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CAMPINAS
2014
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FACHINA, Rafael Júlio de Freitas Guina. Modelo de organização do treinamento para
competições de curta duração para jovens atletas de basquetebol. 2014. 114 f. Dissertação
(Mestrado em Educação Física)-Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2014.
RESUMO
vii
FACHINA, Rafael Júlio de Freitas Guina. Training model for short-term competitions to
young basketball players. 2014. 114 f. Dissertation (Master´s degree in Physical
Education). School of Physical Education, State University of Campinas, Campinas, 2014.
ABSTRACT
The aim of this study was to investigate the physiological response associated with a
training program applying the interval training method in a short period of time on young
elite basketball players. Twelve young women (14 ± 3 years), who were preparing for an
international competition, participated in interval training sessions during the preparatory
period of the macrocycle. Body composition, speed, agility and anaerobic endurance were
assessed. Training load was quantified by the session RPE method. Total body mass
showed no significant differences (68.2 ± 12.8 kg vs. 67.8 ± 12.4 kg, P = 0.0633), whereas
lean body mass (51, 6 ± 7.4 kg vs. 52.5 ± 7.4 kg, P = 0.0055) and fat percentage (24.0 ±
3.9% vs. 22.0 ± 4.1% , P <0.0001) showed significant differences. Time (3,68 ± 0,15 s vs.
3,67 ± 0,13 s, P=0,1564) and power (W 545.1 ± 77.5 vs. 548.1 ± 67 5 W, P = 0.6274)
generated in 20 m running test, as well as time (10.28 ± 0.47 s vs. 10.26 ± 0.46 s, P =
0.3105 ) and power (100.4 ± 15.1 W vs. 100.2 ± 14.0 W, P = 0.8238) generated in T-test
showed no significant differences. The best time (6.31 ± 0.25 s vs. 6.31 ± 0.23 s, P =
0.5143) and maximum power (243.4 ± 29.1 W vs. 241.2 ± 27.05 W, P = 0.6165) of the
anaerobic endurance test proposed by Castagna et al. (2007) also showed no significant
difference. However, the other variables of this test, as the average time (6.49 ± 0.27 s vs.
6.42 ± 0.24 s, P = 0.0001), the worst time (6.66 ± 0.28 s vs. 6.50 ± 0.27 s, P <0.0001), total
time (64.88 ± 2.69 s vs. 64.19 ± 2.40 s, P = 0.0001), the fatigue index (2.86 ± 0.81% vs.
1.67 ± 0.43%, P <0.0001) the average power (225.7 ± 25.9 W vs. 230.4 ± 25.3 W, P =
0.0012) and minimum power (206.8 ± 21.6 W vs 220.8 ± 23.4 W, P <0.0001), showed
significant differences. The internal training load also showed appropriate behavior,
especially in microcycles 2 and 3 (intense and pre-competitive), with low values of
monotony. The use of the interval training method during the intervention period with a
high concentration of stimuli was effective to improve the ability of athletes to resist
fatigue. Moreover, the data show that the speed and agility are not adversely affected.
viii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1
2 OBJETIVOS ............................................................................................................................... 5
2.1 Objetivo geral ...................................................................................................................... 5
2.2 Objetivo específico.............................................................................................................. 5
3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................ 5
4 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................... 7
4.1 Caracterização do basquetebol ............................................................................................ 7
4.2 Capacidades físicas associadas à prática do basquetebol .................................................... 9
4.2.1 Força .......................................................................................................................... 10
4.2.2 Velocidade................................................................................................................. 11
4.2.3 Resistência................................................................................................................. 13
4.3 Métodos de treinamento .................................................................................................... 15
4.3.1 Método de treinamento contínuo............................................................................... 15
4.3.2 Método de treinamento descontínuo ......................................................................... 17
4.4 Estrutura e organização do treinamento desportivo .......................................................... 20
4.4.1 Componentes da periodização: os ciclos de treinamento .......................................... 22
4.4.2 Periodização do treinamento desportivo ................................................................... 30
4.5 A carga de treinamento ..................................................................................................... 33
4.5.1 Componentes da carga de treinamento ...................................................................... 35
4.5.2 Orientação da carga de treinamento .......................................................................... 38
4.5.3 Complexidade coordenativa e psicológica da carga .................................................. 39
4.5.4 Controle da carga de treinamento .............................................................................. 40
4.5.5 Métodos para o controle da carga de treinamento ..................................................... 41
5 MÉTODOS ............................................................................................................................... 47
5.1 Sujeitos .............................................................................................................................. 47
5.2 Delineamento experimental............................................................................................... 47
5.3 Antropometria e Composição corporal ............................................................................. 47
5.4 Componentes do treinamento ............................................................................................ 48
5.5 Variáveis de intervenção ................................................................................................... 49
ix
5.6 Periodização e planificação do treinamento ...................................................................... 49
5.7 Testes de desempenho motor ............................................................................................ 51
5.7.1 Corrida 20 metros ...................................................................................................... 51
5.7.2 Teste T ....................................................................................................................... 52
5.7.3 Teste de resistência anaeróbia (sprints repetidos) ..................................................... 53
5.8 Controle da carga de treinamento ...................................................................................... 55
5.9 Caracterização da competição ........................................................................................... 56
6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ....................................................................................................... 57
7 RESULTADOS ......................................................................................................................... 59
7.1 Antropometria ................................................................................................................... 59
7.2 Corrida 20 m ..................................................................................................................... 59
7.3 Teste T ............................................................................................................................... 59
7.4 Teste de resistência anaeróbia ........................................................................................... 59
7.5 Distribuição do volume de treinamento durante os períodos preparatório e competitivo . 60
7.6 Carga interna de treinamento ............................................................................................ 61
8 DISCUSSÃO............................................................................................................................. 67
8.1 Testes de desempenho motor ............................................................................................ 67
8.2 Controle da carga interna de treinamento.......................................................................... 70
8.3 Distribuição do volume do macrociclo ............................................................................. 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 73
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 75
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 77
ANEXOS........................................................................................................................................... 89
x
DEDICATÓRIA
xi
xii
AGRADECIMENTOS
Miceli Jeleilate.
Enfim, a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente com a
realização deste trabalho, meu muito obrigado!
xiii
xiv
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
xv
xvi
LISTA DE QUADROS
xvii
xviii
LISTA DE TABELAS
xix
xx
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A Aquecimento
AL Anaeróbio láctico
CK Creatina cinase
CP Creatina fosfato
Cr Creatina
FC Frequência cardíaca
IF Índice de fadiga
RM Repetições máximas
TF Treinamento de força
xxi
Tm Melhor tempo
TP Treinamento preventivo
Tp Pior tempo
TT Técnico-tático
UA Unidade arbitrária
xxii
1 INTRODUÇÃO
Os aspectos associados à competição desportiva implementados na rotina de
jovens atletas é um tópico do treinamento desportivo que gera extensos debates (BENELI;
MONTAGNER, 2011). Isto porque o esporte, sendo um fenômeno complexo, aberto e de
múltiplas possibilidades, pode ser utilizado para diversos fins (PAES, 2002). Entretanto, a
participação em competições faz parte dos diferentes programas esportivos destinados a
crianças e adolescentes em todo o mundo. A forma, os objetivos e a periodicidade das
mesmas, assim como a faixa etária adequada para o início regular e mais competitivo são
aspectos que devem ser considerados e estudados pela Ciência do Esporte (ARENA;
BÖHME, 2004).
Dentro do escopo de assuntos investigados pela Teoria do Treinamento
Desportivo, as competições são designadas como sendo o elemento central que determina
todo o sistema de organização metodológica e preparação do atleta (PLATONOV, 2001;
FORTEZA, 2006). Dessa forma, como o processo de treinamento e a forma de disputa da
competição são indissociáveis, o planejamento do treinamento desportivo deve manter-se o
mais distante possível da improvisação e necessita agrupar os conhecimentos em um
sistema estrutural e organizado que se aproxime ao máximo da ciência e da tecnologia
(FORTEZA, 2006).
Entendendo o termo “processo” como sendo uma série de ações que buscam
maximizar um resultado, o planejamento é definido como um processo para determinar
para onde o treinamento deve seguir e estabelecer os requisitos para chegar a este ponto da
forma mais eficiente possível (FORTEZA, 2006). Este processo, dentro da teoria do
treinamento desportivo, responde pelo conceito de planificação, que é a organização de
tudo o que acontece nas etapas de preparação dos atletas, inter-relacionando os momentos
de preparação e competição (FORTEZA, 2001a).
Antes de iniciar as ações para a construção da planificação, deve-se buscar
caracterizar a modalidade desportiva em questão. Assim como os demais esportes
coletivos, o basquetebol requer uma quantidade substancial de habilidades tanto da
perspectiva individual quanto coletiva. Fisiologicamente, as necessidades da prática do
basquetebol incluem fontes aeróbias e anaeróbia de ressíntese de ATP (McINNES, et al.,
1
1995; GORE, 2000). Estudos que realizaram análise do movimento por vídeo (do inglês
time-motion analysis, onde são mensuradas as ações motoras, distâncias percorridas e
velocidade dos atletas durante uma partida) mostraram que, durante os jogos de
basquetebol, os jogadores realizam aproximadamente 105 ações de deslocamento de curta
duração (2-6 segundos) e alta intensidade, com cada uma delas ocorrendo, em média, a
cada 21 segundos do tempo real de jogo (McINNES, et al., 1995). Para a execução eficiente
de toda a dinâmica de movimentos do basquetebol, é fundamental adotar meios e métodos
de treinamento que otimizem força explosiva, força e potência de membros inferiores e
superiores, agilidade, coordenação, velocidade de movimentos cíclicos e acíclicos, além da
resistência (aeróbia, anaeróbia láctica e aláctica) (ERCULJ; DEZMAN; VUCKOVIC,
2003; ZWIERKO; LESIAKOWSKI, 2007).
Atualmente, a demanda competitiva da maioria dos esportes tem aumentado
consideravelmente em relação às décadas passadas. Se em épocas anteriores os atletas
dispunham de um longo tempo de preparação para então alcançarem sua melhor condição
de rendimento durante a competição principal, atualmente, não somente cresceu o número
de competições, mas estas também se dispersaram por toda a macroestrutura do
treinamento, forçando novas adequações aos modelos de periodização do treinamento
existentes (FORTEZA, 2001a).
A periodização foi estabelecida em meados dos anos de 1960 e foi inicialmente
baseada na experiência dos esportes de alto desempenho competitivo da extinta União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e, também, nas pesquisas publicadas por seus
proeminentes cientistas daquela época (ISSURIN, 2010). De forma global, a periodização
do treinamento pode ser definida como a aproximação sistemática, sequencial e progressiva
ao planejamento e organização do treinamento de todas as qualidades motoras dentro de
uma estrutura cíclica para a obtenção do rendimento ótimo de um desportista ou uma
equipe. Não deve ser interpretada como uma parte isolada do processo de treinamento, mas
sim como uma fase deste, que busca responder a necessidade de unir todas as variáveis que
envolvem um programa de preparação de atletas (GAMBETTA, 1991; GOMES;
ALMEIDA; ALMEIDA, 2000; GRAHAM, 2002; GOMES, 2009).
2
Estando de posse das informações que caracterizam a modalidade desportiva e
da forma de disputa de sua competição alvo, a organização do treinamento caminha em
direção à escolha dos métodos de treinamento que possam conduzir a preparação da equipe
rumo aos objetivos traçados para esta competição. Os métodos de treinamento podem ser
agrupados de acordo com as direções da carga: contínua ou descontínua. Os métodos
contínuos se dividem em invariáveis e variáveis. Já os descontínuos, em intervalados e de
repetições (FORTEZA, 2001b).
Porém, a planificação e periodização do treinamento não são uma estrutura
rígida. Podem sofrer ajustes durante o processo caso sejam identificadas alterações no
desempenho dos atletas que não sejam condizentes com o que fora previsto para um
determinado momento do processo. Para identificar tais alterações, devem ser aplicados
testes motores em momentos distintos dentro da periodização para observar as respostas
dos atletas ao treinamento e diagnosticar a eficiência do que fora planificado até então e a
manutenção ou alteração das diretrizes que estariam por vir (VIRU; VIRU, 2003;
WEINEK, 2005).
Dessa forma, selecionar e integrar os métodos de treinamento, além de
controlar o desempenho fisiológico e a carga de esforço durante um processo de
treinamento, são condições primordiais para a monitoração de um programa de
treinamento.
3
4
2 OBJETIVOS
3 JUSTIFICATIVA
Durante os últimos anos, diversos estudos investigaram a modalidade
basquetebol identificando o perfil fisiológico dos atletas (OSTOJIC; MAZIC; DIKIC,
2006), desenvolvendo testes específicos ou proposto baterias de testes (CASTAGNA et al,
2007; WILMOT, CAMPILLO, 2004), analisando a resposta de diferentes modelos de
treinamento (MOREIRA et al.,2004; MOREIRA; OKANO; SOUZA, 2005; BALCIUNAS
et al., 2006; BENELI; RODRIGUES ; MONTAGNER , 2006), comparando meios de
treinamento (BOGDANIS et al., 2007) e também identificando o padrão de movimento
(ABDELKRIM; EL FAZAA; EL ATI , 2007) dos atletas durante uma partida de
basquetebol. Estes estudos contribuíram para uma melhor caracterização da modalidade e
deram suporte para aprimorar o processo de treinamento em tempos modernos. Entretanto,
percebe-se em alguns destes estudos a observância de fenômenos isolados, com pouca ou
nenhuma contextualização de seus achados com os demais componentes do processo de
treinamento (WILMOT; CAMPILLO, 2004; OSTOJIC; MAZIC; DIKIC, 2006;
CASTAGNA et al., 2007). Já em outros, onde esta contextualização se faz presente, os
5
resultados são oriundos de um período de treinamento longo (MOREIRA et al.,2004;
MOREIRA; OKANO; SOUZA, 2005; BENELLI et al. 2006; BOGDANIS et al., 2007).
Portanto, investigar a aplicação do método descontínuo intervalado de
treinamento durante um curto período de preparação (típico de seleções nacionais e
regionais de base do basquetebol brasileiro), além de observar como isso modificaria o
comportamento da velocidade, agilidade e da resistência anaeróbia de jovens jogadoras de
basquetebol, trás novas informações que poderão auxiliar no treinamento de equipes de
basquetebol com pouco tempo de preparação e enriquecer o conteúdo da ciência do
treinamento desportivo.
Tal temática é muito relevante, pois, assim como em outras modalidades
coletivas, o calendário do basquetebol é caracterizado por possuir um grande número de
jogos, competições relevantes com diferentes características quanto a duração (longa e
curta), mas, frequentemente, há uma carência de um período adequado de preparação física.
6
4 REVISÃO DA LITERATURA
7
inferiores, agilidade, coordenação, velocidade de movimentos cíclicos e acíclicos,
resistência (aeróbia, anaeróbia láctica e alática) e precisão (ERCULJ; DEZMAN;
VUCKOVIC, 2003; ZWIERKO; LESIAKOWSKI, 2007).
Dos dados oriundos de evidências fisiológicas e também pelo método de análise
do movimento por vídeo sugerem que o basquetebol tem natureza altamente intermitente e
de intensidade elevada, contando com a contribuição energética significante tanto do
sistema energético anaeróbio quanto o aeróbio (McINNES et al., 1995; SCANLAN;
DASCOMBE; REABURN, 2011). Embora o desempenho no basquetebol possa ser
baseado na capacidade anaeróbia dos atletas, uma aptidão aeróbia elevada também se
mostra importante para uma observação mais ampla deste desempenho (STONE;
STEINGARD, 1993). Especificamente o consumo máximo de oxigênio ( VO2 max ) é
considerado como importante para otimizar a recuperação de esforços anaeróbios durante o
jogo (TOMLIN; WENGER, 2001). Além disso, o foi sugerido que o condicionamento
aeróbio seria importante para preparar os atletas para serem capazes de suportar o volume
da carga de treinamento da modalidade (STONE; STEINGARD, 1993; ZAKHAROV;
GOMES, 2003; FORTEZA; RAMIREZ, 2007). Alguns estudos demonstram que o
VO2 max de mulheres atletas de basquetebol variam de 44 a 54 mLO2.kg-1.min-1
(RODRIGUEZ-ALONSO et al., 2003; NARAZAKI et al., 2008).
Porém, para que a execução das ações determinantes do jogo de basquetebol
seja obtida com qualidade durante toda a partida, deve-se atentar para o fato de que a
capacidade de suportar a carga de jogo seria condição primária para estruturar o
planejamento de preparação de uma equipe competitiva. Esta carga pode, em parte, ser
caracterizada pelos achados de um recente estudo conduzido durante jogos de basquetebol
utilizando atletas australianas adultas. Neste estudo, Scanlan et al. (2012) encontraram uma
frequência cardíaca (FC) média de 162 ± 3 e 136 ± 6 b.min⁻¹ considerando o tempo de bola
em jogo e o tempo total, respectivamente. A concentração de lactato sanguíneo foi de 3,7 ±
1,4 mmol.L-1 e uma distância percorrida de 5214±315 metros. Para suportar sucessivos
esforços intensos dentro do tempo de jogo de basquetebol, tanto o sistema metabólico
aeróbio quanto o anaeróbio são solicitados (CIUTI et al., 1996; BORIN et al., 1999).
Quanto às variáveis anaeróbias do desempenho motor, Erculj et al. (2009) analisaram
8
atletas mulheres de 27 países europeus, com idade entre 14 e 15 anos. Ao observarem o
tempo para percorrerem a distância de 20 metros, os autores encontraram os valores de
tempo de 3,53 ± 0,16, 3,57 ± 0,15 e 3,76 ± 0,18 segundos para armadoras, laterais e pivôs,
respectivamente. Quanto ao salto vertical (contra movimento), encontrou valores da altura
de salto de 27,66 ± 4,32, 27,76 ± 3,63 e 24,36 ± 3,39 centímetros para armadoras, laterais e
pivôs, respectivamente.
A distribuição do conteúdo de treinamento é um assunto ainda pouco explorado
no meio acadêmico. Em um experimento conduzido por 6 semanas durante o período pré-
competitivo de atletas da seleção polonesa masculina sub 20, Litkowycz et al. (2008)
registraram o comportamento dos atletas através de monitores de FC e encontraram uma
distribuição da carga fisiológica de treinamento com 37% do conteúdo para o sistema
láctico, 28% para o misto (aeróbio e anaeróbio), 27% para o aeróbio e apenas 8% para o
aláctico.
9
apresentam em combinação com as percepções visuais e auditivas (WEINECK, 2005;
GOMES, 2009). Entretanto, deve-se alertar que tal classificação se faz apenas com o intuito
de simplificar o entendimento. Nenhuma capacidade física consiste exclusivamente de
processos energéticos ou de percepções motoras. Na melhor das hipóteses, predomina um
sobre o outro (WEINECK, 2005).
Portanto, desenvolver programas de treinamento baseados na demanda
específica de cada modalidade esportiva é considerado o fator chave para o sucesso durante
o jogo (TAYLOR, 2004). As capacidades físicas que servem de base para suportar a carga
física de um jogo de basquetebol são: (i) força, (ii) velocidade e (iii) resistência.
4.2.1 Força
A força, no âmbito esportivo, é entendida como a capacidade do músculo de
produzir tensão ao ativar-se. No esporte, chama-se de força útil aquela em que o atleta é
capaz de aplicar ou manifestar à velocidade em que se realiza o gesto motor específico da
modalidade. Um desportista não possui um nível único de força máxima, mas vários destes
níveis em função da velocidade a que se meça a força máxima exercida (GONZÁLEZ-
BADILLO; GOROSTIAGA, 2001).
O desempenho no esporte é o resultado de uma ativação coordenada de
músculos esqueléticos específicos (KOMI, 2003). A maioria dos atletas espera que os
ganhos de força e potência produzidos por um programa de treinamento de força (TF)
resultem em um desempenho melhorado da atividade esportiva. O TF pode melhorar o
desempenho motor (a capacidade de sprint em corrida, o arremesso de um objeto etc), que
pode, por sua vez, melhorar o desempenho em diversas modalidades desportivas (FLECK;
KRAEMER, 2006).
A ativação muscular pode apresentar-se de três formas distintas: ação muscular
concêntrica, excêntrica e isométrica. A ação muscular concêntrica ocorre quando uma
massa está sendo levantada e os músculos envolvidos estão encurtando. Já a ação muscular
excêntrica ocorre quando uma massa está sendo baixada de maneira controlada pelos
músculos envolvidos. Por fim, quando um músculo é ativado e desenvolve força, porém
nenhum movimento visível ocorre na articulação, ocorre uma ação muscular isométrica
10
(GONZÁLEZ-BADILLO; GOROSTIAGA, 2001; KOMI, 2003; FORTEZA, 2006;
FLECK; KRAEMER, 2006).
A quantidade de transferência de um programa de TF para uma determinada
atividade física depende da especificidade entre o programa de treinamento e a atividade.
Por exemplo, exercícios multiarticulares (agachamento, por exemplo) podem ter maior
capacidade de transferência para a habilidade no salto vertical do que exercícios
monoarticulares isolados (extensão e flexão do joelho, por exemplo). Tanto os exercícios
multi quanto os monoarticulares propostos aumentam a força dos grupos musculares do
quadríceps e isquiotibiais. Entretanto, uma maior similaridade com os movimentos
biomecânicos e dos padrões de recrutamento das fibras musculares entre um exercício
multiarticular e a maioria das atividades esportivas resulta numa maior especificidade de
transferência (FLECK; KRAEMER, 2006).
Quando se inicia um programa de TF, tem-se um aumento rápido da força em
um tempo relativamente curto. Este aumento está associado a fatores neurais, que estão
relacionados aos seguintes processos: aumento da função neural do músculo (frequência de
disparo e recrutamento), aumento da sincronização das unidades motoras, incremento da
ativação dos músculos agonistas e redução da ativação dos antagonistas, coordenação de
todas as unidades motoras e dos músculos envolvidos no movimento e inibição dos
mecanismos musculares protetores (órgãos tendinosos de Golgi) (GONZÁLEZ-BADILLO;
GOROSTIAGA, 2001; WEINECK, 2005; FLECK; KRAEMER, 2006; FORTEZA, 2006;
FORTEZA; RAMIREZ, 2007).
4.2.2 Velocidade
Dentre as formas que o conceito de velocidade pode ser observado, este
trabalho o associa à velocidade de deslocamento. Segundo Tubino (1993), a velocidade de
deslocamento é a capacidade máxima de um indivíduo deslocar-se de um ponto ao outro. A
capacidade física velocidade manifesta-se quando o atleta realiza ações motoras no menor
tempo possível durante um determinado percurso (ZAKHAROV; GOMES, 2003; GOMES,
2009).
11
A melhoria da velocidade está intrinsicamente ligada à melhoria do componente
força dos movimentos. Um volume adequado de exercícios com pesos provoca um efeito
residual positivo durante certo tempo após o exercício ser concluído. Ele extrai um efeito
estimulante sobre o aparelho locomotor, melhorando a coordenação e a rapidez de
estimulação dos músculos associados ao gesto motor, contribuindo para a melhora dos
níveis de velocidade (ZAKHAROV; GOMES, 2003).
A palavra sprint significa correr na velocidade máxima do indivíduo. Esta ação
é influenciada por uma ampla gama de fatores, tais como: idade, gênero, estatura e
experiência são alguns dos fatores de influência interna; enquanto que a superfície de
contato e condições ambientais como altitude e velocidade do vento são alguns dos fatores
de influência externa (WILLIAMS, 2009).
12
4.2.3 Resistência
A resistência, como capacidade física, é caracterizada diante da possibilidade
do desportista de realizar o trabalho muscular durante um tempo prolongado, mantendo o
movimento proposto dentro de parâmetros adequados e com um mínimo de efetividade
(ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).
A resistência depende de muitos fatores, tais como a velocidade, a força
muscular, a capacidade técnica de execução eficiente de um movimento, a capacidade de
utilizar os potenciais funcionais de forma econômica, o estado psicológico no momento de
executar o trabalho, entre outros. Portanto, esta capacidade pode ser compreendida como o
resultado de um processo de adaptação a uma atividade específica, desde a mais breve
duração até a atividade prolongada, e realizada sistematicamente (FORTEZA; RAMIREZ,
2007).
A forma de desenvolvimento desta capacidade está condicionada às vias
metabólicas de ressíntese da ATP (adenosina trifosfato) do organismo do desportista
(QUADRO 1) e ao grau em que se ajusta às exigências de cada modalidade desportiva
específica (PLATONOV, 2001).
Aeróbia Aeróbia
Glicólise
Mista
Aeróbio – Anaeróbio
13
A resistência geral pode ser compreendida como a resistência aeróbia
(ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA; RAMIREZ, 2007). Ela representa a
capacidade de executar (de forma prolongada e efetiva) um trabalho que influencie
positivamente sobre o processo de formação de componentes específicos da modalidade
esportiva, mediante aumento do grau de adaptação às cargas e ao fenômeno de
transferência do nível de preparação dos tipos de atividade não específicas para as
específicas (PLATONOV, 2001).
Nas modalidades desportivas de coordenação complexa (esportes coletivos, por
exemplo), a resistência geral se manifesta de forma indireta (ZAKHAROV; GOMES,
2003). Quando desenvolvida em níveis adequados, proporciona uma recuperação mais
rápida entre os esforços repetidos de alta intensidade numa mesma sessão de treinamento
(BISHOP, SPENCER, 2004), entre as sessões de treinamento e permitindo que o indivíduo
suporte o aumento gradual do volume de treinamento durante a temporada (ZAKHAROV;
GOMES, 2003). Isto facilita o bom desempenho em diversas atividades de treinamento e
competição, independente da especialização demandada pelo desporto (BOMPA, 2002).
Atletas de esporte coletivo que possuem um VO2 pico adequado para a
modalidade apresentam um menor distúrbio metabólico proveniente do metabolismo
anaeróbio exigido nas ações definidoras do jogo. Isto permite que estes atletas mantenham
suas taxas de trabalho e potência em níveis melhores até o final da partida quando
comparados àqueles atletas com baixo condicionamento aeróbio (STONE; KILDING,
2009).
Já a resistência especial é a capacidade para executar um trabalho de forma
eficiente e superar a fadiga nas condições determinadas pelas exigências da atividade
competitiva de cada modalidade esportiva. Quando os fatores que determinam a
manifestação específica da resistência em uma ou outra modalidade são examinados a
fundo, surge inevitavelmente a necessidade de apresentar a resistência especial, tomando
em consideração as vias e mecanismos dos substratos energéticos, as manifestações
psíquicas envolvidas, as unidades motoras e o regime de trabalho dos músculos, tudo
associado com as capacidades técnicas e táticas dos atletas (PLATONOV, 2001).
14
4.3 Métodos de treinamento
Seja qual for a magnitude de exercícios de treinamento que será aplicada ao
atleta, deve-se utilizar algum tipo de estimulação orientada para alcançar determinados
objetivos. É nessa hora que se apresenta uma das categorias pedagógicas fundamentais: os
métodos de treinamento. Estes, quando planificados longitudinalmente, adquirem a
categoria de “sistemas metodológicos” (FORTEZA, 2001a). Entende-se por métodos de
treinamento as diferentes formas pelas quais o exercício pode ser prescrito e,
consequentemente, realizado (MONTEIRO, 2002). Compreendem os diversos
procedimentos tomados com o intuito de sistematizar os meios de treinamento e, dessa
forma, maximizar os resultados objetivados (GOMES, 1999).
Neste contexto, é importante salientar que nenhum método é mais completo do
que outro por excelência, pois cada um deles responde a direções específicas da carga de
treinamento. Dessa forma, nenhum método substitui ao outro (FORTEZA, 2001b).
Na base da classificação geral dos métodos orientados para o treinamento das
capacidades físicas estão alguns indícios externos dos exercícios. Assim, eles podem ser
executados de forma contínua ou intervalada. Ambas as possibilidades podem se
caracterizar pelos parâmetros constantes ou variáveis do exercício. Além disso, pode existir
uma combinação de ambos durante a execução (método de exercício variável)
(ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA, 2001a, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).
15
A vantagem deste método consiste em evocar adaptações fisiológicas naqueles
sistemas orgânicos responsáveis pela captação (sistema respiratório), transporte (sistema
cardiovascular) e utilização (sistema muscular) do oxigênio (FORTEZA, 2006; FORTEZA;
RAMIREZ, 2007). Os métodos contínuos podem ser invariáveis ou variáveis (FORTEZA,
2001b).
16
4.3.2 Método de treinamento descontínuo
São caracterizados pela alternância entre períodos de estímulo e recuperação,
com intensidade e duração controladas, ao mesmo tempo em que exigem uma orientação
das variáveis de treinamento nos objetivos propostos (TUBINO, 1993).
17
Para Bompa (2005), o treinamento intervalado pode ser pensado mediante a
duração do estímulo. Dessa forma, ele pode ser elaborado da seguinte maneira:
TI de curta duração: estímulos de 15 segundos a 2 minutos, que teria a
resistência anaeróbia láctica como prioridade;
TI de média duração: estímulos entre 2 e 8 minutos, que desenvolveria
tanto a resistência anaeróbia quanto a aeróbia (com predominância
desta última a medida que o tempo aumenta);
TI de longa duração: estímulos entre 8 a 15 minutos, com um efeito de
treinamento incidindo prioritariamente na resistência aeróbia.
Tabela 1 – Indicações para prescrição de treinamento intervalado de acordo com as diversas direções
bioenergéticas do treinamento
Via metabólica
Tempo de Total de Relação
de ressíntese do Série Repetições
estímulo repetições estímulo/recuperação
ATP
ATP-CP 10 – 25 s 5 10 50 1:3 – 1:2
18
O treinamento intervalado orientado para a evolução da via metabólica
glicolítica (treinamento intervalado glicolítico) mostrou-se eficiente em induzir rápidas
alterações na capacidade de realizar exercícios intensos e no metabolismo energético do
músculo esquelético. A eficiência notável deste tipo de treinamento é provavelmente um
resultado do estresse simultâneo e elevado tanto do sistema energético aeróbio quanto
anaeróbio (GIBALA; MCGEE, 2008). Em um curto período de tempo, o treinamento
intervalado com intensidades elevadas mostrou promover adaptações neurais e aumento dos
níveis de Cr (creatina) e CK (creatina cinase), com melhora simultânea na capacidade
oxidativa muscular, conteúdo intramuscular de glicogênio, bem como melhora da
capacidade de tamponamento muscular, os quais são fatores que beneficiariam a
manutenção de exercícios de alta intensidade (GIBALA et al., 2006; BURGOMASTER et
al., 2008; GIBALA; McGEE, 2008; KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012) .
Estímulos de alta intensidade e curta duração (com breves períodos de
recuperação entre eles) são comuns em esportes coletivos como futebol e basquetebol.
Como seria de se esperar, a percentagem de ATP necessária varia de acordo com a duração
do sprint e do período de recuperação entre os sprints sucessivos. Durante dois sprints de
30 segundos realizados num cicloergômetro e separados por quatro minutos de
recuperação, há aproximadamente uma redução de 41% do primeiro para o segundo sprint
da quantidade de ATP gerada anaerobiamente (BOGDANIS et al., 1996). A diminuição da
quantidade de ATP gerado anaerobiamente é parcialmente compensada por um aumento de
15% no consumo de oxigênio durante o segundo sprint, resultando em uma redução
aproximada de 18% da potência durante o segundo sprint. Isto indica que a maior
porcentagem da necessidade de ATP foi gerada aerobiamente no segundo sprint comparada
com o primeiro. Portanto, a interação entre as fontes metabólicas de ATP se modificam a
medida que se realizam mais sprints (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012).
Um porém quanto ao treinamento intervalado glicolítico está exatamente no
grande estresse que este impõe ao metabolismo anaeróbico glicolítico. A utilização
exagerada e desregrada do método (juntamente com as demais cargas associadas ao
treinamento e à competição) pode impactar negativa e sem muita demora junto ao
organismo do atleta (WEINEK, 2005).
19
Balabinis et al. (2003) demonstraram que o treinamento intervalado aeróbio
tradicional foi eficiente em aumentar o VO2 pico (variável fisiológica que reflete o
VO2 max em situações onde não se pode garantir que o VO2 max tenha sido atingido –
KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012) em jogadores de basquetebol universitário que
treinaram simultaneamente tanto a força muscular, quanto o condicionamento aeróbio.
Neste estudo, os sujeitos foram divididos em um grupo de treinamento aeróbio e outro de
treinamento concorrente (força e aeróbio). O grupo treinamento aeróbio melhorou o
VO2 pico em 7 %, ao passo que o grupo de treinamento concorrente apresentou um
aumento de 13 %.
20
3. As metas, os objetivos e, em última análise, os fins devem ser
alcançáveis e realistas (o que não exclui certa dose de ousadia e risco);
4. O planejamento é um processo sequencial e, logicamente, ordenado.
Não se desenvolve simultaneamente ou de qualquer forma;
5. O planejamento está imerso em seu meio ambiente, não podendo
desprender-se e nem ser trabalhado à margem deste;
6. Todo planejamento pressupõe uma mudança efetiva com respeito à
situação existente em que se inicia o projeto;
7. O planejamento é confeccionado para ser executado. Não se pode
falar verdadeiramente de planejamento em um trabalho
exclusivamente teórico, sem intenção de ser colocado em prática
posteriormente. Portanto, deve haver emprego de grandes esforços
para efetivá-lo.
Considera-se que o planejamento do treinamento desportivo é a organização de
tudo o que ocorre nas etapas de preparação do atleta. Por sua vez, é o sistema que inter-
relaciona os momentos de preparação e competição. Dessa forma, fica implícito o problema
atual do planejamento para o desempenho competitivo (FORTEZA, 2006).
Outra questão a ser elucidada é a de que estruturar e planejar são termos
inseparáveis no processo de preparação desportiva. Entretanto, os dois são diferentes. A
estrutura é a organização do período de tempo de treinamento como, por exemplo, as
competições. A estrutura do treinamento tem caráter temporal, pois considera um início e
um fim dos processos de preparação e competição, que estarão determinados
fundamentalmente por:
1. Calendário competitivo, que considera o número de competições, a
frequência, o caráter e a dispersão ou concentração das competições
em dado período de tempo;
2. A organização e a prescrição da carga considera se elas serão diluídas
ou concentradas, de acordo com a concepção que se adote em relação
ao caráter da carga, isto é, a proporcionalidade entre cargas gerais e
especiais;
21
3. As direções do treinamento, objeto de preparação que considera as
dimensões determinantes do desempenho e as direções condicionantes
do desempenho.
4.4.1.1 Microciclo
A origem do termo microciclo vem dos idiomas grego e latim. Micros, do
grego, significa pequeno, e cyclus, do latim, refere-se à frequência de um fenômeno que se
sucede regularmente (BOMPA, 2002).
Os microciclos ocupam uma extensão temporal menor dentro da macroestrutura
de treinamento (WEINECK, 2005). Eles são, provavelmente, a ferramenta mais importante
e funcional do planejamento do treinamento, porque suas estruturas e conteúdo determinam
a qualidade do processo (BOMPA, 2002). Na prática, utilizam-se os microciclos curtos e
longos, cuja razão de ser é a alternância entre esforço e recuperação, de maneira a evitar
que o atleta fique permanentemente em estado de cansaço crônico (psicofísico)
(ZAKHAROV; GOMES, 2003). Eles se ajustam com maior precisão às circunstâncias do
momento – estado atual de treinamento, disposição para o esforço, condições climáticas
22
(WEINECK, 2005). Representam o elemento da estrutura de preparação do atleta que inclui
uma série de sessões de treino ou de competições, visando à solução de tarefas do
mesociclo referido (etapa) de preparação (ZAKHAROV; GOMES, 2003).
Sendo elemento da estrutura geral de preparação, o microciclo resolve as tarefas
programadas nesta dentro do correspondente período de tempo. A sua duração pode variar
de 3 a 14 dias. Na prática do desporto, tem-se utilizado mais frequentemente os microciclos
de 7 dias, porque fica mais fácil coordenar a programação pelo regime semanal, pois fica
mais ajustado ao cotidiano do desportista e de fatores periféricos como a agenda do ginásio
(PLATONOV, 2001; ZAKHAROV; GOMES, 2003; WEINECK, 2005).
Nem todas as sessões de treinamento dentro de um único microciclo possuem
as mesmas características, alternando-se de acordo com os objetivos, volume, intensidade e
métodos, alguns dos quais podem dominar a fase de treinamento (BOMPA, 2002).
De acordo com Zakharov e Gomes (2003), a estrutura e o conteúdo do
microciclo apresentam características diferentes, que estão condicionadas por uma série de
fatores. Podem-se destacar alguns indícios gerais que lhes são próprios em diferentes
modalidades desportivas e, com base nisso, classificá-los. Convém destacar, como principal
indício de classificação, a tarefa que se resolve em determinado microciclo, assim como a
composição de meios e métodos de treinamento, a grandeza e a orientação predominante da
carga que constituem seu conteúdo. Os microciclo podem ser:
Ordinário;
Choque;
Estabilizador;
Recuperativo;
Controle;
Precompetitivo;
Competitivo.
23
conteúdo específico constitui de 2 a 6 sessões de treino com cargas constantes
(ZAKHAROV; GOMES, 2003).
Já o microciclo de choque caracteriza-se pela soma de cargas máximas ou
próximas destas (80-100 % em relação à máxima carga de trabalho estabelecida). A carga
deste microciclo constitui o fator de maior influência quanto a estimular o processo ativo de
adaptações orgânicas. O conteúdo perfaz de 2 a 5 cargas de choque na semana
(ZAKHAROV; GOMES, 2003).
O grande número de cargas próximas da máxima em um mesmo microciclo é a
causa de parte da recuperação incompleta ou fadiga apresentadas em algumas sessões de
treinamento. Dessa forma, a aplicação de um microciclo com esta orientação deve ser
acompanhada de um controle rigoroso do estado do atleta para evitar demasiada sobrecarga
sobre os sistemas funcionais orgânicos. Apresenta-se coerente, portanto, alternar as cargas
de choque com cargas de menor impacto (ZAKHAROV; GOMES, 2003).
Na sequência do microciclo ordinário e de choque vem, geralmente, o
microciclo estabilizador, cujo objetivo é assegurar a estabilidade do estado orgânico do
atleta alcançado no microciclo anterior. Sessões de treinamento com cargas entre 40-60 %
em relação à máxima carga de trabalho estabelecida mostram-se adequadas à ideia do
microciclo. Esse tipo de microciclo asseguram condições mais favoráveis para os processos
de recuperação do organismo do atleta (ZAKHAROV; GOMES, 2003).
O microciclo recuperativo, como o próprio nome diz, visa recuperar o estado
orgânico do atleta. De uma forma geral, esta recuperação vem através da redução das
cargas de treinamento (utilizando cerca de 10-20 % em relação à máxima carga de trabalho
estabelecida). A estrutura e o conteúdo do microciclo são subordinados à tarefa de
assegurar a recuperação mais completa e eficaz. Isso explicaria a presença de um grande
número de sessões de treinamento com cargas de baixa magnitude (ZAKHAROV;
GOMES, 2003).
Estas cargas impostas aos atletas de alto rendimento necessitam ser verificadas
quanto ao seu efeito sobre o organismo destes indivíduos. Para tanto, estipulou-se o
microciclo de controle. É normalmente empregado ao final das etapas de treinamento e
visa verificar o nível de preparação do atleta e avaliar a eficiência do trabalho realizado até
24
então. Combina-se as ações de treinamento com os testes para verificação das condições
fisiológicas, assim como implementar competições controle. Isto permite verificar mais
precisamente o estado geral do atleta (físico, psíquico, clínico, técnico e tático). Com os
dados levantados, faz-se os ajustes pertinentes para as etapas posteriores (ZAKHAROV;
GOMES, 2003).
Já o microciclo precompetitivo é estruturado conforme o desenho da
competição principal. O objetivo deste microciclo é assegurar o estado de ótima prontidão
para o dia das competições, graças a mobilização de todas as capacidades potenciais do
atleta e que foram acumuladas no processo de preparação precedente, além da adaptação às
condições específicas da competição. De forma geral, este microciclo dura de 5 a 10 dias.
Seu conteúdo é determinado pelo estado individual do atleta, pelo trabalho de treino
precedente e pelas condições da competição que está por vir. Não é permitida a utilização
de cargas máximas. Isso não quer dizer que não se possa ações de alta intensidade. Porém,
estas devem vir seguidas de estratégias de recuperação completa (ZAKHAROV; GOMES,
2003).
Por fim, vem o microciclo que justifica a existência de todos os demais: o
microciclo competitivo. Este visa assegurar que o estado de preparação conquistado
durante todo o período de preparação se manifeste no decorrer das competições. A estrutura
e a duração do microciclo são determinadas em conformidade com o regulamento das
competições e com a especificidade da modalidade desportiva (ZAKHAROV; GOMES,
2003).
4.4.1.2 Mesociclos
Os mesociclos de treinamento representam a combinação de alguns microciclos
e também é o elemento da estrutura de preparação do atleta orientado para solução das
tarefas de determinado macrociclo (FORTEZA, 2006; GOMES, 2009). O mesociclo trata
da estrutura de carga que varia de 3 a 6 semanas (GOMES, 2009) ou 3 a 6 microciclos
(FORTEZA, 2006). A ordem e a combinação dos microciclos e sua variabilidade dependem
da formação geral do processo de treinamento e das tarefas de uma ou outra sessão de
treinamento (FORTEZA, 2006).
25
A estruturação dos mesociclos pode ser influenciada pelos seguintes fatores
(ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA, 2006; GOMES, 2009):
A principal tarefa a ser resolvida pelo mesociclo;
O regime de atividade do atleta;
O momento do referido mesociclo na estrutura do macrociclo;
O conteúdo e a qualidade das sessões de treinamento, além da
magnitude da carga;
As particularidades de reação em cada atleta perante as cargas de
treinamento;
A composição dos meios e métodos de treinamento aplicados no
mesociclo;
Os tipos de microciclo que compõe o conteúdo predominante do
mesociclo estabelecido;
26
do mesociclo, a magnitude dos intervalos entre eles e as condições de
restabelecimento.
Ao ponderar sobre estes questionamentos, pode-se dar aos mesociclos as
seguintes variações citadas por Zakharov e Gomes (2003).
Mesociclo inicial;
Mesociclo básico;
Mesociclo recuperativo;
Mesociclo de controle;
Mesociclo precompetitivo;
Mesociclo competitivo.
27
completa após um período prolongado de cargas máximas de treinamento e competição.
Este mesociclo é importante para a adaptação do organismo do atleta, pois permite prevenir
a transformação da fase de resistência em uma fase de profundo esgotamento e de fracasso
de adaptação. Tem por característica a redução do volume e da intensidade das cargas (por
volta de 20-30 % em relação aos parâmetros do mesociclo básico de desenvolvimento)
(ZAKHAROV; GOMES, 2003).
O mesociclo de controle geralmente conclui o período preparatório. Sua
principal tarefa consiste em assegurar um controle da eficiência dos mesociclos básicos
anteriores e a adaptação do atleta às exigências dos mesociclos competitivos posteriores. O
conteúdo do mesociclo deve apresentar diferentes formas de observação, permitindo um
olhar sobre todas as áreas do processo de treinamento (técnico, tático, físico, psíquico e
clínico). O treinamento, então, passa a ser combinado com a participação em competições
teste. Durante este mesociclo, eventuais deficiências na preparação do atleta devem ser
corrigidas (ZAKHAROV; GOMES, 2003).
Aproximando-se da competição alvo, faz-se presente o mesociclo
precompetitivo, que se destaca como um componente estrutural que assegura a preparação
imediata para a competição principal do macrociclo. Durante este mesociclo, resolve-se
todo um conjunto de tarefas que incluem a recuperação após a etapa precedente de
competições seletivas, a manutenção e eventual elevação do nível atingido, a eliminação de
pequenos equívocos da preparação, a solução do estado psíquico do atleta, a adaptação das
condições de realização das competições principais etc. A necessidade de solução dessas
tarefas condiciona a inclusão de diferentes tipos de microciclos, cujo conteúdo poderá
variar dependendo do estado do atleta (ZAKHAROV; GOMES, 2003).
E, por fim, há o mesociclo competitivo, que representa a base do período
competitivo. A sua estrutura e seu conteúdo são determinados pela especificidade da
modalidade desportiva, pelo sistema de preparação competitiva, pelas particularidades do
calendário de competições, pelo nível da qualificação do atleta, além de outros fatores
(ZAKHAROV; GOMES, 2003).
28
4.4.1.3 Macrociclos
Um ciclo anual de treinamento pode apresentar mais de um pico de
performance. A construção do processo de treinamento para atingir tal pico é chamado de
macrociclo. Estudiosos estão de acordo que o planejamento anual pode ter um macrociclo,
quer dizer, apenas se visa a uma competição importante, ou mais de um macrociclo, o que
dependerá de quantas competições se buscará resultados significativos (PLATONOV,
2001; ZAKAROV; GOMES, 2003; FORTEZA, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007;
GOMES, 2009).
De acordo com Zakharov e Gomes (2003), cada macrociclo é composto por três
períodos: o preparatório, o competitivo e o de transição (QUADRO 2). Cada um desses
períodos apresentam tarefas específicas a serem cumpridas:
Preparatório: deve assegurar o desenvolvimento das capacidades
funcionais do desportista e pressupõe a solução de tarefas de
aperfeiçoamento de vários aspectos do estado de preparação,
podendo-se destacar as etapas de preparação geral e as de preparação
especial;
Competitivo: deve criar condições para o aperfeiçoamento de diversos
fatores de preparação desportiva. A preparação deve ser integral e
ocorre numa sequência lógica de conteúdos distribuídos na etapa
precompetitiva e competitiva propriamente dita;
Transitório: contribui para a recuperação completa do potencial de
adaptação do organismo do desportista e serve de ligação entre dois
macrociclos.
29
Na segunda etapa, dá-se prioridade ao trabalho direto de assimilação de novos
elementos técnicos e táticos e o aperfeiçoamento dos elementos anteriormente aprendidos.
A preparação física, nesta etapa, tem significado subordinado e deve contribuir para a
solução de tarefas de aperfeiçoamento técnico-tático. Os exercícios de preparação física
adquirem orientação cada vez mais especial (PLATONOV, 2001; ZAKHAROV; GOMES,
2003).
A terceira etapa visa a unificação dos elementos dominados numa combinação
competitiva integral e única. A preparação técnico-tática objetiva é a consolidação dos
hábitos adquiridos e ao aumento da segurança em aplicá-los às principais condições de
competição (PLATONOV, 2001; ZAKHAROV; GOMES, 2003).
30
Como apresentado em Forteza e Ramirez (2007), os momentos de aquisição,
manutenção e perda da forma desportiva são tratados como os três grandes períodos de
treinamento (QUADRO 2):
a) Período preparatório: relativo à aquisição da forma desportiva;
b) Período competitivo: relativo à manutenção da forma desportiva;
c) Período transitório: relativo à perda da forma desportiva.
31
Quadro 2 – Síntese das particularidades dos períodos de treinamento
32
33
equilíbrio biológico (GRANELL; CERVERA, 2001). Esta resposta adaptativa pode ser
dividida em três fases:
Fase de alarme: surge em resposta à ação do agente estressor que
tenha alterado o equilíbrio homeostático;
Fase de resistência ou reação: caso a ação de estresse se repita
sistematicamente, o organismo inicia o processo de adaptação às
características do estímulo recebido;
Fase de esgotamento: aparece quando a ação dos agentes estressores
for prolongada, ou quando as exigências em relação às possibilidades
de adaptação do organismo forem extremamente elevadas e o
mecanismo de adaptação não consegue ser sustentado.
34
4.5.1 Componentes da carga de treinamento
O objetivo primário dentro do processo de treinamento é o desenvolvimento
máximo das capacidades do atleta, o que está relacionado a três fatores: (i) o incremento
das cargas de treinamento e competição, (ii) a complexidade das tarefas executadas no
processo de preparação e (iii) a superação das crescentes dificuldades que se apresentam
durante este processo (GOMES, 2009). Assim sendo, torna-se pertinente a observância de
que as características externas e internas destas cargas estão estritamente relacionadas, onde
o aumento dos aspectos quantitativos e qualitativos do treinamento abrange o aumento das
trocas do estado funcional dos diferentes sistemas e órgãos, a aparição e aprofundamento da
fadiga e, consequentemente, o aumento da duração dos processos de recuperação
(PLATONOV, 2001).
Convém distinguir duas formas de observar as cargas: a carga de treinamento e
a carga competitiva. A carga de treinamento está condicionada pela influência sobre o
organismo dos diversos tipos de exercícios preparatórios, enquanto que a carga competitiva
está condicionada à execução do exercício competitivo em si (ZAKHAROV; GOMES,
2003). A reconstituição do ambiente competitivo durante as sessões de treinamento
assegura uma maior mobilização informacional, energética e emocional dos praticantes,
permitindo integrar o conjunto de capacidades e as qualidades predominantes na
consecução dos objetivos da modalidade esportiva em uma estrutura única (FORTEZA;
RAMIREZ, 2007).
A magnitude das cargas de treinamento e competição remete novamente aos
seus aspectos externo e interno. O aspecto externo pode ser representado, de uma forma
geral, por alguns índices de volume de trabalho que consistem em: tempo total, quilômetros
percorridos (para atividades cíclicas), número de sessões de treinamento, número de
competições etc. No entanto, o aspecto que caracteriza com mais qualidade a magnitude
destas cargas é o aspecto interno, visto que possibilita observar as respostas orgânicas ao
esforço físico realizado (PLATONOV, 2001). A carga interna é a reação biológica dos
sistemas orgânicos frente à carga externa (FORTEZA; RAMIREZ, 2007). Quando se
dispõe de dados que representem informações sobre os efeitos agudos da carga, passa-se a
ter marcadores que podem caracterizar o grau de atividade dos sistemas funcionais
35
envolvidos no esforço físico. Alguns destes marcadores são: a FC, a frequência respiratória,
o consumo de oxigênio, a concentração de lactato, entre outros (PLATONOV, 2001;
FORTEZA; RAMIREZ, 2007).
Weineck (1991) assinala os componentes da carga como sendo:
Intensidade do estímulo (grau de força do estímulo);
Densidade dos estímulos (relação temporal entre as fases de trabalho e
recuperação);
Duração do estímulo (tempo transcorrido durante um estímulo isolado
ou de uma série de estímulos);
Volume dos estímulos (duração e número de estímulos por sessão de
treinamento);
Frequência de sessões de treinamento (número de unidades de
treinamento por dia, por semana etc).
36
Tabela 2 - Escala de intensidade para exercícios de força e/ou velocidade
1 30-50 Baixa
2 50-70 Intermediária
3 70-80 Média
4 80-90 Submáxima
5 90-100 Máxima
37
Exercitante: provoca a resposta adaptativa dirigida e específica.
Portanto, induz ao efeito desejado do treinamento;
Manutenção: é insuficiente para gerar uma resposta adaptativa, mas
suficiente para evitar o efeito de destreinamento;
Recuperação: é insuficiente para evitar os efeitos da falta de
treinamento, mas favorece os processos de recuperação depois de uma
carga exercitante;
Inútil: é o que o próprio nome diz quanto a utilização de um estímulo
débil.
38
máxima mobilização de alguns destes mecanismos, assegurando uma ativação otimizada e
com um grau de participação muito baixo de outros mecanismos (ZAKHAROV; GOMES,
2003).
39
4.5.4 Controle da carga de treinamento
Monitorar e controlar o processo de treinamento exige que se tenha uma
ferramenta válida de medida da carga interna (FOSTER et al., 1995). Isto é particularmente
relevante em esportes coletivos, onde a carga externa de treinamento apresenta-se similar
para cada membro da equipe devido ao uso constante de exercícios em grupo, tais como
jogo em campo reduzido. Entretanto, Hoff et al. (2002) demonstraram que atletas de futebol
que possuem um maior VO2 max tendem a exercitarem-se numa porcentagem mais baixa
deste VO2 max do que os demais atletas durante exercícios de campo reduzido. Isto sugere
que exercícios de treinamento em grupo podem não gerar estímulo suficiente para
adaptações fisiológicas aos atletas mais bem condicionados da equipe (HOFF et al., 2002).
Somado às questões de aptidão física, outros fatores tais como lesão, doença, condições
climáticas, problemas na agenda de jogos e o estado psicológico do atleta podem
influenciar a carga interna de treinamento. Consequentemente, fica evidente que monitorar
a carga interna de treinamento dos atletas é muito relevante para garantir que cada atleta
receba o estímulo de treinamento adequado (IMPELLIZZERI et al., 2004).
Quando se aborda a questão das lesões esportivas, acredita-se que estas
resultam da associação entre os padrões de treinamento, o estresse cotidiano e o
overtraining (POWEL; BARBER-FOSS, 1999). Uma preocupação dos profissionais da
saúde que atuam no esporte (e também dos técnicos) é prevenir a ocorrência de lesões, pois
isto permitiria ter disponíveis os principais atletas no momento da competição
(ANDERSON et al., 2003). Quando se fala no controle e avaliação do treinamento, faz-se
referência a diversos aspectos de atuação interdisciplinar, que através dos quais se podem
obter as informações necessárias para este controle. Dessa forma, o controle do treinamento
pode ser realizado sob a ótica de diferentes áreas, como: clínico, biomecânico, técnico,
tático, fisiológico e psicológico, com a informação de todas estas áreas colaborando para a
obtenção da melhora do rendimento desportivo (GRANELL; CERVERA, 2001).
O controle e a avaliação da carga de treinamento constituem os elementos
fundamentais do processo de preparação, sem os quais se torna impossível projetar a
melhora de rendimento para um determinado momento futuro. O desenvolvimento tanto da
avaliação quanto do controle da carga tem seguido em paralelo à evolução dos próprios
40
sistemas de planificação do treinamento, assim como às inovações tecnológicas que
proporcionam novos e sofisticados aparatos de medição desta carga (GRANELL;
CERVERA, 2001).
41
Entende-se também que este método exige a medição da FC em estado estável, limitando,
assim, a precisão com que o exercício de uma natureza intervalada possa ser quantificado
(BORRESEN; LAMBERT, 2009).
42
Entretanto, a fonte original deste método não foi referendada nestes estudos. Dessa forma,
este método compartilha a mesma limitação daquela citada no método do valor somado das
zonas de FC, pois o fator peso de cada zona cresce de forma linear, o que não reflete as
respostas fisiológicas ao exercício acima do limiar anaeróbio (STAGNO; THATCHER;
VAN SOMEREN, 2007).
43
pulmonar, é utilizar a escala categórica (CR-10) de Borg (1998) (TABELA 4). Desde a
criação da escala original a mais de 40 anos, a CR-10 tem se tornado um método padrão
para avaliar o esforço percebido durante testes físicos, sessões de treinamento e
reabilitação, tendo sido validada contra marcadores objetivos da intensidade do esforço
(NOBLE et al., 1983; NOBLE; ROBERTSON, 1996).
Classificação Descritor
0 Repouso
8 -
9 -
10 Máximo
Fonte: Moreira et al. (2003).
44
atleta aponte na escala CR-10 o descritor de sua escolha. O atleta precisa ser esclarecido
anteriormente que o treino deve ser percebido como um todo, daí a necessidade de aguardar
os 30 minutos para que sua resposta não sofra maior influência das últimas atividades do
treino. A duração (em minutos) de todo o treino deve ser anotada, incluindo aquecimento,
volta à calma e os intervalos entre as diversas atividades programadas. O resultado
representa o valor da carga interna de treinamento e é apresentado na forma de unidades
arbitrárias (FOSTER et al., 1998).
No caso da ocorrência de múltiplas sessões de treinamento em um mesmo dia,
a carga de treinamento diária será a somatória de todas as cargas quantificadas em cada
uma das sessões. Os valores encontrados a cada dia devem ser somados para produzir a
carga de treinamento semanal. Também relevante é estabelecer a carga de treinamento
diária média (carga de treinamento semanal/número de dias treinados), assim como seu
respectivo desvio padrão (FOSTER et al., 1998).
Este modelo ainda permite a explicação de episódios de doenças infecciosas,
que podem estar associadas a uma queda na atividade do sistema imunológico provocada
por uma carga interna de treinamento acima dos valores suportados pelo atleta. Isto é
possível pela observância de um índice de variabilidade denominado Monotonia do
Treinamento, que pode ser calculado dividindo-se a média das cargas internas de
treinamento da semana pelo desvio padrão dessa média. Dessa forma, quanto “menor” o
desvio padrão da média, menor será a variação entre as sessões de treinamento, gerando um
valor maior de Monotonia e sinalizando para a ocorrência de possíveis adaptações
negativas ao treinamento (FOSTER et al., 1998).
Já que elevadas e sucessivas cargas de treinamento associadas a valores de
Monotonia também elevados se relacionam com adaptações negativas ao treinamento, o
modelo também sugere que o produto de ambos demonstra correlações aceitáveis com estas
adaptações. Este novo marcador denomina-se Strain (FOSTER et al., 1998).
Estudos anteriores mostraram que a escala CR-10 de Borg é um método efetivo
para quantificar o esforço percebido também durante o treinamento contra resistência
(DISHMAN et al., 1987; GEARHART et al., 2001; LAGALLY et al., 2002). Com base
nisso, os estudos de Day at el. (2004), Gearhart et al. (2001) e Sweet et al (2004)
45
investigaram a confiabilidade do método PSE da sessão de Foster para quantificar o
impacto do treinamento em exercícios de alta, moderada e baixa intensidade do treinamento
contra resistência e encontraram que o método é confiável para quantificar várias
intensidades deste tipo de intervenção.
46
5 MÉTODOS
5.1 Sujeitos
A amostra foi composta por 12 atletas da Seleção Brasileira sub 15 feminina de
basquetebol (14 ± 3 anos), que estavam se preparando para o Campeonato Sul Americano
2012 da modalidade, realizado em Caracas (Venezuela). As atletas participavam há 3,7 ±
0,9 anos de treinamentos visando competição e com 7,9 ± 1,1 horas de treinamento
semanal. Os dados antropométricos e de composição corporal são apresentados na tabela 5.
Os sujeitos envolvidos e seus responsáveis legais foram informados sobre todos os
procedimentos da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido
aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Faculdade de Medicina da UNICAMP
(parecer CEP n° 072/2009).
47
Aplicou-se o protocolo de Pollock et al. (1980) apud Eston e Reilly (2009) com
7 dobras cutâneas (tríceps, supra ilíaca, coxa, abdômen, peitoral, subescapular e axilar
média) para mulheres. O cálculo da densidade foi feito pela equação:
D = 1,0970 – 0,00046971 (∑7DC) + 0,00000056 (∑7DC)2 – 0,00012828 (idade)
Onde D = densidade, DC = dobra cutânea, ∑ = somatória.
O cálculo do percentual de gordura corporal (%GC) foi feito utilizando a
equação de Siri:
%GC = [(4,95/D) – 4,50] x 100
A massa corporal gorda (MCG) foi obtida pela equação:
MCG (kg) = MCM (kg) x (%GC/100)
A massa corporal magra (MCM) foi obtida pela equação:
MCM (kg) = MCT (kg) – MCG (kg)
Aquecimento (A) Uso do método contínuo variado, aplicando meios como: exercícios cíclicos e
acíclicos com e sem deslocamento, realizados com mudança de velocidade e
direção.
Aplicado sempre antes da realização do treino técnico-tático.
Treino intervalado I Utilização do método descontínuo intervalado, aplicando meios de treinamento tais
(TI-1) como: exercícios de ataque, exercícios defesa e exercícios de transição.
Treino intervalado II Utilização do método descontínuo intervalado, aplicando meios como corrida
(TI-2) linear combinada com mudança de direção.
Técnico-tático (TT) Conteúdo elaborado pelo treinador e seus assistentes.
Jogos treino e oficiais.
Legenda: RM – repetições máximas; micropausa – pausa para recuperação entre as repetições; macropausa –
pausa para recuperação entre as séries.
48
5.5 Variáveis de intervenção
Durante os dois primeiros microciclos (FIGURA 1), os sujeitos receberam 6
intervenções de treinamento descontínuo intervalado (TI) adicionados à agenda cotidiana
de treinamento da equipe (QUADRO 3). O TI foi dividido de forma que tivessem duas
fontes prioritárias de ressíntese de ATP: misto (aeróbia-anaeróbia láctica – TI-1) e
anaeróbia láctica (TI-2), sendo que as intervenções ocorriam em dias separados.
As sessões de TI-1eram formadas por 1 série de 5-7 repetições, com cada
repetição durando 3 minutos, com 1 minuto de intervalo entre as repetições. Ficou
estabelecido que a intensidade seria a mesma (ou a mais próxima possível) da que o
treinador exigiria nos jogos oficiais, ficando este responsável pelo cumprimento desta
exigência por meio de comandos verbais e conversa com as atletas durante as pausas de
recuperação.
Foram empregados exercícios de 5x5 (cinco contra cinco), com atividades
ininterruptas de ataque-defesa e transição (equipe que estava defendendo retoma a posse de
bola e vai em direção à cesta adversária). As atividades eram coordenadas pelo treinador e
seus auxiliares, ficando estipulado que, a cada 5 transições realizadas dentro de um mesmo
período de 3 minutos, as duas atletas que aguardavam do lado de fora substituíam duas que
estavam em atividade. Para cada ataque, só era permitido uma tentativa de converter a
cesta. As atletas que permaneciam de fora se mantinham em atividade realizando exercícios
com e sem bola.
As sessões de TI-2 eram formadas por 4-5 séries de 4 repetições, com cada
repetição durando 10 segundos. Os intervalos de recuperação entre as repetições
(micropausas) eram de 30 segundos, enquanto que entre as séries (macropausas) eram de 3
minutos. Foi solicitado que os sujeitos mantivessem a máxima velocidade possível durante
os estímulos e todos os membros da comissão técnica presentes emitiam comandos verbais
motivadores para que isso ocorresse.
49
⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂
⨂
TREINO
⨂ ⨂ ⨂
VIAGEM PARA
TI-1
VENEZUELA
LIVRE
LIVRE
TI-2 ⨂ ⨂ ⨂
A/T ⨂ ⨂ ⨂
JT ⨂ ⨂ ⨂
JO ⨂ ⨂ ⨂ ⨂ ⨂
Dia 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Semana 1 2 3 4
Mês Outubro Novembro Novembro Novembro Novembro
50
Legenda: TREINO – demais componentes do treinamento que não os de intervenção (TI-1 e TI-2); A/T – avaliação da composição corporal,
antropometria e testes de desempenho motor; JT – jogo treino; JO – jogo oficial.
51
O avaliado recebeu uma advertência verbal (“prepara” ou “atenção”), seguida
de um sinal sonoro (na ocasião, o comando “vai”) para dar início ao teste. Após iniciado o
teste, o avaliado deveria buscar a máxima aceleração possível deslocando-se do ponto A
para o ponto B (FIGURA 3). Foi pedido ao avaliado para não desacelerar ao se aproximar
da linha de chegada (B), mas sim passar por ela na máxima velocidade possível. Tanto o
avaliador quanto os demais atletas presentes buscaram motivar verbalmente o avaliado
durante todo o teste.
Foram realizadas três tentativas com intervalo de 01 (um) minuto entre elas. O
menor tempo encontrado foi considerado como sendo o melhor valor para a análise
comparativa.
5.7.2 Teste T
É um teste para medir a agilidade e foi elaborado para avaliar a habilidade do
indivíduo em mudar de direção rapidamente, mantendo o equilíbrio e com perda mínima de
tempo (PAUOLE et al., 2000). No presente estudo, utilizou-se o protocolo adaptado por
Moreira et al. (2003) (FIGURA 4).
Uma única barreira de fotocélulas foi utilizada para abrir e fechar o tempo de
realização do teste. Assim como no teste de Corrida 20 m descrito anteriormente, outra
linha foi traçada 0,5 m atrás da linha de partida/chegada para delimitar o local onde o
avaliado posicionou o pé que ficaria mais a frente antes de iniciar o teste (FIGURA 4).
52
O avaliado recebeu a mesma orientação verbal para iniciar o teste daquela
apresentada no teste Corrida 20 m. Para desempenhar o teste, o avaliado deveria largar
buscando a máxima aceleração possível, deslocando-se do ponto A para o ponto B.
Chegando em B, mudaria de direção e seguiria até o ponto C. Em C, o avaliado deveria
tocar a linha com um dos pés e seguir para o ponto D. Neste ponto, tocaria a linha com um
dos pés e seguiria para E e retornando em seguida para o ponto A. Conforme sugerido por
Eston e Reilly (2009), foi estipulado um espaço livre superior a 10 m para desaceleração
após o ponto de chegada, o que eliminaria uma possível percepção do avaliado quanto à
necessidade de desacelerar antes da hora.
Foram realizadas três tentativas com intervalo de 01 (um) minuto entre elas. O
menor tempo encontrado foi considerado como sendo o melhor valor para a análise
comparativa.
53
repeated sprint ability) tem sua importância fundamentada em sua condição de prever o
desempenho físico de alta intensidade durante um jogo (CASTAGNA et al, 2007).
Cada avaliado recebeu a mesma orientação verbal para iniciar o teste daquela
apresentada no teste corrida 20 m. O teste proposto por Castagna et al. (2007) consistiu em
10 sprints de 30 metros, sendo que esta distância foi percorrida no formato de ida e volta
(vai 15 m e volta 15 m) (FIGURA 5). O intervalo entre os sprints teve a duração de 30
segundos e foi cumprido em regime passivo (atleta aguardava parado o momento para a
execução de novo estímulo). Conforme sugerido por Eston e Reilly (2009), foi estipulado
um espaço livre superior a 10 m para desaceleração após o ponto de chegada, o que
eliminaria uma possível percepção do avaliado quanto à necessidade de desacelerar antes
da hora.
As variáveis analisadas neste teste foram:
- Tempo total – Ttot (em segundos); - Índice de fadiga – IF (%);
- Tempo ideal – Tid (em segundos); - Potência máxima – Pmax (em Watts);
- Melhor tempo – Tm (em segundos); - Potência média – Pméd (em Watts);
- Tempo médio – Tméd (em segundos); - Potência mínima – Pmín (em Watts).
- Pior tempo – Tp (em segundos);
54
Figura 4: Disposição das linhas e fotocélulas para o teste resistência anaeróbia.
55
unidades arbitrárias (UA). A carga diária de treinamento era obtida pelo somatório de todas
as cargas aferidas durante o dia. Deste valor, então, era calculada a carga semanal de
treinamento pela soma de todos os valores diários. Dos valores apresentados pela carga
interna diária de treinamento também derivavam três índices: a carga semanal média, a
monotonia e o strain.
A carga semanal média é calculada pela média de todos os valores diários. A
monotonia é calculada dividindo-se o valor encontrado na carga de treinamento semanal
média pelo desvio padrão desta média. Por fim, o strain é calculado multiplicando-se o
valor da monotonia pelo da carga semanal de treinamento.
56
6 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados estão expressos sob a forma de média desvio padrão. As
variáveis analisadas foram: massa corporal, porcentual de gordura, massa magra, tempo no
teste de 20 m, potência no teste de 20 m, tempo no teste T, potência no teste T, IF no sprint
repetido, Ttot no sprint repetido, Tm no sprint repetido, Tp no sprint repetido e Tméd no
sprint repetido antes e após o regime de treinamento; e carga interna de treinamento nas
semanas 1, 2, 3 e 4.
Para a utilização de testes estatísticos paramétricos, as variáveis foram testadas
quanto à distribuição normal (Gaussiana) por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Neste
caso, a diferença entre duas medidas (antes vs. depois para tempo no teste de 20 m,
potência no teste de 20 m, tempo no teste T, potência no teste T, IF no sprint repetido, Ttot
no sprint repetido, Tm no sprint repetido, Tp no sprint repetido e Tméd no sprint repetido)
foram estabelecidas pelo teste t de Student para amostras dependentes e as diferenças entre
três ou mais medidas (carga interna de treinamento nas semana 1, semana 2 e semana 4)
foram estabelecidas pela análise de variância (ANOVA), para amostras dependentes,
seguida pelo pós-teste de Tukey. Todas as variáveis obedeceram a distribuição normal, com
exceção da carga interna de treinamento na semana 3. Neste caso, a diferença entre as
medidas foram estabelecidas pelo teste de Kruskal-Wallis seguido pelo pós-teste de Dunn.
Todas as diferenças estatisticamente significantes estão indicadas nas figuras
e/ou tabelas, sendo admitido nível de significância menor que 5%.
57
58
7 RESULTADOS
Os resultados encontrados no presente estudo evidenciaram que o emprego de
TI influenciou positivamente na evolução da resistência anaeróbia das atletas sem prejuízo
às capacidades de velocidade e agilidade. Outro achado interessante foi que o
comportamento da carga interna de treinamento apresentou resposta coerente com a que
havia sido pensado ao se estruturar a periodização.
7.1 Antropometria
A MCM (51,6 ± 7,4 kg vs. 52,5 ± 7,4 kg, P=0,0055) e o % GC (24,0 ± 3,9 %
vs. 22,0 ± 4,1 %, P<0,0001) apresentaram diferença estatisticamente significante. Já a MCT
(68,2 ± 12,8 kg vs. 67,8 ± 12,4 kg, P=0,0633) não apresentou diferença estatisticamente
significante.
7.2 Corrida 20 m
Tanto o Tm (3,68 ± 0,15 s vs. 3,67 ± 0,13 s, P=0,1564) quanto a Pmáx alcançada
(545,1 ± 77,5 W vs. 548,1 ± 67,5 W, P=0,6274) não apresentaram diferença
estatisticamente significante (TABELA 6).
7.3 Teste T
Tanto o Tm (10,28 ± 0,47 s vs. 10,26 ± 0,46 s, P=0,3105) quanto a Pmáx
alcançada (100,4 ± 15,1 W vs. 100,2 ± 14,0 W, P= 0,8238) não apresentaram diferença
estatisticamente significante (TABELA 6).
59
P<0.0001) a Pméd (225,7 ± 25,9 W vs. 230,4 ± 25,3 W, P=0,0012) e a Pmín (206,8 ± 21,6 W
vs 220,8 ± 23,4 W, P<0.0001) apresentaram diferença estatisticamente significante
(TABELA 6).
Tabela 6 – Resultados dos testes de desempenho motor realizados em momentos distintos do período de
preparação
PRÉ PÓS
TESTES & VARIÁVEIS ∆% VALOR-P
n = 12 n = 12
Resistência Anaeróbia
Melhor tempo – Tm (s) 6,31 ± 0,25 6,31 ± 0,23 0,0 P=0,5143
Tempo médio – Tméd (s) 6,49 ± 0,27 6,42 ± 0,24 * -1,1 P=0,0001
Tempo total – Ttot (s) 64,88 ± 2,69 64,19 ± 2,40 * -1,1 P=0,0001
Potência máxima – Pmax (W) 243,4 ± 29,1 241,2 ± 27,05 -0,9 P=0,6165
Potência média – Pméd (W) 225,7 ± 25,9 230,4 ± 25,3 * 2,1 P=0,0012
Potência mínima – Pmín (W) 206,8 ± 21,6 220,8 ± 23,4 * 6,8 P<0,0001
Corrida 20m
Melhor tempo (s) 3,68 ± 0,15 3,67 ± 0,13 -0,3 P=0,1564
Teste T
Melhor tempo (s) 10,28 ± 0,47 10,26 ± 0,46 -0,2 P=0,3105
Legenda: *Diferença estatisticamente significante (P < 0,05) comparado com o valor pré (teste t de Student).
Valores apresentados como média ± desvio padrão.
60
Tabela 7 - Distribuição do volume entre os conteúdos de treinamento
em diferentes momentos do macrociclo
Conteúdo de
treinamento
Período Preparatório Período Competitivo Total
61
Figura 6: Comportamento da carga interna durante todo o processo de treinamento.
Valores apresentados como média ± desvio padrão
A semana 1 apresentou cargas de treinamento de 1.633 ± 370, 1660 ± 376 e
1440 ± 309 para os dias 1, 2 e 3, respectivamente (FIGURA 7).
62
Figura 7: Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo método PSE-s na semana 1.
Legenda: *Diferença significante do Dia 5 (p < 0,05); + Diferença significante do Dia 6 (p < 0,05); ǂ
Diferença significante do Dia 7 (p < 0,05); • Diferença significante do Dia 8 (p < 0,05)
Figura 8: Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo método PSE-s na semana 2.
63
Legenda: * Diferença significante do Dia 12 (p < 0,05); + Diferença significante do Dia 13 (p < 0,05);
ǂ Diferença significante do Dia 14 (p < 0,05); • Diferença significante do Dia 15 (p < 0,05);
§ Diferença significante do Dia 17 (p < 0,05)
Figura 9: Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo método PSE-s na semana 3.
Legenda: * Diferença significante do Dia 19 (p < 0,05); + Diferença significante do Dia 20 (p < 0,05)
Figura 10: Comportamento da carga interna de treinamento aferida pelo método PSE-s na semana 4.
64
Figura 11: Comportamento da carga semanal total aferida pelo método PSE-s durante o macrociclo.
65
Figura 13: Comportamento da monotonia aferida pelo método PSE-s durante o macrociclo.
Figura 14: Comportamento do strain aferido pelo método PSE-s durante o macrociclo.
66
8 DISCUSSÃO
O principal achado deste estudo foi a constatação de que o emprego de TI foi
eficiente em melhorar o IF em um curto período de tempo quando aplicado em mulheres
jovens praticantes de basquetebol preparando-se para uma competição internacional.
67
corrida 20 m. Buchheit et al. (2010) não faz menção ao controle da MCT dos sujeitos nos
testes após o experimento, e nem quanto à conversão em potência dos tempos obtidos, o
que torna isso um viés em se tratando de uma investigação de 4 semanas. No presente
estudo, apesar do %GC e da MCM terem apresentado alteração estatisticamente
significante (redução do %GC e aumento da MCM), o valor da MCT não se alterou durante
os 14 dias que se passaram entre a primeira e a segunda avaliação (FIGURAS 1 e 2). Isso
conduz o raciocínio de que as alterações observadas nas demais variáveis do teste não
sofreram outra influência que não fosse àquelas associadas à resposta ao treinamento.
Diferentemente dos achados de Buchheit et al. (2010), que não encontraram
diferença significante para o Tméd e IF, o presente estudo encontrou significância estatística
para estas e as demais variáveis do teste de resistência anaeróbia (TABELA 6). O teste
aplicado por Buchheit et al. (2010) era ligeiramente diferente ao deste trabalho: eram 6
repetições (sprints), com 20 segundos de recuperação entre elas. Porém, a distância era a
mesma, assim como a forma de realizar o teste, que seria 15 m de ida com 15 m de volta.
Outra diferença encontrada era na forma de calcular o IF. O trabalho de Buchheit et al.
(2010) utilizava a equação: 100 – (Tméd / Tm x 100). Como o teste de Castagna et al. (2007),
aplicado neste trabalho, possui 10 repetições e 30 segundos de recuperação entre elas, isso
requer um maior tempo de esforço e talvez conduza a uma perda de eficiência dos
mecanismos de ressíntese do ATP nos últimos sprints. Outra diferença importante entre os
estudos seria quanto à densidade dos estímulos. O estudo de Buchheit et al. (2010) realizou
8 intervenções em 28 dias, enquanto este estudo aplicou 6 intervenções em 8 dias. Por fim,
o estudo de Buchheit et al. (2010) aplicou estímulos que alcançaram um tempo máximo de
30 s, ao passo que este estudo orientou 3 das suas 6 intervenções para o sistema misto
(aeróbio-anaeróbio) de ressíntese de ATP (3 minutos). Os achados de um estudo anterior
registrarou uma redução significante da taxa de glicólise em sprints sucessivos, mas sem
uma queda proporcional da potência. Foi sugerido que um aumento da contribuição do
metabolismo aeróbio compensou parcialmente a redução na glicogenólise anaeróbia. Então,
apesar da contribuição do metabolismo aeróbio em um único sprint de curta duração pareça
ser relativamente pequena, haveria um aumento desta contribuição quando os sprints
ocorrem sucessivamente (GAITANOS et al., 1993).
68
Em outro estudo com jogadores lituanos de basquetebol entre 15-16 anos,
Balciunas et al (2006) investigou como dois modelos diferentes de treinamento poderiam
influenciar na velocidade, potência de membros inferiores e na resistência anaeróbia dos
atletas. Estes já haviam cumprido uma pré-temporada de 4 semanas (não detalhada no
estudo) e a investigação começou durante as primeiras 16 semanas do período competitivo
(campeonato lituano da categoria). Os atleta foram divididos em 3 grupos: PE (power
endurance – resistência de potência), GE (general endurance – resistência geral) e CG
(control group – grupo controle). As sessões de treinamento eram de 90 minutos e
realizadas 3 vezes por semana.
O grupo PE utilizou monitores de FC em suas sessões de treinamento, com a
zona alvo estipulada entre 78 e 83 % da FC máxima, aproximadamente. Realizavam
períodos de 15 minutos de atividade com estímulos de 50 segundos e intervalos de
recuperação passiva de 20 segundos. Cada período focava um dos seguintes fundamentos
do basquetebol: passe, condução e arremesso. Os últimos 15 minutos eram direcionados
para trabalhos táticos utilizando 5x5 quadra toda. Os períodos tinham uma pausa de 2
minutos entre eles e uma pausa maior (15 minutos) na metade da sessão para que o
treinador desse suas orientações e correções. Os autores classificaram a atividade deste
grupo como sendo exercícios específicos intermitentes de alta intensidade.
Já o grupo GE utilizou 6 períodos de 10 minutos, com 10 lances livres para
cada jogador no intervalo entre eles. Os estímulos eram de 15 segundos, com igual valor
para a recuperação e o foco era o que os autores chamaram de defesa ativa, utilizando
exercícios como 1x1, 2x2, 3x3. Os 30 minutos restantes eram direcionados para trabalhos
táticos utilizando 5x5 quadra toda. A intensidade não teve nenhum controle específico.
Por fim, o CG realizava apenas o que os autores chamaram de treino lituano
padrão: 20 minutos de aquecimento, 40 minutos para aspectos técnicos individuais e 30
minutos para aspectos táticos, também sem controle específico da intensidade.
Ao final das 16 semanas, nenhum dos grupos estudados por Balciunas et al.
(2006) apresentou diferença estatisticamente significante para o tempo gasto para percorrer
a distância de 20 metros, nem para os valores encontrados para os saltos verticais.
Entretanto, apenas o grupo PE (classificado como intermitente de alta intensidade)
69
apresentou diferenças significantes para os dados obtidos no teste de resistência anaeróbia.
O teste escolhido foi o Running-based Anaerobic Sprint Test (RAST), que consiste de 6
sprints de 35 metros sem mudança de direção, com intervalo de recuperação passivo de 10
segundos. Balciunas et al. (2006) tiveram o cuidado de calcular a potência gerada nos
sprints (corrida 20 m inclusive), o que elimina qualquer interferência de possíveis
alterações da MCT nos resultados do experimento. A Pméd apresentada no RAST subiu de
457 ± 53 W para 565 ± 48 W, enquanto o IF caiu de 7,0 ± 1,3 para 5,4 ± 0,8.
O que este estudo e o de Balciunas et al. (2006) tem em comum e que podem
ser diferenciados do estudo de Buchheit et al. (2010) seria a presença de estímulos de maior
duração (≥ 50 s) e uma maior quantidade de intervenções por semana. Como a duração do
experimento nos três estudos é completamente diferente, estas semelhanças ganham força
quanto a explicar o efeito do treinamento na melhora da resistência anaeróbia.
Este estudo apresentou um viés que foi a ausência de um grupo controle,
podendo gerar a dúvida de que os resultados obtidos poderiam ser oriundos do próprio
treino de basquetebol em si. Porém, o estudo de Balciunas et al. (2006) mostrou que o
grupo controle, que recebeu apenas um treino considerado padrão para basquetebol, não
apresentou alterações estatisticamente significantes para nenhuma variável estudada.
70
(FIGURA 11), percebeu-se que os valores encontrados para mulheres jovens foram muito
maiores em todas as quatro semanas (4746, 7191, 4706 e 4339 UA para as semanas 1, 2, 3
e 4, respectivamente).
O que a princípio podem parecer valores exagerados, há de se notar que este é o
primeiro estudo acompanhando uma seleção nacional se preparando para uma competição
internacional com 5 jogos sucessivos e com um período de preparação de apenas 18 dias.
Observa-se que o pico de volume recaiu sobre a semana 2, quando o Ttot de treinamento foi
de 23,7 horas. O grande volume apresentado pode justificar o fato da semana 2 apresentar
os maiores valores da carga de treinamento de todo o macrociclo (FIGURA 8). Porém, o
valor da monotonia nesta semana foi um dos mais baixos (FIGURA 13). Isso denota que as
sessões de treinamento foram bastante diferentes entre si no que se refere à relação
volume/intensidade, dados estes confirmados pela estatística (FIGURA 8). Como nenhuma
atleta se ausentou de nenhuma atividade da equipe (não houve afastamento por lesão), os
valores elevados do volume de treinamento por si só não devem ser considerados perigosos
à saúde de jovens atletas. Pelo menos não em uma preparação com poucos dias.
71
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas limitações deste estudo devem ser elencadas: (i) ausência de um grupo
controle e (ii) ausência de medidas fisiológicas objetivas tais como FC e da concentração
plasmática de lactato. A presença do grupo controle nos permitiria excluir, de maneira
definitiva, que as alterações encontradas por este estudo não são fruto do regime regular de
treinamento da equipe. Entretanto, é digno de nota que foi investigada uma seleção
brasileira que estava às vésperas de uma competição internacional importante da
modalidade e, por questões éticas, não se poderia impedir que parte da equipe se
beneficiasse das possíveis adaptações positivas implementadas pelo protocolo experimental
do estudo. Adicionalmente, Balciunas et al. (2006), em protocolo bastante semelhante ao
deste estudo, utilizaram grupo controle e não encontraram alterações estatisticamente
significantes para as variáveis estudadas.
O uso de medidas fisiológicas objetivas é extremamente útil para monitorar os
efeitos fisiológicos decorrentes de um programa de treinamento. Infelizmente, em virtude
do calendário apertado de preparação da equipe, não foi permitido realizar tais medidas.
73
74
CONCLUSÃO
Os achados deste trabalho demostraram que o uso do método de TI durante um
período de intervenção com grande concentração de estímulos foi eficiente para melhorar a
capacidade das atletas de resistir à fadiga. Além disso, os dados demonstraram que a
velocidade e a agilidade não foram prejudicadas por esta forma de intervenção.
Outra observação interessante é a de que o método PSE-s mostrou-se eficiente
para o controle da carga interna de treinamento, pois demonstrou com números a
variabilidade das cargas esperadas para cada microciclo da periodização. Dessa forma, o
uso deste método apresenta-se como uma ferramenta importante para o controle da carga
em jovens atletas de basquetebol.
75
76
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
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90
ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da
UNICAMP.
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92