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11.

Auto-consciência como valor estético

Felipe G. A. Moreira

Três critérios tradicionais para se ajuizar sobre o valor estético de um poema são: acordo com o
belo, acordo com o sublime e acordo com o choque. Não é lá muito fácil determinar precisamente
condições necessárias e suficientes para um poema satisfazer esses critérios.

Mas acho que também não é lá muito, muito problemático assumir que, bem, um poema belo tem
mais ou menos as seguintes características. Ele retrata a pessoa de fé que crê na metafísica judaico-
cristã; alguém que acredita que Deus existe, que existe um paraíso, que pressupõe sistemas
filosóficos feitos os de Santo Agostinho ou São Tomás de Aquino. Mais: um poema belo usa
métricas rígidas (e.g., a terza rima), e aponta para uma repatriação da alma. Isso naquele sentido
medieval que eu já abordei quando falei sobre a Francesca Cricelli. Considere, sei lá, a Divina Comédia
de Dante escrita entre 1308 e 1320. Não acho que estou dizendo nada de muito louco ao dizer que
esse poema tem essas características e que, daí, ele é um poema belo.

Acho que também não estou dizendo nada de muito louco, ao dizer que um poema sublime retrata a
pessoa romântica. Essa é a pessoa que pressupõe um sistema metafísico que dá mais importância
para o humano do que aqueles que colocam Deus como o ente mais fundamental. Estou pensando
em sistemas que tem mais em comum com os de Kant ou Fichte do que com os de Agostinho ou
Tomás. Além disso, um poema sublime usa métricas menos rígidas do que as medievais, ou mesmo
abdica de métricas. Esse poema também procura pensar a impossibilidade de um primeiro princípio
e/ou o conflito entre a matéria-finita e a imatéria-infinita; o que é da segunda na primeira e vice-
versa. Pense, por exemplo, nos Hinos para a noite do Novalis, publicado originalmente em 1800. Diria
que esse é um poema sublime.

Me parece também que As Flores do Mal de 1857 de Baudelaire tem vários poemas chocantes, feito o
A Viagem sobre o qual já falei. Isso se também não for muito louco assumir que um poema é de
acordo com o choque se e se somente se ele parece indicar que só há, em suma, a matéria finita e é
um poema modernista (bem , ou talvez metamodernista, mas não quero falar de novo sobre a
possibilidade de choque da poesia metamodernista de novo). O que eu quero dizer é que, como
sempre nessas colunas, entendo o poema modernista como um que retrata desviantes, usa uma
linguagem alternativa e faz um elogio e/ou aponta para o novo.

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Talvez um dia eu tente dar condições mais precisas para um poema ser de acordo com o belo, o
sublime ou o choque. Mas o que eu quero fazer aqui é outra coisa. Eu quero defender uma leitura do
poema “Na Antessala” do Antonio Carlos Secchin. Esse poema pode ser encontrado na coletânea
de poemas do Secchin, Desdizer e antes, publicada pela Topbooks em 2017.

A leitura que eu vou defender é que esse poema do Secchin não é belo, não é sublime e não é
chocante. A razão é que esse poema não tem as características que eu mencionei acima. Ele não
satisfaz plausíveis condições necessárias e suficientes para ser de acordo com o belo, o sublime ou o
choque. Mas isso importa pouco. Importa mesmo nada. O que importa é que um quarto critério não
tradicional para se ajuizar sobre o valor estético de um poema pode ser extraído do “Na Antessala”.
E, se esse critério for aceito, o poema do Secchin tem valor estético. Mais explicitamente: o que eu
estou dizendo é que se esse poema for lido nos seus próprios termos, ele tem valor estético.

O critério que eu extraio do poema do Secchin é o que eu vou chamar de acordo com a
autoconsciência. Diria também que o “Na Antessala” indica que um poema é autoconsciente se e
somente se ele mesmo indica e satisfaz o critério por meio do qual seu valor estético deve ser
julgado. Acho que o poema do Secchin satisfaz esse critério. Logo, ele é um poema autoconsciente.

Pra começo de conversa, esse poema indica bem explicitamente que ele não é chocante. Isso porque
o eu-lírico do “Na Antessala” explicitamente diz que seus versos “não valem um só de Pessoa”, que
sua poesia só “foi pastiche / da poesia de Drummond” e que nada na sua obra se parece com a de
“Cecília Meireles”. Eu leio Pessoa, Drummond e Meireles como poetas modernistas tradicionais,
isto é, eles são aqueles que fazem alguns poemas que são de acordo com o choque. Daí, eu
interpreto essas passagens do “Na Antessala” como a maneira do eu-lírico de dizer ao leitor que:
“não me julgue à luz desses poetas modernistas. Faça-me o favor, sim, de nem mesmo pressupor
que acordo com o choque é o critério por meio do qual isso mesmo que eu digo nesse poema deve
ser julgado”.

É mais problemático, mas acho que não é lá muito louco (talvez só um bocadinho louco) interpretar
que esse eu-lírico também está sugerindo que acordo com o sublime e acordo com o belo também
não são os critérios por meios dos quais “Na Antessala” deve ser julgado esteticamente.

Note que o eu-lírico insinua (de leve, eu sei, bem de leve) que ele já teve uma vontade romântica de
nunca publicar nada em vida, de morrer cedo e ser descoberto como gênio depois da morte, tal
como alguns poetas do sublime. Acho que dá pra tomar os seguintes versos como evidência (mesmo

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que um pouco fraca) disso: “Ressoa na minha gaveta / um comido de versos reles”. Note também
que o eu-lírico menciona que ele teve uma experiência muito próxima da dos poetas medievais, os
poetas do belo; “trancafiei-me num mosteiro, / esperando de Deus um dom”. Mas “Na Antessala”
termina assim: “O desavisado leitor / não espere muito de mim. / O máximo, que mal consigo, / é
chegar a Antonio Secchin”.

Minha intepretação é que a conjunção dessas passagens que eu mencionei no último parágrafo são o
modo do eu-lírico dizer ao leitor que: “também não me julgue à luz dos poetas românticos ou dos
poetas medievais. Faça-me também o favor, sim, de nem mesmo pressupor que acordo com o
sublime e acordo com o belo são os critérios por meio dos quais isso mesmo que eu digo nesse
poema deve ser julgado”. “Me julgue”, eu ouço o eu-lírico do poema do Secchin dizendo, “à luz do
critério que esse próprio poema está indicando que ele deve ser julgado”.

Acho que esse critério é o acordo com a autoconsciência e que, se esse critério for aceito, o poema
do Secchin tem valor estético. Isso porque ele indica que ele deve ser julgado por meio desse
critério. Mais: esse poema satisfaz esse critério, ao explicitamente saber-se a si mesmo como um
poema de Antonio Secchin. Isto é: um poema que não é belo, sublime ou chocante, mas
autoconsciente. Isto é: um poema que reconhece a si mesmo como estando “na antessala”, uma vez
que apenas os poemas belos, sublimes e chocantes estão (por assim dizer) “na sala” ou “no grande
salão” que é a história da poesia protagonizada por Dante, Novalis, Baudelaire, etc.

Agora...

Note que a virtude de ser autoconsciente é tradicionalmente vista como sendo epistêmica; não
estética. Daí, ouço a objeção que talvez venha do próprio salão da história da poesia. A objeção é:
você não explicitamente mostrou porque essa visão tradicional deve ser revisada.

Eu responderia dizendo que, bem, não é o poema do Secchin ele mesmo uma razão (talvez mesmo
uma razão suficiente) para revisar essa visão? Assim: dizendo que ser autoconsciente também pode
ser uma virtude estética, não exatamente de uma pessoa, mas de um poema.

Eu espero que sim, mesmo porque acho que eu mesmo sempre tentei escrever poemas
metamodernistas constrangedores, mas também autoconscientes. Quero dizer: a minha pretensão
não é “só” escrever poemas metamodernistas; é também indicar por meio de qual critério esses
poemas devem ser julgados.

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