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Table of Contents

CINZAS DA CIDADE 5

CASCA 7

SOLDADO 8

PINTURA RUPESTRE 9

BEATITUDE 10

SONHOS 11

ROCHEDO NA PRAIA 12

ALÉM DAS PALAVRAS 13

DESPINDO AS PALAVRAS 14

SAT SANGA 15

OLHOS DE CÉU 16

SOL E LUA 17

SÍMBOLOS 18

CÉU 19

ASSISTINDO A PEÇA ELEANOR RIGBY DE JOHNNY KAGIN 20

SARASWATI 21

NÉVOA 22

JARDIM DAS CEREJEIRAS 23

INTUIÇÃO 24

ACIDENTES ACONTECEM 25

ECLIPSE 26
ELEMENTOS 27

CHUVA 28

VOA 29

SUPERSTIÇÃO 30

LENDO PESSOA 31

CENTRO 32

REVOLUÇÃO 33

A POESIA EM MEU CORAÇÃO 34

NÃO SOU 35

ENCRUZILHADAS 36

MEDITAÇÃO SOBRE ALGUNS POEMAS DE SCHUON 37

MEDITAÇÃO SOBRE UM RUBAI DE PESSOA 38

MEDITAÇÃO SOBRE UM TRECHO DE RUMI 39

ESTE POETA TARDIO EM MIM 40

VOZ, NÃO ECO 41

EU ME SEI OÁSIS 42

MEMÓRIA EMOTIVA 43

MAESTRIA 44

POETA EU! 45

RESPOSTAS 46

GATOS 47

FLOR DE IPÊ 48

GEOMETRIA 49

FOR ONE WHO SEEKS THE LIGHT OR THE LIGHT SEEKING THE ONE 50
CORCEL 51
Cinzas da Cidade

PARA SAMPA EM SEU 457O. ANIVERSÁRIO

É fácil admirar o colorido,

Mas seus tons de cinza,

Feitos de chumbo e carvão,

Só podem ser apreciados

Em movimento.

É fácil apreciar o silêncio,

Mas seus sons de mil vozes,

Feitos de sussurros de cobiça ou gritos de miséria

Só soam como música

Em movimento.

Esta sua fuligem não é como a poeira dos tempos

Cobrindo ruínas outrora sagradas,

Esse seu manto cinza é cosido pela velocidade

Lembrando como tudo que é moderno

Termina em cinzas.

Se a metafísica é uma trilha na floresta antiga

Pela qual se anda a pé e com vagar

Então a dialética é este explodir de sons

da sua multidão tropeçando em si mesma.


Pela qual atravessamos rápidos e atentos.

Mas para nunca esquecer,

Mesmo os que falaram daquilo que é eterno

E imutável, insuflaram ou condenaram o progresso,

Só puderam fazê-lo nas cidades que eram

Como você.

É cinza porque na sua paleta

Só há Luz e Trevas

Misturadas de todas as formas.

Suas cinzas são o que restou do homem,

E ninho aonde ele renasce todos os dias.

quarta-feira, 26 janeiro, 2011 - 17:25


Casca
O tempo do silêncio vai se quebrando
As últimas chuvas da estação
Libertarão a torrente
Ávida da palavra
Como algum profeta apocalíptico
O silente sabe
Que seu tempo de regência se finda
Tentará usurpar o trono
Ou cederá o cetro?
Será o silêncio dos covardes
Ou dos prudentes?

terça-feira, 31 março, 2009 - 13:39


Soldado
Envolto na floresta à beira da fogueira
O velho soldado pensa que lutou
Guerras demais para ainda acreditar nelas
Olhando as estrelas e as chamas
Só pensa se o aço gasto da espada,
Único instrumento de trabalho que conheceu,
Servirá a um mercenário ou a um salteador.
terça-feira, 31 março, 2009 - 13:48
Pintura Rupestre

Queria escrever como


Um pintor paleolítico,
Dotado da profunda ignorância
Capaz de não enxergar diferenças
Entre a fera que pinta na caverna
E a que pasta lá fora,
Abatendo ambas
Com a mesma lança mágica.

sábado, 6 dezembro, 2008 - 09:1


Beatitude
O artista
Compartilha da beatitude do santo;
Seu mérito é não estar lá,
Ser taça vazia,
Não se debate tentando nadar
Nas corredeiras,
Apenas se deixa afogar
por alguns instantes.
sábado, 6 dezembro, 2008 - 09:19
Sonhos

Para onde vão os sonhos

Quando Morrem?
Será a realidade
O Inferno dos sonhos?

sexta-feira, 7 novembro, 2008 - 16:28


Rochedo na praia
Já fui um rochedo na praia,
Suas ondas foram me dissolvendo
A cada maré, me levando grão a grão
Me deixando espalhado em tantas
Outras praias.
Espalhados pelo mundo
Cada grão de areia que sou
Ainda se lembra que um dia foi um rochedo
E com saudade espera ansioso
Ser envolvido e banhado
Quando sua maré sobe.
sexta-feira, 10 novembro, 2006 - 11:32
Além das palavras
Transcender as palavras,
Ir além dos sentidos,
Ignorar tempo e espaço,
Enfrentar os medos,
Enfim,
Perder-me entre seus braços,
Me encontrar em seu beijo!
quinta-feira, 19 outubro, 2006 - 14:20
Despindo as palavras
Nossas almas vão se despindo
das palavras,
elas vão sendo jogadas pelo caminho,
como estorvo
ao contato dos sentimentos
entre si
quinta-feira, 19 outubro, 2006 - 18:17
Sat sanga
"Na companhia daqueles que buscam a Verdade, nasce o desapego.
Com o desapego, a ilusão se vai." (Shankara)
Se encontraram em um oásis
O derviche, o discípulo do mestre zen,
O jninasu, o noviço e o aprendiz do xamã.
Passaram a noite debatendo os enigmas
propostos por seus mestres e
As crenças da sua fé.
Quando o Sol já despontava,
Um olhou para o outro
E todos sorriram
Entenderam que as perguntas
Eram uma só e,
uma só,
Era também a resposta.
quarta-feira, 18 outubro, 2006 - 14:29
Olhos de céu
A lembrança de seus olhos
Ocupa minha visão
E a enche do céu
Que está neles.
segunda-feira, 9 outubro, 2006 - 16:10
Sol e lua
De que adiantaria
Ao Sol brilhar
Se não houvesse a Lua
Para que ele se visse
No reflexo.
De que adiantaria
A beleza da Lua
Se não houvesse o Sol
Para lançar sobre ela
Seu holofote.
Por isto no sagrado encontro dos dois
Até os sátiros fogem escandalizados!
segunda-feira, 9 outubro, 2006 - 17:35
Símbolos
Caminho em meio aos símbolos
Como se andasse em um mapa astral
E de tanto relatar o real
Através deles
Penso que talvez a metáfora seja eu próprio!
segunda-feira, 9 outubro, 2006 - 18:30
Céu
Para que preciso do Céu
Se posso contemplar
Seus olhos de tigre.
domingo, 8 outubro, 2006 - 13:46
Assistindo à peça Eleanor Rigby de Johnny Kagin
A minha peça sobre o amor. O meu indispensável exercício sobre o nada. - [Johnny Kagin]
Só sem temer a solidão é possível amar,
Só sem temer o amor é possível ser só,
Nada me assusta ou atemoriza,
Nem a incapacidade de ver o sentido do mundo,
Nem o que faz os sentidos aflorarem.
Se o destino é um camelo cego que ri,
Então eu sigo os passos dele na areia,
Vou com prazer onde ele me conduz
E fico feliz de ao menos uma vez
sermos nós a rirmos dele e
Não ele de nós.
domingo, 8 outubro, 2006 - 15:16
Saraswati
Choveram letras e letras,
Algumas gotas sumiram pelo chão seco
Outras foram se juntando em poças de palavras
Das poças maiores saiu um filete de frases e versos
E estas enxurradas buscaram o leito seco do antigo rio
Quando vi novamente o rio correndo
Peguei meu barco e remei com minha pena
Sem saber se foz estava próxima ou distante

Mas com a certeza de desaguar no oceano!


quinta-feira, 5 outubro, 2006 - 14:31
Névoa
Quando era criança gostava das manhãs com neblina
Mas ficava triste de por mais que ela fosse densa
Jamais a alcançava, a cada passo ela se desfazia.

Hoje me alegra saber que a cada passo a névoa some!


terça-feira, 3 outubro, 2006 - 15:07
Jardim das cerejeiras
Percorro as montanhas
Cobertas de neve
Até encontrar as cerejeiras
terça-feira, 3 outubro, 2006 - 19:49
Intuição
"Rumos opostos ao redor do círculo
São um rumo certo de Encontro" (DH Lawrence)
Quando a intuição falou
Fiquei pasmo de não ter visto
Tantas placas de aviso,
O tempo todo estava lá.
Percorri o círculo
E voltei ao início
Senti o sol em mim
E fui convidar a lua
Para um Eclipse
sexta-feira, 22 setembro, 2006 - 04:43
Acidentes acontecem
O Sol e a Lua viviam se cruzando
Nas idas e vindas pelo céu.
Em alguns dias de chuva
A conversa ia se alongando.
As conversas iam se estendendo,
Nem precisava estar nublado,
Houve até quem olhasse para o céu
E visse os dois conversando.
Um dia o Sol não aguentou,
Clareou tudo,
A Lua de Nova passou a Cheia,
E no beijo dos dois não se soube se era dia ou noite.
sexta-feira, 22 setembro, 2006 - 12:53
Eclipse
Um dia o Sol tomou coragem
E disse para a Lua:
Desde o início dos tempos
Olhei você,
Mas estava tão bela no céu
Que julguei que nunca olharia para mim.
A Lua sorriu e disse
E eu vi você tão luminoso
Que também pensei o mesmo.
Seguiu-se um eclipse!
sexta-feira, 22 setembro, 2006 - 12:55
Elementos
Meu mapa astral brinca comigo
Dizendo que a emoção transborda
E me asfixia a falta do pensamento,
Sobra água e falta ar.
Graças a deus não creio nestas coisas,
Senão ia achar que não sou
Um jornalista que nas horas vagas brinca de ser poeta
Mas um poeta que para ganhar o pão banca o jornalista!
quinta-feira, 21 setembro, 2006 - 13:13
Chuva
Ontem choveu tanto,
Aproveitei a chuva
E ela levou meu medo

Dos crepúsculos,
Das noites de sexta-feira,
Dos silêncios,
Das sombras,
Das ervas daninhas no jardim,
Dos segredos.

Quando me olhei no espelho


Molhado ainda da chuva
Assustei-me
Enxergando eu mesmo.
terça-feira, 19 setembro, 2006 - 12:56
Voa
Cheguei na exposição de ikebana por acaso,
Um dos arranjos chamou minha atenção
E fiquei contemplando o verso acima dele
Como se tivesse visto a pena do Rei dos Pássaros
Caida na terra, como a poupa de Attar.
Sai atrás de qualquer um que me traduzisse
Desesperado em saber o que diziam os ideogramas
Perguntava a um, a outro, a um terceiro, ninguém sabia
Era como se fosse uma antiga arte perdida e sagrada
Enfim me indicaram o professor que me diriam
Sobre o que falava aquele poema visual
Meio envergonhado e sem jeito, perguntei
Só o sorriso dele ao ver alguém perguntar
Já teria me feito ganhar o dia
Ele recita a combinação mágica de palavras
Meio desconfiado se um ocidental pode ver beleza nelas
Mas alegre porque parecia que ninguém nunca quis saber
Me emociono, mas não me surpreendo em saber que sim:
No poema há um grande pássaro que voa!
domingo, 17 setembro, 2006 - 20:40
Superstição
Confesso a superstição primitiva
De minha alma pelos livros
Em cada um deles que meus olhos se pousam
Procuro algum oráculo, sentido, sinal.
Até as pessoas, para mim,
São associadas a algum livro,
Através do qual tento entendê-las
Ou ser entendido
quinta-feira, 7 setembro, 2006 - 15:43
Lendo Pessoa

"Quer pouco: terás tudo.


Quer nada: serás livre." (Fernando Pessoa)

Não, não consigo acreditar


Na inexistência de sentido
Do universo, da vida, de mim próprio.
Apenas vou achando que este sentido
É como se não existisse,
Porque não saberemos qual é.
Mas, se é assim,
Porque continuo sempre buscando
Esta porta emperrada
A qual minha força
Não poderá abrir?
A liberdade, vocês dizem,
Esta em nada querer.
Meu Deus, como é difícil!
quinta-feira, 7 setembro, 2006 - 16:20
Centro
Uma vez combinei com um amigo
De encontrá-lo em uma cidadezinha
- Nos vemos na praça em frente a Igreja!
Curioso eu perguntei como sabe que há uma praça
Se como eu nunca esteve lá?

- Todas as cidadezinhas são iguais,


Há sempre uma igreja com uma praça na frente.

Fiquei pensando na lição,


Imaginando que em cada parte do mundo
Há sempre uma igrejinha com uma praça

E no próprio mundo há de haver também


Uma igrejinha com uma praça na frente
Onde sempre se pode encontrar os amigos
quarta-feira, 6 setembro, 2006 - 17:26
Revolução
Até minha poesia de repente se encheu
Destes meus burburinhos e correntes
Desembestou a escrever sozinha
E a fazer uma faxina na minha alma
Ali no meu canto eu ficava apavorado
E rodava as contas da masbaha orando
A cada verso que voava como uma flecha

Quando exausta ela parou


Respirei com duplo alívio,
Por ela encerrar e por ter começado.
quarta-feira, 6 setembro, 2006 - 18:45
A poesia em meu coração
Ao amor
Ensinou-me a compreender os versos
A entender tantos poetas que só conhecia
Pelos olhos e não no coração
Abriu-me as portas de novos mundos
E me deu a visão que atravessa os véus.
Sou seu, não como barganha nem peso,
Mas como um donativo de quem nada pede
Só se lembre daqueles versos e não peça
Mais sol do que eu tenho em mim.
quarta-feira, 6 setembro, 2006 - 19:20
Não sou
Quanto mais nego ser um sábio
Inclusive com minhas ações
Mais as pessoas acham ser modéstia
E reforçam o epíteto e a crença delas
Às vezes dá vontade de proclamar
Sou sim um grande sábio, sigam-me,
Daí quem sabe todos entenderiam
Que só penso sobre mim por escrito
Mas este mundo anda tão louco e vazio
Que mesmo assim era capaz de aparecer
Algum doido ainda maior que eu
E decidir me seguir!
terça-feira, 5 setembro, 2006 - 15:21
Encruzilhadas
"Não queiras, com submissa segurança,
Ter saudade de ter esperança.
Tem antes saudade de a não ter."(Fernando Pessoa)
Não tenho mais sims,
Sou só um talvez
Na encruzilhada
Onde não há placas.

Aquela angústia fundamental,


De Adão e Eva
Pisando a primeira vez
Fora do Paraíso.

Mas me agrada ser um talvez,


Livra-me das correntes do fado,
De especular sobre Aquilo
Que só a Deus compete saber.

O talvez me obriga a superar-me,


Ultrapassar as dualidades,
Decidir por mim mesmo
E não enredar-me em ilusões.

Mas o talvez inquieta,


Entre ser livre e estar desperto
ou embriagar-me de amor
E vislumbrar os jardins.
sábado, 2 setembro, 2006 - 13:47
Meditação sobre alguns poemas de Schuon
“Sagrado é o Amor/Porque nele dorme a luz do Amor Divino” (Frithjof Shuon)
No jogo de espelhos
Do labirinto entre mim
E minha casa
Vejo o amor à luz

Ai meu Deus
Faça-me cristalino
Para conduzir
Sua imagem

Sou só um caquinho de espelho


Do Altíssimo
Quanta luz
Posso refletir
quinta-feira, 31 agosto, 2006 - 16:29
Meditação sobre um rubai de Pessoa
"Não queiras, com submissa segurança,
Ter saudade de ter esperança.
Tem antes saudade de a não ter.
Sê anónimo, súbito e criança." (Fernando Pessoa)
É bendito
Tudo que nos liberta
Do Reino da Ilusão
E suas servas.

Quando as sereias entoam


Seus cânticos tristes
Para colher náufragos
Ouve apenas o silêncio em si.

Segue adiante
Com os olhos no infinito
Sem amargor, nem medo
Apenas as lições que te tornam
Mais próximo da fonte.
quarta-feira, 23 agosto, 2006 - 11:10
Meditação sobre um trecho de Rumi
Conforme o sheikh vai lendo uma história do Masnavi
Lá naquela tekke distante, na qual me acolhem
Vou ficando impressionado com os sinais do Altíssimo
Que dão a resposta exata, no momento correto.
O sheikh apenas segue a sequência da lição,
Iniciada nas semanas em que não estive lá,
Mas o nosso mestre Rumi, ele não,
ele fala diretamente a mim
Naquelas respostas tão diretas
Vejo os muitos erros, os poucos acertos
Mas, acima de tudo, entendo que mais uma vez
Minhas orações foram aceitas
Mesmo mecânicas e numa lingua que entendo pouco
Elas enchem meu coração de paz, falam da verdadeira saudade,
Aquela do retorno a Deus, da dissolução na unidade
Entre uma recitação e outra, volto um instante a Ele.
sexta-feira, 18 agosto, 2006 - 17:42
Este poeta tardio em mim
"Não tenho ambições nem desejos./ Ser poeta não é uma ambição minha./ É a minha maneira de
estar sozinho" (Fernando Pessoa)
Este poeta despertou em mim
Inesperado, tardio
Intenso, patético
Confuso, iluminado
Justo em mim
Que nunca soube ou quis,
Conformado com exercícios mediocres
Ele resolveu despertar
Mando ele se calar
Mas ele não obedece
Sorri com os olhos
E fica mais patético
Fico enredado no labirinto
Que ele arquiteta...
Quando o julgo perdido,
Se mostra sábio,
Quando o julgo esclarecido,
Ele me precipita em disparates!
Nesta confusão
E nestes esclarecimentos
Me sinto vivo
E agradeço a ele!
quinta-feira, 17 agosto, 2006 - 14:23
Voz, não eco
Prefiro dizer bobagem,
Escrever períodos confusos
Expor parágrafos caóticos
Mas ser eu mesmo a escrever

Ao menos o leitor
Ouvirá ali uma voz
Não mero eco
De outros

Não me atraem os sistemas


E clubes, e patotas
Eles sempre só me aceitam
Se hasteio a bandeira deles
Não escrevo para ser aceito
Ou convidado

Escrevo para compartilhar


O que não sei
quarta-feira, 16 agosto, 2006 - 17:22
Eu me sei oásis
Eu me sei oásis
Alento dos peregrinos cansados
Ponto de passagem das caravanas
No qual saciam a sede

Eu me sei oásis
De fontes cristalinas
Palmeiras frondosas
E defesa contra os saqueadores

Sei também
Que a fonte às vezes se torna salobra
As palmeiras não contém a tempestade
Nem só de saqueadores é o sangue no chão

Mas, acima de tudo eu sei


Que ao ser usada a fonte se purifica
A cada ano as palmeiras crescem
E me torno melhor guerreiro a cada batalha

Mesmo que nada disto soubesse


Sei que sou oásis
Neste deserto do mundo

E não miragem
terça-feira, 15 agosto, 2006 - 12:39
Memória Emotiva
Somos Só
A memória emotiva
De um Deus esteta
Que precisa de nós
Para se ver
Caquinho de espelho
Do Altíssimo.
A lua reclama
Por sua luz ser só reflexo
do Sol?
terça-feira, 8 agosto, 2006 - 16:00
Maestria
Aquele que é mestre
De si mesmo
É também escravo
De si próprio.
Como reconhecer
O mestre de Verdade?
Nada mais fácil
Para quem é livre
Os falsos mestres
Andam catando discípulos
Ao preço módico
De sua alma
Já os mestres
Dirão que o caminho
É duro e desnecssário
Mesmo quando você implora.
terça-feira, 8 agosto, 2006 - 17:39
Poeta eu!
Poeta, eu!
Só há imagens complexas demais para serem escritas nesta nossa linguagem racional,
lógica, estruturada e pobre
Então gaguejo na linguagem dos pássaros
Como estrangeiro em país distante
Tentando descobrir com urgência
Onde pode conseguir um hotel barato.
quinta-feira, 6 julho, 2006 - 14:28
Respostas
Quando era jovem
Tinha todas as respostas
Do mundo
Elas foram indo embora
Me deixando Só
Com as perguntas
terça-feira, 30 maio, 2006 - 12:54
Gatos

Jamais gostei de cães


Sempre preferi os felinos
Ter um cachorro
me parece vil
como ter um escravo
já os gatos são livres

Um gato faz o quer quer


não brinca quando quer dormir
não dorme quando quer brincar
seu carinho é livre
se está no seu colo
é só porque ele quer.

Ele não precisa de você


gerações de caçadores furtivos
habitam dentro dele
se está no seu colo
não é por necessidade,
mas por querer.

O cão é a força bruta,


o poder da matilha,
a tirania do líder.

O gato é a astúcia,
o poder da sutileza,
o domínio do indivíduo.

Não importa se são enormes persas,


com seu ar de aristocrata enfastiado;
ou loquazes siameses esbeltos
intimando-nos a lhes dar atenção;

Mas prefiro os vira-latas


nos quais está intacto o sobrevivente

Se a alma é o gordo cão negro do desejo,


como ensinam os sufis,
então o espírito deve ser como um esguio gato negro,
que, depois de longas abluções,
vê o infinito em uma bola de papel
com a qual se entretêm por horas.
terça-feira, 28 fevereiro, 2006 - 16:53
Flor de ipê
Flor de ipê
Uma flor amarela cai do ipê
Acompanho com interesse
Seu lento rodopio ao chão
Um pedaço da eternidade.

Um dirá:
Este instante foi único
Jamais haverá outro igual
A flor dançou a intensidade do efêmero

Outro dirá:
No próximo ano, e no outro
e ainda pelas décadas
O balé fatal da flor reviverá em outras

Qual estará certo


Talvez ambos, talvez nenhum,
Mas o que importa

Esta resposta
Ela não retardará sequer em um segundo
A queda da flor
Ou fará a primavera
chegar mais cedo no próximo ano.
terça-feira, 28 fevereiro, 2006 - 16:58
Geometria
Platão vetou a entrada na Academia
aos ignorantes da geometria
Imaginaram compassos e esquadros
Mas não enxergaram o jardim

Outros depois multiplicaram


Inúmeras dimensões daqui
Até as profundezas abissais
Mas não olharam para o céu

Bastaria ter começado aqui mesmo


Corte uma dimensão do hipercubo
entenderá, então, a eternidade
E terá tempo para Deus

Sobra então um cubo


Ignore a profundidade
tenta ver o que está oculto
e assim poderá se elevar às altitudes

Do quadrado que restou


Suprime a altura
perceba então a omnipresença
e assim tem o mapa do real

Siga a trilha assinalada


Imagine o centro da reta
Atingiu afinal o ponto
Onde tudo está contido
terça-feira, 28 fevereiro, 2006 - 17:07
For one who seeks the Light or the light seeking the
One
Para um que busque a Luz
Ou a luz que busca ao Um
A jornada é muito curta
basta encontrar o caminho
Não vá pelo labirinto seguindo a fera
mas pela alameda do seu peito
Ele está mais próximo que sua jugular
basta olhar o centro do mapa
A senda reta, contudo,
não é percorrida
pelo som dos passos
basta o silêncio do coração
terça-feira, 28 fevereiro, 2006 - 17:19
Corcel
O luminoso corcel do meu espírito
não mais será vil escravo
do negro cão do meu desejo
Mas para isto precisa guerrear
O terrível clangor da espada
de nada adiantará para você
basta o silêncio do coração
para transpassar a armadura
Ignore o som dos passos
Não vá pelo labirinto seguindo a fera
mas pela alameda do seu peito
basta relembrar o caminho
Chegue ao centro
encontre a liberdade
cure a saudade
voltando ao lar
terça-feira, 28 fevereiro, 2006 - 17:24

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