Sei sulla pagina 1di 3

número

72 GRUPO GLÚCIDOS

100
Polissacarídeos como
biomateriais

Destaque
M . H . G I L , P. FERREIRA*

deos como biomateriais incluem entre


outras: a grande variedade de compos-
Os polissacarídeos são uma classe muito diversa e altamente
tos, densidade próxima dos meios bioló-
versátil de materiais que apresentam aplicações variadas na
gicos e a sua biocompatibilidade.
área dos Biomateriais.
A história dos polissacarídeos como bio-
Contudo, as oportunidades que se mantêm são imensas. materiais inicia-se em 1959, quando
A engenharia de tecidos, entre outras áreas, tem o potencial um derivado de celulose encontrou a
de tratar doenças que neste momento não podem ser tratadas sua primeira aplicação biomédica. Ou-
tros polissacarídeos se seguiram e agora
de forma eficaz.
compostos como a quitina e o seu deri-
vado quitosano, a inulina, e o dextrano,

B
iomaterial é, por definição, todo o em algumas áreas médicas e mesmo entre outros, encontram múltiplas apli-
material, natural ou não, utilizado farmacêuticas, podendo realçar-se o de- cações médicas.
em aplicações biomédicas que senvolvimento de agentes de contraste
CELULOSE. A celulose é um polissacarí-
impliquem a interacção com sistemas para aplicação em imagiologia médica,
deo linear constituído por unidades mo-
biológicos. Existem quatro grupos prin- sistemas de libertação controlada de
noméricas de β(1-4)-D-glucopiranose.
cipais de materiais que podem ser utili- fármacos, hidrogéis e mesmo bioadesi-
Não é solúvel em água e é o polímero
zados nesta área: polímeros, cerâmicos, vos. Este incremento no uso dos polis-
natural e biodegradável mais abundante
metais e compósitos. Os polissacarídeos sacarídeos como biomateriais deve-se
no planeta. Trata-se de um polímero
consistem em polímeros de condensa- ao facto destes compostos apresenta-
caracterizado por regiões cristalinas
ção de elevado peso molecular, com de- rem na sua estrutura grupos funcionais
em grande parte de seu comprimento,
zenas ou mesmo centenas de resíduos como grupos hidroxílicos primários e
entrecortadas por zonas amorfas. Na
de monossacarídeos por cadeia. As secundários, grupos amínicos e grupos
Figura 1 encontra-se representada a es-
unidades de monossacarídeos que os carboxílicos. Qualquer destes grupos
trutura básica da celulose.
constituem podem ser de natureza bá- pode ser usado para promover a deri-
sica, neutra ou acídica, do que resulta vatização química das moléculas ou a Um derivado da celulose foi sintetizado
que os polissacarídeos podem, eles ligação a estas de ligandos específicos. pela primeira vez em 1908 por Jacques
próprios, apresentar qualquer uma das Desta forma, a molécula natural pode E. Brandenberger, na tentativa de de-
características mencionadas ou a com- ser modificada, as suas características senvolver um material para confecções
binação de qualquer delas. químicas e físicas alteradas e a sua apli- que fosse impermeável à água. Desta
Tem havido um grande interesse na cabilidade específica melhorada. Outras tentativa resultou a descoberta de um
aplicação de diversos polissacarídeos vantagens da aplicação dos polissacarí- filme a que se deu o nome de celo-

* MHG é Presidente do Grupo de Química dos


Glúcidos da SPQ e Professora Catedrática do
Departamento de Engenharia Química, Facul-
dade de Ciências e Tecnologia, Universidade de
Coimbra.
PF é docente da Escola Superior de Ciências e
Tecnologia, Pólo de Viseu, Centro Regional das
Beiras, Universidade Católica Portuguesa Figura 1 Estrutura da celulose com ligações β -(1– 4) entre unidades de D-glucopiranose.
número
73

100
fane. Este material viria a ser utilizado A sua estrutura é semelhante à da ce-
Destaque

no desenvolvimento de um sistema lar- lulose, apresentando como única dife-


gamente utilizado na medicina – o rim rença a substituição do grupo hidroxílico
artificial. As membranas utilizadas nes- em C2 presente na celulose por um
tes sistemas para purificação do sangue grupo aminoacetilado na quitina.
(hemodiálise) estão entre os polímeros A sua desacetilação parcial resulta na
que encontram maior aplicação em te- produção do quitosano, que consiste
rapia. num polissacarídeo composto por copo-
límeros de gucosamina e N-acetil gluco-
Materiais de base celulose têm sido apli-
samina (Figura 2).
cados em várias áreas da medicina e Figura 3 Representação da estrutura
não só em hemodiálise, nomeadamente O quitosano tem sido largamente apli- tridimensional de um hidrogel.
como componentes de matrizes para cado em áreas farmacêuticas e biomé-
regeneração óssea (Surgicel ®), vasos dicas. As suas características apelativas
como biocompatibilidade, biodegrada- como tal, irá interagir com moléculas
sanguíneos artificiais (BASYC ®), subs-
bilidade, ausência de toxicidade, pro- carregadas negativamente, nomeada-
titutos temporários de pele (Biofill ®), e
priedades de adsorção, capacidade de mente proteínas, polissacarídeos anióni-
sistemas de libertação controlada (I.
formar membranas, bioadesividade, cos, e ácidos nucleicos.
Levy, T. Paldi, O. Shoseyov, Biomaterials
25 (2004) 1841–1849). actividade microbiana, actividade contra
O quitosano, é um dos polímeros natu-
fungos, bactérias e vírus e o seu poder
rais mais utilizados na preparação de
QUTINA E QUITOSANO. A quitina, o se- hemostático contribuem obviamente
gundo polissacarídeo mais abundante para esse facto. A maioria das caracte- hidrogéis, nomeadamente para subs-
após a celulose, encontrado no exos- rísticas do quitosano pode ser relaciona- tituinte da pele humana em pacientes
queleto dos crustáceos, insectos e nas das com a sua natureza catiónica. A pH queimados (K.S.C.R. Santos, J.F.J. Coe-
paredes celulares dos fungos, é um acídico é um polielectrólito com elevada lho, P. Ferreira, I. Pinto, S.G. Lorenzetti,
homopolímero linear composto por li- densidade de carga com uma carga E.I. Ferreira, O.Z. Higa, M.H. Gil, Inter-
gações β(1-4)-N-acetil-D-glucosamina. positiva por resíduo de glucosamina e national Journal of Pharmaceutics. 310
(2006) 37-45).

Hidrogéis são estruturas poliméricas tri-


dimensionais, hidrofílicas, capazes de
sorverem grandes quantidades de água
ou fluidos biológicos. Estas matrizes são
insolúveis em água devido à presença
de pontos de reticulação químicos ou
a b
físicos (Figura 3).
Os hidrogéis têm também uma vasta
Figura 2 Estruturas parciais da quitina (a) e do quitosano (b). aplicação no campo biomédico e far-
macêutico como sistemas de libertação
controlada de fármacos. Uma vez que
os hidrogéis podem ser preparados com
uma vasta gama de tamanhos de poros
eles podem ser utilizados tanto na liber-
tação de fármacos de pequeno peso
molecular, como por exemplo agentes
anti-inflamatórios, anti-sépticos, anti-
-neoplásicos, como na de solutos de ele-
vado peso molecular, como proteínas,
factores de crescimento, entre outros.
DEXTRANOS. Dextranos são polissaca-
rídeos de elevado peso molecular, que
consistem em unidades de α-D-glucose
ligadas predominantemente por ligações
Figura 4 Representação da estrutura do dextrano. glicosídicas 1-6 (Figura 4).
número
74

100
Os dextranos são formados a partir da

Destaque
sacarose durante o crescimento de bac-
térias pertencentes aos géneros Leuco-
nostoc, Streptococcus e Lactobacillus,
todas pertencentes à família Lactoba-
cillacea. A maioria dos dextranos é, no
entanto, sintetizada pela bactéria da es-
pécie Leuconostoc mesenteroides. Figura 5 Estrutura da amilose, constituída por ligações α-(1-4).

Como a maioria dos polímeros solúveis


em água, as moléculas administradas
com baixo peso molecular (menor que
10KDa) são eliminados do organismo
por filtração glomerular através dos rins.
Para os dextranos com peso molecular
superiores a 40KDa, a sua metaboliza-
ção é conseguida pela acção da enzima
dextranase (dextrano 1,6-glucosidase,
presente em órgãos como o fígado,
baço, rins e cólon) que os degrada a
glicose e que é depois totalmente hidro-
lisada para formar dióxido de carbono e Figura 6 Estrutura da amilopectina, constituída por ligações α-(1-4) e algumas α-(1-6) resultando
numa estrutura ramificada.
água.

Os dextranos são vastamente utilizados sacarídeos, amilose (normalmente 20- (2004) 1841–1849). Nestes últimos,
para aplicações biomédicas devido à -30%) e amilopectina (entre 70-80%), o potencial de nanopartículas e micro-
sua biocompatibilidade, relativo baixo que podem ser separados de acordo esferas de amido funcionarem como
custo, e facilidade na sua modificação. com diferença de solubilidades. transportadores de fármacos tem sido
Dentro destas aplicações destacam-se exaustivamente estudado (M.G. Du-
o desenvolvimento de agentes de con- Ambas consistem em polímeros de uni-
arte, D. Brunnel, M.H. Gil, E. Schacht,
traste para imagiologia médica, sobre- dades de α-D-glucose. No caso da ami-
Journal of Material Sciences: Materials
tudo com o objectivo de aumentar o lose, estas encontram-se ligadas por li-
in Medicine 8 (1997) 321–3; S. Chakra-
tempo de retenção destes compostos gações glicosídicas 1-4, resultando num
borty, B. Sahoo, I. Teraoka, R.A. Gross,
na circulação e síntese de hidrogéis, polímero linear (Figura 5). A amilopec-
Carbohydrate Polymers 60 (2005) 475–
nomeadamente recorrendo à tecnologia tina, por outro lado, apresenta uma liga-
481).
enzimática, ou à oxidação do dextrano ção α-(1-6) a cada 20 resíduos aproxi-
CONCLUSÃO. A celulose, a quitina e o
(J. Maia, L. Ferreira, R. Carvalho, M.A. madamente, o que torna a sua estrutura
seu derivado quitosano, os dextranos
Ramos, M.H. Gil, Polymer 46 (2005) ramificada (Figura 6).
e o amido são exemplos de alguns dos
9604-9614) que são bastante promis- Tanto a amilopectina como a amilose polissacarídeos que maior relevância
sores para fins biomédicos (L. Ferreira, são rapidamente hidrolisadas pela apresentam nas áreas biomédica e far-
M.H. Gil, A.M.S. Cabrita, S.S. Dordick, α-amilase, uma enzima que é segregada macêutica. Existem, no entanto, vários
Biomaterials 26 (2005) 4707-4716). Os pelas glândulas salivares e pelo pân- exemplos de outros polissacarídeos que
dextranos são também utilizados em creas. A α-amilase hidrolisa as ligações podem ser utilizados como biomateriais,
suturas cirúrgicas, como expansores de internas α-(1-4), mas não as ligações incluindo o alginato, agarose, xantano,
volume de plasma e no tratamento de α-(1-6). Da sua acção sobre a amilose gelano, inulina, pululano, ácido hialuró-
anemias tanto em seres humanos como liberta-se a maltose e a maltotriose e da nico, pectina, etc... (S. Dumitriu, P.F.
em animais (R. Mehavar, Journal of acção sobre a amilopectina liberta-se a Vidal, E. Chornet, “Polysaccharides in
Controlled Release 69 (2000) 1-25). maltose, a maltotriose, a α-dextrina e al- medicine” in S. Dumitriu (ed.), Polysac-
gumas moléculas de glicose. charides in medicinal applications, Mar-
AMIDO. O amido ocorre naturalmente
cel Dekker, New York, (1996) 125-241)
em grânulos muito pequenos em raízes, Materiais de base amido têm sido utili-
caules e sementes de numerosos tipos zados para incorporação em implantes Ao longo deste artigo não se esgotaram
de plantas incluindo milho, trigo, arroz, ortopédicos, como substituintes de te- as numerosas potencialidades dos polis-
cevada e batatas: constitui a principal cidos ósseos e na produção de siste- sacarídeos como materiais biomédicos,
reserva nutricional em hidratos de car- mas de libertação controlada (I. Levy, sendo esta uma área ainda em grande
bono das plantas. Consta de dois polis- T. Paldi, O. Shoseyov, Biomaterials 25 expansão.

Potrebbero piacerti anche