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A convite do GLOBO, personalidades de várias áreas fazem declarações de amor aos livros

Iniciativa sucede o desabafo sobre a crise do editor Luiz Schwarcz, que convocou leitores nesta
terça-feira
O Globo
29/11/2018 - 04:30 / 29/11/2018 - 21:35

Grafite de Tinho, um dos grandes nomes da arte de rua brasileira, sobre livros Foto:
Divulgação/Galeria Movimento
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RIO — Em desabafo sobre a crise, editor Luiz Schwarcz convocou leitores a mostrar seu amor

pelos livros . A convite do GLOBO, personalidades de várias áreas escreveram sobre o assunto

e se declaram a seguir:

Fernanda Torres, atriz e escritora

"Eu não seria quem sou sem os livros que li. É impossível me separar deles.

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Sofri meu primeiro impacto com o poder de um autor aos 14 anos, quando li o capítulo Os

Vermes, de Dom Casmurro. Ali, descobri que a literatura permite digressões absurdas,

interrupções abruptas, parênteses insólitos e transgressões das leis do tempo e do espaço.

Desde então, me tornei escrava deles, dos livros.

Foram Machado de Assis e Érico Veríssimo os responsáveis, ainda no ginásio, pelo hábito. Um,

pelo requinte e o incômodo; e o outro, pelo tesão furibundo por Ana Terra, Capitão Rodrigo e

Bibiana.

Fernanda Torres
Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Dizem que a presença de livros numa casa é suficiente para despertar o interesse dos filhos

pela leitura. Devo ser prova disso. A casa dos meus pais era coberta de livros.
Desde a juventude, mesmo sem dinheiro para comer, os dois se endividavam em coleções de

capa de couro e papel bíblia, contendo a obra completa de Shakespeare, de Lope de Vega,

Balzac e Proust.

Lembro de todas elas a me olhar da estante, como se naqueles objetos estivesse contido o

mundo secreto dos meus genitores. Me recordo também do fetiche que sentia por uma edição

espanhola sobre o paleolítico e o neolítico. Eram quatro volumes grandes, com fotos, mapas e

ilustrações, que se misturam, ainda hoje, às lembranças mais vívidas que tenho da infância.

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Associo os pulos que dei na vida, aos livros que li em cada período. Os já citados, na escola, e

outros, na juventude, como Bouvard e Pécouchet, que me transformou numa serial killer de

Gustave Flaubert, primeiro autor que devorei em sequência.

Fui instigada a ler Thomas Mann por um psicanalista lacaniano que frequentei dos 18 aos 26.

Ao comentar do meu apreço por Cortazar, ele me olhou irônico e disse que já estava na hora

de eu encarar obras de adulto. Deixei o consultório e fui direto para a livraria comprar Doutor

Faustus, sugestão do analista, romance que devorei no Xingu, durante as filmagens de Kuarup.

Depois vieram A Montanha Mágica e José e Seus Irmãos, presente materno, entregue como se

fosse um tesouro.

Gosto de tijolos, de livros grossos, que fazem longa companhia. E gosto de autores que abrem

portas para outros, e outros, e outros. Dostoievsky me levou a Tolstoi, que me levou a Vitor

Hugo, e os três desembocaram em Napoleão. Como entender o mundo, sem conhecer a

biografia de Napoleão?

Levi Strauss deu em Viveiros de Castro, em Kopenawa e em Mircea Eliade. Esse último dá em

tudo: na Bíblia, nos Vedas, na Ilíada, na Odisseia e no Alcorão. O bonito dos livros é que eles
dialogam entre si. Clarice conversa com Beckett, Milton com Gilgamesh, Freud com Sófocles,

Adorno com Sade.

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Desde Gutemberg, e mesmo antes, com os papiros e as tábulas cuneiformes, a escrita resistiu

a todas as revoluções tecnológicas que ameaçaram torná-la obsoleta. Trata-se da fórmula mais

simples e direta de entrar em contato com o escritor, o filósofo, o cientista, o poeta, o

dramaturgo e o historiador.

Você abre Gilgamesh e, pronto, está na Mesopotâmia. Você lê Plínio, o Jovem, e se vê em

plena fuga de Pompéia. Você encara Proust e visita os salões de Paris. Não tem holografia, não

tem chat, não tem TV de plasma que se iguale a isso.

É claro que um filme, numa telona dolby surround, excita os sentidos sem o mesmo trabalho

mental exigido por um livro. Mas o prazer íntimo da imaginação, de quase tocar os olhos

oblíquos de sua personal Capitu; de estar frente a frente com a sua própria projeção de

Pandora, durante o delírio de Brás Cubas; esse é um milagre que só a escrita produz.

O problema é que o planeta se transformou nessa porcaria conectada a bilhões de insultos,

bobagens e memes toscos; a likers e haters espúrios, condenando o ser humano à obsessão do

vício e à superficialidade.

O livro, não, o livro é um amante exigente. Ele pede o afastamento, a concentração e tempo

ocioso do leitor.

Amo ler e luto por uma vida que me permita ler. Amo dar livros e conversar sobre eles. Se

existe uma boa medida para o bem estar social, eu diria que é aquela que mede o tempo de

leitura permitido a cada cidadão."


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Fafá de Belém, cantora

"Meu querido livro,

Você me ensinou tudo. Quando chegou nas minhas mãos pela primeira vez foi através de

Machado de Assis, que ganhei de uma professora, eu tinha 8 1/2, 9 anos de idade. Eu viajei nas

tuas páginas, nas tuas histórias, e fui pra muitos lugares. Lugares secretos meus, e lugares que

fantasiei.

Desde aí, você foi meu companheiro em muitas viagens. Você foi meu companheiro em muitos

momentos de minha vida. Um companheiro sempre presente, que falava de mim, falava do

mundo e me pegava pela mão, e me contava coisas que eu nem sabia o que eram, e com o

tempo e a idade, fui entendendo tudo.


A cantora Fafá de
Belém Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Você me trouxe Hermann Hesse, Machado de Assis, Jorge Amado, Milan Kundera, tanta gente

maravilhosa, me trouxe Agualusa, Mauro Faustino, me trouxe Miguel Souza Tavares, Florbela

Espanca. Eu passaria várias páginas escrevendo sobre meu amor e meu agradecimento por

tudo que você me dá.

Agora me ajude meu querido amigo. Aonde te acho? Não sei ler em tablet, em livro frio, sei ler

em papel, manusear, riscar, comentar. Sou dessas! Onde te acho, se cada vez mais as livrarias

estão fechando, entrando em recuperação judicial, as editoras vão ter que fechar as portas, e

em que porta a gente vai bater para te encontrar?

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Quando é de novo que vou bater na tua porta, e você me abrir as páginas do mundo, de

pensamentos improváveis, de pensamentos diferentes do meu, abrir as portas do meu

pensamento?
Estou te pedindo ajuda, meu querido amigo livro, porque sem você é impossível viver. Conto

com uma resposta das editoras, das livrarias, e dos grandes autores que falam através de você.

Um beijo, Fafá de Belém"

Leticia Novaes, cantora e compositora

Letícia Novaes
em Letrux Foto: Divulgação / Antonio Brasiliano / Divulgação / Antonio Brasiliano

"Livro:

Tenho relação de profundo amor contigo desde "A Curiosidade Premiada", que minha mãe me

deu e guardo até hoje, que benção, que presente. Livros me revelaram um mundo novo de

possibilidades: um segredo, gosto, tesão, medo, um jeito diferente até mesmo de escrever. Só

amo escrever por que amo ler e assim é a roda da fortuna. Minha vida é melhor por conta de
todos os livros que já li (talvez um ou dois, não, risos), e queria eu ter mais tempo para ler

tudo, todos os clássicos, todas as pessoas que conheço. Só posso agradecer e torcer para que

sua trajetória seja perene. Um beijo da Letícia"

Joyce Moreno, cantora e compositora

Joyce Moreno,
em estúdio para regravar disco de 1968 Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

"Minha relação com os livros vem desde a infância, lendo Monteiro Lobato, tudo que caía na

minha mão. Aprendi a ler sozinha, porque tinha muita curiosidade pelos livros, sempre foram

um objeto de desejo. Tenho cartão de fidelidade em todas as livrarias que frequento no Rio e

sempre que estou numa cidade estranha a primeira coisa que procuro é uma livraria próxima.

Quando fiz 12 anos minha mãe me deu de presente a obra completa de Machado de Assis, caí

naquela leitura e por aí foi. Tenho escritores do meu coração na Turquia, Japão, Israel. Não

imagino a vida sem livros. Uma vida sem livro pra mim é inimaginável, igual a uma vida sem

música."
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Milton Hatoum, escritor

Milton Hatoum:
primeiro livro de uma nova trilogia Foto: Marcos Alves / Agência O Globo

"O que não encontrei na vida, descobri nos livros. A leitura me levou a margens

desconhecidas, onde a gente tem necessidade de indagar e pensar sobre coisas essenciais do

mundo e dos seres. Neste tempo sombrio, que anuncia o colapso do humanismo, o livro é uma

das nossas poucas esperanças. Só um sistema totalitário conceberia um mundo sem livros. No

grande silêncio da leitura habitam os sonhos, a vertigem, o êxtase, os sentimentos e o

conhecimento humanos. O livro é um objeto mais duradouro e mais belo do que o mais puro

diamante."

Renata Carvalho, atriz, diretora e fundadora do Movimento Nacional de Artistas Trans

"Oi, meus amores,


Amores no plural mesmo, não me levem a mal, mas foram tantos, e ainda os são, e quero que

sejam mais, muito mais.

Não pensem que seja leviano de minha parte, mas tenho um carinho especial por cada um

deles, tá certo que uns devorei ferozmente, e outros foi difícil de engolir.

Renata Carvalho
na peça "O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu" Foto: Luciana Pires Ferreira / Divulgação

Mas amo-os em suas diferentes formas, tamanhos, espessuras, texturas e cheiros... Não

importa,toco cada um de forma diferente, gosto de senti-los.

Não achem que foi fácil, mas para cada um dei a atenção devida, mesmo naqueles dias que

você não está a fim de fazer nada, lá estava eu com ele ou eles. E era em qualquer lugar, eu

particularmente prefiro na minha casa, na cama, entre um cigarro e outro, mas eles são

tentadores e estão em todos os lugares, difícil resistir.


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Sei que sou eu e sempre fui eu que fui atrás de vocês, mas precisava encontrar em vocês pelo

menos um que contasse a nossa história. E não me venham com desculpas esfarrapadas, vocês

falam sobre tudo e todo mundo, por quê de nós não?

E agora que querem te calar? Quem vai contar as nossas histórias?

Estão destruindo, queimando e deteriorando as universidades, museus, escolas, laboratórios...

É natural que chegariam em vocês. São vocês que nos provocam, nos alimentam, nos ensinam,

nos transformam e nos libertam.

Podem te queimar em praça pública, te censurarem, te proibírem... mas vocês resistirão...

sempre resistiram... Somos imorríveis, meus amores.

Com todo amor."

Raphael Vidal, agitador cultural

"Prezada Odisseia,

Vinte anos se passaram. Lembro de ter entrado naquela garagem da Zona Norte cheia de

livros, com os olhos desistentes, em sua busca. Perguntei pro pedreiro que guardava livros

achados na rua se você estaria por lá. Eu precisava te conhecer. Mas não tinha como pagar por

isso. Dei sorte. Entre milhares, encostei em sua capa, abri suas folhas empoeiradas. E a levei

pra mim. Pelo tempo que eu quisesse. Nem precisei dizer meu nome.
Raphael Vidal
Foto: Juarez Becoza
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Vinte anos se passaram. Fiz faculdade de Filosofia, virei editor, escritor, cozinheiro e dono de

bar. Fiz minha própria odisseia. Mas nunca esqueci da sua. Hoje há uma biblioteca igualzinha

àquela da garagem na Casa Porto. Outros como eu no passado podem pegar o livro que

desejar sem nem dizer o nome. Só peço o mesmo que me pediram: ler.

É o que pode nos salvar.

Até daqui a vinte anos.

Agradeço por existir,

Aquele abraço!"
Lenine, cantor e compositor

Lenine Foto:
Flora Pimentel / Divulgação

"Querido parceiro,

Te escrevo pela saudade que me acomete, e que me impõe a reiterar a importância

fundamental que você tem na minha formação.

Os romances e aventuras, que através de você pude viver e experimentar, a poesia e a prosa

que deram direção e sentido a meu caminho sonoro, por tudo isso tenho um debito gigante

contigo.

Não imagino um mundo sem você e aproveito para desejar vida longa e prospera pra tu e pros

teus.
Cheiro"

Jr. Tostoi, guitarrista e produtor musical

Jr. Tostoi Foto:


Leo Aversa/Agência O Globo

"A primeira vez que te vi, estava no colo de minha mãe, e ela mesmo me amamentando não te

deixava de lado. Alguns anos depois ainda era muito pequeno pra te alcançar nas prateleiras.

Quando finalmente aprendi a ler, me apaixonei. Te paquerava desde sempre. O amor que

minha mãe tinha por você, passou pra mim. Até hoje sou apaixonado e te carrego pra todos os

lugares.

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Sou ciumento mesmo que te deixe com amigos queridos por pouco tempo. Essa paixão

carregarei pra sempre."


Mailson Furtado Viana, escritor vencedor do Prêmio Jabuti

O escritor
Mailson Furtado Viana, que ganhou o Jabuti Foto: Divulgação/Estúdio Wtf

"Comecei leitor ainda menino, folheando livros perdidos de meus pais, e daí a paixão que se

estendeu, rastreou e explodiu sem ter pra quê em minha adolescência pela descoberta de

autores e livros que ainda hoje pra mim os descubro, e me puseram de pé onde hoje estou.

Nesse período veio os primeiros sonhos com livros - o de ter uma biblioteca, essa que pudesse

ter tudo o que procurasse, e daí o vício incondicional de comprar (livros), de ter qualquer que

seja a obra (hábito que mantenho mais feroz ainda hoje), e por conseguinte veio a escrita, a

literatura (independente), que me faz buscar acreditar mais ainda, sempre.

No entanto é duro abrir jornais que pra além das páginas policiais que noticiam tragédias,

outra como a que o mercado editorial e do livro passa. Ver livrarias fechando portas, editoras

diminuindo catálogo, meu deus! é quase que um punhal carne adentro daqueles que
acreditam que o Brasil pode sim ser maior e mais bonito através da arte, das letras, como eu

insisto em acreditar, e acredito!

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Leiamos mais. Compartilhemos mais livros. Unamo-nos, podemos sim driblar isso. Unamo-

nos."

José Miguel Wisnik, escritor e compositor

Wisnik: reflexão
que deu origem ao livro nasceu quando Wisnik visitou Itabira e viu que o Pico do Cauê,
presença central na poesia de Drummond Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

“Nos livros as palavras ficam guardadas num freezer cheio de calor. Uma estante pode ter

alimento para a vida inteira. A leitura de quem lê com amor ativa esse calor. Esse calor ativa o

leitor. Nos livros os mundos se oferecem, mas ainda não estão prontos. Só quem lê é que

realiza o livro. Os livros são muitos. Cada é cada um. Concordam e discordam, não é isso que
importa. Assim como se abrem e se fecham em suas mãos, podem abrir ou tentar fechar a sua

cabeça e o seu coração, a sua alma e o seu espírito. Mas nenhum decretará o ponto final. A

existência de livros aumenta vida, faz as pontas e os pontos se tocarem, faz os pólos passarem

pela terceira margem, faz a gente ser gente. Além disso, os livros acontecem no silêncio, no

precioso silêncio, no necessário silêncio. A seu modo, ler é escutar o sopro do pensamento,

ouvir a concha do ruído do mar. Deixar-se ocupar pela existência do outro, habitar a existência

do outro, sem a paranoia de que o outro ocupe o seu lugar.”

Bia Lessa, diretora teatral

Os livros são o que os homens poderiam ser.

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"Acho que foi Borges que disse que o livro nos escolhe. Muitos ali na prateleira, outros nas

mãos dos amigos, e quando vemos um deles pula diante de nos. Comigo é exatamente assim,

esse jogo entre a escolha recíproca acontece como magica. Chegam a mim, quase

misteriosamente, os livros necessários, que me apontam caminhos, me tiram do rumo e me

transformam por completo. Acima das linguas ergue-se a linguagem escreveu Thomas Mann,

nas primeiras paginas de O Eleito, obra que me foi dada por Haroldo de Campos e que me

levou a realizar meu primeiro filme Crede+mi. Essa linguagem que faz de cada livro “o” livro,

que encontra na forma o seu próprio conteúdo, e que passa adiante, para todo o sempre, o

que um dia foi rascunho. Essa pequena caixa fechada com uma capa, geralmente com

atrativos, como quem diz me escolhe, e que dentro encontramos letras organizadas de forma

a criarem sentidos. Falar de livros. Começo pela Hanna Arendt “sabemos que vamos morrer,

mas sabemos que não nascemos para morrer. Nascemos para continuar”. Essa constatação de

que passamos para o outro nossa trajetória - os livros são a concretização desses diálogos

infinitos, com incomensuráveis possibilidades de associações.

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SC Rio de Janeiro,
RJ 30/08/2017 TEATRO - A diretora Bia Lessa vai estrear uma adaptação de Grande Sertão
Veredas. Foto Guito Moreto / Agência O Globo

Entre ler um Grande Sertão: veredas ao lado do Homem sem Qualidades de Musil, passando

por Clarice Lispector e indo para Verdade Tropical de Caetano, ou fazendo o movimento

inverso, começando pelo Caetano e indo direto para Musil. Livros que conforme a ordem que

o lemos se constroem de forma diferente dentro de nós.

Uma constelação de relações entre linguas e linguagens que vamos costurando durante nossa

vida. Um jogo de dados. Galáxias, que vamos formando ao nosso redor e que se transformam

em nossas próprias produções.

Rosa. “o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,

ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam,

verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão”construção e

desconstrução continua. Criando uma espécie de O Vôo da Madrugada, onde solitários, como
somos todos, vamos amparando nossos escombros. Com o tempo, a seleção do que

escolhemos ler, se confunde com nós mesmos. Nesse jogo infinito, sem regras rígidas, num

labirinto de possibilidades, os homens, através dos livros, travam uma ligação unica

construindo um tempo e um espaco próprio. As vezes penso que os livros sao o que os

homens poderiam ser.

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Não tem mais não, como diz Mario de Andrade como uma afirmação/negação do que foi e o

que está por vir".

Tony Bellotto, músico e escritor

Tony Bellotto
escolheu autores: livro faz parte de série internacional Foto: Divulgação
"Querido Pedro Páramo, sinto saudades daqueles dias que passamos juntos na ilha de

Santorini, na Grécia. Foram dias intensos em que a vida vibrava no vento, no céu azul e no

silêncio do mar Egeu.

No entanto, naqueles dias, você me falava do mundo dos mortos e dos tristes trópicos em que

vivemos, você e eu.

Apesar de toda aquela vida que exuberava na Grécia, foram nas tuas visões da morte que eu

enxerguei melhor a vida.

Não desapareça."

Marco Lucchesi, presidente da Academia Brasileira de Letras


Marco Lucchesi
Foto: Fernando Lemos / Agencia O Globo

"O livro é um exercício de emancipação. Uma janela para a liberdade. A leitura de Clarice causa

arritmia. Machado é uma comunidade de destino. E Guimarães Rosa desata um terremoto.

Porque o livro é a pátria da possibilidade. Casa do ainda-não. De janelas abertas para o Outro.

Subo e desço as ladeiras do Rio. Bato às portas das escolas públicas, sobretudo no limite das

regiões conflagração. Os livros representam, ao mesmo tempo, uma bandeira de paz, um

gesto solidário e silencioso. Um horizonte para a cidadania. E mando livros e mais livros para

as escolas das unidades socioeducativas e prisionais. Procuro abarrotá-las de livros infinitos,

como disse um poeta argentino, de modo que não haja mais lugar para os detentos,

transformando as carceragens em vastas bibliotecas, mantidas por uma legião de leitores, a

formar um longo poema de amizade entre os homens."

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Marina Lima, cantora e compositora
"Eu adoro ler. Adoro ler romances, biografias, poesia. Comecei a ler quando tinha uns 10, 11

anos, nos Estados Unidos, porque não gostava de morar lá. A leitura aplacava um pouco uma

angústia que eu sentia de estar morando fora do Brasil. A leitura me fazia bem. Eu achava um

universo onde eu cabia. E não era nos Estados Unidos, era na leitura e na minha imaginação.

A cantora Marina
Lima Foto: Divulgação

O primeiro livro que eu li que foi um grande impacto pra mim foi "O vermelho e o negro", de

Stendhal. Por conta desse livro, fui ler um tratado que ele fez sobre o amor, que se chama "Do

amor", é inteligentíssimo. Gosto muito de ler biografias e livros sobre música. Livros de

entrevistas também. Quando acaba um grande livro é como se eu estivesse me despedindo de

um amigo, é uma tristeza danada.

Poesia eu adoro ler. No Brasil, quem eu mais gosto é Drummond, que me impressiona, me

encanta, me deixa louca. Com o surgimento da internet, ainda com 24h e pouco tempo pra
distribuir, deu uma balançada no meu tempo disponível pra leitura. Acabei ficando muito

tempo online, e não gosto de ler online. Gosto de ler no livro. Agora, há alguns anos, consegui

organizar meu dia-a-dia e voltei a ler. Graças a Deus."

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Simone Mazzer, cantora

"Querido livro,

coisa louca esse mundo, né? Por tantos motivos me mantive longe de você, sem te conhecer,

por muitos anos. Eu não lia. Só na escola e, confesso, quando era obrigada. E ainda uns livros

que os adultos achavam que eram bons pra gente. Mas, na boa, eu não curtia. Naquela época,

nada daquelas histórias me pegava. Não naquela idade, daquela forma. Não tava pronta pra

entender "Vidas secas", "O ateneu", "O cortiço", "Viuvinha", "Os cinco minutos". Não entrava

na minha cabeça rock inglês daquele momento. Mas depois isso muda. Eu amava aquela

coleção "Para gostar de ler". Isso era ótimo. Mas foi bem depois de a gente ter sido

apresentado oficialmente. Eu comecei a te curtir bastante, juro.

"Meninos sem pátria" foi o primeiro que me chamou pra um outro mundo. Eu pouco me

lembro da história, lembro bem pouca coisa, mas lembro da sensação de querer ler mais e

mais e mais... Pra saber onde é que aquela história ia me levar. "Feliz ano velho", por exemplo,

me mostrou que eu gostava de ler, que era possível ler um livro inteiro em dois dias. E sem ler

o resumo! Eu fiquei fãzoca do Marcelo naquela época. Descobri que ler podia ser o momento

mais legal do dia. Mais do que ficar na escada do prédio brincando sozinha. Mais do que ver TV

o dia inteiro. Tão legal quanto ouvir música, assistir ao "Sítio do Picapau Amarelo", andar de

patins, jogar vôlei. Um tempo depois, aí sim, eu entendi que tinha passado pela ditadura,

porque naquela época não falava disso nas escolas em Londrina. Aí eu me aproximei

definitivamente de você.
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Comecei a cantar, a fazer teatro. E foi aí que eu aprendi muita coisa e conheci muitos artistas

geniais e suas expressões nas artes. Graças a você. Eu fui levada a obras que só conhecia de

ouvir falar. Shakespeare, Sófocles, Nelson Rodrigues, Will Eisner, Platão, Paul Auster. E aí todo

um universo se abriu. Música, artes plásticas, filosofia, física, teatro fotografia, cinema,

história, mitologia, tudo. Tava tudo ali. Era só ler.

Simone Mazzer
Foto: Divulgação

Muito obrigada por ter sido esse cara tão importante na minha formação artística, na minha

formação como cidadã. O que seria de mim sem "Grade sertão: veredas"? Sem "Cem anos de

solidão"? Sem a biografia da Billie? Sem "O homem e seus símbolos", do Jung? Sem "O

universo numa casca de noz", do Stephen Hawking? Sem "O som e o sentido", do Wisnik? Sem

Fernando Pessoa e todos os outro eus dele? Sem "O anjo pornográfico", do Ruy Castro? Sem

os poemas de Mauricio Arruda Mendonça, da Florbela Espanca? Sem o "Crossroads", do Furio


Lonza? Sem Hilda Hilst? Sem a poesia de Alexandre Guarnieri? E tantos outros de você que me

inspiraram e me deram luz e ainda me dão luz nessas trevas todas que aparecem vez ou outra.

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Cara, você é mágico. E daqui do meu mundinho espero e torço para que você nunca

desapareça de nossas vidas. E das de quem está vindo aí. Apesar de todo o esforço que essa

gente grande do famoso mercado faz pra acabar com você, torço pra que apareça cada vez

mais gênios, com espaço, com mercado pra produzir seus contos, romances, fantasias,

poemas, cantos, toda essa mágica que nos mantém vivos e pensantes.

Eu deixo um "não" bem grandão pra esses seres sem luz que insistem em queimar você pelo

mundo até hoje. Um monte de gente que não suporta a ideia de nos ver pensando e agindo

por conta própria, nos querendo massa de manobra ignorantes e mais fáceis de manipular. Eu

quero que você saiba que isso é sim uma declaração de amor. mas é mais do que tudo um

profundo agradecimento. Muito obrigada por estar do meu lado há tanto tempo.

Com muito amor (mesmo que às vezes você fique empoeirado na estante, meio amareladinho,

com algumas orelhas e todo rabiscado),

Simone Mazzer"

Paulinho Moska, cantor e compositor


Paulinho Moska:
disco tem parcerias com Carlos Rennó, Zélia Duncan e Zeca Baleiro Foto: Gustavo Miranda /
Agência O Globo

“O livro é a casa das palavras. Quando abrimos sua porta/capa e entramos nessa casa com

nossa leitura somos levados a criar em nosso pensamento a imagem de cada uma dessas

palavras, formando as frases e os sentidos que nossa imaginação é capaz de construir. O

cérebro necessita desse exercício, dessa prática, desse estímulo para se desenvolver. Nosso

espírito se alimenta dessas imagens do pensamento. Os livros se alimentam uns dos outros,

através de nós. A leitura de um livro é como um mergulho profundo no oceano da aventura da

vida, a verdadeira transcendência. A cada página carinhosamente virada com as mãos subimos

mais um degrau dessa escada infinita da alma.

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Eu queria ser um livro, para ser manuseado e lido nas minhas entrelinhas, nas minhas vírgulas,

nos meus pontos de interrogação e exclamação. Ser os personagens, as paisagens, as histórias,

as palavras em si. Todo livro é um livro de poesia.


E eu queria ser a poesia de um livro.”

Jacques Fux, escritor

"Aos seis anos de idade, desesperadamente apaixonado por uma coleguinha de sala que não

sabia meu nome e minhas dores, escrevi-lhe, como último e único recurso, uma carta de amor.

Ridícula.

Anos depois, ainda jovem e sem nenhum tato com esses seres encantadores, estranhos e com

olhos de jabuticaba, transformei a carta em poema, desobedecendo os precisos conselhos do

poeta. Fui desprezado por cair no banal. Toleima.

Jacques Fux
chegou a fazer piadas em sua participação na Flip Foto: Ana Branco / Agência O Globo
E na minha adolescência, vivendo dias de spleen, me imaginando um Tristão com o desejo

quixotesco de sentir o sabor de alguma Isolda – e impossibilitado de tal façanha – encontrei

conforto na autocomiseração onanista. Fábula.

Mas eu nunca estive sozinho. Os livros, os famigerados autores, as carrolianas histórias e

cabalísticas ficciones se misturavam e se metamorfoseavam em mim. Eu era um pouco de

Pessoa, Machado, Rilke, Rosa, Baudelaire, Cervantes, Roth, Joyce, Carroll, Borges, Kafka,

Lispector, Drummond, e eles se tornavam muito de mim. E esse desmesurado afeto se

transformou numa necessidade de fazer, e ser, parte. Epifania.

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É piegas declarar amor aos livros? É asneira ainda achar que o livro transforma? É estupidez

romântica dar batalha para preservar a letra e continuar penetrando surdamente no reino das

palavras?

Não. Por isso espero despertar desses momentos tão agitados."

Alceu Valença, cantor e compositor

"A leitura sempre foi um hábito na minha família, desde os tempos em que morávamos na

Fazenda Riachão, no agreste de Pernambuco. Minha avó materna era uma grande leitora de

clássicos e isso me influenciou bastante. Para ela, uma vírgula fora de lugar era uma ofensa

imperdoável.

Ainda menino, estudei num colégio de padres em Garanhuns. Como eu era meio arisco, de vez

em quando recebia punições. Só que eu gostava das punições porque o castigo era passar

horas lendo os clássicos na biblioteca. Então, por bem ou por mal, a literatura sempre foi algo

presente em minha vida.


Alceu Valença
Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo

Meu tio Geraldo Valença era poeta dos grandes, com livros publicados. Cheguei a musicar um

de seus poemas, “Junho”, uma canção de que me orgulho muito. Aos poucos, conheci a poesia

de Fernando Pessoa e de Drummond, as crônicas de Rubem Braga e Gilvan Lemos, que

também era nosso parente. E havia os poetas que viviam no Recife, como Ascenso Ferreira e

Carlos Pena Filho, nosso vizinho na rua dos Palmares.

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Na Faculdade de Direito do Recife, me interessei pela Filosofia. Li bastante os gregos, mas

gostava sobretudo de Ortega y Gasset, com quem aprendi que “eu sou eu e as minhas

circunstâncias”. Através do contato com a Filosofia, fui selecionado para um curso de férias na

universidade de Harvard por conta de um texto que escrevi sobre marxismo e religião. E minha

música possui diversos exemplos de diálogo com a literatura. Cervantes, Pessoa, Jorge Amado,

Rubem Braga, Mario Quintana, entre outros, têm trechos de suas obras citadas em canções

minhas.
Recentemente, lancei um livro de poemas, “O Poeta da Madrugada”, inspirado pelas noites

insones que passo em Lisboa. O prefácio é de um dos maiores escritores lusófonos atuais, o

angolano José Eduardo Agualusa, cuja obra deveria ser ainda mais difundida por aqui.

Torço para que o Brasil retome urgentemente o amor pelo pensamento."

Gabriela Amaral Almeida, cineasta

"Ainda sonho em ter uma biblioteca intergalática

Não tenho memória do primeiro livro que li na vida porque “lia” antes mesmo de aprender a

ler. Meu pai dizia que era o segredo das pessoas inteligentes, ler. Lembro da minha coleção do

Mundo da Criança, encadernada em vermelho, cujas páginas eu comia. E dos livros de Julio

Verne do meu pai. Lembro também do mundaréu de títulos da casa da minha avó, onde iam

parar todos os livros que já não cabiam nas estantes das casas dos tios. Os livros estavam por

toda parte: nas estantes, em cima de armários, escondidos em caixas de papelão amontadas

em quartinhos e até nos banheiros. Sidney Sheldon, Robert Louis Stevenson, Agatha Christie,

José Lins do Rego, toda a Coleção Vaga-Lume, toda a coleção Para Gostar de Ler, Machado de

Assis, Stephen King. Tudo junto e misturado. Todas as casas tinham a sua estante-de-livros. Ler

era das raras atividades que ninguém ousava interromper: “ah, tá lendo? Então deixa”.

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A diretora
Gabriela Amaral Almeida Foto: Marcos Alves / Agência O Globo

Na minha estante-de-livros principal – que fica, obviamente, na sala – estão livros lidos e

esquecidos, livros lidos e relidos, (muitos) livros ainda a serem descobertos. Geralmente, quem

me visita pela primeira vez acaba gastando um tempinho olhando os volumes, descobrindo

pontos de conexão – “você também gosta disso?!” –, descobrindo tesouros – “isso existe?” –

e, por que não, me zoando – “que gosto, o seu, credo!”. Ainda é através dos livros, de suas

histórias mas também da sua materialidade, que eu me relaciono com o mundo.

Da minha estante, puxo um livro que, acredito, me marcou profundamente: os contos

completos de Flannery O’Connor (no Brasil, editados num único volume pela já extinta Cosac

Naify). Localizo no índice o conto “Um homem bom é difícil de encontrar”, o meu preferido

dela. É inevitável não cheirar as páginas passando (um vício). O conto narra a história de uma

família americana – pai, mãe, duas crianças (menino, menina, chatos) e uma avó cheia de

racismo dentro dela –, que atravessam os Estados Unidos rumo às férias que nunca vão ter
porque, desgraçadamente, topam com um fugitivo da lei. O Desajustado. Grifei apenas uma

frase, lá para o fim do texto, que diz assim: “Seria até boa mulher”, o Desajustado disse, “se a

cada instante de sua vida houvesse alguém nas cercanias para lhe dar um tiro”.

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Releio: “se a cada instante de sua vida houvesse alguém nas cercanias para lhe dar um tiro”. A

frase me atinge. No peito, um tiro, como deve ter pretendido a autora quando a escreveu.

Fecho o livro, a frase ecoando na minha cabeça. Devolvo o livro à estante. Algumas partículas

de poeira dançam no ar. Todas as partes moles e minúsculas e sensíveis do meu corpo vibram.

Eu estou viva.

Ainda sonho em ter uma biblioteca intergalática."

Roberto Menescal, músico

"NÃO DÁ PARA VIVER SEM MÚSICA, ASSIM COMO NÃO DÁ PARA VIVER SEM LIVRO!!!

Só pude entender alguns detalhes da vida de meu super amigo-parceiro Paulo Coelho ao ler

agora seu recente lançamento "Hippie", mesmo tendo convivido 40 e poucos anos com ele.
Menescal toca
violão no jardim de sua casa, na Barra Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Achava que conhecia razoavelmente bem o Pop Star artista Lobão, mas só ao acabar de ler “50

anos à mil” pude desfrutar de sua louca, divertida e inacreditavel vida até aqui, um dos

melhores livros que li, graças a minha curiosidade que procura também o que não está ao meu

redor.

E o “Raul que me contaram”? Trabalhei ligado à Raul Seixas durante vários anos como meu

contratado nos tempos da gravadora Polygram, mas só através desses delicioso livro, pude

conhecer profundamente um universo imenso que desconhecia.

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Outro artista com quem trabalhei e que sempre me fascinou, Rita Lee, através de sua biografia

descobri sua vida mágica, emocionante o que aumentou em muito minha admiração por esta

pessoa, aliás ontem comprei seu mais recente lançamento, “FavoRita”.


Hoje tenho consciencia que sem tudo que li, minha vida teria sido bem vazia. Sou um cara de

muita sorte e muito feliz por ter tido um aprendizado incrivel através dessa coisa magica que é

O LIVRO!"

Aniela Jordan, produtora teatral e gestora cultural do Imperator – Centro Cultural João
Nogueira

Aniela Jordan,
produtora de musicais Foto: Fernando Lemos / O Globo

“Não consigo imaginar uma vida fértil sem leitura. Ler é cor, é vida, é imaginação! Ler constrói

o nosso mundo interior e aprimora o ser humano”


Gustavo Pacheco, diplomata e escritor estreante

Os livros têm vida

Saindo de uma livraria com ele, digo:

– Sempre que saio de uma livraria, sinto o coração apertado.

– Por quê, papai?

– Porque imagino os livros tristonhos dizendo: "ei, não vai embora, volta aqui, não me deixe!"
Gustavo Pacheco
estreia uma coluna semanal no site de ÉPOCA Foto: Maria Mazzillo

Ele me olha, faz beicinho e começa a chorar. Perplexo, pergunto o que está acontecendo.

– Você não devia ter dito isso! Você sabe que eu gosto dos livros! Fiquei com pena deles.

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Eu o abraço, dou colo, mas ele continua amuado. Dez minutos depois, ainda sentido, ele me

diz:

– Pai, eu sei por que os livros têm vida.

– Por quê?

– Porque eles são feitos de papel e o papel é feito de árvores, e as árvores têm vida.
Rodrigo Teixeira, produtor

Rodrigo Teixeira,
produtor brasileiro da RT Filmes Foto: Divulgação

"Literatura é a chave para qualquer formação. Sou completamente apaixonado por livros.

Livrarias são uma extensão da minha casa.

Mexer, sentir o cheiro de papel, adquirir livros, adaptar livros, fazer filmes baseados em livros.

A crise da literatura é seríssima. Temos que incentivar a abertura de pequenos livreiros. Livros

ampliam a visão de mundo.

Livros fazem minha cabeça. Descobri e relativizei muita coisa por causa de "O sol na cabeça",

do Geovani Martins. Para mim, é uma obra que reflete como vejo o Brasil e como deveria ser

feita a nova literatura: dando chance a pessoas de lugares menos privilegiados."


Noemi Jaffe, escritora, professora e crítica literária

A autora Noemi
Jaffe Foto: Divulgação

"Não deve ser à toa que livro e livre, embora de origem distintas, soem tão semelhantes.

Estamos todos presos: a lugares-comuns, a hábitos, a preconceitos e a vícios de pensamento.

Somente vivendo, concretamente, a vida dos outros - os personagens - sentindo com eles frio,

calor, arrepios, medo e susto, é que podemos nos libertar das ideias prontas que temos sobre

as pessoas.

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A literatura, afinal, não fala sobre os seres e o mundo, como, por exemplo, a sociologia ou a

psicologia, mas permite que o mundo e os seres falem, com sua voz e realidade. E, além disso,

como dizia Barthes, "o autoritarismo não é proibir de dizer, mas obrigar a dizer", e nada, como

a língua, nos força a dizer as coisas de uma única e determinada maneira.


Só nos livros encontramos formas de burlar, como se dançássemos, o autoritarismo dos

hábitos linguísticos padronizados. Só nos livros encontramos, como em Guimarães Rosa, " foi

de incerta feita", "cabisbaixar" ou, como em James Joyce, um capítulo que cobre quatro

séculos de diferentes estilos e sotaques ingleses.

Amo o livro porque, com ele na mão, nunca me sinto só e, melhor ainda, essa amizade é para

qualquer hora e lugar, sempre se renovando a cada leitura e sempre me mostrando que, como

os amigos fazem, eu posso ser bem melhor do que pensava ser."

Grazi Massafera, atriz

Grazi Massafera:
filmes nas férias Foto: BRUNO RYFER

"Além de nos apresentar diferentes culturas e de preservar a nossa história, o livro é

indispensável para a imaginação. É o principal instrumento para o desenvolvimento das nossas


crianças e para enriquecer o aprendizado. É um prazer, sem descrição, a ansiedade que

saborear uma nova leitura pode causar. Quem não ama o cheiro de um livro novo?

Companheiro ideal nas viagens de avião, antes de dormir e até mesmo na praia. Que possamos

lembrar a primeira vez que ouvimos aquelas lindas histórias e que essa tradição continue. A

leitura alimenta nossa alma e nossos sonhos".

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Rodrigo Ferrari, livreiro, dono da livraria Folha Seca

Carta de amor ao livro

"Neste momento difícil que vivemos, sou instado a escrever uma carta de amor ao livro. Logo

ao livro, meu companheiro de anos. Logo neste momento, em que o retrocesso político busca

sufocar a liberdade de expressão e os direitos humanos. Dois princípios diretamente ligados ao

mundo dos livros e das livrarias.


O livreiro Rodrigo
Ferrari Foto: Aline Macedo / Agência O Globo

Pedem esta carta por conta da falência de duas grandes cadeias de venda de livros. Essa

quebra já era esperada: eles não pagavam ninguém há tempos; mas como existem poucas

livrarias para escoar nossos produtos, as grandes editoras não pararam de fornecer livros a

eles, ao contrário do que acontece com as pequenas.

Essas grandes editoras chegaram a ter lojas exclusivas nessas cadeias só com livros de seus

catálogos. Pode haver coisa mais estapafúrdia que uma livraria de uma editora só? Por mais

que essas editoras praticamente estejam monopolizando o mercado? Não pode. O livro e os

leitores não merecem.

Então, por favor, peço a todos e principalmente aos grandes editores e às grandes corporações

comerciais: por amor aos livros, respeitem nosso comércio. Lutem conosco pela lei do preço

único, que visa normatizar o mercado e regulamentar os preços dos livros, estabelecendo
limites para impedir a criação de monopólios. Somos pela bibliodiversidade. Queremos livros,

leitores, livrarias e editores. Sempre.

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Não posso deixar de me despedir com um mantra: menos armas; mais livros!"

Luiz Ayrão, cantor e compositor

Luiz Ayrão Foto:


Leo Aversa / Agência O Globo

"Fechar uma livraria é como fechar um útero de onde saem os melhores amigos de um ser

humano, que conversam com ele a qualquer momento e a qualquer hora, sobre todos os

assuntos. O livro é seu maior interlocutor. É seu amigo desde que você entra para a escola,

desde antes disso, quando seu pai te conta histórias. É lamentável ter que fechar as livrarias,

despedir milhares de funcionários. É uma tristeza."


Xande de Pilares, cantor e compositor

O sambista Xande
de Pilares Foto: Divulgação/João Mattos

"Minha maior referência foram os livros, desde os tempos de colégio. Desenvolvi o gosto pela

leitura por causa de um livro de filosofia e fui migrando pra outros temas até que terminei nos

livros espíritas, onde encontrei respostas pra muitas perguntas que fazia. O livro segue tendo

muita importância, mesmo em meio a outras tecnologias. Tô dentro dessa campanha de olho

fechado. Porque meus filhos e netos têm que crescer sabendo da importância do livro".

Francisco Bosco, escritor e filósofo

"Há um movimento anti-intelectual no Brasil. Seus traços principais são: a) o Escola sem

Partido, que submete o livre conhecimento ao controle da família e interdita a discussão sobre

temas constitutivos da experiência humana, como sexualidade e gênero; b) o ódio pelo

Ministério da Cultura, formado por uma associação falsa entre a Lei Rouanet e o espectro
político da esquerda; c) a ascensão do conservadorismo religioso, com sua carga dogmática,

obscurantista.

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Francisco Bosco,
filósofo Foto: Ana Branco / Agência O Globo

Como chegamos até esse ponto? Suspeito que mais ou menos assim: a) o descaso histórico do

Estado com a educação formou uma massa de cidadãos antes oprimidos pelo conhecimento

(alheio) do que emancipados por ele; b) o descaso histórico do Estado com a cidadania fez com

que as igrejas se tornassem a referência formativa primordial dessa massa; c) a emergência

das redes sociais e de uma cultura do engajamento, a partir de 2013, fez com que essa massa

se auto-organizasse - mas a partir das premissas listadas acima: dogmatismo e revolta

(justificada) contra as elites ilustradas incapazes de universalizar o acesso ao conhecimento.

Diante desse quadro, todas e todos que defendem uma civilização fundada no livre

pensamento (em que o lugar da religião é o foro privado), no debate público, no


desenvolvimento técnico e subjetivo - todas e todos devemos fortalecer os espaços que

produzem essas condições: a universidade, a imprensa, as editoras, as livrarias e os livros."

Castello Branco, compositor

O cantor e
compositor Castello Branco Foto: Ana Alexandrino / Divulgação/

"Aprendi a ouvir em casa com "O menino do dedo verde" de Maurice Druon. Depois, os livros

de meu mestre e também escritor, José Triguerinho Neto. É a importância de aprender em

silêncio. Sabe ouvir, aquele que lê."

Rosana Lanzelotte, cravista e pesquisadora

"Livros fazem as pessoas pensarem, são janelas para a imaginação. Antes da imprensa, os

livros eram copiados manualmente, pois essa era a forma de se transmitir o saber. Somos o
que somos graças ao livros . Vamos continuar essa tradição para que cada vez mais pessoas

possam pensar, criar e fazer um mundo melhor".

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Joanna Maranhão, ex-nadadora

"Um livro que marcou a minha vida foi "O segundo sexo" (1949), de Simone de

Beauvoir. Relutei um pouco a ler porque achei que não ia acompanhar. Então, comecei por

"Tête-à-Tête", que fala da vida amorosa dela e do Sartre (Jean Paul).

Li este livro e me coloquei no lugar de Simone, que era uma mulher libertária, ciente do que

poderia fazer no seu tempo e que sofria no relacionamento. Sartre era, mais do que ela,

desconectado dos estereótipos dos relacionamentos monogâmicos e dos sentimentos

colocados na relação entre homem e mulher.

Li "O segundo sexo" em 2016 para reconhecer como o machismo estrutural estava dentro de

mim, como euestava potencializando e multiplicando este discurso. A partir dali, resolvi

começar a olhar as minhas pequenas atitudes, o que eu verbalizava, o que era natural e, ao

mesmo tempo, machista. Não foi uma leitura fácil, mas ele me modificou. Todo homem ou

toda mulher que quer desconstruir o patriarcado e pensar a sociedade de uma maneira em

que exista equidade tem que ler este livro".

Miriam Freeland, atriz e produtora

"Quero falar com um livro.. quero falar por um livro.. quero falar através de um livro..

Quero falar do livro que inspira meu atual trabalho. Um livro que está em sua segunda edição,

que já foi traduzido para nove países...


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Quero falar de um livro dedicado ao público infantojuvenil que promove, incentiva e desperta

o gosto pela leitura numa idade em que as crianças estão sendo estimuladas a ficarem mais

tempo com seus aparelhos eletrônicos recém adquiridos e deixando o lúdico e a imaginação

escapar!

Quero falar de uma plateia de 400 lugares absolutamente lotada desde que o espetáculo

estreou. Lotada por famílias que estão se permitindo viajar para a Grécia numa rede mágica!

Imagina!

Quero falar de um livro que me encanta e que já encantou mais de 500 mil leitores. Quero

falar de um livro que não se acanha em contar a história de uma menina corajosa, que

aprende a lidar com os “buracos” da vida e celebrá-la apesar de tudo!

Quero falar para Flavia Lins e Silva, autora dessa obra-prima escrito para infância, que muitas

famílias estão voltando a desfrutar do teatro e do livro por conta da sua Pilar!

É com muito orgulho no peito e com lágrimas transbordantes, que todo sábado e domingo

subo no palco para contar a história desse livro!

“Diário de Pilar na Grécia” também tem sua saga de herói! Faz de sua trajetória um caminho a

ser vencido: uma autora, uma editora, uma livraria, um adulto, uma criança!

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