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Dr.

Bruce Thompson
e Barbara Thompson

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Editora Jocum
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SOBRE O AUTOR

Milhares de pessoas em diversas partes do mundo têm sido abençoadas


pelo ministério do Dr. Bruce Thompson. Sua série de palestras sobre o
sofrimento e traumas emocionais e seus efeitos sobre a personalidade
tem levado alívio, libertação e cura a muitos líderes, leigos e obreiros cristãos.
Agora, com a publicação de "Paredes de Meu Coração", abre-se a possibilidade
de muitos mais conhecerem essas maravilhosas verdades.
Todo líder cristão precisa inteirar-se das revelações que Deus tem confiado
ao Dr. Bruce Thompson, pois por meio delas aprenderá a compreender melhor
aqueles com quem trabalha.
Todo aquele que tem o anseio de servir a Deus precisa ler este livro. Nele
aprenderá a conhecer melhor a si mesmo, suas desilusões, seu sentimento de
insegurança, seus sonhos; descobrirá também como pode servir ao Senhor de
modo mais eficiente.
Seria muito proveitoso às igrejas e institutos bíblicos adotarem esta obra
como livro-texto em cursos sobre vida cristã. Seu conteúdo é perfeitamente
bíblico, e trará benefícios práticos de valor incalculável a quantos o lerem.
Recomendo sua leitura a todos.

Floyd McClung Jr.


Diretor Executivo de
Operações Internacionais
JOCUM
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer, primeiro, a meus dois filhos,Michae1 e Lionel, por


sua participação neste projeto que exigiu uma razoável parcela de
nosso tempo. Em segundo lugar, desejo expressar profunda gratidão à
minha
esposa Barbara, que trabalhou longas horas no computador escrevendo,
reescrevendo e revisando o texto. Meredith Nee Puff que fez uma valiosa
contribuição através de sua edição e critica literária.
Dale Buehring, diretor da C1'0u/11 Ministries lnternationd, e sua esposa Evie,
foram um constante incentivo para nós, o apoio de que precisávamos quando
poderíamos ter desistido no meio do caminho. Ademais, seu vasto
conhecimento de produção e marketing tem sido uma bênção.
Larry Wright e a equipe do Procla-media que se juntou aos Buehrings para
revisar e completar a segunda edição.
Estendo um agradecimento especial a Jean Darnell por seu ministério
profético em relação à nossa vida.
Minha gratidão ao pessoal da Faculdade de Aconselhamento e Assistência
Médica, que além de orar por nosso trabalho, não poupou esforços para a
feitura deste livro.
Por fim, quero agradecer a Loren e Darlene Cunningham,bem como à junta
diretora da Universidade das Nações, pelo seu precioso estímulo e pelas bênçãos
que recebemos no convívio com eles, e que resultaram na produção desta obra.
PREFÁCIO

V início da década de 70, eu e minha esposa, Barbara, trabalhamos du-


rante algum tempo num posto missionário de uma localidade remota,
no norte de Gana, África. Além de prestarserviço num leprosário e num
pequeno hospital, começamos a realizar um trabalho de assistência médica iti-
nerante. Visitávamos aldeias onde permanecíamos vários dias em contato direto
com o povo do lugar. Dessa forma, pudemos conhecer bem a vida rural africana.
E foi com essa experiência que tivemos ocasião de enxergar a ciência médica por
uma perspectiva nova. Vimo-nos não apenas cuidando das enfermidades daque-
la gente, mas também buscando meios de preveni-las em meio ao seu contexto
físico. E em pouco tempo, estávamos envolvidos numa empolgante experiência:
o tratamento do ser humano em seu todo. Além de cuidar dos males do corpo,
lidávamos ainda com suas carências emocionais e espirituais.
Regressando à Nova Zelândia em 1973, resolvemos continuar empregando
o mesmo princípio, e fundamos uma clínica para tratamento do ser humano
integral, contando, então, com a colaboração de uma equipe de pastores. Ali
vimos inúmeros pacientes sendo curados e abençoados.
Mais tarde transferimo-nos para Kailua-Kona, no Hawai, indo trabalhar
com a JOCUM, uma organização missionária internacional e interdenomina-
cional, onde criamos um ministério de aconselhamento espiritual. Desse mi-
nistério nasceu, em 1976, a Faculdade de Aconselhamento e Assistência Mé-
dica, uma das sete Faculdades que compõem a Universidade das Nações, da
JOCUM, que atualmente está sendo implantada em outras partes do mundo.
Os conceitos que exponho neste livro e ministro no curso da Faculdade são
fruto de experiências vividas na África, na Nova Zelândia e no Hawai. O que
aprendi devo aos meus pacientes, orientadores e alunos; foram todos meus
mestres. Meu Mestre supremo, todavia, tem sido o Espírito Santo. Meu livro
de consulta é a Bíblia, inspirada por Deus e útil para solucionar todo tipo de
problema que afeta o ser humano.
10 - Paredes do Meu Coração l Bruce Thompson

Lemos em Provérbios 4:23 que tudo de mais vital para o homem procede
do seu coração. Conscientemente ou não, todos nÓs sabemos desse fato, e por
isso erguemos paredes, muros de proteção ao redor dele. Acontece, porém, que
tal proteção é enganosa, e muitas vezes essa tentativa de auto-defesa acaba
se transformando nas muralhas de um cárcere pessoal interno que aprisiona
nossa verdadeira personalidade.
Ao término deste estudo estaremos vendo o que é a personalidade madura,
integral, delineada na Bíblia, que Deus deseja que cada um de nós alcance. Es-
pero que, de posse dessas verdades e buscando a maturidade plena em Cristo,
o leitor possa experimentar essa transformação.
Se sentir que está tendo dificuldade para fazer a aplicação na prática de
alguma das questões aqui debatidas, sugiro que consulte um pastor ou conse-
lheiro crente de sua confiança.
E agora uma palavra a meus paciente e amigos com quem tanto aprendi.
Podem estar certos de que ao narrar experiências para ilustrar os ensinamen-
tos, tivemos o cuidado de manter em sigilo a identidade de cada um. Modifi-
camos nomes e circunstâncias para que ninguém seja reconhecido, e venha a
tomar-se alvo de constrangimentos. E se alguém se identificar num ou noutro
fato narrado, lembre-se de que muitas pessoas estão vivenciando problemas e
provações semelhantes aos seus.
E é a vocês, meus pacientes e alunos, que dedico este livro, a todos que,
em busca da vida e da verdade, desencadearam o processo de descoberta dos
conceitos aqui expostos.
"Até que finalmente todos creiamos do mesmo modo quanto à nossa sah'ação e ao
nosso Sdoador, o Filho de Deus e todos nos tornemos amadurecidos no Senhor. Sini,
crescemos ll ponto de que Cristo ocupe completamente todo o nosso ser" (Ej' 4:13).

Bruce R. T. Thompson
7

ÍNDICE
Primeira Parte: O Colapso da Personalidade

1.Sobre MINHACABEÇA . 15

2. Alguma coisa está fora de prumo 31

3. Assolados por tempestades . 45

4.Úvasverdes .. 59

5. Paredes de proteção decorrentes da rejeição . . 71

6. Paredes de proteção decorrentes da revolta 87

7. Cada um com sua própria maneira de viver 103

8.Átrásdasparedes .. .. 117

Segunda Parte: A Restauração da Personalidade

9. Reconstruindo os alicerces 135

10. Descobrindo quem e o pai . . 145

11. O PADRÃO ESTABELECIDO POR DEUS . 157

12. O CORAÇÃO ATORMENTADO . . . ......... . 167

13. Derrotandooinimigo ... .. .... . . 181

14. Um novo começo ......... . 193

15. Surge um novo caráter....................... ... . 207


Parte I

O COLAPSO
DA PERSONALIDADE

"Ah! meu coração! meu coração! Eu me contorço em dores.


Oh! As Paredes do Meu Coração!
Meu coração se agita!
Não posso calar-me,
porque ouves, ó minha dina,
o som da trombeta,
o alarido de quem."

Jeremias 4.19
1
SOBRE MINHA CABEÇA
Era uma tarde quente e úmida de abril. Atravessando apressadamente o
estacionamento em direção ao consultório, senti gotas de suor se forma-
rem em minha testa. Nuvens escuras se acumulavam pelo céu, prenun-
ciando outra tempestade tropical.
"Com a chuva, pelo menos essa sensação de umidade diminui", pensei.
Notei que o dia havaiano, normalmente claro e brilhante, tornara-se meio
escuro, e o ar parado, denso, parecendo esperar com certa expectativa que a
tempestade desabasse. A atmosfera estava permeada pelo perfume das flores
que me chegava às narinas com força inebriante. Abri a porta do consultório
e entrei, gozando a agradável sensação de um ambiente mais fresco. Peguei a
agenda para ver o que teria pela frente no restante do dia. O primeiro da lista
era Larry Coombs, um novo paciente.
Chegou às duas horas em ponto. Era alto e magro, e tinha cabelos castanho-
escuros bem penteados. Cumprimentei-o e observei que ficou a remexer ner-
vosamente na roupa. Tinha o irritante hábito de morder o bigode. Embora não
houvesse muita claridade no consultório,fiquei surpreso por ele não fazer nem
uma tentativa em remover os Óculos escuros.
"Como vou conseguir romper toda essa reserva?" Pensei. O que poderia
dizer para levar aquele homem a relaxar e "baixar um pouco a guarda"?

UMA SITUAÇÃO DIFÍCIL


A esposa de Larry era nossa cliente havia já alguns meses. Era crente, mas
encontrava-se à beira de um colapso nervoso. O marido bebia muito e consu-
mia drogas. Além de corroer a renda deles,isso estava destruindo o relaciona-
16 - Paredes do Meu Coração l Bruce Thompson

mento do casal. Eu e ela estávamos orando por Larry. Dois dias antes, ela havia
me telefonado muito animada, informando que ele afinal consentira em ter
uma entrevista comigo.
Agora, olhando para ele ali, afundado numa de nossas poltronas, a cabeça
virada para um lado, pus-me a matutar no que poderia fazer para ajudá-lo.
Então comecei a dirigir-lhe algumas perguntas.
- Larry, seu pai conversava, brincava com vOCê? Ele o disciplinava?
Ele resmungou qualquer coisa forçando-me a me inclinar para diante na
tentativa de ouvir o que dizia. Passaram-se alguns minutos e afinal ele se
levantou, como se não estivesse mais aguentando ficar parado, e se pôs a
caminhar de um lado para outro. Foi então que descarregou uma torrente
de palavras.
- Meu pai! Ah! Ele nunca se interessou por mim. Vivia me xingando e me
derrubando no chão. Nunca sabia quando ele ia estourar! Desabafou, puxando
de leve o bigode. Não me lembro nem uma vez de ele ter dito que me amava.
Ainda andando para lá e para cá no pequeno consultório, continuou:
- Recordo de uma ocasião em que eu... é... roubei um negócio, uma coisa
insignificante. Meu pai ficou tão irado que me levou à delegacia e me deixou
preso lá uma semana. Disse que queria me dar uma lição. Foi o fim para mim.
Jurei que nunca mais iria confiar nele.
Ele continuava com os Óculos escuros, mas pelo que podia ver do seu rosto,
percebi que assumira uma expressão marmórea; dura e fria.
- Quantos anos você tinha quando isso aconteceu?
- Uns doze ou treze.
Observei que Larry mantinha os punhos cerrados ao falar. E continuou.
- Ele foi muito injusto, muito injusto mesmo. SÓ pensava em si. Assim que
dei um jeito, fugi de casa.
Sentou-se na cadeira, voltando à atitude fechada de antes. Fiz mais algumas
tentativas de levá-lo a falar mais, mas foram todas inúteis. Convenci-me de que
ele não iria confiar-me mais nenhum dado. Minha secretária bateu de leve à
porta, informando-me que o cliente seguinte já havia chegado.
- Nosso tempo por hoje está esgotado, Larry, falei tentando reprimir um
sentimento de frustração.
Uma breve expressão de alívio lhe veio às feições. O rapaz ergueu-se e ca-
minhou para a porta.
Parte I l Sobre minha cabeça - 17

- Gostaria de conversar mais com você.


- Tudo bem, resmungou ele e saiu.
Encontrando-me sozinho no consultório, estudei as anotações que fizera
enquanto ele falava. Sua atitude fortemente defensiva ao revelar-me aqueles
fatos, me deixara preocupado. Como poderia ajudar aquele homem? Eu havia
circundado algumas palavras como inseguro, temeroso, ansioso e humilhação.
A contida ansiedade de Larry me fizera reviver uma dolorosa experiência que
tive quando estava com apenas oito anos de idade.

RECORDAÇÕES AMARGAS
A cena me veio à mente com grande nitidez. Tive a sensação de que
ocorrera no dia anterior. Lembrei-me da minha professora do quarto ano,
uma mulher alta, carrancuda, de cabelo bem curto já meio grisalho. Não
era nem um pouco amiga. Certo dia, ela me pediu que fosse ver as horas
em outra sala. O relógio era bem grande, os ponteiros graúdos de cor ne-
gra, fáceis de ver. Parecia uma tarefa muito simples. Mas no momento em
que seguia pelo corredor largo, de repente me dei conta de um fato: não
sabia ver as horas.
Fiquei olhando para o enorme relógio, sentindo-me invadir por uma onda
de pavor. Não poderia nunca confessar a verdade diante da classe. Passei al-
guns minutos ali parado, em luta comigo mesmo. Por fim tive uma idéia: po-
deria inventar uma hora qualquer e talvez acertasse. Quando entrei de volta na
sala, todos os olhares se voltaram para mim, aguardando a resposta.
- Ah... é seis horas. Resmunguei.
A professora olhou-me uns instantes sem compreender. Afinal, começou
a sorrir e as risadinhas contidas de meus colegas viraram sonoras gargalha-
das. Senti o rosto avermelhar-se. Meus lábios tremiam. Limpando as mãos
suadas na camisa, corri para a carteira e procurei esconder-me atrás de meus
objetos.
Para piorar as coisas, ela passou a utilizar essa falha minha para divertir a
classe. E quanto mais isso acontecia, mais medroso e retraído eu me tornava.
Por fim, todas as vezes que tinha de participar de qualquer atividade em
classe, sentia dores no estômago. Sempre que eu cometia um erro, ela me
batia na mão com a régua. Passei a ter pavor daquela mulher. Não conseguia
nem olhar para o seu rosto.
18 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

ALGO EM COMUM
Relembrando meu sofrimento, pude compreender melhor a luta de Larry,
pois percebi alguns pontos análogos entre a minha história e a dele. Ambos
tivéramos dificuldade com uma figura de autoridade excessivamente austera,
de quem esperávamos receber um pouco de amor e compreensão, mas recebê-
ramos apenas injustiça e sofrimento. Eu levara anos para libertar-me daqueles
temores que me faziam tremer feito vara verde. Ainda admirado com a se-
melhança das situações, guardei as anotações, preparando-me para o cliente
seguinte.
Uma semana depois, Larry voltou. E, apesar de o ambiente não estar ilumi-
nado demais, insistiu em conservar os Óculos escuros. Lá fora, o céu carregado
de nuvens pesadas impedia que a luz solar clareasse o aposento. Dessa vez, ele
se mostrava menos temeroso e não tão agitado. Sentado numa cadeira ao lado
da minha, pôs-se a conversar, ligeiramente mais desinibido. Ainda percebia
nele certa inquietação interior, mas pelo menos não andava de um lado para
outro como uma fera enjaulada.
Larry revelou-me que, ainda bem jovem, se tornara hippie, adotando uma
vida caracterizada por promiscuidade e uso de narcóticos, chegando até a inje-
tar drogas na veia. Com pouco tempo, precisou praticar pequenos delitos para
"sustentar" o vício. Nesse período, não tinha relacionamentos duradouros;
encerrava um e logo começava outro. Agora, porém, casado e com um filho,
estava tentando aprender a confiar nas pessoas. Mas sempre que alguém o
contrariava ou decepcionava, tinha acessos de raiva. Inclinei-me para a frente
e indaguei:
- Como você se sente com tudo que está lhe acontecendo?
Ele se remexeu um pouco, tamborilando os dedos nervosamente nos braços
da cadeira.
- Muito sozinho, replicou. Tenho sentido forte depressão e medo. Tenho
medo de fazer alguma coisa contra minha esposa e meu filho num dos meus
acessos de raiva.
Acenei afirmativamente, concordando e ele continuou falando. Ao fim
da consulta, estávamos ambos um pouco mais tranquilos. Encerrei com uma
oração. Em seguida estendi a mão e apertei-lhe de leve o braço. Tive a im-
pressão de vê-lo esboçar um rápido sorriso no momento em que prometia
que iria voltar.
Parte I l Sobre minha cabeça - 19

Assim que saiu, recostei-me na cadeira e pus-me a pensar no que acabara de


ouvir. O problema de Larry era o mais difícil com que já me defrontara até en-
tão; um tremendo desafio. A vida dele achava-se como que fragmentada. Será
que conseguiria reunir os pedaços para formar um todo harmônico? Era como
se ele fosse um quebra-cabeças e minha tarefa, colocar cada peça em seu lugar.
"Senhor, preciso de ti!" Clamei. "Preciso de ti para destrancar a porta desta
vida antes que ela se feche definitivamente."
Naquele momento, eu ainda não sabia que estava para iniciar um grande
aprendizado, inaugurando uma nova fase em meu ministério.

EM BUSCA DE SOLUÇÕES
Por ocasião da terceira consulta de Larry, eu já tinha alguma coisa para
dizer-lhe. Havia orado muito após a última entrevista e sentia que Deus estava
para revelar-me alguns aspectos básicos de seus problemas.
- Oi! Como vai o senhor? Disse ele ao entrar.
Em seguida, deixou-se cair na cadeira e recostou-se nela soltando um pe-
queno suspiro.
- Vou bem Larry, obrigado! Repliquei.
Tive de exercer um enorme autocontrole para não extravasar a onda de sa-
tisfação que sentira ao vê-lo tão mais descontraído. E continuei:
- Como passou a semana?
- Melhor. Respondeu. Tenho pensado muito no que conversamos aqui. Até
cheguei a conversar com minha esposa sobre algumas dessas coisas.
Pusemo-nos a falar sobre relacionamentos e perguntei-lhe se já tinha tido
um bom relacionamento afetivo antes. Ele abanou a cabeça.
- Não. Respondeu. SÓ depois que conheci minha esposa.
E explicou que ela se mantivera fiel ao lado dele, decidida a não abandoná-
lo, acontecesse o que acontecesse. Como não o criticava nem condenava como
outros faziam, ele sentiu, pela primeira vez na vida, que ali estava alguém que
o amava.
- É muito difícil aceitar isso. Continuou. Sempre me vi como um estorvo
para todo mundo; achava que ninguém estava nem aí para mim.
Prosseguimos conversando sobre a afeição de sua esposa e da importância
dela para Larry. Em dado momento, com gestos lentos, ele ergueu a mão e
tirou os óculos escuros. Era a primeira vez que via seus olhos. Eram castanho-
20 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

escuros, quase negros. Naquele instante estavam cheios de lágrimas e tinham


uma expressão contemplativa.
Abria-se a primeira brecha em sua couraça! Minha vontade era pular e gri-
tar de alegria mas me contive. Limitei-me a fazer uma silenciosa oração de
agradecimento a Deus. Em seguida, ele falou do distanciamento que tinha dos
pais e de algumas dificuldades que tivera também com a esposa. Então levan-
tei-me e me dirigi ao quadro-negro que havia no consultório.
Ainda pensando no peso da influência paterna para Larry, peguei um pe-
daço de giz e me pus a traçar algumas linhas. Não sabia exatamente o que iria
fazer. Mas, de repente, meus pensamentos começaram a tomar forma. Tracei
uma linha no ângulo de 45 graus, representando as experiências de rejeição que
ele sofrera. Passamos a rememorar juntos essas circunstâncias penosas e per-
cebi então que sua revolta, seu envolvimento com drogas e com o crime eram
uma reação à rejeição sofrida. A partir do alto dessa linha, tracei outra linha em
ângulo, desenhando assim um "V" invertido. Essa segunda, representava sua
atitude de rebeldia. (Veja figura abaixo)

REjEIÇÃO REBELDIA
Parte I l Sobre minha cabeça - 21

Conversamos sobre o desenho e foi então que percebi que havia uma li-
gação entre as diversas figuras de autoridade presentes na vida dele. Larry
sofrera rejeição por parte do pai. O fato de haver passado uns dias na cadeia
havia marcado profundamente o seu espírito. Ele jurara que nunca mais con-
fiaria no pai. Agora percebíamos as consequências disso: ele não conseguia
confiar em mais ninguém. Assumindo uma atitude de revolta e adotando
uma vida de imoralidade, crime e vício, ele simplesmente dava expressão à
rejeição sofrida.
O rapaz inclinou-se um pouco para a frente e virou os olhos para o quadro.
Neles brilhava uma centelha de esperança.
- É! Isso tem lógica! exclamou sorrindo levemente.
Pus-me a folhear a Bíblia, procurando textos que confirmassem o que eu
acabara de dizer. Mas minha mente fervilhava de idéias. Algumas peças do
quebra-cabeças da vida do Larry e da minha já começavam a encaixar-se no
lugar. Não havia dúvida de que eu descobrira um fato importantíssimo relacio-
nado com a influência das figuras de autoridade na vida humana.
Depois que encerramos a consulta e Larry foi embora, minha secretária co-
mentou a mudança do semblante e o olhar mais alegre dele. Senti-me exultante!

O PROCESSO DE CURA
Nas semanas seguintes, Larry compareceu regularmente ao consultÓrio. En-
tão, pouco a pouco, fui apresentando a ele, com atitude firme e incisiva, o plano
divino para o homem, revelado na Bíblia. E ele começou a transformar-se. Seus
olhos desanuviaram e uma nova paz passou a permear seu ser, substituindo a
inquietação de antes. Orientei-o no processo do arrependimento, mostrando-
lhe que era responsável pelas decisões que tomara e que o haviam lançado nos
abismos do desespero.
- Arrepender, expliquei, é assumir a responsabilidade pela nossa própria
conduta, tomar a firme decisão de dar as costas a todas as práticas autodestru-
tivas e adotar atitudes corretas, santas e construtivas.
Em seguida aconselhei-o a orar e ler as Escrituras diariamente para que
pudesse conservar aquilo que Deus, em sua misericórdia, lhe concedera.
Na última sessão de aconselhamento, Larry achava-se inteiramente mu-
dado. Seu espírito recebera o toque divino e o antigo tormento interior dera
lugar à paz.
22 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

UM NOVO DESAFIO
O problema de Larry e de outros que me procuravam solicitando acon-
selhamento constituía um grande desafio para mim. Como poderia auxiliar
aquele homem e todos os outros que tinham dificuldades semelhantes? Que
recursos poderia utilizar?
Pus-me então a estudar cada vez mais as Escrituras à procura de soluções e
outras revelações. Certo dia descobri um fato maravilhoso relacionado com o
desenho que eu tinha feito no quadro naquele dia. No capítulo sete de Amós,
o profeta compara Israel a um muro torto quando aferido pelo prumo divino.
Procurei a palavra no dicionário e numa concordância bíblica, e descobri que
o prumo é um instrumento que os pedreiros utilizam para alinhar paredes e
muros, fazendo-os perfeitamente verticais.
Meditando nessa figura, concluí que as linhas que eu traçara para represen-
tar a revolta de Larry e a rejeição que sofrera, não passavam de falsos prumos
humanos. Nenhum se alinhava com o plano original de Deus - o prumo divino
- que se situa no meio dos dois falsos prumos humanos.
Na verdade, fora esse plano que Larry estivera procurando, mas não conse-
guira encontrar. E como não o encontrara, passara a alinhar a vida pelos falsos
prumos da rejeição e revolta que tinham sido forjados a partir das atitudes do
pai e de outras figuras de autori-
dade. Quando ele começou a vir
ao meu consultório, sua vida era
como uma parede torta, prestes a
desabar sobre ele.
Mais ou menos na mesma
ocasião, eu estava para fazer
uma importante descoberta. Uma
idéia que, sem que eu me desse
conta, vinha germinando em mi-
nha mente havia muitos anos. As
experiências vividas por Larry
haviam funcionado como uma
,. espécie de interruptor que acen-
.' "" deu a luz nos quartos escuros do
meu passado.
Parte I l Sobre minha cabeça - 23

O mar brilhava e reluzia, com um reflexo luminoso de vários tons. O dia


estava quente e lindo; o céu azul muito claro. Achava-me sentado sobre uma
rocha de lava, batendo os pés numa poça de água formada pela maré e absor-
vendo os fortes raios do sol havaiano.
Meus filhos brincavam na pequena faixa da praia, construindo castelos
de areia.
Minha mente agitada perpassava velozmente os meandros de minha vida.
No dia anterior eu dissera a Larry que não havia mais necessidade de ele voltar
ao consultório. Mas, isso não significava o fim, e sim, o começo de uma nova
existência para ele. Compreendi que eu também estava iniciando a busca de
maiores revelações. O trabalho com Larry me incentivara a examinar minha
própria vida por um novo ângulo. Então ali, sentado ao sol, deixei que meus
pensamentos e recordações me conduzissem de volta ao passado.

SENHOR, QUE FAREI DE MINHA VIDA?


Converti-me com a idade de treze anos, através do ministério de uma orga-
nização de evangelização de crianças. Um ano depois, quando me encontrava
em um acampamento batista na região de Cambridge, Nova Zelândia, Deus
começou a falar ao meu coração chamando-me para a obra missionária. Os
anos básicos da escola, em preparação para o vestibular, tinham-me parecido
intermináveis. E agora que me encontrava no ponto de decisão, ainda não sabia
o que iria fazer de minha vida. A idéia de entrar para a universidade não me
entusiasmava muito. Por isso até levei um susto quando um amigo me pergun-
tou se eu pensara na possibilidade de fazer medicina.
- Medicina! Repliquei rindo. Você está brincando! É demorado demais e eu
estou enjoado de estudar!
Mas durante várias semanas, aquele comentário ficou como que martelando
em minha mente. E quando eu lia a Bíblia, alguns textos pareciam destacar-se
na página. Ou então, outras pessoas faziam comentários que vinham confirmar
certas convicções interiores. Afinal descobri que as três matérias que eu escolhera
ao acaso e que eram exigidas para o vestibular -biologia, química e física - eram
exatamente as de que precisaria no curso de medicina. Era Deus dando-me con-
firmações claras de que me chamava para ser médico, algo totalmente contrário
à minha vontade. Pensara em ir direto para o campo missionário sem fazer mais
nenhum curso. Mas não, eu deveria ser missionário médico.
24 - Paredes do Meu CoRAção l Bruce Thompson

Iniciei os estudos preparatórios na universidade para ingressar na facul-


dade de medicina. E estudei muito. Estudava de manhã até à noite. A con-
corrência com outros candidatos era um grande desafio. A porcentagem dos
que seriam classificados era muito pequena. Por isso não me surpreendi muito
quando verifiquei que não havia passado. Aceitei aquilo como sendo normal e
decidi que na próxima iria ser aprovado.
E mais uma vez passei horas e horas estudando aplicadamente para fazer
o exame no final do ano. Assim que as provas se encerraram, pus-me a esperar
o resultado com ansiedade. Os acontecimentos que se seguiram ficaram in-
delevelmente gravados em minha mente. Com muita animação e expectativa,
atravessei as ruas da cidade em minha motoca, em direção à universidade. Lá
chegando, já encontrei um bom grupo de estudantes diante das listas afixadas
ao mural. Corri os olhos rapidamente pelos nomes, procurando o meu. P - Q
- R - S - T - Thompson? Cadê meu nome? Horrorizado me dei conta de que
não constava na lista. Isso significava então que fora reprovado mais uma vez.

A IMPLACÁVEL DOR DA REjEIÇÃO


Fiquei petrificado. Esforçando-me para reprimir uma forte vontade de cho-
rar, compreendi que embora tivesse feito boas provas, ainda assim não conse-
guira o número de pontos suficiente para participar do escalão superior. Saí
dali com passos arrastados e o coração pesado. Em meu interior rugia uma
tempestade.
"Sou um fracassado! E já sabia disso há muito tempo. Sou um burro! Não
tenho jeito mesmo!"
Minha mente era um torvelinho de pensamentos de condenação e auto-
piedade. Eu devia desistir dessa tentativa inútil e partir logo para o campo mis-
sionário. Então todas as atitudes negativas que durante anos e anos vinham se
acumulando em mim, como que se levantaram naquele momento, para refor-
çar minha sensação de que era um fracassado, de que não tinha valor. Aquele
sistema todo, parecia tão injusto. Eu estudara tanto! Estudara mais que muitos
dos meus colegas cujos nomes constavam na lista. Na verdade, depois vim a
descobrir que fora aprovado. Mas naquele momento eu me sentia arrasado.
"Por que será que não fui aprovado?"
Sentei-me às margens do riacho que cortava o campus e desabafei minha
frustração clamando a Deus.
Parte I l Sobre minha cabeça - 25

"Oh Deus, onde é que o Senhor está? O Senhor não se importa nem um
pouco comigo?"
Batendo o pé no chão para extravasar a forte sensação de derrota que sentia,
comecei a culpá-lo por tudo.
"Eu só fiz esse exame porque o Senhor me chamou. Agora me abandonou?"
Passei várias semanas questionando Deus e seu caráter. Como JÓ, exigia
uma explicação. Se ele não me desse uma boa justificativa, então eu teria todo
o direito de parar de estudar e ir direto para o campo missionário. Talvez fosse
esse mesmo o passo mais acertado. Minha sensação era a de que agora encur-
ralara Deus num canto e dali ele não poderia escapar. Resolvi então que o cer-
to era mesmo parar. Assim estaria poupando-me de longos anos de cansativo
estudo.
Eu já estava começando a sentir-me satisfeito com a decisão tomada quan-
do, certa noite, Deus "saiu do canto" e me falou de forma poderosa. Estava
orando e ele me mostrou que não poderia usar-me no campo missionário, en-
quanto eu não tivesse aprendido a lição mais importante que ele tinha para
ensinar-me: "obedecer é melhor do que sacrificar".

SUBMISSO À VONTADE DE DEUS


Aos poucos fui aprendendo que Deus estava mais interessado em minhas
qualificações espirituais do que em títulos que pudesse ter. Ordenava-me que
obedecesse. Então, com o coração pesado, voltei a sujeitar-me à disciplina de
estudar.
E durante os seis anos que se seguiram, debrucei em cima dos livros, dis-
posto a conseguir meu objetivo a qualquer custo. E de fato, foi enorme a sen-
sação de vitória e triunfo no dia em que aos 28 anos, consegui afinal o diploma
de médico. Após anos e anos de muito estudo, finalmente atingia minha meta.
Agora, enfim, poderia ser missionário médico.
Durante um ano trabalhei com a jOCUM; uma missão interdenominacional
e viajei para vários países do mundo, realizando um ministério evangelístico.
Afinal paramos em Gana, na África Ocidental. Ali as portas se abriram para co-
laborarmos com a Cruzada de Eoangelização Mundia!. O interesse principal dessa
missão - aliás o mesmo da JOCUM - é pregar a povos não evangelizados. Nes-
se país, eu e Barbara, minha esposa, desenvolvemos um ministério médico iti-
nerante. Ali diariamente, nos víamos diante do desafio de comunicar a mensa-
26 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

gem do Evangelho a tribos primitivas, cujo principal objetivo de vida é procurar


alimento e água para sua sobrevivência. Em nosso esforço para comunicarmos a
mensagem, descobrimos,pelo exercício da medicina, o meio de conquistar o afeto
deles. Resultado: depois de algum tempo, vimos várias igrejas serem fundadas e
se desenvolverem naquela região onde antes não existia nenhuma.
Quatro anos depois, regressamos à Nova Zelândia para passar um ano des-
cansando - ou era o que pensávamos. Mas, o que aconteceu foi que, depois de
pouco tempo, já me encontrava trabalhando numa movimentada clínica geral,
dando consultas uma atrás da outra. Sempre que me deparava com um caso
mais difícil - o que acontecia com frequência - orava silenciosamente, pedindo
a Jesus que me auxiliasse a fazer um diagnóstico correto e prescrever o trata-
mento mais adequado. Mas, minha maior frustração era saber que se muitos
daqueles pacientes não corrigissem certas práticas de vida, mais cedo ou mais
tarde a enfermidade voltaria.
Certo dia pude falar dessa minha frustração aos líderes da igreja que frequen-
távamos. Eles ofereceram então as dependências do templo para estabelecermos
nele um centro de saúde e aconselhamento. Mas não apenasisso: vários membros
do seu pessoal poderiam trabalhar conosco no empreendimento. Instalamos o
trabalho e com pouco tempo ele cresceu tanto que tive de largar a clínica particu-
lar para me dedicar em tempo integral a esse novo ministério médico. Quando
parecíamos estar atingindo o auge da realização, Deus interrompeu esse ministé-
rio - que julgáramos ser a nossa missão de vida - enos chamou para o Hawai. Os
líderes da igreja, ainda que relutantes, confirmaram o chamado. E assim, um ano
e meio após havermos iniciado o trabalho, embarcamos num jato da Companhia
Aérea Nova Zelândia e partimos para Honolulu.

NOVOS HORIZONTES
"Bem vindos a Kona!"
Os sons de uma ondulante música polinésia enchiam a cabine do avião.
Sempre sorrindo, a comissária de bordo fez vários movimentos com a alavanca
da porta de saída e abriu-a.
"Kona, Hawai!" Murmurei comigo mesmo. "Mas isso aqui não pode ser
Kona. Parece mais que aterrissamos na lua!"
Espiando pela janelinha do avião, vi intrigado, uma vasta região de rocha
vulcânica. Da pista de pouso erguiam-se brilhantes ondas de calor. Mais ao
Parte I l Sobre minha cabeça - 27

longe, avistei uma montanha. À direita, ás águas cálidas do Pacífico batiam na


sinuosa linha costeira.
Tentando controlar as emoções,minha esposa procurava segurar nosso filho Mi-
chael de três anos, cheio de energia, que exigia de nós atenção constante. Peguei no
colo o Lionel, então com um ano e três meses e encaminhei-me para a saída.
Quem nos visse desembarcar naquele dia de janeiro de 1976, nunca poderia su-
por que iríamos passar mais de dez anos no Hawai, muito menos nós! Nossa igrqa
em Páhnerston North, Nova Zelândia, nos concedera uma licença de três anos para
que eu pudesse implantar um programa de assistência médica na JOCUM.
O plano era criar uma unidade médica móvel que pudesse ser facilmente trans-
portada para um navio ou levada a qualquer parte do mundo. Mas, pouco tempo
depois, descobri que Deus tinha outros planos para mim. Após algumas tentativas
respaldadas de dar início a esse tipo de trabalho, recebi uma carta da Junta Estadual
de Medicina informando que para habilitar-me a exercer minha profissão no Estado
do Hawai, teria que fazer residência médica durante três anos num hospital licen-
ciado do Estado e depois submeter-me novamente às provas finais.
Fiquei confuso, não entendia mais nada. Ali estava eu, com esposa e dois
filhos, a quilômetros de distância da minha terra, certo de que obedecia a uma
orientação de Deus e agora as portas se fechavam na minha cara. Para piorar
as coisas, Barbara, convencida de que nossa ida para lá fora um erro, afirmava
constantemente que eu havia passado à frente de Deus. E agora, esse novo
problema provocou nela forte irritação.
"Ótimo!" exclamou. "Nesse caso, podemos arrumar as malas e voltar para
casa!"
Para ela, o Hawai não era nenhum paraíso e a JOCUM, ainda em fase de
organização, lutava para se firmar. Esses fatos fortaleciam sua convicção de que
tínhamos cometido um erro ao largar um ministério solidificado e gratificante
na Nova Zelândia.

PERSEVERANDO
Minha indecisão era grande. Ora pensava uma coisa,ora outra. Será que ouvi-
ra mesmo a voz de Deus ou tudo não passara de uma ilusão? Deveríamos voltar
para nossa terra? Ou quem sabe Deus é que tinha outros planos para nÓs? Nos
momentos em que a luta se intensificava, eu pensava na orientação que Deus me
dera e nas circunstâncias do momento. Entretanto, apesar daquele tumulto de
28 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

vozes e argumentos que me chegavam aos ouvidos, a firme convicção inte-


rior persistia, dando-me forças para continuar. Afinal, com muita luta, tomei a
decisão de ficar e navegar em meio à tormenta, esperando que vez por outra
encontrasse "placas de sinalização" que nos apontassem o rumo certo.
Esses sinalizadores demoraram muito a aparecer e nesse meio tempo, a im-
pressão era de que tudo estava afundando. Ao contrário de nossa experiência
na Nova Zelândia, onde nos achávamos plenamente envolvidos no trabalho
cristão, ali não tínhamos nem ministério, nem clínica médica. Além de todas
essas dificuldades, nosso filho Michael sofreu um acidente e quase morreu.
Brincando com alguns amigos, ele bateu contra um balaústre apodrecido e caiu
de uma altura de mais de seis metros sobre um piso cimentado. Corremos com
ele para o hospital, temendo o pior. Ele sofrera fratura do crânio e apresentava
um grande hematoma no olho direito. Mas, muitos amigos, tanto no Hawai
como em nossa terra, oraram por ele. Para alívio nosso, ele se recuperou rapi-
damente, sem sofrer nenhuma sequela.
Uma vez estabelecidos na JOCUM, fizemos serviços diversos dentro do seu
ministério em expansão e aí foram surgindo os sinalizadores. Foi então que
começamos a enxergar os desígnios de Deus para nós no Hawai.
Certo dia, quando conversávamos com Loren Cunningham, o diretor ge-
ral da missão e com sua esposa Darlene, falamos do promissor ministério de
aconselhamento que tínhamos na Nova Zelândia. Quando lhes dissemos que
Deus havia nos mostrado claramente que o ministério básico era o de aconse-
lhamento e que a assistência médica era apenas uma complementação para ele,
Loren sugeriu que orássemos juntos sobre o assunto. E todos nós, um após o
outro, recebemos fortes indicações de que, naquele momento, o Senhor estava
determinando a criação de um novo ministério dentro da JOCUM. Barbara e
Darlene lembraram de Isaías 54:2-3, que fala sobre uma expansão do ministé-
rio, "alongando as cordas e firmando bem as estacas". Era como se Deus estivesse
nos dizendo que o ministério iria ultrapassar nossas expectativas.
Depois de visitarmos diversas clínicas de aconselhamento dos Estados Uni-
dos e de termos conseguido mais duas pessoas para nos auxiliarem, abrimos
nossa primeira clínica em Kona, em janeiro de 1977. Foi nela que trabalhamos
com Larry Coombs e outras pessoas com problemas semelhantes.
E foi ali também que Deus começou a nos dar certas revelações que uti-
lizaríamos para destrancar as portas ocultas existentes no coração de muitos
Parte I l Sobre minha cabeça - 29

pacientes. E pouco depois, ele nos inspirou a realizar seminários sobre acon-
selhamento cristão, onde ensinaríamos esses princípios a outros, espalhando a
mensagem por todo o mundo. Após alguns anos, esses seminários cresceram
tanto que acabaram se transformando em cursos da Universidade Cristã Paru o
Pacífico e Ásia, da JOCUM, conferindo inclusive diplomas aos seus graduados.
Mais tarde, eles foram levados a outros países, sob a forma de cursos de exten-
são da universidade.

Neste livro, apresento o ensinamento bíblico acerca da cura e da saúde ple-


na que aprendi na própria Bíblia e em meu ministério. Venha fazer comigo esta
viagem de descoberta do seu verdadeiro eu, à luz da mais confiável obra de
referência sobre a vida humana - o Prumo Divino.
2
ALGUMA COISA
ESTÁ FORA DO PRUMO

V século VIII a.C, durante o reinado de Uzias, rei de O PRUMO


Judá, a nação de Israel experimentou uma crescente
onda de prosperidade e paz. Entretanto, juntamente
com o enriquecimento, ocorreu também um rápido declínio dos
padrões morais que acabou minando a sociedade. Uma horren-
da onda de injustiça social veio obscurecer a visão do povo, e
ele perdeu o senso de direção que lhe era dado por Deus.
E, para essa arena de desafios, Deus chamou Amós (Am
7:7,8), um pastor e colhedor de figos, confiando-lhe a tarefa
de defender sua causa. A missão do profeta seria denunciar a
corrupção social e religiosa existente e advertir o povo de que
o castigo divino era iminente. Seu nome, Amós, deriva de um
verbo da língua hebraica que significa "carregar uni peso".' No
caso de Moisés, Deus utilizara uma vara para revelar ao povo
suas verdades e seu sistema de valores. Com Amós, ele fez uso
de um prumo.

e
A MEDIDA AFERIDORA DE DEUS
Na sua forma mais simples, o prumo é uma peça de metal
suspensa por um fio. Na outra ponta do fio é afixado um pc-
daço de madeira de formato cilíndrico de mesmo diâmetro. Os
pedreiros utilizam o prumo ao construir paredes e muros, para FIGURAI
32 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

que não fiquem tortos. Devido à força da gravidade, o peso do metal pende
sempre para o centro da terra (ver figura l). Para os construtores, esse instru-
mento simples mas muito importante, tem um valor incalculável. Eles sabem
que para a construção sair firme e segura, as paredes e vigas precisam estar
perfeitamente na vertical, alinhadas pelo prumo. Se não houver esse cuidado,
o prédio pode desabar.
Com o enriquecimento do povo de Israel veio a decadência moral. Então
Deus comparou a nação a uma parede fora de prumo, prestes a cair. Para mos-
trar o quanto ela estava torta, ele colocou diante do povo o prumo da lei. Era
uma advertência de que a qualquer momento a nação poderia ruir e que seus
inimigos iriam espalhá-los como se fossem os tijolos de uma parede desmoro-
nada.
E na verdade, Deus nunca deixou de aferir pelo prumo de sua Palavra a
vida daqueles que chamou para serem o seu povo. Ele continua a fazê-lo co-
nosco nos dias de hoje, para que possamos conhecer a verdade e aprender o
caminho que nos conduz a uma vida de firmeza e estabilidade.

A PERGUNTA BÁSICA

Vivemos numa época em que a maioria das pessoas não tem consciência
desse prumo que é a Palavra de Deus. No entanto, a maior indagação da so-
ciedade continua sendo esta: "O que é a vida e como devemos vivê-la?" Esse
interesse se revela pelo grande número de estudantes que procuram os cursos
de psicologia de nossas universidades e pela onda cada vez maior de pessoas
que buscam experiências no plano do existencialismo, do ocultismo, da chama-
da "nova consciência", das drogas e de outras formas de ilusão.
Essa grande pergunta pode ser dividida em quatro partes. A primeira delas
é a pergunta fundamental da ontologia: "Quem sou?" Para esclarecer e definir
melhor a resposta, vamos examinar quatro tipos de personalidade.

O COMPORTAMENTO PASSIVO
Em primeiro lugar, temos o indivíduo que se apresenta vestido com uma
"armadura" como ilustrado na figura 2. Que idéias nos vêm à mente quando
nos deparamos com esse tipo de personalidade? Várias pessoas que olharam a
figura 2 deram as respostas que se seguem:
Pari"1·. I l Alguma coisa ESTÍÍ fora do prumo - 33

,
- defensivo - vulnerável
- temeroso - passivo
-cego - surdo e mudo
- solitário - deprimido
- desamparado - desesperado

Aquele que veste essa armadura encontra-se numa crise de identidade. Nega-
se a encarar a pergunta: "Quem sou?" É provável que já tenha feito tentativas de
respondê-la, sem o conseguir. Por isso, em vez de encarar seriamente a questão
e o trauma que a resposta pode criar, tal indivíduo se esconde dentro de uma
armadura e assim se protege de tudo que possa ameaçar sua identidade.
34 - Paredes do Meu Corutção l Bruce Thompson

A COMPORTAMENTO AGRESSIVO
Outro tipo de personalidade que tem problema com a mesma questão é
a representada pela mulher munida de arco e flecha, como mostra a figura
3. Analisando esse tipo humano, alguns dos traços de caráter que nos vêm à
mente são os seguintes:

- crítico
- defensivo
- inseguro
- temeroso

FIGURA3
Parte I l Alguma coisa ESTá fora do prumo - 35

Essa mulher com o arco e flecha nas mãos, ilustra outra forma pela qual o
ser humano reage diante de uma crise de identidade. Em vez de adotar uma
atitude defensiva e passiva, ela assume uma posição mais agressiva. Aqueles
que se aproximam dela são logo advertidos a manterem distância, senão serão
feridos. O fato de a flecha não estar montada no arco, significa que na verdade,
ela não deseja agredir, mas o fará, caso seja necessário.

Se aproximados esses dois tipos, em alguns aspectos eles poderiam até ter
um relacionamento harmônico. A mulher poderia atirar as flechas à vontade e
ele se consolaria, ao saber que há alguém por perto para atenuar um pouco a
dor da solidão. O processo de comunicação entre eles seria caracterizado ape-
nas pelo tic-tic-tic das flechas batendo na armadura e nenhum dos dois ficaria
ferido. Infelizmente esse é o retrato do nível a que chegam alguns casamentos
e outros tipos de relacionamentos.

ONDE COMEÇA A IDENTIDADE


Esses dois tipos de personalidade representam os indivíduos que não con-
seguiram saber que são. Mas, então, como podemos encontrar a resposta dessa
importante pergunta?
Se quisermos começar a resolver nossa ontologia pessoal e responder à
grande indagação: "Quem sou?", precisamos voltar às nossas origens. O en-
sino bíblico sobre a origem do homem é o seguinte: "No princípio criou Deus..."
(Gn 1:1) Mais adiante, a Bíblia dá outra revelação sobre nossas origens,quando
Moisés pede a Deus que se identifique para que ele o diga à nação de Israel. E
o Senhor responde dizendo: "Eu sou o que sou" e diz também: "Mostrarei ser o
que mostrarei ser" (Ex 3:13,14).
Outra revelação sobre a identidade nos vem de Jesus, o Filho de Deus,no Novo
Testamento. Falando sobre si mesmoe sua missão entre os homens, ele afirmou: "Eu
sou ocaminho,ea oerdade,ea oiá; ninguém oein ao paisenão porinim" (Jo 14:6).
Vamos meditar um pouco nessas duas passagens. Na primeira, Deus diz
que toda identidade começa nEle. Se quisermos saber quem somos, inicialmen-
te temos de compreender quem ele é. Deus é o começo de tudo e todo o nosso
ser anseia estar com ele (SI 42:1-2).
Na segunda, Jesus se apresenta como o caminho para o homem conhecer a
Deus. Ele é o Embaixador de Deus. Portanto, acha-se em condições de nos con-
36 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

duzir ao Pai. Então para começarmos a encontrar a resposta da questão básica


da vida: "Quem sou?",temos de iniciar por aí.

OS COMPONENTES DA IDENTIDADE

Para respondermos corretamente à pergunta: "o que é a vida e como deve-


mos vivê-la?", precisamos antes considerar três outras questões que são desdo-
bramentos dessa. As duas primeiras são as seguintes:

1. De onde viemos?

2. Para onde vamos?


Elas se acham relacionadas com nossa história e com nosso destino final,
sendo associadas ao termo teledogia. A teologia aponta para um desejo inato
no ser humano de ter um propósito, uma direção na vida. Sem um propósito
na vida, não chegaremos a nada. A Bíblia expressa essa questão nos seguintes
termos: "Não havendo profecia o podo se corrompe" (Po 27:18). A mentalidade que
prevalece hoje de esperar tudo do governo tem sua origem, em grande parte,
no fato de os homens não obterem respostas adequadas para essas duas per-
guntas. Por isso não têm metas de vida, nem assumem seu papel no mundo.

3. O que tem valor para mim?


Essa terceira pergunta acha-se associada ao termo axiologia ou o estudo dos
conceitos de valor. Todos possuímos o que se chama "sistemas de valores" que
é constituído de tudo aquilo em que investimos a vida, o trabalho, tempo e
dinheiro. Consideramos tais coisas importantes e devido ao valor que lhes atri-
buímos, investimos tudo nelas. É muito comum haver um hiato entre o nosso
sistema de valores "intelectual ou da cabeça" e o "do coração ou da persona-
lidade". O primeiro é expresso naquilo que dizemos e o segundo, naquilo que
fazemos. E é do coração que procedem nossas atitudes e conceitos vitais.

COMO PODEMOS SABER?

Uma questão de importância fundamental em relação a essas três pergun-


tas é a seguinte: "como podemos saber?" Com que lentes olhamos para o mun-
Parte [ l Alguma coisa ESTá fora do prumo - 37

AS PERGUNTAS FUNDAMENTAIS DA VIDA

...Como posso saber?...


EPISTEMOLOGIA

... Quem eu sou? ... ONTOLOGIA

... De onde eu venho e


para onde vou? ... TELEOLOGIA

... O que tem valorpara mim? AXIOLOGIA

qrg9í)o mundo

... .. ·'· 'FS '


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> ê? t r ,

FIGURA4
38 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

do? Todos queremos saber como podemos ter certeza se nosso conhecimento é
verdadeiro ou não. Essa é a pergunta da epistemologia.
NÓs, os cristãos, acreditamos que Deus nos revelou a verdade. E como já
mencionamos em João 14.6, Jesus afirmou que ele é a verdade. Então, a res-
posta para todas as perguntas sobre a vida e sobre como devemos viver estão
contidas na revelação que Deus nos dá de si mesmo, pela sua Palavra e por seu
Filho, Jesus. Essa revelação é o prumo divino.

DESCOBRINDO A NOSSA VISÃO DO MUNDO

Quando começamos a obter algumas respostas para as perguntas funda-


mentais da existência, principiamos a descobrir também nossa oisão de mundo.
Todos nós possuímos uma visão do mundo que, resumidamente, seria uma
declaração dos conceitos em que cremos e das razões por que cremos neles.
Se quisermos ampliá-la, exporemos também nosso conceito sobre as origens,
natureza e destino da humanidade e do mundo e sobre o papel do homem no
mundo e seu propÓsito nele.
As respostas dessas perguntas fundamentais variam muito de uma pessoa
para outra, inclusive entre os filósofos. A resposta de cada indivíduo depende
grandemente da lente epistemológica através da qual ele enxerga o mundo.
Daremos a seguir, resumidamente, alguns pontos de vista filosóficos que foram
se desenvolvendo na humanidade através dos séculos. Todos esses sistemas de
pensamento possuem adeptos na sociedade hoje.

· MONOTEÍSMO: Existe um só Deus, Pai de todos nós.


· POLITEÍSMO: Existem muitos deuses, cada um com sua própria área de
domínio e poder.
' ATEÍSMO: Não existe deus nenhum. A idéia de Deus não passa de uma
criação da imaginação humana.
· HUMANISMO ATEÍSTA: Se existe um deus, esse deus é o próprio ho-
mem. O Homem é deus.
· RACIONALISMO ATEÍSTA: Exercitando sua divindade, o homem apon-
ta a razão como o único meio para se conhecer a verdade.
· EXISTENCIALISMO ATEÍSTA: O homem dá um salto não-racionalista a
planos situados fora da mente, para buscar ali um sentido pessoal para sua
Parte I l Alguma coisa ESTá fora do prumo - 39

existência. indiretamente, isso é um reconhecimento, por uma perspectiva


racional que o ser humano não consegue ser Deus.
' OCULTISMO: O homem entra no mundo invisível, não-sensorial, com o
objetivo de descobrir sua identidade e encontra-se com outro deus que se
intitula "o príncipe deste mundo" ou Satanás. Ele é tão astuto que muitos
dos seus súditos nem mesmo crêem nele e no entanto o servem.

Todas essas visões de mundo - com exceção da primeira, o monoteísmo -


mostram o homem distanciando-se do "Eu sou", em busca de respostas. No po-
liteísmo, ele considera divindades as entidades criadas que fazem parte da sua
vida, isto é, o sol, as árvores, o vento, etc. No ateísmo, ele diz para o "Eu sou":
"Tu não és". Consequentemente é obrigado a concluir: "O único "Eu sou" que
existe, com certeza sou eu", isto é,o homem. Com Deus fora de cena, o próprio
homem tenta ser deus, no pensamento do humanismo e do racionalismo ateístas.
No existencialismo, vemos o ser humano afastar-se do racionalismo, desli-
gar-se das questões centrais da vida e buscar outra forma de dar sentido à sua
existência. Mas ele logo esgota seus recursos interiores de auto-identificação e
daí, para entrar no mundo dos espíritos e descobrir outra força ou influência é
apenas um passo. Sem o perceber, ele acaba penetrando nos domínios do "deus
deste século" (11 Co 4:4) e cai rapidamente no ocultismo.
Afinalidade de todo esse processo é atrair o homem, fazer com que saia dos
braços de um Deus cheio de amor e se torne prisioneiro de Satanás, passando
a ser escravo dele. No coração de todo ser humano existe um vazio no formato
de Deus. Se ele não o preencher com Deus, viverá num vácuo espiritual.

O PROPÓSITO DE DEUS
Pelo breve apanhado que acabamos de apresentar é fácil perceber por que
tantas pessoas estão passando por crises de identidade e ao mesmo tempo que
tentam desesperadamente uma resposta para as perguntas fundamentais da
vida. Assim que colocamos "Eu sou" fora de nossa vida, perdemos contato
com aquele que nos revela "Quem sou". Foi exatamente isso que sucedeu ao
povo de Israel nos dias do profeta Amós. Quando eles resolveram que Deus
não seria mais sua fonte de vida, o Senhor colocou Amós em cena no objetivo
de conduzi-los de volta à condição anterior, quando seu Deus era Jeová, e a
verdade divina, seu prumo.
40 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

A nação de Israel havia se afastado tanto de Deus que ele os comparou a


uma parede torta, fora de prumo que poderia desabar a qualquer momento
(Am 7:7-8).
A figura 5 - um prumo perfeitamente vertical junto a uma parece torta -
ilustra de forma contundente, a diferença entre uma visão de mundo em que
Deus ocupa o centro do quadro e outra em que ele não está presente. Algumas
dessas diferenças são as seguintes:

- valores absolutos versus valores relativos


- lei de Deus versus opinião pessoal
- ordem versus caos
- liberdade versus jugo

Se não tivermos Deus como nosso ponto de referência, perderemos a vida e


tudo que ela poderia nos proporcionar.

MANTENDO A PERSPECTATIVA CERTA


Alguns anos atrás, quando eu estava trabalhando na Polônia, aprendi uma
lição valiosa sobre a necessidade de mantermos um ponto de referência corre-
to. PrÓximo ao lugar onde eu estava hospedado havia uma floresta. Amante da
natureza que era, logo me vi tentado a fazer nela uma caminhada de oração.
Saí bem cedo, aproveitando o frescor matinal daquele dia de verão. Suspirei de
satisfação ao ver os raios de sol filtrados por entre as copas das árvores parcial-
mente desfolhadas.
Caminhando pela mata em comunhão com Deus, deixei-me envolver pela
beleza do lugar e daquele que tudo criara. É claro que não me preocupei com
questões tão insignificantes como marcar o ponto em que entrara e prestar
atenção na direção que seguia.
SÓ depois de dar algumas voltas pelos inúmeros trilhos que cortavam o lugar,
foi que me dei conta de um fato: estava perdido! Consciente de minha insensatez,
mas confiante de que ainda me lembrava vagamente de algumas coisas, comecei
a procurar caminhos por onde me parecia haver passado. O resultado foi que me
tomei ainda mais confuso, pois ia me embrenhando na floresta cada vez mais
desconhecida para mim. Uma sensação de total impotência e a consciência cada
vez mais nítida de que estava perdido foram tomando conta de mim.
Parte I l Alguma coisa estíí fora do prumo - 41

Já não reconhecia nenhum ponto de referência que pudesse ajudar-me a


sair daquele dilema. Todas as árvores e trilhos pareciam exatamente iguais.
Não via nenhum sinalizador absoluto pelo qual pudesse orientar-me. Não ti-
nha a mínima idéia de para que lado deveria caminhar; tudo era relativo, já que
desconhecia minha localização. Achava-me total e completamente perdido!
Em meio a esse terrível dilema, compreendi que meus recursos haviam se
esgotado. Olhei para o alto, por entre as árvores e avistei lá em cima, partes do
céu que se mostrava carregado de nuvens. Então ocorreu-me um pensamento
muito simples:
"Ele está vendo onde me encontro. Por que não lhe peço ajuda?"
Deixara para o fim a melhor fonte de informação.
42 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Então, seguindo orientações de Deus, pus-me a seguir primeiro um trilho


e depois outro. Aquilo acabou se tornando uma agradável aventura com meu
Pai celestial. E assim, ele me conduziu até a saída da floresta, onde encontrei
o caminho para regressar à casa. É claro que voltei andando depressa, mas o
maior anseio do meu coração era louvar a Deus por sua fidelidade.
Depois dessa experiência, consegui compreender melhor aqueles que se
sentem totalmente perdidos e sem direção. Apercebi-me do quanto é absurdo o
fato de as pessoas só pedirem a Deus que lhes aponte o caminho certo já no fim
da vida ou quando já estão perecendo na "floresta da perdição".

AS PAREDES DO MEU CORAÇÃO


Embora Deus nos compare a uma parede, o grande desafio aí não é a pare-
de em si e sim, o coração em torno do qual a parede foi erguida. Esse coração
precisa ser transformado. E assim como Deus aferiu com seu prumo a nação ju-
daica, afere também nosso coração. No livro de Provérbios (Pv 4:23), encontra-
mos uma ordenança no sentido de que guardemos bem o coração porque dele
procedem as fontes da vida. Mas nossa tendência tem sido cuidar da mente e
do intelecto, como se as questões mais importantes da vida dependessem da
educação que recebemos. Contudo, estudando Provérbios, vemos claramente
que não é assim.

O QUEÉ O "CORAÇÃO"
O termo coração é empregado na Bíblia com vários sentidos. No hebrai-
co existem diversas palavras para designar coração. Entre elas encontramos
os termos "leb" e "lebab". Examinando o contexto em que cada uma se inse-
re, descobrimos que 204 vezes, elas se acham associadas à "mente". Em 195
passagens, o sentido delas é relacionado com a "vontade" e em 166, com as
"emoções". O uso mais frequente do termo, em 257 textos , tem relação com o
homem interior, com a "personalidade",2
O termo grego que significa coração é knrdia, de onde derivam também a
palavra "cardíaco" e outras. Pelo breve estudo que fizemos, podemos ver que a
"personalidade" engloba todo o nosso ser interior, isto é, a alma e o espírito. E é
a personalidade, o que tmvolve os aspectos do nosso homem interior passíveis
de transformação, qu€' Deus afere com seu prumo, responsabilizando-nos por
tudo que cultivamos em nossa vida.
Parte I l Alguma coisa estíí fora do prumo - 43

CONCLUSÃO

Os sociólogos têm dado muita ênfase à controvérsia "herança genética ver-


sus meio ambiente", muito em voga hoje em dia. Os que defendem a tese da
"herança genética" afirmam que a conduta do homem é determinada pelo que
ele traz ao nascer e portanto, não pode ser modificada. Os adeptos do "meio
ambiente" pregam que nossa conduta é determinada pelo ambiente em que
vivemos e tendo sido adquirida, pode ser modificada.
A maioria dos que entendem isso, reconhecem que podemos mudar a nós
mesmos, e não apenas isso, precisamos desesperadamente mudar a nÓs mes-
mos se quisermos sobreviver. A mudança mental pode não resultar em uma
vida transformada mas uma mudança no coração certamente o fará.
Da mesma forma que um construtor utiliza o prumo para verificar se uma
construção se acha em condições de ser habitada, Deus faz uso de seu prumo
para verificar como está indo a construção da nossa vida. O grau de inclinação
que ela apresentar em relação aos padrões divinos revela o grau de insegu-
rança, instabilidade e vulnerabilidade que experimentaremos nos momentos
críticos. O fato é que assim que começamos a alinhar nossa vida pelo prumo
divino, iniciamos a maravilhosa aventura de descobrir "quem somos".
44 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Notas
'Nooa Bíblia de Referência Scofield.
'Ncu) Bibk Dictionary (Novo Dicionário Bíblico). Editor, J. D. Douglas, Eer-
dmans, Grand Rapids, 1962.
3
ASSOLADOS POR
TEMPESTADES
_ E lê é um hipócrita! Fala mentira uma atrás da outra! Dizia Arme en-
furecida.
Fiquei a ouvi-la pacientemente. Era uma senhora de cabelos brancos,
com mais de trinta anos de casada e que afinal começava a desabafar sentimentos
que vinha guardando havia já um bom tempo. Cerca de vinte anos antes, seu
marido tivera um romance extra-conj'ugal. Arrependera-se sinceramente e procu-
rava acertar tudo. Mas, no decorrer dos anos, dúvidas e temores alojaram-se no
coração daquela esposa e foram crescendo lentamente, como um câncer. Agora
ela não tinha mais dúvida, ele cometera adultério de novo, pois vivia distribuin-
do abraçinhos para todas as mulheres que encontrava.
-Algumas, quando ele cumprimenta, fica segurando a mão delas por muito
tempo. Até já o peguei criando fantasias com minhas roupas de baixo.
Ame relatou que quando o confrontara, ele ficara irritado e muito magoa-
do, dizendo que tudo não passava de imaginação dela. Mas ela tinha certeza,
sabia muito bem que ele estava tendo um caso com alguém, embora o negasse
para ela.
Orei com Ame e prometi que iria trabalhar no problema. Conversei com o
marido e com duas das senhoras que ela julgava estarem envolvidas com ele.
Então a verdade começou a vir à tona. Quando o marido de Anne lhe fora in-
fiel, ela fez um esforço muito grande para voltar a confiar nele. Agora, os filhos
estavam criados e cada um tomara seu rumo. Ela passava muito tempo em casa
sem ter o que fazer. E com mais tempo para pensar, acabou ficando paranOica,
46 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson

passando a suspeitar de qualquer atenção, por menor que fosse que o marido
dispensasse a alguém do sexo oposto.
Na entrevista seguinte, pela conversa que tivemos, ficou bem claro que ela
havia se enganado profundamente. O temor de ser traída de novo obscurece-
ra sua percepção dos fatos. Ela se deixara levar pelo engano a tal ponto que
se tomou incapaz de realizar-se plenamente no casamento e de descobrir sua
identidade, o seu "quem sou". Sua "fala interior" - aquilo que dizia para si
mesma - havia se tornado um "falso profeta" que a induzia, cada vez mais, ao
engano e desespero. SÓ poderia libertar-se, se reconhecesse isso e passasse a
alinhar sua vida pelo prumo divino.
Todos nós, emnossa busca de sentido para avida, precisamos estar atentos a fali-
sosprumos ou aos caminhos que por vezes seguimos. É impressionante a facilidade
com que nos deixamos seduzir por desvios que nos afastam da "estrada principal".
Em muitos casos, o que consideramos "bom senso" deveria ser, na verdade, chama-
do de "ledo engano". Frequentemente, nossa própria razão nos ilude.

FALSOS PROFETAS

Os falsos profetas que podem estar tanto dentro de nós como fora, constituem
uma constante ameaça para o povo de Deus. No livro de Ezequiel (Ez 13:15,16),
Deus manifesta sua ira contra aqueles que acintosamente proclamam mensagens
e visões que afirmam ser divinas mas que na verdade não o são. Influenciados
por suas mentiras, os israelitas haviam se tomado como paredes fracas e insegu-
ras, ainda que caiadas. Enquanto os falsos profetas aplaudem os seus feitos, Deus
os adverte de que está prestes a desabar sobre eles uma forte tempestade que irá
remover a caiação e derrubará no chão, suas frágeis e falsas paredes.
Essa metáfora é uma ampliação da idéia apresentada em Amós (Am 7:7-8),
que já mencionamos, onde eles são comparados a uma parede. Na figura 6,
vemos um indivíduo escondido atrás da frágil parede do medo que ele pró-
prio ergueu para se proteger. É bem provável que essa pessoa tenha sofrido
algum trauma interior e não quer mais se mostrar tão vulnerável. Entretanto,
enquanto se esconder atrás dela, não conseguirá desfrutar de amizades profun-
das, sinceras e muitas vezes, sentirá solidão. Pode inclusive viver períodos de
intensa depressão, e abrigar arraigados ressentimentos, amarguras e até ódio
contra aqueles que o magoaram.
Parte I l Assolados por tempestades - 47

DEUS Como foi que ele apren-


deu a erguer paredes tão
" j} precárias? Quem o conven-
ceu de que necessitava delas
e lhe ensinou a construí-las
(t com os tijolos das atitudes
e sentimentos negativos?
Os "falsos profetas". Tenho
h constatado com frequência
que esse tipo de compor-
tamento é inspirado por
"falsos profetas" que lhes
OUTROS dirigem palavras duras e
insensatas, palavras que
Deus nunca pronunciou. De
forma sutil ou direta, com
seu exemplo e influência,
FIGURA 6 eles constrangem a quem os
ouve a construir paredes de
medo e desconfiança. Em muitos casos, apresentam-se até como mensageiros
do Deus todo poderoso.
Mas quem são esses "falsos profetas" e que bases utilizam para nos enganar
tanto assim?

OS PAIS
As primeiras profecias falsas que ouvimos podem vir de nossos pais. Infeliz-
mente, todos os pais, até mesmo os melhores, se não tiverem vivendo de acordo
com os desígnios divinos, passam aos filhos uma imagem errada de Deus e de
suas verdades. E como hoj'e em dia os pais não estão criando os filhos dentro dos
parâmetros bíblicos, há muita gente por aí precisando ser "recriada".
Julie, por exemplo, passou a vida toda ouvindo a mãe dizer: "Você é uma
menina terrível! Deus não gosta de vOCê!"
Não é de admirar, portanto, que ela odiasse a si mesma e durante muitos anos,
tenha sofridoprofundas crises de depressão. Ela acreditou nas mentiras impiedosas
que a mãe dizia sobre ela própria e sobre Deus. Crescera ouvindo falsas profecias.
48 - Paredes do Meu Coruição l Bruce Thompson

Em outro caso, certo homem tentava estimular o filho a estudar mais, usan-
do xingamentos constantes:
- "Seu burro! Estúpido! Você é um caso perdido!"
Judah ouvia isso todos os dias. Quando o conheci, estava com trinta e poucos
anos. Chorando, contou como os "rótulos" que o pai lhe impingira tornaram-se
realidade em sua vida. Abandonou os estudos e passou a consumir drogas e
bebidas alcoólicas na tentativa de sufocar o sentimento de auto-condenação
que o atormentava. Aquelas palavras negativas haviam destruído sua autocon-
fiança. E ele nunca se formou, embora possuísse um QI bem acima da média e
pudesse até ter feito um curso universitário.
Quando alguém comenta a aparência, a capacidade ou o futuro de uma
criança em sua presença, ela internaliza literalmente tais palavras e o co-
mentário tem mais peso quando quem o faz são os pais, as pessoas mais
importantes para ela. Muita gente não sabe disto mas para os pequeninos,
os pais são como "Deus". Eles aceitam as palavras dos pais como certas e
irrevogáveis. Se eles fizerem afirmações falsas e sem amor sobre o filho, po-
dem prejudicar seriamente o desenvolvimento emocional dele, impedindo
que tenha uma vida normal.

PROFESSORES
Também os professores podem deixar profundas marcas no espírito da
criança, mediante acusações falsas ou atitudes erradas. Certa vez, proferi uma
palestra em determinada escola para um grande grupo de alunos do segundo
grau. Falei sobre a pureza moral e sua importância para nós. A certa altura, no-
tei que alguns membros do pessoal da escola se mostravam um pouco incomo-
dados. Mais tarde, soube que vários professores, inclusive o diretor, prometiam
boas notas e referências honrosas aos alunos, em troca de "favores" sexuais.
Desnecessário dizer que nunca mais fui convidado para falar naquele colégio.
Os professores estavam transmitindo aos alunos a idéia de que a imoralidade
era o caminho certo para se vencer na vida.
Obviamente aqueles professores corruptos nunca discutiam questões como
as complicações de um gravidez indesejada e as doenças sexualmente trans-
missíveis. Mas... mais tarde, uma das meninas que haviam engravidado, reve-
lou a verdade aos pais e outras fizeram o mesmo. Felizmente, esses professores
foram processados e vários deles obrigados a se demitirem.
Parte I l Assolados por tempestades - 49

COLEGAS
O homem dos nossos dias, na tentativa de gozar plena liberdade, está tro-
cando o legalismo pelo liberalismo. E o aspecto da vida humana em que se vê
isso com maior clareza é o da sexualidade. Os jovens estão sofrendo tremendas
pressões para praticarem o sexo antes do casamento. O colega "falso profeta"
argumenta que é perfeitamente lícito um casal de namorados ter relações se-
xuais em seus encontros e afirma que quem não consente em ter intimidades
sexuais não pode dizer que ama. Expressões tais como "sexo por diversão",
"amor livre" e outras, estão se tomando comuns e aceitas na sociedade.
A Nationd Acadeiny of Sciense' (Academia Nacional de Ciências) apresentou
um relatório em que se revelam os resultados dessa pressão do colega "falso
profeta". Nos Estados Unidos, 64% dos rapazes e 44% das moças adolescentes
até 18 anos são sexualmente ativos.
O problema é que tais falsos profetas não alertam os jovens para as implica-
ções da prática da imoralidade. Não conversam sobre a necessidade de se res-
ponsabilizarem pela criança que poderão ter nos braços nove meses depois. Não
avisam que poderão sofrer dor e desconforto pelo resto da vida se contraírem her-
pes ou poderão ser estéreis em consequência da clamidíase. Isso sem mencionar
o perigo cada vez maior de se contaminarem com o vírus da AIDS e morrerem.
A academia apresenta os seguintes dados com relação a novos casos dessas
três moléstias sexualmente transmissíveis:'

DST 1986 1987 1988


Herpes 250 a 500.000 250 a 500.000 250 a 500.000
Clamidíase 4.500.000 4.500.000 4.500.000
AIDS 13.097 20.620 (até 10/10) 25.021

Os jovens que praticam o sexo desregradamente, ignoram esses fatos ou


preferem não atentar para eles por os considerarem verdadeiros "desmancha-
prazeres". O argumento deles é: "Se é bom, por que não fazer?"
O pensamento mais popular na sociedade, hoje, é:
"Cada um vive como quer! Não seja um chato! Arranje alguém!"
Ouvindo esse tipo de mensagem, grande parte dos nossos adolescentes es-
tão sendo levados ao erro. Precisamos urgentemente de jovens que atuem como
profetas da verdade, que proclamem a verdadeira vida, a vida abundante.
50 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

GOVERNO
Existem muitos governantes que também assumem o papel de "falsos
profetas", pois pregam idéias errôneas aos seus cidadãos, chegando mesmo a
empregar a força para que estes as aceitem. Eles podem ser capitalistas ou co-
munistas, democratas ou ditatoriais, mas estabelecem e aplicam leis que preju-
dicam o povo. E, se aparece alguém que não faz concessões ao erro,tais líderes
procuram denegrir seu caráter.
Quando o povo de Israel decidiu rejeitar a teocracia nos dias de Samuel,
estava criando condições para que falsos profetas os conduzissem a todo tipo
de erro e problema. E Samuel os avisou a respeito disso.

"Este será o direito do rei que houver de reinar sobre oós: Ele tomará os dos-
só filhos e os empregará no serviço dos seus carros e conio seus caudeiros, para
que corram adiante deles e os porá; uns por capitães de mil e capitães de cin-
quenta; outros para horarem os seus campos e ceifarem as suas messes e outros
para fabricarem suas armas de guerra e aparelhamento dos seus carros. Tomará
as dossqs filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tonmrá o melhor das
oossas lavouras e das oossas vinhas e dos 00ssos olivais e o dará aos seus seroi-
dores... Também tomará... os dossos jumentos... Dizimará o 7)0sso rebanho e oós
lhe sereis porseroos" (l Sm 8:11-14,16,17).

Mas o povo se negou a dar-lhe ouvidos e continuou insistindo em ter um rei


como as outras nações. Deus disse a Samuel que não era a ele, o profeta, que eles
estavam rejeitando mas sim, a Deus, não querendo que o Senhor reinasse sobre
eles. E exatamente como Samuel havia predito, esses reis e "falsos profetas", en-
traram em cena para lhes causar muita infelicidade. O mesmo acontecerá conos-
co, se dermos ouvidos a outros profetas que não os verdadeiros servos de Deus.

A MÍDIA
Os veículos de comunicação de massa talvez sejam o mais sinistro e malig-
no "falso profeta" dos nossos dias. Ele instala seu altar dentro de quase todos
os lares do mundo desenvolvido. Diariamente, as famílias se sentam diante
dele, para prestar-lhe culto, ouvindo-o exaltar, de forma sutil mas incisiva, uma
vida de violência, lascívia e crimes. O Dr. William Dietz' estima que a média
das crianças em idade escolar nos Estados Unidos, passa de onze a vinte e seis
Parte I l Assolados por tempestades - 51

horas semanais em frente da tevê e assiste a doze mil atos de violência por ano.
Outras pesquisas revelam que os programas em horário nobre, apresentam em
média, cerca de treze cenas de violência por hora e que nos desenhos anima-
dos, esse dado é ainda mais elevado.
E, infelizmente, as principais reportagens dos jornais, muitas vezes são uma
reprodução da violência que vemos nos filmes mostrados no cinema e na tevê.
Um rapaz, extremamente revoltado com a vida, com mágoas profundas
devido a rejeições sofridas, apareceu numa das ruas centrais de uma cidade
grande. Vestia-se com roupas de cowboy, inclusive com o chapelão de aba
larga, botinas de couro e esporas. Em cada lado do quadril, carregava um
revólver de seis tiros. Parou na frente do tráfego, fez um movimento rápido
e cinematográfico com as mãos, sacou as armas e pôs-se a atirar indiscreta-
mente contra os carros.
Instalou-se o caos. Todo mundo corria atabalhoadamente de um lado para
outro tentando proteger-se. Alguns passavam entre os veículos, procurando es-
capar dos tiros. Enquanto isso, o rapaz exibia um maligno sorriso de satisfação,
pelo poder que exercia com aqueles revólveres cuspindo chumbo.
Essa cena não foi extraída do roteiro de um filme. O fato aconteceu numa
das principais cidades dos Estados Unidos,alguns anos atrás. Quando a polícia
conseguiu cercar o cowboy convenceu-o a jogar as armas no chão e o prendeu.
Mais tarde ele foi sentenciado à prisão perpétua.
Os produtores dos meios de comunicação de massa não fazem idéia do
quanto eles afetam a sociedade com suas histórias sórdidas, já que suas fanta-
sias sempre acabam se transformando em tragédias da vida real.
Mas, a caneta desses falsos profetas, produz ainda outras mensagens falsas,
apregoando, entre outras mentiras, a bondade inerente ao ser humano que se
choca frontalmente com o que Deus diz.
e hoje, as locadoras e clubes de vídeo, que não estão sujeitas às leis da cen-
sura, são veículos pelos quais qualquer um é passivamente condicionado pelos
falsos profetas da mídia.

AIGREJA E SUA LIDERANÇA


Uma coisa que a história da igreja tem nos ensinado é que não aprendemos
nada com as lições do passado. Parece que continuamos repetindo os mesmos
erros, geração após geração. Os líderes atingem o ápice da fama, para logo
52 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

depois, caírem vergonhosamente. Não há dúvida de que a igreja também tem


tido seu quinhão de falsos profetas.
A Bíblia contém muitos exemplos de falsos profetas que desviaram e desen-
caminharam o povo de Israel. Ezequiel fala de profetas loucos que seguiam seu
próprio espírito, tinham visões falsas e adivinhações mentirosas e diziam: "O
Senhor disse... quando o Senhor não os enoiou a dizer " (Ez 13:3,6). A igreja tem di-
vergido tanto na proclamação da verdade que quem está de fora, acha melhor
não se associar a ela.
Certos "cristãos" se reuniram no alto de um monte, em determinada data,
à espera de que Jesus os arrebatasse mas acabaram desiludidos. Outros "cris-
tãos", enganados, estão seguindo certos líderes e desembocando em suicídio
coletivo. Ainda outros, agarrando-se à cura pela fé, acabaram morrendo de
uma enfermidade que poderia ter sido curada pela medicina moderna.
Mais recentemente, temos visto os tele-evangelistas pregarem contra o pe-
cado e todo tipo de imoralidade e eles acabarem envolvidos neles.
De modo geral, a igreja tem apresentado ao mundo uma mistura tão grande
de mensagens que não é de se admirar que muitos não tenham mais interesse
em ir aos cultos, nem para ouvir os verdadeiros profetas proclamarem a pala-
vra divina.

O CORAÇÃO
No livro de Jeremias, o profeta aponta o coração como uma das principais
fontes de profecias falsas (Jr 17:9,10). Mas, nem sempre o vemos como tal. Ali-
ás, muitas pessoas são desencaminhadas por sua "voz tranquila, silenciosa".
Embora a maioria confie no prÓprio coração, julgando-o confiável e digno de
crédito, a Bíblia afirma que ele é enganoso. Ele emite sinais falsos e enganosos,
sem guê nos demos conta disso. Alguns chegam mesmo a dizer:
"E, se a gentenão sentirno coração que éverdade,então émelhornão acreditar".
Esse falso conceito, confere ao coração, a perigosa condição de autoridade
suprema e assim, muitos são enganados.

Todos esses falsos profetas, e ainda outros, nos aconselham a erguer pare-
des de proteção e até nos ensinam o processo. Eles argumentam que essa é a
única maneira de nos protegermos contra os perigos da vida e afirmam:
"Sem tais paredes, ninguém sobrevive!"
Parte I Assolados por tempestades - 53

Mas precisamos aprender a fazer distinção entre a voz enganosa dos falsos
profetas e a dos verdadeiros que são enviados por Deus. Se não o fizermos,
quando nos sobrevierem as tempestades nas adversidades, as paredes que
construímos irão ruir.

TEMPESTADES

Ezequiel afirma que ventos tempestuosos, saraivada e chuva de inundar,


dariam com ímpeto contra as paredes para derrubá-las (Ez 13:9-16). Vejamos
alguns tipos de tempestades que podem assolar as muralhas de proteção que
erguemos para nós:

- problemas de saúde - perda de um ente querido


- divÓrcio - problemas financeiros
- drogas - alcoolismo
- delinquência na família - problemas no trabalho

Quando reunimos todos os componentes da metáfora de Ezequiel, enten-


demos a mensagem central do texto. Como ocorre com muitas pessoas, o in-
divíduo da figura 6 elaborou seu próprio sistema defensivo, aí simbolizado
pela parede. Em seu estado de cegueira,não enxerga sua vulnerabilidade, nem
percebe que a parede o impede de ter relacionamentos afetivos profundos.
O que acontecerá se ele ouvir o evangelho e se converter? Será que tudo vai
mudar e ela desaparecerá? Não necessariamente. O que acontece é que a luz acen-
derá e ele se conscientizará de que vem se escondendo por trás de uma parede.
Sua primeira reação será clamar a Deus pedindo seu auxílio. Mas no mesmo
instante, começa a se formar a tormenta. E quanto mais ora, mais ela se inten-
sifica. De repente, um tijolo se solta e cai bem perto dele. E outros continuam
caindo. Afinal, toda a parede desaba. Primeiro ele fica alarmado, depois, teme-
roso. Por fim, sente-se totalmente arrasado.
Assim que a poeira assenta, ele pode assumir uma das duas atitudes se-
guintes: ficar revoltado,sacudindo o dedo no rosto de Deus, dizendo que ele é
injusto, infiel, arbitrário e que não o ama, ou abaixar a cabeça, o rosto molhado
de lágrimas provenientes de um coração quebrantado e contrito que o Senhor
nunca despreza. Na primeira atitude, ele se levanta e reconstrói paredes mais
54 - Paredes do Meu Coiü\ção l Bruce Thompson

grossas e fortes, enquanto que na segunda, ele se ergue do meio daquele entu-
lho de tijolos e entra numa nova vida, livre das paredes do passado.
O saldo de uma tempestade para quem está buscando vida é de grande
importância! O que foi que aprendemos na última tempestade que nos so-
breveio? Ou será que precisaremos passar por outra, para que aprendamos a
lição dela e tomemos o rumo certo?

O ENGANADOR-MOR
De todos os falsos profetas, o mais astucioso e mentiroso é o próprio Lúcifer
que nas Escrituras é muitas vezes comparado a uma serpente. Em Amós 5.19,
o profeta mostra a estratégia que Lúcifer usa contra as paredes da nossa perso-
nalidade, na tentativa de roubar nossa herança.
Se deixarmos nossa imaginação ampliar um pouco o fato narrado nesse
texto, poderemos enxergar a seguinte cena:
De madrugada, antes do alvorecer, os campos ainda molhados de orvalho,
um lavrador sai de casa e caminha apressadamente por uma estradinha, sen-
tindo no rosto o ar fresco da manhã. Acabeça fervilha de idéias sobre o que tem
de fazer no dia que se inicia. De repente, ao atravessar um pequeno arvoredo,
tem a sensação de que há algo por perto. Então, com os sentidos aguçados ao
máximo, fica escutando atentamente para ver se consegue perceber algum ruí-
do que o permita descobrir o que ou quem está ali. Mas não ouve nada. Tudo é
silêncio. Dá um suspiro de alívio e recomeça a caminhar. Subitamente um leão
forte, de juba longa sai do meio das árvores e vem em sua direção. O homem
gira nos calcanhares e com adrenalina circulando pelo organismo, volta corren-
do pelo caminhozinho. Tão logo perceba já ter deixado o animal para trás, pára
para recobrar o fôlego e acalmar-se um pouco.
Afinal, decide ir de novo para o campo mas não pela mesma estradinha.
Segue pelo leito de um rio seco, sinuoso e pedregoso. O sol já desponta no céu,
expulsando as últimas sombras da noite. Em passos rápidos, o lavrador vai
andando por entre pedras e rochas. No momento em que acaba de fazer uma
curva, horrorizado, vê bem à sua frente,barrando a passagem,um grande urso.
Urrando ameaçadoramente, o animal se empina nas patas traseiras, movimen-
tando as dianteiras. Apavorado, o lavrador fica uns instantes paralisado mas
consegue virar-se e volta correndo pelo leito do rio. Afinal, reconhece que não
dá mais para ir trabalhar no campo, pelo menos nesse dia.
Parte I l Assolados por tempestades - 55

" " t ..
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" FIGURA7
56 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Entra em casa exausto e esgotado, encosta-se à parede para recuperar as


forças. Assim que relaxa e baixa a guarda, surge na parece uma cobra. E com
um bote rápido, ela enterra as presas no braço dele.
Aquele homem conseguira escapar dos inimigos externos, o leão e o urso
mas foi vencido pela serpente sorrateira que estava dentro de casa. Nessa me-
táfora, o leão e o urso simbolizam nossos inimigos externos, enquanto a cobra
representa um inimigo interno que nos ataca por meio da nossa personalidade.

CONHECIMENTO

FIGURA8 EGO
Parte I l Assolados por tempestades - 57

Como já vimos, as paredes representam nossa personalidade. É atuando


sobre elas que o inimigo tem as melhores oportunidades de destruir relacio-
namentos,casamentos, famílias, igrejas e até a sociedade. Se compreendermos
bem como somos e como as coisas se passam em nosso interior, poderemos
fazer com que nossa personalidade esteja a nosso serviço, em vez de estarmos
escravizados às instáveis manifestações do nosso ego. Algumas pessoas têm
uma personalidade tão emparedada que acabam prisioneiras das paredes do
seu coração, como vemos na figura 8. Infelizmente, para muitos crentes, são
verdadeiras as palavras de uma personagem de certo cartoon que afirmou:
"Já encontramos o inimigo: somos nós!"
Cada vez que repetimos determinada atitude negativa, ela se solidifica um
pouco más, tomando-se um hábito. E é assim que vamos acrescentando tijolos
à parede. Vez por outra, sofremos traumas emocionais tão fortes que chegamos a
"emparedar" toda uma área de nosso ser, com o objetivo de evitar que nos magoem
de novo. Essa parede pode nos proteger até certo ponto, mas também isola parte da
nossa personalidade, prejudicando nossa capacidade de amar, de confiar em outros
e de terbons relacionamentos. E quanto maior for a área "isolada",mais sérios serão
os sintomas e é mais difícil saber como somos e por que temos as reações que temos.
Essa situação pode ainda criar condições para se estabelecer em nós uma base enga-
nosa,capaz de nos imobilizar e impedir o desenvolvimento do nosso ser.
A Bíblia diz que se conhecermos a Verdade, ela nos libertará (Jo 8:32). Quan-
to mais verdade incoiporarmos ao nosso ser, mais livres seremos, com mais
possibilidade de viver como Deus deseja.

CONCLUSÃO

Neste capítulo, vimos que as paredes que construímos para nos proteger
podem acabar nos aprisionando, destruindo em nós a própria essência da vida.
Então, se não devemos erguer paredes e muito menos confiar que por trás de-
las estamos seguros, como vamos nos defender das tempestades que além de
derrubar as paredes, destroem também nosso próprio ser? É essa importante
pergunta que vamos responder nos capítulos que se seguem.
58 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

Notas
'NationdAcadeniy of Science, 10 de dezembro de 1986.
'Os cálculos sobre herpes e clamidíase são do Centro de Controle de Enfermi-
dades, de Atlanta, Geórgia. Os números sobre o avanço da AIDS são fornecidos
pelo AIDS Weekly Suroeillance Report (Boletim de observação semanal da AIDS)
de 15 de outubro de 1988.
'William Dietz, ex-presidente da Força-Tarefa da Criança e Televisão, um de-
partamento da Academia Americana de Pediatria.
4
UVAS VERDES
"Os pais comeram uoas oerdes e os dentes dos filhos é que embotaram" (Ez
18:2 - Antigo provérbio israelita).

"o capítulo anterior, abordamos a questão das tempestades que assolam


a alma e as mentiras dos falsos profetas que tentam nos convencer de
_ que precisamos erguer paredes de proteção. Mencionamos que os pais
podem ser falsos profetas e comentamos a influência que eles exercem sobre
os filhos.
O provérbio que transcrevemos acima enfoca o mesmo processo, embora de
uma perspectiva diferente. As uvas verdes são os pecados dos pais, e os dentes
embotados são os efeitos que eles deixam nas gerações posteriores (Nm 14:18).
Mas, por intermédio do profeta Ezequiel, Deus ordenou ao povo de Israel que
parasse de citar esse provérbio, pois ele se tornara um pretexto para não assu-
mirem a responsabilidade por seus erros. Em outras palavras, eles culpavam
seus antepassados pelos seus próprios pecados, sendo que Deus responsabiliza
cada indivíduo pelas suas escolhas.
Para entendermos melhor o que Deus está ensinando, vamos examinar uma
pesquisa' efetuada por um departamento militar dos Estados Unidos, com fi-
lhos de militares entre 3 e 18 anos de idade. A equipe de psicólogos e sociólo-
gos que realizou o trabalho, confirmou a existência da "síndrome da ausência
da figura paterna", em crianças cujos pais estavam afastados delas, devido a
missões militares. Eles constataram que a primeira reação desses filhos era se-
melhante à daqueles cujos pais haviam morrido. Observaram que os sintomas
mais frequentes entre eles eram:
60 - Paredes do Meu Coiü\ção l Bruce Thompson

1. Revolta 5. Medo
2. Negação e fantasia 6. Desordens funcionais
3. Tentativas de reencontro 7. Regressão
4. Sentimento de culpa

A analisando esses dados, comecei a observar que tais reações estão rela-
cionadas com os principais sintomas das patologias sociais dos nossos dias.
É possível que essas atitudes nunca sejam resolvidas e que esses problemas
continuem até a fase adulta.

1. Suponhamos, por exemplo, que o exército dos Estados Unidos envie de-
terminado soldado para longe de casa e que ele permaneça seis meses nessa
missão, vindo em casa poucas vezes e por pouco tempo. A princípio, o filho se
sente profundamente magoado com a separação. Nesse caso, pode reprimir a
tristeza, internalizando-a ou então extravazando-a com atitudes de revolta e
ira. A internalização da mágoa torna o indivíduo susceptível a distúrbios emo-
cionais, ao passo que o extravasamento pode gerar desvios sociais. As crianças
que ainda bem pequenas, se mostram temperamentais, mais tarde podem vir a
praticar crimes ou atos de violência.

SENTIMENTO DE REVOLTA-------------- CRIME

2. Quando a dor da separação toma-se insuportável, pode surgir então a segun-


da reação mencionada, negação e fantasia. A criança nega a separação e imagina
encontros com o pai e se vê conversando com ele. Tal atitude pode levá-la a criar
o hábito de auto-ilusão, desencadeando um ou mais distúrbios da personalidade.

NEGAÇÃO E FANTASIA-------------- DISTÚRBIOS DA PERSONALIDADE

3. Outra reação observada nessas crianças foi o anseio de ver o pai. Elas ficam
importunando a mãe e como um disco estragado,indagavam várias e várias vezes:
"Mãe, quando é que meu pai chega?"
E as mães respondiam diversas vezes, dizendo o dia e a hora da chegada,
mas isso não adiantava nada. Daí a pouco, ela perguntava de novo. Por fim, a
mãe perdia a paciência e ficava exasperada com o filho.
Parte I l Uvas verdes - 61

Não há dúvida de que essa constante ânsia de estar com o pai se deve à ne-
cessidade que a criança tem do relacionamento pai/filho. Esse problema pode vir
a ser refletido na vida adulta, quando ele procurará se agarrar demasiadamente
às pessoas do seu relacionamento. Se ao crescer, ele continuar sentindo a mesma
ansiedade de estar com o ente querido, pode tomar-se doentiamente possessivo.
Vemos esse distúrbio presente em muitos casamentos. Esposas indagando
ao marido tudo que aconteceu a ele durante o dia ou maridos que desenvol-
vem um temor paranOico de perder a esposa. Esse temor leva-o a querer sa-
ber pormenores das atividades dela. Toda pessoa que foi rejeitada ou sofreu
mágoas profundas, tem a tendência de tornar-se possessiva em todos os seus
relacionamentos. Entretanto, sempre que adotamos atitudes possessivas num
relacionamento, nós o asfixiamos.

TENTATIVAS DE REUNIR -------------- ATITUDE POSSESSIVA

4. A criança cujo pai está ausente, pode ter sentimentos de culpa falsos ou
verdadeiros. Ela pode culpar-se pela ausência paterna, sentir-se indigna, achar
que não tem valor, cultivar complexo de inferioridade e passar a acreditar que
nunca poderá ser amada. Esse sentimento de culpa constitui um fardo pesado
demais para uma criança e segundo creio é uma das principais causas das mais
sérias formas de depressão.
Esse sentimento de culpa pode acentuar-se e agravar-se ainda mais quando
ela se comporta mal. Sem a presença do marido para dar-lhe apoio moral e dis-
ciplinar o filho, a mãe sente-se incapaz de reprimir a conduta errada da criança.
Sem disciplina ou recebendo uma disciplina deficiente, a criança não tem como
aliviar seu sentimento de culpa e a conduta indesejada se enraíza.

SENTIMENTO DE CULPA REBELIÃO

Em seguida, sob o peso da culpa, a criança volta contra si e pode adotar


atitudes masoquistas. A autopunição tende a aliviar um pouco o sentimento de
culpa e a enfraquecer seu anseio de revolta mas aí surgem as seguintes reações:

INTERNALIZAÇÃO DOSENTIMENTO DE CULPA-------------- DEPRESSÃO


EXTRAVASAMENTO DO SENTIMENTO DE CULPA DELINQUÊNCIA
62 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

5. Outro distúrbio evidenciado por filhos de pais ausentes é o medo.


Eles se agarram possessivamente à mãe e choram por qualquer motivo.
Nunca querem perdê-la de vista, já que a mãe é o único elemento de segu-
rança que lhes resta. Esses temores não resolvidos têm dominado a vida
de muita gente hoje, tanto nos países desenvolvidos como nos subdesen-
volvidos.
Muitos passam a ingerir tranquilizantes na vã tentativa de conter a crescen-
te onda de neuroses que os dominam. Há pessoas tomando comprimidos para
dormir, acordar, para comer mais, controlar o apetite, para obter mais energia
e assim por diante.
ABíblia diz que haverá homens que desmaiarão de medo (Lc 21:26). Já está
comprovado que a tensão e ansiedade constantes podem causarproblemas car-
díacos e vários outros distúrbios.

MEDO NEUROSES

6. As desordens funcionais são reações do organismo a uma contínua inter-


nalização de problemas não resolvidos. Os observadores descobriram isso, em
criançinhas que já haviam adquirido o controle anal e uretral e sofreram um
retrocesso. Houve inclusive, crianças mais crescidas que para vergonha delas,
voltaram a urinar na cama à noite, recebendo com isso muita repreensão ma-
terna. Outras passaram a engolir o alimento vorazmente.
Todos esse exemplos, revelam como as funções orgânicas podem ser afeta-
das Fla internalização das pressões emocionais. Talvez seja por esta razão que
os clínicos de hoje estão descobrindo que 80% dos seus pacientes, apresentam
distúrbios com elementos psicossomáticos. Na maioria dos casos, eles tratam
apenas dos sintomas, enquanto que os problemas causadores da enfermidade
não são questionados nem corrigidos.

DESORDENS FUNCIONAIS -------------- DISTÚRBIOS PSICOSSOMÁTICOS

7. Algumas das crianças pesquisadas, apresentaram o fenômeno da re-


gressão comportamental. O trauma da separação foi tão intenso que elas se
tornaram retraídas, recusando funções vitais como comer, brincar, relacionar
com outros, etc. Algumas iam para um canto e ficavam encolhidas na posição
Parte I l Uvas verdes - 63

fetal. Isso indica medo e insegurança profundos que provocam nelas o desejo
de retornar ao estágio fetal, no ventre matemo, onde elas tinham uma vida
relativamente segura.
No caso do trauma da separação ser continuado, a criança pode tomar-se
psicótica e optar por viver num mundo de fantasia, em vez de enfrentar a do-
lorosa realidade.

REGRESSÃO -------------- PSICOSES

REAÇÃO DA SINTOMA
CRIANÇA SOCIAL

' SentimentodeRevolta <> Crime


' Negação e Fantasia <> Distúrbio
de Personalidade
' Ânsia de ver 'd> Possessividade
' Sentimento de Culpa "> Internalização -
Depressão
Extravasamento -
Delinquência
· Medo "> Neuroses
' Desordens Funcionais ·» Distúrbios
Psicossomáticos
' Regressão "> Psicoses

FIGURA9
64 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson

Analisando os sintomas dos males apresentados na figura 9, veremos que aí


estão relacionados todos os problemas sociais de hoje. Com isso, podemos con-
cluir que os conflitos não resolvidos na infância, geram no indivíduo padrões
de comportamento imaturos na fase adulta.
O apóstolo Paulo fala disso quando afirma:

"Irmãos, oocês já estão tomando mamadeira há muito tempo. Cresçam!Meu


desejo égue larguem logo o leitee passem a comer carne." (I Co 3:1,2 -Paráfrase
do autor).

Muitos psicólogos, psiquiatras e outros terapeutas, reconhecem que o gran-


de desafio que a sociedade apresenta hoje é ajudar os adultos a "crescerem",
tanto interior como exteriormente. Podemos apreciar a criança que há em cada
um de nós mas é errado deixar que ela assuma o comando.
A pesquisa militar a que nos referimos, faz menção apenas do pai ausente.
Mas pensemos em situações em que ele é alcoólatra e maltrata a família ou
pratica abertamente a imoralidade e a infidelidade. O impacto negativo e de-
preciativo que isso causa numa criança é ainda mais traumático e pode deixá-
la acorrentada à infância pelo resto da vida. A ausência da mãe poderia ter o
mesmo efeito, principalmente em crianças bem pequenas.
Então as uvas verdes representam os problemas ou falhas dos pais, e o em-
botamento dos dentes tudo aquilo que afeta negativamente o desenvolvimento
dos filhos.
A Bíblia identifica esse processo, como a iniquidade dos pais que Deus vi-
sita filhos até a terceira e quarta geração (Nm 14:18). É o que hoje a sociopato-
logia chama de "padrões hereditários". Essa questão traz de volta uma contro-
vérsia popular, a culpa é da herança genética ou da criação recebida? Nossos
problemas são herdados ou adquiridos? Se forem adquiridos, então podem ser
modificados e o indivíduo pode ser responsabilizado por seus erros.
A pesquisa aponta ainda alguns dos principais fatores que levam os ho-
mens a erguerem paredes que são reações aos erros dos pais. No Salmo 103,
encontramos o antídoto de Deus para esse embotamento dos dentes.

"Mas a misericórdia do Senhoré de eternidade a eternidade, sobre os que o


temem ea sua justiça sobre os filhos dos filhos" (SI 103:17).
Parte I l Uvas verdes - 65

É o desejo de Deus que os homens provem o doce sabor das uvas maduras
para que os dentes dos filhos não se embotem. Ele quer que os pais passem aos
filhos e aos filhos dos filhos a salvação, a longanimidade e a justiça divina. Esse
é seu plano e seria assim que ele diria aquele provérbio: "Se os pais recorrerem
a Deus e acatarem seus desígnios, passarão a invocar suas bênçãos sobre seus
descendentes".
A rejeição pode ser passada, consciente ou inconscientemente, de uma ge-
ração para outra. Voltando ao nosso pensamento inicial, podemos ilustrá-lo da
seguinte maneira:
Vemos na ilustração abaixo que se Deus é a nossa figura de autoridade,
recebemos amor e aceitação. Mas, quando é o homem que ocupa esse lugar, o
que recebemos muitas vezes é ódio (dissimulado ou frontal) e rejeição. O fator
que determina o ângulo compreendido entre o "prumo humano" e o "divino"
chama-se "carência afetiva". A linha vertical do amor e da aceitação divina é o
fio do prumo de Deus e representam a disposição e o desejo dele para conos-

FIGURA DE
AUTORIDADE
HOMEM DEUS

ÓDIO AMOR

REjEIÇÃO ~1 ACEITAÇÃO

CARÊNCIA
AFETIVA
66 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

co. A linha oblíqua do ódio e da rejeição humana é o fio do prumo humano,


segundo o qual o homem vai construindo sua vida, em vez de seguir o prumo
divino. O ângulo existente entre os dois fios pode então ser descrito, em termos
de uma "carência afetiva". Quanto maior a abertura desse ângulo, maior a falta
do amor divino.
Para considerarmos alguns dos efeitos que essa carência pode provocar em
nÓs, vamos colocar esses fatos sob a forma de uma equação bíblica:

NÓS-AMOR=?

Que resposta você encontrou para a questão acima? Será que dá para res-
ponder sem primeiro definir o amor? O amor é um termo tão desgastado hoje
em dia que pode ser aplicado a qualquer coisa, desde amar a Deus até a um
cãozinho de estimação.
Para nosso estudo aqui, vamos definir o amor com base no termo grego
ágape, que significa um interesse e dedicação profundos por alguém e que pode
nos levar até a dar a vida por ele. É a mais elevada forma de amor do qual todos
nós precisamos. Quanto maior for a carência afetiva de uma pessoa, maior será
a probabilidade dela se sentir um nada, um zero à esquerda. Para ela, a vida
tem muito pouco valor, se é que tem.

NÓS -AMOR = ZERO

Sermos amados nos confere senso de valor prÓprio. Sentimos que temos
valor. Todo aquele que não é amado ou é maltratado, rejeitado e pisado, sofre
do problema de baixa auto-estima.
O amor frequentemente e de forma errada é confundido com lascívia. A
diferença é que na lascívia buscamos o prazer em alguém e no amor ocorre o
oposto. Amar implica em dar de nós mesmos a alguém e partilhar com esta
pessoa nossa vida, com o objetivo de aumentar o seu bem-estar, proporcionan-
do-lhe o maior bem possível. O lema da lascívia é: "Me dá!" O do amor é: "Eu
lhe dou!" Com isso, podemos montar outra equação semelhante à mencionada
acima que terá os seguintes termos:

NÓS+ LASCÍVIA= ZERO


Parte I l Uvas verdes - 67

Muitas pessoas tentam compensar sua carência afetiva entregando-se


desenfreadamente à lascívia. Um jovem que não se sente amado pelos pais,
por exemplo, pode ter relações sexuais múltiplas, acreditando poder preen-
cher dessa forma sua necessidade de amor. Uma filha que não se sente amada,
entrega seu corpo a vários homens, na tentativa de compensar sua sede de
afeição. Todavia, tanto um como outro, estarão recebendo apenas lascívia. Sua
carência afetiva continua inalterada.

UM EXEMPLO DE CARÊNCIA AFETIVA


Gita era uma jovem muito bonita, de olhos castanhos e cabelos castanho-
avermelhados. O primeiro fato que notei nela foi que não conseguia encarar
ninguém de frente. Mantinha os olhos voltados para o chão e deixava transpa-
recer uma profunda tristeza.
Ela assistira às nossas palestras sobre O Prumo Dioino e fora uma das muitas
pessoas que tinham ido à frente solicitando oração. Agora estava sentada na
ponta da cadeira, cabisbaixa, o cabelo caindo sobre o rosto. Chorava convulsi-
vamente, o corpo sacudido pelo pranto, as lágrimas gotejando no colo. Tive de
aguçar ouvidos para ouvi-la.
A jovem explicou que não se relacionava bem com os pais. Ambos profis-
sionais liberais bem-sucedidos na vida e que esperavam que ela seguisse os
passos deles. Quando criança, eles nunca haviam dado a ela demonstrações
afetivas, a ·não ser um rápido beijo no rosto, vez por outra. A única relação
afetiva que tivera foi com sua boneca. Passava horas e horas com ela, extrava-
sando no brinquedo, sua afeição acumulada. Por fim, a boneca ficou muito suja
e estragada.
Certo dia, o pai entrou no quarto dela e disse uma notícia que para ela foi
pavorosa:
- Eu e seu mãe estivemos conversando, iniciou ele. Resolvemos comprar
para você uma boneca nova e jogar esta fora.
Horrorizada, a menina se agarrou à boneca, gritando histericamente:
- Não! Não quero uma boneca nova!
Uma noite, enquanto ela dormia, o pai foi ao quarto, pegou a boneca, co-
locou uma nova em seu lugar e atirou no incinerador a que ela tanto amava.
Quando a menina acordou no dia seguinte, ficou arrasada. Não quis saber da
nova boneca, nem tocou nela.
68 - Paredes do Meu CoRAção l Bruce Thompson

FIGURA DE
AUTORIDADE
\
- d

l
C

FIGURA 10
l

I
I

REjEIÇÃO e REVOLTA

O incidente veio aumentar ainda mais o distanciamento entre Gita e seus


pais. Na adolescência, começou a procurar amor da forma errada. Após uma
longa série de casos amorosos, ela acabou descambando para a prostituição.
Nada mais lhe restava, achava-se imersa na solidão, profundamente necessita-
da de uma mensagem do Senhor.
Quando nos colocamos na presença de Deus, recebi uma revelação: Gita se
tornara como uma bonequinha sequiosa de amor. Ao dizer isso a ela, voltou a
chorar. Em seguida, o Senhor me deu outra mensagem para ela.
" 1','\Rll' I l Uvas v1,rdis - 69

FIGURA DE
AUTORIDADE

3. PASSIVO/AGRESSIVO

1. PASSIVO 2. AGRESSIVO

- Deus acaba de adotá-la como a "bonequinha" dele! Falei. Ele vai amá-la
mais do que você amava sua boneca.
Ao sentir o amor de Deus envolver todo o seu ser, seu pranto mudou. Ago-
ra, chorava de alegria e não de tristeza pela vida sofrida e destroçada que le-
vara até então. A partir desse dia, passou a ter uma nova perspectiva de vida.
Entregar-se à lascívia no objetivo de satisfazer anseios emocionais só serve
para aumentar a carência afetiva e o sentimento de desvalorização. E quando
a vida não tem valor, perde-se a vontade de viver. Gita tinha norteado sua
existência pelo prumo humano da rejeição que acabou tornando seu principal
ponto de referência na vida. Numa atitude constante de passividade, vivia es-
perando ser rejeitada.
Mas, suponhamos que alguém não aceite a rejeição como seu referencial
básico. Nesse caso, tal indivíduo usará outro prumo humano, a revolta (fi-
gura 10).
70 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Quando é a revolta que predomina, o indivíduo assume uma atitude agressi-


va e luta para anular o sentimento de rejeição com que convive há tanto tempo.
E pode haver ainda outros, com personalidade passivo/agressiva, isto é, i

ora são dominados pela rejeição, ora pela revolta, dependendo da situação.
Vemos então que pode haver três tipos de reação, conforme ilustrado na
figura da página 69.
Um desses três tipos de atitude, uma vez arraigado na vida do indivíduo,
torna-se como uma raiz de onde brotam distorções da personalidade. E cada
uma dessas distorções constitui um tijolo a mais nas paredes que erguemos em
nosso coração.

No próximo capítulo, continuaremos a analisara metáfora do livro deAmós,


para conhecermos outros fatos sobre o que se passa atrás dessas paredes.

Notas
'Armand M. Nicholi MD., "Fractured Fanii!y", em Christianity Today, de
25 de maio de 1979.
Arquivos da psiquiatria geral.
5
PAREDES DE PROTEÇÃO
DECORRENTES DA REjEIÇÃO

"a cidade de Amsterdã, na Holanda, existem becos e ruelas antigas que


formam verdadeiros labirintos. As casas têm todas as formas e tama-
nhôs. Certa vez, quando eu caminhava numa dessas ruelas com um
amigo holandês, ele apontou uma fileira de construções perigosamente incli-
nadas. Algumas construções haviam sido demolidas e as que ficaram, tinham
uma inclinação tão acentuada que precisaram ser apoiadas em escoras. Em
alguns casos, a diferença entre a base da construção e o teto era de quase dois
metros.
Já vimos a metáfora que Deus apresentou a Amós. Seu povo era como uma
parede fora de prumo, semelhante àquelas casas de Amsterdã. Se uma pessoa
sofre rejeição por um prolongado período de tempo, isso pode gerar distorções
psicológicas tão sérias e perigosas como as daquelas casas. Vamos então, exa-
minar essas distorções tijolo a tijolo.

EMOÇÕES

Cada um dos tijolos que empregamos para construir as paredes do nosso


coração, constitui um empecilho para que nossa personalidade se desenvolva
da maneira como Deus planejou.
Ao ler a lista de "tijolos", assinale aqueles que você identifica em si mes-
mo. Isso será muito proveitoso mais adiante, quando examinarmos os passos
72 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

FIGURA DE
AUTORIDADE
· TRISTEZA
E
í. ,1-. · AUTO-COMPAIXÃO M
'' · AUTO-DEPRECIAçÃO O
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-=-= · DEPRESSÃO E
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SENTIMENTO DE CULPA O

· APAGADO
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REjEIÇÃO

SUICÍDIO
FIGURA11
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da REjEIçãO - 73

para a correção do problema. A primeira categoria de distorções a ser anali-


sada está relacionada com as emoções que exercem um papel importantíssi-
mo em nossa vida.

· TRISTEZA
Podemos definir a tristeza como "um sentimento de pesar, de infelicidade;
demonstração ou causa de sofrimento'". Muitas vezes a tristeza pode obscure-
cer toda a personalidade de uma pessoa. Foi o que aconteceu a Mark.
Era um homem alto e magro, de cabelos louros e profundos olhos azuis.
Tinha o semblante muito triste, o que acabava dando a ele, uma aparência
feia. Conversei com ele durante várias horas e descobri a razão do seu
profundo pesar. Quando mais jovem, Mark se revelara um excelente atleta,
com perspectiva inclusive, de representar seu país nos jogos olímpicos.
Toda a sua existência passara a girar em torno desse objetivo. Um dia se
envolveu com uma jovem. Pouco depois do casamento, a esposa começou
a reclamar das longas horas que ele dedicava ao treinamento e pressionou-
o tanto, que afinal, ele desistiu do seu sonho para salvar o casamento deles.
Pouco tempo depois, Mark descobriu que sua esposa fora infiel. Esse fato,
mais a desilusão de não poder correr na Olimpíada eram as causas da sua
profunda tristeza.
É normal uma pessoa ficar triste durante algum tempo, por exemplo, quan-
do perde o cônjuge na meia-idade. Mas, se alguém se mantém assim por perí-
odos prolongados, a tristeza torna-se crônica. De modo geral, se um indivíduo
conserva esse tipo de pesar constante e doentio é porque continua alimentando
no espírito um sonho não realizado ou uma expectativa frustrada. Pelo relato de
Mark, percebi claramente que era esse o seu caso. E aquela tristeza persistente
vinha roubando sua alegria de viver e o sentimento de realização pessoal.
A Bíblia chama essa tristeza de "oeste de espírito angustiado" (Is 61:3).
Em todos esses anos, tenho aconselhado inúmeras pessoas com problema
semelhante ao do Mark - lançaram mão do tijolo da tristeza para construir
suas paredes. Uma delas, uma jovem que teve sua primeira experiência sexual
em um relacionamento incestuoso. Outra, foi uma senhora que perdeu o mari-
do que constantemente lhe era infiel. Outra ainda, foi uma moça que desejava
muito ser médica, mas nunca conseguiu entrar para a Faculdade de Medicina.
Em casos como esses, a tristeza é uma emoção substitutiva que adotamos como
74 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

forma de reagir a seguidos atos de rejeição da parte de alguém que é impor-


(
tante para nós. Em momentos de tristeza, precisamos buscar Deus Pai, nossa
(

verdadeira fonte de consolo em meio ao sofrimento.


Quando Mark voltou ao consultório, oramos para que ele fosse liberto da- l

quela tristeza. E assim que ele entregou tudo a Deus, começou a libertar-se N

daquelas emoções predominantes e recebeu cura e consolo divino. I

· AUTO-COMPAIXÃO q

Além de ser uma prática negativa, a auto-compaixão épecado também. Quanto d

mais nos entregamos a esse tipo de atitude, mais nos habituaremos a recorrer a ele
nos momentos de adversidade. Aquele que pratica a auto-compaixão está sempre
procurando consolar-se de alguma decepção sofrida. Quando a situação se toma
desesperadora, ele passa a procurar o consolo de outros, manipulando-os para que
"reforcem" sua auto-compaixão. Em pouco tempo, esse indivíduo passa a ter na
alma um abismo profundo quenada nemninguémpreenche. Nãoconsegue encarar
seu problema nem solucioná-lo. Aauto-compaixão, além de revelar que o indivíduo
sofreu algum tipo de rejeição ainda intensifica-a. Aquele que é dominado por ela,
tem dificuldade de enxergá-la. O remédio bíblico para a cura da auto-compaixão
crônicae da introspecção negativaéaprática de ações de graça.

· AUTO-DEPRECIAÇÃO
Atualmente, é impressionante o número de pessoas que abrigam sentimen-
tos negativos contra si mesmas. Algumas os experimentam apenas esporadi-
camente. Para outras, porém, o problema já se tornou crônico, distorcendo sua
personalidade.
A auto-depreciação é a atitude de voltarmos contra nós mesmos por termos
sofrido rejeição da parte de alguém. Uma das tarefas mais difíceis para um
conselheiro é justamente ajudar as vítimas desse mal a serem libertas dele.
Assim que conheci Inez, fiquei impressionado com sua personalidade exu-
berante. Antes de fazer nosso curso de aconselhamento da JOCUM, ela traba-
lhara num ministério de reabilitação.
Agora, era uma dos trinta alunos provenientes de vários países do mun-
do todo que tinham o propósito, não apenas de fazerem nosso curso de três
meses sobre técnicas de aconselhamento, mas também, o de tornarem-se pes-
soas bem ajustadas.
Parte I l Paredes de proteçêío decorrentes da rejeiçêío - 75

Então, como é?
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favor, ou contra
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As raízes do ódio de si mesmo


Quando o curso já ia adiantado, de repente, Inez entrou em profunda
depressão. Estava sofrendo de insônia e começou a ouvir vozes. Lenta-
mente foi atingindo um estado de intensa ansiedade. Passou a fazer acon-
selhamento regularmente com dois membros do nosso pessoal mas não
permitia que ninguém atravessasse as paredes que construíra e atrás das
quais se escondia. Mas, continuamos tentando ajudá-la e pouco a pouco
ela foi nos revelando as profundas e dolorosas experiências que vivera na
infância. E, pela primeira vez, extravasou a dor que sentia por ter de viver
atrás daquelas paredes.
Relatou que quando adolescente, seu pai combinara com um tio dela para
que lhe desse aulas de tênis. Após algumas semanas, esse tio começou a mo-
lestá-la sexualmente. As emoções que experimentou foram tão fortes que não
teve condições de superá-las. E mais, não tinha coragem de revelar o fato aos
pais, pois achava que eles nunca acreditariam nela. Além de abrigar um forte
ressentimento contra o tio, passou a ter mágoa também de seu pai, por ter pro-
videnciado para que fosse treinar com ele. Com relação a si mesma, sentia-se
impura, e abrigava sentimentos de culpa e de auto-depreciação.
76 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Todo o pessoal da escola intercedia regularmente por ela. E,afina1, um dia, no


momento em que orávamos pelos alunos, ela também foi a frente e ficou parada,
fechando e abrindo os punhos, num gesto nervoso. Todos voltaram a atenção (

para ela. Via-se claramente que a moça passava por intensa luta interior. De re- í

pente, ela se virou para a classe e se pôs a falar lentamente e em tom firme:
- Detesto isso aqui! Afirmou. Detesto vocês todos. Tenho ódio de Deus! f

Odeio GG mim mesma! Odeio meus pais! {

Terminou o desabafo e ficou parada, enquanto nós, chocados pelo que ela q

dissera, permanecemos em silêncio tentando entender as palavras. A não ser


por uns soluços que ouvíamos aqui e ali, reinava um silêncio profundo. Oráva-
mos em espírito, buscando a orientação de Deus.

Um fator de libertação
Foi então que um rapaz de nome Derek veio falar comigo. Disse-me que
sentia que Deus lhe ordenava que fizesse algo e explicou-me do que se tratava.
Queria saber se eu confirmava a orientação. Senti que ele estava certo,respondi
sim, que o fizesse.
Ele se aproximou de Inez e ficou diante dela, à frente da classe. Falou para
a jovem:

- Quero representar seu pai aqui e pedir que me perdoe. Você me perdoa?
Ela o fitou com expressão de frieza e indiferença, lutando para controlar
suas emoções.
- Me perdoe! Falou Derek de novo.
Silêncio.
E o rapaz pediu perdão pela terceira vez. Como ela continuava sem dar
resposta, ele desatou num choro sentido, experimentando naquele instante a
tristeza de Deus para com o sofrimento de sua filha. O grupo permanecia inter-
cedendo em espírito. Afinal, Inez rompeu o silêncio.
- Eu o perdOo, papai. Disse em voz contida.
Houve uma longa pausa e por fim, ela voltou a falar:
- Papai, perdoe-me pelo ódio que guardei contra o senhor.
Assim que ela pronunciou essas palavras de renúncia ao rancor, abraçou o
colega em prantos. E suas lágrimas como que lavavam todo o ressentimento,
amargura e ódio que durante tantos anos tinham estado encerrados em seu
coração, formando uma parede. Depois, ela expressou perdão para seus fami-
Parte I l Paredes de pROTEção decorrentes da rejeiçêío - 77

liares e para consigo mesma, recebendo também o perdão de Deus. Foi assim
que foi liberta da sua auto-depreciação. Quando aquele semestre se encerrou,
quase todos os sintomas haviam desaparecido. Mais tarde ela me escreveu uma
carta nos seguintes termos:

"Naquele dia que Derek falou comigo na frente da classe, Deus


me trouxe à mente o texto de Isaías 38.15,16. Compreendi que a causa
da minha insônia era a amargura que abrigava contra meu pai e que vi-
via tentando disfarçar. Eu me tornara hipócrita no relacionamento com
os outros, principalmente à respeito das emoções. Interiormente sentia
uma coisa e por fora manifestava outra, Deus me mostrou que para me
libertar, teria que fazer uma confissão sincera do que havia em meu co-
ração, com relação às pessoas e à vida. Foi por isso que externei meu
ódio daquela forma."

Nos meses que se seguiram, Inez foi experimentando cada vez com maior
clareza o amor e a compaixão de Deus por ela e passou por profundas mudan-
ças! Quando regressou à sua pátria, reconciliou-se com seu pai. Mais tarde,
devido a essa experiência, teve oportunidade de auxiliar jovens que também
haviam sofrido abusos sexuais.
Hoje em dia, os casos de incesto estão se tornando muito comuns, cons-
tituindo uma das principais causas do ódio de si mesmo. Como todo tipo de
lascívia, o incesto abala fortemente o senso de valor próprio de quem é vítima
dele. É o tipo de ofensa que mais causa esse mal. Nesse caso, a auto-deprecia-
ção é mais intensa porque o indivíduo se sente traído por um membro da pró-
pria família. A experiência é tão aviltante para o jovem, que ele passa a abrigar
sentimentos de auto-acusação, a ter ódio de si mesmo. Quando essas emoções
não são resolvidas, dão origem à auto-depreciação.

· DEPRESSÃO
Faz muitos anos que a depressão é o principal distúrbio emocional nos Es-
tados Unidos. E a incidência dessa moléstia está aumentando muito, principal-
mente entre os jovens.
Mas o que vem a ser a depressão e como devemos entendê-la à luz do pru-
mo divino? A melhor e mais simples explicação que pode ser dada sobre a
78 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

depressão é que se trata da reação que temos frente a alguma perda sofrida.
Inicialmente percebemos um declínio da vitalidade e da energia e nos senti-
mos tristes e cansados. O segundo estágio é o desinteresse pela vida social.
Afastamos até dos amigos mais chegados. Cai o ritmo das atividades no tra-
balho, em casa e tudo nos parece sombrio, desesperador. Quase não surgem
idéias novas e quando alguma ocorre, parece pouco clara, sombria. Encon- !

tramos dificuldade para a concentração. Somos assediados por sentimentos l

de culpa, seguidos de perto por auto-condenação e auto-depreciação. Então (

ocorre a insônia.
(

Até certo ponto é normal sentirmos deprimidos vez por outra. Mas se essas
crises se tornarem frequentes e prolongadas, talvez seja preciso tomarmos al-
gumas medidas para buscar a solução do problema.
Um fato muito simples que serve para ilustrar isso é um carro enguiçando
que começa a perder força. O motor "engasga" e fica rateando. Obviamente,
paramos, damos uma espiada no motor e vemos o que há de errado. É claro
que quando o desempenho do carro deixa a desejar, logo nos conscientizamos
de que ali há algum problema e damos um jeito de consertá-lo. Mas quando
ficamos deprimidos, na maioria das vezes nos limitamos a um antidepressivo,
tentando apagar a 'luzinha vermelha" que a natureza está fazendo piscar den-
tro de nós.
O que muitas vezes ignoramos é que a depressão é basicamente uma men-
sagem que nosso organismo nos envia. Ele está nos comunicando que em nós
há alguma coisa errada que precisa ser corrigida. Um medicamento pode al-
terar nosso humor superficialmente mas não afeta nosso espírito. Na maioria
dos casos, o que precisamos fazer, se quisermos evitar o retorno da depressão
é corrigir o erro.
Assim como a alegria é indício de vida, assim também, a depressão é a
indicação de que algo está morrendo ou faltando em nosso interior. Alguns dos
distúrbios orgânicos ou hereditários que afetam o humor, podem ser causados
pela carência de substâncias bioquímicas, que nesse caso, precisam ser repostas
para o organismo. Contudo, essa deficiência é responsável por apenas 5% dos
distúrbios mentais em nossos dias. A depressão pode ser provocada por uma
complexa associação de fatores físicos e mentais, sendo portanto de difícil tra-
tamento. Contudo, quem ignora a conduta moral do paciente, não está fazendo
uma análise completa dos fatos.
Parte I l Paredes de pROTEçãO decorrentes da REjEIçãO - 79

· APATIA
A apatia - "uma existência sem emoção; mente indolente; sem sentimento"'
- é um dos arquiinimigos da vida. Aliás, ela é a fase inicial do processo de per-
da do interesse pela vida. A Bíblia fala de muitas pessoas que tinham "espírito
de entorpecimento"(Rm 11:8). E esse horrendo "elixir" do inimigo pode ser oca-
sionado por desilusões e adversidades. A igreja hoje sofre de apatia. Não vem
desempenhando sua função de "sal da terra", nem tem feito sua "luz" brilhar.
Por isso está sendo invadida pelo mundo. Em alguns casos é difícil distinguir
entre igreja e mundo.
Certo dia, fui visitar uma senhora chamada Lydia e foi aí que descobri como
o caos se instala na vida de uma pessoa. E não apenas isso. Vi também o que
acontece quando a apatia domina. A pia estava cheia de vasilhas. Havia livros,
sapatos e roupas espalhados pelo chão. Móveis e demais utensílios estavam
cobertos por uma camada de poeira. E no meio de toda aquela confusão, estava
Lydia, cabelos despenteados, roupa em- desalinho, assistindo à televisão.
- Olhe só para ela! Exclamou o marido já desesperado. Faz dias que está
assim. Parece que não se importa com mais nada.
A apatia é causada por sentimentos e idéias de rejeição e fracasso. O indiví-
duo pensa: "De que adianta me esforçar? Nunca vou dar em nada mesmo. Vou
ser sempre assim!"

INTELECTO

Outra categoria de tijolos que empregamos para construirmos nossas pare-


des está relacionada com os processos mentais e com as atitudes deles resultan-
tes. Lembrando ao leitor para continuar marcando aqueles que você percebe
existirem em sua vida.

· COMPLEXO DE INFERIORIDADE
Aqueles que dizem: "Você não é melhor do que eu", na verdade não
pensam assim. Se pensassem, não diriam. Um cão São Bernardo não
diria isso a um cachorrinho de pelúcia, um filósofo muito menos o diria
a um iletrado... O que essa afirmação externa de fato é aquela incômoda,
dolorosa e inquietante sensação de que se é inferior..."
C. S. Leu'is, The Screuüpe Letters (Cartas do inferná
80 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

O intelecto é uma das principais áreas que satanás manipula. O complexo


de inferioridade abala profundamente a mente do indivíduo e paralisa sua ca-
pacidade de raciocinar com clareza. Quem sofre frequentes atos de rejeição aca-
ba se convencendo de que é inferior aos outros. Assim que chega a essa conclu-
são, começa a elaborar razões ilusórias para explicar seu conceito equivocado.
"Sou gordo demais."
"Sou magro demais."
"Sou baixo." l

"Sou alto demais." l

"Meu nariz é muito grande."


"Sou muito burro."
E por aí vai...
Eu cultivei durante algum tempo um profundo sentimento de inferioridade
devido à humilhação que sofri quando criança na sala de aula. Como narrei no
primeiro capítulo, a professora fez questão de acentuar o fato de que eu era um
dos poucos que não sabiam ver as horas e por causa disso, concluí que era infe-
rior aos colegas. Querendo me proteger, passei a participar cada vez menos das
aulas. E só muitos anos depois, compreendi por que havia adotado essa atitude
de passividade e me sentia inseguro todas as vezes que era forçado a participar.
Todos nÓs que nos convencemos de que somos inferiores aos outros, seja
por que razão for, nos tornamos presas fáceis do diabo, que passa a nos intimi-
dar. O complexo de inferioridade e a incredulidade andam de mãos dadas para
destruir nossa confiança. Os dois juntos nos roubam as vitórias que podería-
mos obter pela fé.

· INSEGURANÇA
Ainsegurança é outra deficiência muito comum em nossos dias, sendo cau-
sado por males modernos como famílias divididas ou com disfunções. É con-
sequência direta da carência afetiva e dos atos de rejeição sofridos na infância.
Por outro lado, o senso de segurança está diretamente relacionado com o amor.
Pesquisas têm demonstrado que as crianças criadas num ambiente sem amor,
tendem a revelar profundo sentimento de insegurança. Entre esses casos estão
os de crianças geradas numa gravidez indesejada, filhos rejeitados por não se-
rem do sexo que os pais queriam, pais excessivamente ocupados ou voltados
só para seus próprios interesses, pais autoritários e exigentes que dão aos filhos
Parte I l Paredes de pROTEçãO decorrentes da REjEIção - 81

pouco carinho e raras demonstrações de apreço. Esses são apenas alguns exem-
plos de atitudes que podem criar no indivíduo, sentimentos de insegurança.

· SENSO DE INAPTIDÃO
Existe em inglês uma música popular que diz o seguinte: "Você não presta,
não presta, não presta para nada." Infelizmente, sempre que ouço essa cantiga,
lembro-me de um colega de infância, cujo pai vivia dizendo isso a ele.
Um dos mais sérios problemas de quem sofre rejeição é o considerar-se in-
capaz, fracassado. O indivíduo experimenta um constante senso de inaptidão e
ouve uma voz interior constantemente afirmando:
"Não valho nada. Nunca serei nada na vida. Tudo que faço sai errado."
Muitas pessoas vivem obcecadas pelo medo de errar e quando erram, não
conseguem se reerguer e muito menos sabem tirar lições daquela experiência
negativa. Elas desmoronam, já que foram condicionadas a crer nas mensagens
que foram comunicadas a elas, na infância.
As palavras que ouvimos têm o incrível poder de nos edificar ou nos des-
truir. Se fracassamos numa situação qualquer na infância, logo somos taxados
de "incompetentes". Esse rótulo vai nos acompanhando pela vida. Se experi-
mentarmos outros fracassos, vamos sendo convencidos de que somos realmen-
te "uma negação". E aí começamos a acreditar que nem mesmo a graça de Deus
pode nos alcançar.

· SENTIMENTO DE CULPA
Afinal, o sentimento de culpa é um terrível mal ou um bem precioso? De-
vemos aceitá-lo ou rejeitá-lo? Vejamos uma ilustração simples que pode escla-
recer mais essa questão.
Imaginemo-nas viajando de carro por um lugar belíssimo, verdejante, ten-
do ao fundo montanhas altíssimas com picos cobertos de neve. De repente,
uma luzinha é acessa no painel do veículo. Damos uma olhada para ela, mas
preferimos ignorá-la e seguimos em frente na esperança de que daí a pouco
ela se apague. Entretanto, ela continua acesa e nossa irritação vai aumentando.
Afinal, não contendo mais a raiva, pegamos um martelo no porta-luvas e bate-
mos no painel até que a luzinha afinal se pague. Aliviados por constatar que ela
não mais nos perturbará, continuamos dirigindo, desfrutando das belezas da
natureza que temos diante de nós. Mas, de repente, o carro "morre".
82 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Essa luzinha que acende, representa nosso "culpômetro", um engenhoso


sistema de advertência, um alarme interior que todos nós possuímos para nos
poupar dos sofrimentos e nos livrar, até da morte. Ele pode "acender" a qual-
quer momento do dia ou da noite, principalmente à noite, quando estamos
cansados e nossa capacidade de defesa está em níveis mais baixos. Cabe a
nós então, decidir que atitude adotaremos em relação a ele. Podemos abafá-
lo, reprimi-lo ou desviar a atenção dele e dessa forma tentar apagá-lo. Mas
podemos também "parar o carro no acostamento" para fazermos um exame da
nossa conduta e desse modo sabermos o que esse alerta tem a nos dizer.
As teorias da psicologia freudiana tentaram abafar o sentimento de culpa,
visando reduzir a sensibilidade do "culpômetro". Freud acreditava que tanto o
nosso superego como as mensagens que ele dirige ao ego e ao id são constituídos
principalmente, de pregações idealistas dos nossos pais. Ninguém conseguiria
viver de acordo com os padrões propostos por eles. Essa idéia deu origem a
muitos conceitos populares, e por causa disso a sociedade hoje está cheia de
gente que sofre de depressão ou tem atitudes de rebeldia, devido a reprimidos
sentimentos de culpa.
Entretanto, se acatarmos e compreendermos de maneira adequada, os avi-
sos que nos vêm do sentimento de culpa e efetuarmos as correções necessárias,
podemos recuperar o equilíbrio emocional,desfrutando melhor a vida. Essa é a
grande vantagem do sentimento de culpa, quando temos a percepção e reação
corretas diante dele. Dessa forma, ele se torna para nós, placas sinalizadores
que nos indicam a direção a seguir.

ESPÍRITO

A última categoria de tijolos usada para a edificação da personalidade, diz


respeito à área do nosso ser pelo qual nos relacionamos com o mundo espiritu-
al ou sobrenatural. A "Nova Era" com suas correntes correlatas, como a "nova
consciência" e o "pensamento novo", vêm dando grande ênfase ao fato de que
o homem é um ser espiritual. A ciência médica, com seu movimento holístico,
está pondo em relevo as emoções, numa tentativa de utilizar os poderes e re-
cursos da alma, para a cura das enfermidades.
A Ora. Elizabeth Kubler-Ross, reconhecida internacionalmente como auto-
ridade em questões relacionadas com a morte, tem realizado pesquisas com
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da REjEIçãO - 83

médiuns para tentar conhecer melhor o assunto. Embora esses métodos sejam
duvidosos, evidenciam o fato de que existe hoje um anseio por conhecer o so-
brenatural.
O fato é que, após várias décadas de um racionalismo cético, o homem está
voltando sua atenção para o espírito. A Bíblia, o mais antigo e mais fidedigno
documento que trata do espírito, afirma o seguinte: "O espírito do homem (o
fator da personalidade que provém diretamente de Deus) é a lâmpada (a vela)
do Senhor, qual esquadrinha todo o mais íntimo do corpo"(Po 20:27).
A figura da vela é perfeita e se encaixa muito bem nesse contexto. Quando
alguém escolhe o prumo da rejeição em vez do prumo de Deus, começa a viver
na posição inclinada, destorcida, e isso afeta negativamente seu espírito.
Quando eu e minha esposa trabalhávamos na África como missionários, en-
contramos ali um mal que não conseguimos debelar, nem com nossos melhores
medicamentos. Alguns rapazes, no vigor da vida, sem nenhuma enfermidade
aparente, simplesmente deitavam e morriam. Anosso pedido, o intérprete pro-
curou conhecer a vida pregressa daqueles jovens e descobriu que todos tinham
sido vítimas de maldições de feiticeiros poderosos que os condenara a morrer
em determinada data.
O que se passou no espírito daqueles moços é muito bemilustrado pela cha-
ma de uma vela. Tão logo o indivíduo acatava e cria no seu destino, a "chama
de sua vela" ia ficando fraca e em seguida começava a agonizar. Por fim, ela se
extinguia como fora predito.
Essa ilustração aponta três tijolos existentes na parede da rejeição:

· APAGADO...
· MORRENDO...
· EXTINTO...

Tenho visto algo semelhante ocorrer com doentes em hospitais. É verdade


que há os que se recusam a morrer. Mas outros entram nesse processo, sem
esboçar a menor resistência.
Já observei vários casos assim. Uma pessoa sofre rejeição por diversas vezes
e acaba se convencendo de que é "rejeitável". Imediatamente, as emoções vêm
afirmar essa idéia e seu espírito torna-se como que prisioneiro dela. Começa a
perder as esperanças. Então sobrevêm nele o ...
84 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

· DESANIMADO
Para ilustrar a natureza desse tijolo, quero contar uma historinha. O inimigo
montou uma banca no mercado para vender suas mercadorias. O artigo com
preço mais caro era um instrumento de aparência bem estranha. Alguém per-
guntou a Satanás para que servia aquilo, e ele replicou:
"É o desânimo, minha arma mais eficiente. Vou trabalhando numa pessoa
com esse elemento, até que ela acabe chegando ao..."

· DESESPERADO
E, rindo satisfeito, ele continuou a revelar sua estratégia operacional.
"Assim que ela cai em desespero não é mais páreo para mim. Torna-se mi-
nha escrava e prisioneira. E como me sinto feliz quando levo os crentes a se
desesperarem com seu ministério, sua família, seus problemas financeiros, com
tudo enfim! Depois basta um empurrãozinho no momento certo e a oposição
que eles fazem ao meu reino termina para sempre."
Em seu imortal clássico evangélico O Peregrino, João Bunyan descreve em
cores vívidas, a triste situação de Cristão e Esperança (nomes fictícios ) quando
caem em poder do Gigante Desespero. Este os espanca e depois os lança num
calabouço fétido, sugerindo a eles que se matem.
"Para que desejam viver", indaga em tom zombeteiro, "se a vida é tão cheia
de amarguras?"

Motivos do desespero
Era tarde da noite. Fui para a cama, dando um largo bocejo. Nesse instante,
o telefone tocou.
"Bruce, vem cá depressa. Dion foi preso!"
O susto me despertou na mesma hora. Não conseguia acreditar. Além de
ser crente, membro de uma igreja da cidade, Dion era um amigo muito queri-
do. Enquanto me aprontava nervosamente, preparando-me para ir à delegacia,
meu pensamento era um só: "Deve haver algum engano."
Chegando à delegacia, já encontrei alguns dos líderes da igreja e eles
me deram detalhes da prisão do nosso amigo. Anteriormente, sua espo-
sa havia conversado comigo a respeito das tendências homossexuais do
marido. E agora dois policiais tinham armado um flagrante para ele num
local público e em seguida lhe deram voz de prisão, sob a acusação de
Parte I l Paredes de pROTEçãO decorrentes da REjEIçãO - 85

delito grave. (No país onde o fato ocorreu, a prática do homossexualismo


é considerada delito).
Conseguimos a libertação dele na mesma noite. Quando ele se aproximou
de nós, cabisbaixo e de ombros caídos, percebemos que sentia-se um homem
arrasado. A expressão do seu semblante era de desespero.
Na semana seguinte, eu e mais outra pessoa, passamos a reunir com Dion
regularmente. Devido ao forte sentimento de auto-condenação que o domina-
va e à humilhação de haver sido descoberto, Dion caíra no abismo do desespe-
ro e no da depressão. O jornal da cidade publicou um artigo sÓrdido relatando
o incidente e isso o deixou num desalento tão profundo que só pensava em
suicídio.
Mas todos os dias, eu e o outro amigo íamos à sua casa, sentávamos e oráva-
mos com ele. A princípio ficamos como os amigos de JÓ, sem saber o que dizer
ou como começar: "E eles permaneceram sete dias em silêncio, tomados de tristeza e
empatia por JÓ" (JÓ 2:11-13).
Ao contrário dos amigos de JÓ, porém, assim que abrimos a boca, sabía-
mos muito bem do que devíamos falar: pecado e arrependimento. O pecado
do nosso amigo já era público. Nossa maior batalha foi com sua profunda
auto-compaixão e auto-condenação. Estava convencido de que cometera um
pecado imperdoável e mais cedo ou mais tarde, cairia no inferno para viver em
tormento eterno.

Vendo que não conseguíamos demovê-lo de suas idéias de suicídio, nosso


único recurso era orar mais intensamente com ele. Certo dia, quando perseve-
rávamos em intercessão, aconteceu algo que nos reanimou. Já estávamos oran-
do com Dion havia uma hora quando notamos que ele começou a chorar de
maneira diferente. Suas lágrimas não eram mais de auto-piedade mas de alívio
e libertação. De repente tivemos a impressão de que ele estava se enxergando
sob uma nova perspectiva. Afinal disse entre lágrimas:
"Aba Pai!" (Pai amado!)
A partir daí, Deus em sua graça e misericórdia, começou a vir ao encontro
dele e a reavivar a chama da vela do seu espírito quase morto. Isso marcou o
início de uma nova fase. Dion abandonava uma vida de lascívia e perversão
sexual para entrar numa existência de amor e verdade.
Depois disso, ainda vivemos momentos difíceis, ajudando-o a atravessar os
meses seguintes mas a batalha mais dura já tinha sido ganha. Com o vício da
86 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

lascívia sob controle, Dion viu sua comunhão de amor com Deus crescendo a
cada dia. Passava mais tempo em oração e em meditação das Escrituras.
Foi então que Deus lhe deu uma revelação! Antes, ele estava servindo a
Deus por dever, como um escravo serve a seu senhor, em vez de servi-lo por
devoção, como um filho serve ao pai. Antes, seu relacionamento com Deus era
frio, teológico. Não experimentava um amor vibrante por Deus. Mas com o
passar do tempo, passamos a ver essa vitalidade restaurada, na medida em que
ele conhecia o "Aba Pai".

CONCLUSÃO

Quem alinha sua existência pelo prumo humano da rejeição, sofre um gran-
de dano que pode até roubar-lhe a vida. Nessa situação, os indivíduos mais
agressivos podem não aceitar passivamente a rejeição e adotar uma atitude
reacionária, alinhada pelo prumo da revolta. Aquele que se nega terminante-
mente a seguir o prumo da rejeição, pode estar se enveredando pelo caminho
que o levará a aceitar o da revolta. No capítulo seguinte,vamos examinar mais
detidamente essa questão.

APLICAÇÃO PRÁTICA

' Releia a explanação de cada tijolo que você assinalou.


' Procure descobrir que circunstâncias o levaram a colocar esses tijolos na
sua parede.
' Eles ainda afetam sua vida?
' O que poderá fazer para corrigir essas distorções?

Notas
'The Concise Oxford Dictionary of Cun'ent English, Oxford University Press,
1954.
'The Consise Oxford Dictionary, op. cit.
6
PAREDES DE PROTEÇÃO
DECORRENTES DA REVOLTA
Idi Amin Dada, o antigo governante de Uganda é um exemplo clássico de
um revoltado que chegou aos extremos. Pertencente ao povo núbio, uma
tribo nômade, na infância mudava constantemente de um lugar para o
outro, acompanhando a mãe. Nunca soube quem foi seu verdadeiro pai. Na
Uganda, os núbios eram do nível mais baixo da mais baixa classe social. Por-
tanto, a atitude da sociedade para com ele, obviamente, sempre foi de rejeição.
Já adulto, entrou para o exército e foi subindo de posto. Aí ele se insurgiu
contra a rejeição de que sempre fora vítima e passou a seguir o prumo da revol-
ta. Para compensar sua origem humilde e a falta de estudo, assumiu um com-
plexo de superioridade. Tornou-se um combatente obcecado, com um espírito
fortemente competitivo, disposto a empregar qualquer meio para alcançar suas
ambições políticas. Imitando Adolfo Hitler, a figura histórica que mais admira-
va, a partir de 1971,Amin assumiu atitudes temerárias, sendo responsável pela
tortura e morte de mais de 100.000 patrícios.
Idi Amin externava sua agressividade, principalmente na forma sádica
como torturava seus "inimigos" antes de atirá-los aos crocodilos. Seu espírito
controlador e possessivo manifestava-se em sua forte determinação de vencer
pela força bruta, astúcia e engano.
Além disso, seu orgulho pessoal não conhecia limites. Escreveu várias car-
tas à rainha da Inglaterra oferecendo seus préstimos para solucionar problemas
políticos e econômicos do Reino Unido. Chegou ao cúmulo de se oferecer para
ser assessor da rainha! Tinha atitudes tão defensivas em relação à sua auto-
88 - Paredes do Meu Comção i Bruce Thompson

FIGURA DE
AUTORIDADE
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REVOLTA

FIGURA12 HOMICÍDIO
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 89

ridade que era incapaz de dialogar com qualquer um que questionasse seu
poder. Criou um "governo por decreto", e qualquer pessoa que o interpelasse
ou discordasse da sua posição era eliminado. Esse era o único recurso que sabia
utilizar para silenciar quem quisesse questionar sua autoridade.
Foi atribuído a ele a seguinte afirmação:
"Eu, eu mesmo, me considero a mais importante figura política do mundo!"
Isso prova quanta ilusão ele alimentava com relação à prÓpria grandeza,
sem contar seu espírito dominador, manipulador, obstinado e presunçoso.

EMOÇÕES

Agora, então, examinaremos a parede da revolta, tijolo a tijolo. Como fize-


mos no estudo da parede da rejeição, sugiro ao leitor que assinale os tijolos que
reconhece que estejam presentes em sua personalidade. Inicialmente, veremos
os relacionados com as emoções.

· HOSTILIDADE
Certa vez, eu estava aconselhando um senhor de meia idade no Japão e fiz
menção de seu relacionamento com o pai. Ele saltou da cadeira, soltou um grito
estridente e com um golpe de caratê, quase partiu a mesa ao meio. A simples
lembrança do pai fizera com que sua mágoa que se achava encerrada no fun-
do do seu ser, viesse à tona, sob a forma de hostilidade. A raiva não somente
bloqueava sua profunda mágoa mas ainda impedia o desenvolvimento da sua
personalidade.
A raiva pode ser exteriorizada de maneira positiva mas o extravasar da
agressividade pode ser muito perigoso. A raiva, muitas vezes, tem origem em
mágoas sofridas. Se uma pessoa é continuamente magoada, sua raiva também
será contínua. Quem vive enfurecido, provavelmente abriga algum conflito in-
terno não resolvido ou uma mágoa profunda ainda não sarada. Quando um
indivíduo não encontra meios de externar essa raiva de forma aceitável, ela se
aprofunda. Esse processo pode gerar um comportamento instável. Primeiro
ele se controla excessivamente. Depois tem fortes explosões de cólera. Nesses
casos, as emoções podem acumular-se de tal maneira que a pessoa, ou se sente
profundamente deprimida, ou então abriga uma raiva explosiva, a única forma
de extravasamento que conhece. Quando alguém insiste em reprimir continua-
90 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

mente sentimentos dolorosos, eles poderão ser manifestados mais tarde, sob a
forma de doenças mentais ou distúrbios psicossomáticos.

· PRESUNÇÃO
A melhor definição de presunção é: qualidade de quem é desdenhoso,indi-
ferente aos outros, revelando alto grau de vaidade pessoal e egocentrismo. O
presunçoso geralmente enfrenta o problema da solidão. Todos os que poderiam
ser seus amigos se mantêm distantes dele, devido a sua atitude desdenhosa e
pelos comentários depreciativos que faz. Esta atitude de julgar-se superior aos
outros afasta as pessoas, que se sentem menosprezadas e diminuídas.
Muitas vezes o presunçoso procura aumentar seu senso de valor às custas
dos outros, e assim perde a companhia deles.

· SOFISTICAÇÃO
Em alguns casos, esse tijolo pode ser chamado de "pseudo sofisticação".
Geralmente é o individuo egocêntrico e presunçoso que busca a sofisticação.
Derivado do termo "sofisma", que significa um argumento falso com objetivo
de enganar uma pessoa, sofisticar significa alterar alguém ou alguma coisa,
a ponto de privá-la da sua simplicidade inerente, com o objetivo de enganar.
Significa ainda, modificar algo com fins de adulterá-lo ou torná-lo artificial.'
Entre as muitas pessoas a quem aconselho, as que parecem ser altamente
sofisticadas, na verdade são artificiais e falsas. Dão a impressão de serem equi-
libradas e tranquilas, procuram manter um ar de independência e autocon-
fiança, tentando mostrar que está tudo sobre controle. No fundo, porém, são
inseguras, sofrem do complexo de inferioridade e de diversos tipos de fobias.
A presunção e essa "pseudo sofisticação", muitas vezes criam sérios empe-
cilhos para que tenhamos bons relacionamentos afetivos. A primeira impressão
que temos dos outros, com frequência provoca em nÓs uma reação muito forte,
positiva ou negativa. De onde vêm estes sentimentos fortes? Será que podemos
confiar nessas impressões? Gostaria de dar minha opinião pessoal sobre isso.
Eu creio que sempre que conhecemos uma pessoa, nosso "computador" cere-
bral faz associação entre ela e alguém que conhecemos no passado. A reação que
teremos para com esse novo conhecido poderá ser favorável e positiva ou então
fria e hostil. Vai depender do relacionamento que tivemos com a outra pessoa. Se a
lembrança for negativa, nossa tendência será ignorar esse indivíduo. Relutaremos
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 91

em relacionar com ele. Se porém, a lembrança for positiva,prontamente tentaremos


iniciar um relacionamento. O que não reconhecemos porém, é que quanto mais
tentarmos evitar um relacionamento, mais dificuldade teremos para cultivá-lo. No
entanto,se nos empenharmos em superá-lo, veremos que isso nos dará as melhores
oportunidades de crescermos e resolvermos a mágoa do passado.
O erro do nosso computador interno é que ao passarmos aquela informa-
ção, ele não faz distinção entre o indivíduo que conhecemos no passado e o de
agora. Infelizmente, ao receber tal "mensagem", agimos como se ele estivesse
nos dando toda a verdade. Esse é apenas um exemplo do quanto esse nosso
"computador" é falho. Precisamos aprender a atualizar e interpretar adequa-
damente o "velho programa".

· EUFORIA E DEPRESSÃO
Em 1973, Joshua Logan, o talentoso diretor e produtor teatral americano
disse o seguinte:

"A depressão é aterrorizante. Contudo a euforia, sua irmã gêmea é


ainda pior. Embora, a princípio possa parecer bastante atraente, à medi-
da que vai aumentando, nos coloca em perigo maior do que quando nos
encontrávamos nas profundezas da depressão ."

Logan fez está afirmação numa palestra proferida perante a Associação Mé-
dica Americana, onde falou sobre seus 30 anos de luta com a mudança de humor,
da euforia para a depressão.
É normal experimentarmos pequenas variações de humor diante dos con-
flitos ou pressões. As crises que nos ocorrem são como um quebra-molas numa
estrada, e do mesmo modo como os amortecedores do carro fazem o movi-
mento de molejo, assim também nosso humor sobe e desce. Isso é normal. Da
mesma forma como o carro acaba se acomodando ao peso que leva, também
nós nos acomodamos às tensões, a não ser que elas atinjam um grau extremo.
Nesse caso, nosso humor pode atingir um alto grau de ansiedade e euforia ou
cair para um estado depressivo. Mas ele pode ainda oscilar agitadamente entre
os dois estados. Se essas oscilações de humor se agravarem muito, podem cau-
sar um colapso do controle emocional, o que é chamado de psicose. As medi-
das preventivas para esse estado seriam repouso e solução do conflito interior.
l
92 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

INTELECTO

A segunda categoria que desejo considerar é a que se acha relacionada com


nossos problemas na área de pensamentos e as atitudes que dela resultam.
Continue marcando os "tijolos" que reconhece serem presentes na sua vida.

· COMPLEXO DE SUPERIORIDADE
Encontramos este tijolo com mais frequência no mundo acadêmico, que em
muitos casos, tornou-se uma espécie de casta. Muitas vezes, as pessoas que
possuem altas qualificações só relacionam com membros de classes inferiores
em relação a questões básicas. Aqueles que constantemente exibem uma ati-
tude de superioridade, na verdade o fazem, para compensar sentimentos de
inferioridade. Sempre que "rebaixam" alguém, sentem- se elevados.
Em geral, este recurso de se julgar melhor que os outros não passa de uma ten-
tativa de compensar um doloroso e reprimido sentimento de inferioridade. Tais
sentimentos podem ter sidos gerados por uma criação muito rígida ou por zom-
barias de companheiros de infância. Mas, o fato é que a superioridade contribui
muito para isolar o indivíduo, inviabilizando bons relacionamentos com outros.

· COMPETITIVO
Para um observador desavisado, Graham dava a impressão de estar no auge
da sua vida e ministério, achando-se muito bem ajustado. Certo dia, quando
estava no meu consultório, ao mencionar o tempo, a energia e o esforço que
dedicara ao serviço cristão começou a chorar. Sentia-se exausto, à beira de um
colapso nervoso. E agora, percebia que quase tudo que fizera, fora apenas para
conquistar a admiração das pessoas, e até mesmo de Deus. Como chegara a este
ponto? Que circunstâncias o haviam levado a viver de forma tão estressante?
Como muitas pessoas, ele fora vítima de uma criação errônea. SÓ era amado
e recebia demonstrações de apreço quando procedia corretamente. O amor dos
pais por ele era condicionado a uma série de exigências e padrões, como por
exemplo tirar boas notas na escola, ter um excelente desempenho nos esportes
e em outras áreas da vida. Contudo, mesmo quando seu desempenho era o me-
lhor possível, eles ainda o criticavam muito e as demonstrações de apreço eram
raras. Ao incentivá-lo, usavam termos que davam a entender que ele poderia
ter se saído melhor.
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 93

Quantas e quantas vezes ele ouvira a frase:


"Nenhum filho meu pode tirar essas notas na escola!"
O conceito que formou foi o de que sem umbom desempenho em tudo, não
seria amado. Esse amor condicionado leva a criança a estabelecer metas e pa-
drões inatingíveis. É por causa desse tipo de criação que muitos adultos vivem
tentando aprimorar seu desempenho na vida, apenas para receber aprovação
e amor dos outros. Algumas pessoas agem deste modo, até para com Deus.
Trabalham para ele no desejo de conquistar um amor já plena e liberalmente
oferecido ao homem, mas que elas ainda não se apropriaram dele.
Alguns anos atrás, Deus me revelou que era muito importante que eu desse
demonstrações de afeto aos meus filhos Michael e Lionel nos momentos em
que não estivessem fazendo nada de especial. Então, quando os via sentados
no chão, montando seus brinquedos de armar, dos quais tanto gostavam, cu
lendo um livro, eu os abraçava e falava para eles o quanto os amava, simples-
mente pelo fato de serem meus filhos. Fiz isso durante vários anos. Acredito
que quando eles tornaram-se adultos, compreenderam que eu, seu pai, os
amava, não pelo que eles pudessem fazer mas sim, pelo que eles eram e são.

· DOMINADOR
Hoje em dia, muitas mulheres estão assumindo o papel de liderança no lar
e passando a dominar todo o relacionamento conjugal. Este tipo de situação
existente nos casamentos modernos está sendo alvo da atenção e dos estudos
dos sociólogos.
O que vem provocando esta mudança na família? Esta dominação femini-
na é fruto de sentimentos de insegurança, que por sua vez são causados por
carência afetiva. Os maridos, ou não sabem, ou já se esqueceram como amar
a esposa. É verdade que eles têm desejo por ela, mas parecem ignorar a dife-
rença entre lascívia e amor. Esses dois conceitos têm sido empregados como
sinônimos, quando, de fato, são quase antônimos, opostos. Quando o homem
só se relaciona com a esposa na base da lascívia, ela se sente usada tornando-se
insegura. O resultado é um forte sentimento de frustração que pode até causar
frigidez. Numa tentativa de evitar o problema, ela procura manipular o côn-
juge de forma que ele entenda sua necessidade de ser amada. Eventualmente,
essas estratégias de dominação podem destruir o relacionamento do casal, o
que ocorre em muitas famílias hoje.
94 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

· RÍGIDO
Rígido é "o que é duro, não flexível e que não se dobra".' Certa vez, um
aluno meu demonstrou claramente na sala esta distorção da personalidade. O
episódio se deu num período de debate após uma aula expositiva. Ele levantou
e se pôs a externar sua opinião sobre o assunto, de forma bem eloquente. Seus
colegas logo se manifestaram, alguns discordando dele com toda sinceridade.
Fiquei em silêncio, observando a tensão que se formara e permitindo que a dis-
cussão continuasse. Notara que o jovem se mantinha inflexível, firme em sua
opinião, sem acatar os argumentos dos outros. Afinal, ele fez uma última e de-
sesperada argumentação em voz bem alta e saiu da sala de forma intempestiva.
Sua identidade pessoal achava-se intimamente ligada às suas opiniões e por
isso ele não podia tolerar a idéia de que elas estivessem erradas. Aceitar o fato
de que outros tinham opiniões contrárias às suas, seria o mesmo que admitir
que estava errado, o que depreciaria bastante seu senso de valor.
Outros indivíduos associam sua segurança a certas estruturas fixas em casa,
no trabalho ou na escola. SÓ de pensar que elas possam ser modificadas, eles
têm reações fortes. O fato é que esta inflexibilidade bloqueia nosso desenvol-
vimento. Um exemplo deste tipo de distorção é a atitude do marido que não
admite que a esposa ao arrumar a casa mude de lugar sua poltrona de assistir
à televisão.
Qual é a reação quando as estruturas da nossa vida são modificadas ou
removidas? Será que nosso senso de identidade pessoal se acha associado a
ambientes familiares?

· OBSTINADO
ABíblia relata a história de uma mula obstinada (Nm 22:21-33). No fim des-
cobrimos que o verdadeiro obstinado era Balaão, o dono do animal. Ele selou
a montaria bem cedo pela manhã e partiu para uma longa viagem. Ainda não
tinha andado muito, quando de repente, a jumenta se afastou da estrada, enve-
redando pelo campo. Irritado, o homem espancou o animal para fazê-lo voltar
ao caminho. Mas ela bateu num muro de pedras, comprimindo nele o pé do
seu dono. Novamente ele a espancou. O que ele não sabia é que ela agia assim,
porque na estrada havia um anjo com a espada desembainhada. A jumenta des-
viou do caminho três vezes para evitar que seu dono fosse atingido pela espada
do anjo. Nas três vezes ele a espancou. Por fim ela caiu com o homem ainda em
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 95

seu dorso e ele ameaçou matá-la. De repente os olhos de Balaão se abriram e ele
avistou, à sua frente, o anjo do Senhor, ainda com a espada na mão.
Como vimos através da história de Balaão, a ferrenha teimosia humana é
um dos maiores problemas de Deus. Muitas vezes, a obstinação tem origem na
insegurança que nos domina ao depararmos com situações desconhecidas. O
resultado é que passamos a não confiar em Deus e a não obedecê-lo. Ela pode
também ser fruto de hábitos que formamos no decorrer da vida ou de atitudes
que adquirimos devido às figuras de autoridade que abusaram da sua posição
em relação a nós.

· NÃO ENSINÁVEL
Algumas pessoas relutam em admitir que aprenderam algo novo. Para elas,
isso implica em se diminuírem, pois o senso de identidade delas está associado
ao conhecimento que possuem. Quando enfrentam um problema, em vez de
extraírem dele alguma lição, modificando o que for necessário, elas se vêem
numa crise de identidade. A história de Igreja está marcada por divisões cau-
sadas por este espírito de resistência ao aprendizado. A Bíblia não afirma que
a nossa unidade se consolidará quando obtivermos unanimidade em questões
doutrinárias. O que ela diz é que "nada poderá nos separar do amor de Cristo". É o
amor e não o conhecimento que nos ajuda a aprender uns com os outros. Pelo
amor podemos comunicar verdades uns para os outros, e assim, "crescer até a
estatura de Cristo", que é o único que tudo sabe e conhece.

ESPÍRITO

Aúltima categoria de tijolos pertence à esfera do espírito, a parte do homem


pela qual ele se relaciona com o mundo invisível ou sobrenatural. Continue
marcando os "tijolos" que você reconhece serem presentes em sua vida.

· CONCEPÇÕES ILUSÓRIAS
Uma idéia errada que se enraíza em nossa mente pode vir a tornar-se um
falso conceito. Uma senhora de meia-idade que fora traída pelo marido teve
muita dificuldade de perdoá-lo. A todo instante, imaginava-o tendo casos com
outras mulheres. Por causa da sua desconfiança seu casamento quase desmo-
ronou, apesar das suas suspeitas terem fundamento. Se não corrigirmos estes
96 - Paredes do Meu Comção i Bruce Thompson

falsos conceitos, eles podem se tornar uma paranOia, psicose, sendo necessário,
até mesmo, um acompanhamento terapêutico especializado.

· RESSENTIMENTO E AMARGURA
O ressentimento brota no nosso coração quando nos recusamos a perdoar
quem nos magoa. Sempre que alguém nos ofende ou magoa, seja através de
uma palavra, gesto ou uma reação forte, temos a alternativa de perdoá-lo ou
não. Se optarmos pelo perdão, Deus pode perdoar nossos pecados mas se der-
mos lugar ao ressentimento, estaremos bloqueando o perdão divino e abrindo
a porta do coração para que entre a amargura.
A Bíblia adverte que tenhamos o cuidado de não permitir em nossa vida
nenhuma raiz de amargura, pois por ela muitos podem ser contaminados (Hb
12:15). Deixando a amargura brotar em nosso coração, estamos abrigando uma
erva daninha de raiz muito forte. E se permitirmos que está erva seja enraizada,
ela alastrará e tomará conta dos nossos corações, contaminando nossas mentes,
espíritos e corpos.
Na horta da nossa casa no Hawai, temos lutado muito com um tipo de mato
que é uma verdadeira praga. Podemos arrancá-lo sem grandes dificuldades
quando ainda está pequeno, com cinco ou seis centímetros de altura. Porém, se
o deixarmos crescer, não conseguimos mais extraí-lo. Sua raiz é longa e cheia
de nódulos e precisa-se usar uma picareta para cortá-la.
Amar implica em perdoar uns aos outros. Quem guarda rancor passa a ter
um espírito endurecido, amargurado. A amargura tem destruído muitos casa-
mentos, famílias, sociedades e não desejamos que venha nos destruir também.
Além disso, ela predispõe nosso organismo a doenças mentais e físicas que só
poderão ser totalmente curadas, se primeiro nos dispusermos a perdoar nosso
ofensor.

· CRÍTICO
A atitude negativa de crítica nos leva ao descontentamento, e isso mata em
nós a gratidão. Consequentemente, nossa atenção se volta para nós sob a forma
de auto-piedade. Às vezes tentamos mascarar nossa tendência a depreciar os
outros, dizendo que nossa crítica é "construtiva". Na verdade, porém, o que
ocorre é exatamente o contrário, pois sua origem é destrutiva. A crítica exacer-
bada é uma prática negativa, capaz de arrasar os outros. Precisamos aprender
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 97

a reconhecer a diferença entre o "pensamento crítico", que é algo que aguça


nossa percepção das coisas, e o "espírito de crítica", cuja única função é retalhar
nosso próximo.

· ESPÍRITO DE CONTROLE E POSSESSIVIDADE


Estes dois tijolos que também podem estar presentes nas paredes do coração
humano estão intimamente associados. Um produz o outro. Quando nos senti-
mos inseguros e magoados, tentamos exercer controle sobre alguém, na tentativa
de manter uma posição de domínio. Mas, ao utilizarmos este recurso continua-
mente, nos tomaremos cada vez mais possessivos e tenderemos a querer deter-
minar toda a vida da outra pessoa. Essa conduta equivocada,constitui um perigo
mortal para os relacionamentos, pois asfixia a individualidade do outro.

· MANIPULAÇÃO
Vamos examinar agora, aquele que talvez seja o pior de todos os tijolos da
nossa parede. A manipulação é um traço maligno e destrutivo da personalida-
de, que tem o potencial de fingir amar, mas que na realidade,bloqueia e destrói
o amor. Por isso é uma das principais causas dos conflitos no casamento e da
desintegração das famílias.
Podemos definir a manipulação como a tentativa de controlar pessoas ou
circunstâncias, por meios indiretos, simulados. O Dicionário Webster fala da
manipulação como algo insidioso. Ela é:
Traiçoeira: espera a hora certa de encurralar a vítima.
Sedutora: é perigosa mas ao mesmo tempo atraente.
Sutil: vai envolvendo gradativamente, para que só seja percebida depois
que estiver bem enraizada. Possui um efeito gradual, porém cumulativo.

A manipulação em contraste com o amor

1. Por natureza, a manipulação' é um ato desonesto. O amor, ao contrário,


opera na base da sinceridade. Aquele que usa de manipulações é desonesto,
pois emprega estratagemas, manobras, gestos falsos e encenações. Às vezes
fica difícil saber como aquele indivíduo é, de fato. O manipulador está continu-
amente se arriscando. A pessoa que ama, porém, sente-se livre, sempre em paz
consigo mesma. Pode ser autêntica e totalmente sincera com os outros.
98 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

2. O segundo aspecto da manipulação é a visão imperfeita dos fatos. O


manipulador tem uma visão parcial das coisas, enxerga apenas o que quer
enxergar, ouve apenas o que lhe interessa. Mesmo que alguém exponha para
ele os fatos, de forma bein clara, em termos concretos, ele não ouvirá uma
palavra do que é dito. Todo seu pensamento converge para o proveito que pode
. tirar da situação e por isso, sua consciência fica cauterizada.

Já a pessoa que ama, consegue manter uma ampla diversidade de interesses


e receber impressões de diversas fontes. Ela não se acha presa nas coisas. Sua
atitude calma, permite que aprecie a natureza, a música, as artes, as belezas do
mundo.

3. O terceiro aspecto da manipulação é o exercício do controle. O manipulador


vive como se estivesse sempre jogando xadrez, tendo como obietivo supre
mo, dar um xeque-mate no adversário. Precisa obter o controle áa situação a
qualquer preço e porisso está sempre está concentrado no jogo da vida. Aquele
que ama, ao contrário, não sente necessidade de controlar nada. É livre para se
expressar e vive sem tensões.

4. Um quarto aspecto da manipulação é a desconfiança. O indivíduo com


espírito manipulador, tem muita dificuldade em confiar nos outros e em decor-
rência disso não consegue confiar nem em si. Está sempre maquinando algo
para manter o domínio, o controle da situação em seu relacionamento com os
outros. Já a pessoa que ama, goza de bons relacionamentos, pois sente-se à
vontade para confiar.
Infelizmente muitos jovens quando se casam, já o fazem, com idéias de
manipulação. Um rapaz casa com uma moça pensando apenas em ser amado
por ela ou a moça casa com o rapaz, para receber amor e segurança. Ambos
são movidos pelo desejo de manipular. O que é um péssimo alicerce para o
relacionamento conjugal.

5. O que é o amor? Qual a definição bíblica de amor? Amar é iniciar um


relacionamento com o objetivo de dar. Já na manipulação, busca-se um
relacionamento o objetivo de receber. Por que "Deus amou o mundo de tal maneira"
que recebeu? NãO! "Poi' que Deus amou o inundo de tal maneira que deu seu filho
unigênito" (Jo 3:16). Nosso conceito de amor está tão distorcido que nossa intenção
ao
Parte I l Paredes de pROTEção decorrentes da revolta -'99

amar alguém é obter dele alguma coisa. O pensamento geral é: "Preciso de uma
esposa ou esposo". Mas, não é essa a motivação que Deus determinou para
o casamento. Ela destoa do prumo divino do amor. O conceito de amor está
completamente distorcido em nossa sociedade. A mídia tem nos bombarde-
ado com conceitos sobre algo que ela chama de amor mas que na verdade,
não passa de lascívia. "
.
MANIPULAÇÃO AMOR
1. Age com desonestidade Age com sinceridade
2. Visão distorcida peio interesse Visão clara e aberta
3. Manter o controle Mantém a liberdade
4. Inspirada na desconfiança Livre para confiar
5. A essência é receber A essência é dar

Tipos de Manipuladores

Vamos analisar aqui, quatro tipos de manipuladores:

1. Manipulador ativo
O único pensamento desse indivíduo é manter o controle da situação a
qualquer preço. Quer ser o "maioral" e estar por cima em tudo. Vive ressal-
tando seus pontos fortes e nunca reconhece suas fraquezas. No relacionamento
com os outros, sempre aparece como o mais forte, procurando tirar vantagem,
todas as vezes que puder.

2. Manipulador passioo
Esse é mais difícil de ser detectado pois sua estratégia de manipulação é
dissimulada. Seu objetivo não é exercer o controle, mas sim, evitar ofender os
outros. Para isso,assume o papel do sofredor, do carente e muitas vezes utiliza
o tijolo da auto-piedade, com o objetivo de se passar por "coitadinho" e assim
obter o que deseja. Demonstra-se infeliz e nesta condição, manipula os outros
para satisfazer sua carência afetiva. Enquanto o manipulador ativo se impõe
para obter o que deseja, o passivo abdica de algo com a mesma finalidade.
Certa vez, tive a oportunidade de ver uma ilustração viva dessas situações.
Fomos visitar uns amigos e levamos conosco nossa cachorrinha Sheba. Quan-
100 - Paredes do Meu Cojü\ção l Bruce Thompson

do estávamos alegremente cumprimentando os amigos, de repente, ouvimos


um forte rosnado atrás de nós. Nos viramos e vimos Sheba toda entesada, a
cauda em pé, os pêlos eriçados de irritação. À frente dela, estava o grande cão
negro dos nossos amigos, a imagem da docilidade, deitado no chão, as patas
dianteiras erguidas e a língua para fora. Instantes depois, os dois já estavam
brincando, correndo um atrás do outro e foi assim o tempo todo em que esti-
vemos lá. Evidentemente,Sheba assumira a posição de comando e o outro a de
comandado. Pelo menos nessa ocasião.

3. Manipulador competitivo
O terceiro tipo de manipulador é o competitivo. Esse é um pouco mais ver-
sátil. Às vezes age como o dominador e em outras,como sofredor, dependendo
da situação. É só uma questão de mudança de tática. É mais habilidoso e chega
a ser um profissional na arte de criar formas de manipulação. Seu objetivo é
ganhar, seja em que posição for. Todos os demais são seus competidores.

4. Manipulador indiferente
É distinguido dos outros porque ele não gosta dos que estão por cima e
dos que estão por baixo, nem se importa de ser o "maioral" nem o "sofredor".
Até diz que não se importa com posições. De fato, ele não gosta de pessoas,
e está preparado a dizer que não se importa com o jogo delas. Mas, quando
afirma isso, na verdade, está manipulando a si mesmo de forma sutil. Nega-se
a admitir o que sente, enganando-se. Na realidade, ele se importa e interessa
sim pelo que acontece ao seu redor, mas ao negar e reprimir esses sentimentos,
manipula a si próprio. E faz tudo isso em nome do amor. Esse tipo de atitude é
uma arma sutil e poderosa para destruir relacionamentos.

Os manipuladores estão sempre em ação. É como se estivessem em um eter-


no jogo de xadrez. Submetem-se a tensões e pressões numa ânsia constante de
atingir seus objetivos. O que será que estão buscando e nunca conseguem obter?
Se seguirmos a linha do prumo humano da rejeição até o fim, descobriremos
que o ato supremo da auto-rejeição é o suicídio, e o crescente índice de mortes por
suicídio é alarmante. Aquele porém que opta pelo prumo humano da revolta e
que adota essa atitude como norma de vida, tem grande probabilidade de algum
dia, cometer um homicídio por extravasar sua raiva nos outros e não em si.
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 101

TIPOS DE MANIPULADORES

FIGURA DE AUTORIDADE

"i .

2. Passioo : 3. Competitivo
Tende a se aproximar do Tende a se aproximar do
Modelo de Autoridade : Modelo de Autoridade
bajulando I competindo

mm

4. Indiferente ! 1. Ativo
Tende a se afastar do Tende a se afastar do
Modelo de Autoridade Modelo de Autoridade
isolando-se I criticando

REjEIÇÃO (""' REBELIÃO

A ÚNICA OPÇÃO
Mas alguém pode achar que essas opções de seguirmos o prumo humano
da rejeição ou o da revolta nos deixa sem saída. Não existe nenhuma outra
alternativa? Existe sim. A verdadeira: o prumo divino. Mas vamos devagar!
Primeiro é bom conhecer todas as implicações a respeito dela. Se optarmos
pelo prumo divino SÓ para escapar do suicídio ou do homicídio, precisamos
lembrar que estamos abraçando a alternativa de sermos crucificados.
"Bela alternativa!" Dirá alguém.
Mas o que significa "ser crucificado"? Na essência,se nos dispusemos a viver
segundo o prumo divino, temos que aceitar a cruz de Cristo. Temos que crucificar
102 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

os desejos carnais e impuros que nos inspiram a sempre fugir de algo que nos
desagrada. Temos que nos dispor a sermos purificados quanto aos velhos desejos
e seguirmos os novos, em verdade e amor, fazendo perecer na cruz o egoísmo,
egocentrismo, a lascívia e a ganância, para que Cristo viva em nós.

"Quem acha q sua vida, perdê-la-á. Quem, todaí'ia, perde a oida por minha
causa, achá-la-á" (Ml 10:39).

No próximo capítulo, veremos como as paredes que erguemos, determinam


o tipo da nossa personalidade. Veremos ainda, o quanto essas paredes afetam o
indivíduo, a família e a sociedade.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Reveja os tijolos que você reconhece em sua vida. Como eles foram parar aí
nas paredes do seu coração? Consegue lembrar que situação deu origem a eles?
Medite sobre as circunstâncias que causaram o aparecimento desses tijolos.
Como eles o afetam?

Notas
'The Concise Oxford Dictionary, op. cit.
'The Concise Oxford Dictionary, op. cit.
'Everett L. Shostrom,Man theManipulator (Homem o manipulador),Abing-
don Press, Nashville.
7
CADA UM COM SUA
PRÓPRIA MANEIRA DE VIVER

Essa análise dos tijolos das paredes que erguemos em torno do coração,
por vezes, pode nos deixar meio deprimidos, principalmente quando
nos conscientizamos de quanto tempo eles vêm bloqueando nossas vi-
das. As paredes, obviamente, simbolizam nosso sistema de defesa,bem como o
tipo de personalidade que vai se formando, a partir de uma base de rejeição ou
revolta. Neste capítulo, vamos examinar quatro tipos de personalidades e ver
como e por que elas adquirem tais feições. Esses quatro não são os únicos tipos
de personalidades existentes, mas são os mais comuns em nosso meio.
Ao estudar a formação do caráter, devemos lembrar que a personalidade é
constituída de traços hereditários e traços adquiridos. A polêmica em torno da
questão "herança versus meio ambiente" demonstra que nem sempre é fácil
distinguir os traços fixos da personalidade dos que são variáveis. Entretanto, as
Escrituras nos fornecem algumas orientações claras a respeito destas questões.
Neste estudo, estaremos examinando os aspectos adquiridos ou suscetíveis a
mudanças, que Paulo menciona em Efésios 4.13, onde ele fala que "precisamos
crescer até chegarmos à estatura da plenitude de Cristo."

1. A PERSONALIDADE "CORDATA"
Apersonalidade cordata tem como referência de vida o prumo da rejeição, e
por isso procura estar cercada de importantes figuras de autoridade com o ob-
jetivo de satisfazer suas carências emocionais. Para entendê-la melhor, vejamos
algumas das atitudes que assume:
104 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

"Eu o ajudarei naquilo que você quiser."


"Estarei a seu dispor a qualquer hora."
"Estarei sempre ao seu lado."
"Sempre demonstrarei apreço por você."
"Orarei por você fielmente, todos os dias."

Mas por outro lado, ela quer da figura de autoridade, o seguinte:


"Preste atenção em mim."
"Demonstre apreço por mim."
"Seja bom comigo."
Parte I l Cada um com sua própria maneira de viver - 105

"Ouça o que tenho a dizer."


"Tenha Interesse por mim."
"Quando eu precisar de você, venha socorrer-me."
"Não me rejeite, nem me decepcione."

Essas pessoas podem ser excelentes assistentes e auxiliares. Geralmente são


indivíduos eficientes e ativos, sensíveis e carinhosos, sempre um passo à frente
do líder. Os tipos de trabalho que mais os atraem são o aconselhamento ou
atividades que lhes permitam servir os outros.

As atitudes do cordato podem ser resumidas em duas frases:


- "Farei o que você quiser!"
- "Por favor, me ame!"

Todavia, o cordato pode representar muitos perigos, não só para si, mas
também para aqueles com quem relaciona. Ele busca acima de tudo, a satisfa-
ção da sua carência afetiva e da sua necessidade de aceitação. Para isso, não he-
sita em sacrificar certos princípios e até a verdade. É o tipo de pessoa que tende
a procrastinar e a agradar mais aos homens do que a Deus. Devido ao seu forte
desejo de ser aceito e amado é vulnerável ao pecado da imoralidade. Se sofre
uma desilusão com a figura de autoridade, mesmo que tudo não passe de fruto
da sua imaginação, ele pode mergulhar fundo numa depressão ou rejeição. E
quanto mais isso acontece, mais ele se retrai e sua capacidade de confiar nos
outros é reduzida. Muitos dos nossos líderes têm sucumbido diante desse laço
sutil que é a personalidade cordata, em relação aos outros ou a eles mesmos.
Encontramos na pessoa de Saul, um exemplo de personalidade cordata (I
Sm 15:24). Após obter uma grande vitória contra os amalequitas, o rei Saul
desobedeceu a ordem divina para que destruísse os inimigos. Buscando a acei-
tação e o reconhecimento humano, ergueu no monte Carmelo um monumento
em sua própria homenagem. Como tinha temor dos homens e queria a apro-
vação deles, não teve temor de Deus e nem o obedeceu. Essa atitude de com-
placência, acarretou a perda do reino, em decorrência de um gradual e infeliz
declínio da sua liderança.
Quando um indivíduo de personalidade cordata sofre muitos reveses,
pode começar a assumir outro tipo de personalidade.
106 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

2. A PERSONALIDADE "DERROTISTA"

"Ninguém liga mais para mim!"


"Ninguém me põe a par do que está acontecendo!"
"Ninguém mais tem tempo para conversar comigo!"
"Ninguém me visita mais!"
"Ninguém vem orar por mim quando estou abatido ou doente!"
"Ninguém gosta de mim!"

Quem convive com este tipo de indivíduo, mais cedo ou mais tarde vai
ouvir essas queixas. A grande luta dessa pessoa é saber que é querida e útil aos
outros. Ainda há outras falas típicas dessa personalidade:
"Não adianta tentar mais!"
"Já fracassei tantas vezes!"
"Sou um fracassado mesmo!"
"Nunca vou conseguir nada!"
"Vou ser sempre assim!"
"Não consigo mais viver assim!"
"Não dá mais!"
"Desisto!"
"Ó Deus, por que o Senhor não dá um jeito em tudo isso?"

Essa atitude negativa não é incomum na sociedade de hoje. As duas frases


que melhor caracterizam esse tipo são:
- "Ninguém me ama!"
- "Desisto!"

Certo dia, entrou em nossa clínica, um rapaz aparentemente jovem mas


que andava arrastando os pés. Estava tão encurvado e desalentado que parecia
bem mais velho. Aproximou-se cabisbaixo, com passos pesados e correu os
olhos pelo aposento.
Respondeu com voz abafada às perguntas que fizemos a ele, sempre com
um sim ou um não. Por mais que tentássemos ajudá-lo, nada do que dizíamos
parecia ter efeito sobre ele. Era como se estivesse vestido com uma armadura
impenetrável que bloqueava todas as nossas tentativas de vencermos suas bar-
Parte I l Cada um com sua própria maneira de viver - 107

reiras emocionais. Após uma longa sessão de aconselhamento, começamos a


achar que ele era um caso perdido. Há anos abrigava um sério conflito interior,
gerado pelo fato de ter se entregado à lascívia. Quando afinal nos procurou,
encontrava-se tão deprimido e enterrado em si que tivemos a impressão de
que não havia mais nada que pudéssemos fazer. Sua crise tornara-se crÔnica.
Para sobreviver na vida real, o rapaz se refugiara num mundo de fantasias,
sob a forma de uma psicose maníaco-depressiva. Vi nele, um exemplo de uma
grande verdade da Palavra de Deus: "O salário do pecado éa morte" (Rin 6:23).
Vejamos o caso de Susan. Devido a uma enfermidade na infância,ela ficara
com um pequeno defeito físico. Das recordações que tinha, guardava a im-
108 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

pressão de que sempre fora alvo da zombaria dos amiguinhos. Por causa disso,
esforçava-se o tempo todo para agradar os pais, professores e coleguinhas, com
o objetivo de conquistar deles o amor e a aceitação dos quais tanto necessitava.
Como era uma moça bonita, casou muito jovem, teve seis filhos, um após o outro.
Depois de algum tempo, o esforço que fazia para agradar ao marido e aos
filhos tornou-se uma verdadeira batalha. Em vez da aprovação que ela tanto
desejava, só recebia críticas. Por mais que se esforçasse, o marido nunca estava
satisfeito. Para ele, a comida estava crua ou cozida demais, as roupas nunca
tinham sido passadas ou dobradas com perfeição, a casa estava sempre mal
arrumada... Nada do que ela fazia parecia satisfazê-lo e nunca reconhecia nada
do que ela fazia para agradá-lo.
Com o decorrer dos anos,pouco a pouco, Susan passava mais e mais tempo
assistindo televisão, deixando para o marido os serviços da casa. Como suas
tentativas de agradá-lo tinham sido ignoradas, ela se retraiu, trocando sua ati-
tude de pessoa "cordata" pela armadura da personalidade "derrotista".
Outro exemplo deste tipo de indivíduo é Moisés. Ele nasceu e foi criado
sofrendo rejeição. Afinal, ao ser repelido por pessoas do seu povo, teve que
fugir para salvar sua pele. Quarenta anos depois, Deus o chamou para libertar
os filhos de Israel da escravidão, e ele teve a reação típica de sua personalidade:
"Não dou conta!"(Ex 4:1,10,13)
Como acontece com a personalidade "cordata", o referencial do tipo "derro-
tista" é o prumo da rejeição. Porém, ao invés de voltar-se para a figura da auto-
ridade como faz o cordato, esse segundo tipo afasta-se das pessoas, recusando
qualquer tipo de ajuda. Em muitos casos, depois de ter sofrido e de ter sido
magoado pelas figuras de autoridade, tais indivíduos vão pouco a pouco, per-
dendo a confiança que depositam nos outros. Não aceitam nem a possibilidade
de vivenciar outra experiência dolorosa e por isso refugiam-se sob a armadura.
Quanto maior a profundidade das mágoas sofridas, mais impenetrável será
sua armadura. Eles chegam ao ponto de dizer:
"Não vou deixar mais ninguém me magoar."

Mas, deixando as personalidades marcadas por rejeição, que são passivas,


vejamos agora as que são marcadas pela revolta, que são ativas. Analisaremos
mais dois tipos de personalidades. A primeira delas, em sua relação com a fi-
gura de autoridade é mais agressiva do que seu correspondente, a "cordata".
Parte I l Cada um com sua própria maneira de viver - 109

3. A PERSONALIDADE "COMPETITIVA"
Essa personalidade é a que mais tem relação com nossa era humanista e
com a atual busca de amor e aceitação. A personalidade competitiva, talvez
seja a mais comum, presente nas culturas ocidentais. É normal esse tipo de
indivíduo dizer o seguinte:

"Sou capaz de fazer isso aí, melhor do que qualquer um!"


"Tenho resposta para tudo. É só perguntar."
"Vou mostrar para você como se faz isso!"
"Sou a pessoa mais indicada para fazer isso."
110 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

"Tirar férias é pura perda de tempo."


"Pare com esse sentimentalismo!"
"Seja forte! Não deixe transparecer para os outros suas fraquezas!"

Mas por outro lado, tal indivíduo gosta também de ouvir palavras de apro-
vação, afirmação, e para isso poderá comunicar verbalmente ou não os pedidos
abaixo:
"Viu como executo bem meu trabalho?"
"Já notou como tenho excelentes talentos e habilidades?"
"Percebe como sou indispensável?"
"Não vai elogiar o meu trabalho?"
"Diga-me que sou perfeito e me fará feliz!"
"Nunca me diga que me considera um fracasso."

O que ele está querendo dizer é:


"Não tenho defeitos,portanto você não tem outra alternativa senão me amar."
"Você precisa de mim e do meu trabalho, portanto me ame!"

Desde a infância, ele vem sendo sutilmente condicionado a ter a idéia de


que para ser amado e receber aprovação dos outros, precisa vencer sempre e
não apenas isso, tem que esforçar para se superar.
Um exemplo clássico deste tipo de personalidade é o "evangelista imatu-
ro". Ele chega a uma cidade, exibindo uma energia sobrehumana, exige um
tratamento cinco estrelas - o melhor hotel, os melhores restaurantes, telefone
com linha direta - para a igreja pagar a conta. Ao pregar, entrega mensagens
vigorosas, produzindo uma fé entusiástica. Depois que vai embora e a poeira
assenta, alguns fatos vêm à tona. Na sua passagem magoou muitos obreiros
que agora sentem-se explorados e manipulados. Essa personalidade competi-
tiva usa as pessoas para realizar seus projetos. Na visão dela, o ser humano é
dispensável, o projeto não. Esse indivíduo pode acabar sofrendo do mal típico
de um super empreendedor, entre um momento e outro de grande desempe-
nho sente-se deprimido e vulnerável.
Imaginemos um grupo de atletas correndo numa maratona. Um deles
tenta vencer logo a prova, partindo em alta velocidade, deixando os outros
para trás. A certa altura cai no chão, exausto. Contudo, reúne a energia rês-
Parte I l Cada um com sua própria maneira de viver - 111

tante e repete o processo. Percorre outro trecho em grande velocidade e mais


adiante, novamente cai. Depois de várias tentativas, sua resistência começa
a diminuir. Afinal, os outros corredores o alcançam e ultrapassam-no. Ago-
ra, ao invés dele ser o primeiro colocado, é o último. Termina a competição
exausto, frustrado e desesperado.
Apersonalidade competitiva, assim como esse atleta e o evangelista imatu-
ro, pode sofrer estresse, tornando-se vulnerável às doenças físicas e mentais. A
maioria das adversidades em seu ministério, como a desestruturação da sua fa-
mília ou a ruína financeira, são alertas de Deus, tentando chamar sua atenção.
Ali vai ele, cavalgando velozmente pelas trilhas do evangelho quando, então
Deus, como que o laça, derruba-o no chão e diz:
"Será que agora posso dar uma palavrinha com vOCê?"
Não estou querendo dizer que Deus é o causador de todas as enfermidades
e reveses, mas sem dúvida, ele irá aproveitar o impacto dessas crises para pro-
duzir as transformações necessárias.
Um exemplo bíblico da personalidade competitiva é Jacó (Gn 27-30). Cha-
mado "suplantador",jacó roubou do seu irmão Esaú o direito à primogenitura.
Após ter feito isso, enganou seu pai, já idoso, com o objetivo de conseguir a
bênção do primogênito. Em seguida, foi obrigado a fugir para não ser morto.
Os vinte anos que passou em Harã também não lhe trouxeram muitas alegrias,
já que ali, se defrontou com um manipulador igual a ele, seu tio Labão. Depois
de passar vários anos competindo e tentando vencer, viu todos os seus recursos
esgotados. No meio da viagem através da qual reencontraria seu irmão, sua
constante luta contra Deus atinge o ápice quando tem um confronto com o anjo
do Senhor. Exteriormente, ele sai da luta com um defeito físico mas em seu inte-
rior estava renovado. Jacó que antes era um manipulador e um empreendedor,
agora é "Israel" que significa "Príncipe com Deus"!
Os pais de Bill só demonstravam amor e aceitação quando ele ia bem nos es-
tudos e no esporte. Assim que o rapaz converteu, transferiu para o seu relacio-
namento com Deus, o profundo condicionamento imposto pelos pais. Tomou-
se pastor e devotou extrema dedicação ao serviço cristão,pensando conquistar
assim, o amor e a aprovação de Deus. Com o tempo, perdeu a saúde e seu
relacionamento familiar deteriorou. Certa vez, durante uma de suas frequentes
crises depressivas, cometeu imoralidade com uma obreira "cordata" que dese-
java agradá-lo e ao mesmo tempo satisfazer sua prÓpria carência afetiva.
112 - Paredes do Meu Corutção l Bruce Thompson

Algumas características das pessoas com personalidade competitiva são:

- Acostumaram a pensar desde criança: "Tenho que sair bem em tudo!"


- SÓ recebiam aprovação quando eram bem sucedidas.
- Têm muito medo de errar.
- Gostam de elogios, mas não sabem recebê-los com naturalidade.
- Seu senso de valor está baseado no que os outros vão pensar delas.
- Precisam fazer um esforço mental para aceitar o fato de que outros po-
dem amá-los.
- Não sabem receber críticas.
- Estão constantemente na defensiva.
- Têm dificuldade para serem espontâneos.
- Em qualquer situação, querem sempre saber quais os regulamentos que
as regem.
- Ao receber um presente, sentem-se constrangidas a retribuí-lo.
- Estão constantemente se esforçando para fazer alguma coisa.
- Têm muita dificuldade para controlar sua obsessão na tentativa de supe-
rar os outros.
- Têm muita dificuldade em cultivar relacionamentos profundos.

4. A PERSONALIDADE CRÍTICA
Há ainda mais uma personalidade formada a partir do prumo humano da
revolta. Nele, o indivíduo se afasta da figura de autoridade, de forma mais
agressiva. São aqueles que dizem:

"Viu como meu desempenho é nota dez?"


"Vou te ensinar a fazer isso."
"Tenho certeza de que estou com a razão."
"Prestem atenção no que eu digo."
"Sou eu quem manda aqui."

Outra faceta da personalidade crítica é fazer afirmações mais duras, de


condenação.
"Você nunca vai melhorar, não é?"
"Você é um caso perdido. Não tem jeito mesmo!"
Parte I l Cada um com sua própria maneira de viver - 113

"Você é um burro. Olha só a estupidez que você disse!"


"Você não faz nada certo!"
"Você sempre atrapalha tudo, não é?"
"A culpa é toda sua!"

O que eles estão querendo dizer, na verdade é:


"Sei que não sou benquisto mas você também não é!"
"Não há amor no mundo para mim, estou sofrendo por causa disto, e você
vai sofrer comigo."
114 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
g

Um exemplo de personalidade crítica é o da "profetisa imatura". Todos os à

domingos, "lá está ela" com sua aljava cheia de flechas e já com o arco em po- q

sição para dispará-las. Durante o culto, muito bem informada sobre a vida de
todos, atira seus dardos com grande precisão e eficiência, pois entende que sua q

missão é manter todo mundo na linha, inclusive o pastor. Além de lidar com q

essa atitude da profeta, esse ministro tem que passar a semana toda, removen- d
do as pontas das flechas que ela lançou nas ovelhas, curando as feridas causa-
q
das por elas. Ele mesmo, às vezes é alvo das suas flechadas. Principalmente se
os sermões não estiverem do jeitinho que devem estar, segundo sua opinião.
Obviamente, recebe muitos protestos mas encara essa "perseguição" como "os-
4
sos do ofício", algo que vem confirmar que suas setas estão atingindo o alvo.
A personalidade que se expressa dessa forma tem em seu interior alguns
pressupostos muito significativos. Primeiro, ela perdeu a fé no amor. Sofreu
tantas desilusões em seus relacionamentos que chegou à conclusão de que não
merece ser amada e por isso desistiu de amar. Depois, ao contrário do "der-
rotista", que passivamente se esconde dentro de uma armadura, ela tem uma
reação mais agressiva. Ao atacar outros, seu intuito é convencê-los de que eles
também não merecem amor. Acredita firmemente que se ela está sofrendo, os
outros também devem sofrer.
Amãe de John o criou da mesma forma como tinha sido criada, disciplinan-
do o filho com atos de rejeição. O menino aprendeu a diferença entre certo e
errado pela frieza que ela adotava sempre que ele fazia algo que a desagradava.
Em decorrência disso, John passou a ter uma péssima imagem de si, nascendo
daí um complexo de inferioridade que o acompanhou durante toda a vida.
A correção efetuada por meio de atos de rejeição causa forte sofrimento
emocional à criança. O pai ou a mãe que utiliza esse recurso está destruindo
o senso de valor que a criança tem de si, perdendo a motivação para viver. A
correção tem que estar de mãos dadas com o amor. Se a mãe de John tivesse
agido com amor, ele não ficaria magoado com o castigo.
Judas, o traidor de Jesus (Jo 12:4) é o exemplo perfeito da personalidade
crítica. Levado pela atitude crítica e negativa que assumira em relação a Jesus e
aos discípulos, condenou a mulher que ungiu os pés de Jesus e também acusou
o Mestre de permitir tal desperdício. Esse espírito crítico o levou a trair o Filho
de Deus. Sua amargura e auto-depreciação, finalmente o impeliram a tirar a
própria vida em um surto de remorso.
Parte I l Cada um com sua própria maneira de viver - 115

TIPOS DE PERSONALIDADES

FIGURA DE
AUTORIDADE

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ende a se aproximar do I ende a se aproximar do
Modelo de Au oridade Modelo de Autoridade
bajulando competindo
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Derrotista ; Crítico
Tende a se afastar do I Tende a se afastar do
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REjEIÇÃO (f REBELIÃO

CONCLUSÃO

Vamos comparar esses quatro tipos de personalidades, com as quatro for-


mas de manipulação que apresentamos no capítulo seis:

A personalidade cordata corresponde ao manipulador passivo.


A personalidade derrotista corresponde ao manipulador indiferente.
116 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
4

A personalidade competitiva corresponde ao manipulador competitivo. (

A personalidade crítica corresponde ao manipulador ativo. q

Se alguém desejar identificar seu tipo de personalidade, deve lembrar de


que nÓs não nos limitamos a um só. Eu, por exemplo, inicialmente era cor- :
dato. Depois, buscando suprir minha carência afetiva, passei a ter algumas
características do competitivo. Tem sido muito proveitoso para mim, conhe-
l
cer os "quês" e "por quês" da minha vida e compreender que Deus ainda não j
q
concluiu sua obra no meu coração.
Os quatro perfis analisados, revelam a existência de constantes tensões in-
teriores. Quem se encaixa em qualquer uma dessas categorias, pode estar so-
frendo de um ou mais distúrbios emocionais que não apenas o debilitam mas
podem tirar-lhe a vida. Tais distúrbios vão desde problemas de pele até graves
derrames cerebrais e ataques cardíacos. Muitos dos nossos problemas de or-
dem física, podem ser sinais emitidos pelo organismo, indicando a presença de
males mais profundos na estrutura da personalidade.

Até este momento, estivemos analisando as paredes dos nossos corações e


os tijolos que utilizamos para construí-las. Neste capítulo, vimos quatro tipos
de personalidades muito conhecidas. Todas com fortes tendências para edificar
paredes. Agora vamos dar uma olhada no que há por trás dessas paredes. Exa-
minaremos então, um dos mais terríveis e malignos "tumores" presente, tanto na
igreja como no mundo.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Que tipo de personalidade você reconhece ser a sua? Procure descobrir o


que deu origem a ela e fez com que se desenvolvesse.
Pense sobre os aspectos do seu caráter que são falhos e prepare uma estra-
tégia para modificá-los.
Tente reproduzir mentalmente, o que poderá acontecer quando você trocar
essas falhas por pontos positivos.
8
ATRÁS DAS PAREDES

// S egundo as estatísticas, o número de pessoas que morrem por


comer demais é maior do que o das que morrem pela falta de
comida e inanição. Aliás, a maioria das pessoas cava o seu
túmulo com os próprios dentes!"

Essa afirmação feita por um dos meus professores da faculdade de medi-


cina ao introduzir uma aula sobre obesidade permanece gravada na minha
memória. Nesses anos em que tenho praticado a medicina, tanto em países
desenvolvidos como em nações em desenvolvimento, lembro-me dela com fre-
quência e me vejo obrigado a concordar com ele.
O desejo humano, tanto nas suas formas manifestas como nas dissimula-
das, tem causado grandes males ao homem desde a sua criação. A serpente
começou com Eva e o fruto proibido. De lá para cá, através dos séculos, essa
mesma cena vem se repetindo... Vamos, então, olhar por uma fresta da parede,
para ver como os líderes israelitas seguiram essa "tradição".
Chutando algumas pedrinhas pelo chão, o profeta Ezequiel caminhava
apressadamente pelo átrio do templo. A cada passo seu, erguiam-se no ar pe-
queninas nuvens de poeira. Ao longe, ouviu-se o latido de um cão, quebrando
por instantes o silêncio pesado e quase agourento que cercava os imensos blo-
cos de pedras da enorme construção. Erguendo a cabeça, o profeta examinou a
parede um pouco mais. Havia alguma coisa estranha ali. Será que ela estava co-
meçando a ruir ou uma das pedras fora removida? Ezequiel apressou o passo,
aproximou-se dela e avistou um buraco. Curioso, encostou o rosto nas pedras
aquecidas pelo sol e espiou pela abertura. Imediatamente afastou-se, desvian-
118 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson
4

do os olhos da cena, se sentindo abalado! Que cena seria aquela que empalide- I

cera o rosto bronzeado do profeta? Escondidos por trás daquelas paredes, os


líderes de Israel realizavam uma orgia idólatra (Ez 8:6-12). Adorando a imagem t

de Aserate, deusa dos cananeus, eles se entregavam em atos de lascívia, em 4

flagrante desobediência a Deus, dando as costas à verdadeira religião de Israel.


A melhor análise do desejo é a que encontramos em IJoão 2.15-16. A Bíblia a

ensina aí que a concupiscência da carne e a concupiscência dos olhos levam à


autodestruição. A concupiscência dos olhos é o desejo reprimido que penetra
na mente, através da "porta" da visão. Ela está relacionada com a tentação en-
quanto a concupiscência da carne é o ato de cedermos a esse desejo que depois
passa a nos influenciar e a nos controlar.

O DESEJO
Como é que somos envolvidos pelos hábitos carnais tão prejudiciais à nossa
vida e saúde, podendo até nos destruir? Façamos como Ezequiel. Vamos olhar
dentro das paredes erigidas em torno do coração humano, onde praticamos a
idolatria e outros pecados secretos.
Nosso objetivo ao erguer tais paredes é nos proteger dos inimigos que po-
dem nos atacar. Esses inimigos, reais ou imaginários, nos influenciam a ponto
de determinar as reações que teremos diante da vida. Mas o que se passa no
interior dessas paredes? Como é que caímos na armadilha dos hábitos carnais?
Vejamos uma ilustração que pode nos ajudar a responder a essas perguntas.
A linha marcada com a letra "A" na figura 17, representa o prumo da rejei-
ção que o indivíduo sofreu por parte de uma importante figura de autoridade.
Trata-se de uma linha oblíqua que "entorta" toda a vida do indivíduo. A pri-
meira emoção que ele terá que enfrentar depois de sofrer a rejeição é a mágoa
ou a dor interior.
O paciente que apresenta esse tipo de dor em minha clinica geral constituía
para mim um desafio maior do que o que falava sobre suas dores físicas. A
maioria dos pacientes demonstrava sofrer mais com a dor interior do que com
a dor física. Parecia que eu tinha pouquíssimos recursos para proporcionar a
eles, o alívio desejado. Em busca de soluções, comecei a sondar aqueles que
demonstravam com mais clareza o sofrimento interno. Descobri que muitos
deles, principalmente as mulheres, faziam frequentes visitas à geladeira. Ob-
servei ainda outras práticas semelhantes e foi assim que enxerguei totalmente
Parte I l ATRás das paredes - 119

MOVIMENTO DA FUGA OSCILANTE

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(Dor e medo) (Falso conforto)

FIGURA17
120 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
C

uma nova área de conhecimento. Sempre que indagava alguém como enfrenta- (

va o sofrimento interior, as respostas eram: à

"Começo a comer mais."


"Bebo mais."
"Saio para fazer umas compras."
"Tomo drogas."
"Saio e arranjo uma aventura sexual."
"Tomo um porre."
Para fugir do sofrimento, esses pacientes buscavam alívio em algum tipo
de prazer. Chamo a isso "movimento pendular da fuga", ilustrado na figura
17. O que eles não sabiam, porém, era que o prazer é apenas temporário e que
passado aquele momento, o sofrimento volta, iniciando assim, o mesmo ciclo.
A linha "B" da figura 17, representa o prumo com o movimento de afastar-se
da dor e ir em direção ao prazer. A linha "C" indica a volta ao sofrimento e o
reinício do ciclo.
Certo dia, vi esse processo vivido na prática, quando veio ao meu consultó-
rio uma senhora de meia idade. A primeira coisa que disse foi que estava com
excesso de peso, o que constatei apenas de olhar para ela. Em seguida me pediu
que desse a ela uma receita "mágica" para emagrecer. Expliquei que precisava
de mais informações sobre ela e sua família.
Fiquei sabendo então que o marido era alcoólatra e que as coisas que ele fazia
a envergonhava e aborrecia muito. Percebia-se claramente que tanto ela como o
marido haviam passado por grandes sofrimentos e que a única diferença entre
eles era o tipo de prazer que cada um tinha escolhido para sentirem-se aliviados.
Agora, o prÓprio prazer ocasionava mais sofrimento, já que ela engordava
excessivamente e o marido padecia de moléstias causadas pelo álcool. Além
disso, a família toda passava necessidade. Eles ilustravam bem a concupiscên-
cia da carne e a concupiscência dos olhos as quais João fez referência.

ANOREXIA NERVOSA
Outra condição que ilustra o "movimento pendular da fuga" é a anorexia
neroosa. Trata-se de um distúrbio mais comum em moças que devido a algum
trauma emocional param de alimentar a ponto de quase morrerem de inanição.
A maior parte das jovens com esse problema são provenientes das famílias
ricas, cuja grande preocupação é obter sucesso na vida. Esses pais costumam
Parte I l átríís das paredes - 121

"cobrar" muito dos filhos, fazendo exigências que estão acima da capacidade
dos jovens, privando-os das demonstrações de amor enquanto estes não atingi-
rem sua expectativas. Muitas vezes isso leva a filha a fazer um esforço desespe-
rado para atingi-las. Tal esforço, em muitos casos, é motivado pelo remorso ou
sentimento de culpa, decorrente do fato de não ter conseguido agradar os pais.
Isso causa uma penosa sensação de vazio e dor, levando-a a buscar o prazer
através da comida. Passado o instante de satisfação, elas se vêem dominadas
pelo temor de engordar e portanto sofrerem nova rejeição. Nesse ponto, ge-
ralmente a jovem procura um lugar à parte, onde possa provocar o vômito ou
então faz uso de laxantes para expelir as calorias ingeridas. Assim, na tentativa
de evitar críticas, a jovem entra em um ciclo de engano, come às escondidas,
vomita e nega tudo. Infelizmente, 20% das que têm esse problema, morrem
de inanição ou das complicações causadas pela mesma. Ainda 20% delas, têm
grande dificuldade de romper esse ciclo da fuga do sofrimento para o prazer
causado pelo desejo interno de receber a aprovação de outros.

APETITE DESCONTROLADO
No meu caso, devido à zombaria que sofri pela professora ainda na infân-
cia, me tornei viciado em duas formas de prazer. A primeira delas, comer. A
comida para mim era como um "pico". Se não comesse na hora que precisava,
ficava nervoso e irritado. Quando comia, engolia o alimento apressadamente
como um animal.
O outro falso alívio que eu utilizava como "analgésico emocional" era o
meu mundo de fantasia. Com base em algumas histórias sujas e lascivas que
ouvira na escola, criei minha própria coleção de fantasias obscenas, no afã de
conseguir alívio. E como sempre acontece, o prazer era de curta duração. Em
pouco tempo, minha mente se tomara uma verdadeira lata de lixo. Depois que
me converti, esses dois vícios foram minha grande batalha espiritual. Mais tar-
de fiquei sabendo que sexo e córnida são duas formas muito comuns de fuga e
com frequência estão relacionadas entre si.
Assim como temos apetite por comida e porbebida, temos também para o
sexo. Em nossos dias, a promiscuidade, a imoralidade e o homossexualismo
estão desenfreados, apesar da ameaça da AIDS. Pelo fato da lascívia ser tão
difundida, muitos casais não estão cultivando o verdadeiro amor em sua
forma mais elevada.
Í
122 - Paredes do Meu Corutção l Bruce Thompson

A Bíblia ensina que na lascívia o indivíduo exige e se impõe em relação ao l

outro, ao passo que no amor, ele se sacrifica pelas necessidades do outro. O l

desejo se apropria, não importa o preço a ser pago, ao passo que o amor dá,
seja qual for o preço a pagar. O impulso de satisfazer um desejo que é mais í

primitivo e mais efêmero, em geral, suplanta a meta de buscar um bom relacio- q

namento que é mais sensível e requer mais tempo para se concretizar. q

A indústria da droga, seja a receitada ou a adquirida ilegalmente, se tor-


nou um negócio multibilionário. Muita gente hoje vive entorpecida, ou por
drogas receitadas ou pelas auto-aplicadas. Muitos jovens e adolescentes, W

tentando fugir do sofrimento emocional que não conseguem suportar, estão


perdendo a juventude e a própria vida, devido a essa armadilha que é o
desejo pelas drogas.

PRAZER E DOR
O Dr. Richard Solomon, professor de psicologia da Unioersidade da Pensihâ-
nia, efetuou uma pesquisa encomendada pelo Instituto Nacicnd de Saúde Mental
dos Estados Unidos sobre o "Preço do Prazer e os Benefícios da Dor". Nela, ele
explica que um estímulo incondicional, na maioria das vezes, ocasiona três fe-
nômenos básicos:

1. Uma experiência prazerosa


2. Uma prática viciadora
3. Uma libertação penosa

O trabalho dele foi intitulado "Teoria do Processo dos Opostos na Moti-


vação Adquirida". Essa teoria oferece uma explicação bem plausível sobre a
origem das práticas viciadoras, desencadeadas por eventos dolorosos ou pra-
zerosos. Em sua experiência, ele trabalhou com o vício de drogas, relaciona-
mentos sociais, desejos sensoriais e estímulos aversivos.' Entre as conclusões a
que chegou, encontram-se as seguintes:

1. O vício em um ato prazeroso geralmente é provocado pelo fenô-


meno oposto ao sofrimento.
2. Tanto o desenvolvimento como o alívio desse sofrimento são de
natureza lenta.
Parte I l ATRás das paredes - 123

3. O processo dos opostos se fortalece pela repetição continuada em


intervalos de tempo.
4. A repetição continuada de uma prática prazerosa reduz bastante
a sensação de prazer por ela proporcionada, tornando quem pratica po-
tencialmente vulnerável a novos agentes de sofrimento.

O glutão, por exemplo, está sempre lutando com as doenças resultantes da


obesidade. O indivíduo sexualmente promíscuo pode contrair doenças vené-
reas.
O estudo realizado por Solomon vem enfatizar o que já dissemos sobre a
interação prazer/dor. Quanto mais viciados nos tornamos em atos prazerosos,
mais nos expomos ao sofrimento. O Dr Solomon admite que sua teoria contém
aspectos de moral puritana, talvez ele esteja se referindo ao ensino bíblico que
diz que "devemos exercer autocontrole em tudo" (I Co 9:25).
Muitos conselheiros cristãos sabem levar o indivíduo ao arrependimento
do seu pecado mas não tratam do sofrimento básico que o levou ao vício. Ocor-
re então, que sem os benefícios do seu "analgésico" emocional, o sofrimento
é intensificado. Então ele volta à mesma prática prazerosa de antes, ou então
procura outra. Em parte, essa é a razão por que tantas pessoas libertas voltam
para seus antigos vícios.
Se o problema do sofrimento não deve ser resolvido com uma prática pra-
zerosa, como devemos solucioná-lo? Daremos a resposta nas páginas seguintes.

A SOBERBA DA VIDA
No texto de IJoão 2.15-16, encontramos um segundo elemento - "a soberba
da vida" - que também procede do mundo e não do Pai. No jardim do Éden, o
diabo lançou mão da "dobradinha" do orgulho e da concupiscência para mar-
car um gol no jogo da vida. Adão e Eva mostraram que não conseguiram resis-
tir às táticas astuciosas e enganosas do orgulho e da concupiscência. Desde en-
tão, o homem vem sofrendo na mão desses dois males. Os campos da História
estão amontoados de vidas que foram abatidas por eles, comprovando o que
a Bíblia diz: "A soberba precedea ruína ca altivez do espírito, a queda" (Po 16:18).
Examinando a figura 18, notamos que o movimento da linha "A" é resulta-
do de uma rejeição sofrida por parte de uma figura de autoridade. Neste caso,
em vez das emoções serem o campo de batalha do problema, é a mente que
124 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

MOVIMENTO DA LUTA OSCILANTE :

FIGURA DE
AUTORIDADE
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' Ejá
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A. REjEIÇÂOSOERIDA B. LUTA CONTRAO


POR PARTE DE : SOFRIMENTO
UMAHGURA DE l 1[

rej::°
COMPLEXO DE COMPLEXO DE
INFERIORIDADE SUPERIORIDADE

FIGURA 18
Parte I l ATRás das paredes - 125

sofre o ataque, sendo invadida por sentimentos de inferioridade. A maioria das


pessoas, em uma ou em outra fase da vida, se vê em luta com esse problema.
Mas cada um reage de forma diferente. Os indivíduos mais passivos dão crédi-
to a esses sentimentos e os interiorizam, procurando viver da melhor maneira
possível dentro das circunstâncias. Os mais agressivos, porém, os renegam e
tentam provar que não são inferiores e que na verdade, são superiores. Como
vemos o movimento da linha "B" na figura 18.
Um bom exemplo desse comportamento é o humanismo ateu/secular,
o mais forte movimento filosófico dos nossos dias. Numa extrema manifes-
tação de orgulho, o humanista secular rejeita Deus e tenta substituir a figu-
ra divina por si mesmo. Mas ainda tem que reconhecer que o ser humano
possui sérias limitações. Para compensar tais limitações, ele se desloca para
a posição de superioridade, na tentativa de provar sua própria divindade.
Inicialmente, esse pensamento filosófico se apresenta sob a forma de trata-
mento mais humano. Mas, essa corrente de pensamento, que levada a extre-
mos pode ser considerada a "filosofia do super -homem", logo dá lugar aos
sentimentos de frustração. Ela vê o homem como um produto que precisa
ser aperfeiçoado a qualquer preço. Portanto, ele só tem valor se atingir a
perfeição em tudo.
Seguindo essa tese, seus defensores apOiam medidas como a eutanásia, o
aborto seletivo e osbancos de esperma, que sob seu ponto de vista,são métodos
lógicos para eliminarem os deficientes, obtendo então, uma espécie superior.
É por causa da influência do humanismo secular no pensamento da socie-
dade ocidental que muitas pessoas estão caídas à beira do caminho da vida, ví-
timas de casamentos desfeitos, famílias divididas e perda da saúde. Os efeitos
destrutivos dessa filosofia são incalculáveis.

VIDAS DESTRUÍDAS
Mas houve quem se rebelasse contra essa filosofia, como por exemplo, os
hippies da década de 60. Adotando um estilo de vida que julgavam melhor
para o ser humano, davam uma importância toda especial ao indivíduo e à
humanidade. Infelizmente, o movimento se degenerou, partindo para o abuso
das drogas, a imoralidade e o modismo alimentar. Muitos dos jovens que ali
buscavam a liberdade, terminaram numa prisão ainda mais impiedosa. Veja-
mos o exemplo de um casal.
(
126 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
(

Quando conheci Peter e Trish, eles moravam em uma cabana em cima de d

uma árvore. Trish estava grávida do primeiro filho e usava roupas de gestan- l

te. Peter, de cabelos longos e barba, também estava vestido com uma túnica q

folgada e muito suja. Do seu corpo emanava um odor forte e desagradável. d

Pouco depois desse primeiro contato, Peter me procurou na clínica de aconse- d

lhamento. Chegando ao meu consultório, ele sentou no chão, as pernas cruza-


das à moda oriental, as abas da túnica larga emboladas entre as pernas. Ao seu (

lado, no chão, colocou o manuseado bornal de pano. Tinha os olhos vidrados, 4

como se estivesse ligeiramente drogado. No decorrer da consulta que durou


q

uma hora, volta e meia enfiava a mão no bornal de pano e pegava pedaços de
cogumelo e os mastigava ruidosamente. Mais tarde fiquei sabendo que estava
comendo o que os hippies chamavam de "cogumelo mágico". Esse vegetal que
é cultivado em estrume de gado era tão forte que produzia efeitos alucinantes,
semelhantes aos do LSD. Então compreendi por que seus olhos estavam vidra-
dos e porque era difícil comunicar com ele.
Dirigi a ele várias perguntas, mas respondeu às mesmas sempre "filoso-
ficamente". O cheiro no ar estava tão forte, que quando Bárbara entrou para
auxiliar-me, chegou a sentir náuseas e teve que ficar com o lenço no nariz o
tempo todo. Depois ela confessou que não entendera nada do que ele dissera.
Era como se ele estivesse num planeta e ela em outro. Não admire que naque-
le dia não tivéssemos obtido nenhum progresso. Nos meses que se seguiram,
Bárbara conseguiu travar amizade com Trish e foi então que ficamos a par da
história de Peter.
Peter tinha 20 anos, era casado e servia na força aérea, quando foi envia-
do para a ilha de Guam. Sua tarefa era elaborar o mapa meteorológico para
os bombardeios B-52 e informar aos pilotos sobre as condições climáticas que
encontrariam no Vietnã, em suas missões de bombardeio. Ele sempre fora con-
trário à guerra e por isso, quando seu casamento acabou, ficando sem laços
familiares que o prendessem, abandonou a força aérea. Foi então que deu iní-
cio à longa e penosa caminhada hippie que o conduziu ao sudoeste asiático e
finalmente ao Hawai. Ali ele desperdiçou os melhores anos da sua vida, va-
gando pela ilha, mergulhado em filosofias orientais e continuamente drogado.
Conheceu Trish, uma jovem solitária e desnorteada e convidou-a para viver
com ele. Mas quando os conhecemos, ambos já estavam desiludidos com tudo,
cansados daquela vida desregrada.
Parte I l ATRás das paredes - 127

Deus os resgatou de maneira notável, salvando o casal daquela filosofia e


forma de vida traiçoeiras. Hoje eles estão casados e felizes. Peter é um homem
mudado. Fez um curso na faculdade e tornou-se um eficiente professor.
A história deles é a mesma de inúmeros jovens desiludidos que resolveram
abandonar as velhas tradições, pensando em um rompimento com a sociedade
e acabaram descobrindo que as novas idéias eram mais destrutivas e sutilmen-
te estavam sendo conduzidos a uma filosofia e a uma existência depravadas.

SER "O MELHOR" A QUALQUER CUSTO


Nem todo mundo, porém, assume uma atitude de franca revolta. Alguns
preferem lutar com todo empenho para ser "o melhor" em alguma coisa. Du-
rante muitas décadas, várias pessoas sonharam em ser um dos primeiros as-
tronautas a pisar na lua. Era uma fantástica meta de vida que exigiria muita
preparação, esforço e desempenho incomum.
Um homem se dispôs a pagar esse preço, visando eliminar seu complexo
de inferioridade. E conseguiu ser esse astronauta. A princípio, se regalou com
as glÓrias recebidas. Mas depois, se deu conta de como aquela honra era efê-
mera, fruto da sua corrida em busca de glória e aceitação. É que logo, outros
astronautas realizaram a mesma façanha e ele começou não somente a perder a
fama, mas também a ver o declínio de sua auto-imagem que estivera "em alta"
devido ao evento.Acaminhada na lua não servira para compensar sua carência
afetiva, e as velhas lutas voltaram ainda mais intensas. Sentindo-se afligido
pelo antigo complexo de inferioridade, ele começou a beber, pensando assim
em aliviar o sofrimento. E foi então que teve início a sua queda no alcoolismo.
São incontáveis os exemplos de pessoas que aparentemente subiram na
vida, e uma vez no ápice, descobriram que sua carência afetiva havia se inten-
sificado devido à solidão. A soberba da vida é o que chamo de "movimento
pendular da luta". O indivíduo luta, se esforça e empenha incansavelmente
para provar sua superioridade e assim ser aceito pelos outros. Esse tipo de
mentalidade não admite fracasso e para ele os fins justificam os meios.
Na figura 19, temos outra etapa desse "movimento pendular da alma."
Vemos como o medo e o desejo são elementos catalisadores da oscilação emo-
cional: fugimos da dor para o prazer. Já vimos como o homem tenta aliviar o
sofrimento interior lançando mão do prazer, e que quando a prática desse pra-
zer se torna um vício, um ato compulsivo, passa a ser refém da concupiscência.
128 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

MOVIMENTO PENDULAR

FIGURA DE
AUTORIDADE
g

ROMANOS 7:21-24

l
U

:
. :
EMOÇÕES
DOR _ FUCA PRAZER
0

MEDO i DESEJO
MENTE l
COMPLEXODE y~, LUÍA COMPLEXODE
INFERIORIDADE , SUPERIORIDADE
RAIVA i ORGULHO
VONTADE l
0
:
~—_ CONFÍJSÃO

REjEIÇÃO REVOLTA
ESQUIZOFRENIA
"DOENÇA MENTAL"

FIGURA19
Parte I l ATRás das paredes - 129

Nessa condição, o indivíduo pode também sentir medo de perder esse prazer,
de ficar escravizado a ele ou ambos,como ocorre no alcoolismo.
Em segundo lugar, o orgulho e a raiva podem ser os catalisadores de um
movimento pendular da mente. Por exemplo, um indivíduo pode estar lutan-
do para subir de posição na firma onde trabalha, mas sua verdadeira intenção é
provar que não é inferior aos outros, e sim superior. É o orgulho se manifestan-
do. Um dia é despedido, e passa a se sentir profundamente ferido em seu amor
próprio. Então desloca-se para o outro lado, e o que experimenta agora é rai-
va. Embora controle-se exteriormente, tão logo chega em casa, descarrega sua
agressividade interior nos familiares. Qualquer um de nós está sujeito a isso,
quando movidos pelo orgulho nos deslocamos em direção à superioridade.
Mais tarde, diante de um revés e com o orgulho ferido, veremos o sentimento
de inferioridade nos dominar de novo. Além disso, iremos extravasar a raiva e
a agressividade nos nossos entes queridos.
Nesse ponto, o terceiro elemento da alma, a vontade, fica bastante enfra-
quecida. Se a vontade for manipulada durante algum tempo pela mente e pelas
emoções, é estabelecido em nós um estado de confusão. A tensão e a exaustão
aumentam, gerando instabilidade e algum tipo de colapso, como ilustrado na
figura 20.
Em cada um desses movimentos pendulares da alma, quer ocorra pelas
emoções, mente ou vontade, o desejo, o medo, o orgulho, a raiva e outros
ingredientes vão minando as paredes da personalidade até derrubá-las total ou
parcialmente. Quando ultrapassamos os limites toleráveis de tensão e pressão,
entramos na área de colapso. É então que as paredes que erguemos podem
ruir, deixando de exercer controle sobre nossa vida, isto é, sobre as funções do
corpo, da mente e do espírito.
Tiago em sua epístola, faz referência ao "ânimo dobre" (Tg 1:6-8), que no origi-
nal significa "alma dobre". Ele quer dizer que o individuo possui "alma dupla"
ou dois conjuntos de mente, emoções e vontade. Poderíamos dizer que ele tem
duas mentes, uma em guerra contra a outra. Vemos isso na figura 20. A rejeição
seria uma dessas mentes, e a revolta a outra. Ficarmos oscilando entre uma e a
outra nos torna cada vez mais instáveis aumentando as possibilidades de sofrer-
mos um colapso. Assim, nosso equilíbrio mental e emocional se toma precário.
O contexto da palavra "ânimo dobre" do livro de Tiago revela que a causa
do problema é a incredulidade e que o "homem de ânimo dobre" é "inconstante
130 - Paredes do Meu COttf\ÇãO l Bruce Thompson

O ÚLTIMO MOVIMENTO PENDULAR

FIGURA DE
AUTORIDADE

\ IJOÃO 2:17
:
g
O MUNDO PASSA
Q

~DESEjOj

REjEIÇAO y,,, MÉDO _»r. REVOLTA


~j)RGÍLHO

;
~~~. RÁVA ,~~~^"
i q

FUGA . LUTA
DUPLO ANIMO
(TLAGO1:7,8)

FIGURA20
Parte I l ATRás das paredes - 131

em todos os seus caminhos". Podemos inferir pelo emprego do vocábulo "todos",


que tanto a doença mental quanto o colapso nervoso, podem ser causados por
esses movimentos pendulares da alma, ocasionados pelo desejo, medo, orgu-
lho e raiva. Então, caímos numa oscilação constante, de forma desarvorada e
frenética, como mostra a figura 20.

Deus tem outro método para derrubar essas paredes de rejeição e revol-
ta, um método mais eficaz, restaurador. Continuando a analisar o modo como
Deus operou em seu povo de Israel, veremos que quando nossas velhas pare-
des tombam, ele constrói novas.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Procure relembrar algumas das experiências penosas da sua vida.


Explique como você contornou o sofrimento interior e que consequências
colheu.
Como você tem resolvido o problema do aumento de tensão?
132 - Paredes do Meu Coução l Bruce Ti iomi'son

'q

l
(
j
!

Nota
'Richard L. Solomon, "The Oponent-Process Theoi^y of Acqitin'd Motií'(?tli)/l",
American Psychologist, agosto de 1980.
Parte Il

A RESTAURAÇÃO
DA PERSONALIDADE

"Naquele dia se entoará


este cântico na tem de Judá:
Temos unia cidade forte.
Deus lhe põe ll sduíção por
muros e baluartes."

Isaías 26:1
9
RECONSTRUINDO
OS ALICERCES
"E o Senhor abaixará as altas fortalezas dos seus muros; abatê-las-á e derri-
bá-las-á por terra atéao pó"(ls 25:2).

"Naquele dia se entoará este cântico na tem de Judá: Temos uma cidade
forte: Deus lhe põe a sdmção por muros e bduartes"(ls 26:1).

OS textos acima resumem de forma magistral a questão das paredes que


erguemos em nossas vidas, apresentando uma temática nova que ain-
da não havíamos mencionado. Deus está nos dizendo que não quer nos
deixar desprotegidos, à mercê de tudo que o inimigo das nossas almas deseja
atirar contra nós. Pelo contrário, ele deseja nos dar um novo muro chamado
"sahmção", cujos portões se chamam '10ud01" (Is 60:18), no intuito de nos prote-
ger da perdição e destruição.
Nesta parte do nosso estudo, veremos como os muros da salvação são er-
guidos em nossa vida, depois que desmoronam as paredes da rejeição e da
revolta e o entulho ter sido devidamente removido.
Para vermos como Deus opera em nossas vidas, vamos recordar al-
guns fatos da história do povo de Israel, começando pela ocasião em que
o reino foi dividido. O diagrama da figura 21 fornece uma sucinta visão
dos eventos.
O reino de Israel não deu ouvidos às ungidas mensagens de Amós e Oséias
e por essa causa foi levado para o exílio. E a nação de Judá, apesar de testemu-
136 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
j

OS PROFETAS MENORES
f
931a.C. 722 586 536 400a.C.
j

DOIS REINOS UM REINO .


EXILIO RESTAURAÇÃO
DO REINO d

.am . . . . - _ áài,i% ' l

ISRAEL

: JONAS(NÍN1VE)

l AMÓS
OSÉIAS

JUDÁ } l

? ,",m S,m@t.-.à."

OBADIAS (EDOM) NAUM (NÍNIVE) I I


JOEL
MIQÉIAS
SOFONIAS EXÍLIO
HABACUQUE

VOLTA DO ·'
exílio ai

i.

AGEU
ZACARIAS
MALAQUIAS

FIGURA21
Parte II l Reconstruindo os alicerces - 137

ilhar o que acontecera ao outro reino e de ter sido também advertida por profe-
tas cheios do poder de Deus, ainda assim não se arrependeu. Em conseqüência
disso, tanto Israel como Judá, amargaram muitos anos de escravidão sob o jugo
babilônico.
Durante o exílio dos judeus, ocorreram algumas mudanças históricas.
Primeiro, o poderio da Babilônia foi esfacelado e arrasado diante do irresis-
tível avanço do império persa. Depois, o clamor dos exilados entre o povo
escolhido, dolorosamente castigado, chegou aos ouvidos de Deus. E ele aten-
deu a esse clamor, levantando líderes que os guiassem de volta à terra dos
seus antepassados.
O Primeiro deles foi Ciro, um rei gentio que se sentiu tocado por Deus,
para proclamar um edito nos seguintes termos. Deveria ser construído em Je-
rusalém um templo ao Senhor e precisariam de pessoas para a execução da
tarefa. Para facilitar a empreitada, Ciro devolveu a eles os tesouros que foram
roubados do templo. E foi assim que 42.360 israelitas voltaram a Jerusalém sob
a liderança de Zorobabel e vários outros. Vejamos o que aconteceu depois desse
evento, que talvez tenha sido o mais importante movimento migratório de um
grupo humano que o mundo já viu!
Imagine o que essa gente deve ter sentido, quando cansados e sujos da via-
gem, chegaram à terra dos seus ancestrais e encontraram ali um montão de ru-
ínas. Esdras 3:1-6, narra a reunião de todos em Jerusalém, como um só homem,
para o primeiro grande evento daqueles dias - edificar o altar.
Para que eles pudessem adorar a Deus teriam que fazer antes o sacrifí-
cio pelos pecados do povo, como reconhecimento de que a adoração só é
aceitável ao Senhor depois que é resolvido o problema do pecado. O altar
é o lugar onde nos reconciliamos com Deus, onde começamos a assumir a
culpa pelos nossos pecados e a experimentar a redenção. Com suas diver-
sas ofertas, em especial a oferta voluntária, o altar simboliza a consagração
a Deus.
Eles ergueram um novo altar, exatamente no lugar do antigo. Esse ato
significava que restauravam e restabeleciam o antigo culto do qual parti-
ciparam seus pais. Os exilados reconheciam que se quisessem ter sucesso
na reconstrução do templo, precisariam da bênção, da graça e do poder
de Jeová. E o altar não era importante só para os exilados, mas para nós
também.
138 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson

Ele é lugar de: O ALTAR '

Confissão
Sacrifício E' ,,,·' "
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Contudo, isso não signihca '-'.'.'. .'·'. ":'.';·
. . . . ,'. .. , .j':",:'::'::":;::.. :" " "'
que nunca mais pecaremos. · · " '".'· '.· :'.-'.' ' "' "FIGURA 22
' " ·
NÓs pecamos, sim, mas mui-
tas vezes deixamos de voltar ao altar. Por causa disso, os "pecadinhos" vão se
acumulando em nossas vidas, e não confessados, ocasionam separação entre
nÓs e Deus. Depois de algum tempo, já não conseguimos mais ouvir a voz do
Senhor e nosso amor por ele começa a declinar.
E, como acontece a muitos de nós hoje, o povo de Israel aprendeu essa lição
de maneira penosa. O mato cresce de tal forma em volta do altar que este quase
desaparece no meio dele. Para encontrá-lo de novo, precisamos utilizar um
facão. Para que ocorra um avivamento, primeiro é preciso que nos arrepen-
damos, confessemos nossos pecados e voltemos ao altar. Assim tornaremos a
gozar de plena comunhão com Deus.
Todos nós, cada vez que pecarmos, precisaremos caminhar por aquela co-
nhecida estradinha que nos leva ao altar. Deus nos conclama a sermos santos
como ele é santo (I Pc 1:15) e sem santidade ninguém verá o Senhor (Hb 12:14).
Uma vez levantado o altar, sob a liderança de Zorobabel, os filhos de
Israel edificaram o templo do Senhor (Ed. 3:7-13). O templo é o local onde
adoramos a Deus, onde gozamos da comunhão com ele e uns com os outros.
Parte II l Reconstruindo os alicerces - 139

Da mesma forma que precisamos erigir um altar em nosso coração, precisa-


mos também de um templo, uma área dedicada somente a Deus. Precisamos
de um "espaço" onde abandonamos tudo e entramos em sua presença para
adorá-lo e estar em silêncio diante dele. É ai que nos fortalecemos e temos
nossas forças restauradas, aprofundando o relacionamento com ele. Como
ocorreu aos filhos de Israel, o templo tem uma importância muito grande
para nós também. É lugar de:

Adoração
Ações de graça
Comunhão
Contribuição
Oração 0
0

Testemunho . P ·

. .
. .

Sacramento . . .
.
¥

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0
0

FIGURA23
140 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Cada um desses aspectos revela que o templo era o lugar onde os fiéis se
encontravam na presença de Deus. Os homens que ministravam no templo,
nem sempre conseguiam se manter de pé, tão intensa era a manifestação da
presença de Deus, algo que nós hoje só podemos imaginar.
Assim que os exilados concluíram o lançamento dos alicerces o povo exul-
tou jubilosamente. Muitos deles gritaram, alguns cantaram e ainda outros cho-
raram. Fizeram tanto barulho que seu vozerio era ouvido a grande distância
(Ed 3:11).
Por que aquela gente demonstrou talcomoção? Porque sabiam que o templo
significava a presença de Deus entre eles novamente. Os exilados que tinham
conhecido o templo construído pelo rei Salomão, choraram sentidamente, an-
siosos pelo momento em que a presença do Senhor voltaria a ser manifestada
entre eles, com poder e graça.
Como está o seu templo pessoal? Encontra-se em ruínas,precisando urgente-
mente de uma restauração? Será que você o negligenciou e abandonou por causa
de outras ocupações, permitindo que seja depredado? Até que ponto você consi-
dera importante experimentar a presença de Deus em seu templo diariamente?
Muitas vezes ficamos tão envolvidos na obra de Deus que não temos tempo
para ele. Precisamos entender que ele só aceita a obra das nossas mãos se ela for
fruto de uma comunhão de amor com ele. E só no templo podemos estabelecer,
cultivar, nutrir e fortalecer essa comunhão. Entretanto, com muita facilidade
acabamos perdendo essa prioridade da comunhão com Deus.
Há alguns anos, eu estava dirigindo um seminário de estudos em Penang,
na Malásia, e Deus me levou a examinar essa questão, mostrando-me que eu
estava incorrendo nesse erro.
Penang é chamada de "Apérola do Oriente" ou "Acidade dos mil templos"
e desde muito tempo tem sido uma fortaleza da idolatria. Como na Malásia
proselitar fiéis é proibido por lei, tivemos que obter uma licença especial para
que eu ministrasse o estudo às centenas de pessoas que fizeram nosso seminá-
rio. Em uma noite de muito calor, já próximo do final do trabalho que durara
uma semana, fiz um apelo para que viessem à frente aqueles que desejassem
que orássemos por eles.
Na Malásia, as culturas malásia, chinesa e indiana estão misturadas. Isso
produz uma grande beleza visual, pela diversidade do vestuário usado pelo
povo. Naquela noite, senti um imenso vazio interior que nem a beleza da cena
Parte II l Reconstruindo os alicerces - 141

parecia amenizar. Vi uma bela mulher indiana chorando e comecei a orar por
ela, mas não consegui sentir nada. Não me via tocado pelo sofrimento dela. A
mulher explicou que era divorciada e estava sofrendo a dor e a mágoa da sepa-
ração. Embora eu percebesse que Deus operava em sua alma, minha sensação
era de que estava desligado de tudo, distante dela.
Horas depois, de volta ao luxuoso quarto de hotel, senti que embora as
reuniões tivessem sido muito abençoadas, havia alguma coisa errada. Vira o
Espírito Santo libertando muita gente mas eu permanecia frio e indiferente.
Por quê? Ajoelhei ao lado da cama e pedi a Deus que me revelasse a causa da
minha dureza e indiferença. Já era quase meia-noite, e estava muito cansado
pela semana de trabalhos, mas decidido a orar.
Afinal ouvi dele:
"Bruce, você tem estado tão ocupado com meu trabalho que não tem mais
tempo para mim."
De repente, lembrei que os últimos meses tinham sido tão cheios com semi-
nários, consultas e com o ministério, que havia negligenciado o altar da comu-
nhão com ele. Meu trabalho se tornara um ídolo para mim e eu passara mais
tempo no santuário dele do que aos pés do Senhor. Vi claramente que Deus,
por sua graça, continuara a abençoar a ministração da sua palavra, por meu
intermédio. Pelo fato de ter negligenciado a comunhão com ele, ficara como
que "de fora", apenas assistindo a tudo.
Com lágrimas de arrependimento, me humilhei diante dele e achei graça
para retomar ao templo do meu coração e ali, aguardar o maravilhoso fortale-
cimento que vem da presença e do gozo do Senhor.
Depois disso, comecei a notar que são poucos os crentes que reconhecem
que a presença de Deus é um elemento vital para as suas vidas. No livro de
Salmos, Davi fala de "como são felizes ebem-aventurados aqueles que habitam
na casa do Senhor e na sua presença!" Esses desfrutam do gozo, do conforto e
das forças dados por Deus, bem como de tudo que precisam para o trabalho
dele. Quem negligencia o templo, a comunhão íntima com Deus, corre o risco
de começar a adorar outros "deuses", de cometer erros graves e de se perder
em um labirinto de idolatria e religiosidade. SÓ o contato com a presença divina
nos habilita a revelá-lo a outros.
Como aconteceu na época de Esdras, precisamos primeiro retornar arrepen-
didos ao altar de Deus e depois ter o cuidado de não abandonar seu templo.
142 - Paredes do Meu Coução l j;j l Ç l l |jç ai,' , ,

O MURO DA SALVAÇÃO

ESDRAS = RECONCILIAçÃO

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l b ° REDENçAO Ò."'Ô 't>'"L
,?'?G PRINCIPAL PEDRA ANGULAIÍ'.Q:?L

j2°&b:qh::9:'?^2:à°:9::° i

i IGURA 24
Parte II l Reconstruindo os alicerces - 143

Desde os dias da igreja primitiva, o cristão pode dar esses dois passos com
base na obra expiatória realizada por Cristo na cruz. Jesus é a "principal pedra
angular" (l Pé 2:4-8). Precisamos fazer dessa "pedra angular" nosso altar e
templo constantemente.
Enquanto não dermos ao Senhor o lugar de prioridade que ele deve ocupar
em nossas vidas, não poderemos experimentar a salvação, nem crescer espiri-
tualmente. Em resumo, olhando a figura 24, vemos que o alicerce do muro da
nossa salvação é a pedra da redenção.

"... Assim diz o Senhor Deus: "Eis que eu assentei em Sião unia pedra,
pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que
crer não foge. Farei juízo a regra, e justiça o prumo; a saraioa oarrerá o refiígio
da mentira e águas arrastarão o esconderijo'ús 28:16,17).

Esse texto fala de uma tempestade, destruindo o refúgio das mentiras e as


paredes da rejeição e revolta. Removidas essas paredes é colocada no lugar
delas, uma "pedra angular" provada e firme, sobre a qual podemos construir o
mudo da salvação. Agora ele pode ser edificado com toda segurança, perfeita-
mente vertical, alinhado pela justiça e aferido pelo prumo divino.
No capítulo seguinte, veremos como podemos erguer o muro da salvação.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Como têm sido aplicados em sua vida o papel e a função do altar?


Como você pode melhorar sua comunhão íntima com Deus?
Faça um planejamento nesse sentido.
Medite sobre os alicerces da sua fé.
10
DESCOBRINDO QUEM
É NOSSO PAI
A gora o templo de Jerusalém estava reconstruído, mas os muros ao redor
da cidade santa ainda se achavam em ruínas. Para realizar a tarefa de
reerguer as muralhas de proteção da cidade, Deus chamou Neemias.
Ele deveria liderar o terceiro e último grupo de israelitas que partiria da Pérsia,
regressando à pátria.
O nome "Neemias" significa "consolador e conselheiro" e fala da obra do Es-
pírito Santo que se coloca ao nossolado para nos fortalecer e guiar, no caminho de
Deus. No contexto social, Neemias foi copeiro, construtor de muros e governador.
Mas no sentido espiritual, ele nos conclama abeber do cálice do Senhor, a edificar
as paredes da salvação e a nos preparar para governar e reinar com Jesus.
O capítulo 9 de Esdras fala de reconciliação, enquanto o de Neemias mostra
o povo de Israel retomando a herança que fora dada a eles por Deus.
Neemias era o copeiro do rei da Pérsia e encontrava-se em Susã, no palácio
de inverno, quando recebeu notícias muito desalentadoras. As muralhas de
Jerusalém estavam em ruínas e o povo vivendo atormentado. Embora estivesse
muito distante da pátria, ele ficou tão preocupado que passou quatro meses
aflito, orando pela situação.
Então faço a seguinte pergunta: Qual seria a nossa reação diante de uma
mensagem que Deus nos envia por intermédio de um emissário seu? Levamos
aquela palavra a sério como fez Neemias? Acredito que na maioria das vezes,
nem percebemos que ele está nos falando ou pior, se percebemos, alguns dias
depois já esquecemos do que ele nos disse. Segundo o relato, Neemias passou
146 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

quatro meses buscando a Deus e só depois recebeu uma resposta. Enquanto


buscava ao Senhor, ele louvava e exaltava sua fidelidade à sua aliança e sua
misericórdia para com os que guardam seus mandamentos (Ed 5:1). Como é
possível que sabendo da destruição da sua pátria, ele pudesse ter essa reação
positiva de louvar a Deus? Certamente ele tinha um bom conhecimento da
natureza e do caráter divino, já que, apesar de estar diante de circunstâncias
aparentemente desesperadoras, podia louvar a Deus por sua fidelidade.

CONHECER A REALIDADE
O fato de Neemias louvar a Deus em meio a uma situação difícil não signifi-
ca que ele estivesse negando a realidade da mesma. O que ele fez foi submetê-
la ao Deus que é a realidade e supera qualquer problema. Ao adorar e exaltar a
Deus pelo que ele é, Neemias estava trazendo para dentro daquela conjuntura
adversa o Deus que tudo pode!
As Escrituras revelam que Deus habita no meio dos louvores do seu povo.
Assim, quando o adoramos, ele vem até nós e habita em nosso meio. Tão logo
principiamos a vê-lo e tocá-lo, nossa fé é revitalizada, acendendo em nós a es-
perança. Então, temos uma visão correta da situação; o que antes parecia tão di-
fícil, agora tem o tamanho reduzido, assumindo suas verdadeiras proporções.
Quando Neemias começou a louvar e adorar a Deus, seu coração se encheu
de fé e ele viu a restauração das promessas do Senhor e o povo de Deus ali-
nhando a vida pelo prumo divino. Desse modo, viveu experiências semelhan-
tes às de jÓ: "Eu te conhecia só de ouoir inãs agora os meus olhos te oêein"(jó 42:5).
O que será que JÓ quis dizer com isso? Quis dizer que ouvira muitas coisas
a respeito de Deus e procurara viver de acordo com o que ouvira. Depois que
fora provado, tivera uma visão melhor de si e em meio a uma forte convicção
de pecado, arrependeu no pó e na cinza. Então clamou:
"Agora meus olhos "espirituais" te vêem!"
O que ele queria dizer era que conhecia o Deus Pai por um ângulo di-
ferente e maravilhoso. Agora estava em condição de receber a revelação. E
Deus deseja nos levar, todos nós, a ter essa condição. Mas, muitas vezes, nós
só a atingimos em meio às circunstâncias difíceis, como no caso de JÓ e Nee-
mias. Se quando estivermos atravessando um deserto, cultivarmos a atitude
de louvar a Deus, também receberemos dele a revelação da qual necessita-
mos para sermos aprovados no teste.
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 147

Na figura 25 temos a pedra fundamental - a redenção, sendo Cristo, a prin-


cipal pedra angular! Fortificando o muro da salvação, temos sete barras de fer-
ro. Como vimos no exemplo de Neemias, a primeira dessas barras que estão
fixas na base é a da revelação.
A revelação não se restringe a um conhecimento novo ou a uma compreen-
são mais profunda das coisas de Deus. Na verdade, trata-se de um claro discer-
nimento das coisas espirituais, cujo impacto no coração do homem é tão forte
que opera nele uma transformação. O requisito básico para alguém receber
uma revelação não é seu QI, mas a obediência à Palavra de Deus! Uma criança
que tiver um coração aberto diante de Deus, pode receber maior revelação do
que um professor bacharel em teologia. Segundo o Salmo 119:97-100, um jovem
que obedece aos mandamentos de Deus, pode obter mais revelações do que
seus mestres, seus inimigos e do que os idosos. Por outro lado, a desobediência
leva um indivíduo a cair em erros e fecha para ele a porta da revelação.

COMUNHÃO ÍNTIMA COM O PAI


Em João 14:1-6, Jesus fala para seus discípulos a respeito da sua partida.
Como na mente daqueles homens, a missão do Mestre seria derrubar o tirânico
jugo romano e estabelecer seu próprio reino, eles ficaram profundamente per-
turbados pela revelação de que ele partiria em breve. E agora, o que seria dos
seus sonhos ambiciosos? Tomé quebrou o silêncio, informando a Jesus sobre "o
pé" em que estava a situação. Depois de informados sobre sua partida, como
poderiam saber para onde ele iria e como chegar lá? E o Senhor desfaz todo
mal entendido dizendo: "Eu sou o caminho, a verdade ca oida; ninguém oeni ao Pai
senão por mim" (Jo 14:6).
Mas os discípulos não compreenderam nada. O que o Senhor queria dizer
com aquilo? Ele explicou que iria para outro lugar, para um reino celestial e
não terreno, onde estaria com o Pai. Queria ensiná-los que não deveriam parar
"no caminho", mas prosseguir até o destino que é a comunhão íntima com o
Pai. Jesus é o caminho que nos conduz ao Pai, a quem nós também precisamos
conhecer. Seu desejo não é nos salvar para depois ficarmos Órfãos, não! O Pai
deseja desfrutar uma comunhão íntima conosco (Jo 14:21,23). Juntamente com
Jesus, ele deseja vir morar em nós que somos o seu templo, na condição de
nosso Amigo e Pai. Esse fato, que para os discípulos, até aquele momento, fora
apenas conhecimento, agora era revelação. Antes, isso que estivera presente
148 - Paredes do Meu Coução l Bi

O MURO DA SALVACÃO
J
NEEMIAS = RI SI \L R \(, 1()
ESDRAS=RI(X)NCl||\Cü)

R"ÊÍÃÇ@

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FIGURA25
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 149

apenas em suas mentes, naquela hora passava a ser parte integrante da vida de
cada um deles.
Por que às vezes é tão difícil ir ao Pai por meio de Jesus? Por que tantos
permanecem órfãos, mesmo sabendo que Jesus está ansioso para que nos tor-
nemos filhos ou filhas do Pai por seu intermédio? Durante esses anos em que
tenho trabalhado com o aconselhamento, tenho percebido que as pessoas se
mostram temerosas, inibidas, cheias de dúvidas ou com outros tipos de bar-
reiras ao amor do Pai. A experiência que narro a seguir, pode nos ajudar a
entender isso.

BARREIRAS
Uma jovem chamada Lydia, estava fazendo o curso de discipulado da JO-
CUM. Nas primeiras semanas manteve-se sempre silenciosa e muito atenta às
aulas. Certo dia, demos a oportunidade aos alunos para darem seus testemu-
nhos perante a classe e Lydia logo se dispôs a falar:
"Sou de uma família grande, somos oito filhos", principiou ela em voz su-
ave mas clara.
Estávamos num galpão aberto e todos silenciaram para ouvi-la. A quietude
reinante era perturbada apenas pela algazarra dos pássaros nos coqueiros.
"Quando eu ainda era adolescente, minha mãe adoeceu e o diagnóstico foi
câncer em fase terminal", continuou ela. "Tive que parar de estudar para cui-
dar da casa. Fiquei muito chateada por não poder terminar os estudos e me
formar com meus colegas. Alguns meses depois, minha mãe morreu e como
eu era a mais velha, tive que assumir a tarefa de cuidar dos outros irmãos. En-
frentei uma luta muito grande para compreender por que Deus deixara minha
mãe morrer, mas todos os dias papai lia a Bíblia para nós e isso me confortava."
Aqui, a jovem fez uma pausa e correu os olhos pelo galpão lotado.
Certa noite, meu pai me chamou para ir ao quarto dele", continuou ela he-
sitante. "Disse para mim que uma das minhas novas atribuições seria tomar o
lugar da minha mãe como companheira."
Lydia limpou algumas lágrimas e explicou com voz sufocada que então
começara a ter uma relação incestuosa com o pai. Dava para perceber que todos
os presentes se sentiam fortemente abalados com a revelação. Algum tempo
depois ela engravidou e o pai disse que a criança seria como um irmãozinho ou
irmãzinha para eles.
150 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

Ainda durante a gravidez, em conversa com uma das irmãs mais novas,
Lydia ficou sabendo que ela também estava sexualmente envolvida com o
pai. Ambas desejavam confiar nele, mas se viam atormentadas por um forte
complexo de culpa. Quanto mais conversavam, pior se sentiam. O período da
gravidez para Lydia foi marcado por uma densa nuvem de sentimentos de
vergonha e culpa, anulando qualquer tipo de alegria que pudesse sentir em
relação ao fato de tornar-se mãe.
"Comecei a ter raiva do meu pai", prosseguiu ela. "Mas depois de um pe-
ríodo de revolta contra ele, ficava como que numa montanha russa, num mo-
mento sentia ódio por ele e em outro, amor. Comecei a experimentar um desejo
cada vez mais forte de fugir, de largar para trás aquelas pressões conflitantes
que me deixavam confusa e deprimida."
A moça explicou que seu pai percebera seu conflito interno e tentou dominá-
la, ora com ameaças verbais, ora com promessas de recompensas. Sua única sa-
tisfação era o profundo amor que sentia por Joey, seu filhinho recém-nascido que
assim que cresceu um pouco mais, foi informado de que era seu irmãozinho.
Afinal, a jovem chegou a um ponto em que a situação se tornou insupor-
tável. Fez uma trouxinha com alguns pertences e pegou uma pequena quantia
em dinheiro que ajuntara secretamente durante algum tempo, já prevendo que
a fuga seria inevitável. Aí sua cabeça se encheu de dúvidas. Era a batalha entre
o pavor de ficar e o sentimento de culpa que a dominava quando pensava em
ir embora. Seus irmãos haviam sofrido tanto com a morte da mãe! Agora a
"outra" mãe que tinham desapareceria subitamente, levando o "irmãozinho"
mais novo.

"Como é que eu poderia fazer uma coisa dessas? Por outro lado, como po-
deria ficar?"
Lydia disse isso chorando, revivendo a dor que sentira. E foi soluçando que
ela contou que pegara o filho e saíra silenciosamente de casa, deixando o lugar
onde vivera.
Viajou para outra parte do país, onde ficou morando com uma antiga colega
da escola. Assim que arranjou um emprego, alugou seu próprio apartamento.
SÓ então escreveu ao pai, explicando por que fugira e dizendo que ela e o "ir-
mão" estavam bem.
Em seguida, Lydia contou como fora parar na escola da JOCUM. Contudo,
ainda lutava com um profundo e interminável sentimento de culpa. Temia que
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 151

as pessoas soubessem da sua triste história e rejeitassem tanto a ela como ao


Joey, que agora estava entrando na adolescência. Não conseguia se livrar de
uma entranhada sensação de impureza e tinha sentimentos de ódio contra si e
contra o pai.
Ouvindo-a narrar sua história, pensei, maravilhado, em como é forte a alma
humana, capaz de sobreviver a uma agressão dessa natureza! Mais uma vez
tornou-se claro para mim, o quanto é importante o papel dos pais para os pe-
quenos e inocentes que aparentemente não têm outra escolha, senão suportar o
gosto amargo das "uvas verdes" dos seus progenitores.
Mas o que não sabíamos, enquanto ouvíamos seu testemunho, era que o
Ônibus que o filho dela tomara para ir à escola havia estragado e que ele não
fora. Curioso para saber o que sua "irmã" estava estudando, ele ficara por ali.
Espantado ao ver que ela subira à plataforma para falar, ele se escondera atrás
de umas plantas e ali se acomodara.
Os momentos seguintes foram os mais emocionantes da sua vida! Pela pri-
meira vez, ele ficava a par de todos os fatos. Ouvindo a "irmã", Joey compre-
endeu o mistério que envolvia os primeiros anos da sua vida. Lágrimas de dor
e alívio vieram aos seus olhos. Quando sua mãe terminou, ele não conseguiu
controlar-se mais e correu para a plataforma. Abraçou a moça que se mostrava
fortemente abalada, continuando a abraçá-la, enquanto ambos choravam. Ven-
do a mãe e filho se "encontrarem" pela primeira vez, muitos dos presentes no
galpão choravam, quebrando o silêncio que reinara ali até aquele momento.
Finalmente, Joey olhou para a mãe, ainda chorando e disse:
- "Sempre senti que havia alguma coisa de muito especial entre mim e vOCê!
Agora sei por quê. Eu te amo, mamãe!"

O CORAÇÃO FERIDO DO PAI


Enquanto os dois choravam abraçados, o próprio Deus os envolveu com
seu amor paterno. Então, um dos nossos diretores que estava próximo deles,
sentiu que Deus dava a ele uma mensagem para os dois. Disse que "o Pai
também estava chorando de tristeza, pela maneira como aquele homem havia
desfigurado a imagem da paternidade divina e pela agonia que isso causava
a ambos". E naquele momento, continuou nosso diretor, "Deus desejava dizer
a eles que seu amor era puro e imaculado e nunca causaria a eles, nenhum so-
frimento". Todos nós que presenciávamos a cena sentimos que pisávamos em
152 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

terra santa. Estávamos vendo o Deus Pai assumindo a paternidade para mãe e
filho, levando-os a conhecer a realidade do seu caráter e a beleza do seu amor.
E assim, Lydia teve um conhecimento pessoal do Pai e isso mudou toda
sua vida. Tal foi essa transformação, que mais tarde ela fundou um poderoso
ministério para vítimas de incesto. Chegou inclusive a dar seu testemunho em
programas de rádio e televisão, falando de como Jesus a levara ao Pai e como
a restaurara por meio do seu amor. Tempos depois ela se casou com um rapaz
crente. Í
Como tem acontecido a muitos de nós, a imagem que Lydia tinha da pa-
ternidade fora seriamente maculada pela lascívia. Por isso, ela ficara com uma
visão também distorcida de Deus Pai. Não existe ninguém neste mundo que
tenha sido mais difamado, mais mal representado que Deus Pai. Ele tem sido
alvo de mentiras e falsas acusaçõe. E, naturalmente, tudo isso é engendrado
por Satanás. O Senhor atribuiu aos pais terrenos a missão de representar a sua
paternidade. Entretanto, eles cometem todo tipo de erro, desde ignorar os fi-
lhos até espancá-los até a morte. Não admira que o conceito de paternidade
esteja tão aviltado hoje em dia.
Em capítulos anteriores, mencionamos que as pessoas podem sofrer de ca-
rência afetiva devido à aplicação de um falso prumo humano em suas vidas.
Pois bem. Quando Jesus nos leva ao Pai, essa lacuna é preenchida e podemos
experimentar a segurança do amor divino, sem que busquemos o amor em ou-
tros. Mas, se tivermos uma imagem distorcida de Deus Pai devido às experiên-
cias negativas e dolorosas, nossa carência afetiva irá aprofundar-se ainda mais.

IMAGENS DISTORCIDAS
Compreendi o quanto precisamos conhecer o verdadeiro caráter do Pai
quando aconselhei uma jovem senhora chamada Molly. Embora ela e o mari-
do fossem crentes dedicados, tinham decidido ficar separados por uns tempos
devido aos conflitos conjugais. Ela me explicou que quando tinha oito anos de
idade, seus pais separaram e ela ficara com o pai. Certo dia, dissera a ele que
gostaria de morar por um tempo com a mãe também, mas o pai, que não estava
bem de saúde, respondeu que se ela fosse, ele morreria. Dividida entre o desejo
de ir e o temor de que o pai morresse, Molly resolveu deixar para mais tarde.
Alguns anos depois, ela foi embora. Mas, para tristeza sua, enquanto estava
distante, seu pai morreu. Agora, dominada pelo sofrimento, pela angústia e
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 153

sentimento de culpa, Molly acreditava que seu pai morrera porque ela se afas-
tara dele.

CONFIAR NO PAI
Durante muitos anos, a imagem que Molly tinha da paternidade divina
fora inspirada em seu próprio pai. Por isso, em vez de confiar em Deus Pai,
tinha medo dele. Assim que casou, todos seus temores e desconfianças vieram
à tona. Embora empregasse um vocabulário cristão correto, notava-se que suas
palavras provinham da cabeça e não do coração. Lemos em Provérbios 23:7 que
como imaginamos em nosso coração, assim somos. Não é em nossa cabeça que
Deus aplica o seu prumo e sim, em nosso coração, pois é ele quem determina a
forma como viveremos.
Quando Molly concluiu seu relato, estava claro que sua falta de confiança
havia afetado seriamente o relacionamento com seu marido. Então oramos e
permanecemos na presença do Senhor, aguardando sua direção. Ele nos mos-
trou que o pai dela, ao usar a chantagem emocional, havia manipulado o amor
da filha. Depois, com grande mansidão, o Pai falou ao coração de Molly. Mos-
trou-lhe que ela adotara uma atitude de desconfiança em relação a tudo e ago-
ra, precisava assumir a responsabilidade por essa reação errada, perdoando o
pai e a si mesma. E ela o fez. Arrependeu-se e chorou. Deus penetrou no fundo
do seu ser e curou a mágoa profunda que havia em seu espírito.
O que acontecera àquela jovem senhora? Ela conhecia Jesus e o Espírito
Santo, mas enxergava o Pai, pelas lentes distorcidas da imagem do seu pai ter-
reno. No dia em que oramos, Deus a libertou dos seus temores e desconfianças
e assim teve início para ela, a maravilhosa aventura que é conhecer Deus Pai!
Inclusive, seu casamento foi restaurado.
Como sucedeu a Lydia e a Molly, todos nós, ao iniciarmos nossa caminhada
cristã, criamos nossas próprias imagens do Pai. É possível que nossa mãe te-
nham morrido de câncer quando éramos pequenos ou que nossos pais tenham
se separado e tenhamos sido criados por outras pessoas. Pode ser também que
tenhamos convivido com uma mãe alcoólatra ou com um pai que era um exem-
plo de homem trabalhador mas nunca tinha tempo para cultivar conosco o
relacionamento pessoal de que tanto precisávamos.
Então, vivendo em situações iguais a essas e a inúmeras outras, que tipo
de imagem teríamos de Deus Pai? Que tipo de prumo há em nosso coração?
154 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Conversando com as pessoas às quais aconselho, tenho sentido que o prumo


pelo qual elas alinham suas vidas é bem diferente do prumo de Deus, no que
tange ao caráter e à natureza dele.

NOSSA MAIOR NECESSIDADE: O RELACIONAMENTO COM O PAI


A imagem que eu tinha de Deus Pai era que ele nunca me aceitaria ou de-
monstraria apreço por mim, o que destoa totalmente do prumo divino. Devido
a certas experiências, dei crédito às mentiras dos falsos profetas, até o dia em
que Deus falou profundamente ao meu coração, abrindo caminho para eu co-
nhecer melhor o Pai. SÓ então, passei a experimentar um verdadeiro senso de
segurança e libertação.
Todos nós precisamos ter um conhecimento pessoal do caráter e da natureza
de Deus Pai. E verdade que sabemos muitos fatos sobre ele, muitas coisas tem
sido escritas a seu respeito. Mas, será que o conhecemos nos nossos corações? Até
onde ele é real para nós? Será que de fato, temos com ele um profundo relaciona-
mento em amor, que nos é mais importante do que qualquer outra coisa na vida?
Jesus quer que conheçamos o Pai, e se permitirmos que ele no-lo revele, te-
remos um conhecimento real dele em nossos corações e em nossas vidas. Certa
vez, Neemias permitiu que Deus, pelo seu Espírito revelasse a ele o estado do
seu próprio coração. Depois então, ele passou a ter um conhecimento correto
do coração do Pai. Assim como Neemias precisou ter esse conhecimento para
desempenhar a missão da qual Deus o incumbira, nós também precisamos
conhecê-lo, para cumprirmos os seus propÓsitos para nós. Se quisermos ver o
muro da salvação edificado em nós, precisamos procurar conhecer o Pai celeste.
Nosso Deus Pai se entristece profundamente com os fatos que causam dis-
torções em sua imagem. O plano dele era que sua imagem fosse refletida de
maneira perfeita, por meio de sucessivas gerações de famílias e nações. Mas,
usando de meios sutis, enganosos, Satanás, o pai da mentira, virou contra Deus
o coração dos próprios filhos dele. Muitos expressam abertamente suas des-
confianças, descrenças, ressentimentos e ódio contra Deus. Alguns inclusive,
negam sua existência.
Entretanto, Jesus continua sendo "o caminho" para nos guiar à "verdade"
e à "vida" de Deus nosso Pai. Quando seguramos sua mão, permitindo que
ele nos conduza a uma profunda comunhão com a terna paternidade divina,
nossos temores e inseguranças começam a ser dissipadas.
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 155

O Salmo 139 revela bem a verdadeira natureza do nosso Deus Pai. Nele estão
delineadas belíssimas facetas da natureza do Pai celeste que é justo em todos os
seus caminho e benigno em todas as suas obras. De acordo com esse texto, ele é:

ONIPOTENTE Todo-poderoso SI 139:1-4


ONIPRESENTE Está em toda a parte SI 139:5
ONISCIENTE Sabe todas as coisas SI 139:13-14
ONIPESSOAL Ama a todos SI 139:15-18

Meditando sobre a natureza de Deus, ficamos obrigatoriamente extasiados


com sua magnitude. Se pudéssemos dar uma conferida em sua agenda para as
próximas 24 horas, nós nos sentiríamos simplesmente deslumbrados. E se pu-
déssemos ser mais específicos,veríamos que ele sabe até o número dos cabelos
das nossas cabeças (e ele tem que estar sempre recontando!)
Entretanto, alguém poderá indagar: "Por que um Ser com uma agenda tão
cheia, se preocuparia com todos os complicados detalhes da minha vida?" Eu
pessoalmente, só vejo uma razão, seu amor por nós é tão grande e profundo
que ele não deixa escapar nenhum pormenor.
Deus deseja que o vejamos como ele é de fato, e quer revelar para cada um
de nós seu verdadeiro ser! NÓs é que, muitas vezes, não estamos preparados
para recebermos essa revelação! Ele está com o coração ferido, face à crueldade
dos pecados dos pais. Seu grande anseio é acolher seus filhos para revelar a
eles seu verdadeiro caráter.
Depois da revelação, segue-se outra etapa. Se o muro da salvação de cada
um não tiver essa outra faceta, a revelação pode se tomar para nós motivo de
orgulho e pedra de tropeço. Continuando a estudar os muros da salvação, no
próximo capítulo, focalizaremos a condição básica para que experimentemos
mudanças em nossa maneira de viver.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Como era a imagem de Deus Pai que você formou quando era criança?
Como é a imagem que você tem dele agora?
Procure lembrar os principais momentos em que teve conhecimento sobre
a paternidade divina.
11
O PADRÃO
ESTABELECIDO POR DEUS
Oevangelista D. L. Moody afirmou certa vez que a melhor maneira de
demonstrar que uma vara está torta não é denunciando o fato, nem
ficar discutindo a respeito dele. O melhor a fazer é colocar ao lado des-
sa vara, outra perfeitamente reta. Neste capítulo, examinaremos outra faceta
do padrão estabelecido por Deus, sua vara reta, que representa o indestrutível
amor de Cristo e tudo que esse amor abrange.
"Arrependei-oós porque está próximo o reino dos céus" (Ml 3:2). Essas palavras
ressoavam com grande clareza e poder, eletrizando as multidões que acorriam
ao deserto, provenientes das localidades próximas ou de pontos distantes.
Aquela figura austera, cujo vestuário era tecido de pêlos de camelo não media
palavras quando desafiava todos a viverem segundo os padrões estabelecidos
por Deus. Neemias, por exemplo, adotara esses padrões centenas de anos an-
tes, ao receber a desagradável notícia que sua pátria estava devastada. Depois
de jejuar e orar, ele teve uma revelação da sua condição, expressando seu arre-
pendimento com estas palavras: "Faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel
que temos cometido contra ti; pois eu ca casa do meu pai temos pecado" (Ne 1:6).
Já vimos que ao edificar o muro da salvação do qual fala Isaías 60:18, precisa-
mos fixar na pedra angular algumas barras de ferro para dar sustentação, esta-
bilidade e durabilidade a essa construção. No capítulo anterior, verificamos que
a primeira delas é a reoelação. Examinaremos agora a segunda, o arrependimento.
Notemos que no processo de arrependimento, Neemias citou também os
pecados que ocasionaram a ida dos seus antepassados para o exílio. Também
158 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

nós, precisamos procurar saber quem são nossos ancestrais, que, segundo creio,
não seriam apenas os antepassados de fato,mas ainda, as figuras de autoridade
que afetaram nossa vida de forma significativa.
Alguém poderia indagar se o fato de Neemias se arrepender por seus ante-
passados teria algum valor, já que a maioria deles àquela altura estavam mor-
tos. É que quando ele estava na presença do Senhor, além de ter unia revelação
sobre o Deus Pai, foi conscientizado também dos seus pecados e dos pecados
dos seus pais. Mas não os culpou nem acusou outros. Pelo contrário, reconhe-
ceu que "Deus visita o pecado dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos" (Nin 14:18).
Compreendeu que "seus ancestrais haviam comido uvas verdes e os dentes
dos filhos estavam embotados". O que ele poderia fazer? Assumiu a respon-
sabilidade não apenas dos seus próprios pecados mas também dos pecados
do seu povo. Foi com essa atitude que buscou a Deus. Com esse gesto, ele
estava tipificando Jesus, fazendo o que ele mais tarde faria na cruz quando le-
vou sobre si nossos pecados, para que pudéssemos ser libertos. Se nÓs também
praticarmos esse princípio bíblico, poderemos mudar não somente nossa vida,
mas ainda a de gerações que estão para nascer.
Se os avós de Neemias tivessem arrependido dos seus pecados, nem eles,
nem as gerações posteriores, teriam sido levadas ao exílio da Babilônia, onde
permaneceram por vários anos no cativeiro. SÓ o arrependimento, isto é, a mu-
dança total da nossa maneira de viver, pode operar uma verdadeira transfor-
mação em nossas vidas.
Podemos definir o verdadeiro arrependimento como uma firme decisão
interior, uma mudança de pensamento. O termo grego usado no Novo Tes-
tamento que em nossa língua é traduzido como "arrepender" é "metanOia", e
significa "mudar de idéia'". Trata-se, portanto, de uma decisão e não de uma
emoção.

No Velho Testamento, o termo hebraico mais traduzido como "arrepender",


ao pé da letra significa "virar, voltar". Enquanto o Novo Testamento dá ênfase
ao fato de que ele é um processo interior, o termo usado no Velho Testamento
ressalta o gesto exterior que reflete a mudança interior. Portanto, o arrependi-
mento é uma mudança da idéia interior que resulta em um ato exterior de virar
ou voltar, isto é, passar a mover na direção contrária.
A figura 26 mostra a relação do arrependimento com as paredes de rejeição
e revolta. Com já mencionamos, nós construímos essas paredes na tentativa
Parte II l O padríío estabelecido por Deus - 159
..

de nos proteger das diversas agressões que sofremos na vida. Quando nos ar-
rependemos de nossos pecados, as paredes caem, e assim podemos edificar o
muro da salvação seguindo o prumo divino.
Que associação tem o problema da rejeição com os pecados de nossos pro-
genitores? NÓs não somos culpados pelos atos de rejeição sofridos na infância.

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160 - Paredes do Meu Corutção l Bruce Thompson

Entretanto, se adotarmos um estilo de vida baseado nessas atitudes negativas


e depreciativas de outros para conosco, aí já seremos responsabilizados. Então,
a batalha natural de sair da incredulidade e chegar à fé passa a ser um conflito
entre a verdade divina e o condicionamento que recebemos pela criação.

O VALOR DO SER HUMANO


Para ilustrar essa dinâmica, consideremos o valor de um relógio Casio. O
valor desse objeto é igual ao preço que pagamos por ele,como de resto é o valor
de todos os artigos que compramos. Mas qual seria o valor de uma vida? Ou
mais especificamente, qual é o valor da sua vida?
Certa vez fiz essa pergunta num seminário de estudos para médicos, reali-
zado na Suíça. E um dos médicos presentes disse:
- Eu valho $20 Francos Suíços mais as obturações de ouro.
Em seguida explicou que as pesquisas revelam que é isso que o corpo hu-
mano vale. Todos nós rimos, mas logo em seguida outro disse:
- Não, não. NÓs valemos dois milhões, pois nÓs, os suíços, trabalhamos
muito!
O Dr. Haroldo J. Morovitz,um professor universitário que leciona biofísica,
calculou o valor médio de um grama de ser humano e chegou a conclusão
de que se vale $6.000.015,44 dólares. Então, ele próprio é "o homem de seis
milhões de dólares". Entretanto, depois de ter feito essa pesquisa sobre o valor
médio do homem, o Dr. Morovitz concluiu:
"Mas como poderíamos reunir as células para formar tecidos, e os tecidos
para formar órgãos, e os Órgãos para formar uma pessoa?"
A própria idéia de realizar essa empreitada nos deixa atordoados. Assim é
anulada a possibilidade de colocar a questão em termos financeiros. Estamos
diante do fato de que o ser humano não tem preço. Partindo de uma simples
e pequena porção de matéria orgânica, chegamos a essa gloriosa conclusão
filosófica: cada pessoa é infinitamente preciosa! O salmista chegou à mesma
conclusão quando cogitava sobre a maneira como tinha sido "tecido" no ventre
da sua mãe: "Por modo assombrosamente marm'ilhoso me formaste" (SI 139:14).
Se quisermos saber o valor real da nossa vida, temos de atentar para o preço
que foi pago por cada um, e para quem a comprou. A Bíblia revela que não
somos nossos, pois fomos comprados por preço (I Co 6:19,20). Nossos calendá-
rios confirmam o fato de que Cristo morreu há quase 2000 anos, deu sua vida
Parte II l O padríío estabelecido por Deus - 161

numa cruz horrenda para nos comprar, e pagou com seu próprio sangue, para
nos salvar do pecado e da morte. Não existe moeda que tenha o valor do preço
pago por ele. As Escrituras afirmam: "Ninguém tem maiorainor do que este: de dar
alguém q própria vida em favor dos seus amigos" (Jo 15:13). Diante desse fato, cada
um de nós deve entender esta verdade: Nosso odor é inestimável.

COMPREENDAMOS NOSSO VALOR

"Ao irmão, oerdadeiraniente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele q
Deus o seu resgate, Pois a redenção da dina deles é caríssima e cessará a tenta-
tioa para sempre" (S! 49:7,8).

Deus declara aí em termos claros que nem toda a riqueza do mundo seria
suficiente para comprar um de nós. SÓ o sangue de Jesus vale isso. Portanto,
aos olhos de Deus, nós valemos mais do que toda a riqueza deste mundo. En-
tão, quando alguém afirma que não tem valor e que é inferior ou indigno, não
está expressando o que Deus pensa.
Quando pergunto aos alunos se eles reconhecem que o valor de cada um
é inestimável, poucos respondem afirmativamente. Se indago quantos deles
já disseram internamente que seu valor é incalculável, o número dos que dão
uma resposta positiva é ainda menor. O que isso demonstra? Demonstra que
a incredulidade existente em nossos corações, nega a visão de Deus sobre o
valor de cada um. O pecado que mais pesa no processo de rejeição é esse falso
conceito, ou incredulidade.
A maioria das pessoas tem mais facilidade para aceitar o condicionamento
que vem dos pais e da sociedade - mais o reforço que as profundas emoções
dão a esse pensamento - do que crer no amor de Deus por nós. Dando crédito
a tais mentiras, na realidade estamos cometendo o pecado da incredulidade.
A descrença que abrigamos no coração, ainda que não manifesta, nega a afir-
mação divina de que nosso valor individual é inestimável! Isso faz com que o
amor dele nos pareça mera teoria, algo distante dos nossos corações. Dando ré-
deas soltas à incredulidade, estamos, de fato, concordando com o velho prumo
humano da rejeição e pondo de lado o prumo divino.
O que determina o valor de um indivíduo não é seu sucesso na vida, suas
realizações, seu desempenho profissional, seus empreendimentos e nem més-
162 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

mo o número de pessoas que o amam e o respeitam. O valor de cada um de nós


baseia-se única e exclusivamente na seguinte declaração de Deus: "Porque Deus
amou o mundo de td nianeim..."(jo 3:16). Nada pode modificar esse fato.

O PECADO DA INCREDULIDADE
A incredulidade nasceu no jardim do Éden quando Satanás descobriu um
meio de enganar Eva, levando-a a duvidar de Deus. Até hoje a incredulidade
continua insidiosa. Ainda é o pecado básico, a pedra fundamental sobre a qual
se assenta a parede da rejeição. Tanto a personalidade do "Cordato" quanto a
do "Derrotista" que analisamos no capítulo sete, apOiam-se na base da incre-
dulidade.
Aos olhos de Deus, o pecado da incredulidade é tão grave que toda uma
geração de israelitas foi considerada indigna de entrar na terra prometida que
seria sua herança, por ter sido incrédula (Hb 3:16-19). Apenas Josué e Calebe
creram. Os outros duvidaram do poder de Deus e morreram no deserto.
e hoje, muitos crentes deixam de receber sua herança pela mesma razão, a
incredulidade. A vida deles é uma verdadeira peregrinação no deserto. Vêem-
se constantemente importunados por dúvidas, desconfianças, desânimo, auto-
rejeição e até auto-depreciação. Incapazes de atingir suas metas, de realizar
seus sonhos e desejos, encontram-se perdidos no deserto da desilusão e da
dúvida.

O PECADO DA REBELIÃO
Quando uma pessoa adota a revolta como base para sua vida, a parede que
ela constrói é a da rebelião, cuja pedra angular ou o pecado básico é o orgulho.
As personalidade do "Competitivo" e do "Crítico" apOiam-se sobre a soberba da
vida. O orgulho é a atitude de não querermos ser vistos como realmente somos
e também de nos mostrarmos como não somos. "Deus resiste ao soberbo" (I Pé 5:5)
e chegará o dia em que o "abaterá" (Is 2:12). Algumas pessoas têm a impressão
de que Deus está contra elas; mas não apenas isso, ele resiste a elas também. Na
verdade, ele está resistindo ao orgulho que elas abrigam no coração.
Tomemos por exemplo o caso de Jack. Depois que ele converteu e entregou
seus negócios a Deus, passou por várias crises. Surgiram conflitos entre ele e a
esposa e seu relacionamento familiar deteriorou. Avida dele foi de mal a pior e
sofreu um duro revés que afetou tanto a família como seus negócios. Jack com-
Parte II l O padríío estabelecido por Deus - 163

preendeu que Deus estava tocando na questão do orgulho que regia diversos
aspectos da sua vida. Assim que ele se dispôs a cooperar com Deus e não dar
lugar ao orgulho, as circunstâncias começaram a mudar. Em pouco tempo, Jack
encontrou uma nova perspectiva de vida. Essa verdade que ele aprendeu é
importantíssima para a nossa caminhada com Deus. Ele se dispôs a humilhar-
se e assim, deu o primeiro passo para ser liberto dos falsos prumos humanos.
Se quisermos saber se o orgulho está dominando a nossa vida, devemos
responder com toda sinceridade às seguintes perguntas:

- Como reagimos quando outra pessoa é escolhida para ocupar uma


posição que desejávamos, ou quando o talento e as realizações da mes-
ma ofuscam os nossos? Sentimos inveja? Ficamos com raiva?
- Toda vez que nos dispomos a fazer uma autocrítica sincera, acaba-
mos reconhecendo que temos pontos falhos. Como reagimos quando é a
outra pessoa quem aponta um ponto fraco nosso?
- Qualé a nossa reação ao sermos criticados? Ficamos ressentidos, hos-
tilizamos e criticamos quem nos criticou? Temos pressa em nos justificar?

Se identificamos algum aspecto de nossa vida assentado sobre a pedra an-


gular do orgulho, precisamos fazer o mesmo que Jack, adotar uma atitude de
humildade. A humildade é a disposição de deixar guê os outros nos vejam
como somos, sejam quais forem as consequências. E ela a chave que abre as
portas para que a graça de Deus opere livremente em nossas vidas (I Pé 5:5,6).
Ter humildade é levar uma vida transparente diante da "luz" e da "verdade",
ambas tem o poder de nos libertar.

O QUE É A HUMILDADE
A humildade é uma qualidade do amor. "Se dissermos que amamos a Deus,
mas não amamos nosso irmão ou irmã, coino pode permanecer nele (em nós) o amor
de Deus?"(1 Jo 3:17). Assim como meu amor por Deus é evidenciado no amor
que tenho por meus irmãos, assim também minha humildade para com Deus
se manifesta em meu relacionamento com os outros. Nossa reação instintiva
em relação a humildade é rejeitá-la, nos retraindo diante dela. Não temamos
abraçá-la. Pelo contrário, devemos estar dispostos a deixar que os outros nos
vejam como realmente somos.
164 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

Certo dia quando eu estava orando, perguntei a Deus:


"Senhor, por que tenho tanta dificuldade em deixar que os outros me vejam
como sou, já que diante de ti é fácil mostrar-me abertamente?"
As palavras seguintes vieram mansamente ao meu pensamento:
"É porque você teme mais aos homens do que a mim."
Fiquei surpreso, mas tive que admitir que era verdade. Tinha receio de que
me rejeitassem ou me magoassem. Por isso, muitas vezes resistia ao impulso de
me mostrar como era de fato por medo do que os outros iriam pensar ou dizer
de mim. Foi então que aprendi que sem a verdadeira humildade, sem a dispo-
sição de deixar que os outros nos vejam como realmente somos, não haverá um
verdadeiro arrependimento.

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Parte II l O padríío estabelecido por Deus - 165

O termo grego traduzido por humildade é "tapeinos", que significa "de


espírito prostrado, degradado, rebaixado'". Ninguém gosta de se rebaixar, mas
para sermos humildes, precisamos aceitar a idéia de nos rebaixarmos. Quem
é que goza da presença de Deus? Diz o Salmo 51:17 que é "aquele que tem uni
coração compungido e contrito". São esses que "habitam com Deus num alto e santo
lugar", pois é exatamente quando nos curvamos ou nos rebaixamos é que Deus
pode nos exaltar. O arrependimento é um processo contínuo. Precisamos nos
manter em constante atitude de quebrantamento diante de Deus com respeito
à pecaminosidade dos nossos corações. Como podemos viver cada dia nesse
estado de espírito? Esta é a resposta:

"Confessai, pois, os dossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos ou-
tros, para serem curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo"
(Tg 5:16).

Precisamos buscar ao Senhor, em atitude de humildade, arrependidos de


nossa incredulidade e orgulho (e dos frutos produzidos por esses pecados).
Depois, à medida que formos abrindo o coração e a vida diante de uma outra
pessoa, Deus irá processando uma extraordinária cura em nós. Mas o primeiro
passo é a disposição de nos expor, de confessar nossos erros, falhas e pecados
a alguém em quem confiamos. É claro que em se tratando de questões difíceis
e mais sérias é aconselhável procurarmos uma pessoa que tenha se preparado
para o aconselhamento cristão especializado; alguém que creia no poder da
oração e que creia que Deus pode nos curar e nos restaurar.
Vimos, então, que o desafio que Neemias nos apresenta é que finquemos
fundo a barra do arrependimento na pedra fundamental da redenção. Para que
o processo de cura e restauração seja contínuo, é essencial que "andemos sem-
pre na luz" uns com os outros.

Mas existem outras importantes barras de reforço que precisamos utilizar


na edificação do nosso muro da salvação, se quisermos uma estrutura que re-
sista às tempestades e intempéries da vida.
No próximo capítulo veremos como o processo do arrependimento pode
transformar nossas vidas e por intermédio da fé, fazer fluir para nós as bênçãos
de Deus!
166 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

APLICAÇÃO PRÁTICA

Procure relembrar aspectos da sua vida em que a incredulidade e o orgulho


têm predominado.
Em seguida, medite no valor que o arrependimento teve nesses e em outros
aspectos.

Notas
'W. E. Virte, The Expanded Vine's Expository Dictionary of Ncu) Testainent Wor-
ds, Minneápolis, Bethany Publishers, 1984.
'Vine's Expository Dictionary, op. Cit.
12
O CORAÇÃO
ATORMENTADO
A gora que já analisamos a fase inicial do arrependimento, vamos estudá-
10 como um processo que transforma todo nosso viver. eremos que o
arrependimento bíblico é mais abrangente do que qualquer outro tipo
de transformação de vida. Compreenderemos ainda que ao exercitarmos fé,
acionamos a chave que abre as comportas das bênçãos de Deus para nós!
O primeiro elemento básico do arrependimento está relacionado com a
cruz. Jesus disse: "Se alguém quer oir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia
tome sua cruz e siga-me" (Lc 9:23). A maioria das pessoas nunca aceitam o apelo
divino para que aplique essa verdade em suas vidas. O que o Senhor quis dizer
quando fez essa declaração? Veremos na figura 28, como o velho homem pode
chegar a ser um novo homem. Adão representa a síntese da incredulidade e
do orgulho que herdamos ou desenvolvemos na vida. A única maneira de nos
livrarmos desses dois pecados, bem como de todos os outros que Cristo levou
sobre si é pregando-os na cruz. Para isso, temos que nos considerarmos mortos
para eles. Depois, em lugar da incredulidade, acatamos a declaração divina
acerca do nosso verdadeiro valor, e pela fé nos apropriarmos da verdade a nos-
so respeito. Por fim, passamos a aplicá-la na vida prática.
Tiago afirma que "q fé sem obras é inoperante" (Tg 2:20). A mera aceitação
mental da verdade sem uma aplicação diária na vida prática não adianta nada.
É muito importante a operação da fé. Ela nos transfere do prumo da rejeição
para a auto-aceitação e para o senso de valor próprio que estão alinhados pelo
prumo de Deus. Se o alicerce sobre o qual estamos firmados é o orgulho, as chã-
168 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

ADÃO

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Parte II l O comção atormentado - 169

vês para sairmos dele são a humildade e a confissão. A confissão dos pecados
traz à luz questões mais profundas do coração, e a humildade mantém aberta
a porta das nossa vida para que nela opere uma transformação verdadeira. Vi-
vendo na luz perante os outros, aplicamos um golpe mortal na raiz do orgulho.
Quando temos a humildade de confessar pecados, anulamos o controle que o
orgulho exerce sobre nós. O apelo que está diante de nós é que "nos despojemos
dos oelhos e indesejáoeis trajes do orgulho e da incredulidade, e nos reoistemos do traje
11000 e desejável' (C! 3:8-10). Contudo não é a uma ginástica mental que nos
referimos, e sim, a uma operação do poder de Deus em nós que processará
a transformação, por intermédio da vitória conquistada na cruz! Aquele que
exercita a fé na obra consumada por Cristo obtém a vitória!
Assim que começamos a promover essas mudanças, defrontamos com re-
sistências interiores, como vemos na figura 29. Nessa ilustração, a máquina
representa o espírito; o vagão de carga, a mente; e o carro que leva os operários,

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170 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

as emoções. O maquinista do comboio é Satanás, que vai sentado no compar-


timento das emoções, procurando explorar ao máximo o existencialismo do
nosso mundo ocidental. Ele nos manipula de maneira magistral, tentando nos
convencer a sermos guiados pelas emoções em vez de nos orientarmos pela
verdade e pelos bons princípios. As emoções são importantes e valiosos sina-
lizadores, mas como gerenciadoras, tornam-se extremamente perigosas. Deus
nos dotou com emoções para que as usássemos sempre sob controle e não para
que elas se tornassem nossos feitores.

EMOÇÕES DESCONTROLADAS
Quem nunca viu casos como o de um rapaz que saiu de casa intempesti-
vamente, pegou a motocicleta e partiu a toda velocidade fazendo um barulho
infernal? No dia seguinte, os jornais publicam o resto da história, com a se-
guinte manchete: "Quatro mortos em colisão de alta velocidade". Da mesma
forma, quando nos deixamos controlar pelas emoções,corremos o risco de nos
envolvermos em sérios acidentes.
Aqui no ocidente, toda hora vemos as trágicas consequências desse mal que
são as emoções descontroladas. Em muitos países, o suicídio é a principal causa
de morte entre os jovens. A depressão está atingindo proporções epidêmicas,
dando mostras dos danos que ela pode causar a uma sociedade que dá a ela
liberdade de ação.
Na ilustração da figura 30, podemos compreender bem a forte resistência
que sofremos quando decidimos arrepender ou dar meia volta.
O primeiro trem, no alto, o qual poderíamos denominar de "trem hu-
manístico", mostra nossa condição quando deixamos que as emoções as-
sumam controle. O de baixo, representa a posição do equilíbrio que dese-
jamos e que alcançamos quando o nosso espírito é guiado pelo Espírito
Santo e as emoções passam para o vagão de trás. Mas o que acontece du-
rante a transição?
Como mostra o desenho do trem que está fazendo a curva, as emoções fi-
cam "arrepiadas" como um gato acuado num canto, arreganham os dentes,
tentam arranhar e rosnam ameaçadoramente, procurando se defenderem. Se
não tomarmos providências para a interrupção do processo, elas podem até
provocar um colapso nervoso. É que se tornam inseguras e irritadas com a
possibilidade da perda do controle sobre nós.
Parte II l O comção atormentado - 171

OS TRENS DA VIDA

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Analisando o termo hebraico que é traduzido como "arrepender-se", en-


tendemos melhor o porquê disso. A palavra "nawkham", ao "pé da letra",
significa "suspirar, gemer, ofegar e tremer". Todos esses vocábulos sugerem
uma profunda e exaltada revolta. Resumindo, é isso o que se passa com as
emoções durante a fase do arrependimento. Mas depois que finalmente fa-
zemos a curva e nos submetermos ao domínio do Espírito Santo, elas experi-
mentam grande alegria!
172 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

O TREM RACIONALISTA
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O mesmo ocorre com o "trem racionalista" cuja máquina é a mente. Quando


nos propomos a nos arrependermos, travamos uma dura batalha com a razão
que resiste ao arrependimento. Aí o temor de parecermos ridículos, infantis ou
insensatos, constitui um forte entrave à mudança.
Existe ainda, uma terceira composição errada, aquela em que o espírito hu-
" mano é a máquina e não está sob a influência do Espírito Santo mas de outros
espíritos. Chamaremos a este de "trem espiritualista ou do ocultismo". Quando
o indivíduo nessa situação se arrepende, pode necessitar da oração para ser
liberto do domínio dos demônios e às vezes, a oposição do inimigo pode ser
violenta e explosiva.
Embora tenhamos mostrado separadamente esses três aspectos: emoções,
mente e espírito, cada um representado pelo seu "trem", na verdade, há si-
tuações em que eles podem estar associados de diversas formas. Precisamos
atender ao apelo de João Batista para que nos arrependamos, pois está prÓxi-
mo o reino dos céus (Mt 3:2) e assim possamos experimentar uma verdadeira
transformação de vida! Quanto mais alinharmos nossa vida pelo prumo divi-
no, mais vida real teremos.

LIBERTAÇÃO ATRAVÉS DO PERDÃO


No intuito de buscar essa transformação, vamos examinar agora outro im-
portantíssimo aspecto do arrependimento. Sem ele, na verdade, não existe ar-
rependimento. No primeiro capítulo do livro de Neemias, temos o relato de um
Parte II l O comção atormentado - 173

O TREM ESPIRITUALISTA
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notável relacionamento entre um escravo e um rei, entre um judeu e seu senhor


gentio, entre um oprimido e seu opressor.
Quando Neemias recebeu as notícias a respeito de Jerusalém,sentiu profun-
da tristeza. Ao comparecer à presença do rei, essa tristeza ainda transparecia
em seu semblante. Em sua função de copeiro real, tinha que levar ao monarca
um bom vinho e alegria. Deixando transparecer sua tristeza diante do rei, ele
corria o risco de ser morto, mas o amor por seu povo era maior do que a preo-
cupação com sua segurança pessoal. Assim que o rei Artaxerxes percebeu seu
semblante contristado, pediu explicações.
O que aconteceu em seguida demonstra que o rei tinha um profundo
amor por seu copeiro Neemias. Ao falar das condições em que se encon-
trava Jerusalém, não apenas dispensou Neemias do seu serviço no palácio,
além disso, deu a ele permissão para fazer a restauração da Cidade Santa
e providenciou o material necessário para a obra. Tudo isso revela não so-
mente que a mão de Deus estava sobre Neemias, mas mostra também o que
se passara no coração desse servo. Não havia dúvida de que ele já havia
perdoado de todo coração seus inimigos, a ponto de servir leal e fielmente
ao seu rei. Ele tinha isentado de culpa seus opressores, perdoando-os dos
pecados cometidos contra sua gente. Em seu coração não existia mais ne-
nhum resquício de ressentimento ou amargura. A libertação pelo perdão,
portanto, é outra barra de reforço que temos de fixar profundamente na
pedra fundamental da redenção.
174 - Paredes ix) Meu Comção l Bruce Thompson

O MURO DA SALVAÇÃO
NEEMIAS =RESTAURAÇÃ0
ESDRAS = RECONCILIAÇÃO

@FRTAÇÃ0 PELO PERDÃO

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Parte II l O comção atormentado - 175

Ao perdoarmos alguém uma falta cometida contra nós, estamos isentando


essa pessoa de nos pagar e de fazer qualquer reparação pelo erro, até mesmo de
nos pedir perdão. Quando perdoamos a um ofensor de todo coração, ao mes-
mo tempo experimentamos uma libertação interior. Vejamos um fato verídico
que ilustra essa verdade.
Em nossos cursos de aconselhamento da JOCUM, sempre damos aos alu-
nos oportunidade para seus testemunhos pessoais. Certo dia, uma mulher de
nome Kay, com seus quarenta e sete ou quarenta e oito anos, começou a falar
sobre sua vida. Minutos depois parou e ficou em silêncio. Eu e outro dirigente
aproximamos dela e começamos a orar em espírito. De repente, ela começou
a tremer, a nos xingar e até a nos agredir. Percebemos imediatamente que não
se tratava apenas de uma crise de nervos, mas que ali atuavam influências
demoníacas. Oramos com intensidade, porém suas reações pioraram. Como
não conseguíamos ver mudança em sua atitude, decidimos ter uma conversa
com ela após a aula.
Mais tarde, quando estávamos orando, um de nós recebeu uma palavra
de conhecimento vinda do Senhor, revelando que Kay não queria perdoar sua
mãe. Quando a indagamos a respeito da questão, ela admitiu que abrigava, de
fato, uma raiz de amargura no coração e em seguida começou a gritar:
"Eu te odeio! Eu te odeio! Eu te odeio!"
Era como se a mãe dela estivesse presente ali.

ABERTURA PARA PERDOAR


Continuamos a conversar, e por fim, Kay consentiu em perdoar sua mãe.
Oramos de novo e imediatamente ela foi liberta dos "verdugos" que estavam
escondidos atrás do seu rancor contra a mãe.
No Evangelho de Mateus, Jesus narra a história de um homem (Mt 18:21-
35) que foi perdoado de uma dívida de $10 milhões,mas que não agiu da mes-
ma forma com uma pessoa que também lhe devia. Quando voltava para casa,
encontrou o colega que devia a ele a insignificante quantia de $20. Em vez de
usar de misericórdia com o seu devedor assim como seu credor havia feito, o
mandou para a cadeia. Quando seu credor soube disso, cancelou o ato gene-
roso que praticara, entregando-o aos verdugos até que pagasse os $10 milhões
que devia a ele. Agora estava preso não por causa da sua dívida original mas
por sua hostilidade e seu espírito rancoroso. Jesus concluiu a parábola afirman-
176 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

LIBERTAÇÃO PELO PERDÃO


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do que Deus fará o mesmo conosco se não perdoarmos nossos irmãos de todo
o coração.
Com base nessa história, podemos concluir que o rancor constitui um ali-
cerce sobre o qual é construído o tormento interior. Deus não nos criou para
guardarmos ódio, rancor e ressentimento. Se insistirmos em cultivar tais senti-
mentos, estaremos expostos e padeceremos de enfermidades de natureza espi-
ritual e física. Vejamos uma ilustração clara na figura 32.
Parte II l O coruíção atormentado - 177

COMO NOS TORNAMOS RÉPLICAS


Vemos nessa ilustração que uma atitude de rancor muitas vezes tem sua
origem em uma injustiça que sofremos na infância, seja ela real ou imaginária.
Chegando à adolescência, podemos ter uma imagem negativa dessa figura de
autoridade que traz reflexos sobre essa fase da nossa vida.
Para tirarmos os olhos dessa figura de autoridade terrena, olhando então só
para Deus, precisaremos antes nos humilhar e confessar nosso pecado. Temos
que confessar esse ressentimento a Deus e perdoar nossos ofensores incondi-
cionalmente. É assim que começamos a ser libertos e a mudarmos o alvo das
nossas atenções.
Quando eu trabalhava na clínica de aconselhamento no Hawai, fui procura-
do certo dia por um rapaz chamado Neville. Era recém-casado, porém já estava
tendo problemas no relacionamento com a esposa. Chorando, confessou que
havia odiado e desprezado seu pai, pois este bebia muito, o que causara a des-
truição da família. Agora, constatava horrorizado e atônito que se via lutando
com o mesmo problema do pai, a bebida.
Sempre que condenamos alguém, estamos fazendo um julgamento dessa pes-
soa e algo muito perigoso ocorre. Depois de algum tempo, passamos a cometer
o mesmo erro que condenamos no outro. Um exemplo disso é o caso de Jane.
Ela fora vítima de incesto e julgava os homens, como se todos tivessem a mesma
atitude referente ao sexo. Achava que todos eles viam as mulheres como meros
objetos que poderiam usar e abusar, apenas para a satisfação dos seus desejos.
Passado algum tempo, a situação inverteu. Ela se tomou prostituta passando a
usar e a abusar dos homens, tomando-se igual àqueles que detestava. Seu res-
sentimento e julgamento acabaram funcionando como um bumerangue, isto é,
voltaram para ela pois se convencera de que todos os homens eram iguais e de
que tinham a mesma tara. Amor, para ela, era apenas luxúria.

A ÚNICA SOLUÇÃO
Como já dissemos, a única solução para se interromper essa espiral destru-
tiva é humilhar e confessar. Primeiro temos que reconhecer nossos ressenti-
mentos abertamente e com toda sinceridade. Em seguida, precisamos perdoar
os ofensores sem reservas. Quando expressamos verbalmente esse perdão, o
que é um passo muito difícil, podemos estar iniciando o processo para perdoá-
los de todo coração!
178 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

UMA VISÃO CORRETA DE DEUS

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1. VENDOAFIGURADE AUTORIDADE
2. VENDODEUS NAFIGURADEAUTORIDADE
3. VENDO DEUS CORRETAMENTE FIGURA33

Muitas vezes, o aspecto mais difícil nessa questão é perdoar a nós mesmos.
Mas, quando conseguimos fazê-lo e ao chorarmos amargamente, as feridas do
coração cicatrizam. É verdade que tais cicatrizes nunca desaparecem totalmen-
te e as manchas das lágrimas que caem no delicado tecido das nossas emoções,
em geral são permanentes. Entretanto, quem se obstina em não perdoar, sem o
saber, está optando por uma vida atormentada.
Parte II l O comção atormentado - 179

Mesmo depois de havermos tomado a decisão de perdoar, ainda haverá


a possibilidade de lutarmos para não projetarmos em Deus nossos temores e
desconfianças, como ilustra a figura 33. Muitas pessoas têm uma forte tendên-
cia a criarem uma imagem de Deus baseada nas figuras de autoridade terrenas
(linha 2). Em vez de buscarmos conhecer e compreender a Deus através do es-
pelho da "figura de autoridade", precisamos olhar diretamente para ele (linha
3). Assim veremos o reflexo das nossa verdadeira imagem.
Quanto mais virmos a Deus como ele é, mais o amaremos e nos tornaremos
parecidos com ele (figura 32). É uma libertação que obtemos quando perdoa-
mos as pessoas incondicionalmente ou como disse Jesus, quando "perdoamos
setenta oezes sete" vezes!
Como vimos então, se recusarmos a perdoar os nossos ofensores, os "verdu-
gos" podem nos atormentar e até nos destruir. No próximo capítulo, veremos
esses "verdugos" em conflito com Neemias, que com habilidade e sabedoria
divina conseguiu desarmá-los seguidas vezes.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Examine sua vida e veja em que tipo de trem você tem embarcado.
Relembre algumas experiências de arrependimento.
Já se sentiu atormentado por ter guardado rancor de alguém? Como foi sua
libertação?
13
DERROTANDO
O INIMIGO
"osso maior adversário na iniciativa para a reconstrução dos muros da
salvação é o próprio Lúcifer. Algumas pessoas o vêem como mera cria-
_ ção da imaginação humana. Outros o retratam como o senhor deste
mundo e que um dia será adorado como tal. Seja qual for a visão que temos
dele, o certo é que Satanás continua sendo um adversário temível, com uma
sórdida folha corrida. A Bíblia afirma claramente que ele está vivo e em plena
atividade no mundo. Ele segura em suas garras uma multidão de seguidores,
que com a aproximação do fim desta era, prestará a ele cada vez mais obedi-
ência, conferindo-lhe maior autoridade. E será nessa ocasião também que "o
amor de muitos cristãos esfriará" (Mt 24:11-13).
Quando Neemias resolveu obedecer ao chamado de Deus para reconstruir
os muros de Jerusalém, também teve que enfrentar a astúcia do inimigo. Estu-
dando os problemas com os quais defrontou, reconheceremos muitas das es-
tratégias que Satanás emprega para atrapalhar e frustrar os projetos que Deus
confiara a seu servo. Veremos, então, que outra barra de reforço a ser colocada
na principal pedra angular é a identificação das estratégias satânicas. Em nossa
luta contra Satanás, antes de mais nada, precisamos aprender a reconhecer suas
estratégias, para que assim possamos frustrar suas operações.

RAIVA E MEDO
Em Neemias 4:1-7, encontramos os principais agentes de Satanás: Sambalá,
Gesém e Tobias. Quando esses homens souberam da intenção de Neemias, de
182 - Paredes do Meu CoRAção l Bruce Thomi'son

O MURO DA SALVAçÃO
NEEMIAS = RESTAURAçÃO
ESDRAS = RECONCILIAçÃO

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IDENTIFICAçÃO DAS
ErRATÉGIAs SATÂNICAS
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FIGURA34
Parte II l Derrotando o inimigo - 183

reedificar os muros, ficaram encolerizados. Foram procurá-lo e o bombardea-


ram com ameaças e acusações. Embora muitos dos que o tinham precedido ou
viriam depois dele, tivessem cedido diante do medo e da intimidação, Neemias
permaneceu firme e não se deixou demover.
"Quem teme ao homem ariná ciladas, nms o que conffa no Senhor está seguro" (Po
29:25). Neemias, além de crer nessa verdade econfiar no Senhor, praticou a mesma.
Como fez com Neemias, Satanás irá desencadear sua fúria contra nós, por
intermédio dos entes queridos, falhas no equipamento para o trabalho, de cir-
cunstâncias adversas, do governo, de enfermidades, de um colapso nervoso ou
físico e de diversas outras maneiras. Mas nÓs temos vários exemplos extraordi-
nários - como o de José, JÓ e principalmente Jesus - de que Deus pode reverter
a cólera de Satanás para proveito divino. No caso de Estevão, por exemplo, ele
foi apedrejado por um grupo de homens enfurecidos, incitados pelo próprio
Satanás. Se ele pudesse prever o poder espiritual que aquele fato iria desenca-
dear, teria pensado duas vezes! E que presenciando a cena estava Saulo - que
depois seria o apóstolo Paulo -e Estevão demonstrou um perdão tão extraordi-
nário ao morrer, que abalou profundamente a vida do jovem fariseu!
"Porque Deus não nos leni dado espírito de couirdia, mas de poder, amor e de mode-
ração" (II Tm 1:7). Satanás tenta nos derrotar por meio da intimidação, mas o que
confia no Senhor, vê o inimigo como um leão desdentado, incapaz de devorá-lo.

ZOMBARIA
Outra estratégia do inimigo é a zombaria, própria do indivíduo que reprime
sua agressividade. Os adversários de Neemais zombaram dele e o atormenta-
ram, acusando-o falsamente de estar insurgindo contra o rei Artaxerxes (Ne 2:19)
que na verdade, já havia dado permissão para a realização do projeto. Sambalá
chegou ao cúmulo de acusar Neemias, de estar tentando subornar Deus (Ne 4:1-
3). Era um ataque sutil às próprias bases de Neemias, semelhante à tática que
Satanás empregaria com Jesus mais tarde, tentando-o no deserto, quando citou
as Escrituras de forma ardilosa (Mt 4:3,6). Satanás usa a verdade, distorcendo-a à
sua maneira, e com esse artifício tem conseguido dividir a igreja e enfraquecê-la,
destruindo sua unidade, como sutilmente tentou fazer com Neemias.
Enquanto Sambalá zombava deles, dizendo que seus esforços eram inúteis,
Tobias tentava depreciar a habilidade e a capacidade do povo. Mas ele esque-
cera de que a maioria daqueles homens vivera anos em cativeiro, sujeitos a
184 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

trabalhos forçados, fabricando tijolos e erguendo paredes. Para o "acusador


dos irmãos", a verdade não tem a mínima importância. Seu objetivo ao zombar
de nós é instalar em nossos corações incredulidade e dúvidas, no intuito de
frustrar a realização dos propósitos e planos de Deus para nÓs.
Nas viagens que faço a diversos países, ministrando seminários e palestran-
do em escolas, tenho visto muito as ações de Satanás. Uma certa experiência,
porém, ficou marcada na minha memória:
No desejo de ser amada, Maida "caíra nas malhas" da lascívia. Se envol-
vera em múltiplos relacionamentos com homens, colhendo muito sofrimento.
Infelizmente tenho visto inúmeras pessoas com esse problema, levando para o
leito nupcial um "excesso de bagagem" - as experiências sexuais do passado.
Para conseguirem um relacionamento íntimo satisfatório com seu cônjuge, pre-
cisam antes "livrarem-se" desse peso do passado. Quando convertem, levam o
"excesso de bagagem" para o relacionamento com Cristo, o que pode compro-
meter seriamente a comunhão delas com Deus.
Foi o que ocorreu com Maida, e nós explicamos isso a ela. Enquanto orávamos
para que fosse liberta dos problemas que trouxera do passado, de repente, ela teve
uma convulsão. O que aconteceu em seguida foi prova incontestável de que esta-
va endemoninhada e de que os demônios lutavam para mantê-la sob controle. Ela
ostentava nos lábios urna expressão de zombaria e a voz estranha que emitia, nos
ridicularizava, menosprezando nossas tentativas de libertá-la. De vez em quando
soltava uma risada de deboche e escárnio que nos dava arrepios na espinha. À essa
altura havíamos compreendido que Satanás estava profundamente instalado em
sua vida e não sairia sem oferecer resistência. Durante várias semanas, eu e mais
duas pessoas do meu grupo, continuamos a orar com ela, em sessões de aconselha-
mento. Todas as vezes em que o inimigo se manifestava e zombava de nÓs, acon-
selhávamos a moça, a assumir a sua posição em Cristo e renunciar a atuação dos
demônios em sua vida. Pouco a pouco ela foi sendo fortalecida espiritualmente, e
finalmente conseguiu exercitar uma firme autoridade sobre o poder das trevas.

CONFUSÃO E MENTIRAS
Outra estratégia que o "pai da mentira" gosta de empregar para nos de-
sequilibrar e nos colocar fora de ação é lançar sobre nós confusão e mentiras.
Em Neemias 4:8, Sambalá, Gesém e Tobias entraram em acordo com outros
povos da vizinhança para se infiltrarem entre os construtores judeus, lançando
Parte II l Derrotando o inimigo - 185

confusão e mentiras. A despeito de todas as tentativas, Neemias resistiu firme-


mente às mentiras deles. Continuou confiando em Deus, trabalhando até que
fosse concluída a reconstrução dos muros.
Precisamos reconhecer que Satanás é o autor da confusão. Sempre que
percebermos que nuvens de confusão se acumulam sobre a nossa cabeça, es-
peremos que o vento do Espírito de Deus sopre, dispersando essas nuvens,
simplesmente deixando que o sol volte a brilhar e iluminar nossos caminhos.
O livro de Neemias narra como uma profetisa chamada Noadia e vários outros
(Ne 6:14), usando falsas profecias, tentaram intimidá-lo para que abandonasse a
missão que Deus lhe confiara de reconstruir as muralhas de Jerusalém.
Como já mencionamos em capítulos anteriores, Satanás pode usar falsos
profetas tentando nos desviar da verdade. Esse tipo de ataque tem um for-
te potencial destrutivo, principalmente quando nos atinge por intermédio do
cônjuge, dos pais ou de um irmão da igreja. Por vezes, podemos sentir o que
JÓ deve ter sentido quando em meio à pior crise da sua vida, ouviu sua esposa
sugerir a ele: "Amaldiçoa o teu Deus e morre" (JÓ 2:9).
Outro procedimento que não devemos querer imitar é do jovem profeta so-
bre o qual é mencionado em IReis 13. Em vez de obedecer à risca ao que Deus
ordenara a ele, deu ouvidos à palavra de um profeta mais velho e por causa
disso caiu nas garras de um leão. Precisamos ter discernimento, vigiar e orar
para não nos desviarmos do caminho certo.

FALSOS AMIGOS
Outra cilada que o inimigo pode utilizar são as falsas amizades que fazemos
com facilidade, e que com a mesma facilidade nos traem. O sacerdote Eliasabe
traiu Neemias numa ocasião em que fez uma viagem. Eliasabe cedeu a Tobias,
inimigo de Neemias, um espaçoso cômodo no templo, para que ele o utilizasse
como quarto (Ne 13:4-9).
Essa história revela uma clássica estratégia de Satanás. Ele se aproveita da
nossa ligação com as coisas do mundo, para através disso estabelecer uma base
sua em nosso coração. Não podemos amar a Deus e ao mundo, pois a amizade
do mundo é inimizade com Deus (I Jo 2:15,16).
Ao chegar de viagem, com todo vigor, Neemias reprovou imediatamente a
concessão que Eliasabe fizera a Tobias. Pegou os seus pertences, atirando-os na
rua. Precisamos estar cientes de que não podemos ter misericórdia ao lidar com
186 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson

O MURO DA SALVAÇÃO
NEEMIAS = RESTAURAÇÃO
ESDRAS = RECONCILIAÇÃO

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IDENTIFICAçÃO DAS
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Parte II l Derrotando o inimigo - 187

as infiltrações do inimigo, nem fazer concessões. Ele não tem o menor interesse
por nós. O grande intuito de Satanás, um adversário sempre disposto a nos de-
vorar, é que sejamos apanhados em suas armadilhas. Ele tem destruído muitos
crentes e até ministérios poderosos através de associações com falsos amigos.

INFLUÊNCIA DEMONÍACA
A meta suprema de satanás é nos endemoninhar. Para isso, nos leva a con-
descender com o maior número possível de instituições, pessoas e desejos. O
termo "endemoninhar" é tradução literal do vocábulo grego daimonizoniai, que
significa ser influenciado ou contro!ado por um demônio.' Dessa fora, Satanás entra
no coração de uma pessoa e assume o controle do seu ser. Quanto mais espaço
dermos a ele em nossa vida, mais campo ele terá e mais autoridade exercerá.
Assim que percebermos que há alguma presença demoníaca em nós, tenhamos
a mesma atitude de Neemias: retomar os espaços a ele concedidos, não acei-
tando mais, nem por um instante, a idéia de fazer tais concessões. "Guardemos
com toda diligência nossos corações, pois dele procedem as fontes da oida" (Po 4:23).

RENÚNCIA
Agora que já identificamos algumas estratégias satânicas contra as quais
temos de nos precaver, precisamos saber como agir com o inimigo assim que
descobrirmos sua atuação em nossa vida. Como já mencionamos, o primeiro
passo no sentido de anular a atividade satânica é reconhecer sua operação em
nós. O segundo é renunciar essa atuação. Arenúncia é, então, a barra de reforço
que fixaremos a seguir na pedra fundamental.

NEEMIAS ESPEROU DEUS


Desde o primeiro instante em que Neemias ficou a par da situação de Je-
rusalém, buscou ao Senhor através do jejum e da oração. Mais tarde, quando
soube que os inimigos tramavam para derrotá-lo, começou imediatamente a
orar e criou um sistema de vigilância contra eles (Ne 1:4; 4:9).
Certa vez, esses inimigos, desejosos de afastá-lo dali, subornaram Semaías
para convencê-lo a esconder-se no templo. Mas Neemias percebeu a trama e
entregou seus adversários nas mãos do Senhor.
A que altura de uma crise clamamos ao Senhor, se é que clamamos? Pre-
cisamos buscar ao Senhor imediatamente, como fez Neemias. Seja qual for a
188 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

situação, temos de recorrer ao Ser mais poderoso que existe! O inimigo pode
até estar acima de nÓs em relação à astúcia, mas não é páreo para o nosso Deus!

NEEMIAS PROSSEGUIOU NO TEMOR DO SENHOR


Os inimigos de Neemias tentaram intimidá-lo e atemorizá-lo para que pa-
rasse de construir as muralhas de Jerusalém (Ne 6:8-14). Mas ele confiara sua
vida ao Senhor e não temeu. Pelo contrário, tinha medo era de não estar fazen-
do a vontade de Deus. Não temia a homens. Tinha temor era de Deus, tendo
plena certeza de que o Senhor atribuíra a ele uma tarefa. "Quem teme ao homem
ariná ciladas, inãs o que confia no Senhor está seguro" (Po 29:25). Se temermos a
alguém ou a alguma coisa mais do que ao "Deus sublime e Todo Poderoso",
cairemos em uma armadilha, que é o respeito humano. Se dermos mais valor
às opiniões, conselhos e avaliações humanas ou aos conceitos que fazemos a
nosso respeito e das situações, do que a Deus, já estaremos presos nas malhas
do temor a homens. A única solução para o problema do temor é Deus. "O te-
mor do Senhor éo princípio da sabedoria" (Po 1:7). Pelo que vemos nas Escrituras,
Neemias deu várias demonstrações de que era um homem sábio.
Será que temos caído nessa armadilha que é o temor a homens, sendo
desta forma, derrotados por ela? Quem se deixa dominar por esse temor, "no
fundo" acredita que aquilo ou aquele a quem teme é maior e mais poderoso
do que Deus. E, obviamente, ninguém ou coisa alguma é maior ou mais po-
deroso que o Senhor.

NEEMIAS PROSSEGUIU TRABALHANDO


Sambalá e Tobias ficaram fortemente irados quando souberam que Nee-
mias estava preocupado com o bem-estar dos judeus (Ne 4:1-7). A despeito
de toda oposição recebida, continuou a reconstruir dos escombros, as mura-
lhas de Jerusalém, antes tão altas e seguras. Permaneceu firme, não permitiu
que o afastassem do trabaÍho que Deus o incumbira de realizar. Nem mesmo
a zombaria e a agitação dos inimigos conseguiram detê-lo. Deixou o problema
nas mãos de Deus e continuou trabalhando, incentivando seus cooperadores
a fazerem o mesmo. Nem a ameaça de guerra impediu a continuação da obra
(Ne 4:21). Num esforço conjunto, tendo em vista a construção dos muros, me-
tade dos homens que estavam com ele empunhavam a lança, para o caso da
ocorrência de um ataque, e a outra metade fazia o serviço.
Parte II l Derrotando o inimigo - 189

Também nós, precisamos estar preparados para guerrear e trabalhar ao


mesmo tempo, pois o nosso inimigo não se detém diante de nada, com o obje-
tivo de impedir que Deus edifique sua igreja. Mas chegará o dia em que até as
forças do inferno sucumbirão diante do poder do Deus vivo!
Precisamos seguir o exemplo de Neemias, que apesar de enfrentar circuns-
tâncias adversas e ter ouvido recomendações contrárias, continuou trabalhan-
do na busca do seu objetivo. Sejamos "firmes, inabdáoeis e sempre abundantes na
obra do Senhor ..."(l Co 15:58).

NEEMIAS PÔS GUARDAS CONTRA O INIMIGO


"Porém nós oramos ao nosso Deus e, coino proteção, pusemos guarda contra eles de
dia e de noite... Nem eu, nem meus irmãos, nem meus moços, nem os homens da guarda
que me seguiam largámmos as nossas oestes; cada uni se deitava com as armas à sua
direita" (Ne 4:9,23).
Além de esperar no Senhor, Neemias tomou as providências necessárias
para evitar que qualquer coisa ou pessoa viesse impedi-los de realizar a von-
tade de Deus. O inimigo pode apresentar-se como um anjo de luz ou como um
leão que ruge, mas sua intenção é sempre de interromper a obra que Deus está
realizando em nós, ou em outros por nosso intermédio. Por falta de vigilância,
muitos têm sido derrotados pelas astutas ciladas do diabo. Mas podemos fazer
como Neemias: vigiar e orar para não cairmos em tentação.

NEEMIAS RECUSOU A ASSOCIAR-SE A ELE


Os homens que resistiram a Neemias eram um horonita, um amonita e um ára-
be (Ne 2:19). Eles ridicularizaram e zombaram dos judeus, acusando-os de insur-
reição. Tudo isso, com o objetivo de atemorizá-los,para que paralisassem o serviço.
E qual foi a reação de Neemias? Apartou-se deles. Afirmando que eles não
tinham parte, nem direito na cidade, e portanto não poderiam participar da-
quela empreitada. Ele se negou a entrar em disputa com seus acusadores.
Algum tempo depois, vendo Tobias alojado no templo, Neemias teve uma
atitude radical (Ne 13:7-9). Ao remover do templo os pertences de Tobias, esta-
va mais uma vez, recusando-se a conviver com seus adversários e se livrando
da influência daqueles homens malignos.
Existe a hora de entrar em confronto, e a hora de nos apartarmos para evi-
tarmos a influência do mal em nossa vida. Aqueles que se expõem a um conví-
190 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

vio desnecessário com seu grupo social acabam se curvando à influência dele.
Até o rei Saul cedeu diante das pressões sociais e por causa disso perdeu a
posição de liderança que ocupava em Israel (I Sm 14:13-15). Outros reis e juí-
zes também não romperam a associação com o inimigo, e como consequência
desse erro não realizaram a missão proposta para a vida deles. "Há o momento
de abmçare outro de afastai' do abraço" (Ec 3:5). Nosso constante desafio na vida é
aprender a discernir qual a reação correta diante das circunstâncias que vive-
mos no momento.

NEEMIAS GUERREOU
Os inimigos dos judeus ameaçaram matá-los caso continuassem a recons-
truir as muralhas. Contudo, já sabemos que tais ameaças não intimidaram
Neemias. Pelo contrário, fizeram com que ele se preparasse para a luta. Ele
determinou que metade dos homens e até algumas famílias permanecessem
de guarda, todos armados, enquanto outros se dedicavam ao serviço, munidos
de espadas.
Vemos que além de Neemias estar firmemente decidido a realizar a obra,
reconhecia que tinha que guerrear. Tinha consciência de um fato que todos
precisamos reconhecer - estamos em guerra. Temos um inimigo que deseja nos
derrotar e que só nos dará trégua se aceitarmos os seus termos. A única ma-
neira de vencermos esse combate é tornando-nos soldados de primeira linha.
Portanto é necessário nos revestirmos com a "armadura de Cristo",nunca nos
embaraçarmos "com os negócios desta vida", mas empenhar apenas em "vi-
giar, combater e edificar sob o comando dele" (II Tm 2:3,4).
Como nossa guerra não é travada no plano físico, mas no mundo es-
piritual, invisível, temos que utilizar armas adequadas para esse tipo de
combate. Paulo ensina que "tais armas não são carnais mas poderosas para des-
truir fortalezas" (11 Co 10:3-5). Examinemos algumas delas e vejamos como
temos que manejá-las.

O NOME DE JESUS
Quando empregamos o nome de Jesus na guerra espiritual, estamos nos co-
locando em posição de combate, ao lado das forças dele. Estamos lutando pela
verdade, justiça e retidão. "O poder do nome dele é superior a todo o poder do
inimigo"(Lc 10:19; Fp 2:9,10; Ef 1:21).
Parte II l Derrotando o inimigo - 191

O SANGUE DE JESUS
Em Apocalipse 12.11, temos a seguinte afirmação: "Eles, pois, o oencerani por
causa do sangie do Cordeiro". Isso faz referência à grande vitória que Jesus con-
quistou na cruz sobre o pecado, a morte e o diabo. Ele derramou seu sangue em
nosso lugar, nos dando condições legítimas para sermos libertos do domínio
do diabo. Jesus derramou seu sangue por nós e à vista dele, o inimigo foge.

A PALAVRA DO TESTEMUNHO
A outra arma mencionada em Apocalipse 12.11 pela qual temos vitória é a
"palavra do testemunho". Na ocasião em que Jesus passou quarenta dias em
jejum, no deserto, demonstrou o poder da Palavra ao replicar às tentações do
diabo (Mt 4:1-11). Ele brandiu a Palavra com grande habilidade, como se ela
fosse uma espada. Resistindo às tentações de Satanás, forçou-o a "bater em
retirada". A Palavra de Deus é a verdade. Quando cremos nessa Palavra e a
confessamos diante do inimigo, essa verdade nos liberta (Jo 8:32).

A ARMADURA DE DEUS
Em Efésios capitulo 6, Paulo ensina que temos que nos revestirmos com
toda a armadura de Deus, para que possamos ficar firmes na guerra, contra os
poderes das trevas. Cada peça dessa armadura é importante!

O capacete da salvação.
A couraça da justiça.
O cinto da oerdade.
O calçado do emngelho.
O escudo da fé.
A espada do Espírito.

Se nos revestimos diariamente com essa armadura e aprendermos a uti-


lizá-la, conseguiremos fazer o inimigo recuar todas as vezes que ele vier para
nos atacar.
Há alguns anos, eu e mais algumas pessoas, estávamos orando por um se-
nhor idoso que tinha uma tendência suicida. Uma simples oração, de repente,
desencadeou uma situação apavorante, em que o inimigo se revelou como o
terrível algoz que ele é. O homem se ergueu de um salto, deu um urro horrendo
192 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

e pôs-se a emitir sons guturais, com o rosto desfigurado pelo ódio. Pegou uma
cadeira, ergueu-a bem no alto e veio avançando em nossa direção. O ambiente
logo ficou tenso. Uma das pessoas presentes ficou paralisada de pavor, mas
os outros lançaram mão das armas de guerra espiritual. Começamos a clamar
pelo sangue de Jesus e a afirmar o poder do seu sangue,e em um dado instante,
quando o homem estava a poucos passos de nós, parou, como que detido por
mãos invisíveis. A cadeira tombou no chão e com um grito estridente, caiu
sobre o tapete, chorando convulsivamente como uma criança.
Ajoelhamos ao seu lado e ele confessou que vinha levando uma vida de
adultério. E ali, na presença do Senhor, arrependeu dos seus pecados. Concor-
damos em orar em seu favor e ele rejeitou a atuação do inimigo em sua vida.
Finalmente obteve a libertação que desejava. Soubemos depois que continuou
vivendo vitoriosamente, resistindo ao domínio do maligno sobre ele, e se viu
livre da insônia, da depressão e das idéias de suicídio.
Não há dúvida de que o diabo é um adversário fortíssimo, como vimos
pelos ataques desferidos contra Neemias. No próximo capítulo, analisaremos
ainda, outro método empregado por ele - a injustiça. Sofrer uma injustiça, seja
ela real ou imaginária, sempre é muito penoso, principalmente quando vinda
de pessoas que confiamos. Satanás sabe fazer uso dessa espada e já tem retalha-
do muitas pessoas com sua lâmina. Veremos então, como além de evitar esses
golpes do inimigo, podemos também chegar a desarmá-lo.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Recorde os principais ataques de Satanás dos quais você foi alvo. Tente dis-
cernir as situações em que você reagiu da maneira certa e as que você caiu na
cilada do inimigo.
Relembre situações em que lançou mão das mesmas estratégias de Neemias
para derrotar o diabo.

Nota
'Vine's Exposity Dictionary, op.cit
u

14
UM NOVO COMEÇO
"o exílio, além de lutarem muito pela sobrevivência, os israelitas so-
friam muitas injustiças, tanto dos seus compatriotas como das pessoas
_ de fora (Is 1:5,6). Obviamente, isso causava muito sofrimento e dor. A
mudança de um lugar para outro não implica necessariamente em uma trans-
formação espiritual. Pouco depois que os exilados regressaram à pátria, viram
ressurgir em seu convívio social as velhas injustiças de antes.
Em Neemias 5:1-7, lemos que um grupo de judeus nobres e ricos agia com ex-
cessiva usura, cobravam juros altíssimos, agravando ainda mais, a difícil situação
dos exilados. Exigindo pagamento com juros exorbitantes, forçavam os pobres
não apenas a hipotecarem suas terras mas também venderem os filhos para com-
prarem mantimento para a própria sobrevivência. Alguns já tinham vendido as
filhas para saldar dívidas. Foi então que o povo ergueu um angustiado clamor.
E este doloroso brado de "Injustiça!" tem ecoado através dos séculos, em
muitas nações do mundo. Foi o clamor que subiu da terra, acusando Caim
que movido por inveja e ciúme, derramara o sangue de Abel. O mesmo cla-
mor ecoou dos judeus que pereceram no horrendo holocausto, nas mãos dos
carrascos de Hitler. E partiu também dos cambojanos que se viram ameaçados
de extinção, após duas ondas de massacres perpetrados pelos exércitos do PoI
Pot e dos Vietcongues. O mesmo grito vem hoje dos afegãos que escaparam da
morte, mas são forçados a viverem como refugiados e renegados.

O CLAMOR DOS NOSSOS CORAÇÕES


Talvez esse clamor éstqâ também em nossos corações. Sempre que pensamos em
injustiça, precisamos lembrar três prindpios fundamentais relativos aessa questão:
194 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

1. Deus é justo em todos os seus caminhos.


2. Satanás é injusto em todos os seus caminhos.
3. O homem é injusto em muitos dos seus caminhos.

O próprio homem, hoje, tem sido cruel com seus semelhantes, praticando
sérias injustiças. Muitos estão dominados por uma insaciável sêde de poder
e de posses, corrompidos pela ganância e pela concupiscência. Vêem os seres
humanos apenas como "coisas" para serem usadas e depois descartadas. Esse
comportamento obsessivo/compulsivo vem atingindo proporções epidêmicas,
trazendo sofrimento para muita gente.

"O espírito firme sustém o homem na sua doença inãs o espírito abatido
quem o pode suportar?" (Po 18:14).

O que significa estar com o espírito abatido e como isso nos afeta? Esse dolo-
roso abatimento do coração ou espírito é causado por atitudes, gestos ou palavras
sem nenhuma compaixão que ouvimos dos outros. Podemos descrevê-lo como
uma dor crônica, constante, a qual sentimos no fundo do nosso ser. Quem nunca
experimentou essa profunda dor no coração, pode se considerar muito feliz!
O indivíduo de personalidade passiva manifesta sinais do espírito abatido
sob a forma de auto-piedade, auto-condenação, introspecção mórbida, auto-de-
preciação, depressão e até tendências suicidas. Já a personalidade mais agres-
siva, torna-se irritada, crítica, acusadora, hostil e até mesmo violenta, para com
os que estão mais próximos. Tais sintomas, muitas vezes, são indícios de um
"espírito abatido" que sob tal sofrimento, influencia negativamente a pessoa. O
abatimento de espírito, depois de certo tempo, pode comprometer a estrutura
da nossa vida, tornando-nos incapazes de desenvolver bons relacionamentos
com outros, destruindo inclusive a capacidade que o próprio espírito tem para
sustentar o homem na enfermidade.
Como, então, podemos sanar esse sofrimento que é quase insuportável?
Existe algum modo de derrotarmos esse "ladrão" que nos rouba a vida? Es-
tudos feitos calculam que gastamos cerca de 50% das nossas energias mentais
e emocionais tentando abafar os sofrimentos do passado. Como podemos ser
libertos disso e iniciarmos uma vida plena? Será que poderemos apagar nossas
lembranças ou renovar e reprogramar nossa memória?
Parte II l Um novo começo - 195

OS FATOS GRAVADOS NO CORAÇÃO


Para entendermos melhor a função do cérebro, vamos examinar algumas
pesquisas realizadas pelo Dr. Wilder Penfield, um neurocirurgião da Univer-
sidade McGi!!, de Montreal, Canadá.' Ao efetuar cirurgias do cérebro em pa-
cientes que sofriam de epilepsia focal, o Dr. Penfield fez algumas descobertas
impressionantes a respeito da memória e das emoções! Os pacientes tinham
recebido apenas anestesia local e estavam plenamente conscientes. Em dado
momento, ele estimulou com uma corrente elétrica fraca o córtex, ou camada
externa, do lobo temporal do cérebro.
As reações foram notáveis! Alguns eventos do passado assim como as emo-
ções a eles associadas, vieram do subconsciente para o consciente e os pacientes
reviveram tudo, com todos os detalhes. O Dr. Penfield concluiu que os aconte-
cimentos do passado estão inseparavelmente ligados às emoções a eles relacio-
nados, como que "gravados em fita" e arquivados no córtex do lobo temporal.
O estímulo elétrico não apenas fez com que os pacientes recordassem estes
eventos, mas que os revivessem em pensamento.
Outros estudos realizados posteriormente revelaram que os estímulos
externos que recebemos no dia-a-dia podem ter o mesmo efeito, isto é,
trazer ao consciente os eventos do passado (inclusive os eventos da vida
uterina) e as emoções a eles relacionadas. Então, como devemos agir quan-
do vem ao nosso consciente um desses eventos acompanhado de suas
emoções? Será que podemos ser curados dos sofrimentos do passado e
aliviarmos a dor que causam? Para obtermos mais informações sobre o
assunto, consultemos o maior compêndio sobre a vida humana que é de
autoria do nosso Criador.
Por intermédio do apóstolo Paulo, Deus nos instrui para que sejamos trans-
formados "pela i'enomção da 7)0ssà mente" (Rin 12:2) e renovados "no espírito do
vosso entendimento" (Ej' 4:23). O que é o "espírito do nosso entendimento" e
como se aplica isso em nossas vidas?
Vincent define-o como "o mais elevado princípio de vida do homem, pelo
qual a razão humana, o órgão do pensamento e do conhecimento moral, se
informa",' Então, sofrer uma renovação nessa área não significa mudar de opi-
nião ou de doutrina. Ele explica: "Quando somos renovados no "espírito do
entendimento" são modificados tanto as tendências da mente como o "conteú-
do" dos pensamentos".
196 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

O MURO DA SALVAÇÃO
NEEMIAS = RESTAURAçÃO
ESDRAS = RECONCILIAçÃO

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RE NOVAÇÃO

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Parte II l Um novo começo - 197

A RENOVAÇÃO DO CORAÇÃO
Com base no que expusemos e nos textos examinados, concluímos que a
barra de reforço que colocaremos a seguir na pedra fundamental é a renovação.
O processo de renovação é vital para a cura dos males do espírito humano.
"Porqueassiin diz o Senhor: Teu nial é incuníoel,a tua chaga édolorosa". O Senhor
está se referindo ao fato de que o homem, em sua própria força, não pode solu-
cionar o problema. Ele diz em seguida: "Porque te restaurarei a saúde e curarei as
tuas chagas, diz o Senhor" (Jr 30:12,17). Então,como é que Deus cura nossas chagas
e nos renova no espírito do entendimento? Qual é a nossa parte nesse processo?
Analisemos a palavra 1'c110dq11 Um dos diversos termos gregos que são tra-
duzidos como "renovar" em nossa língua é anakainoo. Segundo o dicionário
de termos do Novo Testamento, o Vine's Expository Dictionary of Neto Testanient
Words, o vocábulo anakainoo é constituído de dois elementos; anã e hinos. O
prefixo anã significa "voltar atrás, repetir" e hinos significa "novo". Não com o
sentido de "recente", mas de "diferente"ú
Portanto, "renovar" significa "tornar novo outra vez" ou ter um novo
passado. É verdade que não podemos modificar os acontecimentos passa-
dos, mas podemos mudar as reações e as atitudes causadas por eles e que
ainda afetam o espírito do nosso entendimento. Além disso, essa palavra
pode designar a cura das mágoas do passado, dando origem a um novo vi-
ver! Assim, pela renovação das nossas mentes, como afirma Romanos 12:2,
podemos ser modificados e transformados, livres das influências destruti-
vas, tanto do passado quanto do presente.

A CURA DO CORAÇÃO
Algumas pessoas têm indagado se a cura do coração seria de fato um con-
ceito bíblico. Parece que o salmista não tinha dúvidas a esse respeito, pois re-
fletindo sobre a restauração de Jerusalém e o retorno dos exilados, ele diz o
seguinte: "O Senhor ... sara os de coração quebrantado e lhes pensa as feridas" (SI
147:3). Segundo o livro de Apocalipse, no trono de Deus nasce um rio cristalino
em cujas margens está plantada a árvore da vida. As folhas dessa árvore "são
para cura dos povos" (Ap 22:2).
Não há dúvida de que Deus deseja mesmo sarar os feridos e quebrantados.
Alguém já disse que "a igreja é o único exército que mata os seus feridos", e
infelizmente, vez por outra, isso acontece de fato. Mas, a mesma solução que
198 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

r " FIGURA DE" "i

FERIDAS
J°I)
DOR

· CURA ·
PRAZER

PECADO

S
A
N
T
I
D
A
D
E
FIGURA37

Deus oferece para o pecado, ele dá também para o sofrimento: o madeiro em


que Cristo foi levantado. Do mesmo modo que "as folhas da árvore da vida",
como diz Apocalipse, trazem cura, a "árvore" de Cristo, a cruz, nos traz restau-
ração! Nela, ele foi ferido para curar nossas feridas. Nosso "remédio" é a cruz e
a obra que Cristo realizou nela é a chave para a cura de todas as nossas aflições,
mesmo as mais profundas.
Para compreendermos esse mistério, vamos estudar um pouco a redenção
por Cristo realizada, na descrição de Isaías 53:5 elPedro 2:24.
Parte II l Um novo começo - 199

"Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas
iniquidades; o castigo que nos traz a paz estaoa sobre ele, e pelas suas pisaduras
fomos sarados".
"Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados,
para que nós, mortos para os pecados, oiminos para a justiça; por suas chagas,
fostes sarados".

Esses textos revelam dois aspectos importantes do ministério da cruz, rela-


cionados com o estudo que já fizemos sobre o desejo e sobre o movimento pen-
dular entre a dor e o prazer. Na figura 37, temos a ilustração desse movimento.
Primeiro buscamos o prazer lascivo do pecado e então passamos ao sofrimento
interior, causado pelas mágoas dele resultantes. Esse constante vai e vem da
dor para o prazer só é encerrado na cruz, onde somos purificados dos nossos
pecados e curados das nossas chagas. Tais fardos são pesados demais para nós
e não precisamos carregá-los. Se insistirmos em levá-los, seremos arrasados
pela vergonha e pela dor do pecado, bem como pelo sentimento de culpa e pela
amargura causada por nossas feridas. Jesus veio ao mundo para que, pela sua
morte na cruz, pudéssemos ter vida! Ele suportou a injustiça, a aflição e a dor
da cruz, para levar sobre seu corpo as nossas injustiças, e assim, oferecer cura
aos feridos de espírito.

O PROCESSO DE RENOVAÇÃO

Agora que já examinamos alguns dos princípios que regem o processo de


renovação, vejamos o que acontece quando os aplicamos na prática. Que me-
didas podemos tomar para nos apropriarmos dessa "cura do coração"? Como
podemos começar a caminhar em direção à saúde total e à santidade?

RECONHECER O SOFRIMENTO
Negar o sofrimento interior é uma forma de auto-manipulação. Quando
tentamos reprimir uma mágoa, estamos internalizando energias emocionais
doentias que podem causar em nós depressão ou algum outro distúrbio de
natureza psicossomática. É importante reconhecer e aceitar o fato de que sofre-
mos e admitir isso. Algumas pessoas acreditam que o crente tem que chegar ao
ponto de não sentir o sofrimento, mas isso seria uma forma "super-espiritual"
200 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

de reprimir a dor e tem o mesmo efeito que a negação da mesma. Quando Je-
sus chegou diante do túmulo de Lázaro (Jo 11:35), ele sofreu e chorou. Tempos
depois, no jardim do Getsêmani, sentiu uma agonia tal que, além de chorar,
suou gotas de sangue (Lc 22:39-45). Está claro, então, que não é pecado sofrer.
A maneira como reagimos ao sofrimento é que pode ser pecado.

CRER
Na cruz, Cristo levou sobre si nossas dores e tristezas. Precisamos crer que
ele quer e pode levar nossas dores e tristezas hoje também. "Porque pela graça
sois saloos, mediante ll fée isto não oein de oós, é dom de Deus" (Ej' 2:8). Assim como
confiamos em Deus para sermos salvos do pecado, da mesma forma, precisa-
mos dar um passo de fé e crer que ele nos cura. Quem estiver tendo problemas
com a incredulidade, pode vencer essa luta sujeitando as cogitações da carne à
luz da verdade da Palavra de Deus.
É possível que alguém esteja se perguntando:
"Será que Deus pode me modificar e renovar esse aspecto da minha perso-
nalidade? Eu já sou assim há tanto tempo!"
Claro que pode! E é pela fé que obtemos a vitória!

CONFESSAR
Romanos 10:9,10 declara que com a boca confessamos a respeito da salva-
ção ou cura. Mas é preciso que confessemos tanto os nossos pecados como as
nossas mágoas, assumindo a responsabilidade por tudo que ocorre em nossas
vidas. É muito fácil responsabilizar outras pessoas pelos nossos sofrimentos,
jogar a culpa nos pais, professores e até nos vizinhos. É claro que os pais não
são perfeitos. Eles também são responsáveis por seus próprios atos. O fato é
que embora os erros deles possam deixar marcas em nossa personalidade, nós
também precisamos assumir a responsabilidade por nossos pecados.
Antes de iniciarmos a oração de confissão, precisamos relembrar todas as
experiências dolorosas. A cura é responsabilidade do Espírito Santo. Portan-
to, é importante deixar que ele nos conduza nesse processo, em vez de tentar
observar técnicas elaboradas por homens. Oremos demoradamente pelas di-
versas etapas e fases das nossas vidas, deixando que o Espírito Santo, de for-
ma sobrenatural, vá nos revelando, os acontecimentos importantes. Ele pode
apontar para nós, fatos da nossa vida intra uterina, da infância, adolescência,
Parte II l Um novo começo - 201

das nossas amizades, do casamento, etc. Em alguns casos, a certa altura do pro-
cesso, pode ocorrer uma manifestação emocional que, aliás é uma boa ocasião
para pedirmos a cura. Uma confissão feita com lágrimas, pode ser mais que
uma catarse do problema. Se exercitarmos fé, ao expressarmos nosso sofrimen-
to a Deus dessa forma, as recordações penosas serão substituídas pelo bálsamo
restaurador do amor de Jesus! Se apresentarmos a Cristo as feridas profundas
dos nossos corações, ele pode levá-las sobre si.

DESEJAR INTENSAMENTE A CURA


A experiência tem me ensinado que para nosso espírito ser curado é pre-
ciso que o desejemos intensamente. Existem aqueles que preferem continuar
com o sofrimento emocional para receberem cuidado e atenção. No fundo, não
querem ficar livres daquela mágoa. Podem até fazer uma oração de libertação,
mas sem o menor desejo de serem curados. Na realidade, não querem abrir
mão dessa "dorzinha" com a qual conquistam a atenção dos outros. Temem ser
postos de lado ou esquecidos. Muitos passam de um conselheiro para outro,
repetindo com todos o mesmo processo e por fim começam a se convencer
de que seu problema não tem solução. O que acontece, na verdade é que não
querem reconhecer que não desejam encontrar a solução. "Bem aoenturados os
que têm foniee sêde de justiça, porque serão fartos" (Ml 5:6). Na maioria dos casos,
só quando estamos aflitos ou diante de uma crise séria é que sentimos sede!

EXERCITAR A PIEDADE
EmlTimóteo 4:7,8, Paulo afirma que o exercício físico épouco proveitoso mas
o espiritual nos traz muito proveito. Temos, portanto, que exercitar a piedade. No
contexto da cura ou renovação do espírito, esse exercício consistiria na remoção
das velhas reações que temos diante da vida, adotando, então, reações novas.

"Quanto ao trato passado, vos despojeis do oelho homem, que se corrompe


segundo as concupiscências do engano, e dos remoeis no espírito do vosso en-
tendimento, e dos reoistais do nooo homem, criado segundo Deus, em justiça e
retidão procedentes da oei'dade" (Ef 4:22-24).

Na prática, como é que nos despojamos do velho homem e nos revestimos


do novo? Em seu livro Rational Christian Thinking (O Pensamento Cristão Ra-
202 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

clonal), o Dr. Gary Sweeten explica como formamos nosso sistema de idéias e
como o modificamos.'
Ele diz que, primeiro, passamos por um "evento inicial", seguido de uma
"emoção resultante" que, por sua vez, desencadeia uma "ação decisiva". Com
base nessa reação em cadeia, criamos um sistema de conceitos em torno do
evento inicial. São esses os passos pelos quais formamos condutas habituais.
Vejamos um exemplo.
1. Evento inicial: Suponhamos que um menino vai andando pela rua e de
repente, um cachorro preto corre atrás dele, avança e rasga sua calça.
2. Emoção resultante: O incidente produz nele medo, ansiedade e tensão.
3. Ação decisiva: A criança sai correndo, fugindo do cachorro.
Esse é um tipo de experiência traumática para a criança. Ao chegar à fase
adulta, a pessoa ainda pode ter um sistema de conceitos.
4. Sistema de conceitos: Em consequência do que aconteceu a ele na infân-
cia, o adulto pensa que todos os cachorros pretos são agressivos e perigosos.
Sempre que avista um cão com tais características, revive todas as emoções
associadas ao evento, sentindo novamente, o desejo de fugir correndo.
Se ele quiser modificar suas emoções e sua conduta diante dos cachorros
pretos, primeiro terá que modificar seu conceito sobre eles. SÓ conseguirá se
libertar da experiência inicial, se conseguir aceitar o fato de que há muitos ca-
chorros pretos que são mansos e dóceis. Então, poderá ter emoções e reações
diferentes relacionadas aos cães.
Assim também, podemos nos despojar das nossas velhas reações adqui-
ridas, revestindo-nos das novas, se ocuparmos a mente com as verdades da
Palavra de Deus, crendo nelas com o coração e confessando-as verbalmente.
[Ver "Aplicação Prática", no final deste capítulo.]
Voltemos a ITimóteo 4:7 e observemos que somos nós os que nos exercita-
mos à piedade. NÓs nos despoj°amos do velho e nos revestimos do novo:
- Temos que falar a verdade.
- Temos também que controlar a ira.
- Quem furtava, não pode furtar mais.
- Devemos dominar a língua.
- Temos que ser benignos uns com os outros .
Se quisermos viver isso na prática, a renovação do espírito tem que ser sem-
pre acompanhada de arrependimento e confissão de pecados, senão terá curta
Parte II l Um novo começo - 203

duração. Os israelitas desejavam que Deus curasse suas feridas, mas ele res-
pondeu que não sabia o que fazer com eles (Os 6:1-4), comparando o arrependi-
mento do povo a uma nuvem e ao orvalho da madrugada que logo desaparece.
Dessa maneira, como poderia abençoá-los? Um dos maiores desafios de Deus
não é o desejo que temos de recebermos os dons da sua graça, e sim a nossa
relutância em nos tornarmos semelhantes a ele. Se a cura não for acompanhada
da atitude de despojamento do velho homem e do revestimento do novo, ela
não será duradoura. SÓ manteremos o crescimento espiritual e obteremos uma
cura genuína se nos exercitarmos na piedade.

PERDOAR
Deus quer que perdoemos uns aos outros de todo coração, assim como ele,
em Cristo, nos perdoou (Ef 4:32). Mas nÓs, na maioria das vezes, preferimos
deixar que o ressentimento e a amargura nos dominem. A ilustração mais
clássica desse fato é a história do credor incompassivo, registrada em Mateus
18:23-35. Esse homem, cujo senhor lhe perdoara um grande débito, recusou
perdoar uma quantia muito menor que outro homem lhe devia, mandando-o
para a cadeia.
O que muitos não compreendem é que aquele servo, nunca recebeu no cora-
ção, o perdão incondicional do seu senhor. Recebeu apenas aquilo que pedira,
uma extensão do prazo para pagar sua enorme dívida. Como não recebera o
perdão de coração, não conseguira perdoar. O "não perdoado" também não
perdoa; o "não aceito" também não aceita. Porisso ele não foi capaz de perdoar
um débito insignificante mandando seu devedor para a cadeia.
Há muitas pessoas que afirmam que Deus os perdoou, mas na verdade,
não acolheram o perdão no coração, e por isso não experimentam a libertação.
Têm prazer em "colecionar" ofensas, guardam todo tipo de irritação, injúria e
desprezo que sofrem. Vão arquivando todos os erros cometidos contra eles, es-
crevendo no verso de cada um o nome do devedor. Emaranhados nessa rede de
mágoas, magoam os outros. Não sentindo que seus pecados foram perdoados,
têm muita dificuldade de perdoar outros. Ao se enxergarem como fracas e in-
competentes, causam decepções aos outros. Acreditando que foram rejeitadas,
rejeitam outros. E assim por diante.
O ato de "perdoar a nós mesmos" só tem valor, depois que recebemos o
perdão de Deus. Se não acolhermos o perdão de Deus no coração, não conse-
204 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

guiremos perdoar de todo o coração, nem a nós, nem outras pessoas. Temos
que levar para Deus nossa vergonha e sentimento de culpa, para dessa forma,
obtermos seu perdão. Se não o fizermos, seremos como aquele rapaz que fora
condenado à prisão perpétua e depois teve sua sentença revogada, mas ao che-
gar à porta da prisão, não conseguia caminhar em direção à liberdade. Para
sermos curados, temos que aprender a perdoar a nÓs mesmos, liberalmente,
de todo coração!

CRESCER
O apóstolo Paulo nos desafia a largar o "leite", passando a ingerir "alimen-
to sólido" que é verdadeiro alimento espiritual! (Hb 5:11-14). O que ele está
dizendo é "cresça!", conclamando-nos para crescermos até a estatura de Cristo,
falando a verdade em amor, uns para os outros. Certas pessoas falam verdades
que magoam. Já outras, tentam amar em silêncio, mantendo-se caladas. Para
crescermos espiritualmente, precisamos das duas coisas, com equilíbrio. As
velhas feridas que ainda estão abertas podem deixar cicatrizes horrendas em
nossa personalidade e retardar nosso crescimento espiritual e no caráter.

AUXILIAR OUTROS
Na mesma medida que recebemos, assim também devemos dar. Deus pro-
mete que nossa cura brotará rapidamente se libertarmos os cativos, alimentar-
mos os famintos, dermos abrigo aos que não têm teto, cobrirmos o nu e nos
oferecermos aos outros em sacrifício de amor (Is 58:8).
Certa vez, na África, um cirurgião viveu uma experiência curiosa. Ele havia
operado um homem, e todos os dias os seus parentes iam ao hospital para ver
o corte cirúrgico. Afinal, para impedir uma infecção e garantir a cicatrização do
corte, o médico fez uma bandagem definitiva com um abertura, uma espécie
de "janela". Algumas pessoas são como os parentes daquele paciente, estão
sempre introspectivas querendo ver a todo momento as feridas do coração.
Sempre que nosso "Grande Médico" nos submeter a uma cirurgia espiritual,
deixemos com ele a fase de recuperação. O Senhor promete nos curar à medida
que atendermos às necessidades dos pobres e oprimidos.

"... então a tua luz nascerá nas ti'ems, e ll tua escuridão será coino o melo-
dia. O Senhor te guiará continuamente, fartaráa tua dina atéein lugares áridos,
Parte II l Um novo começo - 205

e fortificará os teus ossos; serás como uni jardim regado, e conio uni manancial,
cu jãs águas jamais faltam" (Is 58:10,11).

Todas essas ações que acabamos de analisar são muito importantes no pro-
cesso de renovação. Nossa cura só brotará se nos empenharmos, de fato, em
aplicá-las em nossas vidas.
Agora já fixamos na pedra fundamental seis barras de reforço que nos dão
condições para construirmos um forte muro da salvação. No último capítulo,
estaremos fincando a última delas e depois iremos completar a construção des-
se muro da salvação estabelecendo as portas do louvor.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Procure lembrar alguns eventos da sua vida que provocaram traumas emo-
cionais e pense um pouco sobre eles.
Que emoções ou condutas indesejáveis, eles desencadearam e que perma-
necem até hoje?
Que falsos conceitos você adotou em consequência de cada evento?
Se você reconhece que precisa de mudança e quer muito mudar, tome as
seguintes providências:
Permita que Deus cure a lembrança do acontecido.
Ore a Deus, rejeitando os velhos conceitos. Em seguida, aceite e confesse em
voz alta, para Deus e para você conceitos verdadeiros, diferentes dos que tinha.
Faça isso várias vezes por dia (Rm 10:9,10).
206 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

Notas
'Meinonj Mechanisins, A. M. A. Archives of Neurology and Psychiatry.
'Marvin vincente, Word Studies in theNeu' Testanient, vol 3, Eerdmans, Grand
Rapids, MI.
'Vine's Expository Dictionary, op. cit.
' Gary Sweeten, Alice Petersen e Dorothy Geverdt, Rationd Christian
Thinking, Christian Information Commitee, Cincinnati, 1986.
15
SURGE UM
NOVO CARÁTER

última barra de reforço a ser fixada na pedra fundamental é a que nos


possibilita colocar argamassa entre os tijolos, e assim edificar o muro da
alvação. Trata-se da barra da reconstrução. Esse termo sugere a idéia
de que o muro continuará a ser construído, já que a salvação é o processo de
imergirmos mais e mais em Jesus. Nossa meta é a que Paulo definiu na sua
carta aos Gálatas: "Não sou eu quem oioe, mas Cristo oioe em mini" (G! 2:20).
Em Neemias 2:18, encontramos o seguinte: "E lhes declarei como q boa mão
do meu Deus estioera comigo, e também as palavras que o rei me falara. Então dis-
seram: Disponhamo-nos, e edifiquemos. E fortaleceram-se as mãos para q boa obra".
Assim Neemias e seus companheiros começaram a reconstrução das mura-
lhas. E um pouco adiante, diz o texto que quando já estavam quase termi-
nando, não havia mais nenhuma brecha nelas (Ne 6:1). Faltava-lhes apenas,
assentar os portões.
Antes de analisarmos o simbolismo das muralhas de Jerusalém, agora total-
mente reconstruídas, examinemos seus portões, o que eles representam e o que
significam para nós, ao serem instalados no muro da salvação. As portas de Je-
rusalém eram os pontos de entrada ou saída da cidade. Por elas transitava tudo
que era vital à manutenção e ao bem-estar dos seus habitantes. Muitas vezes,
guardas ficavam nessas portas, atentos a todos que passavam, verificando se
todos ou tudo que entrava e saía estavam de acordo com a disposição dos ma-
gistrados. Examinemos, então, as características dessas portas, comparando-as
aos elementos que constituem as portas de acesso à nossa vida.
208 - Paredes do Meu Corutção l Bruce Thompson

O MURO DA SALVAÇÃO
NEEMIAS = RESTAURAÇÃO
ESDRAS = RECONCILIAÇÃO

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ÊENOVAÇÂO

RENUNCIn
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FIGURA38
Parte II l Surge um novo CARáTER - 209

A VIGILÂNCIA DOS PORTÕES


Se os portões de uma cidade estiverem quebrados ou não forem protegidos
e bem vigiados, o inimigo pode facilmente entrar, saquear, roubar e destruir
tudo. Muitas pessoas tiveram a vida saqueada e até destruída porque não pu-
seram vigias nos portões dos olhos e dos ouvidos. Por outro lado, se as portas
estiverem enferrujadas e continuamente fechadas, sempre debaixo de tranca,
não haverá como retirar o lixo da cidade, e assim, corre-se o risco de produzir
epidemias, trazendo morte. Além disso, se não entrarem pelos portões água e
os alimentos necessários, a crise se agravará. Precisamos dar atenção aos por-
tões da nossa vida, pois aquilo que entrar por eles, ou deixar de sair, poderá
dominar e até corromper nossos corações. A Bíblia nos adverte: "Sobre tudo o
que se deoe guardai', guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da oida" (Po
4:23). Como as portas são as vias de acesso ao coração, se quisermos guardá-lo,
estejamos atentos a elas.
Na figura 39,temos a listagem das portas de Jerusalém, citadas em Neemias
3. A lista menciona os nomes das portas e dos voluntários que trabalharam no
assentamento delas, e também denuncia os nobres que acharam que tal traba-
lho seria desonroso para eles.
Vamos analisar cada uma dessas portas, estudando o significado do seu
nome e sua aplicação em nossas vidas hojêo

PORTA DAS OVELHAS -ENTRADA


"Jesus, pois, lhes afirmou de nooo: Eu sou a porta das ooe!has... Se alguém entrar
por mini, será sdoo; entrará e sairá e achará pastagem" (Jo 10:7,9). Continuando a
ler o capitulo 10 de João, veremos que Jesus faz um contraste entre a sua função
de "Bom Pastor" e a atitude dos ladrões e salteadores que procuram destruir as
ovelhas. Ele afirma que os ladrões não entram pela porta da salvação mas sal-
tam o muro em outra parte, na intenção de roubar a vida e a herança daqueles
que estiverem desprotegidos e desatentos.
Da mesma forma, temos que entrar na vida pelo portão das ovelhas, pois
de outra forma não poderemos tomar posse da nossa herança. Com a redenção
consumada por Jesus na cruz, é por esse portão que podemos entrar e sair para
ter comunhão com o Pai. É preciso dar a Jesus esse lugar em nossos corações,
para que ele reine como Senhor e Salvador. O portão das ovelhas significa a
"entrada" em nossa herança.
210 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

AS PORTAS DE JERUSALÉM
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PORTA DO PEIXE - EVANGELISMO


Na primeira vez que Jesus viu André, Pedro, Tiago e João, eles estavam lan-
çando as redes no mar da Galiléia. O Senhor os chamou para que o seguissem,
com a promessa de fazer deles pescadores de homens (Mt 4:18-22). Imediata-
mente largaram as redes e o seguiram.
Parte II l Surge um novo caráter - 211

e hoje Jesus nos dirige o mesmo chamado, prometendo fazer de nós pes-
cadores de homens. A porta do peixe simboliza a Grande Comissão dada por
Jesus em Mateus 28:18-20, para irmos ao mundo todo e pregarmos o evangelho
a toda tribo e nação. Em cada oportunidade que tivermos, devemos testemu-
nhar as boas novas de Jesus Cristo. A Bíblia diz: "O que ganha dinas ésábio" (Po
11:30). Tenhamos sempre em mente o imenso valor de uma alma perdida. Até
mesmo um recém-convertido pode levar outros ao conhecimento do seu novo
"Amigo e Salvador".
Nosso principal interesse na Universidade Cristã para o Pacífico eÁsia (Univer-
sidade das Nações -JOCUM), onde sou diretor da Faculdade de Aconselhamento
e Assistência Médica é levar o evangelho de Jesus Cristo à nossa geração. Os
cursos de graduação e doutorado são organizados tendo em vista esse objetivo.
Nossa meta é sempre ganhar os perdidos, desde o trabalho de assistência mé-
dica até os cursos teológicos. No ensino do evangelismo, estamos aprendendo
o que é uma atuação progressiva, começando por uma necessidade palpável,
para depois chegar ao problema mais profundo, a necessidade eterna do cora-
ção do homem.

PORTA VELHA- DESPOJAMENTO


A porta velha simboliza o nosso "velho homem", com sua maledicência,
ira, linguagem obscena e maldade. Temos que nos despojar desse velho "eu"
não regenerado, afastá-lo e nos livrar dele (Cl 3:8,9). Depois, então, vamos nos
revestir do novo homem, renovados segundo a imagem daquele que o criou:
"... e dos reoestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a
imagem daquele que o criou" (C! 3:10).
Muitas vezes, é nesse ponto, na hora de nos despojarmos do velho homem
que interrompemos o processo de renovação. Se não nos dispusermos de todo
o coração a nos desvestir dele, não cresceremos. As equações que se seguem
ilustram essa verdade:
Desoestir - Reoestir = Sem mudança
Revestir - desoestir = Falsa mudança
Desvestir + Reoestir = Verdadeira mudança
Muitos de nÓs fraudamos a nós mesmos, promovendo uma falsa mudança,
passando anos e anos, uma luta desnecessária. Podemos até experimentar uma
verdadeira mudança, mas enquanto não crucificamos com Cristo nosso velho
212 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson

homem, destruindo assim o poder que ele tem de nos escravizar ao pecado
(Rm 6:6), tal mudança não será duradoura. Como o próprio Jesus, nós também
nos retraímos diante da cruz. Entretanto, ele deixou bem claro que se não cruci-
ficarmos a carne diariamente não poderemos ser seus discípulos. Se tentarmos
viver a vida cristã sem abraçar a cruz, sem nos despojar do velho homem, tro-
peçaremos e cairemos.

PORTA DO VALE- REAVALIAÇÃO


"Ainda queeu ande pelo Meda sombra da morte, não temerei md nenhum, porque tu
estás coniig ..."(S! 23:4). Nesta vida,todos nÓs passamos pelos vales da tribulação
e das provações. Neles, é que descobrimos como nosso coração realmente é.
Em 1980, quando chegava ao seu auge a fuga dos refugiados da Campu-
chéia (antigo Camboja) e do Vietnã, eu trabalhava em um hospital de refugia-
dos, na fronteira da Tailândia com a Campuchéia.
Certo dia, quando fazia a ronda matinal na clínica médica, vi dois médicos
americanos chegando cansados e abatidos. Explicaram que tinham sido man-
dados para um pequeno hospital em Campuchéia, onde cobririam a folga de
outro médico. Mas foram impedidos sob a mira de armas de chegarem até lá,
e também não conseguiam dormir à noite por causa dos tiroteios constantes.
Concluíram que o melhor aspecto da coragem era a sensatez e depois de pas-
sarem apenas um ou dois dias naquele país, desistiram, e cruzaram a fronteira
de volta à Tailândia.
Enquanto os escutava penalizado, ouvi uma voz suave em meu coração, di-
zendo-me para que eu me oferecesse para ir no lugar deles. Certo que era a voz
de Deus, obedeci, dizendo a eles que iria para lá. No mesmo instante, comecei a
atravessar o meu "vale da sombra da morte". Com a possibilidade de ser preso
ou morto pelos vietcongues, poderia nunca mais ver minha esposa e meus filhos.
Logo que tive consciência disso, comecei a chorar e uma dura batalha pas-
sou a ser travada em meu interior. Quem eu amava mais? Deus ou minha fa-
mília? Será que de fato, amava Deus de todo coração? Será que poderia confiar
nele? Ele estava comigo? Minha disposição de obedecer estava sendo testada
e eu sabia disso.
Voltei ao pequeno e atravancado quarto onde estava alojado e comecei a
escrever uma cartinha para meus familiares: "Meus queridos e amados..." De
repente, comecei a chorar incontrolavelmente, as lágrimas caiam sobre a folha
Parte II l Surge um novo carííter - 213

de papel ao pensar que talvez nunca mais os visse. Tinha plena consciência
de que deveria obedecer a Deus e ir. Minhas emoções e o coração angustiado
protestavam.
Talvez isso significasse que não era para eu ir. Quem sabe era para permane-
cer onde estava? Concluí a carta manchada de lágrimas. Pedi a um amigo que
a enviasse e quando conversava com ele, comecei a chorar novamente. Mais
uma vez me senti confrontado pelas possíveis consequências da obediência.
Fiz uma avaliação do "preço" e decidi obedecer indo substituir aquele médico
na Campuchéia. Afinal, o que aconteceu? Deus esteve comigo e me protegeu.
Depois que saí, o hospital foi bombardeado, mas o Senhor me trouxe de volta,
são e salvo para o Hawai, onde se encontrava a minha família.
Foi assim que aprendi por mim mesmo que esses momentos de provação
servem para fortalecer nossas decisões, purificar nossos corações, intenções e
que os vales de lágrimas tornam-se uma viagem para Sião. "Passando pelo vale
árido,faz dele um manancial ...Vão indo de força em força ..."(SI 84:6,7).

PORTA DO MONTURO -REMOÇÃO DO LIXO


"Mas, o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, de-
ocras considero tudo conio perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo
Jesus, meu Senhor: poi' amor do qual, perdi todas as coisas e as considero conio refugo
para ganhara Cristo" (Fp 3:7,8).
Está claro que Paulo não era de "juntar lixo". Removia da sua vida e jogava
fora tudo que não tivesse valor. Parece que alguns de nós, vamos juntando
tanto lixo em nossa caminhada que ele acaba nos atrapalhando. Ficamos amar-
rados aos nossos pertences e nos esquecemos de que pertencemos a Cristo em
primeiro lugar. O apóstolo se desembaraçava de qualquer peso, inclusive do
pecado, para que nada o impedisse de conquistar o grande prêmio da vida!
Sempre que tropeçarmos em algum desses embaraços, precisamos pegá-lo e
atirá-lo à porta do monturo, e deixá-lo lá.
Os grupos de assistência médica da JOCUM que trabalham nas Filipinas,
costumam ministrar num enorme aterro sanitário que há em Manila. Milhares
de favelados vão para lá, escavando o lixo com pequenas picaretas à procura
de algo que possam reutilizar. Muitos de nós também somos assim. Estamos
sempre tentando escavar o lixo de nossa vida,na esperança de poder reutilizá-
10. Mas precisamos deixar essas coisas e removê-las de uma vez por todas.
214 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

PORTA DA FONTE -PLENITUDE


"Se alguém tem sede, oenha a mini e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritu-
ra, do seu interior fluirão rios de água oioa"(jo 7:37,38).
Nesse texto, Jesus se refere ao Espírito Santo que irá fluir do nosso interior como
rios de águas vivas se formos à Porta da Fonte e permitirmos que ele encha as nos-
sas vidas. Jesus sabia que sem a plenitude do Espírito Santo os discípulos não te-
riam poder para testemunhar nem para realizar as obras dele. Então, ordenou que
aguardassem em Jerusalém o cumprimento da promessa de plenitude (At 1:4). Por
isso encontramos em todo o livro deAtos o relato das realizações do Espírito Santo,
operando por intermédio daqueles que se coloram em suas mãos. Além disso, a
Palavra de Deus ordena que continuemos a "nos encher" do Espírito,em vez de nos
embriagarmos com os vinhos do mundanismo (Ef 5:18). Quem passa de largo pela
porta da fonte só poderá servir a Deus com suas próprias forças, que são totalmente
inadequadas para as muitas lutas que enfrentará no serviço do Senhor. "Não por
força nem porpodei', inãs pelo meu Espírito, dizo Senhordos Exércitos" (Zc4:6).

PORTA DAS ÁGUAS-PURIFICAÇÃO


"Maridos, amai dossqs mulheres, coino também Cristo amou a igreja e a si mesmo
se entregou porela, para quea santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem com
água pela pdam, para a apresentara si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, ruga, nem
coisa semelhante, porém, santa esein defeito" (Ef5:25-27).
A palavra de Deus é uma água que nos purifica. Precisamos tomar "banhos
diários" nas verdades de Deus, memorizando-as e meditando nelas. E à medi-
da em que o fizermos, nossos corações serão purificados das sujeiras do pecado
que diariamente acumulamos.
Quando eu estudava medicina, em uma de minhas férias trabalhei assen- b.

tando "bocas de lobo" nas ruas. Não demorei muito para perceber que as bocas
dos homens com quem trabalhava eram tão "sujas" quanto os esgotos que está-
vamos tampando. Alguns dias depois, me dei conta de que a linguagem deles
começava a invadir a minha mente também. Preocupado, clamei a Deus e ele
me instruiu para que fizesse uma memorização intensa das Escrituras. Depois
disso, sempre que um palavrão vinha à minha mente, eu o substituía por um
versículo bíblico. Com isso aprendi que a Palavra de Deus é tão poderosa que
além de manter a minha mente e coração limpos durante o horário de trabalho,
atuava como espada afiada, neutralizando os ataques do inimigo!
Parte II l Surge um novo CARáTER - 215

PORTAS DOS CAVALOS - DESEMBARAÇAR DOS FARDOS


"Vindea mini todos os queestais cansados esobrecarregados ecu oosalioiàrei" (Mt11:28).
Os cavalos são excelentes animais de carga e através dos séculos o homem
tem conseguido realizar muitas coisas utilizando esse recurso. Portanto, é na
porta dos cavalos que nos desembaraçamos dos fardos do pecado, da ansie-
dade, do sentimento de culpa, das mágoas e de inúmeras coisas, colocando-as
nas mãos do Senhor Jesus! Em Mt 11:29, vemos que ele promete trocar nossos
pesados fardos por seu jugo leve. Apesar disso, muitos crentes insistem em
continuar carregando desnecessariamente aquele peso. No entanto, Jesus de-
seja removê-lo de nós, dando a cada um o leve jugo de aprender a obedecê-lo,
confiando a ele todas as nossas preocupações. A Palavra diz também que não
devemos andar ansiosos por coisa alguma, mas orar, entregando tudo nas mãos
dele (Fp 4:6). Na maioria das vezes, nos esquecemos disso e nos entregamos
às preocupações e só oramos quando enfrentamos crises. "Obseroai as aoes do
céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros, contudo doss0 Pai celeste as
sustenta. Porventura não mieis oós muito niais do que as aves? Qual de oós, poi' niais
ansioso que esteja, pode acrescentar uni côutdo ao curso da sua vida?" (Mt 6:26,27).
Quanto mais fardos carregamos, menos usufruímos da vida. Ainda resta
um descanso para cada um de nós. "Temamos, portanto, que sendo-nos deixada a
promessa deentrar no descanso de Deus,suceda parecerquedguin de dôs tenha falhado
... NÓs, porém, que cremos, entramos no descanso" (Hb 4:1,3).

PORTA ORIENTAL- PROFECIA


Grande parte das profecias bíblicas focaliza o Oriente Médio. Precisamos en-
tender tais mensagens para intercedermos melhor por Israel. Os eventos históri-
cos relacionados ajesus e aos judeus confirmam o fato de que as profeciasbíblicas
são fidedignas. Precisamos estudar mais essa questão para compreendermos ple-
namente as profecias relacionadas ao futuro e orarmos pela realização dos pro-
pósitos de Deus, para o encerramento desta era e o estabelecimento da próxima.
"Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Ml 6:10).

PORTA DA GUARDA- GUERRA ESPIRITUAL


"Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas que todo o dia e toda a noite jamais
se calarão; vós os que fareis lembrado o Senhor, não descanseis, nem deis a ele descanso
até que restabeleça Jerusalém ea ponha por objeto de louoor na terra"(ls 62:6,7).
216 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson

Nesses versículos, temos o maior desafio apresentado à igreja em nossos


dias. Se nós, pela oração,não entrarmos na batalha travada nas regiões celestes,
não teremos a menos chance de derrotar todo o arsenal que Satanás tem prepa-
rado para investir contra a igreja. Deus nos municiou com armas que não são
carnais, mas poderosas para derrubar as fortalezas do inimigo (II Co 10:3-5). Se
não as utilizarmos, perderemos a batalha.
Umas das principais necessidades da igreja hoje são intercessores que não
dêem descanso a Deus até que ele atenda suas petições. NÓs da JOCUM, já
compreendemos que só poderemos cumprir a tarefa que Deus deu à missão se
nos dedicarmos diariamente à intercessão. Assim também, a igreja só experi-
mentará um avivamento espiritual quando um bom número de "guardas", ho-
mens e mulheres, se dispuserem a batalhar nos lugares celestiais, pela oração,
jejum e pela fé. E como indivíduos, só veremos o cumprimento das promessas
de Deus para nÓs, se regularmente nos empenharmos na oração e na batalha
espiritual. Vigiemos, oremos e permaneçamos firmes!
Quando olhamos novamente para a porta das ovelhas, vemos que se todas
as outras portas estiverem em seus devidos lugares, operando corretamente
no muro da salvação, podemos entrar por essa primeira porta e usufruir de
uma gloriosa e bendita comunhão com Jesus. "Depois de fazer sair todas as que
pertencem, oai adiante delas, e elas o seguem porque reconhecem a sua doz" (Jo 10:4).
Aquele que sabe que Jesus vai adiante dele e reconhece a sua voz entre as
muitas que chegam aos seus ouvidos, leva a vida mais gloriosa e gratificante
que existe! Se nos dispusermos a obedecê-lo, podemos gozar desse privilégio.
Encontramos outra referência a portas, no Salmo 24, onde Davi afirma que
somente os limpos de mãos e puros de coração poderão estar na habitação de
Deus. Diz ainda que precisamos estar buscando continuamente a sua face para
que possamos permanecer em sua presença. O salmista conclui com o refrão:
"Leoantai, ó portas, as Dossàs cabeças, kmntai-oos, ó portais eternos, para que entre o
Rei da Glória. Quem éo Rei da G!ória?..."(Sl24:7,8).
Precisamos assentar nossas portas, na muralha, na posição certa, abrindo
caminho para que entre o Rei da Glória, pois a pergunta de Davi continua a
ecoar:
"Quem éo Rei da Glória?"
Encontramos a resposta quando assentamos os tijolos, um sobre o outro,
para concluir o muro da salvação.
Parte II l Surge um novo CARáTER - 217

O MURO DA SALVAÇÃO
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AMOR
FIGURA 40
REDENÇAO

"Porque Deus amou ao inundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, pani que
todo o que nele crê não pereça, mas tenhaa oida eterna"(jo 3:16)
Esse texto revela quem é o Rei da Glória! Pelo glorioso plano de Deus para
a redenção do homem, está claro que a pedra fundamental sobre a qual é cons-
truído o muro da salvação é o amor, pois Deus é amor! Cristo realizou o sacri-
218 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson

fício supremo para que nós não pereçamos. Enquanto não experimentarmos
esse amor não poderemos concluir o mudo da salvação.
"Espere Israel no Senhor, pois no Senhor há misericórdia, nele, copiosa redenção"
(S! 130:7).
O Rei da Glória é:
amor,
alegria,
paz,
longanimidade,
mansidão,
benignidade,
bondade,
fidelidade,
mansidão
domínio próprio.

O único que corresponde a essa descrição é o Rei da Glória! E quando esse


Rei passa a residir em nossos corações e assume o controle de nossa vida, co-
meçamos a nos tornar semelhantes a ele. Então, o muro da salvação começa a
tomar forma na totalidade de nossa personalidade.
"Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de
Deus,à perfeita uíronilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef4:13).

CONCLUSÃO

Espero que enquanto analisávamos o processo de reconstrução das paredes dos


nossos corações de acordo com o prumo divino, Deus tenha operado em sua vida
de forma toda especial. Já vimos que o inimigo muitas vezesnos engana, e consegue
levar-nos a erguer as instáveis paredes da rq'eição e revolta aferidas pelos falsos
prumos humanos. Mas, para que possamos derrubar tais paredes e construir em
seu lugar muros firmes e resistentes, alinhados pelo prumo divino, temos antes de
nos arrepender do orgulho e da incredulidade, e removê-los de nossa vida.
O muro da salvação reflete a verdadeira imagem e natureza de Deus. A
medida que continuamos a edificar nossa vida de acordo com o prumo divino,
vamo-nos tornando filhos e filhas de Deus.
Parte II l Surge um novo caiúter - 219

Quando persistimos em erguer as paredes de nosso coração pelo prumo


divino, descobrimos que as fontes dele se enchem e transbordam de salvação.
E aí passamos a gozar de plenitude e santidade antes desconhecidas para nós,
e logo os outros começaram a vir a nós em busca dessas fontes para beberem
de suas águas vivas.
A Bíblia diz que os olhos do Senhor passam por toda a terra procurando
aqueles cujo coração seja totalmente dele, ou esteja alinhado com o prumo di-
vino (II Cr 16:9). Precisamos tomar a decisão de deixar que Deus construa nossa
vida. Assim, além de sermos fortalecidos, abençoados e recebermos nossa he-
rança espiritual em plenitude, seremos também usados por Deus para revelar
ao mundo a glória de sua imagem e para realizar seus propósitos em relação à
terra. Veremos então, que nossa vida será como a cidade de que fala Isaías, uma
cidade forte e fulgurante de glória.

"Ó tu aflita, arrojada com a tormenta e desconsolada! Eis que eu assentarei


as tuas pedras com argamassa colorida, e te fundarei sobre safiras, Farei os teus
baluartes de rubis,as tuas portas de carbúnculos,etoda a tua muralha de pedras
preciosas" (Is 54:11,12).

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