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Lisboa
Outubro de 2018
Admirável mundo do efeito suspensivo automático
A novidade levantada pelo regime do artigo 103.º-A do CPTA na
reforma do contencioso pré-contratual português
Lisboa
Outubro de 2018
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 2
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 17
1
INTRODUÇÃO
Sem mais demoras, e sabendo que nos poderíamos depreender com muitas mais
questões sobre este jovem regime, passamos então à análise das questões essenciais desta
reflexão.
2
1. A FIGURA DO EFEITO SUSPENSIVO AUTOMÁTICO: IMPORTAÇÃO DO
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA PARA O DIREITO PORTUGUÊS
1
Falamos da Diretiva 2007/66/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de dezembro, que veio
alterar as Diretivas 89/665/CEE e 92/13/CEE do Conselho no que diz respeito à melhoria da eficácia do
recurso em matéria de adjudicação de contratos públicos.
2
VIEIRA DE ANDRADE, A Justiça Administrativa, Lições, 15ª edição, Almedina, 2016, p. 242.
3
A opção do legislador português foi adaptar as alterações ao regime processual e à ordem jurídica
portuguesa, embora noutros países europeus se tenham criado órgãos administrativos independentes para
conhecer destes litígios, como por exemplo, o caso de Espanha e a criação do Tribunal Administrativo
Centra de Recursos Contractuales, cf. VIEIRA DE ANDRADE, A Justiça …, cit., pp. 239 – 240, nota 563.
4
Em sentido contrário, MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Manual de Processo Administrativo, Almedina,
3ª Edição, 2017, p. 134, RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA, “A tutela “cautelar” ou provisória associada à
impugnação da adjudicação de contractos públicos,” Cadernos de Justiça Administrativa, 115, n.º 115,
página 20, e MARGARIDA O. CABRAL, “O contencioso pré-contratual no CPTA revisto – algumas notas”,
Lisboa, CEJ, fevereiro de 2017, pp. 58 – 65, que assumem tratar-se de uma opção autónoma do legislador,
sem qualquer pressão do Direito da União Europeia.
5
Cf. nota 1.
6
DUARTE RODRIGUES SILVA, “O levantamento do efeito suspensivo automático no contencioso pré-
contratual”, Cadernos Sérvulo de Contencioso Administrativo e Arbitragem, n.º 01/2016, p.4.
3
despacho jurisdicional sobre a pretensão em causa, pois tal só irá ser um sinal de reforço
da efetividade dos mecanismos processuais, isto é, o objetivo é a correção do «défice de
tutela jurisdicional dos participantes em procedimentos de contratação pública»7, de
modo que seja possível uma impugnação do ato de adjudicação em tempo útil.
Do Código dos Contratos Públicos (CCP) já constava esta novidade, no artigo 104.º,
n.º 1, alínea c), surgindo, consequentemente, a necessidade de transpor este mecanismo
para o âmbito processual, que, até 2015, não previa este mecanismo.
Como já neste texto foi referido, o preceito foi fruto da influência do Direito da União
Europeia (mais concretamente, da Diretiva Recursos8) e o seu nº 1 estatui que «(a)
impugnação de atos de adjudicação no âmbito do contencioso pré-contratual urgente faz
suspender automaticamente os efeitos do ato impugnado ou a execução do contrato, se
este já tiver sido celebrado» (negrito nosso).
No decurso do que afirma MARCO CALDEIRA, tal como outros autores, este efeito
manifesta-se ope legis, ficando a entidade administrativa, imediatamente, impedida de
7
ANTÓNIO CADILHA, “Contencioso Pré-Contratual”, Revista Julgar, nº 23, Coimbra Editora, 2014, p. 208.
8
Cf. nota 1.
9
ANA CELESTE CARVALHO, «Aspectos Processuais da ação de contencioso pré-contratual e dos seus
incidentes, à luz do CPTA e do CCP revistos», Revista de Direito Administrativo, nº1, AAFDL Editora,
janeiro-abril 2018, p. 42.
4
executar o ato impugnado de adjudicação ou, já havendo contrato celebrado, de dar
continuidade ao seu cumprimento.
Assim sendo, dos litígios emergentes de procedimentos previstos no artigo 100.º, n.º
1, do CPTA, por um lado, se a intenção é a impugnação da decisão de adjudicação, há
efeito suspensivo automático, nos termos do artigo 103.º-A do CPTA, por outro lado, se
não se pretende impugnar a decisão de adjudicação, teremos a aplicação de medidas
provisórias, de acordo com o artigo 103.º-B do CPTA. Relativamente àqueles litígios de
procedimentos que não inseridos no artigo 100.º, n.º 1, do CPTA, terão de recorrer ao
regime das providências cautelares, constante do artigo 132.º do CPTA.
Parece necessário deixar assente, como forma de traçar esta distinção, que o efeito
suspensivo automático (só) operará quando em causa esteja uma daquelas situações.
Quando a satisfação de outras pretensões estiver em causa, como por exemplo, a
impugnação da decisão de qualificação ou de peças procedimentais, só poderão os
interessados socorrer-se das medidas provisórias do artigo 103.º-B do CPTA12.
Ainda a propósito deste ponto, importa ter em conta os casos em que o interessado
pretenda, após a impugnação de peças procedimentais ou da decisão de qualificação sem
decretamento ou pedido de medidas provisórias, impugnar o ato de adjudicação desse
procedimento pré-contratual que continuou em curso e fora proferida decisão final. Por
10
VIEIRA DE ANDRADE, A Justiça…, cit., p. 245.
11
MARCO CALDEIRA, “O “novo” contencioso pré-contratual (Tópicos desenvolvidos para uma
intervenção)”, Estudos Sobre o Contencioso Pré-Contratual, AAFDL Editora, 2017, p. 23, recordando a
preocupação expressa no Considerando (4) da Directiva 2007/667CE e a evidência desse problema no
Acórdão do TCA Sul de 24 de Novembro de 2016, processo n.º 919/16.7BELSB.
12
MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., p.22.
5
se considerar absurdo obrigar o interessado a instaurar um processo judicial ex novo e
fazer uma distinção das «duas situações materialmente idênticas»13, o legislador
consagrou, no artigo 63.º, n.º 2, do CPTA, a possibilidade de ampliação da instância,
especificamente para estes casos acima descritos, garantindo ao interessado a eficácia do
efeito suspensivo automático na sua impugnação. Nestes casos, será a notificação desse
requerimento de ampliação, nos termos do artigo 63.º, n.º 4, do CPTA, que terá como
consequência a suspensão dos efeitos do ato administrativo em questão14.
Por fim, dois lados se formam, quanto à ausência evidenciada no artigo 103.º-A, n.º
4, do CPTA, quando se questiona se o efeito suspensivo pode ser alternativamente
afastado pela adoção de medidas provisórias que se apresentem menos graves para os
interesses em causa. Seguindo o que MARCO CALDEIRA apresenta na sua obra, já
citada anteriormente, a doutrina apresenta duas perspetivas: «(d)e um lado, RODRIGO
ESTEVES DE OLIVEIRA entende que “deve responder-se afirmativamente à questão,
seja porque há de facto uma remissão no art. 103.º-A para o art. 120.º, n.º 2 (e assim
garantir-se-ia um significado útil a essa remissão), seja porque, numa lógica de
ponderação de interesses, o princípio da proporcionalidade joga um papel importante e a
admissibilidade de outras medidas ou providências (ou mesmo de contra-medidas) está
em sintonia com tal princípio”; de outro lado, entende DUARTE RODRIGUES SILVA
que, ao contrário do que sucede em sede do artigo 103.º-B, quando se está perante a
suspensão operada por via do artigo 103.º-A do CPTA, os Tribunais não estão legalmente
habilitados “a substituir o efeito suspensivo automático que decorre da impugnação do
ato de adjudicação por qualquer outra medida provisória”»15.
13
MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., p. 30.
14
MARCO CALDEIRA, “O “novo”…”, cit., p. 30, PEDRO MELO E MARIA ATAÍDE CORDEIRO, “O regime do
contencioso pré-contratual urgente”, Comentários à revisão do ETAF e do CPTA, CARLA AMADO
GOMES, ANA FERNANDA NEVES, TIAGO SERRÃO (Coord.), AAFDL editora, 2ª edição, 2016, pp.
674 e 680, e RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA, “A tutela...”, cit., p. 22, nota 21.
15
MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., p. …, notas 42 e 43, RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA, “A tutela
…”, cit., p. 26 e DUARTE RODRIGUES SILVA, “O levantamento …”, cit., p.4.
6
adjudicante não pode proceder à celebração do contrato»16. O legislador no artigo 103.º-
A, n.º 1, do CPTA, abstraindo-se do facto de que a suspensão não pode desconectar-se do
período de standstill, nada estabelece quanto à existência desse período, concluindo-se,
de tal modo, que a suspensão valerá para todas as ações de impugnação, nesta matéria,
incluindo aquelas que são apresentadas findo esse período17.
Tecidas já várias opiniões sobre a matéria, desde já cumpre salientar que nos
afastamos daquela que preconiza uma interpretação literal do preceito, que, em virtude
da sua formulação taxativa, pode levar a um mal-entendido por parte dos especialistas
menos atentos – se tal interpretação for convictamente defendida, afirmar-se-ia que a
mera apresentação da petição inicial, ou o seu envio, produziriam imediatamente o efeito
suspensivo.
Face à pouca clareza do preceito e fazendo todo o sentido que o próprio autor do ato
de adjudicação tenha conhecimento que os efeitos do ato administrativo, por si emanado,
foram suspensos, na mesma convicção de excelsos especialistas18, afirma-se que o
momento que releva, para a eficácia do efeito suspensivo, seja o da citação do réu –
solução semelhante ao que se encontra no artigo 128.º, n.º1, do CPTA19.
16
MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., p. 26.
17
No mesmo sentido, MARCO CALDEIRA, “O “novo”…”, cit., p. 26 – 27, acrescentando «Mais: a lei prevê
que a acção produz o seu efeito suspensivo mesmo nos casos em que, nos termos do CCP (maxime, do n.º
2 do seu artigo 104.º), a entidade adjudicante está habilitada a celebrar desde logo o contrato com o
adjudicatário, por esse período de standstill não ser legalmente aplicável». Em sentido contrário, ANTÓNIO
CADILHA, “O efeito suspensivo automático da impugnação de atos de adjudicação (art. 103.º-A do CPTA):
uma transposição equilibrada da Diretiva Recursos?”, Cadernos de Justiça Administrativa, n.º 119,
Setembro/Outubro de 2016, pp. 6 – 8, afirma que, para ambos os casos aqui descritos, se trata de um regime
que se afigura desproporcional e não assegura um equilíbrio dos interesses em causa, capaz de afetar «os
interesses da entidade adjudicante e do adjudicatário que legitimamente celebram e iniciam a execução do
contrato findo esse impedimento procedimental».
18
PEDRO MELO E MARIA ATAÍDE CORDEIRO, “O regime …”, cit., p. 671, MARCO CALDEIRA, “O “novo”
…”, cit., p. 26, VIEIRA DE ANDRADE, A Justiça…, cit., p. 245, nota 587, entre outros.
19
Ainda no mesmo sentido, vide Acórdão do TCA Sul de 30 de Março de 2017, processo n.º
964/16.2BESNT.
7
das «consequências de um ato execução depois da entrada da ação, e antes da citação da
entidade demandada»20.
20
MARGARIDA O. CABRAL, “O contencioso …”, cit., p. 57, dando ainda como exemplo na nota 7: «Pense-
se no exemplo de um contrato celebrado nesse período. Note-se que, conhecendo o atraso de alguns dos
nossos tribunais a citar, mesmo em processos urgentes, esta hipótese não é meramente académica.»
21
MÁRIO AROSO DE ALMEIDA e CARLOS ALBERTO FERNANDES CADILHA, Comentário ao
código de processo nos tribunais administrativos, Almedina, 4.ª edição, 2017, pp. 838 e 841, defendendo
que o efeito suspensivo acaba por resultar da efetiva impugnação, sendo que a citação tem como efeito
único a proibição da entidade demandada de executar o ato.
22
MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., p. 29.
23
MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., p. 28, ou seja, apesar de não estar expressamente previsto neste
regime, «decorrerá do bom senso e da própria natureza urgente do processo» o facto da citação não ser
voluntariamente exercida pelo mandatário do autor.
24
MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., p. 29.
25
ANA CELESTE CARVALHO, «Aspectos Processuais …”, cit., p. 42.
8
ter presente que devemos tramitá-lo, tal como referem autores como MÁRIO AROSO
DE ALMEIDA e MARCO CALDEIRA, como um incidente processual com a
consequência de o réu ou o contrainteressado deterem o ónus de alegar os prejuízos
existentes para o interesse público e de provar o que se invocou26.
Ao invés de recorrer, desde já, a uma análise doutrinal, cumpre analisar, numa
primeira ótica, de que forma a jurisprudência soluciona esta questão.
Numa decisão de primeira instância, o tribunal veio a julgar a ação acima proferida
como improcedente, tendo acabado por deferir o pedido de levantamento do efeito
suspensivo automático do ato de adjudicação apresentado pelo réu e pela
contrainteressada no processo.
26
Neste sentido, MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, Manual …, cit., pp. 395 – 396, RODRIGO ESTEVES DE
OLIVEIRA, “A tutela...”, cit., p. 18, nota 6, DUARTE RODRIGUES SILVA, “O levantamento...”, cit., pp. 9 – 10
e MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., p. 31.
27
Doravante, TCA Sul.
28
Acórdão do TCA Sul (…), disponível em:
http://www.dgsi.pt/jtca.nsf/170589492546a7fb802575c3004c6d7d/07f1670f2a3f9dd2802581c2002fabc5?
OpenDocument&Highlight=0,levantamento,do,efeito,suspensivo.
9
(alegou já ter caducado o prazo), e que (ii) o tribunal a quo não deveria ter decidido no
sentido de levantar o efeito suspensivo com fundamento na falta de fumus boni iuris,
sendo que tal fundamento não seria atendível para a ponderação de interesses constante
do artigo 103.º-A, n.º 2 e 4, do CPTA.
Sobre esta matéria, uma análise jurisprudencial não é bastante, tendo de se recorrer à
doutrina que tem tecido diversas considerações, nos mais variados sentidos, sendo
necessário concluir que não existe entendimento.
Do lado dos que sustentam que o prazo atendível deverá ser de 5 dias estão PEDRO
MELO e MARIA ATAÍDE CORDEIRO32.
29
Cf. nota 28.
30
Cf. nota 28.
31
Vide no mesmo sentido, MARCO CALDEIRA, “O “novo” …”, cit., pp. 33 – 34.
32
PEDRO MELO E MARIA ATAÍDE CORDEIRO, “O regime …”, cit., p. 671.
10
Apesar de se estar perante um processo urgente, consideramos não ser adequada a
interpretação supra, pois não só não tem acolhimento na letra da lei, como também não
se consegue encontrar uma justificação consistente para a sua aplicação, uma vez que se
afigura um período demasiado curto tendo em conta aquelas que são as finalidades do
levantamento do efeito suspensivo.
Respeitando a opinião do Autor, aquilo que é considerado pelo mesmo como a exceção,
para nós, acaba por, na prática, ser a regra. Na visão de um contencioso de salvaguarda das
posições jurídicas dos particulares, é mais adequado a não sujeição do pedido a qualquer tipo
de prazo, devido às circunstâncias supervenientes que possam vir a ocorrer.
33
RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA, “A tutela...”, cit., p. 23.
34
MÁRIO AROSO DE ALMEIDA e CARLOS ALBERTO FERNANDES CADILHA, Comentário …,
cit., p. 847.
35
VIEIRA DE ANDRADE, A Justiça…, cit., p. 245.
36
MARGARIDA O. CABRAL, “O contencioso …”, cit., p. 57.
37
MÁRIO AROSO DE ALMEIDA e CARLOS ALBERTO FERNANDES CADILHA, Comentário …,
cit., p. 842.
38
Cf. nota 34.
11
Ou seja, o resultado seria pouco harmonioso com a restante ordem jurídica. Não
podemos esquecer que a tarefa da interpretação deve sempre acompanhar o espírito do
ordenamento em que nos movimentamos, pelo que este exercício se afigura de
fundamental realização.
Nos termos do artigo 103.º-A, n.º 2 e 4, do CPTA, deve ser invocado e demonstrado
que o «diferimento da execução do ato seria gravemente prejudicial para o interesse
público ou gerador de consequências lesivas claramente desproporcionadas para outros
interesses envolvidos», sendo que o efeito suspensivo só poderá ser levantado caso os
danos de manutenção do efeito sejam superiores aos que resultem do seu levantamento,
depois da ponderação dos potenciais interesses lesados.
A fundamentação do TCA Sul, no caso que aqui analisamos, considera o fumus boni
iuris como relevante para a ponderar a realizar nos termos do artigo 103.º-A do CPTA.
Duas notas devem ser, desde logo, tidas em conta: (i) analisando o que resulta do
labor dos juristas, a doutrina apresenta dúvidas quanto à articulação entre o n.º 4 e o n.º 2
do artigo 103.º-A do CPTA e, quanto à remissão que este último faz para o artigo 120.º,
n.º 2, do CPTA.
12
Acompanhando esta linha de pensamento, é premente (ii) a possível dificuldade de
interpretação dos critérios que são apresentados no preceito (artigo 103.º-A do CPTA).
Com efeito, veja-se que, por um lado, o n.º 2 apela a conceitos que remetem para limites
absolutos, objetivamente verificáveis, mas por outro, o n.º 4 apela a um universo de
ponderação casuística.
Sem esquecer a remissão do n.º 2 para o artigo 120.º, n.º 2, do CPTA, que se nos
parece não mais que uma redundância, o TCA Sul tenta desembaraçar este nó e mostrar
como deve ser feita a ponderação de que aqui se fala.
Referem os Autores que «o juiz deve formular um juízo de valor relativo entre a
situação do impugnante e os interesses públicos e privados que se lhe contrapõem», sendo
que «só pode levantar o efeito suspensivo quando, na comparação do peso relativo dos
interesses em presença, conclua que os danos dele decorrentes para o interesses público
ou os interesses dos contrainteressados seriam consideravelmente superiores»40.
39
MÁRIO AROSO DE ALMEIDA e CARLOS ALBERTO FERNANDES CADILHA, Comentário …,
cit., pp. 844 – 845.
40
Cf. nota 37.
13
Rematando esta ideia, RODRIGO ESTEVES DE OLIVEIRA afirma que a ideia do
legislador parece «fazer depender a manutenção ou levantamento do efeito suspensivo de
um juízo de ponderação de interesses ou, talvez mais corretamente, de um juízo de
ponderação de danos»41.
Com efeito, podem ser tidos em conta fatores como a natureza do contrato, a sua
importância para concretização do interesse publico que lhe subjaz, o lapso temporal que
potencialmente ocorrerá até ao julgamento da ação, e, eventualmente, ao cenário relativo
à execução do contrato42.
14
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não sendo cego à opção do legislador, até pelo receio que possa causar a
interpretação literal de preceitos normativos, é razoável e defensável assumir que não
existe prazo algum para o pedido do levantamento do efeito suspensivo automático,
podendo ser levantado a todo o tempo, quando verificados certos pressupostos materiais,
veja-se o artigo 103.º-A, n.º 2 e 4, do CPTA.
43
MÁRIO AROSO DE ALMEIDA e CARLOS ALBERTO FERNANDES CADILHA, Comentário …,
cit., p. 835.
15
boa, não será ainda a ideal. Contudo, não foi nosso objetivo discorrer sobre essa questão,
embora muito se pudesse, sobre ela, escrever.
Entendemos que é necessário ter cautela no uso deste mecanismo, uma vez que existe
uma forte possibilidade de proliferação de decisões judiciais em diversos sentidos, e,
numa área, como a do contencioso pré-contratual, em que a litigiosidade é tão elevada,
tal poderá constituir um fator prejudicial para a prossecução da Justiça, levando à fuga
para outros mecanismos de resolução de litígios, tais como a arbitragem – que, aliás, saiu
reforçada com a revisão do CPTA em 2015 e do CCP em 2017.
16
BIBLIOGRAFIA
CADILHA, António
⎯ "O efeito suspensivo automático da impugnação de atos de adjudicação (art.
103.º-A do CPTA): uma transposição equilibrada da Diretiva Recursos?”,
Cadernos de Justiça Administrativa, n.º 119, Setembro/Outubro de 2016;
⎯ “Contencioso Pré-Contratual”, Julgar, nº 23, Maio-Agosto de
2014, (http://julgar.pt/wp-content/uploads/2014/05/10-Ant%C3%B3nio-
Cadilha.pdf);
CALDEIRA, Marco
⎯ “O “novo” contencioso pré-contratual (Tópicos desenvolvidos para uma
intervenção)”, Estudos Sobre o Contencioso Pré-Contratual, AAFDL Editora,
2017;
17
MELO, Pedro, e CORDEIRO, Maria Ataíde
⎯ “O regime do contencioso pré-contratual urgente”, Comentários à Revisão do
ETAF e do CPTA (coord. CARLA AMADO GOMES, ANA FERNANDA
NEVES, TIAGO SERRÃO), 2.ª edição, AAFDL editora, 2016;
18