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Ecdise De Uma Nação
JC DE BRAGANÇA
3ª edição
Vila Velha – ES
Jefferson Carlos de Bragança
2018
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JC De Bragança
Ficha Catalográfica:
Nome: Ecdise de Uma Nação
Capa, Contracapa e orelhas: O Autor
Páginas: 180
Autor: JC De Bragança
jeffly00@gmail.com
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Ecdise De Uma Nação
Índice
Dedicatória
Reconhecimentos
Prefácio 007
Introdução 009
I. Ecdise, O Que É? 017
II. Ecdises Da Humanidade: Duas Gotinhas 022
III. Ecdise Dos Humanos: Gutemberg 025
IV. Ecdises Em Países Selecionados 031
V. Comentários Históricos Brasileiros 042
VI. De Emergente a Imergente 046
VII. Ecdises No Brasil 055
VIII. 1ª Ecdise Do Brasil: Capitanias Hereditárias 060
IX. 2ª Ecdise Do Brasil: Transferência Da Corte 067
X. 3ª Ecdise Do Brasil: Estado Novo 076
XI. 4ª Ecdise Do Brasil: Nossa Vez? Diagnóstico 087
XII. 4ª Ecdise Do Brasil: Nossa Vez? Prognóstico 111
XIII. 4ª Ecdise Do Brasil: Nossa Vez? Terapia 117
XIV. Conclusão 136
Anexo 1: Reflexões De Leitor Para Historiador 139
Anexo 2: Ecdise Descrição Científica 142
Anexo 3: Voto Obrigatório, Facultativo Ou Voluntário 145
Anexo 4: Análise De Causa-Raiz – RCA 150
Glossário 154
Bibliografia 156
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Dedicatória
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Reconhecimentos
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Prefácio
Índice
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Introdução
Índice
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Ecdise De Uma Nação
Ecdise, O Que É
Índice
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canismos biológicos, seria uma impropriedade em vista da
infinita complexidade daqueles em comparação a estes.
A ecdise é fato muito atípico e grandioso, próprio de
certas espécies, os cientistas dedicaram estudo específico do
fenômeno, tendo que desenvolver toda uma teoria e
conceitos próprios e únicos. Criaram até mesmo o clado
Ecdysozoa do sistema filogenético de classificação.
O que se passa com o Brasil hoje também entra nessa
categoria de fato muito atípico e grandioso, portanto precisa-
mos de teoria e de conceitos próprios e únicos. Notei que o
fenômeno da ecdise se presta como luva às análises destes
fatos, a começar pelo aspecto palpável de que o Brasil
cresceu muito mais do que seu exoesqueleto. Estamos sufo-
cando. O Brasil ainda tem exoesqueleto, por isso terá que
executar tantas ecdises quantas necessárias até eliminar este
óbice que o isola do futuro que merece.
Mudança e crescimento é a incumbência categórica e
infinita do Universo. Previsão e controle é a temática cate-
górica e infinita dos viventes no Universo. Previsão e contro-
le só podem ser almejados com coleta e organização de
dados naturais transformados em Conhecimento para
alimentar modelos de construção de cenários esquemáticos
que serão mais assimiláveis e processáveis pelo limitado –
apesar de extraordinário – recurso cerebral dos viventes.
Aqui proponho a ecdise como um desses modelos, para
analisar os mais complexos e abrangentes do que aqueles
geralmente chamados de crise.
A ecdise se desenvolve em quatro fases.
Pro-ecdise: preparação com acumulação de ar e água,
aumento rápido de tamanho e peso. Não é crescimento é in-
chamento. Músculos atrofiam-se para passar pelas estreitas
aberturas da carapaça (cutícula).
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Ecdise De Uma Nação
Ecdise: exoesqueleto antigo é abandonado. Há a reten-
ção de alguns minerais, proteínas e outros nutrientes e com-
ponentes úteis da antiga cutícula. Cutículas abandonadas são
chamadas de exúvias.
Pos-ecdise: Após a muda o animal fica vulnerável
devido à fragilidade de proteção, sujeitando-o a ataques de
predadores e dos elementos. Deve haver aumento rápido de
tamanho e endurecimento da nova cutícula. Os músculos
desenvolvem-se novamente. Água sendo substituída por
tecido muscular, acumulação de reservas energéticas,
glicogênio e lipídios nos músculos.
Intermuda: intervalo entre ecdises quando o animal
efetivamente cresce. Aumento natural de tamanho e fortale-
cimento. A vida volta à rotina normal.
Essas fases são controladas pelos hormônios chamados
ecdisteróides, principalmente dois: o ecdisônio que estimula
células epiteliais a darem início ao processo; e o MIH
hormônio inibidor de muda (Moulting Inhibitor Hormone).
Existem fatores exógeno que interferem neste metabo-
lismo como temperatura, nutrientes — pois se consome
grande quantidade de energia — e disponibilidade de água.
Estes fatores externos podem determinar não só a velocidade
como a qualidade do processo, chegando até impedir que se
complete, levando à morte do indivíduo.
A capacidade de mudar o exoesqueleto é vantajosa es-
tratégia evolutiva, principalmente para animais pequenos que
vivem na água ou que voam. Exoesqueletos não mineraliza-
dos são mais leves e exigem menos energia para formarem-
se, além de serem eficazes em diversos ambientes.
A principal característica dos artrópodes é justamente a
presença de exoesqueleto de quitina (mesmo tecido que for-
ma as unhas e cabelo), que lhes conferem sustentação para
músculos e órgãos e proteção contra agentes externos, como
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impactos e desidratação. Porém, essa armadura rígida
impede crescimento direto do animal, sem interrupções para
muda. Aqui é que mora o problema de países parcialmente
democráticos, que não podem evoluir sem peias.
Outro aspecto diferenciador entre crise e ecdise é a
abrangência. Todo o exoesqueleto é trocado, não só o braço
ou a perna. Tudo. Onde os analistas e administradores erram.
Focam seus esforços em setores de sua especialidade, como
educação, renda, segurança, distribuição, justiça, política,
saúde etc., pensando com isso resolver o todo. Na ecdise tem
que se atuar equilibrada e gradualmente em todas as áreas de
forma simultânea, ao custo de não se obter resultados
duradouros. No Brasil consegui contar apenas três ecdises
Façamos resumo do que foi visto.
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desesperadamente, doloridamente. Queria se afastar dali
onde tudo parecia girar num zumbido alucinante.
UaArghut de Magnon já vira antes gotas do sol caírem
de nuvens negras ao longe. Nas ocasiões que visitava o local
tomava conhecimento do grande estrago que causavam. Mas
agora que seus sentidos voltavam ao normal podia constatar
que o raio quase caiu na sua cabeça e havia criado clareira
fumegante de material calcinado com vivas fogueiras aqui e
ali. Divisou o grande javali que perseguia transformado
numa massa escura e sangrenta. Estava o pobre animal
totalmente sem pele e... deliciosamente assado! Sua família
teria carne por bom tempo. No momento o que lhe chamava
a atenção eram pequenos pedaços de madeira incandescentes
que se espalhavam. Cuidadosamente pegou o maior que
pode e levou para sua caverna. Depois viria com os outros
hominídeos buscar o javali churrasqueado.
Essa foi a primeira ecdise – que me permiti romancear
– da Humanidade. Um raio transformou o senhor Ua-Arghut
no primeiro ecdisônio. Com o fogo ele teria luz e proteção
contra predadores e inimigos. Sobreviveria às eras glaciais e
teria acesso a toda a inimaginável tecnologia metalúrgica e
química pelos séculos futuros.
O fogo mudaria tudo, e mudaria muito.
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Ecdise De Uma Nação
Num pano rápido de 500 milênios depois, poderíamos
nos aventurar a elaborar a segunda ecdise: a Agricultura. Go-
tinhas de vegetais caídas ao léu floresciam em batatais, cafe-
zais, milharais, melanciais e algodoais aos olhos da nossa ad-
mirada Ua-Arghutesse de Magnon Z. Ela poderia enterrar es-
sas gotinhas de alimentos e fibras que brotariam mais outras
para si, sementeiras e até lindas flores. Tendo o controle da
alimentação pode, gradualmente, domesticar animais que se
tornariam grandes amigos e servidores da família.
Agora seu marido poderia deixar o velho emprego de
caçador-coletador e fixar residência como agricultor. Dar
mais atenção à família. Talvez trocar os excessos da
produção por roupas, armas e até mais terrenos de plantio.
Acumular patrimônio, até uma Kombi, e ter maior lon-
gevidade sem riscos e incertezas das caçadas. Confiar e se
aproximar mais amistosamente de outros humanos, unindo-
se em pequenas aldeias chamadas Nova York, Rio de
Janeiro, Paris, Barcelona, Tóquio, Moscou.
A semente mudaria tudo, e mudaria muito.
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[Fig.01]
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III
[Fig.02]
Gutenberg
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Assim caminhava a humanidade rumo à catástrofe ali-
mentícia e mesmice profissional. Quando surge um ecdi-
sônio para provocar a terceira (e última?) ecdise do mundo:
Joanenses Gutemberg, na escola alguns o apelidaram de
“Arghut”. Esse senhor arquitetou uma invenção
relativamente simples, tão simples que pouco se alterou até
hoje, o “sistema mecânico de tipos móveis” aliado ao uso de
tintas e prensa para imprimir letras em páginas. A combi-
nação destes elementos foi a sua notável contribuição à
salvação da humanidade. A escrita existia desde os sumérios
e hebreus 70 séculos anos antes. E a produção era artesanal,
caríssima e o consumo apenas por nobres, ricos, intelectuais
e sacerdotes. À reprodução e difusão eficaz da escrita se
pode atribuir, em grande parte, a sobrevivência de antigas
civilizações como os hebreus e gregos. Mas mesmo assim
não assegurou a quebra de tradicionalismos que
proporcionaria o progresso nestes povos, pois eram muito
dogmáticos e não havia possibilidades de inovações, de
aberturas de novos campos, de especulações. Outro dos
motivos principais foi a baixa difusão entre o povo comum,
que em última análise, era analfabeto também.
Herr Gutenberg era um jovem arteiro da Mogúncia. De
família rica, erudito, ativista, espécie de playboy medieval
cerebral e engajado. Filho de rico e bem-sucedido relojoeiro,
desde cedo convivia com livros da biblioteca da família e no
ambiente de oficina mecânica. Seu lado aventureiro e
romântico às vezes o colocava em dificuldades, chegou a ser
processado por quebra de promessa nupcial. Também foi a
falência com o negócio de venda de espelhos de metal que
“captavam emanações sagradas de relíquias religiosas”. Essa
irrequietude transgressora, própria dos que realizam grandes
façanhas, granjeou-lhe apoio financeiro de seu cunhado para
essa maluquice – que tudo indica seria a impressora.
Inaugurou-a prensando um poema alemão. Com o aporte de
mais sócios e financiadores montou a gráfica de onde saiu as
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famosas 180 cópias da Bíblia, em dois volumes num total de
1.282 páginas. Hoje, incomprável, chegam ser avaliadas em
30 milhões de dólares. Existem apenas 48 exemplares
conhecidos atualmente no mundo.
A invenção dele – por proporcionar registro e difusão
do conhecimento acumulado de geração a outra, principal-
mente com baixo custo e universalidade – resolveu dois
fundamentos a qualquer progresso: alfabetização e acesso à
instrução. Quem aprende se torna livre para buscar a
realização de seus sonhos. A liberdade gera os recursos
durante a jornada.
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latim como linguá franca. No século 19 a máquina a vapor
permitiu impressões em escala industrial inundando e
libertando o mundo com literaturas técnicas e lúdicas em
todos os idiomas. Enorme janela representada no minúsculo
livro, se abrira para a fantasia, o sonho e a realização.
Grandes enciclopédias, tratados científicos, narrativas de
viagens, história, geografia, outros povos e culturas, manuais
de instrução, jornais noticiosos. Romances incendiavam as
tristes solidões noturnas com narrativas inebriantes. Tudo
sofregamente consumido. O homem comum estava se
conhecendo melhor, sua história e ao seu mundo. “A verdade
vos libertará”.
A imprensa mudaria tudo, e mudaria muito.
A Gráfica do Gutemberg
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IV
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Alguns fatos históricos relevantes no mundo, que
causaram crises de grande impacto, raramente podem ser
considerados como ecdises; pois, apesar de enormes
transformações advindas não se revelaram suficientemente
profundas, perenes e estruturais. As teorias de ciclos
econômicos põem em relevo diferenciador significativo, pois
as ecdises não são ciclotímicas.
Europa
A Grande Guerra em 1914 foi marcante mas não
mudou significativamente a Europa do pós-guerra, a não ser
parcialmente em setores como a tecnologia, a geopolítica e a
economia. As pessoas continuaram vivendo e pensando da
mesma forma e a distribuição de forças permaneceu a
mesma. Versalhes em 1919 apenas esmagou a economia
alemã e postergou, na realidade, a solução do conflito para
1945; com a trágica ascensão do nazi-facismo.
Apesar da extensão e grande custo em vidas e
materiais, e tendo sido ecdise para muitos países, a 2ª Guerra
em termos estritamente europeus foi apenas a solução de
alguns problemas geopolíticos localizados. Mesmo o
imediato pós-guerra com a recuperação, tudo seguiu
funcionando como status quo antebellum, salvo naturais
oscilações de desenvolvimento. Os mesmos estados líderes
vigorando nos mesmos regimes. Potsdam talvez teria sido o
caso de se considerar como ecdise, pois alterou
profundamente tudo – pelo menos no leste europeu. Deixo
ao(a) leitor(a) amigo(a) esta análise.
O que poderia ser considerado ecdisônio europeu, sem
dúvida, foi o Plano Marshall na sua concepção de
inspiradora do unionismo e talvez tenha reforçado a ideia da
formação da Comunidade do Aço e Carvão em 1949,
composta por seis países numa zona de livre comércio de
bens. Fato seminal com destino à União Europeia
configurada em 1957 na Itália com o Tratado de Roma.
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Ecdise De Uma Nação
Nunca nos 50 séculos anteriores a Europa esteve unida, isto
mudou tudo e mudou muito.
Alemanha
Os povos germânicos formados de muitas etnias,
existiam desde 1800 AC. Em tribos compostas por clãs.
Como caçadores e coletores sem território definido, nem
aglomerações significativas. Eram os bárbaros conquistado-
res deambulantes do norte. A partir do século X formaram a
espinha dorsal do Sacro Império Romano-Germânico, que
durou até 1806. mas, só foi unificado como país em 1871 (49
anos depois da independência do Brasil). O ecdisônio foi o
vigoroso chanceler prussiano Bismarck que fundou o país
Império Alemão, mesmo às custas da Guerra Franco-Prussia-
na. Alguns podem considerar a divisão da Alemanha após a
guerra como ecdise. Não penso assim a divisão durou 40
anos e não alterou profundamente o alemão nem a trajetória
de desenvolvimento a longo prazo.
Argentina
Em 1861 se completava a longa guerra de independên-
cia da Argentina. O que deveria ser início de persistente e
pacífica intermuda na verdade, foi período de muitas
agitações, ditaduras e crises econômicas. Alejo Julio
Argentino Roca Paz foi o ecdisônio da Argentina moderna
com políticas liberais e maciça onda de imigração, conquista
da Patagônia, expansão da logística de transportes,
desenvolvimento das exportações, tornando-se potência
média entre nações. Promoveu extraordinária ação
educacional, onde o ensino primário obrigatório era gratuito
e laico. Exatamente aí a Argentina, com a imigração e a
educação, começou a ultrapassar-nos culturalmente, refletido
no fato de que só em Buenos Ayres existem mais livrarias
que em todo nosso país. Outras agitações, ditaduras, crises
econômicas, peronismo, Militarismo, Malvinas, kirch-
nerismo eis a Argentina contemporânea com grande
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potencial mas ainda plena de problemas de difícil solução.
Está faltando a ecdise final.
China
A China existia antes de 2000 anos AC. Consecutivas
guerras e rebeliões sangrentas – segundo algumas
estimativas mais de 100 milhões de mortos – e sucessivas
hordas de clãs feudais, conseguiu ser unificada numa monar-
quia na dinastia Qing em 114 AC.
Com a proclamação da república em janeiro de 1912,
tudo muda. As lideranças, os mecanismos políticos, os valo-
res e atitudes da população, a economia, as relações internas
e externas. Novo país – com problemas e soluções resolvidos
interna e soberanamente – mas acima de tudo com a seguran-
ça de perpetuidade nacional e de nova e abrangente identida-
de cultural assumida pelo povo. Esta foi a primeira ecdise
chinesa.
A revolução comunista em 1948, a coletivização, a ten-
tativa de industrialização forçada em 1958, a miséria sempre
crescente, as tolices ideológicas maoistas. Nada disso teve a
competência de transformar a China em algo muito diferente
do que 1912. Apenas mudança de algozes e crises inúteis.
Em 1978 Deng assume e inicia a descoletivização da
agricultura, protege as reformas direcionadas à economia de
mercado, tantos dos que são contra como os que querem
apressar demais. Em 1997 o congresso do Partido endossa as
teorias de Deng Xiao Ping, e desmantela a predominância do
centralismo estatal no setor industrial, transferindo à iniciati-
va privada o encargo e a liberdade de empreender. Ainda
hoje falta muito para liberalização chinesa, mas a marcha já
foi iniciada por Deng, a população, as instituições e a
liberalização do regramento jamais terão recuos
significativos. O mais importante é que valores e atitudes
tanto do Estado como do indivíduo alteram-se extensa e
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Ecdise De Uma Nação
profundamente. Essa é a segunda ecdise chinesa e Deng o
seu ecdisônio.
Coreia
A Coreia repete a história da China pela sua existência
milenar. Também os embates entre os grandes senhores da
guerra, dos quais Sylla em 668 une os Três Reinos num só
em toda a península, podendo ser considerada sua primeira
ecdise. Muitas lutas e invasões mongóis desembocam numa
monarquia dinástica chamada Joseon em 1397, estendida até
1910 quando foi submetida pelo Japão.
Ato contínuo de sua liberação em 1945, pelos aliados,
se vê enredada em disputas ideológicas de grandes potências
estrangeiras que levou à divisão, Coreia do Sul e do Norte;
considerar-se-ia que a ecdise terminou mal.
A do norte optou pelo modelo socialista – onde das pri-
meiras providências foi a estatização da agricultura – forte-
mente centralizado e fechado. A do sul formula incipiente
democracia, voltada à exportação e abertura cultural ao resto
do mundo – onde das primeiras ações foi reforma agrária. O
esforço educacional despendido à época pelos sulistas foi
fundamental e notável no vertiginoso mergulho que optou
pela economia liberal. Em 1961 o General Park depois do
golpe de estado, desenvolve esforços de crescimento rápido
industrial com foco na iniciativa privada.. Apesar de viés
ditatorial ele pode receber o título de ecdisônio da moderna e
rica Coreia.
EUA
Os EUA são, como de resto, todos do Novo e Novíssi-
mo Mundo, países “fundados” dentro de conceitos e
formatos modernos da burocracia europeia, não evoluíram de
sociedades bárbaras tribais pós-neolíticas. A diferença
marcante foi o conceito de liberdade ferreamente perseguido
pelos “pais da pátria” norte-americana (o Brasil sempre teve
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JC De Bragança
“patrões da pátria”). Enquanto os demais se mantiveram por
séculos apenas como colônias duramente subjugadas a
prover de riqueza às matrizes; os EUA já nos seus primeiros
cem anos de efetiva existência buscou trilhar caminhos pró-
prios. Um pouco pelo desinteresse da Inglaterra, cujo predo-
minante objetivo colonial era prove-se de produtos oriundos
do sul mais tropical, principalmente o algodão para a nascen-
te indústria têxtil. Outro tanto pela forte e cosmopolita
migração que chegou a incríveis 30 milhões de sonhadores
ambiciosos no começo do século 20.
A liberdade assegurada pela declaração dos direitos e a
imigração cosmopolita e multiétnica transformaram os EUA
na potência que é. Dos 80 trilhões de dólares do produto
mundial bruto (PMB), 20 trilhões são fruto do trabalho de al-
gum ianque, e crescendo. Dos gastos em armamentos em
todo o planeta 40% é deles.
Aqui se revela a exceção que confirma a regra: os EUA
é o único país que não sofreu e, até onde a vista alcança, não
terá necessidade de passar pela dolorosa ecdise. Pelo simples
fato de que pode crescer à vontade. Não possui exoesqueleto
nem quaisquer outros impedimentos pois é nação originaria-
mente democrática e seus componentes são livres para tentar
realizar seus intentos. Só é necessária a ecdise em nações que
estão obstaculizada em seu desenvolvimento por carapaças
do tipo reis absolutistas, imperadores, ditaduras, sistemas
eleitorais defeituosos ou – mais difícil de resolver –
aprisionamentos de espíritos em ideologias dogmáticas
profundamente arraigadas.
Devido à sua colossal magnitude e abrangência os
Estados Unidos da América, desde o final do século 19, tem
tido peso específico na geopolítica e até mesmo nos assuntos
internos de muitos países, na realidade, maioria deles.
Japão
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Ecdise De Uma Nação
O Nihon koku, mais conhecido como Japão, provavel-
mente teve suas ecdises antes do aporte dos portugueses no
século XVI. Esta visita surpreendente provocou intensa mu-
dança, crescimento acelerado e modernização na sociedade,
sofisticada porém isolada e provinciana dos nipônicos. Ela
bem poderia ter sido ecdise, mas ocorreu a recidiva chamada
xógum Tokugawa. Este senhor da guerra tomou o poder, ex-
pulsou os portugueses, e enterrou o país num regime ditatori-
al que durou mais de um quarto de século, reduzindo-o nova-
mente a país de povo pobre, isolado e sem perspectivas.
Mas não é por aí que quero analisar, mas sim a chegada
do almirante ianque Perry em 1854. este grande marinheiro
em viagem de aberturas de mercados pelo extremo oriente,
ao passar pelo Japão constatou que o xogunato estava
mantendo em sufocação aquele grande país. Por essa época o
Japão era o maior país do mundo em população
geograficamente contínua e culturalmente unificada. Doce
mercado aos americanos, principalmente depois da anexação
da Califórnia. O marinheiro espalhou ostensivamente suas
moderníssimas naves a vapor de guerra ao largo e deu o
recado, devidamente acompanhado por tonitruante salva de
canhões, ao xógum: “Estou indo até o sudeste asiático e
Indonésia, na volta quero ver o Japão pacificado e
democrático. O senhor entendeu?” Esta interferência
americana, proporcionou a transformação daquele país
insular, isolado e medieval em grande potência, que jamais
deixaria de ser. Almirante Perry o ecdisônio do Japão.
Talvez o último. Existe até busto em homenagem a ele em
frente a Prefeitura de Tóquio.
Esta forma de agir foi incorporada pelo estado america-
no e usada inúmeras vezes nos cinco continentes. A maioria
das vezes agiu com truculência militar causando grande des-
truição e sofrimento. Mas aqui é que se pode verificar que
nem sempre ecdises terminam bem. As interferências
ianques no Iraque, Afeganistão, Líbia, na brutal destruição
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JC De Bragança
do Viet Nam e alguns outros – para não nos estendermos
muito – ou deram mal ou os resultados ficaram tão
indefinidos que gerações poderão se passar antes que se
chegue a algum termo.
França
A França nascida como quase todos os países europeus
de evoluções, aculturações, invasões teve talvez, entre as
grandes nações modernas ocidentais, a ecdise mais
complicada e demorada – se considerarmos Capeto em 987
até a 5ª República 1948.
Por volta do século 10 a agricultura sofre grande
transformação tecnológica; também a Economia ganha o
aperfeiçoamento da cunhagem e uso extensivo de moedas
que transforma dramaticamente a estrutura com introdução
de milhões de produtores e consumidores no comércio;
camponeses começam a pensar em produzir excedentes para
venda; houve grandes saltos de produtividade também na
agroindústria. O homem comum passou a pensar em
dinheiro, e não mais em escambo.
Muitas guerras intestinas, mudanças de regimes além
de fortes, carismáticos e aguerridos personagens causaram
sofrimentos a população. O país chegou a um regime
republicano e democrático. Todas essas experiências
traumáticas proporcionaram não só ao povo francês a
maturidade e o conhecimento dos complexos mecanismos de
democracia pluralista, multiétnica e transmarina, como
difundiu-se os ensinamentos ao resto do mundo. Potência
militar, econômica, financeira e cultural centraliza inúmeras
formulações dos modernos interesses mundiais como
tecnologia, bélica, política e humanidades.
Inglaterra
Apesar de ser a causadora direta da única ecdises dos
humanos, a invenção da imprensa, é difícil localizar o evento
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Ecdise De Uma Nação
que possa ser nomeado ecdise na sua história. Salvo suspiro
republicano de Cromwell – que foi decapitado mesmo depois
de morto – sempre foi monarquia evoluindo para monarquia
parlamentarista constitucional. Das naturais crises políticas,
econômicas e humanitárias além de rica história de guerras e
conquistas sempre foi reino como o estabelecido em 927.
Rússia
Depois de séculos de indefectíveis conflitos e invasões
bárbaras a Rússia entra na era do feudalismo pelas mãos de
Ivã III, O Grande que uniu o Rus, assumindo o título de
“Grão Duque de Todas as Rússias” centralizado no principa-
do de Moscóvia. Sucedido por Ivã, O Terrível, que foi
coroado oficialmente como o primeiro czar da Rússia em
1547. Governou por muitos anos organizando e expandindo
a Rússia transformando-a num Estado de imensa extensão de
terras multiétnico, multi-confessional e transcontinental, o
maior do mundo. Ivã, O Terrível seria o primeiro ecdisônio
da grande e profunda transformação desta vasta extensão de
terras e gentes. Expansões, guerras, conquistas e a
modernizações através da transformação em Império e
inserção na Europa Ocidental por Pedro I. Resistiu às
sangrentas guerras europeias e principalmente as
napoleônicas aglutinando sentimentos patrióticos do povo
para com a Rossiya-Matushka (Mãe Rússia).
Em todos esses séculos o povo via-se esmagado pela
autocracia monárquica, o que oportunizou a segunda ecdise
em 1917 com a profunda e indelével revolução comunista
iniciada pelo ecdisônio Lênin. A nação que surgiu não tinha
nada do velho reinado. A cabeça da população mudara, suas
lideranças eram novas e inovadoras, a economia tinha novos
objetivos e experiências de produção e novos sonhos.
Sonhos impedidos aos anteriores súditos do Czar. Entretanto,
os sonhos do homem comum seriam esmagados por
ditatorial poder de grupos tentando implantar a antinatural
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JC De Bragança
ideologia de igualdade entre indivíduos, não existente na
Natureza. Cada indivíduo é único. Este grupo transformou
sonhos em projetos de poder e novamente acabou por
devolver o povo russo e outros à quase servidão,
escravizados pela miragem de ideologia infactível de
igualdade. A cortina de ferro umbrosamente desceu sobre os
países do leste europeu na forma do sovietismo republicano.
Atravessou duas guerras mundiais e outros conflitos de
monta, com catastrófico desperdício de vidas humanas.
Tornou-se a segunda potência militar e tecnológica no
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JC De Bragança
Ecdises doem muito, doem tudo.
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Ecdise De Uma Nação
O Mar Tenebroso
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JC De Bragança
En passant: sempre notei a importância dada pelos his-
toriadores à caravela, à bolina, ao astrolábio como de-
cisivas invenções que proporcionaram as grandes
navegações. Mas se esquecem do bacalhau seco e
salgado, essencial fonte de proteína – mais durável do
que a carne de porco usada pelos ingleses – sem o qual
as longas viagens seriam quase impossíveis. Portugal
produzia o melhor sal da época.
VI
De Emergente a Imergente
Índice
54
Ecdise De Uma Nação
Apesar de remendado e indefinido o regime atual é
democrático. Enorme, sacrificada e respeitável conquista. A
maior prova é podermos debruçar sobre soluções. Nunca
tivemos, como povo, este privilégio. A sensação é de que
hoje estamos instrumentalizados e capacitados para,
autonomamente e sem cutículas, encaminhar construção da
grande nação cujos recursos indicaram que seria possível e
cujo crescimento populacional indicou ser necessário. Dois
motivos nos apontam que este é o momento para oportunizar
a última e definitiva ecdise: nossos "patrões da pátria" e nós
mesmos. Aqueles defeituosos, eleitos ou arrogados por
sistemas defeituosos. Quanto a nós, estamo-nos conhecendo
e reconhecendo como povo ignorante e em estágio de
evolução pouco acima da barbárie. Eventos comprobatórios
desfilam aos nossos olhos ao vivo e a cores, bem como
estatísticas cotejadas com outros países. A sociedade está
trucidando nossa juventude, nossos líderes, nossas
autoridades, juízes, policiais, delegados; por ação ou
omissão. Ocorreram melhorias, mas lentas e pontuais, além
da pouco efetividade.
Para não citar nomes, afinal a lista de pessoas e entida-
des é enorme, vamos meditar sobre o que aconteceu de 2002
até hoje. Escreveu-se, gravou-se e filmou-se toneladas sobre
o assunto. Apenas chamar-se-á atenção a aspectos pouco
enfatizados dessa sequência trágica de episódios que atin-
giram o Brasil.
Comecemos por questionar a ideia comum errada de
que a corrupção começou nessa época. Sempre existiu cor-
rupção no Brasil, sempre existiu corrupção no mundo todo e
sempre existirá. E mais, não existe comunidade hierárquica
sem corrupção. Na verdade é antiga facilitadora de relações
de troca de interesses. Há que se notar a estreita distância
entre corrupção e negociação genuína. Não vamos entrar
nesta seara se é ruim ou bom cabe aos filósofos moralistas
esta resposta. A verdade é que se mostra eficaz em situações
55
JC De Bragança
específicas. Para acabar com a corrupção é simples basta que
eleitores perfeitos elejam apenas pessoas perfeitas…
57
JC De Bragança
mais em poder do que os piores exemplos de seres humanos.
Fácil fechar o silogismo.
Este atávico distanciamento do homem comum
brasileiro das coisas públicas, permeia toda a história. Típico
dilema ovo ou a galinha, o povo se desinteressa porque não
tem voz, ou não tem voz porque é desinteressado? Esta
mudança de atitude é pedra basilar na próxima ecdise. Sem a
atuação direta do cidadão a polis estará entregue às mãos
cobiçosas e furtadoras. Sem mudança dessa atitude o Brasil
tende a se tornar, aí sim, numa republiqueta fornecedora de
bananas, feliz, acomodada e desprezivelmente miserável.
A longa e histórica lista de problemas escancarada a
partir 2002: incompetência funcional; analfabetismo popular;
insegurança em todos os aspectos; péssima estrutura logísti-
ca; burocracia paralisante, caríssima e ineficaz; poderosíssi-
mo corporativismo do funcionalismo público; sofrível ambi-
ente de negócios; desesperadora carência na geração e nova-
ção de lideranças válidas; indefinição nacional de longo pra-
zo; eleitores venais, ignorantes, crédulos, manipuláveis e
descompromissados; predominância de meios de
comunicações publica concedida enredada ideológica ou
famélico interesse financeiro; o descomprometimento da
sociedade com a cultura, artes e o esporte em geral; baixa
produção erudita seja nas artes, ciências ou filosofia; os
desatinos fiscais. Lista longa? Talvez infinita. Como resolver
tudo isso, numa sociedade complexa com a nossa? A
fórmula é simples – a execução nem tanto – identificar e
atuar nas causas-raiz em seguida atuar nos fatores causais
específicos. Sempre pela via da ampla, franca e transparente
negociação; com a vigilância proativa da sociedade. Não
existe outro caminho com efeitos eficazes e duradouros.
Aliás, o que se pretende é que seja a última ecdise.
A origem de todos esses e muitos mais defeitos é a
falta de liberdade. A esmagadora, onipresente, equivocada e
centralizadora atuação do Estado. A incomparável e estúpida
58
Ecdise De Uma Nação
regulamentação balizando cada gesto e pensamento das
pessoas e, se possível, cobrando caro por esse assalto às
liberdades. Este é dos mais fechados países do planeta. A
Democracia, para pleno funcionamento, precisa da
permeabilidade para exercer sua mobilidade "la democrazia
è mobile", diria Verdi; imprensa livre; direito à propriedade;
voto livre, universal, direto e comprometido; alternância de
lideranças; conscrição voluntária e profissional; poderes
funcionalmente harmoniosos; moeda e ambiente de livre
competitividade econômica; sistema fiscal adequado,
aprovado e supervisionado pelos agentes que pagam;
proteção e autoproteção do indivíduo sua família e sua
propriedade como direito irrefragável; livre circulação de
bens e pessoas qualquer que seja a origem ou destino; visão
humanista de longo prazo dos recursos naturais; projetos de
desenvolvimento em áreas específicas como recursos
humanos, conhecimento, de produção e instrumentalização;
eleição da classe média e setores produtivos como heróis da
nação, pois são eles que detém volição e poder de mudanças.
Nessa altura voltamos ao dilema: o brasileiro não se
compromete com a política porque não há liberdade; ou não
há liberdade porque o brasileiro não se compromete com a
política? Como mudar? Por onde começar? Para se eliminar
vício, de alcoolismo, por exemplo, segundo especialistas, o
primeiro passo é o paciente reconhecer que possui a doença.
Todo o trabalho de cura dependerá desta dolorosa primeira
assunção. Este deverá ser o primeiro passo que a sociedade
brasileira mutagênica deverá dar, reconhecer seus vícios
principalmente de pensamentos e atitudes; pois somos povo
de sólidos e desejáveis princípios morais. Mas pensamentos
e atitudes certamente tem contribuído para males cíclicos no
funcionamento do nosso grupo.
O fundamento da mudança é descontentamento e o
poder, nem que potencial de mudar. Os poderes dominantes
desejam mudança? Claro que não. Os partidos políticos, os
59
JC De Bragança
sindicatos, a grande mídia, as corporações, as instituições
fundadas nas credulidades, as instituições estatais, pessoas
bem colocadas estão satisfeitas com a situação. Mesmo que
digam o contrário. A luta dos que estão por cima é apenas
por posicionamento relativo entre eles, não por
sobrevivência muito menos por mudanças. Esse pessoal não
quer mudar nada, apesar de terem o poder de mudar tudo.
Não só não querem mudar como cercam-se de “leis” e
“otoridades”, acenam com a bandeira do medo. “Em time
que está ganhando não se mexe”, concordo. Mas quem está
ganhando o que?
Vamos analisar a outra extremidade quem está na base,
quem é destituído de quase tudo, quem mata um leão todo
santo dia pela própria sobrevivência. Este cidadão pode até
declarar o desejo, o que acho difícil é conseguir elaborar um
interesse poderoso o suficiente de mudança, pela simples
carência de vislumbres de objetivos, pela impossibilidade de
sonhar com futuro melhor. Ainda, o mais importante óbice à
atuação eficaz do destituído, realmente, é a falta de poder
intrínseco, pois é pobre, ignorante, desarticulado, sem
relações eficazes, além de não ter tempo para elucubrações.
Pode, no máximo ser ativado em quentes manifestações
episódicas por lideranças populistas. O rico não muda
porque não quer. O pobre não muda porque não pode.
Quem restou?
A classe média, os sans-culottes. Esta tem todas as con-
dições de ser o agente de mudança, a História não só
brasileira mas universal tem confirmado esses protagonismos
nas mudanças, exatamente pelas classes médias descontentes
e, quando unidas por propósito, se tornam irresistivelmente
poderosas. Que o diga Luís XVI. No entanto, há que existir
aquele ratinho corajosos o suficiente para colocar o guizo no
pescoço do gato, ou seja, o surgimento do ecdisônio
competente, motivado, eficaz e, principalmente, corajoso
para conduzir o processo todo. Um verdadeiro El Atatürk ou
60
Ecdise De Uma Nação
Gorbachev entre tantos exemplos. Perdemos gerações
esmagadas politicamente no fatídico 64.
O que significa “guizo no pescoço do gato”? Essa lide-
rança não só terá que aplicar as mais eficazes e acertadas
ações administrativas de governo, como enfrentar poderosas
forças políticas e não tão políticas assim. E caberá a ela a
mais difícil das tarefas: a mudança da mentalidade da
população brasileira em suas mais arraigadas atitudes e até
valores, sem a qual tudo voltará a ser o que sempre foi. Esta
será tarefa mais ingente. Só para ilustrar coloquei aqui a fala
de Mustafá Kemal Atatürk, o grande estadista que guindou o
povo turco de existência arcaica; mental e emocionalmente
anestesiada num grotesco fundamentalismo religioso. Leia e
medite:
62
Ecdise De Uma Nação
63
JC De Bragança
VII
Ecdises No Brasil
Índice
64
O
Ecdise De Uma Nação
s mais relevantes países na História passaram por
ecdises. Alguns sobreviveram e permaneceram,
outros desapareceram. Nestes, a ecdise não findou
bem. Não achamos produtivo comparações pois países,
assim como pessoas, são indivíduos em suas circunstâncias.
Os fundamentos e a história de cada um são únicos. Aqui
não se usa benchmarking.
Os resultados são referências de forma a se chegar
onde e quando decisões das nações foram produtivamente
tomadas e implementadas. Existem similitudes causais das
situações. De acordo com estudos as mutações ocorrem na
totalidade do organismo mais ou menos harmoniosa e simul-
taneamente. Dentro de condições adequadas propicia a
consequente evolução, ou extinção do organismo. Ecdise não
é crise, ela mata.
A primeira ecdise, o fogo, ocorreu num tempo onde a
vida era mais simples. Resumia-se em o que comer de dia e
não ser comido a noite. O fogo mudou tudo e mudou muito.
Na segunda ecdise, vimos, a importância da semente e da do-
mesticação. Que mudou tudo e mudou muito.
De lá até Gutemberg houve crises revolucionárias,
evolucionárias, involucionárias, mas nada abrangendo todos
os campos. O sistema feudal nada mais era do que tribos
neolíticas ampliadas e relativamente mais tecnológicas. A
impressão de livros mudou tudo. Criou Estados e
nacionalismo; acesso do cidadão a bens e riquezas
reservados à nobreza inclusive dinheiro – no sentido de que
o homem comum poderia ter na carteira. Criou as gramáticas
e léxicos consolidando idiomas; a circulação e transferência
de direitos; artes, filosofia e ciências puras, com mercados
próprios, se livraram de patronatos e suas predeterminações,
despertando com isso a irresistível revolução tecnológica
industrial. E, a mais contundente das mudanças a assunção
do homem comum ao protagonismo histórico, só possível
65
JC De Bragança
através do liberalismo e da industrialização em massa. A
evolução – com inevitáveis oscilações, é claro – prosseguiu
até o mundo que temos sob nossos pés hoje.
Como visto acima a respeito do Brasil, “fomos implan-
tados na alta idade colonial, viramos colônia na baixa idade
colonial, tornamo-nos país na monarquia, definimo-nos
poderosos, autossuficientes e independentes no império
constitucionalista e prontos a tornarmo-nos a república
democrática plena e constitucional de hoje”, vamos ver,
baseado nesse desidratado resumo, quais teriam sido nossas
ecdises. Quando, como e com quais consequências tudo
mudou no Brasil. E mudou muito.
O objetivo é construirmos a noção de como decisões
são tomadas e implementadas especificamente ao estilo
brasileiro. O que pode ser melhorado, o que deve ser
mantido e o que deve ser descartado nessa operação.
Historicamente podemos descobrir quais os tipos mudanças
tenderam a permanecer, e outros a refluir, além daqueles ti-
pos de mudanças que, por acertadas que foram, não
prosperaram.
De posse dessas observações, suas causas, agentes,
ações e omissões e resultados – que serão específicos ao Bra-
sil – se poderá, aí sim, traçar diretrizes gerais que orientar-
nos-ão na próxima e decisiva ecdise, talvez a última. O pro-
pósito deste trabalho é sugerir, apenas, forma diferente de
analisar fatos. A prescrição de terapias é outro campo.
O sistema de Capitanias Hereditárias foi projeto ti-
picamente capitalista: empreendedores na sua função de cor-
rer riscos, em ambiente de negócios promovem mudanças
usando recursos, insumos, logística, concorrência, permeabi-
lidade, segurança jurídica, vigilância institucional e sustenta-
bilidade com isso proporcionando progresso, justiça social,
segurança e, principalmente, soberania. Tudo isso cercado de
Liberdade.
66
Ecdise De Uma Nação
69
JC De Bragança
VIII
1ª Ecdise do Brasil:
Capitanias Hereditárias
Índice
73
JC De Bragança
acontecer entre europeus nestes casos, sugada em suas
riquezas e deixada apodrecer em suas pobrezas. Não foi isso
que aconteceu com a África?
Esse sistema de capitanias já tinham sido utilizadas
antes com certo grau de sucesso. Portanto havia know-how a
ser aplicado. A ideia é simples oferecer a pequenos nobres,
comerciantes e novos-ricos terras devolutas no Brasil onde
pudessem investir, progredir e enriquecer. Com módica
contribuição à coroa e o concorde de que a terra e tudo
debaixo dela pertence ao Rei. Isto é capitalismo! O que fosse
produzido seria vendido à Portugal que detinha o
monopsônio. Lembremo-nos, caro(a) leitor(a), daquele
gráfico acima onde tudo começa com o agente que identifica
ambiente favorável e por aí vai. Aqui se desenvolve o
esquema em toda a sua glória. Muda tudo, e muda muito.
Capitanias Hereditárias
Primeira mudança. Todos que vieram ao Brasil o fize-
ram para tomar posse do que era ou que poderia vir a ser seu,
documentado no Foral e na Carta de Doação. Mesmo o mais
singelo dos emigrantes tinham a esperança de conquistar sua
própria data ou sesmaria e sua riqueza, nova vida enfim na
nova terra, absolutamente impensável no Portugal da época.
Criou os adventícios o sentimento misto de pertencer e de
possear. Não só com relação à Europa e Portugal deixados
para trás, mas até entre as próprias províncias locais. O baia-
no se sentia brasileiro e baiano o que era diferente do
brasileiro e pernambucano, o capixaba e o carioca. Isto era o
embrião da nacionalidade, da cidadania. O lusitano se fixava
na terra e sonhava com o futuro aqui, nos trópicos.
Estabelecia vínculos com os nativos, em vez de massacrá-
los; chegaram a constituir famílias multiétnicas. Nenhum dos
espanhóis coetâneos tiveram este sentimento, pois vieram
para a América em busca de ouro fácil e voltar o mais rápido
74
Ecdise De Uma Nação
possível para a Espanha, ricos e nobres. Conquistavam,
pilhavam e assassinavam em nome do Rei e da Igreja. O
resultado? Sabêmo-lo hoje, o Brasil filho de Portugal enorme
e íntegro soberano e pacificado em suas fronteiras em
contraste com os domínios espanhóis divididos em nove
outros países, e ainda com sérias cicatrizes étnicas e
geopolíticas.
75
JC De Bragança
77
JC De Bragança
78
Ecdise De Uma Nação
IX
2ª Ecdise do Brasil:
Transferência Da Corte
Índice
79
A
JC De Bragança
s extraordinárias mutações ocorridas por ocasião das
capitanias levaram ao aumento da população e da
complexidade nas interações sociais com
assimilação de novas etnias e nacionalidades; culturas e
costumes; emersão de burguesia e classe média;
consolidação das diversas expressões artísticas oriundas de
esfuziante mescla multicultural; expansão e diversificação da
economia; desenvolvimento e aquisição de novas
tecnologias; expansão geográfica e logística; despontar de
lideranças, poderes e polos de influências ideológicas entre
outras. Em resumo o organismo Brasil crescia em tudo
forçando seu exoesqueleto, criando com isso ominosa tensão
intestina que poderia levar a situações limites de conflitos e
sectarismos. A situação encaminhava-se para nova ecdise.
Revoluções e guerras sangrentas com a popularização e
desenvolvimento das novas tecnologias de morticínio armas
de fogo, granadas, canhões, metralhas, minas etc. O mundo
no século 19 não tinha a ideia ainda da letalidade em massa
da arma de fogo e seus derivados, além das novas táticas de
combate tragicamente exposto em Matabele, África pelos in-
gleses. Guerras se tornavam rapidamente em montanhas de
cadáveres. Demorou a Humanidade perceber a enorme
capacidade de se destruir mutuamente. Precisou duas guerras
mundiais e duas bombas atômicas. Mesmo assim a
predominância do estúpido militarismo hipnótico
pseudopatriótico aliado a monstruosos interesses econômico
da indústria bélica geram terríveis dramas humanos até hoje.
81
JC De Bragança
desenvolvimento econômico e a evolução demográfica
destes países que se reflete até hoje e sabe-se lá até quando.
O mundo havia já passado pela sua terceira ecdise a in-
venção da imprensa por tipos móveis partejava as revoluções
industrial e francesa. O sistema Portugal/Brasil precisava
urgente e rapidamente se reciclar, se reinserir. Mesmo em
Portugal a imprensa chegou com quase meio século de atraso
após Gutenberg. É bom registrar-se que se imprimia já na
virada do século 15 para o 16 as Ordenações Manuelinas.
Nada melhor do que a viagem de um rei para isso. A nação
precisava de novo estímulo, novos horizontes e desafios,
novos espaços. Era necessário, mudar e mudar tudo..
Permita-me breve digressão a respeito deste fato tão
grandioso. É tradição na história até em narrativas
estrangeiras a versão inverídica de que a família real fugiu de
Napoleão para o Brasil. Todos sabemos que o acanhado e
pobre Portugal não teria a menor chance de encarar o
extraordinário poder militar francês da época que estraçalhou
não só os maiores reinos da Europa, como até coalizões
inteiras de países. O estilo napoleônico era extirpar o
governante e sua família da face da Terra – como gostava de
dizer – e colocar ditador, preferencialmente da família
Bonaparte, no lugar, completando a posse sumária do país,
subjugando o povo e arrebanhando seus filhos para seu
exército sangrento. Essa versão de fuga não raro é seguido
por comentário de “rei medroso”. Só quem repete sem
meditar versões desinformadas ou maliciosas pode
compartilhar isso. Atravessar os mar-oceano naqueles
tempos era ato de extrema bravura e tenacidade. Prova é que
o único monarca que o fez foi D. João VI!
Na época o rei era o Estado como o declarara com
petulância Louis XV “L’état c’est moi”. E estes eram
mesmos os costumes da época, por isso, rei morto, antes até
de seu sepultamento, coroava-se o novo rei. Ao contrário das
democracias modernas em que o presidente é apenas peça
82
Ecdise De Uma Nação
circunstancial, permanecendo a soberania intocada,
imaculada. Os conselheiros de D. João VI há alguns anos
trabalhavam num plano de retraimento do rei para o Brasil
em caso de invasão iminente. Pois que o rei, Portugal e todas
as suas possessões, além do próprio povo, estariam perdidos
no caso de seu aprisionamento e eventual execução. Assim
como o fizera Alexandre I que falou que se retiraria para a
península mais asiática do Império. Com efeito, mudou-se
para o interior, São Petersburgo a 560 km de Moscou.,
quando o francês atravessou a fronteira ocidental.
Mais do que uma simples retirada estratégica, a coroa
portuguesa desde muito tempo antes, levou em conta a ideia
de transferir todo reino de Portugal para o Brasil. Já em 1580
se pensou nesta hipótese diante da iminente derrota do
Priorado do Crato, com a qual a Espanha reinou durante os
60 anos subsequentes; só liberado em 1640 por D. João IV, o
primeiro dos reis da dinastia bragantina.
O Marquês d’Alorna em 1801 manifestou ao príncipe
regente: "Em todo o caso, o que é preciso é que V.A.R.
continue a reinar, e que não suceda à sua coroa o que
sucedeu à de Sardenha, à de Nápoles e o que talvez entre no
projeto das grandes potências que suceda a todas as coroas
de segunda ordem na Europa. V.A.R. tem um grande
império no Brasil, e o mesmo inimigo que ataca agora com
vantagem, talvez que trema, e mude de projeto, se V.A.R. o
ameaçar de que dispõe a ir ser imperador n’aquele vasto
território adonde pode facilmente conquistar as colônias
espanholas e aterrar em pouco tempo as de todas as
potências da Europa. Portanto é preciso que V.A.R. mande
armar com toda a pressa todos os seus navios de guerra, e
todos os transportes que se acharem na praça de Lisboa." É
bom consignar que a marinha lusa era a quinta mais
poderosa na época, atrás apenas da Inglaterra, França, Rússia
e Espanha. Além de possuir marinharia, oficialato e
83
JC De Bragança
marujada de alta qualidade. Inclusive muitos oficiais eram
ingleses.
Ou
84
Ecdise De Uma Nação
Operações defensivas são ações destinadas neutralizar
o ataque inimigo, ganhar tempo, poupar recursos e
identificar oportunidades favoráveis ao contra-ataque.
No Brasil de acordo com o Manual EB20MF10.103
Operações, do Exército Brasileiro, operações defensivas
dividem-se e dois tipos: Defesa de Posição e Movimento
Retrógrado.
A Defesa de Posição possui duas formas de ser aplica-
da, a forma de Defesa Móvel e a Defesa de Área. O outro
tipo possui três formas distintas: o Retraimento onde se tem
contato com o inimigo. A Retirada que é o movimento
retrógrado sem contato com o inimigo, com a finalidade de
evitar combate em condições desfavoráveis. A Ação
Retardadora, possui contato com o inimigo, troca espaço por
tempo, inicia em território inimigo, obedece a Matriz de
Sincronização (seja lá o que isto signifique).
O que D. João VI fez, tecnicamente, foi bem idealizada
e brilhantemente executada – daí o estado possesso em que
deixou Napoleão – Movimento Retrógrado de Retirada. Isto
não é fuga. Tanto não é que jamais D. João VI colocou os
pés fora de Portugal. O Brasil e a nau onde viajou eram
territórios portugueses também.
Quanto a rapinagem do erário de Portugal, que se lhe
atribuem, maliciosamente, foi a salvação possível do
patrimônio do povo português (do qual fazia parte o povo
brasileiro). Não fizesse isso iria para os bolsos ávidos de
Napoleão para financiar suas aventuras sangrentas e adornar
pescoço de suas duvidosas amantes. E a malícia não termina
aí, quando D. João VI voltou a Portugal mais uma vez
“rapinou” os cofres do Brasil? Que Joãozinho traquinas,
hein! Ninguém enxergou que D. João estava devolvendo o
erário português com lucros, o que por direito, como
monarca absoluto, lhe pertencia.
85
JC De Bragança
D. João VI jamais saiu do território português. Ele não
fugiu. O Brasil era colônia, província portuguesa. Mesmo
durante a viagem, na Príncipe Real, quando recebeu a visita
do almirante inglês que o escoltava na travessia. O nobre ofi-
cial notou a situação de desesperadora carência de espaço e
desconforto em que viajava o monarca e sua família, e
propôs que o rei se transferisse para as belonaves britânicas
mais bem organizadas e dotadas de conforto. D. João
permitiu que quem quisesse poderia ir, mas ele permaneceu a
bordo do sofrido navio português até a Bahia. Como se sabe
navio é a extensão território de sua bandeira. Aquele navio
era pedacinho de Portugal na imensidão do Atlântico
Essa vinda da família real para o Brasil é, sem dúvida
daquelas dez mais brilhantes decisões da Corte de Portugal.
Salvou Portugal e originou o Brasil no contexto das nações.
Não é à toa que Napoleão escreveu amargurado em suas me-
mórias que em toda sua vida guerreira bem sucedida só um o
havia logrado: D. João VI! Só faltava dominar Portugal para
ele ser reconhecido como Imperador da Europa.
Todos sabemos em detalhes as espetaculares mudanças
basilares que ocorreram no Brasil com a implantação do go-
verno português no Rio de Janeiro. Toda a capacitação deci-
sorial, burocracia de estado e o funcionamento institucional
do país foi rapidamente estruturado. Em pouco tempo o Bra-
sil estava mui favoravelmente exposto nas vitrines do
mundo. Tornou-se atrativo às mais brilhantes mentes
artísticas, filosóficas e científicas. Adquiriu musculatura
política e econômico-financeira próprias. Consolidou quase
todo o espaço geográfico. Tornou-se militarmente
respeitado. Estava pronto a entrar soberana e definitivamente
no século 19 com pompa e circunstância e muita solidez. E
principalmente desenvolveu forte liderança regional. Este foi
o legado de D. João VI, país organizado pronto a se projetar
com segurança a futuro de realizações.
86
Ecdise De Uma Nação
Tudo mudou e mudou muito. Essa foi a segunda ecdise
do Brasil. Após ela nada que não fosse previsível, aconteceu.
Mudanças setoriais, crises, trocas de grandes vultos
históricos, até mesmo de regime, revoluções localizadas.
Nada que se assemelhasse à ecdise, no sentido que temos
usado aqui. A troca de monarquia para império,
independência, sucessão de imperadores. Nem mesmo a
proclamação da república alterou profunda, abrangente e
radicalmente a sociedade brasileira nesse tempo. Nada mais
parecido com o segundo império do que a velha república.
Os mesmos políticos ou famílias, os mesmos sistemas de
tomadas de decisão, as mesmas instituições, os mesmos
problemas, e as mesmas faltas de solução. E, pior, o mesmo
povo desinteressado e hedonista. Estávamos andando, mas
em círculos e quase parando. Nesse período é que fomos
definitiva e profundamente suplantados – e de certa forma o
resto do mundo também – pelos Estados Unidos.
87
JC De Bragança
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Ecdise De Uma Nação
3ª Ecdise do Brasil:
Estado Novo
Índice
91
JC De Bragança
Aqui agora, como antes,
continuam mandando os Caiado
Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso,
antigo senador do Império
96
Ecdise De Uma Nação
Instituiu o voto secreto retirando aos “coronéis” o con-
trole sobre eleitores facilmente realizado quando o voto era
declaradamente aberto. As mulheres passaram a ter o direito
ao voto; a título de comparação a Suíça só reconheceu o voto
feminino a nível nacional em 1971. Também o reduziu a ida-
de do eleitor de 25 para 18 anos. E criou a Justiça Eleitoral.
O ensino primário tornou-se obrigatório. Extraordinário salto
de qualidade do indivíduo rumo à cidadania. Como
estaríamos hoje sem esta simplória iniciativa, quando
constatamos que mesmo assim, quase um século depois,
amargamos acima de 10% de analfabetismo?
Reconstruiu a carcomida estrutura administrativa do
Estado. Revelando a preocupação com a população elevando
em nível de ministério as áreas trabalhistas, da indústria, do
comércio bem como da educação e saúde . "A História da
Saúde Pública no Brasil da instalação da colônia até a
década de 1930, as ações eram desenvolvidas sem
significativa organização institucional. A partir daí iniciou-
se uma série de transformações."[1001]
Visando maior eficácia no comércio internacional lan-
çou a Política de Valorização do Café (PVC), criando tam-
bém o Conselho Nacional do Café, além do Instituto do Ca-
cau. Mudanças essas que perduram até hoje. Em 1933 exigiu
ampla auditoria da trágica situação do endividamento exter-
no. Este estudo embasou a brilhante negociação com os cre-
dores acordada em 1943, com redução de 60%! Por esse
tempo foram fundadas a FIESP, e a OAB. Enfatiza a
industrialização de base o que induziria o deslocamento do
centro de gravidade da economia e da sociedade para áreas
urbanas. Industrialização mais urbanização igual a terreno
fértil à manipulação das massas através de ideologias de
força e domínio seja de esquerda ou de direita.
O fato do Partido Comunista Brasileiro existir desde
1922, não impediu que Vargas o declarasse ilegal em 1935,
97
JC De Bragança
causando o levante chamado Intentona Comunista que se se-
guiu e foi facilmente superado, mas devidamente
aproveitado para justificar o golpe de 1937. O Brasil não
conseguiria passar incólume por aqueles conturbados anos
do início do século 20, abalados pelas guerras ideológicas.
Aqui também as duas principais correntes a Direita com
pregação de governo corporativista; e a Esquerda estatizante
e com planificação central. Ambos centralizadores. Ambos
incompatíveis com regime democrático. As grandes
discussões políticas atingiram amplitude nacional – ao
contrário dos partidos regionais estaduais da República
Velha – seriam a semente dos três grandes partidos nacionais
PSD, UDN e PTB.
Na verdade ameaça de comunização do Brasil foi exor-
cismada pela Consolidação das Leis do Trabalho (C.L.T.) no
dia 1º de maio de 1.943 no campo do Vasco, Estádio São Ja-
nuário, pelo presidente Getúlio Vargas: “O trabalhador
brasileiro possui hoje seu código de direito, sua carta de
emancipação econômica. Ele sabe perfeitamente o que isso
vale.” Sem perseguições, prisões, mortes ou outras
violências. Por motivo muito simples: tirou a bandeira de
propagandas populistas da esquerda! A C.L.T. era e continua
a ser, tão avançada e completa que os anarquistas não
conseguiam mais construir discurso com ressonância junto
às emergentes classes operárias urbanas. Astuta manobra que
preveniu a crescente pressão do incipiente trabalhismo
industrial. Até hoje estudiosos não chegaram a consenso se
era real gesto de proteção social ou manobra de contenção
dos agitos trabalhistas. De qualquer forma impôs o
trabalhador como sujeito de direitos. A minha opinião é que,
um monumento legal complexo e abrangente como aquele
não se constrói de afogadilho visando apenas contornar crise
localizada. Aliás, a bem da justiça esta obra prima foi lavra
de Lindolfo Collor. Foi exaustivamente pesquisado, estudado
e construído. Jamais seria implantado, a não ser num regime
98
Ecdise De Uma Nação
forte. Agora o mundo mudou e a CLT tem que ser
atualizada.
A Quartelada Catolicista da Classe Média de 1964
(QCCM64) não percebeu que o risco de comunização já ha-
via sido extinto há décadas. Nem a esquerda nem a direita.
Aquela embarcando numa patética aventura brancaleônica;
esta usando canhão para matar rato, de quebra destruindo a
casa. Desembarcando num regime militar com desastradas
decisões, a mente binária – como deve ser mesmo – de mili-
tares assessorados por economistas experimentalistas incon-
sequentes, surfaram tolamente na onda de excessiva solvên-
cia mundial. Abandonaram o país arrastando inflação
estratosférica, enterrado em dívida impagável (moratória de
1987) e rastro de obras faraônicas abandonadas e sucateadas
no tempo. Em que pese os tristes dramas pessoais e fa-
miliares, o maior prejuízo que essa tolice causou ao país foi
sufocar três gerações de vocações políticas. Hoje o país paga
alto preço por não ter lideranças alternativas conhecidas.
Trancado o último político ladrão corrupto, quem guiará o
país?
Sem contar que, ironia das ironias, a QCCM64 não só
criou aquilo que se queria evitar pela força: o crescimento
das esquerdas, como glamorizou-as tanto com as
perseguições, prisões e torturas que elas se tornaram heroicas
forças políticas após 1985, incrustadas no imaginário
popular. Nem Dedé, Muçum e Zacarias teriam sido mais
perfeitos no papel de Trapalhões. As esquerdas elegeram
presidentes por 14 anos, tempo suficiente para destruir a 8ª
economia do mundo. E mais, meu(minha) caro(a) leitor(a)
essas autodenominadas esquerdas se revelaram nem de
esquerda, nem centro ou nem de direita. Seus líderes nunca
foram políticos, mas sim criminosos comuns com boa lábia.
99
JC De Bragança
Getúlio morto. Dutra presidente. País “mordendo os
freios” para crescer e se frutificar rumo ao futuro brilhante
de respeitável e democrática potência mundial. Instituições
implantadas. Burocracia moderna e eficiente. Os três poderes
harmônicos entre si. Enfim estávamos em nível de cruzeiro
navegando com excelente nau. A confiança, era tão grande
que floresceu Brasília, estradas asfaltadas, indústrias pesa-
das, novas fronteiras agrícolas, reformas fiscais, extensas
infraestruturas, poderosas empresas estatais, inúmeras
faculdades, crescimento assombroso. Tropeços políticos aqui
e ali, com a tal “Revolução/Ditadura”, cassações de
presidentes, manifestações. Enfim, tudo normal num país
que busca.
Só que não.
A sensação que permanece é que falta crescermos por
dentro. Na verdade só inchamos. A ignorância é a mesma,
seguida da mesma pobreza, provincianismo, isolacionismo,
individualismo, falta de cultura e educação, péssima
administração pública, sem planos e rumos e dependência
externa de séculos atrás.
Será que estamos num maelstrom sem salvação?
100
Ecdise De Uma Nação
XI
4ª Ecdise do Brasil:
Nossa Vez? Diagnóstico
Índice
“O desenvolvimento do capitalismo
consiste em que cada homem tem o
direito de servir melhor e mais barato
o seu cliente. “
103
JC De Bragança
das sementes, dos defensivos e dos nutrientes, bem como dos
maquinários todos importados ou royaltados. Sem o
provimento dessa tecnologia estrangeira e cara, a agricultura
de exportação brasileira seria quase zero. O que consola é
que o domínio das ultra-corporações é mundial: 90% da
produção de grãos no mundo são controlados por cinco
empresas. Seis empresas os agroquímicos, absolutamente
essenciais na produção agropecuária moderna. A Monsanto,
Cargill, Nestlê e WalMart imperam na produção e
distribuição alimentícia no planeta; da semente às prateleiras.
Por isso um forte projeto de desenvolvimento de pequenas
propriedades rurais diversificadas (reforma agrária), não é
questão humanitária ou social. Mas problema de segurança
alimentar estratégica do país.
A indústria também. Até a incensada Embraer importa
tudo desde o rebite até os motores e tintas. Louve-se
enfaticamente a competência dos projetos, que são realmente
extraordinários e legitimamente brasileiros; desenvolvidos, é
claro, em supercomputadores e softwares importados. Não
temos fábricas massificadas de veículos rodoviários,
ferroviário, nem navais, nem motocicleta, nem mesmo
bicicleta. Muito menos autopeças e componentes. Isso se
repete em todos os setores industriais como eletroeletrônicos,
linha branca etc. Na indústria produzimos imóveis e móveis,
mesmo assim com tecnologias anacrônica com baixo nível
de automatização, além das indústrias calçadista e de
vestuário. Somos absurdo deserto de 200 e tantos milhões de
seres que não criam nem geram nada intencionalmente.
Tudo no Universo possui estrutura, função e relação.
Inclusive o Brasil. Usemos esses módulos para fazer
flagrante fotográfico, meio desfocado por causa da
cenarização generalista, e sem detalhamentos numéricos,
tabelas ou gráficos. Comecemos pela estrutura material.
104
Ecdise De Uma Nação
Estrutura Biogeográfica
Herdamos o mais extraordinariamente enorme, confor-
tável e rico pedaço contínuo de terra, água e clima do
planeta. Com orografia e climatologia amistosas
proporcionando excepcionais qualidades agroedáficas e
vivencial em grandes extensões; basta lembrar que nossos
nativos pré-cabralinos circulavam em total nudez e moravam
em rústicas choças, coisa rara em outros continentes.
Fronteiras externas e internas pacificadas e consolidadas,
cujo único custo de manutenção é da vigilância policial
contra tráficos ilícitos. Estados e municípios há muito
definidos em suas divisas partilham cultura, idioma e sentido
nacional sem desavenças religiosas, étnicas, nacionais ou
culturais.
Com seis biomas bem definidos, floresta tropical da
Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampas e o
maior Pantanal do mundo. Citemos ainda o rico e
diversificado bioma marinho que se constitui de vários
ecossistemas por 9.200 km de costa. E a extensa rede fluvial
que em si forma vários ecossistemas.
Aquinhoado com 11 classificações climáticas Koppen-
Geiger desde a Linha do Equador até o paralelo 33 no Chuí;
e 13 diferentes classificações de ordens solos e subclassifica-
ções. Nessa verdadeira sucursal do Jardim do Éden, a produ-
ção da terra – seja agricultura, criação ou extração, caça ou
pesca – não se poderia revelar mais notável. Caminha intuiu
mui perfeitamente, qualquer coisa aqui plantada teria
sucesso.
Nesta área não temos problemas, desde que cuidemos.
Estrutura de Industrialização
A indústria, na sua complexidade, é tributária de diver-
sas outras áreas. O fator iniciador do processo industrial é a
iniciativa individual do empreendedor, tudo começa ou se
105
JC De Bragança
frustra aí. Desde que encontre ambiente de negócios
minimamente estimulante e confiável. Os outros dois
grandes componentes mercado e insumos, o empreendedor
consegue viabilizar. Quando Ford iniciou a produção em
massa de veículos seus primeiros compradores foram seus
próprios empregados, a partir desse nicho aconteceu
progressiva adoção da “carruagem sem cavalos”. Este é o bi-
nômio que assegura o sucesso da indústria: empreendedor e
ambiente favorável de negócios.
Realizadores visionários brasileiros sempre existiram
com diversos graus de sucesso, mas o ambiente favorável ra-
ramente aconteceu de forma continua. Desde o domínio por-
tuguês quando era proibido à colônia manufaturar seja lá o
que for – apesar de terem desenvolvido incipiente invenção e
produção de maquinários para indústria de açúcar, e não fo-
ram enforcados por isso – passando pelo Império onde tími-
dos programas de incentivos não foram suficientes. Só mes-
mo na era Getúlio seguido por Juscelino Kubitschek é que se
levou mais a sério a industrialização. Mas, nunca se passou
do estágio de multinacionais instaladas aqui. Se algum dia,
por quaisquer motivos, as indústrias estrangeiras deixarem o
Brasil, viraremos gigantesca Cuba, que até hoje lustra
carinhosamente Cadillac americanos de 80 anos atrás. Em
resumo não temos indústria brasileira, apenas indústria
estrangeira instalada aqui.
Sem indústria, sem soberania. Em 2005 o governo
americano, simplesmente, vetou a venda de aviões Tucanos
da Embraer à Venezuela e à Bolívia, o que na época
significava 22% do faturamento da empresa. Poderiam ser
alegados motivos ideológicos. Mas em 2015 novamente aos
Emirados, que são parceiros americanos no oriente médio.
Com que poder um país proíbe a exportação de outro país?
Simples: supply chain. O Brasil é o terceiro maior produtor
de bauxita no mundo, cai para décimo lugar na produção de
alumínio primário, e desce mais ainda pois nos tornamos
106
Ecdise De Uma Nação
importadores de ligas finas de alumínio. Até os rebites
usados nos aviões da Embraer são importados! Essa é a força
do veto. Este drama industrial se repete em todos os ramos.
Não existe política industrial estratégica no país.
Ainda na área do alumínio em 2006 todo o complexo
bauxita-alumina-alumínio da Vale foi vendido à Norsk
norueguesa por 2 bilhões de dólares. Na década seguinte
importamos 2 bilhões de dólares da Alcoa! Que com
dumping safado quase quebrou a Alunorte. Aí tem muita
história nojenta escondida. Não vou irritá-lo(a) com mais
exemplos, caro(a) leitor(a). Já está justificada a assertiva de
que se deve ter cuidado em desenvolver e proteger a
indústria realmente nacional. Não estatizando. Não criando
monopólios. Não abrigando da competição mundial. Isso
atrasa o progresso. A indústria deve estar exposta à
competição internacional, para contínua atualização. Precisa-
se parar de exportar aço a US$ 700/tonelada e importar a
US$ 20.000 na forma de carros e royalties. Ver os alemães
vendendo café por preço 5 vezes maior do que paga a nosso
encantado cafeicultor. E ainda fazer a marca deles, o mundo
todo quer tomar “café da Alemanha”, sendo que não existe
um pé de café plantado em toda Europa.
Estrutura Logística
Esta é das áreas que estrangula seriamente todas as
outras. Afeta inclusive o direito de ir e vir do próprio indiví-
duo. É sobejamente conhecido as péssimas condições rodo-
viárias; da falência dos Correios, empresa monopolista esta-
tal; da ridícula distribuição de aeroportos no território; dos
escandalosamente ineficientes e caríssimos portos – em 144
países ocupamos a 135ª posição segundo Fórum Econômico
Mundial; nos transportes de longo curso renega-se o ferro-
viarismo e a extensa rede fluvial interna; sem considerar que
a cabotagem praticamente se extinguiu com 8% de participa-
ção na matriz de transporte de cargas (contra os 38% euro-
107
JC De Bragança
peus e 50% chineses). Em tempos de aquecimento global é
de se estranhar a baixa ocupação deste sistema menos
poluente,. O minúsculo uso ainda que se faz do
dutoviarismo. E para concluir, o atroz gargalo diário do
trânsito urbano e do transporte de massa, mesmo em cidades
médias. Foram realizados avanços com o pedagiamento de
rodovias, mas foi gravemente frustrado pela corrupção e
incompetência gerencial e fiscalizatória.
Mesmo levando-se em conta a modernização e
atualização política e gerencial a partir dos anos 90 onde
geração, transporte e comercialização de eletricidade para
atuais volumes de consumo possa ser considerado próximo
da suficiência; num quadro de aceleração das atividades
econômica, poderá se tornar grave empecimento. É notória e
invejada a abundância hidrológica do país, todavia, o su-
primento e distribuição de água potável ainda é problema sé-
rio. Morre-se por diarreia ainda no Brasil.
Tem-se ainda grande carência na capacidade
armazenagem técnica de grandes volumes, o que
compromete possibilidades especulativas e a lucratividade,
principalmente do setor primário; até mesmos contêineres
eventualmente faltam no Brasil.
Não se pode esquecer que ainda faz parte da logística
física o descarte adequado do lixo doméstico e hospitalar, as-
sim como os rejeitos industrial, refugos, lixos radioativos e
eletrônicos, rede e tratamento de esgoto. Até mesmo o plane-
jamento de implantação de necrópoles visando a não conta-
minação de águas subterrâneas.
Na logística temos graves e volumosos problemas,
porém, de relativamente fácil solução. Basicamente, depende
de vontade política e financiamentos. O mundo está ávido
para comparecer a esta grande festa de restauração da logísti-
ca brasileira.
Saltemos para as funções agora.
108
Ecdise De Uma Nação
Função de Conhecimento
A atividade mais crítica de qualquer espécie animal é a
transferência de conhecimentos, habilidades e sentimentos
entre gerações. Na espécie humana existe o agravante de ser
causa de progresso, estagnação ou até desaparecimento de
civilizações inteiras. As que desde cedo desenvolveram
sistema prático de cumprir esta função, como escrita e leitura
popularizadas, forte laços de tradição, apanágio de história
comum, visão grupal estratégica, mecanismos eficazes de
crítica e substituição de lideranças, certa liberdade de opinião
e realização, etc. Estas características grupais concorrem
para três fatores principais. O primeiro responsabilidade pela
coesão e funcionamento difundida entre os participantes
através de mecanismos de estímulo e coerção; segundo o
ambiente favorável ao surgimento de novas lideranças; e por
último, devido a cultura própria solidamente arraigada, a
segurança de poder ser permeável e participar de
enriquecedoras interações com grupos alienígenas. O corpo
de conhecimento é tão poderoso que resiste até a diásporas
ou movimentos migratórios. Como exemplo de permanência
nota-se que antigas civilizações possuidoras de capacidade
de transferência eficaz como os semitas e do extremo
oriente. Outras desapareceram como culturas, em seu lugar
surgiram descendentes genéticos mas não grupais.
A fonte originária dessa transmissão é o círculo
familiar de onde emana narrativas intuitivas ou formais,
conações e ações reflexas observadas internalizadas
indelevelmente na criança, vindo a ser corolário do futuro
adulto. Em idades subsequentes o indivíduo gradualmente
assenhora-se do processo conciliando-o com sua
personalidade, seus objetivos e estímulos ambientais.
Valores arraigados ainda na infância são de difícil
gerenciamento. Atitudes e comportamentos derivam
fundamentalmente desses valores. A fonte de muitos dos
graves conflitos que ocorrem, através de séculos, entre
109
JC De Bragança
tribos, etnias e nacionalidades podem ter sua gênese
identificada nessas raízes profundas das quais o indivíduo
não tem consciência, e quando a tem, encontra enormes
dificuldades em corrigíolas. Como contestar os graves ensi-
namentos dos mais velhos?
O julgamento que se faz da transferência de conheci-
mentos na história brasileira oscila, dependendo da área ana-
lisada, entre péssima e ruim. Começando pela fonte primária
nota-se, sem muito esforço, que a formação familiar da
criança é prescritiva do tipo “jamais faça isto” ou "cuidado
com aquilo" ou ainda "não posso permitir que meus filhos
tomem conhecimento disto" etc. Verdadeiro
enclausuramento comportamental. Esta excessiva proteção
acaba entregando adultos seguidores de scripts
idiossincráticos, produzidos por ascendentes ocupados com
suas existências, ou inseguros, ou frustrados em suas
próprias realizações. Pouco existe na educação parental que
estimule a criatividade, a inovação, ao expor-se a riscos, à
polêmica, a boa transgressão. O fracasso é introjetado como
algo a ser temido e evitado a todo custo. Quem erra se expõe
ao opróbrio público, na visão desses formadores, a pessoa
em formação corre o risco de se ver estigmatizada toda vida
pelo erro. A pessoa se transforma no erro. Educar assim é
educar para o fracasso ou no mínimo, para a mediocridade.
Também existem reforços deterministas negativos
destruidores da autoestima e da motivação do tipo "isto não é
para seu bico" ou "não adianta nós somos pobres" ou "você
acha que já não tentaram isto?" ou simples "não vê que isto é
loucura?", "porque não arruma coisa séria para fazer?",
"você pensa que é fácil assim?". Nem precisamos nos deter
nas observações e censuras grosseiras e absurdas frutos de
preconceitos intolerantes defeituosos a respeito de
comportamentos, gêneros, sexo, profissões, nacionalidades,
etc; pois estes estão na pauta de debates diários. Isto tudo
ocorre dentro do ambiente familiar, certamente com as mais
110
Ecdise De Uma Nação
inquestionáveis boas intenções de amorosa e cuidadosa
elaboração do futuro adulto. Neste contexto o jovem está
absolutamente indefeso: como questionar a sabedoria de sua
ancestralidade? Numa circunstância de ecdise, onde tudo
muda, o indivíduo provavelmente terá que visitar seus
conceitos mais profundos e, desaprendê-los, substituí-los ou
pelo menos reconstruí-los à luz da nova realidade. Uma
desconstrução criativa.
No campo da escolarização, propriamente dita, existem
os três níveis tradicionais: a alfabetização básica, o conheci-
mento funcional e a graduação técnica. De todos sabemos ad
nauseam os inúmeros problemas. O menor deles é a falta de
verbas. O segundo maior é a falta de clara conceituação do
que a sociedade deseja, precisa e pode esperar da educação.
Ouve-se com muita frequência de que os problemas do
Brasil se resolvem apenas com mais e melhor educação.
Será? Desconfio de que a raiz-causal do eterno malogro da
escolarização no Brasil é a falta de educação. Educar para
escolarizar.
Voltemos ao ambiente familiar.
113
JC De Bragança
potenciais talentos dos quais tanto carecemos e da formação
de massa crítica de letrados e nossos futuros laureados.
A solução não deve partir da premissa “inclusão”, chei-
ra caridade. Não. A premissa deve ser aumento da riqueza do
país por simples aritmética: quanto mais gente ganhando
mais dinheiro, mais enriquecida a nação será, não só em bens
materiais. Diz-se que a cada ano de estudo cresce 200
dólares a renda futura do estudante.
O que se deseja da educação? O que a educação
fornece para satisfazer necessidades? Quais as limitações da
educação? Certamente não é cornucópia mágica de realiza-
ções e riquezas. É o caminho, e como tal deve ser trilhado.
Tive um amigo, o Silas que havia estudado na USP junto
com o Delfim Neto; na época ele era cobrador domiciliar de
carnets e o colega dele, Ministro da Fazenda. Exemplo
simples, mas penetrante em revelar que valores e atitudes
fazem enorme diferença na eficácia da educação. A educação
por si só não resolve. Conhecemos motoristas de táxi, caixas
de banco, atendentes de calls-centers formados nas mais
diversas faculdades. Empregos para o quais bastaria curso de
segundo grau. Formação profissional subutilizada. Tem
aquela antiga história a do Papa Sisto IV que ao vistoriar a
construção da Capela Sistina, perguntou a pedreiros na obra.
“O que fazes, meu bom homem?”, Ao que o pedreiro
respondeu “Uma parede, Padre.”. Mais á frente repetiu a
pergunta a outro operário, e este respondeu-lhe “Estou
construindo uma Igreja., Padre!”. O segundo tinha um
sonho...
Na educação de ponta, o Brasil está bem entre os 10
maiores, no ano de 2017 a matrícula em Harvard de alunos
estrangeiros apresentava a seguinte contagem:
China 1905
Canadá 826
Alemanha 534
114
Ecdise De Uma Nação
Índia 518
Inglaterra 435
França 377
Japão 348
Itália 284
Brasil 269
119
JC De Bragança
massa crítica é quando se possui volume tal de material
fissionável que ocorre reação em cadeia autossustentável. É
isso que se busca num processo eletivo democrático. Volume
e qualificação suficiente de eleitores. É impossível qualificar
todos, nem as famílias e nem a Educação conseguiriam, pois
depende do interesse de cada indivíduo. Esta é a essência do
voto voluntário[3]: a vitória da maioria dos votos válidos,
conscientes e comprometidos; não obrigatórios e descompro-
missados. Da mesma forma como não se usa todos os
átomos para fissão nuclear, também não se precisa a
totalidade da população votando, basta os devidamente
politizados.
Diz-se, até com certa empáfia, que vivemos na Era das
Informações, como se fosse possível à espécie humana ter,
em alguma época, prevalecido contra outras espécies e a
natureza sem a intencional aplicação de processos mentais
intelectivos de experiencias anteriores. A pesquisa, produção
e difusão jornalística podem sofrer distorções intencionais ou
não da realidade. Dizia-se antigamente, não muito longe da
verdade, que o repórter é comunista, o redator-chefe
socialista e o dono do jornal capitalista. Adicione-se
complicadores tais como objetivos de marketing, a atuação
da concorrência, tecnologias, custos, influências politicas,
entre inúmeros outros vetores e ter-se-á a dimensão da
problemática em se captar, processar e divulgar informações
que se aproximem da verdade no jornalismo. Ao público-
alvo que compra e paga pela informação extrudada nesta
multíplice máquina – seja para saber ou tomar decisões –
cabe a maturidade, a senso crítico e busca de fontes
confirmatórias na medida da importância dos dados.
As pautas do jornalismo brasileiro são tão circunscritas
às nossas fronteiras que para se saber do que ocorre lá fora"
há que se perscrutar a imprensa estrangeira. Não temos
notícias cotidianas de Portugal, Europa, nem mesmo do
continente africano, velho parceiro de história colonial. A
120
Ecdise De Uma Nação
não ser casos de grandes catástrofes em que se obtêm
clippings da CNN, Fox News. Sabemos a data, hora, sexo e
nome do bebe da princesa, mas nada da meteorologia em
Asunción ou Montevideo, ou a greve em Buenos Ayres.
Mas houve evoluções extraordinárias e corajosas no
jornalismo interno. Não só noticiando como opinando, dando
a nós, distante dos fatos, a faculdade de percepções e cismas
do que ocorre sob a superfície. Extensas e perdulárias
transmissões e coberturas just-in-time nas diversas áreas da
cultura, esportes, política, crime e violência, personalidades,
economia e assuntos gerais.
Mas informação não é só imprensa. O Estado é (ou
deveria ser) grande fornecedor de informações. Apesar do
cidadão sustentar instituições estatais produtoras e processa-
doras de informação, mesmo assim existem custos e
barreiras a serem superadas pelo consumidor. A título de
exemplo: é mais fácil conseguir informações sobre as forças
armadas brasileiras no Jane's ou na Wikipédia no que em
órgão oficiais. Existe certa paranoia estatal sobre difusão de
informações.
O mundo acadêmico, que deveria ser gerador e propa-
gador de conhecimento, em grande parte não se revela nem
numa e nem noutra função. Tornaram-se centros de
ideologismos teóricos, cultos à personalidade e embates de
vaidades gongóricas ou simplesmente diuturnas burocracias.
O diagnóstico que se pode fazer sobre a função infor-
macional é que sofre dos mesmos obstáculos de outras áreas.
Não é informativa, não é acessível, não é estimulante, é es-
tanque internamente e hermética externamente. E, pior, não
produz pesquisas pioneiras.
Relações Do Organismo
O tipo de gente que povoou o Novo Mundo é estirpe
muito especial: imigrantes. Sinto segurança em afirmar que
121
JC De Bragança
considero a maior riqueza que se pode ter numa comunidade
é o volume de imigrantes que atrai. A História narra os
grandes movimentos europeus e suas consequências. A
Europa sempre esteve à frente no desenvolvimento
renovante de técnicas e tecnologias, graças à comoção de
massas em precipitações internas. O Novo Mundo veio a
confirmar o quanto o espírito de quem se move é forte e
criativo. “Keep Walking” não é o que a propaganda apregoa?
Só grandes sonhadores portadores de extraordinária
autoconfiança e ambição de vencer abandona o local de
nascimento para terras estranhas e estrangeiras. O custo
emocional cobrado ao imigrante é enorme. Não só o
afastamento de suas raízes familiares e sociais mais
profundas, mas interiormente sabe que terá que abrir mão –
mesmo que parcialmente – de sua cultura, suas crenças, sua
história. E a devastadora consciência de que sua des-
cendência estará irremediavelmente "contaminada", com no-
vas convivências. Em resumo, são pessoas fortes, individua-
listas, acostumadas ao embate. Somos, nós os brasileiros,
descendentes diretos dessa gente intrépida. Imigração rima
com desenvolvimento e sucesso. Se ainda restar alguma pon-
tinha de dúvida, vire a tabela de cabeça para baixo e verá,
salvos raras exceções, que países mais pobres são
exatamente aqueles que atraíram menos imigrantes.
Historicamente as relações entre o cidadão e o Estado
brasileiro nunca foram realmente conciliadas. De um lado a
confrontação e o escárnio por governo raramente sentido
como seu, num país cuja posse o brasileiro hesita em tomar
até hoje. De outro completo alheamento – até atrevido –
pelos anseios e necessidades da população. Aquele sem
ferramental de pressão, este com poderes absolutistas
proporcionados por desinteressada massa apaziguada nos
votos obrigatórios. Votos em comunicadores hipnóticos, não
em projetos nem em demandas.
122
Ecdise De Uma Nação
Outro aspecto das relações são as interpessoais, turbas
de torcedores em estádios são elaborações de pais pouco
atentos às consequências dos seus, aparentemente, inocentes
atos de transferir paixões esportivas desmedidas ao filho. Se
é paixão pode fugir ao controle, e a última coisa que vou
querer, num mundo complexo e populoso como o atual, é
filho meu descontrolado. Muito perigoso. Problema de vio-
lências nos estádios não é questão de leis ou polícia, mas,
principalmente, questão de família.
Relações com ou entre entidades estritamente discipli-
nadas são bem mais simples no entanto, podem ser bem mais
devastadoras. Cabe às forças armadas estarem sempre
prontas à "bordejar a nave inimiga estrangeira" como diria
Wellington. Estrangeira. Jamais arma de guerra, paga com
impostos de cidadãos empunhada por compatriotas, poderá
ser apontada contra brasileiros. Isto é inadmissível. Isto é o
que aconteceu muitas vezes. Não se poderá fazer ecdise do
Brasil para potência pelos séculos à frente, sem resolver em
definitivo esta equação. Militar é para combater estrangeiro.
O país já possui – na verdade sempre possuiu – leis, sistema
judiciário, policiais suficientemente eficazes para enquadrar
qualquer infrator nacional, seja indivíduo ou grupo. Não é
necessária ação de forças de guerra. O país é grande, a
população pode entrar numa comoção, eventualmente. Neste
caso é muito natural que o Estado tenha força
suficientemente doutrinada, instrumentalizada e treinada
para essas ações mais massificadas. Jamais forças militares
de guerra.
Por fim as relações do contribuinte com o Estado. Por
contribuinte entenda-se o assalariado, que é o único que não
pode repassar. O funcionamento dos governos brasileiros
sempre foram causas-raiz do enorme atraso do país. Desde o
paranoico isolamento da colônia para evitar contrabandos,
até o malandro fechamento do mercado inteno para
"proteger" empregos. Criou-se enorme aquário privativo das
123
JC De Bragança
forças que nos pescam os parcos e miseráveis frutos do duro
trabalho diário. O governo com impostos para sustentar suas
mazelas perdulárias e corruptas; as empresas multinacionais
que nos vendem o que querem pelo preço que querem; os
bancos com tradicional agiotagem legalizada; as poderosas
instituições religiosas estrangeiras que drenam verdadeiras
fortunas para o exterior; sistema político conivente, que
vende leis perpetuadoras dos mesmos interesses
dominadores. Tudo muito bem embrulhado numa imprensa
monopolista que chafurda nessa podridão em busca de seus
ganhos em mercado protegido de propaganda.
Seja qual for o ramo de atividade na economia
brasileira consegue-se colocar em dez cadeiras 80% do poder
econômico e financeiro decisor. Em alguns casos 100%
como os inexplicáveis e ineficazes monopólios estatais. E
não só patronal, mas empregatício também. Tudo é decidido
nessa suciata, desde o preço do fogão até do quilômetro de
asfalto, passando pelo spread bancário, passagens, pedágios.
Ali se reparte fatias de mercado, classes de produtos, linhas
de distribuição. Em qualquer país civilizado isto é prática
criminosa de cartelização. E pior, este sistema feudal é
garantido pelo equivalente no setor público onde poucas mas
poderosas “bancadas” dominam completamente as decisões
mais cruciais.
Por fim as relações externas. Temos dos mais caros e
glamourosos serviços diplomáticos do Mundo. E sem dúvida
dos mais inúteis. Não funcionam como "vendedores" nem
protetores do Brasil ou dos produtos brasileiros. Não
funcionam como espiões. Não servem de apoio a brasileiro
do exterior, onde não raro é omisso e desastrado. Não media
e nem atua ou tem posição firme nos grandes processos
mundiais, muito menos de liderança, nem mesmo regional.
Ah, sim para ser justo, eu diria que temos excelente quadro
de degustadores de vinho e caviar no Itamaraty.
124
Ecdise De Uma Nação
E por falar em viagens ao exterior. Fechemos este as-
sustador diagnóstico de doença terminal do Brasil registran-
do, brevemente, a sólida corrente de emigrantes que o país
está sofrendo. Ao invés de enriquecedores imigrantes, esta-
mos expulsando os melhores recursos humanos para fora do
país. Jovens e promissores estudantes; empresários de todos
os portes; profissionais altamente qualificados famílias
inteiras da classe média em peso; até mesmo as tão
necessárias vocações políticas e de lideranças estão indo
embora. O empobrecimento qualitativo de recursos
humanos, provavelmente, seja o derradeiro golpe. Até
empresas estão transferindo suas operações para o exterior,
principalmente Paraguay, o segundo maior país em
quantidade de brasileiros migrantes.
125
JC De Bragança
XII
4ª Ecdise do Brasil:
Nossa Vez? Prognóstico
Índice
126
Ecdise De Uma Nação
por AK47. Não é isto que já vislumbramos diariamente em
nossos telejornais?
O país se tornará monstruoso deserto de cana, soja, mi-
lho, bovinos, ferro, café, bauxita, algodão e eucalipto para
exportação. Poderíamos esperar que a agricultura fosse a
"salvação da lavoura"? Não, primeiro porque ela responde
por apenas 15% do PIB, praticamente é um "bico" brasileiro.
Segundo mais de 30% dos custos de produção são para
importação de insumos desde sementes até maquinários,
passando por defensivos e nutrientes. E mais essa agricultura
de exportação altamente mecanizada não dá empregos
massificados Seus preços de venda são regulados pela bolsa
de Chicago, devidamente ancorada nas prioridades das safras
americanas e dominados pelas quatro megacorporações
mundiais (conhecidas como ABCD) que controlam a
compra, logística e armazenamento de grãos no mundo.
Outras dez megacorporações mundiais controlam a produção
de agroquímicos, além das três megacorporações mundiais
controlam a produção de sementes. Sem contar as "sete
irmãs" que controlam os combustíveis fósseis do planeta e as
três que controlam a produção e comercialização de
alimentos industrializados. Coloca ainda na conta as pesadas
barreiras alfandegárias americanas e europeias aos produtos
primários. E a China, a maior boca do mundo poderia nos
salvar? Provavelmente estaremos aprendendo chinês nas
poucas escolas brasileiras que nos restarem…
.
131
JC De Bragança
132
Ecdise De Uma Nação
XIII
4ª Ecdise do Brasil:
Nossa Vez? Terapia
Índice
O maior perigo em
tempos de turbulência
não é a turbulência;
é agir com a lógica de ontem
Peter Drucker
135
JC De Bragança
Duas únicas coisas que nunca mudaram no Brasil em
todos estas décadas foi o voto obrigatório e a candidatura
independente. Jamais tivemos a liberdade de nos recusarmos
a votar em candidatos que se nos apresentavam; jamais
tivemos a liberdade sequer de nos recusarmos simplesmente
de votar. Sempre nos sujeitamos a eleger candidaturas do
establishment de plantão. Por isso virou praxe, só se pode
pretender mudar algo através de golpes de força como D.
Pedro I, D. Pedro II, República, Getúlio e 64. Nessas
circunstâncias, as mudanças não são sadias pois a falta de
debate o que desestimula comprometimento da população. O
grupo golpista para se preservar no poder, se isola,
comprometendo mais ainda suas tomadas de decisões que
perdem a necessária flexibilidade e transparência. Em pouco
tempo ocorre a desorganização do funcionamento anterior e
a aversão da sociedade. O golpista não corrigiu o que
pretendia, criou vários outros problemas que crescem e se
multiplicam e, pior de tudo, não preserva ambiente de forma-
ção de lideranças alternativas futuras.
O Brasil foi se distanciando aceleradamente nos
campos político, institucional, econômico, cultural e tudo o
mais dos demais países. Com a obrigatoriedade gerou-se ab-
surdos, como voto de cabresto ou de curral, os poderosos
“coronéis” e a permanência vitalícia e hereditária de famílias
no poder. Hoje ainda existe o voto de cabresto ou de curral,
os coronéis, foram substituídos por sindicatos comprometi-
dos, não com o trabalhador, mas com projetos de poder de
ideologias e partidos políticos. Também certas igrejas
tomaram o lugar do proverbiais coronéis. O Brasil é o único
país significativo de grande porte no mundo – a nona
economia – a ter sufrágio obrigatório. Saiba mais. A pessoa
não pode ser obrigada a exercer um direito.
136
Ecdise De Uma Nação
Qualidade do Eleitor e do Candidato
Não são muito definidas as causas da atitude distante
do eleitor brasileiro com relação à política, inclusive a
hesitação das famílias em incentivar e prover seus filhos para
essas atividades. Pode ser que pelo fato do poder público ter
se originado do absolutismo, seguidos por sucessões de
forças ditatoriais alternando-se com outras explicitamente
populistas e corruptas. Com efeito, o intransponível bloqueio
das ações do povo diante de grandes decisões despertaram
essa indiferença. Não chega a ser desencanto ou apatia, mas
a sensação de não pertença à política. No ocaso do regime
militar, com surgimento dos movimentos das "Diretas Já",
assunção ou retorno de personagens políticos de apelo
popular, timidamente, pessoas comuns foram alteando suas
137
JC De Bragança
vozes. Com crescente confiança "as ruas" atingiram o
protagonismo decisivo na cassação de 1992, na pressão para
aprovação de leis de iniciativa popular, também na cassação
de 2016 e no suporte firme da Operação Lava Jato. Este
último embate se deu, praticamente contra toda a classe
política unida a uma esquerda extremamente bem organizada
e beligerante e ala titubeante do Judiciário.
A verdade é que o brasileiro comum não sente nenhum
atrativo pela política. Isto é grave pois dos pilares da boa
democracia é a formação daquela massa crítica de eleitores
ativos e comprometidos, além de candidatos propositivos.
Tudo na legislação eleitoral brasileira joga, exatamente con-
tra a informação e politização do eleitor e tão grave quanto,
impede o surgimento de novas vocações. Novos
“candidatos” surgem a cada instante, basta serem capturados
por microfone/câmera da mídia se tornam imediatamente
críveis e, melhor ainda se forem burlescos. Desportista,
apresentadores, artistas, radialistas, até personagens de Big
Brother Brasil! Todos que, por incidente de vida, tropeçou
na mídia não só adquirem imediatamente o status de
138
Ecdise De Uma Nação
Tudo errado. O sistema eleitoral – e por extensão, o
todo o processo de tomada de decisões políticas no Brasil –
está completamente errado. Visa apenas perpetuar no poder
os que lá estão. Veja-se a aprovação do rateio de verbas para
campanha onde só os maiores partidos, que já tem "cadeiras"
nos legislativos, podem participar. Enquanto deveria ser
exatamente o oposto, os pequenos e entrantes é que deveriam
receber financiamentos! Ou ainda outros filtros cogitados,
como a cláusula de barreiras e lei da mordaça.
A candidatura independente seria o único encaminha-
mento à criação de ambiente revelador e estimulante de
novas vocações políticas verdadeiras – e não celebridades
circunstanciais ou políticos profissionais. A causa-raiz da
forma defeituosa de tomada de decisões políticas no Brasil
tem como início de terapia a implantação de voto voluntário
e candidatura independente. Sem isso podemos parar por
aqui, pois nada mudará.
Rateio do Poder
O item política, não termina com a eleição de
proficientes lideres. Para eficácia do poder de direito deverá
ser corroborado com o poder de fato. Em outras palavras há
que se definir com clareza o orçamento, a filosofia de
arrecadação e rateio dos recursos que custeará e se investirá
no setor público. Aqui se apresenta outro embate muito mais
difícil pois dever-se-á inverter a lógica centralizadora que
vigora. Ou seja, o governo federal atualmente fica com a
maior parte, os estados com menos e o pouco que restar vai
para os municípios. Deve ser exatamente o contrário. Uma
reforma muito mais profunda deverá executada com muito
critério e bem debatida, exatamente para ser mais perene.
Deve-se presumir surgimento de soluções com viés
demagógico, como o pensamento de se taxar mais a renda e
a propriedade do que os salários, pois quem tem renda e
propriedades provavelmente possui o poder de repassar
139
JC De Bragança
custos que acabam sobrecarregando os salários. O debate
deve ser como taxar sem que tudo não recaia na ponta final,
isto é em quem vive de salário fixo e não tem como repassar.
Os impostos devem seguir o exemplo de uma taxa de
condomínio de apart-hotel onde, existe arrecadação mínima
para sustento básico que todos pagam, e a arrecadação cujo
pagamento recaia apenas sobre quem usar aqueles serviços
extras.
Nos anos 90 o Governo Federal assumiu dívidas de Es-
tados e Municípios, através de extenso de financiamento de
longo prazo chamado Refis. Este ajuste e a Lei de Responsa-
bilidade Fiscal, aparentemente encaminharia ajuste das
contas públicas. no entanto, no processo transferiu grande
parte do poder arrecadatório para área federal, minguando as
receitas de Estados e Municípios. Estes continuaram se
endividando e mais Refis foram sendo implementados e
estendidos à empresas privadas, setor rural e até clubes de
futebol. Governos moralmente fracos e populistas, cujo
único objetivo é manter-se no poder, num sistema eleitoral
devorador de dinheiro empurrou a administração pública
para a corrupção, endividamento e sucessão de Refis. Hoje a
renúncia fiscal ronda a casa dos 200 bilhões de reais. Num
estudo da OCDE sobre parcelamentos em 26 países, mostra
que em média o período máximo é de 12 a 24 meses, contra
60 a 240 meses como no Brasil. Tornou-se círculo vicioso,
as empresas não pagam impostos levando o Estado a perdoar
a cada 5 anos. Na verdade tudo isto ocorre porque a Estado
arrecada mais do que o setor produtivo suporta - a velha
curva de Laffer - resultando na devolução por manobras
fisco-contábeis, “incentivos” setoriais, favorecimentos em
instituições financeiras estatais perdões de dívidas, acordos
de leniências, abatimentos, renúncias, parcelamentos e outras
práticas inconfessáveis. Tudo legalmente ratificado em
conluio com um Congresso conivente, quando não, parte
140
Ecdise De Uma Nação
interessada votando leis em benefício próprio. Criando a
engenharia financeira de não pagar impostos.
Esta vergonhosa situação que quebra financeiramente
as contas nacionais se refletem na péssima prestação de
serviços ao público. E como todo círculo vicioso, a tendência
é de expansão. E não para aí, existem bilionárias isenções
regulamentadas por lei que políticos sancionam legalizando
sonegações, além das discutíveis imunidades tributárias..
Favor legislativo fartamente agradecido nas eleições, em
forma de doações.
A Lei de Responsabilidades Fiscais (LRF) que comple-
ta 18 anos foi verdadeiro marco de esperança, única no mun-
do a condenar também a pessoa física do governante funcio-
na, mesmo sob o leniente e postergante do Poder Judiciário.
no entanto, não se vê dirigentes punidos, mas sim o
município, isto, é a comunidade, com retenção do FPM ou
coisas do gênero.
O pacto federativo de 1988 foi muito danoso aos Esta-
dos e Municípios, retirando-lhes força arrecadatória própria e
com isso capacidade de decisão. Segundo estudo da FIRJAN
82% dos municípios brasileiros não geram nem 20% das
próprias despesas, em muitos casos nem 5%; quase 90% das
cidades fecharam 2016 e situação crítica ou difícil. Decisões
que poderiam ser tomada mais rapidamente e a custos meno-
res tem que percorrer longa, demorada e custosa
peregrinação até Brasília por gabinetes, carimbos, passagens
aéreas, hotéis e restaurantes cinco estrelas regados a
champagne, e negociações ao pé do ouvido. A ponte que
seria construída com 50 mil reais, acaba custando dez vezes
mais devido a corrupção para subir e descer os degraus
decisórios; consome dez vezes mais tempo e além do que
neste “passeio” as entidades desenvolvem compromissos,
lealdades e dívidas de favores que enfraquecem a lisura de
todo processo atual e futuros de tomadas de decisões nem
141
JC De Bragança
sempre favoráveis ao município. A forte liderança do
prefeito junto ao seu eleitorado fica sequestrada pela troca de
favores. As cidades estão sofrendo verdadeira decadência
física. Prédios, logradouros, equipamentos urbanos,
maquinários e veículos sem manutenção ou substituições. Se
não são desativados, estão obsoletos. Os serviços prestadas
por funcionários desatualizados ou com baixa formação,
onera e compromete a qualidade, com constantes
interrupções e greves
Os municípios têm que readquirir força financeira e
autonomia decisória. Essa pulverização do poder diminuiria
grandemente a oportunidade de estratosféricos volumes de
corrupção em nível nacional, a exemplo do que ocorre
atualmente. Esta repactuação federativa é absolutamente
essencial, é, também, causa-raiz de grandes problemas.
Reforma profunda teria que ocorrer não só no setor
fiscal mas também na organização, métodos e sistemas da
burocracia estatal. Eliminação de órgãos redundantes e
operações esdrúxulas. Uniformização de processos em todos
os níveis. Clareza e transparência não só na contabilidade
mas, principalmente, no planejamento, isto é, o cidadão
deverá estar ciente e participante das atividades propostas
para o futuro.
O Indivíduo
Viu-se acima a importância do núcleo familial na
formação basilar do indivíduo com seus valores
fundamentais, suas atitudes – aos quais ele próprio deve
assumir a responsabilidade de acrescentar, modificar,
enquadrar no transcorrer tempo, de maneira a ser mais
contributiva e convenientes ao desempenho social. Essas
ferramentas recebidas e aperfeiçoadas sustentam o
pensamento e comportamento do “homem bom” aristotélico.
Apesar de bem esquemático, serve para o contexto deste
trabalho. Duas coisas ficaram sem o devido destaque: as
142
Ecdise De Uma Nação
crendices, passadas de geração em geração; e o conceito de
auto-responsabilidade.
Crendices
Para nossas finalidades definamos "crendices".
Primeiro o que não é. Crendice não é crença, não é religião,
não é filosofia, não é ciência e nem política.
Houaiss define como, substantivo feminino
1 crença de cunho supersticioso, sem
base em religiões institucionalizadas e, por
isso, sem a sua sanção,
2 qualquer superstição, gerada de
origem popular; crendeirice.
Para encurtar, crendices são bobagens que devem ser
mantidas sob severa vigilância, se o indivíduo procura liber-
dade de criar base de conhecimentos mais racional e útil.
Dizendo assim parece simples. Fácil "manga com leite faz
mal": crendice; "colocar a vassoura atrás da porta para a visi-
ta ir embora": "gatos pretos"; tudo crendices inúteis. No en-
tanto, começam as complicações tais como "comer carne de
porco vai para o inferno", muitas religiões rezam que sim.
"A virtude existe na pobreza", será? "A pobreza gera
criminalidade" nunca se provou isto. “Ideologias socialistas
de esquerda são mais humanitárias”. É o que repete quem
vive fora de países socialistas. Não se iluda, em sua vida
existem muitas crendices não só inúteis mas, às vezes,
francamente boicotadoras de seu sucesso e felicidade.
Este interessante gráfico demonstra o quanto o apego
arraigado em valores tradicionalistas (crenças e crendices)
comprometem a evolução de um povo. Note que as duas
regiões mais pobres em realização são a africana e a latino-
americana, presas que são de centenárias culturas religiosas.
Na América Latina o poderio inaudito do catolicismo –
ultimamente sendo abalado significativamente por novas
denominações protestantes de missionarismo mais agressivo
143
JC De Bragança
como ideologia, pereniza essa pobreza. Apesar de ser mais
individualista, por ter sido povoada com imigrantes, do que a
África.
Observa-se que, por outro lado, no canto superior direi-
to valores individualistas e racionalistas se combinam para
produzir as sociedades mais evoluídas cultural, material e
politicamente. Essa é daquelas áreas em que se deverá pri-
meiro desaprender o que foi recebido de antepassados, antes
de dar passos rumo à evolução racionalista.
É difícil separar crendices de crenças e de conhecimen-
tos racionalmente justificados. Como trataremos aqui desse
assunto? Com a mesma abordagem que se tem defendido
desde o começo: no momento da ecdise, a mudança precisa
ser profunda em tudo.
145
JC De Bragança
E é fácil entender, a democracia lida com realidades,
não com idealizações. A realidade é mutante e com isso
exige contínuas deliberações em consideração as alterações
grupais. Ora é a maioria, ora é minoria, às vezes até caso
isolado que deva ser levado à consideração. Ambientes
ideológicos não permitem essa flexibilidade, existem regras
rígidas predeterminadas prevendo, supostamente, cada caso;
e tem que ser assim para manter coesão de grupo fechado. A
democracia lida com grupos abertos. Todos os anos
toneladas de bebês são despejados na sociedade, outro tanto
imigrantes, também há os que saem por óbito ou emigração.
Em grupos abertos informes, abundam infinitas e crescentes
reivindicações novas. Não existe sabedoria ou cânone que
possa prever respostas adrede a essa ebulição. Por isso o
alerta, atuação política não pode ser balizadas por seitas ou
ideologias. O cerne da política é a negociação, fun-
damentalismos não admitem negociação.
Roger Scruton, se debruça - com a autoridade de quem
nasceu num país bipolar como a Inglaterra, onde o Estado
tem dificuldades em lidar com a Religião - sobre o problema
no ótimo livro "Como ser um conservador"[008]
"A forma religiosa de ordem social nos é apresentada
na Bíblia hebraica e no Alcorão: é uma ordem em que as leis
são baseadas em prescrições divinas e as funções terrenas
são ocupadas por delegação da divindade. Olhadas de fora,
as religiões são definidas pelas comunidades que as adotam e
a sua função é uni-las, protegê-las contra distúrbios externos
e garantir o progresso da reprodução. Uma religião é fundada
na piedade, que é o hábito de se submeter às ordens divinas.
Esse hábito, uma vez criado, justifica todos os juramentos e
promessas, atribui santidade ao casamento e apoia os
sacrifícios necessários tanto na paz quanto na guerra. Por
essa razão, comunidades com uma religião comum têm
vantagem na luta pela terra, e todos os territórios povoados
de nosso planeta são lugares onde alguma religião
146
Ecdise De Uma Nação
dominante, em algum momento, demarcou e defendeu seus
direitos. Essa é a história narrada no Velho Testamento."
"A ordem política, ao contrário, é aquela em que a
comunidade é governada por leis feitas pelos homens e por
decisões humanas sem alusão às ordens divinas. Religião é
condição estática; política é processo dinâmico. Ao passo
que religiões exigem submissão inconteste, o processo
político oferece participação, discussão e elaboração de leis
fundadas na concordância. Assim tem sido na tradição
ocidental, e, em grande parte graças ao liberalismo, essa
tradição foi mantida diante da constante tentação a que
assistimos hoje em dia entre os islâmicos, na forma mais
vociferante, de renunciar à árdua tarefa de solução
conciliatória e refugiar-se em um regime de ordens
inquestionáveis."
"A contenda entre religião e política não é, em si,
moderna. Sabemos disso não somente pela Bíblia, mas pela
tragédia grega. A ação da Antígona de Sófocles depende do
conflito entre a ordem política, representada e confirmada
por Creonte, e o dever religioso, na pessoa de Antígona. A
primeira é pública e envolve toda a comunidade; a segunda,
privada e refere-se apenas a Antígona. A partir daí a
divergência não consegue ser resolvida. O interesse público
não tem influência na decisão de Antígona de enterrar o seu
falecido irmão, uma vez que o dever que lhe foi imposto pelo
comando divino talvez não pudesse ser razão para Creonte
pôr o Estado em risco.[...]"
"Na ordem política, somos levados a compreender que
a justiça substitui a vingança e as soluções negociadas
revogam os comandos absolutos. A mensagem da Oréstia
ressoa ao longo dos séculos da civilização ocidental: é pela
via da política, não da religião, que a paz é assegurada.
Minha é a vingança, disse o Senhor; mas minha é a justiça,
diz a cidade."
147
JC De Bragança
"Foi no contexto da Cidade-estado grega que começou
a filosofia política, e as grandes questões de justiça,
autoridade e da constituição foram discutidas por Platão e
Aristóteles em termos que estão vigentes hoje. O liberalismo
surgiu a partir de uma reflexão de vários séculos sobre o que
é imprescindível e se as pessoas devem ser governadas por
consentimento, assim como se devem se submeter de bom
grado às leis elaboradas por outros seres humanos e não às
leis criadas por Deus."
O Ambiente de Negócios
Com ambiente sob o jugo de indivíduos e oligarquias
astuciosas, secundados por estirpe de burocratas ciosos de
seus "poderes", poucos e heroicos mauás conseguiram
permanecer com a cabeça fora d'água tempo o suficiente
para consolidarem-se em grandes conglomerados
multinacionais brasileiros. Após Getúlio algumas famílias
estenderam a linha de vida de seus projetos. Alguns casos
pontuais no setor industrial, a maioria na área financeira e de
serviços. Quais as causas-raiz disso?
Estatismo
A primeira dela é a insana tendência o Estado ocupar
espaços da iniciativa privada e a não menos insana do
indivíduo ceder sem questionamentos.. Com discursos
arrevesados de proteger qualquer coisa, dependendo dos
ouvidos presentes (empregos, empresas, riquezas naturais,
segurança estratégica e outras) a verdade é que o primeiro
grande obstáculo é superar a intromissão estatal em áreas
que não lhe compete. Resultando em fracassos ou “sucessos”
a custo altíssimo para a sociedade na forma de ineficiência,
corrupção, malabarismos contábeis, aumento da carga
tributária, endividamentos público interno e externo e, a pior
das consequências, falta de formação de massa crítica de
empreendedores nacionais. A COBRA (Computadores
Brasileiros), é o exemplo mais gritante desta estúpida
148
Ecdise De Uma Nação
prepotente empáfia. Matou exatamente ali – momento
histórico quando todos os países estavam na linha de largada
da informática – a evolução e afirmação cibernética do
Brasil. Foi como atirar em codorna alçando o vôo. Tinham
acabado de registrar o sistema SOX, o governo retirou o
apoio. Exemplos como esse existem, talvez às centenas.
Com isso o Brasil perdeu todos os bondes da história
moderna! O que nos restou é mercado absolutamente depen-
dente de provimentos do exterior, nas mãos de poderosos
monopólios. Com produtividade que disputa entre as piores
do mundo, e decaindo. A solução para este fator causal é
privatize-se tudo o que for possível, o que não for terceirize-
se. Reserve-se apenas funções de estado para o governo.
Eleja-se o empreendedor como herói nacional. "O país que
valoriza empregado, vai ser empregado de outros países",
não sei onde ouvi isto, mas é verdade. A Coreia na sua
assombrosa arrancada da posição de país dos mais pobres do
mundo para a de poderoso tigre asiático atual teve como
mote exatamente isto. Oportunize-se o empreendedor,
facilite-se-lhe todos os recursos físicos, financeiros e
humanos. Suporte-o nos embates do mercado internacional.
Mas não o proteja, exponha-o à competição, aos desafios
tecnológicos.
Quanto ao empregado não deve ser valorizado, ele é
que tem que se autovalorizar-se. Assim como o empregador
investe no crescimento da sua firma, o empregado deve
investir na sua competência, na sua produtividade pessoal.
Acabou o tempo, a não ser em raras profissões, que o
formando saia da faculdade para uma profissão vitalícia. Não
existe mais profissão, mas sim empregabilidade e
inteligência financeira. Segundo estudos do Oxford Martin
School e o Citi, 57% dos trabalhadores estão em risco de
serem substituídos por máquinas nos próximos anos. Para
sobreviver no ambiente que surgirá, se acontecer esta última
ecdise do Brasil, o trabalhador terá que deixar de ser
149
JC De Bragança
produtor de salários, mas sim de renda. Como assalariado se
recebe apenas se estiver empregado e cumprindo a jornada.
Trabalha-se pelo dinheiro, diferente da renda onde ela
trabalha pelo dinheiro. Renda é o investimento. A renda é
que paga as contas quando o desemprego bate às portas. Isto
é conceito tão básico em educação financeira, e tão essencial,
que quase coloquei como causas-raiz da pobreza do
brasileiro. Mas isso é outra história. Merece outro livro. Mas
já existem tantos...
Impermeabilidade econômico-cultural
O Brasil é masmorra isolada do mundo, ainda! Povo
monoglota, cultural e geograficamente isolado e portanto
desinteressado por assuntos do restante do mundo, até
mesmo de vizindades. Discutiu-se a importância da leitura
para provocar sonhos nos jovens, existe outro método, talvez
até mais eficaz que é o da exposição. Expor as pessoas à vida
de mais qualidade que se desfruta em países mais avançados
desperta desejos. Com a multiplicação das comunicações,
televisão a cabo e internet, começa a não só saber que
existem coisas muito desejáveis, como até, em certo sentido
interagir. Hoje o brasileiro típico olha pela linda janela do
monitor, como criança olha para vitrine de doces.
Mas essa impenetrável barreira que sitia o país desde
tempos imemoriais, não só afeta o cidadão comum e suas de-
mandas. Afeta e gravemente empresas as quais, sem acesso a
técnicas e tenologias, sem o saudável estímulo de
concorrências aguerridas, sem cobranças de mercados
consumidores mais sofisticados, sem reclamações por
melhorias de condições de trabalho de colaboradores, sem as
exigentes normatizações para exportações; a empresa
brasileira acomoda-se, não investe em pesquisa e
desenvolvimento, não cria, nem mesmo copia. Fenece. A
agricultura é o motor do PIB, a indústria é o motor da
sociedade. A indústria gera e sustenta as cidades. Ela gera e
sustenta o que mais importa em qualquer economia moderna:
150
Ecdise De Uma Nação
a classe média. A classe média dá lucro para a classe alta e
emprego para a classe baixa. É ela, com sua ambição, que
faz toda a economia girar saudavelmente, proporcionando
crescente qualidade de vida a todos.
Liberdade
Antes de se abrir as comportas do país ao mundo
exterior há que se implantar verdadeira liberdade
internamente. A regulamentação massacrante bloqueia
qualquer movimento, por mais simplório que seja. Inúmeros
órgãos fiscalizam cada detalhezinho exigindo certificações,
recolhimentos de taxas, laudos, autenticações, carimbos em
cinco vias, vistorias, autorizações de Conselhos, peritagem
técnica, estudos de viabilidade, impacto ambiental. Um
americano, amigo meu, apaixonado pelo Brasil passou seis
meses tentando abrir filial. Desistiu. O engraçado é que o
contador dele ficou um ano e meio para poder “fechar” a
firma que nem chegou a funcionar! O Beltrão tentou
desregulamentar o Brasil. Não conseguiu mesmo tendo e
poder da “ditadura”
Nenhum ente alcança a plenitude de sua existência sem
liberdade, nem mesmo vegetal ou fungo. Não se pretende
laissez-aller generalizado, mas sim desimpedimento bu-
rocrático à evolução dos negócios. Tecnologicamente pode-
se fazer todo o controle e acompanhamento sem obstaculizar
o andamento natural. E mais, se todo estorvamento fosse
produtivo até que se poderia racionalizar, mas não.
Exatamente o contrário. Nossos spreads bancários são 4
vezes mais caros do qualquer outro no mundo, carro 2,5
vezes e meia, o minuto de celular 7 vezes mais caro! Somos
das cinco maiores nações em corrupção, violência e
criminalidade no mundo. Os tribunais estão abarrotados.
Com toda essa regulamentação, ironicamente, das
características mais presentes é a falta de segurança jurídica.
151
JC De Bragança
Como se poderia tê-la num sistema judiciário obrigado a
assimilar 18 novas leis por dia.
153
JC De Bragança
154
Ecdise De Uma Nação
IV
Conclusão
Índice
156
Ecdise De Uma Nação
cogitados no futuro independente de datas, mas sim de
missões.
O primeiro teria a missão de arrumar a bagunça em
que se transformou a casa; colocar as coisas em seus devidos
lugares; introduzir outras; excluir outras tantas; estabelecer
novas normas e procedimentos. O perfil seria o de implicante
diarista em república de estudantes.
O segundo trabalharia no sentido de ensinar o morador
da casa a usar adequadamente as coisas, mantê-las organiza-
das, defendê-las e, se necessário, aperfeiçoá-las; seria a
requalificação do(a) brasileiro(a) com respeito a atitudes e
comportamentos. Uma pessoa preceptora.
Com o país organizado e funcionando através de povo
capacitado e instrumentalizado, entraria em cena o terceiro
perfil que seria o de "monetizador(a)". A ele caberia
transformar o país em fonte de internalização de riquezas
pelo comércio, turismo e investimentos externos. Lembra-se
de Drucker? "As oportunidades estão lá fora", temos que ir
buscá-las.
O quarto líder deveria se empenhar na construção da
potência política e militar soberana chamada Brasil, através
de musculação interna, principalmente da indústria, ciência e
tecnologia. A este perfil caberia a circunspecta tarefa de
empreender a inserção de fato e de força no cenário mundial.
Não só militar, mas força moral e diplomática. E a
demonstração inequívoca de que o país é sólido, responsável
e grave.
Os quatro primeiros perfis cumpririam missões que se
assemelham ao do comandante que está ganhando altura com
sua aeronave. O quinto e demais conduziriam a navegação
em nível de cruzeiro, isto é, cuidaria que não houvesse
turbulências, desvios de rotas, oscilações na altitude,
sequestros, desânimos ou embaraços. Nem preciso
acrescentar que isto levaria muito, muito tempo, talvez mais
157
JC De Bragança
de uma geração. Alocaria muitas e muitas pessoas
sumamente motivadas. E cada missão cobraria perfil adequa-
do de líder para conduzi-la a bom termo. A missão atual dos
que vivem hoje aqui é consolidar os objetivos estratégicos e
iniciar a pavimentação da estrada.
160
Ecdise De Uma Nação
enquanto Loizaga tornou-se responsável pelas Relações
Exteriores, e Bedoya passou a responder pelas Finanças. O
recém-criado Superior Tribunal de Justiça passou a ter
como presidente Facundo Machaín, enquanto como chefe
de polícia da capital foi nomeado Héctor Francisco
Decoud."
"Faltava às novas autoridades infraestrutura para
exercer suas funções. Assim, para atender às necessidades
dos refugiados de guerra, elas instalaram um precário
hospital, diante de outro, das forças brasileiras. A casa de
saúde paraguaia estava instalada em um edifício que servira
para o aquartelamento de tropas, com as paredes que
permaneceram sem caiar, sem leitos e que nem sequer
possuíam latrinas. As condições de higiene eram péssimas,
a ponto de o hospital paraguaio tornar-se foco de infecção,
inclusive para o hospital das tropas imperiais."[...]
"Nos meses seguintes, o governo provisório assistiu,
impotente, ao agravamento da situação. O Jornal do
Commercio, do Rio de Janeiro, registrou as carências do
país em correspondências não assinadas, remetidas de
Assunção. Era noticiado pelo periódico que fugitivos da
guerra, sem opção para onde ir, dirigiam-se esfomeados
para essa capital. Como consequência do acúmulo de
pessoas na cidade, em más condições de higiene, houve a
ameaça de epidemias e, ainda, os produtos alimentícios
alcançaram 'preço extraordinário'.[...]Sob a fiscalização
aliada, as novas autoridades paraguaias declararam livre a
exploração da erva-mate, abriram todos os portos ao
comércio exterior e criaram, para gerar receita, licença de
funcionamento para os comerciantes, bem como selos para
documentos e publicações. Os comerciantes estrangeiros
em Assunção, relatou o jornal argentino El Nacional
movimentaram-se contra essas medidas, mas o triunvirato
pôde mantê-las com o apoio de Paranhos, seu verdadeiro
autor, segundo o correspondente do periódico. Essas
medidas, porém, não carrearam os recursos mínimos
necessários ao funcionamento do governo provisório. Este,
em consequência, solicitou em setembro ao conde d'Eu
como forma de gerar receita e a título de empréstimo, que
lhe fossem entregues os produtos — erva-mate, couro e
tabaco — tomados pelos aliados a Solano López e
depositados em Assunção. A resposta do comandante
161
JC De Bragança
brasileiro foi que não podia falar em nome dos aliados, mas
que cedia a parte dos produtos apreendidos que coubera ao
Brasil."
"Por ocasião da tomada de Assunção, todos os produtos
existentes em seus depósitos, e que pertenciam ao governo
de Solano López e àqueles que tomavam parte na luta
contra os aliados, foram declarados, por estes, presa de
guerra. O pedido do governo provisório de entrega desses
produtos foi inspirado por Paranhos, tanto que, no mesmo
dia da nota dos triúnviros, esse diplomata já afirmava que
os generais Mitre e Castro cederiam a erva-mate apreendida
que coubera à Argentina e ao Uruguai. Emilio Mitre fora
contra a entrega da erva-mate, pois esperava obter 80 mil
patacões com sua venda."[...]"Por insistência de Paranhos
foram entregues, às autoridades paraguaias, objetos de ouro
e prata pertencentes a igrejas guaranis e que estavam de
posse de Solano López em Ascurra, onde foram
apreendidos. Emilio Mitre propusera que esses objetos
fossem divididos entre os aliados e, depois, vendidos.”
Grassa dolorosas convicções de desalento crescente
para com o futuro do Brasil, aliado à tristeza e insegurança
do momento que se vive. Entre tantos outros, um dos
objetivos deste livro é o de ser opinião contramajoritária à de
que somos inferiores e não sabemos tomar conta de nós
mesmos e de que não consegui(remos) prevalecer sobre as
poderosas iniquidades atuais. As fugidias pinceladas aqui
cometidas da história da civilização brasileira mostra ao
contrário, somos povos forte, valente, generoso e sabemos
muito bem o que queremos e como chegar lá. Mas como é
um país de proporções continentais de variegadas paisagens
humanas, ideias e ações levam tempo para se propagarem.
Obrigado pelo seu prestígio leitor(a), não se esqueça,
ecdise muda tudo, e muda muito! Experimente na sua vida...
162
Ecdise De Uma Nação
Anexo 1:
165
JC De Bragança
166
Ecdise De Uma Nação
Anexo 2:
169
JC De Bragança
170
Ecdise De Uma Nação
Anexo 4:
Voto Obrigatório,
Facultativo ou Voluntário
Índice
Voluntário
] adjetivo
1 que não é forçado, que depende da vontade ou é
controlado por ela; espontâneo
Ex.: movimento v.
2 que se pode optar por fazer ou não
Ex.: demissão v.
3 que age apenas segundo sua própria vontade; capricho-
so, voluntarioso
Ex.: crianças v.
4 Regionalismo: Rio Grande do Sul.
que não precisa ser fustigado, que anda com facilidade
(dizse de cavalo)
substantivo masculino
5 (XV)
aquele que ingressa no serviço militar sem ser
obrigado
6 aquele que ingressa livremente num exército para lutar
por suas idéias ou crenças, numa guerra ou luta civil
7 estudante que é admitido num curso em condições
diferentes daquelas que se aplicam aos estudantes
regulares
171
JC De Bragança
8 aquele que se dedica a um trabalho sem vínculo empre-
gatício, prestando ajuda quando necessário
Ex.: bombeiro v.
Facultativo
adjetivo
1 que concede um direito ou poder
2 que dá ou deixa a faculdade de fazer ou não alguma
coisa
3 que não é obrigatório
substantivo masculino
4 indivíduo que exerce legalmente a medicina; médico
172
Ecdise De Uma Nação
sobrevivência e não sobra nada em sí que possa ser dedicado
a assunto tão abstrato, como a política.
A quem interessa a obrigatoriedade do voto?
Os primeiros da lista são os meios de comunicação de
massa, grandes redes de televisão, radio, jornais,
marqueteiros, agências de publicidade, artistas populares
(que cobram elevados cachês) até mesmo certo blogs. O
motivo é simples: voto obrigatório é caríssimo pois tem que
cobrir todo o universo eleitoral (cerca de 150 milhões de
pessoas em 8,5 km²), e essa despesa vai parar nas mãos
desses operadores de comunicação. Dinheiro fiscalmente
difícil de contabilizar pois pagam produções de material
intangível. Pode-se cobrar qualquer coisa pela criação de um
logotipo, jingle, slogan ou show. É arte, é criação. Numa
eleição com voto voluntário provavelmente orçaria entre 10
a 20% do custo da eleição obrigatória atual. Por lei a
campanha política receberá do governo 3 bilhões para a
próxima eleição. A França gasta um décimo disto, 300
milhões.
Nem vamos entrar na seara da corrupção, assaz conhe-
cida pela lavagem judicial que se desdobra nestes dias. Por
isso a mídia, os políticos e demais interessados
desconversamo, emudecem ou quando não produzem
reportagens francamente desfavorável ao voto voluntário na
grande mídia.
Depois vem os candidatos e, claro, seus partidos políti-
cos e a as “coligações”. O baixíssimo nível de candidatos –
muito bem exposto ao opróbrio até da imprensa mundial du-
rante as votações do impeachment – é irretorquível. Para
povo ignorante e com baixo nível de interesse se “vende”
qualquer coisa desde que ele seja obrigado a comprar. O
resto fica por conta do picaresco da auto-apresentação do
candidato e sua biografia. Quanto mais burlesco e divertido,
173
JC De Bragança
mais votos. O setor político está prenhe de bufões, sendo
eleitos e reeleitos ad nauseam.
Na verdade não tem graça nenhuma o que esses eleitos
e seus putrefatos partido políticos realizaram, não só agora
nesta última catástrofe ideológica, mas através de toda a his-
tória do país. Nestes partidos se pode entrar apenas de duas
formas, ou se tem dinheiro para gastar ou se é celebridade.
Jornalista, jogador de futebol, artista ou qualquer que tenha
sido exposto na grande mídia, de preferência na televisiva, se
torna imediatamente confiável e salvador da pátria para o
eleitor-submisso, para o eleitor-escravo. Apresentam-se
diplomas, currículos, qualificações e feitos bem ao estilo
curricular de quem procura emprego. Sempre defendendo os
clichês por melhores salários, atendimento na saúde e mais
segurança. Promessas totalmente vagas e sem
comprometimento.
Outros setores que muito ganham em se manter o voto
obrigatório são aqueles cuja existência já está satisfatoria-
mente resolvida. Ninguém quer mudar nada, se a vida está
boa do jeito que está. Incluem-se nesta categoria boa parcela
do alto funcionalismo público e sua burocracia; as grandes
empresas bem consolidadas no status quo, sem concorrência
válida; as estatais e paraestatais que navegam num mar de
verbas cor-de-rosa do Tesouro; sindicatos e conselhos de
classes profissionais; fundos os mais diversos; clérigos (com
a isenção de impostos para igrejas), clubes de futebol,
militares etc. etc. etc. Como se diz a sociedade dita
organizada, só que em estamentos e castas.
Porque o voto obrigatório é tão prejudicial?
O voto obrigatório cria o eleitor-escravo. É escravo
quem não é dono da própria vontade. O eleitor-escravo vota
obrigado quando, onde e em quem se lhe apresentam como
candidatos. Se não votar sofrerá sanções no pelourinho.
Como escravo mesmo. Mas estes castigos nem são a pior
174
Ecdise De Uma Nação
consequência mas sim o crescente desprezo por tudo o que
diz respeito a eleições, por parte de pessoas que, em outras
circunstâncias teria muito a contribuir, até mesmo como
candidatos. Mas este jogo de cartas marcadas não inspira.
Círculo vicioso que se alimenta mediocridades sustentado
com o voto-escravo, ou pior, voto-vendilhão. Demagogos em
todas á áreas recomendam hipocritamente, escolham bem
seus candidatos. Como?
O sufrágio compulsório tem outro aspecto perverso,
mantêm o foco em personagens e não em programas e linhas
de atuação. Como o eleitor poderá cobrar do sufragado que
defenda a proposta da qual ele é compromitente? Critica-se o
eleitor por algumas semanas não se lembrar em quem votou,
nada mais natural. no entanto, ele não esqueceria se tivesse
votado numa propositura nítida. Este sistema eleitoral ainda
tem o defeito de blindar o mandatário através de
distanciamento do eleitor. Só se encontram no período de
campanha. Não existe mecanismos de prestação de contas e
também de ratificações de ações em andamento. Tudo é feito
à distância.
Pode-se tentar dizer que a imprensa são os olhos e
ouvidos do eleitorado. Com efeito, a imprensa no Brasil tem
demonstrado excelente desempenho no seu mister, exemplar
até ao jornalismo de outros países. Mas não é função da
imprensa fiscalizar e sim de informar. Quem fiscaliza é a
população informada e reativa. Como tem acontecido no
Brasil pós 80. Houve muita evolução no mecanismo
democrático. Mas não acompanhou a evolução tecnológica e
a multiplicação da informação e interação. O cidadão hoje é
infinitamente mais bem informado do que poucos cinco anos
atrás. Ele quer participar mais de decisões, e com certeza o
faria com muita eficácia. A posição apenas de crítico ou
ratificador de ações impostas não está mais sendo aceita com
paciência. Aliás, isto é fenômeno sentido em todo o mundo.
175
JC De Bragança
Diz-se que a democracia está em crise. Quem sabe não será
ecdise?
176
Ecdise De Uma Nação
Anexo 4:
Princípios Gerais
O objetivo primário da análise da causa-raiz (RCA –
Root Cause Analisis) é identificar os fatores que resultaram
na natureza, magnitude, localização e temporalidade das
consequências de um ou mais eventos; determinar quais
atitudes, comportamentos, ações ou inações, bem como
condicionantes deverão ser mudadas para evitar ou provocar
(no caso de serem alvos desejáveis) recorrências e,
finalmente identificar lições que promoverão o
comprometimentos de agentes com melhores consequências.
Para ser efetiva, a análise da causa-raiz (RCA) deve ser
realizada sistematicamente, geralmente como parte de in-
vestigação, com as conclusões e causas-raiz identificadas ba-
seadas em evidências incontestes. Em certos casos poderá
haver mais de uma.
O propósito é identificar a formula mais simples e de
mais baixo custo entre todas as soluções apresentadas de pre-
venir ou provocar a recorrência.
Um dos caminhos mais lógicos para traçar causas é
com blocos hierárquicos de pesquisas, e recorrendo à teoria
dos grafos usado em data minning. causa-raiz é definida
neste contexto com "as condições que possibilitam uma ou
177
JC De Bragança
mais causas". Para serem efetivas, as análises deverão
estabelecer sequências de eventos ou linha do tempo (time
line) para se entender relações entre os fatores contribuintes
(causal), a(s) causa(s) raiz(es) e o problema/alvo.
Um dos efeitos secundários mais desejáveis é o fato de
transformar uma cultura reativa (aquela que responde a estí-
mulos) em cultura prescritiva (aquela que previne o proble-
ma/alvo antes que ocorra ou entre numa escalada). Aspeto
importante é que a RCA gerencia a frequência da recorrência
do problema/alvo através do tempo.
Como a RCA é força de mudança e pode ser vista
como ameaça a muitas culturas e ambientes, com frequência
deverá enfrentar resistências. Por isso a gerência deverá se
comprometer com o apoio incondicional ao sucesso de
implementação da RCA. Uma boa política, por exemplo,
será a abordagem "não punitiva" aos testemunhos que
colaboram para a identificação do problema/alvo.
Processos De Desempenhar e Documentar Correções Ba-
seadas em RCA
1. Defina o problema/alvo ou descreva o evento a ser
evitado/provocado no futuro. Inclua os atributos (proprieda-
des) qualitativas e quantitativas dos resultados desejáveis.
Geralmente se inclui especificidades da natureza,
magnitudes, locações e tempos dos eventos. Em alguns
casos, simplesmente diminuindo as expectativas de previsões
de recorrências poderão ser objetivos aceitáveis. Por
exemplo, "diminuir os riscos" de acidentes automobilísticos
certamente é economicamente mais atingível do que o de
"prevenir todo" futuro acidente automobilístico.
2. Coletar dados e evidências, classificando-os ao
longo da linha do tempo até a crise/falha/alvo final. Para
cada atitude, comportamento, ação ou inação, especifique na
linha do tempo o que deveria ter sido feito em contraste com
o que foi feito.
178
Ecdise De Uma Nação
3. Em modelo de blocos hierárquicos de pesquisas para
data minning use os grupos de blocos e, em vez de classificá-
los: (a) destaque os grupos que exibem a causa específica;
(b) descubra seus grupos antecedentes; (c) identifique se as
características estão consistentes; (d) confira com experts e
valide.
4. Pergunte "porque" e identifique as causas associadas
a cada passo sequencial através do problema definido ou
evento. "porque" deve ser tomado como significando "Quais
eram os fatores que diretamente resultaram no efeito?".
5. Classifique as causas em duas categorias: fatores
causais que se relaciona a um evento na sequência; e causas-
raiz que quando eliminado interrompe aquele passo na ca-
deia de sequenciamento.
6. Identifique todos os outros fatores que possam ter
motivos melhores ou iguais de serem definidos como
"causas-raiz". Se houverem múltiplas causas-raiz, o que fre-
quentemente acontece, destaque-as para posterior melhor
seleção.
7. Identifique ação(ões) corretiva(s) que poderá(ão),
com certeza, prevenir recorrências de cada efeito
prejudicial/desejável e os relacionados resultados ou fatores.
Confira que cada ação corretiva poderia, se implementada
antes do evento, ter reduzido ou prevenido efeitos indesejá-
veis
8. Identifique soluções que, quando efetiva e dentro do
acordo consensual do grupo: previna recorrências com
razoável certeza; estejam dentro do controle da instituição;
atinja suas metas e objetivo; e não cause ou introduza outro
problema novo ou não detectado.
9. Implemente a(s) correção(ões) recomendada(s) da(s)
causa(s)raiz.
179
JC De Bragança
10. Assegure efetividade pela observação da
implementação das soluções em operação.
11. Identifique possibilidades de aplicação de outras
metodologias úteis para solução ou evitação do problema.
12. Identifique e ataque outras instâncias de cada resul-
tado indesejável ou fator prejudicial.
180
Ecdise De Uma Nação
Glossário
Índice
Se
Não souber o nome da pessoa
Então
Peça o nome da pessoa
Fim
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Bibliografia
Índice
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Maldita Guerra : nova história da Guerra do Paraguai
São Paulo : Companhia das Letras, 2002.
ISBN 978-85-359-0224-2
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Ecdise De Uma Nação
CAPA:
Papel: Supremo 240.
Cor: 4x0 colorida.
Acabamento: laminado fosco.
Dimensões: 42,87 x 21 cm (A5) incluisive orelhas
de 6cm.
MIOLO:
Papel: Off set 75 g.
Cor: 1x1 preto e branco.
Acabamento: brochura, dobrada e colada em hot
melt.
Dimensões: 14,8 x 21 cm (A5).
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