Sei sulla pagina 1di 12

Crítica à abordagem da obra de Richard Hartshorne na Historiografia da

Geografia1

Marcel Di Angelis Souza Sandes


Universidade de São Paulo
marceldiangelis@usp.br / diangelis2@yahoo.com.br

1 - INTRODUÇÃO

As leituras sobre filosofia da ciência, feitas pelos geógrafos considerados os


principais comentadores da obra do geógrafo norte-americano Richard Hartshorne
podem ser agrupadas em dois blocos, com certo grau de generalização, obviamente.
Temos os que o leem como:

a) Tributário do kantismo e do neokantismo. Neste grupo estão, principalmente:


Schaefer (1953), Harvey (1969), May (1970), Livingstone e Harrison (1981),
Moraes (1995);
b) Positivista ou “proto-positivista”. Neste grupo estão Sack (1974), Guelke
(1978;1982), Gregory (1978) e Entrinkin (1981).

Sem sombra de dúvidas, o primeiro grupo é o mais numeroso e não por acaso
começou a se formar a partir do que a historiografia comumente classifica como
“revolução quantitativa”, a partir do artigo de Fred. K. Shaefer, intitulado
“Excepcionalismo em Geografia” (1953). Em termos gerais, o que se argumenta é que a
carga subjetiva de interpretação depositada nas mãos do pesquisador no momento de
realizar a regionalização com base nos dados empíricos que dispõe, e o foco da
geografia hartshorniana na busca da identificação do caráter único das áreas
diferenciadas sobre a superfície terrestre são fatores limitantes ao anseio da geografia

1
Artigo resultante de pesquisa em nível de mestrado (em andamento) na Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
por se tornar uma ciência à imagem e semelhança de ciências sistemáticas como a
economia.
É por essa razão que a maioria significativa dos manuais de geografia e suas
histórias etapistas da disciplina costumam classificar a obra de Hartshorne em “escolas”
como a Geografia Tradicional ou como o Geografia Racionalista. No Brasil, para citar
apenas os casos mais ilustrativos e conhecidos da audiência geral da geografia, são os
casos de: Por uma Geografia Nova, de Santos (2008)2 e Geografia: Pequena História
Crítica, de Moraes (1995). Embora este último indique o fato de que Hartshorne
antecipou algumas questões da “revolução quantitativa” e de que sua obra estava ligada
ao planejamento estatal capitalista, no final, o autor acaba classificando Hartshorne
como ilustre representante da Geografia Racionalista, ao lado de Alfred Hettner.
Em nível internacional, o problema não é menos grave, apesar de existirem as
exceções representadas pelo grupo de geógrafos que tratam Hartshorne como um
positivista. O artigo citado de Schaefer (1953) e a imensa monografia de David Harvey,
Explanation in Geography (1969), considerada o primeiro livro a apresentar com
solidez os fundamentos e o modelo de explicação científica que deveria guiar a
abordagem quantitativa, são os dois grandes textos que primeiro colocam à mostra as
raízes kantianas e neokantianas da obra de Hartshorne.
Segundo Harvey (1969), Hartshorne faz pouca menção à filosofia analítica,
mesmo naqueles capítulos dos seus dois livros que são dedicados mais à explicação
científica do que aos objetivos. Das 10 referências sobre filosofia da ciência do principal
livro de Hartshorne, The Nature of Geography (1939), segundo Harvey, apenas duas
podem ser consideradas “analíticas” em sua abordagem. Já no livro de 1959,
Perspectives on The Nature of Geography, Harvey afirma não ser possível encontrar
nenhuma referência à filosofia analítica. As razões para tal ausência para Harvey
poderia se o fato de que nenhum dos dois livros era um trabalho concernente à
explicação científica diretamente, mas referentes à natureza, ao escopo e ao propósito da

2
Milton Santos na verdade pouco fala sobre Hartshorne no seu famoso livro. Mas o pouco que o faz, ou
pelas ocasiões em que deixa de fazê-lo, deixa claro que para ele Hartshorne não merece considerações
significativas ao se falar em “abordagem quantitativa em Geografia”.
Geografia. Existiria, não obstante, um bom tratamento em The Nature que teria a ver
com explicação científica, simplesmente porque um conjunto particular de objetivos às
vezes implica um quadro particular para a explicação.
Ao fim, David Harvey opta por afirmar que a filosofia da ciência presente em
Richard Hartshorne era representativa do final do século XIX, e não ilustrava os
desenvolvimentos do início do século XX. Frise-se que tanto Schaefer quanto Harvey
estavam preocupados em estabelecer as bases do que consideravam ser uma nova
abordagem para a geografia. E para tal empreitada parece ser razoável que o maior
expoente da abordagem regional nas décadas de 1940 e 1950 precisava ser apresentado
em todas as suas falhas e limitações. Não por acaso Hartshorne é o autor mais citado em
Explanation in Geography, de Harvey. Fechado o futuro, em direção a um novo
“consenso” do que deveria ser a geografia, fechava-se, assim, o passado. E a obra de
Hartshorne jazia assim como um exemplo historio do que outrora havia sido a
geografia.
Somente nas décadas de 1970 e 1980, num período curto, de apenas oito anos, é
que será levantada a questão de se não haveria a possibilidade de conciliação entre a
abordagem corológica de Hartshorne e a da chamada ciência espacial, cujo artigo de
Schaefer (1953) é considerado pioneiro. Sack (1974), Guelke (1978), Gregory (1978) e
Entrinkin (1981) desenvolvem alguns argumentos semelhantes. De modo geral, segundo
esses autores, teria havido, por parte de Hartshorne:

a) a adoção de um esquema de explicação ou mesmo a acomodação do método


dedutivo-nomológico de explicação científica dentro do seus sistema
explicativo, formalizado anos mais tarde por membros do Círculo de Viena,
movimento base da “revolução quantitativa em geografia”;
b) a adoção de uma concepção expandida de lógica da ciência;
c) a adoção da unidade das ciências, não obstante a divisão entre método
idiográfico e nomotético na geografia;
d) a adoção da observação e da classificação como primeiros passos para a
formulação de leis;
e) a exclusão de qualquer concepção de processo (tempo);
f) a adoção da abordagem empiricista;
g) o interesse na conectividade geométrica entre os fatos.

Queremos afirmar que tanto o primeiro grupo de geógrafos, que apresentam as


raízes kantianas e neokantianas de Hartshorne, quanto o segundo grupo, que apresentam
questões que poderiam ligá-lo ao movimento neopositivista de filosofia da ciência,
estão corretos. Os problemas são dois:

a) qualquer uma das abordagens, tomada isoladamente, representa apenas


uma apreciação unilateral do problema – limitando a riqueza que uma
análise dialética poderia trazer;
b) o segundo grupo de geógrafos, embora tenha conseguido identificar
elementos importantes, não alcançou na inteireza a tese que propomos
enunciar da seguinte maneira: há dois movimentos de filosofia da
ciência dentro da obra de Richard Hartshorne, com posições e funções
claramente definidas no todo do seu esquema expositivo da geografia
como ciência.

2 - OBJETIVOS

Este artigo, que é parte de uma pesquisa mais ampla em nível de mestrado, que
está sendo desenvolvida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, tem por objetivo trazer contribuições ao debate travado na
historiografia da geografia pelos dois grupos de geógrafos apresentados, mostrando seus
limites e propondo-lhes avanços.

3 - METODOLOGIAS
Esta pesquisa adota como método analítico o materialismo histórico dialético
formulado por Karl Marx e com contribuições significativas feitas por István Mészáros.
Para essa concepção filosófica formas sociais transpassam formas de reprodução social
historicamente específicas. Contraditoriamente, em cada uma destas, as formas sociais
assumem especificidade histórica. Perceber as continuidades nas descontinuidades e as
descontinuidades nas continuidades é tarefa da maior importância para não incorrermos
na unilateralidade das narrativas históricas que propomos avaliar criticamente.
Além desses aspectos, o que é contingência em determinado momento histórico,
pode assumir a forma de necessidade em outro. Dessa relação dialética complexa, põe-
se a questão de que, para as concepções burguesas da história, estaríamos diante das
mesmas formas sociais desde tempos imemoriais, donde se infere que o sistema do
capital é algo natural porque trans-histórico. As narrativas burguesas da história ao
fecharem o futuro (o fim da história), fecham necessariamente o passado. O passado
longínquo é recontado como o alvorecer dessa forma historicamente especifica de
reprodução social, assim como Ulisses é o protótipo do homem burguês para Adorno e
Horkheimer.
Essas reflexões são de grande importância porque vão implicar na crítica da
classificação de Hartshorne que foi feita pela escrita da História da Geografia nos
manuais dessa disciplina.
Além desses aspectos, abordamos as concepções filosóficas e científicas dos
autores trabalhados na pesquisa não simplesmente como criações individuais ou de
comunidades científicas. Mais do que isso, analisamo-las como formas de consciência.
Não se trata de meramente afirmar, como Sartre, que as concepções refletem o
movimento geral da sociedade, mas mostrar que elas estabelecem reciprocidade
dialética com essa realidade que a gerou, ou seja, se inscrevem nas condições históricas
de mediação dos homens com a natureza e dos homens com os homens, que assumem
uma forma de moldura estrutural, e atuam ativamente nessa realidade histórica. As
circunstâncias fazem os homens e os homens fazem as circunstâncias.
As molduras estruturais – dentro dessas formas históricas de mediação dos
homens com a natureza e entre si – prescrevem um quadro muito geral no qual se
emaranham os pensadores. Daqui se pode refletir que não necessariamente estaremos
diante de concepções fundamentalmente diferentes em função do passar de décadas,
pois ambas - quando não todas - podem compartilhar do mesmo ponto de vista. Daí se
conclui, com Mészáros, que é possível e até normal que exista mais de uma filosofia
viva em determinado momento histórico, ambas compartilhando, estruturalmente, o
ponto de vista da economia política que privilegia a perspectiva do capital. Estamos
diante de uma pluralidade de concepções, mas reflexo da pluralidade de capitais
inerente ao sistema capitalista.
Mesmo os manuais classificados como críticos na geografia, ao postularem uma
ideia evolucionista que ruma à melhor das escolas da geografia, precisa olhar para o
passado como algo que passa, classificando de maneira etapista e evolucionista as
concepções específicas desenvolvidas por certos indivíduos que atribuíram aos seus
trabalhos o rótulo da geografia, ou que tiveram esse rotulo atribuído por outros. Mais
que isso: olha o passado a partir do que considera ser a longa tradição de uma disciplina,
fechando a sua investigação ao que identifica ser geográfico. Como nota Neil Smith,
cria-se um Museu Privado para a Geografia, dispondo as suas relíquias em salas, num
roteiro organizado com a finalidade de causar emoção no visitante.

4 - RESULTADOS PRELIMINARES

Hartshorne adotou a concepção do particularismo histórico que havia ganho


grande projeção entre o fim do século XIX e o início do século XX, fruto do trabalho
dos neokantianos3.
É por essa razão que Stoddart (1986) está correto em afirmar que não estão
presentes nos textos de Hartshorne menções a Darwin, Marx e Freud. Isso significa um
abandono das grandes explicações estruturadas, também chamadas por Harvey (1989)

3
Em termos políticos, a abordagem que afirma não haver sentido ou explicação racional para a história se
identifica com a perspectiva burguesa. Para a perspectiva do capital a história não faz sentido ou ela é a
mesma desde sempre. A “tese do único” afetou não apenas a sua forma de abordar o que é a Geografia,
como Harvey (1969) sugere – uma área de estudos que se preocupa em analisar a diferenciação da
superfície da terra em partes diferentes, únicas –, mas também a sua concepção de história.
de “metanarrativas”. Johnston (1982) afirmou ser a abordagem de Hartshorne uma
tendência à generalização, como os “paradigmas anteriores do determinismo e do
possibilismo ambientais” o foram, mas sem adotar significativamente estruturas causais
de explicação. Significa dizer, à primeira vista, que para Hartshorne as explicações para
os fenômenos geograficamente verificáveis não poderiam se amparar em um único
arcabouço de leis que previsse desdobramentos sistemáticos e/ou futuros. Desta forma,
abandonava-se claramente a explicação causal, com todas as implicações políticas que
esse abandono pode trazer4.
Hartshorne, assim, fugia de várias abordagens que facilmente são colocadas sob
um mesmo rótulo do “determinismo”5: marxismo, darwinismo, determinismo
ambiental, etc. Passado e futuro dificilmente mostrariam, para Hartshorne, uma clara
linha de continuidade em termos de temporalidade histórica6.
Também por essa razão, a história e a geografia poderiam se apartar como
campos disciplinares isolados. A análise espaço-temporal, embora na sua época já
permitida em termos materiais e teóricos pelo desenvolvimento das técnicas e pelas

4
Até porque isso iria na contramão da tese da falibilidade do conhecimento científico que Hartshorne
claramente adotou, tese que tem potencial afinidade com o particularismo histórico dos neokantianos, já
que ambas abandonam a possibilidade de uma previsão do futuro, especialmente nas ciências sociais ou
“do espírito”. A questão da falibilidade do conhecimento científico é um dos caminhos pelos quais iremos
articular mais adiante a proposta científica de Hartshorne a um segundo movimento de filosofia da ciência
diferente do neokantismo, este já bastante reconhecido na historiografia da geografia. Por outro lado, o
uso da lógica matemática é uma tentativa de resolver em termos teóricos, formais, esse problema, ao
tentar resolver no outro extremo do esquema científico de Hartshorne a questão da formulação de leis
científicas, de previsões, o que desautoriza os estudiosos da historiografia da geografia a afirmarem quem
Hartshorne encerra sua abordagem na identificação do único, do excepcional, ou nos termos de Schaefer,
no “excepcionalismo em Geografia”. Contudo, Hartshorne não consegue fugir a certas contradições,
como quando fala da sobre a bacia de Paris (1939, p. 404) ou sobre o afrouxamento da conjuntura em
favor do processo (1959), como um estatístico que monta uma “série histórica estatística” de alguns
poucos anos para poder prever em tantos outros os desdobramentos de algum processo.
5
Uma das principais razões que se pode apontar para Hartshorne fugir às explicações deterministas é o
fato de que ele acreditava profundamente que o livre arbítrio humano era capaz de tornar a história e a
geografia imprevisíveis.
6
Como Mészáros nota em seus textos, o abandono da razão/temporalidade histórica foi a característica
metodológica mais forte do tempo histórico de Hartshorne e de todo o século XX. Hegel havia sido
declarado um cachorro morto. Irônico é perceber que, pelo menos para a escrita de uma história da
Geografia, Hartshorne conseguiu encontrar uma clara linha de continuidade, tendo incluído na linhagem
do seu “museu privado da Geografia” um filósofo do calibre de Kant. Ainda que afirme que Kant,
Humboldt e Hettner tenham chegado às mesmas conclusões de maneira independente.
abordagens do materialismo dialético e da relatividade geral de Einstein, deveria
permanecer desconsiderada. À história, o tempo; à geografia o espaço.
Essa concepção tinha em Kant um dos seus grandes formuladores, como cita
Hartshorne em The Nature of Geography (1939). Kant, um dos grandes mestres da
lógica, havia debruçado suas atenções sobre a geografia. Mas as menções à lógica que
abundam no texto de Hartshorne parecem não falar sempre da mesma lógica.
Não por acaso é esse um dos pontos em que há uma duplicação de caminhos no
pensamento de Hartshorne, fazendo com que a sua concepção científica esteja assentada
sobre dois grandes movimentos de filosofia da ciência, tese ainda não suficiente e
corretamente escrita pelos estudiosos da historiografia da geografia.
Hartshorne era um matemático em busca de alguém que tivesse dado o
tratamento mais lógico à Geografia. Ele o encontrou em Alfred Hettner, a quem elegeu
por vários motivos: filósofo de formação, de argumentação mais lógica e mais clara,
interessado desde jovem no estudo da geografia e dedicado ao debate do método. O
“mais lógico” de Hettner era fruto da sua fonte direta: a escola neokantiana de
Marburgo e a lógica de Wundt. Mas parece que o “tipo” de lógica formal encontrada no
neokantismo precisava de outra lógica para que a ciência geográfica de Hartshorne
estivesse completa: a lógica matemática. No seu bacharelado em matemática e nos
textos de filosofia da ciência que leu para escrever o The Nature, Hartshorne aprendeu
que para os matemáticos a lógica formal clássica não era suficiente para proporcionar o
rigor necessário às investigações científicas da virada do século XIX para o século XX.
Aí entram Benjamin e Charles Peirce, Frege, Whitehead e Russel, os filósofos que
conformaram as bases de influência para o positivismo lógico do Círculo de Viena.
Se a historiografia da geografia toma como referência o movimento do círculo
de Viena para tentar rastrear as possíveis influências sobre o trabalho de Hartshorne,
esquece que Hartshorne era matemático de formação e que esses desenvolvimentos, que
ele já conhecia, eram mais profundos do que simplesmente a filosofia analítica,
implicando na sua base própria crítica à lógica formal aristotélica (lógica proposicional),
adotada por Kant e pelos filósofos neokantianos.
O próprio método dedutivo-nomológico, que só seria formalizado anos mais
tarde pelos membros do círculo de Viena estava já em debate pelo filósofo Karl Popper
em 1934, independentemente do estabelecimento de relações com o Círculo de Viena.
Além disso, temas como a falibilidade do conhecimento científico, o método de
hipóteses, “rudimentos” do método dedutivo-nomológico e a força da lógica matemática
como linguagem e meio para um conhecimento científico seguro já haviam chegado às
mãos de Richard Hartshorne antes que o debate da historiografia da geografia tenha
notado, especialmente porque filósofos como Charles Peirce, Morris Raphael Cohen e
Frederick Barry já eram conhecidos de Hartshorne durante a escrita de The Nature.
Dessa maneira, pensamos que o duplo movimento de filosofia da ciência na obra
de Hartshorne possa ser resumido na forma que segue.

a) De Kant e dos Neokantianos (Rickert e Dilthey) ele adota:


- A Teoria do Conhecimento de Kant;
- A Ciência dividia entre ciências físicas e ciências do espírito (Ciências
Idiográficas e Nomotéticas);
- A Filosofia da Geografia (em Kant e em geógrafos eminentes Hartshorne
encontra questões de demarcação do campo da geografia e do seu propósito. A
geografia seria encarregada do espaço e a história encarregada do tempo).

b) Do movimento da Lógica Matemática e dos debates entre Charles Sanders


Peirce, Karl Popper e Morris Raphael Cohen ele toma de empréstimo:
- Rudimentos do Método Dedutivo-Nomológico de Explicação Científica;
- A idéia da falibilidade do conhecimento científico;
- A preocupação com a clareza da linguagem como meio para um conhecimento
científico seguro;
- O Método de Hipóteses.

Essas questões se tornam mais claras se analisamos os fatos de que:

a) Embora The Nature seja um livro extenso, o seu projeto original não incluía
tamanha extensão. Ele havia sido um livro encomendado para fazer frente a
um debate sobre método da geografia na década de 1930 nos EUA. Os
acréscimos que foram sendo feitos ao longo da escrita do livro foram
sugeridos pelo editor dos Anais da Associação dos Geógrafos Americanos e
não eram a intenção original de Hartshorne. Esses acréscimos na estrutura do
livro ofuscam em parte o fato de que existem duas partes bem distintas em
termos de filosofia da ciência: a primeira, onde menções à lógica e a
sistemas aparecem lado a lado com os nomes de Kant e Hettner; a segunda,
onde Hartshorne busca fortalecer a cientificidade do seu projeto de
geografia, valendo-se, para tal, de expressões como teste de hipóteses,
métodos estatísticos, lógica matemática, acompanhadas dos nomes de
filósofos norte-americanos como Morris Cohen Raphael e Frederick Barry,
os quais supomos serem as duas referências de filosofia analítica que Harvey
(1969) diz estarem presentes em The Nature. Não por mera coincidência, nos
subcapítulos do livro onde aparecem estes dois filósofos, Hartshorne não faz
nenhuma menção a Kant ou a Hettner. Os próprios filósofos neokantianos da
escola de Baden haviam reconhecido que o seu mestre, Kant, havia sido
ultrapassado pelos logicistas matemáticos em matéria de lógica.
b) Entre The Nature (1939) e Perspectives (1959), passam-se duas décadas, e
fica mais clara a adesão de Hartshorne ao movimento filosófico da lógica
matemática. Para a dialética, quantidades se transmutam em qualidades.
c) Hartshorne era matemático de formação e, além de ter lido para a escrita do
The Nature os dois filósofos norte-americanos citados acima, concluiu a
escrita do seu famoso livro em Viena, além do seu irmão Charles Hartshorne
– eminente filósofo norte-americano – ter sido um dos responsáveis pela
edição dos pappers de Charles Sanders Peirce nos EUA e pela contratação de
Carnap, o “cérebro” do Círculo de Viena para a Universidade de Chicago em
1936. Segundo Geoffrey Martin, Richard e Charles manteriam íntimo
contato ao longo de toda a vida.

Pensamos que essas questões permitem reacender um debate que se supunha


encerrado, além de questionar os escritos da historiografia da geografia.
5 – BIBLIOGRAFIA

ENTRINKIN, Nicholas. Philosophical issues in the scientific study of regions. In: D. T.


Herbert e R. J. Johnston (eds.), Geography and the urban environment, volume 4
(Chichester, John Wiley, 1981, pp. 1-27).

GREGORY, Derek. Ideology, science and human geography. Londres, Hutchinson,


1978.

GUELKE, Leonard. Geography and logic positivism. In: D. T. Herbert e R. J. Johnston


(eds.), Geography and the urban environment: progress in research and applications,
volume 1 (Londres, John Wiley, 1978, pp. 35-61).

HARTSHORNE, Richard. Perspectives on the Nature of Geography. Chicago: Rand


McNally, 1959.

. The Nature of Geography: A Critical Survey of Current Thought in the Light of


the Past. Annals of the Association of American Geographers, Vol. 29, No. 3/4 (Sep.,
1939), pp.173-658.

HARVEY, David. Explanation in Geography. Londres: Edward Arnold, 1969.

_______. A Condição Pós Moderna. São Paulo: Loyola, 2002.

JOHNSTON, R. J. Geografia e Geógrafos. São Paulo: DIFEL, 1982.

LIVINGSTONE, N. D. e HARRISON, R. T. Immanuel Kant, subjectivism, and human


geography: a preliminary investigation. Transactions, Institute of British Geographers
NS6, 359-74, 1981.

MARTIN, Geoffrey. In Memorian: Richard Hartshorne, 1899-1992. Annals of the


Association of American Geographers, 1994, 84, nº 3, p. 480-492.

MAY, J. A.. Kant’s concept of Geography: and its relation to recent geographical
thought. Department of Geography, University of Toronto, Research Publication 4,
Toronto, 1970.

MÉSZÁROS, István. Estrutura Social e Formas de Consciência: A Determinação


Social do Método. São Paulo: Boitempo, 2009.

_______. Estrutura Social e Formas de Consciência: A Dialética da Estrutura e da


História. São Paulo: Boitempo, 2011.
_______. Filosofia, Ideologia e Ciência Social (1986). São Paulo: Boitempo, 2008.

_______. O Poder da Ideologia (1989). São Paulo: Boitempo, 2012.

MORAES, A. C. R. Geografia: Pequena História Crítica. São Paulo: Anamblume,


1995.

SACK, Robert. Chorology and spatial analysis. Annals, Association of American


Geographers 64, 439-52, 1974.

SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. São Paulo: Edusp, 2008.

SCHAEFER, Fred. K.. Exceptionalism in geography.: a methodological examination.


Annals, Association of American Geographers. 43, 226-49, 1953.

STODDART, D. R. On Geography: and its history. Londres: Basil Blackwell, 1986.

Potrebbero piacerti anche