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Hansruedi Wipf

HIPNOSE
Saúde e Cura de Maneira Natural

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Hansruedi Wipf

HIPNOSE
Saúde e Cura de Maneira Natural

1ª Edição
São Paulo
2016

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Traduzido da versão em inglês por Mauricio Melo
Revisado por Michael Arruda
Diagramado por Vivian Hernandez Alamo
ISBN: 9783905958416

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Prefácio por Gerald Kein

Meu primeiro interesse pela hipnose surgiu em 1949, aos


10 anos de idade, quando vi um hipnotista de palco ir à casa do
meu amigo para remover a dor do pai dele, que sofria com um
câncer terminal. Eu soube naquele momento que queria ser um
hipnotista. Decidi que iria ler cada livro que pudesse achar sobre
o assunto, mas tive dificuldade de encontrar material. No início
dos anos 50, literatura sobre hipnose era coisa rara. Havia alguns
títulos escritos por médicos sobre como usar a prática na profis-
são, mas eu era um jovem garoto, não tinha acesso a esse tipo de
informação. Um dia, no entanto, me deparei com um anúncio,
nos classificados de uma revista chamada Popular Mechanics, em
que havia dois livros sobre o tema. O primeiro chamava-se “How
to Hypnotize Women” (Como Hipnotizar Mulheres). O segundo
era o “25 lessons in hypnosis” (25 lições de hipnose). Ambos ti-
nham em torno de 60 páginas e, para a época, reuniam ótimas
técnicas.
Naqueles anos, não tínhamos fitas de vídeos ou áudios,
CDs, MP3’s, nem internet. Era muita sorte ou acaso nos deparar-
mos com algum material usado que pudesse ser útil aos estudos.
Por isso, no nosso desenvolvimento profissional da hipnose,
tudo o que fazíamos era experimentar e ver se algo funcionava.
O material de que dispúnhamos era muito básico e focado em
induções no estilo de relaxamento progressivo, seguidas por hip-
nose de simples sugestões diretas. Atualmente, há uma seleção
ilimitada de todos os tipos de livros, áudios ou vídeos sobre hip-
nose - mais do que você pode imaginar -, mas a maior parte des-
ses conteúdos é repetitiva, quase não há informação nova, e os
poucos títulos, realmente relevantes, foram escritos principal-
mente para os praticantes da hipnose, no intuito de ajudá-los a
melhorarem suas práticas.

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Quando Hansruedi Wipf comprou meu negócio, a Omni
Hypnoisis Training Center, em 2013, eu sabia que ele era uma pes-
soa muito especial, pois tinha como objetivo principal levar a
prática da hipnose a novos níveis de excelência. Ele fez o negócio
crescer a ponto de ser o mais reconhecido e respeitado centro de
treinamento de hipnose do mundo. A Omni Hypnosis Training
Center é a primeira (e até então única) organização de ensino de
hipnose com a certificação ISO 9001. Isso é um marco para a pro-
fissionalização e aceitação global da hipnose e da hipnoterapia
moderna. Eu, pessoalmente, comparo essa conquista à do Dave
Elman quando descobriu uma forma confiável de alcançar o so-
nambulismo.
Ao longo dos anos, Hansruedi comprou praticamente to-
dos os livros que podia achar sobre o tema e descobriu que havia
uma grande lacuna na literatura da área destinada ao público em
geral. Por isso, resolveu escrever este livro que, na minha opi-
nião, é inédito pelo fato dele tê-lo produzido com o público geral
em mente. O Hansruedi sabe que a maioria das pessoas do
mundo desconhece a hipnose e, quando arriscam alguma expli-
cação, geralmente é algo equivocado. O que conhecem está base-
ado em filmes, livros ou hipnoses de palco, que passam impres-
sões distorcidas sobre como a hipnose realmente funciona e o
que ela pode fazer na vida de uma pessoa comum.
Este livro quebra tabus ao desmistificar a prática. Ele nos
leva, passo a passo, ao processo típico da hipnose, discutindo
como as coisas funcionam em cada uma das etapas de uma ses-
são normal. Quando você terminar a leitura, terá um excelente
conhecimento prático, principalmente sobre como a hipnose
pode ajudá-lo a transformar sua vida.
Embora este livro seja escrito principalmente para os indi-
víduos sem formação na área, ainda assim é extremamente vali-
oso para o hipnotista praticante. Aqui, Hansruedi explica várias
técnicas novas e diferentes de hipnose, que outros hipnotistas
provavelmente não aprenderam em seus treinamentos.

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Eu estou particularmente bem empolgado, pois é uma obra
que sempre desejei escrever, mas nunca tomei a iniciativa de
fazê-lo. E está surgindo no momento perfeito do nosso desenvol-
vimento profissional, para ajudar a avançar cada parte da nossa
profissão e promover um maior salto no conhecimento dela,
dando suporte a qualquer pessoa que está considerando visitar
um hipnoterapeuta ou mesmo alguém que pensa em se tornar
um profissional desse tipo. Realmente, acho que este livro deve-
ria se tornar parte do acervo pessoal de todo mundo. Será uma
ótima fonte de referência, que se manterá atualizada por muitos
e muitos anos.
Ao longo do tempo, treinei milhares de estudantes no uso
profissional da hipnose. Em todas as turmas, eu disse a cada um
dos alunos a mesma coisa: “Se tudo o que você fizer for pegar a
informação que estou passando e usá-la, então saia dessa profis-
são, porque você não fará nada para desenvolvê-la. Todos os dias
você deve tentar algo novo, no intuito de contribuir para que o
nosso conhecimento da hipnose cresça”. Hansruedi carrega essa
ideia no coração e este livro reflete um tremendo avanço no
nosso conhecimento da hipnose. Eu gostaria de agradecê-lo por
escrever esta obra necessária e que tem condições de ajudar o pú-
blico em geral a entender de verdade as mudanças positivas
substanciais que as pessoas podem ter por meio do uso da nossa
profissão.

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Sumário

Prefácio ................................................................................................ 5
A hipnose mudou a minha vida .................................................... 13
Introdução......................................................................................... 16
Abra a gaveta! ............................................................................. 27
Hipnose – Esclarecendo dúvidas................................................... 29
Todo mundo pode ser hipnotizado?........................................ 31
Você tem que acreditar em hipnose para que ela funcione? 33
Como é a sensação e quanto tempo demora até que se esteja
em hipnose? ................................................................................. 35
A hipnose de palco é legítima? ................................................. 38
Como a hipnose pode me ajudar? ............................................ 40
Aprender hipnose é fácil ........................................................... 45
Sete dias para tornar-se um hipnoterapeuta .......................... 48
Comportamentos abusivos ....................................................... 50
Casos criminais alegados........................................................... 51
Terminologia da hipnose ................................................................ 52
Palavras equivocadas ................................................................. 53
A nossa “língua” ......................................................................... 55
A aplicação da hipnoterapia em diferentes países ................ 65
História da hipnose ......................................................................... 68
Dave Elman e Gerald F. (Jerry) Kein ....................................... 71
Compreendendo a mente - Três ou quatro níveis? ..................... 77
A mente consciente .................................................................... 81
Memória de curto prazo ....................................................... 82
Força de vontade ................................................................... 83
As faculdades lógicas, analíticas e racionais ..................... 84
O fator crítico ......................................................................... 86
A mente subconsciente .............................................................. 87
Memória de longo prazo ...................................................... 88
Autoproteção ......................................................................... 92
Sentimentos e emoções ......................................................... 95
Hábitos .................................................................................... 96

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A mente inconsciente ................................................................. 98
A mente superconsciente ........................................................ 100
Os sintomas e suas causas ............................................................ 101
ECI, ECS e ECF.......................................................................... 103
O que há por trás do problema ............................................... 103
A biblioteca ................................................................................ 106
A fórmula, como um ECI ocorre ............................................ 110
Medo da perda .......................................................................... 111
Um ECI ou ECS deve ser sempre de natureza terrível? ...... 116
A fórmula de prontidão para a mudança ............................. 118
Compounding negativo........................................................... 121
Compounding positivo............................................................ 124
Como os ECIs e os ECSs são resolvidos? .............................. 125
Exceções na ocorrência de ECIs .............................................. 128
Observações importantes - A primeira consulta ....................... 130
A sessão de hipnoterapia......................................................... 133
Proximidade ......................................................................... 134
Tom de fala ........................................................................... 135
Importância do pre-talk ...................................................... 136
Anamnese ............................................................................. 138
Pre-talk de hipnose.............................................................. 139
Estar em hipnose é estar desperto..................................... 140
E se o meu médico desaconselhar a hipnose? ................. 144
Esclarecendo quaisquer questões em aberto do cliente ...... 148
Como saber se eu estava hipnotizado?.................................. 151
Resumo dos objetivos e expectativas do cliente ................... 153
Hipnose profunda versus leve................................................ 154
Experienciar versus relembrar ................................................ 155
Dicas para hipnose e auto-hipnose ........................................ 157
Sessão individual versus sessão em grupo ........................... 160
Sessão geral versus sessão com tema único .......................... 162
CDs e arquivos MP3 ................................................................. 163
A prática - Indução hipnótica e aprofundamento ............... 164
A hipnoterapia .......................................................................... 166
Tirar alguém da hipnose e conversa pós-hipnótica ............. 167

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Discutir a sessão e, se desejado, agendar mais sessões ....... 168
Feedback .................................................................................... 169
As quatro atitudes em relação a sugestões ................................ 170
Os sete diferentes níveis de hipnose ........................................... 174
O estado hipnoidal ................................................................... 177
Sonambulismo .......................................................................... 178
Hypno-Sleep.............................................................................. 182
O Estado Esdaile ....................................................................... 183
Onde podemos aplicar melhor o Estado Esdaile ou "coma
hipnótico"? ............................................................................ 185
Informações importantes sobre o tema da terapia da dor
................................................................................................ 186
Burnout/Exaustão ............................................................... 188
"Ficar preso na hipnose" ..................................................... 189
Ultra-Depth®/Estado Sichort .................................................. 191
Ultra-Height® ............................................................................ 192
Ultra-Healing® .......................................................................... 194
Exemplo de Ultra-Height®/Ultra-Healing ...................... 195
As crianças e a hipnose ................................................................. 198
Verrugas de passagem .................................................................. 200
Quando e para quem a hipnose não funciona? ......................... 201
Doença em estágio terminal .................................................... 204
Uma história de dor ................................................................. 205
Hipnose no dentista ...................................................................... 209
Áreas de utilização na odontologia........................................ 210
Fobia de dentista acompanhada de vômitos ........................ 213
Possíveis áreas de uso na hipnose moderna .............................. 217
Casos gerais ............................................................................... 221
ELA - Esclerose lateral amiotrófica ........................................ 222
Alergia a frutos do mar............................................................ 224
Depressão pós-parto ................................................................ 227
Hipnose de emergência ........................................................... 229
O título do campeonato ........................................................... 231
Medos e Fobias.......................................................................... 234
Medo de cavalos eliminado em sete minutos ................. 236

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Preocupações éticas com a hipnose instantânea .................. 238
Burnout ...................................................................................... 239
Controle de emoções ................................................................ 242
EM - Esclerose múltipla ........................................................... 246
SII – Síndrome do intestino irritável ...................................... 249
Vidas passadas .......................................................................... 252
Quatro teorias para vidas passadas .................................. 254
Equilíbrio e tremor ................................................................... 256
Hipnose Omni, um caminho seguro ........................................... 258
O menino hiperativo, um caso quase perdido .......................... 261
Resolva problemas com a hipnose e diminua os medicamentos
.......................................................................................................... 264
Crônico, incurável. ................................................................... 267
Aprenda a viver com isso ............................................................. 267
Religião e hipnose .......................................................................... 269
Ao mestre, com carinho ................................................................ 271
50 anos - um clássico em hipnose e hipnoterapia ..................... 272
Observações finais ......................................................................... 274
Dedicatória e apreço ...................................................................... 275
Sobre o autor .................................................................................. 278
Histórico pessoal e principais marcos ................................... 281
Apêndice ......................................................................................... 285
Presença na Internet ................................................................. 286
Informações de contato ............................................................ 286
Hipnose, susceptibilidade hipnótica, questionário
antes/depois ............................................................................. 287
Outras leituras recomendadas ..................................................... 288

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A hipnose mudou
a minha vida
Depoimento de Patrick Meyenberger, cirurgião dentista

O ano de 2010 foi um divisor de águas para mim. Foi o


quinto ano depois de me formar pela Universidade de Berna e
eu havia acumulado experiência profissional suficiente para rea-
lizar tratamentos dentários com a rotina bem estruturada, desde
que tudo estivesse dentro de um quadro normal. Eu era, no en-
tanto, repetidamente confrontado pelas minhas limitações
quando um paciente tinha medo demais ou ocorria um incontro-
lável reflexo de engasgos, ou as crianças eram simplesmente in-
capazes de se concentrar. Esses obstáculos dificultavam o meu
trabalho. Admito, no entanto, que sempre tive um certo talento
para esses pacientes. De alguma forma, ainda hoje, parece que eu
os atraio quase que magicamente.
Na maior parte das vezes, eu era capaz de tratá-los de ma-
neira eficaz com muita conversa e uma abordagem sensível. Tra-
balhar com eles, porém, sempre consumia uma quantidade
enorme de tempo e energia. Depois de tais sessões, muitas vezes
eu me encontrava esgotado, desejando fazer uma pausa longa
até a próxima consulta. Claro, poderíamos tratar esses pacientes
muito difíceis no hospital, sob narcose completa, todas as vezes,

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e seus dentes ficariam muito bem. Mas não resolveríamos o pro-
blema original: o medo do dentista, que ainda estaria presente,
apesar do medicamento. Eu passei a procurar uma outra forma
de ajudá-los, mais eficaz e que não me desgastasse tanto.
De vez em quando, tropeçava no termo "hipnose", com-
prava livros e participava de cursos, mas o assunto sempre se
manteve insondável. De duas, uma: ou eu era incapaz de expres-
sar o que a hipnose realmente é e o que acontece de forma exata,
ou os métodos de indução aprendidos levavam tanto tempo que
a prática era simplesmente inadequada na atividade diária de
um consultório dentário. Acima de tudo, eu nunca tinha certeza
se, no final, as pessoas estavam realmente em hipnose ou não.
Até o final de 2009, o meu fascínio por esse assunto havia
diminuído bastante. Foi então que, em um encontro de dentistas,
eu conheci Hansruedi Wipf. Ele possuía uma paixão pelo tema e,
em sua palestra, expôs uma forma moderna de hipnose com
tanta clareza e verdade que, mais uma vez, dei chance ao assunto
e me inscrevi para o treinamento em abril de 2010.
Talvez tenha sido coincidência que no momento exato do
meu treinamento OMNI mais pacientes difíceis apareceram no
consultório. Mas o que aprendi com Hansruedi Wipf me ajudou
muito. A clareza com a qual Dave Elman e Jerry Kein definiram
a hipnose e, logicamente, chegaram a um consenso era de tirar o
fôlego. Na semana seguinte ao curso, eu tinha condição de expli-
car aos meus pacientes, em poucas palavras, que poderia ofere-
cer-lhes algo novo. Eu era capaz de trazê-los para um estado de
relaxamento maravilhoso, totalmente diferente das lágrimas e
espasmos temerosos que tinham. Seus relatos precisos sobre
quão notável essa experiência foi para eles me motivaram a pros-
seguir. Mesmo que eu não use a hipnose com todos os pacientes,
logo de cara ela me ajudou, especialmente com aqueles que ti-
nham muito medo, ou os que apresentavam um reflexo de en-
gasgos, e crianças. Essa formação mudou completamente a mi-
nha prática diária.

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Este livro chega ao coração da hipnose. Nenhum outro co-
munica melhor os fundamentos e a teoria dessa hipnoterapia
moderna, muito eficiente e avançada. Agradeço a Hansruedi
Wipf por simplificar as explicações teóricas e fazer as conexões
lógicas de forma facilmente compreensível. Já era chegada a hora
de explicar ao mundo que a hipnose não é nada misteriosa, difícil
de entender, ou mesmo perigosa e que ela tem condições de aten-
der às necessidades de cada um. Você vai ver aqui como pode-
mos aprender a encontrar o caminho de volta para nós mesmos
e ativar o poder de cura que reside em nosso interior. Por isso,
este título tem condições de se tornar a pedra angular de um
novo tempo.
Desejo a você muitos aprendizados a seguir e espero que
aplique esse conhecimento, seja como um terapeuta ou como um
paciente. A hipnose mudou positivamente a minha vida e eu de-
sejo o mesmo para você.
Agosto de 2014

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Introdução

Se há um método que pode ajudar as pessoas a resolverem


os seus problemas e desafios diários ou mesmo questões bastante
complicadas, esse método é a hipnoterapia. Mas por falta de
informação e uma série de preconceitos, sobretudo no que diz
respeito ao significado da prática, acabamos por ignorá-la. Que
fique claro: todos os dias, de forma natural e espontânea,
experimentamos a hipnose. Só que pode ser algo tão fugaz a
ponto de passar despercebido. Entretanto, assim como acontece
com os pensamentos, difíceis de serem explicados, pois ninguém
os vê, é indiscutível que ela seja sentida e até mesmo manifestada
por todos.
Mas afinal, onde encontramos a hipnose? Quando estamos
sonhando acordados, dirigindo um carro, na escola, no cinema,
nos esportes, lendo um livro, em meditação, pouco antes de
adormecer ou acordar, ou seja: quase sempre e em toda parte,
ainda que ela não seja notada ou verdadeiramente reconhecida.
Os melhores atletas podem reconhecê-lo como “estando no
fluxo", aquele estado onde o pensamento fica em segundo plano,
quando tudo vai bem automaticamente, fluindo suavemente
todo o tempo. Um compositor ou autor sente como as notas ou
palavras simplesmente fluem. Um leitor se vê envolvido em um

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conto emocionante, sentindo a emoção e tendo total empatia com
os personagens. Se forem chamados, eles dificilmente notam na
primeira vez. Um motorista de carro chega em casa e não se
lembra de nada sobre a viagem por estar tão profundamente
imerso em pensamentos, mas isso não interfere no trajeto, feito
com segurança.
O estado de hipnose tem um espectro tão incrivelmente
amplo de altos e baixos, de percepções e sensações, que qualquer
tentativa de o descrever com precisão é praticamente destinada
ao fracasso. O ideal é que, primeiramente, se experimente a
hipnose intencionalmente para melhor reconhecê-la na vida
diária.
Por isso, faz-se necessário que haja um melhor
entendimento do fenômeno da hipnose. Esta foi a minha
motivação inicial para escrever o livro. Quero que ela seja
compreendida como uma ocorrência natural. Algo do tipo:
“apresentar você ao seu médico interior, aquele que sempre
esteve lá”. Você pode confiar nele para estar sinceramente ao seu
lado, ajudando-o a resolver adversidades e, até mesmo, a curá-lo
de doenças. Nem sempre é fácil de entender, mas o seu poder
puro e inacreditável, e sua eficácia na concretização de mudanças
na mente subconsciente, podem influenciar positivamente sua
vida se utilizados corretamente.
Quando começamos a definir o público-alvo para este
livro, não estávamos todos de acordo. Deveria ser um manual
para hipnotistas ou um livro destinado ao público em geral? Em
princípio, minha ideia era escrever um manual, já que meus
alunos perguntavam sempre por livros sobre hipnose realmente
bons no idioma alemão e eu só tinha recomendações de títulos
em inglês - desses que refletem a minha filosofia de trabalho e
são fáceis de entender.
Ao produzir este material, optamos, então, por uma leitura
abrangente, que alcance o maior número de pessoas possível,
pois é necessário que deixemos de lado as formas nada efetivas

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de resolução de problemas e tornemos a hipnose conhecida e
clara. Eu sempre explico aos meus alunos durante o treinamento
que somos parcialmente culpados pelo fato de o assunto não ser
levado a sério. Afinal, cabe a nós – conhecedores do tema –
disseminarmos a hipnoterapia com responsabilidade,
dissipando equívocos e apresentando a sua real capacidade
terapêutica.
Queremos colocá-la onde ela pertence: no topo da lista dos
métodos que as pessoas consideram quando querem enfrentar os
seus problemas ou desafios. Seja em conjunto com a medicina
convencional, ou como a primeira escolha. Deve ser uma das
opções sobre a mesa, não apenas para os já convencidos de que
se trata de uma boa alternativa, mas também para o público em
geral.
Então, neste livro vou mergulhar profundamente nas
amplas aplicações terapêuticas da hipnose para explicá-la,
desmistificá-la e estabelecê-la como a valiosa forma de
tratamento que é. Infelizmente, há várias pessoas em terapias de
longo prazo, que prolongam desnecessariamente o seu
sofrimento e, muitas vezes, no máximo tornam seus sintomas
mais toleráveis. Em todos os casos, elas poderiam ser ajudadas
de modo mais efetivo e rápido com uma moderna hipnoterapia
focada na causa.
É hora de trazer o tema à baila. Algumas coisas escritas
aqui talvez não sejam politicamente corretas e podem me trazer
mais inimigos do que amigos, mas se alguns dos meus leitores se
sentirem provocados ou inclinados à procura por esse trata-
mento, então eu me darei por satisfeito! Quero – sem ofensas –
incentivar a pensar e, sobretudo, sugerir que o leitor saia da le-
targia do que, por inúmeras convenções, a ele foi apresentado
como exclusivamente correto.
É importante mencionar que no centro da hipnoterapia,
deve haver apenas uma coisa: o bem-estar dos clientes. Se pode-
mos resolver um problema em uma única sessão, então é o que

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faremos. Ponto. Nós não vendemos um pacote ou terapias a
longo prazo: "Oh, isso é complicado. Você tem essa fobia já há
tantos anos! Ok, vamos agendar dez sessões e depois veremos
como você se sente". Não é frustrante?
O que os clientes pensam quando ouvem isso? Provavel-
mente, eles aceitam o julgamento como foi sugerido: trata-se de
um caso complicado. Dificilmente podem imaginar que um pro-
blema já arrastado ao longo de anos poderia ser resolvido em
uma única sessão. Nesse ponto, a mente inconsciente registra dez
sessões e o terapeuta (seja ele hipnotista ou psicoterapeuta) já fez,
sem saber, a primeira sugestão de hipnose em vigília: "Dez ses-
sões. Eu não posso ter expectativa de me sentir melhor mais
cedo".
Eu quero abolir paradigmas assim. Sem balançar o barco,
isso não acontecerá e por isso decidi abrir mão completamente
do politicamente correto, mas o farei de forma tão clara e precisa
quanto possível e com cuidado e responsabilidade, como agem –
certamente – inúmeros terapeutas ao redor do mundo.
Como este livro é para o público em geral, vou explicar cla-
ramente a hipnose e a hipnoterapia, bem como seus funciona-
mentos sem incluir especificidades que possam dificultar o en-
tendimento. Meu desejo é que todos que lerem este livro possam
levar o conteúdo adiante, recomendando sem hesitar esta prática
terapêutica. Isso significa que vou evitar palavras complicadas,
estatísticas e muita argumentação. Que bem iria fazer se eu des-
crevesse a hipnose de tal forma que você ainda continuasse co-
çando a cabeça?
A ciência está lentamente começando a confirmar muitas
coisas que nós sabemos há décadas. Isso é bom, porque minhas
opiniões sobre o óbvio serão reconhecidas e admitidas ainda
mais rapidamente. Existem inúmeros métodos mais ou menos
eficazes aceitos pelas companhias de seguros de saúde, mas a
hipnose ainda não o é em todos os lugares. É um pouco estranho
mas, para mim, nada surpreendente.

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Nosso cérebro, que pode parecer altamente complexo, é or-
ganizado de modo muito mais simples do que imaginamos e,
com sabedoria, o usamos a nosso favor para conseguir mais ra-
pidamente os resultados desejados a longo prazo. Vou apresen-
tar e descrever aqui métodos e técnicas que, para muitos hipno-
tistas tradicionais provenientes da medicina convencional, ou
aqueles que estudam psicologia, abrem novos caminhos ou pa-
recem quase revolucionários, mesmo que eles tenham aprendido
uma ou outra forma de hipnose. De antemão: É muito impor-
tante para mim o que se faz no estado hipnótico. A forma como
se conduz a sessão é que faz toda a diferença.
Os métodos e técnicas descritos e ensinados no meu curso,
bem como as filosofias que os acompanham, circulam por aí
desde os anos 1940. No entanto, eles nunca haviam realmente se
tornados públicos ou sido aceitos até o momento, sobretudo por
conta do famoso treinamento de Milton Erickson. O conheci-
mento do estado de hipnose é realmente antigo, mas apenas
desde os anos 40 sabemos como ela pode ser orientada especifi-
camente para terapia: clinicamente, cirurgicamente, por assim
dizer, e não mais apenas como algo genérico, muito frequente-
mente deixado ao acaso. Para mim, quando orientada, significa:
um processo direcionado claro, reprodutível, simplesmente re-
petível, capaz de ser documentado, fácil de aprender, e, acima de
tudo, objetivo e focado nos resultados.
O Juramento de Hipócrates aplicado de maneira eficiente,
a partir da perspectiva do cliente/paciente. Sem sessões nume-
rosas, sem parábolas morais agradáveis de se ouvir e sem leitura
de roteiros carregada de metáforas ou similares, muitas vezes in-
tervenções inúteis que podem de fato trazer bem-estar no curto
prazo, mas que não têm nenhum efeito a longo prazo, uma vez
que apenas mascaram o problema em vez de eliminá-lo.
A catástrofe, se posso chamar assim, é que desde os anos
1940 tivemos um conhecimento muito determinado sobre como
a hipnoterapia focada na causa funciona e pode ser aplicada, mas

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ignoramos, suprimimos, ou bloqueamos partes desse conheci-
mento; sim, até mesmo lutamos ativamente contra ele. Há grava-
ções em que um certo Dr. Milton Erickson, de uma maneira ex-
tremamente arrogante, tenta tirar sarro de um homem chamado
Dave Elman. Um homem temido por ele, já que o bom doutor
não poderia explicar o sucesso do Sr. Elman. Um homem que es-
tava milhas à frente dele na filosofia e metodologia de como
abordar problemas. Ele não portava o título de doutor mas, pro-
vavelmente, foi o hipnotista mais marcante do século 20 e um
excelente hipnoterapeuta, um inovador criativo, um pioneiro da
hipnoterapia moderna e focada na causa. Que entendeu, melhor
do que ninguém, como ir direto ao coração da terapia.
Dave Elman, a quem dedico um capítulo inteiro, e repeti-
damente menciono, compartilhou seu conhecimento com mais
de 10.000 médicos, psiquiatras e dentistas. Onde é que esse co-
nhecimento está hoje? A glorificação de Milton Erickson, o pre-
sumido "deus da hipnose", acarretou em um prejuízo para aque-
les que necessitam de ajuda. Com a sua atitude de que só os mé-
dicos deveriam ensinar os médicos, o conhecimento valioso caiu
no esquecimento.
Isso teria sido um desastre não fosse o trabalho de um ado-
lescente chamado Jerry Kein, que foi autorizado a acompanhar
Dave Elman e fazer gravações importantes para ele. Jerry Kein
manteve o legado do hipnotista depois de sua morte, em 1967, e
foi o único que lhe deu crédito pelo que realizou. Há também um
capítulo inteiro sobre Jerry Kein, seus desenvolvimentos posteri-
ores e contribuições valiosas para a hipnoterapia, como o Ultra-
Height®, a Terapia Universal1 e a hipnose paliativa única.
Meu objetivo com este livro é que mais pessoas prestem

1A “Terapia Universal” de Jerry Kein compreende todas as formas


aprendidas de terapia de hipnose exceto a regressão.

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alguma atenção séria na hipnose e a deem uma oportunidade ho-
nesta, concreta; que abram as portas a este tema!
"Trabalhamos com o poder elementar do subconsciente e
ninguém realmente sabe a extensão do que é possível, mas pode-
mos imaginar isso. Eu vejo que é meu trabalho testar esses limi-
tes e questioná-los."
Há sempre aqueles que advertem contra a hipnose, conti-
nuamente insistem sobre a possibilidade da chamada retrauma-
tização - a palavra da moda usada para incutir medo e insegu-
rança -, reivindicando que há um enorme perigo e definitiva-
mente não se deve mais mexer com isso por conta de extremas
contra-indicações. Esses opositores vêm, principalmente, dos
campos da psicologia e da medicina, ou são terapeutas que não
lidam realmente com a hipnose (ou com a diferença entre mas-
carar e resolver problemas = métodos de causa e resolução), ou
que não têm regularmente trabalhado com esses métodos. Mui-
tos até se permitiram ser intimidados por seus professores, dei-
xaram sua autoconfiança como terapeutas diminuir sem nunca
ter colocado seus conhecimentos à prova.
Sinceramente, quando foi a última vez que você ouviu ou
leu sobre alguém morrendo durante uma sessão de hipnose ou
como resultado dela? Sobre uma overdose de hipnose ou uma
infecção hipnótica que levou a complicações com um final fatal
infeliz? Nunca? Você nunca vai ouvir nenhuma dessas coisas,
porque a hipnose, tendo em conta apenas algumas regras, é cla-
ramente o método mais seguro, mais natural e mais suave de tra-
zer mudanças rapidamente e, acima de tudo, ela só pode aconte-
cer com o consentimento consciente do cliente. Você não pode
ficar preso em hipnose ou ser hipnotizado contra a sua vontade.
Essa desinformação, muitas vezes, vem da repetição indiscrimi-
nada de algo que se ouve ou lê, ou de filmes em que a hipnose é
usada para fins duvidosos. Mas esse é exatamente o ponto: um
filme é uma história inventada, feita para cativar!
Mesmo entre os hipnotistas, existem diferenças de opinião

22
sobre o que a hipnose realmente pode ou não fazer e que contra-
indicações supostamente existem. Há cursos variados de treina-
mento de hipnose que tocam em diferentes princípios, filosofias
e abordagens. Cursos quase que de mundos distintos e com in-
formações mal orientadas que apontam a hipnoterapia como um
processo moroso com resultados que raramente alcançam um
potencial pleno devido aos próprios medos dos hipnotistas, suas
dúvidas e doutrinas limitantes.
Vou fazer afirmações muito claras e pronunciamentos so-
bre o que a hipnose é e o que pode fazer, mas também o que de-
finitivamente não é e o que não pode fazer. A compreensão com-
pleta está faltando no mundo de hoje – a hipnose ou é subesti-
mada ou superestimada mais do que qualquer outro método de
tratamento.
Sem a compreensão adequada, não podemos seguir em
frente Enquanto ainda houver "especialistas" que proclamam na
televisão e em outros meios de comunicação que a hipnose não é
adequada para isto ou aquilo, ou que apenas médicos ou psico-
terapeutas podem praticá-la - porque, caso contrário, seria muito
perigoso -; enquanto ainda for afirmado realmente que sair da
hipnose é um processo complicado (algo que qualquer criança
pode fazer sozinha e, naturalmente, por sinal); enquanto essas
coisas ainda persistirem, haverá demanda para o que apresento
aqui. Este livro deve dar ao leitor informações e munição ade-
quadas para insistir sobre a hipnose como uma terapia de su-
porte opcional quando for consultar o seu médico ou terapeuta,
ou para insistir nisso exclusivamente como um meio eficaz, pro-
curando por um hipnoterapeuta competente.
Além disso, para melhor esclarecimento, vou descrever vá-
rios casos dentre as milhares de sessões que tenho conduzido.
Por si só, essas seriam difíceis de se entender sem uma explicação
do funcionamento da hipnose e hipnoterapia, bem como técnicas
e metodologia. Então, quero te fazer um pedido: por favor, inde-
pendentemente do caminho que adotar, leia o capítulo sobre a

23
explicação da hipnose e como ela funciona completamente antes
de ir para o resto do livro. Só assim você será capaz de compre-
ender plenamente as origens de problemas e as abordagens para
resolvê-los.
Quando for capaz de explicar, coerentemente, a hipnose
para os outros, então o objetivo foi atingido. Você poderá ajudar
a estabelecê-la aos olhos do público para ser o que ela realmente
é: um método rápido e eficiente de tratamento para muitos pro-
blemas. Auxiliará os outros a encontrarem uma nova opção em
suas vidas, apoiando-os assim para enfrentar seus problemas e,
no melhor dos casos, resolver, ou pelo menos diminuir, o seu so-
frimento.
Este livro pode realmente ser visto como uma provocação
amigável. Eu quero que você questione as regras estabelecidas,
que olhe o outro lado. Apenas veja esses pontos de vista e analise
como se parecem. Deixe-se inspirar pelas experiências e resulta-
dos escritos aqui para ver a hipnose como ela realmente é e usá-
la desta forma. Você pode até mesmo apreciá-la, a menos que
você pertença àquele segmento da indústria da terapia que não
se concentra de fato diretamente no cliente, porque está domi-
nado por um medo existencial e o seu maior desafio está na cons-
tante aquisição de novos pacientes.
"Tudo é possível em apenas uma única sessão. Dê uma
chance à hipnoterapia.”
"Um problema só é realmente resolvido quando é remo-
vido da mente subconsciente, o que só pode acontecer por meio
de comunicação direta com a mente inconsciente; a hipnose de
elucidação faz isso - automaticamente, naturalmente, e de forma
direcionada!"
Um grande número de médicos, dentistas, psiquiatras e
psicólogos concluiu o treinamento OMNI - todos eles saíram ani-
mados e disseram que gostariam de ter adquirido esse conheci-
mento muito mais cedo. É sobre ele que vou me debruçar aqui.

24
Quero surpreender e impressionar, despertar a curiosidade so-
bre algo que é comum e totalmente natural, mas mal percebido,
muitas vezes transfigurado, e visto de forma equivocada.
Oitenta por cento das hipnoterapias que ocorrem até agora
se parecem muito com isto: você agenda uma sessão de terapia
com um hipnotizador que encontrou online, ou com alguém que
escreveu um artigo que você leu, ou que lhe foi recomendado.
Chega na clínica, que lhe dá uma impressão mais ou menos pro-
fissional. Sua informação é tomada com maiores ou menores de-
talhes, e você pode ou não ouvir uma pequena palestra sobre o
tema da hipnose. Em seguida, se deita sobre uma mesa de mas-
sagem, ou, se tiver sorte, senta em uma confortável poltrona re-
clinável ou cadeira. Posteriormente, o hipnotizador lhe diz para
fechar os olhos, e pelos próximos 30 a 45 minutos, ou mais, você
vai ouvi-lo falar, provavelmente lendo algum texto preparado,
enquanto toca ao fundo algum tipo de música que deveria ter um
efeito hipnótico em você. Em algum momento você pode come-
çar a se sentir desconfortável.
Durante todo o processo, pensamentos entram em sua
mente, como: "eu posso ouvir tudo! Como isso pode ser? Eu po-
deria simplesmente abrir os olhos, se eu quisesse". Talvez você
se pegue dormindo durante o procedimento e é dito mais tarde
que isso não é nenhum problema, que é eficaz de qualquer ma-
neira - o que você corretamente julga como não sendo verdade.
Certo? Milhares de sessões de hipnose foram realizadas assim ou
de forma semelhante. Isso é o que eu chamo de Hipnose "lave-
me, mas não me molhe"2, que produz principalmente um resul-
tado: a desculpa "tentei hipnose, mas não funcionou". Infeliz-
mente, essa é uma epidemia que durante décadas tem dado à

2NOTA DO TRADUTOR: Essa é a tradução livre da expressão em ale-


mão “wasch mich, aber mach mich nicht naß” que é falada quando al-
guém quer ter tudo e com facilidade. A expressão mais próxima em
português seria “Não se pode ter tudo”.

25
prática uma má reputação que ela não merece! Esses são os cha-
mados "scriptnotistas" - hipnotistas ou hipnoterapeutas que lêem
um ou outro texto preparado, também chamado script, carregado
de esperança de que algum pingo de benefício estaria escondido
nele. Problemas reais são tratados ou resolvidos somente no mais
raro dos casos. De fato, há alguns em que esses scripts podem ser
bem-sucedidos, já que eles soam tão maravilhosos e fazem você
se sentir muito bem, mas são, nesses casos, apenas paliativos. Os
textos se originam, na maioria das vezes, na internet, mas a abor-
dagem "tamanho único" está fadada ao fracasso, porque todos
são indivíduos com diferentes experiências de vida. A maioria
das pessoas nem sequer têm a impressão de que elas estavam
realmente em hipnose. Isso precisa mudar.
Para ser justo, deve-se dizer neste ponto que obviamente
há exceções positivas em que tal intervenção ajudou o cliente
com sucesso, mas a porcentagem é baixa, e se o meu dinheiro
(como cliente) está em jogo, é demais para se deixar ao acaso.
Essa forma de hipnoterapia é realmente melhor do que nada,
mas muitas vezes é uma oportunidade perdida para o cliente que
estava esperando algo a mais. Se você já teve essa experiência e
ficou desapontado, encontre um hipnotista mais competente que
entenda os métodos e técnicas atuais focados na causa e saiba
como aplicá-los. Você vai aprender mais adiante neste livro como
fazer isso. E se você se encontra em uma terapia “lave-me, mas não
me molhe”, como descrito acima, e não está progredindo, leia este
livro até o fim e em seguida decida se realmente deseja continuar
dessa maneira. É importante ressaltar que eu não emprego qual-
quer um que trabalhe com a hipnose da forma que mencionei
anteriormente, ou que aplique conscientemente esses métodos
ineficientes e ineficazes. Sei, que na maioria dos cursos a respeito,
esses são os métodos repassados e apreendidos como os corretos,
mas eu não posso compactuar com eles.

26
Abra a gaveta!

Quase nada acontece por acaso. Quando eu estava co-


lhendo ideias para este livro, recebi um pedido para uma sessão
que continha a seguinte declaração:
“Devido à falta de conhecimento, por um longo tempo eu mantive
o assunto da hipnose escondido em uma gaveta intitulada ‘métodos inú-
teis’. Recentemente, meu pai, um médico convencional convicto (agora
com mais de 80 anos de idade) estava me contando sobre seus estudos
de medicina e algumas experiências interessantes com a hipnose. Um
pouco surpreso com sua atitude, eu abri aquela gaveta e comecei a bus-
car mais informações pela internet"
Deixe que este livro, se você quiser, exerça sobre você o
mesmo efeito que o pai exerceu sobre seu filho impressionado.
Seja curioso e cético! Mantenha a mente aberta, pronta para
reconsiderar o seu antigo ponto de vista sobre o assunto. Abra a
gaveta da "hipnose". Quando estiver pronto para ver a prática
com novos olhos e dar a ela uma chance, então você também
poderá ser positivamente surpreendido.
Este livro é um chamado à ação para os pais, professores,
terapeutas de todos os tipos, médicos, dentistas, profissionais da
saúde e legisladores, bem como um portal para todos os que
estão “presos” a medicamentos, tratamentos de longo prazo e

27
sentem que deve haver uma nova saída que não a apresentada
pela medicina tradicional. O que a hipnose moderna oferece é o
despertar do médico interior, promovendo a cura de forma eficaz
e perene.
São muitas as possíveis áreas de aplicação da prática e,
quanto mais tempo trabalho no tema, percebo o crescimento de
novas oportunidades. Você pode encontrar, na página 217 deste
livro, algumas sugestões e, talvez, dar-se conta de uma nova
aplicabilidade quando aprofundar-se no estudo das mentes
consciente e subconsciente, crucial para o bom desempenho
como profissional da área.

28
Hipnose
Esclarecendo dúvidas
“A hipnose é um estado da mente em que a faculdade crítica da mente
humana é atravessada, e um pensamento seletivo aceitável é
estabelecido”

Eu me vejo como um construtor de pontes à maioria das


pessoas para quem a hipnose nunca foi uma opção. Mas para
motivá-las a realizarem a travessia, primeiro preciso explicar
como a hipnoterapia funciona. É o que farei agora!
Pelo fato de cada um de nós ser um indivíduo, nossos
sentimentos e nossa percepção do estado hipnótico serão
diferentes. Alguns sentem um grande peso físico, outros uma
leveza de ser, quase como se estivessem flutuando, enquanto há
quem não consiga sequer perceber seu corpo, tornando-se nada
além de puro pensamento. O fato é que se trata, sempre, de uma
sensação agradável, pois o estado tem um efeito relaxante que
revigora, trazendo inúmeros benefícios. O nível alcançado
durante a sessão, ou sessões, também fará com que a leitura de
cada um tem sobre a experiência seja particular.
Alguns deles podem entrar em hipnose muito rapidamente -
parecem quase ter um talento para isso, enquanto outros
precisam de um pouco mais de tempo até aprenderem a chegar

29
a esse estado. Deve-se respeitar o ritmo de cada um. Em hipótese
alguma a pressão poderá ajudar nesses casos. Vale lembrar
também, que a rapidez com que as pessoas se permitem ser
conduzidas em um estado hipnótico depende muito da
experiência e competência de percepção do hipnotista. Quando
a pessoa a ser hipnotizada não confia neste profissional,
duvidando de sua competência ou integridade, será difícil
desempenhar o trabalho com sucesso.

30
Todo mundo pode ser
hipnotizado?

Sim, por todos os meios. Praticamente todo mundo que


realmente quer ser hipnotizado pode entrar em hipnose. Nós, da
OMNI, experimentamos uma taxa de 97% a 99%, algo similar a
minha experiência pessoal. Eu diria até que 70% a 90% das
pessoas são capazes de atingir um estado muito profundo.
Depende um pouco da prática: Quanto mais você praticar, mais
intensa e rapidamente você entrará. Eu dei aulas onde 100% dos
participantes alcançaram os níveis mais profundos de hipnose.
Tudo o que precisamos é saber como atingir esses estados. Isso
vale para tudo na vida: se você sabe como funciona, torna-se
simples. É válido para os instrutores que ensinam a hipnose, bem
como para aqueles que experimentam a prática poderem
desenvolver a habilidade de chegar no estado desejado dentro
de segundos.
Se alguém entra em hipnose ou não, depende inteiramente:
da vontade de o fazer; estar livre de medo e querer ter a
experiência. Como já foi dito, nem todo mundo pode entrar
rapidamente em hipnose. Alguns têm de realmente praticar mas,
depois de um certo tempo, todos podem controlá-la.
Com frequência eu tinha clientes que haviam sido

31
informados que não poderiam ser hipnotizados. Ignorem essa
informação, pois não é verdade! Isso depende apenas da
experiência, competência e percepção do hipnotista e,
ocasionalmente, da situação na qual os clientes se encontram
naquele momento de suas vidas (por exemplo, quando eles ainda
não estão prontos para serem ajudados ou há um benefício
secundário adquirido ao estar doente). Já tive clientes em que
absolutamente nada funcionou. Nesses momentos, pensei onde
eu poderia ter errado, mas em nenhum momento culpei o cliente
por ser incapaz. Pode ser que alguém seja enviado a um
hipnotista por recomendação (do cônjuge, por exemplo), mas
realmente não queira ir. Não há nenhuma iniciativa própria.
Então, é bastante provável que a hipnose não vá funcionar.
Naturalmente, também pode ser apenas a química entre duas
pessoas, mas o resumo é: todo mundo pode ser hipnotizado, se
realmente quiser.

32
Você tem que acreditar
em hipnose para que ela
funcione?

Sou frequentemente abordado com essa pergunta. A


resposta é simples: não, não precisa. Ainda que não acredite, ela
pode funcionar. Você só deve estar pronto e se permitir. Tentar
hipnotizar alguém contra a sua vontade é um exercício de
futilidade, um desperdício de tempo e é eticamente inadequado.
Muitos descrentes que se entregam à experiência, ao final do
trabalho, ficam surpresos com o resultado!
"Sortudos são aqueles que podem simplesmente se deixar
ir, confiar, e entrar em hipnose - para que eles possam ser
ajudados muito mais facil e rapidamente. Quanto mais os
clientes se deixam ir, mais controle eles finalmente recuperam
sobre suas vidas. Deixar-se ir não tem a ver com perda de
controle"
Existem pesquisas que afirmam que em torno de 70% das
pessoas podem ser hipnotizadas e, dessas, de 10 a 30% atingem
um estado profundo. Novamente: isso se deve à inexperiência do
hipnotista. Se ele não é capaz de induzir a hipnose, deve
considerar uma atualização de seus estudos por meio da leitura

33
de bons livros e novos treinamentos. Quanto ao cliente, é
necessário encontrar o profissional adequado, conhecedor da
prática e responsável.

34
Como é a sensação e
quanto tempo demora
até que se
esteja em hipnose?

Muitas pessoas falam da hipnose como um estado que elas


já conheciam, extremamente agradável. Outras relatam que não
tiveram a sensação de estarem realmente em hipnose, o que não
significa que realmente não estiveram.
Tudo o que sente durante a hipnose é o necessário a você
naquele momento. Não há certo ou errado. Nem um alerta espa-
lhafatoso anunciando: "atenção, atenção, você atingiu o estado
de hipnose". Mesmo as transições entre diferentes níveis são flu-
idas e nem sempre claramente perceptíveis. No entanto, quando
uma pessoa chegou definitivamente a qualquer nível de hipnose,
um terapeuta qualificado pode ajudar a tornar a experiência evi-
dente a ele por meio de várias características distintivas e sinais.
A hipnose é um estado natural que pode ocorrer esponta-
neamente, por isso não demora muito até que ela seja induzida.
Por favor, descarte quaisquer preconceitos de que se trata de um

35
processo demorado e cansativo, que tem de ser o mais silencioso
possível ou que música e iluminação suaves são necessárias.
Uma indução hipnótica normal leva de quatro a sete minutos. Na
maioria dos casos, é seguida por uma técnica de aprofunda-
mento antes que o cliente esteja pronto para a parte terapêutica.
Há, também, induções que levam não mais do que alguns
segundos e, dentro do menor tempo, podem conduzir a um bom
estado de sonambulismo. A esses casos dá-se o nome de hipnose
instantânea ou indução rápida. Qualquer coisa que leva menos
de dez segundos é ótima e sobra muito mais tempo para se tra-
balhar sobre as mudanças reais que o cliente está procurando.
No entanto, de quatro a sete minutos é completamente aceitável
e normal. Nem todos os hipnotistas gostam de trabalhar com in-
duções mais rápidas. Há alguma liberdade na abordagem.
Então, quanto mais rápido pudermos ajudar os clientes em
hipnose, mais confortável e benéfico será para eles. Aliás, ne-
nhum deles veio reclamar que a hipnose instantânea tenha sido
de algum modo desagradável. Muitos são extremamente gratos
por terem entrado rapidamente nesse estado. Existem métodos
demorados, baseados em técnicas de relaxamento progressivo,
que são frustrantes para muitos clientes cuja entrega poderia ser
mais breve, no entanto o hipnotista ainda sente que é necessário
seguir o programa de indução até o fim. E tem, também, técnicas
para induzir a hipnose - sendo usadas hoje - que levam de 20 a
45 minutos! Elas estão totalmente fora de moda e tomam um
tempo valioso de terapia!
Nós temos uma responsabilidade para com os clientes e se
há técnicas conhecidas assimiláveis no mercado que atingem o
objetivo mais rápido, então somos obrigados a colocá-las em prá-
tica! Se um hipnotista ainda não domina aquelas que são mais
recentes e eficientes, é seu dever aprendê-las. Trata-se, também,
de uma questão de custos e sofrimento: custos, pois alguém tem
de arcar com as despesas não importa se é o cliente ou o plano
de saúde; e sofrimento porque ele poderia ter sido encurtado

36
com uma terapia mais breve e eficaz. Ambos se enquadram nas
áreas de responsabilidade e influência do terapeuta, que deve le-
var esses dois pontos em consideração ao iniciar qualquer traba-
lho. Manter um cliente em um tratamento mais longo do que o
necessário, é antiético e repreensível. Tendo em vista que a hip-
noterapia atende aos pré-requisitos de eficácia a curto prazo, pre-
cisamos torná-la mais conhecida e respeitada para que não ocupe
o lugar de tratamentos que não trazem resultado, mas apenas
mais sofrimento ao paciente.

37
A hipnose de palco
é legítima?

Essa é uma pergunta válida. Vez ou outra, vemos perfor-


mances de natureza altamente questionável, mas que apresen-
tam fenômenos totalmente fascinantes. Já está claro que quem
quer subir no palco, faz isso para o entretenimento em geral e
que todos esperam apenas ter algum divertimento. O fator ex-
pectativa é, assim, intensificado, e um hipnotista experiente visa,
apenas, participantes cooperativos. É bastante surpreendente o
que as pessoas estão dispostas a fazer para ser o centro das aten-
ções.
Eu não quero dizer que estes participantes não estão em
hipnose, mas toda a situação se presta a uma condição mais de-
sinibida do que encontraríamos na vida normal. Em última aná-
lise, eles têm justificativa para o seu comportamento - foram "for-
çados sob hipnose" para fazer alguma coisa. Isso é um passe livre.
Estando em um show no palco, adotam a atitude: "ok, eu
gosto da sugestão e sei que posso fazer isso". Se não fosse esse o
caso, ou se certas linhas se cruzassem, a sugestão seria anulada.
P.S.: a moça que flutua em um transe hipnótico? Desculpe,
isso é apenas um truque de mágica. As leis físicas normais do

38
universo ainda se aplicam, mesmo quando a hipnose está envol-
vida.

39
Como a hipnose
pode me ajudar?

Você não tem que se sentir doente ou estar doente, neces-


sariamente, para se beneficiar das vantagens da hipnose. Pelo
contrário. Por que esperar? Existem muitos conteúdos disponí-
veis (como músicas, por exemplo) excelentes, que podem ajudá-
lo a reduzir seus níveis diários de estresse, fortalecer o sistema
imunológico, otimizar o seu desempenho cognitivo e intelectual,
alcançar um melhor equilíbrio na vida, fomentar a sua motivação
ou criatividade, aumentar a sua auto-confiança, ou mesmo en-
siná-lo a auto-hipnose. Você também pode consultar um hipno-
tista competente e experimentá-la em primeira-mão. A experiên-
cia ao vivo faz mais sentido, em qualquer caso. Aprender a evitar
problemas leva muito menos esforço do que ter de superar os
existentes.
No entanto, como todos sabemos, muitas pessoas agem
apenas quando as coisas se tornam inconvenientes, ou melhor,
desconfortáveis, até mesmo dolorosas, ou somente quando o re-
ceio de consequências muito piores as leva a procurar ajuda. O
problema em si, portanto, torna-se a força motivadora para o pe-
dido de socorro. Há três maneiras de ficar doente.Veja.

40
1. Acidentes – cair de um cavalo, rolar da escada, acidente de
trânsito ou acidentes semelhantes.
Em tais casos, não há nada melhor do que um médico trei-
nado para lidar com o trauma. Os médicos executam verdadeiros
milagres ao trazer as vítimas de volta à vida, e estão entre os pri-
meiros a serem solicitados para obter ajuda. Depois desse aten-
dimento imediato, entretanto, a hipnose pode ser uma ferra-
menta para colocar a pessoa em pé outra vez mais rápido, sa-
nando traumas. Ela também pode ser usada em caso de emer-
gência para aliviar dores e parar sangramentos.
2. Toxinas – consumir algum tipo de veneno, ou comida do qual
é alérgico, sofrer uma picada de cobra, ou de alguma forma in-
gerir uma substância nociva.
Aqui, também, não há alternativa se não a intervenção mé-
dica. Mas, por opção, é possível apoiar positivamente o processo
de cura com a hipnose. No entanto só depois de passar por um
tratamento inicial com um médico qualificado.

3. Desequilíbrio – no corpo, na mente, no espírito.


*Todo problema, com poucas exceções, tem sua origem na
mente subconsciente (se não for causado por toxinas). Não im-
porta se é uma fobia, depressão, asma, enxaqueca, câncer, bur-
nout, síndrome do intestino irritável, ou o que for.
Pode parecer estranho, mas o estresse, sob qualquer forma,
é o precursor de todas as condições acima. O modo como perce-
bemos, processamos e reduzimos o estresse difere de pessoa para
pessoa. A maneira como o corpo e a psique reagem ao estresse é
única para cada indivíduo, assim como as causas para os sinto-
mas. Há inúmeras razões pelas quais pessoas diferentes têm sin-
tomas semelhantes. E a hipnose pode ser uma alternativa para
todas elas.

41
Importante: muitas vezes, mas naturalmente nem sempre,
o abuso sexual experienciado quando criança pode ser uma fonte
de problemas. Como afirmado antes, nem sempre é assim, mas
há uma infinidade de casos documentados. Seria errado, no en-
tanto, conduzir uma sessão sob essa premissa, pois você iria cor-
rer o risco de perder a fonte real e, assim, ser incapaz de resolver
totalmente o problema. Frases como "seu problema certamente
vem de abuso" são extremamente perigosas e oriundas de tera-
peutas irresponsáveis, incompetentes ou oprimidos pelo pro-
blema. Tais declarações podem desencadear uma caça às bruxas
inteira na família e suas extensões. Devemos evitar mencionar
quaisquer sentimentos e pensamentos negativos que o cliente
possa experimentar.
Importante notar: "contanto que você não tenha nascido
com o problema, a hipnose pode ajudar a resolvê-lo ou atenuá-
lo"
Como em qualquer terapia, existem limites, mas quanto
mais cedo se pode apoiar o processo de recuperação com a hip-
nose, maiores são as chances de sucesso. Em qualquer caso, de-
vemos tentar apoiar e acompanhar todas as aflições com a hip-
nose. Não há garantias, mas quando a mente está em harmonia,
o corpo se cura muito mais rápido.
Na minha estimativa, cerca de 80% de todas as doenças fí-
sicas podem ser rastreadas até os ECIs (eventos causadores inici-
ais, sobre os quais falarei mais adiante) na mente subconsciente.
No entanto, até que esses ECIs sejam descobertos e resolvidos,
estamos apenas combatendo os sintomas e perdemos a chance
de chegar à raiz da doença. De fato, pode fazer sentido ter um
tumor canceroso removido. Isso é o que está ao nosso alcance no
nível físico, o que salva muitas vidas, mas negligenciar o compo-
nente mental seria um erro. Ele é, na maior parte das vezes, igual-
mente crucial. Mesmo quando o câncer foi removido, a condição
mental - um pré-requisito para o desenvolvimento do câncer –
ainda não está em equilíbrio.

42
Tomar medicamentos prescritos também pode fazer sen-
tido, mas, em muitos casos, apenas trata os sintomas. Depois de
uma sessão de hipnoterapia bem-sucedida, os medicamentos po-
dem muitas vezes ser reduzidos ou suspensos devido às mudan-
ças significativas que ocorreram. Se uma pessoa está tomando
antidepressivos e já não se sente deprimida após a hipnose, então
certamente ela deve conversar com seu médico sobre alterar a
dosagem, diminuí-la gradativamente, ou encerrar o uso dessa
droga.
Predisposições genéticas são, em grande parte, superesti-
madas. Sabemos hoje que, de fato, elas existem, mas se efetiva-
mente têm influência direta sobre nossa saúde, é algo que vem
sendo questionado, especialmente por conta de estudos com gê-
meos univitelinos. Há inúmeras pesquisas que apontam vários
fatores como responsáveis para a manifestação de uma doença.
Quando uma pessoa é submetida a uma ou mais situações de es-
tresse com frequência, é bastante provável que o sistema se torne
tão fraco que o corpo reaja adoecendo. Já aquela que é mental-
mente equilibrada, por outro lado, torna-se resistente a qualquer
sintoma.
É principalmente o enfraquecimento prolongado no nível
mental que promove a fragilização da saúde. Hipnose e outras
técnicas de redução de estresse oferecem uma excelente proteção
contra uma doença que já está se instalando. Com a prática, po-
demos influenciar a programação celular e, até mesmo, a ativa-
ção ou desativação do DNA. Por mais incrível que possa parecer,
é extremamente possível. Nós não estamos mais presos por al-
guma maldição herdada da família (epigenética). Agora somos,
em grande medida, capazes de impactar o nosso destino! É er-
rado pensar que se a doença está na família há gerações, ela tam-
bém vai afligí-lo.
Mais importante que a predisposição hereditária, é a forma
como alguém é criado, como ele aprende a lidar com o estresse e

43
o ambiente em que cresce. Padrões de crença e inúmeras percep-
ções são passados por anos e estabelecem comportamentos.
Como lidamos com isso? Nós reproduzimos gestos, do micro ao
macro, de nossos pais, que – por sua vez – os absorveram de seus
pais promovendo um impacto trans-geracional visível. Mas não
precisamos permanecer enredados nesse roteiro. Temos muito
mais influência sobre o nosso destino do que podemos supor.
Atenção: É extremamente importante notar aqui que um
hipnotista não é um substituto para um médico. Na melhor das
hipóteses, a hipnose é uma forma complementar de terapia, es-
pecialmente quando se lida com doenças graves como o câncer,
a esclerose múltipla e doenças semelhantes. Recomendações con-
tra medicamentos, vacinas ou aconselhamento médico não de-
vem ser feitas! Tirar proveito da situação de uma pessoa debili-
tada é condenável. Ninguém pode garantir nada quando se trata
de questões complexas, como as citadas acima. Um hipnotista
não faz diagnóstico, porque não somos autorizados nem capazes,
exceto aqueles que têm a formação adequada. Também não te-
mos o direito de prescrever medicamentos, nem de alterar uma
dosagem.
Sintomas e doenças são alertas e devemos prestar atenção
neles. Uma consulta ao médico, seguindo seu conselho, é, por-
tanto, recomendável em todos os casos, especialmente quando
há dor. Como a hipnose é uma ferramenta extremamente eficaz
no combate a esses incômodos, caso ela seja a primeira opção,
poderá embotar algo que, mais tarde, talvez pareça com agravan-
tes.
Uma vez que cada doença possui um componente emocio-
nal, o uso da hipnose é universalmente conveniente, desde que o
problema tenha sido diagnosticado e certos fatores eliminados.
Ela pode ser útil sempre ao lado de qualquer tratamento médico
convencional ou alternativo.

44
Aprender hipnose é fácil

Acho incrível que técnicas desenvolvidas nos anos 1850,


que apresentaram resultados positivos significativos, e outras
tantas, aprimoradas em 1960, ainda não tenham sido incorpora-
das aos treinamentos de hipnose. Creio que, em alguns casos, há
receio de ensiná-las. De certo modo, entendo esse comporta-
mento, mas há tantas abordagens supérfluas e, até mesmo, peri-
gosas sendo repassadas! Enquanto as pessoas frequentarem um
tipo de treinamento que mais confunde do que esclarece e não
apresenta conhecimento especializado moderno, know-how e
autoconfiança, continuarão a existir casos em que clientes tenta-
ram o tratamento e não obtiveram sucesso.
É lamentável que tantas pessoas sejam instruídas em um
tipo de hipnose que lhes desaponte, que nem sequer as apresente
todas as possibilidades terapêuticas disponíveis. Muitas delas
vêm ao treinamento OMNI, onde os métodos de Dave Elman e
Jerry Kein são ensinados, por conta disso. Para essas, de repente
tudo passa a fazer sentido e – acima de tudo – elas se tornam
mais confiantes ao verem como é fácil aprender e reproduzir o
que é visto em sala de aula. O maior paradigma, referente à difi-
culdade de se compreender as técnicas, já é quebrado no pri-
meiro dia de treino. Talvez você ache as minhas palavras presun-
çosas e, até mesmo, arrogantes. Pode ser que eu te passe essa im-
pressão ao longo do livro, mas reforço que elas estão baseadas

45
em uma série de experiências, tanto no que diz respeito às ses-
sões em si, como aos inúmeros treinamentos que ministrei e mi-
nistro, há anos, e me dão essa auto-confiança. Tenho convicção
de que o que estamos fazendo funciona.
Você sabe, há muitos cursos de formação no mercado e eu
descobri durante o treinamento que tive - e hoje repasso aos alu-
nos - que é realmente necessário se posicionar de forma contun-
dente e assertiva sobre as nossas atividades.Temos métodos e
técnicas claramente definidos e exclusivos e as suas amplas apli-
cabilidades nos dão retorno positivo por meio de muitos depoi-
mentos. Veja o princípio K.I.S.S. – Keep It Short and Simple
(Manter Curto e Simples), por exemplo. Ele é o fio condutor de
todo o nosso treinamento, fundamental para o bom desempenho
do trabalho, e se trata de um conteúdo exclusivo. Não aparece
em nenhum outro curso. Apenas quando algo é estruturado por
meio de regras simples, sendo facilmente reprodutível e com lar-
gos benefícios, é que possui valor. Se um método é baseado em
coincidência, sorte ou esperança, nada se pode esperar a não ser
isso: coincidência, sorte ou esperança. Mas, sinceramente, quem
está procurando por isso quando pede ajuda para resolver pro-
blemas?
Naturalmente, existem alguns hipnotistas talentosos que
podem trabalhar de forma intuitiva e com sensibilidade para
com as pessoas, mas eles são poucos. Além disso, por conta da
subjetividade que envolve suas abordagens, os métodos deles
não são facilmente reproduzíveis ou aprendidos. Milton Erick-
son, por exemplo, possuía um grande talento. Tentar copiá-lo é
frustrante, já que é muito difícil entender e, mesmo, alcançar o
gênio. Suas técnicas funcionaram exclusivamente para ele, mas e
os outros? E aqueles que não são capazes de “ler” as pessoas? Por
isso é fundamental o que realizaram Dave Elman e Jerry Kein.
Eles sistematizaram a prática, tornaram o processo reprodutível
a muita gente e de forma segura.

46
Apesar de haver, em algum momento, hesitação com rela-
ção à hipnoterapia, faz-se necessário o estabelecimento de uma
autoconfiança saudável e um ar distinto de segurança em si
mesmo. Isso é de suma importância para uma presença bem-su-
cedida no mercado e para ser capaz de ajudar efetivamente as
pessoas - seja como professor ou como terapeuta. Esse “espírito”
é o que deve nortear os treinamentos, portanto. A personalidade
e o carisma de um hipnotista podem ter um enorme impacto na
terapia, seja positiva ou negativamente. A falta de autoconfiança
com certeza não ajuda.
Ao trabalhar de uma forma orientada para o processo, au-
tomaticamente desenvolvemos segurança, porque a chance de
sucesso é simplesmente maior do que em abordagens arbitrárias.
Depois de uma sessão, refletimos sobre o que poderíamos ter
feito melhor ou de forma diferente, nos tornando assim ainda
mais competentes. Dave Elman sempre disse que podemos
aprender mais com as sessões que não dão certo do que com as
que funcionam. Tudo o que não deu certo nos fornece pistas para
o que fazer melhor ou de diferente da próxima vez.
Inegavelmente, há algumas outras escolas e formas de hip-
noterapia que entregam resultados, mas elas são uma raridade.
Infelizmente, não é fácil para alguém que queira treinar hipnose,
ou está à procura de um hipnoterapeuta, chegar a um lugar se-
guro, longe das inúmeras ilusões ofertadas. Sem dúvida, a reco-
mendação pessoal de um hipnotista qualificado e experiente é a
melhor publicidade. A mais confiável e eficaz. Felizmente, este
conhecimento está se espalhando, e cada vez mais professores
estão adotando esses métodos diretos, objetivos e orientados
para os resultados.

47
Sete dias para tornar-se
um hipnoterapeuta

O psicoterapeuta mencionado acima também fica surpreso


que eu promova a hipnose como eficiente, já que ele é incapaz de
observar qualquer êxito entre seus pares que usaram a hipnote-
rapia. Além disso, ele fica maravilhado que a nossa formação
leve apenas sete dias, enquanto outras durem um, dois, às vezes
até três anos. Se vista pela lente do desconhecimento, a hipnose
pode parecer um pouco complicada (ouço, com frequência: “O
que eu posso aprender?”), mas a verdade é que se trata de algo
simples. Consigo ensinar como hipnotizar em uma hora, às vezes
em até menos tempo.
Se eu tivesse assistido a um desses cursos de formação lon-
gos, geralmente complicados, e alguém me contasse sobre um de
sete dias, que se dissesse simples, eu provavelmente também re-
agiria com ceticismo. Ao invés de ir imediatamente na defensiva,
porém, daria uma chance a ele.
Aliás, não significa nada o fato de um curso leva três
anos,ou ser uma vez por mês, em um fim de semana a cada tri-
mestre... Uma duração mais longa é melhor? Complicado é me-
lhor? Minha experiência mostra que as pessoas que concluíram

48
estes cursos de formação mais longos são frequentemente inca-
pazes de fazer o que os meus alunos fazem depois de uma se-
mana. Eu realmente não sei como poderia ensinar às pessoas a
hipnose por um, dois, ou mesmo três anos. Meu professor sem-
pre disse que é fácil e eu sempre assumi que é. Também é exata-
mente como eu a apresento: o mais simples possível - tudo de
acordo com o princípio K.I.S.S.3
Em qualquer caso, tenho treinado centenas de estudantes,
entre eles inúmeros psicólogos, psiquiatras, médicos e dentistas.
Mais de 70% dos meus alunos vêm por causa de recomendações
de antigos graduados. Com isso em mente, os críticos já não me
incomodam. Minha experiência mostra que funciona. Quando os
alunos realmente aceitam a hipnose e o que é ensinado, eles vão
inevitavelmente ser bem-sucedidos. O sistema e o processo en-
tregam o que prometemos. A coisa mais importante é que todos
os dias meus alunos utilizam o que aprenderam para ajudar com
sucesso as pessoas a melhorarem suas vidas. Isso é o que real-
mente importa: os resultados.
Gostaria de esclarecer uma coisa aqui: Sou extremamente
grato a cada psicólogo, psiquiatra, médico e dentista que con-
cluiu o nosso treinamento; isso mostra que eles podem ignorar,
em parte, as barreiras artificiais, não têm reservas, e estão abertos
a aprender alguma coisa com os outros, independentemente do
seu status. Eu respeito muito esses participantes e também estou
ciente de que isso nem sempre é fácil para eles em seu ambiente.
Eles merecem um agradecimento especial e respeito.

3NOTA DO TRADUTOR: Acronimo para “Keep it Short and Simple”,


que significa “Manter curto e simples”

49
Comportamentos
abusivos

Abusar de pessoas em tratamento ou terapia é muito co-


mum. Não tem nada a ver com hipnose, mas sim com a relação
de poder entre o agressor e a vítima. O abuso acontece na família,
na escola, no bairro, na igreja, em ambientes esportivos, clínicas,
e em muitos outros lugares. Inclusive, numa hipnoterapia. Mas
se engana quem acredita que é possível usar deste estado para
tornar uma pessoa submissa, como alegam – muitas vezes - jor-
nais sensacionalistas. Quem realmente conhece a prática, sabe
que isso é impossível e que, para acontecer, devem haver outros
fatores.
Costumo perguntar aos meus alunos, e por vezes até aos
clientes, depois de terem estado nos níveis mais profundos de
hipnose, em que parecem - para o mundo exterior - impotentes
ou vulneráveis, se eles tinham a sensação, durante a sessão, de
que alguém poderia forçá-los a fazer algo neste estado que de
outra forma não iriam querer realizar. Em todos esses anos, eu
nunca ouvi falarem um "sim". Eles confirmam que sairiam ime-
diatamente da hipnose se algo indecente ou imoral acontecesse
ou fosse exigido.

50
Casos criminais alegados

Uma vez ou outra, vemos reportagens retratando casos cri-


minais envolvendo hipnose. Reafirmo: ninguém pode ser obri-
gado a fazer algo que, de outra forma, não iria querer fazer. No
entanto, quando há abuso de poder – por conta da posição em
que se encontram as partes – o hipnotista pode sugestionar o cli-
ente. Pessoas instáveis e facilmente influenciáveis entram neste
jogo prejudicial e acabam sendo enganadas ou exploradas.
Quando você ouvir algum desses casos absurdos, primeiramente
cheque a veracidade. Pode-se escrever sobre qualquer coisa. De-
pois, se tiver acesso, avalie com cuidado o que se passou e – se
ainda restarem dúvidas sobre o funcionamento da hipnoterapia
– converse com alguém que já a experimentou. Pergunte se ela se
sentiu impotente em algum momento, ou foi obrigada a rasgar
suas roupas, assaltar um banco depois de um comando como um
estalar de dedos... Até o momento, eu desconheço alguém que
apresente esse discurso.

51
Terminologia da hipnose

É importante notar que, quanto mais formos informados e


esclarecidos, estaremos menos propensos a mal-entendidos e ao
medo do contato e, por consequência, ficaremos predispostos ao
novo. Vou definir aqui a terminologia mais importante da hip-
nose para que todos nós possamos falar sobre as mesmas coisas,
a “mesma língua”. Temos de criar uma base que o transforme de
um leitor interessado em um leitor informado; alguém que pode
fazer a diferença ao discutir de forma inteligente hipnose tema,
para além dessas páginas.
Existem algumas palavras que fazem arrepiar o cabelo na
parte de trás do meu pescoço, cada vez que as ouço. Elas são en-
contradas na linguagem comum e usadas praticamente da
mesma maneira por muitos hipnotistas e escolas de hipnose.

52
Palavras equivocadas

Sob hipnose: esta é uma expressão inteiramente imprecisa


e tem de ser completamente descartada. Em nossa língua, "sob"
geralmente tem uma conotação negativa: que remete a alguém
que está sob influência de outra pessoa, é fraco, rendeu-se. Aque-
les que ainda usam esta expressão devem primeiro considerar
seriamente o que as palavras podem desencadear; afinal de con-
tas, elas são os instrumentos mais importantes de cada hipno-
tista. No entanto, essa expressão é, até hoje, muito ouvida! Va-
mos corrigir: uma pessoa está "em hipnose" ou em um estado
hipnótico, ou algo semelhante, mas com certeza não "sob".
Acordar: isso é tão errado quanto "sob hipnose", no entanto
é usado diariamente. Não é de se admirar que, quando um hip-
notista traz alguém de um estado hipnótico, dizendo: "agora vou
contar até três e no três você vai acordar", a pessoa que foi hip-
notizada pensa "ah, que pena, eu não estava dormindo, eu ouvi
tudo", perdendo assim qualquer sucesso terapêutico em poten-
cial, porque ela acredita que houve um erro, uma vez que não
adormeceu. Versão correta (apenas um dos muitos exemplos):
"agora vou contar até três; no três você vai abrir os olhos e sair
da hipnose renovado e relaxado. Um, respire fundo, dois, talvez
você queira mexer os dedos das mãos e dos pés, e três, abra seus
olhos, totalmente presente, renovado, relaxado e sentindo-se
muito bem".

53
Tentar e esperar: risque essas palavras do seu vocabulá-
rio - não apenas quando utiliza a hipnose, mas também no seu
discurso geral. Elas implicam uma possível falha, uma vez que
não se está totalmente convencido, tem dúvidas, se sente inse-
guro, ou supõe; implicam a possibilidade de que o que está sendo
feito no momento poderia dar errado. Como você se sentiria
como cliente, se o hipnotizador dissesse: "vou, agora, tentar hip-
notizá-lo. Nós podemos de bom grado tentar e ver se funciona.
Vamos esperar o melhor". Não é especialmente convincente,
certo? Esse é o momento em que você deve se levantar, sair e ir
procurar outro hipnotista.
A importância das palavras na hipnoterapia não deve ser
subestimada. Pode parecer um pouco pedante e eu não quero di-
zer que é por isso que uma sessão de hipnose não funciona, mas
para que aumentar voluntariamente a chance de fracasso? Se nós
sabemos a importância das palavras e percebemos o quanto a se-
mântica (o estudo delas e seus significados) nos aprofunda, por
que não eliminar essas fontes potenciais de erro desde o início?
Hipnotismo é realmente fácil, eu não quero complicá-lo,
mas há algumas coisas a serem observadas e essas pequenas di-
ferenças podem ser o fator decisivo entre o sucesso e o fracasso
de um trabalho. O bem-estar do cliente sempre tem preferência
e se eu sei que minhas palavras estão erradas, simplesmente não
as uso por mais tempo.

54
A nossa “língua”

É vital para o leitor compreender que a hipnose possui seu


próprio vocabulário. Esses termos, no entanto, têm vários signi-
ficados, ou são usados de diversas maneiras dentro da comuni-
dade de hipnoterapeutas. Portanto, vamos construir uma base
comum, de modo que quando ler – neste livro – uma das pala-
vras mencionadas abaixo, você poderá sempre recorrer a essa
lista a fim de verificar exatamente o que ela significa para nós. É
bem possível que encontre diferentes definições em outros títu-
los ou na internet. Para os propósitos do material que lhe apre-
sento, no entanto, elas são irrelevantes.
Ab-reação (espontânea): limpeza emocional por meio da
qual um momento sentimental reprimido há muito tempo é re-
vivido. É absolutamente normal no processo de elucidação na
hipnoterapia, fácil de lidar e controlar. Pode ser usada imediata-
mente para o bem-estar do cliente.
Alucinação: por meio de sugestão, uma imagem aleatória
é criada na mente de uma pessoa (por exemplo, uma escada, uma
situação, uma sensação ou um sentimento).
Auto-hipnose: um estado de hipnose auto-induzida, sem o
apoio ativo de um hipnotista. Há uma declaração de Dave Elman
que diz "toda hipnose é auto-hipnose", porque uma pessoa, em

55
todos os casos, deve permitir que a hipnose ocorra. A auto-hip-
nose é fácil de aprender.
Boinking: o ato de cutucar de leve o meio da testa do cli-
ente, com dois ou três dedos, como uma distração ou para au-
mentar a sua atenção (foco).
Catalepsia: uma forma de alta sugestionabilidade, na qual
os músculos de uma pessoa - tanto em todo o corpo, quanto em
uma região específica - ficam muito rígidos ou extremamente re-
laxados.
Cliente: na hipnose, falamos de clientes em vez de pacien-
tes. A palavra paciente pode ter uma conotação negativa. Além
disso, você pode ir a um hipnotista sem estar doente.
Compounding (negativo): por meio da experiência repetida
de abordar, ou falar sobre uma questão de um evento infeliz ou
trágico no nível consciente, é possível que as emoções e os senti-
mentos negativos talvez sejam intensificados, o que, por sua vez,
pode levar a exacerbar o problema e, possivelmente, agrave os
sintomas, prejudicando o processo de recuperação. Mudanças
positivas são afetadas, muitas vezes evitadas, enquanto a progra-
mação negativa e o comportamento indesejado permanecerem
no local.
Compounding (positivo): a multiplicação, repetição e in-
tensificação de uma ou mais sugestões. Uma técnica extrema-
mente eficaz para ajudar uma pessoa a internalizar sentimentos
recém-desejados, uma maior conscientização, ou hábitos novos e
positivos.
Contrato hipnótico: o consentimento que alguém dá a ou-
tra pessoa para hipnotizá-la ("Posso te hipnotizar?" / "Sim").
Convincer: um tipo de prova ou evidência de que uma pes-
soa realmente está ou estava em hipnose. Não é possível nem
sensato em todos os casos, mas, sempre que possível, é uma parte
importante de uma sessão.

56
Deslocamento de sintoma: o foco em um sintoma, bem
como a sua repressão, em certos métodos de terapia. Pode levar
a mente subconsciente a buscar outra forma de enviar uma men-
sagem de que algo está errado, depois de achar a primeira tenta-
tiva infrutífera (por exemplo, primeiro uma fobia, agora uma
erupção cutânea). Desencadeado principalmente por métodos
repressivos ou que encobrem o sintoma.
Distanciamento / Separação / Afastamento: quando esta-
mos cientes do nosso ambiente, mas não nos importamos de par-
ticipar dos eventos que acontecem ao nosso redor. Isso é comum
em hipnose.
ECF: Evento Causador Final - o momento que alguns clien-
tes têm armazenado na memória e acreditam estar relacionado
ao sintoma que se seguiu. Normalmente, é apenas a “gota d’água
que faz o barril transbordar”, não é realmente o gatilho que co-
meçou a “enchê-lo”.
ECI: Evento Causador Inicial - o evento inicial desencade-
ador (a razão real para um sintoma).
ECS: Evento Causador Subsequente – um evento sensibili-
zante posterior, que confirma, bem como aumenta / intensifica
o ECI.
Estado Esdaile: um estado que pode provocar euforia
mental e produzir uma anestesia automática e espontânea. En-
contra-se um nível abaixo do sonambulismo profundo. Desco-
berto por James Esdaile em 1850 e que Dave Elman, nas décadas
de 1940 e 1950, demonstrou ser facilmente reproduzível.
Estado hipnoidal: um estado leve de hipnose.
Fator Crítico: funciona como um filtro entre a mente cons-
ciente e a mente subconsciente. Controla quais sugestões estão
autorizadas a ser registradas na mente subconsciente e quais são
rejeitadas desde o início.
Fobia: um medo enorme do medo.

57
Fracionamento: o melhor método para aprofundar o es-
tado hipnótico. A pessoa hipnotizada é convidada a abrir os
olhos e fechá-los novamente, permanecendo em transe o tempo
todo. Dave Elman reconheceu a técnica logo no início e a incor-
porou à sua indução hipnótica bem-sucedida (“Três visitas a Ber-
nheim”)4.
Ganho Secundário: quando a solução é pior do que o pro-
blema em si. Pode ficar no caminho da recuperação (por exem-
plo, perda de simpatia ou apoio financeiro, ter que voltar ao tra-
balho, enfrentar um problema, etc.).
Hipermnésia: a capacidade em hipnose de melhorar a re-
cuperação da memória e lembrar-se de experiências que acredi-
tava estarem esquecidas há muito tempo. De outra forma, não
seriam conscientemente lembradas.
Hipersugestionabilidade: alta sugestionabilidade provo-
cada por meio da hipnose profunda.
Hipnoanálise: a abordagem utilizada durante a hipnose
para localizar a fonte real de um problema. Isso normalmente
ocorre por meio de regressão.
Hipnose Clínica: o uso da hipnose no tratamento da de-
pressão, de fobias, compulsões e problemas e distúrbios seme-
lhantes.
Hipnose de emergência: o uso de técnicas especiais de hip-
nose em situações de emergência por bombeiros, técnicos de
emergência médica, policiais e militares (para parar sangramen-
tos, reduzir ou evitar choque, aliviar dores, queimaduras, etc.).
Hipnose de palco: hipnose para fins de entretenimento. O
estado real de hipnose é, no entanto, o mesmo que se experi-
menta em uma terapia. Não há diferença. Tais espetáculos não

4O livro “Suggestive Therapeutics” de H. Bernheim foi uma fonte de conheci-


mento básico de Elman sobre esse procedimento.

58
são bem vistos por muitos hipnoterapeutas que realmente deixa-
ram de analisar os fenômenos e suas possibilidades. Existem
tanto shows bons e de alta classe, quanto sessões de hipnoterapia
amadoras e malconduzidas.
Hipnose instantânea: a indução da hipnose dentro de ape-
nas alguns segundos ou frações de segundo, por meio de técnicas
práticas, para aqueles com uma vontade declarada de serem hip-
notizados. A grande arte das induções hipnóticas que só alguns
realmente dominam.
Hipnose médica: o uso da hipnose nas áreas de terapia da
dor durante operações, bem como o apoio pré e pós-operatório
com problemas físicos, tais como câncer, esclerose múltipla, etc.
Hipnose: um estado natural do ser humano que pode ocor-
rer espontaneamente ou ser induzido. Ela acontece quando a
mente subconsciente vem para o primeiro plano, atravessando o
fator crítico da mente consciente.
HypnoDent®, HypnoSport®, HypnoSlim®, HypnoKids®,
Hypno-Fertility®, HypnoSex®, HypnoSleep®, HypnoLearn®,
Hypno-Care®, HypnoMed®, HypnoForensics®: programas bási-
cos e avançados de treinamento para especialização dentro da
ampla gama de aplicações da hipnose moderna.
Hipnose em vigília: a ativação dos efeitos hipnóticos, du-
rante o estado de vigília real de uma pessoa, que são aceitos e
implementados.
IDE: acrônimo para a Indução de Dave Elman.
Ideomotor: qualquer movimento involuntário dos múscu-
los causado por uma ideia ou uma sugestão hipnótica.
Indução de Elman: a indução de hipnose mais conhecida,
mais rápida e mais bem-sucedida no mercado hoje. Quando uti-
lizada por um hipnotista competente, cerca de 85% dos indiví-
duos podem já estar hipnotizados na tentativa inicial. Desenvol-
vida pela primeira vez por volta de 1912, por Dave Elman, foi

59
ampliada mais tarde para incluir todas as versões atualmente
aplicadas. Permite a indução da hipnose dentro de qualquer lu-
gar entre 1 e 6 minutos. As formas abreviadas são possíveis,
mesmo dentro de 10 a 30 segundos.
Indução: o processo, técnica ou ritual de indução e causa-
ção de hipnose.
Letargia: estado de hipnose em que um relaxamento geral,
uma quietude, são atingidos e a pessoa se concentra na voz do
hipnotista.
Mente consciente: aquela parte da nossa mente/cérebro re-
lacionada aos processos mentais, racionais e analíticos, ou à força
de vontade.
Mente subconsciente: aquela parte da nossa mente/cérebro
envolvida com os processos mentais e com a marca resultante de
padrões comportamentais. Independente e despercebida pela
mente consciente. A sede de nossas emoções, sentimentos, hábi-
tos, memória de longo prazo, etc. Essa é a verdadeira casa do ego.
Mente inconsciente: aquela parte de sua mente/cérebro
que controla as funções corporais automáticas, como: respiração,
digestão, batimentos cardíacos, pressão arterial, produção de
hormônios, sistema imunológico, etc.
Mente superconsciente: quando a mente (pensamentos) se
destaca do nosso corpo, obtemos acesso ao nosso campo de ener-
gia e seu armazenamento de informações. Isso fornece uma visão
e perspectiva especiais para os nossos problemas e ajuda a en-
contrar soluções por meio de estados altamente focalizados,
como o Ultra-Height® e o Ultra-Healing®. A mente superconsci-
ente também pode ser vista como um componente adicional da
mente subconsciente.
Obsessão: um impulso ou ideia, às vezes até irresistível.
Quando combinada com as emoções, pode resultar em atos com-
pulsivos, que são repetidos com frequência, indefinidamente.

60
OMNI Hypnosis: A hipnose / hipnoterapia baseada nos
métodos de Dave Elman e Gerald F. "Jerry" Kein. Os métodos e
técnicas OMNI são atualmente ensinados em mais de 20 locais,
em cinco continentes. "OMNI" é o nome oficial do instituto de
hipnose fundado em 1979 por Jerry Kein. A OMNI Hypnosis
apresenta as técnicas de hipnoterapia reprodutíveis e orientadas
a processos, direcionadas para resultados e objetivos, com a
maior probabilidade de soluções sustentáveis dentro de um
curto espaço de tempo.
Pharsing: a tendência da mente subconsciente de "ignorar"
uma palavra negativa, dando assim um novo significado, possi-
velmente não intencional a uma sentença. A mente subconsci-
ente não entende realmente a palavra "não", ou tem a tendência
de ignorá-la. Esse pode ser o caso das crianças especialmente,
mesmo sem hipnose. Por exemplo: "não toque no forno quente!".
Essa ordem direta pode ser interpretada como "... toque o forno
quente!" ou: "não coma fast food!". Torna-se: "...coma fast food!".
Pre-talk: a explicação do hipnotista para o cliente sobre o
que a hipnose é e o que não é. Serve ao propósito de eliminar
quaisquer possíveis medos, dúvidas, desinformação, bloqueios,
ou preconceitos existentes, bem como demonstrar a experiência
do hipnotista. Contribui com cerca de 80% para o sucesso da ses-
são de hipnose. Quanto mais um cliente for esclarecido, melho-
res, mais inteligentes e auto-confiantes serão suas decisões du-
rante a sessão de hipnose para que o processo alcance os objeti-
vos pretendidos.
Progressão: processo no qual um cliente é levado adiante
no tempo e imagina a situação no futuro, incluindo a forma como
ele se sente, o que ele sente, como age ou reage em situações es-
pecíficas, depois de ter desistido do comportamento indesejado
do passado.
Psicossomático: doença física provocada por pensamentos
negativos.

61
Questionário de anamnese: um questionário preenchido
pelo cliente ou pelo hipnotista, sozinho ou em conjunto. Usado
para coletar e compilar detalhes importantes ou relevantes, bem
como servir de documentação para as sessões subsequentes.

Ondas Beta/Alfa/Teta/Delta: muitas vezes associadas à hipnose


- em particular as ondas alfa - porém, na realidade, não têm nada
a ver com o assunto. Há estados alcançados em hipnose que não
chegam perto desses intervalos.
R2C: o acrônimo comum para Regress to Cause (Regressão
à Causa) na técnica desenvolvida por Dave Elman e Gerald F.
Kein. Foi adotado, entretanto, por muitos outros institutos e hip-
noterapeutas sem ser totalmente compreendido ou aplicado de
forma correta.
Rapport: a relação de trabalho entre o hipnotista e o cliente.
Regress to Cause (regressão à causa): regressão a um
evento causador (ECI) - trabalho de elucidação. Tem base na pre-
missa de que cada sintoma, realmente cada um, possui um gati-
lho, que - uma vez encontrado - pode ser neutralizado com habi-
lidade e resolvido.
Regressão de idade: o fenômeno de voltar a um período an-
terior ou à chamada "vida passada".
Regressão: o processo no qual um cliente é levado de volta
para um momento anterior (geralmente na infância, ou até
mesmo a experiências pré-natais e, raramente, a assim chamada
vida passada).
Resistência: a recusa de uma pessoa em aceitar o processo
hipnótico. Sempre ocorre por conta de medo e dúvidas, ou
quando alguém simplesmente não quer ser hipnotizado.
Sonambulismo: estado profundo de hipnose. Considerado
hoje como o ideal para a terapia que objetiva alcançar os melho-
res e mais rápidos resultados. Facilita vários fenômenos hipnóti-

62
cos, tais como: analgesia, regressão e muitos mais. Pode ser atin-
gido em poucos minutos ou em apenas alguns segundos.
Sugestão pós-hipnótica: dada durante um estado hipnó-
tico e que é posta em prática em um momento posterior; após o
cliente emergir da hipnose.
Sugestão pré-hipnótica: dada antes da indução formal da
hipnose, que assume controle quando a pessoa está em um es-
tado hipnótico.
Sugestão: dada pelo hipnotista durante a sessão de hip-
nose. Ela é um incentivo, uma recomendação, palavra ou frase
de aconselhamento, formulada individualmente para a pessoa,
situação e tema em questão. As sugestões podem ser simples-
mente aceitas ou rejeitadas pelo cliente.
Sugestionabilidade: a medida da receptividade de uma
pessoa a uma sugestão dada.
Terapia com hipnose/hipnoterapia: utilização de técnicas e
métodos terapêuticos no estado hipnótico. Termo genérico para
todos os tipos de intervenções nesse estado. Ambas as variações
do termo significam a mesma coisa.
Terapia de partes: uma técnica, na hipnoterapia, que nos
permite abordar diferentes partes do corpo ou emoções (por
exemplo, a parte que representa o medo, ou a dor, ou a tristeza,
ou o fígado, ou o corpo, ou a mente, etc.).
Terapia de ab-reação: a provocação intencional e direcio-
nada de uma ab-reação para acelerar o processo da terapia.
Ultra-Height®/Ultra-Healing®: dois estados no reino do
“eu superior”, também chamado de mente superconsciente. Eles
permitem insights profundos e análises pormenorizadas do que
se passa internamente no cliente, bem como tornam a cura es-
pontânea, a autocura, possível. Podem trazer inspiração ou rea-
lização sem a participação ativa do hipnotista. Algumas pessoas
têm experiências espirituais profundas nesses estados, também

63
conhecidos por “a disciplina suprema" da hipnose. Desenvolvi-
dos por Jerry Kein e Hansruedi Wipf.
Vida Passada: se você acredita em tais coisas ou não, mui-
tas vezes há momentos durante a hipnoterapia em que um pro-
blema parece ter sua origem nas assim chamadas vidas pregres-
sas e os clientes, independentemente de suas próprias crenças
centrais ou convicções, regridem espontaneamente para esse lu-
gar no passado. Esse fenômeno também pode ser induzido in-
tencionalmente. Uma prova genuína e cientificamente compro-
vada ainda tem de ser fornecida. O debate, que poderia conti-
nuar para sempre, baseia-se mais em crença e ideologias do que
em fatos. No entanto, continua a ser um assunto altamente fasci-
nante e controverso com quatro teorias principais, que serão ci-
tadas mais à frente.
Existem inúmeros outros termos na hipnose, mas, para
nossos propósitos, certamente seria ir longe demais enumerar to-
dos aqui. Os que foram elencados acima, bem como suas defini-
ções, são suficientes para entender completamente o que é apre-
sentado neste livro.

64
A aplicação da
hipnoterapia
em diferentes países

Alemanha: Requer uma licença profissional, seja como um


praticante não-médico ou como um profissional de psicoterapia.
Sem essa licença, o título é hypno-coach. Em cada uma destas
categorias, todos os praticantes podem ter concluído o mesmo
treinamento. A diferença é que enquanto um pode tratar os
clientes com problemas mais graves, como depressão ou medos,
outro - o coach – detém-se a casos menos complexos. Refiro-me
neste livro tanto ao hipnoterapeuta quanto ao hypno-coach
simplesmente como hipnotista. Para mim, a hipnoterapia
consiste em tratamentos com hipnose que podem ser realizados
tanto por um quanto por outro.
Austrália: Não regulamenta os títulos profissionais de con-
selheiro, psicoterapeuta, hipnoterapeuta, hipnotista clínico ou
clínica de hipnoterapia. Toda hipnose na Austrália é autorregu-
lada por associações estaduais e nacionais.
Áustria: Tem leis muito restritivas sobre o uso da hipnose
sem um diploma de médico; apenas médicos qualificados po-
dem praticá-la. Assim, é comum que muitos atuem na surdina,

65
de forma indireta ou, até mesmo, dando ao trabalho um outro
nome. Por conta disso, não é de se admirar que os estudos e mé-
todos desenvolvidos neste país estejam atrasados com relação a
tantos outros ao redor do mundo. A exclusividade da prática por
parte da classe médica leva ao fortalecimento de técnicas anti-
quadas, prolongadas e ineficientes.
Brasil: Não há uma regulamentação ou legislação sobre o
uso da hipnose. Ela é considerada uma terapia alternativa. Po-
rém, há conselhos de classes com normas e práticas específicas
para profissionais partícipes dos seus grupos. Existe, também,
um conselho de “autorregulamentação” de terapias holísticas
que engloba a hipnose, porém ele exerce pouca influência sobre
as atividades dessa ordem no país.
Canadá: Não tem regulamentação governamental oficial
de hipnose e hipnoterapia. A prática costumava ser limitada a
médicos, dentistas e psicólogos legalmente habilitados, bem
como a alunos da área, mas a lei foi revogada em 1997. Há grupos
que formaram associações de "autorregulamentação" numa base
voluntária.
EUA: A maioria dos estados exerce pouca ou nenhuma re-
gulamentação direta sobre a prática da hipnose ou hipnoterapia,
embora outras leis, que geralmente afetam o funcionamento de
qualquer negócio, sejam aplicadas normalmente (por exemplo,
relacionadas à publicidade e práticas comerciais desleais). Al-
guns estados (Colorado, Connecticut e Washington) exigem o li-
cenciamento obrigatório ou registo, enquanto outros (Califórnia,
Flórida, Illinois, Nova Jersey, Texas e Utah) não possuem este re-
gisto, mas dispõem de regulamentos específicos para a prática
do hipnotismo e diretrizes para a isenção de licenciamento. Resi-
dentes dos EUA devem verificar com a sua associação de hipnose
ou com órgãos reguladores estaduais quais as condições de seu
estado em particular.

66
Nova Zelândia: Não tem regulamentação ou legislação ofi-
cial que rege a hipnoterapia. Em outras palavras, qualquer pes-
soa pode se estabelecer como um hipnoterapeuta e começar a
praticar imediatamente. Isso destaca a importância de um rigo-
roso treinamento e supervisão para os clínicos, bem como a au-
torregulamentação profissional e ética do ofício
Reino Unido: Atualmente, não tem leis em vigor que indi-
cam o nível de formação que um indivíduo deve ter para praticar
a hipnose ou hipnoterapia profissionalmente. No entanto, exis-
tem várias sociedades regulamentadas, onde os hipnoterapeutas
podem se inscrever. Esses grupos definem as suas próprias nor-
mas em matéria de formação e qualificação.
Suíça: Tem a legislação mais liberal e avançada da Europa
o que é uma vantagem maravilhosa. Isso levou o país a se desen-
volver consideravelmente nos aprofundamentos das práticas e
difundí-las a outros lugares. Os suíços são bem abertos à hipnose
e, portanto, podem se beneficiar mais de sua utilização.
.

67
História da hipnose

Há registros da Antiguidade que mostram a hipnose como


uma prática comum tanto aos egípcios, como aos romanos e aos
gregos (que cunharam o termo, inclusive, já que hipnose vem de
Hypnos – o deus do sono). Abordar suas aplicações há centenas
de anos não é o objetivo desse livro, o que quero, aqui, é reforçar
exatamente o fato de essa poderosa ferramenta terapêutica fazer
parte da história de diferentes culturas e povos e ter acompa-
nhado os seus desenvolvimentos.
O médico escocês James Braid (1795-1860) ficou conhecido
por levar a prática à comunidade científica e, inclusive, a ele é
atribuída a introdução e popularização do termo hipnose neste
meio, o que não é verdade. Baron D’Henin de Cuvillers (1755-
1841), em seu livro Le Magnetism Animal Retrouve dans L’Antique,
é o pioneiro ao adotar não só hipnose, mas hipnotista e muitas
outras palavras como alternativas para ”magnetismo animal“
(usado, até então, por Dr. Franz Anton Mesmer / 1734-1815).
Mesmer atuava na região do Lago de Constança e viajou
muitas vezes pela Suíça, sendo considerado – à época – o pai da
hipnose moderna. Quando olhamos a partir dos parâmetros atu-
ais, no entanto, isso muda. De toda forma, por meio do seu tra-
balho, ele ajudou a difundir a prática, tornando-a uma área de

68
interesse para muitas pessoas. Dr. Franz acreditava que a hip-
nose tinha algo a ver com correntes magnéticas, por isso a ex-
pressão ”magnetismo animal“.
O período em que esteve na França, e atendeu a inúmeros
pacientes, foi significativo. Sob pressão dos médicos locais, que
se sentiam ameaçados pelo seu sucesso, foi formada uma comis-
são para acompanhar e avaliar, cientificamente, o trabalho dele.
Um dos integrantes do grupo era o renomado Benjamin Franklin.
As conclusões do inquérito provaram que não dava para descar-
tar totalmente certos resultados que Mesmer obteve junto aos pa-
cientes, mas – mesmo assim – as suas atividades foram rotuladas
como charlatanismo e ele teve de interrompê-las. Essa oposição,
no entanto, não impediu as pessoas de investigarem mais o tema
e fazerem descobertas interessantes. James Esdaile, por exemplo,
que usou o estado Esdaile (coma hipnótico) para realizar cirur-
gias sem dor em Calcutá, será abordado em um capítulo poste-
rior.
Há muitos outros nomes influentes na história da hipnose,
mas quero destacar um: Sigmund Freud (1859-1939).
Fundador da psicanálise, ele atuou com a hipnose e com
outros métodos, comprovando o êxito dessas práticas em seu tra-
balho. Ele notou, por exemplo, que por meio da psicoterapia ob-
tinha melhor rendimento, pois os pacientes tratados pela hipnose
eram capazes de retornar aos sentimentos e comportamentos
normais muito mais rápido do que se os tivesse conduzido pela
psicanálise. A ele é atribuída a frase: "hipnose é a psicoterapia do
homem pobre". Era uma forma de dizer que, se a pessoa não ti-
nha dinheiro para pagar a psicanálise, ela se utilizava da hipnose
– que a ajudava em menos tempo.
A ideia de que a prática não tem nenhum valor relevante
em psicoterapia, no entanto, influenciou gerações de psiquiatras
e psicólogos que efetivamente tinham conhecimento do tema,
mas devido aos ensinamentos prevalecentes da psicanálise, o ig-
noraram ou o consideraram como ineficiente. Assim continuou

69
até que com o trabalho de dois americanos, Dave Elman e Milton
Erickson, a hipnose recebeu a atenção devida. Eles desenvolve-
ram abordagens que não eram apenas novas e mais eficientes,
mas também aceitáveis para seus pares e para o público em geral.
Importante: tem havido uma grande quantidade de textos
sobre Milton Erickson (1901–1980) e suas técnicas, por isso não
vou me aprofundar muito em sua vida ou abordagens, algumas
certamente úteis. Existem inúmeros hipnotizadores e institutos
que trabalham e ensinam de acordo com os princípios Ericksoni-
anos. A glorificação de Milton Erickson e seus métodos, porém,
levou a hipnose a ser vista por médicos interessados como inefi-
caz, complicada e ineficiente. Este psiquiatra e psicoterapeuta
norte-americano, tinha um talento especial ao trabalhar com pa-
lavras, metáforas e histórias, sendo capaz de conectá-las às carac-
terísticas específicas de personalidade, habilidades e memórias
do cliente. Mas seu método de prática funcionou muito bem ape-
nas para ele, pois nem todos os hipnotizadores têm condições de
implementar seu estilo, especialmente se eles não viveram uma
vida tão difícil quanto a dele, possuem suas habilidades particu-
lares ou lidam com a hipnose diariamente.

70
Dave Elman e Gerald F.
( Jerry) Kein

Para mim, as técnicas desenvolvidas por Dave Elman fun-


cionam muito melhor e, acima de tudo, são mais rápidas do que
qualquer um dos métodos de Erickson, porque foram estrutura-
das de uma maneira fácil de entender, em etapas claras e repro-
dutíveis. Além disso, o foco está claramente na causa: foram pro-
jetadas para serem elucidativas.
Dave Elman (1900–1967) ensinou a mais de 10.000 médicos
e dentistas a metodologia de elucidação, mas por ele não ter tido
um título acadêmico, as associações médicas muitas vezes acaba-
ram por assumir a autoria dessa instrução. Além disso, à época,
a maioria dos profissionais voltou-se para os métodos de Erick-
son, porque este sim tinha um “bom diploma” e ainda dispunha
de certas vantagens: nunca precisava provar a eficiência de suas
práticas, pois suas terapias, quando realizadas por um médico
credenciado, haviam sido pagas pelos provedores de planos de
saúde. Há, também, uma diferença substancial entre eles: Na me-
todologia de Erickson, o tempo não era necessariamente um fator
relevante, então a interpretação da expressão "terapia de curto
prazo" foi totalmente distinta da dupla Elman e Kein, que defen-
diam que tudo poderia ser resolvido em uma única sessão.

71
Nos últimos 20 anos, no entanto, essa situação mudou, e eu
continuo a trabalhar ativamente para que mais transformações
aconteçam. Graças a Jerry Kein, o nome de Dave Elman não foi
relegado às sombras e, hoje, mais de 50 anos após a publicação
de seu livro Findings in Hypnosis, que está disponível agora sob o
título Hypnotherapy, esses novos métodos e técnicas estão sendo
aplicados por mais e mais hipnotistas ao redor do mundo.
Quando era garoto, Jerry Kein (nascido em 1939) ajudou
Dave Elman com gravações de áudio de suas apresentações e de-
monstrações, e durante este tempo foi treinado por ele. Esse ma-
terial ainda está por aí e é o exemplo perfeito do quão Dave El-
man trabalhou de forma exemplar. Ele foi um mestre, generoso,
que não quis manter o seu conhecimento a sete chaves, optando
por compartilhá-lo massivamente por acreditar que ele poderia
ajudar a aliviar o sofrimento de muitas pessoas.
Elman trouxe estrutura à hipnoterapia e também explicou
como avançar para os níveis mais profundos de hipnose. Hoje,
ainda usamos muitas de suas técnicas, refinadas a ponto de difi-
cilmente conseguirmos aprimorá-las. Para Jerry Kein, não havia
outros métodos além dos de Dave Elman. Quando mais tarde ele
participou de outros cursos de treinamento, foi extremamente
desiludido pela forma ineficientemente como a hipnose e a hip-
noterapia estavam sendo ensinadas. Assim, em 1979, 12 anos
após a morte de Elman, ele decidiu criar sua própria escola (a
OMNI Hypnosis Training Center, na Flórida, EUA), a fim de ga-
rantir que os métodos e técnicas de Dave Elman sobrevivessem.
Kein expandiu e aprimorou ainda mais esses novos desen-
volvimentos. Com a proliferação da internet na década de 1990,
assuntos relacionados a Elman começaram a se espalhar. Mais e
mais pessoas tiveram acesso ao seu trabalho, porém muitas ape-
nas o associaram à indução de hipnose que leva o seu nome. Ele
representa muito mais do que isso. Apesar de tudo isso, ainda
hoje há especialistas em seus campos que o subestimam e ao seu
trabalho, ou nunca ouviram falar dele.

72
Dave Elman foi um pioneiro da hipnose moderna e da hip-
noterapia. Sua visão sobre como os problemas se formam na
mente subconsciente e como eles podem ser resolvidos é genial.
E tudo foi minuciosamente explicado de forma simples e prática.
Ele sabia o quanto era importante enfatizar a seus estudantes que
usassem seus ensinamentos como base para o próprio desenvol-
vimento pessoal e ver a falha ocasional como uma chance de
aprimorarem-se. Além disso, ele prezava muito a relação entre o
cliente e o hipnotista, pois sem uma parceria, a chance de sucesso
no trabalho seria escassa.
Daí o fato de mirar o cliente nos olhos e não de cima para
baixo. A maioria das pessoas reage positivamente quando se sen-
tem reconhecidas, ouvidas. O tempo dedicado aos clientes, por-
tanto, é de extrema importância. E ele pode ser breve. O que
Dave Elman já havia entendido antes de 1960 é ainda mais im-
portante e relevante hoje: "um médico não vai usar a hipnose se
a indução demora mais do que uma injeção". Há hipnotizadores
que utilizam métodos de Erickson e obtêm resultados. Afirmar o
contrário seria errado. Mas, não com a eficiência, velocidade e
eficácia que seria possível - como Dave Elman demonstrou nos
anos 1950 e 60, enquanto treinava mais de 10.000 médicos, den-
tistas e psiquiatras. Isso não é colocar um método contra o outro,
ambos têm seus pontos positivos e cada um poderia se beneficiar
dos aspectos da outra abordagem. É que um deles é claramente
dominante. No topo de tudo, a glorificação de Erickson por dois
homens chamados Zeig e Rossi, bem como por seus alunos e ou-
tros, levou a hipnose a ser tratada com uma certa falta de respeito
no mundo de hoje, limitando assim a sua maior aceitação e utili-
zação.
Enquanto existirem hipnotizadores que pensam que uma
indução rápida pertence somente aos shows de hipnose de palco
e não tem nada a ver com hipnoterapia, continuará havendo uma
necessidade de esclarecimento. As pessoas não vêm a nós por
causa da hipnose. Elas vêm pelo que podemos fazer para ajudá-

73
las enquanto estão nesse estado. Por que devemos permitir que
um cliente pague por uma sessão de uma hora, levando de 20 a
40 minutos só para a indução de hipnose, quando é possível fazê-
la em qualquer lugar entre 10 segundos, talvez cinco minutos?
Os clientes, por sinal, são gratos quando podem entrar em hip-
nose mais rápido, porque teremos então mais tempo para o que
eles vieram fazer: a abordagem terapêutica, ou a trans(e)forma-
ção5.
Os métodos de Elman são muito mais eficientes e direcio-
nados do que qualquer coisa que esses hipnotizadores que prati-
cam de acordo com Erickson jamais poderiam suspeitar. O que
eles aprenderam não foi satisfatório em geral, porque era algo
tedioso e muitas vezes frustrante. Por que funcionava para Erick-
son e não para os outros? Porque seu gênio particular não pode
ser reproduzido. A situação foi agravada por meio de uma reco-
mendação errada para o cliente, a opinião predominante de que
tais métodos diretos seriam "muito agressivos" e muito rápidos
e, ao fazê-los, você pode afetar a alma, o que seria perigoso (uma
bobagem completa, apenas mostra a ignorância e a falta de com-
preensão do assunto!).
Não é de se admirar, então, que a hipnose moderna, focada
na causa, e a hipnose em geral, nunca conseguiram uma oportu-
nidade! Estamos, no entanto, no limiar de colocar a hipnose e
suas várias formas de terapia sob uma luz inteiramente nova e
torná-la um dos mais reconhecidos e sustentáveis métodos de
cura naturais disponíveis, estabelecendo-a definitivamente como
uma alternativa muito antes das terapias prolongadas, dos me-
dicamentos ou outros tratamentos tornarem-se necessários. A
hipnoterapia moderna é focada na causa e deve se tornar uma

5 NOTA DO TRADUTOR: Se deriva de um trocadilho em inglês


“Trans(e)formation”, onde a palavra sem o “e” significa “transforma-
ção” e a palavra com o “e” significa “formação de transe”.

74
opção padrão quando alguém está pensando em ir a um tera-
peuta ou médico. Neste sentido, este livro é também alimento
para o pensamento com o intuito de incentivá-lo a romper para-
digmas.
Jerry Kein treinou milhares de hipnotistas e recentemente
se aposentou. As técnicas que ele desenvolveu e aperfeiçoou con-
tinuam a conquistar mais e mais médicos e psicólogos. É uma
honra para mim ser autorizado a continuar a sua obra. Jerry Kein
sempre permaneceu fiel ao núcleo dos ensinamentos de Dave El-
man e seu princípio orientador: "regredir à causa e corrigí-la". Eu
também aderi à sua filosofia e a passo para meus alunos. Jerry
Kein, que encontrei pela primeira vez em seus vídeos instrutivos,
em 1997, fez repetidas declarações e afirmações cristalinas em
seu treinamento, que eu terminei nos EUA em 2006. Ele sempre
afirmou que seus métodos são simples, que qualquer pessoa
pode aprender se ela estiver realmente interessada; e se aplicar-
mos corretamente o que nós apreendemos, o sucesso virá auto-
maticamente. Ele estava certo, como em muitas outras de suas
declarações.
Em 2007, Jerry Kein me disse que sempre haverá aqueles
que não compreendem esses métodos e, na verdade, vão lutar
contra eles porque são demasiado radicais. Ele me pediu para ig-
norar os críticos, para insistir sobre os princípios fundamentais e
nunca desistir. A resistência foi exatamente como ele previu e os
cursos de hipnose e hipnoterapia OMNI têm desfrutado de
grande popularidade à medida que mais e mais terapeutas e ou-
tras pessoas interessadas são instruídas sobre essas práticas sim-
plificadas de hipnose eficiente e moderna. Existem agora mais de
vinte localidades do mundo onde os métodos estão sendo ensi-
nados.
Dave Elman e Jerry Kein disponibilizaram uma base ampla
e sólida de conhecimentos que tornou possível para centenas de
hipnotistas realizarem todos os dias um trabalho excepcional e

75
efetuarem intervenções reais no menor tempo possível. É a mi-
nha opinião, mas muito mais do que apenas isso. É também uma
filosofia, uma ética de trabalho, e tudo para o benefício do cliente.
“Tudo é possível em uma única sessão”. “Regredir à causa e cor-
rigir”.
Para aqueles interessados em ir mais a fundo na trajetória
de Dave Elman e sua metodologia, eu recomendo o seu livro
Hypnotherapy ou o conjunto de DVDs em quatro partes que eu
gravei junto do filho dele, Larry Elman, em 2012, na cidade de
Zurique. Lá, você vai encontrar um olhar profundo sobre a sua
história, bem como um vasto material sobre suas técnicas e mé-
todos de trabalho.
Esses itens podem ser encomendados online em muitos lu-
gares. Um deles é esse aqui: HypnoShop.NET.

76
Compreendendo a mente
Três ou quatro níveis?

Na lista de terminologia, abordamos três, talvez quatro di-


ferentes níveis de consciência. A mente superconsciente pode ser
considerada uma parte posterior ou expandida da mente sub-
consciente. Quer se trate de um nível separado ou não, eu não
posso responder com certeza. Suspeito que seja sim um nível se-
parado, os resultados de centenas de sessões nesse estado me le-
vam a deduzir isso. No entanto, não posso afirmar, pois não te-
nho nenhuma comprovação.
Vou explicar o conceito inteiro com minhas próprias pala-
vras baseado no chamado modelo da mente de Jerry Kein. Acho
que esta é, até agora, a explanação mais simples, mais convin-
cente e mais conclusiva de como e por que a hipnose funciona
sem o uso de terminologias científicas desnecessárias que só
iriam complicar toda a questão. Quando alguém entra em meu
consultório, é exatamente dessa forma que eu falo sobre a hip-
nose, o modo como ela funciona, as conexões, bem como o papel
real do cliente no processo. A hipnose, os componentes de nossa
mente, bem como suas funções e tarefas devem ser apresentados
com simplicidade - só então ela poderá ser compreendida.

77
Quando algo é entendido, o medo diminui automaticamente e a
curiosidade aumenta.
Qualquer pessoa que não tenha medo e queira entrar em
hipnose, de fato o faz. Por isso, o mais importante é: explicar às
pessoas, de forma clara e objetiva, do que se trata para que a con-
siderem um método possível de obtenção de ajuda, de permane-
cerem saudáveis ou de experimentarem a cura.

Ilustração 1: Modelo da mente de Gerald F. Kein

“A hipnose é atravessar o fator crítico da mente consciente e es-


tabelecer um pensamento seletivo aceitável”

78
Quando vemos uma representação gráfica desta definição,
ela se torna mais compreensível (ver ilustração 2).

Ilustração 2: Atravessando o fator crítico no modelo da mente.

Existem dezenas de maneiras possíveis de como isso pode


acontecer. Em 99% dos casos, esse atravessamento ocorre de
forma completamente espontânea, natural e não intencional. Nós
experimentamos o estado de hipnose mais frequentemente do

79
que a maioria das pessoas imagina e, sim, até mesmo diaria-
mente! É por isso que o medo é completamente equivocado; es-
tamos entrando e saindo desse estado a toda hora. Basta a nossa
mente consciente ir para o banco de trás da mente subconsciente.
Isso acontece sem pensar, por assim dizer, e as fronteiras
são muitas vezes fluidas, nem sempre tão claramente delineadas.
Por consequência, um hipnotizador experiente sabe e usa técni-
cas de hipnose de vigília, a fim de ajudar os clientes a alcançar o
sucesso ainda mais rápido. Aqui estão as descrições dos níveis
individuais de consciência.

Ilustração 3: Os níveis distintos do modelo da mente de acordo com G.


F. Kein

80
A mente consciente

Primeiro, temos a mente consciente. Esse é o estado em que


nos encontramos agora e onde passamos a maior parte de nossas
horas de vigília. É extremamente lógico, analítico e racional. No
entanto, a mente consciente é responsável por apenas 5% a 10%
de quem, o que e como nós somos. Nada mais.

81
Memória de curto prazo

A memória de curto prazo reside na mente consciente. É


um tipo de armazenamento em que nós mantemos tudo o que
precisamos para nos ajudar a passar o dia. Por exemplo, a pro-
gramação diária, como chegar ao trabalho e voltar para casa, nú-
meros de telefone e informações semelhantes. –Ou seja, apenas a
memória de curto prazo.

82
Força de vontade

Também na mente consciente, encontramos a vontade ou


a força de vontade. Nós todos conhecemos a vontade: por um
curto período de tempo podemos nos esforçar conscientemente
para fazer ou não fazer alguma coisa, mas em algum ponto adi-
ante na estrada nós voltamos a nossos velhos padrões, porque a
vontade consistente, em períodos mais longos, esgota-se. Com o
tempo, ela quase sempre perde a batalha para a mente subcons-
ciente,. Como o poder do inconsciente sobressai-se ao do consci-
ente, quase nunca existe uma possibilidade de ganhar apenas
com a força de vontade.

83
As faculdades lógicas,
analíticas e racionais

Além da vontade, temos as seguintes características da


mente consciente: ela é lógica, analítica e racional. Tenta encon-
trar uma razão para tudo, uma explicação de por que temos um
problema, porquê nós fazemos, sentimos ou percebemos algo.
Um exemplo: Vamos dizer que você está deitado em meu escri-
tório em um sofá confortável. De repente, sente frio e percebe que
há uma corrente de ar. Você olha ao redor e nota que a janela está
aberta. Ou se levanta para fechá-la ou me pede para fazê-lo e o
problema aparentemente está resolvido. Só que não está. Razões
muito mais complexas, situadas no subconsciente, como: asma,
enxaquecas, depressão, fobias, gagueira ou compulsões pode-
riam justificar o seu incômodo. Na maioria dos casos, a razão que
as pessoas dão para os seus problemas é equivocada. Podemos
pensar que sabemos o motivo, mas a verdadeira causa muitas
vezes está escondida profundamente na mente subconsciente.
Veja esse outro caso: um cliente diz "estou depressivo por-
que minha esposa me deixou". Essa é a mente consciente e racio-
nal dizendo isso, ou é um reflexo do que foi falado para ele, di-
agnosticado, por assim dizer. O fato é que a situação poderia
muito bem ser o chamada de ECF (Evento Causador Final), mas

84
não é a razão pela qual alguém se torna depressivo. Essas histó-
rias me interessam muito pouco, quando interessam. Eu normal-
mente não presto muita atenção. Se fosse verdade tudo o que as
pessoas me dizem sobre de onde elas acham que seu problema
vem e por que elas o tem, a maioria dos seus problemas não exis-
tiriam. Eu faço hipnose, não psicoterapia. Há outros que fazem
terapias da conversa. Quanto mais tempo eu ouvisse suas racio-
nalizações, mais eu poderia me permitir ser influenciado e gui-
ado pelo caminho errado. Eu não quero isso e também não faz
qualquer bem real ao cliente. Muitos até já passaram por algumas
sessões antes em que falaram mais de uma vez sobre seus pro-
blemas. Se tivesse funcionado, eles não teriam que vir até mim.
É como um barril com o escoadouro tampado por uma ro-
lha, que vai se enchendo, gota a gota. Em algum momento, uma
única gota transborda o barril. Por que deveríamos nos concen-
trar nesta última gota (sintoma)? Seja o que for que está obstru-
indo o escoadouro, tem que ser removido para que a água possa
fluir normalmente. A causa e não a última gota fez o barril trans-
bordar. Mas é disso que a maioria das pessoas se lembra e é nisso
que muitas outras formas de terapia focam. Na hipnose, usando
os métodos de elucidação, essas gotas desempenham um papel
menor.
A causa real, a rolha, encontra-se profundamente enter-
rada na mente subconsciente, e em 95% dos casos, as teorias
auto-estabelecidas da pessoa ou os diagnósticos que pode ter re-
cebido estão totalmente errados. Um problema só é realmente
eliminado quando é resolvido ou neutralizado no subconsciente,
e isso funciona de forma muito mais simples do que geralmente
se aceita ou do que é dito.

85
O fator crítico

Temos outra coisa na mente consciente: é o chamado "fator


crítico". Ele é como um empregado da mente subconsciente, mas
reside na mente consciente. Lá, ele funciona como uma espécie
de porteiro, um filtro. O fator crítico é realmente bom em suas
atividades. Ele faz uma triagem de todas as sugestões positivas e
negativas vindas do exterior e as analisa inicialmente para ver se
fazem sentido ou não. Em seguida, as comunica à mente sub-
consciente. Não sabemos como isso acontece, só sabemos que ele
o faz.

86
A mente subconsciente

Inteligente, mas muito espontânea e juvenil e nem sempre


lógica. Acima de tudo, ela tem sua própria lógica, que não é apa-
rente para a mente consciente. O subconsciente é responsável por
90% a 95% de quem, o que e como nós somos. Essa é a casa do
ego real. É para onde vamos em hipnose a fim de lidar com as
questões que contêm a programação relevante, na qual simples-
mente não podemos chegar quando estamos em um estado cons-
ciente.

87
Memória de longo prazo

Na hipnose, as sugestões filtradas são repassadas para a


mente subconsciente. Aqui, elas são comparadas com a progra-
mação de longo prazo de uma pessoa, armazenada na memória
de longo prazo. Tudo o que nós percebemos com os nossos cinco
ou seis sentidos é registrado aqui. Consequentemente, todas as
experiências, incluindo eventos pré-natais, ou seja, antes do nas-
cimento, estão arquivadas permanentemente aqui.
Vamos pegar os fumantes como exemplo. Eles dizem a si
mesmos que "fumar é prejudicial, fede, é caro, as crianças recla-
mam, e no inverno eu tenho que ir para fora no frio para saciar a
vontade". Essas são todas razões lógicas pelas quais eles deveriam
abandonar o vício. "Ok", eles dizem para si mesmos, "eu vou pa-
rar de fumar por essas razões". Isso é uma sugestão. Essa suges-
tão agora passa pelo filtro conhecido como fator crítico que rapi-
damente verifica se isso faz sentido ou não. E sim, no nível cons-
ciente e analítico, seria bom parar de fumar. Bem, a sugestão é
permitida através do subconsciente. Essa parte da mente, então,
verifica a sugestão com a programação de longo prazo armaze-
nada na memória de longo prazo. A programação de longo
prazo, no entanto, tem uma lógica totalmente divergente na qual
prejudicial, fedido e caro não podem ser encontrados. A lógica
nesse nível diz: "Eu me sinto aceito no grupo. Quando eu fumo,
meus nervos se acalmam. Eu estou fazendo algo proibido. Sinto-

88
me adulto ou isso irá manter a minha boca fechada". O que quer
que esteja armazenado lá, é comparado com a sugestão "Eu vou
parar de fumar por causa de x ou y". A programação de longo
prazo não se correlaciona com a sugestão. Qual delas vence no
final? Sim, exatamente, a mente subconsciente. Afinal, ela é res-
ponsável por 90% a 95% de quem, o quê, e como nós somos. As-
sim, a sugestão será rejeitada, e nada muda. Fumantes que real-
mente querem parar, estão presos à programação antiga. Para o
que eles podem se voltar, então? Naturalmente, para a vontade.
Mas, todos nós sabemos como a força de vontade funciona. O
sucesso a curto prazo pode acontecer mais de uma vez, mas
quando se trata de períodos mais longos de tempo, é quase sem-
pre a programação a longo prazo que se sobressai e diz: "eu sou
fumante".
O mesmo acontece com as pessoas que querem perder
peso. Por algumas semanas, talvez até um par de meses, elas po-
dem lutar como ex-fumantes. Mas, como a palavra já diz, eles são
mais ex-fumantes do que não-fumantes. Não-fumantes não sen-
tem a necessidade de compensar. Ex-fumantes, no entanto, mui-
tas vezes devem encontrar alguma compensação. Talvez eles ga-
nhem peso, roam as unhas, tornem-se inquietos, ou adquiram
outros maus hábitos como alternativas para os cigarros. Em al-
gum momento, eles entram em uma situação de estresse, combi-
nada com a oferta de um cigarro, e a próxima coisa você já sabe:
estarão com um cigarro na boca. O ciclo começa novamente. Eles
conseguem parar por algumas semanas ou meses e depois reco-
meçam. Isso pode ser repetido duas, três, talvez quatro vezes an-
tes de se resignarem e dizerem internamente: "a vida é assim
mesmo, eu sou um fumante". Isso também é uma sugestão que
passa pelo filtro do fator crítico, é comparada com a memória de
longo prazo, onde se encontra a afirmação: "eu sou um fumante".
O que isso traz? A longo prazo, a programação é afirmada e re-
forçada, ao mesmo tempo.

89
Quanto mais vezes alguém para e começa a fumar nova-
mente, mais forte será a programação no subconsciente, resul-
tando em ainda menos resistência para começar de novo. Além
disso, os intervalos são geralmente mais curtos, também.
Quando os fumantes conseguem passar, digamos que seis meses
antes de retomar o vício, o próximo intervalo pode ser de apenas
seis semanas antes de uma recaída. Com a terceira tentativa, po-
deria ser de apenas seis dias e, pela quarta vez, eles podem dizer
a si mesmos no café da manhã que é realmente hora de parar.
Mais tarde, no carro a caminho do trabalho, eles já estão com um
cigarro pendurado em seus lábios. Eles se conformam com o fato
e a declaração "eu sou um fumante" é ainda reforçada com cada
tragada, enquanto o subconsciente se deleita no fato de que a
programação a longo prazo foi mantida.
Imagine só: tudo o que você já percebeu com os seus senti-
dos, ouviu, viu, provou, cheirou, sentiu ou experimentou está ar-
mazenado em sua mente subconsciente. Talvez você já teve essa
sensação. Você ouve um determinado trecho de música ou cheira
uma comida e de repente é transportado para um ponto no seu
passado. Você pensa: "uau, essa é a música que dançávamos no
jardim de infância" ou "oh, isso é o que a minha avó cozinhava"
ou reações semelhantes. As emoções são despertadas, talvez ima-
gens apareçam, e é como se tudo estivesse acontecendo nova-
mente. É tão real apesar do fato de você ter pensado que tivesse
esquecido há muito tempo essas memórias. Elas são levadas para
dentro da mente consciente, devido a um estímulo externo - um
perfume, um som, um toque ou uma imagem que promoveu a
ativação de determinadas sinapses em seu cérebro. Isso traz lem-
branças que você acreditava que há muito tempo haviam sido
perdidas, e você quer saber como isso poderia acontecer. Todas
essas sensações foram armazenadas em seu subconsciente. Este
é um fenômeno puramente aleatório, no entanto. Quando traze-
mos a hipnose para o processo, podemos eliminar o acaso. Pode-
mos voltar, de forma orientada, a qualquer momento da nossa

90
vida e reviver tudo de novo, como se fosse a primeira vez. Essa
é a memória de longo prazo. Muito fascinante!

91
Autoproteção

Chegamos agora à parte mais importante da nossa mente


subconsciente: a autoproteção. Esse mecanismo nos protege de
perigos verdadeiros, bem como imaginários. Imagine se nós es-
tivéssemos aqui com outra pessoa, alguém que tenha pânico de
cobras. E agora, imagine que uma cobra vem rastejando para
dentro da sala. Nenhum de nós acharia isso particularmente en-
graçado, mas a pessoa com fobia de cobras, neste momento, per-
deria o controle de todas as emoções. Ela poderia pular em cima
da mesa tremendo, sem conseguir se conter. Você e eu, enquanto
isso, de alguma forma resolveríamos o problema da cobra na sala
após o susto inicial.
Mesma situação, só que desta vez alguém joga uma cobra
de borracha na sala. No início, os nossos olhos nos diriam: veja,
uma cobra! A pessoa com fobia de cobras imediatamente saltaria
sobre a mesa tremendo, perdendo a razão. Você e eu poderíamos
rir da cena e, talvez, até mesmo mexer a serpente de borracha no
rosto da pessoa em pânico, mas isso só faria com que toda a coisa
piorasse para ela, pois sua mente subconsciente literalmente não
conseguiria distinguir entre o real e a imitação. O medo é genu-
íno, mesmo que a serpente seja falsa. Mesmo se tivéssemos de
explicar que não havia nenhuma razão para temer, a emoção blo-
queia qualquer entendimento e, com ele, toda a lógica.

92
As pessoas com fobias são muitas vezes repreendidas e ori-
entadas a se acalmar, mas elas ficam realmente muito impotentes
nessas circunstâncias. O componente de autoproteção do seu
subconsciente tem uma função, que é: SOBREVIVER. Isso acon-
tece lutando, fugindo ou fingindo-se de morto. Esse mecanismo de
autodefesa ou instinto de sobrevivência é extremamente vital
para todos os seres vivos. Se nós não o tivéssemos, estaríamos
constantemente fazendo coisas que poderiam ser fatais e nossa
espécie correria o risco de entrar em extinção. Só que em certas
pessoas, essa reação é hiperativa. Talvez houvesse uma razão
para tal reação há muito tempo, mas se o perigo já passou, então
por que o medo ou pânico permanecem?
Por que a programação negativa entra no cérebro de forma
muito mais fácil do que a programação positiva? Isso é relativa-
mente simples de explicar. Temos de ser capazes de reconhecer
e processar coisas negativas, como o perigo, muito mais rápido
do que coisas positivas. Isso possivelmente seja o resultado da
evolução, de quando se deveria evitar um tigre dentes-de-sabre,
porque o último encontro havia lhe custado um braço; ou não
comer aquele cogumelo vermelho com os pontos brancos de
novo, porque da última vez alguém ficou doente; ou ficar fora do
caminho de uma cobra depois que alguém foi mordido e morreu.
Isso é muito mais vital para nós do que desfrutar de um pôr do
sol ou confiar em alguém. Aprendemos, ao longo de milhares de
anos, a reagir a estímulos negativos muito mais rápido do que a
experiências positivas. A fim de garantir o efeito de aprendiza-
gem, as sinapses no cérebro disparam rapidamente. Para inter-
romper essas conexões novamente é necessária uma grande
quantidade de esforço. O esforço deve muitas vezes ser maior do
que o gatilho. Isso é possível em hipnose.
Fóbicos realmente não têm fobia de cobras, aranhas, ou do
que quer que seja. Essas fobias e medos não existem na realidade.
Há apenas medo do medo e em algum momento, em um momento
de emoção, o subconsciente projeta o sentimento de medo em

93
algo. Uma hora é de voar, outra hora é de aranhas, injeções, den-
tista, o que for, mas, no final, é sempre apenas o medo da emoção
do medo. O tratamento para resolver essa questão geralmente
leva cerca de meia hora, no máximo, três horas. Naturalmente,
existem casos mais complexos, mas eles são um pouco raros.
Um mecanismo de autoproteção inato normal, não o hipe-
rativo ou falsamente programado, também funciona muito bem,
por sinal, nos mais profundos estados hipnóticos. Se, durante a
hipnose, eu fosse solicitar algo de você que considera imoral ou
perigoso, nada poderia acontecer. De novo: eu simplesmente não
posso forçar você a fazer algo que de outra forma não iria querer
fazer. Não é confortante?

94
Sentimentos e emoções

Além do mecanismo de autoproteção, encontramos tam-


bém a sede dos sentimentos e das emoções no subconsciente. Há
os sentimentos bons e positivos que gostaríamos de ter, tais como
amor, carinho, segurança, união, relaxamento, etc. E há aqueles
que achamos desagradáveis, como raiva, ódio, culpa, solidão, in-
segurança e dor. Quando esses sentimentos negativos persistem
por muito tempo, eles podem resultar em úlceras do estômago,
intestino irritável, câncer, dentre outras doenças. Em algum mo-
mento, o corpo reage a esse estresse e o que ele faz é muito difícil
de prever. Essas emoções apenas estão muitas vezes latentes no
subconsciente e nós as notamos primeiro quando se manifestam
na forma de sintomas físicos. Nós geralmente não fazemos a co-
nexão entre esses sentimentos e os sintomas e vice-versa.

95
Hábitos

São de três tipos: bons, maus e a maioria – em torno de 95%


– apenas úteis. Eles também residem em nosso subconsciente.
Quando você acorda de manhã, fica deitado na cama con-
siderando qual perna vai levantar primeiro? Não, você simples-
mente se levanta. Ou, quando amarra os cadarços, o faz de forma
mecânica ou precisa pensar sobre cada etapa dessa atividade?
Você simplesmente faz. No entanto, quando observa uma cri-
ança pequena aprendendo a amarrar os cadarços corretamente,
aquilo parece ser uma tremenda façanha mental. Você não deve
perguntar neste momento, entretanto, se ela prefere comer uma
maçã ou uma pera, pois ou irá amarrar os cadarços ou respon-
derá à pergunta.
Consegue se lembrar da sua primeira aula de direção? Pe-
dal do acelerador, embreagem, freio, volante, mudança de mar-
cha, espelho retrovisor, espelhos laterais e, em seguida, seu ins-
trutor começa a lhe contar como foi seu fim de semana. É o bas-
tante: erra a marcha e o carro morre. E como é que você dirige
hoje? Entra no carro e simplesmente dirige, provavelmente o
tempo todo cuidando de vários outros pensamentos ou até
mesmo comendo um lanche. Não precisa nem mesmo pensar so-
bre o que está fazendo. Dirigir se tornou um hábito. Então, nós

96
queremos manter os bons hábitos e os úteis também. A boa notí-
cia sobre os maus hábitos é:
“Todo hábito que você pode criar, você também pode eli-
minar” Gerald F. Kein
As pessoas não nascem com medo de voar ou com uma
vontade irresistível de fumar um cigarro. Sua mãe não tentou
acalmar você com um cigarro quando tinha três anos de idade.
Não. Pessoas decidem se querem fumar em um momento de "de-
sarranjo mental absoluto", quando atingem uma certa idade. Em
seguida, vem o dia em que eles querem largar o hábito. Mas um
não-fumante já foi um fumante para a mente subconsciente por
um longo tempo. Daí a dificuldade de abandonar o vício se não
por meio de algo que acesse essa nossa porção mais profunda.
Agora nós temos um pequeno problema. Embora o
subconsciente seja altamente inteligente, também é
relativamente preguiçoso, lento e feliz na zona de conforto. Ele
realmente não quer mudar o status quo porque mudança exige
um esforço que não tem apelo nesta parte da nossa mente. Um
esforço considerável para fixar a programação existente já foi
feito. Não há quase nenhum desejo de reprogramar agora. É
nesse momento que o hipnotista tem de usar sugestões
plausíveis a fim de obter êxito naquilo com o que se propôs
trabalhar.

97
A mente inconsciente

Em seguida, há a mente inconsciente. Isso diz respeito aos


hipnotistas em maior ou menor grau, dependendo de algumas
coisas. Todas as nossas funções corporais automáticas são
controladas pelo inconsciente: batimento cardíaco, respiração,
reflexos, sistema imunológico, digestão, pressão arterial,
produção hormonal, e assim por diante. Não podemos
influenciar diretamente o inconsciente com a hipnose; podemos
ter apenas uma influência limitada através do subconsciente.
Não temos condição de fazer o nosso coração parar de bater de
repente ou, ainda, de forma voluntária parar de respirar por
muito tempo.
Podemos, no entanto, influenciar de forma positiva a
mente inconsciente quando, por exemplo, se trata de preparar
alguém para uma operação, ou ajudando-o a se recuperar depois.
Existem alguns hospitais onde cirurgias são realizadas com a
hipnose apenas, sem qualquer anestesia ou narcose. como
vimos, dentistas podem ajudar seus pacientes a parar de sangrar,
aliviar a dor, reduzir o fluxo de saliva ou reflexos de engasgo.
Eles podem extrair dentes, instalar implantes, perfurar até a raiz
e tudo sem injetar um anestésico; com a hipnose, apenas. Além
disso, eles têm condições de influenciar positivamente a
cicatrização de feridas, para que uma recuperação 50% mais

98
rápida se encontre dentro de suas possibilidades.
Com as pessoas que sofrem de câncer ou outros desafios
semelhantes, podemos acompanhar as abordagens médicas
normais com hipnose e dar suporte a esses pacientes de uma
forma muito positiva, fortalecendo o sistema imunológico, bem
como ajudando a gerenciar o estresse que segue o diagnóstico.
Além disso, descobrir e resolver as causas mentais e emocionais
que poderiam ter desencadeado a doença. A hipnose pode fazer
muita coisa. Nós ainda temos muito a aprender, mas é possível
construir em cima do que já sabemos. Boa parte do que está
sendo pesquisado em universidades e outras instituições, já era
sabido por nós há muito tempo. A hipnose funciona e a temos
usado com sucesso na vida diária.

99
A mente
superconsciente

Finalmente, chegamos ao superconsciente - o quarto com-


ponente do nosso cérebro ou da mente. Se ele realmente existe
ou não, se é potencialmente uma parte de uma mente subconsci-
ente expandida ou não, não podemos responder, mas muitas
pessoas acreditam, estão até convencidas, de que de fato deve-
mos ter uma mente superconsciente. Alguns consideram que é
um espaço espiritual, outros que é apenas um lugar confortável.
Ainda há os que têm experiências religiosas profundas a esse ní-
vel. As pessoas o percebem um pouco diferente; isso depende da
concepção de mundo de cada um. O fato é que quando levamos
nossos clientes a este espaço, a autodescoberta, a inspiração, a
cura espontânea, e muito mais se tornam possíveis.
No consultório, quando estou em dúvida, eu simplesmente
omito a explicação do superconsciente, uma vez que geralmente
traz mais perguntas do que há de tempo para respondê-las e isso
pode prejudicar o sucesso do trabalho. Não é incomum que o su-
perconsciente seja visto como um conceito filosófico em que cul-
turas, sistemas de crenças, visões de mundo e religião entram em
jogo, mas para a própria terapia, não é nem favorável nem essen-
cial.

100
Os sintomas
e suas causas

A mente subconsciente é a sede do ego real. É o lugar onde


todos os problemas estão enraizados, bem como suas soluções,
muito embora ignoremos isso, atribuindo maior valor à mente
consciente, racional e lógica. Mas me diga: como pode 5% do
todo sobressair-se aos outros 95%? O subconsciente é considera-
velmente mais forte. A mudança permanente ali realmente
ocorre apenas quando a programação a longo prazo é abordada.
Todo o resto geralmente resulta apenas em um sucesso temporá-
rio e só depois de muita terapia, com conversas tediosas no nível
consciente. O que pode ser bem frustrante para os clientes.
Dave Elman muito corretamente percebeu que "cada sin-
toma tem uma causa". Essa causa está enraizada no subconsci-
ente e é mais provável que esteja 95% escondida da consciência
e compreensão da pessoa afetada ou do terapeuta, uma vez que
o subconsciente tem a sua própria lógica e nós não podemos
nunca, nunca quebrar com uma abordagem consciente e racio-
nal.
A verdade por trás de cada sintoma pode ser encontrada na mente
subconsciente. Para ela, não faz diferença o que acreditamos ou o que

101
alguém nos diz ser a causa de um problema. Só ela tem conhecimento a
respeito.

Ilustração 4: representação alternativa dos poderes da mente consci-


ente em comparação com a mente subconsciente.

102
ECI, ECS e ECF
O que há por trás do
problema

Um evento causador final (ECF), muitas vezes pode ser


identificado como tal pela maioria das pessoas. "Minha depres-
são começou depois que minha esposa me deixou" ou: "esse pâ-
nico quando falo na frente de outras pessoas simplesmente me
bateu quando eu tive que apresentar um projeto importante para
os chefes no trabalho. Minha língua travou e praticamente perdi
a voz. Agora, eu tenho um medo constante de falar em público".
Para voltar ao meu exemplo anterior, essa é a última gota
que fez transbordar o barril tapado. Não é a causa. Esse é apenas
o sintoma de que tomamos conhecimento em um determinado
momento. É a primeira vez que começamos a sentir que algo não
está certo. Nós não podemos saber ou imaginar que a causa real,
a origem do problema, encontra-se muito mais para trás. Houve
um evento causador inicial que desencadeou uma série de efeitos
secundários e, agora, a partir do momento em que a mente sub-
consciente comunica à consciente que algo está errado, nos da-
mos conta do problema.

103
Claro, entender essa lógica, para não mencionar resolvê-la
por conta própria, não é uma tarefa fácil para leigos. Se psicote-
rapeutas, psiquiatras e médicos abordam um problema concen-
trando-se apenas sobre o sintoma, como, pois, uma pessoa que
não é da área seria capaz de chegar à causa raiz? Hipnotistas não
fazem diagnósticos - isso é algo para médicos e outras pessoas
qualificadas, mas um diagnóstico, em muitos casos, não é nada
mais do que um rótulo com o qual o cliente vagueia procurando
aconselhamento e cura.
Os diagnósticos são baseados em algo perceptível. Mas que
bem realmente fazem a alguém quando indicam um quadro de
"depressão" ou algo semelhante? Eles, em si, ajudam apenas par-
cialmente. Com demasiada frequência, as pessoas acabam fre-
quentando palestras incontáveis e longas que as confundem so-
bre o problema e formam hipóteses sobre qual poderia ser a
questão real, a causa do que as aflige, e qual seria a melhor abor-
dagem possível para resolvê-la..Isso tudo, no entanto, tem lugar
naqueles 5% do nível consciente em que o sintoma é experimen-
tado, enquanto o motivo ainda está incorporado à lógica do sub-
consciente.

104
1. ECI cria as primeiras impressões no cérebro. Aqui, o escoa-
douro é obstruído
2. ECS 1, 2 e 3 reforçam o ECI. Eles “enchem o barril até a borda”
3. ECF traz o problema para a consciência. É a última gota que
faz o barril transbordar
Eu gostaria de descrever a você um exemplo que eu uso
sempre para explicar aos estudantes ou clientes a função e a in-
teração entre a mente consciente e a mente inconsciente. Isso de-
monstra a natureza diferente, no que diz respeito à lógica de cada
uma.

105
A biblioteca

Vamos imaginar que um pai quer ler uma história de ninar


para o filho de 4 anos de idade e percebe que não tem um livro
adequado. Felizmente, uma das maiores bibliotecas do mundo,
com milhões de títulos, fica logo ao lado de sua casa.
O pai vai para a biblioteca e depois de uma longa busca
encontra seus clássicos "Contos de Fadas" favoritos, com histó-
rias infantis escritas por Hans Christian Andersen em 1835. Ele o
aluga e lê para seu filho dormir.
Como acontece na vida, o tempo voa e a data para devolver
o livro se aproxima. O pai, no entanto, tem que ir viajar a negó-
cios, mas não quer perder o prazo. Ele pede ao menino para re-
solver isso na volta da escola. O garoto entende o que é esperado
que ele faça e tudo está definido.
Então, na parte da tarde, a criança, que ainda não aprendeu
a ler, leva o livro de volta para a biblioteca. Aconteceu de ele che-
gar justo no momento em que o bibliotecário está em uma pausa
e ele não pode encontrar alguém para ajudá-lo com a devolução.
Sendo o menino responsável que é, e querendo agradar seu pai,
ele irá resolver o assunto com suas próprias mãos. Ele vê que o
grande edifício tem um elevador. Entra e percebe que há muitos
botões. Como ainda é pequeno e não pode ler, mas sabe como

106
operar um elevador, pressiona o botão mais alto que pode alcan-
çar. O elevador o leva até o 5º andar - ainda que a seção infantil
seja no 12º.
Ele sai no 5º andar e vaga brevemente sem rumo entre as
muitas pilhas de livros. Na primeira, não consegue encontrar um
lugar vazio para o seu livro. Em seguida, quatro filas mais adi-
ante, ele acha um ponto, mas é muito alto para ele alcançar. En-
tão, decide apertar o livro na prateleira ao nível dos olhos ao lado
de um outro título. Ops, não cabe, então ajoelha-se e, com algum
esforço, consegue enfiar os “Contos de Fadas” ao lado de um
com a capa da mesma cor. Tarefa concluída! E melhor ainda, dois
livros da mesma cor juntos! Ótimo!
Um par de meses mais tarde, outro pai carinhoso quer ler
o mesmo livro para seu filho. Ele vai à seção infantil no 12º andar
da biblioteca e começa a procurar, mas não encontra o que deseja.
Pede, então, ajuda à bibliotecária e ela, naturalmente, o leva de
volta ao 12º andar. Depois de não encontrar o livro onde ele de-
veria estar, eles começam a caçar em ordem alfabética de acordo
com o título, em cada andar, observando cuidadosamente cada
pilha com a letra "C" e não obtém sucesso. Talvez ele poderia ter
sido arquivado pelo nome do autor... mas mais uma vez a busca
é infrutífera. Talvez esteja arquivado por engano entre os sus-
penses...
Veja: nós nunca vamos entender a lógica de uma criança
como a de um adulto. 5º andar, porque o guri só poderia alcançar
essa altura. Não encaixou na prateleira ao nível dos olhos, por-
que não havia espaço, mas logo abaixo, onde havia uma brecha
ao lado de um livro com a capa da mesma cor.
Simbolicamente, a criança representa nossa mente sub-
consciente, espontânea, juvenil, e nem sempre disciplinada. O
pai e a bibliotecária representam a mente consciente adulta e ra-
cional, que tenta analisar o problema e resolvê-lo usando sua
própria lógica e experiência de vida. Sem envolver a criança e

107
perguntar a ela o que aconteceu, nós nunca, nunca podemos en-
contrar a solução. A criança fez tudo corretamente no momento:
livro devolvido, missão cumprida. No entanto, ser capaz de com-
preender isso 20, 30, 40 ou 50 anos mais tarde torna-se pratica-
mente uma missão impossível, a menos que nós empreguemos a
hipnose. Com ela, temos a capacidade de usar o nosso poder de
recordação de uma forma muito mais específica (hipomnésia)
para rastrear a raiz do problema. Assim que encontramos o livro
usando a lógica da criança, o colocamos de volta no seu devido
lugar, resolvendo o problema.
Podemos descrever este livro não intencionalmente extra-
viado como um ECI. ECIs ocorrem principalmente nas idades de
12 anos ou menos. Após isso, os cérebros dos jovens mais velhos
parecem ser mais maduros e capazes de classificar de maneira
diferente aquelas coisas que acontecem com eles e em torno de-
les, compreendendo e processando a vida melhor do que alguém
mais novo.
Baseado na minha experiência, eu diria que mais ou menos
95% de todos os ECIs (problemas causadores) ocorrem antes dos
13 anos de idade. Os meus alunos que trabalham com hipnose
confirmaram minha estimativa. Seria interessante compilar cien-
tificamente os números exatos, mas estou certo de que quaisquer
conclusões refletiriam esse percentual.
Não faz diferença alguma, a propósito, o que os outros nos
dizem ou o que acreditamos ser a causa. Não devemos encontrar
a verdade na mente consciente, nem onde o terapeuta pensa ou
interpreta que ela esteja. Não, a verdadeira causa está armaze-
nada na mente subconsciente. É lá que podemos encontrar e re-
solver o problema!
Nós ainda temos condição de acreditar plenamente, com a
nossa lógica, que compreendemos ou resolvemos um problema.
Terapeutas podem nos dizer muito sobre por que devemos ter
ou não ter essa dificuldade, mas enquanto o nosso subconsciente
não aceitar tudo isso, o problema permanece, ou, pior ainda, é

108
agravado devido a uma ruminação constante. Falar repetida-
mente dele, ainda que seja com boas intenções, é mais obstrutivo
do que benéfico ao longo do tempo, porque as pessoas têm uma
tendência natural a esquecer ou reprimir as coisas e apenas se-
guir com a vida.

109
A fórmula, como um ECI
ocorre

Aqui está uma fórmula simples, que resume tudo:

EVENTO + EMOÇÕES = PROGRAMAÇÃO

O cérebro vive para aprender e entender o que experi-


menta. Ele armazena tudo, assimila lições e faz conclusões base-
adas nessas percepções. Isso funciona excepcionalmente bem
99% do tempo, mas há algumas exceções que têm o potencial de
causar problemas mais tarde na vida.

110
Medo da perda

Imagine que você tem 3 anos de idade e está sentado na


caixa de areia onde brinca tranquilamente. Em seguida, o filho
do vizinho, um pouco mais velho e forte do que você, vem e te
toma o seu brinquedo favorito. Hora de gritar e chorar, certo?
Trágico, algum malcriado roubou o seu brinquedo. Lágrimas,
gritos, raiva. Onde está a mamãe para deixar tudo bem de novo,
para ensinar uma lição ao vizinho mau e me confortar? O valen-
tão do bairro pega o seu brinquedo e foge. Nesse momento, você
se sente trapaceado, impotente, enfurecido, e, ao mesmo tempo,
fica triste com a perda do seu brinquedo favorito.
Hoje, poderia perguntar: onde está o problema? Certo,
como uma pessoa de 20, 30, 40, 50 ou 60 anos de idade, você não
pode fazer mais nada além de encolher os ombros e dizer: "sim,
ok, foi ruim naquele momento, mas hoje eu superei essas banali-
dades". Exatamente, do ponto de vista de um adulto, com tudo o
que experimentou nesse meio tempo, é realmente nada mais do
que uma trivialidade. No entanto, esta pequena criança trauma-
tizada ainda vive dentro de você. Mas ela não tem a sua capaci-
dade cognitiva atual. Esse evento traumático, não pode ser devi-
damente classificado e processado pelo cérebro de uma criança
e, portanto, um ECI é registrado. Veja a fórmula: evento (perda
do brinquedo) + emoções (raiva, tristeza, fragilidade) leva à pro-

111
gramação (vamos supor que o medo da perda, tristeza). Dez mi-
nutos mais tarde, tudo é supostamente esquecido e você está
brincando de novo, depois de se distrair com algo.
Um ano mais tarde, é hora de começar o jardim de infância.
Mamãe te leva à escola, você se encontra com seus colegas de
classe e, em seguida, vem o momento da verdade: a mamãe vai
embora e você é simplesmente deixado para trás com todas as
outras crianças, que provavelmente não conhece, e com um
adulto também desconhecido. Você chora. Seu coração dói!
Onde está a mamãe?
Mais uma vez, temos um evento (mamãe te deixa sozinho
no jardim de infância) + emoções (medo da perda, tristeza), e isso
tudo é levado à programação em seu cérebro infantil que ainda
não pode avaliar completamente a situação. Só agora o cérebro
percebe que esse sentimento é familiar: eu tive esse medo da
perda antes. Ele começa agora a reconhecer e categorizar por as-
sociação e, novamente, as mesmas sinapses são acionadas. Só
que dessa vez, ele não está registrado como o primeiro evento
(ECI), mas como o segundo (ECS1). Temos, pela primeira ve, um
incidente que confirma os sentimentos no ECI, reforçando-os e
consolidando-os. Depois da escola, quando você está de volta
para casa com a mamãe, tudo é esquecido. Supostamente.
Algum tempo depois, quando está com 10 anos de idade,
o seu pai deixa a família. Ele se separa de sua mãe. Não é a me-
lhordas fases, as emoções na família estão no limite. Você teve
um super relacionamento com o seu pai e sente muita falta dele.
Um ECS2 é criado como resultado. Evento (separação dos pais)
+ emoções (medo da perda, tristeza) levam aos ECI e ECS1, que
são confirmados (novamente o cérebro reconhece o sentimento)
e reforçados. No nível consciente, você aprende a viver com a
situação. Sua mãe acredita que você tem tudo sob controle e que
está lidando bem com o problema. O subconsciente, por sua vez,
não se esqueceu de nada.

112
Então, aos 18 anos, tornou-se um adulto. Os desafios da
vida são totalmente diferentes. É chegada a hora do seu primeiro
grande relacionamento amoroso. Você está cegamente apaixo-
nado, é um momento incrível, até a sua nova namorada trocá-lo
por um de seus amigos. Mais uma vez, temos um evento (par-
ceira roubada) + emoções (medo da perda, tristeza), o que leva a
uma confirmação renovada e um reforço dos sentimentos do
ECI, bem como dos ECS1 e 2. O ECS3 é, assim, registrado no sub-
consciente.
*Todo mundo sabe que essas coisas acontecem na vida.
Elas fazem parte da trajetória do ser humano, afinal de contas. E,
em si mesmos, esses eventos não são realmente tão trágicos.
Vamos avançar: você está agora com 42 anos e, de repente,
perde o emprego, ou sua parceira chega com a notícia de que o
casamento acabou. Realmente não importa o que seja, mas um
evento como esse te leva à depressão e você acha que é impossí-
vel manter novas relações, porque o ciúme, agora, se tornou um
problema. Essa perda mais recente gera um ECF, a gota que
transborda do seu barril.
A partir de agora, você sofre de depressão e medo de
perda. Assim que um novo relacionamento surge, tudo se des-
morona devido ao ciúme excessivo, desencadeado pelo medo de
perder alguém, juntamente com o sentimento de tristeza. O pro-
blema se manifesta no nível consciente, com a chegada dos pri-
meiros sintomas. Em algum momento, você procura ajuda, por-
que percebe que não pode resolver isso sozinho. A primeira per-
gunta que o terapeuta faz é: "quando isso tudo começou?" e você
responde: "quando eu tinha 42 anos, minha parceira me deixou.
Desde então, tenho estado deprimido e me tornei extremamente
ciumento".
Hipótese aparentemente correta. Para sua mente consci-
ente, essa é a explicação lógica e racional, mas ela está errada. O
que virá a seguir, então, será possivelmente, uma abordagem

113
completamente equivocada para resolver o problema. Tudo co-
meçou com o ECI - na caixa de areia - e enquanto esse ECI e todos
os ECSs subsequentes não forem suficientemente resolvidos e
neutralizados, o problema no nível subconsciente permanecerá.
É preciso um esforço enorme no nível consciente, e meses, se não
anos de terapia, para resolver esse problema com algum grau de
sucesso, se o tiver.

114
115
Um ECI ou ECS
deve ser sempre de
natureza terrível?

Não, definitivamente não. Muitos ECIs, bem como ECSs,


são de natureza relativamente mundanas em retrospectiva. Na-
turalmente, no momento em que ocorrem, eles são vistos como
traumáticos, dependendo do estágio de desenvolvimento do cé-
rebro da pessoa afetada. Caso contrário, não teriam energia sufi-
ciente para se registrar como um ECI ou ECS. Como no nosso
exemplo anterior: quando o filho do vizinho roubou o seu brin-
quedo e fugiu, se a sua mãe estivesse lá para, pelo menos, abraçar
e confortar você, é bastante provável que nenhum ECI tivesse
ocorrido.
Muitas vezes acontece que nesses supostos momentos
traumáticos, nenhum dos pais ou outra pessoa de confiança está
lá para consolar a criança pequena. Esse é um traço comum que
aparece em várias sessões de terapia. Os pais não podem estar
presentes em todos os lugares e em todos os momentos. Por isso,
é importante que as crianças também se acostumem a lidar com
conflitos sem a ajuda deles e aprendam que nem todo mundo é
gentil e amável. Isso tudo contribuirá para a forma como irá lidar

116
com as experiências anos mais tarde. Do contrário, tais eventos -
aparentemente banais - poderão influenciar consideravelmente a
vida delas 20, 30, 40, 50 anos depois.
Claro, isso não significa que cada ECI leva necessariamente
a sintomas. Absolutamente. Para algumas pessoas, um único
ECS pode se tornar automaticamente o ECF, enquanto outros
exigem um grande número de ECSs antes da aflição transbordar
do inconsciente para o consciente.
Claramente, todos os hipnotistas que trabalham como eu
para descobrir a causa e resolvê-la, tiveram vários casos com
ECIs e ECSs realmente terríveis, tais como acidentes, morte de
familiares próximos, estupro, guerra, abuso sexual ou mental na
escola ou igreja, frieza emocional, pais que discutem quando o
álcool e/ou a violência estão envolvidos. Há algumas coisas de
fato incrivelmente horríveis que as crianças têm de passar, mas
mesmo quando a causa é bastante trágica, não há nenhum pro-
blema que não possa ser resolvido numa única sessão. Isto é o
que a minha experiência mostra, assim como a dos meus profes-
sores e alunos que estão trabalhando ativamente com esses mé-
todos. Tudo é possível em uma única sessão.

117
A fórmula de prontidão
para a mudança

NÍVEL DE SOFRIMENTO + DESEJO DE MUDANÇA = PRON-


TIDÃO E MOTIVAÇÃO PARA APOIO

Quando você não tem qualquer desconforto perceptível,


não procura ajuda ou suporte. Não há sofrimento presente que
irá movê-lo a considerar resolver o seu problema, seja ele qual
for.
Você tem que ter algo que incomode, que te faça sofrer,
juntamente com o desejo de mudar a condição. Nós todos temos
questões incômodas das quais gostaríamos de nos livrar, mas
muitas vezes apenas esperamos que elas diminuam, ou tentamos
ignorá-las, com maior ou menor sucesso. A mudança pode ocor-
rer, no entanto, apenas quando o nível de sofrimento é grande o
suficiente e o desejo de resolução é tão intenso que a pessoa está
pronta para ser ajudada. Isso certamente se aplica à hipnose,
onde a coparticipação do cliente é fundamental. Automotivação
e autorresponsabilidade são pré-requisitos básicos para que um
hipnotista possa de fato ajudar. Se você espera que a hipnose vá
lhe proporcionar uma cura milagrosa, que solucionará todas as
suas aflições, então está batendo na porta errada. Tem de haver

118
uma unidade interior, um desejo de mudança, bem como a dis-
ponibilidade para permitir que isso aconteça e te estimule.
A hipnose não é simplesmente uma pílula que pode ser
prescrita por um médico. Pode funcionar como um comprimido
- mas o ingrediente ativo na hipnopílula é fornecido pelo cliente.
O hipnotista apenas te apoia no processo de melhora. Você tem
que fornecer os elementos necessários: nível de sofrimento + de-
sejo de mudança. Suas expectativas e a percepção de competên-
cia do hipnotista desempenham papéis igualmente importantes,
mas eles vêm somente na segunda etapa.
Isso tem sido atribuído ao efeito placebo por muitos - que
é, com certeza, apenas parcialmente correto. Um placebo é um
remédio sem ingredientes ativos, mas que não deixa de ser eficaz
devido à crença no poder da medicina de que ele vá atender ao
que é necessário. Na hipnose, você é o único que fornece o ingre-
diente ativo e o hipnotista faz o resto ao guiá-lo por meio do pro-
cesso da terapia. Cada sessão de hipnose bem-sucedida é, no fim
das contas, nada mais do que autocura.
Dave Elman disse que toda hipnose é auto-hipnose, e dá ao
cliente a responsabilidade que lhe é devida numa sessão de hip-
noterapia. Claramente, um hipnotista hábil pode influenciar po-
sitivamente isso, e um pre-talk completo e adequado também
contribui para o sucesso. Mas ele só acontece, de verdade, se os
clientes permitirem. Todas as fantasias de poder ilimitado que
alguns terapeutas anunciam ou lhe são atribuídas, não passam
de ilusão. A força real, o poder que permite uma verdadeira mu-
dança, encontra-se dentro das próprias pessoas que buscam
apoio. É uma questão de potência transferida, que os clientes nos
dão temporariamente, desde que seja aceitável para eles. Muitas
vezes, depois de uma sessão bem-sucedida, eu os agradeço a eles
por terem me permitido guiá-los por esse processo.
"Nós não curamos ninguém, apenas usamos a hipnose
para ajudar as pessoas a se curarem"

119
Orientar os clientes, guiando-os e convencendo-os das van-
tagens de se ter uma atitude positiva, cooperativa e saudável, por
vezes, faz toda a diferença em atingir ou não o ponto de se per-
mitir e saber que eles podem ser saudáveis novamente. Como
hipnotistas, nós motivamos os clientes para que possibilitem que
a mudança ocorra. A nossa experiência, competência social, apa-
rência pessoal e aparência do nosso espaço - em suma, a impres-
são geral que damos, tudo isso desempenha um papel enorme
no sucesso global. Levar os clientes a sério e ajudá-los é a tarefa
que nos é dada; devemos realizá-la com o maior respeito possí-
vel.

120
Compounding negativo

Compounding negativo significa que uma experiência nega-


tiva é revivida uma e outra vez, completa com todos os sentimen-
tos e emoções correspondentes. Depois de um certo ponto, é re-
gistrado um ECS após o outro e você dificilmente pode imaginar
uma mudança positiva, já que não encontra um momento de paz.
Você está constantemente lembrando do passado. Tenta, com to-
das as suas habilidades cognitivas, descobrir por que continua
sucumbindo aos velhos padrões, por que sente as mesmas emo-
ções indesejadas, por que age tão impulsivamente que o seu com-
portamento chega a ser visto como destrutivo pelas pessoas ao
seu redor. Chega ainda a um ponto em que começa a repreender
a si mesmo, perdendo a automotivação e duvidando das pró-
prias habilidades. Sua autoconfiança está devastada. Por que as
coisas não melhoram?
Um dia, alguém interessado em meu curso de hipnose me
enviou um e-mail que ilustra muito bem o tema do compounding
negativo e sua aplicação equivocada em algumas clínicas e em
cursos de hipnose que colocam o foco em outro lugar:
"Eu tenho apenas uma pergunta rápida. Trabalho como
psicoterapeuta e espero um dia incorporar elementos hipnotera-
pêuticos em minhas sessões, a fim de torná-las mais eficientes.

121
Seria uma expectativa realista? Eu fico às vezes um pouco inse-
guro quando ouço que os psicoterapeutas geralmente têm de
completar cursos de hipnose extremamente chatos e, em seguida,
realizar terapias igualmente chatas na sua clínica..."
Essa questão não me surpreende em nada. Embora bem-
intencionada, ela revela o ponto crucial do problema: quanto
mais você colocar abordagens psicológicas na hipnoterapia, mais
complexas, complicadas e ineficientes as sessões serão. Os méto-
dos e técnicas empregados na psicoterapia hoje são principal-
mente de natureza de mascaramento, ou melhor, eles tentam ali-
viar o sintoma em vez de, consequentemente e sem piedade, ras-
trear a verdadeira razão - o ECI - e neutralizá-la, juntamente com
eventuais ECSs.
Esses métodos têm origem nos anos 1940 e apesar de se ori-
ginarem no século passado, ainda são o padrão na maioria dos
cursos de hipnose oferecidos hoje. Eles se concentram principal-
mente em contar boas histórias de bem-estar e metáforas de mo-
ralidade, esperando que os clientes cheguem às conclusões certas
e resolvam o problema por conta própria. Essa abordagem até
pode funcionar, mas está longe de ser tão eficiente e eficaz como
a abordagem R2C (Regressão à Causa) de Dave Elman e Jerry
Kein, ensinada hoje por mim e pelos meus colegas. Com a gente,
o cliente não vai embora decepcionado dizendo: "eu tentei a hip-
nose, mas não funcionou".
Acima de tudo, as pessoas perdem a paciência durante lon-
gas e tediosas abordagens de terapia e uma falta de progresso as
leva a quebrá-la. Esses e outros métodos carinhosos e técnicas
gentis de "lave-me, mas não me molhe"6 são muitas vezes nada
mais do que apenas isso - bem-intencionados, mas não são nem
orientados aos objetivos e resultados, nem eficazes. No pior dos
casos, eles também podem resultar em deslocamento do sintoma

6 Veja a nota de rodapé nº 2, na página 25

122
em que a mensagem do subconsciente, de que algo está errado,
é suprimida.
Como terapeuta, se eu acreditar que um problema e sua
solução são complicados, quem ficaria surpreso se eu escolhesse
abordagens igualmente complicadas? Complicado e difícil está
longe de ser eficiente ou eficaz. Trata-se também de uma atitude
interna, uma filosofia de vida e de trabalho. Se eu passar a vida
vendo apenas problemas em vez de me concentrar em soluções,
é porque me tornei parte das dificuldades e me distancio da re-
solução.

123
Compounding positivo

Por outro lado, a importância do compounding positivo não


pode ser subestimada. Estamos lutando, em parte, contra anos
de programação negativa e doutrinas. O que podemos esperar
quando algo acontece centenas de vezes diante dos olhos de uma
pessoa e às vezes também é reforçado pela fala? Quando dizem
que que ela não é boa o suficiente, não trabalha duro, tem um
caráter duvidoso, é estúpida, ou isto, ou aquilo, ou aquilo?
Acima de tudo, quando essas coisas terríveis são ditas às crianças
que, em seguida, crescem com uma auto-imagem negativa, um
compounding positivo especialmente forte na sessão de hipnose é
solicitado. Mais uma vez, ainda é verdade que não importa há
quanto tempo e quão negativa é a programação que está na
mente subconsciente, ela pode ser alterada com a hipnose e a
auto-hipnose. Uma pessoa certamente não nasce com uma auto-
imagem negativa. Não se trata de uma maneira de pensar e sentir
que é ensinada. Qualquer coisa que não é inata, mas aprendida,
pode ser alterada.

124
Como os ECIs e os ECSs
são resolvidos?

A princípio, de maneira muito simples. O hipnotista te leva


a entrar em hipnose e você se permite ser guiado para o ECI no
subconsciente por meio de diversas técnicas de regressão.
Usando métodos específicos, fáceis de aprender, e processos cla-
ros, o ECI é neutralizado.
Neutralização não significa que você não se lembrará mais
do que uma vez aconteceu, mas que a energia negativa associada
ao ECI é eliminada de modo que não mais afete-o no aqui e
agora. O evento traumático é ressignificado. Depois, nos volta-
mos para os ECSs e os resolvemos utilizando etapas precisa-
mente prescritas e fáceis de seguir.
Aqui, também, você pode recordar tudo após a sessão, mas
os ECSs perderam o seu impacto, uma vez que a energia negativa
que os acompanha (do medo, tristeza, raiva, ódio, culpa, ou qual-
quer outra) foi neutralizada. As sinapses no cérebro que tinham
sido estimuladas pelos sentimentos negativos são reprograma-
das e já não podem reproduzir as velhas respostas negativas as-
sociadas ao ECI e ECSs específicos. O termo "plasticidade cere-
bral" é utilizado para descrever este processo. Isso significa que
o cérebro é maleável e pode aprender coisas novas ou reaprender

125
coisas velhas em um curto período de tempo, geralmente com
pouco esforço.
Aqui, a fórmula: evento + emoções = (re)programação en-
tra em jogo mais uma vez. Problemas de natureza relativamente
intensa, muitas vezes exigem sessões intensas. Por vezes, podem
ficar bastante emocionais, e é exatamente o que queremos. Esta
é, afinal, a parte das emoções na equação. Muitas vezes acontece,
aliás, que após um ECI ser resolvido corretamente, a influência
negativa de certos ECSs simplesmente desaparece sem ser neces-
sário qualquer trabalho adicional. O cérebro é verdadeiramente
uma criação notável!

Ilustração 6: Resolvendo e neutralizando um sintoma

126
Uma vez que a causa de um sintoma é elucidada, o sub-
consciente tem a tendência de reverter para uma condição que é
mais natural e saudável para o corpo e a mente. É emocionante
observar a transformação que as pessoas fazem. Elas vêm à clí-
nica aflitas e saem como se tivessem renascido, com energia e po-
der renovados. Geralmente, elas estão física e mentalmente
muito cansadas depois dessa sessão, mas felizes mesmo assim,
porque percebem que a intensidade do que sentiram durante a
hipnoterapia deu ao sistema delas um recomeço que ajudou a
colocá-las de volta no caminho certo.
Não é o objetivo deste livro, e seria necessário muito tempo
para isso, entrar em detalhes de como o processo de neutraliza-
ção funciona usando essas técnicas, mas eles devem, definitiva-
mente, ser uma parte de qualquer programa de treinamento ade-
quado.
"Tudo que pode ser causado por palavras pode ser resol-
vido com palavras."

127
Exceções na ocorrência
de ECIs

Notei anteriormente que ECIs ocorrem principalmente an-


tes da idade de doze anos. Há, naturalmente, exceções. Lembro-
me de dois ou três casos de natureza bastante impressionante na
minha clínica em que um ECI ocorreu muito mais tarde. Em
umdeles, uma mulher de 40 anos veio até mim, porque chorava
com frequência. Através de regressão, rastreamos a raiz desta
emoção ao descobrir que, quando ela tinha 26 anos, quase foi es-
trangulada até a morte com uma capa de chuva por seu marido
abusivo e ciumento. Este momento de pânico total, em que es-
tava incapaz de respirar, o medo da morte e a luta pela sobrevi-
vência foram suficientes para se registrar como um ECI forte,
mesmo aos 26 anos de idade.
Outro caso envolve uma jovem de 30 anos que foi abusada
sexualmente em um porão, sufocada e abandonada à própria
sorte quando tinha 22 anos, mas milagrosamente sobreviveu.
Ambas foram submetidas a anos de aconselhamento psico-
lógico e medicação. Elas foram capazes de encontrar a paz ape-
nas quando a mente subconsciente encontrou conforto. Natural-
mente, ainda se lembram do que aconteceu, mas a resolução do
problema aconteceu graças à hipnose.

128
Não vou descrever as técnicas exatas usadas em cada caso,
uma vez que o propósito deste livro não é ensinar, mas relatar e
explicar. No entanto, veja você: ECIs que ocorrem mais tarde na
vida também podem ser resolvidos. Como isso se dá, é parte do
treinamento. Não é necessário dizer que se libertar de eventos
passados é uma cota importante desta técnica. Por favor, tenha
em mente que se libertar de algo conscientemente é bem dife-
rente de quando isso acontece no subconsciente, algo possível
apenas no estado hipnótico.

129
Observações importantes
A primeira consulta

Para uma primeira sessão, você deve calcular até três ho-
ras. Sim, é um esforço, um investimento de tempo e pode se tor-
nar bastante intenso. Se vai levar todas as três horas ou não, isso
pode ser deixado em aberto. A média é entre duas e duas horas
e meia, dependendo do assunto, da complexidade, e da forma
como o cliente aceita e reage à hipnose.
Eu não defendo primeiras consultas que duram apenas 50
minutos, e muitas vezes necessitam de várias sessões de acom-
panhamento. Simplesmente não há tempo suficiente para o tra-
balho profundamente enraizado. Estou convencido de que a in-
tensidade alcançada nas duas a três horas junto do cliente, geram
a energia necessária para provocar mudanças dramáticas no me-
nor tempo. Um rapport mútuo é estabelecido e torna-se conside-
ravelmente mais pessoal. Como terapeuta, eu consigo ficar muito
mais perto do problema e o cliente também. É por isso que tantos
desafios podem ser superados em apenas uma única sessão.
Caso a primeira sessão não traga os resultados desejados, o que
certamente pode acontecer, então uma segunda consulta deverá
ser marcada, mas não de antemão. Se um problema pode ser re-
solvido De uma vez, num único encontro.

130
A experiência demonstrou que, em média, não se leva mais
de três sessões para resolver um problema comum. Se demorar
mais, o profissionalismo do hipnotista e/ou suas intenções de-
vem ser questionados. Com isso bem claro, eu coloquei pressão
intencionalmente sobre os meus alunos, bem como a mim
mesmo, assim como meu professor fez comigo: não permitir uma
intervenção de curto prazo para se transformar em uma terapia
de longo prazo. Por favor, não me entenda mal aqui; eu estou
falando sobre problemas comuns. Naturalmente, pode haver ca-
sos que requerem cinco, até seis sessões, mas esses são realmente
exceções. Assim que o primeiro problema estiver resolvido,
quaisquer outras questões que vierem à tona podem ser aborda-
das.
Alguns hipnotistas passam primeiro por todos os pontos
até chegar à hipnoterapia e então, em vez de uma sessão comum,
eles fazem uma espécie de ensaio para que o cliente possa expe-
rimentar como se sente ao estar em hipnose. Quando isso acon-
tece, o cliente agenda uma segunda consulta para a terapia de
fato. Isso pode fazer sentido em alguns casos, mas para mim é
muito trabalho e ineficaz.Se o cliente puder chegar a um estado
profundo de hipnose e a hipnoterapia for suficientemente inten-
siva, uma segunda sessão para o mesmo problema raramente é
necessária. Isso varia de pessoa para pessoa. Na minha clínica,
foram poucas as vezes em que alguém veio mais de três vezes
pelo mesmo problema.
Por favor, tenha sempre em mente: um hipnotista sério não
faz qualquer tipo de promessa de cura, nem um médico faz isso.
Há questões que podem ser facilmente resolvidas em uma única
sessão, principalmente quando elas são isoladas, como fobias,
enxaquecas, bloqueios, baixa autoestima, etc. Com questões mais
complexas como o câncer, esclerose múltipla, etc. naturalmente
faz sentido agendar mais sessões, a fim de ter certeza de que você
pode ajudar o cliente a limpar a mente subconsciente e iniciar
programas de apoio, tais como a auto-hipnose para que ele possa

131
fazer um trabalho posterior de forma independente, sem a sua
presença. Um cliente deve, por todos os meios, tornar-se inde-
pendente do apoio de um terapeuta. Isso pode ser depois de uma
sessão ou quando o problema foi resolvido por completo.
É importante, também, que o profissional mostre a ele
como pode se fortalecer utilizando recursos próprios, sem que
haja necessidade da intervenções constantes por meio da hipno-
terapia.
Para alguns clientes, fica claro imediatamente que o pro-
blema foi resolvido. Eles se sentem bem e não resta nenhuma dú-
vida. Esse é o melhor cenário. Para outros, as mudanças são gra-
dativas: os velhos padrões caem por terra e mudanças substanci-
ais de comportamento vão são percebidas aos poucos; há mais
serenidade onde antes havia apenas desespero. Essa nova pos-
tura é notada pelos outros e interfere diretamente nos relaciona-
mentos. A forma como se dirigem a parentes, amigos, colegas de
trabalho, etc, passa agora por novos filtros, todos eles sustenta-
dos na auto-confiança, tornando a vida mais leve e feliz, uma vez
que a energia foi renovada.

132
A sessão de hipnoterapia

O que descrevi aqui a respeito do pre-talk e a explicação do


modelo da mente vale para 90% das abordagens junto aos meus
clientes. É preciso que haja leveza e – sobretudo – bom-humor.
Muitas vezes, eles chegam à clínica tensos, com problemas que
lhes afligem há bastante tempo. Essa postura positiva e alegre
pode trazer-lhes mais para perto, uma vez que estarão mais rela-
xados. Óbvio, cada caso é único e é necessário ter a sensibilidade
e a empatia para se adaptar às necessidades individuais apresen-
tadas. Quando percebo que preciso estender algum assunto, en-
tão o faço. A interação e a conexão, o rapport, são extremamente
importantes para mim. Reforço que, com isso, as chances de a
sessão ser um sucesso aumentam muito. Por isso reservo três ho-
ras, sem pausas. Se vou usá-las integralmente é outra história,
mas como não sei o que poderá surgir naquele momento, esse é
um bom recorte de tempo.

133
Proximidade

Como sou destro, sento-me ao lado direito do cliente. Essa


proximidade é crucial pelo fato de ou poder tocar-lhe nas costas
da mão, no ombro ou na testa. O toque é importante, pois além
de enfatizar o conteúdo e o significado das palavras durante o
estado hipnótico, é um gesto de humanidade, um sinal de empa-
tia. Mas ele só deve acontecer com a autorização do cliente. Al-
gumas escolas, de outras linhas, repudiam essa aproximação,
algo que contesto. Acredito que a distância, uma condução fria,
pode dificultar a fluidez, a entrega. É quando recebo os feed-
backs, tanto de homens quanto de mulheres, que reafirmo a mi-
nha postura. Eles me dizem que o toque calmante sobre o ombro
durante um momento de grande emoção é muito positivo. Tam-
bém foi provado que médicos e terapeutas que manifestam um
interesse real pelo cliente e dedicam tempo suficiente à terapia,
sem encurtar etapas, obtêm melhores resultados do que os de-
mais.

134
Tom de fala

Durante a sessão de hipnose, sempre me dirijo aos clientes


num tom familiar, A mente subconsciente responde melhor a
essa forma e também sinaliza uma parceria entre iguais (não há
uma relação vertical, na qual o terapeuta “olha para o paciente
de cima”). Trata-se de um sinal de respeito mútuo, algo que vá
facilitar o rapport, um vínculo de confiança que fará toda a dife-
rença no desempenho de ambos ao longo da hipnoterapia. Há
quem diga que possa haver má interpretação dessa postura, mas
eu não vejo dessa forma. Em anos de trabalho, nunca permiti que
uma dúvida sobre a minha conduta pairasse e, se isso vier a acon-
tecer, tenho um gravador à mão para registrar o que for necessá-
rio no momento. Só o utilizei uma vez.
Acredito que o fato de ter morado no Brasil e nos Estados
Unidos, países onde a informalidade é quase regra, justifique a
minha forma de atuar, mas asseguro que em boa parte dos casos
é longe da formalidade que o bom desempenho da sessão, ou
seja, a resolução de problemas, acontece. Pode ser uma escolha
pessoal, mas eu a apoio e faço isso de todo o coração.

135
Importância do pre-talk

Eu recomendo que você releia cuidadosamente o capítulo


com a explicação do modelo da mente e a função da hipnose. En-
tão você vai entender muito melhor o que vem a seguir e um de-
talhe ou outro vai ajudá-lo a dissipar eventuais preocupações
que possa ter.
Cada hipnotista deve explicar a hipnose na primeira con-
sulta. Isso é praticamente uma obrigação. Esse é o momento de
mostrar ao cliente que ocê sabe do que está falando e dar aber-
tura para sanar quaisquer dúvidas, desinformação ou medos
existentes. Se isso não acontecer, as chances de uma sessão ser
bem-sucedida são consideravelmente reduzidas. Potencializar a
chance de sucesso é responsabilidade do hipnotista.
Como profissional da área, não devo presumir que os cli-
entes dominem o assunto a ponto de se empenharem plena-
mente no processo sem qualquer receio ou desconfiança. A fim
de esclarecer o que for necessário e abrir espaço para um bom
trabalho, é impossível dedicar apenas cinco minutos à explana-
ção sobre hipnose durante o pre-talk. É preciso reforçar, sempre,
que o cliente tem um papel fundamental no sucesso ou na falha
da terapia. Como disse antes, não há um hipnotista no mundo
que possa forçar alguém a fazer algo em hipnose que não o faria

136
se estivesse em outras condições. O êxito é uma questão de reci-
procidade; a base do que se estabelece no pre-talk responde por
80% do sucesso. Para estar pleno, entregue e seguro, portanto, o
cliente deve exigir respostas a todas as questões. O acesso à in-
formação, de modo transparente, é um direito seu.
"Um pre-talk bem conduzido não deve ser negligenciado.
Podemos dizer que 80% do sucesso de uma sessão de hipnose
depende disso."

137
Anamnese

Consiste no preenchimento de um formulário, junto do


hipnotista, contendo: experiências anteriores com hipnose; uma
breve descrição da condição atual e da vida do cliente; o uso de
medicamentos e quais e, sobretudo, o motivo pelo qual ele foi
pedir ajuda. Esse material serve como uma espécie de registro e
dá ao hipnotista uma leitura abrangente do cliente. A anamnese
pode levar de 20 minutos a uma hora na primeira consulta.

138
Pre-talk de hipnose

É aqui que explicamos cuidadosamente aos clientes tudo


sobre a hipnose, o que acontece na hipnoterapia real, bem como
os seus papeis e responsabilidades no processo. Isso pode levar
de 20 a 40 minutos, dependendo da abordagem e reações do cli-
ente. Eu tive algumas conversas que duraram 90 minutos, mas
sempre foram um bom investimento. Naturalmente, não é neces-
sário repetir essa parte em quaisquer sessões subsequentes, a me-
nos que surjam mais perguntas.
Podemos reduzir o tempo que esse processo dura levando
o cliente a assistir a um vídeo de antemão, seja em casa ou na
clínica, e anotar quaisquer perguntas que possa ter para o hipno-
tista, no início da sessão. Isso é, no entanto, menos pessoal do que
uma conversa cara a cara.

139
Estar em hipnose
é estar desperto

Podemos começar explicando o que ela não é: nada tem a


ver com dormir ou ficar inconsciente. Muito pelo contrário!
Quando você está em hipnose, sua atenção é plena e parte
integrante, necessária, durante a sessão. Há, de fato, hipnotistas
que dizem não haver problema quando o cliente cai no sono, mas
não é verdade. Quando se está dormindo, está dormindo. Sua
mente subconsciente pode até assimilar alguma coisa e você
despertar mais relaxado, mas a terapia não aconteceu.
Também é equivocado pensar que há inconsciência. Ape-
sar de a mente consciente ter ido para o banco de trás do sub-
consciente, você está alerta e pode reagir e perceber com clareza,
de duas a três vezes mais do que agora, tudo que se passa ao seu
redor. Você também não vai, de repente, se tornar incapaz e sem
vontade própria. Não, ainda que o estado hipnótico possa ocor-
rer natural e espontaneamente, na maioria das vezes sem você
perceber, ele nada tem a ver com perda de controle.
Existem algumas pessoas, inclusive, que têm uma habili-
dade natural para entrar em um estado em que dão pleno rei-
nado ao poder de sua imaginação parecendo, aos olhos dos de-
mais, totalmente "ausentes". Grandes atletas usam esse recurso a

140
fim de atingir um desempenho extra, por isso se destacam dos
demais. Muitas vezes, não sabem dizer como tudo acontece, eles
apenas sabem que acontece. Vê-se, portanto, é possível pensar e
raciocinar de uma forma totalmente normal em estado de hip-
nose.
É possível ouvir tudo durante a sessão. Muitas pessoas
acreditam que não ouvem o que está acontecendo ao seu redor.
Isso simplesmente não é o caso. Claro, o cliente está totalmente
concentrado na minha voz, mas se um caminhão ou um carro
passar lá fora, ele ouvirá, assim como passos ou vozes na sala de
espera. Isso é absolutamente normal. Se não me ouvir, então pro-
vavelmente adormeceu e, como sabemos, isso não produz resul-
tados. Portanto, é absolutamente normal que perceba outros
sons. Há terapeutas que dizem: "você vai ouvir apenas o som da
minha voz", o que pode até mesmo sabotar uma sessão, porque
a pessoa ouve outros sons e acha que não estava realmente hip-
notizada. Por causa disso, a mudança não pode tomar seu lugar;
ou seja, a tentativa é rejeitada pelo subconsciente como um fra-
casso.
Depois da sessão, o cliente se lembra de tudo de que estava
ciente e que experienciou durante a hipnose. Algumas pessoas
acreditam quevá haver amnésia, mas isso é errado. Pode aconte-
cer que na sequência de um estado hipnótico profundo, chegue
um momento em que não consegue se lembrar de tudo o que foi
dito ou aconteceu, mas definitivamente não se esqueceu. Há inú-
meros momentos na vida em que não nos lembramos imediata-
mente de alguma coisa, mas certamente não a esquecemos. É
bem possível que, quando um cliente chega em casa e diz ao seu
parceiro como foi a sessão de hipnose, de repente algo ocorra a
eles: "Oh, sim, exatamente", e então se lembram de alguma coisa
ou outra que foi dita, ou alguns outros assuntos que surgiram.
Assim, cada detalhe importante pode vir à tona.

141
Também é absolutamente normal pensar e raciocinar em
estado hipnótico, decidindo se irá ou não aceitar um pensa-
mento, uma ideia ou uma sugestão. Quando algo não está certo
para o cliente, sempre pode rejeitar o que quer que seja.
É possível falar em estado hipnótico como em outras circunstân-
cias. Quando eu faço uma pergunta, preciso de uma resposta.
Afinal, não sou equipado com algum tipo de bola de cristal, nem
estou jogando um jogo de adivinhação. Não, eu preciso de uma
resposta. Ela não tem de ser lógica, ou aquilo que acredita ser a
resposta correta. O cliente pode dar isso a qualquer pessoa, sem
ter que ir a um hipnotista. Não, eu preciso de suas respostas e
reações emocionais espontâneas; os primeiros pensamentos e
sentimentos que surgem. Eles podem ou não ter uma conexão
direta com a razão pela qual ele está ali no momento, mas certa-
mente são o material de que precisamos.
Quando as emoções vêm à tona, por qualquer razão ou maneira,
é preciso apenas deixá-las que se manifestem. Suprimí-las é um
jogo de poder que esgota a energia. Quanto mais você tenta reter
uma emoção, mais energia tem de gastar. Quanto mais energia
usa para suprimir essa emoção, mais peso ela ganha na vida di-
ária. Quanto mais forte se torna o sentimento, mais profunda-
mente ele se enraiza e será necessário esforçar-se sobremaneira
para dominá-lo. Assim começa o círculo vicioso. Costumamos
nos concentrar apenas em coisas que não queremos na vida, em
vez daquilo que realmente desejamos! É preciso dizer ao cliente
que apenas deixe as emoções saírem, independentemente do que
elas possam ser. O progresso será muito mais rápido com essa
entrega e, se não for ali, onde ele irá desfazer esses nós que tanto
o incomodam?
A hipnose não tem nada a ver com religião, esoterismo ou
sobrenatural. Não. De fato, há grupos que a pintam com esse pin-
cel, usam-na nesse quadro ou até mesmo a glorificam, mas isso é
tudo um monte de farsa.Ela também não é um soro da verdade.

142
Muitas pessoas se preocupam que possam, de alguma forma, re-
velar seus segredos mais íntimos enquanto estão em estado
hipnótico. Por exemplo, passar a senha do cartão de crédito! Não,
isso definitivamente não acontece. Você pode até mesmo dizer
uma mentira, se você quiser! Eu estou lhe dizendo, é muito mais
fácil descobrir as coisas pessoais em seu atual estado de espírito
do que na própria hipnose. Se eu fosse fazer uma pergunta em
hipnose e você pensasse "Hans, isso não é da sua conta", então
você diria isso, pura e simplesmente. Como já me referi, não
posso forçá-lo a fazer algo que não quer fazer.
Você também não pode "ficar preso" em hipnose. Volta-se
com a mesma naturalidade com a qual pode entrar em estado
hipnótico. Imagine só, seria impossível não ter notícia das pes-
soas que teriam ficado presas. Há uma questão com relação a isso
porque há um estado de hipnose que é tão agradável que as pes-
soas gostariam de permanecer por lá. Trata-se de uma certa dose
de euforia da qual ela não quer se afastar. Um hipnotista hábil
pode induzir seletivamente tal estado, mas também terminá-lo
propositadamente.
Muitas vezes me perguntam: "será que vou ser a mesma
pessoa depois?". Sim, é claro, com a única diferença de que essas
coisas que você queria mudar podem agora ser alteradas. Seus
amigos, família, colegas de trabalho, ainda vão reconhecê-lo
mesmo que você pareça mais auto-confiante e determinado do
que antes, ou que a sua rinite alérgica tenha ido embora, ou que
você não tenha mais enxaquecas, entre outras coisas. Em seu ín-
timo, você permanece a pessoa que sempre foi.

143
E se o meu médico
desaconselhar a
hipnose?

O seu médico ou terapeuta desaconselha a hipnose. E


agora? Você, por outro lado, está convencido de que ela é uma
ferramenta para que enfrente o problema, mas não quer ir de en-
contro ao conselho de seu médico. Isso certamente faz sentido,
porque é importante para você se sentir confortável e seguro
quando se olha para um hipnotista. Então, o que fazer se o seu
médico tenta dissuadi-lo?
Não desista. Questione-o sobre que experiência ele pode
ter tido com a hipnose ou pergunte-lhe exatamente por que é
contra. Talvez tenha uma impressão totalmente errada do tema
ou subestime o potencial que a hipnose tem. Com informações e
bons argumentos, você pode faê-lo repensar sobre o assunto.
Muitas vezes tenho experienciado que os clientes que vêm até
mim, apesar do conselho de seu médico, estão mais do que alivi-
ados por ignorarem o que lhes foi dito. Como qualquer pessoa
que nos procura, se não tivessem sido completamente conven-

144
cida após o pre-talk, poderia ter decidido não seguir adiante. Es-
ses clientes mal-aconselhados optaram em favor da hipnose de-
pois de obterem uma segunda opinião de um especialista.
A hipnose é frequentemente subestimada ou não é levada
a sério nos círculos médicos. A maioria dos profissionais da área
que têm um pouco de experiência com ela, ou que talvez tenham
concluído cursos de hipnose, aprendeu métodos que ineficientes
e dificilmente pode imaginar que diferença a real hipnose mo-
derna pode fazer. Pouquíssimos deles, que eu tive o privilégio de
treinar depois de terem estudado a hipnose em outros lugares,
ficaram bastante espantados com as mudanças rápidas e intensi-
vas que são possíveis apenas com um curso totalmente diferente,
de ação mais direta e uso habilidoso da abordagem de Regredir à
Causa e Resolver. Como não conheciam nada melhor, sua relutân-
cia parcial era naturalmente compreensível.
Os médicos que aprenderam os métodos OMNI são conta-
tos extremamente importantes para mim quando eu quero uma
opinião médica profissional em um caso. Fico muito grato que
eles ajudem pelo fato de adotarem a hipnose como bandeira a
fim de torná-la mais conhecida. Aliás, eu nunca recebi um pare-
cer negativo ou preventivo de qualquer um - eles são sempre so-
lidários, motivadores e positivos independentemente de qual
sintoma ou problema lhes leve.
Se você já leu tudo neste livro até aqui, então está suficien-
temente informado sobre a hipnose, bem como sobre o modelo
de mente e seu funcionamento. No caso de o seu médico ou tera-
peuta ainda não recomendar a hipnose, esclareça-o você mesmo,
ou empreste a ele este livro.
Se você foi tocado e acredita que a hipnose seja um cami-
nho para a resolução de algum problema, procure um hipnotista
competente e entregue-se a esse tratamento.
Mantenha a seguinte imagem em mente:

145
Ilustração 7: Relação consciente e subconsciente
Se você tivesse só uma chance de apostar tudo em apenas
uma única jogada, em que gostaria de colocar a sua aposta? Na
mente consciente ou na subconsciente? Qual delas tem o maior
potencial para a mudança?
Uma mudança de 10% na mente consciente é uma mu-
dança de 0,5% no total.
Uma mudança de 10% na mente subconsciente é uma mu-
dança de 9,5% no conjunto.
Até mesmo uma mudança de 1% no subconsciente é maior
do que a mudança de 10% no consciente - portanto, faz muito
mais sentido se concentrar na parte em que a maior transforma-
ção pode ocorrer.
Felizmente, ninguém tem de apostar todo o seu dinheiro
em uma única jogada. Talvez essa seja uma analogia pobre, mas
nos ajuda a compreender a relação entre as duas mentes. Há
muita coisa que podemos realizar com a nossa mente consciente.
Podemos construir carros e aviões, levar as pessoas à lua, admi-
rar galáxias distantes e cavar túneis sob o mar. No entanto, nós
falhamos demasiadas vezes em coisas supostamente mundanas,

146
como o medo de aranhas. A hipnose não é um bicho de sete ca-
beças! Na sua simplicidade reside o segredo para o seu sucesso.
Não devemos complicá-la apenas porque pensamos que méto-
dos (supostamente) simples são menos eficientes. Mantenha-os
simples e concentre-se no subconsciente, onde os problemas re-
ais e as soluções reais devem ser encontrados.
Steven C. Parkhill, um colega muito bem-sucedido nos
EUA que trabalha principalmente com pacientes com câncer,
apresenta a seguinte comparação parafraseada em seu livro
Answer Cancer (capítulo 18, página 67): “Quando você faz chá,
naturalmente deseja usar a água mais pura e as ervas de melhor
qualidade. Isso não fará nenhuma diferença se a xícara de chá
não foi completamente limpa. Então, é apenas ligeiramente efi-
caz ter pensamentos saudáveis e fazer sugestões positivas se sua
mente ainda tem resíduos impuros sob a forma de uma progra-
mação indesejável e prejudicial. Tal como acontece com a xícara
suja, eles devem ser limpos primeiro. Só então faz sentido intro-
duzir pensamentos benéficos.
De fato, ele está correto. É por isso que os métodos de aco-
bertamento e abordagens que tentam resolver um problema com
lógica simplesmente nunca são tão eficientes como os métodos
de elucidar e neutralizar, especialmente nas comparações de
longo prazo. Essas abordagens não vão funcionar porque os pen-
samentos saudáveis são automaticamente contaminados por ve-
lhos pensamentos negativos e dúvidas do passado. O passado
simplesmente permanece dentro de nós.
Essa lógica é tão simples, tão fácil de compreender, que se
poderia pensar tudo isso só com o raciocínio. Existem, no en-
tanto, vários obstáculos substanciais, associados com a totali-
dade do problema. Naturalmente, entre eles estão certos interes-
ses especiais, como os proponentes da terapia a longo prazo e
medicamentos que são diametralmente opostos à hipnose efici-
ente.

147
Esclarecendo quaisquer
questões em aberto do
cliente

A esta altura, os clientes podem questionar sobre algo que


ainda tenham dúvida, esperando que o profissional responda de
forma aberta e honesta. Todas as inseguranças devem ser elimi-
nadas para que eles possam participar sem reservas. É nesse mo-
mento que dão o consentimento para o êxito da sessão. Aconte-
ceu comigo, duas ou três vezes, de – após essa etapa – o cliente
abandonar o resto da sessão para pensar sobre o que eu disse ou
descontinuar o processo como um todo. Isso pode ocorrer por
vários motivos, e tudo bem. Talvez não tenha havido química
com o hipnotista, ou ele percebeu que a hipnose não é o caminho
que deve seguir ou, ainda, não está pronto para dar esse passo.
Também pode ser que a solução é pior do que o problema real e
ele teria de desistir do ganho secundário, algo que não está dis-
posto a fazer naquele momento. Percebendo isso também, pode
ser que o próprio hipnotista opte por encerrar a terapia, sem que
diga diretamente o porquê – uma vez que o sigilo profissional e
a discrição são requisitos fundamentais a este profissional.
Veja a abordagem que costumo adotar no pre-talk:

148
"E agora, se me permite, vou guiá-lo na hipnose. Eu vou te
mostrar como você pode ir para esse maravilhoso estado. Você
vai sentir um relaxamento físico e agilidade mental. Se me per-
mite, vou mostrar como você pode permanecer em hipnose até
terminarmos. Se, por qualquer motivo, sentir que não quer ficar
no maravilhoso estado de hipnose, tudo que precisa é um sim-
ples pensamento para esse efeito e você vai voltar para o aqui e
agora. No entanto, como observado anteriormente, se me permi-
tir e seguir as instruções simples que te forem repassadas, eu vou
te mostrar como chegar e ficar em hipnose pelo tempo que qui-
ser. "
"Você tem mais alguma dúvida?"
O chamado pre-talk chega ao fim com esta questão. Caso o
cliente tiver dúvidas remanescentes, é claro que elas serão res-
pondidas. Isso é o mínimo que ele pode esperar do seu hipno-
tista. Apenas um cliente esclarecido e livre de medos é um bom
cliente. Se o pre-talk é conduzido ou não, não é decisão do cliente,
mas é claramente a responsabilidade do hipnotista. Também não
cabe ao cliente expressar seus medos e preocupações. Pelo con-
trário, é o nosso trabalho ajudar a resolver esses problemas uma
vez que alguns deles têm reservas sobre trazer à tona coisas que
os tornam inseguros. O hipnotista tem de demonstrar um mí-
nimo de competência durante o pre-talk. Ali, o relacionamento
entre os dois é consolidado, de modo que o cliente seja levado ao
processo terapêutico plenamente consciente de que ele não pode
ser forçado a qualquer coisa que não queira fazer.
A hipnose é fácil. Posso repetir isso quantas vezes forem
necessárias. Você não precisa ser um cientista para entender. Ela
deve ser explicada da forma mais simples possível para que es-
teja acessível às pessoas. Quando elas entenderem o que ela real-
mente é, o que pode e não pode fazer, perderão suas preocupa-
ções e reservas e estarão abertas para vê-la como uma ferramenta
valiosa.

149
Releia estes últimos tópicos. Talvez note mais detalhes. Re-
torne à ilustração do Modelo da Mente para ter uma imagem
mais clara da parte do cérebro a qual me refiro. Você vai concor-
dar; a hipnose não é difícil de explicar e – se dita com clareza – é
fácil de entender, induzir e concluir, pois se trata de um estado
humano natural e que temos utilizado a nosso favor há milhares
de ano.

150
Como saber se eu estava
hipnotizado?

Essa é uma pergunta legítima. Você vai notar melhor


quando o seu problema estiver resolvido. Essa é certamente a
prova mais desejável de que estava hipnotizado.
Como já foi explicado no pre-talk, as pessoas percebem a
hipnose de maneiras diferentes. Mas isso não nos diz muito e os
sinais de hipnose são fugazes. Um hipnotista qualificado irá in-
corporar um ou mais "convincers".
Do ponto de vista do hipnotista, existem poucos sinais de
estado hipnótico, e são todos meros indicadores e não provas. Do
ponto de vista do cliente, nem sempre é óbvio. Nós certamente
podemos perguntar se uma prova é realmente necessária. Con-
tanto que o problema foi resolvido, nenhuma prova é necessária.
Contudo, os clientes muitas vezes têm um pouco de incerteza.
Um bom hipnotista pode, no entanto, fazer algumas coisas con-
venientes para mostrar eles que realmente estavam em hipnose.
Quanto mais profundo um cliente entra em hipnose, mais fácil é
para que tais fenômenos sejam provocados e, assim,haja o con-
vencimento. Ter dúvidas sobre se o cliente realmente estava em
hipnose ou não pode ser desvantajoso tanto para ele quanto para
o hipnotista.

151
As técnicas modernas, como a tomografia por emissão de
pósitrons (TEP) ou a ressonância magnética funcional (RMF) até
nos permitem medir se alguém está ou não no estado hipnótico,
mas o espectro da hipnose é tão grande, e nosso cérebro tão com-
plexo, que tais técnicas de imagem podem levar a erros de inter-
pretação. Para a certeza, basta ter em mente que se o cliente se
sentiu bem e se o seu problema foi resolvido, é provável que es-
tava em hipnose. Um hipnotista experiente reconhece os sinais
(a pessoa hipnotizada "fala" constantemente por meio de expres-
sões faciais, gestos, e muitas outras características sem pronun-
ciar uma única palavra) e, em seguida, pode dar o feedback ao cli-
ente sobre essas ocorrências, a fim de afastar qualquer dúvida.

152
Resumo dos objetivos e
expectativas do cliente

No encerramento, as metas que foram definidas para esta


sessão são revistas e o hipnotista resume tudo. De vez em
quando, durante o pre-talk, um cliente pode mudar as priorida-
des ou definir o problema principal de forma diferente.

153
Hipnose profunda
versus leve

Alguém pode pensar que essa questão é insignificante, em-


bora seja muitas vezes um ponto de discórdia entre os hipnotis-
tas. Qual é a melhor hipnose, profunda ou leve? Poderíamos di-
zer que não há diferença - bons resultados podem ser obtidos
com ambos. Em geral, no entanto, a evidência que temos fala
mais para a hipnose profunda.
A fim de resolver problemas muito arraigados, a regressão
é necessária. Essa técnica, infelizmente, ainda não está no reper-
tório de muitos hipnotistas, especialmente o principal R2C, ainda
que seja a chave para elucidar e neutralizar completamente ECIs
e ECSs. A meu ver, este processo de terapia é o melhor que temos
hoje e, quando bem conduzido, é altamente eficiente e eficaz.
Essa técnica permite uma comunicação direta e orientada com a
mente subconsciente e faz com que seja possível realizar a cha-
mada hipnoanálise, que nos fornece informações sobre a progra-
mação real e crenças básicas na mente subconsciente. O que se
segue é uma comparação fácil de compreender que deixa claro
por que a hipnose profunda é preferível à hipnose leve, sempre
que possível e aconselhável.

154
Experienciar versus
relembrar

Experienciar algo significa que um evento do passado é re-


experimentado como se estivesse acontecendo tudo de novo. Re-
lembrar é simplesmente recordar um evento e ser capaz de des-
crevê-lo, mas não se está totalmente envolvido nele. Relembrar
um evento normalmente não é tão inteiramente exato como real-
mente reviver a experiência. O cérebro, basicamente, não pode
dizer a diferença se uma experiência é real ou imaginada, espe-
cialmente quando as emoções estão envolvidas.
Certamente, todos podem entender que algo experimen-
tado em primeira mão no momento é percebido de forma mais
intensa do que algo meramente recolhido a partir da memória.
Isso é exatamente como é com a hipnose.
Eu não quero dizer que a hipnose profunda é necessária
para todos os problemas. Não, absolutamente não. Medos nor-
mais, por exemplo, muitas vezes podem ser resolvidos no menor
tempo através de técnicas chamadas instantâneas (Eliminação
Rápida de Fobia), o que leva a uma mudança imediata e susten-
tável, isto é, à reorganização de neurônios e sinapses no cérebro.
Dependendo do cliente, eu também obtenho excelentes resulta-
dos usando essas técnicas instantâneas em hipnose leve.

155
No entanto, se eu sei como posso levar rapidamente um
cliente ao sonambulismo estável, por que deveria perder tempo
com um estado hipnótico leve? Para problemas mais complexos,
é imperativo que os níveis mais profundos de hipnose sejam
atingidos. Além disso, o processo de resolução de problemas é
acelerado tremendamente e aberto um caminho para outras
abordagens terapêuticas que simplesmente não são possíveis
com a hipnose leve.

156
Dicas para hipnose e
auto-hipnose

Você já decidiu se submeter à hipnoterapia. O que deve


procurar ao escolher um hipnotista?
Naturalmente, não há praticamente nada que você não
possa encontrar na internet hoje, mas uma recomendação pessoal
é sempre o melhor e mais confiável cartão de visitas. Se você co-
nhece alguém que já teve experiência com a hipnose, basta pedir-
lhe uma dica. Confira as informações, mas também faça algumas
comparações online. Informe-se sobre o terapeuta, os seus ante-
cedentes, formação básica e contínua, bem como as suas áreas de
especialização. E não acredite em tudo o que encontra por aí; si-
tes e outros meios de comunicação podem dizer o que quiserem.
Basta perguntar a si mesmo algumas questões simples: será que
a pessoa lhe parece agradável? Você pode se imaginar traba-
lhando com ela?
Pessoalmente, gostaria de escolher entre hipnotistas que fi-
zeram seu nome e se promoveram de forma agressiva. Um joga-
dor de futebol não vai chegar ao ranking profissional se ele tam-
bém joga 20 outros esportes. Um, dois, talvez três ou quatro ou-
tros tipos de esportes complementares para equilibrar as coisas

157
pode ser possível; mais não. Tudo o que ele aprende contribui
para se tornar um jogador melhor, bem equilibrado e mais hábil.
O mesmo também serve para hipnotistas. Seu negócio
principal deve ser a hipnose. Claro, existem várias técnicas e mé-
todos no campo da hipnose e assuntos relacionados que um hip-
notista pode captar ao longo do caminho para se tornar mais ver-
sátil, assim como o jogador de futebol. Meu professor usou o
exemplo de um músico que não pode se tornar um virtuoso do
violino se também está estudando trompete, guitarra, flauta e ba-
teria. Ele tem que ser capaz de tocar violino de trás para frente, e
fazê-lo como quase ninguém mais pode; reproduzir notas e me-
lodias habilmente. Só então é que ele está pronto para o Carnegie
Hall. Seu foco deve ser no violino. O violino e nada mais. Alguém
que não faz nada mais do que a hipnose o dia inteiro é claramente
mais versátil do que alguém que pratica a hipnose uma vez por
semana ou um par de vezes por mês. Isso é algo a se considerar.
Técnicas práticas, suplementares ou complementares que
também podem ser utilizadas com sucesso durante o estado
hipnótico incluem, entre outros, Eye Movement Desensitization
and Reprogramming (EMDR), bem como métodos derivados,
tais como Wingwave ou HypnoWave®; técnica de liberação emo-
cional (EFT – Emotional Freedom Technique); Programação
Neurolinguística (PNL) e várias formas de trabalho energético.
Estes são, em si mesmos, métodos muito interessantes, mas
quando usados em conjunto com a hipnose podem realmente
turbinar o processo e ampliar as várias técnicas de hipnose.
Há algumas pessoas no campo da hipnose que nascem
para ajudar os outros; eles simplesmente têm aquele algo a mais.
Essas pessoas têm um dom especial com a terapia. Depois, há
outros que diligentemente desenvolvem a sua experiência e se
tornam terapeutas bastante excepcionais. Esses dois tipos de hip-
notistas desfrutam de muito mais notoriedade, uma vez que são
entusiasticamente recomendados por seus clientes.

158
Depois de ter decidido sobre um hipnotista, pergunte a ele
se está familiarizado e usa ativamente as técnicas descritas neste
livro, como a regressão (R2C). Se não, eu recomendo que você
siga procurando. Há um site listado na parte final deste livro,
onde pode encontrar hipnotistas e suas informações básicas. É
importante, no entanto, que você se sinta confortável com sua
escolha. Enquanto a técnica e a metodologia contam bastante,
elas certamente não são toda a história. Experiência, empatia, in-
tuição, e muitos outros critérios contribuem um pouco, mas a téc-
nica e a metodologia respondem pela maior parte.
Você sabia, a propósito, que os melhores hipnotistas são
aqueles que nem mesmo estão cientes disso? Os médicos. Além
de terem, provavelmente, uma das melhores educações, um bom
conhecimento do corpo humano, e excelente credibilidade de-
vido ao seu status na sociedade, eles são capazes de curar com
meras palavras, através da utilização específica da hipnose em
vigília sem qualquer tipo de indução formal de hipnose. Se usas-
sem intencionalmente a hipnose em sua clínica, certamente já es-
tariam prontos para isso.

159
Sessão individual versus
sessão em grupo

Recentemente, recusei uma oferta de cooperar em um pro-


jeto, mesmo sendo bastante lucrativo. Foi para uma grande orga-
nização que queria oferecer sessões de grupo para fumantes e
pessoas com sobrepeso. Isso não é realmente meu negócio, por-
que cada pessoa é um indivíduo e deve ser tratada como tal.
Para cada problema genuíno, como tabagismo ou obesi-
dade, tem que haver uma sessão cara a cara, na qual a verdadeira
razão (ECI) é esclarecida e resolvida. Isso não funcionaria em um
grupo. Pode ser que algumas pessoas consigam perder peso ou
parar de fumar depois de uma sessão coletiva, mas eu acho que
é mais provável que seja coincidência e a taxa de insucesso e rein-
cidência é muito alta. Como foi dito, não é impossível, mas eu
simplesmente não estou convencido.
Sessões em grupo fazem sentido quando o objetivo é ensi-
nar técnicas gerais de gestão de estresse, preparação para um
evento, para aumentar a concentração em uma classe de estudan-
tes, ou para aprender auto-hipnose. Sessões de acompanha-
mento em um grupo com pessoas que já tiveram uma sessão in-
dividual bem-sucedida podem ajudar com mais motivação e es-

160
tabilização. A hipnose em grupo não é substitui uma sessão in-
dividual. Em média, uma consulta individual é simplesmente
mais intensa e o terapeuta pode adaptar o processo em confor-
midade com o cliente.

161
Sessão geral versus
sessão com tema único

Quanto mais você se concentrar em um único assunto, iso-


lado, maiores serão as chances de sucesso. Sessões que lidam
com mais de um assunto não são práticas. Pode ser que uma pes-
soa deixe de fumar, mas simplesmente não consiga perder o peso
extra que ela queria perder. Isso pode levar à dúvida e também
desfazer o seu sucesso, resultando em uma recaída ao tabagismo.
Eu sempre digo aos meus clientes, especialmente quando
eles vêm a mim com uma longa lista de assuntos, que uma vez
que temos o maior problema fora do caminho, muitas vezes as
outras dificuldades são resolvidas automaticamente. Ao manter
essa opção em aberto, possibilitamos um sucesso maior e mais
satisfação para eles. Por isso, têm de decidir por si com qual ques-
tão gostariam de lidar primeiro.

162
CDs e arquivos MP3

Eu acho que esses meios são, basicamente, uma boa idéia.


Eles podem ser utilizados preliminarmente para temas gerais,
como a promoção de um sono melhor, melhorar a concentração,
melhorar o desempenho nos esportes, lidar com o estresse, au-
mentar os sentimentos de autoestima e autoconfiança, etc. Ser ca-
paz de ouvi-los em casa ou em outro lugar, em paz e sossego,
sem perturbações e livre de pressão, é uma vantagem enorme.
O problema, assim como nas sessões de grupo, é que as
gravações são feitas de modo uniforme, mas todos temos nossas
diferenças. No entanto, eu tenho uma experiência positiva com
essa abordagem. Ela pode funcionar de alguma maneira e as pes-
soas que talvez não podem ou não querem pagar uma sessão tra-
dicional têm condições de se beneficiar com esse material. Mas,
uma vez mais: para problemas reais, esse método não é um subs-
tituto adequado para a terapia. Uma sessão individual com um
hipnotista qualificado é sempre o melhor caminho a se seguir.

163
A prática
Indução hipnótica e
aprofundamento

Duração: de um a sete minutos, aproximadamente.


Agora, o cliente está confortavelmente sentado em uma poltrona
para que se sinta seguro e não haja perigo de cair ou tornar-se
desconfortável ao longo do tempo, como poderia ser o caso com
uma mesa de massagem. Uma boa poltrona é um investimento
importante, considere isso. Em nossa clínica, utilizamos apenas
os modelos de uma fabricante norueguesa que atende às nossas
especificações. Há momentos, dependendo da situação e de
como eu meço a pessoa e seu problema, em que trabalho com ela
enquanto ainda está em pé. Esse é geralmente o caso em que sinto
que os resultados podem ser alcançados mais rapidamente dessa
forma. Estar de pé realmente não incomoda o cliente, desde que
não ultrapasse os 20 minutos.
Depois que a pessoa deu sua permissão, a indução de hip-
nose pode começar. Dependendo da receptividade do cliente e o
método utilizado, isso pode ser preferivelmente rápido ou demo-
rar até cerca de sete minutos. Quando levamos em conta a técnica

164
de aprofundamento, um máximo de dez minutos é normal, e de-
pois o trabalho real deve começar, a menos que a pessoa tenha
vindo para a hipnose de relaxamento, mas isso é um pouco raro.
Minha indução de hipnose pessoal é, naturalmente, a indução
Elman que, quando devidamente aplicada, leva de quatro a seis
minutos. Se eu notar que alguém já está em hipnose, quebro a
indução e sigo diretamente para a terapia. Ou quando está tendo
problemas para se deixar ir, pode-se levar mais tempo para aju-
dar o cliente a entrar em hipnose. Mas uma vez que ele aprender
como pode ser simples, irá muito mais rápido nas sessões subse-
quentes.

165
A hipnoterapia

A terapia em si leva entre 20 e 90 minutos, dependendo do


problema, da complexidade, e de tudo aquilo que pode aparecer
durante uma sessão. Essa parte também segue processos, técni-
cas e métodos claros que, de acordo com a situação, sofrem adap-
tações para cada sujeito. O objetivo é que, ao sair dali, o cliente já
não sinta as emoções negativas, ou não mais experiencie ou de-
monstre o comportamento indesejável. A energia positiva deve
reinar. A pessoa encontra esclarecimento, compreensão e equilí-
brio para que possa voltar a viver uma vida despreocupada.

166
Tirar alguém da hipnose
e conversa pós-hipnótica

Duração: de um a cinco minutos.


Tirar alguém da hipnose é bastante fácil. Tal como é em
tudo, trata-se de um processo. A profundidade e o tempo em que
um cliente se encontra em hipnose determina a rapidez com que
ele deve ser tirado do estado. O tempo que leva para tirar uma
pessoa da hipnose depende de quão profundo ela estava e a du-
ração programada da sessão. A diferença se resume a, talvez, 30
segundos, no máximo. Muito embora seja fácil encerrar a sessão
, é preciso sutileza. Quem gostaria de receber uma “estalada” de
dedos bem alta próxima à orelha, como vemos em filmes que re-
tratam estas cena?
Isso não significa que não podemos embalar alguma ener-
gia real no processo. Pelo contrário, muitas vezes é aconselhável
falar com os clientes de uma forma dinâmica, enquanto os tira-
mos da hipnose de modo que, uma vez que já abriram os olhos,
eles podem encontrar o seu caminho de volta para o aqui e agora
mais facilmente. Mesmo que o processo formal da hipnose seja
longo, o cliente permanece em um estado muito sugestionável
pelos próximos 30 a 60 segundos. O hipnotista experiente apro-
veita essa oportunidade para promover o bem-estar do cliente.

167
Discutir a sessão e,
se desejado, agendar
mais sessões

Dependendo do assunto, agora é o momento de discutir


com o cliente sobre como foi a sessão e que eventos causais foram
descobertos. Na maioria dos casos, o cliente se lembra do que
aconteceu muito bem, mas a discussão adicional pode ser neces-
sária neste momento. Normalmente, ele está plenamente consci-
ente do que experienciou e foi descoberto. Muitos ficam bastante
espantados e dizem que pensavam que tinham há muito resol-
vido essas questões, ou que nunca, nunca teriam acreditado que
o problema fora causado por outros eventos.

168
Feedback

O cliente dá informações ao hipnotista sobre os resultados


da sessão e se ele está satisfeito ou não, ou se quer/ precisa vol-
tar. Isso pode ser feito através do preenchimento de um formu-
lário ou por telefone. Alguns hipnotistas até usam um questioná-
rio on-line com a finalidade de recolher estatísticas, o que tam-
bém reflete certo profissionalismo.
Nem sempre podemos tomar como certo que vamos obter
feedbacks, mas há casos, de vez em quando, em que não vai mais
ouvir falar de um cliente por meses, até anos, e de repente al-
guém vem à clínica recomendado por essa pessoa. Quer retorno
melhor do que esse?

169
As quatro atitudes em
relação a sugestões

Se temos este fator crítico na nossa mente consciente que


filtra e censura tudo e o subconsciente é tão preguiçoso, lento e
tende a ficar na zona de conforto, como é que as sugestões dese-
jadas, saudáveis e positivas finalmente conseguem tomar posse
e fazer a diferença?
É exatamente aí que a hipnose entra em jogo, porque logo
que alguém está hipnotizado, o fator crítico é atravessado. Ele vai
para o segundo plano, ou para a lateral do campo, para usar uma
analogia dos esportes. Naturalmente, ele não fica completamente
inativo ou anulado, apenas um pouco adormecido naquele mo-
mento. E simplesmente não é capaz de interferir usando sua pró-
pria lógica para rejeitar as verdadeiras razões para problemas
como sendo ilógicas. Essa é, a propósito, a definição básica da
hipnose: atravessar o fator crítico da mente consciente e estabe-
lecer pensamentos seletivos aceitáveis.
Então, quando você recebe de mim uma sugestão, a ouve
alto e claramente. Eu não iria lhe dar sugestões que entram em
conflito com sua moral, ética ou crenças religiosas. Não, elas se-
riam baseadas em um senso comum completamente normal e

170
saudável, adaptadas individualmente para você, bem como para
o assunto e para a situação em questão.
Nota: quando uma pessoa está em hipnose e ouve uma su-
gestão, pode escolher apenas uma das quatro possíveis atitudes
mentais em relação a ela. Dessas, a escolhida determinará se a
sugestão é aceita ou rejeitada. A pessoa hipnotizada deve esco-
lher uma das atitudes elencadas abaixo quando ouve uma suges-
tão. Tenha sempre em mente que as sugestões devem ser adap-
tadas para cada um, bem como ao assunto e à situação em ques-
tão.

“Eu gosto desta sugestão”


"Ok, eu gosto desta sugestão e eu sei que ela vai funcionar para
mim." Essa é a única atitude que pode abrir a mente subconsci-
ente para a mudança. Qualquer outra é incapaz de afetar a velha
programação.
É um pouco como com computadores. Quando você apaga
um programa antigo e o substitui com a versão mais atual, é ela
que passa a vigorar; é impossível funcionar com a velha. É exa-
tamente assim que o nosso subconsciente se comporta. Uma vez
que o programa antigo foi totalmente apagado e substituído pela
versão nova, desejada, ele só pode funcionar com a mais recente
forma de pensar e de sentir. A mudança procurada realmente
ocorreu.

“Alguma coisa não está certa”


Você ouve a sugestão e pensa: "ok, soa bem, mas algo não pa-
rece totalmente certo para mim." É como com um par de sapatos
que você vê em uma vitrine e pensa: "uau, é exatamente o que eu
estava procurando, e é o último par na loja, além de estar com
cinqüenta por cento de desconto! Pena que eles são de um tama-
nho muito menor." Certamente, você pode comprar os sapatos;

171
você ainda pode usá-los por algum tempo. Mas à noite, quando
os tirar, provavelmente terá bolhas em seus pés.
Vamos dizer que você adota essa atitude. A sugestão será
rejeitada, nada muda, e a programação antiga continua em vigor.
Talvez você se lembre de eu já ter dito que você pode pensar e
falar em hipnose. Então, se eu fosse lhe dar uma sugestão que
acha que é boa, mas algo sobre ela não se encaixa, talvez uma
palavra ou um detalhe, você me diria e poderíamos formular um
conjunto para que ao final me dissesse: "ok, eu gosto dessa sugestão
e eu sei que ela vai funcionar para mim".

“Isso não significa nada para mim”


"Ok, boa sugestão, mas ela realmente não tem nada a ver co-
migo." Aqui, você não consegue encontrar uma conexão com a
sugestão, talvez a emoção necessária esteja faltando. Sem emo-
ção, “não cheira nem fede”. Com essa atitude, a sugestão será
rejeitada, e você pode esquecer quaisquer mudanças.

“Eu espero que dê certo”


Ter essa quarta atitude em relação a uma sugestão é a razão
de a hipnose não funcionar para muita gente. "Ok, eu gosto da su-
gestão e espero que funcione." Esperançar, esperar ou tentar, leva
automaticamente à rejeição de uma sugestão. Não há nenhuma
mudança, já que essas três palavras mantêm em aberto a possi-
bilidade de fracasso. A convicção interior simplesmente não está
lá.
Risque esses termos de seu vocabulário e verá sua vida mu-
dar para melhor quando não deixar margem para dúvidas. Isso
não significa que tudo será perfeito, é apenas sobre como ampliar
suas chances de sucesso.
Então, a única atitude que leva ao sucesso é:

172
"ok, eu gosto dessa sugestão e eu sei que ela vai funcionar
para mim"
Em todos os casos, a responsabilidade sobre qual dessas
atitudes você terá é do cliente e somente dele. Isso significa que
ele tem um papel bastante grande a desempenhar para saber se
teremos ou não uma sessão bem-sucedida.

173
Os sete diferentes níveis
de hipnose

Vamos agora para os vários níveis de hipnose conhecidos


hoje. Eu gostaria que você não só entendesse o que é hipnose,
mas também que variações existem, quais características podem
surgir nos diferentes níveis e as suas vantagens. A hipnose não é
simplesmente hipnose. Existem alguns níveis surpreendentes
que tornam possíveis coisas maravilhosas. Eu sempre posso ob-
servar como esse trabalho provoca descrença, confusão e, ao
mesmo tempo, fascínio nos meus alunos. Estou sempre especial-
mente satisfeito quando os médicos se entusiasmam ao ver esses
fenômenos sendo mostrados e ensinados por um "hipnotista", e
ficam chocados por tais técnicas não fazerem parte da formação
básica de um profissional da área de saúde. Pense na quantidade
menor de medicação que terá de ser prescrita se usarmos regu-
larmente a hipnose, e quanta dor e sofrimento poderiam ser evi-
tados. O potencial dessa prática é enorme!
Muitas pessoas associam um transe leve ou médio com a
hipnose. Isso, no entanto, não é nada mais do que relaxamento.
Ele pode ajudar algumas pessoas a entrarem em hipnose mais
fácil, mas não é semprenecessário. Que você tem de estar rela-
xado, a fim de ser hipnotizado, é apenas desinformação. Imagine

174
uma pessoa em um bar barulhento. Talvez ela esteja de pé no
meio de um grupo assistindo outra sendo hipnotizada. Não há
relaxamento aí, porém em alguns momentos seria possível pre-
senciar uma hipnose profunda.

Ilustração 8: Níveis da hipnose

175
Portanto, exclua a idéia de que tem que ser calmo e tran-
quilo. Naturalmente, isso seria vantajoso num ambiente terapêu-
tico, mas estamos falando aqui sobre se alguém ter que ser rela-
xado ou não. O relaxamento não é necessariamente obrigatório,
mas em um ambiente terapêutico faz sentido, embora existam
casos de pessoas que são extremamente tensas e nervosas. Um
hipnotista habilidoso pode lidar com tais situações.

176
O estado hipnoidal

Podemos chamar esse estado de uma forma leve de hip-


nose, e é definitivamente uma base a partir da qual é possível
avançar para níveis mais profundos. As transições são fluidas e
os diferentes níveis não podem ser delineados com muita preci-
são. O estado hipnoidal, no entanto, não é bem adequado para
combater problemas mais complexos e alcançar rapidamente
mudanças significativas. Para isso, precisamos de sonambu-
lismo; hipnose profunda.
As abordagens terapêuticas iniciais podem ser usadas no
estado hipnoidal, especialmente com as pessoas que não conse-
guem chegar a um estado mais profundo, porque elas têm difi-
culdade de se deixar ir. Nessa fase, temos condições de ajudar a
pessoa a se preparar para uma possível segunda sessão, de modo
que ela seja mais capaz de se deixar ir na próxima vez. Isso pode
acontecer às vezes, e geralmente ocorre com aquelas que são
mais reservadas e primeiramente querem ver como uma sessão
de hipnose funciona antes de permitirem se envolver realmente
no processo.

177
Sonambulismo

Nota: a palavra sonambulismo, no contexto da hipnose, não tem o


mesmo significado do campo da medicina, em que é usada como um
termo para o ato de caminhar dormindo. Para os nossos propósitos, essa
expressão é usada a fim de descrever um estado hipnótico profundo e
estável.
O sonambulismo é o nível de trabalho mais eficaz da hip-
nose. Gastamos 80% do tempo com o cliente nesse estado quando
estamos realizando a terapia. É aqui que vivenciamos fenômenos
que nos permitem, com relativa facilidade, sondar nossas memó-
rias de infância com o objetivo de descobrir quando, como, por
que, onde e, talvez, por quem o ECI foi criado. . É também possí-
vel no sonambulismo, por diversão ou por curiosidade, viajar
para "vidas anteriores", isto é, se elas realmente existem. É o es-
tado necessário para ter as experiências mais intensas.
Analgesia (insensibilidade à dor) ocorre no sonambulismo,
e com sugestões hábeis pode ser aumentada até que a pessoa se
torne completamente livre de dor. Ela pode reagir de forma nor-
mal em uma conversa e interagir com um médico sem nenhum
problema, até mesmo mantendo os olhos abertos, sem afetar ne-
gativamente o estado hipnótico. Cirurgias inteiras podem ser re-
alizadas no sonambulismo, incluindo cesarianas ou, como men-
cionado, implantes dentários. A fase de recuperação é acelerada

178
porque a anestesia química não foi utilizada. A necessidade de
medicação após uma operação também pode ser reduzida. Os
cirurgiões que realizam operações apenas com a hipnose relatam
menos complicações. Os pacientes ficam muito mais calmos, re-
laxados e controlados. Além disso, um médico que utiliza a hip-
nose, tem a tendência de estabelecer um melhor relacionamento
com os pacientes, o que por si só já é benéfico.
Minha experiência nas situações de emergência nos espor-
tes de alta performance, como por exemplo o caso de um mús-
culo da coxa rasgado durante um jogo de handebol, mostram
que a hipnose pode ser muito útil em lesões agudas. Nesses ca-
sos, o sonambulismo foi induzido quase que instantaneamente e
- acreditem - os jogadores lesionados eram tudo, menos calmos e
relaxados. A dor fica imediatamente administrável (aliviada); a
fase de recuperação pode começar e, em comparação com o tra-
tamento sem hipnose, foi reduzida a cerca de 50%. Tais casos re-
querem uma intervenção imediata, no entanto, a fim de ajudar
ao máximo.
Pode-se levar de alguns segundos a alguns minutos para
chegar ao estado hipnótico de sonambulismo. Especialmente se
alguém tiver sido previamente hipnotizado e tiver respondido
bem. Se alguém é particularmente suscetível a sonambulismo,
pode levar apenas um par de segundos para chegar a esse estado.
Normalmente, nesses casos, a abordagem terapêutica pode já co-
meçar dentro de dois a três minutos.

179
Ilustração 9: Gráfico do estado de sonambulismo

É igualmente importante notar que o sonambulismo não é


constante. Você não está simplesmente no estado e pronto. Não, o
sonambulismo também está sujeito a flutuações em que a pessoa
hipnotizada às vezes é mais racional, às vezes menos emocional,
às vezes mais profunda no sonambulismo, e talvez afunde a ní-
veis ainda mais profundos. Isso é perfeitamente normal e não um
problema. Enquanto o hipnoterapeuta continuar no caminho de-
sejado, está tudo bem.

180
A amnésia seletiva pode ocorrer no sonambulismo em que
uma pessoa já não consegue se lembrar do que foi dito ou feito.
MAS - reitero - ela não se esquece de nada! Se algo feito ou dito
for absurdo ou indecente, o impulso de autoprotecção ainda
ativo irá intervir. Pode ser que a pessoa depois fale sobre a sessão
de hipnose em um ambiente social e, de repente, as lembranças
estejam lá. Isso também é totalmente normal e não um problema.

181
Hypno-Sleep

Hypno-Sleep é uma técnica que foi desenvolvida por Dave


Elman e usada pela primeira vez em seu filho Larry para superar
um trauma de infância. O sonambulismo profundo é necessário
para isso e ele funciona melhor com crianças. Por ser uma técnica
completamente diferente, apenas a incluo aqui para conheci-
mento, mas sem detalhes.

182
O Estado Esdaile

Nota: também é conhecido como coma hipnótico, mas não


tem nada a ver com o coma médico. Refere-se, em vez disso, aos
fenômenos que ocorrem automaticamente nesse estado.
Esse nível, que fica abaixo do sonambulismo, foi nomeado
pelo médico escocês James Esdaile (1808-1859). Por volta de 1850,
em Calcutá, ele salvou a vida de muitos amputados de membros
em hospitais e prisões, com nada mais do que a ajuda da hipnose.
Apesar de estar em um país longe da Europa e supostamente me-
nos desenvolvido, a taxa de sobrevivência em tais procedimen-
tos complicados era, na época, significativamente maior do que
com os métodos considerados mais modernos.
É fascinante que o conhecimento já estivesse disponível en-
tão, mas é igualmente surpreendente como ele foi ignorado por
longos períodos; sim, até suprimido! James Esdaile foi ainda acu-
sado de blasfêmia e ameaçado de ser expulso da Sociedade Real
Britânica de Medicina se continuasse a usar essas práticas. “Já
que Deus criou a dor, era contra a vontade de Deus tirar a dor de
uma pessoa”, alegavam.
Naturalmente, essa foi a única verdade por muito tempo,
até que o clorofórmio foi desenvolvido, então parece que Deus (e
a Royal Medical Society também) mudou de idéia. De repente, era

183
ok aliviar a dor das pessoas. É assim com muitas coisas. Se al-
guém não inventou algo, ou não pode reproduzir e, mesmo,
compreender, então tende a criticar e opor-se.
Assim que a pessoa atinge Estado Esdaile, ela experimenta
uma anestesia espontânea (ausência de dor), sem que sugestões
sejam necessárias. Ali, ela se encontra em uma euforia mental e
espiritual que descreve como extremamente confortável e rela-
xante.
Esdaile levava, naquela época, de várias horas a vários dias
para conseguir que seus pacientes atingissem este nível. Hoje,
podemos realizar o processo muito mais rápido e, acima de tudo,
de uma forma mais específica. Para aqueles que são extrema-
mente receptivos à hipnose, ou a praticam bem, este estado pode
ser alcançado em poucos minutos, ou até mesmo alguns segun-
dos. Minha experiência tem mostrado que entre 70% e 100% dos
alunos em meus cursos experimentam este estado, dependendo
da dinâmica de classe. É, certamente, um dos estados mais fasci-
nantes da hipnose conhecidos pelo homem, também para os es-
pectadores, porque pode ser provado por demonstrações. Médi-
cos em meus cursos ficam especialmente impressionados
quando testemunham alguém que tenha chegado aqui, ou me-
lhor ainda, experimentam por si próprios. A maioria gostaria de
ter aprendido sobre isso muito mais cedo.

184
Onde podemos aplicar
melhor o Estado Esdaile
ou "coma hipnótico"?

O Estado Esdaile é recomendado a pacientes com dor por


causa da anestesia espontânea, por exemplo, em operações difí-
ceis quando a anestesia química seria muito perigosa, não tole-
rada nem desejável. Também é adequado durante a fase terminal
de doenças quando a medicação não supre a demanda do paci-
ente e os médicos recomendam contínuos aumentos na dosagem.
Se habilmente provocado por um hipnotista, o alívio da dor pode
durar por algum tempo, mesmo após o término da hipnose. Em
alguns casos, acontece de desaparecer completamente. O tema
da terapia da dor está incluído em cada treinamento padrão. No
entanto, peço aos alunos do hipnotismo que estejam interessados
no assunto que continuem com mais treinamentos para se torna-
rem especialistas nisso.
Um dos objetivos primordiais da hipnose é trazer alívio ou,
mesmo, resolver a dor das pessoas.

185
Informações importantes
sobre o tema da terapia
da dor

A dor é sempre um sinal do corpo de que algo está errado,


seja dor de cabeça/enxaqueca, dores abdominais ou no peito; se-
jam agudas, crônicas ou vagas - qualquer que seja a dor que se
tem, ela deve primeiro ser verificada por um médico antes de
podermos começar com a hipnose. O exame do médico tem de
eliminar certas coisas a fim de se ter certeza de que acabar com a
dor através da hipnose não iria mascarar algum problema subja-
cente.
É importante que se tenha isso em mente e seja respeitado
em todos os momentos. Uma perna quebrada, por exemplo, faz
com que a dor aguda seja facilmente identificável, e a hipnose
pode ser usada como uma intervenção de emergência. Mas, ob-
viamente, embora talvez não haja mais dor, a pessoa lesada ainda
deve ir ao hospital mais próximo. O bom senso tem de prevale-
cer.
Uma vez que um diagnóstico definitivo foi feito e é escla-
recido que a dor não é causada por um problema médico sério,

186
podemos trabalhar para reduzi-la ou eliminá-la por meio da hip-
nose. Não há mais uma razão para sentir dor, porque o sinal de
que algo não está certo, de fato, foi entregue. "Muito importante:
toda dor deve primeiro ser verificada por um médico. Só depois
pode ser tratada de forma segura com a hipnose"
Membros podem ser completamente amputados no Estado
Esdaile sem que a pessoa sinta a menor dor. Alcançar esse estado
não é algo que talvez se consiga facilmente, e nem todo mundo
reage do mesmo jeito. Alguns chegam de forma relativamente
rápida, enquanto outros exigem um pouco de prática. Basica-
mente, porém, todos nós possuímos a capacidade de chegar lá.
O estado Esdaile tem uma desvantagem: como os clientes
experimentam uma euforia mental nele, tendem a ignorar o que
está acontecendo ao redor. Não querem ouvir ninguém ou reagir
a todas as sugestões. Eles não gostam de falar (e geralmente não
o fazem). Eles só querem ser deixados em paz.
No momento em que estou fazendo terapia, que é quando
foco na interação com os clientes, esse estado é apenas marginal-
mente funcional, uma vez que os clientes têm de ser trazidos de
volta da profundidade do Esdaile (pelo menos para o sonambu-
lismo profundo), para que eu seja capaz de me comunicar com
eles de novo.
O Estado Esdaile é também o melhor ponto de partida á
jornada para o eu superior, os níveis Ultra-Height® e Ultra-Hea-
ling® - as disciplinas supremas da alta arte da hipnose.

187
Burnout/Exaustão

Pelo fato de o burnout ser geralmente acompanhado por


exaustão severa e apatia, não há praticamente nenhuma maneira
melhor para recarregar as baterias do que algum tempo no es-
tado Esdaile. A recuperação que tenho observado em diversos
clientes, até agora, é um tanto surpreendente. A euforia mental
que se estabelece durante o estado Esdaile é, em si mesmo, um
fenômeno fascinante. É como se a regeneração recebesse um im-
pulso turbinado.
A grande questão sobre tal abordagem é que podemos in-
duzir o estado Esdaile de forma que os clientes voltem a ele por
conta própria, como acontece com qualquer auto-hipnose, sem
ter que consultar um hipnotista todas as vezes. Promover a inde-
pendência de um cliente é um princípio básico da nossa profis-
são. Temos de ser capazes de diferenciar e nos distanciar de ou-
tras formas de terapia que dependam de medicamentos ou aná-
lise prolongada. Trazer desnecessariamente as pessoas de volta
em sessões subsequentes quando você poderia oferecer-lhes téc-
nicas de autoajuda, é exatamente uma daquelas coisas que dão
má reputação a terapias de longo prazo. Se nós temos uma ma-
neira de reduzir o sofrimento em menor tempo, é nossa obriga-
ção usá-la, independentemente das consequências financeiras.

188
"Ficar preso na hipnose"

Nós, ocasionalmente, ouvimos dizer que alguém "ficou


preso" em hipnose. Claro, isso é uma grande bobagem, como já
me referi anteriormente. Mas, e isso é importante ter em mente,
quando as pessoas vão para o estado Esdaile, elas excluem o
mundo ao seu redor. Isso pode dar a impressão de que mudaram
de alguma forma. Elas simplesmente não reagem ao hipnotista
ou a outros estímulos externos.
Um hipnotista que não foi suficientemente treinado pode
não saber como lidar com esta situação. Tenho ouvido relatos de
algumas escolas que ensinam que, se isso acontecer, a pessoa
deve apenas ser deixada sozinho por um tempo - mas isso pode-
ria ser uma longa espera! É uma solução, mas não realmente o
que Esdaile pretendia.
Para o hipnotista competente, não só é fácil induzir esse
estado, mas também é bastante simples de terminá-lo. Devemos
agradecer à família Elman por podermos propositadamente aju-
dar nossos clientes a entrar e sair desse estado. Nos primeiros
dias da popularização da hipnose, por volta de 1920 ou assim,
um hipnotista poderia ter sido expulso dos negócios por deixar
um sujeito supostamente "ficar preso" em hipnose, o que apa-
rente ser o caso de sonambulismo profundo. Um método especí-

189
fico de indução para a profundidade do coma hipnótico foi de-
senvolvido por Dave Elman e sua esposa. Pauline Elman encon-
trou uma maneira muito simples de sair do coma hipnótico / es-
tado Esdaile, que ainda está em uso hoje e deve ser dominada
por todo hipnotista.
No início, gritavam com os clientes, sacudiam, jogavam
água, mas nenhuma dessas medidas era bem-sucedida. Eles per-
maneciam ali, porque era muito agradável. Então, se há razões
para o boato de que uma pessoa pode ficar presa em hipnose,
provavelmente são as experiências com o estado Esdaile
Como sabemos: não há nenhuma necessidade de se preocupar
quando alguém atinge o estado Esdaile. Pelo contrário, é mais
uma razão para estarmos contentes porque aqueles que são ca-
pazes de entrar ali podem ser ajudados terapeuticamente muito
mais rápido, uma vez que estão completamente livres do medo.

190
Ultra-Depth®/
Estado Sichort

Esse estado foi descoberto mais ou menos por acaso, e pes-


quisado por Walter Sichort. Ele trabalhou principalmente com
um assistente que conseguia chegar ao sonambulismo profundo.
Essa pessoa foi hipnotizada centenas de vezes por Sichort e tor-
nou-se muito hábil no processo. É um estado muito difícil de al-
cançar e até agora não há nenhuma maneira confiável para in-
duzi-lo. Há relatos de que o processo de recuperação nele seja de
seis a dez vezes maior do que a média, bem como nos casos de
cura espontânea.
Um sinal de que o Ultra-Depth® foi alcançado é quando a
taxa de respiração é reduzida para menos de três vezes por mi-
nuto. Minha teoria pessoal, e não é nada mais do que uma teoria,
é que esse estado se assemelha a uma espécie de hibernação. Eu
pessoalmente não ajudei ninguém a chegar a esse nível, porque
eu prefiro trabalhar com Ultra-Height® e Ultra-Healing®, uma
vez que são induzidos mais facilmente.

191
Ultra-Height®

Esse estado, que dizemos ocorrer no eu superior, ou mente


superconsciente, foi desenvolvido por Jerry Kein e é tão simples
de se induzir que pode ser alcançado com bastante facilidade de-
pois de apenas um pouco de prática. O ponto de partida ideal é
o estado Esdaile, mas também pode ser alcançado a partir de so-
nambulismo profundo. No entanto, a minha experiência mostra,
e isso tem sido confirmado por Jerry Kein, que os melhores re-
sultados são obtidos quando a viagem para o eu superior começa
no estado Esdaile.
As coisas que eu experimentei com esse estado, até agora,
têm sido extremamente empolgantes. Fico fascinado a cada vez
que a maioria dos meus alunos vai para o Ultra-Height e posso
observar em primeira mão como eles resolvem problemas por
conta própria e como as mudanças imediatamente tomam posse,
o que é ainda mais emocionate! Depois de centenas dessas ses-
sões, digo que os meus alunos e clientes sempre experimentam
coisas novas sobre as quais eu ainda não tinha ouvido falar ou
imaginado serem possíveis, tais como a cura espontânea, um
novo insight, inspiração, autodescoberta e perdão no mais alto
nível.
Aparentemente, no estado Ultra-Height®, qualquer coisa
que possa de alguma forma se tornar uma distração, mesmo no

192
sonambulismo profundo, desaparece. Isso traz uma perspectiva
mais clara para o problema, bem como a sua solução.
Um aspecto interessante desse processo é que o hipnotista
raramente tem de intervir ativamente. O cliente é levado por um
caminho pré-definido, mas flexível, e pode, então, resolver qual-
quer problema que desejar, sem o hipnotista ter que saber o que
é. É claro, também é possível que uma interação muito intensiva
ocorra, mas isso pode ser conduzido pelo cliente.
Ultra Height® é praticamente uma obrigação para as pes-
soas com problemas graves, como câncer, esclerose múltipla, ou
esclerose lateral amiotrófica (ELA). Como sempre, apenas depois
de todos ECIs e ECSs terem sido "esclarecidos" no subconsciente.
Depois disso, este estado pode contribuir para a ocorrência do
que chamaríamos de milagre. Naturalmente, isso não deve ser
mal interpretado, e longe de mim tentar explicar tal estado, mas
quando eu quero maximizar as chances de uma recuperação, o
meu processo compreende o estado Ultra Height® e o que se se-
gue no próximo parágrafo.

193
Ultra-Healing®

Esse é um nível adicional, ou o que também poderíamos


chamar de uma experiência, que eu desenvolvi em 2010 se-
guindo um curso que fiz de trabalhos de energia. Baseei isso em
minhas experiências com Ultra Height® de Jerry Kein e nos co-
nhecimentos derivados e adaptados a partir do que aprendi com
Malcolm S. Southwood7. As reações e emoções resultantes eram
ligeiramente mais intensas do que aquelas em Ultra-Height®, em
que as coisas normalmente são relativamente mais calmas. Os
mesmos efeitos podem ocorrer no estado de Ultra-Healing®, mas
a limpeza que também acontece no nível físico não pode ser to-
talmente descartada. Parece possível haver uma reprogramação
de células ao mais alto nível, de modo que elas são transforma-
das por esse fluxo de energia um tanto intenso e devolvidas à sua
condição original, saudável. Tenho observado mudanças e curas
em meus alunos e clientes que foram mais do que apenas incrí-
veis e surpreendentes.

7
Autor de The Healing Experience: Remarkable Cases from a Professional Healer
: www.southwoodhealing.com

194
Exemplo de Ultra-
Height®/Ultra-Healing

Nos meus cursos de formação, muitas vezes os participan-


tes me perguntam se eu poderia ter tempo para uma sessão pes-
soal. Nos primeiros dias, eu sempre fazia um agendamento com
eles. Eu já não faço isso, no entanto, porque eu acabei cancelando
metade dos compromissos depois de toda a classe participar de
uma demonstração de Ultra-Height®/Ultra-Healing® no fim do
curso. Muitos estudantes vieram até mim depois dizendo que
seu problema foi resolvido automaticamente através dessa incrí-
vel aventura.
Minhas experiências pessoais com esses estados são sim-
plesmente fantásticas. Houve participantes que resolveram con-
flitos e problemas de longa data ao entrar no estado de super-
consciência. Recebi olhares, gestos e palavras de agradecimento
que não poderiam ser mais agradáveis. É sempre muito emocio-
nante e comovente ver como as pessoas são capazes de resolver
os seus problemas de repente.
Eu não sei exatamente o que acontece dentro de suas men-
tes, mas as emoções são bastante evidentes com muitos partici-
pantes. Esses são momentos especiais para mim também. De-
pois, os estudantes me dizem que pareço mais esclarecido do que

195
aparento exteriormente. Pode ser, mas eu faço apenas o que te-
nho condições, e o que eu faço, qualquer um pode aprender, se
quiser.
Em qualquer caso, trabalhar com esses estados não é exa-
tamente lucrativo (como se isso fosse importante nesse mo-
mento), porque eu sempre perco clientes que não precisavam vir
a mim, em primeiro lugar, mas é a coisa certa a se fazer no en-
tanto. Também é fantástico ser capaz de orientar as pessoas atra-
vés do processo de auto-cura. Fico satisfeito cada vez que isso
®
acontece. As coisas que ocorrem no Ultra-Height /Ultra-Hea-
®
ling fazem fronteira com o miraculoso, ou tocam no verdadeiro
potencial de nossas mentes subconscientes e superconscientes.
Ainda há muito o que descobrir!
"Quando mudamos os limites do que é supostamente pos-
sível, descobrimos o que está além"
Eu gostaria de mencionar mais uma vez que hipnotistas só
podem ser úteis na medida em que ajudam seus clientes a se aju-
darem. Quando uma mudança acontece, é apenas porque os cli-
entes permitiram e não porque o hipnotista tem algum tipo de
poder especial ou “super-sentido”. Não, mas simplesmente por-
que os clientes conseguiram naturalmente, com a ajuda do hip-
notista, gerar poderes e energias aparentemente impossíveis e
usá-los para o seu próprio bem-estar.
As pessoas percebem e descrevem tanto o Ultra-Height®
quanto o Ultra-Healing® de forma diferente. Alguns falam de
uma intensa experiência física e mental, enquanto outros reve-
lam uma experiência espiritual, quase religiosa. Estou conven-
cido de que a percepção de uma pessoa tem muito a ver com a
sua filosofia de vida geral e experiência anterior. Em qualquer
caso, é claro: a coisa bonita sobres esses estados é que apenas o
bem pode vir deles, e todos são livres para experimentar tudo o
que é bom para cada um e tudo o que estão dispostos a aceitar.

196
O que vem depois? Eu não tenho ideia, mas um bom amigo
meu já surgiu com um novo conceito. Vamos permanecer entu-
siasmados porque tenho certeza que ainda há muito o que des-
cobrir!
Então, agora você tem uma visão geral e está mais familia-
rizado com a diversidade dos vários níveis de hipnose. Existem
mais nuances e detalhes, mas eles podem ser aprendidos em um
bom curso de hipnose. Este livro deve ajudar as pessoas em geral
a se interessarem pela hipnose e não pretende ser um manual de
instrução.

197
As crianças e a hipnose

Sem dúvida, são elas que se beneficiam mais rápido com a


prática. Elas têm três vantagens enormes sobre os adultos. Na
maioria dos casos, não têm medos ou preconceitos quando se
trata de hipnose, não tiveram muito tempo para enraizar seus
problemas como os adultos têm feito às vezes por décadas, além
de terem uma imaginação muito fértil.
É fantástico observar a rapidez com que elas entram em
hipnose; como se aproximam de brincadeiras e podem fazer um
progresso tão rápido, aparentemente sem esforço. Seu poder
imaginativo ainda não é tão limitado como o dos adultos. Esse
poder lhes permite ver e aceitar soluções que os mais velhos po-
dem considerar ilógicas ou impossíveis. O terapeuta hábil pode
usar esses fatores vantajosamente para ajudar as crianças com
mais eficácia.
Eu trabalhei bastante com as crianças no passado e as ex-
periências enriqueceram a minha vida até hoje. No momento,
existem três hipnoterapeutas maravilhosos ao meu redor que
atuam quase que exclusivamente com crianças. Eles fazem um
trabalho extraordinário e têm recuperado sorrisos nos rostos in-
fantis. Imagine por um momento como seria maravilhoso deixar
de molhar a cama, superar dificuldades de fala, como a gagueira,

198
ir à escola livre de medo, lidar melhor com a ansiedade da sepa-
ração e construir autoconfiança, trazer para casa notas melhores,
enfim eliminar todas aquelas coisas que podem ser tão estressan-
tes para uma criança!
É um tanto chocante ver quantas vezes os problemas co-
muns dos pequenos acabam sendo tratados com medicamentos,
ou como eles são enviados de um terapeuta a outro tornando-se
ainda mais inseguros. Infância não é uma doença. Naturalmente,
há casos em que um apoio é chamado para introduzir uma estru-
tura e, talvez, ajudar as crianças a aprenderem as coisas que não
foram ensinadas em casa ou aprendidas suficientemente no
curso da vida, mas eu estou falando sobre questões cotidianas.
Algumas crianças são simplesmente mais animadas. Nós
apenas temos que dedicar tempo suficiente para elas e inteligen-
temente canalizar suas energias. Duvido muito que drogas como
a Ritalina sejam a solução. Há especialistas notáveis, como o Dr.
Gerald Hüther8 e o Dr. Allen Frances9 que põem em dúvida o di-
agnóstico de TDA/TDAH e afirmam que não existe tal trans-
torno; que se trata apenas de um sinal dos tempos, porque as cri-
anças de hoje são muito menos ativas fisicamente do que antes.
Ambos falam de diagnósticos psiquiátricos exagerados, que
transformam em pacientes pessoas com problemas normais.
A hipnose é uma forma totalmente natural e muitas vezes
lúdica de ajudar as crianças a se encontrarem, a utilizarem me-
lhor os seus próprios recursos, a resolverem problemas cotidia-
nos, a acreditarem nas suas capacidades e promoverem uma
vida relaxada em casa e na escola.
O mesmo serve para os adultos; nem todo problema deve
ser imediatamente considerado um transtorno.

8 Professor de Neurobiologia. Psiquiatra Clínico, Universidade de Göt-


tingen: www.gerald-huether.de
9 Psiquiatra americano, autor e editor fundador do: the Journal of Per-

sonality Disorders and Journal of Psychiatric Practice

199
Verrugas de passagem

Um menino veio até mim um tempo atrás, eu não me lem-


bro o problema e nem é relevante aqui, mas ele tinha várias ver-
rugas, grandes e pequenas, em torno de seu pescoço. Sua mãe
tinha incidentalmente chamado minha atenção e perguntou se
havia algo que eu pudesse fazer sobre elas. Aparentemente, ele
tinha tido essas verrugas por um bom tempo. À medida que es-
távamos terminando com seu problema principal, eu mencionei
brevemente as verrugas e sugeri que ele imaginasse que a pele
ao redor de seu pescoço estava completamente limpa, boa e lisa.
Eu pedi a ele que visualizasse como todo o estresse que acompa-
nha as verrugas pode ser simplesmente drenado através de li-
nhas de energia imaginárias. Deixei por isso mesmo. O resto se-
ria feito por sua mente subconsciente nos próximos dias. Eu dei
a seu subconsciente a tarefa de trabalhar na eliminação das ver-
rugas. Três semanas mais tarde, todas as verrugas, com exceção
de uma, tinham desaparecido.
As crianças respondem muito melhor à hipnose do que os
adultos. Elas podem ser ajudadas de uma forma maravilhosa, e
sua criatividade ilimitada e imaginação poderosa tornam possí-
veis coisas que, para os pais, professores ou terapeutas, pareciam
inviáveis antes. Crianças que crescem com a hipnose como uma
parte natural da vida podem obter muito mais benefício dela se
houver necessidade quando se tornam adultos.

200
Quando e para quem
a hipnose não funciona?

A hipnose não é adequada para todos, ainda que todos


possam se beneficiar dela. Se você não quer de forma alguma ir
a um hipnotista ou ser hipnotizado, então não há poder neste
mundo que possa forçá-lo. Se falta automotivação, uma consulta
ao hipnotista é um exercício de futilidade. Se você não quiser mu-
dar, nenhuma quantidade de conselhos bem-intencionados pode
te ajudar. Isso seria um trabalho em que ambos fracassariam; a
pessoa aflita e o hipnotista. Nesse caso, só posso aconselhá-lo a
poupar o seu dinheiro para algo que faça mais sentido.
As mulheres geralmente são mais receptivas à hipnose e
mais dispostas a se envolver com ela. Isso não significa que os
homens não possam se beneficiar igualmente, mas a prontidão,
a percepção de que você quer mudar alguma coisa deve estar lá.
O desejo de mudança ou um certo nível de sofrimento tem de ser
a força motivadora em busca de ajuda.
Se você é do tipo de pessoa que é geralmente contra qual-
quer coisa que se afasta da norma, sempre examinando tudo cri-
ticamente, observando a vida sob o prisma do ceticismo, não con-
fiando em ninguém e suspeitando de más intenções em todos os
lugares, então a hipnose pode representar um desafio para você.

201
Se você acha que tem de ter tudo sob controle em todos os mo-
mentos, e se deixar ir é um horror de se imaginar, então é mais
provável que o escritório do hipnotista seja o lugar errado e a
hipnose não seja a ferramenta certa para você.
Basta lembrar, "se deixar ir" não significa exatamente per-
der o controle. Sempre digo às pessoas que são um pouco céticas
que quanto mais elas podem se deixar ir, mais controle elas ga-
nham em sua vida. Na situação ideal, você recupera o controle
sobre a parte que de alguma forma tem estado fora de controle.
O objetivo deve ser sempre a melhoria. Autoiniciativa é impor-
tante. Motivação externa pode ser bom, mas também pode ser
contraproducente.
De vez em quando eu recebo consultas nas quais desejam
saber se a hipnose pode fazer alguma coisa em relação à homos-
sexualidade. Eu não recebo essas perguntas dos próprios gays,
mas daqueles ao seu redor. A homossexualidade é algo normal e
deve ser respeitada como tal. A vida já pode ser suficientemente
complicada sem tentar curar algo que não é nem mesmo uma
doença.
Eu já tive, até agora, o prazer de ajudar dois clientes a en-
contrar a força e a coragem para "sair do armário" e, finalmente,
terem a possibilidade de serem eles mesmos. A hipnose é uma
forma de apoiar as pessoas a fazerem isso. Reprimir a sua própria
identidade por anos ou mesmo décadas, por qualquer motivo,
pode deixá-lo doente - e ninguém merece isso. A hipnose pode
ajudar a lidar com o que está em seu caminho e a viver a sua vida
livremente.
Desafios congênitos, como a síndrome de Down e outras
deficiências físicas ou mentais são, como o nome sugere, inatos.
Contanto que elas cumpram os requisitos mentais mínimos, es-
sas pessoas também podem ser ajudadas com a hipnose para li-
dar melhor com sua condição, mas o problema em si permanece.

202
As pessoas que já não conseguem acompanhar ou serem
entendidas, tais como aquelas com demência avançada, ou outra
deficiência mental grave, não podem ser ajudadas com a hip-
nose.
"Quanto mais você é capaz de se deixar ir em hipnose, mais
controle você vai recuperar sobre essa parte de sua vida que es-
tava fora de controle"

203
Doença em
estágio terminal

De fato, há coisas como milagres, quando vistas com uma


dose saudável de realidade. Mesmo que a hipnose possa fazer
tantas coisas, a vida tem os seus limites. Somos todos mortais,
independentemente de quanto dinheiro ou poder tenhamos acu-
mulado, ou como temos vivido de modo saudável. Em algum
ponto, chega um momento em que todos os nossos esforços serão
em vão: o notório ponto em que não há retorno.
Nós todos teremos que sair desse estágio mundano um dia.
Dependendo do sistema de crenças do indivíduo, isso pode
acontecer com calma, ou com medo. Certamente, a maneira
como partimos pode ser impactada positivamente com a hip-
nose. O medo da morte ou do inevitável pode tornar insuportá-
vel os últimos meses, dias e horas.
®
Com técnicas como o Ultra-Height as pessoas podem ser
ajudadas a fazer a transição em momentos em que não é mais
sobre a luta contra o inevitável, mas sobre ser capaz de ir em paz.
Isso é algo que a hipnose tem condições de contribuir de forma
maravilhosa. A hipnose paliativa é uma área que requer uma
sensibilidade altamente especializada e não é oferecida por todos
os hipnotistas, mas certamente pode ser usada vantajosamente.

204
Uma história de dor

Como observado anteriormente, a hipnose pode fazer mi-


lagres quando se trata de dor. Claro, há também o outro lado da
história. Lembro-me muito bem de um caso específico, não ape-
nas porque tivemos sucesso a curto prazo, mas porque logo ficou
claro que o ganho secundário prometia mais benefícios do que a
cura.
Eu recebi um telefonema de um homem que queria saber
se a hipnose poderia ajudar sua esposa a lidar com sua dor. Ela
tinha sido clinicamente diagnosticada e as razões para a dor eram
claras. Eu aprendi mais tarde, durante a nossa conversa, que ela
tinha tido duas tentativas de suicídio malsucedidas e agora es-
tava experimentando algumas dores intensas, como resultado
dos danos físicos graves que tinha infligido a si mesma.
Eu me lembro de quando ela veio pela primeira vez para a
clínica. O marido dela teve que ajudá-la e ela se movia como uma
mulher velha. A dor era visível em todo o seu rosto. Ela insistiu
para que o marido estivesse presente durante toda a sessão. Isso
é algo que eu permito apenas em casos raros, pois os membros
da família podem ser parte do problema sem saber, mesmo que
tudo aparente bem exteriormente. Eu concordei em deixá-lo se
sentar durante a anamnese e o pre-talk.

205
Foi então que eu soube que ela estava recebendo uma pen-
são por invalidez e que seu único sonho era ter um dia uma pe-
quena casa no campo, com um jardim de ervas e algumas cabras
e galinhas. Ela me disse, de forma intencionalmente chocante, so-
bre como ela começou a se prostituir quando tinha 16 anos e
como lenta, mas seguramente, a sua vida se tornou um inferno
levando-a à sua primeira tentativa de suicídio. Quando criança,
ela tinha sido abusada por um membro da família; um capítulo
terrível de sua vida, e uma história, infelizmente, muito comum.
É um pouco chocante o que as crianças têm de passar às vezes, e
apesar de tudo, elas desejam nada mais do que o amor e o reco-
nhecimento de sua mãe e seu pai, apesar dos espancamentos e
abusos sexuais. Seu marido sabia tudo sobre seu passado e eu
podia ver o quanto ele a amava. A história dessa mulher era cer-
tamente muito especial. Em todo caso, eu estava maravilhado
com a forma como seu marido estava lá para ela em todos os sen-
tidos.
Ela tinha cerca de 35 anos, mas parecia muito mais velha e
entrou em hipnose facilmente. Não me lembro de todos os deta-
lhes, mas conseguimos fazer alguns progressos. Além disso, dei-
lhe uma série de sugestões que a ajudariam a aliviar a dor. Havia
muito mais dor na alma dessa pessoa do que em seu corpo físico.
Eu ainda posso ver claramente seu rosto quando ela saiu
da hipnose. Tenha em mente, essa mulher mal conseguia andar,
mancava, estava corcunda e seu rosto estava torcido de dor o
tempo todo antes de entrar em hipnose. Então, quando ela saiu
da hipnose, parecia dez anos mais jovem. As rugas haviam desa-
parecido. Havia um sorriso em seu rosto. Ela estava genuina-
mente feliz. Tal transformação fantástica só a hipnose pode tra-
zer tão rapidamente. Como é geralmente o caso, depois de uma
sessão tão longa e intensa, ela teve que ir com urgência ao ba-
nheiro. Ela se levantou da cadeira com facilidade, caminhou
ereta e sem mancar. Parecia flutuar para fora da sala.

206
Virei-me para o marido, que tinha estado na sala o tempo
todo e quase não podia acreditar na mudança notável. Quando
ele viu como sua esposa estava livre da dor, ele começou a chorar
e eu tive que pensar se não tinha dito ou feito algo errado. Per-
guntei a ele qual era o problema. Ele disse que já tinha passado
um longo tempo desde que havia visto sua esposa tão feliz, des-
preocupada e agora completamente sem dor. Ok, foi um alívio
para mim e, naturalmente, eu estava feliz por ele.
Cinco minutos mais tarde, sua esposa voltou, ainda na me-
lhor forma. Viu lágrimas nos olhos do marido e perguntou por
que estava chorando. Ele disse a ela como sentia-se feliz de final-
mente vê-la livre de dor e como isso iria mudar todo o futuro
deles.Houve uma pausa curta e silenciosa. O rosto da mulher co-
meçou a mudar de volta para a careta familiar, torcida de dor.
Seu corpo caiu para frente. Tudo o que tinha conseguido fora em
vão.
Foi-se a pequena casa no campo com o jardim de ervas. Fo-
ram-se as cabras e as galinhas. Foi-se a pensão por invalidez!
Sem medo, nós imediatamente providenciamos um novo com-
promisso. Eu sabia que como fomos capazes de ajudar essa mu-
lher em sua primeira sessão, poderíamos, eventualmente, conse-
guir estabilizá-la ao ponto de ficar livre da dor. No final, a sua
pensão por invalidez não deve realmente importar, pensei. No
caminho de casa, o marido me ligou para dizer que eles não que-
riam quaisquer outras sessões.
Neste caso, a solução era pior do que o problema. Nós po-
demos ajudar os clientes apenas quando há desejo real de mu-
dança. Eu nunca vou esquecer deste casal; seu destino me toca
até hoje. Esta mulher e seu caminho brutal indescritível durante
a infância e adolescência e o homem amoroso admirável que cui-
dadava dela. Talvez o medo de perder sua pensão tenha desem-
penhado um papel fundamental na sua decisão. A razão exata eu
nunca vou saber, mas eu teria gostado de ajudar. Nós provamos
em nossa sessão que era realmente possível.

207
"A cura pode não ocorrer se o cliente não tiver nenhuma
necessidade ou desejo de cura ou se a solução trouxer consigo
uma presumida desvantagem. A cura é um processo, vem de den-
tro; a dor e o sofrimento vêm antes de cada cura, seja mental ou
física"
Como hipnotista ou terapeuta, geralmente é importante se
distanciar para evitar tomar as dores dos outros e deixar que in-
fluenciem a sua própria vida. Pode não funcionar sempre, mas a
sua saúde mental pessoal é importante e você somente pode aju-
dar os outros quando você mesmo está saudável. Trabalhar com
pessoas que têm problemas de todo tipo, caso contrário não es-
tariam buscando a nossa ajuda, é um trabalho de amor. Observar
em primeira mão as mudanças nas pessoas é uma bênção. Nós
ganhamos a vida com isso, mas a verdadeira satisfação vem de
ajuda-las a transformarem suas vidas, acompanhá-las em seus
caminhos. Isso não é meramente uma ocupação; é um chamado.

208
Hipnose no dentista

A odontologia é uma profissão em que a hipnose já é bem


conhecida e bastante presente. Muitos dentistas atualmente con-
tam com as vantagens da hipnose em sua prática diária e são es-
ses que têm uma reputação muito boa, assim como um ambiente
de trabalho mais relaxado. Eles podem lidar melhor com pacien-
tes com medo, usando os efeitos calmantes da hipnose para be-
neficiar maravilhosamente ambas as partes.
Em 2012 e 2013 foi um prazer servir como palestrante con-
vidado a pedido de um dos professores da Universidade Privada
de Krems, perto de Viena, na Áustria. Ensinei em classes de até
40 futuros dentistas as vantagens da hipnose na odontologia. Os
estudantes ficaram realmente fascinados. Eu acho que foi uma
mudança interessante nos seus currículos. As técnicas que eu
compartilhei são chamadas de HypnoDent ® e são especifica-
mente formuladas para a medicina dentária. Desde então, um
dos meus colegas, ele próprio um dentista, assumiu a posição de
passar esse conhecimento adiante para colegas da profissão.

209
Áreas de utilização na
odontologia

As áreas de utilização de hipnose na odontologia e as van-


tagens para os pacientes são muito abrangentes e esta deveria ser
realmente uma parte do curso de formação. A seguir está uma
lista de coisas em que um dentista pode influenciar positiva-
mente com a hipnose e outras vantagens derivadas:
Medos/fobia de dentista: É possível acalmar pacientes com
o uso da hipnose ao ponto deles fazerem uma consulta livres de
medo e serem tratados sem quaisquer problemas. Claro, um den-
tista pode procurar a ajuda externa de um hipnotista que veria
os pacientes temerosos com antecedência para que eles possam
ser tratados mais tarde, sem receios.
Evitar anestesia: Muitos pacientes que de outra forma só
poderiam ser tratados sob narcose completa, acham que a hip-
nose é uma alternativa adequada. Os riscos associados à aneste-
sia também podem ser evitados.
Fobia de agulha: O dentista pode ajudar essas pessoas
muito bem. Ou eles perdem o medo de agulhas, ou a injeção
pode ser ignorada por meio do uso de hipnose. O mesmo se
aplica para quaisquer alergias que uma pessoa possa ter de anes-
tésicos químicos.

210
Dor: Um dentista experiente pode tratar pacientes de
forma totalmente indolor usando hipnose, em alguns casos re-
nunciando até mesmo a um anestésico local, reduzindo maciça-
mente a dose ou eliminando sua necessidade. Os dentes podem
ser perfurados até a raiz ou extraídos, próteses podem ser im-
plantadas, o colo do dente pode ser trabalhado, e até mesmo
grandes procedimentos cirúrgicos no maxilar podem ser levados
a cabo sem que haja dor. Quando induzida adequadamente, a
hipnose pode prolongar os efeitos da anestesia após a operação
e a medicação para dor pode ser reduzida ou completamente eli-
minada.
Cicatrização de feridas: As feridas podem se curar até 50%
mais rápido quando influenciadas positivamente por meio da
hipnose.
Reflexo de vômito: Uma outra vantagem da hipnose é que
o dentista pode reduzir ou eliminar inteiramente o reflexo de vô-
mito nos pacientes. Isso é especialmente uma vantagem ao fazer
impressões dentárias.
Salivação: De vez em quando a quantidade de salivação
pode ser um incômodo e tem de ser constantemente sugada. Este
fluxo pode ser levado a uma paralisação completa com a hip-
nose.
Controlar sangramento: A hipnose ajuda o dentista a parar
o sangramento de um paciente. Também é possível, quando ne-
cessário, reativar o fluxo de sangue para limpar a ferida. É sim-
plesmente incrível o que pode ser feito com a hipnose.
Extração dentária simples: Muitos dentistas relatam que
extrações dentárias são mais fáceis enquanto os pacientes estão
em um estado relaxado de hipnose.
Crianças no dentista: As crianças respondem à hipnose de
maneira extraordinária. A maioria vem livre do medo da hip-
nose, o que pode fazer da sua primeira consulta ao dentista uma

211
experiência lúdica, ou ajudar a superar quaisquer más experiên-
cias anteriores que possam ter tido no consultório dentário.
A odontologia é um campo ideal para o uso da hipnose.
Naturalmente, há muitas diferenças nas técnicas aplicadas. Para
um dentista, a indução não deve demorar muito ou ser compli-
cada e exigir um terceiro. Uma vez que os dentistas já descobri-
ram as vantagens de usar a hipnose, eles realmente não querem
desistir dela. Eu conheço alguns que realizam a prática cinco ou
seis vezes por dia. Eles estão felizes e permanecem muito mais
relaxados, porque podem reduzir o estresse que resulta muitas
vezes do tratamento de pacientes nervosos e com medo. Isso é
uma enorme vantagem para eles próprios.
O número de dentistas treinados em HypnoDent® está au-
mentando o tempo todo. Pergunte ao seu dentista se ele teve ou
não o treinamento adequado. Você pode se beneficiar da hipnose
também.

212
Fobia de dentista
acompanhada
de vômitos

Um dia, recebi um telefonema de um dentista que sabia


que eu trabalhava com hipnose e queria perguntar se eu poderia
ser capaz de ajudar um de seus pacientes. Toda vez que o homem
tinha de abrir a boca para o trabalho dentário ele engasgava e às
vezes até vomitava.
Que situação desconfortável para ambas as partes! Eu con-
cordei em ver seu paciente e um encontro foi marcado.
Antes de começarmos com a hipnose, eu perguntei ao ho-
mem se ele gostaria de simplesmente abrir a boca e imaginar que
eu era o seu dentista. Logo ele começou a engasgar e tossir. Parei
ali, não tendo nenhum interesse em experimentar em primeira
mão o que estava por vir. Eu já tinha visto o suficiente.
O homem estava próximo dos 40 anos e tinha este pro-
blema desde os nove anos. Assim, por mais de trinta anos, ele
vomitou regularmente sobre aqueles que o trataram na cadeira
do dentista. Tornou-se difícil encontrar um que queria atendê-lo.
Sem narcose completa, nenhum tratamento de qualquer tipo era

213
possível. O reflexo foi tão completamente condicionado que foi
acionado mesmo em meu escritório, que não se parece em nada
com uma clínica odontológica. O estado de seus dentes estava
lamentável, já que a situação piorou ao longo dos anos. Com o
tempo, ele não podia nem escovar os dentes ou até mesmo boce-
jar sem ser afligido. Ele estava obviamente perturbado. Tinha
feito terapia por muitos anos, sendo tratado por seu medo clara-
mente identificável de dentistas. Felizmente, nosso dentista mú-
tuo sabia do meu trabalho.
Ficou claro para mim que a verdadeira razão devia estar
em outro lugar. Eu fiz a indução de hipnose e focamos na sensa-
ção que sempre vinha quando ele estava no dentista. Esse senti-
mento era muito intenso. Através do processo de regressão, ras-
treamos o sentimento de volta para a primeira infância. Ele tinha
quatro ou cinco anos de idade e brincava na caixa de areia com
dois amigos. Eu imediatamente suspeitei que ele estava prestes
a ser alimentado com uma torta de areia que iria desencadear no
reflexo de engasgos. Mas, como muitas vezes acontece, o meu
próprio pensamento lógico e analítico estava completamente
equivocado. É a prova, mais uma vez, de que a verdade está no
subconsciente do cliente. Todo o resto é pura conjectura.
Como de costume, o homem na cadeira de repente come-
çou a tossir e engasgar - o que estava acontecendo? Lá, na caixa
de areia, uma mosca acabara de voar para dentro da boca do me-
nino e começou a zumbir por ali. Ele ficou tão enjoado que ele
começou a engasgar e tossir, tentando fazer com que aquela coisa
revoltante saísse de sua boca. Nós tínhamos encontrado o ECI. O
problema foi resolvido para o jovem, alguém pode pensar. Esse
episódio anterior em sua vida foi esquecido e ele iria crescer nor-
malmente como o resto de seus colegas. Então, seguimos a trilha
(ainda em hipnose) para a próxima vez em que ele experimentou
esse sentimento de repulsa.
Mudança de cena: ele agora tem nove anos, virtualmente
revivendo tudo na sua cabeça. A classe está recebendo a visita do

214
dentista da escola. Chega a vez dele. O dentista pede a ele para
abrir a boca, descobre algumas cavidades e começa a perfuração.
Boca aberta e vem a broca. Ela começa a zumbir e girar - soando
como uma mosca na mente subconsciente do menino. Ele re-
corda vividamente o zumbido alto de anos antes. Essa é a corre-
lação calamitosa ao sentimento de nojo que ele teve na época.
Agora, totalmente nauseado, aos nove anos de idade começa a
engasgar e tossir, e o que ele vê aparecendo ameaçadoramente
em sua frente? Um dentista! Seu subconsciente agora faz uma li-
gação ainda mais trágica e equivocada: ele projeta a sensação de
náusea na figura sinistra diante dele e, pela primeira vez em sua
vida, ele vomita em um dentista. A situação se torna extrema-
mente emocional e constrangedora e a reação do dentista tam-
bém não é exatamente agradável. O destino segue seu curso; 40
anos e a mesma coisa em cada consulta ao dentista.
Foi, então, simples de esclarecer toda a situação através da
hipnose, eliminando a programação errada que ocorreu devido
à lógica do subconsciente, que é difícil para a mente consciente
compreender plenamente, e depois ancorando a programação
corrigida. Problema resolvido. Desde então, este homem que ti-
nha sofrido por 40 anos pode ir ao dentista completamente livre
de seus males anteriores e não requer mais narcose completa.
Conscientemente, ele sabia que realmente não tinha medo de
dentistas ou do procedimento dentário, mas ninguém tinha dei-
xado isso bem claro em sua mente subconsciente, até aquele dia.
O sentimento era um medo do medo - sua mente subcons-
ciente, em uma situação extremamente emocional, tinha proje-
tado este sentimento de medo sobre o que estava presente no mo-
mento. Mais uma vez vemos a fórmula funcionando: Evento +
Emoção = Programação.
Ele me perguntou mais tarde se eu iria acompanhá-lo em
um agendamento futuro que tinha para um implante. Embora
ele tivesse certeza de que não precisaria de mim, pensou que, de-
pois de 30 anos de aflição, valeria a pena apenas por segurança.

215
Então, eu concordei. Foi um procedimento relativamente sim-
ples, mas nosso dentista mútuo, com base na experiência, tinha
reservado duas horas como medida de precaução. Ele foi hipno-
tizado ali na cadeira do dentista. Em menos de meia hora, o que
poderia ter sido um pesadelo havia acabado sem incidentes. Pa-
ciente aliviado, dentista também.
"Os clientes não vêm até nós pela hipnose em si. Eles vêm
pelo que podemos fazer para ajudá-los em hipnose"

216
Possíveis áreas de uso
na hipnose moderna

Tabela 1: As áreas atuais de uso da hipnose

Acidente vascular cerebral Consultas ao Dentista


(AVC) Controle da dor
Aconselhamento em caso de Controle de peso
trauma Controle do estresse
Alergias Criatividade
Ansiedade Cuidados terminais (con-
Ansiedade de separação forto aos moribundos)
Asma Depressão
Ataque cardíaco Diabetes (tipo 2)
Autoconfiança Dificuldades de aprendiza-
Autolesão (corte) gem
Bloqueios (mental, emocio- Disfunção sexual
nal) Distúrbios do sono
Burnout Distúrbios imunológicos
Câncer / Tumores Doença de Alzheimer
Cicatrização de feridas Doenças da pele
Comportamento agressivo Eczema
Compulsões (TOC) Emergências médicas

217
Enxaqueca Perda de cabelo (calvície
Epilepsia masculina)
Esclerose lateral amiotrófica Pré-operatório/Pós-opera-
(ELA) tório
Esclerose múltipla (EM) Pressão alta
Exaustão Ranger os dentes (bru-
Fertilidade xismo)
Fibromialgia Relaxamento
Fobias Rinite alérgica
Foco / Concetração Roer as unhas
Forense (interrogatório de Saúde preventiva
testemunha) Sensibilidade do corpo
Frigidez Síndrome de Tourette
Gagueira (problemas da Síndrome do intestino irri-
fala) tável (SII)
Impotência TDA / TDAH
Incontinência urinária Tiques nervosos
Instabilidade emocional Transpiração
Letargia Transtorno de estresse pós-
Lúpus traumático (TEPT)
Luto Transtorno de personali-
Mal de Parkinson dade borderline
Medos / Fobias Transtorno de puxar o ca-
Melhoria de desempenho belo
(esporte / escola / trabalho) Transtornos alimentares
Motivação (anorexia, bulimia, compul-
Mudanças de humor são alimentar)
Neurodermatite Verrugas
Obesidade Vícios (álcool/dro-
Parar de fumar gas/jogo/sexo)
Parto (sem dor) Tinnitus (Zumbido no ou-
Pensamentos negativos vido)

218
Esta não é de modo algum uma lista completa das áreas
que podem ser influenciadas de forma positiva e tratadas com
hipnose. Se o seu problema não estiver listado, pergunte a um
hipnotista se tal terapia também pode ajudá-lo. Em caso de dú-
vida, procure uma segunda opinião de outro hipnotista, já que
alguns especialistas não podem imaginar todas as coisas que são
possíveis com a hipnose.
As áreas listadas na Tabela 1 são aquelas em que a hipnose
tem sido usada com sucesso até agora. A lista permanecerá in-
completa já que novas áreas estão sendo adicionadas o tempo
todo. "Usada com sucesso" significa que o problema foi comple-
tamente resolvido ou algum alívio foi alcançado. Algumas das
áreas foram cientificamente reconhecidas como sendo influenci-
áveis através da hipnose, enquanto outras são vistas como ainda
experimentais. A minha trajetória mostra que a hipnose pode ser
útil em todos esses domínios, bem como em muitos outros. Se
você recordar a máxima "cada sintoma tem uma causa", então
todo problema deve ser capaz de ser influenciado positivamente
através da hipnose. Ela pode não funcionar em todos os casos,
mas é sempre válido tentar naquelas áreas que já se revelaram
bem-sucedidas. Quem vai dizer, então, que nós ainda não temos
muito a aprender e que não podemos continuar a melhorar e
aperfeiçoar nossos métodos, a fim de um dia sermos ainda mais
bem-sucedidos?
Os seguintes exemplos de algumas das minhas sessões de
hipnose são oferecidos aqui somente para fins didáticos. Meu ob-
jetivo é promover uma maior compreensão do funcionamento
íntimo do cérebro e mostrar mais precisamente como a nossa
mente subconsciente faz ligações que, muitos anos mais tarde,
podem causar problemas que dificilmente seriam resolvidos sem
os métodos de elucidação da hipnose. Longe de mim extrapolar
qualquer promessa de cura para outros casos. Definitivamente
não é minha intenção. Cada pessoa é um indivíduo e responde
um pouco diferente à hipnose e seu hipnotista. Entre todas as

219
minhas milhares de sessões, há sempre algumas que se destacam
na memória mais do que outras.
Tem de ficar claro que nós hipnotistas realmente nunca cu-
ramos ninguém com hipnose – os clientes é que fazem isso! Te-
mos condição, no entanto, de apoiá-los na superação de seus pro-
blemas ou controlar melhor certos desafios. Embora possa ser co-
locada em uso universalmente, a hipnose não é uma panaceia.
De fato, há momentos em que nenhum benefício pode ser deri-
vado da hipnose. Pode ser porque o cliente não teve a atitude
certa, ou porque qualquer mudança não poderia ser implemen-
tada na situação em particular.
Naturalmente, com a hipnose, estamos sujeitos às mesmas
leis naturais como todos os outros. Nós simplesmente temos que
aceitar que não podemos ajudar a todos, e que a morte é uma
parte da vida. Podemos, no entanto, ajudar as pessoas a fazerem
a passagem livre de medo e dor, para aceitar e controlar melhor
a situação.

220
Casos gerais

Neste capítulo, elenquei alguns exemplos – dos mais diver-


sos – que me chegaram. Eles ajudarão a reforçar conceitos apre-
sentados nos capítulos anteriores, bem como apontar a eficiência
da hipnoterapia a uma ampla gama de demandas. São casos de
pessoas próximas e, a elas, eu agradeço pela confiança que me foi
dada para que comprovasse a aplicabilidade da hipnose, essa po-
derosa ferramenta de resolução de problemas.

221
ELA - Esclerose lateral
amiotrófica

Eu fui capaz de ajudar uma agradável e jovem mãe para


conviver melhor com a trágica doença chamada ELA (esclerose
lateral amiotrófica). Ela notou os primeiros sintomas logo após
seu aniversário de 30 anos, o que é um pouco cedo para esta do-
ença. Normalmente, os sintomas iniciais aparecem entre os 50 e
60 anos de idade.
Usando a hipnoanálise e a terapia das partes, fomos capa-
zes de descobrir uma resposta lógica para a questão sobre o que
desencadeou o problema. Isso trouxe algum alívio imediato. No
entanto, uma vez que as células nervosas morreram, elas não po-
dem se regenerar. É evidente que há limitações.
Ela me disse que alguns anos mais tarde, depois de ter ul-
trapassado em muito a expectativa média de vida para a ELA, a
doença e seus sintomas associados já não eram reais problemas
para ela. Descobrimos em hipnose que havia um conflito entre
seu corpo e sua alma. O corpo dela estava se rebelando porque a
alma não tinha pedido permissão para ocupá-lo. Isso levou o
corpo a começar a resistir e, pouco a pouco, a paralisar suas pró-

222
prias funções. Uma vez que fomos capazes de restaurar o equilí-
brio e fazer as pazes entre o corpo e a alma, a mulher encontrou
uma nova calma ao lidar com sua doença.
Às vezes, só temos de nos considerar sortudos se podemos
"pelo menos" ajudar a reduzir o sofrimento. De vez em quando,
isso é tudo o que se espera de nós. De qualquer forma, eu nunca
vou me esquecer daquele sorriso em seu rosto feliz, alegre e,
acima de tudo, livre da dor após a sessão. Ela será sempre uma
inspiração para mim com sua vontade de viver e seu entusiasmo
pela vida. Sua natureza e sua alegria, apesar da gravidade do seu
destino, foram exemplares.

223
Alergia a frutos do mar

O primeiro pedido que eu tive para uma sessão de hipnose


veio de um colega de esportes e estudante de medicina que sabia
que eu estava envolvido com hipnose. Ele queria saber se a prá-
tica poderia ajudá-lo com a sua alergia a frutos do mar. Eu disse
que trabalharia com ele, mas não ofereci nenhuma garantia. Pen-
sei que valeria a pena para ver o que poderia ser feito com a hip-
nose.
Nós começamos com o processo usual, anamnese, pre-talk,
as perguntas que ele tinha foram respondidas e nós concordamos
em resolver o assunto - em outras palavras, ele me deu permissão
para hipnotizá-lo.
Resultado: nós perseguimos a sensação de ele estar doente
quando come frutos do mar. Rastreamos o sentimento de volta
para a primeira vez. Ele tinha cerca de oito ou nove anos de
idade; lá estava comendo uma pizza de frutos do mar, enquanto
seu avô estava fumando um charuto na mesa. Meu amigo passou
mal com o odor da fumaça do charuto. Seu subconsciente erro-
neamente ligou o mal-estar com o que ele estava fazendo no mo-
mento. A partir de então, ele tinha sido incapaz de comer frutos
do mar sem se sentir enjoado. Não era incomum que ele tenha
sido diagnosticado como tendo uma alergia.

224
Nós resolvemos este conflito no subconsciente, bem como
o mal-entendido resultante e, desde então, ele tem sido capaz de
comer frutos do mar sem nenhum problema. Assim aconteceu a
minha primeira sessão de hipnose. Eu fiquei animado, tanto
quanto ele, é claro. Foi então que eu percebi que tinha pegado o
que eles chamam de hipnofebre – me viciei. Poderia ser real-
mente tão simples quanto o meu professor tinha dito e ensinado
desde 1979, e como Dave Elman tinha instruído profissionais
desde os anos 1950?
Eu tinha lido muito sobre hipnose e tive o privilégio de es-
tudar com Jerry Kein - o mesmo treinamento que eu ensino hoje
- mas poderia realmente ser tão fácil? Pode o subconsciente, na
hipnose, encontrar a verdadeira razão tão facilmente e, ao
mesmo tempo ligar e ancorar as informações novas e corretas?
Poderia esta abordagem direta, sem considerações biológicas ou
psicológicas complicadas ou mais delongas, ser realmente tão
simples? Uma única sessão? E está terminado?
Sim, e milhares de sessões mais tarde, eu ainda estou con-
vencido por esta abordagem e a idéia por trás dela. O caso do
meu colega não foi isolado e nem um acaso. Não, os resultados
evoluem de acordo com a regra que está sempre sendo confir-
mada pelas exceções.
E assim, meu caro amigo que nunca teve uma alergia, eu
permaneço até hoje eternamente grato por você ter me dado essa
oportunidade e confiado em mim para ajudá-lo em seu desafio.
Você sabe quem você é. Obrigado. Você tornou a minha iniciação
muito mais fácil.
A maioria de nós pode apenas desejar tal começo, mas,
desde então, tenho testemunhado um sucesso similar em muitos
dos meus alunos. Aqueles corajosos o suficiente para saltar im-
pávidos e aplicar o que aprenderam na sua formação, muitas ve-
zes experimentam o mesmo sucesso logo na primeira vez. O meu
caso não foi um caso isolado. Nem um pouco. É uma questão de
abordagem, processo, técnicas e metodologias que são aplicadas.

225
Eles trabalham, em grande medida, com facilidade. As histórias
de sucesso são muitas vezes incompreensíveis para todos os en-
volvidos.

226
Depressão pós-parto

Uma familiar próxima que estava sofrendo de depressão


pós-parto, veio me pedir ajuda. Ela havia sido submetida à tera-
pia e tomava medicação havia dois anos, sem qualquer melhoria
na sua condição que começou algumas semanas após o nasci-
mento dos gêmeos, seu segundo e terceiro filhos. Eu recusei, no
entanto, porque a natureza próxima da nossa relação me deixou
um pouco desconfortável. Eu poderia realmente trabalhar tão di-
reta e especificamente com alguém com quem tinha uma pro-
funda ligação como ela?
Poucos meses após o pedido, completei meu treinamento
de instrutor de hipnose nos EUA. Isso me deu um novo impulso
na motivação e me ajudou a ganhar ainda mais autoconfiança
quando se trata das possibilidades da hipnose. Enquanto isso, o
psiquiatra da mulher tinha vendido a ela sua máquina de remo
usada porque pensou que ela poderia fazer mais exercícios. Foi
quando eu dei um basta. Se não eu, então quem? Se não agora,
então quando?
Ainda me lembro claramente, ela estava na minha casa, no
sofá do quarto de hóspedes. Comecei muito informalmente com
o processo de anamnese e pre-talk. Então, nós começamos com a
hipnose e três horas mais tarde, depois de uma sessão extrema-
mente intensiva, profunda, cheia de suor e lágrimas, mas com

227
êxito, o tormento havia acabado. Sua depressão pós-parto era
apenas o ECF e não tinha nada a ver com o problema real. O ver-
dadeiro culpado se encontrava na sua infância quando sua mãe
tentou cortar o cordão umbilical. Isso foi mais tarde reafirmado
e reforçado por um par de ECSs. O barril transbordou com o nas-
cimento de seus gêmeos. O sintoma, ECF, foi elaborado, tratado
com terapia, medicamentos prescritos e exercícios, e meses de
consultas - tudo ao nível consciente, lógico e analítico. Ali mesmo
eliminamos a programação defeituosa anterior, estabilizamos a
situação inteira, trazendo para sua compreensão de adulta na
hipnose e instalando um mundo de emoções correto, saudável e
estável.
Levou apenas uma única sessão para elucidar a verdadeira
causa do sintoma. A grande questão sobre este tipo de aborda-
gem é que nós não tratamos o sintoma em si. Ele é apenas mar-
ginalmente interessante e concentrar-se sobre ele só iria nos dis-
trair da raiz do problema. A mente subconsciente sempre tem
sua própria lógica, como fez neste caso.
Ela permaneceu no sofá por cerca de dez minutos a mais -
simplesmente para pensar sobre as coisas - então entrou na sala
de estar, de faces rosadas, totalmente esgotada, mas sabia que o
problema havia sido resolvido e ela poderia agora levar uma
vida feliz e produtiva e desfrutar de seus filhos ainda mais.
Obrigado, querida irmã, por me permitir ajudar e me des-
culpe por ter demorado tanto tempo para encontrar a coragem.
Você tem filhos lindos que são como meus próprios. Certamente
eles vão crescer com a atitude correta para com a hipnose.

228
Hipnose de emergência

Era um jogo fora de casa com o meu time de handebol. A


equipe principal estava na quadra. Pouco antes do final do pri-
meiro tempo, um dos integrantes caiu no chão aos gritos, com o
rosto contorcido de dor. Para um jogador de handebol agir assim,
tem de ser algo realmente sério. Era claro que ele tinha sofrido
uma lesão grave. Eu o conhecia muito bem e tinha trabalhado
muitas vezes com ele. Imediatamente ofereci minha ajuda para
acabar com a dor, diminuir o sangramento no músculo, reduzir
o inchaço que normalmente segue tal ferimento e promover o
processo de cicatrização.
Ele conseguiu, com algum apoio, retornar para o vestiário.
Usando uma rápida indução eu o guiei na hipnose, dei-lhe algu-
mas sugestões para que relaxasse e para aliviar a dor que dimi-
nuiu imediatamente. Ele não precisava mais do sinal de dor, pois
o seu sistema sabia que algo estava certamente errado. Comecei,
imediatamente, com sugestões positivas de cura e, em seguida,
de prevenção para que a lesão não piorasse pelo excesso de san-
gramento e inchaço, que pode causar infecção. Ele estava em pro-
funda hipnose, o que era absolutamente perfeito para a situação.
Ele permaneceu nesse estado durante todo o intervalo e
todo o segundo tempo após o jogo, quando pôde ser transpor-
tado com segurança para o hospital onde foi diagnosticado com

229
uma lesão muscular. Isso foi no dia 14 de dezembro. Por terem
sido dadas sugestões para que imaginasse uma cura rápida e in-
ternalizasse um processo de recuperação completa, ele foi posi-
tivamente preparado para os próximos dias e estava de volta aos
treinos já no final de janeiro. No dia 2 de fevereiro, ele jogou pela
primeira vez após sua lesão. O médico ficou pasmo.
Essas técnicas de hipnose de emergência são ensinadas es-
pecialmente para policiais, bombeiros, técnicos de emergência
médica e médicos da sala de emergência por um de nossos espe-
cialistas, ele próprio um ex-policial estadual. Elas podem salvar
vidas e prevenir traumas posteriores. Esse instrutor teve a sua
própria experiência demonstrando a eficácia dessas técnicas
quando se deparou com uma cena da emergência, em que um
motociclista havia sido atropelado. Quando o médico chegou,
pediu ao policial para continuar, porque percebeu quão bem a
vítima do acidente estava respondendo à hipnose de emergência,
tornando o resto da tarefa muito mais fácil.

230
O título do campeonato

Eu vinha tentando há algum tempo convencer o treinador


da minha equipe de handebol (a partir da história acima) a me
dar uma chance para apoiá-lo e à equipe com a hipnose espor-
tiva. Este clube está em meu coração. Meu pai havia jogado com
eles e eu estava na equipe titular em 1987/88. Meus esforços para
convencê-lo foram inúteis por cerca de dois anos. Ele não acredi-
tava em hipnose. Considerava-a um pouco duvidosa na melhor
das hipóteses, na verdade como nada além de “abracadabra”, e
realmente não queria ter nada a ver com isso.
A primeira oportunidade que tive de fazer algo de bom
com a hipnose para o clube veio na forma de uma sessão privada
com um dos melhores jogadores. Um atleta modelo, que fazia de
seis a dez gols por jogo, mas que agora estava preso em uma
crise, marcando não mais do que dois, talvez três pontos a cada
partida. Depois da nossa sessão, em que fomos capazes de tirar
o bloqueio, ele voltou à eficiência anterior. Isso chamou a atenção
do treinador. No entanto, ele ainda não estava pronto.
Então, veio uma grande vitória em um jogo fora de casa
contra um adversário que éramos incapazes de derrotar há muito
tempo. Dois dias depois, com a mesma equipe, eles perderam um
jogo em casa com os piores resultados da história do clube e para
uma equipe supostamente muito mais fraca. O treinador sabia

231
que isso não poderia continuar e que tais flutuações iriam refletir
negativamente em seu registro.
Naturalmente, após a derrota retumbante, era minha vez
de fazer algo, então eu levei a hipnose esportiva mais uma vez e
mencionei todas as coisas que poderiam ser realizadas com ela
se eu tivesse a chance. Bem, o treinador decidiu finalmente abrir
espaço para mim.
Toda a equipe se reuniu no salão. Para surpresa de todos,
16 de 18 membros da estavam presentes (era numa base volun-
tária). Então, começamos com um pre-talk para explicar exata-
mente o que a hipnose é e o que não é. Tivemos um total de três
sessões. Os resultados foram muito melhores do que qualquer
um dos participantes poderia ter imaginado.
Na qualificação para os play-offs, a equipe tinha ganhado
apenas 0,4 pontos em média por jogo no ranking (2 pontos por
vitória, 1 ponto por empate). Depois de nossas sessões de Hyp-
noSport®, a média de pontos por jogo subiu para 1,4. A equipe
foi o time de maior sucesso nos play-offs e ganhou mais pontos
do que as equipes mais qualificadas da época.
O ponto alto veio na qualificação para a final da Taça da
Suíça. Tínhamos que derrotar um adversário que, pelo menos no
papel, era classificado como muito melhor. Uma outra sessão de
HypnoSport® com a equipe trouxe o resultado desejado. A
equipe estava preparada como nunca antes. Ganhamos o título
e, provavelmente, pela primeira vez na história desportiva da Su-
íça, um hipnotista foi premiado com uma medalha de campeo-
nato, juntamente com os jogadores. Certamente um dos meus
pontos altos nos esportes, embora sendo "apenas" como um hip-
notista, mas ainda assim foi bastante satisfatório.
Conseguimos muitos outros sucessos graças ao apoio da
hipnose. As fases negativas foram quebradas, lesões rapida-
mente curadas, bloqueios mentais removidos, e um ou dois ou-

232
tros assuntos abordados. Após o treinador testemunhar tanto su-
cesso, ele participou do meu curso de formação de hipnose e tor-
nou-se um hipnotista brilhante (e amigo), em esportes de elite.
Desde então, como um hipnoterapeuta qualificado, ele tem
ensinado as técnicas sofisticadas do HypnoSport®. Um de seus
jogadores também decidiu completar a formação, a fim de se be-
neficiar da experiência e ser capaz de aumentar suas habilidades
mentais. A hipnose esportiva tem sido uma parte permanente do
time titular desde 2010 e agora é impossível imaginar o jogo sem
ela. O treinador aprendeu com certeza que a hipnose esportiva
não é “abracadabra”, mas sim uma contribuição valiosa para os
esportes e para a vida em geral.
Nesse meio tempo, temos tido o privilégio de apoiar vários
outros atletas de diferentes modalidades esportivas. Entre os su-
cessos, estão os novos recordes suíços, ouro nos Jogos Olímpicos
de Inverno da Juventude e muitas vitórias e colocações que pro-
vam que o desempenho mental superior é uma necessidade ab-
soluta para atingir o nível ideal. A hipnose funciona aqui como
um turbo e acelera a melhoria do desempenho, maximiza o po-
tencial, limpa bloqueios e outros fatores perturbadores ou inibi-
dores.
Mesmo com toda a empolgação sobre a hipnose esportiva
e os sucessos que ela traz, os jogadores ainda têm que jogar cada
jogo, ser desafiados no treino, puxar ferro, seguir o conselho tá-
tico do treinador e marcar os gols. Mas, quando o aspecto mental
é otimizado, podem ser obtidos resultados que fazem fronteira
com o que poderia ser descrito como a condição ideal. Os mús-
culos mais fortes e a jogada perfeita só são pouco eficazes se a
mente não está jogando junto. Isso é verdade não só no handebol,
mas em todos os tipos de esporte.
Às vezes é preciso uma crise para que um hipnotista espor-
tivo tenha uma chance. Persistência é importante também, se
quiser que até mesmo lhe seja dada essa oportunidade. Obri-
gado!

233
Medos e Fobias

Medos e fobias são geralmente encaminhados para serem


resolvidos por meio da hipnose. Outras técnicas nas quais as pes-
soas têm de enfrentar o que receiam e ser intencionalmente con-
frontadas com essas situações, ou têm de discutir várias vezes
seus temores durante longos períodos pode, no pior dos casos,
exacerbar o medo através do compounding negativo. Em todo
caso, pode ser um caminho longo para o sucesso com tais méto-
dos. Medos e fobias geralmente podem ser resolvidos em uma
única sessão, talvez duas ou até três sessões, mas a maioria é ra-
pidamente solucionável, e acima de tudo, de forma duradoura.
Ainda vemos hoje artigos e reportagens sobre medos e fo-
bias de especialistas de renome, mesmo recentemente em um dos
jornais suíços mais respeitados, em que a hipnose não é sequer
mencionada, nem mesmo a EMDR (Eye Movement Desensitization
and Reprogramming ou Dessensibilização e Reprocessamento por
Movimentos Oculares). Não, são sempre as velhas, convencio-
nais e antiquadas formas de terapia da psicologia que recebem a
imprensa. Essa é a norma que ainda está sendo ensinada hoje. A
hipnose recebe pouca ou nenhuma visibilidade.
Deve-se notar aqui que todo hipnotista tem casos sem su-
cesso. As razões para as falhas são muitas, talvez algo tenha sido
esquecido ou não claramente comunicado. Talvez a pessoa ainda

234
não estivesse pronta. Nós aprendemos mais com nossos fracas-
sos. Eles nos fazem repensar as coisas e questionar a nossa abor-
dagem, a fim de encontrar novas formas de eventualmente ser-
mos capazes de ajudar. Nós só podemos ser tão úteis quanto o
cliente nos permite ser. Minha experiência e dos meus colegas
mostra dia após dia que a maioria dos casos pode ser rapida-
mente resolvida.
Em todo caso, há novas fobias e medos que são "classifica-
dos" o tempo todo a taxas sem precedentes. Vou repetir aqui: não
existem fobias de aranhas, cobras, contato social, etc. Há apenas
o medo do sentimento de medo, que pode ser tratado muito bem
com hipnose e outras técnicas, como EMDR.

235
Medo de cavalos
eliminado
em sete minutos

Eu tenho um bom amigo nos esportes de elite que confiou


em mim para a hipnose por algum tempo. Além do trabalho que
estávamos fazendo para aumentar seu desempenho mental, eu
ocasionalmente o ajudei a se recuperar mais rapidamente de le-
sões.
Uma vez ele me perguntou se eu poderia ajudar uma co-
nhecida sua. Por mais de 50 anos, ela teve ataques de pânico com
cavalos. Quando era uma menina, um cavalo lhe deu um chute
tão forte que voou para fora do estábulo. Concluí naturalmente,
com base na minha experiência, que isso era algo que podíamos
muito rapidamente corrigir. O problema era claro; a causa tam-
bém. Mas 50 anos depois? Isso poderia ser difícil.
Com o tempo, essa mulher e eu víamos um ao outro ocasi-
onalmente em jogos de handebol. Ela morava em uma parte com-
pletamente diferente da Suíça e, de alguma forma, nós nunca
chegamos a marcar uma consulta. Tendo tido algumas conversas
curtas em jogos anteriores, sugeri a ela que poderíamos fazer
algo sobre o problema no local, no meio da multidão, exatamente

236
onde ela estava. Um pouco surpresa que isso poderia ser possí-
vel, ela concordou sem hesitação e depois de uma rápida indução
ela foi direto para o sonambulismo estável. Associando com a
técnica de pressão em pontos da palma de Moshé Zwang10, de-
morou apenas sete minutos desde a indução até ela já não ser
capaz de imaginar os ataques de pânico ao redor de cavalos ou
mesmo lembrar da emoção antiga. Simples.
No dia seguinte, recebi um telefonema do meu amigo que
me disse que sua conhecida tinha acabado de voltar para casa
andando com seu cachorro na floresta e compartilhou com ele a
mais maravilhosa experiência. Ela estava em um caminho es-
treito quando um cavalo com seu cavaleiro veio trotando em sua
direção. Antigamente, ela teria entrado em pânico e saltado atrás
de uma árvore para se proteger. Mas dessa vez, nada aconteceu.
Nada. Isso era exatamente o que nós queríamos que ocorresse.
Eventualmente se tornou possível para ela acariciar um cavalo,
algo que surpreendeu totalmente seus amigos e família, e foi um
alívio para ela. Algumas semanas mais tarde, recebi uma boa
garrafa de vinho acompanhada de uma nota com uma imagem
de um cavalo me agradecendo por tê-la ajudado tão espontane-
amente.

10 Inventor da Terapia da Palma, www.palmtherapymission.com

237
Preocupações éticas com
a hipnose instantânea

Um princípio universalmente aplicável diz que quanto


mais vezes uma pessoa for hipnotizada, mais rápido ela entra em
hipnose. Tem havido muitos debates fundamentais sobre a natu-
reza ética da hipnose instantânea - se é ou não é ainda aceitável
levar uma pessoa à hipnose tão rapidamente. Só posso dizer uma
coisa sobre isso: não fazer nada é antiético! Por que devemos usar
um método mais lento para colocar alguém em hipnose quando
isso pode ser feito muito mais rápido? Aqueles que criticam a
hipnose instantânea sempre parecem esquecer que as pessoas
não vêm até nós por causa da hipnose, mas sim para a terapia
que oferecemos no estado hipnótico. Esse é o princípio orienta-
dor.
"Não existe a terapia perfeita. Há apenas terapias boas e
muito boas, com espaço para melhorias em ambas." Malcolm
Southwood

238
Burnout

Um psiquiatra que eu conheci uma vez me enviou uma de


suas pacientes e estava convencido de que ela poderia ser aju-
dada com a hipnose. Ele já havia tido uma experiência positiva
trabalhando comigo e mantivemos uma troca muito construtiva
e aberta com grande respeito mútuo. Eu também lhe envio clien-
tes ocasionais quando estou convencido de que deve primeiro
falar com um médico antes de vir até mim. Funciona muito bem
e é naturalmente benéfico ter tais relações.
Dessa forma, essa mulher havia estado em tratamento com
ele por algum tempo devido ao burnout. Ele pensou que ela es-
tava definitivamente pronta e receptiva à hipnose. Nós agenda-
mos uma consulta e a mulher, então, me disse que havia experi-
mentado uma espécie de choque no trabalho. Um de seus chefes
a tinha insultado de maneira tão desagradável que ela se tornara
emocionalmente entorpecida, intelectualmente paralisada e
completamente chocada. Ela não podia mais trabalhar e perdeu
o que tinha sido um grande cargo.
Após a anamnese e o pre-talk que se seguiu, logo começa-
mos com a sessão de hipnose. Nós rastreamos esses sentimentos
de choque, paralisia e impotência de volta para a primeira vez
em sua vida em que ela os sentiu. Sem muitos rodeios, fomos
diretamente para um momento quando ela tinha quatro anos de

239
idade. Estava brincando na sala de estar rodeada por sua família,
tentando mover um espelho colossal, e seus irmãos estavam
rindo dela porque era pequena demais para ser capaz de movi-
mentá-lo. Isso foi desafiador o suficiente. Ela sacudiu o espelho
um pouco mais, dessa vez com mais força, e então o espelho se
soltou e caiu com todo seu peso em cima dela. Ela ficou chocada
e paralisada naquele momento. O espelho estilhaçado foi espa-
lhado sobre ela e ao seu redor. Esse foi o ECI.
Nós também descobrimos alguns ECSs menores e volta-
mos para o ECF, aquele momento dramático no escritório em que
o chefe dela a insultou ao ponto de sua mente subconsciente re-
cordar o momento em que ela era uma menina que se encontrava
sob o espelho, impotente e paralisada de choque.
Resolvemos todos esses momentos, neutralizamos as ener-
gias negativas ligadas a essas memórias e reprogramamos seu
subconsciente para que ela pudesse reunir forças a partir de toda
a experiência. Por ela ser tão facilmente hipnotizável, já na pri-
meira sessão eu a ajudei mais profundamente no estado Esdaile,
em que ela poderia simplesmente desfrutar de meia hora de re-
cuperação profunda. Após a sessão, ela se sentiu super bem e nós
providenciamos uma segunda reunião para reforçar o novo pro-
grama. Aqui, também, ela aprofundou-se em hipnose e nós tra-
balhamos para recarregar suas baterias, o que ela conseguiu fa-
zer. Eu, então, lhe mostrei algumas técnicas de auto-hipnose para
que ela pudesse continuar a repor seus estoques de energia em
casa.
A maioria das pessoas que sofrem de burnout se sente im-
potente, desmotivada, deprimida e triste. Tudo se torna demasi-
ado complicado. Isso às vezes pode acontecer, mas ninguém
pede por isso. Você simplesmente não acorda um dia e diz para
si mesmo que já é hora de faltar com a motivação e estar depri-
mido só porque você está um pouco atrasado com o seu trabalho.
O mundo parece estar se movendo cada vez mais rápido. Somos

240
praticamente acessíveis o tempo todo pelo celular. Nós nos exer-
citamos menos do que antigamente e nossos hábitos alimentares
se tornaram mais pobres em muitos casos. Estresse, pressão e ex-
pectativas no trabalho e em casa têm crescido continuamente. A
velocidade da mudança pode deixar uma pessoa tonta, levando
muitos a criarem os seus próprios problemas. Desacelerar nem
sempre é fácil; contas têm de ser pagas. Encontrar um momento
calmo – tomar, de propósito, um tempo para si nunca fica mais
fácil. Você realmente tem que lutar contra horários cada vez mais
rigorosos apenas para encontrar um pouco de paz e sossego! Pes-
soas que sofrem de burnout precisam ser compreendidas. Elas
precisam de tempo e oportunidade para recarregar as baterias. A
hipnose pode certamente ajudar com isso.

241
Controle de emoções

Alguns anos atrás eu recebi uma pergunta de um homem


querendo saber se a hipnose seria útil no controle da raiva para
explosões emocionais e similares. Assegurei-lhe que era e marca-
mos um encontro.
Ele tinha cerca de 50 anos de idade e me disse que a em-
presa para a qual havia trabalhado por muitos anos tinha lhe pe-
dido para resolver suas explosões emocionais e aprender a man-
ter sua raiva sob controle. Se ele não conseguisse fazer isso, eles
teriam que mandá-lo embora. Várias outras abordagens terapêu-
ticas não conseguiram entregar os resultados desejados, então ele
agora estava disposto a dar uma chance à hipnose.
Na sessão, fomos para o sentimento que ele tinha quando
algo no escritório o deixava tão chateado que as emoções o con-
trolavam, em vez do contrário. Seguimos o sentimento até a pri-
meira vez em sua vida que ele o experienciou.
Aconteceu que paramos justamente no momento de seu
nascimento, que foi, por si só, bastante emocional, mas, em se-
guida, quando o médico o segurou para mostrar à sua mãe, o
primeiro comentário dela foi: "ah, nós estávamos esperando por
uma Margret". Que recepção! Sua mãe estava desapontada por-

242
que, obviamente, queria uma menina. Em seu momento de nas-
cimento, ele se sentiu rejeitado, não desejado, e de alguma forma
fora de lugar.
Nós tínhamos encontrado o ECI. O problema surgiu du-
rante ou logo após o seu nascimento. Agora, você pode pergun-
tar: "como isso é possível?". Eu não posso lhe oferecer qualquer
explicação científica exata, mas o que sei é que a nossa mente
subconsciente é um enorme reservatório de memórias de tudo o
que já experimentamos, sentimos, ouvimos e vimos. Como um
recém-nascido poderia entender as palavras que foram ditas e
como exatamente esse tipo de informação é comunicada não é
totalmente explicável, mas para mim, não é tão crucial. Encontrar
a informação no subconsciente que pode desencadear sentimen-
tos e emoções negativas mais tarde na vida de uma pessoa é o
mais importante.
Muitas vezes eu tenho casos em que o ECI ocorreu no útero
e o cliente pode repetir palavra por palavra o que a mãe ou o pai
disseram e como se sentiam em relação à criança. Eu não posso
explicar como um feto pode entender as palavras, mas estou
longe de ser o único a ter lidado com tais casos. Eu tenho uma
teoria, mas não é mais do que uma teoria: considero a relação
naturalmente íntima que temos com a nossa mãe, enquanto esta-
mos no útero. Há uma ampla pesquisa científica provando que
as emoções de uma mãe são transmitidas para o seu filho e já
podem deixar vestígios no cérebro do feto. Mas entender pala-
vras e ser capaz de recuperá-las 20, 30, 40, até mesmo 50 ou 60
anos mais tarde? Eu suspeito que, nessa fase inicial de desenvol-
vimento, não podemos realmente entender a linguagem. Pode-
mos, no entanto, perceber as emoções que as palavras transmi-
tem, sem ter compreendido o conteúdo. Após o nascimento, nós
aprendemos um idioma em algum momento e entendemos todas
as suas nuances. Muitos anos mais tarde, talvez em uma sessão
de hipnose, seguimos uma emoção de volta à sua origem. Se a
origem está no útero, nós experienciamos uma proximidade

243
muito emocional e mental daquele momento, mas não esquece-
mos o que aprendemos desde então, incluindo a linguagem. De
repente, os sons e as emoções associadas, detectados pelo feto,
têm palavras que lhes são inerentes. Palavras que agora, depois
de ter aprendido a língua, fazem sentido e nos ajudam a entender
a situação como foi. Em um estado normal, sem hipnose, isso ja-
mais seria possível. É assim que nos deparamos com informações
que podemos usar para ajudar as pessoas.
Eu tive um número de casos em que um dos pais vivo con-
firmou que um cenário específico realmente ocorreu. Até mesmo
toda uma discussão sobre se deveriam ou não fazer um aborto
foi repetida em hipnose e mais tarde confirmada por eles. O
aborto não foi realizado, mas o momento extremamente emocio-
nal na vida da mãe foi transmitido para o feto e estabeleceu um
ECI. Realmente muito interessante e não racionalmente explicá-
vel, mas o mais importante é que os clientes obtêm alguns bene-
fícios a partir do processo e o problema pode ser resolvido no
aqui e agora.
De volta ao nosso cliente que deveria ter sido uma Margret.
Ele percebeu que cada vez que não se sentia totalmente aceito no
escritório, ele ficava com raiva e desapontado e vinham à tona as
emoções sobre as quais não tinha controle. Na verdade, elas o
controlavam. Seu subconsciente continuou a se sentir tão desam-
parado quanto logo após seu nascimento. A decepção de sua
mãe, com quem ele teve um relacionamento saudável, foi insta-
lada em sua mente subconsciente. Esta emoção foi reforçada ao
longo dos anos cada vez que ele estava em uma situação em que
se sentia rejeitado, até o dia em que se tornou evidente para os
outros que ele já não podia mais controlar suas emoções.
Corrigimos toda a situação, ajudando-o a entender que a
decepção expressa no momento do seu nascimento foi apenas
temporária, um breve desentendimento na vida de duas pessoas.
Foi uma sessão intensiva de três horas. Em tais casos, nem sem-
pre é imediatamente claro o quão bem-sucedidos seremos.

244
Como se vê, algumas semanas mais tarde recebi um e-mail
dele me dizendo como tinha voltado para casa montado em sua
motocicleta depois da sessão, cantando na chuva, feliz e aliviado
e que, desde então, toda a confusão no trabalho tinha se aliviado.
A situação no trabalho não era o problema. As repercus-
sões de algo que teve importância no início de sua vida tinham
começado a ter consequências no nível consciente. A verdadeira
razão ocorreu em um momento que poderíamos nunca, nunca
ter sido capazes de descobrir por meio de técnicas de questiona-
mento e análise inteligente no nível consciente, mas que inter-
rompeu totalmente a vida deste homem 50 anos mais tarde. Si-
tuação remediada em uma única sessão.

245
EM - Esclerose múltipla

Aqui está outro caso que muitas vezes me dá motivos para


pensar. Eu tive tantos casos e é impossível me lembrar de todos,
mas este em especial me tocou, porque eu conhecia esta mulher
pessoalmente. Nós tínhamos trabalhado juntos na indústria au-
tomobilística anos antes. Eu tive a oportunidade de contratá-la e
promover a sua carreira. Realmente não havia sido dada a ela
uma oportunidade adequada no mercado de trabalho, mas eu vi
potencial em sua formação. Ela nasceu no estrangeiro e foi criada
por sua avó em uma cultura completamente diferente da nossa.
Ela tinha se juntado a seus pais na Suíça aos 14 anos, mas falava
impecavelmente suíço-alemão. Soube que ela terminou entre os
primeiros da sua classe na escola. Isso me impressionou, então
eu a contratei e nunca me arrependi. Pelo contrário, ela aprovei-
tou a oportunidade e provou seu valor.
Alguns anos mais tarde, depois de ter mudado de trabalho,
ela recebeu uma má notícia: EM - esclerose múltipla. Ela tinha
apenas 28 anos. Quando a visitei no hospital, ela só podia andar
com o apoio de um andador. Não foi fácil ver aquela jovem da-
quele jeito. Eu ofereci minha ajuda; ela só precisava decidir. Seu
destino pesava no meu coração. Ela recusou a oferta, no entanto.
Sentia-se desconfortável com a hipnose e seu médico também
sentiu que não teria nenhuma utilidade. Além disso, ela me co-
nhecia principalmente como seu ex-patrão, o que não tornava as

246
coisas mais fáceis. Eu repeti a oferta e disse que se precisasse da
minha ajuda, ela deveria entrar em contato.
Um ano depois, ela fez exatamente isso. Sua situação não
melhorou muito e ela precisava de um cochilo de três horas todas
as tardes. Ela tinha problemas de visão e dificuldade em manter
o equilíbrio. Havia passado um tempo desde que fora capaz de
trabalhar, e isso era uma coisa com a qual ela poderia realmente
se identificar. O trabalho era importante para ela.
Em todo caso, para resumir, a sessão foi excepcionalmente
boa. Sua prontidão para ser ajudada era clara. Nós descobrimos
vários assuntos culturais relacionados e conflitos enraizados em
seus anos de infância e adolescência, e fomos capazes de resolvê-
los. A EM foi apenas um sintoma de sentimentos negativos e
emoções que se amontoaram em seu subconsciente ao longo dos
anos. Não é algo que deve ser tratado em apenas uma única ses-
são. Ao invés de tratar a própria EM, lidamos apenas com a
causa. No entanto, era suficientemente grave para exigir várias
sessões até realmente ter certeza que o subconsciente tinha sido
esclarecido e fortificado. É uma questão de ajudar a pessoa a mi-
nimizar ou eliminar totalmente os efeitos da aflição. Vale a pena
se esforçar para qualquer melhoria. Evitar uma possível deterio-
ração adicional vale sempre todo o esforço necessário e por isso
tivemos um total de seis sessões.
Ela tomava várias medicações ao longo dos anos e perma-
necia sob os cuidados de seu médico o tempo todo. Tenha em
mente que nesses dois anos antes de ter vindo a mim, ela não
tinha feito quase nenhum progresso. Já depois de nossa terceira
sessão, o nível de sua energia era melhor, tinha menos tonturas,
e sua visão havia clareado. E o mais importante, ela foi capaz de
voltar a trabalhar em meio período.
O médico disse que os medicamentos finalmente fizeram
efeito, já que a hipnose não poderia ser a razão. Claro, ele não
estava presente durante as sessões intensivas em que nós eluci-
dávamos o subconsciente. Ele não podia imaginar que a hipnose

247
poderia trazer essas mudanças significativas em tão pouco
tempo. Certamente tinha que ser o remédio. Eu entendo o que
ele queria dizer. Eu não tenho nenhuma prova definitiva sequer
de que era a hipnose em vez dos medicamentos, mas quem se
importa? O importante é que ela está melhorando. Hoje, está de
volta ao trabalho em tempo integral e tem todos os sintomas sob
controle. Ela está convencida de que foi a hipnose que ajudou
com o avanço após dois anos de abordagens puramente conven-
cionais. Eu também. Eu não posso provar isso, mas não importa.
Sou grato por ela ter depositado sua confiança na hipnose.
"É como se você pudesse tocar a alma de uma pessoa, se-
gurá-la, senti-la"

248
SII - Síndrome
do intestino irritável

Esta vem do feedback dado por um dos meus alunos. No


final do treinamento, eu sempre peço um voluntário que gostaria
de abordar um problema com a hipnose. Isso serve como uma
demonstração para a classe e dá aos participantes uma idéia de
possíveis abordagens para a resolução da dificuldade.
Um dos estudantes levantou a mão e disse que vinha so-
frendo de síndrome do intestino irritável (SII) por 44 anos. Ao
longo do tempo, tudo tinha sido examinado; todas as abordagens
conhecidas foram infrutíferas e não trouxeram nenhum alívio.
Aqueles afetados pela SII sofrem diariamente, é mais do que ape-
nas um pouco de desconforto.
Durante a hipnose, procuramos o sentimento que ele sem-
pre tem quando o problema está forte (isso funciona em hipnose,
não tente usar a lógica para entender como o subconsciente faz
isso). Seguimos o sentimento de volta à origem em sua infância,
quando ele inicialmente percebeu a aflição.
Ele tinha cerca de quatro anos de idade e estava brincando
com alguns carrinhos de brinquedo em uma parede de pedra
perto de sua casa. Depois de um tempo, ele ficou fascinado,
quase magicamente, por um esgoto aberto nas proximidades.

249
Sua curiosidade infantil o levou cada vez mais perto, até que che-
gou à beira da vala onde continuou brincando com seus carros
pequenos. De alguma forma, ele sentia instintivamente que era
perigoso lá e começou a sentir fraqueza na boca do estômago. Ele
se sentiu enjoado, inseguro e com medo. Esses sentimentos fo-
ram indelevelmente registrados em sua mente subconsciente.
Eles fizeram todo o sentido no momento, porque o avisaram so-
bre o perigo de cair na vala.
Resolvemos as emoções negativas, que foram bastante ra-
zoáveis naquele momento, de modo que já não podiam afetá-lo
no aqui e agora, quando elas não eram mais necessárias nesse
sentido. A sessão foi bastante intensa para ele, mas estava rela-
xado depois. Ocasionalmente, ouvimos falar novamente dos alu-
nos após algum tempo passado; nem sempre acontece, mas toda
a classe recebeu a seguinte mensagem:
"Já se passaram dois meses desde que eu tive a permissão
para desempenhar o papel de cobaia no final do nosso treina-
mento. Lembro-me de ver um monte de rostos ansiosos e tam-
bém alguns olhares que de alguma forma diziam: ’estou contente
por não ter que sentar lá na frente’. Depois da nossa semana ins-
piradora, diversificada e, acima de tudo informativa, tive o pri-
vilégio de experimentar em primeira mão o que significa passar
por um R2C. Vocês devem se lembrar que era uma SII. Ela desa-
pareceu com praticamente nada mais do que um estalar de de-
dos. Depois de 44 anos! E até hoje ela se foi! Vocês esperavam
algo diferente?"
Nesse meio tempo, muitos meses passaram. Este homem
ainda está feliz por ter se voluntariado em sala de aula. A palavra
equivalente para "cobaia" em alemão é "Versuchskaninchen", que
é usada para descrever um animal usado na pesquisa, um "coe-
lho de testes", por assim dizer. No nosso caso, isso é, natural-
mente, um equívoco, porque "testar" significa que há uma chance
de fracasso.

250
Terapias de sucesso podem cegar um terapeuta e levá-lo a
falsas conclusões sobre suas próprias capacidades e significância.
Sem a permissão dos clientes, sem a sua participação ativa, so-
mos apenas anões impotentes. Juntos, no entanto, podemos mo-
ver montanhas.
"Você nunca é grande demais para ser pequeno"

251
Vidas passadas

Volta e meia me perguntam a respeito da existência de vi-


das passadas. Não tenho como atestar que elas existem, no en-
tanto há uma série de histórias fascinantes, precisas em detalhes
históricos, que poderiam servir tranquilamente como provas de
existências anteriores. Aceitar ou rejeitar isso, porém, está relaci-
onado a um sistema de crenças individual balizado na cultura,
nas tradições familiares ou, até mesmo, naquilo que foi apreen-
dido ao longo da vida.
Como hipnotista, tenho uma tarefa: ajudar e não julgar.
Não cabe a mim decidir se o que um cliente passa em hipnose é
real ou não. Devo considerar, apenas, que o que pareça real na
mente subconsciente dele é concebido assim, como real, pois na-
quele momento o subconsciente não pode diferenciar entre a re-
alidade e a fantasia. Para uma pessoa que diz regredir a uma vida
passada, os sentimentos, emoções e memórias são críveis.
Mas um alerta importante, e que vale para tudo quando o
assunto é hipnose, é não generalizar. Porque podemos incorrer
no erro de atribuir todos os problemas a ações em vidas pregres-
sas, quando a verdade, o evento causador inicial que faz o balde
transbordar, mora no subconsciente.

252
Ao longo dos anos, e com muita prática – sobretudo em
função das demandas trazidas pelos alunos – venho aperfeiço-
ando certa sensibilidade. Mas longe de mim dizer que sou vi-
dente! Uma boa parcela das minhas análises estão baseadas tam-
bém na lógica. O importante, no final das contas, é funcionar
para o cliente. Resolver o problema de forma efetiva, sem que ele
precise retornar à clínica alegando que a prática não surtiu efeito.

253
Quatro teorias para vidas
passadas

Há quatro principais teorias sobre o fenômeno das vidas


passadas. É indiscutível que acontece alguma coisa na cabeça de
uma pessoa quando ela revisita uma vida anterior. O que exata-
mente isso pode ser permanece pura especulação.
1. Esta primeira teoria decorre da caneta do renomado psi-
quiatra suíço Carl Gustav Jung, que disse que isso poderia ter a
ver com um "fluxo universal do inconsciente coletivo". Em re-
sumo, isso significa que tudo o que percebemos com nossos cinco
ou seis sentidos é armazenado sob a forma de energia no nosso
subconsciente. Quando morremos, essa energia e as informações
que ela carrega não são perdidas, mas continuam a existir no
tempo e espaço paralelos. Então, quando alguém está em hip-
nose, existe a possibilidade de, seja por acaso ou intenção, tocar
essa informação. Assim, podemos perceber as coisas que foram
anteriormente sentidas ou vividas pela pessoa associadas a essa
informação de energia. Um conceito fascinante que poderia ex-
plicar muito.
2. O segundo conceito sustenta que é possível passar infor-
mações de uma geração para a seguinte. Isso significa que temos
algo como um gene de memória em nós, que funciona como um

254
cartão de memória de computador para transferir informações
específicas sobre experiências de uma pessoa através do DNA de
uma geração para outra que, então, vem à tona no estado hipnó-
tico. Assim, somos capazes de recordar e reviver uma parte do
que nossos antepassados experimentaram. Igualmente intri-
gante.
3. É pura fantasia. Nós sabemos por ora as capacidades pu-
ramente ilimitadas possibilitadas pela nossa mente subconsci-
ente. Por que também não teria a capacidade de gerar mundos
de fantasia realistas que nos parecem enganosamente reais e ge-
nuínos? Em qualquer caso, as regressões com base em pura curi-
osidade são principalmente experiências e histórias vagas e im-
plausíveis. Isso não significa necessariamente que elas são menos
emocionantes.
4. É verdade. Nós temos, de fato, uma vida anterior, e nossa
alma mantém essa informação, com todas as suas memórias ar-
mazenadas dessa vida. Nós somos então capazes de recuperar
essas informações no estado hipnótico. De alguma forma, é um
pensamento agradável - isso significaria que, pelo menos, a nossa
alma é imortal. Seria um pensamento reconfortante para muitas
pessoas saber que a alma assume uma nova forma após a sua
morte. Para outros, talvez um pouco inquietante.

255
Equilíbrio e tremor

Uma mulher mais velha, elegante, que era médica de clí-


nica geral em Berlim, voou com o marido para fazer uma sessão
de hipnose comigo. Ela vinha apresentando tremores e proble-
mas com o equilíbrio. Tudo começou depois que ela percebeu
que todas as suas economias tinham sido dizimadas devido à
fraude bancária. O choque ao ouvir a notícia de que seu dinheiro
suado havia desaparecido, literalmente a desequilibrou.
Eram, principalmente, as mãos e os braços que tremiam tão
fortemente que ela precisava se concentrar ao caminhar. Era fas-
cinante observar o quão profundo ela entrou em hipnose, quanto
mais relaxado ficava seu corpo inteiro, menos tremores ela tinha.
Por ela ter passado a noite na região para que pudesse vir para a
sessão de acompanhamento, eu fui capaz de observar esse fenô-
meno três vezes. Logo ficou claro para mim que, se ela podia se
controlar em hipnose, então também poderia fazê-lo em um es-
tado inteiramente normal de vigília.
Em todo caso, seguimos o sentimento que tomou conta
dela no banco de volta para a primeira vez em sua vida em que
ela o experimentou. De repente, tudo ficou muito quieto e ela
disse: "eles estão todos usando umas roupas engraçadas”. Depois
outra pausa e, de repente, "oh meu Deus, eles estão sendo enfor-
cados!"

256
A mulher tinha espontaneamente caído em uma vida pas-
sada. Nessa vida, ela tinha quatro anos e teve de ver como as
pessoas estavam sendo enforcadas em algum lugar no século 17.
Este choque, que seu subconsciente tinha interpretado como em
uma vida anterior, foi o ECI dos sintomas em seu dia presente.
Naturalmente, nós resolvemos esse problema onde seu subcons-
ciente havia localizado e a trouxemos a salvo de volta para o aqui
e agora.
Após a sessão, ela estava absolutamente desconcertada.
Deu-me um olhar que parecia dizer "se você me dissesse de an-
temão que algo assim era possível, sendo uma médica esclare-
cida, eu não teria acreditado em nada". Não havia lugar em sua
concepção de mundo para algo assim, mas o que ela havia expe-
rimentado tinha sido tão realista que, quando se levantou, os tre-
mores tinham ido embora e ela podia andar mais firmemente.
Seu marido notou imediatamente e teve de apontar isso para ela,
que ainda estava perplexa com o episódio que tinha acabado de
acontecer.

257
Hipnose Omni,
um caminho seguro

Os métodos e técnicas que ensinamos e aplicamos respon-


savelmente na clínica, certamente requerem mais cuidados por
parte do praticante do que aquelas abordagens fáceis e descom-
promissadas de hipnose, como gosto de chamá-las, sem querer
ficar muito próximo de uma pessoa. Scripts não são, de todo, tão
ruins; eles podem ser realmente uma maravilhosa fonte de inspi-
ração, desde que sejam adaptados às necessidades individuais de
seu cliente. Scripts podem servir como apoio, mas quando se tor-
nam uma muleta o incapacitando o profissional de hipnotizar
ativamente, eles criaram um escravo chamado scriptnotista. Sem-
pre defendi que os próprios clientes são os scripts; portanto, eu
não preciso de nenhum.
Sou extremamente grato por Jerry Kein sempre ter incenti-
vado seus alunos a assumirem casos que outros não se atrevem
a tocar, ou aqueles em que eles podem ter sentido um pouco de
medo; por ter incutido em nós o entendimento de que nada pode
realmente dar errado, porque o mecanismo de autoproteção que
todos nós temos continua a trabalhar mesmo na hipnose mais
profunda, e devemos resolutamente acreditar e insistir na abor-

258
dagem de Regredir à causa e Resolver. É exatamente essa autocon-
fiança que eu gostaria de inspirar em meus alunos: radical, sem
rodeios, bem orientada e com estrita atenção para o sucesso do
cliente. É animador como muitos deles tenham incorporado essa
filosofia para alcançar o sucesso. Para mim, este é um dos mais
valiosos tipos de feedback - ouvir que os meus alunos são bem-
sucedidos e têm ajudado os outros a melhorarem suas vidas com
nosso conhecimento compartilhado.
Alguns estudantes que foram treinados em hipnose antes
de assistirem aos meus cursos tendem a voltar a esses métodos e
técnicas que aprenderam inicialmente; os que são mais confortá-
veis. Um colega próximo a mim tem observado isso com vários
terapeutas e posso confirmar. Embora eles tenham aprendido os
métodos mais altamente eficazes, eventualmente recaem nos ve-
lhos estudos, quer seja a velha forma de hipnose ou outro tipo de
terapia com a qual tenham entrado em contato. Eu posso enten-
der isso até certo ponto. É a mesma coisa no desenvolvimento da
maioria das profissões, quando há grandes mudanças. Algumas
coisas que aprendemos ao longo do caminho podem não coinci-
dir com o que somos. Eu aprendi inicialmente as técnicas com-
plicadas, lentas, e estava desiludido. Foi minha sorte me deparar
provavelmente com o melhor hipnotista dos nossos tempos, que
me mostrou um mundo inteiramente novo. Tão convincente, tão
eficiente e que se encaixa tão perfeitamente em meu caráter e ex-
periência profissional.
Eu não quero dizer que todo terapeuta deveria necessaria-
mente trabalhar com qualquer problema. Certamente faz sentido
trabalhar com questões com as quais ele se sente mais confiante.
Mas, deixar todo mundo louco e com medo não é propício para
a nossa causa. Se os nossos clientes, os meus alunos, ou eu, ou-
víssemos apenas os negativistas e os que duvidam da hipnose,
haveria muito mais pessoas, hoje, ainda precisando de ajuda.
Porque eu não concordo com a ideia de limitações, estou aberto
a conceber novos caminhos e dar à prática uma chance em cada

259
caso. Mais e mais frequentemente, até eu fico surpreso com a
forma como problemas aparentemente complexos podem ser re-
solvidos no menor tempo possível.

260
O menino hiperativo,
um caso quase perdido

Um amigo e ex-aluno meu, que atualmente trabalha em es-


treita colaboração comigo, foi perguntado por um conhecido se
ele poderia ou não ajudar seu filho que sofria de enxaquecas ex-
tremas e cansaço constante. Ele também foi diagnosticado com
TDA (Transtorno de Déficit de Atenção) e estava sendo tratado
com Ritalina. Embora a família não conhecesse muito a hipnose
e estivesse um pouco insegura sobre tal abordagem, eles permi-
tiram que esse método, aparentemente exótico, fosse usado com
seu filho. Suas dificuldades eram tão grandes que ele não havia
sido capaz de ir à escola por meses e quase nunca saía de sua
cama. O menino, com cerca de 14 anos de idade, fazia terapia há
muito tempo e também tinha sido hospitalizado por três meses,
bem como estava sob cuidados psiquiátricos, infelizmente sem
sucesso.
Depois de muita pressão da família e da vontade de seu
filho, o meu colega se declarou pronto para assumir esse caso su-
postamente complicado e difícil. O menino tinha sido cuidado-
samente examinado enquanto esteve no hospital, assim ficou
claro que eles podiam trabalhar de forma segura com a hipnose.

261
Quando o psiquiatra ouviu que o garoto ia ver um hipno-
tista, um "hipnotista leigo", ele entrou em contato com o meu co-
lega de imediato. O médico lhe disse que ele também foi treinado
em hipnose e acreditava firmemente que essa abordagem não
poderia ajudar de forma alguma. Com uma dose de sarcasmo,
acrescentou que se o meu amigo pudesse realmente ajudar este
menino, ele iria enviar todos os seus casos difíceis e, dessa forma,
abandonaria o seu emprego.
Meu colega, um terapeuta muito autoconfiante, íntegro e
sem medo, não se permitia ser abalado por esta afirmação que
não era nada mais do que uma flagrante tentativa de zombar e
fazê-lo se sentir inseguro.
Logo após a primeira sessão, o menino estava livre dos sin-
tomas e foi capaz de retornar à escola, mas o avanço veio na ter-
ceira sessão. No dia seguinte, o telefone de meu amigo tocou e
do outro lado era a mãe do garoto, excessivamente eufórica. Ela
não podia acreditar. Pela primeira vez em dois anos, seu filho
havia tomado banho e alegremente apareceu para o café da ma-
nhã apenas dez minutos depois de acordar. Pouco depois, estava
em seu caminho para a escola, onde ele tem ido regularmente
desde então, livre da enxaqueca e cheio de energia. Demorou
apenas mais uma sessão até que o quadro fosse definitivamente
estabilizado.
O psiquiatra ficou tão chocado que não podia fazer nada
além de acusar o rapaz de ter falsificado os sintomas o tempo
todo. O médico não deixou seu emprego como prometido, nem
foi buscar mais treinamento em hipnose, o que é lamentável.
Esse é um caso único e não é representativo, muitos outros
psicólogos e psiquiatras com experiências semelhantes interessa-
ram-se em saber como tal coisa poderia ser possível. Alguns até
se inscreveram no treinamento para que eles, também, pudessem
aprender essas técnicas. Em geral, não é sobre o próprio ego, mas
mais sobre focar no bem-estar do cliente. Imagine se os pais, por

262
qualquer razão, não tivessem dado uma chance à hipnose. O fi-
lho deles será eternamente grato pelo que fizeram.
"O medo é um mau companheiro na terapia! Este mundo
precisa de mais terapeutas corajosos e proativos!"
Ouça a sua intuição e não o que os outros dizem ser ou não
possível. Se ouvirmos muitas vezes o que os outros falam, seja
certo ou errado, um dia seremos como eles. Essa abordagem, de
todo o coração, muitas vezes leva a clientes satisfeitos e felizes
que de bom grado nos recomendam a outras pessoas que possam
ter ouvido previamente para não ligarem para a hipnose.

263
Resolva problemas com a
hipnose e diminua os
medicamentos

Com o aumento dos planos e gastos gerais de saúde hoje


em dia, é hora de ser dado à hipnose mais crédito e um papel
importante nesse segmento da vida. Terapias excessivas e inter-
nações clínicas poderiam certamente ser reduzidas com a prática.
O uso de medicamentos também sofreria reduções e, em muitos
casos, até mesmo suspenção, eliminando os inúmeros efeitos co-
laterais indesejáveis.
O tempo que os pacientes permanecem no hospital após
uma cirurgia também pode ser diminuído em dias. Bem como o
número de dias de trabalho perdidos, incluindo todos os custos
diretos e indiretos A vontade de tornar isso uma realidade está
nas mãos daqueles para quem a hipnose já funcionou, assim
como, talvez, na área política. Fazer acontecer é possível! Natu-
ralmente, haverá aqueles que se opõem ao movimento. Compre-
endo muito bem que este assunto cause angústia existencial.

264
Uma vez conheci um psicólogo, durante as férias, e contei
a ele as minhas experiências com a hipnose e tudo o que pode-
mos fazer com ela. Expliquei a rapidez com que as mudanças são
possíveis, especialmente para os problemas mais comuns. Sua
resposta foi: "se tudo o que você acabou de me dizer for verdade,
eu ficaria sem trabalho amanhã".
Conversas informais com políticos têm mostrado que eles
seriam muito surpreendidos se minhas alegações fossem verda-
deiras, especialmente quando eu lhes digo que poderíamos eco-
nomizar bilhões apenas pela redução do uso de medicamentos e
empregando terapias mais eficientes.
Um hipnotista de sucesso precisa de cerca de dois a quatro
clientes novos a cada dois ou três dias. Pensar que eles simples-
mente caem em seu colo seria uma ilusão. É um trabalho duro e
precisa de algum tempo para ser construído, mas eu tive perío-
dos de ter entre três e seis clientes por dia. Claro, eles não eram
todos novos, alguns vinham tanto para uma segunda sessão so-
bre o mesmo assunto que precisava de mais trabalho, como para
abordar uma questão separada. Seis clientes por dia, no modo
como eu trabalho, é naturalmente muito rigoroso, mas em algum
ponto a publicidade se torna desnecessária, pois os antigos clien-
tes fazem isso para você.
Autorresponsabilidade. Sim, isso mesmo. Somos responsá-
veis por tudo o que fazemos. Temos de assumir mais responsa-
bilidades e também criar a necessidade para o que fazemos. Se
não for solicitada explicitamente, a hipnose não será necessaria-
mente oferecida como uma opção.
Eu não sou fã de teorias da conspiração, mas é óbvio que a
indústria farmacêutica faz o que tem que fazer: inventar, produ-
zir e comercializar remédios. Eles fazem isso porque esse é o seu
negócio principal. Também é claro que vão usar todos os recur-
sos disponíveis para serem bem-sucedidos. Eles têm possibilida-
des financeiras completamente diferentes e fazem lobby em
grande escala. Milhares de empregos dependem da indústria e

265
muitas drogas fazem absoluto sentido. Contudo, enquanto até
metade da renda de um médico for derivada da venda de remé-
dios, não temos que perguntar por que a vontade de mudar é
relativamente fraca. A transformação só virá quando os pacien-
tes quiserem hipnose, ou melhor ainda, a exigirem. Nós só mu-
damos quando há pressão suficiente para fazê-lo. Isso é apenas o
modo como as coisas são, não devemos ter ilusões a esse respeito.
Isso pode muito bem ser a maneira como funciona o mer-
cado hoje, mas todos os mercados podem mudar. Oferta e de-
manda, é simples assim. Não há muito mais a dizer sobre o as-
sunto, uma vez que depende de cada paciente ou cliente promo-
ver a mudança desejada. Afinal de contas, nós somos o mercado.

266
Crônico, incurável.
Aprenda a viver com isso

"Seu problema é crônico. Aprenda a viver com isso". Com essas


palavras ou semelhantes, a última esperança para uma cura ou
algum alívio é quebrada para muitos pacientes, e se o médico
está dizendo, deve ser verdade. A resignação toma conta e as
pessoas simplesmente aceitam o seu destino. Assim, elas come-
çam a pensar em se afastar de uma vida normal. Sentimentos de
autoestima são destruídos e uma dependência é criada. Produz
impotência e vitimização. As possíveis consequências são múlti-
plas.
Eu tive muitos clientes que foram informados exatamente
com essas palavras. Devemos tornar as expressões "crônico" e
"aprenda a viver com isso" uma coisa do passado. Existe uma
maneira de, pelo menos, encontrar alívio suficiente para que va-
lha a pena viver novamente e para que qualquer pessoa que sofre
de dor possa colocar um sorriso de volta no rosto.
Isso vale, principalmente para casos relacionados à dor.
Muitos pacientes dizem que eles têm de aprender a aceitá-la. Isso
simplesmente não é verdade. Nosso cérebro tem a capacidade de

267
reinterpretar os sinais de dor. As ligações que ocorrem no cére-
bro, particularmente com dor prolongada conduzindo ao que se
chama dor crônica, podem ser reprogramadas ou totalmente des-
ligadas, dependendo da profundidade da hipnose e as técnicas
utilizadas. Há muitos estudos com resultados científicos docu-
mentados que atestam esse fenômeno. Essa reprogramação mui-
tas vezes pode ocorrer em apenas algumas sessões. O cérebro
pode aprender a esquecer a dor exatamente da mesma maneira
que aprendeu a percebê-la. Ou seja, as ligações no cérebro podem
ser interrompidas de tal maneira que a chamada memória da dor
é apagada. Não há simplesmente nenhuma razão para não usar
a hipnose nesses casos. Ela deve, de fato, se tornar obrigatória!
Muitos especialistas julgam mal o poder da hipnose ou
nem sequer levam isso em consideração porque ninguém os in-
formou de todas as coisas que ela pode realmente realizar. Se,
depois de tudo ter sido medicamente verificado, ainda não hou-
ver progresso, eu recomendo de todo o coração que você procure
um hipnotista que seja especializado no controle da dor. Simples-
mente se recuse a aceitar o "aprenda a viver com isso" e, pelo me-
nos, dê à hipnose uma chance de provar o contrário. Continue
firme; não desista cedo demais. Às vezes pode demorar um
pouco mais nesses casos, mas você pode esperar ver algum su-
cesso já após a primeira sessão.

268
Religião e hipnose

A Igreja Católica, o cristianismo em geral, o judaísmo, o is-


lamismo e o budismo não têm restrições sobre hipnose ou hip-
noterapia. No entanto, há sempre pessoas que afirmam o contrá-
rio.
A hipnose não é uma religião. O diabo, você talvez acredite
nele, não pode sugar sua alma quando está no estado de hipnose.
Isso é apenas uma enorme bobagem da época medieval, propa-
gada por uma igreja que governou através do medo e da culpa,
uma vez que qualquer esclarecimento real seria perigoso e pode-
ria até mesmo fatal para a sua estrutura fosse mantida.
A hipnose também não tem nada a ver com seitas religio-
sas. Um estado natural é apenas isso, um estado natural, e nada
mais. Muitas seitas, a Cientologia, por exemplo, ou as Testemunhas
de Jeová, várias igrejas livres e seitas batistas fundamentalistas,
bem como alguns criacionistas, acreditam que a hipnose é uma
ferramenta do diabo e a proibem de forma enfática e categórica.
Eles não percebem que a cada dia eles próprios experimentam
muitos estados hipnóticos, enquanto certas igrejas usam hipnose
em grupo ou individual, a fim de realizar os seus "milagres". No
entanto, chamá-la pelo que é naturalmente seria o pior tipo de
heresia e blasfêmia. Seria quase engraçado se não fosse uma

269
forma vil de manipulação. Medo e culpa sob o disfarce de salva-
ção - métodos utilizados na Idade Média aqui, nos tempos mo-
dernos.
Acontece de vez em quando de eu ou meus alunos sermos
avisados de que o que fazemos é perigoso e contra a vontade de
Deus. Bem, se ajudar as pessoas é contra a vontade de Deus,
quem quer seguir esse tal Deus? Esse não é o meu entendimento
de Deus ou religião. Cada um com a sua própria realidade. Caso
você se depare com essas pessoas, pode ignorar todas as preocu-
pações e seguir seu próprio caminho. Elas vivem em outro
mundo e podem legitimamente permanecer lá.

270
Ao mestre, com carinho

Foi-me pedido, há algum tempo, pelo coronel H. Larry El-


man, o filho de Dave Elman, para contribuir com algumas pala-
vras para a edição limitada do 50º aniversário do livro de seu pai.
Foi com grande prazer que participei e sinto-me mais do que
honrado que meus pensamentos signifiquem algo para a família
Elman. O que segue abaixo, são os meus sentimentos para Dave
Elman, o seu livro e seu legado.

271
50 anos - um clássico em
hipnose e hipnoterapia

Se eu tivesse que destacar uma pessoa na história da hip-


nose, alguém que teve o maior impacto sobre o modo como hip-
notizamos hoje e como abordamos a terapia, alguém que melho-
rou a eficiência e eficácia da hipnose, então teria de ser Dave El-
man.
As contribuições dele para a hipnose são tantas que dificil-
mente conseguimos acompanhar todas elas. A realização pela
qual ele é mais famoso, a indução de Dave Elman (IDE), é a única
que supera todas as outras. O sucesso da IDE, no entanto, levou
algumas pessoas a acreditarem que não há nada mais de Elman
do que sua indução. Elas não poderiam estar mais equivocadas!
Elman foi o primeiro a desenvolver um protocolo para ori-
entar as pessoas intencionalmente para o estado Esdaile. Seu ex-
tenso trabalho sobre o tratamento de clientes com dor era enge-
nhoso. Ele foi o pioneiro a introduzir processos simplificados e
fáceis de serem seguidos na hipnoterapia, bem como ensinar
uma filosofia de trabalho admirável e atitude que inspira hipno-
tistas de todo o mundo até os dias de hoje.
Sua maior conquista, quando se trata de benefício do cli-
ente, foi a formulação da abordagem de "Regredir à Causa". Ele,

272
como ninguém antes, foi capaz de elucidar as verdadeiras razões
para um sintoma e, como sabemos, cada sintoma tem uma causa.
Dave Elman foi um pioneiro, um inovador, um grande pro-
fessor e terapeuta. Seu livro, "Hypnotherapy" ou "Findings in Hyp-
notherapy", como era originalmente chamado, foi escrito há 50
anos. Foi um divisor de águas em 1964 e ainda é o melhor livro
disponível sobre o assunto. Insuperável até hoje. Um livro não
sobrevive por 50 anos se o seu conteúdo não for portador de va-
lor. Esse é o livro que ainda hoje carrega as lições mais valiosas e
insights sobre o funcionamento da hipnose. Dave Elman - um
verdadeiro gênio e um homem honrado, que servirá como mo-
delo para muitas gerações de hipnotistas que virão.

273
Observações finais

Ficarei muito feliz se este livro tiver cumprido, pelo menos,


alguns dos seus objetivos: trazer a hipnose para mais perto das
pessoas com uma forma simples de se compreender, para que
elas possam se conscientizar, ainda que seja tão difícil, derrubar
e eliminar preconceitos e medos, esclarecer e estimular aqueles
que podem estar curiosos.
Você teve vontade de abrir a gaveta e dar uma espiada
mais de perto na hipnose? Dar a ela uma chance em sua busca
pela saúde e cura? Talvez até mesmo recomendar a hipnose para
os outros?
Não era o meu objetivo ensinar a você como hipnotizar ou
explicar as técnicas exatas usadas em hipnose na resolução de
problemas. Você vai precisar de um curso de treinamento para
isso. No entanto, se eu consegui, com este livro, pintar uma nova
imagem da hipnose para você e inspirá-lo a considerar seria-
mente o aproveitamento da prática em sua forma de terapia, ou
talvez até mesmo fazer um curso, então estou completamente sa-
tisfeito.
Você vai encontrar mais informações no adendo.

274
Dedicatória e apreço

Hoje, eu sou capaz de viver profissionalmente com o que


antes era meu hobby, sim, até mesmo um passatempo. O fato de
eu ter chegado tão longe se deve a todas essas pessoas ao longo
da estrada, que, à sua própria maneira, me acompanharam, me
treinaram, me inspiraram, encorajaram e me motivaram, ou que
simplesmente ergueram um espelho e disseram: "Hans, você er-
rou o chute".
Com certeza seria um erro não começar com os meus pais.
Através de vocês e graças a vocês, eu fui capaz de experimentar
coisas que algumas pessoas não seriam capazes de realizar em
três vidas. Vocês me deram estrutura, liberdade, educação, limi-
tes e compreensão, um senso de honestidade, integridade, hu-
manidade e generosidade. Graças aos dois eu fui capaz de viver
muitas aventuras, ser uma criança e um adolescente, viver, estu-
dar e trabalhar em três continentes. Muitíssimo obrigado. Tam-
bém agradeço por me apoiarem tão maravilhosamente no que
faço agora e continuarem a ficar ao meu lado. Sim, foram vocês
que me levaram ainda menino para ver um hipnotista que me
inspirou um caminho a seguir.
Meu Amor, Sônia, nem tenho palavras para expressar.
Você me permite alcançar novos limites. Sei que nem sempre é

275
fácil, mas você é muito importante para mim, para sempre. De-
dico este livro a você, porque sempre me apoiou. É bom saber
que está ao meu lado. Eu te amo.
Baba, irmã querida, você abriu tantas portas, me moti-
vando e me apoiando a me esforçar ainda mais, para crescer, me
desenvolver e expandir. Obrigado por acreditar em mim. É tão
bom ter você morando perto novamente. Amo seus filhos loucos,
marido e cachorro também!
Suíça, Brasil e EUA: o que teria acontecido comigo se eu
não tivesse chegado a conhecer e gostar de vocês? Crescer na Su-
íça não é um privilégio para se subestimar. Passar o tempo como
um jovem no Brasil foi tanto um abridor de olhos como um so-
nho. Estudar nos EUA foi uma lição aprendida. Ser capaz de jun-
tar todas essas mentalidades em uma, conhecer e me tornar
amigo de pessoas de diferentes nacionalidades e ser capaz de
me sentir em casa com todas elas, tem sido uma mina de ouro
para mim.
Sigma Chi & Irmãos: Eu acredito na justiça, na decência e nas
boas maneiras. Vou me esforçar para manter o espírito da juventude.
Eu digo estas palavras com toda a sinceridade: a Sigma Chi me concedeu
graça e distinção; o vínculo da nossa irmandade é recíproco. In Hoc
Signo Vinces. Valeu, caras.
Jerry Kein, seus ensinamentos e caráter me inspiraram.
Você me mostrou que a hipnose realmente funciona e que é fácil.
Continuar o seu trabalho é uma grande honra, mas também uma
grande responsabilidade, que de bom grado assumo - porque é
a coisa certa a se fazer. Seu legado está em boas mãos e eu pro-
meto manter a abordagem de Regredir à Causa e Corrigir mais
do que apenas viva. A comunidade da hipnose deve muito a
você, que merece respeito. O nome OMNI vai se perpetuar por
muito tempo. Obrigado pela amizade.
Agradeço a todos os OMNIs, os quais tive o prazer de en-
sinar, e aqueles que eu ainda irei treinar. Sem vocês, nada disso

276
iria funcionar. Tenho aprendido muito com cada um - mais do
que eu poderia lhes ensinar. Vocês são os melhores! É uma
grande alegria para mim inspirá-los e contaminá-los com o hip-
novírus. O sucesso de cada um é a minha motivação e não se es-
queçam: vocês são os melhores embaixadores da hipnose escla-
recida e funcional!
Obrigado Sandra Blabl pela sua revisão valiosa da versão
original deste livro e seu feedback construtivo. Sei apreciar isso
imensamente e seu trabalho conosco contribuiu de forma indis-
pensável para a promoção ativa da hipnose. A sua contribuição
para o avanço da hipnose é exemplar. Obrigado.
Agradeço a Adi e Patrick não só pelas suas críticas hones-
tas e construtivas, mas também por seu apoio para que eu pu-
desse realmente conceber tal projeto. É ótimo ter ao meu lado
amigos e parceiros competentes no mundo da hipnose.
Agradeço à minha editora Sabine Giger, que acreditou em
mim (e na hipnose e seu verdadeiro potencial), me motivou a es-
crever este livro e agora está me ajudando a levar luz à hipnose
da forma que ela merece, para que seja melhor aceita e conhecida.
Obrigado a todos aqueles que até agora têm apoiado e au-
xiliado a mim e a meus colegas, aqueles que me motivaram e me
estimularam, aqueles que também, ocasionalmente, me critica-
ram, fizeram parte do meu trabalho, ou tiraram um peso de mi-
nhas costas. Se eu ainda puder contar com vocês, será o melhor
presente.

277
Sobre o autor

Eu estive envolvido com hipnose e hipnoterapia durante


mais de 30 anos. Meu treinamento formal aconteceu nos EUA
com Jerry Kein, de longe um dos hipnotistas mais renomados do
mundo. Desde agosto de 2013, tem sido um privilégio seguir os
seus passos, assumindo em todo o mundo o treinamento e as res-
ponsabilidades organizacionais da OMNI Hypnosis.
Eu nasci em 1965. Sou casado e moro perto de Zurique, Su-
íça. Estudei Ciências Políticas na Emory University, em Atlanta,
Georgia, de 1985 a 1989 e me formei Bacharel. Meus hobbies in-
cluem, entre outros, handebol, tênis, amigos, esportes motoriza-
dos e viagens. Minha paixão, no entanto, é a hipnose e compar-
tilhar meu conhecimento e experiência.
Eu cresci na Suíça até que toda a minha família se mudou
para o Brasil em 1982 por causa do novo trabalho do meu pai em
uma grande empresa Suíça. Enquanto estive lá, eu frequentei a
American High School em São Paulo.
Em 1985 fui para os EUA e obtive a minha licenciatura em
Ciências Políticas. Entre outras coisas, tive a sorte e o privilégio
de ter o ex-presidente americano Jimmy Carter como um dos
meus professores. Depois de meus dias na universidade, eu servi
por dois anos como um oficial do Exército suíço.

278
Minha carreira profissional começou em 1992 na Merce-
des-Benz, em sua sede na cidade de Stuttgart, Alemanha, onde
atuei no departamento de compras, que, em 1994, me levou de
volta ao Brasil como um expatriado e, em seguida, novamente
aos EUA e, finalmente, para a Turquia. Fiz mudanças interconti-
nentais sete vezes no prazo de doze anos, o que despertou em
mim uma necessidade de plantar algumas raízes. Voltei para a
Suíça em 2003 e entrei na indústria automobilística e setor finan-
ceiro local. Em 2010, o que tinha sido apenas um hobby se tornou
minha profissão.
Relativamente cedo na vida, como um menino que cresceu
na Suíça, eu demonstrei um grande interesse, e até talvez um
pouco de talento na área da hipnose. Meu primeiro encontro com
um hipnotista foi quando eu tinha oito anos de idade e depois só
quando eu era um calouro na Emory, onde fiquei estupefato por
ver um hipnotista de palco.
Na verdade, eu cheguei até a hipnose por meio da mágica,
como muitos outros fazem, e fui incapaz de usá-la por vários
anos. Tudo o que eu sabia eram os métodos lentos e progressivos
- o que é um desperdício de tempo - até que eu me deparei com
os ensinamentos de Jerry Kein pela primeira vez, em 1997, e con-
cluí o curso de hipnoterapia em 2006. Foi aí que começou a via-
gem, mas de uma natureza diferente das outras! Fui para o trei-
namento pensando que iria me tornar um hipnotista responsá-
vel. Quando o curso de sete dias terminou, eu tinha sido trans-
formado em um hipnoterapeuta. Tudo graças a Jerry Kein.
Hoje eu sou o CEO da HYPNOSE.NET GmbH e do Hyp-
nosis Center em Effretikon, onde sete colegas usam a hipnose
para ajudar as pessoas a lidarem melhor com seus problemas e
desafios. Além disso, eu sou o editor da HypnoMag, uma revista
internacional bilíngue sobre o assunto da hipnose. Eu também
sou um dos coorganizadores do congresso anual internacional
de hipnose em Zurique e Londres.

279
Desde 2007, sou responsável pela OMNI Hypnosis Training
Center da Suíça(checar itálico nos outros nomes), onde eu me con-
centro na educação dos hipnoterapeutas potenciais e dedico meu
tempo ao avanço e pesquisa da hipnose.
Desde agosto de 2012, sou responsável por todas as OMNI
Hypnosis Training Centers no mundo e tenho ensinado a mais
nova geração de treinadores. Já temos mais de 20 unidades em
todo o mundo.
Meus clientes incluem pessoas de todas as regiões geográ-
ficas, escolas de pensamento e profissões com o mais diversifi-
cado mix de experiências e desafios.
Eu faço apresentações, palestras, workshops e cursos na Eu-
ropa, nos EUA, e no Brasil, ou onde quer que minha hipnose e
competências linguísticas me levarem.

280
Histórico pessoal
e principais marcos

1978
Primeiro contato com a hipnose

1987
Primeira vez que hipnotizei (com sucesso) outra pessoa

1990–1992
Zurique, Suíça - o serviço militar: realizei muitas sessões de
hipnose com os colegas durante este tempo; primeira regressão
realizada

1997
Adquiri o primeiro curso em vídeo de Jerry Kein

2006
Treinamento formal de hipnoterapia por Jerry Kein nos
EUA

2007
Concluí o curso para me tornar um treinador da OMNI
Hypnosis e hipnoterapia

281
Primeiro centro internacional no programa SF1-TV Eins-
tein com Mario Torriani sobre o assunto da hipnose
Publiquei um livro sobre hipnose de palco na língua alemã
(primeiro do tipo!)

2008
Treinei os primeiros alunos como hipnoterapeutas OMNI
com certificação NGH
Primeira vez como assistente para os melhores atletas em
poder mental, treinamento físico e recuperação de lesões

2010
Transformei a minha vocação em uma carreira. 100% de-
dicado a hipnose, hipnoterapia e treinamentos
Primeiros cursos oferecidos na Áustria e Alemanha
Campeonato Suíço como coach mental para o time de han-
debol Pfadi Winterthur

2011
Mais de 190 hipnotistas participantes do curso até a data
Primeiros cursos realizados em Munique e Berlim, com
certificação NGH como "Board Certified Hypnotist" nos EUA
Abertura do Hypnosis Center em Effretikon com três salas
de tratamento
Fundação da divisão da NGH da grande região de Zurique

2012
Apresentei o seminário sobre Dave Elman com Larry El-
man, filho do lendário Dave Elman
Primeiro seminário deste tipo em idioma alemão, inclu-
indo tradução simultânea e produção de vídeo
Me tornei sucessor de Jerry Kein – responsável mundial-
mente por todos os cursos de treinamento OMNI e dos seminá-
rios de treinamento de treinadores

282
Fui designado Diretor de Formação e Certificação OMNI
EUA
Lançamento da HypnoShop.NET
Palestrante convidado na Danube Private University para
120 estudantes de odontologia em cooperação com o Prof. Dr.
med. dent. Ilan Golan

2013
Primeiro Congresso Internacional de Hipnose realizado
em Zurique
Primeira edição da HypnoMag – revista internacional so-
bre hipnose
2014
Expansão e desenvolvimento do centro de hipnose em
Effretikon para 5 salas de terapia e uma sala de seminários com
capacidade para 50 pessoas
400 estudantes OMNI treinados até a data
Lançamento do OMNI-Finder – uma plataforma para en-
contrar hipnotistas competentes e qualificados

2015
Compra de 100% das ações da OMNI pela Hypnose.NET
GmbH na Suiça. Gerald Kein fica ligado à empresa como con-
sultor e Presidente honorário.
Implementação da ISO 9001 na empresa Hypnose.NET
GmbH, no treinamento OMNI e o processo terapeutico OMNI.
São os primeiros no mundo a receber este certificado de quali-
dade mundialmente reconhecido e respeitado.
Congresso de hipnose international em Zurique.
Mais de 570 novos alunos OMNIs treinados no mundo in-
teiro em 2015
Adição de vários novos instrutores OMNIs. Adição do
treinamento HypnoSex, HypnoHPP
Mais um titulo de handebol na copa da Suíça pelo Pfadi
Winterthur Handball com apoio de hipnose

283
Primeiro curso OMNI na America Latina - São Paulo, Brasil

2016
Mais de 840 alunos treinados pelo Hansruedi Wipf desde
que começou a treinar o processo e método OMNI em 2008.
Mais de 850 alunos treinados mundialmente em 2016 por
todos os instrutores OMNIs no mundo inteiro (30 instrutores em
22 paises)
Inicio dos canais YouTube Internacaional e Brasil
Inicio do projeto “Sleep!” em Nova York, Flórida, Londres,
Zurique, Berlim e São Paulo
Lançamento do projeto OMNI-Kids, OMNI-Teens, OMNI-
Versity, OMNI-Empowerment
Participação da Hypnose.NET GmbH na Perform Punkt
AG com 40% na Suiça.
Extensão do projeto congresso de hipnose para Londres e
Berlim, realizando a quarta edição agora em 2 paises.

284
Apêndice
HYPNOSE.NET GmbH:
Produtos e marcas

A HYPNOSE.NET GmbH oferece uma ampla gama de cur-


sos básicos e formação continuada sobre o assunto da hipnose.
Em adição aos cursos de Hipnose e Hipnoterapia OMNI, dispo-
mos de treinamentos em HypnoDent®, HypnoSlim®, Hypno-
Kids®, HypnoSport®, Hipnose de Emergência, e muitas outras
especialidades. Também publicamos a revista internacional de
hipnose "HypnoMag" e organizamos o Congresso Anual Inter-
nacional de Hipnose, que até agora foi realizado em Zurique,
Londres e Berlim. Vivemos a hipnose todos os dias!
Também oferecemos cursos e seminários na Suíça e na Ale-
manha, regularmente apresentados por especialistas de renome
internacional em vários campos da hipnose. A troca de conheci-
mentos é extremamente valiosa.

285
Presença na Internet
www.omnihypnosis.com.br – Site oficial da OMNI no Brasil
www.hypnose.net – Portal international sobre hipnose
www.omnifinder.net – Encontre seu terapeuta OMNI em todo o
mundo

Informações de contato
Hypnosecenter Effretikon Poststrasse 2
CH-8307 Effretikon/Switzerland
www.hypnosecenter.net

HYPNOSE.NET GmbH Weiherweg 8


CH-8604 Volketswil/Switzerland
www.hypnose.net

286
Hipnose, susceptibilidade
hipnótica, questionário
antes/depois

A fim de descobrir mais sobre o seu conhecimento exis-


tente e atitude para com a hipnose, criamos um pequeno questi-
onário, um quiz fascinante, e um auto-teste esclarecedor para a
suscetibilidade à hipnose:
www.hypnoquest.net Questionário para os leitores deste livro.
www.hypnoquiz.net Teste seus conhecimentos sobre a hipnose.
www.hypnotest.net Quão facilmente você pode entrar em hip-
nose?

287
Outras leituras
recomendadas

Banyan, Calvin and Kein, Gerald F., Hypnosis and Hypno-


therapy – Basic to Advanced Techniques and Procedures for the
Professional, Abbot Publishing House, Inc. St. Paul, Minnesota,
2001
Boyne, Gil: Transforming Therapy. A New Approach to
Hypnotherapy, Westwood Publishing Company, 1989
Dispenza, Joe: Evolve your Brain. Video D & E. Horizon
Film, 2004
Elman, Dave: Hypnotherapy. Westwood Publishing Com-
pany, 1984
Elman, Larry and Wipf, Hansruedi: Dave Elman Centen-
nial Celebration. 4-DVD-Set D/E www.hypnose.net
Frances, Allen: Normal. Gegen die Inflation psychia-
trischer Diagnosen. Dumont, 2014
Hüther, Gerald: Bedienungsanleitung für ein menschliches
Gehirn. Vandenhoeck & Ruprecht, 2013
Bedienungsanleitung für ein menschliches Gehirn – Die
Macht der inneren Bilder – Biologie der Angst. E-Book, Vanden-
hoeck & Ruprecht, 2013

288
. Biologie der Angst. Wie aus Stress Gefühle werden.
Vandenhoeck & Ruprecht, 2014
. Die Macht der inneren Bilder. Wie Visionen das Gehirn,
den Menschen und die Welt verändern. Vandenhoeck &
Ruprecht, 82014
Lipton, Bruce: Intelligente Zellen. Der Geist ist stärker als
die Zellen. Video. Koha, 2008
Newton, Michael: Life Between Lives: Hypnotherapy for
Spiritual Regression, Llewellyn Publications, 2004
Parkhill, Stephen C.: Answer Cancer. Miraculous Healings
Explained, 1995
Weiss, Brian L.: Many Lives, Many Masters: The True Story
of a Prominent Psychiatrist, His Young Patient, and the Past-Life
Therapy That Changed Both Their Lives, A Fireside Book/Simon
& Schuster, 1988.
What the Bleep do We Know!?, Phoenix, 2004

289
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