Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Este trabalho tem por fim relevar o que de (mais) nefasto tem a chamada “cultura da
celebridade”, e de como a ‘paranóia’, muitas das vezes, generalizada, que a suporta,
pode(rá) terminar de forma trágica.
Aqui, em parcas linhas, serão elencados factos, mas também suposições, e até mesmo
especulações de cariz puramente conspirativo acerca de um assassinato (talvez, a par do
de Kennedy, o mais famoso da história) que, passados trinta e oitos anos, ainda faz
correr muita tinta.
QUEM ERA MARK DAVID CHAPMAN?
Mark David Chapman partilhava com Fred Astaire o mesmo dia de aniversário: 10 de
Maio, embora com cinquenta e seis anos de diferença (Astaire nascera em 1899,
Chapman em 1955).
Em 1978, Chapman embarca numa viagem pelo mundo. Em 1979, casa com Gloria
Abe, a agente de viagens que o ajudou a planear a sua viagem pelo mundo. Ainda nesse
ano, em Dezembro, Chapman abandona o emprego no hospital e aceita um outro, como
segurança, num condomínio (Waikiki, 444, Nahua). Não aguenta lá um ano: despediu-
se a 23 de Outubro de 1980, assinando, nesse último dia em que trabalhou, “John
Lennon” (em vez do seu próprio nome).
A 27 de Outubro de 1980, Chapman adquire um revólver (calibre 38). A 30 do mesmo
mês, apanha um vôo para Nova York. Já na cidade, revela-se incapaz de comprar balas.
Assim, compra passagem para Atlanta. Lá, consegue as desejadas balas, voltando, de
seguida, a Nova York. De forma a evitar uma tragédia iminente, a sua esposa convence-
o a voltar para o Havai. Chapman faz o que ela lhe pediu.
Contudo, tendo por pretexto um suposto “crescimento pessoal, e até como marido”,
Mark Chapman consegue convencer a sua mulher de que precisa de viajar, novamente,
para Nova York, faltando a uma consulta de psicologia requerida pelo próprio, dias
antes. A 6 de Dezembro de 1980, dia de São Nicolau, Chapman aterra na “cidade que
nunca dorme”.
- I took my copy of the “Double Fantasy” album, and then, around 5 pm, the Lennon
family appeared. 'John, do you sign my album?', i asked. 'Sure!, he replied, ' and wrote
his name on it. He looked at me and asked 'Is that all you want?', and left.”
Lennon enfiou-se num carro, com a esposa, Yoko. No seguimento, Chapman conheceu
Sean, o filho de cinco anos de Lennon e Yoko, passeando com a sua ama. Apertou-lhe a
mão e chamou-lhe “Beautiful boy”, como a canção de Lennon.
Chapman permaneceu fora do Dakota, até que Lennon e Ono voltaram para casa, entre
as 22:30 e as 23:00 daquele dia, vindos de uma sessão de gravação. Quando Lennon
passou por si, reconhecendo-o, Chapman esperou que ele ficasse de costas e disparou
por cinco vezes. Quatro desses tiros, ou balas, atingiram Lennon, nas costas e no ombro.
Mais tarde, a polícia confirmaria que a arma era o revólver, calibre 38, que o assassino
comprara em Outubro.
Chapman não esboçou qualquer tentativa de fuga. Nos entretantos, foi desarmado pelo
porteiro do Dakota. Quando a polícia chegou, Chapman lia, em voz alta, passagens de
"Catcher in the rye”, de J.D. Salinger. Lennon, que não podia esperar por ambulância,
dada a gravidade dos seus ferimentos, foi levado, pela polícia, numa viatura para o
Roosevelt Hospital, local onde foi declarado morto, às 23:07, pelo Dr. Stephan Lynn.
Chapman diria que alguns dos detalhes amplamente divulgados e relacionados com o
tiroteio não são muito precisos. Numa das suas entrevistas (a Jack Jones), declararia:
"When Mr. Lennon walked past me, i waited , took the gun and shot…", disse ele.
"I read, everywhere, since that time, that i called 'Mr. Lennon’ just before i took the
shots, but I didn’t. I just shot him. It was just me and him at the Dakota entrance, and I
knew who he was. I met him earlier in that day, and then i shot him.”
Chapman acrescentou que a acção havia sido inspirada por Holden Caulfield, o
personagem principal da obra "The Catcher in the rye”, no qual se revia:
Este é o tópico mais confuso de todos, uma vez que as declarações de Chapman, quer no
interrogatório que se seguiu ao assassinato de Lennon, quer no julgamento, quer nas
entrevistas que começou a aceitar, a partir de determinada altura, e até nas audiências
para a possibilidade de liberdade condicional, não condizem, ou seja, são várias as
versões que o próprio apresentou. Também não é de menosprezar a temática, apetecível
para quem gosta de um bom mito urbano, ou de teorias da conspiração.
Primeiro, é preciso referir que o assassinato foi, como é óbvio, premeditado. Gloria,
ainda esposa de Chapman, corroborou essa versão ao jornal britânico “The Mirror”,
numa entrevista de 2018, por altura da última audição para a liberdade condicional do
marido. Ela afirmou que Chapman lhe havia dito que iria matar o músico, dois meses
antes do crime, em Outubro de 1980.
Segundo o mesmo jornal, Mark Chapman não matou Lennon nessa altura como prova
de amor pela esposa, que conseguiu fazê-lo regressar ao Havai, tendo ainda convencido
a mesma de que se havia livrado da arma.
Quando as notícias sobre a morte de Lennon começaram a aparecer, Gloria não teve
dúvidas:
"It was Mark. Two months before, he went to New York. He came back pretty messed
up, telling me that he had to kill John Lennon in order to get famous. He told me that it
was my love for him that saved the day.”
Mas, como se sabe, Mark David Chapman acabaria por regressar a Nova Iorque para
cometer o crime, algo com que a sua mulher não contava.
"He told me he had to return to New York, to grow up, both as adult and husband. And I
believed. He wanted us to spend more time alone, so that we could live a long and
happy marriage He also told me he got rid of the gun, throwing it to the sea, but he
lied.”
- Chapman estava mentalmente doente (marcara uma consulta psicológica, a que faltaria
por ter viajado para Nova York (com os resultados conhecidos por todos);
- Acreditava ser Holden Caulfield, personagem de “The Catcher in the Rye”. Chapman,
como Caulfield, não gostava de “falsos” (phonies), e começou a acreditar que Lennon
era falso (por pregar sobre a paz e a igualdade, mas viver em casas extravagantes);
- Chapman estava farto que Lennon criticasse os Beatles, ou os membros dos Beatles,
após o fim do grupo.
- Chapman declarou ter escutado “vozes” (ou Deus) que o incitaram a cometer o crime.
- Noutra ocasião, numa entrevista que aceitou dar (a Howard Stern), revelou que,
naquele dia 8 de Dezembro, apesar de ter pedido a assinatura de Lennon (no disco), ele
queria era a sua vida. Ficou com ambas;
Na série de entrevistas a Jack Jones, que iriam dar origem ao livro “Let me Take You
Down: Inside the Mind of Mark David Chapman”(1992), Chapman expressou remorsos
por ter matado Lennon, sobretudo por ser, para além de músico e famoso, uma pessoa e
um pai.
A partir daí, apesar de parecer, por vezes, derivativo, há uma certa coerência quanto ao
fim: a fama.
Chapman revelou que havia criado uma lista de pessoas, e que Lennon não era, sequer
o alvo principal. Dessa famigerada lista faziam parte o apresentador Johnny Carson, a
actriz Elizabeth Taylor, Lennon, entre outros. Chapman queria fugir ao destino do “Zé-
Ninguém” (“John Doe”). Voltando à lista, atentemos no seguinte: George C. Scott, o
famoso actor, também lá figurava. Chapman chegou a conseguir lugares, na primeira
fila, de uma peça (com Scott) da Broadway, equacionando matá-lo.
Em 2012, numa das audiências para liberdade condicional (a sétima), um dos membros
do conselho lançou a Chapman, em jeito de comentário, o seguinte:
- So, you’re saying that it wasn’t personal. You just wanted fame.
Chapman tentou falar com a viúva de Lennon, querendo passar a mensagem de que
nada tinha contra o marido como pessoa, mas apenas como famoso, e de que tinha sido
Lennon, mas poderia ter sido qualquer outra pessoa daquela lista.
Na última das audiências (até hoje), a décima, que se deu em 2018, um dos membros da
“Parole Board” colocou-lhe a seguinte questão:
TEORIA(S) DA CONSPIRAÇÃO?
Mark David Chapman tornou-se vítima da sua sede por fama, fama essa alimentada por
razões hediondas. É, e tem sido, desde a noite de 8 de Dezembro de 1980, “o assassino
de John Lennon”. Mais nada.
Ela, também, não poderá almejar a mais do que ser “a esposa do assassino de Lennon”.
O ‘LEGADO’ LENNON/CHAPMAN
No cinema:
- “The killing of John Lennon” (2006), produção britânica, escrita e realizada por
Andrew Piddington, centrada na vida de Mark David Chapman (antes do assassinato de
Lennon);
- “The Lennon Report” (2016), escrito por Walter Vincent e dirigido por Jeremy Profe.
Centrado nos acontecimentos da noite de 8 de Dezembro de 1980;
Eventos/Acontecimentos:
- David Gilmour, dos Pink Floyd, escreveu e gravou a canção "Murder" em resposta à
morte de Lennon; a canção foi lançada no álbum a solo (de Gilmour) “About face”
(1984);
- Elton John escreveu, com a ajuda de Bernie Taupin, "Empty Garden (Hey Hey
Johnny)", para o álbum “Jump Up!” (1982);
- McCartney prestou a sua homenagem com "Here today", no seu disco “Tug of war”
(1982);
- Os Queen gravaram "Life is real", escrita por Freddie Mercury, para o álbum Hot
Space (1982), em tributo a Lennon;
- Bob Dylan escreveu e gravou a canção "Roll on John", para o seu álbum, “Tempest”
(2012).
- Os “And You Will Know Us by Trail of Dead” gravaram uma canção com o título
"Mark David Chapman" para o seu álbum “Madonna” (1999).
- Os “Mindless Self Indulgence” produziram uma faixa cujo título era"Mark David
Chapman", para o seu álbum “If” (2008).
"I Just Shot John Lennon" é uma canção do disco “To the faithful departed”, da banda
irlandesa The Cranberries. Num estilo “punk”, o grupo narra os acontecimentos daquela
fatídica noite. Os versos “Oh a sad and sorry and sickening sight; It was a sad and
sorry and sickening night;, uma espécie de comentário mais pessoal, aplicam-se, de
forma cabal, à resposta de Chapman, quando lhe perguntaram “Do you know what you
did?”.
- I just shot John Lennon., respondeu.
O “just” assume, aqui, uma espécie de elemento banalizador do momento: parece mais
um “apenas”, ou até um “só”, do que um “acabei de”, mesmo que esta última expressão
pareça, já por si, uma fria aceitação dos factos.
CONCLUSÃO
Autor, repórter e investigador, Jack Jones entrevistou, durante cinco anos, Mark David
Chapman. Não encontro conclusão mais apropriada para este trabalho do que este
trecho (p. 252) da obra “Let Me Take You Down: Inside the Mind of Mark David
Chapman, the Man Who killed John Lennon” (1992), do referido autor (obra essa que
nasceu a partir das entrevistas):
"Celebrities have taken the place of heroes and they exist in a culture where it seems
almost impossible for heroes to exist. They're pure figures of fantasy from the
beginning. Almost all of them arise out of the entertainment industry, which traffics in
fantasy. They hardly have any existence, actually, aside from their celebrity and the
celebrity status is quite devoid of substance or content. That of course is an
exaggeration but it does serve to distinguish heroes from celebrities and to distinguish
the kind of feelings they evoke in people, which is a much more intense kind of
identification. And that's where the distinction between the celebrity and the fan seems
to get obliterated. It's hard to remember they're not you, because they're so fully
invested with your fantasies and they are addressing them so directly, invoking them,
asking for just that kind of identification.”
BIBLIOGRAFIA E CITAÇÕES
JONES, Jack, “Let Me Take You Down: Inside the Mind of Mark David Chapman, the
Man Who killed John Lennon” (1992);
BRESLER, Fenton, “Who killed John Lennon?” (1990);
CRANBERRIES, The, “I just shot John Lennon” lyrics, “To the faithful departed”
(1996).