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Noutros tempos, pouco ou nada se sabia fora das paredes das instituições educativas; ou
então, tudo se perdia entre regras de falsa etiqueta proporcionadas pela paridade e
homogeneidade dos grupos sociais que tinham acesso à escola, sobretudo aos níveis de
escolaridade mais avançados. Hoje, felizmente, sabe-se mais e, sobretudo, sabe-se melhor.
Por exemplo, dizem-nos que 40 por cento das crianças portuguesas são vítimas de bullying.
E, nesse escandaloso número, ainda nem se contabiliza a violência psicológica exercida por
alguns jogos de consola, por alguns sites que as crianças e jovens visitam e até por alguns
programas de televisão a que assistem, sem qualquer controle parental.
O que mudou entretanto? Tanta coisa! Desde logo, a democratização do acesso ao ensino
(uma escola para todos) trouxe para a escola muitos jovens de diferentes culturas sociais, de
diferentes “tribos urbanas”, com as suas linguagens, gestos, símbolos, valores e vestuários
diferenciadores em relação “ao outro” e identificadores “entre si”. É que, também se sabe
que o bullying se desenvolve mais quando os indivíduos são forçadas a coabitar, algumas
vezes contra-vontade e noutras contra-natura, no mesmo espaço e ao mesmo tempo.
Nesta sociedade que tarda a reencontrar-se e onde até a imbecilidade humana tem direito à
globalização; onde infelizmente não sobram exemplos de coerência e de ética; onde as
famílias se constituem mais com base no “ter” do que no “ser”; onde se permite que todos
os dias se destrua um pouco mais deste planeta que é única casa de todos, não é de
estranhar que desde muito cedo (98% das mães americanas inquiridas admitiram que os
seus filhos, com menos de dois anos de idade, já tinham acesso e brincavam na internet…)
se incrementem as tentações totalitárias, desumanas e irracionais e que estas se
sobreponham ao prazer de brincar, de conviver e de aprender com o “outro”.
Por isso, hoje, a diferença situa-se na ténue fronteira da amplitude a que pode chegar a
pressão dos pares sobre o indivíduo (o mal são os outros?), e da justificação que se quiser
dar ao livre arbítrio que conduz à selecção da vítima e da motivação.
João Ruivo
ruivo@ipcb.pt