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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 5
Introdução.................................................................................................................................... 8
Unidade I
Sobre a Antropologia Social........................................................................................................ 11
Capítulo 1
Ramificações da Antropologia....................................................................................... 11
Capítulo 2
Antropologia Social e o antropólogo social............................................................ 18
Capítulo 3
Antropologia e Sociedade............................................................................................... 31
Capítulo 4
Funcionalismo e Estruturalismo ...................................................................................... 55
Capítulo 5
A Antropologia de Geertz ................................................................................................ 62
Unidade iI
Antropologia e suas Áreas de Interesse........................................................................................ 66
Capítulo 1
Antropologia e Epistemologia......................................................................................... 66
Capítulo 2
Antropologia Filosófica: o que é o homem?................................................................ 72
Capítulo 3
Antropologia de Eric Wolf e a Marxista......................................................................... 89
Unidade iII
Antropologia, Teoria e Cultura................................................................................................... 102
Capítulo 1
Teoria e Antropologia..................................................................................................... 102
Capítulo 2
Antropologia e Cultura.................................................................................................. 112
Capítulo 3
Antropologia Social e Religião..................................................................................... 119
Referências................................................................................................................................. 134
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Este material tem como objetivo apresentar a Antropologia Social e algumas de suas
vertentes, muito embora faz-se necessário, de antemão, tornar claro que este é um
setor da Antropologia que envolve categoricamente muitos outros, já que o homem
sempre foi um ser social e político, como dizia Aristóteles. Logo, temas como economia,
política, religião, comunicação, empreendedorismo, educação, saúde, qualidade de vida
e até a busca humana pela felicidade, são apenas alguns dos muitos que poderiam ser
explorados pela Antropologia Social. No entanto, dada a impossibilidade de tratar todos
em detalhe, optamos por trazer aqui os que mais aparecem nas literaturas, deixando as
leituras complementares suprir suas demais abordagens.
Desde os primórdios o ser humano se deu conta de que viver em sociedade era mais
seguro do que viver solitário e/ou de modo individual vagando pelo mundo; tempos
depois entendeu que seu estilo nômade também não era o melhor negócio a se fazer,
dado que passar a conhecer bem um território único era estrategicamente mais vantajoso
do que explorar o tempo inteiro territórios alhures.
Destarte, a abrangência é vasta e suas ramificações diversas. Nosso foco não fora o de
trazer temas sobre as migrações humanas em nosso Caderno de Estudos, compreendendo
que este seria um assunto que interessa mais à Antropologia Biológica do que à
Social. Procuramos, com efeito, expor o que é e quais as abordagens da Antropologia
Social, bem como acerca da tarefa do antropólogo, construindo certa identificação da
Antropologia com a questão social. Deixamos evidente também, desde então, a difícil
tarefa de se distinguir Antropologia Social da Antropologia Cultural, a qual autores
e estudiosos do tema também esbarram na mesma dificuldade, dado que ambas se
fundem. Ademais, etnologia e etnografia também estão ligadas à Antropologia Social
como que um assunto só, contudo, nos esforçamos na busca de suas distinções. Muito
embora temáticas etnológicas e culturais não deixaram de ser tratadas e devidamente
exploradas, dentro de seu contexto social.
Deste modo, passamos para a segunda unidade tratando o que concerne à Antropologia
Social e sua fala com as demais Antropologias, sendo a filosófica aquela que talvez,
8
dentre todas, seja a que possua a maior abrangência teórica e reflexiva em torno da
questão social. Passando desde figuras clássicas fundamentais às questões sociológicas
como Émile Durkheim e Husserl com sua fenomenologia, até abordagens filosóficas
acerca do que é o homem e quais seus interesses, aprofundando-nos também em
algumas temáticas epistemológicas em função de suas características mais científicas.
Culminando, ao final desta unidade, nas concepções do antropólogo Eric Wolf e sua
cosmovisão marxista.
Objetivos
»» Conhecer algumas das ramificações da Antropologia.
9
Sobre a
Antropologia Unidade I
Social
Capítulo 1
Ramificações da Antropologia
11
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Montagu (1969) trouxe as orientações das duas partes antropológicas e quais suas
preocupações, valendo-nos conhecer:
12
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
13
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Ainda segundo Mello (2015, p.38), a linguística “trata de um aspecto restrito da cultura
que é a linguagem”. Seu surgimento se deu “da necessidade que tiveram os antropólogos
de aprender as línguas dos povos que estudavam”. Esses estudos antropológicos foram
fundamentais para as futuras pesquisas dos filólogos.
Mello (2015) dividiu a Etnologia em três grandes grupos: etnologia (no sentido stricto),
etnografia e antropologia social. Segundo ele, todas elas pertencem ao grupo da
14
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Desse modo, Etnologia e Antropologia geral praticamente se fundem, uma vez que
ambas pertencem ao grupo da etnologia geral, sendo difícil tratar cada uma ou outra de
forma isolada. Vejamos o que Mello (2015, p. 39) tem a dizer acerca desses conceitos:
O autor ainda afirma que “não faz muito tempo que a Etnologia se separou da
Antropologia: ambas eram consideradas até há pouco como ciências irmãs”. Para ele,
a Antropologia “ocupa-se do homem (anthropos), a saber, do homem como indivíduo
e como espécie”.
15
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Há uma diferença entre Sociologia e Antropologia, a qual Costa (2005, p. 138) nos
esclarece bem:
Por fim, mesmo sendo uma ciência recente (de poucos séculos), a Antropologia da
Religião, por sua vez, possui critérios rigorosos de estudos do homem, dos povos, e
dessa forma temos as teorias antropológicas da religião, as quais dividem-se em três
grupos principais, segundo especialistas. Guthrie (2009) nos informa:
16
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
17
Capítulo 2
Antropologia Social e o antropólogo
social
Antropologia Social
Mello (2015, p. 239) nos traz a fala de Radcliffe-Brown acerca da Antropologia Social, que
concebe-a como “a ciência teórico-natural da sociedade humana, isto é, a investigação
dos fenômenos sociais por métodos essencialmente semelhantes aos empregados nas
ciências físicas e biológicas”.
Antropologia Social, para Battie (1971, p. 43), como um tipo de sociologia, “consiste das
relações sociais institucionalizadas e dos sistemas em que elas podem ser ordenadas”,
não consistindo, com efeito, em sociedade ou sociedades, “dadas de algum modo como
totalidades empíricas ao observador”.
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Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Esses dois níveis não são facilmente distinguíveis, podendo-se afirmar que “com
relação a certos tipos de relações humanas que são como devem ser é inimaginável
que pudessem ser de outra maneira”. Exemplo disso é a veneração às imagens e ídolos.
Contudo, “desde que nenhum dos mortais (tanto quanto sabemos) considera-se
habitante do melhor mundo possível, há sempre algumas relações sociais em que real e
ideal, o que é, e o que deveria ser, são distinguidos”. (BATTIE, 1971, p. 46)
Por ora, é importante identificarmos essas dificuldades. Mello (2015, p. 49) faz uso
do termo “forçoso” ao admitir o caráter social da cultura, quando pensa em hábitos e
costumes de uma determinada sociedade. Como pergunta o autor, “podemos pensar
em hábitos, costumes, padronização de comportamento apenas a nível individual?” a
resposta é simples: são processos sociais. Logo, é possível “fazer uma distinção entre
sociedade e cultura, entre o fenômeno social e o cultural”.
Outro autor que empregou essa terminologia foi Kroeber. Desse modo, Mello (2015,
p. 49) terminantemente afirma que “não podemos negar que tanto a sociedade como a
cultura, embora obras humanas ambas, não dependem dos indivíduos”, sendo que ainda
não podemos olvidar que a cultura atual, que é transmitida aos indivíduos, “representa
uma conquista e um acúmulo de experiências humanas de centenas de séculos”.
Para Kroeber e Spencer “o homem cultural é uma criação da cultura, embora obras
humanas ambas, ele é formado pela cultura e todo seu comportamento é pautado na
cultura interiorizada (cultura subjetiva)” (MELLO, 2015, p.49). Na realidade, não
existe indivíduo sem algum tipo de cultura, isso nunca fora visto antes, segundo o
antropólogo.
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UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Com efeito, cultura e sociedade estão interlaçadas, o que Mello (2015) chama de “caráter
social da cultura”.
Claro que não é possível falar de fato social sem pensar em Émile Durkheim, ainda mais
quando estamos tratando da questão social; diante disso, Mello (2015, p. 50) indaga
“O fato social é um fenômeno orgânico ou superorgânico?”. Escorando-se em outros
autores, para ele, “o fenômeno seria primordialmente orgânico”.
Fichter (1972, p. 166 apud MELLO, 2015, p. 50, grifo nosso) entende o conceito de
sociedade como sendo aquele que “é o maior número de seres humanos que agem
conjuntamente para satisfazer suas necessidades sociais e compartilham uma
cultura comum”.
Enquanto que a posição do próprio Luiz G. Mello, sobre a relação que há entre cultura e
sociedade, em “Antropologia Cultura” (2015, p. 51, grifo nosso) é a que vemos a seguir:
O fato social é conhecido pelo indivíduo como uma realidade independente e já existente.
Vejamos as três qualidades fundamentais que caracterizam os fatos sociais:
A força que os fatos exercem sobre os indivíduos, dirigindo-os a conformarem-se às regras da sociedade em
que vivem, independentemente de sua própria vontade ou escolha. Tal força manifesta-se quando o indivíduo
Coerção Social desenvolve ou adquire um idioma, quando é criado e se submete a um determinado tipo de formação familiar
(Coercitividade) ou ainda quando está subordinado a certo código de leis ou regras morais. Dentro dessas circunstâncias, o ser
humano experimenta a força da sociedade sobre si.
Eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente. Ao
Exteriores aos
nascer, encontram-se regras sociais, costumes e leis que os indivíduos são coagidos (somos todos) a aceitar por
Indivíduos
meio de mecanismos de coerção social, como a educação. Não é dada, portanto, a possibilidade de opinar ou
(Exterioridade) escolher, sendo assim independentemente de nós, de nossos desejos e vontades.
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Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Torna-se social todo o fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou, ao menos, na maior parte
deles; que ocorre em distintas sociedades, em um determinado momento ou ao longo do tempo. Por essa
Generalidade generalidade, os acontecimentos manifestam sua natureza coletiva, sejam eles costumes, os sentimentos
comuns ao grupo de pessoas, as crenças ou os valores e princípios. Formas de habitação, sistemas de
comunicação e a moral que existe em uma sociedade apresentam essa generalidade.
Fonte: adaptado de Costa (2005, pp. 81-83).
»» Externos: pois como visto, não são gerados por conta própria (como
aprender a andar de bicicleta, não se aprende sozinho, tampouco constrói-
se a aprendizagem sem base, mas aprende-se com alguém que já o fez no
passado e já a construiu).
Para Foucault, a sociedade é vista como uma espécie de campo de forças de conflito,
onde enfrenta-se diferentes estratégias para se chegar ao poder. No entanto, fora o
interacionismo simbólico que, ao se concentrar no aspecto de definição do comportamento
humano e como esse influencia sobre a humanidade a reação que provoca os diferentes
gestos significantes, acabou por produzir uma verdadeira “revolução científica”, no que
21
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Com isto, de acordo com Battie (1971), os antropólogos sociais que estudam as relações
sociais têm de lidar tanto com o nível do ‘que realmente acontece’, quanto aquele nível
do que está relacionado ao que as pessoas pensam sobre o que acontece. Logo, o que as
pessoas pensam sobre o que acontece são de dois tipos também:
O trabalho que envolve os antropólogos sociais acerca das comunidades precisa ter
claras todas essas distinções das relações sociais, e, mesmo quanto enfatizam mais um
nível do que a outro, é necessário distingui-los de forma clara. É importante também
pelo fato de que que, além de diferem em alto grau entre si, precisam ser entendidos
também por métodos diferentes. (BATTIE, 1971)
Segundo Nadel (1987, p. 49), são “poucos os antropólogos que ficam realmente satisfeitos
quando lhes fazem perguntas aparentemente tão simples e tão diretas” quanto as que
seguem abaixo:
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Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Parece que “outros cientistas sociais também não gostam de ser questionados, de modo
análogo, sobre as suas disciplinas”. Contudo, tal “relutância é compreensível numa
ciência relativamente jovem como a Antropologia Social, que está ainda atarefada em
reivindicar seus direitos.” (NADEL, 1987, p. 49)
Por ora, Nadel (1987) confere sua resposta a respeito do objeto da Antropologia Social,
sendo que essa quer, historicamente, no que concerne à orientação total de seu foco,
relacionar-se com a compreensão dos povos primitivos, bem como de suas culturas
criadas e dos sistemas sociais no qual vivem.
Segundo Clyde Mitchell (1987, p. 80) não existe “nenhuma dicotomia de métodos de
pesquisa entre aqueles utilizados na Antropologia Social e aqueles dos outros ramos da
Sociologia.”.
23
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
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Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Claude Lévi-Strauss por Eduardo Viveiros de Castro. Disponível em: < http://
dx.doi.org/10.1590/S0103-40142009000300023>.
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UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Aqui nos debruçaremos, em especial, nos escritos de John Beattie em sua obra
“Introdução à antropologia social: objetivos, métodos e realizações da antropologia
social”, onde o autor informa que os antropólogos têm mantido uma preocupação com
a ideia de totalidade, em função do fato de que os primeiros antropólogos se voltavam
para as pequenas comunidades humanas, e de pequena escala, não sendo difícil sua
compreensão.
Desde que as sociedades não são “coisas” num sentido material, não
podem ser estudadas como se o fossem. O conceito de sociedade é
relacional, não substancial; as únicas entidades concretas dadas na
situação social são pessoas. O que indicamos quando usamos o termo
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Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Mesmo que as sociedades fossem elas todas empíricas (o que não são, na opinião de
Beattie), com um único corpo (como um réptil que pode ser estudado em laboratório,
por exemplo), ainda assim, não seria possível estudar a sociedade em sua totalidade,
ressalta o autor, uma vez que todas as análises, descrição etc., seriam seletivas e não
totais. Fazendo com que fosse necessário escolher alguns aspectos desejados para os
estudos, uma vez que não é possível compreender todos eles de uma só vez.
Instituições sociais
Beattie (1971, pp. 43-44) traz consigo seus pareceres acerca de relações sociais
institucionalizadas, dizendo que quando se refere a elas, se quer “referir simplesmente
às relações que são familiares e bem estabelecidas, usos sociais que são característicos
da sociedade que as possui”, com isto, “a institucionalização é muito mais uma questão
de grau; algumas relações sociais são mais institucionalizadas que outras. Mas, a menos
que uma relação social seja institucionalizada em algum grau.”.
Ainda sobre as relações sociais, Beattie (1971, p. 44) prossegue nos informando acerca
do é relação social?
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UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
1. estabilidade normativa;
2. integração;
3. consecução; e
4. adaptação.
Vejamos mais algumas figuras importantes que tratam da questão social sob o aspecto
teórico.
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Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
De acordo com Spencer, a sociedade assemelha-se a um organismo biológico, sendo o crescimento caracterizado
pelo aumento da massa; o processo de crescimento dá origem à complexidade da estrutura; aparece nítida
interdependência entre as partes. A vida da sociedade e a do organismo biológico são muito mais longas do
Herbert que a de qualquer de suas partes ou unidades. Especificamente, no que tange às sociedades, para Spencer, a
Spencer História demonstra a diferenciação progressiva das mesmas em pequenas coletividades nômades, homogêneas,
(1820-1903) indiferenciadas, sem qualquer organização política e de reduzida divisão de trabalho, as sociedades tornam-se cada
vez mais complexas, mais heterogêneas, compostas de grupos diferentes, mais numerosos, onde a autoridade política
se torna organizada e diferenciada, aparecendo uma multiplicidade de funções econômicas e sociais, exigindo maior
divisão de trabalho.
Para o alemão a vontade essencial compreende a tendência básica, instintiva e orgânica, a qual norteia a atividade
Ferdinand
humana; a vontade arbitrária é a forma deliberada, propositada, voluntária, que determina a atividade humana em
Tönnies
relação ao futuro. Tais vontades essenciais são (1) desejo, (2) hábito e (3) memória. Já a vontade arbitrária se
(1855-1936) apresenta também nas três formas de (1) reflexão, (2) conveniência e (3) conceito.
O francês salientou os três processos básicos que são o da (1) repetição, (2) oposição e (3) adaptação. A primeira
Gabriel Tarde adora a forma de imitação a nível psíquico e social. Já a oposição toma as formas de (a) ritmo e (b) conflito.
(1843-1904) Adaptação é o fenômeno que dá origem a um novo equilíbrio, depois da oposição. Cada nova adaptação é, na
verdade, uma invenção, de modo que o processo se repete continuamente: invenção-imitação, oposição e adaptação.
O norte-americano tem como enfoque primordial a Teoria Orgânica, na qual a sociedade se origina de um modo
Charles H. complexo de forças e processos que evoluem por meio do processo de interação, criando, com isto, um todo
Cooley (1846- unificado, onde cada uma das partes tem influência sobre as demais. Sociedade e indivíduos, para ele, são
1929) simplesmente aspectos provenientes da mesma coisa, e não fenômenos separados: um grupo, ou uma sociedade, não
existe fora de uma visão coletiva das pessoas. Assim como o indivíduo, ou pessoa social, não existe isolado do grupo.
Italiano, que teve como maior contribuição a Teoria Sociológica. Concepção a qual a sociedade é vista como um
sistema em equilíbrio, compreendendo por sistema todo consistente, formado de partes interdependentes; deste
Vilfredo
modo, a mudança em qualquer parte afeta as outras e o todo. E qualquer tempo, o estado de um sistema social
Pareto (1848-
é determinado por algumas condições, como (1) meio extra-humano, condições físicas (solo, clima, flora e fauna);
1923) (2) elementos exteriores à sociedade estudada (sociedades e/ou estados anteriores) e (3) elementos internos
(sentimentos, e interesses).
O russo Sorokin, naturalizado americano, conceitua “Sociologia” como o estudo das características gerais comuns
a todas as classes de fenômenos sociais, da relação entre essas classes e da relação existente entre os fenômenos
Pitirim A.
sociais e os não sociais. Seu conceito de interação sociocultural inclui três componentes não separáveis e inter-
Sorokin
relacionados de (1) personalidade; (2) sociedade e (3) cultura. Os sistemas socioculturais formados são denominados
(1889-1968) supersistemas por ele, onde leva-se em conta o (1) sensivo; (2) ideacional; (3) idealístico e (4) misto como fundamento
da teoria de transformação social.
Também norte-americano, Merton combate a pressuposição básica de que todos os elementos da cultura são
Robert K.
funcionalmente inter-relacionados, ou seja, que os itens culturais e individuais se integram em sistemas. Desenvolveu
Merton
novos conceitos funcionais destinados a tornar relativos os postulados criados por ele, onde a (1) noção de equivalente
(1910-2003) funcional ou de substituto funcional; (2) noção de disfunção; (3) distinção entre função manifesta e latente, fazem parte.
Fonte: adaptado de Lakatos (2010, pp. 47-59).
Status
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UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Battie (1971, pp. 44-45) nos dá alguns exemplos e nos concede mais algumas informações
importantes sobre a relação social dentro do contexto de status:
Com isto, os antropólogos sociais estão interessados também nas ideias e crenças das
pessoas, como parte não menos importante ao seu tema do que aquilo que se refere ao
comportamento manifesto, de modo evidente, uma relação social. Isso implica em algo
maior do que aquilo que as pessoas são levadas a fazer. Por exemplo, “não podemos
observar um status; precisamos inferi-lo”. Em concepções humanas, “o status só existe
por ser reconhecido e admitido, isto é, na mente das pessoas.”. (BATTIE, 1971, p. 44)
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Capítulo 3
Antropologia e Sociedade
Caçadores e Coletores
Figura 2. Caçadores-coletores.
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-HcC0iKw1zk0/VcStX0nXRlI/AAAAAAAALSo/fRnQI2tQrec/s1600/valltortagorge620.jpg>.
Basicamente temos:
A agricultura, segundo Common e Stagl (2008, p. 72, tradução nossa), “é uma estratégia
de aquisição de alimentos radicalmente distinta das caça e da coleta”, ela se refere
31
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
basicamente em tomar para si o que a natureza oferece, modo este bastante similar ao
que faz outros animais.
Polis
Desse modo, temos que o objetivo dessa fase é de “aumentar a disponibilidade das
populações domesticadas e reduzir a presença das não domesticadas para, desse modo,
aumentar a disponibilidade de alimentos para a população humana” (COMMON;
STAGL, 2008, p. 72, tradução nossa).
Depois de muito tempo, chegamos à democracia. O autor ressalta que “fazemos uma
interpretação materialista de democracia, que sustenta que a competência democrática
não se apoia de maneira alguma sobre a natureza interior do homem”. (PESSANHA,
1996, 177)
Ainda segundo o autor, a polis grega foi a primeira experiência histórica de democracia,
a qual os gregos, que antes eram constituídos somente por tribos de pastores nômades,
32
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
“O nome democracia significa, portanto, governo dos demos, e não exatamente governo
do povo como normalmente se diz”, e se as decisões eram tomadas nas Assembleias, os
homens precisavam exercer seu poder de persuasão nos debates realizados em praças
públicas. O resultado desses debates eram decisões que refletiam na vida de todos os
habitantes da polis. (VERNANT, 2001)
33
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Grupos Sociais
Fonte: <http://www.ajudablogueiros.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/08/grupos-conectados.jpg>.
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Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Sociedades e a religião
O século XVI, com cediço, foi marcado por turbulências mil na religião, praticamente
concomitante com o Renascentismo, bem como exploração do novo mundo além-
Atlântico, com efeito, não iria demorar para que a religião da Europa se espalhasse pelo
mundo.
Embora o autor não veja a clara diferença entre o cristianismo católico e o protestante,
nos traz ricas informações:
35
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
O autor prossegue informando que tais ocupações de dois subcontinentes por uma
religião específica, implica no desaparecimento das religiões autóctones. Tais imensidões
das religiões ameríndias, resultados de atribuições religiosas de civilizações avançadas
como Incas, Maias e os Astecas são diminuídas.
Os resultados, ainda em Desroche (1985), fora que o ecúmeno contava antes com cerca
de 400 milhões de habitantes, onde ¼ (aproximadamente) eram radicados na Europa.
No entanto, a população da América pré-colombiana atingia 50, talvez 80, milhões de
habitantes. Obviamente, todas essas populações tinham suas respectivas crenças.
36
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Os jesuítas são expulsos de diversos lugares, com isto, a missão católica perde 50%
de seus efetivos no século XVIII. A Companhia se alastrou na medicina, farmacologia,
ciências gerais como a física, química e biologia, “seus conhecimentos de química
permitiram que intrigasse plateias chinesas com truques envolvendo nitrato de potássio
e pós explosivos”. (WRIGHT, 2006, p. 94)
Por outro lado, o Islã, depois de ter dominado em grande medida a Índia, coexistindo
com o hinduísmo sob a vigilância dos britânicos, é cediço que, com a partida dos
ingleses, tal coexistência não perdurou por muito tempo, uma vez que terríveis
massacres passaram a ocorrer, a fim de atribuir-lhe tanto o Paquistão do leste como
o Paquistão do oeste, ao qual uma guerra ainda mal terminada acabava de arrancar
uma asa. (DESROCHE, 1985)
A China também fora atingida pelo Islã e cristianismo – a qual ganha ainda mais força
nos dias de hoje com a igreja do pr. David Paul Yonggi Cho, porém, a recalescência
religiosa atual é o (i) confucionismo, (ii) taoísmo e (iii) budismo.
Desroche (2005) prossegue nos informando que depois da Segunda Grande Guerra,
em decorrência da capitulação japonesa, o protestantismo americano é considerado
vencedor na questão de quantidade de membros frente ao Xintoísmo (ou Shintoísmo,
de acordo com Desroche), porém um tempo depois essa última começa a renascer.
37
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Em Maquiavel, por sua vez, o destino da sociedade é tido em função dos governantes
(tais concepções estão explícitas em “O Príncipe”, obra bastante difundida) adentrando
ao pensamento das condições, as quais um monarca absoluto é capaz de obter êxitos.
Não se limitando a isto, Nicolau Maquiavel (1469-1527) também pondera as condições
para conquistar, reinar e manter o poder.
De acordo com Bovo et al. (2007, p. 33), a sociedade precursora da sociedade da Idade
Média, Moderna e Contemporânea tem as seguintes características:
A Revolução Comercial que começou depois do ano 1000 foi talvez mais
lentamente do que era de se esperar, por causa da influência que a Igreja
exercia sobre o comércio. Essa, até o concílio Lateranense III de 1179,
não reconheceu a existência do “fato comercial” e só então admitiu para
os mercatores os benefícios da Trégua de Deus. Não aceitava, por outro
lado, a atividade dos usuários e o empréstimo a juros. O comerciante
era ainda um trabalhador itinerante, com os pés cheio de pó, que se
deslocava com todas as suas mercadorias de um mercado a outro. Os
intercâmbios partiam do campo e instituíram-se nas aldeias e nas
38
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Tais características nunca se perderam. Hoje, são fortemente distintas por conta de
sua essência econômica e força política no mundo. Portanto, é sabido que países com
tamanha força política e econômica estão no patamar que hoje estão não por mero
39
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
acaso, mas pela história de cada uma, a qual é sabido, buscou-se o crescimento em
vários momentos ao longo dos séculos, até alcançá-los.
Diversos estudiosos que são totalmente contra o emprego da tecnologia nas questões
ético-raciais, uma vez que mina a cultura de séculos (ou milênios); podemos dar o
exemplo dos indígenas, aborígenes, tribos africanas e tantos outros grupos que são
simplesmente impregnados da cultura capitalista da sociedade dominante (termo
socialista, porém aqui enquadra-se bem).
É tipicamente pequena, com uma divisão simples de trabalho e, consequentemente, limitada diferenciação de papéis. O
papel do homem adulto entre os esquimós nunivaques, para tomarmos um caso extremo, é, em linhas gerais, o mesmo
de quase todos os homens, com algumas diferenças apenas entre casados, solteiros ou viúvos; e, excetuados os
Sociedade
chefes, que dispõem de autoridade restrita, e os anciãos, que exercem uma liderança não oficial e informal, não existe
Comunitária qualquer estrutura formal de papeis políticos. As famílias e outros grupos primários (informais) constituem as unidades
importantes dentro da sociedade como um todo. Os papeis sociais, portanto, são antes inclusivos que segmentários;
incluem muitos aspectos de comportamento e não apenas um segmento limitado das atividades do indivíduo.
Sintetizada pela grande metrópole moderna, caracteriza-se pela acentuada divisão do trabalho enquadrar-se numa
complexa estrutura social, em que ocupam muitos status e desempenham muitos papeis diferentes e frequentemente
sem ligação entre si. Os vários papeis que os homens desempenham são geralmente segmentários; limitam-se
Sociedade
a contextos específicos, restringem-se a uma estreita série de atividades e envolvem apenas até certo ponto a
Societária personalidade do ator. A vida na sociedade societária perde o caráter unitário coesivo. A vida do trabalho e a vida
da família são aparentemente separadas, à religião rende confinar-se a determinadas ocasiões e lugares em vez de
penetrar toda a existência humana, o trabalho e o lazer são nitidamente apartados.
Fonte: adaptado Chinoy (1967, pp. 85-86).
Contudo, é direito desses grupos conhecer e ter acesso a todas as informações, haja
vista os direitos humanos. Caso queira absorver as questões globais, precisa ser
necessariamente do seu inteiro consentimento e de nenhuma forma coercitiva/imposta.
40
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Segundo Ferreira (2014), doutor em antropologia social pelo PPGAS – Museu Nacional
da Universidade Federal do Rio de Janeiro –, ao findar os impérios coloniais, ou sua
retração histórica, levantou-se problemáticas a respeito da história do colonialismo,
bem como seu lugar na construção das sociedades atuais e, simultaneamente, como
tais sociedades são assinaladas por formatos de continuidade relacionados à “situação
colônia”.
A indagação do autor sobre tal concepção gira em torno da caraterização das sociedades
e o sistema mundial que insurgem do mundo colonial, isto é, o que é a situação pós-
colonial em si? Quais questões e teorizações que permitem interpretar o cenário pós-
colonial vivido pelos grupos subalternos?
É bastante complexa a questão colonial, uma vez que a partir dela é que se deu toda
sorte de início do avanço da tecnologia aos grupos étnicos-raciais espalhados pelo
mundo. Para Ferreira (2014), admitir o imperialismo como força máxima da sociedade
é seguido da necessidade de reconhecer a historicidade e a efemeridade do Estado
nacional como uma espécie de princípio de organização social e, assim, romper com
a questão do Estado Nacional ser a maior forma de expressão da sociedade. Deve-se
reconhecer que o imperialismo é o sistema mundial, ao qual o sistema interestatal e a
economia capitalista são as duas esferas de articulação. (WALLERSTEIN, 1991 apud
FERREIRA, 2014)
Retomando a questão capitalista, essa pode ser definida, por Ferreira (2014), como um
modo de produção ao lado de outros na história, como uma espécie de economia, porém
há factualmente uma grande diferença do capitalismo dos séculos XIX e XX. A posição
desse autor é controversa, destarte nos vale aprofundar um pouco mais na sequência.
41
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
42
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
pelas elites para não se misturar ao povo mesmo quando elas consomem
as mesmas obras que ele. (MAIGRET, 2010, p. 193)
De acordo com o francês Éric Maigret, professor de sociologia das mídias na Universidade
de Paris III, bem como do Institut d´Etudes Politiques de Paris (conhecido como Science-
Po Paris), temos algumas elucidações sobre Bourdieu e seus críticos, nos cabendo aqui
ter em mente a sistematização e metodologias observadas por Jean-Claude Pesseron e
Claude Grignon, próximos à sociologia de Bourdieu, as quais simbolizam o “divórcio da
sociologia francesa” com uma visão fundamentada apenas em noções de habitus e de
reprodução social, vejamos em Maigret (2010, p.195):
O autor afirma, ainda, que não existe resolução fácil para o problema neste olhar sob
o ponto de vista da sociologia das práticas culturais. Segundo o professor francês,
a expressão “cultura popular”, é pouco satisfatória e ambígua em decorrência da
ocultação da violência que a constitui, uma vez que se faz interessante usar na medida
em que consegue nos desenfeitiçar de uma espécie de ideia “miserabilista” no terror das
práticas populares em categorias.
44
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
A seguir está apresentada uma estrutura que facilita nossa compreensão funcionalista:
Figura 4. Segundo Claude Grignon e Jean Claude Passeron, Le savant et le populaire. Misérabilisme et populisme
em sociologie et em littérature.
45
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Quanto à primeira, ele afirma que é preciso diferenciar critérios biológicos (tal como
sangue e cor de pele) e hierarquização (divisão do trabalho e relações de poder),
supondo, assim, que implicam grupos raciais que executam algum tipo de dominação.
distinta na análise e síntese histórica de Quijano”. Isto é, ele explica que o racismo
não era apenas uma característica estratégica de poder e divisão do trabalho, mas a
suposição da existência de unidades raciais, tal como a distinção da raça que domina e
aquela que é dominada como classe social. Tal oposição, para ele, a qual apresentava-
se na ordem colonial de maneira direta como a dualidade daquele que coloniza para
aquele que é colonizado, ainda permanece na pós-colonizada América Latina como a
diferença entre raças.
Com efeito, “a relação entre ‘raça dominante’ e ‘raça dominada’ só pode apresentar-se
como contradição entre nacional/estrangeiro no plano da política, de maneira que o
nacionalismo é não só o horizonte como a principal baliza do conflito e da mudança
social”. (FERREIRA, 2014)
47
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Desta maneira, o autor cita que existe ainda uma imaturidade científica nesse meio, e
cita os traços:
Para ele, aplicar a ótica científica social ao meio de comunicação é, antes de tudo, não
acertar o idealismo da mesma maneira que a sofistica. O social, desse modo, não é
reduzido à técnica, tampouco fica sob ela, como também não é regido por ela, mas tem
seu dinamismo próprio. A razão dos homens não está sobre “verdades eternas” para
ele, a fim de serem compartilhadas somente por meio do diálogo, mas: confrontação
das razões num processo em que verdades comuns são paulatinamente estabelecidas
sem serem transcendentes.
48
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Por fim, em outro ponto do livro, para fecharmos este tópico, o professor de Sociologia
das Mídias, Éric Maigret, contribui conosco sobre as dimensões da comunicação:
É um dos mecanismos fundamentais postulados pelas ciências ditas “exatas”, ainda que elas tenham
Nível natural ou dificuldade em se restringir a eles. O ato da troca de informações, de propriedades, de estados, se explica por
funcional leis e relações de causa e efeito. É o nível do mesmo, do “Um”, da tautologia, do A é igual a A, da adequação
do pensamento e do mundo – se isso algum dia for possível.
A é igual a A, mas A é diferente de B. Em outras palavras, o nível da expressão das identidades e das
diferenças, da delimitação dos grupos e de suas relações. A identidade remete à noção de partilha, a diferença
Nível social ou remete às noções de hierarquia e de conflito. O problema das identidades recobre os dois interesses, das
cultural estratégias e de sua expressão simbólica: reconhecer-se pertencendo a um grupo e se diferenciando de um
outro, na ordem das práticas como na das ideias. Esse nível supõe plenamente a existência de um diálogo ou
de uma tensão não absoluta entre os grupos, que funda a relação poder/cultura.
É, em nossas democracias, o do número, de sua representação e de sua regulação num quadro político e
jurídico alargado. É o nível do Três e do infinito, das relações generalizadas de sentido entre os indivíduos e
Nível da
os grupos, até os limites de expressão dos vínculos entre os homens. A é diferente de B, A e B são diferentes
criatividade de C etc. A comunicação é vista como uma atividade normativa, ética e política, como uma relação dinâmica
entre poder, cultura e escolha democrática.
Fonte: adaptado de Maigret (2010, pp. 16-17).
Elas confirmam antes de tudo a sociologia da legitimidade cultural na medida em que uma hierarquia das saídas se manifesta e se
modifica relativamente pouco no tempo: 68% dos franceses jamais tinham assistido a um espetáculo de dança na vida em 1977,
1o
72% um concerto de música clássica, 43% uma representação teatral de profissionais. Uma correlação se manifesta entre nível de
Fato leitura, diploma superior e meio social superior: menos de 1% dos agricultores leem mais de cinquenta livros por ano! Mas apenas 7%
dos mesmos vão à biblioteca ao menos 1vez por semana, contra 17% e 19% respectivamente dos executivos.
A diminuição da quantidade de livros lidos, fenômeno frequentemente percebido como alarmante e que, a partir dos anos 1980, fez
correr muita tinta sobre o tema do declínio intelectual das cidades francesas. Segundo Maigret esse é um fato que revela o declínio de
uma ideologia, a que fazia do escrito o ponto de entrada quase que único à cultural: a leitura se desloca e se dessacraliza bem mais do
desaparece. O número de leitores, portanto, aumenta no curso do tempo nas sociedades ocidentais e as competências dos escolares
não são fundamentalmente questionadas.
2o
A escola teve de gerir a passagem de uma escolaridade reservada a apenas uma elite para uma escolaridade em massa (1% dos
Fato franceses tinham o diploma do secundário no início do século XX, a metade deles não lia nos anos 1940), e depois registrar a
mutação de sua missão, de uma “instrução pública” inicialmente concebida como esclarecida e formadora do espírito nacional para
uma educação menos dominadora, menos respeitada também, com todas as sérias turbulências pedagógicas que isso acarreta.
A diminuição de leitura é, em parte, uma ilusão de óptica, uma vez que as pessoas interrogadas durante as décadas de 1970 e 1980
procediam a uma superavaliação de seus consumos frente aos pesquisadores.
49
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Os indivíduos, jovens e menos jovens, redefinem suas práticas culturais a partir de uma forte participação em atividades musicais,
fotográficas, gráficas, artesanais, de vídeo, e multiplicam igualmente os suportes de coleções. Quase um terço dos franceses possui
3o uma coleção, 10% deles praticam a pintura, 11% a escrita. Fica claro que a apropriação das áreas também já não está tão ligada
Fato às instituições públicas e privadas como no passado, uma vez que a difusão das tecnologias eletrônicas (gravadores de música e de
imagem, microcomputadores) favorece seu deslocamento para o domicílio, e que frequência da ação das “artes médias” não pode ser
concebida como um simples sucedâneo de cultura, mas como uma verdadeira busca de sentido atravessando todos os meios sociais.
A difusão do audiovisual é o fenômeno mais espetacular do século. O consumo diário de televisão se aproxima, com isto, das 3 horas
e meia por pessoa em 2005 na França, 4 horas nos EUA e na Grã-Bretanha. Em média, as pessoas veem tanta televisão quanto
trabalham nas sociedades ocidentais (em volumes de horas por ano)!
4o A televisão une uma comunidade nacional a uma internacional que compartilha os mesmos ritos, pois não existe prática em que as
diferenças de comportamentos sejam tão pequenas em nossas sociedades: 96% dos lares possuem um televisor e os conteúdos
Fato
dessa mídia são o segundo objeto de discussão na empresa e na escola. Maigret dá certeza que ela permanece não igualitária, uma
vez que é superconsumida por uma minoria forte da população, mas idosa, mais popular e mais feminina que é a média. Dez por
cento dos públicos representam quase 30% da audiência, 30% dos públicos 60% da audiência, ao passo que os mais refratários
representam menos de 1% da audiência para 10% da população.
A globalização e a juvenilização dos consumos, por fim, caracterizam fortemente a cultura contemporânea. Uma não ocorre sem a
outra, já que o acesso aos meios de comunicação internacionais não se produz em que se instalem jogos de concorrência entre
gerações: são geralmente os jovens que a limitam ao nível local às produções estrangeiras. A telefilia dos jovens é bem “temperada”,
5o porque, embora valorizem a telinha, quase universalmente revista nessa idade e estímulo permanente de debates, nada vem confirmar
Fato uma hegemonia qualquer: os de 4 a 14 anos formam uma faixa etária em que o consumo televisivo é relativamente fraco; os
adolescentes valorizam um pouco a televisão com relação ao cinema às saídas com os amigos; a leitura não sofre concorrência direta
das telas e do computador. A informática lúdica e a internet representam perfeitamente essa tendência da que elas são frequentemente
apropriadas primeiramente pelos jovens, em completa inversão do efeito de herança cultural.
Fonte: baseado em Maigret (2010, pp. 196-201).
Saul Alinsky, discípulo de Gramsci, por exemplo, era um ativista social norte-
americano, escreveu o livro “Regras para Radicais”. Considerado o maior arquiteto da
atual esquerda americana. Tinha sua cabeça voltada para a nova geração. Ele escrevia
para os jovens, que estavam para entrar ou que estavam adentrando às concepções
gramsciana. Ele sabia que ali estavam as mentes pensantes. Boa parte de seu público
também se compunha de líderes sindicais, hippies, feministas (guerra Vietnã) etc.
Alinsky pegou as melhores ideias de Gramsci, deu uma nova roupagem para elas na
década de 1960. Existem relatos de sua influência ideológica sobre Barack Obama.
Frank Marschall Davis se filiou ao partido de Chicago. Obama foi para Chicago também.
50
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
A “Agenda Socialista” fora criada nessa época. Ele é tudo que Gramsci queria usar
para mudança de comportamento social. Defende muitas causas e diversas bandeiras
estranhas. Richard Cloward e Frances Fox Piven traziam consigo a ideia de destruição
do capitalismo, a qual era a de que o maior número de famílias possíveis dependessem
do estado.
As opiniões dos repórteres moldam o que o público quer saber. Gerações de jornalistas
foram treinados para interpretar os acontecimentos e não simplesmente relatar os fatos.
É notória a mudança em massa de opinião: advogar uma causa que lhe é peculiar. Não é
mais objetiva e imparcial. Como resultado, temos uma mídia extremamente esquerdista
em diversos aspectos e em muitos setores. No cenário atual, é o que está em voga.
Raramente é possível encontrar um jornalista que não seja de esquerda. Em Stálin temos
a famosa frase, “se eu pudesse controlar Hollywood, eu poderia controlar o mundo”.
Enquanto Lênin diz: “dê-me quatro anos para ensinar as crianças e as sementes que
semeei nunca serão arrancadas”.
51
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Identidade Grupal
A identidade, para Ferreira (2009), possui relações diretas com:
Ferreira (2009, p. 48) ressalta que nos estudos sobre a identidade, como por exemplo
do afrodescendente, deve-se correlacionar: a (i) relação entre o autoconceito; a (ii)
autoestima e as (iii) variáveis étnico-raciais ligadas à identidade. Mas há ainda principal
preocupação que é a de: “identificar quais variáveis favorecem ou não o ajustamento
pessoal e como estão relacionadas à discriminação”.
52
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
1. identidade pessoal;
3. identidade racial.
Uma pessoa negra “assimilada”, vivendo em uma cultura que contém valores europeus, como ocorre no Brasil,
pode, hipoteticamente, sentir-se bem consigo mesma (isto é, ter uma identidade pessoal afirmada positivamente),
Identidade Pessoal considerar irrelevante a condição de ser membro de um grupo de referência articulado em torno de matrizes
culturais africanas para suas situações de vida (identidade racial marginal) e, ao mesmo tempo, procurar referenciar-
se em crenças desenvolvidas pelo grupo de matriz europeia (orientação do grupo branco de referência).
Orientação de Ao identificar-se com um grupo ao qual são atribuídas qualidades positivas, a pessoa provavelmente teria mais
Grupo de Referência facilidade em desenvolver uma identidade afirmada positivamente e sentimentos de valor em relação a si próprio.
Contudo, essa identificação torna-se problemática quando o indivíduo precisa negar ou distorcer aspectos pessoais
compartilhados com um dos grupos étnico-raciais do qual descende, situação comum no caso do brasileiro
afrodescendente que, ao tentar articular-se com a cultura europeia, negando suas origens africanas, sujeita-se a
condições determinantes de constituição de autoimagem negativa.
Identidade Racial
Nesse sentido, Ferreira (2009) entende identidade racial como um constructo referente a uma importante dimensão
constitutiva do indivíduo, favorecendo a compreensão e a previsão de compartimentos de pessoas submetidas a
um processo de desvalorização de suas matrizes raciais. A identidade racial, Ferreira vê como aspectos raciais da
identidade.
Fonte: Adaptado de Ferreira (2009, pp. 63-64).
Por fim, Ferreira (2009, pp. 67-72) nos informa, com riquíssimas contribuições,
em detalhes (e por isso nos basearemos diretamente nas palavras do autor) sobre o
desenvolvimento da identidade:
53
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
54
Capítulo 4
Funcionalismo e Estruturalismo
Fonte: <https://psictiagolourenco.files.wordpress.com/2012/11/page_11.png?w=576&h=406>.
Funcionalismo
O Funcionalismo surgiu no século XX, de modo que a escola antropológica sucedeu
ao evolucionismo, contra-argumentando, em parte, as críticas que a ele se faziam por
meio do etnocentrismo e eurocentrismo. Mello (2015, p. 239) traz a fala de Malinowski
acerca de sua indiferença pelo passado e sua respectiva reconstituição, a qual, não se
trata de “uma questão de pretérito, por assim dizer; o passado sempre será atraente
para o antiquário, e todo antropólogo é um antiquário”, mas sua indiferença é sim uma
questão de método por certos tipos de evolucionismo.
55
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
O autor nos informa que o ponto fulcral do Funcionalismo foi ter exposto ao estudo
da antropologia uma nova orientação, uma vez que até então “tanto o evolucionismo
como os difusionismos preocuparam-se com as origens, com os problemas das
transformações socioculturais”, enquanto que, Malinowski, sucedido por Radcliffe-
Brown, “preocuparam-se em estudar e explicar o funcionamento da cultura num
momento dado”. (MELLO, 2015, p. 240)
Segundo Melo (2015), outro ponto marcante dessa escola é a “visão sistêmica utilizada
na análise da cultura”, o que significa dizer que “essa orientação procurou explicar a
maneira de ser de cada cultura, buscando as razões não mais nas origens (na natureza)
nem na história (na difusão cultura), mas na lógica do sistema assumido pela cultura em
exame”. Isto é, aqueles que eram adeptos do Funcionalismo, “mesmo não desprezando
os subsídios da história e do conhecimento das potencialidades humanas, acreditavam
ser possível conhecer uma cultura sem estudar-lhe a história”!
Por fim, o autor traz um último ponto que merece atenção nessa escola de pensamento
antropológico, que foi o fato dela se apoiar de modo decisivo em pesquisas de campo.
Por outro lado, essa marca não lhe é particular e exclusiva, porquanto
a escola americana, como foi vista, também as notabilizou por esta
prática. Contudo tratando-se de escolas europeias, pode-se dizer que
foi o funcionalismo que mais sobressaiu neste particular. Também é
verdade que foi Malinowski quem mais desenvolveu este tipo de atuação
dentro da antropologia europeia. Aliás, foi ele que fez escola ao criar
um procedimento acadêmico clássico na formação dos antropólogos.
Depois de Malinowski, ficou sendo comum, a quantos desejassem
56
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Sobre essa corrente sociológica associada à obra de Durkheim, Costa (2005, p. 143)
ressalta que:
57
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Estruturalismo
De acordo com Thiry-Cherques em “O primeiro estruturalismo: método de pesquisa
para as ciências da gestão” é uma construção teórica iniciada pelo etnólogo Claude
Lévi-Strauss. Para Thiry-Cherques (2006) o estruturalismo não nega as condicionantes
históricas, mas opõe-se à história que pretende estudar os elementos de maneira
isolada, ao invés de tomar consciência dos seus nexos.
58
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
ele, ainda, os diversos usos e meios “simbólicos de expressão usados pelo homem,
nenhum ultrapassa a linguagem quer na flexibilidade e poder comunicativos, quer na
importância geral que desempenha”. (PALMER, 1969, pp. 20-21)
Mas retornando ao nosso contexto, Mello (2014, 262) traça alguns pontos em comum
do estruturalismo com o funcionalismo:
59
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
Embora o positivismo de Lévi-Strauss, segundo Mello (2014, p. 262) “não foi tão
exclusivo como poderia parecer, à primeira vista, pelo fato de sua explicação ter
enveredado pelo inconsciente”, ele é proveitoso e “louvável”, em função de seu realce
pela visão globalizante do “fenômeno cultural”, que salienta o caráter “gestáltico”.
60
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
De acordo com a linguística de Saussure, o estudo da linguagem não deve objetivar o discurso tão
somente, as regras e as concepções que deixam à língua operar, isto é, na lógica oculta que rege a fala de
quem se expressa. A semiologia deve conhecer a estrutura da língua, aquilo que é semelhante a todos os
O Método Linguístico
falantes e que age no nível inconsciente. As “estruturas elementares” de Lévi-Strauss são compostas de (1)
consanguinidade ou relação entre irmãos, (2) aliança ou relações entre casais e (3) filiação ou relação entre
gerações.
Conjunto de estudos antropológicos que por sua vez, semelhantemente ao estruturalismo, utilizaram
pressupostos teóricos e metodológicos elaborados pelas ciências da cognição na pesquisa social. As
Antropologia Cognitiva
primeiras análises da vida social aparecem em Durkheim, enquanto a ideia de ação social com sentido, em
Max Weber.
Fonte: adaptado de Costa (2005).
61
Capítulo 5
A Antropologia de Geertz
Fonte: <https://s3.amazonaws.com/s3.timetoast.com/public/uploads/photos/9804365/geertz-photo.jpg?1490410896>.
Os fatos
Para Geertz (2014, p. 25) há diversos fatos que são verdadeiros na Antropologia, para o
antropólogo eles ocorrem do modo simultâneo. Para ele, tais fatos se deram por meio
da reconfiguração do pensamento social. Iremos pontuar para facilitar o entendimento:
»» Muitos dos cientistas sociais trocaram uma explicação ideal, que inclui
leis e casos ilustrativos, por um tipo de explicação que envolve casos
e interpretações, buscando, hoje, algo capaz de demonstrar a conexão
entre crisântemos e espadas, mais do que um método que identifique a
relação entre planetas e pêndulos.
62
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
Ciências Sociais
O que Geertz “descreveu” foi que, além do que falamos acima acerca das ciências
sociais como um ramo subdesenvolvido das ciências naturais, ele ainda traz outros
cenários como ainda poderia ser “usurpadores ignorantes e pretensiosos da missão das
Humanidades, prometendo certezas onde estas não podem existir”, ainda podendo ser
“um tipo diferente de empreendimento, claramente demarcado, uma terceira cultura
além das duas que Snow canonicamente identificou”. (GEERTZ, 2014, p. 27)
63
UNIDADE I │ Sobre a Antropologia Social
E é por isso que para ele, todas essas movimentações nas propriedades de
composição, bem como de investigação e explicação, significam “uma mudança
radical na imaginação sociológica, impulsionando-a em direções que são tão difíceis
como pouco conhecidas”, logo, com toda essa alteração de padrões mentais pode-se
incorrer em uma obscuridade, como também leva a ilusões como precisão e verdade.
(GEERTZ, 2014, p. 29)
Poder
Sobre suas reflexões acerca do poder, centros, reis e carismas, Geertz (2014) retoma
alguns pensamentos sobre a monarquia e toda sua pompa do passado, peregrinações
e tudo o que ocorreu, remonta um passado, sendo “destruída” em sua essência em
Whitehall, no ano de 1649, e também na Praça da Revolução em 1793. Para ele, o pouco
que sobrou está com os dias contados.
Como é o caso da Inglaterra, onde ele, por meio de toda sua contundência, compara a
rainha Elizabete a uma casta, no Marrocos, o segundo Hasan está mais para um coronel
francês do que para um príncipe, e, os reis de Java, por sua vez, através da figura de
Hamengku Buwono IX, a um vice-presidente tímido, ineficaz, socialista e insignificante.
64
Sobre a Antropologia Social │ UNIDADE I
65
Antropologia
e suas Áreas de Unidade iI
Interesse
Capítulo 1
Antropologia e Epistemologia
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-FV3R1zk6bmM/VFkryqSRzGI/AAAAAAAAAA4/RX2-_okh4EE/s1600/jhgj.jpg>.
66
Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Veja também:
A racionalidade humana
Não seria interessante tratar de Antropologia, sendo ela uma ciência, e olvidarmos
algumas questões epistemológicas que envolvem o ser humano. Já que estamos aqui,
faz-nos importante elucidar alguns conceitos de cunho também filosófico, dado que
serão bastante úteis em uma celeuma mais ampla e aberta.
67
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Vejamos com mais cuidado o que Alquié (1987, p. 582 apud BATTISTI, 2010, grifo
nosso) traz a respeito dessas definições:
68
Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Veja também:
Razão e consciência
Os seres humanos possuem atividade mental constante desde que o racional se fez
presente. Todos os sentidos humanos têm experiência direta com o mundo e tudo que
nele há, desse modo, dores, pensamentos e desejos, formas, sons e cores, bem como as
proposições lógicas, fazem parte integral do ser.
Existem diversas formas de acreditar em coisas que são racionais e outras que não
são. Para Dancy (1990), o conceito de epistemologia é o estudo do conhecimento e a
justificação da crença. Dentro do campo epistemológico, existem fundamentalmente
quatro grandes áreas, a saber: (1) conhecimento e a racionalidade; (2) crença e ceticismo;
(3) estrutura geral da justificação e (4) teorias da verdade.
Posto que a discussão sobre a sustentação lógica das proposições está na razão, isto é,
consciência do conhecimento, em Sigristi (1997) temos as seguintes definições:
69
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Sensação e crença
A respeito da sensação e crença, não há um consenso unânime entre os filósofos, mas
de acordo com Moreland e Craig (2005) as concepções mais aceitas são as que seguem:
O sujeito possui certa propriedade sensorial no que se refere à sua consciência, isto
é, “estar presenciando vermelho”. Com efeito, a sensação não é possuidora de crença,
em outras palavras, o simples ‘ver’ não exige o ‘ver como’ tampouco o ‘ver que’. Sem
embargos, vê-se uma maçã vermelha, então ele tem a “sensação do vermelho”, isto é,
está presenciando um modo “do tipo vermelho”. Se terceiros observam um objeto como
vermelho, segue-se que tais indivíduos possuem o conceito de “ser vermelho” aplicando
em seguida ao objeto de percepção. (MORELAND; CRAIG, 2005)
Se uma pessoa enxerga que isto é um morango vermelho, é seguido que tal pessoa
aceita a preposição (e, com efeito, tem a crença perceptiva) de que o objeto em questão
é um morango vermelho. Objetivando-se uma experiência sensorial de alguma coisa,
um sujeito não precisa ter conceituações ou preposições em sua mente.
Segundo visão filosófica mais tradicional, as sensações não são preposicionais, mas tão
somente, nesse caso, as crenças.
70
Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Internalismo e externalismo
Por fim, ainda existe o debate internalista-externalista, onde sabe-se que a justificação
está intrinsicamente ligada aos debates que correm nesses dois modos de pensar.
Vejamos no quadro a seguir:
INTERNALISMO EXTERNALISMO
O externalista nega o internalismo, uma vez que assevera entre
Este sustenta que os únicos fatores para justificar determinada
os fatores que justificam uma determinada crença, ainda existem
crença de um agente ou sujeito são “internos”, ou ainda “acessíveis
alguns outros que o indivíduo que crê não possui ou não necessita
cognitivamente”.
do acesso à cognição.
Defende que o processo causal é um dos fatores que justificam
Por meio da reflexão ou da consciência é que a justificação se dá.
uma crença, isto é, que levou a alguma crença já estabelecida,
Por meio da simples reflexão sobre si mesmo, o indivíduo pode
muito embora tem-se no processo causal a característica de ser
estar consciente dos fatos.
inerente à consciência do indivíduo.
Fonte: próprio autor.
Veja também:
71
Capítulo 2
Antropologia Filosófica: o que é o
homem?
Antropologia Filosófica
Em “Antropologia Filosófica”, Henrique Vaz nos informa que desde que a aurora
ocidental começou a se dissipar, a reflexão sobre o homem sempre esteve envolta da
pergunta “O que é o homem?”. E até hoje permanece assim, dentro dos mais diversos
campos humanos: da mitologia, da literatura, ou da ciência (que é onde nos focaremos
um pouco mais adiante, porém com noções de filosofia, a fim de ampliar o escopo,
portanto, da filosofia da ciência e teoria do conhecimento), da própria filosofia, ethos,
política etc.
Ressalta Vaz (2004, p.3-4) que a “interrogação filosofia sobre o homem encontrou-se
desde os fins do século XVIII, com o rápido desenvolvimento das chamadas ‘ciências
do homem’ [...], e das ciências da vida”, as quais investigam de maneira cada vez mais
profunda “o ser biológico do homem”. Essa situação é parecida com a que viveu Galileu
Galilei, cuja ciência “foi chamada a definir rigorosamente o seu estatuto epistemológico
72
Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
em face dos novos saberes científicos sobre o homem, definindo, ao mesmo tempo,
sua relação com os procedimentos metodológicos e com os conteúdos dessas novas
ciências”. (VAZ, 2004, p. 4, grifo do autor).
Como então ocorreu com a Filosofia da Natureza, segundo o autor, a situação com a
Antropologia Filosófica em virtude dos novos saberes sobre o homem, passa por uma
crise (o que nos remete a Thomas Kunh, falaremos um pouco mais dele adiante).
Vejamos o quadro esquemático que o autor nos traz, a fim de verificarmos esse contexto
em um cenário macro:
Figura 8.
73
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
aponta para três tarefas fundamentais a serem comprimidas por meio desse campo do
saber. Vaz (2004, p. 5) nos informa:
Ainda nos faz importante ter em mente as religiões do horizonte epistemológico (esse
termo ficará mais claro adiante, mas por ora leia-se apenas como: conhecimento) acerca
do que envolve atualmente o objeto-homem. Vaz (2004, p. 7) prossegue contribuindo
conosco:
Polos epistemológicos
O autor chama todo esse conhecimento acumulado do homem de “polos epistemológicos”,
ou ainda “centros de referência privilegiados”, os quais organizam “a compreensão do
74
Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
São os três polos principais ao qual o interessado por esse campo de estudos deve ser
preocupar, segundo o autor:
Aquele que nos interessa mais, que é o problema da sociedade, Vaz (2004, p. 10, grifo
do autor) nos esclarece:
Ainda segundo Vaz (2004, p. 20), no que concerne à concepção do homem como tal,
a cultura greco-romana tem muito a dizer, ela “forneceu à civilização ocidental sua
primeira e permanente constelação de ideais e valores”. Já a cultura clássica elabora
uma ideia de homem que põe em relevo dois traços fundamentais:
75
UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Eles estão em estreita relação, uma vez que “enquanto dotado de logos o homem é
capaz de entrar em relação consensual com seu semelhante e instituir a comunidade
política.”. Já no que tange a vida política (bios politikós), isto é, vida humana por assim
dizer, segundo a visão clássica, “se exerce pela livre submissão ao logos codificado
em leis justas (nomoi).”. Todavia, “essas duas características fundamentais do
homem se manifestam em atividades dotadas de finalidades específicas, a atividade
da contemplação (theoria) e a atividade do agir moral e político (praxis).”. Resolver a
harmonização dessas duas atividades é um problema fundamental para a concepção
clássica do homem. (VAZ, 2004, p. 20)
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Com isso, nasce a concepção do homem como um animal racional, base da antropologia
e do humanismo clássicos. Através, então, da criação da Retórica, “os Sofistas abrem
assim um dos capítulos mais importantes da história da concepção clássica do homem,
do qual procedem alguns dos traços mais característicos da imagem do homem na
cultura ocidental”. (VAZ, 2004, p. 27)
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
John Locke (1632-1704) foi um dos filósofos que se preocupou com a questão do
comportamento humano. Era inglês e foi considerado um dos principais expoentes
do empirismo britânico, um dos precursores do liberalismo e um dos principais
representantes do contrato social.
Sua principal obra é “Ensaio Acerca do Entendimento Humano”, obra em que o filósofo
explicita a origem do conhecimento humano, ressaltando o aspecto empírico, da
experiência. Se perguntar qual era a origem ou a essência do conhecimento humano ou
ainda, o seu alcance era uma tarefa que Locke pretendia dar conta. Nos quatro livros
que compõem o “Ensaio sobre o entendimento humano”, Locke discute pontualmente
cada uma das grandes questões relativas ao chamado entendimento humano; já na
introdução ao Ensaio.
Imannuel Kant (1724-1804) alega que uma intuição referente a um objeto “só é
possível na medida em que a capacidade de representação do sujeito é afetada por esse
objeto”, por isso, os seres humanos, os seres finitos só possuem uma representação
passiva, isto é, uma intuição derivada (intuitus derivativus). Portanto, só temos
conhecimento de um objeto quando este se relaciona com a sensibilidade e se dá no
espaço e no tempo.
Mas essa experiência estética não é algo subjetivo, ela afeta sim os sentidos do autor
e do contemplador, mas mais do que isso, ela promove um diálogo com a alteridade,
com o outro que, da mesma forma está engajado enquanto sujeito concreto no mundo
perceptivo.
Somente o sensível torna o mundo presente, é pela percepção que se acolhe o sensível
e este é o meio pelo qual o sujeito está no mundo e conhece o mundo. Nesse sentido, na
experiência estética vimos que a percepção é algo extremamente fundamental, a fonte
originária de conhecimento do objeto estético. Portanto, assim como em Merleau-
Ponty, uma fenomenologia da percepção se faz necessária e inevitável.
Desta maneira, para ele a divisão social do trabalho é a fonte principal da solidariedade.
Já que em fins do século XIX as mudanças sociais eram intensas, as quais afetavam
diretamente o mundo do trabalho.
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
A coesão social, portanto, ou até mesmo sua falta provém do tensionamento entre
dois conceitos principais, que o da (1) solidariedade e da (2) anomia. A solidariedade
interna da sociedade, caracterizada agora como orgânica, se referem, sobremaneira, na
interação de cada um na divisão do trabalho social. A anomia, por sua vez, remete-se ao
desregramento e torna precária a vida, cortando laços sociais.
O termo solidariedade, para ele, seria um dos cernes do bom andamento do organismo
vivo; Durkheim entende por solidariedade social e filosofa sobre o contexto:
Existem, para ele, dois tipos de sanções. Algumas podem consistir numa dor, ou,
pelo menos, numa redução conferida ao agente; possuem por objeto alcançá-lo em
sua fortuna, honra, vida, liberdade, privando de algo de que desfruta. As repressivas
voltam-se ao direito penal. Prendendo-se às regras morais, possuem o mesmo caráter,
as quais são distribuídas de modo genérico por todo o mundo em geral, já quanto em
que as do direito penal são sobrepostas apenas por meio de um órgão definido: elas são,
portanto, organizadas.
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
reconduzido à força ao tipo de que desviou, quer seja invalidado, ou seja, priva-se ele
de todo valor social.
Fenomenologia
Para Júnior, neste ponto a Fenomenologia funde-se ao existencialismo a fim de formar
o que o autor denomina de “pensamento existencial-fenomenológico” como um
fundamento para as Ciências Humanas. A fenomenologia existencial traça um caminho
entre o materialismo e o espiritualismo, “um esforço de confrontar-se com o próprio
homem, o homem concreto, integral, vivo e atual”. (JÚNIOR, 2003, p.65)
Desse modo, o “mundo, pois, pertence à essência do homem”, o problema é como provar
que há existência no homem, com efeito Júnior (2003, p.66) indaga: “como provar
o movimento pelo qual o homem está no mundo, comprometendo-se numa situação
física e social que se torna sua visão do mundo?”
Ele mesmo responde a partir da impossibilidade de provar tal existência, a qual está
limitada a somente uma apresentação da mesma, dando-se por meio da corporalidade
humana. “O corpo humano encontra-se ao lado do sujeito, mas não é o corpo objetivo,
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
e sim o próprio sujeito como pensamento encarnado. O sujeito está imerso no corpo e
este participa do sujeito” (JÚNIOR, 2003, p.66).
O autor prossegue com uma indagação central: “É possível existir o mundo, sem
o homem?”, sendo a resposta negativa para o entendimento da Fenomenologia
Existencial, vejamos:
Segue-se que, para este autor que está norteando nosso tópico, não há possibilidades
de existir afirmação da realidade (como também tornaria as palavras inanimadas) sem
a subjetividade do homem, uma vez que ficaria sem sentido.
Não existiria, dessa forma, um mundo em si, todavia diversos outros mundos humanos,
aos quais fazem com que exista uma compreensibilidade por meio da conceituação de
uma espécie de práxis humana. (JÚNIOR, 2003)
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Portanto:
Merleau-Ponty e Husserl
Com efeito, sem dúvida é impossível falar de fenomenologia sem se referir a Edmund
Husserl (1859-1938). A fenomenologia tem suas primeiras manifestações enquanto
método próprio de pensamento com Edmund Husserl. Ele é considerado o fundador
desse método fenomenológico, estabelecendo os principais conceitos e teses e seriam
usados futuramente por outras mentes brilhantes.
Sendo influenciado por Franz Brentano, podemos dizer que ele contribuiu para um
novo começo na filosofia, iniciando um estudo dos fenômenos, como estes aparecem à
consciência.
Para ele, nada pode ser concebido sem que haja algo concreto ou evidências que não de
possa questionar. Nesse sentido, essa evidência é a da consciência e tudo se dá, antes
de tudo, na consciência. Essa consciência, em linguagem fenomenológica, nada mais é
do que o modo do homem perceber o mundo em sua totalidade, ou seja, não há como o
homem perceber a realidade de modo isolado (puro), como instâncias separadas, mas
apenas como ele se dá à consciência, enquanto dado. A consciência é “consciência de”
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
algo, sendo a descrição de um conjunto de fenômenos (que como dizia Kant, se dão no
tempo e no espaço).
Em Husserl (sempre nele nesse capítulo) temos que a “significação do mundo não é
obra de um só ego subjetivo, mas de uma pluralidade de egos”, uma vez que este “é
intencionado por vários egos, inaugurando-se, assim, uma relação inter-subjetiva na
qual a significação é atribuição de uma comunidade de pessoas e portanto essencialmente
histórica”. (CAPALBO, 1996, p.24)
Capalbo (1996) deixa claro e que nos é importante é compreender que tal redução não deve
ser entendida “como um retorno à filosofia idealista da consciência, que compreendia
o mundo como constituído pela consciência”, mas sim que neste ponto o “mundo é
entrevisto na sua transparência como polo correlato noemático da consciência”; com
efeito, “como vivência objetiva, como objeto significativo, diante do qual o sujeito vê
suas operações conscientes, as sua intencionalidade no ética, isto é, o elemento real da
vivência subjetiva”. (CAPALBO, 1996, p.22)
E este é um ponto importante para nosso contexto humanístico, haja vista que este
“significação do mundo presente não é desvinculada do mundo passado, e ligar-se-á
à do mundo futuro. O próprio conhecimento científico positivismo não escapa a esta
orientação.” (CAPALBO, 1996, p.24). Logo, se compreendido com seus pesos e medidas
relativos, podemos levar até à questão da destruição ambientai, dado que a preocupação
é se ligar às futuras gerações.
E desta forma a autora chega à Antropologia Filosófica, segundo Capalbo (1996, p.25).
Aquilo que se vê “é essencial ao conhecer e é a função a mais reveladora da verdade. Já
para a civilização semítica será o ouvir. Será por um ver e pela idéia (conceito) que se
definirá o homem na civilização grega”, por exemplo.
O homem então é uma espécie de expressão da linguagem, visto que esta ideia é uma
linguagem. Muitos filósofos discordam, mas vertentes de pensamentos do em Habermas
e Wittigenstein não se contrapõem.
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Max Scheler
Max Scheler (1874-1928), por sua vez, é conhecido por desenvolver um trabalho
relacionando fenomenologia, ética e antropologia em relação à filosofia dos valores.
Tendo como aporto filosófico a fenomenologia de Edmund Husserl, ele amplia o cenário
de discussão discutindo temas plurais em seus trabalhos.
Para Scheller todas as coisas são portadoras de valores, da mesma maneira que todas
têm suas essências (como pensava Husserl). No entanto, a essência é aquilo que define
a coisa em sua propriedade, ao passo que o valor é inerente ao objetos, aplicado e eles e
por isso mesmo, são denominados de bens.
Ele diz que esses bens produziram um sentimento no sujeito, um estado sentimental
que pode ser positivo (quando gera prazer) ou negativo (quando ocorre o desprazer.
Esses sentimentos são associados, portanto, ao que é agradável e ao que é desagradável.
Vemos aqui, assim como o que era pensado por Levinas, que a sensibilidade agora
adquire um novo status, pensado moralmente, mediante preceitos éticos. (SCHELER,
2004)
Diante disso, cumpre questionar: qual é a origem dos valores? Max Scheler nos informa
que a origem dos valores não pode ser atribuída a sujeito, mas sim as experiências deste.
Mas é importa destacar que o fundamento dos valores não é encontrado na experiência
e sim na vivência. Não há aqui qualquer espécie de relativismo. (SCHELER, 2004)
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Mas também, os valores não são acidentes, em oposição à essência das coisas. Com efeito,
essas qualidades objetivas se dão a partir das vivências dos bens. Eles não são conexões
de objetos com situações empíricas, eles são, no fundo, qualidades “encarnadas” nos
bens. O valor do agradável é manifesta nas situações vividas e encarnadas (por exemplo,
quando sentamos no sofá ao chegarmos em casa depois de um sua de trabalho intenso).
O valor dessas situações está presente, podemos senti-lo, muito embora não podemos
conceituar ou descrever. Nesta situação específica, o agradável é o ato de sentar e
descansar, mas há outras situações (por exemplo quando sacio minha fome ou como
algo que estava com vontade) em que comer também é agradável. (SCHELER, 2004)
O que o autor nos chama a atenção é que não há uma definição de agradável que se
aplique a todas as ações, reduzindo o valor a um único termo. Será que há algo de
comum em todos os valores? Com efeito, o órgão dos valores é o sentimento e o filósofo
nos diz que temos uma intuição emocional para cada vivência. Dessa maneira, os valores
são dados pelos sentimentos de nosso espírito. (SCHELER, 2004)
Isso significa que é a zona emocional de nosso espírito a pioneira no processo dos valores
e não (como queria os racionalistas) a razão. Frente aos valores, a riqueza não pode
optar. Por isso, entrando no campo da moral, a conduta ética se permeia através do
valor de cada coisa em questão, sendo que esse valor é adquirido a partir das vivências.
Portanto, o valor segundo Max Scheler é dado na esfera do conhecimento moral (o que se
distancia do que vimos até agora nos capítulos anteriores, que destaca um pensamento
metafísico, empírico ou racionalista). A fenomenologia, com efeito, visa, libertar o
conhecimento de suas amarras ontológicas, ligando-o a toda experiência possível.
Com isso, Scheler (2004) afirma que os valores morais conduzem ao agir moral.
Ademais, os sentimentos são o ponta pé inicial da intuição emocional e conhecimento
dos valores, sendo que o espírito tem função ativa deferindo sobre os valores vivenciados,
auxiliando no sentimento moral então produzido.
Por fim, destacamos em Max Scheler uma hierarquia de valores, no campo da ética:
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Scheler nos diz que os prazeres mais elevados são os mais duradouros. Sendo que o
ser humano que age em prol dessa hierarquia de valores alcança um aperfeiçoamento
pessoal mediante uma vida moral plena. O mais alto nível, de todos ele, é o amor.
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Capítulo 3
Antropologia de Eric Wolf e a Marxista
Fonte: <http://www.azquotes.com/public/pictures/authors/f5/55/f55552637adfb5f64c49f41bef4564ae/549a075a4bb5b_eric_
wolf.jpg>.
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
questão do que tratava ‘poder’. Ele então concebe poder como “um aspecto de todas as
relações entre as pessoas”. (FELDMAN-BIANCO; RIBEIRO, 2003, p.45)
Pensar em poder em termos de relação, faz com que seja necessário diferenciá-los em
quatro principais modalidades, segundo Feldman-Bianco e Ribeiro (2003, p. 45):
Wolf e o marxismo
Para a decepção de muitos estudiosos, Wolf era um marxista voraz, ao longo de suas
reflexões após ter deixado de lado a questão das sociedades complexas e passando para a
questão da gênese, ele “desenvolveu uma leitura própria sólida do marxismo, elaborando
um quadro de referência, empírico e teórico, que dá prioridade ao seu caráter histórico
processual”, e, com isto, “procurou reformular o marxismo por meio da antropologia e
a antropologia por meio do marxismo”. (FELDMAN-BIANCO; RIBEIRO, 2003, p. 13)
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Para ele, portanto, conforme nos informam os organizadores dos principais pensamentos
de Eric Wolf, Feldman-Bianco e Ribeiro (2003, p. 39), a maneira de produção capitalista
é produtora, e, concomitantemente, homogeneidade e heterogeneidades. Sua “noção de
segmentação étnica do mercado de trabalho” deixa clara essa concepção. Wolf demonstra
“como as diversas necessidades de trabalho humano do sistema em expansão foram
colocando juntas, em oposições variantes, populações com características distintas.”.
Antropologia marxista
Para Marx (2009, pp. 23-25), os homens são os únicos animais que produzem seus
meios de subsistência, o que ocorre pela necessidade advinda de sua organização
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Contudo, o modo pelo qual os homens produzem seus meios de subsistência depende da
natureza dos meios encontrados e dos que serão reproduzidos. Tal modo de produção,
além disso, é uma forma de atividade dos indivíduos, pela qual exteriorizam sua vida, é
um modo de vida deles, como eles mesmos são. O que os indivíduos são coincide com
sua produção, com o que produzem, com e como produzem, e o que os indivíduos são
depende das condições materiais de produção.
Logo, para ele, toda a construção intelectual do homem, como a moral, a metafísica e
qualquer outra ideologia, inclusive suas formas da consciência correspondentes, não
possui mais seu caráter autônomo, pois não tem história ou desenvolvimento próprio,
mas “são os homens que desenvolvem sua produção material e seu intercâmbio
material” que, mudando essa realidade, mudam seu pensamento e os produtos desse.
Portanto, a vida determina a consciência e não o contrário.
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Mello (2015, p. 295, grifo nosso) prefere aceitar “a hipótese de que a antropologia
deve ser, explicitamente, uma disciplina científica descompromissada com a
política”, muito embora ele reconheça que é envolvimento em que os involuntários
podem ocorrer. De maneira geral, afirma o autor, é possível notar “que o marxismo
não encontrou guarida nas formulações teóricas da antropologia”, contudo, de modo
paradoxal “foi o antropólogo evolucionista – um pioneiro, portanto, da antropologia –
que muito influenciou a Marx e a Engels na teoria da origem da família, da propriedade
privada do Estado.”.
Antes de prosseguirmos, uma vez que estamos inseridos nesse contexto acerca da
antropologia marxista, que é uma forma de falar de antropologia social voltada para
as sociedades complexas, nos é importante conhecer alguns pensamentos de Marx e
Engels em sua dialética marxista sobre a sociedade. Compreendendo dialética aqui
como o procedimento que se confunde com o ser, ele se desenvolve em um ritmo
ternário (trino, em três partes, especialmente em: tese, antítese e síntese), e é aplicado
às contradições especialmente econômicas que estão presentes ao longo da história da
humanidade.
Marx adotou o modo dialético da lógica de Hegel como é bastante conhecido. Segundo
nosso ótimo analista George Ritzer, Hegel se ocupou da dialética das ideais, enquanto
que Marx procurou aplicar esse enfoque dialético ao estudo do mundo material. Marx
tomou a dialética filosófica e a traduziu naquilo que alguns consideram como a ciência
das relações sociais que existem no mundo material. Outros, antimarxistas como Karl
Popper, enxergam como pura religião mesmo.
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Segundo Ritzer (1993, p. 169, tradução nossa), “o pensador dialético pensa que não só
é impossível deixar de lado os valores do estudo do mundo social, como também não
é desejável, pois produz uma sociologia desumana e desapaixonada”, sendo que esta
sociedade apenas teria “algo a oferecer às pessoas que procuram respostas para seus
problemas”.
»» o proletariado (trabalhadores).
A dialética marxista, segundo Ritzer (1993, p. 172, tradução nossa) reflete “a ideia de
Marx de que não existem linhas divisórias definidas e marcadas entre os fenômenos
do mundo social. Marx acreditava que os vários componentes do mundo social se
misturavam gradual e imperceptivelmente”.
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Ademais, um pensador dialético jamais centra-se em apenas uma única unidade social e
isola as demais unidades sociais, com efeito, “a relação entre uma determinada burocracia
e o resto das diversas unidades sociais do mundo social constituem a preocupação do
pensador dialético que se propõe a estudar a burocracia”. Fora isso, “os pensadores
dialéticos se interessam não só pela relação entre os fenômenos sociais do mundo
contemporâneo, mas também pela relação entre essas realidades contemporâneas e os
fenômenos sociais passados e futuros”. (RITZER, 1993, p. 172, tradução nossa)
Isso envolve, segundo o autor, duas implicações diferentes para uma sociologia dialética,
a saber:
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Para exemplificar melhor esse segundo ponto do pensamento dialético voltado para a
filosofia socialista, Ritzer (1993, p. 173, tradução nossa) toma um exemplo do próprio
Karl Marx:
O autor ressalta que quando se pensa na sociedade do futuro, não se deve confundir
que o pensamento dialético entende um futuro determinista e inalterável, mas sim
que a “natureza básica da dialética se opõe à orientação determinista”. Pelo fato de
que os fenômenos sociais estejam constantemente em ação e reação, “o mundo social
não admite um modelo simples e determinista”. O futuro até pode se basear em algum
modelo contemporâneo, mas isso não acontece de modo inevitável. (RITZER, 1993, p.
173, tradução nossa)
Ele acredita que essa aversão a uma forma de pensar determinista é o que distorce
gravemente o bem conhecido modelo dialético, que é que já falamos: tese, antítese e
síntese. Esse simples modelo, na ótica do autor, implica em um fenômeno social que
gera de modo inevitável uma forma oposta ao seu formato original, sendo que, o choque
que ocorre “entre as duas formas conduzirá inevitavelmente a uma nova forma social
sintético”. (RITZER, 1993, p. 173, tradução nossa)
Ritzer (1993) informa que embora Marx fosse consciente de que as ideologias dos
capitalistas se misturavam com seus interesses e objetivos, ele procurava focar-se em
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
questões como o conflito entre as grandes estruturas criadas pelos capitalistas e nos
interesses do proletariado.
Por fim, o esquema abaixo representa bem esse pensamento dialético, o qual se funde
com alguns interesses que Eric Wolf tinha acerca da antropologia e o estudo de sua veia
social sobre as grandes estruturas da humanidade.
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
Embora exista esse “compromisso geral com a dialética e, em particular, com a relação
entre as grandes estruturas e com os atores, Marx se focou de maneira progressiva nas
estruturas da sociedade capitalista”. Isto se deu “em parte por seus interesses políticos,
que o levaram a examinar e criticar as estruturas do capitalismo com fim de contribuir
para a mudança revolucionária”. Fazendo isso, ele sabia que aceleraria a transição para
o socialismo. (RITZER, 1993, p. 175, tradução nossa)
O Estado socialista, segundo Scruton (2015, pp. 58-59), não “redistribui” um ativo
comum da sociedade, mas ele “cria renda sobre os ganhos dos pagadores de impostos
e a oferece aos seus clientes privilegiados”, e, esses clientes, por sua vez, “garantem os
seus rendimentos votando naqueles que os providenciam”.
Scruton (2015, pp. 64-65) ressalta que “devemos distinguir o cerne da verdade
no socialismo da casca de ressentimento que a reveste, e tal verdade nos diz que só
podemos gozar os frutos produzidos pela sociedade se também estivermos preparados
para dividi-los”.
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Mello (2015, p. 295) explica isso considerando o conceito de cultura, uma vez que há
“uma constante em torno do conceito de cultura” (quando se trata de uma herança “social
de padrões de conhecimentos, de moral, de maneira de agir, de vida humana” etc.).
O autor cita Lewis Henry Morgan (1818-1881) para tratar da questão evolucionista,
uma vez que um dos temas centrais da teoria marxista se embasa no evolucionismo,
por ser puramente materialista também, destarte a admiração de Marx e Engels por
Charles Darwin. O antropólogos evolucionistas procuram “estudar a transformação ou
a evolução cultural não como uma forma de desfiguração ou debilitamento da cultura,
mas, inconscientemente com uma ação humana de construção e aperfeiçoamento.”.
(MELLO, 2015, pp. 295-296)
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UNIDADE II │ ANTROPOLOGIA E SUAS ÁREAS DE INTERESSE
O autor indaga: “Será que a teoria marxista aplica-se tão só ao período histórico (mais
precisamente ocidental) e a teoria tradicional da antropologia aplica-se à realidade
dos povos de pequena escala?” Isto é, uma “espécie de duas realidades com duas
explicações?” Uma das formas, afirma o autor, é responder que sim.
Mello (2015, p. 297) se debruça nos pensamentos de Marshall Sahlins, que em sua obra
“Cultura e razão prática”, afirma:
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Antropologia e suas Áreas de Interesse │ UNIDADE II
Com efeito, a inclinação aqui é a de enxergar “nas contradições internas uma forma de
perturbação da cultura, algo transitório, ou uma modalidade sui generis de ‘dialética
simbólica’”, que procura levar ao imobilismo real” (MELLO, 2015, p. 217, grifo nosso).
Com isso, segundo o autor, fica mais fácil de se entender que o estruturalismo não se
interessa na explicação das mudanças e das diferenças, mas objetiva somente descobrir
as estruturas mentais inconscientes que são responsáveis pela manutenção do equilíbrio
social.
Mello (2015, pp. 297-298) acredita que especialmente nos países em desenvolvimento
a antropologia trilhará um caminho de crítica e contestação. Contudo, “não se pode
duvidar que essa postura de engajamento poderá servir como motor de partida
para especulações teóricas mais profundas”, podendo influenciar não somente os
antropólogos, mas também os marxistas.
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Antropologia, Unidade iII
Teoria e Cultura
Capítulo 1
Teoria e Antropologia
A questão da teoria
Em “Introdução à Antropologia Social”, Battie (1971) informa que a descrição sempre
faz mais do que apenas descrever, dado que já pontuamos acerca de seus pensamentos
sobre a tarefa do antropólogo, isto é, aquela que parte da experiência (do fato) para
depois elucubrar suas considerações. Logo, além de descrever, a descrição também
explica.
Existem “teorias implícitas mesmo nas descrições mais simples; elas não só determinam
os tipos de fatos que são selecionados para estudo, mas também ditam os modos por
meio dos quais os fatos deverão ser ordenados e agrupados”. Com efeito, “a questão
importante não é se uma descrição de uma instituição social [...] implica generalização
e abstração, pois ela é obrigada a fazer isto.”. E não é somente isto, mas também as
seguintes perguntas críticas persistem: “qual é o nível de abstração e quais são os tipos
de teorias envolvidas?”. (BATTIE, 1971, pp. 50-51)
102
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
É importante ressaltar que esse debate de que se deve considerar teoria antes da
experimentação (do fato em si e/ou da situação empírica) científica não é de hoje.
Para dar fundamento à sua tese, portanto, Hacking afirma que grande parte da ciência,
em voga, se dá (e se deu) a partir da experimentação e não teoria que preceder à
experimentação – muito embora ele admita que existam casos em que a teoria antecede
à experimentação, não sendo uma regra, e que tampouco ocorreu na maior parte dos
casos. (HACKING, 2012)
Hacking não aprova o uso de alguns termos linguísticos de enunciados, porém, em certa
medida, crê que a ideia possui algo de verdadeiro. Destarte, toma forma sua aversão à
refutação e às conjecturas (teses popperianas), uma vez que tais usos, para ele:
103
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Claro está, portanto, que conjectura e refutação, para Hacking, está longe da realidade
vivida pelos cientistas. E é exatamente por esse motivo que estamos nos escorando
tanto nos pensamentos de Hacking, a saber: pelo alarde que fez tanto na comunidade
científica teórica, quanto na questão teórica nas ciências sociais e também para fins de
nossos estudos.
Para Hacking, a filosofia popperiana está em voga, contudo, há controversas, bem como
“as descrições de experimentos fazem sempre referência à tentativa de testar teorias –
caso contrário, os experimentos não se justificariam”:
Não podemos deixar de dizer que o relato de Kuhn sobre a medição não
é tão diferente assim do de Popper. A medição precisa acaba esbarrando
em fenômenos incompatíveis com as teorias vigentes, e, para dar conta
deles, novas teorias acabam sendo propostas. Todavia, enquanto Popper
vê essa função como um propósito explícito do experimentador, Kuhn
defende que ela constitui um subproduto. De fato, esse relato a respeito
dessa “função” é muitíssimo similar àquilo que, nas ciências sociais, foi
chamado de funcionalismo. (HACKING, 2012, p. 347)
104
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
Herbert Spencer (1820-1903) admitia que o termo sociologia fora cunhado por Auguste
Comte (1798-1857), bem como a derivação dos termos estrutura e função, tendendo a usar
como significado parecido. “Ao utilizar esses termos nas perspectivas que implicavam,
Spencer e Comte tomaram um importante papel histórico em desenvolvimento do
funcionalismo estrutural”. (RITZER, 1993, p. 125, tradução nossa)
105
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Ainda segundo Ritzer (1993), os pensamentos de Spencer também tinham para consigo
que os sociólogos mantêm uma relação dos fatos que observam muito discrepantes
daqueles dos cientistas naturais. Para ele, as emoções dos sociólogos podem influenciar
os juízos sobre os fenômenos sociais e assim os levando a opiniões sem fundamentos.
Retomando Thomas Kuhn, para ele a própria ciência possui características subjetivas,
envolvendo financiamentos, prestígio e ideologias pessoais dos cientistas. Ele pode
caminhar em um rumo não desejado justamente pelos sentimentos diversos que
ocorrem nas mentes dos cientistas.
A importância disso para fins de nossos estudos é demonstrar que o próprio cientista
social ou antropólogo, em nosso caso, por ser um humano como qualquer outro, mesmo
sendo um cientista e observador do mundo, não está isento de tendências, erros e
demais atribuições subjetivas em suas análises.
106
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
O método em Spencer
Os sociólogos, na visão de Herbert Spencer (1820-1903), fundamental para a Antropologia
(alguns estudiosos o chamam até mesmo de o pai da antropologia americana, outros
da britânica), “deveriam enfrentar a realidade de que eram observadores humanos de
fenômenos humanamente criados”, e, como ser humano que é também, “o sociólogo
corre o risco de aplicar profissionalmente os modos de observação que emprega em sua
vida cotidiana”, contudo, “estes hábitos podem não ser úteis e constituem um estorvo
para o estudo sociológico”. (RITZER, 1993, pp. 134-135, tradução nossa)
Spencer entende que vivemos em uma sociedade que combina elementos de sociedades militares e sociedades
industriais. O resultado disso é que somos então educados em uma confusa mistura de ideias provenientes de
Viés educacional
ambos os sistemas. Com efeito, aqueles que analisam a sociedade devem evitar os conceitos prévios, estudando
imparcialmente ambas as sociedades, levando em consideração também a importância histórica.
107
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Spencer tinha esperança que no futuro haveria o triunfo da sociedade industrial – um consequente aumento dos
sentimentos harmoniosos e a diminuição da hostilidade para com as sociedades diferentes que a nossa – o que
Viés patriótico
equivaleria numa redução de preconceitos patrióticos, e a um incremento na capacidade objetiva no ato de olhar
nossa sociedade, e o restante das sociedades históricas e contemporâneas.
Classes altas e baixas; patrões e colaboradores. Aquele que analisa de modo filosófico ou sociológico determinada
sociedade tende a avaliar segundo a classe de onde ele mesmo é proveniente. Suas reflexões a respeito de uma
Viés das classes
sociedade X ou Y podem ser influenciadas por diversas variáveis. Spencer esperava que no futuro aumentasse a
sociais harmonia social, conduzindo com isso a um menor antagonismo de classes e a uma maior capacidade dos que
refletem acerca da sociedade de chegar a conclusões mais equilibradas sobre os fenômenos sociais.
O governo, suas leis e seus partidos políticos, entre outros fenômenos políticos, influenciam no trabalho de todos que
refletem acerca da sociedade. O sistema político tende a obscurecer os efeitos inesperados das mudanças políticas
Viés político
legais e ilegais. Exemplo disso é o governo influenciar nas reflexões dos observadores objetivando que esses tomem
ciência apenas dos benefícios potenciais de mudanças políticas e ignorar os seus possíveis malefícios.
De igual modo, aqui todos os observadores também podem ser fatalmente influenciados por seus sistemas de
crenças ao analisar uma determinada sociedade. Se ateu ou teísta, ele tenderá a refletir o mundo a partir de seu
ponto de vista. Se ateu militante: “todas as religiões são um vírus” (como afirma Richard Dawkins), se religioso
Viés teológico
ortodoxo: “todas as sociedades ateias irão para o inferno”. Spencer não acreditava no fim da religião, pelo contrário,
mas cria que ela experimentava um processo evolutivo, processo no qual veríamos no viés teológico da sociedade
uma diminuição dos preconceitos no futuro.
Fonte: Ritzer (1993, pp. 135-137)
Em suma, Herbert Spencer, para George Ritzer, tem uma teoria interessantíssima e
uma obra de alta relevância para as questões contemporâneas. Embora exista certa
semelhança com algumas posições de Comte, suas diferenças são maiores. Spencer
oferece uma série de princípios gerais dos quais deduzem uma teoria da evolução, a
qual implica numa crescente interação, heterogeneidade e definição das estruturas,
assim como das funcionais. (RITZER, 1993, p. 164, tradução nossa)
108
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
sociedade.”. Mas outro ponto importante é a questão do incesto, cuja proibição “serve
para organizar a vida sexual das comunidades humanas reais”. Em geral, afirma o autor,
“pode-se dizer que toda atividade teórica tem algum tipo de ligação mais ou menos
direta com as atividades reais e concretas que se desenvolvem em uma sociedade.”.
(GONZÁLEZ, 1989, p. 27, tradução nossa).
Por esse motivo, se queremos descobrir que tipo de atividade teórica é a filosofia e
quais são suas relações com as atividades humanas, temos que começar essa jornada
perguntando-nos quais são as atividades que possuem caráter fundamental que são
realizadas nas sociedades humanas. (GONZÁLEZ, 1989)
109
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
As Ciências Naturais possuem uma função social muito específica: “a de servir ao domínio
humano sobre a natureza externa”. Sem as ciências ou algum tipo de conhecimento
racional, prossegue González (1989, p. 27, tradução nossa), “não seria possível que a
espécie humana ligasse ou liberasse a severidade da natureza para desenvolver uma
vida cada vez mais segura e digna”, e, por esse motivo, “a ciência e suas aplicações
tecnológicas constituem justamente esse ramo do saber que serve ao primeiro tipo de
atividades.”.
González (1989, p. 28, tradução nossa) continua a contribuir conosco a respeito das
questões teóricas, das relações humanas, agora sob o aspecto religioso:
Não são somente os religiosos que estudam a relação do homem com o divino, mas
também obviamente todos aqueles que se interessam em conhecer o comportamento e
a história da humanidade em sociedade. Também erra quem acredita que esse assunto é
somente filosófico, cientistas como Dean Hamer, por exemplo, estudam geneticamente
a ligação do homem com o transcendente.
Com efeito, as ciências humanas, tal como a Antropologia em especial, mas também
Psicologia (através do behaviorismo), Sociologia, Linguística e demais áreas, também
possuem seu papel no que se refere ao estudo e estruturação das relações humanas.
A atividade teórica, tanto das ciências humanas quanto das sociais, está diretamente
ligada à práxis que relaciona os homens entre si.
110
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
homem visa alcançar, ao longo de sua história, suas relações de uma maneira mais justa
e reconciliadora. (GONZÁLEZ, 1989)
Nas atividades sociais podem haver também uma busca pela liberdade,
não acerca da natureza, senão no que se refere a um homem se sobrepor
a outros. Dizemos “pode haver” porque, evidentemente, nem todas as
atividades relacionadas aos homens vão se dirigir a esta emancipação
progressiva das ataduras que eles mesmos se impõe. Evidentemente,
aqueles que se beneficiam das relações de dependência e de dominação
mais dirigem sua atividade para a manutenção dessas ataduras. Por isso,
embora nem toda atividade humana seja necessariamente dirigida pela
emancipação, podemos dizer que a atividade humana pode ter, uma
característica acima de um caráter de trabalho ou social, um caráter
libertador. (GONZÁLEZ, 1989, p. 28, tradução nossa)
Ainda segundo o autor, esse pensamento nos leva a um novo tipo de teoria. As Ciências
Naturais podem estar à serviço da liberdade do homem de sua “escravidão da natureza”,
porém nem sempre estão: pode utilizar também para a submissão e para a destruição
do homem. Da mesma forma, as Ciências Sociais, por sua vez, não estão à serviço da
liberdade do homem. (GONZÁLEZ, 1989)
111
Capítulo 2
Antropologia e Cultura
Fonte: <http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/antropologia-2-1/antropologia-4.jpg>.
Cultura e Sociedade
A noção de cultura é inerente à reflexão das ciências sociais. Ela é
necessária, de certa maneira, para pensar a unidade da humanidade
na diversidade além dos termos biológicos. Ela parece fornecer a
resposta mais satisfatória à questão da diferença entre os povos, uma
vez que a resposta “racial” está cada vez mais desacreditada, à medida
que há avanços da genética das populações humanas. O homem é
essencialmente um ser de cultura [...]. A cultura permite ao homem
não somente adaptar-se a seu meio, mas também adaptar este meio ao
próprio homem a suas necessidades e seus projetos. Em suma, cultura
torna possível a transformação da natureza. (CUCHE, 1999, pp. 9-10,
grifo nosso)
112
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
Platão e Na academia, eles estabeleceram os meios da produção e propagação da cultura, mediante o aprendizado formal.
Aristóteles
Escola do Considerava a cultura humana como algo degenerado, procurando voltar as mentes dos homens para a simplicidade
cinismo da natureza.
O ideal de um mundo culto consistia na ideia de que o indivíduo é cidadão do universo, e não apenas de alguma
Estoicismo
cidade-estado.
Disseminou-se pelo mundo inteiro, na época de Alexandre, o Grande. Continuou muito influente no mundo romano,
Cultura grega incluindo aspectos como a filosofia, as artes e várias ciências. Os primeiros teólogos-filósofos cristãos, como Justino,
Agostino e Boethius promoveram os ideais gregos dentro da cultura cristã em desenvolvimento.
Em sua obra “Crítica do Julgamento”, promoveu certa ideia da cultura que girava em tomo do gênio e do refinamento
Emanuel Kant
das sensibilidades estéticas.
Saint Simon Falava sobre épocas críticas e épocas orgânicas, como meios transformadores da cultura.
Considerava que a principal realização possível da cultura seria um mundo dominado pela ética devidamente
Fichte
organizado e constituído.
Ao falar sobre o Espírito Absoluto, que seria o poder criativo e orientador de todas as coisas e acontecimentos, fazia da
Hegel
cultura um cultivo desse Espírito.
Schlegel Supunha que a cultura-definitiva poderá ser alcançada mediante a fusão da ciência e da vida diária.
113
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Distinguia entre cultura e civilização. A primeira indicaria as possibilidades vitais de uma sociedade e as realizações ou
Splengler
concretizações dessas possibilidades. A segunda aludiria às formas e pretensões externas da sociedade.
Matthew Arnold Pensava que a cultura conduz à perfeição. A cultura conquistaria a barbárie e o espírito combativo dos homens.
Dialética Supõe que a cultura é determinada por considerações materiais, especialmente pelas condições econômicas em torno
materialista das quais as classes da sociedade se entrechocam.
Pensava que a cultura perfeita é resultado da devida harmonia entre os valores materiais e os valores espirituais e que
o homem se acha no vórtice de um drama no qual são cultivados os valores humanos. Ele se referia ao homem como
Huizinga o homo ludens, (o homem que joga). Alguns pensadores metafísicos hindus opinam nesses termos considerando
que a inquirição do homem pela espiritualidade é uma espécie de gigantesco drama cósmico com muita diversão de
intermeio, de tal modo que a comédia é o resultado final.
Segundo Desroche (1985), Thomas More, em sua obra “Utopia”, imagina um deus
Mythra que, embora haja diversidade de crenças, os utopianos adoram esse deus-
Sol de forma fervorosa. Tomaso de Campenella insere em sua cidade comunitária e
libertária sobre o auspício também de um deus-Sol. Celebrado e adorado com cantos
que o glorificam. Francis Bacon, estabelece sua Nova Atlântica sobre a hegemonia da
Casa de Salomão, também denominado o Colégio da Obra dos Seis Dias, onde a leitura
bíblica é substituída pela decifração do Livro da Natureza.
Ainda inserido na mesma questão, Henri Saint-Simon, após diversas mensagens desde
1804, faz seu pronunciamento em 1825 do Novo Cristianismo, convidando as “heresias
cristãs”, católica ou protestante, “a ceder o comando a uma religião que seja ao mesmo
tempo a da glória do ecúmeno em desenvolvimento e da melhoria da sorte da classe
mais numerosa e mais pobre”. (DESROCHE, 1985, p. 98)
Chinoy (1967, pp. 51-52) traz que a “Sociologia começa com dois fatos básicos: o
comportamento dos seres humanos revela padrões regulares e repetitivos, e os seres
humanos são animais sociais e não criaturas isoladas”.
114
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
A história dessa interação sociedade e cultura é longa, como é bastante notório, porém
o autor as resume a seguir:
Deriva inicialmente das tentativas feitas durante o século XVI e XVII para distinguir o Estado da
Sociedade totalidade da organização social, embora a análise sistemática da natureza da sociedade só tenha
surgido com o advento da Sociologia.
O termo principiou a ser usado na Alemanha no século XVIII, foi empregado, pela primeira vez,
Cultura em Antropologia, por Edward Tylor, estudioso inglês, em 1871, e só foi largamente utilizado nas
dissertações sociológicas no século XX.
Fonte: adaptado de Chinoy (1967, p.52).
Tais normas ou regras (das instituições como “padrões normativos”, inserem-se em todas as áreas da vida social. Nem
todo comportamento se ajusta às regras, sejam elas explícitas ou implícitas, contudo, a maioria das ações de qualquer
Instituições
pessoa reflete a presença de alguns padrões difusamente aceitos de comportamento que ele aprendeu de outros e que,
de algum modo, com eles partilha. Elas explicam grande parte da regularidade de comportamento que observamos.
Abrange variáveis da complexidade de fenômenos sociais. Está embutida a crença que o homem a possui de si mesmo
e do mundo social, biológico e físico em que vive, acerca das suas relações uns com os outros, das suas relações
com a sociedade e a natureza e das suas relações com outros seres e forças, que venham a descobrir, aceitar ou fazer
Ideias3
aparecer. Abrange a vastidão do campo das ideias como que os homens explicam sua observação e sua experiência
– folclore, lendas, provérbio, Teologia, Ciência, Filosofia, conhecimento prático – levando em consideração quando se
apoiam ao optarem por cursos alternativos de ação.
Consiste nas coisas materiais que os homens criam e usam, e que vão desde os primitivos instrumentos do homem
Cultura
pré-histórico às máquinas mais adiantadas do homem moderno. Inclui o machado de pedra e o notebook, a canoa
material polinésia e o cruzeiro de luxo, a choça dos índios e o prédio mais elevado e caro do mundo contemporâneo.
Fonte: adaptado de Chinoy (1967). 3
115
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Casamento e família
Segundo o sociólogo Biesanz (1972, p. 261), a “família é a instituição básica e universal.
Dela depende a sobrevivência da sociedade.”.
A família é objeto de estudo social desde que se entende por Ciências Sociais e o termo
‘sociologia’ de Comte.
Portanto, faz-nos importante verificar mais alguns detalhes, uma vez que mesmo
parecendo uma temática trivial, notoriamente faz parte integrante da sociedade desde
os primórdios dos tempos.
Segundo Biensanz (1972, pp. 261-298), são cinco as funções desempenhadas pela
família em todas as sociedades. Levando em consideração todas elas juntas, o autor
duvida que haja qualquer outro arranjo que sirva a todos esses propósitos tão bem
como a constituição: família.
›› reprodução;
›› transmissão de cultura;
116
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
117
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
118
Capítulo 3
Antropologia Social e Religião
Sociologia e Religião
Em “Sociologia da Religião”, Joachim Wach (1990, p. 40) nos informa que a “religião,
enquanto tal, foi definida como adoração, experiências do sagrado são expressas em
todas as religiões em atos de reverência para com o nome cuja existência é definida
intelectualmente em termos de mito, doutrina ou dogma.”.
Escorando-se nos pensamentos de Van der Leeuw, Wach nos remente ao estudo
fenomenológico que abrange os atos cultuais, que são baseados em amplo estudo da
religião em todas as suas formas. Citando Underhill, por sua vez, divide esses atos em
quatro pontos:
2. Símbolos: imagens.
4. Sacrifício.
119
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Partindo dos “atos e rituais mais simples em honra dos deuses surgiram os modelos
complicados e elaborados do ritual, próprio de religiões tais como Judaísmo, Parsismo,
Bramanismo e os Catolicismos romano e oriental.”. (WACH, 1990, p. 40)
O autor prossegue:
Religião e Sociedade
Fazendo um apanhado geral, Wach (1990, pp. 139-259), vejamos essas organizações
especificamente religiosas da sociedade:
120
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
121
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Segundo Wach (1990, p. 38), as “contribuições dos grandes chefes religiosos, que
denominamos ‘fundadores da religião’, deveriam também ser interpretadas à luz deste
desenvolvimento.”.
De acordo com o autor, o significado desses estudos para a Sociologia, e claro, para
a Antropologia, dados seus fins muitos semelhantes, em função também da temática
de nosso Caderno de Estudos, é bastante claro: a “atitude do indivíduo com relação à
sociedade em todas as suas formas e a influência de uma religião das relações sociais
e instituições dependerão em grande parte do espírito que permeia as doutrinas, o
4 Max Weber e Ernst Troeltsch definem seita como uma sociedade contratual para distingui-la da organização eclesiástica
institucional.
122
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
Vejamos abaixo, portanto, algumas relações entre esses dois campos tão vastos em
conteúdo da questão humana: sociedade e religiosidade6.
O desenvolvimento social, como é sabido, se dá por meios complexos e simples; embora seja um equívoco pensar
Sociedade Simples e nas sociedades primitivas de forma indiscriminada como unidades individuais, culturais e sociais. Enquanto não há
Complexa divisão de trabalho, propriedade ou posição, não se pode falar apropriadamente de variedade de expressão religiosa,
por isso é preciso analisar a estratificação.
“É um conceito que trata a classificação das pessoas em grupos com base em condições socioeconômicas comuns,
Estratificação Social e como um conjunto relacional das desigualdades com as dimensões econômicas, social, política e ideológica”.
Diferenciação em Geral Enquanto em algumas sociedades primitivas cada pessoa trabalha e participa de forma proporcional dos produtos de
seu trabalho, em outras há isenções e participação desigual nas atividades da tribo e em seus frutos.
Diferenciação social em A forte influência da divisão do trabalho na cultura das sociedades primitivas prova de modo conclusivo que até nas
particular civilizações menos adiantadas o culto religioso não deixa de ser importante e considerado tipo de diferenciação.
A organização social é um tanto quanto complexa; os Murgin e o totemismo (na Austrália); os Esquimós; os Toda (na
Índia meridional); os Papua Kiwai (na Nova Guiné britânica); habitantes das ilhas Trobriand (na Melanésia); os índios
Diferenciação ocupacional
Omaha, Pawnee e as tribos Sioux americanos; os Bavenda (no norte do Transvaaal na África do Sul); os Ioruba (tribo
na sociedade primitiva sudanesa ao sul da Nigéria na África Ocidental); os Masai (da África Oriental) são exemplos dessa diferenciação
ocupacional.
Aqui se deve questionar como a diferenciação social em todas as suas formas distintas afetam a religião. Existem
influências eruditas nas teologias de religiões tão distintas como o Judaísmo, Parsismo, Bramanismo, Maniqueísmo e
Diferenciação social e
Confucionismo. Protestos feitos pelo Cristianismo, humanismo, iluminismo, unitarinismo, no Judaísmo pelo karaísmo,
religião no Islamismo pelo mutazila, e no Budismo por alguns segmentos dos mahayana, tentavam corrigir ações doutrinárias,
promovendo essa diferenciação social na religião.
5 Era um deus adorado pelos amonitas, onde o povo entregava seus próprios filhos na fornalha a esse deus. Muitos linguistas
atribuem a origem da palavra ‘moleque’ a esse deus canaanita.
6 Prefere-se o uso do termo ‘religiosidade’ ao invés de ‘religião’, uma vez que a primeira está ligada à origem proveniente do
grego theleios, que significa ‘viver das aparências do templo’ (puro aspecto externo), enquanto que o segundo ao latim religare
(interno), que significa ‘religação’, ‘reconexão’ com o divino. Entenda-se que o primeiro é ruim, o que está ligado a todo o
fundamentalismo e extremismo religioso que sempre vimos ao redor do mundo, enquanto que o segundo à conexão pura e
simples com Deus.
123
UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Cada grupo tende a criar e desenvolver seu próprio sentimento de solidariedade inserido em uma comunidade maior,
Consequências sociológicas, no interior do povo, no Estado ou nação, e eventualmente pode vir a corromper por completo a solidariedade desta
associações profissionais unidade maior. Na sociedade Africana, principalmente no século XVII, no Egito, Grécia, China, Coreia; Roma antiga; no
Islã e algumas outras temos exemplos de consequências drásticas sociológicas com influências de associações.
A influência da estratificação profissional, econômica e social sobre as atitudes religiosas na sociedade primitiva é
mais ampla do que aceita em geral. À medida que a especialização se torna mais forte e assertiva, formam-se grupos
baseados em bens e posição social, concepções religiosas, instituições e hábitos, dentro de diferentes camadas da
Diferenciação social em sociedade, e iniciam a diversificar-se em grau considerável.
civilização mais elevada
A religião dos guerreiros, do México e seus soldados; o Mitraísmo (culto militar de Mitra no Irã); o Zen-budismo (na
China); a Religião do Mercador (muito estudada por Max Weber); Religiões do Camponês (na Ásia Ocidental) são
exemplo deste tipo de diferenciação.
Wach (1990, pp. 397-447) traz alguns tipos de autoridades espirituais nas diferentes
culturas, as quais não iremos detalhar, mas apenas citar, a fim de que possam servir de
conhecimento futuro, a saber: carisma e liderança; fundador de religião; reformador;
profeta; vidente; mago, adivinho, santo, sacerdote, religiosos e seguidores.
124
Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
Religiões africanas
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UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
Associação do exame, é para Desroche, certamente a mais antiga, uma vez que
praticamente se deu ao longo de doze séculos (do VII ao XIX). Por meio de vias comerciais
dos desertos trilhadas por conta dos negócios, pela conquista ou pela missão, o Islã
norte-saariano penetrou no Sul a ponto de até mesmo fundar reinos e impérios!
Religiões oceânicas
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Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
cavalgam durante suas danças. Simultaneamente, são mais do que um simples culto de
proteção, pois levam em consideração a história que sobrepõe os arquétipos naturistas.
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UNIDADE III │ ANTROPOLOGIA, TEORIA E CULTURA
J. Guiart e P. Worsley fizeram uma relação de quase 70 cultos do cargueiro cujo o perfil
se deu através do século passado, não sendo verificada a cópia de um pelo outro, mas a
recorrência de um tipo de situação que determina tal tipo de representação.
Já por outro lado, “toda grande religião arrasta atrás de si uma quantidade de pequenas
religiões marginais, dissidentes, contestadoras: religião menores, certamente, mas
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Antropologia, Teoria e Cultura │ UNIDADE III
Desroche, por fim, traz que Salomon Reinach, em sua obra “Histoire gérérale des
religions” (1914) definia religião como um “conjunto de escrúpulos que dificultam o
livre exercício das nossas faculdades”. Essa ideia fora ainda alimentada por P. Hazard,
que alimentou uma polêmica religiosa magistralmente comentada como sendo “a crise
da consciência europeia” no século XVIII. Em concomitância a isto, Hume escreve suas
aversões à religião, endossadas por Voltaire.
129
Para (não) finalizar
Indicamos, portanto, os conteúdos para dar cadência aos seus estudos de temáticas
para pesquisas (não tratadas ou não necessariamente aprofundadas neste Caderno de
Estudos):
Leituras Recomendadas
KUROWSKI, Maristela. Psicologia Social e Antropologia: simbolismo e linguagem
à luz de Juan Cuatrecasas. Curitiba: Editora Juruá, 2015.
Bem como os livros abaixo (se houver versão mais recente em algum momento, tanto
melhor):
130
para (não) finalizar
131
Para (Não) Finalizar
Controle social: notas em torno de uma noção polêmica. Disponível em: <http://
dx.doi.org/10.1590/S0102-88392004000100020>.
132
para (não) finalizar
Gramsci além de Maquiavel e Croce: Estado e sociedade civil nos “Quaderni del
carcere”. Disponível em: <http://www.scielo.org.ve/scielo.php?script=sci_arttext&pi
d=S1315-52162007000100003>.
Sobre Comte
Augusto Comte e o “positivismo” redescobertos. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/S0104-44782009000300021>. Link curto: <http://goo.gl/MI6dbF>.
133
Referências
BALDUS, Hebert. Ensaio de etnologia brasileira. 2ª ed. São Paulo: INL, 1979.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do estado e ciência política. 2ª ed., atual.
São Paulo: Saraiva, 1989.
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à Ciência da Sociedade. 3ª ed. São Paulo: Ed.
Moderna, 2005.
134
Referências
______. Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
GALLO, Silvio. Ética e cidadania: caminhos da filosofia. São Paulo: Ed. Papirus, 1997.
135
Referências
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva,
1962.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de A. Sociologia geral. São Paulo: Atlas,
2010.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Tradução de Álvaro Pina. 1ª ed.
São Paulo: Expressão Popular, 2009.
136
Referências
PESSANHA, José Américo Motta. Sócrates: Vida e Obra. In: Os Pensadores. São
Paulo: Nova Cultural, 1996.
SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
137
Referências
VERNANT, Jean-Pierre. Entre mito & política. São Paulo: EDUSP, 2001.
138