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AINDA MAIS GUERREIROS DA AMAZÔNIA!

A trilogia “Guerreiros da Amazônia” recebe um destaque inovador.

A produção dos exemplares foi compensada com o plantio de ár-


vores na Amazônia, via Programa Carbono Neutro IDESAM. O que
significa isso? A energia elétrica, a quantidade de papel, a tinta
da impressão e afins emitem carbono, ou seja, os gases do efeito
estufa; o cálculo de carbono, os técnicos do IDESAM (Instituto de
Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas) o fizeram
e traduziram em árvores nativas da Amazônia, num reflorestamento
na Reserva do Uatumã, região leste do estado do Amazonas.

Inclusive, há o envolvimento direto das comunidades da Reserva do


Uatumã no plantio, num sistema agroflorestal.

Dessa forma, os livros Guerreiros da Amazônia, ganham um desta-


que pioneiro; sendo a primeira trilogia literária Carbono Neutro do
mundo!

Mais informações sobre o plantio de árvores dos livros “Guerreiros da


Amazônia”: www.idesam.org.br // www.carbononeutro.org.br

A marca FSC® é a garantia de que a madeira utilizada na fabricação do


papel deste livro provém de florestas que foram gerenciadas de ma-
neira ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente
viável, além de outras fontes de origem controlada.

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Copyright © 2009 by Ronaldo Barcelos

Escrito por
Ronaldo Drumond Barcelos, Ronaldo Santana da Silva,
Álvaro Ottoni de Menezes e Ricardo Longobardi de Vilhena

Ilustrações
Ronaldo Santana da Silva

Consultoria ambiental
Paulo Coutinho

Consultoria Educacional
Sidney de Oliveira Silva

Projeto gráfico
Ronaldo Santana da Silva e Dirceu Santos

Glossário
Sidney de Oliveira Silva e Sérgio Bezerra da Silva

Revisão do Texto
Sidney de Oliveira Silva, Sérgio Bezerra da Silva, Elaine Souza da Silva,
Ana Carolina Morett Pinheiro, Beatriz Lima e Tânia Rejane Alves Gonçalves

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

B242a Barcelos, Ronaldo.


Amazon guerreiros da Amazônia: o templo da luz / Ronaldo
Barcelos; Ilustrações de Ronaldo Santana. 3. ed. – Rio de Janeiro:
RJR Produções, 2015.
208 p. : il. : Color. ; 21 cm.

Bibliografia: p. 202-204.
ISBN: 978-85-654651-06

1. Literatura Infanto-juvenil Brasileira. 2. Literatura Brasileira. I.


Barcelos, Ronaldo. II. Santana, Ronaldo. II. Título.

CDD 808.899282

Ficha Catalográfica elaborada por Anna Karla S. da Silva (CRB7/6298)


Inspirado na ideia original de Neto Favaron

1ª. edição 2009 LITTERIS® EDITORA

2015
Todos os direitos reservados à
Editora RJR Produções
Rua Miguel Lemos 41, sala 606. Copacabana
CEP: 22071000 – Rio de Janeiro – RJ
www.guerreirosdaamazonia.com.br

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P ela janela do avião, Cynthia podia ver as nuvens
passando. E isto a fazia sentir muito bem. Estava em seu
habitat1 natural. Cynthia não era um pássaro, mas bem
poderia ser. Voar, sempre foi o maior prazer de sua vida. O fazia
sempre que podia com sua asa delta. Não era a primeira vez que
viajava de avião, mas era a primeira vez que ia para tão longe. O
outro extremo do País. Ela estava adorando tudo aquilo, pois horas
atrás, saíra de sua terra natal, Porto Alegre, e viera para Manaus.
Agora, mais uma vez, sobrevoava a Floresta Amazônica
fazendo um breve passeio, para conhecer a região. Hipnotizada
pelas nuvens, ela mal percebia o falatório à sua volta. De fato, o
monomotor estava lotado, o que não era difícil, já que se tratava
de um avião pequeno, mas o comandante Padilha falava por todos.
Além de Cynthia, no avião havia mais dois jovens que, assim
como ela, ganharam esta viagem no 1º Concurso Nacional de Frases
sobre a Amazônia, eram eles Kleyton e Allan. Os três ganharam
uma semana de estadia em Manaus e o direito de participar
de um grande congresso sobre meio ambiente. Dentro deste
mesmo monomotor encontram-se mais duas pessoas, renomados
cientistas, peças fundamentais do congresso. O Dr. Murilo,
especialista em meio ambiente, merecedor de muitos prêmios
internacionais e dono de uma simpatia ímpar. Um homem de seus
cinquenta e poucos anos, corpo esguio, óculos de grau e cabelos
grisalhos. A outra pessoa era a consultora de telecomunicações,
Dra. Jaqueline Ventura. Mesmo sendo mais jovem, também era
uma especialista muito requisitada em todo o mundo. Uma bela
mulher, madura, morena, de cabelos longos e escuros.
Todos ouviam o comandante falar sem pausas. Mas, sem dúvida,
Padilha era um homem agradável e tudo o que dizia parecia
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interessante e suas aventuras divertidíssimas, todas vividas naquele
mesmo avião.
– Em duas horas iremos pousar, já estão preparados para o assédio
da imprensa? – brincou o comandante Padilha com os jovens.
– Bá, até parece! As estrelas do congresso são eles, importantes
cientistas. Nós seremos apenas ouvintes, mas, de qualquer modo,
estou muito nervosa, sim! – falou Cynthia, ao mesmo tempo em
que lançava um olhar de admiração para o casal à sua frente.
– Obrigado, Cynthia! Mas tenho certeza de que a imprensa não
vai perder a oportunidade de assediá-los. Afinal, vocês são os
grandes vencedores do concurso, não é mesmo, Jaque? – falou,
com um sorriso, o Dr. Murilo.
– Claro! A imprensa vai querer entrevistá-los meus queridos,
vocês podem se preparar. É normal ficar nervosa, mas garanto que
não há necessidade. Esses congressos podem ser muito chatos para
pessoas tão jovens como vocês e com coisas muito mais divertidas
para fazer, como surfar, não é Allan? – brincou a Dra. Jaqueline.
– Surfar é tudo, Doutora! Mas também estou animado para o
congresso. É a primeira vez que participo de um. Acredito que
dê para surfar também em Manaus. Não é possível que em um
lugar tão grande como esse não tenha uma praia pra eu cair com
a minha prancha!
– É claro que tem! Perto do hotel de vocês existe a Praia da
Ponta Negra. Ela fica às margens do Rio Negro. – disse o piloto e
guia turístico, comandante Padilha.
– Eu sabia! – falou Allan todo satisfeito com a descoberta. – Mas
vou dizer a vocês, foi muita coincidência ganhar esse prêmio. Eu
estava folheando o jornal para ver as novidades do surf quando,
na mesma página, li uma notícia sobre o processo de extinção dos
botos2 na Amazônia. Eu fiquei muito revoltado com aquilo. Admito
que quando uma coisa me incomoda eu falo nela o tempo todo e
de tanto encher a paciência, quando passeávamos no shopping,
uma amiga me deu um perfume que eu queria há um tempão, na
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condição de eu calar a boca. Dentro da caixa do presente tinha
um papel para preencher com uma frase sobre a Amazônia, ou
seja, quase perdi meu presente, porque escrevi na hora uma frase
sobre a tal matéria dos botos. Ali mesmo, na loja, eu entreguei
meu cupom. Um mês depois, recebi uma carta, eu era um dos
vencedores. Nem acreditei!
– Allan, sua história é muito parecida com a minha. – disse
Cynthia – Exceto que eu não ganhei presente, comprei um óleo
para passar na minha pele, e a vendedora da loja me falou do
concurso. Quando cheguei em casa, fui conferir o resultado do
torneio de asa delta. Vendo um site de notícias, o assunto sobre
as queimadas3 que estão acabando com a vida na Amazônia e
contribuindo para o aquecimento global4, me despertou uma
vontade enorme de participar do concurso. E você Kleyton?
– Bom, no meu caso foi tudo um sonho, ou deveria dizer um
pesadelo. Rolava uma grande guerra entre tribos indígenas, com
muitas crueldades e mortes. Eu queria intervir, mas ninguém me
ouvia. “Vocês combatem o inimigo errado”, eu tentava dizer. “A
briga de vocês é contra aqueles que querem explorá-los, que
querem tomar as riquezas dessa terra.” De repente, aparece uma
onça que solta um rugidão, que assustou aqueles que brigavam.
Nesse mesmo dia, quando eu fui ao mercado, fiquei sabendo do
concurso e resolvi participar. – respondeu Kleyton.
Allan, o jovem mais brincalhão do grupo, sem tirar os olhos da
paisagem, murmurou:
– Cara, se a gente ganhou é porque esse é o nosso destino.
Posso até passar vergonha com algum jornalista, mas o que me dá
medo mesmo é olhar aquele tapete verde lá embaixo. Já pensou
se o avião cai nessa floresta fechada?
– Vira essa boca pra lá, Allan, pensa na beleza do lugar, nos
mistérios da floresta e não em tragédia! – rebateu Kleyton.
Cynthia, olhando fixamente através de sua janelinha, murmurou:
– Só consigo me imaginar voando de asa delta por cima da
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floresta. Deveria haver um jeito de
saltar lá de cima do Pico da Neblina.
– Menina, você é louca ou está
brincando? O Pico da Neblina
fica perto da Venezuela e
tem 3014 metros de altura.
É o mais alto do Brasil! E
para chegar lá, são necessários
muitos dias de caminhada! –
disse o comandante Padilha.
A menina, sem piscar nem se
impressionar com as palavras do
comandante, apenas falou de forma
romântica:
– Nasci para voar!
– Estamos sobrevoando o coração da
Floresta Amazônica. – disse o comandante –
Não é à toa que é gigante, é a maior floresta
tropical do planeta. Pena que a estão
devastando. Aliás, vocês podiam aproveitar
as entrevistas que darão, meus jovens, para denunciar os crimes
contra a floresta. Se não cuidarmos da Amazônia, em pouco
tempo ela vai virar um grande deserto.
Com a deixa do comandante Padilha, o Dr. Murilo falou:
– A Amazônia Continental não só é a maior, como também a
mais rica floresta do mundo. Ocupa metade da América do Sul,
concentrando 50% de toda a biodiversidade5 e 1/5 da água doce
da Terra.
– Dr. Murilo, como assim, continental? - perguntou Cynthia.
– Cynthia, chamamos de Amazônia Continental toda a sua área,
composta de oito países, como Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador,
Guiana, Suriname, Venezuela, Peru, e um território, Guiana
Francesa. Em conjunto, eles compreendem 40% de toda a floresta.
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O Brasil detém 60% e, lamentavelmente, nosso País apresenta um
desmatamento superior ao dos outros países, chegando a mais
de 20%, o que é uma vergonha! Tudo isso, principalmente, nos
últimos 40 anos.
Dra. Jaque, como costumava ser chamada, até agora quieta,
entrou no papo, perguntando qual dos três jovens saberia dizer o
principal motivo da devastação na Amazônia.
Cynthia ficou pensativa e Allan respondeu:
– O corte para o uso de madeira.
– A exploração de minerais. – tentou Kleyton.
– Meninos, realmente, as madeireiras e os garimpeiros,
principalmente os que operam ilegalmente, foram e continuam
sendo uma grande ameaça. Mas, hoje, as queimadas e as
consequentes emissões de gás carbônico (CO2)6 na atmosfera,
estão se tornando a principal preocupação ambiental na Amazônia,
por sua contribuição para o efeito estufa7, o aquecimento da Terra.
Nós estamos perdendo, por causa das queimadas, milhares de
quilômetros por ano de florestas. Além disso, são elas que abrem
caminho para as fazendas de gado e as grandes plantações de soja,
consolidando para sempre a perda da biodiversidade existente
aqui. A perda da vida! Somos exemplos para o mundo na questão
da utilização de energia através de hidrelétricas, álcool e biodiesel,
mas as queimadas nos colocam no vergonhoso quarto lugar entre
os países que mais contribuem para o aquecimento global.
– Doutora, o que vai acontecer se as queimadas continuarem?
– perguntou Allan.
– Allan, o aquecimento vai mudar o clima no mundo inteiro e
eventos naturais como tempestades, furacões, secas, enchentes
e diversos outros, antes suportáveis pelo homem, vão se tornar
insuportáveis. O aquecimento do planeta é um problema tão sério,
que um pequeno aumento na temperatura da Amazônia pode
fazer com que 40% da floresta se transforme sozinha em cerrado.
– Sinistro! – falou Allan, impressionado.
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– Já que está rolando uma aulinha grátis, – comentou Cynthia –
vocês sabiam que o Rio Amazonas é uma redução de “Rio de Las
Amazonas”? Ele recebeu esse nome depois que os colonizadores
espanhóis avistaram em sua margem um grupo de mulheres
guerreiras. Li isso na internet quando soube que viria para cá.
– Muito bem, Cynthia! – disse o Dr. Murilo – Você está certa! Os
colonizadores associaram essas mulheres às da Mitologia Grega.
Segundo a história, existiu um povo de mulheres guerreiras,
descendentes de “Ares”, o Deus da Guerra.
– Dr. Murilo, onde nasce o Rio Amazonas? – perguntou Allan.
– Allan, o Amazonas nasce no Nevado Mismi, montanha de 5500
metros de altitude localizada no sul do Peru, entre as cidades
de Arequipa e Cusco. Brota nos Andes com cerca de 15 cm e
percorre 6.840 quilômetros até desaguar no Atlântico.
– Caramba, só 15 cm? Que maneiro! – disse Allan, que ficou
pensando nas palavras do Dr. Murilo.
Ficaram alguns minutos no total silêncio, em parte por preocupação
e, muito mais, por admiração, em face do mundo grandioso que
todos avistavam através de janelas tão pequenas. Até que um grande
solavanco no avião quebrou aquele momento mágico.

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-
M as o que é isso? Não é possível! - começou a falar
mais alto o comandante.
Concentrando-se, mexeu em alguns botões e
puxou o manche do avião com força. Seu rosto estava nitidamente
preocupado, enquanto o avião continuava a falhar e a perder
altura.
– Apertem bem os cintos! – gritava para os passageiros – Curvem
o corpo pra frente, coloquem o rosto nos joelhos, segurem a
cabeça com as duas mãos. Vou fazer um pouso forçado! Deu pane
no motor!
O pequeno avião perdeu altitude, se aproximou da mata
fechada, quando, milagrosamente, o comandante avistou um
pequeno rio, um igarapé1, que poderia servir de pista improvisada,
embora fosse muito estreito. O avião pousou de forma assustadora.
No primeiro toque na água, parecia que ía se partir em dois. O
trem de pouso se quebrou e as asas foram arrancadas por grandes
árvores situadas às margens. Por uns cem metros, o avião deslizou
pela água até que foi parado por um banco de areia.
Apavorados e apressados, todos saltaram e se distanciaram do
avião que, em poucos segundos, explodiu, fazendo um grande
barulho.
Assustados, tontos e com pequenos ferimentos, se reuniram
na margem do igarapé, embaixo de um taperebazeiro2, uma
árvore com aproximadamente 25 metros de altura, que serviria
como um bom abrigo. Poucas coisas conseguiram levar do avião.
O comandante só se lembrou de agarrar uma caixa de primeiros
socorros e um paraquedas para servir de abrigo. Dra. Jaque não se
esqueceu de sua mochila, na qual guardava um laptop.
Cynthia, com um corte na testa, chorava sem parar, inconsolável
e apavorada. Allan, em estado de choque, não cansava de se
lastimar:
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– Maldita hora em que fui abrir minha boca! Derrubei o avião!
Meu pessimismo derrubou o avião!
Os cientistas, muito nervosos, não conseguiam esconder a
angústia e a aflição. O comandante circulava entre eles perguntando
se estavam bem. Comentava da sorte de terem conseguido pousar
no igarapé e saírem ilesos.
Dr. Murilo deu uma forte e longa respirada e, na tentativa de
manter a sua calma e a do grupo, disse, enquanto pigarreava à
procura de um timbre de voz que soasse o mais natural possível:
– O importante é que estamos vivos e bem, graças à habilidade
do nosso piloto.
Colocando a mão sobre o ombro do comandante Padilha,
acrescentou:
– Agora, só precisamos manter a calma o máximo possível e
ficaremos todos bem.
Enquanto isso, Dra. Jaque, com as mãos trêmulas, tentava teclar
seu laptop, porém, ansiosa e com a voz assustada, lamentava para
si e para o grupo:
– Não adianta. Aqui, nessa região, não dá sinal. Não dá para
conectar. Minha esperança era, ao menos, a de enviar uma
mensagem para que não desistam de nos procurar.
– Com isso, a doutora não precisa se preocupar, porque
certamente farão o possível e o impossível para nos resgatar. Não
irão desistir. Afinal de contas, os senhores são famosos. – disse o
comandante, tentando mostrar tranquilidade. E continuou, sem
olhar nos olhos de ninguém:
– O problema é que estamos em um local difícil para localização
pela terra e pelo ar. Quero dizer que não vai ser fácil para os
grupos de resgate. Porém, tenho fé que não vai demorar a sairmos
desse pesadelo. Além disso, se escapamos desse terrível acidente,
é porque não chegou a nossa hora. Pela posição do Sol, vamos
ter que caminhar na direção sul. À noite, através das estrelas, vou
traçar nosso caminho de volta. Talvez seja mais sensato esperarmos
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aqui mesmo, por alguns dias, pelo resgate. Se não formos achados,
começaremos uma longa, bem longa caminhada.
Os jovens é que não se convenceram muito. Estavam aflitos,
quietos e abraçados como se fossem amigos de longa data.
Para piorar, escurecia rapidamente. Em meio ao canto das aves,
os diversos barulhos da mata pareciam se multiplicar, trazendo
medo aos seus corações. Mosquitos castigavam seus corpos,
dando várias picadas sem que fossem percebidas. E o primeiro
animal a se apresentar foi um sapo Cururu3. Dra. Jaque orientou-os
a não mexerem com ele, porque poderia se assustar e soltar uma
secreção venenosa de suas glândulas, já que é desta maneira que
ele se protege de seus predadores.
Quando estavam começando a se acalmar, um grande rugido
fez com que todos se calassem.
– O que é isso? – perguntou Cynthia.
O experiente comandante Padilha não pestanejou:
– Vamos procurar um abrigo. Tem uma onça4 muito perto daqui.
– Onça? – gritaram quase ao mesmo tempo.
Desesperados, por sorte, avistaram uma pequena gruta. Da
mesma forma, no entanto, foram avistados pelo grande felino, que
espreitava atrás de uma árvore. Todos correram para a gruta, que
tinha uma entrada muito estreita. A onça também correu. Um a
um, foram entrando pela fenda, mas Kleyton, que ficou por último
na corrida, sentiu que não daria tempo. Então, resolveu correr
para outro lado, o que chamou a atenção da onça que, de um
salto, alcançou e derrubou-o ao chão! Com
o enorme animal sobre seu peito,
as lágrimas rolaram pela face.
O coração acelerado quase
explodia no peito. Kleyton
estava imóvel! A criatura
era incrivelmente pesada
e com os dentes à mostra.
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Enquanto sentia o hálito do bicho com pavor, por um momento,
aceitou sua condição e olhou nos olhos da fera. Aquelas duas
esferas de um amarelo amendoado, quentes e brilhantes. Ali,
naqueles olhos ele encontrou algo que, naquele momento julgou
ser a morte. Ele não saberia dizer quanto tempo fitou aqueles
olhos, se milésimos de segundos ou horas, mas naquele instante
ele abandonou o medo. E não pensou em mais nada, como se
estivesse hipnotizado. Quando voltou à consciência, o peso das
duas patas abandonaram seu peito e o animal lentamente saiu de
cima dele. Girou completamente o corpo e, andando lentamente,
tomou a trilha de onde tinha surgido.
O rapaz levantou o corpo e fitou-a mais uma vez. A onça, ao
perceber estar sendo vigiada, olhou para trás, para aquele rapaz
estirado no chão e, mais uma vez, se encararam por uns breves
segundos. Então, a onça se virou e disparou em uma corrida para
dentro da mata, sumindo completamente.
Todos dentro da gruta não acreditavam no que tinham
presenciado. O rapaz ficou imóvel na mesma posição, com uma
cara que era um misto de alívio e espanto. Ninguém entendeu
nada, até que o próprio Kleyton disse:
– Gente! Não sei o que aconteceu, mas eu senti uma coisa
muito estranha. Era como se a onça quisesse me proteger.

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R efeitos do susto, Cynthia
chamou os dois amigos para
fazerem um reconhecimento da
região, procurar uma clareira, um lugar a céu
aberto, onde pudessem ser achados
com mais facilidade por um grupo
de resgate. Antes de partirem, foram
advertidos pelo comandante que era
importantíssimo terem bastante atenção para não se perderem.
Ele também ensinou aos jovens como achar água para beberem
dentro de cipós1. Sem água para beber fica impossível sobreviver
na floresta.
– Mas, Cynthia, e se a gente der de cara com outra onça ou
qualquer outro bicho perigoso? Acho melhor a gente ficar quieto!
- disse Allan, receoso.
– Deixa de ser medroso, carioca. Não podemos ficar aqui para
sempre. Vamos! - falou, corajosamente, Kleyton.
Assim, os três jovens se separaram do comandante e dos
cientistas. Estavam deslumbrados com o lugar. Nunca tinham
ouvido tantos e tão variados cantos de pássaros. Cynthia, então,
estava encantada com a aproximação de algumas araras2, pareciam
homenageá-la.
Então, apesar do receio e da recomendação do comandante,
se distraíram, especialmente quando avistaram um galo-da-
serra3, com sua cor vermelha de saltar os olhos. Sem perceber,
se embrenharam demais na mata. Quando resolveram voltar, não
conseguiram encontrar o caminho. Cynthia puxou Allan para a
direita, enquanto Kleyton apontava para o outro lado. Passaram o

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dia perdidos, gritaram por socorro, pelos nomes dos cientistas e
do piloto, até que chegaram às margens de outro igarapé quando
a tarde começou a cair.
– Será que é o mesmo igarapé onde caiu nosso avião ou achamos
outro? Ou estamos perto dos doutores, ou completamente
perdidos – disse Cynthia.
E complementou:
– Amanhã, a gente segue o curso dele e descobre. Hoje,
vamos parar por aqui, pois não aguento mais dar um passo. A essa
altura tem que ter alguma patrulha atrás da gente. Pessoas que
conheçam essa floresta na palma da mão! – disse tentando, mas
não conseguindo esconder seu desespero.
Estavam muito cansados e, apesar do medo de entrarem na
água, resolveram dar um rápido mergulho para se refrescarem e
se limparem. Aí, um fenômeno aconteceu. Allan era um ótimo
nadador, o que fez com que não resistisse a dar longas braçadas.
Foi então que surgiram vários botos parecendo querer forçá-lo
a voltar para a margem. O rapaz já se encontrava incomodado
e disposto a, de alguma forma, afastar os animais. Foi aí que
ele se lembrou da reportagem sobre a extinção dos botos,
fato que motivou sua participação no concurso de frases e,
consequentemente, sua ida para a floresta. Resolveu obedecer e
voltar para a beira do rio.
A fim de escolher o melhor lugar para erguerem uma cabana,
percorreram a margem do rio abaixo. Ao fazê-lo, tiveram noção
do perigo que Allan correria caso se afastasse naquela direção, já
que, 200 metros depois, havia uma grande queda d’água, um lugar
estreito e pedregoso onde o fluxo provocava grande correnteza.
Allan teve que reconhecer que a atitude dos botos havia lhe
poupado de um acidente que poderia resultar em ferimentos
graves ou na própria morte. Na ocasião, recordando o que havia
sido dito por Cynthia, pouco antes, não pôde deixar de observar:
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– O que me pergunto é se existe alguém que conheça essa
imensa floresta na palma da mão. Mas é hora de parar mesmo!
Vamos procurar folhas grandes, cipós, galhos, tudo o que possa
servir para construir uma cabana.
– E comida também, galera! - emendou Kleyton - Meu estômago
está coladinho, coladinho. Mas, Cynthia, todo cuidado é pouco.
Você já viu que qualquer passinho em falso é suficiente para ser
engolido pela floresta.
A turma trabalhou duro e logo reuniu material suficiente para
construir a cabana. Allan, com seu pequeno canivete, e Kleyton,
com sua força e uma tremenda disposição.
Já estavam preocupados com Cynthia, quando ela apareceu
com alguns palmitos, que cortou de palmeiras e ouriços de
castanheiras encontrados no chão.
Os dois correram em sua direção.
– Calma, gente, calma, tem pra todo mundo! - repetia Cynthia,
finalmente rindo um pouco.
Para comerem as castanhas, tiveram um pouco de dificuldade,
já que antes precisaram bater o ouriço contra uma árvore até ele
se abrir.
O dia também foi muito cansativo para os cientistas e para
o comandante Padilha, que procuraram os jovens o tempo
todo, sem sucesso. Usaram o paraquedas que o comandante
retirou do avião para armarem uma
enorme barraca. Conseguiram
recolher apenas palmitos para se
alimentarem. Decidiram esperar
até o dia clarear para retornarem
com a busca aos jovens.
Enquanto isso, bem longe dali, no
mundo todo, as emissoras de televisão

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noticiavam o desaparecimento do pequeno avião na Floresta
Amazônica.
“Desapareceu, na Floresta Amazônica, o avião que conduzia os
famosos cientistas, Dr. Murilo e Dra. Jaqueline Ventura, além dos
três jovens vencedores do Concurso Nacional de Frases sobre a
Amazônia. Uma patrulha do Exército se encontra na selva, neste
momento. Aviões da Aeronáutica sobrevoam a região a partir
do local onde a aeronave, conduzida pelo comandante Padilha,
sumiu dos radares. Mais informações a qualquer momento ou em
nosso próximo noticiário.”
E, no coração da Floresta Amazônica, a cabana dos jovens ficou
pronta. Eles se orgulharam da construção. Abrigados ali, ficaram
sentindo aquele alívio dos corpos esticados, enfim deitados,
depois de tanta ralação. Não demorou para escurecer e, diante
deles, a fogueira, que fizeram graças aos fósforos que pegaram
com o comandante, mostrava fôlego para durar a noite inteira.
Mesmo assim, era preciso vigiar o fogo, pois não podiam correr o
risco dele se apagar, por ser a única proteção de que dispunham
para assustar os animais. Tentaram manter a calma, o alto astral,
mas era difícil, o medo era muito forte e constante. Apesar do
cansaço, o sono não vinha, o estado de alerta se impunha, e assim
a conversa vararia a noite.
Confessavam entre si a preocupação com os cientistas e com
o piloto. Cynthia não conseguia esconder seu nervosismo, pois
tinha medo de cobra, de aranha venenosa, de feras ou de uma
doença transmitida por um daqueles inúmeros mosquitos que não
paravam de sugar-lhe o sangue.
– Já eu, tenho medo é que uma dessas tantas lendas seja
verdadeira – disse Kleyton, enquanto Allan acariciava os cabelos
compridos da gauchinha.
– Bobagem, Kleyton, lenda é lenda. Mas já que você falou, por
que não conta uma aqui da Amazônia só pra passar o tempo,
quem sabe bate um soninho? – completou Allan, piscando o olho
para ele, numa tentativa de que a história pudesse acalmar a amiga.
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– Oh! Eu conheço um monte... Deixe-
me ver uma boa para esta ocasião –
pensava, concordando com o pedido
do amigo. - Ah, tem a lenda do guaraná!
Na verdade, existem várias versões para
ela, vou contar a minha.
– “Era uma vez um curumim, um
indiozinho de nome Aguiri, da grande
nação Sateré-Mawé4. Aguiri estava sempre
pronto para ajudar seus amigos e a todos de
sua tribo, mas ele não era querido só por isso.
Ele chamava atenção pelos seus olhos, de um
formato diferente e iluminado. Diziam que o
olhar dele era assim porque só enxergava pelo coração.
Um dia, Aguiri decidiu fazer uma surpresa para os outros
curumins, que brincavam em um rio. Foi de árvore em árvore
colhendo frutos em uma cesta de juta5 que sua mãe fizera. Estava
tão empolgado com aquela ideia, devido à felicidade que iria
trazer ao grupo, que não percebeu que se afastara da sua aldeia
como nunca antes. Para completar, a noite caiu rápido, pegando-o
de surpresa. Não achando o caminho de volta, decidiu dormir no
oco de umas dessas grandes árvores, protegendo-se dos animais
noturnos e perigosos.
Acontece que o temido espírito Jurupari6, que tem o corpo
peludo do morcego e o bico de uma coruja, andava por ali, já
que se alimentava também de frutas. Ele não demorou sentir a
presença de Aguiri e o atacou sem lhe dar chance de defesa.”
– Ele morreu? - perguntou Cynthia, roendo as unhas e com os
olhos bem arregalados.
– E o que essa história trágica tem a ver com guaraná? Fala logo
baiano! - perguntou Allan, também nitidamente intrigado.
Sem responder aos amigos, Kleyton continuou a narrar a lenda.
– “E o menino, mal o dia amanhecera, foi encontrado morto
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pelos índios de sua tribo. Os pais dele, os amigos, enfim, todos
estavam completamente desesperados e uma tristeza tomou
conta da floresta, de um modo tal que até os pássaros se calaram.
De repente, se ouviu no céu um grande trovão e um raio iluminou
o corpo de Aguiri.
Todos gritaram:
– É Tupã... É Tupã... Ele vai nos trazer o menino de volta!
O pajé daquela tribo teve uma visão e ouviu uma voz, bem
macia e aveludada, vindo diretamente do seu coração. Pediu
silêncio e todos se calaram. A voz disse para plantar os olhos do
curumim ao pé de uma árvore seca e regar com as lágrimas de
seus amiguinhos. As lágrimas fariam nascer uma planta para dar
felicidade a todos, pois aquele que provar de seu fruto sentirá
as energias renovadas e seu coração se encherá de entusiasmo
e alegria. Seguiram a ordem do pajé e uma árvore de frutos com
a forma idêntica a dos olhos de Aguiri nasceu. Aquele povo deu
então à fruta, em homenagem ao indiozinho, o nome de Guaraná,
que no idioma Tupi significa ‘a árvore da vida e da vitalidade’”.
Cynthia começou a chorar e os amigos a abraçaram.
– Realmente, eu estava precisando chorar e a lenda apenas
puxou o choro que estava engasgado na minha garganta. Estou
tentando ser forte, mas, de vez em quando caio na real de que
estamos aqui, guris, perdidos em plena selva amazônica... É muita
loucura! E não é pesadelo. – repetia a menina, aos soluços.
A lenda deu uma distraída nos jovens, mas contribuiu para que
custassem mais ainda a pegar no sono. Viravam de um lado para
o outro, tentavam, em vão, se livrar ou matar os mosquitos que
voavam na cabana. Quando finalmente o cansaço pareceu ter
falado mais alto que o desespero e o temor, dormiram.
Horas mais tarde, foram despertados por uma tempestade.
Um vento forte transformou a cabaninha em nada. Em segundos,
estavam encharcados e o frio tomou conta de seus corpos.
A situação trouxe revolta e desespero para os três.

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– Meu Deus, o que fizemos de errado para merecer um castigo
desses? - resmungava Allan, socando a terra e enfiando a cabeça
entre os joelhos.
– Pois é, conhecer a Amazônia era meu maior desejo, nunca
poderia pensar que esse sonho iria virar um pesadelo desse tamanho
– dizia Kleyton, pra lá de injuriado.
– Será que vamos sair dessa, gente? Será que nosso fim vai ser
esse? – resmungava Cynthia, com os olhos cheios de lágrimas.
Allan, porém, respirou fundo, passou as duas mãos pelo rosto
e, sentado na base da imensa árvore, abriu os braços para os
companheiros. Numa demonstração de que iria dar a volta por
cima, disse:
– Venham, deem aqui um abraço forte. Vamos segurar esta onda,
não vamos deixar o desespero bater na gente, não! Amanhã cedo,
levantaremos outra cabana. A gente ainda vai rir de todo esse
perrengue quando estivermos no conforto das nossas casas.
E, desta maneira, os três, bem abraçados, sentados, molhados e
encostados na árvore conseguiram cochilar um pouco.
O dia amanheceu num azul lindo com a turma já empenhada na
construção de uma nova cabana.
– Me ajude aqui, Allan, vamos amarrar o cipó na árvore e reforçar
tudo. Assim, só um furacão poderá destruí-la. É isso aí! – disse
Kleyton, tentando manter o astral alto.
– E você acordou com tudo, hein, Kleyton? – rebateu Cynthia.
– Ele tá com tudo e eu é que não tô muito bem. Tô com uns
arrepios esquisitos, parece que vai pintar uma febre. Mas não se
preocupem, porque não sou de entregar os pontos, não. Que tal
a gente sair por aí atrás de comida e aproveitar para explorar um
pouco mais o lugar? É só a gente não se afastar do igarapé pra não
se perder de novo – disse Allan, com jeito meio derrubado.

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P erto do local onde o avião caiu, em uma grande área
desmatada, um cientista conhecido como Dr. Zach
ergueu um verdadeiro vilarejo no meio da mata. Casas,
gaiolas, estufas, laboratórios para análises de plantas, antenas para
comunicação via satélite e galpões enormes. Tudo isso muito bem
vigiado por homens armados.
Dr. Zach estava sentado à mesa de seu laboratório, examinava
umas plantas, quando foi interrompido por seu assistente. Tratava-
se de um sujeito muito forte e esperto, chamado Anderson, o
qual trazia uma notícia que, decerto, iria justificar a interrupção
da pesquisa.
– Dr. Zach, desculpe incomodar, mas o senhor tem que saber
disso! – disse, animadamente.
– Já sei! O Cassius fez o índio contar tudo o que sabe sobre os
Amazons! – respondeu eufórico o cientista.
– Ainda não, esse índio é muito teimoso. Tive até que mandar o
Cassius aliviar nas bordoadas, porque senão ele ia acabar batendo
as botas e, pior, morrer calado. O que tenho a dizer é outra coisa!
Deu na televisão que o casal de cientistas a que o senhor se referia
ontem, sofreu um grave acidente. O avião em que eles viajavam
caiu aqui, em plena floresta.
De um salto, Dr. Zach pôs-se de pé.
– Dr. Murilo e Jaqueline Ventura?
– Eles mesmos!
– Que pena! Dois talentos como eles! – lamentou Dr. Zach.
– Aí que está, não encontraram o avião ainda. Na verdade
acreditam que eles possam estar perambulando pela floresta,
agora mesmo! – retrucou Anderson.

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– Isso é verdade?! Anderson, você sabe o que isso significa? Se
conseguirmos resgatá-los antes dos militares, podemos convencê-
los a trabalhar para mim. Poderão dar depoimentos positivos
sobre nós, o que nos daria mais prestígio e dinheiro para continuar
minhas pesquisas sem ser incomodado pelas autoridades. Se estes
dois ainda estiverem vivos, trabalharão para mim, por bem ou por
mal! Rápido, prepare um grupo de buscas. Você sabe por onde
começar? – disse Dr.Zach segurando os braços de Anderson.
– Não posso garantir, mas ontem mesmo vimos uma fumaça no
horizonte e sei que naquela direção existe um igarapé. Seria sorte
demais, mas podemos tentar. Vou agora mesmo, senhor!
– Não perca tempo, tenha cuidado para não atrair os militares.
Se é verdade que podem ter caído tão perto, temos que camuflar
algumas coisas. Mande Cassius aqui!
– Sim, senhor! – diz Anderson saindo da tenda.
– Isto é um sinal, sinal de que a sorte está do meu lado. A cada
momento sinto estar mais próximo do meu objetivo – diz Dr. Zach
para si mesmo.
A tropa de Anderson por muito pouco não cruzou com os
jovens. Não fosse o som ensurdecedor de uma queda d’água,
talvez escutassem os rapazes trabalhando em sua cabana. No
entanto, os cientistas e o comandante foram resgatados.
De volta à tenda de Dr. Zach, um homem baixo, gordo, com jeito
de ignorante, mas incrivelmente forte, que atendia pelo nome de
Cassius, entrou para falar com seu patrão, que trabalhava em seu
laptop.
– Dr. Zach, eu já levei os índios para o galpão 4 como o senhor
mandou.
– Ótimo, pode ir! – respondeu o Doutor, sem tirar os olhos da
tela.
– Obrigado, senhor! Mas, sem querer atrapalhar, o senhor
poderia me dizer por que pediu que eu fizesse isso? – disse
Cassius, envergonhado.

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– Porque estou esperando visitas e não quero que tenham a
impressão errada de mim! – respondeu o Doutor, ainda sem olhar
o empregado.
– E quem seria essa visita, Doutor? – insistiu Cassius.
– É verdade! – o Doutor finalmente olhou para seu empregado.
– É melhor eu explicar pra você, já que a inteligência não faz parte
de suas virtudes! – o Doutor se levantou e chegou perto.
– Anderson está na selva à procura de um grupo de cientistas
perdidos. Quando eles chegarem eu quero que você não abra a
boca. Não mencione nada que estejamos fazendo, nem mesmo os
cumprimente, entendeu? Você quando fala é um perigo. Apenas
fique na sua, está bem?
– Sim, senhor! Vou ficar na minha.
– Ótimo! – sorriu o cientista.
– É, Dr. Zach? – Cassius, ainda confuso, perguntou.
– O que é? – já perdendo a paciência.
– Que impressão errada o senhor acha que suas visitas teriam se
vissem os índios? – perguntou Cassius, franzindo a testa.
– Hum, vejamos! O que você pensaria se chegasse na casa de
uma pessoa e encontrasse um índio espancado até a morte no
chão da sala e um careca musculoso de pé! – disse o Doutor,
quase se exaltando.
– Que o careca musculoso é o campeão?! – berrou Cassius,
todo feliz!
Dr. Zach, perplexo, ficou olhando aquele troglodita pulando,
e disse:
– Bem, apenas faça o que eu falei, está bem?
– Tá legal, chefe! – e saiu da tenda.
O Doutor voltou para sua mesa.
– O que foi que eu fiz pra merecer isso? – resmungou, esfregando
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as mãos no rosto.
Mas antes de sentar, Cassius voltou à porta e gritou:
– Dr. Zach?!
– O que é agora Cassius? – respondeu, já sem paciência.
– Acho que a sua visita chegou! – disse o troglodita, apontando
para fora da tenda.
Dr. Zach, surpreso e feliz, saiu da tenda apressado e presenciou
o grupo de Anderson chegando.
Os dois cientistas não conseguiam acreditar no que viram.
Aquela infraestrutura era impensável para tal região. A surpresa
foi enorme. Começaram a pensar como fora possível mantê-la
escondida. Afinal, nunca fora mencionada na imprensa ou mesmo
nas publicações científicas.
Dr. Zach foi recebê-los e o fez simulando surpresa:
– Então, Anderson, quem são os seus amigos?
– Ora, Doutor, não são as visitas que o senhor esperava? – disse
Cassius, surpreendendo Dr. Zach, que o acotovelou:
– O que eu mandei você fazer, Cassius?
– Ah sim, desculpe senhor!
– Pode nos dar licença? – disse Dr. Zach, desesperado,
desejando que o imbecil fosse embora.
– Ah sim, desculpe chefe! – respondeu Cassius, que finalmente
atendeu seu patrão e foi para bem longe do grupo.
– Perdoem o meu empregado, ele não é má pessoa, só não é
muito esperto.
– Claro! Bem, nós sofremos um acidente, nosso avião caiu na
mata e explodiu, conseguimos escapar a tempo. O nosso grupo
era maior, mas acabamos por nos separar e o senhor Anderson
nos encontrou – explicou, aflito, o Dr. Murilo.
– Ora, mas neste caso, então, vocês devem estar exaustos! Por
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que não se limpam e descansam um pouco. E depois conversamos,
certo? Anderson, acompanhe-os, por favor – falou Dr. Zach,
dissimulando.
– Realmente estamos exaustos, mas nossa maior preocupação
agora é com os meninos que se perderam da gente. Também
precisamos nos comunicar com as autoridades para nos resgatarem.
– insistiu Dr. Murilo.
– Podem ficar tranquilos, vou providenciar que uma equipe minha
parta imediatamente para procurá-los. Quanto às autoridades, eu
mesmo as aviso. Agora, vão com Anderson.
Imediatamente, Anderson diz:
– Sigam por aqui, eu vou pegar roupas limpas para vocês.
Eles caminham na direção que Anderson indicou. Aproximando-
se de seu chefe, Anderson perguntou em voz baixa:
– Quer mesmo que façamos uma busca aos garotos?
– Você realmente acredita que me importo? Meu interesse está
apenas nos cientistas. Providencie que se sintam confortáveis,
temos que fazer com que confiem em nós!
À noite, na hora do jantar, os cientistas foram procurados por
Anderson e conduzidos até um grande salão destinado a receber
os convidados ilustres. Após a chegada dos hóspedes, foi servida
uma sopa de tartaruga e depois um churrasco. Vegetariana, Dra.
Jaque não comeu nada e achou absurda a tal sopa de tartaruga.
Dr. Zach respondeu diversas perguntas, naturalmente mentindo,
até que no final lançou uma proposta para os cientistas:
– Meus senhores, creio que tenham muitas indagações em suas
mentes. Vou adiantar-lhes algumas informações, porque gostaria
muito de poder contar com a colaboração de tão ilustres cientistas
no trabalho que venho desenvolvendo. Nossa organização foi
criada com o objetivo de explorar, em benefício da humanidade
e de forma correta, as riquezas desse imenso território. Aqui, os

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senhores irão encontrar tudo o que há de mais avançado nas áreas
tecnológica e científica. Ciente das atividades que os senhores
desenvolvem no mundo afora, acredito que muito apreciarão a
oportunidade que terão de continuar suas pesquisas, em contato
com facilidades que nunca existiram no local de trabalho atual dos
senhores. A humanidade necessita, com urgência, poder contar
com os benefícios dessa enorme biodiversidade aqui encontrada!
Não espero resposta imediata ao convite. Amanhã, após o café,
os senhores irão conhecer, para uma melhor avaliação, nossas
instalações.
Os cientistas ficaram curiosos em descobrir um pouco mais
sobre o que existia naquele lugar. No dia seguinte, tal como havia
sido prometido, foram fazer a visita em companhia do Dr. Zach.
O laboratório estava localizado num dos enormes galpões que
haviam visto. Dentro, muitos pesquisadores. Cada um com sua
bancada cheia de plantas e instrumentos. Estavam tão concentrados
em seus trabalhos, que nem pareceram notar pessoas estranhas.
Dr. Zach deliciava-se com as expressões de espanto dos
visitantes, que observavam cada uma das pesquisas que estavam
sendo feitas e começou a falar sobre alguns dos experimentos:
– Este é meu Engenheiro Biomédico e também Biólogo, o Dr.
Kazuo Aoki, que eu fiz questão de trazer do Japão. Ele é meu
braço direito, pois assim como eu, é um curioso incorrigível e não
se limita apenas à sua área de atuação. Está sempre questionando
e buscando inspiração e soluções em toda parte. Ele agora está
pesquisando os efeitos desta planta que, segundo os índios,
serve para curar o câncer. Isso vale destacar: sempre trabalhamos
com ajuda dos índios! Eles nos ensinam os segredos e assim
economizamos anos de estudo e uma fortuna em investimentos.
Eu adoro os índios!
Dr. Murilo observava tudo cuidadosamente e trocava olhares
com a Dra. Jaque. A visita foi demorada e no final, Dr. Murilo não
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resistiu e perguntou:
– Dr. Zach, o que vimos é esplêndido, mas gostaria de saber, se
não for indiscrição demasiada, quem promove tudo isso, pois o
custo deve ser tão elevado que os promotores têm de ser muito
ricos para arcar com tantas despesas e, ainda mais, por que é um
empreendimento tão secreto?
– A maior parte dos investimentos eu mesmo faço. Também
recebemos contribuições de algumas empresas, mas ninguém
quer publicidade. Por isso, aqueles que aqui trabalham devem se
manter afastados das famílias e de todas as atividades anteriores.
Contudo, em compensação, recebem o suficiente para deixar
seus parentes muito bem amparados. Por outro lado, o segredo se
impõe, pois não poderíamos ficar na dependência da aprovação
dos governantes para tocar o projeto.
Com extrema habilidade, o Dr. Zach não insistia em obter uma
resposta imediata para permanência dos cientistas, pois confiava
no deslumbramento deles diante de tudo que viam.
Dr. Murilo, embora encantado de poder desfrutar de tantas
facilidades para seu trabalho, pressentia que havia algo de estranho
em tudo aquilo e, assim, esperava o momento para manifestar a sua
discordância. Já a doutora estava curiosa, e decidiu não perder a
oportunidade para conhecer os outros mistérios existentes. Esses
sentimentos não passaram despercebidos pelo Dr. Zach, que
resolveu separar os cientistas. Encarregou o Anderson de guiar o
Dr. Murilo numa excursão bastante cansativa, enquanto ele levaria
a professora para conhecer os serviços de extração mineral.
Levados por um helicóptero, desceram em outro acampamento,
onde, para surpresa da cientista, viram as explorações de uma
mina subterrânea feita por robôs enormes. Dr. Zach chamava esses
robôs de Z-bots. Deviam ter uns 3 metros de altura e trabalhavam
por 50 homens.

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– O que é extraído aqui? – perguntou Dra. Jaque.
– Nesta região, eu programei estas máquinas para procurar
nióbio1, mas é comum encontrar quartzo2 e estanho3. Tenho,
também mais Z-bots extraindo em outras áreas. – respondeu Dr.
Zach.
– Nióbio? Se bem me lembro, esse minério é utilizado na
composição de ligas metálicas que requerem resistência e leveza.
– Exatamente, Dra. Jaqueline! É perfeito para indústrias como
aeronáutica, naval e espacial, além da automobilística.
– Por favor, me chame de Jaque! Mas eu pensei que a produção
se concentrasse em Minas Gerais. – refletiu a Dra. Jaque.
– Você está certa, mas aqui no Amazonas também se encontra
bastante deste fabuloso minério. – respondeu, com ar de orgulho,
o Dr. Zach.
– Hum! Pelo seu entusiasmo quase posso apostar que seus
Z-bots são feitos desse material.
– Muito bem observado, Doutora, quero dizer, Jaque. Você
está inteiramente correta!
A excursão feita com o Dr. Murilo e com o Anderson, além de
cansativa, possibilitou-lhe observações para as quais não possuía
respostas, mas que lhe impressionaram de modo muito negativo.
Haviam estado em uma região onde eram capturados os animais
destinados aos laboratórios.
– O que vocês fazem com eles depois de analisados?
– Não faz parte das minhas responsabilidades.
– Oh! Bem, senhor Anderson, eu estou muito confuso quanto
às reais intenções do Dr. Zach aqui na floresta. Para mim, vocês
não passam de mais um grupo irresponsável que explora a floresta
sem pensar nas consequências. Eu quero ser levado ao serviço de
telecomunicações imediatamente! – exigiu o Dr. Murilo.

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– Está bem, venha comigo, vou te levar agora mesmo. –
respondeu Anderson.
Ambos caminharam até a porta de um galpão. Anderson
estendeu o braço indicando ao Doutor que entrasse primeiro. Ele
obedeceu. Mas, uma vez dentro, se deu conta de que tinha sido
enganado.
– Espere, mas não tem rádio algum aqui! – Anderson fechou a
porta.
– Você não quis colaborar, agora vai ficar preso junto com o
comandante! – e só então Dr. Murilo percebe seu companheiro
sentado no canto da sala.
– Vocês são uns criminosos, Dr. Zach não passa de um charlatão.
Vocês fazem pesquisas estranhas aqui e eu vou denunciar vocês! –
berrou o cientista, pondo a cabeça na janelinha da porta.
– Foi exatamente o que pensei, por isso estão presos. Pense
bem, se mudarem de ideia, me avisem! – Anderson deu às costas
e se afastou do galpão.
– Volte aqui! Solte a gente! – gritou, inutilmente.
Anderson continuou andando até chegar à pista, onde o
helicóptero de Dr. Zach pousava. Anderson estendeu a mão para
ajudar a Dra. Jaque descer.
– Oh, obrigada Anderson! Onde estão o comandante e o Dr.
Murilo?
– Foram conhecer outra instalação que temos à beira do rio –
mentiu Anderson.
– Ora, e eu posso conhecê-la também? – perguntou eufórica,
se virando para o Dr. Zach.
Anderson indicou com sutis gestos de cabeça e olhar para Dr.
Zach, que não.
– Não minha cara, eu tenho uma ideia melhor. Que tal irmos às

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estufas agora e deixamos o rio para amanhã. Você pode encontrar
seus amigos depois. Que tal? – respondeu, dissimulando.
Ela achou um pouco estranha aquela situação, mas concordou.
Após todos se recolherem, Dra. Jaque, revirando de um lado
para o outro sem conseguir dormir, resolveu dar uma volta pelo
acampamento. Estavam todos dormindo e ela conseguiu entrar
no laboratório. Passou pelas bancadas e caminhou até uma porta
onde se lia: acesso restrito. Forçou a maçaneta e lá dentro viu
uma instalação com vários galões cheios de urânio4. A Doutora,
completamente surpresa, soltou:
– É urânio, meu Deus! O que o senhor faz aqui Dr. Zach?
Sem perceber, Dr. Zach surgia atrás dela, acompanhado de
Cassius, e respondeu a sua pergunta, o que a fez tomar um grande
susto.
– Dinheiro, minha cara Jaque! Muito dinheiro!
– O senhor vende urânio? Então você mentiu pra mim o tempo
todo. Deveria se envergonhar, já imaginou se caem em mãos de
terroristas? – acusou, se recompondo do susto de ser flagrada
naquela área restrita.
– Eu não menti em nada. Realmente busco todos os minérios
que lhe falei que explorava. Apenas omiti alguns. – debochou o
Dr. Zach. – E não me venha com esse papinho puritano! O mundo
gira em torno do dinheiro, não me importo quem compra meu
urânio, vendo para quem pagar mais, pode ser de qualquer canto
do mundo. Podem usar até em bombas atômicas, não estou nem
aí! E a senhora é uma cientista valorosa, ganharia muito bem se
trabalhasse para mim.
– Eu nunca vou fazer parte desse absurdo!
– Pois então, minha cara, você vai se juntar aos seus amiguinhos
e, ao invés de desfrutar comigo, será presa. E além disso, tem mais
coisas que não lhe contei e que é a grande razão de tudo isto.

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Meu maior desejo é encontrar os Amazons.
Neste instante, mesmo sem precisar das ordens de seu chefe,
Cassius se aproximou da Doutora e a imobilizou segurando seus
braços.
– Ora, me largue seu brutamontes! Amazons?
– Sim! Trata-se de um povo lendário que guarda todos os
segredos e as maiores riquezas da Amazônia. Há 20 anos, venho
recolhendo informações, resquícios mínimos de seus traços na
história da humanidade. Descobri sua existência em uma escavação
na Venezuela. Encontrei um artefato que continha uma energia
tão incrível que até hoje não vi nada que se compare. Minhas
pesquisas me fazem crer que eles tenham se refugiado há centenas
de anos, aqui na Amazônia. E se eu estiver certo, estamos diante
da maior descoberta dos últimos tempos!
– O senhor está louco! É um velho maluco que acredita em
crendices. Além de ser um grande criminoso! – reclamou a Doutora,
tentando se livrar das fortes mãos de Cassius.
– Pense o que quiser, Doutora. Cassius, leve Dra. Jaqueline
Ventura para a cela junto dos outros prisioneiros.
– Agora mesmo, senhor! – respondeu Cassius, empurrando a
mulher para fora do laboratório.
– O senhor se arrependerá disso, Dr. Zach!
– Tchau, tchau, Doutora! – acenava Dr. Zach, com um sorriso
de deboche no rosto!

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E nquanto os cientistas e o comandante sofriam nas mãos
do perverso Dr. Zach, não muito longe dali, os jovens
também passaram com muita dificuldade por mais um
dia e uma noite na floresta. A fome, os mosquitos e o medo
aumentavam a cada minuto. Eles subiam pela margem do igarapé
para voltar à cabana. Allan, com febre, dizia que não aguentava
mais dar um passo. Realmente, ele havia piorado muito. Estava mal
mesmo. Cynthia e Kleyton sustentavam o amigo em seus ombros,
quando a moça deu um berro apontando para algumas pegadas,
que pareciam de animal grande. Apavorados, apressaram o passo.
O medo era tanto que Allan deu um jeito de encontrar um resto
de força para voltar com suas próprias pernas e se jogar na cabana.
Os amigos o cobriram com folhas de palmeira e, na tentativa de
hidratá-lo, deram água.
O ideal seria que Allan descansasse bastante, mas o teimoso
não se conformava com aquela situação e insistia em ajudar a
fazer a fogueira. Allan não resistiu e dormiu. Cynthia e Kleyton,
ao redor do fogo, confessavam-se desesperados. Falavam sobre
o que estaria ocorrendo com o comandante e com os cientistas.
– Sabe Cynthia, eu sempre quis ter uma família, mesmo fingindo
não me importar com isso e mais preocupado em proteger as
crianças do orfanato que cresci... Na verdade, o que eu queria,
assim como todas as outras crianças de lá, era ser adotado.
– Por que está me dizendo isso, Kleyton?
– Sei lá! Acho que estou com muito medo de morrer aqui.
– Não vamos morrer Kleyton, eu tenho certeza!
– Sei lá! Olhe o Allan. Não sabemos o que ele tem e ninguém
aparece para nos salvar. Desculpe estar fraquejando.

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– Você disse que quando criança protegia os menores, não é?
– Sim.
– Bem, até agora você tem sido o nosso centro de união.
Talvez fosse nosso destino passar por isso tudo juntos. Você é
o mais forte, não amoleça agora, cuide de nós, pois precisamos
de você agora! Sabe, eu tive uma vida muito diferente da sua.
Tenho bons pais e nunca passei por dificuldades de verdade. Até
cair na Amazônia, meus problemas eram do tipo: se meus sapatos
combinavam com a bolsa!
– Há há! – riu Kleyton!
Allan começou a delirar, a falar um monte de coisas estranhas,
a soltar uma palavra em cima da outra, frase sobre frase, enquanto
se debatia como se estivesse tendo uma convulsão:
– ... Ah... Vamos ao jogo do Flamengo! Olha a onda! Não vai
que é vaca... não vai que é vaca...
– O cara está mal mesmo! – disse Kleyton - E o pior é que não
consigo pensar em mais nada pra ajudar. O jeito é torcer para que
essa febre passe logo ou que alguém nos ache de uma vez, o mais
rápido possível.
– Vamos obrigá-lo a beber muita água, muita água! É a única
coisa que a gente pode fazer por ele! – dizia a moça, com os
olhos arregalados.
Kleyton colocou a mão em sua testa e falou para Cynthia:
– O pior é que estou me sentindo meio mole também, como
quem vai ter febre. É isso! É isso! Do jeito que a gente está mordido
de mosquito, o risco de pegar uma doença é grande. Só pode
ter sido um inseto misterioso que derrubou o Allan. Talvez esteja
começando a me derrubar também...
– Nem pense nisso! Você só está impressionado.
– Malária1! Será que ele está com malária? Não, agora me lembro.
Li que malária só se manifesta após o nono dia. Não estamos aqui
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há tanto tempo, embora pareça já ter se passado um ano. Mas
esse pesadelo tem que acabar. Odeio essa floresta! Odeio essa
floresta! Ela é muito bonita nos filmes, no cinema. Maldita hora em
que ganhei esse concurso. Se não fosse por isso, eu estaria lá em
Salvador, cidade linda, que eu amo.
– E eu que sempre curti tanto a natureza, voando com minha
asa delta por aí, feito pássaro, desde que me entendo por gente,
que participei de não sei quantos movimentos e passeatas em
defesa da ecologia! Quem diria que iria passar aqui meus últimos
dias e que minha vida seria tão curta? É inacreditável! Que burrice
a nossa de nos metermos na floresta desse jeito e de não ter
ouvido você quando nos apontou o caminho certo, Kleyton.
Kleyton e Cynthia, completamente tensos, cuidavam o tempo
todo de Allan, e a moça acabou por adormecer. A noite chegou
com seus barulhos e animais de hábitos noturnos. O medo tomou
conta de vez do rapaz, que tremia de tanto pavor. Sentado,
abraçou suas próprias pernas, em uma posição igual àquela
que o piloto havia ensinado minutos antes da queda do avião.
Chorava aos soluços e seu queixo não parava de tremer. Era
impossível dormir. Nem ao menos cochilar ele conseguia, e não
teve lembrança de nenhuma noite que custasse tanto a passar em
sua vida.
Logo que amanheceu, ele notou que Cynthia estava muito
encolhida e não demorou a descobrir que ela estava com febre
também. A moça acordou reclamando de frio, de muito frio,
embora estivesse coberta com muitas folhas de palmeira e bem
perto do fogo.
– Já sei! A gente não devia ter comido aqueles cogumelos
estranhos. Acho que eles são o motivo de estarmos com febre,
guri. Será que eram venenosos? – disse Cynthia, segurando a mão
de Kleyton.
– Desencana, Cynthia, não fala coisa ruim, não, que atrai. Fica
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tranquila, eu vou ao rio buscar água pra vocês e já volto, tá bem?
A menina concordou com a cabeça.
Kleyton foi em direção ao rio, prestando atenção para ver se
não tinha nenhum jacaré por perto, ou qualquer outro animal, não
percebeu que uma pequena cobra vinha passando e pisou nela, que
então o picou imediatamente. Berrando, mais pelo susto do que pela
dor, Kleyton entrou no rio para se lavar e saiu de lá mancando, com
a mão na perna e olhando para o arbusto onde a cobra havia se
escondido, provavelmente, agora, já estivesse longe dali.
Voltou correndo para a cabana, com lágrimas a correr pela face,
pensando que desta vez fosse de fato o fim. Seus amigos morrendo
por alguma doença desconhecida e ele mordido de cobra. Não
sabia mais quanto tempo durariam perdidos naquela floresta terrível!
Quando chegou à cabana, onde esperava encontrar apenas seus
amigos deitados, novamente foi surpreendido ao ver que estavam
cercados por índios munidos de arcos, flechas e lanças, falando
sem parar em uma língua que não conseguia entender. Kleyton não
demorou a ser contido por um deles que, com calma e força, o fez
se sentar. Os índios fizeram logo um sinal de paz.
Um deles se abaixou, tocou nos três, com gestos mansos,
típicos de um pajé2. Não conseguiu, no entanto, disfarçar que se
impressionara com o estado de saúde de Allan.
Ao examinar a ferida de Kleyton, fez um rápido sinal para outro
índio, ao mesmo tempo em que pronunciava algumas palavras em seu
idioma. Este saiu, junto com outros dois, correndo para a mata e não
demorou muito para voltarem com uma folha encharcada de óleo.
O índio curandeiro, com um português um pouco esquisito, disse a
Kleyton, enquanto aplicava o óleo em sua ferida:
– Você foi picado por cobra venenosa. Muito veneno. Mata. Mas
esse óleo é da árvore andiroba3, muito bom para veneno de cobra.
Fica quieto. Quantas luas... é... dias ... tempo...jovens estão floresta?

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O jovem baiano respondeu com três dedos. O índio começou
a examinar a todos, olhou dentro dos olhos, viu a garganta e
quando olhou as palmas das mãos falou assustado:
– Vocês comeram o cogumelo da morte, têm pouco tempo de
vida. Parece bom, mas mata.
Os índios se afastaram um pouco, os dois caciques se sentaram
um de frente para o outro e começaram a fazer preces como
se tivessem que consultar os espíritos da floresta. Após alguns
minutos, os dois se levantaram e tomaram uma importante decisão:
– Vocês vêm com índios para lugar longe, seis luas daqui. Lá vive
único povo que pode curar. Não pode morrer no caminho, não,
tem que ser forte.
Os índios deram um preparado feito com o líquido que extraíram
de uma árvore chamada copaíba4 para eles beberem. Disseram
que serviria para melhorar, mas não para curar. Um deles surgiu
do mato com um belo peixe cravado na lança. Aproveitando a
fogueira, o assou na hora. Kleyton devorou o tambaqui5 de uma
vez, já que Cynthia, sem apetite e com febre, apenas beliscou, e
Allan, ainda fora de si, nem sentiu o seu cheiro.
Outro índio cuidava exclusivamente da ferida de Kleyton. Fez,
ainda, com que ele bebesse o sumo de uma planta amarela e
grossa e também espremeu parte do líquido diretamente na ferida,
envolvendo o local com outra folha. Depois, com todo cuidado,
carregaram os jovens, iniciando uma caminhada de
vários dias com curtas paradas para
beber, comer e dormir um pouco.
Cynthia, em dado momento,
começou a delirar também e
a piorar nitidamente. Allan,
de vez em quando, dava
uns berros, completamente

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fora de si. Kleyton balançava o braço, fazia sinais de que sentia a
ferida provocada pela cobra melhorar, porém, a febre começava
a aumentar. Ainda conversava bastante com o índio baixinho que
dele cuidava o tempo todo e, com uma mistura de português
e gestos, contou a ele sobre os cientistas e o comandante. Era
preciso salvá-los, se é que já não tinham sido salvos. Perguntou se
sabia alguma coisa sobre eles. O índio fez um gesto de quem não
sabia de nada, de avião nenhum, nem de outros homens brancos
perdidos na selva e, apontando para a ferida, disse a ele:
– Corte vai sumir. Fica calmo. Doença de cobra foi embora.
Agora precisamos curar febre, expulsar veneno dos cogumelos.
Doença má. Triste.
– Você não pode estar falando sério. Não podem nos salvar
com alguma planta? – disse Kleyton, desesperado.
– Só povo sagrado, que mora no alto, pode salvar amigos
brancos. Para lá onde eles vivem, muito longe daqui, no alto de
grande montanha que nós, índios, guiados pelo nosso cacique,
vamos levar vocês. Tem que aguentar chegar lá, não pode morrer
no caminho não, tem que ser forte, e fazer a cabeça pensar que
vai dar tempo de chegar lá.
– Povo sagrado? Eu que pensei que já estivesse salvo, que agora
tudo ia acabar bem! – retrucou, desanimado, Kleyton.
– Tudo acabar bem se ficar calmo e aceitar conselho de índio.
Povo sagrado ninguém sabe que existe, só caciques. Mastigue
um pouco de capim santo6, vai te acalmar e beba também esse
preparo que fiz com erva cidreira7.
Andaram muito, muito mais do que Kleyton poderia imaginar.
Depois, navegaram por uns dois dias inteiros e, finalmente, chegaram
à base de uma grande montanha, parando para descansar algumas
horas. Quando a Lua Cheia estava bem no alto, reiniciaram a jornada
para a aproximação com o povo sagrado da floresta.

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Para preservar o segredo do caminho, somente os seis índios
mais velhos puderam seguir guiados pelos dois caciques. Os outros
retornaram da base da montanha. A tarefa que já estava difícil
ficou pior, já que agora caminhavam em uma subida muito mais
cansativa. Kleyton piorou bastante e já não conseguia andar, sua
febre estava deixando-o inconsciente também.
A noite estava linda, cheia de estrelas, e com a luz da Lua
podiam desviar das armadilhas e dos perigos. Finalmente, depois
de algum tempo, chegaram à base de uma grande queda d’água
com mais de 500 metros. Os índios fizeram uma nova parada e,
depois de breve descanso e alguns cuidados para com os jovens,
disseram:
– Kleyton, muito corajoso e forte, mostrou grande espírito. Não
sabemos como ainda resiste acordado. Agora deve ficar sozinho,
povo sagrado da floresta vem buscar e cuidar de vocês.
– Queridos amigos, sem vocês morreríamos na floresta. Nunca
me esquecerei! Gostaria de saber como retribuir, onde poderei
encontrá-los novamente?
– Kleyton, devemos olhar para dentro do outro. Índios enxergam
grande espírito que habita seu coração. Não se preocupe com
isso, descanse e espere. Fizemos isso sem esperar nada em troca,
cuide dos seus amigos, até um dia.
Sem dar chance para que Kleyton falasse algo ou entendesse,
ajoelharam-se de frente para a grande cachoeira e começaram a
fazer preces. Depois de alguns minutos, levantaram-se e sumiram
na floresta.
Kleyton estava tão cansado que nem tentou impedir a partida
dos novos amigos. O barulho da queda d’água, iluminada pela
Lua, e uma grande clareira dava ao local um ar aconchegante e
seguro. Kleyton colocou seus dois amigos bem próximos e deitou-
se para descansar. Sem sentir, adormeceu também.

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A pós algumas horas, bem devagar, 12 homens saíram
de trás da cachoeira e se aproximaram dos jovens.
Percebendo a aproximação, Kleyton tentou reagir,
mas atiraram nele um dardo bem pequeno com o sedativo natural
chamado Mulungu1. Desmaiou em segundos.
Os homens abriram três macas, acomodaram os jovens e se
dirigiram para trás da queda d’água. Pararam por alguns segundos,
olhando para o paredão e, surpreendentemente, uma grande
fenda se abriu na rocha. Entraram, e o que parecia uma passagem
ou uma gruta era, na realidade, um fantástico elevador natural.
Soltaram as amarras e começaram a subir lentamente até o
topo da montanha. O local era realmente mágico. Na entrada,
um grande portal. Depois, uma cidade encoberta por uma densa
floresta e formações rochosas que camuflavam construções feitas
com bambu.
Como estavam inconscientes, os jovens não puderam ver toda
a beleza e encanto do local. Eles foram conduzidos para uma
enfermaria, onde receberam os primeiros cuidados dos pajés.
Se a noite estrelada e de lua cheia já conseguia mostrar a beleza
do lugar, os primeiros raios de sol revelaram toda a sua imponência.
No centro dela, um templo enorme, realmente deslumbrante. A
neblina e o silêncio profundo criavam uma atmosfera de mistério
que contrastava com a esplendorosa manhã. Alguns raios de sol
começaram a penetrar na escuridão, iluminando, aos poucos,
todo o ambiente.
A cidade era povoada por pessoas alegres, exibindo um belo
sorriso e entoando cânticos, alguns deles acompanhados com
flautas e outros com tambores. Uma combinação harmoniosa,
tendo também como fundo musical os sons da floresta e o canto

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dos pássaros. Eram vistos homens de todas as idades, mulheres e
jovens, que faziam trabalhos diversos. Alguns colhiam verduras e
raízes, outros manuseavam teares, fabricando tapetes e tecidos
numa enorme variedade de cores de muito bom gosto. Outro
grupo, de homens e mulheres mais velhos, estudava plantas
medicinais e alguns meditavam.
Vários dias e noites se passaram. Os jovens foram tratados
por pajés e receberam a cura por meio de plantas e trabalhos
espirituais. Quando Kleyton acordou, foi como se tivesse sonhado.
Ao ver-se naquele local desconhecido e usando roupas estranhas,
ficou desnorteado. Então, ouviu uma voz familiar:
– Bolou com as roupas também né, Baiano? – ele se virou para o
lado onde vinha a voz e viu seus dois amigos já acordados, também
vestindo roupas diferentes, cada um sentado em sua própria maca,
mas, nitidamente, acordados há mais tempo que ele.
– Allan, Cynthia, onde estamos?
– Estamos no céu, meu amigo! – dramatizou Allan.
– Como? – respondeu Kleyton, apavorado.
– Não liga pra ele, Kleyton. Também não sabemos onde
estamos, mas, com certeza, não estamos mortos. – disse Cynthia,
não querendo preocupar o amigo.
– Como pode ter certeza? – brincou Allan, desafiando Cynthia.
Não reparou que o amigo havia se levantado e correu para abraçá-
lo. Muito emocionado, Kleyton aperta Allan contra o peito.
– Cara, que bom ver vocês vivos!
Cynthia se aproxima e abraça os amigos!
Eis que uma bela jovem entra na sala onde estavam, carregando
em seus ombros um animal estranho, e a eles se dirigiu, falando:
– Vejo que já se recuperaram!
Os três olham ao mesmo tempo para a porta a contemplar a índia.

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– Vocês deveriam prestar mais atenção nas coisas que comem
fora de casa! Vocês quase morreram, sabiam?
– Foi você quem nos salvou? – disse Cynthia.
– Vocês foram trazidos para cá por índios que os encontraram
desmaiados na floresta, quase mortos. A cura para o doença de
vocês é muito rara e só aqui temos este remédio em abundância.
– Puxa, nem acredito que o pesadelo acabou, não tenho
palavras pra agradecer, né gente? – disse Cynthia, feliz, se virando
para ver os amigos boquiabertos contemplando a moça.
– Cara, a mina é linda! – exclamou Allan, baixinho, para Kleyton.
– Sim, é... Sim, estamos muito agradecidos! – e cutuca Allan
para sair do transe.
– Ah é, nossa... Sem palavras! – Allan sequer conseguia formular
uma frase.
Cynthia olhava os dois com repreensão.
– É, eu ainda não me apresentei, eu me chamo Cynthia, aquele
é Kleyton e o bobalhão é o Allan.
– Meu nome é Arana e este é o Cholo, um bicho-preguiça2, e
meu mascote, não é Cholo? – fez um cafuné no pescoço do animal.
– Desculpa a intromissão, mas você poderia nos dizer como fala
tão bem a nossa língua? Porque os outros índios que encontramos
não tinham tanta facilidade com nosso idioma e, aliás, por que faz
frio aqui? – perguntou Kleyton.
– Vou preparar um chá para que possamos conversar. – a jovem
falou de forma meiga e firme.
Serviu a todos e começou o seu relato. Os meninos fizeram uma
carinha meio feia, tipo de quem não está acostumado a tomar
chá, mas a curiosidade era tanta que nem ousaram reclamar ou
não aceitar. Já Cynthia parecia muito confortável com o evento.
– Vou contar tudo com muito prazer. Porém, a permanência
de vocês aqui por mais alguns dias é realmente necessária para
que sejam completamente curados. Bom, eu sou filha do grande

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mestre Alelauê, o líder espiritual do nosso povo e guardião do
Templo da Luz. Nossa civilização é muito antiga. Somos chamados
de Amazons porque somos filhos de todas as tribos da Amazônia.
Há mais de 500 anos, com a invasão das Américas, nossos
antepassados, caciques de todas as tribos da Amazônia, tomaram
uma importante e difícil decisão, por amor à continuidade da
nossa cultura. Eles enviaram representantes de suas tribos para
se juntarem a outras tribos nesse local onde estamos agora.
Eles sabiam que para tentar manter o nosso povo, segredos e
tradições, impunha-se o isolamento, já que com armas de fogo e
outros aparatos bélicos, os invasores seriam sempre vencedores.
Por isso, na floresta, ainda restam alguns dos nossos, o que não
ocorreu com outros irmãos, como os Maias3, Astecas4 e Incas5.
Desde essa época vivemos aqui, na Cidade Amazon, que vocês já
estão em condições de conhecer agora.
– Que máximo! O sonho, agora, começou a melhorar! – disse
Cynthia, respirando aliviada. – Arana, a sua roupa e as que nos
deram são tão lindas, você se veste completamente diferente dos
índios que nos trouxeram para cá, por quê?
– Cynthia, logo que sairmos deste aposento,
vocês vão perceber que estamos no alto de uma
grande montanha. Estamos a mais de 2000 metros
do nível do mar. Por isso nossas roupas são mais
trabalhadas, realmente faz frio aqui em cima. Somos
totalmente contra o uso de peles de animais, nossos
antepassados desenvolveram um couro à base do
látex da seringueira6.
– É lindo, Arana, e parece couro animal. Incrível!
– falou, encantada, a jovem Cynthia.
A moça fez um gesto como convite para que os
jovens a acompanhassem. Ao saírem, deslumbraram-
se com o que viram. Uma vista espetacular da Floresta
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Amazônica. Ficaram alguns minutos mudos, olhavam para todos os
lados. Arana apontava para os viveiros sem grades e falava sobre as
propriedades das plantas medicinais, dos costumes, da cultura, da
alimentação, em meio aos cumprimentos dos habitantes com sorrisos
largos e gestos de cabeça.
Arana, por onde ia, dava sequência à narração:
– No total isolamento e silêncio, aprendemos a ouvir os
espíritos da floresta, crescemos interiormente em perfeita
harmonia com ela. Essa sintonia também nos deu a oportunidade
de desenvolver o nosso poder mental. Diariamente, o exercitamos
praticando meditação, assim como fazemos com o nosso corpo.
Aqui, pesquisamos e cuidamos das inúmeras plantas medicinais
da floresta. Este é um de nossos tesouros. São plantas que nos
deixam fortes e outras que curam doenças. Com elas, elaboramos,
além dos remédios naturais, chás, pomadas, óleos, tudo o que
precisamos. Daqui a pouco vocês irão conhecer meu pai, nosso
líder, e também nosso lugar sagrado, o Templo da Luz.
Arana era uma jovem muito bonita, de cabelos compridos bem
escuros e olhos negros. Tinha um jeito meigo, mas passava muita
segurança e personalidade em tudo o que fazia ou falava. Se os
jovens estavam, de certa forma, abobalhados com a fala de Arana,
quase caíram de joelhos ao avistarem o Templo da Luz. Olhavam
tudo com espanto e admiração, girando os olhos por todos os
lados. O templo tinha uns trinta metros de altura, todo feito com
bambu, barro e coberto com folhas.
No salão principal, sentados em uma esteira, com as pernas
cruzadas, e absolutamente concentrados, estavam o líder
Alelauê, um senhor de cabelos brancos compridos e lisos e, ao
seu lado, Araquenauê, o sábio conselheiro. Alelauê, sem levantar
os olhos, mover a cabeça ou dar mostras de desconcentração,
fez um delicado aceno com uma das mãos para que os jovens se
aproximassem e se sentassem nas esteiras que estavam à sua frente.
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Alelauê levantou a cabeça devagar, impressionando a todos
com seu olhar penetrante, mas com uma profunda expressão de
paz. Correu os olhos pelos três, antes de se comunicar. Araquenauê
também os observava, com um sorriso surpreendentemente
iluminado para aquela figura magra e feia.
A boca de Alelauê não se mexia e, no entanto, os jovens ouviam
a sua voz. Entreolharam-se espantados, como quem diz “você está
ouvindo o que estou ouvindo?”. Voltaram-se, então, para Arana
com uma interrogação. Porém, ela não alterou seu semblante sério
e ao mesmo tempo doce. Apenas manteve os olhos fixos no pai.
– Sejam muito bem-vindos. Sou Alelauê, líder deste povo e
guardião do Templo da Luz. Este ao meu lado é Araquenauê,
nosso conselheiro. Sinto que vocês são bons e felizes. Aliás, essa
é a razão de ser e estar nessa vida. A esta altura, Arana já deve ter
apresentado nossa cidade e um pouco de nossa história, de nossa
cultura. Cabe-me revelar a vocês um pouco mais.
E continuou:
– A Floresta Amazônica é a nossa mãe, sagrada e viva. Sua magia
e amor influenciam nossos corações e atitudes. Agora, farei uso da
palavra e não mais do pensamento.
O sorriso se fechou, o semblante pacífico permaneceu e, a
partir desse momento, os jovens é que sorriram entreolhando-se.
– Nessa cidade, somente os Amazons entram. Este é o salão
principal do Templo da Luz, onde guardamos nossos maiores
tesouros. Aquele grande livro que está sobre a mesa contém
não somente nossa história, mas todos os conhecimentos que
adquirimos de geração em geração. Por exemplo, em relação às
plantas medicinais, conhecemos praticamente todas, e conseguimos
tratar as mais variadas doenças, o que nos permitiu curar vocês.
A sua língua nos foi aprendida há muitos anos atrás, quando em
semelhante situação, demos abrigo e proteção a um sobrevivente da
floresta. Queridos jovens, uma das maiores virtudes é a humildade.
E continuou:

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– Aprendemos que preservar a natureza é preservar a si mesmo,
considerando que somos parte dela. Ressalto isso porque vocês
foram criados e educados em grandes centros e o homem branco
ainda está cego para o óbvio. Não podemos degradar o meio
ambiente porque fazemos parte dele.
– Não quero ser um intrometido, senhor mestre, tudo isso que
disse é muito legal, mas... É que estamos muito longe de onde
devíamos estar e nos perdemos de nosso grupo. É... Será que
vocês não saberiam nada de nossos amigos que também estão
perdidos na floresta? – perguntou Allan, interrompendo o mestre
Alelauê.
– O que o meu amigo enrolado está tentando dizer é que, além
de nós, ainda existem mais três pessoas que estavam conosco no
mesmo avião que caiu. – completou Cynthia.
– Hum, entendo! Jovens, infelizmente seus amigos ainda devem
estar perdidos na floresta. Mandarei um grupo em busca deles,
prometo a vocês que faremos o possível para encontrá-los.
O Mestre continuou:
– Meus queridos, a floresta está sendo destruída rapidamente.
Essa é a ameaça que relata a profecia de nosso Livro Sagrado. Nesses
próximos dias em que estarão em recuperação, vocês conhecerão
ainda mais os nossos costumes e aprenderão técnicas de luta para
se juntarem a nós no resgate dos seus companheiros. Do jeito que
estão é muito arriscado iniciarmos uma viagem para levá-los de
volta. Devemos esperar o veneno sair todo do corpo. Aproveitem
ao máximo esse período, vai começar uma grande transformação.
Após essa conversa, Arana apresentou os jovens a diversos
outros moradores da cidade sagrada e, no fim do dia, mostrou os
locais onde dormiriam. Kleyton e Allan foram acomodados junto
com uma família e Cynthia com outra que só tinha mulheres.
A rotina dos jovens passou a ser a mesma dos Amazons:

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acordavam cedo, meditavam, alimentavam-se e participavam
dos treinamentos. Um dia era com arco e flecha, outro com
estudos sobre venenos extraídos de animais para paralisar o
inimigo e com técnicas de lutas corporais. Eles puderam observar
a maneira simples e feliz daquela cidade, não existia a pressa e
toda correria de suas cidades. Todos os Amazons trabalhavam
duro, mas planejavam bem e dividiam as tarefas de forma que, um
pouco antes do pôr-do-sol, eles pudessem parar para se divertir,
conversar com os amigos e cuidar de suas famílias. Ficou claro
para os três jovens que nada era mais importante que o cuidado
com a saúde, na forma de se alimentar, de meditar e de fazer
exercícios ou tarefas de trabalho. A preservação e o convívio
com a natureza eram exercidos, de forma natural, por todos os
integrantes da cidade. Eles viviam no formato que chamamos de
extrativistas7, dependiam da floresta de pé, se alimentavam de
seus frutos e raízes. Utilizavam para quase todas as construções,
armas e acessórios, o bambu. Quando precisavam de madeira,
escolhiam as árvores mais velhas e cortavam com o máximo de
cuidado para não prejudicar a vegetação ao redor.
Com o tempo, os jovens completaram o treinamento e ficaram
curados do veneno. Pareciam verdadeiros Amazons.
Em uma bela noite de Lua Cheia, um jantar foi servido, com
peixes, mandiocas e frutas. Arana serviu uma frutinha vermelha
chamada camu-camu8, meio azedinha, mas riquíssima em vitamina
C, do tamanho de uma cereja. Depois do jantar, Cynthia pediu
para Kleyton contar mais uma lenda.
– Todas as lendas que conheço, perto do que estamos vivendo,
viraram histórias de ninar. Mas, deixe-me ver uma bem legal. Ah!
A da Vitória Régia9, que é muito mais do que uma simples planta.
Ela é um dos símbolos mais poderosos da Floresta Amazônica,
conhecida como rainha dos lagos e capaz de suportar em cima
dela até uns 45 quilos. Vocês sabem como ela surgiu para alegrar

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os habitantes da floresta? Pois se preparem para ouvir a minha
versão de uma bonita história.
– “Havia, entre os índios Tupis10, uma linda jovem chamada Iapuna.
À noite, quando as estrelas começavam a piscar no firmamento, ela
saía de mansinho da maloca11 e buscava um lugarzinho ali perto,
onde ficava conversando com elas, completamente distraída. O
brilho das estrelas se refletia no seu rosto, escuro como o meu.
Ela ficava muito feliz quando a Lua aparecia por trás das
grandes árvores, por acreditar que fosse um bonito e valoroso
guerreiro e queria tornar-se sua noiva. Contava tudo para a Lua,
pedia a sua opinião sobre isso, sobre aquilo e, depois, sempre
acabava confessando:
– Como gostaria de fazer carinho no rosto da Lua!
E pedia aos espíritos:
– Por favor, espíritos de nossos grandes ancestrais, deem-me
asas para voar até lá. Façam-me subir, subir bastante, para tocá-la
carinhosamente.
E nunca acontecia nada. Entretanto, ela não desistia de pedir
e sempre que dava a sua escapadinha da maloca, para namorar
a Lua, pedia insistentemente aos anciões mortos, seus espíritos
familiares:
– Queridos avós, façam que eu vire uma estrela, para ficar na
altura dela e poder abraçá-la com todo o carinho que tenho aqui
dentro do meu coração.
Mesmo assim, nada acontecia. Apesar de sua insistência, Iapuna
nunca foi ouvida e, por isso, chorou muitas vezes. Mas ela não iria
desistir. E não desistiu mesmo, pois em uma noite teve uma ideia e
logo a colocou em prática. Caminhou até um lago e lançou sua canoa
para chegar mais perto da Lua. Remando, foi chegando bem perto
do meio do lago, onde estava o reflexo do seu objeto de desejo.
As águas paradas e cristalinas refletiam, como num espelho, a

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face dourada da Lua. Iapuna se aproximou da forma mais silenciosa
que pôde. Parou, apaixonada, olhando para o reflexo sem piscar
os olhos. O vento causou pequenas ondas, que faziam a Lua
tremer e sorrir de contentamento. Então, ela estendeu os braços
para tentar abraçá-la, mas se inclinou tanto que caiu na água.
Tão fascinada estava que se esqueceu de nadar e manteve
os braços abertos na forma de um abraço. Lentamente, Iapuna
foi sumindo. Sempre mais fundo e mais fundo. Apaixonada,
com aquela sensação de abraço na Lua, continuou até parar
de respirar. A Lua, lá do alto, foi inteiramente tomada por uma
pena enorme de Iapuna, chegando a chorar de tristeza. Uma leve
nuvem ofuscou por um momento aquele seu brilho sereno, como
se o céu quisesse participar também de sua comoção.
Mas, a Lua, com o poder celeste que tem, tratou de transformar
a linda menina numa “Estrela das águas”, única e perfeita, com uma
flor magnífica, que se abre à noite e se fecha de manhã. Assim, ela
pôde acompanhar, apaixonada, a Lua, em seu percurso noturno.
A folha guardou a forma do abraço de Iapuna. Ela é tão forte
que pode carregar alguém que pese até 45 quilos, justamente
o peso da menina quando morreu de paixão. Sua membrana é
ampla, para acolher todo o esplendor da Lua. Dessa forma, elas se
contemplam e se namoram, pelos tempos sem fim”.
Cynthia falou, admirada:
– Kleyton, você é bom nisso, que história linda. Gostaria que
contasse uma diferente toda noite.
Arana sorriu e disse:
– Vamos dormir, o Sol de amanhã nos espera.
Antes dos primeiros raios, os Amazons já meditavam. Allan,
totalmente à vontade com os costumes e cultura dos índios,
acordou antes dos amigos e foi andar pela cidade. Foi apreciar a
natureza e o movimento alegre e natural daquele povo.

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Arana e o pai caminhavam abraçados, quando foram saudados
por Allan:
– Fico feliz que esteja gostando dos nossos costumes e da nossa
cultura. – disse Alelauê.
– Devo confessar que uma das coisas que tem me dado mais
prazer nesses dias aqui é acordar no horário de vocês e poder
dar bom dia para o Sol, me pergunto como posso ter perdido
este milagre da natureza por tantos anos! – falou Allan, um pouco
emocionado.
– Allan, como já percebeu, não existem relógios aqui. Nosso
tempo é medido pela posição da Lua, do Sol e das estrelas. Os
cheiros também variam conforme o período do dia ou da noite,
os sons também. Na verdade, se enxerga melhor na floresta pelos
sons e cheiros. Já conseguiu perceber um pouco disso tudo que
falei? – perguntou o mestre Alelauê.
– Um pouco, mas espero aprimorar cada dia mais os meus
sentidos – disse Allan.
Os três andaram por quase toda cidade até que encontraram
Kleyton e Cynthia em um dos mirantes da montanha. Desse local,
dava para ver toda a Floresta Amazônica. Um vento frio fez com
que sentassem bem próximos. Ficaram em silêncio por algum
tempo observando o visual, até que Cynthia falou:
– Me digam, não pensam em um dia se aproximarem das demais
tribos da Amazônia? Aliás, quantas delas ainda existem hoje?
– Nosso Livro Sagrado anuncia para breve um contato com
cerca de 400 mil índios que sobraram. Nós, hoje, só temos contato
com os principais caciques12, pois essa foi a melhor maneira que
encontramos para preservar nosso segredo, talvez o maior da
Amazônia. Ele vem sendo passado de geração a geração, de cacique
a cacique, há 500 anos. E pensar que viviam aproximadamente
seis milhões de índios em toda a região Amazônica! Muitos foram

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mortos porque se recusaram a servir como escravos. Fomos
considerados raça inferior, que não prestava pra nada. Nós, índios,
preferimos a morte para manter nossa honra. A difícil decisão de
nossos antepassados de nos enviarem para cá foi muito sábia. A
Amazônia é muito importante para o equilíbrio do planeta e, uma
vez devastada, acontecimentos terríveis poderão prejudicar todos
os seres humanos – disse o Mestre Alelauê.
– Faz tempo que a Amazônia é agredida, violentada em
suas riquezas, devastada, roubada, com muitas e muitas áreas
transformadas em pasto ou em plantações. Temos que lutar pela
conservação deste tesouro. Devemos encontrar uma forma de
mostrar claramente para as pessoas que estão devastando nossa
Amazônia, que é muito mais inteligente e rentável concentrar
os esforços no cultivo das espécies nativas. Nossa cidade inteira
foi construída utilizando bambu selvagem que existe em grande
quantidade na região. Após o corte, em alguns anos, ele cresce
novamente e, assim, o ciclo natural não é interrompido. A Floresta é
riquíssima em frutas, plantas, óleos e muitos outros produtos. Assim,
pode-se usufruir desta riqueza sem destruí-la – completou Arana.
Naquele instante, um rapaz amazon se aproximou do mestre e
pediu para lhe falar. Este, consentiu, e, então, ficaram em silêncio.
Allan, Cynthia e Kleyton deduziram, e com razão, que estivessem
conversando mentalmente. Então, depois de alguns breves
minutos, o rapaz pediu licença e se retirou. O mestre virou-se
para os jovens e falou:
– Encontramos os cientistas e o piloto – os três logo ficaram
felizes, mas o mestre fez questão de interrompê-los.
– Sim, descobrimos onde estão, mas não podemos nos
aproximar deles.
– Mas como assim, mestre? – indagou Kleyton.
– Seus amigos estão presos na floresta. Existe um cientista

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chamado Dr. Zach que os prendeu. Infelizmente é só o que
posso lhes dizer no momento. Venha, Arana, precisaremos estar
preparados!
Os jovens ficaram preocupados com a atitude do mestre.
Certamente escondia mais detalhes daquela conversa, mas nada
podiam fazer além de esperar que ele se pronunciasse.
Então, passaram para uma fase mais avançada do treinamento.
Aprenderam a manipular venenos e pastas paralisantes extraídas
de cobras, sapos e vários insetos. Tais fórmulas, em doses menores,
serviam também como anestésicos. Além disso, exercitaram-se
com as armas primitivas a eles concedidas, além do arco e flecha.
Finalmente estavam familiarizados com a cultura dos Amazons.
Na verdade, passaram a amar aquele povo e seu modo de vida
harmonioso.

Muito longe dali, no acampamento de Dr. Zach, os cientistas


e o comandante sofriam humilhações, passavam fome e já não
aguentavam mais a prisão.

A imprensa diminuiu bastante os comentários sobre o acidente


e as equipes de busca foram reduzidas a um pequeno grupo de
forças especiais.

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A lgumas semanas depois, logo após o Sol nascer,
Mestre Alelauê convocou todos para uma conversa
no Templo da Luz. Um círculo se formou em volta
dele, os jovens aguardavam com ansiedade suas palavras. Ele
pegou o grosso livro dos Amazons, abriu e começou a ler:
– “Quando uma grande parte da Floresta Amazônica for
devastada, surgirão jovens guerreiros, genuínos descendentes
Amazons, que vestirão as Armaduras Sagradas e lutarão junto
com nosso povo contra gente gananciosa que virá, com armas
sofisticadas, em busca do Livro Sagrado e da Flor do Sol. Nessa
época, o mundo se conscientizará da importância de cuidar da
floresta e de suas riquezas. Assim, será despertado na humanidade
o amor pela floresta e a necessidade de preservá-la, pois dela
todos dependem”.
Fechou o livro e olhou todos ao seu redor. Kleyton, Cynthia e
Allan estavam pasmos. Então o mestre prosseguiu:
– Esta é a profecia que anunciou a chegada de vocês três,
jovens guerreiros.
– Desculpe mestre, mas isso é um absurdo! Isso tudo não passa
de um mal entendido, não temos nada de especial, só ganhamos
um concurso e uma viagem para Manaus, nem deveríamos estar
aqui! – exclamou Cynthia.
– Olhe, Mestre Alelauê, estamos gratos de coração por ter nos
salvado a vida, cuidado e nos treinado para salvar nossos amigos,
que são reféns de um homem perigoso, mas isso não nos torna
Amazons. Tudo o que queremos é voltar pra nossas casas e dar
um fim a essa aventura – complementou Kleyton.
– Parem e pensem: por que acham que estamos contando a
vocês tantos de nossos segredos? Já esperávamos por isso há

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décadas. Vou provar que vocês são os escolhidos e que aqui
estão para nos ajudar a guardar e preservar a Cidade Amazon e
toda a Amazônia. – insistiu o mestre.
Nesta hora, Allan, que já se mostrava inquieto, o interrompeu
e falou:
– Não quero saber dessa história! Quero ir para casa!
– Que é isso, Allan? Que falta de respeito! Desculpe mestre,
estamos todos ainda tontos com tudo o que nos tem acontecido.
Na verdade, devemos gratidão ao povo Amazon e ouvi-lo é o
mínimo que podemos fazer, mas não vejo como poderemos
ajudá-los, não somos guerreiros. – disse Cynthia.
– Aí é que se enganam. Vocês irão vestir as armaduras sagradas,
então, se transformarão nos guerreiros que sempre foram. Ninguém
pode fugir do seu destino.
Nesse momento, Araquenauê olhou para uma parede de
bambu e fez uma breve mentalização e, de forma mágica, a parede
se moveu para o lado e uma grande sala, um pouco mais acima,
surgiu, mostrando as diversas armaduras e, ao centro, iluminada, a
Flor do Sol. Finalmente, os jovens puderam vê-la.
– Esta é a Flor do Sol – seu formato lembrava a flor da vitória-régia,
um verdadeiro símbolo de força. – Ela é o nosso maior segredo
e tesouro. Esta pedra preciosa está entre nós, Amazons, desde
que a profecia indicou a nossos ancestrais este local no topo da
cachoeira como abrigo contra os invasores. Então, construimos
nossa cidade ao seu redor e juramos protegê-la. Ela tem o poder
mágico de transformar a luz do Sol em força vital da natureza. Sua
energia está impregnada nas Armaduras da Luz.
– As Armaduras da Luz são trajes sagrados, que concentram
a energia da Flor do Sol e conferem poderes especiais aos 10
guerreiros Amazons, que devem lutar contra toda força maligna
que pretende destruir a floresta. Elas incorporam diversos animais,

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com sua força e todas as suas características. São elas: a armadura
do jacaré1, do peixe-boi2, do macaco3, da harpia4, do falcão5,
da ariranha6, da sucuri7, da arara, da onça-pintada e a do boto.
Jovens, não tenham medo! Isso é um chamado, uma grande honra
conferida apenas para poucos. Em nossa cidade existem muitos
jovens que gostariam de vesti-las, porém, elas não servem para
eles. Mesmo Arana demorou muitos anos para aceitar. O caminho
da transformação em guerreiros é algo sagrado.
– Como pode ter tanta certeza de que somos os escolhidos?
– perguntou Kleyton, querendo acreditar na história, mas ainda
duvidando.
– Quando vocês chegaram à cidade, a Flor do Sol reagiu.
Então vimos que se tratava de um claro sinal de que ela havia
encontrado os seus guardiões. Cada um de vocês vai adquirir
poderes inspirados em um animal. Fechem os olhos, respirem
fundo e busquem a paz, sintam a energia e logo perceberão o
que vocês realmente são. As demais armaduras, conforme o nosso
Livro Sagrado, estão reservadas para os futuros guerreiros.
Os três jovens, mesmo contrariados, talvez por curiosidade,
fizeram exatamente o que o Mestre Alelauê pediu. Cynthia, com
os olhos fechados, começou a visualizar o céu. O mesmo céu
que sempre a fascinou com seu intenso azul e cheio de nuvens
brancas. Ela sentia o vento no rosto, era como se voasse. A melhor
sensação do mundo. Então, em meio àquele imenso azul, ela viu
aquela ave voando em sua direção. Daí abriu os olhos e falou:
– A Arara! Eu vi, eu estava voando e então eu vi. Eu sou a Arara.
Kleyton também abriu os olhos e disse:
- Agora estou entendendo o que aconteceu naquele episódio
em que me encontrei com a onça, eu não tive medo, eu senti um
profundo amor por ela, essa é a minha armadura.
– Então digam bem alto: “Ativar Armadura da Luz” e peçam os

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poderes de seu animal guardião!
Os dois em coro obedeceram ao mestre com bastante
entusiasmo:
– Ativar Armadura da Luz! Poderes da Arara! – gritou Cynthia
– Ativar Armadura da Luz! Poderes da Onça! – gritou Kleyton.
Então, a Flor do Sol e as duas armaduras começaram a emitir
uma luz muito forte que tomou conta de toda a sala, e os dois
começaram a sentir a energia das armaduras que, peça a peça,
iam se encaixando em seus corpos, assim ocorria a transformação.
Quando finalmente estavam cobertos pela armadura, a Flor do Sol
parou de emitir a luz tornando-os, agora, visíveis a todos que os
observavam, estupefatos!
– Meu Deus, então é verdade, Kleyton olhe você! – disse Cynthia,
deslumbrada.
– E você, eu nem acredito nisso. Eu me sinto tão poderoso,
como jamais me senti na vida.
– Eu também sinto, é como se eu... É estranho, mas eu sinto
como se eu pudesse voar! – ela abre os braços, então asas brotam
de suas costas, saindo, obedecendo ao seu comando.
– Vocês viram isso? Eu tenho asas! Kleyton, eu tenho asas! Eu
posso voar! – então ela pega impulso, salta para cima e, como
uma flecha, sai voando pelo buraco no teto, por onde entrava a
luz do Sol.
Do lado de fora, Cynthia mal conseguia acreditar no que estava
fazendo. Ela voava sobre a Cidade Amazon.
– Eu realmente posso voar! Eu sou a mulher mais poderosa do
mundo! Uhu! – e fez várias piruetas no ar.
Dentro do templo.
– Ela voou! Vocês viram, ela voou! – gritava Kleyton, eufórico.
– Sim, ela voou Kleyton! Por que você também não testa seus

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novos poderes? – instigou Alelauê.
– Mas o que eu faço? – perguntou Kleyton.
– O que seu coração pedir! – instrui o mestre.
– Eu quero correr, como nunca corri na minha vida! – então
ele saiu em disparada porta afora e correu pela cidade, entrou
na mata e se esquivava das árvores com uma velocidade incrível!
Subia e descia de árvores e dava golpes de capoeira no ar!
– É muito poder! Sinto como se pudesse fazer qualquer coisa.
– ele então chegou numa clareira e Cynthia se aproximou ainda
voando.
– E aí, quer apostar corrida Kleyton? – desafiou Cynthia,
planando ao seu lado.
– Eu aposto que ganho de você! – disse Kleyton, sorrindo e
dando tudo de si na corrida.
Assim, os dois seguiram voando e correndo, lado a lado.
De volta à sala da Flor do Sol, o mestre, muito feliz, percebeu
que Allan não se manifestava, então perguntou:
– E você Allan, o que está esperando para chamar sua armadura?
– Eu não tenho armadura alguma, Alelauê. Eu não sou um
guerreiro, diferente deles, eu não vi nada. Deve ter outro nessa
cidade que possa vesti-la. Desculpe desapontá-los, eu só quero
voltar para minha casa – disse Allan, um pouco envergonhado.
– Você está mentindo. Você viu sim, só não quer admitir o que
sentiu. Não entendeu que a armadura só dará poderes a você,
nunca a mim, ao meu pai e a ninguém mais aqui? Quer fugir da
missão que está reservada para você há 500 anos? Você sabe que
é um guerreiro Amazon, só está com medo! – se enfureceu Arana.
– Ei, vai com calma aí garota, ninguém fala assim comigo! –
respondeu Allan, também se irritando.
– Parem os dois! – ordenou Alelauê, que não admitiria
desavenças dentro do templo sagrado – Eu acredito nele. Não há
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razões para ele mentir para nós, não é mesmo Allan?
– É isso aí! É como seu pai disse! – concordou Allan.
– Mas pai! – indignou-se Arana.
– Saiam os dois agora mesmo deste solo sagrado, se quiserem
discutir, o façam lá fora! – ordenou o mestre.
– Foi mal aí, mestre! – desculpou-se Allan, enquanto andava em
direção à porta do templo. Os dois seguiram andando para fora da
sala. Enquanto isso, Araquenauê se aproximou do mestre e disse:
– Fez muito bem Alelauê.
– Não entendo meu amigo, por que ele fez isso?
– Arana tem razão! O rapaz ficou com medo.
– Mas nós sabemos que ele sentiu a energia de sua armadura,
eu pude sentir a vibração!
Do lado de fora, Arana e Allan saíam juntos do templo. A moça
estava furiosa.
– Por que fez isso? Você me fez ser chamada atenção pelo meu
pai, me senti uma criança. Sabe quando foi a última vez que meu
pai falou comigo daquele jeito? Hem? Eu tinha 5 anos.
– A culpa foi sua, quem mandou me chamar de mentiroso, seu
pai não te deu educação? – respondeu Allan.
– Escute aqui, Allan! Você é um mentiroso covarde! Quer saber,
você tem razão! Como pode alguém como você ser um Amazon?
– ela dá as costas e vai embora. Allan apenas sentiu o golpe
daquelas duras palavras e ficou triste. Então viu Cynthia voando e
Kleyton saltando entre as árvores, muito felizes.
Retornando ao templo, Kleyton e Cynthia ficaram de frente para
o mestre e do conselheiro.
– Agora digam: desativar Armadura da Luz! Agradeçam a
Amazônia e liberem suas armaduras – ensinou Alelauê.
Os dois juntos então falaram:
– Desativar Armadura da Luz! Obrigado Amazônia! – e as armaduras
voltaram para seus lugares, ao redor da Flor do Sol, em forma de
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rastros de luz.
Então os dois se abraçaram.
– Nós somos amazons, Kleyton, nós somos
amazons!
Alelauê se aproximou das
respectivas armaduras da onça-
pintada e da arara e retirou da
base dois colares na forma dos
animais e pôs nos pescoços dos
meninos, primeiro no de Kleyton
e depois no de Cynthia.
– Quero entregar a vocês o Amari.
Amari significa “pensamento livre”. E
é através dele que, de agora em diante,
vocês poderão evocar suas armaduras de
qualquer lugar do mundo. Não necessitando
mais estar nesta sala para fazê-lo. Além de
amuleto de proteção, serve para abrir portais
que os transportarão de onde estiverem para
este templo sagrado. Eles foram feitos a partir de fragmentos da
Flor do Sol. Ajuda no equilíbrio do corpo e da mente, induz à
tolerância, paciência, libera o egoísmo e a cobiça. Também traz
alegria e amplia os pensamentos.
– Muito obrigada, mestre! Mas, e o Allan, onde está? – perguntou
Cynthia, procurando o amigo.
– É verdade, não o vi de armadura. – disse Kleyton, só agora se
dando conta.
– O jovem Allan não vestiu a armadura – explicou Araquenauê.
– Mas vocês disseram que era o destino dele! – questionou
Kleyton.
– Parece que ele ainda não está pronto – mais uma vez disse
Araquenauê.
– Eu não entendo – falou Cynthia, confusa.
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– Um dia entenderá! – respondeu Alelauê, sorrindo docemente
para a menina. Esticou os braços e os acolheu em um só abraço.
À noite, durante o jantar, todos os amazons comiam juntos
como uma grande família em um mesmo salão, ao redor de várias
fogueiras.
– Nossa, mas esse peixe tá uma delícia! – disse Kleyton,
devorando o tambaqui.
– Aproveite Kleyton, um guerreiro como você precisa se
alimentar bem – disse Arana.
– Ah, isso é verdade! Sempre fui bom de boca! – continuava
comendo.
– Arana, vocês são sempre festeiros assim? – perguntou Cynthia.
– Na verdade, não! Estamos comemorando a presença de vocês.
– Essa festa é pra gente? – indagou Cynthia, surpresa.
– Mas é claro que sim! Vocês são os Guerreiros da Amazônia! –
enalteceu a índia.
– Vamos cumprir nossa missão, intimidar e expulsar daqui esse
tal Dr. Zach, e salvar nossos amigos. Mas, logo depois, vocês vão
nos mandar de volta pra casa, né?
– Sim e não! Olha, Cynthia, quando enviamos um grupo à floresta
para procurar seus amigos, descobrimos esse acampamento onde
eles são prisioneiros desse tal Dr. Zach. Fomos informados que,
além dos cientistas e o piloto, ele também vem torturando índios
com o único propósito de encontrar a nossa Cidade Amazon.
– Como é? – exclamaram os três!
– Exatamente! Não sabemos como, mas ele sabe de nós e está
atrás do Livro Sagrado, do mapa das riquezas e da Flor do Sol. Pelo
jeito, não mede esforços para conseguir. E é dever dos guerreiros
lutar contra todos, que queiram destruir ou usar a floresta para
objetivos egoístas. É claro que poderão voltar para suas casas,
assim que enfrentarmos esta batalha, mas outras surgirão e é
importantíssimo que estejam aqui para lutar. É para isso que vocês

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possuem o Amari. Quando chegar a hora certa, basta pensarem
no poder que receberam, na Flor do Sol e em suas casas, e um
portal se abrirá diante de seus olhos.
– Seremos transportados para casa através de um portal
dimensional? Viu que maneiro, Allan? – disse Kleyton, entusiasmado.
Mas logo se deu conta do infeliz comentário que fez. – Ah é, desculpa
cara! Esqueci que você não virou um guerreiro também! Falha minha!
– Que é isso, Baiano! Não tem porque pedir desculpas, eu é que
ainda não parabenizei vocês! Meus parabéns, a você também Cynthia!
– Obrigada, Allan! Lamento que tenha ficado desapontado.
– Que desapontado nada, eu tô na boa! Agora vocês me dão
licença que eu tenho que ir ao banheiro! – ele se levantou e saiu de
perto do grupo.
– Ele ficou bem chateado, né? Nem abriu a boca o jantar inteiro, e
olha que pro Allan isso é difícil, ele fala até dormindo! – disse Cynthia,
preocupada com o amigo.
– Esqueçam ele. Quando tudo tiver terminado, ele voltará pra
casa com vocês. Agora eu aconselho que descansem, pois amanhã
começam seus treinamentos com as armaduras, precisam dominar
seus novos poderes – disse Arana, se levantando.
– Puxa que legal! – exclamou, alegremente, Cynthia.
Arana afastou-se da dupla, então Cynthia comentou baixinho
com Kleyton.
– Tá rolando alguma coisa entre o Allan e Arana. Viu como ela
fica quando fala dele?
– É verdade, parece até você!
– Como é? – gritou Cynthia, surpresa.
– Ah, qual é Cynthia, há algum tempo eu já percebi o jeito que
você olha pro Allan.
– Acho que você comeu peixe demais! Vamos parar de
conversinha e ir dormir! – a garota se levantou irritada e saiu de
perto do amigo.

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– Então tá! Eu vou esperar a sobremesa! – disse Kleyton, voltando
sua atenção para o peixe.
Do lado de fora, Allan parou à beira da trilha da cachoeira.
Pensativo, somente o vento movimentava seus cabelos e roupas.
Então, uma voz interrompeu o silêncio e chamou sua atenção.
– O som da cachoeira é como música, não acha?
– Ah, oi, mestre! – disse surpreso Allan, ao perceber Alelauê se
aproximando.
– Sabe, Allan, quando eu era jovem, e olha que isso já faz um
bom tempo, costumava fugir da Cidade Amazon para me aproximar
da civilização.
– Mesmo, mestre?
– Claro que sim! Eu era muito curioso e aquilo tudo me fascinava.
Tantas maravilhas, tantas máquinas que facilitavam as vidas das
pessoas. E eu me questionava, por que meu povo tinha que se
esconder? Por que não podíamos participar daquela evolução?
Tínhamos e temos tanto para partilhar. Até que eu conheci as
razões pelas quais as pessoas das grandes cidades viviam. Elas não
vivem para aprender e evoluir, elas vivem para ganhar dinheiro,
adquirir poder e fortuna. Vivem de maneira egoísta e antinatural.
Então, entendi que nossas filosofias eram diferentes. Você entende
o que quero dizer?
– Mais ou menos!
– Eu não entendia a importância de minha missão, que era
proteger meu povo e minha cultura. E várias vezes pensei em
abrir mão dela. Até que um dia, eu percebi que só precisava de
mais tempo para entender e aceitar minha missão. E quando isso
aconteceu, me tornei um líder!
Allan arregalou os olhos, surpreso com o que acabara de ouvir.
– Mestre! No jantar, Arana disse que o Dr. Zach está
interessado nos Amazons, por que não nos contou antes?
– Bem, tudo tem seu momento, e agora é o momento certo

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para vocês saberem.
– Mas, mestre, eu não sou um guerreiro Amazon!
– Allan, o que você acha que faz de um homem um guerreiro?
Não é sua armadura ou qualquer outra arma que determinará. É o
seu coração.
– O senhor acha que tenho coração de guerreiro?
– Sim, eu acho que você tem!
– Eu não sei! De todos, eu sou o mais fraco. Fui o primeiro
a cair doente na floresta. Cynthia e Kleyton são muito mais fortes
que eu. Compreendo perfeitamente eles serem escolhidos pra
essa missão. Mesmo nos treinos, eu não me desenvolvi tão bem
quanto eles. Estou muito feliz de viver aqui com vocês, mas não
me vejo lutando para defender nada – quando Allan, cabisbaixo,
levantou a cabeça, percebeu que o mestre não mais estava ao seu
lado. Ele, então, decidiu ir se deitar e caminhou em direção à casa
da família que o abrigava.
Na manhã seguinte, Allan acordou com Cholo deitado sobre
seu peito e se assustou. Olhando ao redor, percebeu que dormiu
demais. Então, se levantando às pressas, vestiu suas roupas, pegou
Cholo no colo e saiu de casa. Sabendo que Arana era sua dona,
procurou pela garota por toda a cidade. Sem encontrar, resolveu
ir ao rio para se banhar e, por sorte, lá encontrou a moça.
– Ah! Olá, Arana, eu tava te procurando.
– Está atrasado, venha! – disse a moça, pondo-se a andar na
margem do rio.
– Atrasado?! Nem sabia que tínhamos um encontro?
– Cala a boca e me segue! – ordenou a moça. Allan a obedeceu,
seguindo-a e carregando Cholo consigo.
Os dois caminharam em silêncio durante um longo período,
quando finalmente Arana parou.
– Meu pai me mandou mostrar esse lugar a você – disse a índia,
103
séria, com lágrimas nos olhos. Allan vinha um pouco atrás e, sem
entender absolutamente nada, se virou também para o rio, na
mesma direção de Arana. Uma expressão de terror tomou conta
de seu rosto, pois vários botos estavam se debatendo, alguns já
mortos. Allan deu um berro sofrido, soltou Cholo e partiu para
dentro do rio, abraçando os botos na esperança de ajudar algum
que ainda estivesse com vida. Tinha os olhos cheios de lágrimas e,
na boca, a pergunta: por quê? Quem fez isso?
– Não é a primeira, nem será a última vez que acontece. A pesca
com redes de arrastão8 pegam os botos e eles morrem sufocados.
Como é proibida a pesca desse animal, os pescadores os jogam
mortos de volta para o rio. Apesar de odiar esse lugar, aqui você
iria ver com os próprios olhos essa tragédia. Não podemos mais
permitir isso!
Arana desabafava toda a sua indignação, quando Allan saiu da
água com os olhos vermelhos, com uma expressão de sofrimento
no rosto, e caminhou ao encontro da jovem.
– Tem certeza de que sou um guerreiro Amazon?
– É o que seu coração diz?
– Estou confuso ainda.
– Esvazie a sua mente, nunca deixe a raiva influenciá-lo.
Concentre-se, feche os olhos, respire fundo, prenda um pouco o
ar embaixo do umbigo e solte-o pela boca devagar. Isso... assim...
mais uma vez. Não tenha pressa.
Allan permaneceu em silêncio durante alguns minutos, então
falou, ainda de olhos fechados:
– Eu consigo ver, Arana!
– Então, você sabe o que deve dizer!
– Ativar Armadura da Luz! Poderes do Boto! – gritou Allan, abrindo
os olhos. Gritou o mais alto que pôde. Então, um raio vermelho de
luz que vinha do templo o atingiu e ele começou a se transformar.
Surgiram nadadeiras e sua pele mudou. Naquele momento, ele

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se lembrou que antes, na sala das armaduras, quando o mestre
pediu para mentalizar sua armadura ele só conseguia se lembrar
dos botos que o salvaram no rio, de como eles tentaram protegê-
lo. E agora ele sentia que era seu dever retribuir e defender toda
a floresta. Allan conseguia ouvir sons que vinham de muito longe.
Mergulhou no rio e só veio à tona muito adiante, lá longe, onde
emitiu um guincho típico, seguido de vários saltos acrobáticos, até
sumir de vista. Uma vez fora da água, executou ainda movimentos
de muita agilidade, mostrando um domínio absoluto do corpo.
Deu piques em várias direções com incrível velocidade, até parar
ao lado de Arana, sem estar ofegante. Demonstrava apenas aquela
mistura de satisfação e espanto pelo que ocorrera.
Não muito longe dali, Kleyton e Cynthia treinavam com
Araquenauê. Aperfeiçoavam suas técnicas de luta, só que desta
vez usando as Armaduras da Luz, quando ouviram a voz de Allan
bem baixinho.
– Você ouviu isso, Kleyton? Me parece o Allan! – disse Cynthia,
procurando ao redor.
– Sim, eu ouvi, mas onde... Não acredito! – Kleyton, surpreso,
não esperava ver o amigo usando uma armadura amazon, correndo
em sua direção.
– Guri! É sério mesmo? – Cynthia, boquiaberta, não conseguia
conter a felicidade. Então, de um salto, Allan subiu até os céus e
pousou firmemente diante dos amigos.
Também surpreso e feliz, Araquenauê fez as honras de
apresentar o terceiro guerreiro:
– Pois bem, meus amigos, agora vocês estão diante do guerreiro
amazon do boto!
Os três se abraçaram e Arana, que vinha no encalço de Allan,
agora o olhava com ar de admiração.
– Sou um Amazon! Sou um Amazon! – gritava Allan, abraçado

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aos amigos emocionados. Tudo parecia um sonho.
Arana, animada, interrompeu o abraço dos amigos dizendo:
– Não percam tempo, nada de folga, voltem ao treinamento.
Vão, Guerreiros da Amazônia!
Os três sorriram e seguiram a ordem. Os rapazes puseram-se
a correr e Cynthia levantou voo, todos atingindo velocidades
enormes.

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D
r. Zach esbravejava sozinho em seu escritório, pelo
fato de não conseguir fazer nenhum índio abrir a boca,
nem sob as piores torturas. Nenhum deles revelava
nada, especialmente nenhuma palavra sobre os Amazons. Nesse
momento, Anderson chegou ao gabinete com um gravador na
mão e com cara de quem trazia uma boa notícia:
– Ouça a melhor notícia dos últimos tempos: batemos em uma
porção de índios e não conseguimos nenhuma palavra sobre a
existência dos Amazons e, de repente, um velho pajé conta essa
história pra gente, em uma conversa de pé de fogueira! – disse
Anderson, ligando o gravador.
“Entre nós, índios kuxi, existe uma lenda que é transmitida de
geração a geração. A mim contaram pela primeira vez quando eu
era criança. Ela diz que no alto de uma grande montanha, existe
um povo que veio da Lua... Dizem que são eternos e muito maus.
Não têm boca porque não precisam dela, já que se comunicam e
se alimentam pelo pensamento. Eles são parecidos com animais,
têm hábitos noturnos como morcegos e voam como eles. Também
existe um grande dragão no alto da montanha. A cidade onde
vivem foi erguida com a energia do Sol. Os deuses ordenaram
à floresta que desse um abraço na cidade, para que ninguém
conseguisse chegar até lá. Fica perto de uma cachoeira que cai do
céu e o povo tem o nome de Amazon. Falam que os caciques da
Amazônia são os únicos que sabem o caminho de lá e os únicos
que têm permissão pra entrar na cidade.”
Dr. Zach, quando ouviu aquele relato, enlouqueceu. Seus olhos
brilharam. Deu um salto enorme da cadeira e, aos pulos, declarou:
– É a prova! É a prova! – disse eufórico – É a prova de que os
Amazons existem, de que a Flor do Sol existe, assim como o livro

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dos poderes e o mapa das riquezas da floresta! Vamos pegar algum
cacique e espremê-lo, dessa vez até a morte, se for preciso. Se
um cacique não falar, matem-no e pegue outro até conseguirmos
descobrir o caminho. Com esses poderes, vou dominar o mundo.
Quando Dr. Zach acabou de dar essa ordem, não cabendo em
si de tanta euforia, deu duas voltas ao redor de sua mesa, depois,
um forte abraço em Anderson.
– Agora vá, Anderson! Pegue o cacique dessa tribo Kuxi e
traga-o para cá. Mas antes, mande Cassius transferir os cientistas e
o comandante Padilha para uma prisão mais próxima de mim. Vou
insistir neles mais um pouco. Uma hora, cederão!
Os prisioneiros quase não eram alimentados, comiam sobras
e, após todo esse tempo, estavam realmente machucados, por
dentro e por fora. Do local onde ficaram presos, podiam observar
tudo de errado que acontecia no acampamento.
Anderson juntou uma tropa e foi à caça dos índios. Avistaram
a aldeia e já chegaram atirando para cima, causando um grande
alvoroço, desespero e correria. Foram recebidos pelo cacique,
que foi agredido logo que tentou se comunicar. Resolveram levá-
lo junto com seus dois filhos mais velhos. Um deles revelaria a
localização dos Amazons.
Retornaram para o acampamento e amarraram todos os índios
ao relento, um em cada árvore, de forma que todos pudessem se
ver. Dr. Zach começou com o cacique.
– Me fale onde vivem os Amazons, assim os liberto e ninguém
se machuca!
– O cacique respirou fundo, olhou para o céu e balançou a
cabeça de forma negativa. Imediatamente, Cassius deu um soco na
barriga de um de seus filhos. As maldades e as agressões duraram
uma noite e um dia inteiro. Um dos filhos do cacique já estava nas
últimas quando ele, que era o único que sabia a exata localização

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dos Amazons, pensou em falar para preservar a vida dos filhos.
Porém, um olhar entre a família selou o acordo de que morreriam
por lealdade para não denunciarem os Amazons.
O clima era de terror. Os índios eram maltratados sem a
menor piedade, para que revelassem a localização da cidade
dos Amazons. Os cientistas e o comandante Padilha gritavam
desesperadamente, implorando de suas celas para que Cassius
parasse com aquela surra criminosa e covarde. Dr. Zach, nervoso,
mandou que calassem a boca imediatamente. Não sendo atendido,
ordenou que amordaçassem os prisioneiros, colocassem tampões
em seus ouvidos e, finalmente, que vendassem seus olhos até
conseguirem arrancar as informações sobre os Amazons.
Anderson chegou com um caboclo esguio. Cassius abandonou
o índio a quem maltratava e, achando que se tratava de um
novo cacique que sabia sobre os Amazons, aos gritos de “Fala!”,
“Conta” ou “Mato você, seu magricela!”, mergulhou no pescoço
do caboclo, jogando-o no chão. Anderson custou a conseguir
separá-lo do seu amigo. Cassius só o largou atendendo aos berros
do Dr. Zach.
– Desculpe, desculpe! Pensei que fosse mais um candidato pra
apanhar, porque esse índio aqui já não presta não. Um tapa a mais
e ele morre sem abrir a boca. Parece tudo mudo!
– Esse não é pra você bater, seu imbecil. Ele vai contar! – disse
Anderson, se recompondo.
– E quem é você? – perguntou Dr. Zach, com ar de desprezo
para com aquela figura magrela e desagradável.
– Sujeitinho simpático esse seu empregado, hem! Bom, todos me
chamam de Varapau, o senhor deve ser o Dr. Zach, certo? – estendeu
a mão para o Doutor, que não correspondeu ao cumprimento.
– Varapau, além de ser o melhor mateiro da floresta, já, por
diversas vezes, seguiu os índios e acabou por descobrir o caminho

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da cidade dos Amazons! – se adiantou Anderson.
Na mesma hora, Dr. Zach mudou de semblante, ficou cordial com
o homem e apertou sua mão.
– Ora, mas que indelicadeza a minha, senhor Varapau. Vamos
conversar!
– Claro, Dr. Zach! É como eu sempre digo, a informação é um
bem. E como todo bem possui um valor, pelo que percebi esta
informação vale muito pro senhor!
– Um homem de negócios! Muito bem, então, faça o seu preço,
senhor Varapau!
– Hum, eu estava pensando em uns 100 mil, o que o senhor
acha?
– 100 mil? Está certo, façamos assim. O senhor nos leva até a
cidade e eu lhe pagarei seu dinheiro com o maior prazer, mas se
estiver tentando me enganar não ganhará um centavo e se juntará
àqueles índios amarrados ali. Estamos de acordo? – e estendeu a
mão, o Dr. Zach.
– O senhor sabe negociar! – então, Varapau apertou a mão do
Doutor.
– Pois muito bem, Anderson, providencie para que amanhã
estejamos prontos para fazer viagem! – ordenou Dr. Zach.
– Sim, senhor!
– Dr. Zach, e o que eu faço com esses índios? – perguntou Cassius.
– Ponha-os com os cientistas, por precaução – e andou para sua
tenda, acompanhado de Varapau.
Cassius seguiu as ordens de seu patrão e prendeu os índios junto
dos outros prisioneiros.
A essa altura, a imprensa já não acreditava na sobrevivência
do grupo. Apesar de ter passado mais de um mês do acidente, o
Exército mantinha um grupo especial trabalhando noite e dia para
tentar resgatar e descobrir o local da queda do avião.
Na Cidade Amazon, muitas fogueiras, cantos, danças, conversas
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e risos. Um ambiente de paz e alegria. Peixes envoltos em folhas
de bananeira sendo assados e ainda outras iguarias, como batata
doce, macaxeira1, pupunha2, castanha e banana. O motivo principal
da festa era o batismo dos guerreiros com seus nomes Amazons.
Eles estavam nitidamente emocionados quando Alelauê, tendo a
seu lado Araquenauê, interrompeu a festa para anunciar o início
da cerimônia.
– Meu querido povo, chegou um momento muito especial.
Esta noite, vamos batizar nossos novos amigos, que provaram sua
entrega e sua capacidade de amar a floresta e toda a natureza.
Venham! A cerimônia vai ser realizada dentro do Templo da Luz.
Assim, o conselho dos sábios Amazons entrou no templo,
seguido pelos jovens e por Arana. Lá dentro, Alelauê sentou em
sua cadeira, tendo ao seu lado esquerdo Araquenauê e, ao seu
lado direito, Arana.
– Este ritual será dirigido pelo conselheiro Araquenauê, tão
querido por todos nós – disse Alelauê.
Araquenauê levantou-se para buscar um pequeno pote de
argila e falou:
– É com muita honra que recebo a missão de ungir nossos
guerreiros e batizá-los com nomes Amazons. Agradeço de
coração, meu bom Alelauê, essa oportunidade de entrar para a
história de nosso povo, de escrever meu nome na mesma página
que o deles no nosso Livro Sagrado.
– Minha jovem, aproxime-se – disse para Cynthia, que se
aproximou sem conseguir esconder a emoção.
– Você veio ao mundo para ser boa e feliz. Peço ao Criador e
aos espíritos da floresta que a abençoem, com o nome de Aiara
e que assim seja também abençoada pela natureza, por nós, pela
vida, e por toda forma de energia. Aiara significa “Vento forte”.
Araquenauê, a seguir, segurando o pote e mergulhando ali o

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seu polegar esquerdo, fez um traço na testa e outros dois em cada
bochecha de Cynthia. Seguindo o mesmo ritual, Kleyton recebeu
o nome Aiuã, “Força do Trovão”, e Allan recebeu o nome Akatan,
“Esperança Eterna”.
– Agora, vocês devem fazer um juramento para todo o povo
Amazon – disse Alelauê – Vamos para fora do templo. Eu falo e
vocês repetem.
Assim que saíram, o silêncio se transformou em um estardalhaço
causado pelos tambores e aplausos. Tudo foi interrompido com um
simples levantar de mão do mestre, que falou:
– Nossos guerreiros já estão batizados com os novos nomes,
agora eles farão o juramento.
Os três jovens, admirados e um pouco nervosos, começaram a
repetir as palavras de Alelauê.
– Queridos irmãos, é com muita honra, respeito e gratidão que
recebo esse novo nome. Juro manter as tradições e costumes
Amazons, defender e preservar a Floresta Amazônica. Juro manter
segredo sobre a civilização Amazon. Que os espíritos da floresta me
aceitem e me protejam!
Novamente, os tambores e os aplausos tomaram conta do local
e a confraternização continuou.
Os jovens, acompanhados de Arana e Araquenauê, reuniram-
se em volta de uma das muitas fogueiras para desfrutar das mais
diversas iguarias que a floresta lhes dava. Allan já não conseguia mais,
a essa altura, esconder os olhares que dava para Arana. Pegou uma
linda flor, beijou-a e a entregou para a jovem. Ela, sem demonstrar
interesse e sintonia, agradeceu.
Allan não sabia, mas Arana tinha uma grande responsabilidade.
Apesar de não poder usar as armaduras, ela dedicou toda a sua vida
aprendendo e se preparando para o dia em que Alelauê partisse.
Embora não demonstrasse, Arana, aos poucos, nutria um

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interesse por Allan. E para não lhe causar constrangimento, tratou
logo de pedir licença, se dirigindo até o tonel onde estavam os
peixes que dali eram distribuídos às inúmeras fogueiras. Kleyton
aproveitou para brincar com Allan.
– Aí, Allan, despertando paixões, hem?
– Então, está apaixonado, meu rapaz? – perguntou Araquenauê.
– Só não sei como falar isso para ela, Araquenauê.
– Espere o momento certo e não tenha vergonha, se o seu
sentimento é verdadeiro, ele é a sua força.
– Araquenauê, para de dar conselhos para o Allan – falou
Cynthia, enciumada.
– Mas, Cynthia, ele é um conselheiro! Uma homem simples,
humilde, afetuoso, observador, bom ouvinte. Não basta só ser
inteligente como ele para ser sábio. E, sendo sábio, ele entende
também de paixões – disse Kleyton, abraçando Araquenauê que,
por sua vez, retribuiu dizendo:
– Obrigado, não é à toa que Allan recebeu os poderes do Boto.
Não conhecem a lenda? – falou, rindo, o sábio.
– Lógico! Na lenda, o boto tem o poder de seduzir. É igual
sereia. Dizem que se a menina ouvir seu canto, em noite de luar,
se apaixona perdidamente – disse Kleyton – Mas, vamos mudar de
assunto que Arana vem vindo, vou falar de capoeira. Ontem, eu
ensinei um pouco desse esporte para as crianças e elas adoraram!
Arana chegou com peixes para todos e, com um sorriso, foi
logo entrando na roda como quem captou o clima e a conversa.
– Vocês são muito bobos, capazes de contagiar até o bom
Araquenauê, tenho certeza de que isso é culpa sua, não Allan?!
– Cara, tô surpreso com a reputação que eu tô criando! –
brincou Allan, sem tirar os olhos da índia que, sem graça, deu boa
noite a todos e se retirou. Allan pediu para lhe fazer companhia e
os dois foram caminhando pela cidade.
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Kleyton estava de olho em Cynthia e, assim que Araquenauê se
afastou, não se conteve:
– Cynthia, vem cá! Já percebeu como as estrelas estão lindas hoje?
– Ué, você agora deu pra ler pensamentos? Esse batizado lhe
fez bem, hem, Kleyton!
– Ainda não cheguei ao ponto de invadir as mentes das pessoas,
mas de olhares eu entendo muito bem.
– Ih, me deixa em paz, Guri! Você tem andado demais
com o Allan, já está ficando igual a ele! – disse Cynthia, se
afastando de Kleyton e indo para sua cabana, enquanto o
rapaz permanecia rindo dela.

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E ra ainda bem cedo quando Anderson, a mando de Dr.
Zach, convocou todos para uma reunião. O primeiro a
falar foi o Dr. Kazuo Aoki.
– Uma primeira mensagem diz que nossos clientes internacionais
estão rejeitando as amostras que lhes foram enviadas. Segundo
alegam, nosso urânio não está com qualidade suficiente. Na segunda,
eles informam que, devido a uma legislação recente, só poderão,
agora, aceitar madeiras com certificados1 emitidos pelo governo.
– Precisaremos seguir a lei e conseguir a certificação. Agora,
nossos clientes querem as madeiras com selo verde2 – disse um
dos encarregados.
Então, Dr. Zach, já gritando, disse:
– Quanta idiotice! Na minha terra, não tenho que dar satisfação
para ninguém. Invisto uma fortuna, trago equipamentos de
última geração, cuido do transporte, dou alimentação, estadia,
ambulatórios... e vêm falar de selo verde, melhor qualidade?
Pouco me importo com o que eles pensam!
– É chefe, mas eles ameaçam parar de comprar e, com isso,
acabaria o nosso projeto – retrucou Dr. Kazuo.
– Vou resolver isso da minha maneira, não posso contar com
vocês, um bando de incompetentes. Agora saiam! Saiam! Você
fica, Anderson!
Todos saíram e Anderson permaneceu.
– Eu não contava com isso! A essa altura ter que me preocupar
com esse tipo de coisa! As tropas já estão prontas?
– Todos só aguardando suas ordens, senhor!
– Pois bem, diga a todos que hoje não será possível, deixaremos
para amanhã – falou o Doutor, sem esconder seu desapontamento.

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– Mas Dr. Zach, creio que o senhor não precise ir à expedição.
Afinal, ainda não sabemos o que vamos encontrar.
– Nem pense nisso, Anderson! Tenho esperado anos por este
momento, não quero perder nada. Estarei à frente da tropa para
comandá-la.

Amanhece na Cidade Amazon. Alelauê, do último andar do


Templo da Luz, convocou todo o povo Amazon e os guerreiros
para um pronunciamento. Em poucos minutos, uma grande
multidão se reuniu na base do templo. Alelauê chamou Arana,
Araquenauê e os guerreiros para se juntarem a ele lá em cima.
Logo que chegaram, Alelauê começou a falar:
– Amazons! Hoje precisamos de muita concentração para
enxergar os melhores caminhos. Existe um homem terrível chamado
Dr. Zach, que armou um bando de capangas e se encontra a
caminho de nossa cidade. Nossos informantes da floresta dizem
que eles chegarão à base da cachoeira em três dias.
Estabeleceu-se o silêncio. Arana olhava emocionada para os
jovens guerreiros. Kleyton estava de cabeça baixa e Cynthia com
o olhar longe. Allan balançava levemente a cabeça em sentido
afirmativo, sem desgrudar os olhos do Livro Sagrado. Alelauê
cortou novamente o silêncio e disse:
– Chegou o dia de dar vida a esta página da história. Vamos
vivenciar mais uma profecia. Em nenhum momento, o texto se refere
ao resultado dessa batalha. Ela garante que haverá o confronto,
mas não cita se haverá perdas. Não se ferir, continuar vivo, tudo
isso vai depender de nossa competência, de executarmos com a
máxima concentração tudo o que planejamos. Não poderíamos
ter nos preparado melhor. Treinamos diariamente e conseguimos
explorar ao máximo as possibilidades das armaduras. Contudo,
mesmo assim, não há espaço para o menor descuido, pois, se
isso ocorrer, poderá ser fatal. A vida nos ensinou que existe
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uma distância entre teoria e prática. Nada acontece exatamente
como planejamos. Vamos iniciar os exercícios de meditação,
de concentração, e quero que, nesse momento, se imaginem
no lugar do confronto. Preparando-se para o ataque, imbuídos
desse espírito guerreiro, estejam absolutamente conscientes
de que devem realizar suas ações com a máxima atenção, pois
precisamos de perfeição. Afinal, eles estarão fortemente armados,
determinados a conquistar a nossa cidade e se apoderar de nossos
conhecimentos e riquezas. Hoje, iremos realizar o treinamento da
montanha. Amanhã, descansaremos e, no terceiro dia, lutaremos.
Estas últimas frases foram pronunciadas já com nítida
dificuldade, pois Alelauê tossia um pouco, sua voz estava fraca
e seus olhos pesados. Passava a mão na testa com frequência e
terminou sua fala perdendo os sentidos. Arana se apressou em
socorrê-lo. Os guerreiros se entreolhavam sem saber o que fazer.
Araquenauê, aparentemente fraco, carregou o guardião no colo,
sem demonstrar nenhum esforço, até a cama de seu aposento.
– Arana, pegue minhas plantas medicinais e convoque todo
o conselho de pajés Amazons, imediatamente. Meus guerreiros,
por favor, deixem-nos a sós. Arana já vai estar com vocês – disse
Araquenauê.
Os guerreiros, atônitos, ficaram à espera das novidades no salão
do templo.
– O que será que houve com Alelauê? Será que é coisa séria?
– perguntou Cynthia.
– Para reunirem imediatamente aquele galerão deve ser
porque, certamente, não foi uma indisposiçãozinha – disse
Allan – Alelauê vai sair dessa. Afinal de contas, os Amazons
dominam o conhecimento sobre doenças e plantas medicinais.
Nas hortas, eles têm remédios para todas as doenças. E se, por
acaso, faltar uma determinada planta, sabem muito bem onde
encontrá-la – continuou.
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– Só que não são eternos, não é, Allan? – arrematou Kleyton.
– É, nosso guardião já passou dos oitenta anos faz tempo -
completou Allan, coçando a cabeça.
Arana não demorou a voltar, acompanhada dos principais pajés
Amazons. Após uma troca de olhares, seguiram apressados para
dentro do templo. Demonstrando muita preocupação no olhar, a
moça voltou até à beira do grande templo para dar uma satisfação
aos Amazons, os quais aguardavam ansiosos, lá embaixo, por uma
resposta.
– Amazons, Alelauê precisa descansar! Seu estado é
preocupante! Ele reagiu ao chá de ervas, mas na sua idade,
qualquer desatenção pode conduzir à morte. Por isso, devemos
nos concentrar e meditar para que ele se recupere. Temos que
ficar muito atentos para atuarmos exatamente de acordo com a
sua recomendação.
– Hoje, eu levarei os guerreiros para o treinamento da montanha.
Todos vocês deverão organizar e verificar os mantimentos, armas
e tudo o que for necessário para proteger a cidade enquanto
estivermos na batalha.
– Irmãos, o dia para o qual esperamos a vida inteira chegou.
Vão e se preparem.
Arana falou, virou-se e entrou novamente no templo para
verificar o estado de seu pai. Deu alguns passos e foi cercada
pelos guerreiros.
– Arana, como está Alelauê? – perguntou Allan.
– Agora está dormindo. Meu pai vem agindo de forma estranha,
como se quisesse anunciar algo. Já está um pouco melhor, mas
ando muito preocupada. A dedicação dos pajés me conforta,
desconfio de que seja um aviso.
– Ele vai ficar bem e estará conosco à frente da grande batalha
– disse Kleyton, um pouco emocionado.
– Quero crer que sim, Kleyton, mas não é o momento para nos
distrairmos. A cidade está em perigo e meu pai está bem assistido.
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O s três jovens vestiram suas armaduras e, na companhia
de Arana, navegaram em canoas pelo igarapé Xarip.
Allan e Arana em uma, Cynthia e Kleyton em outra.
– Temos que ir ao topo daquela grande montanha, lá em cima,
pegar uma flor vermelha e retornar, antes do pôr-do-sol, para a
Cidade Amazon. Eu vou guiá-los – disse Arana, apontando para a
enorme montanha da qual só se conseguia ver o topo por trás das
copas das árvores e, mesmo assim, muito mal, já que era tão alta
que ficava encoberta por nuvens.
– Essas missões extremamente simples dos Amazons nunca são
tão simples na prática – falou Kleyton, se lembrando dos duros
treinamentos que tinha feito nos últimos dias.
– Suponho que eu possa voar nesse treinamento! – falou
Cynthia.
– Desta vez não vou impor regras. Sou só a guia – falou,
secamente, Arana, nitidamente preocupada com seu pai.
A montanha ficava mais alta à medida que se aproximavam.
Porém, a beleza do lugar ajudava. O céu estava azul, um Sol
maravilhoso iluminava a água transparente e as árvores bem verdes
em toda a encosta da montanha. O igarapé era calmo, com uma
leve correnteza e, logo, chegaram ao ponto do desembarque.
– Até agora foi fácil, Allan. Quero ver como estarão na subida! As
flores só nascem no topo da montanha. Não tenho mais nenhuma
informação pra dar. Eu espero vocês aqui!
– Tá certo! Amazons, vamos! – gritou Allan, tomando a dianteira
na corrida, seguido por Kleyton. Já Cynthia abriu suas asas, tomou
impulso e logo estava no ar, voando.
– Cynthia, descobre pra gente a melhor trilha pra chegarmos ao
topo – gritou Allan para a amiga.
– Deixa comigo!

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Cynthia subiu mais ainda, contornou a montanha e do alto
tentou ver seu topo, mas as nuvens o encobriam. Então, ela
desceu e se aproximou dos amigos.
– Achei! Parece que não tem armadilhas desta vez. Sigam-me!
Eles correram atrás dela. Adentraram a mata e mantiveram o
pique toda a subida. Mesmo usando as armaduras há algum tempo,
ainda se surpreendiam com seu poder. A subida íngreme fez com
que perdessem muito tempo.
Os três andavam juntos e já estavam bem próximos ao topo,
quando uma neblina cobriu a paisagem.
– É bom ficarmos juntos, com essa neblina fica fácil nos
perdermos. Mas é sinal de que já estamos no topo – disse Kleyton.
– Isso me faz pensar numa piada. O que são três pontinhos
coloridos na neblina? – quis brincar Allan.
– Nós! Agora não é hora de piadas, Allan! – disse Cynthia, logo
cortando a brincadeira.
– Faz tempo que não ouço esse tom de voz, admito que já
estava com saudades. – provocou Allan.
– Eu não acredito, é só deixar vocês dois sozinhos que começam
a discutir, acho bom nem começar, pois somos uma equipe agora.
Porém, antes mesmo de alguém pronunciar mais alguma palavra,
um vulto puxou Cynthia, fazendo-a sumir em meio à neblina. Só se
ouviu um grito da menina e mais nada.
– Cynthia, o que houve? – logo se manifestou Allan, correndo
para a direção que julgou ter ido sua amiga.
– Não, Allan, não se afaste! - não deu tempo de impedi-lo, e,
logo, Kleyton estava completamente sozinho.
– Droga, Allan, era exatamente isso que não deveríamos fazer,
nos separar.
Kleyton olhava ao redor à procura dos dois, chamando seus
nomes, sem obter resposta. Quando, então, recebeu um forte
golpe nas costas, que o fez quase tombar.

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– Quem está aí? Apareça! Allan? Não é hora de brincadeira,
cara! – e recebeu outro golpe vindo do meio da neblina. Kleyton
não conseguia ver seu oponente, somente um vulto que se movia
muito rápido. Era muito difícil acompanhar seus movimentos, mas
com certeza não era o Allan! Mal tinha tempo de pensar e recebeu
mais dois golpes. Kleyton tentava se defender dando socos a esmo
no ar, mas não atingiu ninguém.
– Eu sabia que não seria tão simples! – exclamou o rapaz, que
já previa um treinamento difícil.
Em outro canto, mas também em meio à névoa, Cynthia recebia
golpes de vultos igualmente rápidos ao que atacava Kleyton. Ela
caiu no chão, mas ficou olhando ao redor tentando acompanhar
os movimentos dos vultos.
– Quem são vocês? Covardes, mostrem-se! – gritou a menina,
que recebeu mais alguns golpes na barriga, nas costas e nos braços.
– Eu não vou ficar aqui! – abriu as asas, indicando que iria voar,
mas quando saiu do chão, uma corda laçou seu pé esquerdo. Um
forte puxão a fez cair com o peito no chão.
– O que tá acontecendo? ALLAN! KLEYTON! – gritou a menina,
com a esperança de ser ouvida pelos amigos.
Então, o vulto parou na sua frente e pela primeira vez pôde ver
seu oponente. Era uma pessoa, cujo sexo não dava para identificar,
pois usava uma roupa e máscara que cobria completamente seu
corpo, sem revelar muito suas formas.
– Quem é você? – e recebeu uma sequência de golpes, que a
fez voar vários metros.
Em outro ponto da montanha, Allan também foi derrubado no
chão por vultos similares aos que atacaram seus amigos.
– Muito bem cara, agora chegou a minha vez! – e o rapaz
se levantou com rapidez, indo na direção de seu inimigo, que
se esquivou dos cinco socos de Allan e ainda o contra-atacou,
socando em diferentes lugares, derrubando Allan mais uma vez
ao lhe passar uma rasteira. Mas Allan se recuperou, dando um

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rolamento para trás e ficando de pé. Porém, novamente perdeu
o vulto de vista.
– Porcaria de neblina! Já sei! – Allan pôs-se a correr para frente.
Então, viu um vulto tentando acompanhá-lo do seu lado esquerdo
e outro de seu lado direito. Golpeou o da esquerda, desta vez
conseguiu acertar. O inimigo caiu no chão, demonstrando que
sentiu o golpe, mas logo sumiu na neblina novamente. Allan,
concentrado, escutou o vulto se aproximando e o surpreendeu
quando tentava golpeá-lo por trás!
– Já saquei seus movimentos! – e o vulto, então, mais uma vez,
sentiu o chute de Allan. Tentou se camuflar na neblina, mas Allan
o seguiu, então foi golpeado pelo segundo vulto.
Já Kleyton, com as garras armadas, olhava os oponentes
correndo ao seu redor. Ele fazia movimentos de capoeira e errava
os vultos que o surpreenderam, acertando-o pelas costas mais
uma vez. Ele continuava golpeando o ar. Kleyton rangia os dentes
com muita raiva. Quando ouviu um som muito peculiar e segurou
uma flecha no ar, que vinha em sua direção.
– Caramba, essa passou perto!
Então, ouviu mais flechas serem disparadas. Três flechas vindo
juntas na sua frente.
Cynthia, de asas abertas, também se protegia de flechas.
Projetou o corpo para frente e planou.
– Onde está você?
Quando viu um ponto vermelho se aproximando.
– Te peguei! – gritou Cynthia, atacando. Então, deu de cara
com Allan, que já ia golpeá-la, mas quando percebeu ser ela,
interrompeu o golpe. Já Cynthia não conseguiu evitar e caiu em
cima do amigo.
– Desculpa, Allan, eu tava lutando com alguém!
– Eu também estou no meio de uma luta.
Quando, de repente, a neblina começou a se dissipar. Nesse

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instante, os dois viram Kleyton, em pose de onça, de frente para
uma pessoa de joelhos no chão, como se tivesse um ferimento
sério no braço.
– Veja, o Kleyton pegou um deles! – gritou Cynthia, se levantando
e correndo na direção do guerreiro amazon da onça.
– É o fim da luta, desista. Nós vencemos! – Kleyton ameaçava o
seu adversário derrubado no chão.
Então, o inimigo baixou a cabeça e aceitou a derrota.
– Está bem, você tem razão. Eu perdi!
Kleyton, então, se surpreendeu, pois reconhecia a voz.
– Essa voz! – os outros dois Amazons se aproximaram a tempo
de contemplar a verdadeira identidade daquele que tinha lutado
tão habilmente contra eles. Ele,
então, tirou a máscara e mostrou
seu rosto.
– ARANA?! – os três
gritaram juntos.

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– Olá, guerreiros! Meus parabéns, vocês passaram no treinamento
da montanha.
– Caramba, Arana, mas você tá toda machucada – falou Kleyton,
se mostrando muito preocupado.
– Também pudera, lutei contra três guerreiros Amazons! – se
justificou a índia.
– Sua doida, nós podíamos ter matado você! – disse Allan,
pondo as mãos na cabeça.
– Você não é tão bom assim, Allan! – afirmou Arana, enquanto
se levantava com a ajuda de Kleyton.
– Há, há, há! Gatinha, você é demais! – sorriu Allan.
– Se soubessem que estavam lutando comigo, certamente seus
sentimentos influenciariam na luta e não dariam o seu melhor.
– Mas, como você está? E onde estão os outros inimigos? –
perguntou Cynthia, também preocupada com a amiga.
– Ficarei bem! Não existiam outros adversários, era só ilusão.
Por isso eu consegui lutar contra os três ao mesmo tempo. Bem,
agora que vocês me venceram, completem sua missão! – ela,
então, apontou para o imenso tapete vermelho de flores que só
agora, sem a neblina, podia ser visto.
– Uau, que lugar lindo! – exclamou Cynthia, maravilhada.
– Parece um oásis! – disse Kleyton, também admirado.
– Ou o paraíso! – disse Allan.
A visão era maravilhosa e, como Arana havia mencionado, um
jardim com várias flores vermelhas, especialmente cuidadas pela
natureza, estava diante de seus olhos. Além disso, o Sol já estava
baixo e logo o crepúsculo viria.
– Meu pai sempre falou que devemos aprender com a montanha.
Ela não aprende com a gente, a gente é que aprende com ela. O
frio passa, o calor passa, a vegetação muda e ela continua firme. A
montanha não espera, não fica ansiosa, apenas vive. Ele também fala
que elas são como os problemas, quanto mais distantes estamos,

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mais altas e intransponíveis parecem. Quanto mais próximas, mais
baixas e fáceis de superar – disse Arana, olhando fixamente para a
montanha Amazon.
– Nossa, Arana! Que lindo! Seu pai é o máximo – disse Cynthia.
– Chega de papo! Não vamos poder descansar. Peguem cada
um uma flor e vamos descer! – ordenou Arana.
Os quatro jovens desceram a montanha sem parar, chegaram ao
igarapé Xarip, remaram contra a correnteza e subiram a montanha
para chegar à Cidade Amazon.
O Sol já tinha desaparecido no horizonte, mas ainda havia luz
quando eles finalmente chegaram. Arana foi novamente visitar seu
pai, depois jantaram e dormiram.
No dia seguinte, véspera da grande batalha, os Amazons
descansaram, como havia recomendado o Mestre Alelauê.
Infelizmente, nesse entretempo, ele havia piorado, deixando
todos tristes e apreensivos. Araquenauê e Arana tentavam
conduzir os preparativos para a batalha e a estratégia para
aqueles que deveriam permanecer na cidade, a fim de protegê-
la, caso algo desse errado.

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A llan meditava sozinho em um canto sossegado da
floresta, longe de qualquer pessoa. Ele estava em
paz e sua mente estava limpa, quando, em seus
pensamentos, enxergou à sua frente uma trilha de árvores. Então,
ouviu uma voz por trás de uma delas.
– Vocês estão errados. Não esperem até amanhã. Precisam
partir imediatamente, senão, todo o esforço terá sido em vão!
Neste momento, Allan abriu os olhos e correu à procura de
Arana, a fim de contar sua visão e dizer para mudarem os planos
da batalha. Deveriam partir imediatamente, que não esperassem o
terceiro dia. Arana concordou e sentiu mais confiança. Os espíritos
da floresta já estavam em companhia deles.
Arana tinha que liderar o povo Amazon e deixar para trás
seu querido pai. Chamou os jovens guerreiros para uma conversa
no templo.
– Guerreiros, eu convocarei o povo para proteger a cidade.
Vocês são nossas principais armas contra o Dr. Zach. São nossa
linha de frente – disse Arana, abrindo um mapa da região ao redor
da Cidade Amazon.
– A Cidade Amazon só pode ser acessada de cinco maneiras.
Uma, é por cima. Sei que Dr. Zach possui aeronaves, mas
mesmo que sobrevoe nossa cidade, não conseguirá enxergá-la.
Então, não precisamos nos preocupar. Outra maneira, é pela
cachoeira. Possuímos uma passagem atrás dela, mas dificilmente
a encontrarão. Na verdade, optarão pelas trilhas terrestres por
serem mais práticas. Dr. Zach não espera encontrar uma civilização
viva, e sim, um monte de ruínas, logo será fácil surpreendê-lo,
o que, no primeiro momento, é uma vantagem. Então, isso nos
deixa com mais três trilhas que é onde vocês entram. Aqui, aqui

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e aqui! – disse a jovem índia, apontando as trilhas no mapa. –
Cynthia, você vai cuidar da Vereda do Capim, onde predomina o
capim navalha1. Essa planta servirá de defesa, já que incomodará
bastante os combatentes. Cholo irá com você, ele ficará no alto
das árvores e poderá te informar da passagem da tropa. Kleyton,
você vai cuidar da Trilha do Cachimbo, nela você terá muitas
opções para se camuflar e surpreender o inimigo. E Allan, você
cuidará do Refúgio das Águas. Esse local tem enorme beleza, mas,
principalmente, têm muitos riachos e corredeiras. Você poderá
utilizar todos os seus poderes do boto. Eu me encarrego de manter
a cidade protegida, caso vocês não consigam segurá-los. Atrás,
existirão olheiros que estarão me informando do desempenho
de vocês. Se necessário, enviarei reforços. Além disso, podemos
nos comunicar mentalmente, mas evitem isso para não perderem
a concentração. Principalmente você, Cynthia. Nos treinos, você
foi surpreendida todas às vezes e foi a que reagiu mais receosa.
Vocês são uma equipe, mas neste momento estarão separados
e não poderão contar com o suporte de seus amigos. Se for
derrotada, isso pode custar sua vida, portanto, se perceber que
não é capaz, recue. Nós, Amazons, estaremos logo atrás. Mas é
muito importante que o Dr. Zach não encontre a cidade.
Os três concordaram com o plano. Então, Arana continuou seu
discurso:
– Lembrem-se que estaremos logo atrás de vocês. Minha tropa
estará a cavalo e, rapidamente, chegaremos para socorrê-los.
– A cavalo? Como assim? Arana, não vimos nenhum aqui na
cidade! – falou Allan, surpreso.
– Só em momentos de extrema necessidade, convocamos os
cavalos selvagens, utilizando o poder do pensamento e o grande
tambor. Esses animais foram trazidos e domesticados nessa
região na época da colonização, há 500 anos. Alguns, perdidos,
foram tratados pelos nossos ancestrais, conseguindo se adaptar
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e reproduzir. Como a região Amazônica é enorme, existe uma
grande quantidade desses belos animais que nasce, cresce e
morre sem o contato com o homem – falou Arana, para o espanto
dos jovens.
Arana ainda lembrou que todos levassem consigo uma garrafa
com o tônico feito à base de guaraná2, açaí3 e ervas4, que os
ajudaria a manter a concentração e a resistência por muito tempo.
Terminaram a reunião e, antes de se levantarem, Arana esticou
os braços para os guerreiros, propondo um forte abraço. Aquele
simples ritual os ligou, como os elos de uma corrente. Era, de
fato, energia pura. Sentiam isso. Kleyton estava completamente
arrepiado e mostrava os braços com admiração.
No final da tarde, a despedida foi comovente. Todo o povo Amazon
reunido na saída da cidade formava um grande corredor. Homens,
mulheres e crianças cantavam e, na medida em que os guerreiros
Amazons passavam, todos se inclinavam em sinal de respeito.
Assim que saíram da cidade, Araquenauê entregou para Arana
uma linda bandeira com o símbolo dos Amazons. Ela já estava
montada em um belo cavalo. Ao lado, os três guerreiros vestidos
com as armaduras sagradas, sendo seguidos pelos Amazons.
Alguns, montados em belos cavalos, também, e o restante à pé.
O plano seria aproveitarem a noite para se posicionarem na
floresta da melhor forma, a fim de que, ao amanhecer e com a
chegada do exército do Dr. Zach, eles pudessem levar vantagem na
batalha. Para isso, começaram a usar todos os seus conhecimentos.
Através das aves, perceberam o deslocamento da tropa de Dr.
Zach. A movimentação extraordinária pela floresta também havia
sido detectada por algumas tribos que, imediatamente, utilizaram
fumaça para comunicar a chegada do perigo.
O inimigo já estava próximo. Dr. Zach, à frente, acompanhado
do guia Varapau, incentivava, sem parar, sua turma armada até

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os dentes, mexendo a toda hora com o brio deles. Dizia que,
se ele não desse sinal de cansaço, ninguém ali poderia dar.
Assegurava, ainda, que todos iriam ganhar muito dinheiro com
aquela conquista.
Os robôs, Z-bots, iam um pouco à frente, abrindo caminho na
floresta. Apesar da ajuda dos Z-bots, fizeram um percurso penoso,
sofrido mesmo. Depois desceram e subiram vários rios e, finalmente,
deram início à subida da serra que levava à cidade dos Amazons.
A imagem vista do alto da Cidade Amazon agora era real e
aterrorizante. Uma estrada se abria na direção da montanha. O
estrago que os Z-bots estavam fazendo com seus lança-chamas
era repugnante.

No acampamento de Dr. Zach, um guarda vigiava a porta da


cela, onde estavam presos os cientistas, o piloto e os índios
torturados. Atenta à toda movimentação do acampamento, Dra.
Jaque estranhou e perguntou ao vigia:
– Guarda! O que está acontecendo aí fora?
– Não está acontecendo nada, Dona – respondeu, secamente,
o vigia.
– Mas é disso mesmo que estou falando, onde está todo
mundo?
– Todo mundo foi pra essa tal expedição e só eu fiquei pra
vigiar vocês.
A Dra. Jaque pensou um pouco e viu aí uma oportunidade,
então falou:
– Então o senhor poderia fazer a gentileza de nos trazer um
pouco d’água? Estamos sedentos!
– Dona, tenho ordens para nem falar com vocês!
– Mas ninguém está aqui para ver o senhor conversar com a

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gente, por favor! – insistiu a cientista.
– Está bem, eu já volto!
– O senhor é muito gentil!
Ele se afastou da cela. Quando já estava fora do campo de
visão, ela virou-se para os amigos e alertou-os.
– Pronto, ele se foi.
Dr. Murilo pegou um pedaço de cano e forçou a porta na parte
de baixo, entortando um pouco, mas o suficiente para que uma
pessoa pequena pudesse passar. Como era a menor, a Dra. Jaque
se esgueirou pela fresta e conseguiu sair, puxou o cano para fora
e se escondeu atrás da tenda mais próxima, à espreita. O Doutor
permaneceu na janelinha da cela e disfarçou, quando o vigia
voltou ao posto trazendo uma garrafa com água.
– Oh, muito obrigado, meu jovem! Não tem ideia do quanto
está sendo gentil conosco. É incrível como a água faz falta na vida
de uma pessoa!
– É, eu sei, cadê a dona? – estranhou o vigia, mas logo foi
surpreendido com um golpe na cabeça dado pela Dra. Jaque. Ela
largou o cano no chão e vasculhou as roupas dele.
– Ele não está com as chaves – disse ela, esbaforida.
– Então, vasculhe a tenda do Dr. Zach, rápido! – exclamou o Dr.
Murilo.
– Certo! - e saiu correndo até a tenda do Dr. Zach. Chegando lá,
vasculhou tudo até encontrar as chaves.
Foi quando reparou no laptop aberto em cima da mesa. Teve
a ideia e se sentou diante dele. Ligou a webcam e tirou uma
foto de si mesma e anexou ao e-mail que enviou às autoridades
competentes com a seguinte mensagem: “Solicita-se, a quem
receber esta mensagem, transmiti-la às autoridades. Eu, Dra.
Jaqueline Ventura, o Dr. Murilo e o Comandante Padilha somos
prisioneiros do Dr. Zach, que, ao contrário do que se pensa, é
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um criminoso. Estamos sendo maltratados e não estamos bem
de saúde. Nos encontramos no cativeiro do acampamento dele,
no coração da Floresta Amazônica. Infelizmente, não temos
uma referência maior do lugar, mas esperamos que esse pedido
de S.O.S.5 facilite nossa localização, estimule nosso resgate e
tranquilize familiares e amigos.”
O comunicado da Doutora fez renascer toda a esperança na
imprensa. Televisões, revistas e jornais do mundo inteiro enviaram
seus correspondentes para a Amazônia para acompanhar a busca.
A mensagem da Dra. Jaque serviu para convencer todos de que
os cientistas ainda estavam vivos e, assim, a pressão da imprensa
impôs a continuação das buscas.

Enquanto isso, a tropa de Dr. Zach abria caminho com os Z


-bots. Era fogo para todo lado e a fumaça se espalhava no céu.
Os Amazons, vendo o estrago que Dr. Zach fazia na floresta,
quase colocaram tudo a perder. A vontade era abandonar os
esconderijos e partir para batalha, a fim de reduzir os danos que
o fogo estava causando.
Arana usou todo o seu poder do pensamento para enviar uma
mensagem aos guerreiros:
– Aguentem firme! Ainda não chegou o momento, aguardem
meu comando!
Dr. Zach finalmente chegou à base da cachoeira e o Varapau foi
logo se justificando.
– Patrão, só sei chegar até aqui, os índios que eu seguia também
só vinham até aqui. Sei que a cidade dos Amazons está bem
próxima, deve ser no alto da montanha.
Dr. Zach, furioso, disse:
– Seu mentiroso desgraçado! Você disse que sabia chegar na
cidade dos Amazons! Você não vai receber nenhum centavo!
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– Mas, Dr. Zach, estamos muito próximos!
– Varapau, se no alto desta montanha não tiver Amazon, eu
mesmo acabo com você! – ameaçou Dr. Zach.
Ele parou, olhou para cima, olhou para a cachoeira e virou-se
para sua tropa, dizendo:
– Vamos nos separar em três grupos, assim teremos mais chances
de chegar ao topo.
A estratégia Amazon estava dando certo. Varapau seguia no
mesmo carro de Anderson, pela Trilha do Cachimbo.
– Mas eu não enganei vocês, eu dei a informação que os índios
tinham, ninguém mais sabe como chegar na Cidade Amazon!
– Varapau, o fato de acreditar em você não quer dizer que
pouparei sua vida, caso o Dr. Zach me ordene, entendeu? O que
é isso? – Anderson se surpreendeu ao ver o Z-bot, que abria
caminho à sua frente, parando repentinamente e, em seguida,
tombando na sua direção. Percebendo que cairia em cima do
carro, ele, imediatamente, saltou para o lado e Varapau o copiou.
Quando o robô caiu sobre o motor do veículo, os dois
explodiram, deixando todo o grupo de Anderson desnorteado.
– Que diabos foi isso? – Anderson se surpreendeu, mais uma
vez, ao ver que logo à frente estava uma figura imponente, usando
uma armadura preta e amarela, como uma onça-pintada.
– Voltem daqui mesmo, ou terão que se ver comigo! – ordenou
Kleyton, de forma intimidadora.
– Sim, senhor! – gritou Varapau, amedrontado, que levantou e
saiu correndo.
– Varapau, seu covarde! E quem é você? – esbravejou Anderson.
– Eu sou AIUÃ, Guerreiro Amazon da Onça, e não permitirei
que deem um passo a mais!
– Amazon, hem? Então estamos no caminho certo! Vocês aí, o
que estão esperando, ataquem!
Então, os quatro capangas que acompanhavam Anderson
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avançaram na direção de Kleyton e começaram uma luta, em que
Kleyton mostrava seus golpes de capoeira combinados com suas
garras afiadas. Em meio à luta, um deles sacou a arma e atirou.
Kleyton apenas bloqueou a bala com um soco de costas de mão,
acertando a pelo lado.
– Armas de fogo não funcionam comigo!
Isso fez com que o homem que atirou e, um segundo, que
ainda estava de pé, corressem de medo.
– Isso não é gente, é um monstro! – gritaram, enquanto fugiam.
– E você, se fosse mais esperto faria como eles e sairia correndo,
também! – disse Kleyton, tentando intimidar Anderson, sem obter
sucesso.
– He, he, he! Esperto, não é? Honestamente, você não me
parece grande coisa! – e ficou em pose de luta, mostrando que
estava disposto a duelar sem medo. Na verdade, Anderson até
demonstrava certo entusiasmo no olhar.

No caminho chamado Vereda do Capim, seguiu o grupo de


capangas sem um líder, que foi surpreendido quando viram uma
ave enorme vindo como uma flecha do céu em direção ao carro.
– O que é aquilo? – apontou um dos capangas para a figura que
se aproximava.
– Parece uma arara, uma arara gigante! – respondeu o motorista.
Com muita habilidade, Cynthia pousou sobre o capô do carro
amassando-o totalmente, deixando todos apavorados. Então,
ela deu um grito supersônico, que fez todos os integrantes do
veículo porem as mãos na cabeça, tentando proteger os ouvidos.
Ela agarrou um pela camisa e levantou voo com ele. O homem
apavorado ficou se debatendo.
– Me solta, me solta! – e ela o soltou sobre o capim navalha,
que ficava na beira da estrada. O capanga ficou reclamando da
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coceira que a planta causava.
Os que estavam no carro começaram a atirar, mas não
conseguiam acertar Cynthia, pois esta se esquivava de todos os
tiros durante o voo. De repente, um coco acertou a cabeça de
um dos atiradores.
– Quer saber, eu vou é sair daqui! – disse o motorista, engatando
a ré e manobrando o carro para descer a ladeira. O outro, que
ainda estava de pé, continuava a atirar.
– Esperem por mim! – e saiu correndo atrás do carro o capanga
que se coçava. Ele também recebeu um coco na cabeça, que o
fez tropeçar e quase cair, mas continuou fugindo.
Cynthia pousou e agradeceu ao Cholo que, do topo de um
coqueiro6, ainda segurava um coco.
– Obrigada, Cholo! Não foi tão difícil assim, não é? – então ela
foi surpreendida pela garra do Z-bot, que a pegou por trás e a
levantou no ar.
– Ai, como pude esquecer de você? Argh! – se debatendo
dentro das garras do imenso robô.
No caminho do Refúgio das Águas, Allan interceptou o grupo
de Dr. Zach que, de dentro da cabine do carro gritava com seus
empregados, que fugiam da surra que Allan estava lhes dando,
exceto Cassius e um Z-bot, que permaneciam no local que se
tornou um campo de batalha.
– Cassius, acabe com esse intrometido, agora!
– É Cassius, é esse o seu nome, não é? Acabe com esse intrometido!
– Está zombando de mim, não é? Se tem uma coisa que eu não
suporto é que zombem de mim – e partiu pra cima de Allan, que
saltou por cima de Cassius que, por sua vez, acertou o soco no pé
do robô deixando uma marca de amassado bem profunda, o que
demonstrava a tamanha força que tinha.
– Há, há, há! Perto do treinamento que tive, isso é brincadeira!
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– Allan continuava a zombar de Cassius.
Ficavam revezando os ataques o Z-bot e Cassius, tentando
acertar Allan que, enquanto escapava dos golpes, acertava os
seus no robô e alguns em Cassius! Até que, finalmente, Cassius
conseguiu pegá-lo pelo pescoço e começou a enforcá-lo!
– Isso mesmo, Cassius, mas não o mate, quero que ele nos leve
até os Amazons! – gritava o Dr. Zach.
Mas Allan se contorceu todo e, com os pés na cara de Cassius,
forçou e conseguiu se livrar. Enquanto rolava para trás, precisava
se esquivar dos golpes do Z-bot. Precisando ganhar espaço, Allan
deu um salto para dentro do riacho.
– Rápido, seu estúpido, vá atrás dele! – ordenava Dr. Zach.
Obedecendo seu patrão, Cassius também mergulhou. Só que
Allan, sendo muito mais ágil dentro d’água que qualquer outro,
saltou para fora e, usando as barbatanas de seus antebraços,
atirou-as no ar. Este movimento fez com que elas se destacassem
e se unissem formando uma espécie de bumerangue que acertou
em cheio o robô, arrancando sua perna e fazendo-o tombar,
debatendo-se no chão até parar de se mover completamente.
Allan, já no chão, recebeu suas barbatanas de volta, enquanto
Cassius levantava da água, ainda procurando pelo inimigo.
– Sou muito mais rápido que você, Cassius, além de mais esperto!
– Amazon continua a zombar de mim? – isto vai enfurecendo
o careca.
– Honestamente, Dr. Zach, porque contrata um idiota desses
para protegê-lo? É uma piada! – então, Allan que estava distraído,
recebeu um golpe no meio das costas, que o arremessou muitos
metros até ir de encontro a uma árvore, que se partiu com o impacto.
Havia sido Cassius quem o acertara.
– Porque um soco dele é capaz de matar um búfalo! – exclamou
Dr. Zach, todo orgulhoso do desempenho do empregado.
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Allan se levantou todo dolorido!
– Caramba, como conseguiu sair tão rápido da água? – e ao olhar
para seu oponente, não o reconheceu. Ele estava completamente
enfurecido e fora de si.
– Quando Cassius se enfurece, nem mesmo eu sou capaz de
controlá-lo! Percebendo seus talentos, tinha que tê-lo em minha
equipe – explicou o cientista.
Cassius corria tão rápido para cima de Allan, que este não conseguiu
se esquivar a tempo e recebeu muitos golpes, sendo arremessado
mais ainda para dentro da mata.

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De volta à Trilha do Cachimbo, Anderson e Kleyton travavam
uma luta bastante equilibrada, em que os dois se esquivavam e
acertavam golpes um no outro. Num determinado momento, se
afastaram, ganhando espaço para respirar.
– Impressionante, mesmo sem armadura você é um oponente
excelente! Qual é o seu nome?
– Meu nome é Anderson e você também merece meu respeito
por durar mais de 10 segundos em uma luta comigo.
– Eu contei dez minutos! Isso quer dizer que já bati um recorde?
– Venha, Amazon! – e Anderson avançou contra Kleyton exibindo
mais uma combinação de golpes perfeitos e Kleyton ainda bloqueando
alguns, mas sendo atingido por outros. Kleyton também o golpeava,
o que ainda mantinha a luta equilibrada.
– Parece que estamos no mesmo nível, Anderson. Essa luta vai demorar.
– Isso é o que você pensa! Você está muito mais cansado que eu
– e atacou novamente.
Realmente, Anderson demonstrava estar muito mais disposto que
Kleyton. Parecia que a cada momento que passava ele ficava melhor,
como se só estivesse se aquecendo. Kleyton precisava derrubá-lo
rápido, senão ele é quem seria derrubado. Então, aproveitou uma
brecha e o imobilizou.
– Já chega, Anderson, não quero machucar você, vá embora, não
precisamos continuar essa luta sem sentido!
– Mas eu quero te machucar! – e se desvencilhou do agarrão de Kleyton.
– Na verdade, não me sinto tão vivo assim há muito tempo. Aiuã,
lute comigo até o fim! – e mais uma vez o atacou com tudo.
Mas Kleyton decidido a dar um fim naquilo tudo, concentrou
grande parte de sua energia no punho direito, aproveitou uma
fresta na defesa do inimigo e acertou um soco poderoso no peito
de Anderson, que ficou completamente indefeso. Isso possibilitou

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a Kleyton dar uma sequência linda de golpes de capoeira, que
fizeram, finalmente, Anderson cair de vez no chão, derrotado.
– Esse cara não é normal, definitivamente não é normal! – falou
admirado, Kleyton, diante de seu inimigo tão difícil.
Foi quando ouviu um grito vindo de bem longe.
– Cynthia? Ela está em perigo, preciso ajudá-la! - correu, mas
logo parou. Olhou Anderson no chão e pensou: “Não, não posso
largar meu posto. Ela terá que se virar sozinha! Ela vai conseguir,
tenho certeza!”
Cynthia estava sendo pressionada pela garra do Z-bot e, mesmo
Cholo atirando cocos na cabeça do robô, este sequer reagia.
Ela pensava: “Arana tinha razão, eu sou uma fraca que fica
sempre esperando ser socorrida por alguém. Eu sempre caio nas
armadilhas. Eu não deveria estar aqui, sou mesmo uma guerreira
da Amazônia?”
Quando tudo parecia perdido e ela já estava quase sem
consciência, um vulto azul de uma arara voando surgiu em sua
mente e uma voz sussurrante lhe dizia: AIARA, não tenha medo!
Estamos juntas, você sempre terá a mim para protegê-la. Você não
está sozinha. Toda a floresta está com você! Use todo o seu poder
e lute! LUTE AIARA!
Então, os olhos de Cynthia se abriram e uma aura de poder
envolveu todo o seu corpo. A mão do robô explodiu e ela abriu
suas asas poderosas.
– Eu sou AIARA, a Guerreira Amazon da Arara. E não vou ser
derrotada nunca, jamais! – ela se posicionou no ar e como uma
flecha de poder atravessou o Z-bot, arrebentando-lhe todo
o peito. Isso fez o robô cair e quando este atingiu o chão,
explodiu na hora.
Allan golpeava várias vezes o peito e o rosto de Cassius, que
finalmente recuou.
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– Já chega, Cassius! Não me obrigue a te machucar mais!
Cassius, ainda bufando e babando de ódio, não se importava
e voltou a atacar, mas Allan, preparado, deu seu golpe final, um
chute no queixo, que o derrubou definitivamente.
Allan, ainda arfando um pouco, se voltou para o Dr. Zach e disse:
– Bem, agora acabou Dr. Zach.
Dr. Zach, desesperado, pegou o rádio e chamou por Anderson.
– Anderson, venha aqui agora! Anderson! Anderson!
Allan avançava, lentamente, na direção do cientista, quando
este puxou uma pistola, e Allan parou.
– Fique aí mesmo, senão eu atiro!
– Acabou, Dr. Zach, seus capangas foram derrotados e o
senhor está sozinho!
Zach, mais uma vez, chamou no rádio desesperado.
– Anderson, apareça logo!
Foi neste instante que o corpo de Anderson foi arremessado
contra o chão em frente ao Dr. Zach, que foi surpreendido ao ver
seu melhor guerreiro derrotado. Do topo de uma árvore, Kleyton
começou a discursar:
– Aí está ele, Dr. Zach, mas creio que não possa salvá-lo!
Cynthia também apareceu, descendo dos céus e pousando
atrás de Allan. Kleyton também desceu da árvore de um só salto e
parou ao lado dos amigos.
– Mas, quem são vocês? – perguntou o Dr. Zach, surpreso ao
descobrir que existiam mais daqueles guerreiros de armadura.
– Nós? Nós somos os AMAZONS, OS GUERREIROS DA AMAZÔNIA!
– responderam o três, em uníssono.
– Os Amazons? Então vocês são os Amazons? – e olhou seus
dois capangas acordando. Também atentou para o Z-bot caído,

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logo atrás dos guerreiros, e tramou um plano.
– Está bem, vocês venceram! Se o que querem é que eu vá
embora, então eu irei! – e apertou um botão no seu rádio que
detonou o sistema de autodestruição do Z-bot, o que causou
uma grande explosão. Os Amazons foram arremessados para
vários lados diferentes.
A explosão e a fumaça cobriu tudo. Depois de algum tempo,
ela foi se dissipando. Cuidadosamente, Allan, que tinha se jogado
para dentro do riacho, pôde, enfim, levantar a cabeça da água. Já
Kleyton se protegeu atrás de uma árvore e Cynthia, retraindo suas
asas, demonstrava que as tinha usado como escudo. Dr. Zach,
Anderson e Cassius haviam aproveitado a confusão para escapar.
Utilizando o poder do Amari, os três se transportaram
diretamente para o Templo da Luz. Lá, foram recebidos pelo
conselheiro Araquenauê e outros pajés.
– Eles fugiram. Agora que confirmaram a existência dos Amazons,
eles voltarão muito mais preparados, tenho certeza.
– Cynthia, o importante é que estamos bem, devemos viver o
presente. No futuro, certamente acontecerão mais combates. Por
isso, vamos precisar encontrar vários outros descendentes diretos
dos Amazons, como vocês, para vestirem as armaduras sagradas.
– Mas Araquenauê, nós precisamos encontrar o acampamento
de Dr. Zach e salvar nossos amigos – falou Kleyton.
– Seus amigos conseguiram escapar. Fomos avisados disso pelos
nossos informantes da floresta.
– Jura? Ai que bom! – respirou, aliviada, Cynthia.
– E onde está Arana? – perguntou Allan
– Nosso mestre a convocou há pouco tempo. Ela teve que
deixar seu posto para vê-lo. Estão a sós agora. Alelauê está muito
fraco e tememos que não sobreviva a essa noite.
Nos aposentos do mestre. Alelauê abriu os olhos e contemplou
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sua filha, docemente. Ela estava triste e chorava muito. Ele, então,
falou para Arana:
– O mundo passará por uma grande transformação no caminho
da espiritualidade. Arana, esse segredo é muito importante, estou
fraco, preste atenção. Estamos próximos do final do calendário
Maia. Muitos acreditam que o mundo vai se acabar, porém, o
nosso Livro Sagrado informa que essa data será marcada pela
transformação dos valores da humanidade. O homem branco
perceberá que deve buscar a felicidade nas coisas simples, na
família, e o dinheiro não será o mais importante. Nessa data, já
estaremos com todos os guerreiros Amazons reunidos conosco
na floresta. Você deve iniciar a busca imediatamente, eles estão
ao redor do mundo. Quando encontrar e preparar todos os
guerreiros, terá chegado o momento de nos apresentarmos ao
mundo como a última grande civilização da Amazônia. Vamos nos
juntar aos nossos irmãos índios de todas as Américas, para cuidar
e preservar nossas florestas e compartilhar nossos conhecimentos.
Todos os nossos estudos sobre a cura de diversas doenças
deverão ser repartidos. Tudo o que aprendemos com a natureza
deverá ser doado com amor para toda a humanidade. Minha filha
querida, chegou a sua vez de assumir o comando dos Amazons.
Você é forte, já detém muitos conhecimentos e seu caráter está
formado. Nunca se ache inferior por não poder usar as armaduras.
Na verdade, sua armadura foi construída dia a dia, durante a sua
vida. Seu espírito puro, seu coração cheio de amor e sua mente
preenchida de conhecimentos formam a melhor armadura que
pode existir. Filha, lembre-se sempre: a verdadeira força está
dentro da gente!
– Não, pai, não quero ouvir mais nada, não me deixe, não tenho
mais ninguém... Quem vai cuidar de mim? Não morra!
– Arana, logo seu coração se encherá novamente de amor. Eu
te amarei e ao seu lado estarei sempre. Lembre-se, minha querida

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filha: você não pode fugir do seu destino.
Alelauê fechou os olhos e Arana também. Silenciosamente e
de cabeça baixa, lágrimas escorriam de seus olhos. Em toda a sua
vida, Arana fora ensinada a encarar a morte como uma passagem.
Percebendo o silêncio, Araquenauê, os guerreiros e os mais
sábios pajés entraram no quarto para consolar a moça. Os jovens
a abraçaram e os mais velhos cercaram o mestre. Depois de alguns
minutos intermináveis, um deles gritou:
– Alelauê ainda vive!
Todos correram de volta para ver Alelauê e o pajé falou:
– Alelauê ainda vive, porém, entrou em estado de sono
profundo. Vamos mantê-lo aquecido e procurar a planta que o faça
se recuperar. Vamos precisar colocá-lo na sala das armaduras, ao
lado da Flor do Sol, para que ele se mantenha energizado.
Arana, emocionada, jurou que não descansaria até achar a
planta que salvaria seu pai.
Apesar da vitória dos Amazons, uma tristeza tomou conta
de todo o local.

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F inalmente, o grupo especial do Exército conseguiu
encontrar o acampamento do Dr. Zach. Os capangas
que cuidavam do local foram presos, os animais
receberam cuidados antes de serem soltos e todos os
computadores e anotações condenáveis foram cuidadosamente
confiscados e guardados. Os cientistas e o comandante foram
atendidos imediatamente, pois estavam com a saúde debilitada.
Em seguida, foram levados de helicóptero para um hospital do
Exército, em Manaus.

Na Cidade Amazon, os três guerreiros começaram a preparar a


volta para suas casas.
– Queridos amigos, vocês vão usar o Amari para se transportarem
até as margens do Rio Negro, perto de um grande hotel de Manaus.
Quando forem encontrados, falem que permaneceram doentes por
todo esse tempo, que foram acolhidos e tratados por uma tribo.
Nossa existência deve permanecer secreta! – falou Araquenauê.
O povo Amazon despediu-se dos guerreiros. Arana e
Araquenauê os conduziram até o Templo da Luz.
– Quando forem convocados para voltarem à Cidade Amazon,
devem proceder da mesma forma em suas cidades. Como
das outras vezes, imaginem a Flor do Sol e o local para onde
desejam ir. Vai dar tudo certo, lembrem dos nomes Amazons
que receberam e do juramento que fizeram, isso vai ativar
imediatamente a confiança de vocês.
Cynthia e Kleyton estavam tristes com o estado de Alelauê. Mas,
ao mesmo tempo, felizes, porque, em breve, reencontrariam suas
famílias e amigos. Allan também estava com saudades de sua mãe,
mas seu coração transbordava de amor por Arana. Para piorar,

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os últimos acontecimentos deixaram tudo muito complicado
na Cidade Amazon e ele não encontrava espaço para abrir seu
coração para Arana. Vencendo a timidez, Allan chamou Arana
para conversar em uma sala ao lado.
– Arana, não posso partir sem falar o que sinto – disse Allan,
com a respiração ofegante.
Olhando fixamente para dentro dos olhos de Allan, Arana
perguntou:
– E o que sente, Allan?
– Sinto que você, Arana, é a pessoa que sempre desejei
encontrar. Desculpe, mas estou abrindo o meu coração, não
quero lhe faltar com o respeito.
Carinhosamente, Arana colocou sua mão na boca de Allan,
interrompendo-o e falou:
– Allan, há muitos anos, durante minhas meditações, tenho
visões de um jovem branco que se junta a mim para comandar o
povo Amazon. Juntos, encontraríamos todos os outros guerreiros
que estão espalhados pelo mundo.
De forma mágica, aproximaram-se e se beijaram demoradamente.
Arana interrompeu o beijo e disse:
– Allan, você deve partir com seus amigos imediatamente!
– Arana, peraí, você não pode me dar um beijo e em seguida
me dar um fora. Não sei se consigo sufocar esse sentimento. Sou
capaz de abandonar tudo que tenho no Rio de Janeiro e ficar
aqui com você!
– Allan, espere, ouça o que está dizendo! Da mesma forma que
eu não poderia ir com você para lá, você não pode ficar aqui e
abandonar sua vida junto de sua mãe. Um dia você entenderá.
– Não fale comigo como se eu fosse uma criança, você mesma
acabou de dizer que é nosso destino ficarmos juntos.

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– Pode ser, mas agora não é a hora. Temos muitas
responsabilidades, não podemos simplesmente nos entregar a
essa paixão.
– E por que não?
– Porque eu sou a nova líder do nosso povo e você é um
guerreiro. Temos coisas mais importantes para nos concentrarmos.
– Mais importantes que o amor?
– Seria muito egoísmo de nossa parte. Temos uma missão maior
do que as nossas próprias vidas. Aguarde os acontecimentos e
siga sua missão que, assim, estaremos juntos.
Arana saiu da sala, Allan veio atrás. Ela então se despediu de
Cynthia e Kleyton. Os três guerreiros fecharam os olhos e imaginaram
o Portal. Seguraram a pedra de seus colares e repetiram juntos:
“A – MA – RI”.
Um portal de luz, formando um enorme círculo, surgiu e
os jovens saltaram para dentro dele. Em segundos, já estavam
perto do hotel, na cidade de Manaus. Assim que chegaram no
hotel, fizeram contato com os pais e parentes, pelo telefone,
para tranquilizá-los. E foram, imediatamente, conduzidos para o
mesmo hospital do Exército, onde estavam o comandante Padilha
e os cientistas.
Ao chegarem no hospital, foram logo visitar os amigos. Depois,
fizeram diversos exames que mostraram estarem em ótima saúde.
Os médicos ficaram surpresos, esperavam que estivessem piores
que os cientistas, resgatados no acampamento do Dr. Zach.
Explicaram que foram resgatados e tratados por índios. Os jovens
aproveitaram para discutirem algumas questões com os cientistas
e, durante uma conversa num delicioso jantar, Cynthia tirou mais
algumas dúvidas que tinha sobre a região e perguntou:
– Dr. Murilo, o que podemos fazer pela Amazônia?
– Penso que as soluções políticas são prioritárias. São elas

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que podem dar o resultado mais imediato. Temos leis ambientais
que devem ser cumpridas. Para os próximos dez anos, uma forma
de revertermos o processo atual é investirmos fundo em educação.
As nossas crianças devem aprender que a floresta de pé é muito
mais rentável, que aprendam a viver do extrativismo. Lembrem-se
que existem 23 milhões de pessoas na região, e as crianças e jovens
representam 2/3 da população, com menos de 25 anos. Devemos
nos preocupar com a natureza, mas não podemos nos esquecer das
pessoas. Eles são brasileiros, deveriam ter total atenção do governo.
As crianças e jovens de hoje serão os futuros guardiões da floresta, e
se as únicas opções para sobrevivencia forem o corte da madeira, a
criação de gado ou plantação de soja, a floresta não resistirá.
– Me vem à cabeça, que antes de viver essa experiência, a
floresta era algo muito distante dos meus pensamentos, moro
no Rio de Janeiro e confesso que nem fazia ideia do tamanho e
importância da região. Doutora, o que a senhora acha disso? –
perguntou Allan.
– Allan, repetem-se na Amazônia, os mesmos erros que quase
acabaram com a Mata Atlântica1 e o Cerrado2.
– E quais os culpados por essa situação? – perguntou Kleyton.
– Somos todos, de certa forma, culpados. Nossas opções
de consumo estão levando embora a maior e mais rica floresta
do mundo. Precisamos reavaliar que produtos ou empresas
prejudicam e destroem a floresta. O Sudeste do Brasil é o grande
consumidor da Amazônia. Vejam, 78% do desflorestamento3 da
Amazônia foi feito para abrir áreas de pastagem, dessa carne
produzida lá, 10% são exportadas, o restante é quase toda
consumida no Sul e Sudeste. As queimadas contribuem para o
aquecimento do planeta, gerando prejuízos enormes com o
aumento das tempestades, secas, enchentes e de diversos outros
eventos climáticos.
– Sabe, gente, falou Cynthia, penso que devemos mudar a
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forma de lidar com a natureza. Será que é certo alguém comprar
uma determinada área e ter poder para cortar todas as árvores,
sujar os rios, acabar com as nascentes e interferir no ciclo natural
de milhares de animais? Será que esses tesouros não deveriam ser
preservados para as próximas gerações?
– Bacana, Cynthia! Aliás, estou impressionada como vocês
amadureceram e se modificaram durante a estada na floresta.
É isso mesmo, devemos acabar com essa história de pensarmos
na natureza como algo distante. Para preservar a nossa espécie,
devemos cuidar muito bem da nossa casa, que é o nosso planeta.
No dia seguinte, todos obtiveram alta e com a insistência da
imprensa, foi organizada uma coletiva para o grupo contar tudo o
que aconteceu na floresta.
Como o assunto foi amplamente divulgado na mídia, a coletiva
se transformou em um pequeno evento, com repórteres de
diversos veículos de comunicação. Os jovens contaram a parte da
história que viveram, até encontrarem os índios que os ajudaram,
sem revelar o encontro com o povo Amazon ou o envolvimento
na batalha contra o Dr. Zach. Demorou um pouco e foi doloroso
relembrar das dificuldades, mas finalmente poderiam voltar para
as suas casas. O comandante Padilha ficou em Manaus mesmo,
sua cidade; os cientistas e Allan voltaram para o Rio de Janeiro,
Kleyton foi para Salvador e Cynthia para Porto Alegre.

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A pós dois meses do retorno, Allan estava infeliz, seu
pensamento era voltado para o seu grande amor.
Lembrava de Arana o tempo todo e já não sentia prazer
em ir à praia “pegar suas ondas”, como antigamente, e seus antigos
parceiros no esporte já nem o procuravam mais. Não aguentando,
ele conversou com a sua mãe que havia conhecido e se apaixonado
por uma índia na tribo em que foram acolhidos. Também disse que
seu destino era viver para defender a Amazônia, que gostaria de
voltar para floresta e se juntar à Arana, seu grande amor.
– Eu tentei ficar aqui no Rio de Janeiro, mãe, mas não dá. Meu
lugar é na Amazônia, lutando em defesa da floresta. Não fique
triste, lá serei feliz. Não é a minha felicidade o que a senhora mais
quer na vida?
A mãe de Allan pediu que ele não desistisse de seus estudos,
inclusive, na faculdade, poderia fazer algo voltado para o meio
ambiente. Com relação à Arana, poderia pegar um avião de vez
em quando e visitá-la. Ela também poderia vir ao Rio de janeiro.
Após o término da faculdade, se ele continuasse desejando isso,
ela daria a maior força para ele viver na floresta. É claro que ela
não entendia a proporção do desejo de seu filho, nem a ligação
que ele havia criado com aquele lugar e aquela garota, mas achava
que conhecia seu filho bem o bastante para diferenciar um amor
real de um delírio juvenil.
No dia seguinte, Allan pegou sua mochila e foi para a Pedra do
Arpoador, que fica no final da Praia de Ipanema. Sua mãe aprovou
o passeio, acreditando que seu filho realmente precisasse dar
uma volta e arejar os pensamentos, mas a intenção de Allan era
outra. Ele acreditava que precisava de um lugar isolado e próximo
da natureza para se ligar a ela, de forma a conseguir abrir o portal
que o levasse até o seu amor. Fez a mentalização, segurou seu
174
Amari, mas o portal não se abriu.
– Acho que não vou conseguir, talvez só funcione quando sou
convocado. Vou tentar novamente, eu tenho que conseguir.
Allan se lembrou de seu nome de batismo, fechou os olhos, se
concentrou e falou baixinho:
– Eu sou o Akatan, jurei manter as tradições e costumes
Amazons, defender e preservar a Floresta Amazônica. Jurei manter
o segredo sobre a civilização Amazon. Que os espíritos da floresta
me aceitem e me protejam. “A-MA-RI”.
Finalmente o portal se abriu e ele deu um salto para dentro.
Em um dia, que parecia abençoado pelo canto dos pássaros,
Arana estava chorando. Sofria com o estado de seu pai, que
continuava em sono profundo e, também, não conseguia parar de
pensar em Allan. De repente, ouviu um barulho. Virou-se, piscou
os olhos, não acreditando. Allan se aproximou e trocaram um
longo e apaixonado beijo. Depois se abraçaram demoradamente,
até que Allan a afastou um pouco e disse:
– Aqui é o meu lugar e você é a mulher da minha vida.
– Tem certeza, Allan? – perguntou a moça, surpresa.
– Arana, talvez eu tenha me antecipado, mas uma das maiores
lições que aprendi com vocês foi a da verdade, da sinceridade,
e tenho que falar e agir como meu coração determina. Se não
quiser, tudo bem, eu entendo, mas tinha que voltar e falar isso
olhando nos seus olhos – disse, com firmeza, o jovem.
Arana ficou olhando para Allan e um silêncio mágico tomou
conta do lugar. Todos os barulhos sumiram. Nada se via, nada se
escutava. O mundo, naquele instante, era formado apenas pelo
olhar que tinham um pelo outro, até que Arana falou:
– Allan, nasci para ser sua mulher e assim serei.
Outro beijo selou a união dos dois.
– Arana, preciso terminar meus estudos, inclusive decidi fazer
uma faculdade com o tema ambiental. Dessa forma, eu vou poder

175
ajudar mais os Amazons. Não se preocupe, vamos nos ver todos
os dias, nunca mais passo dois meses longe de você.
O casal enfrentava uma rotina de estudos. De manhã, Allan ia
para a escola, à tarde voltava para a Cidade Amazon, onde, junto
com Arana, passavam os dias enfurnados na biblioteca do Templo
da Luz pesquisando, lendo livros e documentos sobre os mais
variados assuntos referentes à cultura dos Amazons, dos Incas, Maias,
Astecas e de toda a Região Amazônica, sempre sob a supervisão
de Araquenauê. Pensavam em uma maneira de localizar os novos
guerreiros ao redor do mundo e onde encontrar a planta que salvaria
o Mestre Alelauê e, à noite, Allan usava seu Amari para voltar pra
casa. Assim, sua mãe não se preocupava. Quando um dia, Allan teve
uma ideia. Ligou para o Kleyton e para Cynthia e combinaram de se
encontrar no mês seguinte, na cidade dos Amazons.

Finalmente, chegou o dia dos três jovens se encontrarem. Foram


para locais desertos em suas cidades e utilizaram o Amari.
– Fala, Kleyton! Oi, Cynthia, que saudade!
Os três deram um longo abraço que foi interrompido com a chegada
de Arana. Ela abraçou todos ao mesmo tempo e abriu um belo
sorriso. Cynthia estava linda, agora se vestia de forma bem diferente,
usava pulseiras, colares e brincos que ganhara dos Amazons. Calçava
uma sandália feita com couro vegetal e usava um lindo vestido azul.
Seus cabelos estavam soltos e seus olhos brilhavam.
Depois de rodarem a cidade para matar a saudade de todos os
amigos que deixaram, voltaram para o Templo da Luz e se fecharam
em uma das salas. Allan não conseguia mais esperar para falar de
sua ideia. Algo que uniria ainda mais os três na missão para a qual
despertaram.
– Vocês não vão acreditar nas novidades – disse Allan – Conforme
eu já falei, resolvi voltar para Amazon, me unir com Arana e viver aqui
quando terminar meus estudos.
176
177
– Que lindo, vocês serão muito felizes! – falou Cynthia,
agora sem ciúmes.
– Parabéns, irmão! – falou Kleyton.
– Calma, galera, tem outra coisa que preciso falar. Tive uma
ideia. Vou precisar especialmente da sua ajuda, Kleyton, nosso
mestre da informática. Eu estava conversando com Arana para
tentarmos descobrir a forma mais inteligente de encontrarmos os
outros guerreiros espalhados pelo mundo e...
– Fala, não estou aguentando – disse Cynthia.
– Devemos utilizar a internet! Vamos trazer para a Cidade Amazon
alguns computadores e uma antena parabólica. Depois a gente
desenvolve um site sobre a Amazônia. Vamos criar um site com
várias informações sobre a Amazônia e denunciar os crimes que
estão sendo cometidos. Dessa forma, será possível encontrar os
jovens em todos os cantos do mundo que estão relacionados no
Livro Sagrado e convocá-los para vestirem as armaduras sagradas.
– Allan, você é um gênio! Como não pensei nisso antes?
Bateu uma ideia também, é meio viagem... a gente podia criar
um site dos Guerreiros da Amazônia, contando toda a história
da cidade, da cultura, porém, ninguém vai acreditar, todos vão
achar tratar-se de mais uma história de ficção – disse empolgado,
Kleyton. – Entenderam?
Arana, Cynthia e Allan responderam juntos:
– Não!
– Sei que devemos preservar o segredo, mas dessa forma a
gente pode falar e divulgar abertamente os Amazons e tentar
encontrar os verdadeiros guerreiros ao redor do mundo. Podemos
criar comunidades em outros sites de relacionamento, podemos
cadastrar crianças e jovens e com o cruzamento das características
de cada um, vamos encontrar o que procuramos e todos vão
pensar que é ficção.

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179
– Não disse que o cara é fera em informática, agora eu entendi,
adorei. Esse é o caminho!
– Também acho a ideia muito boa, Allan! – falou Cynthia.
Arana estava meio perdida, mas confiando nos jovens,
concordou.
– E a energia para alimentar os computadores? – perguntou
Kleyton, com cara de desânimo.
– Meu amigo, Kleyton – falou Allan sorrindo – já pensei nisso
também, vamos usar o biodiesel1, um combustível feito à base de
plantas oleaginosas, como o girassol, dendê, soja e várias outras
que, inclusive, temos aqui na cidade e na região. Vamos precisar
trazer um pequeno motor e um gerador.
– Mas rapaz, você pensou em tudo! – disse, agora sorrindo
Kleyton.
– Bá, guri! Vocês estão inspirados! Arana, com relação à energia,
não podemos utilizar a Flor do Sol? – perguntou Cynthia.
– Prefiro não arriscar, a Flor do Sol é que mantém as armaduras
energizadas e meu pai vivo – falou Arana.
Abraçaram-se novamente e combinaram juntar todo o
equipamento para trazerem para a Cidade Amazon.
Algumas semanas se passaram e se encontraram na cidade
novamente. Trouxeram os computadores, um pequeno motor,
um gerador e montaram um verdadeiro portal da luz. Criaram e
colocaram no ar o site dos guerreiros.
Os Amazons mais velhos estavam encantados com a nova forma
de energia trazida pelos jovens. Um deles lembrou que sempre era
possível aprender com nossos semelhantes, mesmo mais jovens e
aparentemente inexperientes. A transformação de óleos vegetais
em energia iria mudar para sempre a vida dos Amazons.

180
Desenvolveram e enviaram um e-mail de alerta e uma primeira
convocação para os amigos. Rapidamente, uma corrente se
formou, já que estes também enviaram para outras pessoas. Desta
forma, poderiam comunicar os problemas da floresta e despertar
em outros jovens o espírito dos Guerreiros da Amazônia. O texto
do e-mail terminava da seguinte forma:

“Um perigo enorme ameaça a cidade dos Amazons! Homens


gananciosos querem destruir a floresta e roubar a Flor do
Sol. Existem muitos perigos que podem ameaçar a Floresta
Amazônica. Vai ser preciso convocar todos os guerreiros que
estão espalhados pelo mundo para vencerem as forças do mal,
crianças e jovens que possuam a força e a coragem de lutar por
um mundo melhor.
Os inimigos são muitos, eles surgem de todas as partes
para lucrar com a nossa floresta. Já o verdadeiro Guerreiro da
Amazônia pode estar dentro de cada um de nós. Começou uma
corrida contra o tempo para salvar a floresta da devastação e
preservar o maior segredo do universo! Você não pode fugir do
seu destino!”

Os jovens continuaram seus estudos e aprimoraram suas


técnicas de combate, pois a cada dia se deparavam com uma nova
ameaça e um novo desafio a ser vencido. Muitos são os perigos e
os inimigos da floresta, mas, felizmente, os Amazons estão lá para
protegê-la. Assim como Dr. Zach, outras pessoas de igual maldade
e irresponsabilidade exploram os recursos naturais e os moradores
da região.
Allan, Cynthia e Kleyton tornaram-se os heróis protetores da
floresta. Eles são os Guerreiros da Amazônia!

181
Em um local isolado da floresta, Dr Zach e seus capangas
passavam os dias disfarçados de fazendeiros. Depois que tomaram
à força, de algumas famílias locais, as propriedades, puseram fogo
na floresta e transformaram tudo em pasto para criação de gado.
Não deixaram nem as castanheiras.
– Dr. Zach!
– Fala seu idiota! – disse Dr. Zach, gritando como sempre.
– Quando vamos voltar e acabar com eles? – perguntou Cassius,
batendo uma mão na outra.
– Agora que sei a localização da Cidade Amazon, é só uma
questão de tempo para me reestruturar e voltaremos com tudo.
Destruiremos os Amazons, roubaremos a Flor do Sol e dominaremos
o mundo!
– Dr. Zach, não vejo a hora desse dia chegar! – falou Anderson
e, em seguida, os três caíram na gargalhada.

182
FIM
DO
LIVRO
1

183
184
185
GLOSSÁRIO

Capítulo 1 – VOANDO PELA AMAZÔNIA

1. HABITAT: ecossistema onde seres humanos, animais e plan-


tas podem conviver de forma sustentável.

2. BOTOS: “cor–de-rosa” ou “vermelho”, espécie de golfinho


fluvial ameaçada de extinção. Mamífero aquático, que habita ba-
cias dos rios Amazonas e Orinoco. O maior comprimento regis-
trado é de 2,50m e o peso pode ultrapassar 160kg. Alimenta-se
de peixes, além de moluscos e crustáceos. Divide parte da área
de ocorrência com o “tucuxi” (Sotalia fluvitialis), que não é um
golfinho estritamente fluvial, entretanto pode ser diferenciado fa-
cilmente pelo tamanho e pela coloração característica.

3. QUEIMADAS: utilização comum do fogo no meio rural brasi-


leiro, inclusive na Amazônia, afetando diretamente a físico-química, a
biologia dos solos e deteriorando a qualidade do ar, reduzindo a bio-
diversidade e sendo prejudicial à
saúde humana, além de influenciar
negativamente na mudança quími-
ca da atmosfera da Terra, ocasionando
aquecimento global e o efeito estufa.

4. AQUECIMENTO GLOBAL: ou
aquecimento da Terra, é o aumen-
to da temperatura terrestre (não
só numa zona específica, mas em todo o
planeta), devido ao uso de combustíveis
fósseis de outros processos em nível industrial
e queimadas que levam à acumulação na atmos-

186
fera de gases propícios ao efeito estufa, tais como o dióxido de
carbono, o metano, o óxido de azoto e os CFCs.

5. BIODIVERSIDADE: ou “diversidade biológica” é a variedade


da natureza viva, os vários tipos de organismos vivos e suas comple-
xidades ecológicas. Pode ser entendida como uma associação de
vários componentes interligados e ordenados: ecossistema, comu-
nidade, espécies, populações e genes em uma área definida. A bio-
diversidade varia com as diferentes regiões ecológicas, sendo maior
nas regiões de clima tropical do que naquelas de clima temperado.

6. GÁS CARBÔNICO (CO2): também conhecido como dióxido


de carbono, é uma substância química formada por dois átomos de
oxigênio e um de carbono. Sua fórmula química é CO2. Importante
para o reino vegetal, sendo essencial na realização do processo
de fotossíntese das plantas, assim como na respiração (expiração)
dos seres humanos. A liberação do dióxido de carbono pela quei-
ma dos combustíveis fósseis (gasolina, diesel, querosene, carvão
mineral e vegetal) e as mudanças no uso da terra (desmatamentos
e queimadas) realizadas pelo homem, proporcionam sérias altera-
ções nos estoques naturais de carbono e têm papel fundamental
na mudança no clima do planeta.

7. EFEITO ESTUFA: do total de raios solares que atingem o pla-


neta, quase 50% ficam retidos na atmosfera, o restante, que alcan-
ça a superfície terrestre, aquece e irradia calor. Esse processo é
chamado de efeito estufa. Embora figurado como algo ruim, é um
evento natural que favorece a proliferação da vida no planeta Terra.
Tem como finalidade impedir que a Terra esfrie demais, pois se todo
planeta tivesse uma temperatura muito baixa, certamente não terí-
amos tantas variedades de vida. Todavia, o agravamento do efeito
estufa pode ocasionar sérias catástrofes no planeta, desestabilizan-
do o equilíbrio energético conhecido como aquecimento global.
187
Capítulo 2 – O ACIDENTE

1. IGARAPÉ: riacho natural e estreito, navegável por pequenas


embarcações, formado entre duas ilhas fluviais ou entre uma ilha
fluvial e a terra firme.

2. TAPEREBAZEIRO: árvore de grande porte da Amazônia que


pode chegar a 30 metros de altura. O seu fruto, taperebá, tem ta-
manho idêntico ao de uma pequena ameixa, de coloração amare-
lo-escuro, muito perfumado, ácido, mas de excelente sabor adoci-
cado. Especialmente apreciado em refrescos, sorvetes e licores.

3. SAPO CURURU: considerado um gigante entre os anfíbios,


onde as fêmeas, de cor marrom, podem atingir até 25 cm de com-
primento, e os machos, de cor amarelo-pardo, até 15 cm.

4. ONÇA: a onça pintada é um animal carnívoro felino, sendo


que também é chamado de jaguar (nome que tem origem na Mito-
logia Guarani). Chega aos 2,10 metros de comprimento, pesa em
média 150kg e sua altura chega a 90 cm. É o terceiro maior felino
do mundo, após o tigre e o leão, e o maior do continente ameri-
cano. Seu habitat preferido é a densa floresta tropical, sendo, po-
rém, também encontrado em terrenos abertos. Está ameaçada de
extinção. As ameaças à espécie incluem a perda e a fragmentação
do seu habitat.

Capítulo 03 – PERDIDOS NA FLORESTA

1. CIPÓS: plantas trepadeiras que se desenvolvem sobre os


troncos e copas de outras árvores. Estão presentes em toda Flo-
resta Amazônica e abundantes nas florestas de terra firme da Ama-
zônia Oriental. Devido à sua extensa área foliar e capacidade de

188
transportar água através do caule,
os cipós podem desempenhar um
papel mais importante no ciclo hí-
drico e no ciclo de nutrientes da floresta,
do que é deduzido por sua contribuição
relativamente pequena para a área basal
da floresta.

2. ARARA: ave grande que possui


bico curvo resistente usado para que-
brar frutos e sementes. Suas penas têm
colorido forte como o vermelho, azul e ama-
relo, sendo muito usadas na confecção de cocares entre as tribos
indígenas. As araras vivem em casais nas copas das árvores mais fron-
dosas e fazem seus ninhos em ocos de árvores.

3. GALO-DA-SERRA: tipo de ave que vive e habita as florestas


escarpadas entrecortadas por igarapés e pequenos cursos d’água.
Podem medir até 28cm de comprimento; os machos possuem uma
plumagem alaranjada, uma proeminente crista, em forma de meia-
-lua, que cobre o bico. As fêmeas possuem plumagem marrom-es-
cura, com crista menos evidente. Também são conhecidos pelos
nomes de galo-da-rocha e galo-da-serra-do-pará.

4. SATERÉ-MAWÉ: “Sateré” (lagarta de fogo), e “Mawé” (pa-


pagaio inteligente e curioso). São um conjunto de tribos, cujas
aldeias localizam-se na região do Rio Amazonas, sendo 38 reco-
nhecidas pela FUNAI, além das 60 a 80 aldeias encontradas nas
regiões do Rio Waicupará até o Rio Abacaxis. São apontados como
inventores da cultura do guaraná e da criação do processo de be-
neficiamento da planta, possibilitando que a fruta seja conhecida
e consumida em diversas partes do mundo.

189
5. CESTA DE JUTA: cesta produzida com um tipo de fibra gros-
seira tirada de uma planta tiliácea que se cultiva na Região Amazô-
nica e em outras regiões do mundo como a Índia e Paquistão.

6. JURUPARI: nome indígena que significa sono ou pesadelo.


Lenda amazônica, com diversos significados, dentre os quais um
gênio do mal que não tem forma, mas ao mesmo tempo apontado
como um caboclo feio e disforme, que aparece no meio da noite
causando pesadelos e maus presságios.

Capítulo 04 - O ACAMPAMENTO DO DR. ZACH

1. NIÓBIO: o nióbio é um elemento químico – metal de tran-


sição – da família 5, da tabela periódica. Nb é o símbolo que re-
presenta o elemento e seu número atômico é 41. Tem cor branca
prateada, ou ainda, cinza azulada, em virtude de reações químicas
com gases presentes no ar. É usado, entre outras utilidades, em
alguns aços inoxidáveis ou ligas de metais não fer-
rosos. Estas são geralmente usadas para a fabrica-
ção de tubos transportadores de água e petró-
leo a longas distâncias, entre outras.

2. QUARTZO: é o segundo mineral mais


abundante encontrado no Planeta Terra. É
muito resistente ao intemperismo e ao des-
gaste físico. Além de seu emprego em jóias, o
quartzo é muito usado pelos terapeutas que empregam cristais.
Importante como matéria-prima da indústria eletrônica, como
abrasivo, nas indústrias de vidro e cerâmica. É utilizado também na
fabricação de vidros de alta qualidade, entre outras.

3. ESTANHO: metal conhecido desde os primórdios das civi-

190
lizações. É um elemento químico (antes, um semimetal) da famí-
lia 14, mesma do Carbono. É sólido, muito resistente à corrosão,
inerte ao oxigênio em condições de ambiente e apresenta colo-
ração branco-metálica com brilho característico. Seu símbolo quí-
mico é Sn. No passado, foi muito usado na indústria automotiva
para revestimento e acabamento da lataria. Integra ótima liga com
o chumbo, como revestimento misturado ao zinco, no aço, para
impedir a corrosão. Também aplicado em telhas, correntes e ân-
coras. Como folhas de flandres é utilizado extensivamente para a
conservação de alimentos.

4. URÂNIO: metal do símbolo U, número atômico 92, perten-


cente ao grupo 3, da tabela periódica. O potencial energético do
urânio, combustível da fissão nuclear, ultrapassa as possibilidades
do petróleo e de outros materiais fósseis. Aproximadamente meio
quilo de urânio é capaz de fornecer tanta energia quanto 1.360
toneladas de carvão. Antes do advento da energia nuclear, o urâ-
nio tinha um leque de aplicações muito reduzido. Era utilizado
em fotografia e nas indústrias de cabedal (fabricação de peças de
couro e sola) e de madeira. Os seus compostos usavam-se como
corantes e mordentes (fixadores de cor) para a seda e a lã. No
entanto, a aplicação mais importante do urânio é a energética e
sendo enriquecido como material fissil em armas nucleares.

Capítulo 5 - A REALIDADE NA FLORESTA

1. MALÁRIA: a malária ou paludismo é uma doença infecciosa


aguda ou crônica, causada por protozoários parasitas transmitidos
pela picada do mosquito do gênero Anopheles fêmea. A malária
mata e afeta milhões de pessoas todos os anos. É a principal pa-
rasitose tropical e uma das mais frequentes causas de morte das
crianças em países como o Brasil, Índia, África, Afeganistão e, em

191
países asiáticos, como a Chi-
na. A malária mata 1 milhão
de crianças com menos de 5
anos, a cada ano.

2. PAJÉ: líder espiritual e curan-


deiro indígena, sendo figura de
extrema importância dentro das
tribos brasileiras, além de transmitir
a cultura, histórias e tradições das tribos.

3. ANDIROBA: espécie de árvore abundante no Amapá, Acre e


Pará, chega a uma altura de até 25 metros. Segundo pesquisas, suas
sementes fornecem um óleo amarelo com propriedades medicinais
no tratamento de picadas de cobras e outros animais peçonhentos
da Amazônia (venenos de jararaca e cascavel), além de repelir in-
setos e parasitas. Tem função anti-inflamatória, adstringente e cica-
trizante de efeito rápido. A casca e a folha podem ser usadas para
chá, com poderosa ação diurética e limpeza de rins e bexiga.

4. COPAÍBA: árvore de grande porte com casca lisa, de 1cm


de espessura. Produz um óleo mais aquoso e, claro, de odor mais
agradável que das outras espécies, sendo empregado pelos serin-
gueiros como combustível nas lamparinas. O óleo da copaíba é de
uso comum também na medicina, empregado como anti-inflama-
tório, anticancerígeno, vermífugo, dentre outros, além de servir na
fabricação de vernizes.

5. TAMBAQUI: também chamado de Pacu Vermelho. Espécie


de peixe que realiza migrações para reproduzir, se alimentar e se
dispersar. Durante a época de cheia entra na mata inundada, onde
se alimenta de frutos e sementes.

192
6. CAPIM SANTO: tipo de erva que contém óleo essencial citral
e, por isso, tem grande utilização aromática e medicinal. Também
conhecido como capim-cidreira ou capim-limão. Possui uma colo-
ração verde clara.

7. ERVA CIDREIRA: planta aromática de ciclo de vida longo,


de clima tropical. Na medicina popular, utiliza-se o chá das folhas
como calmante e o citral, sua substância cítrica, é empregada em
perfumaria e indústria de alimentos.

Capítulo 6 - OS AMAZONS

1. MULUNGU: planta originária do Nordeste brasileiro, com


propriedades calmantes. Árvore de copa arredondada, um tanto
espinhenta, de 10 a 14m de altura, com o tronco revestido por
grossa casca corticosa e fissurada, de 40 a 50 cm de diâmetro. É
nativa da parte central do Brasil, desde São Paulo e Mato Grosso
do Sul até Tocantins e Bahia.

2. BICHO-PREGUIÇA: animal da mesma ordem do tatu e do ta-


manduá. Encontra-se nas matas do continente americano e está
dividido em cinco espécies diferentes, que podem ter dois ou três
dedos nas patas anteriores. No Brasil possuem três dedos, sendo:
Preguiça-comum, em todas as florestas do Brasil; Preguiça de Ben-
tinho, também no Norte do Brasil, Amazonas, Rio Negro, Rio Ama-
zonas; e Preguiça de Coleira, que vive somente nos remanescentes
florestais do trecho da Mata Atlântica, que vai do Rio de Janeiro ao
Sul da Bahia e é a espécie mais ameaçada de extinção.

3. MAIAS: a Civilização Maia habitou a região das florestas tro-


picais das atuais Guatemala, Honduras e Península de Yucatán (sul
do atual México). As cidades formavam o núcleo de decisões e
práticas políticas e religiosas da civilização e eram governadas por
193
um estado teocrático. O Império Maia era considerado um repre-
sentante dos deuses no Planeta Terra.

4. ASTECAS: povo guerreiro, os Astecas habitaram a região do


atual México entre os séculos 14 e 16. A sociedade era hierar-
quizada e comandada por um imperador, chefe do exército. A
nobreza era também formada por sacerdotes e chefes militares.
Os camponeses, artesãos e trabalhadores urbanos compunham
grande parte da população.

5. INCAS: viveram aproximadamente de 3000 a.C. a 1500 d.C.


no Peru, Chile, Bolívia e Equador, mais especificamente na Cor-
dilheira dos Andes. Os atuais povos indígenas do Peru são des-
cendentes dos Incas. Esse povo tornou-se conhecido em todo o
mundo pela sua cultura e tradição, pelos objetos de ouro que
confeccionavam, pela utilização de pedras em suas obras, como
também estradas nas montanhas, canais de irrigação, entre outras.
Eram politeístas, ou sejam, acreditavam em vários
deuses como o trovão, a lua, o mar, o sol. Sacri-
ficavam animais e humanos em honra aos deu-
ses que cultuavam.

6. SERINGUEIRA: também chamada árvore-


-da-borracha. A seringueira é uma árvore origi-
nária da bacia hidrográfica do Rio Amazonas,
onde existia em abundância e com exclusivida-
de, características que geraram o extrativismo
e o chamado ciclo da borracha, período da
história brasileira de muita riqueza e pujança
para a região amazônica. Seu fruto encontra-
-se em uma grande cápsula com sementes
ricas em óleo, que pode servir de matéria-
-prima para resinas, vernizes e tintas.
194
7. EXTRATIVISTAS: forma de sustento na Amazônia, cujas pes-
soas que lá vivem, encontram-se em harmonia com a natureza, ti-
rando dela os recursos de forma sustentável, ou seja, sem causar
danos ao meio ambiente.

8. CAMU-CAMU: também conhecido como caçari ou araçá-


-d’água. Fruto de 10 a 32 mm de tamanho, de coloração verme-
lha ou rósea e roxo escuro quando no final da maturação. Pela
elevada acidez, dificilmente é consumido na forma natural. Tem
grande importância nutritiva, pelo elevado teor de vitamina C. Na
Amazônia peruana, onde é bastante consumido, é utilizado para
o preparo de refresco, sorvete, picolé, geleia, doce, licor, ou para
conferir sabor a tortas e sobremesas.

9. VITÓRIA-RÉGIA: é uma planta aquática, encontrada no Ama-


zonas, que fica na superfície da água e pode chegar a até 2,5 me-
tros de diâmetro. Suas flores são perfumadas e da cor branca, que
só se abrem no período da noite.

10. TUPIS: o termo tupi remete a grupos indígenas cujas línguas


pertencem ao tronco tupi. A referência clássica designa os povos
que habitavam a estreita faixa da planície litorânea atlântica, desde
o Estado do Rio Grande do Sul, para o Norte, até o Estado da Bahia,
ou segundo alguns autores, até o Estado do Pará ou Amazonas.

11. MALOCA: grande barraca indígena, coberta de palmas se-


cas e que aloja várias famílias.

12. CACIQUE: chefe de tribo indígena em qualquer parte


das Américas.

195
Capítulo 7 - AS ARMADURAS SAGRADAS

1. JACARÉ: espécie de réptil que surgiu em nosso planeta há


pelo menos 200 milhões de anos. Na Região Amazônica encontra-
-se o habitat do jacaré-açu, considerado o maior jacaré de nosso
país, com capacidade de alcançar cinco metros de comprimento.

2. PEIXE BOI: é um mamífero marinho. No Brasil, podemos en-


contrar duas formas: o peixe-boi marinho e o peixe-boi amazô-
nico, que habita o sistema fluvial do Rio Amazonas. Possuem um
corpo muito grande, atingindo até 4 metros e com grande peso
de cerca de 1000kg. As fêmeas podem apresentar tamanho maior
que os machos e podem chegar a viver cerca de 60 anos. Os filho-
tes podem apresentar tamanhos entre 1,2m a 1,4 metros e peso
inicial de 30kg em média.

3. MACACO: é um termo de origem africana (provavelmente


do banto: makako) utilizado como designação comum a todas
as espécies de primatas antropóides. No sentido estrito, macaco
refere-se às espécies de primatas pertencentes ao gênero Ma-
caca. O Brasil possui o maior número de espécies de macacos
do mundo, sendo que 70% estão na Amazônia, ou seja, das 26
espécies de primatas brasileiros consideradas sob ameaça de ex-
tinção, 11 são daquela região.

4. HARPIA: na natureza, a harpia é a imponente ave de rapina


da América do Sul, considerada a maior águia encontrada no Brasil,
medindo cerca de 105 cm de comprimento e pesando de 4 a 9
quilos, com envergadura das asas de até 2 metros. É uma das mais
raras espécies de aves da fauna latino-americana. Para os povos
indígenas da Região Amazônica, a harpia é a “mãe de todos os pás-
saros”, reverenciada como o espírito mais intrépido das florestas.

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5. FALCÃO: no Brasil, também conhecido como falcão peregri-
no, é uma ave carnívora, ocupando o topo da cadeia alimentar e
atinge até 50 centímetros de altura e 1,20 metros de envergadura.
Trata-se do maior dos falcões encontrados no Brasil, inclusive na
Região Amazônica. Alimenta-se, principalmente, de aves, morcegos
e pombos, usando suas poderosas garras para aprisionar as vítimas.

6. ARIRANHA: também conhecida como lontra-gigante, lobo-


-do-rio ou onça-d’água, é um mamífero mustelídeo (tipicamente
de patas curtas, corpo alongado e cauda mais ou menos compri-
da), característico do Pantanal e da bacia do Rio Amazonas. É uma
espécie em perigo. E a principal ameaça à sua sobrevivência é o
desmatamento e destruição do seu habitat. A poluição dos rios,
principalmente junto de explorações mineiras, causam vítimas en-
tre as lontras, que se alimentam de peixe contaminado por metais.

7. SUCURI: também conhecida como anaconda, as sucuris es-


tão entre as maiores cobras do mundo e ficam em primeiro lu-
gar no continente americano nesse quesito. Seu tamanho só é ul-
trapassado pela sua prima asiática, a píton reticulada, conhecida
como “comedora de macacos”.

8. REDES DE ARRASTÃO: as redes de arrasto são puxadas por


embarcação, ou tracionadas por ação humana. Atuam junto ao
fundo do mar, buscando peixes e crus-
táceos de hábitos sedentários, ou
seja, que vivem associados
ao fundo. É uma

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forma de pesca amplamente condenada e proibida em vários lo-
cais por destruir ecossistemas marinhos.

Capítulo 8 - A CONFIRMAÇÃO DOS AMAZONS

1. MACAXEIRA: mandioca ou aipim. É o nome pelo qual é co-


nhecida a espécie mais largamente difundida de raízes comestíveis.
Trata-se de um arbusto que teria sua origem mais remota no oeste
do Brasil (sudoeste da Amazônia) e que, antes da chegada dos eu-
ropeus à América, já estaria disseminado, como cultivo alimentar, até
a Mesoamérica (Guatemala, México). Espalhada para diversas partes
do mundo, tem hoje a Nigéria como seu maior produtor.

2. PUPUNHA: fruto da pupunheira, palmeira nativa dos trópi-


cos úmidos americanos, cuja árvore produz cachos grandes de fru-
tos comestíveis, utilizados de variadas maneiras, como na extração
de óleo ou na produção de farinha, usada na alimentação humana
e animal.

Capítulo 9 - O PERIGO SE APROXIMA

1. MADEIRAS COM CERTIFICADOS: são madeiras nativas ou ori-


ginárias de áreas de reflorestamento, ambas de origem legal, que
provêm do corte autorizado pelo órgão ambiental brasileiro com-
petente e que possuam o documento de licença de transporte e
armazenamento, acompanhada de nota fiscal. Para exploração de
madeira legal é necessária autorização oficial. Essa certificação visa
atender critérios socioambientais de maneira a promover o desen-
volvimento sustentável não só do meio ambiente de cuja área a
madeira se origina, mas também da população nativa da região.

2. SELO VERDE: os rótulos ambientais, conhecidos como selos

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verdes, visam dar informações ao
consumidor a respeito do produto.
A rotulagem ambiental caracteriza-
-se por um processo de seleção
de matérias-primas produzidas de
acordo com especificações ambien-
tais. O selo verde identifica os produ-
tos que causam menos impacto ao meio
ambiente em relação aos seus similares.

Capítulo 11 - A BATALHA

1. CAPIM NAVALHA: planta nativa da Guiana e do Brasil, que


possui folhas afiadas que podem produzir cortes. Outros nomes:
navalha, navalheira ou navalheira-dura.

2. GUARANÁ: o guaranazeiro, árvore do guaraná, é uma plan-


ta nativa da Amazônia. É uma espécie vegetal arbustiva e trepa-
deira, cujo nome provém do termo indígena “varana”, que signifi-
ca árvore que sobe apoiada em outra. Cultivado, inicialmente, na
Amazônia pelos índios Sateré-Mawés.

3. AÇAÍ: pequeno, redondo e de cor azul-noite, quase negro,


o açaí pode ser considerado a pérola da Amazônia. É fruto de uma
esguia palmeira chamada de açaizeiro ou açaí-do-pará. Desenvol-
ve-se às margens dos igarapés e várzeas úmidas do Norte do Brasil.
A rica polpa da frutinha, apesar de reduzida em comparação ao ta-
manho do caroço, concentra um sabor forte, marcadamente ácido
e ricamente nutritiva.

4. ERVAS: tipo de plantas que são encontradas na natureza em


grande variedade. Com vasta possibilidade de utilização, elas são
muito úteis na culinária e no uso medicinal.
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5. S.O.S.: é o sinal enviado em situação de emergência; quan-
do enviado em código morse consiste em 3 pontos, 3 traços e,
novamente, 3 pontos. É usado porque a combinação de 3 pontos,
3 traços e 3 pontos é facilmente reconhecida em uma transmissão,
mesmo com interferências.

6. COQUEIRO: o coqueiro é uma palmeira tropical que dá o


famoso coco da praia, ou simplesmente, coco. Na Amazônia, a
produção de coco vem aumentando muito por causa da extração
da fibra contida na casca de seu fruto, a qual é usada para fabrica-
ção de colchões, estofados de automóveis etc.

Capítulo 12 - A VOLTA PARA CASA

1. MATA ATLÂNTICA: originalmente percorria o litoral brasi-


leiro de ponta a ponta. Estendia-se do Rio Grande do Norte ao
Rio Grande do Sul e ocupava uma área de 1,3 milhões de quilô-
metros quadrados. Tratava-se da segunda maior floresta tropical
úmida do Brasil, só comparável à Floresta Amazônica. Atualmente,
restam cerca de 5% de sua extensão original, devido à degrada-
ção pela extração desordenada do pau-brasil pelos portugueses
e particulares europeus; pela construção de vilas e cidades; pelo
surgimento dos engenhos e de extensa área de plantações de
cana-de-açúcar (Zona da Mata Nordestina); pela implantação
da pecuária como força motriz nos engenhos; pela devasta-
ção através da mineração, nas áreas de Minas
Gerais para retirada do ouro; pelo ciclo eco-
nômico do café, nas regiões do Vale do Paraíba,
Baixada Fluminense e Sul de Minas, assim como
Campinas (SP) e Ribeirão Preto (SP). Todas
essas atividades geraram um crescimento ur-
bano ainda maior. E o consumo dos recursos naturais
é o principal fator de degradação da Mata Atlântica.
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2. CERRADO: conhecido como as “savanas brasileiras” – é uma
forma de vegetação que tem diversas variações fisionômicas ao
longo das grandes áreas que ocupam do território do País. É uma
área zonal, como as savanas da África. A paisagem do Cerrado
possui alta biodiversidade, embora menor que a Mata Atlântica e a
Floresta Amazônica. Vem sendo ameaçado, seja pela instalação de
cidades e rodovias, seja pelo crescimento das monoculturas, como
soja e o arroz, a pecuária intensiva, a carvoaria e o desmatamento
causado pela atividade madeireira e por frequentes queimadas,
devido às altas temperaturas e baixa umidade, quanto ao infortú-
nio do descuido humano.

3. DESFLORESTAMENTO: ou desflorestação - é o processo de


desaparecimento de massas florestais, fundamentalmente causado
pela atividade do homem para a obtenção de solo para cultivos
agrícolas ou para extração de madeira, por parte da indústria ma-
deireira, bem como da utilização da pecuária pelos fazendeiros,
devastando grandes áreas de mata.

Capítulo 13 - O PORTAL DA LUZ

1. BIODIESEL: é uma alternativa aos combustíveis derivados


do petróleo. Pode ser usado em carros e qualquer outro veículo
com motor diesel. Fabricado a partir de fontes renováveis (giras-
sol, soja, mamona e outras), é um combustível que emite menos
poluente que o diesel. Em relação às matérias-primas, estas seriam
sementes e plantas com potencial de gerar óleos, inclusive para
energia e alimentos. A Amazônia concentra uma grande variedade
dessas espécies nativas, inclusive palmáceas, que podem contri-
buir para a redução da dependência em relação ao diesel a partir
da organização produtiva das comunidades locais, seja em regime
de extrativismo simples ou de exploração agro-florestal.

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Ronaldo Barcelos
Nasceu em 1971. É Carioca, Faixa Preta
de Jiu-Jitsu e Publicitário Pós-graduado em Film
& TV Business pela FGV. Desde criança, sempre
foi curioso acerca de biografias, religiões e filo-
sofias. Em 1999, iniciou o Projeto Amazon com
o sonho de produzir desenho animado 100%
brasileiro para televisão. O destino o conduziu
para a internet, com o site: guerreirosdaama-
zonia.com.br, onde produziu 100 minutos de animação. Ao longo
do projeto, percebeu que os esforços de comunicação dos am-
bientalistas e da imprensa, em grande parte, estavam focados no
público adulto. Por paixão e idealismo, resolveu estudar a região
Amazônica e dedicar 15 anos de sua vida para produzir uma trilogia
literária, utilizando como argumento, heróis que, com poderes de
animais da floresta, passariam a defendê-la. Tudo isso, com a missão
de divertir e educar as crianças, difundindo o conhecimento numa
fusão entre ficção e realidade.

Ronaldo Santana
Nasceu em 1981, em São Gonçalo, no
Rio de Janeiro. É formado em Design Gráfico
e trabalha como ilustrador, animador 2D e Cut
out. Já participou de produções de longa-
-metragens para o cinema como: Turma da
Mônica em: Uma aventura no tempo; e Xu-
xinha e Guto contra os monstros do espaço.
Desenvolveu o design de personagens e ani-
mou na série de TV Meu Amigãozão, além de
ter feito parte da equipe que produziu os
Amazons em 2000 e, agora, desenvolveu as ilustrações para esta
coleção e colaborou na produção de conteúdos da história.

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