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Sugestões de resposta
às atividades do
Caderno do Aluno
UNIDADE III – RACIONALIDADE
ARGUMENTATIVA
E FILOSOFIA

1. Argumentação e lógica formal


Questões de escolha múltipla
1. C 11. D 8. C 5. B
2. A 12. A 9. C 6. D
3. D Lógica silogística 10. D 7. C
4. A 1. C 11. C 8. A
5. C 2. D 12. B 9. C
6. D 3. A Lógica proposicional 10. D
7. B 4. D 1. C 11. C
8. D 5. B 2. B
9. A 6. B 3. D
10. B 7. B 4. C
Questões de verdadeiro/falso
1. F Lógica silogística 10. F 4. V
2. V 1. F 11. V 5. V
3. V 2. V 12. V 6. F
4. V 3. V 13. V 7. V
5. F 4. F 14. F 8. F
6. F 5. V 15. F 9. V
7. F 6. V Lógica proposicional 10. V
8. F 7. F 1. F 11. F
9. V 8. V 2. V 12. F
10. F 9. F 3. F 13. F

Exercícios de aplicação b) O morango é saudável.


1. De um ponto de vista lógico há uma diferença importante c) Os índios não têm preço.
entre os dois conjuntos de afirmações. Enquanto o d) Os fumos das fábricas contribuem para o aquecimento
segundo traduz um argumento, porque existe uma conexão global.
ou um encadeamento lógico entre as proposições 4. A validade é uma qualidade própria dos argumentos
expressas, sendo uma delas a conclusão, o primeiro que resulta do facto de as premissas apoiarem a conclusão.
conjunto Ela traduz uma certa relação entre os valores de verdade
não expressa um argumento, porque não se verifica das premissas e o valor de verdade da conclusão, o
qualquer conexão lógica entre as proposições. que ocorre de maneira diferente nos argumentos dedutivos
2. Os enunciados que expressam proposições encontram- e não dedutivos. A verdade, por sua vez, reporta-se
se nas alíneas a), d), f ), g) e j), porque são frases ao conteúdo ou matéria das proposições. Tal como dos
declarativas, as únicas que expressam proposições, por argumentos só pode dizer-se que são válidos ou inválidos,
poderem ser consideradas verdadeiras ou falsas. Os das proposições apenas se pode afirmar que são
restantes verdadeiras
– nas alíneas b), c), e), h) e i) –, constituindo frases ou falsas. Se estiverem de acordo com a realidade,
imperativas, promessas, interrogações e exclamações, e as proposições são verdadeiras; se não estiverem,
não sendo, portanto, suscetíveis de ser considerados são falsas.
verdadeiros 5. A validade dedutiva ocorre quando a conclusão de um
ou falsos, não expressam proposições. determinado argumento é uma consequência necessária
3. das premissas, ou seja, é um resultado que é impossível
a) A violência doméstica é imoral. não extrair das premissas do argumento. Tais argumentos
são, assim, avaliados em função da sua forma lógica. A Figura: 1.ª.
validade não dedutiva, por sua vez, é própria de argumentos c) Termo maior: «sujeitos eticamente elegíveis»; termo
que expressam resultados plausíveis, prováveis ou menor: «animais»; termo médio: «seres sencientes».
aceitáveis, suportados por premissas que, não garantindo Modo: AAA.
em absoluto a conclusão, acabam por sugeri-la. A validade Figura: 1.ª.
dedutiva é necessariamente resultado de uma certa forma d) Termo maior: «arte»; termo menor: «música»; termo
lógica, contrariamente à validade não dedutiva, que depende médio: «imitação».
de aspetos que vão para lá da forma lógica do argumento. Modo: AEE.
Lógica silogística Figura: 2.ª.
1. Ao nível da lógica silogística usam-se quantificadores e) Termo maior: «automóvel»; termo menor: «bicicleta»;
universais – «Todos», «Nenhuns» – e o quantificador termo médio: «veículo motorizado».
existencial – «Alguns». Eles permitem-nos saber se o sujeito Modo: AEE.
é tomado na sua totalidade ou somente em parte, ou seja, Figura: 4.ª.
se o predicado é afirmado ou negado de todos os membros f) Termo maior: «carnívoros»; termo menor: «vegetais»;
da classe a que o sujeito se refere, ou se o é apenas termo médio: «plantas».
de uma parte deles. Modo: IAI.
2. Figura: 3.ª.
a) Todos os polvos são moluscos. Todos os homens são g) Termo maior: «civis desobedientes»; termo menor:
mortais. «ativistas
b) Alguns animais são sexuados. Algumas aves são por grandes causas sociais»; termo médio: «pessoas
voadoras. justas».
c) Nenhum polvo é vertebrado. Nenhum homem é imortal. Modo: IAI.
d) Alguns animais não são sexuados. Algumas aves não Figura: 4.ª.
são voadoras. 8.
3. a) – 5; b) – 4; c) – 6; d) – 1; e) – 8; f ) – 3; g) – 2; h) – 7.
a) Subcontrárias. 9.
b) Contrárias. a) Alguns europeus são escandinavos.
c) Contraditórias. b) Os ratos não são gatos.
d) Contraditórias. c) A Terra é um astro.
e) Subalternas. d) A maioria dos cidadãos comuns não é terrorista.
f) Subcontrárias. e) Alguns homens de leste são comunistas.
g) Contraditórias. f) Alguns dos que vivem entre nós não são poetas.
h) Subalternas. g) Alguns fármacos têm efeitos secundários.
4. h) Alguns apreciadores de arte são homens práticos.
a) Nenhum polvo é vertebrado. 10.
b) Alguns adeptos de futebol são violentos. a) As palavras «margarida» e «Margarida» têm sentidos
c) Alguns advogados são astutos. distintos. Deste modo, o silogismo tem quatro termos e
d) Todos os desportistas são vencedores. não, como é suposto, apenas três.
e) Alguns automóveis não são poluentes. b) De duas premissas negativas não é possível inferir
f) Todos os ativistas são amantes da causa pública. qualquer conclusão.
5. c) Se uma premissa for particular, a conclusão também o
a) Encontra-se distribuído o termo «ferramentas». será, e neste caso não é: a conclusão deveria seguir a
b) Nenhum termo se encontra distribuído. parte mais fraca. Além disso, o termo maior («aquele que
c) Encontra-se distribuído o termo «atrevidos». tem razões para reivindicar o que é seu») encontra-se
d) Encontram-se distribuídos os termos «desertor» e distribuído na conclusão e não na premissa, cometendo-se a
«corajoso». falácia da ilícita maior.
e) Encontra-se distribuído o termo «confortáveis». d) O termo médio tem de estar distribuído pelo menos
f) Encontra-se distribuído o termo «terroristas». uma vez, e neste silogismo não está porque aparece
6. O termo maior é o predicado da conclusão, o termo
menor é o sujeito da conclusão e o termo médio é aquele
que, integrando as duas premissas, nunca surge na
conclusão.
7.
a) Termo maior: «criação»; termo menor: «escultura»;
termo médio: «arte».
Modo: AAA.
Figura: 1.ª.
b) Termo maior: «detentor dos órgãos sexuais de um só
género»; termo menor: «minhoca»; termo médio:
«hermafrodita».
Modo: EAE.
como predicado em proposições afirmativas (falácia do c) Nenhuma árvore é casa.
termo médio não distribuído). Algumas barracas são casas.
e) O termo maior, «sábios», está distribuído na conclusão Logo, algumas barracas não são árvores.
mas não o está na respetiva premissa, violando-se assim a 13.2.
regra que determina que qualquer termo distribuído na a) O silogismo é inválido, porque o termo menor («sonhador
conclusão tem de o estar também na premissa de que é ») está distribuído na conclusão e não está na premissa,
parte integrante. não se respeitando a regra que diz que nenhum
f) De duas premissas afirmativas não se pode inferir uma termo pode ter maior extensão na conclusão do que nas
conclusão negativa. Além disso, o termo médio («agentes premissas, e porque, havendo duas premissas afirmativas,
de autoridade») não está distribuído pelo menos uma se extrai uma conclusão negativa, não se respeitando a
vez. Finalmente, o termo maior («justos») encontra-se regra que diz que de duas premissas afirmativas não se
distribuído pode tirar uma conclusão negativa.
na conclusão e não na premissa (falácia da ilícita b) O silogismo é inválido, porque o termo menor («crentes
maior). ») está distribuído na conclusão e não está na premissa.
g) Se uma premissa for negativa, a conclusão também Não se respeita a regra que diz que nenhum termo pode
terá de o ser, e neste caso não é (a conclusão devia seguir ter maior extensão na conclusão do que nas premissas.
a parte mais fraca). c) O silogismo é válido, porque respeita todas as regras
h) O termo médio, que é «americanos», não está distribuído de validade.
nenhuma vez e deveria estar. Além disso, a conclusão 14.
não segue a parte mais fraca (a premissa maior – a) Todos os criativos são inteligentes.
note-se que o silogismo não obedece à forma canónica Algumas pessoas belas são criativas.
tradicional) e deveria segui-la. Logo, todas as pessoas belas são inteligentes.
11. b) Alguns estados mentais são dolorosos.
a) Válido. Algumas doenças são estados mentais.
b) Válido. Logo, algumas doenças são dolorosas.
c) Inválido. O termo médio não está distribuído pelo c) Alguns conformistas não são sábios.
menos uma vez. Nenhum caminhante é conformista.
d) Inválido. A conclusão teria de ser negativa, seguindo a Logo, alguns caminhantes são sábios.
parte mais fraca. 15.
e) Inválido. A palavra «hábitos» tem mais do que um a) Inválido. Falácia da afirmação do consequente.
significado, b) Válido. Modus ponens.
e não poderia ter: o silogismo apresenta quatro c) Inválido. Falácia da negação do antecedente.
termos. d) Válido. Modus tollens.
f) Inválido. Um dos termos da conclusão, «habitações de 16.
pano», estando distribuído na conclusão, teria de o estar c) Modus ponendo tollens: Ou me respeitas ou não colaboro.
também na premissa que integra e isso não acontece. Respeitas-me. Logo, colaboro.
g) Válido. Modus tollendo ponens: Ou me respeitas ou não colaboro.
12. Este silogismo é válido porque respeita a totalidade Não me respeitas. Logo, não colaboro.
das regras: d) Modus ponendo tollens: Ou fazes greve de fome ou a
– Tem apenas três termos: maior («criminosos»), menor injustiça perdurará. Fazes greve de fome. Logo, a injustiça
(«mentirosos») e médio («perversos»). não perdurará.
– O termo médio («perversos») não entra na conclusão. Modus tollendo ponens: Ou fazes greve de fome ou a
– O termo médio é tomado pelo menos uma vez em toda injustiça perdurará. Não fazes greve de fome. Logo, a
a sua extensão: na premissa menor, é predicado de uma injustiça perdurará.
proposição negativa. 17.
– Nenhum termo tem maior extensão na conclusão do a) Modus tollendo ponens:
que nas premissas. O termo maior está distribuído na Tens um livro ou uma casa.
conclusão, mas também na premissa. Não tens um livro.
– A conclusão segue a parte mais fraca: particular e Logo, tens uma casa.
negativa. Falácia:
– Não há duas premissas negativas nem duas premissas Tens um livro ou uma casa.
particulares, pelo que se pôde extrair a conclusão. Esta, Tens um livro.
sendo negativa, não resultou de duas premissas afirmativas. Logo, não tens uma casa.
13.
13.1.
a) Todo o ser pensante é existente.
Todo o existente é sonhador.
Logo, nenhum sonhador é um ser pensante
b) Todos os asiáticos são corajosos.
Todos os asiáticos são crentes.
Logo, todos os crentes são corajosos.
b) Modus tollendo ponens: 6.
Leio ou ouço música clássica.
Não leio. Interpretação Formalização
Logo, ouço música clássica. P: Deus existe. P ∨Q
Q: O mundo é
Falácia: P →R
absurdo.
Leio ou ouço música clássica.
R: Temos uma alma R ↔ ¬Q
Leio. imortal. ∴ P ∧ ¬Q
Logo, não ouço música clássica.

Lógica proposicional
P Q R P ∨ Q, P → R, R ↔ ¬Q =| P ∧ Q )
1. As proposições simples são aquelas em que não estão
presentes quaisquer operadores. Por exemplo: «António V V V V V F F F F
é árbitro.» As proposições complexas são aquelas em que V V F V F V F F F
está presente um operador ou mais do que um. Por V F V V V V V V V
exemplo: «António é árbitro ou Joaquim é pintor.»
V F F V F F V V V
F V V V V F F F F
2.
a) Não sabemos se a proposição é verdadeira ou falsa, F V F V V V F F F
porque o operador «acredita que» não é verofuncional. F F V F V V V F V
b) Verdadeira. F F F F V F V F V
c) Falsa. O argumento é inválido na medida em que há pelo
d) Não sabemos se a proposição é verdadeira ou falsa, menos uma circunstância em que as premissas são todas
porque o operador «admite a possibilidade de» não é verdadeiras e a conclusão é falsa.
verofuncional.
7. Modus ponens:
3. Se estudo, então sou inteligente.
a) V f) F Estudo.
b) F g) V Logo, sou inteligente.
c) V h) V
d) V i) F Modus tollens:
e) V j) F Se estudo, então sou inteligente.
Não sou inteligente.
Logo, não estudo.
4.

Expressão Interpretação Formalização Contraposição:


canónica Se estudo, então sou inteligente.
Ou Platão era P: Platão era ( P ∨Q ) ↔ (Q ∧ ¬R ) Logo, se não sou inteligente, então não estudo.
filósofo filósofo.
ou Sócrates era Q: Sócrates era Silogismo disjuntivo:
músico se, e músico. Estudo ou vejo televisão.
somente se, R: Aristóteles era Não vejo televisão.
Sócrates agricultor.
Logo, estudo.
era músico e
Aristóteles não era
agricultor. Silogismo hipotético:
5. Se estudo, então sou inteligente.
a) Se sou inteligente, então torno-me competente.
Logo, se estudo, então torno-me competente.
P Q Interpretação
V V F F F V F F V F Leis de De Morgan:
– Negação da conjunção:
V F F F V V F F V V
Não é verdade que estudo e vejo televisão.
F V V F F F V V F F
Logo, não estudo ou não vejo televisão.
F F V V V F F V V V – Negação da disjunção:
Não é verdade que estudo ou vejo televisão.
Estamos perante uma contingência, ou proposição Logo, não estudo e não vejo televisão.
indeterminada, pois a fórmula em causa tanto pode ser
verdadeira como falsa. Falácia da afirmação do consequente
Se estudo, então sou inteligente.
b) Não se trata de uma equivalência lógica, porque a fórmula Sou inteligente.
(como nos mostra a tabela de verdade) não é uma Logo, estudo.
tautologia.
Falácia da negação do antecedente c)
Se estudo, então sou inteligente. (P ∧ Q ) → R
Não estudo. R →S
Logo, não sou inteligente.
∴ (P ∧ Q ) → S
8.
a) Silogismo hipotético. A→B
b) O argumento é válido. B →C
∴A →C

Crucigrama
1 2
E 3 P
X R R
P 4 P A R A L O G I S M O
L C 5 P
I 6 I T O 8
C I O E 7 P R E M I S S A
I N C R I N
T D I M Ç T 10
9 A R G U M E N T O 11 Ã E F
T I C 12 C O N C L U S Ã 0
13 I N F O R M A L O E R
V 14 N D T
O S 15 F A L Á C I A 16 E N T I M E M A
Ó E N 18 S
L 17 D I S J U N T I V A S
I T E O
19 D E D U T I V O F
20 J U Í Z O I
S
M
A

Horizontais 1. EXPLÍCITA
4. PARALOGISMO 2. PROPOSIÇÃO
7. PREMISSA 3. RACIOCÍNIO
9. ARGUMENTO 5. TERMO
12. CONCLUSÃO 6. INDUTIVO
13. INFORMAL 8. ANTECEDENTE
15. FALÁCIA 10. FORTES
16. ENTIMEMA 11. CONCEITO
17. DISJUNTIVAS 14. SÓLIDO
19. DEDUTIVO 18. SOFISMA
20. JUÍZO
Verticais
2. Argumentação e retórica
Questões de escolha múltipla
1. B 5. C 9. A 13. B
2. A 6. C 10. D 14. A
3. C 7. A 11. A 15. A
4. A 8. B 12. C 16. C
Questões de
verdadeiro/falso
1. F 6. F 11. V 16. F
2. F 7. V 12. V 17. V
3. V 8. V 13. V 18. F
4. V 9. F 14. F 19. F
5. V 10. F 15. V 20. V
uma vez que se dirige a indivíduos em relação aos quais
se procura obter a adesão. Como tal, a argumentação é
Exercícios de aplicação contextualizada e situada, exigindo um contacto entre
sujeitos, entre o orador e os auditores.
1. É referido neste excerto que, ao nível da demonstração,
Por sua vez, a demonstração, uma vez que visa mostrar a
os signos utilizados são, «em princípio, desprovidos de
relação necessária entre a conclusão e as premissas, não
qualquer ambiguidade». Isto decorre da finalidade da
se ocupa da adesão do auditório à verdade das proposições
demonstração, que consiste em conduzir alguém a uma
em causa. Sendo do domínio da evidência, da
conclusão que resulte necessariamente das premissas.
necessidade, do constringente, a demonstração é impessoal
Neste processo, torna-se imperioso usar uma linguagem
ao nível da prova, e a validade que apresenta não
unívoca, obedecendo aos critérios objetivos da lógica formal.
depende em nada da opinião do orador nem das influências
Por sua vez, a argumentação desenrola-se «numa língua
do auditório. Sendo assim, e ao contrário da argumentação,
natural, cuja ambiguidade não se encontra previamente
ela é isolada de todo o contexto, não sendo influenciada
excluída». Com efeito, o objetivo da argumentação é
pelas reações do auditório.
conduzir alguém a uma conclusão apenas verosímil,
plausível, preferível e razoável. Para isso, é importante
4. O texto refere-se à promessa que a televisão constituiu,
seguir os critérios da retórica, os quais assentam na
nomeadamente para a publicidade. A televisão é «um
equivocidade própria da linguagem natural, permitindo uma
meio de transmissão tremendamente poderoso, super-
pluralidade de interpretações. A fim de provocar a adesão do
-rápido, supersuficiente e razoavelmente económico»,
auditório a uma determinada tese, importa usar uma
sendo capaz de levar os anúncios publicitários aos mais
linguagem persuasiva e convincente, seja ao nível do estilo,
diversos auditórios. O discurso publicitário é dirigido a
seja ao nível do conteúdo.
auditórios específicos, tentando responder a necessidades
e, ao mesmo tempo, criando-as.
2. De acordo com a afirmação, argumentar é encontrar-se
A televisão facilita amplamente este processo, introduzindo
numa “situação de comunicação”, a qual implica «parceiros
«ideias na mente do público», o que, no caso do
e uma mensagem, uma dinâmica própria». Ora o contexto
discurso publicitário, se traduz em mensagens curtas,
de receção faz parte dessa dinâmica. Ele refere-se
sedutoras, dirigidas à sensibilidade e à emoção, baseadas
ao conjunto das opiniões, valores e juízos que um dado
em promessas e em associações que são captadas pelo
auditório partilha. Estes antecedem o ato argumentativo,
inconsciente. Em simultâneo, este tipo de discurso acaba
desempenhando um importante papel na receção dos
por propor, de forma condensada, uma visão do mundo,
argumentos apresentados pelo orador.
um sistema de valores.
Uma vez que o objetivo principal do orador é convencer
e persuadir o auditório, levando-o a aceitar a tese que lhe
5. O discurso da propaganda política é dirigido a vários
é proposta, então é necessário que ele conheça o auditório,
auditórios particulares, procurando seduzi-los e sendo,
as suas opiniões, valores e juízos, para adaptar a sua
muitas vezes, manipulador e demagógico. Utilizando
mensagem a esse contexto de receção, o qual é
como técnicas discursivas as interrogações retóricas, as
determinante no grau de adesão à mensagem. Se o orador
expressões ambíguas e as repetições, este tipo de discurso
ignorar tal contexto, há uma maior probabilidade de a sua
reforça opiniões prévias. Sendo apoiado pelos
tese ser rejeitada.
meios de comunicação social, ele dá forma à opinião
pública, embora, em menor grau, também seja formado
3. A argumentação visa provocar a adesão de um
por ela.
determinado auditório às teses que lhe são colocadas pelo
orador. Sendo do domínio do verosímil, do plausível, do
6. Embora persuadir e convencer sejam conceitos
preferível, do provável, toda a argumentação é pessoal,
sinónimos, Perelman distingue-os: persuadir constitui o
objetivo do discurso dirigido a um auditório particular, o f) Indução por generalização.

que significa que o discurso persuasivo tem em conta a 10.


especificidade afetiva e valorativa do auditório; convencer b) Inválido, porque as semelhanças anatómicas entre os
constitui o objetivo do discurso dirigido a um auditório corpos dos porcos e dos seres humanos são menos
universal, o que significa que o discurso convincente relevantes (pelo menos neste contexto) do que as diferenças
parte de argumentos racionais que são universalizáveis, de funcionamento, não se podendo concluir que o porco
ou seja, aceitáveis, em princípio, por qualquer um dos também fica doente quando ingere alimentos estragados.
elementos do auditório. Ora, tradicionalmente, a filosofia d) Inválido, uma vez que não parte de casos particulares
encontra-se «associada às noções de verdade e de razão», representativos e existem, decerto, contraexemplos capazes
servindo-se de argumentos racionais que procuram ser de inviabilizar a conclusão.
aceites por qualquer ser racional, e, portanto, por um e) Válido, pois obedece aos requisitos exigidos,
auditório universal. nomeadamente ao facto de o especialista usado ser um
perito no tema em questão.
7. Ethos, pathos e logos constituem três noções
estabelecidas por Aristóteles no âmbito da relação retórica. 11.
Ethos é a dimensão relativa ao carácter do orador. Este a) O rio flui incessantemente. O tempo é como um rio.
deve ser virtuoso e credível para conseguir a confiança do Logo, o tempo também flui incessantemente.
seu auditório. Pathos é a dimensão relativa ao auditório. b) O relógio foi criado por um ser inteligente. O Universo
Este deve ser emocionalmente impressionado e seduzido. é como um relógio. Logo, o Universo foi igualmente
Logos é a dimensão relativa aos argumentos, ao discurso. criado por um ser inteligente.
O discurso deve estar bem estruturado do ponto de vista c) Uma equipa de futebol deve ser orientada por um
lógico-argumentativo, para que a tese se imponha como treinador democrático. Uma turma é como uma equipa de
verdadeira. futebol. Logo, uma turma deve ser orientada por um
professor democrático.
8. A indução como generalização consiste num argumento
cuja conclusão é mais geral do que a(s) 12. Para o argumento de autoridade ser considerado
premissa(s). Uma generalização é válida se cumprir dois válido deve cumprir os seguintes requisitos: o especialista
requisitos: se partir de casos particulares representativos usado deve ser um perito no tema em questão; não pode
e se não existirem contraexemplos. Um exemplo de uma existir controvérsia entre os especialistas do tema em
generalização válida poderá ser: Alguns gatos são questão; o especialista invocado não pode ter interesses
mamíferos. pessoais no tema em causa; o argumento não pode ser
Logo, todos os gatos são mamíferos. mais fraco do que outro argumento contrário.
A indução como previsão pode ser definida como o
argumento que, baseando-se em casos passados, antevê 13.
casos não observados, presentes ou futuros. A sua validade a) Falácia da causa falsa.
está dependente da probabilidade de a conclusão b) Falácia da petição de princípio.
corresponder, ou não, à realidade. Um exemplo poderá c) Falácia do falso dilema.
ser: Todos os corpos que observámos até hoje são dilatados d) Falácia do apelo à força.
pelo calor. Logo, todos os corpos que doravante e) Falácia ad hominem.
observarmos serão dilatados pelo calor. f) Falácia do apelo à ignorância.
g) Falácia do apelo à misericórdia.
9. h) Falácia da derrapagem.
a) Indução por previsão. i) Falácia do espantalho.
b) Argumento por analogia.
c) Argumento de autoridade.
d) Indução por generalização.
e) Argumento de autoridade.
Crucigrama

1
A
2 O B J E T O D E A C O R D O
3 G
L U
O 5 4 A D H O M I N E M
G A E
6 O R A D O N
S E 7 D E M O N S T R A Ç Ã O
8 T E S E 9 O
à U
10 O P I N I Ã O P Ú B L I C A
12 I I
11 P R E F E R Í V E L R
E O C
T C U
Ó 13 P U B L I C I T Á R I O L
R D A
14 I N F O R M A I S R
C D 17
A 15 G E N E R A L I Z A Ç Ã O
U
D
18 V E R O S Í M I L
T
Ó
19 P E R S U A D I R
I
20 P R E V I S Ã O

Horizontais
2. OBJETO DE ACORDO Verticais
4. AD HOMINEM 1. ARGUMENTO CIRCULAR
6. ORADOR 3. LOGOS
7. DEMONSTRAÇÃO 5. ADESÃO
8. TESE 9. UNIVOCIDADE
10. OPINIÃO PÚBLICA 12. RETÓRICA
11. PREFERÍVEL 16. ETHOS
13. PUBLICITÁRIO 17. AUDITÓRIO
14. INFORMAIS
15. GENERALIZAÇÃO
18. VEROSÍMIL
19. PERSUADIR
20. PREVISÃO
3. Argumentação e Filosofia
Questões de escolha múltipla
1. A 5. A 9. C 13. B
2. B 6. D 10. C 14. A
3. C 7. C 11. D 15. C
4. D 8. D 12. A
Questões de verdadeiro/falso
1. V 6. V 11. V 16. V
2. F 7. F 12. V 17. F
3. V 8. V 13. V 18. V
4. V 9. V 14. F 19. V
5. F 10. F 15. V 20. F

Exercícios de aplicação 3.2. Os «mestres-escola» de que fala o texto são os sofistas,


1. A retórica é, de facto, uma invenção grega, surgindo na professores especializados no domínio da retórica
Grécia Antiga do século V. a. C. O regime democrático que, vendendo os seus serviços docentes, a ensinavam
que, por esta altura, vigora em Atenas exige a intervenção aos atenienses que requeriam essa aprendizagem.
direta dos cidadãos nas decisões políticas da polis. A Como, para os sofistas, a verdade era algo relativo ou
investigação racional sobre a physis (a natureza) começava circunstancial, Platão, um filósofo para o qual a verdade
a ser secundarizada por uma outra preocupação: a existia em si ou independentemente de qualquer contexto,
necessidade de preparar os jovens para a vida pública. opôs-se-lhes categoricamente. O amor ao saber
Assim, a retórica desenvolve-se enquanto arte de discursar, que define a filosofia não é coadunável com a paixão –
enquanto instrumento fundamental na defesa e discussão transitória e oscilável, por definição – pelas aparências.
de ideias no espaço público.
4. Se para os sofistas a retórica é a arte de bem falar ou
2. Os sofistas tiveram um papel fundamental no técnica de persuadir para ganhar um dado auditório a
desenvolvimento da cultura, do ensino e, em particular, da favor de determinada opinião, para os filósofos, como
retórica. Como nos diz o autor do texto, eles «aparecem Sócrates e seu discípulo Platão, a argumentação só pode
como homens de poder», persuadem juízes nos tribunais servir a busca da verdade. Verdade e Bem são ideias que
e multidões nas assembleias e contribuem para a resolução convêm à filosofia. Quem procura o conhecimento da
de questões públicas. Inauguraram o estatuto social verdade (o filósofo) só pode praticar o bem.
de profissional do saber, ensinando de terra em terra A filosofia socrático-platónica não aceita o relativismo
diversas matérias. Ensinavam a argumentar, a discursar, a dos sofistas e pretende inviabilizar a prática de uma retórica
persuadir e convencer, para que os jovens pudessem baseada em opiniões ou meras aparências. A retórica
cumprir as exigências da cidadania e enveredar pela carreira que os sofistas ensinam aos jovens atenienses não permite
política. a descoberta da verdade (absoluta). O relativismo
dos sofistas e os excessos que cometem recorrendo à arte
3. de persuadir (falaciosamente) não permitem conduzir a
3.1. Por democracia entende-se um sistema político no mais do que meras opiniões. Por isso, segundo Sócrates e
qual o poder pertence aos cidadãos, que o podem delegar, Platão, encontrando-se no lado oposto ao da verdade e
escolhendo quem querem que os represente (democracia do bem, a retórica deve ser rejeitada.
representativa), ou exercê-lo diretamente em
assembleias para esse efeito destinadas e nas quais se 5.
votam as leis a vigorar (democracia direta). No caso da a) A persuasão equivale à prática do discurso que tem
cidade-estado de Atenas, à qual se refere o texto, trata-se como finalidade levar alguém a mudar de ideias, mas
de uma democracia direta. pressupondo a livre adesão do auditório à tese que o orador
Ora, constituindo a retórica a arte de convencer através pretende que seja acolhida por ele. A manipulação
do discurso, num sistema político no qual as leis a equivale à prática abusiva do discurso – abusiva na
implementar derivam da escolha e não da imposição de uma medida em que obriga o recetor a aderir a uma dada
qualquer instância – ditatorial, por exemplo –, o uso
adequado da palavra torna-se imprescindível para melhor
defender os melhores pontos de vista. Como se afirma no
texto, «saber convencer que certa posição é melhor do
que certa outra torna-se capital».
Um dos riscos inerentes a esta relação é a possibilidade
de manipulação, da “adulação” – para citar Platão –, do
mau uso da retórica, o qual, sem se preocupar com os
melhores pontos de vista, se encontra ao serviço dos
interesses do orador.
b) A manipulação dos afetos é o tipo de manipulação
baseada no apelo à emoção e aos sentimentos do recetor – reflita sobre o facto de a democracia poder ser ameaçada
(por exemplo, recorrer a comportamentos e atitudes – pela manipulação (privação da liberdade do auditório);
falsas – que impressionam o público). A manipulação – exponha o seu ponto de vista pessoal sobre as ideias do
cognitiva baseia-se na falsificação do conteúdo do discurso texto.
(por exemplo, distorcer factos para fazer aceitar
uma mensagem). 8.
c) A retórica negra é aquela que corresponde a um uso 8.1. Se considerarmos que o objetivo da filosofia é encontrar
ilegítimo do discurso, porque visa enganar, iludir e manipular a verdade (ou estabelecê-la), então aparentemente a
o interlocutor. A retórica branca é aquela que procura retórica de nada serve para a filosofia (sobretudo se virmos
pôr a descoberto os procedimentos da retórica nela a arte de argumentar ou arte de convencer, ligada a
negra, sendo, por isso, crítica, lúcida e consciente das opiniões). Neste sentido, a retórica apenas serviria para
diferentes formas e dos diferentes problemas que envolvem «propagar» ou transmitir verdades obtidas por «intuição
a comunicação. ou evidência». No entanto, se admitirmos que as teses e
teorias filosóficas (as verdades filosóficas) não se baseiam
6. em intuições evidentes, então, para as defender e justificar,
6.1. Segundo o autor do texto, a questão de saber se o «será preciso recorrer a técnicas argumentativas».
objetivo da retórica é enganar os outros é uma questão 8.2. A atividade filosófica procura uma visão integrada do
que é mais da área da avaliação do humano – da maneira real, uma compreensão global da realidade e do ser.
como agimos e nos comportamos, do domínio da ética – Contudo,
do que do domínio da retórica. Com efeito, o problema a diversidade de sistemas filosóficos parece realçar
do mau uso que se faz da retórica, ou seja, o problema da que a filosofia não é capaz, aparentemente, de reunir um
manipulação, põe-se ao nível do sujeito (do seu querer consenso geral.
ou não manipular e do seu querer ou não querer ser Se a filosofia socrático-platónica procurava a verdade
manipulado) e não tanto ao nível da sua capacidade ou única, absoluta e universal, capaz de dizer uma realidade
competência retórico-argumentativa. absoluta, perfeita e imutável – opondo-se à retórica sofística,
6.2. Na perspetiva do autor, a competência retórico- por esta dar espaço ao subjetivismo e ao relativismo
argumentativa permite responder ao problema dos maus –, atualmente vigora uma perspetiva diferente. Não só se
usos da retórica, uma vez que aquele que aprende a reconhece que há diferentes discursos sobre a realidade e
argumentar saberá distinguir as diferentes formas de que a cada um deles corresponde uma interpretação do
argumentar e, por conseguinte, será capaz de desmascarar ser ou da realidade que pretende ser verdadeira, como se
a manipulação. admite que a razão humana não é uma faculdade detentora
de conhecimentos definitivos e unívocos, mas uma
7. No comentário a este texto, espera-se que o aluno: faculdade plural, portadora de conhecimentos plurívocos
– reconheça a importância da argumentação (entendida e o mais próximos possível da verdade.
como persuasão) no seio da sociedade democrática, Emerge assim uma racionalidade argumentativa, aliada à
enquanto possibilidade de debate, de troca fundamentada afirmação de uma ou várias verdades e de uma atitude
de ideias, implicando o respeito pelo outro; crítica, de abertura e questionamento face ao real. Por
– reconheça a democracia enquanto regime da palavra, isso, para a filosofia contemporânea a busca da verdade
que permite substituir a violência, a prepotência, a não é mais incompatível com a retórica. Pelo contrário, há
dominação pelo bom senso, o consenso e o acordo; quem afirme poder encontrar na retórica o método da
filosofia. Como refere Perelman, «a nova retórica torna-se,
então, instrumento indispensável à filosofia».
Crucigrama
1
F 3
4/2 S O F I S T A S
G L P 6
Ó 5 S Ó C R A T E S P
7 P L U R A L S R L
G O Ê A
9 I F N T
8 V E R D A D E 11 O 10 C I D A D Ã O
F S V I O
I 12 P E R S U A S Ã O
C R 14
Á 13 P R O T Á G O R A S
C S E
I Í 15 A T E N A S
16 A M Á L G A M A Ó
I R
17 R E L A T I V I S M O
C
18 M A N I P U L A Ç Ã O

N
E
19 D E M A G Ó G I C O
R
20 R E T Ó R I C A B R A N C A

Horizontais Verticais
2. SOFISTAS 1. FILÓSOFO
5. SÓCRATES 3. APARÊNCIA
7. PLURAL 4. GÓRGIAS
8. VERDADE 6. PLATÃO
10. CIDADÃO 9. EFICÁCIA
12. PERSUASÃO 11. VEROSÍMIL
13. PROTÁGORAS 14. RETÓRICA NEGRA
15. ATENAS
16. AMÁLGAMA
17. RELATIVISMO
18. MANIPULAÇÃO
19. DEMAGÓGICO
20. RETÓRICA BRANCA
UNIDADE IV – O CONHECIMENTO
E A RACIONALIDADE CIENTÍFICA
E TECNOLÓGICA

1. Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva


Questões de escolha múltipla
1. C 8. B 15. C 22. B
2. A 9. D 16. C 23. C
3. D 10. D 17. C 24. D
4. D 11. B 18. B 25. D
5. A 12. D 19. B
6. D 13. A 20. A
7. B 14. C 21. B

Questões de verdadeiro/falso
1. V 8. V 15. V 22. F
2. F 9. F 16. V 23. V
3. V 10. V 17. F 24. V
4. F 11. F 18. V 25. V
5. F 12. V 19. F
6. F 13. F 20. V
7. F 14. F 21. F

Exercícios de aplicação
1. Encarado como atividade, o conhecimento é – Conhecimento por contacto: Gertrudes conhece
essencialmente o fruto de uma interação entre sujeito e diretamente
objeto. Roma, porque visitou esta cidade.
Com efeito, não existe de um lado o sujeito abstrato e, do
outro, uma realidade que ele irá conhecer objetivamente. 3. De acordo com o autor do texto, a conceção platónica
O sujeito interage com a realidade, e é desse processo do pensamento como sendo «um silencioso diálogo interior
que o conhecimento emerge. Isto significa que representar
o objeto é também, em certa medida, construí-lo e da alma com ela mesma» assenta na perspetiva
integrar novos elementos no conjunto de significações e segundo a qual existe «uma consubstancialidade entre a
de referências que fazem parte de uma determinada linguagem e o pensamento». Essa perspetiva estabelece
visão do mundo. uma íntima articulação entre as palavras, as ideias e os
Cada sujeito tem as suas experiências, vivências, reflexões, conceitos. Tal significa que a utilização da linguagem e o
que constituem modos de pensar, sentir, agir e exercício do pensamento são indissociáveis, constituindo
conhecer distintos dos de outro sujeito. Ao adquirir mais uma unidade e não podendo nenhum deles manifestar-
conhecimento, o sujeito vai ampliando o seu mundo, o -se de uma forma pura. Nessa interdependência, a
que significa, como é dito no texto, que «vai possuindo, linguagem (nomeadamente a linguagem verbal) surge, ao
de algum modo, as coisas que conhece» e que se vai mesmo tempo, como uma capacidade de comunicação/
«tornando ontologicamente mais rico, quer dizer, vai sendo expressão e de organização/estruturação do pensamento.
mais». Esta indissociabilidade linguagem/pensamento reflete-
-se, obviamente, ao nível do conhecimento. É através da
2. linguagem que o conhecimento é expresso, transmitido e
– Saber que: é o nosso conhecimento da proposição organizado. A linguagem está, assim, diretamente implicada,
expressa por «Gertrudes, conduzindo o seu carro, visitou não só no processo de pensamento, como também
Roma». (e consequentemente), no processo do conhecimento do
– Saber-fazer: é o conhecimento que Gertrudes possui mundo, da reflexão sobre o conhecimento e da comunicação
ligado à sua competência para conduzir um carro. dos seus resultados.
4. É no diálogo Teeteto, de Platão, que se encontra a
definição clássica de conhecimento como «crença 7.
verdadeira justificada». O conhecimento inclui, então, essas – Juízo analítico: «Uma bicicleta verde é dotada de cor.»
três componentes: a crença ou opinião, a verdade e a – Juízo sintético: «Os cravos são vermelhos.»
justificação. – Juízo sintético a priori: «20 + 15 = 35.»
Tal significa que, embora seja uma condição necessária 8. O racionalismo e o empirismo são duas teorias filosóficas
para o conhecimento, a crença não é uma condição que procuram responder ao problema da origem do
suficiente. Para haver conhecimento é necessário não só conhecimento. Segundo os racionalistas, a razão é principal
que uma pessoa acredite em algo, como também que fonte do conhecimento (conhecimento universal e
isso seja verdadeiro, pelo que a verdade é também uma necessário). Só através da razão é que se pode encontrar
condição necessária do conhecimento. No entanto, o um conhecimento seguro, o qual é totalmente independente
conhecimento não se reduz à união da crença e da verdade. da experiência sensível, apoiando-se em princípios claros e
Ninguém possui conhecimento se não justificar a distintos. Tomando como modelo o conhecimento
sua crença, através de provas, razões ou evidências. Por matemático, os racionalistas, como Descartes, defendem a
conseguinte, a justificação é também uma condição existência de ideias inatas, que se descobrem por intuição
necessária do conhecimento. intelectual e a partir das quais se pode deduzir o
5. Trata-se, de facto, à luz da perspetiva de E. Gettier, de conhecimento da realidade, havendo uma correspondência
um contraexemplo à definição tradicional de conhecimento. entre esta e o pensamento. Os racionalistas não
De acordo com esta definição, herdada de Platão, negam a existência do conhecimento empírico. Esse
para que haja conhecimento é necessário que estejam conhecimento existe, mas não pode ser considerado um
satisfeitas três condições necessárias – as quais, tomadas conhecimento universal e necessário. O empirismo, por sua
conjuntamente, constituem condição suficiente à existência vez, recusando a existência de ideias inatas, é uma teoria
de conhecimento: a crença, a verdade e a justificação. segundo a qual a experiência é a origem principal de todo o
Ora, no exemplo dado, essas três condições estão conhecimento. Sendo assim, todas as ideias têm uma base
satisfeitas e, apesar disso, o leitor não está na posse de empírica, não havendo ideias inatas. O entendimento
conhecimento, uma vez que a justificação que suporta a sua assemelha-se, como dizia Locke, a uma página em branco
conclusão não se ajusta devidamente à crença em causa. A onde, antes de qualquer experiência, nada se encontra
crença que tem é, de facto, verdadeira, mas a justificação escrito. É na experiência que o conhecimento tem o seu
que a suporta é-lhe estranha. É verdade que a bebida que fundamento e, naturalmente, os seus limites. Embora
a Júlia tem na mão está drogada (e, logo, a crença do leitor neguem os conhecimentos inatos, os empiristas não negam
é verdadeira), mas está-o não porque o barman, a necessariamente o conhecimento a priori. Para David Hume,
pedido da Magda, a drogou – tal como pensa o leitor –, por exemplo, esses conhecimentos existem, só que nada
mas porque o Leonel, sem que a Magda soubesse, já a nos dizem acerca do mundo.
tinha drogado (e esta é que é a verdadeira justificação 9. As crenças básicas são aquelas que, de acordo com os
por que a bebida da Júlia está drogada, que é, no fundacionalistas, suportam o sistema do saber. Trata-se
entanto, desconhecida pelo leitor). Os supostos “criminosos” de crenças que não necessitam de uma justificação
(a Magda e o barman, que com ela foi conivente) não fornecida por outras crenças, uma vez que se justificam a si
têm, portanto, culpa nenhuma. Só o Leonel a tem: é ele o mesmas, permitindo evitar a regressão infinita da
efetivo “criminoso”. O leitor bem poderia tentar salvar a justificação. As crenças não básicas, por sua vez, são
Júlia, e estaria certo ao fazê-lo, mas se fizesse declarações aquelas que são justificadas por outras crenças.
às autoridades para que se identificasse(m) o(s) autor(es) 10. O conceito de «dogmatismo» pode ser entendido,
do crime – ou a sua mera tentativa –, cedo se perceberia pelo menos, em quatro sentidos: como a perspetiva
que não sabia o que julgava saber, e ter salvado a Júlia típica do realismo ingénuo, em que não há um exame crítico
tinha sido, afinal, uma feliz coincidência. O(s) inocente(s) das aparências; como a confiança absoluta de que a
seria(m) incriminado(s) e o culpado safar-se-ia. razão pode atingir a certeza e a verdade; como a completa
Conclui-se, com este contraexemplo, que a crença, a submissão, sem exame pessoal, a uma autoridade
verdade e a justificação não são, consideradas ou a determinados princípios que dela provêm, e, por
conjuntamente, condição suficiente para que haja fim, como o exercício da razão, em domínios metafísicos,
conhecimento. sem uma crítica prévia da sua capacidade, sendo esta
6. Os juízos a priori, cuja verdade é conhecida mediante a aceção evidenciada por Kant.
razão, independentemente de qualquer experiência, são 11.
universais – no sentido em que não admitem qualquer 11.1. Pirro, fundador do ceticismo absoluto ou radical,
exceção, sendo verdadeiros sempre e em toda a parte – e defende que é impossível ao sujeito apreender o objeto,
necessários – são verdadeiros em quaisquer circunstâncias, não sendo, por conseguinte, possível qualquer
e negá-los implicaria entrar em contradição. Já os conhecimento. De acordo com os céticos radicais, há várias
juízos a posteriori, cuja verdade só pode ser conhecida razões para a dúvida sistemática e para a consequente
através da experiência, não são estritamente universais – suspensão do juízo. Por exemplo, existem opiniões
porque admitem exceções, podendo não ser verdadeiros divergentes a respeito da existência dos deuses e não temos
sempre e em toda a parte – e, não sendo necessários, são forma de obter um consenso sobre tal assunto. Logo, a
contingentes – são verdadeiros, mas poderiam ser falsos, dúvida sistemática é a única postura aceitável. Mesmo
e negá-los não implica entrar em contradição.
que as nossas crenças a respeito dos deuses (e das coisas verdade: a clareza e distinção das ideias. Enquanto primeira
em geral) sejam verdadeiras, não possuímos para elas verdade, o cogito surge-nos como crença fundacional ou
justificações suficientes. básica: serve de alicerce a todo o sistema do saber.
11.2. O ceticismo metódico é inerente ao espírito crítico e Mostrando como a existência é indissociável do próprio
autónomo, constituindo um meio para alcançar a verdade pensamento, o cogito permite-nos perceber qual a natureza
e não uma confissão explícita de que a não podemos do sujeito: esta consiste no pensamento, ou alma, e
encontrar. Descartes, usando a sua dúvida metódica, equivale a toda a atividade consciente.
exprimiu um ceticismo deste género, traduzido na 14.
«recusa daquilo que poderíamos chamar as certezas 14.1. O argumento ontológico é uma prova da existência
demasiado fáceis, demasiado apressadas e demasiado de Deus que parte «da definição do conceito de Deus».
certas». Este ceticismo metódico opõe-se à atitude Assim, admitindo que na ideia de ser perfeito estão
característica do ceticismo sistemático. Neste último caso, a compreendidas todas as perfeições, e que a existência é
dúvida aparece como um princípio definitivo, algo que se uma dessas perfeições, então Deus, que é o ser perfeito,
instala sem deixar qualquer margem para a possibilidade existe. A existência de Deus é inerente à sua essência,
de alcançar o conhecimento. apresentando um carácter necessário e eterno.
12. 14.2. Se procurarmos a causa que faz com que a ideia de
12.1. As regras do método de Descartes são as seguintes: ser perfeito se encontre em nós, percebemos que tal
a regra da evidência, que consiste em nunca aceitar algo causa não pode ser o sujeito pensante. De facto, essa
como verdadeiro sem o conhecer evidentemente como ideia representa uma substância infinita. Nesse sentido, o
tal, ou seja, de um modo indubitável, claro e distinto, sem sujeito pensante, sendo finito, não é a causa da realidade
qualquer margem para dúvidas; a regra da análise, que objetiva de tal ideia. O nada ou qualquer ser imperfeito
consiste em dividir cada uma das dificuldades nas parcelas também não podem ser a sua causa. Por isso, a causa da
necessárias para as resolver; a regra da síntese, que ideia de Deus só pode ser o próprio Deus, realidade que
consiste em conduzir por ordem os pensamentos, possui todas as perfeições representadas na ideia de ser
começando pelo mais simples e fácil de compreender e perfeito.
subindo, gradualmente, para o mais complexo; a regra da 15. A teoria cartesiana do erro põe em evidência o papel
enumeração, que consiste em fazer enumerações tão da vontade em todo este processo. Com efeito, se é verdade
completas e revisões tão gerais, que se tenha a certeza de que na formação de juízos o entendimento tem um
que nada foi omitido. papel fundamental, é a vontade que dá o consentimento
12.2. A dúvida cartesiana constitui um momento importante aos juízos que o entendimento formula. Sendo livre, é ela
do método. Descartes decide «rejeitar como absolutamente quem decide dar (ou não) o assentimento aos juízos, pelo
falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a que o erro se verifica quando há um uso indevido da
menor dúvida», a fim de ver se, depois disso, restaria liberdade, ou seja, quando a vontade se precipita e dá o
alguma coisa que fosse absolutamente indubitável. consentimento a juízos que não são evidentes.
Deste modo, a dúvida é um instrumento da luz natural ou 16. Hume distingue implicitamente, no texto, dois tipos
razão e é posta ao serviço da verdade. Na busca dos de perceções: as impressões, que são as perceções que
princípios fundamentais e indubitáveis, é necessário colocar apresentam maior grau de força e vivacidade, e as ideias,
tudo em causa, evitando igualmente os juízos precipitados ou pensamentos, que são as representações das
e os preconceitos. Se alguma crença resistir à dúvida, impressões, as suas imagens enfraquecidas. Há uma
então ela poderá ser a base ou o fundamento para as grande diferença entre sentir «a dor de um calor excessivo»
restantes. Por outro lado, uma vez que os sentidos nos – impressão – e trazer à memória a sensação respetiva ou
enganam, uma vez que não dispomos de um critério que antecipá-la mediante a imaginação – ideia.
permita discernir o sonho da vigília, uma vez que alguns 17. Segundo Hume, a ideia de Deus não deriva diretamente
indivíduos se enganaram nas demonstrações matemáticas, de qualquer objeto da experiência sensível. Trata-
e admitindo ainda a hipótese de haver um deus enganador, -se de uma ideia complexa, que representa um Ser
ou um génio maligno, que nos ilude a respeito da infinitamente inteligente, sábio e bom, e que tem por base
verdade, então a dúvida é absolutamente fundamental, ideias simples que a mente e a vontade compõem, elevando
assumindo uma função catártica e libertadora, no processo sem limite as qualidades de bondade e sabedoria.
de reconstrução, com fundamentos sólidos, do edifício 18. No contexto da filosofia de Hume, as verdades próprias
do saber. das relações de ideias são necessárias, isto é, são
13. Escreve Descartes que a «proposição Eu sou, eu existo, sempre verdadeiras, em quaisquer circunstâncias e negá-
sempre que proferida por mim ou concebida pelo espírito, -las implica contradição. Por exemplo, «3 + 9 = 12». Já as
é necessariamente verdadeira». Deste modo, o filósofo verdades próprias das questões de facto são contingentes,
acaba por fornecer uma primeira característica do isto é, poderiam ter sido falsas e negá-las não implica
cogito – ou «Penso, logo existo»: trata-se de considerar o contradição. Por exemplo, «Fernando Pessoa foi um poeta
cogito uma afirmação indubitável da existência do português».
sujeito, existência apreendida intuitivamente no próprio 19. Segundo Hume, há três princípios de associação de
ato de pensar e de duvidar. Sendo uma afirmação evidente, ideias: a semelhança – um autorretrato de Rembrandt
uma certeza inabalável, obtida de modo inteiramente
racional e a priori, o cogito servirá de paradigma para as
várias afirmações verdadeiras, traduzindo o critério de
remete para o rosto do pintor –, a contiguidade no tempo que seja distinta delas e exterior a elas é injustificável. Em
e no espaço – se pensamos numa ponte, lembramo-nos rigor, não sabemos de onde procedem as impressões.
do rio, dos peixes, etc. – e a causalidade (relação de causa 22. Segundo David Hume, o conhecimento deriva
e efeito) – pensar que alguém se feriu leva a pensar na fundamentalmente da experiência, tendo todas as crenças e
eventual dor que se seguirá (a ferida é a causa, a dor é o ideias uma base empírica, até as mais complexas. As
efeito). ideias derivam das impressões, não havendo ideias inatas.
20. Uma vez que só a partir da experiência é que se pode Daí o empirismo defendido pelo filósofo.
conhecer a relação entre a causa e o efeito, sendo este Ora, uma vez que a realidade a que temos acesso se
um conhecimento a posteriori e não a priori, então não reduz às perceções, a crença na existência de algo para lá
podemos concluir que esta relação traduza uma conexão dos fenómenos, da experiência e da observação carece
necessária, mas sim uma conjunção constante entre factos de fundamento (ceticismo metafísico). Além disso, a
e fenómenos. capacidade cognitiva do entendimento humano reduz-se
O nosso conhecimento dos factos restringe-se às ao âmbito do provável, em virtude das limitações das
impressões atuais e às recordações de impressões nossas capacidades cognitivas e da nossa propensão para
passadas. Uma vez que não dispomos de impressões o erro (ceticismo mitigado). Estamos assim perante um
relativas ao que acontecerá no futuro, pode-se dizer que não empirismo cético.
possuímos um conhecimento rigoroso dos factos futuros. 23. No comentário a estas afirmações, espera-se que o
Apesar disso, há muitos factos que esperamos que se aluno:
verifiquem no futuro, o que pressupõe inferências de – reconheça a importância atribuída por Descartes ao
carácter indutivo. Sendo assim, este conhecimento é apenas método para a conquista da verdade;
uma suposição ou probabilidade, assente numa – conheça as operações fundamentais da razão humana –
expectativa. a intuição e a dedução – e o papel da dúvida em todo o
A certeza de que um facto (efeito) sucederá ao outro processo de busca do conhecimento;
(causa) tem apenas um fundamento psicológico: o hábito – reflita sobre o significado das ideias inatas e do
ou costume. É o hábito de constatarmos que um facto conhecimento claro e distinto;
sucede a outro – que sempre, até agora, existiu uma – avalie a importância do cogito e da existência de Deus
conjunção entre eles – que nos leva à crença de que tal no processo de fundamentação do conhecimento.
conjunção sempre se há de verificar. O hábito é um guia – exponha os principais aspetos do empirismo de Hume:
imprescindível da vida prática, mas não constitui um a experiência é a fonte principal do conhecimento, as
princípio racional. ideias derivam das impressões;
21. Segundo Hume, as impressões constituem a única – compreenda a noção de «causalidade» como exprimindo
realidade acerca da qual dispomos de alguma certeza. uma relação que se encontra na base das nossas
Deste modo, as únicas inferências válidas que podemos inferências acerca de factos futuros;
produzir devem ser baseadas na relação de causa e efeito – avalie o entendimento habitual da relação de causa e
estabelecida apenas entre as impressões. Ora só podemos efeito como sendo uma conexão necessária, e a
considerar real um hipotético mundo exterior se as contestação, por parte de Hume, dessa perspetiva: não
coisas forem independentes das nossas impressões. O dispomos de qualquer impressão relativa à ideia de conexão
problema é que não temos experiência ou impressão de necessária entre fenómenos; o que se verifica é uma
tal realidade exterior. Só temos acesso às nossas perceções conjunção constante entre eles;
(impressões e ideias). Logo, a crença de que existe – exponha o seu ponto de vista pessoal sobre as duas
uma realidade que seja a causa das nossas impressões e teorias estudadas.
Crucigrama

2
1 C A U S A L I D A D E
O
3 L I N G U A G E M
M
4 P R O P O S I C I O N A L
5 6 T
I C 8 I
7 F U N D A C I O N A L I S
T G N M
10/9 J U S T I F I C A Ç Ã O
I I T L
D Ç 11 O Í 12
E Ã C T H
13 H Á B I T O 14 E X P E R I Ê N C I A
A R 15 C P
S 20 T A A E
16 S U J E I T O R
17 I Z A B
L N A R Ó
18 O B J E T O A L
C E X I
K S 19 I N A T A C
E E A A

Horizontais Verticais
1. CAUSALIDADE 2. DOGMATISMO
3. LINGUAGEM 5. INTUIÇÃO
4. PROPOSICIONAL 6. COGITO
7. FUNDACIONALISMO 8. ANALÍTICO
9. JUSTIFICAÇÃO 10. IDEIAS
13. HÁBITO 11. CERTEZA
14. EXPERIÊNCIA 12. HIPERBÓLICA
16. SUJEITO 15. ATARAXIA
18. OBJETO 17. LOCKE
19. INATAS 20. SÍNTESE
2. Estatuto do conhecimento científico
Questões de escolha múltipla
1. B 7. C 13. A 19. B
2. D 8. B 14. A 20. A
3. A 9. A 15. D 21. B
4. B 10. B 16. A 22. A
5. C 11. D 17. C 23. C
6. D 12. B 18. C

Questões de verdadeiro/falso
1. V 7. V 13. F 19. V
2. F 8. F 14. V 20. F
3. V 9. F 15. F 21. F
4. V 10. V 16. V 22. F
5. V 11. F 17. F 23. V
6. F 12. V 18. V 24. V

Exercícios de aplicação 2. Quer Popper quer Bachelard reconhecem a


1. superficialidade
do conhecimento vulgar. Não obstante, enquanto
1.1. O conhecimento vulgar é um tipo de conhecimento Popper o entende como ponto de partida que deve ser
essencialmente prático, na medida em que oferece criticado, melhorado e aperfeiçoado, Bachelard considera
respostas imediatas e funcionais para muitos dos problemas que não é possível retificá-lo – é preciso romper com ele.
do nosso dia a dia. É, no entanto, um tipo de conhecimento Em suma, argumentando em favor da tese de Popper,
superficial e pouco aprofundado da realidade, formado teremos de reconhecer alguma continuidade; já se se
essencialmente a partir da apreensão sensorial argumentar em favor de Bachelard, só poderemos admitir
espontânea e imediata de tudo o que nos rodeia. Por ser uma total descontinuidade e rutura epistemológica.
espontâneo, imediato e intuitivo, por vezes engana-nos e Assim, Karl Popper defende que o senso comum, ou
não só não ajuda, como confunde o nosso raciocínio. Ao conhecimento vulgar, se constitui como o ponto de partida
contrário do conhecimento científico, não é aprofundado, para todo e qualquer conhecimento do real. No
nem decorre de investigações planificadas e apoiadas em entanto, o autor reconhece o carácter inseguro deste tipo
testes e resultados experimentais; por isso é assistemático, de apoio. Por isso, o senso comum deve ser criticado: o
não disciplinar e imetódico. ponto de partida é o senso comum, mas o progresso para
O conhecimento científico, por sua vez, é muitas vezes um conhecimento mais rigoroso e aprofundado do real
contraintuitivo, isto é, apresenta respostas para os exige uma crítica ao conhecimento vulgar. Bachelard, por
problemas que enfrentamos que não se confinam ao sua vez, defende que nada se pode fundar na opinião ou
domínio das perceções imediatas. É um tipo de senso comum. Sendo assim, este autor não aceita o
conhecimento que se propõe explicar a realidade de um conhecimento vulgar como ponto de partida. Pelo contrário,
modo mais aprofundado. na sua ótica, o conhecimento vulgar funciona
É especializado em diferentes domínios – desde como obstáculo epistemológico, ou seja, como algo que,
o mundo físico e natural ao humano e social –, é sistemático em vez de potenciar um conhecimento mais rigoroso e
e metódico. Recorre a instrumentos de medida e a aprofundado, impede que esse conhecimento surja. Por
uma linguagem rigorosa, procurando descrever, explicar isso, Bachelard propõe uma rutura total com o conhecimento
e prever os fenómenos e as suas relações e apontando as vulgar ou senso comum.
leis que lhes presidem.
3. A ciência distinguiu-se das outras formas de saber pelo
1.2. Apesar de ser um tipo de conhecimento superficial, e seu método ou pelo conjunto de meios mediante os quais o
capaz de nos confundir o raciocínio, o senso comum permite cientista poderá atingir um determinado objetivo, a busca
que respondamos a diversos problemas do nosso da verdade. Esses meios são orientados por um conjunto de
quotidiano. Por exemplo, é provável que todos nós regras que estabelecem a ordem das operações a realizar
possamos tratar de uma constipação sem ter que ir ao com vista a atingir um determinado resultado. Graças ao
médico ou preparar um prato de comida intuitivamente, método experimental, a ciência tornou-se capaz não só de
isto é, sem ter de pesar os ingredientes. Por outro lado, a descrever como também de prever a ocorrência de
maioria das pessoas concordaria ser mais importante fenómenos na natureza. As suas descobertas permitiram
aproveitar a luz do dia do que saber que ela por vezes se aplicações
comporta como onda, outras vezes como partícula. O senso
comum é, pois, um tipo de conhecimento superficial, mas
essencial para que consigamos responder às questões e
problemas do dia a dia. Por isso, é considerado como
uma das formas legítimas de conhecimento da realidade.
turno, determinados feitos notáveis: a ida à Lua, a é empiricamente testada, experimentada, confrontada
descoberta da cura de algumas doenças, bem como a com a experiência. Os resultados da experiência podem
produção de objetos que se tornaram indispensáveis para o confirmar a hipótese, considerando-se então que ela foi
conforto do dia a dia, nomeadamente os carros, os validada, ou podem falsificar a hipótese, considerando-se
computadores, as televisões, etc. então que ela não foi validada. Se for validada pela
experiência, a hipótese pode adquirir o estatuto de lei
4. O indutivismo parte, antes de mais, do pressuposto de científica, na medida em que exprime a invariância dos
que as teorias e leis científicas resultam de generalizações factos; a lei é uma proposição geral que constata uma
das relações entre fenómenos particulares observados.
relação singular entre certas categorias de factos das quais
Outro pressuposto do indutivismo é o de que as teorias se abstrai uma certa ordem; se não for validada, teremos de
científicas são consideradas verdadeiras ou prováveis se a abandonar ou reformular .
puderem ser verificadas, mediante a observação. Esta
daria, como se diz no texto, um apoio probabilístico à 8. Nem todos os factos são factos-problema porque nem
teoria. todos os factos suscitam interesse ou surgem
verdadeiramente como problema. Um mesmo facto pode ser
5. O problema da indução consiste na impossibilidade de um facto-problema para um cientista e não para outro,
justificar o procedimento indutivo que nos leva a concluir, dependendo da expectativa de cada um, do seu interesse
da afirmação de proposições particulares, proposições e do corpo de conhecimentos que o acompanha.
gerais ou universais. Ora, sabendo que as ciências
empíricas recorrem frequentemente aos procedimentos 9. Uma hipótese científica é uma antecipação de factos
indutivos, torna-se um problema encontrar uma forma de posteriormente comprováveis, ou seja, é uma suposição
justificar os seus resultados. O rigor e a verdade do que se expressa num enunciado antecipado sobre a
conhecimento científico parecem estar, desta forma, natureza das relações entre dois ou mais fenómenos.
comprometidos. David Hume foi dos primeiros autores a
dar-se conta deste problema. Segundo a sua argumentação, 10. Para Popper, o critério da verificabilidade não é
as relações de causalidade que são inferidas da suficiente para demarcar a ciência de outras formas de
observação dos fenómenos particulares nada mais são saber, nomeadamente de carácter metafísico. O critério
do que meras repetições que estamos habituados a verificacionista fica, antes de mais, refém do próprio
observar. Por exemplo, costumamos esperar que um problema do indutivismo. Por exemplo, o enunciado «Todos
papel se queime se lançado numa fogueira. Os indutivistas os cisnes são brancos» não pode ser verificado na sua
acabam por generalizar esta relação de causalidade e totalidade, pois é impossível observarmos todos os cisnes
transformam-na em lei universal e objetiva. Contudo, a que já existiram, que existem e que existirão no futuro. Face
crença de que os fenómenos se repitam sempre da a esta dificuldade, os neopositivistas consideraram que, na
mesma forma tem apenas um fundamento psicológico: o impossibilidade de uma verificação universal, poder-se-ia
hábito ou costume. confirmar o enunciado com algumas observações. Assim,
bastaria encontrar alguns cisnes brancos para tornar o
Ora, o hábito não poderá constituir-se como fundamento
objetivo para teorias e leis que se pretendem universais. enunciado científico.
Contudo, Popper discorda deste modo de demarcar os
6. Popper chama a atenção para a inconsistência lógica enunciados científicos dos que o não são. Muitos
dos procedimentos indutivos. Não é possível justificar a enunciados metafísicos e filosóficos, a partir deste critério,
legitimidade da inferência de enunciados universais a seriam científicos. Por exemplo, «O mundo vai acabar»
partir de enunciados singulares ou particulares. Com seria um enunciado científico, pois é possível verificar
efeito, é sempre possível encontrar formas de refutar uma empiricamente (bastaria presenciar esse facto), mas não é
proposição que resulta de uma generalização indutiva. possível falsificar um enunciado que não exprime
Basta um cisne negro para revelar falso o enunciado quando esse facto acontecerá. Assim, um enunciado para
«Todos os cisnes são brancos». Neste sentido, Popper ser científico deve ser, à partida, empiricamente falsificável,
considera que o problema da indução deixado por Hume isto é, deverá ser possível encontrar factos que contrariem
não faz sentido, nem deve preocupar os cientistas, já que a hipótese. Se tal não for possível, estaremos na
a ciência não se constrói tendo por base a indução, mas presença de enunciados metafísicos, mas não científicos.
antes a dedução. Será o rigor lógico das teorias, garantido
pela dedução, e pelo método das conjeturas e refutações, 11. Os enunciados a) e c) são científicos, pois é possível
que determina a sua cientificidade. refutá-los. O enunciado b) não é científico, pois não é
suscetível de ser falsificado.
7. O método hipotético-dedutivo é, na perspetiva de
12. Enunciados resultantes de constatações objetivas: b) e
Popper, o método específico da ciência. O autor, em vez
de considerar que as hipóteses surgem indutivamente da d). Enunciados resultantes de apreciações subjetivas: a) e
observação, defende que toda a formulação de hipóteses c).
decorre de um facto-problema. Um facto-problema é um 13. Habitualmente associamos o conceito de “objetividade”
problema que surge, em geral, de conflitos decorrentes ao conceito de “objeto”. Será objetivo aquilo que é
das expectativas do cientista ou das teorias já existentes.
O facto-problema surge da perceção de uma lacuna nos
conhecimentos, portanto, decorre das teorias anteriores
que não explicam devidamente algum conjunto de factos.
De seguida, o cientista formula uma hipótese ou
conjetura, ou seja, avança com uma explicação provisória
de um dado fenómeno que exige comprovação. A
formulação de hipóteses é uma atividade criativa do
cientista, associada à intuição e à imaginação. Neste
sentido, a hipótese não surge indutivamente da observação,
antes resulta de um raciocínio abdutivo (raciocínio criativo).
Depois de a hipótese ter sido formulada, são deduzidas
as suas principais consequências. Finalmente, a hipótese
relativo ao objeto, aquilo que depende exclusivamente científica e que orientam a sua atividade. Corresponde a um
dele ou ainda aquilo que o caracteriza fielmente. Quando modo de fazer ciência, de perceber, abordar e resolver
nos debruçamos sobre o tema da objetividade científica problemas, que se institui no seio dessa comunidade.
consideramos que a ciência deve consistir numa leitura Durante a sua fase normal, a atividade científica consiste
objetiva da realidade, isto é, uma leitura imparcial, isenta, essencialmente na resolução de enigmas (quebra-cabeças)
independente do sujeito que a realiza. Por isso, geralmente, de acordo com a aplicação dos princípios, regras, conceitos
os procedimentos científicos implicam o recurso a do paradigma vigente (ciência normal). Quando se registam
técnicas precisas e a aparelhos de medição que permitem anomalias persistentes, e já não é possível responder-lhes à
essa leitura (o mais) rigorosa (possível) de determinado luz do paradigma vigente, a ciência entra em crise, e terão
fenómeno/objeto. No caso das alíneas b) e d), os dados de procurar- se novas respostas. Esta é a fase de ciência
apresentados nas proposições estão dependentes do extraordinária: fase de questionamento dos pressupostos e
recurso a instrumentos de medição, enquanto os das alíneas fundamentos do paradigma vigente. Quando a mudança de
a) e c) resultam da apreciação de um dado sujeito. paradigmas ocorre, os cientistas abandonam por completo
o velho paradigma (revolução científica).
14. Na sua atividade, os cientistas são frequentemente A incomensurabilidade é a característica que Kuhn
influenciados por fatores que tradicionalmente se encontram encontra nos paradigmas e que lhe permite explicar por
fora do âmbito da objetividade. Podem destacar-se os que razão a ciência evoluiu por revoluções científicas.
fatores ideológicos – relativos às formas de pensar, às
Todavia, como não podemos dizer que o novo paradigma
convicções e ideias defendidas pelo cientista, aos descreve melhor a realidade do que o seu antecessor,
referenciais ideológicos do seu tempo ou dos grupos a que também não podemos afirmar que a ciência progride em
pertence –; os fatores económicos – que dizem respeito aos direção à verdade, de um modo cumulativo e contínuo,
interesses económicos das diferentes instituições que se
ao substituir um pelo outro.
dedicam à investigação científica, às verbas disponibilizadas
por investidores privados ou pelo Estado, etc.; – os fatores 18. Os critérios objetivos são aqueles critérios adotados
estéticos – relativos às preferências e valores de ordem por toda a comunidade científica na avaliação das diferentes
estética que se refletem em diversas fases da atividade teorias. O aluno deverá indicar dois dos seguintes
científica (desde a descoberta de uma teoria à sua critérios: o princípio da exatidão (capacidade que uma
justificação). teoria possui de fazer previsões corretas), da consistência
(ausência de contradições internas e compatibilidade da
15. Na perspetiva de Kuhn, a atividade científica desenvolve- teoria com outras teorias aceites dentro do paradigma
se por referência a um determinado paradigma, vigente), do alcance (abrangência da teoria relativamente
uma determinada visão dominante, partilhada pela à diversidade de fenómenos que é capaz de explicar),
comunidade científica. Para Kuhn o conhecimento científico da simplicidade (uma teoria é simples se não
é, assim, totalmente dependente do paradigma vigente, e o depende de muitas leis para explicar os fenómenos
contexto sociológico, histórico e psicológico em que ocorre a observados) e da fecundidade (capacidade da teoria para
atividade científica é fundamental para que possamos impulsionar a investigação científica em direção a novas
compreendê-la. A escolha e a avaliação das teorias descobertas).
dependem de fatores objetivos, mas também de fatores
subjetivos. O conhecimento é dependente do sujeito, 19. Segundo T. Kuhn, a escolha entre teorias rivais obedece
estando este integrado numa comunidade científica; a critérios objetivos. Estes critérios são princípios
a teoria só é defensável ou compreensível à luz do que permitem que a comunidade científica avalie uma
quadro teórico que a perfilhou. Assim, na conceção kuhniana dada teoria. No entanto, quando duas teorias rivais
da ciência, a objetividade e a verdade são dependentes competem entre si, os critérios objetivos não parecem ser,
do paradigma vigente e só podem ser entendidas segundo Kuhn, suficientes para que ocorra consenso
dentro dos limites que ele impõe. Daí o autor do texto quanto à eleição de uma delas. Outros critérios acabam
referir que a objetividade em Kuhn, não sendo definida a por ser decisivos no processo de escolha e avaliação da
partir da ideia de (verdade como) correspondência com a teoria a eleger: são critérios individuais, dependentes de
«realidade», tem de ser entendida como uma objetividade fatores subjetivos, relativos ao que individualmente cada
procurada (dentro de cada paradigma). cientista sente e pensa – de acordo com a sua história de
vida e a sua personalidade – em relação à teoria que
16. Popper partilha da ideia de verdade como elege.
correspondência com os factos. Neste sentido, uma teoria
capaz de descrever a realidade, tal como ela é, é objetiva e 20. Atualmente assistimos à redefinição da racionalidade
verdadeira. Para Popper, isto é possível em ciência, uma científica e das suas principais características. Assim,
vez que o conteúdo das teorias obedece a princípios lógicos associadas à racionalidade científica encontramos as
que garantem o rigor e a objetividade com que o noções de intersubjetividade, de contextualização, de
conhecimento científico descreve e explica a realidade; a verosimilhança e plausibilidade. Com efeito, a noção de
validação das teorias obedece ao critério da falsificabilidade. objetividade científica implica hoje a de intersubjetividade,
Podemos assim dizer que, com Popper, o conhecimento uma vez que as teorias científicas estão necessariamente
científico não se confunde com o sujeito que o produz; a
teoria é objetiva, independente do cientista. Apesar disso,
a ciência é conjetural, apenas se pode aproximar da
verdade. As teorias científicas (ou conjeturas) devem
submeter-se à tentativa de falsificação e os erros devem ser
valorizados no processo de desenvolvimento da atividade
científica.
17. Segundo Kuhn, só poderemos compreender
verdadeiramente a ciência se olharmos para o seu interior. A
ciência constrói-se inserida num dado paradigma. Um
paradigma é um conjunto de crenças, regras, técnicas e
valores compartilhados e aceites por uma comunidade
dependentes da avaliação e da aceitação por parte dos científicas – não é tido como definitivo, mas como modelo
pares constituintes de uma comunidade científica. Por explicativo e provisório da realidade. Há sempre a
outro lado, o cientista não apresenta uma racionalidade possibilidade do erro e do aperfeiçoamento, no sentido
pura e neutral, a sua racionalidade é sempre de uma tentativa de aproximação à verdade. Não existe
contextualizada, condicionada e relativa à sua circunstância uma verdade absolutamente certa, universal e necessária,
histórica, cultural, social, económica e psicológica. Para existem apenas verdades dependentes dos diferentes
além disso, o produto da atividade científica – as teorias quadros paradigmáticos em que são produzidas.

Crucigrama

1
F 4
2 V E R I F I C A B I L I D A D E 3 H
I P Ó T E S E
L N 5
S C F
6 O B J E T I V I D A D E 7 B I O L O G I A
F M C
8 I N D U T I V I S M O E T
C N 9 M É T O D O
10 P A R A D I G M A S 11 -
C U A P
12 C I Ê N C I A E X T R A O R D I N Á R I A
O A O O 13
N B M B E
14 S U P E R F I C I A L I A L P
S L L E I
15 V E R O S I M I L H A N Ç A I I M S
O 17 D A A T
P A S E
O D M
18 O B S T Á C U L O E P I S T E M O L Ó G I C O
P L
19 L E I O
R G
I
20 C O R R O B O R A D A

Horizontais Verticais
2. VERIFICABILIDADE 1. FALSIFICACIONISMO
3. HIPÓTESE 4. INCOMENSURABILIDADE
6. OBJETIVIDADE 5. FACTO-PROBLEMA
7. BIOLOGIA 11. ANOMALIAS
8. INDUTIVISMO 13. EPISTEMOLOGIA
9. MÉTODO 16. REVISÍVEL
10. PARADIGMA 17. POPPER
12. CIÊNCIA EXTRAORDINÁRIA
14. SUPERFICIAL
15. VEROSIMILHANÇA
18. OBSTÁCULO EPISTEMOLÓGICO
19. LEI
20. CORROBORADA
UNIDADE V – DESAFIOS E HORIZONTES
DA FILOSOFIA
1. A Filosofia e os outros saberes
Questões de escolha múltipla
1. B 4. A 7. A 10. D
2. A 5. C 8. C
3. C 6. D 9. A

Questões de verdadeiro/falso
1. F 4. V 7. V 10. V
2. F 5. F 8. V
3. V 6. V 9. F

Exercícios de aplicação
1. A verdade como coerência equivale, por um lado, à 6. A existência de múltiplas conceções de realidade e de
consistência lógica ou ausência de contradição lógica e, verdade constitui uma prova de que o modo como eram
por outro, ao facto de existirem relações inferenciais tradicionalmente encarados esses conceitos foi posto em
entre as crenças de um dado sistema – as crenças devem causa: As conceções contemporâneas de «realidade» –
estar relacionadas entre si de forma relevante. encarada como multidimensional e em devir – e «verdade» –
encarada como plurívoca, relativa, subjetiva, mutável, sujeita
2. A verdade como utilidade diz respeito à possibilidade
à cultura e de carácter probabilístico – conduzem ao
de produzir um efeito que se deseja, ao serviço de um
reconhecimento dos diferentes saberes como narrativas,
objetivo prático qualquer. Assim, a verdade equivale à
cada uma das quais apresentando níveis de realidade e
eficácia e à funcionalidade.
verdade diferentes. Deste modo, tornam-se equivalentes
3. Entender a verdade como consenso é entendê-la como (embora cada um com a sua própria especificidade) saberes
negociação intersubjetiva e como efeito de convencimento como a ciência, a filosofia, a arte, a religião, a poesia e a
dos vários discursos de verdade. Os consensos literatura.
constituem, assim, formas de nos aproximarmos da verdade
7. Edgar Morin propõe um conhecimento complexo que
em si. Já no âmbito da verdade como perspetiva se
rompe com as fronteiras entre as diversas disciplinas, pois
admite que cada sujeito tem uma perspetiva sobre o real.
entende a realidade como um tecido complexo.
Assim, a conceção perspetivista de verdade admite a
Considerando que a ciência clássica assenta sobre três
existência de múltiplas verdades, as quais parecem
pilares fundamentais – a ordem, a separabilidade e a lógica
excluir a verdade em si.
–, ele propõe uma total reforma do pensamento que é, ao
4. Hegel discorda da conceção que entende a verdade mesmo tempo, uma proposta de ação.
como algo eterno e imutável. Na sua perspetiva, a verdade Antes de mais, Morin propõe que o estudo de qualquer
resulta de um processo contínuo em que se vão objeto respeite a sua complexidade, e tal significa que
manifestando os diferentes aspetos da verdade não se devem estabelecer divisões analíticas artificiais,
(contraditórios entre si, mas reunidos numa síntese). A pois o complexo está para além das suas partes.
verdade é encarada como processo. Heidegger, por sua vez, Em segundo lugar, os estudos do complexo devem abdicar
entende a verdade como desvelamento do ser que acontece da previsibilidade e ser capazes de, face à incerteza,
pela e na linguagem enquanto «casa do ser». A verdade utilizar meios de lidar com ela, por exemplo através da
é encarada como desvelamento. estatística.
Em terceiro lugar, os estudos devem abandonar a
5. Nas conceções tradicionais, a realidade é entendida
racionalidade fechada, submetida ao rigor das regras da
como unidimensional (apresenta apenas uma dimensão)
lógica, e abrir os seus horizontes de racionalidade para
e imutável, isto é não sofre em si mesma qualquer tipo de
conseguir compreender «as paixões, a vida, a carne dos
mudança. Se a realidade sobre a qual a verdade versa é
seres humanos».
imutável e unidimensional, então a verdade é unívoca,
Trata-se, em suma, de romper com as velhas fronteiras
absoluta, universal, necessária, imutável e não sujeita ao
das disciplinas científicas, tornando o conhecimento
espaço nem ao tempo. Além disso, ela é indivisível: não
transdisciplinar, incluindo nele até saberes não científicos,
há qualquer grau intermédio entre a verdade e a ausência
como a arte, a literatura ou a religião.
de verdade.
8. A racionalidade prática pluridisciplinar e transdisciplinar além disso, que existem vários níveis da realidade, cada
pressupõe, antes de mais, uma racionalidade aberta e um dos quais regendo-se por diferentes lógicas e cuja
não apenas uma racionalidade ao serviço da lógica, complexidade está acima de qualquer pretensão analítica.
compartimentada por diferentes áreas disciplinares. Em consequência, admitem-se várias verdades e
Pressupõe ainda uma reconciliação das ciências naturais revalorizam-se os aspetos tradicionalmente excluídos da
com as sociais e humanas e com os outros saberes, racionalidade – por estarem demasiado conotados com a
reconhecendo-se que cada perspetiva poderá dar o seu subjetividade –, como a intuição, o imaginário e a
contributo para o estudo do mesmo objeto. Reconhece-se, sensibilidade.

Crucigrama

1 3
V 2 C O N S I S T Ê N C I A L Ó G I C A
E R 5
R 4 W I L L I A M J A M E S E
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8 A 6 D I S C I P L I N A R P C
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9 I N T E R D I S C I P L I N A R I D A D E C R
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D 10 P L U R I D I S C I P L I N A R I D A D E
I 11 12 I 13 L S
M P D P M I P
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N U S I U 15 C A N
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I I E 16 R E A L I D A D E O Ã Ê
O V L 12 R L R S O N
N O A C I I S C C
A 18 C O M P L E X I D A D E P Ó I
L A E Á A A E P A
N S D D 19 I N T U I Ç Ã O
T S E E I O
O I V
C 20 A R T E
A

Horizontais Verticais
2. CONSISTÊNCIA LÓGICA 1. VERDADE
4. WILLIAM JAMES 3. TRANSDISCIPLINARIDADE
6. DISCIPLINAR 5. ESPECIALIZAÇÃO
9. INTERDISCIPLINARIDADE 7. CORRESPONDÊNCIA
10. PLURIDISCIPLINARIDADE 8. UNIDIMENSIONAL
16. REALIDADE 11. PLURÍVOCA
18. COMPLEXIDADE 12. DESVELAMENTO
19. INTUIÇÃO 13. MACROSCÓPIO
20. ARTE 14. UTILIDADE
15. PERSPETIVA
17. CLÁSSICA
2. A Filosofia na cidade
Questões de escolha múltipla
1. D 4. D 7. C 10. C
2. D 5. D 8. A 11. C
3. C 6. B 9. A

Questões de verdadeiro/falso
1. V 5. F 9. V 13. F
2. F 6. F 10. V
3. V 7. F 11. F
4. V 8. F 12. F

Exercícios de aplicação
pode resumir-se da seguinte maneira: se ser tolerante
1. Foi no contexto da democracia grega que a filosofia
significa aceitar a diferença, então devemos permitir a
política iniciou o seu percurso. A palavra «política» deriva
expressão da diferença, mesmo aos que são intolerantes.
de polis, significando originariamente «gestão dos assuntos
No entanto, permitir que o intolerante expresse a sua
ou negócios da polis».
diferença é aceitar a sua intolerância e, com toda a
A democracia permitiu o reconhecimento da igualdade
probabilidade, permitir que o intolerante destrua a tolerância.
de todos os cidadãos perante a lei, chamando-os a participar
Assim, não podemos ser tolerantes com o intolerante.
nas decisões dos interesses comuns. Na polis, onde
as questões antropológicas adquirem agora primazia, 4. A coexistência de diferentes convicções (religiosas,
trava-se uma batalha entre filósofos e sofistas. Estes, não culturais, ou outras) no seio das sociedades implica
obstante as críticas que lhes são feitas, permitem que o naturalmente a existência de conflitos. Apesar do
cidadão participe nas decisões da polis democrática e reconhecimento da tolerância como princípio fundamental e
incentivam o diálogo e a discussão de ideias. regulador do pluralismo cultural, nem sempre é fácil, para
Os filósofos, todavia, não podem aceitar que a todos uma sociedade plural, democrática e tolerante, definir
caiba o papel de gerir a polis. Platão escreve a obra A para cada situação de conflito aquilo que é aceitável e
República para indicar quem deve governar. Contudo, é tolerável e aquilo que é inaceitável e intolerável. Neste
apenas com Aristóteles que surge o conceito de «filosofia sentido, o diálogo assume uma função crucial na resolução
política» como disciplina ou ramo do saber. Este filósofo dos conflitos e na definição dos limites para a própria
lança as perguntas a que a nova ciência política irá procurar tolerância. Enquanto «modo humano de ser humano»
responder, como a questão da soberania e do seu (L. Araújo), o diálogo é o melhor instrumento que temos
fundamento. para responder aos problemas e às exigências da própria
condição humana.
2. As ideias do texto remetem-nos para o domínio da
ética e da política e refletem não só a sua necessária 5. Na redação desta síntese, deverá o aluno ter em conta
articulação, como a sua importância. Assim, por exemplo, a os seguintes aspetos:
questão da legitimidade (ética) da violação ou desobediência – a existência de uma pluralidade de convicções admissíveis
à lei significa a necessidade de pensarmos no no seio das sociedades democráticas atuais (direito à
cidadão – portador de direitos e de deveres cívicos – diferença);
como um agente ou sujeito moral que intencionalmente – a distinção entre tolerância e intolerância;
escolhe agir de acordo com o que considera ser o bem, o – a possibilidade/impossibilidade de estabelecer limites à
correto ou o mais justo, embora pondo em causa a tolerância;
legitimidade da lei. – a relação entre diálogo e tolerância – a sua importância
O objetivo da política é permitir a convivência social, a enquanto instrumentos de construção da cidadania e
organização do espaço comum, de modo a garantir que enquanto valores a promover em favor da humanidade.
todos e cada um possam exercer os seus direitos e cumprir
6. Instaurada pelos gregos, a democracia surge como o
os seus deveres. No fundo, a reflexão ético-política
regime político promotor do diálogo, do debate, da discussão
resulta da necessidade de responder aos problemas que
de ideias. Na democracia, encontraram os gregos a melhor
derivam dessa relação entre o domínio privado e o
forma de gerirem os assuntos comuns e, na cidadania, a
público, entre as exigências individuais e as exigências da
expressão da liberdade e da igualdade.
coletividade, no sentido de assegurar as melhores condições
No seio das sociedades democráticas atuais valorizamos a
(de justiça) para todos.
diversidade cultural, encontramos uma pluralidade de
3. O paradoxo da tolerância, formulado por Popper, reflete convicções admissíveis e reconhecemos o direito à
a dificuldade que encontramos ao definir a fronteira entre diferença, à liberdade de expressão, à identidade cultural,
o que é tolerável e o que não é tolerável e ao propor os entre outros valores. A democracia não significa a
limites possíveis para a tolerância. Com efeito, o paradoxo inexistência de conflitos e de problemas no interior das
sociedades que a adotam. Significa,
consensos e de eleger o diálogo (em detrimento da 8. As afirmações do autor do texto suscitam
violência) como via de resolução dos conflitos. Neste necessariamente a reflexão sobre o papel do cidadão
sentido, a maioria dos países atuais, e dos seres humanos contemporâneo. Com efeito, os exemplos apresentados
em geral, entende que é na democracia que podemos conduzem-nos a reconhecer que atualmente não existe
encontrar a possibilidade de construir uma sociedade mais qualquer justificação para não nos envolvermos em
justa e melhor. questões que dizem respeito a todos os seres humanos,
sobretudo quando os seus direitos fundamentais são postos
7. De inspiração kantiana, a «ética do discurso» pretende em causa. A cidadania atual não pode mais ser encarada
ser universal embora centrada na intersubjetividade própria como estando circunscrita ao direito do cidadão de participar
da comunicação. Parte-se da ideia de uma situação ideal de nos assuntos públicos da cidade, do seu país. Ela
comunicação cujos intervenientes partilham de iguais ganha hoje um novo significado, ela implica também
condições de diálogo e, dessa forma, conseguem entender- deveres cívicos e uma responsabilidade ética que deve
se. Isso equivale à possibilidade (teórica) de estabelecer a ser pensada à escala planetária. O cidadão contemporâneo
validade de normas morais (comuns). Mas, como uma tem, pois, o direito e o dever de participar, enquanto
«comunidade ideal de fala» não é o mesmo que uma cidadão no mundo, na construção de uma sociedade
comunidade real, a maior parte das vezes só será possível mais justa, de promover a paz (privilegiando o diálogo) e
atingir consensos provisórios ou estabelecer compromissos a solidariedade, cumprindo com as suas responsabilidades
negociados. face ao presente e ao futuro da humanidade.

Crucigrama

1
3 R
4 5 2 H AN N A H A R E N D T 6 E
I É 8 E C S
7 N A T U R E Z A H U M A N A M O P
T I R 9 C O N S E N S O
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L A S R I S
E 11 T O L E R Â N C I A C A
R D Ó C Ç B
A O T 12 P Ú B L I C O Õ I
N E A E L
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S 16 I S O N O M I A I A
C H Á D
U N 17 J O H N L O C K E
R O
S R G
18 P E S S O A L 19 F A M Í L I A O
O W
L
20 F I M D A H I S T Ó R I A

Horizontais Verticais
2. HANNAH ARENDT 1. RESPONSABILIDADE
7. NATUREZA HUMANA 3. DEMOCRACIA
9. CONSENSO 4. INTOLERANTE
10. CIDADANIA 5. ÉTICA DO DISCURSO
11. TOLERÂNCIA 6. CONVICÇÕES
12. PÚBLICO 8. ARISTÓTELES
13. POLIS 14. JOHN RAWLS
16. ISONOMIA 15. DIÁLOGO
17. JOHN LOCKE
18. PESSOAL
19. FAMÍLIA
20. FIM DA HISTÓRIA
3. A Filosofia e o sentido
Questões de escolha múltipla
1. D 4. D 7. C 10. A
2. C 5. B 8. B 11. C
3. C 6. A 9. B 12. D

Questões de verdadeiro/falso
1. F 5. F 9. F 13. V
2. V 6. V 10. V 14. F
3. V 7. F 11. F 15. F
4. F 8. V 12. V 16. V

Exercícios de aplicação
1. Os filósofos existencialistas veem o ser humano como A síntese do tempo objetivo e do tempo subjetivo
um ser livre. Isso exclui o determinismo, embora eles não realiza-se pelo tempo antropológico, que está associado
deixem de reconhecer o carácter condicionado e situado aos diversos ritmos sociais, religiosos, culturais,
do indivíduo. Estar «condenado a ser livre» equivale, para económicos, etc.
o ser humano, a não ter uma natureza ou essência, algo
5. Perante o absurdo da existência, Camus não defende a
que o defina e lhe seja dado à partida. Ele é «invenção»
resignação, muito menos o suicídio. Pelo contrário, ele
da sua liberdade e inteiramente responsável pelas suas
sublinha a preferência pela vida, mesmo sem ilusões,
ações.
pelo confronto com o absurdo, recusando a atitude passiva
Ao mesmo tempo, esta afirmação da liberdade significa
e a consolação religiosa, e pela vivência lúcida do instante,
que o indivíduo não se encontra encerrado em si mesmo:
a fim de conquistar mais liberdade e dominar
é uma realidade imperfeita e aberta, ligada ao mundo,
melhor a injustiça.
em comunicação com os outros e alguém que se vai
construindo como pessoa. Original, irredutível e único, 6. O problema do sentido da existência humana encontra-
ele escolhe livremente os seus valores, compromete-se se diretamente ligado à questão da inevitabilidade da
nos seus projetos, procurando dar sentido à sua vida e à morte. Alguns filósofos, mas sobretudo grande parte das
realidade. religiões, defendem a perspetiva de que existe vida após
a morte e que, inclusive, somos possuidores de uma alma
2. O sentido prático, funcional ou instrumental é o tipo de
imortal. Em geral, consideram que a vida terrena só tem
sentido que se relaciona com as tarefas quotidianas, as
sentido se houver vida depois da morte. Há, no entanto,
atividades e os comportamentos ligados à utilidade e à
quem coloque objeções a esta perspetiva, sustentando
satisfação das necessidades da vida individual e coletiva.
que, se a vida humana não tiver sentido no caso de não
Por exemplo, tem sentido estudar para tirar um curso ou
sobrevivermos à morte, não o ganha necessariamente se
beber água para matar a sede. Já o sentido incondicionado
lhe sobrevivermos ou, inclusive, se formos imortais.
ou absoluto diz respeito à justificação última da vida e do
sentido prático. Trata-se do sentido associado à explicação 7. Os estádios do processo de memória são os seguintes:
da finalidade da vida como um todo. Assim, perguntar pelo a codificação, ou aquisição da informação através de um
«sentido da vida» equivale a perguntar se a vida tem um determinado código; o armazenamento, ou conservação
propósito ou finalidade e se esse propósito tem algum valor. da informação de modo mais ou menos permanente; e,
por fim, a recuperação, ou atualização de determinada
3. Tais situações são: a experiência da dor e da infelicidade,
informação, por recordação ou reconhecimento.
que pode roubar ou toldar significativamente o sentido da
existência; a experiência do supérfluo e do excesso, 8. De acordo com Susan Wolf, uma vida terá sentido se for
associada a uma total satisfação das necessidades e dos marcada pela entrega ativa a projetos de valor, projetos
desejos, o que torna insípida a existência; e, por fim, a que não dependem da mera atração subjetiva, antes
certeza da morte, ou a tomada de consciência de que a equivalem a algo objetivamente valioso, e que, pelo
prossecução dos fins e objetivos do existir quotidiano será menos parcialmente, têm êxito. Isso equivale a amar
definitivamente interrompida. objetos merecedores de amor, a entregar-se a eles de
maneira positiva, a interessar-se, como diz a afirmação,
4. O tempo subjetivo equivale à temporalidade vivida
«de um modo razoavelmente profundo por uma coisa ou
através das mudanças sucessivas dos estados consciência.
coisas». Ao invés, uma vida não terá sentido se for marcada
O tempo objetivo equivale ao tempo medido e calculado
pelo «tédio ou alheamento» em relação a todas ou
de um modo rigoroso, sendo um tempo quantitativo,
quase todas as ações.
homogéneo e universal, mas não absoluto.
Crucigrama
1 2
T P
E 4 5 R
3 I M O R T A L I D A D E Á
P N N T
6 D O R 7 C G I
M O Ú C
O N 8 S E N T I D O
9 R D T 10
R T I I V
11 E X I S T E N C I A L I S M O
S I D
12 P O P P E R O A
O N
13 N A T U R E Z A
S D
A 14 O
B P
15 I N T R A N S M I S S Í V E L
L E 16
I O M
D C 17 E P I C U R O
A U M 19
D 18 E P I S Ó D I C A
E A R A
Ç I M
à 20 A B S U R D O
O S

Horizontais Verticais
3. IMORTALIDADE 1. TEMPO
6. DOR 2. PRÁTICO
8. SENTIDO 4. INCONDICIONADO
11. EXISTENCIALISMO 5. ANGÚSTIA
12. POPPER 7. MORTE
13. NATUREZA 9. RESPONSABILIDADE
15. INTRANSMISSÍVEL 10. VIDA
17. EPICURO 14. PREOCUPAÇÃO
18. EPISÓDICA 16. MEMÓRIA
20. ABSURDO 19. CAMUS

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