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Embora trate um tema tão universal como o amor, Pessoa não faz o elogio
do sentimento, algo muito comum na poesia. Pelo contrário, é um
desabafo do sujeito lírico acerca da sua dificuldade em estabelecer
relações amorosas.
Poema "Presságio"
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Estrofe 1
A estrofe inicial apresenta o mote do poema, o tema que vai ser tratado,
mostrando também um posicionamento do sujeito. Com a repetição de
"revela" e "revelar", o autor cria um jogo de palavras que resulta
numa antítese, recurso de estilo presente ao longo da composição.
Nestes versos é dito que quando o sentimento amoroso surge, não sabe
como se confessar. Pessoa recorre à personificação, representando o
amor como uma entidade autônoma, que age independentemente da
vontade do sujeito.
Assim, sem conseguir controlar aquilo que sente, apenas pode olhar a
mulher amada, mas não consegue conversar com ela, fica sem jeito, não
sabe o que dizer.
Estrofe 2
Devido a esta lógica, o sujeito sente que não pode agir de nenhum modo,
sendo um mero observador da própria vida.
Estrofe 3
Suspira, então, imaginando como seria se ela percebesse, sem que ele
tivesse que dizer por palavras.
Estrofe 4
Parte para uma conclusão, defendendo que "quem sente muito, cala", ou
seja, aqueles que estão realmente apaixonados guardam segredo sobre
suas emoções.
Segundo sua visão pessimista, quem tenta expressar seu amor “fica sem
alma nem fala”, "fica só, inteiramente". Acredita que falar do que sente irá
sempre levá-lo ao vazio e à solidão absoluta.
Assim, é como se assumir um amor fosse, automaticamente, uma sentença
de morte para o sentimento, que passasse a estar condenado. A paixão é
um beco sem saída, face ao qual só pode sofrer e se lamuriar.
Estrofe 5
A conjunção adversativa "mas" marca uma oposição entre aquilo que tinha
sido dito acima e a quadra que encerra o poema. Isto vem sublinhar que
embora lamente não poder expressar seu sentimento, está conformado,
porque sabe que não pode ser revelado, sob pena de desaparecer.
Significado do poema
Falando de amor, Pessoa exprime pessimismo e falta de coragem para
enfrentar a vida, dois traços bastante habituais na poesia que assinou
com seu verdadeiro nome (Pessoa ortônimo). Apesar de sentir desejos e
paixões, como todo mundo, assume a sua incapacidade de ação face a
eles. Embora quase todas as rimas estejam em verbos (que implicam
ações), o sujeito apenas assiste a tudo, imóvel.
Significado do poema
Falando de amor, Pessoa exprime pessimismo e falta de
coragem para enfrentar a vida, dois traços bastante
habituais na poesia que assinou com seu verdadeiro nome
(Pessoa ortônimo). Apesar de sentir desejos e paixões, como
todo mundo, assume a sua incapacidade de ação face a eles.
Embora quase todas as rimas estejam em verbos (que
implicam ações), o sujeito apenas assiste a tudo, imóvel.
Sendo o poema em questão um poema que toca o tema do amor, não se pode certamente
considerar como um poema de amor. Isto porque, como é hábito em Pessoa, muitas das vezes
os temas mais simples são processados, refinados, intelectualizados, de maneira a que a mais
simples exposição de ideias nunca é apenas uma exposição de sentimentos.
Isto nota-se ainda mais quando são poemas ortónimos, escritos em nome de Fernando Pessoa
ele próprio, porque sem artifícios ou máscaras transparece frágil e sem cor o sentimento de
estar perdido no mundo, de fragilidade, de incapacidade e tristeza - marcas indeléveis do
carácter do poeta e que encontravam na sua poesia o escape natural.
"O amor, quando se revela, / Não se sabe revelar. / Sabe bem olhar p'ra ela, / Mas não lhe sabe
falar."
Vejamos como é curiosa a maneira como Pessoa olha para o amor. Em vez de elogiar o amor,
Pessoa fica perturbado pela maneira como o amor se revela em si mesmo. É a incapacidade de
sentir, ou de pelo menos de transmitir, de comunicar o sentimento, que é o verdadeiro tema
deste poema, e não o amor, o sentimento.
Não sabemos até que ponto a a interpretação de Pessoa pode ser uma interpretação Universal
do amor. Pensamos que não é, que é uma interpretação tão íntima que muito nos diz da
maneira como o poeta sentia as coisas e nada mais do que isso. Por isso mesmo quando ele diz
"Fala: parece que mente / Cala: parece esquecer" Pessoa fala do seu ponto de vista particular. É
ele que parece não ser sincero quando tenta ser sincero - é a sua dor interna que impede a sua
sinceridade, a sua ligação sincera a um outro ser humano.
Pessoa disse que o amor é a altura em que nos confrontamos com a existência real dos outros -
e esta é uma frase determinante para entendermos este poema. Uma frase dramática, mas
determinante.
É a presença sufocante do outro que impede o poeta de falar o que sente. Por isso ele nos diz
que "quem sente muito, cala; / Quem quer dizer quanto sente / Fica sem alma nem fala, / Fica
só, inteiramente!".
O seu desejo maior seria que o seu amor ouvisse este poema mas sem o ouvir, que adivinhasse
no seu olhar o sentimento, sem que houvesse necessidade de falar. Há aqui também um pouco
de medo de que o ideal decaia quando se torna real, mas essencialmente o medo é de ser
humano, o medo é medo de ligação com o outro, a perda de controlo do "eu" em favor do
"outro".
Se de alguma coisa este poema fala, não é então de amor, mas antes do que o amor pede, em
termos de sacrifícios para o "eu". O amor pede o máximo sacrifício, que é a perda da
individualidade máxima, a perda do egocentrismo, do culto da personalidade própria: a perda
do controlo sobre a realidade, em favor do caos alheio.
3 quadras e uma oitava, sendo que a divisão lógica do mesmo, quanto a mim será a seguinte:
as duas primeiras quadras introduzem o tema do poema, que de certo modo é a incapacidade
de amar a oitava desenvolve o tema, de modo dramático, sendo que o sujeito poético desenrola
para si mesmo o drama que decorre dentro de si - o amor por ela - e a maneira como esse
drama o perturba. Ele sente intensamente a dor que é não conseguir falar desse amor a ela, não
conseguir revelar o amor publicamente. a quadra final serve de conclusão. Uma conclusão
indefinida, porque o sujeito poético deseja que o seu amor o ouça sem que ele tenha de falar,
mas mesmo assim uma conclusão.
Há grande uso de antíteses, para evidenciar a oposição entre sentir o amor e conseguir falar
dele à pessoa amada. Há uso de anáfora (repetição de "fica" no início de alguns versos
seguidos) Versos 7 e 8, quanto a mim é um hipérbato, com troca da ordem das palavras. "Ouvir
o olhar": trata-se de uma invulgar figura de estilo chamada sinestesia.
Mas se tivesse de destacar o uso de um recurso, seria obviamente a antítese o mais marcante
neste poema.