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29/10/2015
1 – O ISEB
2 – O contexto
“Essa relação [entre Maria Aparecida Fernandes e Álvaro Vieira Pinto] iniciou-se no
ISEB
“Vieira Pinto — Depois entra outro período [de atividade de docência para Álvaro Vieira
Pinto], que é o do aparecimento do ISEB, e o convite casual que recebi de Roland
Corbisier, para ser professor de Filosofia no ISEB. Isto em 1955. Com a entrada para o
ISEB fui mudando aos poucos de orientação, fui tomando uma orientação mais objetivista,
menos idealista e deixando de lado toda aquela forma clássica de ensinar História da
Filosofia, que era puramente repetir o que o outro disse. Passei a fazer uma exposição
sobre o autor e depois a crítica, o que me dava oportunidade de alargar mais o meu campo
de pensamento, embora sem jamais ter chegado a impor a ninguém qualquer idéia
extremista, ou qualquer idéia que julgava tal, que fosse considerada indevida num
currículo de Filosofia. Na Faculdade [anterior] de Filosofia jamais saí da linha puramente
ortodoxa do ensino da Filosofia; o que fazia era seguir os autores, naturalmente que se o
autor dissesse alguma coisa com a qual eu não concordava tinha que dizer o mesmo,
porque a minha obrigação era ensinar, não o que eu pensava, mas o que os outros
pensavam. Então eu tinha que repetir, resumir, repetir e depois fazer alguma crítica, mas
muito pouco elaborada, porque senão eu perderia muito tempo na crítica e acabava não
podendo adiantar a matéria.
Saviani — O senhor assumiu a perspectiva existencialista?
Vieira Pinto — Realmente, nessa época, como estava numa transição rápida, eu assumi
muitas das posições existencialistas que não conhecia até então, e assim tive oportunidade
de sentir o que havia de verdade nelas, não apenas no sistema que apresentavam, mas nos
conceitos que se podiam aproveitar e procurava formular por mim novas maneiras de
expor certas idéias de ordem humanista, de ordem historicista e nacionalista; e acabou
sendo o oposto do próprio existencialismo, mas que tinha tirado do existencialismo, no
sentido de que via a realidade do homem passando por aquela situação e chegando a
outras conclusões. Depois, quando fecharam o ISEB, fui para o exílio.” (Álvaro Vieira
Pinto em entrevista concedida a Dermeval Saviani, 1981 In. VIEIRA PINTO, 2010, p.18-
19)
“Em 1959, ainda como chefe do departamento de Filosofia, prefacia, a convite de Michel
Lebrun, a obra de duzentas e oitenta quatro páginas de sua autoria intitulada “Ideologia e
realidade”, publicada pelo ISEB, no Rio de Janeiro, no mesmo ano.” (FÁVERI, 2014, p.99)
“(…) no período em atuou como diretor do ISEB (1961-1964)” (LIMA, 2015, p.101)
“assume o posto de diretor executivo [do ISEB] no lugar de Roland Corbisier” (FÁVERI,
2014, p.99, adição nossa)
“Nesta mesma ocasião, Roland Corbisier foi eleito deputado estadual constituinte pelo
Partido Trabalhista Brasileiro, deixando vaga a direção executiva do ISEB. O Ministro da
educação indicou Álvaro Vieira Pinto para ocupar cargo. Ao assumir o Instituto, Vieira
enfrentou graves problemas financeiros somados a uma feroz campanha difamatória
incessantemente movida por grupos de direita e pela imprensa.” (CÔRTES, 2003, p.320)
“(…) desde 1961 as verbas para o Instituto tinham sido cortadas, deixando todo o
projeto vulnerável.” (LOVATTO, 2010, p.97)
‘SODRÉ (1978) ao referir-se a essa campanha de difamação promovida contra o ISEB fala
do corte de verba: “Em 1961, o ISEB ficaria privado de sua verba orçamentária, era
excluído do orçamento. Ocorrera na Câmara, tão simplesmente, a subtração, nas folhas do
Ministério da Educação, do item referente ao ISEB; a rubrica ISEB desaparecera. Quando,
ao iniciar os seus trabalhos, em 1961, o ISEB planejou suas atividades, a administração
deparou a extraordinária singularidade: não dispunha de verba para coisa alguma. (…)
Com redobrado esforço e sacrifício dos professores, foram impulsionados os cursos
extraordinários, os seminários, as conferências, no ISEB ou fora dele. Nunca trabalhamos
tanto” (SODRÉ, 1978: 64).’ (em LOVATTO, 2010, p.97)
“Permanece no cargo [de Diretor de Filosofia] até assumir a diretoria executiva, sendo
substituído por Wanderley Guilherme dos Santos.” (FÁVERI, 2014, p.97, adição nossa)
“O papel do ISEB foi fundamental porque o instituto tinha passado por mudanças
significativas no início dos anos 1960. Depois de uma fase marcada pelo nacional-
desenvolvimentismo, o último ISEB, como ficou conhecido, passou à direção de Álvaro
Vieira Pinto, a partir de 1962. Essa fase correspondeu às lutas pelas Reformas de Base e a
conseqüente radicalização política do período. Outro nome marcante desta fase do instituto
foi Nelson Werneck Sodré. O primeiro propôs o projeto que originou os Cadernos do povo
brasileiro e o segundo propôs a coleção História Nova do Brasil. Estes aspectos serão
aprofundados adiante.” (LOVATTO, 2010, p.92)
1961-1962 Publica “A questão da universidade” e “Por que os ricos não fazem greve?”
“Este livro [A Questão da Universidade] de Álvaro Vieira Pinto foi escrito no alvorecer da
década de 60 e publicado pela editora da UNE (União Nacional de Estudantes).
Seu conteúdo é a expressão viva da coragem e idoneidade intelectual do autor. De forma
serena e refletida constitui, no entanto, um libelo de certo modo violento ao elitismo,
conservadorismo, arcaísmo e alienação das estruturas universitárias a serviço da
dependência cultural imposta pelos interesses dos grupos que dominam economicamente e,
por consequência, impõem seu poder ao conjunto da sociedade.” (Introdução de Demerval
Saviani escrita em dez. 1985 apud VIEIRA PINTO, 1986, p.5, adição nossa)
“É importante situar e datar o livro [A questão da Universidade]. Escrito em 1961, situa-se
no bojo do processo que então se caracterizava como pré-revolucionário. Esta situação
demarca as lutas da época. A sociedade tendia a se polarizar entre os que se colocavam a
favor do objetivo revolucionário empenhando-se em tornar realidade a tendência em curso
e aqueles que se colocavam contra, procurando preservar a ordem vigente e se utilizando
de todos os recursos disponíveis para frustrar os intentos transformadores.” (Introdução de
Demerval Saviani escrita em dez. 1985 apud VIEIRA PINTO, 1986, p.5, adição nossa)
“Em 1962, fez publicar dois livros: A questão da universidade e Por que os ricos não fazem
greve? O primeiro resulta de conferências feitas em Belo Horizonte, publicadas pela
Editora Universitária, formada por lideranças estudantis ligadas à União Metropolitana e
à UNE, enquanto o último é uma publicação da série Cadernos do Povo Brasileiro, cuja
coordenação Vieira Pinto assumiu a convite de Ênio Silveira.” (CÔRTES, 2003, p.320,
grifos da autora)
“No início dos anos 60, época das grandes mobilizações de massa para as reformas de
base, entre elas a do ensino, Vieira Pinto produz a obra A questão da universidade,
originária de uma conferência proferida em Belo Horizonte e publicada naquele ano pela
UNE. A obra é composta por cento de duas páginas e mais tarde publicada pela Editora
Cortez. Parece que essa obra foi produzida em 1962.” (FÁVERI, 2014, p.99)
“Nesse mesmo ano [1992], Vieira Pinto produz e publica, pela editora Civilização
Brasileira, Por que os ricos não fazem greve, composta de centro e dezoito páginas, obra
que faz parte da coleção Cadernos do Povo Brasileiro.” (FÁVERI, 2014, p.99, adição
nossa)
“[…] aquele livro [A questão da Universidade] foi uma conferência que fiz em Belo
Horizonte e depois a diretoria da antiga UNE me pediu para publicar.” (Álvaro Vieira
Pinto em entrevista concedida a Dermeval Saviani, 1981 In. VIEIRA PINTO, 2010, p.22,
adição nossa)
1962 Assina documento “Por que votar contra o parlamentarismo no plebiscito?” para o
ISEB
“Em julho de 1963, publica, pela Revista Brasileira de Estudos Sociais do Departamento
de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, o artigo “Indicações
metodológicas para a definição de subdesenvolvimento”.” (CÔRTES, 2003, p.320-321,
grifos da autora)
“Em meio a essa mobilização nacional populista, em 1963, desencadeia-se uma campanha
anti-isebiana através dos meios de comunicação e, em meio a esta agitação social, Álvaro
Vieira Pinto, escreve um artigo de vinte sete páginas, em julho de 1963, publicado na
Revista Brasileira de Ciências Sociais, de publicação quadrimestral, no vol. III de julho de
1963 – n.2, p.242-279, com o título “Indicações metodológicas para a definição do
subdesenvolvimento”, para responder às críticas de leitores e estudiosos contrários a sua
concepção de subdesenvolvimento.” (FÁVERI, 2014, p.99-100)
“No Rio, o jornal O Globo mantém acesa campanha contra o ISEB. Em fins de janeiro de
1963, respondendo a uma solicitação do Centro de Portugueses do Ultramar, Vieira Pinto
se recusa a receber no Instituto “qualquer agente de propaganda da tirania salazarista”.
Meses depois, esse episódio serve de estopim para uma avalanche de insultos e acusações
publicados na imprensa carioca. A Última Hora e o Diário de Notícias se lançam na defesa
de Vieira Pinto e o proclamam um “democrata militante a serviço do povo e da causa de
sua emancipação” (UH, 15/8/63) ” (CÔRTES, 2003, p.321, grifos da autora)
“Depois que assumiu a diretoria executiva do ISEB, de modo especial no segundo semestre
de 1963 e início de 1964, devido uma campanha massiva desencadeada nos meios de
comunicação de massa com a intenção de difamar o instituto como baderneiro e comunista,
para vinculá-lo aos movimentos de esquerda marxistas, Vieira Pinto sofreu uma
perseguição implacável para ser preso, julgado e responsabilizado por atos de que era
acusado no órgão que dirigia. Não tendo outra alternativa, pediu exílio na Iugoslávia e,
com o apoio de seu irmão Arnaldo, escapou ao cerco dos policiais e embarcou para o
exterior. Muitos livros foram incinerados e alguns manuscritos incompletos que o filósofo
estaria escrevendo também desapareceram, segundo Mariza Urban.” (FÁVERI, 2014,
p.94)
“A grande maioria dos isebianos compartilhava a mesma postura de Vieira Pinto nos
compromissos da instituição e nos discursos, mas, na prática, quando se ratava de
articular e defender publicamente a autenticidade ideológica do Instituto, muitos colegas
não davam apoio à Vieira Pinto, acusando-o de traidor dos objetivos e da filosofia
primeira a que se propunha o ISEB, no ato de sua criação. Basta ler a depoimento de
Jaguaribe, quando perguntado sobre Vieira Pinto. Roland Corbisier, também, não deu
apoio a Álvaro e ao ISEB. Mesmo ocupando uma cadeira no legislativo, não se esforçou em
angariar recursos para ajudar o Instituto a sair da crise, por exemplo. E assim fizeram
outros isebianos que movidos por diversos motivos, abandonaram o ISEB, quando esse não
vinha ao encontro de seus interesses pessoais e profissionais. Somente Werneck Sodré
continuou apoiando Álvaro, às vésperas do golpe.” (FÁVERI, 2014, p.100)
1964 Golpe militar no Brasil, extinção do ISEB e Casamento com Maria Aparecida
Fernandes
“Com o golpe militar, o ISEB foi invadido e seu acervo, biblioteca e móveis inutilizados,
espalhados pelos jardins da casa na Rua das Palmeiras, Botafogo. Em 13 de abril de 1964,
o governo decreta a extinção do Instituto. Logo em seguida, é instaurado o IPM no qual
são arroladas mais de 50 pessoas entre os professores, os Ministros da Educação Clóvis
Salgado, Paulo de Tarso e Oliveira Brito, vários deputados e três Presidentes da
República— JK, Jânio e João Goulart.” (CÔRTES, 2003, p.321, grifos da autora)
“Nelson Werneck Sodré, Alex Vianni, Álvaro Vieira Pinto e eu descemos os trinta andares
da Rádio Nacional pela escada de serviço, correndo. O golpe já estava dado, a UNE estava
sendo incendiada, o jornal Última Hora tinha sido invadido e empastelado. Dirigi-me para
a embaixada da Iugoslávia, cujo embaixador era um querido amigo. Chegamos na
embaixada e a encontramos fechada (…) Assim que abriu entramos e ocupamos a
embaixada como um asilo provisório. O embaixador chegou depois e confirmou que a
situação estava mesmo ruim. Pedi para ficarmos lá por um tempo, umas horas, até que se
definisse a situação. Ficamos vinte e quatro horas na embaixada da Iugoslávia, sem
formalizar pedido de asilo; depois cada um foi para o seu destino.” (Ênio Silveira apud
CÔRTES, 2003, p.321)
“Em 12 de junho de 1964, casou-se com Maria Aparecida Fernandes, que passou a ser
chamada pelo mesmo nome, acrescido de Vieira Pinto. Essa relação iniciou-se no ISEB,
onde ela ocupava o cargo de secretária, desde sua criação junto com a irmã Lourdes que
era escrituária do mesmo órgão. Segundo parentes mais próximos, o casamento foi
oficializado com separação de bens, em virtude da idade dos nubentes, acima dos
cinquenta e cinco anos, antes de Álvaro sair do país às pressas. Segundo o que apuramos
junto aos seus parentes, a decisão de casar deveu-se aos fato de ambos se sentirem mais em
segurança, quando das adversidades que iriam passar no exílio, e a busca de um apoio
legal útil frente à mudança radical de vida devido à perseguição militar que sofriam. Assim
que se realizou o matrimônio, imediatamente abandonaram o país. Desse casamento não
houve descendência.” (FÁVERI, 2014, p.94)
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO