuidado à saúde devem se sustentar no
conhecimento que contemple as determinantes
biopsicosociais da saúde-doença dos usuários,
famílias e comunidade, a assistência à saúde
passa ter a característica central de um trabalho
coletivo e complexo, em que a
interdisciplinaridade, bem como a
multiprofissionalidade são necessárias (PEDUZZI
M., 1998).

Com o intuito destas consultas de pré-natal buscarem


olhar a mulher de forma integral, contemplando seus aspectos
fisiológicos e sua subjetividade. As principiais ações
vivenciadas nestes atendimentos foram: avaliação da mãe e
feto como aborda questões como alimentação saudável;
contexto familiar; sinais comuns na gestação e orientações
nas queixas mais frequentes; sinais de alerta; preparo para o
parto; incentivo e orientações para o parto normal; e
orientações especificas para mulheres que não poderão
amamentar; importância do planejamento familiar; sinais e
sintomas de parto; puerpério; importância da participação
paterna durante a gestação; cuidados após o parto e com o
recém-nascido; estímulo a retorno aos serviços de saúde
dentre outros.
Nestas consultas o farmacêutico atua de modo a
contribuir, complementar e garantir a integralidade do cuidado
para uma gestação saudável, no qual durante o decorrer da
consulta multiprofissional faz-se uma síntese de todas as
informações relatadas pela gestante e realiza a anamnese
farmacêutica visando sintetizar maior número de informações
possíveis para obter o conhecimento necessário sobre o
estado de saúde geral da usuária e feto e, assim, iniciar um

26
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
plano de orientações assegurando maior amplitude de
cuidado.
As principais orientações realizadas pelo farmacêutico
nas consultas multiprofissionais do pré-natal e no grupo de
gestantes, refere-se primordialmente a conhecer o perfil
farmacoterapêutico da qual está usuária que procura o serviço
de saúde faz uso, dessa forma, esse processo deve ocorrer de
maneira acolhedora, cordial e ética com intuito de estabelecer
uma relação de vínculo entre profissional e usuária. O primeiro
ponto da orientação farmacêutica após conhecer o perfil de
uso de medicamentos da gestante é identificar medicamentos
potencialmente de riscos para mãe e feto, observando a
classificação de risco estabelecida pelo FDA (Food and Drug
Administration), que classifica os riscos dos medicamentos
para uso na gestação. Caso seja detecta algum medicamento
que cause danos à saúde de mãe e feto, imediatamente
ocorre a comunicação ao médico prescritor ao qual é relatado
quais os riscos e possíveis danos para a gestação, cabendo
ao prescritor avaliar o risco e benefício deste medicamento
para o desenvolvimento pleno da gravidez.
Em seguida o farmacêutico procede quando necessário
com orientações gerais dos medicamentos a serem utilizadas
pela gestante, quais sejam: melhor forma de possíveis
aquisições (farmácia básica do município/ estado/farmácia
comercial), administração e armazenamento dos
medicamentos; possíveis interações medicamentosas ou
alimentares que possam ocorrer durante administração;
elucidação da relevância dos medicamentos os quais a
gestante utiliza e a importância de uso da posologia
recomendada pelo prescritor, também se torna importante
evidenciar para a usuária que o tratamento não

27
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
medicamentoso (banhos frios em períodos febris; alimentação
adequada; dentre outros) também é valido durante o período
da gestação e continuamente enfatizando a importância de
evitar a automedicação, tendo em vista, que qualquer
medicamento administrado nesse período somente deve ser
feito por profissional habilitado para prescrição, uma vez, que
qualquer medicamento utilizado pode trazer risco e somente
após avaliação criteriosa do profissional de saúde sobre riscos
e benefícios que o mesmo pode ocorrer que deve ser
administrado.
O grupo de gestante foi pensado inicialmente visando
aumentar o vínculo entre gestantes e serviço de saúde e
também a partir da necessidade de acolher maior número de
gestantes do território no qual foram desenvolvidos temas
como: vínculo mãe-filho; técnicas de respiração, relaxamento
e postura para alivio de sintomas aparentes no período da
gestação; sexualidade; primeiros cuidados com o recém-
nascido; tipo de parto na perspectiva do parto humanizado;
acompanhamento odontológico na gestação, shantala,
modificações corporais e emocionais, importância do
crescimento e desenvolvimento infantil, orientações e incentivo
para o aleitamento materno, benefícios legais, direitos das
mulheres e lei do acompanhante dentre outras temáticas que
se espera desenvolver ao longo do grupo de gestante. Um
importante aspecto que se sobressaiu e contribui para o
fortalecimento do grupo de gestante foi a ênfase em
orientações e ações multiprofissionais, sendo estes encontros
sempre muito dinâmicos e sustentado em toda a equipe
multidisciplinar que ali se encontravam.
Segundo Abduch:

28
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Cada integrante do grupo comparece com sua
história pessoal consciente e inconsciente, isto é,
com sua verticalidade. Na medida em que se
constituem em grupo passam a compartilhar
necessidades em função de objetivos comuns e
criam uma nova história, a horizontalidade do
grupo, que não é simplesmente a somatória de
suas verticalidades, pois de sua verticalidade,
gerando uma história própria, inovadora que dá
ao grupo sua especificidade e identidade grupal
(ABDUCH, 1999).

Diante disto torna-se importante consultas


multiprofissionais e grupos operativos para a gestante de
forma que promova a atenção integral e a seu contexto
familiar através de contribuir para sua saúde e o
desenvolvimento saudável e pleno da gestação, onde mãe e
feto recebem todos os cuidados necessários, desde o
atendimento individual ao coletivo, atendendo suas
necessidades biopsicossociais e reforçando a importância da
promoção da saúde (MIRANDA; DIAS & RENES, 1998;
SILVA; BRITO, 2010; BARRETO; MALUMBRES, 2016).
No estudo de Frigo et al. (2012), evidencia que as
vivências dentro do grupo de gestantes em que aborda
vantagens e as dificuldades que podem ocorrer durante a
gestação são fundamentais para o crescimento dos
profissionais e informação das gestantes assistidas pelo grupo
levando-as a sentirem-se mais seguras para superar as
possíveis adversidades do período gestacional e
amamentação. Outro trabalho realizado por Zampieri et al.
(2009), no qual foi aplicado questionários de avaliação aos
participantes de um grupo de gestante em Santa Catarina,
revelou que estes grupos possibilitam a quebra de mitos,
permitem a troca de experiência, constroem vínculos afetivos

29
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
mãe-bebê, prepara para o parto e maternidade, gera
mudanças de atitudes e comportamentos; estimula o exercício
dos direitos conquistados; estimula a inserção do
acompanhante em todo o processo. Encontrando-se ambos os
trabalhos citados constatando experiências positivas
relacionadas aos grupos de gestantes nos quais contribuem
para gerar transformações com vistas a um cuidado
humanizado e integral valorizando os pequenos gestos no
cuidar.

4 CONCLUSÕES

As gestantes acompanhadas por consultas


multidisciplinares e que participam dos grupos de gestantes
ofertados pelas referidas unidades, mostram-se mais seguras,
uma vez que, muitas das suas dúvidas são sanadas nesses
momentos, onde o profissional farmacêutico agrega
conhecimentos e consegue responder muitos dos
questionamentos feitos pelas gestantes, já que o uso de
medicamento durante o período gravídico requer cuidados e
orientações e é sempre uma dúvida que permeia entre essas
mulheres; sentem-se mais apoiadas, porque conseguem
perceber em toda a equipe de saúde o cuidado integral para
com ela e com seu bebê; apresentam-se mais empoderadas
sobre a situação que estão vivenciando; além de
demonstrarem mais autoconfiança e autoestima, junto aos
familiares, tornando-se protagonistas da sua própria história
de vida.
Diante do que foi apresentado podemos afirmar que se
torna importante que o farmacêutico esteja presente e atuante

30
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
dentro da atenção básica visando a aproximação deste
profissional com as unidades de saúde, contribuindo e
orientando para melhor conduta de profissionais de saúde em
relação aos medicamentos, garantindo a dispensação correta
e segura dos medicamentos, tendo em vista, que esta é uma
atribuição exclusiva do farmacêutico e estabelecendo
principalmente uma relação acolhedora de construção de
vínculo entre farmacêutico-usuário na orientação de consultas
multiprofissionais e grupos operativos garantindo sucesso
farmacoterapêutico e o uso racional dos medicamentos.

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31
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
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32
A PARTICIPAÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL E
GRUPO DE GESTANTES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do
Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI.

33
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
CAPÍTULO 2

ANÁLISE COMPARATIVA DOS


PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM
MODELOS EXPERIMENTAIS DE ASMA
ALÈRGICA

Laércia Karla Diega PAIVA FERREIRA1


Larissa Adilis Maria PAIVA FERREIRA2
Talissa Mozzini MONTEIRO1
Adriano Francisco ALVES3
Marcia Regina PIUVEZAM4
1
Doutoranda do PgPNSB/ UFPB; 2 Graduanda do curso de Farmácia, UFPB; 3Doutorando do
Programa de Pós Graduação em Patologia/ UFMG ; 4 Orientadora/Professora do DFP/UFPB.
laerciapaiva@gmail.com

RESUMO A asma afeta 300 milhões de pessoas em todo o


mundo. Modelos experimentais que mimetizam o processo
inflamatório da asma são essenciais no entendimento da
fisiopatologia desta doença, tornando possível o estudo de
novas moléculas no arsenal terapêutico para o tratamento da
asma. O presente trabalho teve como objetivo analisar e
comparar os parâmetros inflamatórios e alérgicos que
caracterizam o modelo de asma alérgica em diferentes
protocolos experimentais. Camundongos fêmeas BALB/c
foram sensibilizados e desafiados com ovalbumina (OVA). Os
parâmetros inflamatórios observados foram a migração de
leucócitos no fluido do lavado broncoalveolar (BALF) e os
parâmetros histopatológicos (inflamação, muco e
remodelamento tecidual). O parâmetro alérgico mensurado foi
a produção de IgE – OVA específica. O desafio prolongado
com OVA no protocolo de asma alérgica crônica, promoveu
influxo significativo no número de leucócitos em relação ao
grupo OVA do protocolo de asma alérgica aguda, no BALF
34
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
(8,63x105 ± 0,81 vs 5,63x105 ± 0,457), na histologia (score =
6,75 ± 0,25 vs 4,5 ± 0,289) e promoveu remodelamento
tecidual (score =1,75 ± 0,25 vs 0,25 ± 0,25). Em adição, os
protocolos de 23 e 35 dias produziram a IgE-OVA específica
(3822 ± 274 e 3947 ± 149) . Os resultados obtidos nesse
trabalho demonstram que o desafio prolongado com alérgeno
promove, evidencia e exacerba os parâmetros inflamatórios
crônicos, característicos da asma alérgica.
Palavras-chave: Inflamação pulmonar. Asma. Modelo
experimental

1 INTRODUÇÃO

Atualmente o termo “asma” conota um grupo de


sintomas clínicos como falta de ar, chiado e aperto no peito,
resultante da limitação do fluxo aéreo expiratório reversível ou
hiper-reatividade brônquica, decorrente do processo
inflamatório crônico com hiperprodução de muco,
remodelamento e estreitamento da parede das vias aéreas
(BUTT; KURDOWSKA; ALLEN, 2016; FAHY, 2015; HOGG,
1997; KUDO; ISHIGATSUBO; AOKI, 2013; SIMPSON et al.,
2010). A particularidade das características clínicas,
fisiológicas e resposta a terapia medicamentosa da asma
defini seus diferentes fenótipos (ANDERSON, 2008; FAHY,
2015; LEMANSKJR; BUSS, 2006). A divisão mais aceita dos
fenótipos da asma, compreende em Asma Alérgica tipo 2
(Th2) e Asma não alérgica. Na Asma Alérgica Th2 está
presente os fenótipos: início precoce; início tardio e Asma
Induzida por Exercício (EIA). A Asma não Th2 é representada
pelos fenótipos: obesidade e asma neutrofílica (ANDERSON,
2008; BRUSSELLE; MAES; BRACKE, 2013; WENZEL, 2012;
ZHENG et al., 2011).

35
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
O parâmetro essencial de identificação do perfil Th2 no
processo inflamatório pulmonar decorrente da asma é a
produção das citocinas IL-4, IL-13 e IL-5 pelas células T CD4+,
bem como a presença de uma eosinofilia sanguínea e tecidual
exacerbada (BELLINI et al., 2012; BISSET; SCHMID-
GRENDELMEIER, 2005; LUKACS, 2001; ROBINSON et al.,
1992; WYNN, 2015).
O aumento sérico de IgE caracteriza uma atopia
(predisposição genética para desenvolver alergias) e é
considerada a marca da resposta imune adaptativa Th2
(CHENG et al., 2014). Essa imunoglobulina se ligará aos seus
receptores de alta afinidade do tipo FcεRI presentes nas
membranas de mastócitos, basófilos e eosinófilos (PAUL et
al., 2001). A inflamação pulmonar característica da asma
alérgica tipo 2 (Th2) é dependente da sensibilização dessas
células pela IgE e posterior desgranulação com liberação de
mediadores vasoativos (COSTA et al., 2008; PALOMARES et
al., 2017).
O presente estudo teve o objetivo de comparar os
parâmetros inflamatórios e alérgicos de dois protocolos de
inflamação alérgica das vias aéreas inferiores, característico
da asma, sendo um de caráter agudo e outro crônico.

2 MATERIAL E MÉTODO

Animais. Camundongos BALB/c fêmeas com idade


entre 6-8 semanas (20-25g) e ratas Wistar (120-150g), foram
fornecidos pelo biotério Prof. Dr. Thomas George no Núcleo
de Pesquisa em Produtos Naturais da Universidade Federal
da Paraíba, Brasil. Os animais foram mantidos em condições
adequadas de temperatura e alimentação. Todos os

36
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
procedimentos experimentais foram conduzidos de acordo
com as orientações do Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (CONCEA), bem como a Lei
n°11794/2008. A eutanásia dos animais foi realizada pela
administração intra-muscular (i.m.) de solução anestésica
contendo 29 mg/mL de ketamina e 1,91 mg/mL de xilasina em
solução salina (NaCl 0,9 %). Este projeto foi aprovado pela
Comissão de Ética no Uso Animal (CEUA/UFPB) sob o
protocolo de número 165/2015.
Protocolos de Asma alérgica induzida por
Ovalbumina. Os animais foram divididos nos grupos (n=6):
basal (não sensibilizado com OVA) e OVA (sensibilizado com
OVA). Em ambos os protocolos (23 dias e 35 dias) os animais
foram sensibilizados nos dias 0, 7 e 14 com 10μL/ g de animal,
via intraperitoneal (i.p.) com uma suspensão contendo 50
μg/mL de OVA grade V (SIGMA Chemical, St. Louis, MO) e 10
mg/mL de Al(OH)3 (VETEC, Rio de Janeiro, RJ) em solução
salina.
No protocolo de 23 dias, os animais foram desafiados
nos dias 19 a 22 com aerossol de OVA grade II (SIGMA
Chemical, St. Louis, MO) a 5% em solução salina por 30
minutos diários, em uma câmara fechada, sob um fluxo
contínuo de aerossol, com o auxílio de um nebulizador ultra-
sônico. Este protocolo é caracterizado por apresentar uma
inflamação alérgica pulmonar aguda.
No protocolo de 35 dias, os animais passaram por duas
etapas de desafios com aerossol. A primeira etapa ocorreu
entre os dias 19 a 23, e a segunda etapa entre os dias 30 a
34. O procedimento de desafio ocorreu de igual modo ao
protocolo de 23 dias. Este protocolo apresenta uma

37
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
inflamação alérgica pulmonar crônica (MCMILLAN;
XANTHOU; LLOYD, 2005).
Coleta do Fluido do Lavado Broncoalveolar (BALF).
O BALF foi coletado 24 horas após o ultimo desafio de cada
protocolo experimental. O BALF foi realizado com 1,5 mL de
HBSS+/- gelado, injetado na traqueia, sentido pulmão. O fluido
foi armazenado para posterior contagem de células.
Contagem Total e Diferencial de Células do BALF. A
contagem do número total de células no BALF foi realizada em
câmara hemocitométrica. O BALF foi diluído (1:4) em solução
de Turk (VETEC, Rio de Janeiro, RJ), a contagem das células
totais foi realizada no microscópio óptico (40x- BX40,
OLYMPUS). Após a contagem das células totais, os tubos
foram centrifugados (centrífuga CR422, JONAM) a 1000 rpm,
4ºC, 5 minutos, as células foram ressuspensas em 300µL de
HBSS+/- e citocentrifugadas na citocentrífuga tipo citospin
(FANEN, São Paulo, SP, Brasil Mod 2400). As lâminas obtidas
foram fixadas e coradas pelo método panótico (Kit Panótico,
Renylab). A contagem diferencial de células foi realizada por
microscopia óptica. Cada lâmina foi percorrida até a contagem
de 100 células, utilizando para isso a objetiva de imersão
(100x).
Histologia pulmonar. Para avaliar as características
histológicas pulmonares dos camundongos, o pulmão foi
coletado 24 horas após o último desafio de cada protocolo de
asma alérgica e fixado em formalina tamponada, em
sequência, foi hidratado em água corrente durante 24 horas;
desidratado por 30 minutos em cada diferente concentração
de álcool etílico (70, 80, 90 e 100%); xilol por 30 minutos;
parafina líquida (parafina histológica- ERVIEGAS, São Paulo,
SP), após solidificação obteve-se o "bloco" de parafina

38
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
contento o fragmento do tecido em seu interior. O corte
histológico teve espessura de 5μm, com o auxílio de um
micrótomo (SP Labor 300).
Com os cortes aderidos nas lâminas, estes foram
corados com Hematoxilina & Eosina (HE), para avaliação de
parâmetros teciduais gerais; Ácido Periódico de Schiff (PAS),
para avaliação da hipersecreção de muco e Tricômio de
Gomori (TG), para observação da expansão da matriz
extracelular. Depois, foi realizado a montagem das lâminas.
Após a análise morfológica, foi criado um score (pontuação),
com a finalidade de gerar significância as avaliações visuais,
correlacionando esses achados a clínica dos animais
acometidos com asma, para cada corante utilizado (GALVÃO
et al., 2017).
Para a análise em HE as lesões avaliadas e os
valores atribuídos foram: Infiltrado Peribroquiolovascular (00-
03); Hipertrofia e Hiperplasia de Céls. Caliciformes (00-02);
Tampão Mucoso (00-02); Infiltrado Perivascular (00-01);
Infiltrado Peribronquiolar (00-01) e Infiltrado Disperso na
Mucosa (00-01).
Nos scores de PAS e o número total de
estruturas peribronquiolovasculares no TG, foram
mensurados, onde até 05 bronquíolos o valor atribuído foi 1;
de 06 a 10 bronquíolos (2); de 11 a 15 bronquíolos (3) e até 20
bronquílos (4).
Coleta de sangue e Teste de Anafilaxia Cutânea
Passiva (PCA). 24 horas após o último desafio com o
alérgeno (OVA) de cada protocolo, o sangue foi coletado pelo
plexo braquial, centrifugado em 1.500 rpm, a 4ºC por 10 min e
o soro coletado foi armazenado para a realização do teste de
anafilaxia cutânea passiva (PCA), afim de determinar o título

39
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
de IgE-OVA-específica. As amostras de soros foram diluídas
em salina em oito diluições seriadas. Um volume de 50 μL das
diluições foi injetado por via intradérmica em oito diferentes
sítios do dorso de ratas Wistar depiladas e previamente
anestesiadas.
Após 24 h, foi realizado o desafio antigênico pela
administração de 500μL na veia caudal de uma solução
contendo 10 mg/mL do corante Azul de Evans (VETEC, Rio de
Janeiro, RJ) 1 %, e 4 mg/mL de OVA grade V. Após 30 min, os
diâmetros das manchas formadas no dorso foram medidas. O
título é determinado pela maior diluição do soro capaz de
promover mancha mensurável ≥ 5 mm (COSTA et al., 2008).
Análise estatística. Os resultados obtidos foram
expressos como média ± erro padrão da média, e analisados
estatisticamente empregando-se o ANOVA one-way seguido
de Tukey, onde os valores de p<0,05 foram considerados
significativos. Todos os dados foram analisados pelo programa
GraphPad Prism versão 7.0 (Graph Pad Software, San Diego,
CA, U.S.A.).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na figura 1 (a) observa-se que o desafio com OVA foi


capaz de promover um aumento significativo da migração de
leucócitos no BALF em ambos os grupos OVA em relação aos
grupos Basais: no protocolo de 23 dias (5,63x105 ± 0,457 vs
0,4 ± 0,1) e no de 35 dias (8,63 x105 ± 0,81 vs 0,45 ± 0,0866).
Adicionalmente, a migração de células inflamatórias no BALF
do grupo OVA do protocolo de 35 dias foi aumentado
significativamente ( p˂ 0,01), em relação ao grupo OVA do
protocolo de 23 dias.

40
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
Similar a migração de células totais induzida pelo desafio
com OVA (Fig 1a) a porcentagem de eosinófilos presente no
BALF foi aumentada em relação ao grupo não sensibilizado
com o alérgeno, nos dois protocolos de asma alérgica
analisados (Fig 1b). No protocolo de 23 dias (40,1 ± 1,47 vs
0,75 ± 0,479) e no protocolo de 35 dias (48,4 ± 3,63 vs 5,04 ±
1,46). No entanto, não houve diferença estatistica entre os
grupos OVA dos diferentes protocolos de asma alérgica.

Figura 1 - Efeito do desafio com Ovalbumina na migração de


células totais e porcentagem de eosinófilos no BALF em
modelos experimentais de asma alérgica.

Fonte: Pesquisa direta. 2017

41
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
Um dos parâmetros característicos do processo
inflamatório da asma alérgica é o recrutamento de leucócitos
para as vias aéreas inferiores (WOODRUFF et al., 2009). Afim
de avaliar a migração celular, os leucócitos totais foram
quantificados no Fluido do Lavado Broncoalveolar (BALF). O
desafio por aerossol com o alérgeno Ovalbumina se mostrou
eficaz em induzir o influxo de células inflamatórias no BALF,
indicando um parâmetro essencial no processo inflamatório
dos modelos analisados no presente estudo. Nossos
resultados demonstraram ainda que a cronicidade da
exposição ao agente causador do processo inflamatório tem a
capacidade de aumentar ainda mais o influxo de leucócitos, e
consequentemente a manutenção do processo inflamatório e
sua cronicidade, confirmando que o tempo de exposição ao
alérgeno é fundamental para a exacerbação da crise alérgica.
Uma das características essências da asma alérgica é a
migração exacerbada dos eosinófilos para os pulmões (KARP,
2004; YOUSEFI; SIMON; SIMON, 2012). A ativação
eosinofílica promove a liberação de mediadores pró
inflamatórios importantes para manutenção do processo
inflamatório crônico das vias aéreas, como a proteína básica
principal (MBP), proteína catiônica, LTC4, PGE2, tromboxanos
e PAF. Os eosinófilos ainda tem a capacidade de sintetizar
diversas citocinas (IL-3, IL-4, IL-5, IL-8, IL-10, IL-12, IL-13),
quimiocinas (CCL5/RANTES e CCL11/ eotaxina – 1), TNF-α e
TGF-β, onde todas essas moléculas atuam na patogênese do
processo inflamatório crônico nas vias aéreas (BANDEIRA-
MELO; BOZZA; WELLER, 2002; GOUR; WILLS-KARP, 2015;
WYNN, 2015).
O aumento no número de eosinófilos, em ambos os
protocolos de inflamação alérgica pulmonar, foi obervado no

42
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
presente estudo. O desafio com OVA resultou em uma média
de 40% de eosinófilos no BALF em ambos os modelos
estudados. Esse resultado comprova o padrão característico
do fenótipo da asma alérgica, no qual é caracterizado por uma
inflamação crônica eosinofilica (BEZERRA-SANTOS et al.,
2006; CERQUEIRA-LIMA et al., 2010).
Na figura (2), observa-se o processo histopatológico
característico da inflamação alérgica das vias aéreas inferiores
em ambos os protocolos de 23 e 35 dias. A coloração
Hematoxilina&Eosina (HE) permite a observação da
arquitetura geral do tecido pulmonar, revelando o padrão típico
do epitélio respiratório o qual é formado por células
pseudoestratificadas; ciliado com células caliciformes e em
bronquíolos terminais, observa-se que o epitélio tornar-se
colunar baixo ou cúbico com células de Clara e a parede
alveolar com pneumócitos de estrutura preservada, como
evidenciado no grupo Basal. No entanto, nos grupos OVA de
23 e 35 dias, observam-se a presença de infiltrado inflamatório
e edema multifocal peribronquiolovascular com presença de
eosinófilos, linfócitos e macrófagos compondo o exsudato
característico da inflamação pulmonar alérgica, observa-se
ainda hipertrofia e hiperfplasia do epitélio bronquiolar e
presença de tampão mucoso no interior de bronquíolos.
O Ácido Periódico de Schiff (PAS) revela glicogênio e
mucina intracelular, além da hierptrofia e hiperplasia de células
caliciformes, lesões observadas no grupo OVA nos dois
protocolos utilizados, diferente dos grupos Basais, onde essas
estruturas mantiveram-se sem alteração . Nas lâminas
coradas por PAS a reação positiva para o corante ocorre
quando é observado em bonina a presença de glicogênio ou

43
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
polissacarídeos neutros (contendo grupos 1,2 glicol) e mucina
(glicoproteína, principal constituinte do muco).
O Tricômio de Gomori (TG) tem a finalidade de
identificar fibras musculares além da expansão da matriz
extracelular, onde as fibras musculares se coram de vermelho
e fibras que compõem a matriz extracelular em verde. Uma
das principais proteínas que compõem a matriz estracelular é
o colágeno o qual esta intimiamente relacionado ao processo
de remodelamento tecidual ou fibrose.
No protocolo de 23 dias, pode-se observar, tanto
visualmente, representado na fig. (2), quanto estatisticamente,
através do score inflamatório, que houve migração significativa
de células inflamatórias para o espaço peribronquiolovascular
nos animais do grupo OVA em relação ao do grupo Basal (4,5
± 0,289 vs 1) observados em HE, e ainda uma hiperprodução
de muco pelas células caliciformes (1,5 ± 0,289 vs 0)
observadas em PAS. Todavia, não houve expansão
significativa da matriz extracelular, no espaço
peribronquiolovascular, entre os grupos.
No protocolo de 35 dias, observa-se tanto na fig. (2)
representativa quanto pela analise estatística no score, que
houve migração significativa de células inflamatórias para o
espaço peribronquiolovascular no grupo OVA em relação ao
Basal (6,75 ± 0,25 vs 1) observados em HE, hiperprodução de
muco pelas células caliciformes (2,5 ± 0,289 vs 0,5 ± 0,289)
observadas em PAS, além de expansão da matriz extracelular
no espaço peribroquiolovascular, promovendo remodelamento
tecidual (1,75 ± 0,25 vs 0). Na análise estatística entre os dois
protocolos, é observado entre os grupos OVA um aumento do
processo inflamatório tecidual com migração celular para o
espaço peribronquiolovascular e expansão da matriz com

44
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
consequente remodelamento tecidual no de 35 dias em
comparação ao de 23 dias (p ˂ 0,001).

Figura 2 - Efeito do desafio com Ovalbumina no processo


histopatologico pulmonar em modelos experimentais de asma
alérgica.

45
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA

Fonte: Pesquisa direta. 2017

Com o objetivo de comprovar no parênquima pulmonar


a migração de células inflamatórias mensuradas no BALF,
utilizou-se a coloração de HE. A qual permitiu observar a
presença de leucócitos para o espaço peribronquiolovascular
em ambos os grupos sensibilizados e desafiados com o
alergeno Ovalbumina. Ainda, a exposição prolongada ao
alérgeno, no protocolo de 35 dias, foi capaz de promover uma
maior migração para o sitio inflamatório, quando comparado
ao protocolo de 23 dias. Esse resultado comprova que o
tempo de exposição ao agente causador do processo
inflamatório está diretamente relacionado a ativação da
resposta Th2 e consequentemente migração de granulócitos,
responsáveis pela manutenção e cronicidade do processo
inflamatório asmático.
Afim de avaliar o processo de hiperodução de muco,
hiperplasia e hipertrofia das células caliciformes característico
na asma, a coloração de PAS foi utilizada. Com isso, foi
evidenciado um aumento destes parâmetros nos grupos OVA
46
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
de ambos os protocolos, quando comparados aos respectivos
grupos basais. No entanto, o tempo de exposição ao alérgeno
não infere em uma maior produção de muco quando
comparou-se os protocolos.
A expansão da matriz, gerando seu remodelamento, é o
principal parâmetro de cronicidade do processo inflamatório
crônico da asma (MCMILLAN; XANTHOU; LLOYD, 2005),
sendo este observado no protocolo de 35 dias. No protocolo
de 23 dias não foi observado a presença de remodelamento
tecidual, classificando-o como protocolo agudo de inflamação
pulmonar asmática, onde os parâmetros inflamatórios
mantenedores de toda a inflamação foi mensurado, exceto a
fibrose.
Como demonstra a figura (3), a não exposição ao
alergeno dos grupos Basais em ambos os protocolos
analisados neste estudo, não produziu a imunoglobulina
alérgeno específica (IgE- OVA específica), não estando
presentes na fig. (3). Todavia, a sensibilização efetiva com
OVA promoveu a produção de IgE – OVA específica nos
grupos OVA, no protocolo de 23 dias (3822 ± 274) e no
protocolo de 35 dias (3947 ± 149).
A Imunoglobulina E (IgE) é classificada como o
marcador biológico do fenótipo da asma alérgica mediada pela
resposta imune tipo 2 (DOHERTY et al., 2013; GOULD;
SUTTON, 2008; XU et al., 2016).

47
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
Figura 1 - Efeito do desafio com Ovalbumina sobre o título de
IgE-OVA específica em modelos experimentais de asma
alérgica.

Fonte: Pesquisa direta. 2017

A produção de IgE é realizada pelos linfócitos B em


decorrência da ativação via interação com os linfócitos T e
suas citocinas IL- 4 e/ou IL-13 (AKDIS; AKDIS, 2012; GALLI;
TSAI, 2012; GOUR; WILLS-KARP, 2015; WYNN, 2015). A
função essencial da IgE é mediar as reações de
hipersensibilidade imediata tipo 1. A ligação cruzada
(alérgeno–IgE–receptor FcεRI) em mastócitos, leva sua
desgranulação e liberação de mediadores inflamatórios locais,
responsáveis pela resposta aguda na asma ige(HOFMANN;
ABRAHAM, 2010; KAGEYAMA-YAHARA et al., 2008; STONE;
PRUSSIN; METCALFE, 2010). A IgE participa dos
mecanismos de sobrevivência, proliferação, migração e
ativação de mastócitos, os quais produzem uma variedade de
citocinas e quimiocinas envolvidas na imunomodulação das
afecções alérgicas (KASHIWAKURA; OTANI; KAWAKAMI,
2011; PALOMARES et al., 2017).
48
ANÁLISE COMPARATIVA DOS PARÂMETROS ENVOLVIDOS EM MODELOS
EXPERIMENTAIS DE ASMA ALÉRGICA
Nesse estudo demonstramos que em ambos os
protocolos utilizados, os grupos basais, por não serem
sensibilizados com o OVA, não apresentaram a IgE OVA-
específica sérica. Entretanto, a sensibilização com o alérgeno
OVA foi capaz de induzir a produção de IgE- OVA específica
em ambos os grupos OVA. Demonstrando eficácia no
processo de senbilização em ambos os procotocolos
avaliados. Adicionalmente, a produção da IgE independe do
tempo de exposição local da OVA.

4 CONCLUSÕES

Esse estudo comprovou a efetividade do processo de


sensibilização e desafio com o alérgeno Ovalbumina nos
protocolos experimentais de asma alérgica aguda e crônica.
Entretanto, o tempo de exposição ao alérgeno é essencial
para a cronicidade do processo inflamatório, promovendo uma
piora no quadro clinico asmático.

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52
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
CAPÍTULO 3

ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE


FARMACÊUTICO
Maria Luiza Carneiro Moura Gonçalves Rego BARROS1
Marconi Rego Barros JÚNIOR¹
José Lamartine Soares SOBRINHO²
1
Doutorando em Inovação Terapêutica, Universidade Federal de Pernambuco; 2
Orientador/Professor do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal
de Pernambuco.
marialuizacmoura@hotmail.com

RESUMO: Ao longo dos anos a comunidade científica e


industrial tem-se voltado à atenção para inovações
tecnológicas em busca de novos materiais que possuam
inúmeras aplicações. No campo farmacêutico os
argilominerais são uma inovação tecnológica com excelentes
propriedades, dentre as quais se destacam a estabilidade
térmica, propriedades granulométricas e reológicas,
principalmente a de adsorção. Nesta revisão encontram-se
informações bibliográficas sobre o uso de argilominerais como
excipiente farmacêutico, visando uma atualização sobre estes
materiais e sua potencial utilização no âmbito farmacêutico. É
importante frisar a sua utilização como excipiente
farmacêutico, a fim de incentivar o uso de matérias primas do
Nordeste, bem como contribuir para o desenvolvimento sócio-
econômico desta região.

Palavras-chave: Argilominerais. Excipiente farmacêutico.


Filossilicatos. Liberação de fármacos.

53
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
1 INTRODUÇÃO

Com a evolução das pesquisas em busca de novos


materiais, o campo da ciência de materiais e química ficou
responsável pelo aparecimento de novos compostos como
ligas metálicas, polímeros, cerâmicas e materiais híbridos
inorgânicos-orgânicos. A partir deste novo século essa última
classe de materiais tem sido foco de relevantes pesquisas,
pois as suas propriedades e aplicações tecnológicas
permeiam diversas áreas da indústria, ciência e tecnologia
(YANG, 2003).
Novos materiais baseados em argilas tais como
silicatos, têm atraído grande atenção, pois são abundantes, de
baixo custo, ambientalmente compatíveis e com potencial
ilimitado, reunindo importantes propriedades como: elevada
área superficial e porosidade, sítios ativos e atraentes para o
processo de adsorção (CAGLAR, 2012), excelente
estabilidade térmica e estrutural, (YANG, et al, 2012),
capacidade de troca iônica e toxicidade baixa ou nula (CHOI,
et al, 2011, HITZKY, et al., 2010; WANG E O'HARE, 2012;
PARK, et al., 2013; PARK et al., 2015).
Além disso, estes materiais vêm demonstrando
numerosas aplicações em diversificadas áreas de pesquisa,
principalmente como sorventes potenciais na remoção de
vários poluentes específicos para a tecnologia do tratamento
de água e efluentes (LEE, et al, 2012), agentes de controle
reológico e ainda usados na liberação de fármacos
(SUCHITHRA, et al, 2012, DAWSON E OREFFO, 2013; YU, et
al., 2013; BI, et al., 2014; CHOI, et al., 2014; KIM, et al., 2015).
A classe mineral dos silicatos é a de maior importância,
superando qualquer outra, pois cerca de 25% dos minerais
conhecidos e quase 40% dos minerais comuns são silicatos,
54
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
ocupando uma posição de destaque nos assuntos
relacionados à Química Inorgânica, não só do ponto de vista
estrutural, como também no estudo de propriedades,
principalmente no que tange à inserção de moléculas no
interior do espaço interlamelar e consequentes modificações
químicas, além de várias aplicações (AIROLDI, 2008).
De acordo com o “International Pharmaceutical
Excipient Councils” – IPEC, excipiente é qualquer substância,
diferente do fármaco ou do pró-fármaco, que tem sua
segurança avaliada e, pode ser incluída na forma farmacêutica
com as seguintes intenções: possibilitar a preparação do
medicamento; permitir a administração de doses exatas;
fornecer estabilidade química, física e microbiológica ao
fármaco; melhorar a disponibilidade biológica do fármaco; e
melhorar as propriedades organolépticas dos fármacos e
preparações (PESSANHA et al., 2012). O excipiente precisa
garantir a aceitabilidade do paciente; e melhorar ou promover
qualquer outro relacionado à segurança e efetividade do
medicamento (VILLANOVA, et. al., 2012).
Neste sentido, o objetivo principal do presente trabalho foi
um levantamento bibliográfico sobre o uso de argilominerais
como excipiente farmacêutico.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo consistiu em uma revisão de literatura, cujo


levantamento bibliográfico foi realizado mediante a busca
eletrônica de artigos indexados em bases de dados como os
sites da Scientific Electronic Library Online (Scielo), Biblioteca
Virtual em Saúde (Bireme) e Science Direct. Por meio de
consulta aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), foi
possível identificar aos seguintes descritores concernentes ao
55
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
tema: argilominerais e excipiente farmacêutico, nos quais foi
baseada esta pesquisa, de modo a possibilitar uma busca
mais direcionada aos artigos científicos de interesse.
A pesquisa considerou os seguintes critérios de inclusão:
1) Período de publicação - artigos publicados entre os anos de
2010 a 2017, com exceção para os clássicos, os quais foram
publicados anteriormente a este período; 2) Idiomas – artigos
em português, inglês e espanhol; 3) Artigos relacionados ao
tema proposto, com utilização dos descritores citados acima.
Após a identificação dos artigos, os resumos dos mesmos
foram lidos previamente, para identificar as ideias
apresentadas pelos autores, de forma a verificar se poderiam
contribuir com os objetivos desta pesquisa. Selecionados os
artigos de interesse, foram impressos e iniciou-se um processo
de análise e síntese por meio de uma leitura exploratória, com
a finalidade de abarcar um significado mais amplo dos
conceitos envolvidos, para favorecer posteriormente uma
elaboração textual consistente e adequada acerca do tema
proposto.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Argilas são materiais terrosos, de granulação fina,


formadas quimicamente por silicatos hidratados de alumínio,
ferro e magnésio. São constituídas por partículas cristalinas
extremamente pequenas, de um número restrito de minerais
conhecidos como argilominerais, podendo conter ainda
matéria orgânica, sais solúveis, partículas de quartzo, pirita,
calcita, outros minerais residuais e minerais amorfos (VIEIRA
et al., 2003, BRIGATTI, et al., 2013, GUGGENHEIM E
KREKELER, 2011; OUELLET-PLAMONDON, et al., 2015).

56
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
Segundo Nunes (2003), os egípcios acreditavam que a
argila nada mais era que barro, além de ser um dos melhores
remédios que existia na natureza. Porém, sugere-se que foi
Popea, mulher de Nero, que desenvolveu a máscara facial
para conservar a delicadeza da pele contra o sol e as
agressões diárias (ZAGUE, et al., 2007). Acredita-se que a
argila é um dos materiais mais antigos utilizados pelo homem
(VISERAS, 2004).
Aproximadamente 30 minerais, dos 4500 conhecidos,
são utilizados nas indústrias farmacêutica e cosmética, seja
como princípios ativos ou excipientes (CARRETERO; POZO,
2010).
As argilas podem ser de origem natural ou sintetizadas
em laboratório com rota simples e de baixo custo (BOTAN et
al. 2011). Elas são usadas em diversas aplicações
tecnológicas, tais como: modificação de eletrodos para
biosensores, imobilização de enzimas, imobilização de
catalisadores, remoção de biomoléculas indesejáveis em
extratos, nanocompositos argila/polímero, imobilização de
fármacos, adsorção de compostos orgânicos tóxicos,
promotores de adesão e agente hidrofóbico em tintas, agente
de reticulação em resinas, revestimentos híbridos funcionais
em cimentos de uso odontológico, sistemas de liberação de
fármacos, obtenção de sílica e filmes finos de alta pureza
(BERGAYA AND LAGALY, 2013; PARK, et. al., 2015).
O conceito tradicional de excipiente farmacêutico
postula-os como substâncias inócuas inseridas em uma
formulação para facilitar a administração e preservação dos
fármacos em formas farmacêuticas. A qualidade destes
excipientes está intimamente ligada a qualidade do
medicamento em si, como era de se esperar. Embora a
quantidade de fármaco em uma formulação seja pequena,
57
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
principalmente em formulações líquidas diversas, pouca
atenção era dada aos excipientes com agentes funcionais. Os
modernos excipientes farmacêuticos conseguem modular a
liberação do fármaco de sua forma farmacêutica em termos de
dissolução e, portanto não podem ser considerados “inertes”
(PESSANHA, et. al., 2012).
A utilização de argilas como excipientes já é um fato no
campo científico. Os argilominerais apresentam aplicação no
campo farmacêutico como matrizes, quando intercaladas com
drogas de interesse farmacêutico, resultando em uma forma
alternativa de administração de drogas. Uma vez encapsulada,
a droga pode ser liberada com diferente velocidade
dependendo do pH da solução. A liberação de fármacos de
forma controlada e em alvos específicos do organismo tem
tido um crescente interesse.
É importante lembrar que toda formulação deve garantir
a segurança do paciente, por tanto se faz necesserário estudo
de toxicidade destes materiais. Sendo a maioria dos testes de
toxicidade de argilominerais realizada in vitro usando culturas
de células de mamíferos ou plantas. As propriedades físico-
químicas dos argilominerais deve ser bem definida e
caracterizada, pois estudos apontam que a sua toxicidade,
citotoxicidade e mutagenicidade podem estar fortemente
dependentes da sua composição química, tamanho de
partícula, área de superfície, carga de superfície, estrutura
cristalina e a estabilidade estrutural (YU, et. al., 2010; CHOI,
CHOY, 2011).
Com isso, os argilominerais precisam ser
caracterizados para verificar se podem ser utilizados como
excipientes farmacêuticos devido as suas diversas
propriedades. Eles podem ser caracterizados por vários
métodos, sendo os principais a difratometria de raios-X (XRD),
58
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
espectrometria de absorção atômica (AAS), infravermelho
(FTIR) e UV-Visível, análise térmica (TGA/DTG e DSC),
ressonância magnética nuclear (RMN) e microscopia
eletrônico de transmissão (TEM), medidas de área superficial
e volume de poros.
Cunha e colaboradores (2010) fizeram um
levantamento de 55 artigos relacionados à intercalação de
fármacos na matriz do HDL, onde relataram a composição do
HDL, os fármacos intercaldos e as caracterizações realizadas.
Em uma análise mais refinada destas informações, pôde-se
extrair em percentual, as técnicas mais utilizadas para
caracterização de HDL. Foram encontradas 23 técnicas
diferentes de caracterização nestes 55 artigos, dentre elas, a
difração de raios-X ficou em evidência, presente em 96,3%
dos artigos, acompanhada de Infravermelho e Análise química
dos elementos CHN/CHNS com 61,1% e e 40,7%
respectivamente. Outras análises que também detiveram um
bom percentual de aplicabilidade na caracterização dos HDL
foram Termogravimetria (24,1%), Microscopia Eletrônica de
Transmissão (24,1%), TG-DTA (22,2%), Microscopia
Eletrônica de Varredura (18,5%) e Espectroscopia de Emissão
Atômica (18,5%). Estas sete análises foram as que mais
contribuíram para a caracterização dos HDL`s nos artigos
pesquisados. Embora não contemplada como uma das
principais caracterizações nos artigos citados por Cunha e
colaboradores (2010), a análise de determinação de área
superficial e de distribuição de tamanho de poros desponta
como uma das mais importantes técnicas para analise destes
materiais, principalmente, quando o objetivo final seja a
intercalação de outras substâncias.
Jitianu e colaboradores (2013) fizeram
análise de superfície do NiAl-HDL utilizando o método
59
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
Brunauer–Emmet–Teller (BET) e análise de tamanho de poros
utilizando o método de adsorção dos gases Nitrogênio/Hélio
utilizando o método Barrett, Joyner & Halenda (BJH). Neste
sentido eles puderam comprovar que havia diferença na área
superficial e tamanho de poros quando a síntese era realizada
com razões molares diferentes
Ladewig e colaboradores (2010) utilizaram a difração de
raios-x para tentar comprovar a intercalação de DNA nas
lamelas do HDL Mg2Al(OH)6NO3. Evidenciou-se que houve um
alargamento da distância interlamelar do MgAl-HDL, que
passou de 7,8 A para 23 A após a intercalação, sendo um
forte indício de inserção do material genético.
Shafiei e colaboradores (2010), utilizaram a difração de
raios-x para analisar CaAl-HDL obtido por co-precipitação e
submetido a diferentes tempos de tratamento hidrotermal.
Através do estudo foram obtidas informações a respeito das
distâncias interlamelares dos HDL`s tratados
hidrotermicamente. Neste mesmo trabalho, os pesquisadores
utilizaram Microscopia Eletrônica de Varredura, para ver a
morfologia dos diferentes HDL obtidos. Foi verificado a
presença de regiões aglomeradas nos CaAl-HDL que não
foram submetidos a tratamento hidrotermal. Enquanto os que
foram submetidos ao tratamento, mostraram-se isentos de
regiões amorfas, com aparência mais regular e tamanho de
cristais maiores.
Zhang e colaboradores (2012) utilizaram a técnica de
Infravermelho com Transformada de Fourier para detecção
das vibrações das ligações orgânicas presentes no
dodecilsulfato de sódio isolado e intercalado a CaAl-Cl-HDL.
Sendo assim, foram detectadas bandas referentes aos dois
componentes de maneira sobreposta, na amostra com o
fármaco intercalado. Comprovando assim, que o fármaco
60
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
inseriu-se nas lamelas do HDL quando adicionou-se o mesmo
em solução do fármaco. Neste mesmo artigo, os
pesquisadores utilizaram Espectroscopia de Emissão Atômica
para verificar o ambiente químico dos compostos obtidos,
verificando que além do produto fármaco-CaAl-HDL, formou-
se também o produto fármaco-Ca, através de diferentes
precipitações.
Jitianu e colaboradores (2013) utilizaram o TG/DTA
para analisar a síntese de NiAl-HDL, onde pôde-se observar
os eventos de perda de massa e variações de energia
envolvidas no processo de decomposição do HDL. Neste
mesmo trabalho os pesquisadores utilizaram o MET para
conhecer um pouco mais as características estruturais do
composto; evidenciando assim, estruturas na sua maioria
hexagonais com cristalitos aderidos a sua superfície.
Segundo Yuan, et. al., 2010; Sahoo, Nayak, 2012; Hua,
et. al., 2010; Alves, et. al., 2013; Cabrera – Lafourie, 2012;
Férnandez, et. al., 2013; Gomes, et. al., 2010; Hongo, et. al.,
2012; Nguyen, et. al., 2013; Park, et. al., 2011; dentre outros, a
difração de raios-x, termogravimetria, microcopia eletrônica de
varredura, área superficial, Ressonância Magnética Nuclear,
análise elementar, espectroscopia no infravermelho por
transformadora de Fourier, são as técnicas de caracterização
mais utilizadas para os filossilicatos.
Existem muitos produtos farmacêuticos no mercado que
incluem argilas como excipientes em suas formulações, por
exemplo: Mebendazol, Bac-Sulfitrin, Pipurol®, Deltaflan,
Calferon e Nimesulon, bem como estudos de carreamento de
antibióticos com argilominerais (HOLEŠOVÁ, et al., 2014, XU,
et al., 2013, HAMILTON, et al., 2014). Há exemplos de
patentes depositadas no Brasil protegendo a fabricação de
medicamentos oftálmicos e adesivos dérmicos nos quais as
61
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
argilas são aplicadas como carreadoras do princípio ativo
(KETELSON E MEADOWS, 2002, CERVINI-SILVA, et
al.,2015).
É importante enfatizar que existem alguns requisitos
importantes para que uma argila seja usada em preparações
farmacêuticas e cosméticas (LÓPEZ-GALINDO, et. al., 2011).
Em especial destacam-se a granulometria, o grau de pureza
mineral, a quantidade de água adsorvida, composição química
e contaminação microbiológica (BAEK, et al., 2012). Dentre os
filossilicatos, apenas a caulinita, o talco, as esmectitas e as
argilas fibrosas são utilizadas em aplicações farmacêuticas
e/ou cosméticas.
Os filossilicatos têm sido amplamente estudados quanto
aos sistema de liberação de fármacos, devido sua elevada
capacidade de adsorção, vários autores citam sua intercalação
com quitosana, formando nanocompósitos apresentando
assim inúmeras vantagens como aumento da
biodisponibilidade dos fármacos no trato gastrointestinal,
liberação direcionada a um alvo específico, entre outras
(NANDA, SASMAL, NAYAK, 2011; COJOCARIU, et. al. 2012;
SALCEDO, et. al., 2012; PALUSZKIEWICZA, et. al., 2012).
No caso de administrações tópicas, minerais como o
talco e a caulinita podem carrear fármacos (antibióticos,
analgésicos, anti-histamínicos) adsorvidos superficialmente,
que são liberados quando em contato com a pele úmida,
podem atuar como agente emulsivo em preparações
cosméticas, devido sua elevada área superficial
(CARRETERO, POZO, 2010, SAHA, et al., 2014a, SAHA, et
al., 2014b). as argilas esmectitas possuem altas capacidades
de troca catiônica e podem ser usadas para a intercalação de
moléculas orgânicas com ou sem grupos polares (HITZKY et

62
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
al., 2010; WANG E O'HARE, 2012; PARK et al., 2013; PARK
et al., 2015).
As argilas modificadas são usadas para administração
oral de fármacos com liberação controlada. Algumas
empresas comercializam esmectitas de grau farmacêutico
como, por exemplo, as argilas Veegum® e a Polargel®, que
passam por um processo de lavagem em água como pode ser
visto no site da “health beauty solutions”.
Embora muitos trabalhos relatem a preparação de
híbridos a partir de argilas organofílicas ou a partir de
nanocompósitos polímero-argila, o mais comum é a
intercalação direta dos fármacos nas argilas (YANG et al.,
2013a; CHOI et al., 2014, SALCEDO, et al. 2014). Nesse
caso, as moléculas de interesse são imobilizadas entre as
lamelas por um processo de troca catiônica (LAKSHMI, et
al.,2010). Para que isso ocorra é necessário que o fármaco em
questão esteja em sua forma básica. Em função do tamanho e
da basicidade das moléculas do fármaco, diferentes tipos de
interação com a argila podem ocorrer, alterando assim sua
cinética de liberação (YANG, et al., 2013b).
A liberação controlada do fármaco, promovida pela sua
interação com a argila, permite controle na sua administração,
mantendo níveis constantes de concentração no sangue por
tempo longo (OH, et al., 2011). Esse fenômeno pode ser
benéfico quando a dessorção lenta e controlada da droga tem
um efeito positivo na ação terapêutica do medicamento, que é
o caso de, por exemplo, anfetaminas e antibióticos. A
liberação da droga também pode ser planejada para ocorrer
apenas em ambientes químicos alvos após sua administração
oral, como quando em contato com fluido intestinal, onde há
aumento da força iônica do meio (WEI, et al. 2014).

63
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
Na maioria dos trabalhos sobre o uso de argilas em
sistemas de liberação controlada, observa-se uma melhoria na
solubilidade do fármaco no seu ambiente de aplicação alvo
(MARQUES, et al., 2014). Fármacos como sertralina (NUNES,
et. al., 2007), itraconazol, ciclosporina e carvedilol (PARK, et.
al., 2006) são cristalinos nas suas formas sólidas puras e,
quando imobilizados na argila, são amorfos, além de possuir
liberação modificada (PATEL, et al., 2011; JAIN E DATTA,
2014; SALAHUDDIN, et al., 2012; KAUR E DATTA, 2014;
KONG, et al., 2014; CHEN, et al., 2010).
Além disso, observa-se que há uma liberação rápida
referente às moléculas adsorvidas na superfície, seguida de
uma liberação lenta e contínua, relativa às moléculas
presentes na região interlamelar (PARK, 2006). Podem
ocorrer também mudanças conformacionais nas moléculas
devido ao confinamento (PAROLO, et. al., 2008). Moléculas
de elevada toxicidade, a exemplo do 5-fluorouracil e outras
drogas anticancerígenas, podem ser mais bem toleradas
quando intercaladas, por terem liberação mais lenta no
organismo (LIN, et al., 2002; KEVADIYA, et al., 2012a;
ANIRUDHAN E SANDEEP, 2011, KEVADIYA, et al. 2012b,
MASSARO, et al. 2015).
Ali e colaboradores (2012), utilizaram o fármaco
cetirizina, para os estudos de intercalação e liberação em Zn-
Al-HDL e Mg-Al-HDL. As proporções de fármaco intercalado
nas lamelas dos hidróxidos foram de 0,57/1 e 0,61/1
(fármaco/HDL) para o Zn-Al-HDL e Mg-Al-HDL
respectivamente. No estudo de liberação, foi observado que o
Zn-Al-HDL foi a matriz que proporcionou uma melhor taxa de
liberação do fármaco, assim como um melhor perfil de
liberação sustentada em relação ao Mg-Al-HDL. Sob meio de
dissolução simulando as condições do intestino delgado, com
64
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
pH 7,4; as misturas físicas realizadas com a cetirizina e o Mg-
Al-HDL, liberaram todo o fármaco em torno de 5 minutos. Após
intercalção do fármaco na matriz dos HDL´s, obteve uma
liberação sustentada de 95.6 e 96.3% do fármaco, em um
tempo de 600 e 2980 minutos, respectivamente. Este tempo
bastante elevado para liberação da cetirizina a partir da matriz
do Mg-Al-HDL, deve-se ao fato que a densidade de carga do
Mg-Al-HDL é maior que a do Zn-Al-HDL; fazendo com que o
fármaco permaneça mais fortemente ligado às lamelas do
HDL.
Como excipiente, os argilominerais podem ser usados
como lubrificantes, desintegrantes, diluentes, aglutinantes,
agentes emulsionantes, espessantes e antiaglutinantes,
corretores de sabor e transportadores de ativos em produtos
farmacêuticos melhorando a biodisponibilidade da droga.
Essas aplicações poderia ser realizada por causa de sua
propriedade físico-química características como área de
superfície específica elevada, capacidade de adsorção,
capacidade de permuta iônica, coloide e tixotropia,
propriedade de inchaço, química inerte e baixa toxicidade para
administração oral. As argilas mais comumente utilizadas em
produtos farmacêuticos são caulinita, talco, esmectitas
(montmorilonite, saponita, e hectorita), paligorsquita, sepiolita,
entre outros. (VISERAS, et al., 2010; RODRIGUES, et al.,
2013; CARRETERO, et al., 2013).
Embora as argilas sejam consideradas inertes, a argila
pode influenciar na biodisponibilidade do medicamento, como
incremento na taxa de liberação e estabilidade química.
Quanto mais forte for a interação entre o fármaco e argila,
mais suprimida as taxas de liberação e absorção do ativo se
tornam, e, como conseqüência, a concentração de drogas no
sangue seria reduzida.
65
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
Portanto, tentativas foram feitas para controlar a
liberação do medicamento e taxas de absorção por
revestimento de sistemas de fármaco-argila com polímeros
catiônicos. No entanto, as argilas são altamente
recomendáveis como transportadoras para a medicamentos
que exigir propriedades de liberação lenta e sustentada, como
antibióticos (amoxicilina, tetraciclina, cefradina, metronidazol e
gentamicina), drogas anti-hipertensivas (propranolol,
nifedipina, amlodipina, etc.) e antipsicóticos (aripiprazole,
buspirona).
A fim de minimizar os efeitos adversos e aumentar a
biodisponibilidade de fármacos, Calabrese e colaboradores
(2013) tentaram formar um sistema com o fármaco
metronidazol e a montmorillonita, a intercalação ocorreu por
meio de troca iônica e interações eletrostáticas, ao realizarem
o perfil de liberação da droga no sistema observaram perfis de
liberação sustentada em comparação com o medicamento
comercial.
Alguns desafios tecnológicos para a fabricação das
argilas carregadas com fármacos estão ligados principalmente
à necessidade do uso de solventes orgânicos para a
intercalação de substâncias pouco solúveis em água. Essas
substâncias são as mais interessantes para sistemas de
liberação, já que pode haver ganho na biodisponibilidade do
fármaco intercalado (PARK, 2006).
Outra questão tecnológica está relacionada à não
liberação de parte das moléculas, que ficam fortemente
adsorvidas na superfície da argila. Isso pode causar a
necessidade de intercalação de excesso do fármaco para
obtenção de um medicamento com desempenho adequado
(NUNES, et. al., 2007). É importante notar que a maioria dos

66
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
trabalhos que relatam sistemas de liberação argila-fármaco
não usa argilas de grau farmacêutico.
Embora já exista uma vasta literatura que propõe o uso
de diferentes argilas, com diversos procedimentos de
obtenção, bem como diferentes aplicações, muitos estudos
ainda podem ser feitos no sentido de buscar e classificar
melhor os tipos de argilas que podem ser modificadas, assim
como definir parâmetros de processamento com mais
precisão. Além disso, criar rotas alternativas de preparação, e
estudar melhorias nas propriedades dos materiais obtidos
através da comparação de diferentes compostos de
modificação e metodologias de preparação em função da
aplicação requerida.

4 CONCLUSÕES

A busca do ser humano por “novos” materiais sempre


existiu. Com a evolução social e a competitividade inerente a
ela, tem sido cada vez mais evidente e crescente a
preocupação com a evolução de formas farmacêuticas. A
maior valorização da mesma pelo mercado de trabalho, a
ampla divulgação das indústrias têm tido aumento nas
pesquisas em buscas de materiais que substituam os
convencionais a fim de melhorar e agregar valor ao
medicamento.
Através de estudos na literatura, evidenciou-se várias
estudos científicos exemplificando o uso de argilominerias no
campo farmacêutico. A diversidade e as propriedades das
argilas são analisadas com o propósito de ampliar e
aperfeiçoar o leque de aplicações sendo consequência de
características específicas desses materiais.

67
ARGILOMINERAIS COMO EXCIPIENTE FARMACÊUTICO
Diante disso, deve-se ter a preocupação com o
desenvolvimento de produtos que não agridam o meio
ambiente e que de alguma forma, devido à extração, não haja
o esgotamento da matéria prima na natureza. A preocupação
com esse fato já chegou as indústrias, pois o termo
sustentabilidade tem sido a palavra do século, e, portanto,
necessita-se criar produtos que satisfaçam as necessidades
sem comprometer o meio ambiente.

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73
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA

CAPÍTULO 4

ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES
DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
Francisco Patricio de ANDRADE JÚNIOR1
Thiago Willame Barbosa ALVES1
Edson Douglas Silva PONTES2
Brenda Tamires Medeiros de LIMA1
Vanessa Santos de Arruda BARBOSA3
1
Graduandos do curso de Farmácia, UFCG; 2 Graduando do curso de Nutrição, UFCG; 3
Professora Doutora e Bióloga da Unidade Acadêmica de Saúde (UAS), UFCG;
vanessabarbosa@ufcg.edu.br

RESUMO: Os manipuladores de alimentos podem ser


possíveis veiculadores de enteroparasitos, contribuindo no
desenvolvimento de Doenças Transmitidas por Alimentos. No
Brasil, apesar da relevância e da atualidade do problema, são
poucos os trabalhos avaliando a prevalência de
enteroparasitoses em manipuladores. Deste modo, levando
em consideração o papel destes profissionais como
portadores e disseminadores de enteroparasitos, o presente
trabalho teve como objetivo fazer uma revisão sistemática
sobre a prevalência de enteroparasitos em manipuladores de
alimentos no Brasil. Tratou-se de uma revisão bibliográfica em
que houva a inclusão de trabalhos publicados durante os anos
de 2013 à 2017. Foram analisados 370 documentos, contudo
somente 8 foram utilizados para a construção dos resultados.
953 manipuladores de alimentos foram examinados e 33%
estavam infectados para enteroparasitos/enterocomensais.
Constatou-se a presença de Ascaris lumbricoides,
Ancilostomídeos, Enterobius vermicularis, Strongyloides
stercoralis, Hymenolepis nana, Hymenolepis sp, Taenia spp.,

74
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
Schistosoma mansoni, Trichuris trichiura, Trichostrongylus sp,
Entamoeba coli, Endolimax nana, Entamoeba histolytica/E.
dispar, Giardia lamblia e Iodamoeba bustchlii em
manipuladores de diversos estados. Devido à alta prevalência
e diversidade de enteroparasitas/enterocomensais detectados
nos manipuladores de alimentos, observa-se a necessidade
da implantação de políticas públicas a nível nacional que
possam impedir o desenvolvimento das enteroparasitoses,
ocasionando em consequente quebra da cadeia de
transmissão.
Palavras-chave: Doenças Transmitidas por Alimentos.
Parasitos. Saúde Pública.

1 INTRODUÇÃO

As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) são


importante causa de morbidade e mortalidade em todo o
mundo, tendo emergido, nas últimas duas décadas, como um
problema econômico e sobretudo, de saúde pública (BRASIL,
2014).
Os alimentos podem ser contaminados por agentes
biológicos (como bactérias, fungos, helmintos e protozoários),
químicos (como os venenos) e físicos (como pedras, pregos,
etc) (CUNHA; AMICHI, 2014), contudo devido ao precário
saneamento básico e baixo nível socioeconômico, sobretudo
em países subdesenvolvidos, têm-se observado o aumento da
prevalência de DTAs advindas de enteroparasitos (parasitos
intestinais), causando o desenvolvimento de enteroparasitoses
(MELO et al., 2014).
Os enteroparasitos podem contaminar os alimentos
através dos manipuladores de alimentos contaminados, que
podem ser conceituados como todo e qualquer indivíduo do

75
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
serviço de alimentação que entra em contato direto ou indireto
com o alimento (BRASIL, 2014a).
Essa contaminação do alimento pelo manipulador
parasitado se dá principalmente, através de fezes humanas
contaminadas que figuram como o principal veículo de
contaminação da maioria dos enteroparasitos, sendo que os
enteropatógenos podem ser propagados para o alimento,
através de manipulação errada e devido à precários hábitos
higiênicos (MOURA; AVELAR, 2013).
Dentre os parasitos intestinais responsáveis por
contaminar os manipuladores, é possível destacar os
helmintos e protozoários. Os helmintos são pluricelulares e
podem contaminar plantas e animais, incluindo os seres
humanos, enquanto que os protozoários são seres
unicelulares e têm mobilidade especializada (CUNHA;
AMICHI, 2014).
No Brasil, apesar da relevância e da atualidade do
problema, são poucos os trabalhos avaliando a prevalência de
enteroparasitoses em manipuladores de alimentos
(FERNANDES et al., 2014).
Nesse contexto, levando em consideração o papel do
manipulador de alimentos como portador e disseminador de
enteroparasitoses, o presente estudo teve como objetivo fazer
uma revisão sistemática acerca da prevalência de
enteroparasitos em manipuladores de alimentos no Brasil,
visando conhecer o perfil enteroparasitário nestes profissionais
e as regiões mais estudadas.

76
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Delineamento do estudo

O presente estudo tratou-se de uma revisão


bibliográfica do tipo sistemática. Foram utilizados artigos,
monografias, dissertações e teses publicadas em língua
portuguesa e inglesa, utilizando-se os delimitadores e
palavras-chaves: 1) Enteroparasitos; 2) Manipuladores de
Alimentos; 3) Parasitoses; 4) Alimentos Contaminados; 5)
Doenças Transmitidas por Alimentos; 6) Enteroparasites; 7)
Food Handlers; 8) Parasitosis; 9) Food contamination; 10)
Foodborne Diseases; utilizados isolados e associados em
várias combinações.

2.2 Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos estudos que trouxessem informações


acerca da prevalência de enteroparasitos em manipuladores
de alimentos no Brasil e informações claras sobre a
metodologia de diagnóstico parasitológico utilizada assim
como as espécies de parasitas encontrados nas amostras
fecais de manipuladores, de estudos publicados entre os anos
de 2013 a 2017. Estudos que não atenderam o tempo
cronológico delimitado, realizados em outros países e que não
trouxeram informações concisas acerca da metodologia ou
dos parasitas encontrados, foram excluídos.

77
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
2.3 Fontes de Informação

Os artigos foram recuperados a partir das bases de


dados: Lilacs (Centro América Latina e Caribe em Ciências da
Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Google
Acadêmico e Bancos de Teses e Dissertações de
Universidades Públicas. A última atualização ocorreu em
15/10/2017.

2.4 Análise estatística

Foram calculados a prevalência média dos


manipuladores infectados e das espécies de enteroparasitos e
enterocomensais encontradas nas amostras de fezes.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 370 documentos, contudo somente


oito foram considerados adequados e utilizados para a
construção dos resultados. A Tab (1). mostra a prevalência de
manipuladores infectados por enteroparasitos nas diferentes
localidades do Brasil. A taxa de prevalência média de
enteroparasitos nos 953 manipuladores foi de 33%.
A contaminação dos manipuladores de alimentos é
perigosa, uma vez que, devido ao contato direto com os
alimentos, podem ser potenciais veiculadores de parasitos
(FERNANDES et al., 2014).

78
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
Tabela 1. Prevalência de manipuladores de alimentos
contaminados por enteroparasitos em diferentes estados do
Brasil de 2013-2017.
Autor Estado População População Contaminada
Estudada
Fernandes et al., (2014) Piauí 251 129 (51,4%)

Moura e Avelar (2013) Minas 22 9 (40,9%)


Gerais

Lopes (2016) Piauí 62 24 (38,7%)

Simões e Aleixo (2014) Paraná 24 12 (50%)

Cardoso (2013) Paraíba 86 57 (66,3%)

Colli et al., (2013) Paraná 150 42 (28%)

Colli et al., (2015) Paraná 27 8 (29,6%)

Rio
Porto et al., (2016) Grande 331 34 (10,3%)
do Sul
Fonte: Autores.

O processo de contaminação, pode ser favorecido pelas


precárias condições higiênicas, como a não higienização
correta das mãos e alimentos, sendo a contaminação fecal-
oral considerada ainda a principal forma de disseminação de
enteroparasitos (FERNANDES et al., 2014).
A Figura (1) mostra a distribuição de enteroprotozoários
dada em percentagem, em amostras fecais de manipuladores
de alimentos, em que o “n” representa a presença total de

79
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
cada tipo de protozoário encontrado em cada amostra fecal
individual.

Figura 1. Distribuição de protozoários em amostras fecais de


manipuladores de alimentos de 2013-2017.

Fonte: Autores

O n (341) da Figura (1), que corresponde a quantidade


de amostras com enteroprotozoários, apresentou-se superior
ao número de manipuladores infectados (n = 315 da Tab. (1))
devido a limitações dos estudos analisados. Em muitos deles,
os percentuais dos parasitos que apareciam em situações de
bi ou poliparasitismos, não foram separados e, no entanto,
apresentados de forma acumulada aos percentuais das
espécies encontradas independentemente de associações
parasitárias.
Os protozoários intestinais comensais E. nana e E. coli,
foram detectados em 32,8% (n=112) e 34,9% (n=119) das
fezes positivas de manipuladores de alimentos,
respectivamente. A detecção destes protozoários em fezes
são importantes, já que mesmo não causando agravos a

80
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
saúde humana são indicadores de contaminação através da
via fecal-oral, refletindo assim as condições precárias de
saneamento básico, da qualidade da água consumida e dos
hábitos higiênicos dos funcionários (CARDOSO, 2013; LIMA
JÚNIOR; KAISER; CATISTI, 2013).
Enquanto que a ameba não-patogênica I. butschlli, foi
encontrada em 5,3% (n=18) das amostras infectadas. O
protozoário Giardia lamblia (sinonímia: G. duodenalis e G.
intestinalis) foi encontrado em 14,4% (n=49) das amostras
fecais. Tal porcentagem não surpreende, pois trata-se de um
dos protozoários mais encontrados mundialmente em fezes
humanas, causando cerca de 280 milhões de casos de
giardíase anualmente, podendo ser adquirido principalmente
através da água e alimentos contaminados (EINARSSON;
MA’AYEH; SVÄRD, 2016).
Além disso, a Giardia pode causar o desenvolvimento
da síndrome do intestino irritável e alergias alimentares, logo
após o tratamento da giardíase (EINARSSON; MA’AYEH;
SVÄRD, 2016), fazendo com que os indivíduos que
desenvolveram esta patologia, possam adquirir co-morbidades
que exigirão cuidados por toda a vida.
Em 12,6% (n=43) das amostras detectou-se E.
histolytica/E. dispar que como não possuem diferenças
morfológicas consideráveis, não são diferenciados por meio da
microscopia de luz (SILVA et al., 2013) .
Contudo, mudanças biológicas são observadas entre as
amebas, uma vez que, a E. histolytica é o agente responsável
por causar a amebíase intestinal grave e os quadros de
amebíase extra-intestinal, enquanto que portadores de E.
dispar podem ser assintomáticos ou desenvolverem colites
não-desentéricas (SILVA et al., 2013).
81
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
A E. histolytica/E. dispar pode ser adquirida através de
água e alimentos contaminados por fezes humanas, podendo
causar a amebíase que é caracterizada por disenteria intensa,
sendo que em alguns casos há perfuração intestinal,
ocasionando em abscessos hepáticos e em outros órgãos,
sendo a gravidade da amebíase diretamente proporcional a
carga parasitária (NICHOLS, 2014; KELLY, 2013).
A presença de E. histolytica/ E. dispar e Giardia em
manipuladores de alimentos é um achado importante, já que a
possibilidade de contaminação dos alimentos poderá causar o
desenvolvimento da amebíase e/ou giardíase em grupos de
risco, como crianças (SANTOS FILHO; ALVES, 2015).
O desenvolvimento desta patologia em crianças podem
ocasionar em deficiências nutricionais e morte, advindas
principalmente da forte diarreia que as amebas patogênicas
podem ocasionar (SANTOS FILHO; ALVES, 2015).
Contudo, além de protozoários grande prevalência e
diversidade de helmintos foram diagnosticadas nas amostras
fecais dos manipuladores de alimentos.
A Figura (2), mostra a distribuição de helmintos em
amostras fecais de manipuladores de alimentos. O n=100 foi
inferior ao de protozoários, indicando menor prevalência de
helmintos nas amostras fecais dos manipuladores.
Ascaris lumbricoides foi o helminto de maior
prevalência, encontrado em 46% das amostras.

82
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
Figura 2. Distribuição das espécies de helmintos encontradas
em amostras fecais de manipuladores de alimentos de 2013-
2017.

Fonte: Autores.

Este parasita pode ser adquirido através da ingestão de


ovos presentes em água e alimentos contaminados. Devido
aos graves problemas de saúde que podem trazer aos
parasitados, diversos países distribuem medicamentos
gratuitamente, principalmente para crianças em idade escolar
sendo a helmitose mais prevalente em pacientes pediátricos
(JOURDAN et al., 2017; SOUZA et al., 2014).
Contudo, devido tratar-se de uma geohelmintose os
ovos precisam passar por estágios evolutivos no solo, portanto
mesmo que o manipulador esteja contaminado não poderá
contaminar diretamente o alimento, mas sim o ambiente.
Deste modo, os ovos contaminados no solo, que se tornarão
férteis poderão contaminar alimentos e água. O mesmo ocorre
com os ovos de Trichuris trichiura, encontrado em 2% das
amostras fecais (SOUZA et al., 2014).

83
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
O consumo de alimentos contendo T. trichiura é
preocupante, principalmente se estes forem consumidos por
crianças, uma vez que, ao contaminar pacientes pediátricos,
pode ocasionar no desenvolvimento de síndrome disentérica
crônica com diarreia intermitente contendo muco e sangue,
dores abdominais, tenesmo, anemia, desnutrição grave,
podendo chegar ao desenvolvimento de prolapso retal
(HORNINK et al., 2013).
Ancilostomídeos e Strongyloides stercoralis foram
detectados em 20% e 14% das amostras fecais
respectivamente, sendo estes adquiridos através do contato
direto da pele com o solo úmido contaminado por larvas
filariformes (filarióides) (BOGITSH; CARTER; OELTMANN,
2013).
Deste modo, não é possível que os manipuladores
contaminados perpassem esses parasitas para os alimentos e
causem patologias. Entretanto, esses ovos podem contaminar
o solo se não for dado o destino correto as fezes.
Contudo, ambos enteroparasitos são patogênicos e é
necessário que seja feito o tratamento antiparasitário, uma vez
que os Ancilostomídeos podem causar forte anemia,
sobretudo em crianças e grávidas e o S. stercoralis pode ser
assintomático em indivíduos saudáveis ou até mesmo causar
anorexia, náuseas, diarreia, dor abdominal, urticária, podendo
evoluir a problemas pulmonares severos e fatais, com
presença de acentuada eosinofilia devido a migração de larvas
para os pulmões (JOURDAN et al., 2017).
Espécies do gênero Hymenolepis foram detectadas em
5% das fezes analisadas, sendo que em 3% das amostras
houve a identificação H. nana indicando precárias condições
higiênicas e de saneamento básico, ademais a contaminação
84
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
dos alimentos por ovos é possível (THOMPSON, 2017;
KLEIGMAN, 2014).
Um vez contaminados, os consumidores podem
desenvolver a himenolepíase geralmente assintomática ou
caracterizada por desconfortos abdominais, limitada ao trato
gastrointestinal, porém em raros casos pode haver o
desenvolvimento extraintestinal que pode depender da
imunidade do parasitado, assim o quadro clínico estará
diretamente relacionado a questões inerentes ao indivíduo
(MUEHLENBACHS et al., 2015).
Em 2% das fezes foi diagnosticado a presença de ovos
de Taenia. A ingestão dos seus ovos presente em alimentos,
caso seja T. solium, pode ocasionar no desenvolvimento da
cisticercose humana, podendo acometer diversos órgãos
como olhos, coração, músculos e cérebro (FORSYTHE, 2013).
Em 9% das amostras fecais, foram detectadas a
presença de Enterobius vermicularis que pode ser transmitido
para os alimentos através de mãos contaminadas. A
contaminação por este parasito gera a enterobiose, que pode
ser assintomática ou sintomática, havendo o surgimento de
alguns sintomas como prurido anal intenso, náuseas, vômitos,
dores abdominais, emagrecimento, diarreia e até convulsões e
vertigens, principalmente em crianças (HORNINK et al., 2013).
Trichostrongylus sp. foi encontrado em apenas 1% das
amostras fecais. Geralmente, este helminto parasita animais
herbívoros, podendo também contaminar seres humanos
através da ingesta de larvas presentes em hortaliças folhosas
(LONGO; FAUCI, 2015). Contudo, os contaminados
geralmente são assintomáticos, porém em casos de infecções
intensas observa-se leve anemia e eosinofilia (LONGO;
FAUCI, 2015).
85
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
As helmintíases e as protozooses, geralmente por
apresentarem sintomatologia leve e inespecífica ou até
mesmo não apresentarem sintomatologia, contribuem para
que os manipuladores de alimentos não procurem os serviços
de saúde, já que não sentem-se doentes. Entretanto, o
desenvolvimento ou não do quadro clínico dependerá
principalmente da carga parasitária, estado nutricional ou se o
paciente está imunodeprimido (CARDOSO, 2013).
Uma vez que os manipuladores de alimentos estejam
contaminados, podem propagar os enteroparasitos em
diversos momentos durante a cadeia produtiva de alimentos,
como na produção, transporte e armazenamento dos mesmos.
A contaminação do manipulador, atrelada a ausência de
procedimentos higiênico-sanitários, podem favorecer a
exposição aos dejetos fecais humanos contaminados (SILVA
et al., 2015) fazendo com que o consumo de hortaliças e
outros alimentos in natura constitua uma importante via de
transmissão de larvas, ovos e cistos de parasitos (BRAUER;
SILVA; SOUZA, 2016).
Esta situação é preocupante, já que observa-se
mudanças consideráveis no estilo de vida das populações,
fazendo com que os indivíduos devido questões laborais,
principalmente, procurem mais assiduamente os serviços de
alimentação, além da busca por uma vida mais saudável,
contribuindo para o aumento da ingesta de alimentos in
natura. Este novo panorama social, contribui para o aumento
da probabilidade do desenvolvimento das DTAs causadas por
enteroparasitos (FERNANDES et al., 2015; CUNHA; AMICHI,
2014).
Nesse sentido, torna-se fundamental investir em
atividades educativas aos manipuladores de alimentos,
86
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
buscando trazer uma melhor qualidade aos alimentos que são
ofertados a população. Para isso é necessário que as
autoridades de saúde e vigilância fiscalizem os órgãos que
fornecem os alimentos, devendo-se cobrar a realização
periódica de exames parasitológicos (BRAUER; SILVA;
SOUZA, 2016).
Um outro ponto importante que deve ser analisado nos
estudos incluídos nesta revisão e que merece profunda
reflexão, é acerca dos métodos parasitológicos utilizados
durante o diagnóstico parasitológico (Quadro 1).

Quadro 1. Métodos de diagnóstico parasitológicos utilizados


nas pesquisas de 2013-2017.
Autor Métodos de diagnóstico parasitológico

Fernandes et al., (2014) Sedimentação espontânea e Willis.

Moura e Avelar (2013) Sedimentação espontânea e Centrífugo-


flutuação.
Lopes (2016) Kato-Katz.
Simões e Aleixo (2014) Sedimentação espontânea.
Cardoso (2013) Sedimentação espontânea e BLAGG/MIFC.

Colli et al., (2013) Sedimentação espontânea e FAUST.

Colli et al., (2015) Ritchie Modificado


Porto et al., (2016) Sedimentação espontânea

Fonte: Autores.

A utilização de uma única técnica não tem sensibilidade


suficiente para visualizar todas as formas parasitárias
detectáveis na amostra ou até mesmo para permitir o
diagnóstico de uma enteroparasitose (ZEIBIG, 2014).
Nem todos os estudos apresentaram mais de um
método parasitológico para a detecção dos enteroparasitos ou
87
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
até não utilizaram metodologias específicas, que são
preconizadas no momento do diagnóstico laboratorial.
O Quadro (2) mostra os métodos de diagnóstico
parasitológico e as respectivas indicações clínicas.

Quadro 2. Métodos de diagnóstico parasitológico e suas


respectivas recomendações.
Método Recomendações
Baermann – Moraes e Rugai Larvas de Strongyloides stercoralis

FAUST Cistos e ovos leves

Exame direto Trofozoíto, cistos e ovos

HARADA – MORI Larvas de ancilostomídeos

Método de Graham Ovos de E. vermiculares e T. saginata

Método de Kato Contagem de ovos de Schistosoma


mansoni, T. trichiura e
Ancylostomatidae
MIFC ou BLAGG Cistos e oocistos de protozoários e
ovos e larvas de helmintos.
Sedimentação espontânea Cistos, ovos e larvas

WILLIS Ovos, oocistos e cistos


Fonte: SILVA; HAYASHI; VENTURA, 2015; ZEIBIG, 2014.

Contudo, é necessário enfatizar que a utilização de


métodos mais específicos como o Método de Kato ou Graham
são utilizados mediante suspeita médica, sendo preconizado
que utilize-se um método de sedimentação para a detecção de
estruturas pesadas e um método de flutuação para estruturas
leves. A utilização de no mínimo um método de flutação e um
método de sedimentação pode ser observados. Esse processo
pode ser visto nos estudos de Fernandes et al., (2014), Moura
e Avelar (2013) e Colli et al., (2013).

88
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
Ademais, para garantir o perfeito mapeamento das mais
diversas estruturas parasitológicas é necessário métodos
específicos para larvas como Harada-Mori e Baermann-
Moraes.
Levando-se em consideração a importância do
manipulador de alimentos como possível veiculador de
enteroparasitoses, torna-se necessário que haja o
desenvolvimento de medidas preventivas reproduzidas por
meio de capacitações, que possam permitir mais segurança
durante a manipulação, preparo e armazenamento dos
alimentos (NETO, 2013).
Outra medida que deve ser adotada pelas entidades
públicas é a obrigatoriedade de exames laboratorias
periódicos (CUNHA; AMICHI, 2014).
Além disso, é necessário que os gestores públicos
também cumpram o papel de educar esses manipuladores,
uma vez que, as práticas educativas permitirão que estes
saibam a sua importância na cadeia de transmissão e permita
a promoção da saúde de forma consciente (NETO, 2013).

4 CONCLUSÃO

A prevalência de enteroparasitos/enterocomensais em
manipuladores de alimentos no Brasil foi considerada alta
(33%) e variada nos diferentes estados do país. Foram
diagnosticadas a presença de Ascaris lumbricoides,
Ancilostomídeos, Enterobius vermicularis, Strongyloides
stercoralis, Hymenolepis nana, Hymenolepis sp, Taenia spp.,
Schistosoma mansoni, Trichuris trichiura, Trichostrongylus sp,
Entamoeba coli, Endolimax nana, Entamoeba histolytica/E.
dispar, Giardia lamblia e Iodamoeba bustchlii.
89
ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA
Os enteropatógenos mais prevalentes foram G. lamblia
e A. lumbricoides em 14,4% e 46% das amostras fecais
respectivamente, sendo que a Giardia foi observada em
praticamente todos os estudos, enquanto que Ascaris foi
encontrado somente em manipuladores da região Nordeste.
Deste modo, devido a diversidade de enteroparasitas
detectados nos manipuladores de alimentos citados nos
estudos, observa-se a necessidade da implantação de
políticas públicas a nível nacional que possam impedir o
desenvolvimento das enteroparasitoses, ocasionando em
consequente quebra da cadeia de transmissão.

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ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO BRASIL: UMA
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93
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
CAPÍTULO 5

IMPLANTAÇÃO DO MODELO
EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE
IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
Larissa Adilis Maria PAIVA FERREIRA1
Laércia Karla Diega PAIVA FERREIRA2
Talissa Mozzini MONTEIRO2
Adriano Francisco ALVES3
Marcia Regina PIUVEZAM4
1
Graduanda do curso de Farmácia, UFPB;2 Doutoranda do PgPNSB/ UFPB; 3Doutorando do
Programa de Pós Graduação em Patologia/ UFMG ; 4 Orientadora/Professora do DFP/UFPB.
larissaadilis@hotmail.com

RESUMO A rinite é uma doença inflamatória crônica das vias


aéreas superiores afetando cerca de 20% da população
mundial. O objetivo deste trabalho foi implantar o modelo
experimental de rinite alérgica, via avaliação dos parâmetros
clínicos, inflamatórios e imunomoduadores característicos da
doença. Camundongos BALB/c sensibilizados e desafiados
com ovalbumina (OVA-alérgeno) foram tratados, por instilação
nasal (i.n.), com a droga padrão (dexametasona) 1 h antes de
cada desafio alergênico. Foram analisados os seguintes sinais
clínicos: fricção nasal e espirros; título sérico de IgE- OVA
específica; migração de leucócitos e parâmetros
histopatológicos na cavidade nasal. O desafio com OVA
promoveu um aumento significativo no número de: fricções
nasais (20,3 ± 2,29) e espirros (36,5 ± 4,8); no título de IgE-
OVA específica (1792 ± 256); no número de células
inflamatórias totais (0,48 x105 ± 0,0464), eosinófilos (0,184
x105 ± 0,0278), neutrófilos (0,126 x105 ± 0,0237), macrófagos
(0,179 x105 ± 0,041) e linfócitos (0,0559 x105 ± 0,0116) no

94
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
NALF. Em adição, foi observado no tecido nasal o processo
inflamatório com necrose do epitélio respiratório, característico
da rinite. Os resultados obtidos nesse trabalho comprovaram a
implantação do modelo experimental de rinite. A implantação
de modelos experimentais como o de rinite em laboratórios de
pesquisa possibilita testar novas moléculas com potencial
terapeutico que venham fazer parte do arsenal de drogas para
o tratamento de rinite.

Palavras-chave: Rinite. Modelo experimental. Inflamação.

1 INTRODUÇÃO

Rinite é um termo clínico utilizado para descrever os


seguintes sintomas nasais: congestão nasal/obstrução,
rinorreia, espirros e prurid, resultante de um processo
inflamatório e/ou disfunção da mucosa nasal
(PAPADOPOULOS et al., 2015; ZUBERBIER et al., 2014). A
rinite é uma das condições médicas mais comuns, afetando
cerca de 20% da população mundial, com morbidade
significativa e um fardo financeiro considerável (MELTZER et
al., 2012; ZUBERBIER et al., 2014), além de constituir um
fator de risco para a asma e está associada a doenças
crônicas como a rinossinusite (HENS et al., 2007; VUURMAN
et al., 2014).
O processo fisiopatológico da rinite resulta de etiologias
diversas, sendo as mais comuns infecções e respostas
alérgicas de tipo hipersensibilidade imediata. Outros agentes
importantes são substâncias irritantes, medicamentos,
desequilíbrio hormonal e disfunção neuronal. A rinite é
classicamente dividida em 3 grandes fenótipos clínicos: rinite
alérgica (RA), rinite infecciosa e rinite não infecciosa e não-

95
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
alérgica (NAR) (ROBERTS et al., 2013), com a possibilidade
de uma apresentação combinada (mista) desses fenótipos em
alguns pacientes (KALINER, 2009; TRAN; VICKERY; BLAISS,
2011).
A rinite alérgica (RA) é uma condição inflamatória
crônica causada por uma resposta mediada por IgE a
alérgenos ambientais, como pólens, ácaros e alérgenos
ocupacionais (BENTLEY et al., 1992; BERNSTEIN et al.,
2008; KLEINJAN et al., 2006; VARNEY et al., 1992).
As características imunológicas da RA a classifica como
uma resposta inflamatória Th2, presença de IgE específica
(POWE et al., 2001, 2004, RONDÓN et al., 2007, 2008, 2009,
2014) e acúmulo nasal de eosinófilos, basófilos, mastócitos e
células T CD3+/CD4+ (POWE et al., 2003; RONDÓN et al.,
2007, 2008).
Os sintomas da RA podem se apresentar de forma
sazonal (MØLGAARD et al., 2007) com preponderância de
espirros e prurido (RONDÓN et al., 2009). Um histórico
familiar de atopia é observado nos pacientes com RA e o inicio
das crises alérgicas é precoce, ainda na infância (TRAN;
VICKERY; BLAISS, 2011). A RA está intimamente relacionada
a outras doenças, principalmente conjuntivite alérgica
simultânea (ROBERTS et al., 2013), conjuntivite (RONDÓN et
al., 2007, 2008), asma, dermatite atópica (MARINHO et al.,
2007; RONDÓN et al., 2010; WALLACE et al., 2008), alergia
alimentar (MØLGAARD et al., 2007) e síndrome da apneia
obstrutiva do sono (SAOS) (KIELY; NOLAN; MCNICHOLAS,
2004; MULLOL; MAURER; BOUSQUET, 2008; RAMOS et al.,
2006).
Atualmente o manejo da RA utiliza dois componentes:
um farmacológico e outro não farmacológico, este último

96
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
implica na fuga de fatores desencadeantes da doença, ou
seja, não entrar em contato com o alérgeno e assim evitar a
crise alérgica (BOUSQUET et al., 2009; DEMOLY et al., 2011;
FONSECA et al., 2010; NATHAN et al., 2010).
O componente farmacológico visa essencialmente o
controle das crises de rinite (HELLINGS et al., 2013). A
maioria das ferramentas de controle desenvolvidas atualmente
se concentra em avaliar a magnitude dos sintomas diários ou
noturnos (ou seja, a percepção do paciente de como é
incômodo seus sintomas são), relacionando o
comprometimento nas atividades cotidianas e a necessidade
de aumento da medicação (DEMOLY et al., 2011; FONSECA
et al., 2010; NATHAN et al., 2010).
As classes terapêuticas utilizadas no controle da RA
são os anti-histamínicos, antagonistas dos receptores de
leucotrienos e os corticosteróides. Os corticosteróides
intranasais (INCS) são a pedra angular no tratamento da RA,
seus efeitos demonstraram ser superiores às combinações de
anti-histamínicos H1 orais (AHs) e antagonistas do receptor de
leucotrieno (LTRAs) (DI LORENZO et al., 2004), ou a qualquer
classe terapêutica sozinha (DEMOLY et al., 2013;
PAPADOPOULOS et al., 2015).
Portanto, o objetivo deste trabalho foi implantar o
modelo experimental de rinite alérgica via a avaliação dos
parâmetros sintomas clínicos, inflamatórios e
imunomoduadores característicos do processo inflamatório
crônico das vias aéreas superiores, característico da rinite
alérgica no laboratório de Imunofarmacologia da UFPB.

97
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
2 MATERIAIS E MÉTODO

Animais. Camundongos isogênicos da linhagem BALB/c


fêmeas, com idade entre 6-8 semanas (20-25g) e ratas Wistar
(120-150g) foram fornecidos pelo biotério Prof. Dr. Thomas
George no Núcleo de Pesquisa em Produtos Naturais da
Universidade Federal da Paraíba, Brasil. Os animais foram
mantidos em condições adequadas de temperatura e
alimentação. Todos os procedimentos experimentais foram
conduzidos de acordo com as orientações do Conselho
Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA),
além de observar as exigências dispostas na Lei
n°11794/2008. A eutanásia dos animais foi realizada pela
administração intra-muscular (i.m.) de 150 µL de uma solução
anestésica contendo 29 mg/mL de ketamina e 1,91 mg/mL de
xilasina em solução salina (NaCl 0,9 %). Este projeto foi
aprovado pela Comissão de Ética no Uso Animal
(CEUA/UFPB) sob o protocolo de número 165/2015.
Tratamento dos animais. Os animais foram divididos nos
grupos (n=6): Basal (não sensibilizado e desafiado com OVA),
OVA (sensibilizado e desafiado com OVA) e dexametasona
2mg/kg (DECADRON, Achê®, fosfato dissódico de
dexametasona diluído em salina para concentração de
1mg/mL). Os grupos Basal e OVA não receberam tratamento.
O tratamento foi realizado com 40 μL via instilação nasal (i.n.).
O grupo Dexa foi sensibilizado e desafiado com OVA.
Protocolo de rinite induzida por Ovalbumina. Nos dias 0, 7
e 14, os camundongos foram sensibilizados com a injeção de
10 μL/g do animal, intraperitoneal (i.p.) de uma suspensão
contendo 50 μg/mL de OVA grade V (SIGMA Chemical, St.
Louis, MO) e 10 mg/mL de Al(OH)3 (VETEC, Rio de Janeiro,

98
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
RJ) em solução salina. Entre os dias 19 a 23 e 30 a 34 os
animais foram desafiados com aerossol de OVA grade II
(SIGMA Chemical, St. Louis, MO) a 5% em solução salina. Os
desafios foram realizados durante 30 minutos diarios em uma
câmara fechada, sob um fluxo contínuo de aerossol, com o
auxílio de um nebulizador ultra-sônico (MCMILLAN;
XANTHOU; LLOYD, 2005). O tratamento dos animais foi
realizado 1 hora antes dos desafios dos dias 30 a 34.
Sintomas clínicos. Os sintomas clínicos nasais foram
avaliados no dia 34º do protocolo, imediatamente após o
desafio com OVA. Os sintomas foram avaliados pela
contagem do número de espirros e dos movimentos de prurido
nasal (fricções nasais) por 10 minutos (SAITO et al., 2002).
Coleta de sangue e Teste de Anafilaxia Cutânea Passiva
(PCA). No 35º dia, o sangue foi coletado plexo braquial e o
soro foi retirado, após a centrifugação do sangue a 1.500 rpm,
em 4ºC por 10 min. O soro foi utilizado no teste de anafilaxia
cutânea passiva (PCA) para a determinação do título de IgE-
OVA-específica. O soro foi diluído de forma seriada em salina
e um volume de 50 μL de cada diluição foi injetado por via
intradérmica em sítios do dorso de ratas Wistar.
Após 24 h, foi realizado o desafio antigênico pela
administração de 500μL na veia da cauda de uma solução
contendo 10 mg/mL do corante Azul de Evans (VETEC, Rio de
Janeiro, RJ) 1 %, e 4 mg/mL de OVA grade V. Após 30 min, os
diâmetros das manchas formadas no dorso foram medidas. O
título é determinado pela maior diluição do soro capaz de
promover mancha mensurável ≥ 5 mm (COSTA et al., 2008).
Coleta do Fluido do Lavado Nasal (NALF). O NALF foi
coletado no 35º dia do protocolo experimental, 24 horas após
o último desafio. O NALF foi realizado com 1mL de HBSS+/-

99
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
gelado, injetado na nasofaringe do animal pela traquéia,
sentido traqueia-nariz. O fluido foi armazenado para posterior
contagem de células.
Contagem Total e Diferencial de Células do NALF. A
contagem do número total de células no NALF foi realizada em
câmara hemocitométrica. O NALF foi diluído (1:2) em solução
de Turk (VETEC, Rio de Janeiro, RJ). A contagem das células
totais foi realizada no microscópio óptico (40 X - BX40,
OLYMPUS). Após a contagem das células totais ser realizada,
os tubos foram centrifugados (centrífuga CR422, JONAM) a
1000 rpm, em uma temperatura de 4ºC, por 5 minutos. O
pellet foi ressuspenso em 300 µL de HBSS+/- gelado, e foi
centrifugados no citospin (FANEN, São Paulo, SP, Brasil Mod
2400). As lâminas obtidas foram fixadas e coradas pelo
método panótico (Kit Panótico, Renylab). A contagem
diferencial de células foi realizada por microscopia óptica.
Cada lâmina foi percorrida até a contagem de 100 células,
utilizando para isso a objetiva de imersão (100 x), os
leucócitos contados foram divididos em quatro classes:
eosinófilos, neutrófilos, macrófagos e linfócitos.
Histologia da cavidade nasal. A cavidade nasal de cada
animal foi coletada 24 horas após o último desafio, fixadas em
formalina tamponada por 24h para interromper a degradação
do tecido pela ação de enzimas celulares (autólise) ou de
microrganismos após a morte do animal. Em seguida, as
amostras foram colocadas em solução de ácido nítrico 1%
para processo de descalcificação e 2 dias após foram
submetidas a lavagem em água corrente por 30 minutos para
retirada do excesso do descalcificador. As amostras foram
incubadas em álcool etílico 70% e desidratadas em diferentes
concentrações de álcool etílico 80, 90, 95 e 100%, 30 minutos

100
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
em cada solução. Após a desidratação as amostras foram
submetidas à diafanização, banhos em xilol I e xilol II por 30
minutos para preparar as amostras para a inclusão em
parafina. Em seguida, foram imersas em parafina líquida
mantida a temperatura de 56ºC, sendo dois os banhos, cada
um de 1 hora em parafina I e II para infiltração desta na
amostra. Posteriormente, o tecido foi transferido para o molde
(forma histológica) onde foi imerso em parafina (Parafina para
análise histológica- QEEL, São Paulo, SP). Em seguida, foi
realizada a microtomia, a espessura dos cortes foi de 4 μm.
Com os cortes aderidos as lâminas, foi realizada a coloração
Hematoxilina-Eosina (HE) para análise de parâmetros
inflamatórios. Após a análise morfológica, foi criado um score
(pontuação), com a finalidade de gerar significância as
avaliações visuais, correlacionando esses achados a clínica
dos animais acometidos com RA. Os parâmetros pontuados
foram: infiltrado inflamatório (00 - 03); destruição do epitélio
nasal (00 – 03); edema de mucosa (00 – 02) e vasodilatação
(00 – 02) (GALVÃO et al., 2017).
Análise estatística. Os resultados obtidos foram expressos
como média ± erro padrão da média, e analisados
estatisticamente utilizando o teste ANOVA one-way seguido
de Tukey, onde os valores de p<0,05 foram considerados
significativos. Todos os dados foram analisados pelo programa
GraphPad Prism versão 7.0 (Graph Pad Software, San Diego,
CA, U.S.A.).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como demonstra a figura 1 (a) o desafio com


Ovalbumina promoveu um aumento significativo na promoção

101
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
dos sintomas clínicos característicos da rinite: fricção nasal
(20,3 ± 2,29) e espirros (36,5 ± 4,8) quando comparado ao
grupo Basal (2,75 ± 0,479 e 0, respectivamente). O tratamento
com o corticóide dexametasona foi capaz de diminuir
significativamente (8,75 ± 0,48;11,8 ± 1,75 respectivamente)
os sintomas clínicos analisados em relação ao grupo OVA.
Na figura 1 (b), observa-se a efetividade do processo de
sensibilização e desafio nos grupos OVA e Dexametasona, via
a quantificação dos títulos de IgE-OVA específica (1.792 ± 256
e 768 ± 148). O tratamento com a dexametasona foi capaz de
reduzir significativamente (p˂ 0,01) o título de IgE-OVA
específica em comparação ao grupo OVA. Todavia o grupo
Basal, que não teve contato com o alérgeno não apresentou,
no soro, essa imunoglobulina.
A Rinite alérgica (RA) é uma doença sintomática do
epitélio nasal induzida após exposição a alérgenos via a
hipersensibilidade mediada por IgE. A rinite é caracterizada
por 4 sintomas cardinais, nos quais consistem em rinorréia
aquosa, obstrução nasal, coceira/fricção nasal e espirros
(BOUSQUET et al., 2012; MIN, 2010).
As reações da RA desenvolvem-se em 2 padrões
diferentes de acordo com a seqüência temporal. Um é a
reação inicial, em que o espirro, fricção nasal e a rinorréia se
desenvolvem em 30 minutos. O outro é a reação tardia,
ocasionado por todo processo inflamatório resultando na
obstrução nasal, esta se inicia aproximadamente 6 horas após
a exposição a alérgenos. A reação inicial é a resposta dos
mastócitos aos alérgenos (hipersensibilidade de tipo I). Os
mastócitos estimulados induzem os sintomas nasais através
da secreção de mediadores químicos como histamina,

102
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
prostaglandinas e leucotrienos (STONE; PRUSSIN;
METCALFE, 2010).
Figura 2 - Efeito do desafio com Ovalbumina sobre os
sintomas clínicos fricção nasal e espirros e produção de IgE-
OVA específica, em modelo experimental de rinite alérgica.

Fonte: Pesquisa direta. 2017

103
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB

O presente resultado demonstra a efetividade de um


alérgeno, no desencadear do processo alérgico e inflamatório
característico da rinite alérgica experimental. Os sintomas
clínicos observados resultam na ação pruriginosa e
inflamatória da exposição da Ovalbumina a um organismo
atópico. A produção de IgE-OVA específica pelos grupos
sensibilizados e desafiados com Ovalbumina, confere a esta
proteína a função de alérgeno.
Embora se tenha uma diversidade de medicamentos
usados na farmacoterapia atual da rinite, os corticosteróides
inalatórios tem um papel fundamental no controle de todo o
processo inflamatório característico dessa doença. A
dexametasona utilizada neste trabalho promoveu uma
diminuição dos sintomas clínicos analisados e a produção de
IgE alérgeno específica, demonstrando assim, a efetividade do
núcleo corticóide no tratamento da rinite.
Na figura (2), observa-se que o desafio com o alérgeno
OVA promoveu um aumento significativo na migração de
células totais (0,48 x105 ± 0,0464), bem como em todas as
populações de leucócitos anasalisadas: eosinófilos (0,184
x105 ± 0,0278), neutrófilos (0,126 x105 ± 0,0237) (p ˂ 0,001),
macrófagos (0,179 x105 ± 0,041; p ˂ 0,05) e linfócitos (0,0559
x105 ± 0,0116; p ˂ 0,01) no NALF, quando comparado ao
grupo Basal (0,1 x105± 0,0224; 0 ± 0; 0,00388 x105 ± 0,00182;
0,0498 x105 ± 0,00714 e 0,0104 x105 ± 0,0031,
respectivamente ). A droga padrão dexametasona
administrada por instilação nasal, reduziu consideravelmente a
infiltração celular para o NALF (0,117 x105 ± 0,0262; 0,00838
x105 ± 0,00414; 0,0208 x105 ± 0,00432;0,0333x105 ±
0,00458;0,00695 x105 ± 0,0024, respectivamente) quando
comparada a migração do grupo OVA.

104
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
Figura 3 - Efeito do desafio com Ovalbumina sobre a
celularidade total, eosinófilos, neutrófilos, macrófagos e
linfócitos no NALF na inflamação das vias aéreas superiores
característica da rinite.

Fonte: Pesquisa direta. 2017

Em contraste com a reação inical, a quimiotaxia de


eosinófilos é o mecanismo principal na reação tardia, que é
causada por mediadores químicos produzidos na reação
inicial. Várias células inflamatórias, como eosinófilos,
mastócitos e células T migram para a mucosa nasal e
remodelam o tecido nasal normal (BROIDE, 2007; KAY, 2001),

105
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
esses processos resultam em obstrução nasal, sendo este o
principal sintoma de pacientes com RA.
O resultado da migração leucocitária na rinite
demonstra uma ação em conjunto de eosinófilos, neutrófilos,
macrófagos e linfócitos no processo inflamatório no grupo
OVA. Esses resultados conferem a presença de um processo
inflamatório crônico nas vias aéreas superiores em detrimento
a exposição de um alérgeno e o desencadear de todo
mecanismo de migração de leucócitos. A dexametasona, por
ser um corticóide promoveu a redução da migração celular,
conferindo o papel anti-inflamatório característico dos
corticosteróides.
Na figura (3) pode-se observar o processo
histopatológico característico da inflamação crônica nas vias
aéreas superiores presente no modelo experimental de rinite.
A coloração Hematoxilina&Eosina (H&E) permite a observação
da arquitetura geral da cavidade nasal, e consequentemente,
a migração de leucócitos. De inicio, observa-se uma visão
panorâmica da cavidade nasal (4x, microscópio optico). Após
aproximação das objetivas (20x, microscópio optico), é
evidenciada a manutenção da arquitetura nasal, caracterizada
por epitélio composto por células pseudoestratificadas ciliadas
com células caliciformes, lâmina própria, septo nasal além de
vários conjuntos de ácinos serosos visto nos grupos Basal e
dexametasona de forma preservada. No grupo OVA, observa-
se um infiltrado inflamatório misto, caracterizado por
eosinófilos, linfócitos, macrófagos e neutrófilos além de
necrose do epitélio respiratório, a qual está marcada com uma
estrela negra de 5 pontas. No score inflamatório, observa-se
as análises estatísticas do processo inflamatório, onde a
inflamação tecidual foi estatisticamente significativa no grupo

106
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
OVA em relação ao Basal (9,4 ± 0,4 vs 1,67 ± 0,333,
respectivamente). O tratamento com a dexametasona foi
capaz de diminuir a inflamação tecidual (2,75 ± 0,479) em
comparação ao grupo OVA.

Figura 3 - Efeito do desafio com Ovalbumina no corte


histológico da cavidade nasal com inflamação crônica das vias
aéreas superiores, característica da rinite alérgica. Observado
pela coloração histológica H&E e score inflamatório.

107
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB

Fonte: Pesquisa direta. 2017

Quando o epitélio respiratório é destruído e as


terminações nervosas são expostas por proteínas citotóxicas
de eosinófilos, as fibras nervosas sensoriais são excitadas por
estímulos inespecíficos e estimulam fibras eferentes sensíveis
aferentes e circundantes, o chamado reflexo axonal
retrógrado. Isso faz com que as fibras do nervo sensorial
secretem neuropeptídeos, como a substância P e a
neuroquinina A, que induzem contração de músculos lisos, a
secreção de muco pelas células caliciformes e exsudação de
plasma a partir de capilares. Este processo é chamado de
inflamação neurogênica (TOGIAS, 2000; WHEATLEY;
TOGIAS, 2015).
Devido à infiltração eosinofílica e destruição da mucosa
nasal, a mucosa torna-se hiperreativa para estímulos normais
e causa os sintomas nasais característicos da inflamação
alérgica na rinite (GARRELDS et al., 1996). Este é uma reação
não-imune que não está relacionada à IgE. A
hipersensibilidade para estímulos não específicos, como

108
IMPLANTAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE RINITE ALÉRGICA NO
LABORATÓRIO DE IMUNOFARMACOLOGIA DA UFPB
tabaco ou ar frio e seco, bem como há alérgenos específicos
aumenta em pacientes com RA.
A migração celular e inflamação com necrose do
epitélio respiratório observado no grupo OVA, demonstra a
degradação da cavidade nasal em um processo crônico
inflamatório, característico da rinite. Esse resultado demonstra
a efetividade do processo inflamatório tecidual decorrente do
processo de sensibilização e desafio com Ovalbumina. O
tratamento com a dexametasona foi capaz de reduzir esses
parâmetros, indicando uma preservação da integridade
tecidual da cavidade nasal. Esses resultados comprovam uma
ação anti-inflamatória local desse corticóide.

4 CONCLUSÕES

Esse estudo comprovou a efetividade do modelo


experimental de rinite alérgica implantado no Laboratório de
Imunofarmacologia da Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa, PB, Brasil, o qual nos permite sua utilização futura no
estudo de novas moléculas com potencial imunomodulador no
processo inflamatório crônico alérgico das vias aéreas
superiores. Além de indicar a dexametasona como droga anti-
inflamatória padrão no protocolo de rinite alérgica
experimental.

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113
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
CAPÍTULO 6

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES DE
TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL
PEDIÁTRICO
Patrícia da Silva OLIVEIRA 1
Luciana Vilar TORRES 1
Cibério Landim MACEDO 2
Thaisa Leite Rolim WANDERLEY 3
1
Farmacêuticas Residentes em Saúde da Criança; 2 Farmacêutico e Tutor da Residência
Multiprofissional em Saúde da Criança- REMUSC; 3 Farmacêutica e Preceptora da
Residência Multiprofissional em Saúde da Criança .
e-mail:patriciaoliveirafarma@gmail.com

RESUMO: Os medicamentos são imprescindíveis para o


tratamento de diversas enfermidades, mas, seu uso deve ser
feito com cautela principalmente em populações como
crianças em Unidade de Terapia Intensiva, devido suas
características fisiológicas e disfunções orgânicas que
apresentam. Nisto, as consequências das Interações
Medicamentosas (IM’s) farmacocinéticas devem ser
observadas. Desde modo, decidiu-se identificar e classificar as
IM’s farmacocinéticas relatando suas possíveis
consequências. Realizou-se um estudo retrospectivo,
observacional e descritivo utilizando prescrições e prontuários
de pacientes internados em um hospital pediátrico da capital
paraibana. Os dados coletados foram tabulados em planilhas
eletrônicas e as IM’s foram analisadas nos bancos de dados
DRUGS e Medscape Drug Interaction Checker. Analisou-se 69
pacientes e prontuários, as prescrições foram referentes ao
quinto dia de internação. Um total de 129 IM’s
farmacocinéticas foram observas e classificadas em 8 tipos
diferentes quanto ao seu efeito. As mais prevalentes foram as

114
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
responsáveis por inibição e indução enzimáticas, 52,7% e
38,0%, respectivamente, estas afetam principalmente o
citocromo P450, que tem função de metabolizar os fármacos.
Deste modo, estas interações sugeriram em aumento ou
redução da biodisponilibidade destes influenciando
diretamente no perfil de toxicidade. Com isso, percebe-se que
uma equipe capacitada e a adoção da farmácia clínica nas
instituições hospitalares são imprescindíveis para a redução
dos problemas relacionados a IMs medicamentosas
promovendo melhoria na qualidade da assistência prestada a
estes pacientes.
Palavras-chave: Interações de Medicamentos. Pediatria.
Terapia Intensiva.

1 INTRODUÇÃO

A utilização de medicamentos no último século foi


bastante relevante para o sucesso de incontáveis casos,
elevando a expectativa de vida e melhorando a sua qualidade.
Estudos mostram o perfil do uso de medicamentos em
diversas populações de diversas regiões e revelam que a
facilidade de acesso contribui para aumento da
automedicação e consequentemente, para o surgimento de
problemas relacionados a medicamentos (PRM’s). Além
disso, o uso irracional de medicamentos nos diversos âmbitos
da saúde, da atenção básica à Unidades de Terapia Intensiva
(UTI’s), tem contribuído para ocorrência destes PRM’s
(BERTOLDI et al, 2016).
Os erros de medicação também constituem um
importante fator para o surgimento de PRM’s, estes podem
ocorrer na prescrição e utilização do medicamento, assim
como no processo de administração. Além disto, a severidade

115
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
da doença e a complexidade do cuidado facilitam a ocorrência
destes erros, como no caso de pacientes internados em UTI’s
(AIZENSTEN; BELELA; PEDREIRA, 2011; TOMASSI, 2011).
No que diz respeito a pacientes críticos, os quais
utilizam medicamentos de forma simultânea, a probabilidade
de ocorrer PRM’s é muito grande, além da chance de surgirem
interações medicamentosas (IM’s) que são consideradas um
grave problema de saúde pública, uma vez que podem
contribuir para o aumento do tempo de internação e
agravamento do quadro clínico, elevando assim os custos
financeiros para a instituição (MASTROIANNI; VARALLO;
COSTA, 2013).
As IM’s são definidas como evento que ocorre quando
os efeitos ou a farmacocinética de um fármaco são
modificados quanto utilizados simultaneamente. Esta
associação pode ser benéfica quando proporcionam um
aumento na eficácia terapêutica, e podem ser maléficas
quando potencializam os efeitos tóxicos e quando diminuem o
efeito terapêutico (BALEN et al, 2017). As IM’s classificam-se
de acordo com a sua severidade em leves moderadas e
graves. São consideradas leves quando são mais brandas
podendo até ter seus efeitos imperceptíveis não havendo
necessidade de hospitalização; as moderadas são aquelas
que modificam o quadro clínico do paciente podendo ou não,
ser necessária hospitalização. No que diz respeito às
interações graves, estas são as mais perigosas nas quais
pode haver danos irreversíveis para o paciente ou até mesmo
leva-lo a morte (LEÃO; MOURA; MEDEIROS, 2014; SANTOS;
TORRIANI; BARROS, 2013).
As IM’s são classificadas quanto ao seu mecanismo de
interação em farmacodinâmicas e farmacocinéticas. As IM’s
116
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
farmacodinâmicas ocorrem quando dois ou mais fármacos
através de seus mecanismos, competem por receptores
ocasionando efeitos de sinergismo ou antagonismo. O
sinergismo ocorre quando um fármaco potencializa o efeito do
outro. No antagonismo, um fármaco anula o efeito do outro
quando utilizados simultaneamente. Nas IM’s farmacocinéticas
os processos de absorção, distribuição, metabolização e
eliminação dos fármacos irão ser afetados, o que influencia
diretamente na disponibilidade e eficácia terapêutica
(SANTOS; TORRIANI; BARROS, 2013).
No que diz respeito aos processos de absorção, o
principal órgão envolvido é o intestino delgado. A
administração simultânea com antiácidos, resinas ou
alimentos, podem alterar a absorção de determinados
fármacos. A distribuição de fármacos no organismo depende
de fatores como características físico-químicas da substância
(tamanho molecular, polaridade, solubilidade em água,
capacidade de atravessar membranas, entre outras) como
também das condições fisiológicas e clínicas do indivíduo.
Geralmente, as interações que ocorrem nesta fase estão
relacionadas a ligação a proteínas, o que determina a fração
livre para promover o efeito terapêutico (SANTOS; TORRIANI;
BARROS, 2013).
Na metabolização dos fármacos as interações
farmacocinéticas com relevância clínica, são aquelas
relacionadas a inibição e indução enzimática. Fármacos que
induzem enzimas podem acelerar a metabolização do outro,
diminuindo assim os seus efeitos, o que pode trazer sérias
consequências, como por exemplo, um medicamento usado
no tratamento da dor, se ele é metabolizado rapidamente, o
paciente irá piorar o seu estado clínico de forma significante.
117
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
Pelo contrário, havendo inibição da enzima responsável por
metabolizar determinado fármaco, este permanecerá mais
tempo biodisponível, o que dependendo de suas
características, irá aumentar a sua toxicidade podendo
ocasionar muitas vezes danos irreversíveis. Por fim, IM’s que
afetam fluxo glomerular, reabsorção e secreção tubular
alteram o processo de excreção de fármacos (SANTOS;
TORRIANI; BARROS, 2013).
Como dito anteriormente, a metabolização de fármacos
irá depender das características clínicas e fisiológicas dos
indivíduos, ou seja, fatores como sexo, idade, aspectos
nutricionais, deverão ser considerados, pois influenciam
diretamente neste processo. Determinados grupos são mais
vulneráveis a sofrer efeitos danosos destas IM’s. Dentre estes
grupos podemos citar, indivíduos imunodeprimidos, em
cuidados intensivos, idosos e pacientes pediátricos. Este
último grupo merece destaque uma vez que ainda não
apresentam maturação fisiológica tornando-os mais
susceptíveis a sofrer com os efeitos dessas IM’s
(MAGALHÃES; FERRARI; DAVID, 2013).
As crianças estão em constante processo de maturação
e crescimento, com isso, deve-se considerar que a sua
resposta a terapia medicamentosa varie de acordo com o
estágio e maturação que este indivíduo se encontra, o que
compromete a metabolização dos fármacos e
consequentemente o seu efeito, por este motivo, crianças não
podem ser consideradas “adultos pequenos”. A presença de
determinadas doenças que possam determinar insuficiência
em órgãos responsáveis pela metabolização e eliminação de
fármacos também deve ser levada em consideração
(MAGALHÃES; FERRARI; DAVID, 2013).
118
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
Devido a questões éticas, nos ensaios clínicos de
desenvolvimento de medicamentos não há testes em crianças
o que causa desconhecimento sobre os reais efeitos dos
medicamentos em pediatria. Com isso, o uso de
medicamentos nesta população é baseado em adequações do
uso destes em adultos. Além disto, há falta de apresentações
de medicamentos desenvolvidos para estes indivíduos o que
levam muitas vezes a adaptações inadequadas, como por
exemplo, o fracionamento e trituração de comprimidos
(MORAES, 2013).
Esta perspectiva, se faz importante o estudo dos efeitos
dos medicamentos e suas interações nesta população
principalmente naqueles pacientes em UTI’s, uma vez que
apresentam disfunções orgânicas capazes de elevar os efeitos
maléficos das IM’s. Desse modo, o estudo teve como intuito
obter o quantitativo de IM’s farmacocinéticas, classificando-as,
além de descrever as suas possíveis repercussões clínicas.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Foi realizado um estudo observacional, longitudinal,


retrospectivo e descritivo, este ocorreu em um hospital
pediátrico de referência na capital paraibana. Os dados foram
coletados de prescrições e prontuários de pacientes
internados nas UTI’s deste hospital, durante o período de
agosto de 2016 a fevereiro de 2017, que permaneceram no
mínimo por 5 Dias de Internação Hospitalar (DIH) nas UTI’s e
que em suas prescrições médicas houvessem ao menos dois
medicamentos. A instituição na qual foi realizado o estudo
apresenta 3 UTI’s: neurológica, cardiológica e geral as quais
juntas totalizam 14 leitos.
119
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
A coleta de dados ocorreu através de uma ficha de
coleta desenvolvida exclusivamente para este estudo. A
análise dos prontuários ocorreu no Serviço de Arquivo Médico
e Estatística (SAME) da instituição. Os dados obtidos foram
tabulados em planilhas eletrônicas e posteriormente
analisados em tabelas. A análise das IM’s foram feitas através
do DRUGS e Medscape Drug Interaction Checker, estes são
bancos de dados que contém informações no que diz respeito
a IM’s através de revisão sistemáticas de revistas médicas e
farmacêuticas, bem como, de publicações da Food and Drug
Administration (FDA) (DRUGS, 2017; MEDSCAPE DRUG
INTERACTION CHECKER, 2017; TESFAYE; NEDI, 2017).
Analisou-se apenas as IM’s farmacocinéticas que foram
classificadas em 8 diferentes tipos de acordo com o seu efeito:
intensificação da absorção no trato gastrintestinal, redução da
absorção no trato gastrintestinal, interações com proteínas
plasmáticas, alcance do fármaco no tecido alvo, indução
enzimática, inibição enzimática, aumento da eliminação e
redução da eliminação.
Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética e
Pesquisa da Faculdade Santa Emília de Rodat, atendendo as
exigências da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP) e do Concelho Nacional de Saúde (CNS) na
resolução 466, e aprovado com o CAAE
63991917.0.0000.5177.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisadas prontuários e prescrições de 69


pacientes, a maioria se apresentou internada na UTI geral

120
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
(69,6%), sendo 20,3% e 10,1% internados nas UTI’s
neurológica e cardiológica, respectivamente.
Foram identificadas no estudo 129 IM’s
farmacocinéticas em prescrições do 5º DIH das quais 1,5%
estavam envolvidas na redução da absorção no Trato
Gastrintestinal (TGI), 3,9% apresentaram interações com
proteínas plasmáticas; 52,7% das IM’s farmacocinéticas foram
responsáveis por induzir enzimas; 38% apresentaram como
efeito inibição enzimática; 0,8% influenciaram o aumento da
eliminação do outro fármaco, e por fim, 3,1% reduziam a
eliminação. Não foram observadas IM’s responsáveis por
intensificar a absorção no TGI nem por contribuir no alcance
do fármaco no tecido alvo. Estes resultados estão explícitos na
Tabela 1.

Tabela 1. Classificação das interações medicamentosas


observadas em prescrições do 5º dia de internação hospitalar
de pacientes internados no período de agosto de 2016 a
fevereiro de 2017 em unidade de terapia intensiva de hospital
pediátrico paraibano.
Interação Farmacocinética n %

1. Intensificação da absorção no trato 0 0,0


gastrintestinal
2. Redução da absorção no trato 2 1,5
gastrintestinal
3. Interações com proteínas 5 3,9
plasmáticas
4. Alcance do fármaco no tecido alvo 0 0,0
5. Indução enzimática 68 52,7
6. Inibição enzimática 49 38,0
7. Aumento da eliminação 1 0,8

121
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
8. Redução da eliminação 4 3,1
Total 129 100
Fonte: Próprio autor.

É notável que as quatro primeiras IM’s constantes na


Tabela 1 apresentaram-se em uma quantidade bem inferior
quando comparadas as de Indução e inibição enzimática. Isto
pode ser explicado pelo fato de em ambientes de terapia
intensiva, o uso de medicamentos injetáveis serem
predominante, diferentemente das outras vias de
administração (como a via oral) os medicamentos injetáveis
não passam pelo TGI. As vias parenterais são utilizadas
quando se deseja ação rápida, quando não há cooperação do
paciente ou quando este se apresenta inconsciente ou por
algum motivo não está apto a receber medicamentos por via
oral, ou ainda, quando o medicamento não tem eficácia
quando utilizado por outra via. Se faz importante observar a
via de administração uma vez que esta também irá influenciar
ou não na ocorrência de IM’s (ALLEN; POPOVICH; ANSEL,
2013).
Fármacos administrados por via enteral passam por
algumas etapas até serem absorvidos, sendo expostos a
ambientes ácidos e básicos, estes devem se manter estáveis
durante a passagem pelo epitélio do TGI. A presença de
compostos que alterem estes ambientes podem afetar na
biodisponibilidade dos fármacos. Um exemplo disto é a
interação que ocorre entre o omeprazol e levotiroxina. O
omeprazol eleva o pH gástrico diminuindo assim os níveis da
levotiroxina, quando administrado concomitantemente sob via
enteral (GOLAN, 2009; Medscape Drug Interaction Checker,
2017).

122
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
O processo de absorção é crucial para os fármacos
alcançarem o seu alvo de ação, no entanto, inúmeros fatores
influenciam o processo de distribuição destes dentro do
organismo, aqui podemos destacar a ligação a proteínas
plasmáticas que determinará a quantidade de fármaco livre
para alcançar o órgão/tecido alvo e promover o efeito
terapêutico. A administração concomitante de fármacos que
apresentam alta capacidade de ligação à proteínas
plasmáticas, pode ocasionar em aumento da concentração
plasmática da forma livre de um ou ambos os fármacos o que
pode elevar os efeitos terapêuticos ou tóxicos destes (como
Fenitoína+ valproato de sódio). Com isso, se faz necessário
ajuste de dose para garantir que a concentração de fármaco
livre esteja na faixa terapêutica. Também é importante
destacar que fatores como composição corporal, idade e
hidratação também afetam os processos de distribuição
(DRUGS, 2017; GOLAN, 2009).
Foi observado que 52,7% e 38% das IM’s
farmacocinéticas influenciaram nos processos indução e
inibição enzimática, respectivamente, o que repercute
diretamente na metabolização destes. Várias são as vias
responsáveis por este processo, sendo a mais importante a
via hepática através do citocromo P450 (CYP). São uma
superfamília de proteínas com função de metabolizar
substâncias modificando-as quimicamente a fim de serem
eliminadas do organismo. As principais famílias de enzimas
envolvidas no metabolismo de fármacos são o CYP1, CYP2 e
CYP3, no entanto a sua atividade pode ser inibida ou induzida
por substâncias como os fármacos, que podem alterar a sua
própria biotransformação ou a de outros. É de grande
importância o conhecimento destes mecanismos uma vez que
123
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
os fármacos podem perder rapidamente a sua eficácia ou ter o
seu efeito aumentado o que muitas vezes pode potencializar
os efeitos tóxicos causando sérias consequências para o
paciente (SOUZA, 2014).
No que diz respeito à eliminação a maioria dos
fármacos são excretados via metabolismo renal e biliar. Neste
estudo observou-se que 0,8% e 3,1% das interações
interferiram em aumentar e reduzir a eliminação de fármacos,
respectivamente. É importante salientar que estes dados estão
de acordo com as fontes de pesquisa utilizadas para
caracterizar as IM’s, ou seja, pode haver outros fármacos que
atuem aumentando ou diminuindo a eliminação, no entanto,
nas fontes consultadas para a realização do estudo apenas
foram obtidos estes resultados.
A quantidade de fármaco a ser excretada via renal
depende da homeostasia entre os processos de filtração,
secreção e reabsorção destes fármacos. Exemplos de
fármacos eliminados via renal são vancomicina, ampicilina e o
atenolol. Em pacientes pediátricos, idosos e com função renal
prejudicada o uso destes medicamentos deve ser avaliado
com cautela sempre observando a concentração, pois podem
se acumular ocasionando toxicidade, nestes deve ser
considerado o ajuste de dose (GOLAN, 2009).
Em relação as IM’s farmacocinéticas mais prevalentes
neste estudo foi observado uma maior quantidade de IM’s de
indução e inibição enzimática sendo as mais incidentes
listadas na Tabela 2 em relação as outras.

124
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
Tabela 2. Interações medicamentosas farmacocinéticas
prevalentes em prescrições do 5º dia de internação hospitalar
de pacientes internados no período de agosto de 2016 a
fevereiro de 2017 em unidade de terapia intensiva de hospital
pediátrico paraibano.
Interação Medicamento Medicamento n %
medicamentos A B
a

(1) - - - -
Intensificação
da absorção no
TGI

(2) Redução da Simeticona Levotiroxina 1 0,8


absorção no Meropenem Valproato de 1 0,8
TGI sódio

(3) Interações Levotiroxina Fenitoína 2 1,5


com proteínas Valproato de Fenitoína 2 1,5
plasmáticas sódio
Ceftriaxona Fenitoína 1 0,8

(4) Alcance do - - - -
fármaco no
tecido alvo
(5) Indução Carbamazepin Fenitoína 8 6,2
enzimática a
Dexametasona Omeprazol 5 3,9
Carbamazepin Omeprazol 4 3,1
a
Omeprazol Fenobarbital 3 2,3
Hidrocortisona Fenobarbital 3 2,3
Outras 45 35

125
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
(6) Inibição Fenitoína Omeprazol 7 5,4
enzimática Omeprazol Midazolam 6 4,6
Fluconazol Omeprazol 5 3,9
Omeprazol Carbamazepin 3 2,3
a
Metronidazol Fentanila 3 2,3
Outras 25 19,
3
(7) Aumento da Meropenem Valproato de 1 0,8
eliminação sódio
(8) Redução da Ceftriaxona Furosemida 1 0,8
eliminação Fenitoína Omeprazol 1 0,8
Espironolacton Digoxina 1 0,8
a
Captopril Digoxina 1 0,8
Total 12 100
9
Fonte: Próprio autor

Como se pode observar na Tabela 2, não foi verificada


nenhuma das IM’s responsáveis por causar intensificação da
absorção no TGI de acordo com as fontes utilizadas. Nas IM’s
capazes de reduzir a absorção no TGI pode-se citar a
simeticona + levotiroxina. A simeticona pode diminuir ou inibir
a absorção levotiroxina o que pode levar a risco de
hipotireoidismo. A interação Meropenem+ Valproato de sódio
também e bastante importante. Esta IM ainda não possui seu
mecanismo elucidado, mas sabe-se que diminui a absorção
intestinal do valproato de sódio, podendo haver perda do
controle das crises convulsivas, o que trás consequências
sérias para o paciente. Se faz necessário a adoção de outras
alternativas de farmacoterapia (ANVISA, 2017; MOLNAR et al,
2015).

126
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
Em relação às interações com proteínas plasmáticas
podemos citar a IM Levotiroxina+ fenitoína, na qual ocorre a
competição da fenitoína com a levotiroxina pelas globulinas
ligantes de tiroxina (TGB), o que reduz os níveis de
levotiroxina. Os medicamentos fenitoína e valproato de sódio
se ligam altamente as proteínas o que pode deslocar a
fenitoína de seus sítios de ligação as proteínas (ANVISA,
2017; CAVALCANTI, 2005).
Nas IM’s de indução enzimática podemos observar a
importância dos anticonvulsivantes, carbamazepina e
fenobarbital, estes são potentes indutores enzimáticos, que
alteram o citocromo P450, principalmente as famílias CYP3A e
CYP2A as quais metabolizam os fármacos, isso tem como
consequência a aumento do metabolismo o que diminui o
efeito destes medicamentos, ocasionando perda do controle
das crises convulsivas (BALEN, et al 2017).
No que diz respeito as IM’s que resultaram em inibição
enzimática, pode-se observar que o omeprazol estava
envolvido nas IM’s mais prevalentes. O omeprazol é um
antiácido da classe dos inibidores da bomba de prótons, ele
altera o funcionamento da enzima CYP3A4 inibindo-a, com
isso, os medicamentos metabolizados por esta enzima, tem
um aumento da sua biodisponibilidade, o que aumentam os
seus efeitos e podem aumentar também a sua toxicidade.
Desse modo, os pacientes que fazem uso de medicamentos
como o midazolam, carbamazepina e fenitoína juntamente
com o omeprazol devem ser monitorados quanto a
exacerbação dos efeitos destes quando não há uma opção
terapêutica diferente a ser utilizada (CARVALHO et al, 2013).
Nas IM’s farmacocinéticas de aumento na eliminação
observou-se que o uso concomitante de valproato de sódio+
127
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
meropenem causa aumento da eliminação do valproato de
sódio, este mecanismo ainda não se encontra elucidado mas,
hipóteses tem sido propostas, supõe-se que há um aumento
na depuração do valproato de sódio sob presença do
meropenem (PARK et al, 2012).
Nas IM’s capazes de reduzir a eliminação, foi descritas
a ocorrência de 4 IM’s, descritas na Tabela 2. Dentre estas,
estudos limitados mostraram que a furosemida diminui a
depuração de várias cefalosporinas, aumentando a sua
concentração plasmática. Também foi relatado aumento de
risco nefrotóxico com o uso simultaneo destes fármacos. A
associação de espironolactona e digoxina demostram
aumento da concentração sérica desta última o que pode
potencializar os riscos de toxicidade da digoxina (BARROS,
2008; DRUGS, 2017).

4 CONCLUSÕES

É notável a importância das associações


medicamentosas para o sucesso de uma determinada terapia,
no entanto, nem sempre os resultados são os mais benéficos.
Em pacientes pediátricos internados em UTI’s estas
repercussões devem ser observadas e uso das associações
devem ser feitas de maneira racional, visto a imaturidade
fisiológica e o comprometimento clínico que estes apresentam.
No estudo foi possível verificar um grande número de
IM’s farmacocinéticas e como elas afetam o organismo. Foi
evidente que as IM’s capazes de induzir e inibir enzimas foram
bem mais relatadas. Estas interações modificam a
biodisponibilidade dos medicamentos podendo aumentar ou

128
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS FARMACOCINÉTICAS EM UNIDADES
DE TERAPIA INTENSIVA DE HOSPITAL PÚBLICO PEDIÁTRICO
reduzi-la, o que repercute em seu efeito terapêutico e
consequentemente na sua toxicidade.
É de grande importância que os efeitos das interações
sejam levados em consideração, visto a susceptibilidade que a
população pediátrica apresenta, além disto, os danos
ocasionados por estas IM’s podem ser bem mais intensos
para estes pacientes. Para minimizar os problemas
envolvendo IM’s, se faz necessário um corpo clínico
capacitado e uma equipe de farmacêuticos atuante. A
farmácia clínica tem se mostrado uma importante aliada em
redução de problemas relacionados a medicamentos nas
instituições hospitalares, diminuindo os custos e tempo de
permanência na internação, o que tem promovido uma melhor
qualidade na assistência prestada aos pacientes.

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Healthcare and Patient Safety. v. 9, p. 71–76, 2017.

131
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO

CAPÍTULO 7

PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS


NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO SISTEMA
IMUNOLÓGICO
Luiz Henrique Agra CAVALCANTE-SILVA1
Laércia Karla Diega Paiva FERREIRA1
Cinthia Nóbrega de Sousa DIAS1
Bagnólia Araújo da SILVA2
1
Doutorando(a) do PgPNSB/ UFPB;
2
Orientadora/Pesquisadora do PgPNSB/CCS/UFPB.
luiz0710@gmail.com
bagnolia@ltf.ufpb.br

RESUMO: A resposta imunológica é resultante de interações


celulares e moleculares entre seus componentes que mantêm
e/ou reestabelecem a homeostasia. Essa resposta fisiológica é
orquestrada por diferentes células do sistema imunológico,
como neutrófilos, monócitos/macrófagos e linfócitos, mas
também sofre influência de elementos de outros sistemas do
organismo, como o sistema nervoso e o endócrino. As
interações neuroimunoendócrinas constituem uma área da
ciência em constante desenvolvimento. Nesse contexto,
diversos estudos veem demonstrando a influência do sistema
colinérgico sobre o sistema imunológico. Estudos iniciais
demonstraram o efeito inibitório da acetilcolina (ACh) sobre
citocinas pró-inflamatórias (ex., fator de necrose tumoral (TNF)
e interleucinas (IL) 1β e 6) produzidas por macrófagos
humanos estimulados com lipopolissacarídio (LPS).
Posteriormente, outros estudos foram desenvolvidos e a “via
colinérgica anti-inflamatória” foi estabelecida como um circuito
neural que controla a resposta imunológica. Vale ressaltar que
os efeitos colinérgicos sobre as células do sistema

132
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
imunológico são mediados predominantemente por receptores
colinérgicos nicotínicos (nAChRs), que são receptores do tipo
ionotrópico. Esses receptores são formados por diferentes
subunidades (α, β, γ, δ e ε), formando isoformas distintas que
são amplamente distribuídas nessas células. Dessa forma, a
ACh e os diferentes agonistas nicotínicos podem modular
diferentes funções fisiológicas e imunopatológicas. Nessa
revisão, será abordada o papel dos receptores colinérgicos
nicotínicos em células do sistema imunológico.
Palavras-chave: Intereações Neuroimunoendócrinas.
Acetilcolina. Células do Sistema Imunológico.

1 INTRODUÇÃO

A ACh é um hormônio que interage com duas classes


distintas de receptores: nicotínicos e muscarínicos. Os
receptores nicotínicos (nAChR) são proteínas integrais de
membrana pertencentes a superfamília dos canais iônicos
operados por ligante. Quando ativados, eles tornam-se
abertos e permeáveis aos íons Na+ e o K+ e medeiam a
transmissão excitatória inicial. Esses receptores possuem
cinco subunidades (α, β, γ, δ e ε) dispostas para formar um
canal iônico (CRESPI; COLOMBO; GOTTI, 2017).
Existem diferentes subunidades proteicas que formam
os nAChRs, sendo dez isoformas de subunidades α, quatro
subunidades β, além das subunidades δ, γ e ε. Essas várias
subunidades permitem combinações distintas que os conferem
diferentes propriedades. As subunidades associadas com
receptores nicotínicos podem mediar várias funções
fisiológicas, como por exemplo a ativação da subunidade α7
promove um aumento da condutância celular ao Ca2+
(MORALES-PEREZ; NOVIELLO; HIBBS, 2016).

133
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
A estrutura da maioria dos receptores nicotínicos
consiste em: (1) um domínio hidrofílico na região N-terminal;
(2) quatro segmentos hidrofóbicos, com 17 a 19 aminoácidos
por segmento, que compõem os domínios transmembranares;
(3) um pequeno domínio hidrofílico altamente variável; (4) um
domínio hidrofóbico composto de 20 aminoácidos na região
C-terminal e (5) segmentos transmembranares intracelulares
em alças com sítios de fosforilação. A porção extracelular do
domínio hidrofílico é composta por sítios de glicosilação, que
estão envolvidos na ligação de agonistas e na condutância
aos íons. Os sítios de ligação de agonistas estão presentes na
região de interface entre as subunidades, enquanto ligantes
alostéricos não competitivos se ligam diretamente em
subunidades do receptor (MORALES-PEREZ; NOVIELLO;
HIBBS, 2016).
Diversos trabalhos veem demonstrando que o sistema
imunológico sofre influência do sistema nervoso e do sistema
endócrino. Em conjunto, todos esses sistemas mantêm a
homeostasia do organismo. No contexto das interações
neuroimunoendócrinas, destaca-se o papel do sistema
colinérgico sobre o sistema imunológico. Estudos iniciais
demonstraram o efeito inibitório da acetilcolina (ACh) sobre
citocinas pró-inflamatórias e, posteriormente, a via colinérgica
anti-inflamatória (reflexo anti-inflamatório) foi estabelecida
como um circuito neural que controla a resposta imunológica.
Esse reflexo anti-inflamatório é composto de sinais
aferentes e eferentes transmitidos via nervo vago em resposta
aos padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs),
ao dano celular (DAMPs) e mediadores inflamatórios como
eicosanoides e citocinas. A estimulação vagal no gânglio
celíaco estimula neurônios adrenérgicos que inervam o baço.
134
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
Essa ativação adrenérgica no baço resulta na liberação de
norepinefrina na proximidade de células T que são capazes de
secretar acetilcolina. A acetilcolina atravessa a zona marginal
e entra na polpa vermelha, onde interage com os receptores
nicotínicos expressos em macrófagos (ANDERSSON,
TRACEY, 2012).
Nos últimos anos, vários estudos vêm demostrando que
a ACh é sintetizada por uma variedade de células (CRESPI;
COLOMBO; GOTTI, 2017; DUTERTRE; NICKE; TSETLIN,
2017; LOTFIPOUR et al., 2017). Além da liberação neuronal, a
ACh também é produzida por diversos tipos celulares, dentre
eles as células do sistema imunológico que tem impacto na
imunidade inata e adaptativa. Estudos recentes têm
demonstrado a expressão da colina acetiltransferase (ChAT) e
a produção da ACh por linfócitos T, linfócitos B, macrófagos e
células dendríticas (DCs).
A maioria dos tipos celulares do sistema imunológico
expressam todos os cinco tipos (M1-M5) dos receptores
muscarínicos (mAChRs) e alguns tipos de receptores
nicotínicos da ACh (nAChR) (FUJII et al., 2017), sugerindo que
a ACh sintetizada e liberada pela célula T atua por via
autócrina/parácrina nesses receptores regulando respostas
imunes.
As células T, B, macrófagos e células dendríticas
expressam todos os 5 tipos de receptores muscarínicos,
porém devido a ampla variedade de receptores nicotínicos
detalhes sobre a expressão dos seus subtipos em células do
sistema imunológico ainda não são totalmente conhecidos.
Entretanto, os genes que expressam as subunidades α3, α5,
α7, α9 e α10 dos nAChRs tem sido detectados em linfócitos T
e B e macrófagos (FUJII et al., 2017). Curiosamente, a
135
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
atividade do receptor da acetilcolina em macrófagos se
distingue da atividade observada pelos receptores
muscarínicos identificados em linfócitos periféricos, o que
demonstra que esses diferentes tipos celulares podem
responder de modo diferente ao mesmo estímulo (FUJII et al.,
2017).
Nesta revisão, será abordado o papel funcional dos
diferentes receptores nAChRs nas células do sistema
imunológico.

Figura 1. Interações neuroimunes: papel central da


acetilcolina e seus receptores nicotínicos (ex., α7) na
modulação das células do sistema imunológico.

2 MATERIAL E MÉTODO

A presente revisão foi realizada entre setembro de 2016


e setembro de 2017. Esta pesquisa incluiu artigos publicados

136
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
ao longo de um período de 5 anos (2012 a 2017), utilizando-se
as bases de dados PubMed e Periódicos CAPES.
Para tanto, foram utilizadas diferentes combinações das
seguintes palavras chaves:

(1) acetilcolina;
(2) receptor nicotínico da acetilcolina;
(3) sistema imunológico;
(4) células do sistema imunológico;
(5) interações neuroimunoendócrinas;
(6) via colinérgica anti-inflamatória;
(7) células dendríticas;
(8) macrófagos;
(9) linfócitos T;
(10) linfócitos B;
(11) eosinófilos;
(12) neutrófilos;
(13) basófilos;
(14) mastócitos.

A seleção dos artgigos foi baseada nos seguintes


critérios de inclusão: artigos com palavras-chave no título,
data da publicação do artigo, fator de impacto do artigo,
resumo e/ou texto integral.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Papel dos receptores nicotínicos em


monócitos/macrófagos

137
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
Os monócitos e macrófagos desempenham um papel
fundamental na resposta imunológica e no desenvolvimento
de desordens inflamatórias (CHEN; FRANGOGIANNIS, 2017).
Dois subtipos de macrófagos são conhecidos, os pró-
inflamatórios (M1), que são induzidos por citocinas como
interferon γ (IFN-γ), e os anti-inflamatórios (M2), que se
desenvolvem após estímulos como IL-4 (MURRAY et al.,
2015). Os macrofágos M1 secretam um elevado nível de
citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α, IL-1β, IL-6 e IL-12.
Enquanto que as células M2 secretam citocinas anti-
inflamatórias, como IL-10 e fator de crescimento transformador
β (TGF-β). Logo, um balanço entre os subtipos é necessário
para restaurar a homeostase em uma resposta inflamatória
(CHEN; FRANGOGIANNIS, 2017).
Os nAChRs são expressos em monócitos, neutrófilos,
linfócitos e em células precursoras de células B na medula
óssea. Especialmente, os receptores α7 e α9 nAChR estão
presentes principalmente em precursores de monócitos (ST-
PIERRE et al., 2016). A ativação dos receptores nicotínicos
pela nicotina reduz a proporção, o número, a viabilidade e a
proliferação de macrófagos M1 derivados da medula óssea.
Além disso, os marcadores de monócitos pró-inflamatórios
MHC-II e CD86, bem como a secreção de citocinas pro-
inflamatórias TNF-α, IL-12 e IL-1β também foram reduzidos
pela nicotina. Por outro lado, a secreção de citocinas anti-
inflamatórias, como a IL-10, foi aumentada (ST-PIERRE et al.,
2016). Esses achados mostram que os nAChRs ativados pela
nicotina podem modular diretamente os monócitos pró-
inflamatórios, inibindo sua formação e liberação na medula
óssea. Além disso, os receptores α7 e α9 nAChR estão
envolvidos na modulação colinérgica dos macrófagos M1 e
138
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
contribuem para o mecanismo regulador dessas células (ST-
PIERRE et al., 2016).
Em alguns modelos experimentais, a ativação de
receptores nAChRs têm demonostrado um papel benéfico no
desenvolvimento de diferentes doenças. Em um modelo de
artrite reumatoide em camundongos, a ativação desses
receptores promove uma redução da degradação óssea e da
inflamação sinovial das articulações (VAN MAANEN et al.,
2015).
No modelo de sepse, a estimulação de α7 nAChR
através da via anti-inflamatória da nicotina previne a ativação
de macrófagos via fator nuclear kappa B (NF-kB) e secreção
de proteína do grupo 1 de alta mobilidade (HMGB1),
produzindo uma redução de níveis séricos de HMGB1, bem
como um aumento da taxa de sobrevivência dos animais
(KANASHIRO et al., 2017).
Por estimulação do receptor α7 nAChR, a nicotina
suprime a expressão de CD14, do receptor Toll-like 4 (TLR4),
de moléculas de adesão intercelular 1 (ICAM-1), de moléculas
co-estimuladoras B7.1 e CD40, bem como a produção do
TNF-α induzido por LPS em células mononucleares
sanguíneas em humanos. Além disso, nenhum efeito ocorre
sobre a produção de interleucina-10. A inibição das vias MAPK
p38 e do NF-κB podem estar envolvidas na sinalização
induzida pela nicotina. No modelo de encefalomielite
autoimune experimental (EAE), o início da doença e sua
gravidade são, respectivamente, atrasados e atenuados, em
camundongos tratados com nicotina (SIMARD et al., 2013).
Os macrófagos desempenham um papel fundamental
na dor neuropática associada a lesões nos nervos periféricos.
Estudos demonstram que a ativação do α4β2 nAChR suprime
139
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
a regulação positiva de IL-1β e CCL3, citocinas que
sensibilizam as fibras sensoriais periféricas, por inibição da via
STAT3 em macrófagos inflamatórios, resultando em uma
supressão de dor neuropática (KIGUCHI et al., 2015). Nos
macrófagos alveolares de ratos, a estimulação por nicotina
nos nAChR diminui a liberação de Ca2+ dos estoques
intracelulares induzidos por ATP, bem como a liberação de
TNF-α, IL-1β e IL-6 (BAI et al., 2017).
Além disso, nos monócitos de seres humanos e ratos
foi demonstrado que os receptores de nAChRs, que contêm as
subunidades α7, α9 e/ou α10, inibem a secreção de IL-1β
mediada por ATP (HECKER et al., 2015).

Papel dos receptores nicotínicos em granulócitos

Os granulócitos correspondem a um grupo de células


sanguíneas que apresentam diferentes grânulos
citoplasmáticos, contendo diferentes substâncias como
mieloperoxidases e defensinas. Os neutrófilos, basófilos e
eosinófilos fazem parte desse grupo de células e apresentam
diferentes funções fisiológicas e patológicas.
Os eosinófilos desempenham um papel chave em
doenças de hipersensibilidade I (ex., as alergias). A migração
de eosinófilos no tecido pulmonar é uma das características
importantes da fisiopatologia da asma (BRUSSELLE; MAES;
BRACKE, 2013).
O recrutamento de eosinófilos para o tecido pulmonar e
mucosa intersticial decorre da atuação de quimiocinas, como
eotaxina 1, 2 e 3 (CCL11, CCL24 e CCL26, respectivamente).
Substâncias liberadas dos eosinófilos após sua ativação e
citólise, como a proteína catiônica eosinofilica (ECP) e
140
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
proteína básica principal (MBP) podem causar diretamente a
hiper-reatividade brônquica devido a danificação local das
células do tecido pulmonar (BRUSSELLE; MAES; BRACKE,
2013). Os eosinófilos possuem ainda a capacidade de
apresentar os antígenos aos linfócitos T. Além da migração, os
eosinófilos são importantes na produção de metaloproteinase
de matriz-9 (MMP-9), envolvida na patogênese da asma
(BRUSSELLE; MAES; BRACKE, 2013).
A migração dos eosinófilos induzida por fator de
ativação de plaquetas (PAF) é regulada por 1,4,5-trisfosfato de
inositol (IP3) e Ca2+, que ocorre através da estimulação do
receptor de PAF, um receptor acoplado a proteína G (GPCR),
e liberação de metaloproteinase (MMPs), como MMP-9
(SINGH et al., 2013). Da mesma forma, a migração dos
eosinófilos induzida por eotaxina também depende do
aumento do Ca 2+ citosólico e da ativação de proteases
(SINGH et al., 2013).
No modelo experimental de asma, os agonistas das
subunidades α3, α4 e α7 do nAChRs reduzem a infiltração de
eosinófilos dentro das vias aéreas dos pulmões. In vitro, a
ativação de nAChR em eosinófilos humanos promove a
redução da produção de PAF, bem como a inibição da
produção de eotaxina e leucotrienos C4 (LTC4) (GALLE-
TREGER et al., 2016). Além disso, a ativação de nAChRs
promove a diminuição de níveis de MMP-9 (MULCAHY;
LESTER, 2017).
Os basófilos são granulócitos que se encontram em
menor proporção na corrente saguínea dos seres humanos e
também participam de respostas alérgicas e tumorais. Nessas
células, já foi demonstrada a expressão das subunidades α4,
α7 e α1/α3/α5 do receptor nACh (WATSON et al., 2014) e
141
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
estudos apontam que a ligação da nicotina em seus
receptores inibe a liberação de histamina e a ativação celular
(WATSON et al., 2014).
Os granulócitos em maior proporção na corrente
sanguínea de seres humanos são os neutrófilos,
correspondendo a cerca de 60% dos leucócitos totais. Por
outro lado, em camundongos apenas 10% dessas células são
encontradas no sangue perfiférico, sendo a medula óssea o
principal reservatório de neutrófilos nesses animais.
Os neutrófilos são as primeiras células do sistema
imune a serem recrutadas para o foco de um processo
inflamatório agudo. Essas células atuam como defesa inicial
do organismo através de diferentes mecanimos imunológicos,
a saber: (1) fagocitose, (2) liberação de mediadores
inflamatórios, como citocinas, espécies reativas de oxigênio e
peptídios antimicrobianos e (3) liberação de armadilhas
extracelulares de neutrófilos.
Vários trabalhos têm demonstrado o papel do α7
nAChR na migração de neutrófilos em diferentes modelos. O
tratamento com a nicotina reduz a migração neutrofílica em
peritônio de camundongos induzida por imunocomplexos.
Além disso, um agonista seletivo do receptor α7 nicotínico
GTS-21 também suprime o recrutamento de neutrófilos após o
estímulo com o LPS intraperitoneal (YE et al., 2015).
Camundongos geneticamente deficientes em α7 nAChR (α7-/-)
também demonstram aumento do influxo de neutrófilos
2h após peritonite induzida por Escherichia coli. Este efeito
dos receptores α7 nACh na migração de neutrófilos pode não
estar relacionado na redução dos níveis de KC, uma
quimiocina chave para a migração de neutrófilos, uma vez que
os camundongos α7-/- e os camundongos selvagens não
142
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
apresentaram diferenças nos níveis de quimiocinas (ZHAO et
al., 2017).
Além dos modelos de peritonite, também observou-se
que o nAChR está envolvido na diminuição do influxo de
neutrófilos em outros tecidos inflamados, como pâncreas (MA
et al., 2016), sistema nervoso central (JIANG et al., 2016),
pulmão (ZHAO et al., 2017), tecido do miocárdio (SZABO et
al., 2014) e na pele (SAFRONOVA et al., 2016). Por outro
lado, os camundongos α7-/- apresentam migração de
neutrófilos através da redução da barreira hematoencefálica
em uma infecção meningítica por E. coli (HUANG et al., 2016).
Os diferentes efeitos observados entre esses estudos podem
estar relacionados aos diferentes locais e aos diferentes
modelos inflamatórios utilizados.
Além disso, a nicotina apresenta diferentes efeitos
sobre a função dos neutrófilos. A nicotina induz a liberação de
armadilhas extracelulares de neutrófilos. Adicionalmente, esse
agonista nicotínico inibe o burst oxidativo induzido pelo PMA
em células HL-60, uma linhagem celular usada como modelo
de granulócitos. Todos esses efeitos podem estar
relacionados à ativação do α7 nAChR (MULCAHY; LESTER,
2017).

Papel dos receptores nicotínicos em mastócitos

Os mastócitos são células teciduais de origem mieloide


presentes em tecidos de mucosa e no tecido conjuntivo. Essas
células estão envolvidas em funções como regulação da
homeostase vascular, respostas inatas e adaptativas. Por
outro lado, elas desempenham um papel fundamental em
doenças alérgicas e na anafilaxia sistêmica.
143
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
Já foi demonstrado que os mastócitos possuem
receptores α4, α7 e β2 nACh. O pré-tratamento com agonistas
de nAChRs inibe a degranulação induzida por antígenos de
mastócitos, regulando negativamente a ativação dessas
células (YAMAMOTO et al., 2014). Em modelo de artrite
induzido por adjuvante completo de Freund (CFA), os
agonistas α7 nAChR exacerbam a dor da artrite e a gravidade
do processo inflamatório, os quais são atenuados pela
administração de antagonista α7 nAChR. Isso contrasta com
os efeitos clássicos da via anti-inflamatória colinérgica. No
entanto, esses efeitos devem ser mais bem estudados
analisando os tipos celulares envolvidos em cada tipo de
processo inflamatório, bem como as diferentes vias de
sinalização envolvidas nessas respostas biológicas (LOPES et
al., 2016).
No modelo de alergia alimentar, o tratamento com
agonistas α7 nAChR alivia os sintomas de alergia, suprimindo
a hiperplasia de mastócitos da mucosa, o que contribui para a
homeostase intestinal (YAMAMOTO et al., 2014). Além disso,
a inibição colinérgica nos mastócitos é mediada pelo receptor
α7 nAChR, independentemente do β2 nAChR (DE HAAN et
al., 2013).

Papel dos receptores nicotínicos em células dendríticas

As DCs são células apresentadoras de antígenos


profissionais (APCs), que reconhecem os antígenos
extracelulares dos tecidos periféricos e migram para os
gânglios linfáticos para apresentação específica à células T
(ESTERHÁZY et al., 2016).

144
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
In vivo, após o estímulo com LPS, a ligação da nicotina
ao α7 nAChR estimula a maturação das DCs, bem como a
internalização e a apresentação de antígenos. A nicotina induz
o aumento de moléculas de superfície em DCs, através da via
via Akt-S6, induz a liberação de IL-12, bem como a
polarização do perfil Th1 (WANG et al., 2015).
In vitro, células dendríticas estimuladas com ACh e
TSLP apresentam um aumento na expressão de OX40L, HLA-
DR, CD83, o que induz a polarização para o perfil Th2 e por
sua vez produção de IL-4, IL-5 e IL-13 por linfócitos T (GORI
et al., 2016). No modelo experimental de colite, a ativação
colinérgica via α7 nAChR reduz IL-12p70 e IL-23 por inibição
da via do NF-κB (MUNYAKA et al., 2014).

Papel dos receptores nicotínicos em linfócitos

Os linfócitos (células T e B) são células que orquestram


a resposta imune adaptativa. As células T incluem dois
subtipos majoritários, os linfócitos T helper (Th) – (TCD4+) e os
linfócitos T citotóxicos (TCD8+). Os linfócitos T CD4+ são
subdivididos em diversos perfis, os mais estudados são: perfil
Th1, induzido pela citocina INF-γ; Th2, induzido por IL-4; Th17,
por IL-17; Th9, induzida por IL-9. Os plasmócitos, linfócitos B
ativados, secretam as imunoglobulinas IgA, IgD, IgE, IgG e
IgM.
Estudos têm demonstrado que as células T têm todos
os componentes necessários para sintetizar ACh (por
exemplo, colina acetiltransferase) e, portanto, estabelecer um
sistema colinérgico independente. A células T também
expressam receptores muscarínicos e nicotínicos da
acetilcolina (FUJII et al., 2017). Também relatou-se que a
145
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
ativação de células T, o estímulo de proteína cinase C (PKC) e
proteína cinase A (PKA) aumentam a regulação da síntese de
ACh nessas células (FUJII et al., 2017). Em células T
citotóxicas, demonstrou-se que a exposição à nicotina modula
negativamente o densenvolvimento de memória celular
(MASHIMO et al., 2017).
Além disso, o tratamento com nicotina induz a ativação
do fator nuclear das células T ativadas (NFAT) e modula sinais
de morte e sobrevivência celular em células T (NORDMAN et
al., 2014). De fato, relatou-se que o receptor α7 nACh interage
com o receptor de células T (TCR) e induz a elevação
intracelular de Ca2+ mediada por TCR / CD3 e sinalização de
tirosina cinase específica de leucócitos (MASHIMO et al.,
2017). Ademais, a nicotina também estimula a atividade das
células T reguladoras (Treg) por supraregulação de CTLA-4 e
Foxp3, além de reduzir os níveis de IL-2 (MASHIMO et al.,
2017).
A célula T possui capacidade para se diferenciar em
diferentes subtipos celulares (por exemplo, Th1, Th2, Th17) e,
portanto, atuam de maneira diferente. Esses perfis celulares
possuem diferentes funções fisiológicas e imunopatológicas. O
perfil de células Th1 está envolvido na eliminação de
patógenos intracelulares e em algumas doenças relacionadas
a hipersensibilidade tipo IV. Enquanto o perfil de células Th2
está relacionado a doenças de hipersensibilidade I e defesa
contra helmintos. Por outro lado, as infecções por bactérias
extracelulares e fúngicas induzem uma resposta de células
Th17, que também podem estar associadas com doenças
autoimunes. Outros perfis celulares veem sendo estudados
como os perfis Th9 e Th22, porém pouco se sabe sobre essas
populações de células T.
146
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
Alguns estudos demonstraram que o nAChR está
envolvido nesta diferenciação de células Th. Foi relatado que
a nicotina suprime a neuroinflamação por diminuição da
resposta Th1 e Th17. A nicotina também reduz a resposta
Th17. Em um modelo de colite, demonstrou-se que a nicotina
atua de forma dúbia (LIU et al., 2014). Na colite induzida por
oxazolona, a nicotina reduz as células Th17, mas aumentou as
células Th17 na colite ácido trinitrobenzeno sulfônico (TNBS)
(FUJII et al., 2014). Além disso, o tratamento crônico com
nicotina pode aumentar a expressão de Tbet, um fator de
transcrição específico de Th1, em células T humanas de
mucosa. A nicotina também reduz a produção de IL-6 em
colite aguda induzida por dextran sulfato de sódio (DSS)
(HAYASHI et al., 2014).
Nas células B, foi demonstrado a expressão das
subunidades α7, α4, α9, α10 e β2 do receptor nACh (FUJII et
al., 2017). Algumas dessas subunidades podem estar
relacionadas à produção de IgG, uma vez que os camudongos
que não possuem subunidades α7, α4 e β2 apresentam uma
concentração menor dessa imunoglobulina. Além disso, os
linfócitos B de camundongos sem os genes que ditam a
produção dessas subunidades (knock out) são mais
responsivos à estímulos (WANG et al., 2014). Ademais, o
nAChR está implicado no desenvolvimento, ativação e
sobrevivência das células B (WANG et al., 2014).

4 CONCLUSÕES

O sistema colinérgico, em especial mediado pelos


efeitos dos receptores nicotínicos, exerce diferentes
influências sobre as diferentes células do sistema imunológico,
147
PAPEL DOS RECEPTORES COLINÉRGICOS NICOTÍNICOS EM CÉLULAS DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO
como linfócitos e macrófagos/monócitos. Dessa forma, o
melhor entendimento sobre o papel desses receptores no
sistema imunológico aumenta as possibilidades de novas
estratégias terapêuticas para o tratamento de diferentes
doenças com etiopatogenia associada ao sistema
imunológico, como artrite reumatóide, asma, e doença
inflamatória intestinal.

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151
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS

CAPÍTULO 8

PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E


SUA CORRELAÇÃO COM PARÂMETROS
HEMATOLÓGICOS
Gabriella Menezes Almeida de CASTRO 1
Heronides dos Santos PEREIRA 2
1
Graduada em Farmácia Generalista, UEPB; 2 Orientador/Professor Doutor da UEPB.
gabriella-castro@hotmail.com.br

RESUMO: Nas tentativas de diagnóstico precoce e melhor


tratamento do câncer, destacam-se os marcadores tumorais
(MT), capazes de indicar presença, extensão, resposta ao
tratamento e recorrência da neoplasia. Complicações
hematológicas são comuns em quadros oncológicos, seja por
mielossupressão terapêutica ou manifestação da doença. Este
estudo objetivou identificar e avaliar as alterações
hematológicas ocorrentes em pacientes que dosaram
marcadores tumorais CEA, CA 125, CA 15-3 e CA19-9. Trata-
se de um estudo transversal, desenvolvido com pacientes de
um laboratório clínico privado na cidade de Campina Grande –
PB, no período entre 2015 e 2016. Avaliou-se 298 pacientes,
realizando um total de 472 exames dos MT, houve
predominância de alterações em mulheres (88,61%) e idosos
(54,43%). Avaliando as alterações hematológicas em
pacientes com os marcadores alterados, observou-se:
46,94%, 50% e 60% dos pacientes com alteração no CEA, CA
125 e CA 15-3, respectivamente, demonstraram valores
indicativos de anemia; plaquetopenia em 42,86%, 66,67% e
60% dos pacientes com alteração nos marcadores CEA, CA
19-9 e CA 15-3; e 14,29% das alterações no CEA e 33,33% no
CA 19-9 apresentaram leucopenia. Essas citopenias podem
estar relacionadas ao câncer através do dano provocado na

152
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
medula óssea pelas células neoplásicas, destruição celular por
mecanismos imunológicos e perdas sanguíneas induzidas
pela quimioterapia. Conclui-se que houve correlação entre a
ocorrência de alterações hematológicas em pacientes com
resultados significantes de MT.
Palavras-chave: Neoplasia, marcadores tumorais, alterações
hematológicas.

1 INTRODUÇÃO

Com base no documento World Cancer Report 2014 da


International Agency for Research on Cancer (IARC), da
Organização Mundial da Saúde (OMS), é inquestionável que o
câncer é um problema de saúde pública, especialmente entre
os países em desenvolvimento, onde é esperado que, nas
próximas décadas, o impacto do câncer na população
corresponda a 80% dos mais de 20 milhões de casos novos
estimados para 2025. Conforme o Instituto Nacional do Câncer
(INCA), para 2016, estimava-se 596.070 novos casos de
câncer no Brasil, sendo desses, 8.250 casos no estado da
Paraíba (MINISTÉRIO DA SAÚDE - INCA, 2015).
Diante desta realidade, o monitoramento da
morbimortalidade do câncer tem se mostrado vital, sendo
necessário sua incorporação na rotina da gestão da saúde,
visando estabelecer ações preventivas e de controle do
câncer, bem como seus fatores de risco. Além disso, medidas
para diagnóstico precoce, monitoramento terapêutico e
detecção de possível recorrência da doença podem possibilitar
uma melhor qualidade e expectativa de vida para o paciente
oncológico.

153
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
Nas tentativas de estabelecimento de diagnóstico
precoce e melhor tratamento, destacam-se os marcadores
tumorais; macromoléculas presentes no tumor, no sangue ou
em outros líquidos biológicos, cujo aparecimento e/ou
alterações em suas concentrações estão relacionados com a
gênese e o crescimento de células neoplásicas. Tais
substâncias funcionam como indicadores da presença de
câncer, e podem ser produzidas diretamente pelo tumor ou
pelo organismo, em resposta à presença do tumor. São
capazes de indicar presença, extensão, resposta ao
tratamento e presença de recorrência da neoplasia. Os
marcadores tumorais, em sua maioria, são proteínas ou
fragmentos de proteínas, incluindo antígenos de superfície
celular, proteínas citoplasmáticas, enzimas e hormônios
(FERNANDES; MATOS, 2002; ALMEIDA et al., 2007).
Tem se observado que pacientes portadores de
doenças neoplásicas apresentam alta frequência de
anormalidades das células sanguíneas. Além dos fatores
fisiopatológicos da neoplasia, durante o tratamento por radio
ou quimioterapia, o paciente pode desenvolver citopenias,
como anemia, leucopenia e trombocitopenia.
Alterações hematológicas como anemia e
trombocitopenia são relatadas em pacientes com câncer.
Anemia e coagulopatias são causas de morbidade e
mortalidade em seres humanos com câncer, com impacto
negativo sobre a progressão da doença e a terapia
antineoplásica. Dentre os seres humanos portadores de
neoplasias em grau avançado, 50 a 70% apresentam anemia.
Quanto ao leucograma, a leucocitose é alteração importante
em pacientes com neoplasia e ocorre devido à complexa
interação entre as células neoplásicas com o sistema
154
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
imunológico e com a inflamação peritumoral. A leucocitose
neutrofílica está fortemente associada ao pior prognóstico e
mortalidade em seres humanos com neoplasia, sobretudo
naqueles em tratamento quimioterápico (SILVA et al., 2014).
Tais alterações hematológicas resultam em uma série
de sintomas que podem influenciar o estado físico e funcional
dos pacientes, interferindo negativamente no tratamento e
qualidade de vida dos mesmos. Sintomas como a redução
subjetiva do bem-estar também interferem em outros aspectos
sociais do paciente, como habilidade para o trabalho,
interação social e participação em atividades de
entretenimento (CALABRICH; KATZ, 2010). Sendo assim, o
precoce diagnóstico e tratamento da neoplasia, bem como
suas patologias associadas, mostram-se de fundamental
importância, para que complicações secundárias não agravem
o quadro clínico do paciente, e o tratamento adequado consiga
proporcionar bem-estar e uma melhor expectativa de vida.
O presente estudo visa identificar e avaliar as
alterações hematológicas ocorrentes em pacientes com os
marcadores tumorais CEA, CA 125, CA 15-3 e CA 19-9,
atendidos no Centro de Hematologia e Laboratório de Análises
Clínicas Ltda – Hemoclin, estudando a ocorrência de
alterações hematológicas concomitantes a alterações nos
valores dos marcadores tumorais e sua relação com variáveis
como idade e sexo.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Tratou-se de um estudo transversal, de abordagem


quantitativa e descritiva dos dados, desenvolvida com
pacientes do Centro de Hematologia e Laboratório de Análises
155
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
Clínicas Ltda – Hemoclin na cidade de Campina Grande – PB.
Participaram do estudo 298 pacientes, de ambos os sexos que
realizaram os exames de marcadores tumorais no laboratório.
Foram incluídos na pesquisa pacientes que realizaram
os exames de marcadores tumorais CEA, CA 125, CA 15-3
e/ou CA 19-9, no período de setembro de 2015 a agosto de
2016. O estudo não teve restrição de idade ou sexo, sendo
excluído apenas os pacientes que não realizaram os referidos
exames.
A coleta de dados foi feita a partir das planilhas de
trabalho do setor de bioquímica que continham os resultados
dos marcadores tumorais CEA, CA 125, CA 19-9 e CA 15-3,
bem como registrados também os resultados de hemograma.
Os exames de CEA, CA 19-9, CA 15-3 e CA 125 foram
realizados pelo método de quimioluminescência e
eletroquimioluminescência. Sendo adotado como padrão de
referência os valores expostos na tabela abaixo.

Tabela 1. Valores de referência dos marcadores tumorais


CEA Fumantes Até 5,0 ng/mL
Não fumantes Até 3,0 ng/mL/
CA 19-9 Menor que 35
UI/mL
CA 15-3 Até 35,0 UI/mL
CA 125 Até 31,0 UI/mL
(Fonte: H. PARDINI, 2017)

Para os parâmetros hematológicos, sua realização foi


feita através do equipamento Pentra 60 C+, sendo
considerados os valores de referência segundo a tabela 2.

156
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
Tabela 2. Valores de referência de hemograma
Homens Mulheres
Eritrócitos 4,50 – 5,90 4,00 – 5,20
milhões/mm 3 milhões/mm3
Hemoglobina 13,5 – 18,0 g/dL 12,0 – 16,0 g/dL
Hematócrito 39 – 54% 36 – 50%
Leucócitos 3200 – 11000/mm3
Plaquetas 140000 – 450000/mm3
(Fonte: HEMOCLIN, 2017)

O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da


Universidade Estadual da Paraíba (CAAE:
64997317.2.0000.5187). Do ponto de vista normativo, a
pesquisa seguiu as normas propostas pela resolução 466/12
do Conselho Nacional de Saúde (CNS) envolvendo pesquisa
em seres humanos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste estudo foram avaliados 298 pacientes, sendo a


maioria idoso (61,74%) e do gênero feminino (77,52%) (Tabela
3). Foram realizados um total de 472 exames dos marcadores
tumorais CEA (58,47%), CA 125 (16,74%), CA19-9 (13,56%) e
CA 15-3 (11,23%); e dentre estes observou-se alteração em
apenas 79 (16,74%) marcadores avaliados (Tabela 4).

Tabela 3. Distribuição percentual das variáveis sexo e faixa


etária
Variável n Percentual (%)
Sexo

157
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
Feminino 231 77,52%
Masculino 67 22,48%
Faixa etária
Criança (<10 anos) 2 0,67%
Adolescente (10 – 18 2 0,67%
anos) 110 36,91%
Adulto (19 – 59 anos) 184 61,74%
Idoso (≥ 60 anos)
Total 298 100%
Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 4. Distribuição percentual dos marcadores tumorais e


suas respectivas alterações
Marcador Tumoral n Percentual (%)
CEA 276
Alterado 56 20,29%
Normal 220 79,71%
CA 125 79
Alterado 6 7,59%
Normal 73 92,41%
CA 19-9 64
Alterado 10 15,63%
Normal 54 84,37%
CA 15-3 53
Alterado 7 13,21%
Normal 46 86,79%
Total 472 100%
Fonte: Dados da pesquisa

Quando relacionado o número de ocorrência de


alterações nos marcadores com sexo e idade, pôde-se
observar um maior número de alterações de todos os
158
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
marcadores no sexo feminino, representando 88,61% do total
de alterações (Figura 1). Dentre as alterações ocorridas de
acordo com a faixa etária, os idosos prevaleceram também
com o maior índice de incidências (54,43%). Entre os infantes
do estudo, observou-se apenas uma criança com alteração no
CEA (Figura 2). Segundo o INCA, o câncer representa a
segunda causa de mortalidade entre crianças e adolescentes
de 1 a 19 anos, sendo a primeira causa de morte por doença
após 1 ano de vida.
Ainda de acordo com dados do INCA, sobre as
estimativas de câncer no ano de 2016, as mulheres vêm, de
fato, liderando os números de casos no Brasil. Como
observado nesse estudo, 77,52% da população estudada foi
feminina. Este fato também está diretamente relacionado aos
cuidados com saúde que são menos negligenciados dentre
esse grupo, havendo uma maior preocupação,
consequentemente maiores índices de diagnósticos e melhor
adesão ao tratamento.
Uma das principais causas de câncer em todo o mundo
é o envelhecimento da população, o aumento do número de
casos está relacionado a longevidade das pessoas. Sendo a
própria idade um fator de risco, quanto mais velho, maior a
probabilidade de ocorrência (INCA, 2015).

159
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
Figura 1. Perfil de alteração dos marcadores tumorais por
sexo
200 162
150
100 58 63
49 43 45
50 7 5 10 9 11 7
1 1 0 1
0
Alterado Normal Alterado Normal Alterado Normal Alterado Normal
CEA CA 125 CA 19-9 CA 15-3

Feminino Masculino

Fonte: Dados da pesquisa

Figura 2. Perfil de alteração dos marcadores tumorais por


faixa etária
141
150 30 76
25 42
100 28
4 2 29 3 7 26 4 27
50 1 1 3 19
0 1
0
Alterado

Normal

Alterado

Normal

Alterado

Normal

Alterado

Normal

CEA
CA 125
CA 19-9
CA 15-3

Criança Adolescente Adulto Idoso

Fonte: Dados da pesquisa


Conforme Christenson et al. (2011), a monitorização de
doentes com medições de marcadores tumorais em série ao
longo do tempo pode proporcionar uma visão clínica
importante sobre a recorrência, a remissão ou a estabilidade
da doença. A sensibilidade para diagnóstico dos marcadores
atuais tem se revelado inferior a 50%, inviabilizando tais
160
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
métodos para finalidades diagnósticas. Os dados dessa
pesquisa demonstraram um índice de 16,74% de alterações
dos marcadores quantificados, sendo a maioria deles entre os
67 (22,48%) dos pacientes que tiveram o diagnóstico de
neoplasia confirmados.
O critério de inclusão desse estudo foi a captação de
dados de pacientes que realizaram exames os exames de
marcadores tumorais CEA, CA 125, CA 19-9 e CA 15-3, e
dentre o total de pacientes do estudo, 252 (84,56%) fizeram o
hemograma juntamente com os exames supracitados. O
número de alterações hematológicas em pacientes
oncológicos é significante, e sua ocorrência é relevante no
acompanhamento do paciente. Na figura 3, observa-se que
25,40% dos pacientes apresentaram uma diminuição da série
vermelha do sangue (considerando anemia os pacientes com
hematócrito, hemoglobina e total de hemácias diminuídos),
6,35% e 13,10% exibiram um quadro de leucopenia e
plaquetopenia, respectivamente.
Pacientes portadores de doenças neoplásicas
apresentam alta frequência de anormalidades das células
sanguíneas. Os mecanismos estão relacionados com a
eliminação das células-tronco pluripotentes, dano provocado
ao microambiente da medula óssea, inibição de produção de
fatores de crescimento hematopoético e/ou produção de
citocinas inibidoras da hematopoese. Tais efeitos adversos
sobre a hematopoese são frequentemente agravados pelo
tratamento da neoplasia (radiação ionizante, drogas
antiblásticas) (COSTA; SOUSA, 1999).

161
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
Figura 3. Frequência de alterações hematológicas
Frequência de alterações hematológicas da série
vermelha
182 188
169
(72,22%) (74,60%)
200 (67,06%)
150 68 83
64
(26,98%) (32,94%)
100 (25,40%)
2
50 (0,79%)
0
Eritrócitos Hematócrito Hemoglobina

Baixo Normal Aumentado

Frequência de alterações Frequência de alterações


hematológicas série plaquetárias
branca 211
(83,73%)
232 300
400 (92,06%)
200 33
16 4 8
(13,10%)
200 (6,35%) (1,59%) (3,17%)
100

0 0

Leucopenia Normal Leucocitose


Plaquetopenia Normal Plaquetose

Fonte: Dados da pesquisa

Semelhante ao padrão ocorrido nas alterações dos


marcadores tumorais, a prevalência de índices fora da faixa de
normalidade no hemograma foi em mulheres (26,80%, 27,32%
e 34,54% tiveram eritrócitos, hematócrito e hemoglobina
baixos, respectivamente, 6,19% apresentaram leucopenia e
14,44% plaquetopenia) e idosos (34,35%, 28,75% e 35,00%
tiveram eritrócitos, hematócrito e hemoglobina baixos,

162
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
respectivamente, 7,50% leucopenia e 17,50% plaquetopenia).
Das alterações encontradas nos hemogramas ressalta-se uma
prevalência de alterações por diminuição dos índices aferidos
(anemia, leucopenia e plaquetopenia), não descartando a
importância da ocorrência de leucocitose e trombocitose em
um número menor de pacientes.
O estudo apresentou 67 (22,48%) pacientes com
diagnóstico oncológico confirmado. Relacionando a ocorrência
de alterações hematológicas com os resultados obtidos nos
marcadores tumorais, observa-se que 46,94%, 50% e 60%
dos pacientes com alteração no CEA, CA 125 e CA 15-3,
respectivamente, demonstram valores indicativos de anemia.
Os resultados obtidos quanto a avaliação plaquetária também
demonstrou resultados significantes, mostrando uma
incidência de plaquetopenia em 42,86%, 66,67% e 60% dos
pacientes com alteração nos marcadores CEA, CA 19-9 e CA
15-3, respectivamente. Referente as alterações leucocitárias,
14,29% dos pacientes com alterações no CEA e 33,33% das
alterações no CA 19-9 apresentaram uma leucopenia,
enquanto que 25% e 20% das alterações no CA 125 e CA 15-
3, respectivamente, exibiram leucocitose (Tabela 6).
Quando avaliado a ocorrência de alterações na série
vermelha concomitantes a alterações dos marcadores
tumorais, pode-se observar uma concordância dos resultados
obtidos com diversos estudos realizados sobre o assunto.
Campos et al. (2011) afirmam que muitos pacientes com
câncer desenvolvem anemia como consequência de sua
doença maligna, tratamento ou até mesmo pelas
comorbidades que esses pacientes já apresentavam.
Numericamente, até 70% destes pacientes apresentam
anemia em algum momento da sua doença ou tratamento.
163
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
Tabela 6. Distribuição percentual de variáveis hematológicas
em relação aos marcadores tumorais
Variável CEA CA 125
Hematológica Alterado Normal Alterado Normal
Eritrócitos
Baixo 21(42,86%) 44(23.16%) 2(50,00%) 14(25,00%)
Normal 28(57,14%) 144(75,79%) 2(50,00%) 42(75,00%)
Aumentado 0 (0,00%) 2 (1,05%) 0 (0,00%) 0 (0,00%)
Hematócrito
Baixo 23(46,94%) 38 (20,00%) 2(50,00%) 14(25,00%)
Normal 26(53,06%) 152(80,00%) 2(50,00%) 42(75,00%)
Hemoglobina
Baixo 26(53,06%) 53 (27,89%) 4 (100%) 18(32,14%)
Normal 23(46,94%) 137(72,11%) 0 (0,00%) 38(67,86%)
Leucócitos
Leucopenia 7 (14,29%) 9 (4,74%) 0 (0,00%) 1 (1,79%)
Normal 40 (81,63%) 179 (94,21%) 3 (75,00%) 54(96,42%)
Leucocitose 2 (4,08%) 2 (1,05%) 1 (25,00%) 1 (1,79%)
Plaquetas
Plaquetopenia 21(42,86%) 12 (6,32%) 0 (0,00%) 7 (12,50%)
Normal 26(53,06%) 172(90,53%) 3(75,00%) 49(87,50%)
Trombocitose 2 (4,08%) 6 (3,16%) 1(25,00%) 0 (0,00%)
Total 49 (100%) 190 (100%) 4 (100%) 56 (100%)
Fonte: Dados da pesquisa

Tabela 6. Distribuição percentual de variáveis hematológicas


em relação aos marcadores tumorais (continuação)
Variável CA 19-9 CA 15-3
Hematológica Alterado Normal Alterado Normal
Eritrócitos

164
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
Baixo 2(22,22%) 11(28,21%) 3(60,00%) 12(28,57%)
Normal 7(77,78%) 2 (71,79%) 2(40,00%) 29(69,05%)
Aumentado 0 (0,00%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 1 (2,38%)
Hematócrito
Baixo 1(11,11%) 11(28,21%) 3(60,00%) 14(33,33%)
Normal 8(88,89%) 28(71,79%) 2(40,00%) 28(66,67%)
Hemoglobina
Baixo 3 (33,33%) 15 (38,46%) 3 (60,00%) 16 (38,10%)
Normal 6 (66,67%) 24 (61,54%) 2 (40,00%) 26 (61,90%)
Leucócitos
Leucopenia 3 (33,33%) 1 (2,56%) 0 (0,00%) 3 (7,14%)
Normal 5 (55,56%) 39 (97,44%) 4 (80,00%) 39 (92,86%)
Leucocitose 1 (11,11%) 0 (0,00%) 1 (20,00%) 0 (0,00%)
Plaquetas
Plaquetopenia 6 (66,67%) 8 (20,51%) 3 (60,00%) 6 (14,29%)
Normal 3 (33,33%) 31 (79,49%) 1 (20,00%) 35 (83,33%)
Trombocitose 0 (0,00%) 0 (0,00%) 1 (20,00%) 1 (2,38%)
Total 9 (100%) 39 (100%) 5 (100%) 42 (100%)
Fonte: Dados da pesquisa

Dois grandes estudos avaliaram a epidemiologia da


anemia em pacientes com câncer. O ECAS (European Cancer
Anemia Survey) é um grande estudo prospectivo com 15.367
portadores de câncer em qualquer estádio e tratamento,
conduzido entre 2001-2002. Aproximadamente 40% dos
pacientes apresentavam níveis de Hb menores do que 12 g/dL
e até 75% dos pacientes em tratamento quimioterápico
desenvolveram anemia em um intervalo de seis meses. Os
fatores que mais se relacionaram ao desenvolvimento de
anemia foram os níveis basais de hemoglobina, sítio do tumor
primário, esquemas contendo platinas, sexo feminino, idade
165
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
avançada e baixo performance status. Um dado interessante é
que apenas 40% dos pacientes receberam tratamento para
anemia, sendo 17,4% tratados com eritropoetina, 15%
receberam transfusão e apenas 6,5% foram tratados com
ferro. O ACT (Anemia of Cancer Therapy) é um estudo
retrospectivo observacional, com 2.192 pacientes com câncer
e Hb < 11 g/dL, conduzido entre 2005 e 2007. Avaliou os
padrões de tratamento para anemia na população e sua
eficácia. Foi detectado um maior número de pacientes tratados
para anemia (68,3%). Transfusões sanguíneas foram
efetuadas em 19,4%, os agentes estimuladores da eritropoese
foram utilizados em 62,2% e 32,8% receberam suplementação
de ferro (CALABRICH; KATZ, 2010).
A incidência de plaquetopenia em 42,86%, 66,67% e
60% dos pacientes com alteração nos marcadores CEA, CA
19-9 e CA 15-3, respectivamente, e a leucopenia apresentada
por 14,29% dos pacientes com alterações no CEA e 33,33%
das alterações no CA 19-9 concordam com os efeitos tóxicos
sistêmicos mais observados em vários protocolos de
quimioterapia que são leucopenia e trombocitopenia,
manifestações clínicas de mielossupressão. A ocorrência de
leucopenia em pacientes neoplásicos é preocupante, uma vez
que estes já são pacientes debilitados e a diminuição de
células de defesas torna-os mais susceptíveis a infecções e
condições que podem agravar seu quadro.
Quanto as alterações encontradas no leucograma de
pacientes com câncer, acredita-se que estas tenham relação
com a complexa associação do desenvolvimento neoplásico
com o processo inflamatório, através da ativação de células do
sistema imunológico e de células acessórias, como mastócitos

166
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
e eosinófilos, tendo importante interação de mediadores
inflamatórios e citocinas (SILVA, 2012).
A trombocitopenia é comum em pacientes não tratados
e é uma complicação frequente durante o curso do tratamento.
A substituição da medula óssea por células malignas,
quimioterapia citorredutiva e terapia de radiação são causas
comuns de trombocitopenia. Além disso, a trombocitopenia
pode complicar a infecção bacteriana, fúngica, viral e
protozoária e ocorre com ou sem coagulação intravascular
disseminada associada. A trombocitopenia associada à
infecção normalmente não resulta em hemorragia clinicamente
significativa (GOAD; GRALNICK, 1996).
Dos muitos fármacos que têm sido implicados na
trombocitopenia induzida por fármacos, os antibióticos sulfa,
cefalosporinas (cefalofina) e penicilinas têm a maior relevância
para os pacientes com câncer, cujo curso é frequentemente
complicado por infecções. Uma vez suspeitado, o fármaco
deve ser interrompido, e um aumento na contagem de
plaquetas é geralmente aparente dentro de 2 a 3 dias. A
heparina é comumente usada em pacientes com câncer como
tratamento para distúrbios tromboembólicos e para manter a
patência de dispositivos de acesso vascular. A
trombocitopenia induzida por heparina ocorre 5 a 10 dias após
o início do tratamento e é definida pela presença de anticorpos
IgG dependentes de heparina. Vários estudos têm relatado a
incidência desse tipo de trombocitopenia a ser de
aproximadamente 3% a 5% dos pacientes tratados (GOAD;
GRALNICK, 1996).
Numericamente, a ocorrência de trombocitose não foi
tão acentuada quanto os casos de trombocitopenia, observou-
se que 4,08%, 25,00% e 20,00% dos pacientes com
167
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
alterações no CEA, CA 125 e CA 15-3 apresentavam
trombocitose, respectivamente. Entretanto, a frequência
inferior de casos não diminui a significância desse achado. De
acordo com Goad e Gralnick (1996), aproximadamente 90%
dos pacientes com câncer com doença metastática, e metade
de todos os pacientes com câncer, têm parâmetros de
coagulação anormais. A trombocitose e os níveis aumentados
de fibrinogênio plasmático foram as anormalidades mais
comuns encontradas em pacientes com câncer na
apresentação inicial em um estudo que acompanhou mais de
200 desses pacientes com testes laboratoriais em série desde
o momento do diagnóstico até a morte. As complicações
tromboembólicas mais comuns em pacientes com câncer são
trombose venosa profunda e embolia pulmonar. Outras
síndromes tromboembólicas incluem trombose arterial,
endocardite não bacteriana com embolização arterial e
trombose das veias hepática e portal. A endocardite não
bacteriana é uma característica de pacientes com tumores
sólidos, particularmente carcinoma produtor de mucina.
As manifestações trombóticas ocorrem mais
comumente em pacientes com adenocarcinomas de secreção
de mucina do pâncreas (especialmente o corpo e a cauda do
pâncreas), do trato gastrointestinal, do pulmão e do ovário.
Uma incidência aumentada de eventos trombóticos é também
uma característica da leucemia promielocítica aguda, dos
distúrbios mieloproliferativos subaracnóides e tumores
primários do cérebro. Em contraste, relatos de trombose nos
cânceres não tratados da próstata e da pele são
extremamente raros. A causa da maior incidência de
tromboembolismo em pacientes que recebem quimioterapia

168
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
pode ser mediada por danos relacionados ao fármaco ao
endotélio (GOAD; GRALNICK, 1996).
Costa e Sousa (1999) relacionam as causam para
essas citopenia por duas origens principais: citopenia
relaciona a própria fisiopatologia no câncer e citopenias
induzidas pela quimioterapia. Quando relacionadas
diretamente ao câncer essas citopenias pode ser por
metástases para a medula óssea, necrose ou fibrose da
medula óssea, inibidores humorais da hematopoese, redução
dos níveis de fatores de crescimento hematopoiéticos; ou por
complicações secundarias da doença, como deficiências
nutricionais, perda sanguínea, doença crônica ou inflamação,
destruição celular mediada por mecanismos imunológicos,
hiperesplenismo ou microangiopatia. As citopenias induzidas
pela quimioterapia podem se justificar pela morte das células-
tronco hematopoiéticas (mielossupressão de longa duração),
morte das células progenitoras comprometidas
(mielosupressão de curta duração), bloqueio ou atraso do ciclo
celular dos precursores hematopoiéticos, redução dos níveis
dos fatores de crescimento hematopoiéticos, dano oxidantes
às células hematopoiéticas maduras, mielodisplasia de longa
duração, destruição das células hematopoiéticas mediada por
mecanismo imunológicos, microangiopatia ou anemia
dilucional (retenção fluídica ou expansão do volume
plasmático).

4 CONCLUSÕES

A utilização de marcadores tumorais para fins de


diagnóstico do câncer não tem se mostrado a melhor opção.
Entretanto, a sua dosagem no acompanhamento do paciente
169
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
neoplásico proporciona um monitoramento clínico importante
sobre a recorrência, remissão ou estabilidade da doença, bem
como eficácia do tratamento, justificando a importância do seu
doseamento. Em conjunto com outros exames, como
hemograma, sua dosagem permite ao profissional uma melhor
visão clínica do paciente, podendo diagnosticar precocemente
a ocorrência de alterações e tomar medidas terapêuticas a fim
de melhorar a qualidade de vida do paciente.
Diante da importância dos resultados significantes dos
marcadores tumorais no estudo, conclui-se que houve
correlação entre a ocorrência de alterações hematológicas em
pacientes com resultados de marcadores tumorais alterados.
O CEA foi o marcador mais prevalente e com maior ocorrência
de alterações. As alterações hematológicas mais frequentes
no estudo foram anemia e plaquetopenia, sabendo também
que a ocorrência de plaquetopenia pode acarretar em uma
anemia, devido ao risco de sangramentos inesperados. Os
pacientes que exibiram os marcadores CA 125 e CA 19-9 fora
da faixa de normalidade apresentaram simultaneamente
alterações hematológicas (anemia e plaquetopenia,
respectivamente) mais frequentes. Estas alterações debilitam
bastante o paciente, que passa a sentir sintomas como:
fadiga, tonturas, vertigem, fraqueza, sonolência, dores, entre
outros, que não estão diretamente ligados ao quadro
oncológico, mas a essas patologias secundárias, e acabam
por diminuir a satisfação pessoal e prejudicar a qualidade de
vida do paciente.
Sendo assim, constata-se a importância do trabalho
nesta área, e a necessidade de estudos mais aprofundados e
específicos sobre o tema – diferenciando os grupos mais
atingidos (como mulheres e idosos), para que todas as
170
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
possíveis causas sejam confirmadas e novas pesquisas
possam desenvolver meios de amenizar o problema, e até
mesmo, tratamentos quimioterápicos menos nocíveis a cadeia
hematopoiética.

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Gomes da Silva (INCA). Estimativa 2016: incidência de câncer no
Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2015.
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Disponível em:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0039914017302035.
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CALABRICH A. F. C.; KATZ A. Deficiência de ferro no paciente com
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CAMPOS, M. P. O. et. al. Fadiga relacionada ao câncer: uma revisão. Rev
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CHRISTENSON, R. H. et. al. Analytical performance and clinical
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GOAD, K. E.; GRALNICK H. R. Coagulation disorders in cancer.
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171
PERFIL DE MARCADORES TUMORAIS E SUA CORRELAÇÃO COM
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS
HEMOCLIN LABORATÓRIO. Hemog - hemograma com contagem de
plaquetas ou frações (eritograma, leucograma, plaquetas). Disponível em:
http://www.hemoclinpb.com.br/#informacoes. Acesso em: 05/02/2017.
HERMES PARDINI LABORATÓRIO. Help de exames: CA15-3. Disponível
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http://www.labhpardini.com.br/scripts/mgwms32.dll?MGWLPN=HPHOSTB
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SILVA, D. M. Aspectos clínicos e hematológicos de cadelas com
neoplasias mamárias. Universidade Federal do Paraná, 2012.

172
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
CAPÍTULO 9

POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS


ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
Renan Marinho BRAGA1
Humberto de Carvalho ARAGÃO NETO2
Diogo Vilar FONSÊCA3
Reinaldo Nóbrega de Almeida4
1
Doutorando em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos/UFPB;2Graduando de
Farmácia/UFPB;3Docente de Medicina/UNIVASF; 4 Docente do DFP/UFPB.
renan_braga123@hotmail.com

RESUMO:A dor é uma experiência sensorial e emocional


desagradável associada ao dano tecidual real ou potencial.
Embora a origem da dor muitas vezes não esteja clara, sabe-
se que fatores físicos e psicológicos podem estar envolvidos.
A aromaterapia tem sido aplicada como um tratamento
complementar e alternativo para alívio de dores e redução de
estresse. Os óleos essenciais são substâncias voláteis
extraídos das plantas que, quando inalados, podem promover
o alívio através de mudanças na atividade cerebral,
especialmente quando ascende a regiões cerebrais
associadas à dor, como é o caso do sistema límbico. Diante
disso, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar e
discutir alguns aspectos relacionados ao uso de óleos
essenciais na clínica médica e sua eficácia na terapêutica das
principais condições dolorosas. A revisão foi feita por meio de
uma pesquisa bibliográfica realizada em maio de 2017, que
incluiu artigos publicados entre os anos de 2012 a 2017. Esta
pesquisa bibliográfica empregou a base de dados do PubMed,
utilizando os seguintes descritores: inflammatory, essentialoil,
clinical e pain. Os artigos selecionados foram baseados nos
seguintes critérios de inclusão: artigos publicados em inglês e
173
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
artigos com palavras-chave no título, resumo ou texto integral.
Os resultados obtidos nestes estudos reforçam o potencial
analgésico dos óleos essenciais que têm destaque entre os
produtos naturais de origem vegetal no tratamento de diversas
condições dolorosas.
Palavras-chave: Aromaterapia. Dor. Óleos essenciais.

1 INTRODUÇÃO

A dor é definida como uma experiência sensorial ou


emocional desagradável vezes, para o diagnóstico de diversas
doenças, a dor é associada a um dano tecidual real ou
potencial. Muitas o único ou principal sintoma, fazendo-se
necessário o uso de alternativas farmacológicas capazes de
amenizar a mesma. Ao longo da história vêm-se buscando
inúmeras formas de terapia para promover o alívio da dor,
entre as quais as plantas medicinais ganham destaque devido
seu uso na cultura popular (SARMENTO NETO, 2015).
Os óleos essenciais (OE) extraídos das plantas são
misturas altamente concentradas de constituintes químicos,
entre os quais encontram-se em sua maioria monoterpenos,
sesquiterpenos e fenilpropanóides. Estudos envolvendo OE
extraídos de diferentes plantas demonstram seu potencial
farmacológico, seja pela ação isolada de um de seus
constituintes químicos, ou pelo efeito sinérgico entre eles. As
propriedades farmacológicas apresentadas pelos OE que
ganham destaque envolvem atividade antimicrobiana,
antivonculsivante, ansiolítica, hipnótica e analgésica
(SARMENTO NETO, 2015).

174
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
O odor agradável e a volatilidade são características
marcantes dos OE e por isso, são comumente administrados
pela via inalatória.
A aromaterapia refere-se ao uso medicinal ou
terapêutico de OE, absorvidos através da pele ou sistema
olfativo. Sua aplicação mostrou crescimento como uma
alternativa complementar e alternativa para o alívio da dor,
redução do estresse e promoção de relaxamento, gerando
bem-estar (LAKHAM, 2016).
Na clínica, a aromaterapia tem sido utilizada para
reduzir a dor e suas associações desagradáveis. Apesar de
estudos demostrarem a efetividade da aromaterapia no alívio
da dor, pouco se sabe sobre os mecanismos subjacentes a
esse efeito (MASAOKA, 2013).
Vários são os fatores podem estar envolvidos no efeito
analgésico da aromaterapia. O próprio odor pode promover o
alívio através de mudanças na atividade cerebral,
especialmente quando ascende a regiões cerebrais
associadas à dor, como é o caso do sistema límbico. Outro
fator é que este efeito pode estar associado às mudanças nos
padrões respiratórios pela estimulação do odor, pois como sua
percepção depende da inspiração, cada inspiração transporta
moléculas que chegam ao nervo olfatório e ativa áreas
límbicas olfatórias. Ainda há a possibilidade deste efeito
analgésico estar associado ao efeito placebo gerado pela
aromaterapia (MASAOKA, 2013).
Diante disso, o presente trabalho tem o objetivo de
discutir alguns aspectos relacionados ao uso de óleos
essenciais na clínica médica e sua eficácia na terapêutica das
principais condições dolorosas.

175
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
2 MATERIAIS E MÉTODO

A revisão bibliográfica foi feita por meio de uma


pesquisa bibliográfica realizada em maio de 2017, que incluiu
artigos publicados entre os anos de 2012 a 2017. Esta
pesquisa bibliográfica empregou a base de dados do PubMed,
utilizando os seguintes descritores: inflammation, essential oil,
clinical e pain. Os artigos selecionados foram baseados nos
seguintes critérios de inclusão: artigos publicados em inglês e
artigos com palavras-chave no título, resumo ou texto integral.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 Dismenorreia

A dismenorreia, um dos distúrbios ginecológicos mais


comuns, afeta mais da metade das mulheres. Ela é definida
como uma dor pélvica diretamente relacionada à menstruação,
capaz de interferir nas atividades diárias.
O tratamento da dor menstrual ou dismenorreia com
aromaterapia é geralmente realizado combinado com
massagem, mostrando ser uma alternativa segura e eficaz.
Em um estudo comparativo, foi visto que as pacientes
do grupo de massagem da aromaterapia apresentou maior
redução da dor após 24 horas, quando comparado ao grupo
controle, que foi tratado com acetominofeno, um analgésico
oral comumente utilizado para o controle da dor. Este
resultado suporta descobertas anteriores de que a massagem
e aromaterapia aliviam a dor menstrual em comparação com o
controle placebo (HUR, 2012).

176
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
Em outro estudo clínico, a investigação do efeito da
aromaterapia em 75 voluntárias com dismenorreia primária,
divididas em três grupos, um recebeu massagem com óleo de
rosas, outro com óleo de amêndoa sem perfume, e o último
recebeu apenas massagem, sem nenhum óleo. No primeiro
ciclo do estudo clínico foi observado redução da dor, porém a
análise estatística não exibiu diferença significativa entre os
grupos, mostrando que a massoterapia por si só é capaz de
promover um efeito considerável no alívio da dor menstrual. Já
no segundo ciclo, apenas as voluntárias do grupo que recebeu
massagem com óleo de rosas apresentaram controle
significativo da dor, sugerindo que o óleo de rosas promoveu a
diferença em termos de alívio da dor, quando comparados os
três grupos (SHAHR, 2015).
Estes achados apontam que aromaterapia pode ser
efetiva em aliviar a dor menstrual.

 Dor crônica

A dor crônica é um constante problema de saúde para


pessoas idosas, sua prevalência aumenta com a idade
(HELME; GIBSON, 2001). A dor crônica é multidimensional,
complexa, persistente e pode ou não estar associada a uma
doença (FLOR; TURK, 2011).
O manejo da dor crônica é um problema clínico difícil
que necessita de estratégias interdisciplinares, farmacológicas
e não farmacológicas. Em estudo realizado por Metin e
Ozdemir (2016), mostrou-se uma redução nos escores de dor
e fadiga em pacientes com artrite reumatoide tratados com
massagem aromática quando comparados ao grupo controle.
O óleo essencial utilizado na massagem era uma mistura de

177
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
5% de Lavandula augustifolia, Juniperus communis, Cananga
odorata e Rosmarinus officinalis numa proporção de 3:3:2:2
em 100 mL de óleo de coco utilizado como veículo (BUCKLE,
1999; CHANG, 2008). Semelhante aos resultados obtidos por
Metin e Ozdemir (2016), a massagem aromática aplicada a
portadores de artrite reumatoide, reduziu a dor em ensaios
clínicos realizados por Brownfield (1998), Kim et al. (2005) e
Han et al. (2010).
No entanto, em outro ensaio clínico de massagem
aromática com óleo essencial de lavanda, Centinkaya
eBasbakkal (2012) compararam dois grupos de bebês com
cólica, um grupo que recebeu massagem aromática e um
grupo que recebeu cuidados habituais (sem massagem): o
tempo médio de choro foi significativamente reduzido no grupo
que recebeu a massagem em comparação com o controle.
Outro estudo foi realizado para avaliar a eficácia do
creme de Ajwain tópico a 10% sobre a ardência nos pés de
pacientes que sofrem de dor neuropática através de um
ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por
placebo. Além disso, as complicações de alodinia,
entorpecimento e formigamento foram verificadas e
consideradas. O tamanho total da amostra do estudo foi
calculado em 92 participantes com idade entre 18 e 90 anos
(PETRAMFAR et al., 2016). Neste estudo, o creme de Ajwain
foi eficaz em pacientes neuropáticos que sofrem de ardência
nos pés. O timol, como precursor do mentol, é um dos
constituintes principais no óleo essencial de Ajwain
(ZARSHENAS et al., 2014). Portanto, o timol possui efeitos
analgésicos e as propriedades de resfriamento levam à
eficácia do creme de óleo essencial Ajwain 10% nas
complicações neuropáticas (PETRAMFAR et al., 2016).

178
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
 Dor lombar

A dor lombar crônica (DLC) é um problema de saúde


comum que atinge cerca de 80% das pessoas pelo menos
uma vez na vida.Em sua maioria a DLC é decorrente de
problemas ergonômicas no trabalho com capacidade de
prevenção primária (DRISCOLL et al., 2014). A DL está
associada a tarefas de trabalho fisicamente tensas, como
também, a problemas psicossociais (STERUD; TYNES, 2013).
O tratamento da DLC envolve terapias farmacológicas e,
principalmente, não farmacológicas que apresentam boa
eficácia (ASCHEet al., 2007; CHOU et al., 2007).
Segundo Sritoommaet al. (2014), a massagem suíça
contendo óleo essencial de gengibre em setenta pacientes
idosos com DLC por 6 e 15 semanas foi mais efetiva na
redução da dor quando comparado ao pacientes que
receberam apenas a massagem tradicional tailandesa.
 Dor oncológica

Pacientes com câncer apresentam muitos sintomas que


influenciam em sua qualidade de vida (WILCOCK et al., 2004).
Quase todos são afetados por dor, insônia, estresse e
depressão. A dor ocorre em até 70% dos pacientes com
câncer avançado (FALLON, 2006). O alívio da dor é vital para
o tratamento do câncer (CHEN et al., 2016).
As terapias alternativas vêm sendo usadas na redução
do desconforto dos pacientes com câncer. O uso de
massagem aromática como terapia adjuvante está se tornando
cada vez mais comum (VARKER et al., 2012). Segundo Chen
et al. (2016),os efeitos da aromoterapia nos pacientes com
câncer ainda eram controversos. Entretanto, Kwonget al.
(2017) sugerem que massagem aromática reduz ansiedade,
179
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
depressão, dor e melhora o bem-estar geral e a qualidade de
vida entre pacientes com câncer.Estas experiências estão em
conformidade com vários estudos prévios (BILLHULT et al.,
2007; DUNWOODY et al., 2002; OVAYOLU et al., 2014).
Em estudo realizado por Khiewkhernet al. 2013,
avaliou-se o efeito da aromaterapia com óleo de coco
contendo 0,05 mL de óleo de gengibre associada a massagem
Thai em pacientes com câncer colorretal em quimioterapia.
Eles descobriram que os escores de fadiga, dor e estresse
foram significativamente menores no grupo de massagem do
que nos pacientes controles que receberam apenas os
cuidados padrões.
Essas descobertas fornecem uma melhor compreensão
para os profissionais de saúde no ambito da oncologia, de
modo a fornecer recomendações adequadas baseadas em
evidências para ajudar os pacientes com câncer
(KHIEWKHERN et al., 2013).

 Dor no pós-operatório

A dor está entre os problemas mais comuns após a


cirurgia (JOSHI et al., 2013). Dor pós-operatória não aliviada,
além de criar medo nos pacientes cirúrgicos, causa impacto
psicológico sobre eles (OCHROCH & GOTTSCHALK, 2005).
Um dos principais objetivos da anestesia é reduzir a dor pós-
operatória. No entanto, muitas drogas, que são usadas para
este propósito, especialmente os opióides e os AINEs, têm
efeitos colaterais como distúrbios respiratórios, náuseas,
coceira e sangramento gastrointestinal (GUPTA et al., 2010).
Olapouret al.(2013) mostraram que após a inalação da
essência de lavanda, a dor pós-cesariana teve uma diminuição

180
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
significativa em comparação com o grupo placebo. Além disso,
a satisfação do paciente no grupo tratado com lavanda foi
significativamente maior que o grupo placebo. Essa satisfação
também foi relatada em pacientes obesos submetidos àbanda
gástrica ajustável por via laparoscópica (KIM et al., 2007),
pacientes submetidos a cirurgia de biópsia de mama (KIM et
al., 2006) e pacientes com dor perineal pós-parto
(MOHAMMADKHANI, 2009).Um estudo realizado por Soltani
et al. (2013) sugere que a aromaterapia com óleo essencial de
lavanda diminui a necessidade do uso de analgésicos após
amigdalectomia em pacientes pediátricos.
A episiotomia é a incisão cirúrgica perineal mais comum
no procedimento obstétrico (SHEIKHAN et al., 2012). A
aromaterapia também tem sido utilizada para melhorar a
cicatrização de episiotomia e aumentar o conforto do paciente
(BURNS et al. 2000; HUNT et al., 2004; CAVANGAH &
WILKINSON, 2002). Sheikhanet al. (2012) com óleo essencial
de lavanda e Marzouk et al. (2015) com 2% de óleo de
lavanda-timol sugerem que a aplicação no períneo após
episiotomia mostrou uma redução significativa no nível de dor
e inflamação em comparação com o grupo placebo.Logo,
essas formulações podem ser usadas como uma preparação
simples, adequada e segura para o processo de cicatrização
de feridas de episiotomia pós-parto e alívio da dor com poucos
ou nenhum efeito colateral.

 Dor renal

A cólica renal (CR) é uma condição freqüente e


severamente dolorosa, comumente causada pela obstrução do
trato urinário por cálculos. Apesar dos avanços farmacológicos

181
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
recentes, especialmente nos medicamentos anti-nociceptivos,
nenhum tratamento específico sem efeitos colaterais foi
identificado para aliviar esse tipo de dor (IRMAK et al., 2015).
A este respeito, a aplicação da aromaterapia pode ser
acompanhada das modalidades de tratamento convencionais,
tais como ant-iinflamatórios não esteróidais (AINEs) e
analgésicos opióides (STEVENSEN, 1995; AYAN et al., 2013).
Alguns achados preliminares de ensaios clínicos duplo-
cegos, randomizados e controlados por placebo (IRMAK et al.,
2015; AYAN et al., 2013) sugeriram que a aromaterapia pode
ser benéfica para aliviar a cólica e reduzir a necessidade de
agentes analgésicos intravenosos. Ayan et al., (2013)
investigaram o efeito do óleo essencial de rosa como uma
terapia complementar e adjuvante para o alívio CR.
Em outro estudo semelhante, Irmak et al. (2015)
avaliaram o efeito do óleo de lavanda como um tratamento
adjuvante da dor na cólica renal. Consistente com o estudo de
Ayan et al. (2013), eles descobriram que a aromaterapia reduz
significativamente a dor na cólica renal.
Considerando os potenciais benefícios da aromaterapia,
esta modalidade pode ser usada como uma opção analgésica
efetiva, barata e segura para o tratamento da dor na cólica
renal.

 Enxaqueca

A enxaqueca é uma desordem comum que incluem


dores de cabeça debilitantes, afetando significativamente a
vida dos pacientes. Os sintomas geralmente consistem em dor
de cabeça unilateral, muitas vezes pulsátil e presença de
outras queixas associadas, como fotofobia, náuseas, fonofobia

182
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
e aura(LIPTON et al., 2007). A prevalência de enxaqueca foi
de 17,6% das mulheres e 5,7% dos homens nos países
europeus e nos Estados Unidos (STEWART; SHECHTER;
RASMUSSEN, 1994).O tratamento da enxaqueca é um
grande desafio baseado nas condutas atuais (BACHUR;
MONUTEAUX; NEUMAN, 2015).
O efeito da inalação do óleo essencial de lavanda no
tratamento da enxaqueca foi estudado por meio de um ensaio
clínico controlado por placebo formado por quarenta e sete
pacientes diagnosticas com enxaqueca que foram divididos
em experimental e controle. Os resultados obtidos sugerem
que a inalação por quinze minutos do óleo de lavanda é
efetiva e seguro no tratamento agudo da enxaqueca
(SASANNEJADet al., 2012).

 Estomatite Aftosa Recorrente

A estomatite aftosa recorrente (EAR) é uma condição


dolorosa da mucosa oral com agentes etiológicos
desconhecidos que afeta até 20% da população (MAHBOUBI,
2016). Os sintomas são caracterizados por lesões recorrentes
ou crônicas na mucosa oral, dor durante a fala, alimentação e
deglutição, desconforto, comprometimento da ingestão de
alimentos e líquidos, podem afetar profundamente a qualidade
de vida dos pacientes (LLEWELLYN & WARNAKULASURIYA,
2003; TABOLLI et al., 2009).
As atuais modalidades de tratamento incluem
antibióticos, antiinflamatórios, imunomoduladores, anestesia,
cauterização e terapia a laser EAR (FIELD E ALLAN, 2003).
Os medicamentos de origem natural tornaram-se cada vez
mais populares entre os consumidores. Numa pesquisa
183
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
realizada por KÜRKLÜ-GÜRLEYEN et al. (2016) os agentes
naturais, tais como o óleo cítrico e os sais de magnésio, foram
incorporados em um bioadesivo, e demonstraram ter
propriedades antibacterianas e anti-inflamatórias quando
utilizadas em combinação para o tratamento da EAR.
De acordo com Mahboubi (2016), o óleo essencial de
Myrtus communis a uma concentração de 5% na forma de
solução ou pasta pode ser prescrito sem efeitos adversos
importantes para os pacientes com EAR. Os efeitos
antimicrobianos (antibacterianos, antivirais e anti-fúngico) da
M. communisdemonstraram capacidade de previnir infecções
secundárias na cavidade bucal.

 Osteoartrite

A osteoartrite (OA) é uma artrite degenerativa crônica


caracterizada por dor nas articulações, tontura, rigidez e graus
variáveis de inflamação local (PEREIRA; RAMOS; BRANCO,
2015). A OA afeta principalmente o joelho, sendo uma das
principais causas de incapacidade em idosos (SARRAFAN et
al., 2010). O tratamento da OA tem o objetivo de reduzir os
sintomas, principalmente, a dor por meio de recursos
farmacológicos e não farmacológicos, bem como intervenções
cirúrgicas (PARGANO, WESTRICH, 2005; KIM, 2006). Em
estudo clínico, randomizado, único-cego, realizado com 90
pacientes com osteoartrite no joelho, observou-se que a
mensagem com óleo de lavanda foi efetivo no alívio de dores.
Logo, esse método pode ser recomendado em virtude de sua
segurança e baixo custo (NASIRI; MAHMODI; NOBAKHT,
2016).

184
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
 Síndrome do intestino irritável

A síndrome do intestino irritável (SII) é uma desordem


gastrointestinal crônica caracterizada por presença de dor
abdominal, diarreia, constipação ou desconforto na ausência
de qualquer outra doença que possa causar esses sintomas.
Estima-se que afeta cerca de 7% a 21% da população global.
A qualidade de vida e a produtividade no trabalho podem ser
gravemente afetadas por está condição (CHEY; KURLANDER;
ESWARAN, 2015).
Em estudo randomizado, duplo-cego, controlado por
placebo com 121 pacientes de ambos os sexos que
receberam duas cápsulas por dia de uma mistura contendo
óleo essencial de Cúrcuma e Erva-doce durante 30 dias,
observou-se que esses nutracêuticos aliviaram as dores
abdominais e outros sintomas da SII, como também, foram
seguros e bem-tolerados (PORTINCASA et al., 2016).

 Procedimento doloroso

Em crianças com diabetes mellitus é necessário o


automonitoramento frequente dos níveis sanguíneos de
insulina por meio do teste da glicemia capilar que consiste na
perfuração cutânea com uma lanceta vária vezes ao dia. Para
os pacientes, especialmente crianças, essas múltiplas
punções cutâneas são tão dolorosas quanto à injeção de
insulina subcutânea no tratamento diário do diabetes (LEE,
1992).
A fim de tentar reduzir esse desconforto,
Małachowskaet al. (2016) avaliaram as propriedades
analgésicas dos óleos de laranja e lavanda durante o
automonitoramente da glicemia capilar (AGC) em 73 crianças
185
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
hospitalizadas com diabetes tipo 1 controlada. A intensidade
da dor foi avaliada por escala analógica visual e alterações na
frequência cardíaca basal (FCbasal). Um dispositivo de
aromaterapia foi usado para dispersar óleos essenciais nas
salasdurante o ACG. Os autores concluíram que a
aromoterapia com os dois óleos essenciais testados reduziram
a resposta autônoma frente ao estímulo doloroso, diminuindo
as alterações na FCbasal, mas não teve influência na
percepção de dor.

4 CONCLUSÕES

Os resultados obtidos nos estudos clínicos


evidenciados no presente trabalho reforçam o potencial
analgésico da aromaterapia em diversas condições dolorosas,
embora também possuam efeitos benéficos para outros
sintomas.A aromaterapia pode ser utilizada juntamente com os
tratamentos convencionais para manejo da dor, uma vez que
não foi relatado na literatura nenhum efeito adverso grave,
além de ser uma intervenção simples, barata e não invasiva.
São necessários mais estudos para melhor esclarecer os
efeitos clínicos dos óleos essenciais e suas interações
medicamentosas com os fármacos utilizados nos tratamentos
convencionais da dor.

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190
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
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191
POTENCIAL CLÍNICO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA TERAPÊUTICA DE
DIVERSAS CONDIÇÕES DOLOROSAS
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192
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
CAPÍTULO 10

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E
ENTEROCOMENSAIS EM HABITANTES DO
ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
Brenda Tamires de Medeiros LIMA1
Edson Douglas Silva PONTES 2
Thiago Willame Barbosa ALVES1
Francisco Patricio de ANDRADE JÚNIOR1
Vanessa Santos de Arruda Barbosa3,4
1
Graduandos do curso de Farmácia, UFCG; 2 Granduando do curso de Nutrição, UFCG; 3
Professora do CES/ UFCG; 4 Orientadora/Professora do CES/UFCG.
vanessabarbosa@ufcg.edu.br

RESUMO: As enteroparasitoses são um problema de saúde


pública que se mantém presente na realidade brasileira, sendo
sua prevalência diretamente relacionada a fatores sociais,
como saneamento e educação sanitária. Nesse contexto, o
presente estudo objetivou fazer uma revisão de literatura
acerca da prevalência de enteroparasitos e enterocomensais
em habitantes da Paraíba, visando-se obter um paranorama
da distribuição de parasitados pelo estado. Trata-se de uma
revisão narrativa da literatura, na qual foi realizada a busca de
estudos publicados nos bancos de dados das bases Lilacs,
Scielo e Google Acadêmico no período de 2013 a 2017.
Foram analisados 340 documentos, dos quais foram
selecionados 8 artigos por atenderem ao objetivo do estudo. A
partir dos resultados pode-se perceber dentre as populações
analisadas, maiores prevalências nas cidades de João Pessoa
(59,2%) e Patos (52,5%), ao passo em que as prevalências
das demais cidades variaram entre 29% e 50%. Entre os

193
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
parasitos e enterocomensais mais frequentes estão Ascaris
lumbricoides, Giardia lamblia, Entamoeba coli, Endolimax
nana, Thrichuris trichiura e Entamoeba histolytica/Entamoeba
dispar. Entretanto apenas cinco cidades paraibanas estão
contempladas neste estudo, o que torna difícil obter um
panorama fidedigno da distribuição de enteroparasitos e
enterocomensais pelo Estado. Sendo assim, ressalta-se a
importância e necessidade de realização de estudos
abrangendo mais cidades, bem como a realização de medidas
sanitárias e educativas no sentido da prevenção de
enteroparasitoses.
Palavras-chave: Enteroparasitoses. Parasitos intestinais.
Saúde Pública.

1 INTRODUÇÃO

As parasitoses intestinais são as doenças mais


frequentes do planeta, sendo a elas associados quadros
clínicos que estão diretamente relacionados com o estado
nutricional do hospedeiro, bem como a carga parasitária. Em
contrapartida, é possível destacar os principais sintomas, que
são, as cólicas abdominais, vômitos, anemia, perda de peso,
apendicite aguda, fraqueza e cansaço (BRASIL, 2013).
Sua distribuição é cosmopolita, entretanto, são mais
frequentes em regiões onde as condições de saneamento e de
educação sanitária se mostram deficientes (VALADARES;
FONSECA; WELTER, 2014), o que faz-se atentar para o
importante problema de saúde pública que constituem,
sobretudo em países em desenvolvimento, como o Brasil
(CUNHA; AMICHI, 2014).

194
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
O elevado índice de enteroparasitoses pode ser
entendido como o reflexo de diversos fatores que se prologam
pelo decorrer do tempo e que conferem dificuldade na
resolução de seu quadro, como por exemplo, as melhorias
sanitárias e sociais, as quais envolvem emprego, renda e
educação (FERRAZ et al., 2014).
Outro fator relevante que eleva o risco de infestação por
enteroparasitas se baseia na inexistência de uma destinação e
tratamento adequado do lixo urbano, considerado um dos
maiores problemas ambientais principalmente em relação à
quantidade e destino do lixo (FERREIRA et al., 2013).
As parasitoses intestinais destacam-se dentro do grupo
de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs)(DUFLOTH et
al., 2013), ao passo em que estudos revelam que
frequentemente parasitos contaminantes são encontrados em
alimentos, sobretudo em hortaliças, servindo assim, como
potencial veículo na transmissão de parasitos intestinais
(VIEIRA et al., 2013; FERNANDES et al., 2015; JUNG et al.,
2014).
Logo, torna-se de suma impotância a implementação de
ações educativas destinadas aos produtores e manipuladores
dos alimentos, bem como o monitoramento laboratorial das
águas utilizadas e atenção a lavagem associada à desinfecção
das hortaliças consumidas in natura, antes do consumo, com o
intuito de minimizar os riscos de transmissão de
enteroparasitoses, visto que a lavagem simples não reduz a
contaminação por cistos dos protozoários (COSTANTIN;
GELATTI; SANTOS, 2013).
Estima-se, que mundialmente, aproximadamente 25%
das doenças infeciosas sejam ocasionadas por
enteroparasitos, sendo frequentemente comuns em países

195
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
mais pobres, ao passo em que contribuem com cerca de
200.000 mortes por ano (KUBIAK et al., 2016)
Diversos impactos na saúde de uma determinada
população acometida estão atrelados a ocorrência de
parasitoses, entre eles a má nutrição, que se destaca em
crianças com idade escolar, propiciando dificuldade no
aprendizado e no desenvolvimento físico. Se comparadas aos
adultos, as crianças apresentam maiores chances de serem
acometidas por infecções, isto pelo fato de serem mais ativas
fisicamente, por raramente adotarem bons hábitos de higiene
e por terem um sistema imunológico não desenvolvido
completamente (KUBIAK et al., 2016).
Portanto, levando-se em consideração o problema de
saúde pública que é caracterizado pela ocorrência de
enteropasitoses, sobretudo, por sua íntima relação com as
condições sanitárias de uma determinada população, no
presente estudo objetivou-se fazer uma revisão narrativa
acerca da prevalência de enteroparasitos e enterocomensais
em habitantes da Paraíba, visando a obtenção de um
paranorama da distribuição de parasitados pelo estado.

2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Delineamento do estudo

O presente trabalho trata-se de uma revisão narrativa


da literatura acerca da prevalência de enteroparasitoses nos
habitantes do estado da Paraíba. Para tanto, foi realizada a
busca de estudos publicados nas línguas portuguesa e
inglesa, utilizando-se os seguintes descritores: (1)
Enteroparasitoses, (2) Parasitoses Intestinais, (3) Paraíba, (4)

196
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
Enteroparasites e (5) Intestinal Parasitosis, de forma que a
busca se deu com os descritores isolados e combinados.
Durante a busca inicial foram encontrados 340
documentos sobre o tema. Destes, um total de 50 documentos
foram pré-selecionados, dos quais apenas, 8 artigos foram
escolhidos definitivamente para compor os resultados do
presente estudo por atenderem aos critérios de inclusão.
Depois de realizadas as buscas e selecionados os
artigos, os dados foram apresentados de forma narrativa e
discutidos com base em outras pesquisas publicadas.

2.2 Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos no estudo artigos originais de pesquisa


ou documentais realizados em quaisquer uma das cidades
paraibanas que compreendessem a temática pretendida
Os critérios de exclusão adotados foram: trabalhos de
conclusão de curso, artigos publicados fora do período de
2013 a 2017, artigos com abordagem em outros estados e
artigos que não atendiam ao objetivo do estudo.

2.3 Fontes de Informação

Os artigos foram provenientes dos bancos de dados


das bases Lilacs (Centro América Latina e Caribe em Ciências
da Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e Google
Acadêmico no período de 2013 a 2017.

197
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a estruturação do presente trabalho foram


analisados um total de 340 documentos, dos quais selecionou-
se somente 8 artigos por condizerem com os critérios de
inclusão pré-estabelecidos. Na tabela (1) pode-se observar a
prevalência de enteroparasitoses em algumas cidades da
Paraíba, de acordo com os resultados apresentados nos
artigos selecionados.

Tabela 1. Prevalência de enteroparasitoses em cidades do


estado da Paraíba entre 2013 e 2017.
Autor Cidade Tipo de População População
População Estudada Infectada
Rodrigues; Patos Crianças 80 42
Carneiro; entre 5-12 (52,5%)
Athayde (2013) anos de
escolas
públicas e
privadas

Oliveira; Silva; Campina Dados do 558 171


Medeiros (2014) Grande Laboratório (30,7%)
de Análises
Clínicas da
UEPB

Cavalcante et João Pacientes 135 80


al. (2016) Pessoa do Hospital (59,2%)
Lauro
Wanderley

Melo et al. João Pacientes 34 17


(2016) Pessoa do Hospital (50%)

198
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
Lauro
Wanderley

Almeida; Silva; Campina Idosos 102 31


Medeiros (2014) Grande atendidos (30,4%)
pelo
Laboratório
de Análises
Clínicas da
UEPB

Cavalcante et João Pacientes 40 20


al. (2016) Pessoa do Hospital (50%)
Lauro
Wanderley

Lima et al. Pombal Dados do 3144 911


(2016) Laboratório (29%)
da Unidade
de Saúde
Dr. Avelino
Queiroga

Lima et al. Santa Dados do 1000 300 (30%)


(2016) Luzia Laboratório
do Hospital
Sinha
Carneiro
Fonte: Autores.

Nos mais diversos municípios do Brasil em que foram


realizados estudos semelhantes, é possível observar valores
de prevalência a respeito de enteroparasitoses bem diferentes,
o que pode refletir as condições sanitárias as quais

199
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
determinadas populações estão expostas. Nos municípios de
Novo Hamburbo- RS e Ariquemes- RO foram encontrados
valores menores, 15,6% e 23,6%, respectivamente, já em
Altamira- PA, observou-se uma prevalência maior, de 41,2%
(SÁ, 2015; BAPTISTA; RAMOS; SANTOS, 2013; LUDWIG et
al., 2016).
Em contrapartida, ressalta-se que a contaminação por
enteroparasitos pode ser facilitada diante de precárias
condições higiênicas, entre elas a falta de uma higienização
correta das mãos, bem como de alimentos, ao passo em que a
contaminação fecal-oral ainda é considerada a principal
maneira de disseminação de enteroparasitos (FERNANDES et
al., 2014).
Neste sentido, tendo como objeto de estudo
manipuladores de alimentos, realizou-se uma pesquisa em
Unidades de Alimentação e Nutrição de escolas públicas
municipais do ensino fundamental em Parnaíba- PI, onde se
observou uma prevalência de 38,7%, enquanto que houve a
predominância dos helmintos A. lumbricoides (35,5%), A.
duodenale (3,2%) e Hymenolepis sp (3,2%) (LOPES, 2016).
É importante salientar que manipuladores de alimentos
que estejam contaminados e não adotem procedimentos
higiênico-sanitários adequados podem disseminar os
enteroparasitos em vários momentos do manejo com
alimentos, como na própria produção, no transporte,
armazenamento, entre outros (SILVA et al., 2015).
Na figura (1), observa-se a distribuição de municípios
em que as pesquisas foram realizadas no período de 2013 a
2017.

200
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
Figura 1. Localização dos municípios paraibanos
contemplados com pesquisas de enteroparasitoses entre 2013
e 2017.

Fonte: Adaptado de LIMA et al., 2016.

No quadro (1), são apresentados os métodos de


diagnósticos parasitológicos utilizados pelos autores, enquanto
o quadro (2) refere aos parasitos e comensais identificados
nas pesquisas.

Quadro 1. Métodos de diagnóstico parasitológicos utilizados


nas pesquisas de 2013-2017.
Autor Métodos de diagnóstico
parasitológico
Rodrigues; Carneiro; Hoffman, Pons e Janer; Willis-
Athayde (2013) Mollay.

Oliveira; Silva; Medeiros Não mencionado


201
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
(2014)

Cavalcante et al. (2016) Não mencionado

Melo et al. (2016) Hoffman e Kato-Katz

Almeida; Silva; Medeiros Não mencionado


(2014)

Cavalcante et al. (2016) Não mencionado

Lima et al. (2016) Hoffman, Pons e Janer

Lima et al. (2016) Hoffman, Pons e Janer

Fonte: Autores.

Quadro 2. Parasitos e comensais encontrados nas pesquisas


de 2013-2017.
Autor Parasitos e comensais
encontrados
Rodrigues; Carneiro; Taenia sp (38%) , Ascaris
Athayde (2013) lumbricoides (56%), Giardia
lamblia (46%), Trichuris trichiura
(44%).

Oliveira; Silva; Medeiros Endolimax nana (28,9%),


(2014) Entamoeba coli (28,2%),
Entamoeba histolytica/E. dispar
(19,6%) e Giardia lamblia
(12,5%), Ascaris lumbricoides
202
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
(4,3%), Trichuris trichiura (0,35%)
e Strongyloides stercoralis (1%),
Iodamoeba butschlii (1,8%),
Blastocystis hominis (3,2%).

Cavalcante et al. (2016) A. lumbricoides (28,7%), G.


lamblia (25%), E. nana (18,7 %),
E. coli (12,5 %), I. butschlii
(3,7%), E. histolytica/ E. dispar
(3,7%), S. stercoralis (2,5%),
Ancilostomídeos (2,5%), S.
mansoni (1,2%) e T. trichiura
(1,2%).

Melo et al. (2016) Helmintos (66,6%), S. mansoni


(27,8%), Ancylostomatidae
(16,7%), A. lumbricoides
(11,1%), T. trichiura (5,5%), S.
stercoralis (5,5%), Protozoa
(33,4%), E. nana (22,4%), E. coli
(5,5%) e E. histolytica/E. dispar
(5,5%).

Almeida; Silva; Medeiros E. coli (30,4%), E. nana (28,3%),


(2014) E. histolytica (26,1%), G. lamblia
(13,0 %) e B. hominis (2,2%).

Cavalcante et al. (2016) E. nana(40%), E. coli (25%), A.


lumbricoides (10%),
Ancylostomidae (10%), E. coli
(5%), E. nana (5%), S.

203
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
stercoralis (5%), E. coli (5%), E.
histolytica/E. dispar (5%) e I.
butschlii (5%).

E. coli (34,1%), E. nana (35,7%),


Lima et al. (2016) E. histolytica (15,3%), G. lamblia
(9,9%), I. butschlii (4 %), A.
lumbricoides (0,14%), H. nana
(0,29%), S. mansoni (0,07%), E.
vermiculares (0,07%),
Ancilostomídeos (0,14%), T.
trichiura (0,14%) e S. stercoralis
(0,07%).

E. nana (33%), E. coli (33%), E.


Lima et al. (2016) histolytica (27%), G. lamblia (3%),
I. butschlii (2%), E. vermiculares
(1%), A. lumbricoides (1%).

Fonte: Autores.

Outro estudo realizado em Campina Grande,


envolvendo indivíduos de diversas faixas etárias e de ambos
os sexos, que foram atendidos pelo Laboratório de Análises
Clínicas do curso de Farmácia da Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB), constatou-se que de um universo de 558
protocolos analisados, 30,7% (n=171) foram positivos para
enteroparasitos, dentre os mais frequentes estavam E. nana
(28,9%), E. coli (28,2%), E. histolytica/E. díspar (19,64%) e

204
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
Giardia lamblia (12,5%) (OLIVEIRA; SILVA; MEDEIROS,
2014).
Trabalho semelhante foi feito no Laboratório de
Análises Clínicas do curso de Farmácia da UEPB em Campina
Grande, entretanto, o objetivo foi identificar a presença de
enteroparasitos em idosos. Desta maneira, foi possível
identificar, dentro de uma amostra de 102 pacientes, 30,4%
possuíram resultados positivos para enteroparasitoses, sendo
35,5% do sexo masculino e 64,5% feminino (ALMEIDA;
SILVA; MEDEIROS, 2014).
Na literatura são relatados outros casos de alta
prevalência de enteroparasitoses em idosos, como em um
estudo realizado em Santa Cruz-PR, onde a prevalência foi de
39,6% e outro no município de Aiquara- BA com uma
prevalência de 30,5% (SAMPIETRO et al., 2013; SANTOS,
2017) inclusive, relacionado aqueles que vivem em instituições
de longa permanência. Para tanto, tais resultados podem
evidenciar as condições sanitárias as quais estas populações
estão expostas. Desta forma, é necessário assegurar uma
atenção integral à saúde, prevenindo, sobretudo, as infecções
parasitárias por meio de medidas sanitárias e educacionais
(LARRÉ et al., 2015).
Por outro lado, também pode-se observar realidades
diferentes, como em um estudo realizado em Porto Alegre-
RS, em que foram avaliados 581 idosos e a prevalência de
enteroparasitoses foi de 10,8% (ENGROFF, 2014).
No intuito de traçar o perfil de pacientes e os fatores
relacionados à enteroparasitoses realizou-se um estudo caso-
controle sobre enteroparasitoses, no qual estas foram
identificadas em pacientes atendidos no ambulatório de
Gastroenterologia do Hospital Universitário Lauro

205
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
Wanderley/HULW em João Pessoa/PB. Foram analisados 34
prontuários, em que se observou uma prevalência de 50%, ao
passo em que as mulheres foram as mais parasitadas e a
faixa etária média foi de 56 anos (MELO et al., 2016).
Em Hospitais Universitários de Pelotas- RS foi realizada
uma pesquisa com pacientes internados em unidades
pediátricas, em que se pôde constatar uma prevalência de
32,1% de resultados positivos para enteroparasitos, de um
universo de 106 pacientes avaliados, estando dentre os
helmintos mais frequentes T. trichiura (38,4%) e A.
lumbricoides (35,3%), e G. lamblia (14,7%) como o protozoário
mais frequente (ALMEIDA, 2013).
No município de Patos- PB objetivou-se descrever o
perfil das infecções por helmintos gastrintestinais em crianças
do ensino fundamental, sendo que as crianças do ensino
fundamental público apresentaram infecção severa por Taenia
ssp e A. lumbricoides, enquanto as crianças do privado
apresentaram infecção por G. lambia, Taenia ssp e Trichuris
trichiura, sendo a prevalência total de 52,5 % (RODRIGUES,
CARNEIRO, ATHAYDE, 2013).
Resultado semelhante foi observado em um estudo com
o intuito de determinar os aspectos clínico-epidemiológicos
das enteroparasitoses em escolares do município de
Parnaíba- PI, em que se revelou uma prevalência de 62%,
sendo a faixa etária entre 8 e 10 a mais acometida, bem como
queles estudantes do 3º ao 4º ano do fundamental (MELO et
al., 2014).
Já em creches de Santo Angêlo-RS observou-se uma
prevalência de enteroparasitoses de 18%, mostrando também
que a prevalência é maior em creches públicas (16%), se

206
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
comparadas as creches particulares que apresentaram
prevalência de 2% (ANTUNES; LIBARDONI, 2017).
Cavalcante e colaboradores em um estudo realizado no
Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário
Lauro Wanderley (HULW) em João Pessoa encontraram uma
prevalência de enteroparasitoses de 59,2 %, em que 70%
apresentavam formas patogênicas e 30 formas comensais
(CAVALCANTE et al., 2016).
Um estudo realizado em um Laboratório de Análises
Clínicas privado em Ubiratã- PR, direcionado a crianças em
idade escolar, encontrou uma prevalência de parasitoses
intestinais de 24,56%, sendo que as espécies de parasitas
mais encontradas foram Entamoeba coli 4,0%, sendo com
maior frequência cistos de Giardia lamblia 5,3% e ovos de
Ascaris lumbricoides 5,26% (MIOTTO et al., 2014).
Em Pombal-PB a prevalência obtida na amostra
estudada foi de 29%, em que Endolimax nana foi o protozoário
mais comum com 35,7% e Hymenolepis nana com 0,3% entre
os helmintos (LIMA et al., 2016). Já em Santa Luzia- PB o
parasita E. nana se apresentou em 33% dos casos e entre os
helmintos mais frequentes destaca-se o Enterobius
vermicularis com 1% do casos (LIMA et al., 2016).
Em contrapartida, uma pesquisa realizada no intuito de
se obter a frequência de parasitos intestinais presentes em
pacientes atendidos em um laboratório público e outro privado
de Duque de Caxias- RJ revelou uma prevalência de 42%, ao
passo em que os parasitos mais frequentes foram G. lamblia
(22%), E. nana (19,6%), A. lumbricoides (15,4%) e E. coli
(13%) (SANTOS; RODRIGUES, CARDOZO, 2014).

207
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
4 CONCLUSÕES

Diante dos resultados apresentados constata-se que o


assunto em questão é pouco estudado, devido ao número de
publicações encontradas. Dos 223 municípios existentes na
Paraíba, apenas Santa Luzia, Patos, Pombal, Campina
Grande e João Pessoa foram cenários de pesquisas.
Com relação as cidades de João Pessoa e Campina
Grande encontrou-se um maior número de artigos publicados,
com três e dois artigos, respectivamente. A maioria dos
estudos foram realizados com a técnica de sedimentação
espontânea. As maiores prevalências foram observadas em
João pessoa (59,2%) e em Patos com 52,5%, o que se faz
atentar para as condições sanitárias e ou higiênicas as quais
estas populações estão submetidas.
Nas demais localidades as prevalências variaram entre
29% e 50%, não deixando de ser valores expressivos. Já os
enteroparasitos e enterocomensais mais frequentes foram: A
lumbricoides, G. lamblia, E. coli, E. nana, T. trichiura e E.
histolytica/dispar.
Neste sentido, surge a necessidade de melhorias nas
condições sanitárias destas populações, bem como a
realização de ações educativas que visem a prevenção de
enteroparasitoses. Ademais, ressalta-se que a grande maioria
dos municípios paraibanos não foram alvo de pesquisas, logo,
a situação do estado como um todo torna-se obscura, o que
ressalta a necessidade de pesquisas mais abrangentes pelo
estado.

208
PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS E ENTEROCOMENSAIS EM
HABITANTES DO ESTADO DA PARAÍBA: UMA REVISÃO
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212
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
CAPÍTULO 11

PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA
LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS

Caroline Guimarães da Fonseca CHIECO1


Pedro Antônio Almeida AGUIAR 1
Anekécia Lauro da SILVA²
Diogo Vilar da FONSECA2
1
Graduandos do curso de Medicina, UNIVASF; 2 Orientadores/Professores da UNIVASF.
carolchieco_@hotmail.com

RESUMO: A liraglutida é um análogo do peptídeo semelhante


ao glucagon 1 de ação prolongada, que age estimulando a
secreção de insulina dependente da glicose e a expressão do
gene da insulina em células β pancreáticas sem causar
hipoglicemia, sendo, portanto, amplamente utilizada na terapia
farmacológica em pacientes com diabetes melittus tipo 2. Além
disso, há recentes evidências promissoras sobre a atividade
anti-inflamatória e imunomoduladora desse análogo. Portanto,
o presente estudo tem como objetivo revisar na literatura as
propriedades anti-inflamatórias da liraglutida em estudos
experimentais e clínicos. Foi realizada uma revisão, na base
de dados Pubmed, sendo encontrados 34 artigos, publicados
entre os anos de 2012 a 2017, que versavam sobre a
temática. Desses, três foram excluídos por se tratarem de
assuntos além do objetivo proposto. A partir da pesquisa
realizada, foi possível observar uma ampla gama de atividades
anti-inflamatórias da liraglutida, além de sua função
imunomoduladora, anti-oxidante, anti-apoptótica e
neuroprotetora, em várias doenças associadas à inflamação.
Sendo, portanto, efetiva na redução da disfunção endotelial,
213
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
aterosclerose, inflamação gerada na obesidade e no diabetes
mellitus tipo 2, nefropatia diabética, lesões pulmonares
agudas, bem como na redução e proteção de várias condições
que envolvem neuroinflamação. Desse modo, a terapia com
liraglutida, se mostra como um promissor potencial terapêutico
em uma ampla gama de doenças.
Palavras-chave: Anti-inflamatória. Liraglutida. GLP-1.

1 INTRODUÇÃO

O peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) é um


hormônio incretinal secretado pós-prandialmente pelas células
L intestinais (HOGAN et al., 2014). O GLP-1 é conhecido por
aumentar a liberação de insulina induzida pela glicose em
células β pancreáticas, suprimir a secreção de glucagon,
retardar o esvaziamento gástrico, aumentar a saciedade e
melhorar o controle glicêmico, além de preservar a
homeostase da glicose plasmática (EINBINDER et al., 2016;
GAO et al., 2015).
O receptor de GLP-1 (GLP-1R) é um receptor acoplado
à proteína G da classe B (LONG-SMITH et al., 2013). Em
mamíferos, o GLP-1R é expresso não só nas células
pancreáticas, mas também em outros órgãos importantes,
incluindo pulmões, rins, cardiomiócitos atriais, linfócitos e
cérebro, o que implica uma ampla gama de funções extra-
pancreáticas (ZHU et al., 2016). No cérebro, a expressão de
GLP-1R foi detectada em células endoteliais, neurônios,
micróglia e astrócitos ativados (HOU et al., 2012).
O GLP-1 possui uma meia vida plasmática curta, de 1 a
2 minutos, devido à clivagem enzimática dos dois aminoácidos
N-terminais pela dipeptidil peptidase 4 (DPP-4) (KRASNER et

214
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
al., 2014; HOU et al., 2012). Metabólitos do GLP-1 são
considerados inativos sem ação significativa sobre o
metabolismo da glicose e sobre o GLP-1R (HOU et al., 2012).
Com o objetivo de preservar e aumentar o nível circulante de
GLP-1 foram desenvolvidos os inibidores de DPP-4, que
potencializam os hormônios incretinos, ampliando a meia-vida
do GLP-1 endógeno em duas a três vezes; e os análogos de
GLP-1 de ação prolongada (HOU et al., 2012; RIZZO et al.,
2013).
A liraglutida, um analógo do GLP-1 de ação prolongada,
possui homologia estrutural de 97% com o hormônio nativo,
mas diferem devido substituição do aminoácido Lys34 por Arg
e adição de um espaçador de ácido α-glutâmico acoplado a
um grupo de ácido graxo C16. A cadeia de ácidos graxos
permite a ligação reversível à albumina plasmática, levando a
diminuição da depuração e atividade farmacológica
prolongada, com meia-vida de 12 horas (HOU et al., 2012;
MCCLEAN et al., 2014; ZHOU et al., 2016).
A terapia com liraglutida é amplamente utilizada em
pacientes com diabetes melittus tipo 2, pois estimula a
secreção de insulina dependente da glicose e a expressão do
gene da insulina em células β pancreáticas sem causar
hipoglicemia (ZHU et al., 2016). Além disso, há evidências
promissoras sobre a atividade anti-inflamatória e
imunomoduladora da liraglutida, evidenciadas em diferentes
doenças associadas à inflamação em tecidos periféricos e
centrais (BADAWI et al., 2017).
A inflamação é uma resposta fisiológica que ocorre nos
tecidos vascularizados para defender o hospedeiro e manter a
homeostase. No início do processo, ocorre um estresse
oxidativo que induz a produção de citocinas pró-inflamatórias,

215
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
como IL-1β, IL-6 e TNF-α (EINBINDER et al., 2016). Esses
são responsáveis por iniciar e amplificar a inflamação,
ocorrendo, então, dilatação vascular, aumento da
permeabilidade dos capilares e aumento do fluxo sanguíneo.
O TNF-α também aumenta a expressão de moléculas de
adesão, como VCAM-1 e E-Selectina, que por sua vez
aumentam a adesão de monócitos. Além disso, é responsável
por ativar a via cGMP/ PKC, induzindo a fosforilação do fator
nuclear kappa B (NF-kB) e inibindo a expressão de óxido
nítrico sintase endotelial (eNOS) (DAI, 2013; LANGLOIS,
2016). A perda de resolução e a falta de retorno do tecido à
homeostase resultam em destruição mediada por neutrófilos e
inflamação crônica (FREIRE; DIKE, 2013).
Sabendo da importância da liraglutida frente ao
processo inflamatório, o presente estudo tem por objetivo
revisar na literatura a atividade anti-inflamatória da liraglutida,
um análogo do GLP-1, em modelos experimentais e clínicos.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão na literatura, realizada na base


de dados Pubmed. Para a pesquisa foram utilizas as seguintes
palavras chaves: anti-inflamatória, liraglutida, GLP-1. Foram
encontrados 34 artigos, entre os anos de 2012 a 2017, que
versavam sobre a temática. Desses, 3 foram excluídos por se
tratarem de assuntos além do objetivo proposto.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A liraglutida, análogo sintético do GLP-1 de ação


prolongada, possui funções semelhantes ao GLP-1 endógeno,

216
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
assim, potencializa a liberação pós-prandial de insulina, inibe a
secreção de glucagon, aumenta a saciedade e retarda o
esvaziamento gástrico (KRASNER et al., 2014; ZHOU et al.,
2016). É uma droga capaz de atravessar a barreira
hematoencefálica (ZHU et al, 2016), e ao contrário do GLP-1
endógeno, tem uma meia-vida plasmática mais longa (HAN et
al., 2016).
Nos últimos anos, vários análogos sintéticos do GLP-1,
incluindo a liraglutida, foram comercializados e são cada vez
mais utilizados para o tratamento de pacientes com diabetes
mellitus tipo 2 (DM2) (FAURSCHOU et al., 2014). No entanto,
há um crescente corpo de literatura descrevendo os efeitos
extra-pancreáticos do GLP-1 e seus análogos, incluindo um
papel emergente na inflamação e imunomodulação
(FAURSCHOU et al., 2014; HOGAN et al., 2014; ZHOU et al.,
2016).
Hogan et al. (2014) estudaram o efeito terapêutico dos
análogos de GLP-1 na inflamação induzida por células imunes
e na função do tecido adiposo em pacientes com DM2. A
inflamação crônica é um dos principais contribuintes para a
resistência à insulina relacionada a obesidade e o DM2. Os
macrófagos desempenham um papel distinto na resistência à
insulina induzida pela obesidade, causando inflamação do
tecido adiposo. Em indivíduos saudáveis, os macrófagos são
células M2 reguladoras que produzem citocinas anti-
inflamatórias, como interleucina-10 (IL-10). Na obesidade, os
macrófagos são polarizados para o fenótipo inflamatório M1,
produzindo citocinas pró-inflamatórias, como IL-1β, IL-6 e
TNF-α. Essas citocinas levam ao aumento da resistência à
insulina através de vários mecanismos, incluindo a ativação de
vias inflamatórias, entre outros. A terapia com análogos de

217
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
GLP-1 foi associada a uma redução na produção de citocinas
pró-inflamatórias, TNF-α, IL-1β e IL-6, reduzindo assim, a
inflamação no DM2. Esse efeito ocorre através da regulação
dos macrófagos, pois o GLP-1 aumenta o número de células
natural killer T invariantes (iNKT) circulantes, envolvidas na
regulação do macrófago e ativa as vias anti-inflamatórias
dentro da célula iNKT.
Nesse mesmo estudo de Hogan et al. (2014) foi visto
que o tecido adiposo é um dos principais contribuintes para a
inflamação causada pela obesidade. Os adipócitos atuam
através da produção de adipocinas, como adiponectina e
leptina. Em tecido adiposo saudável a adiponectina é
abundante, possuindo propriedades anti-inflamatórias e
insulinosensibilizantes por inibir a expressão, secreção e ação
do TNF-α, entretanto, em tecido adiposo obeso inflamado o
TNF-α suprime a transcrição, secreção e ação da adiponectina
e a leptina é aumentada, agravando assim a resistência à
insulina. A terapia com análogo de GLP-1 elevou a
adiponectina no soro e diminuiu a leptina, sugerindo uma
redução na inflamação do tecido adiposo (HAN, et al. 2016).
A adiponectina demonstrou desempenhar um papel
importante na patogênese da doença hepática gordurosa não
alcoólica induzida pela dieta (DHGNA) devido às suas
propriedades sensíveis à insulina, anti-fibrogênicas e anti-
inflamatórias por ação em hepatócitos, células estreladas
hepáticas e células de Kupffer, respectivamente (GAO et al.,
2015). A DHGNA está intimamente associada à resistência à
insulina e é considerada a manifestação hepática da síndrome
metabólica. Gao et al. (2015), a partir de estudos
experimentais, demonstraram um aumento no nível de
adiponectina no soro e no fígado de ratos após o tratamento

218
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
com liraglutida, o que melhorou a função hepática através da
inibição do estresse oxidativo e da resposta inflamatória no
fígado durante a DHGNA. Isso sugere fortemente que a
adiponectina pode estar envolvida nos efeitos antioxidantes e
anti-inflamatórios da liraglutida.
O acúmulo de gordura visceral está fortemente
associado à resistência à insulina, bem como à hipertensão,
dislipidemia e inflamação sistêmica crônica de baixo grau.
Fatores esses que desempenham um papel fundamental na
patogênese da aterosclerose, aumentando assim o risco de
doença cardiovascular (HIRANO et al., 2016; BOUCHI et al.,
2017). Um estudo clínico realizado por Bouchi et al. (2017)
revelou que a terapia com liraglutida reduziu a gordura
visceral, acarretando uma diminuição no acúmulo de gordura
hepática, albuminúria e micro-inflamação, contribuindo assim,
para uma redução de eventos cardiovasculares em pacientes
com DM2 e obesidade.
Vários estudos sugeriram que o tratamento com um
análogo do GLP-1, como a liraglutida, diminui o risco de
doença cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2
(KRASNER et al., 2014; NAKAMURA et al. 2014). A liraglutida
pode atuar inibindo a inflamação crônica nas células
endoteliais da aorta humana, evento iniciador da aterogênese.
Assim, Krasner et al. (2014) e Hirano et al. (2016) relataram
que a liraglutida diminui a expressão de moléculas de adesão,
como E-selectina e VCAM-1 induzidas por TNF-α e LPS,
consequentemente, diminuindo a adesão de monócitos ao
endotélio. Os resultados também mostraram que a liraglutida
produz esses efeitos aumentando o Ca2+ intracelular e,
secundariamente, ativando a via AMPK.

219
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
Além disso, a via dependente de AMPK é responsável
por inibir a ativação de NF-kB induzida pelo TNF-α (KRASNER
et al., 2014). Segundo Dai et al. (2013), a liraglutida reduz a
fosforilação de NF-κB e, consequentemente, sua translocação
do citoplasma para o núcleo. Essa é uma observação chave,
uma vez que a indução das moléculas de adesão celular
geralmente requerem NF-kB para transcrição. A expressão
desse fator nuclear é regulada pelo inibidor de kappa B alfa
(IκBα), que pode ter sua ação modulada pela liraglutida.
Krasner et al. (2014) descobriram que a liraglutida ativou o
AMPK e seu substrato eNOS. A ativação do eNOS pela AMPK
aumentou a síntese de NO, responsável por remover
superóxidos, induzir a vasodilatação e inibir a adesão aos
leucócitos. Assim, a ativação de AMPK pela liraglutida sugere
um mecanismo potencial para os efeitos anti-inflamatórios.
A liraglutida inibiu a ativação da via da proteína quinase
C (PKC), normalmente ativada pelo TNF-α e por produtos
finais da glicação avançada (AGEs) formados na hiperglicemia
de longa duração (SHIRAKI et al., 2012; BAO et al., 2015).
Em experimentos envolvendo células endoteliais da veia
umbilical humana (HUVECs) foi sugerido que a inibição da via
PKC pode ser o primeiro ponto em que a liraglutida bloqueia a
resposta inflamatória, principalmente através da inibição do
TNF-α. Com a inibição dessa via, ocorre a diminuição da
produção de NADPH e ROS em células endoteliais,
contribuindo para uma redução do estresse oxidativo,
amplamente implicado na geração de disfunção endotelial
(SHIRAKI et al., 2012; DAI et al., 2014).
Em HUVECs cultivadas em meio rico em glicose, foi
relatado que a liraglutida estimulou a expressão de GLP-1R,
que subsequentemente inibiu IκBα e NF-kB, suprimindo a

220
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
expressão de ET-1 e aumentando a expressão de eNOS. A
modulação de ET-1 e eNOS deverá levar à vasodilatação e
redução na liberação de IL-6 de células endoteliais, atenuando
a inflamação e aterosclerose (DAI et al. 2013) (Figura 1).

Figura 1. Mecanismo de alterações induzidas por GLP-1 na


disfunção endotelial e aterosclerose diabética.

Fonte: Adaptado Dai, 2013.

221
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
Em ratos endotoxêmicos a liraglutida também suprimiu
as vias inflamatórias induzidas por LPS, inibindo a indução e
ativação de iNOS, a ativação de leucócitos, a maturação de
células dendríticas e genes marcadores da inflamação,
melhorando, assim, a disfunção vascular e reduzindo o
estresse oxidativo (STEVEN et al., 2015).
A inativação da eNOS também foi considerado um
mecanismo que leva à nefropatia diabética, por prejudicar a
produção de NO e causar disfunção das células endoteliais
glomerulares (ZHOU, 2014). A via de sinalização de NF-kB
que regula a atividade de eNOS nas células endoteliais está
anormalmente ativada no rim diabético, podendo participar do
desenvolvimento da nefropatia via regulação da atividade de
eNOS nas células endoteliais glomerulares. A liraglutida
apresentou efeitos protetores na nefropatia diabética por
melhorar a atividade de eNOS e inibir a via NF-κB
independente da redução da glicose, mas sim pelo efeito anti-
inflamatório (DAI, et al., 2013; ZHOU et al., 2014).
Bisgaard et al. (2016) estudaram a ação da liraglutida
na redução da aterosclerose e inflamação renal em ratos
urêmicos. A doença renal crônica (DRC) leva à uremia e é
caracterizada por um aumento gradual de fibrose, inflamação
e perda de função renal, associada a um aumento progressivo
do risco de aterosclerose e morte cardiovascular. Assim, em
seus experimentos com ratos urêmicos, a terapia com
liraglutida se mostrou efetiva tanto na redução da
aterosclerose, quanto no fenótipo renal de inflamação e
fibrose, evidenciando assim uma nova opção terapêutica para
a DRC.
Em estudos experimentais sobre a função
hepatoprotetora da liraglutida em casos de lesão de isquemia-

222
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
reperfusão (IR) em ratos, Abdelsameea et al. (2017)
observaram que as espécies reativas de oxigênio e citocinas
pró-inflamatórias, incluindo o TNF-α, estão envolvidas em seu
mecanismo fisiopatológico. As células de kupffer são as
responsáveis pela liberação das citocinas pró-inflamatórias,
que consequentemente promovem acúmulo de neutrófilos
levando a alterações microvasculares, aumento da apoptose e
alterações inflamatórias agudas com aumento da necrose
hepatocítica. Além disso, ROS podem ativar vias inflamatórias
no fígado com a regulação positiva do NF-kB e TNF-α. Assim,
constatou-se que a liraglutida protege contra a lesão de IR do
fígado através de ações anti-inflamatórias e antioxidantes,
bem como inibição da apoptose (ABDELSAMEEA et al. 2017).
Entretanto, foi observado também o primeiro relatório
de hepatite autoimune (HAI) induzida por liraglutida,
caracterizando potenciais efeitos adversos desse análogo. Foi
especulado que a liraglutida desencadeia a lesão hepática
imunomediada devido à formação de anticorpos anti-
liraglutidos que reagem de forma cruzada com GLP-1 nativo,
atuando em receptores localizados nos hepatócitos humanos,
formando um neoantígeno contra o qual o sistema imune
reage, causando a HAI. No entanto, esse acontecimento é
raro e necessita de estudos adicionais para medir os níveis de
anticorpos anti-liraglutidos e explorar esse potencial caminho
(KERN et al., 2014).
Vários estudos mostraram que a expressão do receptor
GLP-1 (GLP-1R) não foi encontrada apenas no pâncreas, mas
também detectada nos pulmões e outros órgãos (ZHU, 2015;
ZHU, 2016). De acordo com Zhu et al. (2015), a administração
de liraglutida reduziu a inflamação das vias respiratórias e a
secreção de muco em modelo murino de asma induzida por

223
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
ovalbumina (OVA). Foi observada redução de alterações
patológicas pulmonares e de incrementos de células
inflamatórias como macrófagos, eosinófilos, neutrófilos e
linfócitos. Além disso, houve diminuição no conteúdo de IL-4,
IL-5 e IL-13, responsáveis por promover a metaplasia e
hiperplasia de células caliciformes, levando a hiper-secreção
de muco da via aérea na asma.
Zhou et al. (2016) estudaram os efeitos e mecanismo
de ação da liraglutida em lesões pulmonares agudas (LPA)
induzidas por lipopolissacarídeos (LPS), em estudos
experimentais com camundongos. O LPS exerce efeitos
tóxicos nos pulmões através de lesão direta de células
endoteliais e ativação indireta de neutrófilos e macrófagos,
que, consequentemente, liberam citocinas pró-inflamatórias,
como IL-1β e IL-18. Essas potentes citocinas pró-inflamatórias
iniciam, ampliam e perpetuam a resposta inflamatória, sendo
sua maturação determinada pelo inflamassoma de NLRP3. A
ativação desregulada desse inflamassoma, resulta na ativação
da caspase-1 e subsequente processamento de IL-18 e IL-1β
para atingir suas formas ativas. Níveis aumentados de IL-1β e
IL-18 danificam a permeabilidade vascular endotelial e epitelial
alveolar, o que desempenha um papel importante na
patogênese da lesão pulmonar aguda e sepse. Nesse caso,
foi observado que o pré-tratamento com liraglutida reduziu
significativamente os níveis de IL-1β e IL-18 no lavado bronco-
alveolar e inibiu a expressão de inflammasoma de NLRP3. A
deleção do gene NLRP3 diminuiu a ativação da caspase-1 e a
produção de IL-1β, melhorando significativamente o ALI.
Em um estudo clínico, a terapia com liraglutida levou a
uma rápida melhora da psoríase, doença crônica inflamatória
da pele, que possui obesidade como um fator de risco. O

224
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
efeito anti-inflamatório direto da liraglutida na psoríase ocorre
através da diminuição de citocinas pro-inflamatórias, como
TNF-α, crucialmente envolvido na patogênese da doença, bem
como efeitos indiretos através da melhora nas comorbidades,
como o excesso de peso (FAURSCHOU et al., 2014).
A inflamação crônica no cérebro é encontrada em uma
gama de doenças neurodegenerativas (PARTHSARATHY et
al., 2014). Pesquisas recentes mostraram que a terapia com
análogos de GLP-1 também possuem habilidades promissoras
de gerar neuroproteção contra distúrbios neurológicos,
incluindo doença de Alzheimer (DA), doença de Parkinson
(DP), esclerose lateral amiotrófica (ELA) e AVC isquêmico
(ZHU et al., 2016).
Na doença de Alzheimer a deposição da substância β-
amilóide (Aβ) no cérebro, leva à deficiências funcionais na
transmissão e plasticidade sináptica (MCCLEAN; HÖLSCHER,
2014). Parthsarathy et al. (2013) em estudos não-clínicos
verificou que o tratamento crônico com a liraglutida reduziu a
síntese de ß-amilóide e, consequentemente, a agregação de
placas amilóides e resposta inflamatória crônica no cérebro.
Os estudos de Long-Smith et al. (2013) mostraram os efeitos
benéficos da liraglutida concomitantes com uma redução no
número da placa β-amilóide, além da redução de astrócitos e
micróglia ativada, diminuindo, assim, os níveis de citocinas
pró-inflamatórias e ROS, que aumentam o estresse oxidativo
dos neurônios no cérebro (PARTHSARATHY; HÖLSCHER,
2013).
Bao et al. (2015) em seus estudos, investigaram os
efeitos da liraglutida sobre a toxicidade induzida por AGE em
astrócitos corticais primários de ratos. Os astrócitos
expressam GLP-1 e GLP-1R e desempenham um papel nas

225
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
respostas inflamatórias através da produção de citocinas pró-
inflamatórias, como o TNF-α, contribuindo para a lesão
neuronal e a formação das lesões marcantes da DA. Já os
AGEs, são responsáveis por aumentar o estresse oxidativo e
a produção de citocinas nos astrócitos cultivados, além de
desempenharem um papel na patogênese das doenças
neurodegenerativas, como a DA e o DP. Visto isso, os
resultados mostraram que a terapia com liraglutida diminuiu a
produção de ROS, a secreção inflamatória de citocinas, a
ativação de caspases e a morte celular mediada por AGEs,
através do mecanismo da sinalização GLP-1R via AMP/PKA.
Desse modo, a liraglutida mostra-se efetiva na redução de
uma série de parâmetros ligados à resposta crônica da
inflamação encontrada em várias condições
neurodegenerativas.
No entanto, os análogos de GLP-1 não são apenas anti-
inflamatórios, mas também têm atividade neuroprotetora. A
ação neuroprotetora da liraglutida ocorre em virtude de sua
atuação como um fator de crescimento no cérebro, além de
induzir crescimento de neurônios e proteger contra lesões
oxidativas (MCCLEAN; HÖLSCHER 2014; MCCLEAN et al.
2015). A liraglutida e seus análogos atravessam a barreira
hematoencefálica e induzem a proliferação de células
progenitoras neuronais no cérebro de camundongos. Essa
proliferação celular tem potencial para facilitar o reparo de
redes neuronais no tecido cortical e pode ter efeitos benéficos
em pacientes com DA. A partir de estudos experimentais com
camundongos, eles observaram que a Liraglutida possui não
só propriedades preventivas, mas também pode reverter
algumas das principais características patológicas da DA,

226
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
tanto em estágios iniciais em ratos de 7 meses, como em
estágios crônicos em ratos de 14 meses.
A doença de Parkinson (DP) é uma doença
neurodegenerativa crônica, caracterizada por degeneração
progressiva de neurônios dopaminérgicos da substância
negra, com perda subsequente de entrada de dopamina,
associada a disfunção motora extra-piramidal. A
neuroinflamação tem sido implicada como um mecanismo
crítico responsável pela natureza progressiva da
neurodegeneração. Níveis aumentados de citocinas pró-
inflamatórias e proteína pró-apoptótica Bax, associados à
diminuição de níveis da proteína anti-apoptótica Bcl-2, são
fatores relacionados à resposta imune e à apoptose na DP.
Badawi et al (2017) observaram que o tratamento crônico com
liraglutida proporcionou ação neurorregenerativa em neurônios
dopaminérgicos quando administrada cronicamente no
tratamento da DP induzida, e constatou que o efeito
terapêutico foi evidenciado como resultado da inibição da
apoptose induzida por neuroinflamação.
Zhu et al. (2016) avaliou a ação da liraglutida sob
neurônios submetidos a isquemia. As células que sofrem dano
isquêmico produzem quantidades excessivas de ROS, o que
potencializa a peroxidação lipídica e a disfunção mitocondrial.
O citocromo C liberado das mitocôndrias, se liga à caspase-9,
que é clivada para formar corpos apoptóticos e desencadear
vias apoptóticas intrínsecas. Além disso, ROS estimula a
clivagem da caspase-8 e desencadeia vias de sinalização
apoptóticas extrínsecas. A terapia com liraglutida inibiu a
produção de ROS em neurônios hipóxicos, a partir da
regulação da expressão de proteínas anti-oxidativas, como
Bcl-2, que eliminam eficientemente os radicais livres e inibem

227
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
a formação de superóxido, exibindo, assim, uma
neuroproteção contra o dano da isquemia cerebral.
Assim, os estudos clínicos e experimentais dispuseram
de resultados bem homogêneos em relação às propriedades
anti-inflamatórias da liraglutida. Sugeriram, então, que a
terapia com liraglutida possui um importante efeito na
diminuição de vários marcadores de inflamação, atuando
principalmente na via de fosforilação do NF-kB, sendo, então,
efetiva na redução da disfunção endotelial, aterosclerose,
inflamação gerada na obesidade e no DM2, nefropatia
diabética, lesões pulmonares agudas, bem como na redução e
proteção de várias condições que envolvem neuroinflamação.

4 CONCLUSÕES

A liraglutida além de amplamente utilizada na terapia


farmacológica do diabetes mellitus tipo 2, demonstrou
desempenhar importante papel em outras comorbidades,
devido sua potente ação anti-inflamatória. Vários estudos
experimentais e clínicos avaliaram essa ação e constataram
que a terapia com a liraglutida reduziu o estresse oxidativo,
níveis de citocinas pró-inflamatórias, translocação de NF-kB e
moléculas de adesão. Além disso, foi demonstrado sua função
imunomoduladora, anti-oxidante, anti-apoptótica e
neuroprotetora, evidenciando-se como um novo e promissor
agente terapêutico envolvido na diminuição de danos
presentes em diversas patogêneses inflamatórias.

228
PROPRIEDADES ANTI-INFLAMATÓRIAS DA LIRAGLUTIDA EM ESTUDOS
EXPERIMENTAIS E CLÍNICOS
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231
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
CAPÍTULO 12

RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO


MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA RURAL
DA CAATINGA NORDESTINA
Robson SILVA1
Ayrton Villeneuve Oliveira TAVARES2
Maine Virgínia Alves CONFESSOR3
1 Graduando do curso de Enfermagem, FMN; 2 Especialista em Osteopatia pela EBRAFIM;
3 Orientadora/Professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-CG/UNIFACISA)
maine_alves@hotmail.com

RESUMO: A medicina Etnoveterinária inclui envolve o uso de


plantas para prevenir e tratar doenças em animais,
representando um conhecimento empírico relevante,
principalmente em países subdesenvolvidos. Estes saberes
vem sendo perdidos, assim, é de fundamental importância se
catalogar estas informações. Ademais, a pesquisa etnodirigida
é de extrema importância na busca de compostos bioativos.
Neste sentido, objetivou-se inventariar a flora utilizada na
Etnoveterinária na zona rural de Pocinhos, Paraíba. As
informações foram obtidas através de formulários semi-
estruturados, complementados por entrevistas livres e
conversas informais. Foram entrevistados 47 “especialistas
locais”. 58 espécies de plantas são utilizadas no tratamento
de 62 doenças, dentre as quais o gogo (gripe),
ferimentos/feridas, inflamação, prolapso uterino, estrepe e
picada de cobra. Estas doenças acometem: vacas, cavalos,
porcos, ovelhas, cabras, bodes, cachorros, gatos, burros,
jumentos, galinhas, e “criação em geral”. Algumas das
espécies citadas pelos entrevistados também são usadas em
outros estudos realizados no Estado da Paraíba, sugerindo
que essa prática é amplamente disseminada no Estado.
Constatou-se que o conhecimento popular das práticas
232
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
etnoveterinárias é, na maioria dos casos, transmitido de pais
para filhos. Além dos aspectos culturais, o contexto
socioeconômico influencia o uso dos recursos medicinais
tradicionais, visto que os produtos derivados de plantas são
frequentemente disponíveis e não tem custo, constituindo-se
numa prática alternativa aos remédios comprados em
farmácias veterinárias, que apresentam custo elevado.

Palavras-chave: Plantas Medicinais, Fitoterapia, Medicina


Tradicional.

1 INTRODUÇÃO

Substâncias naturais de origem animal, vegetal e


mineral vêm sendo utilizadas como fontes de medicamentos
desde tempos remotos em diferentes culturas humanas
(DAVID e ANDERSON, 1969; LEV, 2003) e se perpetuando
através da Medicina tradicional (MT). Comunidades humanas
desenvolveram um acurado saber acerca das propriedades
terapêuticas e medicinais dos animais e plantas (ALVES,
2006). O uso desses recursos naturais para fins medicinais,
no entanto, não se restringe ao tratamento de doenças
humanas, sendo também amplamente utilizados para
tratamento de enfermidades animais.
A utilização da biodiversidade pelo homem se confunde
com sua própria existência e a domesticação de espécies
úteis está diretamente ligada à civilização. Associado a
domesticação de animais, foram desenvolvidas práticas para
tratar doenças que acometiam os mesmos. O conhecimento
relacionado ao cuidado tradicional da saúde animal, as
habilidades, os métodos e as práticas de tratamento das

233
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
doenças de animais constituem o campo de estudo da
Etnoveterinária (McCORKLE, 1986).
A medicina Etnoveterinária inclui o uso de plantas e
animais medicinais, técnicas cirúrgicas além de práticas de
gerenciamento para prevenir e tratar doenças em animais,
representando um conhecimento empírico extremamente
relevante para a terapêutica de doenças animais,
principalmente em países subdesenvolvidos (CONFESSOR et
al, 2009). Considerando que produtos oriundos de plantas e
animais constituem a base do arsenal terapêutico utilizado em
práticas etnoveterinárias, evidencia-se a íntima relação
existente entre medicina Etnoveterinária e conservação da
biodiversidade, sendo, portanto, imperativo a inclusão de
estudos sobre o tema relacionados à conservação. No Quenia,
por exemplo, algumas espécies de plantas utilizadas na
medicina Etnoveterinária são raras ou ameaçadas (NJOROGE
e BUSSMANN, 2006). Nesse sentido, é fundamental a
realização de inventários de plantas e animais como fontes de
remédios etnoveterinários, analisando as implicações
conservacionistas desse tipo de uso sobre a biodiversidade,
buscando, assim, a utilização sustentável das espécies
exploradas.
Nas sociedades contemporâneas as práticas
etnoveterinárias persistem, sobretudo, em áreas rurais onde
os serviços veterinários são inexistentes ou inacessíveis para
as populações locais (TAMBOURA et al., 2000; MUHAMMAD
et al., 2005). Enquanto a Medicina Veterinária moderna
frequentemente é inacessível para pessoas de baixa renda e
que vivem em áreas remotas, os remédios derivados de
plantas e animais são frequntemente disponíveis e não tem

234
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
custo, são facilmente administrados e fazem parte da cultura
popular.
Além dos aspectos ecológicos associados ao uso de
plantas e animais para propósitos etnoveterinários, ressalta-se
também a importância de se registrar os aspectos sociais e
culturais associados a tais usos. O conhecimento e a cultura
tradicional vêm sendo perdidos ao longo das décadas. A título
de exemplo, em estudos realizados em diversos países
localizados as margens do Mar mediterrâneo, Pieroni et al.
(2006) constataram que o conhecimento de práticas de saúde
tradicionais para cura de animais está desaparecendo
rapidamente, e que os medicamentos tradicionais utilizados
vêm sendo substituídos por “remédios de farmácia”. Nesse
sentido, há uma necessidade urgente para documentar o
conhecimento etnoveterinário, buscando, assim, a
manutenção dessa importante prática cultural.
Adicionalmente, do ponto de vista farmacológico,
estudos acerca de remédios tradicionais são extremamente
importantes, uma vez que a Etnoveterinária tem como um de
seus objetivos reunir o conhecimento de diversas
comunidades na utilização de medicamentos elaborados a
partir de recursos naturais, principalmente em países em
desenvolvimento, que necessitam de alternativas
economicamente viáveis visando o bem estar animal
(MATEKAIRE e BWAKURA, 2004).
Jacob et al. (2004) ressalta que as práticas medicinais
tradicionais para humanos e animais representam um dos
mais importantes elementos do conhecimento tradicional.
Nesse contexto, o Brasil destaca-se tanto por sua riqueza de
recursos genéticos quanto pela sua complexa diversidade
cultural (ELISABETSKY e WANNMACHER, 1993). A

235
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
adaptação dos vários grupos humanos à riqueza biológica do
país gerou um inestimável sistema de conhecimento acerca de
recursos biológicos utilizados para diferentes finalidades,
incluindo o uso da fauna e flora para fins etnoveterinários.
Apesar disso, são poucos os trabalhos sobre o tema
(ALBUQUERQUE e ANDRADE, 2002; ALBUQUERQUE e
LUCENA, 2004; CONFESSOR et al, 2009).
Diante do exposto, evidencia-se a necessidade de
estudos que visem inventariar as espécies de plantas usadas
para fins etnoveterinários, buscando compreender o contexto
social em que se dá a utilização dos recursos e documentar o
conhecimento tradicional dos usuários. Nesse contexto, o
presente estudo objetivou inventariar as espécies de plantas
utilizadas para fins etnoveterinários em comunidades rurais do
Município de Pocinhos, Paraíba, caracterizando o contexto
sociocultural em que se dá a utilização dos recursos biológicos
utilizados tradicionalmente por essas comunidades.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Área de Estudo
A presente pesquisa foi desenvolvida em comunidades
localizadas na área rural do Município de Pocinhos (Figura 1).
O Município de Pocinhos (7º04'36''S e 36º03'40''W) localiza-se
na parte ocidental do Planalto da Borborema, Paraíba,
microrregião Pocinhos, mesorregião Agreste Paraibano
(CPRM, 2005). Limita-se com Campina Grande, Boa Vista,
Puxinanã, Soledade, Olivedos, Barra de Santa Rosa, Algodão
de Jandaíra, Esperança, Areia e Montadas (RIBEIRO, 2003).
A sede do município tem uma altitude aproximada de 646
metros acima do nível do mar, distando 132,2 Km da capital

236
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
João Pessoa. O acesso é feito, a partir de João Pessoa, pelas
rodovias BR 230/PB 121 (CPRM, 2005).

Figura 1. Mapa da localização da área correspondente ao


Município de Pocinhos, Paraíba.

A área de Pocinhos é de 630 Km², abrigando 17.032


habitantes, sendo que desse número, cerca de cinquenta por
cento está concentrado na zona rural (IBGE, 2007). A
temperatura média anual é 23°C, variando pouco durante o
ano. Possui baixa pluviosidade, oscilando entre 400 e 600 mm
anuais. O clima, semiárido quente com chuvas distribuídas
entre o outono e o inverno, é do tipo mediterrâneo seco
(RIBEIRO, 2003). A vegetação desta unidade é formada por
Florestas Subcaducifólica e Caducifólica, próprias das áreas
agrestes. Com respeito à fertilidade dos solos é bastante
variada, com certa predominância de média para alta (CPRM,

237
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
2005). A topografia apresenta predominantemente relevo
movimentado, com vales profundos e estreitos dissecados.
Procedimentos Metodológicos
 Coleta dos dados
A amostra de entrevistados foi composta por moradores
de áreas rurais do Município de Pocinhos. As informações
sobre o uso dos recursos etnoveterinários foram obtidas
através de formulários semi-estruturados (BERNARD, 1994),
complementados por entrevistas livres e conversas informais
(MELLO, 1995; CHOZZOTI, 2000; ALBUQUERQUE e
LUCENA, 2004). Durante os primeiros contatos com a
população local, foram identificados “especialistas locais”, ou
seja, pessoas da comunidade que são reconhecidas como
detentoras de maior conhecimento acerca do uso de plantas
para fins etnoveterinários.
A partir de um contato inicial com a comunidade, um
primeiro especialista foi reconhecido, que indicou outro
especialista e assim, sucessivamente (ALBUQUERQUE et al.,
2008). Esta técnica é conhecida pela denominação “Snow
Ball” (Bola de Neve) e foi aplicada no presente estudo visando
à seleção intencional dos informantes. O método da
“informação cruzada” também foi utilizado, este método
consiste em submeter a outros informantes a informação
fornecida por um dado especialista, promovendo desta forma
um confronto de conhecimento (MONTENEGRO, 2001).
Foram utilizadas também “notas rápidas de campo” aceitando
a proposta de Albuquerque et al. (2008) para a anotação de
observações feitas durante a permanência no campo num
bloco de apontamentos, usando também este método durante

238
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
as entrevistas. As entrevistas foram realizadas
individualmente.
O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de
Ética. Buscando respeitar direitos de propriedade intelectual,
foi adotado o seguinte protocolo no campo: antes de cada
entrevista foi explicada a natureza e os objetivos da pesquisa
e solicitada a permissão aos entrevistados para registrar as
informações. Foi entregue ao entrevistado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, elaborado em duas vias,
sendo uma retida pelo entrevistado e outra pelo pesquisador
responsável.
Os nomes vernaculares das espécies foram registrados
como citados pelos entrevistados. Foram coletados
exemplares das espécies citadas pelos entrevistados, com a
ajuda dos mesmos. O material botânico coletado foi
herborizado segundo métodos habituais em Botânica. A
identificação das espécies foi realizada através de
visualizações de campo, consultas à bibliografia especializada,
comparações com materiais previamente identificados por
especialistas, depositados no acervo do Herbário Lauro Pires
Xavier (JPB), da Universidade Federal da Paraíba e, quando
necessário, por consulta direta aos mesmos. Exsicatas do
material coletado foram depositadas no Herbário Lauro Pires
Xavier (JPB), da Universidade Federal da Paraíba, sempre
que a coleta do material foi possível.
Para determinar a importância relativa de cada espécie
citada, seus valores de uso (UV) foram calculados (adaptados
da proposta de Phillips et al. 1994) utilizando-se a seguinte
formula: VU=ΣU/n. Onde: VU é o valor de uso das espécies; U
corresponde ao numero de citações de determinada espécie;
e n o numero de entrevistados. O valor de uso de cada

239
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
espécie esta baseado unicamente na importância atribuída por
cada informante e não depende da opinião do pesquisador
e/ou dos entrevistados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

PERFIL SOCIOECONÔMICO

Um total de 47 especialistas foram entrevistados,


destes 29 são mulheres e 18 são homens. Apenas seis
pessoas se enquadraram na faixa entre 21-40 anos de idade
(13%), e nenhum entrevistado tinha menos de 21 anos. O
conhecimento acerca os produtos medicinais obtidos de
plantas e animais é amplamente disseminado na região,
sobretudo entre os mais velhos, estes são detentores naturais
do conhecimento tradicional em suas respectivas
comunidades.
O nível de escolaridade observado nos entrevistados é
baixo, uma vez que o índice de analfabetismo e o número de
indivíduos apenas alfabetizados foram expressivos (27% e
19% respectivamente). No entanto, há predominância do nível
Fundamental I, que corresponde àqueles que cursaram até a
4º série, equivalente ao 5º ano, na denominação atual. A
maioria dos entrevistados reside na região pesquisada há
mais de 30 anos (63%).
Verificou-se ainda a prevalência de famílias que
apresentam baixa renda. Como observado por Leal et al.
(2005a), a pobreza é considerada o principal desafio na região
semiárida, de modo que a conservação da biodiversidade é o
menor entre os investimentos prioritários; visto que as
comunidades rurais permanecem numa situação de

240
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
marginalização no que diz respeito à economia, educação,
alimentação, terra própria, planejamento familiar, entre outros.
Os resultados também revelam que a Etnoveterinária é
uma atividade passada oralmente, principalmente de pai para
filho (n=33) e constitui parte da cultura local, como percebido
através dos trechos de depoimentos de alguns entrevistados:
“... a gente aprende com as pessoas mais velhas, passa de
pai pra filho...” FJS, 76 anos; “... é uma tradição de herança de
pais...” JMS, 72 anos. Estes dados corroboram com o
evidenciado em outros estudos acerca das práticas de
Etnoveterinária no estado da Paraíba. Souto (2007), por
exemplo, também atestou o caráter transgeracional do
conhecimento.
De qualquer modo, a obtenção do conhecimento
etnoveterinário ocorre também através de outros mecanismos:
através de pessoas mais velhas (n=9), amigos (n=7), livros
medicinais (n=2), zootécnicos da região (n=1) e, também
através de programas televisivos, a exemplo do Globo Rural
(n=1). Cabe ressaltar que um mesmo entrevistado pode ter
seus conhecimentos oriundos de mais de uma fonte. Estes
dados são importantes, pois evidenciam a transmissão do
conhecimento através de novos mecanismos, uma vez que na
maioria dos estudos englobando as etnociências, os parentes
e amigos são as únicas fontes de aprendizado. Assim, a
inserção de tecnologias está sendo incorporada no
mecanismo de aquisição conhecimentos.
Na grande maioria dos casos, o conhecimento
tradicional é adquirido ainda na juventude, uma vez que
78,72% dos entrevistados informaram ter começado utilizar os
recursos tradicionais na faixa etária de 20 anos de idade ou
menos.

241
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
No presente estudo, todos os entrevistados informaram
que o uso de plantas e animais como medicamentos é antigo,
entretanto 81% dos mesmos afirmaram que nos dias atuais se
utiliza menos estes conhecimentos. Estes dados evidenciam a
extrema necessidade de documentação deste conhecimento
tão valioso, concordando com a constatação de Pieroni et al.
(2006) de que os especialistas reconhecem e afirmam que o
conhecimento de práticas de saúde tradicionais para cura de
animais está desaparecendo, e que os medicamentos
advindos de recursos biológicos vêm sendo substituídos por
medicamentos alopáticos.
O fato de simplesmente serem melhores que outros
tipos de medicamentos (na opinião dos entrevistados) (n=18),
a facilidade de acesso (n=16) e a confiabilidade (n=6), são os
motivos principais para a escolha dos remédios tradicionais. A
preferência pelo uso de medicamentos tradicionais em relação
aos alopáticos foi ressaltada pela maioria dos entrevistados
(n=32), que afirmam que estes medicamentos curam de
verdade, apresentam eficiência real, são baratos e,
principalmente, porque não fazem mal ou não contem veneno
como exposto nos seguintes trechos: “Quem cura mesmo é o
mato”, FB, 51 anos; “Se todo mundo usasse remédios do mato
não tinha estas doenças grandes não. Eu tenho medo. Eu
tenho medo...”, SMSS, 84 anos. Apenas dois entrevistados
afirmaram não ter preferência entre os medicamentos
tradicionais e os “de farmácia”. Já os doze entrevistados que
afirmaram preferir o uso de medicamentos alopáticos,
justificaram esta preferência por estes remédios já estarem
prontos; por serem mais fáceis, pois não precisam de
preparação pelos entrevistados, diferente dos medicamentos
tradicionais que requerem coleta do material e posterior

242
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
preparação; ou por ser uma pessoa com formação de Nível
Superior que os prescrevem.

AS PLANTAS MEDICINAIS

Um total de 62 usos foi registrado para 58 plantas


medicinais nativas e exóticas (56 plantas citadas pelos
entrevistados; após identificação botânica, evidenciou-se tratar
de 58 espécies). Duas plantas reconhecidas tradicionalmente
como João Mole corresponderam a espécies distintas:
Guapira sp. e Serjania glabrata Kunth; e duas plantas
chamadas de aroeira corresponderam à: Myracrodruon
urundeuva Allemão e Schinus terebenthifolia Raddi. As 58
espécies citadas são utilizadas no tratamento de 62 doenças,
dentre estas: ferida ou ferimento, picada de cobra, verminose,
“mal triste”, empanzinamento, febre, fratura, etc. Os animais
acometidos por estas doenças são vacas, bois, bodes,
ovelhas, porcos, burros, galinhas e cachorros.
Estudos etnoveterinários sistêmicos sobre os remédios
usados em práticas fitoterapêuticas foram realizados
principalmente na África, Ásia, América Central e Europa,
sendo, portanto, poucos os estudos no Brasil que façam
registro das práticas da medicina veterinária tradicional
quando comparadas com a medicina tradicional para humanos
(MARINHO et al., 2007). Nossos dados revelam um número
de plantas medicinais significativo, se comparado a outros
estudos acerca da medicina Etnoveterinária. Em Trinidad e
Tobago, por exemplo, foram encontradas 20 espécies de
plantas de uso veterinário tradicional para alimentação e
cuidados da saúde de ruminantes (LANS e BROWN, 1998a).

243
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
Das 58 espécies de plantas citadas no presente estudo,
a Erva Babosa (Aloe vera L.) foi a que apresentou maior valor
de uso (0.94). Essa espécie é utilizada no tratamento de
ferida, gogo, verme, sarna, bicheira e bicheira no olho,
anemia, inflamação, picada de morcego, fastio, queimadura e
como cicatrizante. Estas doenças acometem animais como
galinhas, vacas, bodes, burros, porcos, gado e criação em
geral. O fato da Erva Babosa ser uma espécie de planta
abundante na região, sendo, consequentemente, de fácil
coleta, concorda com estudos etnobotânicos que tem
demonstrado que a diversidade de plantas conhecidas e
utilizadas pela população humana é influenciada pela
diversidade de plantas do meio ambiente em que a população
reside (BENNET, 1992; PHILLIPS e GENTRY, 1993a, b;
MILLIKEN e ALBERT, 1997;).
Além da Babosa, outras espécies apresentam uso
disseminado na região, são elas: o Alho (Allium sativum) (VU:
0,83), João Mole (Guapira sp. e Serjania glabrata) (VU:0,66),
Cajueiro (Anacardium occidentale) (VU: 0.55); Aroeira
(Myracrodruon urundeuva e Schinus terebenthifolia) (VU: 0.42)
e o Limão (Citrus limon). Estas espécies também são comuns
no Bioma Caatinga, corroborando com a idéia de influência da
diversidade de plantas locais sobre a escolha das espécies
medicinais (BENNETT, 1992).
Dentre as espécies que apresentaram elevado valor de
uso, vale destacar o alho (Allium sativum), difundido entre os
especialistas no tratamento de várias doenças (VU: 0,83). Por
ser rico em enxofre, parece ser essencial para o
funcionamento do sistema-imune do animal, pois sem enxofre
suficiente, organismos vivos não podem formar três

244
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
aminoácidos, os quais são essenciais ao sistema imune:
metionina, cistina e taurina.
É importante ressaltar que a maioria dos usos é para o
tratamento de doenças já estabelecidas. Todavia também foi
citado o uso de plantas para prevenção de doenças, como por
exemplo, uso do limão (Citrus limon) na prevenção de gogo.
No geral, os entrevistados afirmam que os tratamentos
não apresentam contra-indicações ou efeitos colaterais,
conforme evidenciado em depoimento: “remédio do mato não
faz mal”. Entretanto, o uso do Mastruz (Chenopodium
ambrosioides) no tratamento de fraturas ósseas, segundo os
entrevistados, pode resultar em “estreitamento dos nervos” no
local da fratura, caso a administração deste recurso
terapêutico seja prolongada.
Mesmo com a afirmação dos entrevistados de que os
medicamentos advindos de plantas não apresentam efeitos
colaterais é valido lembrarmos que preparações botânicas são
potencialmente tóxicas. Dessa forma, pesquisas são
necessárias para determinar as doses e concentrações
adequadas das preparações, bem como para a identificação
dos reais efeitos colaterais dos medicamentos. Além disso, a
eficácia das preparações, técnicas e práticas precisam ser
investigadas para a identificação de plantas promissoras para
uso em propósitos de desenvolvimento da criação de animais.
Deste modo, a documentação e preservação do conhecimento
das plantas medicinais são fortemente recomendadas.
Diferentes partes da mesma espécie podem ser
empregadas de diversos modos, para a mesma ou diferentes
doenças. Foram citados 16 modos de uso dos recursos
botânicos medicinais. Os modos de uso podem ser: 1- Com
água: a) Machuca (pisa) e coloca na água para o animal

245
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
beber, b) Coloca diretamente na água e dá para o animal
beber, podendo ser feito o chá; 2- Com leite: a) Queima e
coloca no leite pro animal beber, b) Coloca direto no leite para
o animal beber; 3- Aplicação externa: a) Aplicação direta do
“leite” ou “baba” no local acometido, b) Queima, pisa e aplica o
pó diretamente no local afetado c) Coloca na água para
aplicação no local afetado, d) prepara-se a água para banhar o
animal; 4 – Outros: a) Passa no liquidificador ou machuca e dá
para o animal comer, b) Coloca com cana/ uísque/vinho pro
animal beber, c) Cozinha e dar pro animal comer, d) Dá o
“leite” da folha pro animal beber, e) ralado ou cortado p/ animal
comer, f) coloca pro animal cheirar, ou faz o defumador; g)
pisa, torra, sai um óleo e dá pro animal beber esse óleo, h) dá
o óleo do fruto pro animal beber. Na maioria das vezes,
contudo, o uso se dá através da associação do recurso
medicinal e água. Este modo de uso é bastante difundido e foi
observado em outros estudos realizados nas mais variadas
regiões (MARINHO et al., 2007).
A parte mais utilizada como recurso medicinal é a
casca, seguido das folhas, bem como a “baba” (mucilagem) ou
leite derivados destas; porém também foram citados os frutos,
raízes, sementes, flores etc. (Figura 2). Estes dados são
encontrados em estudos etnoboânicos de uso medicinal tanto
para humanos como na etnoveterinária (CARVALHO, 2004;
ALBUQUERQUE et al.; 2007a; AGRA et al., 2008),
evidenciando o amplo uso das plantas, no qual todas as partes
podem ser utilizadas como medicamento, bem como o uso
predominante das cascas e folhas.

246
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
Figura 2. Farmácia tradicional, encontrada na área estudada
no Município de Pocinhos, Paraíba. Foto: CONFESSOR, M. V.
A.

Poucas pesquisas tem sido realizadas para provar a


eficácia clinica das plantas e animais utilizados com propósitos
medicinais. A implementação de meios sanitários ao uso de
plantas e animais medicinais implica consideráveis desafios,
dentre estes assegurar a participação adequada dos
detentores de conhecimentos envolvidos (ALVES e ROSA,
2005), uma vez que são eles os primeiros a trazer o
conhecimento dos usos dos recursos medicinais através das
gerações e das constantes praticas de tentativa e erro. É
imprescindível que este conhecimento etnoveterinário seja
valorizado não apenas nas pesquisas que objetivam catalogar
estes usos e recuperar este conhecimento importantíssimo
que vem se perdendo ao longo dos tempos, mas também
pelas empresas que visam os estudos farmacológicos em
busca de princípios ativos.
Estudos etnofarmacológicos focando o uso de remédios
fitoterápicos podem ser extremamente importantes para a
eventual utilidade terapêutica desta classe de remédios
biológicos (PIERONI et al., 2002). Potentes fármacos usados

247
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
na medicina convencional, advém de metabólitos secundários
produzidos pelas plantas. Um exemplo é a morfina, isolada da
papoula (Papaver somniferum) em 1803 por Seturner, e usada
para acalmar a dor (DREYFUS e CHAPELA, 1994; HARVEY e
WATERMAN, 1998).
A maioria dos entrevistados citou o uso dos recursos
isoladamente, contudo algumas associações são encontradas,
é o caso do uso da Aroeira juntamente com a Emburana ou
Imburana (Commiphora leptophloeos), usada para retirar
“resto de parto”. Outro exemplo é a associação do Mastruz
(Chenopodium ambrosioides) e Hortelã da folha miúda
(Mentha villosa), usada para o tratamento de Amebíase.
Outros tipos de associações também foram encontrados:
Hortelã da folha miúda com mel de abelha no tratamento de
dor, a Erva Babosa juntamente com enxofre no tratamento de
sarna, Quixaba ou Quixabeira (Sideroxylon obtusifolium) junto
com Mercúrio sendo utilizado como cicatrizante.
Das 58 espécies citadas, apenas 14 não apresentam
outro recurso que possa substituí-la no tratamento das
afecções, este fato evidencia os múltiplos usos das plantas
medicinais, por exemplo, a Aroeira, que é utilizada no
tratamento de diversas doenças, pode ser substituída por 4
outras plantas: Ameixa, Favela, Cajueiro Roxo, Marcela.
A possibilidade de utilização de vários medicamentos
para uma mesma doença é importante, pois serve de
adaptação à disponibilidade / acessibilidade dos recursos. É
reconhecido que o uso de plantas medicinais é frequente em
várias regiões brasileiras (CARVALHO, 2004), e que
geralmente há sobreposição no uso de plantas e de animais
(ALMEIDA e ALBUQUERQUE, 2002).

248
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
Algumas das doenças evidenciadas no presente estudo
afetam tanto seres humanos quanto animais, os quais podem
ser, deste modo, tratados com remédios similares. Assim,
várias plantas utilizadas na Etnoveterinária o são também no
tratamento de doenças humanas. No Brasil, por exemplo, o
melão de São Caetano - Mormodica charantia L., a batata de
purga - Operculina hamiltonii e a semente da abóbora -
Cucurbita pepo L. são utilizadas como vermífugo na
Etnoveterinária, provavelmente de modo similar ao preparo na
medicina humana (ALMEIDA, et al., 2006). Os resultados
suportam outros estudos que tem revelado que, na maioria
das sociedades tradicionais, não há uma divisão clara entre
veterinária e medicina humana (ALMEIDA, et al., 2006).
Scarpa (2000), por exemplo, relatou um forte paralelo
entre as plantas utilizadas na veterinária tradicional no
nordeste da Argentina, onde 60% dos informantes atestaram
que terapêuticos apresentam idêntica correlação na medicina
humana. Tais similaridades de usos na Etnoveterinária e
Etnomedicina humana sugerem o fato de que provavelmente
as práticas de etnoveterinária talvez tenham seguidos dois
padrões principais de evolução: um baseado nas observações
de medicação própria dos animais; e a outra relacionada à
medicina tradicional humana, como evidenciado por Pieroni et
al. (2006). O uso de medicamentos tradicionais no tratamento
de doenças em animais ou condições similares às doenças
que afetam os seres humanos é nomeado por Barboza et al.
(2007) como "modelo humano de doenças animais". As
relações entre etnoveterinária e etnomedicina humana nesta
perspectiva pode ser facilmente explicada, uma vez que
mamíferos são os principais animais de criação (por exemplo:
gado, ovelhas, porcos, dentre outros). Relativo a este fato,

249
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
animais usualmente enfrentam problemas de saúde que
também afetam humanos (SOUTO, 2007; CONFESSOR et al.,
2009).

4 CONCLUSÕES

Os resultados demonstram a persistência de práticas de


Etnoveterinária no tratamento de doenças animais no
semiárido do Estado da Paraíba, Município de Pocinhos,
sendo influenciada pelos aspectos socioeconômicos e
culturais, e constituindo uma importante alternativa terapêutica
que vem se perpetuando. Um número expressivo de plantas
tem importância para as práticas etnoveterinarias na região
estudada. O conhecimento tradicional sobre esses recursos
naturais apresenta um caráter transgeracional, porém há
outras influencias na aquisição de conhecimento.
A maioria dos recursos medicinais utilizados pelos
entrevistados é obtida no próprio Município. O uso dos
recursos locais, que são mais facilmente acessíveis, está
possivelmente relacionado a aspectos históricos, culturais e
também a restrições financeiras, que limita o acesso aos
recursos alóctones. O conhecimento medicinal focado em
espécies que ocorrem em áreas próximas aos moradores
locais reflete a transmissão do conhecimento através das
gerações, uma vez que é mais prático a coleta destas. As
cascas e folhas, ou derivados destas constituem as principais
partes utilizados.
Como assinalado por Mathias e Perezygrovas (1998),
promover a Medicina Etnoveterinária significa ajudar a
população local a utilizar sua própria experiência e
conhecimento para construir estratégias e recursos. A

250
RECURSOS VEGETAIS UTILIZADOS COMO MEDICAMENTOS EM UMA ÁREA
RURAL DA CAATINGA NORDESTINA
preservação do conhecimento medicinal popular é importante
para aumentar nossa compreensão sobre a relação entre
humanidade, sociedade e natureza, e também para a
elaboração de estratégias efetivas para a conservação dos
recursos naturais especialmente para o Bioma Caatinga, onde
os estudos a respeito deste assunto são escassos, além de
ser fator primordial na busca de novos compostos bioativos.

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253
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS

CAPÍTULO 13

RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS


ENDOTIPOS
Talissa MOZZINI MONTEIRO 1
Laércia Karla Diega PAIVA FERREIRA 1
Larissa Adilis Maria PAIVA FERREIRA 2
Grasiela Costa BEZERRA 2
Marcia Regina PIUVEZAM,3
1
Doutoranda do PgPNSB/ UFPB; 2Graduanda do curso de Farmácia, UFPB;
3
Orientadora/Professora do DFP/UFPB.
talissa_muccini@hotmail.com

RESUMO: A rinite alérgica (RA) é definida como uma


inflamação crônica da mucosa nasal, induzida pela exposição
à alérgenos. Essa exposição leva a senbilização de células
como os mastócitos pela imunoglobulina E (IgE). Exposições
subsequentes ao mesmo alérgeno desencadeiam uma
resposta inflamatória mediada pela ligação cruzada do
alérgeno à IgE, previamente ligada aos mastócitos. Esse
processo resulta em sintomas crônicos e recorrentes. Os
principais sintomas incluem rinorréia aquosa,
obstrução/prurido nasais, espirros e sintomas oculares, tais
como prurido e hiperemia conjuntival, os quais se resolvem
espontaneamente ou via tratamento medicamentoso. Diante
da elevada prevalência de RA em populações urbanas, alguns
autores a denominam doença da civilização moderna e, o
surgimento dos associados à RA visam promover um
tratamento personalizado de acordo com cada paciente e
assim aumentar a eficiência no tratamento das crises. Essa
revisão apresenta os aspectos clínicos mais relevantes da
rinite alérgica e suas implicações terapêuticas, de acordo com
seus endotipos recentemente caracterizados. Essa
abordagem dos fenótipos visa uma melhor caracterização dos

254
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
perfis da patofisiologia da rinite, nos diferentes grupos de
pacientes que apresentam essa doença. Ainda, compreender
melhor o processo patológico, para assim promover estudos
dirigidos a terapia especifica, com menos efeitos colaterais,
promovendo assim uma melhora na qualidade de vida dos
doentes.
Palavras-chave: Rinite Alérgica. Endotipos. Tratamento.

1 INTRODUÇÃO

O termo crônico refere-se a tempo (cronologia),


significando que a inflamação é de longa duração e acontece
dentro de semanas ou meses.
Entendemos que a inflamação pode ser definida como o
conjunto de alterações bioquímicas, fisiológicas e
imunológicas em resposta a estímulos agressivos ao
organismo. Na resposta de fase aguda, que ocorre logo após
a agressão, há aumento do fluxo sangüíneo e da
permeabilidade vascular, com recrutamento de leucócitos no
foco da lesão e liberação de mediadores inflamatórios. A
transição para a fase crônica é caracterizada pelo
desenvolvimento da resposta humoral específica e da
resposta imune celular. Embora possa suceder a inflamação
aguda, a inflamação crônica, com freqüência, começa de
maneira insidiosa, como resposta de baixo grau, latente e,
muitas vezes, assintomática (PAPADOPOULOS et al., 2015;
RONDÓN et al., 2014).
Tanto na resposta de fase aguda quanto na crônica,
mediadores inflamatórios agem de maneira local ou sistêmica,
ativando outras células envolvidas com o processo
inflamatório (células endoteliais, fibroblastos e células do
sistema fagocítico mononuclear), ampliando, assim, a resposta

255
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
inicial ao agente lesivo, podendo promover a formação de
abcessos e fibrose, como observado em várias doenças
pulmonares, incluindo asma e DPOC (doença pulmonar
obstrutiva crônica). Além disso um processo inflamatório
exacerbado contra substâncias, que para a maiorias das
pessoas são inócuas, pode levar a uma inflamação alérgica
crônica. As doenças alérgicas mais comuns são: asma
alérgica, rinite alérgica, alergia alimentar, dermatite atópica e o
anioedema (WHEATLEY; TOGIAS, 2015; ZUBERBIER et al.,
2014).
A rinite alérgica (RA) se caracteriza por ser uma
inflamação das vias aéreas superiores, especificamente da
mucosa. Esse processo inflamatório tem como sintomas:
congestão, rinorréia, espirros, coceira e prurido nasal (NG &
WANG, 2015). A Organização Mundial da Saúde (OMS),
estima que cerca de 25% da população mundial seja
portadora de rinite alérgica (PAHO, 2015), afetando cerca de
500 milhões de pessoas no mundo (GOMÉZ et al., 2015)
A RA é uma doença que promove impactos negativos
na vida social, no desempenho escolar e na produtividade no
trabalho dos pacientes, além de elevar os custos com essa
doenças no país (GOMÉz et al., 2015). Geralmente a RA está
associada a outras doenças, tais como: conjutivite alérgica,
rinossinusite e especialente a asma (ROBERTS et al., 2013).
Na RA a ligação dos anticorpos específicos ao alergeno
do tipo IgE presentes nos mastócitos da mucosa nasal resulta
no processo inflamatório local, promovendo assim a expressão
clínica da doença com sintomas como: coriza, espirros,
obstrução nasal e prurido (GALLI; TSAI, 2012; NUTMAN,
2015; PALOMARES et al., 2017). Trata-se da forma mais
comum de rinite, a qual acomente mais de 100 milhões de

256
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
pessoas na Europa e cerca de 60 milhões nos Estados Unidos
(HANKIN et al., 2014), contudo não há dados estatísticos da
prevalência real de adultos no Brasil.
A RA constitui um sério fator de risco para o
desencadeamento da asma além de estar associada a
doenças crônicas como a rinossinusite (VUURMAN et al.,
2014). Além dos sintomas clássicos, o impacto geral da rinite
em executar tarefas diárias bem como o desvio
comportamental, psicológico não devem ser subestimados
(BOUSQUET et al., 2012; MELTZER et al., 2012; ZUBERBIER
et al., 2014).
Diante do exposto, a Rinite Alérgica, por ser a doença
alérgica crônica mais presente em todo o mundo, onde cerca
de 20 % da população mundial apresenta quadros de rinite. Se
faz necessário o conhecimento aprofundado de toda a
fisiopatologia dessa doença. O presente estudo teve como
objetivo fazer uma revisão bibliográfica atual sobre as bases
de classificação fenotípica da Rinite.

2 MATERIAL E MÉTODO

A presente revisão foi realizada em janeiro de 2017, por


pesquisa bibliográfica. Essa pesquisa incluiu artigos
publicados ao longo de um período de 5 anos (janeiro de 2012
a junho de 2017), utilizando-se as bases de dados PubMed,
SciFinder, Ebrary. Para tanto foram utilizadas as seguintes
combinações de palavras chaves: rinite (rhinitis), inflamação
crônica (chronic inflammation), imunologia (immunology),
endotipos (endotypes), tratamento (treatment). A seleção dos
manuscritos foi baseada nos seguintes critérios de inclusão:

257
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
artigos com palavras-chave no título, data da publicação do
artigo, fator de impacto do artigo, resumo ou texto integral.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A rinite pode ser o resultado de etiologias diversas,


mais comumente as infecções ou respostas alérgicas
imediatas, porém outros desencadeantes podem promover o
surgimento da rinite, incluindo: medicamentos, desequilíbrios
hormonais e disfunção neuronal. A rinite é classicamente
dividida em 3 grandes fenótipos clínicos: a. rinite alérgica (RA
ou AR - allergic rhinites); b. rinite infecciosa e c. rinite não-
alérgica e não infecciosa (NAR - non allergic rhinites), com a
possibilidade de combinações entre os fenótopos clínicos
(MURARO et al., 2016).
A RA pode ser categorizada nos seus diversos fenótipo,
os quais se caracterizam pelo agrupamento baseado em
padrões clínicos distintos, individualizados de paciente em
paciente. Recentemente foi proposto, além do fenótipo, a
classificação da doença por endótipos, isto é, agrupamento
baseado em caminhos mecanisticos distintos. A classificação
do endotipo tem o potencial de explicar algumas das variações
observadas na apresentação clínica e resposta ao tratamento
de cada indivíduo (PAPADOPOULOS et al., 2015; RONDÓN
et al., 2014).
Os fenótipos podem ser dinâmicos e se sobrepõem ou
podem se desenvolver um para o outro. Para a caracterização
do fenótipo, podem ser utilizados vários critérios clínicos como
idade de início da doença, gravidade, padrão de sintoma /
freqüência, principais desecandeadores da doença, entre
outros. Essas abordagens de grupamento são interativas,

258
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
cada vez mais complexas e ainda estão sendo desenvolvidas,
por isso não foram aplicadas, de forma efetiva, na rinite em
contraste com a situação atual da asma (DEMOLY et al.,
2013). A necessidade de realizar e otimizar tais análises de
grupamento decorre da acumulação de evidências individuais,
de que cada grupo seria sensivelmente receptivo a
tratamentos disponíveis e futuros tratamentos particularizados.
Desta forma, os fenótipos de rinite foram descritos em
relação à gravidade/duração e principais sintomas: padrão de
apresentação, sensibilização, presença de comorbidades e
nível de controle depois do tratamento. Os fenótipos de rinite
têm sido a base para o tratamento (MURARO et al., 2016).
Além dos fenótipos, há a necessidade de caracterizar os
endotipos (Tabela 1), pois uma porcentagem significativa de
pacientes com RA apresentam descontrole na progressão da
doença (HELLINGS et al., 2013), respaldando a necessidade
de tratamento específico e eficaz para estes pacientes com
RA.
Afim de obter maior precisão no tratamento de tais
pacientes, houve a necessidade de categorizar os pacientes
com RA no contexto dos endotipos, enfatizando que pacientes
com rinite podem apresentar um endotipo complexo e que a
compreensão atual dos processos celulares e moleculares
requer um estudo mais aprofundado (MURARO et al., 2016).
Os endotipos podem ser:

a.) Rinite tipo Th2

Este endotipo é também denominada RA. Na primeira


exposição ao alérgeno pelo epitélio, células dendriticas (CD)
capturam este alérgeno, processam e apresentam, via

259
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
complexo principal de histocompatibilidade, classe II (MHC-II)
a linfócitos T auxiliares (LTh - TCD4+) inicialmente virgens
(naive) ou denominados Th0, os quais diferenciam-se em
linfócitos Th do tipo 2 (Th2), com o auxílio de moléculas co-
estimulatórias e expressão do fator de transcrição GATA3
(GOUR; WILLS-KARP, 2015). Em adição, a diferenciação de
células Th2 é favorecida pelo próprio epitélio, que expressa
receptores e é, portanto, ativado pelo alérgeno, liberando
citocinas como a interleucina (IL)-25, IL-33 e a linfopoetina do
estroma tímico (TLSP). As células Th2, produzem as citocinas
IL-4 e IL-13 que consequentemente promovem a ativação do
linfócito B em plasmocito produtor de IgE, IgG1
(Imunoglobulina E ou G1) específicas pata o alérgeno
sensibilizante (GALLI; TSAI, 2012; GOUR; WILLS-KARP,
2015).
Essas imunoglobulinas (IgE e IgG1) ligam-se a
receptores de alta afinidade em mastótcitos dos tipos FcRI ou
FcγRI respectivamente, sensibilizando essas células. Contato
subsequente do mesmo alérgeno com a submucosa, promove
uma ligação cruzada entre o alérgeno e as IgE/IgG1 presentes
na superfície dos mastócitos e basófilos, pela reação
antígeno-anticorpo, provocando a desgranulação destas
células e a liberação de mediadores pré-formados (histamina)
e derivados dos fosfolípidicos de membrana com produção do
ácido aracdonico e via ação das enzimas lipooxigenase (LOX)
e ciclooxigenase (COX) ocorre a produção de serotonina,
leucotrienos, prostaglandinas, fator de ativação plaquetária
(PAF), capazes de causar inflamação (MURARO et al., 2016).
Isso geralmente é acompanhado por uma resposta imune
sistêmica dominado por citocinas de tipo 2 produzidas por
células T CD4+ e basófilos, associado também a uma

260
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
eosinofilia nasal (GOUR; WILLS-KARP, 2015; WHEATLEY;
TOGIAS, 2015; WYNN, 2015). Ver Figura 1.

Figura 1. Mecanismo imunológico da resposta imune do tipo 2


em pacientes com rinite.

Fonte:Adaptado (FAHY, 2015)

b.) Rinite tipo Th1

A rinite denominada tipo I é uma resposta imune inata


associada à resposta imune adaptativa de tipo 1 caracterizada
pela presença das células Th1/IL-17. Essa resposta imune
promove o influxo de neutrófilos e células T CD4+ produtoras
de IFN- com associação da rinite infecciosa (WANG et al.,
2013).
261
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS

c.) Rinite Neurogênica

Este endotipo de rinite, em particular, é caracterizado


por um aumento na expressão de canal potencial de receptor
transiente no nervo trigemio e altas concentrações de
substância P, bem como neurocininas. A rinite neurogênica
está associada à rinite gustativa, rinite dos idosos e rinite
idiopática com hiperreatividade nasal (VAN GERVEN et al.,
2014).

d.) Disfunção epitelial

A disfunção epitelial pode ser primária ou secundária


podendo estar associada tanto com a rinite alégica (tipo Th2),
como com a do tipo Th1/Th17 (tipo Th1). A disfunção epitelial
pode ser dividida em dois tipo: 1. Disfunção ciliar, onde ocorre
destruição dos cílios das células epiteliais e 2. via ocasionada
por disfunção na barreira das vias aéreas superiores (AKDIS;
AKDIS, 2012; GOLD et al., 2014; RAKEBRANDT;
LITTRINGER; JOLLER, 2016)(STEELANT et al., 2016).
Vários outros fenótipos de rinite associados com
sensibilidades às drogas, senilidade e rinite hormonal, são, até
o presente momento, mal caracterizados devido á falta de
biomarcadores específicos e de mecanismos moleculares e
celulares estabelecidos. Na prática clínica, os esforços para
caracterizar a doença podem ser feitos quantificando os níveis
de IgE- totais e IgE- alérgenos específicos (GORDON;
PLÜDDEMANN; MARTINEZ ESTRADA, 2014; HALIM et al.,
2014; YAO et al., 2013)

262
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
O tratamento atual da rinite envolve a prevenção do
contato com o alérgeno, o que muitas vezes é difícil e
impraticável. Entretanto, medidas para prevenir ou reduzir os
sintomas de RA são realizados com vários medicamentos tais
como corticosteróides, anti-histamínicos, descongestionantes,
anticolinérgicos e antagonistas dos receptores de leucotrienos.
Poucos destes, no entanto, permitem o alívio completo dos
sintomas sem complicações. Além disso, esses medicamentos
geralmente requerem administrações freqüentes uma ou duas
vezes por dia por um período de tempo relativamente longo,
interferindo assim na qualidade de vida dos pacientes (AOISHI
et al., 2015).

Figura 2. Visão geral da resposta imune do tipo 2 em


pacientes com rinite.

Fonte: Adaptado de (WHEATLEY; TOGIAS, 2015).

263
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS

Tabela 1. Visão geral dos fenótipos e endotipos da Rinite.


Endotipos da Rinite
Não Th2 Th2 Neurogênica Epitelial

Ambiente
Estilo de
vida
Microbioma
Anatomia
nasal

Eosinófilo TSLP
Netrófilo Mastócito SP IL-33
IFN- ILC2 NK Disfunção da
IL-17 IgE Canais TRP barreira
TNF IL-4, IL-4, IL-13 Remodelamento

SINTOMAS

Resfriado Alérgica Rinite tardia


comum
Fonte: Adaptado de (MURARO et al., 2016).

Diagnóstico clínico
O diagnóstico clínico da RA pode ser feito observando
alguns sinais de rinite nos pacientes, tais como: hipertrofia
e palidez dos cornetos inferiores, e secreção hialina,
que estão associados a uma disfunção do epitélio,
vasos, glândulas e nervos que, devido a um infiltrado de
células inflamatórias, mediadores inflamatórios e citocinas,
prejudicam o processo de aquecimento, umidificação e
filtração do ar inspirado (VUURMAN et al., 2014).

264
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
Com relação aos sintomas, esses podem incluir
paroxismos de espirros, prurido/obstrução nasal, rinorréia,
prurido em orofaringe hiperemia e prurido oculares É
importante ressalta que pode haver co-morbidades, otite
média serosa recorrente e rinossinusite crônica. A
coexistência de sibilância pode sugerir a associação com a
asma e, nessas situações, a realização de provas de função
pulmonar com prova broncodilatadora torna-se indispensável
para avaliar a asma subclínica (HALIM et al., 2014; PORTER
et al., 2014).
Classicamente, a RA era classificada em sazonal ou
perene, mas estas categorias não correspondem à realidade
em nosso meio, nem tampouco facilitam a abordagem do
paciente. Então a RA é hoje classificada em intermitente ou
persistente, leve ou moderada e grave (Tabela 2), tendo por
base a freqüência e intensidade dos sintomas, e seu impacto
sobre a qualidade de vida do paciente (BOUSQUET et al.,
2012).
A utilização de escores clínicos pode ser útil no dia a
dia do médico, para o diagnóstico e acompanhamento dos
pacientes com rinite alérgica.

Tabela 2. Classificação da Rinite Alérgica.

Duração Sintomas
Intermitente ˂ 4 dias/ semana ≤4 semanas
Persistente ˃ 4 dias/ semana ≥4 semanas
Sazonal Perene
Leve Moderada a Grave
Fonte: Adaptado de (PAPADOPOULOS et al., 2015).

265
RINITE: NOVAS ABORDAGENS E SEUS ENDOTIPOS
4 CONCLUSÕES

A rinite alérgica (RA) é considerada uma doença


multifatorial. Recentes estudos demonstram sua
heterogeneidade celular e molecular promovendo o conceito
de que a RA pode apresentar vários fenótipos ou grupos de
características consistentes e endotipos. A compreensão dos
mecanismos imunes relacionados aos fenótiopos e endotipos
da RA é de extrema importância para promover um tratamento
individualizado e assim obter sucesso terapêutico, além de ser
essencial para a descoberta de novos fármacos, o que torna o
assunto importante para todos os profissionais de saúde.

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268
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
CAPÍTULO 14

RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE


PLANTAS MEDICINAIS
Raquel Fragoso PEREIRA 1
Tamires de Jesus GONÇALVES 2
Giciane Carvalho VIEIRA 3
Marcia Regina PIUVEZAM 4
1
Farmacêutica, UFPB; 2 Graduanda em farmácia, UFPB; 3 Professora do DMORF/ UFPB; 4
Orientadora/Professora do DFP/UFPB.
raquelfragoso@hotmail.com.br

RESUMO: a rinite é uma doença inflamatória que acomete a


mucosa nasal e se manifesta clinicamente por sintomas como
espirros, prurido, congestão nasal e rinorreia. Resulta de
interações entre genética, exposição ambiental e ocupacional
à alérgenos e outros fatores que levam ao desenvolvimento e
manutenção dos sintomas, além de fatores específicos tais
como exposição irracional a determinados medicamentos.
Essa doença é considerada um problema mundial de saúde
pública, uma vez que afeta cerca de 1.46 bilhões de
indivíduos. Tal prevalência elevada é comparada ao diabetes
e a hipertensão, outras grandes doenças crônicas. Os altos
índices acarretam impactos econômicos para a sociedade
levando em conta os gastos com medidas terapêuticas, além
de influenciar na qualidade de vida de quem a possui;
interferindo no desempenho do trabalho e na produtividade.
Os corticosteroides são a principal escolha para os quadros
persistentes e frequentemente são utilizados de forma
intermitente ou em altas doses em casos de exacerbação,
podendo promover um declínio da função pulmonar. Diante
dessa situação, a rinite vem despertando interesse no meio
científico na busca por novas fontes de tratamento. Estudos
demonstram a necessidade de investimento em pesquisa com

269
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
produtos naturais e consequentemente a expansão do arsenal
terapêutico da rinite. Essa revisão discute novas abordagens
de fenótipos da rinite, bem como, o uso popular de plantas
medicinais além de estudos científicos nesse contexto.
Palavras-chave: Rinite. Fenótipos. Plantas medicianais.

1 INTRODUÇÃO

A rinite é definida como uma doença inflamatória da


mucosa que reveste a cavidade nasal. O seu diagnóstico é
elaborado, clinicamente, pela presença de sintomas como
espirros, prurido, congestão nasal, rinorreia e diminuição da
sensibilidade ao cheiro e ao gosto (PAPADOPOULOS, 2016).
Estima-se que, no mundo, a rintie afete
aproximadamente 1.46 bilhões de pessoas (VÉRON, 2015).
Sua prevalência mundial elevada é comparada a outras
doenças crônicas como diabetes e hipertensão (MATTHEW,
2009) além de sua ligação direta com a asma, ambas já foram
consideradas doenças contínuas ao invés de desordens
discretas que ocorrem simultaneamente (MORJARIA, 2014).
Os altos índices acarretam impactos econômicos para a
sociedade levando em conta os gastos com medidas
terapêuticas, além de apresentar o impacto indireto para a
população que a possui por afetar a qualidade de vida;
interferindo no desempenho do trabalho, escola e na
produtividade (MIMS, 2014).
A industrialização, as mudanças climáticas e a
variedade de alérgenos existentes afetam negativamente o
sistema respiratório e contribuem para o aumento do número
de casos das doenças respiratórias como a rinite
(MANDHANE, 2011).

270
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
A farmacoterapia da rinite é baseada no uso, por via
tópica ou oral, de antihistamínicos, corticosteroides,
descongestionantes nasais e agentes anticolinérgicos. Os
corticosteroides são a principal escolha para os quadros
alérgicos persistentes e, frequentemente, são utilizados de
forma intermitente ou em altas doses em casos de
exacerbação, podendo promover um declínio da função
pulmonar. Portanto, é necessário a avalição dos benefícios e
prejuízos de cada opção de tratamento (TAW, 2013). Diante
dessa situação, a rinite vem despertando interesse no meio
científico na busca por novas fontes de tratamento. Neste
contexto, tem sido demonstrado a necessidade de mais
estudos que esclareçam e fundamentem o uso de plantas
medicinais para afecções respiratórias.
No Brasil, a utilização de modelos experimentais in vivo
de rinite e o uso de novas substâncias para o seu tratamento
ainda são raros. Portanto, o objetivo deste trabalho foi revisar
os fenótipos descritos e em emergência no quadro de rinite e
elaborar um panorama das plantas medicinais utilizadas ou
sob estudo nos episódios de rinite, contribuindo, portanto, com
estudos sobre possíveis alternativas futuras de tratamento.

2 MATERIAIS E MÉTODO

A presente revisão foi realizada em abril de 2017, por


pesquisa bibliográfica. A pesquisa incluiu artigos publicados ao
longo de um período de 30 anos (Dezembro de 1986 a junho
de 2017), utilizando as bases de dados Ebrary, PubMed,
Science direct. Para tanto foram utilizadas as seguintes
combinações de palavras chaves: rinite, fenótipos, plantas
medicinais, sistema respiratório. A seleção dos manuscritos foi
baseada nos seguintes critérios de inclusão: artigos com
271
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
palavras-chave no título, data da publicação do artigo, fator de
impacto do artigo, resumo ou texto integral.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Subtipos de rinite

A classificação das rinites pode ser feita com base em


critérios clínicos, frequência e intensidade de sintomas,
citologia nasal e fatores etiológicos. Segundo o Consenso
Sobre Rinite (CSR) (2012) a classificação etiológica vem
sendo considerada a mais adequada, pois está diretamente
relacionada à terapêutica. Figura (1).

Figura 1. Representação de alguns fenótipos da rinite

Rinite não alérgica

As rinites não alérgicas (RNA) constituem um tipo de


rinite que pode apresentar os mesmos sintomas da rinite
alérgica, ou seja, espirros, coriza, prurido e obstrução nasal,
porém sua resposta imunológica não é mediada pela reação
de hipersensibilidade tipo 1 (IgE).
272
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
A Rinite Idiopática (RI) é considerada o subtipo de rinite
não alérgica mais prevalente não descartando a avaliação
clínica para exclusão do diagnóstico de rinite alérgica (RA)
(GEORGALAS, 2012). Os fatores desencadeantes da RI são
inespecíficos e seus mecanismos não são totalmente
elucidados, algumas revisões na literatura especializada
também a denominam como rinite vasomotora (BOULAY,
2012).
A RI é caracterizada por obstrução nasal, gotejamento
nasal posterior e rinorreia profusa. Normalmente espirros e
prurido nasal não estão presentes. Na clínica tanto a história
familiar para alergia como os testes alérgicos são negativos
(KALINER, 2011). O tratamento é feito com corticosteroide
tópico cujo principal objetivo é melhorar a obstrução nasal e,
secundariamente, a rinorreia e o gotejamento nasal posterior.

Rinite medicamentosa

A Rinite Medicamentosa (RM) é desenvolvida após uso


abusivo e prolongado de vasoconstritores tópicos nasais e
com consequente efeito rebote de vasodilatação que pode se
tornar permanente devido à atonia vascular (SETTIPANE,
2011).
A RM representa 5% das rinites crônicas e é
caracterizada por vermelhidão, congestão nasal, rebote com
edema e friabilidade da mucosa nasal. Esses sintomas
observados são decorrentes do uso prolongado de
vasoconstritores nasais tópicos ou por drogas sistêmicas,
como os antihipertensivos (LIEBERMAN, 2016).
Entre os exemplos mais comuns de medicamentos de
uso prolongado capazes de desenvolver a rinite
medicamentosa estão: eserpina, guanitidina, fentolamina,
273
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
metildopa, enalapril, prazosina, aspirina, sildenafila e
clorpromazina além da classe dos contraceptivos orais.
Em relação ao tratamento da RM deve-se investigar e
tratar a causa que levou o paciente a fazer uso prolongado do
fármaco, estudos clínicos ressaltam que a causa mais comum
são as alterações anatômicas nasais (NASSAR, 2011). Na
primeira instância, deve-se suspender o descongestionante
tópico, fazer lavagens salinas nasais e usar corticosteroides
sistêmicos e/ou tópicos e descongestionantes sistêmicos. Se
as alterações forem de caráter permanente, a cirurgia de
conchas nasais inferiores deve ser considerada.

Rinite ocupacional

A classificação da rinite ocupacional (RO) é complexa e


atualmente não há um consenso (GRAMMER, 2016). A rinite
relacionada ao trabalho é essencialmente um fenótipo
oscilante (instável) em que uma rinite pré-existente ou
concomitante é agravada por fatores ocupacionais. Sua
classificação se baseia no ambiente de trabalho e no grau de
exposição aos aeroalérgenos neste ambiente (NOZARD,
2010). A partir disso já são descritas a rinite ocupacional
alérgica, rinite ocupacional imunológica não mediada por IgE e
a rinite ocupacional não alérgica (WALLACE, 2008).
A rinite ocupacional alérgica apresenta resposta
imunológica mediada por IgE que pode ser induzida por
antígenos de alto e/ou baixo peso molecular. Já a rinite
ocupacional imunológica não mediado por IgE é causada por
agentes de baixo peso molecular, incluindo produtos químicos
reativos, metais de transição e poeiras de madeira e é menos
comum (HOX, 2014).

274
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
A rinite ocupacional não alérgica também é denominada
síndrome da disfunção reativa das vias aéreas superiores. Ela
é causada por exposições a altas concentrações químicas de
irritantes ou exposições múltiplas a menores concentrações
químicas de irritantes ao longo do tempo, sendo a última forma
denominada rinite induzida por irritante (GOMEZ, 2015).
O sintoma predominante é a obstrução nasal em
decorrência de congestão da mucosa. Pode haver sintomas
associados, como: rinorreia aquosa, alterações olfativas,
ansiedade, depressão, etc. O tratamento visa orientar maior
equilíbrio entre trabalho e lazer, exercícios físicos e atividades
visando relaxamento e autoestima. Medicamentos apropriados
e orientação psiquiátrica podem ser necessários (AUDINO,
2014).

Rinite de idosos

A rinite nos idosos raramente tem causa alérgica, sendo


geralmente provocada por mecanismos não alérgicos, como o
desequilíbrio autonômico ou sequela de distúrbios nasais
prévios e do uso de medicamentos (SETTIPANE, 2011). Um
dos melhores exemplos de hiperreatividade nasal nesta faixa
etária é o “gotejamento nasal do idoso”, caracterizada por
rinorreia aquosa clara e profusa (BAPTIST, 2016).
O tratamento da rinite neste grupo de risco merece
atenção pois a probabilidade de ocorrer interação entre drogas
aumenta com a idade e com a quantidade de drogas utilizadas
para tratamento de comorbidades. Os antihistamínicos de
segunda geração são os mais utilizados na clínica pois os
clássicos podem causar retenção urinária e problemas de
acomodação visual. Vasoconstritores, especialmente os
sistêmicos, mais frequentemente promovem efeitos colaterais
275
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
cardiovasculares, no sistema nervoso central e retenção
urinária. Alguns medicamentos como inibidores da enzima
conversora de angiotensina (ECA) e betabloqueadores podem
agravar a obstrução nasal. O “clearance” dos antagonistas dos
receptores de leucotrienos está diminuído nos idosos podendo
ocorrer potencial interação com drogas que induzem o sistema
CYP 3A4 ou 2C9 (CSR, 2012; BAPTIST, 2016).

Rinite Alérgica

A Rinite Alérgica (RA) é um subtipo já bem decrito,


definido como uma condição inflamatória multifatorial, portanto
está relacionada a fatores genéticos e ambientais, como
pólen, poluentes, pó, ácaros e pelos de animais que entram
em contato com as vias aéreas superiores (RONDON, 2014).
O diagnóstico laboratorial é efetuado com o teste
cutâneo de Prick ou pela dosagem sorológica da
Imunoglobulina E (IgE) específica para evidenciar a
sensibilização mediada pela IgE que se correlaciona à historia
clínica no paciente de sintomas após uma única ou mais
exposições ao alérgeno (GERLADI, 2014) Figura (2).

Figura 2. Algoritmo para identificação de rinite alérgica e não


alérgica.

276
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS

No primeiro contato do alérgeno com o organismo


geneticamente predisponente, ocorre a apresentação e
ativação, via complexo principal de histocompatibilidade de
classe II (MHC-II), para os linfócitos T auxiliares (LThelper –
TH0), que se diferenciam em linfócitos do tipo TH2 (LLOYD,
2010). As células TH2, por sua vez, sintetizam citocinas tais
como IL-4 e IL-13 as quais promovem a diferenciação de
linfócitos B em plasmócitos produtores de IgE e IgG1
específicas para o alérgeno sensibilizante. A IL-4 também
participa do processo de indução de diferenciação dos LT
naives (LTH0) para TH2 (WILLS-KARP, 2000).
A IL-5 produzida por LTH2 é responsável pela
diferenciação, mobilização, ativação, recrutamento,
sobrevivência e crescimento dos eosinófilos. A eosinofilia das
vias aéreas bem como as ações das citocinas IL-4 , IL-5 e IL-
13 contribuem para a hiper-responsividade das vias aéreas em
quadros alérgicos, que é caracterizada pelo aumento da
sensibilidade do paciente a diversos estímulos como ar frio,
exercícios físicos, poeira, fumaça e substâncias químicas
(COCKCROFT; DAVIS, 2006).
A participação de mastócitos em alergias depende
dessa resposta imune adaptativa que leva a célula B a
produzir IgE. A ligação de alta afinidade da IgE ao seu
receptor (FcɛRI) nos mastócitos proporciona a possibilidade da
ligação antígeno receptor. A combinação cruzada de um
peptídeo do alérgeno com no mínimo duas moléculas de IgE
ligadas ao FcƐRl presentes na membrana plasmática de
mastócitos teciduais e basófilos circulantes leva a liberação de
mediadores tais como: histamina, prostaglandinas e
leucotrienos promovendo prurido, contração do músculo liso,
277
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
vasoconstricção, aumento da permeabilidade vascular,
secreção de muco e migração celular causando edema e
inflamação (Mc GEADY, 2004). Na rinite alérgica, as
consequências patológicas da degranulação são locais,
conduz a sintomas clínicos como congestão, rinorreia, prurido
no nariz e aumento permeabilidade vascular (PAWANKAR,
2011).

Terapia da RA

Em 2014 foi realizado o último consenso sobre rinite e a


elaboração de diretrizes para o tratamento da RA. O
tratamento não farmacológico é baseado no controle do
ambiente reduzindo o grau de exposição aos aeroalérgenos.
Dentre as medidas farmacológicas mais utilizadas na clínica
estão a classe dos antihistamínicos, descongestionantes,
corticosteroides, antileucotrienos, broncodilatadores e a
imunoterapia. A solução salina têm sido empregada na
lavagem nasal, bem como coadjuvante no tratamento de
afecções nasais agudas e crônicas concomitante a outro tipo
de escolha terapêutica (PLATT, 2014).

Plantas medicinais na rinite

São consideradas plantas medicinais todas as plantas


frescas (in natura) coletadas no momento do uso, e também
as secas que, após a coleta são estabilizadas e que podem
ser utilizadas para o consumo do chá caseiro, preparadas de
modo artesanal (BRASIL, 2012).
A utilização das plantas medicinais acompanha a
evolução do homem através dos tempos. As propriedades de
seus compostos bioativos, justificam sua utilização para a
278
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
terapia alternativa de várias doenças (CARNEIRO, 2014). O
Brasil é um país que possui um verdadeiro império vegetal,
responsável por cerca de 10% de toda a flora mundial. Apesar
de ter proporcionado à humanidade produtos com
propriedades extraordinárias, como os curares, a emetina, a
pilocarpina e outros, continua a ser um país com muitas
potencialidades, considerando ser menos de 1% as espécies
vegetais brasileiras que foram analisadas sob o ponto de vista
químico e farmacológico (FERRO, 2006). Em virtude desta
expressiva flora nacional, a necessidade de incentivar
pesquisas sobre plantas brasileiras já se tornou evidente no
meio científico mundial.
Estudos anteriores relatam as principais plantas que
são estudadas pelo seu uso popular no tratamento da rinite
Tabela (1).
As plantas mais citadas nos artigos pesquisados
durante os anos de 1986 e 2017 já são reconhecidas pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária por suas
propriedades terapêuticas (BRASIL, 2010). Essas plantas são
reportadas como aquelas mais procuradas e utilizadas pela
população (SILVA, 2010). O Eucalipto (Eucalyptus globulus
Labil.), por exemplo, que foi a espécie mais citada nos artigos
pesquisados, Fig. (3) é utilizado na aromoterapia devido à
propriedade expectorante dos seus oléos essenciais.
Aproximadamente 34% a 65% da composição do Eucalyptus
globulus é representada pelo 1,8-cineol (KUMAR, 2012;
BEGROW, 2012). Na Alemanha, 1,8-cineol está disponível
como medicamento licenciado (Soledum) na forma
farmacêutica de comprimidos para desordens respiratórias
(HARRIS, 2007).

279
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS

Tabela 1. Plantas medicinais utilizadas no tratamento da rinite

Nome Nome Constituintes Ação Efeitos Potencial


popular científico químicos farmacológica adversos interação
Guaco Mikania Sesquiterpenos Antitussígeno, e Taquicardia, Anticoagulantes e
glomerata , taninos, broncodilatador náuseas, vômito, anti-inflamatórios
saponinas, diarreia e
resinas, hipertensão.
guacina,
cumarinas,
guacosídeo
Alcaçuz Glycyrrhiz Glicirrizina Anti-inflamatória, Cefaléia, Antihipertensivos
a glabra (saponina), mineralocorticóide letargia, retenção e diuréticos,
glicosídeo, , diurético, de sódio e de corticosteroides,
ácido antitussígeno e água, digoxina e anti –
glicirrético, antialérgico. hipopotassemia, inflamatórios.
manose, e hipertensão.
glicose,
triterpenóides.
Gengibre Zingiber Gingerol, citral, Anti-inflamatório Depressão do Anticoagulantes
officinalis 1-8 cineol, SNC, arritmias
R. zingibereno, (superdose) e
bisaboleno, irritação gástrica.
geraniol,
ácidos
orgânicos e
resinas.
Eucalipto Eucalyptu Óleo essencial Expectorante Náuseas, Analgésicos e
s globulus (eucaliptol ou vômitos e ansiolíticos
Labil. cineol), alfa e diarreia, irritação
beta pineno, cutânea em
alfa terpinol, casos de
borneol. hipersensibilidad
Taninos, e ao óleo.
ácidos
fenólicos,
flavonóides.
Ceras
Equinace Echinacea Equinaceína, Imunoestimulante Náuseas, Itraconazol,
a purpurea equilona, , imunomodulador vômitos, dor estatinas,
equinacosídeo, abdominal, fexofenadina e
polissacarídeos diarreia ou prisão anticoncepcionais
, flavonóides, de ventre, febre .
óleos e xerostomia.
essenciais.
Ginseng Panax Triterpenos e Anti-inflamatório Insônia, Hipoglicemiantes
ginseng saponinas hipertensão, orais e inibidores
diarreia, da Monoamina
hipoglicemia, oxidade (MAO)
inibição
plaquetária

280
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
Figura 3. Número de artigos publicados na base Science
direct, Pubmed e Ebrary (1986-2017) vs planta medicinal

80

60
Nº de artigos

40

20

0
at
a ra R
. il. ea g
er lab lis ab ur s en
g a L rp n
om za in us pu gi
gl hi ffic ul a ax
ia rr o ob e n
c
an cy er gl na Pa
ik ly ib us hi
M G n g t c
p
Zi ly E
u ca
E

Embora não se tenha muito investimento para


pesquisas com plantas medicinais, é possível observar a
necessidade de estudos científicos que demonstram as
propriedades curativas e preventivas das plantas bem como a
formulações de novos medicamentos fitoterápicos para
doenças respiratórias (LORENZI, 2002).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
regulamentou os fitoterápicos no Brasil como medicamentos
convencionais que precisam apresentar critérios de qualidade,
segurança e eficácia, vai levantamentos etno-farmacológicos
de utilização, documentações tecnocientíficas em estudos
farmacológicos e toxicológicos pré clínicos e clínicos (BRASIL,
2009).
Para a seleção das espécies vegetais a serem
estudadas, três critérios podem ser adotados: (1) critério
randômico: a escolha da planta de forma aleatória, desde que

281
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
tenha disponibilidade de exemplares da planta; (2) critério
etnobotânico: a escolha de uma classe química de substância
em gênero ou família e (3) critério etnofarmacológico: a
escolha baseada nas informações obtidas pelo uso popular e
evidências terapêuticas (MACIEL, 2002).

Estudos pré clínicos e perspectivas

No Brasil, a utilização de modelos experimentais in vivo


de rinite e o uso de novas substâncias para o seu tratamento
ainda são raros.
Cissampelos sympodialis Eich, popularmente conhecida
como "jarrinha" ou "Milona", é uma planta encontrada no
Nordeste e Sudeste do Brasil. Pertence à família
Menispermaceae, e reconhecida pela produção de vários tipos
de alcalóides, como bisbenzilisoquinolínicos e
morfinandienônico (BARBOSA-FILHO, 2000).
Bisbenzilisoquinolínicos são conhecidos por terem várias
atividades farmacológicas inclusive atividade antiparasitária,
em particular contra Leishmania sp. (FOURNET, 1993),
Trypanossoma cruzi (ROJAS DE ARIAS, 1994) e Plasmodium
sp. (ANGERHOFER, 1999). Popularmente, o infuso das folhas
e raízes da Cissampelos sympodialis é amplamente utilizado
para tratar várias doenças inflamatórias, como asma,
bronquite, artrite e reumatismo (BARBOSA-FILHO, 1997).
Portanto, o estudo das possíveis atividades farmacológicas
desta planta torna-se tão importante.
Estudos fitoquímicos com os extratos da Cissampelos
sympodialis resultaram no isolamento, identificação e
caracterização de alcaloides do tipo bisbenzilisoquinolínicos
warifteina e metilwarifteina, do alcaloide morfinânico milonina e
do alcaloide aporfínico laurifolina (BARBOSA FILHO, 2000). Já
282
RINITE: NOVOS FENÓTIPOS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS
foi descrito que o extrato hidroalcoolico das folhas da C.
sympodialis e seus alcaloides apresentam atividade
antialérgica, antiasmática e imunomoduladora (BEZERRA-
SANTOS, 2006; COSTA, 2008; PIUVEZAM, 1999; VIEIRA,
2013) além de inibir a síntese de IgE e a atividade de citocinas
em modelo experimental de alergia alimentar (BEZERRA-
SANTOS, 2004).
Em modelo de rinite alérgica, resultados preliminares
apontam o efeito antialérgico da warifteina e da metilwarifteina
pela diminuição do número de células totais no fluido do
lavado nasal (NALF) e no fluido do lavado broncoalveolar
(BALF), principalmente por uma ação redutora do número de
neutrófilos e eosinófilos. Em paralelo, foi observado que
sistemicamente esses alcaloides diminuiem o título de IgE em
soros de camundongos (PEREIRA, 2016; GADELHA, 2015).

4 CONCLUSÕES

Diante do exposto, é possível concluir que a rinite é


considerada uma doença multifatorial e que recentes estudos
demonstram sua versatilidade promovendo o conceito de que
a rinite pode apresentar vários fenótipos conforme a genética,
exposição a certos ambientes ocupacionais, frequência de
exposição e capacidade de resposta após instalação do
quadro. A compreensão dos fenótipos da rinite é de extrema
importância para promover um tratamento racional e individual
otimizando a obtenção do sucesso terapêutico, além de ser
essencial e incentivante para a descoberta de novos fármacos,
o que torna o assunto importante para todos os profissionais
de saúde.

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287
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
CAPÍTULO 15

SOROPREVALÊNCIA PARA
LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
Thiago Willame Barbosa ALVES1
Francisco Patricio de ANDRADE JÚNIOR1
Edson Douglas Silva PONTES2
Brenda Tamires Medeiros de LIMA1
Vanessa Santos de Arruda BARBOSA3
1
Graduandos do curso de Farmácia, UFCG; 2 Graduando do curso de Nutrição, UFCG;
3
Professora Doutora e Bióloga da Unidade Acadêmica de Saúde (UAS), UFCG;
vanessabarbosa@ufcg.edu.br

RESUMO: A Leishmaniose Visceral Canina (LVC) é uma


parasitose causada pelo protozoário flagelado Leishmania
(Leishmania) infantum chagasi, sendo transmitida por insetos
Lutzomyia infectados. A epidemiologia da doença varia de
região para região, sendo a região Nordeste do Brasil a mais
endêmica para a parasitose. O objetivo do trabalho foi fazer
uma revisão da literatura do tipo narrativa, sobre a
soroprevalência da Leishmaniose Visceral Canina nas cidades
da região nordestina do país. Foi feito uma pesquisa
documental, nas bases de dados Medline, Pubmed, Lilacs,
Science Direct e Scielo, entre os anos de 2013 a 2017,
utilizando-se vários descritores em diversas combinações
(Leishmaniose Visceral Canina, Nordeste, soroprevalência,
doença do cão, entres outros). Desse período foi analisado
357 documentos, sendo selecionados 57 para o estudo. A
LVC foi catalogada em todos os estados da região nordestina,
sendo registrada nas cidades de Campina Grande-PB,
Cururupu-MA, João Pessoa-PB, Patos-PB, Natal-RN, Caxias-
MA, Açalândia-MA, Mossoró-RN, São Miguel-RN, São Bento –
MA, Ilhéus-BA, Itabuna-BA, Feira de Santana-BA, Talhada-PE,
288
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
Itaporanga-PB, Cuité-PB, Aquiraz-CE, Itaitinga-CE, Goiana-
PE, dentre outras. A soroprevalência foi alta nas cidades
Caruaru-PE (31,9%), Mossoró-RN (39%), Sobral-CE (100%),
Buererema-BA (50,3%) e Jequié-BA (84,5%), quando
comparado com outros municípios do Nordeste. Em virtude da
situação epidemiológica de várias cidades nordestinas,
sugere-se a aplicação ou continuação de medidas que
possam combater e diminuir o número de casos caninos de
Leishmaniose Visceral nessa região.
Palavras-chave: Leishmaniose Visceral Canina. Doença do
cão. Estudo soroepidemiológico.

1 INTRODUÇÃO

A leishmaniose visceral americana (LVA) ou calazar é


uma protozoose negligenciada de grande importância para a
saúde pública mundial. É causada pelo protozoário flagelado
Leishmania (Leishmania) infantum chagasi e transmitido pela
picada da fêmea de flebotomíneos, Lutzomyia spp. no novo
mundo e Phlebotumus spp. no venho mundo (KER, 2016).
Esses insetos são considerados de importância médica e
veterinária, por serem os vetores naturais dos protozoários do
gênero Leishmania, causadores das leishmanioses (ALVES;
BARBOSA, 2016). O inseto transmissor é pequeno, possui
corpo revestido por pelos, apresenta coloração clara e possui
voo em pequenos saltos (PIRES; BRAGA; SILVA, 2016). Sua
reprodução ocorre em solo úmido, rico em matéria orgânica
em decomposição, sendo encontrado em diversos países da
América Latina (CALIGIURI, 2016; SILVA et al., 2017). No
Brasil, o principal vetor é o Lutzomyia longipalpis, tendo essa
parasitose caráter zoonótico no país (GUIMARÃES-E-SILVA
et al., 2017).

289
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
Estima-se que no mundo surgem cerca de 700 mil a 1
milhão de novos casos de leishmaniose, com cerca de 20 a 30
mil mortes anualmente. Cerca de 98 países já registraram a
parasitose (MOUTTAKI et al., 2014), porém 90% dos novos
casos de Leishmaniose Visceral (LV) se concentram no Brasil,
Etiópia, Índia, Quênia, Somália, Sudão do Sul e Sudão (WHO,
2017). A LVA, na América Latina já foi registrada desde o
México a Argentina, ocorrendo no Brasil uma grande
expansão dessa parasitose, já que o vetor e protozoário
encontraram condições adequadas para sua sobrevivência
(WHO, 2017). Na região Nordeste do Brasil, a parasitose
adquire caráter endêmico, sendo registrado muitos surtos
epidêmicos em diversos estados dessa região (CAVALCANTE
E VALE, 2014).
No ano de 1990, cerca de 85% dos casos de LV foram
notificados na região Nordeste, e a parasitose estava presente
em todas as Unidades Federativas (UF) dessa região, tendo o
estado da Bahia o maior número de casos (849) registrados
nesse ano (BRASIL, 2017a; PIRES; BRAGA; SILVA, 2016).
Dentre os anos de 2000 a 2015 a região nordestina
apresentou 29.821 casos confirmados de LV, com um
coeficiente de incidência de 3,2 por 100.000 habitantes. Os
estados do Maranhão (539), Ceará (419) e Bahia (320) foram
aqueles que registram o maior número de casos na região no
ano de 2015, tendo a o estado da Paraíba registrado 38 casos
nesse mesmo ano (BRASIL, 2014; VIANA et al., 2015;
BRASIL, 2017a; BRASIL, 2017b). São considerados fatores de
risco para a doença: baixas condições socioeconômicas,
desnustrição, migrações populacionais, mudanças ambientais
e climáticas (WHO, 2017).

290
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
Os cães são considerados importantes reservatórios do
parasito nas áreas urbanas de diversos países. No Brasil a
leishmaniose visceral canina (LVC), apresenta a maior taxa de
incidência na região Nordeste (NASCIMENTO, 2016), servindo
os cães parasitados de fonte de infecção para os
flebotomíneos (COIMBRA et al, 2013). A dispersão da doença
a partir dos focos enzoóticos ocorre por conta da convivência
do homem com os animais domesticados, secas prolongadas
e periódicas, processo de urbanização, práticas agrárias e
condições precárias de habitação, conhecendo assim o
importante papel dos cães como reservatórios e
disseminadores da LVA (BELO et al., 2013; COSTA, 2014;
PEREIRA, 2016; CORDEIRO et al., 2016).
A doença tem sido mais prevalente nos cães do que
nos humanos, demostrando que a enzootia canina facilita o
ciclo de transmissão da parasitose (ALVES; ANDRADE
JÚNIOR; BARBOSA, 2017). Devido a esse fator, os cães tem
sido o principal alvo das campanhas de controle e combate da
doença, por albergar o protozoário silenciosamente como
portador assintomático, onde medidas devem ser tomadas
para controlar e determinar a prevalência da LVC, destruindo
os possíveis focos ativos dessa parasitose (PEREIRA, 2016).
No Brasil a LVC não é de notificação compulsória, não
existindo assim um banco de dados para esse grave problema
de saúde pública. O Ministério da Saúde (MS) preconiza duas
técnicas para o diagnóstico da LVC no país, sendo aplicado o
teste imunocromatográfico e o ELISA (Enzyme-Linked
Immunosorbent Assay ou ensaio de imunoabsorção
enzimática) em todos os estados nordestinos e brasileiros
(BRASIL, 2017c). O primeiro é um teste rápido utilizado na

291
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
triagem dos cães e o segundo é o teste confirmatório (ESC,
2015).
Diante desse contexto e visto a coexistência da LVC
com à doença humana, o objetivo desse trabalho foi fazer uma
revisão bibliográfica para se conhecer o panorama da
soroprevalência da LVC na região Nordeste do país,
comparando e observando os estados e cidades de maior
soroprevalência e consequentemente de maior risco para os
animais e humanos.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Delineamento do estudo


O presente estudo tratou-se de uma revisão
bibliográfica do tipo narrativa. Foram utilizados artigos
publicados em periódicos especializados e em anais de
eventos científicos, dissertações, teses e diretrizes escritas
nas línguas inglesa e portuguesa, utilizando-se os
delimitadores e palavras-chaves: 1) Leishmaniose Visceral
Canina; 2) Nordeste; 3) Soroprevalência; 4) Doença do cão; 5)
Paraíba; 6) Pernambuco; 7) Rio Grande do Norte; 8) Bahia; 9)
Maranhão; 10) Sergipe; 11) Alagoas; 12) Piauí; 13) Ceará; 14)
Visceral Canine Leishmaniasis; 15) Northeast; 16)
Seroprevalence; 17) Dog disease, utilizadas isoladas e
associadas em várias combinações.

2.2 Critérios de Inclusão e Exclusão


Foram incluídos estudos que em seu conteúdo
trouxessem informações acerca da soroprevalência de LVC
nas cidades da região Nordeste do Brasil e que possuíam
informações claras sobre a metodologia de diagnóstico

292
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
sorológico, de estudos publicados entre os anos de 2013 a
2017. Estudos que não atenderam o tempo cronológico
delimitado, que foram realizados em outras regiões do Brasil
ou em outros países e que não trouxeram informações
concisas acerca da soroprevalência ou dos testes sorológicos
aplicados nos estudos, foram excluídos.

2.3 Fontes de Informação


Os artigos foram recuperados a partir das bases de
dados: Lilacs (Centro América Latina e Caribe em Ciências da
Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Medline
(Medical Literature Analysis and Retrivel System Online),
Pubmed (Public Medline or Publisher Medline), Science Direct,
Banco de Teses e Dissertações de Universidades Públicas e
dos comitês nacionais e internacionais de saúde.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 357 documentos, contudo somente


57 foram utilizados para a construção e elaboração dos
resultados do estudo.
A LVC tem registrado diversos surtos em vários estados
e cidades da região Nordeste do Brasil (PENHA et al., 2013;
ARAÚJO et al., 2014; FERNANDES et al., 2016), demostrando
que os cães são altamente susceptíveis à infecção, por
possuírem elavado parasitismo cutâneo (FIGUEIREDO et al.,
2014). O estado do Maranhão é um dos estados mais
endêmicos para LVC no Nordeste, pois esse apresenta
indicadores desfavoráveis de saúde, socioeconômicos e
ambientais, contribuindo assim para a expansão da doença
(VIANA et al., 2015).

293
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
Observando a situação do estado maranhense, Costa
(2015) analisou a soroprevalência de LVC em diversas
cidades. De 960 cães investigados, 15,4% (n= 148), 13,1%
(n= 126) e 59,1% (n= 568), foram sororreagentes nos testes
Imunocromatográfico rápido (DPP), Reação de
Imunofluorescência Indireta (RIFI) e Ensaio Imunoenzimático
(ELISA), respectivamente. Quando o diagnóstico foi realizado
por aspiração de linfonodo poplíteo, percebeu-se que 0,73%
(n= 7) dos cães foram positivos para Leishmania infantum
chagasi. Dentre os municípios analisados do estado do
Maranhão, São Domingo-MA foi o que apresentou a maior
soroprevalência (33,1%) “Tabela (1)”.

Tabela 1. Soroprevalênvia de LVC em municípios do estado


do Maranhão (MA), Região Nordeste do Brasil, de 2013 a
2017.
Autor Cidade Total de cães Soropreva Metodo
investigados lência logia
COSTA São Bento- 160 0,6% DDP*
et a.l, MA N=1 RIFI**
2015 ELISA***

COSTA Cururupu- 160 2,5% DDP*


et al., MA N= 4 RIFI**
2015 ELISA***

COSTA Açalandia- 160 14,4% DDP*


et al., MA N= 23 RIFI**
2015 ELISA***

COSTA São 160 33,1% DDP*


et al., Domingo- N= 53 RIFI**

294
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
2015 MA ELISA***

COSTA Barreirinhas 160 8,7% DDP*


et al., -MA N= 14 RIFI**
2015 ELISA***
*Imunocromatográfico rápido
**Reação de Imunofluorescência Indireta
***Ensaio Imunoenzimático
Fonte: Autores.

Visto a situação epidemiológica de algumas cidades do


estado do Maranhão, é importante ressaltar alguns fatores que
levam a alta prevalência de surtos de LVC em alguns
municípios dessa região. Na cidade Codó-MA, onde a
prevalência de LVC é elevada, foi observado o ciclo de
transmissão e a importância dos flebotomíneos, pois 29,9%
desses insetos se encontraram no intradomicílio, tendo grande
importância não apenas na infecção canina como no risco da
infecção humana, o que configura um grande problema de
saúde pública do estado e do Nordeste (SILVA et al., 2015).
Já na capital do estado do Maranhão, São Luis-MA foi
observado que a doença está sofrendo um frequente processo
de urbanização, pois foi detectado a ocorrência de focos de
transmissão ativa de LVC na zona urbana da cidade (PENHA
et al., 2013).
O estado da Paraíba, assim como o estado do
Maranhão é endêmico para LVC, pois a análise sorológica que
englobou 1.043 cães dos municípios de João Pessoa,
Campina Grande, Patos, Sousa e Cajazeiras mostrou uma
média de soropositividade correspondente a 7,8% (n= 81)
pelos métodos de ELISA e RIFI (FERNANDES et al., 2016),
sendo esse estudo de importância no conhecimento da

295
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
epidemiologia da LVC para o estado paraíbano, pois houve a
análise das soroprevalências de LVC das maiores cidades do
estado. Dentre os municípios paraibanos analisados, Patos-
PB e Campina Grande-PB, foi as cidades que apresentou
mais estudos de soroprevalência para LVC (2 estudos). Já a
cidade de Patos-PB, juntamente com a cidade de Itaporanga-
PB, foram os municípios paraibanos que obtiveram a maior
soroprevalência do estado, sendo de 18,4% e 13,9%,
respectivamente “Tabela (2)”.

Tabela 2. Soroprevalênvia de LVC em municípios do estado


da Paraíba (PB), Região Nordeste do Brasil, de 2013 a 2017.
Autor Cidade Total de cães Soropre Metodo
investigados valência logia
SILVA et al., Patos- 362 11,3% TR-
2016 PB N= 41 DDP*
ELISA**

FERNANDES João 338 5,9% RIFI***


et al., 2016 Pessosa- N= 20 ELISA**
PB

FERNANDES Campina 249 3,6% RIFI***


et al., 2016 Grande- N= 9 ELISA**
PB

FERNANDES Sousa- 125 4% RIFI***


et al., 2016 PB N= 5 ELISA**

296
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
FERNANDES Cajazei 125 7,2% RIFI***
et al., 2016 ras-PB N= 9 ELISA**

FERNANDES Patos- 206 18,4% RIFI***


et al., 2016 PB N= 38 ELISA**

ALVES; Cuité-PB 92 4,3% ELISA**


PONTES; N= 4
BARBOSA,
2016

ALVES; Itaporan 180 13,9% ELISA**


ANDRADE ga-PB N= 41
JÚNIOR;
BARBOSA,
2017

BRITO et al., Campina 391 4,3% ELISA**


2016 Grande- N= 17
PB
*Teste rápiodo - Imunocromatográfico rápido
** Ensaio Imunoenzimático
***Reação de Imunofluorescência Indireta
Fonte: Autores.

A LVC no estado da Paraíba, foi mais registrada nas


cidades do sertão, pois dentre todas as cidades analisadas,
quatro (Cajazeiras-PB, Patos-PB, Sousa-PB e Itaporanga-PB)
se econtram nessa região (SILVA et al., 2016; FERNANDES
et al., 2016; ALVES; ANDRADE JÚNIOR; BARBOSA, 2017).
Porém a LVC não está restrita a apenas uma região do estado
297
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
paraibano, pois foi catalogada desde o sertão até o litoral do
estado, existindo uma grande probabilidade dos cães serem
infectados e consequentemente servirem de possíveis focos
silenciosos e disseminadores da parasitose no estado.
No Rio Grande do Norte, a parasitose foi registrada
desde o Oeste ao Leste Potiguar (COSTA et al., 2014; ANDRE
et al., 2013; ARAÚJO et al., 2014; BARBOSA; CARLOTA;
ANDRADE NETO, 2015). Dentre os municípios analisados,
Mossoró-RN foi o município que obteve o maior número de
estudos analisados (2 estudos), sendo observado
soroprevalência para LVC de 39% e 16,1% pelos métodos de
PCR e ELISA respectivamente “Tab. (3)”. Ainda foi observado
maior soroprevalência nos municípios potiguar, quando
comparado aos municípios paraibanos e maranhenses.

Tabela 3. Soroprevalênvia de LVC em municípios do estado


do Rio Grande do Norte (RN), Região Nordeste do Brasil, de
2013 a 2017.
Autor Cidade Total de cães Soropreva Metodo
investigados lência logia
COSTA et Mossoró- 71 39% PCR*
al., 2014 RN N= 28

ANDRE et Mossoró- 33.062 16,1% ELISA**


al., 2013 RN N= 5.010

ARAÚJO et São 100 21% ELISA**


al., 2014 Miguel- N= 21
RN

BARBOSA; Natal-RN 1.426 10,3% RIFI***


CARLOTA; N= 147 ELISA**

298
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
ANDRADE
NETO,
2015
*Reação de Cadeia de Polimerase
** Ensaio Imunoenzimático
***Reação de Imunofluorescência Indireta
Fonte: Autores.

Em Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, o


Centro de Controle de Zoonoses confirmou 101 casos de LVC
entre os anos de 2015 e 2017, pórem esse número cresce
para 1.200 casos, quando os testes foram realizados em
clínicas particulares, demostrando a importância do Programa
de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, que tem
como um dos objetivos eliminar os reservatórios de LVC
(ZUBEN; DONALÍSIO, 2016; ARN, 2017).
Na Bahia, a LVC é um grave problema de saúde
pública, pois esse estado nordestino é o que mais sofre com
surtos LVC, apresentando crescente aumento de casos
caninos em diversas cidades do estado (SOUSA, 2013).
Dentre os municípios baianos investigados, pode-se perceber
que as cidades de Jequié-BA e Buererema-BA foram as
cidades de maior sororprevalência no estado, sendo de 84,5%
e 50,3% respectivamente “Tabela (4)”.
Em cidades do estado de Pernambuco, a LVC vem
demonstrando mudanças no seu comportamento
epidemiológico, pois os reflexos dos processos de
urbanização, constado também em outros estados
nordestinos, tem promovido o aumento no número de casos
de LVC em áreas urbanas do estado (AGRA, 2016).

299
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
Tabela 4. Soroprevalênvia de LVC em municípios do estado
da Bahia (BA), Região Nordeste do Brasil, de 2013 a 2017.
Autor Cidades Total de Soropre Metodo
cães valência logia
investigado
s
CARVALHO Barreiras- 100 40% ELISA*
et al., 2014 BA, N=40
Eunápolis-
BA, Ilhéus-
BA,
Itabuna-BA
e Feira de
Santana-BA

LEITE, 2016 Camaçari- 852 19,1% ELISA*


BA N= 163

GOMES, Juazeiro-BA 383 5,2% ELISA*


2013 N= 20

MUNFORD, Jequié-BA 58 84,5% ELISA*


2016 N= 49

LEÇA Buererema- 292 50,3% RIFI**


JÚNIOR et BA N= 147
al., 2015

GONÇAL Camaçari- 800 19,8% ELISA*


VES, 2014 BA N= 158
* Ensaio Imunoenzimático
**Reação de Imunofluorescência Indireta
Fonte: Autores.

300
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
Em Caruaru-PE, foi observado o aumento da
soroprevalência de LVC, de 1,4% (24/1671), em 2005, para
31,9% (347/1174), em 2010, onde no ano de 2006 o número
de animais sororreagentes foi maior na zona urbana que na
zona rural (SOUZA et al., 2014). Dentre os outros municípios
pernambucanos analisados, Recife-PE, capital do estado, foi o
município de maior soroprevalência para LVC, sendo essa de
57,5% “Tabela (5)”.

Tabela 5. Soroprevalênvia de LVC em municípios do estado


de Pernambuco (PE), Região Nordeste do Brasil, de 2013 a
2017.
Autor Cidades Total de cães Soropreva Metodo
investigados lência logia
SILVA, Serra 86 7% ELISA*
2013 Talhada- N= 6
PE

ARAUJO et Petrolina 1.245 11,2% RIFI**


al., 2016 -PE N= 140 ELISA*

ANDRADE, Goiana- 360 5,8% ELISA*


2014 PE N= 21

MEDEIROS Recife- 40 57,5% ELISA*


et al., 2013 PE N= 23
* Ensaio Imunoenzimático
**Reação de Imunofluorescência Indireta
Fonte: Autores.

Outros municípios da região Nordeste foram analisados,


observando que a LVC é endêmica em cidades dos estados
do Ceará, Piauí e Alagoas (CHAVES et al., 2013; SA; LEITE,

301
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
2013; CAMPOS; COSTA, 2014; CORDEIRO et al., 2016;
GOMES et al., 2017). Dentre os municípios analisados, as
cidades de Sobral-CE e Teresina-PI foram as que obtiveram
as maiores soroprevalências dos respectivos estados
analisados, sendo de 100% e 73%, respectivamente “Tab.
(6)”. O município de Sobral-CE, apresentou a maior
soroprevalência dentre todas as cidades nordestinas
analisadas no estudo.

Tabela 6. Soroprevalênvia de LVC em municípios dos estados


do Ceará (CE), Alagoas (AL) e Piauí (PI), Região Nordeste do
Brasil, de 2013 a 2017.
Autor Cidades Total de cães Soropre Metodo
investigados valência logia
GOMES et Farias 273 45,4% ELISA*
al., 2017 Brito-CE N= 124

CHAVES et Aquiraz- 713 22% ELISA*


al., 2013 CE e N= 157
Itaitinga-
CE

SA; LEITE, Sobral-CE 15 100% RIFI**


2013 N= 15 ELISA*

CAMPOS; Teresina- 65 53,8% TR-


COSTA, PI N= 35 DDP***
2014 RIFI**
ELISA*
FREITAS et Teresina- 100 73% ELISA*
al., 2017 PI N= 73

302
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
SANTOS et Bom 53 7,5% RIFI**
al., 2014 Jesus-PI N= 4

CORDEIRO Microrregi 250 16,8% RIFI**


et al., 2016 ão N= 42
Serrana
dos
Quilombos
-AL
*Ensaio Imunoenzimático
**Reação de Imunofluorescência Indireta
***Teste rápiodo - Imunocromatográfico rápido
Fonte: Autores.

4 CONCLUSÕES

A LVC está presente em diversas cidades nordestinas,


com soroprevalência alta nas cidades Caruaru-PE (31,9%),
Mossoró-RN (39%), Sobral-CE (100%), Buererema-BA
(50,3%) e Jequí-BA (84,5%) quando comparado a outros
municípios nordestinos. Dentre as capitais investigadas do
Nordeste, pode-se perceber que a cidade de Teresina-PI
(73%) foi a que obteve a maior soroprevalência, quando
comparada com Natal-RN (10,3%), João Pessoa-PB (5,9%) e
Recife-PE (57,5%), podendo a localização geográfica, fatores
climáticos e socieconômicos, contribuir para a maior
soroprevalência dessa capital nordestina.
Em todos os municípios analisados foi possível
observar a realização de inquéritos sorológicos, os quais
contribuíram para a localização dos focos ativos de LVC e
consequentemente conhecer as áreas de maior risco à
população. A situação epidemiológica das cidades nordestinas
analisadas, sugere a aplicação ou continuação de medidas
303
SORORPREVALÊNCIA PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO
NORDESTE BRASILEIRO: UMA REVISÃO
que possam combater e diminuir o número de casos caninos
de LV.

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309
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
CAPÍTULO 16

CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO


Cínthia Nóbrega de Sousa DIAS1
Bruna Macêdo GOIS2
Viviane Silva LIMA3
Ronara Adriane Gonçalves CAMBUÍ 2
Tatjana de Souza Lima KEESEN4
1
Pós graduanda do PgPNSB/CCS/UFPB; 2Graduandas do curso de
Biotecnologia/Cbiotec/UFPB; 3Graduanda do curso de Farmácia CCS/UFPB
4
Orientadora/Professora Cbiotec-UFPB.
cinthia@pibja.org

RESUMO: O vírus da chikungunya (CHIKV) é um alfa vírus


pertencente à família Togaviridae sendo encontrado em
regiões de clima tropical e subtropical. A infecção pelo CHIKV
é acarretada por um ciclo que envolve mosquitos vetores do
gênero Aedes sp., levando a uma doença caracterizada
principalmente por febre alta, dor de cabeça, mialgia, erupção
cutânea e dor articular. O CHIKV é originário da África, sendo
primeiramente isolado na Tanzânia. No Brasil, a primeira
transmissão autóctone foi detectada no estado do Amapá,
disseminando-se por todo o país. A caracterização da infecção
é realizada por diversos métodos que identificam a ausência
de infecção, uma infecção prévia ou a presença de uma
infecção aguda, porém ainda não existem medicamentos
antivirais, vacinas ou drogas preventivas utilizadas para o
tratamento de infecção pelo vírus da chikungunya. Muitos dos
desafios relacionados ao vírus incluem a rápida disseminação
dessa doença e a identificação antecipada dessa transmissão
para tomada de medidas protetivas que possam impedir a
propagação de grandes surtos, além da necessidade do
desenvolvimento de drogas específicas para o vírus. Esse
capítulo de revisão aborda as características do vírus da
chikungunya, incluindo os ciclos de transmissão da doença,

310
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
manifestações clínicas epidemiologia, diagnósticos,
tratamentos utilizados e desafios envolvidos com essa
infecção de grande impacto na população brasileira.
Palavras-chave: CHIKV. Infecção. Artralgia.

1 INTRODUÇÃO

O vírus da Chikungunya (CHIKV) é um vírus RNA


positivo pertencente ao gênero Alphaviridae e à família
Togaviridae (VU; JUNGKIND; LABEAUD, 2017). Encontrado
em regiões tropicais e subtropicais. Foi primeiramente isolado
em 1953 em pacientes febris em um surto no planalto
Makonde no norte da província da Tanzânia. O nome
Chikungunya, derivado da língua Makonde, significa “aquele
que se dobra” ou “tornar-se contorcido” e é usado para
descrever tanto o vírus quanto à doença. A doença é
caracterizada principalmente por febre alta, dor de cabeça,
mialgia, erupção cutânea e dor articular (BURT et al., 2012).
Juntamente com outros alfavírus, o vírus da CHIK apresenta
sua característica mais destacada, que é a capacidade
artritogênica (PAL, 2015; WESLUVA OLIVIA et al., 2015). Na
maioria dos pacientes os sintomas desaparecem em alguns
dias, porém, outros apresentam dores articulares que podem
persistir por anos, característica de um quadro de doença
crônica.
O objetivo deste trabalho foi reunir informações
relevantes pra o entendimento desta arbovirose e transmitir
esse conhecimento à comunidade científica e a população de
maneira clara, objetiva e relevante.

311
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
1 MATERIAIS E MÉTODO

A presente revisão foi realizada entre os meses de


junho e setembro de 2017, por pesquisa bibliográfica. Esta
pesquisa incluiu artigos publicados ao longo de um período de
5 anos, utilizando-se as bases de dados PubMed, SciFinder,
Nature e Elsevier. Para a realização da pesquisa foram
utilizadas palavras chaves que atendessem a necessidade da
revisão. A seleção dos artigos utilizados na presente revisão
foi baseada nos critérios de inclusão a seguir: Resumo, artigos
com palavras-chave no título, data da publicação do artigo,
fator de impacto do artigo e relevância epidemiológica.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 O VÍRUS

O vírus chikungunya consiste em um envelope de


fosfolipídio, um capsídeo com 60 a 70-nm de diâmetro e um
RNA de sentido positivo de cadeia simples de
aproximadamente 12 kb contendo 2 sequências de leitura
aberta (ORFs- opening reading frames). A ORF no final
5’(PAL, 2015) codifica 4 proteínas não estruturais (nsP1-
nsP4), que formam o complexo de replicação envolvido na
síntese de RNA genômico bem como o RNA subgenômico
(WICHIT et al., 2017), e o ORF no final 3’ (PAL, 2015) codifica
proteínas estruturais que compõem o capsídeo viral,
glicoproteínas do envelope E1 e E2 (SILVA et al., 2014), e
dois pequenos produtos de clivagem, E3 e 6K (VU;
JUNGKIND; LABEAUD 2017).

312
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
O gênero Alfavírus, o qual pertence o CHIKV é
composto por vários sorocomplexos agrupados com base em
suas propriedades antigênicas (BURT et al., 2012). O CHIKV
pertence ao complexo antigênico do vírus da floresta Semliki,
juntamente com outros alfavírus transmitidos por mosquitos
vetores, tais como: Vírus do rio Ross, vírus de Mayaro,
o'nongong-nyong, Getah, Bebaru e Semliki Forest. Estudos
indicam que CHIKV é de origem a africana, onde duas
linhagens geneticamente distintas foram identificadas, a
linhagem da África ocidental e a linhagem oriental, central e
sul africana, que inclui um genótipo asiático. Antes dos anos
2000, surtos de CHIKV não aconteciam com frequência.
Porém, desses anos pra cá, os focos se tornaram mais
frequentes e evidências genéticas sugerem possíveis
mecanismos de adaptação evolutiva do vírus ao mosquito
vetor (KOGA et al., 2017).

3.2 CICLO DE TRANSMISSÃO

O vírus da Chikungunya (CHIKV) é transmitido por


mosquitos dípteros especialmente do gênero Aedes,
destacando-se o Aedes aegypti em áreas urbanas e Aedes
albopictus em áreas rurais (HONÓRIO et al., 2015). Os ciclos
de infecção do vírus são classificados como ciclos silvestre e
urbano de acordo com a região e a espécie do vetor de
transmissão (NASCI, 2014). O ciclo silvestre, primeiramente
citado no continente africano, é um ciclo zoonótico que
envolve padrões semelhantes ao de outras arboviroses, como
a febre amarela, no qual o vírus é transmitido a um mosquito
vetor do gênero Aedes spp através do repasto sanguíneo em
primatas não humanos e roedores infectados com o vírus, em
seguida, caso o mosquito realize o repasto sanguíneo em um
313
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
hospedeiro não infectado, o mesmo poderá vir a ser
contaminado (KOGA, 2017) (Figura 1).
Já o ciclo urbano inicia-se quando o vírus encontra
situações favoráveis de proliferação em mosquitos adaptados
a áreas urbanas, como o Aedes aegypti, esses mosquitos
vivem em áreas domésticas ou peridomésticas, e por sua vez,
entram em contato com humanos, iniciando o processo de
infecção na realização do repasto sanguíneo a um indivíduo
não infectado (THIBERVILLE et al., 2013) (Figura 1). Após a
infecção, o tempo de incubação varia de 2-12 dias após o
repasto sanguíneo (DELISLE et al., 2015).
Os humanos funcionam como reservatório durante
períodos epidêmicos (vide epidemiologia), enquanto em
períodos inter-epidêmicos, muitos outros hospedeiros
reservatórios são utilizados, como macacos, roedores e
pássaros (THIBERVILLE et al., 2013). Para adquirir uma
transmissão eficiente, diversos fatores evolvendo os
hospedeiros, os vetores, o vírus e condições ambientais
devem convergir (VEGA-RÚA et al., 2014).
Diferenças entre a competência do vetor podem ser
encontradas em diferentes populações pertencentes a
diferentes espécies, sendo a relação entre o vetor e o vírus,
parâmetros fenotípicos que envolvem características genéticas
de ambos (WALDOCK et al., 2013; VEGA-RÚA et al., 2014).
No que diz respeito ao hospedeiro, o sistema imune dos
vertebrados costumam debelar a infecção em dias, porém, os
invertebrados, como os mosquitos vetores, apresentam um
suporte de vida ao vírus, garantindo maior tempo de infecção
(SOKOLOSKI et al., 2015).

314
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO

Figura 1. Demonstração dos ciclos de infecção silvestre (A) e


urbano (B) envolvidos na transmissão da chikungunya.

Fonte: Science in the News

A infecção se inicia após a inoculação do vírus por


mosquito fêmeas infectadas através da via intradermal em
capilares subcutâneos. O vírus da CHIKV possui um ciclo de
replicação semelhante a outros alfavírus, iniciando a
replicação imediatamente após a internalização do vírus nas
células permissivas da pele, como macrófagos, fibroblastos e
células epiteliais. A ligação da proteína do capsídeo E1 com
receptores celulares leva a fusão da partícula viral com a
membrana da célula hospedeira (PETITDEMANGE;
WAUQUIER; VIEILLARD, 2015) resultando na internalização
viral por endocitose, por mecanismos dependentes e
independentes de Clatrina (LEE et al., 2013; THAA et al.,

315
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
2015). Em seguida, as partículas virais são envolvidas por
endossomas iniciais, a partir dos quais o capsídeo viral é
liberado no citosol através da formação de poros de fusão
(LEE et al., 2013).
O último processo é desencadeado pelo ambiente de
baixo pH no endossoma que induz uma mudança irreversível
na conformação da glicoproteína e uma dissociação dos
heterodímeros E2/E1, seguidos de trimerizações E1(WICHIT
et al., 2017). A síntese do RNA viral acontece em complexos
localizados próximo à membrana plasmática (THAA et al.,
2015). As proteínas E1 e E2 são traduzidas no retículo
endoplasmático, transportadas através do Complexo de Golgi,
processadas na rede trans Golgi e, finalmente, transportadas
para a membrana plasmática onde ocorre o surgimento do
vírus (WICHIT et al., 2017).

3.3 EPIDEMIOLOGIA

O CHIKV é um alfavírus originário da África,


primeiramente isolado em 1952 no Planalto Makonde da
província do sul da Tanzânia, antigo Tanganyika
(THIBERVILLE et al., 2013). Após o isolamento do vírus, em
1953 sabe-se que o mesmo permaneceu circulante em ciclos
silvestres na África, sendo a primeira re-emergência
documentada com sua introdução no sudeste asiático e na
Índia, no ano de 2005, instalando-se em um ciclo esporádico
de transmissão urbana que permanece atualmente
(HONÓRIO et al., 2015; MORRISON; PLANTE, 2016; PRESTI
et al., 2016). Esses surtos documentados são associados a
mutações no genoma viral do CHIKV que facilitaram a
replicação do vírus em mosquitos Aedes albopictus (Vide
ciclo) (THIBERVILLE et al., 2013).
316
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
A segunda re-emergência do vírus ocorreu no Quênia,
no ano de 2004, cuja disseminação atingiu diversas ilhas do
Oceano Índico, Índia e sudeste asiático. No ano de 2006, o
vírus atingiu as Ilhas da Reunião, na África, sendo essa
epidemia estudada por muitos pesquisadores devido ao
surgimento de mutações virais levando a uma
transmissibilidade mais eficaz pelo Ae. Albopictus (HONÓRIO
et al., 2015; FROS; PIJLMAN, 2016). Em outubro de 2013, o
CHIKV alcança o continente americano através do Caribe,
resultando em milhares de infecções. Em maio de 2014 o
Caribe apresentava um total de 103.018 suspeitos e 4.406
casos laboratoriais confirmados, sendo o número de casos
reportados dobrados nas duas semanas epidemiológicas
seguintes ( CDC, 2017; SLAVOV et al., 2015).
No Brasil, a primeira transmissão autóctone foi
detectada em setembro de 2014, na cidade de Oiapoque
(Amapá) (HONÓRIO et al., 2015). O Brasil era um país
“virgem” para o vírus da chikungunya, o que indica que os
habitantes não apresentavam memória imunológica para o
mesmo, além disso, suas características climáticas e
ambientais associados à ineficácia do controle dos mosquitos
do gênero Aedes, garantiram que o vírus da Chikungunya
encontrasse no Brasil um cenário de alta receptividade a sua
disseminação.
Ao longo de 2014, 2.772 casos de CHIKV foram
confirmados, distribuídos em seis Unidades Federativas:
Amapá (1.554 casos), Bahia (1.214), Distrito Federal (2), Mato
Grosso do Sul (1), Roraima (1) e Goiás (1). No ano de 2016
foram registrados no país 271.824 casos prováveis de febre
Chikungunya (taxa de incidência de 133,0 casos/100 mil hab.),
distribuídos em 2.829 municípios, dos quais 151.318 (55,7 %)
foram confirmados, ocorrendo 196 óbitos (SVS, 2017). Já no
317
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
ano de 2017, até a Semana Epidemiológica 4, foram
registrados 3.754 casos prováveis de febre de chikungunya e
uma taxa de incidência de 1,8 caso/100 mil hab., sendo 564
(15,02 %) casos confirmados, números muito menores se
comparados aos dados de anos anteriores(SVS, 2017).

Figura 2. Mapa mundi destacando locais de transmissão do


vírus da chikungunya.

Fonte: Centers for Disease Control and Prevention

A dengue, a febre da chikungunya e a febre pelo vírus


Zika são doenças de notificação compulsória e estão
presentes na Lista Nacional de Notificação Compulsória de
Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública, sendo que a
febre pelo vírus Zika foi acrescentada a essa lista apenas pela
Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016, do Ministério da
Saúde (SINAN, 2017). Isso implica que quaisquer casos
suspeitos de infecção por uma dessas arboviroses devem ser
cadastrados através de fichas individuais de notificação e

318
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
investigação em um banco de dados nacional denominado
SINAN (Sistema de informação de agravos de notificação). As
fichas de cadastro contêm informações importantes para
estratégias epidemiológicas como sexo, área residencial
(urbano ou rural), estado e município de residência, data dos
primeiros sintomas, município, estado e país da infecção (para
determinação de casos autóctones), além disso, informações
relacionadas às características clínicas dos pacientes (SINAN,
2017).
O SINAN objetiva registrar os dados sobre agravos de
notificação em todo o território nacional, fornecendo
informações para análise do perfil da morbidade e
contribuindo, desta forma, para a tomada de decisões em nível
municipal, estadual e federal.

3.4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Os indivíduos que são infectados com o CHIKV são, em


sua maioria, sintomáticos. O primeiro sintoma relatado da
doença CHIK é a febre alta que aparece de maneira repentina
e geralmente após 2-7 dias de infecção pelo vírus (WESULA
OLIVIA et al., 2015). Acompanhada da febre outras
complicações podem acometer os indivíduos infectados, como
erupções cutâneas, artralgia e mialgia (DUPUIS-MAGUIRAGA
et al., 2012).
Os sintomas mais conhecidos desta infecção são a
artrite e a artralgia que geralmente se resolvem em 1 a 3
semanas, porém algumas vezes pode persistir por meses ou
anos caracterizando a doença crônica (CHANG et al., 2014). A
artralgia acomete várias articulações, sendo assim
denominada poliartralgia (VU; JUNGKIND; LABEAUD, 2017).
As articulações mais comumente envolvidas são as
319
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
articulações dos joelhos, no entanto outras articulações
também são afetadas (SUHRBIER; JAFFAR-BANDJEE;
GASQUE, 2012; ZEANA et al., 2016). Outros sintomas
também relatados por pacientes como fadiga, dores
musculoesqueléticas, náuseas, vômitos e conjuntivite
(MCCARTHY; MORRISON, 2016; VU; JUNGKIND; LABEAUD,
2017).
Essa doença febril pode levar a sérias complicações e
possui fatalidade em alguns casos. Complicações
neurológicas foram relatadas em um surto em 2006 na Ilha de
La Réunion e em um surto na Índia. Dentre as complicações
foram descritas a Encefalite37 e síndrome de Guillain-Barre'.
38. Além dessas, outras complicações graves da CHIKV
incluem miocardite e hepatite (VU; JUNGKIND; LABEAUD,
2017)
Essas complicações podem ainda ser exacerbadas à
depender da idade dos indivíduos acometidos. Em um surto
de infecção de por CHIKV no ano de 2006 em Ahmedebad, na
Índia, 18 dos 90 casos confirmados de infecção pelo CHIKV
foram fatais. Quinze das 18 mortes ocorreram em pessoas de
60 anos ou mais (VU; JUNGKIND; LABEAUD, 2017).

3.5 DIAGNÓSTICO

Os testes diagnósticos partem da premissa de detecção


do vírus, de componentes virais, como antígenos e ácidos
nucleicos, ou até mesmo detecção de componentes da
resposta imune humana do hospedeiro ao vírus
(HUNSPERGER et al., 2014; MARDEKIAN; ROBERTS,
2015;). A escolha do teste varia de acordo com o propósito do
mesmo, e dos recursos disponíveis para sua realização. Os
testes diagnósticos utilizados para determinação da infecção
320
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
pelo vírus da Chikungunya incluem a detecção viral,
imunoensaios e detecção de material genético.
A detecção viral é caracterizada pelo isolamento dos
vírus presentes no sangue, soro, plasma e tecidos do
hospedeiro. As amostras inoculadas em meios de cultura
seletivos, e caso haja o crescimento do vírus, o diagnóstico é
considerado positivo. Apesar de altamente específico, o teste
exige o uso de laboratório de segurança nível 3, sendo essa
uma característica limitante do processo (MARDEKIAN;
ROBERTS, 2015).
Além do isolamento viral, o teste de imunoensaio
também é amplamente realizado, sendo um de seus principais
representantes o teste ELISA. Este ensaio é capaz de detectar
anticorpos IgM e IgG em soro de pacientes infectados por
meio de ensaios imuno-absorventes de captura por ligação de
anticorpo. A detecção de infecção por Chikungunya utilizando
imunoensaio permite a identificação de infecção aguda
(detecção de IgM) e de prévia infecção pelo vírus (detecção de
IgG) (REDDY et al., 2012; PRAT et al., 2014; SOH et al.,
2015).
A detecção de material genético viral também é um
método diagnóstico aplicado para infecções por chikungunya.
Caso o paciente esteja infectado, a técnica da reação em
cadeia da polimerase (PCR) é capaz de realizar a amplificação
de regiões do genoma viral do sangue e soro de pacientes
infectados. Esse tipo de diagnóstico é definitivo, porém
depende da viremia dos pacientes assim como o teste de
isolamento viral. Apesar de ser um limitante, a viremia não
parece ser um problema para diagnósticos em infecções pela
chikungunya, isso porque o vírus da chikungunya apresenta
alta persistência viral em humanos, diferente do vírus da zika,
por exemplo, na qual a viremia é transiente e o diagnóstico por
321
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
PCR não é eficaz após os primeiros dias de infecção
(PETERSEN et al., 2016).

3.6 TRATAMENTO

Ainda não existem medicamentos antivirais, vacinas ou


drogas preventivas utilizadas para o tratamento de infecção
pelo vírus da chikungunya (STAPLES; FISHER, 2014;
ABDELNABI; NEYTS; DELANG, 2015; SMALLEY et al., 2016),
tanto em estágios agudos quanto crônicos da doença,
contudo, publicações anteriores apresentam o uso de
paracetamol e anti-inflamatórios não esteroidais como
recomendação. Esse tipo de medicamento é utilizado para
eliminação de sintomas associados à infecção pelo vírus,
porém não auxiliariam no combate e eliminação do vírus.
Para situações de artrite crônica, medicamentos
antirreumáticos modificadores como metotrexato,
hidroxicloroquina ou sulfasalazina são indicados (TIBERVILLE
et al., 2013). Além disso, alguns medicamentos devem ser
evitados em caso de suspeita de infecção, dentre eles está a
amplamente consumida aspirina, isso porque seu mecanismo
de ação envolve inibição da agregação plaquetária, o que
pode causar sangramentos nos pacientes. Além disso,
corticosteroides devem ser evitados devido ao efeito rebote
que o mesmo possui no caso de suspensão do tratamento
(BURT et al., 2012).

3.7 DESAFIOS

As doenças virais transmitidas por vetores se


configuram um grande desafio para as autoridades sanitárias
e para os órgãos de saúde pública. Tendo em vista a rápida
322
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
disseminação dessas doenças, principalmente em áreas de
risco, o mapeamento dessas áreas, bem como a identificação
antecipada dessa transmissão e em seguida o rápido e eficaz
controle desses vetores e outras medidas de saúde pública
são as medidas mais protetivas que podem impedir a
propagação de grandes surtos.
Para que ocorra uma efetiva vigilância do CHIKV é
conveniente planejar ações que aumentem o alerta de
identificação dessa doença em lugares mais susceptíveis e
por um melhor reconhecimento da doença. Para isso, tem-se a
necessidade de diagnóstico rápido da doença, algo que
realmente se configura um desafio, devido às condições de
diagnóstico em laboratórios públicos no Brasil.
Para um melhor controle da CHIKV é necessário à
disponibilização de testes rápidos validados e garantir a
comunicação dos resultados em toda rede de saúde, garantido
o fluxo correto de informação e notificação entre os
laboratórios comerciais e públicos e os órgãos de saúde
pública. Ademais, também se configura um desafio o
compartilhamento de informações com os cidadãos e o
incentivo de programas promovido pelo setor público e privado
que favoreçam medidas de prevenção e minimização da
disseminação do vírus.
Quando pessoas acometidas por CHIKV desenvolvem
dores articulares e musculares crônicas, caracterizando a
doença crônica, gera-se uma grande diminuição da qualidade
de vida dessas pessoas e uma sobrecarga para os serviços
públicos de saúde devido à procura. Além disso, o fardo que
essa doença gera pode ser devastador para economias locais.
Logo, os desafios no sentido de tratamento dessa doença
também existem, principalmente porque o tratamento é
apenas sintomático. Estudos com agentes antivirais e
323
CHIKUNGUNYA VÍRUS: UMA REVISÃO
anticorpos monoclonais para o tratamento da chikungunya
ainda estão em estágios iniciais de estudos sendo promessas
como medicamentos para eliminação viral (STAPLES;
FISHER, 2014).

4 CONCLUSÕES

Diante dos dados coletados e descritos, pode-se


concluir que a doença chikungunya é caracterizada como um
problema de saúde pública relevante que merece toda a
atenção dos órgãos públicos de saúde. É uma infecção ainda
pouco estudada que pode levar a uma condição incapacitante
e influenciar na qualidade de vida das pessoas e da sociedade
como um todo, devido às autolimitações que estão envolvias
na patogenia. Logo, são necessários mais estudos que
possam esclarecer melhor os mecanismos envolvidos na
fisiopatologia da doença, além de estudos para descoberta de
drogas e vacinas que possam atuar no combate ao vírus e
trazer um melhor prognóstico para os pacientes,
principalmente aqueles que desenvolvem a forma mais grave
da doença e suas complicações. Medidas profiláticas e
preventivas e de educação sanitária também são importantes
para o combate ao mosquito vetor, ressaltando a necessidade
de implementação dessas medidas no combate à doença.

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327
MICROBIOLOGIA

328
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
CAPÍTULO 17

ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE
MICRORGANISMOS DE SOLO EM
PERIODOS DE SAZONALIDADE SECO E
CHUVOSO

Mariana Santos COSTA 1


Ábia de Jesus MARTINS 1
Rita de Cassia Mendonça de MIRANDA 2
1
Graduandos do curso de Biomedicina, CEUMA; 2 Orientadora/Professora da UNICEUMA.
costamariana.0597@gmail.com.br

RESUMO: Sabe-se que o solo é um local vastamente habitado


por microrganismos. Estes podem sobreviver em períodos
sazonais tanto seco como chuvoso. A partir disso, o presente
trabalho tem como objetivo a comparação acerca do
crescimento dos microrganismos nesses períodos (seco e de
chuva) e a avaliação da quantidade encontrada. Para isso
foram usados métodos preconizados na metodologia de Clark
(1965), isolando microrganismos provenientes de diluição
seriada do solo. O solo utilizado na pesquisa foi de 10
amostras separadas de forma equidistantes, com distancia de
três metros uma de cada, de um único canteiro de uma horta
situada no bairro J. Lima, em São José de Ribamar. Foram
feitos o isolamento e a análise da morfologia macro e
microscópica dos microrganismos. Além disso foi feito a
identificação de bactérias e fungos utilizando os métodos de
Gram e de microcultivo, respectivamente. Após a contagem,
constatou-se que a quantidade de microrganismos no período
chuvoso foi maior que no período seco e entende-se que o
quantitativo foi acentuado no período de chuva devido a

329
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
umidade do solo estar maior. Pôde ser observado também o
crescimento de fungos, bactérias e actinomicete. Enquanto
que no período seco foi observado a presença apenas de
bactérias e fungos.
Palavras-chave: Microrganismos. Solo. Isolamento.
Comparação.

1 INTRODUÇÃO

A ecologia microbiana do solo trata das relações dos


microrganismos do solo com os fatores abióticos (ambientais)
e bióticos (interação com outros organismos) (LEITE et. al,
2007)
O solo é um recurso natural vital para o funcionamento
do ecossistema terrestre e representa um balanço entre as
frações líquida, gasosa e sólida. A fração liquida é composta
por água e materiais dissolvidos, a fração gasosa, por gases
atmosféricos em diferentes proporções e a fração sólida, por
minerais, raízes, macro e microrganismos metabolicamente
ativos ou inativos e matéria orgânica em vários estádios de
decomposição (LEITE Luiz, 2007 apud. MOREIRA;
SIQUEIRA, 2006). Ele configura um corpo organizado que
contém provavelmente maior número de indivíduos e maior
diversidade que qualquer outro habitat ou ecossistema. Os
organismos que compõe a pedobiota desempenham funções
essenciais para o funcionamento do ecossistema, pois tem
como função primária, governar as reações de ciclagem e
fluxos dos vários nutrientes essenciais, influenciando assim
diretamente a fertilidade do solo, além de exercer efeitos na
formação da estrutura e manutenção dos agregados e sua
sanidade como meio de crescimento vegetal e sustentáculo da
produção agrícola. (MARTINS, 2013)
330
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
Do ponto de vista microbiológico, o solo é ambiente
estressante, fortemente limitado por nutrientes, mas capaz de
sustentar uma população microbiana extremamente diversa.
(SIQUEIRA, José 1994 apud. DOMERGUES et. Al 1978). Ele
é considerado um dos principais hábitats para população de
microrganismos e dentre estes, encontram-se os fungos e
bactérias (CAVALCANTI, Maria 2006 apud. PAUL & CLARK
1989).
A compreensão da microclimatologia associada à
biomassa microbiana do solo, é essencial para o entendimento
de variações quantitativas nas populações de microrganismos
em escala sazonal, e de grande importância para o
estabelecimento de espécies e manutenção da microfauna de
solo no ecossistema. (RODRIGUES, HERNANI 2011)
A biomassa microbiana do solo é definida como a parte
viva da matéria orgânica e além de armazenadora de
nutrientes, pode servir como um indicador rápido de mudanças
no solo, revelando a sensibilidade da microbiota a
interferências no sistema (GRISI, 1995). Ela é composta
especialmente por fungos, bactérias e microfauna, e é
responsável pela decomposição de resíduos orgânicos
depositados pela vegetação no solo (RODRIGUES, Hernani
2011 apud. WARDLE e HUNGRIA, 1994, CHAPIN et al., 2002;
MOREIRA e SIQUEIRA, 2002).
Segundo D’ANDRÉA et al. (2002), considerando a
importância dos atributos biológicos para os processos que
ocorrem no solo, verifica-se que estudos a respeito d a
quantidade e atividade da biomassa microbiana podem
fornecer subsídios para o planejamento do uso correto da
terra.

331
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
Conforme Faustino (2007), os componentes
microbianos vivos do solo são também denominados de
biomassa microbiana e as bactérias e fungos respondem por
cerca de 90% da atividade do solo. Corroborando com esse
trabalho, Souto et al. (2008), afirma que entre os componentes
da biota do solo, as bactérias e os fungos detém altos valores
de biomassa e metabolismo respiratório, além de exercerem
alta contribuição no processo de decomposição da matéria
orgânica. Concordando com os dois autores citados
anteriormente, THENG et al. (1989) explica que os
microrganismos representam cerca de 60% a 80% da fração
viva e mais ativa da matéria orgânica do solo que constitui, por
sua vez, o principal componente de fertilidade dos solos.
Isso é revalidado quando observado o trabalho de
(SOUTO et al; 2015 apud TOLEDO, 2003; LEJON et al., 2005)
onde citou que os principais fatores que controlam os
processos de transformação da matéria orgânica no solo são a
quantidade e qualidade do material, o ambiente físico e químico
e os organismos decompositores. Entre os organismos, bactérias e
fungos apresentam altos valores de biomassa e metabolismo
respiratório e têm grande participação no processo de
decomposição da matéria orgânica do solo (TOLEDO, 2003;
LEJON et al., 2005).
Os microrganismos estão diretamente envolvidos nos
ciclos dos nutrientes no solo e aliada à quantificação de
bactérias e fungos totais, a avaliação de determinados grupos
microbianos dá indicação de como os processos bioquímicos
estão ocorrendo. A contagem de microrganismos no solo,
apesar de ser vista com ressalvas, ajuda a entender os
processos que nele ocorrem e pode servir como indicador do

332
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
impacto de diferentes atividades antrópicas (SILVEIRA Rafael
2005 apud. BROOKES 1995).
Certamente elementos meteorológicos tais como:
temperatura, umidade, fluxo de calor e luminosidade
configuram condições essenciais para o entendimento e
distribuição espacial destes seres vivos nos diversos
ecossistemas naturais, inclusive a microfauna (RODRIGUES,
Hernani 2011 apud. CHAPIN et al., 2002; TORTORA et al.,
2004).
Salientando o trabalho de TOLEDO, 2003; LEJON et
al., 2005, (SILVEIRA, 2005 apud. BROOKES 1995) fala ainda
que os microrganismos do solo atuam nos processos de
decomposição da matéria orgânica, participando diretamente
no ciclo biogeoquímico dos nutrientes e, consequentemente,
mediando a sua disponibilidade no solo. Além disso, formam
associações simbióticas com as raízes das plantas e atuam no
controle biológico de patógenos, influenciam a solubilização de
minerais e contribuem para a estruturação e agregação do
solo. Assim, a biomassa microbiana total do solo funciona
como importante reservatório de vários nutrientes das plantas
(E.L.BALOTA 1997 apud. GRISI & GRAY, 1986). Logo, a
diminuição da microbiota do solo prejudica a fixação
temporária dos nutrientes, incrementando suas perdas e
resultando no empobrecimento do solo (HUNGRIA et al.,
1997).
Desta forma, a comunidade microbiana nos solos é
influenciada pelo ambiente. As modificações ambientais
provocadas pela flutuação estacional das condições climáticas
também podem influenciar as populações na comunidade
microbiana (J.C. PEREIRA et al. 1999 apud. WARDLE &
PARKINSON, 1990).

333
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
Nos ecossistemas naturais, a cobertura vegetal
permanente proporciona proteção contínua do solo, além de
adicionar grandes quantidades de nutrientes principalmente
através de resíduos. Seus efeitos sobre a comunidade
microbiana podem interagir com os efeitos provocados pelas
flutuações hídricas e térmicas que ocorrem durante o ano,
influenciando em menor ou maior grau as populações
microbianas, através da determinação da atividade e das
taxas de crescimento das diversas populações microbianas
(J.C. PEREIRA et al 1999 apud. TSAI et al., 1992).
Acrescentando a esta assertiva KIRCHNER et al., 1993;
PEREIRA et al., 1996 reiteram que as práticas agrícolas
também alteram as características físicas, químicas e
biológicas determinantes das condições do solo, influenciando
as diversas populações na comunidade microbiana. Essas
modificações refletem-se na composição, atividade e
biomassa da comunidade microbiana, uma vez que a
permanência de uma população no ecossistema fica
condicionada à sua habilidade de adaptação e de resposta a
essas mudanças ambientais.
Portanto, as atividades agrícolas, as atividades dos
diversos grupos orgânicos de solo, bem como, os mecanismos
de sobrevivência encontrados pelos mesmos, estão
interligadas com condições ambientais (CAMPBELL E
NORMAN, 1998). A isto pode-se observar a afirmativa de
CHERNICHARO (1997) onde diz que a sobrevivência de
bactérias no solo depende de alguns fatores, tais como:
umidade, pH, radiação solar, temperatura, concentração de
matéria orgânica e predação por outros microrganismos.
Reforçando LEON SUEMATSU e CAVALLINI (1999) que
afirmam que os microrganismos podem sobreviver por

334
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
períodos mais longos no solo do que nas superfícies das
culturas, pela maior exposição aos raios solares.
Assim, as avaliações qualitativas e quantitativas das
populações na comunidade microbiana nos solos são
relevantes, tanto na caracterização das relações entre os
diferentes grupos e espécies de microrganismos como na
identificação de fatores ambientais que exercem influência no
equilíbrio microbiológico dos solos (J.C. PEREIRA et al. 2000)
A partir disso, o presente trabalho visa estudar as
interações entre o clima e as populações microbianas de solo
sob períodos sazonais seco e chuvoso, fazendo a análise do
crescimento dos mesmos.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Coleta: Foram realizadas duas coletas obedecendo um


período de sazonalidade seco (janeiro) e chuvoso (abril) de
solo impactado com agroquímico da classe dos
organofosforados. Esta etapa foi realizada em uma
propriedade de agricultores familiar que cultiva hortaliças
localizada no município de são José de Ribamar, no bairro J.
Lima.
Foram coletadas 10 amostras de solo separadas de
forma equidistantes de um único canteiro da mesma horta. A
distância entre as amostras foi de 3 metros uma da outra.
Após a coleta, as amostras foram armazenadas em
sacos hermeticamente vedados e acondicionados sob
refrigeração para posterior isolamento dos microrganismos.
Isolamento: para o isolamento dos microrganismos foi
elaborada uma amostra composta do solo e utilizada a técnica
de diluição seriada de acordo com a metodologia preconizada

335
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
por Clark (1965). Para isso diluiu-se 10g da amostra
composta do solo em 90mL de solução salina. A partir desta
solução, foram realizadas as diluições posteriores (10 -1 até 10-
4) em tubos de ensaio contendo 0,5mL das amostras e 4,5mL

de solução salina. As diluições10-2, 10-3 e 10-4 foram


inoculadas através da técnica de spread plate nos meios de
cultivo Muller Hinton Ágar e Sabouraud Dextrose Agar. Após
inoculadas, as amostras foram incubadas a 30°C até o
aparecimento das colônias.
Purificação das colônias: Após o crescimento das
colônias nos meios de cultivo, essas foram contada e
posteriormente transferidas separada mente para placas de
Petri contendo o mesmo meio de isolamento. Com o objetivo
de se obter culturas puras foi utilizada a técnica repicagem por
esgotamento. As placas foram incubadas a 30°C por até 72
horas.
Identificação: após obtenção das colônias isoladas e
purificadas, as mesmas foram transferidas para tubos de
ensaio contendo o mesmo meio do isolamento e deu-se início
a identificação. Para as bactérias foi realizada a técnica de
coloração de Gram onde foi possível dividir em Gram positiva
e Gram negativa de acordo com a coloração tintorial da
parede celular. Além disso por esta mesma técnica é possível
observar morfologia e arranjo bacteriano. Para identificação
dos fungos filamentosos se utilizou a técnica de microcultivo,
as culturas crescem em forma de tapete na placa de Petri com
formação de micélio aéreo para observação microscópica da
conformação dos esporos dos fungos.

336
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o período de incubação das placas de Petri,


contendo meio de cultura usados no isolamento pode-se
observar o aparecimento das colônias. Após a contagem,
constatou-se que a quantidade de microrganismos no período
chuvoso é maior que no período seco, como se pode
visualizar na Figura 1 e 2, todavia quando se faz a observação
macro e microscópica se observa uma diversidade microbiana
maior em período seco.

Figura 1. Isolamento de microrganismos no período


seco e chuvoso no meio de cultura Muller Hinton Ágar.
140
120
100
UFC/mL

80
60
40
20
0
1,0E+02 1,0E+03 1,0E+04
Diluições

seco chuvoso

337
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
Figura 2. Isolamento de microrganismos no período seco e
chuvoso no meio de cultura Sabouraud Dextrose Ágar
150

100
UFC/mL

50

0
1,0E+02 1,0E+03 1,0E+04
Diluições

seco chuvoso

O quantitativo microbiano maior em período chuvoso,


se deve, a umidade do solo está maior, possibilitando a
prevalência de um grupo microbiano.
Uma outra observação interessante é a prevalência em
ambos os períodos do grupo dos fungos, demonstrando que
estes estão em maior número no solo contaminado com
agroquímico. Logo após a observação macroscópica,
observou-se três grupos distintos de colônias. No meio de
cultivo Muller Hinton Ágar as colônias se mostraram mais
uniformes em relação ao tamanho, os bordos liso ou em forma
de ondas, sugerindo colônias formadas por bactérias do
gênero Bacillus. No meio de cultivo Sabouraud Dextrose Ágar
observou-se colônias de aspecto algodonoso, sugerindo a
formação de micélio aéreo de fungos filamentosos e colônias
leitosas opacas e com bordas lisas bem delimitadas
características de leveduras. Neste meio também se pode
338
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
observar a formação de halo de antibiose como pode ser
visualizado na Figura 3.

Figura 3. Aspecto macro morfológico das colônias no meio de


cultivo Sabouraud Dextrose Ágar

Após a contagem e purificação das colônias deu-se


início a identificação dos microrganismos. Foi realizado o teste
de coloração de Gram para as bactérias e o microcultivo em
lâmina para os fungos e o que se observou foi que dos
microrganismos isolados 29% eram Bastonetes G +, 13%

339
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
Bastonetes G-, 29% Cocos G+, 16% de Fungos Filamentosos e
13% de Leveduras como pode ser visualizado na Figura 4.

Figura 4. Percentual de microrganismos isolados

13%

29% Bastonete G+
Bastonete G-
16%
cocos G+
Fugos Filamentoso
13% leveduras
29%

Após a coloração tintorial da parede celular (coloração


de Gram) pode-se observar a duas formas bacterianas
distintas, cocos e bastonetes de ambas as colorações, positiva
e negativa. Além disso, foi possível observar alguns arranjos
bacteriano como cacho, duas células juntas e uma fileira de
células arranjadas.

Com exceção do grupo das leveduras, pode-se


observar diversidade entre os microrganismos, tanto nos
aspectos macroscópicos quanto nos microscópicos. A
prevalência de bactérias G+ pode ser explicada pela habilidade
desse grupo bacteriano de resistir a ambientes inóspitos, e
também por abrigar o grupo dos Actinomicetales, que são
bactérias Gram Positivas filamentososas, diferenciadas das
demais Eubactérias. Dentre os fungos filamentosos foram
340
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
identificados quatro gêneros diferente: três Penicillium spp, 01
Aspergillus sp., 01 Trichoderma sp e um Coccidioide sp.,
fungo patogênico, comum em solo causador de meningite
como pode ser visualizado na Tabela 1.
Nas observações micromorfológica dos fungos pode-se
observar a conformação dos esporos nas extremidades das
hifas, além disso pode-se observar se tratavam de hifas
hialinas ou septadas corroborando com a identificação dos
fungos. Nas figuras 5A, 5B e 5C se pode visualizar a
micromorfologia dos fungos Aspergillus, sp. Penicillium sp e
Coccidioide sp. respectivamentes.
As características macromorfológicas avaliadas
consistiram no tamanho da colônia, características dos bordos,
textura, relevo e pigmentação. Já as análises
micromorfológicas foram realizadas pela técnica de
microcultivo em ágar-batata, visando identificar as estruturas
vegetativas e especialmente as estruturas reprodutivas
específicas dos gêneros de fungos filamentosos como pode
ser visualizada na figura 5.

Figura 5. Características micromorfológicas dos fungos


filamentosos isolados de solo

A B C

341
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
Com os resultados obtidos pode-se observar uma
quantidade microbiana elevada dos três grupos isolados. A
avaliação das densidades populacionais na comunidade
microbiana nos solos inclui a técnica de cultura em placa,
exame microscópico direto e técnica de enriquecimento
(PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997). Na comunidade bacteriana,
também existe variabilidade entre as populações de bactérias
em geral e de actinomicetos em relação à utilização dos
nutrientes manifestos no meio de cultura.
Corroborando com este trabalho pode ser observado no
trabalho de SANTOS e BATISTA (2015). Os autores, isolando
microrganismos de solo contaminado com esgoto doméstico
nos períodos secos e chuvosos encontraram um quantitativo
de FC/mL semelhante ao encontrado neste trabalho.
Entretanto, quando ao estudarem a influência da sazonalidade
na quantidade e diversidade microbiana os resultados
encontrados pelas autoras foram contrários aos nossos,
quando as mesmas obtiveram um maior quantitativo
microbiano no período seco.
Quanto a influência da sazonalidade no isolamento dos
microrganismos resultados semelhantes ao desse trabalho
foram encontrados por RODRIGUES et al (2010) onde os
maiores resultados da população bacteriana foram
identificados no período chuvoso. Uma outra observação
relatada neste trabalho foi a identificação de gêneros de
fungos diferentes, neste sentido, corroborando com o trabalho
ANDRADE et al (2015), isolou fungos de solo contaminado em
uma área próximo a mata Atlântica e constatou a presença
predominante do gênero Cunnigamella sp.
Esse gênero pertence à classe Zygomycetes, e
possuem considerável habilidade de adaptação a diferentes

342
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
condições ambientais, resultado de variações em suas
atividades fisiológicas, bioquímicas e genéticas, representando
um elemento fundamental na compreensão de seu
comportamento celular, com vistas à identificação de
mecanismos específicos de desenvolvimento, maturação,
diferenciação e sobrevivência (ANDRADE et. al., 2015 apud.
CARLILE; WATKINSON; GOODAY, 2001).
Bactérias da ordem Actinomicetales à tempos vem
sendo investigadas como uma população predominante no
solo, como pode ser visualizado no trabalho de (SILVA e
ROMEIRO 2001), onde os autores relatam que isolaram 321
culturas de actinomicetos no meio extrato de solo ágar.
Constatando que existe o período sazonal influencia
diretamente na quantidade de microrganismos encontrados no
solo, que pode ser confirmado conforme (CATELAN e VIDOR
1990) e (SOUTO et al. 2008), onde afirmam que as diferentes
condições climáticas ocasionadas pelas estações do ano
alteram as relações que ocorrem entre o solo e a cobertura
vegetal, especialmente nas regiões subtropicais, sendo assim,
a atividade microbiana do solo também apresentará flutuação
intra-anual.
A estimativa da biomassa microbiana pode fornecer
dados úteis sobre modificações nas propriedades biológicas
dos solos, decorrentes dos tipos de manejo aplicados e de
diferentes culturas (ALVAREZ, et al.; 1995;
FRANZLUEBBERS, ZUBERER, HONS, 1995; JORDAN et al.
1995).

343
ANÁLISE DO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS DE SOLO EM PERIODOS
DE SAZONALIDADE SECO E CHUVOSO
4 CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos pode-se observar


que mesmo com o solo contaminado com agroquímico, ainda
é possível verificar uma ampla quantidade e diversidade
microbiana, sendo este fato, preocupante devido a
possibilidades desses organismos estarem resistentes a
compostos como antibióticos. Todavia, para sobreviver ao
ambiente inóspito, é importante que essa microbiota tenha
desenvolvido um aparato enzimático específico que chama
atenção e pode ser interessante para do ponto de vista
biotecnológico.

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347
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
CAPÍTULO 18

APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS


NA MITIGAÇÃO DE SOLO CONTAMINADO
COM GASOLINA E ÁLCOOL
Douglas GUEDES1
Lizeth Yuliana Acevedo JARAMILLO1
Ana Caroline de Lima Silva2
Diogo Simas Bernardes DIAS 3
Eliana Flávia Camporese SÉRVULO4
1
Doutorando, Programa de PG em TPQB, UFRJ; 2Doutorando, Programa de PG em PNSB,
UFPB; 3Pesquisador, Bolsista PCI/CNPq, CETEM; 4Professora Adjunta do DEB/UFRJ.
douglas.guedes@ufrj.br

RESUMO: A maior extensão do território brasileiro é composta


por solos argilosos, principalmente classificados como
latossolos. Os solos argilosos caracterizam-se pela maior
proporção de partículas de argila (<0,002 mm) em sua análise
granulométrica. E, por isso, apresentam uma elevada
capacidade de retenção de água permitindo a absorção e
imobilização dos compostos nele depositados. Assim, em
casos de desastres ambientais os compostos contaminantes
podem penetrar no solo e interagir com as partículas de solo,
causando impactos graves ao meio ambiente. O petróleo e
seus derivados estão entre os principais contaminantes
orgânicos do solo, sendo a gasolina o composto mais tóxico
para a população microbiana do solo pela volatilização dos
hidrocarbonetos que a compõem. Uma vez que o impacto já
foi provocado é necessária a recuperação da área. Quando o
tratamento envolve a aplicação de microrganismos o processo
é chamado de biorremediação. O objetivo desse estudo foi
avaliar a aplicabilidade das técnicas de bioestímulo e
bioaumento no tratamento de solo argiloso contaminado
artificialmente com gasolina aditivada de diferentes teores de
348
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
etanol. Os resultados obtidos com esse estudo indicam que a
biorremediação é eficiente na redução da concentração de
contaminante no solo independente do teor de etanol aditivado
à gasolina. Ademais, a adição de nutrientes (bioestímulo) é
fundamental para a eficiência do processo, corroborando os
dados da literatura.
Palavras-chave: Biorremediação. Gasolina/Álcool. Solo
Argiloso

1 INTRODUÇÃO

Segundo a pedologia (ciência que estuda os solos), o


solo pode definido como a camada superficial da crosta
terrestre, constituído por compostos orgânicos e minerais
(HARTEMINK E BOCKHEIM, 2013). A sua formação envolve
a degradação de rochas por exposição aos fatores climáticos
e microbianos (GRAF-ROSENFELLNER et al., 2016; YAN et
al., 2017). O solo é um ecossistema rico em diversidade
microbiana tanto de espécies quanto versatilidade metabólica.
Inclusive, diversos microrganismos já foram isolados de
amostras de solo apresentando a capacidade de degradar
compostos xenobióticos (GUO et al., 2012; GHOREISHI et al.,
2017).
Dentre os compostos xenobióticos mais comuns na
contaminação dos solos estão o petróleo e derivados. Os
hidrocarbonetos do petróleo são compostos recalcitrantes e de
alta toxicidade, dessa forma, a sua degradação biológica é
mais efetiva quando realizada por culturas mistas. Pois, há o
envolvimento de um repertório enzimático diversificado que
pode ser utilizado, além de permitir que a formação de
metabólitos intermediários tóxicos seja neutralizada pela
existência de microrganismos degradadores desses
349
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
compostos (GUO et al., 2012; ZHANG et al., 2014;
GHOREISHI et al., 2017; ZHANG e CHEN, 2017).
Os derivados do petróleo têm sido associados, nos
últimos anos, como fontes frequentes de acidentes com
grande impacto ao meio ambiente (GOUVEIA e NARDOCCI,
2007; ISMAIL et al., 2014). A gasolina é uma das fontes usuais
de contaminação de solos em cidades urbanizadas. Os
acidentes causados por esses compostos ocorrem tanto pela
sua volatilização durante o manejo da gasolina, quanto por
derramamentos durante sua estocagem (TURNER et al.,
2015; MODRZYNSKI et al., 2016; LEAL et al, 2017).
A gasolina comercializada no Brasil recebe a adição de
25% de etanol anidro, tal fato aumenta a solubilidade da
gasolina em água pelo fenômeno de co-solvência. Por isso,
quando ocorre um derramamento dos tanques de postos de
combustíveis, a presença de álcool na gasolina leva a
formação de uma pluma de contaminação maior aumentando
as chances de atingir as águas subterrâneas (CORSEUIL e
ALVAREZ, 1996; CORSEUIL e FERNANDES, 1999; CHEN,
BARKER e GUI, 2008; ANDRADE et al., 2017).
Uma das alternativas para o tratamento de áreas
contaminadas com derivados de petróleo é a biorremediação,
que se fundamenta na capacidade de populações microbianas
de modificar ou decompor determinados contaminantes em
formas mais simples, atóxicas ou menos tóxicas, tendo como
objetivo principal a obtenção de níveis de degradação abaixo
dos valores estabelecidos pelos órgãos ambientais. Todavia, o
objetivo principal é a mineralização do contaminante
(DZIONEK, WOJCIESZYNSKA e GUZIK, 2016;
KALOGERAKIS, FAVA e CORVINI, 2017).

350
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
Existem diversas estratégias para a realização da
biorremediação, dentre elas o bioaumento e a bioestimulação.
O bioaumento consiste na inoculação de espécies nativas
quando o número de microrganismos autóctones do solo não
é suficiente para garantir a degradação dos contaminantes
(SHAHI et al., 2016; NWINYI e OLAWORE, 2017). E, a
bioestimulação consiste na incorporação de nutrientes como
nitrogênio e fósforo, além de aceptores de elétrons como o
oxigênio, em processos aeróbicos. Esta estratégia possibilita
acelerar o consumo de matéria orgânica no solo, contudo, as
concentrações dos compostos adicionados devem ser
monitoradas, uma vez que em excesso esses nutrientes
podem ser tóxicos (NWANKWEGU e ONWOSI, 2017; POI et
al., 2017).
Os ensaios realizados para o desenvolvimento desse
estudo foram organizados através de uma ferramenta
estatística chamada planejamento fatorial que permite, através
de modelos matemáticos, extrair do sistema o máximo de
informação útil, realizando um número mínimo de
experimentos para melhoria ou otimização de processo
(CALADO; MONTGOMERY, 2003).
Os principais objetivos deste trabalho foram avaliar o
uso das técnicas biológicas de bioestimulação e bioaumento
na biorremediação de solo argiloso contaminado com
gasolina; e, estudar a interferência do etanol na mitigação dos
hidrocarbonetos do petróleo na amostra de solo predominante
no Brasil.

351
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Solo, Combustíveis, Fertilizante e Inóculo


O solo foi coletado no município de Duque de Caxias
(RJ), em uma área sem histórico de contaminação. A gasolina
sem aditivos e o álcool anidro foram cedidos pelo
CENPES/PETROBRAS.
O bioestímulo foi realizado, baseando-se na
concentração de fósforo do solo, com a aplicação de um
fertilizante comercial da marca ULTRAVERDE com razão
N:P:K (Nitrogênio:Fósforo:Potássio) de 4:14:8.
A introdução de espécies degradadoras (Bioaumento)
foi feita através de um consórcio microbiano “em fase sólida”
obtido a partir do cultivo de uma amostra do solo coletado que
foi artificialmente contaminado e teve suas condições de
umidade, pH, e fertilidade ajustadas para que favorecessem o
desenvolvimento microbiano.

2.2 Ensaio de Biorremediação


As condições de ensaio foram determinadas por um
planejamento fatorial completo de dois níveis (2 2). As
concentrações de etanol e de fertilizante (baseado no teor de
Fósforo) foram definidas como variáveis de controle (fatores),
e a análise microbiológica e o teor de hidrocarbonetos totais
foram aplicados como variáveis de resposta. As condições dos
experimentos são descritas nos Quadro 1 e 2.
Os ensaios foram realizados em frascos de vidro com
capacidade de 100 ml. Em cada frasco foram distribuídos 80 g
de solo argiloso, 10% (m/m) de inóculo e 10% (v/m) de
gasolina aditivada com diferentes concentrações de etanol
(Quadro 1). De acordo com a condição foi feito o ajuste da

352
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
condição nutricional do solo baseada na concentração de
fósforo. Em todos os ensaios foi feito o ajuste da umidade para
20% e pH neutro (7,0±0,2). Simultaneamente, foram
realizados testes controles (Quadro 2). Os ensaios foram
incubados por 30 dias e nesse interim o pH e a umidade do
solo foram monitorados e ajustados.

Quadro 1. Condições experimentais dos ensaios


Teor de Etanol na Concentração de Fósforo no
Ensaio
Gasolina (%) solo (mg/Kg)
1 0 0
2 25 0
3 0 50
4 25 50
5 12,5 25

Quadro 2. Condições experimentais dos controles


Controle Descrição
Controle Biótico
I
(com bioaumento e sem contaminante)
Controle Abiótico
II
(sem bioaumento, sem contaminante e com biocida)
Controle Abiótico
III
(sem bioaumento e contaminante sem etanol)
Controle Abiótico
IV
(sem bioaumento e contaminante com 12,5% de etanol)
Controle Abiótico
V
(sem bioaumento e contaminante com 25% de etanol)

353
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
Ao final do período de incubação foram realizadas
análises microbiológicas e a dosagem de hidrocarbonetos. A
quantificação dos microrganismos foi feita pela técnica do
Número Mais Provável - NMP (HARRISON, 1982) para os
principais grupos microbianos de interesse na biorremediação:
heterotróficas totais cultiváveis, bactérias redutoras de sulfato
(BRS) e bactérias hidrocarbonoclásticas (bactérias com
capacidade de degradar hidrocarbonetos). Para a realização
desta técnica foram utilizados como meio de cultivo caldo
nutriente, Postgate E modificado e Bushnell-Haas,
respectivamente. A análise do teor de hidrocarbonetos totais
seguiu a metodologia descrita por Baptista, Camporese e
Freire (2006).
A ecotoxicidade foi analisada ao final dos ensaios pelo
teste de mortalidade de minhocas seguindo a metodologia
descrita pelo Manual para Testes Químicos (OECD, 1984).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O inóculo, inicialmente, apresentava baixo teor de


micronutrientes, populações microbianas e umidade. Por isso,
suas condições nutricionais precisaram ser ajustadas e, assim,
favorecer o desenvolvimento dos microrganismos autóctones.
A contaminação com gasolina promoveu a seleção e o
aumento de espécies com capacidade de degradar
hidrocarbonetos do petróleo. Após 30 dias de incubação o
inóculo apresentava as condições necessárias para ser
utilizado nos ensaios de biorremediação, as características do
inóculo podem ser observadas no Quadro 3.

354
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL

Quadro 3 – Caracterização do Inóculo usado no Bioaumento


Parâmetro Valores
pH 7,1
Umidade 30% (70% da CRA*)
Teor de Fósforo 41 mg/Kg de solo
Bactérias Heterotróficas Totais 3,4 x 108 NMP/g de solo
Bactérias Redutoras de Sulfato 8,3 x 105 NMP/g de solo
Bactérias Hidrocarbonoclásticas 5,4 x 104 NMP/g de solo
*CRA – Capacidade de Retenção de Água

Uma vez que o inóculo estava pronto para a aplicação,


os experimentos delineados nos Quadros 1 e 2 foram
realizados. A análise microbiológica foi feita no início e ao final
do período de incubação, cujos resultados podem ser
observados nas Tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1 – Quantificação de bactérias heterotróficas


Ensaio/Controle Inicial (NMP/g) Final (NMP/g)
1 8,7 x 105 3,8 x 103
2 8,7 x 105 3,2 x 103
3 8,7 x 105 6,7 x 106
4 8,7 x 105 1,5 x 106
5 8,7 x 105 1,9 x 104
6 8,7 x 105 9,5 x 103
I 8,7 x 105 6,2 x 106
II 8,7 x 105 ND*
III, VI e V ND* ND*
*ND – Não detectado*ND – não detectado

355
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL

Tabela 2. Quantificação de Bactérias Redutoras de Sulfato


Ensaio/Controle Inicial (NMP/g) Final (NMP/g)
1 1,0 x102 8,2 x 103
2 1,0 x 102 3,3 x 103
3 1,0 x 102 6,4 x 104
4 1,0 x 102 5,0 x 104
5 1,0 x 102 7,0 x 103
6 1,0 x 102 3,3 x 103
I 1,0 x 102 1,2 x 104
II 1,0 x 102 ND*
III, VI e V ND* ND*
*ND – Não detectado

Tabela 3. Quantificação de bactérias hidrocarbonoclásticas


Ensaio/Controle Inicial (NMP/g) Final (NMP/g)
1 9,4 x102 3,5 x 102
2 9,4 x 102 5,3 x 102
3 9,4 x 102 4,1 x 104
4 9,4 x 102 7,6 x 104
5 9,4 x 102 1,4 x 104
6 9,4 x 102 1,6 x 104
I 9,4 x 102 1,2 x 104
II 9,4 x 102 ND*
III, VI e V ND* ND*
*ND – Não detectado

As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam as quantificações


iniciais e finais das populações de bactérias heterotróficas
totais, bactérias redutoras de sulfato (BRS) e bactérias
hidrocarbonoclásticas, respectivamente. No controle biótico (I),

356
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
contendo apenas o solo inoculado, e livre de contaminantes,
verificou-se um pequeno aumento na contagem de bactérias.
Esse aumento pode ser atribuído à matéria orgânica
introduzida com o inóculo e/ou decorrente da lise celular. Nos
demais controles (II, III, IV e V) mesmo após os 30 dias de
ensaio não foi detectada a presença de microrganismos seja
pela presença do biocida (II) ou pela adição do contaminante
(III, IV e V).
Considerando que nos controles abióticos não foram
detectadas bactérias nem no início e nem no final do
tratamento, pode-se garantir que os microrganismos viáveis
nos ensaios foram os introduzidos com o bioaumento.
Independente da população estudada, verificou-se que o
aumento do número de microrganismos ao longo do ensaio
estava relacionado à concentração de fertilizante. Enquanto
que o teor de etanol não influenciou o desenvolvimento
microbiano.
Em relação ao pH do solo ao longo do ensaio, não foi
necessário o seu ajuste, pois os valores se mantiveram em
torno da neutralidade. Ademais, não houve variação dos
valores de pH em função das diferentes condições. Em
contrapartida, a determinação de hidrocarbonetos totais de
petróleo indicou que todos os ensaios apresentaram um
resíduo de contaminante ao final dos 30 dias de ensaio, como
pode ser observado na Figura 1.
Considerando que a gasolina é composta também por
compostos voláteis, a comparação de degradação dos
hidrocarbonetos pelos microrganismos foi feita baseada na
concentração final de hidrocarbonetos nos controles e nos
ensaios. Em todos os ensaios foi observada a redução do teor
de TPH, sendo que esta redução foi diretamente proporcional

357
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
à concentração de fertilizante, já que as maiores reduções de
TPH foram verificadas nos ensaios onde o solo foi adicionado
com a maior concentração de fertilizante. A considerar os
desvios, pode-se estabelecer que a adição de etanol
praticamente não apresentou efeito na degradação
microbiológica da gasolina em solo argiloso. Assim como a
presença do etanol não interferiu no percentual de remoção do
contaminante.

Figura 1. Teor de hidrocarbonetos de petróleo ao final do


ensaio de biorremediação.

10000
Concentraçao de Hidrocarbonetos no

9000
8000
7000
solo (mg/Kg)

6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
1 2 3 4 5 III IV V
Ensaios

O ajuste nutricional do solo, através das correções dos


teores de Nitrogênio e Fósforo, umidade e pH são cruciais
para o desenvolvimento microbiano do solo e a eficiência do
processo de biodegradação através do bioestímulo. Este
estudo corrobora os dados da literatura em relação à
necessidade dessa correção bem como os teores desses

358
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
fatores podem interferir nos resultados obtidos (JACQUES et
al., 2010; SHAHI et al., 2016; NWANKWEGU e ONWOSI,
2017; POI et al., 2017; NWINYI e OLAWORE, 2017).
Vale ressaltar que outras características do solo
também podem influenciar, como a proporção de areia, silte e
argila. Pois, os solos com altos teores de argila e silte tendem
a apresentar permeabilidade muito reduzida quando expostos
a altos teores de umidade. Estabelecendo uma barreira física
para a infiltração de águas pluviais no solo e para a difusão de
gases, afetando diretamente o metabolismo microbiano
envolvido na biodegradação (ROBAINA et al., 2001;
JACQUES et al., 2007; GRAF-ROSENFELLNER et al., 2016;
YAN et al., 2017).
Ademais, o excesso de umidade ainda pode interferir
negativamente no processo de biorremediação pela ocupação
dos poros expulsando os gases, e criando áreas anóxicas e
modificando o pH dos microambientes (USEPA, 1990).
Em relação à condição nutricional do solo, o ideal para
o desenvolvimento microbiano apresente uma relação C:N:P
de 100:10:1 (RISER-ROBERTS, 1998). Portanto, o solo
aplicado nesse ensaio teve de ser corrigido quanto ao seu teor
de Fósforo, já que a relação encontrada no solo foi de
100:22:0,2. Para tanto, é possível aplicar fertilizantes
comerciais que apresentam baixo custo e grande eficiência no
aumento da fertilidade do solo (RISER-ROBERTS, 1998,
LAHEL et al., 2016; MA et al., 2016).
As condições ambientais ideais para o desenvolvimento
microbiano variam de acordo com a espécie microbiana. A
maioria dos microrganismos são mesofílicos, ou seja, seu
desenvolvimento ocorre entre as temperaturas de 25 e 30ºC,
enquanto que o pH deve estar próximo da neutralidade.

359
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
Apesar das espécies muitas vezes tolerarem condições
adversas, o ajuste das condições ambientais e nutricionais é
crucial para a eficiência do processo de biorremediação
(RISER-ROBERTS, 1998; MOREIRA e SIQUEIRA, 2006;
MADIGAN et al., 2016).
O uso intenso de petróleo e seus derivados aumentam
a probabilidade da ocorrência de acidentes (SAMANTA;
SINGH; JAIN, 2002; GOUVEIA e NARDOCCI, 2007; ISMAIL et
al., 2014). Dentre os derivados do petróleo a gasolina é o
combustível mais tóxico à população microbiana do solo,
entretanto diversos trabalhos indicam que a biorremediação
pode ser aplicada com sucesso (SOLANO-SERENA et al.,
2000; GHAZALI et al., 2004; ÖSTERREICHER-CUNHA et al.,
2004; BALDWIN, NAKATSU e NIES, 2007; CHEN, BARKER e
GUI, 2008; ANDRADE et al., 2017; LEAL et al., 2017).
Considerando que a população de bactérias
hidrocarbonoclásticas é a principal responsável pela
degradação do contaminante, a comparação entre os valores
das quantificações dessa população as concentrações de
hidrocarbonetos indicam que as maiores contagens
microbianas coincidem com as menores concentrações.
A concentração de TPH que define se uma área precisa
de intervenção varia de acordo com a legislação local. No
Brasil, não há em âmbito federal essa concentração
estabelecida, sendo assim, costuma-se adotar a determinação
da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo/CETESB,
que estabelece uma concentração de intervenção de 1.000
mg/Kg para solos e 600 g/L para ambientes aquáticos
(CETESB, 2006).
Portanto, mesmo nas condições com ajuste de Fósforo
para 50 ppm (ensaios 3 e 4), a concentração de TPH após 30
360
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
dias ficou próxima de 4.000 mg/Kg de solo, indicando que
ainda seria mais tempo de tratamento para que esse solo
pudesse estar abaixo da concentração limite para intervenção.
O teste de mortalidade de minhocas (Figura 2)
corrobora a necessidade de continuar com o tratamento, pois
em todas as condições em que o contaminante foi introduzido
houve um percentual de pelo menos 50% de mortalidade dos
anelídeos da espécie Eisenia foetida.

Figura 2. Percentual de mortalidade de minhocas ao final do


ensaio de biorremediação.

100
90
Mortalidade de Minhocas (%)

80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 I II III IV V

Ensaios

Ao final do ensaio, a toxicidade aos organismos usados


variou com a condição nutricional do solo, pois os menores
valores de toxicidade foram verificados na condição com
melhor condição nutricional. Nos controles com adição de
biocida ou de contaminante nenhuma minhoca resistiu a
toxicidade do solo testado.

361
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
Muito embora a remoção do contaminante tenha sido
significativa em algumas condições, em especial aquelas com
50 ppm de Fósforo, o tratamento do solo ainda precisaria de
mais tempo para que o solo possa ser considerado como
tratado (OGBOGHODO et al., 2004; YANG, 2013; SWICK et
al., 2014; RAMADASS et al., 2017). Nesse estudo foi
observada uma alta toxicidade da gasolina para os anelídeos
da espécie Eisenia foetida, mesmo nos ensaios com as
melhores taxas de remoção do contaminante.

4 CONCLUSÕES

Os resultados obtidos nesse estudo indicam que o uso


das técnicas biológicas de bioaumento e bioestímulo são
promissoras para a remoção de hidrocarbonetos do petróleo
em solos argilosos. Afinal, nas condições com o ajuste da
fertilidade do solo para 50 ppm de Fósforo, obteve-se uma
remoção de pelo menos 50% do contaminante, enquanto que
nos ensaios com ajuste nutricional abaixo dessa concentração
a taxa de remoção atingiu no máximo 20%.
A análise estatística indicou que apenas o ajuste
nutricional foi uma variável significativa para o processo de
biorremediação, enquanto que a adição de etanol à gasolina
não interfere na remoção do contaminante ou na
ecotoxicidade.
Para estudos posteriores seria necessário acompanhar
o tratamento até que esta atinja concentrações de TPH abaixo
de 1.000 mg/Kg de solo e seja novamente avaliado quanto à
ecotoxicidade. Bem como, é necessário conhecer como esse
processo ocorre em diferentes profundidades.

362
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS BIOLÓGICAS NA MITIGAÇÃO DE SOLO
CONTAMINADO COM GASOLINA E ÁLCOOL
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366
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis

CAPÍTULO 19

EFEITO ANTIBACTERIANO DO
MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE
A CEPA Enterococcus faecalis
Letícia de Sousa EDUARDO1
Ticiane Costa FÁRIAS2
Zilka Nanes LIMA3
Sávio Benvindo FERREIRA4
1
Graduanda do curso Bacharelado em Enfermagem, UFCG; 2 Graduanda do curso de
Medicina, UFCG; 3Professora do Departamento de Farmácia, UEPB; 4 Orientador Professor
substituto da UAENF, UFCG.
leticialivesousa@gmail.com

RESUMO: A incidência de infecções bacterianas tem


aumentado significativamente nas últimas décadas. Surgindo,
portanto, a necessidade de se estudar novos compostos com
atividade antibacteriana. O terpeno (+) alfa-pineno é um
composto aromático que apresenta propriedades terapêuticas
que estão sendo cada vez mais exploradas pela comunidade
científica. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo
investigar o efeito antibacteriano do terpeno (+) alfa-pineno
frente a cepa de Enterococcus faecalis ATCC 29212. Foram
empregadas, portanto, metodologias preconizadas pelo
Manual Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI).
Dessa forma, utilizou-se a metodologia de microdiluição em
caldo, objetivando obter a Concentração Inibitória Mínima
(CIM) e a Bacterícida Mínima (CBM), bem como a
caracterização da natureza do composto. Sendo assim, o (+)
alfa-pineno foi dissolvido nos solventes específicos, o Tween
80 a 1%, o DMSO a 5% e água destilada para obter as
concentrações desejadas. Evidenciou-se que a CIM do
fitoconstituinte capaz de inibir o crescimento bacteriano foi de
80 μL/mL, sendo esta bacteriostática e a natureza do

367
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
composto classificada como bactericida. Portanto, o
fitoconstituinte apresentou potencial terapêutico para
tratamento de infecções causadas pela cepa E. faecalis ATCC
25212. Ademais, espera-se que este estudo possa subsidiar o
desenvolvimento de futuras pesquisas para melhor elucidar o
mecanismo de ação, segurança clínica, bem como a
toxicidade do (+) alfa-pineno.
Palavras-chave: Efeito antibacteriano. Produtos natuais. Alfa-
pineno.

1 INTRODUÇÃO

Devido os monoterpenos possuírem funções


antimicrobianas, anti-inflamátorias, antifúngicas e
anticarcinogênicas, eles estão sendo cada vez mais estudados
pela comunidade científica, uma vez que, em virtude do uso
irracional de fármacos antibacterianos, o organismo humano
passou a adquirir resistência, contribuindo assim para o
surgirmento da necessidade de explorar compostos que sejam
natuais, disponíveis na natureza, com baixo custo econômico
e eficazes contra cepas resistentes (SILVA et al., 2012).
De acordo com Campos et al. (2013), a maioria das
infecções enterocócicas em humanos são causadas pela cepa
de Enterococcus faecalis. Sendo assim, os enterococos são
responsáveis por 12% das infecções presentes no ambiente
hospitalar. A descoberta de novas moléculas com atividade
antimicrobiana, bem como o entendimento dos mecanismos
de ação, apresenta-se como ferramenta promissora no
combate a esses patógenos multirresistentes. Desse modo, o
terpeno (+)-alfa-pineno surge como uma alternativa no
combate a cepas resistentes, visto que estudos já

368
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
comprovaram sua ação antibacteriana ao inibir o crescimento
de micro-organismos (SILVA et al., 2012).
Sarto e Junior (2014) buscando por antimicrobianos de
fonte natural, destacaram que os óleos essenciais são
misturas complexas de compostos aromáticos voláteis
provenientes do metabolismo secundário de vegetais, e que
possuem vários componentes químicos responsáveis pelas
suas propriedades terapêuticas e organolépticas, dentre eles,
há uma classe denominada de monoterpenos.
Essa classe de compostos são comumente encontrados
nos óleos voláteis e são constituídos por diversas estruturas
químicas baseadas em duas unidades de isopreno (C10).
Dentro deste grupo, encontra-se o α-pineno, presente em uma
gama de óleos essenciais, muitas vezes, como fitoconstituinte
majoritário (SOUZA; MELLO ;LOPES, 2012).
Nessa perspectiva, os pinenos e terpenos bicíclicos
podem ser encontrados nos óleos essenciais de árvores
coníferas (pinheiro), alecrim lavanda, e aguarrás. Estes
compostos existem como isômeros ópticos ou enantiômeros,
que não se sobrepõem como imagens de espelho um do outro
e eles diferem apenas em sua interação com a luz polarizada
(SOLOMONS; FRYHLE, 2009). Estes compostos podem
apresentar diferenças na toxicidade e atividade biológica em
diversos modelos farmacológicos (TABANCA et al., 2007;
YANG et al., 2011).
O pineno possui dois isômeros ativos constitucionais: α e
β-pineno. Ambos têm enantiômeros conhecidos na natureza
como alfa-pineno (+) (mais comum em pinheiros europeus),
(+) – α – pineno (mais comum na América do Norte), (-) β-
pineno (+) β-pineno. A mistura racêmica está presente em
alguns óleos essenciais, tais como óleo de eucalipto
369
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
(TABANCA et al., 2007; SOLOMONS e FRYHLE, 2009; YANG
et al., 2011). O α-pineno é um monoterpeno derivado de duas
unidades isoprênicas. Apresenta-se como um hidrocarboneto
bicíclico, cujos principais aspectos estruturais são a ligação
dupla C=C e o anel de ciclobutano.
Abdollahzadeh et al. (2014) também confirmam que as
propriedades terapêuticas e organolépticas dos óleos
essenciais estão relacionadas a presença dos monoterpenos,
sesquiterpenos e de fenilpropanoides além de outros
compostos voláteis, que possuem propriedades
farmacológicas devido à volatilidade e a outras propriedades
biológicas. Assim, os óleos essenciais têm sido largamente
empregados por suas propriedades já observadas na
natureza, ou seja, por sua ação antibacteriana, atividades
antifúngica e inseticida
Os efeitos antibacterianos de óleos essenciais contendo o
α-pineno, seja como constituinte majoritário ou em pequenas
concentrações, vêm sendo estudados e comprovados
cientificamente. (NÓBREGA, 2013).
Diante do exposto, para uma melhor caracterização da
atividade farmacológica do monoterpeno (+)-alfa-pineno, este
estudo teve como objetivo avaliar a atividade antibacteriana do
enântiomero positivo do (+)-alfa-pineno frente a cepa gram
positiva de E. faecalis (ATCC 29212).

2 MATERIAIS E MÉTODO

Os ensaios laboratoriais foram realizados no período de


fevereiro a setembro de 2017 no Laboratório de Microbiologia,
Parasitologia e Patologia do Centro de Formação de

370
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
Professores da Universidade Federal de Campina Grande
campus de Cajazeiras. Utilizou-se como substância teste, o
fitoconstituinte (+)-alfa-pineno, obtido da empresa Sigma-
Aldrich do Brasil Ltda., situada em São Paulo, adquirido com
recursos próprios. Vale ressaltar que o composto foi preparado
no momento de execução dos testes, sendo utilizado dois
solventes na dissolução do fitoconstituinte, tais como: Tween a
1% e Dimetilsulfóxido (DMSO) em uma proporção de 5%,
além da água destilada estéril para alcançar as concentrações
desejadas.
Nesse contexto, para os testes antimicrobianos, utilizou-
se a cepa padrão (American Type Culture Collection – ATCC)
gram positiva E. faecalis (ATCC 29212), no ensaio
antibacteriano foi utilizado o método da microdiluição em caldo
para se determinar CIM e CBM. Sendo assim, na execução
dos testes, utilizou os meios de cultura Ágar Müeller-Hinton e
Caldo Müeller-Hinton (HIMEDIA, Índia). Antes de utilizá-los, os
meios foram solubilizados em água destilada e esterilizados
em autoclave a 121ºC por 15 minutos.
Além disso, passado o período de incubação, foi
preparado o inóculo bacteriano, onde foi feito uma suspensão
direta, em solução salina, de colônias isoladas selecionadas.
Em seguida, a suspensão foi ajustada para que apresentasse
turvação semelhante à escala 0,5 de McFarland, que
corresponde a 1 x 108 UFC/mL (CLSI, 2005).
A determinação da CIM foi realizada através da técnica
de microdiluição em placa de 96 poços com orifícios
estéreis com tampas, conforme a “Metodologia dos Testes
de Sensibilidade a Agentes Antimicrobianos por Diluição para
Bactéria de Crescimento Aeróbico”, padronizado pela CLSI

371
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
(2005), com algumas modificações. Sendo assim, nos
orifícios das linhas A, C, E e G, numerados de 1 a 12
foram adicionados 100 μL de Caldo de Mueller-Hinton,
duplamente concentrado. Em seguida, adicionou-se em todas
as cavidades da linha A, 100 μL da solução do (+) – α –
pineno na concentração inicial de 640 μL/mL, através de uma
diluição seriada em razão de dois, obteve-se as concentrações
de 320, 160, 80, 40, 20, 10, 5, 2,5, 1,25, 0,625, 0,312 e 0,156
μL/mL, de modo que, o primeiro poço da linha A possui a
maior concentração e, no último, a menor. Quanto à linha C,
foram adicionados 100 μL de Amicacina, antibiótico padrão,
cuja concentração inicial foi de 2048 μg/mL, e que passou por
uma diluição seriada em razão de dois, obtendo-se as
seguintes concentrações: 1024, 512, 256, 128, 64, 32, 16, 8,
4, 2, 1, 0,5 μg/mL. Por fim, foram adicionados nas cavidades
das linhas A, C e E 10 μL do inóculo bacteriano.
Buscando avaliar a esterilidade do meio, foi realizado o
teste de controle de esterilidade utilizando o poço G,
adicionando apenas 100 μL do Caldo de Miller Hinton (CMH).
Já na linha E, foram adicionados nos poços o CMH e o inóculo
bacteriano, cujo objetivo é avaliar a viabilidade da cepa
bacteriana.
Após isso, as placas foram assepticamente fechadas e
transferidas para estufa a 35ºC por 24 horas. Após o tempo de
incubação, adicionou-se 20 μL da solução de resazurina
sódica (0,01%; p/v) (SIGMA), reconhecido como indicador
colorimétrico de óxido-redução para bactérias. Sendo assim,
aguardou uma hora para a leitura dos resultados, momento
em que a coloração azul demonstra a inatividade bacteriana e
a vermelha, a atividade bacteriana.

372
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
A CIM, conforme CLSI (2005) é definida como a menor
concentração capaz de inibir visualmente o crescimento
bacteriano verificado nos orifícios dos poços.
Para a caracterização da Atividade Antibacteriana, a
Concentração Bactericida Mínima (CBM) foi obtida por meio
do semeio de alíquotas de 20µL das diluições
correspondentes a CIM e duas imediatamente superiores,
CIMx2 e CIMx4 dos conteúdos dos poços das placas de
microdiluição. Em seguida os 20µL foram transferidos para as
placas de petri contendo Ágar Müeller-Hinton. Após isso, o
semeio foi realizado com o auxílio das alças de Drigalski.
Essas concentrações imediatamente superiores a CIM foram
suficientes para demonstrar o efeito bactericida do
fitoconstituinte, visto que o efeito bacteriostático foi
determinado pela ausência de crescimento na placa de petri
(POZZATTI et al., 2009). Após o semeio, as placas foram
incubadas em uma estufa a 37º por 24h.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo de Eduardo e colaboradores (2017)


investigaram a atividade antibacteriana da cepa E. faecalis
(ATCC 25212) através da metodologia de disco-difusão e foi
evidenciado que não houve formação de halo de inibição em
nenhuma das concentrações pelas quais o fitoconstituinte foi
submetido (160 e 5 μL/mL), demonstrando assim, que nas
concentrações testadas pela metodologia empregada, o
composto não apresentou atividade antibacteriana. Desse
modo, justifica-se a necessidade de utilizar outras
metodologias para caracterizar melhor esse fitoconstituinte,

373
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
uma vez que podemos encontra diferentes resultados, como é
o caso do presente estudo.
A figura 1 diz respeito a microplaca utilizada para
avaliar a atividade do fitoconstituinte. Desse modo, a leitura
dos resultados foi possível após a adição de 20 μL da solução
de resazurina sódica (0,01%; p/v) (SIGMA) e em seguida, a
microplaca foi incubada em estufa por uma hora a 35º C.
Sendo assim, bucando avaliar a CIM do composto, os poços
da linha A possui o meio AMH, a cepa bacteriana e o
fitoconstituinte. Quanto os poços da linha C representam o
controle positivo, onde foi adcionado o meio AMH, a cepa e o
antibiótico padrão Amicacina. A fim de avaliar a viabilidade da
cepa bacteriana, a linha E contem o meio AMH e a bactéria.
Os poços da linha G representam a esterilidade do
meio de cultura, possuindo apenas o meio AMH. Assim,
observou-se que os os poços A1-A3, C1-C5; e G1-G11
apresentaram coloração azul, o que representa que o
metabolismo bacteriano estava ativo. Já os poços A5-A12; C6-
C12; E1-E12 e G6 tiveram sua cor alterada de azul para
violeta, demonstrando a presença do metabolismo bacteriano,
indicando a não inibição ou a sobrevivência das bactérias,
mediante a ação do fitoconstituinte em uma determinada
concentração.
O uso da resazurina em testes de microdiluição permite
a detecção de crescimento microbiano em volumes
extremamente pequenos de solução em microplacas sem o
uso de um espectrofotômetro (SARKER et al., 2007).

374
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
Figura 1. Microplaca utilizada no experimento de microdiluição
da cepa E. faecalis após uma hora da adição de resazurina
sódica (0,01%; p/v).

Fonte: Pesquisa. (2017)

A resazurina (7-hidroxi-3H-fenoxazina-3-ona-10-óxido)
é um indicador fluorescente e colorimétrico com propriedade
redox. A forma oxidada é azul e não fluorescente, e é reduzida
por células metabolicamente ativas a resofurina que é rosa e
fluorescente (PALOMINO et al., 2002; PEETERS et al., 2008;
PETTIT et al., 2005). Seu uso possui um número de
vantagens como indicador do ponto final de CIM. Resultados
de redução facilmente identificam a mudança de coloração
que ocorre na densidade celular medidas nos testes de CIM.
Após encontrar a CIM do fitoconstituinte, realizou-se a
sua caracterização, ou seja, foi verificado se a atividade do
composto é bactericida ou bacteriostática. Desse modo,
375
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
constatou-se que a CIM do composto é bacteriostática,
conforme a Figura 2. Já a CBM foi de 160 μL/mL, sendo esta
bactericida.
Figura 02: Caracterização da CIM, CIMX2 e CIMX4 do (+)-α-
pineno frente à cepa de E. Faecalis

Fonte: pesquisa. 2017


A tabela 1 representa a caracterização da CIM, de
acordo com o número de Unidades Formadoras de Colônias
(UFC) que foram perceptíveis a olho nu. Sendo assim,
evidenciou-se que a CIM do composto foi bacteriostática, uma
vez que foi possível visualizar o crescimento maior que três
UFC, portanto, o fitoconstituinte na concentração 80 μL/mL
apenas inibe o crescimento bacteriano. Já a placa CIMx2 diz
respeito a CBM do fitoconstituinte, onde foi 160 μL/mL. Sendo
assim, o composto nessas concentrações foi capaz de
eliminar o crescimento bacteriano.

Tabela 1: Caracterização da ação antimicrobiana do (+)-α-


pineno frente à cepa de E. faecalis
Placas da cepa
CIM [ ] CIMx2 [ ]
de E. faecalis
80 160 μL/mL

01 >3 ≤3

376
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis

02 >3 >3
03 >3 ≤3
Média >3 ≤3
Fonte: Pesquisa. (2017)

A tabela 2 diz respeito aos valores da CIM, CBM, a


relação CIM/CBM, bem como a classificação do composto
alfa-pineno frente a cepa E. faecalis (ATCC 29212). Desta
forma, evidenciou-se que a menor concentração do
fitoconstituinte capaz de inibir o crescimento da cepa E.
faecalis foi de 80 μL/mL. O valor da CBM foi de 160 μL/mL e o
efeito do fitoconstituinte foi bactericida, ou seja, foi capaz de
eliminar o crescimento bacterinao.
A natureza do efeito bacteriano no que diz respeito à
inibição ou morte das bactérias testados é importante. A razão
da CBM/CIM para bactérias ou CFM/CIM para fungos é usado
para especificar a natureza do efeito antimicrobiano contra um
determinado agente patogênico. Segundo alguns autores
quando a razão CBM/CIM ou CFM/CIM de um agente está
compreendida entre 1:1 a 2:1, a substância química é
considerada como bactericida ou fungicida contra o agente
patogênico. Por outro lado, se a razão for > 2:1, o modo de
ação antimicrobiano é mais provável que seja bacteriostático
ou fungistático (HAFIDH et al., 2011; OLIVEIRA et al., 2011;
PADLA, SOLIS, RAGASA, 2012).

377
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
Tabela 2: Valores da CIM, CBM e classificação da natureza do
efeito antibacteriano do (+) – α – pineno frente a cepa E.
faecalis (ATCC 29212).

(+)-α-pineno
Micro-organismo (μL/mL) CBM/CIM Efeito

CIM CBM

Enterococcus faecalis
80 160 1:2 Bactericida
ATCC 29212

Fonte: Pesquisa. 2017

Devido o presente estudo ser pioneiro na avaliação da


atividade antibacteriana do (+) alfa-pineno contra cepa E.
faecalis (ATCC 29212), há uma escassez de estudos que
aprofundem as discussões a respeito do efeito antibacteriano
do composto, visto que a maioria dos estudos realizados
utilizaram o fitoconstituinte associado com os óleos essenciais,
mas não de maneira isolada, ou seja, pura como foi feito neste
trabalho. Nessa perspectiva, há relatos na literatura acerca da
atividade de óleos essenciais que possuem o (+) alfa-pineno
na sua constituição e que este apresenta ação antimicrobiana
frente às cepas gram-positivas dentre elas, a cepa de E.
faecalis (ATCC 29212). Nessa perspectiva, o estudo de
Obame et al. (2008) buscaram avaliar as propriedades
antibacterianas do óleo essencial Dacryodes edulis diante de
16 espécies bacterianas, das quais, vinte e quatro
componentes foram identificados, dentre eles, destaca-se o (+)
alfa-pineno constituindo 17,5% do óleo. Desse modo, os
resultados mostraram que o óleo essencial de D. edulis teve
atividade antimicrobiana contra todos os micro-organismos
378
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
testados, dentre eles a cepa E. faecalis (isolada clinicamente).
A CIM foi equivalente a CBM, indicando assim, que esse óleo
essencial apresenta ação bactericida. Além disso, o óleo
essencial mostrou melhor atividade contra espécies
bacterianas do que contra leveduras. Evidenciando, portanto
que as bactérias gram-positivas são mais sensíveis ao óleo
vegetal e seus componentes do que as bactérias gram-
negativas que foram testadas. Sendo assim, com base nesses
resultados, o estudo conclui que o óleo essencial possui um
espectro de ação amplo, o que pode ser explicado pelo alto
conteúdo de terpineno-4-ol (19,8%) e α-pineno (17,4%) no
óleo essencial de D. edulis analisado no presente estudo.
Shafaghat e Oji (2010) avaliaram a atividade
antibacteriana dos óleos essenciais de diferentes partes de
Nepeta pérsica, sendo que o principal componente dos óleos
de flor e caule foi o alfa-pineno (3,6% e 4,4%) e o óleo de folha
beta-ocimene (3,6%). No óleo da raiz, outros constituintes
principais foram encontrados, tais como (+) alfa-pineno
(40,4%), alfa-amorfeno (5,3%), gama-cadineno (2,9%) e cis-
calameneno (2,5%). A nepetalactona foi o principal
componente dos óleos de flor, folha e caule, que são
importantes fontes de nepetalactona. As atividades
antibacterianas dos óleos de flores, folhas, caule e raiz foram
avaliadas utilizando o método do caldo de microdiluição.
Foram registrados efeitos inibitórios diante das cepas
bacterianas: Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa,
Staphylococcus aureus, Salmonella typhi e Enterococcus
faecalis.
Mota et al (2015) realizou um estudo comparativo
acerca dos protudos químicos constituintes e as propriedades
biológicas dos extratos das folhas e cascas de Myracrodruon
379
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
urundeuva, onde empregou a metodologia em caldo para
investigar a CIM e CBM dos extratos da planta frente às cepas
bacterianas, tais como: Staphylococcus aureus (ATCC 6538),
Enterococcus faecalis (ATCC 29212), Escherichia coli (ATCC
25922), Proteus mirabilis (ATCC 15922), Shigella flexneri
(ATCC 12022) envidenciou, portanto, que a CIM dos extratos
para a cepa E. faecalis foi ≤ 67.5 μg/ml e a CBM ≤ 125 μg/ml.
Outro estudo desenvolvido pelos autores Teke; Elisée;
Roger (2013) avaliou a composição química, propriedades
antimicrobianas do óleo essencial Cupressus lusitanica Mill,
que possui como um dos seus constituintes o (+) alfa-pineno.
Desse modo, o composto foi avaliado contra seis fungos:
Candida albicans ATCC 9002, C. glabrata IP 35, C. krusei
ATCC 6258, C. lusitaniae ATCC 200950, C. parapsilosis
ATCC 22019 e C. tropicalis ATCC 750. Além disso, oito
espécies bacterianas, tais como: E.faecalis ATCC 10541;
Staphylococcus aureus ATCC 25922; Escherichia coli ATCC
11775, Klebsiella pneumoniae ATCC13883, Proteus mirabilis,
Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853, Salmonella typhi
ATCC 6539 e Shigella flexneri. Utilizaram a metodologia de
microdiluição em caldo para investigar a CIM e CBM do
fitoconstituite e constataram que as cepas: E. faecalis, Proteus
mirabilis e Candida albicans foram mais sensíveis ao óleo,
com CIM de 1,25 μg/ml e CBM 25 μg/ml.
A tabela 3 refere-se aos valores da CIM e CBM do
antibiótico padrão, a Amicacina frente a cepa E. faecalis
(ATCC 29212), a relação CBM/CIM, bem como a natureza do
efeito. Portanto, constatou-se que a CIM e a CBM da
Amicacina foi de 64 μL/mL, demonstrando assim, que a cepa
E. faecalis ATCC (29212) é sensível ao controle positivo
realizado. Esse resultado corrobora com o CLSI (2005), que
380
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
considera que a cepa é sensível à amicacina quando a CIM é
menor ou igual a 64 μg/mL e resistente quando for maior ou
igual a 256 μg/mL. Além disso, evidenciou-se que a relação
CBM:CIM foi 1:1, caracterizando a natureza do efeito do
antibiótico como bactericida (HADIFH et al., 2011).
Andrews (2001) avaliou as CIMs de diversos
antibióticos, dentre eles, a amicacina diante das cepas E. coli
ATCC(25922); S. aureus ATCC (25923); P. aeruginosa ATCC
(27853); E. faecalis(29212); H. influenzae ATCC(49227); S.
pneumoniae ATCC(49619); N. gonorrhoeae ATCC(49226).
Para a cepa E. faecalis, a CIM da Amicacina foi de 128
μg/mL, o que diverge do valor da CIM encontrada no presente
estudo, que encontrou um valor mais baixo. Avaliando a CIM
da Amicacina em relação a outra cepa gram-positiva, Caron et
al. (2009) avaliaram a CIM da amicacina frente a cepa S.
aureus (25922) e constataram um valor da CIM de 32 μg / mL,
ou seja, um valor abaixo do encontrado para a cepa E.
faecalis.

Tabela 3: Valores da CIM e CBM, relação CBM/CIM e a


natureza do efeito do antibiótico Amicacina frente a cepa E.
faecalis(29212)
Amicacina
Micro-organismo (μL/mL) CBM/CIM Efeito

CIM CBM

Enterococcus faecalis
64 64 1:1 Bactericida
ATCC 29212

Fonte: Pesquisa. 2017

381
EFEITO ANTIBACTERIANO DO MONOTERPENO (+) ALFA-PINENO FRENTE A
CEPA Enterococcus faecalis
4 CONCLUSÕES

Diante do exposto, constatou-se que a cepa E. faecalis


ATCC 29212, apresentou-se sensível ao fitoconstituinte na
concentração de 80μL/mL, sendo esta a menor concentração
capaz de inibir completamente o crescimento bacteriano. No
que tange à caracterização da CIM, evidenciou-se que o
fitoconstituinte possui atividade bacteriostática, visto que foi
possível observar uma média de crescimento > 3 UFC/mL nas
placas de petri. Sendo que as concentrações imediatamente
as CIMs foram bactericidas, uma vez que agiu eliminando a
formação de colônias de bactérias nas concentrações, sendo
perceptível a média de crescimento ≤ 3 UFC/mL.
Ademais, sugere que novas pesquisas sejam realizadas,
para melhor caracterização da atividade do composto de modo
mais detalhado, buscando comprovar mais precisamente o
mecanismo de ação, toxicidade e viabilidade do composto
como agente antibacteriano.

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384
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
CAPÍTULO 20

ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO


DO (+) – α – PINENO PARA A ESPÉCIE
Proteus mirabilis
Ticiane Costa FARIAS 1
Letícia de Souza EDUARDO 2
Zilka Nanes LIMA 3
Sávio Benvindo FERREIRA4
1
Graduanda do curso de Medicina, UFCG; 2 Graduanda do curso de Enfermagem, UFCG;
Professora do Departamento de Farmácia, UEPB; 4 Orientador Professor da UAENF, UFCG.
3

ticiane_92@hotmail.com

RESUMO: Proteus mirabilis é uma espécie bacteriana gram


negativa anaeróbia responsável por causar infecções
oportunistas no trato urinário. As principais classes de
medicamentos utilizadas para o tratamento de infecções do
trato urinário são penicilinas sintéticas, cefalosporinas,
aminoglicosídeos, quinolonas e as sulfonamidas. Contudo, é
possível observar em estudos o aumento da resistência do P.
mirabilis a alguns antibióticos, dentre eles, ampicilina,
cefalotina, sulfametoxazol + trimetoprima, tetraciclina e
nitrofurantoína. Como possibilidade para combater infecções
bacterianas, avaliou-se a ação de um produto natural, o (+) – α
– pineno, perante a cepa de Proteus mirabilis ATCC 25933,
utilizando metodologias padronizadas pelo Manual Clinical and
Laboratory Standards Institute. Realizou-se a determinação da
Concentração Inibitória Mínima (CIM), da Concentração
Bactericida Mínina e a Classificação da Natureza do Efeito do
Composto de acordo com a Relação CBM:CIM. O (+) – α –
pineno foi dissolvido em Tween 80 a 1%, DMSO a 5% e água
destilada. Na microdiluição em caldo, foi determinada a CIM
para a cepa de Proteus mirabilis, na concentração de 80
μL/mL, sendo caracterizada como bactericida. Este
385
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
experimento possibilitou observar a ação do fitoconstituinte
sobre a espécie de Proteus mirabilis, ressaltando a
necessidade de estudos permanentes para determinar o
mecanismo de ação e toxicidade do (+) – α – pineno
permitindo seu uso futuro contra infecções oportunistas
causadas por Proteus mirabilis.
Palavras-chave: Proteus mirabilis. (+) – α – pineno. Atividade
antimicrobiana.

1 INTRODUÇÃO

Enterobacteriaceae é uma família de bactérias cujos


membros são bastonetes retos gram-negativos anaeróbicos
facultativos ubiquitários, sendo, em sua maior parte,
fermentadores ativos da glicose e outros carboidratos. Eles
habitam o trato gastrintestinal humano e animal, produzindo
bacteriocinas, proteínas que ajudam a manter o equilíbrio
ecológico bacteriano entérico. Possuem importância clínica
devido as doenças que esses micro-organismos podem
causar e a sua capacidade de resistência a determinados
antibióticos. (AMBRUSTER; MOBLEY, 2012; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2012)
Pode-se encontrar nesta família o gênero Proteus spp,
que possui um sinal característico devido ao seu padrão de
motilidade swarming, gerando colônias no formato de
enxames que podem ser visualizados em superfícies de ágar.
Dentro do gênero Proteus spp, existe a espécie bacteriana
Proteus mirabilis, classificada bioquimicamente como
produtora de urease e de sulfeto de hidrogênio, lactose-
negativa, indol-negativa, dentre outras características.
(EWING, 1973; O’HARA; BRENNER; MILLER, 2000;
SCHAFFER; PEARSON, 2016)
386
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
Ela é uma bactéria responsável por formar biofilmes em
cateteres urinários e ocasionar infecções oportunistas no trato
urinário, dentre elas, cistices, pielonefrites, causando,
inclusive, litíase renal e bacteriúria em pacientes diabéticos
tipo 2. Além de ITU, essa espécie pode acometer o trato
respiratório, olhos, ouvidos, feridas e queimaduras, sendo
também relacionada a casos de meningite em neonatos,
sepse, artrite reumatoide e síndrome da urina roxa. (SENIOR
et al., 1999; MELO, 2010; OMORUYI; EVANGELISTA, 2014;
FICHER et al., 2016; SCHAFFER; PEARSON, 2016)
As principais classes de medicamentos utilizadas para o
tratamento de ITU são penicilinas sintéticas, cefalosporinas,
aminoglicosídeos, quinolonas e as sulfonamidas. Contudo, é
possível observar em estudos o aumento da resistência do P.
mirabilis a alguns antibióticos, dentre eles, ampicilina,
cefalotina, sulfametoxazol + trimetoprima, tetraciclina e
nitrofurantoína. (BLATT; MIRANDA, 2005; CARVALHO;
ZERINGOTA, 2005; BRAOIOS et al., 2009)
Diante do desafio de se desenvolver novos antibióticos
devido ao crescente surgimento de micro-organismos super
resistentes, incluindo os uropatógenos tanto no ambiente
comunitário quanto no hospitalar, faz-se necessário a
pesquisa de novos antimicrobianos provenientes de plantas
medicinais para auxiliar no combate das superbactérias.
(SOARES; NISHI; WAGNER, 2006; SANTANA et al., 2012)
Extratos e óleos de plantas são constituidos por
diversas substâncias, dentre elas, encontram-se os
monoterpenos, compostos orgânicos presentes nesses
produtos naturais, que atuam como agentes antibacterianos
com potencial terapêutico, dando destaque ao α – pineno, que
pode ser observado em diversas proporções, inclusive como

387
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
composto majoritário, como ocorre nos óleos de Satiria
trimera, Juniperus phoenicea, Cupressus sempervirens, dentre
outros óleos. (MARTINS et al., 2003; MAZARI et al., 2010)

Pinenos podem ser encontrados nos óleos essenciais


de árvores coníferas, alecrim lavanda, e aguarrás. Estes
compostos existem como isômeros ópticos ou enantiômeros,
que não se sobrepõem como imagens de espelho um do outro
e eles diferem apenas em sua interação com a luz polarizada
(SOLOMONS; FRYHLE, 2009). Estes compostos podem
apresentar diferenças na toxicidade e atividade biológica em
diversos modelos farmacológicos (TABANCA et al., 2007;
YANG et al., 2011).
O pineno possui dois isômeros ativos constitucionais: α
e β-pineno. Ambos têm enantiômeros conhecidos na natureza
como (-)-α-pineno, (+)-α-pineno, (-)-β-pineno e (+)-β-pineno. A
mistura racêmica está presente em alguns óleos essenciais,
tais como óleo de eucalipto (TABANCA et al., 2007;
SOLOMONS; FRYHLE, 2009; YANG et al., 2011). O α-pineno,
C10H16, é um monoterpeno derivado de duas unidades
isoprênicas. Apresenta-se como um hidrocarboneto bicíclico,
cujos principais aspectos estruturais são a ligação dupla C=C
e o anel de ciclobutano.
Alguns estudos demonstraram que esse composto
apresenta atividade antimicrobiana e neuroprotetora em
neuroblastomas humanos, além de afetar o metabolismo
energético de mitocôndrias isoladas através de pelo menos
dois mecanismos: desacoplamento da fosforilação oxidativa
ou inibição da cadeia transportadora de elétrons (COWAN,
1999; ABRAHIM et al., 2003; CHANG et al., 2007).

388
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
Várias atividades biológicas estão associadas ao α-
pineno. Matsuo (2011) isolou da Schinus terebenthifolius
Raddi o composto α-pineno, o qual tem um papel fundamental
na indução do apoptose em células cancerígenas malignas,
além de conferir proteção antimetastática em modelos de
melanoma maligno. O enantiômero negativo apresenta efeito
antiviral contra o vírus da bronquite infecciosa (IBV)
(Albuquerque et al, 2007; Tabanca et al, 2007). Em um estudo
com leveduras, o α-pineno mostrou ação antifúngica contra as
espécies testadas Candida albicans, C. tropicalis, C.
guilliermondii, C. stellatoidea, C. krusei, C. parapsilosis e
Cryptococcus neoformans, apresentando uma Concentração
Inibitória Mínima (CIM) de 2% para as cepas testadas (LIMA et
al., 2005).
No entanto, não existia um consenso sobre a atividade
antimicrobiana do α-pineno, possivelmente devido à falta de
identificação da atividade de cada enantiômero.
Silva e colaboradores (2012) avaliaram o (+) – α –
pineno, (-) – α – pineno, (-) – β – pineno e o (+) – β – pineno
para cepas fúngicas, contudo, os pesquisadores perceberam
que apenas os enantiômeros positivos apresentaram ação
contra os micro-organismos estudados.
Portanto, o objetivo deste estudo é avaliar a atividade
antimicrobiana in vitro do (+) – α – pineno frente a cepa padrão
ATTC (American Type Culture Collection) da espécie Proteus
mirabilis ATCC 25933, através de experimentos responsáveis
pela determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM),
da Concentração Bactericida Mínima (CBM) e a classificação
da natureza do efeito do composto de acordo com a relação
CBM:CIM.

389
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
2 MATERIAIS E MÉTODO

Os experimentos foram realizados no Laboratório de


Microbiologia, Parasitologia e Patologia do Centro de
Formação de Professores da Universidade Federal de
Campina Grande campus de Cajazeiras.
Utilizou-se como fitoconstituinte o (+) – α – pineno,
obtido da empresa Sigma-Aldrich do Brasil Ltda., situada em
São Paulo, adquirido com recursos próprios. As soluções
serão preparadas no momento de execução dos testes,
dissolvendo os primeiramente em Tween 80 a 1% e DMSO em
uma proporção de até 5%, e utilizando água destilada estéril
para alcançar as concentrações desejadas.
Na execução dos testes para avaliação da atividade
antibacteriana do fitoconstituinte, os meios de cultura
utilizados foram o Ágar Müeller-Hinton e Caldo Müeller-Hinton
(HIMEDIA, Índia). Antes de utilizá-los, os meios foram
solubilizados em água destilada e esterilizados em autoclave a
121ºC por 15 minutos.
A determinação da Concentração Inibitória Mínima foi
obtida através da técnica de microdiluição em caldo utilizando
placas de 96 orifícios estéril e com tampa. Nos poços das
linhas A, C, E, G, que são numerados de 1 a 12, foram
adicionados 150 μL de Caldo Mueller Hinton (CMH),
duplamente concentrado. Após isso, 150 μL da solução do (+)
– α – pineno na concentração inicial de 640 μL/mL (também
duplamente concentrados), foram dispensados nas 12
cavidades da primeira linha da placa, linha A.
Em seguida, realizou-se uma diluição seriada em razão
de dois, obteve-se as concentrações de 320, 160, 80, 40, 20,
10, 5, 2,5, 1,25, 0,625, 0,312 e 0,156 μL/mL, de modo que no

390
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
primeiro poço da linha A encontrou-se a maior concentração e,
no último, a menor concentração. Na linha C foram
adicionados 150 μL de Amicacina, cuja concentração inicial
era 2048 μg/mL, e que sofreu uma diluição seriada em razão
de dois, obtendo-se as concentrações 1024, 512, 256, 128,
64, 32, 16, 8, 4, 2, 1, 0,5 μg/mL.
Por fim, foram adicionados nas cavidades das linhas A,
C e E 10 μL do inóculo bacteriano, cujas alíquotas foram
retiradas de uma suspensão de Proteus mirabilis, cujo grau de
turvação obedeceu a escala 0,5 de McFarland, que
corresponde a 1 x 108 UFC/mL. Os doze poços da linha G
tiveram apenas 150 μL de CMH para servir como teste de
controle de esterilidade do meio, como também os poços da
linha E que tiveram adicionados apenas CMH e o inóculo
bacteriano, cujo objetivo foi utilizar essa linha como teste de
viabilidade da cepa bacteriana. (CLSI, 2005). As placas foram
assepticamente fechadas e incubadas a 35ºC por 24 horas..
Após o tempo de incubação, realizou-se a leitura dos
resultados. Ao final, adicionou-se 20 μL da solução de
resazurina sódica (0,01%; p/v) (SIGMA), reconhecido como
indicador colorimétrico de óxido-redução para bactérias. Deste
modo, os poços que apresentaram a coloração azul não
identificaram qualquer metabolismo bacteriano, enquanto os
poços que tiveram sua cor alterada de azul para violeta, foram
capazes de evidenciar o metabolismo bacteriano, indicando a
não inibição ou a sobrevivência das bactérias mediante a ação
do fitoconstituinte em uma determinada concentração. Os
experimentos foram realizados em triplicata e o resultado foi
expresso pela média aritmética das CIM’s obtidas nos três
ensaios. (SANTOS; HAMDAN, 2005).

391
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
A Concentração Bactericida Mínima (CBM) foi obtida
por meio do semeio de alíquotas de 20µL das diluições
correspondentes a CIM e duas imediatamente superiores,
CIMx2 e CIMx4, dos conteúdos dos poços das placas de
microdiluição, em placas de Petri contendo Ágar Müeller-
Hinton, que foram espalhados com o auxílio de uma alça de
Drigalsky (ver Figura 1).

Figura 1. Imagem ilustrativa representando a técnica de


semeadura com alça de Drigalsky.

Fonte: https://www.casalab.com.br/produtos/65/9062_

Essas concentrações imediatamente superiores a CIM


foram suficientes para demonstrar o efeito bactericida dos
produtos naturais, visto que o efeito bacteriostático foi
determinado pela ausência de crescimento na placa de petri
(POZZATTI et al., 2009). Após o semeio, as placas foram
incubadas em uma estufa a 35º C por 24 horas. De acordo
com CLSI (2005), a CBM é considerada a menor concentração

392
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
que impediu o crescimento visível das bactérias ou permitiu a
formação de até 3 Unidades Formadoras de Colônia (UFC).
Vale ressaltar que todos os experimentos foram realizados em
triplicata.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para facilitar a detecção de bactérias metabolicamente


ativas e bactérias mortas durante os experimentos, pode-se
empregar o uso da resazurina, que é um corante importante
em testes de microdiluição, pois permite a visualização de
crescimento microbiano em volumes extremamente pequenos
de solução em microplacas.
A resazurina (7-hidroxi-3H-fenoxazina-3-ona-10-óxido)
é um indicador fluorescente e colorimétrico com propriedade
redox (ver figura 2), cuja forma oxidada é azul e não
fluorescente, enquanto isso, a forma reduzida por células
metabolicamente ativas a resofurina é rosa e fluorescente
(PALOMINO et al., 2002; PEETERS et al., 2008; PETTIT et
al., 2005). Seu uso possui inúmeras vantagens como indicador
do ponto final da Concentração Inibitória Mínima.
Após a adição de 20 μL da solução de resazurina
sódica (0,01%; p/v) (SIGMA), a microplaca foi incubada em
estufa por uma hora a 35º C, em seguida, foi possível fazer
leitura dos resultados, que compreenderam a visualização de
poços A1 a A3, C1 a C7 e G1 a G12 que apresentaram a
coloração azul, ou seja, não identificaram qualquer
metabolismo bacteriano, e os poços que tiveram sua cor
alterada de azul para violeta, A4 a A12, C8 a C12, E1 a E12,
significando que foram capazes de evidenciar o metabolismo
bacteriano, indicando a não inibição ou a sobrevivência das
393
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
bactérias mediante a ação do fitoconstituinte em uma
determinada concentração.
Com isso, a CIM foi definida como a menor
concentração capaz de inibir visualmente o crescimento
bacteriano verificado nos orifícios, quando comparado com o
crescimento controle. (CLSI, 2005)

Figura 2. Reação de óxido-redução o indicador colorimétrico


resazurina que auxilia na visualização do crescimento
microbiano.

Fonte: RAVICHANDRAN; MANOJ, 2014.

Figura 3. Microplaca com 96 oricífios contendo Caldo Müeller-


Hinton, (+)-α-pineno em diferentes concentrações e amicacina

394
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
semeadas com Proteus mirabilis ATCC 25933.

Fonte: FARIAS et al., 2017.

Com isso, ao longo da leitura dos resultados (ver Figura


3), pode-se identificar que a CIM do fitoconstituinte, localizada
no poço A3, foi de 80 μL/mL, 2xCIM igual a 160 μL/mL e
4xCIM igual a 320 μL/mL. Enquanto isso, a CIM da amicacina,
no poço C7, foi de 16 μg/mL (ver Tabela 1), sendo, portanto, a
espécie estudada sensível ao controle positivo utilizado no
estudo, visto que de acordo o CLSI (2005), a cepa de P.
mirabilis é considerada sensível à amicacina se a CIM
apresentar-se menor ou igual a16 μg/mL, e apresentaria perfil
de resistência se a CIM fosse acima de 32 μg/mL. Além disso,
avaliando os poços com os controles foi possível garantir a
segurança dos resultados, visto que na linha E verificou-se a

395
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
viabilidade da cepa estudada e na linha G a esterilidade do
meio de cultura foi confirmada.

Tabela 1. Valores da CIM, CBM e classificação da natureza do


efeito antibacteriano do controle positivo Amicacina.
Amicacina (μg/mL)
Micro-organismo CBM/CIM Efeito
CIM CBM

Proteus mirabilis ATCC 25933 16 16 1:1 Bactericida


μg/mL μg/mL

Fonte: FARIAS et al., 2017.

Em um estudo sobre resistência antimicrobiana de


cepas bacterianas gram negativas de origem nosocomial,
Lockhart et al. (2007) perceberam as cepas de Proteus
mirabilis apresentaram baixa porcentagem de resistência a
amicacina, sendo de 0,5% para amostras provenientes do
trato respiratório, 0% para a de urina e 0% para a de sangue.
Luzzaro et al. (2001) pesquisaram as propriedades de
resistência a múltiplas drogas de 50 cepas isoladas de P.
mirabilis produtoras de betalactamases de espectro ampliado
(ESBL) através do método Etest. A espécie bacteriana
demonstrou-se resistente ou com sensibilidade reduzida a
diversos antibióticos, dentre eles, piperaciclina, cefalosporinas
de 3ª e 4ª gerações. Entretanto, P. mirabilis apresentou-se
sensível à amicacina com CIM menor ou igual a 16 mg/L,
sendo este antibiótico considerado, portanto, uma opção
terapêutica mais efetiva contra infecções causadas por cepas
de Proteus mirabilis produtoras de ESBL.

396
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
Dando continuidade aos experimentos, foi realizada a
determinação da concentração bactericida mínima (CBM),
que, após a leitura dos resultados, foi de 80 μL/mL,
percebendo-se, portanto, que a CIM do (+) – α – pineno é
bactericida, como mostra a Figura 4.

Figura 4. Placas de Ágar Müeller Hinton inoculadas com P.


mirabilis ATCC 25933, não apresentando qualquer
crescimento de colônias para as concentrações CIM, 2xCIM e
4xCIM do (+) – α – pineno.

Fonte: FARIAS et al., 2017.

Tabela 2. Valores da CIM, CBM e classificação da natureza do


efeito antibacteriano do (+) – α – pineno.
(+) – α – pineno
Micro-organismo (μL/mL) CBM/CIM Efeito

CIM CBM

Proteus mirabilis ATCC 25933 80 80 1:1 Bactericida


μL/mL μL/mL

Fonte: FARIAS et al., 2017.

397
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
Essa conclusão foi considerada, visto que nas placas
inoculadas não foi possível visualizar a formação de colônias
de Proteus mirabilis para as concentrações CIM, 2xCIM e
4xCIM do fitoconstituinte (POZZATTI et al., 2009). Aplicou-se
também a relação CBM:CIM cujo resultado obtido foi 1:1 (ver
Tabela 2), caracterizando a natureza do efeito do composto
como bactericida (HADIFH et al., 2011)
Este trabalho é pioneiro no estudo do efeito
antibacteriano do enantiômero positivo do α-pineno contra a
espécie de Proteus mirabilis ATCC 25933, visto que não há
informações na literatura de pesquisas sobre o tema utilizando
as metodologias empregadas para esse fitoconstituinte.
Na literatura, Farias e colaboradores (2017) realizaram
um estudo com o (+) – α – pineno, com concentrações
variando entre 160 e 5 μL/mL, por meio da metodologia de
disco-difusão contra bactérias gram negativas, incluindo
Proteus mirabilis ATCC 25933. Para esta cepa não houve a
formação de um halo de inibição visível a olho nu, de modo
que os pesquisadores a consideraram resistente a todas as
concentrações utilizadas.
Esta situação evidencia a necessidade de se empregar
diferentes metodologias para avaliar um fitoconstituinte, visto
que no presente estudo, utilizando a microdiluição em caldo,
foi possível determinar a CIM do (+) – α – pineno, 80 μL/mL,
enquanto que para o teste de disco-difusão essa determinação
não foi possível.
MOTA e colaboradores (2015), avaliaram o efeito
biológico de extratos hidroalcoólicos das folhas e cascas da
planta Myracrodruon urundeuva para algumas cepas fúngicas
e bacterianas gram positivas e negativas. Através da
microdiluição, eles encontraram os valores de CIM ≤ 125 µg/ml
398
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
e CBM ≤ 250 µg/ml para a espécie Proteus mirabilis ATCC
15922 para os extratos hidroalcoólicos das folhas, contudo,
para o extrato proveniente das cascas não demonstrou
qualquer efeito sobre as cepas testadas.
Enquanto isso, Mirjana; Nada; Valerija (2004)
pesquisaram a composição e a atividade antimicrobiana do
óleo essencial da planta Satureja cuneifolia colhido em 3
períodos específicos do ano – antes, durante e depois do
período de floração – para algumas espécies de fungos e
bactérias, dentre elas, Proteus mirabilis ATCC 25933. Os
pesquisadores perceberam que, de acordo com o período de
colheita, ocorre uma variação nas quantidades dos
fitoconstituintes, de modo que a proporção de α – pineno no
óleo essencial variou entre 5,8 a 12%. Neste estudo, os
pesquisadores determinaram 3 valores para a CIM da cepa de
P. mirabilis – 0,25%, 0,12% e 0,5% – e 3 valores para a CBM
– 0,5%, 0,5% e 1%, e perceberam como o período da coleta
do material pode influencia na composição e no efeito
antimicrobiano do óleo essencial.

4 CONCLUSÕES

Após a realização do experimento, pode-se concluir


que, de acordo com o teste de microdiluição em caldo foi
possível realizar a determinação da concentração inibitória
mínima do (+) – α – pineno para a cepa estudada, 80 μL/mL, e
que esta concentração do fitoconstituinte apresentou natureza
do efeito bactericida.
Ao final, foi possível constatar a atividade do
fitoconstituinte diante da espécie de Proteus mirabilis ATCC
25933 , ressaltando a necessidade de estudos permanentes

399
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA IN VITRO DO (+) – α – PINENO PARA A
ESPÉCIE Proteus mirabilis
para determinar o mecanismo de ação e toxicidade do
fitoconstituinte para que, no futuro, o (+) – α – pineno possa
ser um composto de origem natural empregado como nova
opção terapêutica em infecções oportunistas causadas por
Proteus mirabilis.

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403
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
CAPÍTULO 21

AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA


Β-LAPACHONA FRENTE AOS FUNGOS
OPORTUNISTAS
Edmagda de Barros PEREIRA1
Felipe Mateus Oliveira de MEDEIROS 1
Gessyllane de LimaMELO1
Maria Daniela Silva BUONAFINA2
Henrique John Pereira NEVES3

1
Graduandos do curso de Biomedicina, Centro Universitário Tabosa de Almeida –
ASCES|UNITA; 2 Doutoranda do Departamento de Micologia Médica da Universidade Federal
de Pernambuco-UFPE, 3 Orientador, Doutor, Departamento de Micologia Médica da
Universidade Federal de Pernambuco, (henriquejohn@yahoo.com.br).

RESUMO: Nos últimos anos, as infecções fúngicas graves


causadas por fungos considerado não patogênicos
aumentaram consideravelmente e passaram a ser de grande
importância devida suas elevadas taxas de morbidade e
mortalidade. Leveduras do género Cândida são importantes
agentes de infecções oportunistas, especialmente em
pacientes imunocomprometidos. Os agentes antifúngicos
disponíveis no mercado são restritos a um pequeno número
de fármacos quando comparados aos agentes antibacterianos.
Esses fatos associados ao aumento da frequência de
resistência de espécies de Candida, demonstram a
necessidade de buscar por novas estratégias terapêuticas,
onde os produtos naturais se destacam. Assim, o objetivo do
presente trabalho foi avaliar o potencial antifúngico da β-
lapachonada planta Tabebuia avellanedae sobre o
crescimento de fungos oportunistas Cândida spp. Para isso, a
avaliação do efeito antifúngico da β-lapachona foi realizada em

404
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
03 cepas de Candida spp. De acordo com os resultados
obtidos, β-lapachona apresentou atividade antifúngica frente a
cepas de Candida spp. Esses resultados foram similares aos
obtidos com o tratamento utilizando antifúngicos conhecidos,
CiclopiraxOlamina, Nitrato de Miconazol e Fluconazol. Dessa
forma, esta dissertação apresenta uma nova alternativa para o
tratamento infecções fungicas, especialmente para os
pacientes imunudeprimidos que não mostram resultados
satisfatórios.Portanto, conclui-se que β-lapachona é capaz de
inibir o crescimento in vitro de Candida spp.
Palavras-chave:Candida spp.; β- lapachona;Resistência.

1 INTRODUÇÃO

Os fungos são organismos considerados na maioria das


vezes oportunistas e estão presentes no solo, em matéria
orgânica em decomposição e no ar. Estão comumente
associados ao desenvolvimento de doenças, desde otites,
infecções urinarias, onicomicoses, infecções oculares, até
fungemias e em imunodeprimidos estas infecções geralmente
são fatais. Sabe-se que, embora novas espécies fúngicas
sejam identificadas em infecções em pacientes
imunocomprometidos, das infecções oportunistas mais
prevalentes há a candidíase, causada por espécies da
levedura Candida sp, correspondendo a cerca de 80% das
infecções fúngicas documentadas principalmente em casos de
imunocomprometimento (NAKAMURA, 2013; SOUSDALEFF,
2016).
Este fungo é uma levedura, que coloniza a flora normal
do corpo humano, como por exemplo, pele, boca, intestino e
vagina. Normalmente estes microrganismos comensais se
tornam patogênicos quando ocorrem alterações nos

405
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
mecanismos de defesa do hospedeiro, ou pelo
comprometimento de barreiras anatômicas, por procedimentos
invasivos e quando a flora bacteriana competidora é
eliminada, devido ao uso prolongado de antibióticos.
(NAKAMURA, 2013).
O tratamento convencional se dá na maioria dos casos
de candidíase pelos compostos azóis que são divididos em
triazol e imidazol. Ainda existem falhas no tratamento de
infecções micóticas o que tem chamado atenção para o grave
mecanismo de resistência aos antifúngicos utilizados no
tratamento das infecções micóticas. (ALBURQUENQUE,
2011).
De acordo com Alburquenque (2011) a resistência da C.
albicans aos antifúngicos azóis pode se dá por dois principais
mecanismos. Primeiro é por meio de alterações na enzima
alvo citocromo P-450 lanosterol 14-desmetilase, com sua
superexpressão ou mutação no gene ERG11. A mutação
neste gene altera os aminoácidos da proteína citocromo P-450
14α-desmetilase que resulta em uma menor afinidade aos
antifúngicos azóis; o segundo mecanismos é por meio de
bomba de efluxo, que diminui a quantidade de fármacos em
seu interior.
Diante desse contexto, os produtos naturais se
destacam, pois são bastante utilizados para obtenção de
moléculas bioativas, no qual os pesquisadores têm investido
na identificação dessas moléculas bem como nas suas
propriedades e mecanismo de ação (SCORZONI et al. 2016;
MARTINS et al., 2015). As quinonas têm grande relevância, já
que apresentam diversas propriedades, como: microbicida,
tripanossomicida, viruscida e antitumoral (SILVA; FERREIRA;
DE SOUZA, 2003).
406
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
Como alternativa de tratamento, tem-se a fitoterapia,
que consiste no conjunto de técnicas de utilização de vegetais
no tratamento de doenças e na recuperação da saúde.
Existem numerosos grupos de pesquisadores que estudam e
empregam as plantas medicinais, desde as mais simples e
empíricas até as científicas e experimentais (MEDEIROS,
2010).
As plantas representam um alicerce de novas moléculas
biologicamente ativas, quando exploradas dentro de um
programa voltado para a pesquisa, desenvolvimento e
produção de novos fármacos (WISINTAINER, 2014).
Civilizações antigas como chinesa, grega e romana
identificaram a utilização de plantas medicinais que datam de
1700 a.C. para aplicação na saúde humana. E em 1960 o Dr.
Walter Radamés Accorci, professor de Botânica da Esalq-USP
testou e comprovou propriedades imunoestimulantes
da Tabebuia sp., também conhecida como Pau D’arco Roxo. E
observou que a β-Lapachona extraída desta planta tem ação
antibacteriana, antiinflamatória, analgésica e antineoplásica
(SILVA, 2006).
Dentre as naftoquinonas naturais destaca-se o lapachol,
que pode ser considerado um dos principais representantes do
grupo de quinonas das tabebuias, é conhecido desde 1858 e
desde então, através dos séculos, tem sido encontrado como
constituinte de várias plantas das famílias Bignoniaceae,
Verbenaceae e Proteaceae. Entretanto, sua ocorrência é
maior na família Bignoniaceae, particularmente no gênero
Tabebuia (Tecoma), juntamente com outras quinonas
heterocíclicas não menos importantes do grupo (SILVA et al.,
2012)

407
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
A Tabebuia avellanedae no Brasil, é também conhecida
como “pau d’arco”, e a casca da árvore é utilizada como
analgésico, antiinflamatório, antifúngico, diurético e
antineoplásico. O lapachol é um composto que pode ser
extraído a partir da serragem da madeira das árvores da
família das Tabebuia, os chamados ipês. Existem, no Brasil,
46 tipos conhecidos de ipês, como, por exemplo, o ipê
amarelo.
O lapachol pode ser convertido em α e β lapachona, a β
lapachona pode ser obtida através da ciclização ácida do
lapachol, e já foi objeto de estudo em diversas neoplasias,
como o câncer de próstata, tumores mamários e neoplasias de
cólon e útero (GABRIEL et al., 2017).
A estrutura química da β-lapachona é, 2,2-dimetil-3,4-di-
hidro benzo [h] cromeno-5,6-diona, essa substância é extraída
do lapachol, é um produto natural que apresenta forma
cristalina laranja-avermelhada com ponto de fusão
característico entre 154,5 e 155,5°C e é estruturalmente
estável em pH de 3 a 9. Tem sido, desde o início da década
de 90, alvo de estudos no mundo todo devido ao excelente
potencial farmacológico in vitro e in vivo (MEDEIROS, 2010).
Algumas décadas atrás, o Instituto de Antibióticos da
Universidade Federal de Pernambuco, foi quem iniciou os
estudos das naftoquinonas da Tabebuia avellanedae, um
vegetal pertencente à família Bignoniaceae. Dela pode-se
obter β-Lapachona que é uma orto-naftoquinona obtida a partir
do lapachol, substância extraída do seu cerne. (FILHO, 2005).
A β-Lapachona apresenta inúmeras ações farmacológicas, tais
como antimicrobiana e anti-inflamatória, mostrando uma
sensibilidade maior aos fungos de algumas espécies.
(BARBOSA, 2011).
408
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
Sobre os mecanismos de ação, existem o estudos
realizados onde mostram o seus efeitos principais no DNA
induzindo a morte celular por apoptose ou necrose. A β-
lapachona age nas enzimas topoisomerases I e II clivando-as.
Esta clivagem ocorre quando surgem as ligações covalentes
entre o anel quinona e as proteínas e ácidos nucleicos, fato
constatado por vários estudos e realizado em várias
condições. Também o estresse oxidativo que provoca ao
induzir a formação deletéria endógena de espécies bioativas
derivadas do oxigênio (O2, OH-, H2O2) e inibição do transporte
de elétrons na célula (SILVA. et al, 2012) e (WISINTAINER,
2014).
Foi visto em estudos realizados a comprovação da
atividade antifúngica por parte do lapachol como fitoterápico
onde a substância que se destaca nos testes realizados frente
a estes fungos é a β-lapachona, porém a variedade de
benefícios encontrados frente a patógenos é extensa como
atividade antiviral, anti-inflamatória, anti-psoriática, anti-
parasitária, antitumoral. Porém o enfoque maior nas pesquisas
é da doença de chagas Trypanossoma cruzi (MEDEIROS,
2010).
A β-lapachona tem atraído atenção considerável na área
de pesquisa devido suas atividades biológicas incluindo,
antimalárica, antibacteriana, antiviral, antiparasitária e
antifúngica, sendo citada como potencial droga anticâncer e
antimicrobiana. (SANTOS 2015; MEDEIROS, 2010).
Medeiros (2010) avaliou a atividade antifúngica da β-
lapachona frente ao Criptococcus neoformans apresentando
sensibilidade com concentração inibitória mínima (CMI) de
4mg/L e Concentração mínima fungicida (CMF) de 64µg/ml.

409
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
Castro (1994) em seus achados visualizou que a β-
lapachona possuía atividade antifúngica frente à
Micobacterium turberculosis apresentando um CIM de
6,25mg/ml e correlacionou essa atividade com a
lipossolubilidade da molécula.
Outros estudos realizados demonstraram que o lapachol
e seus análogos foram ativos para cepas de Staphylococus
aureus, Pseudomonas aeruginosa, Sachanomices cerevisae
inclusive a β-lapachona apresentou atividade para Candida
albicans (ANTUNES, 2006).
Tem sido relatado que a ação antifúngica é relacionada à
capacidade da substância em atravessar a parede celular
fúngica e ser inserido entre as cadeias de ácido gordo
presente em sua membrana provocando alterações na sua
fluidez e permeabilidade, interfere na síntese de ergosterol e
induz estresse oxidativo em células eucariotos levando a
apoptose (HUSSAIN, 2007).
Uma atividade marcante dessa naftoquinona é a
antiparasitária frente ao Tripanossoma cruzi, o agente
causador da doença de Chagas, onde se destaca o estresse
oxidativo como mecanismo de ação antiparasitário sendo
muito mais ativa que seu isômero α-lapachona. (SILVA, 2012).
Demonstrou também, atividade antiplasmodial inclusive contra
cepas resistentes do Plasmodium falciparum agente causador
da malária. (MARDAGAN, 2007).
Segundo a pesquisa de Santos (2015), várias quinonas
tiveram atividade larvicida frente ao Toxocara canis, entre elas
a β-lapachona, com 100% de atividade larvicida in vitro.
Silva (2003) constatou também, que em relação a
atividade antiviral, a β-lapachona inibe a replicação do vírus

410
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
HIV-1 atuando na enzima LTR, além de atuar na transcriptase
reversa do vírus da mieloblastose aviária
Desse modo, devido aos riscos de infecções
oportunistas causadas pela levedura Candida sp., por parte de
pessoas imunodeprimidas, o tratamento oferecido com
medicamentos alopáticos promove efeitos colaterais adversos,
algumas vezes agravando o quadro clínico do paciente, por
esse motivo o presente estudo pretende avaliar a ação
antifúngica da β-Lapachona presente na Tabebuia
avellanedae, conhecido popularmente como Pau d’arco roxo,
uma planta cultivada em países de clima tropical como o
Brasil, frente à Cândida sp., a fim de verificar a aplicação da β-
Lapachona como alternativa de tratamento para pacientes
acometidos por estes microrganismos.
Além disso, outro grande interesse no estudo, incluindo
a elucidação dos mecanismos de ação dos compostos com
estrutura quinoidal é devido aos seus múltiplos alvos
biológicos e a sua presença generalizada na natureza
envolvendo principalmente o ciclo redox (AIRES et al., 2014;
SILVA; FERREIRA; DE SOUZA, 2003).
O ciclo redox das quinonas onde o substrato
quinonoídico (Q) sofre biorredução por um ou dois elétrons,
catalisada pelas enzimas NADPH, dentre outras, forma o
ânion radical semi quinona (Q-•) in situ. Na presença de
oxigênio molecular (O2), esse ânion radical (Q•-) transfere um
elétron e gera o radical superóxido (O2•-). O radical
superóxido (O2•-) sofre a ação da enzima superóxido
desmutase gerando peróxido de hidrogênio, e paralelamente
uma reação de Fenton catalisada por Fe+2 produz o radical
hidroxila.

411
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
Esses radicais são os responsáveis pela condição
descrita como estresse oxidativo no interior da célula,
causando 41 danos irreversíveis em alguns de seus
componentes, podendo levar à morte celular programada
(apoptose) (FERREIRA et al., 2010). Embora muito complexo,
com etapas ainda desconhecidas, o ciclo redox continua
sendo a ferramenta atual de que se valem os farmacologistas
para obter conhecimentos sobre a ação citotóxica das
naftoquinonas (SILVA; FERREIRA; DE SOUZA, 2003).
Este estudo teve por objetivo Avaliar a ação antifúngica
da β-Lapachona da planta Tabebuia avellanedae frente aos
fungos oportunistas Candida sp, sendo em duas etapas, a
primeira extrair a β-Lapachona a partir da planta Tabebuia
avellanedae, conhecida como Pau D’arco Roxo e a segunda
analisar in vitro a atividade antifúngica da β-Lapachona frente
a Candida sp.

2 MATERIAIS E MÉTODO

a. Período de Estudo

O período de estudo será entre agosto e outubro de


2017.

b. Tipo de Estudo

Esta pesquisa foi experimental, descritivo, laboratorial,


transversal, trabalhando com dados qualitativos.

c. Procedimento de Extração da β-lapachona

412
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
O extrato contendo a β-lapachona foi obtido através da
decocção, usando-se 100 g do caule em 1000 mL de água
destilada, em temperatura máxima de 100 °C até atingir a
fervura, reduzindo-se posteriormente para 75 °C, aquecendo-
se o sistema com uma manta de aquecimento, por um período
de aproximadamente 20 minutos. Ao final, a β-lapachona foi
coletada com uma pipeta e armazenada em eppendorf
protegidos da luz com papel alumínio. Para a determinação do
rendimento do óleo essencial extraído por hidrodestilação de
cada 100 g da planta foi pesado o eppendorf vazio em balança
analítica e posteriormente os eppendorfs com a substância
extraída, calculando-se o peso líquido, assim como foi
verificado o volume de β-lapachona produzida, posteriormente
o processo foi repetido para as massas de 200 g e 300 g da
planta, para comparar e avaliar a eficiência do processo
(KOCH, 2014).

d. Critério de inclusão

Foi utilizado para extração da β-lapachona da planta T.


Avellanedae fragmentos (cascas) do seu caule.

e. Critério de exclusão

Não foram utilizados na pesquisa as folhas, flores,


plântulas e sementes da planta, por conter baixa concentração
da β-lapachona.

f. Obtenção do fungo (Candida sp.)


Foram utilizadas três espécies de fungos leveduriformes
Candida, já disponibilizadas pelo setor de Micologia do
413
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
Laboratório de Microbiologia do Centro Universitário Tabosa
de Almeida – ASCES/UNITA, em Caruaru-PE, cepas já
armazenadas em tubo de ensaio contendo meio solido com
ágar Sabouraud, que foram repicadas a cada dois meses para
manutenção do fungo.

g. Teste da β-lapachona por Antibiograma

Conforme Ribeiro (2011), foram utilizadas placas de


petri com meio ágar Sabouraud, assim como discos de 6 mm
de diâmetro esterilizados previamente.

h. Preparação do inoculo

Conforme RIBEIRO (2011), realizou-se repiques de


Candida sp. em ágar Sabouraud-dextrose para obter culturas
de 24h e garantir a pureza e a viabilidade das cepas. A
temperatura de incubação deve ser 35ºC. Preparou-se o
inoculo escolhendo-se 05 colônias com cerca de 01mm de
diâmetro e suspendeu-se em 05 mL de solução fisiológica
estéril 0,85%. Agitou-se a suspensão padrão resultante em
vortex durante 15 segundos e ajustou-se a densidade celular
em espectrofotômetro, acrescentando-se solução salina
suficiente para obter a transmitância equivalente a uma
solução padrão da escala de McFarland 0,5 de comprimento
de onda de 530nm, obtendo-se suspensão-padrão de levedura
1 a 5 x 106 células/mL.

414
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
i. Experimento

Após o crescimento dos inóculos, a suspensão foi


semeada com swab de algodão sobre as placas de Petri
contendo 15 ml de meio sólido ágar Sabouraud, com uma
espessura de aproximadamente 4 mm, em seguida os discos
utilizados para antibiograma, de 6mm de diâmetro, de papel,
foram embebidos com o extrato da planta e impregnados em
uma placa Petri conforme Koch (2014).

j. Incubação

Ainda de acordo com Ribeiro (2011), as placas foram


incubadas à 35ºC, sendo realizadas leituras visuais após 24h
e 48h, em seguida, fazendo-se a observação visual e
constatação se houve ou não inibição ao crescimento das
leveduras pela técnica de presença ou ausência.

k. Leitura dos resultados

Foram constatadas na técnica de antibiograma, a


presença ou ausência para cada espécie do fungo, para
verificar se houve ou não inibição no crescimento do fungo,
comparando-se os resultados obtidos entre o extrato
produzido e os medicamentos já comercializados para tal
finalidade, quais sejam: Ciclopirox Olamina, Nitrato de
Miconazol e Fluconazol, para cada espécie de levedura.

415
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
l. Análise de dados

O armazenamento e avaliação dos dados foram feitos


pelo software Excel, através de gráficos e tabelas, mostrando
graficamente a eficiência da inibição das leveduras e da
produção do extrato.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Eficiência de Produção de Extrato

Com base na técnica utilizada para produção do extrato


de β-lapachona, por decocção, utilizando-se massas da casca
da planta, 100 g, 200g e 300g, as massas obtidas da
substância foram respectivamente 8g, 16g e 24g,
aproximadamente, contudo, devido a alta toxicidade da
substância, em relação aos experimentos in vivo, conforme
Araújo et al. (2002), fez-se a utilização para os testes in vitro
deste artigo com a massa de 8g da substância, ou seja 100 g
de massa de casca para 1000mL de água.

3.2 Teste de Inibição do Extrato

Neste estudo, utilizou-se amostras fornecidas pelo


laboratório de Microbiologia do Centro Universitário Tabosa de
Almeida – ASCES/UNITA, contendo Candida albicans,
Candida krusei, Candida tropicalis, mas contendo também
Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus aureus, por
tratar-se de amostras experimentais.

416
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
Fazendo-se o teste por antibiograma com o Ciclopirox
Olamina, Nitrato de Miconazol, Fluconazol e com o Extrato de
β-lapachona, verificou-se atividade antifúngica de todas as
substâncias para quase todas as espécies de leveduras,
conforme se verifica a seguir na Tabela 1.

Tabela 1. Atividade antifúngica das substâncias.


Substâncias Espécies de Leveduras
Candida albicans Candida krusei Candia Tropicalis
(1) (2) (3)
β-lapachona SENSÍVEL SENSÍVEL SENSÍVEL

Ciclopirox SENSÍVEL SENSÍVEL SENSÍVEL


Olamina
Nitrato de SENSÍVEL SENSÍVEL SENSÍVEL
Miconazol
Fluconazol SENSÍVEL SENSÍVEL RESISTENTE

Fonte: Própria autoria

Quanto à atividade antifúngica, pode-se verificar que


tanto a β-lapachona, quanto Ciclopirox Olamina e Nitrato de
Miconazol apresentaram capacidade de inibir o crescimento
das três espécies de leveduras, contudo, tratando-se do
Fluconazol, o mesmo apresentou atividade inibitória apenas
para a C. albicans e a C. krusei, mas não apresentou
atividade/capacidade de inibir o crescimento da C. tropicalis, o
que significa que a amostra desta levedura apresentava
resistência ao Fluconazol, devido ao fato da amostra obtida
com o Laboratório de Microbiologia da ASCES/UNITA ter
origem clínica de paciente que já estava fazendo uso do
Fluconazol e não obtendo resultado positivo no tratamento.
Quanto ao resultado dos teste frente às bactérias
encontradas nas amostras, Streptococcus pneumoniae e
417
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
Staphylococcus aureus, pode-se verificar as ações das
substâncias a seguir na Tabela 2.

Tabela 2. Atividade antibacteriana das substâncias.


Substâncias Espécies de Leveduras
Streptococcus Staphylococcus
pneumoniae (1) aureus (2)
β-lapachona RESISTENTE RESISTENTE

Ciclopirox RESISTENTE RESISTENTE


Olamina
Nitrato de RESISTENTE RESISTENTE
Miconazol
Fluconazol RESISTENTE RESISTENTE

Fonte: Própria autoria.

Estes resultados mostraram a não eficácia tanto da β-


lapachona, quanto dos medicamentos Ciclopirox Olamina,
Nitrato de Miconazol e Fluconazol, frente às bactérias
presentes nas amostras, quanto aos medicamentos estes
resultados já eram esperados, tendo em vista que servem
especificamente para combater fungos, contudo, no que se
refere à β-lapachona, há estudos na literatura, como Fonseca
et al. (2003), Araújo et al. (2002) e Souza e Ximenes (2012),
que constataram o potencial antibacteriano frente a estas
bactérias, contudo, baixo potencial inibitório, que comparado
com o resultado obtido nesta pesquisa, pode-se apreciar a
possibilidade de terem sido bactérias que apresentaram alta
resistência por serem de amostras de pacientes do laboratório
de Microbiologia e por já fazerem uso de algum antibiótico.
A Figura 2, abaixo, mostra um dos testes por
antibiograma realizados no estudo, em que se verifica que não
houve presença de fungos, contudo havendo presença de
418
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
colônias das bactérias, fazendo-se posteriormente isolamentos
para confirmar que não havia fungos, mas apenas as bactérias
Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus aureus.

Figura 2: Placa de Petri com ausênsia de fungo e presença de


bactérias.

Fonte: Própria autoria.

Pode-se constatar as propriedades antifúngicas dessa


planta Tabebuia avellanedae, para as espécies de levedura
em estudo, apresentando um potencial de inibição relevante e
semelhante aos medicamentos já existentes no mercado à
disposição das pessoas, podendo-se produzir, por exemplo
colutórios para combater candidíase oral, tendo-se sua
aplicação restrita por via oral ou venoso, devido a sua alta
toxicidade.

4 CONCLUSÕES

A β- lapachona apresentou atividade antifúngica frente


a isolados resistentes a azólicos de Candida albicans, C.
tropicalis e C. krusei exercendo seus efeitos antifúngicos
através da produção de espécies reativas de oxigênio,

419
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
disfunção mitocondrial e danos ao DNA, culminando na morte
celular por apoptose.
Comparando os resultados do extrato com os
resultados obtidos com os medicamentos disponíveis no
mercado, pode-se concluir que a β- lapachona apresentou
resultados semelhantes aos dos medicamentos, inclusive
melhor do que o Fluconazol frente à C. tropicalis.
Pode-se verificar também que a utilização da β-
lapachona deve ser tópica, tendo em vista que na literatura
observou-se que ela tem elevada toxicidade, podendo levar
até à quebra das hemácias, mesmo em baixas concentrações.
Verificou-se a necessidade de realização de um estudo
aprofundado do mecanismo de ação da β- lapachona para
melhorar sua utilização, controlando-se sua toxicidade e
consequentemente apresentando-a como alternativa para
tratamento de doenças causadas por fungos, por outros meios
que não apenas uso tópico.
Uma boa aplicação da β- lapachona seria na produção
de um enxaguante bucal, para combater candidíase oral,
tendo em vista que atualmente no mercado muitos
medicamentos não apresentam uma boa eficácia para tal
finalidade e causam muitos efeitos colaterais, além de serem
caros, principalmente quando comparados com o Pau D’arco
Roxo que pode ser obtido em feiras livres e por baixo custo,
acessível à comunidade mais carente.
Por último, pode concluir que a β- lapachona, assim
como os medicamentos utilizados no estudo não
apresentaram capacidade de inibir microorganismos como
Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus aureus, o que
pode-se constatar também na literatura, em que estudos
comprovaram a ineficácia ou a baixa eficácia para estas
420
AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIFÚNGICA DA ΒETALAPACHONA FRENTE AOS
FUNGOS OPORTUNISTAS
bactérias quando apresentaram baixa resistência aos
antibióticos.

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423
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
CAPÍTULO 22

AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE


TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans
ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA

Franz de Assis Graciano dos SANTOS1


Melyna Chaves LEITE-ANDRADE 2
Ana Paula Santiago ROCHA1
Maria Daniela Silva BUONAFINA¹
Michellangelo Nunes da SILVA1
1
Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos, UFPE;
2
Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, UFPE.
franz.assisl@gmail.com

RESUMO: Candidemia é a infecção da corrente sanguínea


causada por leveduras do gênero Candida. Infecções por
espécies de Candida na corrente sanguínea são uma
importante causade morbidade e mortalidade hospitalar e tem
sua incidência aumentada devido ao crescente número de
pacientes imunossuprimidos. A virulência das cepas de
Candida está relacionada a sua capacidade de aderir às
células hospedeiras causando morte por parada do ciclo
celular. Alguns tipos de fungos são capazes de produzir
toxinas, como a killer, que é capaz de inibir ou impedir o
crescimento de outros fungos demonstrando, dessa forma,
possível potencial antifúngico. O objetivo deste trabalho foi
diagnosticar candidemia em pacientes internados em Unidade
de Terapia Intensiva e avaliar a ação da toxina killer secretada
por leveduras com potencial biotecnológico na aderência de
424
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
Candida albicans às células epiteliais. No período de agosto
de 2013 a janeiro de 2014, foram diagnosticados 32 casos de
candidemia, desses treze tiveram Candida albicans como
agente etiológico. Os testes de capacidade de aderência foi
realizado, descrito e comparado na presença e ausência da
toxina killer. O estudo revelou que a presença da referida
toxina impede, ou reduz quase totalmente, a capacidade de
aderência de C. albicans, minimizando sua virulência. Esses
achados contribuem para o desenvolvimento de novas drogas
antifúngicas mais específicas e menos tóxicas para o ser
humano.
Palavras-chave: Fatores de virulência. Toxinas killer. Ação
antifúngica.

1 INTRODUÇÃO

Infecções de corrente sanguínea por espécies de


Candida são uma importante causa de morbidade e
mortalidade no âmbito hospitalar. Casos de candidemia são
comumente relatados em pacientes criticamente doentes,
representando uma taxa que pode variar de 25-60% dos
óbitos (CAGGIANO et al., 2008; HASSAN et al., 2009; JEMAL
et al., 2009; PEMÁN et al., 2012).
Desde a década de 80, espécies de Candida, sobretudo
C. albicans, têm sido o agente etiológico mais comumente
isolados nos episódios de infecções fúngicas invasivas,
estando relacionadas, em algumas circunstâncias, com
intervenções médicas específicas, como profilaxia antifúngica
e utilização de dispositivos médicos invasivos. Assim, por
fazer parte naturalmente da microbiota humana, qualquer
variável que cause desequilíbrio pode resultar na translocação

425
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
destas leveduras até os capilares com posterior disseminação
(NUCCI; MARR, 2005; PEMÁN et al., 2012; PAM et al., 2012).
Estudos têm demonstrado que C. albicans possui,
intrinsecamente, a capacidade de aderir-se às células
epiteliais do tecido hospedeiro, sendo este o evento inicial na
patogênese da infecção, conferindo diferentes graus de
virulência para este fungo (O’TOOLE et al., 2000; LACAZ et
al., 2002; TRONCHIN et al. 2008; SILVA et al. 2011; BLISS et
al. 2012; De GROOT et al. 2013; MAYER et al. 2013).
Outro fator de virulência associado à invasão a célula
hospedeira é a expressão da toxina killer, verificada em
algumas leveduras desde 1963 (BEVAN; MAKOWER, 1963).
Essas proteínas podem inibir ou impedir o desenvolvimento de
outros fungos, demonstrando, dessa forma, possível potencial
antifúngico. Somado a isso, o fenômeno killer também é útil na
diferenciação intra-específica de leveduras, podendo ser
usado como marcador epidemiológico (SCHMITT; BREINIG,
2002; BELDA et al, 2017).
As toxinas killer atuando como fator de virulência,
podem ser medidas pela presença de receptores da parede
celular e pela ausência de imunidade específica do
hospedeiro. Tais toxinas agem formando poros na membrana
citoplasmática do fungo exposto, acarretando na sua
instabilidade. Perda de íons potássio, inibição do transporte
ativo de aminoácidos e acidificação do interior celular induz, a
apoptose. A resistência a essas toxinas caracteriza
fenotipicamente o fungo como mais patogênico (RIBEIRO et
al., 2006; SILVA, 2006).
A profilaxia antifúngica e a terapia empírica têm
contribuído para alterações epidemiológicas, com o

426
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
surgimento de cepas intrinsecamente resistentes aos
antifúngicos (ESTRELA, 2002). Apesar de atualmente haver
uma variabilidade maior de opções de antifúngicos, existe
grande diversidade em relação a susceptibilidade a essas
drogas entre os fungos mais comumente encontrados em
infecções invasivas. Dessa forma, é clara a necessidade de
novos antifúngicos mais eficazes e menos tóxicos (ALMEIDA,
2009; PAPPAS et al., 2009).
Nesse contexto, os testes de sensibilidade antifúngica
têm apresentado grande importância, e a busca de novas
alternativas no controle da candidemia, sobretudo à partir da
utilização de novos produtos bioativos, podem proporcionar
uma melhora significativa do estado clínico geral do paciente
(REX et al., 2001; WALSH et al., 2004; FERREIRA; PINTO,
2010; PFALLER et al., 2010).
Diante do cenário de gravidade da candidemia e da
atual frequente incidência, a aplicação de toxinas killer como
fator de inibição da adesão de C. albicans às células
hospedeiras, pode surgir como nova proposta para o controle
e tratamento destas infecções. Dessa forma, objetivo do
trabalho foi diagnosticar candidemia em pacientes internados
em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e avaliar ação da
toxina killer secretada por leveduras biotecnológicas na
aderência de C. albicans às células epiteliais.

2 MATERIAL E MÉTODOS

427
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
Obtenção das amostras de sangue

As amostras de sangue foram procedentes de


pacientes internos no Hospital das Clínicas da Universidade
Federal de Pernambuco (HC-UFPE) e processadas no
Laboratório de Micologia Médica do Departamento de
Micologia do Centro de Biociências, UFPE.

Processamento das amostras

Para o processamento das amostras de sangue, foi


realizado o exame direto a fresco (sem adição de clarificante e
corante) e corado com Giemsa. Para cultura, foi realizada
semeio em placas contendo meio Sabouraud Dextrose Ágar e
Brain Heart Infusion Ágar acrescido de 50mg/L de
cloranfenicol, mantidas à temperatura de 30ºC e 37°C por um
período de até 15 dias. Após o surgimento das colônias, estas
foram purificadas e semeadas na superfície do meio
Sabouraud Dextrose Ágar contido em placa de Petri para
posterior identificação.

Identificação das leveduras

Os isolados obtidos foram identificados através de uma


abordagem polifásica, através das características
morfofisiológicas (Barnnet et al., 2000; Hoog; Guarro, 2000) e
pelo sistema Vitek 2 de automação (Mondelli et al., 2012). A
confimação taxonomica foi realizada através da análise
proteômica por espectrometria de massa (MALDI-TOF)
(PULCRANO, 2013).

428
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA

Teste de aderência às células epiteliais

Os testes de aderência foram baseados nos trabalhos


de Kimura e Pearsall (1978), Sobel et al. (1981) e Bates et al.
(2006). As células epiteliais foram obtidas da cavidade bucal
de doador jovem, clinicamente sadio e isento de cáries. Em
todas as etapas relacionadas aos testes de aderência foi
utilizado o tampão fosfato (PBS).
Células de C. albicans obtidas de amostras de sangue
cresceram “overnight” em meio NGY (neopeptona 1g/L;
dextrose 4g/L; bacto yeast extract 1g/L). As amostras de
células epiteliais bucais humanas foram coletadas com auxílio
de swab estéril friccionado por 2 min na cavidade oral e
transferidos para tubos Falcon contendo 5 mL de PBS
(PhosphateBuffered Saline; NaCl 8g/L; KCl 0,2g/L; Na2HPO3
1,44g/L, KH2PO4 0,24 g/L, pH 7,2) e mantidas refrigeradas
até o momento de experimentação.
Suspensões de células de C. albicans e células
epiteliais foram centrifugadas a 1200 g (4°C) por 5 min e
lavadas três vezes com PBS. O inóculo foi padronizado para 5
x 106 células/mL (C. albicans) e 5 x 105 células/mL de células
epiteliais bucal. Os dois tipos de células foram misturados em
iguais proporções, em triplicata, e em seguida incubados a 37
°C, shake (Tecnal) 200 rpm, por 2h. Subsequentemente, as
células foram fixadas em formalina (solução de formaldeído a
10% em PBS) e o número de células de C. albicans aderidas
nas células epiteliais determinado após contagem em
microscópio óptico (Olympus CX21) com objetiva de 40x.

429
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
Caracterização das linhagens de leveduras quanto à
capacidade de produzir toxina killer

A presença do fenótipo killer foi testado em leveduras


de interesse biotecnológico mantidas na Coleção de Culturas
URM-UFPE. O meio utilizado foi o YEPD (Yeast Extract
Peptone Dextrose) suplementado com 0,003% de azul de
metileno (YEPD-azul de metileno).
Leveduras sensíveis padrão (Saccharomy cerevisiae
NCYC 1006 e C. glabrata NCYC Y-55), foram ativadas em
ágar YEPD-azul de metileno a 25°C por 24 horas e suspensas
em solução salina, numa concentração de aproximadamente
4,0 x 105 células mL, e em seguida espalhadas com swab
estéril sob a superfície de ágar YEPD-azul de metileno. As
placas foram incubadas a 25°C por 30 minutos. As leveduras a
serem testadas para atividade killer também foram ativadas
em ágar YEPD-azul de metileno a 25°C por 24 horas e
inoculadas em um único ponto na superfície das placas
semeadas com as leveduras sensíveis. Em seguida as placas
foram novamente incubadas a 25°C por 72 horas. A presença
de halo de inibição ao redor do ponto de inoculação indicou a
positividade do teste.
Para detecção do pH e temperatura onde ocorre maior
atividade killer, as leveduras que apresentam esse fenótipo,
previamente selecionadas, foram ativadas em ágar YEPD-azul
de metileno a 25°C por 24 horas. Em seguida foram
inoculadas, em pontos únicos, sobre a superfície de placas
previamente semeadas com as leveduras sensíveis em ágar
YEPD-azul de metileno ajustado em diferentes valores de pH:
3,5, 4,2, 4,5 e 5,0, sendo as placas correspondentes a cada

430
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
pH incubadas, em triplicata, em 25, 30, 35 e 40 °C (Lima et al.,
2007).

Avaliação da capacidade de inibição de aderência pela


ação da toxina killer
Foram utilizadas neste ensaio células de C. albicans
com capacidade de aderência à células epiteliais, assim como
células com melhor expressão de produção de toxinas killer,
detectados no teste anterior.
Semelhante aos testes de aderência realizados
anteriormente, suspensões de células de C. albicans, células
produtoras de toxinas killer e células epiteliais foram
centrifugadas a 1200 g (4°C) por 5 min e lavadas três vezes
com PBS. O inóculo foi padronizado para 5 x 106 células/mL
(C. albicans e células produtoras de killer) e 5 x 105 células/mL
de células epiteliais bucal. Os três tipos de células foram
misturados em iguais proporções, em triplicata e, em seguida,
foram incubados a 37 °C, 200 rpm, por 1h.
Subsequentemente, as células foram fixadas em
formalina (solução de formaldeído a 10% em PBS) e o número
de células de C. albicans aderidas em células epiteliais foi
determinado após contagem em microscópio óptico. A
capacidade de aderência foi comparada quanto à presença e
ausência das células produtoras de proteínas killer nos
ensaios realizados (Oliveira et al., 1998).

1 RESULTADOS E DISCUSSÃO

- Obtenção das amostras de sangue e realização do


diagnóstico micológico: foi diagnosticado candidemia em 32

431
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
amostras de sangue de agosto de 2013 a janeiro de 2014, por
meio da observação de leveduras no sangue através do
exame microscópico direto e da obtenção do agente etiológico
meio de cultura.

- Identificação polifásica dos isolados: através de análises


morfológicas foram observados critérios macroscópicos como
cor, textura e bordos e microscópicos como forma das células,
tipo de brotação, formação de pseudomicélio e micélio
verdadeiro Fig.(1), além de critérios fisiológicos como perfil de
fermentação e assimilação de fontes de carbono e nitrogênio,
produção de clamidosporos e produção de uréase Fig. (2). De
acordo com os perfis encontrados foram obtidos treze isolados
de Candida albicans, sete isolados de C. parapsilosis, quatro
isolados de C. glabrata, seis isolados de C. tropicalis, um
isolado de C. lusitanie Tab.(1), os quais estão apoiados por
BARNETT et al. (2000), HOOG et al. (2000) e LACAZ et al.
(2002) e confirmados por meio da identificação automatizada
através do VITEK 2, somado a identificação proteômica
através da espectrometria de massa (MALDI-TOF-MS). Entre
as espécies encontradas, Candida albicans é considerada a
principal levedura patogênica oportunista por ser a espécie
mais frequentemente isolada em humanos. Entretanto, nas
últimas décadas tem sido observado significativo aumento de
outras espécies de Candida não Candida albicans como C.
tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei, C. glabrata, C. kefyr, C.
norvegensis, C. guilliermondii, C. lusitaniae, C. haemulonii
(VIANI 2007; HINRICHSEN et al. 2009; GIOLO et al, 2010;
MUÑOZ et al. 2010; e YAPAR et al. 2010).

432
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
Embora leveduras do gênero Candida existam como
comensais na microbiota humana, em muitas situações,
podem causar infecções, com alto índice de mortalidade.
Ainda que nas últimas décadas, muitas espécies de Candida
estejam surgindo como patógenos de alta virulência, Candida
albicans ainda é a levedura mais incidente nos casos de
candidemia, devendo, por isso, ser amplamente estudada
(COLOMBO, 2006).

Figura 1: Microscopia eletrônica de Candida albicans


evidenciando células de leveduras ovais e pseudomicélio.

Fonte: Leite-Andrade, 2014.


Figura 2: Aspectos morfofisiológicos do isolado de Candida
albicans de pacientes internados em Unidades de Terapia
Intensiva.

Fonte:Leite-Andrade, 2013.

433
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA

Tabela 1 - Leveduras isoladas de pacientes internados em


Unidades de Terapia Intensiva.
Isolados Espécie Isolados Espécie
5551 C. parapsilosis 285 C. tropicalis
6081 C. albicans 491 C. glabrata
270 C. tropicalis 492 C. glabrata
59 C. albicans 10660 C. tropicalis
121 C. parapsilosis 381 C. glabrata
122 C. parapsilosis 382 C. glabrata
251 C. tropicalis 10076 C. albicans
269 C. tropicalis 1302092 C. albicans
8338 C. albicans 9584 C. albicans
83 C. tropicalis 4451 C. albicans
638 C. parapsilosis 379 C. albicans
639 C. parapsilosis 632 C. albicans
629 C. parapsilosis 99 C. albicans
630 C. parapsilosis 9925 C. albicans
284 C. lusitaniae 8299 C. albicans
5623 C. albicans
Fonte: O autor, 2014.

- Teste de aderência às células epiteliais: O teste de


aderência às células epiteliais foi realizado em todos os
isolados de C. albicans Tab. (2). Os resultados foram
classificados em 3 níveis de aderência: forte aderência,
quando mais de 50% da área superficial da célula epitelial
estava coberta com levedura; moderada aderência, quando
cerca de 30 a 50% da área superficial da célula epitelial estava
434
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
coberta com levedura, e fraca aderência, quando 20% ou
menos da área superficial da célula epitelial estava coberto
com a levedura Fig.(3). A aderência foi confirmada durante a
observação ao microscópio óptico, com um leve toque na
lamínula. Com isso, foi visualizada uma movimentação suave
da célula e, concomitantemente, da levedura.
Os mecanismos de aderência de leveduras à tecidos
humanos ocorrem como resultado de sistemas de
reconhecimento Candida-hospedeiro, os quais são
extremamente complexos e envolvem uma variedade de
fatores (GRIMAUDO; NESBITT, 1997). A adesão de
microrganismos às superfícies mucosas do hospedeiro é um
pré-requisito importante para a colonização e infecção
microbiana. Dentre as espécies de Candida, C. albicans é a
que apresenta maior capacidade de aderência às células
epiteliais, seguida de C. tropicalis. Por outro lado, C. krusei é
descrita como uma espécie que apresenta baixa capacidade
de aderência, causadora de doença principalmente em
indivíduos imunocomprometidos (RANGEL, 2001; DE
REPENTIGNY et al. 2004).
No estudo realizado, apenas quatro cepas de C.
albicans apresentaram forte aderência. Esse achado pode ser
explicado pelo fato que muitos pacientes, dos quais foram
coletadas as amostras clínicas para análise, já se
encontravam em uso de antifúngico sistêmico, o qual não
estava sendo eficiente o suficiente para debelar a infecção,
mas reduzia a capacidade de aderência da levedura em
questão.
Estudos mostram que os melhores resultados obtidos
em testes de aderência são em meios de cultura adicionados

435
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
de glicose e que a aderência é maior em culturas de 18 horas,
incubadas a 37ºC no tempo de contato com as células de 1
hora (Pires et al., 2001). A hidrofobicidade da superfície da
mucosa, a presença de açúcar no meio e formação de tubo
germinativo parecem interferir no processo de adesão. A
virulência de C. albicans também diminui quando inibidores de
proteinase, que têm ação fungicida e fungistática, são usados
no tratamento de candidíase. (Costa, 2009; apud Schaller et
al., 1999).

Figura 3: Aderência de Candida albicans às células epiteliais


apresentando 3 níveis de aderência: fraca aderência (A),
moderada aderência (B) e forte aderência (C).

Fonte: Leite-Andrade, 2014.

- Teste da capacidade de inibição de aderência pela ação


da toxina killer: o teste da capacidade de inibição da
aderência pela ação da toxina killer foi testada nas células de
C. albicans Fig. (4). Os resultados obtidos foram classificados
como: capacidade de aderência presente ou ausente. Para os
casos que houve aderência presente, foramsubclassificados
em fraca, moderada ou forte, mesma classificação para o teste
de aderência sem a presença da referida toxina.

436
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
O experimento revelou, quase unanimemente, que a
capacidade de aderência de C. albicans na presença da
levedura produtora de toxina killer era ausente Tab. (2).
Apenas nos casos em que a capacidade de aderência de C.
albicansfoi forte, a inibição não foi plena, tendo, entretanto,
sua classificação de aderência rebaixada para fraca. Nos
demais casos, nos quais a aderência foi moderada ou fraca,
tornaram-se ausentes na presença da toxina.
As toxinas killer, ou proteínas killer, são substâncias
protéicas secretadas por algumas cepas de leveduras que têm
efeitos letais sobre outros fungos e uma variedade de
bactérias. Leveduras produtoras dessa toxina são imunes à
ação das suas próprias toxinas, mas podem ser sensíveis às
proteínas killer produzidas por outros organismos (VAZ et al.,
2002).
Todas as toxinas killer descritas até o momento
necessitam unir-se a receptores específicos da parede celular
de suas células para exercer sua ação biológica: morte ou
parada do ciclo celular da população sensível. Assim, as
toxinas killer poderiam ser adaptadas e utilizadas como um
novo fármaco antifúngico, devido às suas propriedades de
ação sobre receptor específico. Os constituintes da parece
celular do fungo alvo, estrutura ausente em células animais,
pode ser um sítio atrativo de ação para antifúngicos mais
seletivos (SANGORRÍN, 2007).

437
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
Tabela 2. Perfil de aderência às células epiteliais de Candida
albicans e capacidade de inibição de aderência pela ação da
toxina killer.
Isolado Aderência Aderência X Killer
5623 Forte Ausente
9584 Fraca Ausente
379 Forte Ausente
8338 Fraca Ausente
99 Fraca Ausente
4451 Fraca Ausente
8299 Moderada Ausente
59 Fraca Ausente
632 Fraca Ausente
1302092 Fraca Ausente
6081 Fraca Ausente
9925 Fraca Ausente
10076 Fraca Ausente
Fonte: O autor, 2014.

Figura 4: Comparação do comportamento de C. albicans na


ausência (A) e na presença de toxina killer (B) quanto à sua
capacidade de adesão à celula epitelial.

Fonte: Leite-Andrade, 2014.

4 CONCLUSÕES

438
AVALIAÇÃO DA AÇÃO INIBITÓRIA DE TOXINAS KILLER NA CAPACIDADE DE
ADERÊNCIA DE Candida albicans ISOLADAS DE PACIENTES COM
CANDIDEMIA
No presente estudo, nós identificamos que cepas de
Candida albicans apresentaram maior frequência nos casos
estudados de candidemia. Entretanto, ratificando os achados
da literatura, outras leveduras, tidas como emergentes, tem
apresentado incidência importante. Cepas de C. albicans
podem apresentar diferentes níveis de capacidade de
aderência, a depender das condições do paciente.
Foi possível verificar que, na presença de leveduras
produtoras de toxinas killer a capacidade de aderência tornou-
se ausente para as mesmas leveduras que, outrora, podiam
fazê-lo até mesmo de maneira forte. Isso nos revelou o
potencial antifúngico que as toxinas killer apresentam,
podendo ser ainda mais eficaz que os antifúngicos atualmente
utilizados, devido a sua baixa toxicidade, além da baixa
resistência por parte dos patógenos alvo. Contudo, ainda se
faz necessário novos e maiores estudos para que uma nova
terapêutica seja intituída e reconhecida como segura e eficaz.

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443
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
CAPÍTULO 23

BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM


POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS:
UMA REVISÃO
Larissa Ramalho BRANDÃO1
Bruna Ribeiro de OLIVEIRA2
Larissa de Fátima Romão da SILVA1
Yohanna de OLIVEIRA3
1
Graduandas do curso de Nutrição, UFPB
2
Graduanda do curso de Nutrição, FPB
3
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Nutrição (PPGCN), UFPB.
larissaramalhob@gmail.com

RESUMO:Estudos recentes têm demonstrado que as BAL


vêm sendo utilizadas como biopreservantes, devido
principalmente à capacidade de produzir compostos
antimicrobianos como ácido lático e outros ácidos orgânicos,
por serem promotoras de flavors e também por terem ação
probióticas. Portanto, a partir das evidências crescentes entre
a utilização de BAL e melhorias na saúde e conservação dos
alimentos, por serem uma alternativa mais natural aos
conservantes químicos, objetivou-se com este trabalho
apresentar a eficácia dessas BAL em todos os seus potenciais
de aplicação, tanto para indústria, como para o consumidor.
Constituiu-se de uma revisão bibliográfica através de buscas
nas bases Periódicos CAPES, Pubmed, ScienceDirect, no
intervalo de tempo de 5 anos, nos idiomas inglês e português,
e os descritores utilizados, nas respectivas línguas foram:
bactérias ácido láticas, fermentação, bioconservação,
probióticos. As cepas de BAL utilizadas nos trabalhos
relacionados à atividade antagonística destas bactérias

444
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
apresentaram alta porcentagem desta atividade para
importantes patógenos. Estudos mais detalhados para a
identificação de gêneros e espécies predominantes são
desejáveis, bem como o estudo da adaptabilidade dessas BAL
contra os patógenos em matrizes alimentares específicas.
Além de investigar os mecanismos de ação das BAL
probióticas que trouxeram benefícios à saúde do hospdeiro e
ao tratamente das doenças analisadas.
Palavras-chave:Bactérias ácido láticas. Probióticos.
Bioconservação.

1 INTRODUÇÃO

As bactérias ácido láticas (BAL) caracterizam-se por


serem Gram positivas, não formadoras de esporos, catalase
negativas, anaeróbicas, aero e ácido tolerantes, além de
possuírem metabolismo fermentativo, sendo o ácido lático o
principal produto final (GARCIA et al., 2016). Dentre as
substâncias antimicrobianas que as BAL podem sintetizar
como produtos finais resultantes do metabolismo estão o
peróxido de hidrogênio, diacetil, ácido lático e outros ácidos
orgânicos. Algumas cepas são ainda capazes de produzir
compostos antimicrobianos de natureza proteica,
denominados bacteriocinas (COSTA, et al., 2014).
As BAL são reconhecidas por atuarem como
biopreservantes, devido principalmente à capacidade de
produzir compostos antimicrobianos como ácido lático e outros
ácidos orgânicos, por serem promotoras de flavors e também
por terem ação probiótica (OLIVEIRA et al., 2016). A indústria
de produtos lácteos tradicionalmente empregam bactérias
lácticas, nos mais variados produtos, como culturas iniciadoras
ou adjuntas em leites fermentados, queijos e soro de queijo

445
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
(ANDRADE et al., 2014; SAHRAOUI et al.,2015). A
propriedade probiótica destas BAL vem sendo cada vez mais
valorizada devido aos efeitos benéficos que estes
microrganismos promovem a saúde do seu hospedeiro. Já na
indústria de produtos cárneos, por exemplo, essas bactérias
são empregadas para fermentação de embutidos e contribuem
no desenvolvimento do sabor destes, bem como podem ser
usadas na preservação dos produtos alimentares
antagonizando o crescimento de microrganismos patogênicos
de origem alimentar (COSTA et al., 2012).
A partir de evidências crescentes de BAL que
apresentam atividade antagonista frente patógenos de origem
alimentar as pesquisas na área de alimentos mostram em
diversos estudos esta atividade frente micro-organismos que
são de interesse nesta área, por estarem presentes como
contaminantes de alimentos, a exemplo Listeria
monocytogenes, Staphylococcus aureus, Clostridium
botulinum, Escherichia coli, Bacillus cereus, Salmonella
entérica (BOUROUNI et al, 2012; UDHAYASHREE et al.,
2012; MESSAOUDI et al., 2012). Ainda, BAL interferem no
crescimento de bactérias e fungos deteriorantes e produtores
de micotoxinas (DIGAITIENE et al., 2012; GHANBARI et
al., 2013; ZHENG et al., 2016).
Neste contexto o presente trabalho tem como objetivo
apresentar a eficácia das bactérias ácido láticas, nas diversas
áreas a quais são empregadas, e evidenciar os benefícios que
a utilização destas BAL conferem tanto para a indústria como
para o consumidor.

446
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
2 MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa refere-se a um estudo de revisão


bibliográfica sobre o tema “Bactérias Ácido Láticas (BAL) com
Potencial para Aplicaçâo em Diversas Áreas e Seus
Benefícios”, constituiu-se de uma pesquisa de natureza
qualitativa descritiva, envolvendo a escolha e análise de
trabalhos científicos relativos ao tema em destaque, sendo
selecionados, preferencialmente, estudos in vitro e
experimentais, meta-análise e revisões nos idiomas inglês e
português. Para o levantamento bibliográfico, realizou-se
buscas de dados nas bases eletrônicas Periódicos CAPES,
Pubmed, ScienceDirect, no intervalo de tempo de 5 anos. Os
descritores utilizados, nas respectivas línguas foram: bactérias
ácido láticas, fermentação, bioconservação, probióticos.
Para critérios de inclusão dos trabalhos científicos nesta
pesquisa foram avaliados e classificados artigos no idioma,
preferencialmente de inglês, e português, no intervalo de
tempo de 2012 a 2017, que trouxessem estudos in vitro,
clínicos, experimentais e/ou em matrizes alimentares
abordando os benefícios dos diversos empregos das BAL na
indústria de alimentos; revisões; estudos de meta-análise.
Como critérios de exclusão, não foram classificados artigos
que não pertenciam ao intervalo de tempo predeterminado
(2012 a 2017), os que não abordavam o tema em questão e
artigos não disponíveis na íntegra. Dos 44 artigos
pesquisados, 20 foram selecionados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

447
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
3.1 BAL com potencial para aplicação
comobiopreservantes

Os lactobacilos probióticos têm um grande potencial


para produzir compostos antimicrobianos que inibem e
controlam o crescimento de patógenos microbianos. Em
estudo de Coman et al (2014) foram avaliadas as atividades
antimicrobianas e antifúngicas de duas cepas probióticas,
Lactobacillus Rhamnosus IMC 501 e Lactobacillus paracasei
IMC 502, e seus 1:1 combinação, denominada SYNBIO, foram
estudados usando quatro métodos diferentes. Usando dois
métodos de raia modificados e um método de difusão em
poços, a atividade inibitória dos probióticos e seus metabolitos
foram testados em seis Gram-positivas, nove bactérias Gram-
negativas e bactérias patogênicas e oito cepas de Candida. O
efeito antagonista das estirpes probióticas de Lactobacillus
também foi investigado por ensaio de co-cultura, destacando
uma inibição significativa da maioria dos patógenos testados
neste estudo. A combinação SYNBIO mostrou uma atividade
antimicrobiana contra a maioria das cepas testadas no estudo.
Comparado com o controle, a maioria das bactérias
patogênicas e leveduras foram inibidas por todas as cepas
probióticas testadas em vários graus. Para estudos futuros
propuseram o rastreio de estirpes de Lactobacillus de acordo
com a sua atividade em várias condições ambientais podendo
preceder a clínica; e estudos de eficácia para o tratamento
complementar com probióticos na cura de diferentes infecções
gastrointestinais e vaginais (COMAN et al., 2014).
Digaitiene et al (2012) selecionaram e avaliaram cinco
cepas de bactérias ácido láticas (BAL) isoladas a partir de
sementes de centeio quanto ao seu potencial para produção

448
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
de substâncias antimicrobianas. As cepas de Lactobacillus
sakei KTU05-06, Pediococcus acidilactici KTU05-7,
Pediococcus pentosaceus KTU05-8, KTU05-9 e KTU05-10
isolados a partir de sementes de centeio foram investigadas
para a produção de substâncias inibidoras semelhantes a
bacteriocina (SISB).
Os sobrenadantes das BAL analisados inibiram o
crescimento de cerca de 15 das 25 cepas de bactérias
indicadoras, bem como até 25 de 56 estirpes de BAL isoladas
a partir de sementes de centeio. Além disso, essas cinco BAL
foram ativas contra Bacillus subtilis “ropes-producing” e o
principal causador do mofo de pão causado por fungos -
Aspergillus, Fusarium, Mucor e Penicillium. Lactobacillus sakei
KTU05-6 demonstrou as melhores propriedades
antibacterianas e é resistente ao tratamento térmico mesmo a
100 ° C durante 60 min. Neste contexto o uso de substâncias
antibacterianas produzidas por BAL pode ser uma boa escolha
como cultura co-iniciadora para garantir a estabilidade dos
fermentos e evitar a deterioração bacteriana e fúngica do
produto final. Os compostos antimicrobianos designados como
sakacin KTU05-6, pediocina KTU05-8 KTU05-9, KTU05-10 e
AcKTU05-67 não foram idênticos a nenhum outro SISB
conhecido, e esse achado leva ao pressuposto de que eles
podem ser inovadores (DIGAITIENE et al., 2012).
O potencial antagonístico de BAL vem tendo cada vez
mais destaque em diversas pesquisas da área de alimentos
principalmente devido à capacidade dessas BAL produzirem
compostos antimicrobianos e estas servirem como alternativas
naturais ao uso de conservantes químicos os quais são
conhecidos por causarem maléficios à saúde do consumidor

449
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
(BRANDÂO, 2016; CARVALHO, e al, 2015; COSTA, et al.,
2014, LIMA, 2015; MALDONADO-BARRAGAN et al., 2013).
No quadro abaixo estão demonstrados resumidamente
alguns estudos que abordam esta capacidade de cepas de
BAL em produzirem compostos antimicrobianos e que
possuem potencial para aplicação em sistemas de
biopreservação (Quadro 1).

Quadro1. Potencial antagonístico BAL frente diversos micro-


organismos demonstrado emestudos recentes.
Objetivo Metodologia Resultados Conclusã
o
Avaliar o Cepas Entre as BAL Encontra
antagonis indicadoras que apresen- -das BAL
Costa -mo de Enterococcus taram ativi- produto-
et al 30 BAL faecalis, dade antago- ras de
(2014) isoladas Listeria nista neste bacterioci
de quei- innocua e trabalho, 40% -nas que
jos de Bacillus inibiram o poderão
Coalho cereus. A crescimento ser apli-
artesa- atividade de Listeria cadas na
nais do antagonista innocua, 89% preserva-
Estado foi avaliada foram eficien- ção de
de pela tes para E. alimentos
Pernam- presença de faecalise .
buco. halos de 100% inibi-
inibição no ram o cresci-
ágar. mento do
Bacillus
cereus.

450
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
Avaliar a Avaliado a A atividade A
atividade atividade anti-H. pylori estirpe
anti-H. anti-H.pylori de LPS16 LPS16
pylori da por teste de dependia do de L.
estirpe difusão em componente pento-
Zeng LPS16 de discos e secretado e sus
et al Lactobaci ensaio de da atividade tinha a
(2016) -llus pen- “time killing”. bactericida ativida-
tosus e o Analisado os mediada por de anti-
mecanis- compostos ácido láctico. Hpylori
mo de secretados Além disso, de
seu efeito pela cepa LPS16 pode amplo
antibacte- LPS16. aderir nas espec-
ricida. Como linhas de tro
também a células epite- suge-
habilidade de liais gástricas rindo
adesão da AKG e que
cepa LPS16 MKN45. pode
no epitelio ser
gastrointesti- usado
nal por cito- para
metria de prevenir
fluxo. a infec-
ção por
H. pylori
Avaliar Avaliou-se a Foi O
ação ação observado iogurte
Duarte antagonis antagonista formação de elabora-
et al -tica de da Lactoba- halos de do aten-
(2013) L.delbru- cillus inibição fren- deu aos
eckii delbrueckii te ao padrões
e S.ther- e Streptococ- patógeno de
mophilus cus indicando a qualida-
sobre thermophi- possibilidade de no
estirpes luss sobre de que diz

451
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
patogêni- estirpes produção de respeito
cas de patogênicas ácidos às
E.coli. e de E. coli. orgânicos, caracte-
elaborar Também foi bacteriocinas rísticas
leite elaborado ou outras físico
fermenta- leite fermen- substâncias quími-
do com a tado com a inibidoras de cas
cultura cultura lática crescimento. avalia-
lática mista (YF- Durante o das e
mista. L903 período de viabili-
Thermophilic armazena- dade da
Yoghurt mento sob cultura
Culture Chr refrigeração lática.
Hansen). observou-se
Após a elabo- a acidez e a
ração do viabilidade da
produto cultura lática
inoculou-se, e da estirpe
em determi- patogênica.
nadas amos-
tras, estirpes
de E. coli.
Isolar Um total de Os resultados A ativi-
BAL de 141 cepas mostraram dade da
Djadou produtos isoladas que a estirpe bacteri-
-ni lácteos, foram seleci- LBbb0141 ocina
et al produtos onadas para continha um atingiu o
(2012) à base de o efeito composto seu
carne e inibitório em antimicrobia- valor
resíduos dez estirpes no com máximo
agroindus indicadoras amplo utilizan-
-triais e pelo teste espectro que do o
investigar spot ágar. inibia o ágar
sua crescimento MRS o
atividade de dez cepas pH ini-

452
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
antagonis Gram- cial de
-ta positivas e 7,5 e
Gram 30 ° C
negativas de tem-
peratura
de in-
cubação
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos artigos referenciados.

3.2 Potencial de aplicação de cepas BAL probióticas

As bactérias ácido láticas (BAL) são frequentemente


usadas para prevenção e tratamento da disbiose. No entanto,
a ação de várias cepas de BAL no metabolismo e digestão sob
estas condições é mal compreendida (ERMOLENKO et al.,
2013; KARIMI et al, 2012).
O estudo experimental de Ermolenkoet al (2013) teve
como objetivo investigar a influência de BAL probióticas sobre
metabolismo, digestão e microbiota em animais com disbiose.
Após a administração de ampicilina e metronidazol em ratos
Wistar, estes foram alimentados com produtos contendo
Enterococcus faecium L3 (E.f.), Lactobacillus fermentum Z
(L.f.) ou leite (controle 1). Os animais no grupo de controle 2
foram alimentados com leite, após a água em vez de
antibióticos. Os sintomas dispéticos desapareceram após a
administração de probióticos em comparação com o controle
1. No final do experimento, um aumento no conteúdo de
Enterococos e Lactobacilos na parte proximal do intestino
delgado foi encontrado nos animais tratados com E.f. e L.f.,
respectivamente. Após a introdução de Enterococos
probióticos, aumentou a quantidade de Lactobacilos e
bifidobactérias nos intestinos dos ratos e o conteúdo de

453
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
Klebsiella spp. e Escherichia coli diminuiu em comparação
com o grupo controle 1 e o grupo alimentado com
Lactobacilos. A atividade de fosfatase alcalina e aspartato
transaminase foi maior no soro sanguíneo de ratos com
disbiose que recebeu leite e Lactobacilos. A atividade da
fosfatase alcalina intestinal aumentou no epitélio e nos quimios
no jejuno dos animais tratados com L. f. e no quimo apenas
nos animais tratados com E. f. Assim, foram demonstrados os
efeitos específicos de diferentes estirpes de BAL probióticas
sobre a microbiota e sobre metabolismo e digestão de vários
nutrientes (ERMOLENKO et al., 2013).
Algumas BAL são consideradas importantes no
desenvolvimento e manutenção de papéis benéficos para a
saúde do hospedeiro. Entre esses possíveis efeitos na saúde
vêm se destacando a modulação do sistema imune,
aumentando atividades antibacterianas, anticancerígenas e
antimutagênicas e a prevenção da recorrência do câncer
(CHANG et al.,2015).
Neste contexto Chang et al (2015) tiveram como
objetivo investigar o efeito de bactérias ácido lácticas isoladas
de mostarda fermentada em atividade imunopotenciadora.
Para esse estudo 159 cepas de bactérias lácticas isoladas da
tradicional mostarda fermentada de Taiwan foi avaliada por
sua atividade imunopotenciadora em uma linha celular de
macrófagos murinos RAW 264.7. Como resultados houve um
aumento pronunciado nos níveis de óxido nítrico (NO), factor-α
de necrose tumoral e interleucina-6 observados nas cepas
B0040, B0110 e B0145. Entre eles, a estirpe B0145
apresentou a maior geração de fator-α de necrose tumoral em
células RAW 264.7; as estirpes B0040 e B0110 também eram
superiores às do Lactobacillus casei. Esses resultados

454
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
demonstraram que NO e citoquinas foram efetivamente
induzidas quando os estimulantes bacterianos foram tratados
com macrófagos. Além disso, as estirpes B0040 e B0110
foram identificadas como Lactobacillus plantarum e B0145
como Weissella cibaria utilizando 16S rDNA análise. Os
resultados implicados de cepas selecionadas podem ser
considerados como uma resposta biológica modificadora e
teve uma ampla perspectiva de aplicação na exploração de
novos alimentos funcionais ou como alimentação aditiva
(CHANg et al.,2015).
Os probióticos são definidos como micro-organismos
vivos que quando suplementados na dosagem adequada
conferem benefícios à saúde do hospedeiro e para ser
considerado um probiótico eficaz, os micro-organismos
precisam ter várias características essenciais, como por
exemplo, proporcionar efeitos benéficos comprovados para o
hospedeiro, sua ingestão não pode trazer riscos por toxicidade
ou patogenicidade, sendo assim reconhecido como seguro e
devem ser capazes de resistir ao pH gástrico e colonizar todo
o trato gastrointestinal (COSTA et al., 2012).
Neste sentido o estudo de Andrade et al (2014)
objetivou a determinação do potencial probiótico in vitro de
Lactobacillus spp. isolados de queijos minas artesanal da
Serra da Canastra, considerando-se o antagonismo entre
amostras isoladas frente a microrganismos indicadores, a
susceptibilidade a antimicrobianos, a sensibilidade ao ácido
gástrico e a sensibilidade a sais biliares.
Como resultados do estudo todas as bactérias ácido
lácticas testadas apresentaram resistência ao ácido gástrico
(pH 2,0) e aos sais biliares (0,3%), bem como atividade
antagonista contra Escherichia coli, Staphylococcus aureus,

455
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
Listeria monocytogenes, Salmonella enterica var.
Typhimurium, Enterococcus faecalis e bactérias ácido lácticas
isoladas dos próprios queijos Lactobacillus plantarum (D27) e
Lactobacillus rhamnosus (B25). Todas as amostras foram
sensíveis à eritromicina e tetraciclina e resistentes à
ciprofloxacina, gentamicina, oxacilina, estreptomicina e
vancomicina. L. plantarum (B17) apresentou melhor potencial
probiótico, pois obteve resultados satisfatórios em todas as
propriedades avaliadas. Foi proposto a realização de estudos
para verificar a presença e a capacidade de transmissão de
genes de resistência antimicrobiana a outros micro-
organismos e para avaliar o potencial dos micro-organismos in
vivo. As bactérias selecionadas poderão ser utilizadas na
elaboração de queijos em que sejam mantidos o sabor e a
tradição do queijo minas artesanal do estado de Minas Gerais
(ANDRADE et al., 2014).

3.3 Emprego de BAL na formulação de alimentos

A crescente preocupação da população em ter um


hábito de vida saudável levou a uma demanda maior por
alimentos naturais e menos processados para manutenção da
saúde e prevenção de doenças degenerativas e crônicas
como diabetes, câncer, hipertensão e distúrbios
gastrointestinais. Essa tendência vem sendo observada em
maior frequência desde as ultimas décadas e resultou na
introdução de alimentos funcionais como a chave para
respeitar o estilo de vida saudável e moderno (DI CAGNO et
al., 2012; JAHANDIDEH et al., 2012).
No estudo de Jahandidehet al (2012)., foi examinado a
adequação do extrato de Echium como matéria-prima para a
456
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
produção de suco fermentado por quatro cepas de bactérias
ácido láticas (Lactobacillus paracasei, Lactobacillus
acidophilus, Lactobacillus plantarum e Lactobacillus
delbrueckii). Gol-gavzaban (Echium amoenum Fisch. & Mey.)
é uma planta herbácea indígena, relacionada à família
Boraginaceae, cultivada historicamente no Irã. O extrato de
Echium foi inoculado com estas bactérias e incubado a 30 ° C
durante 24 h. As variações na população microbiana, pH,
acidez, açúcares e metabolismo dos ácidos orgânicos foram
medidas durante o processo de fermentação. Os resultados
mostraram que todas as bactérias selecionadas foram
capazes de crescer bem no extrato de Echium sem qualquer
suplementação. Todos eles metabolizaram açúcares, incluindo
glicose, frutose e sacarose simultaneamente. L. paracasei
mostrou maior afinidade com o consumo de açúcar em quase
45,2%, 38% e 21,6% da concentração inicial de glicose,
frutose e sacarose, respectivamente. O ácido lático foi
produzido imediatamente após a fermentação ter começado.
L. plantarum, L. delbrueckii e L. acidophilus produziram 6,8,
6,6 e 6,4 g / l de ácido lático, respectivamente, que foram
significativamente maiores que os produzidos por L. paracasei
(5 g / l). Por outro lado, no caso do ácido acético, L. paracasei
produziu quantidades significativamente maiores em
comparação com outras cepas (4,48 g / l). Verificou-se que E.
amoenum era uma meio desejável para a produção de alguns
ácidos orgânicos por todas essas cepas bacterianas
(JAHANDIDEH et al., 2012).
No estudo de Giles‐Gómezet al (2016) foi relatada a
avaliação probiótica in vitro e in vivo da estirpe P45 de
mesuínos de Leuconostoc isolada a partir de pulque. Esta
espécie de BAL isolada apresentou resistência à lisozima,
457
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
ácido (pH 3,5) e sais biliares (0,1 e 0,3% de oxigênio). A
atividade antibacteriana contra os agentes patogênicos Listeria
monocytogenes, Escherichia coli enteropatogênica,
Salmonella entérica serovar Typhi e S. entérica serovar
Typhimurium foram observados em ensaios envolvendo
contato célula a célula, sobrenadantes concentrados 2x sem
células e contato célula a célula sob exopolissacarídeo
condições de produção. A avaliação probióticas in vivo
mostrou uma atividade antiinfecciosa de L. mesenteroides P45
contra S. entericaserovar Typhimuriumem em camundongos
BALB / c macho e fêmea usados para o estudo. A análise da
sequência de genoma disponível da estirpe P45 permitiu
identificar um gene de codificação pré-bacteriocina e seis
enzimas de hidrolase de peptidoglicano, provavelmente
envolvidas na atividade antimicrobiana dessa cepa. Os
resultados apresentados neste estudo suportam alguns
mecanismos microbianos potenciais associados aos efeitos
benéficos na saúde humana desta BAL envolvidos na
fermentação do pulque (GILES‐GÓMEZ, 2016).
Os oligossacarídeos são tradicionalmente utilizados em
alimentos, como fontes de energia ou edulcorantes. Além
disso, os oligossacarídeos são utilizados em alimentos,
produtos farmacêuticos, cosméticos, como estabilizadores,
agentes de volume, agentes imunoestimulantes e compostos
prebióticos. Os gluco-oligossacarídeos (GOS) são uma das
classes de oligossacarídeos mais importantes. A maioria dos
GOS são sintetizados pela glucansucrase (EC 2.4.1.5) de
bactérias produtoras de ácido láctico, pertencentes aos
gêneros Leuconostoc (LEE et al., 2016).
Em estudo Lee et al (2016) sintetizaram GOS da
fermentação L. mesenteroides NRRL B-23188 enquanto
458
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
controlava o pH usando uma solução de sacarose de hidróxido
de cálcio para negar o passo de dessalinização para aplicação
industrial e para melhorar a reação do aceitador. Utilização
dos GOS sintetizados por microrganismos intestinais foi
confirmada e a inibição da formação de glucano insolúvel por
mutansacarase foi demonstrada. Além disso, a supressão do
aumento do nível de glicemia no modelo murino também foi
confirmada. 95,3% da sacarose em fermentação por lote de
alimentos (300 g / L) foi hidrolisado por Leuconostoc
mesenteroides subp. mesenteroides NRRL B-23188
glucansucrase. Mais distante, a glicose de sacarose formou
gluco-oligossacarídeos (GOS) de grau de polimerização (DP)
acima de 2, juntamente com 91,6% da maltose (200 g / L).
Saccharato de limão (limão sucrate) foi utilizado para controlar
o pH durante a fermentação. Os produtos GOS tinham DP
entre 2 e 7. Quando Streptococcus mutansucrase de mutans
(0,1 U / mL) reagiu com 0,1% de sacarose, adição de 0,1% a
10% de GOS à reação da mutan sucrase digest resultou em
uma redução de 56 a 90% da formação de mutan. GOS
também reduziu E. coli (72,2%) e Salmonella sp. (mais de
40,0%), quando 2,5% de GOS foram utilizados como única
fonte de carbono, em comparação com o crescimento usando
glicose. O índice glicêmico calculado e a carga glicêmica de
GOS foi 8 e 1, respectivamente, com base em um carboidrato
de 10 g. GOS foi calculado para ter 2,43 kcal / g. Após um
teste de tolerância à glicose foi realizado utilizando
camundongos C57BL / 6, foi descoberto que os camundongos
tratados com GOS mostraram 59,4% menor aumento da
glicose plasmática do que aqueles tratados com maltose.
Devido a esses múltiplos efeitos benéficos atribuídos à saúde,
o GOS pode encontrar potenciais usos em produtos

459
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
alimentares como agentes anticariogênicos, prebióticos e
humectantes de baixa acidez. (LEE et al., 2016).
Lee et al (2013) estudaram a bacteriocina KU24
produzida por Lactococcus lactis KU24 que apresentou um
efeito inibitório contra Staphylococcus aureus resistente à
meticilina (MRSA). As bacteriocinas são péptidos sintetizados
ribossomicamente ou proteínas que têm respostas anti-
bacterianos geralmente contra bactérias estreitamente
relacionadas com o produtor, mas também agentes
patogénicos de origem alimentar. A bacteriocina KU24 foi
inativada pela protease XIV, mostrando que ela tem uma
natureza proteinácea em S. aureus ATCC 33591. Além disso,
a bacteriocina KU24 apresentou uma forte estabilidade ao
calor (121 ° C por 15 min) e estabilidade ao pH (pH 3 a 9). O
modo de inibição foi determinado para S. aureus ATCC 33591
por tratamento de 0, 250 e 500 UA / mL de bacteriocina KU24.
S. aureus ATCC 33591 foi inibido por bacteriocina KU24
adicionada, enquanto o controle foi aumentado. As
membranas celulares de S. aureus ATCC 33591 foram
danificadas com tratamento de 500 AU / mL de bacteriocina
KU24. Além disso, a bacteriocina KU24 inibiu a ocorrência do
gene mecA, o gene de resistência à meticilina em S. aureus
ATCC 33591. A bacteriocina KU24 foi purificada por coluna
C18 Sep-Pack, cromatografia de permuta catiônica e
cromatografia de filtração em gel, e a massa molecular é de
aproximadamente 6,5 kDa por eletroforese em gel de
poliacrilamida de dodecilsulfato de sódio.
Estes resultados demonstram que a bacteriocina KU24
pode ser utilizada como agente antimicrobiano alternativo para
o tratamento da infecção de MRSA na indústria de alimentos
(LEE et al., 2013).

460
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
Também o estudo de Sahraouiet al (2015) demonstrou
mais uma utilização para BAL no processamento e formulação
de alimentos. A cepa de Lactococcus lactiss sp. A laminalactis
KJ660075 foi estudada para melhoria da qualidade do queijo,
oferecendo uma alternativa de abordagem bioprotetora. A
bactéria mostrou uma inibição antibacteriana notável contra
vários patógenos transmitidos por alimentos e bactérias de
deteriorantes, mas não contra Lactobacillus plantarum. Esta
atividade antibacteriana foi atribuído à molécula proteica, pois
sua atividade foi perdida com o tratamento com protease. A
atividade anti-Staphylococcus aureus do isolado foi confirmada
pela co-cultura em leite de cabra UHT tratado com
temperatura (redução de 4ugcfu ml-1).
Além disso, a cepa exibiu uma boa acidificação
cinéticas, caseinolíticas e lipolíticas e autólise moderada.
Análise de aminoácidos livre de queijo modelo fabricado com
KJ660075 revelou a presença de compostos com qualidades
organolépticas e de saúde. Como resultados a Bacteriocina
KU24 mostrou um amplo espectro de atividade antimicrobiana
contra bactérias Gram-positivas e foi estável no aquecimento e
em uma ampla gama de condições de pH. Bacteriocina KU24
pareceu ter um efeito bactericida com influência diminuída no
gene mecA e mecI para regular MRSA. Portanto, a
bacteriocina KU24 pode ser uma boa alternativa ao
conservante químico para controle de MRSA (SAHRAOUI et
al.,2015).

4 CONCLUSÕES

A utilização de BAL tem surgido como uma alternativa


eficaz e natural para a conservação de alimentos em

461
BACTÉRIAS ÁCIDO LÁTICAS (BAL) COM POTENCIAL PARA APLICAÇÂO EM
DIVERSAS ÁREAS E SEUS BENEFÍCIOS: UMA REVISÃO
detrimento dos conservantes químicos, além de serem usada
nesses produtos para alcançar características desejadas como
sabor, aroma e consistência.
Essas bactérias também podem apresentar
propriedades probióticas que auxiliam o funcionamento do
organismo, devido principalmente à modulação da microbiota
intestinal, e em diversos tratamentos de saúde.
As cepas de BAL utilizadas nos trabalhos relacionados
à atividade antagonista dessas bactérias apresentaram alta
porcentagem desta atividade frente importantes patógenos de
origem alimentar. Estudos mais detalhados para a
identificação de gêneros e espécies predominantes são
desejáveis, bem como o estudo da adaptabilidade dessas BAL
contra os patógenos em matrizes alimentares específicas.
Além de investigar detalhadamente os mecanismos de
ação das BAL probióticas que trouxeram benefícios à saúde
do hospdeiro e ao tratamente das doenças analisadas.

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465
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
CAPÍTULO 24

CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS


GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE
ESPÉCIES DE ASPERGILLUS ISOLADOS
DE PACIENTES COM OTOMICOSE
Maria Daniela Silva BUONAFINA 1
Michellangelo Nunes da SILVA 1
Melyna Chaves Leite de ANDRADE 2
Ana Paula Santiago ROCHA 1
Franz de Assis Graciano dos SANTOS1
1
Pós-graduandos em Biologia de fungos, UFPE; 2Pós-graduanda em Medicina
Tropical, UFPE,
Email correspondente: franz.assis@gmail.com

Resumo: Otomicose, infecção fúngica do conduto auditivo


externo, apresenta comumente como agentes etiológicos
espécies de Aspergillus e Candida. Por ser um sítio de difícil
acesso, o diagnóstico nem sempre é preciso, tornando
crescente a resistência antifúngica em relação às terapias
utilizadas, uma vez que a medicação frequentemente utilizada
é de uso tópico. Alguns fatores inerente aos fungos como
constituição da parede celular e formação de biofilmes, podem
propiciar maior dano e extensão da lesão. Assim, o trabalho
teve como objetivo caracterizar os fungos causadores de
otomicose quanto ao perfil de carboidratos da parede celular e
a capacidade de formar biofilme. Lectinas com A, WGA, UEA-I
e PNA conjugadas à peroxidase foram utilizadas para
marcação dos carboidratos em 25 isolados obtidos de
pacientes. Os isolados foram crescidos em Agar Sabouraud
Dextrose (SDA) e RPMI para análise do biofilme com leitura

466
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
visual e quantificada. A marcação com lectinas variou intra e
interespecífica na expressão de carboidratos, sendo WGA a
que marcou mais intensamente e também variou quanto ao
biofilme. A composição da superfície dos isolados com
expressão de N-acetil-glicosamina, contribuiu para o biofilme,
proporcionando maior resistência antifúngica e maior
capacidade de infecção.
Palavras-chaves: Otite fúngica. Carboidratos da parede
celular. Biofilme.

1 INTRODUÇÃO

Otomicose é uma infecção no canal auditivo externo


causada por fungos oportunistas (PRASAD et al., 2014;
NEMATI et al., 2013). A incidência varia em diferentes áreas
geográficas, e é determinada principalmente pelas condições
ambientais. Esta micose pode atingir percentagens elevadas
em algumas regiões tropicais e subtropicais (GHARAGHANI;
SEIFI; ZAREI MAHMOUDABADI, 2015), constituindo até 25%
das otites infecciosas (GARCIA-AGUDO et al., 2011; ANEJA;
SHARMA; JOSHI, 2010; FASUNLA; IBEKWE; ONAKOYA,
2007; ZAREI MAHMOUDABADI, 2006).
Os agentes etiológicos mais comuns desta infecção
fúngica incluem espécies de Aspergillus e Candida (KUMAR
KARN et al., 2014; GARCIA-AGUDO et al., 2011), entretanto,
outras espécies também são relatadas como agentes de
otomicose (MOGADAM et al., 2009).
Os fatores que contribuem para que estes fungos
sapróbios se tornem patógenos são vários (KOGA-ITO et al.,
2006). Assim, destaca-se um desses fatores de virulência de
extrema importância, a capacidade destes fungos de formar

467
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
agregados celulares, biofilmes, os quais se aderem a
superfícies gerando estruturas multicelulares, ocorrendo em
resposta a uma variedade de condições (SIMÕES; SIMÕES;
VIEIRA, 2010; O’TOOLE; KAPLAN; KOLTER, 2000). Os
agregados celulares podem está intimamente associados aos
carboidratos da parede celular do fungo, sendo as lectinas,
valiosas ferramentas para a investigação estrutural destes
complexos de carboidratos (especialmente as glicoproteínas);
e para a análise de mudanças que ocorrem sobre a superfície
celular durante os processos fisiológicos e patológicos
(SHARON; LIS, 2001).
Essa especificidade das lectinas com relação a
diferentes carboidratos possibilita a sua utilização em
pesquisas na área médica, tais como investigação da
superfície de células e caracterização de estágios de
desenvolvimento dos microrganismos (KENNEDY et al.,
1995).
A maioria dos fungos causadores de otomicose, apesar
de serem sapróbios, podem causar infecções oportunistas,
com danos irreversíveis principalmente em indivíduos
imunossuprimidos. Desta forma, o histórico do paciente, o
exame clínico (otoscopia) associado ao diagnóstico
laboratorial micológico, é indispensável para diagnóstico
preciso e implementação de um tratamento adequado e
específico (ABOULMAKARIM et al., 2010; VENNEWALD;
KLEMM, 2010; CARFRAE; KESSER, 2008; OZCAN et al.,
2003; SREEPADA; KWARTLER, 2003).
Assim, o desenvolvimento de pesquisas que buscam o
conhecimento destes agentes patogênicos, sobretudo, da
determinação do perfil de virulência, auxilia na instituição de

468
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
tratamento adequado, evitando recidivas e conduzindo a uma
melhor qualidade de vida dos pacientes.
Diante do contexto, o objetivo deste trabalho foi
caracterizar os agentes etiológicos de otomicose quanto ao
perfil de carboidratos da parede celular em associação com a
capacidade de formação de biofilme.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Obtenção dos isolados

Para os ensaios, foram utilizados 25 isolados de fungos


estocados na Coleção de Culturas Micoteca URM da
Universidade Federal de Pernambuco. Todos os isolados
foram obtidos de casos de otomicose.

Caracterização quanto ao perfil de carboidratos da parede


celular de fungos filamentosos

Concanavalin A (Con A), Wheat germ agglutinin (WGA),


Ulex europeus agglutinin I (UEA-I) e Peanut agglutinin (PNA),
todas conjugadas a peroxidase (Sigma Chemical Co. St Louis,
MO, USA) foram usadas de acordo com a técnica modificada
publicada por Leal et al. (2011). As amostras fúngicas foram
cultivadas em meio Ágar Czapek (Difco) por dez dias a 25 ºC.
Uma fita adesiva, posicionada com a parte colante para baixo,
foi levemente pressionada sobre a colônia do fungo. A fita foi
subsequentemente removida e colocada longitudinalmente
sobre lâminas para microscópio. Na fita com a amostra do
fungo, foi adicionada 200 µL de tripsina por oito minutos. Após

469
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
esse tempo, a tripsina foi retirada com tampão fosfato salino
(PBS), em seguida foi adicionado 200 µL de lectina (25 µg/mL)
e deixado por 1h a 4°C.
A marcação com lectinas foi visualizada usando 3,3-
diaminobendizina (DAB) e peróxido de hidrogênio em tampão
fosfato salino (PBS) por até oito min. Entre cada etapa foram
realizadas lavagens com PBS (2 x 5 min). Ensaios controle
foram feitos por ligação da lectina na preparação do açúcar
específico correspondente: N-acetil-D-glucosamina, α-L-
fucose, D-galactose e metil-α-D-manoside para WGA, UEA I,
PNA e Con A, respectivamente, a concentração de 300 mM. O
controle da amostra do fungo na fita foi realizado através da
ausência da marcação com lectina.

Avaliação da capacidade de formação de biofilme

Culturas de fungos filamentosos foram cultivadas em Ágar


Sabouraud Dextrose a 37°C por 72h. Os esporos foram
coletados por lavagem da superfície das culturas utilizando
5ml de tampão fosfato salina (PBS) pH 7,2 contendo tween 20
na concentração de 0,025% (v/v). Subsequentemente, os
esporos foram submetidos a contagem em câmara de
Neubauer e o inóculo ajustado para a concentração de 10 5
células em RPMI 1640 (Sigma) tamponado para pH 7.0 com
MOPS 0,165M (MOWAT et al., 2007).
Biofilmes foram produzidos em placas de microtitulação
de fundo chato (96 poços), pela adição de 200µL da
suspensão celular padronizada em tampão MOPS-RPMI 1640
em cada orifício, a cada período de tempo determinado (48h),
incubado a 37°C. O meio de cultura foi removido dos orifícios

470
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
e as células lavadas três vezes com PBS pH 7,2 para total
remoção de células não aderentes (MOWAT et al., 2007).
Todo o experimento foi realizado em triplicata para validação
dos resultados.
O biofilme foi quantificado usando uma técnica
modificada por O'TOOLE; KOLTER (1998) e posteriormente
por MOWAT et al. (2007). As placas foram secas e coradas
com 100µL de solução de cristal violeta 0,5% (p/v) por cinco
minutos. A solução foi removida por lavagem cuidadosa sob
água corrente para remoção do excesso de corante. Os
biofilmes foram descorados, adicionando 100µl de etanol 95%
a cada poço por um minuto e, posteriormente, o etanol foi
transferido para uma outra placa de microtitulação (96 poços)
e a absorbância foi lida a 570nm (A570) no espectrofotômetro.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil de carboidratos da parede celular de fungos obtidos de


amostras clínicas de pacientes com otite fúngica por meio de
marcação de lectinas

Os experimentos foram realizados com 25 culturas de


Aspergillus ssp. incluindo A. avenaceus, A. awamori, A. flavus,
A. fumigatus, A. niger, A. niveus, A. ochraceus, A. parasiticus
e A. tamarii. Os testes seguiram para formação e quantificação
de biofilme e detecção de carboidratos da parede celular dos
fungos marcados com lectinas.
A histoquímica com lectinas mostrou a presença de α-
D-glicose⁄α-D-manose, N-acetil-D-glicosamina⁄ ácido N-
acetilneuramínico, α-L-fucose e D-galactose⁄ N-acetil-D-

471
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
galactosamina em todas as espécies estudadas de
Aspergillus, embora o padrão de marcação mostrou-se variado
entre as linhagens de uma mesma espécie (Tabela 1; Figura
1).
Evidenciou-se uma correlação positiva entre a formação
de biofilme com a expressão de α-D-glicose⁄α-D-manose e α-
L-fucose em A. niveus, além da expressão de α-D-glicose⁄α-D-
manose em A. avenaceus (Teste de Correlação de Spearman
r = 0.8660). Adicionalmente, uma correlação negativa entre
expressão de D-galactose⁄ N-acetil-D-galactosamina e
formação de biofilme foi demonstrada em A. ochraceus (r = -
0.8660).

Tabela 1: Padrões de coloração com lectinas da parede celular


de espécies de Aspergillus isolados de amostras clínicas de
pacientes com otite fúngica.

Lectinas
Código Isolados Con A UEA I PNA WGA
MM87A/09 A. avenaceus ++ + ++ +
MM87C/09 A. avenaceus + + ++ +
URM6328 A. awamori + + + ++
URM6325 A. flavus ++ +++ - +++
URM6332 A. flavus ++ + + ++
URM6333 A. flavus + - ++ ++
MM88A/09 A. flavus + + + ++
URM6326 A. fumigatus + + + ++
URM6327 A. fumigatus + - + ++
URM6329 A. niger + - + -
URM6794 A. niger + - + -
URM6795 A. niger + - + -
MM88C/09 A. niger ++ + + +
URM6330 A. niveus ++ ++ +++ ++
472
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
URM6334 A. niveus + - + ++
URM6335 A. niveus ++ + - +++
URM6321 A. ochraceus ++ - + ++
URM6796 A. ochraceus ++ ++ ++ +++
URM6797 A. ochraceus + + ++ +++
URM6323 A. parasiticus ++ - ++ +
URM6324 A. parasiticus + + + +
URM6331 A. parasiticus + + - ++
URM6322 A. tamarii - ++ + +
URM6745 A. tamarii + - + +
URM6746 A. tamarii - ++ - +
ConA: metil-α-D-manoside; UEA-I: α-L-fucose; PNA: D-galactose; WGA: N-
acetil-D-glucosamina,

Em relação à composição química, estrutural e a


dimensão da parede celular dos fungos, estas, podem variar
substancialmente entre as espécies fúngicas, dependendo das
condições ambientais a que são expostos, bem como, o
cultivo laboratorial onde são submetidos (PINTO; BARRETO-
BERGTER; TABORDA, 2008). Ademais, essa formação é
coordenada e controlada pelo ciclo celular, para que todos
esses mecanismos ocorram de forma harmônica (KLIS;
BOORSMA; DE GROOT, 2006).
Em um trabalho de Leal et al. (2011), os ensaios de
ligação com lectinas utilizando WGA, UEA, PNA e Con A,
resultou em seis padrões de coloração distintos, diferenciando
as espécies Aspergillus tamarii, Fusarium oxysporum, F. solani
e Myceliophthora vellerea. As duas espécies de dermatófitos,
Microsporum gypseum e Trichophyton tonsurans, tinham os
mesmos padrões de coloração, como A. terreus e
Paecilomyces lilacinus. Eles observaram também que todos os
isolados da mesma espécie exibiram o mesmo padrão de

473
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
coloração. Tal fato não foi observado em nosso trabalho, pois
houve diferença intraespecífica no perfil de marcação com
lectinas. Outros estudos sugerem também que, a expressão
de carboidratos podem variar de acordo com o meio de cultura
utilizado para o crescimento do fungo, sendo interessante que
o mesmo, seja cultivado em meios específico para tal
finalidade (ALVINO; RODRIGUES; ALMEIDA, 2004).
Em um estudo de Lima-Neto et al. (2009), afirmaram
que o tempo de crescimento pode influenciar na composição
da superfície celular. O que foi observado em nosso trabalho,
uma vez que, o tempo de crescimento fúngico variou entre as
espécies, possivelmente devido à exposição de antibióticos
utilizados nos tratamentos que os pacientes foram submetidos
antes e depois do diagnóstico.
Novamente, em outro trabalho realizado por Lima-Neto
et al. (2009), avaliaram a expressão de hidrato de carbono da
superfície celular de isolados clínicos de leveduras como
Candida albicans e C. parapsilosis e indicaram a presença dos
mesmos carboidratos que avaliamos em nosso estudo. Para
estes autores, a adesão de leveduras à células epiteliais
bucais humanas é mais intensa em isolados fúngicos com alta
expressão de α-L-fucose, marcado com UEA-I, diferente do
que encontramos em nossa pesquisa, onde a lectina que
marcou com mais intensidade foi a WGA. Diferentemente do
que encontramos em nossa pesquisa, em que os resíduos de
α-D-manose e α-L-fucose indicaram uma correlação direta
com a quantificação do biofilme, e D-galactose, relação
inversa.

474
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
Figura 1: Padrões de coloração de lectinas: (a) intenso com
wheat germ agglutinin (WGA) em A. ochraceus, (b) moderado
em peanut agglutinin (PNA) em A. niveus, (c) fraco Ulex
europeus agglutinin I (UEAI) em A. ochraceus e (d) ausente.

Fonte: O autor.
A marcação com lectinas mostrou a presença de α-D-
glicose⁄ α-D-manose, N-acetil-D-glicosamina⁄ácido N-
acetilneuramínico, α-L-fucose e D-galactose⁄N-acetil-D-
galactosamina em todas as espécies estudadas. No entanto, o
perfil variou intraespecificamente.
475
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
Capacidade de formação de biofilme por agentes etiológicos
de otomicose

Todos os isolados foram capazes de formar agregados


multicelulares, como mostra a Figura 2. A média quantitativa
variou entre 0,525 e 2,708. Houve diferença significativa na
quantidade de biofilme formado, e de acordo com o teste
estatístico Scott-Knott (p <0.001), dois isolados de Aspergillus
fumigatus e um de A. niveus foram os que produziram maior
quantidade de biofilme. No entanto, não diferiram
significativamente entre si. O teste estatístico Scott-Knott
segregou, pela quantificação de biofilme, os isolados em
quatro grupos distintos, mas que dentro dos grupos não havia
diferença significativa.
A quantificação do biofilme variou intraespecificamente
em A. avenaceus, A. flavus, A. niveus, A. parasiticus e A.
tamarii, mas não variou em A. niger e A. ochraceus.
Na investigação micológica observa-se uma mudança
de paradigma nos últimos anos, com uma valorização de
desenvolvimento dos fungos de importância clínica, em
relação a capacidade de formar e sobreviver em comunidades
de biofilme (MARTINEZ; FRIES, 2010; RAMAGE et al., 2009;
JABRA-RIZK et al., 2004).

476
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
Figura 2: Leitura da quantificação de biofilme por espécies de
Aspergillus, obtida por meio da automação.
Quantificação de biofilme (570ŋm)
3

2,5

1,5

0,5

MM87A/09

MM88A/09
URM6321
URM6322
URM6323
URM6324
URM6325
URM6326
URM6327
URM6328
URM6329
URM6330
URM6331
URM6332
URM6333
URM6334
URM6335
URM6745
URM6746
URM6794
URM6795
URM6796
URM6797

MM87C/09

MM88C/09
Espécies do gênero Aspergillus têm sido
frequentemente relatadas como potenciais formadores de
agregados celulares (MOWAT et al., 2009). Infecções
relacionadas com biofilme de fungos filamentosos também têm
sido cada vez mais descritas na literatura, inclusive por
espécies do gênero Aspergillus (MOWAT et al., 2009;
RAMAGE et al., 2009). TRÉ-HARDY et al. (2008), Di
BONAVENTURA et al. (2006) e RAMAGE et al. (2001),
relataram que biofilmes apresentam a capacidade de serem
até 1000 vezes mais resistentes à antifúngicos. Assim, é cada
vez mais claro que uma grande diversidade destes
microrganismos tem a capacidade de formar estes agregados
que, clinicamente são importantes, pois, são refratários ao
tratamento antifúngico. Tal característica representa um

477
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
grande problema para a equipe médica, já que a dose
necessária para erradicar o biofilme fúngico, pode exceder o
máximo atingível para as concentrações de antifúngicos
preconizados (RASMUSSEN; GIVSKOV, 2006).
Semelhante a formação de biofilmes bacterianos ou por
leveduras, A. fumigatus é amplamente reconhecido como um
organismo em potencial capaz de crescer e desenvolver-se
como uma comunidade multicelular, em que as hifas são
coesa e ligadas entre si por uma matriz extracelular
hidrofóbica (RAMAGE et al., 2011; DAGENAIS; KELLER,
2009; BEAUVAIS et al., 2007; O’TOOLE; KAPLAN; KOLTER,
2000).
A adesão e colonização de populações fúngicas
complexas em superfícies biológicas e inatas, tais como
prótese de acrílico, é comum para fungos clinicamente
relevantes (ELLEPOLA; SAMARANAYAKE, 1998).
Sturgulewski et al. (2006) afirmaram que os dispositivos
de amplificação sonora foram identificados como uma
potencial fonte de transmissão de microrganismos. Em longo
prazo, o uso de prótese auditiva é um fator para a colonização
de fungos, sendo que esta colonização pode resultar em
níveis suficientemente altos, podendo ocasionar uma infecção
(AHMAD et al., 2007; JACKMAN et al., 2005).
Mowat et al. (2007), utilizaram isolados de A. fumigatus,
para avaliar a quantidade de biomassa e a atividade
metabólica, demonstraram que um inóculo de 105 células
desempenha um papel importante na estrutura geral e
integridade do biofilme. Uma concentração de 105 conídios/
mL é produz estruturas filamentosas mais fortes que são
resistentes à ruptura mecânica (MOWAT et al., 2009).

478
CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
CELULAR E FORMAÇÃO DE BIOFILME DE ESPÉCIES DE ASPERGILLUS
ISOLADOS DE PACIENTES COM OTOMICOSE
Em relação à quantificação do biofilme, Ruiz et al.
(2013), utilizando o método de coloração com cristal violeta,
perceberam que no tempo de 24h, o valor médio de absorção
(A595) das 49 linhagens de espécies de Candida analisadas,
variou de 0,061 a 0,308. Diferentemente do que obtivemos em
nossos estudos, com espécies de Aspergillus, em que a
menor valor de absorção foi de 0,525 (A570).
Desta forma, fica claro que espécies de Aspergillus
possuem elevado potencial e capacidade de formar agregados
celulares fúngicos, o que os tornam, relevantes clinicamente
nos episódios de otomicose.

4 CONCLUSÕES

Assim, como base nesse estudo podemos concluir que


espécies de Aspergillus são potencialmente formadores de
biofilme. A α-D-glicose⁄α-D-manose, N-acetil-D-glicosamina⁄
ácido N-acetilneuramínico, α-L-fucose e D-galactose⁄ N-acetil-
D-galactosamina estão presentes na parede celular de A.
avenaceus, A. awamori, A. flavus, A. fumigatus, A. niger, A.
niveus, A. ochraceus, A. parasiticus e A. tamarii e a presença
de resíduos de α-D-glicose⁄α-D-manose e α-L-fucose nos
glicoconjugados de superfície celular em algumas destas
espécies. Esses glicoconjugados por sua vez, estão
associadas ao reconhecimento molecular e formação de
biofilmes, enquanto que a presença de D-galactose⁄ N-acetil-
D-galactosamina, está correlacionado à ausência dessa
característica de patogenicidade.

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CARACTERIZAÇÃO QUANTO AOS GLICOCONJUGADOS DA SUPERFÍCIE
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483
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
CAPÍTULO 25

CONIDIOGÊNESE DO FUNGO
ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO
DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS

Laísa Macedo TAVARES 1


Nathália Souza BEZERRA 2
Adna Cristina Barbosa de SOUSA 3
1
Graduanda do curso de Biotecnologia, UFPB; 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Biotecnologia, UFPB; 3 Orientadora/Professora do Centro de Biotecnologia, UFPB.
macedolaisa@gmail.com

RESUMO: Metarhizium anisopliae é utilizado no controle


biológico de vários insetos-praga na agropecuária. Os custos
ode produção de seus conídios, em larga escala, no substrato
padrão (arroz) utilizado atualmente onera o processo de
produção. Encontrar alternativas como forma de minimizar os
custos do processo, levou a necessidade de averiguar a
eficiência de substratos alternativos. Portanto, o nosso objetivo
foi analisar o potencial de resíduos agroindustriais para
produção de M. anisopliae e avaliar a viabilidade dos conídios
produzidos em formigas cortadeiras. O experimento para
produção de conídios foi realizado em erlernmeyer contendo
30 g dos substratos e 0,3 µL da suspensão de conídios (1x10 8
conídios/mL). Após 10 dias de incubação, foi coletada uma
alíquota de conídios de 1x108 conídios/mL e colocada em
placa de Petri contendo papel filtro umedecido e as formigas.
Foi feito um experimento com três repetições, mais o controle.
A viabilidade dos conídios de M. anisopliae produzidos nos

484
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
diferentes substratos foi garantida pela mortalidade das
formigas infectadas. A taxa média de mortalidade a partir dos
conídios produzidos nos três substratos foi de 99,9 % (arroz),
96,4 (malte) e de 77, 9 (bagaço da cana-de-açúcar). Diante
dos resultados obtidos, os substratos alternativos utilizados
(resíduos de malte e bagaço-de-cana), para crescimento de M.
anisopliae possuem potencial para conidiogênese e
consequentemente, pode fornecer uma redução nos custos de
produção de M. anisopliae.
Palavras-chave: Controle biológico. Fungo
entomopatogênico. Resíduos agroindustriais.

1 INTRODUÇÃO

O fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae


(Metchnikoff Sorokin) é um importante agente microbiano
utilizado no controle biológico de pragas. Este fungo
naturalmente parasita mais de 300 espécies de insetos de
diversas Ordens, incluindo pragas da agricultura e da
pecuária, sendo os principais: cupins, gafanhotos, cigarrinhas
e besouros (ZIMMERMANN, 1993).
Nos estados do Nordeste, M. anisopliae vem sendo
utilizado com sucesso no controle biológico da cigarrinha da
cana-de-açúcar, Mahanarva posticata (Hemiptera:
Cercopidae) (ALVES, 1998a). A ocorrência de altas
populações de cigarrinhas é um problema sério a ser
equacionado, tanto pelos enormes prejuízos econômicos que
ocasiona, quanto pelas limitadas informações sobre os
métodos de controle (MACEDO; MACEDO, 2004). O controle
biológico realizado por intermédio de agentes microbianos
mostra-se uma alternativa relevante e viável (ALVES, 1998a).

485
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
O processo de infecção de M. anisopliae sobre os
hospedeiros depende de uma sequência de eventos de ordem
mecânica e bioquímica, ocorrendo de forma sincronizada pela
deposição do conídio sobre a cutícula do hospedeiro, seguida
pela germinação, penetração cuticular por ação mecânico-
enzimática, invasão, colonização do corpo do inseto, produção
de toxinas, exteriorização das estruturas fúngicas e a
disseminação (LEAL et al., 2003).
A manutenção da capacidade infectiva do fungo
cultivado em meios artificiais tem merecido atenção, uma vez
que a virulência diminui em cultivos laboratoriais sucessivos.
Desta forma a passagem do fungo em insetos mostra-se um
efeito marcante sobre a virulência, uma vez que as mudanças
de ambiente inseto-meio artificial podem implicar em
alterações nos mecanismos de indução enzimática das
enzimas envolvidas na penetração da cutícula do inseto
(ALVES, 1998b; SHAH; PELL, 2003).
As crescentes despesas com o custo do meio para o
cultivo e produção em grande escala de conídios de M.
anisopliae levantam a necessidade de analisar a eficiência de
alguns resíduos industriais que, além de propriedades
nutricionais importantes, possuem grande disponibilidade e
baixo custo. A pesquisa de novas metodologias de sistemas
de produção de conídios é muito importante para tornar o
controle biológico de pragas economicamente viável para ser
aplicado em grande escala (HOWARTH, 1996; TANZINI,
2002).
Entre os organismos utilizados como agentes no
controle biológico de pragas, destacam-se os fungos
filamentosos, pois estes não necessitam ser ingeridos para

486
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
que possam efetivar o controle do organismo alvo. Eles
desenvolvem-se de forma ativa sobre o tegumento de seu
hospedeiro (ALVES, 1998b).
Entre os primeiros fungos entomopatogênicos utilizados
no controle microbiano de insetos-praga, destacam-se os
gêneros: Aschersonia, Aspergillus, Beauveria, Entomophthora,
Erynia, Hirsutella, Metarhizium, Nomuraea, Paecillomyces e
Verticillium (SHAH; PELL, 2003).
Os fungos entomopatogênicos são responsáveis por
cerca de 80% das doenças causadas em insetos. Existindo
cerca de 90 gêneros e mais de 700 espécies de fungos
patogênicos de invertebrados já descritos. Apesar disso, a
maioria dos trabalhos refere-se apenas a duas espécies de
fungos: M. anisopliae e B. bassiana (STUMER et al., 2003).
M. anisopliae infecta mais de 300 espécies de
artrópodes, incluindo pragas importantes tanto para agricultura
como para pecuária (ALVES, 1998a). Muitos países, tais como
os Estados Unidos, Austrália, Irlanda, China e Brasil utilizam
M. anisopliae para o controle de diversas pragas (LORD,
2005). Segundo Alves (1998a), no Brasil os principais
programas de controle de pragas empregando este
entomopatógeno são o controle das cigarrinhas da cana-de-
açúcar (Mahanarva posticata e Mahanarva fimbriolata), das
cigarrinhas das pastagens (Deois sp. e Zulia sp.), do cupim
das pastagens (Cornitermes cumulans) e da cana-de-açúcar
(Heterotermes sp.), do gorgulho da cana-de-açúcar
(Metamasuis hemipterus), da broca da bananeira
(Cosmopolites sordidus) e da broca dos citrus (Diploschema
rotundicolle), entre outros.

487
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
Diversos autores têm relatado a eficácia da utilização
de M. anisopliae no controle de ácaros, principalmente dos
gêneros Boophilus, Ripicephalus, Amblyoma, Ixodes, e sarnas
dos gêneros Psortes e Varroa (BROOKS; WALL, 2001; DA
COSTA et al., 2002; BENJAMIN et al., 2002).
O processo de infecção de M. anisopliae em seus
hospedeiros ocorre em fases sucessivas de germinação,
diferenciação, penetração, colonização, reprodução e
disseminação. A infecção inicia-se pela adesão e germinação
de conídios do fungo sobre a superfície do artrópode, seguida
de penetração da hifa através da cutícula. Na penetração
estão envolvidos os fatores físicos (pressão da hifa que rompe
áreas membranosas ou esclerosadas) e químicos, resultante
da ação de enzimas (esterases, proteases, lípases, e
quitinases) que facilitam a penetração mecânica. Na
germinação, o conídio diferencia-se em um tubo germinativo
com uma dilatação na extremidade das hifas para a formação
do apressório, uma estrutura especializada de penetração,
estimulada pelo contato físico. Após a formação do apressório,
ocorre o desenvolvimento de estruturas denominadas
grampos de penetração, que mantém o contato com a
cutícula. Após atravessar a cutícula, M. anisopliae encontra
um ambiente rico em nutrientes, disseminando-se rapidamente
através da hemolinfa por todos os tecidos, produzindo toxinas
como as dextruxinas e citocalasinas, que ocasionam paralisia
e consequentemente, a morte do hospedeiro (KERSHAW et
al., 1999).
Os sintomas observados após a infecção do hospedeiro
incluem inquietação, perda da sensibilidade, perda de
coordenação dos movimentos e paralisia, ocasionando a

488
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
morte. O ciclo total da doença é de 8 a 10 dias. Os insetos
infectados tornam-se duros e recobertos por uma camada
pulverulenta de conídios. Ao final da conidiogênese, a colônia
possui uma coloração que pode variar de verde claro a escuro,
acinzentada ou esbranquiçada com uma massa de conídios
verdes. Essa patologia é conhecida como muscardine verde
(ALVES, 1998b).
A produção de fungos entomopatogênicos representa
uma etapa crítica e limitante no desenvolvimento de um
programa de controle microbiano para uma determinada
praga. A pesquisa de novas metodologias de sistemas de
produção é muito importante para tornar o controle microbiano
de pragas economicamente viável para ser aplicado em
grande escala (TANZINI, 2002).
As estruturas mais produzidas e comercializadas de M.
anisopliae são os conídios, produzidos na superfície de meio
de cultura sólido, dentro de diferentes recipientes conforme o
objetivo e escala de produção (ALMEIDA; BATISTA-FILHO,
2006).
O arroz é o substrato mais utilizado para a produção de
conídios. Isto se deve, provavelmente, à combinação de
fatores como balanço nutricional, custo, ampla disponibilidade
mundial, características físicas como tamanho e forma do
grão, propriedades de hidratação e integridade estrutural
mesmo após a colonização pelo fungo (DALLA SANTA et al.,
2005).
Devido o elevado preço do arroz, o custeio do substrato
para o fungo tem acarretado despesas crescentes aos
produtores de conídios. Estudos têm sido realizados desde a
década de 80 com o objetivo de avaliar substratos alternativos

489
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
e mais baratos, incluindo substratos agroindustriais (ALVES et
al., 1997a), promovendo uma tendência para a regionalização
da produção (ALVES et al., 1997b).
O resíduo úmido da produção de cerveja, também
chamado de farelo ou bagaço de cevada, pode ser descrito
como uma massa resultante da aglutinação da casca com
resíduos do processo de mosturação. Os altos índices de
proteínas e açúcares resultantes das reações de hidrólise do
conteúdo amiláceo do cereal são os maiores atrativos neste
resíduo, embora ocorra variação na sua composição
bromatológica em função do processo industrial no qual foi
gerado (CABRAL FILHO, 1999).
Outros resíduos agroindustriais têm sido utilizados
como meio de cultura alternativo para produção de conídios
em meios sólidos, tais como: arroz vermelho (AGOSTINETTO
et al., 2001); resíduos de mandioca e fécula (CEREDA, 1996)
e melaço (DALLA SANTA et al., 2005), dentre outros. Esses
resíduos têm representado uma alternativa viável e mais
barata para a produção de fungos entomopatogênicos. Diante
dessas informações, o objetivo deste trabalho foi analisar o
potencial de dois resíduos agroindustriais (resíduos de malte e
bagaço de cana-de-açúcar) para produção de M. anisopliae e
avaliar a viabilidade dos conídios produzidos em formigas
cortadeiras, visando à seleção para uso no controle biológico
de insetos-praga na região Nordeste.

2 MATERIAIS E MÉTODO
Foi utilizado um isolado do fungo M. anisopliae, de solo
de um sistema agroflorestal (zona da mata de Pernambuco),
no ano de 2012.

490
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
As formigas soldados de Atta sexdens foram coletadas
de sauveiro isento da aplicação de produtos fitossanitários, em
área de reserva de mata atlântica pertencente à Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. Essa espécie foi usada
para o teste de viabilidade dos conídios produzidos nos dois
resíduos agroindustriais. Esse inseto foi selecionado devido ao
impacto que essa praga causa por atacar diversas culturas
agrícolas, pastagens e os reflorestamentos, atuando sobre
muitas espécies vegetais.

Origens dos resíduos agroindustriais e substratos: arroz


polido (meio padrão) – arroz comercializado; resíduo de malte
(cervejaria artesanal do Professor e Pesquisador Dr.
Kristerson Luna-Freire); bagaço de cana-de-açúcar (“barraca”
de caldo-de-cana, localizada da região metropolitana da
grande João Pessoa).

Produção de conídios: o fungo foi inoculado em meio de


cultura para conidiogênese (Meio Completo - MC) (ALVES,
1998a). Em seguida, as placas foram incubadas a 25º C e
fotofase de 12 horas, por um período de 7 a 10 dias para
crescimento e conidiogênese do fungo. Após esse período, os
conídios foram coletados, raspando-se a superfície do meio de
cultura e transferidos para tubos de ensaio fechados com filme
PVC e armazenados sob refrigeração a 4º C por um período
não superior a 10 dias. Para o preparo da suspensão, foram
adicionadas aos conídios água destilada autoclavada mais
Tween 80 a 0,01 %. Em seguida, foi estimada a concentração
dos conídios em câmaras de Neubauer e as suspensões
foram padronizadas em 1 x 108 conídios/mL.

Teste preliminar para ajustar a umidade dos meios de


cultura para 70%: o teste foi realizado para medir o volume
de água destilada em 30 g de cada substrato, contidos em
erlenmeyer de 250 mL. Os erlenmeyers foram autoclavados e,
491
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
após resfriamentos, foram feitas as pesagens. Em seguida, os
erlenmeyers foram levados à estufa (80º C) para secagem dos
materiais até o peso constante. Posteriormente, foi realizada
uma nova pesagem e, após a subtração da massa seca, foi
calculado o volume de água a ser adicionado a cada substrato
de forma a resultar numa umidade em torno de 70 % após a
autoclavagem.

Avaliação da produção de Metarhizium anisopliae em


meio sólido à base de resíduos agroindustriais: foram
utilizados substratos ricos em carboidratos como arroz polido
(meio padrão), resíduo de malte e bagaço de cana-de-açúcar.
O experimento foi realizado em erlernmeyer de 250 mL,
contendo 30 g do substrato arroz, 30 g do substrato resíduo de
malte e 15 g do substrato bagaço de cana-de-açúcar com
umidade em torno de 70 %. Foram preparados três frascos
para cada meio de cultura. Foram inoculados 1x108
conídios/mL e em seguida os frascos serão incubados a 25º C
e fotofase de 12 horas durante 7 dias. Após esse período, foi
coletado uma alíquota de 0,1 mL e adicionado 0,9 de água +
Tween 80 a 0,01 % para se obter uma diluição final de 1:10
para realização da contagem dos conídios em câmara de
Neubauer ao microscópio.

Avaliação da atividade inseticida – bioensaio: os


exemplares de soldados foram coletados com o auxílio de
pinça entomológica, em dias de intensa atividade no sauveiro,
colocados em tubo cônico tipo falcon – 50 mL e levados para o
laboratório. Foram utilizadas 30 formigas saúva soldados. Foi
realizado um experimento com três repetições. Em cada
repetição foram utilizadas 10 formigas saúva. As formigas
foram mergulhadas subsequentemente em solução de
hipoclorito de sódio e água destilada esterilizada. Em seguida,
os insetos foram colocados em placa de Petri contendo papel
filtro umedecido com uma suspensão de conídios (1x 10 8
492
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
conídios ml-1). Após 24 horas, as formigas foram transferidas
para placa de Petri contendo papel filtro umedecidos com
água destilada autoclavada. As placas foram deixadas em
temperatura ambiente e avaliadas durante 10 dias, a cada 24
horas era adicionado 1 mL de água destilada e a cada 48
horas era adicionado a dieta das formigas (mel a 10 %). O
controle negativo foi realizado imergindo os insetos em água
destilada autoclavada e mantendo-os nas mesmas condições
citadas anteriormente. Após a morte, as formigas (exceto
grupo controle) foram esterilizadas com álcool 70 %
superficialmente e mantidas em recipientes estéreis individuais
com papel filtro úmido para confirmação da morte pelo fungo.

Análise estatística: os experimentos foram realizados


segundo o delineamento experimental inteiramente
casualizado, sendo os dados obtidos analisados
estatisticamente quanto à variância (teste F) e as médias
comparadas entre si (Teste de Tukey), ambos ao nível de 5,0
% de probabilidade, utilizando-se o programa computacional
Sisvar Star (FERREIRA, 2003).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliação do crescimento de Metarhizium anisopliae


O crescimento micelial de M. anisopliae foi avaliado
durante 10 dias no arroz polido (substrato padrão), resíduos
de malte e bagaço de cana-de-açúcar.
Alguns fatores ambientais como temperatura e umidade
podem influenciar o crescimento e desenvolvimento do fungo.
A variação da umidade nos diferentes substratos utilizados
para o cultivo de M. anisopliae após 10 dias de incubação em

493
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
temperatura ambiente (T = 29 ± 1° C) está descrita na Tabela
1.
A umidade dos substratos após inoculação com o fungo
variou ao longo dos 10 dias de cultivo. O arroz e o malte
apresentaram uma maior produção de conídios e foram os
substratos que ao decorrer dos 10 dias tiveram as menores
perdas de umidade, apresentando umidade final de 67,56 %;
68.99 %, respectivamente. Já o bagaço da cana-de-açúcar
teve uma perda de umidade considerada, apresentando
umidade final de 55,98 %.

Tabela 1. Variação da umidade nos diferentes substratos


utilizados para o cultivo de Metarhizium anisopliae após 10
dias de incubação (T = 29 ± 1° C).
Umidade (Volume de Umidade inicial Umidade final
Substratos água destilada)0 (%) (%)
Arroz polido (meio
71,50 67,56
padrão) 30 mL
Malte 30 mL 76,67 68,99
Bagaço da cana-
66,87 55,98
de-açúcar 60 mL
CV%4 5,56 4,78
0Volume de água destilada necessária para se obter 70 ± 10 % de
umidade em 30 g de substrato bruto.

Avaliação da patogenicidade de Metarhizium anisopliae


sobre a formiga saúva
Os conídios de M. anisopliae produzidos no arroz polido,
malte, e bagaço da cana-de-açúcar mostrou efeito letal na
concentração testada (1x108 conídios/mL-1). Os resultados

494
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
obtidos com os conídios produzidos no arroz evidenciaram
mortalidade de todas as formigas às 96 horas após a infecção,
e 100% das formigas mortas pelo fungo foi confirmado às 216
h. Os resultados obtidos com os conídios produzidos no malte
evidenciaram mortalidade de todas as formigas às 129 h após
a infecção, e 97 % das formigas mortas pelo fungo foi
confirmado às 240 h. Os resultados obtidos com os conídios
produzidos no bagaço de cana-de-açúcar evidenciaram
mortalidade de todas as formigas às 192 horas após a
infecção, e 50 % das formigas mortas pelo fungo foi
confirmado às 240 h (Figura 1).
A taxa de mortalidade das formigas após infecção com os
conídios produzidos nos substratos arroz e malte não diferiram
estatisticamente superando 95 % de mortalidade, já a taxa de
mortalidade das formigas após infecção com os conídios
produzidos no substrato bagaço de cana-de-açúcar foi de
aproximadamente 78 % (Tabela 2).
O arroz polido foi utilizado como padrão porque
atualmente é o substrato mais empregado na produção para
comercialização de conídios, devido a uma combinação de
fatores como, características nutricionais, conservação da
umidade, preço, ampla disponibilidade mundial e
características físicas como tamanho e forma do grão
(JENKINS et al., 1998).

Figura 1. Infecção da formiga com Metarhizium anisopliae.


Bioensaio realizado em água destilada autoclavada. Conídios
produzidos no arroz (A), malte (B) e bagaço de cana-de
açúcar (C). Controle negativo (D).

495
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS

Fonte: Autor

Tabela 2. Eficiência de Metarhizium anisopliae produzido em


diferentes substratos sobre a formiga cortadeira em condições
de laboratório na concentração de 1x108 conídios/ml-1. Período
de incubação - 10 dias.
Taxa de mortalidade
Substratos
confirmada (%) (±EP)3
Arroz (substrato padrão) 99,9 ± 21,40
Malte 96,4 ± 10,02
Bagaço da cana-de-açúcar 77,9 ± 12,10
Controle 1,01 ± 0,11
CV% 10,4

Após 10 dias de incubação, pode-se se observar que os


substratos arroz e malte apresentaram maior crescimento
visual de M. anisopliae e pro¬porcionaram maior produção de
conídios. O substrato bagaço de cana-de-açúcar apresentou
baixo crescimento de M. anisopliae e proporcionou uma

496
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
conidiogênese menor. Esses diferentes resultados podem ser
justificados pela textura e suporte nutrional de cada substrato.
Observou-se um grande crescimento no malte devido à alta
presença de teor de açúcares fermentescíveis. O bagaço de
cana-de-açúcar apesar de ser um substrato rico em
polissacarídeos, e apresentar característica fibrosa que
favorece a aeração e crescimento durante o cultivo, teve uma
perda de umidade ao longo dos 10 dias de incubação. A perda
de umidade levou à baixa disponibilidade de nutrientes,
afetando o crescimento do fungo e produção de conídios.
Além disso o baixo crescimento de M. anisopliae pode
ser justificado pela camada espessa de lignina da cana-de-
açúcar. O bagaço de cana-de-açúcar originado após a
extração do caldo rico em sacarose, é um material com
abundância em lignocelulose (CARROLL; SOMERVILLE,
2009; RABELO et al., 2011). A lignina é o componente
estrutural mais importante da parede celular de plantas
superiores, apresentando funções vitais como, por exemplo,
promover rigidez ao sistema vascular, permitindo que as
plantas tenham crescimento vertical; conferir hidrofobicidade
ao xilema, o que auxilia o transporte de água, e conferir defesa
estrutural contra microrganismos (HERRMANN, 1995;
MARTONE et al., 2009).
Os resultados obtidos a partir do bioensaio mostraram
que o isolado de M. anisopliae foi patogênico para as formigas
cortadeiras. Foi observada a adesão e germinação dos
conídios na superfície da cutícula da formiga, a partir das 72
horas após a infecção. A colonização mais intensa só foi
observada após 120 horas. A partir deste período de infecção,
foi observada a total mumificação da formiga (Figura 1). Não

497
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
foi observado produção de conídios na colonização da
formiga. Diante destes resultados, é possível inferir que o
processo de infecção ainda não estava concluído, indicando
que os nutrientes dos formigas ainda não haviam se esgotado.
A taxa média de mortalidade de M. anisopliae produzido
no resíduo de malte foi muito próxima da taxa média de
mortalidade de M. anisopliae produzido no arroz, as duas
ficaram acima de 95 %. A taxa média de mortalidade de M.
anisopliae produzido no bagaço de cana-de-açúcar
comparado com os outros substratos foi significativamente
inferior, pouco mais de 75 %. Esses resultados podem ser
justificados pelo baixo crescimento de M. anisopliae no
substrato bagaço de cana-de-açúcar. Com base na análise
estatística, as médias nos três substratos não diferiram
significativamente entre si pelo teste de Tukey, mas houve
diferença significativa de mortalidade ao grupo controle.
Os primeiros indícios da invasão da superfície cuticular
caracterizaram-se pelo surgimento de pontuações
esbranquiçadas, evidenciando a exteriorização das hifas. Este
processo marca o começo da mumificação micelial. Alguns
autores sugerem que a quantidade de conídios aplicada nos
hospedeiros reflete na precocidade da mortalidade e da
colonização. Segundo Fernandes e Alves (1992), quanto mais
conídios penetram, mais toxinas ou enzimas são liberadas,
aumentando a mortalidade do inseto. Todavia, a velocidade de
ação do fungo depende, além da dosagem, das espécies
hospedeiras envolvidas (SOSA-GÓMEZ; MOSCARDI, 1992).
A composição da cutícula influencia na virulência dos
fungos entomopatogênicos (ST LEGER et al., 1991). O
tegumento dos insetos é essencialmente composto por

498
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
proteínas e quitina associadas com lipídios e compostos
fenólicos (FERRON, 1978), que possuem aldeídos presentes
que podem inibir a germinação dos conídios de M. anisopliae
e atrasar o desenvolvimento do tubo germinativo (BORGES et
al., 1993; SOSA-GÓMEZ et al., 1997). Os sintomas de
infecção inicialmente observados nas formigas foram à
diminuição dos movimentos, seguidos de paralisia. Esses
dados são idênticos aos resultados obtidos por Vey et al.
(2002), onde os hospedeiros infectados (carrapato Ixodes
ricinus L.) exibiam os primeiros sinais de colonização:
inquietação, perda de coordenação motora, parada de
ingestão de alimentos e morte.
Os distúrbios fisiológicos gerados nos hospedeiros,
provavelmente foram provocados pela produção de
micotoxinas. As dextrinas, metabólitos secundários
produzidos pelos fungos, são as principais toxinas que afetam
os canais de transportes de íons, envolvidos nas respostas
musculares e na integridade das membranas celulares.
Portanto, estes fatores apontam que as micotoxinas estão
envolvidas na sintomatologia exibida nos primeiros estágios de
infecção (SHAH; PELL, 2003).

4 CONCLUSÕES

Diante dos resultados obtidos, conclui-se que o isolado


utilizado de M. anisoplie foi considerado patogênico para A.
sexdens devido à especificidade ao hospedeiro, sugerindo que
este fungo tem potencial para uso no controle biológico; M.
anisopliae apresentou bom desenvolvimento e resposta aos
experimentos realizados in vitro, apontando este isolado
fúngico como um possível agente entomopatogênico a ser

499
CONIDIOGÊNESE DO FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO METARHIZIUM
ANISOPLIAE VAR. ANISOPLIAE EM MEIO DE CULTURA À BASE DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS
explorado para minimizar os danos ecotóxicos na produção
animal e vegetal; Utilização de resíduos de malte e bagaço de
cana-de-açúcar na composição de meios de cultura sólidos
para a produção de M. anisopliae foi eficiente; Os conídios
produzidos a partir dos substratos não convencionais foram
viáveis e apresentaram efeito letal na concentração testada;
As taxas de mortalidade das formigas após infecção com os
conídios produzidos nos diferentes substratos superaram 75%
de mortalidade.

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504
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
CAPÍTULO 26

BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS


DE SALÕES DE BELEZA APRESENTAM
RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E
CONSERVANTES
Andrwey Augusto Galvão VIANA1
Thiago Gonçalves Cavalcanti1
Ian Porto Gurgel do AMARAL2
Ulrich VASCONCELOS3
1
Graduandos do curso de Biotecnologia, UFPB; 2 Coorientador/Professor do DBCM/UFPB;
3
Orientador/Professor do DB/UFPB.
u.vasconcelosl@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: Os salões de beleza são estabelecimentos


comerciais nos quais ocorre uma excessiva manipulação de
produtos, particularmente empregados nos tratamentos
capilares, contendo diferentes classes de compostos com
função de evitar a deterioração do produto durante seu tempo
de utilização. Adicionalmente, efluentes líquidos produzidos
nestes pontos apresentam uma elevada carga destas
substâncias. Neste contexto, salões de beleza agem como um
ambiente de elevada pressão seletiva à vida microbiana,
podendo resultar na ocorrência de microrganismos resistentes
a diferentes moléculas com ação biocida. Sete enterobactérias
e seis bacilos Gam-negativos não fermentadores (BGNNF)
foram obtidos dos ralos de lavatórios empregados nos
procedimentos estéticos de três salões de beleza de João
Pessoa, Brasil. Os isolados foram submetidos à identificação
bioquímica e testes de susceptibilidade a 10 antibióticos e 4
conservantes mais comuns em formulações cosméticas.
Burkholderia cepacia foi a espécie mais frequente (30.8%),
seguido por Escherichia coli (15.4%) e Hafnia alveii (15.4%). A

505
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
maior taxa de resistência das enterobactérias foi contra
antibióticos betalactâmicos, particularmente cefalosporinas
(100.0%), enquanto os BGNNF à sulfonamida (83.3%).
Quando expostos à diferentes concentrações de triclosan,
imidazlidinil ureia e parabenos, a maioria resistiu à última
classe (77.0%), todavia não houve correlação entre o padrão
de resistência aos conservantes com a resistência aos
antibióticos.
Palavras-chave: Resistência bacteriana. Enterobactérias.
Bacilos não fermentadores.

1 INTRODUÇÃO

Os ralos e tubulações de pias compreendem ambientes


dotados de superfície úmida, com fluxo de água constante e
disponibilidade de matéria orgânica, o que favorece a adesão
e o estabelecimento de biofilmes. Os biofilmes constituem a
forma preferencial de vida microbiana, pela qual duas ou mais
espécies coexistem em estreita associação, garantindo a
estabilidade dos organismos envolvidos, por meio de relações
ecológicas complexas (Martins e Locke, 2015, McBAIN et al.,
2003, Gilbert et al., 2002).
Os efluentes líquidos resultantes das atividades
desempenhadas em salões de beleza contêm uma miríade de
substâncias, de origem natural ou sintética, proveniente das
formulações dos produtos cosméticos manipulados nestes
estabelecimentos. Em meio aquoso, muitos destes compostos
representam risco à saúde humana e ambiental por meio da
exposição aos níveis traço, de certas substâncias tóxicas,
associadas a um longo histórico de contaminação. Assim, os
salões de beleza podem ser inseridos como uma das fontes
primárias de poluição, no contexto dos contaminantes

506
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
emergentes (DORIVAL-GARCÍA et al., 2013; MARCOUX et
al., 2013; JARDIM et al., 2012).
Neste contexto, diferentes contaminantes presentes nos
efluentes líquidos de salões de beleza podem exercer
pressões seletivas sobre os microrganismos, favorecendo
eventos associados à evolução fisiológica, por meio da
indução de mutação e possível troca de material genético.
Além disso, as condições de estresse ambiental podem
influenciar no tamanho e na estabilidade microbiana,
contribuindo para a criação de um meio propício para a
ocorrência de organismos multirresistentes (VASCONCELOS;
LIMA e CALAZANS, 2010).
Os cosméticos são delineados de modo que sejam
preservados para o consumo dentro de até 36 meses e por
esta razão, determinados constituintes em suas formulações
possuem uma natureza persistente, em especial, os agentes
de preservação, tais como diariléteres, parabenos e
hidantoínas. Além disso, os cosméticos por serem produtos
para uso externo, todos seus compostos são descartados em
ralos sem metabolização prévia, podendo atingir corpos de
água e interagir negativamente na cadeia trófica, provocando
fenômenos que envolvem biomagnificação ou alterações
importantes na microbiota (LIN et al., 2010; BILA e DEZZOTI,
2006).
Partindo desta premissa, os salões de beleza
configuram um cenário atraente para uma exploração
científica em termos de contaminação ambiental, uma vez que
a literatura contextualiza estes estabelecimentos com temas
focados com a saúde humana (RAYMER et al., 2009;
MOUNIER-GEYSSANT et al., 2006; ATEI et al., 2013).

507
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
O objetivo deste trabalho foi isolar, identificar e testar a
susceptibilidade a antibióticos e às classes de conservantes
mais empregadas em cosméticos, bacilos Gram-negativos
provenientes dos ralos de lavatórios com cubas móveis e/ou
das pias e tanques fixos, utilizados nos procedimentos de
manipulação de produtos para tratamentos de cabelo, tais
como, xampus, tintas, removedores ou descolorantes, em
salões de beleza localizados na Região Metropolitana de João
Pessoa, Brasil.

2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1. Salões de beleza e coleta das amostras

O estudo foi realizado mediante autorização dos


proprietários de três estabelecimentos localizados nas cidades
de João Pessoa e Cabedelo, Brasil. Em cada salão de beleza
foram delimitados três pontos de coleta. As amostras foram
tomadas do interior ou das bordas dos ralos, com auxílio de
um swab esterilizado de 14 cm (Absorve, Cotia, Brasil),
posteriormente transferido para tubos de ensaio contendo
caldo nutriente, adicionado de nistatina 50 mg/L (Sigma-
Aldrich, USA), seguido de incubação à 37°C, por 24-48h até
verificação da turvação do meio por meio de inspeção visual.
As coletas ocorreram no início do verão, cuja média das
temperaturas registradas foi de 28,9±1,3°C (INMET, 2015).

508
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
2.2. Isolamento e identificação das bactérias

As linhagens foram obtidas empregando as técnicas de


isolamento para enterobactérias e Gram-negativos não
fermentadores – BGNNF (APHA, AWWA e WEF, 2012). Os
isolados foram submetidas à análise morfológica e de
coloração. A identificação foi realizada como descrito por
Vieira et al. (2011), utilizado os kits Bactray® I e II para
enterobactérias e III para BGNNF (Laborclin, Pinhais, Brasil).

2.3. Antibiograma

Alguns antibióticos empregados no esquema empírico


de terapia para ambos os grupos foram testados: nove contra
enterobacterias: amoxicillina, cefalexina, cefalotina,
ciprofloxacina, gentamicina, imipenem, meropenem,
norfloxacina e sulfonamida. Outros sete antibióticos foram
testados contra BGNNF: ciprofloxacina, gentamicina,
imipenem, meropenem, norfloxacina, polimixina B e
sulfonamida (Laborclin, Pinhais, Brasil). Os halos de inibição
quando formados, foram medidos em milímetros e
comparados à tabela padrão para identificação das linhagens
sensíveis ou resistentes (NCCLS, 2003). O teste foi realizado
em duplicata.

2.4. Teste de susceptibilidade aos conservantes

Discos de papel de filtro quantitativo foram cortados,


esterilizados e sob condições assépticas embebidos em
soluções de conservantes, cujas concentrações foram
baseadas na faixa individual de cada substância autorizada

509
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
para uso, de acordo com legislação vigente, em cosméticos no
Brasil (ANVISA, 2012): triclosan, (3;0 e 0.3%), metilparabeno
(0.8 e 0.4%), propilparabeno (0.8 e 0.4%), associação de
metilparabeno e propilparabeno (0.8%) e imidazolinidil ureia
(1.0 e 0.6%).
Os discos foram distribuídos na superfície das placas
contendo agar Müeller-Hinton (Acumedia, Indaiatuba, Brasil) e
as linhagens teste aplicadas em tapete. Após 18h de
incubação à 37°C, os diâmetros dos halos de inibição, quando
formados, foram medidos, em milímetros e a atividade
antagônica classificada em forte quando o raio (r) > 20mm,
moderado, se 10 < r < 20 mm e fraca, se (r) < 10 mm.
O teste foi realizado em duplicata. Todos os ensaios
descritos nos itens 2.2 a 2.4 foram realizados no Laboratório
de Microbiologia Ambiental (LAMA) do Centro de
Biotecnologia da UFPB.

2.5. Tratamento de dados e análise estatística

Para obter o índice da resistência de um organismo aos


antibióticos, foi somado o número de vezes que esta resposta
ocorreu, dividido pelo número total de antibióticos testados. O
índice de resistência aos conservantes foi calculado da
mesma maneira. A correlação entre estes dois índices foi
determinada pelo teste de Pearson, e considerada significativa
se p < 0.05, utilizando o programa IBM® SPSS® Statistics
versão 21.

510
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3. 1 Isolamento e identificação das bactérias

Foram obtidas 13 linhagens de bacilos Gram-negativos


a partir dos 9 pontos de coleta nos salões de beleza,
sumarizadas na Tab. (1). Desse total, cinco diferentes
espécies foram identificadas entre os sete isolados de
enterobactérias, sendo Hafnia alveii e Escherichia coli as
únicas recuperadas de dois pontos distintos de coleta. Por
outro lado, dois importantes gêneros de BGNNF foram
identificados, Burkholderia e Pseudomonas, sendo
Burkholderia cepacia a espécie mais frequente (66.7%).
Todos os isolados são membros da classe
Gammaproteobacteria, considerados patógenos oportunistas,
por vezes metabolicamente versáteis, vantagem pela qual, se
sobressaem às pressões seletivas exercidas pelo ambiente.

Tabela 1. Linhagens Gram-negativas isoladas nos salões de


beleza
Grupo microbiano e local de coleta Linhagens
Enterobacteriacea
D1: BS3 Hafnia alveii AV01
D3:BS1 Escherichia coli AV02
D1:BS3 Serratia liquefasciens AV11
D3:BS3 Escherchia coli AV12
D2:BS2 Citrobacter freundii AV13
D3:BS1 Enterobacter aerogenes AV14
D2:BS3 Hafnia alveii AV15
Gram-negativos não fermentadores

511
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
D1:BS1 Burkholderia cepacia AV05
D2:BS1 Burkholderia cepacia AV06
D3:BS1 Pseudomonas sp. AV07
D2:BS2 Pseudomonas aeruginosa AV08
D2:BS3 Burkholderia cepacia AV09
D3:BS3 Burkholderia cepacia AV10
D – número da pia; BS – identificação do salão de beleza

3. 2 Antibiograma

O resultado dos antibiogramas dos dois grupos


isolados, bem como a frequência relacionada à resistência aos
antibióticos testados, estão apresentados na Tab. (2). Todas
as enterobactérias exibiram resistência pelo menos a três
antibióticos, e foram sensíveis apenas à gentamicina. Cerca
de 43% das linhagens foram resistentes à sulfonamida, 28,6%
às quinolonas e 100% aos antibióticos betalactâmicos de
primeira e segunda geração. Apenas H. alveii AV01 foi
sensível à amoxicilina. Com relação às carbepenemas, cerca
de 57% das linhagens exibiu resistência ao meropenem e
destas, 28,6% a ele e ao imipenem. Estes achados sugerem a
ocorrência de resistência cruzada, relacionada principalmente
aos mecanismos de efluxo.

Tabela 2. Número e frequência (%) da resistência dos bacilos


Gram-negativos a antimicrobianos em pelo menos duas
ocasiões
Enterobacteriacea Não fermentadores
Antibiótico
n % n %
AMO 6 85,7 --- ---

512
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
CFX 7 100,0 --- ---
CFL 7 100,0 --- ---
CIP 1 14,3 1 16,7
NOR 2 28,6 0 0,0
IMP 2 28,6 2 33,3
MER 4 57,1 1 16,7
GEN 0 0,0 1 16,7
SUL 3 42,9 5 83,3
POL --- --- 2 33,3
AMO – amoxicilina, CFX – cefalexina, CFL – cefalotina, CIP–ciprofloxacino,
NOR–norfloxacino, IMP–imipenem, MER–meropenem, GEN–gentamicina,
SUL–sulfonamida e POL–polimixina B.

Com respeito aos BGNNF, o padrão de resistência


exibido foi bastante diferente ao observado com as
enterobactérias. Aproximadamente 50% do total foram
resistentes às carbepenemas e 16.7% às quinolonas e à
gentamicina. Três linhagens de B. cepacia exibiram resistência
a um único antibiótico (AV05, AV06 e AV09) e nesta espécie
(linhagem AV10) foi observada a maior frequência de
resistência, aproximadamente 60%. Os isolados de
Pseudomonas sp. exibiram resistência a duas (AV07) ou três
drogas (AV08), entretanto, a sulfonamida foi o antibiótico com
maior número de linhagens resistentes.
As sulfas foram as primeiras drogas com efeito
bactericida empregados na clínica e agem seletivamente
sobre a enzima bacteriana di-hidropteroato sintetase (DHPS),
responsável pelo mecanismo de condensação do ácido para-
aminobenzoico (PABA) e do 7,8-di-hidro-6-hidroximetilpterina-
pirofosfato (DHPPP) em ácido di-hidropteróico, penúltimo
passo da formação de ácido di-hidrofólico, um importante fator

513
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
de crescimento microbiano. A resistência ocorre por
transferência horizontal do gene exógeno folP ou partes dele,
bem como via plasmídios cujos genes codificam variantes da
enzima DHPS (SKÖLD, 2000).
Foram observadas colônias na área do halo de inibição
com bordas claramente definidas, nos antibiogramas dos
todos os BGNNF em pelo menos dois (B. cepacia AV06 e
AV10) e até seis dos antibióticos (B. cepacia AV09).
Confirmada a pureza da cultura, este resultado pode estar
relacionado à motilidade das bactérias testadas ou à difusão
lenta do antibiótico por sobre o agar, entretanto, dado o local
de isolamento, a hipótese sobre a pressão seletiva exercida
pelos constituintes dos cosméticos sobre a microbiota deve
ser considerada.
Alguns agentes de preservação, metais pesados e
compostos tensoativos presentes nas formulações da maioria
dos cosméticos manipulados em salões de beleza podem ser
responsáveis pelo estabelecimento de um ambiente, no qual a
microbiota passa a exibir uma alta frequência de mutações,
caracterizando o surgimento de linhagens denominadas por
hipermutáveis, claramente identificadas quando
subpopulações de mutantes dentro das zonas de inibição são
observados em três ou mais antibióticos. Corroborando com
as informações reportadas na literatura, este fenômeno já foi
descrito em espécies dos gêneros Burkholderia e
Pseudomonas (POPE et al., 2010; MACIÁ et al., 2004).

3.3 Teste de contato entre as linhagens e os conservantes

As 13 linhagens foram expostas a diferentes


concentrações de quatro conservantes e os resultados estão

514
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
apresentados na Tab. (3). As enterobactérias exibiram maior
resistência quando comparadas aos obtidos com os BGNNF.
Duas linhagens sobreviveram quando em contato com todas
as concentrações testadas, E. coli AV12 e H. alveii AV15,
seguidas por S. liquefasciens AV11 e C. freundii AV13, cujas
frequências de resistência foram respectivamente, 88.9 e
66.7%. A linhagem mais sensível foi H. alveii AV01.
Já o grupo dos BGNNF demonstrou um perfil de maior
susceptibilidade. Dentre os isolados, P. aeruginosa AV08 foi a
mais resistente, ao passo que todas as condições testadas
exibiram um efeito biocida B. cepacia AV05.
Embora as linhagens tenham exibido resistência à
diversas substâncias, não foi observada correlação entre os
resultados dos testes com os conservantes e aos antibióticos
para ambos os grupos: enterobactérias (correlação = -44.9% e
p = 0.312) e BGNNF (correlação = - 10.9% e p = 0.837).

Tabela 3. Susceptibilidade dos BGNNF aos conservantes em


pelo menos duas repetições
Conservantes
Linhagens
T1 T2 M1 M2 P1 P2 Pa I1 I2

Enterobacteriacea
Hafnia alveii AV01 S S R S S S S S S

Escherichia coli AV02 S S S S R R R R S

Serratia liquefasciens AV11 R R R R R R S R R

Escherichia coli AV12 R R R R R R R R R

Citrobacter freundii AV13 S R R R R R R S S

Enterobacter aerogenes AV14 S R R S S S S S R

Hafnia alveii AV15 R R R R R R R R R

515
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
Não fermentadores
Bukholderia cepacia AV05 S S S S S S S S S

Burholderia cepacia AV06 S S S R R R R S S

Pseudomonas aeruginosa AV07 S S R R S R S S S

Pseudomonas aeruginosa AV08 S S R S R R R R R

Burkholderia cepacia AV09 S R R S R S R S S

Burkholderia cepacia AV10 S S S R S S S S S

Concentrações (%): triclosan: T1= 3,0 e T2= 0,3; metilparabeno: M1= 0,8 e
M2= 0,4; propilparabeno: P1= 0,8 e P2= 0,4; metilparabeno + propilparabeno:
Pa= 0,8; imidazolidinil ureia: I1= 1,0 e I2= 0,6
S – sensível; R - resistente

Nenhuma correlação já foi descrita em estudos


anteriores (SHAQRA et al., 2014; OSUNGUNNA et al., 2010;
FLORES et al., 1997), atribuindo isto ao fato das classes de
conservantes diferenciarem no padrão de resistência cruzada
quando comparadas a outros agentes antimicrobianos, tais
como antissépticos e degermantes, possivelmente em razão
das baixas concentrações dessas substâncias empregadas
nas formulações.
O perfil de resistência de um microrganismo tem
relação ao ambiente e às pressões seletivas exercidas onde
está inserido. O efluente líquido gerado pelos procedimentos
estéticos realizados nos lavatórios dos salões de beleza é
composto por diversas substâncias desconhecidas, presentes
nas formulações de cosméticos, em diferentes concentrações.
Quando este efluente entra em contato com a microbiota
residente nos ralos, o estresse químico promovido pode
resultar no aumento da frequência de mutação ou da
transmissão de resistência via plasmídios, garantindo a
estabilidade das espécies que coexistem no interior do

516
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
biofilme (COSTERTON e WILSON, 2004; McBAIN et al.,
2003).
Foram testadas duas concentrações de triclosan, 3,0 e
0,3%, sendo a última o limite máximo permitido em cosméticos
de acordo com a regulamentação brasileira (ANVISA, 2012).
Aproximadamente 72% das enterobactérias e 17% dos
BGNNF exibiram resistência ao composto. Um BGNNF (B.
cepacia AV09) e cinco enterobactérias resistiram à
concentração de 0,3% e dentre as enterobactérias, três (S.
liquefasciens AV11, E. coli AV12 e H. alveii AV15)
permaneceram assim na presença de uma concentração dez
vezes superior. O triclosan é largamente empregado na
indústria cosmética e farmacêutica, apresentando espectro de
ação contra bactérias e fungos por inibir a síntese de ácidos
graxos (HEATH et al., 1999).
Existe uma crescente preocupação sobre a resistência
microbiana ao triclosan, pela qual, diversos patógenos podem
assumir características de multirresistência a antibióticos e
degermantes, especialmente as bactérias entéricas
(YAZDANKHAN et al., 2006). Neste contexto, as linhagens S.
liquefasciens AV11, E. coli AV12 e H. alveii AV15 podem
ilustrar esta afirmação, uma vez que demonstraram resistência
a todos os conservantes testados. Todavia, cabe ressaltar que
este composto no ambiente não aumenta a frequência de
mutação das enterobactérias, porém seleciona as linhagens
com menor susceptibilidade a antimicrobianos (BIROŠOVÁ e
MIKULÁŠOVÁ, 2009).
Com exceção de H. alveii AV01, B. cepacia AV05 e E.
aerogenes AV14, todas as linhagens exibiram resistência pelo
menos a um tipo de parabeno testado. A associação de metil e
propilparabeno tornou os isolados de ambos os grupos mais

517
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
susceptíveis, enquanto que na presença do metilparabeno
isoladamente, 85,7 e 83,3% das enterobactérias e BGNNF,
respectivamente, exibiram resistência. Este resultado foi
contrário ao observado por XAVIER (2015), quando esta
substância apresentou um efeito biocida contra dois isolados
de B. cepacia e P. aeruginosa nas concentrações variando
entre 3.00 e 0.19%.
Por outro lado, frente ao propilparabeno, observou-se
uma diferença maior que 10% no número de linhagens
resistentes para ambos os grupos: enterobactérias (71,4%) e
BGNNF (80,0%), resultados semelhantes aos obtidos
anteriormente (XAVIER, 2015). A concentração
regulamentada para os parabenos nas formulações de
cosméticos estabelece um limite máximo de 0,4% quando
empregado individualmente e de 0,8% quando associado dois
ou mais representantes da classe. Os parabenos
possivelmente atuam no bloqueio de transporte de elétrons e
nos sistema de transporte de membrana, sendo mais
eficientes contra fungos e bactérias Gram-positivas. Em
contrapartida, bacilos Gram-negativos tendem a ser mais
resistentes à classe por exibem mecanismos de resistência
intrínseca. Em meio aquoso, a resistência aos parabenos pode
ser desenvolvida em razão da exposição contínua a níveis
subinibitórios ou crônicos, e esta resistência é transmitida para
outras bactérias patogênicas presentes no meio (PÉRIMÉ et
al., 2015; SELVARAJ et al., 2013).
No teste de contato com a imidazolidinil ureia, 71,4%
das enterobactérias exibiram um perfil de resistência
significativamente mais pronunciado que BGNNF, cuja
resposta foi 16,1%. Estudando a resistência microbiana ao
composto, Bowman e Lindstrom (1985) afirmaram que

518
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
espécies de Pseudomonas costumam ser mais resistentes
que outros bacilos. Esta observação foi confirmada no
presente estudo ao comparar os resultados alcançados entre
as linhagens de P. aeruginosa com B. cepacia.
O efeito biocida da imidazolinidil ureia é conseguido
utilizando concentrações superiores a 0,5%, no entanto, o
limite máximo permitido no Brasil é de 0,6%. A molécula
pertence à classe das hidantoínas, cujo mecanismo de ação
se dá pela alcalinização do grupamento amino e sulfidrila de
proteínas e do anel de nitrogênio das bases purínicas
microbianas, e representa uma nova geração de conservantes
de cosméticos. Por ser bem tolerado, o composto é destinado
às preparações cujo contato com a pele, área dos olhos e
mucosas seja prolongado (NOUREDDINE et al., 2013).
Quando micro-organismos exibem resistência à substância,
geralmente está relacionado a um contato prévio com
formulações cujo agente de preservação empregado foi algum
doador de formol, pois a hipótese mais aceita envolve
resistência cruzada entre substâncias desta família. Acredita-
se ainda que os micro-organismos resistentes metabolizam ou
inativam quimicamente o composto (SHAQRA; AL-MOMANI;
AL-GROOM, 2014).
Os conservantes são usualmente empregados nas
formulações cosméticas visando equacionar questões
relacionadas à contaminação secundária, isto é, quando
organismos, em particular bactérias, inadvertidamente têm
acesso ao produto durante a manipulação do consumidor
(SHAQRA; AL-MOMANI; AL-GROOM, 2014). Entende-se por
conservante qualquer substância que mantenha a integridade
de um produto ao se opor às esperadas alterações de
natureza química (antioxidantes) e/ou microbiológica

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BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
(antissépticos). Os conservantes antissépticos agem como
biocidas ou promovem estase, protegendo as formulações de
contaminações primárias e secundárias, basicamente por dois
mecanismos: alteração dos sistemas enzimáticos e
desnaturação das proteínas e ácidos nucléicos (PEYREFITTE;
MARTINI e CHIVOT, 1998).
Atualmente no Brasil estão permitidas 57 substâncias
com propriedades antissépticas em cosméticos e correlatos,
sendo os mais empregados: triclosan; parabenos, presentes
em mais de 85% dos insumos; e hidantoínas, popularizadas
como agentes doadores de formol, isto é, ésteres conectados
ao formaldeído, delineados para liberação gradativa em meio
aquoso, empregados em 15% das formulações
(COSMÉTICOS & PERFUMES, 2008).
O uso preferencial destes compostos ocorre em função
das vantagens frente outros adjuvantes de mesma função:
baixo custo, amplo espectro de atividade antimicrobiana,
estabilidade térmica e das variações de pH. Tradicionalmente
estas moléculas são consideradas de baixa toxicidade,
embora exista o risco pelo contato direto com pele, mucosas e
conjuntiva, assim como pela boa absorção quando ingeridas.
Além disso, muito se considera em termos do envolvimento
destas substâncias nos fenômenos de desregulação
endócrina, quando mimetizam hormônios e se ligam aos
receptores em tecidos específicos, resultando no bloqueio dos
sinais normais das células e, por conseguinte, alterando o
metabolismo, a síntese e a distribuição dos hormônios. Em
animais já foram observados a diminuição da eclosão de ovos,
feminilização de machos e alterações no sistema imunológico,
dentre outros. Visto isto, muitos países em suas legislações
sanitárias, incluindo o Brasil, limitam a concentração máxima

520
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
destes compostos, bem abaixo de 1% (BOCCA et al., 2014;
BILA e DEZZOTI, 2006).
Neste contexto, este trabalho se propôs alertar para o
fato de que o estresse químico presente no ambiente de
salões de beleza pode influenciar na estabilidade microbiana,
contribuindo para o estabelecimento e ocorrência de uma
microbiota multirresistente a antibióticos e a agentes de
preservação de insumos cosméticos, por conseguinte,
representando risco à saúde humana e ambiental.
A realização deste trabalho ocorreu pelo financiamento
do CNPq e da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da
UFPB, assim como pelo consentimento dos proprietários dos
salões de beleza do uso de seus estabelecimentos.

4 CONCLUSÕES

Foram isolados bacilos entéricos e BGNNF dos ralos


das pias e cubas dos lavatórios de salões de beleza. O
primeiro grupo se destacou por exibir um perfil maior de
resistência aos antibióticos e aos agentes de preservação de
cosméticos do que o segundo. As enterobactérias
demonstraram um padrão de resistência cruzada a antibióticos
betalactâmicos, no entanto este padrão não foi similar frente
aos conservantes, embora a maior resistência tenha sido
demonstrada frente os parabenos. O fato de microrganismos
com estas características terem sido isolados de
estabelecimentos de estética trás à luz uma discussão e
reflexão a respeito de como estes locais podem servir de
fontes de poluição, como também sobre o risco que tais
organismos representam para a saúde humana e do ambiente.

521
BACILOS GRAM-NEGATIVOS ISOLADOS DE SALÕES DE BELEZA
APRESENTAM RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS E CONSERVANTES
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524
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
CAPÍTULO 27

EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera


SOBRE ESPÉCIES DE Candida
Marcela Lins Cavalcanti de PONTES1
Maria Regina MACEDO-COSTA2
Thiago Franco de Oliveira CARNEIRO3
Inácio Ricardo Alves VASCONCELOS4
Hilzeth de Luna Freire PESSÔA5
1
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos,
CCS/UFPB; 2Professora do Departamento de Odontologia, DO/UFRN; 3Especialista em
Microbiologia Clínica e Farmácia Oncológica; 4Farmacêutico Bioquímico do Laboratório de
Análises Clínicas, HULW/UFPB; 5Orientadora/Professora do Departamento de Biologia
Molecular, DBM/UFPB.
marcelalinspontes@gmail.com

RESUMO: A própolis é um produto natural resinoso que


apresenta composição química complexa, com atividade
antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória e antifúngica. A
candidíase possui inúmeras manifestações clínicas, tornando
esta patologia bastante prevalente na sociedade. Entretanto,
seu tratamento não tem sido eficiente devido à reduzida
quantidade de agentes antimicóticos disponíveis, à elevada
toxicidade e ao crescente aumento de resistência fúngica. O
objetivo do presente trabalho foi avaliar a ação antifúngica do
extrato aquoso da própolis de Apis mellifera por meio da
determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) sobre
Candida albicans, Candida tropicallis, Candida krusei e
Candida guilliermondii. A ação antifúngica foi determinada por
difusão em meio Agar Sabouraud Dextrose através da técnica
de difusão em meio sólido utilizando placas de Petri. O extrato
aquoso de própolis (100; 50; 25; 12,5 e 6,2 µg/mL) foi
adicionado à poços de 4 mm de diâmetro e as placas foram
incubadas a 36 ºC por 48h. A CIM foi determinada pela
mensuração dos halos de inibição, sendo significantes quando
≥ 10 mm de diâmetro. A CIM da própolis sobre C. krusei e C.
525
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
tropicallis foi de 100 µg/mL e sobre C. guilliermondii foi de 12,5
µg/mL. Não foi possível determinar a CIM para C. albicans. A
própolis de Apis mellifera apresentou forte ação antifúngica
sobre C. krusei, C. tropicallis e C. guilliermondii, constituindo
um promissor antifúngico.
Palavras-chave:Própolis. Candida spp. Antifúngico.

1 INTRODUÇÃO

Apesar da vasta utilização de produtos sintéticos para o


tratamento de doenças, os produtos naturais continuam sendo
uma fonte rica para a descoberta de novos medicamentos
(MACIEL et al., 2007).
O uso indiscriminado e prolongado de antimicrobianos
nos últimos anos levou à seleção de microrganismos
resistentes a esses compostos, tornando o uso de produtos de
origem natural uma importante alternativa no combate às mais
diversas patologias (OLIVEIRA et al., 2015).
Dentre as mais variadas infecções oportunistas tratadas
com antimicrobianos, a candidíase se destaca por possuir
inúmeras formas de manifestações clínicas, tornando esta
patologia bastante prevalente na sociedade. É assim
conhecida por ser ocasionada por fungos do gênero Candida
(ANDREOLA et al., 2016).
As espécies de Candida adaptam-se em diferentes
ambientes, podendo ser encontradas em vários ecossistemas,
tais como; solo, alimentos, água, fazendo parte da microbiota
de animais e humanos. Esses micro-organismos degradam
proteínas e carboidratos para obter carbono e nitrogênio,
elementos essenciais para o seu desenvolvimento (GIOLO;
SVIDZINSKI, 2010).
O gênero Candida está classificado taxonomicamente
no Reino Fungi, divisão Eumycota, subdivisão
Deuteromycotina, classe Blastomycetes, ordem
Criptococcales, família Cryptococcaceae (SIDRIM; ROCHA,
2012). Este gênero possui cerca de 200 espécies, entretanto
526
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
apenas aproximadamente 35% são capazes de se
desenvolver na temperatura do corpo humano, 37 ºC (SILVA
et al., 2012).
Os fungos do gênero Candida podem ser encontrados
na forma de leveduras e hifas (FARAH et al., 2000). Na forma
de leveduras apresentam-se como organismos eucarióticos,
unicelulares, com morfologia variando entre ovóide, redonda,
cilíndrica, alongada e apiculada, medindo aproximadamente 2
a 8μm de largura por 3 a 14 μm de comprimento. Hifas são
filamentos lineares contendo múltiplas unidades celulares
divididas por septos. São microrganismos Gram positivos,
cultivados em aerobiose, mas podendo crescer em
anaerobiose São cultivadas em agar Sabouraud dextrose,
apresentando-se como colônias brancas ou branco-
amareladas, com diâmetro entre 4 e 8 mm, úmidas, cremosas
e com odor característico (MEYER, 1987).
As leveduras do gênero Candida habitam de forma
comensal a cavidade bucal e os tratos gastrointestinal e
genitourinário no momento de uma disfunção da microbiota
e/ou enfraquecimento imunológico, apresentando-se como
oportunistas, causando micoses superficiais ou sistêmicas
(BERMAN, 2012).
C. albicans é citada como a espécie de maior
patogenicidade em alterações sistêmicas. Seus mecanismos
de patogenicidade não estão completamente esclarecidos,
pois dependem do tipo e local de infecção, estágio de invasão
e resposta do hospedeiro. No entanto, observa-se o aumento
no número de espécies não-albicans que podem causar
candidíase, a exemplo da Candida tropicalis, Candida krusei,
Candida parapsilosis, Candida dubliniensis, Candida
lusitaneae, Candida viswanathii, Candida famata, Candida
kefyr, Candida glabrata e Candida guilliermondii (MENEZES
et al., 2015).
A importância clínica existe não apenas para casos de
infecções em pacientes pediátricos, mas também para

527
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
infecções oportunistas em pacientes adultos internados em
unidades de terapia intensiva (CERVERA, 2012).
A candidíase pode se manifestar clinicamente de forma
sistêmica, mucocutânea e cutânea. A forma sistêmica ou
candidemia atinge principalmente pacientes que fazem uso de
drogas imunossupressoras e de procedimentos invasivos
(AIKAWA et al., 2016). A forma mucocutânea atinge
principalmente a cavidade vaginal e oral (PEIXOTO et al.,
2014). A forma cutânea atinge regiões do corpo que tenham
umidade, pH e temperatura favoráveis, como regiões
interdigitais das mãos, unhas, regiões das mamas, axilas e
virilha (BARBEDO et al., 2013).
A candidemia tem sido a infecção fúngica invasiva mais
extensamente estudada, uma vez que se tornou um problema
persistente em inúmeros hospitais, tanto em países
desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento
(GIOLO; SVIDZINSKI, 2010). Essa patologia é de grande
importância devido à sua alta taxa de mortalidade (31,5 –
50%) e elevados custos hospitalares para o seu controle
(PATEL et al., 2005).
Mais de 70% das infecções fúngicas invasivas em
pacientes hospitalizados são candidemia devido a Candida
spp. (HORN et al., 2007). A candidemia representa a quarta
causa mais frequente de infecção da corrente sanguínea
(COLOMBO et al., 2006) e tem alta incidência no Brasil com
2,49 casos por 1000 internações, o que corresponde a uma
taxa 2 – 5 vezes maior do que a taxa de vários países do
hemisfério norte como: França, Estados Unidos, Noruega e
Suiça (NAKAMURA; CALDEIRA E AVILA, 2013).
Nos últimos anos, as espécies de Candida não-albicans
também têm sido importantes na etiologia das infecções
fúngicas, devido à resistência aos antifúngicos (RUKAYADI et
al., 2011).
O tratamento da candidíase não tem se mostrado
eficiente devido à reduzida quantidade de agentes
antimicóticos disponíveis para o tratamento sistêmico, à

528
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
elevada toxicidade dos mesmos e ao crescente aumento das
espécies resistentes aos antifúngicos (KHAN et al., 2012).
Como terapia alternativa para o consumo exacerbado
de antimicrobianos, o consumo de medicamentos de origem
natural tem sido alvo de consumidores e pesquisadores nas
últimas décadas. A procura por tratamento com baixo custo,
eficácia e efeitos colaterais minimizados tem sido a motivação
deste crescimento (WAGH, 2013).
Os produtos naturais constituem uma grande reserva de
recursos medicamentosos e seus princípios ativos têm sido
investigados quanto à ação antimicrobiana. Plantas
medicinais, principalmente na América do Sul, constituem a
primeira linha no tratamento de várias doenças infecciosas e
não-infecciosas (OLIVEIRA et al., 2015).
A presença de vários metabólitos na composição dos
produtos naturais lhes conferem propriedades promissoras
para sua utilização no tratamento de determinadas doenças,
podendo ser fonte de agentes terapêuticos, bem como a
solução de alguns problemas enfrentados pela utilização de
antimicrobianos convencionais tais como: biodisponibilidade
ineficiente, toxicidade, interação medicamentosa e resistência
(OLIVEIRA et al., 2015).
Quase todas as civilizações antigas conheciam e
usavam produtos derivados de abelhas como valiosos
recursos em sua medicina. Dentre os produtos apícolas, a
própolis se destaca por ter sido tradicionalmente utilizada
durante séculos (TIVERON et al., 2016).
Os gregos adotaram a própolis como cicratizante
interno e externo. Plínio, historiador romano, refere-se à este
produto como medicamento capaz de reduzir inchaços e
aliviar dores. Na África do Sul, durante a guerra, ao final do
século XIX, a própolis foi amplamente utilizada devido às suas
propriedades cicatrizantes e na segunda guerra mundial foi
empregada em várias clínicas soviéticas. Na antiga União
Soviética, este produto mereceu especial atenção na medicina
humana e veterinária, com aplicações inclusive no tratamento

529
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
da tuberculose, observando-se a regressão dos problemas
pulmonares e recuperação do apetite (PEREIRA, 2002).
Em 1908 surgiu o primeiro trabalho científico sobre suas
propriedades químicas e composição, indexado no Chemical
Abstracts. Em 1968 surgiu no Chemical Abstracts o resumo da
primeira patente utilizando a própolis. Até meados do ano
2000, o número de trabalhos publicados citados no Chemical
Abstracts totalizou 450, oriundos de 39 países dos cinco
continentes, além de 239 patentes (PEREIRA, 2002).
No Brasil, o interesse pela própolis aconteceu em
meados da década de 80 com um estudo pioneiro de Ernesto
Ulrich Breyer, demonstrado em seu livro, “Abelhas e saúde”,
as propriedades terapêuticas da própolis e sua utilização como
antibiótico natural (PEREIRA, 2002).
As abelhas são descendentes das vespas que deixaram
de se alimentar de pequenos insetos e aranhas para consumir
o pólen das flores. Durante esse processo evolutivo, surgiram
várias espécies de abelhas. Hoje se conhecem mais de 20 mil
espécies, mas acredita - se que existam umas 40 mil espécies
ainda não descobertas. O Brasil, devido às suas proporções
continentais e riqueza de ecossistemas, abriga cerca de um
quarto destas espécies. Atualmente a Apis mellifera é a
espécie mais abundante, havendo uma predominância das
características das abelhas européias no sul do país,
enquanto que ao norte do país predominam as características
das abelhas africanas (PEREIRA, 2002).
O termo própolis deriva do grego pro “em frente de, na
entrada de”, e polis, “comunidade ou cidade” (SALATINO et
al., 2005). Trata-se de uma substância resinosa, de aroma
característico, cuja cor varia entre amarelada, esverdeada
clara, vermelha e marrom escuro, dependendo de sua origem
botânica. É coletada pelas abelhas Apis mellifera, em
diferentes locais das plantas, tais como brotos, botões florais e
exsudatos resinosos (MARCUCCI, 1995). Essa resina é
transportada até a colméia, processada e em sua composição

530
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
são adicionadas substâncias secretadas do seu metabolismo
como a cera e enzimas salivares (BÚFALO et al., 2009).
Esta substância é utilizada pelas abelhas como um
material para vedação de frestas e orifícios, impedindo a
entrada de luz e a presença de microrganismos, ao mesmo
tempo em que promove isolamento térmico, diminuindo a
umidade. É utilizada também para forrar os favos, de modo a
permitir a deposição de ovos pela abelha rainha e para
embalsamar pequenos animais mortos (besouros e insetos)
que as abelhas não conseguiram tirar da colméia, evitando
sua putrefação, o que poderia causar-lhes infecções e
doenças (MARCUCCI et al., 1995; SALATINO et al., 2005).
Baseado nas propriedades físico-químicas (cor, textura,
composição química) e devido à diversidade da flora brasileira,
pôde-se classificar as própolis produzidas no Brasil em 12
grupos distintos, de acordo com a composição química e
atividade biológica (PARK et al., 2002).
A própolis apresenta uma composição química bastante
complexa e variada, estando intimamente relacionada com a
ecologia da região onde é coletada (SAMPIETRO et al., 2016).
Em meio à uma variedade de metabólitos, os ácidos
fenólicos e os flavonóides, bem como o ácido cafeico, ácido
benzoico e ácido cinamico se destacam por atribuir à própolis
algumas de suas atividades biológicas principais, quais sejam:
antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória e antifúngica
(NEVES et al., 2016).
Diante do exposto, objetivou-se avaliar a ação
antifúngica do extrato aquoso de própolis de Apis mellifera por
meio da determinação da Concentração Inibitória Mínima
(CIM) sobre linhagens de Candida albicans, Candida
tropicallis, Candida krusei e Candida guilliermondii.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O extrato aquoso de própolis foi preparado a 10% (100


µg/mL) e em seguida foram obtidas quatro concentrações a
531
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
partir de diluições seriadas à metade (50; 25; 12,5; 6,2 µg/mL)
para serem avaliadas.
As cepas de C. albicans (ATCC 76618), C. tropicallis
(ATCC 13803), C. krusei (ATCC 6538) e C. guilliermondii
(ATCC 6260) foram mantidas em Ágar Sabouraud Dextrose –
ASD (Difco®), à temperatura de 4º C, sendo utilizados para o
ensaio repiques de 24 horas em ASD incubados a 36 ºC. No
estudo, utilizou-se inóculo fúngico de, aproximadamente, 10 6
UFC mL-1 padronizado de acordo com a turbidez do tubo 0,5
da escala de McFarland.
A ação antifúngica foi determinada por meio da
metodologia da difusão em meio sólido, que consiste na
medida do halo de inibição formado, onde o microrganismo-
teste é o “visualizador” desta inibição. Em princípio, o
antimicrobiano se difunde através da superfície do meio de
cultura contendo ágar, inibindo ou mesmo matando os
microrganismos presentes na área.
Para tanto, utilizou-se ASD, preparado de acordo com
as instruções do fabricante. Após esterilizado e resfriado a
cerca de 50 °C, foram distribuídos 25 mL do meio de cultura
em placas de Petri medindo 25 x 150 mm esterilizadas. Em
seguida, misturou-se em um tubo 12,5 mL de meio de cultura
ASD esterilizado e resfriado a 50 °C e 2,5 mL de Caldo
Sabouraud Dextrose com o inóculo fúngico já preparado.
Incorporou-se a mistura à placa de Petri previamente
preparada com a primeira camada de ASD.
Após a solidificação do meio de cultura, os poços foram
confeccionados com um dispositivo contendo cilindros
metálicos esterilizados de 4,0 mm de diâmetro. A seguir, os
poços foram completamente preenchidos com 40 μL das
concentrações do extrato aquoso de própolis a serem
testadas. Em seguida foi colocado papel de filtro (Whatman ®,
Inglaterra) esterilizado na tampa de cada placa para reter a
água de condensação. Após um período de pré-incubação de
2 horas à temperatura ambiente, que permite a difusão do
extrato antes do início do desenvolvimento dos

532
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
microrganismos, as placas foram incubadas em aerobiose a
36 °C por 48 horas.
A leitura para determinação da CIM do extrato aquoso
de própolis sobre as cepas de leveduras foi realizada a partir
do método visual, medindo em milímetros com auxílio de
paquímetro digital sendo considerados significantes os halos
de inibição iguais ou superiores a 10 mm de diâmetro
(CASTRO; LIMA, 2011). Foi levada em consideração a
formação ou não de aglomerados de células ("crescimento
visual") no fundo da cavidade da placa. Dessa forma,
considerou-se como CIM a menor concentração do produto
capaz de produzir inibição visível sobre o crescimento das
cepas de leveduras utilizadas nos ensaios microbiológicos
(NCCLS, 2002).
Os testes foram realizados em triplicata e os resultados
foram avaliados a partir da média aritmética dos valores dos
diâmetros dos halos de inibição obtidos nos três ensaios.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da mensuração dos halos de inibição pôde-se


verificar a ação antifúngica do extrato aquoso da própolis de
Apis mellifera. Foi observado efeito inibitório sobre C. krusei e
C. tropicalis apenas com o extrato em sua formulação a 100
µg/mL. Para C. guilliermondii, o extrato da própolis foi efetivo
tanto na concentração a 100 µg/mL como também em
concentrações de 50 µg/mL, 25 µg/mL e 12,5 µg/mL, não
apresentando resultado relevante apenas para a menor
concentração, que foi de 6,2 µg/mL. Já para C. albicans,
nenhuma concentração do extrato aquoso de própolis foi
capaz de inibir o seu crescimento (Tabela 1).
A Concentração Inibitória Mínima (CIM) da própolis de
Apis mellifera sobre C. krusei e C. tropicallis foi de 100 µg/mL

533
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
e sobre C. guilliermondii foi de 12,5 µg/mL. Entretanto, não foi
possível determinar a CIM para C. albicans.
Sartoratto e colaboradores (2004) propuseram uma
classificação do potencial antimicrobiano para produtos
vegetais com base nos resultados da CIM, considerando como
forte poder antimicrobiano os produtos com CIM entre 50 e
500 µg/mL, poder moderado os produtos com CIM entre 600 e
1500 µg/mL e fraco poder antimicrobiano os produtos com
CIM acima de 1600 µg/mL.
Sendo assim, de acordo com esta classificação, a
própolis apresentou forte poder antimicrobiano contra as
cepas de C. krusei, C. tropicallis e C. guilliermondii testadas.

Tabela 1. Concentração Inibitória Mínima (CIM) do extrato


aquoso da própolis de Apis mellifera sobre diferentes espécies
de Candida.
Extrato
aquoso de Candida Candida. Candida Candida
própolis albicans krusei tropicallis guilliermondii
(µg/mL)
100 - + + +
50 - - - +
25 - - - +
12,5 - - - +
6,2 - - - -
Fonte: Pesquisa direta 2017

O tratamento das micoses por Candida spp tem


utilizado de diferentes classes químicas de antifúngicos tais
como: os polienos (anfotericina B), os azóis (fluconazol e

534
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
cetoconazol), as equinocandinas (caspofungina), as alilaminas
(terbinafina) e análogos de pirimidinas (flucitosina)
(BHATTACHARYA; KAUR, 2015).
Apesar das diversas classes terapêuticas disponíveis,
a terapia para infecções por Candida tornou-se um desafio,
pois o tratamento é difícil devido à natureza das células
fúngicas que são similares as células do hospedeiro. Os azóis
são geralmente fungistáticos e seu uso prolongado contribui
para o desenvolvimento de resistência. Os polienos apesar de
apresentarem baixos índices de resistência, são muito tóxicos.
Formulações lipídicas de anfotericina B são menos tóxicas,
mas apresentam um custo muito elevado (CHANDRASEKAR,
2011).
Pfaller e colaboradores (2010) relataram a resistência
intrínseca de C. krusei ao fluconazol e uma susceptibilidade
diminuída tanto à flucitosina quanto à anfotericina B, o que faz
com que ele possa ser considerado como um potencial agente
patogênico multidroga-resistente.
Por outro lado, C. tropicallis tem apresentado crescente
resistência adquirida (TAN et al., 2008).
C. guilliermondii é uma das espécies de Candida que
apresenta resistência aos polienos. Além disso, alguns
isolados de C. guilliermondii frequentemente apresentam
altos valores de CIM para outros antifúngicos como as
equinocandinas e os azóis (PASQUALOTTO; ANTUNES;
SEVERO, 2006).
Com base nessas informações, os resultados
observados neste trabalho assumem grande importância, uma
vez que o extrato aquoso de própolis apresentou forte efeito
antifúngico contra C. krusei, C. tropilcallis e C.
guilliermondii, com uma CIM variando de 12,5 a 100 µg/mL.
As cepas de Candida spp. produzem enzimas
proteolíticas que causam destruição tecidual e este é um dos
motivos da patogenicidade desses micro-organismos frente
aos seres humanos. Outras enzimas como as fosfolipases são
capazes de degradar fosfolipídios, sendo também importantes

535
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
no processo de invasão às células do hospedeiro
(HARTMANN et al., 2016). A própolis age inibindo a atividade
da enzima extracelular fosfolipase, prejudicando a adesão das
células fúngicas às células epiteliais (PACKER; LUZ, 2007).
Além da ação enzimática, os constituintes químicos
presentes na própolis também são os responsáveis por sua
ação antifúngica. Portanto, variações no líquido extrator,
região de produção e época de coleta vão influenciar
diretamente a composição química da própolis e a sua
capacidade de inibição frente às leveduras de Candida spp, o
que pode justificar as divergências dos resultados entre os
estudos (PACKER; LUZ, 2007).
Alguns dos componentes químicos presentes na
própolis e responsáveis por sua ação antifúngica são: ésteres
fenólicos, ácido cafeico e flavonoides (QUINTERO-MORA et
al., 2008), sendo estes últimos os mais relevantes por causar
a ruptura da parede celular dos microorganismos (FREIRES et
al., 2016). Estudos em que esses componentes estiveram em
concentrações mais altas, o extrato de própolis foi capaz de
inibir as cepas de C. albicans (FREIRES et al., 2016).
Herrera e colaboradores (2010) analisaram a atividade
antifúngica de seis compostos de própolis em seu estudo e
demonstraram variação no valor da Concentração Inibitória
Mínima (CIM) de um produto para outro. Além disso, quando
observados os compostos com melhor atividade, perceberam,
após a análise da substância, que essas possuíam alta
concentração de flavonoides, comprovando a relação positiva
da concentração dessa molécula com sua atividade
antifúngica.
O extrato de própolis usado neste estudo não
apresentou atividade inibitória sobre Candida albicans, o que é
corroborado em algumas pesquisas, a exemplo do estudo
usando própolis Apis mellifera australiana, onde foi afirmado
que a falta de inibição do extrato sobre cepas de C. albicans
foi provavelmente causada pela redução da atividade dos

536
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
flavonoides e triterpenóides na própolis (MASSARO et al.,
2015).
Além deste, outros estudos utilizando o extrato e a
tintura de própolis de Apis mellifera não apresentaram efeito
frente a C. albicans. Almeida e colaboradores (2012)
constataram o efeito antifúngico do extrato de própolis sobre
Candida tropicalis (ATCC 13803) e Candida krusei (ATCC
6538). Porém, em uma cepa de Candida albicans (ATCC
76618) este produto não apresentou efeito. Os autores
justificam essa resistência pela presença dos variados fatores
de virulência distintos, já que pode-se variar de uma espécie
para outra ou até mesmo a variação fenotípica entre as
espécies.
Castro e Lima (2011) sugerem que a fraca atividade
antifúngica frente cepas de Candida apresentada pelos óleos
essenciais em seu estudo pode ser explicada pelas
características químicas dos mesmos, como volatilidade,
insolubilidade em água e complexidade, que podem interferir
significativamente nos resultados. Por outro lado, a
hidrofobicidade apresentada pelos óleos essenciais,
responsável pelo provável mecanismo de ação, pode facilitar
sua interação com estruturas celulares que tem constituição
lipídica, promovendo aumento da permeabilidade, provocando
uma saída extensiva de eletrólitos, indispensáveis à
sobrevivência celular.
O líquido extrator da própolis pode influenciar na sua
capacidade de inibição sobre as leveduras, o que foi
comprovado em um estudo que utilizou diferentes líquidos
extratores não-aquosos em cepas de C. guilliermondii, C.
tropicalis e C. albicans isoladas de casos clínicos de
onicomicoses. Os resultados mostraram que estas cepas
foram mais eficientemente inibidas quando expostas à própolis
extraída por etanol (LONGHINI et al., 2007).
Neste estudo, a despeito do líquido extrator utilizado ter
sido a água, foram obtidos resultados satisfatórios para C.
krusei, C. guilliermondii e C. tropicallis.
537
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
Dias e colaboradores (2007) investigaram a ação de
extrato etanólico e do extrato aquoso de própolis frente à C.
albicans, C. tropicalis, C. glabrata, C. parapsilosis, C. krusei e
C. guilliermondii e seus resultados sugerem que extratos
etanólicos de própolis são mais eficientes contra
microrganismos do gênero Candida.
Quintero-Mora e colaboradores (2008) comprovaram que
existe uma grande variação na atividade biológica da própolis
e que essa pode variar de acordo com a região e condições na
qual foi coletada. Os autores testaram oito extratos de própolis
contra 36 cepas clínicas de Candida e uma cepa referência
(ATCC 10231). Quatro desses extratos foram obtidos a partir
de três regiões diferentes do México e os outros quatro
extratos já são comercializados em nível nacional. De acordo
com os resultados dos autores, evidenciou - se diferentes
concentrações de inibição de crescimento fúngico para os
diferentes tipos de própolis coletados.

4 CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos neste estudo, o


extrato aquoso da própolis de Apis mellifera apresentou forte
ação antifúngica sobre cepas padrão de C. krusei, C.
tropicallis e C. guilliermondii. Pode-se concluir que o uso da
própolis na atividade biológica contra estas espécies tem
resultados promissores devido à sua eficácia.
No entanto, tendo em vista a variabilidade de extratos
de própolis existentes, acredita-se que uma padronização
sobre localização geográfica, época de coleta, vegetação,
clima e as formas e solventes utilizados possam contribuir
positivamente no controle de qualidade desse produto,
assegurando melhores resultados agregando benefício clínico
e comercial.
Sugere-se que testes de atividade antifúngica in vitro, in
vivo e ensaios clínicos com própolis sejam realizados em
diferentes concentrações e formulações desse produto,
538
EFEITO DA PRÓPOLIS DE Apis mellifera SOBRE ESPÉCIES DE Candida
utilizando outras linhagens padrão e de origem clínica,
objetivando aumentar as evidências científicas e, assim,
subsidiar novas formas terapêuticas para que a utilização do
produto possa ser validada e realizada de forma segura e
eficaz, proporcionando um cuidado seguro e de qualidade.

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542
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

CAPÍTULO 28

FORMAÇÃO DE BIOFILME POR


LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-
PADRÃO
Ana Paula Santiago ROCHA 1
Franz de Assis Graciano dos SANTOS1
Michellangelo Nunes da SILVA 1
Maria Daniela Silva BUONAFINA 1
Melyna Chaves Leite de ANDRADE 2
1
Pós-graduandos em Biologia de fungos, UFPE; 2Pós-graduanda em Medicina
Tropical, UFPE,
melynaleite@gmail.com

Resumo: As infecções fúngicas invasivas causadas por


leveduras representam causa frequente de óbito,
especialmente em pacientes internados em Unidades de
Terapia Intensiva. Apesar de Candida albicans ser a mais
comum, espécies emergentes de Candida não-C. albicans tem
surgido como importante causa de infecções graves, se
mostrando resistentes aos tratamentos. Dentre as mais
importantes causas desta infecção, destaca-se a formação de
biofilme o qual pode se aderir a tecido vivo e superfície inerte,
conduzindo a importantes repercussões clínicas e resistência
à terapia antifúngica. Assim, o objetivo deste trabalho foi
avaliar leveduras emergentes quanto à formação de biofilme
analisando a resposta a antifúngicos. Foram analisadas 16
leveduras emergentes provenientes de amostras clínicas e
estocadas na Micoteca URM, Universidade Federal de
Pernambuco, Brasil. As culturas foram autenticadas por
MALDI-TOF MS e a avaliação do biofilme foi realizada

543
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

segundo Pfaller et al. 1995. Foram realizados tratamento anti-


biofilme com anfotericina B e fluconazol seguindo o protocolo
do M27-A3 baseado em testes de sensibilidade com células
planctônicas. Todas as leveduras testadas formaram biofilme.
Na sensibilidade antifúngica, houve mudança no perfil entre
células planctônicas e as agregadas, as quais se mostraram
mais resistentes. A formação de biofilmes é uma estratégia
para a sobrevivência e proliferação das células envolvidas, e
sua complexa estrutura permite a organização das populações
de Candida de modo a dificultar a ação de agentes
antimicrobianos.
Palavras-chaves: Biofilme. Leveduras emergentes. MALDI-
TOF. Tratamento anti-biofilme.

1 INTRODUÇÃO

As leveduras são fungos que embora apresentem


predominantemente células individuais, podem ainda formar
hifas. Tais mudanças morfológicas estão relacionadas às
características de virulência e patogenicidade, as quais
parecem ter estratégias distintas de infectividade
(SIMITSOPOULOU et al., 2016). No espectro das leveduras,
espécies de Candida são as mais associadas com infecções,
sobretudo invasivas, as quais tem se tornado crescente nos
últimos anos. Este fato tem sido atribuído ao aumento do
número de pacientes imunocomprometidos, uso de
dispositivos médicos invasivos e o tratamento profilático com
antifúngicos (PAPAS, 2012; HOLLAND et al., 2014).
Adicionalmente, C albicans permanece como a espécie
mais envolvida nos quadros clínicos graves, contudo, espécies
de leveduras emergentes têm surgido como agentes
frequentes de candidemia (ARENDRUP, 2013). Entendem-se

544
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

como emergentes os microrganismos relacionados a


processos infecciosos, de frequência incomum (ANTAS et al.,
2012). Assim, espécies incomuns de Candida não-C. albicans
associadas a infecções tornam-se cada vez mais
diversificadas, a partir do surgimento das espécies
emergentes como C. pelliculosa, C. haemulonii, C.
guilliermondii, C. lusitaniae, C. famata e C. ciferrii, entre
outras, cujas pesquisas incluindo os fatores de virulência ainda
são escassas (SHIN et al., 2012; CANTÓN et al., 2013).
Ademais, nas infecções por Candida devem ser
considerados os fatores predisponentes, relacionados ao
hospedeiro, além do potencial de virulência e patogenicidade
das espécies envolvidas. De acordo com Chow (2008) e
Mayer (2013), a aquisição de uma infecção da corrente
sanguínea por espécies de Candida está associada com
vários fatores de risco tais como, permanência prolongada em
UTIs, uso de antibioticoterapia de amplo espectro,
corticoidoterapia e doenças imunssupressoras. No entanto, o
uso de dispositivos médicos-invasivos como cateter e sondas,
representa o fator de risco mais proeminente para o
desenvolvimento dessa infecção (TUMBARELLO et al., 2007).
Entre as espécies de Candida, os fatores de virulência
variam de forma intrínseca às espécies e, assim, são de
extrema relevância no binômio parasita-hospedeiro para que a
infecção fúngica, no caso em particular a candidíase, se
estabeleça. Desta forma, a detecção de moléculas como
adesinas, diferenciação de hifas, produção de enzimas e
composição de biofilmes são decisivos no processo infeccioso
por estas leveduras (FELDMAN et al., 2014).

545
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

Descrito como importante causa de infecções e


altamente resistentes aos tratamentos, o biofilme pode ser
definido como um conjunto de microrganismos envolvidos
numa matriz polimérica extracelular rica em carboidratos,
proteínas e ácidos nucleicos, aderido tanto a um tecido vivo
como a uma superfície inerte (TOBUDIC et al., 2012). A
formação dessa comunidade microbiana ocorre em um
processo sequencial que, segundo Tobudic et al. (2012) e
Fanning et al. (2012) progride em três fases de
desenvolvimento: fase inicial, fase intermediária e fase de
maturação.
O biofilme por Candida traz importantes repercussões
clínicas, uma vez que vem sendo verificado um aumento da
resistência à terapia antifúngica e a habilidade das células
dentro de biofilmes de resistir às defesas do sistema imune do
hospedeiro (PANNANUSORN et al., 2013). Ademais, o estudo
de terapias antibiofilmes eficazes poderão apoiar a conduta
terapêutica e instituição do antifúngico ideal.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo
avaliar a capacidade de formação de biofilme por leveduras
emergentes e resposta ao tratamento com antifúngicos-
padrão.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Obtenção dos isolados de leveduras estocados na Micoteca


URM (UFPE)

Foram solicitados 15 isolados de leveduras clínicas


emergentes (Candida famata, C. guilliermondii, C. haemulonii,

546
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

C. lusitaniae, C. pelliculosa e C. ciferri) depositados na


Coleção de Culturas Micoteca URM da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). Como controle para os testes, foi
utilizado a cepa ATCC90028 (C. albicans). Os isolados foram
autenticados através da identificação proteômica por meio do
MALDI-TOF MS.

Autenticação proteômica MALDI-TOF

O cultivo e manutenção dos isolados de Candida foram


realizados em meio Dextrose Peptona Extrato de Levedura
(YEPD). Células de Escherichia coli, utilizadas como
calibrante, foram cultivadas e mantidas em meio ágar Luria-
Bertani. Trichophyton rubrum foi cultivado em YEPD e
incorporado nas análises com um controle externo.
Incubações foram padronizadas em 20h e as linhagens se
desenvolveram aerobicamente a 37°C. Fragmento de células
foi diretamente transferido do meio de cultura para os 48 anéis
da placa. Imediatamente, foi adicionado sobre todas as
amostras de leveduras 0,5 µL de ácido fórmico a 25% e
misturado levemente com o material biológico. Após a total
evaporação do meio líquido, foi adicionado 0,5 µL da solução
matrix (75 mg/mL de 2,5-ácido dihidroxibenzóico [DHB] em
etanol/água/acetonitrila [1:1:1] com 0,03% de ácido
trifluoroacético [TFA]) e levemente misturado. Para E. coli a
adição da solução matrix foi realizada sem tratamento prévio
com ácido fórmico.
Todas as amostras foram cristalizadas em temperatura
ambiente (202°C). Cada amostra foi transferida em duplicata
para testar a reprodutibilidade (PUTIGNANI et al., 2010; VEEN

547
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

et al., 2010). Os espectros para determinação do perfil


proteico dos isolados foram obtidos através de um laser de
nitrogênio (337nm), onde a intensidade do laser foi ajustada
ligeiramente acima do limiar para a produção de íons. E. coli
DH5 com conhecidos valores de massa das proteínas
ribossomais, foi usada para calibração.
A variação de massa entre 2.000 a 20.000Da foi
registrado usando modo linear com pulso de 104 ns em uma
voltagem de +20kV. Espectros finais foram gerados através da
soma de 20 tiros de laser acumulados por perfil e 50 perfis
produzidos por amostra, levando a um total de 10.800
disparos de laser somados por espectro. A lista de picos
obtidos foi exportada ao software SARAMIS™ (Spectral
Archiving and Microbial Identification System, AnagnosTec,
Postdam-Golm, Germany, www.anagnostec.eu) onde as
identificações finais foram alcançadas.

Formação de biofilme em superfície de poliestireno

A avaliação da capacidade de formação de biofilme foi


realizada utilizando o método visual descrito por Pfaller et al.
(1995). Os isolados foram semeados em meio Ágar
Sabouraud Dextrose contido em placas de Petri e mantidas a
35ºC por 24 horas. Posteriormente, foi realizada uma
suspensão em salina com concentração final de 10 6 UFC/mL.
Dessa suspensão, 20µl foram inoculados em 180µl de Ágar
Sabouraud Dextrose líquido contido nos poços das
microplacas, mantidas a 35ºC por 24h sem agitação. Em
seguida o conteúdo foi aspirado e os poços lavados com água
destilada e sobre estes, adicionado o corante safranina para

548
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

realização de avaliação de acordo com a intensidade da


coloração.
Interpretação: fraca coloração foram lidos como (1+);
coloração mediana (2+ a 3+) e fortemente corados (4+)
representando aderência fraca, moderada e forte,
respectivamente.

Teste de sensibilidade antifúngica

O método utilizado seguiu as condições descritas no


documento em M27-A3 (CLSI, 2008) e M7-S4 (CLSI, 2012).
Foram utilizados os antifúngicos padrão anfotericina B e
fluconazol nas concentrações de 64 µg.mL-1 e 16 µg.mL-1,
respectivamente. Foi utilizado como controle o isolado de C.
albicans ATCC 90028. O meio de cultura utilizado foi o RPMI
1640 com L-glutamina e sem bicarbonato de sódio, pH 7,0 ±
0,1, com ácido morfolino propano sulfônico (MOPS; 0,165
mol.L-1; Sigma-Aldrich). As leveduras foram mantidas em meio
Sabouraud Ágar e incubadas a 35°C. As suspensões dos
isolados foram preparadas em salina, e a densidade ajustada
de acordo com a escala 0.5 de MacFarland em 90% da
transmitância utilizando um espectrofotômetro a 530 nm. O
volume do inóculo foi ajustado para 5,0 mL de solução salina
esterilizada e, posteriormente, diluído em RPMI 1640 para
uma concentração de 2-5x103 céls/mL. Para os testes de
sensibilidade, foram utilizadas placas de microtitulação de 96
poços. O inóculo foi adicionado aos poços com as drogas a
serem testadas, e as placas foram incubadas a 35°C durante
24 horas. As Concentrações Inibitórias Mínimas (CIMs) foram

549
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

determinadas com inibição 50% ou até 100% em relação ao


poço controle a depender do antifúngico.

Tratamento dos biofilmes com agentes antifúngicos-padrão

O tratamento dos biofilmes foi realizado de acordo com


o protocolo descrito por Prazynska e Gospodarek (2014),
sofrendo algumas modificações. Os isolados
de Candida foram semeados em SDA e incubados a 37ºC por
24 horas. Posteriormente o isolado foi semeado no meio YNB
(Yeast Nitrogen Base) suplementado com 0,25% de glicose e
incubados a 37ºC durante 24h em shaker a 120rpm. As
culturas resultantes foram coletadas e lavadas três vezes com
uma solução salina tamponada com fosfato estéril (PBS, pH
7,0 ± 0,1) e padronizado para 0,5 McFarland em YNB. Os
biofilmes foram formados em microplacas de poliestireno com
fundo chato com 96 poços. Cada poço foi preenchido com
100µL de suspensões de células de leveduras em triplicata e
as placas foram incubadas a 37ºC durante 48h, a fim de obter
biofilmes estádio de maturação. Posteriormente as
suspensões foram descartadas e os poços lavados com PBS
estéril três vezes. Os poços revestidos com biofilme foram
preenchidos com 100µL de diluições em série das drogas
antifúngicas. Os antifúngicos foram diluídos em RPMI 1640.
Poços de biofilme não tratado e livre de biofilmes foram
incluídos para servir como controles positivos e negativos.
Estes poços foram preenchidos com meio RPMI 1640 sem
antifúngico. As placas de microtitulação foram incubadas por
24 horas a 35ºC.

550
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Obtenção e autenticação dos isolados de leveduras estocados


na Micoteca URM

Da Coleção Micoteca URM, foram obtidos 15 isolados


clínicos de leveduras emergentes, os quais todos os isolados
apresentaram-se viáveis e estão representados na Tabela (1).
Segundo Kirsop; Kurtzman (1998), culturas de fungos
estocados representam elementos fundamentais em diversas
pesquisas, tanto de ciência pura quanto aplicada.

Tabela 1: Isolados clínicos de leveduras emergentes


obtidos da Micoteca URM da UFPE
Isolados Clínicos Espécies
URM6554 Candida haemulonii
URM2101 C. lusitaniae
URM1812 C. lusitaniae
URM6345 C. pelliculosa
URM6346 C. pelliculosa
URM6384 C. pelliculosa
63MM C. guilliermondii
39MM C. guilliermondii
825MM C. guilliermondii
129MM C. guilliermondii
123MM C. haemulonii
347MM C. haemulonii

551
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

01MM C. lusitaniae
05MM C. famata
02MM C. ciferri
Fonte: Autor.

Para Smith; Onions (1994), culturas de fungos podem


ser mantidas viáveis durante anos e a estocagem sob óleo
mineral previne a desidratação e diminui a atividade
metabólica e o crescimento devido à baixa disponibilidade de
oxigênio.
A autenticação proteomica por meio da espectrometria
de massa MALDI-TOF MS, confirmou as espécies estocadas
na Coleção de Culturas.
Vários estudos, como os realizados por Iriart et al.
(2010) e Spanu et al. (2012) já demonstraram a confiabilidade
da ferramenta proteômica MALDI-TOFMS na identificação
rápida de leveduras clínicas, evidenciando a sua relação
custo-eficácia.
Carolis et al. (2014), ao utilizar e validar o método de
extração protéica com ácido fórmico, obtiveram 95,6% dos
isolados corretamente identificados ao nível de gênero e
81,1% dos isolados identificados ao nível de espécie,
evidenciando uma identificação de leveduras com rapidez e
precisão.
Em 2014, Lima-Neto e colaboradores, ao requalificar 40
isolados de Candida spp. estocados na coleção de Culturas
Micoteca URM/UFPE obtiveram 15% de discordância quando
comparado com análises morfológicas e bioquímica, sendo os
isolados discordantes analisados por sequenciamento da
região ITS do cDNA da levedura, que confirmou a identificação
552
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

MALDI-TOF MS. Dessa forma, confirmando a confiabilidade


da técnica proteômica MALDI-TOF MS para a identificação de
isolados clínicos de espécies de Candida preservados.

Formação de biofilme em superfície de poliestireno

Todos os isolados de leveduras emergentes mostraram-


se capazes de formar biofilmes com diferentes intensidades,
como demostrado na Figura (1). Os isolados que
apresentaram fraca capacidade de produção de biofilme (1+)
foram as cepas 39MM e 129MM (C. guilliermondii), URM6345
e URM6446 (C. pelicullosa) e o isolado 123MM (C.
haemulonii). Enquanto que, os isolados 63MM (C.
guilliermondii), 347MM (C. haemulonii), 02MM (C. ciferri) e
01MM (C. lusitaniae) apresentaram capacidade moderada de
produção deste fator de virulência (2+ a 3+). Já os isolados
URM1812 e URM2101(C. lusitaniae), 825MM (C.
guilliermondii), URM6284 (C. pelicullosa), URM6554 (C.
haemulonii), 5MM (C. famata) e ATCC90028 C. albicans foram
caracterizados como fortes produtores de biofilme (4+).

Figura 1: Formação de biofilme por leveduras emergentes.

Fonte:
Autor.

553
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

Al-akeel et al. (2013) ao analisar isolados clínicos de


leveduroses vaginais , constataram que leveduras emergentes
como C. famata, C. utilis, C. kefyr e Rhodothorula
mucilaginosa são capazes de formar biofilme. C. pelliculosa
também foi descrita com capacidade para formar essa
comunidade microbiana, como descrito por Pannanusorn et al.
(2013) ao analisar isolados agentes de infecções da corrente
sanguínea.
Oh et al. (2011) detectaram a produção in vitro de
biofilmes por C. haemulonii e C. pseudohaemulonii. A
formação deste fator de virulência reflete a capacidade destas
duas espécies de causar infecções da corrente sanguínea
relacionadas ao cateter.
Apesar de dispositivos médico-invasivos exercer um
papel crítico na patogênese da candidíase invasiva,
proporcionando uma porta de entrada para Candida, bem
como uma superfície externa para a adesão e a formação de
biofilme, em certas situações o seu uso é indispensável (YU et
al., 2013).

Teste de Sensibilidade Antifúngica

A variação dos valores de CIM foi de 0,125 a 8 g/mL


para fluconazol, sendo os isolados, portanto, considerados
sensíveis, exceto os isolados 129MM C. guilliermondii e
63MM C. guilliermondii que mostraram-se dose dependente
com CIM = 16g/mL.
Para a anfotericina B a variação dos valores de CIM foi
de 0,125 a 8g/mL. Alguns dos isolados foram sensíveis para
este fármaco, com exceção dos isolados 129MM C.

554
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

guilliermondii, 123MM C.haemulonii, 347MM C.haemulonii,


URM6554 C.haemulonii, com CIM = 8g/mL e 39MM C.
guilliermondii, URM2101 C. lusitaniae, 01MM C. lusitaniae,
URM1812 C. lusitaniae e 02MM C. ciferri com CIM = 4g/mL.
Há relatos na literatura que isolados de C. haemulonii e
C. lusitaniae são intrinsecamente resistentes a anfotericina B.
De acordo com outros estudos, como cita Ruan et al. (2010) a
maioria dos isolados de C. haemulonii relacionadas a
candidemia são resistentes a anfotericina B e fluconazol.
Almeida Junior et al. (2012) ao descrever o primeiro
caso de C. haemulonii no Brasil, relataram elevadas
concentrações para anfotericina B e flucitosine, com CIM de
4g/mL e 64g/mL respectivamente, no entanto, frente ao
fluconazol o isolado mostrou-se sensível com CIM de 8g/mL.
Silva et al. (2015) também relataram resistência de
isolados de C. haemulonii frente a anfotericina B e
sensibilidade ao fluconazol.
O aumento da incidência de espécies de Candida não-
C. albicans pode estar sendo influenciada pela profilaxia
antifúngica com o fluconazol, visto que, foi comprovado que
pacientes que recebem fluconazol possuem maior facilidade
em adquirir infecções por Candida não-C. albicans dos que os
não tratados profilaticamente com este fármaco (PAGANO et
al., 2006).
Sandoval-Denis et al. (2014) em sua pesquisa,
obtiveram sensibilidade dos isolados frente a anfotericina B e
dose-dependência de fluconazol (CIM =16g/mL).
No trabalho realizado por Wingeter et al. (2007) com
cepas de Candida spp isoladas de pacientes portadores do
HIV, foi observado uma resistência de 10% dos isolados ao

555
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

fluconazol e 23% de resistência itraconazol, sendo de 4% a


resistência à anfotericina B.
Em nosso estudo, a cepa 129MM C. guilliermondii
apresentou resistência frente à anfotericina B, o que difere de
Mazari et al. (2015), que apresentou todos os isolados desta
espécie sensível a este fármaco. Possivelmente, o uso
indiscriminado como medidas profiláticas tem levado ao
aumento do número de cepas clínicas resistentes aos
tratamentos disponíveis, o que gera um aumento dos casos de
mortalidade por candidemia (FERREIRA et al., 2012).

Tratamento dos biofilmes com agentes antifúngicos-padrão

A variação dos valores de CIM foi de 4 a 32 g/mL para


fluconazol. Em todos os isolados, houve um aumento da CIM
quando comparados ás células planctônicas, no entanto os
isolados URM1812, URM6346, 05MM, 39MM, 825MM,
URM2101 e URM6284 ainda mostram-se sensíveis a estes
fármacos com CIM de 4g/mL e 8g/mL. Os isolados 129MM
e 63MM continuaram dose dependentes, com CIM de
32g/mL e C. haemuloniae 347MM, 123MM e URM6554
também apresentaram biofilme dose dependente com CIM =
16 g/mL e 32g/mL. Já os isolados 02MM C. ciferri,
URM6345 C. pelliculosa e ATCC90028 apresentaram
biofilmes resistentes a esse fármaco.

Para a anfotericina B, também houve um aumento


significativo da CIM quando comparados a células
planctônicas, com variação dos valores de CIM de 4 a

556
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

>16g/mL. Assim, todos os isolados testados apresentaram


biofilmes resistentes a este fármaco.
Segundo Harriott et al. (2011), a formação de biofilmes
é uma estratégia para a sobrevivência e proliferação das
células envolvidas. A complexa estrutura de um biofilme
permite a organização das populações de Candida de modo a
dificultar a ação de agentes antimicrobianos.
Não há estudos que demonstrem o perfil de
sensibilidade antifúngica de biofilmes das espécies
emergentes testadas em nosso estudo. Os estudos acerca do
tratamento de biofilmes formados por espécies de Candida
ocorrem com a espécie C. albicans.
Tobudic et al. (2012), ao avaliar a susceptibilidade
antifúngica de biofilmes de C. albicans, verificaram que essas
estrututras são altamente resistentes aos azólicos, não só ao
fluconazol, mas também para triazóis voriconazol e
posaconazol. Ainda, esses autores relatam que a resistência
ao Fluconazol tende comprovadamente a um aumento
superior a 1000 vezes em biofilmes quando comparados a
células planctônicas.
Os mecanismos de resistência aos azólicos de biofilmes
de C. albicans são específicos de cada fase de
desenvolvimento (MUKHERJEE et al., 2003). Em um estudo
realizado por Andes et al. (2004), os autores observaram um
aumento notável na CIM para as células associadas ao
biofilme em comparação com as planctônicas, com CIM 128
vezes maior do que o CIM para células livres.
Em nosso estudo, foi utilizado a formulação padrão de
anfotericina B, que segundo Tobudic et al. (2010) apresenta
atividade reduzida contra biofilmes de C. albicans quando

557
FORMAÇÃO DE BIOFILMES POR LEVEDURAS EMERGENTES E RESPOSTA
AO TRATAMENTO COM ANTIFÚNGICOS-PADRÃO

comparados com células planctônicas. Em contraste, como


cita Kuhn et al. (2002), formulações lipídicas de anfotericina B
exibem atividades inibidoras contra biofilmes de C. albicans
com CIMs semelhantes aos observados para células
planctônicas.

4 CONCLUSÕES

Com base nos resultados observados podemos concluir


que isolados clínicos de C. guilliermondii, C. haemulonii, C.
lusitaniae, C. famata, C. pelliculosa e C. ciferri são capazes de
produzir biofilmes, os isolados 347MM C. haemulonii, 129MM
C. guilliermondii, URM1812 C. lusitaniae e 02MM C. ciferri
apresentam resistência à anfotericina B, biofilmes formados
pelos isolados emergentes de C. guilliermondii, C. haemulonii,
C. lusitaniae, C. famata, C. pelliculosa e C. ciferri são
resistentes a anfotericina B e os isolados de C. lusitaniae, C.
famata, C. pelliculosa formaram biofilmes sensíveis ao
fluconazol.

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562
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
CAPÍTULO 29

MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI


PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A
ANTIMICROBIANOS
Luciana Vilar TORRES1
Saionara Lenarda Oliveira DANTAS2
Cibério Landim MACÊDO3
Thaísa Leite Rolim WANDERLEY4
Patrícia da Silva OLIVEIRA1
1
Farmacêuticas Residentes de Farmácia; 2Farmacêutica especialista em Saúde da Criança; 3
Farmacêutico e Tutor da Residência Multiprofissional em Saúde da Criança- REMUSC; 4
Farmacêutica e Preceptora da Residência Multiprofissional em Saúde da Criança .
e-mail:lucianavilar.farma@hotmail.com

RESUMO: A unidade de terapia intensiva (UTI) é considerada


uma área delicada, pelo risco de obter infecçõespor micro-
organismos e/ou pela quantidade de procedimentos invasivos
que são realizados.O usoimpróprio de antimicrobianos, falta
de realização de culturas de micro-organismos e antibiograma
são fatores que contribuem para expandir o número de micro-
organismos resistentes aos fármacos atualmente disponíveis.
Nesse sentido,compreender o perfil dos principais micro-
organismos causadores de infecção em determinado hospital
é fundamental para reduzir o avanço da resistência destes. O
estudo teve o objetivo de averiguar os principais micro-
organismos causadores de infecção e/ou colonização nos
anos de 2013 à agosto de 2015 na UTI de um hospital
pediátrico. Este trabalho trata-se de um estudo retrospectivo
de natureza qualitativa equantitativa realizado no Complexo de

563
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
Pediatria Arlinda Marques (CPAM). A população se compôs
pelos arquivos dos micro-organismos de pacientes da UTI
pediátrica com culturas positivas e com seus respectivos
antibiogramas.Os resultados mostram que a maioria das
bactérias isoladas são gram negativas e, na corrente
sanguínea foi encontrado Estafilococos coagulase negativa
resistente a múltiplas drogas. Quando se analisa a freqüência
absoluta, o estafilococos supracitado, assim como a Klebsiella
pneumoniae tem uma maior participação nas infecções. É
importante conhecer o perfil destes micro-organismos nas
unidades de terapia intensiva para que haja uma orientação no
combate à resistência antimicrobiana nos hospitais.
Palavras-chave: Micro-organismos. Unidade de Terapia
Intensiva. Susceptibilidade antimicrobiana.

1 INTRODUÇÃO

A unidade de terapia intensiva (UTI) é considerada uma


área crítica, seja por causa da instabilidade hemodinâmica dos
pacientes lá hospitalizados ou pelo risco de adquirir infecções
relacionadas a assistência à saúde (IRAS) em decorrência da
exposição à micro-organismos e/ou pela quantidade de
procedimentos invasivos que são realizados (LANDIM, 2016).
Tais procedimentos invasivos incluem cateteres, sondas
vesicais de demora, ventilação mecânica, imunossupressores,
período longo de internação e uso indiscriminado de
antimicrobianos (SOUSA; OLIVEIRA; MOURA, 2016).
A pneumonia se destaca como uma das principais
infecções adquiridas em UTI. Os recenseamentos
internacionais relatam que para cada 1000 internações, 5-10
casos são relatados e se o paciente estiver sob ventilação

564
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
mecânica na UTI, essa ocorrência sobe em até 20 vezes
(SOUSA; OLIVEIRA; MOURA, 2016).
A pneumonia hospitalar se manifesta a partir de 48
horas de admissão do paciente e éasegunda principal infecção
relacionada aassitência à saúde (IRAS) e, quando é
relacionada ao uso de ventilação mecânica, é intitulada de
pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM). Os
micro-organismos frequentemente encontrados em pacientes
sob ventilação mecânica são Klebisiella spp, Staphylococcus
aureus e P. aeruginosa (MOTA et al., 2017; OLIVEIRA et al.,
2017).
Este tipo de pneumonia é comumente de origem
aspirativa, sendo a fonte principal, as secreções de vias
aéreas superiores, seguida pela inserçõ exógena de material
contaminado ou pelo refluxo do trato gastrintestinal. Essas
aspirações são, geralmente, microaspirações tácitas, que
quando ocorrem, trazem consigo um quadro de insuficiência
respiratória grave e rapidamente evolutiva. Raramente a
pneumonia é ocasionada por disseminação sistêmica a partir
de um foco infeccioso à distância (ANVISA, 2017).
Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter sp são
agentes de quase todas as infecções provenientes da UTI, em
particular as do trato urinário, sem contar que são
responsáveis ainda pelas altas taxas de mortalidade, bem
como pelo tempo de internação, o que acarreta maior custo
para o hospital (PEREIRA, 2016).
Em relaçãoas bactérias gram positivas, a espécie de
maior interesse médico no ambiente hospitalar é o
Staphylococcus aureus, pois além de ter distribuição ampla,
uma vez que é capaz de resistir à dessecação e ao frio, pode
também continuar viável por longos períodos em partículas de

565
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
poeira, e o próprio homem é seu principal reservatório, com as
narinas possuindo o maior grau de colonização (SANTOS,
2007).
Staphylococcus aureus apresenta alta incidência, não
só na comunidade como também no ambiente hospitalar, e
seu mecanismo de resistência inclui a produção da enzima
beta-lactamase, onde os principais alvos desta são a
amoxicilina, penicilinas e ampicilina. As infecções mais
relacionadas são a osteomielite, pneumonia, septicemia,
bacteremia, miocardite e síndrome do choque tóxico
(FERREIRA et al., 2017).
No Brasil, cerca de 5 a 15% dos pacientes
hospitalizados e entre 25 a 35% dos pacientes admitidos em
unidades de terapia intensiva (UTIs) adquirem infecção
hospitalar, sendo ela a quarta causa de mortalidade. Apesar
de o número de leitos de UTI representar, geralmente, cerca
de 5 a 10% dos leitos de um hospital, estima-se que nesse
setor ocorram aproximadamente 25% de todas as infecções
hospitalares (LEISER; TOGNIM; BEDENDO, 2007).
A resistência por parte das bactérias aos antibióticos é
atualmente um dos problemas de saúde pública mais
significativos, já que muitas delas anteriormente eram
susceptíveis a essa classe de fármacos, deixando de
responder a esses mesmo agentes e, a aceleração dessa
resistência se dá pela utilização indevida desses
medicamentos (LOUREIRO et al., 2016).
Como conseqüência da resistência bactéria, tem-se a
diminuição de opções terapêuticas, o que acaba sendo
necessário cada vez mais antimicrobianos de última geração,
sem contar que o avanço dessa resistência é mais rápido se

566
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
comparado ao processo de desenvolvimento de novos
antibióticos (GRILLO et al., 2013).
Os mecanismo de resistência a antibióticos
normalmente são mediados por plasmídeos e abrangem a
síntese de beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) ou
bombas de efluxo e proteção do alvo da molécula dos
antimicrobianos, além disso, elementos genéticos móveis, a
exemplo de plasmídeos, transposons e integrons têm um
papel fundamental tanto na evolução quanto na disseminação
de genes que codificam essas enzimas entre bactérias
(CUNHA et al., 2016).
O uso irracional de antimicrobianos através da escolha
inadequada do anitimicrobiano para se combater determinada
enfermidade, falta de realização de exames como culturas de
micro-organismos e antibiograma são fatores que contribuem
para aumentar o número de micro-organismos resistentes aos
fármacos atualmente disponíveis. Nesse sentido, saber o perfil
dos principais micro-organismos causadores de infecção em
determinado hospital é fundamental para reduzir o avanço
destes.
Dessa forma esse estudo teve o objetivo de investigar
os principais micro-organismos causadores de infecção e/ou
colonização nos anos de 2013 à agosto de 2015 na UTI de um
hospital pediátrico.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente trabalho foi desenvolvido nas três UTI’s do


Complexo de pediatria Arlinda Marques (CPAM), hospital
público de alta complexidade no Estado da Paraíba. Trata-se

567
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
de um estudo descritivo transversal do tipo retrospectivo de
natureza qualitativa e quantitativa.
Foi realizado um levantamento de dados de culturas e
antibiogramas feitos no CPAM durante 2013, 2014 e janeiro a
agosto de 2015. Foram analisados os resultados de 700
culturasdesecreção traqueal, swab anal, swab nasal,
hemocultura, ponta de cateter, ferida operatória, urocultura e
líquido cefalorraquidiano, sendo 200 referentes ao ano de
2014, 275 em 2014 e 228 referente a 2015. Os dados foram
coletados através de análises de documentos do laboratório
de microbiologia do CPAM, os quais ficam arquivados no setor
da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do
referido hospital.
A população foi composta pelos arquivos dos micro-
organismos de pacientesda UTI pediátrica com culturas
positivas em hemocultura e com seus respectivos
antibiogramas os quais foram fornecidos pelo serviço de
controle da infecção hospitalar (SCIH) no período de 2013 a
agosto de 2015queconsistiude pacientes da UTI pediátrica.
Como critério de inclusão na pesquisa, utilizou-se informações
referentes a culturas positivas de micro-organismos
investigando qual agente era mais predominante, e como
critérios de exclusão, não se utilizou de informações de
antibiogramas que não identificavam a espécie.
A análise de dados foi realizada através de planilha
eletrônica, de maneira a avaliar o percentual de culturas
positivasbem como o percentual referente à resistência e
sensibilidade destas frente aos antibióticos testados através
de antibiogramas, sendo o resultado expresso em tabelas e
gráficos.

568
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
Em relação às considerações éticas,este estudo foi
aprovado pelo comitê de ética em pesquisa envolvendo seres
humanos da Faculdade Santa Emília de Rodat, sob o número
nº 981.142.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A frequência foi de bactérias gram negativas nos três anos


analisados, conforme mostrado na figura 1.

Figura 01: Prevalência dos micro-organismos Gram positivos e


Gram negativos isolados em pacientes internados em UTI
pediátrica na Paraíba

160
140
120
100 Gram positivos
80
Gram negativos
60
40 Outros
20
0
2013 2014 2015

Fonte: SCIH do Complexo de Pediatria Arlinda Marques, 2016.

Na figura 01, observa-se que a maioria das bactérias


isoladas são gram negativas nos três anos. As infecções por
este tipo de bactéria aumentaram a partir da década de 1970,
principalmente por bacilos gram negativos não fermentadores
(BGNF). Além disso, esse tipo de micro-organismo vem
mostrando cada vez menos sensibilidade a um grande número

569
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
de antimicrobianos. Essas infecções no ambiente hospitalar
depende de alguns fatores como uso de imunossupressores,
uso abusivo de antibióticos de amplo espectro, instrumentação
mecânica inadequada e procedimentos cirúrgicos prolongados
(DELIBERALI et al., 2011).
Entre os principais problemas de resistência microbiana
nos hospitais brasileiros estão as bactérias ESBL, que
inclusive têm sido muito estudadas mundialmente a nível
genético e epidemiológico, onde a preocupação maior se dá
pelo fato de serem resistentes às cefalosporinas de amplo
espectro, como ceftaxima, ceftriaxona, ceftazidima e
monobactâmicos (aztreonam), tendo a Klebsiella pneumoniae
e Escherichia coli como uma das principais representantes no
que tange a esse perfil de resistência. Trata-se de uma enzima
mediada por genes e capazes de propagar-se rapidamente
pra outras enterobactérias (SOARES et al., 2005; MACEDO et
al., 2005).
Essa predominância é semelhante a encontrada em um
hospital público por Perna et al (2015), onde o bacilo gram
negativo mais presente foi a Klebsiella pneumoniae, fato que
segundo os autores preocupa, pois este micro-organismo está
associado a aumento da mortalidade por sepse, infecções de
corrente sanguínea e choque séptico, além do mais a
preocupação aumenta, tendo em vista que a mesma tem tido
progressão no que tange a resistência a antimicrobianos.
Segundo Oliveira; Araújo; Oliveira (2017), os bacilos
gram negativos são principalmente adquiridos em ambientes
hospitalares, uma vez que são agentes oportunistas.
No que se refere à prevalência dos micro-organismos
gram negativos isolados na corrente sanguínea de pacientes
internados em UTI pediátrica na Paraíba vide Tab. (1),

570
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
observou-se que houve no geral a presença de espécies
distribuídas de forma relativa aos anos.
Tabela 01: Prevalência dos micro-organismos isolados na
corrente sanguínea de pacientes internados em UTI pediátrica
na Paraíba.
AGENTE IDENTIFICADO 2013 2014 2015
Fr (%) Fr (%) Fr(%)

Acinetobacter baumanii - - 01 1,6 01 2,6

Citrobacter diversus - - 01 1,6 - -

Citrobacter freundii 05 8,6 01 1,6 - -

Enterobacter aerogenes 02 3,4 - - - -

Escherichia coli 03 5,2 02 3,1 - -


Klebsiella pneumoniae 07 12,1 07 10,9 02 5,1

Klebsiella oxytoca - - - - 01 2,6


Pseudomonas aeruginosa 02 3,4 02 3,1 01 2,6

Pseudomas aeruginosa – MDR 01 1,7 - - 01 2,6

Staphylococcus aureus 01 1,7 - - 01 2,6


Staphylococcus aureus –MRSA 04 6,9 - - 01 2,6
Staphylococcus coagulase negativa - - 03 4,7 03 7,7

Staphylococcus coagulase negativa 09 15,5 20 31,3 16 41


– MDR
Outros 3 43,2 5 42,1 3 30,6

TOTAL 34 100 37 100 27 100


Fr= frequência relativa. Fonte: SCIH do Complexo de Pediatria Arlinda
Marques, 2016.

571
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
Quando se analisa o quantitativo geral dessas espécies
a cada ano observa-se um aumento significativo dessas
infecções na corrente sanguínea. Porém para analisar valores
de taxas de infecção hospitalar, precisa-se realizar com
cautela esses estudos, pois a metodologia adotada na
investigação, o tipo de instituição, as condições tecnológicas,
a capacitação técnica dos próprios funcionários do hospital, o
tempo de internação dos pacientes e a gravidade das
patologias são, entre outras, variáveis que devem ser
rigorosamente consideradas quando se faz análise
comparativa de resultados.
Observou-se que a infecção por Staphylococcus
coagulase negativa resistente a múltiplas drogas- MDR, que
em 2013 apresentou 09 (15,5%) dos casos, em 2014, 20
(31,3%) e em 2015, 16 (41%). Paralelo a esse contexto,
Oliveira et al (2013) reforça a ideia de que os Staphylococcus
coagulase negativa são os agentes mais frequentes, tanto da
infecção da corrente sanguínea quanto da relacionada ao
cateter, seguido do S. aureus e dos bacilos gram-negativos.
Outros micro-organismos vieram em seguida na
infecção de corrente sanguínea, incluindo espécies não
isoladas de bactérias e fungos, como Candida spp. Assim,
salienta-se que as infecções da corrente sanguínea agrava o
estado dos pacientes por favorecer o aumento do risco a
outras infecções. A bacteremia está comumente associada a
uso de dispositivos intravasculares e mesmo que a incidência
de infecção da corrente sanguínea seja maior que as outras
infecções hospitalares, os pacientes acabam sendo os que
demandam um maior gasto, pela mobilização de
antimicrobiano e medidas de diagnóstico, bem como outros

572
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
recursos empregados relacionados ao suporte de vida desses
pacientes (SOUSA; OLIVEIRA; MOURA, 2016).
Segundo a ANVISA, as infecções primárias da corrente
sanguínea são ocasionadas por bactérias existentes na
peleque podem formar biofilmes em qualquer superfície sólida
como cateteres, tornando assim um desafio para os
profissionais (PEREIRA, 2016).

Tabela 02: Micro-organismos mais prevalentes em pacientes


internados em UTI e sua suceptibilidade frente aos antibióticos
testados.

ANOS 2013 2014 2015


S.Coagulase
S.Coagulase

S.Coagulase
negativa(MD
pneumoniae

pneumoniae
S.coagulase
negative

negativa

negative
(MDR)

(MDR)
Agente
R)
k.

k.

antibióticos S R S R S R S R S R S R
0 100 0 100 --- 100 NT NT --- --- 0 100
Ampicilina
Amicacina NT NT 84,2 15,8 NT NT NT NT 94, 5,3 NT NT
7
Ampicilina + 10, 89,2 6,7 93,3 0 100 100 0 NT NT 0 100
Subactam 8
Amoxicilina + 3,7 96,3 33,3 66,7 0 100 100 0 NT NT 0 100
Clavulonato
Azetreonam NT NT 11,8 88,2 NT NT NT NT 50 50 NT NT
Cefalotina 3,7 96,3 0 100 0 100 100 --- -- -- 0 100

Cefazolina 0 100 NT NT 0 100 NT NT -- -- 0 100


Cefepime NT NT 33,3 66,7 NT NT NT NT 23, 76, NT NT
5 5
Ceftadizima NT NT 29,2 70,8 NT NT NT NT 23, 76, NT NT
5 5
Ceftriaxona NT NT 20,8 79,2 NT NT NT NT 26, 73, NT NT
3 7
Ciprofloxacino 14, 85,2 72 28 16,1 83,9 100 0 73, 26, 36,4 63,6
8 7 3
Clindamicina 27, 72,4 NT NT 22,6 77,4 100 0 NT NT 20,8 79,2
6

573
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
Eritromicina 18, 81,5 NT NT 0 100 100 0 NT NT 13 87
5
Gentamicina 6,9 93,1 45,8 54,2 6,5 93,5 100 0 80 200 32 68
Imipeném NT NT 76 24 NT NT NT NT 10 -- NT NT
0
Levofloxacino 13, 86,2 75 25 16,1 83,9 100 0 73, 26, 34,8 65,2
8 7 7
Linezolida 10 0 NT NT 96,8 3,2 100 0 NT NT 100 0
0
Meropeném NT NT 76 24 NT NT NT NT 10 -- NT NT
0
Oxacilina 0 100 NT NT 0 100 100 0 NT NT 0 100
Penicilina G 3,5 96,5 NT NT 0 100 50 50 NT NT 0 100
Piperacilina + NT NT 33,3 66,7 NT NT NT NT 94, 5,3 NT NT
Tazobactam 7
Teicoplamina 10 0 NT NT 96,8 3,2 100 0 NT NT 100 0
0
S = sensibilidade; R = Resistente; NT = Não testado. Fonte: SCIH do
Complexo de Pediatria Arlinda Marques, 2016.

Com relação ao perfil de sensibilidade e resistência aos


antimicrobianos em micro-organismos isolados nos anos de
2013, 2014 e 2015 na UTI (Tab.2) foram analisadas 21 drogas
com relação aos dois micro-organismos mais prevalentes,
onde nos casos da Klebsiella pneumoniae, envolvida na
maioria dos casos de pneumonias, apresentou 100% de
resistência a uma droga muito utilizada no passado, a
ampicilina, e cerca de 70 a 90% de resistência a drogas como
ampicilina e amoxicilina associados a inibidor de beta-
lactamase, além de cefalosporinas de 3ª e 4ª geração,
ceftazidima e cefepima respectivamente. Já a sensibilidade foi
maior com amicacina, carbapenéns, quinolonas e poliximina B,
o que corrobora com os dados de Santos (2007) quando
comparou tratamentos para infecções provocadas por
Klebsiella pneumoniae. Este resultado de boa sensibilidade a
aminoglicosídeos e quinolonas também foi expresso nos
estudos de Pires et al (2007). Altas taxas de sensibilidade de
K. pneumoniae, a amicacina, quinolonas, meropeném e

574
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
polimixina foram observadas por Krummenauer et al (2016)
também em ala pediátrica, o que segundo este autor, facilita a
escolha de antimicrobianos no tratamento de infecções. A
presença do gênero Klebsiella spp. em amostras de origem
clínica implica em grande preocupação, uma vez que sabe-se
que esse micro-organismo apresenta diversos mecanismos de
resistência e pode desenvolver infecções, de brandas a
graves, tendo como consequência o óbito (MEYER; PICOLI,
2011).
Em relação aos estafilococos coagulase negativos
(ECL), estes são os mais mais existem na microbiota normal
da pele, porém cada vez mais relacionados a infecções
importantes como endocardite e bacteremia (ARAÚJO et al.,
2017).
O Staphylococcus coagulase negativa resistente a
múltiplas drogas (MDR), apresentou 100% de sensibilidade
apenas há duas drogas, a teicoplamina e a linezolida.
Rampelottoetal (2014) e Araújo et al (2017) também
encontraram resultados como esse, onde o primeiro no seu
estudo de prevalência observou que os estafilococos
coagulase negativos foram muito resistentes a penicilina e
sensível a teicoplamina. O último encontrou nos seus
resultados cepas sensíveis a linezolida, mas alta resistência
frente aceftazidima, claritromicina, gentamicina.
Este resultado também corrobora com os de Candido e
Bernardi (2016), onde houve alto espectro de resistência aos
antibióticos testados nas cepas de ECN, e isso traz como
conseqüência a diminuição do arsenal de antibióticos a serem
utilizados pelos pacientes infectados.
Esses dados são relevantes porque mostram que as
alternativas para tratamento dessa bactéria são limitadas.

575
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
Sabe-se que a vancomicina é da mesma classe da
teicoplamina (glicopeptídeo) e ela tem sido há muitos anos a
pedra angular no tratamento de infecções por resistência ao
Staphylococcus. Embora seu uso frequente tenha resultado no
surgimento de cepas de Staphylococcus coagulase negativa
MDR e de S. aureus resistentes a meticilina (MRSA) com
sensibilidade reduzida a este antibiótico, a vancomicina ainda
é considerada eficaz contra essas cepas. Nos casos de total
resistência a vancomicina as opções de escolha para
tratamento do Staphylococcus seria a linezolida, tigeciclina ou
ceftarolina, uma cefalosporina de quinta geração atuante em
gram positivos multirresistentes (HORCAJADA; CANTÓN,
2014).
As infecções causadas por micro-organismos
resistentes estão associadas ao tempo de permanência
hospitalar, cuidados em terapia intensiva, elevados custos e
prognóstico desfavorável. Mesmo com todo o conhecimento
adquirido acerca dos fatores que impulsionam a resistência
bacteriana, tais como, falhas na higiene hospitalar, pressão
seletiva criada pelo uso excessivo de antibióticos e mutação
genética, a resistência às drogas continua crescendo,
especialmente em UTI, devido às doenças de base
associadas à imunodeficiência e ao uso abusivo de
antimicrobianos nestas unidades. O contínuo desenvolvimento
e o aumento de bactérias resistentes representam uma
ameaça para a utilidade clínica. Embora a resistência aos
antibióticos tenha aumentado, o desenvolvimento de novos
agentes antimicrobianos tem diminuído drasticamente ao
longo dos últimos 30 anos. Tais demandas levaram a
Organização Mundial da Saúde (OMS) a reconhecer a

576
MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS EM UTI PEDIÁTRICA E SEU PERFIL DE
SUSCEPTIBILIDADE FRENTE A ANTIMICROBIANOS
Resistência Antimicrobiana (RAM) como uma crise de saúde
pública global (PAIM; LORENZINI, 2014).

4 CONCLUSÕES

Os micro-organismos mais prevalentes nesta UTI


pediátrica foramas bactérias os gram negativas com perfil de
resistência hospitalar, como o caso da Klebsiella pneumoniae,
mas ainda se mostram sensíveis a algumas classses de
antibióticos, o que se tem como fato positivo, pois otimiza mais
as alternativas terapêuticas. Porém, sempre deve ser
lembrado que estes micro-organismos têm muita significância
clínica, tendo em vista o risco de mortalidade a eles
associado.
Em relação afreqüência destes micro-organismos, além
da K. pneumoniae, estafilococos coagulase negativa resistente
a múltiplas drogas foi o mais observado com resistência a uma
gama de antibióticos testados, alguns deles com 100% de
resistência que pode ter sido ocasionado pelo uso
indiscriminado destes medicamentos no passado.
A pouca sensibilidade desses estafilococos é
preocupante, pois deixa poucas alternativas de tratamento
para as infecções causadas por tais, logo é de extrema
importância conhecer o perfil destes micro-organismos nas
unidades de terapia intensiva para que haja um norte no
combate à resistência antimicrobiana nosocomial.

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
CAPÍTULO 30

OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS


EM PEÇAS ANATÔMICAS HUMANAS,
ACONDICIONADAS NO COMPLEXO
LABORATORIAL DE ANATOMIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA,
JOÃO PESSOA – PB
Hércules Gonçalves de Almeida MEDEIROS 1
Laísa Macedo TAVARES1
Nathalia Souza BEZERRA 2
Adna Cristina Barbosa de SOUSA 3
1
Graduandos do curso de Biotecnologia, UFPB; 2 Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Biotecnologia, UFPB; 3 Orientadora/Professora do curso de Biotecnologia,
UFPB.
goncalvesh1@hotmail.com

RESUMO: A dissecção anatômica de cadáveres é uma


ferramenta de ensino utilizada por educadores médicos. Os
cadáveres utilizados foram embalsamados com formol 10%
seguindo as práticas padrão de embalsamamento. A partir da
fixação, pode-se conservar as peças anatômicas, mas um dos
problemas que enfrentam os anatomistas é o crescimento de
fungos em cadáveres. A partir destas considerações, este
estudo teve como objetivo isolar e identificar fungos
filamentosos encontrados no Laboratório de Anatomia
Humana da UFPB, onde a proliferação do mesmo é visível em
partes anatômicas preservadas em solução de formol, visando
prevenir possíveis doenças fúngicas oportunistas. Os fungos
foram coletados de peças anatômicas com sinais de
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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
contaminação e do ambiente. Em seguida, as placas foram
mantidas à temperatura ambiente para crescimento. A
identificação foi realizada por meio de macro e
micromorfologia. Foram identificados os gêneros Aspergillus,
Penicillium, Trichophyton, Acremonium, Blastomyces e
Xylohypha. Foi avaliada a resistência dos conídios a diferentes
concentrações de formol. Os isolados de Aspergillus,
Penicillium e Tricophyton cresceram numa concentração de
10% e 12% de formol. Os resultados indicam que os
cadáveres conservados com formol 10% possuem fungos
viáveis em suas superfícies que podem ser fonte de
contaminação do ambiente e dos profissionais que manipulam
essas peças. Este estudo ressalta a importância dos
protocolos de controle de contaminação e destaca a
necessidade do uso de padrões de biossegurança.
Palavras-chave: Fungos filamentosos. Peças anatômicas.
Biossegurança.

1 INTRODUÇÃO

O estudo da Anatomia Humana é fundamental nas


Ciências Médicas e Biomédicas. Porém, a conservação dos
cadáveres, peças anatômicas, tecidos e vísceras tem sido um
desafio para os profissionais que atuam nessa área, devido à
proliferação de microorganismos, e de forma predominante, os
fungos filamentosos (IKEDA et al., 1993; WINKELMANN,
2007).
A conservação dessas peças é feita a base de
substâncias químicas, entre elas o formaldeído, o qual garante
a manutenção da forma da peça anatômica por um longo

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
período e reduz o índice de contaminação por ação
microbiana (KEIL et al., 2001). Porém existem alguns
microorganismos (fungos, vírus e bactérias) que são
resistentes em diferentes concentrações de formol (SPICHER;
PETERS, 1976). Essa característica pode comprometer a
conservação das peças anatômicas pela colonização de
microorganismos, e por consequência, a contaminação do
ambiente laboratorial e de estudos (FISCHER; DOTT, 2003).
Dentre os microorganismos, os fungos filamentosos são
os mais resistentes e persistentes no ar atmosférico
(OLONITOLA et al., 1994). Devido a essa característica, eles
podem colonizar todo tipo de acervo, independente de sua
constituição. A presença ou a suspeita de fungos colonizando
uma coleção requer atenção imediata, uma vez que,
seguramente, eles expõem o acervo e as pessoas que têm
contato direto com este material a condições de risco
(STEVENS et al., 2000; GÓRNY et al., 2002).
O Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal da Paraíba abriga uma coleção de cadáveres
humanos, peças anatômicas, tecidos e vísceras, conservados
em tanques e em recipientes adequados em diferentes
espaços, para fins didáticos e de pesquisas. Alterações
observadas na superfície de algumas peças por
microorganismos reforçam a necessidade da identificação dos
mesmos, antes de realizar a limpeza ou manuseio desse
material no ambiente por funcionários da Instituição. Essa
prática poderá evitar a exposição e o contato de pessoas com
materiais contaminados antes de submeter este espaço a uma
desinfecção adequada, prevenindo possíveis doenças
secundárias.

583
OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
A presença de fungos filamentosos anemófilos e a
poluição do ar em ambientes acadêmicos fechados aumentam
o risco de sensibilização alérgica nos docentes, discentes e
técnicos (RANTIO; VIANDER, 1994; RAUTIALA et al., 1996).
Estudos epidemiológicos em salas de aula de escolas e
universidades com alta taxa de proliferação fúngica e poluição
no ar demonstraram a ocorrência de sintomatologias
respiratórias como tosse crônica, muco crônico, ofegância,
dispnéia e asma (HAVERINEN et al., 1999). Estes sintomas
estavam significativamente associados à contaminação
ambiental por microorganismos (JEDRYCHOOWSKI; FLAK,
1997; GÓRNY et al., 2002).
Mediante a grande preocupação relacionada ao
desenvolvimento de fungos patogênicos em ambientes
fechados e os problemas de saúde que esses agentes
provocam, a notável proliferação fúngica em peças
anatômicas conservadas em solução de formaldeído no
Laboratório de Anatomia Humana da UFPB, foi o motivo para
elaboração dessa proposta, visto que, a presença de fungos
patogênicos em ambientes de trabalho é o suficiente para
implicá-los como causadores de doenças, pois não fazem
parte do ambiente natural dos Laboratórios desse tipo. A partir
dessas considerações, este estudo teve por objetivo isolar e
identificar fungos filamentosos encontrados no Laboratório de
Anatomia Humana, onde a proliferação dos mesmos encontra-
se visível nas peças anatômicas conservadas em solução de
formaldeído, visando à prevenção de possíveis doenças
oportunistas causadas por fungos.

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
2 MATERIAIS E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de


Genética Molecular e Biotecnologia Vegetal do Centro de
Biotecnologia – CBIOTEC – UFPB.

Local da coleta: a coleta foi realizada no complexo de


Laboratórios de Anatomia do Departamento de Morfologia,
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa-PB. Foram coletadas amostras fúngicas
do ambiente e das superfícies das peças anatômicas. Para a
coleta do ambiente (amostras aeróbias), três placas contendo
meio de cultura ágar-Sabouraud-dextrose foram abertas em
dois ambientes do Laboratório de Anatomia. As amostras das
peças anatômicas que apresentavam sinais visíveis de
contaminação fúngica foram coletadas com o auxílio de
cotonetes estéreis. Em seguida, as placas foram lacradas e
mantidas à temperatura ambiente para crescimento, e
posteriormente foi realizado o isolamento das diferentes
colônias fúngicas.

Meio de cultura: foi utilizado como meio para crescimento das


colônias fúngicas o ágar-Sabouraud-dextrose, constituído de
10 g de peptona de carne, 40 g de dextrose, 15 g de ágar e
1000 mL de água destilada apresentando pH 5,6 e
autoclavado durante 15 minutos à 95º C.

Manutenção da cultura fúngica: as amostras foram


repicadas em tubos de ensaio contendo meio ágar-
Sabouraud-dextrose, onde a cultura foi mantida à temperatura

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
ambiente durante 15 dias e em seguida, sob refrigeração à 4º
C.

Cultura em lamínula: fragmentos dos isolados fúngicos foram


colocados estrategicamente sobre o meio de cultura ágar-
Sabouraud-dextrose contidos em placas de Petri e cobertos
com uma lamínula previamente flambada. Após o crescimento,
a cada 24 horas, as lamínulas foram tiradas e colocadas
invertidas sobre uma lâmina identificada contendo o corante
azul de metil e observada ao microscópio óptico para
identificação dos diferentes isolados fúngicos.

Identificação dos isolados fúngicos: a análise foi feita


mediante a avaliação dos dados macroscópicos, obtidos a
partir da observação direta e dos dados microscópicos com o
auxílio de microscópio óptico e de micrografias.

Teste de resistência ao formol: a avaliação da resistência


dos conídios foi realizada em diferentes concentrações de
formol (10%, 12%, 15%, 17% e 20%) diluído em água
destilada autoclavada. Uma suspensão de 10 8 conídios/mL
mais tween 1% foi adicionada em cada concentração do
formol por um período de 5 minutos. Em seguida, 100 μl dessa
suspensão foi inoculada em meio de cultura ágar-Sabouraud-
dextrose e espalhada de forma homogênea com uma alça de
drigalski. A avaliação do crescimento dos diferentes isolados
fúngicos foi realizada durante 10 dias em temperatura
ambiente. Foi realizada em experimento com três repetições e
um grupo controle. Para este, utilizou-se apenas água
destilada e tween para eluir os conídios.

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Identificação e caracterização dos isolados fúngicos


Foram isoladas 13 colônias fúngicas das peças
anatômicas e do ambiente. Após a avaliação dos dados, foi
possível chegar à definição dos gêneros característicos que
estavam colonizando as peças anatômicas e o ambiente do
complexo de Laboratórios de Anatomia, como também
averiguar quais destes isolados estavam presentes,
exclusivamente, no ambiente e nas peças anatômicas ou em
ambos setores (Tabela 1).

Tabela 1. Locais de isolamento das colônias fúngicas.


Peças
Colônias Ambiente
anatômicas
Acremonium sp. + -
Penicillium sp. + -
Penicillium sp. + -
Trichophyton sp. + -
Penicillium sp. - +
Blastomyces sp. - +
Aspergillus niger + +
Aspergillus sp. + +
Penicillium sp. - +
Trichophyton sp. - +
Trichophyton sp. + -
Penicilliun sp. + -
Xylohypha sp. + -
Fonte: Autor

Para identificar o gênero dos isolados fúngicos que


estavam colonizando as peças anatômicas conservadas em
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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
solução de formol a 10%, realizou-se análises macroscópicas
dos caracteres fenotípicos das colônias e análises
microscópicas através da citologia fúngica. Dentre os gêneros
e espécies isolados estão: Acremonium sp., Penicillium sp.;
Trichophyton sp.; Blastomyces sp.; Aspergillus niger e
Aspergillus sp. e Xylohypha sp. descritos em micrografias
(Tabela 1 e Figura 1).

Tabela 2. Número de colônias diferentes por gênero.


Gênero Fúngico Número de colônias
diferentes por gênero
Acremonium sp. 1
Penicillium sp. 5
Trichophyton sp. 3
Blastomyces sp. 1
Aspergillus sp. 2
Xylohypha sp. 1
Fonte: Autor.

As micrografias dos diferentes isolados fúngicos estão


apresentadas na Fig. 1. As colônias do gênero Aspergillus sp.
desenvolveram-se após 2 dias da inoculação. Algumas eram
verde-limão (Aspergillus fumigatus) e outras eram negras
(Aspergillus niger). As colônias eram arredondadas ou
irregulares com a borda branca. Microscopicamente, os fungos
apresentaram hifas septadas e ramificadas. Observou-se
fiálides formadas em cima de vesículas inchadas no final de
um conidióforo longo. As colônias do gênero Penicillium sp.
desenvolveram-se a partir do 3º dia de inoculação. As colônias
eram verde-azuladas com uma borda esbranquiçada.
588
OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
Microscopicamente, apresentaram cadeias longas de conídios
dispostos em fiálides, que eram dispostas em conidióforos
ramificados.

Figura 1. Micrografias dos gêneros isolados do ambiente e


das peças anatômicas: Acremonium sp. (A); Penicillium sp.
(B); Trichophyton sp. (C); Blastomyces sp. (D); Aspergillus sp.
(E); Xylohypha sp. (F).

Fonte: Autor.

As colônias do gênero Trichophyton sp. se


desenvolveram após 10 dias da inoculação e exibiram uma
coloração esbranquiçada. Microscopicamente, apresentaram
microconídios redondos dispostos em cachos. As colônias do
gênero Acremonium sp. apresentaram crescimento lento e
uma pigmentação banca-acinzentada. As hifas eram finas e
hialinas, e produziam fiálides simples. Os conídios eram
unicelulares e agregados em cabeças viscosas no ápice de
cada fiálide. As colônias do gênero Blastomyces sp.
desenvolveram-se a partir do 3º dia de inoculação e exibiram

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
uma pigmentação branca. Microscopicamente apresentaram
conídios ovais ligados a conidióforos curtos. As colônias do
gênero Xylohypha sp. apresentaram crescimento muito lento e
uma pigmentação cinza escuro com uma textura aveludada.
Microscopicamente, evidenciou-se apresentar hifa septada e
conídios formando cadeias onduladas.
Após identificação dos gêneros, pode se observar a
presença de isolados de Penicillium sp. e Aspergillus sp. tanto
no ambiente quanto nas peças anatômicas. Esses dois grupos
de fungos são considerados oportunistas pertencentes ao Filo
Ascomycota, o maior Filo de fungos, que inclui quase 50% de
espécies fúngicas conhecidas que podem causar alergias ao
homem e aos animais (GUARRO et al., 1999).

Avaliação de resistência dos isolados fúngicos ao formol

A resistência dos conídios dos diferentes isolados fúngicos


foi avaliada em diferentes concentrações de formol. Os
resultados do experimento estão ilustrados na Tabela 3.
Observou-se crescimento de Trichophyton sp.,
Aspergillus niger e Penicillium sp. na presença de formol a 10
%. Foi constatado também crescimento de Penicillium sp. e
Aspergillus niger na concentração de 12% de formol. O
crescimento dos fungos avaliados não foi inibido totalmente
pelo formol. Vale ressaltar que estudos semelhantes
apresentaram resultados diferentes, nos quais constataram
que mesmo a baixas concentrações de formaldeído os fungos
avaliados no estudo não apresentaram crescimento
(PRZYBYSZ et al., 2009).

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
Tabela 3. Avaliação de resistência dos isolados fúngicos ao
formol.
Isolado Controle Formol Formol Formol Formol Formol
10% 12% 15% 17% 20%
Acremonium sp. + - - - - -
Penicillium sp. + - - - - -
Penicillium sp. + - + - - -
Trichophyton sp. + + - - - -
Aspergillus niger + + + - - -
Aspergillus sp. + - - - - -
Penicillium sp. + + - - - -
Penicillium sp. + - - - - -
Xylohypha sp. + - - - - -
Fonte: Autor.

Os cadáveres acometidos pelos fungos avaliados no


estudo estavam conservados em formol na concentração de
10% e após este estudo inferiu-se que a concentração de 10%
de formol é ineficiente para inibir o crescimento de algumas
espécies fúngicas.
O isolamento dos diferentes fungos do ambiente e das
peças anatômicas conservadas a 10% no complexo de
Laboratórios de Anatomia Humana é um fato que deve ser
tratado com cautela, visto as consequências adversas à saúde
que a exposição a esse agente pode causar, quando
encontrado contaminando ambientes fechados (DALES et al.,
2000; MEKLIN et al., 2002). Apesar das espécies do gênero
Aspergillus serem agentes pertencente às espécies
frequentemente encontradas em ambientes fechados como
residências e escolas (EDUARD et al., 2001; ENGELHART et
al., 2002), o desenvolvimento de fungos do gênero Aspergillus
em Laboratórios de Anatomia Humana é o suficiente para
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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
implicá-los como causadores de doenças, pois não são
contaminantes naturais da rotina nos laboratórios de anatomia
humana (ANDRÉ et al., 2000).
Espécies de Aspergillus estão relacionadas a infecções
broncopulmonares, sinusite, aspergiloma, micoses, infecções
oculares, cardiovasculares, do sistema nervoso, epiderme,
ósseas e aspergiloses invasivas, a mais comum infecção
invasiva do mundo (COCKRILL; HALES, 1999; CUCCIA et al.,
2000; MALCOLM, 2005; MURRAY, 2014). O gênero
Acremonium já foi associado como causador de infecção
oportunista não-comum em paciente imunocomprometido
(PASTORINO et al., 2014), infecções cardiovasculares
(endocardite) e disseminação hematogênica (MURRAY,
2014). Espécies do gênero Penicillium já foram catalogadas
como relacionadas a infecções pulmonares, podendo-se citar
a Peniciliose causada pelo Penicillium marfennei, sendo mais
comum em portadores do adenovírus causando morte nestes
e tendo alta prevalência na Ásia (WOLBERS et al., 2011). O
gênero Trichophyton está comumente associado à
dermatomicoses (MURRAY, 2014). A patologia mais comum
relacionada ao gênero Blastomyces é a blastomicose fúngica
causada pelo Blastomyces dermatidis que acomete ossos e
epiderme (MURRAY, 2014). E o gênero Xylohypha está
também associado à abcessos cerebrais não comuns
causados por Xylohypha bantiana (LEE et al., 2003).
No presente estudo observou-se uma variedade de
gêneros fúngicos que acometiam peças anatômicas biológicas
e o ambiente. A preocupação com as peças cadavéricas é
uma das preocupações que foram levadas em conta neste
trabalho, pois a sua deterioração causada pelos agentes

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
biológicos com certo grau é desagradável para os
manipuladores das peças biológicas e contribui para o
comprometimento do aprendizado dos alunos. Contudo a
segurança com a saúde dos estudantes, professores e demais
profissionais que trabalham em ambientes desta natureza não
merece ser ignorada, visto que há relatos de problemas de
saúde para todos os gêneros fúngicos aqui apresentados,
sendo causadores desde alergias mais comuns a infecções
sistêmicas em graus mais graves podendo chegar à morte,
quando acometem pacientes imunocomprometidos
(ALBRIGHT, 2001; DAISEY et al., 2003). Aspergillus sp. e
Penicillium sp. são mais frequentes e muitas vezes são citados
em outros artigos com o mesmo objetivo de isolamento e
identificação de fungos filamentosos em peças anatômicas e
são possíveis causadores de alergias e doenças oportunistas
nos seres humanos (ALMEIDA et al., 1988; MURRAY, 2014).
No presente trabalho notou-se que não houve
crescimento fúngico em condições de formol diluído a
concentrações superiores a 12% para parte das espécies,
porém a ANVISA regulamenta o uso do formaldeído para
conservação de peças biológicas em concentrações de até
10% com o mesmo para a segurança da saúde humana dos
manipuladores e estudantes da área da saúde que
inevitavelmente entrarão em contato com o material. O que
pode ser feito como tentativa eficaz de redução dos micro-
organismos degradadores dos cadáveres em relação ao
material utilizado é sua troca regular periódica. Os custos em
relação ao formaldeído não se comparam com os riscos a
saúde humana quando as condições de biossegurança estão

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
insuficientes nos ambientes laboratoriais, hospitalares, clínicas
e outros ambientes (BURGE, 2002).
A preocupação com a conservação das peças
anatômicas referente à sua deterioração por fungos deve ser
causa de iniciativa para que haja mais cautela para o uso mais
frequente de antimicrobianos nos ambientes laboratoriais, que
haja sempre a preocupação com a assepsia por todos os que
transitam pelos laboratórios pois acabam sendo veículos de
microorganismos no geral (CALVO, 2002).
Trocas periódicas do formaldeído utilizado para a
conservação das peças anatômicas ou o uso de outros
conservantes que possuam uma ação antimicrobiana superior
ou igual ao formaldeído e conservem as peças anatômicas
como álcool etílico, fenol e glicerina apresentando menos
efeitos adversos como risco ao câncer trazidos pelo
formaldeído à saúde humana (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 2004) como debilitação da visão, aumento do fígado
(ANVISA, 2005), irritação das mucosas (LORENZINI, 2003) é
importante.
A qualificação da mão de obra dos profissionais é
importante, ressaltando a necessidade de cuidados básicos
como higienização das mãos, uso de antimicrobianos em
bancadas e outros instrumentos ao uso adequado de
vestimentas próprias para os serviços como luvas, máscaras e
jalecos descartáveis (CHIA et al., 1992; MURRAY, 2014).
Nossos resultados levaram a crer que os fungos
presentes nas peças anatômicas conservadas em solução de
formol a 10%, não morrem quando ficam submersos na
solução dentro das cubas, mas, poderiam estar em um estado
de dormência. Porém, quando as peças são retiradas das

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
cubas e ficam expostas sobre as bancadas por períodos
indeterminados, enquanto os estudos são efetuados, o formol
das peças começa a evaporar, diminuindo sua concentração e
aí os conídios dos fungos começariam a germinar,
contaminando assim o ambiente do laboratório,
proporcionando desta forma, um risco à saúde dos ocupantes.

4 CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos, conclui-se que foi


possível identificar 13 isolados fúngicos distribuídos em 6
gêneros diferentes. Foi constatada a presença de colônias do
gênero Aspergillus tanto no ambiente como nas peças
anatômicas. Os isolados pertencentes aos gêneros
Trichophyton, Penicillium e Aspergillus apresentaram
resistência às concentrações de 10 % e estas duas últimas
não tiveram seu crescimento totalmente inibido mesmo em
contato com formaldeído na concentração 12%. Esses
resultados enfatizam a necessidade da substituição da
solução de formol por outras soluções conservadoras que, se
possível, sejam inócuas à saúde ou, ao menos, a ela ofereçam
menor risco. Face ao grau de risco para a saúde humana,
graças aos gêneros encontrados neste estudo, torna-se
imprescindível a adoção de medidas preventivas de proteção
para os usuários do complexo de Laboratório de Anatomia
Humana.

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OCORRÊNCIA DE FUNGOS ALERGÊNICOS EM PEÇAS ANATÔMICAS
HUMANAS, ACONDICIONADAS NO COMPLEXO LABORATORIAL DE
ANATOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA – PB
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598
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
CAPÍTULO 31

PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS


TIPO COALHO COMERCIALIZADOS EM
APARECIDA, PARAÍBA
Plínio Tércio Medeiros de AZEVEDO 1
Yaroslávia Ferreira PAIVA 2
Rafael Ferreira Lima 3
Everton Vieira da SILVA 4
Alfredina dos Santos ARAÚJO 5
1
Graduando em Engenharia de Alimentos, UFCG; 2 Mestranda em Sistemas Agroindustriais,
UFCG; 3 Nutricionista, FIP; 4 Doutor em Química, UFPB; 5 Professora do CCTA/ UFCG;
eng.pliniotercio@gmail.com.br

RESUMO: O queijo coalho é um queijo largamente


comercializado no estado da Paraíba, seja produzido por
indústrias ou por pequenas queijeiras, porém sua maior
produção é artesanal. Apesar disso, sua fabricação não conta
com tecnologia apropriada para a garantia de sua qualidade.
Sendo assim, objetivou-se avaliar a qualidade microbiológica
de queijos de coalho comercializados em Aparecida, Paraíba.
As análises microbiológicas foram realizadas considerando
metodologia proposta por Silva et al (2010) em todos os
procedimentos, onde os parâmetros utilizados foram
Coliformes à 35ºC e à 45ºC, Salmonella sp., Staphylococcus
spp., Escherichia Coli., Contagem total de bactérias Aeróbias
Mesófilas (CTM) e Bolores e leveduras. Os resultados obtidos
para Coliformes à 35 e a 45ºC variaram de 0,72 a 12 NMP/g e
0,3 a 9,3 NMP/g, respectivamente, estando dentro do padrão
permitido pela legislação vigente. Em relação aos demais
microrganismos, também estiveram dentro do permitido para
Escherichia Coli. (ausência em 100%), Staphylococcus spp.
(1,63 a 1,2x103 UFC/g) e Bolores e leveduras (0 a 4,167x10
599
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
UFC/g). Por outro lado, altas contagens de CTM foram
observadas (3,6x10 a 9,54x103 UFC/g) e presença de
Samonella sp. em três dos cinco estabelecimentos analisados.
Dessa forma, conclui-se que os queijos de coalho
apresentaram em sua maioria condições higiênico-sanitárias
insatisfatórias para consumo/comercialização, representando
um risco para a saúde das pessoas que consumam esse tipo
de produto.
Palavras-chave: Higiene. Samonella sp. Qualidade.

1 INTRODUÇÃO

Os queijos são alimentos derivados do leite, ricos em


proteínas de alto valor biológico, cálcio, fósforo, zinco, iodo,
selênio, vitaminas e oligoelementos, existindo em todo o
mundo mais de 1.000 tipos, feitos a partir de diferentes leites e
diferentes processos de produção (FREITAS FILHO, 2009).
Inúmeros são os tipos de queijos comercializados em nosso
país, onde cada tipo ganha destaque em regiões especificas,
como o queijo coalho no nordeste, o minas frescal e padrão na
parte sudeste e centro-oeste, o queijo prato e do reino na
região sul (SEVERO, 2015).
O queijo de coalho é um dos produtos mais difundidos
na região Nordeste, sendo amplamente fabricado e
consumido, com isto passa a possuir grande importância
sócio-econômica, com participação direta na fonte de renda e
geração de emprego local e garantindo a manutenção do
homem no campo (LIMA, 2010; PAGANI et al, 2013). É
considerado como um patrimônio da população nordestina,
despertando o interesse dos agentes promotores do
desenvolvimento, dos produtores, de instituições públicas e
privadas e gestores públicos (MENEZES, 2011).

600
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
É um queijo largamente comercializado no estado da
Paraíba, principalmente na região do Sertão, seja produzido
por indústrias ou por pequenas queijeiras, porém sua maior
produção é a artesanal. Apesar de sua importância econômica
e grande popularidade, sua fabricação não conta com
tecnologia apropriada para a garantia de sua qualidade.
Para Paiva, Silva e Araújo (2014) grande parte dos
produtos lácteos do sertão paraibano são produzidos
artesanalmente e obtidos do leite de animais advindos de
criações de pequeno porte, nas zonas rurais das próprias
cidades, onde muitas vezes não possuem as mínimas
condições de extração, armazenamento e transporte
necessários a um alimento e/ou matéria-prima de qualidade.
Esse tipo de queijo quando produzido artesanalmente a
partir de leite cru, sem nenhum tratamento térmico, contraria a
recomendação da Portaria n. 146 de 7 de março de 1996
(BRASIL, 1996) , que propõe a pasteurização do leite usado
na produção do queijo, onde esse tratamento vai contribuir
para redução de microrganismos na matéria-prima,
consequentemente no produto final (FREITAS, TRAVASSOS
e MACIEL, 2013).
As propriedades microbiológicas do leite para produção
do queijo de coalho se encontra como um dos maiores
desafios na produção, pois apenas uma minoria dos queijos
são produzidos com leite pasteurizado, basicamente apenas
os industrializados, com isso, os queijos de coalho produzidos
de forma artesanal, não existe controle sanitário dos rebanhos
e padronização no processo, implicando na produção de
queijo coalho com baixo rendimento na fabricação e não
seguro para consumo (OLIVEIRA et al., 2010).

601
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
Várias pesquisas tem confirmado casos de
contaminação por microrganismos patogênicos e
deterioradores em queijos coalho. Dentre os microrganismos
patogênicos, destacam-se Sthaphylococcus aureus,
Salmonella sp. E Escherichia coli. (MENESES et al., 2012).
Atualmente, em função do grande consumo deste
produto, existe uma legislação nacional específica, por meio
do Regulamento Técnico de Indentidade e Qualidade de
Produtos Lácteos, o qual estabelece os padrões de identidade
e os requisitos mínimos de qualidade que o queijo coalho deve
cumprir para ser destinado ao consumo humano (FREITAS
FILHO et al., 2012).
Tendo em vista grande importância econômica e nutricional
do queijo de coalho para região onde é produzido e
comercializado, este trabalho teve como objetivo avaliar a
qualidade microbiológica de queijos de coalho comercializados
em cinco estabelecimentos comerciais localizados no
municípior de Aparecida, Paraíba.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Foram coletadas cinco amostras de queijos tipo coalho


produzidos de forma artesanal e comercializados em cinco
diferentes pontos de venda da cidade de Aparecida, Paraíba,
entre os meses de abril e setembro de 2017, totalizando assim
vinte e cinco amostras.
Após a coleta, as amostras foram transportadas
imediatamente em caixas isotérmicas contendo gelo, em uma
temperatura de aproximadamente 5ºC, para o Laboratório de
Microbiologia de Alimentos (LMA), do Centro de Ciências e

602
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
Tecnologia Agroalimentar, da Universidade Federal de
Campina Grande.
As análises microbiológicas foram realizadas
considerando metodologia proposta por Silva et al (2010) em
todos os procedimentos de análise, descritas a seguir. Os
parâmetros utilizados para verificação da qualidade
microbiológica foram Coliformes à 35ºC e à 45ºC, Salmonella
sp., Staphylococcus spp., Escherichia Coli., Contagem total de
bactérias Aeróbias Mesófilas (CTM) e Bolores e leveduras.

2.1 COLIFORMES À 35ºC E À 45ºC

Cada diluição foi semeada em três tubos, contendo


caldo Lauril Sulfato Triptose (LST), para realização do teste
presuntivo/24h a 35 ºC, em seguida transferiu-se uma alíquota
dos tubos positivos para cultura em meio Caldo Verde Bile
Brilhante durante 24h a 35ºC para a quantificação do número
mais provável de coliformes a 35ºC, onde os tubos que
apresentaram turvação e/ou bolhas (considerados positivos)
foram repicados para o meio de cultura Caldo EC (NMP), para
a quantificação de Coliformes a 45 ºC.

2.2 SALMONELA SP.

Pipetou-se assepticamente 0,1 ml da diluição de 10 -1


para cada amostra, colocou-se em placas de Petri
identificadas, contendo meio Àgar Rambach, invertidas e
incubadas à 35ºC, por 48h.

603
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
2.3 STAPHYLOCOCCUS SPP.

Pipetou-se assepticamente 0,1 ml das diluições de 10 -1


10-210-3 para cada amostra, colocou-se em placas de Petri
identificadas, contendo meio Baird Parker aditivado com
emulsão de gema de ovo a 50% e Telurito de Potássio a 1%,
invertidas e incubadas à 35ºC, por 48h.

2.4 CONTAGEM TOTAL DE BACTÉRIAS AERÓBIAS


MESÓFILAS (CTM)

Pipetou-se assepticamente 1,0 ml das diluições 10 -1 10-


2 e 10-3 para cada amostra, colocou-se em placas de Petri

identificadas e após, adicionou-se meio Agar Nutriente. As


placas foram invertidas e incubadas à 35-37ºC, por 48h.

2.5 BOLORES E LEVEDURAS

Pipetou-se assepticamente 1,0 ml das diluições 10 -1 10-


2 e 10-3 para cada amostra, colocou-se em placas de Petri

identificadas e após, adicionou-se meio de cultura Àgar Potato


Dextrose. As placas foram invertidas e incubadas à
temperatura ambiente, por 5 dias.

2.6 ESCHERICHIA COLI.


Para verificação da presença ou ausência de E. coli,
dos tubos considerados positivos no caldo EC foram retiradas
uma alíquota e semeada em placa de petri, contendo o meio
de cultura EMB Agar, sendo incubado a 35±2°C por 48 horas
(APHA, 2001).

604
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tab. (1), apresenta a média dos resultados dos


queijos de coalho analisados para os parâmetros de
Coliformes à 35ºC e à 45ºC (NMP/g).

Tabela 2. Média dos resultados obtidos para Coliformes à


35ºC e à 45ºC (NMP/g) em todos os pontos de venda
avaliados.

Pontos de Coliformes à 35ºC Coliformes à 45ºC


Comercialização

QC1 4,4 (NMP/g) 0,91 (NMP/g)

QC2 0,72 (NMP/g) 0,3 (NMP/g)

QC3 21 (NMP/g) 9,3 (NMP/g)

QC4 0,91 (NMP/g) 0,36 (NMP/g)

QC5 12 (NMP/g) 1,1 (NMP/g)

Fonte: pesquisa direta

A Portaria n. 146, de 07 de março de 1996, do


Ministério da Agricultura (BRASIL, 1996), preconiza que em
queijos do tipo quartiolo, cremoso, criolo, minas frescal e
coalho os níveis de Coliformes à 35ºC seja de no máximo 5 x
105 NMP/g, para que esses queijos sejam comercializados
sem nenhum risco à saúde dos consumidores. Na Tab. (1)

605
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
acima é possível identificar que todos os queijos analisados
estão dentro dos parâmetros que a portaria preconiza, com
resultados de 4,4, 0,72, 21, 0,91 e 12 NMP/g, para QC1, QC2,
QC3, QC4 e QC5 respectivamente, sendo que as amostras
QC3, QC5 e QC1 apresentaram os maiores níveis de
Coliformes à 35ªC, valor esse que mostras possíveis falhas na
produção dos produtos e reflete condições higiênico-sanitárias
insatisfatórias.
Resultados próximos foram encontrados por Alves, Brito
e Vasconcelos (2014) quando analisaram queijos coalho da
cidade de João Pessoa (PB), onde as amostras variaram de 0
a >1100 NMP/g, estando todas dentro da legislação vigente.
Santos et al. (2016) encontrou valores superiores
quando analisou queijos coalho comercializados na cidade de
Araruna – PB, onde a quantidade de coliformes totais variou
de 2,4x10³ a 2,4x10^6 NMP/g estando fora dos padrões
estabelecidos e mostrando falhas durante o processamento do
produto.
Quando se trata de Coliformes à 45ºC a RDC n. 12, de
02 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001), estabelece que para
queijos, especificamente de coalho, os parâmetros
encontrados sejam de no máximo 5 x 103 NMP/g. Sendo assim
todos as amostras analisadas estão dentro do que preconiza a
RDC a legislação.
Resultados semelhantes foram encontrados por Silva
et. al (2015) quando analisou amostras de queijos coalho na
cidade de Marabá – PA, onde foi observado que todas as
amostras apresentaram-se dentro dos padrões estabelecidos
apresentando uma média de 1,0x10 para todas as amostras.
Sousa et. al (2014) encontrou resultados diferentes do
presente estudo quando 32 amostras de 104 amostras

606
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
estavam fora dos limites aceitos pela legislação (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA).
A presença desses microrganismos, mesmo que em
quantidades pequenas e permitidas pela legislação, mostram
que existe falhas na fabricação desses queijos e demonstram
deficiência no tratamento térmico utilizado ou na escolha das
matérias-primas.
A Fig. (1) apresenta os resultados da quantificação de
Staphylococcus spp. com valores variando de 0,167 x 10 a 1,2
x 10 ³ UFC/g .

Figura 1. Média dos resultados obtidos para Staphylococcus


spp. (UFC/g) em todos os pontos de venda avaliados.

Fonte: Pesquisa direta.

A RDC n°12 (BRASIL, 2001) estabelece limite máximo


de 5 x 10³ UFC/g, portanto, todas as amostras estavam dentro
do permitido pela legislação vigente.

607
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
Os valores encontrados na presente pesquisa são
semelhantes aos encontrados por Borges et al. (2008), ao
avaliar o perfil da contaminação de queijos por Staphylococcus
em uma linha de produção, sendo assim os valores desse
microrganismo variou de 0,15 x 10 UFC/g à 8,2 x 10 3 UFC/g
nos queijos crus analisados. Medeiros et al. (2016), ao
analisar a queijarias do Rio Grande do Norte também
encontrou resultados semelhantes ao do presente estudo
(6,08 a 7,50 UFC/g). Por outro lado, Santos et al (2016)
avaliando queijos do mesmo tipo e em município (Araruna) do
mesmo Estado do que os avaliados aqui, obteve contagens
bastante superiores, variando de 2,4x103 a 2,4x106 UFC/g
Embora os queijos estejam dentro dos padrões
estabelecidos, é fundamental que as Boas Práticas de
Fabricação sejam praticadas antes, durante e depois da
produção dos queijos, para que se tenham uma contagem
mínima desse grupo de bactéria.
Na Fig. (2) estão dispostos os resultados obtidos para
Contagem total de bactérias aeróbias Mesófilas (CTM) em
todos os estabelecimentos analisados.
Na figura abaixo podemos observar altas contagens de
bactérias aeróbias mesófilas em todos os queijos analisados,
variando de 3,6 x 10 a 9,5 x 10³ UFC/g. O mesmo ocorre em
Araruna outra cidade do estado da Paraíba (SANTOS et al,
2016) com contagens variando de 3,4x10 8 a 4,7x108 UFC/g.
Em relação a outros estados, as contagens continuam altas
como em Sergipe, onde 85% dos queijos apresentaram
contagens maiores que 107 UFC/g (NEVES et al, 2015).

608
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
Figura 2. Média dos resultados obtidos para Contagem total
de bactérias aeróbias Mesófilas (UFC/g) em todos os pontos
de venda avaliados.

Fonte: Pesquisa direta.

Este grupo de bactérias que foram analisadas, são de


grande importância para segurança de alimentos, pois
segundo Silva (2012), a maioria das bactérias patogênicas, ou
seja, causadoras de doenças, estão incluídas neste grupo de
bactérias. Sendo assim, é notório que quanto menor for a
prevalência de CTM em queijos ou nos demais alimentos,
melhor é sua qualidade sanitária, refletindo assim em um
produto seguro e apto para comercialização. Por outro lado,
Neves et al (2015) destacam que as bactérias láticas são
normalmente mesófilicas, o que implicaria consequentemente
em altas contagens desses microrganismos.
A Fig. (3) apresenta os resultados obtidos para Bolores
e Leveduras dos queijos analisados.

609
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
Figura 3. Média dos resultados obtidos para Bolores e
Leveduras (UFC/g) em todos os pontos de venda avaliados.

Fonte: Pesquisa direta.

A Portaria n. 146/1996 preconiza que o número de


bolores e leveduras em queijos seja inferior a 5 x 10 para que
esse produto esteja com qualidade higiênico-sanitário
adequada para comercialização.
A figura acima mostra que todas as amostras
analisadas estão dentro do que a portaria preconiza, sendo
que a amostra QC2 apresentou uma ausência de bolores e
leveduras, sendo assim, é a amostra com condições higiênico-
sanitárias mais adequadas para a comercialização e consumo.
Já as amostras QC4, QC5, QC3 e QC1 apresentaram valores
de 41,67, 38,33 , 15 e 11,67 respetivamente.
Diferente dos resultados encontrados no presente
trabalho, 82% das 75 amostras de queijo coalho

610
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
comercializadas em quatro municípios de Sergipe
apresentaram contagens maiores que 107 UFC/g (NEVES et
al, 2015). Altas contagens para bolores e leveduras também
foram verificadas em queijos comercializados em Limoeiro do
Norte (CE) onde 100% apresentaram contagens maiores que
4x 105 UFC/g (SANTOS et al, 2015).
Em relação a os demais queijos, o resultado encontrado
aqui ainda é satisfatório, pois Pinto et al. (2011), analisando a
qualidade do queijo frescal comercializado no município de
Santa Helena, encontrou resultados para bolores e leveduras
que variaram de 1 x 10 UFC/g à 5,1 x 106 UFC/g.
Altas contagens de bolores e leveduras revelam
condições higiênicas sanitárias insatisfatórias, comprometendo
a qualidade e as características do produto, além de um
encurtamento do tempo de prateleira.
A Tab. (2) a seguir apresenta em porcentagem a
presença de Salmonella sp. e Escherichia Coli nas amostras
de queijos investigados.

Tabela 2. Resultados obtidos para Samonella sp. (presença


%/ ausência) e Escherichia Coli. (presença %/ ausência) em
todos os pontos de venda avaliados.

Pontos de Salmonella spp. Escherichia Coli.


Comercialização
QC1 Presente em 20% Ausente
das amostras
QC2 Ausente Ausente

QC3 Presente em 60% Ausente


das amostras

611
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
QC4 Presente em 40% Ausente
das amostras
QC5 Ausente Ausente

Fonte: Pesquisa direta.

Escherichia Coli. apresentou-se ausente em 100% das


amostras avaliadas, diferente dos resultados encontrados por
Alves, Brito e Vasconcelos (2014) analisando queijos
comercializados na capital do mesmo estado (Paraíba), onde
88,9% dos queijos estavam contaminados com essa bactéria.
O mesmo ocorreu com 80% das amostras avaliadas por
Santos e seus colaboradores (2015) em queijos
comercializados de coalho em Limoeiro do Norte (CE) e em
40% das 60 amostras do mesmo queijo, comercializados em
15 diferentes estabelecimentos de Aracaju (SE).
O parâmetro Salmonella sp. esteve presente em três
dos cinco pontos de comercialização averiguados, variando
quanto a sua porcentagem de cada ponto de coleta, onde
esteve presente em 20 % , 60% e 40% das amostras QC1,
QC3 e QC4 respectivamente e apenas as amostras QC2 e
QC5 teve ausência desse microrganismos. Esse
microrganismo também esteve presente em 40% dos queijos
de coalho dos princiapais pontos de comercialização da
cidade de Limoeiro do Norte (CE) analisados por Santos et al
(2015).
Por outro lado, Souza et al (2014) encontraram
resultados diferentes quando analisaram 104 amostras de
queijo coalho comercializados em seis estados no nordeste
brasileiro, onde apenas em uma amostra foi detectada a
presença de Salmonella. O mesmo ocorreu com os resultados

612
PERFIL MICROBIOLÓGICO DE QUEIJOS TIPO COALHO COMERCIALIZADOS
EM APARECIDA, PARAÍBA
de Silva et al (2015) que apresentaram ausência de
Salmonella sp. em 100% das amostras de queijos coalho
elaboradas com leite pasteurizado e comercializadas no
município de Marabá (PA).
Desta forma, podemos acreditar que nos pontos que
houve a presença de Salmonella sp. certamente as condições
higiênico-sanitária e/ou o tratamento térmico das matérias
primas não foram satisfatórios, tornando os queijos que
apresentaram esse microrganismo impróprios ao consumo.

4 CONCLUSÕES

Os queijos de coalho da cidade de Aparecida – PB


analisados, apresentaram em sua maioria condições higiênico-
sanitárias insatisfatórias para serem comercializadas e
consumidos consequentemente, pois em 60% dos locais
analisados, pelo menos uma amostra apresentou presença de
Salmonella sp., representando um risco para a saúde das
pessoas que consumam esse tipo de produto.
Ressalta-se a importância do uso de leite pasteurizado na
elaboração dos queijos tipo coalho, como também a aplicação
das Boas Práticas de Fabricação, orientando os produtores e
comerciantes, para que seja oferecido um produto
microbiologicamente seguro para o consumo da população.
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615
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
CAPÍTULO 32

PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO


DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE
BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
Francisco de Assis Silveira de OLIVEIRA 1
Liliane Andrade da SILVA 2
Tatiane Santi GADELHA 3
Carlos Alberto de Almeida GADELHA 4
1
Graduando do curso de Farmácia, UFPB; 2 Doutoranda do programa de ciência e tecnologia
de alimentos/ UFPB; 3 Professora do DBM/ UFPB; 4 Orientador/Professor do DBM/UFPB.
Fdeassisso17@gmail.com

RESUMO: Bactérias ácido láticas (BAL) são amplamente


empregadas na produção de queijos por auxiliarem na
fermentação, no flavor e na redução dos níveis de patógenos.
Dentre estes, encontra-se Escherichia coli, que pode causar
danos graves ao intestino dos mamíferos. A sua presença em
alimentos indica contaminação e pode comprometer a saúde
do consumidor. O objetivo desse trabalho foi detectar a
presença de E. coli nas amostras de queijo coalho caprino e
investigar a atividade antimicrobiana “in vitro” de cepas de BAL
isoladas desse mesmo queijo frente a esses micro-organismos
indicadores. Realizou-se o tratamento do sobrenadante das
cepas de BAL (LA8, LA9, LA15, LA19, LA28, LA45, LA50), a
padronização das cepas de E. coli (EC2, EC3 e EC14) e por
fim os testes antimicrobianos. Quanto à pesquisa de E. coli no
queijo caprino, não foram encontrados indícios de
contaminação. Assim, os testes antimicrobianos foram
realizados com cepas de E. coli isoladas de queijo coalho

616
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
bovino. Os resultados dos testes de inibição indicaram que
todas as cepas de BAL foram capazes de inibir o crescimento
de E. coli no volume máximo de sobrenadante (60 µL), sendo
LA9, LA15, LA45 e LA50 os mais potentes agentes
antimicrobianos. Pode-se concluir, então, que as bactérias
láticas podem ser usadas como uma alternativa para controle
microbiológico de produtos lácteos, conferindo segurança e
qualidade aos alimentos.
Palavras-chave: Bactérias láticas. Escherichia coli. Atividade
antimicrobiana.

1 INTRODUÇÃO

O queijo tipo coalho é obtido pela coagulação do leite a


partir do coalho ou outras enzimas coagulantes, auxiliada ou
não pela ação de bactérias láticas selecionadas, sendo
comercializado, geralmente, após dez dias de sua produção
(RONCATTI, 2016). Este queijo tem grande importância na
economia das regiões produtoras de leite de cabra. Segundo
Cordeiro, Cordeiro e Costa (2013), a fabricação e a
comercialização desse derivado lácteo apresentam-se mais
rentáveis que a comercialização do leite in natura.
Além da importância econômica, o queijo coalho
caprino apresenta propriedades bioquímicas e nutricionais que
superam muitas vezes às do queijo de origem bovina
(QUEIROGA et al., 2013). Isso porque, o leite de cabra possui
uma composição química composta de proteínas de grande
importância biológica e ácidos graxos essenciais, além de
aminoácidos, vitaminas e minerais que caracterizam esse leite
como um alimento de alto valor nutricional (CORDEIRO;
CORDEIRO; COSTA, 2013). Além disso, o leite caprino possui

617
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
relevância na alimentação infantil pela sua hipoalergenicidade,
pois este produto possui níveis reduzidos ou ausentes das
frações α-s1 caseína e β-lactoglobulina. Estas características
tornam-no menos alergênicos quando comparados com leite
bovino que apresenta tais frações proteicas (GOLINELLI et al.,
2014).
As bactérias ácido láticas (BAL) constituem um grupo
de micro-organismos gram positivos, catalase negativos, não
esporulados, anaeróbios, aerotolerantes, ácido tolerantes,
fastidiosos e fermentadores. Essas bactérias se distribuem em
mais de 20 gêneros e são encontradas em ambientes ricos em
nutrientes, bem como na microbiota dos mamíferos (SIMEONI
et al., 2014; MARTINEZ; BEDANI; SAAD, 2015).
As BAL desempenham um importante papel na
produção de queijos, pois auxiliam no processo de
fermentação dos carboidratos, na manifestação das
características sensoriais e na conservação do alimento
(OLIVEIRA, 2016; HERMANNS et al., 2017).
Essa ação bioconservativa deve-se à exclusão
competitiva que ocorre entre os micro-organismos desse
laticínio. Nesse processo, BAL ganham vantagem em relação
às bactérias deteriorantes e patogênicas, uma vez que
sobrevivem em pH baixo e sintetizam substâncias
antagonistas contra esses patógenos, como ácido lático,
diacetil, peróxido de hidrogênio e bacteriocinas - peptídeos
pequenos catiônicos, termoestáveis, ativos contra outros tipos
de bactérias diferentes da produtora (BAJPAI et al., 2016;
HERMANNS et al., 2017; MAGALHAES, 2016).
A ação antimicrobiana de espécies de BAL frente a
patógenos e deteriorantes, em alimentos, é amplamente

618
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
relatada na literatura; pois muitas cepas de BAL isoladas de
leite e queijo apresentaram atividade antagonista frente
Pseudomonas spp., Staphylococcus spp.,
Listeria spp., Salmonella spp., Bacillus spp., e bactérias
coliformes (SOUZA, 2015).
Vários estudos, porém, mostram a presença de micro-
organismos patogênicos em queijos “tipo coalho”, em
quantidades que ultrapassam os limites determinados pela
legislação. Estes, além de diminuírem a qualidade do
alimento, podem prejudicar a saúde do consumidor. Dentre as
bactérias patogênicas observadas no queijo coalho, destaca-
se Escherichia coli (SILVA, et al. 2014).
Escherichia coli corresponde ao conjunto de bactérias
que pertencem à família Enterobacteriaceae, gram-negativas,
anaeróbias facultativas, não-esporuladas, fermentadoras,
bacilares, flageladas, que compõe o grupo dos coliformes
fecais, sendo encontrada no trato gastrointestinal dos animais
(ALMEIDA; LEONÍDIO; ANDRADE, 2017; OLIVEIRA, 2013).
Inicialmente, acreditava-se que todas as cepas de E.
coli eram inofensivas, mas, hoje, sabe-se que algumas delas
possuem fatores de virulência, como proteínas de adesão, de
invasão e proteínas tóxicas, que causam danos à saúde do
hospedeiro, indo desde diarreia à insuficiência renal (ROSA;
BARROS; SANTOS, 2016).
Logo, considerando a patogenicidade da Escherichia
coli e sua ocorrência em produtos lácteos em níveis elevados,
ultrapassando os limites estabelecidos pela legislação, bem
como a potente atividade antimicrobiana de bactérias ácido
láticas já registrada na literatura, o presente estudo teve como
objetivo detectar a presença de E. coli nas amostras de queijo

619
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
coalho produzidos com leite de cabra e investigar a atividade
antimicrobiana “in vitro” de cepas de BAL isoladas desse
mesmo queijo frente a esses micro-organismos indicadores.

2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Micro-organismos utilizados na pesquisa

Foram utilizadas cepas de BAL isoladas de queijos


coalho caprino LA8, LA9, LA15, LA19, LA28, LA45, LA50 para
verificar o potencial antimicrobiano das mesmas frente às
cepas de E. coli isoladas de queijo coalho bovino: EC2, EC3,
EC14, pertencentes ao banco de cepas dos laboratórios de
Proteômica Estrutural (LaProtE) e Bioquímica, Genética e
Radiobiologia (BioGeR-Lab) do Departamento de Biologia
Molecular (CCEN), Campus I da UFPB, onde foram realizadas
as análises microbiológicas.

2.2 Pesquisa de E. Coli em queijo coalho de leite de cabra

Para pesquisa de E. coli, foram utilizados 5 amostras de


queijo coalho caprino comercializados nas redes varejistas de
João Pessoa. Dessas amostras, 25 g foram adicionadas a 225
mL de água peptonada (Himedia) e, posteriormente, foram
preparadas diluições decimais seriadas utilizando solução de
água peptonada 1%. Alíquotas de 0,1 mL das diluições
escolhidas foram semeadas em EMB Agar (Eozina Azul de
Metileno, Acumedia) em duplicata. As placas foram incubadas
a 37 °C e, após 48 horas, foi realizada a identificação das

620
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
colônias que apresentavam as características típicas de E.
coli: preto-azuladas com reflexo verde metalizado.

2.3 Teste de atividade antimicrobiana de BAL frente E. coli

Para realizar o teste de atividade antimicrobiana, foi


necessário realizar antes o tratamento do sobrenadante de
BAL e a padronização dos inóculos de E. coli (triplicata).

2.3.1 Tratamento das Bactérias Láticas

Realizado a partir da técnica descrita por Rosa et al.


(2002), as cepas de BAL de queijos coalho caprino mantidas
em glicerol foram reativadas por repiques em caldo MRS
(Man, Rogosa e Sharp, Acumedia), sendo a cepa LA45
incubada a 25ºC e as demais a 37°C, por 24 a 72 horas.
Após crescimento das bactérias, alíquotas de 1 mL da
cultura foram coletadas e transferidas para tubos “eppendorf”
devidamente identificados e, em seguida, submetido a
centrifugação por 10 minutos, a 4°C e 14000 rpm (Centrifuga
Eppendorf modelo 5430R). Após isso, o sobrenadante foi
transferido para outro tubo “eppendorf” e o precipitado foi
descartado. Com NaOH 5M, HCl 1M estéreis e fita indicadora
de pH (Macherey-Nagel, Alemanha), o sobrenadante teve seu
pH ajustado para próximo de 6,0 e passou por aquecimento
em banho-maria ultratermostatizado (Solab modelo SL152),
com temperatura em torno de 80°C por 10 minutos.

621
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
2.3.2 Padronização dos inóculos

Para padronizar os inóculos patogênicos, foi seguido o


método de contagem de colônias mencionado por Miles, Misra
e Irwin (1938), o método da gota. As cepas de E. coli isoladas
do queijo coalho bovino mantidas em glicerol foram reativadas
em caldo BHI (Brain Heart Infusion, Fluka Analytical), sendo
incubadas a 37°C, de 18 a 24 horas. Após isso, foram feitas
diluições seriadas de alíquotas destas culturas em água
peptonada 0,1%. Posteriormente, gotas de 10 µL e 20 µL das
diluições 10-3 a 10-9 foram postas em placas com meio para
crescimento, BHI sólido (BHI caldo acrescido de 1% de
Agar/Himedia) e incubadas a 37°C, de 15 a 18 horas.
Após o período de incubação, foi feita a contagem das
Unidades Formadoras Colônias (UFC) por diluição,
descartando-se os setores das gotas que apresentaram
confluência e/ou apresentaram número de colônias que não se
aproximaram de 20. Segundo Miles, Misra e Irwin (1938),
quando a quantidade de colônias não se distancia desse valor,
o número de células fica padronizado em torno de 10 5 a 106
células/mL. A tabela 1 relaciona as cepas aos valores do
volume da gota, número de colônias e diluição do inóculo
necessários para tal.

Tabela 1 – Volume da gota, diluições, número de colônias das


cepas de E. coli padronizadas
Isolados Volume da gota (µL) Diluição Nº de colônias
EC2 20 10-6 15
EC3 20 10-7 18
EC14 20 10-6 22

622
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
2.3.3 Teste de Atividade Antimicrobiana

Estando os inóculos patogênicos padronizados e o


sobrenadante das cepas de BAL tratado, foi realizado o teste
de atividade antimicrobiana, seguindo o protocolo apresentado
por Bordignon-Junior et al. (2012), com algumas adaptações:
o sobrenadante tratado das bactérias láticas foi distribuído nos
poços em diferentes volumes: 20, 30, 40, 50 e 60 µL, em
duplicata. Em seguida, 20 µL do patógeno padronizado foram
acrescentados a esses poços, e, posteriormente, foram
adicionados volumes complementares de BHI caldo 140, 130,
110 e 100 µL, a fim de totalizar 180 µL em cada poço. Foram
feitos os controles positivo (90 µL de BHI caldo e 90 µL de
cultura) e negativo (180 µL de BHI caldo) e a microplaca foi
incubada a 37°C, de 10 a 15 horas (de acordo com a cepa),
sendo realizadas leituras de absorbância (λ=630 nm) a cada
0,5 hora, durante a incubação. Foram utilizados leitor
espectrofotômetro tipo ELISA (Multiskan Go - Thermo
Scientific) e programa Skanit Software 3.2 (Multiskan Go -
Thermo Scientific) para coleta dos dados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Pesquisa de E. Coli em queijo coalho de leite de cabra

Nas amostras de queijo caprino analisadas, não foi


detectada a presença de E. coli. A ocorrência de BAL
antagonistas na microbiota dessas amostras pode justificar a
inexistência desse micro-organismo indicador. Achados
semelhantes foram encontrados por Oliveira et al. (2016) que
623
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
avaliaram as características físico-químicas, microbiológicas e
sensoriais de queijo Minas frescal de leite de cabra, quando
acidificado diretamente pelo ácido lático e indiretamente por
espécies de BAL, e verificaram que os queijos encontravam-se
em conformidade de acordo com os padrões de qualidade
microbiológica exigidos pela legislação, apresentando baixos
níveis de coliformes termotolerantes, Staphylococcus aureus e
Salmonella spp. Soares (2014) também encontrou resultados
semelhantes, verificando ausência de Salmonella spp., bem
como contagem de Staphylococcus coagulase e de coliformes
dentro dos limites previstos no Regulamento Técnico sobre os
padrões microbiológicos para alimentos, quando avaliou a
qualidade do leite caprino cru, assim como, a do queijo tipo
minas frescal e do soro obtidos dessa mesma matéria prima.
Logo, os testes realizados foram baseados em cepas
de E. coli isoladas de queijo coalho de leite de vaca. Neste, a
quantidade desse micro-organismo indicador ultrapassou os
níveis de segurança estabelecidos pela legislação, 5,0 x 102
NMP/mL, ficando evidenciadas deficiências higiênico-
sanitárias significativas na produção das amostras de queijo
bovino. Resultados como esse foram observados por Araujo
(2017) que, em seus estudos, avaliou o aspecto higiênico-
sanitário dos queijos coalho produzidos no Agreste Paraibano,
onde observou que todas as amostras demonstraram a
presença de coliformes totais e termotolerantes com valores
superiores a 10 x 10³ NMP/mL, significando que os queijos
analisados estavam inadequados para consumo. Freitas,
Travassos e Maciel (2013) avaliaram amostras de leite cru e
queijo de coalho, e verificaram que ambos os produtos
estavam impróprios para consumo, uma vez que a contagem

624
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
de coliformes termotolerantes estava acima do permitido pela
legislação, indicando deficiência de higienização durante o
processo de obtenção desses laticínios.
A contagem de E. coli é utilizada como indicador
higiênico, e a presença desse micro-organismo em contagem
elevada nas amostras de queijo indica que material fecal
entrou em contato com o alimento, de forma direta ou indireta,
o que implica dizer que outros patógenos entéricos podem
estar presentes nesse produto (BELOTI et al., 2015).
O uso de matéria prima de fontes não seguras, de
utensílios mal higienizados ou contaminados para a produção
do queijo coalho, associados ao método de elaboração em
condições impróprias (muitas vezes, sem considerar as boas
práticas de fabricação), o armazenamento e comercialização
em temperaturas inadequadas, somados à riqueza nutricional
dos produtos lácteos tornam esse alimento favorável ao
crescimento de micro-organismos patogênicos (LIMA et al.,
2015). A presença desses micro-organismos pode diminuir a
qualidade do queijo, reduzindo sua vida de prateleira, e pôr em
risco a saúde dos consumidores, podendo causar aos
mesmos Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs),
constituindo, assim, um sério problema de saúde pública
(JÚNIOR et al., 2015).
Os aspectos higiênicos não atendem os requisitos das
Boas Práticas de Fabricação (BFP) e isso pode colocar em
risco a saúde dos consumidores de queijo coalho bovino.
Logo, torna-se imprescindível a identificação dos fatores de
contaminação que afetam as etapas de fabricação desse
produto de forma pontual, para, assim, levantar dados
consistentes e elencar medidas de controle microbiológico

625
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
mais eficazes e seguras de modo a diminuir a incidência de
DTAs e garantir uma maior qualidade desse tipo de queijo.

3.2 Teste de Atividade Antimicrobiana

De acordo com os resultados obtidos com a leitura de


densidade ótica (OD), foi realizada a média dos valores de
absorbância e foram gerados gráficos OD 630 nm em função
do tempo em horas (Fig. 1, 2 e 3), para evidenciar a cinética
de crescimento dos micro-organismos indicadores frente aos
diferentes volumes de sobrenadante das cepas de BAL,
verificando o potencial destas para reduzir o crescimento das
cepas de Escherichia coli. Foi observada a fase lag mais
prolongada em EC14 (6 horas), enquanto que nas demais
cepas esta fase foi de até 5 horas. Resultados semelhantes
foram obtidos por Bordignon-Junior et al. (2012) que
verificaram a fase lag para Escherichia coli em torno de 4
horas.
De acordo com a curva de crescimento microbiano de
cada cepa de E. coli, foi determinado o período de incubação
mais apropriado para verificar a atividade antimicrobiana do
sobrenadante das cepas de BAL frente a esses micro-
organismos (Tab. 2), observando-se a fase logarítmica de
cada cepa. Esta fase foi o ponto-chave escolhido para as
avaliações de inibição, pois, segundo Bordignon-Junior et al.
(2012), é mais recomendável avaliar a ação de substâncias
antimicrobianas sob a fase logarítmica de reprodução, na qual
as células estão metabolicamente energizadas e ativas, em
intensa mitose. Nessa fase, observa-se maior grau de

626
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
mortalidade de Escherichia coli do que nas fases de
adaptação (lag) ou estacionária.

Tabela 2 – Cepas de E. coli e tempo de incubação


Cepas patogênicas Tempo de incubação (horas)
EC2 10
EC3 15
EC14 12

3.2.1 Teste antimicrobiano frente EC2

Os gráficos obtidos mostraram que o sobrenadante das


cepas LA9, LA15 e LA28 tiveram a capacidade de inibir o
crescimento da cepa EC2 por um determinado tempo (efeito
bacteriostático), sendo esse tempo maior conforme o aumento
do volume do sobrenadante. Comportamento semelhante de
E. coli frente substâncias antimicrobianas foi observado por
Campos, Repka e Falcão (2013) que, em seus estudos,
analisaram o crescimento bacteriano em colostro e verificaram
que o leite materno humano apresenta ação bacteriostática
frente E. coli, sendo capaz de retardar a multiplicação celular,
porém sem causar a mortalidade completa das células de E.
coli.
O sobrenadante da cepa LA9 (Fig. 1.A) teve ação
antimicrobiana frente EC2 maior para o volume de 60 µL,
inibindo o crescimento bacteriano por 4,5 horas, enquanto que
o volume de 50 µL inibiu por 3,5 horas e os volumes de 20, 30
e 40 µL por cerca de 2 horas. Já o sobrenadante da cepa
LA28 (Fig. 1.B) teve uma ação inibitória menor em relação ao
da cepa LA9: o volume de 60 µL inibiu o crescimento do

627
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
inóculo EC2 por 3 horas, enquanto que os volumes de 20, 30,
40 e 50 µL tiveram essa ação apenas por 1,5 hora.
A ação inibitória da cepa LA15 frente EC2 (Fig. 1.C),
por sua vez, destacou-se quando comparada a atividade de
BAL anteriores (LA9 e LA28): os volumes de 50 e 60 µL
inibiram o crescimento da cepa EC2, por 4,5 e 5,5 horas,
respectivamente; e os volumes de 20µL, 30 µL e 40 µL tiveram
essa ação por 3 horas.

Figura 1 – Teste de atividade antimicrobiana dos


sobrenadantes das cepas LA9, LA28 e LA15 frente ao micro-
organismo indicador EC2

A B

3.2.2 Teste antimicrobiano frente EC3

Com exceção das cepas LA19 e LA28, todos


sobrenadantes de BAL testados inibiram o crescimento
bacteriano EC3 durante todo o período de teste no volume de

628
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
60 µL, evidenciando um efeito bactericida no volume máximo
de sobrenadante. Tal comportamento também foi observado
por Bordignon-Junior et al. (2012) quando avaliaram a ação
antimicrobiana da nisina frente a patógenos, empregando
concentrações crescentes dessa bacteriocina. Para E. coli,
houve atividade bactericida sob a máxima concentração de
nisina, quando não foi observada multiplicação celular no
período testado, constatando uma atividade bactericida.
O sobrenadante da cepa LA9 (Fig. 2.A) teve atividade
antimicrobiana frente EC3, inibindo o crescimento do micro-
organismo por 8,5 horas no volume de 60µL; por cerca de 2
horas nos volumes de 30, 40 e 50 µL; e por apenas 1 hora no
volume de 20 µL. Já para a cepa LA28 (Fig. 2.B), verificou-se
que os volumes de 60 e 50 µL tiveram essa ação por 3 e 2,5
horas, respectivamente, enquanto que os volumes de
sobrenadante de 20, 30 e 40 µL, por 2 horas.
A cepa LA15 mostrou um alto potencial antimicrobiano
frente EC3 (Fig. 2.C), com tempo de inibição bastante próximo
para os volumes de sobrenadante de 40, 50 e 60 µL, cerca de
9 horas; enquanto que para os volumes de 20 e 30 µL, esse
tempo foi de 5,5 horas. Em contrapartida, a cepa LA19 (Fig.
2.D) mostrou um baixo potencial inibitório frente EC3: todos
volumes de sobrenadante tiveram essa atividade por apenas
2,5 horas. Apesar disso, após o período de inibição, o
crescimento bacteriano foi menor para o volume de 60µL de
sobrenadante, evidenciando, ainda, alguma inibição do
crescimento do micro-organismo.
A cepa LA45 (Fig. 2.E) mostrou-se como um potencial
agente antimicrobiano: o volume de 60 µL inibiu o crescimento
do micro-organismo EC3 por 8,5 horas, enquanto os volumes

629
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
de 40 e 50 µL o fizeram por 6 horas, e de 20 e 30 µL por 5,5
horas. O sobrenadante da cepa LA50 teve comportamento
semelhante quanto ao tempo de inibição: os volumes de
sobrenadante de 50 e 60 µL tiveram atividade antimicrobiana
por 8,5 horas; 30 e 40 µL por 5,5 horas e 20 µL por 4 horas
(Figura 2.F).

Figura 2 – Teste de atividade antimicrobiana dos


sobrenadantes das cepas LA9, LA28, LA15, LA19, LA45 e
LA50 frente ao micro-organismo indicador EC3

A B

C D

E F

630
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
3.2.3 Teste antimicrobiano frente EC14

As cepas de bactérias láticas testadas frente o micro-


organismo EC14 tiveram baixa atividade antimicrobiana,
comparando-se com as cepas testadas frente EC2 e EC3,
evidenciando-se baixo efeito bacteriostático e nenhum
bactericida.
A cepa LA9 (Fig. 3.A) inibiu o crescimento bacteriano
(EC14) por 3,5 horas no volume de 60 µL, enquanto que nos
volumes de 40 e 50 µL inibiu por 1,5 horas; de 30 µL por 0,5
hora e de 20 µL não teve ação inibitória evidente. A cepa LA8
(Fig. 3.B) teve comportamento semelhante: no volume de 60
µL, o sobrenadante inibiu o crescimento do micro-organismo
por 4 horas, no volume de 50 µL por 2,5 horas, enquanto que
nos volumes de 20, 30 e 40 µL por apenas 1,5 horas.
O potencial inibitório da cepa LA19 mostrou-se como o
mais baixo das cepas de BAL testadas frente EC14: no
volume de sobrenadante de 60 µL teve ação antimicrobiana
por 3,5 horas, 40 e 50 µL por 1,5 horas, 30 µL por apenas 1
hora e 20 µL não apresentou atividade evidente (Fig. 3.C). Já
a cepa LA50 (Fig. 3.D) mostrou-se como a mais potente para
inibir o crescimento da EC14: no volume de 60 µL teve ação
inibitória por 4,5 horas, 50 µL por 2,5 horas, e nos volumes 20,
30 e 40 µL por 2 horas.
Embora o protocolo utilizado tenha sido o mesmo em
todos os testes, as diferenças entre os resultados ocorreram.
Isso porque, além de existirem diferenças quanto à
sensibilidade de linhagens diferentes de um determinado
micro-organismo frente a um mesmo produto antimicrobiano
(MILLEZI et al., 2013), as BAL testadas podem pertencer a

631
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
espécies diferentes, o que aumenta ainda mais as possíveis
diferenças quanto à ação inibitória do sobrenadante de tais
cepas frente a Escherichia coli.

Figura 3 – Teste de atividade antimicrobiana dos


sobrenadantes das cepas LA9, LA8, LA19 e LA50 frente ao
micro-organismo indicador EC14

A B

C D

Os resultados desse trabalho estão em concordância


com os de Dias (2014) que avaliou o potencial antimicrobiano
e tecnológico de BAL isoladas de queijos de Coalho produzido
artesanalmente no Município de Venturosa, PE, e determinou
as características físico-químicas desses queijos. A grande
maioria das cepas de BAL testadas foi capaz de inibir o
crescimento de Staphylococcus aureus ATCC 6538 e
Escherichia coli ATCC 25922, confirmando que as BAL
isoladas criam um ambiente desfavorável para micro-

632
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
organismos indicadores, assegurando a qualidade sanitária e
microbiológica desse alimento.
Resultados semelhantes também foram observados por
Costa, Souza e Acurcio (2013) que relataram atividade
antagonista de Lactobacillus spp. contra Staphylococcus spp.
e E. coli, quando avaliaram o potencial probiótico in vitro de 12
amostras de BAL isoladas de queijo-de-minas artesanal da
Serra da Canastra. Portanto, BAL são capazes de inibir micro-
organismos patogênicos de interesse para a saúde pública.
A ação antimicrobiana de BAL também é evidenciada
quando testadas frente a outros micro-organismos: Cunha et
al. (2013) verificaram a ação antagonista de Lactobacillus spp.
isolados de leites fermentados frente Lactobacillus casei, L.
acidophilus, L. acidophilus ICB, Salmonella enteritidis var.
Typhimurium ATCC 13076, S. aureus ATCC 29313 e E. coli
ATCC 25922. As cepas de Lactobacillus spp. mostraram
atividade inibitória contra todos os agentes patogênicos.
Ainda, Andrade (2012) verificou ação antagonista de
Lactobacillus spp. isolados de queijos minas artesanais contra
E. coli, S. aureus, Listeria monocytogenes, Salmonella
enterica var. Typhimurium, Enterococcus faecalis e BAL dos
próprios queijos. Torna-se, pois, evidente que BAL possuem
amplo espectro de atividade antimicrobiana.
O potencial de produção de substâncias
antimicrobianas das bactérias láticas, evidenciado nesse
trabalho, é considerado característica desejável em uma
cultura probiótica, o que torna sua participação relevante na
microbiota de produtos lácteos, ao conferir segurança e
qualidade por reduzir o crescimento de bactérias patogênicas
(GALLINA et al., 2015).

633
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
Além da importância na tecnologia de alimentos dos
produtos lácteos, o emprego de bactérias láticas para
cuidados com a saúde de animais tem ganhado destaque.
Genís et al. (2016) avaliaram o potencial de quatro espécies
de BAL (Lactobacillus sakei, Lactobacillus rhamnosus,
Lactobacillus reuteri, Pediococcus acidilactici) para evitar
infecções por E. coli e inflamação nas células endometriais
pós-parto de vacas. Assim como várias cepas do presente
trabalho, a espécie L. rhamnosus teve ação inibitória sobre E.
coli somente em doses altas, reduzindo a infecção em 38,1 %
(as demais espécies tiveram essa ação em doses baixas e
intermediárias). Além disso, foi demonstrado um claro
potencial de algumas BAL na modulação da inflamação do
endométrio, confirmando a importância do uso de bactérias
láticas para prevenção de doenças bovinas e, portanto, para
redução da resistência ao uso prolongado de antibióticos na
criação de animais, e para a qualidade da carne bovina que
pode comprometer a saúde dos consumidores, em casos de
contaminação.
Na presente pesquisa, não foi qualificada a natureza
das substâncias antimicrobianas produzidas pelas bactérias
láticas, porém a atividade antagonista foi avaliada
considerando a provável produção de bacteriocinas, sendo
observada a presença de 7 cepas supostamente
bacteriogênicas com atividade contra E. coli.

4 CONCLUSÕES

A partir deste estudo, observou-se que as amostras


coletadas de queijo coalho caprino apresentaram
634
PESQUISA DE Escherichia coli EM QUEIJO DE COALHO DE LEITE DE CABRA E
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE BACTÉRIAS LÁTICAS FRENTE AO
PATÓGENO
características microbiológicas apropriadas para o consumo
devido a ausência de E. coli. Frente a cepas de E. coli
isoladas de queijo bovino, todas cepas de BAL testadas
tiveram efeito bacteriostático e 4 delas (LA9, LA15, LA45 e
LA50) apresentaram efeito bactericida, no volume máximo de
sobrenadante (60µL). Apesar da natureza da substância
antimicrobiana não ter sido o foco da pesquisa, acredita-se
que essas cepas sejam possíveis produtoras de bacteriocinas.
Estudos posteriores são necessários para comprovar essa
hipótese e analisar mais detalhadamente as variações
encontradas na ação inibitória dessas cepas.

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638
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA

CAPÍTULO 33
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS
PRESENTES NO SORO DO LEITE DE CABRA

Valgrícia Matias de SOUSA1


Maria Isabel Ferreira CAMPOS2
Paula Perazzo de Souza BARBOSA3
Dra. Tatiane Santi GADELHA4
1
Graduanda do curso de Farmácia/UFPB;
2
Mestrandado Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos/UFPB;
3
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos/UFPB;
4
Orientadora/Professora do DBM/UFPB.
valgricia_@hotmail.com

RESUMO: A cadeia de produção de alimentos é suscetível a


falhas que podem acarretar doenças aos consumidores devido
à presença de micro-organismos patogênicos. Alguns
alimentos, como o soro do leite podem ser capazes de inibir o
crescimento desses micro-organismos. O objetivo desse
estudo foi identificar e avaliar a atividade antimicrobiana das
proteínas do soro de leite de cabra frente às bactérias
Staphylococcus aureus, Listeria monocytogenes e Escherichia
coli. O soro do leite utilizado foi obtido da fabricação de queijo
minas frescal, a partir de leite de cabra adquirido do setor
caprinocultura da UFPB. O soro foi centrifugado e separado
em duas partes: uma foi dialisada contra água destilada por
24h; aoutra submetida à precipitação com sulfato de amônio
em três frações: 0-30%, 30-60% e 60-90%. O teor de
proteínas solúveis nas amostras foi quantificado através do
método de Bradford, onde se verificou 2,26 mgP/mL para o
extrato bruto; 1,96 mgP/mL na fração 0-30%; 2,89 mgP/mL na
F 30-60%; e 2,76 mgP/mL em F 60-90%. O perfil proteico foi
feito por SDS-PAGE, sendo possível visualizar as

639
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
proteínaslactoferrina, albumina sérica, beta-lactoglobulina e
alfa-lactoalbumina. O resultado da atividade antibacteriana
apresentou um amplo espetro de atividade antimicrobiana
frente aos micro-organismos do estudo. Portanto, sugere-se
que o soro do leite de cabratem potencial no controle
microbiano.
Palavras-chaves: Soro. Proteínas. Atividade antimicrobiana

1 INTRODUÇÃO

A caprinocultura é uma atividade pecuária presente em


grande parte dos países, destacando-se nas regiões tropicais
e semiáridas. Geralmente o que define o nível de eficiência da
caprinocultura é a condição econômica do país (CENACHI et
al., 2011).
A caprinocultura é uma atividade economicamente
crescente no Brasil, sendo fortemente incentivadas por
criadores, instituições de pesquisa e por ações
governamentais e estaduais. No âmbito econômico essa
atividade necessita de custos reduzidos de investimentos e
pequenas áreas para o seu desenvolvimento, presumindo em
uma atividade pecuária rentável. O leite de cabra é um
alimento bastante consumido no Nordeste do Brasil,
principalmente pela sua produção acentuada na Paraíba e
Pernambuco. É rico em proteínas de grande valor biológico,
ácidos graxos de cadeia média e curta, carboidratos, vitaminas
e minerais, sendo assim uma matriz alimentar com nutrientes
essenciais para a fisiologia humana, o que o qualifica como
um alimento de elevado valor nutricional (DREWNOWSKI et
al., 2008).
O leite de cabra vem ganhando maior notoriedade a
partir do incentivo governamental de introduzi-lo em
640
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
programas assistenciais, tais como na merenda escolar e no
programa ‘’leite para todos’’. Assim, sua inserção nestes
programas não contribui apenas na nutrição dos indivíduos,
mas também influencia na economia e desenvolvimento da
caprinocultura leiteira, favorecendo a política
deDesenvolvimento Produção x Consumo; e o Índice de
Desenvolvimento Humano.
A utilização do leite de cabra no âmbito da tecnologia
de alimentos permite o desenvolvimento de produtos com
elevado valor nutricional, acrescentando características
peculiares aos produtos oriundos deste tipo de leitequando
comparados com os produtos derivados do leite de vaca.
As frações de proteínas do leite de cabra destacaram
as propriedades metabólicas essenciais na alimentação infantil
e idosa por apresentar características de hipoalergenicidade e
digestibilidade, pois embora as quantidades de proteínas do
leite bovino e de cabra serem proporcionalmente equivalentes,
o leite caprino tem uma menor concentração de caseína e
glóbulos de gordura.Dessa forma, favorece a produção de
laticínios com sabor específicos, aspecto saudável e natural,
propriedades diferenciadas que garantem uma alternativa
lucrativa (RAYNAL-LJUTOVAC et al., 2008).
Diversos estudos ao longo dos anos identificaram uma
gama de substâncias presentes no leite tais como: as
proteínas do soro; diferentes tipos de caseína; peptídeos;
esfingolipídios; ácido linoléico conjugado (CLA); ácido butírico;
cálcio; glicomacropeptideo; vitamina B; probióticos, entre
outras substâncias. A maioria está presente também nos
produtos derivados que são introduzidos na dieta, e podem ter
efeitos benéficos para a saúde humana (RAYNAL-LJUTOVAC,
LAGRIFFOUL, PACCARD, GUILLET e CHILLIARD, 2008).

641
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
Os probióticos (lactobacillos e bifidobactérias) são
encontrados na microbiota natural do homem. Sendo
amplamente utilizados também em culturas pelas indústrias
alimentícias na produção derivados lácteos. Essas
substâncias possuem três efeitos importantes: a capacidade
de modular a defesa do hospedeiro; efeito direto sobre outros
micro-organismos, comensais ou patogênicos, prevenindo
infecções e restabelecendo o equilíbrio da mucosa intestinal; e
efeito de eliminação dos produtos resultantes do metabolismo
microbiano. Dieta rica em lactobacilos promove o efeito
benéfico de desintoxicação do intestino (DA COSTA et al.,
2013).
O soro de leite é denominado subproduto do queijo, e
possui alto valor nutricional. É rico em proteínas, minerais e
lactose, e pode ser utilizado na composição de diversos
produtos alimentícios, inclusive na elaboração de compostos
lácteos (SILVA et al.; 2005).
É obtido em grandes volumes a partir da produção de
queijos. No entanto, é muitas vezes descartado de forma
incorreta, o que acarretaa poluição dos solos, rios ou mares.
Assim, a partir das pesquisas que focam esse produto, a sua
reutilização tem se tornado uma alternativa em virtude do
conhecimento tanto da sua composição como da
funcionalidade dos seus constituintes (COSTA et al.; 2009).
O soro é obtido através da precipitação da caseína
durante a fabricação de queijos. Essa fração representa 85 a
90% do volume de leite, e em sua composição retém 55% dos
seus nutrientes, como proteínas e carboidratos (SERPA,
PRIAMO e REGINATTO, 2009).
Os processos de coagulação podem ser de dois tipos:
enzimáticos, produzindo o soro doce; e a coagulação do leite

642
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
por ácidos, produzindo o soro ácido. A composição do soro
depende de alguns parâmetros como a qualidade e
composição do leite, tipo de ácido usado na coagulação,
tempo e temperatura da coagulação (KAVACIK et al., 2010).
Dentre os seus constituintes, as proteínas dosoro, ditas
como proteínas solúveis, têm sido relatadas como capazes de
desenvolver diversas atividades como antioxidante, anti-
hipertensiva, anti-colesterolêmica, anti-inflamatoria, anti-
proliferativa e antimicrobiana, com destaque para a última
tendo em vista a grande diversidade do mundo microbiano.
A qualidade microbiológica dos alimentos é essencial
para bem estar da saúde do ser humano. Por este motivo é
necessário conhecer e avaliar a qualidade do leite, pois se
trata de um alimento funcional na alimentação da população.
No processo de avalição do leite caprino são considerados
alguns fatores, como: armazenamento e conservação do
produto.
Além disso, são realizados testes bioquímicos para
detecção de bactérias dos gêneros Staphylococcus sp.,
Bacillus sp. e Clostridium sp. Outra forma de garantir a
qualidade é realizando o tratamento térmico, UAT (ultra alta
temperatura), conhecido como leite “longa vida”. Este
processo requer aquecimento final entre 130 a 150°C, durante
2 a 4 segundos, seguido de resfriamento a temperaturas
inferiores a 32°C e envasado em embalagens assépticas
(VITTORI, SCHOCKEN-ITURRINO, POIATTI, PIGATTO,
CHIODA, RIBEIRO, GARCIA e RAGAZANI, 2008).
Nos últimos anos, as pesquisas sobre doenças
transmitidas por alimentos vêm ganhando cada vez mais
espaço. Com o advento da globalização e o crescimento da
economia nos países em desenvolvimento, os alimentos

643
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
industrializados são importados e exportados constantemente,
propiciando a disseminação de micro-organismos patogênicos
a partir dos alimentos. Dentre esses microrganismos, as
bactérias são consideradas os principais agentes de
contaminação alimentar e causadores de doenças nas
pessoas. Como exemplo pode-se citar Staphylococcus aureus,
Listeria monocytogenes e Escherichia coli.
Bactérias podem, naturalmente, adquirir resistência a
antimicrobianos (SILVA et al., 2016), o que é uma efetiva
ameaça à prevenção e ao tratamento de certas infecções
(PENESYAN; GILLINGS; PAUSEN, 2015), tornando
necessária a busca de novas substâncias para combater
doenças infecciosas.
As infecções causadas por Escherichia coli são
chamadas de E. coli diarreiogênicas. A Escherichia coli é um
importante componente da microbiota intestinal do homem,
algumas cepas colonizam o trato intestinal, outras têm a
capacidade de causar doenças intestinais (KAPER et al.,
2004).
O Staphylococcus aureus está associado a várias
doenças, incluindo enfermidades sistêmicas potencialmente
fatais, infecções cutâneas, infecções oportunistas e
intoxicação alimentar (LOWY, 2005). Staphylococcus aureus
habita com frequência a nasofaringe do ser humano, a partir
da qual pode facilmente contaminar as mãos do homem e
penetrar no alimento, causando a intoxicação alimentar
estafilocócica (KENNEDY et al., 2000).
Segundo o cirurgião Alexandre Ogston em 1880,
staphylococcus sp. são cocos Gram-positivos, isolados em
pequenas cadeias, ou agrupados em cachos, não
esporulados, imóveis e normalmente não encapsulados.

644
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
Visivelmente eles formam grandes colônias, pigmentadas em
branco, podendo variar para uma coloração amarelada, de
acordo com o tipo da espécie (DOS SANTOS et al., 2007).
O gênero Staphylococcus pertence à família
Micrococcaceae, sendo as principais espécies patogênicas
são: S. aureus, S. epidermidis e S. saprophyticus. Essas
espécies estão envolvidas em uma serie de infecções
hospitalares, pois trata-se de um gênero oportunista em seres
vivos. No ambiente hospitalar a principal espécie envolvida
nas infecções é o S. aureus (DOS SANTOS, SANTOS, DE
FREITAS, FERREIRA, AFONSO, RODRIGUES e CASTRO,
2007).
O S. aureus está presente na pele e mucosas dos seres
humanos, ambiente propício para a colonização deste micro-
organismo, por se tratar de um individuo comensal. Este
indivíduo contamina o ser humano e o torna portador crônico
deste micro-organismo. Ao entrar em contato diretamente com
as pessoas ou alimentos, os portadores transmitem essa
bactéria, favorecendo a colonização na comunidade. Alguns
fatores como: baixas condições de integridade, defesa do
organismo e processos invasivos como trauma podem
influenciar para uma maior proliferação e manifestação do S.
aureus (RICARDO, 2004).
A Listeria monocytogenes é comum no ambiente e
podem causar doenças humanas fatais. Estas bactérias
possuem a capacidade de crescer rapidamente em
temperaturas de refrigeração. A listeriose tem sido associada
com o consumo de uma gama de produtos alimentares,
incluindo salada de repolho, produtos lácteos, e mariscos
(KENNEDY, O’ROURKE, MCLAY e SIMMONDS, 2000).

645
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
Nesse contexto, tendo em vista que a atividade
antimicrobiana de proteínas do leite vem sendo relatada na
literatura e a necessidade de se buscar novas moléculas com
potencial antimicrobiano, o presente trabalho teve como
objetivo caracterizar as proteínas do soro do leite de cabra, e
verificar o seu potencial antimicrobiano frente a bactérias
patogênicas veiculadas por alimentos.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 OBTENÇÃOE PREPARO DAS PROTEÍNAS DO SORO


DE LEITE DE CABRA

O soro do leite de cabra utilizado nos experimentos foi


proveniente do processamento como subproduto da
fabricação de queijo minas frescal, pelo método enzimático
com adição de 1% de cultura starter (R-104, Christian
Hansen), 0,5 mL/L de cloreto de cálcio a 50% e 0,8 mL/L de
coalho comercial (Ha-la Christian Hansen).
Para preparar o extrato bruto e suas frações proteicas,
inicialmente as amostras do soro foram centrifugadas a 4°C,
por 20 minutos, a 3000 rpm. Em seguida, a amostra foi
separada em duas partes: uma foi dialisada contra água
destilada durante 24h, com as trocas de água feitas a cada
hora, seguida de liofilização; a outra parte da amostra foi
submetida à precipitação com sulfato de amônio em três faixas
de saturação: 0-30%, 30-60% e 60-90%.
Depois do período de agitação de 3 horas a amostra
ficou em overnight (repouso) a ± 25°C, posteriormente a
amostra foi centrifugada à 4°C por 20 minutos à 5000 rpm. O
precipitado obtido após a centrifugação foi dialisado contra

646
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
água destilada no período de 24h com trocas de água a cada
hora. As frações obtidas (F 0-30%, F 30-60%, F 60-90%)
foram liofilizadas e armazenadas para posteriores análises.

TEOR DE PROTEÍNAS SOLÚVEIS

O teor de proteínas solúveis do extrato bruto e das


frações proteicas foi determinado através do método descrito
por Bradford (1976). Como padrão foi usadoa albumina sérica
bovina.

2.3 ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA NA


PRESENÇA DE SDS

Para caracterizar o perfil proteico e estimar o peso


molecular das proteínas das amostras, foi feita eletroforese em
gel de poliacrilamida na presença de dodecil sulfato de sódio
(PAGE-SDS), segundo a metodologia de Laemmli (1970).

2.4 TESTE DE ATIVIDADE ANTIBACTERIANA

A atividade antibacteriana das amostras foi testada


segundo as normas do protocolo M7-A6 do National Comite
For Clinical Laboratory Standards – NCCLS (2003), por meio
da técnica de microdiluição.
O extrato bruto e as frações proteicas liofilizadas foram
diluídos em água destilada, na concentração de 5mg/mL, e
filtrados em filtros de 0,22 μm.
A atividade foi realizada com as linhagens de bactérias
Staphylococcus aureus ATCC 25923, Listeria monocytogenes
ATCC 7644 e Escherichia coli ATCC 2536. As cepas foram,

647
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
armazenadas a 4 °C, foram colocadas para crescer em caldo
BHI (Brain Heart Infusion) a 37 °C, por 18 horas. Para o teste
antimicrobiano foram usadas microplacas de fundo chato com
96 poçosde ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay),
onde cada poço recebeu 90 µL de caldo BHI.
Em seguida, foram distribuídos 90 µL da amostra e,
desta mistura, feitas diluições seriadas em triplicata. Em
seguida, foram adicionados 10 µL de suspensão bacteriana
(106 UFC mL-1) em cada poço com a amostra diluída no meio.
O inóculo foi padronizado para a escala de McFarland de 0,5.
Como controle positivo foi usado o meio com inóculo, e
como controle negativo, meio sem inóculo. O material foi
incubado a 37 ºC e as leituras feitas nos tempos 0 e 24 horas,
a 630 nm.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os teores de proteínas solúveis nas amostras do soro


de leite caprino foram: 2,26 mgP/mL para o extrato bruto; 1,96
mgP/mL na fração 0-30%; 2,89 mgP/mL na F 30-60%; e 2,76
mgP/mL em F 60-90%. Os valores corroboram com os obtidos
por Medeiros (2014)e esperados para essa fração do leite,
tendo em vista que as proteínas do soro equivalem a cerca de
20% das proteínas do leite (MOHANTY et al., 2015).
A SDS-PAGE, mostrada na Figura (1), mostra as
principais proteínas existentes no soro de leite caprino:
lactoferrina, albumina sérica, beta-lactoglobulina e alfa-
lactoalbumina, com pesos estimados em torno de 86 kDa, 66
kDa, 18 kDa e 14 kDa, respectivamente.

648
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
O perfil foi semelhante no extrato bruto e nas frações
obtidas por precipitação salina. Os dados obtidos estão de
acordo com os encontrado por Medeiros (2014).

Figura 1: SDS-PAGE do soro de leite caprino e suas frações


(gel 15%). M: Marcador molecular; EBa: Extrato bruto (20 µl);
F1a: Fração 0-30% (20 µl); F2a: Fração 30-60% (20 µl); F3a:
Fração 60-90% (20 µl); EBb: Extrato bruto (40 µl); F1b:
Fração 0-30% (40 µl); F2b: Fração 30-60% (40 µl); F3b:
Fração 60-90% (40 µl); BS: Soro albumina; Lct: lactoferrina;
β-L: β-Lactoglobulina; α-La: α-Lactoalbumina.

Fonte: Documentação direta. 2017

As frações apresentaram diversas bandas proteicas


que, possivelmente, sejam derivadas da proteólise ocorrida
durante a precipitação em baixa concentração salina.
O potencial antibacteriano foi testado com 5 mg/mL do
extrato bruto e das frações F 0-30%, F 30-60% e F 60-90% em

649
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
três cepas bacterianas. Os resultados são demonstrados na
Figura (2).

Figura 2: Atividade antimicrobiana do soro do leite de


cabra frente à Escherichia coli (A) e Listeria
monocytogenes (B) crescidas em meio Brain Heart Infusion

(BHI).
Fonte: Documentação direta. 2017

As proteínas do soro do leite de cabra e suas frações


apresentaram atividade antibacteriana frente às E. coli ATCC
2536 e L. monocytogenes ATCC 7644, não apresentando
atividade significativa em relação ao S. aureus ATCC 25923
(dados não mostrados).
Todas as frações obtidas da precipitação salina
apresentaram atividade contra L. monocytogenes,
diferentemente da E. coli, cujas frações 0-30% e 30-90% não
apresentaram atividade significativa.
A atividade antimicrobiana pode ser atribuída a
proteínas como lactoferrina e alfa-lactoalbumina, já
reconhecidas por seu potencial antimicrobiano (POLIDORO;
650
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
VINCENZETTI, 2012), tendo sua presença identificada na
SDS-PAGE das amostras testadas.
No entanto, tais proteínas não seriam as únicas. A
atividade constatada no extrato bruto e na fração 30-60% pode
ser devido a alguma outra proteína.
A precipitação com sulfato de amônia, é uma técnica
bem empregada para separar proteínas de um extrato
(SATTAYSAI, 2012). É possível que a proteína que exibiu
atividade frente à E. coli tenha sido concentrada na fração 30-
90%.
A atividade antimicrobiana já foi reportada para
proteínas do leite de vaca, jumenta, camela e, inclusive, de
cabra. Costa et al. (2014) fracionaram com sulfato de amônio
o leite de cabras Alpinas e Saanen, sem antes separar a
fração caseínica do soro, e verificaram que a fração 60-90
exerceu efeito inibitório contra Bacillus subtilis CCT 0516, E.
coli ATCC 2536, Pseudomonas aeruginosa ATCC 23243, P.
aeruginosa ATCC 8027, S. aureus ATCC 25619 e S. aureus
ATCC 25925.

3 CONCLUSÃO

As proteínas do soro de leite caprino apresentam


atividade antimicrobiana frente às bactérias S. aureus ATCC
25923; L. monocytogenes ATCC 7644, e E. coli ATCC 2536,
causadoras de patologias de doenças no ser humanos quando
do consumo de alimentos contaminados. Dessa forma,
sugere-se que esse subproduto poderá ser uma alternativa no
que se refere à questão de controle microbiano em alimentos.

651
IDENTIFICAÇÃO E ATIVIDADE DE PROTEINAS BIOATIVAS PRESENTES
NOSORO DO LEITE DE CABRA SORO DO LEITE DE CABRA
REFERÊNCIAS

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653
BIOTECNOLOGIA

654
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
CAPÍTULO 34

EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES


ENZIMÁTICOS NA CRIOPRESERVAÇÃO DE
ESPERMATOZOIDES OVINOS
Sildivane Valcácia SILVA 1
Camilla Flávia Avelino de FARIAS 2
Alex Souza RIQUE 2
Elisângela Afonso de Moura MENDONÇA 3
Maria Madalena Pessoa GUERRA 4
1
Professora Adjunta III, CBIOTEC/ UFPB; 2 Graduandos do Bacharelado em Biotecnologia,
UFPB; 3 Professora Adjunta I, CBIOTEC/UFPB;4 Orientadora/Professora Titular, DMV/UFRPE.
sildivane@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: Objetivou-se com este trabalho avaliar in vitro o


efeito da adição de Catalase (CAT) e associação de CAT e
supéroxido dismutase (SOD) ao diluente de criopreservação
de sêmen ovino. Após descongelação (37 oC/30 s), as
amostras foram submetidas às análise de integridade das
membranas plasmática (iMP) e acrossomal (iAc), potencial de
membrana mitocondrial (PMM), cinética e ultraestrutura dos
espermatozoides. O grupo CAT 100 U/mL apresentou menor
percentual (P<0,05) de espermatozoides com acrossoma
íntegro. Diferenças significativas (P<0,05) foram observadas
entre grupos na cinética espermática, sendo inferiores nos
grupos CAT 50 e 100 U/mL. Na avaliação ultraestrutural, os
grupos CAT 50 e 100 U/mL apresentaram menor preservação
(P<0,05) do acrossoma. O CAT 25 U/mL apresentou maior
preservação da membrana plasmática (P<0,05) do que o CAT
100U/mL. Com base nos resultados de integridade do
acrossoma, cinética e ultraestrutura, é possível concluir que a
adição de CAT 50 e 100 U/mL ao diluente Tris-gema não
preserva a viabilidade de espermatozoides ovinos congelados,
enquanto enquanto que a associação de CAT 25 U/mL + SOD
655
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
100 U/mL proporciona maior viabilidade de espermatozoides
ovinos criopreservados.
Palavras-chave: Congelação de sêmen. Catalase.
Superóxido Dismutase.

1 INTRODUÇÃO

A criopreservação de espermatozoides mamíferos é um


processo complexo que envolve o equilíbrio de muitos fatores
para se obter resultados satisfatórios (PURDY, 2006). É de
fundamental importância que as membranas biológicas sejam
preservadas durante os estresses químico e físico,
ocasionados pelas modificações ocorridas durante o processo
de criopreservação (GUERRA et al., 2004), como a diluição do
sêmen (MORTIMER; MAXWELL, 2004), potencial toxicidade
dos crioprotetores penetrantes, dependendo de sua
concentração (HOLT, 2000), e a redução de temperatura
(WATSON, 2000).
A congelação do sêmen confere redução da viabilidade
espermática, devido a danos nas membranas e, consequente
diminuição da capacidade fertilizante destes gametas nas
espécies canina (SILVA et al., 2009), bovina (BILODEAU et al.,
2000), caprina (HASHIDA et al., 2005), suína (KUMAR et al.,
2003) e ovina (MOURA et al., 1995). Sabe-se, entretanto, que
os danos causados pela criopreservação podem ser
provenientes da ação de espécies reativas ao oxigênio (ROS),
como o peróxido de hidrogênio (H2O2), responsável por
depleção do ATP espermático, com consequente redução na
motilidade, lesões nas membranas espermáticas e cromatina,
assim como peroxidação lipídica (AITKEN, 2017).

656
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
Em contrapartida, estudos demonstram que
antioxidantes naturais presentes no plasma seminal exercem
efeito protetor na membrana plasmática dos espermatozoides,
preservando tanto a atividade metabólica quanto a função
celular (O’FLAHERTY et al., 1997). Segundo Guerra et al.
(2004), estes removedores de ROS podem ter ação
enzimática (CAT, SOD, glutationa redutase, glutationa
peroxidase) e não-enzimática (vitamina E, glutationa reduzida
- GSH, cisteína, entre outros). Entretanto, como a diluição do
ejaculado para criopreservação reduz a concentração dos
antioxidantes encontrados no plasma seminal, em relação ao
volume inicial, a adição destas substâncias ao diluidor pode
ser uma alternativa para preservar os parâmetros
espermáticos após o processo de congelação/descongelação
(SOARES; GUERRA, 2009).
Baumber et al. (2003) constataram que a adição de CAT
ao diluidor do sêmen equino proporcionou menos danos no
DNA espermático. Em contrapartida, De Graaf et al. (2007)
não obtiveram resultados satisfatórios após adição de CAT ao
diluidor de sêmen ovino para sexagem espermática. Sabe-se
que a CAT atua no organismo em conjunto com a SOD, que
catalisa a dismutação do O2- em O2 e H2O2, participando de
importante sistema antioxidante nas células expostas ao
oxigênio (SCHNEIDER; OLIVEIRA, 2004).
Como a adição de antioxidantes na criopreservação
espermática apresenta resultados contraditórios, objetivou-se
com este estudo avaliar os efeitos da suplementação do
diluidor Tris-gema com os antioxidantes CAT e associação de
CAT e SOD na cinética e estrutura de espermatozoides
criopreservados de ovinos.

657
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Local e Animais do Experimento

O experimento foi realizado na município de Tacima,


região de clima tropical semiárido (06°29’18” de latitude sul e
35°38’14” de longitude oeste), altitude de 168 metros e
precipitação média anual de 431,8 mm3 (BRASIL, 2005).
Foram utilizados cinco reprodutores, sexualmente
maduros e com histórico de fertilidade. Os ejaculados foram
obtidos pelo método de vagina artificial e uso de uma fêmea
em estro como manequim. As colheitas foram realizadas em
dias alternados, sendo realizadas oito repetições por macho.

2.2 Análise e Criopreservação do Sêmen

As amostras de sêmen fresco foram avaliadas quanto


aos parâmetros de turbilhonamento, motilidade e vigor em
microscópio de contraste de fase (Olympus optical Co., Ltda.,
Tóquio, Japão). Dez microlitros da amostra seminal foram
depositados em lâmina previamente aquecida (37 ºC) para
análise de turbilhonamento e, a seguir, deposição de lamínula
(20x20) sobre a gota para avaliação de motilidade e vigor. A
concentração espermática foi obtida em câmara de Neubauer,
na diluição de 1:200, em formol salino. Para análise da
morfologia espermática, utilizou-se o método de câmara úmida
(CBRA, 2013).
O sêmen de cada reprodutor foi avaliado
separadamente e, quando aprovado (turbilhonamento ≥ 3;
motilidade ≥ 70%; vigor ≥ 3; concentração espermática ≥ 1,0 x
109/mL e patologias espermáticas ≤ 20%), submetido à

658
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
formação do pool. Em seguida, o pool dos ejaculados de cada
repetição foi diluído em meio de criopreservação a base de
Tris-gema (3,605 g de Tris; 2,024 g de ácido cítrico; 1,488 g de
frutose; 100 mL de água ultrapura; 20% de gema de ovo, 5%
de glicerol, pH 7,2), acrescido de antioxidantes: [CG= grupo
Controle, diluente sem adição de antioxidantes; G2= 25U/mL
de catalase; G3= 50U/mL de catalase; G4= 100U/mL de
catalase; G5= 25U/mL de catalase + 100U/mL de superóxido
dismutase], na concentração final de 240 x 10 6
espermatozoides/mL.
A seguir, o sêmen foi acondicionado em palhetas (0,25
mL) e congelado em sistema automatizado (TK-3000®, TK
Tecnologia em congelação LTDA, Uberaba, Brasil), na curva
de refrigeração de -0.25 ºC/minuto, iniciada a 28 ºC,
correspondente a temperatura ambiente. Após alcançar
temperatura de 5 ºC, as palhetas foram submetidas ao tempo
de estabilização, com duração de 120 minutos. A curva de
congelação foi realizada imediatamente após o período de
estabilização, com redução de -15 ºC/minuto, até alcançar -
120 ºC. Em seguida, as palhetas foram imersas e
armazenadas em nitrogênio líquido (-196 ºC).

2.3 Descongelação e Análises Espermáticas

As amostras de sêmen criopreservadas foram


descongeladas (37 oC/ 30s) após 30 dias de armazenamento
e submetidas às análises de integridade da célula espermática
(microscópio de epifluorescência, Carl Zeiss, Göttingen,
Alemanha), cinética (CASA) e ultraestrutura (MET).

659
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
Avaliação da integridade espermática com sondas
fluorescentes
Para análise da integridade da membrana plasmática
utilizou-se o método de coloração dupla com Diacetato de
Carboxifluoresceína (DCF; Sigma-Aldrich®, St Louis, MO,
USA) e Iodeto de Propídeo (IP; Sigma-Aldrich®, St Louis, MO,
USA), segundo Harrison e Vickers (1990), modificado por Silva
et al. (2011). Alíquotas de 50 µL de sêmen foram diluídas em
150 µL de Tris (3,605 g de Tris; 2,024 g de ácido cítrico; 1,488
g de frutose, 100 mL de água bidestilada; pH 6,8), contendo 5
µL de DCF (0,46 mg/mL em DMSO) e 20 µL de IP (0,5 mg/mL
em PBS), incubadas por 10 minutos a 37 oC e fixadas com
PBS contendo 0,5% de glutaraldeído. Os espermatozoides (n=
200) foram avaliados em aumento de 400x, usando filtro de
emissão DBP 580-630 nm e excitação DBP 485-520 nm, e
classificados com membranas intactas, quando se
apresentavam corado em verde, ou membranas danificadas,
quando corados em vermelho.
Os espermatozoides foram corados com Isotiocianato
de Fluoresceína conjugado a Peanut agglutinin (FITC-PNA;
Sigma-Aldrich®, St Louis, MO, USA), de acordo com técnica
descrita por Câmara et al. (2011), para avaliar a integridade do
acrossoma. Alíquotas (5 µL) de sêmen foram preparadas para
esfregaço e secadas ao ar. Uma alíquota (100 µL) da solução
estoque de FITC-PNA (1 mg/mL) foi descongelada e
adicionada a PBS (900 µL) para obter a concentração final de
100 µg/mL. Alíquotas (10-20 µL) desta solução foram
colocadas sobre lâminas e incubadas por 15 minutos em
câmara úmida a 4 °C, na ausência de luz. A seguir, as lâminas
foram enxaguadas duas vezes em PBS refrigerado (4 °C) e
colocadas para secagem na ausência de luz. Imediatamente

660
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
antes da avaliação, 5 µL de meio de montagem (4,5 mL de
glicerol, 0,5 mL de PBS e 5 mg de p-phenylenediamine) foi
colocado sobre a lâmina e coberto com lamínula. Foram
avaliados 200 espermatozoides por lâmina, com aumento de
1000x sob óleo de imersão, usando filtro de emissão LP 515
nm e BP 450-490 nm para excitação. Os gametas foram
classificados como portadores de acrossomas intactos,
quando apresentavam a região acrossomal corada com
fluorescência verde, ou acrossomas reagidos, quando
apresentavam faixa verde fluorescente na região equatorial da
cabeça espermática ou não apresentavam fluorescência verde
em toda cabeça da célula.
O potencial da membrana mitocondrial dos
espermatozoides foi determinada pela utilização do
fluorocromo catiônico lipofílico JC-1 (SILVA et al., 2012).
Alíquotas de 50 µL de sêmen foram diluídas em 150 µL de Tris
contendo 5 µL de JC-1 (0,15 mM em DMSO), incubadas por
10 minutos a 38 oC e fixadas com PBS contendo 0,5% de
Glutaraldeído. Duzentos espermatozoides foram avaliados em
aumento de 400x, usando filtro de emissão LP 515 nm e BP
450-490 nm para excitação. As células que apresentavam a
peça intermediária corada em laranja foram classificadas com
alto potencial de membrana mitocondrial, enquanto aquelas
coradas em verde foram classificadas com baixo potencial de
membrana.

Cinética espermática
Duas palhetas de cada grupo foram descongeladas em
banho-maria, na temperatura de 37 ºC, por 30 segundos. As
amostras de sêmen foram inicialmente diluídas em solução
fisiológica (0,9% NaCl), com o objetivo de reduzir a

661
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
concentração espermática (50 milhões de
espermatozoides/mL) e a densidade do diluidor à base de
gema, visando evitar sobreposição das células espermáticas e
facilitar a captação das imagens (MORTIMER, 2000). A
análise foi realizada em Câmara de Makler® (Sefi Medical
Instrument, Haifa, Israel), com capacidade para 10 µL,
previamente aquecida a 37 ºC. A câmara foi colocada no
microscópio de contraste de fase (NikonTM H5505, Eclipse 50i,
Japão) e as imagens capturadas por uma vídeo-câmera
(Basler Vision TechnologiesTM A312FC, Ahrensburg,
Alemanha).
Pelo sistema CASA (Sperm Class Analyzer – SCATM,
Microptics, S.L., Version 3.2.0, Barcelona, Espanha) foram
avaliados: motilidade total (MT), motilidade progressiva (MP),
linearidade (LIN), retilinearidade (STR) e oscilação (WOB),
expressos em porcentagem; velocidade curvilinear (VCL),
velocidade em linha reta (VSL), velocidade média do percurso
(VAP), expressos em micrômetros por segundos; amplitude do
descolamento lateral da cabeça espermática (ALH), expresso
em micrômetros e frequência do batimento flagelar cruzado
(BCF), expressa em Hertz.

Análise ultraestrutural
A análise da ultraestrutura espermática foi realizada por
microscopia eletrônica de transmissão (MET). Amostras de
sêmen in natura e pós-congelação foram lavadas três vezes
(600 g x 5 minutos) em tampão Cacodilato de Sódio a 0,1 M
(pH 7,2), e fixadas overnight em solução contendo
Glutaraldeído 2,5%, Paraformaldeído 2,5% e tampão
Cacodilato de Sódio. Após fixação, as amostras foram lavadas
no mesmo tampão e pós-fixadas numa solução contendo 1%

662
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
de Tetróxido de Ósmio, 2 mM CaCl2 e 0,8% de Ferricianeto de
Potássio em tampão Cacodilato 0,1 M (pH 7,2). A seguir, as
amostras de sêmen foram desidratadas em série crescentes
de acetona, infiltradas e emblocadas em resina SPIN-PON
(Embed 812 – Sigma-Aldrich®, St Louis, MO, USA). A
polimerização foi feita a 60 ºC por 72 horas. Cortes ultrafinos
foram colocados em grades de níquel de 300-mesh,
contrastados com 5% de Acetato de Uranila e Citrato de
Chumbo (SARAIVA et al., 2009). As amostras foram
analisadas em microscópio eletrônico de transmissão FEI
Morgani 268D (FEI Company, Eindhoven, Holanda).

2.4 Análises Estatísticas

Os dados foram expressos na forma de média e desvio


padrão. Os parâmetros de motilidade total, motilidade
progressiva, linearidade, retilinearidade, oscilação, integridade
das membranas acrossomal, plasmática e mitocondrial foram
analisadas pelo teste de análise de variância (ANOVA), após
transformação pelo arco seno (arcsen √P/100) e pelo teste de
comparação múltipla de Tukey-Kramer (INSTAT para
Windows, versão 3.01), com nível de significância de P<0,05.
Os valores de VCL, VSL, VAP, ALH e BCF foram analisados
pela ANOVA.
Para avaliar a ultraestrutura dos espermatozoides
obtidos de amostras in natura e pós-descongelação utilizou-se
a análise descritiva.

663
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não foi observada diferença significativa entre os


grupos testados para os parâmetros de integridade da
membrana plasmática (Tab. 1). A integridade do acrossoma foi
inferior (P<0,05) no G3 quando comparado aos demais
grupos. A atividade mitocondrial foi inferior no GC em relação
aos demais grupos testados.
Para os parâmetros cinéticos, observou-se que a MP e
a VSL foram superiores (P<0,05) nos grupos G1 e G4, em
comparação aos demais grupos avaliados. Não foi constatada
diferença significativa entre grupos para os demais parâmetros
cinéticos (Tab. 2).

Tabela 1. Porcentual médio (± erro padrão) de


espermatozoides ovinos criopreservados em Tris-gema
suplementado ou não com CAT e associação de CAT/SOD
com membranas plasmática e acrossomal íntegras e alto
potencial da membrana mitocondrial
CG G1 G2 G3 G4
iMP 32,9±2,6 36,2±5,6 31,4±6,9 32,7±3,8 34,7±4,8
iAc 59,8±7,7a 52,4±5,3a 46,7±5,5a 41,7±7,9b 55,0±8,7a
aPMM 69,9±6,6b 81,7±2,0a 81,7±4,9a 89,1±1,3a 81,7±3,0a
Letras diferentes na mesma linha significam diferença estatística (P<0.05). iMP=
integridade de membrana plasmática; iAc= integridade de acrossoma; aPMM= alto
potencial de membrana mitocondrial. CG: Grupo Controle; G1: 25U/mL de CAT;
G2: 50U/mL de CAT; G3: 100U/mL de CAT; G4: 25U/mL de CAT + 100 U/mL de
SOD.
Na análise ultraestrutural observou-se nas amostras de
sêmen in natura membranas plasmáticas íntegras, com
pequenas ondulações em toda extensão celular. O acrossoma
apresentou-se intacto, com preservação das membranas
acrossomais externa e interna, caracterizada pela observação
do perforatorium (Fig. 1A). Aos cortes longitudinais e

664
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
transversais da cauda dos espermatozoides foram observadas
perfeitas organizações mitocondriais e disposição do par de
centríolos central, respectivamente. As mitocôndrias estavam
preservadas, em formato esférico e com ausência de
vacuolização (Fig. 1B).

Tabela 2. Parâmetros cinéticos (média ± erro padrão) de


espermatozoides ovinos criopreservados em Tris-gema
suplementado com CAT e associação de CAT/SOD
CG G1 G2 G3 G4
MT 81,3±1,6 81,6±3,3 76,8±3,2 79,4±2,0 78,5±2,5
MP 6,5±1,6b 10,0±2,6ab 7,0±1,7b 6,7±1,9b 12,2±2,3a
VCL 60,0±4,6 68,9±5,5 59,1±4,7 58,0±3,3 70,0±2,9
VSL 21,9±1,7b 31,7±2,4a 22,3±1,8b 21,9±2,0b 28,4±2,8a
VAP 36,7±2,8 43,9±2,5 37,1±3,0 36,3±2,5 44,9±3,0
LIN 36,6±0,8 38,4±1,3 37,9±0,8 37,5±0,9 40,4±1,6
STR 59,7±0,8 60,3±1,1 60,2±0,7 59,9±0,9 62,8±1,3
WOB 61,3±0,6 63,5±1,0 62,9±0,6 62,4±0,6 64,0±1,3
ALH 3,7±0,1 3,5±0,1 3,3±0,1 3,4±0,1 3,5±0,1
BCF 6,5±0,2 6,7±0,7 6,6±0,3 6,4±0,3 7,0±0,2
Letras diferentes na mesma linha indicam diferença entre grupos experimentais
(P<0,05). CG: Grupo Controle; G1: 25U/mL CAT; G2: 50U/mL CAT; G3: 100U/mL
CAT; G4: 25U/mL CAT + 100 U/mL SOD. MT: motilidade total; MP: motilidade
progressiva; VCL: velocidade curvilinear; VSL: velocidade em linha reta; VAP:
velocidade média do trajeto; LIN: linearidade; STR: retilinearidade; WOB: índice de
oscilação; ALH: amplitude lateral da cabeça; BCF: batimento cruzado flagelar.
No entanto, os espermatozoides do GC apresentaram
acrossoma lesado, com característica de reação acrossomal,
evidenciada pela presença de vesiculações (Fig. 1C), como
consequência da fusão de membranas plasmática e
acrossomal externa; visibilização da região equatorial (Fig. 1D)
e exposição do envelope nuclear, caracterizando perda do
acrossoma. O aumento da concentração de Catalase
determinou menor quantidade de células com o acrossoma
preservado (Fig. 1E; 1F). No G4 observou-se melhor

665
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
preservação do acrossoma, em comparação aos G2 e G3
(Fig. 1G; 1H).
Pós-criopreservação, células analisadas apresentaram
lesões como vacuolização e desorganização do formato em
hélice da matriz mitocondrial (Figura 1F), apresentando
diferença significativa (P<0,05) entre o grupo Controle e o
sêmen in natura. Nos grupos tratados com os antioxidantes foi
observado que as mitocôndrias sofreram menores danos,
apresentando-se mais preservadas, não sendo constatada
diferença significativa entre o sêmen in natura e os grupos
suplementados com CAT e CAT/SOD (P>0,05).

Figura 1. Avaliação ultraestrutural de espermatozoides ovinos


submetidos a criopreservação em tris-gema, com adição ou
não de antioxidantes cabeça espermática, vesiculações na região
apical (seta preta), vacuolização das mitocôndrias (seta branca); 1D. GC:
corte longitudinal da cabeça do espermatozoide, com perda de acrossoma
e exposição da região equatorial (*); 1E. G3: lesão de acrossoma (seta
preta); 1F. G3: vacuolização e desorganização mitocondrial (seta preta);
1G. G4: preservação das membranas plasmáticas (*), acrossoma (seta
branca) e mitocôndrias (setas pretas); 1H. G4: membrana plasmática
preservada e mitocôndrias íntegras (seta cinza).
1A. Espermatozoides in natura: corte transversal da cabeça espermática,
região apical; membrana plasmática íntegra, com discreta ondulação (*);
perforatorium (seta preta); 1B. Espermatozoides in natura: mitocôndrias
íntegras (seta branca); 1C. Pós-descongelação, GC: corte longitudinal da

666
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS

*
A B
C D
*

E F

*
G H
A análise ultraestrutural confirma os resultados obtidos
na avaliação da cinética espermática para os grupos G2 e G3,
que indicaram menor integridade celular. Pesquisas com
sêmen ovino identificaram que ao início do processamento de
criopreservação há baixa atividade da enzima CAT
(STEFANOV et al., 2004), por atividade biológica ainda
desconhecida, o que pode estimular a formação de ROS,
667
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
como o ânion superóxido, que, por sua vez, é responsável
posteriormente pela inativação da própria CAT (FOLZ et al.,
1999).
Na avaliação ultraestrutural e no uso da sonda
fluorescente FITC-PNA, o G3 apresentou resultados inferiores
aos demais grupos. Neste caso, maior concentração de CAT
influenciou negativamente o percentual de gametas
preservados, principalmente para a estrutura do acrossoma. A
teoria do não aproveitamento do antioxidante CAT neste
experimento é fundamentada nos resultados observados no
grupo G4. Segundo Maxwell e Stojanov (1996), a necessidade
da SOD nos sistemas biológicos pode ser quatro vezes maior
do que a de CAT para atuar efetivamente contra as ROS. A
SOD age removendo as ROS formadas durante os processos
de análise, diluição e refrigeração das amostras de sêmen, e a
CAT atua posteriormente na remoção dos H2O2. Esta
afirmativa foi ratificada nos resultados encontrados nas
avaliações pós-descongelação deste estudo, com achados
satisfatórios em comparação aos GC, G2 e G3, nas avaliações
da cinética e ultraestrutura.
Diante de tais constatações, é possível justificar os
resultados encontrados neste experimento, pois a adição da
CAT não melhorou os parâmetros espermáticos e na maior
concentração estudada (100 U/mL) foi deletéria à célula
espermática para a integridade acrossomal e cinética.
Provavelmente a CAT não foi devidamente aproveitada ou a
dosagem pode ter sido superior às necessidades das células,
uma vez que um antioxidante pode ser considerado pró-
oxidante quando encontrado em quantidade excessiva (CAO;
CUTLER, 1993).

668
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
Stefanov et al. (2004), analisando a adição da SOD em
incubação de sêmen de reprodutores ovinos, constataram que
este antioxidante enzimático é um efetivo removedor do ânion
superóxido e, consequentemente, protege as funções
espermáticas. Como há um sistema de proteção antioxidante,
a SOD e a CAT atuam sinergicamente e a associação destes
dois antioxidantes enzimáticos conferiu melhor preservação da
cinética de espermatozoides congelados de carneiros, quando
em comparação à utilização da CAT em doses mais elevadas.
A membrana plasmática que reveste a cabeça do
espermatozoide foi mais sujeita a danos, em comparação à
membrana da cauda espermática, nas condições deste
experimento. Estas alterações podem ser explicadas pelas
modificações ocorridas na fluidez da membrana plasmática de
ovinos diante da redução de temperatura. Abaixo da
temperatura de fase de transição, os lipídeos estão em fase
gel, enquanto que acima desta temperatura tem início maior
fluidez, correspondente à fase líquida cristalina (LADHA,
1998).
Em carneiros, pesquisas revelam três fases de
transições, a 37 ºC, 26 ºC e 17 ºC (HOLT; NORTH, 1986),
enquanto que espermatozoides humanos não apresentam
estas modificações em decorrência da quantidade de
colesterol presente na membrana desta espécie (PALLESCHI;
SILVESTRONI, 1996). Esta constatação é interessante, uma
vez que a membrana plasmática de ovinos, durante o
processo de refrigeração, permanece fluida em algumas
regiões e menos fluida em outras, podendo sofrer ação das
ROS em maior intensidade principalmente na região
acrossomal, que apresenta maior fluidez em decorrência de
sua composição lipídica (TOSHIMORI; ITO, 2003). Este

669
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
embasamento pode justificar os resultados de menor
integridade acrossomal em comparação à preservação das
mitocôndrias durante processo de criopreservação do
espermatozoide ovino.

4 CONCLUSÕES

Com base nos resultados de integridade de acrossoma,


cinética e ultraestrutura espermática, é possível concluir que, a
adição de CAT 50 e 100 U/mL ao diluente Tris-gema não
preserva a viabilidade de espermatozoides ovinos congelados,
enquanto que a associação de CAT 25 U/mL + SOD 100 U/mL
proporcionam maior viabilidade de espermatozoides ovinos
criopreservados.

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671
EFEITO DA ADIÇÃO DE ANTIOXIDANTES ENZIMÁTICOS NA
CRIOPRESERVAÇÃO DE ESPERMATOZOIDES OVINOS
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672
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
CAPÍTULO 35

POTENCIAL CINÉTICO DE
ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL
PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
Rafael LIMONGI Souza 1
Camilla Flávia Avelino de FARIAS 2
Maria Madalena Pessoa GUERRA 3
Sildivane Valcácia SILVA 4
1
Mestrando da Pós-Graduação em Biotecnologia, UFPB; 2 Graduanda do Bacharelado em
Biotecnologia/UFPB; 3 Professora Titular do DMV/UFRPE; 4 Orientadora/Professora Adjunta III
do CBIOTEC/UFPB.
sildivane@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da


adição de diferentes concentrações de mio-inositol ao sêmen
caprino pós-descongelação. Foram utilizadas amostras
congeladas de sêmen de reprodutores caprino da raça Boer
(n=3), obtidas de central de reprodução. Quatro grupos
experimentais foram formados: Grupo Controle (GC)= 150 µL
de sêmen + 15 µL de solução fisiológica (NaCl 0,9%); Grupo 1
(G1)= 150 µL sêmen + 2,5 µL de mio-inositol (5 mM) + 12,5 µL
de solução fisiológica; Grupo 2 (G2)= 150 µL de sêmen + 7,5
µL de mio-inositol (15 mM) + 7,5 µL de solução fisiológica;
Grupo 3 (G3)= 150 µL de sêmen + 15 µL de mio-inositol (30
mM). As amostras foram submetidas à análises de cinética
espermática, integridade das membranas acrossomal e
plasmática, e avaliação da atividade mitocondrial. Os dados
foram avaliados pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, para
análise de normalidade, e as comparações entre o mesmo
tratamento foram realizadas pelo teste ANOVA, seguido de
pós-teste de Tukey-Kramer (p≤0,05). Houve diminuição do
percentual de integridade das membranas acrossomal e
673
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
plasmática, nos grupos tratados com G2 e G3, duas horas
pós-descongelação. Os grupos G1, G2 e G3, apresentaram
preservação dos parâmetros de motilidade progressiva e
linearidade até duas horas pós-descongelação. Desta forma,
permite-se concluir que o mio-inositol pode favorecer o uso de
sêmen caprino pós-descongelação em programas de
inseminação artificial.
Palavras-chave: Sêmen congelado. Inseminação artificial.
Poliálcool Cíclico.

1 INTRODUÇÃO

A utilização de biotecnologias cada vez mais modernas


tem contribuído para o avanço da reprodução de diversas
espécies de animais, especialmente em animais de produção.
O desenvolvimento de técnicas adequadas para preservação
e o armazenamento de sêmen possibilita melhor
aproveitamento de animais de alto valor zootécnico,
permitindo o uso da genética de animais que não possam,
temporariamente ou permanentemente, serem utilizados na
reprodução (TERRACIANO et al., 2008). A inseminação
artificial (IA) está integrada a disseminação de material
genético na reprodução de animais e está associada
diretamente a criopreservação. A redução da fertilidade,
associada à IA com sêmen congelado, é atribuída à ocorrência
de danos espermáticos durante a congelação e
descongelação, causando alterações ultraestruturais,
bioquímicas e funcionais que reduzem a viabilidade
espermática (SOARES et al., 2011).
Na criopreservação, são envolvidos procedimentos de
congelação que permitem o armazenamento de
espermatozoides em nitrogênio liquido a temperatura de -196
674
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
°C, por tempo indeterminado (MURGAS et al., 2007). Por mais
que o percentual de espermatozoides móveis contidos no
sêmen criopreservado não diminua ao longo do tempo (MINS
et al., 2000), este procedimento ocasiona danos celulares
devido a formação de cristais de gelo e injúrias oxidativas
(RICKER et al., 2006; SOARES et al., 2011).
Como meio de minimizar os efeitos do processo de
congelação, a congelação rápida, quando empregada, evita a
desidratação dos espermatozoides, assim como diminui a
velocidade de formação dos critais de gelo intracelular
(AZEVEDO et al., 2000). Outro fator que acarreta as
crioinjúrias é a formação de espécies reativas de oxigênio
(ROS) que vão desestabilizar as membranas celulares.
A produção excessiva de ROS pode provocar estresse
oxidativo (NUNES, 1982). O estresse oxidativo é uma
condição associada ao aumento dos danos intracelulares
induzidos por ROS (SIKKA et al., 1995), que atacam
componentes moleculares como as membranas lipídicas. O
sistema antioxidante participa no bloqueio da ação das
espécies reativas e outras injúrias antes que causem a lesão
ou como reparador da lesão ocorrida; estas enzimas estão
presentes no plasma seminal e nos espermatozoides
(BILODEAU et al., 2002; JÓZWIK et al., 1997).
O inositol é um poliálcool cíclico contendo um anel de
seis átomos de carbono e seis grupos OH (cicloexanopoliol),
sendo um importante constituinte celular, envolvido em
diferentes processos bioquímicos. Em mamíferos, o inositol
existe principalmente sob a forma de mio-inositol (cis-1,2,3,4-
trans-4,6-cicloexanoexol) é um importante constituinte celular,
envolvido em diferentes pr

675
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
ocessos bioquímicos e presente em diversas estruturas
celulares (BEEMSTER et al, 2002; ALMEIDA et al., 2003).
Proveniente do metabolismo da glicose, o mio-inositol é
encontrado em tecidos animais como um componente dos
fosfolipídios e encontra-se no cérebro e fluido cérebro-
espinhal, sendo encontrado ainda no esqueleto, músculo
cardíaco e outros tecidos. O nível de inositol livre é
especialmente elevado em todos os órgãos do trato reprodutor
do macho, particularmente no fluido seminal (HINTON et al.,
1980). O mio-inositol é responsável pela regulagem de
numerosos processos celulares, como a secreção, o
metabolismo, a contração e a proliferação celular (ALMEIDA et
al., 2003).
Este inositídeo pode ser encontrado em diversos
tecidos, entretanto, de forma mais predominante no trato
reprodutor de machos e nos fluidos seminais (HINTON et al.,
1980; ALMEIDA et al., 2003) atuando principalmente contra
ânio superóxido, peróxido de hidrogênio e radicais hidroxila
(COLONE et al., 2010; CONDORELLI et al., 2011).
Em estudo com humanos foi constatado que o mio-
inositol melhora a atividade mitocondrial dos espermatozoides
e aumenta a capacidade móvel da célula espermática
(CONDORELLI et al., 2012). Na criopreservação de sêmen
ovino com mio-inositol no diluente de congelação, percebeu-se
que 10 mM foi eficiente na redução dos níveis de
malonaldeído, subproduto da peroxidação lipídica, um dos
marcadores do estresse oxidativo (KULAKSIZ et al., 2011).
Em contrapartida, no sêmen de equinos, o mio-inositol foi
acrescentado na concentração de 30 mM durante o processo
de refrigeração, e não foram observados efeitos sobre a
viabilidade espermática nesta espécie (AFFONSO, 2013).

676
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
Baseado nesta variação de resultados com o uso de
mio-inositol entre espécies, o objetivo deste estudo foi avaliar
o efeito da adição de mio-inositol ao sêmen caprino pós-
descongelação em diferentes momentos.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas amostras congeladas de sêmen de


reprodutores caprino da raça Boer (n=3), obtidas de central de
reprodução. A solução de mio-inositol utilizada foi diluída em
DMEM, obtendo-se a solução mãe, na concentração de 300
mM. O experimento foi realizado no Laboratório de Andrologia
(ANDROLAB), lotado na Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE), Recife, Pernambuco.
Foram descongeladas duas palhetas (0,25 mL) de
diferentes reprodutores (37 ºC/30 s) e as amostras foram
homogeneizadas para formação do pool, com o objetivo de
reduzir a interferência individual de cada reprodutor no teste
(BUCAK et al., 2008). Foram formados quatro grupos
experimentais, com suas respectivas concentrações: Grupo
Controle (GC)= 150 µL de sêmen + 15 µL de solução
fisiológica NaCl a 0,9% (sem adição de mio-inositol); Grupo 1
(G1)= 150 µL sêmen + 2,5 µL de mio-inositol (5 mM) + 12,5 µL
de solução fisiológica; Grupo 2 (G2)= 150 µL de sêmen + 7,5
µL de mio-inositol (15 mM) + 7,5 µL de solução fisiológica;
Grupo 3 (G3)= 150 µL de sêmen + 15 µL de mio-inositol (30
mM).

677
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
2.1 Análises espermáticas

Após a formação dos grupos, 50 µL de cada grupo foi


retirado e utilizado para avaliação de integridade das
membranas acrossomal e plasmática por citometria de fluxo,
em seguida, 10 µL de cada grupo foi diluído em 90 µL de PBS,
diluição 1:10, para reduzir a concentração espermática e
facilitar a avaliação. Desta prévia diluição por grupo, 10 µL
foram utilizados para avaliação da função mitocondrial e 10 µL
para avaliação da motilidade espermática por análise
computadorizada de espermatozoides (CASA). As avaliações
foram realizadas nos momentos 0h (T0) e 2h (T2) pós-
descongelação, onde cada avaliação foi realizada em triplicata
e realizadas seis repetições deste experimento.

2.2 Cinética Espermática

A cinética espermática foi analisada através do sistema


computadorizado de análise espermática CASA (Sperm Class
Analyzer - SCATM software, Microptics, v. 5.1, S.L., Barcelona,
Espanha). Uma alíquota (5 μL de uma diluição de 1:10 em
PBS) de cada amostra foi depositada sobre lâmina
previamente aquecida a 37 ºC (MORTIMER, 2000;
CARVALHO et al., 2009; AVANZI et al, 2011;), coberta com
lamínula e analisada por microscópio de contraste de fase
(aumento de 100x; NikonTM H5505, Eclipse 50i, Tóquio, Japão)
e as imagens foram capturadas utilizando uma câmera de
vídeo (Basler Vision TechnologiesTM A312FC, Ahrensburg,
Alemanha). Foram avaliados os parâmetros motilidade total
(MT), motilidade progressiva (MP), Retilinearidade (STR),

678
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
Linearidade (LIN), Índice de Oscilação (WOB) e Amplitude
Lateral da Cabeça (ALH).

2.3 Integridade das Membranas Acrossomal e Plasmática

Para a avaliação da integridade das membranas


acrossomal (iAC) e plasmática (iMP), 50 µL das amostras de
sêmen foram centrifugadas uma vez em 1 mL de PBS (Fosfato
Salino Tamponado), a 1.610g por 10 minutos. O pellet foi
ressuspenso em 100 µL de PBS. As amostras foram coradas
com 1 µL de FITC-PNA (200 µg/mL) e 3 µL de Iodeto de
Propídeo (IP; 0,5 mg/mL) em PBS (CÂMARA et al., 2011). As
amostras foram fixadas em glutaraldeído 0,5 % e incubadas
por 10 minutos a 27 °C.
Foi utilizado o citômetro de fluxo Amnis ImageStream
Mark II (EMD Millipore Corp.), na objetiva de 60x, com taxa de
imagem de 500 células/seg e utilizando o PBS como fluído de
manutenção celular para análises. As amostras foram
analisadas em laser de 488 nm com intensidade definida para
55.0 mW e aproximadamente 5.000 eventos foram coletados
por amostra (Garner et al., 1994; Garner e Johnson, 1995;
Ferrara et al., 1997)e as imagens brutas avaliadas através do
software IDEAS® (versão 6.0).
Foram consideradas células com membrana
acrossomal e plasmática íntegras aquelas não marcadas
(PNA-/IP-), células com membrana acrossomal lesada e
plasmática íntegra às marcadas pelo FITC-PNA e não
marcadas pelo IP (PNA+/IP-), células com membrana
acrossomal intacta e plasmática lesada aquelas não marcadas
por FITC-PNA e marcadas por IP (PNA-/IP+) e por fim as

679
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
células duplas marcadas representavam aquelas com
membrana acrossomal e plasmática lesadas (PNA+/IP+).

2.4 Função mitocondrial

O potencial de membrana mitocondrial (PMM) dos


espermatozoides foi determinada pela utilização do
fluorocromo catiônico lipofílico JC-1 (SILVA et al., 2012).
Alíquotas de 5,0 µL de JC-1 (0,15 mM em DMSO) foram
adicionadas aos 30 µL de cada grupo experimental, incubadas
por 10 minutos a 37 ºC. Duzentos espermatozoides foram
avaliados em microscopia de epifluorescência, com aumento
de 400x, usando filtro de emissão LP 515 nm e BP 450-490
nm para excitação. As células que apresentavam a peça
intermediária corada em laranja foram classificadas com alto
potencial de membrana mitocondrial (aPMM) enquanto
aquelas coradas em verde foram classificadas com baixo
potencial de membrana mitocondrial.

2.5 Análise Estatística

Os dados foram avaliados pelo teste de Kolmogorov-


Smirnov para teste de normalidade da variância. Para
comparações entre os tempos do mesmo tratamento e
comparações entre os tratamentos em um mesmo tempo foi
utilizado o teste ANOVA, seguida do pós-teste de Tukey-
Kramer (p≤0,05) pelo software da IBM, SPSS Statistics
(versão 18.0 para Windows).

680
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos parâmetros cinéticos foram


expressos na forma de média e desvio padrão e estão
expressos em gráficos e tabelas. A MT (Tab. 1) e MP (Fig. 1A)
apresentaram valores pós-descongelação superiores a 30%
em todos os grupos estudados. Todos os grupos estariam
aprovados para uso, segundo o Ministério de Agricultura,
Pecuária e Abastacimento (MAPA), e obteriam, possivelmente
os resultados de fertilização (CBRA, 2013), assim como nos
estudos com caprinos de Dorado et al. (2007) e SOARES et
al. (2011).

Tabela 1. Motilidade total, na forma de média ± desvio padrão,


de espermatozoides caprinos da raça Boer pós-
descongelação, suplementados ou não com mio-inositol, sob
diferentes períodos de incubação
Motilidade Total (%)
GC G1 G2 G3
T0 54,27±7,95 58,71±9,49 47,96±11,18 53,06±9,23
T2 47,80±15,13 54,09±4,50 54,90±5,87 54,21±8,54
GC= Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5mM de
Mio-inositol); G2=Grupo 2 (15mM de Mio-inositol); G3=Grupo 3 (30mM de
Mio-inositol). T0=Momento de avaliação após descongelação;
T2=Momento de avaliação 2 horas após descongelação.

Não foi observada redução (P>0,05) para MT no GC


nos momentos pós-descongelação, não diferindo dos
resultados obtidos com os grupos tratados com mio-inositol,
evidenciando que a suplementação do sêmen com este
composto não influenciou este parâmetro. Sabe-se que a
motilidade espermática é uma das habilidades mais
importantes do espermatozoide, que está relacionada com sua
681
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
capacidade fertilizante (COX et al., 2006), valores preservados
deste parâmetro durante o processo de pós-descongelação
interferem positivamente na fertilização.
Os resultados de MP, STR, LIN, WOB e ALH estão
apresentados na Fig. (1). Observou-se que os parâmetros de
MP, STR, LIN e WOB apresentaram redução dos seus valores
(P<0,05) para o GC no momento T2, o que não foi observado
nos demais grupos suplementados com o mio-inositol.
Entretanto, o STR reduziu (P<0,05) no G2 no momento T2 e
WOB foi inferior (P<0,05) para o G2 e G3 neste mesmo tempo.
Percebeu-se aumento da ALH no GC, G2 e G3 no momento
T2, onde teve seus valores preservados apenas no G1,
mostrando que o mio-inositol, nesta concentração, manteve o
comportamento cinético dos espermatozoides, sem expressar
características de hiperatividade.
O comportamento pós-descongelação do sêmen sem a
adição deste inositídeo mostrou-se como o esperado, uma vez
que espermatozoides expostos ao processo de
riopreservação sofrem o efeito do choque térmico,
ocasionando desequilíbrio iônico, com aumento de íons cálcio,
zinco e diminuição dos íons potássio e magnésio, resultando
na redução da motilidade (BEZERRA, 2010). Como reflexo
deste fenômeno, o GC não preservou ao longo do tempo seu
percentual de células com MP (Fig. 1A), o que não foi
observado com os grupos tratamento.
Esta preservação pode ter acontecido devido ao mio-
inositol ser um precursor do fosfatidilinositol, molécula que
atua como segundo mensageiro celular, minimizando o
balanço osmótico através da regulação das concentrações

682
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
Figura 1. Parâmetros (média ± desvio padrão) de Motilidade
Progressiva (MP), Retilinearidade (STR), Linearidade (LIN),
Índice de Oscilação (WOB) e Amplitude Lateral da Cabeça
(ALH) de espermatozoides caprinos da raça Boer pós-
descongelação, suplementados ou não com mio-inositol, sob
diferentes períodos de incubação, apresentados nos gráficos
A, B, C, D e E, respectivamente.

AB A
A 50 AA A AA B 90 AB
A A
AA
40 A
85 B

STR (%)
MP (%)

30 T0 T0
80
20
T2 75 T2
10
0 70
GC G1 G2 G3 GC G1 G2 G3

C AB AA A A
100 AB AA A A
A A
D 95 B B
80 90
WOB (%)
LIN (%)

60 T0 T0
85
40
T2 80 T2
20
0 75
GC G1 G2 G3 GC G1 G2 G3

E 4 B A B B
A A A
A
ALH (µM)

3
2 T0

1 T2

0
GC G1 G2 G3

GC= Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5mM de


Mio-inositol); G2=Grupo 2 (15mM de Mio-inositol); G3=Grupo 3 (30mM de
Mio-inositol). T0=Momento de avaliação pós-descongelação; T2=Momento
de avaliação 2h pós-descongelação. Motilidade Progressiva (MP),
Retilinearidade (STR), Linearidade (LIN), Índice de Oscilação (WOB) e
Amplitude Lateral da Cabeça (ALH). Letras maiúsculas diferentes
representam diferença (p<0,05) entre os tempos em um mesmo grupo.

683
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
intracelulares de cálcio, aumento das taxas de glicólise e
respiração celular (VOGLMAYR e AMANN, 1973; PAPALEO
et al., 2009; COLONE et al., 2010; CONDORELLI et al., 2011),
assim, diminuindo o desequilíbrio iônico e as alterações que o
choque osmótico do processo de criopreservação causaria a
célula espermática. Ainda, esta preservação pode ser
justificada pelo fato deste inositídeo estimular o ciclo do ácido
cítrico, β-oxidação e fosforilação oxidativa na produção de
adenosina trifosfato (ATP) por meio da respiração aeróbica da
mitocôndria (CÂMARA; GUERRA, 2008).
Os demais parâmetros cinéticos, apresentados na Tab.
(2), não apresentaram resultados significativos (P>0,05).
Os resultados de preservação da MP (Fig. 1A)
corroboram com os experimentos de Kulaksiz et al. (2011)
utilizando sêmen bovino, Condorelli et al. (2012) utilizando
sêmen humano e Carvalho (2013) utilizando sêmen equino.
Verstegen et al. (2002) relataram que valores elevados de
VSL, VCL e VAP (Tab. 2) fertilizaram mais de 50% dos oócitos
inseminados, entretanto, não foi observado resultados
significantes (P>0,05) neste experimento.
Valores elevados para BCF e ALH associados ao
aumento do padrão de vigor, são indicadores de hiperativação
espermática (MORTIMER e MORTIMER, 1990), entretanto,
não foi observado diferenças significativas (P>0,05) para BCF
(Tab. 2), e o parâmetro ALH (Fig. 1E) acompanhou o aumento
dos valores junto ao GC no T2, entretanto, o G1 foi o único
grupo que preservou os valores deste parâmetro no T2,
resultado este também observado para WOB. Esta
preservação da amplitude lateral da cabeça e o índice de
oscilação pode ter favorecido o movimento linear da célula
espermática, podendo justificar a preservação da LIN (Fig. 1C)

684
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
para todos os grupos tratamento no T2, e para os grupos G1 e
G3 no momento T2 da STR.

Tabela 2. Valores médios (± desvio padrão) para Percentual


de Espermatozoides Rápidos, Velocidade Curvilínea (VCL),
Velocidade Linear Progressiva (VSL), Velocidade Média da
Trajetória (VAP) e Batimento Flagelar Cruzado (BCF) de
espermatozoides de caprino Boer pós-descongelação e
suplementados ou não com mio-inositol, sob diferentes
períodos de incubação
Percentual de Espermatozoides Rápidos (%)

GC G1 G2 G3
T0 45,40±10,44 45,54±7,25 40,24±9,28 41,34±9,91
T2 38,94±15,60 39,47±5,81 40,50±7,81 44,75±9,24
VCL (µm/s)
GC G1 G2 G3
T0 139,37±17,82 130,01±12,99 137,31±16,45 134,55±11,40
T2 135,96±10,45 126,55±13,26 129,31±13,83 134,28±11,74
VSL (µm/s)
GC G1 G2 G3
T0 108,83±16,85 95,55±15,04 101,08±17,08 99,86±10,15
T2 95,20±15,74 88,93±19,90 83,50±19,74 91,95±17,64
VAP (µm/s)
GC G1 G2 G3
T0 127,71±19,49 116,00±16,39 123,11±20,63 120,73±13,35
T2 117,21±13,81 108,31±16,96 108,65±19,16 115,27±15,88
BCF (µm/s)
GC G1 G2 G3
T0 8,57±0,63 9,05±0,74 8,78±0,80 9,15±0,88
T2 9,15±0,87 8,90±0,60 8,98±0,31 9,27±0,46
GC= Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5mM de
Mio-inositol); G2=Grupo 2 (15mM de Mio-inositol); G3=Grupo 3 (30mM de
Mio-inositol). T0=Momento de avaliação após descongelação;
T2=Momento de avaliação 2 horas após descongelação.

685
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO

Os resultados do Potencial de Membrana Mitocondrial


(Tab.3) não apresentaram mudanças (P>0,05) quando
comparado os grupos suplementados com mio-inositol com o
grupo controle nos dois períodos de avaliação.
Estes resultados de preservação de parâmetros
cinéticos poderiam refletir no aumento do aPMM, como
relatam Condorelli et al. (2012), utilizando espermatozoides
humano suplementado com mio-inosiotol. Entretanto, este
resultado não foi observado neste experimento, e os
percentuais de células com aPMM não diferiram entre os
tempos, assim como não diferiram entre os tratamentos.

Tabela 3. Resultado do alto potencial de membrana


mitocondrial (aPMM), na forma de média ± desvio padrão, de
espermatozoides caprinos da raça Boer pós-descongelação,
suplementados ou não com mio-inositol, sob diferentes
períodos de incubação
Alto Potencial Mitocondrial
GC G1 G2 G3
T0 48,46±10,41 52,10±9,68 49,35±8,40 47,39±7,73
T2 52,46±9,79 48,42±8,35 50,46±3,33 46,57±8,05
GC=Grupo Controle; G1=5mM Mio-inositol; G2=15mM Mio-inositol;
G3=30mM Mio-inositol. T0=Avaliação imediata pós-descongelação;
T2=Avaliação 2h pós-descongelação.

A preservação destes parâmetros cinéticos, e


consequente manutenção da respiração celular, com possível
aumento da produção de ROS, associadas a altas
concentrações de mio-inositol e sua ação na regulação das
concentrações de cálcio intracelular, podem ter provocado o
processo de capacitação espermática, desestabilizando as

686
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
membranas e diminuindo seus percentuais de integridade,
como observado no G2 e G3 no T2 (Fig. 2).

Figura 2. Média ± desvio padrão da integridade das


membranas acrossomal (iAC) e plasmática (iMP) de
espermatozoides caprinos da raça Boer pós-descongelação,
suplementados ou não com mio-inositol, sob diferentes
períodos de incubação.
60 A A
A A
A
50 A
B B
iAC (%) + iMP (%)

40

30 T0
T2
20

10

0
GC G1 G2 G3

GC= Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5mM de


Mio-inositol); G2=Grupo 2 (15mM de Mio-inositol); G3=Grupo 3 (30mM de
Mio-inositol). T0=Momento de avaliação após descongelação;
T2=Momento de avaliação 2 horas após descongelação. Letras maiúsculas
diferentes representam diferença (p<0,05) entre os tempos em um mesmo
grupo.

O mio-inositol aumenta as concentrações de Ca2+ por


se ligar a receptores específicos (ALMEIDA et al., 2003),
assim, atuando na regulação osmótica da célula (PRUNEDA
et al., 2009; SETYWAN et al., 2009; CONDORELLI et al.,

687
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
2011). O processo de capacitação do espermatozoide envolve
a ocorrência de diversos eventos moleculares, entre eles o
efluxo de colesterol e influxo de íons (CRUZ et al., 2014). Com
o possível aumento das concentrações de ROS provocada
pela manutenção da motilidade por duas horas de incubação
pós-descongelação, efluxo do colesterol e aumento da
concentração de Ca2+ induzida pelas altas concentrações do
mio-inositol, juntamente com as ROS, interage com a adenilil
ciclase solúvel (sAC; O’FLAHERTY et al., 2006), aumentando
a atividade do AMPc (monofosfato cíclico de adenosina) que
ativando a PKA (proteína cinase dependente de AMPc)
fosforila a calmodulina, desencadeando o processo de
capacitação espermática (ABOU-HAILA; TULSIANI, 2000), e
consequente desestabilização das membranas.
Para as integridades de membrana acrossomal (iAC) e
membrana plasmática (iMP) apresentadas na Fig. (2), não foi
observada redução dos percentuais de células íntegras para o
GC no T2, entretanto, os grupos G2 e G3, com as mais altas
concentrações de mio-inositol, apresentaram redução (P<0,05)
do percentual de células íntegras no T2.
Este aumento na desestabilização das membranas
pode ser um indicativo do padrão de hiperatividade celular,
observado nas modificações de cinética espermática, ou seja,
na ALH. Ao iniciar o processo de hiperativação, há aumento
na produção de ROS, que inicia a cascata de modificação da
fluidez da membrana plasmática do espermatozoide, processo
fisiológico e que deve ser realizado pela célula espermática
viável (MAIA; BICUDO, 2009).
Levando em consideração o tempo de fecundação pelo
espermatozoide em um processo de inseminação artificial, a
desestabilização das membranas em duas horas, como

688
POTENCIAL CINÉTICO DE ESPERMATOZOIDES CAPRINOS
SUPLEMENTADOS COM MIO-INOSIOTOL PÓS-CRIOPRESERVAÇÃO
apresentados pelo G2 e G3 (Fig. 2), como possível
antecipação do processo de capacitação espermática, pode
ser fator favorável para fertilidade do espermatozoide ao
ovócito já presente na tuba uterina.

4 CONCLUSÕES

A adição de mio-inositol nas concentrações de 5, 15 e


30 mM em sêmen caprino descongelado apresentou
preservação favorável para o parâmetro de motilidade
progressiva e linearidade dos espermatozoides até duas horas
pós-descongelação. As concentrações de 15 e 30 mM de mio-
inositol diminuíram os percentuais de células com membrana
acrossomal e plasmática íntegras, duas horas pós-
descongelação, possivelmente pelo processo de capacitação
espermática. Os espermatozoides suplementados com mio-
inositol nas concentrações de 15 e 30 mM apresentaram
características favoráveis para fecundação, entretanto,
estudos com a suplementação deste inositídeo em sêmen
caprino é pouco explorado, havendo necessidade de novas
pesquisas.

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693
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
CAPÍTULO 36

MODELOS EXPERIMENTAIS PARA


INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR - UMA ALTERNATIVA PARA A
INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS FORMAS
DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
Ana Carolina dos Santos COSTA 1
Jaielison Yandro Pereira da SILVA 2
Mikaelle Albuquerque de SOUZA 1
Celina de Castro Querino DIAS¹
Camila Carolina de Menezes Santos BERTOZZO3,4
1
Doutorandas pelo PPGCTA, UFPB e pesquisadoras do Grupo de Pesquisa e Estudos em
Nutrição Experimental - LANEX, UFCG; 2 Graduando do Curso de Bacharelado em Nutrição,
UFCG e pesquisador do Grupo de Pesquisa e Estudos em Nutrição Experimental - LANEX,
UFCG; 3 Coordenadoras do Grupo de Pesquisa e Estudos em Nutrição Experimental -
LANEX, UFCG; 4 Orientadora/Professora da UFCG.
camilacarolina01@gmail.com

RESUMO: O presente estudo tem por finalidade revisar a


literatura científica quanto os modelos experimentais de
indução à dislipidemia em ratos wistar, como alternativa para
investigação de possíveis formas de tratamento. Trata-se de
uma revisão da literatura cinetífica. Para o levantamento
bibliográfico utilizaram-se as bases de dados SciELO,
Periódicos CAPES, Google Acadêmico, Web of Science e
ScienceDirect, utilizando os descritores “dyslipidemia”,
“effects” e “rats”, tanto no idioma inglês quanto português. Os
materiais encontrados passaram por determinados critérios de
seleção e inclusão. Nota-se que a dislipidemia é uma
alteração do perfil lipídico, decorrente de inúmeras causas. O

694
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
tratamento mais usual é por forma medicamentosa, porém
essa apresenta uam série de complicações. Logo, busca-se

outras alternativas mais seguras para seu tratamento, como a


adoção de exercícios físicos e o uso de alimentos com
propriedades benéficas, sendo alvo de muitas pesquisas
recentes. Mas para se descobrir os efeitos de novos
compostos, e pelas questões éticas impostas nas pesquisas
com seres humanos, os modelos de experimentação animal
se fazem necessários. Logo quando induzida a dislipidemia
podem-se ser testadas as possíveis alternativas para o
tratamento dessa doença e averiguar seus efeitos no
organismo animal, se de fato é benéfico ou maléfico, se
apresenta algum efeito indesejado, entre outras características
de interesse.
Palavras-chave: Investigação laboratorial. Perfil lipídico.
Lipídeos na dieta.

1 INTRODUÇÃO

As gorduras consumidas pela dieta são digeridas e


absorvidas no trato gastrointestinal até atingir a corrente
sanguínea. Nesse percurso passam por uma série de
estruturas e sofrem ações de diversas enzimas, para
assegurar que a metabolização das mesmas ocorra de forma
adequada (LEHNINGER; NELSON COX, 2006; SBC, 2013).
No estanto no cenário da atualidade em que há a prevalência
do consumo de alimentos de alto valor energético,
principalmente, os fontes de gordura saturada, tem promovido
um aumento nos riscos a saúde dos indivíduos, com o

695
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, tais
como: obesidade, diabetes, hipertensão, esteatose hepática,

complicações ateroscleróticas e dislipidemia (DUAN et al.,


2014; HAZARIKA et al., 2016; SENAPHAN et al., 2015; XU et
al., 2012).
Com ênfase na dislipidemia, trata-se de um distúrbio
dos níveis séricos de lipídeos no sangue, mais
especificadamente, caracterizada pelo aumento dos níveis
séricos de triglicerídeos, colesterol total e LDL, associado a
uma redução no nível de HDL) (DUAN et al., 2014; SBC, 2013;
YANG; YANG; ZHENG, 2010). Seu tratamento principal é de
forma medicamentosa com o uso de fármacos
hipolipidêmicos, porém, estes possuem vários efeitos
colaterais indesejados, como a esteatorreia e flatulência, que
prejudicam o bem estar de seus usuários (KEI; FILIPPATOS;
ELISAF, 2016). A utilização do exercício físico também é uma
alternativa para a melhora do quadro de dislipidemia
(MACHADO,POZZOBOM, 2014), porém não deve ser realizada de
forma isolada, e sim com a associação da mudança dos
hábitos alimentares. Portanto, buscam-se alternativas em
fontes alimentares, que auxiliem no tratamento.
A utilização de alimentos funcionais que apresentam
comprovação científica sobre a melhora no perfil lipídico
sanguíneo, já são utilizados como forma de tratamento
(WANG et al., 2014). O uso de compostos antioxidantes
extraídos de frutos e subprodutos contendo polifenois e
flavonoides, a exemplo da amora, jaboticaba, bem como
oleaginosas, tais como, amendoim, castanha de caju e oliva,
tem demonstrado efeitos positivos em pesquisas com animais

696
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
e humanos (ALEZANDRO; GRANATO; GENOVESE, 2013;
ALVES et al., 2014; BELGUITH-HADRICHE et al., 2013; DJKI

et al., 2012; FAMUREWA; ABI; ERU, 2016; YANG; YANG;


ZHENG, 2010).
No entanto antes de testar o efeito de determinados
compostos como alternativa para o tratamento da dislipidemia,
faz-se necessário a investigação em modelos experimentais,
que simulem condições referentes ao quadro da doença (XU
et al., 2012).
Diante disso, o presente trabalho tem por finalidade
revisar a literatura científica quanto os modelos experimentais
de indução à dislipidemia em ratos wistar, como alternativa
para investigação de possíveis formas de tratamento.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de uma revisão da literatura, com análise


qualitativa da mesma, em que buscou-se estudos sobre a
investigação em modelos experimentais de indução à
dislipidemia. Para o levantamento bibliográfico utilizaram-se as
bases de dados SciELO, Periódicos CAPES, Google
Acadêmico, Web of Science e ScienceDirect. A busca dos
periódicos foi conduzida utilizando os descritores
“dyslipidemia”, “effects” e “rats”, tanto no idioma inglês quanto
português, com o auxilio dos operados booleanos “AND” e
“OR”, combinados.
A seleção do material foi conduzida baseando-se nos
critérios de seleção e inclusão, sendo: 1) apresentar
interrelação com a dislipidemia; 2) estudos de base

697
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
experimental; 3) serem artigos científicos, teses ou
dissertações; 4) publicados, de preferência, no período de

2010 a 2017 (últimos 10 anos); e 5) escritos no inglês ou


português. Foram selecionados os materiais que
apresentassem conformidades com pelo menos três dos cinco
critérios.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 METABOLISMO DAS GORDURAS

As gorduras consumidas pela dieta são digeridas e


absorvidas no trato gastrointestinal até atingir a corrente
sanguínea, no entanto, para que isso ocorra, os lipídeos, que
são hidrofóbicos, para circularem pelo meio aquoso, agrupam-
se com proteínas, formando complexos
chamados, lipoproteínas, que diferem entre si pelo seu
conteúdo e pela apolipoproteina (proteína localizada na
superfície que permite a interação com o meio), podendo ser
classificadas como: quilomícrons, responsáveis por carregar
os lipídeos diretamente absorvidos da alimentação; VLDL
(lipoproteína de muito baixa densidade), responsáveis por
carregar os triglicerídeos do fígado para o resto do corpo; IDL
(lipoproteína de densidade intermediária), formadas quando os
triglicerídeos são quebrados e retirados das VLDLs assim,
voltam para o fígado para ser reaproveitada; LDL
(lipoproteínas de baixa densidade), responsáveis por distribuir
o colesterol pelo corpo; e HDL (lipoproteína de alta
densidade), responsáveis por retirar o excesso de colesterol

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MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO

da corrente sanguínea e levá-lo de volta para o fígado


(LEHNINGER; NELSON COX, 2006; SBC, 2013)
O problema acontece quando o metabolismo das
gorduras encontra-se alterado, principalmente devido aos
maus hábitos alimentares, podendo vir a acarretar diversas
alterações, dentre elas, o aparecimento de dislipidemia.

3.2 DISLIPIDEMIA

Figura 1. Acumulo de lipídeos na artéria

FONTE: MIRANDA et al., 2016.

A dislipidemia é um distúrbio dos níveis séricos de


lipídeos no sangue (Figura 1), mais especificadamente,
caracterizada pelo aumento quantitativo das concentrações de

triglicerídeos, colesterol total e LDL, associado a uma redução


no nível de HDL, podendo ser decorrente de causas genéticas
(dislipidemias primárias) ou associadas a outras doenças, pela
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MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
utilização de determinados fármacos ou até mesmo por um
estilo de vida e alimentação inadequada (dislipidemias
secundárias) (DUAN et al., 2014; SBC, 2013).
Essas alterações do perfil lipídico têm sido
consideradas como um fator de risco para o desenvolvimento
de inúmeras complicações metabólicas (Figura 2) (DUAN et
al., 2014). Os lipídeos em excesso tendem a se acumular no
tecido adiposo, repercutindo em aumento das medidas
antropométricas, tais como: dobras cutâneas, circunferências
e peso corporal, podendo este último ocasionar sobrepeso ou
diferentes graus de obesidade (SCHUMACHER et al. 2016).
Associado a esses quadros, Xu et al. (2012)
mostraram que níveis alterados de lipídeos sanguíneos e
ganho de peso excessivo podem se correlacionar com o
aparecimento de diabetes causando hiperglicemia e
resistência à insulina. Essa doença está intimamente ligada a
nefropatias com alterações da função renal que, se não
tratadas a tempo pode levar a um quadro de insuficiência no
futuro (LI et al., 2014).
Além da deposição de gordura no tecido adiposo, esse
quadro também pode acontecer em órgãos vitais, como o
fígado, ocasionando aumento de peso e um quadro de
esteatose hepática (HAZARIKA et al., 2017). Além dessas
manifestações, o organismo dislipidêmico está susceptível ao
aparecimento e alterações a nível cardiovascular, como
hipertensão arterial, acidente vascular encefálico, doenças
coronarianas, arteriosclerose, entre outras (SENAPHAN et al.,
2015; VERMA; SHARMA, 2015; WANG et al., 2014).
As doenças cardiovasculares têm sido correlacionadas
como sendo uma das principais causas de mortalidade

700
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
mundial (SMITH, 2007; DUAN et al., 2014). No ano de 2014,
as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 29,4 %
das mortes no Brasil, representando mais de 308 mil pessoas
que chegaram a óbito decorrentes de infarto e acidente
vascular encefálico. O elevado índice coloca o Brasil entre os
10 países com os maiores percentuais de óbitos em virtude de
doenças cardiovasculares (PORTAL BRASIL, 2014).
A doença cardiovascular apresenta como um dos
principais contribuintes, o dano oxidativo, promovido por
radicas livres (WANG et al., 2014). Portanto, a dislipidemia é
uma alteração metabólica que acarreta diversos agravos à
saúde, e seu tratamento deve ser iniciado logo após sua
descoberta.

Figura 2: Ciclos de transporte de lípides no plasma. As lipoproteínas


participam de três ciclos básicos de transporte de lípides no plasma: (1)
ciclo exógeno, no qual as gorduras são absorvidas no intestino e chegam
ao plasma, sob a forma de quilomícrons, e, após degradação pela lipase
lipoproteica (LPL), ao fígado ou a tecidos periféricos; (2) ciclo endógeno,
em que as gorduras do fígado se direcionam aos tecidos periféricos; a
lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) é secretada pelo fígado e,
por ação da LPL, transforma-se em lipoproteína de densidade intermediária
e, posteriormente, em LDL, a qual carrega os lípides, principalmente o
colesterol, para os tecidos periféricos; (3) transporte reverso do colesterol,
em que as gorduras, principalmente o colesterol dos tecidos, retorna para o
fígado; as HDL nascentes captam colesterol não esterificado dos tecidos
periféricos pela ação da lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT),
formando as HDL maduras; por meio da CETP, ocorre também a
transferência de ésteres de colesterol da HDL para outras lipoproteínas,
como as VLDL. AGL: ácidos graxos livres; HPL: lipase hepática.

701
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO

FONTE: FALUDI et al., 2017.

3.3 FORMAS DE TRATAMENTO DA DISLIPIDEMIA

3.3.1 Terapia medicamentosa

A terapia medicamentosa é amplamente utilizada,


sendo os fármacos mais frequentes nesse tratamento, os da
família das estatinas e fibratos, constituindo a principal forma
de tratamento das dislipidemias (KEI; FILIPPATOS; ELISAF,
2016).
As estatinas, das quais se destacam a atorvastatina,
rosuvastatina, pravastina, lovastatina e principalmente a
sinvastatina, atuam como inibidores da HMG-CoA redutase,
702
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
enzima relacionada para a síntese do colesterol, causando
diminuição na produção hepática de colesterol, além de
melhora na síntese do receptor de LDL, o que promove uma
maior captação celular de LDL, uma das principais
lipoproteínas transportadoras de colesterol, contribuindo para
a redução dessa lipoproteína circulante e aumento de HDL
(CAMPO; CARVALHO, 2007; RANG et al., 2007; WANG;
XIAO; YANG, 2010).
Os fibratos são fármacos que causam redução dos
triglicerídeos, VLDL e LDL circulante, influenciando no
aumento de HDL (RANG et al., 2007; XAVIER, 2005a). Eles
atuam por meio de estimulação dos receptores nucleares
ativados de proliferação do peroxissomas-alfa (PPAR-α), que
levam ao aumento da função da lipase proteica e redução da
Apoproteina CIII, mecanismos que estimulam a lipólise dos
triglicerídeos, das VLDL e quilomicrons. Apresentam a
capacidade de aumentar o HDL pelo seu efeito na (PPAR-α),

que promovem maior produção de Apo AI, que aumentam a


oferta dos componentes de superfície das HDL (XAVIER,
2005b).
Todavia, sua utilização apresenta uma série de efeitos
colaterais como a miopatia, toxicidade hepática, alterações do
trânsito intestinal, esteatorreia, flatulência (KEI; FILIPPATOS;
ELISAF, 2016; RANG et al., 2007).
A utilização de fármacos deve ser uma alternativa para
o tratamento da dislipidemia, mas não de forma isolada, pois
outros fatores devem estar relacionados para contribuírem
com a melhora do quadro e a manutenção da saúde do
indivíduo. Em virtude do tratamento farmacológico ainda

703
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
apresentar efeitos adversos ao paciente, é que se têm
buscado cada vez mais por alternativas que promovam o
mesmo benefício e com menos danos. Entre as intervenções
não medicamentosas no tratamento das dislipidemias destaca-
se a adoção de práticas de atividade física e as intervenções
dietéticas (LUCCA; OLIVEIRA, 2014; SBC, 2013).

3.3.1 Prática de atividade física

A ausência ou redução dos níveis de atividade física


associado a uma dieta hipercalórica/hiperlipídica são alguns
dos fatores interligados com o aumento da prevalência do
sobrepeso e obesidade na população, que com o passar do
tempo podem proporcionar uma série de complicações
metabólicas (KUMANYAKA, 2001), como a dislipidemia.
A adoção de práticas regulares de exercícios físicos
representa um dos fatores de grande impacto para a melhora

da dislipidemia (PEREIRA JÚNIOR et al., 2013). Os efeitos


dessa prática sobre o perfil lipídico são bem conhecidos,
sendo sua realização com regularidade, capaz de elevar os
níveis de HDL-colesterol e reduzir triglicérides e LDL-colesterol
(MATSUDO, 2005); proporcionando redução da massa da
gordura corporal que repercute em diminuição do peso,
circunferências e dobras cutâneas (CAMBRI et al., 2006;
CHEIK et al., 2006); além de aumentar a sensibilidade à
insulina, captação de glicose e a atividade da lipase, tanto em
animais quanto em humanos (BARRILE et al., 2015; DUNCAN
et al., 2003), melhorando também o condicionamento
cardiorrespiratório (SBC, 2013).

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MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
A frequência, duração e intensidade dos exercícios
para auxiliarem nesses efeitos não precisam ser extenuantes.
A realização de caminhadas, corridas leves e o ciclismo,
classificados como exercícios aeróbicos, já exercem sua
influência (SBC, 2013). Vale ressaltar que, para um efeito
potencializado com relação às práticas de atividade física
sobre a dislipidemia, a modificação dos hábitos alimentares
torna-se imprescindível.

3.3.1 Terapia nutricional

Sempre deve-se adotar a terapia nutricional na


prevenção da dislipidemia, por meio de atitudes como redução
da ingestão de açúcar e gorduras, características de dietas
hipercalóricas e hiperlipídicas, respectivamente, que em longo
prazo podem promover diversas alterações metabólicas, tanto
]

em humanos, quanto em animais (NGUEGUIM et al., 2016;


SCHUMACHER et al., 2016).
Outro ponto que deve ser seguido na terapia nutricional
para dislipidemia é o aumento do consumo de alimentos
fontes de fibras (sejam solúveis ou insolúveis), e que
apresentem em sua constituição a presença de compostos
antioxidantes com comprovação científica, tais como,
flavonoides, encontrados na amora, jabuticaba, morango,
entre outros frutos, que são fatores de grande impacto na
melhora da saúde do individuo, por promover melhoras no
perfil lipídico e estresse oxidativo (ALEZANDRO; GRANATO;
GENOVESE, 2013; BRAGA et al., 2013; SBC, 2013).

705
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
Tais estudos mostram o quão prejudicial são os maus
hábitos alimentares, sendo necessária uma reeducação
alimentar, e utilização de estratégias para reverter o quadro de
dislipidemia. Devido a isto, têm-se desenvolvido pesquisas
com alimentos funcionais e que apresentem comprovação
científica em reduzir o colesterol (WANG et al., 2014) e os
demais tipos de lipídeos sanguíneos.

3.4 INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM MODELOS


EXPERIMENTAIS

Antes de testar possíveis formas de tratamento em


humanos, sejam com a administração de fármacos, efeitos de
exercícios e de dietas experimentais, ou a combinação desses
tratamentos, é necessário que sejam feitos estudos para
validar sua eficácia, toxicidade e possíveis efeitos colaterais.
Para tanto, é necessária a realização de modelos

experimentais para averiguar seu impacto no organismo


animal. Diante disso, faz-se imprescindível uma forma eficaz
de indução à dislipidemia nos animais, de tal forma que se
correlacione com o que é visto nos seres humanos.
Os modelos de indução à dislipidemia baseiam-se em
ofertar por um determinado período de tempo, uma maior
quantidade de lipídeos e/ou carboidratos extrapolando o valor
normal recomendado. Para tanto, podem ser utilizadas nesse
ajuste da dieta, fontes de carboidrato, a exemplo da sacarose,
bem como de gordura saturada podendo ser de fonte vegetal,
como o óleo de coco ou óleo de palma, ou de fonte animal,
como a banha de porco; podendo ser administradas por

706
MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
gavagem, ou seja, por meio de uma sonda orogástrica, ou
como substituição de ingredientes na formulação da ração
animal, como é visto nas dietas de cafeteria (HAZARIKA et al.,
2016; HAZARIKA et al., 2017; NGUEGUIM et al., 2016;
SCHUMACHER et al., 2016; XU et al., 2012).
Em estudos de base experimental, Duan et al. (2014),
ofertando a ratos uma dieta rica em gordura durante o período
de duas semanas, observou como resposta metabólica uma
elevação nos níveis de triglicerídeos, colesterol total, LDL
colesterol e ganho de peso.
Já Senaphan et al. (2015), ofertou aos ratos wistar
durante 16 semanas uma dieta com elevado teor de gordura e
15% de frutose, o que levou a um quadro de dislipidemia,
observaram que os animais apresentaram hipercolesterolemia,
resistência à insulina e aumento da pressão arterial.
Ratos que consumiram uma emulsão, via oral,
composta por banha de porco, caseína, colesterol, mistura de

vitaminas e minerais, metionina, levedura em pó e cloreto de


sódio durante quatro semanas, resultou em um quadro de
dislipidemia, em que foi observado um aumento dos lipídeos
séricos, incluindo o colesterol total, triglicerídeos e LDL, e uma
redução de HDL. Além de promover aumento da
acetilcolinesterase cerebral e redução da capacidade de
retenção de memória, representando uma demência. Também
foi observado uma disfunção vascular, expressão de RNA
mensageiro de óxido nítrico, sintase endotelial e aumento do
ácido tiobarbitúrico e de espécies reativas no soro (VERMA;
SHARMA, 2015).

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MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
Xu et al., (2012) trabalhando com ratos wistar,
administradoiu por duas semanas uma emulsão de alto teor de
gordura (EATG) composta por colesterol, ácidos biliares,
glicerol, propiltiouracil ®, mix de vitaminas lipossoluveis e
água, houve um aumento significativo dos níveis séricos de
triglicerídeos, colestol total e LDL, além de resultar em
intolerância a glicose e resistência a insulina. Este método
ganha destaque por apresentar em um período relativamente
curto de tempo os sinais e sintomas referentes à dislipidemia
em seres humanos.

4 CONCLUSÕES

Diante dos resultados da presente revisão pode-se


aferir a importância dos estudos de base experimental de
indução a dislipidemia para investigação de possíveis formas
de tratamento dessa doença, tendo em vista as questões

éticas impostas na realização de pesquisa em seres humanos


quanto a administração de novas substâncias a serem
utilizadas como fármacos, o uso de compostos alimentares, ou
a combinação desses estudos com a prática de atividade
física com o intuito de potencializar o efeito.
Diante das metodologias abordadas na literatura
científica nota-se como a dieta exerce um papel de grande
influência para saúde do organismo, animal ou humano, já que
com a modificação dos teores lipídicos por determinado tempo
já é possível notar as alterações dos níveis séricos de gordura
circulante, que caracterizam a doença.

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MODELOS EXPERIMENTAIS PARA INDUÇÃO À DISLIPIDEMIA EM RATOS
WISTAR – UMA ALTERNATIVA PARA A INVESTIGAÇÃO DE POSSIVEIS
FORMAS DE TRATAMENTO: UMA REVISÃO
Quando os animais apresentam as características do
quadro da doença, podem ser aplicadas os compostos para
averiguar seus efeitos no organismos animal, se de fato é
benéfico ou maléfico, se apresenta algum efeitos indesejado e
assim por diante.

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712
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB

CAPÍTULO 37

EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA


EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB

Anne Kaliery de Abreu ALVES1


Éssia de Almeida LIMA1
Deyse Cristina Madruga CARVALHO2
Luiz Henrique Agra CAVALCANTE-SILVA3
Sandra RODRIGUES-MASCARENHAS4
1
Mestranda da Pós-graduação em Biotecnologia, UFPB;2Mestranda da Pós-graduação em
Ciências Fisiológicas, UFPB;3 Doutorando do PgPNSB/ UFPB;4 Orientadora/Professora da
UFPB.
EMAIL.anneabreu.farm@gmail.com

RESUMO: A ouabaína é um glicosídeo encontrado nas raízes


e cascas da árvore Ouabaio (Acocanthera ouabaio) e nas
sementes de Strophanthus gratus. Descoberta no plasma
humano em 1991 como biologicamente, estruturalmente igual
a ouabaína das plantas. O objetivo desse trabalho foi entender
a ação da ouabaína mediante a exposição a radiação UV em
linfócitos do timo e do linfonodo mesentérico. Camundongos
Swiss albino foram submetidos a um pré-tratamento com
ouabaína na dose de 0,56 mg/kg por três dias consecutivos e
também nas concentrações de 100,10, 1 µM e 100 nM. As
células obtidas da maceração dos órgãos foram centrifugadas,
resuspensas e contadas. A concentração foi ajustada para
4x105céls/ml com PBS e plaqueadas para a exposição a UVC
e UVB por 2 minutos. Após o estímulo, adiciona o meio RPMI
suplementado com 10% de SFB e mantém cultura por 6 e 24
horas. A viabilidade foi analisada com o MTT 5 mg/mL. Na
cultura de 6 horas a ouabaína teve um efeito citoprotetor nos

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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
linfócitos do timo e linfonodo mesentérico expostos a UVC e
UVB. No entanto, esse efeito em 24 horas não foi observado,
exceto para os timócitos no UVC. A concentração de 100 nM
protegeu os linfócitos desses órgãos, assim como 100µM e 10
µM no linfonodo mesentérico.Esses resultados contribuem
para o entendimento de sua ação fisiológica mediante
estímulos inflamatórios.
Palavras-chave: Ouabaína; Inflamação; Viabilidade celular.

1 INTRODUÇÃO

A ouabaína, inicialmente conhecida como um composto de


origem vegetal extraída das cascas e raízes da árvore
Ouabaio (Acocanthera ouabaio), foi identificada como uma
substância endógena, circulante no plasma de mamíferos
superiores, sendo produzida pela adrenal, hipófise e
hipotálamo. Nos últimos anos, a ouabaína tem sido
amplamente estudada, por sua capacidade em interferir em
vários mecanismos reguladores e mantenedores da
homeostase.
Glicosídeos cardiotônicos ou digitálicos constituem uma
família de compostos naturais que apresentam uma gama de
atividades biológicas, mas que possuem em comum a
capacidade de inibir a Na+/K+-ATPase, uma proteína que
estabelece o gradiente eletroquímico desses íons através da
membrana (SHATZMANN, 1953). A ouabaína, classificada
comoum digitálico, foi conhecida inicialmente como um
composto de origem vegetal, encontrado em algumas plantas
da família Apocynaceae (BLAUSTEIN, 1993). No entanto, no
ano de 1991, a ouabaína foi descrita como uma substância
endógena, circulante no plasma de mamíferos superiores e

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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
com as mesmas características estruturais, biológicas e
imunológicas encontrada nos vegetais (HAMLYN et al., 1991).
A ouabaína é capaz de se ligar e inibir a Na+/K+-
ATPase, essa bomba é responsável pelo processo de
transporte ativo em grande parte das células animais, o que
leva à saída de três íons sódio (Na+) e entrada de dois íons
potássio (K+), sua inibição portanto, favorece o acúmulo de
Na+ dentro da célula (BIRKS; COHEN, 1968; GOMEZ et al.,
1975; AIZMAN et al., 2001). O aumento da concentração de
Na+ intracelular, ativa o trocador Na+/Ca+, gerando aumento
da concentração de Ca2+ citosólico e assim, resultando no
aumentoda contratilidade cardíaca (HANSEN, 1984).Através
deste mecanismo, a ouabaína foi bastante utilizadapara o
tratamento da insuficiência cardíaca congestiva. Estudos
demonstram que a ouabaína é sintetizada pela adrenal,
hipotálamo, hipófise e na região anteroventral do coração,
especificamente do terceiro ventrículo (AV3V), podendo ser
identificada no plasma humano em concentraçõesque vão de
picomolares a nanomolares (FERRANDI et al., 1997; GOTO
et al., 1992; HAMLYN et al., 1991; PAMNANI et al., 1981;
SCHONER et al., 2003). A sua secreção foi relacionada ao
metabolismo de hormônios esteroides,por isso, mais
recentementea ouabaína foi considerada umhormônio
esteroidal, assim como os outros glicosideos cardiotonicos
encontrados no organismo humano (SCHONER, 2002).
Diversas evidências demonstram que a secreção de ouabaína
pode se alterar de acordo com o estado fisiológico em que se
encontra o organismo. Existem vários eventos, tanto
fisiológicos como patológicos que podem modificar os níveis
endógenos desse digitálico. Foram encontrados em pacientes

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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
hipertensos níveis elevados de ouabaína (SCHONER, 2000)
assim como em diferentes modelos de ratos com hipertensão
(ROSSONI et al., 2003; WENCESLAU et al., 2011; XAVIER et
al., 2004). A ouabaína também pode atuar na resposta do
organismo ao estresse agudo, pois se observou que o
exercício físico tem capacidade de aumentar os níveis de
ouabaína em ratos, cachorros e seres humanos minutos
depois do início da atividade física (GOTO et al., 1992; LEITE,
2012).
Nos últimos anos, a ouabaína tem sido bastante estudada por
sua capacidade de interferir em vários mecanismos
mantenedores e reguladores da homeostase do organismo
(BAGROV; SHAPIRO, 2008). Devido ao seu uso na clínica o
efeito da ouabaína no organismo foi mais estudado em células
cardíacas e renais, no entanto, vários trabalhos vêm
evidenciando o papel imunomodulador desse digitálico (DE
PAIVA et al., 2011; DE VASCONCELOS et al., 2011; LEITE et
al., 2015; ECHEVARRIA-LIMA et al., 2003; NASCIMENTO et
al., 2014; RODRIGUES-MASCARENHAS et al., 2008).
O sistema imunológico é constituído por uma rede de
órgãos, células e moléculas que são capazes de manter ou
reestabelecer a homeostasia do organismo (WILSON;
TRUMPP, 2006). A resposta imune pode ser modulada por
substâncias ativas que tenham capacidade de reprimir as
respostas indesejadas resultantes de uma inflamação, por
exemplo. A ouabaína, por sua vez, é capaz de alterar diversos
aspectos dessas respostas (ECHEVARRIA-LIMA;
RUMJANEK, 2006).Foi demonstrado pelo nosso grupo que a
ouabaína tem capacidade de inibir a proliferação dos timócitos
(células precursoras dos linfócitos T) desencadeada por
concanavalina-A (SZAMEL; SCHNEIDER; RESCH, 1981).
716
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
Este efeito pode estar envolvido com a sua capacidade em
reduzir a atividade da proteína quinase ativada por mitógeno
p38 (MAPK p38) e os níveis do fator nuclear de ativação
(NFAT), moléculas importantes na regulação de citocinas pró-
inflamatórias, bem como na expressão de enzimas que
participam no desenvolvimento da inflamação (RODRIGUES-
MASCARENHAS et al., 2008). Além disso, nesse mesmo tipo
celular, a ouabaína é capaz de induzir a expressão de CD69,
uma molécula presente na maturação dos linfócitos T,
mediante o aumento de Ca2+ no meio intracelular
(RODRIGUES-MASCARENHAS et al., 2003).
Um outro efeito extremamente importante da ouabaína
é a modulação da produção de citocinas, que são mediadores
solúveis produzidos pelas células do sistema imunológico. As
citocinas podem ser divididas em classes de acordo com a
função que exercem: algumas delas são primordialmente
fatores de crescimento de linfócitos, outras funcionam como
moléculas pró-inflamatórias ou anti-inflamatórias, enquanto
outras citocinas atuam promovendo a resposa imune contra o
antígeno. Devido a essa diversidade de classes funcionais, as
citocinas atuam em um vasto repertório de processos
biológicos, como desenvolvimento embrionário, respostas
específica e não-específica contra infecções, alterações em
funções cognitivas e progressão dos processos degenerativos
relacionados com o envelhecimento (DINARELLO, 2007).
Citocinas inflamatórias, a exemplo de TNF-α e IL-1𝛽,
ativam o fator de transcrição NF-κB, induzindo a expressão de
vários genes inflamatórios, como citocinas, quimiocinas e
moléculas de adesão (TAKADA et al., 2009). Estudos recentes
têm evidenciado que alguns glicosídeos cardiotônicos,
incluindo digoxina, ouabaína e odorosideo A, são capazes de
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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
inibir a via de sinalização do TNF/NF-κB, responsável pela
produção de fatores pró-inflamatórios (YANG et al., 2005).
Dentro desse contexto, foi verificado em nosso
laboratório que ouabaína é capaz de modular etapas
moleculares dos eventos que levam a inflamação aguda
característica da peritonite induzida por zymosan, ao reduzir
IL-1𝛽, TNF-𝛼 e número de células peritoneais que migram
para o sítio inflamado. Esses eventos estão relacionados com
a capacidade da substância tem de inibir ativação do NF-kB e
o consequente extravasamento leucocitário no processo
(LEITE et al., 2015). Mais recentemente, foi demonstrado que
o tratamento com a ouabaína é capaz de modular o processo
inflamatório pulmonar alérgico induzido por ovalbumina (OVA),
por reduzir a migração eosinofílica, as citocinas IL-4 e IL-13 e
o título de IgE OVA-específica, além de promover alterações
histológicas pulmonares, como redução da produção de muco
nos bronquíolos (GALVÃO et al., 2017).
A radiação ultravioleta (UV) pode desencadear
processos inflamatórios e gerar alterações no sistema
imunológico (HALLIDAY, 2008; KRIPKE, 1976). Essa radiação
pode ser dividida em 3 bandas de ondas, que vão de 200-400
nm: UVA (320-400 nm), UVB (290-320 nm) e UVC (200-290
nm) (DIFFEY, 2002). Considerando o comprimento de onda,
UVC constitui a radiação mais penetrante e danosa, seguida
de UVB e UVA, sendo que a UVC é completamente filtrada
pela camada de ozônio atmosférica. Já a UVB é absorvida
principalmente pela epiderme e a UVA penetra mais
profundamente na pele (MAVERAKIS, 2010).
Apesar de possuir efeitos benéficos, como induzir a
síntese da vitamina D, a exposição à UV afeta a mitose, induz
apoptose, modula a expressão de moléculas de adesão e
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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
induz a produção de citocinas por vários tipos celulares,
incluindo as células do sistema imune (BIELENBERG, 1998;
KASIBHATLA, 1998; KRUTMANN, 1995; TAKASHIMA, 1996;
HUA et al., 2016).Adicionalmente, a radiação UV é capaz
fosforilar a proteína kinase ativada por mitógeno (MAPK P38)
e ativar fatores de transcrição, a exemplo do fator nuclear-
kapa B (NF-κB), que são responsáveis por induzir a
transcrição de vários genes de citocinas pró-inflamatórias, tais
como TNF-α, IL-1β, IL-6, IL-8 e IL-10 (CHAO et al., 2017).
Além disso, esse tipo de radiação também é capaz de
aumentar a produção das espécies reativas de oxigênio e
desestabilizar a célula como um todo (XIAN et al., 2017).
Sendo assim, a exposição à radiação UV resulta em
mudanças nos níveis desses moduladores imunológicos, que
podem resultar em efeitos inflamatórios locais e sistêmicos
(BANERJEE; LEPTIN, 2014).
Portanto, o objetivo desse trabalho foi avaliar a ação
imunomoduladora da Ouabaína em um modelo in vitro de
cultura de linfócitos obtidos dos órgãos linfóides, timo e
linfonodo mesentérico, frente à ação de um estímulo físico que
é a radiação ultravioleta.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Animais

Para a realização dos experimentos foram utilizados


camundongos Swiss albino fêmeas com peso corporal entre
25 e 30g. Os animais foram fornecidos pelo biotério Prof.
Thomas George da Universidade Federal da Paraíba e
mantidos com livre acesso a água e a uma dieta controlada a
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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
base de ração do tipo pellets em uma sala com temperatura
entre 21±1°C, e ciclos claro/escuro de 12h. Os animais foram
manuseados conforme o protocolo aprovado pelo Comitê de
Ética em Utilização Animal (CEUA) do Cbiotec- UFPB.

Tratamento in vivo com ouabaína para

Os camundongos foram pré-tratados durante três dias


consecutivos através de injeções intraperitoneais na dose 0,56
mg/kg (LEITE, 2012) contendo 200 µL de ouabaína (Sigma-
Aldrich). O grupo controle foi tratado apenas com salina, a fim
de sofrerem o mesmo estresse ocasionado pela injeção dos
grupos tratados com a substância.

Tratamento in vitro com ouabaína

O tratamento com Ouabaína diretamente na placa de


cultura ocorre após a exposição as radiações UVC e UVB . As
placas eram centrifugadas a 300g por 7 minutos, o PBS é
retirado e adiciona-se o meio RPMI suplementado com 10%
de SFB, e são adicionadas a concentrações de Ouabaína
(100µM, 10 µM, 1 µM e 100 nM) para avaliação após 6h e 24
h de cultura, mantidas em estufa de CO2 a 37 °C.

Obtenção da suspensão de linfócitos do timo e linfonodo


mesentérico.

Os animais foram eutanasiados através de


deslocamento cervical. Em seguida, com o auxílio de uma
tesoura e pinça cirúrgica, o timo e linfonodo mesentérico foi
retirado e imerso em meio RPMI suplementado com soro fetal
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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
bovino (SFB) durante alguns minutos. Os órgãos foram
macerados com o auxílio de duas lâminas em uma placa de
petri contendo salina tamponada com fosfato (PBS). Então, a
suspensão celular obtida foi centrifugada a 300g por 7
minutos. O pellet de células obtido eram ressuspensos em
PBS para contagem utilizando o corante azul de tripan 0,4%
(1:10)com o auxílio da câmara de Newbauer e de um
microscópio óptico. Após a contagem e ajuste da
concentração as células foram plaqueadas a 4x10 5
células/poço em placas de 96 poços.

Estresse celular por UVC E UVB

As placas contendo as células foram expostas durante


2 minutos a radiação ultravioleta (UV), mais especificamente
às radiações ultravioleta UVB e UVC, a uma distância
aproximada de 50 cm da lâmpada com as placas
destampadas. Uma placa controle tampada foi mantida a
temperatura ambiente pelo mesmo período de tempo. Após
isso, as placas foram centrifugadas a 300g por 7 minutos e as
células ressuspensas em meio RPMI suplementado com 10%
SFB.
A fonte de UVC usada para irradiação foi o fluxo laminar
do laboratório de Imunofarmacologia onde se desenvolveram
os experimentos. A fonte de UVB utilizada foi duas lâmpadas
Philips TL20W/12RS. Ambas tiveram seus fluxos monitorados
com um dosímetro Vilber Lourmat modelo VLX-3W (Vilber
Lourmat) equipado com sensor para o comprimento de onda
de 245nm e 312 nm, respectivamente. O tempo de exposição
do experimento foi de 2 minutos, sendo fornecido um fluxo de
0,442 mW/cm2 e 0,224 mW/cm2 para UVC e UVB,
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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
respectivamente. Após a exposição das células a radiação, as
placas eram mantidas em estufa de CO2 a 37 °C para
posterior análise nos tempos de 6h e 24h.

Viabilidade celular pelo método de MTT

A viabilidade celular foi determinada através do método


de MTT (brometo de 3-metil-[4-5dimetiltiazol-2-il]-2,5
difeniltetrazólio) descrito por Mosmann (1983). Este método se
baseia na redução do MTT, um sal de coloração amarela e
solúvel em água, a formazan, sal de coloração arroxeada e
insolúvel em água, pela ação de desidrogenases
mitocondriais. Sendo assim, quanto maior a intensidade da
coloração roxa maior será a viabilidade.
Após coleta do sobrenadante, foi adicionado à placa 90 μL
de meio RPMI e 10 μL de MTT a 5 mg/mL e a mesma foi
incubada por 4 h em estufa de CO2. Após isso, o
sobrenadante foi removido e adicionado 100 μL de DMSO
para dissolver os cristais de formazan formados. A viabilidade
celular foi quantificada pela medida da densidade óptica no
comprimento de onda de 570 nm, determinada por um leitor
de microplacas (Spectramax 190 – Molecular Device).
As diferenças entre os grupos foi avaliada por análise de
variância (ANOVA), seguida do pós teste de Tukey, foi
consideradas significativo quando os valores p, quando p<
0,05. Os dados foram analisados utilizando o programa
GraphPadPrism versão 5.0 (GraphPad Software Inc., San
Diego, CA, EUA).

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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a descoberta por Hamlyn e colaboradores, em


1991, da existência de um análogo do glicosídeo cardíaco
ouabaína no plasma humano, vários estudos foram realizados
com o intuito de determinar o papel fisiológico dessa
substância.
Vários eventos fisiológicos e patológicos podem
interferir nos níveis endógenos de Ouabaína. Foram relatados,
em estudos utilizando sondas fluorescentes, que este
hormônio induz formação de espécies reativas de oxigênio
(ROS) em cardiomiócitos e outros tipos celulares. Estes
compostos são perigosos, porque, quando produzidos em
grande quantidade, podem gerar danos oxidativos celulares
severos.
A formação de ROS por ouabaína se daria
provavelmente por uma ação independente da função da
Na,K-ATPase no transporte de íons, ocorrendo através do
disparo de vias de sinalização, mais especificamente por
intermédio da ativação da proteína Ras e também das
proteínas MAPK ( XIE et al., 1999). Em linfócitos, o potencial
da membrana plasmática é mantido, predominantemente, pela
ação eletrogênica desta bomba, responsável pela manutenção
dos níveis de potássio e sódio dentro da célula (RODRIGUES-
MASCARENHAS et al., 2008b)
O aumento dos níveis da ouabaína endógena não
ocorre apenas em indivíduos hipertensos. Além dessa,
existem outras situações patológicas nas quais há um
aumento significativo dos níveis de ouabaína endógena, como
hipotireoidismo, insuficiência renal crônica e insuficiência

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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
cardíaca congestiva (BLAUSTEIN, 1993; GOTTLIEB e cols.,
1992; GOTO e cols., 1995). Apesar de o papel fisiológico da
ouabaína endógena ainda ser desconhecido, acredita-se que
este glicosídeo seja o regulador fisiológico da Na,K-ATPase,
sendo responsável por ajustes finos das concentrações
intracelulares dos íons sódio e potássio. Entretanto, já foi
sugerida a presença de outros receptores para a ouabaína,
diferentes da Na,K-ATPase (WARD et al., 2002), o que
poderia levar a efeitos distintos da ouabaína, dependendo de
qual receptor este hormônio se ligasse e até respondendo
porque algumas ações já descritas desse hormônio ocorrem
mesmo em concentrações muito baixas (fisiológicas), as quais
não são capazes de inibir a Na,K-ATPase. Vários eventos
fisiológicos e patológicos podem interferir nos níveis
endógenos da ouabaína.
A luz ultravioleta é um tipo de radiação eletromagnética
que possui um comprimento de onda menor do que o da luz
visível (HOCKBERGER, 2002) e pode ser dividida em três
segmentos, de acordo com seu comprimento de onda: UVC
(200-290 nm), que é completamente absorvida pela camada
de ozônio e não atinge a superfície terrestre, sendo bastante
utilizada como germicida; UVB (290-320 nm), que consiste em
5% de toda a radiação solar e é responsável por diversas
doenças de pele (NICHOLS; KATIYAR, 2010). A radiação
UVB, por outro lado, interage diretamente com o DNA. A
ligação dupla entre os carbonos 5 e 6 das pirimidinas é a
região de maior absorção da radiação UVB e o efeito principal
dessa absorção é a formação de um anel ciclobutano, dando
origem a um dímero de pirimidina (CADET et al., 2012).
A resposta inflamatória aguda é caracterizada por
coordenar a ativação de várias vias de sinalização que
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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
regulam a expressão de mediadores pró-inflamatórios e anti-
inflamatórios, bem como o recrutamento de células para a
região da inflamação. Na inflamação aguda há um
componente denominado resolução inflamatória. A resolução
da inflamação é um processo regulado de forma dinâmica que
envolve a supressão da expressão de genes pró-inflamatórios
e a migração de alguns leucócitos. Posteriormente, essas
células sofrerão morte por apoptose seguida da depuração por
fagócitos acarretando a restauração do tecido inflamado e o
retorno à homeostasia (SERHAN & SAVILL, 2005, NAVARRO-
XAVIER et al., 2010).
A manutenção da homeostasia tecidual nos organismos
multicelulares é assegurada por diferentes mecanismos
biológicos regulatórios, entre os quais figura a apoptose. As
vias de sinalização que desencadeiam o processo apoptótico
são complexas, sendo subdivididas principalmente em duas:
apoptose extrínsica, apoptose intrínsica (dependente de
caspase e independente de caspase). Esse termo chamado
apoptose extrínseca vem sendo amplamente utilizado para
indicar os casos de morte celular por apoptose, que são
induzidos por sinais de estresse extracelulares sendo sentidos
e propagados por receptores transmembranares específicos,
como por exemplo, os receptores de TNF.
Diferentes agentes patológicos de ordens de natureza
heterogênea, como isquemia, hipoxia, hipertermia, irradiação e
metabólitos tóxicos, podem levar à perda da integridade da
membrana plasmática das células (citólise) e à alteração de
seus gradientes eletroquímicos. Adicionalmente como reposta
a esses estímulos corre a liberação de constituintes
intracelulares para o meio extracelular estimulando uma

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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
resposta inflamatória local, que não sendo debelada pode
ampliar-se até para uma lesão tecidual (PATEL, 2000).
Apesar da ampla utilização dos glicosídeos cardíacos
como agentes inotrópicos positivos no tratamento da
insuficiência cardíaca congestiva, a investigação da atividade
destes compostos em outras situações fisiológicas e distúrbios
tem avançado, apresentando novas possibilidades de ação
desses ligantes em contextos fisiológicos e modelos
experimentais de doenças para esta classe de compostos
(PRASSAS; DIAMANDIS, 2008).
O efeito da ouabaína vem sendo estudado há bastante
tempo e a sua descoberta como uma substancia endógena
nos leva a vê-la atuando em momentos relevantes de
necessidade fisiológica do corpo humano em situação de
necessidade de sua ação. A sua função hormonal vem
caracterizando-a como uma substancia imunomoduladora,
atuando sozinha ou em associação com outras substancias
em vários aspectos.
Estudos vêm demonstrando a ação da ouabaína em
vários modelos. Um efeito importante observado foi o
sinergismo com glicocorticóides na indução de apoptose
espontânea em timócitos, levando a uma redução dramática
na subpopulação de timócitos CD4+CD8+, embora
isoladamente a ouabaína não promova alteração na
viabilidade desse tipo celular (RODRIGUES-MASCARENHAS
e cols., 2006).
O dano no DNA estabiliza e ativa o p53, que induz
seletivamente alvos para modular a resposta celular, diante
de tais efeitos a sobrevivência celular através da viabilidade
com MTT, foi utilizada como medida para investigação dos
efeitos da radiação UVC e UVB nesse tranbalho, com o
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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
tratamento tanto na dose de 0,56 mg/Kg como nas
concetrações de 100µM, 10 µM, 1 µM e 100 nM para
compreender a sua ação na cultura de linfócitos.
O efeito citoprotetor observado em nossos
experimentos com a Ouabaína corroboram com elucidações
que vem sendo estudadas em que concentrações baixas de
ouabaína, as quais induzem pequenas liberações de Ca2+,
são capazes de ativar o fator nuclear-κB (NF-κB) e proteger
células contra apoptose e também são capazes de ativar a
biossíntese de proteínas através da ativação da proteína
cinase C (PKC) e do próprio NF-κB e, finalmente, a ativação
de PKC e Ca2+-calmodulina cinase ativam (na presença de
ROS) a transcrição de genes de resposta rápida, como c-jun e
cfos, via AP-1 (SCHONER e SCHEINER-BOBIS, 2007a).
Adicionalmente alguns estudos com linfócitos ativados
demonstram que na presença de ouabaína, não evoluem
através do ciclo celular, falhando em exprimir CD25 e/ou
secretar IL-2, e isto leva a crer que a ouabaína seria capaz de
interferir na progressão do ciclo celular de linfócitos ativados
(DORNAND et al., 1986).
A ouabaína é capaz de inibir a proliferação de linfócitos,
induzida não só por mitógenos, mas, também, pelo éster de
forbol TPA (OLEJ et al., 1994; BRODIE et al., 1995;
ESTEVES, 2002), ionomicina (BRODIE et al., 1995), anti-CD3
(SZAMEL et al., 1995), ionóforo de cálcio (JENSEN, WINGER;
NOWELL, 1977) e reações mistas de linfócitos pré ativados
(MLR) (ROY et al., 1985; ESTEVES, 2002). Em alguns
sistemas, como em células ganglionares da retina e outros
sistemas neurológicos, ou ainda em células endoteliais de
veias umbilicais, esse esteróide é capaz de induzir, em
concentrações muito baixas, a sobrevivência dessas células
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EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
(CORRÊA et al.,2005). Yan e colaboradores (2015)
demonstraram que a ouabaína induz apoptose em células de
glioblastoma humano através da geração de espécies reativas
de oxigênio. Entretanto, Takechi e colaboradores (2014)
relataram que esse glicosídeo induz citoproteção em linhagem
de células leucêmicas humanas.
A sensibilidade à ouabaína é específica de cada tipo
celular. A princípio acreditava-se que a existência de alguns
tipos celulares resistentes à ouabaína seria devido à presença
nestas células de isoformas da Na,K-ATPase com baixa
afinidade para o glicosídeo (BOLIVAR et al., 1987;
POTAPOVA et al., 1990). Entretanto, Contreras (1995b)
mostraram, em estudo comparativo de duas linhagens de
células epiteliais renais (MDCK e Ma104), que a linhagem
Ma104 é resistente aos efeitos citotóxicos da ouabaína,
embora sua Na,K-ATPase tenha alta afinidade pela mesma.
Estas células perdem K+ e param de proliferar, mas continuam
aderidas ao substrato, ainda que tratadas com concentrações
de ouabaína iguais ou maiores que 1 µM, as quais se mostram
letais para a linhagem MDCK.
Em monócitos humanos, a ouabaína regula
negativamente a expressão de mCD14, uma molécula de
superfície envolvida na resposta contra bactérias gram-
negativas, por meio da ativação do receptor do fator de
crescimento epidérmico (EGRF) e da MAPK p38 (VALENTE et
al., 2009). Além disso, monócitos tratados com ouabaína
apresentam níveis elevados de CD69, HLA-DR, CD86 e
CD80, marcadores de ativação celular, além de aumentar a
capacidade fagocítica dessas células (TEIXEIRA;
RUMJANEK, 2014).

728
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
A Ouabaína descoberta como hormônio e a importância
de entender sobre sua ação nos levou a seguir os
experimentos vendo sua ação após o tratamento por três dias
consecutivos com a dose de 0,56 mg/kg , que já foi
estabelecida em nosso grupo, como demonstrado no modelo
de edema de pata clássico, o pré-tratamento com ouabaína
reduziu o edema induzido por carragenina, zimosan, 48/80 e
PGE2 (de VASCONCELOS, D. I. et al, 2011) e a
permeabilidade vascular. Nesses experimentos de pré-
tratamento, avaliamos então a ação da OUA em dois tempos
de cultura (6h e 24 h), no tempo de 2 minutos expostos a
UVC.
Os resultados obtidos demonstram que houve uma
manutenção da viabilidade celular dos timócitos em 6 horas
(Figura A) e em 24 horas (Figura B) a adição de ouabaína as
células expostas a radiação salvou-as de uma morte
espontânea em cultura. Para os linfócitos do linfonodo
mesentérico fizemos esse mesmo experimento e só na cultura
de 6h a OUA protegeu essas células da morte celular (Figura
C). Em 24h de cultura esse efeito não foi observado (Figura
D).

729
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB

730
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB

Outro tipo de radiação ultravioleta que pode ao incidir


sobre as células gerar danos e ser pontencial estímulo
inflamatório é a radiação UVB. A exposição intensa à essa
radiação pode levar a lesões a nível de núcleo da célula,
agindo sobre o DNA (SAMBANDAM, RATNER,
2011;MANCEDO et al., 2014 ). Estas agressões causadas
pelo UVB distorcem a estrutura do DNA e ocorrem devido a
interações com a molécula de ácido desoxiribonucléico.
Outros efeitos dessa radiação incidindo sobre células
também são vistos a nível de danos oxidativos como
peroxidação lipídica (HIDRATA, SATO, SANTOS, 2004).
Diante da desoraganização na célula mediante a exposição à
radiação UVB e geração de um processo inflamatório, fomos
avaliar a viabilidade dos timócitos do timo e dos linfócitos do
linfonodo mesentérico.
Na exposição à radiação UVB os resultados obtidos
demonstram que a associação com ouabaína causa
citoproteção na cultura de 6 h (figura E), sendo esse um efeito
que não foi observado na cultura de 24h (figura F) seja
possível ver que a OUA favorece uma proteção reduzindo a
morte espontânea em cultura. Submetemos os linfócitos do
linfonodo mesentérico à mesma exposição e obtivemos que
também só em 6h (figura G) de cultura houve a proteção das
células contra a morte celular quando associado com a OUA
0,56 mg/kg, sugerindo um que nesse tipo de radiação os
efeitos da ouabaína na fase mais inicial de manutenção
dessas células. Esse efeito não foi então observado em 24 h
de cultura (figura H).

731
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB

732
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
Os estudos com a Ouabaína vem demonstrando que
sua ação in vitro pode inibir uma proliferação de linfócitos
induzidos por mitógenos (SZAMEL et al., 1981), aumentam os
níveis de cálcio intracelular (ECHEVARRIA- LIMA et al., 2003),
aumentam a expressão de CD69 (RODRIGUES
MASCARENHAS et al., 2003) e em timócitos murinos, a
Ouabaína também é capaz de inibir a proliferação
desencadeada por concanavalina-A. Esse digitálico também
pode estimular ou inibir a apoptose de células do sistema
nervoso central, dependente de concentração. Esse fenômeno
foi visto em estudos sobre regeneração de retina, em que a
ouabaína usada em concentrações micromolares induzia a
apoptose dessas células ganglionares, enquanto que
concentrações nanomolares conferiam proteção a essas
células (DE REZENDE CORREA et al., 2005; FIMBEL et al.,
2007).
Como ação direta da ouabaína, já foi verificado que
este hormônio promove um aumento da excitabilidade celular.
Em virtude de a enzima Na,K-ATPase estarpresente em todos
os tecidos, percebe-se que este efeito, apesar de pouco
estudado, é de extrema relevância.
Outro trabalho demonstrou que utilizando culturas
primárias de células endoteliais de cordão umbilical, foi
observado que concentrações nanomolares deste hormônio
são capazes de estimular a liberação de endotelina, um
hormônio com propriedades vasoconstrictoras, mesmo sem
inibir a atividade da proteína Na,K-ATPase (SAUNDERS e
SCHEINER-BOBIS, 2004).
Para compreensão dos seus efeitos sobre os timócitos
e os linfócitos do linfondo mesentérico a partir de
concentrações mais baixas, avaliamos a sua ação diretamente
sobre essas células, quando essas são expostas a diferentes
concentrações de ouabaína (100 µM, 10µM, 1µM e 100 nM)
no tempo de 2 minutos de exposição a radiação UVC e
mantidas numa cultura de 24 h em estufa de CO2 a 37 °C.

733
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB

734
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
A viabilidade dos timócitos após 2 minutos de exposição
à radiação UVC em cultura de 24h na presença e na ausência
de ouabaína nas concentrações de 100 μM, 10 μM, 1 μM e
100 nM, mostrou que houve um efeito citoprotetor no
tratamento com a ouabaína 100 nM (Figura I). Em todas as
concentrações estudadas, os grupos que receberam somente
a ouabaína apresentaram uma viabilidade sempre maior,
sugerindo um efeito protetor da ouabaína diante da morte
espontânea em cultura.
O papel da Ouabaína sobre linfócitos murinos,
especificamente os timócitos demonstra que esse digitálico
induz a expressão de CD69 através do influxo de cálcio
proveniente do ambiente extracelular (RODRIGUES
MASCARENHAS et al., 2003). Tais efeitos podem está
relacionados à sua ação sobre a proteína quinase ativada por
mitógeno (MAPK) p38, reduzindo sua atividade (RODRIGUES
MASCARENHAS et al., 2008), esses fatores fazem parte da
via de sinalização envolvidos com a morte celular.A sua ação
direta também foi evidenciada em células musculares lisas de
vasos sangüíneos aumentarem o seu tônus após tratamento
com ouabaína, causando vasoconstricção. Como foi
observado que o pré-tratamento com agentes anti-
adrenérgicos não se mostrou capaz de inibir esta
vasoconstricção, postulou-se que o efeito da ouabaína neste
modelo seria de forma direta (JOUBERT e GROSSMANN,
2001).
Para os linfócitos do linfonodo mesentérico houve
proteção contra a morte celular nas concentrações de 100, 10
µM e 100 nM (Gráfico O). Já existiam evidências mostrando
que a Ouabaína em concentrações menores que 1mM não era
capaz de despolarizar a membrana de timócitos
(ECHEVARRIA-LIMA et al, 2003), mas em altas
concentrações era capaz de sinergizar com glicocorticóides na
indução da despolarização de membrana (MANN et al., 2001).
Além de induzir apoptose em linfócitos estimulados por PHA

735
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
(OLEJ et al, 1998) a Ouabaína é capaz de induzir apoptose
(ORLOV et al, 1999) e de amplificar os efeitos da morte
induzida por FAS (NOBEL et al, 2000, BORTNER et al, 2001)
em células Jurkat,. Esse esteróide também interfere no
processo de morte celular em vários outros modelos.
. Concentrações baixas de ouabaína, as quais induzem
pequenas liberações de Ca2+, são capazes de ativar o fator
nuclear-κB (NF-κB) e proteger células contra apoptose e
também são capazes de ativar a biossíntese de proteínas
através da ativação da proteína cinase C (PKC) e do próprio
NF-κB e, finalmente, a ativação de PKC e Ca2+-calmodulina
cinase ativam (na presença de ROS) a transcrição de genes
de resposta rápida, como c-jun e cfos, via AP-1 (SCHONER e
SCHEINER-BOBIS, 2007a). O efeito citoprotetor observado
em nossos experimentos corroboram com elucidações que
vem sendo estudadas para entender o efeito desse glicosídeo
cardiotônico sobre o sistema imunológico. Esses dados
contribuem para entendermos a função da ouabaína mediante
um estímulo de luz ultravioleta e contribui para elucidar o
mecanismo de ação desse hormônio.

4. CONCLUSÕES

Neste trabalho evidenciamos que a ouabaína na dose


de 0,56 mg/kg, foi capaz de proteger da morte celular os
timócitos expostos à radiação UVC e UVB em 6 e 24 de
cultura. Tal efeito só foi observado para os linfócitos do
linfonodo mesentérico no período de 6 horas de cultura.
Adicionalmente a esses dados, vimos que em 24 horas de
cultura o tratamento da ouabaína em diferentes concentrações
foi mostrou efeito protetor em 100 nM para os timócitos e em
100,10 µM e 100nM para os linfócitos do linfonodo
mesentérico. Esses dados contribuem para o entendimento da
ação imunomoduladora da ouabaína frente a estímulos que
favorecem a morte celular e desencadeiam a inflamação,

736
EFEITO CITOPROTETOR DA OUABAÍNA EM CULTURA DE LINFÓCITOS
IRRADIADOS COM UVC e UVB
corroborando dados existentes na literatura em que ouabaína
apresenta um efeito anti-inflamatório contra alguns agentes
flogísticos.

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741
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
CAPÍTULO 38

PRODUÇÃO DE ENZIMAS
EXTRACELULARES E COMPOSTOS
BIOATIVOS POR BACTÉRIAS ISOLADAS
DE AMBIENTE MARINHO
Iasmin Cartaxo TAVEIRA1
Roberta Mayrielle Souza da SILVA2
Krystyna GORLACH-LIRA3
1
Graduanda do Curso de Biotecnologia/UFPB; 2 Mestranda do Curso de Pós Graduação em
Biologia Celular e Molecular/UFPB; 3Orientadora/Professora do Departamento de Biologia
Molecular/UFPB
iasmin.cartaxo@gmail.com

RESUMO: Há uma extrema complexidade biológica nos


recifes de corais, os quais apresentam populações de
microrganismos muito diversificadas que podem apresentar a
capacidade de produzir novos compostos de interesse
biotecnológico. Este trabalho objetivou estudar as bactérias
isoladas do tecido do zoantídeo Palythoa caribaeorum dos
recifes costeiros de Carapibus (PB) com relação à produção
de enzimas extracelulares (celulases, proteases e lipases) e
compostos com a ação antimicrobiana. A produção de
enzimas foi avaliada nos meios sólidos com substratos
específicos para cada enzima testada. Todas as bactérias
testadas (21 isolados) foram capazes de produzir proteases no
meio com 2% de gelatina, enquanto 15 produziram celulases
no meio contendo 0,1% de carboximetilcelulose (CMC). Com
relação à atividade lipolítica, 17 isolados foram positivos no
meio com tributirina e 11 isolados no meio com azeite de oliva
e rodamina B. A atividade antagônica de bactérias sobre cinco
espécies de bactérias patógenas foi avaliada no meio Agar
Infusão de Cérebro e Coração (BHI) utilizando o método de
cultura pareada. Dentre os 21 isolados analisados 16
742
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
apresentaram atividade antagônica sobre Candida albicans,
seis isolados sobre Escherichia coli e três sobre
Staphylococcus aureus, enquanto nenhum isolado apresentou
inibição de Pseudomonas aeruginosa e de Bacillus cereus. Os
resultados obtidos mostram que vários isolados de bactérias
marinhas analisados neste trabalho possuem um potencial a
ser explorado para produção de enzimas e compostos
bioativos.
Palavras-chave: Bactérias. Atividade enzimática. Atividade
antimicrobiana.

1 INTRODUÇÃO

Os recifes de coral estão entre os ecossistemas


marinhos mais complexos e diversificados do mundo
(MORBERG; FOLKE, 1999). O papel de bactérias nos
organismos recifais não é completamente entendido (SHNIT-
ORLAND; KUSHMARO, 2009), no entanto, sabe-se que
microrganismos associados aos corais utilizam os nutrientes
produzidos por seus hospedeiros e em troca secretam vários
metabólitos biologicamente ativos como vitaminas, enzimas e
substâncias antimicrobianas, que podem ser úteis para
nutrição ou proteção do organismo hospedeiro (MARHAVER;
EDWARDS; ROHWER, 2008; ROHWER; KELLEY, 2004).
Relativamente poucos estudos foram voltados para
explorar as bactérias cultiváveis isoladas dos cnidários, sendo
que nos últimos anos houve um aumento das pesquisas sobre
os compostos bioativos produzidos por microrganismos
marinhos (HOU et al., 2015; PHAM et al., 2016). Isso se deve
ao fato de ambiente marinho apresentar populações
microbianas submetidas a condições extremas de
temperatura, pressão, salinidade e disponibilidade de

743
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
nutrientes, com o potencial de serem altamente diversificadas
e de possuírem novas e potencialmente únicas propriedades
bioquímicas de interesse biotecnológico (JACKSON et al.,
2015).
Industrialmente, os microrganismos são considerados
fontes atrativas e de baixo custo na produção de metabólitos,
podendo ser cultivados em grandes quantidades e em tempo
relativamente curto, possuindo, assim, muitas vantagens sobre
as equivalentes de origem animal ou vegetal. Uma diversidade
de enzimas catalíticas foram descobertas e tem sido
empregadas em diversos setores industriais. As proteases,
celulases e lipases se aplicam ao mais vasto espectro de
aplicações industriais, sendo importantes em setores da
indústria como o de detergentes, de alimentos, de papel
(HASAN; SHAH; HAMEED, 2006; SHANMUGHAPRIYA et al.,
2010; WILSON, 2009). As enzimas produzidas por bactérias
marinhas tais como celulases halofílicas podem ser
exploradas no tratamento de resíduos de liginocellulose para
vários fins industriais, bem como para produção de
biocombustíveis a partir de biomassa de microalgas (GUNNY
et al., 2014; JI et al., 2014). As lipases halofílicas possuem
importante aplicação na indústria de alimentos e nutracêuticos,
bem como na indústria de biocombustíveis na base de
microalgas (SCHRECK; GRUNDEN, 2014).
Além de produzir enzimas, as bactérias isoladas do
tecido de organismos marinhos podem ser fontes
interessantes de substâncias antimicrobianas, devido à
necessidade de produção de tais compostos num ambiente
rico em polímeros e muito competitivo. A descoberta de
antibióticos de origem biológica acompanha a forte tendência
do mercado mundial na produção de biofármacos (BRANDÃO;

744
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
SOUZA, 2015). Devido à capacidade dos microrganismos de
desenvolver resistência aos medicamentos comercializados,
torna-se essencial à indústria farmacêutica a descoberta de
novos antimicrobianos (SILVA; FERNANDES, 2010).
De modo geral, compostos bioativos tem uma maior
biodegradabilidade e biocompatibilidade com o meio ambiente
e com outros organismos. Isso constitui uma enorme
vantagem frente aos seus análogos funcionais sintéticos. Os
compostos antimicrobianos provenientes de ambientes
marinhos geralmente têm estrutura molecular excepcional em
comparação aos produzidos por microrganismos terrestres
(PENESYAN et al., 2013; SINGH et al., 2015). Portanto,
prospecção de microrganismos marinhos que sejam eficientes
na produção de enzimas e substâncias antimicrobianas de
modo a serem industrialmente competitivos com seus
análogos sintéticos tem sido importante objeto de estudo e
interesse científico.
O presente trabalho objetivou analisar a capacidade de
bactérias marinhas isoladas do tecido do zoantídeo Palythoa
caribaeorum para produção de enzimas extracelulares
(celulases, proteases e lipases) e compostos antimicrobianos.

2 METODOLOGIA

Neste trabalho foram utilizados 21 isolados da coleção


de bactérias isoladas do tecido do zoantídeo Palythoa
caribaeorum (Duchassaing e Michelotti 1861) dos recifes de
corais de Carapibus, Paraíba. A coleção de bactérias
provenientes destas espécies foi obtida nos trabalhos de Silva
(2015) realizados no Laboratório de Biologia de
Microrganismos (BIOMICRO/DBM/CCEN/UFPB).

745
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
A caracterização molecular dos isolados bacterianos foi
baseada nas sequencias parciais do gene de RNAr 16S.
Extração de DNA genômico dos isolados foi realizada
seguindo o método de Ausubel et al. (1987). A reação de
amplificação do DNAr 16S das amostras foi realizada em
aparelho termociclador (Applied Biosystems) utilizando os
oligonucleotídeos universais 26F (forward) (5´-GAG TTT GAT
CMT GGC TCA G-3´) e 1492R (reverse) (5’-
ACGGCTACCTTGTTACGACTT-3’) (LANE, 1991), nas
condições descritas por Silva (2015). O sequenciamento das
amostras de DNA foi realizado no Laboratório de Genômica e
Expressão Gênica (Plataforma de Sequenciamento de DNA),
do Laboratório Central do CCB/UFPE. As sequências de gene
RNAr 16S geradas foram analisadas usando BioEdit 7.19 e
comparadas com os dados no banco de sequencias do
National Center for Biotechnology Information (NCBI) usando-
se BLASTn (Basic Local Alignment Search Tool), disponível no
site (http://www.ncbi.nlm.nhi.gov/genbank/). As sequencias
com mais de 97% de similaridade foram consideradas válidas.
Análise da produção de enzimas extracelulares pelos
isolados de bactérias foi avaliada nos meios sólidos com os
respectivos substratos para lipases, proteases e celulases.
Todos os testes foram realizados em duplicata.
A atividade lipolítica foi analisada no meio mineral
contendo 1% de tributirina e no meio com corante rodamina B
(0,001% m/v) e 3% (m/v) de azeite de oliva (KOUKER;
JAEGER, 1987). A incubação foi realizada num período de 5
dias à 37ºC (CARVALHO, 2012). A produção de lipases no
meio contendo a tributirina foi visualizada na base da presença
do halo transparente ao redor da colônia, e no meio com a

746
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
rodamina B e azeite de oliva por meio da irradiação de placas
com luz UV de 350nm e presença do halo fluorescente laranja.
A atividade proteolítica foi analisada utilizando um meio
mineral contendo 2% de gelatina (SMIBERT; KRIEG, 1994). A
produção de proteases após 48 horas de incubação à 37ºC foi
visualizada pela presença do halo transparente ao redor das
colônias revelado pela adição de solução de Frazier contendo
12,0 g de HgCl2, 80 mL de água destilada e 16mL de HCl
(VETEC) concentrado.
A produção de celulases foi avaliada utilizando um meio
mineral contendo 1% de carboximetilcelulose – CMC (Teather
e Wood, 1982). A incubação durou 5 dias à 37ºC. Para
observar o halo de hidrolise de CMC foi adicionado o corante
vermelho congo 1% por 15 minutos, e em seguida NaCl 1M
por 15 minutos.
Para avaliar a atividade antimicrobiana dos isolados foi
utilizado o teste de antibiose pelo método de cultura pareada
em meio Agar Infusão de Cérebro e Coração (BHI) em placas
de Petri contra cinco espécies de bactérias patógenas:
Bacillus cereus (CCT0198), Escherichia coli (ATCC 25922),
Staphylococcus aureus (ATCC 25923), Pseudomonas
aeruginosa (ATCC 27853) e Candida albicans (ATCC 10231).
Os isolados de bactérias foram inoculados verticalmente em
meio BHI Agar e incubados por 48 horas a 37ºC. Em seguida
as cepas padrões de bactérias patogênicas foram inoculadas
em traços perpendiculares (comprimento do traço 20 mm) ao
crescimento do isolado analisado. As culturas foram incubadas
por 48 horas a 37ºC. Após este período foi verificada a
presença de zona de inibição do crescimento de cepas
patogênicas por isolado bacteriano testado. O teste foi

747
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
realizado em duplicata e a zona de inibição do crescimento
bacteriano foi medida em mm utilizando uma régua.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise filogenética dos isolados de bactérias


estudados neste trabalho realizada com base nas sequencias
parciais de RNAr 16S revelou que as bactérias exibiram uma
similaridade igual ou maior que 98% com as sequências de
bactérias depositadas no GenBank (Tabela 1).
Os isolados de bactérias pertenceram aos seguintes
gêneros: Bacillus (14 isolados), Vibrio (3 isolados),
Alteromonas (2 isolados), Marinobacter (1 isolado) e
Staphylococcus (1 isolado) (Tabela 1; Figura 1).
A Tabela 2 mostra os dados referentes à produção de
enzimas extracelulares por bactérias. A produção de
proteases e celulases nos meios sólidos mostra a Figura 2,
enquanto a Figura 3 apresenta atividade lipolítica dos isolados
de bactérias analisadas.
Dentre as enzimas extracelulares analisadas a
produção de proteases foi mais acentuada, visto que todos os
isolados foram capazes de produzir estas enzimas (Tabela 2).
Dentre os isolados analisados 63,6% das bactérias
proteolíticas pertenceram ao gênero Bacillus. O isolado mais
ativo na produção destas enzimas foi PN74 do gênero
Bacillus, seguido de outros dois isolados do mesmo gênero,
PN82 e PN89.

748
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
Tabela 1. Identificação das bactérias isoladas do tecido do
zoantídeo P. caribaeorum na base das análises do BLAST das
sequencias do gene RNAr 16S.
Gênero/ Alinhamento mais significativo e similaridade com a
Isolado sequência do gene RNAr 16S |código de acesso|

Vibrio

PS39 V. natriegens |NR 117890.1| - 100%

PS41 V. alginolyticus |NR 122059.1| - 100%

PN25 V. proteolyticus |NR 118095.1| - 99%; V. vulnificus


|NR 118570.1| - 99%

Altermonas

PN12; PN51 A. macleodii |NR 074797.1|-99%

Marinobacter

PN6 M. santoriniensis |NR EU496088.1| - 99%

Staphylococcus

PS19 S. aureus |NR115606.1| -100%

Bacillus

PN87 B. aerius |NR118439.1 |- 100%

PS4; PS10; B. aerius |NR118439.1 |- 100% ; B. stratosphericus


PS42; PS44; |NR042336.1|- 100%
PS45; PS63;

749
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
PS65; PS86

PN72; PN79; B. pumilus |NR 04324.1| - 99%; B. safensis

PN82; PN95 |NR 113945.1| - 99%

Figura 1. Gêneros de bactérias isoladas do tecido do


zoantídeo P. caribaeorum.

1
3
Vibrio
2 Alteromonas

1 Marinobacter
Bacillus

14 Staphylococcus

Fonte: Pesquisa direta. 2016

Figura 2. Produção de enzimas proteolíticas no meio com


gelatina (A) e de enzimas celulolíticas no meio com
carboximetilcelulose (CMC) (B). Os isolados positivos
apresentam halo de hidrolise de gelatina ou CMC (setas).

Fonte: Pesquisa direta. 2016


750
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
Rao et al. (1998) elenca que a maioria das proteases
comerciais, principalmente neutras e alcalinas, são produzidas
por bactérias que pertencem ao gênero Bacillus. Isso é
confirmado por outros estudos (CHAUD; VAZ; FELIPE, 2007;
RAVAL et al., 2014).
O gênero Vibrio também apresentou bons produtores
de proteases, os isolados mais ativos foram PS39, PS41 e
PN25 (Tabela 2). Isolados desse gênero também vem sendo
associados principalmente à produção de proteases alcalinas
(HE et al., 2011).
A produção de celulases foi observada em 71,4 % dos
isolados estudados (Tabela 2). Os dois isolados que
apresentaram uma maior produção de celulases pertenceram
ao gênero Bacillus (PN72 e PS86).
Vários estudos elencam a produção de celulases por
Bacillus, deixando clara a importância desse gênero para
produção dessas enzimas (RASTOGI et al., 2010; YIN; LIN;
XIAO, 2010; IMMANUEL et al., 2006). Os demais gêneros de
bactérias demonstraram boa atividade celulolítica, com ênfase
ao isolado PS41 (Vibrio) e PN6 (Marinobacter) (Tabela 2).
No presente estudo, a produção de lipases foi avaliada
nos dois meios de cultura: meio com tributirina e meio com
azeite de oliva e rodamina B. O meio de cultura contendo
tributirina permite detecção de esterases e lipases, não
diferenciando essas enzimas, enquanto o meio contendo
azeite de oliva é mais adequado para analisar atividade
lipolítica.
Foi observado que 17 isolados foram positivos no meio
com tributirina e 12 isolados apresentaram atividade lipolítica
no meio com azeite de oliva e rodamina B. Dentre eles se
destacou o isolado PN6 do gênero Marinobacter (PN6), e o

751
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
isolado PS41 do gênero Vibrio, com maiores halos de hidrólise
de tributirina, apresentando também atividade lipolítica no
meio com azeite de oliva e rodamina B (Tabela 2).
As enzimas lipolíticas advindas da espécie
Marinobacter lipolyticus foram relatadas como enzimas muito
promissórias com alto potencial em aplicações biotecnológicas
(PAPKE et al., 2013; PÉREZ et al., 2012). Esse dado é
importante, visto que elucida a importância desse gênero para
produção de lipases. Isolados de outros gêneros estudados
também foram capazes de produzir lipases quando avaliadas
no meio de tributirina.
A evidência da produção de lipases por Vibrio
alginolyticus de ambientes marinhos foi relatada por Bunpa et
al., 2016.

Figura 3. Produção de enzimas lipolíticas no meio com


tributirina (A) e no meio com azeite de oliva e rodamina B (B).
Os isolados positivos apresentam halo de hidrolise de
tributirina (setas) e a fluorescência no meio com rodamina B.

Fonte: Pesquisa direta. 2016

752
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
Tabela 2. Produção de enzimas extracelulares por bactérias
marinhas.
Isolado Diâmetro do halo de hidrolise
Lipaseb
Protease Celulase Lipasea
Vibrio
PS39 36 16 18 -
PS41 36 46 22 +
PN25 34 33 21 -
Altermonas
PN12 27 0 16 +
PN51 23 26 21 -
Marinobacter
PN6 27 40 23 +
Staphylococcus
PS19 6 19 17 -
Bacillus
PN87 22 0 17 +
PS4 14 13 0 +
PS10 10 0 14 -
PS42 14 33 0 -
PS44 21 38 0 -
PS45 24 38 0 -
PS63 15 35 15 -
PS65 18 38 14 -
PS86 15 47 15 +
PN72 32 59 19 +
PN74 46 38 18 +
PN79 37 0 17 +
PN82 38 0 17 +

753
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
PN95 25 0 17 +
aMeio de cultura contendo tributirina; bMeio de cultura
contendo azeite de oliva e rodamina B
Fonte: Pesquisa direta. 2017

Dentre os isolados do gênero Bacillus, 10 isolados


foram ativos no meio com tributirina, apresentando halos de
hidrolise de 14 a 17 mm, sendo que 8 isolados produziram
lipases no meio com azeite de oliva e rodamina B (Tabela 2).
Sadhu et al. (2014), enfatiza que enzimas vindas de
bactérias têm muitas vantagens, visto que são normalmente
extracelulares, o que facilita seu uso. Devido a isso há grande
importância da descoberta de novos e promissores
microrganismos produtores de enzimas extracelulares e o
desenvolvimento de tecnologias que visem otimizar essa
produção.
Outros compostos bioativos de interesse na área de
saúde e biotecnologia são os compostos antimicrobianos. Têm
sido documentadas várias interações de antagonismo entre
microrganismos e produção de antibióticos bacterianos
efetivos contra microrganismos patogênicos (LONG; AZAM,
2001; SCHERLACH; GRAUPNER; HERTWECK, 2013).
Os dados obtidos neste trabalho mostraram que vários
isolados apresentaram atividade antagônica frente
microrganismos patogênicos: C. albicans, S. aureus e E. coli
(Tabela 3).
A atividade antimicrobiana contra C. albicans foi notória:
14 isolados, pertencentes aos gêneros Vibrio, Alteromonas e
Bacillus, foram capazes de inibir o crescimento de C. albicans
(Tabela 3). O teste de antibiose mostrou a inibição total do

754
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
crescimento deste fungo por nove isolados e inibição parcial
por cinco isolados. Esse dado mostrou-se importante visto que
há poucos relatos na literatura de antimicrobianos biológicos.

Tabela 3. Teste de atividade antagônica de bactérias


marinhas sobre microrganismos patogênicos.
Isolado Atividade antagônica sobrea
P. a. C. a. S. a. B. c. E. c.
Vibrio
PS39 - + (20) - - + (5)
PS41 - ++ (20) - - -
PN25 - - + (7) - -
Altermonas
PN12 - ++ (20) - - + (8)
PN12 - - + (10) - -
Marinobacter
PN6 - ++ (20) ++ (2) - ++ (5)
Bacillus
PN87 - ++ (20) - - + (10)
PS4 - + (20) - - -
PS10 - - - - -
PS42 - + (20) - - ++ (5)
PS44 - - - - ++ (2)
PS45 - + (20) - - + (5)
PS63 - - - - -
PS65 - + (20) - - + (12)
PS86 - ++ (20) - - + (10)
PN72 - ++ (20) - - ++ (4)

755
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
PN74 - ++ (20) - - ++ (4)
PN79 - ++ (20) - - -
PN82 - ++ (20) - - + (8)
PN95 - - - - + (10)
Staphylococcus
PS19 - - - - -
aP.a. – Pseudomonas aeruginosa; C.a. Candida albicans; S. a.
- Staphylococcus aureus; B. c. – Bacillus cereus; E. c. –
Escherichia coli.
++ Inibição total (sem crescimento); + Inibição parcial
(crescimento fraco); - sem inibição (crescimento normal);
Zona de inibição ou crescimento fraco expressa em mm.
Fonte: Pesquisa direta. 2017

contra C. albicans, em adição à isso, esse fungo é


considerado resistente contra a maioria dos antifúngicos
usados atualmente na medicina (SARDI et al., 2013;
PRAZYNSKA; BOGIEL; GOSPODAREK-KOMKOWSKA;
2017).
Dentre os isolados testados 13 apresentaram inibição
do crescimento de E. coli e 3 isolados foram antagônicas à S.
aureus (Tabela 3). Nenhum dos isolados apresentou atividade
antimicrobiana frente à P. aeruginosa e B. cereus.

4 CONCLUSÕES

Esse estudo mostrou que diversas bactérias isoladas do


tecido do zoantídeo P. caribaeorum mostraram a produção de
enzimas extracelulares e de substâncias antimicrobianas
capazes de inibir algumas espécies de microrganismos
patogênicos. Dentre os isolados de bactérias produtores de

756
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
enzimas extracelulares, os isolados PN74 e PN72 do gênero
Bacillus apresentaram maior produção de proteases e
celulases, respectivamente. Os isolado pertencentes aos
gêneros Marinobacter (PN6) e Vibrio (PS41) demonstraram
maior potencial para produção de lipases. Vários isolados de
bactérias apresentaram a atividade antagônica sobre
microrganismos patogênicos humanos, incluindo C. albicans,
Escherichia coli e S. aureus, sendo que a ação dos isolados
sobre C. albicans foi mais eficaz. A maioria dos isolados
mostrou inibição total ou parcial de C. albicans (67%) e de E.
coli (62%). Os isolados produtores de substâncias
antimicrobianas pertenceram aos gêneros Vibrio, Alteromonas,
Marinobacter e Bacillus. Desta forma, neste trabalho foi
possível concluir que vários isolados de bactérias marinhas
são muito promissórias para os fins de prospecção para
produção de enzimas e de compostos antimicrobianos,
principalmente dos que apresentaram a ação antagônica
sobre o fungo C. albicans.

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759
PRODUÇÃO DE ENZIMAS EXTRACELULARES E COMPOSTOS BIOATIVOS
POR BACTÉRIAS ISOLADAS DE AMBIENTE MARINHO
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760
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
CAPÍTULO 39

PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM


ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
Carlos Alberto Mendes da Silva FILHO 1
Anna Carolyna Ferraz Menezes CAVALCANTI 1
Clécia Machado AMORIM 1
Rejane Pereira NEVES 2
Henrique John Pereira NEVES3
1
Graduandos do curso de Biomedicina, Centro Universitário Tabosa de Almeida –
ASCES|UNITA; 2 Doutora, professora Titular do Departamento de Micologia Médica da
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, 3 Orientador, Doutor, Departamento de
Micologia Médica da Universidade Federal de Pernambuco, (henriquejohn@yahoo.com.br).

RESUMO: Este artigo, pesquisa a sensibilidade da planta


Bidens pilosa em relação à atividade antimicrobiana, visando
encontrar uma forma alternativa de combater infecções
causadas por leveduras do gênero Candida sp. Já que a
resistência aos antifúngicos, tem representado um grande
desafio para a clínica e que acometem tantas pessoas e que
muitas vezes são utilizados medicamentos alopáticos, não tão
saudáveis ao homem. Apesar da cândida fazer parte da
microbiota normal do homem, há infecções que acometem
principalmente pessoas com imunossupressão,
imunodeficiência, uso inadequeado de corticoides, e
ambientes como UTI hospitalar. Em trabalho prático que visa
extrair terpenoide a partir das folhas e flores da nominada
planta, para atuar como substância antifúngica frente à
Candida sp. Utilizando como substancia ativa os terpenoides
presentes na planta, atuando em antibiograma com cepas de
Candida isoladas. Cepas isoladas de microbiota normal e
ambiente hospitalar. Os resultados reafirmam a possibilidade
de utilização dessa substância presente na planta como

761
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
tratamento e controle frente a Candida sp. Contudo, a
concentração mínima inibitória, relevante para estudo de
toxicidade, foi praticamente semelhante ao da massa de 100g.
Seria mais interessante utilizar a massa de 100g, pois com
pouca quantidade da planta pode-se ter um resultado
satisfatório, o que significa uma economia de matéria prima se
for produzir o extrato em escala industrial.
Palavras-chave: Bidens pilosa; Candida sp; Terpenoide.

1 INTRODUÇÃO

O tratamento de infecções fúngicas invasivas é um


desafio que acomete em ambientes ambulatoriais,
hospitalares e em unidades de terapia intensiva. Os fungos
têm a característica de serem oportunistas, infectando
principalmente pacientes imunossuprimidos e que utilizam
várias outras medicações, o que torna importante à busca por
fármacos com a maior eficácia e o menor número possível de
efeitos colaterais (NETO, 2009).
Apesar do aumento no número de antifungicos
comercialmente disponíveis nos últimos anos, estes ainda
encontram-se em desvantagem, quando comparados às
drogas antibacterianas. Além disso, a resistência aos
antifúngicos, tem representado um grande desafio para a
clínica (COLOMBO; GUIMARAES, 2003).
Os fungos são organismos que convivem conosco
todos os dias. Estes microrganismos são encontrados em
qualquer tipo de ambiente que nos cerca. Os fungos são
importantes tanto do ponto de vista ecológico quanto
económico (MORAES, 2009).
Ecologicamente, são considerados os “lixeiros do
mundo”, pois degradam todo tipo de restos orgânicos,
762
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
independente da origem, transformando-os em elementos
aproveitáveis pelas plantas e pelo solo. E economicamente,
porque são fáceis de obtenção e isolamento, não tem custos,
rápido crescimento. E são implantados nas áreas de medicina,
biotecnologia, agricultura, fitoterapia, entre outras (MORAES,
2009).
As micoses são infecções causadas por fungos, que
infectam o ser humano ou animais. Podem causar alergias
respiratórias, cutâneas leves ou intensas, dependendo da
suscetibilidade e pré-disposição do individuo (MORAES,
2009).
As micoses superficiais da pele, também chamadas de
“tineas” são infecções causadas por fungos que atingem a
pele e seus anexos, e podem ser encontrados no solo e em
animais. Até na própria pele existem fungos colonizando o
indivíduo sem causar doença, como microbiota residente.
Quando estes os fungos encontram condições favoráveis ao
seu crescimento, como calor, umidade, baixa de imunidade ou
uso de antibióticos sistêmicos por longo prazo, estes fungos
se reproduzem e passam então a causar a doença
(SOMENZI, 2006).
Micoses cutâneas ou dermatofitoses são fungos
queratinofílicos e queratinolíticos, que são capazes de destruir
as superfícies queratinosas de pele, pêlo e unhas. Nas
biópsias cutâneas ou raspadas, todos os dermatófitos são
morfologicamente similares e aparecem com hifas septadas
hialinas, cadeias de artroconídios ou cadeias dissociadas de
artroconídios. Os dermatófitos podem ser geofílicos (vivem no
solo, patógenos ocasionais), zoofílicos (parasitam o pêlo e a
pele de animais, infectam, humanos) ou antropofílicos

763
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
(infectam humanos e são transmitidos direta ou indiretamente
de pessoa a pessoa). (MURRAY, 2006).
Micoses subcutâneas se caracterizam por resultar da
inoculação de um fungo patogênico por ocasião de um
traumatismo, manifestando-se como tumefação ou lesão
supurada da pele ou do tecido subcutâneo. Que é o resultado
da disseminação do fungo por contato ou por via linfática,
porém é limitada ao local do linfonodo regional (ALMEIDA et
al., 2007).
Micoses sistêmicas são caracterizadas por serem
adquiridas por inalação de esporos fúngicos, sendo,
consequentemente a lesão primária pulmonar, com tendência
à regressão da infecção. O fungo pode se disseminar pelo
corpo através do sangue, originando lesões extrapulmonares
nos indivíduos. Os agentes de micoses sistêmicas raramente
são implantados traumaticamente; quando isso ocorre,
determinam uma lesão granulomatosa circunscrita, com ou
sem linfangite regional, que regride espontaneamente
(OLIVEIRA, 2005).
Existem também as micoses oportunistas, que são
causadas por fungos termotolerantes (que crescem a uma
temperatura de 37ºC), de baixa virulência e que determinam
doenças em hospedeiros imunocomprometidos ou
imunodeficientes. Esses fungos têm porta de entrada variável.
Geralmente provocam reação supurativa necrótica. Podem
acometer os mais variados órgãos, produzindo quadros
polimórficos que se apresentam como manifestação cutânea,
subcutânea ou sistêmica (HIBBET et al., 2007).
Uma dessas infecções fúngicas conhecida é a
Candidíase. Esta é considerada uma infecção sexualmente
transmissível (IST), é uma micose oportunista causada pela

764
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
levedura Candida sp. O diagnóstico laboratorial da candidíase
baseia-se no exame direto e observação da cultura
leveduriforme em Ágar Sabouraud (BARBEDO; SGARBI,
2010).
Candidíase é uma doença fungica e pode ser causada
por mais de vinte tipos de fungos do género Candida, um tipo
de levedura, dos quais a Candida albicans é um dos mais
comuns. As infeções da boca são mais comuns entre crianças
com menos de um mês de idade, idosos e pessoas
com imunodeficiência ou imunocomprometimento (NCEZID;
DFWED, 2014).
A candidíase apresenta em uma extensa variedade de
síndromes clínicas causadas por um fungo do gênero
Candida, constituído de aproximadamente 200 espécies
diferentes de leveduras, que vivem normalmente nos mais
diversos nichos corporais. O gênero Candida compreende
espécies leveduriforme medindo aproximadamente de 2 a 6µm
e se reproduzem por brotamento; a maior parte das espécies
forma pseudo-hifas e hifas nos tecidos. As colônias têm
coloração branca a creme e possuem superfície lisa ou rugosa
(ALVAREZ, 2010).
Segundo o estudo de Barbedo (2010), a Candida
albicans é a espécie mais comum causadora de infecção no
ser humano. A maioria dos estudos mostra que esta espécie
constitui 60% dos isolados de amostras clínicas, uma vez que
esta levedura faz parte da microbiota humana.

765
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
Figura 1. Candida sp.

Fonte: http://healthlob.com/2011/06/candidiasis-causes/

Outras espécies também podem ser infecciosas, porém


apresentam menor frequência. Estão entre elas a Candida
glabrata, Candida parapsilosis, Candida tropicalis, Candida
krusei, Candida lusitaniae e Candida guilliermondii. As
espécies C. glabrata e a C. krusei apresentam resistência ao
antifúngico Fluconazol, por isso sua ocorrência em hospitais
está associada ao maior uso desse fármaco (KAUFFMAN,
2005).
Em pacientes internados na UTI (unidade de terapia
intensiva) o uso de antimicrobianos de amplo espectro,
cateteres intravenosos e ureterais, procedimentos cirúrgicos
prévios, insuficiência renal e nutrição parenteral são as
principais vias de risco para infecções graves por Candida. A
epidemia da síndrome da imunodeficiência adquirida humana
(AIDS) levou a um aumento significativo das infecções por
Candida, sendo que a manifestação primária da infecção

766
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
nesses pacientes é a mucocutânea, principalmente a
candidíase orofaríngea (KAUFFMAN, 2005).
Entre as condições que causam esta debilidade estão
a AIDS, os medicamentos usados em transplante de órgãos,
diabetes e o uso de corticosteroides. Entre outros fatores de
risco estão o uso de próteses dentárias e o uso de antibióticos
(NCEZID; DFWED, 2014).
A imunossupressão, causada por doença sistêmica, ou
induzida por terapia imunossupressiva, é outro fator associado
à infecção sistêmica por Candida. Na maioria dos casos, estes
pacientes imunossuprimidos receberam antibióticos de largo
espectro e tiveram cateteres intravenosos, aumentando,
assim, o risco de infecção (SERRACARBASSA; DOTTO,
2003).
A Aids é fator de risco para o desenvolvimento de
candidíases. Apesar da candidíase mucocutânea ser muito
comum nos pacientes portadores de Aids, a disseminada não
é comum. Este fato pode ser explicado por ser a infecção
sistêmica por Candida comum em indivíduos com neutropenia,
enquanto a candidíase mucocutânea ocorre nas alterações da
imunidade mediada por células (SERRACARBASSA; DOTTO,
2003).
Os sintomas mais frequentes da candidíase oral são a
dor e vermelhidão da boca e mucosa, podendo também haver
manchas brancas ou placas na mucosa da língua e bochecha.
Já a candidíase nos órgãos genitais são frequentes. O prurido
(coceiras), vermelhidão e irritação da região exterior da
vagina, bem como uma secreção branca e espessa no caso
das mulheres, e nos homens, vermelhidão do pênis e prepúcio
(NCEZID; DFWED, 2014).

767
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
Em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
publicou em seu primeiro relatório global sobre a vigilância da
resistência antimicrobiana, com dados fornecidos por 114
países. O relatório revela que a resistência aos antibióticos já
não é problema do futuro, mas está colocando em risco a
capacidade de tratar infecções comuns entre a população. O
uso abusivo de drogas antimicrobianas acelera o
aparecimento de estirpes resistentes aos medicamentos.
Nesse sentido, práticas de controle de infecção ineficazes,
condições sanitárias inadequadas e manipulação imprópria de
alimentos estimulam a propagação da resistência microbiana.
Se sabe já que devem ser tomadas medidas para reduzir esse
problema, buscando não só controlar o uso indiscriminado de
antibióticos, como também desenvolver novas pesquisas para
compreender melhor os mecanismos genéticos de resistência
e investir em estudos para desenvolver novos medicamentos,
sintéticos e naturais (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2014).
Desde 2007, o Ministério da Saúde (MS) brasileiro
oferece fitoterápicos derivados de plantas. Atualmente,
disponibiliza a utilização de 12 medicamentos fitoterápicos na
rede pública de saúde (BRASIL, 2013).
Segundo Brasil (2009), o MS divulgou a Relação
Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS
(RENISUS). Nessa lista constam as plantas medicinais que
apresentam potencial para gerar produtos de interesse ao
SUS. Dentre as espécies listadas, constam plantas usadas
pela sabedoria popular e confirmadas cientificamente. A
criação dessa lista é uma iniciativa importante, pois direciona a
pesquisa clínica e o ensino para este conjunto de plantas.

768
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
Hoje, existem diversas pesquisas que buscam novos
agentes antimicrobianos apartir das plantas, devido ao
surgimento de microrganismos resistente. E esse tipo de
pesquisa é de extrema importancia, por apresentar novas
atividades farmacológicas e também, pelo Brasil possuir uma
imensa biodiversidade (PENNA et al., 2001).
Outras pesquisas recentes têm mostrado a utilização de
substancias extraídas das plantas. Tais substâncias são
conhecidas como terpenoides ou terpenos. Geralmente são
utilizadas como opção em aplicações agressivas à natureza.
Essas substâncias vêm sendo utilizados na Indústria Química
como solução amigável ao meio ambiente em repelentes de
insetos, inseticidas, desinfetantes, fungicidas e bactericidas
(BERGAMASCHI, 2013).
Desde a antiguidade que os constituintes odoríferos de
uma planta podem estar concentrados na forma de um tipo
“óleo essencial” pelo aquecimento da matéria prima. A
investigação da composição química destes óleos levou a
descoberta de alguns hidrocarbonetos isoméricos de formula
C10H16 a que se definiram terpenos (ALLINGER et al., 2011).
Os terpenos são hidrocarbonetos formalmente divididos
em unidades isoprênicas. É um dos maiores grupos de
produtos naturais e compreende numerosas substâncias com
papeis importantes em processos fisiológicos e patológicos.
Para a formação das unidades isoprênicas, inicialmente três
moléculas de acetil-coenzima A são usados para na formação
do ácido mevalônico, duas se combinam através de
condensação de Claisen para formar a acetoacetil-coenzima A
e a terceira molécula é incorporada via adição aldolíca
estereoespecífica para gerar o éster β-hidroxi-β- metilglutaril-
CoA (do inglês, HMG-CoA) (ADAM et al., 2002).

769
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
A planta Bidens pilosa apresenta alguns terpenoides
descritos pelas literaturas. Como os Lineares: composto por
fitol, esqualeno e β-caroteno. Sesquiterpenoides: composto
por biciclogermacreno, E-cariofileno, germacreno D, Z-γ-
bisaboleno, β-gurjunene, α-humuleno, δ-muuroleno, selina-
3,7(11) -dieno (BARTOLOME et al, 2011).
Triterpenoides: composto por lupeol, lupeol acetato, β-
amirina, friedelina. Esterois: composto por campesterol,
fitosterina-B, β-sitosterol, β- sitosterol glucosídeo,
estigmasterol, Fenilpropanóides: ácido p-cumárico, eugenol,
ácido ferúlico, ácido caféico, ácido. clorogênico, esculetina (
BARTOLOME et al, 2011).
Desde a antiguidade que os constituintes odoríferos de
uma planta podem estar concentrados na forma de um tipo
“óleo essencial” pelo aquecimento da matéria prima. A
investigação da composição química destes óleos levou a
descoberta de alguns hidrocarbonetos isoméricos de formula
C10H16 a que se definiram terpenos (ALLINGER et al., 2011).
Os terpenos são hidrocarbonetos formalmente divididos
em unidades isoprênicas. É um dos maiores grupos de
produtos naturais e compreende numerosas substâncias com
papeis importantes em processos fisiológicos e patológicos.
Para a formação das unidades isoprênicas, inicialmente três
moléculas de acetil-coenzima A são usados para na formação
do ácido mevalônico, duas se combinam através de
condensação de Claisen para formar a acetoacetil-coenzima A
e a terceira molécula é incorporada via adição aldolíca
estereoespecífica para gerar o éster β-hidroxi-β- metilglutaril-
CoA (do inglês, HMG-CoA) (ADAM et al., 2002).
Bidens pilosa, vulgarmente chamado de “picão”, ocorre em
toda a faixa tropical e subtropical do mundo. No Brasil, é

770
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
usado popularmente no tratamento de icterícia e malária. É
usado também em outras doenças e condições em que acha
emprego popular incluem reumatismo, asma e conjuntivite,
hipertensão, febre, infecções bacterianas e por fungos, contra
úlceras, alergia e como cicatrizante (GILBERT, 2013).
Demonstrar-se-á, segundo Deba et al. (2008), que os
óleos essenciais de folhas e flores de B. pilosa apresentava
uma significativa atividade medida por halos de inibição em
placa de ágar contra seis espécies de bactérias (Micrococcus
flavus, Bacillus subtilis, Bacillus cereus, Bacillus pumilus,
Escherichia coli e Pseudomonas ovalis) e três de fungos
(Corticum rolfsii, Fusarium solani e F. oxysporum). Os halos de
inibição com 00μg/disco de 6mm, de 10 a 20 mm comparam
com os de 15 a 44 mm do controle, ampicilina, a 30μg/disco.
Essas atividades foram atribuídas principalmente ao β-
cariofileno e α-pineno, componentes mais abundantes do óleo
essencial.
Em virtude de a planta B. pilosa possuir atividade
antimicrobiana como visto acima, visando encontrar uma
forma alternativa de combater infecções causadas por
leveduras do gênero Candida sp., que acometem tantas
pessoas e que muitas vezes são utilizados medicamentos
alopáticos, não tão saudáveis ao homem, esse trabalho teve o
objetivo principal extrair terpenoide a partir das folhas e flores
da planta Bidens pilosa, para atuar como substância
antifúngica frente à Candidas sp.

2 MATERIAIS E MÉTODO

A pesquisa foi de caráter experimental, realizada em


laboratório, com dados quantitativos. Foi desenvolvida no

771
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
Laboratório Interdisciplinar Microbiologia, Campus II, Centro
Universitário Tabosa de Almeida, ASCES - UNITA.
Iniciou-se com a obtenção do extrato bruto da planta, o
óleo essencial contendo o terpenoide foi obtido através da
hidrodestilação em aparelho graduado Clevenger, usando-se
100 g das folhas e flores, em 1000 mL de água destilada, em
temperatura máxima de 100 °C até atingir a fervura,
reduzindo-se posteriormente para 75 °C, aquecendo-se o
sistema com uma manta de aquecimento, por um período de
aproximadamente 2 h. Ao final, o terpenoide foi coletado com
uma pipeta e armazenado em eppendorf protegidos da luz
com papel alumínio.
Foram incluídos na pesquisa para a extração do
terpenoide da planta B. pilosa suas folhas e flores. A avaliação
do Processo de Extração de Terpeno foi tomado por base os
100 g da planta, folhas e flores em 1000 mL de água destilada,
foi medido o volume deste extrato produzido e posteriormente
repetindo-se o procedimento para as massas de 200 g e 300 g
da planta, verificando-se em qual dos métodos haverá maior
produção do terpeno.
As cepas utilizadas foram cinco espécies de fungo
leveduriforme Candida albicans, Candida glabrata, Candida
tropicalis, Candida Krusei e Candida parapsilosis,
disponibilizadas em meio ágar Sabouraud pelo Micoteca do
Departamento de Micologia Médica da Universidade Federal
de Pernambuco, tendo sido inicialmente testado o terpeno no
Laboratório de Microbiologia do Centro Universitário Tabosa
de Almeida e posteriormente na Micologia Médica da
Universidade Federal de Pernambuco.
Conforme Ribeiro (2011), utilizou-se placas de petri com
meio ágar Sabouraud, assim como discos de 6 mm de

772
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
diâmetro esterilizados previamente. Realizamos repiques de
Candida sp em ágar Sabouraud-dextrose ou ágar batata-
dextrose para obter culturas de 24h e garantir a pureza e a
viabilidade das cepas. A temperatura de incubação foi de
35ºC.
Preparou-se o inoculo escolhendo-se 05 colônias com
cerca de 01mm de diâmetro e suspenso em 05 mL de solução
fisiológica estéril 0,85%. Agitando a suspensão padrão
resultante em vortex durante 15 segundos e ajustando a
densidade celular em espectrofotômetro, acrescentando-se
solução salina suficiente para obter a transmitância
equivalente a uma solução padrão da escala de McFarland 0,5
de comprimento de onda de 530nm, obtendo-se suspensão-
padrão de levedura 1 a 5 x 106 células/mL.
Após o crescimento dos inoculos, a suspensão foi
semeada com swab de algodão sobre as placas de Petri que
irão conter 15ml de meio sólido ágar Sabouraud, com uma
espessura de aproximadamente 4 mm, em seguida os discos
utilizados para antibiograma, de 6mm de diâmetro, de papel,
que foram embebidos com o extrato, terpeno, da planta e
impregnados em uma placa Petri.
Este procedimento foi realizado inicialmente para a
massa de 100 g da planta e repetido para as outras duas
massas de planta utilizadas, 200 g e 300 g, massas
estabelecidas conforme Koch (2014), bem como para cada
espécie de fungo estudada. As placas foram incubadas à
35ºC, sendo realizadas leituras visuais após 24h e 48h, em
seguida, fazendo-se a observação visual e medição do
diâmetro dos halos produzidos para cada espécie de fungo.
Na leitura dos resultados, foi observado se houve
inibição do crescimento do microrganismo causada pelo

773
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
terpeno e foram medidos os halos surgidos na técnica de
antibiograma, para cada espécie do fungo, em seguida foi
verificado qual o maior halo foi apresentado e para que
espécie do fungo, para verificar o quanto inibiu esse
crescimento conforme o tamanho do halo.
Por último, foram observados os volumes de extratos
produzidos pelo método convencional, para os extratos
obtidos para cada condição do processo produtivo, visando
verificar qual processo produtivo é mais eficiente em termos
de volume e massa de terpeno.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na utilização de 100 g da planta em 1000 mL, com uma


concentração de terpeno de 100 g/L, com um volume de 1 L
da solução ao testa-la para as espécies de levedura indicadas,
houve inibição do crescimentos em todas as placas contendo
as leveduras, só não houve inibição para o crescimento da
espécie Candida glabrata, tanto para a concentração de 100%
da solução quanto para a concentração de 50%, ou seja,
tendo-se o valor de Concentração Mínima Inibitória – CMI para
50 g/L, como pode-se observar na figura 2 abaixo, em que se
observa a inoculação sem disco em que o terpeno foi
espalhado no meio com alça de Drigalsk antes da inoculação

774
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
Figura 2. Cepas de Candida glabrata e Candida albicans
semeadas em meio Chromogar

Fonte: Propriedade do autor

Com a obtenção do terpeno de 100g do extrato da


planta, colocamos os discos de 6mm embebidos do mesmo e
inoculamos no meio ágar Sabouraud já semeado com a cepa
de Candida. Os testes foram posteriormente feitos com os
disco de 6 mm, embebidos com o terpeno, onde se observa os
resultados na figura 3 abaixo.
Figura 3. Antibiograma Candida albicans e Candida glabrata

Fonte: Própria autoria

775
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
Na primeira placa (Fig. 3), houve inibição total da
Candida albicans, observa-se que o halo formado tomou conta
de toda placa. E ainda na fig. 3, a segunda placa, semeada
com Candida glabrata, não houve nenhuma inibição, nenhum
halo formado.
A Candida albicans, Candida tropicalis, Candida Krusei
e Candida parapsilosis, isoladas durante coleta micológica da
pele de pacientes, cepa natural, já que faz parte da microbiota
normal do homem (AVRELLA & GOULART, 2008).
Na segunda placa, foi semeada Candida glabrata,
isolada de UTI de hospital, deduzimos que seja uma cepa de
resistência.
A Candida glabrata surge como um importante
patógeno hospitalar, constituindo-se na segunda ou terceira
espécie mais comum na maioria das séries de candidemia
relatada nos EUA e Europa (SILVA, 2002).
De acordo com Nussi & Colombo (2002), a Candida
glabrata isolada de pacientes hospitalares, mesmo não sendo
comum quando comparada com outras espécies, apresenta
resistência a diversos antifúngicos.
Para as massas de 200 e 300 gramas da planta
apresentaram eficiência dos respectivos extratos no processo
inibitório, com concentrações das soluções de 200g/L e 300
g/L, respectivamente, tendo-se o aumento das concentrações
dos extratos, contudo os resultadatos não foram levados em
consideração, tendo em vista que a Concentração Mínima
Inibitória (CMI) foi obtida para uma massa de 100g da planta,
para 50% desta concentração, ou seja, 50 g/L, e que as outras
concentrações podem apresentar uma toxicicidade mais
elevada, o que se torna menos interessante para utilização da
substância pelo ser humano, tendo em vista que quanto menor

776
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
a concentração mínima inibitória, melhor é para o ser humano,
por se ter uma toxicidade menor.

4 CONCLUSÕES

A obtenção do terpenoide de 100g de massa da planta


Bidens pilosa para inatividade de cepas de Candida
apresentou inibição total, para as espécies testadas, e com
uma concentração mínima inibitória relevante, 50% da menor
concentração, só não apresentou eficiência de inibição para a
Candida glabrata, não houve inibição provavelmente devido a
cepa ser de origem hospitalar e por conseguinte uma cepa de
resistência microbiana.
O aumento das massas da planta aumentaram as
concentrações dos extratos, tanto para a massa de 200g
quanto para a massa de 300g, contudo a concentração
mínima inibitória, relevante para estudo de toxicidade, foi
praticamente semelhante ao da massa de 100g, o que mostra
que a massa não influi consideravelmente para a produção do
extrato, desta feita, para se ter a mesma concentração mínima
inibitória, ser mais interessante utilizar a massa de 100g, pois
com pouca quantidade da planta pode-se ter um resultado
satisfatório, o que significa uma economia de matéria prima se
for produzir o extrato em escala industrial.
Verificou-se também que para se ter uma melhor
concentração de extrato, o processo de decocção ser mais
aplicável do que o processo de extração por vapor de arraste,
no caso específico para esta planta em estudo.

777
PRODUÇÃO DE TERPENOIDES COM ATIVIDADE ANTIFUNGICA FRENTE À
CANDIDA SP
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780
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS

CAPÍTULO 40

CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A


FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS

Amanda Ferreira Santos da SILVA1


Giselle MEDEIROS DA Costa One²
1
Graduanda do curso de Engenharia de Petróleo, UNICEUMA
amaanda.ferreira@outlook.com

RESUMO: O aumento do uso de agrotóxico na agricultura tem


causado grandes prejuízos à saúde humana, ambiental e de
toda biodiversidade. Desta forma surgiu o interesse em
estudar novas tecnologias sustentáveis e mais efetivas que
pudessem substituir o uso dos métodos convencionais. Assim
há uma grande variedade de micro-organismos que podem
substituir o uso de agrotóxicos de maneira satisfatória e
ecologicamente correta. Alguns desses micro-organismos são
as Actinobacterias, também conhecidas como Actinomicetos.
Os experimentos foram realizados com bactérias do gênero
Streptomyces, que são bactérias geralmente encontradas no
solo, pertencendo à classe das actinobácterias. Tais
procedimentos foram manuseados com três linhagens de
Actinomicetos denominados neste trabalho pela letra “A” em
ordem crescente de 1 a 3. Este trabalho busca o estudo das
condições adequadas por meio de testes onde se variam a
temperatura, pH e agitação analisando o crescimento e
observando quais fatores são adequados ao seu
desenvolvimento, a fim de conseguir reproduzir esses micro-
organismos para que possam ser utilizados como um fator de
controle biológico, proporcionando resistência a seres vivos
que são considerados nocivos e causam prejuízos a
agricultura. Após finalizados os experimentos observou-se que
781
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
todos apresentaram um perfil semelhante de produção, onde a
maior produção esteve diretamente relacionada com o
aumento da biomassa, mostrando que as condições as quais
os micro-organismos foram submetidos se mostram propicías
para o seu crescimento.
Palavras-chave: Agrotóxico. Controle Biológico.
Biotecnologia.

1 INTRODUÇÃO

A crescente utilização de agrotóxicos na agricultura


brasileira tem levado a uma consequente presença de
resíduos em altas doses nos alimentos que chegam à mesa
dos consumidores. Tal situação tem se refletido na saúde
pública, com elevação das suspeitas diagnosticadas de
intoxicação alimentar por resíduos de agrotóxicos nos
alimentos. O uso de agrotóxicos com a finalidade de controlar
pragas e doenças da lavoura existe há pouco mais de meio
século na agricultura. Este uso intensificou-se após as
grandes guerras mundiais, onde a agricultura surgiu como
novo mercado para a indústria química que produzia venenos
como armas químicas (OLIVEIRA, 2014).
Cerca de 400 ingredientes ativos de agrotóxicos estão
registrados no Brasil, entre fungicidas, inseticidas e herbicidas
(ANVISA, 2016). São substâncias tóxicas aos organismos-alvo
como fungos, insetos e plantas daninhas e são, também,
tóxicos aos mamíferos, incluindo o homem (FAO, 2013).
Desta forma, os trabalhadores rurais encontram-se
vulneráveis aos agroquímicos durante os procedimentos de
preparo de misturas, lavagem de equipamentos e aplicação na
lavoura, bem como através do consumo de alimentos com
resíduos. Mesmo que a pessoa não participe dos trabalhos no
782
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
campo, como acontece especialmente com as mulheres, a
exposição pode ocorrer pelo contato com os equipamentos de
proteção individual (EPI) no momento da higienização dos
materiais. Essa exposição inadequada aos agentes químicos
pode causar alterações reversíveis ou irreversíveis e levar a
situações patológicas em longo prazo, dependendo da
concentração e do período de contato o qual o trabalhador foi
exposto. Quando a exposição é de caráter crônico, podem
ocorrer alterações imunológicas, neurológicas, reprodutivas e
no desenvolvimento, variando desde alterações mais brandas
até as mais graves (SIMONIELLO MF, 2010 et al. Apud.,
MORI et al., 2015).
Outro problema associado a pesticidas químicos é a
sua acumulação em diferentes partes da planta, incluindo a
fruta. Os efeitos adversos destes pesticidas na saúde humana
e animal e também na microflora benéfica do solo forçaram os
pesquisadores encontrar alternativas de soluções ecológicas.
Com isso o controle biológico das doenças das plantas é uma
estratégia alternativa emergente que tem sido amplamente
considerada por seu baixo custo, recursos sustentáveis e
ecológicos (Rohini, H.G. Gowtham et al., (2016).
O primeiro conceito proposto de controle biológico de
doenças de plantas se baseou no controle de pragas, que é o
controle de um organismo por outro organismo. O primeiro
conceito é descrito como a inibição direta do crescimento do
fitopatógeno pela produção direta de antibióticos e/ou enzimas
hidrolíticas. O segundo é a penetração direta nas estruturas do
patógeno. Assim, os agentes de controle biológico agem
reduzindo o inoculo inicial, infecção de plantas ou progresso
da doença. Esses micro-organismos podem agir também por
indução de resistência e competição. Na indução de
783
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
resistência, a imunidade inata de plantas é ativada, resultando
em redução na infecção ou progresso da doença em um
mecanismo indireto. Outro mecanismo indireto de controle é a
competição por espaço ou nutriente, neste caso, pode-se
considerar que o agente de controle biológico age pela
alteração do ambiente favorável para ocorrência de doenças
(Medeiros & Monteiro, 2015).
Dentre estes microrganismos uma especial atenção é
dada aos Actinomicetos que apresentam capacidade de
produzir uma ampla variedade de compostos bioativos como
antibióticos, antifúngicos, antitumorais entre outros compostos
que podem ser aplicados nos mais diversos segmentos da
indústria. O gênero Streptomyces é considerado de grande
importância industrial devido a sua capacidade de produzir
muitos metabólitos secundários, respondendo por 80 por cento
dos antibióticos utilizados atualmente (SILVA, 2016).
O metabolismo secundário pode ser visto como a
produção de compostos com funções específicas para o
organismo, como para a reprodução, para a proteção contra
outros microrganismos, contra radiação, entre outras, nem todas
elucidadas. Dependendo da necessidade do composto
secundário, denominado metabólito, a habilidade em produzi-lo
pode ser perdida ou cessada temporariamente (TONIAL, 2014).
Para que se obtenham os metabólitos secundários pela
indústria é necessário que esses organismos sejam inoculados
em um meio de produção para que ocorra seu crescimento e
secreção da substância desejada em um processo chamado
fermentação. A fermentação, no que se refere ao sentido
industrial da palavra, é o cultivo de um micro-organismo que não
permite contaminação e fornece as condições necessárias para a

784
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
produção máxima do metabólito desejado, podendo ou não ser
secundário (OKAFOR, 2007. Apud. TONIAL 2014).
Os Actinomicetos têm seu crescimento ótimo ocorrendo
entre temperaturas de 25 a 35°C e valores de pH de 6,5 a 8,0.
Morfologicamente, diferem de outras bactérias pela formação
de hifas aéreas (ou esporóforos), no final da fase reprodutiva,
que se diferenciam em uma cadeia de esporos unicelulares
(MADIGAN et al., 2016).
É necessário considerar os benefícios ecológicos
advindos do uso de controle biológico. Assim, tais técnicas
devem ser exploradas como uma alternativa importante na
redução ou total eliminação do uso de agrotóxicos (DAS
CHAGAS et al., 2016).
Buscando uma alternativa sustentável que possa ser
utilizada na agricultura para o controle de doenças e pragas,
este trabalho tem como objetivo principal o estudo de métodos
de otimização para a produção de Actinomicetos. De maneira
específica a presente pesquisa busca aperfeiçoar a produção
desses compostos antimicrobianos levando em consideração
uma análise de fatores físicos, visando uma forma eficiente à
substituição do uso de agrotóxicos utilizados atualmente em
lavouras.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Para aperfeiçoar as condições de Fermentação no


processo de produção dos metabólitos secundários dos
Actinomicetos, com o intuito de que pudessem ser utilizados
como controladores biológicos em cultivos e lavouras, foi
utilizada a metodologia de Planejamento Experimental
Fracionado do tipo DCCR, que por meio de técnicas da
785
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
estatística consegue fornecer dados seguros com um número
de experimentos reduzidos além de permitir o estudo
simultâneo de vários fatores. Na execução deste experimento
foram utilizadas três variáveis independentes, sendo elas a
agitação, pH e temperatura; bem como duas variáveis
dependentes, sendo elas a biomassa e produção do
metabólito.
Com o objetivo de que se obtivesse o máximo de
combinações possíveis no experimento realizado, de modo
que o experimento possuísse acurácia alcançando
confiabilidade, foram realizados dezessete experimentos com
cada Actinomiceto em questão de acordo com a matriz
experimental do tipo DCCR, conforme mencionado
anteriormente, utilizando-se variáveis dependentes e
independentes, como se encontra representada pela “Tab.
(1)”. experimental de otimização e tem como finalidade a
triagem dos fatores controláveis mais importantes que atuam
sobre a produção da enzima de interesse e das interações
entre tais fatores.
Para geração dos resultados da matriz do
delineamento experimental foram realizadas algumas etapas,
iniciando pelo repique dos Actinomicetos em duplicata, de
modo a obter seu crescimento, utilizando 200 ml de meio de
cultura Batata Dextrose Agar (BDA) que foi preparado
conforme as instruções da embalagem alterando apenas a
quantidade de 39g por 1L, foi preparado 7,8g para 200 mL,
distribuídos em 12 placas de Petri com 10 mL e 10 tubos de
ensaios contendo 8 mL.

786
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
Tabela (1) – Matriz experimental do tipo DCCR dois elevado à
terceira para obtenção das melhores condições de produção
de metabólito secundária por actinomicetos.

Fonte: Os autores.

Este planejamento se trata de um processo


Após o repique foi preparado o pré-inoculo, utilizando
nutrientes específicos e quantidades conforme mostra a “Tab.
(2)”, para seis micro-organismos, que são resultado dos três
primeiros repicados. Para o pré-inoculo dos seis micro-
organismos foi preparado 120 mL do meio de cultivo e
incubados sob agitação por três dias a uma temperatura de
30ºC e com a velocidade de rotação de 150 rpm.

787
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
Tabela (2) – Meio de Cultivo para o Pré-Inoculo.

Fonte: Os autores.

Subsequente ao pré-inoculo os micro-organismo foram


transferidos para um novo meio que foi produzido com os
nutrientes em adequados em determinadas quantidades para
cada micro-organismo, conforme descrito na “Tab. (3)”. Logo
após, foram levados a incubadora por cinco dias variando
temperatura, pH e agitação, para cada etapa que seria
realizada.
Completado os cinco dias o material foi filtrado por
sucção a vácuo separando a biomassa do mosto. A biomassa
foi levada para estufa para secagem a uma temperatura
aproximada de 40ºC e após o processo de secagem foi
pesada e analisada observando a massa micelial de
crescimento de acordo com as variáveis. A biomassa foi
retratada em forma de massa seca.

788
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
Tabela (3) – Meio de cultivo para a produção em g/L.

Fonte: Os autores.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a realização da otimização das condições de


fermentação no processo de produção dos metabólitos
utilizados no controle biológico, foi realizado um Planejamento
Experimental Fatorial Fracionado do Tipo DCCR. Esse modelo
foi escolhido por ter a capacidade de permitir uma redução no
número de corridas que iriam ser realizadas, fato esse que
proporciona uma redução no custo do experimento. Desta
forma foram executados dezessete experimentos para cada
micro-organismo, como observado na Tabela (4).
789
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS

Tabela (4) - Resultados do Planejamento experimental.

Fonte: Os autores.

A realização desta metodologia permite escolher


condições propícias de modo que o experimento produza
medidas confiáveis para o processo de otimização; ajustar um
modelo matemático que melhor se melhor encaixe aos dados
coletados; e por último, estimar as condições ótimas para que
os micro-organismos produzam o seu máximo (ou mínimo)
valor nas variáveis adequadas.
Com os dados da matriz acima foi possível gerar as três
figuras abaixo onde nós podemos observar a produção de
metabólitos em relação à quantidade de biomassa para cada
micro-organismo conforme parâmetros que lhes foram
impostos.

790
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
Figura (1) – Planejamento experimental realizado com o
Actinomiceto A1.

Fonte: Os autores.

Com base no que se pode analisar da “Fig. (1)” pode-se


perceber que as corridas 1, 7, 9 e 12 do experimento foram as
que possuíram melhor crescimento de biomassa e
consequentemente maior produção de metabólitos,
apresentando um crescimento positivo de acordo com as
seguintes condições, respectivamente: Temperaturas de 15
ºC, 30 ºC, 30 ºC e 45 ºC; pH de 6,2; 8,2; 7 e 9; Agitação de 60
rpm, 60 rpm, 60 rpm, 0 e 150 rpm. As corridas em 3, 5, 8,
15,16 e 17 obtiveram um desenvolvimento moderado de
acordo com os seus fatores, na seguinte ordem: Temperatura
de 15 ºC, 45 ºC, 45 ºC, 30 ºC, 30 ºC e 30 ºC; pH de 8,2; 6,2;
8,2; 7; 7 e 7; Agitação de 60 rpm, 60 rpm, 240 rpm, 150 rpm,
150 rpm e 150 rpm. Em contra partida as corridas 2, 4, 6, 10,
11,13 e 14 obtiveram a menor evolução, uma vez que suas
condições foram respectivamente: Temperatura de 15 ºC, 15
ºC, 45 ºC, 30 ºC, 56 ºC e 4 ºC; pH de 6,2; 6,2; 6,2; 7, 5, 7 e 7;

791
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
Agitação de 140 rpm, 240 rpm, 240 rpm, 300 rpm, 150 rpm,
150 rpm e 150 rpm.

Figura (2) - Planejamento experimental realizado


com o actinomiceto A3.

Fonte: Os autores.

Para os micro-orgarnismos analisados de acordo com a


“Fig (2)”, as corridas apresentaram um melhor desempenho
foram a 3, 5, 7, 9, 11 e 16 que foram submetidas as seguintes
variaveis, nesta ordem: Temperatura de 15 ºC, 45 ºC, 45 ºC,
30 ºC, 30 ºC e 30 ºC; pH de 8,2; 6,2; 8,2; 7; 5 e 7; Agitação de
60 rpm, 60 rpm, 60 rpm, 0 rpm, 150 rpm e 150 rpm. Onde as
que possuíram um desenvolvimento intermediário conforme os
parâmetros impostos foram as corridas 1, 8, 15 e 17 com os
seguintes parâmetros: Temperatura de 15 ºC, 45 ºC, 4 ºC e 30
ºC; pH de 6,2; 6,2; 7 e 7; Agitação de 60 rpm, 240 rpm,150
rpm e 150 rpm. Subsequente aos valores listados observou-se
que as corridas 2, 4, 6, 10, 12, 13, 14 e 15 obtiveram o menor
crescimento e por esta ordem temos os seguintes fatores:

792
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
Temperatura de 15 ºC, 15 ºC, 45 ºC, 30 ºC, 30 ºC, 56 ºC e 30
ºC; pH de 6,2; 6,2; 6,2; 7, 9 e 7; Agitação de 240 rpm, 240
rpm, 240 rpm, 300 rpm, 150 rpm e 150 rpm.

Figura (3) - Planejamento experimental realizado


com o actinomiceto A2.

Fonte: Os autores.

Tendo em vista o que foi exposto na “Fig. (3)” pode-se


verificar que o micro-organismo A2 teve um desenvolvimento
elavado em quase todas as variáveis em que foi submetido no
experimento. Obtiveram melhor desempenho as corridas 6,
11, 15, 16 e 17 com os seguintes fatores respectivamente:
Temperatura de 45 ºC, 45 ºC, 30 ºC, 30 ºC e 30 ºC; pH de 6,2;
6,2; 7; 7 e 7; Agitação de 240 rpm, 240 rpm, 150 rpm, 150 rpm
e 150 rpm. Apresentaram um desenvolvimento intermediário
as corridas 2, 4, 7, 8, 9 e 12. Onde nesta ordem as os fatores
foram: Temperatura de 15 ºC, 15 ºC, 45 ºC, 45 ºC, 30 ºC e 30
ºC; pH de 6,2; 6,2; 8,2; 8,2; 7 e 9; Agitação de 240 rpm, 240
rpm, 60 rpm, 240 rpm, 0 rpm e 150 rpm. As corridas com
possuiram um menor crescimento foram, 1, 3, 5, 10, 13 e 14

793
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
conforme as seguintes condições: Temperatura de 15 ºC, 15
ºC, 45 ºC, 56 ºC e 4 ºC; pH de 6,2; 8,2; 6,2; 7; ;7 e 7; Agitação
de 60 rpm, 60 rpm, 60 rpm, 300 rpm, 150 rpm e 150 rpm.
A respeito do micro-organismo A1 o experimento que
mais se destacou foi a corrida 9; Com relação ao micro-
organismo A3 obervou-se que as condições da corrida 11
foram as que apresentaram maior destaque de rendimento;
com base no que foi analisado a respeito do micro-organismo
A2 as corridas de número 6, 11, 15, 16, 17 apresentaram
melhor rendimento. No que se refere às condições ideais o pH
ideal está na faixa entre 5 e 7. Todas as amostras
apresentaram melhor crescimento com agitação entre 150 rpm
e 240 rpm, com exceção da corrida 9 do micro-organismo A1,
onde se desenvolveu melhor na ausência de agitação, que
corresponde a 0 rpm. A temperatura que apresentou melhor
crescimento está entre 30 ºC e 45 ºC.
Segundo o estudo realizado por Borba (2013), a
temperatura que apresentou melhor atividade microbiana varia
entre 30 ºC e 55 ºC, corroborando valores aproximados ao que
foi obtido na pesquisa vigente, já o pH que apresentou melhor
desenvolvimento no trabalho de Borba estava ajustado no
valor 8.
Logo, esses dados confirmam o que foi dito por
Madigan et al., 2016, descrevendo as condições onde o micro-
organimo de sua pesquisa obteve crescimento máximo,
ocorrendo entre temperaturas de 25 a 35 °C, dentro dos
parâmetros encontrados neste trabalho e valores de pH de 6,5
a 8,0 que estão próximos aos valores obtidos, o que permite
seu crescimento em condições desfavoráveis, possibilitando
sua utilização como um importante agente de controle
biológico.
794
CONTROLE BIOLÓGICO FRENTE A FUNGOS E NEMATOIDES
FITOPATOGÊNICOS
4 CONCLUSÕES

Após a execução dos experimentos observa-se que


todos apresentam um perfil semelhante de produção, onde a
maior produção está diretamente relacionada com o aumento
da Biomassa, mostrando que as condições as quais os micro-
organismos foram submetidos se mostram propicías para o
crescimento dos Actinomicetos em questão.
Sabendo que a agricultura é uma das atividades
economicas mais importantes para um país e os impáctos que
elas causam à saúde e meio ambiente existe a necessidade
de estudos de novas tecnologias sustentáveis que possam
substituir as técnicas já utilizadas de maneira eficiente, sendo
assim esta pesquisa obteve métodos e variáveis específicas
otimizando de maneira eficaz a produção de Actinomicetos
para substituição parcial ou total do uso de agrotóxicos em
lavouras.

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797
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
CAPÍTULO 41

BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS
FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS
PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
Caroline Targino Alves da SILVA 1
Bianca Teixeira Morais de OLIVEIRA1
Cibele QUEIROZ 1
Hércules Gonçalves de Almeira MEDEIROS 1
Adna Cristina Barbosa de SOUSA 2
1 2
Graduandos do curso de Biotecnologia, UFPB; Orientadora/Professora do curso de
Biotecnologia, UFPB.
adnasousa@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: Os fungos entomopatogênicos produzem enzimas


que estão envolvidas no processo de patogenicidade. Sabe-se
que a capacidade de virulência está pautada na produção de
enzimas extracelulares (proteases), e pouco é observado na
literatura sobre a sua utilização para produção de enzimas de
interesse industrial. Essas enzimas são amplamente
empregadas na indústria em diversos processos
biotecnológicos. No presente estudo propomos utilizar um
meio de cultura pobre em nutrientes com uma única fonte de
notrogênio, como fonte de energia para crescimento de fungos
filamentosos entomopatogênicos, afim de caracterizar a
atividade proteolítica. Levando em consideração a importância
biotecnológica das enzimas preoteolíticas, o objetivo desse
estudo foi verificar o potencial de produção de proteases,
obtida por fungos filamentosos em meio de cultura sólido
especifico. Para determinação da atividade enzimática
798
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
proteolítica (IE) e do índice enzimático (Pz) foi utilizado o meio
de cultura ágar-leite. O crescimento e formação do halo de
degradação foi avaliado durante 12 dias. Os isolados M.
anisopliae, B. bassiana, B. brongniartii, Aspergillus sp.,
Penicillium sp. formaram um halo de 0,1, 0,4, 0,4, 0,4 e 0,1
centrímetros, respectivamente, e um Pz positivo (classe 2),
mostrando que esses isolados secretam a enzima avaliada.
Paecilomyces sp. não formou halo e apresentou um Pz
negativo. O meio ágar-leite mostrou-se ser um substrato
potencial para a produção de enzimas proteolíticas com vasta
aplicação em diversos processos biotecnológicos.
Palavras-chave: Proteases. Enzimas Hidrolíticas. Fungos
Entomopatogênicos.

1 INTRODUÇÃO

Os fungos, amplamente distribuídos em todos os habitats


e ecossistemas, são micro-organismos que participam da
decomposição primária em todos os ecossistemas terrestres e
desempenham um importante papel ecológico no ciclo do
carbono e reciclam nutrientes; São essenciais para
sobrevivência de muitos grupos de organismos com os quais
estão associados (mutualismo); Muitos são patógenos de
plantas, humanos e animais; São potencialmente importante
para a agropecuária (controle biológico) e demonstram
potencial para produção biológica e biotecnológica (ABREU et
al., 2015). Diferentes linhagens fúngicas têm sido utilizadas
como uma importante fonte de genes e vias metabólicas para
a síntese de compostos economicamente significantes,
incluindo peptídeos, vitaminas, enzimas, ácidos orgânicos
(cítrico, itacônico, lático e succínico), antibióticos (penicilina),
entre outros. Esses compostos, incluindo as enzimas, são
799
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
amplamente utilizados em processos biotecnológicos nas
indústrias têxteis, papel e celulose, couro, detergentes,
bebidas destiladas, cervejas, panificação, cereais para
alimentação infantil, liquefação e sacarificação do amido
(produção de xaropes), ração animal, indústria química e
farmacêutica (LYND; ZHANG, 2002; MEYER, 2008;
MONTEIRO; SILVA, 2009; ORLANDELLI, 2012).
As enzimas são um grupo proteínas que desempenham
funções essenciais no metabolismo atuando como
catalisadoras de processos bioquímicos (LEHNINGER et al.,
1995). Dentre várias funções, são capazes de decompor
moléculas complexas em unidades menores (OLIVEIRA;
MULLER; SEGATO, 2004). Elas detêm um importante papel
principalmente na degradação da matéria orgânica originando
novos produtos, na deterioração de alimentos e infecção de
hospedeiros (LEHNINGER et al., 1995).
As proteases são exemplos de enzimas produzidas por
fungos filamentosos, também conhecidas como peptídeo
hidrolases. Essas enzimas catalisam as reações de hidrólise
das ligações peptídicas existentes nas moléculas das
proteínas, originando peptídeos menores e aminoácidos livres.
Algumas pesquisas sugerem que as proteases conduzem
modificações específicas e seletivas nas proteínas (RAO et al.,
1998). Quanto maiores as forças que mantém sua estrutura
tridimensional, maiores são as dificuldades que devem ser
ultrapassadas para que as proteases possam desempenhar
sua função. Dessa forma, a clivagem de peptídeos
proteolíticos tornou-se importante e tem despertado o
interesse de pesquisadores (CAMPBELL, 2000).

800
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
As proteases também estão relacionadas com a atividade
entomopatogênica desempenhada por algumas espécies de
fungos (ERLACHER et al., 2006). Para que o fungo possa
penetrar o hospedeiro e desempenhar sua atividade
entomopatogênica, a ação de enzimas extracelulares como as
proteases facilitam a sua penetração. A infecção geralmente
inicia-se pela adesão e germinação de conídios do fungo
sobre a superfície do hospedeiro, seguido da penetração da
hifa através da cutícula. Na penetração estão envolvidos os
fatores físicos (pressão da hifa que rompe áreas
membranosas ou esclerosadas) e químicos, resultante da
ação de enzimas extracelulares (esterases, proteases, lipases,
e quitinases) que facilitam a penetração mecânica. Estas
enzimas degradam a estrutura de polímeros da cutícula
formada por fibrilas quitinosas embebidas em matriz composta
de proteínas (HU; LEGER, 2002; BISCHOFF et al., 2009;
VERÍSSIMO, 2015).
Os fungos são capazes de controlar a produção de
enzimas de acordo com suas necessidades e com a
disponibilidade de substratos. São descritos quatro tipos de
mecanismos para regular a síntese e secreção de proteases
extracelulares: (1) a presença de substratos específicos; (2) os
níveis dos produtos finais (como aminoácidos, NH4+ e fontes
de carbono) podem diminuir a produção quando em altas
concentrações; (3) níveis de carbono, de nitrogênio ou de
enxofre insuficientes podem aumentar a produção; e (4) as
enzimas podem ser produzidas em níveis baixos,
independentemente da disponibilidade do substrato
(GEISSELER; HORWATH, 2008). Além disso, a produção de
proteases por fungos filamentosos é influenciada pela

801
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
qualidade da fonte de nitrogênio. Nesse estudo, o meio ágar-
leite foi utilizado na seleção de microorganismos produtores de
proteases, sendo o leite em pó a única fonte de nitrogênio
adicionada ao meio.
As proteases estão disponíveis comercialmente.
Processos industriais geralmente exigem enzimas robustas,
capazes de atuar em diferentes condições de Ph, temperatura,
pressão, entre outros. Além disso, é esperado que as enzimas
sejam produzidas com alto rendimento, por processos de
fermentação simples e de baixo custo, proporcionando a
geração de um produto com alto valor agregado (CUNHA,
1999).
Nos últimos anos, a perspectiva da utilização de
processos fermentativos em estado sólido tem aumentado
para produção de enzimas de interesse industrial. O alto custo
das enzimas proteolíticas é um dos fatores limitantes no
processo de hidrólise enzimática para a sua produção.
Entretanto, o impacto do custo dessas enzimas pode ser
reduzido a partir da seleção de micro-organismos produtores
de proteases, pela utilização de matéria-prima mais barata e
estratégias de fermentação a um custo efetivo, como
fermentação em estado sólido (FES) e tecnologias mais
eficientes para as etapas de sacarificação e fermentação. Tal
processo é caracterizado pelo crescimento de micro-
organismos em substratos sólidos e porosos, na ausência de
água livre entre as partículas da matriz sólida. A FES usando
substratos alternativos e de baixo custo vem sendo
empregada, predominantemente, em países orientais, para a
obtenção de produtos de importância comercial (FELIX et al.,
2004). Levando em consideração a importância biotecnológica

802
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
das enzimas preoteolíticas, o objetivo desse estudo foi
verificar o potencial de produção de proteases, obtida por
diferentes fungos filamentosos em meio de cultura sólido
especifico.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de


Genética Molecular e Biotecnologia Vegetal do Centro de
Biotecnologia – CBIOTEC – UFPB (Universidade Federal da
Paraíba).
Foram utilizados seis isolados fúngicos descritos na
Tab. 1.

Tabela 1. Origem das seis espécies de fungos filamentosos.

Espécie fúngica Substrato de isolamento/Origem


*Beauveria
bassiana Nezara viridula/CENARGEM/PR - 1987
*Beauveria Solo de sistema agroflorestal/ Abreu e Lima/PE
brongniartii - 2011
*Metarhizium Mahanarva posticata/Usina Serra
anisopliae Grande/Maceió-AL - 2005
Paecilomyces sp. Óleo diesel/Posto de gasolina, João Pessoa,
TP08 Paraíba - 2014
Formiga cortadeira/Reserva florestal da
Universidade Federal da Paraíba, Campus I,
Aspergillus sp. João Pessoa/PB - 2017
Peças anatômicas/Complexo Laboratorial do
Centro de Ciências da Saúde/Universidade
Federal da Paraíba, Campus I, João Pessoa/PB
Penicillium sp. - 2016
* Linhagem utilizada no controle biológico da cigarrinha da cana-de-açúcar
no Norte, Nordeste e Sudeste. Fonte: Autor

803
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
Meio de cultura e manutenção da cultura fúngica: foi
utilizado o meio de cultura ágar-Sabouraud-dextrose contendo
10 g de peptona de carne, 40 g dextrose, 15 g de ágar e 1000
mL de água destilada, e o pH mantido em torno de 5,6. As
amostras foram repicadas em tubos de ensaio contendo meio
ágar-Sabouraud, onde a cultura foi mantida à temperatura
ambiente durante 15 dias e em seguida, sob refrigeração à 4º
C.

Crescimento radial: fragmentos da cultura fúngica foram


colocados no centro da placa de Petri contendo o meio de
cultura específico. Em seguida, as placas foram mantidas em
temperatura ambiente. As observações foram feitas nos
intervalos de 0-2, 2-4, 6-8, 8-10, 10-12 dias. Mensurações com
régua milimetrada foram feitas e empregadas para a
construção de um gráfico para a observação do crescimento
radial.

Meio de cultura para a produção das enzimas


proteolíticas: foi utilizado o meio-ágar-leite preparado com
50g de leite molico desnatado Nestlé, 15 g de ágar e 1000 mL
de água destilada e pH mantido em 6,8. O meio foi
autoclavado por 15 min. a 120º C.

Atividade proteolítica: o inóculo do fungo foi colocado no


centro da placa de Petri sobre o meio de cultura ágar-leite. Foi
avaliada no período de 12 dias, a capacidade de degradação
da caseína do leite em pó, única fonte de nitrogênio
adicionada ao meio, para medir a atividade proteolítica de
todos os isolados fúngicos. A degradação foi avaliada

804
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
macroscopicamente pela formação do halo transparente ao
redor da colônia.

Determinação da atividade enzimática e do índice


enzimático: para a determinação do índice enzimático (IE), foi
utilizada a metodologia descrita por Hankin e Anagnostakis
(1975), em que a atividade da espécie avaliada decorre da
razão entre o diâmetro da colônia (Øc) e o diâmetro da
colônia, acrescido da zona de precipitação do halo (Øh).

A partir do (IE) a atividade enzimática (Pz) pode ser


classificada como:
A) negativa (IE = 1, Pz = classe 1);
B) positiva (0,64 = IE < 1, Pz = classe 2);
C) fortemente positiva (IE < 0,64, Pz = classe 3).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos com a avaliação da capacidade


de produção de enzimas proteolíticas extracelulares das 06
espécies de fungos filamentosos estão sumarizados na Tab. 2.

805
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
Tabela 2. Índices enzimáticos (IE) e atividade enzimátiva (Pz)
de 06 isolados de fungos filamentosos entomopatôgenicos.

Espécie fúngica IE Pz
Beauveria bassiana 0,92 positiva
Beauveria brongniartii 0,90 positiva
Metarhizium anisopliae 0,98 positiva
Paecilomyces sp. TP08 0 negativa
Aspergillus sp. 0,94 positiva
Penicillium sp. 0,97 positiva
Fonte: Autor

Os fungos foram cultivados em meio contendo uma única


fonte de nitrogênio, a caseína do leite. A caseína do leite
Molico em pó, é uma macromolécula, composta por
aminoácidos ligados entre si por ligações peptídicas, incapaz
de penetrar na membrana celular dos micro-organismos. Para
que a caseína seja utilizada pelos fungos, precisa ser
degradadas em peptonas, polipeptídeos, dipeptídeos e
aminoácidos. Este processo é possível porque os fungos
produzem enzimas proteolíticas (proteases) que catalizam a
hidrólise da caseína em aminoácidos, os quais são depois
assimilados e catabolizados pelas células (BOM et al. 1999).
Os isolados fúngicos (Aspergillus sp., M. anisopliae, B.
bassiana, B. brongniartii e Penicillium sp.) com excessão do
Paecilomyces sp., demonstraram potenciais produtores de
enzimas proteolíticas no meio de cultura ágar-leite, porque
apresentaram um IE alto e um Pz positivo (classe 2),
mostrando que esses isolados secretam a enzima avaliada.
Dentre os fungos filamentosos analisados, M. anisopliae
apresentou IE de 0,98 e à Pz positiva. Foi observado um

806
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
crescimento radial lento no meio de cultura ágar-leite quando
comparado com seu crescimento em meio de cultivo para
manutenção (Ágar-Sabouraud). Foi observado um halo de 0,1
centímetros (Figura 1). O resultado positivo para atividade
proteolítica já era esperado, pois vários estudos tem apontado
o M. anisopliae como potencial agente no controle biológico de
alguns insetos-pragas: besouro do grão do trigo (Anisoplia
austríaca) e do curcúleo da beterraba (Cleonus punctiventris)
(DIMBI et al., 2014).
No Brasil, o M. anisopliae já é utilizado no controle
biológico de percevejos das pastagens, gênero Deois, da
broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis, da cigarrinha
da cana-de-açúcar, Mahanarva posticata e carrapatos que
causa impacto na pecuária (ALVES, 1998; PEREIRA et al,
2008). A facilidade de adentrar no hospedeiro devido a alta
produção de proteases e outras enzimas, faz do M. anisopliae
um fungo filamentoso com ótima atividade entomopatogênica.
B. bassiana teve seu crescimento relativamente rápido nos
dois meios de cultura utilizados. Apresentou uma coloração
branca e textura felpuda característica da espécie e uma boa
capacidade de esporulação, macroscopicamente. Formou um
halo de 0,4 centímetros no meio de cultura ágar-leite (Figura
1). Apresentou a Pz positiva e IE de 0,92. Essa espécie é
bastante explorada no controle biológico de vários insetos-
praga na agropecuária (STÜRMER et al., 2004) e não há
relatos na literatura sobre a exploração dessa espécie para
fins industriais (produção de enzimas).

807
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
Figura 1. Aspecto das colônias dos diferentes isolodos fúgicos
em meio de cultura ágar-Sabourad-dextrose (A1, B1 e C1) e
formação do halo de degradação em meio de cultura ágar-leite
(A2, B2, e C2). (A) Metarhizium anisopliae; (B) Beauveria
bassiana; (C) Beauveria brongniartii.

Fonte: Autor

B. brongniartii apresentou também uma atividade


proteolítica alta, formando um halo de degradação de 0,4
centímetros (Figura 1). Apresentou a Pz positiva e IE de 0,90.

808
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
Apresentou um crescimento rápido e boa capacidade de
esporulação, macroscopicamente. Essa espécie é utilizada no
controle biológico parasitando vários insetos-pragas
(ALMEIDA, 2005; SABBOUR, 2015) e também não há relatos
na literatura sobre a sua utilização para produção enzimática.
Segundo Alves (1998) aproximadamente 80% das
doenças acometidas a insetos são causadas por fungos
entomopatogênicos, incluindo mais de 700 espécies, tornando
estes micro-organismos objetos de uma importância grande
em estudos na área de biotecnologia (como produção
enzimática) e controle biológico contra insetos que causam
prejuízos na agricultura ou pragas urbanas.
Aspergillus sp. secretam grandes quantidades de enzimas
(HERNÁNDEZ-MARTÍNEZ et al., 2011). Esse gênero é capaz
de obter níveis de atividades enzimáticas superiores aos
fungos que são geralmente classificados como os melhores
produtores de proteases (CARVALHO et al., 2012). Devido a
isso, é um gênero bastante explorado na indústria para
diversas finalidades. Dentre as enzimas secretadas pelas
espécies, destacam-se as proteases.
O isolado de Aspergillus sp. testado neste estudo, formou
um halo de degradação de 0,4 centímetros. Apresentou Pz
positiva e IE de 0,94. Nossos resultados coincidem com os de
Cuzzi (2011). O autor avaliou o isolado D2-NC (Aspergillus
sp.), quanto a atividade proteolítica (0,85) e a Pz classificada
como positiva (classe 2).
As espécies de Penicillium possuem um grande potencial
de produção de proteases e outras enzimas biotecnológicas
(IKRAM-UL-HAQ; MUKHTAR, 2007), característica muito
visada no ramo da biotecnologia e da indústria, atualmente.

809
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
No nosso estudo utilizamos um isolado de Penicillium sp.
A colônia formou um halo de degradação de 0,1 centímetros.
Apresentou um IE de 0,97 e a Pz positiva. Nossos resultados
obtidos para as espécies Aspergillus sp. e Penicillium sp.
corroboram os de Bajpai e Patil (1997) e Pinto (2003), que
destacam a capacidade desses dois gêneros fúngicos em
produzir enzimas extracelulares, sobre diversos substratos.
Dentre as enzimas produzidas por ambos os gêneros,
destacam-se as proteases. Esses resultados também
coincidem com os de Lima (2003), que relatam muitas
espécies do gênero Penicillium como notáveis produtoras de
proteases e amilases, com grande potencial de aplicação em
distintas áreas.
O isolado Paecilomyces sp. apresentou crescimento
radial muito lento, tanto no meio de manutenção (ágar-
sabourand) quanto no meio ágar-leite. Não formou um halo
de degração evidenciando uma Pz negativa. A colônia
apresentou as características típicas da espécie, um aspecto
cotonoso de cor marrom-acinzentada. Dessa forma, há a
necessidade de mais pesquisas com outros substratos mais
adaptáveis ao metabolismo do fungo, os quais permitam medir
a atividade enzimática do Paecilomyces sp.
O gênero Paecilomyces é atualmente explorado no
controle biológico, devido a sua atividade parasitária. Foi
encontrado em ovos de nemátodes em 1966 e mais tarde
descoberto parasitando ovos de Meloidogyne incognita
(Nematóide-das-galhas) no Peru (MARTI, 2006; FIEDLER;
SOSNOWSKA, 2007).

810
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
Figura 2. Aspecto das colônias dos diferentes isolodos fúgicos
em meio de cultura ágar-Sabourad-dextrose (A1, B1 e C1) e
formação do halo de degradação em meio de cultura ágar-leite
(A2, B2, e C2). (A) Penicillium sp.; (B) Aspergillus sp.; (C)
Paecilomyces sp.

Fonte: Autor

811
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
A utilização de enzimas de origem microbiana, na
indústria biotecnológica, tem sido muito explorada por
apresentar uma série de vantagens, tais como: custos de
produção relativamente baixos; facilidade de produção em
larga escala em fermentadores industriais; espectro amplo de
características físico-químicas de diferentes enzimas,
geralmente relacionadas ao habitat e fisiologia do micro-
organismo produtor; susceptibilidade de manipulação genética
e por representarem um recurso renovável. A utilização ampla
destas enzimas é reflexo da elevada especificidade de sua
ação como biocatalisadoras. Porém, enzimas com o mesmo
perfil de atuação sob o substrato, podem apresentar
funcionamento ótimo em pH, temperatura e concentração
iônica diferentes, o que requer a seleção de enzimas
adequadas às condições nas quais serão utilizadas.
Atualmente, enzimas microbianas são amplamente utilizadas
no processamento de alimentos, produção de detergentes,
indústrias têxtil e farmacêutica, na química biológica, na
biologia molecular e medicina.

4 CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos, conclui-se que o meio


ágar-leite mostrou-se ser um substrato potencial para a
produção de enzimas proteolíticas; Paecilomyces sp.
apresentou IE negativo. Os isolados de M. anisopliae, B.
bassiana, B. brongniartii, Panicillium sp. e Aspergillus sp.
exibiram uma atividade proteolítica positiva, apontando um
potencial para serem explorada na indústria como produtoras
de enzimas extracelulares.

812
BIOPROSPECÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS ENTOMOPATOGÊNICOS
PARA PRODUÇÃO DE ENZIMAS PROTEOLÍTICAS EM MEIO DE CULTURA
SÓLIDO
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815
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
CAPÍTULO 42

BIODEGRADAÇÃO DE
HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE
PSEUDOMONAS AERUGINOSA
Thiago Gonçalves CAVALCANTI 1
Andrwey Augusto Galvão Viana 1
Ana Caroline de Lima SILVA 2
Rafael de Almeida TRAVASOS 3
Ulrich VASCONCELOS 4
1
Graduandos do curso de Biotecnologia, UFPB; 2 pós-Graduanda do PPgPNSB/ UFPB
3
Coorientador do DBCM/ UFPB; 4 Orientador/Professor do DB/UFPB.
u.vasconcelos@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: O petróleo consite numa mistura de


hidrocarbonetos formados em condições específicas de
temperatura e pressão ao longo de milhões de anos. Sua
natureza complexa torna a maioria dos hidrocarbonetos
presentes, persistentes e/ou recalcitrantes, dificultando o
processo de remoção no solo. Os micro-organismos são a
chave desse processo. Pseudomonas aeruginosa é uma
bactéria com grande potencial e pode ser aplicada nas
estratégias de biorremediação. O objetivo deste estudo foi
comparar a capacidade de remoção de hidrocarbonetos totais
do petróleo (TPH) por duas linhagens de Pseudomonas
aeruginosa, uma selvagem (TGC01) e outra padrão (ATCC
27853), empregando estratégias de bioaumento, em um solo
contaminado por cerca de 12.000 mg/Kg, num período de 30
dias à 29±1ºC. O maior percentual de remoção do TPH
ocorreu com a linhagem padrão ATCC 27853 quando aplicado
apenas o bioaumento, comparada à linhagem TGC01, que
obteve melhor resultado quando o biaumento foi associado à

816
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
adição de torta de algodão como fonte de carbono
suplementar. Nas condições avaliadas foi possível eliminar a
fitotoxicidade em pelo menos duas de três plantas testadas.
Os resultados ressaltaram a versatilidade metabólica da
Pseudomonas aeruginosa e indicaram a importância da adição
de cossubstratos no incremento do processo de remoção do
óleo no solo.
Palavras-chave: Biorremediação. Pseudomonadas.
Microbiologia do petróleo.

1 INTRODUÇÃO

A matriz energética atual depende em sua maioria de


combustíveis fósseis e petroderivados e é responsável por
grandes impactos na qualidade de vida da população mundial.
Entretanto, os impactos ambientais compreendem o principal
revés e o solo é a porção mais afetada pelo óleo e cerca de
70% dos contaminantes descarregados de forma antrópica
são compostos por hidrocarbonetos do petróleo. (WILCKE,
2007; MOHAMED et al. 2006, LAZAR et al., 1999).
Solos são ambientes com elevada complexidade
biológica e contém a maior porção de biodiversidade do
planeta, contribuindo para a sustentabilidade de diversos
ecossistemas. Neste cenário, as reações microbianas são a
chave para a recuperação de solos contaminados por óleo
num processo dividido em duas fases distintas, mais rápida
inicialmente, mediada pela biodisponibilidade do poluente,
seguida de uma mais lenta, controlada pela relação
sorção/dessorção dos hidrocarbonetos nos agregados do solo
(LEE et al., 2008; KAPLAN e KITTS, 2004; WATANABE e
HAMAMURA, 2003).

817
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
A biorremediação é um processo que visa acelerar a
taxa de degradação dos hidrocarbonetos num espaço de
tempo reduzido, comparado ao curso natural (ALEXANDER,
1999). Duas estratégias são amplamente empregadas. A
primeira visa o estímulo da biota, quando a relação C:N:P está
afetada. Nestes casos, fertilizantes e fontes adicionais de
carbono na função de cossubstratos podem ser utilizados. A
segunda estratégia objetiva incrementar a densidade
microbiana, quando o número de micro-organismos no solo
não é suficiente para manter a degradação de forma eficiente,
reflexo da inibição da biota em função da concentração e
natureza do contaminante e seus metabólitos
(VASCONCELOS, 2011; CHAÎNEAU et al. 2005).
Bacterias Gram-negativas se destacam como os
maiores agentes de transformação de hidrocarbonetos em
solos. Dentre elas, Pseudomonas aeruginosa, cuja habilidade
na utilização de diferentes compostos é amplamente divulgada
na literatura (ATZÉL et al., 2008; MARGESIN et al., 2007). A
bactéria é ubíqua e é dotada de um genoma medindo 6,3 Mpb,
o que garante sua impressionante versatilidade metabólica,
permitindo utilizar mais de 90 moléculas como fonte de
carbono e energia, bem como adaptar-se a ambientes que
exercem altas pressões seletivas (SCOTT-THOMAZ, 2010;
ATZÉL et al., 2008). O objetivo deste estudo foi utilizar uma
linhagem selvagem e compará-la à uma linhagem padrão, no
estudo da degradação do TPH empregando duas técnicas de
bioaumento: o método propriamente dito e ele associado ao
estímulo com uma fonte de carbono alternativa, representada
pela torta de algodão, no contexto do reuso de resíduos
agroindustriais.

818
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Características da matriz contaminada

Este estudo utilizou solo arenoso, circunvizinho à região


de mangue, com histórico de contaminação por
hidrocarbonetos e foi caracterizado com os ensaios, a saber: o
pH em água foi determinado no extrato de solo, preparado
com a mistura de 10 g de amostra e 25 mL de água destilada.
Após 1 minuto de agitação o pH foi determinado em
potenciômetro calibrado com soluções padrão com pH 4,00 e
7,00 (LABMETER pH 5-3B), em triplicata.
O ensaio de determinação da capacidade de retenção
de água do solo (CRA) utilizou uma massa conhecida de solo,
transferida e compactada em um funil coberto com papel de
filtro qualitativo (massa inicial seca). O funil foi transferido para
um becker com capacidade para 500 mL, e água destilada foi
adicionada até pouco acima do nível do papel de filtro. Após
um período de repouso de 30 minutos, o funil foi removido do
Becker, e após 30 minutos a amostra do solo foi transferida
para um cadinho de porcelana previamente tarado (massa
inicial úmida) que após pesada, foi levado para estufa à 105°C
(SOLAB, SL-100) até massa constante. A CRA foi calculada:
CRA= [(m1-m2) / m3)] x 100 (Eq. 1)
Em que: m1- massa inicial seca, em gramas; m2- massa
final, em gramas e m3- massa inicial úmida, em gramas.
Para a determinação da umidade em base seca,
amostras do solo foram transferidas para cadinhos de
porcelana de peso conhecido e após a pesagem inicial, os
sistemas foram levados para estufa à 105°C até massa

819
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
constante. O ensaio foi conduzido em triplicata. A umidade (U)
foi calculada:
U= [(mi – mf)/ mi] x 100 (Eq. 2)
Em que: mi- massa inicial da amostra, em gramas e m f-
massa final da amostra, em gramas, após a secagem.
As análises de teor dos hidrocarbonetos no solo, TPH,
HPA e nitrogênio total foram realizadas empregando
metodologias descritas pela Agência Ambiental
Estadounidense (USEPA). Os demais ensaios de
caracterização foram conduzidos no Laboratório de
Microbiologia Ambiental (LAMA) do Centro de Biotecnologia
da UFPB.

2.2 O contaminante

Foi empregado uma mistura de óleo lubrificante usado,


estocado em tanques de metal de um estabelecimento de
troca de óleo. O material foi gentilmente cedido por uma
oficina e sua caracterização está sumarizada na Tab. (1).

Tabela 1. Propriedades do óleo lubrificante


Analito Óleo Referência
Percentual de sólidos 97,4
TPH (mg.Kg-1) USEPA 8015
Faixa gasolina (C8-11) < 10.226
Faixa querosene (C11-14) < 10.226
Faixa diesel (C14-20) < 10.226
Óleo lubrificante (C20-C40) 445.000
TPH total (mg.Kg-1) 448.000
16 HPA total (mg.Kg-1)* 50,1 USEPA
8270C

820
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
Naftaleno (mg.Kg-1) 45,3
Fenantreno (mg.Kg-1) 2,10
Pireno (mg.Kg-1) 2,73
TPH – hidrocarbonetos totais do petróleo; HPA – hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos

O óleo foi adicionado ao solo, perfazendo uma


concentração final de TPH de aproximadamente 12.000
mg/Kg.

2.3 Torta gorda de algodão

O resíduo foi empregado como fonte adicional de


carbono, na função de cossubstrato. A torta resultou do
processo de extração do óleo de algodão, por pressão
mecânica ou por extração com solvente. Ela foi gentilmente
cedida e caracterizada pela EMBRAPA Algodão, sediada no
município de Campina Grande-PB. As características da torta
gorda de algodão estão apresentadas na Tab. (2).

Tabela 2. Caracterização da torta gorda de algodão


Parâmetro/Analito Resultado
Açúcares solúveis (°Brix) 23,2±0,2
Teor de gordura (%) > 10,0
Carbono total (%) 52,8±3,3
Nitrogênio (%) 6,4±0,6
Enxofre (%) 1,9±0,.2

Os teores de carbono, nitrogênio e enxofre nas tortas


foram determinados por análise elementar (Perkin Elmer
CHNS 2400). As amostras foram previamente cominuídas e
homogeneizadas em moinho analítico de corte (IKA 11A) e

821
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
cerca de 1-2 mg do produto foi utilizado para as análises,
conduzidas em duplicata.
O teor de açúcares solúveis foi determinado em °Brix,
segundo método descrito por Santos (2007). Uma amostra de
1g de cada torta foi transferida para frasco contendo 3 mL de
água destilada e em seguida o sistema foi homogeneizado,
sendo deixado em repouso por 60 minutos. Após este período,
a suspensão foi filtrada e a leitura em refratômetro de Abbe
(Nova instruments) foi realizada, tendo o resultado multiplicado
por 4, em função da diluição. O teor de gorduras foi fornecido
pela EMBRAPA Algodão. Tortas gordas são assim
denominadas por apresentarem um teor de ácidos graxos
maior que 10%.

2.4 Linhagens de Pseudomonas aeruginosa

Foram empregadas uma linhagem selvagem, TGC01,


isolada de solo de um posto de gasolina em João Pessoa-PB
e uma linhagem padrão, ATCC 27853, cedida pelo
Departamento de Antibióticos da UFPE. A linhagem TGC01 foi
isolada por métodos tradicionais (APHA, AWWA e WEF,
2012), a partir de 10 g de amostra de solo, transferidos para
frascos contendo 100 mL de solução salina 0,85% e após
agitação de 150 rpm, durante 30 minutos, alíquotas de 10 mL
da suspensão foram transferidas para tubos de ensaio
contendo caldo Asparagina. Após incubação por 24-48h à
30ºC, a turvação do meio e produção de fluorescência sob luz
ultravioleta à λ= 360±20nm (CRS, modelo DL-01) foram
consideradas positivas para o ensaio presuntivo de
Pseudomonas sp. Após, duas alçadas dos tubos positivos
foram transferidas para novos tubos contendo caldo

822
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
Acetamida, sendo incubados à 30ºC por 24-48h até
verificação da alteração da coloração do meio de vermelho-
alaranjado claro para fúcsia. A confirmação de P. aeruginosa
também foi realizada com ágar cetrimida (incubação à 30ºC
por 48h) e provas bioquímicas com o kit Bactray® III (Laborclin,
Pinhais, Brasil).
A adaptação das linhagens a concentrações crescentes
do óleo lubrificante foi realizada de segundo Palittapongarnpim
et al. (1998), por meio de incubação em meio Mineral Mínimo
(MM), de composição: K2HPO4 (0,5g/L); (NH4)2SO4 (0,5 g/L);
MgSO4 (0,5 g/L), FeCl2 (10 mg/L); CaCl2 (10 mg/L); MnCl2
(0,1 mg/L) e ZnSO4 (0,01 mg/L), pH 7,2±0,2, suplementado
com 0,1g de extrato de levedura e uma gota de solução de
complexo de vitamina B (Roche, São Paulo, Brasil).

2.5 Ensaios de degradação

O ensaio foi realizado durante 30 dias 29±1°C em


duplicata, em reatores transparentes de polietileno, com
capacidade para 500 mL, preenchidos com 200 g de solo
estéril, adicionado com óleo lubrificante na razão 1:40 de
óleo:solo.
O pré-inóculo foi confeccionado em caldo Nutriente, a
partir de cultura recente (incubação 29±1°C por 24h e 150
rpm) segundo Vasconcelos et al. (2011). Foram testadas 2
condições: 1 – bioaumento com P. aeruginosa, utilizando o
volume de suspensão preparada a partir do pré-inóculo,
correspondente a aproximadamente 107 UFC/mL; e 2 –
bioaumento associado ao bioestímulo, com a suplementação
do solo com 1,25 g/Kg de torta de algodão. O volume da
suspensão empregada no bioaumento foi equivalente a 5% da

823
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
massa de solo adicionada no reator (PALITTAPONGARNPIM
et al., 1998). Um reator controle para determinação das perdas
abióticas foi confeccionado, utilizando solo esterilizado com
solução de nitrato de prata a 10% (m/v) (VASCONCELOS et
al., 2011).
O bioprocesso foi monitorado com determinações de
umidade, pH, temperatura da sala de incubação (incoterm,
7663.02.0.00), anotados diariamente às 10 e 17 h e
comparados aos dados oficiais publicados na página
eletrônica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

2.6 Quantificação microbiana

A determinação da densidade microbiana foi realizada


pela técnica do Pour plate (GENHARTDT et al., 1994),
empregando agar nutriente adicionado com 50 ppm de
nistatina. Nos reatores, a densidade microbiana foi
determinada nos tempos 0, 7, 15, 30, 45 e 60 dias. Os
resultados foram expressos em Unidades Formadoras de
Colônia por grama de solo (UFC/g), baseando-se na Instrução
Normativa n° 62 do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (BRASIL, 2003).

2.7 Ensaios de fitotoxicidade

A toxicidade dos hidrocarbonetos sobre a germinação


da semente e o crescimento da radícula foi conhecida por
meio da determinação do Índice de Germinação (IG) das
sementes (CAVALCANTI et al, 2016). Foram utilizadas três
plantas: Artemisia dracunculus, Brassica nigra e Cucumis
anguria.

824
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
Foram confeccionados extratos do solo, 10 g de
amostra em 90 mL de água destilada. A mistura foi agitada e
filtrada. Após, de 5-8 mL do filtrado foi transferido para placas
de Petri, embebendo suavemente o papel filtro n° 1 disposto
na placa (Whatman, 90 mm de diâmetro), contendo dez
sementes, distribuídas sobre a superfície. Para cada planta
foram confeccionadas três placas. O controle foi realizado com
água destilada, substituindo o extrato de solo. A incubação
ocorreu à 22 ±1°C, em ausência de luz, por 5 dias (Solab, SL-
200) e após o período, as sementes germinadas foram
contadas e o tamanho das raízes mensurados com auxílio de
um paquímetro. O IG das sementes foi calculado:
IG= [(S1xR1) / (S2xR2)] x 100 (Eq. 4)
Em que fez-se a relação entre o número de sementes
germinadas no extrato de solo (S1) e do controle (S2) e média
do comprimento da raiz no extrato de solo (R2) e do controle
(R2). O grau de toxicidade foi classificado segundo Anastasi et
al. (2009) em alto (IG<50%), moderado (IG entre 50-80%) e
nulo (IG >80%).
O teste foi realizado antes e após os tratamentos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os ensaios de caracterização do solo estão


sumarizados na Tab. (3). O pH determinado identificou um
solo alcalino. Geralmente, solos de regiões próximas a
mangues apresentam variações de pH entre 6,5 e 7,7.
Entretanto, quando a região de mangue se encontra próxima
às zonas urbanas, a tendência do pH desses solos é
aumentar, em virtude, principalmente, da água estar

825
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
contaminada por poluentes domésticos (SUÁREZ-ABELENDA
et al., 2014).
A CRA obtida foi típica de solos arenosos, em razão de
sua textura, bem como do conteúdo de matéria orgânica no
local (FISCHER et al., 2013). Conhecida a CRA, os ensaios de
biorremediação puderam ser conduzidos com um teor de
umidade estimado entre 24,5 e 28,6%, correspondente à faixa
de 60-70% do valor da CRA (VASCONCELOS; DE FRANÇA;
OLIVEIRA, 2011).
A maior faixa de hidrocarbonetos presente foi do óleo
lubrificante, justificado pela natureza do principal contaminante
da região, combustível das embarcações típicas na região à
época da coleta. Em contraste, a soma dos 16 HPA prioritários
revelou uma concentração menor que 1 mg/Kg, valor de
referência estabelecido destes compostos para solos naturais
(NEDERLAND, 2006)

Tabela 3. Características do solo


Propriedade ou analito Solo1 Referência
pH em água 7,9±0,1 EMBRAPA (1979)
CRA (%) 49,9±0,1 Vasconcelos et al
(2011)
Umidade (%) 16,1±0,1 EMBRAPA (1979)
N total (mg.Kg-1) 2.365,0 USEPA 315.2
Percentual de sólidos 87,3
TPH (mg.Kg-1) USEPA 8015B
Faixa gasolina < 229
Faixa querosene < 229
Faixa diesel < 229
Óleo lubrificante 11.543
TPH total (mg.Kg-1) 11.664
16 HPA (mg.Kg-1)* 0,77 USEPA 8270C
826
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
Naftaleno (mg.Kg-1) 0,60
Fenantreno (mg.Kg-1) 0,03
Pireno (mg.Kg-1) < 0,01
CRA – capacidade de retenção de água; TPH – hidrocarbonetos totais do
petróleo; HPA – hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

Os HPA detectados acima do limite foram naftaleno e


fenantreno. O primeiro, em maior concentração (0,60 mg/Kg),
se justifica pela natureza da fonte de hidrocarbonetos,
contaminante no local, óleos combustíveis de embarcações.
Por outro lado, o fenantreno se caracteriza como um dos HPA
mais prevalentes em estudos de áreas contaminadas por óleo
e derivados, especialmente por ser considerado um composto
persistente (GAN; LAU; NG, 2009).
Os ensaios de remoção do TPH mostraram uma taxa
de degradação desejável para um período de 30 dias e os
resultados estão apresentados na Tab (4).

Tabela 4. Percentual de remoção dos hidrocarbonetos totais


do petróleo em 30 dias (perdas abióticas ≈10%)
Taxa de remoção
Condições
Linhagens (mg/Kg/d)
BA BA+BE BA BA+BE
TGC01 22,1±0,1% 34,6±0,1% 129 201
ATCC 27853 29,6±0,3% 32,5±0,3% 173 190
BA – bioaumento; BE – bioestímulo com a torta de algodão

Descontadas as perdas abióticas, os melhores


resultados foram observados nos reatores onde ocorreu a
associação do bioaumento com a suplementação da torta de
algodão, observando-se uma sutil vantagem para a linhagem
827
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
selvagem TGC01, comparada à linhagem padrão ATCC
27853. Em contrapartida, nos reatores em que apenas o
bioaumento foi testado, a linhagem padrão apresentou o
melhor percentual de remoção do óleo, aproximadamente 10%
a mais do observado com a linhagem TGC01.
De modo geral, os menores percentuais alcançados em
30 dias de experimento, ocorreram nos reatores com a apenas
a condição de bioaumento testada. Isto é indicativo de um
período maior de adaptação da linhagem adicionada,
possivelmente por não encontrar inicialmente com fontes de
carbono de fácil assimilação, culminando no atraso da
remoção do TPH e refletindo nos valores das taxas de
degradação diária determinados, aproximadamente 129 e 173
mg/kg/d, para TGC01 e ATCC 27852, respectivamente. Por
outro lado, nos reatores cujo solos foram suplementados com
a torta de algodão, a presença do cossubstrato incrementou a
taxa de degradação diária do TPH em até uma vez e meia,
201 e 190 mg/kg/d, respectivamente.
Partindo destes resultados pôde-se sugerir que a
suplementação com a torta de algodão favoreceu a
degradação do TPH pelas linhagens de P. aeruginosa no solo,
confirmado quando a linhagem padrão foi estimulada com
mesmo teor de torta, obtendo-se uma remoção de 31,1±0,3%
após 30 dias de processo, dado não apresentado na Tab. (4).
A eficácia de resíduos agropastoris na remoção de
hidrocarbonetos do petróleo em solo já foi comprovada por
diversos estudos. Molina-Barahona et al. (2004) observaram
uma degradação de aproximadamente 30% de óleo diesel
(concentração inicial 40 g/Kg), nos solos suplementados com
3% de palha de milho ou com 2% de bagaço de cana-de-
açúcar, sob umidade entre 20 e 30%, porém num tempo

828
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
maior, 109 dias. A torta de algodão neste ensaio piloto foi
suplementada na concentração de 0,25%, obtendo-se um
percentual de remoção similar, em menor tempo e com menos
adição de cossubstrato, inferindo na vantagem da diminuição
de possíveis impactos ao solo ao introduzir mais um elemento
no processo.
Por outro lado, Lee et al. (2008), em 30 dias, obtiveram
cerca de 13% na degradação de hidrocarbonetos do petróleo
quando suplementaram o solo com serragem e feno, sendo
atribuído ao baixo teor de umidade dos cossubstratos o
principal fator para uma remoção lenta dos contaminantes.
Em outro estudo, os autores atingiram uma média de
32% no percentual de remoção de resíduo de óleo lubrificante
em solo, após 30 dias de bioprocesso ao utilizarem uma
solução de sais para estimular a biota do solo (LEE et al.,
2007). Neste contexto, o resultado obtido com a torta de
algodão demonstrou claramente que a utilização deste
coproduto se apresentou como uma boa alternativa,
particularmente em função do baixo custo, em processos de
biorremediação de solos contaminados por óleo de natureza
similar, possibilitando aplicação nobre a este resíduo agrícola.
Ao utilizarem os resíduos como fontes melhor
assimiláveis, os micro-organismos utilizam estratégias que
evolvem cometabolismo para assimilar o óleo. Vasconcelos,
Oliveira e de França (2013) observaram que o uso de
pequenos volumes de glicerol bruto permitiu uma redução de
aproximadamente 70% de dezesseis HPA após 60 dias,
apoiando um estudo anterior, pelo qual foi revelada uma
degradação preferencial por HPA de alta massa molecular
quando outra fonte de carbono de melhor assimilação estava

829
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
presente (VASCONCELOS; DE FRANÇA e OLIVEIRA et al.,
2011).
Partindo deste princípio, a adição de pequenas
quantidades de cossubstratos ao solo contaminado pode
contribuir para o aumento da velocidade de biodegradação de
compostos persistentes e recalcitrantes, sem causar efeitos
adversos significativos, particularmente relacionados às
impurezas presentes. Diferentes classes de moléculas podem
ser utilizadas com este propósito, dentre elas, ressalta-se o
potencial dos subprodutos de processos industriais do setor
agroindustrial, em função da grande disponibilidade e oferta,
das propriedades osmorreguladoras de alguns deles ou por
servirem de fontes preferenciais de carbono para síntese de
moléculas importantes ao processo, tema recente e ainda
pouco explorado (VASCONCELOS, OLIVEIRA e FRANÇA,
2013; NASCIMENTO, OLIVEIRA e FRANÇA, 2013).
A curva de densidade microbiana apresentou um
comportamento semelhante nas duas linhagens testadas,
como apresentada na Fig. (1).
Nos primeiros 7 dias, o estímulo com a torta de algodão
promoveu um aumento de 100 e 10 vezes da população das
linhagens P. aeruginosa TGC01 e ATCC 27852,
respectivamente. Por outro lado, na ausência do cossubstrato,
a concentração celular foi 10 vezes menor. Este resultado
contribui para o entendimento das diferenças de percentual de
redução do TPH, sugestivo da dilatação da fase lag.
Todavia, a P. aeruginosa é uma bactéria cuja resiliência
e habilidade em se manter em ambientes hostis podem
compensar o prolongamento da fase de adaptação, mantendo
as concentrações celulares em níveis que permitem sua
permanência e o processo de remoção do óleo continuar.

830
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
Ressalta-se que o tempo avaliado foi de 30 dias e por
isto, observou-se melhor o retardamento na fase inicial do
processo.
A característica resiliente da P. aeruginosa foi
testemunhada ao longo dos dias de monitoramento dos
reatores. A densidade microbiana a partir da segunda semana
tendeu a retornar aos valores iniciais, fato este já observado
na literatura, indicativo dos fenômenos de esgotamento de
nutrientes e/ou produção de metabólitos tóxicos
(BALLAMINUT e MATHEUS, 2007).

Figura 1. Quantificação (UFC/g) de Pseudomonas


aerugionosa ATCC 27852 (acima) e TGC01 (abaixo) no solo
nas condições de bioumento (cinza escuro) e bioaumento
associado ao bioestímulo com a torta de algodão (cinza claro)

831
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA

Fonte: autoria própria

O valor médio da temperatura e da umidade relativa do


ar durante os experimentos foi, respectivamente de 26±1°C e
80,4±10 g/m3, considerados ideais para biorremediação de
solos contaminados por óleo, nas condições de mesofilia. O
pH em todos os reatores foi reduzido de 7,9±0,3 para uma
média de 5,9±0,1, os quais em concordância aos resultados
descritos, indicam uma microbiota metabolicamente ativa
formando produtos ácidos.
Nos ensaios de fitotoxicidade nos reatores antes e após
a biorremediação, Tab. (5), verificou-se que houve redução da
toxicidade em A. dracunculus e B. nigra quando cerca de 30%
do TPH foi removido. Adicionalmente, após 30 dias de
bioprocesso, os hidrocarbonetos remanescentes no solo não
foram tóxicos para A. dracunculus, e o status de moderada
deveu-se possivelmente ao aumento da fase lag.

832
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
Tabela 5. Índice de germinação (%) das sementes antes e
após a biorremediação com P. aeruginosa TGC01
Condições nos reatores e tempo (dias)
Plantas BA + BE BA
Dia 1 Dia 30 Dia 1 Dia 30
A. dracunculus 68,2±0,2% 164,3±0,2% 68,2±0,2% 65,7±0,2%
B. nigra 58,3±0,1% 74,7±0,1% 58,3±0,1% 163,8±0,1%
C. anguria 21,6±0,8% 37,6±0,8% 21,6±0,8% 34,8±0,8%
Classificação da fitoxicidade (ANASTASI et al., 2009): alta (0-50%),
moderada (50-80%) e nula (>80%)
BA – bioaumento, BE – bioestímulo com a torta de algodão

B. nigra indicou que a toxidade do contaminante foi


eliminada nas duas condições testadas no mesmo período,
especialmente no reator representando o bioaumento.
Baseado no fato que um mês é considerado pouco tempo em
termos de biorremediação, C. anguria, pode ter sido o
resultado mais importante. A planta já foi apontada em um
estudo prévio, como a melhor indicadora (VASCONCELOS;
OLIVEIRA e DE FRANÇA, 2010). Ressalta-se que ao final,
mesmo a toxicidade estando alta, os IG ficaram mais próximos
de 50%. Embora 30 dias de processo sejam considerados
insuficientes para um tratamento (TIQUIA et al., 1996), os
resultados desse estudo notadamente exibiram o potencial da
bactéria, permitindo que ajustes sejam realizados para
estudos futuros de biorremediação de solos empregando
cossubstratos. Este trabalho foi realizado com financiamento
do CNPq.

833
BIODEGRADAÇÃO DE HIDROCARBONETOS DO PETRÓLEO: UMA
COMPARAÇÃO ENTRE LINHAGENS DE PSEUDOMONAS AERUGINOSA
4 CONCLUSÕES

Independente de sua origem, pseudomonadas são


excelentes escolhas em processos de remoção do TPH em
solo. A melhor estratégia funciona quando a torta de algodão é
empregada em associação ao bioaumento, por estimular a
produção de biomassa, servindo de cossubstrato durante a
assimilação dos hidrocarbonetos mais recalcitrantes.

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837
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
CAPÍTULO 43

O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE


REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
Joseanne Daniele Cezar RIBEIRO1
José de Anchieta de Oliveira FILHO2
Maria Luiza Costa LIMA2
Renata Lira de ASSIS2
Enéas Ricardo de Morais GOMES3
1
Pós-Graduanda, mestrado, do curso de Biotecnologia, UFPB; 2Graduando(a) do curso de
Biotecnologia, UFPB;3 Orientador/Professor do Centro de Biotecnologia, UFPB.
joseannedaniele@gmail.com

RESUMO: As doenças cardiovasculares correspondem


a principal causa de mortes no mundo, afetando mais de 38
milhões de pessoas. Mesmo havendo estudos para reduzir os
impactos desses problemas, alguns mecanismos como a
regeneração cardíaca durante muito tempo não foram bem
compreendidos devido ao entendimento de que os
cardiomiócitos, células funcionais do coração, não possuíam
capacidade de proliferação. Entretanto, com o passar do
tempo, alguns trabalhos verificaram a capacidade regenerativa
do coração em peixes zebra e em ratos neonatos após a
indução do infarto do miocárdio, fazendo com que os estudos
nessa área aumentassem. Dessa forma, o principal objetivo do
nosso trabalho é reunir informações acerca da regeneração
cardíaca mostrando sua importância e destacando esse
processo como mecanismo de reparo por meio da proliferação
de novos cardiomiócitos após a lesão, levando a futuras
aplicações na saúde. Ressaltamos o valor econômico e social
838
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
deste trabalho, pois, através da revisão bibliográfica,
apresentamos uma abordagem geral sobre o coração e suas
principais lesões, justificando a importância dos estudos sobre
a regeneração cardíaca e a necessidade de agrupar esses
conhecimentos, além de elencar os principais achados do
envolvimento da proliferação celular nesse processo,
principalmente das suas vias de estímulo ou inibição, atuando
como alvo para o desenvolvimento de novas terapias,
auxiliando no controle de um problema de saúde pública,
como é o caso das doenças cardiovasculares.
Palavras-chave: Cardiomiócito. Proliferação. Regeneração.

1 INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares representam um grande


problema de saúde pública, pois são as principais
responsáveis por mortes no mundo, afetando mais de 38
milhões de pessoas (GO et al., 2013; PAGIDIPATI; GAZIANO,
2013; CAHILL; CHOUDHURY; RILEY, 2017).
É importante observar que as doenças cardíacas
isquêmicas, como o infarto do miocárdio (IM), doença arterial
coronária isquêmica, doença cardíaca valvular estrutural,
hipertensão sistêmica, e cardiomiopatia dilatada são as
etiologias mais habituais da doença cardiovascular, e que
apesar do investimento em programas de tratamento, a taxa
de mortalidade continua alta para esses pacientes. A morte
acontece com a piora da insuficiência cardíaca congestiva, por
exemplo, ou devido à morte súbita por arritmias ventriculares
(HESSE; WELZ; FLEISCHMANN, 2017). Além das
cardiopatias isquêmicas, várias cardiopatias não-isquêmicas
comumente envolvem grande perda de músculo cardíaco e

839
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
são causas primárias da insuficiência cardíaca, que se
caracteriza por débito cardíaco insuficiente e risco aumentado
de morte prematura por arritmia ou insuficiência contrátil
(JHUND; MCMURRAY, 2016).
Entendendo o coração como alvo decisivo da doença
cardiovascular, é necessário considerar que as principais
células que mantêm sua função são os cardiomiócitos, e em
caso de perda dessas células o funcionamento desse sistema
pode ser alterado (ROBERTSON; TRAN; GEORGE, 2013).
Uma das possibilidades referentes à recuperação dos
cardiomiócitos perdidos baseia-se no conceito da regeneração
cardíaca que passou por muitas mudanças e quebra de
padrões ao longo do tempo, e vem sendo motivo de
especulações por vários cientistas desde o século XIX.
Goldenberg em 1886, como citado por Raso e Dirkx (2017), foi
o primeiro a trazer à tona a participação da hipertrofia
muscular como um fator de crescimento do coração, no lugar
da divisão de cardiomiócitos. Entretanto,Cahill, Choudhury e
Riley (2017) apresentam o estudo de Porello em 2011 como
um grande transformador das ideias anteriores, quando após a
ressecção do ápice do coração ou da indução do infarto do
miocárdio pela ligação cirúrgica da artéria coronária de ratos
neonatos de até 7 dias de nascidos, ocorreu a regeneração
em um período de 21 dias, e a partir daí estudos começaram a
investigar a possibilidade dessa janela de regeneração
também em humanos.
As evidências quanto à renovação celular cardíaca em
humanos e outros mamíferos começaram a aumentar no
decorrer dos anos, e ratificaram o envolvimento da
proliferação de cardiomiócitos principalmente nas lesões

840
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
cardíacas, com pico percentual em regiões perilesionais
(PONNUSAMY; LI; WANG, 2017).
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho é reunir
informações acerca da realidade da regeneração cardíaca e a
importância desse conhecimento no contexto atual, sobretudo
diante dos índices de doenças que envolvem a dinâmica do
coração. O estudo sobre esse tema leva a futuras aplicações
na saúde, e o presente artigo estimula essa projeção,
coletando informações pertinentes a respeito da proliferação
de cardiomiócitos como um mecanismo para a regeneração
cardíaca.

3 MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica dos


dados mais atuais e pertinentes presentes na literatura acerca
do tema proposto.
Para o desenvolvimento deste trabalho, foram definidos
alguns critérios de inclusão em torno dos artigos utilizados,
onde as publicações deveriam compreender o período de
2012 a 2017 e apresentarem em seu resumo conteúdo
congruente com o tema base pesquisado.
Utilizamos para nossa busca inicial dos artigos algumas
palavras ou termos-chave como: Regeneração cardíaca,
histórico da regeneração cardíaca, proliferação de
cardiomiócitos, cardiomiócitos neonatais, doenças
cardiovasculares, fisiologia do coração, mecanismos da
regeneração cardíaca, morfofisiologia do cardiomiócito. E
diante dessa primeira busca encontramos um número inicial
de 170 artigos.

841
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
Após a leitura inicial dos trabalhos, houve necessidade
de estabelecer como critério de exclusão aqueles que
apresentassem caráter científico mal estabelecido ou uma
metodologia mal construída. E com isso, finalizamos nossa
seleção com o número de 41 artigos e livros.
As buscas dos artigos foram realizadas nas bases de
dados Google Acadêmico, Scielo, LILACS, BVS e Pubmed.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 A dinâmica do coração


Nos humanos, o sistema circulatório é o primeiro
sistema funcionalmente ativo durante o desenvolvimento
embrionário e possui intensa participação na modulação da
homeostase já após o nascimento, assim, é evidente sua
importância para o organismo (MOORE; PERSAUD;
TORCHIA, 2012). É responsável por transportar e distribuir
substâncias essenciais, remover produtos do metabolismo dos
tecidos, carrear células de defesa, veicular mensageiros
endócrinos, controlar temperatura, pH, osmolaridade, dentre
outras funções que mantêm a homeostase do sistema. Para
desempenhar suas funções adequadamente, é constituído,
basicamente, de uma bomba (coração), vasos de distribuição
(artérias), vasos de retorno (veias), e vasos finos (capilares),
responsáveis por trocas rápidas entre os tecidos e a
vasculatura (LACCHINI; IRIGOYEN, 2012).
Suprir a necessidade de compostos vitais para as
células, como o oxigênio (O2), é essencial, e isso ocorre
graças ao fluxo contínuo e ordenado de sangue pelos tecidos.
O componente responsável por gerar a força hidrostática no
sistemaé o coração, além de modular pressão arterial, liberar

842
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
hormônios, como peptídeo atrial natriurético, auxiliar na
regulação do nível volêmico, dentre outras função cruciais
(LEMIEUX et al., 2016). A falha no funcionamento desse órgão
compromete todo o sistema e demais tecidos do organismo,
levando ao processo de infarto, necrose e apoptose, causando
assim alterações irreversíveis (KUMAR; ABBAS; ASTER,
2013).
Em relação a sua estrutura, o coração possui um
formato mais ou menos de cone, com a base sendo
constituída pelos atrios direito e esquerdo, e com a região do
ápice levemente deslocado para esquerda, constituído por
ventrículos direito e esquerdo. Essas câmaras de
bombeamento movem o sangue de forma sequencial da
circulação pulmonar para circulação sistêmica, Figura (1a).

Figura 1. Apresentação estrutural do coração e sua unidade


celular funcional (cardiomiócito).

843
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
Fonte: (a) Diagram of the human heart - site Wikimedia Commons, 2016;
(b) Histologia do miocárdio – site Núcleo de estudo do coração, 2012; (c)
Anatomia fibra muscular esquelética – site Curiosoando, 2016.

Formado, principalmente, por fibrócitos e células


musculares estriadas cardíacas (cardiomiócitos), Fig. (1b), o
coração apresenta variação na densidade de células
contráteis, de acordo com a câmara cardíaca. Os átrios, direito
e esquerdo, exercem baixa pressão, e possuem parede fina.
Já os ventrículos são responsáveis por exercerem elevada
pressão, para impulsionar o sangue, demonstram paredes
robustas, sendo o esquerdo mais espesso em relação ao
direito, pois é ele o responsável por direcionar o fluxo para
circulação sistêmica. Os quatro compartimentos mencionados
são separados por válvas, duas entre os átrios e os
ventrículos, denominadas atrioventriculares, e duas na saída
dos ventrículos, denominadas pulmonar e aórtica. Elas alteram
seu estado, aberto-fechado, durante a contração (sístole) e
relaxamento (diástole) no ciclo cardíaco normal, Figura (1a)
(LACCHINI; IRIGOYEN, 2012; ANDERSON et al., 2013).
O bombeamento exercido pelo coração é consequência
de uma série de mudanças de pressão no interior das
câmaras cardíacas. O sangue não oxigenado, vindo das veias
cavas inferior e superior, chega ao átrio direito e segue para o
ventrículo direito, sendo, depois, direcionado para os pulmões
pela artéria pulmonar. Após a troca de gases, o sangue
oxigenado, transportado pelas veias pulmonares, retorna ao
coração alcançando o átrio esquerdo. Em seguida,
impulsionado pela sístole do átrio esquerdo, o sangue flui para
o ventrículo esquerdo,de onde segue para a circulação
sistêmica (MILL; VASQUEZ, 2012).

844
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
A contratilidade cardíaca é gerada de forma autônoma
por um grupo de células que não necessitam de estímulo
externo para gerar sinais elétricos. Esse automatismo
caracteriza as células que formam o nódulo sinoatrial (NSA),
nódulo atrioventricular (NAV) e as fibras de Purkinje. Além da
atividade intrínseca de contração, fatores hormonais e
nervosos modulam a atividade do coração (NASCIMENTO et
al., 2012). Esses fatores em conjunto são responsáveis por
coordenar o volume que o ventrículo injeta na circulação em
determinado tempo, débito cardíaco, frequência cardíaca,
força e intensidade de contração, todos com influência
evidente no sistema, tanto em estado fisiológico como
patológico (MILL; VASQUEZ, 2012; ARMSTRONG; ROCCO,
2014).

3.2 O cardiomiócito como unidade funcional


contrátil do coração

O cardiomiócito, Figura (1b), é uma célula muscular


estriada ramificada e com núcleo central. Mede 10 a 20 µm de
diâmetro e aproximadamente 100 µm de comprimento. A sua
membrana é composta por lipoproteínas, sendo sua parte
externa constituída por mucopolissacarídeos. Na parte interna
dos miócitos cardíacos, alguns elementos são bastante
importantes como o sistema transverso que penetra e percorre
as células de modo transversal, o retículo sarcoplasmático
(RS) que contribui concentrando em seu interior o Ca2+
(liberado para a contração e armazenado para o relaxamento),
a mitocôndria com função de gerar energia na forma de ATP e
auxiliar na redução do Ca2+ do mioplasma, e todas as
estruturas da maquinaria para a contração que são

845
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
organizadas formando a unidade contrátil básica do músculo
cardíaco, o sarcômero (VASSALLO; OLIVEIRA; STEFANON,
2012).
O sarcômero, Figura (1c), é delimitado por duas linhas
Z (onde são localizados os túbulos T), possui a banda I em
que tem apenas filamentos finos, contém a banda A que é
composta por filamentos grossos e finos e também a banda H,
localizada na região central da banda A, constituída só por
filamentos grossos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

3.2.1 Acoplamento Excitação-contração cardíaco


De acordo com Eisner et al. (2017) para que haja a
contração é necessária uma mudança da concentração de
cálcio intracelular ([Ca2+]ii), de maneira que esse íon deve
estar em maior quantidade durante a sístole e em menor na
diástole. Para isso, há a excitação elétrica da membrana do
cardiomiócito por um potencial de ação. Com a despolarização
da membrana, os canais de Ca2+ tipo L da membrana e dos
túbulos transversos (Túbulos T) são abertos promovendo a
entrada de alguns íons Ca2+. Isso provoca o aumento da [Ca2+]
na região entre o canal de Ca2+ tipo L e os receptores de
rianodina (RYRs) localizados no retículo sarcoplasmático (RS),
de modo que quando esses receptores são sensibilizados por
Ca2+ há liberação desse íon pelo RS, processo conhecido por
liberação de cálcio induzida por cálcio. Dessa forma, como dito
por Robinson, Griffiths, Watkins, Redwood em 2007 e citado
por Eisner et al. (2017), esse Ca2+, liberado em maior
quantidade, participará da contração, pois esse íon liga-se à
troponina permitindo que haja o deslizamento entre filamentos
finos e grossos - actina e miosina respectivamente.

846
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
Para que ocorra o relaxamento, deve-se, portanto,
retirar o Ca2+ do meio intracelular através da captura do Ca2+
para o RS pela SERCA (SR Ca-ATPase). Um importante
mediador da mesma é uma proteína de membrana do RS,
designada fosfolambana ou fosfolambam (PLB), essa proteína
quando desfosforilada inibe a SERCA, no entanto, na
presença de maiores níveis de AMPc no citosol do miócito há
ativação da proteína quinase A (PKA) que fosforila a PLB
promovendo a inibição dessa proteína e consequentemente
ativando a SERCA. Além disso, há remoção de Ca2+ para o
meio extracelular por meio do trocador de Na +- Ca2+ (NCX)
que possui a estequiometria de 3Na:2Ca, desse modo, o
gradiente gerado pela entrada de 3 íons Na+ é utilizado para
promover a saída de 2 íons de Ca2+; e para manter o gradiente
de Na+ a bomba de sódio (Na+/K+ -ATPase) age garantindo
que o cardiomiócito permaneça hiperpolarizado
(ARMSTRONG; ROCCO, 2014).
Ademais, ainda contribuindo para a redução da [Ca2+]i
háa Ca2+- ATPase da membrana plasmática (PMCA), que age
bombeando Ca2+ do citosol para o meio extracelular e a
mitocôndria que bombeia Ca2+ para seu interior (VASSALLO;
OLIVEIRA; STEFANON, 2012).

3.3 Doenças cardiovasculares: Um problema de


saúde pública

A Organização Pan-Americana da Saúde junto à


Organização Mundial de Saúde evidenciam uma situação
alarmante em relação às doenças cardiovasculares. Dados
atualizados em 2016 mostram que as mortes por doenças
cardiovasculares representam 31% de todas as mortes em

847
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
nível global. Quando tratamos de óbitos de pessoas com
menos de 70 anos, por doenças crônicas não transmissíveis, o
número é de 16 milhões de mortes, 82% desse valor encontra-
se em países de baixa e média renda e 37% são causados por
doenças cardiovasculares.
As doenças cardiovasculares acontecem devido à
qualquer alteração, congênita ou adquirida, no mecanismo do
coração, ou de qualquer parte do sistema circulatório, e
quanto à sua patologia podem se classificar segundo Bogliolo
e Brasileiro (2016), como no Quadro (1).

Quadro 1. Classificação das patologias cardíacas.


Patologias do Coração
a) Cardiopatias congênitas
Atrial (Comunicações
interatriais)
Ventricular
Defeitos septais
(Comunicações
interventriculares)
Atrioventricular
Persistência do canal arterial
Anomalias com Coarctação da aorta
conexão normal Tetralogia de Fallot
de câmaras
Conexão anômala das veias
entre si ou com
pulmonares
grandes artérias
Anomalias das artérias
coronárias
Anomalias das valvas Valva tricúspide
atrioventriculares Valva mitral
Anomalias das valvas
arteriais
Cor triatriatum

848
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
Transposição das grandes Transposição completa
artérias Transposição corrigida
Dupla via de saída
Anomalias com ventricular
conexão Tronco arterial comum
anormal de
Atresia aórtica
câmaras entre
Atresia pulmonar com septo
si ou com
ventricular íntegro
grandes artérias
Atresia tricúspide
Dupla via de entrada
ventricular
Isomerismo Isomerismo atrial direito
atrial Isomerismo atrial esquerdo
Anomalias de
posição
b) Cardiopatias adquiridas
Adaptações Alterações ligadas à idade
cardíacas à
sobrecarga e ao Insuficiência Cardíaca
envelhecimento Congestiva
Angina pectoris
Doença Infarto do miocárdio
isquêmica do Morte súbita
coração Isquemia crônica do
miocárdio
Cardiomiopatia dilatada
Cardiomiopatia hipertrófica
Cardiomiopatias Cardiomiopatia restritiva
Cardiomiopatia arritmogênica
do ventrículo direito
Miocardite por vírus
Miocardite por bactérias
Miocardites
Miocardite por riquétsias
Miocardite por fungos

849
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
Miocardite por protozoários
Miocardite por helmintos
Miocardite por
hipersensibilidade
Miocardite nas síndromes
imunológicas
Miocardite de causa
desconhecida
Cor pulmonale
Cardiopatia
hipertensiva
Cardiopatia reumática
Valvopatias adquiridas não
reumáticas
Valvopatias associadas a
Valvopatias doenças do tecido conjuntivo
Arterites
Endocardite infecciosa
Endocardite trombótica não
infecciosa
Fibrinosa ou
serofibrinosa
Fibrinopurulenta ou
purulenta
Hemorrágica
Doenças do Pericardites
Granulomatosa
pericárdio
Constritiva
Pós-infarto do
miocárdio e Síndrome
de Dessler
Neoplasias
Fonte: BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO, G. F. Patologia. 9ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

850
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
Algumas das doenças cardiovasculares afetam
diretamente o músculo cardíaco como as doenças isquêmicas,
as cardiomiopatias e as miocardites. As doenças isquêmicas
do coração são as principais causas de morte no Brasil e no
mundo (GAUI; OLIVEIRA; KLEIN, 2014). Elas se instalam
quando o fluxo de sangue é insuficiente para suprir as
necessidades, principalmente de O2, das células do coração
resultando em uma falha nas funções das células do coração,
principalmente as contráteis, acarretando prejuízos para o
órgão. Na maioria dos casos, a falta de suprimento sanguíneo
é ocasionada por obstrução das coronárias, que pode ser de
diferentes origens, como arteriosclerose, trombos,
vasospasmo, dentre outros. A isquemia do miocárdio é
responsável por diversos casos clínicos, como: angina pectoris
estável, infarto do miocárdio e doenças isquêmicas do coração
(MOORE; ABBAS; ASTER, 2013; WILDER; TINE; LILLY,
2016).
Cardiomiopatias são doenças que afetam o músculo do
coração resultando em alguma disfunção mecânica e/ou
elétrica no miocárdio (MOORE; ABBAS; ASTER, 2013). Elas
podem ser classificadas em três tipos principais de acordo
com sua fisiologia anormal, são elas: (1) cardiopatia dilatada,
caracterizada por um aumento na câmara ventricular e
insuficiência na contratilidade; (2) cardiomiopatia hipertrófica,
resultado do espessamento da parede ventricular; e (3)
cardiomiopatia restritiva, caracterizada por diminuição da
complacência ventricular. Todas trazem prejuízo à função
fisiológica do coração (JOHNSON; DEC; LILLY, 2016).
Miocardite é definida pela presença de infiltrado
inflamatório no miocárdio, acarretando em lesão dos
cardiomiócitos, podendo comprometer, parcial ou totalmente, a

851
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
funcionalidade do coração (MOORE; ABBAS; ASTER, 2013).
As causas das miocardites são diversas, mas a etimologia
viral é a mais frequentemente observada (CALDEIRA et al.,
2015). Todas as patologias abordadas se resumem,
basicamente, em lesão, direta ou indireta, nas células
contráteis do coração, assim, comprometendo sua
funcionalidade fisiológica. Então, a regeneração cardíaca vem
trazer grande expectativa terapêutica, utilizando de diversos
mecanismos, os quais serão discutidos adiante (SENYO; LEE;
KÜHN, 2014).

3.4 A descoberta da regeneração cardíaca


Quando tratamos sobre a descoberta da regeneração
cardíaca, precisamos falar que nem sempre foi algo
abertamente discutido, inicialmente falar sobre esse tema
poderia ser considerado um tabu, já que era conhecido que o
coração era um órgão que não poderia se regenerar.
Durante o século XIX, a visão dominante entre os
cardiologistas era que o coração possuía capacidade de
regeneração na fase pós-natal e adulta, graças à associação
entre o aumento do coração, hipertrofia, a um fenômeno de
proliferação de células do órgão, hiperplasia. O consenso foi
desfeito no início do século XX, quando Howard T.
Karsner, Otto Saphir e T. Wingate Todd, pesquisadores da
Case Western Reserve University, Ohio, questionaram se o
aumento de tamanho do coração era graças ao aumento no
número de células ou em seu tamanho. Utilizando microscopia
852
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
óptica para fazer a contagem dos núcleos celulares presentes
nos corações, observaram valores semelhantes entre o órgão
humano hipertrofiado e em seu estado normal. Então,
concluíram que a hipertrofia macroscópica era devido ao
aumento no tamanho das células e não em seu número. Esse
estudo levou a comunidade científica a considerar o coração
como órgão pós-mitótico, visão amplamente aceita até o final
do século (PORRELLO; OLSON, 2014; NOGUEIRA, 2016).
Embora essa visão tenha ganhado força, pesquisadores
continuaram investigando a capacidade mitótica do miocárdio.
Logo em 1937, Edward MacMahon membro da Tufts College
Medical School, Boston, demonstrou em seus estudos que
células mitóticas estavam presentes no coração de crianças
com hipertrofia e miocardite. Já em 1956, Mario Rabelo
realizou estudos na University of Michigan Medical School, no
qual visualizou a presença de mitose em ratos de 4 a 7 dias de
vida, os quais tinham sido submetidos à lesão no miocárdio
(NOGUEIRA, 2016).
Já em 1960, grupos de pesquisa da antiga União Soviética
realizaram estudos pioneiros de regeneração cardíaca em
anfíbios, observando células mitóticas em vertebrados
inferiores. Nesse mesmo período, um estudo utilizando
medições indiretas, como distância entre as bandas Z e
pesagem, concluiu que corações adultos poderiam se

853
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
regenerar. Mesmo que a proliferação de células não tenha
sido evidenciada de forma direta, os resultados foram
fidedignos, pois nos anos seguintes outras evidências vieram
a 854onfirma-los (PORRELLO; OLSON, 2014).
A partir dessa gama de estudos, grande parte da comunidade
acadêmica voltou a considerar a proliferação de miócitos em
coração adulto, porém não houve homogeneidade de ideias
relativas à frequência deste evento e seu significado biológico
em eventos fisiológicos e patológicos (SENYO; LEE; KÜHN,
2014).
Já no século XXI, um estudo realizado no Medical Nobel
Institute, Stockholm, Swenden por Olaf Bergmann e
colaboradores, concluiu que o coração humano é capaz de
auto-regeneração, relatando 1% de cardiomiócitos renovados
anualmente aos 25 anos e uma taxa de renovação de 50% em
toda a vida. A regeneração cardíaca e seu significado
biológico tornaram-se amplamente reconhecidos, assim,
alavancando novos estudos e trazendo perspectivas futuras
otimistas, além de possibilidades terapêuticas (SENYO; LEE;
KÜHN, 2014; NOGUEIRA, 2016).

3.5 Proliferação de cardiomiócitos como mecanismo


da regeneração cardíaca
Os cardiomiócitos são considerados células vitais para
o funcionamento adequado do coração. A incapacidade do
854
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
coração adulto em regenerar em consequência da perda ou
diminuição dessas células cardíacas funcionais, leva ao
surgimento de muitas doenças cardiovasculares como o
infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e consequente
morbidade e mortalidade dos indivíduos. O processo de
regeneração por sua vez, auxilia na recuperação cardíaca
dessas patologias através da restauraçãoda arquitetura do
tecido lesionado por meio de uma sequência de eventos,
incluindo proliferação celular, diferenciação e desdiferenciação
dos cardiomiócitos, além de rearranjos morfogênicos
coordenados (UYGUR; LEE, 2016). Afim de melhor
compreender e tentar reverter essa incapacidade de
proliferação em corações adultos, nas últimas décadas, o
processo de proliferação e regeneração de cardiomiócitos tem
sido um área de pesquisa intensa (YUTZEY, 2017).
No desenvolvimento do coração como órgão funcional,
a proliferação de cardiomiócitos é regulada por várias vias
diferentes. A sinalização de neuregulina/ErbB/ERK é a
principal via proliferativa no coração embrionário. Em seguida,
para o crescimento hiperplásico de cardiomiócitos, a
sinalização BMP e as vias IGF/PI3K são necessárias. Ao
longo do desenvolvimento e após o nascimento, a via
Hippo/Yap é um regulador crítico da proliferação de
cardiomiócitos e do tamanho do órgão. A diferenciação e
especialização precoce dessas células cardíacas são
reguladas por vários fatores de transcrição, incluindo membros
das famílias de genes Nkx, GATA, Mef2, Tbx e HAND
(YUTZEY, 2017).
Os corações embrionários e fetais da maioria dos
vertebrados, incluindo os mamíferos, geralmente apresentam
capacidade regenerativa. Estudos realizados em ratos

855
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
neonatais sugerem que até 7 dias após o nascimento,
qualquer lesão causada no músculo cardíaco será revertido
por um processo de proliferação dos cardiomiócitos e posterior
regeneração da área lesionada, enquanto lesões causadas no
músculo cardíaco em animais que apresentam mais de 7 dias
de vida resultam em não proliferação, formação de tecido
fibroso e posterior tecido cicatricial, Figura (2ª). Nesses casos,
a perda de cardiomiócitos compromete a contratilidade do
miocárdio remanescente, levando à insuficiência cardíaca e
morte quando a extensão da lesão é grave (PORRELLO;
OLSON, 2014). Isso ocorre, pois, após esse período,, os
cardiomiócitos de ratos passam por 1 a 2 rodadas de divisão
celular, tornam-se binucleados, saem do ciclo celular e
passam para um crescimento hipertrófico. Ao mesmo tempo,
as isoformas de proteínas contráteis passam do feto para o
adulto, o mecanismo celular passa de glicolítico para oxidativo,
as células e fatores ativadores do ciclo celular são reprimidos,
assim como as vias de sinalização proliferativa, enquanto os
inibidores do ciclo celular sofrem uma superexpressão
(PUENTE et al., 2014; YUTZEY, 2017).

Figura 2. Processo de proliferação de cardiomiócitos.

856
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR

Fonte: (a) Resposta à injúria nos mamíferos em diferentes períodos; (b)


Capacidade regenerativa em organismos modelos. (UYGUR; LEE, 2016).

Além da capacidade regenerativa dos cardiomiócitos


apresentada pelo ratos neonatos até o sétimo dia de vida,
outras espécies podem regenerar essas células ao longo de
toda sua vida, como é o caso de corações adultos de
vertebrados inferiores, incluindo anfíbios e peixes, Figura (2b).
Os mecanismos de regeneração cardíaca no peixe-zebra
adulto se baseiam na evidência de que os cardiomiócitos
maduros são capazes de desdiferenciar e então voltar a entrar
no ciclo celular e, em seguida, proliferar para auxiliar no
processo de reparo e substituição do miocárdio lesionado
(MATRONE et al., 2017). Nos anos 90 e início dos anos 2000,
vários estudos forneceram evidências de que os
cardiomiócitos de mamíferos adultos seriam capazes de

857
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
proliferar em baixas taxas e iniciar um pequeno processo de
regeneração (YUTZEY, 2017).
Outros estudos realizados, demonstraram que a taxa de
atividade do ciclo celular do cardiomiócito foi maior nos recém-
nascidos e diminuiu para níveis muito baixos, porém
mensuráveis, em adultos. Entretanto, os seres humanos ainda
são capazes de gerar novos cardiomiócitos até os 20 anos de
vida, ou seja, até que o coração tenha atingido o tamanho
adulto, devido a evidências de citocinese de cardiomiócitos até
esse período (YESTER; KÜHN, 2017). Há evidências de que a
manipulação de moléculas de sinalização importantes para a
regulação do desenvolvimento de cardiomiócitos, como as
proteínas da via Yap e Neuregulina, podem superar a parada
do ciclo celular pós-natal e promover a proliferação de
cardiomiócitos adultos (UYGUR; LEE, 2016). A inibição da via
Hippo promove a atividade do ciclo celular de cardiomiócitos
adultos, remodelação do citoesqueleto e cardioproteção após
a lesão (XIN et al., 2013; HEALLEN et al., 2013). A ativação
da sinalização de neuregulina através do ErbB2 ativado,
também promove a proliferação dos cardiomiócitos
diferenciados em ratos adultos (D’UVA et al., 2015). Por outro
lado, a proteína Meis1 promove a saída dos cardiomiócitos
neonatais de ciclo celular, através da ativação de múltiplos
inibidores do ciclo celular. A perda dessa proteína prolonga a
proliferação de cardiomiócitos após o nascimento
(MURALIDHAR; SADEK, 2016).
Apesar da manipulação das proteínas da via Hippo,
reguladores do ciclo celular ou microRNAs promovem a
atividade do ciclo celular de cardiomiócitos adultos. Os
animais que apresentam essa modificação podem apresentar
disfunção cardíaca, hipertrofia patológica e insuficiência

858
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
cardíaca (UYGUR; LEE, 2016). Em contraste, a perda de
Meis1 ou a superexpressão do fator de desenvolvimento
Tbx20 em cardiomiócitos diferenciados adultos leva ao
aumento do número de cardiomiócitos proliferativos, sem
causar hipertrofia ou disfunção cardíaca aparente
(MURALIDHAR; SADEK, 2016; XIANG et al., 2016).

4 CONCLUSÕES

Diante de tudo que foi abordado, faz-se cada vez mais


necessário o estudo de medidas que revertam as
consequências causadas pelas doenças cardiovasculares, que
ao impedirem o bom funcionamento do coração, causam
problemas graves de saúde, muitas vezes irreversíveis. Com
este trabalho, após a avaliação de estudos anteriores, foi visto
que as principais vias responsáveis pela regeneração através
da atividade proliferativa no coração é a sinalização de
neuregulina/EebB/ERK e a via Hippo/Yap, sendo, portanto,
possíveis meios para que se aumente a eficiência da
proliferação de novos cardiomiócitos. Foi verificada, em outros
artigos, a indução da proliferação de cardiomiócitos adultos
pela manipulação de algumas moléculas como as proteínas
Yap e Neuregulina, pela inibição da via hippo, pela perda da
proteína Meis 1 e ainda pela superexpressão do fator de
desenvolvimento TBx20. Ademais, diante da diferença do
potencial regenerativo de vertebrados mais inferiores, como
anfíbios e peixes, em relação aos humanos, novas tecnologias
voltadas para esclarecer essa questão são necessárias, pois
podem complementar a terapêutica utilizada atualmente no
tratamento das doenças cardiovasculares. Verificamos, então,
a importância econômica e social deste trabalho, visto que

859
O CORAÇÃO E SUA CAPACIDADE REGENERATIVA POR MEIO DA
PROLIFERAÇÃO CELULAR
com o entendimento do funcionamento do coração, do
cardiomiócito e principalmente das vias que estimulam ou
inibem a proliferação dessas células, consegue-se aprimorar
os estudos da regeneração cardíaca pela proliferação de
novos cardiomiócitos, atuando assim no controle potencial de
um problema de saúde pública, como é o caso das doenças
cardiovasculares. Incentivamos, portanto, pesquisas que
busquem encontrar novos conhecimentos biotecnológicos
nessa área, e uma solução cada vez mais eficaz para esse
problema.

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863
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV

CAPÍTULO 44

BIOTECNOLOGIA APLICADA A
PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO
DA SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO
HIV
Wilias Greison Silva SANTOS 1
Izannery Izabaux L. da SILVA1
Lucas de Freitas LACERDA 1
Duana Xavier D. RODRIGUES1
Rafael de Almeida TRAVASSOS2
1
Discentes do curso de Biotecnologia da Universidade Federal da Paraíba;
2
Orientador/ Professor do Departamento de Biologia Celular e Molecular da UFPB.
rafaeltravassos@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: Novos casos de pessoas que vivem com o HIV são


relatados diariamente, mesmo com as constantes campanhas
de prevenção sobre a utilização de preservativos. O uso de
antirretrovirais, além de ser oneroso para os países e causar
efeitos colaterais, poderá ser um grande problema para os
estudiosos da área da saúde por conta de linhagens
resistentes. Com isso, é de extrema importância o uso da
biotecnologia para buscar novas terapias gênicas menos
agressivas e isso só têm aumentado nos últimos anos. A
produção de biofármacos, produtos produzidos com o auxílio
da biotecnologia, utilizando principalmente da modificação
genética, se mostrou uma ótima ferramenta a ser explorada.
No Brasil as pesquisas com a soja transgênica desde 2008
tem se mostrado favoráveis ao combate do HIV. Uma parceria
entre a Empresa Recursos Genéticos e Biotecnologia, o
Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) e a
Universidade de Londres, permitiu a ampliação dessa
pesquisa. A soja modificada geneticamente recebe o gene da
864
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
Cianovirina-N, proteína sintetizada pela alga Nostoc
ellipsosporum, funcionando como uma biofábrica. No fim do
processo, foi possível criar um gel preservativo capaz de
prevenir a transmissão do HIV durante relações sexuais. O gel
foi testado na vagina e no reto de fêmeas de Macacos rhesus
mostrando ser positivo para esse combate. Tornando-se um
biofármaco propício ao combate ao HIV.
Palavras-chave: Biotecnologia. Cianovirina-N. HIV.

1 INTRODUÇÃO

HIV é a sigla internacional para vírus da


imunodeficiência humana. É o vírus que pode levar à
síndrome da imunodeficiência adquirida – AIDS - (UNAIDS
BRASIL, 2015). Até o ano de 2016 cerca de 37,5 milhões de
adultos vivem com o HIV. Sendo que deste total 2,1 milhões
são crianças menores de 15 anos (UNAIDS, 2017).
A AIDS é uma das principais causas de morte em todo
o mundo, sendo a principal causa de morte para mulheres em
idade reprodutiva em países de baixa e média renda (THE
GLOBAL FUND, 2017). Estima-se que 17,8 milhões de
mulheres convivam com o vírus. (UNAIDS, 2017).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2016), o
continente Africano apresentou a maior taxa de pessoas que
convivem com o HIV, cerca de 25,6 milhões de pessoas,
seguido pelas Américas que totalizam 3,3 Milhões de pessoas.
Somente no ano de 2016 cerca de 1,8 milhão novos casos do
vírus foram registrados em todo mundo. Cerca de 1 milhão de
pessoas morreram no ano de 2016 (UNAIDS,2017).
Na América Latina, sete países concentram quase 90%
das novas infecções. Destas, 49% aconteceram no Brasil o
mais populoso da região, tornando-o o líder de um ranking
865
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
inglório. Além disso, enquanto os novos casos de infecção
caíram mais 20% em países como Colômbia, El Salvador,
Nicarágua e Uruguai, o Brasil e a Argentina tiveram um ligeiro
aumento de 3%. (FERNANDES, 2017).
Existe uma necessidade urgente de fornecer
microbicidas anti-HIV eficazes para áreas com recursos
limitados em todo o mundo. Alguns dos candidatos mais
promissores de microbicidas são bioterapêuticos visando a
entrada viral. O fornecimento de fármacos de origem
biotecnológica para regiões com recursos financeiros
escassos está diretamente relacionado a redução no custo de
produção desse medicamento (O'KEEFE, 2015).
Uma das formas de combate do HIV é o uso de
antirretrovirais (ARVs). Os ARVs são administrados como uma
combinação de drogas que podem reduzir a quantidade de
HIV no organismo ou prevenir o HIV em pessoas com risco
substancial de adquirir o vírus. No entanto, os ARVs não são
uma cura para o HIV; uma pessoa vivendo com HIV que está
em tratamento precisará tomar ARVs o resto de sua vida. Os
ARVs também têm outro benefício: o tratamento reduz a
chance de uma pessoa HIV positiva passar o vírus para outra
pessoa em 97% (THE GLOBAL FUND, 2017).
Entre os anos de 2006 e 2011 mais de 80 países
aumentaram em mais de 50% os investimentos nacionais para
o combate ao HIV. A estimativa era que o financiamento fosse
de 22 bilhões de dólares para 24 bilhões de dólares em 2015.
Atualmente, 75% dos recursos para combater a Aids, em
média, são oriundos de financiamento doméstico. Esses
recursos já respondem por mais de 80% dos gastos na África
do Sul e na China (ONU BRASIL, 2015).

866
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
Segundo dados levantados pela UNAIDS (2017), no
ano de 2016 cerca 19,5 milhões de pessoas tiveram acesso a
antivirais. Os pesquisadores temem que as linhagens de HIV
se tornem resistentes a medicamentos e que elas possam ser
transmitidas de um paciente para outro. Devido a essa
resistência de drogas, um paciente recém-infectado pode
transportar um vírus resistente a medicamentos mesmo que
ele ou ela ainda não tenha usado medicamentos
antirretrovirais. (PENNINGS, 2013).
É nesse ambiente tecnológico de pesquisas, e
juntamente com a contribuição da biotecnologia, que pôde ser
dado um grande passo para a obtenção de alternativas na
terapêutica para os pacientes infectados com o HIV, tanto nos
meios de manipulações genéticas, na qual resultam em
enzimas e proteínas que são capazes de produzir resposta
terapêutica, quanto na produção de biofármacos e produção
de kits de reagentes para diagnósticos. Sendo que, estes
biofármacos possuem uma vasta aplicabilidade na indústria
farmacêutica, principalmente na área da saúde, contando
também com pesquisa e desenvolvimento de novas vacinas e
terapias gênicas causando um grande impacto na área
farmacêutica (BAPTISTA, 2016).
Sendo assim, o objetivo desse estudo foi realizar uma
revisão de literatura discorrendo sobre dados da atual situação
do HIV no mundo e trazer à tona a pesquisa realizada no
Brasil em parcerias com Institutos Americanos, além do uso da
Biotecnologia para a produção de biofármacos, utilizando a
soja como biofábrica para a produção de Cianovirina N, que se
mostrou eficaz no combate do vírus.

867
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
2 MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo trata de uma revisão bibliográfica


desenvolvida a partir de trabalhos publicados nas seguintes
bases de dados: Google acadêmico, PUBMED (Public Medline
or Publisher Medline), SciELO (Scientific Electronic Library
Online). Além da utilização de órgãos de nível mundial como
ONU (Organização Mundial da Saúde), UNAIDS (Organização
Mundial ao combate a AIDS) OMS (Organização Mundial da
Saúde) e de nível nacional como EMBRAPA (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), MMA (Ministérios do
Meio Ambiente). Também foram utilizados periódicos online
como: PLOS ONE (USA), Plant Biotechnology Journal (USA),
Biochemical Society Transactions (USA), FEBS Letters
(Japão), Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental
(Brasil), Estudos Práticos (Brasil), Pesquisa Fapesp (Brasil),
Revista Unilus, assim como busca por bibliotecas
internacionais como a NLM (National library of medicine).
Os descritores inseridos nas ferramentas de buscas
foram: cianovirina-n, HIV, AIDS, biotecnologia, biofármacos,
biofábricas, plantas transgênicas, soja, o usa da soja como
biofármacos, indústrias farmacêuticas, taxa de pessoas com
HIV, dentre outros.
Os artigos foram selecionados de forma quantitativa,
através de leituras exploratórias, contribuindo para o processo
de síntese e análise, a fim de criar um corpo de leitura claro e
acima de tudo compreensível. Tentando buscar uma
linguagem científica, mas ao mesmo tempo didática para
todos os públicos.

868
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 O uso da Biotecnologia na produção de biofármacos.

A biotecnologia, em seu sentido mais amplo,


compreende a manipulação de microrganismos, plantas e
animais com vistas à obtenção de processos e produtos de
interesse para a sociedade. A rigor, a biotecnologia não é
nova, mas sim, usa novas ferramentas tecnológicas, baseada
no conhecimento científico e que, hoje, são empregadas nas
diferentes disciplinas científicas da área biológica, como a
genética, a bioquímica, a entomologia e a fisiologia, entre
outras (MMA, 2017).
A Biotecnologia moderna ficou conhecida pela
clonagem da ovelha Dolly em 1996. Neste ano todos os olhos
da ciência se voltaram para a engenharia genética, na área de
clonagem animal. Na agricultura, a engenharia genética já se
iniciava desde 1865, quando Mendel conhecido como Pai da
genética, fez o cruzamento de ervilhas (Pisum sativum) de
diferentes espécies através da polinização. Desde então
houve um avanço constante no conhecimento sobre o
cruzamento e a modificação genética de plantas para o
aprimoramento genético. (LIDERÇO, 2017; VAIANO, 2016)
Desde o século XX, com os avanços industriais, tornou-
se possível a integração dos conhecimentos da genética com
a inovação dos processos industriais. A engenharia genética,
um dos campos mais importantes da biotecnologia, tem como
objetivo a transferência de genes específicos de diferentes
organismos, gerando um transgênico ou organismo
geneticamente modificado (OGM), permitindo assim a criação
de novos produtos ou processos. Vem sendo utilizados alguns
869
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
tipos de sistemas de expressão proteica, como as células
hospedeiras de: bactérias; levedura; fungos; células de inseto;
células de mamíferos e células vegetais capazes de receber
moléculas de DNA recombinantes adquirindo assim novas
características como, por exemplo, na agricultura a construção
de plantas transgênicas resistentes a insetos, herbicidas,
fatores ambientais, maior teor nutricional; e na área da saúde,
principalmente na produção de biofármacos (BAPTISTA,
2016).

3.2 Biofármaco produzido a partir de Plantas Transgênica.

A transformação genética de vegetais permite a


introdução de genes específicos no genoma de cultivares
comerciais. Desde seu surgimento em 1973, as manipulações
genéticas não cessaram em suas descobertas e
aplicabilidades, dentre elas, podemos citar a inserção de
genes de uma espécie para outra, que passou a ser
designada como Organismos Geneticamente modificados
(OGM) ou transgênicos. A produção desses organismos
possibilitou novas perspectivas tanto para agricultura, através
do uso de plantas mais resistentes, como uso laboratorial
devido à redução de animais usados em pesquisas (ARAÚJO,
2012).
Os problemas enfrentados pela indústria farmacêutica
na produção de biofármacos são os que envolvem
microrganismos, bactérias e leveduras, e células animais de
mamíferos. As células dos microrganismos não apresentam
mecanismos de mudanças de conformação pós-traducionais
das proteínas sintetizadas, implicando num grande problema
quando se tem a intenção de produzir proteínas humanas que,
870
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
em sua maioria, passam por esse processo, sendo
necessárias mais fases para a obtenção do produto final; as
células de mamíferos, por sua vez, apesar de conseguirem
realizar de forma natural as etapas pós-traducionais, requerem
uma série de condições controladas para que o biorreator
consiga funcionar de forma eficaz, aumentando muito os
custos do processo, além de serem geneticamente mais
próxima dos seres humanos, havendo riscos de transmissão
de patógenos (MERLIN, 2014).
O alto crescimento da demanda por essas moléculas
complexas para o uso terapêutico na área da saúde
impulsionou a indústria farmacêutica a procurar maneiras mais
eficazes e baratas de produzi-las, uma vez que os custos
benefícios dos métodos tradicionais em culturas de células
nos biorreatores têm um elevado preço de manutenção. Nesse
cenário, as plantas transgênicas, servindo como biofábricas,
surgem como uma alternativa mais segura nos sentidos
econômico e biológico. (PIMENTEL, 2013).
A técnica de PMF (Plant Molecular Farming), termo em
inglês que se refere ao uso de plantas modificadas
geneticamente para a produção de proteínas e enzimas
recombinantes a fim de atender interesses farmacêuticos. O
uso desta técnica possui vantagens muito bem definidas em
relação aos outros sistemas já apresentados, as plantas são
seres autótrofos, produzindo seu próprio alimento a partir de
água, luz do sol e gás carbônico, são biofábricas naturais,
evitando assim gastos com manutenção, possibilitando que a
produção em larga escala se torne algo muito mais tangível no
sentido econômico além de não representar perigo em relação
ao risco biológico de contágio de patógenos como príons e
vírus, diferentemente das células mamíferas. Por terem um
871
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
padrão de glicosilação similar às proteínas humanas, elas
conseguem sintetizar as proteínas eucarióticas e ter atividade
capaz de dobrar estruturalmente de forma eficiente essas
proteínas e enzimas. A proteína produzida pelas plantas
possui uma estabilidade bem maior reduzindo a degradação
posterior do produto final. (BAPTISTA, 2016).
No Brasil, a soja é uma planta transgênica favorável
para a pesquisa em biofármacos. A sua utilização como meio
de consumo e farelos para animais vem aumenta
consideravelmente a cada ano, entretanto, esta tecnologia foi
inserida no ano de 1996, no Rio Grande do Sul, por meio de
plantações da soja transgênica Roundup Ready (soja RR)
(LIRA, 2016). Desde meados da década de 90 verificou-se um
rápido crescimento das culturas utilizando OGM a nível
mundial. Em 2016, cerca de 185.1 milhões de hectares foram
plantados por 26 países, entre eles o Brasil, com um total de
49.1 milhões de hectares, perdendo apenas para os EUA, que
lidera o rank com uma área cultivada abrangendo cerca de
72.9 milhões de hectares (ISSAA, 2017).
A soja se tornou uns dos maiores produtos transgênico
cultivados. Em sua origem ela era uma planta rasteira que
medrava na costa leste da Ásia, principalmente ao longo do rio
Yangtze, na China. Sua evolução começou com o
aparecimento de plantas oriundas de cruzamentos naturais
entre duas espécies de soja selvagem que foram
domesticadas e melhoradas por cientistas da antiga China. No
final da década de 60, dois fatores internos fizeram o Brasil
começar a enxergar a soja como um produto comercial, a
produção em massa de farelo para o gado e a produção para
o consumo humano, fato que mais tarde influênciaria no
cenário mundial de produção do grão. Na época, o trigo era a

872
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
principal cultura do Sul do Brasil e a soja surgia como uma
opção de verão, em sucessão ao trigo (EMBRAPA, 2017).

3.3 O HIV

O HIV é classificado como pertencente à família


Retroviridae (composto de RNA e a Transcriptase Reversa) e
ao gênero Lentivirinae, compreendendo dois sorotipos: o HIV-
1 e o HIV-2. Os lentivírus são associados a longos períodos de
incubação e, por isso, são chamados de vírus lentos.
Possuem a capacidade de infectar primariamente células do
sistema imunológico, linfócitos T CD4+ (também chamados
auxiliares) e macrófagos, e de atacarem preferencialmente o
sistema imunitário e o sistema nervoso central. Diante disso, a
molécula CD4+ atua como mediador da invasão celular, já que
age como receptor para o vírus. (HIPÓLITO, 2016).
O primeiro passo da entrada de células de vírus de
imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1), compreende a
interação da glicoproteína GP120 do envelope com o receptor
de glicoproteína leucocitária hospedeira, CD4+, e a ligação
aos receptores de quimiocinas CCR5 ou CXCR4. Como
resultado da interação da glicoproteína GP120 com CD4+, o
segmento da terceira região variável (V3) da GP120 é exposta
e, posteriormente, se liga aos receptores de quimiocinas
CCR5 ou CXCR4, infectando principalmente células TCD4+. O
reconhecimento molecular de receptores de quimiocinas é
predominantemente mediado através do fragmento de laço V3
da GP120 de HIV-1. Após a ligação V3 loop co-receptor,
ocorre uma série de rearranjos nas glicoproteínas do envelope
que levam à fusão do hospedeiro e membranas celulares do
vírus (TAMAMIS, 2014).

873
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
A ligação do receptor da superfície celular primária,
CD4+, ao componente GP120 da espinha viral expõe e/ou
induz a formação de um local para a ligação do co-receptor
(CCR5 ou CXCR4). A ligação de co-receptor a GP120
desencadeia mudanças de conformação adicionais no pico do
trímero, o que leva, em última instância, a uma fusão das
membranas celulares viral e hospedeira (KWON, 2013).
Segundo ARRUDA (2014) a alça V3 da GP120 do
envelope do HIV-1 é considerada o principal determinante do
tropismo, mas outros fatores como diferenças intrínsecas entre
as variantes do HIV-1, o número de sítios de N-glicosilação,
variações no comprimento de determinadas regiões e a carga
elétrica global da GP120 também podem afetar o tropismo
viral.
Outra proteína importante para a fusão do HIV com a
célula CD4+ é a proteína Gp41, que parece apresentar
importante papel no processo infeccioso. Esta proteína é
produzida ao mesmo tempo em que a Gp120, através da
clivagem da proteína Gp160. O mecanismo específico pelo
qual a Gp41 promove fusão do vírus com a membrana da
célula CD4+ permanece desconhecido, mas estudos
bioquímicos demonstram uma interação importante entre a
Gp120 e Gp41, talvez importante para o mecanismo da
infecção (BAPTISTA, 2016).
Dentre os compostos antivirais pertencentes ao grupo
das lectinas produzidas, a Cianovirina-N apresentou atividades
contra o HIV, bem como a outros vírus envelopados
(BAPTISTA, 2016). Sendo capaz de bloquear a entrada do
HIV em células alvo, bem como a molécula de adesão
intercelular específica da célula, que agarra a transmissão de

874
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
HIV presumivelmente por sua interação com os glicanos no
HIV GP120 (HOORELBEKE, 2013).

3.4 Cianovirina N

A Cianovirina N (CV-N) foi isolada na década de 1990


de uma cianobactéria, que leva o nome científico de Nostoc
ellipsosporum, em pesquisas do Instituto Nacional de Câncer
(NCI) e dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados
Unidos, apresenta uma potente atividade contra o HIV
(OLIVEIRA, 2013; BAPTISTA, 2016).
O NCI juntamente com o NIH identificou o potencial
desta enzima no combate a doenças virais, cuja patente está
sob sua guarda. Porém, apesar da descoberta, os
pesquisadores ainda tinham dificuldades econômicas para
produzir essa enzima em grande escala. Durante este período,
tomaram conhecimento das técnicas de inserção genes em
soja, desenvolvidos por um grupo de pesquisa brasileiro,
coordenado pelo professor Elíbio Rech da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Estes pesquisadores
norte-americanos forneceram a sequência nucleotídica do
gene da Cianovirina e o grupo de pesquisadores brasileiros
fez a inserção deste no genoma da soja, resultando em uma
parceria entre NCL, NIH e a Embrapa. Atualmente a soja
transgênica já está produzindo sementes com a enzima
Cianovirina-N (BAPTISTA, 2016).
O processamento industrial padrão de sementes de
soja para colher óleo de soja não diminui a atividade antiviral
da CV-N recuperado, permitindo o uso de processamento
industrial de soja para gerar óleo de soja é uma proteína
recombinante para o desenvolvimento de microbicidas anti-
875
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
HIV. A CV-N também previne a fusão de vírus para células, a
entrada de vírus e a infecção de células in vitro. Essas
propriedades parecem ser mediadas através de interações
conservadas de CV-N com a glicoproteína de superfície viral
GP120 que são distintas das interações de GP120 com o
receptor celular CD4+ ou com anticorpos para determinantes
de neutralização de HIV conhecidos de GP120 (O’KEEFE,
2015).
A CV-N desativa irreversivelmente a linhagem do HIV-1
de tipo selvagem adaptadas ao laboratório durante a fase de
entrada viral. Os efeitos antivirais da CV-N também incluem a
inibição da fusão célula a célula, fusão vírus a célula e
transmissão célula a célula (CHEN, 2014).
A figura (1) originariamente de WOODRUM (2013) e
posteriormente adaptada por BAPTISTA (2016), nos mostra
que através da inativação das proteínas virais Gp120 e Gp41,
o efeito antiviral da CV-N ocorre através da inibição da fusão
do vírus com a célula, ou através da inibição de fusão
entre células infectadas e não infectadas, ou ainda, através da
inibição de transmissão de antígenos, mediada por células do
sistema imunológico, que envolvem as células dendríticas
efeito antiviral da Cianovirina –N.
Na Figura (1) temos, na letra “a” CV-N na forma de
dímero, em “b” temos a simetria dos sítios de ligação da CV-N
com os carboidratos representados em verde, em vermelho os
oxigênios e em azul os nitrogênios e por último em “c” a
representação das possíveis formas de ligação da CV-N com
a Gp120 (BAPTISTA, 2016).

876
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
Figura 1. Efeito antiviral da CV-N

Fonte: BAPTISTA, 2016.

A avaliação do gel CV-N (1% ou 2%) como microbicida


retal tópico em macacos machos (Macaca fascicularis)
mostrou proteção completa, quando utilizado na prevenção
contra o vírus da imunodeficiência símea (SIV). Além disso, o
gel CV-N também mostrou proteção em macacos femininos,
sugerindo que pode ser um candidato adequado para o
desenvolvimento de microbicidas retais e vaginais (GUPTA,
2013). A modificação da microbiota vaginal do gênero feminino
do Macacos rhesus através da introdução de lactobacilos
geneticamente modificados produtores de CV-N mostraram
resultados positivos na inibição da transmissão do vírus SIV,
não alterando o pH, nem causando processos inflamatórios
significativos (BATISTA, 2016).

877
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
4 CONCLUSÕES

Encontrar formas de reduzir a inflamação cervical vaginal


pode ser crítico para um programa abrangente de prevenção
do HIV. (BRICHACEK,2013). A Cianovirina-N se mostrou ativo
inibidor da TR devido aos seus curiosos sítios de manoses
que formam ângulos estereoquímicos de alta afinidade com a
Gp120. Ela foi explorada de diferentes formas e, resultados
impressionantes puderam ser observados, por exemplo,
utilizou-se uma apresentação de Cianovirina-N em gel a 1%-
2% e demonstrou prevenção de infecção em fêmeas que
utilizaram o gel via vaginal e em machos via retal. Foi
observado uma alteração na microbiota vaginal de Macacos
rhesus fêmeas, resultando na inibição de TR no grupo
experimental sem alterar de forma agressiva o tecido vaginal
(BAPTISTA, 2016).
Segundo o professor Elíbio Rech, pesquisador brasileiro
responsável pela pesquisa, os efeitos positivos da cianovirina
contra o HIV já estavam comprovados desde 2008 a partir de
testes realizados com macacos pelo instituto norte-americano.
A capacidade natural dessa proteína, de se ligar a açúcares
impedindo a multiplicação do vírus já é conhecida pela
comunidade científica mundial há mais de 15 anos .
(EMBRAPA, 2015).
Esse processo só pode ser realizado graças ao uso da
Biotecnologia e da utilização da soja como biofábrica para a
produção de Cianovirina –N, a fim de sintetizar um biofármaco.
Os biofármacos produzidos a partir de organismos
geneticamente modificados ou a partir de organismos
selvagens representam uma realidade terapêutica tanto no
tratamento quanto na prevenção da infecção contra HIV.
878
BIOTECNOLOGIA APLICADA A PRODUÇÃO DE BIOFÁRMACOS E O USO DA
SOJA TRANSGÊNICA NO COMBATE AO HIV
Esses têm vantagem de promover resposta terapêutica em
vírus que não respondem ao tratamento convencional, vírus
resistentes. O uso de biofármacos representa a possibilidade
de desenvolvimento de novas alternativas farmacêuticas na
prevenção de infecções. Estudos na área de biofármacos
estão promovendo uma nova perspectiva na terapia do HIV
(BAPTISTA, 2016).
Rech ainda salienta que o grande desafio de hoje é
melhorar o processo de extração e purificação da Cianovirina
das sementes da soja transgênica, pois os resultados apontam
a presença de apenas 10 gramas da proteína por quilo de
sementes frescas. Sabe-se que não é possível purificar 100%
de enzima do grão da leguminosa, pois é normal que ocorram
perdas no processo de purificação. Até o momento, é possível
a extração de 20% ou 2 g do produto e a meta é atingir 50%
de extração (OLIVEIRA, 2013).
O próximo passo é a produção de sementes de soja em
larga escala para isolar a cianovirina e iniciar a fase de
estudos clínicos. Durante as próximas fases de
desenvolvimento, os cientistas contarão também com a
colaboração de cientistas do Conselho de Pesquisa Científica
e Industrial da África do Sul (CSIR – sigla em inglês)
(EMBRAPA, 2017).

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882
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
CAPÍTULO 45

FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM


INFECÇÕES RELACIONADAS AO USO DE
CATETER VENOSO CENTRAL
Cristiane dos Santos QUEIROZ1
Deise Luana da Luz DORNELES1
Patrícia Roza SOUZA1
Josefa Danielma Lopes FERREIRA2
Shirley Antas de LIMA3
1 2
Graduandos do curso de Enfermagem, UNINASSAU; Professora da UNINASSAU;
3Orientadora/Professora da UNINASSAU.
e-mail:shirleylima34@gmail.com

RESUMO: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que teve


por objetivo conhecer a publicação científica relacionada a fatores de
risco relacionados a infecção na corrente sanguínea decorrente do
acesso venoso central. O levantamento bibliográfico abrangeu as
seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS), Bases de Dados em Enfermagem
(BDENF), MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrievel
System Online) Scientific Eletronic Library Online (SciELO), no
período de 2013 à 2017. Foram analisados oitenta e um artigos,
relacionados à temática pesquisada, que sugerem quais fatores de
risco são mais recorrentes nos casos de infecção na corrente
sanguínea relacionada ao uso do cateter venoso central em pacientes
internos em unidades de terapia intensiva e quais descobertas
publicadas em artigos científicos tem apresentado real relevância que
diz respeito à assistência de enfermagem a estes pacientes. Outro fato
expressivo da pesquisa é a importância da enfermagem na prevenção
de eventos adversos relacionados a este dispositivo, e como o
comprometimento da classe pode contribuir de forma positiva na
redução de morbidades relacionadas ao cateter. Diante das buscas na

883
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
literatura, constata-se que a produção científica acerca de fatores de
riscos relacionados a infecção na corrente sanguínea decorrente do
uso do cateter venoso central ainda é incipiente e há lacunas a serem
preenchidas com estudos futuros.
Palavras-chave: Infecção, Corrente sanguínea. Cateter.

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Portaria n. 2616/98 do Ministério da Saúde,


infecção hospitalar (IH) é aquela adquirida após admissão do
paciente e que se manifeste durante a internação ou após a
alta, quando relacionada com a internação ou a procedimentos
hospitalares/ambulatoriais ou as manifestadas antes de 72
horas da internação, porém associadas a procedimentos
diagnósticos e/ ou terapêuticos, realizados durante este
período. Contudo, a probabilidade do paciente adquirir uma
infecção aumenta, na medida em que se utilizem
equipamentos técnicos necessários ao seu tratamento, visto
que tem possibilidade de romper suas defesas orgânicas.
(BARE; SMELTZER, 2014).
Conforme o Ministério da Saúde (2015) mesmo com
protocolos e controle de infecção hospitalar, estima que cerca
de 50% dos pacientes internados em Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) necessitam da inserção de um Cateter Venoso
Central (CVC), sendo estes dispositivos importantes na
assistência à saúde, principalmente nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTIs), considerando o perfil de paciente atendido e
cuidados requeridos (SILVA; OLIVEIRA, 2016).
A inserção do CVC na UTI adulto é de competência
médica; para sua indicação, deve-se levar em consideração os
possíveis riscos e complicações envolvidos (INFUSION
NURSES SOCIETY BRASIL, 2013). Esses dispositivo pode
884
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
causar infecção devido à contaminação do local de inserção
ou à migração da flora do paciente para o lúmen do cateter,
uma vez que o CVC rompe a integridade da pele
possibilitando infecções por bactérias e fungos, passíveis de
disseminação hematogênica acarretando em sepsis. (BRASIL,
2015).
O dispositivo de assistência CVC é utilizado,
principalmente, para monitorização hemodinâmica,
administração de medicamentos, fluidos, hemoderivados,
nutrição parenteral (NPT) e terapia renal substitutiva. É
indicado também para pacientes que não apresentam
condições de acesso venoso periférico, podendo permanecer
para uso por períodos prolongados (FERRER; ALMIRANTE,
2014; ANVISA, 2017).
O tipo de cateter deve ser definido de acordo com o
tempo de terapia, tipo de solução a ser infundida e quadro
clínico do paciente, assim como a quantidade de lúmens deve
estar relacionada com as terapias adicionais (INFUSION
NURSES SOCIETY BRASIL, 2013)
Para Couto (2014) o CVC, é uma tecnologia essencial
para o tratamento do paciente grave, porém considerado como
importante fonte de infecção da corrente sanguínea (ICS),
sendo sabido, que a manipulação incorreta do CVC acarreta
prejuízo ao paciente tornando-o susceptível ao
desenvolvimento de algumas doenças, entre elas, a ICS.
As infecções de corrente sanguínea (ICS), associadas
aos dispositivos vasculares, estão entre as principais
infecções relacionadas a assistência à saúde, sendo
responsáveis por 60% das infecções nosocomiais,
relacionadas a alto índice de mortalidade, maior tempo de
internação e altos custos à saúde. (ANVISA, 2013).

885
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
Conforme dados da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) a incidência das IRAS nas UTIs dos
hospitais brasileiros no ano de 2015 sobre a Infecção Primária
de Corrente Sanguínea (IPCS) associada a CVC, resultou na
notificação de 33.481 casos desse tipo de infecção. A
densidade de incidência da IPCS em UTI adulto, obtida a partir
das notificações, foi de 0,6 por 1000 cateter-dia (2.206 casos)
com confirmação por critérios clínicos, e de 4,8 por 1000
cateter-dia (16.558 casos) com confirmação laboratorial
(ANVISA, 2016).
Através da legislação RDC 45, 2003 estabelecida pela
ANVISA o enfermeiro deve assessorar o médico na instalação
do CVC, sendo da responsabilidade do enfermeiro e de sua
equipe a manipulação de um CVC após a sua inserção até a
sua remoção, implicando em domínio da técnica segura,
manipulação e uso dos acessos centrais exigindo do
enfermeiro uma atenção redobrada, contínua assistência e
educação continuada para garantir a segurança e ausência de
danos ao paciente, quando associados aos cuidados de saúde
(OMS, 2014).
Dentro desse contexto a enfermagem desempenha
importante papel na prevenção e controle das infecções nos
cenários de cuidado a saúde. De acordo com a lei 7.498 do
exercício profissional de enfermagem os procedimentos
referentes ao acesso vascular, embora não explícitos estão
incluídos nas atividades desses profissionais. A participação
do enfermeiro como agente minimizador dos riscos é de suma
importância na manutenção da qualidade assistencial para o
paciente, uma vez que a enfermagem precisa basear suas
ações de cuidados em evidências científicas (SANTOS et al.,
2014).

886
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
Uma vez que pesquisas mostram os altos índices de
infeções na corrente sanguínea ocasionadas pelo uso do
CVC, considera-se de grande relevância abranger o assunto,
investigando os motivos que favorecem o aumento dessas
infeções e buscar novas técnicas e ações desenvolvidas pela
enfermagem que possam melhorar a qualidade na assistência
ao paciente contribuindo para diminuição dos riscos durante o
uso desses dispositivos.
Sendo assim o presente estudo tem como pergunta
norteadora conhecer quais os principais riscos de infecções da
corrente sanguínea, ocasionadas pelo uso do cateter venoso
central em unidades de terapia intensiva?
O objetivo desse estudo é buscar mediante a análise
das publicações científicas dos últimos cinco anos os fatores
de riscos correlacionados a infecção na corrente sanguínea
através do uso do CVC.

2 MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura,


método que tem como finalidade agrupar e sintetizar
resultados de pesquisas acerca de um dado tema, permitindo
a busca, a avaliação crítica e a síntese das evidências
disponíveis do tema investigado de forma organizada
contribuindo com o aprofundamento no conhecimento sobre a
questão abordada, permitindo como resultado a atual situação
de conhecimento sobre o tema selecionado, a implementação
de intervenções na assistência à saúde e a identificação de
lacunas que necessitem de mais pesquisas sobre o assunto
(MENDES,SILVEIRA,GALVÃO, 2008). Esse é um dos

887
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
métodos de estudo da Prática Baseada em Evidências (PBE)
e está organizada em seis etapas: elaboração da pergunta
norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta de
dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos
dados e apresentação da revisão integrativa (SOUZA, SILVA,
CARVALHO, 2010)
Os artigos foram selecionados na Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), sendo as bases de dados LILACS (Literatura
Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde),
MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrievel System
Online), (BDENF) Bases de dados em Enfermagem e na
SCIELO (Scientific Electronic Library Online). Foram utilizados
os seguintes descritores: cateterismo venoso central, infecção
hospitalar, choque séptico, sepse, cuidados de enfermagem e
unidade de terapia intensiva.
O universo da pesquisa foi composto por artigos online
no campo da saúde, relacionados com os cuidados de
enfermagem ao paciente de UTI que faz uso do CVC
associado a riscos de infecção na corrente sanguínea, devido
ao uso desse dispositivo. Para isso foram determinados os
seguintes critérios de inclusão: estarem disponíveis em texto
completo nas bases de dados selecionadas, contemplarem o
tema proposto, serem publicações do tipo artigo, no período
de 2013 a 2017, no idioma português e inglês. Os critérios de
exclusão foram: dissertações e teses, assim como textos
completos indisponíveis, artigos repetidos e não contemplarem
o tema proposto.
A coleta de dados foi de maio a outubro de 2017. Para
a extração dos resultados utilizou-se um instrumento. As
informações contidas no referido instrumento visaram à
caracterização e às contribuições das publicações

888
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
selecionadas, no sentido de atender aos objetivos propostos
para a investigação. São elas: identificação do artigo, autor,
ano, objetivo da publicação, método e base de dados.
Na busca inicial com a utilização dos descritores e
critérios de inclusão, foram localizados 81 artigos, 53 não
respondiam à questão norteadora depois da leitura dos títulos,
04 encontravam-se repetidos nas bases de dados
pesquisadas, 13 foram excluídos após leitura dos resumos na
íntegra pois não se enquadravam na pesquisa, o que resultou
na seleção de 12 artigos para compor a amostra do presente
estudo.
Os dados dos estudos incluídos na pesquisa foram
categorizados, analisados e discutidos estabelecendo-se
relações com a fundamentação teórica em foco.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante da multifatorialidade da origem da ICS pelo CVC


devido a sua complexidade alguns autores divergem sobre as
causas mais predominantes para que este fenômeno
aconteça, segundo Oliveira et al.(2012) o longo tempo de
permanência em UTI’s associado a um déficit na qualidade da
assistência prestada pelo profissional de enfermagem no que
diz respeito ao manuseio do CVC é o fator determinante para
que a ICS se instale, o que é facilmente entendido como
consequência de uma assistência desatualizada e sem a
observação da necessidade de aprimorar às técnicas
empregadas pelos profissionais responsáveis pelos cuidados
do paciente. O longo tempo de permanência aumenta os
riscos de que comorbidades se associem a patologia de base,
sendo o CVC uma potente porta de entrada para infecções

889
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
quando não manuseado da maneira assepticamente correta
(OLIVEIRA, et al. 2017; LIMA, et al. 2016)
Porém outros estudos apontam que o principal fator
causador da ICS é o uso concomitante do CVC para a
administração de Nutrição Parenteral (NP) também associado
a falta de preparo dos profissionais da enfermagem para a
realização de tal procedimento. (ROMANELLI, et al. 2013;
IPPOLITO, et al. 2015)
Para Pedrolo et al. (2014) a ICS está diretamente
associada ao manuseio empregado ao CVC, realizado um
teste piloto comparando tipos de cobertura para curativo em
óstio de inserção de CVC, foram analisadas a eficácia dos
curativos com gaze e fita adesiva, os curativos de Filme
Transparente de Poliuretano (FTP) e o Curativo
Antimicrobiano de Clorexidina (CHG), sendo o último
composto por filme transparente associado à clorexidina a 2%
a qual está concetrada emplaca de gel ou esponja conforme
fabricante. Sendo necessária a avaliação diária do sítio de
inserção, na busca ativa de sinais flogísticos de inflamação no
sítio de inserção do CVC os curativos que apresentavam filme
transparente, FTP e CHG demostraram maior vantagem pela
possibilidade de visualização do sítio de inserção do cateter
sem a necessidade de remoção do curativo.
No entanto foi observada a redução em até 60% de
infecção relacionadas ao CVC em pacientes em que foi usado
o curativo com a clorexidina a 2% em comparação ao curativo
de poliuretano. O curativo FTP apresentou necessidade de
troca antecipada devido à má fixação e ao acúmulo de
exudado sob a película, aumentando o risco de ICS associada
ao CVC, já o curativo CHG apresentou boa aderência e
redução da presença de microorganismos com potencial

890
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
patógeno em relação ao curativo de poliuretano quando
compradas culturas de pele realidadas em pacientes em uso
dos dois dipos de curativos.(PEDROLO, et al.2014)
Segundo Menezes, et al. (2013) o uso de CVC, está
associado a significativa morbimortalidade e seu uso, quando
não adequadamente gerenciado, implica em complicações
relacionadas tanto com a inserção quanto com a sua
manutenção. Mostra também que a infecção relacionada a
CVC de longa permanência constitui um indicador de
resultado da qualidade da assistência de enfermagem no que
diz respeito a manipulação, uma vez que a mesma é exclusiva
do enfermeiro. Dentre as complicações relatadas na literatura,
a infecção é a que apresenta maior incidência, variando,
dependendo da causa, de 0 a 28%.
Um dos métodos de identificação da Infecção da
Corrente Sanguínea Relacionada ao Cateter (ICSRC) é a
cultura de ponta de cateter, porém outro método bastante
utilizado é a hemocultura, estudos realizados na Inglaterra
mostram que os principais agentes causadores da ICSRC
encontrados na hemocultura são estafilococos coagulase
negativos (ECN), Klebsiella, Escherichia coli, Candida,
Staphylococcus aureus e Enterococcus.( RANGEL, 2016).
Mediante a má utilização de recursos e
consequentemente a precária assistência prestada em UTI’s
nacionais o índice de mortalidade casada por Eventos
Adversos (EA), tais como a ICS por CVC estão entre a 1ª e a
5ª causa de óbitos no país. Causando além de gastos
desnecessários, uma consequente insegurança e falta de
confiança por parte tanto dos pacientes como dos familiares
na assistência empregada nos hospitais de nosso país
(BRASIL, 2013).

891
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
Num estudo proposto foi utilizado a técnica de
intervenção de resolução de problema Desvio positivo (DP)
descrito na ferramenta quatro D : Define, Determine, Discover,
Design que traduzindo significa Definir, Determinar, Descobrir
e Projetar que consiste numa observação e identificação do
problema em foco para serem definidas ações como objetivo
de extinguir o problema. Tal instrumento gerou resultados
positivos no que tange os cuidados com CVC em UTI’s, pois
diante da observação traçou-se um plano de ação em que foi
implementado às técnicas assépticas de cuidados com o
manejo do CVC a utilização de cotonete estéril flexível para a
limpeza mais eficaz do orifício de inserção do CVC e a
realização do curativo secundário. Tais medidas minimizaram
o índice de ICS durante o período em que o estudo foi
realizado. Este estudo prova que através da observação
chega-se ao foco da causa da ICS e que medidas simples
podem geram consequência relevantes a assistência prestada
em UTI (OLIVEIRA, 2017).
O que foi observado em estudo é que as terapias de
mobilização com pacientes em uso de CVC tem sido
desestimuladas ou descriminadas por oportunizar a presença
de EA, pois acredita-se que tal assistência tenha relação direta
com o risco de ICS relacionadas ao CVC, porém foi
comprovado que esta ação além de diminuir o tempo de
permanência hospitalar, não tem qualquer relação com EA de
qualquer natureza, inclusive o de ICS relacionadas ao CVC.
Pois a terapia de mobilização do paciente em uso de CVC
previne e minimiza efeitos da mobilidade e melhora a
capacidade funcional do paciente, devendo esta ser
estimulada em ambiente hospitalar (LIMA, et al. 2015).

892
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
Segundo Danski et al. (2017) pacientes internados em
UTIs apresentam maiores chances de desenvolver infecções
por uso de CVC. Os fatores de risco relacionados a infecção
foram o tempo de uso do cateter venoso central e doença
crônica pré-existente.
Para Silva e Oliveira (2017) a higienização das mãos é
reconhecida como prática mais eficiente para prevenção das
IRAS, porem sua adesão permanece baixa nos serviços de
saúde com aproximadamente 37%, o que contribuem para a
transmissão cruzada de microorganismos principalmente em
pacientes críticos como maior risco de serem colonizados ou
infectados. Revela também que a utilização de luvas diminui a
frequência da higienização das mãos. Nesse mesmo estudo
mostra que a adesão à desinfecção do hub antes de
administrar a medicação pelo CVC também é baixa
Segundo Manzo et al., (2015) o uso do bundle de CVC
confirma a redução de ICSRC. Em um estudo realizado na UTI
pediátrica e neonatal ocorreu uma redução de 55% na
incidência de ICSRC com a utilização do bundle.
Conforme Oliveira et al., (2016) o método bundle conhecido
como pacotes de medidas, é um conjunto de intervenções de
baixo custo e fácil operacionalização que comprovadamente
somam a segurança do paciente, que quando aplicadas em
conjunto tem um resultado superior do que cada intervenção
aplicada individualmente, sendo que, cada intervenção é
sabidamente efetiva de acordo com as evidências, geralmente
por ensaios clínicos. Oliveira enfatiza uma maior necessidade
de abordagem aos profissionais de nível médio na
higienização das mãos, opção pela veia subclávia para
punção e avaliação diária da permanência do cateter e a toda

893
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
a equipe a garantia do uso de barreira máxima e a sequência
da antissepsia da pele.
No que se refere ao sítio de inserção do dispositivo
vascular, alguns autores divergem em opiniões pois segundo
Guimarães et al. (2016, 2017) o dispositivo deve ser
implantado preferencialmente nas veias jugulares onde as
complicações são menores o que corrobora como estudo de
Danski et al. (2017), no que se refere ao uso do CVC para
hemodiálise, pois segundo este existem recomendações
internacionais para que a inserção do mecanismo seja na
jugular interna, pois na região subclávia há risco de estenose.
Já segundo Oliveira et al. (2013), a subclávia deve ser a
primeira escolha para sítio de inserção do CVC devido a
menor probabilidade de ICS relacionada ao uso do CVC,
compreendendo que este local é menos provável de
contaminação por secreções orofaríngeas. Neste sentindo a
comunidade científica não chega a um senso comum a cerca
do local de inserção do cateter.

Quadro 1. Artigos selecionados na revisão integrativa


Ano Título Autor Objetivo Método Base
de
Dados
2013 Fatores de risco e ROMAN Avaliar os Caso- LILACS
letalidade de ELLI, fatores de risco controle.
infecção da Roberta e a letalidade da
corrente M. C. et infecção da
sanguínea al. corrente
laboratorialmente sanguínea
confirmada, laboratorialment
causada por e confirmada
patógenos não (ICSLC) de
contaminantes da início tardio em
pele em recém uma unidade
nascidos neonatal de
cuidados
progressivos

894
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
2013 Infecção MENEZE Fundamentar Revisão BDENF
relacionada a S ,et al “infecção Integrativ
cateter venoso relacionada a a da
central: indicador cateter venoso Literatura
de qualidade da central de longa-
assistência em permanência”
oncologia como indicador
de
qualidade da
assistência de
enfermagem em
oncologia e
identificar
indicadores de
processo
correlacionados.
2014 Ações de SANTOS Identificar as Revisão LILACS
enfermagem na et al. ações de Integrativ
prevenção de enfermagem a da
infecções para a Literatura
relacionadas ao prevenção de
cateter venoso infecções
central: uma primárias da
revisão integrativa corrente
sangúinea
2014 Curativo PEDROL Objetivou-se Ensaio LILACS
impregnado com O, et al realizar teste Clínico
clorexidine para piloto do ensaio randomiz
cateter venoso clinico ado
central: análise de randomizado:
teste piloto avaliação da
efetividade do
curativo
impregnado com
clorexidina para
cobertura de
cateter venoso
central
2015 Utilização do MANZO Descrever os Revisão LILACS
Bundle de acesso et al. resultados da Integrativ E
venoso central em utilização do a da MEDLI
unidades neonatal bundle de Literatura NE
e pediátrica: cateter venoso
revisão integrativa central na
ocorrência de
infecção de
corrente

895
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
sanguínea em
unidades de
terapia intensiva
2015 Utility of IPPOLIT Avaliar a Pesquisa MEDLI
eletronicmedical O, et al. utilidade de descritiva NE
records to assess base de dados de coorte
the relationship para identificar retrospec
between fatores de risco tiva
parenteral relacionado analítica
nutrition and infecção na
central line- corrente
associeted sanguínea por
bloodstream cateter venoso
infections in adult central
hospitalized associado a
patients. nutrição
parenteral
2016 Cateter central de RANGEL Avaliar as Revisão LILACS
inserção periférica , et al evidências Integrativ
em neonato: publicadas a da
revisão inegrativa acerca das Literatura
da literatura práticas no uso
do cateter
venoso central
de inserção
periférica (PICC)
em recém-
nascidos
2016 Comportamento OLIVEIR Analisar o Estudo LILACS
da equipe A et al. comportamento transvers
multiprofissional das equipes de al
ao Bundle do enfermagem e analítico
Cater Venoso médica
Central na terapia relacionada ao
Intensiva Bundel de
inserção e às
boas práticas no
manejo do
cateter venoso
central.
2016 Mobility therapy LIMA, et Determinar se a Estudo LILACS
and central or al. terapia de descritivo
peripheral cateter mobilidade está de coorte
related adverse associada a retrospec
events in na ICU eventos tivo
in Brazil adversos
relacionados ao

896
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
cateter central
ou periférico em
pacientes
críticos em UTI
no Brasil.
2017 Positive deviance OLIVEIR Descrever a Estudo LILACS
as a strategy to A, et al. aplicação de descritivo
provent and desvio positivo de coorte
control como uma prospecti
bloodstream estratégia para vo
infections in prevenir e longitudin
intensive care controlar al
infecções
sanguíneas
2017 Adesão às SILVA E Verificar adesão Estudo BDENF
medidas para OLIVEIR da equipe quase
prevenção da A multiprofissional experime
infecção da medidas para ntal
corrente prevenção das realizado
sanguínea infecções da em uma
relacionada ao corrente UTI de
cateter venoso sanguínea 48 leitos
central relacionada ao em um
CVC hospital
público
de
urgência
e
emergên
cia
2017 Infecção da DANSKI Identificar Revisão BDENF
corrente et al. evidências Integrativ
sanguínea cientificas a da
relacionada a presentes nas Literatura
cateter venoso publicações
central para relacionadas a
hemodiálise infecção em
cateter venoso
central para
hemodiálise
Fonte: Dados da Pesquisa, 2017.

Sobre o quantitativo de artigos publicados nos últimos 5


anos relacionados a Infecção da Corrente Sanguínea por
Cateter Venoso Central em UTI foram nomeados 12 artigos

897
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
para compor o estudo, onde, 25% tiveram suas publicação
nos anos de 2017 e 2016 respectivamente e 16,67%
publicados em 2015, 2014 e 2013 simultaneamente.
Já sobre o quantitivo relacionado as Bases de dados de
artigos utilizados na pesquisa pertinentes ao tema foram
encontrados da seguinte forma 66,67% foram encontrados na
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), 8,33% foram encontrados na Medical
Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), e
25% foram encontrados na Bases de Dados em Enfermagem
(BDENF).

4 CONCLUSÕES

Embora a comunidade científica tenha realizado


diversos estudos visando minimizar eventos adversos
relacionados ao CVC, tais como a infecção da corrente
sanguínea relacionada ao dispositivo, ainda há lacunas
existentes que precisam ser preenchidas com novas
pesquisas, , devido fato de que a ICS tem uma variedade de
fatores para que esta se instale, sendo assim incontestável a
realização de novos estudos, que garantam no futuro próximo
redução de eventos adversos semelhantes a estes.
Este estudo comprova que mediante todo o empenho já
empregado em busca de soluções para resolução do
problema de ICS relacionada ao CVC a enfermagem exerce
um papel fundamental na prevenção deste tipo de infecção,
necessitando de maior comprometimento a realização das
técnicas empregadas cientificamente comprovadas como
eficazes para o combate de infecções deste tipo em ambiente

898
FATORES DE RISCOS QUE OCASIONAM INFECÇÕES RELACIONADAS AO
CATETER VENOSO CENTRAL
hospitalar, mais especificamente em unidades de terapia
intensiva.

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901
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

CAPÍTULO 46

EFEITO IMUNOMODULADOR DE
Canistrocarpus cervicornis
Éssia de Almeida LIMA 1
Anne Kaliery de Abreu ALVES 1
Luiz Henrique Agra CAVALCANTE-SILVA 2
Camila Figueiredo GOMES 3
Sandra RODRIGUES-MASCARENHAS 4
1
Mestrandas em Biotecnologia, UFPB; 2 Doutorando em Farmacologia do PgPNSB/UFPB;
3
Doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos do CCS/UFPB;
4
Orientadora/Professora do CBiotec/UFPB.
Essia_almeida@hotmail.com

RESUMO: Neste estudo, foi avaliado o efeito imunomodulador


das fases hexano:acetato (H:A/85:15) e acetato de etila
(AcOEt) de Canistrocarpus cervicornis, uma alga parda
marinha, em modelo in vitro. Inicialmente, os macrófagos
isolados da cavidade peritoneal de camundongos foram
cultivados em placas de 6 ou 96 poços. As células foram
tratadas com as fases H:A/85:15 e AcOEt (10, 50 e 100 µg/Ml)
na presença ou ausência de lipopolissacarídeo (LPS). Em
seguida, os sobrenadantes foram recolhidos para
determinação do óxido nítrico (NO) pelo método de Griess e
quantificação das citocinas (TNF-α, IL-6, IL-10 e IL-12) por
ELISA. Enquanto as células foram recolhidas para marcação
com anticorpo anti-TLR4, seguida da análise por citometria de
fluxo. A viabilidade celular foi determinada pelo método de
MTT. Foi observado que as fases H:A/85:15 e AcOEt não
alteraram a viabilidade dos macrófagos no teste de MTT.
Adicionalmente, ambas as fases reduziram a produção de
óxido nítrico (NO) em macrófagos estimulados por LPS. Este
efeito inibitório foi também observado nos níveis das citocinas
IL-6, IL-12 e IL-10. No entanto, as fases de C. cervicornis não
902
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

interferiram nos níveis de TNF-α. Além disso, a fase H:A/85:15


foi capaz de inibir a expressão do receptor TLR4. Estes dados
indicam um efeito imunomodulador de C. cervicornis, in vitro.
Palavras-chave: Imunomodulação. Citocinas. Óxido nítrico.

1 INTRODUÇÃO

Inflamação é uma resposta fisiológica que envolve um


processo complexo de transdução de sinais intracelulares e
eventos transcricionais, dirigidos por múltiplos mediadores pro-
inflamatórios em resposta a lesão ou destruição tecidual
(MEDZHITOV, 2008). Durante o processo inflamatório, vários
mediadores são liberados desencadeando sinais
(MEDZHITOV, 2010) mediados por várias substâncias, como
o óxido nítrico (NO). O NO é sintetizado em grandes
quantidades durante o processo inflamatório e a sua síntese
ocorre pela ação da enzima NO-sintase (NOS), que catalisa a
reação de oxidação de um dos nitrogênios do aminoácido L-
arginina, convertendo-o em L-citrulina (DUSSE; VIEIRA;
CARVALHO, 2003). Este radical livre inorgânico tem sido
implicado em processos fisiológicos e patológicos, tais como a
vasodilatação, defesa não-específica do hospedeiro e
inflamação aguda e/ou crônica (KUO; SCHROEDER, 1995).
Outras substâncias que estão envolvidas na inflamação
são as citocinas, que são proteínas solúveis relacionadas a
respostas imunes a vários estímulos, tais como infecções e
dano tecidual. As citocinas produzidas durante o processo
inflamatório dependem da natureza do agente causador, das
células envolvidas e do microambiente. Assim, a presença de
patógenos bacterianos ou das substâncias zimosan,
carragenina e lipopolissacarídeo são detectadas por

903
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

receptores celulares do sistema imune inato, como os


receptores semelhantes a Toll (TLRs), que são expressos em
macrófagos residentes e induzem a produção de quimiocinas
(por exemplo, CCL2, CXCL1) e citocinas inflamatórias (por
exemplo, interleucina 1, interleucina 6 e fator de necrose
tumoral alfa) (MEDZHITOV, 2008; TOGBE et al., 2006). As
diversas citocinas são produzidas por vários tipos celulares,
como macrófagos e mastócitos e têm diferentes funções na
resposta inflamatória (VAROL; MILDNER; JUNG, 2015).
O fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) está envolvido
na patogênese de diversas doenças exercendo potentes
efeitos inflamatórios, como a ativação de neutrófilos e
fagócitos mononucleares; aumento da permeabilidade
vascular; indução da produção de fatores de crescimento para
fibroblastos; angiogênese (SHERWOOD; TOLIVER-KINSKY,
2004) e indução da expressão de moléculas de adesão no
endotélio (ICAM-1 e VCAM-1) (EL ALWANI et al., 2006). A
secreção de TNF-α em associação com a secreção de IL-1β
induz a produção e liberação em cascata de várias outras
citocinas pró-inflamatórias secundárias, incluindo IL-6, IL-18 e
IL-12 (FEGHALI; WRIGHT, 1997; GOLDKIND, 2006;
WITKAMP; MONSHOUWER, 2000).
A Interleucina 6 (IL-6) é uma citocina importante em
respostas inflamatórias agudas apresentando efeitos locais e
sistêmicos, entre eles a indução da síntese hepática de
diversos outros mediadores inflamatórios e também possui
ação no hipotálamo induzindo a febre (ABBAS; LICHTMAN,
2012).
Por outro lado, a interleucina 10 (IL-10) é uma citocina
pleiotrópica (ou seja, possui vários efeitos), que se destaca
como potente imunossupressora por deprimir a ativação de
904
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

células mononucleares prevenindo a produção de mediadores


da inflamação (DE WAAL et al., 1991; FIORENTINO et al.,
1991); deprimir a apresentação de antígenos (DE WAAL et al.,
1991) e a expressão de moléculas coestimuladoras, in vitro
(WILLEMS et al., 1994).
Representando uma ponte entre resistência inata e a
resposta imune adaptativa, a IL-12 é uma citocina
imunorreguladora produzida por vários tipos celulares.
(TRINCHIERI, 1995). Dentre suas várias ações destaca-se a
indução da secreção de várias citocinas por células
imunológicas, incluindo o IFN-γ e outras citocinas ativadoras
de células fagocíticas, o que é um mecanismo importante
durante infecções bacterianas agudas (TRIPP et al., 1994).
As terapias anti-inflamatórias atuais se baseiam no uso
de anti-inflamatórios esteroidais (AIEs) e não esteroidais
(AINES), que interferem em eventos transcricionais ou inibem
enzimas relacionadas ao processo inflamatório. Estas drogas
possuem inúmeros efeitos colaterais, como o surgimento de
urticárias (SOLOMON; FURST; ROMAIN, 2007), desordens
gastrintestinais como diarreias, náuseas e azia (BHATT et al.,
2008), risco de infarto do miocárdio (GROSSER; FRIES;
FITZGERALD, 2006; MINUZ, 2008; WARNER; MITCHELL,
2008), hepatotoxicidade (GOLDKIND; LAINE, 2006; INSEL,
2005) entre outros. Dessa forma, torna-se necessário o
desenvolvimento de novas drogas que interfiram de forma
benéfica no processo inflamatório e os produtos naturais se
destacam cada vez mais nesse contexto.
Dentre os produtos naturais, as algas pardas ou
marrons se destacam por serem abundantes ao longo da
costa brasileira e por constituírem um grupo amplamente
estudado no Brasil em várias linhas de pesquisa, como o
905
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

isolamento de novas moléculas e o estudo de suas atividades


biológicas (TEIXEIRA, 2013).
A Canistrocarpus cervicornis (Kützing) De Paula & De
Clerck é uma alga parda marinha da família Dictyotaceae, que
produz uma grande variedade de metabólitos secundários
bioativos, em sua maioria da classe dos terpenos (VALLIM et
al., 2005). Estas substâncias possuem várias atividades
biológicas, tais como antiviral (PEREIRA et al., 2004),
leishmanicida (SANTOS et al., 2011), vasorrelaxante
(QUEIROZ et al., 2011), anticâncer (AYYAD et al. 2011),
anticoagulante e antiplaquetária (MOURA et al., 2011).
Contudo, o possível papel de C. cervicornis no processo
inflamatório não foi abordado anteriormente. Assim, o objetivo
deste estudo foi avaliar o efeito imunomodulador
desencadeado pelas fases hexano:acetato (H:A/85:15) e
acetato de etila (AcOEt) de C. cervicornis in vitro.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Animais

Camundongos Swiss fêmeas (6-8 semanas) foram


obtidos do Biotério Professor Thomas George no Centro de
Biotecnologia (CBiotec, UFPB, João Pessoa). Os animais
foram mantidos sob condições padrão de laboratório em um
ciclo constante de 12 h claro/escuro com temperatura de
25 ± 1 ºC, sob controle alimentar com uma dieta balanceada a
base de ração tipo pellets (Purina) e livre acesso à água. Após
a manipulação, a eutanásia foi feita por deslocamento cervical.
Todos os procedimentos adotados neste estudo foram

906
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

aprovados pelo Comitê de Ética Institucional do Centro de


Biotecnologia / UFPB (Protocolo: 0301/13).

Fases da alga

A alga Canistrocarpus cervicornis foi coletada nas


coordenadas 07º04’01’’S e 34º49’35’’W na praia do Bessa
(João Pessoa, PB) em agosto de 2010. Ela foi identificada
pelo Dr. George Emmanuel C. de Miranda e pelo Dr. Joel
Campos de Paula. Um espécime voucher (JPB 41771) está
depositada no Herbáreo Lauro Pires Xavier (JPB) da
Universidade Federal da Paraíba. Depois da coleta e
secagem, o material seco (240 g) foi exaustivamente extraído
com CH2Cl2:MeOH (2:1) a temperatura ambiente. O extrato
(12 g) foi submetido a procedimentos de extração por filtração
à vácuo com gel de sílica usando hexano, AcOEt e MeOH, em
gradiente crescente de polaridade para obtenção das
respectivas fases.

Indução de peritonite

A inflamação peritoneal foi induzida pela injeção de


2 mL de tioglicolato a 4%. Quatro dias depois da injeção
intraperitoneal, os animais foram eutanasiados por
deslocamento cervical e a cavidade peritoneal foi lavada com
8 mL de PBS (tampão salina fosfato), suplementado com 3%
de SFB (soro fetal bovino). A suspensão de células obtidas do
lavado peritoneal foi centrifugada a 1500 rpm por 5 min (4ºC).
Depois disso, o sobrenadante foi descartado e o pellet foi
ressuspenso em 1 mL de meio RPMI-1640 completo. As

907
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

células viáveis foram contadas com a câmara de Neubauer


usando solução de azul de tripan.

Cultura de macrófagos

Os macrófagos foram enriquecidos por aderência ao


plástico. Para isso, as células peritoneais foram cultivadas em
placas de 96 poços a uma concentração de
5
4 × 10 células/poço em um volume final de 200 µL e
incubadas por 24 horas com meio de cultura RPMI-1640
suplementado com SFB em uma atmosfera de 5% CO2 a
37ºC. Após isso, as células não aderentes foram removidas
por aspiração. As células remanescentes foram então
incubadas por mais 24 horas com meio de cultura
suplementado ou não com LPS, na presença ou ausência de
diferentes concentrações das fases da alga (10, 50 e
100 µg/mL). Depois das 24 horas de cultura, o sobrenadante
foi coletado para quantificar os níveis de NO e citocinas.

Análise da viabilidade celular

A viabilidade celular foi determinada através do método


de MTT (brometo de 3-metil-[4-5dimetiltiazol-2-il]-2,5
difeniltetrazólio). Este método se baseia na redução do MTT,
um sal de coloração amarela e solúvel em água, a formazan,
sal de coloração arroxeada e insolúvel em água, pela ação de
desidrogenases mitocondriais. Sendo assim, quanto maior a
intensidade da coloração roxa maior será a viabilidade. Para
isso, 100 µL de meio RPMI contendo 10 µL de solução de
MTT (5 mg/mL of MTT in PBS) foi adicionado a cada poço da
placa. Depois de 4 horas de incubação em uma atmosfera de
908
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

5% CO2 a 37 ºC, o meio contendo MTT foi removido e o


precipitado foi solubilizado em solução de DMSO (100 µL). A
densidade óptica foi lida a 570 nm usando um
espectrofotômetro de microplacas.

Determinação dos níveis de NO

A produção de NO foi quantificada pela dosagem do


seu produto de degradação mais estável, o nitrito, pelo método
colorimétrico indireto conhecido como reação de Griess
(GREEN et al., 1982). Para isso, 50 µL de amostras foram
incubadas com 50 µL de reagente de Griess (0,1%
naftiletilenodiamino e 1% sulfonamina p-aminobenzeno em
ácido orto-fosfórico 5%) a temperatura ambiente por 10
minutos. A absorbância foi medida a 540 nm usando um
espectrofotômetro de microplacas.

Medição dos níveis de citocinas por ELISA

Os níveis de TNF-α, IL-6, IL-10 e IL-12 no sobrenadante


da cultura foi avaliado por ELISA sandwich. Nesse método, o
anticorpo para um antígeno específico, chamado
de anticorpo de captura é inicialmente adsorvido no poço
da placa de 96 poços. Depois, a amostra com o antígeno
(sobrenadante da cultura) é adicionada e se liga a esse
anticorpo. Logo após, é adicionado outro anticorpo específico
para o antígeno chamado anticorpo de detecção. Após isso,
é adicionada a enzima, que irá reagir com o substrato
adicionado posteriormente, gerando cor. A intensidade da
coloração é proporcional à quantidade de antígeno presente.

909
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

A absorbância de 450 nm foi determinada utilizando um leitor


de microplacas.

Análise da expressão de TLR4

As células provenientes da cultura foram ajustadas na


concentração de 1 x 106 células/tubo de citômetro e
centrifugadas a 300g durante 6 minutos. Em seguida, o
sobrenadante foi desprezado e as células centrifugadas
novamente após adição de 1 mL de PBS enriquecido com
SFB. Posteriormente, as células foram incubadas com o
anticorpo anti-TLR4 durante 30 minutos. Após a incubação, as
células foram lavadas e suspensas em PBS para leitura em
citômetro de fluxo.

Análise estatística

Todos os dados foram expressos como media ± e.p.m e


analisados pelo software GraphPad Prism 5.0 usando análise
de variância one-way (ANOVA) seguida pelo pós-teste de
Dunnett. Os resultados foram considerados estatisticamente
significantes quando p < 0,05. Para analisar os dados da
citometria de fluxo foi utilizado o programa FlowJo.

3 RESULTADOS

Efeito das fases de C. cervicornis na viabilidade dos


macrófagos

Os resultados obtidos demonstram que ambas as fases


H:A/85:15 e AcOEt (10, 50 e 100 µg/mL) de C. cervicornis não
910
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

interferem com a viabilidade dos macrófagos depois de 24


horas na presença ou ausência de LPS (Figura 1).

Figura 1. Efeito das fases H:A/85:15 e AcOEt na


viabilidade de macrófagos peritoneais.

A viabilidade dos macrófagos foi avaliada pelo método de redução do MTT.


O gráfico representa a média ± e.p.m de pelo menos três experimentos
independentes realizados em duplicata.

As fases de C. cervicornis modulam os níveis de NO

O tratamento com a fase H:A/85:15 (50 e 100 µg/mL)


reduziu a produção de NO em macrófagos estimulados com
LPS em 47,6% e 83,7%, respectivamente. Enquanto a fase
AcOEt (10, 50 e 100 µg/mL) inibiu este parâmetro em 16,9%,
86,5% e 91,1%, respectivamente. Além disso, as fases
H:A/85:15 e AcEt de C. cervicornis não alteram os níveis
basais de NO (Figura 2).

911
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

Figura 2. Efeito das fases H:A/85:15 e AcOEt de C.


cervicornis nos níveis de óxido nítrico em macrófagos
peritoneais.

Os resultados foram expressos como média ± e.p.m de pelo menos três


experimentos independentes realizados em duplicata e analisados usando
ANOVA com pós-teste de Dunnett. ***p < 0,001 versus grupo LPS.

As fases de C. cervicornis modulam os níveis de citocinas

Os macrófagos estimulados com LPS (1 µg/mL)


mostraram aumento significativo nos níveis de TNF-α, IL-6, IL-
12 e IL-10 quando comparados ao grupo controle (níveis
basais). O tratamento per se com as fases de C. cervicornis
(10, 50 e 100 µg/mL) não modula os níveis basais destas
citocinas (Fig. 3A-3D). No entanto, na presença de LPS, as
fases H:A/85:15 e AcOEt mostraram efeitos
imunomoduladores. Tratamento com a fase H:A/85:15 (50
µg/mL e 100 µg/mL) reduziu os níveis de IL-6 (48,5% e

912
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

79,9%), IL-12 (42,5% e 48,6%) e IL-10 (58,9% e 85,2%) (Fig.


3A-3C).
Além disso, a fase H:A/85:15 (10 µg/mL) inibiu 9,3% e
20,1% dos níveis de IL-12 e IL-6, respectivamente (Fig. 3A-
3B). Por outro lado, o tratamento com a fase AcOEt (10, 50 e
100 µg/mL) reduziu os níveis de IL-10 (38,1%, 53,4% e 88,0%,
respectivamente) de uma maneira dependente de
concentração (Fig. 3C) e os níveis de IL-6 (56,8%) somente na
mais alta concentração (100 µg/mL) (Fig. 3A). Além disso, o
tratamento com ambas as fases não modula os níveis de
TNF-α (Fig. 3D).

Figura 3. Efeito das fases H:A/85:15 e AcOEt de C.


cervicornis nos níveis de citocinas

913
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

914
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

Os resultados foram expressos como média ± e.p.m de pelo menos dois


experimentos independentes realizados em duplicata e analisados usando
ANOVA com pós-teste de Dunnett. *p < 0,05, **p < 0,01 e ***p < 0,001
versus grupo LPS.

As fases de C. cervicornis modulam a expressão de TLR4

Os macrófagos estimulados com LPS mostraram


aumento significativo nos níveis de expressão do TLR4
quando comparados ao grupo controle (níveis basais). O
tratamento com a fase H:A/85:15 (100 µg/mL) foi capaz de
reduzir a expressão desse receptor. Por outro lado, o
tratamento com a fase AcOEt não interferiu neste parâmetro.

Figura 4. Efeito das fases H:A/85:15 e AcOEt


(100 µg/mL) de C. cervicornis na expressão de TLR4.

A expressão de TLR4 foi avaliada por citometria de fluxo. Os dados


foram expressos como mediana da intensidade de fluorescência (MFI) de
experimentos realizados em duplicata e analisados usando ANOVA com
pós-teste de Dunnett. *p < 0,05 versus LPS e #p < 0,05 versus CTR.

915
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

4 DISCUSSÃO

Organismos marinhos, especialmente algas, são fontes


de novos compostos para o desenvolvimento de drogas em
vários campos, tais como câncer, desordens inflamatórias e
infecções (CHEUNG et al., 2015). Neste trabalho, foi avaliado
o efeito imunomodulador das fases H:A/85:15 e AcOEt de C.
cervicornis in vitro usando macrófagos peritoneais.
Primeiramente, foi observado que as fases de C. cervicornis
não reduzem a viabilidade dos macrófagos (Fig.1), o que
permitiu o desenvolvimento de outros experimentos.
Vários mediadores inflamatórios estão associados ao
processo inflamatório tais como o NO, um gás solúvel, que
causa alterações vasculares (HOLÁN et al., 2002). Neste
estudo, foi observado que as fases H:A/85:15 e AcOEt de C.
cervicornis reduzem os níveis de NO em macrófagos
estimulados com LPS (Fig.2). Alguns relatos tem demonstrado
que C. cervicornis apresenta diterpenos como metabólitos
secundários (MIGUEL BIANCO et al., 2015; DOMINGOS et
al., 2015; DOS SANTOS et al. 2015) e estes compostos tem
efeitos anti-inflamatórios, incluindo a inibição da produção de
NO (LIU et al., 2014; HUANG et al., 2015). Então, o efeito
inibitório de C. cervicornis nos níveis de NO poderia estar
relacionado a presença de diterpenos nesta alga.
O LPS ativa receptores TLR4 em células do sistema
imunológico e desencadeia uma sinalização que envolve a
ativação do fator nuclear NF-κB, um regulador da expressão
de várias citocinas, tais como IL-6, TNF-α, IL-12 e IL-10
(KAWAI; AKIRA, 2007). Como mostrado na Fig.3, a fase
H:A/85:15 de C. cervicornis modula negativamente os níveis

916
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

de IL-6, IL-12 e IL-10, enquanto a fase AcOEt inibiu somente


os níveis IL-6 e IL-10 em macrófagos estimulados com LPS.
Contudo, os níveis de TNF-α não são alterados com o
tratamento com as fases de C. cervicornis. Além disso, como
mostrado na Fig.4, a fase H:A/85:15 foi capaz de modular
negativamente a expressão do receptor TLR4. Esse receptor
fazer parte de uma família de 11 receptores que reconhecem
diferentes moléculas microbianas e substâncias relacionadas
ao dano celular (KAWAI; AKIRA, 2007). Ao reduzir a
expressão de TLR4, a fase H:A/85:15 de C. cervicornis
impede o reconhecimento do LPS e, consequentemente,
reduz a ativação dos macrófagos e a produção de diferentes
mediadores. Uma vez que a fase H:A/85:15 não foi capaz de
reduzir a produção de TNF-α, é possível que outras vias de
sinalização não associadas ao TLR4 também tenha sido
ativadas de forma compensatória à inibição da ativação do
TLR4.
Estes dados indicam que as fases desta alga têm
efeitos imunomoduladores, que possivelmente envolve a
inibição do NF-κB ou mesmo outras proteínas de sinalização
relacionadas com cada citocina, tais como os fatores de
transcrição STAT1/3 associados com a produção de IL-10
(IYER; CHENG, 2012), ou vias das ERK1/2 independentes de
NF-κB aliadas a produção de IL-6 (REGO et al, 2011). No
entanto, estudos mais detalhados devem ser realizados para
confirmar esta hipótese.

5 CONCLUSÃO

Em resumo, os resultados demonstraram, pela primeira


vez, que a Canistrocarpus cervicornis apresenta efeito
917
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

imunomodulador e pode ser uma fonte de fitoterápicos ou de


novos protótipos de fármacos para terapias
imunomoduladoras.

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920
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

1)–Dependent CCAAT/Enhancer-Binding Protein band NF-kB Pathways


and an SHP-1–Independent NF-kB Pathway in Lipopolysaccharide-
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921
EFEITO IMUNOMODULADOR DE Canistrocarpus cervicornis

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922
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO

CAPÍTULO 47

EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS


PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDES CAPRINO PÓS-
DESCONGELAÇÃO
Camilla Flávia Avelino FARIAS 1
Rafael LIMONGI de Souza 2
Alex Souza RIQUE 1
Maria Madalena Pessoa GUERRA 3
Sildivane Valcácia SILVA 4
1
Graduandos do curso de Biotecnologia, UFPB; 2Mestrando de Pós-Graduação em
Biotecnologia, UFPB; 3Professora Associada, DMV/UFRPE
4
Orientadora/Professora,CBiotec/UFPB.
sildivane@cbiotec.ufpb.br

RESUMO: Objetivou-se avaliar o efeito da adição da L-


glutamina (Glut) no sêmen caprino pós-descongelação.
Amostras de reprodutores caprinos da raça Boer (n=3) foram
descongeladas (37°C/30s) e homogeneizadas. Quatro grupos
experimentais foram formados: GC=grupo controle, sêmen
sem Glut; G1=sêmen + 5mM Glut; G2=sêmen + 15mM Glut;
G3=sêmen + 30mM Glut; As amostras foram submetidas às
avaliações pelo software CASA, função mitocondrial (JC-1) em
microscopia de fluorescência e integridade de membranas
plasmática e acrossomal por citometria de fluxo (IP e FITC-
PNA), nos momentos 0h e 2h pós-descongelação. Os dados
foram inicialmente avaliados pelo teste de Kolmogorov-
Smirnov. Para comparações entre os tempos de um mesmo
grupo utilizou-se o teste T, e para comparação entre grupos
utilizou-se ANOVA, seguida do pós-teste de Tukey (p≤0,05). A
motilidade progressiva (MP) apresentou redução no período
de incubação (p<0,05) no GC, não observada nos grupos com
923
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
a Glut. Houve redução (P<0,05) na LIN (GC e G3), STR (GC)
e WOB (G3). A ALH aumentou (P<0,05) nos G2 e G3. Os
demais parâmetros avaliados não sofreram alterações
(P>0,05) entre os grupos. Assim, conclui-se que a adição de
glutamina, nas concentrações de 5, 15 e 30mM preserva a
motilidade progressiva de espermatozoides caprino e nas
concentrações de 15 e 30mM aumenta a ALH duas horas pós-
descongelação. Assim, a glutamina pode ser um eficiente
aditivo para a conservação de sêmen caprino.
Palavras-chave: Antioxidante. Citometria de fluxo,
Criopreservação Seminal.

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, caprinos e ovinos são explorados em regimes


familiares e extensivos ou empresariais e intensivos. Em todos
os cenários, sua função social e no agronegócio é muito
importante (FONSECA et al., 2014). A Inseminação Artificial
(IA) assume atividade impulsionadora na criação de caprinos,
pois facilita o controle reprodutivo e auxilia na realização de
testes de progênie em um curto intervalo de tempo (SILVEIRA
et al., 2013).
A capacidade de criopreservar espermatozoides de
todas as espécies domésticas é desafiadora. Embora todas as
células tenham que suportar tensões físicas associadas aos
processos de criopreservação, os espermatozoides das
diferentes espécies diferem bastante em tamanho, forma e
composição lipídica (SOUZA et al., 2016). O armazenamento
do sêmen a frio é usado para reduzir o metabolismo e manter
a viabilidade do espermatozoide durante um longo período de
tempo (PERUMAL et al., 2013), porém a congelação/
descongelação do sêmen ocasiona prejuízos, muitas vezes

924
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
irreversíveis aos espermatozoides como perda de motilidade,
alterações estruturais e funcionais da membrana espermática
e, consequentemente, diminuição do poder fecundante
(SANTOS et al., 2015).
No entanto, para assegurar o mínimo de sucesso na
criopreservação, não apenas a composição do diluidor, a taxa
de diluição e as curvas de congelação e descongelação são
determinantes, como também o conhecimento da fisiologia
espermática da espécie em questão (MAIA, 2014). As lesões
causadas pelo processo de criopreservação às estruturas que
conferem motilidade e viabilidade espermática podem ser
induzidas pela formação de radicais livres, entre eles estão as
espécies reativas de oxigênio (LIMONGI et al., 2015). Ainda
no semen criopreservado, a maquinaria antioxidante é
extremamente diluída, prejudicando o papel protetor destes
antioxidantes endógenos (CASTRO et al., 2016).
Como forma de minimizar o problema, a suplementação
das soluções criodiluidoras com antioxidantes exógenos visa
aumentar o poder antioxidante e o restabelecimento dos níveis
apropriados destes componentes no plasma seminal,
buscando tornar o meio adequado à sobrevivência
espermática durante o processo de criopreservação, capaz de
fornecer melhores resultados de qualidade espermática pós-
descongelação (LOPES et al., 2016).
O mecanismo exato das moléculas antioxidantes para
melhorar a qualidade espermática pós-descongelação ainda
não é completamente compreendida. A adição de antioxidante
pode ser capaz de neutralizar ROS e manter o equilíbrio da
produção e eliminação de ROS gerados durante o processo
de criopreservação (LIU et al., 2015).

925
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
A glutamina (C5H10N2O3) é o aminoácido livre mais
abundante no plasma e no tecido muscular, sendo também
encontrada em concentrações relativamente elevadas em
outros diversos tecidos corporais (PAULA et al., 2015;
VANELLI et al., 2015). A natureza crioprotetora da glutamina é
atribuída à sua propriedade antioxidativa, responsável pelo
padrão de motilidade pós-descongelação melhorado e pela
integridade da membrana plasmática dos espermatozoides
(TOPRAGGALEH et al., 2014).
Alguns autores utilizaram a glutamina como potencial
antioxidante. Topraggaleh et al. (2014) realizaram a
suplementação de cisteína e glutamina e alcançaram, nas
concentrações de 7,5 e 15 mmol respectivamente, elevada
motilidade e integridade da membrana plasmática de
espermatozoides congelados de búfalo em comparação ao
grupo controle. Em outro estudo, Aramli et al. (2016) obtiveram
melhoria na motilidade espermática e na taxa de fertilização
na concentração de 10 mmol de glutamina em
espermatozoides de esturjão-persa. Além disso, foram obtidas
maiores valores de motilidade pós-descongelação, velocidade
curvilinear (VCL), fertilização e incubação.
Khiabani et al. (2017) observaram em espermatozoides
de galo que o extensor suplementado com 5 mmol de
glutamina melhorou a viabilidade, motilidade total e
progressiva dos espermatozoides em comparação com outros
tratamentos. Ainda, 2,5 mmol de glutamina proporcionou maior
integridade da membrana espermática e menor nível de
anormalidades. Assim, todos esses trabalhos, em diferentes
espécies, mostram que a glutamina tem potencial antioxidante
sobre os espermatozoides criopreservados. Desta forma, este
estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da adição da

926
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
glutamina em diferentes concentrações em espermatozoides
caprinos pós-descongelação.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Animais e Local

Amostras seminais de reprodutores caprinos da raça


Boer (n=3), obtidas em central de reprodução, foram utilizadas
neste experimento. O experimento foi realizado no Laboratório
de Andrologia (ANDROLAB), lotado no Departamento de
Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Recife.

2.2 Delineamento Experimental

Foram descongeladas seis palhetas (0,25 mL cada) de


diferentes reprodutores pós-descongelação (37 ºC/30 s),
acondicionadas e homogeneizadas em tubos plásticos de
1,5 mL (DIAS et al., 2015), com o intuito de minimizar os
efeitos individuais (SANTOS et al., 2015). Em sequência,
foram formados quatro grupos experimentais: Grupo Controle
(GC): sêmen sem adição da glutamina (Glut) (50 µL sêmen +
5 µL solução fisiológica; NaCl 0,9%); Grupo 1 (G1): sêmen + 5
mM de Glut (50 µL sêmen + 1 µL Glut + 4 µL solução
fisiológica); Grupo 2 (G2): com a adição de 15 mM de Glut (50
µL sêmen + 2,5 µL Glut + 2,5 µL solução fisiológica); Grupo 3
(G3): adição de 30 mM de Glut (50 µL sêmen + 5 µL Glut). Os
grupos foram avaliados em dois tempos pós-descongelação,
imediatamente após a descongelação (T0) e duas horas após

927
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
esta primeira avaliação (T2). Este experimento foi realizado
seis vezes, caracterizando seis repetições.

2.3 Análise Espermática

Morfologia Espermática
Utilizou-se 10 µL de sêmen do pool diluídos em formol-
salino (1:100) sendo seladas as laterais com esmalte sintético.
A lâmina foi avaliada em microscópio de contraste de fase,
com objetiva de 100x, sob óleo de imersão. Foram avaliadas
200 células, para análise morfológica (CBRA, 2013).

Avaliação dos parâmetros cinéticos


A cinética espermática foi analisada através do sistema
computadorizado de análise espermática CASA (Sperm Class
Analyzer - SCATM software, Microptics, v. 5.1, S.L., Barcelona,
Espanha). Uma alíquota (5 μL) de cada amostra foi depositada
sobre lâmina previamente aquecida (37 ºC) (EVANGELISTA et
al., 2016), coberta com lamínula e analisada por microscópio
de contraste de fase (aumento de 100x; Nikon TM H5505,
Eclipse 50i, Tóquio, Japão) e as imagens foram capturadas
utilizando uma câmera de vídeo (Basler Vision TechnologiesTM
A312FC, Ahrensburg, Alemanha). Para cada amostra foram
analisados cinco campos não consecutivos como observado
na Fig. (1), selecionados aleatoriamente, com registro de, no
mínimo, 2.000 espermatozoides.

928
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
Figura 1. Campo de avaliação da motilidade espermática de
espermatozoides caprinos pós-descongelação, sistema CASA

Fonte: Arquivo próprio.

Foram avaliados os parâmetros cinéticos de motilidade


total (MT), motilidade progressiva (MP), percentual de
espermatozoides rápidos, velocidade curvilinear (VCL),
velocidade em linha reta (VSL), velocidade média do percurso
(VAP), linearidade (LIN), retilinearidade (STR), índice de
oscilação (WOB), amplitude lateral da cabeça (ALH),
batimento cruzado flagelar (BCF). Os pontos finais da cinética
foram mensurados com as seguintes configurações:
temperatura de 37 ºC, taxa de frame de 25 s, contraste
mínimo de 75, 25 frames adquiridos por campo, velocidade
analisada entre 0 a 180 μm/s e limiar de 75% de STR.

Avaliação de Função Mitocondrial


Para este teste foram utilizados 30 µL de cada grupo
experimental e 5 µL de JC-1 (iodeto de 5, 5’, 6, 6’ – tetracloro -
1, 1, 3, 3’ – tetraetilbenzimidazolilcarbocianina; Fig. 2),
incubadas por 10 minutos para ação da sonda sobre os
espermatozoides; uma gota de 10 µL de cada grupo
experimental foi colocado entre a lâmina e lamínula e
observados em um microscópio de epifluorescência, com

929
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
aumento de 400x, usando filtro de emissão LP 515 nm e BP
450-490 nm para excitação.
Foram contadas 200 células, sendo apresentadas em
duas fluorescências: As células coradas em laranja foram
classificadas com alto potencial de membrana mitocondrial,
enquanto aquelas coradas em verde foram classificadas com
baixo potencial de membrana (SOBRINHO et al., 2014).

Figura 2. Avaliação do potencial mitocondrial de


espermatozoides caprinos pós-descongelação, em
microscopia de fluorescência, com uso do fluoróforo JC-1

Fonte: Arquivo próprio.

Avaliação de Membrana Acrossomal e Plasmática


Para a avaliação da integridade das membranas
acrossomal (iAC) e plasmática (iMP), as amostras de sêmen
foram centrifugadas uma vez em 1 mL de PBS (Fosfato Salino
Tamponado), a 1.610g por 10 minutos. Ao término, o
sobrenadante foi retirado e o pellet ressuspenso em 100 µL de
PBS. Após homogeneizadas, as amostras receberam a adição
de 1 µL de FITC-conjugada ao Peanut aglutinina (FITC-PNA;
200 µg/mL) e 3 µL de iodeto de propídio (IP; 0,5 mg/mL) em
PBS, imediatamente ao que foram fixadas em glutaraldeído

930
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
0,5%, e incubadas por 10 minutos a temperatura ambiente
(27 ̊C).
As amostras de sêmen marcadas com os fluoróforos
foram analisadas em citômetro de fluxo Amnis ImageStream
Mark II (EMD Millipore Corp.), na objetiva de 60x, com taxa de
imagem de 500 células/seg e utilizando o PBS Dulbecco’s
(livre de Ca2+; Mg2+) como fluido de manutenção celular. O
tamanho das células e a velocidade do fluxo foram de 7,0 µm
e 44 mm/sec, respectivamente, e aquisição das imagens bruta
realizada através do software INSPIRE®. As amostras foram
analisadas em laser de 488 nm com intensidade definida para
55.0 mW; 5.000 eventos foram colhidos por amostra e as
imagens brutas avaliadas através do software IDEAS® (versão
6.0).
O gradiente RMS para o canal de campo claro
possibilitou selecionar espermatozoides em foco e combinar a
relação de “aspecto x área” possibilitou separar os eventos
unicelulares. A partir desta população de células únicas foram
criados gráficos de “intensidade x frequência” que permitiram a
visualização de histogramas da intensidade média do pixel,
com base nos quais foram extraídas as regiões de sub-
populações para diferentes níveis de intensidade e feita a
confirmação visual. Além disso, foi criado um dotplot de
intensidade entre os canais 2 e 5 onde foram separadas as
sub-populações existentes.
Foram consideradas células com membrana
acrossomal e plasmática íntegras aquelas não marcadas
(PNA-/IP-) na Fig. (3A), células com membrana acrossomal
lesada e plasmática íntegra às marcadas pelo FITC-PNA e
não marcadas pelo IP (PNA+/IP-) na Fig. (3B), células com
membrana acrossomal intacta e plasmática lesada aquelas

931
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
não marcadas por FITC-PNA e marcadas por IP (PNA-/IP+) na
Fig. (3C) e por fim as células duplas marcadas representavam
aquelas com membrana acrossomal e plasmática lesadas
(PNA+/IP+) na Fig. (3D) (SOUZA et al., 2017).

2.4 Análise Estatística

Os dados foram submetidos inicialmente ao teste


Kolmogorov-Smirnov para verificação da normalidade dos
dados. Para comparações entre os tempos de um mesmo
tratamento utilizou-se o teste T, e para comparação entre
tratamentos utilizou-se ANOVA, seguida do pós-teste de
Tukey (p≤0,05). Todos os testes foram realizados com nível de
5% de significância. Os dados foram expressos na forma de
média e desvio-padrão.

932
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
Figura 3. Registros do citômetro de fluxo Amnis ImageStream
Mark II da identificação de integridade de membranas
acrossomal e plasmática de espermatozoides de caprinos
criopreservados

Fonte: Arquivo próprio.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como observado na tab. (1) referente a motilidade total,


motilidade progressiva e de espermatozoides rápidos, pode-se
notar que houve uma redução significante da motilidade
progressiva (P<0,05) no grupo GC durante o período de
incubação, o que não foi observado nos demais grupos
tratados com a glutamina.
Estudos com carneiros (MEHR; NOORI, 2013; SANAZ
et al., 2014; SANGEETA et al., 2015), rato (SARIÖZKAN et al.,
933
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
2014), e bufalo (TOPRAGGALEH et al., 2013) mostraram que
a associação com a glutamina conservou significativamente a
motilidade espermática, resultado observado também neste
trabalho. Em seus estudos, Bencharif et al. (2012) observaram
melhoria no parâmetro de motilidade em espermatozoides de
cão criopreservados, sugerindo que a glutamina exerce efeito
metabólico. Esse efeito metabolico explicaria a conservação
da motilidade progressiva dos grupos tratados com a
glutamina presentes na Tab. (1).

Tabela 1. Porcentual (média ± desvio padrão) de motilidade


total, progressiva e espermatozoides rápidos de caprino da
raça Boer pós-descongelação, com adição ou não de
glutamina, avaliados pelo sistema CASA
Grupos Motilidade Total Motilidade Espermatozoides
Progressiva Rápidos
GC T0 57,28±3,88ᴬᵃ 36,27±3,72ᴬᵃ 42,65±7,48ᴬᵃ
GC T2 46,70±12,01ᴬᵃ 24,23±8,52ᴮᵃ 33,77±13,61ᴬᵃ
G1 T0 57,78±9,05ᴬᵃ 35,28±5,57ᴬᵃ 40,95±3,01ᴬᵃ
G1 T2 49,72±12,05ᴬᵃ 27,17±9,56ᴬᵃ 34,92±13,56ᴬᵃ
G2 T0 52,92±7,64ᴬᵃ 32,10±5,51ᴬᵃ 39,17±8,95ᴬᵃ
G2 T2 49,35±5,30ᴬᵃ 25,52±9,81ᴬᵃ 34,30±10,54ᴬᵃ
G3 T0 49,27±14,63ᴬᵃ 29,97±7,74ᴬᵃ 38,32±11,26ᴬᵃ
G3 T2 49,25±12,48ᴬᵃ 25,55±7,20ᴬᵃ 34,98±10,30ᴬᵃ
GC= Grupo Controle; G1=Grupo 1 (5mM de Glut); G2=Grupo 2 (15mM de Glut);
G3=Grupo 3 (30mM de Glut). T0= Momento de avaliação pós-descongelação; T2=
Momento de avaliação 2h pós-descongelação. Letras maiúsculas diferentes na
mesma coluna indicam diferença entre os tempos de avaliação. Letras minúsculas
diferentes na mesma coluna indicam diferença entre os grupos.

Os resultados da cinética espermática observados na


Tab. (2) mostram que não houve alterações (P>0,05) nos
parâmetros de velocidade curvilinear (VCL), velocidade em
linha reta (VSL) e velocidade média do percurso (VAP) entre o
grupo GC e os grupos tratados com a glutamina, mostrando
que a adição da glutamina não interferiu nesses parâmetros.

934
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
Tabela 2. Valores (média ± desvio padrão) da cinética
espermática fornecidos pelo sistema CASA de
espermatozoides de caprino da raça Boer pós-descongelação
com adição ou não de glutamina
Grupos VCL VSL VAP
(mm/s) (mm/s) (mm/s)
GC T0 126,2 ± 21,7 94,7 ± 23,2 112,1 ± 26,0
GC T2 121,4 ± 18,2 78,8 ± 16,3 100,2 ± 20,6
G1 T0 125,8 ± 18,1 92,7 ± 24,3 110,3 ± 24,9
G1 T2 120,1 ± 14,2 80,2 ± 19,5 99,0 ± 20,6
G2 T0 125,0 ± 21,5 91,7 ± 24,2 109,7 ± 26,2
G2 T2 127,0 ± 20,0 82,7 ± 31,2 104,3 ± 29,8
G3 T0 129,7 ± 16,9 92,9 ± 11,7 113,7 ± 16,6
G3 T2 127,3 ± 15,6 83,3 ± 15,3 104,3 ± 18,4
GC= Grupo Controle; G1=Grupo 1 (5mM de Glutamina); G2=Grupo 2 (15mM de
Glutamina); G3=Grupo 3 (30mM de Glutamina). T0=Momento de avaliação pós-
descongelação; T2 (25 °C)=Momento de avaliação 2h pós-descongelação. VCL -
Velocidade Curvilinear; VSL - Velocidade em Linha Reta; VAP - Velocidade média
do percurso;

Por outro lado, observou-se redução (P<0,05) nos


parâmetros de linearidade (LIN) nos grupos GC e G3,
retilinearidade (STR) no grupo GC e oscilação (WOB) no
grupo G3 (Tab. 3). Foi observado aumento (P<0,05) no
parâmetro de amplitude lateral de cabeça (ALH) para os
grupos G2 e G3 (Tab. 4).
Espermatozoides não hiperativados têm trajetórias
relativamente regulares, com baixa ALH (GOGOL, 2013). Já
as trajetórias dos hiperativados são caracterizadas por altos
valores de ALH e VCL, com baixa LIN (MORTIMER et al.,
2015), como foi apresentado nos resultados deste
experimento, mostrando que após duas horas de incubação,
os espermatozoides que obtiveram valores significantes de
LIN e ALH possam ter sido hiperativados.

935
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
Tabela 3. Valores (média ± desvio padrão) da cinética
espermática de espermatozoides caprinos da raça Boer pós-
descongelação, com adição ou não de glutamina, avaliados
pelo sistema CASA
Grupos LIN STR WOB
(%) (%) (%)
GC T0 74,25±6,05ᴬᵃ 84,23±2,21ᴬᵃ 88,07±5,58ᴬᵃ
GC T2 64,60±6,21ᴮᵃ 78,62±2,83ᴮᵃ 82,07±6,31ᴬᵃ
G1 T0 72,70±9,67ᴬᵃ 83,47±4,45ᴬᵃ 86,83±7,85ᴬᵃ
G1 T2 66,15±10,42ᴬᵃ 80,55±4,07ᴬᵃ 81,82±9,87ᴬᵃ
G2 T0 72,57±8,57ᴬᵃ 83,33±5,70ᴬᵃ 86,97±6,66ᴬᵃ
G2 T2 63,45±13,86ᴬᵃ 78,13±6,42ᴬᵃ 80,53±11,17ᴬᵃ
G3 T0 71,6 ±2,54ᴬᵃ 81,92±3,03ᴬᵃ 87,55±2,29ᴬᵃ
G3 T2 65,25±6,84ᴮᵃ 79,97±6,84ᴬᵃ 81,55±6,42ᴮᵃ
GC= Grupo Controle; G1=Grupo 1 (5mM de Glut); G2=Grupo 2 (15mM de Glut);
G3=Grupo 3 (30mM de Glut). T0= Momento de avaliação pós-descongelação; T2=
Momento de avaliação 2h pós-descongelação. Letras maiúsculas diferentes na
mesma coluna indicam diferença entre os tempos de avaliação. Letras minúsculas
na mesma coluna indicam diferença entre os grupos. LIN: Linearidade; STR:
Retilinearidade; WOB: índice de oscilação.

Vários fatores determinam a fecundação, como o


tamanho e qualidade do ovócito (JUNIOR et al., 2016), o
tempo de motilidade espermática (SOUZA et al., 2014) e a
distância percorrida pelos espermatozoides. Outro ponto
importante é a atividade ovariana da fêmea (SILVA et al.,
2013), podendo influenciar no momento da ovulação, o que
pode dificultar o conhecimento do tempo exato da ovulação.
Assim, é necessário que o espermatozoide se mantenha não
capacitado por mais tempo, para que possa continuar viável
no genital feminino até a ovulação ocorrer, e ao mesmo tempo
deve estar apto para fecundação do oócito (SOUZA et al.,
2014), comportamento este observado no grupo contendo 5
mM da glutamina (Tab. 4).

936
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
Tabela 4. Valores (média ± desvio padrão) da cinética
espermática de espermatozoides caprinos da raça Boer pós-
descongelação com adição ou não de glutamina, avaliados
pelo sistema CASA
Grupos ALH BCF
(mm) (Hz)
GC T0 2,47±0,27ᴬᵃ 8,83±0,45ᴬᵃ
GC T2 2,87±0,50ᴬᵃ 8,95±0,32ᴬᵃ
G1 T0 2,47±0,34ᴬᵃ 9,05±1,22ᴬᵃ
G1 T2 2,88±0,42ᴬᵃ 9,70±1,84ᴬᵃ
G2 T0 2,52±0,25ᴬᵃ 8,95±0,77ᴬᵃ
G2 T2 3,02±0,49ᴮᵃ 8,68±0,89ᴬᵃ
G3 T0 2,45±0,10ᴬᵃ 9,07±0,36ᴬᵃ
G3 T2 3,20±0,38ᴮᵃ 9,55±0,83ᴬᵃ
GC= Grupo Controle; G1=Grupo 1 (5mM de Glut); G2=Grupo 2 (15mM de Glut);
G3=Grupo 3 (30mM de Glut). T0= Momento de avaliação pós-descongelação; T2=
Momento de avaliação 2h pós-descongelação. Letras maiúsculas diferentes na
mesma coluna indicam diferença entre os tempos de avaliação. Letras minúsculas
na mesma coluna indicam diferença entre os grupos. ALH: Amplitude lateral da
cabeça; BCF: Batimento cruzado flagelar.

Não houve alteração (P>0,05) para o potencial


mitocondrial (Tab. 5) entre o grupo GC e os grupos com a
adição da glutamina, independente dos tempos de incubação,
mostrando que a glutamina não interferiu nesse parâmetro.
Este achado corrobora com os resultados de motilidade
observados neste experimento, podendo sugerir que a
glutamina esteja influenciando no metabolismo energético do
espermatozoide, o que contribuiu para que os
espermatozoides não recorressem ao suporte energético das
mitocôndrias, mantendo estável o percentual de mitocôndrias
funcionais.

937
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
Figura 5. Porcentual (média ± desvio padrão) alto potencial
mitocondrial de espermatozoides caprino da raça Boer pós-
descongelação, com adição ou não de glutamina.
Grupos T0 T2
GC 67,13 ± 10,51 59,42 ± 4,82
G1 60,91 ± 5,74 60,54 ± 5,36
G2 61,92 ± 5,24 60,83 ± 5,06
G3 59,67 ± 7,28 58,88 ± 3,23
GC= Grupo Controle; G1=Grupo 1 (5mM de Glut); G2=Grupo 2 (15mM de Glut);
G3=Grupo 3 (30mM de Glut). T0=Momento de avaliação após descongelação; T2
(25 °C) = Momento de avaliação 2h pós-descongelação.

Assim como observado nos dados de potencial


mitocondrial, a integridade de membrana plasmática
espermática presente na Tab. (6) também não apresentou
alteração (P>0,05) entre os grupos e os tempos de incubação,
mostrando que a adição da glutamina não interferiu nesse
parâmetro.

Figura 6. Percentual (média ± desvio padrão) de


espermatozoides caprinos da raça Boer pós-descongelação,
com adição ou não de glutamina, com membrana plasmática e
acrossomal íntegras, avaliados por citometria de fluxo.
Grupos T0 T2
GC 43,5 ± 9,3 45,7 ± 9,4
G1 44,9 ± 8,8 43,4 ± 8,2
G2 44,5 ± 8,7 46,5 ± 9,6
G3 41,7 ± 11,2 41,0 ± 7,3
GC= Grupo Controle; G1=Grupo 1 (5mM de Glut); G2=Grupo 2 (15mM de Glut);
G3=Grupo 3 (30mM de Glut). T0=Momento de avaliação após descongelação; T2
=Momento de avaliação 2h pós-descongelação.

O conhecimento atual dos mecanismos de ação de


aminoácidos em células expostas ao frio é relativamente
limitado (BENCHARIF et al., 2013). Sabe-se que a glutamina é
envolvida em várias funções (GAURAV et al., 2012), porém há

938
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
evidências que demonstram a glutamina exerce atividade
associada ao metabolismo energético na célula espermática.
Os espermatozoides são muito sensíveis ao aumento
da pressão osmótica quando o último é causado por
elementos que não atravessam a membrana plasmática. A
glutamina possui um mecanismo de ação extracelular.
Contudo, a rotulagem radioativa da glutamina no
espermatozoide diluído mostra que existe uma leve
penetração celular (BENCHARIF et al., 2012), podendo supor
que a glutamina contém duas ações: a primeira, extracelular,
como crioprotetor e a segunda, intracelular, participando do
metabolismo com a intervenção da glutamina no ciclo de
Krebs via glutamato e α-cetoglutarato (BENCHARIF et al.,
2013). Supõe-se então que a glutamina seja utilizada pelo
espermatozoide no metabolismo energético. Este mecanismo
pode estar envolvido na preservação dos parâmetros de
motilidade progressiva, velocidade e funcionalidade
mitocondrial neste estudo.

4 CONCLUSÕES

A adição de glutamina nas concentrações de 5, 15 e 30


mM preserva a motilidade progressiva de espermatozoides
caprinos pós-descongelação e na concentração de 5mM
retarda a capacitação espermática. Desta forma, este
aminoácido pode ser um possível antioxidante para aprimorar
os resultados de criopreservação do sêmen caprino e
contribuir efetivamente para o aumento da produção de
caprinos.

939
EFEITO DA GLUTAMINA SOBRE OS PARÂMETROS CINÉTICOS DE
ESPERMATOZOIDE CAPRINO PÓS-DESCONGELAÇÃO
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943
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
CAPÍTULO 48

CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA


PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
Yaroslávia Ferreira PAIVA 1
Everton Vieira da SILVA 2
Fernanda dos Santos Nunes de Melo ALENCAR 3
Plínio Tércio Medeiros de AZEVEDO 4
Alfredina dos Santos ARAÚJO 5
1
Mestranda em Sistemas Agroindustriais, UFCG; 2 Doutor em Química, UFPB; 3 Doutoranda
em Engenharia Agrícola, UFCG; 4 Graduando em Engenharia de Alimentos, UFCG;
5
Professora do CCTA/ UFCG.
yaroslaviapaiva@gmail.com.br

RESUMO: A utilização de corantes em alimentos desencadeia


uma série de especulações sobre seus benefícios e malefícios
à saúde humana, o que vem ocasionando o uso de corantes
naturais em substituição aos corantes sintéticos em alimentos
industrializados A pimenta biquinho se caracteriza por
apresentar alta concentração de compostos fenólicos, como
flavonoides e carotenoides, sendo esta característica
responsável pelo seu uso como corante natural. Estre trabalho
objetivou a obtenção e caracterização do corante natural da
pimenta ‘Biquinho’ cultivada em São João do Cariri-PB. Para
tanto, o mesmo foi extraído utilizando o etanol (1:8) e
caracterizado através de análises físico-químicas, teores de
compostos bioativos, atividade antioxidante e condições
microbiológicas. Os resultados obtidos apontam um
rendimento de 50% da produção de corante, nas condições de
extração empregadas neste trabalho. Obteve-se também
níveis de flavonoides (105,38 (mg/100g)), antocianinas (15,72
(mg/100g)), carotenoides (14 mg/100g)) e elevado conteúdo
de compostos fenólicos 1536,81(mg EAG/100g) que
confirmam a atividade antioxidante do material, além de
apresentar condições microbiológicas aceitáveis. Sendo

944
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
assim, o corante obtido da pimenta biquinho possui excelente
teor de compostos fenólicos, flavonoides, antocianinas e
atividade antioxidante, além de ser microbiologicamente
seguro, tornando-se uma alternativa para ser utilizado na
produção de alimentos industrializados, contribuindo de forma
segura para substituição de corantes sintéticos na indústria
alimentícia.
Palavras-chave: Pimenta de bico. Aditivos. Antioxidantes.

1 INTRODUÇÃO

Os aditivos alimentares, sejam eles naturais ou


sintéticos, fazem parte diariamente da vida de dos humanos,
sendo difícil encontrar formulações alimentícias que não os
possua. Segundo a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) (1997), o emprego de aditivos justifica-se por razões
tecnológicas, nutricionais ou sensoriais e pode ser definido
como sendo qualquer ingrediente adicionado intencionalmente
aos alimentos, sem propósito de nutrir, com o objetivo de
modificar as características físicas, químicas, biológicas ou
sensoriais, durante a fabricação, processamento, preparo,
tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenamento,
transporte ou manipulação de um alimento.
A necessidade do uso de aditivos deve ser justificada
sempre que proporcionar benefícios de ordem tecnológica,
não sendo permitido quando esses possam ser alcançados
por operações de processamento mais adequadas ou por
maiores precauções de ordem higiênica ou operacional (AUN
et al., 2011).
Estas substâncias podem ser classificadas, de acordo
com suas funções em: agentes conservantes (antioxidantes ou
antimicrobianos), acidulantes, emulsificantes, estabilizantes,

945
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
espessantes, umectantes, antiumectantes, corantes,
flavorizantes (realçadores de sabor) e adoçantes
(SCHVASTSMAN, 1982).
De acordo com a Portaria SVS/MS 540/97, considera-
se corante a substância ou a mistura de substâncias que
possuem a propriedade de conferir ou intensificar a coloração
de alimento (e bebida).
Downham e Collins (2000) apontam que a cor influencia
no sabor, na aceitabilidade e, consequentemente, na
preferência por certos alimentos e bebidas, sendo assim, ela
está diretamente ligada à aceitação sensorial. Em muitos
alimentos industrializados a cor natural é alterada ou destruída
durante o processamento e/ou estocagem, sendo assim, os
corantes apresentam-se indispensáveis para indústria
alimentícia (PRADO e GODOI, 2004).
A utilização de corantes em alimentos desencadeia uma
série de especulações sobre seus benefícios e malefícios à
saúde humana (SOUZA et al., 2016). No passado, os corantes
artificiais eram os principais agentes de coloração dos
produtos industrializados. Nos últimos quinze anos, com base
nos resultados de estudos toxicológicos, o uso de inúmeros
corantes tem sido proibido por legislações de países
específicos e observa-se uma nova tendência no consumo
desses, que resultou em uma pequena substituição dos
corantes sintéticos pelos naturais (SOUZA, 2012).
Apesar dos corantes naturais apresentarem algumas
desvantagens (baixa estabilidade e o alto custo), eles se
sobressaem comparados aos artificiais por não acarretam
lesões à saúde (GOMES, 2012), podendo inclusive possuir
outras importantes propriedades, como atividade antioxidante
e anti-inflamatória, relevantes tanto para o consumidor, quanto

946
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
para a indústria, que poderá associar diversas vantagens aos
seus produtos (SOUZA, 2012).
As plantas (folhas, flores e frutos) estão entre as
principais fontes para obtenção de corantes naturais
(MENDONÇA, 2011), como as pimentas que foram,
provavelmente, os primeiros temperos utilizados pelos índios
para conferir cor, aroma e sabor aos alimentos. Além disso, as
pimentas auxiliavam na conservação dos alimentos por
apresentarem função fungicida e bactericida
(REIFSCHNEIDER, 2000), sobretudo à presença de
determinados componentes como a capsaicina e a
dihidrocapsaicina (CISNEROS-PINEDA, et al., 2007).
A pimenta ‘Biquinho’, também conhecida pelo nome
‘Pimenta-de-bico’, pertence à espécie Capsicum chinense e é
considerado um tipo de variedade relativamente nova, que tem
ganhando expressão nacional por apresentar frutos doces,
extremamente saborosos e aromáticos, chamando a atenção
de pesquisadores devido à inexistência de ardência que passa
a agradar ao paladar, além de suas excelentes propriedades
físicas, químicas e antioxidantes, principalmente altos níveis
de compostos fenólicos como flavonoides e também
carotenoides (SEVERO, 2015).
Objetivou-se a obtenção do corante natural da pimenta
‘Biquinho’ e sua caracterização.

4 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 OBTENÇÃO DO FARELO

A Pimenta ‘Biquinho’ utilizada foi adquirida na


comunidade rural Uruçu em parceria com Projeto Hidroçu:

947
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
Água fonte de alimento e renda: uma alternativa para o semi-
árido, localizada na zona rural do município de São João do
Cariri-Paraíba. Os frutos foram acondicionados em caixas
isotérmicas e em seguida transportadas para o Laboratório de
Análise de Águas, do Centro de Ciências e Tecnologia
Agroalimentar (CCTA) da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), Campus Pombal-Paraíba.
Após chegada ao Laboratório, as pimentas foram
imediatamente selecionadas, lavadas com água corrente para
retirada das sujidades, higienizadas e sanitizadas utilizando
200 mililitros de hipoclorito de sódio em 10 litros de água, por
um período de 20 minutos.
Em seguida foram lavadas em água destilada em três
repetições para retirada total do sanitizante. Os talos foram
retirados e os frutos foram triturados com o auxílio de um
processador de alimentos.
Posteriormente iniciou-se a secagem em estufa de
circulação de ar, por 48 horas ininterruptas, a uma
temperatura de 65±2 ºC. Ao final da secagem, o farelo foi
acondicionado em potes plásticos e armazenado em local
seco e livre do contato com a luz.

2.2 OBTENÇÃO DO CORANTE

Foram realizadas pesagens duplas de cerca de 35 g e


70 g da matéria-prima em estudo e que foram transferidas
para um balão com tampa no qual se adicionou 280 mL e 560
mL de etanol (1:8), respectivamente. Os recipientes foram
envolvidos em papel alumínio para evitar a degradação pela
luz. e submetidos a agitação à temperatura de 25±2ºC por 1
hora e deixado em repouso por 24 horas. As amostras foram

948
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
então submetidas a filtração à vácuo e os líquidos resultantes
foram depositados em balões para posterior retirada do etanol
em aparelho de Sohlext, permanecendo no mesmo a uma
temperatura média de 65 ºC, até eliminação total do solvente.
Para obter o máximo de corante possível, o etanol
recuperado durante a extração foi novamente adicionado à
amostra residual pós-extração e repetiu-se por mais duas
vezes com intervalos de 24 horas. Todo material extraído foi
coletado em um recipiente protegido da luz e submetido à
secagem para eliminação de solvente residual em estufa de
circulação de ar à 75ºC durante 30 min. Logo após, deixou o
material esfriar a temperatura ambiente e separou a fase
líquida, denominada de corante, sendo acondicionado em
temperatura de 5 ºC ± 2ºC.

2.3 CARACTERIZAÇÃO DO CORANTE

2.3.1 ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA

Foram avaliados os seguintes parâmetros: acidez (%),


potencial hidrogeniônico (pH), umidade (%), cinzas (resíduo
mineral fixo) (%), sólidos solúveis (ºBrix), sendo para tal
utilizadas as metodologias descritas pelo Manual de Métodos
Físico-Químico para Análise de Alimentos do Instituto Adolf
Lutz (2008). Também foram avaliados os teores de sódio (%)
e potássio (%) através da metodologia de Jackson (1958).

2.3.2 COMPOSTOS BIOATIVOS

Os parâmetros de flavonóides (mg/100g) e antocianinas


(mg/100g) foram determinados pelo método de Francis (1982),
949
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
carotenoides (mg/100g) e clorofila (mg/100g) utilizando
metodologia de Lichthenthaler (1987).

2.3.3 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE

Foi avaliada utilizando os métodos DPPH (EC 50g/g de


amostra) e ABTS (µM de trolox/g), segundo metodologia de
Rufino et al. (2007). O conteúdo de compostos fenólicos totais
(mgEAG/100g) foi avaliado de acordo com o método de Folin-
Ciocalteu, descrito por Waterhouse (2006).

3.2.4 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

O corante foi caracterizado microbiologicamente sendo


submetido à determinação dos parâmetros de Coliformes à
35ºC (NMP/mL), Coliformes à 45ºC (NMP/mL), Salmonella sp.
(ausência/presença), Staphylococcus spp. (UFC/mL) e Bolores
e Leveduras (UFC/mL) utilizando metodologia descrita por
Silva et al. (2010) em todos os procedimentos de análise.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O corante extraído a partir da Pimenta ‘Biquinho’,


utilizando como solvente o etanol na proporção de 1:8
apresentou rendimento de aproximadamente 50%.
Rendimento este, alto quando comparado ao corante extraído
do repolho roxo, por Almeida (2015) que obteve rendimento de
30% utilizando o mesmo solvente. Um alto rendimento na
extração significa menos gasto para indústria, sendo um ponto

950
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
muito positivo para utilização do mesmo enquanto corante
alimentício.

3.1 ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA

As médias dos resultados das análises físico-químicas


estão apresentados na Tab. 1 a seguir.

Tabela 1. Média das características físico-químicas do corante


da pimenta 'Biquinho'.

Parâmetros Concentração
Umidade (%) 83,97
Cinzas (%) 0,08
Potássio (%) 0,30
Sódio (%) 0,02
pH 3,47
Acidez (%) 3,07
Sólidos solúveis (ºBrix) 28,23
Fonte: Autoria própria.

O corante obteve teor de umidade de 83,97%, valor


inferior aos avaliados nos corantes de Santos et al. (2013) e
Almeida et al. (2015), ambos extraídos do repolho roxo, que
apresentaram umidade de 94,64% e 97,8%, respectivamente.
Avaliando o teor de cinzas (ou resíduo mineral fixo), o
valor apresentado foi de 0,078%, inferior aos encontrados por
Severo (2015) em amostras de farelo da pimenta ‘Biquinho’
(6,88%) e por Dambros (2014) em pimentas Capsicum spp. e
‘Dedo de moça’ in natura (variando de 0,57 a 1,54%).

951
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
Nos minerais, foram analisados os teores de sódio e
potássio, obtendo concentrações de 0,022% e 0,30%,
respectivamente. Esses valores são novamente inferiores aos
valores dos resultados obtidos da pimenta ‘Biquinho’ in natura,
sendo 1,9% sódio e 3,517% para o potássio, segundo a
pesquisa de Lutz e Freitas (2008).
Silva et al. (2010) obteve 0,47% de potássio em corante
de Urucum, valor este pouco superior ao do corante aqui
apresentado. O baixo conteúdo mineral apresentado é
vantajoso, significando que o produto não acrescentará
minerais quando adicionado ao alimento.
O pH do produto apresentou resultado semelhante ao
de Rocha (2009) em corante de Mirtilo em pó (3,27),
entretanto, distintos dos encontrados por Almeida et al. (2015)
e Santos et al. (2013) em corante de repolho roxo (5,81 e 4,32,
respectivamente.
A acidez está próxima às encontradas por alguns
autores avaliando a pimenta ‘Biquinho’ in natura (3,8%) (LUTZ
e FREITAS, 2008), processada em forma de farelo (3,83%)
(SEVERO, 2015) e seca (2,19%) (DANTAS e ARAÚJO, 2015).
O pH e a acidez são parâmetros importantes em
relação à alguns fatores, como por exemplo os
microrganismos, visto que a maioria deles não se desenvolve
em soluções muito ácidas, o que se torna favorável para
adoção do corante em alimentos.
Os sólidos solúveis (ºBrix) foram superiores aos da
pimenta ‘Biquinho’ seca que apresentou valor de 14,63ºBrix na
pesquisa de Dantas e Araújo (2015). O mesmo acontece com
a pimenta in natura que obteve valores de 6,2 e 6,5, nas
investigações de Dantas e Araújo (2015) e Lutz e Freitas
(2008), respectivamente.

952
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
Nos corantes, esse valor permanece alto comparado ao
corante de Mirtilo em pó (11,7%) analisado por Rocha (2009) e
nos corantes de Repolho Roxo (8,1 e 2,5%), avaliados por
Santos et al. (2013) e Almeida et al. (2015).
3.2 COMPOSTOS BIOATIVOS

Nas Fig. 1 e 2 estão dispostas as médias das


concentrações obtidas para flavonóides, antocianinas,
carotenóides e clorofila.

Figura 1. Média dos teores de Flavonoides e Antocianinas do


Corante extraído da Pimenta ‘Biquinho’.

Fonte: Autoria própria.

Elevado nível de flavonóides foram identificados


(105,30 mg/100g), sendo estes maiores que os encontrados
na mesma variedade de pimenta in natura (14,356 mg/100g) e
seca (81,37 mg/100g) estudadas por Dantas e Araújo (2015).

953
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
Oito genótipos de pimenta foram analisados por Miranda
(2014), com resultados menores aos dessa pesquisa, variando
de 30,84 a 49,40 mg/100g.
Nos extratos, como por exemplo, o extrato da casca da
Jabuticaba (6,31 mg/100g) estudado por Ferracini (2015), o
valor encontrado aqui mantém-se alto. Esse valor mostrou-se
excelente, uma vez que Agati et al. (2007) assinala os
flavonoides como compostos que possuem significante
propriedade antioxidante e que muitos deles também são
pigmentos de ocorrência natural.
Nas antocianinas o valor apresentado foi de 15,72
mg/100g, novamente superiores aos observados por Dantas e
Araújo (2015), na mesma variedade de pimenta in natura (2,55
mg/100g) e seca (12,92 mg/100g) e por Salvi (2015) em
Pimenta ‘Bode-roxo’ (5,22 mg/100g).

Figura 2. Média dos teores de Carotenoides e Clorofilas do


Corante extraído da Pimenta ‘Biquinho’.

Fonte: Autoria própria.

954
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
Os carotenoides são grandes responsáveis pela cor em
algumas frutas e hortaliças, apresentaram um valor razoável
(14,0mg/100g), quando comparado à amostras in natura de
pimentas Capsicum spp. e ‘Dedo de moça’ avaliadas por
Dambros (2014), que obtiveram valores entre 0,64 e
40,26mg/100g.
Holbach (2012) estudando o corante extraído do caroço
do abacate em diferentes tempos e volumes de extração.
avaliou resultados próximos aos encontrados na presente
pesquisa, variando de 9,205 a 14,139 mg/100g.
Os baixos teores de clorofilas (1,85mg/100g) eram
esperados em decorrência da coloração vermelha da pimenta
utilizada. Foram verificados teores distintos em duas espécies
de pimenta ‘Biquinho’ in natura (3,92 e 2,92mg/100g)
analisadas por Barcelos et al. (2015). Outras variedades de
pimentas in natura, como a ‘Dedo de moça’, ‘De cheiro’,
‘Americana’ e ‘Bode’ avaliadas por Mattos et al (2008)
apresentaram valores de 1,01; 1,47; 1,36; 1,69mg/100g,
respectivamente.
O método de extração foi eficiente, retirou-se da
matéria-prima grande parte da clorofila existente.

3.3 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE

A atividade antioxidante do corante pode ser observada


na Fig. 3, através das médias dos resultados para as análises
de compostos fenólicos, DPPH e ABTS.

955
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
Figura 3. Média dos teores de Compostos Fenólicos, DPPH e
ABTS do Corante extraído da Pimenta ‘Biquinho’.

Fonte: Autoria própria.

O conteúdo elevado de compostos fenólicos foi


verificado, valor este maior que os da pesquisa de Dantas e
Araújo (2015) em pimenta ‘Biquinho’ in natura
(273,13mg/100g) e seca (1327,15) Moresco et al. (2012)
estudando cinco variedades de pimentas Capsicum chinense.
Entretanto também verificou valores inferiores, com uma
variação de 6577mgEAG/100g a 12710mgEAG/100g.
Em analogia a outros frutos esse valor ainda é superior,
como o jambo vermelho pesquisado por Azevedo (2010) que
obteve valores de 425,20 a 1029,5mg EAG/100g.
Para DPPH o valor encontrado foi de 366,9 (EC50 g/g
de amostra) sendo bastante satisfatório quando comparado
aos de Moresco et al. (2012) citado anteriormente, com
valores que variaram entre 4174 a 6792(EC 50g/g de amostra)

956
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
e aos de Silva et al (2017) em corante da pimenta Biquinho
(339,75 EC50 g/g de amostra).
No ABTS, o resultado apresentou-se superior aos
extratos da pimenta Capsicum baccatum var. pendulum (18,7
e 24,8 µM de trolox/g) analisadas por Kubiar e Albani (2014) e
aos de Silva et al (2017) (64,22 µM de trolox/g) no mesmo tipo
de corante estudado na presente pesquisa
Para Silva et al (2017) mesmo ocorrendo algumas
perdas, o corante obtido ainda apresenta boas características
antioxidantes, que pode ser verificada pelo método de DPPH.
Esses resultados comprovam existência de atividade
antioxidante, adicionando mais uma função ao corante
examinado.

3.4 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

A Tab. 2 expõe as médias dos resultados obtidos


durante análise microbiológica do corante obtido a partir da
pimenta ‘‘Biquinho’’ e o padrão apresentado pela RDC nº12
(Brasil, 2001).

Tabela 2. Médias dos resultados obtidos durante análise


microbiológica do corante obtido a partir da pimenta ‘Biquinho’
e padrão apresentado pela RDC nº12 (Brasil, 2001).
Parâmetro Resultados Padrão
Coliformes à 35ºC Ausente -
(NMP/mL)

Coliformes à 45ºC Ausente -


(NMP/mL)

957
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
Salmonella sp. /25g Ausente Ausência

Staphylococcus spp. Ausente -


(UFC/ml)

Bolores e Leveduras Ausente -


(UFC/ml)
Fonte: Autoria própria.

A legislação vigente determina padrão apenas para o


parâmetro Salmonella sp./25g, mesmo assim, os demais
foram determinados afim de garantir uma maior segurança.
Foi verificada ausência para os parâmetros avaliados,
demonstrando que todos os procedimentos desde a
higienização dos frutos, até a forma de acondicionamento do
produto foram realizados de forma correta, garantindo que o
corante pode ser adicionado a outros produtos, sem levar
consigo carga microbiana de deterioradores ou patogênicos.

4 CONCLUSÕES

O corante obtido da pimenta biquinho possui um


rendimento de 50% nas condições de extração empregadas
neste trabalho, bem como apresenta excelente teor de
compostos fenólicos, flavonoides, antocianinas e atividade
antioxidante, além de ser microbiologicamente seguro.
O corante natural da pimenta ‘Biquinho’ pode ser uma
alternativa para ser utilizado na produção de alimentos
industrializados, contribuindo de forma segura para
substituição de corantes sintéticos na indústria alimentícia.

958
CORANTE NATURAL EXTRAÍDO DA PIMENTA ‘BIQUINHO’ (Capsicum chinense)
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962
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
CAPÍTULO 49

BIOCOMPATIBILIDADE DE
POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU
POTENCIAL BIOMÉDICO
Edvaldo Ferreira de Pontes NETO 1
Renata Priscila Almeida SILVA 2
Priscilla Anne Castro de ASSIS 3
1
Graduando do curso de Ciências Biológicas, UFPB; 2 Doutoranda do Programa de Pós-
graduação em Biotecnologia - RENORBIO, UFPB; 3 Orientadora/Professora do Departamento
de Fisiologia e Patologia, UFPB.
priscilla.cassis@gmail.com

RESUMO: O polihidroxialcanoato (PHA), é um biopolímero


sintetizado por bactérias, quando em presença de grande
aporte de carbono e deficiência de algum outro elemento
essencial ao seu crescimento, sendo acumulado sob a forma
de inclusões citoplasmáticas com função de reserva
energética. Com grande potencial biotecnológico, destaca-se
nas aplicações biomédicas, sendo considerado um dos
materiais biodegradáveis mais utilizado atualmente, devido,
principalmente, a suas propriedades de não citotoxicidade,
biodegradabilidade, e sobretudo biocompatibilidade. Neste
contexto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar
informações relevantes e atuais sobre polihidroxialcanoatos e
seu potencial de aplicação na área da saúde, por meio de uma
revisão bibliográfica, nas bases de dados do portal periódicos
CAPES e PUBMED. Com base nas informações obtidas
conclui-se que os polihidroxialcanoatos assim como seus
derivados, por possuírem as propriedades desejáveis para um
potencial biomaterial possui aplicações em diversos campos,
sua grande viabilidade econômica é favorável para fins
médicos e relacionados a saúde, tais como implantes
biodegradáveis, administração orientada de fármacos, na

963
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
engenharia de tecidos ou técnicas que usam de sua
propriedade físicas e químicas. No entanto, faz-se necessários
mais estudos para fortalecer o conhecimento obtido, aprimorar
as características do biopolímero, como também ampliar o uso
de PHAs em outros campos potencias, como o
neurofisiológico.
Palavras-chave: Biopolímero. PHA. Biocompatibilidade.

1 INTRODUÇÃO

O aumento no consumo de produtos plásticos vem


gerando um número cada vez maior de resíduos, e a
deposição desse material de maneira inadequada tem
produzido grande impacto ambiental.
A não biodegradabilidade dos polímeros sintéticos de
origem petroquímica, os subprodutos gerados com o processo
de extração e refino do petróleo na sua produção, assim como
a escassez e o aumento dos preços dessa matéria prima, são
fatores que estimulam a busca por novas alternativas para a
indústria (RHIM et al., 2013).
Dessa forma, com o intuito de reduzir o consumo de
plásticos petroquímicos, o desenvolvimento de polímeros
biodegradáveis a partir de recursos renováveis, tem recebido
atenção especial, pelo fato dos biopolímeros apresentarem
propriedades semelhante aos plásticos sintéticos
convencionais, além de contribuir para a redução do impacto
ambiental, tornando-se atrativo para o desenvolvimento de
novas tecnologias de produção mais sustentável de plásticos
(KUMAR et al., 2010; RHIM et al., 2013).
Os biopolímeros possuem aplicações em diversas
áreas, entre estas, por apresentarem a propriedade de
biocompatibilidade, destaca-se a aplicação na área médica e
964
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
farmacêutica (GARCÍA et al., 2013). Assim, o processo de
identificação e desenvolvimento de biomateriais, torna-se
indispensável no avanço de inovações terapêuticas.
Um dos biopolímeros com potencial biotecnológico é o
polihidroxialcanoato (PHA), sintetizado por bactérias quando
em presença de grande aporte de carbono e deficiência de
algum outro elemento essencial ao seu crescimento, sendo
acumulado sob a forma de inclusões citoplasmáticas com
função de reserva energética (BRITO, et al., 2011).
O PHA destaca-se nas aplicações biomédicas, sendo
considerado um dos materiais biodegradáveis mais utilizado
atualmente, devido, principalmente, a suas propriedades de
não citotoxicidade, biodegradabilidade, e sobretudo
biocompatibilidade, além de possuir a capacidade de suporte
ao crescimento e adesão celular (BASNETT et al.,2013; WU;
LIAO, 2014; HSU et al., 2015). Neste contexto, o presente
trabalho tem como objetivo apresentar informações relevantes
e atuais sobre polihidroxialcanoatos e seu potencial de
aplicação na área da saúde.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica,


toda a busca bibliográfica foi realizada entre setembro e
outubro de 2017 nas bases de dados do portal periódicos
CAPES e PUBMED, os descritores usados foram:
Polyhydroxyalkanoate, Polyhydroxybutyrate, Biocompatibility,
Biodegradability, Biomaterials, Tissue Engineering, PHBV,
Drug Carriers, Biodegradable Implants e Medical Devices.
Foram usados operadores booleanos AND, OR e NOT para

965
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
cruzar os descritores acima citados nas bases de dados
mencionadas. Neste trabalho foram compreendidos artigos
científicos que incluíssem o tema “Biocompatibilidade de
Polihidroxialcanoatos e seu Potencial Biomédico” sob
perspectiva biológica. Estes estudos foram publicados
preferencialmente em português e/ou inglês e publicados nos
últimos 5 anos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas últimas décadas, os plásticos estão cada vez mais


presentes por estarem substituindo matérias-primas
convencionais, como o papel, vidros e metais, nos produtos
comercializados (WANG et al., 2015).
Entretanto, os plásticos são produzidos a partir de
polímeros sintéticos, denominados de resinas, como o
polipropileno (PP), polietileno tereftálico (PET), polietileno
(PE); cloreto de polivinila (PVC), poliestireno estendido (EPS)
entre outros, todos derivados do petróleo ou gás natural,
adicionado de vários aditivos químicos, e, portanto, de difícil
degradação após o uso, provocando um grave problema
ambiental (RHIM et al., 2013).
Com o principal objetivo de reduzir o uso desses
polímeros de origem fóssil, o desenvolvimento de polímeros
biodegradáveis é de grande interesse mundial por sua
propriedade de biodegradação pela ação de microrganismos
presentes no solo, como fungos e bactérias, ou ainda por
hidrólise em solução tampão ou em água do mar (KUMAR et
al., 2010).

966
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
Além da biodegradabilidade, alguns biopolímeros
possuem desempenho semelhante aos plásticos sintéticos
convencionais por apresentar propriedades físicas e químicas
equivalentes, mas com a vantagem de serem obtidos de
fontes renováveis (RHIM et al., 2013).
Neste sentido, de acordo com o seu processo produtivo,
os polímeros biodegradáveis podem ser provenientes de três
fontes distintas: fontes renováveis (biopolímeros naturais),
como carboidratos, proteínas e lipídeos, extraídos do milho,
batata, cana-de-açucar, podendo ainda ter origem animal,
como a quitina, a quitosana, entre outros; pode ter origem
sintética (polímero sintético biodegradável), obtidos a partir de
fontes fósseis, como o petróleo, ou da mistura entre biomassa
e petróleo, a esse exemplo destacam-se as policaprolactonas
– PCL, as poliesteramidas, os copoliésteres alifáticos e os
copoliésteres aromáticos; ou ainda podem ser sintetizados por
bactérias, como é o caso dos polihidroxialcanoatos (PHA),
definidos como a família de poliésteres produzidos por
microrganismos a partir de diferentes fontes de carbono
(BRITO et al., 2011; RHIM et al., 2013) Figura (1).

Figura 1. Classificação dos biopolímeros.

967
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO

Fonte: Adaptado de RHIM et al., 2013.

Para que ocorra a biossíntese de PHA por bactérias é


necessário que haja um excesso da fonte de carbono ao
passo da diminuição de algum nutriente necessário à sua
multiplicação celular, tais como: nitrogênio (N), fósforo (P),
magnésio (Mg), ferro (Fe), entre outros. Essas fontes de
carbono são assimiladas e bioquimicamente transformadas
em unidades de hidroxialcanoatos, que serão polimerizadas
pela ação da enzima PHA sintase. O biopolímero formado, é
então armazenado dentro das células bacterianas sob a forma
de grânulos, insolúveis em água, os quais ficam acumulados
podendo atingir cerca de 90% da sua massa seca, Figura (2).
O produto final desse processo é um termoplástico cristalino
com propriedades comparáveis as do polipropileno
(PRADELLA, 2006; BRITO, et al., 2011).

Figura 2. Células bacterianas contendo grânulos do


biopolímero.

968
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO

Fonte: Silva, et al. 2007.

A composição dos PHAs depende da oferta de matéria-


prima como fonte de carbono, das condições de cultivo e do
tipo de bactéria utilizada, o que afetará diretamente nas suas
propriedades físicas, tais como: ponto de fusão,
hidrofobicidade, temperatura de transição vítrea e grau de
cristalinidade. Bem como, na aplicabilidade do biopolímero,
que são dependentes principalmente da variabilidade da
cadeia monomérica e do tamanho da cadeia polimérica. Dessa
forma, é possível moldar as características preferíveis do
polímero dentro do sistema de produção (PRADELLA, 2006;
MADISON e HUYSMAN, 1999).
Unidades monoméricas distintas têm sido identificadas
integrando os PHA’s, permitindo assim que polímeros diversos
sejam sintetizados, aumentando a área de aplicabilidade
desse material. Já existem descritos na literatura mais de
cento e cinquenta tipos de monômeros da família dos
polihidroxialcanoatos, cuja estrutura genérica está
demonstrada na Figura 3, que variam na estrutura do seu
grupo alquila (Grupo R), o qual é responsável por caracterizar
as propriedades dos diferentes polímeros. Ainda, o número
das repetições (n), que pode variar entre 1 a 4, também

969
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
contribui para as características intrínsecas de cada polímero
(CANEVAROLO, 2010; KUNASUNDARI e SUDESH, 2011).

Figura 3. Estrutura genérica dos polihidroxialcanoatos.

Fonte: Silva, et al. 2007.

Os polihidroxialcanoatos têm despertado o interesse


desde a sua descoberta, devido principalmente as suas
propriedades de biocompatibilidade, biodegradabilidade e
biossíntese a partir de recursos renováveis (DALAL et al.,
2013).
Os biopolímeros aplicam-se em materiais de
embalagem, como recipientes para cosméticos e produtos
alimentares; produtos de higiene pessoal, como fraldas,
aparelhos de barbear, entre outras aplicações. Por também
apresentar a propriedade de biocompatibilidade com tecidos
humanos, alguns biopolímeros, aplicam-se na área biomédica,
bem como na indústria farmacêutica (GARCÍA et al., 2013).
Os materiais utilizados em aplicações biomédicas
podem ser classificados em três tipos principais agrupado
conforme a resposta do tecido evocado: materiais inertes,
quando os biomateriais não provocam ou há uma resposta
mínima do tecido. Materiais bioativos, que incitam a ligação ao
tecido do hospedeiro e melhorando a integração do material,
estimulando crescimento de tecido novo. E em materiais

970
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
biodegradáveis ou bioreabsorvíveis, quando a princípio são
incorporados no tecido circundante para dissolver
completamente conforme a passagem de tempo. A soma
dessas propriedades, quanto maior for constituirá o material
mais perto do considerado ideal (HOLZAPFEL et al., 2013).
Os polímeros fazem parte dos agrupamentos dos
materiais inertes ou biodegradáveis (HOLZAPFEL et al.,
2013). Torna-se indispensável o processo de identificação e
desenvolvimento de biomateriais no avanço de inovações
terapêuticas.
Desta forma, procura-se combinar esses materiais com
células especificas em projetos que visam testar suas
características individuais. A finalidade é descobrir um material
que tenha uso adequado para uma função especifica,
destacando a biocompatibilidade e uma reação imune mínima
(NAVEEN et al., 2015).
Uma vez que os materiais biomédicos estão
diretamente ou indiretamente em contato com os tecidos in
vivo, é importante analisar a biocompatibilidade, a
biodegradabilidade, a toxicidade, a estabilidade e outras
características desses materiais no corpo humano (BASNETT
et al.,2013; WU; LIAO, 2014; HSU et al., 2015).
PHA é um dos materiais biodegradáveis mais utilizados
e que atualmente atrai a maior atenção para aplicações
biomédicas devido a suas características de não
citotoxicidade, biodegradabilidade, biocompatibilidade
reforçada, é compatível com a processabilidade térmica,
possui a capacidade de suporte ao crescimento celular e
adesão celular, bem como sua origem natural (BASNETT et
al.,2013; WU; LIAO, 2014; HSU et al., 2015).

971
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
O conceito biocompatibilidade em biomateriais é dado
por Williams (1987) como sendo “a capacidade de um material
para realizar com uma resposta adequada do hospedeiro em
uma situação específica” (apud WILLIAMS, 2008). Onde é
definida pela situação em que o material é usado, não
dependendo apenas das características do material, o material
reagir especificamente com os tecidos não os ignorando,
assim como o material deve degradar-se ao longo do tempo
no corpo ao invés de permanecer indefinidamente (WILLIAMS,
2008).
Materiais biodegradáveis devem desempenhar uma
função antes ou durante um processo pelo qual é degradado e
por fim eliminado do corpo. Estudos relatam que as famílias de
polímeros dos PHAs apresentam uma resposta inflamatória
ínfima, conferindo isso a uma taxa de degradação hidrolítica
relativamente mais lenta que demanda vários meses para
972tingir uma perda de massa identificável e menos ácida, e
ao que parece menos produtos inflamatórios de degradação,
há indícios que esses produtos não somente são inofensivos
como também seria capaz de estimular o crescimento celular,
como visto em PHB, além deste exibir alta biocompatibilidade
(WILLIAMS, 2008; NIGMATULLIN et al., 2015).
Outro caso conhecido é que o produto da degradação
hidrolítica do PHB gera constituintes sanguíneos normais,
resultando na formação de ácido D – (—) – 3-hidroxibutírico
(ULERY; NAIR; LAURENCIN, 2011). As variações de
cristalinidade e hidrofobicidade altera a degradação de PHAs
(NIGMATULLIN et al., 2015).
Buscou-se o melhoramento da biocompatilidade PHAs
com a adição de outros componentes e enxertos, como o
ácido hialurônico (HA), que é um biopolissacarídeo

972
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
transparente com alto peso molecular, por causa de suas
qualidades como biocompatibilidade, biodegradabilidade, não
toxicidade e reatividade hipoalergênica. Sozinho o ácido
hialurônico é um pó e é solúvel em água, fica ímprobo moldá-
lo em um filme para aplicações biomédicas. Mas combinado
com PHA ou PHA enxertado com anidrido maleico (PHA-g-
MA), um filme biomédico pode ser sintetizado (PHA/HA ou
PHA-g-MA/HA), podendo ser amplamente distribuída nas
matrizes intercelulares e matrizes extracelulares do tecido
conjuntivo humano, em razão da sua resistência à água e
seus compósitos serem biocompatíveis (WU; LIAO, 2014).
Em testes de ciclo celular e apoptose por fibroblastos
de prepúcio humano, amostras compostas do conjunto de
PHA demonstraram o potencial no emprego de biomateriais
(HSU et al., 2015). Outro composto como PHA enxertado com
metacrilato de glicidila (PHA-g-GMA) com fibra de casca de
castanha (CSF) também apresenta boas propriedades
mecânicas, bem como propriedades de biocompatibilidade e
biodegradabilidade, indica potencial para o uso de membranas
de PHA/CSF como scaffold para engenharia de tecidos. (WU;
LIAO, 2014).
Em contrapartida a esses melhoramentos, o filme de
polihidroxialcanoato de cadeia média (MCL-PHA) sem
modificações, ou seja, bruto, apresenta desempenho biológico
favorável, sendo promissor em aplicações de engenharia de
tecidos (NAVEEN et al., 2015). MCL-PHAs possuem menor
cristalinidade e ponto de fusão, características que os fazem
eficazes na liberação de drogas, sendo empregado na
liberação fármacos transdérmicos (RAY; KALIA, 2017).
Atualmente os biomateriais são utilizados como
implantes, estes têm uma alta demanda e são empregados de

973
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
maneira engenhosa. Entretanto, a infecção por patógenos
associada ao biomaterial constitui um grave problema de
saúde, um grande obstáculo, requerendo assim a demanda
funcional por materiais selecionados com características
desejáveis (ROMANÒ et al., 2015). Por esse motivo a
utilização de biopolímeros como implantes biodegradáveis, em
virtude de suas propriedades físicas, químicas, biológicas e
bioquímicas, tem influenciado muito a medicina moderna,
tendo como exemplo o PHBV (ULERY; NAIR; LAURENCIN,
2011). A prevenção é a melhor resposta para o obstáculo das
infecções de implantes ortopédicos, é preciso buscar pelo
aprimoramento das superfícies dos implantes, no intuito de
evitar a formação de biofilmes e a adesão bacteriana (GALLO;
HOLINKA; MOUCHA, 2014).
PHB e suas folhas de copolímero P (3HB-3HHx)
carregado com antibiótico estão sendo usadas como material
de revestimento em implantes e materiais artificiais
assegurando a inibição de biofilme e na fabricação de
curativos para feridas devido à sua adsorção proteica
relativamente alta (KEHAIL; BRIGHAM, 2017).
O uso de PHBV pode ser empregado para o
revestimento de superfícies de titânio com diferentes camadas
de concentração de princípio ativo, resultando em uma
liberação de fármaco mais constante e homogênea, uma vez
que o revestimento de biopolímero com antibiótico é capaz de
se degradar com o tempo em condições fisiológicas,
garantindo uma liberação controlada de fármaco impedindo a
formação de biofilme bacteriano e sua proliferação
(RODRÍGUEZ-CONTRERAS et al., 2017).
Em revestimentos com a combinação PHBV/HA obtidas
pela técnica de evaporação a laser pulsada assistida por

974
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
matriz (MAPLE), nota-se que as células-tronco mesenquimais
aderem-se e se espalham com sucesso e sem modificações
em suas características morfológicas como também, os
substratos apresentados apoiaram o crescimento dessas
células durante a diferenciação osteogênica (RAȘOGA et al.,
2017).
As misturas de P(3HB) e P(3HO) possuem
propriedades de um biomaterial atraente para uma variedade
de aplicações médicas, podendo ser empregado no
desenvolvimento de stents coronários biodegradáveis, na
distribuição de fármacos, como também nos scaffolds em
engenharia de tecidos (BASNETT et al., 2013).Scaffolds
produzidos a partir de PHAs possuem maior resistência
mecânica, fornecem nutrição, propiciando o crescimento das
células. Tais produtos estão sendo aplicados como parafusos,
pinos, suturas, filmes, entre outros (RAY; KALIA, 2017).
PHAs possuem uma notória aplicação médica como
scaffolds na engenharia de tecidos, utilizados como suporte
para o crescimento celular e a fixação, regenerando ou
substituindo o tecido vivo. Contudo, a hidrofobia limita o seu
uso, já que hidrofilicidade da superfície do scaffold influencia
na resposta das células. Um novo material Poly(3-
hydroxybutyrate-co-3-hydroxyvalerate-co-2,3-
dihydroxybutyrate), biosintetizado a partir de Ralstonia
eutropha recombinante, apresenta características
interessantes para um scaffold, já que possui uma superfície
moderadamente hidrofílica tendo o potencial de melhorar a
adesão celular (INSOMPHUN et al., 2016).
A cartilagem articular possui uma capacidade limitada
de auto reparo e somado ao seu degaste durante o percurso
das atividades diárias o torna susceptível a lesões por impacto

975
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
ou torções. Scaffolds formados pela mistura de
P(3HB)/P(3HO) constata a capacidade de reparo da
cartilagem articular, tornando-se uma solução efetiva. Devido
à combinação da sua ultraestrutura e propriedade mecânica,
scaffolds de P(3HB)/P(3HO) favorecem a diferenciação de
condrócitos e o crescimento de uma nova cartilagem a partir
da criação de um microambiente. Podendo ser empregado no
reparo clinico de defeitos de cartilagem e impedir o
desenvolvimento de osteoartrite secundária. Tendo potencial
para ser aplicado como uma caixa de ferramentas (toolbox) de
scaffold sob medida para restauração de vários tipos de
tecidos (CHING et al., 2016).
Foi investigado o P(3HB-4HB-3HV) para confecção de
scaffolds de PHA biodegradáveis, onde utilizou-se da
combinação de bioprodução de PHA e técnicas de
electrospinning, produzindo uma estrutura 3D fibrosa. Essa
estrutura 3D fornecida pelas malhas altamente fibrosas é
fundamental para o fornecimento de sítios de adesão locais
para a aderência, organização e proliferação inicial de células-
tronco mesenquimais humanas in vitro do que filmes planos
feitos do mesmo polímero (CANADAS et al., 2014).
Os scaffolds de nanofibras de PHA demonstram
semelhanças estruturais a matriz extracelular natural,
conseguiria assim suportar o crescimento das células-tronco
neurais, pois exibem adesão celular mais forte, melhor
conexão e maior viabilidade nessas células. Os scaffolds de
nanofibra feitos de PHA e principalmente de PHBHHx
poderiam ser aplicados como biomateriais promissores no
reparo de lesão da medula espinhal, devido a sua melhoria na
diferenciação de células-tronco neurais em células
semelhantes a neurônios (XU et al., 2010).

976
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
Microesferas de PHBV podem ser utilizadas para
aumentar a maturação neuronal, conseguem suportar linhas
celulares neuronais, neurônios primários e células
progenitoras neurais com suas funções equivalentes, sendo
scaffold apropriado para a engenharia do tecido neural
(CHEN; TONG, 2012). Scaffolds de PHBVHHx carregados
com células-tronco mesenquimais derivadas do cordão
umbilical ou células semelhantes a hepatócitos diferenciados
de células-tronco mesenquimais permitem consideravelmente
a recuperação de fígados lesados, podendo ser utilizados
como scaffolds para engenharia de tecido hepático (SU et al.,
2014).
Com intuito de aprimorar a eficiência de fármacos é
esperado que sejam entregues de forma controlada e
direcionada, devido as características físicas desejáveis dos
biomateriais de PHAs, como a biocompatibilidade e
biodegradabilidade, apresentam algumas vantagens
significativas. São utilizados como Sistema de Liberação de
Fármaco (SLF) ou Drug Delivery System (DDS) que
compreende particularmente implantes subcutâneos,
comprimidos para administração oral e no uso subcutâneo e
intravenoso como transportadores de micropartículas
(NIGMATULLIN et al., 2015).
As drogas utilizadas em tratamentos de câncer são
altamente citotóxicas, comumente apresentando efeitos
colaterais indesejáveis, a administração orientada de fármacos
pode diminuí-los por ligar os ligantes alvos das partículas de
libertação de fármaco, assim permitindo o acúmulo seletivo de
partículas dentro dos tecidos alvo (NIGMATULLIN et al.,
2015).

977
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
Uma nova técnica foi desenvolvida, onde utilizaram da
capacidade de co-imobilizar funcionalmente uma enzima
procariótica, Sortase A, de Staphylococcus aureus em
conjunto com uma proteína de interesse na superfície de
grânulos de PHA in vivo que possibilita a clivagem e
consequente liberação específica da proteína alvo para fácil
produção e purificação de proteínas recombinantes de
interesse, tendo vasta aplicações comuns em pesquisas de
ciências da vida (HAY et al., 2015).
PHAs podem ser trabalhados na bioengenharia como
grânulos biologicamente ativos para várias aplicações
médicas, como o uso em diagnósticos clínicos, administração
de vacinas, na produção de proteína recombinantes e
purificação, dentre outras possíveis aplicações (RAY; KALIA,
2017). Para a vacinação contra vírus da hepatite C, os
grânulos de PHA manipulados que mostram antígenos
estranhos são imunogênicos e apresentam um sistema de
liberação de partículas adequado. Para a finalidade de
imunização os grânulos de PHA são sistemas de liberação
seguros e eficientes. (MARTÍNEZ-DONATO et al., 2016).
Os grânulos de PHA que exibem três ou quatro
antígenos específicos da tuberculose bovina possuem alta
sensibilidade e especificidade e são utilizados como reagentes
em teste cutâneo de tuberculina para o diagnóstico de
tuberculose bovina. O aperfeiçoamento desse teste cutâneo
mostra resultados com pouca incidência de falso-positivos no
gado do que os reagentes comerciais de teste cutâneo, sendo
mais econômico no diagnóstico de infecção por
Mycobacterium bovis em bovinos (CHEN et al., 2014;
PARLANE et al., 2015).

978
BIOCOMPATIBILIDADE DE POLIHIDROXIALCANOATOS E SEU POTENCIAL
BIOMÉDICO
4 CONCLUSÕES

Com base nas informações obtidas deduz-se que os


polihidroxialcanoatos assim como seus derivados chamam
atenção devido as suas propriedades desejáveis para um
potencial biomaterial ideal: alto grau de biocompatibilidade,
biodegradabilidade e baixa citotoxicidade. Possui aplicações
em diversos campos, sua grande viabilidade econômica é
favorável para fins médicos e relacionados a saúde, tais como
implantes biodegradáveis, administração orientada de
fármacos, na engenharia de tecidos ou técnicas que usam de
sua propriedade físicas e químicas. Faz-se necessários mais
estudos para fortalecer o conhecimento obtido, aprimorar as
características do biopolímero, como também ampliar o uso de
PHAs em outros campos potencias, como o neurofisiológico.

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982
NANOTECNOLOGIA

983
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
CAPÍTULO 50

AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS RISCOS


ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA
ARTE.
George Silas Silva GOMES1
Ian Porto Gurgel do AMARAL 2
Sildivane Valcácia SILVA 2
Elisângela Afonso de Moura MENDONÇA 2,3
1
Graduado do curso de farmácia, UFPB; 2 Professor do Departamento de
Biotecnologia/UFPB.3 Orientadora/Professora Departamento de Biotecnologia/UFPB
elisdoc@gmail.com

RESUMO:Os sistemas nanoestruturados, que se caracterizam


pelas reduzidas dimensões (1nm= 10-9 m), já são utilizados
em diversas áreas da tecnologia e da medicina, introduzindo
novas possibilidades de desenvolvimento para a indústria e
para tratamento de diversas patologias. A nanociência e a
nanotecnologia são áreas de pesquisa multidisciplinar que
permitem explicar as características desses sistemas. A
grande busca por esses sistemas se dá principalmente através
das propriedades adquiridas em dimensões subatômicas que
se diferenciam grandemente do mesmo material na escala
macro. Por outro lado, esses sistemas inovadores podem
causar impactos negativos para a saúde pública e para o meio
ambiente a depender do material que foi utilizado e sua
funcionalidade. O presente estudo teve como objetivo avaliar e
contribuir com o conhecimento dos possíveis riscos da
exposição a essas estruturas nanométricas, através de um
extenso levantamento da literatura disponível sobre o tema. A
partir estudo proposto, foi possível levantar uma gama de
informações que permitiram ampliar o conhecimento a respeito
da nanotecnologia. Além de discutir a necessidade de mais

984
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
estudos in vivo dos fatores responsáveis por uma possível
toxicidade desses sistemas e uma regulação nacional e
internacional específica para o setor. Por fim, espera-se que
este trabalho tenha contribuído para o conhecimento dos
riscos desta inovadora área da ciência e das novas
tecnologias advindas a partir desse conhecimento.
Palavras-chave: Nanotecnologia. Nanotoxicologia.Legislação.

1 INTRODUÇÃO

Nanotecnologia é um novo campo de pesquisa


ciêntífica multidisciplinar que inclui conhecimentos da biologia,
física, química, engenharia, matemática, computação e de
outros ramos da ciência (Duran; Mattoso e Morais, 2006) que
envolve a síntese e manipulação, processamento e aplicação
de estruturas, dispositivos e sistemas que obedeçam a uma
escala nanométrica (Bouwmeester et al., 2009),(McNeil,2011).
O prefixo nano é derivado da palavra grega Vávoc<nános>
que significa “anão”. Nano é um termo técnico usado em
qualquer medida, significando um bilionésimo dessa unidade,
por exemplo, um nanômetro equivale a um bilionésimo de um
metro (1nm = 1/1.000.000.000 m) ou aproximadamente a
distância ocupada por cerca de 5 a 10 átomos, dispostos de
maneira a formar uma linha.
Existem dois procedimentos gerais para se obter
materiais na escala nanométrica. Uma primeira abordagem, o
chamado procedimento bottom up (“de baixo para cima”)
consiste em tentar construir o material a partir de seus
componentes básicos (ou seja, seus átomos e moléculas), da
mesma forma que uma criança monta uma estrutura ao
conectar as peças de um Lego. Por outro lado, é também
possível fabricar um objeto segundo Carvalho (2001), a escola

985
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
é nanométrico pela eliminação do excesso de material
existente em uma amostra maior do material, à semelhança da
maneira como um artista trabalha os pequenos detalhes em
uma escultura, fazendo o cuidadoso desbaste do supérfulo ou
excedente de um grande bloco de pedra ou madeira. Este
rocedimento top down (“de cima para baixo”) normalmente se
vale das chamadas técnicas de litografia, que correspondem a
uma série de etapas de corrosão química seletiva e
extremamente precisa para a preparação final do objeto
nanométrico a partir de um bloco macroscópico do material
(Melo e Pimenta, 2004).
A alta velocidade da introdução de produtos
nanoestruturados aos consumidores, observados nos dias de
hoje aumenta a necessidade de uma investigação sobre os
potenciais impactos negativos que essas nanopartículas
podem ter em sistemas biológicos (Bouwmeester et al.,2009).
Nanotoxicologia, como uma importante especialidade da
nanotecnologia, tem sido definida como "ciência da
engenharia,nanodispositivos e nanoestruturas que lida com os
seus efeitos sobre organismos vivos "(Oberdörster et al,
2005);( Smart et al.2006).
As nanopartículas têm uma grande área de superfície
para razão de volume, o que conduz a uma alteração na
atividade biológica em comparação para os materiais de quem
são derivados. Nas últimas duas décadas, o uso de
nanopartículas em clínicas e configurações experimentais
cresceu exponencialmente devido à sua ampla gama de
aplicações biomédicas, por exemplo, na entrega da droga,
imagem e monitoramento de células (Cheng ,Feng,et al 2011);
(Huang,Neoh,et al 2011). Isso destaca a necessidade de
considerar não só a utilidade de nanopartículas, mas também

986
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
potencialmente consequências imprevisíveis e adversas do
ser humano exposto à mesma. Neste contexto, refere-se a
nanotoxicidade a capacidade das partículas de afetarem
adversamente a normalidade fisiológica, afetando diretamente
estrutura de órgãos e de tecidos de seres humanos e animais.
É amplamente aceito que a toxicidade depende de parâmetros
físico-químicos como o tamanho de partículas, forma, carga de
superfície e química, composição e posterior estabilidade das
nanopartículas.( Pan, Wan,et al 2011); ( Thanh e
Raton,2011).
Normalmente, os estudos de toxicidade baseados em
células usam doses cada vez maiores de nanopartículas, a fim
de observar toxicidade celular ou tecidual relacionada com a
dose. Estas correlações de resposta à dose são a base para
determinação de limites seguros de concentrações de
partículas para administração in vivo. Existe um problema
amplamente reconhecido de extrapolar concentrações in vitro
em organismos vivos que podem ser subdivididos em dois
pontos: primeiro, que ainda tem que ser determinada quão
eficientemente qualquer dose administrada é capaz de atingir
as células teciduais e, por outro, sistemas nanoparticulados
podem induzir alterações bioquímicas in vivo que podem ter
passado despercebido em estudos de células isoladas. Com
as consequências potencialmente desastrosas em mente,
novas maneiras de prever, ainda imprevisíveis, efeitos de
dosagens de nanopartículas in vivo, devem ser procuradas.
(Pumera, 2011).
Em geral, a dose elevada de uma exposição aguda é
susceptível de ser detectada e medidas corretivas ou de
proteção postas em prática. Contudo, as principais
preocupações de saúde pública com nanomateriais são com

987
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
baixas exposições crônicas de doses ao longo de um tempo
de vida, possivelmente levando ao aumento da incidência de
doenças degenerativas, como é o caso de partículas ultrafinas
de exposição em aerossóis. (Song e Du, 2009).
Em todos os estudos de nanotoxicologia in vitro, a dose
das nanopartículas tem de ser cuidadosamente considerada.
Isto aplica-se quando há concentração inicial de exposição
das células a nanopartículas, mas também para a quantidade
real de nanopartículas ocupado por uma única célula. Estão
disponíveis várias técnicas para medir a absorção de
partículas e distribuição intracelular. Somente através da
compreensão da dinâmica de captação e definições
quantitativas das partículas, pode-sechegar a conclusões
nanotoxicológicas.
(Garnett e Kallinteri, 2006); (Yacobi,Malmstadt,Fazlollahi, et
al.,2010); (Greulich, J. Diendorf, T. Simon, et al.,2011)
Testes de toxicidade de nanomateriais que utilizam
ensaios in vitro ou in vivo visam identificar um perigo potencial
por estabelecimento de relações dose-resposta para a
caracterização de tal perigo. No entanto, porque os efeitos
adversos, efeitos associados ao risco de toxicidade das
nanopartículas , geralmente aceitos são o de incorporar
ambos os componentes em um paradigma de avaliação de
risco, que consistirá numa identificação de perigo,
caracterização do perigo, avaliação da exposição e
caracterização do risco, de modo que as decisões adequadas
de gestão de risco podem ser feitas.
Os estudos de toxicidade que utilizam doses muito altas
podem certamente identificar uma nanopartícula como
perigosa, na verdade pode-se argumentar que qualquer
nanopartícula administrada em doses elevadas o suficiente vai

988
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
induzir um efeito significativo "tóxico". A questão é: em que
dose isso não ocorre, qual dose é ideal para estudos reais in
vivo? Mesmo nanopartículas ditas benignas de TiO2
administradas em doses suficientemente altas quando
administradas repetidamente por inalação causam
complicações pulmonares, como tumores em ratos, devido à
sobrecarga pulmonar ( Jia,Wang, et al.,2005). Portanto, é
desejável desenvolver e validar ensaios in vivo mais
complexos com a finalidade de prever respostas in vivo, a fim
de reduzir e evitar extensos testes com animais de laboratório.
Em paralelo, os esforços devem ser feitos para obter dados
sobre os níveis de exposição que ocorrem para os
trabalhadores em fábricas de nanomateriais onde, apesar de
melhores condições de higiene do trabalho, bem como para as
exposições de consumo previstas para produtos
nanoparticulados. Com respeito à nanomedicina, aquelas
aplicações que envolvem a administração intencional de
terapêuticos e diagnósticos à base de nanotecnologia os
testes in vivo, serão sempre obrigatórios (Oberdorster, 2010).

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada revisão da literatura nacional e


internacional abordando publicações entre os anos de 2003 a
2013, sem critério de escolha. A pesquisa foi feita através de
uma busca sistemática utilizando os bancos de dados
eletrônicos: science direct, biomed, medline e google, além do
acervo bibliográfico disponível nas bibliotecas da Universidade
Federal da Paraíba e Universidade Estadual da Paraíba. Das
bibliografias pesquisadas 63 foram utilizadas na execução do
trabalho. Os termos de pesquisa (palavras chaves e

989
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
delimitadores) foram utilizadas em várias combinações: 1)
Aplicações da Nanotecnologia, 2) Riscos e benefícios da
Nanotecnologia, 3) Nanotoxicologia, 4) Legislação de sistemas
nanoparticulados. A pesquisa foi realizada de janeiro à agosto
de 2013, com o objetivo de analisar os possíveis riscos de
sistemas Nanoparticulados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O problema de um sistema de classificação de risco


começa com a definição de nanopartícula. Existem diferentes
entendimentos sobre o que é uma nanopartícula. Uma
definição clara é o pré-requisito para a classificação do
sistema. Com base nas unidades, uma nanopartícula está na
gama nanométrica,por exemplo a partir de 1 nm para apenas
abaixo de 1000 nm (no limite para as micropartículas).
Baseado no National Nanotechnology Initiative (NNI), a FDA
define uma nanopartícula como uma partícula com um
tamanho inferior a 100 nm. A lógica por trás disso é que,
especialmente abaixo desse tamanho de partículas têm um
maior risco toxicológico (Amtsblatt der E. Union e
Verordnung,2009). Basicamente, é uma abordagem sensata
para basear uma definição sobre as propriedades que alteram
nitidamente quando se deslocam além de um certo limite de
tamanho, por exemplo,a propriedade de toxicidade aumenta
acentuadamente abaixo de aproximadamente 100nm. No
entanto, há também outras propriedades, de partículas que
podem alterar com o tamanho, por exemplo, adesividade,
saturação, solubilidade, ponto de fusão, cor, tudo explorado na
indústria farmacêutic ae /ou na indústria de alimentos. Estas
propriedades, não apenas a de toxicidade, também devem ser

990
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
consideradas quando se define uma nanopartícula.
(ASTM,2006).
O pré-requisito para a maioria (não todas) formulações
farmacêuticas introduzidas no organismo é a sua
biodegradabilidade, o que significa ser biodegradável no
corpo. O ácido polilático (PLA) mostra rápida biodegradação
no corpo, já polihidroxibutirato (PHB), apenas mostra rápida
degradação por bactérias (polímeros de armazenamento em
Bacillus megaterium ou Ralstoniaeutrophus), mas é
relativamente estável sob as respostas fisiológicas
condicionadas no corpo (Hasirci e Kok,2003). O material que
desaparece normalmente no corpo tem a priori, uma
diminuição no risco de toxicidade. Em contraste, os materiais
não-biodegradáveis possuem um risco de maior toxicidade.
Isso justifica a inclusão da propriedade biodegradável / não
biodegradável como critério adicional num sistema de
classificação nanotoxicológica. (Jovanovic. Anastasova ,et al.,
2010).

3.1 PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DE


NANOSSISTEMAS (I a IV)
Com base nas considerações a sobre as classes de
tamanho e biodegradabilidade (Keck CM e Müller RH, 2013),
propuseram uma classificação em quatro classes de risco
crescentes por nível de toxicidade (Fig. 1).
Neste sistema, as partículas de baixo risco estão
associados à cor verde, partículas de risco médio à cor
amarela e vermelho para alto risco, semelhante às cores do
semáforo. Assim, o que se traduz em circunstâncias
complexas, informações claras permitem a discriminação de

991
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
nanopartículas, através das cores verde, amarelo ou
vermelho.
A Classe I contém as partículas de nenhum ou menor
risco, ou seja, partículas na faixa de 100 nm a 1000 nm, logo
abaixo de ser biodegradável. Exemplos para esta classe de
nanopartículas “verdes” são nanoemulsões, lipossomas,
nanocristais de drogas e nanopartículas lipídicas na respectiva
faixa de tamanho. Apesar que, estas partículas não possuem
necessariamente nenhuma risco a priori. Algumas delas
podem possuir um risco menor no caso de criarem efeitos
secundários indesejáveis durante a sua existência, por
exemplo, interação com o sistema imune.
Da classe I para a classe II há aumento de persistência.
Como na classe I, as nanopartículas de classe II são > 100
nm, mas não biodegradáveis. Classe III são nanopartículas de
< 100 nm, mas biodegradáveis. A partir daí, os exemplos
acima mencionados nanopartículas de classe I estão em
classe III, quando seu tamanho é pequeno. Classes II e III
possuem médio risco, isto é, classificam-se como partículas
amarelas.
Os maiores riscos de toxicidade possuem as
nanopartículas de classe IV. Elas são <100 nm e podem,
portanto, acessar todas as células, elas são não-
biodegradáveis. Por conseguinte, as partículas desta classe
são chamadas de nanopartículas '' vermelhas''. Há Partículas
de dióxido de titânio que se enquadram nesta classe, assim
como nanopartículas de ouro.

992
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
Figura 1. Classificação de sistemas nanotoxicológicos de I a
IV por tamanho e biodegradabilidade.

As nanopartículas ganham acesso ao corpo,


principalmente através das vias aéreas, a pele ou através da
ingestão. Elas também são capazes de se translocar para
órgãos secundários, no entanto, isto apenas foi demonstrado
em pequenas quantidades ( Stern, e McNeil,2008). A principal
via de entrada de partículas transportadas pelo ar para o corpo
está através do sistema respiratório. Dados substanciais sobre
partículas ultrafinas (pó, carbon black e outros poluentes) e
seus efeitos para as vias aéreas e pulmões estão disponíveis
(Elder, Lynch, et al.2009). Dados sobre a translocação de
nanopartículas através dos pulmões estão a aumentar. A
993
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
principal questão é se as partículas do ar podem atravessar a
barreira sanguínea nos pulmões e, por conseguinte, obter
acesso ao resto do corpo (Geiser,2010). Grande importância é
dada às barreiras naturais no corpo, por exemplo a barreira ar-
sangue nos pulmões, barreira sangue-cérebro ou barreira
materno-fetal (Yamashita,Yoshioka,et al.,2011). Estudos de
biodistribuição de nanopartículas encontraram baixas
concentrações delas no fígado, baço, coração e no cérebro
(Ji,Sun,Wang, et al.,2006); (Elsaesser e Howard,2012).
Estudos in vitro com dosagem de partículas
nanométricas naturais mostraram efeito pró inflamatório e
estresse oxidativo relacionado a resposta celular (Oberdörster
et al.,2005);(CURTIS et al, 2006);.(LANONE; Boczkowski,
2006). A forma e estrutura de nanopartículas podem também
predispô-los a toxicidade por inalação, por
exemplo.(LACERDA et al., 2006).
O corpo tem certos mecanismos de defesa contra a tais
partículas , no entanto, as nanopartículas parecem ser
capazes de translocação a partir do pulmão para o fígado, o
baço, o coração e, possivelmente, outros órgãos(Choi,
Ashitate,et al.,2010). O principal mecanismo para a
translocação de nanopartículas parece ser via endocitose de
células epiteliais alveolares.(Yacobi, Malmstadt,et al.,2010).
Para além dos pulmões, as nanopartículas inaladas podem
também obter acesso a outros órgãos por meio do bulbo
olfativo (Liu,Gao,et al.,2009). Nanopartículas inaladas são
depositadas em todas as regiões do trato respiratório, no
entanto, as partículas maiores podem ser filtrados nas vias
aéreas superiores, enquanto que partículas menores atingem
vias aéreas distais (Hagens et al., 2007).

994
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
Um contato com nanopartículas através da pele,
considerada como importante porta de entrada pelos
pesquisadores, pode ocorrer devido à exposição ocupacional
durante o fabrico de solventes, pesticidas ou medicamentos.
Exposição da pele à nanopartículas também podem ocorrer
em situações não-ocupacionais pela utilização de produtos
cosméticos e na aplicação intencional de cremes e outros
tratamentos medicamentosos. Os estudos iniciais de absorção
de nanopartículas através da pele não são conclusivos, alguns
demonstram pouca penetração na epiderme, enquanto outros
utilizam protocolos de flexão mais complexos para mostrar a
absorção profunda (TINKLE et al, 2003);.. Hagens et al, 2007);
(ROUSE et al, 2007).
Pele lesionada representa uma porta prontamente
disponível de entrada, mesmo para (0,5-7,0 mm) partículas de
tamanho mícron grandes (Oberdorster et ai., 2005). Mesmo a
pele intacta, quando flexionada, se torna permeável
nanopartículas (Oberdörster et al, 2005;.Hagens et al, 2007).
Uma vez na epiderme, as nanopartículas podem atingir o
sistema linfático e linfonodos regionais, e de lá eles podem se
translocar para a corrente sanguínea. As nanopartículas
também podem atingir os nervos sensoriais da pele após a
injeção de nanopartículas em músculos da língua e face dos
ratos. Nanopartículas cationizadas podem alcançar corpos
celulares dos neurônios faciais destacando a importância da
carga elétrica sobre a incorporação de nanopartículas e
disposição em axônios (Oberdorster et ai., 2005).
Ainda não está claro até que extensão o corpo é capaz
de excretar nanopartículas através da urina (Nigavekar,
Sung,et.al,2004) ou se há bioacumulação das nanopartículas
residuais em determinados órgãos e pode até mesmo

995
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
bloquear os sistemas de excreção do corpo. As taxas de
depuração de 40% até cerca de 50% (He, Zhang,et al.,2011)
foram encontradas em estudos recentes. Entretanto, dadas as
taxas de translocação lenta e tendência das nanopartículas
para formar aglomerados e manter a bio-superfícies, são
necessárias mais pesquisas para investigar a exposição
crônica e bioacumulação contra bioclearance
(Longmire,Choyke, et al.,2008). A partir dos estudos iniciais
em nanotoxicologia, o DNA tem atraído atenção especial ao
avaliar potenciais riscos toxicológicos causados por
nanomateriais. Uma vez que os investigadores relataram que
as nanopartículas são capazes de se introduzir no envelope
nuclear, o interesse nos possíveis efeitos genotóxicos das
nanopartículas tornou-se o centro das atenções.Várias
nanopartículas foram testadas quanto a
genotoxicidade(Barnes,Elsaesser,etal.,2008.);(Karlsson,2010).
Porém estes estudos não foram capazes de identificar
claramente quais parâmetros destas nanopartículas são
responsáveis por resultados positivos ou negativos.
Além disso, o mecanismo de potenciais danos do DNA
não é totalmente compreendido. Além de intercalação direta
ou física e / ou eletroquímicos da interação com
nanopartículas (Xie, Wang, et al.,2009). Acredita-se que as
Espécies reativas de oxigênio (ROS) desempenham um papel-
chave no dano do DNA. Isto significa que as partículas não
têm necessariamente que atingir o núcleo, mas podem, por
exemplo ,induzir genotoxicidade via estresse oxidativo.
(Bhabra,Sood, et al.2009) , (llynen, 2009).
Toxicidade aguda, subaguda e subcrônica seguindo por
exposição de via oral foram investigados em roedores para
vários tipos diferentes de nanopartículas (por exemplo, cobre,

996
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
selénio, zinco, óxido de zinco, dióxido de titânio). Os
resultados dos estudos de toxicidade oral disponíveis indicam
que, em função do tamanho de partícula, do revestimento e
composição química das nanopartículas, a toxicidade aguda
em doses elevadas pode ocorrer (Bouwmeester et al., 2009).
Informações a partir de estudos de toxicidade em ratos
indicam que os vários efeitos sistêmicos em diferentes
sistemas de órgãos podem ocorrer após uma longa exposição
aos sistemas nanoparticulados, incluindo o imunológico,
inflamatório e sistema cardiovascular. Efeitos sobre o sistema
imunológico e inflamatório podem incluir o estresse oxidativo
e/ou ativação de citocinas pró-inflamatórias nos pulmões,
fígado, coração e cérebro. Efeitos sobre o sistema
cardiovascular podem incluir pró-efeitos trombóticos e os
efeitos adversos sobre a função cardíaca (infarto agudo do
miocárdio e os efeitos adversos sobre o coração de ratos).
Nenhuma informação sobre a toxicidade crônica ou aguda de
exposição oral de baixa dosagem foi detectado. Além
disso,genotoxicidade, possível carcinogênese e
teratogenicidade podem ocorrer,mas não há dados sobre
estes parâmetros ainda disponíveis(Bouwmeester etal., 2009).
Em outro estudo, (Xia, et al.,2006), comparou os efeitos
celulares de partículas ultrafinas no ambiente, fabricadas a
partir de dióxido de titânio (TiO2), carvão, fullerol e
nanopartículas de poliestireno sobre uma linha de células
fagocíticas (RAW 264.7) que é representante de um alvo para
as nanopartículas no pulmão. Foi mostrado que, entre as
partículas testadas, partículas ultrafinas e nanosferas de
poliestireno catiônicos foram capazes de induzir a produção
espécies reativas de oxigênio celulares (ROS),esgotamento e
estresse oxidativo tóxicos. Esta toxicidade envolve lesão

997
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
mitocondrial através do aumento da absorção de cálcio e o
danos estruturais à organelas . No entanto, o TiO2 não induziu
a estresse oxidativo tóxico. Além disso, também foi
demonstrado que o aumento da produção de TNF-α pode ser
visto com partículas ultrafinas induzidas por lesão oxidante e
nanosferas de poliestireno catiônico mitocondrial induziu a
danos e morte celular sem inflamação.
Os ratos que foram também expostos a partículas
ultrafinas de TiO2 mostrou evidência de macrófagos
carregados de pigmentos e macrófagos agregados nos
espaços alveolares até seis meses após a exposição. Pré-
exposição de macrófagos alveolares de partículas ultrafinas
também reduziu significativamente a subsequente capacidade
fagocítica dos macrófagos e o efeito foi demonstrado que
podem variar as as propriedades das partículas (Xia et ai.,
2006).
As linhas celulares A549 (alveolar) e BEAS-2B (vias
aéreas) foram usadas para estudar os aspectos
nanotoxicológicos de poluentes ambientais. Estas duas linhas
de células, que fazem não formar junções funcionais, são
consideradas adequadas para os estudos de toxicidade de
nanopartículas inaladas. Os ensaios de toxicidade padrão, tais
como a atividade metabólica celular, a integridade da
membrana e a liberação de mediadores pró-inflamatórios e
inflamatórios podem ser realizados com estas células, após
absorção de nanopartículas (AZARMI et al., 2008).
A falta de dados toxicológicos sobre nanomateriais não
permitem a avaliação de risco adequada. Devido a isso,
alguns podem até acreditar que são tão arriscados que eles
chamam de uma suspensão cautelar nas pesquisas
relacionadas a nanopartículas. No entanto, o princípio da

998
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
precaução não deve ser usado como motivo para parar a
investigação relacionada com nanotecnologia e
nanopartículas. Ao invés disso, devemos nos esforçar para um
bom equilíbrio entre continuar o desenvolvimento da
nanotecnologia e da necessária investigação para identificar
os perigos potenciais, a fim de desenvolver uma base de
dados cientificamente defensável com a finalidade de
avaliação de risco. Para que isso seja possível, um
conhecimento básico sobre dados biotoxicológicos e
ecotoxicológicos da nanopartícula , é necessário, ao invés de
tentar avaliar riscos com base em alguma ficção científica
popular.
Mais importantes recursos suficientes devem ser
atribuídos por agências governamentais e indústrias para
serem capazes de executar uma avaliação científica de risco
baseada em, então, estabelecer procedimentos justificáveis
para gestão de riscos. Os dados necessários para a avaliação
de riscos devem ser determinados a priori para que os
recursos limitados possam ser utilizados de forma eficiente e
útil para desenvolver estudos bem planejados. Neste ponto, a
regulação governamental não é possível, dada a falta de
informações necessárias para fundamentar tais regulamentos.
(Bergeson,2004).
O uso de produtos a partir da nanotecnologia
provavelmente deve aumentar muito ao longo das próximas
décadas. Na verdade, os nanomateriais já estão a ser
utilizados em aplicações que vão desde queimadura e
curativos aos agentes dentais, para protetores solares e
cosméticos, para as células de combustível, pneus,óptica,
roupas e eletrônicos. Apesar de atualmente existir pouca
consciência pública da nanotecnologia na vida cotidiana, seria

999
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
prudente examinar e abordar a saúde ambiental e humana
com preocupações antes da adoção generalizada de
nanotecnologia. Ambos os benefícios sociais e riscos
potenciais da nanotecnologia deve ser avaliada e claramente
comunicado ao público e reguladores em geral.
Para produtores de nanomateriais, será importante para
demonstrar que o que eles podem perceber como um novo e
formas potencialmente inofensivas de um material
familiarizados tem, de fato, um perfil de risco aceitável. Se
essas medidas proativas não são tomadas, os nanomateriais
podem ser considerados como perigosos pelo público e os
reguladores, o que poderia levar a inapropriada categorização
e desnecessariamente alguns regulamentos.
Nos EUA ,a Food and Drug Administration (FDA) está
entre as primeiras agências governamentais de todo o mundo
a ter uma definição de nanotecnologia e nanoprodutos. No
entanto, o FDA não estabeleceu a sua própria definição formal
embora, a agência participou no desenvolvimento da National
Nanotechnology Initiative (NNI), em que o próprio termo
estava definido. Esta organização afirma que "regula produtos,
não tecnologias ". Assim, o FDA atesta que o tamanho da
partícula não é a questão. Se novos riscos toxicológicos que
derivados de novos materiais ou técnicas de fabricação são
identificados, novos testes de segurança serão então
necessários (CHAU; WU e YEN, 2007).
Em 2006, o NNI - que é uma pesquisa federal e
programa de desenvolvimento criado em 1996 para coordenar
esforços de múltiplas agências governamentais em ciência ,
nanoescala, engenharia e tecnologia - investiu cerca de 4%
(42 milhões dólares) do orçamento total (1.054 milhões de
dólares) em pesquisa que aborda os riscos potenciais

1000
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
causados por nanotecnologia ao ambiente, saúde e segurança
.São três principais áreas de foco de investigação sobre a
compreensão dos efeitos da nanotecnologia no meio
ambiente, saúde e segurança. Elas são: i) a pesquisa básica
para compreender o comportamento dos nanomateriais no
ambiente e no corpo humano, ii) de pesquisa para desenvolver
instrumentos e métodos para medir, caracterizar e testes para
monitorar a exposição de nanomateriais, e iii) a investigação
para avaliar a segurança da tecnologia de que o uso
nanopartículas .
Outros grupos, como o Natural Resources Defense
Council, a Federação das Organizações Americanas do
Trabalho e Congresso da Indústria , além de pesticidas, o
Center for Environmental Saúde, o Centro de Segurança
Alimentar, Corporate Watch, Edmonds Institute, o Instituto
para Agricultura e Política Comercial, oInternational Center for
Technology Assessment, o Projeto sobre Nanotecnologias
Emergentes, e a defesa do meio ambiente criticam a influência
da indústria no processo de decisão e garantem que a
possibilidade de que as nanotecnologias tenham possíveis
riscos são minimizados se o engajamento do consumidor
permanecer forte, e os potenciais benefícios dessas novas
tecnologias forem fornecidos de forma confiável.
A relação entre público, comunicadores de risco (mídia)
e experts é naturalmente tensa. Slovic comenta que um dos
maiores desafios com o qual se confrontam os comunicadores
de riscos é convencer os experts de que, enquanto “o perigo é
real, o risco é socialmente construído” (Slovic,2011), e no caso
de não se levar, seriamente, em conta, a sensibilidade pública,
é criada muita ansiedade e confusão.

1001
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
Uma das primeiras sondagens de opinião pública sobre
a nanotecnologia foi realizada na Inglaterra, em 2003. Os
resultados do relatório, denominado Nanoscience and
Nanotechnologies: opportunities and uncertainties
(Royal..,2013) ,foram divulgados conjuntamente pela Royal
Society, UK National Academy of Science, Royal Academy of
Engineering e UK National Academy of Engineering.
As conclusões do capítulo 7, que tratou da questão
Stakeholder and public dialogue 13 ,apontaram para que uma
maioria esmagadora de pessoas tinha uma percepção muito
baixa, ou mesmo nem sequer tinha ouvido falar em
nanotecnologia.
Finalmente a academia, Indústria e agências
regulatórias precisam considerar as propriedades biológicas
únicas de nanopartículas e os riscos potenciais relacionados
que podem diferir de material a granel com a mesma química
(CHAU; WU; YEN, 2007).
Tem sido demonstrado que alguns tipos de
Nanopartículas podem provocar efeitos pró-inflamatórios em
ratos após a inalação. Estes dados motivaram o aumento dos
esforços de pesquisa sobre a identificação de perigos nos
domínios da saúde e da segurança da exposição ocupacional.
Enquanto isso, Nanomateriais são amplamente utilizados
como filtros ultravioletas em protetores solares e outros
desenvolvimentos recentes apontam para um número muito
maior de espectro funcional em cosméticos, incluindo
hidratações Anti-Age, os chamados produtos anti
envelhecimento , conservantes e como sistemas de transporte
de macromoléculas, tais como o colágeno.(ABDI,2009).

1002
AVALIAÇÃO DOS POSSÍVEIS EFEITOS RISCOS ASSOCIADOS AOS SISTEMAS
NANOESTRUTURADOS: ESTADO DA ARTE
4 CONCLUSÕES

Ao longo dos últimos anos, os sistemas


nanoparticulados vem provocando uma verdadeira revolução
tecnológica nas mais diversas áreas, abrangendo inúmeras
aplicações na indústria, na medicina.
A questão levantada nesse estudo e que está ainda
longe de ser plenamente respondida é se estes sistemas além
dos efeitos positivos, que vem desenvolvendo diversas áreas
da tecnologia, também podem causar impactos negativos para
a sociedade e para o meio ambiente.
Uma análise exaustiva da literatura disponível mostrou
que os estudos necessários de exposição e riscos envolvidos
quanto aos efeitos provocados pela redução do tamanho além
de outros parâmetros relacionados com as partículas e sua
conseguinte acumulação no organismo humano ainda
engatinham e não apresentam resultados completos da
concretização desses possíveis efeitos toxicológicos.
Outra questão importante e que ainda pouco discutida,
é a regulatória. As agências tanto nacionais quanto
internacionais ainda tratam a regulação destes sistemas da
mesma forma que sistemas de tamanhos maiores

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1007
MELHORAMENTO
DOS RECURSOS
GENÉTICOS

1008
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
CAPÍTULO 51

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS


DE MORORÓ SUBMETIDOS AO PROCESSO
DE SECAGEM E VELOCIDADE DO AR
Francinalva Cordeiro de SOUSA 1
Ana Paula Trindade ROCHA 2
Luzia Marcia de Melo SILVA 1
Josivanda Palmeira GOMES 2
¹Professora do Instituto Federal de Alagoas – IFAL Campus Murici,
francis_nalva@yahoo.com.br
² Professora da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG

RESUMO: Bauhinia cheilantha (Bong) Steudel. popularmente


conhecida como mororó ou pata de vaca, é uma planta
pertencente à família das Leguminosas muito utilizada pela
população nordestina na cura de suas enfermidades.
Baseando-se neste fato a presente pesquisa visou avaliar as
características físicas, físico-químicas e químicas dos extratos
hidroalcoólicos das folhas de mororó. Os experimentos de
secagem foram realizados em estufa com circulação de ar,
mediante um planejamento experimental, utilizando uma
matriz 2² + 3 repetições no ponto central, tendo as
temperaturas de 40 a 60 ºC e as velocidades do ar de 0,5 a
1,5 ms-¹, como variáveis de entrada. Foi verificado, como
esperado, que quanto maior a temperatura maior é a taxa de
secagem e, que a velocidade do ar não influenciou nos
resultados. Foi avaliado o efeito das variáveis de secagem
sobre os teores de alcaloides e tanino condensado. A
caracterização química dos extratos hidroalcoolicos da parte
aérea, foi realizada através de espectrofotometria UV-Vis,

1009
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
após maceração dinâmica. Os resultados obtidos para os
teores dos componentes químicos sugeriram que houve uma
pequena degradação nos compostos biativos com a elevação
da temperatura. Constatou-se que o modelo empírico não foi
estatisticamente significativo nem preditivo.
Palavras-chave: Plantas medicinais. Secagem. Compostos
bioativos.

1 INTRODUÇÃO

As plantas estão inseridas na humanidade há bastante


tempo, sendo essa relação homem e natureza, na forma de
alimentos, construção de sua habitação, vestuários, materiais
para a fabricação de ferramentas e também para a
manutenção de sua saúde.
As plantas medicinais e aromáticas são matéria prima
principal de grande quantidade de indústrias de alimentos,
cosmética e farmacêutica. (GONELI et al. 2014). O
conhecimento científico sobre as plantas medicinais, bem
como tecnologias adequadas para a extração de seus
princípios ativos enfocando a sua utilização como
medicamento, se fazem necessários na busca de comprovar
os seus efeitos sobre o organismo humano, tendo em vista
que o uso indiscriminado e sem controle de algumas espécies
podem ser prejudiciais à saúde.
A busca por novas substâncias biologicamente ativas
requer desempenho criterioso na metodologia para a extração
e preparação dos extratos vegetais, visando o isolamento de
seus constituintes químicos. Um dos métodos mais
empregados é a preparação do extrato hidroalcoólico, para a
realização de análises fitoquímicas.

1010
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
Dentre as várias espécies de plantas fitoterápicas
conhecidas no Nordeste paraibano a Bauhinia cheilantha é,
muito utilizada pela população para o tratamento, cura e
prevenção das doenças. A parte aérea da planta é utilizada na
medicina popular devido as suas propriedades
antiinflamatórias, antidiabética, antirreumática, sedativa e
analgésica, assim como no tratamento para distúrbio digestivo
(Albuquerque et al. 2005; Almeida et al. 2005). Esses fatores
são atribuídos devido a presença de seus compostos
químicos, dentre eles os flavonoides.
O processo de secagem, a velocidade e temperatura
pode influenciar negativamente na quantidade e qualidade dos
princípios ativos, presentes nas plantas medicinais. Desta
forma temperaturas acima de 60 °C, não é recomendada para
a maioria das plantas medicinais, devido à perda de material
volátil e degradação de princípios ativos.
Assim, neste contexto, o presente trabalho teve como
objetivo avaliar a influência da temperatura e velocidade do ar
de secagem nos compostos físico, físico-químico e químicos
dos extratos obtidos das partes aéreas de Bauhinia
Cheilantha.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O desenvolvimento experimental foi realizado no


Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos
Agrícolas (LAPPA) e no Laboratório de Química de Biomassa
(LBQ), ambos pertencentes à Universidade Federal de
Campina Grande. As partes aéreas da Bauhinia Cheilantha,
foram coletadas manualmente e selecionadas para a retirada
de partes danificadas. A identificação botânica foi realizada no

1011
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
Herbário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural, da
Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos-
PB, pela profª, Drª Maria das Graças Veloso Marinho. A
exsicata do mororó foi depositada no Herbário sob o número
5047.
O material vegetal in natura foi caracterizado pela
determinação de teor de água, cinzas (Brasil, 2008) e de
sólidos totais. A determinação do teor de sólidos totais (g/g) foi
realizada através do método de secagem em estufa, por
gravimetria. Determinou-se o teor de sólidos totais, através da
Equação. 1.
Massa seca
C𝑠 =
Massa total adicionada
Para avaliar a influência da temperatura e da velocidade
do ar de secagem sobre a composição química dos extratos
hidroalcoolicos das folhas de mororó, foi realizado um
planejamento fatorial 22, utilizando uma estufa com circulação
forçada de ar, dotada de controle de temperatura e velocidade
do ar.
Foi realizado um planejamento fatorial 2 x 2 + 3
(repetições no ponto central) + 1 (amostra in natura), para fins
de comparação. As variáveis de entrada foram à temperatura
e a velocidade do ar de secagem e as variáveis de saída
foram à quantidade de taninos totais e de alcaloides totais
extraídos, por unidade de massa seca de folhas. Os ensaios
de secagem foram realizados em temperaturas variando de 40
a 60° C e velocidades variando de 0,5 m s -1 a 1,5 m s-1, sendo
o ponto central para a temperatura de 50º C e para a
velocidade do ar de 1 m s-1. Os experimentos foram realizados
em ordem aleatória, de modo a garantir a confiabilidade e
evitar resultados tendenciosos.
1012
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
O material vegetal desidratado foi submetido à análises
físicas quanto ao teor de água, determinação de cinzas e
determinação do teor de extrativos. Para a determinação do
teor de extrativos, seguiu a metodologia descrita por Mello;
Petrovick (2000). O teor de extrativos foi calculado, em massa
percentual, segundo a Equação 2.
g ∙ FD ∙ 100
TE =
M
Onde:
TE - teor de extrativos, (%)
g - massa de resíduo seco, (g)
M - massa da amostra, (g).
FD - fator de diluição
A matéria-prima seca, triturada em moinho de faca, com
baixo teor de água (6 a 7%), foi submetida ao processo de
maceração dinâmica, com álcool etílico a 70%. Para o preparo
da solução extrativa hidroalcoólica foi misturado uma massa
de pó das folhas e álcool numa proporção de 1:10. O material
permaneceu sob agitação constante por 01(uma) hora, em
agitador mecânico (modelo Q250M-2 - Quimis), com rotação
de 200 rpm e temperatura controlada de 30 ºC.
Após a extração, as soluções extrativas resultantes
foram filtradas a vácuo, sendo posteriormente concentradas
mediante evaporação do solvente em rota - evaporador
(modelo RV 05 BS28 - IKA) à temperatura máxima de 50 ºC,
até a redução de três vezes a massa inicial, de forma a
aumentar o teor de sólidos. O extrato assim obtido foi
conservado a 4 ºC, em BOD (modelo MA 415 - Marconi),
acondicionado em frasco escuro. Os compostos bioativos dos
extratos hidroalcoolicos das folhas de mororó foram

1013
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
quantificados por espectrofotometria de absorção UV-visível
(modelo 8453-Agilent).
Os extratos foram avaliados quanto à densidade
(picnometria) e o teor de sólidos totais (BRASIL, 2010). A
determinação da densidade foi realizada através da relação
entre a massa e o volume da amostra, utilizando-se o método
picnométrico, a 30 ºC. A densidade da amostra foi calculada
através da Equação 3.
Mse
𝜌= × ρ30ºC
água
Mágua
Onde:
ρ - densidade da solução extrativa, (g.cm-3)
Mse - massa da solução extrativa contida no picnômetro, (g).
Mágua - massa da água destilada contida no picnômetro, (g).

Os alcalóides foram pesquisados utilizando-se curva de


calibração construída segundo metodologia descrita por
Sreevidya; Mehrotra (2003). A quantificação do teor de
alcaloides totais foi obtida por intermédio da curva padrão de
acordo com a equação 4:
x ∙ V ∙ 100
mgalcaloides/100g amostra
m
Onde:
x - concentração obtida na curva padrão, (mg g)
V - volume da amostra, (mL)
m - peso da amostra, (g)
A determinação de taninos condensados seguiu o
método colorimétrico descrito por Morrison et al, (1995) que
utilizou uma solução de ácido clorídrico a 8% e uma solução
de vanilina a 1%.

1014
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
Os dados foram obtidos por intermédio da curva
padrão, calculados através da Equação 5.
x ∙ V ∙ 100
mgcat/100g amostra
m
Onde:
x - concentração obtida na curva padrão, (mg g)
V - volume da amostra, (mL)
m - peso da amostra, (g)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos ensaios para determinação das


características físicas das folhas de mororó in natura são
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Caracterização física das folhas in natura de mororó


Teor de água (%)Teor de sólidos (%) Cinzas (%)
Experimentos
1 69,0470 30,9529 2,3494
2 70,4898 29,5102 2,0214
3 67,7735 32,2264 2,2380
4 67,7735 276362 1,8428
5 73,3066 26,5804 2,2966
6 68,6621 31,3379 2,1317
7 68,3933 30,6067 1,9828
Média geral 70,1480 29,8358 2,1233
Desvio padrão 1,9970 2,1128 0,1945

Na Tabela 1, encontram-se os valores de teor de água


para as folhas in natura da espécie mororó, dos diferentes
experimentos do planejamento experimental. Observa-se que
o teor de água variou entre 67,77 a 73,30%, isso pode ser
explicado devido aos fatores edafoclimáticos, valores que
foram inferiores aos encontrados por Rodrigues et al. (2011)
1015
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
que foi de aproximadamente 88% no estudo com boldo da
terra. Observa-se que os valores encontrados para os teores
de água dos diferentes experimentos são estatisticamente
diferentes entre si.
Inverso ao teor de água, os sólidos totais apresentam o
menor valor para o experimento 4 (60 ºC e 1,5 m s -1) e maior
valor no experimento 2 (60 ºC e 0,5 m s -1). Esses valores são
superiores aos determinados por Mendez et al. (2011) ao
estudarem preparações extrativas obtidas de Passiflora alata
Curtis, encontraram valor de 2,59%.
De acordo com a Tabela 1 é possível observar que os
teores de cinzas das folhas de mororó apresentam resultados
aproximados, variando de 1,84% a 2,35%. Os valores obtidos,
são inferiores aos observados por Silva et al. (2013), que ao
avaliarem a qualidade de amostras de Camelia sinensis (L)
Kuntze (Theaceae) verificaram valores que variaram de 4 a
7%.
Na Tabela 2, se encontram os valores médios da
composição física das folhas de mororó em pó, dos diferentes
experimentos do planejamento experimental fatorial.

Tabela 2. Caracterização física do pó das folhas de mororó.


Mororó
Teor de água Teor de Cinzas
extrativos
Experimentos
1 7,2101 a 25,5626 b 8,7573 a
2 5,5744 b 23,6633 c 8,2970 bc
3 7,4089 a 26,6069 a 8,8345 a
4 6,8787 ab 25,0370 b 8,7016 a
5 6,1534 ab 25,1525 b 8,7209 a
6 6,6802 ab 25,4477 b 8,1279 c
7 6,0880 ab 25,5730 b 8,5683 ab

1016
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
MG 6,7134 25,2919 8,5725
Dms 1,4444 0,8758 0,3652
CV (%) 7,72 1,24 1,53
Fcal 4,9219 ** 23,5314 ** 12,1000 **
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente
a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey; *significativo ao nível de
5% de probabilidade, **significativo a 1% de probabilidade, ns não
significativo pelo teste F. MG - média geral; dms - desvio mínimo
significativo; CV - coeficiente de variação; Fcal - F calculado

De acordo com os resultados é possível observar que


os experimentos 1 e 2 diferiram estatisticamente a nível de 1%
de probabilidade pelo teste de Tukey, não diferindo dos
demais.
Verifica-se que a média geral encontrada para o teor de
água foi de 6,71%. Esses resultados são semelhantes aos
encontrados por Marques et al. (2012) para folhas de Bauhinia
forficata Link; encontraram valores variando entre 6,53 a
7,94%, e inferiores aos encontrados por Amarante et al. (2011)
em estudo com extrato etanólico em pó obtidos do caule de
Montrichardia linifera (Arruda) encontraram valor de 13,22%
de teor de água.
Observando-se os valores encontrados para o teor de
extrativo, verifica-se que as amostras estudadas apresentaram
diferença significativa a nível de 1% de probabilidade pelo
teste de Tukey. O valor médio do teor de extrativo encontra-se
inferior aos valores determinados por Couto et al. (2009) para
folhas de Eugenia dysenterica DC. (34,975%).
Observa-se, em relação a cinzas que as amostras
diferiram estatisticamente entre si ao nível de 1% de
probabilidade pelo teste de Tukey. Os valores encontrados
para esta análise estão na faixa de 8,13 a 8,83%, portanto

1017
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
dentro dos parâmetros preconizados pela Farmacopéia
Brasileira (2000) que determina 14%. Estes resultados são
superiores aos estudos realizados por Alves et al. (2010) para
a espécie Arrabidaea chica (Humb. & Bonpl.) B. Verlt.
encontraram valor de 6,07%.
Na Tabela 3, estão apresentados os valores da
caracterização física da solução extrativa e do extrato
concentrado das folhas de mororó.

Tabela 3. Caracterização física da solução extrativa e do


extrato concentrado das folhas de mororó
Mororó
Solução Extrativa Extrato Concentrado
Densidade Teor de sólidos (%) Densidade Teor de Sólidos
(g/mL) (g/mL) (%)
Experimentos
1 0,9599a 2,3543ab 1,0132bc 7,4533 b
2 0,9101d 1,9894ab 1,0142b 7,0986 ab
3 0,9495b 2,0582 a 1,0213a 7,6454 ab
4 0,9089d 1,5097ab 1,0084d 7,4276 b
5 0,9359c 2,0046ab 1,0138bc 7,4276 b
6 0,9345c 2,0018ab 1,0109cd 7,6741 ab
7 0,9360c 2,0039 b 1,0116bc 7,6741 ab
MG 0,9066 2,4099 1,0133 7,7735
Dms 0,0022 0,5857 0,0031 0,7538
CV (%) 0,09 8,72 0,11 3,48
Fcal 27,0513 ** 2,8584 * 40,0121 ** 4,8442 **
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente a
5% de probabilidade, pelo teste de Tukey; *significativo ao nível de 5% de
probabilidade, **significativo a 1% de probabilidade, ns não significativo
pelo teste F. MG - média geral; dms - desvio mínimo significativo; CV -
coeficiente de variação; Fcal - F calculado

Constata-se que o parâmetro sólido totais da solução


extrativa indica que houve diferença significativa entre os

1018
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
valores dos diferentes experimentos. Verifica-se que o maior
valor encontrado para este parâmetro encontra-se na
temperatura de 40 ºC e velocidade de 0,5 m s. Os resultados
aqui apresentados são inferiores aos encontrados por Borella
et al. (2012) que encontraram valores de 3,3% para o extrato
hidroalcoólico de inflorescências de Calendula officinalis,
sendo inferior aos valores obtidos para o extrato hidroalcoólico
da mesma espécie, que resultou em 3,3% de sólidos totais.
Observa-se que para a solução extrativa houve uma
tendência de diminuição dos constituintes com o aumento da
temperatura e velocidade do ar de secagem, esse fato pode
ter ocorrido devido ao aumento da temperatura degradar as
macromoléculas orgânicas.
O valor médio encontrado para os extratos
concentrados foi de 7,77%. Nunes (2008) ao pesquisar e
caracterizar fisico-quimicamente formulação fitoterápica
semisólida contendo Calendula officinalis L. encontrou valores
de 9,6%. Os valores para este parâmetro indicam a
quantidade de sólidos extraídos e quanto concentrado está o
extrato.
Observa-se ainda que para a densidade da solução
extrativa o experimento 3 (40 ºC e 1,5 m s-1) diferiu
estatisticamente a nível de 1% de probabilidade pelo teste de
Tukey, dos demais experimentos apresentando maior média
(0.9495 g mL-1). Os demais experimentos apresentaram
valores estatisticamente iguais. Este resultado pode ter sido
influenciado pela velocidade e pelo tempo de exposição em
que o material permaneceu no secador.
Pode-se observar que para o teor de sólidos totais da
solução extrativa, apenas os experimentos 3 e 7 diferem
estatisticamente entre si ao nível de 5% de probabilidade. Isso
1019
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
reforça a ideia de que a velocidade do ar teve pouca influência
nos resultados físico-químicos. Comparando os resultados
deste estudo com os de Santos (2007) que obteve rendimento
de 2,7% do extrato hidroalcóolico de Schinus terebinthifolius
observa-se similaridade entre os valores.
A quantidade de sólidos em uma amostra vegetal é
utilizada como indicador de qualidade da matéria prima
vegetal. De acordo com Borella & Carvalho (2011) o teste de
resíduo seco permite visualizar o potencial de extração do
líquido extrator.
A análise dos resultados obtidos para temperatura e
velocidade do ar de secagem, tendo como resposta os
alcaloides e os taninos condensados (Tabela 4) foi realizada
utilizando o programa Statistica versão 5.0 de acordo com o
planejamento fatorial 2² com 3 no ponto central. A partir dos
dados obtidos, foram construídos gráficos de Pareto para
encontrar o melhor ponto de preservação dos compostos
químicos.

Tabela 4. Matriz de planejamento fatorial 22 com três


experimentos no ponto central e os resultados para os ensaios
de alcaloides e taninos condensados dos extratos
concentrados de mororó.
Mororó
Ensaios Temperatura Vel. do ar Alcaloides Taninos
(ºC) (m.s-¹) (mg/g) (mg/g)
1 (-1)40 (-1)0,5 2,2655 0,149
2 (+1)60 (+1)0,5 2,2350 0,142
3 (-1)40 (-1)1,5 2,2478 0,146
4 (+1)60 (+1)1,5 2,2190 0,143
5 (0)50 (0)1,0 2,1598 0,144
6 (0)50 (0)1,0 2,1747 0,145
7 (0)50 (0)1,0 2,1858 0,144
In 2,1587 0,124
natura

1020
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO

Os efeitos das variáveis independentes (temperatura e


velocidade do ar de secagem) sobre as variáveis dependentes
(alcaloides e taninos) foram avaliados mediante análise
Statística, com nível de 95% de confiança.
Analisando os resultados apresentados na Tabela 4,
verifica-se que o composto químico alcaloides, obteve maior
valor, após o processo de secagem, na temperatura de 40 °C
e velocidade de 0,5 m s-1. À medida que aumenta a
temperatura, diminui a quantidade de água presente nos
tecidos vegetais e consequentemente concentra os
constituintes químicos das plantas. Estes resultados
encontram-se de acordo com os obtidos por Oliveira et al.
(2009) para Pimenta dioica (folhas e frutos) e Syzygium
aromaticum (botões florais, talos e folhas).
Os resultados obtidos para taninos condensados não
tiveram variação estatística. Em estudos realizados por Rêgo
Júnior et al. (2011) com sementes de espécies vegetais
nativas da caatinga, e a metodologia da vanilina, obtiveram
teores de taninos condensados de 0,147 a 0,190, portanto
semelhantes aos resultados obtidos neste estudo. Observa-se
que com o aumento da temperatura de 40 para 60 ºC houve
uma redução nos teores de taninos e que a velocidade do ar
de secagem não teve influência no processo.
A avaliação dos extratos líquidos frente aos teores de
alcaloides e taninos mostrou que com o aumento da
temperatura ocasionou uma redução significativa nos
princípios ativos e, portanto degradação destes compostos.
Provavelmente este comportamento esteja relacionado com a
temperatura de volatilização dos componentes das amostras
de menor massa molar.

1021
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
Com relação à espécie in natura, esta, se apresentou
inferior aos demais tratamentos, este resultado encontra-se de
acordo com Rosado et al. (2011) que ao estudarem a
influência do processamento da folha (inteira e pulverizada)
submetida a dois tipos secagem (estufa de ventilação forçada
a 38º C e sala com desumidificador), sobre o teor e
composição química do óleo essencial, verificaram que as
maiores quantidades de linalol foram obtidas nas folhas
submetidas ao processo de secagem.
Na Tabela 5 estão apresentados os coeficientes de
regressão que foram obtidos a partir dos resultados. Apenas a
média entre os fatores apresentou efeito significância
estatística. Os parâmetros temperatura e velocidade não
foram significativos.

Tabela 5. Coeficientes de regressão para alcaloides. Efeito da


temperatura e velocidade do ar de secagem.
Mororó
Média/Int. Temp. (ºC) Vel. (m.s-¹) Temp./Vel.
Coef. de regressão 2,3077 -0,0016 -0,0211 0,000085
Erro padrão 0,0743 0,0015 0,0665 0,001305
t(2) 31,0798 -1,0746 -0,3172 0,065215
P 0,001034 0,3949 0,7812 0,953979
Lim. Conf. -95% 1,9883 -0,0078 -0,3073 -0,005528
Lim. Conf. +95% 2,6272 0,0047 0,2651 0,005698

A Equação 6 corresponde ao modelo obtido, que não

obteve nenhuma variável significativa no processo.

TA = 2,3 − 0,0016 ∙ T − (−0,0211V) + 0,000085 ∙ T V (6)


Através do gráfico de Pareto, mostrado na Figura 1,
confirma-se que com o aumento de temperatura na faixa
1022
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
estudada não houve uma degradação significativa sobre o teor
dos alcaloides.

Temperatura (ºC) -2,27269

Velocidade do ar (m.s-¹) -1,29156

Temperatura/Velocidade ,0651531

p=,05

Estimativa dos Efeitos (Valores absoluto)

Figura 1. Diagrama de Pareto para o efeito da velocidade e


temperatura de secagem sobre o rendimento de alcaloides
totais extraídos dos extratos hidroalcoólicos de folhas de
mororó para um nível de confiança de 95%.
A Tabela 6 apresenta a análise de variância para o teor
de alcaloides.

Tabela 6. Resultado da ANOVA para alcaloides. Efeito da


temperatura, velocidade do ar de secagem

Fonte de Soma de Graus de Quadrado


Fcal
Variação Quadrados Liberdade Médio

Regressão 0,00116 3 0,00039 0,14


Resíduos 0,0084 3 0,0028
Total 0,0095 6
% variação explicada (R2) = 12,21; F(3;3) = 9,28

1023
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
O resultado do coeficiente de correlação entre as
respostas observadas e os valores preditos pelo modelo
estatístico ajustado aos dados é de 12,21%. Com relação ao
teste F, observa-se que o valor de Fcalculado é 0,015 vezes
menor que o Ftabelado mostrando que o modelo ajustado não é
preditivo, nem estatisticamente significativo.
Na Tabela 7 observa-se o efeito das variáveis sobre o
teor de taninos presente nas amostras de extratos
hidroalcoólicos do mororó. A significância dos efeitos em nível
de 95%(p<0,05) de confiança, pode ser melhor visualizada
através do gráfico de Pareto (Figura 2). Confirma-se que
apenas a temperatura apresentou efeito significativo sobre o
teor de tanino.

Tabela 7. Coeficientes de regressão para taninos


condensados. Efeito da temperatura e velocidade do ar de
secagem
Mororó
Média/Int. Temp. (ºC) Vel. (m.s-¹) Temp./Vel.
Coef. de regressão 0,1682 -0,0045 -0,0011 0,0002
Erro padrão 0,0033 0,00006 0,0029 0,00006
t(2) 51,1916 -6,9714 -3,7365 3,4641
P 0,0004 0,0199 0,0647 0,0741
Lim. Conf. -95% 0,1541 -0,00073 -0,0237 -0,00005
Lim. Conf. +95% 0,1824 -0,00017 -0,0017 0,00045

A Equação 7 corresponde ao modelo obtido, onde os


termos em negrito representam as variáveis que foram
significativas.

TT = 𝟏, 𝟔 − 𝟎, 𝟎𝟎𝟒𝟓 ∙ 𝐓 − 0,0011 + 0,0002 ∙ T V (7)

1024
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
Analisando a Figura 2, observa-se que apenas o fator
temperatura influenciou de forma significativa atingindo um
efeito estimado de -8,66.

Temperatura (ºC) -8,66025

Temperatura/Velocidade 3,464102

Velocidade do ar (m.s -¹) -1,73205

p=,05

Estimativa dos efeitos (Valores absoluto)

Figura 2. Diagrama de Pareto para o efeito da velocidade e


temperatura de secagem sobre o rendimento de taninos
condensados extraídos dos extratos hidroalcoólicos de folhas
de mororó para um nível de confiança de 95%.

Uma possível explicação para que a variável


temperatura tenha sido a variável de maior influência, deve-se
ao fato da volatilização dos compostos químicos em
temperaturas mais elevadas. O sinal negativo indica que com
o aumento da temperatura ocorre a degradação deste
composto.
Observa-se na Tabela 8 que o valor do coeficiente de
determinação foi de aproximadamente 95%, indicando que o
modelo representa bem a relação entre os efeitos e a
resposta. A tabela da ANOVA mostra que o modelo proposto

1025
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
não é preditivo e também não possui significância estatística,
ao nível de 95% de confiança uma vez que o F calculado é 0,16
vezes menor que o Ftabelado.

Tabela 8. Resultado da ANOVA para tanino. Efeito da


temperatura, velocidade do ar de secagem.

Fonte de Soma de Graus de Quadrado


Fcal
Variação Quadrados Liberdade Médio

Regressão 0,00003 3 0,000001 1,5


Resíduos 0,00002 3 0,000066667
Total 0,00005 6

4 CONCLUSÕES

Com base nos resultados apresentados e discutido


anteriormente conclui-se que:
As amostras em pó estão dentro dos limites
recomendados pela Farmacopeia Brasileira quanto aos
parâmetros teor de água e cinzas
As maiores quantidades de alcaloides e taninos
condensados foram obtidos quando o processo de secagem
foi realizado a temperatura de 40 ºC e velocidade do ar de 0,5
m s-1, no entanto não houve uma diferença significativamente
marcante.
Com aumento da temperatura houve degradação dos
compostos químicos presentes nos extratos, indicando que a
temperatura de secagem não deve exceder 60 ºC, para que
não haja perdas significativas dos compostos químicos
bioativos presente na planta, garantindo um produto de melhor
qualidade.
1026
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS EXTRATOS DE MORORÓ SUBMETIDOS AO
PROCESSO
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1028
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

CAPÍTULO 52

TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA


CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

Luzia Marcia de Melo SILVA¹


Francinalva Cordeiro de SOUSA¹
Inácia dos Santos MOREIRA²
Deise Souza de CASTRO²
Danielle dos Santos Tavares PEREIRA¹
¹Professora do Instituto Federal de Alagoas – IFAL Campus Murici; ²Doutoranda do Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola – UFCG;
dluziamarcia@yahoo.com

RESUMO: Apesar do reconhecimento científico das


potencialidades do Ziziphus joazeiro Mart. e sua importância
para a biodiversidade, esta espécies ainda permanecem sem
a atenção devida por parte de programas eficientes que visem
a sua conservação e valorização como recurso natural junto à
população. Objetivou-se determinar o Teor de Água Limite
para Crioconservação das sementes de Ziziphus joazeiro
Mart. revestidas de endocarpo, em vapor de nitrogênio a -170
ºC e nitrogênio líquido a -196 ºC. As sementes passaram por
um processo de secagem e umedecimento para alcançar os
teores de água de 4, 6, 8, 10, 12 e 14% (b.u.); logo após,
foram crioconservadas a -170 e -196 ºC durante cinco dias e,
em seguida, descongeladas gradativamente para serem
realizados os testes de germinação e vigor; para efeito de
análise comparativa utilizou-se armazenagem das sementes a
25 ºC e 70% de UR por igual período de tempo. O tratamento
para superação da dormência das sementes de Ziziphus
joazeiro Mart. revestidas de endocarpo foi eficiente, mostrando
1029
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

percentuais de germinação superiores a 63% para todas as


condições de temperatura analisada. O maior vigor se
encontra, em geral, quando as sementes foram
crioconservadas com 10% b.u. em vapor de nitrogênio,
embora estas não diferirem significativamente das sementes
armazenadas a 25 e -196 °C com teores de água de 8 e 10%
b.u.
Palavras-chave: Ziziphus joazeiro Mart. Crioconservação.
Qualidade fisiológica.

1 INTRODUÇÃO

A necessidade de recuperação de ecossistemas


florestais e a conservação da biodiversidade geraram
necessidade de estudos do comportamento das sementes
durante o armazenamento (CARVALHO et al., 2006). Na
última década, o avanço significativo nas pesquisas utilizando
as técnicas de crioconservação de sementes, resultou em
protocolos de conservação para cerca de 100 espécies, uma
vez que a semente é a forma pela qual a planta sobrevive o
máximo de tempo com o mínimo de atividade fisiológica
(MARTINS et al., 2009).
A crioconservação é uma técnica disponível, a longo
prazo, para a conservação do germoplasma de espécies de
plantas propagadas vegetativamente ou que possuem
sementes recalcitrantes. Neste processo de armazenamento,
utilizam-se temperaturas ultra-baixas, geralmente em
nitrogênio líquido a -196 ºC, ou em sua fase de vapor, a -170
ºC. A criobiologia tem motivado o desenvolvimento de
protocolos de crioconservação para sementes de muitas
espécies economicamente importantes, considerando-se a

1030
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

massa de água da semente o fator mais crítico para o sucesso


de um protocolo de crioarmazenamento (GOLDFARB et al.,
2007).
Poucas espécies arbóreas da caatinga possuem
informações sobre o seu cultivo. Apesar do reconhecimento
científico das suas potencialidades e importância para a
biodiversidade ainda permanecem sem a atenção devida por
parte de programas eficientes que visem a sua conservação e
valorização como recurso natural junto à população. O
Ziziphus joazeiro Mart. é uma das espécies nessa condição e
até hoje muito pouco estudada (MONIZ-BRITO & OSUNA,
2008).
Contudo, com essa crescente perda da nossa
biodiversidade, tornam-se necessárias estratégias que
permitam manter ex situ parte dessa diversidade. Dessa
forma, a crioconservação surge como alternativa, pois, ao
contrário dos Bancos de Germoplasma comuns, que são de
alto custo e mantêm as espécies a curto ou médio prazo, a
crioconservação de sementes surge como uma alternativa
viável e de longo prazo para conservação de espécies
ameaçadas e/ou de valor econômico (DUARTE, 2009).
Para a obtenção de resultados confiáveis e
comparáveis dos testes de germinação, é necessária a
utilização de condições padrões, indicadas nas Regras para
Análises de Sementes (BRASIL, 2009). Isso significa que as
condições sob as quais são realizados esses testes são
controladas de forma a atenderem os requisitos ambientais
ideais à germinação das sementes de cada espécie (GUEDES
et al., 2011), porém os testes de vigor são capazes de
detectar, com maior precisão, os avanços da deterioração das

1031
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

sementes, permitindo diferenciar lotes de poder germinativo


semelhantes (MENDONÇA et al., 2008).
Objetivou-se, portanto, neste trabalho determinar o Teor
de Água Limite para Crioconservação (TALC), das sementes
de juá revestidas de endocarpo, haja vista a importância dos
estudos referentes à exploração de forma racional dos
recursos genéticos.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de


Sementes e no Setor de Criogenia do Laboratório de
Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas
(LAPPA) da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola, da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG – PB). Os
frutos de juá (Figura 1-A) foram coletados no Campus da
UFCG na cidade de Campina Grande, PB (cidade que está a
uma altitude média de 551 metros, com latitude – 07 ° 13’ 50’’,
longitude 35° 52’ 52’’e uma área que abrange 599,6 km²),
entre maio e julho de 2012, sendo coletados diretamente da
árvore quando iniciaram a queda espontânea (Figura 1-B). Os
frutos foram despolpados em uma despolpadeira industrial
(Laboremus- PAT/REG), restando parte do fruto, o endocarpo,
que fica aderido ao tegumento da semente, sendo estes
submetidos à fermentação por cinco dias, para a retirada de
mucilagem. Decorrido esse período, foram lavados com água
corrente, sob peneira de arame, e postos para secar a sombra
(Figura 1-C).

1032
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

Figura 1. Fruto (A); Queda espontânea dos frutos (B);


Sementes revestidas de endocarpo (C).

A B C
Fonte: Autor, 2013.

A determinação do teor de água inicial das sementes foi


realizada a partir do método padrão da estufa a 105 ± 3 ºC,
utilizando quatro sub-amostras de 5g de sementes
acondicionadas em recipientes metálicos, onde
permaneceram durante 24 h. Após esse período, foram
retirados da estufa, tampados rapidamente, resfriados em
dessecador durante 15 minutos e pesados em balança
analítica com precisão de 0,0001g, como prescrito nas Regras
para Análise de Sementes (Brasil 2009) e o resultado final
expresso pela média aritmética em porcentagens das sub-
amostras.
Após a determinação do teor de água inicial as
sementes de juá revestidas de endocarpo foram submetidas a
um processo de umedecimento ou secagem, até atingirem
teores de água estabelecidos para os diferentes ensaios de
determinação do TALC (4, 6, 8, 10, 12 e 14% b.u.). Como a
espécie Ziziphus joazeiro Mart. apresenta dormência imposta
pelos envoltórios, devido a barreira mecânica causada pelo
endocarpo duro e resistente que envolve as sementes fez-se
necessário a escarificação ácida através da imersão em ácido
sulfúrico concentrado durante 10 minutos para acelerar e

1033
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

uniformizar a germinação, ocorrendo o desgaste do


tegumento, promovendo a permeabilidade da semente.
No procedimento de secagem das sementes as
amostras foram colocadas em uma estufa a 30 ± 2 ºC, sendo
os lotes de sementes pesados a cada duas horas até
atingirem os pesos referentes aos teores de água desejados.
Para o acréscimo do teor de água, as sementes foram
umedecidas de forma uniforme em cesta de arame com quatro
suportes em sua base; este material foi colocado no interior de
uma bandeja plástica com água destilada em um nível em que
alcance os suportes, sem atingir as sementes. Todo o material
(bandeja e cesta com sementes) foram envolvidos por um
saco plástico de alta densidade, vedado, e em seguida, levado
a uma câmara de refrigeração com temperatura de 10 ºC
sendo pesados a cada uma hora, utilizando uma balança
eletrônica, com precisão de 0,01g até atingir os pesos
referentes aos teores de água desejados. Decorrido o
processo, os valores experimentais do umedecimento e
secagem das sementes de juá foram ajustados a uma
equação exponencial através de regressão não-linear, em
função do tempo (minutos).
Para determinação do TALC foram formados seis lotes
de sementes com teores de água ajustados para (4, 6, 8, 10,
12, 14% b.u). As sementes foram acondicionadas em tubos
cilíndricos de alumínio (canister), separadas por teor de água
e acondicionadas em botijões criogênicos isolados com vácuo
(Figura 2), o que confere, ao botijão, a capacidade de manter
o nitrogênio em estado líquido (N2L) a -196 ºC e no estado de
vapor a -170 ºC (Cavalcanti Mata et al. 2004).

1034
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

Figura 2. Botijão criogênico com vapor de nitrogênio a -170 °C


(A); Canister em aço inoxidável (B); Botijão criogênico com
nitrogênio líquido a -196 °C (C).

A Canister C
B

Fonte: Autor, 2013.

Decorrido um período de cinco dias de


crioarmazenamento as sementes foram submetidas a um
descongelamento gradativo (-196; -170; -80; 10 ºC e
ambiente) com intervalo de três horas para cada temperatura,
e logo após submetidas a uma avaliação da qualidade
fisiológica através dos testes de germinação e vigor.
Empregou-se os mesmos testes para um lote de sementes
armazenadas por um período de cinco dias a temperatura
ambiente (± 25 ºC) e umidade relativa (UR) média de 70%,
para uma análise comparativa.
Como não existe, nas Regras para Análise de
Sementes (Brasil 2009), um protocolo que descreva a
metodologia para avaliar as sementes de juá revestidas de
endocarpo o teste de germinação adotado foi determinado
1035
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

através de procedimentos experimentais. Utilizou-se quatro


repetições de 25 sementes para cada tratamento. Para este
teste, as sementes foram semeadas em bandejas plásticas
com 42 cm de comprimento, 27,5 cm de largura e 7,0 cm de
altura. O substrato utilizado foi a vermiculita, a qual foi
umedecida com água destilada e reposta sempre que o
substrato era ressecado pelo ar do ambiente.
Os testes de vigor foram determinados através do
comprimento de plântula e do peso da matéria seca. Para
determinação do comprimento das plântulas foi utilizado um
paquímetro com precisão de 0,01mm, sendo avaliada a altura
das plântulas normais (sistema radicular desenvolvido,
presença de hipocótilo e cotilédones) (Goldfarb et al. 2010). A
determinação do peso da matéria seca das plântulas
consideradas normais de cada repetição foi realizada
retirando-as do substrato e colocando-as em saco de papel as
quais, separadas por tratamento e repetições, foram
colocadas para desidratar em estufa a 70 ± 3 ºC, até peso
constante. Depois deste período, as mesmas foram retiradas
da estufa e colocadas para resfriar em um dessecador, por um
período de 15 minutos e, logo após, pesadas em balança
eletrônica, com precisão de 0,01g. O peso seco foi calculado
através da fórmula proposta por Viera & Carvalho (1994).
O delineamento estatístico empregado foi o
inteiramente casualizado com arranjo fatorial 6 X 3
representado pelos teores de água (4, 6, 8, 10, 12 e 14% b.u.)
e temperaturas de (25, -170 e -196 ºC), empregando-se quatro
repetições por tratamento. Foram realizadas a análise de
variância e a comparação das médias dos tratamentos, pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizando o programa

1036
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

computacional ASSISTAT, versão 7.6 beta (Silva & Azevedo


2009).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O teor de água inicial das sementes de juá revestidas


de endocarpo foi de 15,86% (b.u.). Após a aplicação do
tratamento pré-germinativo através da imersão das sementes
em acido sulfúrico concentrado realizou-se uma nova
determinação do teor de água ficando as mesmas em torno de
15,94% (b.u.). Os valores experimentais referentes ao
processo de secagem das sementes em função do tempo
(minutos) estão demostrados na Figura 3:

Figura 3. Valores experimentais da secagem das sementes de


juá revestidas de endocarpo em função do tempo (minutos).
16

14
Teor de água (% base úmida)

12
X = 14,8702 exp (-0,0016*t) R 2 = 94,05%

10

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900


Tempo (minutos)

Fonte: Autor, 2013.

Os dados experimentais do processo de secagem


foram ajustados por regressão. Observa-se que o modelo não-
linear representa satisfatoriamente os valores experimentais,
1037
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

apresentando elevado valor do coeficiente de determinação


(R²).
Diversas pesquisas têm demonstrado que o porcentual
do teor de água das sementes interfere no processo de
crioconservação. De acordo com Tresena et al. (2010),
sementes de ipê amarelo com teores de água acima de 4%
(b.u.) apresentaram um decréscimo significativo nos testes de
germinação e vigor. Já nos procedimentos experimentais
realizados por Goldfarb et al. (2008), as sementes de pinhão
manso podem ser crioconservadas à temperatura de -196 °C,
com teor de água entre 4 a 8% (b.u.), pois sua germinação e o
seu vigor não são alterados significativamente. No entanto, o
teor de água limite para crioconservação das sementes de
pinhão manso foi estabelecido como sendo 8 % (b.u.), que foi
o teor de água da colheita.
Os valores referentes à germinação e o vigor das
sementes de juá revestidas de endocarpo com os teores de
água descritos anteriormente e submetidas à armazenagem
por cinco dias, à temperatura ambiente (25 ± 2 °C), imersão
em vapor de nitrogênio (-170 ºC) e nitrogênio líquido (-196 °C),
encontram-se na Tabela 1. De acordo com os resultados,
observa-se que o tratamento para superação da dormência
das sementes de juá revestidas de endocarpo foi eficiente,
mostrando percentuais de germinação superiores a 63% para
todas as condições de temperatura analisada. Observa-se
também, que as sementes armazenadas a temperatura
ambiente e crioarmazenadas em nitrogênio líquido e vapor de
nitrogênio com teores de água entre 8 e 10% b.u. não
diferiram estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.

1038
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

Tabela 1. Valores médios da germinação e vigor em função do


teor de água das sementes de juá revestidas de endocarpo,
crioconservadas a (-170 e -196 °C) e à temperatura ambiente
(25 °C), por um período de cinco dias.
Sementes de Juá Revestidas de Endocarpo

Germinação Vigor
(%)
Comprimento da Plântula Matéria Seca (g)
(mm)
T.A. 25 ºC -170 -196 25 ºC -170 -196 ºC 25 ºC -170 -196
% ºC ºC ºC ºC ºC
4 71,0a 63,0b 65,0a 102,73 108,39 105,74ab 2,73a 2,42b 2,50a
6 C D bC bB aA ABC C D bC
8 76,0a 74,0a 70,0a 106,22 109,50 106,95ab 2,92a 2,84a 2,69a
10 BC C BC bAB aA ABC BC C BC
12 81,0a 79,0a 75,0a 106,38 110,69 103,46bC 3,11a 3,04a 2,88a
14 AB BC B bAB aA 107,53aA AB BC B
86,0a 92,0a 91,0a 107,32 110,52 B 3,31a 3,53a 3,49a
A A A aA aA 109,10aA A A A
71,0b 84,0a 76,0b 106,21 109,12 104,35aB 2,73b 3,23a 2,92b
C AB B aAB aA C C AB B
69,0a 72,0a 71,0a 104,99 106,98 2,65a 2,76a 2,73a
C C BC aAB aA C CD BC
Méd 75,67 77,33 74,67 105,64 109,20 106,19 2,91 2,97 2,87
ia
dmscolunas= 7,27 dmscolunas= 3,28 dmscolunas= 0,30
dmslinhas= 8,91 dmslinhas= 4,02 dmslinhas= 0,37
CV%= 5,62 CV%= 1,80 CV%= 6,09

Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas colunas e


maiúsculas nas linhas, não diferem significativamente entre si, pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade.

O vigor, expresso pelo comprimento da plântula e peso


de matéria seca em função do teor de água tem
comportamento semelhante ao da germinação. Constata-se
que o maior vigor se encontra, em geral, quando as sementes
foram crioconservadas com 10% b.u. em vapor de nitrogênio,
embora estas não diferirem significativamente das sementes

1039
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

armazenadas a 25 e -196 °C com teores de água de 8 e 10%


b.u.
Em estudos referentes à manutenção de banco de
germoplasma, Almeida (2006) afirma que, o teor de água, sua
composição química e as velocidades de congelamento e
descongelamento são os fatores que habitualmente,
consideram-se como determinante do efeito da
crioconservação sobre as sementes, assim como as sementes
de menor tamanho, uma composição química rica em lipídeos
ou velocidade de congelamento/descongelamento
inadequadas, pode afetar a viabilidade das mesmas.
Nessa perspectiva, estabeleceu-se ao longo dessas
últimas décadas de pesquisa com crioconservação de
sementes, que existiria um limite máximo de teor de água para
o seu congelamento (High Moisture Freezing Limit - HMFL ou
Teor de Água Limite para a Criopreservação - TALC), acima
do qual a viabilidade da semente é reduzida (Stanwood 1985).
Buscando avaliar o sucesso da crioconservação, vários
pesquisadores têm trabalhado nesse tema, como por exemplo,
Rocha et al. (2009) que testaram as sementes das cultivares
de algodoeiro BRS Verde (V1), BRS-200-Marrom (V2), BRS-
187-8H-Branco (V3) e 6M-Mocó-Branco (V4) provenientes da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(CNPA/EMBRAPA). Em seu trabalho, concluíram que a
crioconservação aumenta o percentual de germinação e o
vigor das sementes de algodão, em razão dessa temperatura
promover quebra de dormência pela ação do frio.
Pesquisas a respeito da crioconservação de sementes
de interesse econômico estão sendo cada vez mais
estudadas, podendo citar Goldfarb et al. (2010), que

1040
TEOR DE ÁGUA LIMITE PARA CRIOCONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE
Ziziphus Joazeiro Mart.

estudando o armazenamento criogênico de sementes de


pinhão manso (Jatropha curcas L.), haja vista que, esse
processo tem por função a preservação dos recursos
genéticos dessa espécie para seleção, melhoramento genético
e manutenção de estoques para o futuro, concluíram que as
sementes mantiveram a sua viabilidade e os índices de vigor
durante os períodos de crioconservação.

4 CONCLUSÕES

O melhor porcentual de germinação e vigor


(comprimento de plântula e matéria seca) das sementes de juá
revestidas de endocarpo, foi obtido quando estas
apresentaram um teor de água de 10% (b.u) nas três
condições de armazenamento estudadas, não diferindo
estatisticamente entre si.

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1043
BIOLOGIA
MOLECULAR

1044
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
CAPÍTULO 53

DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE


CHIKUNGUNYA
Carmem Gabriela Gomes de FIGUEIREDO1
Claudenice Rodrigues do NASCIMENTO2
Andréa Fernanda Ramos de PAULA2
1
Mestre em Biologia Celular e Molecular Aplicada, Técnica do Curso Técnico em Análises
Clínicas da ETS/CCS/ UFPB; 2 Mestrandas em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente,
PRODEMA/UFPB, Professoras da ETS/CCS/UFPB
gabrielagfigueiredo@gmail.com

RESUMO: A febre Chikungunya é uma doença causada pelo


vírus chikungunya (CHIKV) comum em regiões tropicais e
subtropicais do mundo. Os sintomas se assemelham aos de
outros vírus como dengue e zika. O diagnóstico precoce pode
auxiliar na conduta clínica dos pacientes e nas ações de
vigilância epidemiológica e prevenção de novos surtos.
Considerando que o isolamento viral não é usado nos
laboratórios de diagnóstico de rotina, que a sorologia pode
apresentar reações cruzadas com outros arbovírus, os testes
moleculares assumem importância no diagnóstico precoce da
doença por poderem ser realizados nos primeiros dias de
sintomas e serem altamente sensíveis e específicos. Este
trabalho objetivou descrever as técnicas moleculares
disponíveis diagnóstico do CHIKV. Para a realização desta
revisão, foram utilizados os seguintes descritores: vírus
chikungunya, chikungunya fever (febre de chikungunya),
diagnostic (diagnóstico), polimerase chain reaction (reação em
cadeia da polimerase); as bases de dados consultadas foram
PubMed, LILACS e SciELO, nos últimos 5 anos. Foram
selecionados 48 trabalhos, por meio de leitura minuciosa,
crítica e reflexiva obedecendo aos critérios de inclusão, foram
selecionados trabalhos que se referiam a temática. Após a
leitura dos mesmos, pode-se concluir que as técnicas de RT-

1045
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
PCR, RT-PCR em tempo real são as mais empregadas e
outras estão em fase de desenvolvimento ou validação
permitindo diagnóstico precoce e fortalecimento de ações de
vigilância em saúde.
Palavras-chave: Chikungunya. Reação em Cadeia da
Polimerase. Diagnóstico.

1 INTRODUÇÃO

A febre Chikungunya é uma doença viral transmitida por


artrópodes, ou arbovirose, causada pelo vírus Chikungunya
(CHIKV), que é transmitido por artrópodes, sendo propagada
principalmente para o homem através da picada de fêmeas
dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus infectadas
com o CHIKV, podendo transmitir também para animais
silvestres e domésticos (KUCHARZ; CEBULA-BYRSKA, 2012,
BRASIL 2017).
É um arbovírus pertencente à família Togaviridae
gênero Alphavirus e tem como material genético um RNA de
fita simples (SY et al., 2016). O período de incubação dura em
média de 3 a 7 dias e a viremia persiste geralmente por até 10
dias após o surgimento das manifestações clínicas (JÚNIOR,
2014; TAUIL, 2014).
O CHIKV foi isolado inicialmente na Tanzânia em
1952. Desde então, causou milhões de infecções humanas
na África, nas ilhas do Oceano Índico, na Ásia, na Europa e
nas Américas (RODRIGUES et al., 2016). Nas Américas,
no ano de 2013, teve início uma grande epidemia em
diversas ilhas do Caribe. No Brasil, a transmissão autóctone
(casos importados de outros países) foi confirmada no
segundo semestre de 2014, primeiramente nos estados do
Amapá e da Bahia (BRASIL 2015, 2017).

1046
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
Segundo o Boletim Epidemiológico mais recente da
Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde,
foram registrados 171.930 casos prováveis de febre de
chikungunya no país, com uma incidência de 83,4 casos/100
mil hab., destes, 121.734 (70,8%) foram confirmados e outros
36.334 casos suspeitos foram descartados, sendo a região
Nordeste a que apresentou o maior número de casos
prováveis (130.910 casos; 76,1%) em relação ao total do país
(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2017).
Os sinais e sintomas são parecidos com os de outras
arboviroses e caracterizam-se por uma intensa dor nas
articulações de início repentino, febre alta, erupção cutânea,
dores articulares e musculares, cefaleia, náusea e fadiga. A
infecção é autolimitada e os sintomas iniciais geralmente se
resolvem dentro de uma semana. A principal manifestação
clínica que a difere das demais arboviroses são as fortes
dores nas articulações, que muitas vezes podem estar
acompanhadas de edema, serem recorrentes em 30-40% de
indivíduos infectados podendo persistir por anos e incapacitar
o paciente (BRASIL, 2015, 2017; WHO, 2017).
Manifestações atípicas como complicações oculares,
neurológicas e cardíacas podem ocorrer, bem como queixas
gastrointestinais. Muitas vezes, os sintomas em indivíduos
infectados são leves e a infecção pode não ser reconhecida,
ou ser mal diagnosticada em áreas onde a dengue ocorre,
sendo de fundamental importância a detecção exata da
doença (WHO, 2017).
O diagnóstico laboratorial específico da infecção pelo
vírus chikungunya pode ser feito de forma direta, através do
isolamento viral e da pesquisa do material genético do vírus
(diagnóstico molecular) nas diferentes amostras clínicas e na
fase inicial da doença, ou de forma indireta através da
1047
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
pesquisa de anticorpos das classes IgM e IgG específicos na
fase mais tardia da doença (BURTH et al., 2012; BRASIL,
2015).
As amostras clínicas utilizadas no diagnóstico incluem
sangue, plasma, soro, líquido cefalorraquidiano (LCR), saliva e
urina. As amostras destinadas ao isolamento viral e a
pesquisa do material genético do vírus, devem ser mantidas
em freezer a uma temperatura de -70°C até o momento do
uso. Amostras para as técnicas sorológicas podem ser
mantidas a uma temperatura de -20°C (BRASIL, 2015; 2017;
CHAN et al., 2017). É importante ressaltar que para manter a
viabilidade da amostra clínica, o descongelamento repetido
deve ser evitado, sendo recomendado aliquotar em tubos
menores (CAMPOS, 2015; WAGGONER et al., 2016).
Em virtude da dinâmica do vírus no organismo do
hospedeiro, para obter sucesso no diagnóstico, cada
metodologia deve ser executada na fase apropriada. O
isolamento viral bem como a pesquisa de material genético do
CHIKV é útil até o oitavo dia após o aparecimento dos
sintomas, sendo o período compreendido entre o primeiro e
quinto dia o de maior quantidade de vírus no sangue, viremia.
Dessa maneira, propiciam um diagnóstico rápido e sensível,
sendo uma ferramenta importante para a detecção precoce da
infecção. Porém, o isolamento viral, é um procedimento
demorado e que, na maioria das vezes, exige laboratórios com
nível de segurança biológica 3 (BRASIL, 2017).
Já a pesquisa dos anticorpos específicos, também
chamada de técnica sorológica, pode ser feita, a depender da
classe do anticorpo, após o segundo dia do surgimento dos
sintomas para a classe IgM, sendo mais indicado pesquisá-lo
após o quinto dia. Já para os anticorpos da classe IgG
recomenda-se a pesquisa após o sexto dia persistindo por
1048
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
anos no sangue. Entretanto, observa-se nos testes sorológicos
alta taxa de reação cruzada com outros arbovírus o que
compromete a especificidade da pesquisa de anticorpos
(KUCHARZ; CEBULA-BYRSKA, 2012; SAHA et al., 2013).
O diagnóstico molecular do CHIKV é feito através da
pesquisa do RNA viral, sendo as principais técnicas
moleculares utilizadas a RT-PCR (Reverse-Transcription
Polymerase Chain Reaction) e o qRT-PCR (Real Time RT-
PCR) (DEBJANE et al., 2012; CAMPOS, 2015; BRASIL, 2015;
2017; KAKADE et al., 2015; WAGGONER et al., 2016;
CUNHA; TRINTA, 2017).
Embora as técnicas baseadas na RT-PCR forneçam um
diagnóstico rápido e sensível, elas só permitem a detecção de
ácido nucleico viral até o oitavo dia após o início dos sintomas
(BRASIL, 2015; 2017; WHO, 2017). Independentemente disso,
este método é uma ferramenta importante para o diagnóstico
precoce desta infecção, particularmente em casos de
meningoencefalite e dermatite vesiculobolhosa em recém-
nascidos, por exemplo, em que o diagnóstico precoce é
essencial para o sucesso do tratamento (BRASIL, 2014).
A febre chikungunya tem caráter epidêmico com
elevada taxa de morbidade associada à artralgia persistente,
tendo como consequência a redução da produtividade e da
qualidade de vida (BRASIL, 2017, WHO, 2017). Embora
poucos estados brasileiros tenham vivenciado epidemias por
chikungunya até o momento, no entanto, fatores como a alta
densidade do vetor, a presença de indivíduos susceptíveis e a
intensa circulação de pessoas em áreas endêmicas
contribuem para a possibilidade de epidemias em todas as
regiões do país (BRASIL, 2017).
Os arbovírus são cada vez mais reconhecidos como
uma ameaça para a saúde global. Este grupo de agentes
1049
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
patogênicos é único capaz de emergir e distribuir-se para
novas regiões geográficas à medida que os vetores se
espalham e os seres humanos invadem os ambientes dos
reservatórios zoonóticos. Muitos se adaptaram à existência
urbana e podem causar surtos explosivos e perturbadores
quando novas populações estão expostas. A sua propensão
para emergir e estabelecer-se em novas regiões geográficas
traz novas ameaças à saúde e desafios de diagnóstico (ZARA
et al., 2016).
Assim, medidas de prevenção de novos casos e
diagnóstico correto dos casos suspeitos tornam-se
importantes. Dessa maneira, considerando que vivemos em
um país onde circulam os arbovírus dengue (DENV), zika e
chikungunya, transmitidos ao homem pelos mesmos vetores,
que provocam sintomatologia parecida, o diagnóstico
laboratorial do CHIKV assume importância, mais
especificamente o diagnóstico molecular uma vez que
apresenta alta especificidade e sensibilidade bem como a
possibilidade de detecção da doença já nos primeiros dias de
sintomas evitando a transmissão e o tratamento adequado
(BRASIL, 2014; 2015; 2017; MARKEDIAN; ROBERTS, 2015).
Além disso, poucos são os trabalhos na literatura
brasileira que abordam a temática proposta. Portanto, esse
trabalho objetivou descrever as técnicas de diagnóstico
molecular atualmente disponíveis para o vírus chikungunya
atualizando o estado da arte sobre a temática em questão.

1050
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
2 MATERIAIS E MÉTODO

Estudo de revisão integrativa da literatura, o qual reuniu


trabalhos publicados nos últimos 5 anos, e assim, possibilitou
a síntese do estado da arte sobre a temática proposta tendo
como questionamento: quais as técnicas atualmente
disponíveis para o diagnóstico molecular da febre
chikungunya. Após a formulação da pergunta condutora,
procedeu-se a localização e avaliação crítica dos trabalhos na
literatura científica disponível, seguida pela coleta de dados,
análise e apresentação, interpretação dos dados possibilitando
assim, um aprimoramento e atualização da revisão (SOARES
et al., 2014).
Foram utilizados artigos, teses, dissertações e manuais
como acervo para a construção desta revisão. O levantamento
dos trabalhos que tratassem do tema proposto, foi feito
através de pesquisas nos bancos de dados da Biblioteca
Virtual de Saúde (BVS): LILACS (Literatura Latino Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde), base de dados
internacional PUBMED (Medical Published – service of the
U.S. National Library of Medicine), SciELO (Scientific Eletronic
Library Online). Os descritores utilizados para a estratégia de
busca, de acordo com o dicionário em ciências da saúde
(DECS), foram: vírus chikungunya, febre de chikungunya,
diagnóstico, reação em cadeia da polimerase, chikungunya
vírus, chikungunya fever, diagnostic, polimerase chain
reaction.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Depois de feita a leitura criteriosa dos artigos nas bases


de dados indexados nos referidos bancos de dados nos
1051
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
últimos 5 anos, obedecendo ao período de publicação, sendo
os mesmos selecionados de forma minuciosa e verificando a
adequação aos critérios de inclusão e exclusão conforme a
importância para responder ao tema proposto nos periódicos,
realizou-se o fechamento catalográfico do material
bibliográfico.
Um total de 48 artigos foram obtidos na busca das
bases de dados utilizando os descritores estabelecidos. Os
filtros foram selecionados a partir das opções propostas em
cada base de dados, reduzindo assim, após essa etapa, o
número de periódicos para responder a pergunta condutora do
estudo. A partir dos resultados podemos inferir que:
Para entender o diagnóstico molecular da febre
chikungunya se faz necessário conhecer a organização
genômica do vírus bem como o princípio, limitações e
benefícios das técnicas disponíveis.
O material genético do CHIKV é uma molécula de RNA
de fita simples, linear e de sentido positivo. A estrutura
genômica possui duas sequências de leitura aberta (ORFs -
Open Reading Frames) as quais codificam as proteínas
estruturais e não estruturais (PRESTI et al., 2014;
MAHENDRADAS; SHETTY, 2013).
A primeira ORF possui a terminação 5’ com cap e
através da tradução do RNA genômico ocorrerá a formação de
uma poliproteína percursora das 4 proteínas não estruturais:
NSP1, NSP2, NSP3 e NSP4. A segunda ORF possui a cauda
poli-A na terminação 3’ e a partir desse RNA subgenômico
26S ocorre a tradução da segunda sequência em 1
poliproteína percursora das proteínas estruturais, que
processam a proteína do capsídeo (C), 2 glicoproteínas de
envelope (E1 e E2) e 2 pequenos peptídeos (E3 e 6k). A
ordem da organização genômica no final fica: 5’ cap, NSP1,
1052
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
NSP2, NSP3, NSP4, C, E3, E2, 6k, E1, 3’ poli-A (SANTOS et
al., 2012).
A maioria dos protocolos descritos das diferentes
técnicas moleculares para determinação da presença do
CHIKV utilizam a glicoproteína do envelope E1 como alvo
(PONGSIRI et al., 2012; DAYAKAR et al., 2015; WAGGONER
et al., 2016; LANGSJOEN et al., 2016).
As técnicas moleculares que são atualmente
empregadas em laboratórios de referência no Brasil são a
reação em cadeia da polimerase de transcriptase reversa (RT-
PCR) e reação em cadeia da polimerase de transcriptase
reversa em tempo real (qRT-PCR). Ambas envolvem as
etapas: extração de RNA viral, amplificação, detecção e
caracterização do produto amplificado. Utilizam primers ou
iniciadores desenhados principalmente para os domínios
estruturais do CHIKV (PONGSIRI et al., 2012; DAYAKAR et
al., 2015; WAGGONER et al., 2016; LANGSJOEN et al., 2016)
sendo a amostra mais adequada o soro. Os anticoagulantes
heparina e EDTA interferem na reação (CUNHA; TRINTA,
2017).
A técnica da PCR é um ensaio enzimático que permite
a amplificação de um fragmento de DNA específico gerando
milhões de cópias sendo, portanto, um método altamente
sensível. Quando se quer analisar o RNA por meio da técnica
da PCR, é necessário construir previamente uma molécula de
DNA a partir do RNA, sendo este chamado cDNA. O processo
de construção do cDNA é feito pela enzima transcriptase
reversa, por esta razão, a técnica é chamada de reação em
cadeia da polimerase de transcriptase reversa ou RT-PCR.
Em virtude do CHIKV ser um RNA vírus as técnicas são do
tipo RT-PCR (STAHLBERG et al., 2012; RAHMAN et al., 2013;
GARIBYAN; AVASHIA, 2014; KRALIK; RICCHI, 2017).
1053
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
Os componentes necessários para a execução da PCR
incluem: DNA molde, primers, nucleotídeos e a enzima DNA
polimerase. Esta enzima une os nucleotídeos na mistura que
de modo que se formem moléculas de DNA a cada ciclo que a
reação ocorre. Os primers são pequenos fragmentos de DNA
com uma sequência definida complementar ao DNA alvo que
deve ser detectado e amplificado garantindo a especificidade
da reação e também servem como um ponto de partida para
que a extensão pela DNA polimerase ocorra e novas fitas de
DNA sejam construídas (FALTIN; ZENGERLE; VON
STETTEN, 2013; BROEDERS et al., 2014; WADLE et al.,
2016).
Cada ciclo de PCR inclui três etapas a saber: a
desnaturação do DNA, o anelamento dos primers e a extensão
pela DNA polimerase. Todo esse processo é feito num
equipamento chamado de termociclador que de maneira pré-
programada durante cada ciclo de PCR irá variar a
temperatura para que cada etapa da reação possa ocorrer.
Inicialmente, a temperatura da solução de reação é elevada a
ponto de separar as duas fitas de DNA para que os primers
possam se ligar, ou anelar, etapa chamada de desnaturação
do DNA. Depois ocorre uma redução dessa temperatura para
que os primers possam se ligar, etapa chamada de
hibridização ou anelamento (PAVŠIČ et al., 2015; WADLE et
al., 2016).
Por fim, a temperatura é aumentada a ponto de permitir
a construção de uma nova molécula de DNA pela enzima DNA
polimerase a partir dos primers ligados ao DNA alvo, uma vez
que esta enzima necessita da presença destes primers para
que ocorra a síntese de uma nova fita de DNA utilizando os
nucleotídeos presentes na reação. Desta forma, em repetidos
ciclos de reação tem-se o crescimento exponencial da
1054
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
quantidade de DNA ao final do processo (Fig.1). Para a
detecção do CHIKV, em virtude de este ser um RNA vírus,
adiciona-se aos passos descritos acima a etapa de construção
do cDNA pela enzima transcriptase reversa (PATEL et al.,
2016).

Figura 1. Representação esquemática da PCR

Fonte: GARIBYAN; AVASHIA, 2014 com adaptações

Findo este processo, é necessário analisar o produto da


PCR. No que diz respeito à visualização, existem dois
métodos principais: a coloração do produto de DNA
amplificado com um corante químico, como o brometo de
etídio, o qual se intercala entre a fita dupla de DNA e a
marcação com corantes fluorescentes (fluoróforos) dos
1055
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
primers ou dos nucleotídeos antes da amplificação por PCR. A
eletroforese em gel de agarose é o procedimento mais
utilizado para análise, que separa os produtos de DNA com
base em tamanho e carga. Permite a determinação da
presença e do tamanho do produto de PCR graças ao uso de
um padrão de DNA com peso molecular conhecido que servirá
como guia para a análise do material a ser estudado, o que
confere um caráter qualitativo à técnica de RT-PCR, pois
discrimina a presença ou ausência do CHIKV (GARIBYAN;
AVASHIA, 2014).
Existe também a PCR quantitativa, que possibilita
quantificar o material genético do vírus na amostra e
determinar, portanto, a carga viral do paciente. Trata-se da
RT-PCR em tempo real ou qRT-PCR. Esta técnica permite
simultaneamente a detecção e quantificação do produto de
PCR em tempo real, ou seja, à medida que o DNA está sendo
amplificado se detecta a presença e a quantidade do vírus na
amostra (BROEDERS et al., 2014; PAVŠIČ et al., 2015).
Para detecção e quantificação, utilizam-se corantes
fluorescentes que se intercalam de maneira inespecífica à
dupla fita de DNA, como o SYBR Green e sondas de DNA
específicas complementares a uma sequência alvo do CHIKV
marcadas com um fluorocromo, conferindo mais
especificidade ao método (FALTIN; ZENGERLE; VON
STETTEN, 2013; WADLE et al., 2016). À medida que o DNA
vai sendo gerado, a fluorescência é captada e por meio de um
software são geradas as curvas de amplificação. Da mesma
forma que a RT-PCR, a q RT-PCR inclui a fase de transcrição
reversa para a construção do cDNA a partir do RNA do CHIKV
(PABINGER et al., 2014; SVEC et al., 2015; PAVŠIČ et al.,
2015; WADLE et al., 2016).

1056
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
Embora a PCR seja uma técnica valiosa, como
qualquer método, ela tem suas limitações. Por ter a
capacidade de amplificar pequenas quantidades de DNA e,
dessa maneira, ser altamente sensível, qualquer forma de
contaminação da amostra, mesmo com traços de DNA, pode
produzir resultados falsos, isso pode ser minimizado com o
uso de primers para regiões conservadas do vírus. Além disso,
para desenhar os primers para a PCR, é necessário a
disponibilidade das sequências do genoma do vírus. Portanto,
a PCR só pode ser usada para identificar a presença ou
ausência de um patógeno ou gene já conhecido. Outra
limitação é o fato da enzima DNA polimerase poder incorporar
nucleotídeos incorretos na sequência DNA em construção,
embora isso ocorra em uma taxa muito baixa. Por fim, a
especificidade do produto de PCR gerado pode ser alterada
devido à ligação inespecífica dos primers a outras sequências
semelhantes ao DNA molde (MARKEDIAN; ROBERTS, 2015).
Variações da PCR e outras técnicas moleculares para
diagnóstico simultâneo de mais de uma arbovirose estão
sendo desenvolvidas e testadas. Estas técnicas são
preferíveis, pois se em uma única reação é possível detectar a
presença e quantificar o material genético de diferentes vírus,
elimina-se o risco de contaminação e os falsos resultados.
Assim, ensaios duplex e multiplex RT-PCR tem sido propostos
para diagnóstico molecular das arboviroses dengue, zika e
chikungunya (DONG et al., 2012; CECILIA et al., 2015;
SIMMONS et al., 2016). Um teste duplex possui essa
nomenclatura, pois permite a identificação de duas sequencias
alvo distintas graças ao emprego de pares de primers
diferentes sendo útil na discriminação de duas arboviroses em
uma única reação. O sucesso da técnica reside na escolha
dos primers, estes têm que ser os mais discriminatórios
1057
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
possíveis para os vírus em questão. O mesmo raciocínio serve
para os ensaios multiplex RT-PCR (SAHA et al., 2013).
Saha e colaboradores (2013) desenvolveram em uma
única reação um teste de duplex RT-PCR altamente sensível e
específico para detecção de chikungunya e dengue (SAHA et
al., 2013). Cecília e colaboradores (2015) descreveram uma
única reação que simultaneamente detectava e quantificava o
RNA de todos os quatro sorotipos do vírus dengue além do
CHIKV. Os autores relataram uma sensibilidade de 100% para
dengue e 95.8% para CHIKV e especificidade de 100% para
ambos os vírus quando comparada a técnica da RT-PCR
convencional (CECÍLIA et al., 2015). Já Pongsiri e
colaboradores (2012) utilizando a mesma metodologia descrita
acima, encontraram uma sensibilidade de 97,65% e
especificidade de 92,59% comparada à RT-PCR convencional
(PONGSIRI et al., 2012).
Os ensaios de amplificação isotérmica mediada por
Loop (LAMP) baseados no princípio da PCR em tempo real
com transcriptase reversa, chamado de RT-LAMP (Real-time
reverse transcription-loop mediated isothermal amplification),
podem ser realizados rapidamente a uma única temperatura
em um banho-maria. É um método rápido, sensível e
específico para identificar e quantificar o CHIKV durante a fase
aguda da doença. Tem grande potencial para substituir a PCR
convencional dada a simplicidade, rapidez, especificidade e
baixo de custo. Essa metodologia permite detectar com muita
rapidez o CHIKV no soro do paciente não sendo preciso o uso
de equipamentos sofisticados e quantifica o vírus com a
utilização do turbidímetro de loop (REDDY et al., 2012; LU et
al., 2012; PATEL et al., 2016).
Lu e colaboradores (2012), por meio da técnica RT-
LAMP descreveram um método em que a transcrição reversa
1058
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
e a amplificação do material genético do CHIKV e DENV
ocorreram em um único passo com dois tubos sob as mesmas
condições de reação para a rápida identificação e
quantificação do RNA dos dois vírus. Esse teste tem uma
sensibilidade de 100% e a especificidade de 95,25%. Os
testes LAMP podem ser finalizados dentro de uma hora sob
condições isotérmicas e não requerem equipamentos
sofisticados, sendo um método importante para diagnóstico de
campo (LU et al., 2012).
Recentemente, o Brasil desenvolveu o kit ZDC que
detecta o RNA dos vírus zika, dengue e chikungunya em um
único teste por meio da técnica da PCR em tempo real, RT-
PCR em tempo real. O mesmo resultou da parceria entre o
Instituto de Tecnologia de Imunobiologia (Bio-Manguinhos /
Fiocruz), o Instituto Oswaldo Cruz (IOC / Fiocruz) e do Instituto
de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), todos coordenados
pelo Ministério da Saúde. Os kits são fornecidos pelo próprio
Ministério e distribuídos para os Laboratórios de Referências
Estaduais que são quem executa estes testes diagnósticos
(BRASIL, 2016). A Tab (1) sumariza as principais
características das técnicas descritas bem como enumera as
vantagens e desvantagens.

Tabela 1. Comparativo das características dos principais


métodos para o diagnóstico molecular do CHIKV.

Método Sensibilidade Especificidade Vantagens Desvantagens


RT- 100% Até 100% Sensível, Reagentes
PCR específico, caros e
multiplex equipamentos
disponível especializados
RT- 100% Até 100% Sensível, Reagentes
PCR específico, caros e
tempo resultado rápido, equipamentos

1059
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
real multiplex especializados
disponível,
qualitativa e
quantitativa
RT- 100% 95,25% Não requer
LAMP equipamentos
caros
(termocicladores)
Fonte: REDDY et al., 2012 com adaptações.

4 CONCLUSÕES

A circulação concomitante de arbovírus como dengue,


zika e chikungunya é uma realidade em nosso país. Em
virtude da semelhante dos sintomas e da letalidade associada
a algumas arboviroses é de extrema importância o diagnóstico
precoce para que o manejo clínico adequado de cada doença
seja realizado e novos surtos sejam evitados. Nesse cenário, o
diagnóstico molecular assume destaque por poder ser
realizado nos primeiros dias de sintomas além de ser
altamente sensível e específico.
Com esta revisão, pode-se concluir que as técnicas de
RT-PCR, RT-PCR em tempo real são as mais empregadas no
diagnóstico molecular do CHIKV em laboratórios de referência
do sistema público de saúde e em laboratórios particulares
permitindo diagnóstico precoce e fortalecimento de ações de
vigilância em saúde. Em todo o mundo, outras técnicas e até
mesmo variações da PCR estão em fase de desenvolvimento
ou validação.
Espera-se que estas técnicas possam ser amplamente
realizadas em todo o país de forma a contribuir com a
qualidade de vida dos pacientes acometidos com um manejo
clínico adequado, bem como fortalecer e direcionar as ações
de vigilância em saúde à febre chikungunya.
1060
DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA FEBRE CHIKUNGUNYA
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1064
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
CAPÍTULO 54

PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA


ETIOPATOGENIA DO CÂNCER – ESTADO
ATUAL DA QUESTÃO

Luana Angélica Aires Rodrigues JORDÃO 1

Andréa Silva de MEDEIROS 1

Ana Caroline Lima do NASCIMENTO 1

José de Anchieta de Oliveira FILHO 2

Cláudia Roberta Leite Vieira de FIGUEIREDO 3

1
Graduandas do Curso de Enfermagem/UFPB; Granduando do Curso de Biotecnologia/UFPB;
2

Orientadora/Professora do DFP/UFPB.
3

e-mail: luanaairesjordao@gmail.com

RESUMO: Numerosos estudos já demonstraram que a grande


maioria das neoplasias malignas apresenta como principais
fatores de risco à carcinogênese, a qualidade da dieta, a
obesidade, o consumo de álcool e fumo, além da exposição a
poluentes ambientais e radiações. Destaque-se, nesse prisma,
que o processo inflamatório que, em síntese, consiste em
uma resposta biológica complexa à agressão (lesão celular ou
tecidual), está presente em todos os fatores de risco
supracitados, o que parece sugerir que a inflamação crônica
tem um papel importante na carcinogênese. Nessa
perspectiva, o estudo em questão teve como objetivo realizar
uma pesquisa bibliográfica, com uma abordagem teórica do
tipo qualitativa e descritiva, amparando-se na consulta
bibliográfica, alimentada em fontes oriundas da literatura
médica e das ciências biológicas e da saúde, em geral. Para
tanto, foi efetuada uma revisão seletiva da literatura sobre o
papel da inflamação crônica na etiologia e desenvolvimento
das neoplasias malignas, abordando, em especial, os
aspectos biológicos, moleculares e genéticos que permeiam
1065
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
essa intrigante relação. Foi observado, após análise da
literatura pertinente ao tema, que os diversos mediadores
moleculares e celulares do processo inflamatório são
constituintes importantes do microambiente parenquimatoso e
estromal dos tumores. A reação inflamatória persistente atua
na proliferação e sobrevivência das células malignas, afetando
a progressão dos tumores, seja por indução mitótica e
agiogênese, seja por inibição da apoptose.
Palavras-chave: Câncer. Inflamação. Neoplasia.

1 INTRODUÇÃO

Câncer é o nome genérico dado a um conjunto de


patologias caracterizadas por alterações nos processos de
crescimento e diferenciação das células, que podem formar
massas teciduais (tumores). Tais lesões infiltram os órgãos
localmente, com potencial para disseminar-se para outras
regiões do corpo, formando as metástases, constituindo, não
raras vezes, um grave risco de óbito para os pacientes
acometidos por tal enfermidade (SILVA et al., 2013).
Segundo dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer
José Alencar Gomes da Silva), a estimativa para a ocorrência
do câncer no biênio 2016-2017 aponta para o surgimento de
cerca de 600 mil casos novos dessa doença, nesse período,
no Brasil.
De acordo com estimativas globais, até o ano de 2030,
a previsão é de que surjam 21,4 milhões de casos novos de
câncer no planeta, e 13,2 milhões de óbitos são esperados
para essa doença (FERLAY et al., 2013). As neoplasias
malignas representam, portanto, patologias de alta morbidade
e mortalidade, configurando-se como um importante problema

1066
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
de saúde pública mundial, posto que, a cada ano, sofre
aumento significativo de novos casos.
Dentre as causas associadas ao câncer, sabe-se que 5
a 10% apresentam relação com mutações genômicas ou
somáticas, enquanto os 90 a 95% restantes são alusivas às
diversas condições ambientais, incluindo o estilo de vida do
indivíduo.
De fato, numerosos estudos já demonstraram que a
grande maioria das neoplasias malignas apresenta como
principais fatores de risco à carcinogênese, a qualidade da
dieta, a obesidade, o consumo de álcool e fumo, além da
exposição a poluentes ambientais e radiações.
Destaque-se, nesse prisma, que o processo
inflamatório que, em síntese, consiste em uma resposta
biológica complexa à agressão (lesão celular ou tecidual), está
presente em todos os fatores de risco supracitados, o que
parece sugerir que a inflamação crônica tem um papel
importante na carcinogênese.
É cediço que os diversos mediadores moleculares e
celulares do processo inflamatório são constituintes
importantes no microambiente local dos tumores. A reação
inflamatória persistente atua na proliferação e sobrevivência
das células malignas, seja por indução mitótica, seja por
inibição da apoptose.
Também há, nos sítios tumorais, estímulo inflamatório
para a promoção da angiogênese e supressão das respostas
imunes adaptativas. Vale ressaltar que, cada vez mais, os
mediadores desse processo começam a ser conhecidos e
revelados.

1067
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
Desse modo, a identificação de agentes e fármacos que
possam suprimi-los poderá representar um enorme passo na
quimioprevenção da carcinogênese.
Dentre esses inúmeros mediadores inflamatórios,
destaca-se o papel da ciclo-oxigenase-2 (COX-2), importante
indutor da produção de prostaglandinas. Diversos estudos já
demonstraram evidências substanciais da hiperexpressão
desse mediador durante a carcinogênese em diferentes tipos
de tumores. Além disso, outras citocinas, quimiocinas e
mediadores lipídicos, a exemplo dos NO, NF-kB, HIF-1α e
STAT-3, são moléculas envolvidas nas reações inflamatórias
associadas ao desenvolvimento e progressão do câncer.
Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão
seletiva da literatura sobre o papel da inflamação crônica na
etiologia e desenvolvimento das neoplasias malignas,
abordando, em especial, os aspectos biológicos, moleculares
e genéticos que permeiam essa intrigante relação.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O ensaio em questão constitui uma pesquisa


bibliográfica, com uma abordagem teórica do tipo qualitativa e
descritiva, que enfrenta o tema através de um método
analítico e dedutivo. Com relação à metodologia, a construção
desta escrita amparou-se na consulta bibliográfica, alimentada
em fontes oriundas da literatura médica e das ciências
biológicas e da saúde, em geral.
Nesse sentido, foi realizada uma busca ativa nas bases
de dados, Medline, Lilacs e Pubmed, utilizando-se como
descritores as seguintes palavras: inflamação crônica,
neoplasias malignas.

1068
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
Foram encontrados 50 artigos com os descritores
referidos na metodologia, além de uma tese de doutorado e
dados do Ministério da Saúde e instituto nacional do câncer
(INCA). 24 artigos estavam estritamente relacionados ao tema
e foram selecionados para a revisão. Os estudos encontrados
abordavam ensaios clínicos e experimentais, bem como
artigos de revisão e revisão sistemática. Os trabalhos
selecionados foram os que exibiram maior relevância científica
para o tema.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3. 1 Considerações gerais sobre inflamação e câncer


Diversas pesquisas, baseadas em achados de ensaios
epidemiológicos com seres humanos, ou em estudos
moleculares realizados em ratos modificados geneticamente,
sugerem que as neoplasias benignas e malignas surgem
ocasionalmente em locais de inflamação crônica, pois grupos
de células inflamatórias são achados histológicos usuais em
biópsias tumorais.
Outras evidências da relação entre neoplasias malignas
e inflamação consistem na presença de células e mediadores
inflamatórios, como quimiocinas, citocinas e prostaglandinas
em tecidos tumorais, substâncias que também exibem
associação com a remodelação tecidual e angiogênese, e que
atuam na indução de tumores de forma semelhante àquela
observada nas respostas dos tecidos frente às
agressões crônicas.
Nessa perspectiva, tem sido demonstrado que a
progressiva sequência de mutações e alterações epigenéticas
relacionadas ao câncer promovem a transformação de células

1069
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
progenitoras em células neoplásicas, pela ruptura de
processos-chave envolvidos no controle celular e na
homeostasia.
No entanto, para além das alterações genéticas, células
e mediadores inflamatórios desempenham um papel crucial na
progressão e desenvolvimento neoplásico. O estado
inflamatório, em si, já contribui para o desenvolvimento
tumoral através de diferentes mecanismos: indução de
instabilidade genômica, alterações de agentes epigenéticos e,
consequentemente, expressão inapropriada de genes,
estimulação da proliferação e resistência à apoptose, indução
da angiogênese e remodelação tumoral, com consequente
promoção da invasão e metastização.
O vínculo entre a inflamação e a carcinogênese pode
ser analisado, sob a perspectiva biológica, em duas vias:
intrínseca e extrínseca. A via intrínseca é ativada por eventos
genéticos. Estes eventos incluem a superexpressão de vários
tipos de oncogenes por mutações pontuais, rearranjos
cromossômicos ou amplificação, e inativação de genes
supressores tumorais. As células resultantes produzem
mediadores inflamatórios e geram um microambiente
inflamatório. Em contraste, na via extrínseca, condições
inflamatórias e infecciosas aumentam o risco de
desenvolvimento de neoplasias malignas em certos locais
anatômicos.
As duas vias convergem e resultam na ativação, nas
células em proliferação, de fatores de transcrição,
principalmente o fator nuclear kB (NF-kB), sinal transdutor e
ativador de transcrição 3 (STAT-3) e fator induzido por hipóxia
(HIF-1α), responsáveis pela indução e maximização da síntese
de mediadores inflamatórios, como citocinas, quimiocinas,

1070
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
prostaglandinas e óxido nítrico, criando, por um mecanismo de
retroalimentação, um ambiente propício ao surgimento de
tumores.
Apesar de o STAT3 ser significativo para a
diversificação do câncer humano, o mesmo ainda é
considerado um desafio para intervenções terapêuticas atuais.
Por ser um transdutor de sinal para uma série de citocinas e
fatores de crescimento, STAT3 é ativado através da proteína
tirosina quinase. Por conseguinte, alguns medicamentos
usados para as terapias do câncer, como Sunitib e Sorafenib,
inibem essa proteína podendo inibir a STAT3 em
determinadas doses (YANG et al., 2012).

3. 2 O microambiente tumoral
Alves (2016) leciona que o processo inflamatório
constante no microambiente tumoral (MAT) induz proliferação
celular, promove angiogênese e aumenta a sobrevida das
células tumorais.
Dentre as células presentes no MAT, podemos
destacar os macrófagos e suas polarizações em M1 e M2; os
linfócitos T (CD8, CD4 auxiliar e CD4 regulador), B e NK
(natural killer); células supressoras de origem mielóide
(MDSCs); neutrófilos e suas polarizações em N1 e N2. Já
entre as citocinas inflamatórias, citam-se a IL-6, TNF- - IL-10,
IL-4, IL-12, IL- 4, IL-2 e TGF.
Os macrófagos são, portanto, as mais abundantes
células do MAT, e as que apresentam maior importância para
o desenvolvimento do tumor. Estas células têm sido
relacionadas à proliferação e sobrevida de células tumorais,
angiogênese, invasão de tecidos adjacentes e metástase.
Além disso, estudos clínicos têm mostrado que maiores

1071
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
concentrações de macrófagos em amostras de tumor estão
relacionados a piores prognósticos.
Outro ponto a ser destacado em relação aos
macrófagos é a sua plasticidade, podendo ser polarizados,
basicamente, de duas maneiras, dependendo do estímulo ao
seu redor: M1, o qual é considerado pró- inflamatório e anti-
tumoral, e M2, o qual é considerado imunossupressivo e pró-
tumoral. Também tem sido sugerido na literatura que a
polarização dos macrófagos não seja tão dicotômica, mas sim
um estado flutuante em que as células transitam em estágios
entre M1 e M2.
A polarização para M1 ocorre principalmente na
presença de interferon gama ou devido à exposição à
microrganismos e seus produtos, como lipopolissacarídeos.
Macrófagos M1 estão associados com respostas inflamatórias
do tipo Th1, atração de linfócitos Th1, atividade microbicida e
tumoricida. Seus principais marcadores são CD11c, CD80 e
HLA-DR. Além disso, produzem TNF e IL-6, e aumentam a
atividade dos linfócitos T CD8.
Já a polarização M2 é estimulada por IL-4, IL-10, IL-13
ou TGF. Esta polarização é relacionada à respostas
inflamatórias do tipo Th2 e atração de linfócitos T reguladores,
sendo, predominantemente, imunossupressiva. M2 libera
fatores de crescimento, como fator de crescimento endotelial
vascular (VEGF), fator de crescimento derivado de plaquetas
(PDGF), fator de crescimento transformador (TGF- ), e o fator
de crescimento de fibroblastos (FGF), os quais promovem
angiogênese em vários tumores, liberação de
metaloproteinases da matriz (MMP-1, MMP-2, MMP-3, MMP-9
//e MMP-12) e citocinas inflamatórias, como IL-6, TNF, IL-1,IL-
23, IL-10. Seus principais marcadores são CD163, CD11b,

1072
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
CD206 e MRC1. Em adição, diminuem a atividade linfócitos T
CD8 e T CD4 auxiliar do tipo 1, ao passo que aumentam a de
linfócitos T CD4 auxiliares do tipo 2 e T CD4 reguladores.

3.3 Mecanismos de invasão tumoral


A invasão tecidual e o desenvolvimento do potencial
metastático de tumores malignos são a maior causa de
insucessos clínicos, em termos de terapia e prognóstico
(ALVES, 2016).
As interações tumor–hospedeiro são caracterizadas por
modificações na adesão entre as células, e na adesão das
células à matriz extracelular, reorganização do citoesqueleto e
mudanças da morfologia celular. A composição e a rigidez da
matriz extracelular, e a presença de proteínas ligadas à
adesão celular, irão determinar qual o tipo de migração que
será adotada pelas células e o formato que irão assumir. Em
adição, os fatores de crescimento e as citocinas inflamatórias
presentes no MAT também influenciarão o comportamento
migratório das células tumorais.
Durante a carcinogênese, um grande número de
mutações ocorre, as quais levam à modificações no
citoesqueleto e no formato celular, aumentando a motilidade
celular, em um processo chamado transição epitélio-
mesênquima (TEM). TEM é marcada pela perda de
marcadores epiteliais e ganho de marcadores mesenquimais,
como e-caderina e n-caderina, respectivamente.
Na TEM, os mediadores inflamatórios servem como um
desencadeador da invasão e metástase de câncer. Logo,
conhece-los tornou-se crucial (BIDDLE, MACKENZIE, 2012).

1073
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
3.4 Tumores malignos das vias biliares
Cabe ressaltar que um dos tumores malignos que mais
apresentam relação com a inflamação crônica é o
adenocarcinoma da vesícula, biliar pois, para essa
neoplasia, é sabido que o processo de inflamatório atua como
fator de risco.
Na análise clínico-patológica de 19 casos de
adenocarcinoma de vesícula biliar com fibrose estromal
acentuada, Wang et al. (2006) observaram que a maioria dos
pacientes tinha história do colecistite calculosa de longo prazo.
Microscopicamente, era comum a presença de infiltrado
inflamatório no tecido conjuntivo fibroso hiperplásico, de
permeio aos grupos de células tumorais, corroborando o fato
de que a gênese do tumor pode estar relacionada com
colecistite crônica. É também cediço que inflamação
continuada provoca hiperplasia regional e heterogeneidade do
corpo da glândula, levando ao espessamento focal ou regional
da parede da vesícula biliar, e com posterior desenvolvimento
do adenocarcinoma com fibrose estromal, sustentando a
hipótese da sequência metaplasia-displasia-carcinoma.
Outro estudo também verificou a associação das
proteínas p21 e p53 sítios de inflamação crônica no tecido
tumoral, observando que esta inflamação aumenta a
frequência de expressão da proteína p53 nos cânceres de
vesícula biliar (HUGHES, BHATHAL, 2013).
Contudo, alguns mecanismos moleculares que ligam a
inflamação da vesícula biliar e a carcinogênese já estão bem
compreendidas. Os receptores do tipo Toll (TL- Toll like)
também estão envolvidas na resposta inflamatória e
desempenham um papel importante no sistema imune inato

1074
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
por iniciar e dirigir a resposta imune aos agentes patogênicos
(HUAN et al., 2012).
O estudo realizado para avaliar a participação de
receptores Toll, do tipo TLR4 no desenvolvimento do
carcinoma da vesícula biliar através da investigação da
expressão de TLR4 na colecistite crônica, mostrou que a
expressão deste receptor foi menor no tecido tumoral da
vesícula biliar do que na colecistite crônica e no tecido da
vesícula biliar normal, enquanto que a diferença entre o tecido
da colecistite crônica e o da vesícula biliar normal não foi
estatisticamente significativa. Os autores concluíram, com este
estudo, que a expressão de receptores TLR4 pode estar
intimamente associada com o curso do carcinoma da vesícula
biliar (HUAN et al., 2012).
O aumento da expressão do fator de crescimento
transformante alfa (TGF-α) ocorre mais frequentemente em
carcinoma da vesícula biliar do que na displasia da vesícula
biliar ou colecistite crônica, sem relação específica com o grau
do tumor, sugerindo a super expressão de TGF-α no início do
desenvolvimento de câncer de vesícula biliar, e que os
cânceres do trato biliar têm uma origem molecular diferente.
Há uma correlação entre TGF- α e a expressão do receptor do
fator de crescimento epidérmico (EFGR) na vesícula biliar e
em outros tumores do trato biliar.
Neste aspecto, outra proteína já estudada foi a proteína
trifólio da família T1 (TFF1) que interage com as mucinas para
proteger o epitélio gastrointestinal contra lesões e contribui
para a reparação da mucosa, promovendo a migração de
células epiteliais e a reparação. Além disso, existem os TFF1
antiproliferativos e os anti-apoptóticos, os quais promovem,
portanto, a dispersão de células e invasão. Como nova

1075
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
perspectiva, foi visto ainda que o TFF1 é expresso no epitélio
inflamado da vesícula biliar não-neoplásica e discretamente
expresso em carcinomas da vesícula biliar de baixo grau. No
entanto, mais estudos são necessários para avaliar o papel do
TFF1 na carcinogênese, e em outras atividades biológicas
desempenhadas por essa proteína, que pode ser usada como
uma importante ferramenta diagnóstica.

3.5 O câncer de próstata


O câncer de próstata é o quinto tumor maligno mais
frequente no mundo, sendo o segundo tipo de neoplasia
maligna mais incidente em pacientes do sexo masculino,
perdendo apenas para o câncer de pulmão (NOVOA et al.,
2014). O Brasil está entre os países com alta taxa de
incidência dessa neoplasia.
Diversos fatores são apontados como determinantes
para o desenvolvimento desse tumor. Dentre estes,
evidenciam-se: a maior expectativa de vida da população, as
constantes campanhas de identificação da doença, além das
influências alimentares e ambientais (SWAMINATHAN,
AUDISIO, 2012).
O diagnóstico dessa neoplasia é realizado
principalmente através do exame de sangue para detectar o
antígeno prostático específico (PSA) e pelo exame físico da
próstata (ARAÚJO et al., 2015).
É cediço que essa neoplasia está diretamente
associada ao envelhecimento, pois se desenvolve
principalmente em indivíduos com idade superior a 50 anos,
sendo, a partir dessa idade, altamente recomendado realizar
uma avaliação clínica da glândula prostática, e dos níveis
séricos do PSA, anualmente (BARREIRO et al., 2013).

1076
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
Embora o nível sanguíneo do PSA seja um teste
sensível para detectar câncer de próstata em estágio precoce,
sua elevação também pode se dar devido à existência de
outras condições prostáticas, como a hiperplasia prostática
benigna (HBP) e infartos da próstata (ORTIS, ALMOGUER,
2015).
Com relação à influência dos processos inflamatórios
no desenvolvimento do câncer de próstata, merece ser
destacado que as mutações de perda de função, além de
certos polimorfismos de um único nucleotídeo em genes
associados às citocinas pró-inflamatórias, além de uma
história de prostatite crônica, foram, em muitos estudos,
positivamente correlacionados com o risco de câncer de
próstata (KAZMA et al., 2012).

3. 6 O câncer de pâncreas

Segundo dados do INCA (2016) O câncer pancreático,


no Brasil, é responsável por 2% de todos os tipos de câncer e
4% do total de mortes por adenocarcinoma. Mesmo que não
esteja entre os dez principais tipos de câncer no Brasil, essa
patologia constitui a oitava causa de morte por câncer, pois a
maioria dos pacientes tem diagnóstico em fase avançadas ou
metastáticas da doença (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
O adenocarcinoma ductal do pâncreas (ADP) é iniciado
no pâncreas exócrino e é responsável por 95% dos cânceres
de pâncreas (BECKER et al., 2014)
O risco de desenvolver este tipo de carcinoma ao longo
da vida é de um em 67, e essa proporção aumenta de acordo
com a idade. Vale salientar que a maioria dos casos
diagnosticados ocorrem após os 50 anos de idade, com pico

1077
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
de incidência em torno dos 70 aos 75 anos, ocorrendo mais
em homens (BECKER et al., 2014).
Além da idade, outros fatores de risco relacionados ao
câncer de pâncreas têm forte associação com estados pró-
inflamatórios: tabagismo, pancreatite crônica, cirrose,
obesidade, dieta rica em gordura e colesterol, diabetes
mellitus, além da exposição ocupacional aos agentes
carcinógenos (GRUPO COI, 2017) .

3. 7 O Câncer gástrico e o processo inflamatório crônico


induzido pela bactéria H. Pylori

Em 2012 foram relatados, em todo o mundo, cerca de


95 milnovos casos de câncer gástrico (CG), o que situa esse
tumor como o quinto tipo de neoplasia mais ocorrente, após o
câncer de pulmão, mama, colorretal e próstata. Com isso,
foram relatadas 738.000 mortes para essa patologia,
tornando-a a terceira principal causa de óbitos por câncer, em
escala global (FERLAY et al, 2012). Sua incidência é 2 a 3
vezes maior em homens do que nas mulheres (KARIME et al.,
2014).
A maioria das neoplasias gástricas tem causa
esporádica, mas aproximadamente 10% a 30% estão
intrinsecamente relacionada à hereditariedade. O tipo
intestinal é o mais frequente, tem um melhor prognóstico e
ocorrem mais usualmente em homens, a partir de 50 anos
(CORREA,2013). .
São tumores que não apresentam sintomas típicos ou
característicos, que possam propiciar uma identificação
precoce, principalmente no início da doença (MOSTACERO,
FERRÁNDEZ, 2012). Nos estágios preludiais e,

1078
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
ocasionalmente, nos estágios avançados, pode ser
assintomático ou gerar apenas dor ou desconforto no
epigástrio, como única manifestação, resultando em dispepsia
(MOSTACERO, FERRÁNDEZ, 2012; VENERITO et al., 2014).
Entretanto, em estados avançados, ocorre dor moderada no
epigástrio, anemia, anorexia, perda de peso, sangramento,
obstrução gástrica (síndrome pilórica) e, muito
ocasionalmente, perfuração. Os GCs precoces localizam-
se na mucosa e submucosa, com ou sem envolvimento
ganglionar (VENERITO et al., 2014). A ausência de sintomas
específicos pode levar a um atraso no diagnóstico, posto que,
aproximadamente, 80% dos pacientes são diagnosticados em
estágios avançado, o que ocorre, também devido à escassez
de programas de detecção precoce (VENETIRO et al., 2014;
GONZÁLEZ et al., 2013).
Enquanto a maioria dos indivíduos infectados pela H.
pylori permanecem assintomáticos, entre 10 a 20% vão
desenvolver úlcera péptica e 1% evoluirão para o câncer
gástrico (WANG et al., 2014).
A infecção pelo H. pylori leva à infiltração da mucosa
gástrica, tanto no antro quanto no corpo do estômago, de
células mononucleares e neutrófilos. Esse processo
inflamatório crônico é responsável, em grande parte, pela
associação da H. pylori com o câncer dessa região.
Após a colonização, a H. pylori ativa múltiplas vias
intracelulares em células epiteliais, tais como MAPK, NF-kB,
ativador de proteína (AP)-1, Wnt/catenina, PI3K, transdutores
de sinal e ativadores de transcrição 3 (STAT3),
ciclooxigenase2, que afetam as funções celulares tendo como
consequência a produção elevada de citocinas inflamatórias,
alteração das taxas de apoptose, proliferação e diferenciação

1079
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
de células epiteliais e, mais importante, resultam na
transformação oncogênica de células epiteliais (WANG et al.,
2014).
Os fatores de virulência como a citotoxina CagA, a
citotoxina vacuolizadora VacA e as proteínas de membrana
externa (OMPs), são responsáveis por muitos destes efeitos.
A H. pylori induz alterações epigenéticas, como a
metilação do DNA e a modificação das histonas, que são
importantes na transformação oncogênica. Modelos animais
têm sido utilizados para uma melhor compreensão do papel
dos fatores de virulência da H. pylori possibilitando observar
os mecanismos de indução da oncogênese. Em um modelo de
camundongo transgênico, demonstrou-se que a expressão de
CagA em camundongos induziram vários tumores, hiperplasia
epitelial gástrica, pólipos hiperplásicos, carcinomas
gastrointestinais e doenças hematológicas malignas, como
leucemia mielóide e Linfoma de célula B.
A bactéria H. pylori também aumenta a expressão de
CXCR4 no câncer gástrico através do TNF-a. CXCR4 é o
receptor de quimiocinas mais comumente superexpresso em
muitos tipos de cânceres, entre eles o gástrico.
O TNF-a é um dos principais mediadores químicos
implicados na inflamação associada a cânceres e está
envolvido na promoção e progressão de cânceres humanos e
experimentais. Os produtos da cag PAI podem estar
envolvidos nesta indução (WANG et al., 2014).
O polimorfismo do gene das interleucinas influencia no
desenvolvimento de úlcera péptica e câncer gástrico. O
polimorfismo das interleucinas (IL)-1B , IL- 1RN e TNF-A está
claramente relacionados com o risco de desenvolvimento

1080
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
dessas doenças. As citocinas são produzidas pelas células
inflamatórias ativadas pela infecção crônica pela H. Pylori.
A associação da H. pylori ao linfoma MALT encontra-se
bem estabelecida. A confirmada relação entre a erradicação
da H. pylori e a remissão completa ou parcial do linfoma MALT
torna a associação entre a H. pylori e o linfoma MALT muito
importante e peculiar. Esta associação levou à hipótese de
que a bactéria é responsável por um estímulo antigênico que
sustenta o crescimento do linfoma MALT no estômago.
O prognóstico dos pacientes tratados com antibióticos
não parece ser diferente daquele associado ao tratamento
com cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. Com isto, hoje é
aceito mundialmente que o tratamento preconizado para
pacientes com linfoma MALT H. pylori-positivos seja a terapia
que associa antibióticos com inibidores de bomba de prótons.
A H. pylori promove a translocação de sua oncoproteína
cagA para o interior dos linfócitos B, provocando a sua
ativação e proliferação. A oncoproteína cagA seria, portanto,
diretamente responsável pela indução a formação dos
linfomas MALT. Dessa forma, a cagA é considerada como um
dos principais “fatores de virulência”da H. Pylori (WANG et al.,
2014).

3.8 O câncer de boca

Segundo Alves (2016), no Carcinoma Epidermóide de


Boca, tanto as células tumorais quanto as células do estroma
liberam inúmeras citocinas inflamatórias, como IL-6, IL-1 ou
TNF, e aumentam a expressão de seus fatores de transcrição
STAT3 para a IL-6 e NF- IL-1 e TNF.

1081
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
Alguns estudos têm revelado que IL-6 induz
angiogênese e linfangiogênese, e resistência à quimioterapia,
enquanto IL-1 promoveu “in vitro” transformação maligna de
queratinócitos orais displásicos e estimulou células do
Carcinoma Epidermóide de Boca a secretar IL-6, IL-8 e a
quimiocina CXCL1 , e TNF- aumentou “in vitro” a união entre
as células endoteliais e células de Carcinoma Epidermóide de
boca, provavelmente aumentando o potencial metastático
deste tumor. TNF também está relacionado com angiogênese,
crescimento e alterações do fenótipo de células tronco
tumorais (ALVES, 2016).

4 CONCLUSÕES

Muitas condições inflamatórias crônicas, em especial


aquelas que exibem predominância de infiltrado macrofágico
do tipo M2, aumentam o risco de câncer em tecidos afetados
e, muitas vezes, estão presentes antes mesmo do
aparecimento do tumor. Tal evento acontece, por exemplo,
com as doenças inflamatórias do intestino, como a colite
ulcerativa e doença de Crohn, e podem predispor ao
desenvolvimento de tumores do intestino grosso e/ou íleo
terminal; infecção crônica pela a bactéria Helicobacter pylori
provoca gastrite atrófica, displasia, adenocarcinoma e linfoma
gástrico; refluxo crônico de ácido gástrico e bile no esôfago
distal provoca lesão química, esôfago de Barrett e associa-se
ao adenocarcinoma esofágico.
Na mesma trilha, como discutido ao longo deste
trabalho, a colecistite crônica pode gerar um microambiente
pró-inflamatório persistente no epitélio e conjuntivo biliares,
predispondo à gênese do câncer da vesícula biliar.

1082
PAPEL DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA NA ETIOPATOGENIA DO CÂNCER –
ESTADO ATUAL DA QUESTÃO
Por fim, é cediço que a expressão da COX-2 e de
mediadores lipídicos da inflamação aumentam durante a
progressão de vários estágios destas neoplasias. Fármacos
anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs), que bloqueiam a
COX-2, estão envolvidos na inibição dos eventos biológicos
associados ao desenvolvimento de tumores em muitos
estudos experimentais e clínicos, e diversas pesquisas já
mostraram que a sua expressão está inversamente associada
com a gênese de uma variedade de tipos de tumores em
estudos epidemiológicos, o que reforça as evidências
científicas que associam o surgimento do câncer aos
processos inflamatórios crônicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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inflamação: papel dos macrófagos no prognóstico e influência de citocinas
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1085
CINSAMA
CONGRESSO NACIONAL DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE:
Os desafios do mundo contemporâneo

O CONGRESSO NACIONAL DE SAÚDE MEIO AMBIENTE está


destinado a estudantes e profissionais da área saúde (nutrição, farmácia,
enfermagem, fisioterapia, educação física) e áreas afins e tem como
objetivo de proporcionar, por meio de um conjunto de palestras, mesa
redonda e apresentações de trabalhos, subsídios para que os
participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e da
educação no contexto atual. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito
Educacional, Biológico e Ambiental de inserir todos que formam a
Comunidade Acadêmica para uma Educação sócio-ambiental para a
Vida.
Foram abordados diversos temas durante o evento, entre eles:
Saúde e meio ambiente: os desafios do mundo contemporâneo; Resiliência
agroecologica as mudanças climáticas no Semiárido Brasileiro; Água para
o consumo humano em quantidade e qualidade para comunidades rurais;
Riscos para saúde e meio ambiente das tecnologias utilizadas na produção
de alimentos; As superbactérias: Impacto ambiental e multirresistência aos
antibióticos atuais ; O uso indiscriminado de agrotóxicos e doenças
relacionadas; Uso de plantas transgênicas na produção de alimentos; Uso
das radiações na agricultura e meio ambiente; Gerenciamento de resíduos
e resíduos sólidos de serviço de saúde.
Diante da grandiosa contribuição dos artigos aprovados, os livros
frutos desse Evento: SAÚDE: os desafios desafios do mundo
contemporâneo, NUTRIÇÃO E SAÚDE: desafios do mundo
contemporâneo, MEIO AMBIENTE: desafios do mundo
contemporâneo, e ODONTOLOGIA: desafios do mundo
contemporâneo contribuirão para o conhecimento dos alunos da área
de Ciencias biológicas e Saúde.

1086
Este livro foi publicado em 2018
IMEA
Intituto Medeiros de Educação Avançada
Av Senador Ruy Carneiro, 115 ANDAR: 1; CXPST: 072;
Joao Pessoa - PB
58032-100

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