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Resumo
Este projeto tem como objetivo produzir uma coleção de 6 looks, sendo 4 deles
confeccionados, para o público de mulheres adultas com acondroplasia. Com o olhar
voltado para a inclusão social e seu papel na moda, o questionamento em torno das
interações entre as pessoas foi levantado e definido como ponto de interesse, além de
questões de igualdade e equidade, a partir das quais as etapas seguintes do projeto foram
norteadas. Dentre tais etapas, o uso, definido como sportwear, guia as escolhas de
materiais e modelagens, juntamente com o parâmetro sustentável, a função e os
parâmetros estéticos, trabalhando de forma cíclica, sempre se atentando à coerência
entre os questionamentos levantados, as práticas e o resultado final do projeto.
Introdução
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) define que
“pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física,
intelectual, mental ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas”. Segundo
Auler (2012, p.8) o modo de viver realmente pleno tem como foco a interação de uma
pessoa com o meio onde vive, influenciando sua qualidade de vida.
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uma vez que, “quando o indivíduo está e se sente incluído, têm mais chances de vencer
na vida, por se sentir mais seguro e ter de fato mais oportunidades” (PEREIRA; CRUZ,
2016, p. 4).
Devendo ser considerado um direito básico de cada um, Thorén (1996 apud
WOLTZ; CARVALHO, 2008, p. 5) aponta que o desejo dominante entre pessoas
deficientes é o de poder escolher entre as roupas disponíveis no mercado, como
qualquer outro cidadão. Ainda, qualquer ação inclusiva deve garantir àquele a ser
incluso a mesma experiência daquele já incluído na sociedade, não devendo ser limitado
às opções escassas que não possibilitam que sua individualidade seja exercida.
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WOLTZ e CARVALHO definem experiência do vestuário como “processo de escolha, compra e uso do
vestuário” apontando a conexão com “questões psicológicas e sociológicas, em virtude das sensações de
prazer e satisfação que proporciona, e também à sensação de inclusão, por possibilitar que a pessoa faça
parte de um grupo que compartilha dos mesmos gostos e estilo”
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Enfrentando grandes dificuldades na aquisição de vestuário apropriado e
vivenciando a experiência de inclusão, pessoas com acondroplasia (comumente
conhecida como Nanismo) possuem necessidades específicas às quais o mercado não
está apto para atender, demonstrando grande falta de conhecimento, preparo e interesse,
o que torna a urgência da solução dos obstáculos relacionados à indumentária dessas
pessoas cada vez mais alta.
Moda e Inclusão
A moda como ferramenta de inclusão, tem crescido com certo atraso, “é um nicho
que começa a crescer em pequena escala ainda, é um mercado à espera de desenvolvimento,
contudo, tende a ser um bom negócio, dada à demanda e a carência do setor” (DAL BOSCO,
2014, p. 3). De acordo com a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência (2012
apud PEREIRA; CRUZ, 2016, p.5), moda inclusiva é uma proposta para incluir tipos de
corpos que a indústria de hoje não contempla.
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evidenciar e potencializar sua exclusão, devendo minimizar seus esforços em relação ao
vestuário para ser verdadeiramente inclusivo.
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A acondroplasia é caracterizada como um distúrbio genético autossômico dominante que afeta a
ossificação endocondral, constituindo uma das causas de nanismo. (CERVAN et al, 2008, p. 1)
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Figura 1: Ilustração técnica de um corpo regular, um corpo regular proporcionalmente diminuído
e um corpo com acondroplasia, de estatura menos, membros curtos e tronco e cabeça maiores.
Fonte: Acervo do grupo.
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destacando a necessidade de um mercado que reverta essa carência. A real inclusão do
indivíduo com algum tipo de deficiência depende de o mesmo pertencer ao cotidiano
social, seja através da moda, a fim de facilitar seu dia a dia, ou por qualquer outro
aspecto (DAL BOSCO, 2014, p. 10), o que deve incluir a possibilidade de escolha de
um vestuário adequado tanto na funcionalidade, quanto na estética.
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As autoras desenvolverão uma tabela de medidas para este público com intuito de suprir essa
necessidade e aumentar o interesse do mercado em produzir vestuário adequado para este público.
Anterior a esse estudo, não havia tabela de medidas disponível no mercado.
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necessidade ergonômica e funcional desse tipo de roupa é bastante objetiva. As
entrevistadas apontaram que muitas vezes acabam recorrendo à utilização de leggings e
camisetas convencionais para tal prática, uma vez que a roupa adequada tende a custar
ainda mais cara com o valor do ajuste, sendo desvantajoso.
Essa escassez pode ser prejudicial à saúde física e psicológica do sujeito com
acondroplasia, “isto porque o esporte deixou de ser apenas um exercício físico e passou
a ser um estilo de vida” (SILVA et al, 2005, p. 50) e privá-lo do acesso à essa
experiência pode significar a potencialização do sentimento de inadequação e
inferioridade, associado à uma sociedade que reforça padrões de beleza que envolvem
corpos magros. As entrevistadas alegaram que, apesar de se importarem em manter a
boa forma, se importam mais com a saúde do corpo em si.
Além das dificuldades com alcance, outro fator afetado pela mutação
genética é a mobilidade. O portador de nanismo costuma sofrer de
degeneração precoce nas articulações, como a artrite, mesmo quando
criança. Como resultado, sentem muitas dores nas articulações e
dificuldades em caminhar longas distâncias ou permanecer muito
tempo em pé. Em alguns casos acabam fazendo uso de cadeiras de
rodas durante parte do dia para ajudar com a mobilidade. (ALVES;
ROMANO, 2015, p. 4)
Uma forma para prevenir e melhorar esses aspectos é a realização de sessões de
fisioterapia combinadas com exercício físico regular (ALVES; ROMANO, 2015, p. 4)
reforçando a necessidade da disponibilização de vestuário adequado para esse público
no intuito de aumentar sua qualidade de vida e equiparar as experiências disponíveis
para os mesmos e para pessoas não acondroplásicas sem maiores obstáculos, visto que
mesmo as instalações físicas de academias, por exemplo, não atendem suas
necessidades4.
Parâmetros Projetuais
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No Brasil, atualmente há apenas uma academia destinada a pessoas com nanismo, localizada em
Itabaianinha, no Sergipe. O projeto foi iniciado devido à alta população de pessoas com nanismo na
cidade, definida pelo IBGE como 1 a cada 300 habitantes. (NAVARRO; ANTUNES, 2012)
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público até a confecção das peças. É necessário, também, que possua características
sustentáveis que estejam de acordo com os três grandes pilares da sustentabilidade: o
social, o econômico e o ambiental, ao mesmo tempo em que atende aos parâmetros
estéticos, o uso e a função. Desta maneira, foi pensando nos parâmetros de forma
cíclica, aonde o mesmo tema possa corresponder à parâmetros diferentes. Para isso, foi
desenvolvido um mapa mental (Figura 2) que exemplifica a postura circular de
pensamento adotada.
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Estético
Painel Semântico
O painel foi obtido derretendo pedaços de giz com jatos de ar quente, que
espirravam a cera de forma espontânea e aleatória (Figura 3).
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Figura 4: Painel semântico composto por diversas manchas coloridas que se sobrepõem e se misturam
aleatoriamente.
Fonte: Acervo do grupo
Conceito
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E, diferentemente de igualdade (que prevê dar exatamente o mesmo para todos)
(Figura 5), significa igualar as experiências de cada um de acordo com as suas
necessidades específicas.
Figura 5: A figura mostra os conceitos de igualdade e equidade de forma imagética; em igualdade todos
estão sobre o mesmo número de livros, porém apenas um alcança o objetivo, e em equidade todos tem
números diferentes de livros, mas todos alcançam o objetivo
Fonte: https://educacao.uol.com.br/colunas/priscila-cruz/2017/03/29/a-distante-busca-pela-equidade.html
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Figura 6: Cartela de cor composta pelos pantones 17-1562 (laranja), 14-
0445 (verde), 17-4433 (azul claro), 19-4027 (marinho), 19-1724 (bordô) e
11-0602 (off white)
Fonte: Acervo do grupo
Sociocultural
Definiu-se que para atender o parâmetro sociocultural, o público alvo é formado
por mulheres adultas com acondroplasia que praticam atividades esportivas. De acordo
com entrevistas realizadas com essas mulheres foi apontado que, muitas vezes, não é
possível utilizar-se de roupas adequadas para práticas esportivas, uma vez que, para
elas, as peças disponíveis nas proporções de corpos regulares não atendem sua função
adequadamente, deixando a usuária desconfortável.
Uso e Função
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Figura 7: Moldes criados pelo grupo especialmente para o púlico acondroplásico.
Fonte: Acervo do grupo
Mercado
Tendo em vista que o mercado não oferece uma base adequada para os corpos
do público com acondroplasia, além do próprio nicho Sportwear não possuir qualquer
linha destinada a corpos menores, viu-se a possibilidade de criar algo inédito e
necessário.
Nas entrevistas também foi dito que quando encontram peças para seus corpos,
estas são de cadeias fast-fashion5, que oferecem certa variedade, porém com pouca
durabilidade e qualidade. Assim, posicionando-se contra o ofertado, viu-se a
possibilidade de adotar a postura de produção e mercado slow-fashion6, relacionando-se
diretamente com o parâmetro sustentável abordado a seguir.
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Fast Fashion: Segundo o Sebrae (2015) “em português significa moda rápida, é o termo utilizado para
designar a renovação constante das peças comercializadas no varejo de moda.”
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Slow Fashion: “possui como principal objetivo a conscientização da redução do ritmo produtivo do fast
fashion a fim de obter um conceito de produto sustentável. Por meio de uma peça de vestuário produzida
em pequena escala, com alta durabilidade e de princípios sustentáveis é possível agregar valor e gerar
diferenciação de mercado.” (NISHIMURA; GONTIJO, 2016)
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Sustentabilidade
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Figura 9: Tamplete do web site www.modaeacondroplasia.wixsite.com/inicio
Fonte: Acervo do grupo.
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Tabela de Sustentabilidade
Critério Pontuação
-1 0 +1
Peças
Possui propriedade estética? X
Possui propriedade semântica? X
É durável? X
É usável? X
É autêntica? X
Design
Possui durabilidade estética? X
Atende às funções do produto vestuário? X
É adequado ao processo de produção? X
Ecodesign
Pré-produção
Utiliza materiais renováveis, reciclados (áveis)? X
Emprega algum princípio de redução, reuso ou reciclagem no X
processo?
Estende o ciclo de vida do produto? X
Uso
Prevê o uso intenso do produto? X
Prevê o uso mesmo com as mudanças de estação e tendências de moda? X
Prevê a possibilidade de o produto não precisar ser lavado e/ou X
passado?
Total +9 Total em 71,42%
porcentagem
Tabela 1 – Tabela de sustentabilidade que analisa de forma didática se o produto é ou não
sustentável com base em perguntas que avaliam requisitos tais quais pré-produção, design e
produção de um produto, no caso da tabela deste projeto, o resultado foi 100% sustentável.
Fonte – BRANDÃO, Romário. SANTOS, Caroline Rocha Monteiro dos. “Saborear”. Trabalho
de Conclusão de Curso. Curso de Design de Moda. Universidade Anhembi Morumbi. São Paulo,
2013.
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Coleção
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Figura 11: Look 1 (confeccionado) – top estampado; calça com pala, bolso e vivos e jaqueta com
estampa central posterior e vivos.
Fonte: Acervo do grupo
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O top é confeccionado em malha Body Br e tem recorte vazado posterior com
detalhe drapeado. A frente do top é dublada, com zíper lateral, funcionando como um
bolso, contando com abertura no centro do decote interno para passagem do fone de
ouvido. O short é confeccionado em moletinho, com detalhes em galão contrastante,
elástico na cintura e cadarço colorido.
O top possui bolso frontal e interno no recorte da frente com passagem para fone
de ouvido, limitada por pesponto, possui pala e galões estampados e costas com recorte
vazado. Os detalhes em bordô são de malha Body Br, a pala e galões de malha Bi
Elastic e forro de malha Top. A bermuda é de malha Body com falsa saia estampada em
malha Top.
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Figura 14: Look 4 (confeccionado) – blusa de manga
longa com bolso posterior e short saia
Fonte: Acervo do grupo
Figura 15: Look 5 (confeccionado) - macaquinho que simula um vestido e uma pochete dupla face
Fonte: Acervo do grupo
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detalhe, há um vivo estampado em laranja na costura do recorte. A pochete entra como
acessório, podendo ser usada de ambos os lados, sendo que em um deles há um suporte
para garrafa d’água.
Figura 16: Look 6 (não confeccionado) – top com vivo, regata e calça jogger com bolso
Fonte: Acervo do grupo
Considerações Finais
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Cumprindo com o papel do designer, o presente projeto buscou solucionar
problemas presentes no cotidiano de pessoas com acondroplasia a fim de melhorar sua
qualidade de vida e promover sua integração na sociedade.
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Referências Bibliográficas
CERVAN, Mariana Pereira; SILVA, Marcia Cristina Pires da; LIMA, Rodrigo Lopes
de Oliveira; COSTA, Roberto Fernandes da. ESTUDO COMPARATIVO DO NÍVEL
DE QUALIDADE DE VIDA ENTRE SUJEITOS ACONDROPLÁSICOS E NÃO-
ACONDROPLÁSICOS. 2008. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v57n2/a04v57n2.pdf acessado em 10/09/2017 às 19:49
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DAL BOSCO, Glória Lopes da Silva. MODA INCLUSIVA: UMA ANALISE
ESTÉTICA FUNCIONAL. 2014. Disponível em:
http://coloquiomoda.com.br/anais/anais/10-Coloquio-de-
Moda_2014/COMUNICACAO-ORAL/CO-EIXO3CULTURA/CO-Eixo-3-Moda-
Inclusiva-Uma-Analise-Estetica-e-Funcional.pdf acessado em 15/09/2017 às 15:53
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NAVARRO, Fredson; ANTUNES, Flávio. Projeto-piloto vai levar a município de
Sergipe academia para anões. G1 SE, 2012. Disponível em
http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2012/09/projeto-piloto-vai-levar-municipio-de-
sergipe-academia-para-anoes.html acessado em 17/09/2017 às 15:56
SILVA, Ana Márcia; DAMIANI, Iara Regina.; FILHO, Lino Castellani; SOARES,
Carmen Lúcia; SANT’ANNA Denise Bernuzzi de; TAFFAREL, Celi Nelza Zulke.
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http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/4-Coloquio-de-Moda_2008/42438.pdf
acessado em 28/08/2017 às 23:29.
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