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O CHAMADO E A CRUZ – Dietrich Bonhoeffer

O chamado ao discipulado está, aqui, no contexto do anúncio da Paixão de Jesus (Mc


8.31-38 – *Texto no fim do Artigo). Jesus está para sofrer e ser rejeitado. É esse o
imperativo da promessa de Deus, para que se cumpram as Escrituras. Paixão e rejeição
não são a mesma coisa. Jesus podia ser o Cristo festejado ainda na Paixão. Em sua
Paixão poderiam concentrar-se toda a piedade e admiração do mundo. A Paixão como
acontecimento trágico poderia ainda ter valor próprio, honra e dignidade própria. Jesus,
porém, é o Cristo rejeitado na Paixão. A rejeição tira da Paixão toda a dignidade e honra.
Ela deve ser sofrimento sem honra. Paixão e rejeição, eis em resumo a definição da cruz
de Jesus. Ser crucificado é sinônimo de sofrer e morrer rejeitado e repudiado por força da
necessidade divina. Qualquer tentativa de impedir o que é necessário é satânica, mesmo
que esta tentativa provenha do círculo dos discípulos (o que é uma agravante), pois
assim não se quer permitir que Cristo seja Cristo. O fato de ser justamente Pedro, a
Rocha da Igreja, a tornar-se culpado, logo após sua confissão de Jesus como o Cristo e de
sua instalação, revela que, logo de início, a Igreja se escandalizou com o Cristo sofredor.
Ela não quer semelhante Senhor e, como Igreja de Cristo, não quer permitir que ele lhe
imponha a lei do sofrimento. O protesto de Pedro exprime sua relutância em se dispor a
sofrer. Deste modo é que Satanás entrou na Igreja, pretendendo arrancá-la à cruz de seu
Senhor.

Jesus, portanto, viu-se na contingência de esclarecer de modo insofismável que o


imperativo do sofrimento era extensivo aos discípulos. Assim como o Cristo somente é
Cristo quando sofredor e rejeitado, também o discípulo somente é discípulo quando
sofredor e rejeitado, crucificado com Cristo. O discipulado como união com a pessoa de
Jesus Cristo coloca o discípulo sob a lei de Cristo, ou seja, sob a cruz.

Porém, ao comunicar esta verdade inalienável a seus discípulos, Jesus começa por lhes
dar plena liberdade, o que é digno de nota. "Se alguém quiser vir após mim...", diz Jesus.
Não é algo óbvio, nem mesmo entre os discípulos. Ninguém pode ser forçado a isso, nem
mesmo se pode esperar que alguém o faça; antes: "se alguém quiser" segui-lo, a despeito
de quaisquer outras ofertas que lhe sejam feitas. Uma vez mais, tudo depende da decisão
individual; em pleno discipulado, toda a carreira é, uma vez mais, interrompida, tudo fica
em aberto, nada se espera, nada se impõe. Tão incisivo é o que agora se vai dizer que,
uma vez mais, antes de se anunciar a lei do discipulado, os próprios discípulos têm que
sentir-se em liberdade.

"Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue." Assim como Pedro disse com
relação a Cristo: "Não conheço esse homem", deverá o discípulo dizer em relação a si
mesmo. A autonegação jamais pode consistir de uma série, por longa que seja, de atos
avulsos de automartirização ou de exercícios ascéticos; autonegação não é suicídio,
porque ainda aí a vontade do ser humano pode impor-se. A autonegação consiste em
conhecer apenas a Cristo, e não mais a si próprio; em ver somente aquele que segue em
frente sem olharmos o caminho que julgamos tão difícil. A autonegação diz apenas isso:
ele vai na frente; apega-te a ele.
"... tome a sua cruz". Jesus, em sua graça, preparou os discípulos para o impacto destas
palavras através do ensino da autonegação. Só após termos esquecido real e totalmente a
nós próprios, somente após não nos conhecermos mais a nós mesmos, é que poderemos
estar prontos para levar a cruz por amor a ele. Se conhecermos tão-somente a ele, não
conheceremos mais as dores de nossa cruz, pois só a Jesus é que veremos. Se ele não nos
tivesse bondosamente preparado para ouvirmos estas palavras, não as poderíamos
suportar. Todavia, assim ele nos deu condições de aceitar também esta dura palavra como
graça. Tal palavra nos encontra na alegria do discipulado e nele nos confirma.

A cruz não é desventura nem pesado destino; é o sofrimento que resulta da união
exclusiva com Cristo. A cruz não é sofrimento casual, mas sofrimento necessário. A cruz
não é sofrimento relacionado com a existência natural, mas com o fato de pertencermos a
Cristo. A cruz não é, essencialmente, apenas sofrimento, mas sim sofrimento e rejeição -
rejeição no sentido rigoroso, rejeição por amor de Jesus Cristo, e não em conseqüência de
qualquer outra atitude ou confissão. Um cristianismo que não vinha mais tomando o
discipulado a sério, que transformara o Evangelho no consolo da graça barata e para o
qual a existência natural e a existência cristã estavam inseparavelmente misturadas, tal
cristianismo tinha que considerar a cruz uma desventura diária, uma tribulação e angústia
de nossa vida natural. Esqueceu-se que cruz significa sempre também rejeição, que o
opróbrio do sofrimento é inerente à cruz. Ser rejeitado no sofrimento, desprezado e
abandonado pelos seres humanos, como se lamenta tanto o Salmista, eis a característica
essencial do sofrimento da cruz que já não é compreensível a uma cristandade incapaz de
distinguir entre existência civil e existência cristã. A cruz é a compaixão com Cristo,
sofrer com Cristo. Somente a união com Cristo, tal como esta se verifica no discipulado,
está, de fato, sob a cruz.

"... tome a sua cruz." Ela já está preparada desde o início; falta apenas levá-la. Porém,
para que ninguém pense que tem que sair à procura de uma cruz qualquer, seja onde for,
ou que deve procurar voluntariamente o sofrimento, Jesus diz que existe uma cruz já
preparada para cada um de nós, uma cruz a nós destinada e atribuída por Deus. Cada qual
tem que suportar a medida de sofrimento e rejeição que lhe é reservada. Essa medida
varia de pessoa para pessoa, pois a um Deus honra com maior sofrimento, dando-lhe,
inclusive, a graça do martírio; a outro, porém, não permite que seja tentado além de suas
forças. No entanto, a cruz é uma só.

A cruz é imposta a cada crente. O primeiro sofrimento com Cristo, ao qual ninguém
escapa, é o chamado que nos chama para fora das vinculações com o mundo. E a morte
do velho ser humano no encontro com Jesus Cristo. Quem entra no discipulado entrega-
se à morte de Jesus, expõe sua vida à morte. Isso é assim desde o princípio; a cruz não é
o fim horrível de uma vida piedosa e feliz, mas se encontra no começo da comunhão com
Jesus Cristo. Todo chamado de Jesus conduz à morte. Quer devamos abandonar casa e
profissão, como o fizeram os primeiros discípulos, para o seguir, quer, com Lutero,
abandonemos o convento para ingressar na profissão secular, em ambos os casos
aguarda-nos a mesma morte, a morte em Jesus Cristo, a extinção do velho ser humano
por causa do chamado de Jesus. Porque o chamado de Jesus ao jovem rico lhe traz a
morte, porque este somente pode ser discípulo como alguém cuja vontade própria
morreu, porque cada ordem de Jesus nos chama a morrer com todos os nossos desejos e
ambições, e porque não podemos desejar nossa própria morte, por isso Cristo tem que
ser, em sua Palavra, nossa morte e nossa vida. O chamado ao discipulado de Jesus, o
Batismo em nome de Jesus Cristo é morte e vida. O chamado de Cristo, o Batismo coloca
o cristão em luta diária contra o pecado e o diabo. Assim, cada dia, com suas tentações da
carne e do mundo, traz consigo novos sofrimentos de Jesus Cristo para o discípulo. Os
ferimentos aí infligidos, as cicatrizes que o cristão leva desta luta, são sinais vivos da
comunhão na cruz de Jesus.

Há, porém, outro sofrimento e outro vexame que a nenhum crente é poupado. É certo que
somente o sofrimento de Cristo é sofrimento expiatório; todavia, por Cristo ter sofrido
pelo pecado do mundo, por ter caído sobre ele todo o fardo da culpa, e por Jesus Cristo
ter dado aos que o seguem parte no fruto de seu sofrimento, recaem também sobre o
discípulo a tentação e o pecado que o encobrem de grande vergonha e o expulsam, qual
bode expiatório, para fora das portas da cidade. Assim o cristão toma sobre si os pecados
e a culpa de outros seres humanos. Certamente o cristão estaria aniquilado sob tal peso,
não estivesse sendo ele próprio sustentado por aquele que tomou sobre si todos os
pecados. Deste modo, porém, o cristão pode, na força da Paixão de Cristo, suportar os
pecados que sobre ele caem no momento em que os perdoa. O cristão toma fardos sobre
si - "Levem as cargas uns dos outros, e assim cumprirão a lei de Cristo." (Gl 6. 2). Assim
como Cristo toma sobre si nosso fardo, devemos também nós levar as cargas dos irmãos;
a lei de Cristo, que tem que ser cumprida, é carregar a cruz. O fardo do irmão que devo
levar não é apenas sua situação, a maneira de ser, o temperamento, mas, acima de tudo,
seus pecados. Não posso levá-los sobre mim de outra forma senão perdoando-os a ele no
poder da cruz de Cristo, cruz da qual me tornei participante. Assim o chamado de Jesus
para levarmos nossa cruz coloca cada discípulo na comunhão do perdão dos pecados. O
perdão dos pecados é o sofrimento de Cristo ordenado ao discípulo, imposto a todos os
cristãos.

Como, porém, saberá o discípulo qual é sua cruz? Ele a receberá ao entrar no discipulado
do Senhor sofredor; na comunhão de Jesus, reconhecerá sua cruz.

O sofrimento é, pois, a característica dos seguidores de Cristo. O discípulo não está


acima de seu mestre. O discipulado é passio passiva, é sofrimento obrigatório. Por isso,
Lutero incluiu o sofrimento no rol dos sinais da verdadeira Igreja. Um anteprojeto da
Confessio Augustana definiu a Igreja como comunidade dos que são "perseguidos e
martirizados por causa do Evangelho". Quem não quiser tomar sobre si a cruz, quem não
quiser expor sua vida ao sofrimento e à rejeição por parte dos seres humanos, perde a
comunhão com Cristo e não é seu discípulo. Quem, porém, perder sua vida no
discipulado, no carregar da cruz, tornará a encontrá-la no próprio discipulado, na
comunhão da cruz com Cristo. O oposto do discipulado é envergonhar-se de Cristo,
envergonhar-se da cruz, escandalizar-se por causa da cruz.

O discipulado é união com o Cristo sofredor. Por isso, nada há de estranho no sofrimento
do cristão; antes, é graça, é alegria. Os relatos sobre os primeiros mártires da Igreja
testemunham que Cristo transfigura para os seus o momento extremo do suplício com a
certeza indescritível de sua proximidade e comunhão. Assim, nos tormentos mais atrozes
sofridos por amor a Cristo, os mártires experimentaram a máxima alegria e bem-
aventurança da comunhão com seu Senhor. Suportar a cruz se lhes revelou como a única
maneira de triunfar sobre o sofrimento. Isto, porém, aplica-se a todos quantos seguem a
Cristo, porque foi igualmente válido para ele.

Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se
possível, passe de mim esse cálice! Todavia, não como eu quero, e, sim, como tu
queres... Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é possível passar
de mim esse cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade. (Mt 26.39 e 42).

Jesus pede ao Pai que faça passar aquele cálice; e o Pai ouviu a prece do Filho. O cálice
do sofrimento passaria - porém, unicamente ao ser bebido. Jesus sabe isso perfeitamente
ao se ajoelhar pela segunda vez no Getsêmani; sabe que o sofrimento passará ao ser
suportado. Somente suportando-o é que ele o vencerá e derrotará. A cruz é sua vitória.

Sofrimento é afastamento de Deus. Por isso é que quem se encontra na comunhão de


Deus não pode sofrer. Jesus confirmou esta lição do Antigo Testamento. Justamente por
essa razão é que ele toma sobre si o sofrimento de todo o mundo, vencendo-o assim. Ele
sofre toda a separação de Deus. O cálice passa se for esvaziado. Jesus quer vencer o
sofrimento do mundo; por isso, tem que prová-lo até ao extremo. O sofrimento continua
a ser afastamento de Deus; porém, na comunhão do sofrimento de Jesus Cristo, o
sofrimento é vencido pelo sofrimento, e justamente no sofrimento se experimenta a
comunhão com Deus.

O sofrimento precisa ser suportado para que passe. Ou o mundo tem que suportá-lo e
sucumbir sob seu peso, ou ele recai sobre Cristo e é vencido por ele. Dessa maneira é que
Cristo sofre em lugar do mundo. Exclusivamente o sofrimento de Cristo é sofrimento
expiatório. Mas também a Igreja sabe agora que o sofrimento do mundo está à procura de
alguém que o tome sobre si. No discipulado de Cristo, tal sofrimento recai sobre a Igreja,
e esta o suporta sabendo-se, por sua vez, suportada por Cristo. Ao seguir a Cristo, sob a
cruz, a Igreja de Jesus Cristo representa o mundo perante Deus.

Deus é um Deus carregador. O Filho de Deus tomou sobre si nossa carne e, por isso,
suportou a cruz, suportou todos os nossos pecados e, por seu carregar, trouxe a
reconciliação. Da mesma forma, o discípulo está chamado a levar fardos. Ser cristão
consiste em levar fardos. Como Cristo manteve a comunhão do Pai levando fardos, assim
também carregar fardos é, para o discípulo, comunhão com Cristo. O ser humano pode
livrar-se do fardo que lhe é imposto. Mas, assim procedendo, ele não se liberta
propriamente do fardo; antes, passa a levar um fardo ainda mais pesado, mais
insuportável. Leva, por livre escolha, o jugo de si mesmo. Jesus convidou a todos os
oprimidos por toda sorte de sofrimentos e fardos para os lançarem fora e tomarem sobre
si seu jugo, que é suave, e seu fardo, que é leve. Seu jugo e fardo são a cruz. Colocar-se
sob essa cruz não significa miséria e desespero, mas é refrigério e descanso para as
almas, é a suprema alegria. Aí, então, não andamos mais sob o peso de leis e fardos de
feitura própria, mas sob o jugo daquele que nos conhece e caminha a nosso lado sob o
mesmo jugo, onde temos a certeza e a proximidade de sua comunhão. É a Cristo que o
seguidor encontra ao tomar sobre si sua cruz.

Isso deve ir não de acordo com teu entendimento, mas acima dele; mergulha na
insensatez e dar-te-ei meu entendimento; não saber para onde vais é saber exatamente
para onde vais. Meu entendimento torna-te insensato. Assim saiu Abraão de sua pátria
sem saber para onde ir. Confiou em minha sabedoria e desistiu de sua própria, e
encontrou o caminho certo e o destino certo. Eis o caminho da cruz: tu não o podes
achar; eu tenho que guiar-te como a um cego; por isso nem tu, nenhum ser humano,
nenhuma criatura, mas eu, eu em pessoa te ensinarei, através de meu Espírito e Palavra, o
caminho que deves trilhar. Não a obra que tu escolhes, não o sofrimento que tu imaginas,
mas sim o caminho que te é preparado contra tua escolha, contra teu pensamento e desejo
- a esse segue, a esse te chamo, nele sê discípulo; é tempo oportuno, teu Mestre chegou.
(Lutero).
“Então começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse
muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos
escribas, fosse morto e que depois de três dias ressuscitasse. E isto ele expunha
claramente. Mas Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo. Jesus, porém,
voltou-se e, fitando os seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse: Arreda! Satanás,
porque não cogitas das coisas de Deus, e, sim das dos seres humanos. Então,
convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir
após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a
sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á.
Que aproveita ao ser humano ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Porque
qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e de minhas
palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu
Pai com os santos anjos”. (Mc 8.31-38).

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