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SET/09.
DISCIPLINA: SAÚDE COLETIVA III.
PROFESSORA: SILVIA BAHIA.
ASSUNTO: TRABALHO, PROCESSO DE TRABALHO E SAÚDE: uma introdução ao tema.
I. TRABALHO
O que causa esta confusão, e que deve ser esclarecido, é que, ao se falar de
emprego subentendem-se um contrato entre duas partes, o contratante
(empregador) e o contratado (empregado). A Consolidação das Leis do Trabalho -
CLT, nos seus art. 2º e 3º refere:
• Empregador (art. 2º) – “Considera-se empregador a empresa, individual ou
coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e
dirige a prestação pessoal de serviço”;
• Empregado (art. 3º) – “Considera-se empregado toda pessoa física que presta
serviços de natureza não eventual a empregador, sob dependência deste e
mediante salário”;
• Trabalhador - aquele que desenvolve conscientemente a energia física e psíquica
de que dispõe, na transformação da natureza para fins de sobrevivência.
Depois dessa abordagem acerca das definições sobre o trabalho, é importante
analisar a relação homem x trabalho x saúde, ou seja, entender por que o trabalho
é causa de prazer e sofrimento, de salubridade e adoecimento, e de vida e de
morte. A análise desses dicotomismos se dá através de dois elementos:
inicialmente, pela compreensão da forma de inserção do indivíduo no processo de
produção; e, conseguinte, pela percepção do contexto social, cultural, econômico e
político, que se estabelece esta relação. Para o marxismo, a compreensão última
dos processos históricos deve ser buscada na forma pela qual os homens produzem
os meios materiais.
A concepção materialista da história parte do princípio de que a produção, e,
junto com ela, o intercâmbio de seus produtos, constitui a base de toda ordem
social; que em toda sociedade que se apresenta na história, a distribuição dos
produtos e, com ela, a articulação social em classes ou estamentos, se orienta
pelo que se produz e pela forma como se produz, assim como pelo modo de
permuta do que foi produzido. Nessas condições, as causas últimas de todas
as modificações sociais e as subversões políticas não devem ser buscadas na
cabeça dos homens, em sua crescente compreensão da verdade e da justiça
eterna, mas nas transformações dos modos de produção e de intercâmbio,
não se deve buscá-las na Filosofia, mas na Economia da época de que trata
(ENGELS, 1964 apud HATNECHER, 1983, p. 31).
Não é objetivo do texto, fazer uma análise sócio-econômica, por isso a mesma
vai considerar o modelo econômico dominante no mundo, o capitalismo, e quais
os possíveis efeitos e consequências da forma como se estabeleceu o processo e a
organização do trabalho deste modelo na saúde do trabalhador; ou seja, de que
forma os trabalhadores perdem a capacidade de expressarem suas vidas em função
do trabalho que realizam, e, de que forma e por quais mecanismos os problemas
para a saúde materializam-se no interior dos processos de trabalho.
Portanto, a seleção de homens para o trabalho poderia ser feita de uma forma
diferente. Taylor dizia que “não se deveriam procurar pessoas excepcionais para o
trabalho, mas homens comuns apropriados para o tipo de trabalho exigido.
Contudo, se uma pequena parcela do corpo humano era solicitada, porque utilizar
um organismo completo?”. Em verdade, a realidade estatística da investigação de
Ford dava-lhe condições de aprofundar ainda mais a aplicação da seleção
científica:
Esta foi à organização engendrada por Ford (1922 apud FLEURY; VARGAS,
1987, p. 27), onde o trabalho era entendido como fonte de riqueza e, por isso
mesmo, não permitia qualquer desperdício: “não há quase contato pessoal em
nossas oficinas; os operários cumprem os seus trabalhos e voltam logo para os seus
lares. Uma fábrica não é um salão de conferências”.
Outra dimensão do fordismo é sua extensão a sociedade, ou seja, o
surgimento de um número relativamente elevado de novas tecnologias e o
aparecimento de novos produtos resultou em transformações radicais na estrutura
produtiva dos principais países capitalistas, demandando a existência de mercados
de massa, para absorver a crescente produção de bens, assim como, a criação de
um novo modelo de consumo e uma transformação do estilo de vida da sociedade.
Costa e Costa (1999) relatam que o modelo de produção taylorista-fordista
possibilitou a vinculação dos ganhos de produtividade ao crescimento do poder
aquisitivo dos assalariados. No período posterior a 2ª guerra mundial os países da
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)
experimentaram trinta anos de grande e regular crescimento econômico, gerando
um elevado padrão de vida para a população desses países. Contudo, em meados
de 1970, surgiram indícios de que o modelo de desenvolvimento industrial de
caráter fordista começava a enfrentar sérias dificuldades em sua reprodução. No
âmbito da estrutura produtiva, as formas organizacionais tayloristas/fordistas não
conseguiam mais obter ganhos de produtividade devido aos limites técnicos à
fragmentação do trabalho. Além disso, a insatisfação dos trabalhadores
manifestadas no absenteísmo, nas sabotagens e nas greves tornou-se freqüente,
nos países desenvolvidos, acarretando perdas à produção industrial. No contexto
social, o modelo de desenvolvimento vigente passou a ser questionado tanto pelos
danos causados ao meio ambiente, devido ao uso predatório dos recursos naturais,
quanto pela massificação dos hábitos de consumo; e, no âmbito econômico, houve
desaceleração no crescimento dos mercados dos setores industriais que formavam
a base desse padrão de desenvolvimento industrial. A crise que se apresentou
estaria relacionada a alguns fatores estruturais, como por exemplo, às dificuldades
de elevação da produtividade, que teriam atingido o seu limite, ou seja, não seria
possível intensificar mais o ritmo de trabalho, em função da resistência dos
trabalhadores; as tarefas já teriam sido analisadas e fragmentadas à exaustão, e as
linhas de montagem teriam alcançado satisfatoriamente seu equilíbrio (COSTA;
COSTA, 2000, p. 239).
Segundo Abrahão e Pinho (2002), o mundo do trabalho encontrava-se na
segunda metade do século passado, sob um processo de reestruturação produtiva e
organizacional (tentativa de incorporar inovação tecnológica: automação,
microeletrônica, etc. com flexibilização e gestão participativa) cujas inflexões
apontavam para o esgotamento do modelo taylorista-fordista, estabelecendo novos
cenários produtivos. Verardo (2004) destaca como mais importante novidade
produtiva o toyotismo, que surgiu no Japão após a II Guerra Mundial, mas só a
partir da crise capitalista da década de 1970 é que foi caracterizado como filosofia
orgânica da produção industrial (modelo japonês) adquirindo projeção global.
O Japão foi o berço da automação flexível pois apresentava um cenário
diferente dos Estados Unidos e da Europa: um pequeno mercado consumidor,
capital e matéria-prima escassa, e grande disponibilidade de mão-de-obra não-
especializada, que impossibilitavam a solução taylorista-fordista de produção em
massa. Para Costa e Costa (2000, p. 241), a novidade radical que se apresenta na
área do processo de trabalho constitui-se em um novo princípio de organizar a
produção, mediante ao que se denominou “sistema just-in-time”. Neste sistema, a
produção só é realizada a partir de pedidos preexistentes, ao contrário, do de
produção em massa. O objetivo deste método é o de aumentar a eficiência e evitar
qualquer desperdício, pois, assim se consegue elevar a produtividade e reduzir
custos. Nessa ótica, trabalho executado e que não foi demandado não agrega valor
e é fonte de elevação de custos.
Para atingir esse objetivo os japoneses investiram na educação e qualificação
de seu povo, pois esse sistema requer um trabalhador com um mínimo de
escolaridade, capaz de ler e entender instruções, transmitir informações e ser
participativo no processo de produção. Entretanto, a lógica da extração de
excedente na se altera ao passar do modelo taylorista/fordista para o toyotismo, o
que altera é a forma, ou seja, na produção em massa os aumentos de produtividade
ocorrem através da especialização do trabalhador, e no método just-in-time o
aumento de eficiência se dá pela desespecialização do trabalhador, transformando-
o em operário polivalente, capaz de monitorar simultaneamente várias máquinas e
executar tarefas diferenciadas (COSTA; COSTA, 2000, p. 241).
Para Verardo (2004), sob a égide da flexibilidade os produtos do trabalho são
voltados para atender as particularidades do mercado em vez de produzir de forma
padronizada como o modelo anterior. Entretanto, para esse autor, a introdução da
flexibilização também serviu e serve para desregulamentar direitos trabalhistas
historicamente adquiridos pela classe trabalhadora. Portanto, as transformações
que se processam no mundo do trabalho evidenciam um novo paradigma de
organização das relações econômicas, sociais e políticas. Esse paradigma com
diferentes denominações: mundialização, globalização, terceira revolução industrial
e tecnológica se apóia, fundamentalmente, na conjugação de abertura de mercados
e no desenvolvimento acelerado da tecnologia da microeletrônica. Nesse sentido, a
evolução tecnológica (ancorada no binômio, melhoria dos produtos e diminuição
dos custos) está presente em todas as esferas da produção, provocando alterações
nas configurações industriais, nos padrões tecnológicos e no perfil das organizações
(ABRAHÃO; PINHO, 2002).
Laranjeira (2000) sugere uma reflexão sobre as conseqüências da realidade
organizacional nos dias atuais, e que se faz preocupante: altas taxas de
desemprego, intensificação do ritmo de trabalho, crescimento do trabalho
temporário e de tempo parcial, polarização em termos de qualificação e para os que
permanecem no emprego a chamada “síndrome dos sobreviventes” (angústia e
medo, sentimentos que acompanham os não demitidos). Novas tecnologias podem
ser exploradas em suas dimensões positivas como na eliminação das funções
rotineiras, repetitivas e degradantes, fonte de doenças e de insatisfação, tanto na
esfera do trabalho fabril quanto na esfera dos serviços; ou como na realização de
um trabalho polivalente, multifuncional, favorecendo a utilização do pensamento
abstrato, permitindo uma maior interação do trabalhador com a máquina, já que o
trabalho informático supõe essa interação. Sobretudo, haveria a possibilidade de
reduzir ainda mais o tempo de trabalho necessário ao ganho para sobrevivência. No
decorrer desse processo de mudanças guiado pelas inovações tecnológicas e pela
chamada globalização, parece ter se consolidado a crença de que tais fenômenos
vieram para ficar, que seus efeitos são cumulativos e tendem a configurar uma
nova dinâmica social, ainda que ajustes venham a ser feitos e que algumas
realidades, hoje observadas, possam ser modificadas. É certo que esse quadro
define-se como tendência e corre-se o risco de superestimar o volume de
transformações, esquecendo as forças que permanecem. Entretanto, essa ressalva
não desqualificaria o argumento. Da mesma forma, embora as altas taxas atuais de
desemprego não representem o fim do trabalho, há que se admitir que a natureza
do desemprego e as novas modalidades de trabalho redefinem aspectos centrais da
vida social. As mudanças que o mundo do trabalho presencia não podem, portanto,
ser subestimadas ou tratadas sob um ponto de vista socialmente superado. Nesta
perspectiva, discute-se se estaríamos ingressando numa nova sociedade.
CÁRCERES, F. História Geral. 4 ed. rev. ampl. e atual. – São Paulo: Moderna, 1996.