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Bruce Thompson
e Barbara Thompson
cE'
Editora Jocum
b ir a 8 t l
SOBRE O AUTOR
Lemos em Provérbios 4:23 que tudo de mais vital para o homem procede
do seu coração. Conscientemente ou não, todos nÓs sabemos desse fato, e por
isso erguemos paredes, muros de proteção ao redor dele. Acontece, porém, que
tal proteção é enganosa, e muitas vezes essa tentativa de auto-defesa acaba
se transformando nas muralhas de um cárcere pessoal interno que aprisiona
nossa verdadeira personalidade.
Ao término deste estudo estaremos vendo o que é a personalidade madura,
integral, delineada na Bíblia, que Deus deseja que cada um de nós alcance. Es-
pero que, de posse dessas verdades e buscando a maturidade plena em Cristo,
o leitor possa experimentar essa transformação.
Se sentir que está tendo dificuldade para fazer a aplicação na prática de
alguma das questões aqui debatidas, sugiro que consulte um pastor ou conse-
lheiro crente de sua confiança.
E agora uma palavra a meus paciente e amigos com quem tanto aprendi.
Podem estar certos de que ao narrar experiências para ilustrar os ensinamen-
tos, tivemos o cuidado de manter em sigilo a identidade de cada um. Modifi-
camos nomes e circunstâncias para que ninguém seja reconhecido, e venha a
tomar-se alvo de constrangimentos. E se alguém se identificar num ou noutro
fato narrado, lembre-se de que muitas pessoas estão vivenciando problemas e
provações semelhantes aos seus.
E é a vocês, meus pacientes e alunos, que dedico este livro, a todos que,
em busca da vida e da verdade, desencadearam o processo de descoberta dos
conceitos aqui expostos.
"Até que finalmente todos creiamos do mesmo modo quanto à nossa sah'ação e ao
nosso Sdoador, o Filho de Deus e todos nos tornemos amadurecidos no Senhor. Sini,
crescemos ll ponto de que Cristo ocupe completamente todo o nosso ser" (Ej' 4:13).
Bruce R. T. Thompson
7
ÍNDICE
Primeira Parte: O Colapso da Personalidade
1.Sobre MINHACABEÇA . 15
4.Úvasverdes .. 59
8.Átrásdasparedes .. .. 117
O COLAPSO
DA PERSONALIDADE
Jeremias 4.19
1
SOBRE MINHA CABEÇA
Era uma tarde quente e úmida de abril. Atravessando apressadamente o
estacionamento em direção ao consultório, senti gotas de suor se forma-
rem em minha testa. Nuvens escuras se acumulavam pelo céu, prenun-
ciando outra tempestade tropical.
"Com a chuva, pelo menos essa sensação de umidade diminui", pensei.
Notei que o dia havaiano, normalmente claro e brilhante, tornara-se meio
escuro, e o ar parado, denso, parecendo esperar com certa expectativa que a
tempestade desabasse. A atmosfera estava permeada pelo perfume das flores
que me chegava às narinas com força inebriante. Abri a porta do consultório
e entrei, gozando a agradável sensação de um ambiente mais fresco. Peguei a
agenda para ver o que teria pela frente no restante do dia. O primeiro da lista
era Larry Coombs, um novo paciente.
Chegou às duas horas em ponto. Era alto e magro, e tinha cabelos castanho-
escuros bem penteados. Cumprimentei-o e observei que ficou a remexer ner-
vosamente na roupa. Tinha o irritante hábito de morder o bigode. Embora não
houvesse muita claridade no consultório,fiquei surpreso por ele não fazer nem
uma tentativa em remover os Óculos escuros.
"Como vou conseguir romper toda essa reserva?" Pensei. O que poderia
dizer para levar aquele homem a relaxar e "baixar um pouco a guarda"?
mento do casal. Eu e ela estávamos orando por Larry. Dois dias antes, ela havia
me telefonado muito animada, informando que ele afinal consentira em ter
uma entrevista comigo.
Agora, olhando para ele ali, afundado numa de nossas poltronas, a cabeça
virada para um lado, pus-me a matutar no que poderia fazer para ajudá-lo.
Então comecei a dirigir-lhe algumas perguntas.
- Larry, seu pai conversava, brincava com vOCê? Ele o disciplinava?
Ele resmungou qualquer coisa forçando-me a me inclinar para diante na
tentativa de ouvir o que dizia. Passaram-se alguns minutos e afinal ele se
levantou, como se não estivesse mais aguentando ficar parado, e se pôs a
caminhar de um lado para outro. Foi então que descarregou uma torrente
de palavras.
- Meu pai! Ah! Ele nunca se interessou por mim. Vivia me xingando e me
derrubando no chão. Nunca sabia quando ele ia estourar! Desabafou, puxando
de leve o bigode. Não me lembro nem uma vez de ele ter dito que me amava.
Ainda andando para lá e para cá no pequeno consultório, continuou:
- Recordo de uma ocasião em que eu... é... roubei um negócio, uma coisa
insignificante. Meu pai ficou tão irado que me levou à delegacia e me deixou
preso lá uma semana. Disse que queria me dar uma lição. Foi o fim para mim.
Jurei que nunca mais iria confiar nele.
Ele continuava com os Óculos escuros, mas pelo que podia ver do seu rosto,
percebi que assumira uma expressão marmórea; dura e fria.
- Quantos anos você tinha quando isso aconteceu?
- Uns doze ou treze.
Observei que Larry mantinha os punhos cerrados ao falar. E continuou.
- Ele foi muito injusto, muito injusto mesmo. SÓ pensava em si. Assim que
dei um jeito, fugi de casa.
Sentou-se na cadeira, voltando à atitude fechada de antes. Fiz mais algumas
tentativas de levá-lo a falar mais, mas foram todas inúteis. Convenci-me de que
ele não iria confiar-me mais nenhum dado. Minha secretária bateu de leve à
porta, informando-me que o cliente seguinte já havia chegado.
- Nosso tempo por hoje está esgotado, Larry, falei tentando reprimir um
sentimento de frustração.
Uma breve expressão de alívio lhe veio às feições. O rapaz ergueu-se e ca-
minhou para a porta.
Parte I l Sobre minha cabeça - 17
RECORDAÇÕES AMARGAS
A cena me veio à mente com grande nitidez. Tive a sensação de que
ocorrera no dia anterior. Lembrei-me da minha professora do quarto ano,
uma mulher alta, carrancuda, de cabelo bem curto já meio grisalho. Não
era nem um pouco amiga. Certo dia, ela me pediu que fosse ver as horas
em outra sala. O relógio era bem grande, os ponteiros graúdos de cor ne-
gra, fáceis de ver. Parecia uma tarefa muito simples. Mas no momento em
que seguia pelo corredor largo, de repente me dei conta de um fato: não
sabia ver as horas.
Fiquei olhando para o enorme relógio, sentindo-me invadir por uma onda
de pavor. Não poderia nunca confessar a verdade diante da classe. Passei al-
guns minutos ali parado, em luta comigo mesmo. Por fim tive uma idéia: po-
deria inventar uma hora qualquer e talvez acertasse. Quando entrei de volta na
sala, todos os olhares se voltaram para mim, aguardando a resposta.
- Ah... é seis horas. Resmunguei.
A professora olhou-me uns instantes sem compreender. Afinal, começou
a sorrir e as risadinhas contidas de meus colegas viraram sonoras gargalha-
das. Senti o rosto avermelhar-se. Meus lábios tremiam. Limpando as mãos
suadas na camisa, corri para a carteira e procurei esconder-me atrás de meus
objetos.
Para piorar as coisas, ela passou a utilizar essa falha minha para divertir a
classe. E quanto mais isso acontecia, mais medroso e retraído eu me tornava.
Por fim, todas as vezes que tinha de participar de qualquer atividade em
classe, sentia dores no estômago. Sempre que eu cometia um erro, ela me
batia na mão com a régua. Passei a ter pavor daquela mulher. Não conseguia
nem olhar para o seu rosto.
18 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
ALGO EM COMUM
Relembrando meu sofrimento, pude compreender melhor a luta de Larry,
pois percebi alguns pontos análogos entre a minha história e a dele. Ambos
tivéramos dificuldade com uma figura de autoridade excessivamente austera,
de quem esperávamos receber um pouco de amor e compreensão, mas recebê-
ramos apenas injustiça e sofrimento. Eu levara anos para libertar-me daqueles
temores que me faziam tremer feito vara verde. Ainda admirado com a se-
melhança das situações, guardei as anotações, preparando-me para o cliente
seguinte.
Uma semana depois, Larry voltou. E, apesar de o ambiente não estar ilumi-
nado demais, insistiu em conservar os Óculos escuros. Lá fora, o céu carregado
de nuvens pesadas impedia que a luz solar clareasse o aposento. Dessa vez, ele
se mostrava menos temeroso e não tão agitado. Sentado numa cadeira ao lado
da minha, pôs-se a conversar, ligeiramente mais desinibido. Ainda percebia
nele certa inquietação interior, mas pelo menos não andava de um lado para
outro como uma fera enjaulada.
Larry revelou-me que, ainda bem jovem, se tornara hippie, adotando uma
vida caracterizada por promiscuidade e uso de narcóticos, chegando até a inje-
tar drogas na veia. Com pouco tempo, precisou praticar pequenos delitos para
"sustentar" o vício. Nesse período, não tinha relacionamentos duradouros;
encerrava um e logo começava outro. Agora, porém, casado e com um filho,
estava tentando aprender a confiar nas pessoas. Mas sempre que alguém o
contrariava ou decepcionava, tinha acessos de raiva. Inclinei-me para a frente
e indaguei:
- Como você se sente com tudo que está lhe acontecendo?
Ele se remexeu um pouco, tamborilando os dedos nervosamente nos braços
da cadeira.
- Muito sozinho, replicou. Tenho sentido forte depressão e medo. Tenho
medo de fazer alguma coisa contra minha esposa e meu filho num dos meus
acessos de raiva.
Acenei afirmativamente, concordando e ele continuou falando. Ao fim
da consulta, estávamos ambos um pouco mais tranquilos. Encerrei com uma
oração. Em seguida estendi a mão e apertei-lhe de leve o braço. Tive a im-
pressão de vê-lo esboçar um rápido sorriso no momento em que prometia
que iria voltar.
Parte I l Sobre minha cabeça - 19
EM BUSCA DE SOLUÇÕES
Por ocasião da terceira consulta de Larry, eu já tinha alguma coisa para
dizer-lhe. Havia orado muito após a última entrevista e sentia que Deus estava
para revelar-me alguns aspectos básicos de seus problemas.
- Oi! Como vai o senhor? Disse ele ao entrar.
Em seguida, deixou-se cair na cadeira e recostou-se nela soltando um pe-
queno suspiro.
- Vou bem Larry, obrigado! Repliquei.
Tive de exercer um enorme autocontrole para não extravasar a onda de sa-
tisfação que sentira ao vê-lo tão mais descontraído. E continuei:
- Como passou a semana?
- Melhor. Respondeu. Tenho pensado muito no que conversamos aqui. Até
cheguei a conversar com minha esposa sobre algumas dessas coisas.
Pusemo-nos a falar sobre relacionamentos e perguntei-lhe se já tinha tido
um bom relacionamento afetivo antes. Ele abanou a cabeça.
- Não. Respondeu. SÓ depois que conheci minha esposa.
E explicou que ela se mantivera fiel ao lado dele, decidida a não abandoná-
lo, acontecesse o que acontecesse. Como não o criticava nem condenava como
outros faziam, ele sentiu, pela primeira vez na vida, que ali estava alguém que
o amava.
- É muito difícil aceitar isso. Continuou. Sempre me vi como um estorvo
para todo mundo; achava que ninguém estava nem aí para mim.
Prosseguimos conversando sobre a afeição de sua esposa e da importância
dela para Larry. Em dado momento, com gestos lentos, ele ergueu a mão e
tirou os óculos escuros. Era a primeira vez que via seus olhos. Eram castanho-
20 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
REjEIÇÃO REBELDIA
Parte I l Sobre minha cabeça - 21
Conversamos sobre o desenho e foi então que percebi que havia uma li-
gação entre as diversas figuras de autoridade presentes na vida dele. Larry
sofrera rejeição por parte do pai. O fato de haver passado uns dias na cadeia
havia marcado profundamente o seu espírito. Ele jurara que nunca mais con-
fiaria no pai. Agora percebíamos as consequências disso: ele não conseguia
confiar em mais ninguém. Assumindo uma atitude de revolta e adotando
uma vida de imoralidade, crime e vício, ele simplesmente dava expressão à
rejeição sofrida.
O rapaz inclinou-se um pouco para a frente e virou os olhos para o quadro.
Neles brilhava uma centelha de esperança.
- É! Isso tem lógica! exclamou sorrindo levemente.
Pus-me a folhear a Bíblia, procurando textos que confirmassem o que eu
acabara de dizer. Mas minha mente fervilhava de idéias. Algumas peças do
quebra-cabeças da vida do Larry e da minha já começavam a encaixar-se no
lugar. Não havia dúvida de que eu descobrira um fato importantíssimo relacio-
nado com a influência das figuras de autoridade na vida humana.
Depois que encerramos a consulta e Larry foi embora, minha secretária co-
mentou a mudança do semblante e o olhar mais alegre dele. Senti-me exultante!
O PROCESSO DE CURA
Nas semanas seguintes, Larry compareceu regularmente ao consultÓrio. En-
tão, pouco a pouco, fui apresentando a ele, com atitude firme e incisiva, o plano
divino para o homem, revelado na Bíblia. E ele começou a transformar-se. Seus
olhos desanuviaram e uma nova paz passou a permear seu ser, substituindo a
inquietação de antes. Orientei-o no processo do arrependimento, mostrando-
lhe que era responsável pelas decisões que tomara e que o haviam lançado nos
abismos do desespero.
- Arrepender, expliquei, é assumir a responsabilidade pela nossa própria
conduta, tomar a firme decisão de dar as costas a todas as práticas autodestru-
tivas e adotar atitudes corretas, santas e construtivas.
Em seguida aconselhei-o a orar e ler as Escrituras diariamente para que
pudesse conservar aquilo que Deus, em sua misericórdia, lhe concedera.
Na última sessão de aconselhamento, Larry achava-se inteiramente mu-
dado. Seu espírito recebera o toque divino e o antigo tormento interior dera
lugar à paz.
22 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson
UM NOVO DESAFIO
O problema de Larry e de outros que me procuravam solicitando acon-
selhamento constituía um grande desafio para mim. Como poderia auxiliar
aquele homem e todos os outros que tinham dificuldades semelhantes? Que
recursos poderia utilizar?
Pus-me então a estudar cada vez mais as Escrituras à procura de soluções e
outras revelações. Certo dia descobri um fato maravilhoso relacionado com o
desenho que eu tinha feito no quadro naquele dia. No capítulo sete de Amós,
o profeta compara Israel a um muro torto quando aferido pelo prumo divino.
Procurei a palavra no dicionário e numa concordância bíblica, e descobri que
o prumo é um instrumento que os pedreiros utilizam para alinhar paredes e
muros, fazendo-os perfeitamente verticais.
Meditando nessa figura, concluí que as linhas que eu traçara para represen-
tar a revolta de Larry e a rejeição que sofrera, não passavam de falsos prumos
humanos. Nenhum se alinhava com o plano original de Deus - o prumo divino
- que se situa no meio dos dois falsos prumos humanos.
Na verdade, fora esse plano que Larry estivera procurando, mas não conse-
guira encontrar. E como não o encontrara, passara a alinhar a vida pelos falsos
prumos da rejeição e revolta que tinham sido forjados a partir das atitudes do
pai e de outras figuras de autori-
dade. Quando ele começou a vir
ao meu consultório, sua vida era
como uma parede torta, prestes a
desabar sobre ele.
Mais ou menos na mesma
ocasião, eu estava para fazer
uma importante descoberta. Uma
idéia que, sem que eu me desse
conta, vinha germinando em mi-
nha mente havia muitos anos. As
experiências vividas por Larry
haviam funcionado como uma
,. espécie de interruptor que acen-
.' "" deu a luz nos quartos escuros do
meu passado.
Parte I l Sobre minha cabeça - 23
"Oh Deus, onde é que o Senhor está? O Senhor não se importa nem um
pouco comigo?"
Batendo o pé no chão para extravasar a forte sensação de derrota que sentia,
comecei a culpá-lo por tudo.
"Eu só fiz esse exame porque o Senhor me chamou. Agora me abandonou?"
Passei várias semanas questionando Deus e seu caráter. Como JÓ, exigia
uma explicação. Se ele não me desse uma boa justificativa, então eu teria todo
o direito de parar de estudar e ir direto para o campo missionário. Talvez fosse
esse mesmo o passo mais acertado. Minha sensação era a de que agora encur-
ralara Deus num canto e dali ele não poderia escapar. Resolvi então que o cer-
to era mesmo parar. Assim estaria poupando-me de longos anos de cansativo
estudo.
Eu já estava começando a sentir-me satisfeito com a decisão tomada quan-
do, certa noite, Deus "saiu do canto" e me falou de forma poderosa. Estava
orando e ele me mostrou que não poderia usar-me no campo missionário, en-
quanto eu não tivesse aprendido a lição mais importante que ele tinha para
ensinar-me: "obedecer é melhor do que sacrificar".
NOVOS HORIZONTES
"Bem vindos a Kona!"
Os sons de uma ondulante música polinésia enchiam a cabine do avião.
Sempre sorrindo, a comissária de bordo fez vários movimentos com a alavanca
da porta de saída e abriu-a.
"Kona, Hawai!" Murmurei comigo mesmo. "Mas isso aqui não pode ser
Kona. Parece mais que aterrissamos na lua!"
Espiando pela janelinha do avião, vi intrigado, uma vasta região de rocha
vulcânica. Da pista de pouso erguiam-se brilhantes ondas de calor. Mais ao
Parte I l Sobre minha cabeça - 27
PERSEVERANDO
Minha indecisão era grande. Ora pensava uma coisa,ora outra. Será que ouvi-
ra mesmo a voz de Deus ou tudo não passara de uma ilusão? Deveríamos voltar
para nossa terra? Ou quem sabe Deus é que tinha outros planos para nÓs? Nos
momentos em que a luta se intensificava, eu pensava na orientação que Deus me
dera e nas circunstâncias do momento. Entretanto, apesar daquele tumulto de
28 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
pacientes. E pouco depois, ele nos inspirou a realizar seminários sobre acon-
selhamento cristão, onde ensinaríamos esses princípios a outros, espalhando a
mensagem por todo o mundo. Após alguns anos, esses seminários cresceram
tanto que acabaram se transformando em cursos da Universidade Cristã Paru o
Pacífico e Ásia, da JOCUM, conferindo inclusive diplomas aos seus graduados.
Mais tarde, eles foram levados a outros países, sob a forma de cursos de exten-
são da universidade.
e
A MEDIDA AFERIDORA DE DEUS
Na sua forma mais simples, o prumo é uma peça de metal
suspensa por um fio. Na outra ponta do fio é afixado um pc-
daço de madeira de formato cilíndrico de mesmo diâmetro. Os
pedreiros utilizam o prumo ao construir paredes e muros, para FIGURAI
32 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
que não fiquem tortos. Devido à força da gravidade, o peso do metal pende
sempre para o centro da terra (ver figura l). Para os construtores, esse instru-
mento simples mas muito importante, tem um valor incalculável. Eles sabem
que para a construção sair firme e segura, as paredes e vigas precisam estar
perfeitamente na vertical, alinhadas pelo prumo. Se não houver esse cuidado,
o prédio pode desabar.
Com o enriquecimento do povo de Israel veio a decadência moral. Então
Deus comparou a nação a uma parede fora de prumo, prestes a cair. Para mos-
trar o quanto ela estava torta, ele colocou diante do povo o prumo da lei. Era
uma advertência de que a qualquer momento a nação poderia ruir e que seus
inimigos iriam espalhá-los como se fossem os tijolos de uma parede desmoro-
nada.
E na verdade, Deus nunca deixou de aferir pelo prumo de sua Palavra a
vida daqueles que chamou para serem o seu povo. Ele continua a fazê-lo co-
nosco nos dias de hoje, para que possamos conhecer a verdade e aprender o
caminho que nos conduz a uma vida de firmeza e estabilidade.
A PERGUNTA BÁSICA
Vivemos numa época em que a maioria das pessoas não tem consciência
desse prumo que é a Palavra de Deus. No entanto, a maior indagação da so-
ciedade continua sendo esta: "O que é a vida e como devemos vivê-la?" Esse
interesse se revela pelo grande número de estudantes que procuram os cursos
de psicologia de nossas universidades e pela onda cada vez maior de pessoas
que buscam experiências no plano do existencialismo, do ocultismo, da chama-
da "nova consciência", das drogas e de outras formas de ilusão.
Essa grande pergunta pode ser dividida em quatro partes. A primeira delas
é a pergunta fundamental da ontologia: "Quem sou?" Para esclarecer e definir
melhor a resposta, vamos examinar quatro tipos de personalidade.
O COMPORTAMENTO PASSIVO
Em primeiro lugar, temos o indivíduo que se apresenta vestido com uma
"armadura" como ilustrado na figura 2. Que idéias nos vêm à mente quando
nos deparamos com esse tipo de personalidade? Várias pessoas que olharam a
figura 2 deram as respostas que se seguem:
Pari"1·. I l Alguma coisa ESTÍÍ fora do prumo - 33
,
- defensivo - vulnerável
- temeroso - passivo
-cego - surdo e mudo
- solitário - deprimido
- desamparado - desesperado
Aquele que veste essa armadura encontra-se numa crise de identidade. Nega-
se a encarar a pergunta: "Quem sou?" É provável que já tenha feito tentativas de
respondê-la, sem o conseguir. Por isso, em vez de encarar seriamente a questão
e o trauma que a resposta pode criar, tal indivíduo se esconde dentro de uma
armadura e assim se protege de tudo que possa ameaçar sua identidade.
34 - Paredes do Meu Corutção l Bruce Thompson
A COMPORTAMENTO AGRESSIVO
Outro tipo de personalidade que tem problema com a mesma questão é
a representada pela mulher munida de arco e flecha, como mostra a figura
3. Analisando esse tipo humano, alguns dos traços de caráter que nos vêm à
mente são os seguintes:
- crítico
- defensivo
- inseguro
- temeroso
FIGURA3
Parte I l Alguma coisa ESTá fora do prumo - 35
Essa mulher com o arco e flecha nas mãos, ilustra outra forma pela qual o
ser humano reage diante de uma crise de identidade. Em vez de adotar uma
atitude defensiva e passiva, ela assume uma posição mais agressiva. Aqueles
que se aproximam dela são logo advertidos a manterem distância, senão serão
feridos. O fato de a flecha não estar montada no arco, significa que na verdade,
ela não deseja agredir, mas o fará, caso seja necessário.
Se aproximados esses dois tipos, em alguns aspectos eles poderiam até ter
um relacionamento harmônico. A mulher poderia atirar as flechas à vontade e
ele se consolaria, ao saber que há alguém por perto para atenuar um pouco a
dor da solidão. O processo de comunicação entre eles seria caracterizado ape-
nas pelo tic-tic-tic das flechas batendo na armadura e nenhum dos dois ficaria
ferido. Infelizmente esse é o retrato do nível a que chegam alguns casamentos
e outros tipos de relacionamentos.
OS COMPONENTES DA IDENTIDADE
1. De onde viemos?
qrg9í)o mundo
> ê? t r ,
FIGURA4
38 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
do? Todos queremos saber como podemos ter certeza se nosso conhecimento é
verdadeiro ou não. Essa é a pergunta da epistemologia.
NÓs, os cristãos, acreditamos que Deus nos revelou a verdade. E como já
mencionamos em João 14.6, Jesus afirmou que ele é a verdade. Então, a res-
posta para todas as perguntas sobre a vida e sobre como devemos viver estão
contidas na revelação que Deus nos dá de si mesmo, pela sua Palavra e por seu
Filho, Jesus. Essa revelação é o prumo divino.
O PROPÓSITO DE DEUS
Pelo breve apanhado que acabamos de apresentar é fácil perceber por que
tantas pessoas estão passando por crises de identidade e ao mesmo tempo que
tentam desesperadamente uma resposta para as perguntas fundamentais da
vida. Assim que colocamos "Eu sou" fora de nossa vida, perdemos contato
com aquele que nos revela "Quem sou". Foi exatamente isso que sucedeu ao
povo de Israel nos dias do profeta Amós. Quando eles resolveram que Deus
não seria mais sua fonte de vida, o Senhor colocou Amós em cena no objetivo
de conduzi-los de volta à condição anterior, quando seu Deus era Jeová, e a
verdade divina, seu prumo.
40 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson
O QUEÉ O "CORAÇÃO"
O termo coração é empregado na Bíblia com vários sentidos. No hebrai-
co existem diversas palavras para designar coração. Entre elas encontramos
os termos "leb" e "lebab". Examinando o contexto em que cada uma se inse-
re, descobrimos que 204 vezes, elas se acham associadas à "mente". Em 195
passagens, o sentido delas é relacionado com a "vontade" e em 166, com as
"emoções". O uso mais frequente do termo, em 257 textos , tem relação com o
homem interior, com a "personalidade",2
O termo grego que significa coração é knrdia, de onde derivam também a
palavra "cardíaco" e outras. Pelo breve estudo que fizemos, podemos ver que a
"personalidade" engloba todo o nosso ser interior, isto é, a alma e o espírito. E é
a personalidade, o que tmvolve os aspectos do nosso homem interior passíveis
de transformação, qu€' Deus afere com seu prumo, responsabilizando-nos por
tudo que cultivamos em nossa vida.
Parte I l Alguma coisa estíí fora do prumo - 43
CONCLUSÃO
Notas
'Nooa Bíblia de Referência Scofield.
'Ncu) Bibk Dictionary (Novo Dicionário Bíblico). Editor, J. D. Douglas, Eer-
dmans, Grand Rapids, 1962.
3
ASSOLADOS POR
TEMPESTADES
_ E lê é um hipócrita! Fala mentira uma atrás da outra! Dizia Arme en-
furecida.
Fiquei a ouvi-la pacientemente. Era uma senhora de cabelos brancos,
com mais de trinta anos de casada e que afinal começava a desabafar sentimentos
que vinha guardando havia já um bom tempo. Cerca de vinte anos antes, seu
marido tivera um romance extra-conj'ugal. Arrependera-se sinceramente e procu-
rava acertar tudo. Mas, no decorrer dos anos, dúvidas e temores alojaram-se no
coração daquela esposa e foram crescendo lentamente, como um câncer. Agora
ela não tinha mais dúvida, ele cometera adultério de novo, pois vivia distribuin-
do abraçinhos para todas as mulheres que encontrava.
-Algumas, quando ele cumprimenta, fica segurando a mão delas por muito
tempo. Até já o peguei criando fantasias com minhas roupas de baixo.
Ame relatou que quando o confrontara, ele ficara irritado e muito magoa-
do, dizendo que tudo não passava de imaginação dela. Mas ela tinha certeza,
sabia muito bem que ele estava tendo um caso com alguém, embora o negasse
para ela.
Orei com Ame e prometi que iria trabalhar no problema. Conversei com o
marido e com duas das senhoras que ela julgava estarem envolvidas com ele.
Então a verdade começou a vir à tona. Quando o marido de Anne lhe fora in-
fiel, ela fez um esforço muito grande para voltar a confiar nele. Agora, os filhos
estavam criados e cada um tomara seu rumo. Ela passava muito tempo em casa
sem ter o que fazer. E com mais tempo para pensar, acabou ficando paranOica,
46 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson
passando a suspeitar de qualquer atenção, por menor que fosse que o marido
dispensasse a alguém do sexo oposto.
Na entrevista seguinte, pela conversa que tivemos, ficou bem claro que ela
havia se enganado profundamente. O temor de ser traída de novo obscurece-
ra sua percepção dos fatos. Ela se deixara levar pelo engano a tal ponto que
se tomou incapaz de realizar-se plenamente no casamento e de descobrir sua
identidade, o seu "quem sou". Sua "fala interior" - aquilo que dizia para si
mesma - havia se tornado um "falso profeta" que a induzia, cada vez mais, ao
engano e desespero. SÓ poderia libertar-se, se reconhecesse isso e passasse a
alinhar sua vida pelo prumo divino.
Todos nós, emnossa busca de sentido para avida, precisamos estar atentos a fali-
sosprumos ou aos caminhos que por vezes seguimos. É impressionante a facilidade
com que nos deixamos seduzir por desvios que nos afastam da "estrada principal".
Em muitos casos, o que consideramos "bom senso" deveria ser, na verdade, chama-
do de "ledo engano". Frequentemente, nossa própria razão nos ilude.
FALSOS PROFETAS
Os falsos profetas que podem estar tanto dentro de nós como fora, constituem
uma constante ameaça para o povo de Deus. No livro de Ezequiel (Ez 13:15,16),
Deus manifesta sua ira contra aqueles que acintosamente proclamam mensagens
e visões que afirmam ser divinas mas que na verdade não o são. Influenciados
por suas mentiras, os israelitas haviam se tomado como paredes fracas e insegu-
ras, ainda que caiadas. Enquanto os falsos profetas aplaudem os seus feitos, Deus
os adverte de que está prestes a desabar sobre eles uma forte tempestade que irá
remover a caiação e derrubará no chão, suas frágeis e falsas paredes.
Essa metáfora é uma ampliação da idéia apresentada em Amós (Am 7:7-8),
que já mencionamos, onde eles são comparados a uma parede. Na figura 6,
vemos um indivíduo escondido atrás da frágil parede do medo que ele pró-
prio ergueu para se proteger. É bem provável que essa pessoa tenha sofrido
algum trauma interior e não quer mais se mostrar tão vulnerável. Entretanto,
enquanto se esconder atrás dela, não conseguirá desfrutar de amizades profun-
das, sinceras e muitas vezes, sentirá solidão. Pode inclusive viver períodos de
intensa depressão, e abrigar arraigados ressentimentos, amarguras e até ódio
contra aqueles que o magoaram.
Parte I l Assolados por tempestades - 47
OS PAIS
As primeiras profecias falsas que ouvimos podem vir de nossos pais. Infeliz-
mente, todos os pais, até mesmo os melhores, se não tiverem vivendo de acordo
com os desígnios divinos, passam aos filhos uma imagem errada de Deus e de
suas verdades. E como hoj'e em dia os pais não estão criando os filhos dentro dos
parâmetros bíblicos, há muita gente por aí precisando ser "recriada".
Julie, por exemplo, passou a vida toda ouvindo a mãe dizer: "Você é uma
menina terrível! Deus não gosta de vOCê!"
Não é de admirar, portanto, que ela odiasse a si mesma e durante muitos anos,
tenha sofridoprofundas crises de depressão. Ela acreditou nas mentiras impiedosas
que a mãe dizia sobre ela própria e sobre Deus. Crescera ouvindo falsas profecias.
48 - Paredes do Meu Coruição l Bruce Thompson
Em outro caso, certo homem tentava estimular o filho a estudar mais, usan-
do xingamentos constantes:
- "Seu burro! Estúpido! Você é um caso perdido!"
Judah ouvia isso todos os dias. Quando o conheci, estava com trinta e poucos
anos. Chorando, contou como os "rótulos" que o pai lhe impingira tornaram-se
realidade em sua vida. Abandonou os estudos e passou a consumir drogas e
bebidas alcoólicas na tentativa de sufocar o sentimento de auto-condenação
que o atormentava. Aquelas palavras negativas haviam destruído sua autocon-
fiança. E ele nunca se formou, embora possuísse um QI bem acima da média e
pudesse até ter feito um curso universitário.
Quando alguém comenta a aparência, a capacidade ou o futuro de uma
criança em sua presença, ela internaliza literalmente tais palavras e o co-
mentário tem mais peso quando quem o faz são os pais, as pessoas mais
importantes para ela. Muita gente não sabe disto mas para os pequeninos,
os pais são como "Deus". Eles aceitam as palavras dos pais como certas e
irrevogáveis. Se eles fizerem afirmações falsas e sem amor sobre o filho, po-
dem prejudicar seriamente o desenvolvimento emocional dele, impedindo
que tenha uma vida normal.
PROFESSORES
Também os professores podem deixar profundas marcas no espírito da
criança, mediante acusações falsas ou atitudes erradas. Certa vez, proferi uma
palestra em determinada escola para um grande grupo de alunos do segundo
grau. Falei sobre a pureza moral e sua importância para nós. A certa altura, no-
tei que alguns membros do pessoal da escola se mostravam um pouco incomo-
dados. Mais tarde, soube que vários professores, inclusive o diretor, prometiam
boas notas e referências honrosas aos alunos, em troca de "favores" sexuais.
Desnecessário dizer que nunca mais fui convidado para falar naquele colégio.
Os professores estavam transmitindo aos alunos a idéia de que a imoralidade
era o caminho certo para se vencer na vida.
Obviamente aqueles professores corruptos nunca discutiam questões como
as complicações de um gravidez indesejada e as doenças sexualmente trans-
missíveis. Mas... mais tarde, uma das meninas que haviam engravidado, reve-
lou a verdade aos pais e outras fizeram o mesmo. Felizmente, esses professores
foram processados e vários deles obrigados a se demitirem.
Parte I l Assolados por tempestades - 49
COLEGAS
O homem dos nossos dias, na tentativa de gozar plena liberdade, está tro-
cando o legalismo pelo liberalismo. E o aspecto da vida humana em que se vê
isso com maior clareza é o da sexualidade. Os jovens estão sofrendo tremendas
pressões para praticarem o sexo antes do casamento. O colega "falso profeta"
argumenta que é perfeitamente lícito um casal de namorados ter relações se-
xuais em seus encontros e afirma que quem não consente em ter intimidades
sexuais não pode dizer que ama. Expressões tais como "sexo por diversão",
"amor livre" e outras, estão se tomando comuns e aceitas na sociedade.
A Nationd Acadeiny of Sciense' (Academia Nacional de Ciências) apresentou
um relatório em que se revelam os resultados dessa pressão do colega "falso
profeta". Nos Estados Unidos, 64% dos rapazes e 44% das moças adolescentes
até 18 anos são sexualmente ativos.
O problema é que tais falsos profetas não alertam os jovens para as implica-
ções da prática da imoralidade. Não conversam sobre a necessidade de se res-
ponsabilizarem pela criança que poderão ter nos braços nove meses depois. Não
avisam que poderão sofrer dor e desconforto pelo resto da vida se contraírem her-
pes ou poderão ser estéreis em consequência da clamidíase. Isso sem mencionar
o perigo cada vez maior de se contaminarem com o vírus da AIDS e morrerem.
A academia apresenta os seguintes dados com relação a novos casos dessas
três moléstias sexualmente transmissíveis:'
GOVERNO
Existem muitos governantes que também assumem o papel de "falsos
profetas", pois pregam idéias errôneas aos seus cidadãos, chegando mesmo a
empregar a força para que estes as aceitem. Eles podem ser capitalistas ou co-
munistas, democratas ou ditatoriais, mas estabelecem e aplicam leis que preju-
dicam o povo. E, se aparece alguém que não faz concessões ao erro,tais líderes
procuram denegrir seu caráter.
Quando o povo de Israel decidiu rejeitar a teocracia nos dias de Samuel,
estava criando condições para que falsos profetas os conduzissem a todo tipo
de erro e problema. E Samuel os avisou a respeito disso.
"Este será o direito do rei que houver de reinar sobre oós: Ele tomará os dos-
só filhos e os empregará no serviço dos seus carros e conio seus caudeiros, para
que corram adiante deles e os porá; uns por capitães de mil e capitães de cin-
quenta; outros para horarem os seus campos e ceifarem as suas messes e outros
para fabricarem suas armas de guerra e aparelhamento dos seus carros. Tomará
as dossqs filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tonmrá o melhor das
oossas lavouras e das oossas vinhas e dos 00ssos olivais e o dará aos seus seroi-
dores... Também tomará... os dossos jumentos... Dizimará o 7)0sso rebanho e oós
lhe sereis porseroos" (l Sm 8:11-14,16,17).
A MÍDIA
Os veículos de comunicação de massa talvez sejam o mais sinistro e malig-
no "falso profeta" dos nossos dias. Ele instala seu altar dentro de quase todos
os lares do mundo desenvolvido. Diariamente, as famílias se sentam diante
dele, para prestar-lhe culto, ouvindo-o exaltar, de forma sutil mas incisiva, uma
vida de violência, lascívia e crimes. O Dr. William Dietz' estima que a média
das crianças em idade escolar nos Estados Unidos, passa de onze a vinte e seis
Parte I l Assolados por tempestades - 51
horas semanais em frente da tevê e assiste a doze mil atos de violência por ano.
Outras pesquisas revelam que os programas em horário nobre, apresentam em
média, cerca de treze cenas de violência por hora e que nos desenhos anima-
dos, esse dado é ainda mais elevado.
E, infelizmente, as principais reportagens dos jornais, muitas vezes são uma
reprodução da violência que vemos nos filmes mostrados no cinema e na tevê.
Um rapaz, extremamente revoltado com a vida, com mágoas profundas
devido a rejeições sofridas, apareceu numa das ruas centrais de uma cidade
grande. Vestia-se com roupas de cowboy, inclusive com o chapelão de aba
larga, botinas de couro e esporas. Em cada lado do quadril, carregava um
revólver de seis tiros. Parou na frente do tráfego, fez um movimento rápido
e cinematográfico com as mãos, sacou as armas e pôs-se a atirar indiscreta-
mente contra os carros.
Instalou-se o caos. Todo mundo corria atabalhoadamente de um lado para
outro tentando proteger-se. Alguns passavam entre os veículos, procurando es-
capar dos tiros. Enquanto isso, o rapaz exibia um maligno sorriso de satisfação,
pelo poder que exercia com aqueles revólveres cuspindo chumbo.
Essa cena não foi extraída do roteiro de um filme. O fato aconteceu numa
das principais cidades dos Estados Unidos,alguns anos atrás. Quando a polícia
conseguiu cercar o cowboy convenceu-o a jogar as armas no chão e o prendeu.
Mais tarde ele foi sentenciado à prisão perpétua.
Os produtores dos meios de comunicação de massa não fazem idéia do
quanto eles afetam a sociedade com suas histórias sórdidas, já que suas fanta-
sias sempre acabam se transformando em tragédias da vida real.
Mas, a caneta desses falsos profetas, produz ainda outras mensagens falsas,
apregoando, entre outras mentiras, a bondade inerente ao ser humano que se
choca frontalmente com o que Deus diz.
e hoje, as locadoras e clubes de vídeo, que não estão sujeitas às leis da cen-
sura, são veículos pelos quais qualquer um é passivamente condicionado pelos
falsos profetas da mídia.
O CORAÇÃO
No livro de Jeremias, o profeta aponta o coração como uma das principais
fontes de profecias falsas (Jr 17:9,10). Mas, nem sempre o vemos como tal. Ali-
ás, muitas pessoas são desencaminhadas por sua "voz tranquila, silenciosa".
Embora a maioria confie no prÓprio coração, julgando-o confiável e digno de
crédito, a Bíblia afirma que ele é enganoso. Ele emite sinais falsos e enganosos,
sem guê nos demos conta disso. Alguns chegam mesmo a dizer:
"E, se a gentenão sentirno coração que éverdade,então émelhornão acreditar".
Esse falso conceito, confere ao coração, a perigosa condição de autoridade
suprema e assim, muitos são enganados.
Todos esses falsos profetas, e ainda outros, nos aconselham a erguer pare-
des de proteção e até nos ensinam o processo. Eles argumentam que essa é a
única maneira de nos protegermos contra os perigos da vida e afirmam:
"Sem tais paredes, ninguém sobrevive!"
Parte I Assolados por tempestades - 53
Mas precisamos aprender a fazer distinção entre a voz enganosa dos falsos
profetas e a dos verdadeiros que são enviados por Deus. Se não o fizermos,
quando nos sobrevierem as tempestades nas adversidades, as paredes que
construímos irão ruir.
TEMPESTADES
grossas e fortes, enquanto que na segunda, ele se ergue do meio daquele entu-
lho de tijolos e entra numa nova vida, livre das paredes do passado.
O saldo de uma tempestade para quem está buscando vida é de grande
importância! O que foi que aprendemos na última tempestade que nos so-
breveio? Ou será que precisaremos passar por outra, para que aprendamos a
lição dela e tomemos o rumo certo?
O ENGANADOR-MOR
De todos os falsos profetas, o mais astucioso e mentiroso é o próprio Lúcifer
que nas Escrituras é muitas vezes comparado a uma serpente. Em Amós 5.19,
o profeta mostra a estratégia que Lúcifer usa contra as paredes da nossa perso-
nalidade, na tentativa de roubar nossa herança.
Se deixarmos nossa imaginação ampliar um pouco o fato narrado nesse
texto, poderemos enxergar a seguinte cena:
De madrugada, antes do alvorecer, os campos ainda molhados de orvalho,
um lavrador sai de casa e caminha apressadamente por uma estradinha, sen-
tindo no rosto o ar fresco da manhã. Acabeça fervilha de idéias sobre o que tem
de fazer no dia que se inicia. De repente, ao atravessar um pequeno arvoredo,
tem a sensação de que há algo por perto. Então, com os sentidos aguçados ao
máximo, fica escutando atentamente para ver se consegue perceber algum ruí-
do que o permita descobrir o que ou quem está ali. Mas não ouve nada. Tudo é
silêncio. Dá um suspiro de alívio e recomeça a caminhar. Subitamente um leão
forte, de juba longa sai do meio das árvores e vem em sua direção. O homem
gira nos calcanhares e com adrenalina circulando pelo organismo, volta corren-
do pelo caminhozinho. Tão logo perceba já ter deixado o animal para trás, pára
para recobrar o fôlego e acalmar-se um pouco.
Afinal, decide ir de novo para o campo mas não pela mesma estradinha.
Segue pelo leito de um rio seco, sinuoso e pedregoso. O sol já desponta no céu,
expulsando as últimas sombras da noite. Em passos rápidos, o lavrador vai
andando por entre pedras e rochas. No momento em que acaba de fazer uma
curva, horrorizado, vê bem à sua frente,barrando a passagem,um grande urso.
Urrando ameaçadoramente, o animal se empina nas patas traseiras, movimen-
tando as dianteiras. Apavorado, o lavrador fica uns instantes paralisado mas
consegue virar-se e volta correndo pelo leito do rio. Afinal, reconhece que não
dá mais para ir trabalhar no campo, pelo menos nesse dia.
Parte I l Assolados por tempestades - 55
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56 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
CONHECIMENTO
FIGURA8 EGO
Parte I l Assolados por tempestades - 57
CONCLUSÃO
Neste capítulo, vimos que as paredes que construímos para nos proteger
podem acabar nos aprisionando, destruindo em nós a própria essência da vida.
Então, se não devemos erguer paredes e muito menos confiar que por trás de-
las estamos seguros, como vamos nos defender das tempestades que além de
derrubar as paredes, destroem também nosso próprio ser? É essa importante
pergunta que vamos responder nos capítulos que se seguem.
58 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson
Notas
'NationdAcadeniy of Science, 10 de dezembro de 1986.
'Os cálculos sobre herpes e clamidíase são do Centro de Controle de Enfermi-
dades, de Atlanta, Geórgia. Os números sobre o avanço da AIDS são fornecidos
pelo AIDS Weekly Suroeillance Report (Boletim de observação semanal da AIDS)
de 15 de outubro de 1988.
'William Dietz, ex-presidente da Força-Tarefa da Criança e Televisão, um de-
partamento da Academia Americana de Pediatria.
4
UVAS VERDES
"Os pais comeram uoas oerdes e os dentes dos filhos é que embotaram" (Ez
18:2 - Antigo provérbio israelita).
1. Revolta 5. Medo
2. Negação e fantasia 6. Desordens funcionais
3. Tentativas de reencontro 7. Regressão
4. Sentimento de culpa
A analisando esses dados, comecei a observar que tais reações estão rela-
cionadas com os principais sintomas das patologias sociais dos nossos dias.
É possível que essas atitudes nunca sejam resolvidas e que esses problemas
continuem até a fase adulta.
1. Suponhamos, por exemplo, que o exército dos Estados Unidos envie de-
terminado soldado para longe de casa e que ele permaneça seis meses nessa
missão, vindo em casa poucas vezes e por pouco tempo. A princípio, o filho se
sente profundamente magoado com a separação. Nesse caso, pode reprimir a
tristeza, internalizando-a ou então extravazando-a com atitudes de revolta e
ira. A internalização da mágoa torna o indivíduo susceptível a distúrbios emo-
cionais, ao passo que o extravasamento pode gerar desvios sociais. As crianças
que ainda bem pequenas, se mostram temperamentais, mais tarde podem vir a
praticar crimes ou atos de violência.
3. Outra reação observada nessas crianças foi o anseio de ver o pai. Elas ficam
importunando a mãe e como um disco estragado,indagavam várias e várias vezes:
"Mãe, quando é que meu pai chega?"
E as mães respondiam diversas vezes, dizendo o dia e a hora da chegada,
mas isso não adiantava nada. Daí a pouco, ela perguntava de novo. Por fim, a
mãe perdia a paciência e ficava exasperada com o filho.
Parte I l Uvas verdes - 61
Não há dúvida de que essa constante ânsia de estar com o pai se deve à ne-
cessidade que a criança tem do relacionamento pai/filho. Esse problema pode vir
a ser refletido na vida adulta, quando ele procurará se agarrar demasiadamente
às pessoas do seu relacionamento. Se ao crescer, ele continuar sentindo a mesma
ansiedade de estar com o ente querido, pode tomar-se doentiamente possessivo.
Vemos esse distúrbio presente em muitos casamentos. Esposas indagando
ao marido tudo que aconteceu a ele durante o dia ou maridos que desenvol-
vem um temor paranOico de perder a esposa. Esse temor leva-o a querer sa-
ber pormenores das atividades dela. Toda pessoa que foi rejeitada ou sofreu
mágoas profundas, tem a tendência de tornar-se possessiva em todos os seus
relacionamentos. Entretanto, sempre que adotamos atitudes possessivas num
relacionamento, nós o asfixiamos.
4. A criança cujo pai está ausente, pode ter sentimentos de culpa falsos ou
verdadeiros. Ela pode culpar-se pela ausência paterna, sentir-se indigna, achar
que não tem valor, cultivar complexo de inferioridade e passar a acreditar que
nunca poderá ser amada. Esse sentimento de culpa constitui um fardo pesado
demais para uma criança e segundo creio é uma das principais causas das mais
sérias formas de depressão.
Esse sentimento de culpa pode acentuar-se e agravar-se ainda mais quando
ela se comporta mal. Sem a presença do marido para dar-lhe apoio moral e dis-
ciplinar o filho, a mãe sente-se incapaz de reprimir a conduta errada da criança.
Sem disciplina ou recebendo uma disciplina deficiente, a criança não tem como
aliviar seu sentimento de culpa e a conduta indesejada se enraíza.
MEDO NEUROSES
fetal. Isso indica medo e insegurança profundos que provocam nelas o desejo
de retornar ao estágio fetal, no ventre matemo, onde elas tinham uma vida
relativamente segura.
No caso do trauma da separação ser continuado, a criança pode tomar-se
psicótica e optar por viver num mundo de fantasia, em vez de enfrentar a do-
lorosa realidade.
REAÇÃO DA SINTOMA
CRIANÇA SOCIAL
FIGURA9
64 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson
É o desejo de Deus que os homens provem o doce sabor das uvas maduras
para que os dentes dos filhos não se embotem. Ele quer que os pais passem aos
filhos e aos filhos dos filhos a salvação, a longanimidade e a justiça divina. Esse
é seu plano e seria assim que ele diria aquele provérbio: "Se os pais recorrerem
a Deus e acatarem seus desígnios, passarão a invocar suas bênçãos sobre seus
descendentes".
A rejeição pode ser passada, consciente ou inconscientemente, de uma ge-
ração para outra. Voltando ao nosso pensamento inicial, podemos ilustrá-lo da
seguinte maneira:
Vemos na ilustração abaixo que se Deus é a nossa figura de autoridade,
recebemos amor e aceitação. Mas, quando é o homem que ocupa esse lugar, o
que recebemos muitas vezes é ódio (dissimulado ou frontal) e rejeição. O fator
que determina o ângulo compreendido entre o "prumo humano" e o "divino"
chama-se "carência afetiva". A linha vertical do amor e da aceitação divina é o
fio do prumo de Deus e representam a disposição e o desejo dele para conos-
FIGURA DE
AUTORIDADE
HOMEM DEUS
ÓDIO AMOR
REjEIÇÃO ~1 ACEITAÇÃO
CARÊNCIA
AFETIVA
66 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
NÓS-AMOR=?
Que resposta você encontrou para a questão acima? Será que dá para res-
ponder sem primeiro definir o amor? O amor é um termo tão desgastado hoje
em dia que pode ser aplicado a qualquer coisa, desde amar a Deus até a um
cãozinho de estimação.
Para nosso estudo aqui, vamos definir o amor com base no termo grego
ágape, que significa um interesse e dedicação profundos por alguém e que pode
nos levar até a dar a vida por ele. É a mais elevada forma de amor do qual todos
nós precisamos. Quanto maior for a carência afetiva de uma pessoa, maior será
a probabilidade dela se sentir um nada, um zero à esquerda. Para ela, a vida
tem muito pouco valor, se é que tem.
Sermos amados nos confere senso de valor prÓprio. Sentimos que temos
valor. Todo aquele que não é amado ou é maltratado, rejeitado e pisado, sofre
do problema de baixa auto-estima.
O amor frequentemente e de forma errada é confundido com lascívia. A
diferença é que na lascívia buscamos o prazer em alguém e no amor ocorre o
oposto. Amar implica em dar de nós mesmos a alguém e partilhar com esta
pessoa nossa vida, com o objetivo de aumentar o seu bem-estar, proporcionan-
do-lhe o maior bem possível. O lema da lascívia é: "Me dá!" O do amor é: "Eu
lhe dou!" Com isso, podemos montar outra equação semelhante à mencionada
acima que terá os seguintes termos:
FIGURA DE
AUTORIDADE
\
- d
l
C
FIGURA 10
l
I
I
REjEIÇÃO e REVOLTA
FIGURA DE
AUTORIDADE
3. PASSIVO/AGRESSIVO
1. PASSIVO 2. AGRESSIVO
- Deus acaba de adotá-la como a "bonequinha" dele! Falei. Ele vai amá-la
mais do que você amava sua boneca.
Ao sentir o amor de Deus envolver todo o seu ser, seu pranto mudou. Ago-
ra, chorava de alegria e não de tristeza pela vida sofrida e destroçada que le-
vara até então. A partir desse dia, passou a ter uma nova perspectiva de vida.
Entregar-se à lascívia no objetivo de satisfazer anseios emocionais só serve
para aumentar a carência afetiva e o sentimento de desvalorização. E quando
a vida não tem valor, perde-se a vontade de viver. Gita tinha norteado sua
existência pelo prumo humano da rejeição que acabou tornando seu principal
ponto de referência na vida. Numa atitude constante de passividade, vivia es-
perando ser rejeitada.
Mas, suponhamos que alguém não aceite a rejeição como seu referencial
básico. Nesse caso, tal indivíduo usará outro prumo humano, a revolta (fi-
gura 10).
70 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
ora são dominados pela rejeição, ora pela revolta, dependendo da situação.
Vemos então que pode haver três tipos de reação, conforme ilustrado na
figura da página 69.
Um desses três tipos de atitude, uma vez arraigado na vida do indivíduo,
torna-se como uma raiz de onde brotam distorções da personalidade. E cada
uma dessas distorções constitui um tijolo a mais nas paredes que erguemos em
nosso coração.
Notas
'Armand M. Nicholi MD., "Fractured Fanii!y", em Christianity Today, de
25 de maio de 1979.
Arquivos da psiquiatria geral.
5
PAREDES DE PROTEÇÃO
DECORRENTES DA REjEIÇÃO
EMOÇÕES
FIGURA DE
AUTORIDADE
· TRISTEZA
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REjEIÇÃO
SUICÍDIO
FIGURA11
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da REjEIçãO - 73
· TRISTEZA
Podemos definir a tristeza como "um sentimento de pesar, de infelicidade;
demonstração ou causa de sofrimento'". Muitas vezes a tristeza pode obscure-
cer toda a personalidade de uma pessoa. Foi o que aconteceu a Mark.
Era um homem alto e magro, de cabelos louros e profundos olhos azuis.
Tinha o semblante muito triste, o que acabava dando a ele, uma aparência
feia. Conversei com ele durante várias horas e descobri a razão do seu
profundo pesar. Quando mais jovem, Mark se revelara um excelente atleta,
com perspectiva inclusive, de representar seu país nos jogos olímpicos.
Toda a sua existência passara a girar em torno desse objetivo. Um dia se
envolveu com uma jovem. Pouco depois do casamento, a esposa começou
a reclamar das longas horas que ele dedicava ao treinamento e pressionou-
o tanto, que afinal, ele desistiu do seu sonho para salvar o casamento deles.
Pouco tempo depois, Mark descobriu que sua esposa fora infiel. Esse fato,
mais a desilusão de não poder correr na Olimpíada eram as causas da sua
profunda tristeza.
É normal uma pessoa ficar triste durante algum tempo, por exemplo, quan-
do perde o cônjuge na meia-idade. Mas, se alguém se mantém assim por perí-
odos prolongados, a tristeza torna-se crônica. De modo geral, se um indivíduo
conserva esse tipo de pesar constante e doentio é porque continua alimentando
no espírito um sonho não realizado ou uma expectativa frustrada. Pelo relato de
Mark, percebi claramente que era esse o seu caso. E aquela tristeza persistente
vinha roubando sua alegria de viver e o sentimento de realização pessoal.
A Bíblia chama essa tristeza de "oeste de espírito angustiado" (Is 61:3).
Em todos esses anos, tenho aconselhado inúmeras pessoas com problema
semelhante ao do Mark - lançaram mão do tijolo da tristeza para construir
suas paredes. Uma delas, uma jovem que teve sua primeira experiência sexual
em um relacionamento incestuoso. Outra, foi uma senhora que perdeu o mari-
do que constantemente lhe era infiel. Outra ainda, foi uma moça que desejava
muito ser médica, mas nunca conseguiu entrar para a Faculdade de Medicina.
Em casos como esses, a tristeza é uma emoção substitutiva que adotamos como
74 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
quela tristeza. E assim que ele entregou tudo a Deus, começou a libertar-se N
· AUTO-COMPAIXÃO q
mais nos entregamos a esse tipo de atitude, mais nos habituaremos a recorrer a ele
nos momentos de adversidade. Aquele que pratica a auto-compaixão está sempre
procurando consolar-se de alguma decepção sofrida. Quando a situação se toma
desesperadora, ele passa a procurar o consolo de outros, manipulando-os para que
"reforcem" sua auto-compaixão. Em pouco tempo, esse indivíduo passa a ter na
alma um abismo profundo quenada nemninguémpreenche. Nãoconsegue encarar
seu problema nem solucioná-lo. Aauto-compaixão, além de revelar que o indivíduo
sofreu algum tipo de rejeição ainda intensifica-a. Aquele que é dominado por ela,
tem dificuldade de enxergá-la. O remédio bíblico para a cura da auto-compaixão
crônicae da introspecção negativaéaprática de ações de graça.
· AUTO-DEPRECIAÇÃO
Atualmente, é impressionante o número de pessoas que abrigam sentimen-
tos negativos contra si mesmas. Algumas os experimentam apenas esporadi-
camente. Para outras, porém, o problema já se tornou crônico, distorcendo sua
personalidade.
A auto-depreciação é a atitude de voltarmos contra nós mesmos por termos
sofrido rejeição da parte de alguém. Uma das tarefas mais difíceis para um
conselheiro é justamente ajudar as vítimas desse mal a serem libertas dele.
Assim que conheci Inez, fiquei impressionado com sua personalidade exu-
berante. Antes de fazer nosso curso de aconselhamento da JOCUM, ela traba-
lhara num ministério de reabilitação.
Agora, era uma dos trinta alunos provenientes de vários países do mun-
do todo que tinham o propósito, não apenas de fazerem nosso curso de três
meses sobre técnicas de aconselhamento, mas também, o de tornarem-se pes-
soas bem ajustadas.
Parte I l Paredes de proteçêío decorrentes da rejeiçêío - 75
Então, como é?
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para ela. Via-se claramente que a moça passava por intensa luta interior. De re- í
pente, ela se virou para a classe e se pôs a falar lentamente e em tom firme:
- Detesto isso aqui! Afirmou. Detesto vocês todos. Tenho ódio de Deus! f
Terminou o desabafo e ficou parada, enquanto nós, chocados pelo que ela q
Um fator de libertação
Foi então que um rapaz de nome Derek veio falar comigo. Disse-me que
sentia que Deus lhe ordenava que fizesse algo e explicou-me do que se tratava.
Queria saber se eu confirmava a orientação. Senti que ele estava certo,respondi
sim, que o fizesse.
Ele se aproximou de Inez e ficou diante dela, à frente da classe. Falou para
a jovem:
- Quero representar seu pai aqui e pedir que me perdoe. Você me perdoa?
Ela o fitou com expressão de frieza e indiferença, lutando para controlar
suas emoções.
- Me perdoe! Falou Derek de novo.
Silêncio.
E o rapaz pediu perdão pela terceira vez. Como ela continuava sem dar
resposta, ele desatou num choro sentido, experimentando naquele instante a
tristeza de Deus para com o sofrimento de sua filha. O grupo permanecia inter-
cedendo em espírito. Afinal, Inez rompeu o silêncio.
- Eu o perdOo, papai. Disse em voz contida.
Houve uma longa pausa e por fim, ela voltou a falar:
- Papai, perdoe-me pelo ódio que guardei contra o senhor.
Assim que ela pronunciou essas palavras de renúncia ao rancor, abraçou o
colega em prantos. E suas lágrimas como que lavavam todo o ressentimento,
amargura e ódio que durante tantos anos tinham estado encerrados em seu
coração, formando uma parede. Depois, ela expressou perdão para seus fami-
Parte I l Paredes de pROTEção decorrentes da rejeiçêío - 77
liares e para consigo mesma, recebendo também o perdão de Deus. Foi assim
que foi liberta da sua auto-depreciação. Quando aquele semestre se encerrou,
quase todos os sintomas haviam desaparecido. Mais tarde ela me escreveu uma
carta nos seguintes termos:
Nos meses que se seguiram, Inez foi experimentando cada vez com maior
clareza o amor e a compaixão de Deus por ela e passou por profundas mudan-
ças! Quando regressou à sua pátria, reconciliou-se com seu pai. Mais tarde,
devido a essa experiência, teve oportunidade de auxiliar jovens que também
haviam sofrido abusos sexuais.
Hoje em dia, os casos de incesto estão se tornando muito comuns, cons-
tituindo uma das principais causas do ódio de si mesmo. Como todo tipo de
lascívia, o incesto abala fortemente o senso de valor próprio de quem é vítima
dele. É o tipo de ofensa que mais causa esse mal. Nesse caso, a auto-deprecia-
ção é mais intensa porque o indivíduo se sente traído por um membro da pró-
pria família. A experiência é tão aviltante para o jovem, que ele passa a abrigar
sentimentos de auto-acusação, a ter ódio de si mesmo. Quando essas emoções
não são resolvidas, dão origem à auto-depreciação.
· DEPRESSÃO
Faz muitos anos que a depressão é o principal distúrbio emocional nos Es-
tados Unidos. E a incidência dessa moléstia está aumentando muito, principal-
mente entre os jovens.
Mas o que vem a ser a depressão e como devemos entendê-la à luz do pru-
mo divino? A melhor e mais simples explicação que pode ser dada sobre a
78 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
depressão é que se trata da reação que temos frente a alguma perda sofrida.
Inicialmente percebemos um declínio da vitalidade e da energia e nos senti-
mos tristes e cansados. O segundo estágio é o desinteresse pela vida social.
Afastamos até dos amigos mais chegados. Cai o ritmo das atividades no tra-
balho, em casa e tudo nos parece sombrio, desesperador. Quase não surgem
idéias novas e quando alguma ocorre, parece pouco clara, sombria. Encon- !
ocorre a insônia.
(
Até certo ponto é normal sentirmos deprimidos vez por outra. Mas se essas
crises se tornarem frequentes e prolongadas, talvez seja preciso tomarmos al-
gumas medidas para buscar a solução do problema.
Um fato muito simples que serve para ilustrar isso é um carro enguiçando
que começa a perder força. O motor "engasga" e fica rateando. Obviamente,
paramos, damos uma espiada no motor e vemos o que há de errado. É claro
que quando o desempenho do carro deixa a desejar, logo nos conscientizamos
de que ali há algum problema e damos um jeito de consertá-lo. Mas quando
ficamos deprimidos, na maioria das vezes nos limitamos a um antidepressivo,
tentando apagar a 'luzinha vermelha" que a natureza está fazendo piscar den-
tro de nós.
O que muitas vezes ignoramos é que a depressão é basicamente uma men-
sagem que nosso organismo nos envia. Ele está nos comunicando que em nós
há alguma coisa errada que precisa ser corrigida. Um medicamento pode al-
terar nosso humor superficialmente mas não afeta nosso espírito. Na maioria
dos casos, o que precisamos fazer, se quisermos evitar o retorno da depressão
é corrigir o erro.
Assim como a alegria é indício de vida, assim também, a depressão é a
indicação de que algo está morrendo ou faltando em nosso interior. Alguns dos
distúrbios orgânicos ou hereditários que afetam o humor, podem ser causados
pela carência de substâncias bioquímicas, que nesse caso, precisam ser repostas
para o organismo. Contudo, essa deficiência é responsável por apenas 5% dos
distúrbios mentais em nossos dias. A depressão pode ser provocada por uma
complexa associação de fatores físicos e mentais, sendo portanto de difícil tra-
tamento. Contudo, quem ignora a conduta moral do paciente, não está fazendo
uma análise completa dos fatos.
Parte I l Paredes de pROTEçãO decorrentes da REjEIçãO - 79
· APATIA
A apatia - "uma existência sem emoção; mente indolente; sem sentimento"'
- é um dos arquiinimigos da vida. Aliás, ela é a fase inicial do processo de per-
da do interesse pela vida. A Bíblia fala de muitas pessoas que tinham "espírito
de entorpecimento"(Rm 11:8). E esse horrendo "elixir" do inimigo pode ser oca-
sionado por desilusões e adversidades. A igreja hoje sofre de apatia. Não vem
desempenhando sua função de "sal da terra", nem tem feito sua "luz" brilhar.
Por isso está sendo invadida pelo mundo. Em alguns casos é difícil distinguir
entre igreja e mundo.
Certo dia, fui visitar uma senhora chamada Lydia e foi aí que descobri como
o caos se instala na vida de uma pessoa. E não apenas isso. Vi também o que
acontece quando a apatia domina. A pia estava cheia de vasilhas. Havia livros,
sapatos e roupas espalhados pelo chão. Móveis e demais utensílios estavam
cobertos por uma camada de poeira. E no meio de toda aquela confusão, estava
Lydia, cabelos despenteados, roupa em- desalinho, assistindo à televisão.
- Olhe só para ela! Exclamou o marido já desesperado. Faz dias que está
assim. Parece que não se importa com mais nada.
A apatia é causada por sentimentos e idéias de rejeição e fracasso. O indiví-
duo pensa: "De que adianta me esforçar? Nunca vou dar em nada mesmo. Vou
ser sempre assim!"
INTELECTO
· COMPLEXO DE INFERIORIDADE
Aqueles que dizem: "Você não é melhor do que eu", na verdade não
pensam assim. Se pensassem, não diriam. Um cão São Bernardo não
diria isso a um cachorrinho de pelúcia, um filósofo muito menos o diria
a um iletrado... O que essa afirmação externa de fato é aquela incômoda,
dolorosa e inquietante sensação de que se é inferior..."
C. S. Leu'is, The Screuüpe Letters (Cartas do inferná
80 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
· INSEGURANÇA
Ainsegurança é outra deficiência muito comum em nossos dias, sendo cau-
sado por males modernos como famílias divididas ou com disfunções. É con-
sequência direta da carência afetiva e dos atos de rejeição sofridos na infância.
Por outro lado, o senso de segurança está diretamente relacionado com o amor.
Pesquisas têm demonstrado que as crianças criadas num ambiente sem amor,
tendem a revelar profundo sentimento de insegurança. Entre esses casos estão
os de crianças geradas numa gravidez indesejada, filhos rejeitados por não se-
rem do sexo que os pais queriam, pais excessivamente ocupados ou voltados
só para seus próprios interesses, pais autoritários e exigentes que dão aos filhos
Parte I l Paredes de pROTEçãO decorrentes da REjEIção - 81
pouco carinho e raras demonstrações de apreço. Esses são apenas alguns exem-
plos de atitudes que podem criar no indivíduo, sentimentos de insegurança.
· SENSO DE INAPTIDÃO
Existe em inglês uma música popular que diz o seguinte: "Você não presta,
não presta, não presta para nada." Infelizmente, sempre que ouço essa cantiga,
lembro-me de um colega de infância, cujo pai vivia dizendo isso a ele.
Um dos mais sérios problemas de quem sofre rejeição é o considerar-se in-
capaz, fracassado. O indivíduo experimenta um constante senso de inaptidão e
ouve uma voz interior constantemente afirmando:
"Não valho nada. Nunca serei nada na vida. Tudo que faço sai errado."
Muitas pessoas vivem obcecadas pelo medo de errar e quando erram, não
conseguem se reerguer e muito menos sabem tirar lições daquela experiência
negativa. Elas desmoronam, já que foram condicionadas a crer nas mensagens
que foram comunicadas a elas, na infância.
As palavras que ouvimos têm o incrível poder de nos edificar ou nos des-
truir. Se fracassamos numa situação qualquer na infância, logo somos taxados
de "incompetentes". Esse rótulo vai nos acompanhando pela vida. Se experi-
mentarmos outros fracassos, vamos sendo convencidos de que somos realmen-
te "uma negação". E aí começamos a acreditar que nem mesmo a graça de Deus
pode nos alcançar.
· SENTIMENTO DE CULPA
Afinal, o sentimento de culpa é um terrível mal ou um bem precioso? De-
vemos aceitá-lo ou rejeitá-lo? Vejamos uma ilustração simples que pode escla-
recer mais essa questão.
Imaginemo-nas viajando de carro por um lugar belíssimo, verdejante, ten-
do ao fundo montanhas altíssimas com picos cobertos de neve. De repente,
uma luzinha é acessa no painel do veículo. Damos uma olhada para ela, mas
preferimos ignorá-la e seguimos em frente na esperança de que daí a pouco
ela se apague. Entretanto, ela continua acesa e nossa irritação vai aumentando.
Afinal, não contendo mais a raiva, pegamos um martelo no porta-luvas e bate-
mos no painel até que a luzinha afinal se pague. Aliviados por constatar que ela
não mais nos perturbará, continuamos dirigindo, desfrutando das belezas da
natureza que temos diante de nós. Mas, de repente, o carro "morre".
82 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
ESPÍRITO
médiuns para tentar conhecer melhor o assunto. Embora esses métodos sejam
duvidosos, evidenciam o fato de que existe hoje um anseio por conhecer o so-
brenatural.
O fato é que, após várias décadas de um racionalismo cético, o homem está
voltando sua atenção para o espírito. A Bíblia, o mais antigo e mais fidedigno
documento que trata do espírito, afirma o seguinte: "O espírito do homem (o
fator da personalidade que provém diretamente de Deus) é a lâmpada (a vela)
do Senhor, qual esquadrinha todo o mais íntimo do corpo"(Po 20:27).
A figura da vela é perfeita e se encaixa muito bem nesse contexto. Quando
alguém escolhe o prumo da rejeição em vez do prumo de Deus, começa a viver
na posição inclinada, destorcida, e isso afeta negativamente seu espírito.
Quando eu e minha esposa trabalhávamos na África como missionários, en-
contramos ali um mal que não conseguimos debelar, nem com nossos melhores
medicamentos. Alguns rapazes, no vigor da vida, sem nenhuma enfermidade
aparente, simplesmente deitavam e morriam. Anosso pedido, o intérprete pro-
curou conhecer a vida pregressa daqueles jovens e descobriu que todos tinham
sido vítimas de maldições de feiticeiros poderosos que os condenara a morrer
em determinada data.
O que se passou no espírito daqueles moços é muito bemilustrado pela cha-
ma de uma vela. Tão logo o indivíduo acatava e cria no seu destino, a "chama
de sua vela" ia ficando fraca e em seguida começava a agonizar. Por fim, ela se
extinguia como fora predito.
Essa ilustração aponta três tijolos existentes na parede da rejeição:
· APAGADO...
· MORRENDO...
· EXTINTO...
· DESANIMADO
Para ilustrar a natureza desse tijolo, quero contar uma historinha. O inimigo
montou uma banca no mercado para vender suas mercadorias. O artigo com
preço mais caro era um instrumento de aparência bem estranha. Alguém per-
guntou a Satanás para que servia aquilo, e ele replicou:
"É o desânimo, minha arma mais eficiente. Vou trabalhando numa pessoa
com esse elemento, até que ela acabe chegando ao..."
· DESESPERADO
E, rindo satisfeito, ele continuou a revelar sua estratégia operacional.
"Assim que ela cai em desespero não é mais páreo para mim. Torna-se mi-
nha escrava e prisioneira. E como me sinto feliz quando levo os crentes a se
desesperarem com seu ministério, sua família, seus problemas financeiros, com
tudo enfim! Depois basta um empurrãozinho no momento certo e a oposição
que eles fazem ao meu reino termina para sempre."
Em seu imortal clássico evangélico O Peregrino, João Bunyan descreve em
cores vívidas, a triste situação de Cristão e Esperança (nomes fictícios ) quando
caem em poder do Gigante Desespero. Este os espanca e depois os lança num
calabouço fétido, sugerindo a eles que se matem.
"Para que desejam viver", indaga em tom zombeteiro, "se a vida é tão cheia
de amarguras?"
Motivos do desespero
Era tarde da noite. Fui para a cama, dando um largo bocejo. Nesse instante,
o telefone tocou.
"Bruce, vem cá depressa. Dion foi preso!"
O susto me despertou na mesma hora. Não conseguia acreditar. Além de
ser crente, membro de uma igreja da cidade, Dion era um amigo muito queri-
do. Enquanto me aprontava nervosamente, preparando-me para ir à delegacia,
meu pensamento era um só: "Deve haver algum engano."
Chegando à delegacia, já encontrei alguns dos líderes da igreja e eles
me deram detalhes da prisão do nosso amigo. Anteriormente, sua espo-
sa havia conversado comigo a respeito das tendências homossexuais do
marido. E agora dois policiais tinham armado um flagrante para ele num
local público e em seguida lhe deram voz de prisão, sob a acusação de
Parte I l Paredes de pROTEçãO decorrentes da REjEIçãO - 85
lascívia sob controle, Dion viu sua comunhão de amor com Deus crescendo a
cada dia. Passava mais tempo em oração e em meditação das Escrituras.
Foi então que Deus lhe deu uma revelação! Antes, ele estava servindo a
Deus por dever, como um escravo serve a seu senhor, em vez de servi-lo por
devoção, como um filho serve ao pai. Antes, seu relacionamento com Deus era
frio, teológico. Não experimentava um amor vibrante por Deus. Mas com o
passar do tempo, passamos a ver essa vitalidade restaurada, na medida em que
ele conhecia o "Aba Pai".
CONCLUSÃO
Quem alinha sua existência pelo prumo humano da rejeição, sofre um gran-
de dano que pode até roubar-lhe a vida. Nessa situação, os indivíduos mais
agressivos podem não aceitar passivamente a rejeição e adotar uma atitude
reacionária, alinhada pelo prumo da revolta. Aquele que se nega terminante-
mente a seguir o prumo da rejeição, pode estar se enveredando pelo caminho
que o levará a aceitar o da revolta. No capítulo seguinte,vamos examinar mais
detidamente essa questão.
APLICAÇÃO PRÁTICA
Notas
'The Concise Oxford Dictionary of Cun'ent English, Oxford University Press,
1954.
'The Consise Oxford Dictionary, op. cit.
6
PAREDES DE PROTEÇÃO
DECORRENTES DA REVOLTA
Idi Amin Dada, o antigo governante de Uganda é um exemplo clássico de
um revoltado que chegou aos extremos. Pertencente ao povo núbio, uma
tribo nômade, na infância mudava constantemente de um lugar para o
outro, acompanhando a mãe. Nunca soube quem foi seu verdadeiro pai. Na
Uganda, os núbios eram do nível mais baixo da mais baixa classe social. Por-
tanto, a atitude da sociedade para com ele, obviamente, sempre foi de rejeição.
Já adulto, entrou para o exército e foi subindo de posto. Aí ele se insurgiu
contra a rejeição de que sempre fora vítima e passou a seguir o prumo da revol-
ta. Para compensar sua origem humilde e a falta de estudo, assumiu um com-
plexo de superioridade. Tornou-se um combatente obcecado, com um espírito
fortemente competitivo, disposto a empregar qualquer meio para alcançar suas
ambições políticas. Imitando Adolfo Hitler, a figura histórica que mais admira-
va, a partir de 1971,Amin assumiu atitudes temerárias, sendo responsável pela
tortura e morte de mais de 100.000 patrícios.
Idi Amin externava sua agressividade, principalmente na forma sádica
como torturava seus "inimigos" antes de atirá-los aos crocodilos. Seu espírito
controlador e possessivo manifestava-se em sua forte determinação de vencer
pela força bruta, astúcia e engano.
Além disso, seu orgulho pessoal não conhecia limites. Escreveu várias car-
tas à rainha da Inglaterra oferecendo seus préstimos para solucionar problemas
políticos e econômicos do Reino Unido. Chegou ao cúmulo de se oferecer para
ser assessor da rainha! Tinha atitudes tão defensivas em relação à sua auto-
88 - Paredes do Meu Comção i Bruce Thompson
FIGURA DE
AUTORIDADE
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REVOLTA
FIGURA12 HOMICÍDIO
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 89
ridade que era incapaz de dialogar com qualquer um que questionasse seu
poder. Criou um "governo por decreto", e qualquer pessoa que o interpelasse
ou discordasse da sua posição era eliminado. Esse era o único recurso que sabia
utilizar para silenciar quem quisesse questionar sua autoridade.
Foi atribuído a ele a seguinte afirmação:
"Eu, eu mesmo, me considero a mais importante figura política do mundo!"
Isso prova quanta ilusão ele alimentava com relação à prÓpria grandeza,
sem contar seu espírito dominador, manipulador, obstinado e presunçoso.
EMOÇÕES
· HOSTILIDADE
Certa vez, eu estava aconselhando um senhor de meia idade no Japão e fiz
menção de seu relacionamento com o pai. Ele saltou da cadeira, soltou um grito
estridente e com um golpe de caratê, quase partiu a mesa ao meio. A simples
lembrança do pai fizera com que sua mágoa que se achava encerrada no fun-
do do seu ser, viesse à tona, sob a forma de hostilidade. A raiva não somente
bloqueava sua profunda mágoa mas ainda impedia o desenvolvimento da sua
personalidade.
A raiva pode ser exteriorizada de maneira positiva mas o extravasar da
agressividade pode ser muito perigoso. A raiva, muitas vezes, tem origem em
mágoas sofridas. Se uma pessoa é continuamente magoada, sua raiva também
será contínua. Quem vive enfurecido, provavelmente abriga algum conflito in-
terno não resolvido ou uma mágoa profunda ainda não sarada. Quando um
indivíduo não encontra meios de externar essa raiva de forma aceitável, ela se
aprofunda. Esse processo pode gerar um comportamento instável. Primeiro
ele se controla excessivamente. Depois tem fortes explosões de cólera. Nesses
casos, as emoções podem acumular-se de tal maneira que a pessoa, ou se sente
profundamente deprimida, ou então abriga uma raiva explosiva, a única forma
de extravasamento que conhece. Quando alguém insiste em reprimir continua-
90 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
mente sentimentos dolorosos, eles poderão ser manifestados mais tarde, sob a
forma de doenças mentais ou distúrbios psicossomáticos.
· PRESUNÇÃO
A melhor definição de presunção é: qualidade de quem é desdenhoso,indi-
ferente aos outros, revelando alto grau de vaidade pessoal e egocentrismo. O
presunçoso geralmente enfrenta o problema da solidão. Todos os que poderiam
ser seus amigos se mantêm distantes dele, devido a sua atitude desdenhosa e
pelos comentários depreciativos que faz. Esta atitude de julgar-se superior aos
outros afasta as pessoas, que se sentem menosprezadas e diminuídas.
Muitas vezes o presunçoso procura aumentar seu senso de valor às custas
dos outros, e assim perde a companhia deles.
· SOFISTICAÇÃO
Em alguns casos, esse tijolo pode ser chamado de "pseudo sofisticação".
Geralmente é o individuo egocêntrico e presunçoso que busca a sofisticação.
Derivado do termo "sofisma", que significa um argumento falso com objetivo
de enganar uma pessoa, sofisticar significa alterar alguém ou alguma coisa,
a ponto de privá-la da sua simplicidade inerente, com o objetivo de enganar.
Significa ainda, modificar algo com fins de adulterá-lo ou torná-lo artificial.'
Entre as muitas pessoas a quem aconselho, as que parecem ser altamente
sofisticadas, na verdade são artificiais e falsas. Dão a impressão de serem equi-
libradas e tranquilas, procuram manter um ar de independência e autocon-
fiança, tentando mostrar que está tudo sobre controle. No fundo, porém, são
inseguras, sofrem do complexo de inferioridade e de diversos tipos de fobias.
A presunção e essa "pseudo sofisticação", muitas vezes criam sérios empe-
cilhos para que tenhamos bons relacionamentos afetivos. A primeira impressão
que temos dos outros, com frequência provoca em nÓs uma reação muito forte,
positiva ou negativa. De onde vêm estes sentimentos fortes? Será que podemos
confiar nessas impressões? Gostaria de dar minha opinião pessoal sobre isso.
Eu creio que sempre que conhecemos uma pessoa, nosso "computador" cere-
bral faz associação entre ela e alguém que conhecemos no passado. A reação que
teremos para com esse novo conhecido poderá ser favorável e positiva ou então
fria e hostil. Vai depender do relacionamento que tivemos com a outra pessoa. Se a
lembrança for negativa, nossa tendência será ignorar esse indivíduo. Relutaremos
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 91
· EUFORIA E DEPRESSÃO
Em 1973, Joshua Logan, o talentoso diretor e produtor teatral americano
disse o seguinte:
Logan fez está afirmação numa palestra proferida perante a Associação Mé-
dica Americana, onde falou sobre seus 30 anos de luta com a mudança de humor,
da euforia para a depressão.
É normal experimentarmos pequenas variações de humor diante dos con-
flitos ou pressões. As crises que nos ocorrem são como um quebra-molas numa
estrada, e do mesmo modo como os amortecedores do carro fazem o movi-
mento de molejo, assim também nosso humor sobe e desce. Isso é normal. Da
mesma forma como o carro acaba se acomodando ao peso que leva, também
nós nos acomodamos às tensões, a não ser que elas atinjam um grau extremo.
Nesse caso, nosso humor pode atingir um alto grau de ansiedade e euforia ou
cair para um estado depressivo. Mas ele pode ainda oscilar agitadamente entre
os dois estados. Se essas oscilações de humor se agravarem muito, podem cau-
sar um colapso do controle emocional, o que é chamado de psicose. As medi-
das preventivas para esse estado seriam repouso e solução do conflito interior.
l
92 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
INTELECTO
· COMPLEXO DE SUPERIORIDADE
Encontramos este tijolo com mais frequência no mundo acadêmico, que em
muitos casos, tornou-se uma espécie de casta. Muitas vezes, as pessoas que
possuem altas qualificações só relacionam com membros de classes inferiores
em relação a questões básicas. Aqueles que constantemente exibem uma ati-
tude de superioridade, na verdade o fazem, para compensar sentimentos de
inferioridade. Sempre que "rebaixam" alguém, sentem- se elevados.
Em geral, este recurso de se julgar melhor que os outros não passa de uma ten-
tativa de compensar um doloroso e reprimido sentimento de inferioridade. Tais
sentimentos podem ter sidos gerados por uma criação muito rígida ou por zom-
barias de companheiros de infância. Mas, o fato é que a superioridade contribui
muito para isolar o indivíduo, inviabilizando bons relacionamentos com outros.
· COMPETITIVO
Para um observador desavisado, Graham dava a impressão de estar no auge
da sua vida e ministério, achando-se muito bem ajustado. Certo dia, quando
estava no meu consultório, ao mencionar o tempo, a energia e o esforço que
dedicara ao serviço cristão começou a chorar. Sentia-se exausto, à beira de um
colapso nervoso. E agora, percebia que quase tudo que fizera, fora apenas para
conquistar a admiração das pessoas, e até mesmo de Deus. Como chegara a este
ponto? Que circunstâncias o haviam levado a viver de forma tão estressante?
Como muitas pessoas, ele fora vítima de uma criação errônea. SÓ era amado
e recebia demonstrações de apreço quando procedia corretamente. O amor dos
pais por ele era condicionado a uma série de exigências e padrões, como por
exemplo tirar boas notas na escola, ter um excelente desempenho nos esportes
e em outras áreas da vida. Contudo, mesmo quando seu desempenho era o me-
lhor possível, eles ainda o criticavam muito e as demonstrações de apreço eram
raras. Ao incentivá-lo, usavam termos que davam a entender que ele poderia
ter se saído melhor.
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 93
· DOMINADOR
Hoje em dia, muitas mulheres estão assumindo o papel de liderança no lar
e passando a dominar todo o relacionamento conjugal. Este tipo de situação
existente nos casamentos modernos está sendo alvo da atenção e dos estudos
dos sociólogos.
O que vem provocando esta mudança na família? Esta dominação femini-
na é fruto de sentimentos de insegurança, que por sua vez são causados por
carência afetiva. Os maridos, ou não sabem, ou já se esqueceram como amar
a esposa. É verdade que eles têm desejo por ela, mas parecem ignorar a dife-
rença entre lascívia e amor. Esses dois conceitos têm sido empregados como
sinônimos, quando, de fato, são quase antônimos, opostos. Quando o homem
só se relaciona com a esposa na base da lascívia, ela se sente usada tornando-se
insegura. O resultado é um forte sentimento de frustração que pode até causar
frigidez. Numa tentativa de evitar o problema, ela procura manipular o côn-
juge de forma que ele entenda sua necessidade de ser amada. Eventualmente,
essas estratégias de dominação podem destruir o relacionamento do casal, o
que ocorre em muitas famílias hoje.
94 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
· RÍGIDO
Rígido é "o que é duro, não flexível e que não se dobra".' Certa vez, um
aluno meu demonstrou claramente na sala esta distorção da personalidade. O
episódio se deu num período de debate após uma aula expositiva. Ele levantou
e se pôs a externar sua opinião sobre o assunto, de forma bem eloquente. Seus
colegas logo se manifestaram, alguns discordando dele com toda sinceridade.
Fiquei em silêncio, observando a tensão que se formara e permitindo que a dis-
cussão continuasse. Notara que o jovem se mantinha inflexível, firme em sua
opinião, sem acatar os argumentos dos outros. Afinal, ele fez uma última e de-
sesperada argumentação em voz bem alta e saiu da sala de forma intempestiva.
Sua identidade pessoal achava-se intimamente ligada às suas opiniões e por
isso ele não podia tolerar a idéia de que elas estivessem erradas. Aceitar o fato
de que outros tinham opiniões contrárias às suas, seria o mesmo que admitir
que estava errado, o que depreciaria bastante seu senso de valor.
Outros indivíduos associam sua segurança a certas estruturas fixas em casa,
no trabalho ou na escola. SÓ de pensar que elas possam ser modificadas, eles
têm reações fortes. O fato é que esta inflexibilidade bloqueia nosso desenvol-
vimento. Um exemplo deste tipo de distorção é a atitude do marido que não
admite que a esposa ao arrumar a casa mude de lugar sua poltrona de assistir
à televisão.
Qual é a reação quando as estruturas da nossa vida são modificadas ou
removidas? Será que nosso senso de identidade pessoal se acha associado a
ambientes familiares?
· OBSTINADO
ABíblia relata a história de uma mula obstinada (Nm 22:21-33). No fim des-
cobrimos que o verdadeiro obstinado era Balaão, o dono do animal. Ele selou
a montaria bem cedo pela manhã e partiu para uma longa viagem. Ainda não
tinha andado muito, quando de repente, a jumenta se afastou da estrada, enve-
redando pelo campo. Irritado, o homem espancou o animal para fazê-lo voltar
ao caminho. Mas ela bateu num muro de pedras, comprimindo nele o pé do
seu dono. Novamente ele a espancou. O que ele não sabia é que ela agia assim,
porque na estrada havia um anjo com a espada desembainhada. A jumenta des-
viou do caminho três vezes para evitar que seu dono fosse atingido pela espada
do anjo. Nas três vezes ele a espancou. Por fim ela caiu com o homem ainda em
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 95
seu dorso e ele ameaçou matá-la. De repente os olhos de Balaão se abriram e ele
avistou, à sua frente, o anjo do Senhor, ainda com a espada na mão.
Como vimos através da história de Balaão, a ferrenha teimosia humana é
um dos maiores problemas de Deus. Muitas vezes, a obstinação tem origem na
insegurança que nos domina ao depararmos com situações desconhecidas. O
resultado é que passamos a não confiar em Deus e a não obedecê-lo. Ela pode
também ser fruto de hábitos que formamos no decorrer da vida ou de atitudes
que adquirimos devido às figuras de autoridade que abusaram da sua posição
em relação a nós.
· NÃO ENSINÁVEL
Algumas pessoas relutam em admitir que aprenderam algo novo. Para elas,
isso implica em se diminuírem, pois o senso de identidade delas está associado
ao conhecimento que possuem. Quando enfrentam um problema, em vez de
extraírem dele alguma lição, modificando o que for necessário, elas se vêem
numa crise de identidade. A história de Igreja está marcada por divisões cau-
sadas por este espírito de resistência ao aprendizado. A Bíblia não afirma que
a nossa unidade se consolidará quando obtivermos unanimidade em questões
doutrinárias. O que ela diz é que "nada poderá nos separar do amor de Cristo". É o
amor e não o conhecimento que nos ajuda a aprender uns com os outros. Pelo
amor podemos comunicar verdades uns para os outros, e assim, "crescer até a
estatura de Cristo", que é o único que tudo sabe e conhece.
ESPÍRITO
· CONCEPÇÕES ILUSÓRIAS
Uma idéia errada que se enraíza em nossa mente pode vir a tornar-se um
falso conceito. Uma senhora de meia-idade que fora traída pelo marido teve
muita dificuldade de perdoá-lo. A todo instante, imaginava-o tendo casos com
outras mulheres. Por causa da sua desconfiança seu casamento quase desmo-
ronou, apesar das suas suspeitas terem fundamento. Se não corrigirmos estes
96 - Paredes do Meu Comção i Bruce Thompson
falsos conceitos, eles podem se tornar uma paranOia, psicose, sendo necessário,
até mesmo, um acompanhamento terapêutico especializado.
· RESSENTIMENTO E AMARGURA
O ressentimento brota no nosso coração quando nos recusamos a perdoar
quem nos magoa. Sempre que alguém nos ofende ou magoa, seja através de
uma palavra, gesto ou uma reação forte, temos a alternativa de perdoá-lo ou
não. Se optarmos pelo perdão, Deus pode perdoar nossos pecados mas se der-
mos lugar ao ressentimento, estaremos bloqueando o perdão divino e abrindo
a porta do coração para que entre a amargura.
A Bíblia adverte que tenhamos o cuidado de não permitir em nossa vida
nenhuma raiz de amargura, pois por ela muitos podem ser contaminados (Hb
12:15). Deixando a amargura brotar em nosso coração, estamos abrigando uma
erva daninha de raiz muito forte. E se permitirmos que está erva seja enraizada,
ela alastrará e tomará conta dos nossos corações, contaminando nossas mentes,
espíritos e corpos.
Na horta da nossa casa no Hawai, temos lutado muito com um tipo de mato
que é uma verdadeira praga. Podemos arrancá-lo sem grandes dificuldades
quando ainda está pequeno, com cinco ou seis centímetros de altura. Porém, se
o deixarmos crescer, não conseguimos mais extraí-lo. Sua raiz é longa e cheia
de nódulos e precisa-se usar uma picareta para cortá-la.
Amar implica em perdoar uns aos outros. Quem guarda rancor passa a ter
um espírito endurecido, amargurado. A amargura tem destruído muitos casa-
mentos, famílias, sociedades e não desejamos que venha nos destruir também.
Além disso, ela predispõe nosso organismo a doenças mentais e físicas que só
poderão ser totalmente curadas, se primeiro nos dispusermos a perdoar nosso
ofensor.
· CRÍTICO
A atitude negativa de crítica nos leva ao descontentamento, e isso mata em
nós a gratidão. Consequentemente, nossa atenção se volta para nós sob a forma
de auto-piedade. Às vezes tentamos mascarar nossa tendência a depreciar os
outros, dizendo que nossa crítica é "construtiva". Na verdade, porém, o que
ocorre é exatamente o contrário, pois sua origem é destrutiva. A crítica exacer-
bada é uma prática negativa, capaz de arrasar os outros. Precisamos aprender
Parte I l Paredes de proteçíío decorrentes da revolta - 97
· MANIPULAÇÃO
Vamos examinar agora, aquele que talvez seja o pior de todos os tijolos da
nossa parede. A manipulação é um traço maligno e destrutivo da personalida-
de, que tem o potencial de fingir amar, mas que na realidade,bloqueia e destrói
o amor. Por isso é uma das principais causas dos conflitos no casamento e da
desintegração das famílias.
Podemos definir a manipulação como a tentativa de controlar pessoas ou
circunstâncias, por meios indiretos, simulados. O Dicionário Webster fala da
manipulação como algo insidioso. Ela é:
Traiçoeira: espera a hora certa de encurralar a vítima.
Sedutora: é perigosa mas ao mesmo tempo atraente.
Sutil: vai envolvendo gradativamente, para que só seja percebida depois
que estiver bem enraizada. Possui um efeito gradual, porém cumulativo.
amar alguém é obter dele alguma coisa. O pensamento geral é: "Preciso de uma
esposa ou esposo". Mas, não é essa a motivação que Deus determinou para
o casamento. Ela destoa do prumo divino do amor. O conceito de amor está
completamente distorcido em nossa sociedade. A mídia tem nos bombarde-
ado com conceitos sobre algo que ela chama de amor mas que na verdade,
não passa de lascívia. "
.
MANIPULAÇÃO AMOR
1. Age com desonestidade Age com sinceridade
2. Visão distorcida peio interesse Visão clara e aberta
3. Manter o controle Mantém a liberdade
4. Inspirada na desconfiança Livre para confiar
5. A essência é receber A essência é dar
Tipos de Manipuladores
1. Manipulador ativo
O único pensamento desse indivíduo é manter o controle da situação a
qualquer preço. Quer ser o "maioral" e estar por cima em tudo. Vive ressal-
tando seus pontos fortes e nunca reconhece suas fraquezas. No relacionamento
com os outros, sempre aparece como o mais forte, procurando tirar vantagem,
todas as vezes que puder.
2. Manipulador passioo
Esse é mais difícil de ser detectado pois sua estratégia de manipulação é
dissimulada. Seu objetivo não é exercer o controle, mas sim, evitar ofender os
outros. Para isso,assume o papel do sofredor, do carente e muitas vezes utiliza
o tijolo da auto-piedade, com o objetivo de se passar por "coitadinho" e assim
obter o que deseja. Demonstra-se infeliz e nesta condição, manipula os outros
para satisfazer sua carência afetiva. Enquanto o manipulador ativo se impõe
para obter o que deseja, o passivo abdica de algo com a mesma finalidade.
Certa vez, tive a oportunidade de ver uma ilustração viva dessas situações.
Fomos visitar uns amigos e levamos conosco nossa cachorrinha Sheba. Quan-
100 - Paredes do Meu Cojü\ção l Bruce Thompson
3. Manipulador competitivo
O terceiro tipo de manipulador é o competitivo. Esse é um pouco mais ver-
sátil. Às vezes age como o dominador e em outras,como sofredor, dependendo
da situação. É só uma questão de mudança de tática. É mais habilidoso e chega
a ser um profissional na arte de criar formas de manipulação. Seu objetivo é
ganhar, seja em que posição for. Todos os demais são seus competidores.
4. Manipulador indiferente
É distinguido dos outros porque ele não gosta dos que estão por cima e
dos que estão por baixo, nem se importa de ser o "maioral" nem o "sofredor".
Até diz que não se importa com posições. De fato, ele não gosta de pessoas,
e está preparado a dizer que não se importa com o jogo delas. Mas, quando
afirma isso, na verdade, está manipulando a si mesmo de forma sutil. Nega-se
a admitir o que sente, enganando-se. Na realidade, ele se importa e interessa
sim pelo que acontece ao seu redor, mas ao negar e reprimir esses sentimentos,
manipula a si próprio. E faz tudo isso em nome do amor. Esse tipo de atitude é
uma arma sutil e poderosa para destruir relacionamentos.
TIPOS DE MANIPULADORES
FIGURA DE AUTORIDADE
"i .
2. Passioo : 3. Competitivo
Tende a se aproximar do Tende a se aproximar do
Modelo de Autoridade : Modelo de Autoridade
bajulando I competindo
mm
4. Indiferente ! 1. Ativo
Tende a se afastar do Tende a se afastar do
Modelo de Autoridade Modelo de Autoridade
isolando-se I criticando
A ÚNICA OPÇÃO
Mas alguém pode achar que essas opções de seguirmos o prumo humano
da rejeição ou o da revolta nos deixa sem saída. Não existe nenhuma outra
alternativa? Existe sim. A verdadeira: o prumo divino. Mas vamos devagar!
Primeiro é bom conhecer todas as implicações a respeito dela. Se optarmos
pelo prumo divino SÓ para escapar do suicídio ou do homicídio, precisamos
lembrar que estamos abraçando a alternativa de sermos crucificados.
"Bela alternativa!" Dirá alguém.
Mas o que significa "ser crucificado"? Na essência,se nos dispusemos a viver
segundo o prumo divino, temos que aceitar a cruz de Cristo. Temos que crucificar
102 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
os desejos carnais e impuros que nos inspiram a sempre fugir de algo que nos
desagrada. Temos que nos dispor a sermos purificados quanto aos velhos desejos
e seguirmos os novos, em verdade e amor, fazendo perecer na cruz o egoísmo,
egocentrismo, a lascívia e a ganância, para que Cristo viva em nós.
"Quem acha q sua vida, perdê-la-á. Quem, todaí'ia, perde a oida por minha
causa, achá-la-á" (Ml 10:39).
APLICAÇÃO PRÁTICA
Reveja os tijolos que você reconhece em sua vida. Como eles foram parar aí
nas paredes do seu coração? Consegue lembrar que situação deu origem a eles?
Medite sobre as circunstâncias que causaram o aparecimento desses tijolos.
Como eles o afetam?
Notas
'The Concise Oxford Dictionary, op. cit.
'The Concise Oxford Dictionary, op. cit.
'Everett L. Shostrom,Man theManipulator (Homem o manipulador),Abing-
don Press, Nashville.
7
CADA UM COM SUA
PRÓPRIA MANEIRA DE VIVER
Essa análise dos tijolos das paredes que erguemos em torno do coração,
por vezes, pode nos deixar meio deprimidos, principalmente quando
nos conscientizamos de quanto tempo eles vêm bloqueando nossas vi-
das. As paredes, obviamente, simbolizam nosso sistema de defesa,bem como o
tipo de personalidade que vai se formando, a partir de uma base de rejeição ou
revolta. Neste capítulo, vamos examinar quatro tipos de personalidades e ver
como e por que elas adquirem tais feições. Esses quatro não são os únicos tipos
de personalidades existentes, mas são os mais comuns em nosso meio.
Ao estudar a formação do caráter, devemos lembrar que a personalidade é
constituída de traços hereditários e traços adquiridos. A polêmica em torno da
questão "herança versus meio ambiente" demonstra que nem sempre é fácil
distinguir os traços fixos da personalidade dos que são variáveis. Entretanto, as
Escrituras nos fornecem algumas orientações claras a respeito destas questões.
Neste estudo, estaremos examinando os aspectos adquiridos ou suscetíveis a
mudanças, que Paulo menciona em Efésios 4.13, onde ele fala que "precisamos
crescer até chegarmos à estatura da plenitude de Cristo."
1. A PERSONALIDADE "CORDATA"
Apersonalidade cordata tem como referência de vida o prumo da rejeição, e
por isso procura estar cercada de importantes figuras de autoridade com o ob-
jetivo de satisfazer suas carências emocionais. Para entendê-la melhor, vejamos
algumas das atitudes que assume:
104 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
Todavia, o cordato pode representar muitos perigos, não só para si, mas
também para aqueles com quem relaciona. Ele busca acima de tudo, a satisfa-
ção da sua carência afetiva e da sua necessidade de aceitação. Para isso, não he-
sita em sacrificar certos princípios e até a verdade. É o tipo de pessoa que tende
a procrastinar e a agradar mais aos homens do que a Deus. Devido ao seu forte
desejo de ser aceito e amado é vulnerável ao pecado da imoralidade. Se sofre
uma desilusão com a figura de autoridade, mesmo que tudo não passe de fruto
da sua imaginação, ele pode mergulhar fundo numa depressão ou rejeição. E
quanto mais isso acontece, mais ele se retrai e sua capacidade de confiar nos
outros é reduzida. Muitos dos nossos líderes têm sucumbido diante desse laço
sutil que é a personalidade cordata, em relação aos outros ou a eles mesmos.
Encontramos na pessoa de Saul, um exemplo de personalidade cordata (I
Sm 15:24). Após obter uma grande vitória contra os amalequitas, o rei Saul
desobedeceu a ordem divina para que destruísse os inimigos. Buscando a acei-
tação e o reconhecimento humano, ergueu no monte Carmelo um monumento
em sua própria homenagem. Como tinha temor dos homens e queria a apro-
vação deles, não teve temor de Deus e nem o obedeceu. Essa atitude de com-
placência, acarretou a perda do reino, em decorrência de um gradual e infeliz
declínio da sua liderança.
Quando um indivíduo de personalidade cordata sofre muitos reveses,
pode começar a assumir outro tipo de personalidade.
106 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
2. A PERSONALIDADE "DERROTISTA"
Quem convive com este tipo de indivíduo, mais cedo ou mais tarde vai
ouvir essas queixas. A grande luta dessa pessoa é saber que é querida e útil aos
outros. Ainda há outras falas típicas dessa personalidade:
"Não adianta tentar mais!"
"Já fracassei tantas vezes!"
"Sou um fracassado mesmo!"
"Nunca vou conseguir nada!"
"Vou ser sempre assim!"
"Não consigo mais viver assim!"
"Não dá mais!"
"Desisto!"
"Ó Deus, por que o Senhor não dá um jeito em tudo isso?"
pressão de que sempre fora alvo da zombaria dos amiguinhos. Por causa disso,
esforçava-se o tempo todo para agradar os pais, professores e coleguinhas, com
o objetivo de conquistar deles o amor e a aceitação dos quais tanto necessitava.
Como era uma moça bonita, casou muito jovem, teve seis filhos, um após o outro.
Depois de algum tempo, o esforço que fazia para agradar ao marido e aos
filhos tornou-se uma verdadeira batalha. Em vez da aprovação que ela tanto
desejava, só recebia críticas. Por mais que se esforçasse, o marido nunca estava
satisfeito. Para ele, a comida estava crua ou cozida demais, as roupas nunca
tinham sido passadas ou dobradas com perfeição, a casa estava sempre mal
arrumada... Nada do que ela fazia parecia satisfazê-lo e nunca reconhecia nada
do que ela fazia para agradá-lo.
Com o decorrer dos anos,pouco a pouco, Susan passava mais e mais tempo
assistindo televisão, deixando para o marido os serviços da casa. Como suas
tentativas de agradá-lo tinham sido ignoradas, ela se retraiu, trocando sua ati-
tude de pessoa "cordata" pela armadura da personalidade "derrotista".
Outro exemplo deste tipo de indivíduo é Moisés. Ele nasceu e foi criado
sofrendo rejeição. Afinal, ao ser repelido por pessoas do seu povo, teve que
fugir para salvar sua pele. Quarenta anos depois, Deus o chamou para libertar
os filhos de Israel da escravidão, e ele teve a reação típica de sua personalidade:
"Não dou conta!"(Ex 4:1,10,13)
Como acontece com a personalidade "cordata", o referencial do tipo "derro-
tista" é o prumo da rejeição. Porém, ao invés de voltar-se para a figura da auto-
ridade como faz o cordato, esse segundo tipo afasta-se das pessoas, recusando
qualquer tipo de ajuda. Em muitos casos, depois de ter sofrido e de ter sido
magoado pelas figuras de autoridade, tais indivíduos vão pouco a pouco, per-
dendo a confiança que depositam nos outros. Não aceitam nem a possibilidade
de vivenciar outra experiência dolorosa e por isso refugiam-se sob a armadura.
Quanto maior a profundidade das mágoas sofridas, mais impenetrável será
sua armadura. Eles chegam ao ponto de dizer:
"Não vou deixar mais ninguém me magoar."
3. A PERSONALIDADE "COMPETITIVA"
Essa personalidade é a que mais tem relação com nossa era humanista e
com a atual busca de amor e aceitação. A personalidade competitiva, talvez
seja a mais comum, presente nas culturas ocidentais. É normal esse tipo de
indivíduo dizer o seguinte:
Mas por outro lado, tal indivíduo gosta também de ouvir palavras de apro-
vação, afirmação, e para isso poderá comunicar verbalmente ou não os pedidos
abaixo:
"Viu como executo bem meu trabalho?"
"Já notou como tenho excelentes talentos e habilidades?"
"Percebe como sou indispensável?"
"Não vai elogiar o meu trabalho?"
"Diga-me que sou perfeito e me fará feliz!"
"Nunca me diga que me considera um fracasso."
4. A PERSONALIDADE CRÍTICA
Há ainda mais uma personalidade formada a partir do prumo humano da
revolta. Nele, o indivíduo se afasta da figura de autoridade, de forma mais
agressiva. São aqueles que dizem:
domingos, "lá está ela" com sua aljava cheia de flechas e já com o arco em po- q
sição para dispará-las. Durante o culto, muito bem informada sobre a vida de
todos, atira seus dardos com grande precisão e eficiência, pois entende que sua q
missão é manter todo mundo na linha, inclusive o pastor. Além de lidar com q
essa atitude da profeta, esse ministro tem que passar a semana toda, removen- d
do as pontas das flechas que ela lançou nas ovelhas, curando as feridas causa-
q
das por elas. Ele mesmo, às vezes é alvo das suas flechadas. Principalmente se
os sermões não estiverem do jeitinho que devem estar, segundo sua opinião.
Obviamente, recebe muitos protestos mas encara essa "perseguição" como "os-
4
sos do ofício", algo que vem confirmar que suas setas estão atingindo o alvo.
A personalidade que se expressa dessa forma tem em seu interior alguns
pressupostos muito significativos. Primeiro, ela perdeu a fé no amor. Sofreu
tantas desilusões em seus relacionamentos que chegou à conclusão de que não
merece ser amada e por isso desistiu de amar. Depois, ao contrário do "der-
rotista", que passivamente se esconde dentro de uma armadura, ela tem uma
reação mais agressiva. Ao atacar outros, seu intuito é convencê-los de que eles
também não merecem amor. Acredita firmemente que se ela está sofrendo, os
outros também devem sofrer.
Amãe de John o criou da mesma forma como tinha sido criada, disciplinan-
do o filho com atos de rejeição. O menino aprendeu a diferença entre certo e
errado pela frieza que ela adotava sempre que ele fazia algo que a desagradava.
Em decorrência disso, John passou a ter uma péssima imagem de si, nascendo
daí um complexo de inferioridade que o acompanhou durante toda a vida.
A correção efetuada por meio de atos de rejeição causa forte sofrimento
emocional à criança. O pai ou a mãe que utiliza esse recurso está destruindo
o senso de valor que a criança tem de si, perdendo a motivação para viver. A
correção tem que estar de mãos dadas com o amor. Se a mãe de John tivesse
agido com amor, ele não ficaria magoado com o castigo.
Judas, o traidor de Jesus (Jo 12:4) é o exemplo perfeito da personalidade
crítica. Levado pela atitude crítica e negativa que assumira em relação a Jesus e
aos discípulos, condenou a mulher que ungiu os pés de Jesus e também acusou
o Mestre de permitir tal desperdício. Esse espírito crítico o levou a trair o Filho
de Deus. Sua amargura e auto-depreciação, finalmente o impeliram a tirar a
própria vida em um surto de remorso.
Parte I l Cada um com sua própria maneira de viver - 115
TIPOS DE PERSONALIDADES
FIGURA DE
AUTORIDADE
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REjEIÇÃO (f REBELIÃO
CONCLUSÃO
APLICAÇÃO PRÁTICA
do os olhos da cena, se sentindo abalado! Que cena seria aquela que empalide- I
O DESEJO
Como é que somos envolvidos pelos hábitos carnais tão prejudiciais à nossa
vida e saúde, podendo até nos destruir? Façamos como Ezequiel. Vamos olhar
dentro das paredes erigidas em torno do coração humano, onde praticamos a
idolatria e outros pecados secretos.
Nosso objetivo ao erguer tais paredes é nos proteger dos inimigos que po-
dem nos atacar. Esses inimigos, reais ou imaginários, nos influenciam a ponto
de determinar as reações que teremos diante da vida. Mas o que se passa no
interior dessas paredes? Como é que caímos na armadilha dos hábitos carnais?
Vejamos uma ilustração que pode nos ajudar a responder a essas perguntas.
A linha marcada com a letra "A" na figura 17, representa o prumo da rejei-
ção que o indivíduo sofreu por parte de uma importante figura de autoridade.
Trata-se de uma linha oblíqua que "entorta" toda a vida do indivíduo. A pri-
meira emoção que ele terá que enfrentar depois de sofrer a rejeição é a mágoa
ou a dor interior.
O paciente que apresenta esse tipo de dor em minha clinica geral constituía
para mim um desafio maior do que o que falava sobre suas dores físicas. A
maioria dos pacientes demonstrava sofrer mais com a dor interior do que com
a dor física. Parecia que eu tinha pouquíssimos recursos para proporcionar a
eles, o alívio desejado. Em busca de soluções, comecei a sondar aqueles que
demonstravam com mais clareza o sofrimento interno. Descobri que muitos
deles, principalmente as mulheres, faziam frequentes visitas à geladeira. Ob-
servei ainda outras práticas semelhantes e foi assim que enxerguei totalmente
Parte I l ATRás das paredes - 119
FIGURA DE
AUTORIDADE
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FIGURA17
120 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
C
uma nova área de conhecimento. Sempre que indagava alguém como enfrenta- (
ANOREXIA NERVOSA
Outra condição que ilustra o "movimento pendular da fuga" é a anorexia
neroosa. Trata-se de um distúrbio mais comum em moças que devido a algum
trauma emocional param de alimentar a ponto de quase morrerem de inanição.
A maior parte das jovens com esse problema são provenientes das famílias
ricas, cuja grande preocupação é obter sucesso na vida. Esses pais costumam
Parte I l átríís das paredes - 121
"cobrar" muito dos filhos, fazendo exigências que estão acima da capacidade
dos jovens, privando-os das demonstrações de amor enquanto estes não atingi-
rem sua expectativas. Muitas vezes isso leva a filha a fazer um esforço desespe-
rado para atingi-las. Tal esforço, em muitos casos, é motivado pelo remorso ou
sentimento de culpa, decorrente do fato de não ter conseguido agradar os pais.
Isso causa uma penosa sensação de vazio e dor, levando-a a buscar o prazer
através da comida. Passado o instante de satisfação, elas se vêem dominadas
pelo temor de engordar e portanto sofrerem nova rejeição. Nesse ponto, ge-
ralmente a jovem procura um lugar à parte, onde possa provocar o vômito ou
então faz uso de laxantes para expelir as calorias ingeridas. Assim, na tentativa
de evitar críticas, a jovem entra em um ciclo de engano, come às escondidas,
vomita e nega tudo. Infelizmente, 20% das que têm esse problema, morrem
de inanição ou das complicações causadas pela mesma. Ainda 20% delas, têm
grande dificuldade de romper esse ciclo da fuga do sofrimento para o prazer
causado pelo desejo interno de receber a aprovação de outros.
APETITE DESCONTROLADO
No meu caso, devido à zombaria que sofri pela professora ainda na infân-
cia, me tornei viciado em duas formas de prazer. A primeira delas, comer. A
comida para mim era como um "pico". Se não comesse na hora que precisava,
ficava nervoso e irritado. Quando comia, engolia o alimento apressadamente
como um animal.
O outro falso alívio que eu utilizava como "analgésico emocional" era o
meu mundo de fantasia. Com base em algumas histórias sujas e lascivas que
ouvira na escola, criei minha própria coleção de fantasias obscenas, no afã de
conseguir alívio. E como sempre acontece, o prazer era de curta duração. Em
pouco tempo, minha mente se tomara uma verdadeira lata de lixo. Depois que
me converti, esses dois vícios foram minha grande batalha espiritual. Mais tar-
de fiquei sabendo que sexo e córnida são duas formas muito comuns de fuga e
com frequência estão relacionadas entre si.
Assim como temos apetite por comida e porbebida, temos também para o
sexo. Em nossos dias, a promiscuidade, a imoralidade e o homossexualismo
estão desenfreados, apesar da ameaça da AIDS. Pelo fato da lascívia ser tão
difundida, muitos casais não estão cultivando o verdadeiro amor em sua
forma mais elevada.
Í
122 - Paredes do Meu Corutção l Bruce Thompson
desejo se apropria, não importa o preço a ser pago, ao passo que o amor dá,
seja qual for o preço a pagar. O impulso de satisfazer um desejo que é mais í
PRAZER E DOR
O Dr. Richard Solomon, professor de psicologia da Unioersidade da Pensihâ-
nia, efetuou uma pesquisa encomendada pelo Instituto Nacicnd de Saúde Mental
dos Estados Unidos sobre o "Preço do Prazer e os Benefícios da Dor". Nela, ele
explica que um estímulo incondicional, na maioria das vezes, ocasiona três fe-
nômenos básicos:
A SOBERBA DA VIDA
No texto de IJoão 2.15-16, encontramos um segundo elemento - "a soberba
da vida" - que também procede do mundo e não do Pai. No jardim do Éden, o
diabo lançou mão da "dobradinha" do orgulho e da concupiscência para mar-
car um gol no jogo da vida. Adão e Eva mostraram que não conseguiram resis-
tir às táticas astuciosas e enganosas do orgulho e da concupiscência. Desde en-
tão, o homem vem sofrendo na mão desses dois males. Os campos da História
estão amontoados de vidas que foram abatidas por eles, comprovando o que
a Bíblia diz: "A soberba precedea ruína ca altivez do espírito, a queda" (Po 16:18).
Examinando a figura 18, notamos que o movimento da linha "A" é resulta-
do de uma rejeição sofrida por parte de uma figura de autoridade. Neste caso,
em vez das emoções serem o campo de batalha do problema, é a mente que
124 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
FIGURA DE
AUTORIDADE
aí'
' Ejá
Ê \.
rej::°
COMPLEXO DE COMPLEXO DE
INFERIORIDADE SUPERIORIDADE
FIGURA 18
Parte I l ATRás das paredes - 125
VIDAS DESTRUÍDAS
Mas houve quem se rebelasse contra essa filosofia, como por exemplo, os
hippies da década de 60. Adotando um estilo de vida que julgavam melhor
para o ser humano, davam uma importância toda especial ao indivíduo e à
humanidade. Infelizmente, o movimento se degenerou, partindo para o abuso
das drogas, a imoralidade e o modismo alimentar. Muitos dos jovens que ali
buscavam a liberdade, terminaram numa prisão ainda mais impiedosa. Veja-
mos o exemplo de um casal.
(
126 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
(
uma árvore. Trish estava grávida do primeiro filho e usava roupas de gestan- l
te. Peter, de cabelos longos e barba, também estava vestido com uma túnica q
uma hora, volta e meia enfiava a mão no bornal de pano e pegava pedaços de
cogumelo e os mastigava ruidosamente. Mais tarde fiquei sabendo que estava
comendo o que os hippies chamavam de "cogumelo mágico". Esse vegetal que
é cultivado em estrume de gado era tão forte que produzia efeitos alucinantes,
semelhantes aos do LSD. Então compreendi por que seus olhos estavam vidra-
dos e porque era difícil comunicar com ele.
Dirigi a ele várias perguntas, mas respondeu às mesmas sempre "filoso-
ficamente". O cheiro no ar estava tão forte, que quando Bárbara entrou para
auxiliar-me, chegou a sentir náuseas e teve que ficar com o lenço no nariz o
tempo todo. Depois ela confessou que não entendera nada do que ele dissera.
Era como se ele estivesse num planeta e ela em outro. Não admire que naque-
le dia não tivéssemos obtido nenhum progresso. Nos meses que se seguiram,
Bárbara conseguiu travar amizade com Trish e foi então que ficamos a par da
história de Peter.
Peter tinha 20 anos, era casado e servia na força aérea, quando foi envia-
do para a ilha de Guam. Sua tarefa era elaborar o mapa meteorológico para
os bombardeios B-52 e informar aos pilotos sobre as condições climáticas que
encontrariam no Vietnã, em suas missões de bombardeio. Ele sempre fora con-
trário à guerra e por isso, quando seu casamento acabou, ficando sem laços
familiares que o prendessem, abandonou a força aérea. Foi então que deu iní-
cio à longa e penosa caminhada hippie que o conduziu ao sudoeste asiático e
finalmente ao Hawai. Ali ele desperdiçou os melhores anos da sua vida, va-
gando pela ilha, mergulhado em filosofias orientais e continuamente drogado.
Conheceu Trish, uma jovem solitária e desnorteada e convidou-a para viver
com ele. Mas quando os conhecemos, ambos já estavam desiludidos com tudo,
cansados daquela vida desregrada.
Parte I l ATRás das paredes - 127
MOVIMENTO PENDULAR
FIGURA DE
AUTORIDADE
g
ROMANOS 7:21-24
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EMOÇÕES
DOR _ FUCA PRAZER
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MEDO i DESEJO
MENTE l
COMPLEXODE y~, LUÍA COMPLEXODE
INFERIORIDADE , SUPERIORIDADE
RAIVA i ORGULHO
VONTADE l
0
:
~—_ CONFÍJSÃO
REjEIÇÃO REVOLTA
ESQUIZOFRENIA
"DOENÇA MENTAL"
FIGURA19
Parte I l ATRás das paredes - 129
Nessa condição, o indivíduo pode também sentir medo de perder esse prazer,
de ficar escravizado a ele ou ambos,como ocorre no alcoolismo.
Em segundo lugar, o orgulho e a raiva podem ser os catalisadores de um
movimento pendular da mente. Por exemplo, um indivíduo pode estar lutan-
do para subir de posição na firma onde trabalha, mas sua verdadeira intenção é
provar que não é inferior aos outros, e sim superior. É o orgulho se manifestan-
do. Um dia é despedido, e passa a se sentir profundamente ferido em seu amor
próprio. Então desloca-se para o outro lado, e o que experimenta agora é rai-
va. Embora controle-se exteriormente, tão logo chega em casa, descarrega sua
agressividade interior nos familiares. Qualquer um de nós está sujeito a isso,
quando movidos pelo orgulho nos deslocamos em direção à superioridade.
Mais tarde, diante de um revés e com o orgulho ferido, veremos o sentimento
de inferioridade nos dominar de novo. Além disso, iremos extravasar a raiva e
a agressividade nos nossos entes queridos.
Nesse ponto, o terceiro elemento da alma, a vontade, fica bastante enfra-
quecida. Se a vontade for manipulada durante algum tempo pela mente e pelas
emoções, é estabelecido em nós um estado de confusão. A tensão e a exaustão
aumentam, gerando instabilidade e algum tipo de colapso, como ilustrado na
figura 20.
Em cada um desses movimentos pendulares da alma, quer ocorra pelas
emoções, mente ou vontade, o desejo, o medo, o orgulho, a raiva e outros
ingredientes vão minando as paredes da personalidade até derrubá-las total ou
parcialmente. Quando ultrapassamos os limites toleráveis de tensão e pressão,
entramos na área de colapso. É então que as paredes que erguemos podem
ruir, deixando de exercer controle sobre nossa vida, isto é, sobre as funções do
corpo, da mente e do espírito.
Tiago em sua epístola, faz referência ao "ânimo dobre" (Tg 1:6-8), que no origi-
nal significa "alma dobre". Ele quer dizer que o individuo possui "alma dupla"
ou dois conjuntos de mente, emoções e vontade. Poderíamos dizer que ele tem
duas mentes, uma em guerra contra a outra. Vemos isso na figura 20. A rejeição
seria uma dessas mentes, e a revolta a outra. Ficarmos oscilando entre uma e a
outra nos torna cada vez mais instáveis aumentando as possibilidades de sofrer-
mos um colapso. Assim, nosso equilíbrio mental e emocional se toma precário.
O contexto da palavra "ânimo dobre" do livro de Tiago revela que a causa
do problema é a incredulidade e que o "homem de ânimo dobre" é "inconstante
130 - Paredes do Meu COttf\ÇãO l Bruce Thompson
FIGURA DE
AUTORIDADE
\ IJOÃO 2:17
:
g
O MUNDO PASSA
Q
~DESEjOj
;
~~~. RÁVA ,~~~^"
i q
FUGA . LUTA
DUPLO ANIMO
(TLAGO1:7,8)
FIGURA20
Parte I l ATRás das paredes - 131
Deus tem outro método para derrubar essas paredes de rejeição e revol-
ta, um método mais eficaz, restaurador. Continuando a analisar o modo como
Deus operou em seu povo de Israel, veremos que quando nossas velhas pare-
des tombam, ele constrói novas.
APLICAÇÃO PRÁTICA
'q
l
(
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!
Nota
'Richard L. Solomon, "The Oponent-Process Theoi^y of Acqitin'd Motií'(?tli)/l",
American Psychologist, agosto de 1980.
Parte Il
A RESTAURAÇÃO
DA PERSONALIDADE
Isaías 26:1
9
RECONSTRUINDO
OS ALICERCES
"E o Senhor abaixará as altas fortalezas dos seus muros; abatê-las-á e derri-
bá-las-á por terra atéao pó"(ls 25:2).
"Naquele dia se entoará este cântico na tem de Judá: Temos uma cidade
forte: Deus lhe põe a sdmção por muros e bduartes"(ls 26:1).
OS PROFETAS MENORES
f
931a.C. 722 586 536 400a.C.
j
ISRAEL
: JONAS(NÍN1VE)
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OSÉIAS
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FIGURA21
Parte II l Reconstruindo os alicerces - 137
ilhar o que acontecera ao outro reino e de ter sido também advertida por profe-
tas cheios do poder de Deus, ainda assim não se arrependeu. Em conseqüência
disso, tanto Israel como Judá, amargaram muitos anos de escravidão sob o jugo
babilônico.
Durante o exílio dos judeus, ocorreram algumas mudanças históricas.
Primeiro, o poderio da Babilônia foi esfacelado e arrasado diante do irresis-
tível avanço do império persa. Depois, o clamor dos exilados entre o povo
escolhido, dolorosamente castigado, chegou aos ouvidos de Deus. E ele aten-
deu a esse clamor, levantando líderes que os guiassem de volta à terra dos
seus antepassados.
O Primeiro deles foi Ciro, um rei gentio que se sentiu tocado por Deus,
para proclamar um edito nos seguintes termos. Deveria ser construído em Je-
rusalém um templo ao Senhor e precisariam de pessoas para a execução da
tarefa. Para facilitar a empreitada, Ciro devolveu a eles os tesouros que foram
roubados do templo. E foi assim que 42.360 israelitas voltaram a Jerusalém sob
a liderança de Zorobabel e vários outros. Vejamos o que aconteceu depois desse
evento, que talvez tenha sido o mais importante movimento migratório de um
grupo humano que o mundo já viu!
Imagine o que essa gente deve ter sentido, quando cansados e sujos da via-
gem, chegaram à terra dos seus ancestrais e encontraram ali um montão de ru-
ínas. Esdras 3:1-6, narra a reunião de todos em Jerusalém, como um só homem,
para o primeiro grande evento daqueles dias - edificar o altar.
Para que eles pudessem adorar a Deus teriam que fazer antes o sacrifí-
cio pelos pecados do povo, como reconhecimento de que a adoração só é
aceitável ao Senhor depois que é resolvido o problema do pecado. O altar
é o lugar onde nos reconciliamos com Deus, onde começamos a assumir a
culpa pelos nossos pecados e a experimentar a redenção. Com suas diver-
sas ofertas, em especial a oferta voluntária, o altar simboliza a consagração
a Deus.
Eles ergueram um novo altar, exatamente no lugar do antigo. Esse ato
significava que restauravam e restabeleciam o antigo culto do qual parti-
ciparam seus pais. Os exilados reconheciam que se quisessem ter sucesso
na reconstrução do templo, precisariam da bênção, da graça e do poder
de Jeová. E o altar não era importante só para os exilados, mas para nós
também.
138 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson
Confissão
Sacrifício E' ,,,·' "
Arrependimento '.%. :, . , '¢:t . ::,, ü
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que nunca mais pecaremos. · · " '".'· '.· :'.-'.' ' "' "FIGURA 22
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NÓs pecamos, sim, mas mui-
tas vezes deixamos de voltar ao altar. Por causa disso, os "pecadinhos" vão se
acumulando em nossas vidas, e não confessados, ocasionam separação entre
nÓs e Deus. Depois de algum tempo, já não conseguimos mais ouvir a voz do
Senhor e nosso amor por ele começa a declinar.
E, como acontece a muitos de nós hoje, o povo de Israel aprendeu essa lição
de maneira penosa. O mato cresce de tal forma em volta do altar que este quase
desaparece no meio dele. Para encontrá-lo de novo, precisamos utilizar um
facão. Para que ocorra um avivamento, primeiro é preciso que nos arrepen-
damos, confessemos nossos pecados e voltemos ao altar. Assim tornaremos a
gozar de plena comunhão com Deus.
Todos nós, cada vez que pecarmos, precisaremos caminhar por aquela co-
nhecida estradinha que nos leva ao altar. Deus nos conclama a sermos santos
como ele é santo (I Pc 1:15) e sem santidade ninguém verá o Senhor (Hb 12:14).
Uma vez levantado o altar, sob a liderança de Zorobabel, os filhos de
Israel edificaram o templo do Senhor (Ed. 3:7-13). O templo é o local onde
adoramos a Deus, onde gozamos da comunhão com ele e uns com os outros.
Parte II l Reconstruindo os alicerces - 139
Adoração
Ações de graça
Comunhão
Contribuição
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FIGURA23
140 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
Cada um desses aspectos revela que o templo era o lugar onde os fiéis se
encontravam na presença de Deus. Os homens que ministravam no templo,
nem sempre conseguiam se manter de pé, tão intensa era a manifestação da
presença de Deus, algo que nós hoje só podemos imaginar.
Assim que os exilados concluíram o lançamento dos alicerces o povo exul-
tou jubilosamente. Muitos deles gritaram, alguns cantaram e ainda outros cho-
raram. Fizeram tanto barulho que seu vozerio era ouvido a grande distância
(Ed 3:11).
Por que aquela gente demonstrou talcomoção? Porque sabiam que o templo
significava a presença de Deus entre eles novamente. Os exilados que tinham
conhecido o templo construído pelo rei Salomão, choraram sentidamente, an-
siosos pelo momento em que a presença do Senhor voltaria a ser manifestada
entre eles, com poder e graça.
Como está o seu templo pessoal? Encontra-se em ruínas,precisando urgente-
mente de uma restauração? Será que você o negligenciou e abandonou por causa
de outras ocupações, permitindo que seja depredado? Até que ponto você consi-
dera importante experimentar a presença de Deus em seu templo diariamente?
Muitas vezes ficamos tão envolvidos na obra de Deus que não temos tempo
para ele. Precisamos entender que ele só aceita a obra das nossas mãos se ela for
fruto de uma comunhão de amor com ele. E só no templo podemos estabelecer,
cultivar, nutrir e fortalecer essa comunhão. Entretanto, com muita facilidade
acabamos perdendo essa prioridade da comunhão com Deus.
Há alguns anos, eu estava dirigindo um seminário de estudos em Penang,
na Malásia, e Deus me levou a examinar essa questão, mostrando-me que eu
estava incorrendo nesse erro.
Penang é chamada de "Apérola do Oriente" ou "Acidade dos mil templos"
e desde muito tempo tem sido uma fortaleza da idolatria. Como na Malásia
proselitar fiéis é proibido por lei, tivemos que obter uma licença especial para
que eu ministrasse o estudo às centenas de pessoas que fizeram nosso seminá-
rio. Em uma noite de muito calor, já próximo do final do trabalho que durara
uma semana, fiz um apelo para que viessem à frente aqueles que desejassem
que orássemos por eles.
Na Malásia, as culturas malásia, chinesa e indiana estão misturadas. Isso
produz uma grande beleza visual, pela diversidade do vestuário usado pelo
povo. Naquela noite, senti um imenso vazio interior que nem a beleza da cena
Parte II l Reconstruindo os alicerces - 141
parecia amenizar. Vi uma bela mulher indiana chorando e comecei a orar por
ela, mas não consegui sentir nada. Não me via tocado pelo sofrimento dela. A
mulher explicou que era divorciada e estava sofrendo a dor e a mágoa da sepa-
ração. Embora eu percebesse que Deus operava em sua alma, minha sensação
era de que estava desligado de tudo, distante dela.
Horas depois, de volta ao luxuoso quarto de hotel, senti que embora as
reuniões tivessem sido muito abençoadas, havia alguma coisa errada. Vira o
Espírito Santo libertando muita gente mas eu permanecia frio e indiferente.
Por quê? Ajoelhei ao lado da cama e pedi a Deus que me revelasse a causa da
minha dureza e indiferença. Já era quase meia-noite, e estava muito cansado
pela semana de trabalhos, mas decidido a orar.
Afinal ouvi dele:
"Bruce, você tem estado tão ocupado com meu trabalho que não tem mais
tempo para mim."
De repente, lembrei que os últimos meses tinham sido tão cheios com semi-
nários, consultas e com o ministério, que havia negligenciado o altar da comu-
nhão com ele. Meu trabalho se tornara um ídolo para mim e eu passara mais
tempo no santuário dele do que aos pés do Senhor. Vi claramente que Deus,
por sua graça, continuara a abençoar a ministração da sua palavra, por meu
intermédio. Pelo fato de ter negligenciado a comunhão com ele, ficara como
que "de fora", apenas assistindo a tudo.
Com lágrimas de arrependimento, me humilhei diante dele e achei graça
para retomar ao templo do meu coração e ali, aguardar o maravilhoso fortale-
cimento que vem da presença e do gozo do Senhor.
Depois disso, comecei a notar que são poucos os crentes que reconhecem
que a presença de Deus é um elemento vital para as suas vidas. No livro de
Salmos, Davi fala de "como são felizes ebem-aventurados aqueles que habitam
na casa do Senhor e na sua presença!" Esses desfrutam do gozo, do conforto e
das forças dados por Deus, bem como de tudo que precisam para o trabalho
dele. Quem negligencia o templo, a comunhão íntima com Deus, corre o risco
de começar a adorar outros "deuses", de cometer erros graves e de se perder
em um labirinto de idolatria e religiosidade. SÓ o contato com a presença divina
nos habilita a revelá-lo a outros.
Como aconteceu na época de Esdras, precisamos primeiro retornar arrepen-
didos ao altar de Deus e depois ter o cuidado de não abandonar seu templo.
142 - Paredes do Meu Coução l j;j l Ç l l |jç ai,' , ,
O MURO DA SALVAÇÃO
ESDRAS = RECONCILIAçÃO
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i IGURA 24
Parte II l Reconstruindo os alicerces - 143
Desde os dias da igreja primitiva, o cristão pode dar esses dois passos com
base na obra expiatória realizada por Cristo na cruz. Jesus é a "principal pedra
angular" (l Pé 2:4-8). Precisamos fazer dessa "pedra angular" nosso altar e
templo constantemente.
Enquanto não dermos ao Senhor o lugar de prioridade que ele deve ocupar
em nossas vidas, não poderemos experimentar a salvação, nem crescer espiri-
tualmente. Em resumo, olhando a figura 24, vemos que o alicerce do muro da
nossa salvação é a pedra da redenção.
"... Assim diz o Senhor Deus: "Eis que eu assentei em Sião unia pedra,
pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que
crer não foge. Farei juízo a regra, e justiça o prumo; a saraioa oarrerá o refiígio
da mentira e águas arrastarão o esconderijo'ús 28:16,17).
APLICAÇÃO PRÁTICA
CONHECER A REALIDADE
O fato de Neemias louvar a Deus em meio a uma situação difícil não signifi-
ca que ele estivesse negando a realidade da mesma. O que ele fez foi submetê-
la ao Deus que é a realidade e supera qualquer problema. Ao adorar e exaltar a
Deus pelo que ele é, Neemias estava trazendo para dentro daquela conjuntura
adversa o Deus que tudo pode!
As Escrituras revelam que Deus habita no meio dos louvores do seu povo.
Assim, quando o adoramos, ele vem até nós e habita em nosso meio. Tão logo
principiamos a vê-lo e tocá-lo, nossa fé é revitalizada, acendendo em nós a es-
perança. Então, temos uma visão correta da situação; o que antes parecia tão di-
fícil, agora tem o tamanho reduzido, assumindo suas verdadeiras proporções.
Quando Neemias começou a louvar e adorar a Deus, seu coração se encheu
de fé e ele viu a restauração das promessas do Senhor e o povo de Deus ali-
nhando a vida pelo prumo divino. Desse modo, viveu experiências semelhan-
tes às de jÓ: "Eu te conhecia só de ouoir inãs agora os meus olhos te oêein"(jó 42:5).
O que será que JÓ quis dizer com isso? Quis dizer que ouvira muitas coisas
a respeito de Deus e procurara viver de acordo com o que ouvira. Depois que
fora provado, tivera uma visão melhor de si e em meio a uma forte convicção
de pecado, arrependeu no pó e na cinza. Então clamou:
"Agora meus olhos "espirituais" te vêem!"
O que ele queria dizer era que conhecia o Deus Pai por um ângulo di-
ferente e maravilhoso. Agora estava em condição de receber a revelação. E
Deus deseja nos levar, todos nós, a ter essa condição. Mas, muitas vezes, nós
só a atingimos em meio às circunstâncias difíceis, como no caso de JÓ e Nee-
mias. Se quando estivermos atravessando um deserto, cultivarmos a atitude
de louvar a Deus, também receberemos dele a revelação da qual necessita-
mos para sermos aprovados no teste.
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 147
O MURO DA SALVACÃO
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FIGURA25
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 149
apenas em suas mentes, naquela hora passava a ser parte integrante da vida de
cada um deles.
Por que às vezes é tão difícil ir ao Pai por meio de Jesus? Por que tantos
permanecem órfãos, mesmo sabendo que Jesus está ansioso para que nos tor-
nemos filhos ou filhas do Pai por seu intermédio? Durante esses anos em que
tenho trabalhado com o aconselhamento, tenho percebido que as pessoas se
mostram temerosas, inibidas, cheias de dúvidas ou com outros tipos de bar-
reiras ao amor do Pai. A experiência que narro a seguir, pode nos ajudar a
entender isso.
BARREIRAS
Uma jovem chamada Lydia, estava fazendo o curso de discipulado da JO-
CUM. Nas primeiras semanas manteve-se sempre silenciosa e muito atenta às
aulas. Certo dia, demos a oportunidade aos alunos para darem seus testemu-
nhos perante a classe e Lydia logo se dispôs a falar:
"Sou de uma família grande, somos oito filhos", principiou ela em voz su-
ave mas clara.
Estávamos num galpão aberto e todos silenciaram para ouvi-la. A quietude
reinante era perturbada apenas pela algazarra dos pássaros nos coqueiros.
"Quando eu ainda era adolescente, minha mãe adoeceu e o diagnóstico foi
câncer em fase terminal", continuou ela. "Tive que parar de estudar para cui-
dar da casa. Fiquei muito chateada por não poder terminar os estudos e me
formar com meus colegas. Alguns meses depois, minha mãe morreu e como
eu era a mais velha, tive que assumir a tarefa de cuidar dos outros irmãos. En-
frentei uma luta muito grande para compreender por que Deus deixara minha
mãe morrer, mas todos os dias papai lia a Bíblia para nós e isso me confortava."
Aqui, a jovem fez uma pausa e correu os olhos pelo galpão lotado.
Certa noite, meu pai me chamou para ir ao quarto dele", continuou ela he-
sitante. "Disse para mim que uma das minhas novas atribuições seria tomar o
lugar da minha mãe como companheira."
Lydia limpou algumas lágrimas e explicou com voz sufocada que então
começara a ter uma relação incestuosa com o pai. Dava para perceber que todos
os presentes se sentiam fortemente abalados com a revelação. Algum tempo
depois ela engravidou e o pai disse que a criança seria como um irmãozinho ou
irmãzinha para eles.
150 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson
Ainda durante a gravidez, em conversa com uma das irmãs mais novas,
Lydia ficou sabendo que ela também estava sexualmente envolvida com o
pai. Ambas desejavam confiar nele, mas se viam atormentadas por um forte
complexo de culpa. Quanto mais conversavam, pior se sentiam. O período da
gravidez para Lydia foi marcado por uma densa nuvem de sentimentos de
vergonha e culpa, anulando qualquer tipo de alegria que pudesse sentir em
relação ao fato de tornar-se mãe.
"Comecei a ter raiva do meu pai", prosseguiu ela. "Mas depois de um pe-
ríodo de revolta contra ele, ficava como que numa montanha russa, num mo-
mento sentia ódio por ele e em outro, amor. Comecei a experimentar um desejo
cada vez mais forte de fugir, de largar para trás aquelas pressões conflitantes
que me deixavam confusa e deprimida."
A moça explicou que seu pai percebera seu conflito interno e tentou dominá-
la, ora com ameaças verbais, ora com promessas de recompensas. Sua única sa-
tisfação era o profundo amor que sentia por Joey, seu filhinho recém-nascido que
assim que cresceu um pouco mais, foi informado de que era seu irmãozinho.
Afinal, a jovem chegou a um ponto em que a situação se tornou insupor-
tável. Fez uma trouxinha com alguns pertences e pegou uma pequena quantia
em dinheiro que ajuntara secretamente durante algum tempo, já prevendo que
a fuga seria inevitável. Aí sua cabeça se encheu de dúvidas. Era a batalha entre
o pavor de ficar e o sentimento de culpa que a dominava quando pensava em
ir embora. Seus irmãos haviam sofrido tanto com a morte da mãe! Agora a
"outra" mãe que tinham desapareceria subitamente, levando o "irmãozinho"
mais novo.
"Como é que eu poderia fazer uma coisa dessas? Por outro lado, como po-
deria ficar?"
Lydia disse isso chorando, revivendo a dor que sentira. E foi soluçando que
ela contou que pegara o filho e saíra silenciosamente de casa, deixando o lugar
onde vivera.
Viajou para outra parte do país, onde ficou morando com uma antiga colega
da escola. Assim que arranjou um emprego, alugou seu próprio apartamento.
SÓ então escreveu ao pai, explicando por que fugira e dizendo que ela e o "ir-
mão" estavam bem.
Em seguida, Lydia contou como fora parar na escola da JOCUM. Contudo,
ainda lutava com um profundo e interminável sentimento de culpa. Temia que
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 151
terra santa. Estávamos vendo o Deus Pai assumindo a paternidade para mãe e
filho, levando-os a conhecer a realidade do seu caráter e a beleza do seu amor.
E assim, Lydia teve um conhecimento pessoal do Pai e isso mudou toda
sua vida. Tal foi essa transformação, que mais tarde ela fundou um poderoso
ministério para vítimas de incesto. Chegou inclusive a dar seu testemunho em
programas de rádio e televisão, falando de como Jesus a levara ao Pai e como
a restaurara por meio do seu amor. Tempos depois ela se casou com um rapaz
crente. Í
Como tem acontecido a muitos de nós, a imagem que Lydia tinha da pa-
ternidade fora seriamente maculada pela lascívia. Por isso, ela ficara com uma
visão também distorcida de Deus Pai. Não existe ninguém neste mundo que
tenha sido mais difamado, mais mal representado que Deus Pai. Ele tem sido
alvo de mentiras e falsas acusaçõe. E, naturalmente, tudo isso é engendrado
por Satanás. O Senhor atribuiu aos pais terrenos a missão de representar a sua
paternidade. Entretanto, eles cometem todo tipo de erro, desde ignorar os fi-
lhos até espancá-los até a morte. Não admira que o conceito de paternidade
esteja tão aviltado hoje em dia.
Em capítulos anteriores, mencionamos que as pessoas podem sofrer de ca-
rência afetiva devido à aplicação de um falso prumo humano em suas vidas.
Pois bem. Quando Jesus nos leva ao Pai, essa lacuna é preenchida e podemos
experimentar a segurança do amor divino, sem que busquemos o amor em ou-
tros. Mas, se tivermos uma imagem distorcida de Deus Pai devido às experiên-
cias negativas e dolorosas, nossa carência afetiva irá aprofundar-se ainda mais.
IMAGENS DISTORCIDAS
Compreendi o quanto precisamos conhecer o verdadeiro caráter do Pai
quando aconselhei uma jovem senhora chamada Molly. Embora ela e o mari-
do fossem crentes dedicados, tinham decidido ficar separados por uns tempos
devido aos conflitos conjugais. Ela me explicou que quando tinha oito anos de
idade, seus pais separaram e ela ficara com o pai. Certo dia, dissera a ele que
gostaria de morar por um tempo com a mãe também, mas o pai, que não estava
bem de saúde, respondeu que se ela fosse, ele morreria. Dividida entre o desejo
de ir e o temor de que o pai morresse, Molly resolveu deixar para mais tarde.
Alguns anos depois, ela foi embora. Mas, para tristeza sua, enquanto estava
distante, seu pai morreu. Agora, dominada pelo sofrimento, pela angústia e
Parte II l Descobrindo quem é nosso Pai - 153
sentimento de culpa, Molly acreditava que seu pai morrera porque ela se afas-
tara dele.
CONFIAR NO PAI
Durante muitos anos, a imagem que Molly tinha da paternidade divina
fora inspirada em seu próprio pai. Por isso, em vez de confiar em Deus Pai,
tinha medo dele. Assim que casou, todos seus temores e desconfianças vieram
à tona. Embora empregasse um vocabulário cristão correto, notava-se que suas
palavras provinham da cabeça e não do coração. Lemos em Provérbios 23:7 que
como imaginamos em nosso coração, assim somos. Não é em nossa cabeça que
Deus aplica o seu prumo e sim, em nosso coração, pois é ele quem determina a
forma como viveremos.
Quando Molly concluiu seu relato, estava claro que sua falta de confiança
havia afetado seriamente o relacionamento com seu marido. Então oramos e
permanecemos na presença do Senhor, aguardando sua direção. Ele nos mos-
trou que o pai dela, ao usar a chantagem emocional, havia manipulado o amor
da filha. Depois, com grande mansidão, o Pai falou ao coração de Molly. Mos-
trou-lhe que ela adotara uma atitude de desconfiança em relação a tudo e ago-
ra, precisava assumir a responsabilidade por essa reação errada, perdoando o
pai e a si mesma. E ela o fez. Arrependeu-se e chorou. Deus penetrou no fundo
do seu ser e curou a mágoa profunda que havia em seu espírito.
O que acontecera àquela jovem senhora? Ela conhecia Jesus e o Espírito
Santo, mas enxergava o Pai, pelas lentes distorcidas da imagem do seu pai ter-
reno. No dia em que oramos, Deus a libertou dos seus temores e desconfianças
e assim teve início para ela, a maravilhosa aventura que é conhecer Deus Pai!
Inclusive, seu casamento foi restaurado.
Como sucedeu a Lydia e a Molly, todos nós, ao iniciarmos nossa caminhada
cristã, criamos nossas próprias imagens do Pai. É possível que nossa mãe te-
nham morrido de câncer quando éramos pequenos ou que nossos pais tenham
se separado e tenhamos sido criados por outras pessoas. Pode ser também que
tenhamos convivido com uma mãe alcoólatra ou com um pai que era um exem-
plo de homem trabalhador mas nunca tinha tempo para cultivar conosco o
relacionamento pessoal de que tanto precisávamos.
Então, vivendo em situações iguais a essas e a inúmeras outras, que tipo
de imagem teríamos de Deus Pai? Que tipo de prumo há em nosso coração?
154 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
O Salmo 139 revela bem a verdadeira natureza do nosso Deus Pai. Nele estão
delineadas belíssimas facetas da natureza do Pai celeste que é justo em todos os
seus caminho e benigno em todas as suas obras. De acordo com esse texto, ele é:
APLICAÇÃO PRÁTICA
Como era a imagem de Deus Pai que você formou quando era criança?
Como é a imagem que você tem dele agora?
Procure lembrar os principais momentos em que teve conhecimento sobre
a paternidade divina.
11
O PADRÃO
ESTABELECIDO POR DEUS
Oevangelista D. L. Moody afirmou certa vez que a melhor maneira de
demonstrar que uma vara está torta não é denunciando o fato, nem
ficar discutindo a respeito dele. O melhor a fazer é colocar ao lado des-
sa vara, outra perfeitamente reta. Neste capítulo, examinaremos outra faceta
do padrão estabelecido por Deus, sua vara reta, que representa o indestrutível
amor de Cristo e tudo que esse amor abrange.
"Arrependei-oós porque está próximo o reino dos céus" (Ml 3:2). Essas palavras
ressoavam com grande clareza e poder, eletrizando as multidões que acorriam
ao deserto, provenientes das localidades próximas ou de pontos distantes.
Aquela figura austera, cujo vestuário era tecido de pêlos de camelo não media
palavras quando desafiava todos a viverem segundo os padrões estabelecidos
por Deus. Neemias, por exemplo, adotara esses padrões centenas de anos an-
tes, ao receber a desagradável notícia que sua pátria estava devastada. Depois
de jejuar e orar, ele teve uma revelação da sua condição, expressando seu arre-
pendimento com estas palavras: "Faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel
que temos cometido contra ti; pois eu ca casa do meu pai temos pecado" (Ne 1:6).
Já vimos que ao edificar o muro da salvação do qual fala Isaías 60:18, precisa-
mos fixar na pedra angular algumas barras de ferro para dar sustentação, esta-
bilidade e durabilidade a essa construção. No capítulo anterior, verificamos que
a primeira delas é a reoelação. Examinaremos agora a segunda, o arrependimento.
Notemos que no processo de arrependimento, Neemias citou também os
pecados que ocasionaram a ida dos seus antepassados para o exílio. Também
158 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
nós, precisamos procurar saber quem são nossos ancestrais, que, segundo creio,
não seriam apenas os antepassados de fato,mas ainda, as figuras de autoridade
que afetaram nossa vida de forma significativa.
Alguém poderia indagar se o fato de Neemias se arrepender por seus ante-
passados teria algum valor, já que a maioria deles àquela altura estavam mor-
tos. É que quando ele estava na presença do Senhor, além de ter unia revelação
sobre o Deus Pai, foi conscientizado também dos seus pecados e dos pecados
dos seus pais. Mas não os culpou nem acusou outros. Pelo contrário, reconhe-
ceu que "Deus visita o pecado dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos" (Nin 14:18).
Compreendeu que "seus ancestrais haviam comido uvas verdes e os dentes
dos filhos estavam embotados". O que ele poderia fazer? Assumiu a respon-
sabilidade não apenas dos seus próprios pecados mas também dos pecados
do seu povo. Foi com essa atitude que buscou a Deus. Com esse gesto, ele
estava tipificando Jesus, fazendo o que ele mais tarde faria na cruz quando le-
vou sobre si nossos pecados, para que pudéssemos ser libertos. Se nÓs também
praticarmos esse princípio bíblico, poderemos mudar não somente nossa vida,
mas ainda a de gerações que estão para nascer.
Se os avós de Neemias tivessem arrependido dos seus pecados, nem eles,
nem as gerações posteriores, teriam sido levadas ao exílio da Babilônia, onde
permaneceram por vários anos no cativeiro. SÓ o arrependimento, isto é, a mu-
dança total da nossa maneira de viver, pode operar uma verdadeira transfor-
mação em nossas vidas.
Podemos definir o verdadeiro arrependimento como uma firme decisão
interior, uma mudança de pensamento. O termo grego usado no Novo Tes-
tamento que em nossa língua é traduzido como "arrepender" é "metanOia", e
significa "mudar de idéia'". Trata-se, portanto, de uma decisão e não de uma
emoção.
de nos proteger das diversas agressões que sofremos na vida. Quando nos ar-
rependemos de nossos pecados, as paredes caem, e assim podemos edificar o
muro da salvação seguindo o prumo divino.
Que associação tem o problema da rejeição com os pecados de nossos pro-
genitores? NÓs não somos culpados pelos atos de rejeição sofridos na infância.
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160 - Paredes do Meu Corutção l Bruce Thompson
numa cruz horrenda para nos comprar, e pagou com seu próprio sangue, para
nos salvar do pecado e da morte. Não existe moeda que tenha o valor do preço
pago por ele. As Escrituras afirmam: "Ninguém tem maiorainor do que este: de dar
alguém q própria vida em favor dos seus amigos" (Jo 15:13). Diante desse fato, cada
um de nós deve entender esta verdade: Nosso odor é inestimável.
"Ao irmão, oerdadeiraniente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele q
Deus o seu resgate, Pois a redenção da dina deles é caríssima e cessará a tenta-
tioa para sempre" (S! 49:7,8).
Deus declara aí em termos claros que nem toda a riqueza do mundo seria
suficiente para comprar um de nós. SÓ o sangue de Jesus vale isso. Portanto,
aos olhos de Deus, nós valemos mais do que toda a riqueza deste mundo. En-
tão, quando alguém afirma que não tem valor e que é inferior ou indigno, não
está expressando o que Deus pensa.
Quando pergunto aos alunos se eles reconhecem que o valor de cada um
é inestimável, poucos respondem afirmativamente. Se indago quantos deles
já disseram internamente que seu valor é incalculável, o número dos que dão
uma resposta positiva é ainda menor. O que isso demonstra? Demonstra que
a incredulidade existente em nossos corações, nega a visão de Deus sobre o
valor de cada um. O pecado que mais pesa no processo de rejeição é esse falso
conceito, ou incredulidade.
A maioria das pessoas tem mais facilidade para aceitar o condicionamento
que vem dos pais e da sociedade - mais o reforço que as profundas emoções
dão a esse pensamento - do que crer no amor de Deus por nós. Dando crédito
a tais mentiras, na realidade estamos cometendo o pecado da incredulidade.
A descrença que abrigamos no coração, ainda que não manifesta, nega a afir-
mação divina de que nosso valor individual é inestimável! Isso faz com que o
amor dele nos pareça mera teoria, algo distante dos nossos corações. Dando ré-
deas soltas à incredulidade, estamos, de fato, concordando com o velho prumo
humano da rejeição e pondo de lado o prumo divino.
O que determina o valor de um indivíduo não é seu sucesso na vida, suas
realizações, seu desempenho profissional, seus empreendimentos e nem més-
162 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
O PECADO DA INCREDULIDADE
A incredulidade nasceu no jardim do Éden quando Satanás descobriu um
meio de enganar Eva, levando-a a duvidar de Deus. Até hoje a incredulidade
continua insidiosa. Ainda é o pecado básico, a pedra fundamental sobre a qual
se assenta a parede da rejeição. Tanto a personalidade do "Cordato" quanto a
do "Derrotista" que analisamos no capítulo sete, apOiam-se na base da incre-
dulidade.
Aos olhos de Deus, o pecado da incredulidade é tão grave que toda uma
geração de israelitas foi considerada indigna de entrar na terra prometida que
seria sua herança, por ter sido incrédula (Hb 3:16-19). Apenas Josué e Calebe
creram. Os outros duvidaram do poder de Deus e morreram no deserto.
e hoje, muitos crentes deixam de receber sua herança pela mesma razão, a
incredulidade. A vida deles é uma verdadeira peregrinação no deserto. Vêem-
se constantemente importunados por dúvidas, desconfianças, desânimo, auto-
rejeição e até auto-depreciação. Incapazes de atingir suas metas, de realizar
seus sonhos e desejos, encontram-se perdidos no deserto da desilusão e da
dúvida.
O PECADO DA REBELIÃO
Quando uma pessoa adota a revolta como base para sua vida, a parede que
ela constrói é a da rebelião, cuja pedra angular ou o pecado básico é o orgulho.
As personalidade do "Competitivo" e do "Crítico" apOiam-se sobre a soberba da
vida. O orgulho é a atitude de não querermos ser vistos como realmente somos
e também de nos mostrarmos como não somos. "Deus resiste ao soberbo" (I Pé 5:5)
e chegará o dia em que o "abaterá" (Is 2:12). Algumas pessoas têm a impressão
de que Deus está contra elas; mas não apenas isso, ele resiste a elas também. Na
verdade, ele está resistindo ao orgulho que elas abrigam no coração.
Tomemos por exemplo o caso de Jack. Depois que ele converteu e entregou
seus negócios a Deus, passou por várias crises. Surgiram conflitos entre ele e a
esposa e seu relacionamento familiar deteriorou. Avida dele foi de mal a pior e
sofreu um duro revés que afetou tanto a família como seus negócios. Jack com-
Parte II l O padríío estabelecido por Deus - 163
preendeu que Deus estava tocando na questão do orgulho que regia diversos
aspectos da sua vida. Assim que ele se dispôs a cooperar com Deus e não dar
lugar ao orgulho, as circunstâncias começaram a mudar. Em pouco tempo, Jack
encontrou uma nova perspectiva de vida. Essa verdade que ele aprendeu é
importantíssima para a nossa caminhada com Deus. Ele se dispôs a humilhar-
se e assim, deu o primeiro passo para ser liberto dos falsos prumos humanos.
Se quisermos saber se o orgulho está dominando a nossa vida, devemos
responder com toda sinceridade às seguintes perguntas:
O QUE É A HUMILDADE
A humildade é uma qualidade do amor. "Se dissermos que amamos a Deus,
mas não amamos nosso irmão ou irmã, coino pode permanecer nele (em nós) o amor
de Deus?"(1 Jo 3:17). Assim como meu amor por Deus é evidenciado no amor
que tenho por meus irmãos, assim também minha humildade para com Deus
se manifesta em meu relacionamento com os outros. Nossa reação instintiva
em relação a humildade é rejeitá-la, nos retraindo diante dela. Não temamos
abraçá-la. Pelo contrário, devemos estar dispostos a deixar que os outros nos
vejam como realmente somos.
164 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson
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Parte II l O padríío estabelecido por Deus - 165
"Confessai, pois, os dossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos ou-
tros, para serem curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo"
(Tg 5:16).
APLICAÇÃO PRÁTICA
Notas
'W. E. Virte, The Expanded Vine's Expository Dictionary of Ncu) Testainent Wor-
ds, Minneápolis, Bethany Publishers, 1984.
'Vine's Expository Dictionary, op. Cit.
12
O CORAÇÃO
ATORMENTADO
A gora que já analisamos a fase inicial do arrependimento, vamos estudá-
10 como um processo que transforma todo nosso viver. eremos que o
arrependimento bíblico é mais abrangente do que qualquer outro tipo
de transformação de vida. Compreenderemos ainda que ao exercitarmos fé,
acionamos a chave que abre as comportas das bênçãos de Deus para nós!
O primeiro elemento básico do arrependimento está relacionado com a
cruz. Jesus disse: "Se alguém quer oir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia
tome sua cruz e siga-me" (Lc 9:23). A maioria das pessoas nunca aceitam o apelo
divino para que aplique essa verdade em suas vidas. O que o Senhor quis dizer
quando fez essa declaração? Veremos na figura 28, como o velho homem pode
chegar a ser um novo homem. Adão representa a síntese da incredulidade e
do orgulho que herdamos ou desenvolvemos na vida. A única maneira de nos
livrarmos desses dois pecados, bem como de todos os outros que Cristo levou
sobre si é pregando-os na cruz. Para isso, temos que nos considerarmos mortos
para eles. Depois, em lugar da incredulidade, acatamos a declaração divina
acerca do nosso verdadeiro valor, e pela fé nos apropriarmos da verdade a nos-
so respeito. Por fim, passamos a aplicá-la na vida prática.
Tiago afirma que "q fé sem obras é inoperante" (Tg 2:20). A mera aceitação
mental da verdade sem uma aplicação diária na vida prática não adianta nada.
É muito importante a operação da fé. Ela nos transfere do prumo da rejeição
para a auto-aceitação e para o senso de valor próprio que estão alinhados pelo
prumo de Deus. Se o alicerce sobre o qual estamos firmados é o orgulho, as chã-
168 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
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Parte II l O comção atormentado - 169
vês para sairmos dele são a humildade e a confissão. A confissão dos pecados
traz à luz questões mais profundas do coração, e a humildade mantém aberta
a porta das nossa vida para que nela opere uma transformação verdadeira. Vi-
vendo na luz perante os outros, aplicamos um golpe mortal na raiz do orgulho.
Quando temos a humildade de confessar pecados, anulamos o controle que o
orgulho exerce sobre nós. O apelo que está diante de nós é que "nos despojemos
dos oelhos e indesejáoeis trajes do orgulho e da incredulidade, e nos reoistemos do traje
11000 e desejável' (C! 3:8-10). Contudo não é a uma ginástica mental que nos
referimos, e sim, a uma operação do poder de Deus em nós que processará
a transformação, por intermédio da vitória conquistada na cruz! Aquele que
exercita a fé na obra consumada por Cristo obtém a vitória!
Assim que começamos a promover essas mudanças, defrontamos com re-
sistências interiores, como vemos na figura 29. Nessa ilustração, a máquina
representa o espírito; o vagão de carga, a mente; e o carro que leva os operários,
N&S
+ ARREPENDIMENTO10 KM
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170 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
EMOÇÕES DESCONTROLADAS
Quem nunca viu casos como o de um rapaz que saiu de casa intempesti-
vamente, pegou a motocicleta e partiu a toda velocidade fazendo um barulho
infernal? No dia seguinte, os jornais publicam o resto da história, com a se-
guinte manchete: "Quatro mortos em colisão de alta velocidade". Da mesma
forma, quando nos deixamos controlar pelas emoções,corremos o risco de nos
envolvermos em sérios acidentes.
Aqui no ocidente, toda hora vemos as trágicas consequências desse mal que
são as emoções descontroladas. Em muitos países, o suicídio é a principal causa
de morte entre os jovens. A depressão está atingindo proporções epidêmicas,
dando mostras dos danos que ela pode causar a uma sociedade que dá a ela
liberdade de ação.
Na ilustração da figura 30, podemos compreender bem a forte resistência
que sofremos quando decidimos arrepender ou dar meia volta.
O primeiro trem, no alto, o qual poderíamos denominar de "trem hu-
manístico", mostra nossa condição quando deixamos que as emoções as-
sumam controle. O de baixo, representa a posição do equilíbrio que dese-
jamos e que alcançamos quando o nosso espírito é guiado pelo Espírito
Santo e as emoções passam para o vagão de trás. Mas o que acontece du-
rante a transição?
Como mostra o desenho do trem que está fazendo a curva, as emoções fi-
cam "arrepiadas" como um gato acuado num canto, arreganham os dentes,
tentam arranhar e rosnam ameaçadoramente, procurando se defenderem. Se
não tomarmos providências para a interrupção do processo, elas podem até
provocar um colapso nervoso. É que se tornam inseguras e irritadas com a
possibilidade da perda do controle sobre nós.
Parte II l O comção atormentado - 171
OS TRENS DA VIDA
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O TREM RACIONALISTA
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O MURO DA SALVAÇÃO
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Parte II l O comção atormentado - 175
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AUTORIDADE
do que Deus fará o mesmo conosco se não perdoarmos nossos irmãos de todo
o coração.
Com base nessa história, podemos concluir que o rancor constitui um ali-
cerce sobre o qual é construído o tormento interior. Deus não nos criou para
guardarmos ódio, rancor e ressentimento. Se insistirmos em cultivar tais senti-
mentos, estaremos expostos e padeceremos de enfermidades de natureza espi-
ritual e física. Vejamos uma ilustração clara na figura 32.
Parte II l O coruíção atormentado - 177
A ÚNICA SOLUÇÃO
Como já dissemos, a única solução para se interromper essa espiral destru-
tiva é humilhar e confessar. Primeiro temos que reconhecer nossos ressenti-
mentos abertamente e com toda sinceridade. Em seguida, precisamos perdoar
os ofensores sem reservas. Quando expressamos verbalmente esse perdão, o
que é um passo muito difícil, podemos estar iniciando o processo para perdoá-
los de todo coração!
178 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
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1. VENDOAFIGURADE AUTORIDADE
2. VENDODEUS NAFIGURADEAUTORIDADE
3. VENDO DEUS CORRETAMENTE FIGURA33
Muitas vezes, o aspecto mais difícil nessa questão é perdoar a nós mesmos.
Mas, quando conseguimos fazê-lo e ao chorarmos amargamente, as feridas do
coração cicatrizam. É verdade que tais cicatrizes nunca desaparecem totalmen-
te e as manchas das lágrimas que caem no delicado tecido das nossas emoções,
em geral são permanentes. Entretanto, quem se obstina em não perdoar, sem o
saber, está optando por uma vida atormentada.
Parte II l O comção atormentado - 179
APLICAÇÃO PRÁTICA
Examine sua vida e veja em que tipo de trem você tem embarcado.
Relembre algumas experiências de arrependimento.
Já se sentiu atormentado por ter guardado rancor de alguém? Como foi sua
libertação?
13
DERROTANDO
O INIMIGO
"osso maior adversário na iniciativa para a reconstrução dos muros da
salvação é o próprio Lúcifer. Algumas pessoas o vêem como mera cria-
_ ção da imaginação humana. Outros o retratam como o senhor deste
mundo e que um dia será adorado como tal. Seja qual for a visão que temos
dele, o certo é que Satanás continua sendo um adversário temível, com uma
sórdida folha corrida. A Bíblia afirma claramente que ele está vivo e em plena
atividade no mundo. Ele segura em suas garras uma multidão de seguidores,
que com a aproximação do fim desta era, prestará a ele cada vez mais obedi-
ência, conferindo-lhe maior autoridade. E será nessa ocasião também que "o
amor de muitos cristãos esfriará" (Mt 24:11-13).
Quando Neemias resolveu obedecer ao chamado de Deus para reconstruir
os muros de Jerusalém, também teve que enfrentar a astúcia do inimigo. Estu-
dando os problemas com os quais defrontou, reconheceremos muitas das es-
tratégias que Satanás emprega para atrapalhar e frustrar os projetos que Deus
confiara a seu servo. Veremos, então, que outra barra de reforço a ser colocada
na principal pedra angular é a identificação das estratégias satânicas. Em nossa
luta contra Satanás, antes de mais nada, precisamos aprender a reconhecer suas
estratégias, para que assim possamos frustrar suas operações.
RAIVA E MEDO
Em Neemias 4:1-7, encontramos os principais agentes de Satanás: Sambalá,
Gesém e Tobias. Quando esses homens souberam da intenção de Neemias, de
182 - Paredes do Meu CoRAção l Bruce Thomi'son
O MURO DA SALVAçÃO
NEEMIAS = RESTAURAçÃO
ESDRAS = RECONCILIAçÃO
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FIGURA34
Parte II l Derrotando o inimigo - 183
ZOMBARIA
Outra estratégia do inimigo é a zombaria, própria do indivíduo que reprime
sua agressividade. Os adversários de Neemais zombaram dele e o atormenta-
ram, acusando-o falsamente de estar insurgindo contra o rei Artaxerxes (Ne 2:19)
que na verdade, já havia dado permissão para a realização do projeto. Sambalá
chegou ao cúmulo de acusar Neemias, de estar tentando subornar Deus (Ne 4:1-
3). Era um ataque sutil às próprias bases de Neemias, semelhante à tática que
Satanás empregaria com Jesus mais tarde, tentando-o no deserto, quando citou
as Escrituras de forma ardilosa (Mt 4:3,6). Satanás usa a verdade, distorcendo-a à
sua maneira, e com esse artifício tem conseguido dividir a igreja e enfraquecê-la,
destruindo sua unidade, como sutilmente tentou fazer com Neemias.
Enquanto Sambalá zombava deles, dizendo que seus esforços eram inúteis,
Tobias tentava depreciar a habilidade e a capacidade do povo. Mas ele esque-
cera de que a maioria daqueles homens vivera anos em cativeiro, sujeitos a
184 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
CONFUSÃO E MENTIRAS
Outra estratégia que o "pai da mentira" gosta de empregar para nos de-
sequilibrar e nos colocar fora de ação é lançar sobre nós confusão e mentiras.
Em Neemias 4:8, Sambalá, Gesém e Tobias entraram em acordo com outros
povos da vizinhança para se infiltrarem entre os construtores judeus, lançando
Parte II l Derrotando o inimigo - 185
FALSOS AMIGOS
Outra cilada que o inimigo pode utilizar são as falsas amizades que fazemos
com facilidade, e que com a mesma facilidade nos traem. O sacerdote Eliasabe
traiu Neemias numa ocasião em que fez uma viagem. Eliasabe cedeu a Tobias,
inimigo de Neemias, um espaçoso cômodo no templo, para que ele o utilizasse
como quarto (Ne 13:4-9).
Essa história revela uma clássica estratégia de Satanás. Ele se aproveita da
nossa ligação com as coisas do mundo, para através disso estabelecer uma base
sua em nosso coração. Não podemos amar a Deus e ao mundo, pois a amizade
do mundo é inimizade com Deus (I Jo 2:15,16).
Ao chegar de viagem, com todo vigor, Neemias reprovou imediatamente a
concessão que Eliasabe fizera a Tobias. Pegou os seus pertences, atirando-os na
rua. Precisamos estar cientes de que não podemos ter misericórdia ao lidar com
186 - Paredes do Meu Coruíção l Bruce Thompson
O MURO DA SALVAÇÃO
NEEMIAS = RESTAURAÇÃO
ESDRAS = RECONCILIAÇÃO
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Parte II l Derrotando o inimigo - 187
as infiltrações do inimigo, nem fazer concessões. Ele não tem o menor interesse
por nós. O grande intuito de Satanás, um adversário sempre disposto a nos de-
vorar, é que sejamos apanhados em suas armadilhas. Ele tem destruído muitos
crentes e até ministérios poderosos através de associações com falsos amigos.
INFLUÊNCIA DEMONÍACA
A meta suprema de satanás é nos endemoninhar. Para isso, nos leva a con-
descender com o maior número possível de instituições, pessoas e desejos. O
termo "endemoninhar" é tradução literal do vocábulo grego daimonizoniai, que
significa ser influenciado ou contro!ado por um demônio.' Dessa fora, Satanás entra
no coração de uma pessoa e assume o controle do seu ser. Quanto mais espaço
dermos a ele em nossa vida, mais campo ele terá e mais autoridade exercerá.
Assim que percebermos que há alguma presença demoníaca em nós, tenhamos
a mesma atitude de Neemias: retomar os espaços a ele concedidos, não acei-
tando mais, nem por um instante, a idéia de fazer tais concessões. "Guardemos
com toda diligência nossos corações, pois dele procedem as fontes da oida" (Po 4:23).
RENÚNCIA
Agora que já identificamos algumas estratégias satânicas contra as quais
temos de nos precaver, precisamos saber como agir com o inimigo assim que
descobrirmos sua atuação em nossa vida. Como já mencionamos, o primeiro
passo no sentido de anular a atividade satânica é reconhecer sua operação em
nós. O segundo é renunciar essa atuação. Arenúncia é, então, a barra de reforço
que fixaremos a seguir na pedra fundamental.
situação, temos de recorrer ao Ser mais poderoso que existe! O inimigo pode
até estar acima de nÓs em relação à astúcia, mas não é páreo para o nosso Deus!
vio desnecessário com seu grupo social acabam se curvando à influência dele.
Até o rei Saul cedeu diante das pressões sociais e por causa disso perdeu a
posição de liderança que ocupava em Israel (I Sm 14:13-15). Outros reis e juí-
zes também não romperam a associação com o inimigo, e como consequência
desse erro não realizaram a missão proposta para a vida deles. "Há o momento
de abmçare outro de afastai' do abraço" (Ec 3:5). Nosso constante desafio na vida é
aprender a discernir qual a reação correta diante das circunstâncias que vive-
mos no momento.
NEEMIAS GUERREOU
Os inimigos dos judeus ameaçaram matá-los caso continuassem a recons-
truir as muralhas. Contudo, já sabemos que tais ameaças não intimidaram
Neemias. Pelo contrário, fizeram com que ele se preparasse para a luta. Ele
determinou que metade dos homens e até algumas famílias permanecessem
de guarda, todos armados, enquanto outros se dedicavam ao serviço, munidos
de espadas.
Vemos que além de Neemias estar firmemente decidido a realizar a obra,
reconhecia que tinha que guerrear. Tinha consciência de um fato que todos
precisamos reconhecer - estamos em guerra. Temos um inimigo que deseja nos
derrotar e que só nos dará trégua se aceitarmos os seus termos. A única ma-
neira de vencermos esse combate é tornando-nos soldados de primeira linha.
Portanto é necessário nos revestirmos com a "armadura de Cristo",nunca nos
embaraçarmos "com os negócios desta vida", mas empenhar apenas em "vi-
giar, combater e edificar sob o comando dele" (II Tm 2:3,4).
Como nossa guerra não é travada no plano físico, mas no mundo es-
piritual, invisível, temos que utilizar armas adequadas para esse tipo de
combate. Paulo ensina que "tais armas não são carnais mas poderosas para des-
truir fortalezas" (11 Co 10:3-5). Examinemos algumas delas e vejamos como
temos que manejá-las.
O NOME DE JESUS
Quando empregamos o nome de Jesus na guerra espiritual, estamos nos co-
locando em posição de combate, ao lado das forças dele. Estamos lutando pela
verdade, justiça e retidão. "O poder do nome dele é superior a todo o poder do
inimigo"(Lc 10:19; Fp 2:9,10; Ef 1:21).
Parte II l Derrotando o inimigo - 191
O SANGUE DE JESUS
Em Apocalipse 12.11, temos a seguinte afirmação: "Eles, pois, o oencerani por
causa do sangie do Cordeiro". Isso faz referência à grande vitória que Jesus con-
quistou na cruz sobre o pecado, a morte e o diabo. Ele derramou seu sangue em
nosso lugar, nos dando condições legítimas para sermos libertos do domínio
do diabo. Jesus derramou seu sangue por nós e à vista dele, o inimigo foge.
A PALAVRA DO TESTEMUNHO
A outra arma mencionada em Apocalipse 12.11 pela qual temos vitória é a
"palavra do testemunho". Na ocasião em que Jesus passou quarenta dias em
jejum, no deserto, demonstrou o poder da Palavra ao replicar às tentações do
diabo (Mt 4:1-11). Ele brandiu a Palavra com grande habilidade, como se ela
fosse uma espada. Resistindo às tentações de Satanás, forçou-o a "bater em
retirada". A Palavra de Deus é a verdade. Quando cremos nessa Palavra e a
confessamos diante do inimigo, essa verdade nos liberta (Jo 8:32).
A ARMADURA DE DEUS
Em Efésios capitulo 6, Paulo ensina que temos que nos revestirmos com
toda a armadura de Deus, para que possamos ficar firmes na guerra, contra os
poderes das trevas. Cada peça dessa armadura é importante!
O capacete da salvação.
A couraça da justiça.
O cinto da oerdade.
O calçado do emngelho.
O escudo da fé.
A espada do Espírito.
e pôs-se a emitir sons guturais, com o rosto desfigurado pelo ódio. Pegou uma
cadeira, ergueu-a bem no alto e veio avançando em nossa direção. O ambiente
logo ficou tenso. Uma das pessoas presentes ficou paralisada de pavor, mas
os outros lançaram mão das armas de guerra espiritual. Começamos a clamar
pelo sangue de Jesus e a afirmar o poder do seu sangue,e em um dado instante,
quando o homem estava a poucos passos de nós, parou, como que detido por
mãos invisíveis. A cadeira tombou no chão e com um grito estridente, caiu
sobre o tapete, chorando convulsivamente como uma criança.
Ajoelhamos ao seu lado e ele confessou que vinha levando uma vida de
adultério. E ali, na presença do Senhor, arrependeu dos seus pecados. Concor-
damos em orar em seu favor e ele rejeitou a atuação do inimigo em sua vida.
Finalmente obteve a libertação que desejava. Soubemos depois que continuou
vivendo vitoriosamente, resistindo ao domínio do maligno sobre ele, e se viu
livre da insônia, da depressão e das idéias de suicídio.
Não há dúvida de que o diabo é um adversário fortíssimo, como vimos
pelos ataques desferidos contra Neemias. No próximo capítulo, analisaremos
ainda, outro método empregado por ele - a injustiça. Sofrer uma injustiça, seja
ela real ou imaginária, sempre é muito penoso, principalmente quando vinda
de pessoas que confiamos. Satanás sabe fazer uso dessa espada e já tem retalha-
do muitas pessoas com sua lâmina. Veremos então, como além de evitar esses
golpes do inimigo, podemos também chegar a desarmá-lo.
APLICAÇÃO PRÁTICA
Recorde os principais ataques de Satanás dos quais você foi alvo. Tente dis-
cernir as situações em que você reagiu da maneira certa e as que você caiu na
cilada do inimigo.
Relembre situações em que lançou mão das mesmas estratégias de Neemias
para derrotar o diabo.
Nota
'Vine's Exposity Dictionary, op.cit
u
14
UM NOVO COMEÇO
"o exílio, além de lutarem muito pela sobrevivência, os israelitas so-
friam muitas injustiças, tanto dos seus compatriotas como das pessoas
_ de fora (Is 1:5,6). Obviamente, isso causava muito sofrimento e dor. A
mudança de um lugar para outro não implica necessariamente em uma trans-
formação espiritual. Pouco depois que os exilados regressaram à pátria, viram
ressurgir em seu convívio social as velhas injustiças de antes.
Em Neemias 5:1-7, lemos que um grupo de judeus nobres e ricos agia com ex-
cessiva usura, cobravam juros altíssimos, agravando ainda mais, a difícil situação
dos exilados. Exigindo pagamento com juros exorbitantes, forçavam os pobres
não apenas a hipotecarem suas terras mas também venderem os filhos para com-
prarem mantimento para a própria sobrevivência. Alguns já tinham vendido as
filhas para saldar dívidas. Foi então que o povo ergueu um angustiado clamor.
E este doloroso brado de "Injustiça!" tem ecoado através dos séculos, em
muitas nações do mundo. Foi o clamor que subiu da terra, acusando Caim
que movido por inveja e ciúme, derramara o sangue de Abel. O mesmo cla-
mor ecoou dos judeus que pereceram no horrendo holocausto, nas mãos dos
carrascos de Hitler. E partiu também dos cambojanos que se viram ameaçados
de extinção, após duas ondas de massacres perpetrados pelos exércitos do PoI
Pot e dos Vietcongues. O mesmo grito vem hoje dos afegãos que escaparam da
morte, mas são forçados a viverem como refugiados e renegados.
O próprio homem, hoje, tem sido cruel com seus semelhantes, praticando
sérias injustiças. Muitos estão dominados por uma insaciável sêde de poder
e de posses, corrompidos pela ganância e pela concupiscência. Vêem os seres
humanos apenas como "coisas" para serem usadas e depois descartadas. Esse
comportamento obsessivo/compulsivo vem atingindo proporções epidêmicas,
trazendo sofrimento para muita gente.
"O espírito firme sustém o homem na sua doença inãs o espírito abatido
quem o pode suportar?" (Po 18:14).
O que significa estar com o espírito abatido e como isso nos afeta? Esse dolo-
roso abatimento do coração ou espírito é causado por atitudes, gestos ou palavras
sem nenhuma compaixão que ouvimos dos outros. Podemos descrevê-lo como
uma dor crônica, constante, a qual sentimos no fundo do nosso ser. Quem nunca
experimentou essa profunda dor no coração, pode se considerar muito feliz!
O indivíduo de personalidade passiva manifesta sinais do espírito abatido
sob a forma de auto-piedade, auto-condenação, introspecção mórbida, auto-de-
preciação, depressão e até tendências suicidas. Já a personalidade mais agres-
siva, torna-se irritada, crítica, acusadora, hostil e até mesmo violenta, para com
os que estão mais próximos. Tais sintomas, muitas vezes, são indícios de um
"espírito abatido" que sob tal sofrimento, influencia negativamente a pessoa. O
abatimento de espírito, depois de certo tempo, pode comprometer a estrutura
da nossa vida, tornando-nos incapazes de desenvolver bons relacionamentos
com outros, destruindo inclusive a capacidade que o próprio espírito tem para
sustentar o homem na enfermidade.
Como, então, podemos sanar esse sofrimento que é quase insuportável?
Existe algum modo de derrotarmos esse "ladrão" que nos rouba a vida? Es-
tudos feitos calculam que gastamos cerca de 50% das nossas energias mentais
e emocionais tentando abafar os sofrimentos do passado. Como podemos ser
libertos disso e iniciarmos uma vida plena? Será que poderemos apagar nossas
lembranças ou renovar e reprogramar nossa memória?
Parte II l Um novo começo - 195
O MURO DA SALVAÇÃO
NEEMIAS = RESTAURAçÃO
ESDRAS = RECONCILIAçÃO
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FIGURA 3b
Parte II l Um novo começo - 197
A RENOVAÇÃO DO CORAÇÃO
Com base no que expusemos e nos textos examinados, concluímos que a
barra de reforço que colocaremos a seguir na pedra fundamental é a renovação.
O processo de renovação é vital para a cura dos males do espírito humano.
"Porqueassiin diz o Senhor: Teu nial é incuníoel,a tua chaga édolorosa". O Senhor
está se referindo ao fato de que o homem, em sua própria força, não pode solu-
cionar o problema. Ele diz em seguida: "Porque te restaurarei a saúde e curarei as
tuas chagas, diz o Senhor" (Jr 30:12,17). Então,como é que Deus cura nossas chagas
e nos renova no espírito do entendimento? Qual é a nossa parte nesse processo?
Analisemos a palavra 1'c110dq11 Um dos diversos termos gregos que são tra-
duzidos como "renovar" em nossa língua é anakainoo. Segundo o dicionário
de termos do Novo Testamento, o Vine's Expository Dictionary of Neto Testanient
Words, o vocábulo anakainoo é constituído de dois elementos; anã e hinos. O
prefixo anã significa "voltar atrás, repetir" e hinos significa "novo". Não com o
sentido de "recente", mas de "diferente"ú
Portanto, "renovar" significa "tornar novo outra vez" ou ter um novo
passado. É verdade que não podemos modificar os acontecimentos passa-
dos, mas podemos mudar as reações e as atitudes causadas por eles e que
ainda afetam o espírito do nosso entendimento. Além disso, essa palavra
pode designar a cura das mágoas do passado, dando origem a um novo vi-
ver! Assim, pela renovação das nossas mentes, como afirma Romanos 12:2,
podemos ser modificados e transformados, livres das influências destruti-
vas, tanto do passado quanto do presente.
A CURA DO CORAÇÃO
Algumas pessoas têm indagado se a cura do coração seria de fato um con-
ceito bíblico. Parece que o salmista não tinha dúvidas a esse respeito, pois re-
fletindo sobre a restauração de Jerusalém e o retorno dos exilados, ele diz o
seguinte: "O Senhor ... sara os de coração quebrantado e lhes pensa as feridas" (SI
147:3). Segundo o livro de Apocalipse, no trono de Deus nasce um rio cristalino
em cujas margens está plantada a árvore da vida. As folhas dessa árvore "são
para cura dos povos" (Ap 22:2).
Não há dúvida de que Deus deseja mesmo sarar os feridos e quebrantados.
Alguém já disse que "a igreja é o único exército que mata os seus feridos", e
infelizmente, vez por outra, isso acontece de fato. Mas, a mesma solução que
198 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
FERIDAS
J°I)
DOR
· CURA ·
PRAZER
PECADO
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FIGURA37
"Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas
iniquidades; o castigo que nos traz a paz estaoa sobre ele, e pelas suas pisaduras
fomos sarados".
"Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados,
para que nós, mortos para os pecados, oiminos para a justiça; por suas chagas,
fostes sarados".
O PROCESSO DE RENOVAÇÃO
RECONHECER O SOFRIMENTO
Negar o sofrimento interior é uma forma de auto-manipulação. Quando
tentamos reprimir uma mágoa, estamos internalizando energias emocionais
doentias que podem causar em nós depressão ou algum outro distúrbio de
natureza psicossomática. É importante reconhecer e aceitar o fato de que sofre-
mos e admitir isso. Algumas pessoas acreditam que o crente tem que chegar ao
ponto de não sentir o sofrimento, mas isso seria uma forma "super-espiritual"
200 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
de reprimir a dor e tem o mesmo efeito que a negação da mesma. Quando Je-
sus chegou diante do túmulo de Lázaro (Jo 11:35), ele sofreu e chorou. Tempos
depois, no jardim do Getsêmani, sentiu uma agonia tal que, além de chorar,
suou gotas de sangue (Lc 22:39-45). Está claro, então, que não é pecado sofrer.
A maneira como reagimos ao sofrimento é que pode ser pecado.
CRER
Na cruz, Cristo levou sobre si nossas dores e tristezas. Precisamos crer que
ele quer e pode levar nossas dores e tristezas hoje também. "Porque pela graça
sois saloos, mediante ll fée isto não oein de oós, é dom de Deus" (Ej' 2:8). Assim como
confiamos em Deus para sermos salvos do pecado, da mesma forma, precisa-
mos dar um passo de fé e crer que ele nos cura. Quem estiver tendo problemas
com a incredulidade, pode vencer essa luta sujeitando as cogitações da carne à
luz da verdade da Palavra de Deus.
É possível que alguém esteja se perguntando:
"Será que Deus pode me modificar e renovar esse aspecto da minha perso-
nalidade? Eu já sou assim há tanto tempo!"
Claro que pode! E é pela fé que obtemos a vitória!
CONFESSAR
Romanos 10:9,10 declara que com a boca confessamos a respeito da salva-
ção ou cura. Mas é preciso que confessemos tanto os nossos pecados como as
nossas mágoas, assumindo a responsabilidade por tudo que ocorre em nossas
vidas. É muito fácil responsabilizar outras pessoas pelos nossos sofrimentos,
jogar a culpa nos pais, professores e até nos vizinhos. É claro que os pais não
são perfeitos. Eles também são responsáveis por seus próprios atos. O fato é
que embora os erros deles possam deixar marcas em nossa personalidade, nós
também precisamos assumir a responsabilidade por nossos pecados.
Antes de iniciarmos a oração de confissão, precisamos relembrar todas as
experiências dolorosas. A cura é responsabilidade do Espírito Santo. Portan-
to, é importante deixar que ele nos conduza nesse processo, em vez de tentar
observar técnicas elaboradas por homens. Oremos demoradamente pelas di-
versas etapas e fases das nossas vidas, deixando que o Espírito Santo, de for-
ma sobrenatural, vá nos revelando, os acontecimentos importantes. Ele pode
apontar para nós, fatos da nossa vida intra uterina, da infância, adolescência,
Parte II l Um novo começo - 201
das nossas amizades, do casamento, etc. Em alguns casos, a certa altura do pro-
cesso, pode ocorrer uma manifestação emocional que, aliás é uma boa ocasião
para pedirmos a cura. Uma confissão feita com lágrimas, pode ser mais que
uma catarse do problema. Se exercitarmos fé, ao expressarmos nosso sofrimen-
to a Deus dessa forma, as recordações penosas serão substituídas pelo bálsamo
restaurador do amor de Jesus! Se apresentarmos a Cristo as feridas profundas
dos nossos corações, ele pode levá-las sobre si.
EXERCITAR A PIEDADE
EmlTimóteo 4:7,8, Paulo afirma que o exercício físico épouco proveitoso mas
o espiritual nos traz muito proveito. Temos, portanto, que exercitar a piedade. No
contexto da cura ou renovação do espírito, esse exercício consistiria na remoção
das velhas reações que temos diante da vida, adotando, então, reações novas.
clonal), o Dr. Gary Sweeten explica como formamos nosso sistema de idéias e
como o modificamos.'
Ele diz que, primeiro, passamos por um "evento inicial", seguido de uma
"emoção resultante" que, por sua vez, desencadeia uma "ação decisiva". Com
base nessa reação em cadeia, criamos um sistema de conceitos em torno do
evento inicial. São esses os passos pelos quais formamos condutas habituais.
Vejamos um exemplo.
1. Evento inicial: Suponhamos que um menino vai andando pela rua e de
repente, um cachorro preto corre atrás dele, avança e rasga sua calça.
2. Emoção resultante: O incidente produz nele medo, ansiedade e tensão.
3. Ação decisiva: A criança sai correndo, fugindo do cachorro.
Esse é um tipo de experiência traumática para a criança. Ao chegar à fase
adulta, a pessoa ainda pode ter um sistema de conceitos.
4. Sistema de conceitos: Em consequência do que aconteceu a ele na infân-
cia, o adulto pensa que todos os cachorros pretos são agressivos e perigosos.
Sempre que avista um cão com tais características, revive todas as emoções
associadas ao evento, sentindo novamente, o desejo de fugir correndo.
Se ele quiser modificar suas emoções e sua conduta diante dos cachorros
pretos, primeiro terá que modificar seu conceito sobre eles. SÓ conseguirá se
libertar da experiência inicial, se conseguir aceitar o fato de que há muitos ca-
chorros pretos que são mansos e dóceis. Então, poderá ter emoções e reações
diferentes relacionadas aos cães.
Assim também, podemos nos despojar das nossas velhas reações adqui-
ridas, revestindo-nos das novas, se ocuparmos a mente com as verdades da
Palavra de Deus, crendo nelas com o coração e confessando-as verbalmente.
[Ver "Aplicação Prática", no final deste capítulo.]
Voltemos a ITimóteo 4:7 e observemos que somos nós os que nos exercita-
mos à piedade. NÓs nos despoj°amos do velho e nos revestimos do novo:
- Temos que falar a verdade.
- Temos também que controlar a ira.
- Quem furtava, não pode furtar mais.
- Devemos dominar a língua.
- Temos que ser benignos uns com os outros .
Se quisermos viver isso na prática, a renovação do espírito tem que ser sem-
pre acompanhada de arrependimento e confissão de pecados, senão terá curta
Parte II l Um novo começo - 203
duração. Os israelitas desejavam que Deus curasse suas feridas, mas ele res-
pondeu que não sabia o que fazer com eles (Os 6:1-4), comparando o arrependi-
mento do povo a uma nuvem e ao orvalho da madrugada que logo desaparece.
Dessa maneira, como poderia abençoá-los? Um dos maiores desafios de Deus
não é o desejo que temos de recebermos os dons da sua graça, e sim a nossa
relutância em nos tornarmos semelhantes a ele. Se a cura não for acompanhada
da atitude de despojamento do velho homem e do revestimento do novo, ela
não será duradoura. SÓ manteremos o crescimento espiritual e obteremos uma
cura genuína se nos exercitarmos na piedade.
PERDOAR
Deus quer que perdoemos uns aos outros de todo coração, assim como ele,
em Cristo, nos perdoou (Ef 4:32). Mas nÓs, na maioria das vezes, preferimos
deixar que o ressentimento e a amargura nos dominem. A ilustração mais
clássica desse fato é a história do credor incompassivo, registrada em Mateus
18:23-35. Esse homem, cujo senhor lhe perdoara um grande débito, recusou
perdoar uma quantia muito menor que outro homem lhe devia, mandando-o
para a cadeia.
O que muitos não compreendem é que aquele servo, nunca recebeu no cora-
ção, o perdão incondicional do seu senhor. Recebeu apenas aquilo que pedira,
uma extensão do prazo para pagar sua enorme dívida. Como não recebera o
perdão de coração, não conseguira perdoar. O "não perdoado" também não
perdoa; o "não aceito" também não aceita. Porisso ele não foi capaz de perdoar
um débito insignificante mandando seu devedor para a cadeia.
Há muitas pessoas que afirmam que Deus os perdoou, mas na verdade,
não acolheram o perdão no coração, e por isso não experimentam a libertação.
Têm prazer em "colecionar" ofensas, guardam todo tipo de irritação, injúria e
desprezo que sofrem. Vão arquivando todos os erros cometidos contra eles, es-
crevendo no verso de cada um o nome do devedor. Emaranhados nessa rede de
mágoas, magoam os outros. Não sentindo que seus pecados foram perdoados,
têm muita dificuldade de perdoar outros. Ao se enxergarem como fracas e in-
competentes, causam decepções aos outros. Acreditando que foram rejeitadas,
rejeitam outros. E assim por diante.
O ato de "perdoar a nós mesmos" só tem valor, depois que recebemos o
perdão de Deus. Se não acolhermos o perdão de Deus no coração, não conse-
204 - Paredes do Meu Coução l Bruce Thompson
guiremos perdoar de todo o coração, nem a nós, nem outras pessoas. Temos
que levar para Deus nossa vergonha e sentimento de culpa, para dessa forma,
obtermos seu perdão. Se não o fizermos, seremos como aquele rapaz que fora
condenado à prisão perpétua e depois teve sua sentença revogada, mas ao che-
gar à porta da prisão, não conseguia caminhar em direção à liberdade. Para
sermos curados, temos que aprender a perdoar a nÓs mesmos, liberalmente,
de todo coração!
CRESCER
O apóstolo Paulo nos desafia a largar o "leite", passando a ingerir "alimen-
to sólido" que é verdadeiro alimento espiritual! (Hb 5:11-14). O que ele está
dizendo é "cresça!", conclamando-nos para crescermos até a estatura de Cristo,
falando a verdade em amor, uns para os outros. Certas pessoas falam verdades
que magoam. Já outras, tentam amar em silêncio, mantendo-se caladas. Para
crescermos espiritualmente, precisamos das duas coisas, com equilíbrio. As
velhas feridas que ainda estão abertas podem deixar cicatrizes horrendas em
nossa personalidade e retardar nosso crescimento espiritual e no caráter.
AUXILIAR OUTROS
Na mesma medida que recebemos, assim também devemos dar. Deus pro-
mete que nossa cura brotará rapidamente se libertarmos os cativos, alimentar-
mos os famintos, dermos abrigo aos que não têm teto, cobrirmos o nu e nos
oferecermos aos outros em sacrifício de amor (Is 58:8).
Certa vez, na África, um cirurgião viveu uma experiência curiosa. Ele havia
operado um homem, e todos os dias os seus parentes iam ao hospital para ver
o corte cirúrgico. Afinal, para impedir uma infecção e garantir a cicatrização do
corte, o médico fez uma bandagem definitiva com um abertura, uma espécie
de "janela". Algumas pessoas são como os parentes daquele paciente, estão
sempre introspectivas querendo ver a todo momento as feridas do coração.
Sempre que nosso "Grande Médico" nos submeter a uma cirurgia espiritual,
deixemos com ele a fase de recuperação. O Senhor promete nos curar à medida
que atendermos às necessidades dos pobres e oprimidos.
"... então a tua luz nascerá nas ti'ems, e ll tua escuridão será coino o melo-
dia. O Senhor te guiará continuamente, fartaráa tua dina atéein lugares áridos,
Parte II l Um novo começo - 205
e fortificará os teus ossos; serás como uni jardim regado, e conio uni manancial,
cu jãs águas jamais faltam" (Is 58:10,11).
Todas essas ações que acabamos de analisar são muito importantes no pro-
cesso de renovação. Nossa cura só brotará se nos empenharmos, de fato, em
aplicá-las em nossas vidas.
Agora já fixamos na pedra fundamental seis barras de reforço que nos dão
condições para construirmos um forte muro da salvação. No último capítulo,
estaremos fincando a última delas e depois iremos completar a construção des-
se muro da salvação estabelecendo as portas do louvor.
APLICAÇÃO PRÁTICA
Procure lembrar alguns eventos da sua vida que provocaram traumas emo-
cionais e pense um pouco sobre eles.
Que emoções ou condutas indesejáveis, eles desencadearam e que perma-
necem até hoje?
Que falsos conceitos você adotou em consequência de cada evento?
Se você reconhece que precisa de mudança e quer muito mudar, tome as
seguintes providências:
Permita que Deus cure a lembrança do acontecido.
Ore a Deus, rejeitando os velhos conceitos. Em seguida, aceite e confesse em
voz alta, para Deus e para você conceitos verdadeiros, diferentes dos que tinha.
Faça isso várias vezes por dia (Rm 10:9,10).
206 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
Notas
'Meinonj Mechanisins, A. M. A. Archives of Neurology and Psychiatry.
'Marvin vincente, Word Studies in theNeu' Testanient, vol 3, Eerdmans, Grand
Rapids, MI.
'Vine's Expository Dictionary, op. cit.
' Gary Sweeten, Alice Petersen e Dorothy Geverdt, Rationd Christian
Thinking, Christian Information Commitee, Cincinnati, 1986.
15
SURGE UM
NOVO CARÁTER
O MURO DA SALVAÇÃO
NEEMIAS = RESTAURAÇÃO
ESDRAS = RECONCILIAÇÃO
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Parte II l Surge um novo CARáTER - 209
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FIGURA39
e hoje Jesus nos dirige o mesmo chamado, prometendo fazer de nós pes-
cadores de homens. A porta do peixe simboliza a Grande Comissão dada por
Jesus em Mateus 28:18-20, para irmos ao mundo todo e pregarmos o evangelho
a toda tribo e nação. Em cada oportunidade que tivermos, devemos testemu-
nhar as boas novas de Jesus Cristo. A Bíblia diz: "O que ganha dinas ésábio" (Po
11:30). Tenhamos sempre em mente o imenso valor de uma alma perdida. Até
mesmo um recém-convertido pode levar outros ao conhecimento do seu novo
"Amigo e Salvador".
Nosso principal interesse na Universidade Cristã para o Pacífico eÁsia (Univer-
sidade das Nações -JOCUM), onde sou diretor da Faculdade de Aconselhamento
e Assistência Médica é levar o evangelho de Jesus Cristo à nossa geração. Os
cursos de graduação e doutorado são organizados tendo em vista esse objetivo.
Nossa meta é sempre ganhar os perdidos, desde o trabalho de assistência mé-
dica até os cursos teológicos. No ensino do evangelismo, estamos aprendendo
o que é uma atuação progressiva, começando por uma necessidade palpável,
para depois chegar ao problema mais profundo, a necessidade eterna do cora-
ção do homem.
homem, destruindo assim o poder que ele tem de nos escravizar ao pecado
(Rm 6:6), tal mudança não será duradoura. Como o próprio Jesus, nós também
nos retraímos diante da cruz. Entretanto, ele deixou bem claro que se não cruci-
ficarmos a carne diariamente não poderemos ser seus discípulos. Se tentarmos
viver a vida cristã sem abraçar a cruz, sem nos despojar do velho homem, tro-
peçaremos e cairemos.
de papel ao pensar que talvez nunca mais os visse. Tinha plena consciência
de que deveria obedecer a Deus e ir. Minhas emoções e o coração angustiado
protestavam.
Talvez isso significasse que não era para eu ir. Quem sabe era para permane-
cer onde estava? Concluí a carta manchada de lágrimas. Pedi a um amigo que
a enviasse e quando conversava com ele, comecei a chorar novamente. Mais
uma vez me senti confrontado pelas possíveis consequências da obediência.
Fiz uma avaliação do "preço" e decidi obedecer indo substituir aquele médico
na Campuchéia. Afinal, o que aconteceu? Deus esteve comigo e me protegeu.
Depois que saí, o hospital foi bombardeado, mas o Senhor me trouxe de volta,
são e salvo para o Hawai, onde se encontrava a minha família.
Foi assim que aprendi por mim mesmo que esses momentos de provação
servem para fortalecer nossas decisões, purificar nossos corações, intenções e
que os vales de lágrimas tornam-se uma viagem para Sião. "Passando pelo vale
árido,faz dele um manancial ...Vão indo de força em força ..."(SI 84:6,7).
tando "bocas de lobo" nas ruas. Não demorei muito para perceber que as bocas
dos homens com quem trabalhava eram tão "sujas" quanto os esgotos que está-
vamos tampando. Alguns dias depois, me dei conta de que a linguagem deles
começava a invadir a minha mente também. Preocupado, clamei a Deus e ele
me instruiu para que fizesse uma memorização intensa das Escrituras. Depois
disso, sempre que um palavrão vinha à minha mente, eu o substituía por um
versículo bíblico. Com isso aprendi que a Palavra de Deus é tão poderosa que
além de manter a minha mente e coração limpos durante o horário de trabalho,
atuava como espada afiada, neutralizando os ataques do inimigo!
Parte II l Surge um novo CARáTER - 215
O MURO DA SALVAÇÃO
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AMOR
FIGURA 40
REDENÇAO
"Porque Deus amou ao inundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, pani que
todo o que nele crê não pereça, mas tenhaa oida eterna"(jo 3:16)
Esse texto revela quem é o Rei da Glória! Pelo glorioso plano de Deus para
a redenção do homem, está claro que a pedra fundamental sobre a qual é cons-
truído o muro da salvação é o amor, pois Deus é amor! Cristo realizou o sacri-
218 - Paredes do Meu Comção l Bruce Thompson
fício supremo para que nós não pereçamos. Enquanto não experimentarmos
esse amor não poderemos concluir o mudo da salvação.
"Espere Israel no Senhor, pois no Senhor há misericórdia, nele, copiosa redenção"
(S! 130:7).
O Rei da Glória é:
amor,
alegria,
paz,
longanimidade,
mansidão,
benignidade,
bondade,
fidelidade,
mansidão
domínio próprio.
CONCLUSÃO
l
Bibliografia
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