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KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça & TRAVAGLIA, Luiz. Texto e coerência.

São
Paulo:Cortez, 1989. (Transcrição da p.11 à p.25).

Capítulo I

CONCEITO DE COERÊNCIA E SUA RELAÇÃO COM A COESÃO

1.1. Dos conceitos de coerência e coesão

Antes de mais nada é preciso observar que nenhum dos conceitos encontrados na
literatura é capaz de conter em si todos os aspectos que consideramos como definidores
da coerência. Vamos, por isso, elencar, de forma sumária, os traços que têm sido mais
comumente apontados.
A coerência teria a ver com a “boa formação” do texto, mas num sentido que não
tem nada a ver com qualquer idéia assemelhada à noção de gramaticalidade usada no
nível da frase, sendo mais ligada, talvez, a uma boa formação em termos da interlocução
comunicativa.portanto, a coerência é algo que se estabelece na interação, na
interlocução, numa situação comunicativa entre dois usuários. Ela é o que faz com que o
texto faça sentido para os usuários, devendo ser vista, pois, como um princípio de
interpretabilidade do texto. Assim, ela pode ser vista também como ligada à
inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor
do texto (que o interpreta para compreendê-lo) tem para calcular o seu sentido. A
coerência seria a possibilidade de estabelecer, no texto alguma forma de unidade ou
relação. Essa unidade é sempre apresentada como uma unidade de sentido no texto, o
que caracteriza a coerência como global, isto é, referente ao texto como um todo.
A coerência é vista também como uma continuidade de sentidos perceptível no
texto, resultando numa conexão conceitual cognitiva entre elementos do texto. Essa
conexão não é apenas de tipo lógico e depende de fatores socioculturais diversos,
devendo ser vista não só como o resultado de processos cognitivos, operantes entre os
usuários, mas também de fatores interpessoais como as formas do falante na situação de
fala, as intenções comunicativas dos interlocutores, enfim, tudo o que se possa ligar a
uma dimensão pragmática da coerência. Os processos cognitivos caracterizam a
coerência à medida que possibilitam criar um mundo textual em face do conhecimento
de mundo registrado na memória, o que levaria à compreensão do texto.

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Como se percebe, a coerência é, ao mesmo tempo, semântica e pragmática; mas,
para alguns embora esses caracteres predominam, a coerência tem também uma
dimensão sintática (gramatical, lingüística) que discutiremos adiante. Contudo, não se
deve deduzir daí que a coerência tenha a ver com a superfície lingüística do texto: todos
os estudos procuram demonstrar que a coerência é profunda, subjacente à superfície
textual, não linear, não marcada explicitamente na estrutura de superfície. Além disso, é
global e hierarquizadora dos elementos do texto (os sentidos desses elementos se
subordinam ao sentido global unitário, os atos de fala que realizam se subordinam ao
macroato de fala que o texto como um todo representa.
Por tudo isso é que se pode dizer que a coerência é, basicamente, um princípio de
interpretabilidade e compreensão do texto caracterizado por tudo de que o processo aí
implicado possa depender (cf. Cap. 4). Como veremos, a coerência tem a ver também
com a produção do texto à medida que quem o faz quer que seja entendido por seu
interlocutor, conforme se supõe pelo princípio de cooperação.
O estudo da coerência poderia ser visto como uma teoria do sentido do texto (seja
ele uma frase ou um livro todo, não importa a dimensão), dentro de um ponto de vista
de que o usuário da língua tem competência textual e/ ou comunicativa e que a língua só
funciona na comunicação, na interlocução, com todos os seus componentes (sintáticos,
semânticos, pragmáticos, socioculturais etc.). estamos entendendo sentido como a
atualização seletiva no texto de significados virtuais das expressões lingüísticas.
Paralelamente ao conceito de coerência, formando com ele uma espécie de par
opositivo/distintivo, encontramos nos estudos textuais o conceito de coesão. Ao
contrário da coerência, a coesão é explicitamente revelada através de marcas
lingüísticas, índices formais na estrutura da sequência linguística e superficial do texto,
sendo portanto, de caráter linear, já que se manifesta na organização seqüencial do texto.
É nitidamente sintática e gramatical, mas é também semântica, pois, como afirma
Halliday e Hasan (1976), a coesão é a relação semântica entre um elemento que é
crucial para sua interpretação. A coesão é, então, a ligação entre os elementos
superficiais do texto, o modo como eles se relacionam, o modo como frases ou partes
delas se combinam para assegurar um desenvolvimento proposicional.
Muitos autores não distinguem entre coesão e coerência, utilizando um termo ou
outro para os dois fenômenos. Alguns fazem a distinção usando expressões como
“coerência microestrutural” ou “coerência local”, quando querem referir ao que foi
definido no parágrafo anterior como “coesão” e expressões como “coerência

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macroestrutural” ou “coerência global”, quando desejam se referir ao que foi definido
nos parágrafos iniciais deste item como “coerência”. É o caso de Charolles (1987ª) e de
Van Dijk e Kinisch (1983), por exemplo. Já Charolles (987a) subdivide a coesão em
“coesão” e “conexão” (cf. item 1.2). Essas observações objetivam alertar o leitor para
flutuações terminológicas ou de outro tipo que exigem que se preste atenção sobretudo
às conceituações dadas e não apenas aos nomes utilizados.

1.2. Conceituações de coesão e coerência segundo alguns estudiosos

Nesta seção apresentamos conceituações de coerência e de coesão formuladas por


alguns estudiosos, considerados como representativos nesse campo de
estudo.apresentamos tais conceituações na ordem cronológica de publicação dos
trabalhos.
Halliday e Hasan (1976) dizem que a coesão tem a ver com o modo como o
texto está estruturado semanticamente. É, portanto, um conceito semântico que se
refere às relações de significado que existem dentro do texto e fazem dele um texto
e não uma sequência aleatória de frase. A coesão é a relação semântica entre dois
elementos do texto, de modo que um deles tem de ser interpretado por referência ao
outro, pressupondo-o. Cria-se entre os elementos um vínculo (“tie”). Para eles há
dois tipos de coesão, conforme a classe de elementos envolvidos :coesão gramatical
(expressa através da gramática) e coesão lexical (expressa através do vocabulário).
Mas não seriam somente as relações de coesão que fariam do texto um texto (isto é,
que lhe dariam textura ou textualidade), pois ele precisa apresentar também um
certo grau de coerência que envolve os vários componentes impessoais e outras
formas de influência do falante na situação de fala. Um texto é uma passagem do
discurso que é coerente em dois aspectos: a) ao relação ao contexto de situação,
portanto, consiste em registro; b) em relação a si mesmo e, portanto, coeso. A
coesão é interna (linguística) e a coerência, externa, pois diz respeito aos contextos
de situação. O registro seria “constituído pelos traços lingüísticos que são
tipicamente associados com a configuração de traços situacionais”, seria o
“conjunto de configurações semânticas que é tipicamente associado com uma classe
particular de contextos de situação” e define a substância do texto: o que ele
significa no sentido mais amplo, incluindo todos os componentes de seu significado
já citados acima (interpessoais etc.) e também o representacional (referencial).

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Para Franck (1980), o termo coerência designa “a conexão formal e de conteúdo
entre elementos seqüenciais (frases, enunciados, atos de fala etc.) que coloca estes
elementos em relação uns com os outros e os insere numa forma de organização
superior como, por exemplo, nomes em uma lista, frases em texto, atos de fala
numa sequência (dialógica) etc.”.
Para Beaugrande e Dressler (1981), a coesão é a maneira como os constituintes
da superfície textual se encontram relacionados entre si, numa sequência, através de
marcas lingüísticas; é a ligação entre os elementos superficiais do texto. Já a
coerência tem como fundamento a continuidade de sentidos, dizendo respeito ao
modo como os componentes do mundo textual, isto é, a configuração de conceitos e
relações subjacentes à superfície do texto, são mutuamente acessíveis e relevantes.
O mundo textual pode ou não concordar com a versão estabelecida com o “mundo
real”. A coerência é o resultado de processos cognitivos operantes entre os usuários
e não mero traço dos textos. A coerência, portanto, coloca em funcionamento
processos cognitivos que deflagram a conexão conceitual. Tais processos podem ser
de dois tipos: a) conhecimento declarativo (proposições acerca de fatos ou crenças
sobre a organização dos eventos e situação no mundo real); b) conhecimento
“procedural” (fatos ou crenças organizados em blocos – conceitos e modelos
cognitivos – para tipos específicos de usos e operações. Mantemos o termo inglês
“procedural” por falta de uma tradução adequada no português, já que processual
teria marcada conotação jurídica e procedimental lembraria procedimento e não
processamento de conhecimento na memória). O relacionamento entre os conceitos
e elementos subjacentes à superfície textual, e que, de algum modo, são entre si
relevantes e acessíveis numa configuração de sentido, não é linear. Widdowson
(1978) diz que a coesão “é o modo pelo qual as frases ou partes delas se combinam
para assegurar um desenvolvimento proposicional...” e revela-se por índices
formais, sintáticos, sem apelo ao pragmático.é relação explícita e diretamente ligada
ao desenvolvimento proposicional. A coerência seria a relação entre os atos
ilocucionais que as proposições realizam. É diretamente ligada ao desenvolvimento
ilocucional. “Havendo coesão, é possível inferir os atos ilocucionais a partir das
ligações proposicionais indicadas explicitamente; havendo coerência, deduzimos as
ligações proposicionais implícitas a partir de uma interpretação dos atos
ilocucionais.”A conceituação de Widdowson destaca a dimensão pragmática da
coerência e fá-la depender das condições de felicidade para se estabelecer.

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Cabe lembrar aqui que, segundo os filósofos analíticos de Oxford (Austin,
Searle, Strawson), toda manifestação linguística constitui um ato de linguagem, isto
é, realiza uma ação (“todo dizer é um fazer”). Assim, os enunciados são dotados,
além do conteúdo proposicional (representação linguística de um estado de coisas
por meio de um ato de referência e um ato de predicação), de uma força
ilocucionária, que indica o tipo de ação que, por meio deles, se pretende realizar.
Entre os diversos tipos de atos de fala ou atos ilocucionários podemos citar:
asserção, pergunta, ordem, pedido, promessa, aviso, conselho, advertência etc. para
que tais atos se concretizem, existem certos requisitos a serem preenchidos: as
condições de felicidade. Por exemplo, no enunciado (1), temos um conteúdo
proposicional em que se faz referência a um elemento do mundo (a porta) e uma
predicação a respeito dela (está aberta).
Por meio da enunciação de (1) podem-se realizar deferentes atos ilocucionários
como:
a) uma simples asserção – se (1) é dito por alguém que, chegando a uma casa,
constata que a porta está aberta, contrariamente ao esperado, e o declara ao
seu acompanhante;
b) um pedido – se (1) é dito numa situação em que uma colocação anterior (por
exemplo, de que o barulho exterior está incomodando) levasse o interlocutor
a deduzir que o falante deseja que a porta seja fechada;
c) uma ordem – se (1) é dito, por exemplo, por uma mãe aos filhos, aos quais
ela já determinou que nunca deixasse a porta aberta;
d) um convite ao interlocutor para que se retire – se (1) é dito numa situação em
que o interlocutor está se queixando de algo na situação em andamento ou
está, por qualquer razão, representando um incômodo para o falante.
Bernárdez (1982), citando Salomon Marcus (1980), diz que a coerência significa
uma certa capacidade de atuar como unidade e que coesão se refere à existência de
conexão entre as diferentes partes.citando Cont (1977), diz que a coerência textual não
se busca simplesmente na sucessão (unidimensional) linear dos enunciados, mas sim em
uma ordenação hierárquica (pluridimensional). Quer dizer que, ao explicarmos o que é
coerência textual, não é suficiente assinalar as relações que devem existir entre as
unidades lingüísticas que representam superficialmente o texto, mas é necessário
considerar o processo total, desde a intenção comunicativa do falante até as estruturas
lingüísticas em que se manifestam finalmente esta intenção. Bernárdez mostra como se

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vai da intenção à forma linguística na produção do texto e como o ouvinte (leitor) faz o
caminho inverso na compreensão deste texto. Para ele , coesão e coerência são tanto
sintáticas como semânticas e pragmáticas. A coerência é semântica , porque é a
capacidade do texto de agir como unidade, remetendo a um sentido global; é
pragmática, porque o sentido depende da intenção comunicativa e é sintática, porque
pode ser recuperada a partir da sequência linguística que constitui o texto. A coerência
para ele é não só uma propriedade do texto, mas também um processo em que não é
possível estabelecer uma diferença marcante entre os níveis pragmático, semântico e
sintático.
Para Van Dijk e kintsch (1983), o termo coerência pode ser usado em sentido
geral para denotar que alguma forma de relação ou unidade no discurso pode ser
estabelecida. Em seus trabalhos iniciais, Van Dijk considerava a coerência uma
propriedade lógica do texto. Atualmente, acha que a coerência não é apenas propriedade
do texto, mas se estabelece numa situação comunicativa entre usuários que têm modelos
cognitivos comuns ou semelhantes, adquiridos em dada cultura. Estes autores falam de
coerência local(de parte do texto ou de frases ou de sequências de frases dentro do
texto) e em coerência global (do texto como um todo). Van Dijk e Kintsch aludem a
diversos tipos de coerência:
a) coerência semântica: que diz respeito à relação entre significados dos
elementos das frases em sequência em um texto (local) ou entre os elementos do texto
como um todo (macroestrutura semântica);
b) coerência sintática: que se refere aos meios sintáticos para expressar (por
exemplo, uso de pronomes e SNs definidos);
c) coerência estilística: que significa que um usuário em seu texto faz uso do
mesmo estilo ou registro, na escolha lexical, comprimento e complexidade da frase,
etc.Esta noção parece necessária para explicar fenômenos de quebras estilísticas;
d) coerência pragmática: que caracteriza o discurso quando estudado como uma
sequência de atos de fala , desde que atos de fala em sequência sejam condicionalmente
relacionados e satisfaçam as mesmas condições de propriedade que se mantêm para um
contexto pragmático dado (uma sequência de pedido polido seguida por uma ordem
seria pragmaticamente incoerente”).
Não se trata aqui de sequências como a de (2), abaixo, em que a resposta do
interlocutor justifica a mudança da força ilocucionária.
(2) O chefe de um escritório se aproxima de um funcionário e solicita:

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– Senhor Paulo, por favor, organize uma relação dos clientes que ainda não
contactamos este mês.
– Agora não posso, estou ocupado.
– eu estou dizendo para fazer, portanto faça-o agora. Quero esta relação em
minha mesa em uma hora.
(A segunda fala do chefe é feita em tom de ordem e não deixa qualquer dúvida
sobre a natureza do ato ilocucionário).
Para Marcuschi (1983), a coesão refere-se à estruturação da sequência
superficial do texto e à sua organização linear sob o aspecto estritamente lingüístico.
Seria a conexão seqüencial. Por outro lado, a coerência é o resultado de processos
cognitivos operantes entre os usuários dos textos; é o nível da conexão conceitual-
cognitiva e estruturação do sentido, manifestando-se, em grande parte,
macrotextualmente. Dá conta do processamento cognitivo do texto e fornece as
categorias que permitem a análise do nível mais profundo, envolvendo os fatores que
estabelecem relações causais, pressuposições, implicações de alcance suprafrasal e o
nível argumentativo. É o aspecto da organização e estabilização da experiência humana
no texto. A coerência é a organização reticulada ou tentacular do texto, não linear,
portanto, dos níveis de sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto
semântico e função pragmática. Assim, para Marcuschi, bem como para Beaugrande e
Dressler, a base da coerência é a continuidade de sentidos em meio ao conhecimento
ativado pelas expressões do texto.
Tannen (1984) define coesão como o conjunto de nexos da superfície textual que
indicam as relações entre os elementos de um texto; e coerência, em termos de
organização de estruturas subjacentes, que fazem com que palavras e sentenças
componham um todo significativo para os participantes de uma ocorrência discursiva.
Para Charolles (1978), coer~encia e linearidade textual estão relacionadas, ou
seja, “não se pode questionar a coerência de um texto sem levar em conta a ordem que
aparecem os elementos que o constituem”. Charolles(1979) diz que a coerência seria a
qualidade que têm os textos pela qual os falantes os reconhecem como bem formados,
dentro de um mundo possível (ordinário ou não). A boa formação seria vista em função
da possibilidade de recuperação, pelos falantes, do sentido de um texto. Charolles
afirma que a capacidade dos falantes de recuperação do sentido de um texto, calculando
sua coerência, “é limitada por fatos normativos (Piaget) de coerência socialmente
(sobre) determinados”.esses limites à recuperação da coerência são variáveis.

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