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INTRODUÇÃO
O teólogo Carlos A. Vailatti declara que “o maior de todos os símbolos da fé cristã,
ao contrário do que alguns possam imaginar, não é a manjedoura, o presépio, ou o peixe,
mas sim a cruz”.1 De fato, a cruz e o sacrifício de Cristo é o que torna o cristianismo uma
religião diferenciada de tantas outras existentes. O marco fundamental e diferencial desta
religião reside no evento da morte de seu líder.
O presente trabalho não visa ser exaustivo, logo alguns assuntos que poderiam ser
abordados não o serão, isso não se dá porque tais assuntos tenham menor relevância, mas
somente por limitação de espaço e tempo. Esse pequeno estudo tem, meramente, a
intensão de ser uma nota introdutória nesse assunto que tem sido objeto de muito debate
*
Texto produzido para a Semana Teológica na IEADTC – Congregação de Amadeu Furtado
**
É aluno do curso de pós-graduação em Educação cristã pela FABAD – Faculdade Bíblica das Assembleias
de Deus e serve ao diaconato na Igreja evangélica Assembleia de Deus Templo Central em Fortaleza.
1
VAILATTI, Carlos Augusto. Expiação Ilimitada. São Paulo: Editora Reflexão, 2015. Pg.11.
ao longo do tempo, muito desse debate tem se tornado infrutífero por conta dos aspectos
emocionais envolvidos.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Dentro do mosaico que se chama teologia cristã, há um debate intenso que já
permeia alguns séculos: Arminianismo x Calvinismo. Antes de prosseguirmos com
relação a questão da Expiação Ilimitada – a partir de agora designada de EI – acho
necessário fazer algumas colocações que, creio eu, podem nos auxiliar, a fim de
produzirmos debates respeitosos e com humildade. Os pontos são:
2
WYNKOOP, Mildred B. Fundamentos da Teologia Armínio-Wesleyana. Campinas: Casa Nazarena
Publicadora, 2004. Pg.22
Corpo de Cristo
Arminianismo Calvinismo
Tillich (2000) observa que “os sistemas não são feitos para permanecermos neles”.4 Para
ele o sistema é o pensamento se utilizando de certas regras lógicas, da fala ou dos escritos
a fim de tratar com a experiência. Nesse caso o sistema pode oferecer perigo quando ele
3
ROLDAN, Alberto Fernando. Para que serve a teologia – Método, História e Pós-modernidade. Curitiba:
Descoberta,2000. Pg.45
4
TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: ASTE, 2000. Pg. 19
caminha dentro de si mesmo, pois a partir daí ele pode se separar da realidade e
transformar-se em algo, por assim dizer, acima da realidade que pretende descrever.5
EXPIAÇÃO – DEFINIÇÕES
No contexto das Escrituras existem diversos termos que se referem a expiação,
cada termo demonstra uma nuança dessa obra maravilhosa da graça de Deus. Porém,
nosso intento não é tratar de forma isolada de cada termo, mas retratar de forma geral o
conceito de expiação conforme compreendido ao longo da história da igreja e dentro da
ortodoxia Cristã.
5
Ibid., Pg.19
6
Para entender a controvérsia entre Richard Baxter e John Owen ver: COOPER, Tim. John Owen, Richard
Baxter and the Formation of Nonconformity. Ashgate Publisher, 2013.
7
Para um estudo das “Teologia(S)” reformadas ver: OLSON. Roger. Contra o Calvinismo. São Paulo: Editora
Reflexão, 2013. Pgs. 39-58
8
CULBERTSON, Paul T. WILEY, H. Orton. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena
Publicadora, 1990. Pg.250
do pecado. (Jo 1.29). E também essa obra nos reconcilia com Deus, tirando-nos do estado
de inimigos e nos colocando como amigos do Criador (Rm 5.10-11).
Definição semelhante é citada por Wiley (1990), que declara que a expiação é “a
satisfação oferecida à justiça divina por meio da morte de Cristo pelos pecados da
humanidade, em virtude do qual todos os verdadeiros penitentes que crêem em Cristo são
pessoalmente reconciliados com Deus, livrados de toda a pena dos seus pecados e feitos
merecedores da vida eterna”. 9
TEORIAS DA EXPIAÇÃO
A existência de diversos termos na Escritura relacionados a expiação tem levado
a diversas tentativas de sistematizar e/ou compreender melhor como funciona “na prática”
essa obra de Cristo. Tendo em vista as diversas pressuposições tem-se, então, algumas
teorias que em momentos se aproximam e em outros se afastam, umas bíblicas e outras
heréticas. Entre essas teorias destacaremos algumas, talvez, as mais importantes.
TEORIA DA RECAPITULAÇÃO
Irineu (130 – 200 d.C), bispo da igreja de Lyon, formulou sua teoria a partir da
leitura de Ef. 1.9-10 que diz: “Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplácito, que propusera em si mesmo, De tornar a congregar em Cristo todas as
coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que
estão na terra...”
Irineu, também defendeu que a expiação foi uma vitória sobre Satanás. E através
desta perspectiva Orígenes desenvolverá sua teoria.
TEORIA DO RESGATE
Orígenes (1.85-254) foi o que primeiro converteu esta ideia popular numa teoria
dizendo que o preço do resgate foi pago a Satanás. Orígenes, ao comentar o texto bíblico
de Mateus 20.28b “...para dar a sua vida em resgate de muitos.” Orígenes conclui que
Cristo não poderia pagar um resgate ao próprio Deus, pois estávamos escravizados pelo
maligno, logo segue-se que o resgate só poderia ser pago àquele que nos mantinha em
“cativeiro”, à saber, Satanás.
9
Ibid., Pg. 151
10
VAILATTI, Carlos Augusto. Expiação Ilimitada. São Paulo: Editora Reflexão, 2015. Pg. 30
TEORIA DA SATISFAÇÃO
(l) O pecado, de si mesmo, como uma violação da lei de Deus, merece a ira e a maldição
de Deus.
(2) Deus está disposto, pela própria excelência da Sua natureza, a tratar as criaturas tal
como merecem,
(3) Para satisfazer o juízo reto de Deus, o Filho assumiu a nossa natureza, tornou-se
sujeito à lei, cumpriu toda a justiça e sofreu o castigo dos nossos pecados,
(4) Pela Sua justiça, os que crêem constituem-se justos, aplicando-se-lhes o mérito de
Cristo de tal maneira que são considerados como justos diante dos olhos de Deus.
Esta concepção foi adotada pela maioria da igreja protestante antiga e atual.
Embora existam várias críticas a essa teoria.
11
CULBERTSON, Paul T. WILEY, H. Orton. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena
Publicadora, 1990. Pg.260
A EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO
A extensão da expiação tem sido objeto de debate durante um grande período da
caminhada da igreja na terra. A pergunta, Por quem Jesus morreu? É, sem sombra de
dúvidas, uma das mais debatidas e, talvez, uma das mais importantes perguntas a serem
respondidas.
Duas respostas têm sido oferecidas a essa pergunta. A primeira delas é que a
expiação é Universal ou ilimitada, essa tem sido a posição majoritária nos pais da igreja
e é defendida pelos arminianos, seguidores do entendimento soteriológico do teólogo
holandês Jacó Arminio (1560-1609). Já a segunda resposta oferecida é a de que a expiação
de Cristo foi somente para os eleitos, ou seja, ela é limitada, essa perspectiva é defendida
pela MAIORIA dos calvinistas. Embora exista um intenso debate dentro do próprio
calvinismo sobre se Calvino de fato ensinou uma expiação limitada.
Quando falamos de uma Expiação Ilimitada, vem logo a mente de alguns que o
fato dela ser “universal” (outro nome dado é Redenção Universal), logo toda a
humanidade deve ser salva. Esse é um ledo engano, aliás tanto o universalismo como a
expiação limitada, fazem parte de sistemas deterministas, ou seja, eles excluem a
condicionalidade da fé e do arrependimento. Portanto, quando falamos de expiação
ilimitada, isto não quer dizer que toda a humanidade se salvará incondicionalmente, mas
12
SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017. Pg.
61,113.
apenas que a oferta sacrificial de Cristo satisfez as pretensões da lei divina, de maneira
que tornou a salvação possível para todos.
“Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque
são teus”. (João 17:9)
“Ninguém tem maior amor do que este, de DAR ALGUÉM A SUA VIDA
PELOS SEUS AMIGOS.” (João 15:13)
Os dois textos acima têm sido muito citados a fim de comprovar que a morte de
Cristo foi efetuada apenas por “seus amigos” e por “suas ovelhas.” Porém, tal
interpretação não é coerente, pois temos aí o que chamamos de falácia da inferência
negativa, que é pegar uma argumentação positiva e propor uma conclusão negativa. Num
exemplo mais simples, quando eu digo: Gosto de arroz. Alguém conclui que eu NÃO
gosto de feijão.
Por outro lado, há inúmeros versículos enfatizado que a obra expiatória de Cristo
visou proporcionar salvação a todos os homens. Isso tem sido enfatizado não somente na
Bíblia, mas também através dos pais da igreja e também por uma série de calvinistas,
chamados de calvinistas de quatro pontos.
“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro
de Deus, QUE TIRA O PECADO DO MUNDO.” (João 1:29)
Calvino comentando esse texto declara que quando João Batista diz: “o pecado do
mundo, ele estende essa benevolência indiscriminadamente a toda raça humana”.13
13
CALVINO, João. O evangelho segundo João – Volume 1. São José dos Campos: Editora FIEL, 2015. Pg.
68
“Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.”
(Romanos 5:6)
“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que
todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” (1 Timóteo 2:3,4)
“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas
é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos
venham a arrepender-se.” (2 Pedro 3:9)
Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém
pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação
pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.
(1 João 2:1,2)
Clemente de Alexandria
“Cristo livremente traz ... salvação para toda humanidade”. (Pedagogo, cap 11)
João Crisóstomo
“De modo que, pela graça de Deus, experimentou a morte em benefício de todos.”
(Sobre a carta aos hebreus 4)
Cirilo de Alexandria
“[...] a morte de uma só carne é suficiente para o resgate de toda a raça humana,
pois ela pertenceu ao Logos, gerado de Deus, o pai”.14
CONCLUSÃO
A obra expiatória de Cristo providencia salvação e remissão dos pecados a todas
as pessoas, conforme declara a palavra de Deus. Esse entendimento é o que tem motivado
inúmeros cristãos piedosos em todas as épocas a pregarem o amor de Deus a toda criatura.
O zelo evangelístico depende do nosso entendimento da obra de Cristo. Seu amor nos
alcançou estando nós, ainda, mortos em delitos e pecados. De fato, cremos que nem todos
os homens serão salvos, mas isso, entendemos que, não se dá porque o amor de Cristo foi
demonstrado somente a um grupo de pessoas, mas porque a dureza do coração humano
os impedem de deixarem-se “cair” nos braços daquele que fez a maior declaração de
14
Para mais citações dos pais da igreja acerca da Expiação Ilimitada ver: VAILATTI, Carlos Augusto.
Expiação Ilimitada. São Paulo: Editora Reflexão, 2015.
amor, a saber Jesus Cristo, aquele que é a propiciação pelos nossos pecados, e não
somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.
É por saber que Jesus possibilita salvação a todos que podemos cantar com toda
sinceridade: “Oh! por que Jesus me ama? / Eu não posso t'explicar! / Mas, a ti também te
chama, / Pois deseja te salvar!
BIBLIOGRAFIA
CALVINO, João. O evangelho segundo João – Volume 1. São José dos Campos: Editora
FIEL, 2015.
ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997
COOPER, Tim. John Owen, Richard Baxter and the Formation of Nonconformity.
Ashgate Publisher, 2013
ROLDAN, Alberto Fernando. Para que serve a teologia – Método, História e Pós-
modernidade. Curitiba: Descoberta, 2000.