Sei sulla pagina 1di 3

Resenha crítica: O mundo como representação.

O texto escrito por Roger Chartier é uma resposta ao editorial de 1988 da revista
francesa Annales, revista de significativa importância no contexto da historiografia do
séc. XX, representante importante das ideias do movimento Escola Annales. Esse
movimento colocava em xeque a concepção da historiografia como apenas uma
compilação cronológica de acontecimentos e buscava incluir saberes e procedimentos
de outras áreas, e assim compreender melhor o processo histórico a partir de uma
perspectiva mais ampla.
É exatamente esse o ponto de partida da reflexão de Charlier: haveria ou não
uma crise na história? Qual seria a influência das correntes de pensamento como o
marxismo e o estruturalismo para essa crise? A partir desse estopim há uma
capilaridade na reflexão que abarcar a posição pesquisador/historiador, sua produção
textual historiográfica e as (inter)relações dessa produção textual com a cultura e o
leitor.
Charlier trata essa problemática como “um diagnóstico posto em dúvida”, ara
tanto, primeiramente expõe um panorama da historiografia, o objeto de estudo da
história e sua fragilidade frente ao surgimento de novas disciplinas. Reflexão essa que
surge do aparecimento de novas disciplinas como a linguística, a sociologia e que, em
alguma medida, dividem o objeto de estudo da história.
Frente a essa problemática, afirma o autor, que os historiadores responderam
de duas maneiras: i) passaram a assimilar pesquisas e a produção de conhecimento
dessas áreas e ii) buscaram estabelecer novos objetos de pesquisa ou retomar aqueles
cuja historiografia houvera se ocupado anteriormente. Segundo o autor, o convite feito
à história é o de reformular seus objetos, suas frequentações –compreendia como os
temas abordados por ela- e também a sua inteligibilidade, ou seja, a forma pela qual ela
se faz compreender a si a ao seu discurso.
Encerrando essa primeira parte de seu pensamento, afirma que o real motivo da
mudança no curso da historia e, consequentemente nas pesquisas historiográficas não
seria a suposta crise das ciências sociais, tampouco uma mudança de paradigma, mas
um distanciamento das práticas de pesquisa que balizaram a historiográfica até aquele
presente momento. Seriam, pois, “três deslocamentos sob forma de renuncia” que
sintetizariam essa mudança: i) o distanciamento de um projeto de história global, ii) a
definição territorial de objetos de pesquisa e iii) o recorte social realizado que organizaria
a compreensão de fenômenos culturais.
Abrindo mão de sua visão global de mundo que buscava descrever de forma
total os acontecimentos, ou seja, compilar acontecimentos econômicos, sociais e
culturais, a história buscou passou a buscar compreender esses fenômenos a partir das
especificidades de produção de sentido dos sujeitos envolvidos nesses processos. Da
mesma forma, ao abrirem mão de territorialidades, os historiadores perderam o poder
de realizar inventários específicos e característicos de determinadas sociedades. Por
último, deixando de lado o recorte social e focando-se nos desvios sociais, perderam
sua capacidade de qualificar os fenômenos históricos-sociais.
Partindo para uma nova reflexão, mas ainda mantendo o fio condutor de seu
pensamento, Chartier, busca colocar então sua própria experiência como pesquisador
aborda relação da produção textual historiográfica e a intima relação dessa produção e
a e a estética da recepção do leitor.
Afirma que toda sua reflexão metodológica se ancorou no estudo do objeto
histórico-literário. A partir dessa perspectiva aponta a importância do texto escrito e o
dialogismo entre “mundo do leitor” e mundo do texto”. O autor levanta algumas hipóteses
interessantes que devem ser estacadas como a construção de sentido que ocorre no
ato da leitura ( ou na escuta no caso de oraturai) e múltiplas significações possíveis de
um texto em um dado circuito de recepção do leitor. Essas variáveis seriam
responsáveis pelas diversas construções de sentido dadas pelo leitor.
Dentro dessa perspectiva, se deveria levar em conta as variações dos leitores e
dos dispositivos dos textos e dos objetos impressos. Estariam em reflexão a maneira
como os leitores recebem o texto e a forma material que a que eles têm acesso.
Frente a essa perspectiva, segundo Chartier, as formas tipográficas seriam
subjacentes, afinal os autores escrevem textos que são transformados em objetos
impressos e que o mais importante seria a recepção desse texto junto ao leitor. Neste
momento, trás para a discussão a estética da recepção, compreendida como uma
reformulação da historiografia literária e da interpretação textual, considerando o
fenômeno literário como um todo composto de: produção, recepção e comunicação.
Nesse contexto recorte recairia ou sobre a historia cultural ou sobre a historia social.
Outro ponto importante destacado é a compreensão textual a partir da relação
estabelecida entre significante x significado resultando numa relação decifrável. Durante
o processo de decifração, ou decodificação, dois elementos poderiam ser impeditivos
para que isso ocorresse com sucesso: a falta de preparação do leitor para esse
processo, seja pela arbitrariedade entre signo e significado. Evidentemente não cabe
aqui adentrar na questão das limitações e limitações da competência leitora, tampouco
na teoria saussuriana de signo linguístico.
De qualquer forma, é muito interessante a referência feita pelo autor à linguagem
teatral shakespeariana que buscava amalgamar diversos tipos de encenações como a
farsa e o melodrama. Essa ‘formula shakespeariana” também ocorria em nível textual,
uma vez que não era apenas a elite da sociedade elisabetana que assistia aos
espetáculos. Dessa maneira, Shakespeare buscava colocar em suas peças uma
linguagem plural que atingisse tanto as camadas baixas da sociedade quanto a elite.
Um exemplo desse procedimento é quando Hamlet dirige-se à Ofélia primeiramente
perguntando: _ “Posso colocar minha cabeça entre suas pernas?”, vendo o horror da
moça refaz sua pergunta: “Posso debruçar minha cabeça sobre seu colo?”. É possível
identificar aí uma tentativa de atingir todos os públicos presentes, através de uma
linguagem mais coloquial, seguida de uma mais coloquial.
Evidentemente, diversos outros pontos são apresentados no texto, mas, o limite
de duas laudas imposto a presente resenha impede que eles aqui sejam citados, e até
mesmo que se esgote os que puderam ser. Contudo, o texto apresenta importantes
questões sobre a historiografia e sua situação frente às mudanças historicas, sua
relação interdisciplinar com outras áreas do conhecimento humano, bem como sua
capacidade de produzir conteúdo, definir eu objeto de pesquisa e atingir o público leitor.
Assim como essas reflexões foram colocadas para a história, pode-se também
produzir os mesmos questionamentos com a Filosofia, e mais ainda, buscar pontos de
contato que possam ocorrer entre historia e filosofa, abrindo caminhos para produção
de novos conhecimentos na contemporaneidade, ampliando o espectro de reflexões
dessas áreas e buscando estabelecer um dialogo mais próximos e profundo entre os
diversos saberes.

i
Oratura- conjunto de oralidades – tem sido um suporte essencial na conservação dos repertórios buscando
exprimir eventos reais ou fictícios em palavras, imagens e sons.

Potrebbero piacerti anche