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Ética no esporte e na

psicologia do
esporte: reencontrando
caminhos
Ética en el deporte e en la psicología del deporte: reencontrando
caminos
Ethics in sports and sport psychology: rethinking new paths

Faculdade de Educação Física - UNICAMP Pedro José Winterstein


(Brasil) winterstein@fef.unicamp.br

Resumo
A temática ética no esporte, em geral, ou na psicologia do esporte, em específico, parece não ser de muita
relevância investigativa, principalmente quando examinamos os poucos trabalhos publicados no Brasil sobre o
assunto. Este trabalho tem o objetivo de verificar junto aos profissionais que atuam como psicólogos esportivos,
a sua visão sobre os aspectos éticos da atuação profissional, fazendo uma análise dos pressupostos teóricos
implícitos e explícitos em suas manifestações. Tratando-se de um estudo qualitativo e exploratório, foram
realizadas quatorze entrevistas fechadas, enviadas por correio eletrônico, com profissionais que atuam como
psicólogos do esporte. Abordo em primeiro lugar, o conceito de Ética, trazendo para o diálogo alguns autores
contemporâneos da filosofia. Em seguida trato da ética no esporte, apresentando exemplos advindos do
esporte e que nos impelem a uma reflexão da ética neste contexto. Em terceiro lugar procuro responder a
serviço de quem está a Ética (na Psicologia do Esporte), dialogando com os dados das entrevistas e o
referencial teórico desenvolvido anteriormente. É possível teoricamente identificar duas concepções de ética
distintas, uma na qual nos tornamos meros repetidores de normas estabelecidas previamente e nos
submetemos a elas, não pelo seu conteúdo moral, ou seja, por achá-las justas, mas sim, porque outras pessoas
as determinaram e, uma segunda, na qual o ator é um sujeito consciente de si e dos outros, é dotado de
vontade e responsável, isto é reconhece-se como autor da ação , é livre, ou seja, capaz de oferece-se como
causa interna de seus sentimentos atitudes e ações. Ao confrontar os dados provenientes das entrevistas com
os conceitos teóricos de ética, é possível afirmar que há uma preocupação moralista e normativa, agravada por
uma forte carga de ingenuidade. Neste sentido, pelo que se pode depreender das discussões realizadas, é
necessário repensar a ética na Psicologia do Esporte.
Unitermos: Psicologia do esporte. Ética. Atuação profissional.

Resumen
La temática ética en el deporte, en general, o en la Psicología del deporte, en especial, parece no ser de mucha
relevancia investigativa, principalmente cuando examinamos los pocos trabajos publicados en Brasil sobre el
asunto. Este trabajo tiene como objetivo verificar junto a los profesionales que actúan como psicólogos del
deporte, su visión sobre los implícitos y explícitos en sus manifestaciones. Tratándose de un estudio cualitativo
y exploratorio, fueron realizadas catorce entrevistas cerradas, enviadas por correo electrónico, con profesionales
que actúan como psicólogos del deporte. Abordo en primer lugar, el concepto de Ética, trayendo para el diálogo
algunos autores contemporáneos de la filosofía. Enseguida trato de la ética en el deporte, presentando
ejemplos venidos del deporte y que nos llevan a una reflexión de la ética en este contexto. En tercer lugar
procuro responder al servicio de quién está la ética (en la Psicología del Deporte), dialogando con los datos de
las entrevistas y el referencial teórico desarrollado anteriormente. Es posible teóricamente identificar dos
concepciones de ética distintas, una en la cual nos tornamos meros repetidores de normas establecidas
previamente y nos sometemos a ellas, no por su contenido moral, o sea, por encontrarlas justas, mas si,
porque otras personas las determinaron y, una segunda, en la cual el actor es un sujeto conciente de sí y de los
otros, es dotado de voluntad y responsable, esto es se reconoce como autor de la acción, es libre, o sea, capaz
de ofrecerse como causa interna de sus sentimientos actitudes y acciones. Al confrontar los datos provenientes
de las entrevistas con los conceptos teóricos de ética, es posible afirmar que hay una preocupación moralista y
normativa, agravada por una fuerte carga de ingenuidad. En este sentido, por lo que se puede desprender de
las discusiones realizadas, es necesario repensar la ética en la Psicología del Deporte.
Palabras clave: Psicología del deporte. Ética. Actuación profesional.

Abstract
The theme ethic in sports, in general and psychology of sports, in specific, seems to be irrelevant as a subject
to be investigated, particularly when we examine the small number of papers published dealing with this
subject in Brazil. This study aims at identifying the vision of ethic aspects of professional performance of those
who work as sport psychologist through the analysis of implicit and explicit theoretical principles expressed by
this professional group. Considering that this study was based upon the qualitative and exploratory research
methods, 14 closed interviews were sent by e-mail to professionals who work with psychology of sport. The first
part of this paper explored the concept of ethics by bringing contemporaneous authors in the philosophy field.
This approach was followed by sports ethics by taking examples from the sport arena that takes us to reflect on
this subject considering this context. Thirdly, the study tried to answer to whom the actual sport ethic aspects
are supposed to serve by establishing a dialogue between the interviews' findings and the conceptual frame of
reference adopted. It was possible to infer that, theoretically there are two distinct conceptions. The first one
we tend to repeat norms previously established that we are subject to due not to its moral content, that is, by
considering them fair but because other people determine them. The second one, the actor is the subject and
conscious of him/herself and others; has will and responsibility, considering him/herself as the author of action
and free, that is, the person is able to offer him/herself moved by an internal cause based on feelings, attitudes
and actions. When data from interviews were confronted with ethics basic theoretical concepts, it was possible
to affirm that there was a moralist and normative concern, aggravated by a strong load of ingenuity. In this
sense, based upon discussion on collected data, it was possible to deduct that it is necessary to rethink ethics in
sport psychology.
Keywords: Sport Psychology. Ethics. Professional performance

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 76 - Septiembre de 2004

1/1

Introdução

O tema ética no esporte, em geral, ou na psicologia do esporte, em


específico, parece não ser de muita relevância investigativa, principalmente
quando examinamos os poucos trabalhos publicados no Brasil sobre o assunto.
Deve haver diversas justificativas para este fato. Dentre elas, por se tratar da
interdisciplinaridade de duas áreas da Ciência que possuem, individualmente,
questões ainda por resolver, desde aquelas ligadas a aspectos epistemológicos
até as de intervenção social.

Trata-se, no entanto, de importante assunto que tem conseqüências


práticas, tanto na formação profissional, quanto na intervenção social, nas
áreas da Psicologia do Esporte e da Educação Física Esporte.

Este trabalho tem o objetivo de verificar junto aos profissionais que atuam
como psicólogos esportivos, a sua visão sobre os aspectos éticos da atuação
profissional, fazendo uma análise dos pressupostos teóricos implícitos e
explícitos em suas manifestações.

Como referencial teórico abordo em primeiro lugar, O conceito de Ética,


em que procuro trazer para o diálogo alguns autores contemporâneos da
filosofia e sua visão sobre o assunto. Em seguida trato da Ética no esporte.
Apresento exemplos vindos do esporte e que nos impelem a uma reflexão da
ética neste contexto, principalmente sob a ótica da Psicologia do Esporte. Em
terceiro lugar está a Ética (na Psicologia do Esporte) a serviço de
quem? Tomando os referenciais teóricos anteriormente desenvolvidos Reflito
sobre a ética na Psicologia do Esporte hoje, tanto do ponto de vista da
Pesquisa, quanto da intervenção, dialogo com os resultados obtidos no trabalho
de campo, dando indícios de que esta ética que aí está precisa ser revista e
reeditada.

Este estudo pode ser caracterizado como qualitativo e exploratório pois


permite "ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado
problema" e "pode servir para levantar possíveis problemas de pesquisa"
(TRIVIÑOS, 1987: 109). É esperado, portanto, um recorte dos aspectos éticos,
do ponto de vista dos psicólogos esportivos, que possa não só desvelar um
panorama da área, como também suscitar novos problemas de pesquisa.

Para a coleta de dados elaborou-se um questionário constituído de quatro


questões abertas, dirigidas a 14 psicólogos esportivos1 , escolhidos dentre
profissionais da área. Estes foram contatados, por via eletrônica, e solicitados a
responder as seguintes perguntas:

1. Quais aspectos éticos você considera importantes na área da


Psicologia do Esporte.
2. Aponte 3 aspectos positivos e três aspectos negativos que você
observa na atuação ética de Psicólogos Esportivos.
3. Quais princípios éticos os psicólogos esportivos devem considerar
em sua atuação profissional?
4. Você considera importante o comportamento ético na sua atuação
profissional? Porque?

Por fim, no que intitulo Por um comportamento ético na Psicologia do


Esporte, pontuo minhas considerações finais na forma de alguns aspectos que
devem e precisam ser considerados na construção de uma ética na Psicologia
do Esporte.

O conceito de Ética

Penso que seja necessário, em primeiro lugar, porque isto me parece


fortemente cunhado no pensamento profissionalizante, refletir sobre o que não
é ética. Ética não é reserva de mercado. Ética não é pretexto para esconder
mazelas profissionais e irresponsabilidades de pares. Ética também não é o
simples filosofar e induzir a dúvidas. "Ética, enfatize-se, desserve apenas para
adornar a retórica; é algo que pode e deve pautar a conduta de um ser
consciente" (ALONSO, 2002: 83).

Retomemos pois alguns conceitos clássicos de ética. Ética deriva do grego e


significa em sua grafia original "costumes". Estamos falando, portanto, do
comportamento humano, vinculado a um determinado grupo, ambiente ou
cultura.

Há vários autores que consideram ética e moral como sinônimos,


conceituando ética como a Ciência da Moral, e a moral sendo, portanto, objeto
da Ciência Ética. Isto se justifica, a partir da origem grega de ethos e latina de
mores que aparentemente tem o mesmo significado.

Ribeiro (2002) enfatiza que "quando falamos de ética (ou moral),


consideramos as ações humanas do ponto de vista de aprová-las ou censurá-
las" (p. 122), e mais adiante: "A ética examina a ação e não o conhecimento.
Os atos podem ser morais ou imorais, mas o mesmo não se pode dizer do que
conhecemos" (RIBEIRO 2002: 122). O mesmo autor, assim como Chauí (2002),
enfatiza ainda a necessidade da ética lidar com a ação livre. A vontade é poder
deliberativo do agente moral, "não pode estar submetida à vontade de um
outro nem pode estar submetida aos instintos e às paixões, mas ao contrário,
deve ter poder sobre eles e elas" (RIBEIRO 2002: 123).
É necessário considerar ainda que as ações livres são avaliadas e que há
sobre elas um juízo de valor. Ribeiro (2002: 125) lembra que podemos "avaliar
as ações segundo um metro fixo, definitivo, absoluto: são boas ou más". Cabe
refletir se este metro fixo é válido de forma permanente e irrefutável, ou se os
valores em que se baseia não são válidos somente "enquanto instituídos por
um sujeito livre e humano (que é avaliador), e, portanto, mudam" (RIBEIRO
2002: 125).

Quando optamos pela primeira alternativa tornamo-nos meros repetidores


de normas estabelecidas previamente e nos submetemos a elas, não pelo seu
conteúdo moral, ou seja, por achá-las justas, mas sim, porque outras pessoas
as determinaram.

Apontar para a segunda concepção de ética significa escolhermos a


construção da ética pautada no exercício da cidadania ativa ou emancipatória,
onde temos como ator um sujeito ético ou moral que deve atender aos
seguintes pressupostos:

 ser consciente de si e dos outros, isto é ser capaz de reflexão e de


reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a
ele;
 ser dotado de vontade, isto é, de capacidade de controlar e
orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que
estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade
para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
 ser responsável, isto é reconhecer-se como autor da ação, avaliar
os efeitos e conseqüências dela sobre si e sobre outros, assumi-la
bem como às suas conseqüências, respondendo por elas.
 Ser livre, isto é, ser capaz de oferece-se como causa interna de
seus sentimentos atitudes e ações, por não estar submetido a
poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer
e a fazer alguma coisa (CHAUÍ, 2002: 337-338).

O que esperar, então, do sujeito ético no esporte e na psicologia do esporte


na atualidade?

Acredito ser necessário um amplo movimento, principalmente daqueles


segmentos interessados no desenvolvimento do esporte, e aqui destaco o
nosso importante papel enquanto sociedade científica, no sentido de se pensar
uma ética para a psicologia do esporte pautada no sujeito consciente, dotado
de vontade, responsável e livre, e que enxergue seu mundo pessoal e social
através das lentes da cidadania emancipatória, ou seja, que seja pautada na
conquista e não na concessão de um Estado patrimonialista, que seja pautada
também na autonomia, enquanto "posição de sujeitos (sociais, éticos, políticos)
pela ação efetuada pelos próprios sujeitos enquanto criadores de leis e regras
da existência social e política" (CHAUÍ, 1989: 302).
Ética no esporte

Não nos faltam discussões a respeito da ética no esporte, pelo menos no


mundo das torcidas e da mídia. Podemos acompanhar diariamente, nos
comentários pelas ruas ou pelos jornais, escritos, falados e televisionados
assuntos pertinentes à moral e à ética nos esportes. Poderíamos arrolar
centenas de fatos que suscitariam polêmicas discussões a respeito. Vou lembrar
algumas delas, a começar pela Comissão Parlamentar de Inquérito do Futebol,
as supostas falcatruas da Confederação Brasileira de Futebol, os chamados
"gatos" do esporte, que falsificam carteiras de identidade para tirar proveito de
uma idade menor, Rubinho ter que deixar Schumacher passar à frente para
somar mais pontos no Mundial de fórmula 1 em 2003, ou ainda, a descoberta
constante do uso de anabolizantes por parte de atletas de alto nível. A mídia
prega a todo instante chavões morais e de fair play, quando ela mesma, na
prática profissional de seus agentes, usa de meios inescrupulosos para manter
seus níveis de audiência. O canibalismo da disputa pelos direitos de transmissão
do futebol, por exemplo, não condiz com os princípios do fair play, como
Bento.já nos chama a atenção quando diz que as emissoras de televisão
"zurzem o desporto pelo atropelo de princípios éticos" enquanto que "na
disputa pelas quotas de vendas e audiências fogem do plano do fair play como
o diabo da cruz e não parecem nada incomodados com isso (s.d.: 7).

Estes fatos, entretanto, parecem causar cada vez menos espanto e


indignação às pessoas, inclusive a ponto de os responsáveis, ao serem
julgados, quer pela opinião pública, quer pela justiça esportiva ou comum,
serem declarados inocentes. Os atos cometidos passam, então, a ser
considerados normais e incorporados aos usos e costumes vigentes e, por
analogia, passam a ser éticos.

Como vimos anteriormente, a ética não é estanque e rígida porque os


valores humanos não o são. O esporte fica então na encruzilhada, entre o que
Bento denomina, teoria moral: "um sistema de normas e princípios ancorados
numa ética descritiva e normativa, destinada a balizar a actuação individual" (p.
8), a tradição moral: que "evoca a moral vivida no passado, válida e vigente
até o momento de colisão com imposições e interesses do presente" (Bento,
s.d.: 8) e a moral viva: que "inspira e emerge do comportamento atual. Não é
uma criação do livre arbítrio, porquanto se baseia em experiências e convicções
individuais" (Bento, s.d.: 8) e que evoca novamente a questão da liberdade do
indivíduo.

Resta-nos avaliar alguns pontos contraditórios para delinear novas


perspectivas para uma ética no esporte.

Temos um esporte que se profissionaliza cada dia mais e se submete às


regras do mercado do trabalho economicamente produtivo e que, se por um
lado se distancia da puritana ética protestante do trabalho, por outro, e pelos
mesmos motivos, cerceia as liberdades individuais, o livre arbítrio e a
possibilidade do ser humano se reconhecer no produto de seu próprio trabalho,
cedendo lugar aos interesses do rendimento individualista, das vantagens
econômicas e da perversidade da desestruturação trabalhista. Quais são as
preocupações éticas com o fim da carreira esportiva? Os segmentos sociais que
cuidam do esporte estão preocupados em como será a vida dos cidadãos, que
lutaram vários anos para melhorar e manter altos índices de performance,
estiveram no foco da mídia e, de repente, vivem no anonimato e muitas vezes
na miséria?

Não quero me referir apenas ao âmbito do alto rendimento, que é sem


dúvida o desaguadouro de inúmeras mazelas éticas, mas também à iniciação
esportiva e à descoberta de talentos.

Cito, como exemplos, dois temas importantes: Um que diz respeito ao papel
dos pais. Até que ponto pode se considerar ética a participação dos pais no
desenvolvimento esportivo de seus filhos. Os pais estão conscientes e
conversam com seus filhos a respeito das conseqüências positivas e negativas
da prática esportiva? Os pais permitem a livre escolha da prática esportiva de
seus filhos? As crescentes expectativas de trabalho no esporte, criadas por pais
e filhos, que levam ao sonho da riqueza e do sucesso, são compatíveis com a
realidade do mundo esportivo?

O outro tema é o das assim denominadas "peneiras", que freqüentemente


mandam de volta para casa centenas de jovens decepcionados e frustrados por
não terem conseguido um "lugar ao sol", como a que vimos recentemente na
televisão, no caso específico do futebol, inclusive com a participação de
renomados técnicos nacionais.

Quem se "pre-ocupa" e ocupa com todos aqueles que passaram pelas


grossas redes da peneira? Quais são os reflexos deste descarte?

Parece-me que a Psicologia tem um papel ético fundamental neste e em


muitos outros temas que dizem respeito ao esporte. Enquanto área que se
dedica ao estudo das emoções e dos sentimentos humanos, sua função me
parece primordial na condução isenta e responsável de ações que minimizem o
sofrimento humano no esporte. Não basta discutir modernas técnicas
psicológicas para a melhoria da performance no esporte, se não centrarmos
nosso esforços no ser humano que o pratica.

Ética (na Psicologia do Esporte) a serviço de quem?

Vivemos momentos de mudanças sociais exacerbadas e ágeis que afetam as


tecnologias, os hábitos, as profissões e, como não poderia deixar de ser, o
esporte.

A Psicologia do Esporte, enquanto uma área que deve buscar a melhoria das
condições humanas da prática esportiva não está, é claro, alheia às mudanças
do contexto esportivo nacional e internacional. Se por um lado, de certo modo,
ela se aproveita deste importante crescimento do fenômeno esportivo
contemporâneo, de outro, o ignora.

Na Psicologia do Esporte, seja no âmbito da pesquisa, quer no da


intervenção ou da formação profissional, deve-se estar atento às formulações
preestabelecidas que determinam os denominados "procedimentos éticos"
reguladores das relações profissionais entre os sujeitos envolvidos.

Neste sentido, é necessária uma discussão crítica e madura que não se


restrinja à reserva de mercado ou à imposição de regras cartoriais.

No momento em que boa parte das investigações - responsáveis e de


qualidade - sobre psicologia do esporte tem sua origem em núcleos de pesquisa
da Educação Física e Esporte, parece não ser justa a acusação de desvio
profissional imputada a seus participantes.

Não basta, portanto, submeter projetos de pesquisa às respectivas


comissões de ética, quando os interesses, tanto dos membros destas
comissões, quanto dos próprios investigadores, se pautam em critérios muitas
vezes escusos e corporativistas.

No trabalho de intervenção na Psicologia do Esporte já nos surpreendemos


com inúmeros fatos que, embora tenham a participação de profissionais tidos
como habilitados, se mostraram constrangedores para seus personagens,
principalmente atletas, inclusive olímpicos, além de ludibriar a opinião pública.
Contratar psicólogos em fase final de campeonato dá a impressão de que
aspectos psicológicos são os responsáveis únicos e exclusivos pelo bom
desempenho esportivo, acobertando, às vezes outros problemas muito mais
relevantes, além de que, a necessidade de respostas rápidas possa atribuir à
psicologia, equivocadamente, efeitos "esotéricos e miraculosos".

Será ético anunciar a Psicologia como ferramenta milagrosa contra os males


da baixa performance de um indivíduo ou de uma equipe? Ou ainda, a
Psicologia do Esporte não se isenta, a partir de sua intervenção, dos aspectos
psicológicos mais gerais do sujeito esportista?

Até que ponto é ético o treinamento psicológico de controle da dor no


esporte? Qual é o grau de liberdade dado ao sujeito esportista na decisão sobre
o trabalho psicológico, principalmente naquelas modalidades esportivas
caracterizadas pelo autoritarismo e pelos contratos rígidos? Como os psicólogos
esportivos vêem alguns aspectos éticos em sua área de atuação

Quando perguntados sobre quais aspectos éticos consideram importantes na


área da Psicologia do Esporte os profissionais respondentes desta pesquisa se
manifestaram da seguinte forma:
"O sigilo é importante, o respeito e a relação somente profissional, estudar
e procurar prestar o seu serviço da melhor maneira possível, ser claro e
honesto em relação aos seus objetivos no seu trabalho".

"Os princípios éticos da Sociedade Internacional de Psicologia do Esporte


(ISSP) estão contidos no código de ética do Psicólogo e eu considero todos
importantes para o exercício da profissão".

Pode-se verificar, portanto uma preocupação, de um lado moralista e


normativa, agravada por uma forte carga de ingenuidade, e por outro,
mencionam-se conceitos bastante vagos de sigilo e honestidade.

Conforme argumenta Ribeiro (2002), a crença de que existe uma tábua de


valores pronta e acabada é uma questão fundamental na discussão da ética e
da moral. Assume-se como verdade a norma estabelecida por outros, excluindo
"qualquer dignidade humana no sentido de ser o homem quem pauta sua
aventura neste mundo: ele, melhor dizendo, nós, passamos de meros
repetidores de escolhas e definições que nos antecedem" (RIBEIRO, 2002:
126).

Baseando-se nesta concepção corre-se o risco de não se conseguir


"distinguir quem cumpre a lei por acha-la justa, ou por achar justo obedecer a
ela, e quem obedece a ela somente por medo do castigo" (RIBEIRO, 2002:
126), ou ainda nas palavras de Alonso (2002) "o homem é um ser dotado de
um órgão ética que opera com liberdade" (p. 93).

O senso comum parece tomar conta das preocupações éticas, não se


notando um aprofundamento teórico que pudesse denotar uma postura mais
crítica e autônoma diante do problema. Conforme se poderá observar,
respostas pouco fundamentadas ou carentes de bases teóricas, permeiam
também os relatos seguintes.

Interpelados a apontar três aspectos positivos e três aspectos negativos que


consideram ligados ao comportamento ético de Psicólogos Esportivos, citam,
como pontos positivos, a par da dificuldade em enumerá-los, aspectos mais
gerais da profissão. De um lado, os aspectos éticos positivos são atrelados à
atualização e aperfeiçoamento profissional, conforme se pode verificar na
seguinte resposta:

"Os profissionais estão procurando se especializar, a atuação do Psicólogo


do Esporte deve estar melhor do que no início da Psicologia do Esporte aqui no
Brasil".

Por outro lado, surge a alentadora preocupação, ainda que tênue, em dar
voz ao sujeito esportista buscando seu consentimento nas técnicas psicológicas
utilizadas. Um dos respondentes coloca como aspecto positivo, "priorizar o
respeito ao cliente como ser humano, deve haver honestidade e humildade no
reconhecimento dos próprios limites, observação do sigilo profissional e o
consentimento dos clientes com relação às práticas pertinentes".

Reforça-se, portanto, a idéia da "ética que lida com um tipo de ação, que é a
ação livre" (RIBEIRO, 2002: 123). Talvez seja este um aspecto de extrema
relevância na Psicologia do Esporte e que nos remete à dúvida do quanto,
atletas e técnicos, estão conscientes do que, realmente, significa um
acompanhamento psicológico no esporte (SAMULSKI, 2002).

As respostas referentes aos aspectos negativos mostram também uma


discussão bastante acirrada nos últimos tempos, acerca da delimitação da
atuação profissional não só na psicologia em geral mas, principalmente, entre
professores de educação física / técnicos e psicólogos do esporte. A visão
corporativa, predominante nos conselhos profissionais de diversas áreas não é
diferente na Psicologia do Esporte, conforme se observa no depoimento
seguinte:

"Há uma confusão entre a atuação do Educador Físico e do Psicólogo do


Esporte, Perdidos em relação a sua atuação, o que faço e como faço, alguns
Psicólogos do Esporte estarem envolvidos pessoalmente com profissionais do
seu campo de trabalho, isto é, com o seu próprio atleta, por exemplo, os
profissionais ainda não estão especializados, até engenheiro pode ser Psicólogo
do Esporte".

Há, de forma recorrente, um desconforto causado pela necessidade de sigilo


por parte do psicólogo e que interfere na comunicação com quem, via de regra,
tem o contato direto com o atleta, ou seja, o técnico, já que muitos psicólogos
trabalham apenas numa fase de diagnóstico, não atuando com intervenção
direta, observado na seguinte resposta:

"o sigilo retarda um pouco o desenvolvimento de certas situações, já que o


atleta pode trazer informações ao psicólogo que, se fossem passadas ao
treinador, ajudariam o mesmo a compreender melhor o comportamento do
atleta".

O conceito de "sigilo profissional" pode ter várias interpretações. Pode tratar-se


de sigilo nas informações colhidas na intervenção junto ao sujeito esportista,
que portanto são confidenciais, e não devem ser transmitidas a outras pessoas,
mas também pode se referir à omissão de informações em situações de erro,
falha ou exercício inadequado da profissão.

Quando pergunto sobre quais princípios éticos os psicólogos esportivos


devem considerar em sua atuação profissional as respostas repetem o que já
havia sido mencionado na primeira pergunta, ou então os respondentes se
remetem aos mesmos princípios éticos de outras áreas da psicologia.

Há, portanto, a ratificação da necessidade e importância de princípios éticos


enquanto normatização externa e também da visão romântica (e ingênua) de,
por exemplo, "prestar o seu serviço da melhor maneira possível", e que a
norma rígida da ética não prevê acomodações possíveis que possam incluir
especificidades nos diversos campos de atuação.

Volto a um ponto recorrente e que parece ser central nesta discussão. Há


uma visão predominante e equivocada da necessidade normativa e que Ribeiro
(2002) contesta ao afirmar que "não podemos mais propor um rol do que é
certo e do que é errado, a fim de que as pessoas simplesmente o repitam em
suas vidas" (p. 144).

Quando interpelados quanto à importância do comportamento ético na


atuação profissional fica claro, novamente, que a ética, ou aquilo que os
profissionais da área entendem por ética, é alguma coisa que, antes de ser
vista como ampliadora de horizontes, ponto de partida, disseminadora de
perspectivas profissionais é delimitadora, cerceadora, fiscalizadora e se destina,
principalmente, a resolver problemas e dilemas advindos da má conduta
profissional.

A responsabilidade social, que poderia ser uma preocupação ética legítima


dos psicólogos do esporte, é vista como possível atrelagem a normas pré-
estabelecidas, conforme se verifica na seguinte afirmação:

"...a ética delimita, de forma positiva, a atuação profissional, controlando


excessos que possam advir da conduta dos maus profissionais, atuar dentro do
seu campo de conhecimento, respeitar os clientes, respeitar outros
profissionais, procurar desenvolver a profissão, ter responsabilidade social".

Neste sentido, pelo que se pode depreender das discussões realizadas, é


necessário repensar a ética na Psicologia do Esporte. Isto significa, inicialmente,
um esforço de reavaliação da ação profissional ética desprendido de idéias
corporativas e normativas.

Por um comportamento ético na Psicologia do Esporte

Um comportamento ético na Psicologia do Esporte deve se constituir, a partir


do domínio do conhecimento, para a melhoria da condição humana e não da
simples melhoria da performance.

Um comportamento ético na Psicologia do Esporte deve se pautar no sujeito


moral e não na visão absoluta e determinista das normas pré-estabelecidas.

Edgar Morin, em seu texto A ética do sujeito responsável, afirma: "A


restauração do sujeito comporta a exigência do auto-exame, a consciência da
responsabilidade pessoal, e o encargo autônomo da ética (auto-ética)" (MORIN,
2000).
O mesmo autor apresenta ainda algumas idéias-guia que a ética política
deveria conter. Aproveito-me de quatro delas para reforçar o meu ponto de
vista do que é necessário a uma Ética na Psicologia do Esporte.

A ética da religação

A noção de religação engloba tudo aquilo que faz comunicar, associar,


solidarizar e fraternizar; ele se opõe a tudo que fragmenta, desloca, disjunta
(corta qualquer comunicação), reduz (ignorância do outro, do vizinho, do
humano, egocentrismo, etnocentrismo). A religação deve ser concebida como a
religião do que religa, fazendo frente à barbárie que divide" (MORIN, 2000: 72).

Sugiro, então, em prol do avanço científico, tecnológico e humanizador da


área, um pensar na religação. A união de esforços, de conhecimento, de
pessoas e profissões. Diferente do esforço capitalista e atomizador que imputa
aos seres humanos que é necessário suplantar o outro a qualquer preço. A
vitória no esporte, neste sentido, não deve estar vinculada à trapaça, à
humilhação, à falta de solidariedade, à arrogância. A vitória deverá, quando
ocorrer, ensinar, isto sim que ela somente é possível pelo esforço coletivo de
muitos.

A ética do debate

"A regra do debate é inerente às instituições filosófica, científica e


democrática. A ética do debate vai mais longe ainda: exige a primazia da
argumentação e a rejeição da anatematização. Longe de descartar a polêmica,
ela a utiliza, mas rejeita todos os meios vis, todos os julgamentos de
autoridade, assim como quaisquer tipos de rejeições pelo desprezo, quaisquer
insultos sobre as pessoas" (MORIN, 2000: 73).

Princípios éticos na Psicologia do Esporte não devem, portanto, formular


julgamentos de autoridade, que sirvam para encobrir erros, desprezar ou
insultar profissionais: pesquisadores, psicólogos ou técnicos, mas que também
não optem pelo silêncio medíocre da conivência. As imposições devem dar lugar
ao diálogo aberto e responsável, sempre privilegiando, não só o sujeito que
pratica esporte, como também, os profissionais envolvidos no meio-ambiente
esportivo.

A ética da compreensão

"A compreensão é complementar à explicação; esta utiliza os métodos


adequados para conhecer os objetos enquanto objetos, e tende sempre a
desumanizar o conhecimento dos comportamentos sociais e políticos; a
compreensão permite conhecer o sujeito enquanto sujeito e tende sempre a re-
humanizar o conhecimento político. Acrescentemos a isso que a compreensão é
necessária a tudo aquilo que possa tornar as relações humanas menos imbecis
e ignóbeis" (MORIN, 2000: 73).

Por outro lado, não devemos correr o risco de confundir compreensão com
condescendência. O caminho para a compreensão deve ser sempre crítico.

Para estarmos abertos à compreensão devemos nos despojar dos ceticismos


e das certezas absolutas, pecado original da ciência. Se em outras áreas a
compreensão é importante, no lidar psicológico ela é essencial. Precisamos,
portanto, transportar a compreensão, essencial ao nosso agir, para o
comportamento ético. Do mesmo jeito que lidamos com a complexidade dos
fenômenos psicológicos, precisamos lidar com a das relações pessoais e sociais
que envolvem o conjunto profissional da Psicologia do Esporte.

A ética da magnanimidade:

"Contra a ética atroz da vingança e a ética impiedosa da punição, o que


importa é tornar exemplar a ética da magnanimidade. Esta última, ilustrada em
tempos passados pelos atos soberanos de clemência, como o de Augusto por
Cinna, foi ilustrada em tempos recentes por Vaclav Havel que, quando eleito
presidente, afirmou para seus delatores: "Desde o momento que me tornei
presidente forneceram-me a lista de colegas que haviam me denunciado, mas
eu a perdi logo depois do meio dia". "(...) O retorno da barbárie encontra-se
claramente evidente pela renovação do ciclo infernal do ódio impiedoso, que
transforma em inimigos todos aqueles que fazem parte de uma mesma etnia,
religião, classe, nacionalidade, mantendo ativo o ciclo terrorismo/tortura. O
único meio capaz de tentar quebrar esse ciclo infernal é a irrupção da
magnanimidade, da clemência, da generosidade, da nobreza" (MORIN, 2000:
73).

A intolerância tem sido o motivo maior dos conflitos mundiais. A diferença de


etnia, de religião, de nacionalidade, de partido político ou de equipe esportiva
de preferência, é, em muitos casos, a origem das agressões físicas, das
retaliações e de conflitos bélicos. Conviver com a diversidade exige busca pela
compreensão e o entendimento.

Se desejarmos mudar algo em nossas ações, devemos partir, inicialmente,


de uma análise de nossas próprias convicções e, a partir delas, procurar
compreender os outros.

A prática profissional ética, na pesquisa ou na intervenção, não se coaduna


com a intolerância.

Nota
1. Estabeleceu-se como critério para participação na pesquisa que os entrevistados fossem Psicólogos que estivessem atuando
diretamente na intervenção com praticantes de alguma modalidade esportiva.
Referências

 ALONSO, F.R. Requisitando os fundamentos da ética. In: J.A.A.


COIMBRA (Org.). Fronteiras da Ética. São Paulo: Senac, 2002. p.
75-119).
 BENTO, J. Ética e desporto - tradições e contradições. Manuscrito
não publicado. S.d.
 CHAUÍ M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática,2002.
 CHAUÍ, M. Cultura e democracia. São Paulo: Cortez1989.
 MORIN, E. A ética do sujeito responsável. In : E.A. CARVALHO;
M.C. ALMEIDA; N. FIEDLER-FERRARA; N.N. COELHO; E.
MORIN. Ética, solidariedade e complexidade. São Paulo: Palas
Athena, 2000. p. 64-77.
 RIBEIRO, R.J. Ética, política e cidadania: revisitando a vida
pública. In: J.A.A. COIMBRA (Org.). Fronteiras da Ética. São
Paulo: Senac, 2002. p. 121-145.
 SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte. Barueri: Manole, 2002.
 TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais. A
pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

http://www.psicologianoesporte.com.br/valores-no-esporte/

É muito comum ouvirmos nos meios de comunicação sobre as virtudes, os valores, os


legados e a importância do esporte para o desenvolvimento de crianças e jovens.

Estaria sendo hipócrita em dizer que não


acredito no esporte como potencial de desenvolvimento humano. Caso contrário, atuaria
em outra área. Mas, me incomoda certas crenças e mentiras repetidas que se tornam
“verdades absolutas”, como o esporte: molda o caráter, é disciplinador, promove a
cidadania, é educativo por natureza, é absolutamente saudável. Será?

Da maneira que é posta muitas vezes o esporte é visto hoje como um “ente” dotado de
super poderes, capaz de “salvar” a espécie humana de seus pecados e de suas mazelas.
Gosto muito da visão de Pierre Parlebás: “ o desporto não possui nenhuma virtude mágica.
Ele não é em si mesmo nem socializante nem anti-socializante. Ele é aquilo que se fizer
dele. A prática do judô ou do rúgbi pode formar tanto patifes como homens perfeitos,
preocupados com o fair-play.”

O esporte é um simulacro da vida, um é um dos fenômenos sociais que mais alcance


possui, é globalizado. É aceito em todas as culturas e etnias, é político (como um fim e
também com um meio). Existem leis e normas que contempla a prática de esporte para
população em geral, por exemplo, na Constituição do Brasil, no Estatuto da Criança e do
Adolescente no PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Na
maioria das vezes, infelizmente, não é posto em prática essas diretrizes. Há um abismo
entre o que está escrito e o que existe na realidade.

Fair-play? Depende?

É inegável que os feitos sobre-humanos dos grandes atletas e equipes inspiram as


pessoas. Mas e quando certos comportamentos são contraditórios? Ou quando algumas
atitudes são pormenorizadas em função da paixão clubística? E seleções nacionais que
‘fazem corpo mole’ para cruzar com um adversário teoricamente menos expressivo no
decorrer de uma competição?

Vamos aos fatos…O que dizer do “mito”, Lance Armstrong? Sobrevivente de três
cânceres e um dos maiores impostores do ciclismo. Foi banido do esporte por uso
constante de doping. Construiu sua imagem, atraiu multidões e legiões de fãs, através de
uma mentira que veio a tona há pouco tempo. Qual o legado para aqueles que de alguma
maneira se inspiraram em sua trajetória?

O que há em comum entre atacante Barcos, atualmente no Palmeiras e o alemão, Klose,


atleta da Lazio da Itália? O primeiro fez um gol de mão e se revoltou com o juiz quando o
mesmo anulou o lance. O segundo, ao fazer o gol de mão avisou ao juiz que havia feito de
maneira irregular. Dois lances parecidos, mas que renderam muitos comentários prós e
contras de ambos os lados. Muitos torcedores do Palmeiras defenderam o atacante,
inclusive a diretoria do clube se revoltou contra a marcação do arbitro da partida e tentou
anular o jogo ou reaver o gol não validado. Muitos torcedores da Lazio se perguntaram por
que seu jogador avisou o juiz? O gol do alemão trouxe a tona discussões sobre o fair-play,
sobre a honestidade, ética e moral no esporte. Comportamento que deveria ser
corriqueiro, mas é raro no futebol talvez devido ao fanatismo que essa modalidade exerce
não há espaço para isso. E se o gol valesse título, Klose teria a mesma atitude? E os
torcedores que foram a favor do comportamento dele nessa ocasião, como reagiriam?

Duas seleções brasileiras protagonizaram episódios distintos recentemente. A seleção


de vôlei masculina jogou pelo regulamento e “perdeu de propósito” para a Bulgária no
campeonato mundial em 2010 na Itália para evitar o cruzamento contra Cuba. A seleção
de basquete masculina da Espanha também “perdeu de propósito” da seleção brasileira
nos Jogos Olímpicos de Londres para evitar os americanos numa possível semifinal. Vale
escolher adversário quem quer ser um legitimo campeão? O pragmatismo deve ser
um método que não importa os meios para atingir a vitória?

Diante desses acontecimentos que tipo de valor pode ser agregado para as crianças, para
os jovens e para os espectadores do esporte? Levar vantagem, a malandragem, o jeitinho,
só é valido quando não estamos envolvidos passionalmente? Ou não há espaço em nossa
sociedade para refletirmos sobre honestidade e lisura como valores primordiais no esporte
de rendimento?

O lado positivo …
O esporte tem muito as nos ensinar, por isso pode ser uma ferramenta se for bem utilizado
para complemento da educação. Na pratica de uma modalidade é possível aprender
virtudes, fazendo, refletindo e sentindo. Isso pode ser imediato, numa mesma partida ou
ao longo de uma competição. É possível aprender habilidades sociais que podem ser
generalizadas para vida, como: tolerância a frustração, busca por objetivos, disciplina,
respeito à diversidade, superação, cooperação, altruísmo, autoconhecimento e muitos
outros comportamentos.

A competição é o combustível de qualquer modalidade esportiva e pode ser executada de


maneira leal, honesta e saudável. Ela não precisa ser predatória, desumana ou imoral
como verificamos em muitos aspectos de nossa sociedade. Na competição tem de
exacerbar a meritocracia, ela tem de ser prazerosa e compreendida como natural em
nosso cotidiano.

Um exemplo pessoal …

Atuo num projeto social (Instituto Rugby para


Todos), localizado na comunidade de Paraisópolis, bairro pobre de São Paulo.

Uma de nossas grandes dificuldades é ensinar aos nossos alunos que o arbitro de Rugby
é soberano, autoridade máxima em campo, somente os capitães de cada equipe podem
se dirigir ao mesmo. Inclusive, se o arbitro se equivocar em alguma marcação, ele deve
ser sempre chamado de “Senhor” e tratado com respeito, pois ele é um elemento
fundamental do jogo. Essa é uma das principais regras da modalidade.

Acredito que nossas dificuldades passam também pela exposição inevitável de nossos
alunos as transmissões de outros esportes e pela influencia que muitos exercem em nossa
cultura, principalmente, o futebol. Nesse, as reclamações com a arbitragem beiram a
histeria coletiva. Mas também acontecem no vôlei, no tênis, no basquete, entre outros,
não só por atletas, mas por dirigentes, por técnicos, membros das equipes, da imprensa e
por torcedores.

Quando falamos de valores temos de levar em conta diversos elementos e sempre


lembrarmos que nossa relação com a aprendizagem no esporte é sempre “uma via de
mão dupla” para quem está aberta a mesma, tanto influenciamos como somos
influenciados. Incomoda-me a postura de alguns mediadores (sejam qual for à
nomenclatura: educador, treinador, psicólogo, técnico, assistente, professor) a onipotência
de achar que “estou aqui para transmitir o conhecimento”, ambos são afetados.
O mediador nesse processo tem uma grande responsabilidade. Não só do ponto de vista
teórico, mas diria que principalmente, do comportamental. Os livros de Psicologia do
Desenvolvimento já nos ensinaram há tempos, o que nós fazemos é muito mais reforçador
do que o que nós falamos para ensinar comportamentos. Nossas ações são fundamentais,
nossa conduta, nossa postura, nossa humildade e nossa paciência são elementos
essenciais para nos relacionarmos com as crianças e jovens em desenvolvimento.

Para finalizar ….

Qualquer forma de conhecimento não passa por osmose. Portanto, para desenvolver
competências para vida utilizando o esporte é necessário estrutura de trabalho, avaliação
sistemática dos processos, verificação de impactos das ações nos sujeitos,
flexibilidade metodológica e objetivos em longo prazo.

O esporte é um elemento de nossa cultura que pode servir para compreender melhor o ser
humano em diferentes áreas do conhecimento. Por isso ele é tão diverso, paradoxal e
fascinante.

Referências:

SANTOS, A. R.R. Espírito Esportivo – Fair Play e a prática de esportes. Revista Mackenzie
de Educação Física e Esporte, 2005.

FALCÃO, R.S. O Rúgbi num projeto social: relato de uma experiência. Revista Brasileira
de Psicologia do Esporte, 2010.

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