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44 DOSSIÊ monumentos 35 dossiê

Convento de Santo António,


junto à vila de Mafra
Dos justos motivos à justa medida
MANUEL J. GANDRA

I em que ainda hoje corre. Ficou a dever­‑se a divul‑


gação, justamente, a um arrábido, frei José de Jesus
Os parcos documentos que acerca dos primórdios do Maria, na sua Crónica da Província de Santa Maria
Convento de Mafra subsistem não contribuem para o da Arrábida da regular e mais estreita observância da
esclarecimento do móbil de D. João V na origem da Ordem do Seráfico Patriarca São Francisco4.
edificação, nem mesmo a certidão de nascimento do A paternidade do alvitre que teria originado o
cenóbio, o Decreto de 26 de setembro de 1711, no qual compromisso régio de construir um cenóbio junto
o monarca declara textualmente: à vila de Mafra, no intuito de ver garantida a suces‑
são dinástica, é, nessa obra, atribuída a um arrábido
(…) Eu El­‑Rei faço saber que, por justos motivos, e por muito piegas, frei António de São José5.
especial devoção que tenho ao glorioso Santo Antó‑ Entretanto, na falta de qualquer explanação oficial
nio, e por sua honra. Hei por bem conceder licença justificativa de tão intrigante, surpreendente e quase
por esmola que no distrito da Vila de Mafra se funde secreto empreendimento, vão sendo ensaiadas as
um convento dedicado ao mesmo santo; lotado para mais desencontradas justificações, o que denota não
assistirem nele treze religiosos somente; com decla‑ ser consensual a matéria, nem unânime o sentimento
ração que o dito convento há­‑de ficar pertencendo à a respeito dela, pese embora a opinião de António
província dos religiosos capuchos Arrábidos (...)1. Filipe Pimentel6.
Uma razão mais plausível parece, contudo, derivar
De facto, a expressão, decerto intencionalmente do consenso expresso por numerosos memorialis‑
vaga, justos motivos não permite surpreender os efeti‑ tas da época: o estado de saúde do rei, afetado pelo
vos intuitos do monarca.
Que D. João V formulou um voto é, apesar de tudo,
inegável, pois a inscrição aberta na pedra fundamen‑ Convento de Santo António, junto à vila de Mafra.
tal lançada no alicerce da capela­ ‑mor da basílica, Dos justos motivos à justa medida
em 17 de novembro de 1717, o certifica: Deo Optimo
Maximo, Divoque Antonio Lusitano Templum hoc Os parcos documentos que acerca dos primórdios do Convento de
dicatum Joannes Lusitanorum Rex Voti compos ob Mafra subsistem não contribuem para o esclarecimento do móbil
susceptos liberos, Primumque fundavit lapidem (...). de D. João V na origem da edificação, nem mesmo no Decreto que
No entanto, o mutismo é, também aí, total no que serve de certidão de nascimento do cenóbio, no qual o monarca
concerne às motivações de tão celebrado voto, que declara que o manda fundar por justos motivos, expressão, decerto
um dos inúmeros panegiristas da Real Obra, Manuel intencionalmente vaga, que não permite surpreender os efetivos
Godinho de Seixas, não se inibirá de o considerar intuitos do monarca. Esta será a primeira grande questão a que
secreto2. o presente texto procura responder. Outra questão, não menos
Só em 1737, vinte e seis anos volvidos sobre a intrigante e polémica, apesar de geralmente havida por indiscutível,
declaração de intenções inicial do monarca, é tor‑ prende­‑se com a identidade do responsável ou dos responsáveis
nada pública uma narrativa, amplificada em 1751, pela traça do edifício tal como se nos apresenta, uma vez que
no Monumento Sacro de frei João de São José do dos três (porventura quatro) riscos sucessivamente aprovados
Prado, cujas versões e variantes, por vezes contra‑ pelo Magnânimo apenas o primeiro é imputável a João Frederico
ditórias, hão­‑de estabilizar apenas no ano de 1820, Ludovice.
pela pena de frei Cláudio da Conceição3, na forma
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menos desde 1708 e seriamente agravado, precisa‑ este de Mafra, ou outro pequeno Convento para Religio‑
mente no ano de 17117. sos que professassem singular pobreza, e austeridade,
A dar­ ‑se crédito ao botânico Charles Fréderique ou como vulgarmente lhes chamam, para capuchos.
Merveilleux (1726), o móbil do voto fora (…) uma A todos aqueles, a quem isto de modo algum importa,
[essa] grande aflição (…)8, à qual Francisco Xavier da ou pode importar, e de igual motu proprio, certa ciên‑
Silva chamará flatos hipocondríacos9, e hoje podemos cia, e plenitude de autoridade Apostólica, o comutamos
identificar com a sífilis. De resto, sabe­‑se pelas Memó‑ e damos por comutado na causa de tal Mosteiro (…)12.
rias do capitão John Creichton (editadas por Jonathan Com efeito, Clemente XIV legaliza, face ao direito
Swift), que este tivera um primo médico, expressa‑ canónico, o Convento de Mafra, até então, clandestino
mente enviado a Lisboa para tratar o monarca portu‑ erguido em solo não sacralizado, uma vez que o fun‑
guês dessa doença venérea10. dador prescindira quer de Bula quer de Breve papal,
Apesar de tudo, a narrativa que maior sucesso gran‑ como convém à regular ortodoxia católica quando se
jeou, principalmente após o falecimento do monarca, pretenda fundar templo ou cenóbio (quadro 1).
em 1750, não vingou sem que nela possam ser dete‑ Finalmente, se se aceitar, em benefício da dúvida,
tadas contradições e equívocos de toda a ordem, que o móbil do voto não poderia ter sido outro senão o
tal a dificuldade geralmente sentida em acertar os da sucessão dinástica, então novo problema de muito
detalhes do argumento fabricado pelos arrábidos difícil ou impossível resolução surgirá. Analisando,
para camuflar uma enfermidade cujas causas escan‑ detida e sistematicamente, a extensíssima literatura
dalosas, obviamente fruto da vida libertina do rei, panegírica, que oradores credenciados dedicaram aos
não podiam vir a público sem prejudicar a imagem seis filhos de D. João V e de D. Mariana de Áustria13,
piedosa da régia majestade ou afamar negativamente constata­ ‑se que nem um único de tais numerosos
o instituto religioso que, ao aceitar a doação, poderia discursos, alguns tornados públicos na presença dos
parecer estar a sancionar a sua licenciosidade. próprios progenitores, se reporta, quer explícita quer
Frei Cláudio da Conceição deixa adivinhar a con‑
fusão reinante: (…) Como a respeito da fundação do TÍTULO DO QUADRO?
Real Convento de Mafra tem corrido uma tradição des‑
Data Autor Motivo do voto
tituída de todo o princípio, e vem a ser, que depois do
senhor Rei D. João V receber o benefício da Sucessão 1711 D. João V “Justos motivos”

se esquecera de cumprir o voto e que depois morrendo­ 1726 Charles Fréderic de Merveilleux “Grande enfermidade”
‑lhe a primeira prole, fora advertido pelo Religioso, que 1731 Rafael Bluteau Enfermidade
lhe lembrou fazer este voto, e então fazendo segunda 1732 Anselmo Caetano Castelo Branco Projeto imperial
vez voto, continuara a sucessão, ele fundou o Con‑ 1733 Anselmo Caetano Castelo Branco Projeto imperial
vento, sou obrigado a dizer, que tudo isto foi falso, 1737 Frei José de Jesus Maria Sucessão dinástica
como provo. O voto foi feito em 1711, e Frei António
1740 Frei António Madre Deus Galrão Sucessão dinástica
de S. José, que o lembrou morreu a 9 de Março de
1741 D. António Caetano de Sousa Sucessão dinástica
1711, quando já a Rainha dava sinais de estar pejada:
1749 Udal Ap Rhys D. Mariana de Áustria
a 4 de Dezembro do mesmo ano nasceu a Senhora
D. Maria Bárbara, que depois foi Rainha de Espanha; 1750 Manuel Godinho de Seixas Oculto

logo temos, que nem a primeira prole morreu, quando 1750 Agostinho Pereira Indeterminado
se diz, nem o Religioso podia lembrar mais nada pois 1750 Relação da plausível jornada Sucessão dinástica
já não existia. Depois nasceu o príncipe D. Pedro de 1750 Francisco Xavier da Silva Sucessão dinástica
Alcântara a 19 de Outubro de 1712, não há dúvida 1750 Coleção de obras Academia Ocultos Sucessão dinástica
que este morreu daí a dois anos e dez dias em 1714, 1751 Jean François Bourgoing Enfermidade
porém quando sucedeu a sua morte, já existia o Senhor
1751 Frei João de São José do Prado Sucessão dinástica
D. José nascido no mesmo ano de 1714 a 6 de Junho,
1751 Diogo Rangel M. e Albuquerque Sucessão dinástica
logo não havia necessidade de recorrer a novo voto; e
1754 Fernando A. Costa de Barbosa Sucessão dinástica
além disto já em Janeiro de 1713 se tinha comprado
o chão, e eleito o sítio para o Convento. Esta tradi‑ 1760 (?) Arquivo Secreto do Vaticano D. Pedro II

ção pois que eu sempre ouvi aos meus Maiores, segui 1766-1767 José Gorani Enfermidade
erradamente sem reflexão na ‘Oração Consolatória na 1770 Papa Clemente XIV Desconhecido
Morte do Sereníssimo Príncipe da Beira D. António’, 1774 William Dalrymple Emulação do Escorial
a fl. 8, que imprimi em 1801; porém agora que tenho 1778 Arthur William Costigan Emulação do Escorial
esta ocasião me desdigo, e pelos fundamentos que 1785 António pereira de Figueiredo Sucessão dinástica
alego, dou por falsa semelhante tradição (…)11.
1787 Marquês de Bombelles Sucessão dinástica
Mas também o próprio papa Clemente XIV, em
1800 D. José Cornide y Saavedra Sucessão dinástica
Breve de 1770, tem notória dificuldade em caracte‑
1801 Frei Cláudio da Conceição Sucessão dinástica
rizar a situação, porquanto determina numa sintaxe
sintomática: (…) E para tudo o referido ter efeito, 1820 Frei Cláudio da Conceição Sucessão dinástica

absolvemos, e livramos (quanto necessário for) de


Registam-se apenas as obras impressas até 1820, não sendo consideradas, portanto, as fontes
qualquer voto, ou promessa, que fizessem de edificar manuscritas que, embora anteriores, só foram publicadas após essa data.
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implicitamente, a qualquer voto ou sequer a Mafra, Já em pleno século XVIII, Vieira Lusitano acusara
quanto mais ao convento supostamente erguido nas Ludovice da usurpação do título de arquiteto:
suas imediações para brindar aos nascimentos, apa‑
drinhados pela Divina Providência, da régia prole14! (...) E que da rústica esfera
Permito­‑me, face ao exposto, concluir que a suces‑ De Fabro não excedendo
são dinástica não é de modo nenhum a chave do pro‑ Contra a natureza o nome
blema ou, quando muito, apenas o é enquanto conse‑ Pode usurpar de arquitecto (...)22.
quência da enfermidade que, essa sim, o engendrou.
O que não pode sofrer qualquer contestação é a cir‑ Chegando mesmo a afirmar em carta remetida a
cunstância das motivações de 1711 terem sido poste‑ Agostinho Ratti: (…) Eu estou quase sempre em Mafra
riormente preteridas ou acrescidas de outras, o que, porque os ares fazem bem à minha compleição. De
igualmente, justificaria as sucessivas alterações do Mafra já deve ter tido notícias, porque muitos artífices
plano da construção, inicialmente destinada a treze, aí trabalham e foram empregados no régio edifício que
depois a quarenta, mais tarde a oitenta e, por fim, em aí fez construir o rei antecessor [D. João V], onde um
1728, a trezentos arrábidos. mestre genovês de nome Carlos Batista [Garbo], foi o
Um observador estrangeiro, Charles Fréderique arquitecto a quem se deve o bom que aí existe, porque
Merveilleux, chega a alegar, em 1726, a propósito dos o afamado Frederico [Ludovice] que tinha o título de
trabalhos de Mafra: (...) viram­‑se obrigados a cons‑ arquitecto era de profissão ourives e de nação tudesca,
truir e a demolir várias vezes a mesma obra (…)15. o que basta para sabê­‑lo de bom grado (...)23.
Pelo mesmo motivo a basílica de Mafra, única obra De resto, o antigo director do Palácio Nacional de
efetivamente delineada por João Frederico Ludo‑ Mafra publica, em D. João V e a Arte do seu tempo
vice16, havia de quedar­‑se desproporcionada relativa‑ uma carta, datada de 22 de junho de 1717, subscrita
mente às dimensões finais do conjunto e com o coro por António Rebelo da Fonseca em nome do rei e
dimensionado para apenas oitenta frades. Será, não enviada para Roma ao marquês de Fontes, que con‑
obstante, possível destrinçar quais os desígnios que clui: (...) e outrossim fica S. Majestade certo de que a
efetivamente moviam o monarca? Creio que sim. planta de Thomaso Matey se aperfeiçoará muito com as
Um programa de glorificação da monarquia abso‑ direcções de VE. Sobretudo deseja muito S. Majestade
luta, numa indesmentível ótica imperial, a que não ver a VE. restituído a esta Corte (…)24.
seria alheio o fascínio exercido pela “Roma Barroca” O desenho em causa relaciona­‑o Ayres de Carvalho
sobre D. João V, era o que então animava o monarca17. com o do futuro edifício. Não obstante, ainda a 28 de
Algumas das mais notáveis iniciativas do Magnâ‑ janeiro do ano seguinte, D. João V decretava que fosse
nimo servir­‑lhe­‑iam mesmo de prenúncio, tais como lavrada escritura referente à obra da igreja e convento
1 | Roma, Igreja
do Gesú, fachada. a divisão de Lisboa em dois hemisférios (Oriente e de Mafra com o mestre­‑pedreiro e arquiteto Carlos
Ocidente) e a criação da Igreja Patriarcal na Capela Baptista Garvo, a qual obra seria executada (…) pela
Real. O Palácio­‑Convento de Mafra viria a tornar­‑se o planta do Arquitecto João Frederico Ludovice (…)25.
natural corolário do regalismo joanino. Qual, no entanto, a viabilidade de determinar em que
Elevaram­‑se vozes discordantes, como as do padre consistiu exatamente essa planta, uma vez que não
José Correia Leitão 18, de frei Lucas de Santa Catarina19
ou, nomeadamente, do abade beneditino de Tibães,
exemplar na exposição e nos argumentos: ao Con‑
vento de Mafra, a cuja sagração (galhofa) se recusa
assistir, chama ele mesquita, isto é, templo de infiéis,
o que o mesmo é dizer templo estranho ao grémio
católico apostólico romano20!

II

Outra questão não menos intrigante e polémica,


apesar de geralmente havida por indiscutível, prende­
‑se com a identidade do responsável ou dos responsá‑
veis pela traça do edifício tal como se nos apresenta,
uma vez que dos três (porventura quatro) riscos suces‑
sivamente aprovados pelo Magnânimo apenas o pri‑
meiro é imputável a João Frederico Ludovice. Hodier‑
namente, foi, justamente, Ayres de Carvalho quem
primeiro duvidou da capacidade de Ludovice para
empreender uma obra da envergadura da de Mafra,
questionando uma atribuição que, desde há cerca de
duas centúrias, se tornara quase consensual21.
monumentos 35 DOSSIÊ 47

subsiste (salvo o das grades para as capelas da basí‑


lica do serralheiro francês Garnier) qualquer desenho
arquitetónico que permita sustentar a evolução da
traça do edifício26? Duas possibilidades se deparam
aos investigadores, pelo menos.
Em 1717 foram lançadas nos alicerces da basí‑
lica doze medalhas (quatro de ouro, quatro de prata e
quatro de bronze) expressamente cunhadas, três das
quais ostentavam numa das faces o prospeto da obra
tal como então se encontrava projetada. Tais meda‑
lhas, de que se não conhece nenhum exemplar, foram
descritas por frei João de São José do Prado27, e por
frei Cláudio da Conceição. O texto deste cronista vale
uma citação: (…) a Imagem de Santo António colo‑
cada em uma nuvem sobre o Altar, e ElRei de joelhos
diante dele, com as mãos levantadas, e na circunferên‑
cia esta letra: ‘In Coelis regnat, invocatur in patria’. Da
outra parte estava o sumptuoso Templo, que se lhe con‑
sagrava, mostrando na perspectiva duas altas torres
nas ilhargas, no meio o zimbório, as portas do Templo
para o Poente, e o Convento da parte esquerda, por não lhe caber, ele ou seus descendentes jamais enjei‑ 2 | NUM XIV / MAFRAE
TEMPLUM ET COENOBIUM
assim estar nesse tempo delineado (...) na circunferên‑ taram, mesmo quando as evidências e o bom senso o / ARTIS ET POTENTIAE
cia esta letra: ‘Divo Antonio Ulyssiponensi dicatum’. aconselhavam32. MIRACULUM /
A FUNDAMENTIS EREXIT.
No pórtico do Templo se lia esta inscrição: Joannes V. Uma resposta plausível à segunda das questões Pormenor da
Portugalei Rex mandavit Mafrae 1717 (…)28. enunciadas obtém­ ‑se por comparação com o que gravura a buril
(420 x 310 mm),
Possuímos ainda outro documento que, com bas‑ ocorreu relativamente à alegada autoria do projeto elaborada por Carlo
tante aproximação, surpreende o conjunto palácio­ concretizado na Baixa Pombalina, demonstradamente Maiglij a partir da
gravura esculpida no
‑convento delineado por Ludovice (i. e., o primeiro concebido e subscrito por Carlos Mardel e, no entanto, metal por Francesco
projeto preterido). Socorro­ ‑me na circunstância de até há poucos anos atribuído sem contestação a Eugé‑ Mazzoni in Manuel
Rodrigues dos Santos,
uma estampa reproduzindo um medalhão (cerca de nio dos Santos, supostamente por ser ele quem supe‑ Exéquias feitas em
3500 x 4600 milímetros), (…) pintado de claro escuro rintendia a equipa encarregada, pelo marquês de Roma a Magestade
Fidelissima do Senhor
iluminado a ouro (…), que esteve exposto na Igreja de Pombal, de erguer a nova Lisboa. Por outras palavras, Rey Dom João V,
Roma, 1751,
Santo António dos Portugueses, em Roma, aquando os projetos de arquitetura, mesmo os saídos de ate‑
estampa n.º 14.
da celebração ali das solenes exéquias de D. João V, liês contemporâneos, vinculam apenas quem detém o
ordenadas por seu filho e sucessor, D. José I (fig. 2)29. alvará e o prestígio que este confere!
A comparação com ela do esquisso de Ludovice, No que concerne às circunstâncias da preterição
datável de 1715, o primeiro e único que sem contes‑ da planta de Ludovice, tudo leva a crer possam estar
tação lhe pode ser atribuído, parece dar razão aos relacionadas, com a chegada a Lisboa, em abril de
comentadores que descobrem paralelismos entre o 1718, do marquês de Fontes, proveniente de Roma,
seu programa para a Basílica de Mafra e o da Igreja do com planos arquitetónicos ali gizados. Tratar­‑se­‑ia dos
Gesú (fig. 1), em Roma, constituindo, porventura uma planos definitivos para Mafra, como pretende Ayres
prova de gratidão pela proteção que a Companhia de de Carvalho33?
Jesus lhe prodigalizara30. É improvável, porquanto, em setembro de 1728,
o monarca novamente decidia alterar (pela quarta e
derradeira vez) o programa e as dimensões do edifí‑
O Gesú de Roma protótipo do primeiro projeto cio34, fazendo com que os jardins da cerca conventual,
para a Basílica de Mafra? a que António Rebelo da Fonseca terá dado início por
volta do mesmo ano de 1718, tivessem de ser quase
A traça “ludoviciana” do frontispício da Basílica integralmente arrasados35.
de Mafra, no modelo patente neste quadro destinado Quando muito, os desenhos trazidos de Roma terão
às exéquias de D. João V, na igreja romana de Santo originado aquilo que o botânico Merveilleux, o pri‑
António dos Portugueses (1751), é formalmente afim meiro estrangeiro que teve a dita de observar a obra,
do da referida igreja jesuíta, salvo na ausência das descreve, em 1726: (…) à direita do edifício [da basí‑
torres sineiras. Será conveniente, ainda assim, apu‑ lica] está um vasto palácio para o rei, família real e os
rar: — a razão pela qual, e em que circunstâncias, viu grandes oficiais da corte, à esquerda há outro soberbo
Ludovice a sua planta ser preterida por D. João V, palácio para o patriarca e seus vinte e quatro bispos
ele próprio (...) profundo sabedor de geometria, prin‑ fingidos (...)36. E a quem atribuir tais desenhos?
cipalmente na parte que compreende a arquitectura Com bastante verosimilhança a Tommaso Mattei,
civil e militar (...)31; — o motivo pelo qual continuou o qual, sob as directrizes do marquês de Fontes e em
a ser­‑lhe imputada uma paternidade que, apesar de colaboração com Carlos Gimac, terá aperfeiçoado um
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N OTA S

1
DGARQ/ANTT, Chancelaria de D. João V, XXXV, fl. 355. Um documento do
Arquivo Secreto do Vaticano contradiz o decreto joanino ao asseverar que o
convento traduzia uma promessa de D. Pedro II, complementada pela igreja,
essa sim, objeto de um voto de D. João V, em agradecimento pelo nascimento
da princesa D. Maria Bárbara, em 1711. Cf. Robert C. SMITH — “Building of
Mafra”. Apollo. Londres, abr. 1973, vol. XCVII, n.º 134, p. 362. Escasseiam os
documentos com referência aos preliminares e ao arranque dos trabalhos. Após
o citado decreto, só em 1714 nos deparamos com outros dois. Ambos datados
de 26 de Outubro (a Carta Régia nomeando António Soares de Faria tesoureiro
da obra e Máximo de Carvalho seu escrivão, DGARQ/ANTT, Chancelaria de
D. João V, XLII, fl. 157; e o Alvará confirmando­‑os no cargo, DGARQ/ANTT,
Chancelaria de D. João V, XCIV, fl. 144), os quais constituíam com aquele a
tríade dos mais remotos até hoje conhecidos. A esses juntei quatro inéditos
de 1714 e 1715 existentes no Arquivo Histórico Municipal de Mafra (AHMM).
Ver Boletim. Cultural ’94. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1995, pp. 77­‑78.
2
Canção, em Panthetria Pathetica e Miscellania em os progressos, e morte do
sempre memoravel Rey de Portugal D. João V. Lisboa, 1750. Secreto o voto e
secreto o “risco” do edifício, porquanto durante 13 anos Mafra manteve­‑se ina‑
cessível a quem não dispusesse de passaporte, ou livre­‑trânsito. Um dos agentes
de D. João V escrevia em carta remetida, a 17 de dezembro de 1728, para
Roma: (…) o que mais importa de esta comissão [encomenda] é o segredo, que
não saiba por sonhos que são coisas para cá (…). Cf. Ayres de CARVALHO —
D. João V e a Arte do seu Tempo. Mafra: ed. autor, 1962, vol. II, p. 399.
3
Cf. frei Cláudio da CONCEIÇÃO — Gabinete Histórico. Lisboa, 1820, vol. VIII.
4
Frei José de Jesus MARIA — Crónica da Província de Santa Maria da Arrábida
3 | Basílica de Mafra, desenho de Carlos Fontana, arquiteto régio romano da da regular e mais estreita observância da Ordem do Seráfico Patriarca São Fran‑
pomba do Espírito cisco. Lisboa, 17__, parte segunda, liv. IV, cap. XXXI, pp. 759­‑760, n.os 899 a 900.
Santo (1,5 m de
corte portuguesa37. Fica, todavia, por explicar como se
Equivoca­‑se António Filipe Pimentel e vicia o seu raciocínio (e o do leitor menos
envergadura) que chegou ao edifício definitivo. atento) ao aplicar a este segundo volume a data da edição do primeiro tomo desta
sobrevoa o transepto
da suspensa do
Quase indubitavelmente adaptando as propostas obra, no qual não se acha qualquer alusão a Mafra. António Filipe PIMENTEL
— Arquitectura e poder. O Real Edifício de Mafra. Coimbra: Instituto de Histó‑
lanternim que encerra apresentadas por Filippo Juvara para a Patriarcal que ria da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1992, p. 146.
a cúpula do zimbório.
D. João V tencionara erguer no Alto de Buenos Aires, 5
Natural do Carvalhal de Cheleiros, em 1648, e baptizado António Gaspar. Frei
Cláudio da CONCEIÇÃO — Ob. cit., vol. VIII, pp. 68­‑72 e Francisco Duarte
na zona da atual Lapa, em Lisboa. Aliás, hipótese RESINA — “Cartas da Aldeia”. O Concelho de Mafra, 15 ago. 1943, n.º LVII.
considerada por Brinckmann38, depois perfilhada por Também conhecido por frei António da Índia por ter seguido para Malaca com
o respetivo bispo e haver permanecido em Goa enquanto durou o governo do
Ayres de Carvalho e Bazin39.
conde de Vila Verde.
Ao engenheiro militar Custódio Vieira consigno eu 6
António Filipe PIMENTEL — Ob. cit., p. 147. O autor simplesmente “desco‑
tal incumbência, como se infere de uma informação nhece”, ou omite, os casos que o desmentem.
7
De entre outros escritos podem citar­‑se as cartas enviadas para Roma pelo nún‑
remetida do Cabido da Sé, em 14 de setembro de cio apostólico em Lisboa, monsenhor Vincenzo Bicchi.
1726: (…) nas obras de Mafra anda um moço oficial a 8
Charles Fréderique MERVEILLEUX — Memoires Instrutifs pour un voyageur
dans les divers etats de l’Europe…. Amesterdão: Chez H. du Sauzet, 1738.
quem muitas opiniões dão primazia ainda a respeito 9
No Elogio Fúnebre e Histórico…. Lisboa: Na Regia Officina Sylviana e da Aca‑
de Frederico (…)40. demia Real, 1750. Júlio DANTAS ensaiou a nosografia do monarca no seu
D. João V, em Eles e Elas, Porto: Lello & Irmão, 1918, pp. 232­‑243.
Creio que Custódio Vieira não foi apenas o garante 10
O facultativo de nacionalidade escocesa e predileto da rainha Ana, apesar de
do cumprimento dos prazos impostos pelo rei, bem haver permanecido na capital portuguesa durante seis semanas, nunca chegou
como das soluções técnicas indispensáveis para a a ocupar­‑se da saúde do Magnânimo. Antes de partir foi recebido por D. João V
que lhe deu (…) grandes provas de consideração (…) e o brindou com uma jóia.
concretização da obra em tão curto espaço temporal. Alberto PIMENTEL — As Amantes de D. João V. Porto: Livraria Figueirinhas,
A ele se terá ficado igualmente a dever a harmoniza‑ 1946, p. 57, nota 1.
11
Frei Cláudio da Conceição — Ob. cit., vol. VIII, Prefação, pp. 6­‑8. Ver, igual‑
ção do que restou do terceiro risco com as novidades mente, pp. 64­‑67. A oração a que se reporta afirma textualmente, a pp. 8­‑9: (…)
adotadas no quarto e definitivo, em 1728. A sua mete‑ Este Rei [D. João V], que enche os fastos lusitanos com suas gloriosas acções, se
recebe das mãos de Deus, por intercessão do glorioso Santo António de Lisboa,
órica ascensão de carpinteiro a arquiteto da Casa Real
um filho em dia de S. Pedro de Alcântara, a 19 de Outubro de 1712, a quem pôs
justamente o testemunha41. o nome do mesmo S. Pedro. Também tem o desgosto de o perder de idade de dois
Entretanto, ao ourives da prata Frederico Ludovice anos e dez dias. Porém, tornando a enviar ao Altíssimo novas súplicas, ardentes
e fervorosas orações, tem então o gosto e a satisfação de ter para seu sucessor o
sobrava a tarefa, mais competente para capataz que Grande e Imortal, o Sereníssimo Senhor Rei D. José. O sumptuoso, magnífico e
para arquiteto (que efetivamente só logrou tornar­‑se Real Convento de Mafra é um autêntico testemunho do seu agradecimento ao Pai
das Misericórdias, ao Distribuidor de todos os bens (…).
por decreto régio de D. José I, de 11 de setembro 12
Breve do Santissimo Padre Clemente XIV pelo qual se suprimem os Mosteiros
de 1750), de coordenar a atividade da Casa do Risco, dos Conegos Regulares de Santo Agostinho de Portugal nelle declarados; e os
debuxando plantas, perfis e ornatos e fiscalizando o seus rendimentos se unem, e aplicam ao Real Convento de Mafra do Padroado
Real, agora concedido, e assinado aos mesmos Conegos Regulares. Lisboa, 1770.
andamento geral da obra mafrense4 2 . Em bom português, a expressão “qualquer voto”, no contexto em que se apre‑
De outra forma como é possível conciliar a sua senta, significa desconhecimento do teor do dito! No Vaticano constava que o
Convento de Mafra decorria de uma promessa de D. Pedro II. Quanto ao voto
alegada autoria com a contínua receção de projetos de D. João V julgava­‑se que apenas respeitava a uma igreja. José de CASTRO —
e planos, provenientes de Roma, encomendados pelo O Cardeal Nacional. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1943, pp. 171­‑172.
Em Robert C. SMITH faz­‑se eco da mesma opinião em “The building of Mafra”.
Magnânimo43? Apollo. Londres, abr. 1973, vol. XCVII, n.º 134, p. 362.
13
Infanta D. Maria Bárbara (4 de dezembro de 1711), D. Pedro, príncipe do Brasil
(19 de outubro de 1712 a 29 de outubro de 1714), infante D. Carlos (2 de maio
de 1716), infante D. Pedro (5 de julho de1717) e infante D. Alexandre (24 de
Manuel J. Gandra
setembro de 1723 a 2 de agosto de 1728).
Professor no IADE­‑U. Investigador e iconólogo 14
Aliás, a Igreja do Menino Deus já fora consagrada para tal efeito. A respeito
Imagens: autor. do nascimento do mais presumível dos alegados responsáveis pela Real Obra
de Mafra, o infante D. Pedro, consultem­ ‑se, por exemplo, Jacinto Pacheco
ROBRILVO (pseud. de Pascoal Ribeiro Coutinho) — Horóscopo felicíssimo do
monumentos 35 DOSSIÊ 49

Sereníssimo Príncipe de Portugal o Senhor Dom Pedro primogénito que conce‑ 31


Barbosa Machado citado por Ayres de CARVALHO — Ob. cit., vol. I, pp. 45­‑46.
deu o céu para glória da Monarquia Portuguesa, 1712 (BN: L 18436 (3.º) P); Acrescenta ainda que (...) eram perfeitos os planos que [o rei] desenhava e regu‑
Álvaro Pereira de CASTRO — Obsequiosa demonstração com que as quatro par‑ lares as praças que traçava (…). Corrobora­‑o o marquês de Valença, D. Fran‑
tes do mundo festejaram o felis nascimento do Sereníssimo Príncipe D. Pedro, cisco de Portugal.
1713 (BN: L 1284 (2.º) A); Frei Caetano de SÃO JOSÉ — Sermão genethlíaco, 32
Leopoldo Humberto Frederico Ludovice chegou a insurgir­‑se por carta contra
eucharistico, e gratulatório na manhã de 19 de Outubro de 1712, 1713, 1714 e as legítimas dúvidas de Ayres de Carvalho, suspendendo, por sua iniciativa, a
1715 (BN: R 8090 P; R 3060 (7.º) V; R 8535 P); Padre Sebastião BARRADAS — assinatura do jornal O Concelho de Mafra. Ver número de novembro de 1958.
Sermão de acção de graças pelo nascimento do Sereníssimo Princípe D. Pedro, 33
Ayres de CARVALHO — Ob. cit., vol. II, p. 307.
1713 (BPNM: Bib. Volante, 2­‑11­‑6­‑3 (13º)); Fiesta, que se represento al nasci‑ 34
Frei Cláudio da CONCEIÇÃO — Ob. cit., p. 143. Em Roma constava ser seu
miento de el Serenissimo Señor Infante Dom Pedro, 1717 (BN: HG 6693 V). desejo que a basílica tivesse as dimensões da igreja de Santo Inácio da Cidade
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Charles Fréderique MERVEILLEUX — Ob. cit.. Assim fica justificado o aban‑ Eterna. Arquivo Secreto do Vaticano: Nunz. di Port., v. 74, fl. 395v e 402; v. 75,
dono de alguns elementos arquitetónicos já preparados para integração na fl. 189.
obra, caso, entre outros, da célebre coluna de mármore rosa existente em Pêro 35
Idem, ibidem.
Pinheiro! 36
Charles Frederic de Merveilleux, José Gorani e o duque de Châtelet afirmam que
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Ayres de CARVALHO — Ob. cit., pp. 344­‑345. o plano de Mafra fora encomendado em Roma. Joaquim da Conceição Gomes
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Apesar de nunca ter visitado pessoalmente Roma, D. João V conhecia a cidade equivoca­‑se ao garantir que o traçado fora modificado apenas nas fachadas
e os romanos e as suas instituições em detalhe. A embaixada do marquês de laterais do edifício. Afirma que pelo ângulo reentrante que se vê em cada uma
Fontes mostra­‑o à saciedade. das faces laterais seria fácil conjeturar como ele ficaria se não tivesse havido
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Cópia do Memorial que se offereceo ao Serenissimo Rey D. João 5º na occasião alteração. Joaquim da Conceição GOMES — “O Monumentos de Mafra. Excer‑
que se vexava o povo para a obra do templo de Mafra (Biblioteca Pública de tos”. Boletim da Associação dos Arqueólogos. Lisboa, 1890, 2.ª série, t. VI, n.º
Évora (BPE): ms. CIX /1­‑5). 12.
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Chama “arrogante fábrica” às obras iniciadas. Carta em que se dá notícia das 37
A opinião é partilhada, entre outros, por Ayres de CARVALHO — Ob. cit.; Yves
festas que a Nossa Senhora da Piedade fizerão os Duques na sua quinta de Cin‑ BOTTINEAU — “À propos des sources architecturales de Mafra”. Arquivos do
tra, a 10, 11 e 12 de Setembro do anno de 1720 (BN: cod. 9636). Centro Cultural Português. Paris: Centro Cultural Calouste Gulbenkian, 1983,
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Carta que escreveo hu amigo a outro escuzandosse de o acompanhar de ir ver vol. XIX, pp. 39­‑48; Pier Paolo QUIETO — Ob. cit., sendo igualmente expressa
Mafra (Academia de Ciências de Lisboa, ACL: cod. CV/1­‑9). Publicada por no Catálogo Le Triomphe du Baroque. Bruxelas, 1991, p. 184. Ayres de Carvalho
Camilo Castelo Branco na Gazeta Literária do Porto, 1868, n.º 6 e Mosaico e atribui a Canevari (em Portugal de 1728 a 1732) a (…) cenográfica perspectiva
Silva de Curiosidades Históricas, Literárias e Biográficas. Porto: Anselmo de do alçado principal da fachada da Basílica de Mafra, em que avultam as altanei‑
Moraes, 1868 pp. 68­‑74. Contêm apreciações de idêntico teor o Memorial a ras e barrocas torres que só um discípulo de Bernini ou Fontana poderia delinear.
sua Magestade que Deus guarde a respeito das Reais Obras de Mafra (Biblioteca No ano de 1726 são enviados de Roma uma série de modelos dos seus edifícios
Geral da Universidade de Coimbra: ms. 630, fl. 15­‑17 e também ms. 1088 e BPE: mais significativos, encontrando­‑se entre eles a Igreja de S. Pedro e a Fonte de
cod. CV / 1­‑9 ou CX / 1­‑1 e o Testamento feito pelo bacharel António Vieira de Bernini (…). Ayres de CARVALHO — Ob. cit., vol. I, p. 264 , vol. II, p. 304 e 363.
Araújo em 18 de Abril de 1872 (Arquivo Distrital de Braga: Livro de Notas, 365, Através da correspondência remetida de Lisboa para Roma, em 1712, de Mer‑
fl. 10) cuja transcrição segue: (...) A sua filha Maria das Dores, [deixa] dois veilleux e de Francisco Xavier da Silva, fica­‑se a saber que agradava ao rei e aos
contos de réis e a esta pede que à sua morte ou em sua vida deixe os bens da Pia seus próximos a leitura das descrições dos mais belos monumentos romanos,
em Gualter a António Cândido, neto dele testador para perpetuar a memória do redigidas por Lázaro Leitão e Carlos Gimac, também responsável por desenhos,
5º avô dele, que foi obrigado com outros lavradores desta província a ajudar a planos, miniaturas e modelos que se conservavam no Paço da Ribeira. Em 1725
levantar escandaloso monumento de vaidade e miséria humana em Mafra, onde o antiquário e académico das relações de Juvarra, Ottoboni Francesco Bian‑
morreu e lá ficaram bois e carro (...). Ver O Concelho de Mafra, 21 set. 1947. chini, dedica a D. João V a Descrizione delle cose piú notabili che vedesi in Roma
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José Teixeira é uma das raras exceções, ao admitir que (…) um manto polémico a comodo dei viaggiatori e Re del Portugallo a fatta di suo ordine.
recobre a qualidade do seu préstimo na definição do programa arquitectónico 38
BRINCKMANN — Filippo Juvarra. Milão, 1937. O projeto de Juvarra para o Alto
de Mafra (…), em José TEIXEIRA — “J.F. Ludovice: as marcas da ourivesaria”. de Buenos Aires contemplava um complexo áulico mais vasto que o Vaticano.
Actas do I Congresso Internacional do Barroco. Porto: Reitoria da Universidade 39
Respetivamente: Ayres de CARVALHO — Ob. cit., vol. II, p. 338 e Germain
do Porto; Governo Civil, 1991, vol. 1, p. 527. BAZIN — Les Palais de la Foi: le monde des monastères baroques. Friburgo:
22
Vieira LUSITANO — O Insigne pintor e Leal Esposo Vieira Lusitano. Lisboa, 1780. Office du Livre, 1980, vol. I, p. 120. Aurora Scotti não deteta qualquer influência
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BOTTARI­‑TICOZZI — Lettere sulla Pinttura, Scultura, Architecttura. Roma, do italiano em Mafra, afirmando que (…) com Mafra encontramo­‑nos nos antí‑
1767, vol. 6, pp. 281­‑284. Citado por Pier Paolo QUIETO — D. João V de Portu‑ podas das soluções juvarianas (…), não deixando, no entanto, de sublinhar os
gal e a Sua Influência na Arte Italiana do Século XVIII. Lisboa­‑Mafra: Elo, 1969, paralelismos entre a Roma Imperial e a Lisboa do seu plano. Aurora SCOTTI —
p. 72: (…) Io quasi resto in Mafra perché l’aria se confà alla mia complessione, “L’Attivitá di Filippo Juvarra a Lisbona — alla luce delle recenti interpretazione
Di Mafra già ne avrete notizia, perché molti artefici v’hanno lavorato e si sono critiche della sua architectura con una appendice sui rapporti Roma­‑Lisbona”.
impiegati nel regio edifizio, che vi fere il re antecessore, dove un capo maestro Colóquio Artes. Lisboa, 1976, série 2, n.º 28, p. 57. Os esquissos de Juvarra no
genovese per nome Carlo Battista fu l’architecto che a lui se deve il buono che v’è Museo Civico de Turim foram publicados por Emilio LAVAGNINO — L’Opera del
perché il cognominato Federico che aveva il titolo d’architectto era di professione genio italiano all’ estero gli artisti in Portogallo. Roma: Libreria dello Stato, 1940
orefice e di nazione tedesca, che ciò basta per saperli di buon grado (…). e Giuseppe FIOCCO — “L’Influenza del Rinascimento e del Barroco italiano nell’
24
BN: cod. 157 da Pombalina, fl. 214. arte portughese”. Relazioni Storiche tra l’Italia e il Portogallo: memorie e docu‑
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Ver instruções do contrato, Ayres de CARVALHO — Ob. cit., vol. II, pp. 345­‑347. menti. Roma: Reale Accademia d’Italia, 1940, vol. XVIII. Segundo João Baptista
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Robert C. Smith advoga, sem razão, a existência de um desenho representando de Castro (Mapa de Portugal), D. João V desistiu do projeto na zona de Buenos
a fachada sul do Monumento de Mafra num portfolio proveniente da Academia Aires devido ao seu custo e ao tempo que demoraria a concretizar (30 anos).
de Belas­‑Artes de Lisboa depositado no MNAA. Robert C. SMITH — “João Fre‑ Acrescenta que o soberano deixara, como David, a seu filho, Salomão, a tarefa
derico Ludovice, an eighteenth century Architect in Portugal”. The Art Bulletin. de edificar o Templo.
Chicago, set. 1936, vol. XVIII, n.º 3, p. 311. As plantas, alçados, detalhes de 40
Citado por D. de Pinho Brandão.
capitéis e colunas, balaústres, etc., que o quarto conde de Mafra, Tomás de Mello 41
José Fernandes Pereira considera Ludovice o (…) responsável pela planificação
Breyner, garantiu ter visto nuns gavetões de uma arrecadação do Palácio Real, global do edifício (…), o elaborador (…) da grande síntese que lograria imprimir
instalada na outrora Casa da Convalescença dos frades, e que ainda em setembro unidade ao conjunto das referências coleccionadas pelo Rei (…). Cf. José Fernan‑
de 1910 eram observados por D. Manuel II, evaporaram­‑se por completo. Tomás des PEREIRA — Arquitectura Barroca em Portugal. Lisboa: Instituto de Cultura
de Mello BREYNER — Memórias [...].. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, e Língua Portuguesa, 1986, pp. 198 e 218­‑219 (Biblioteca Breve). Porém, até a
1934, vol. 2 (1880­‑1883), pp. 126­‑127 e Manuel J. GANDRA — Mafra Barroca própria tutela já abandonou a tão generalizada creditação do Palácio de Mafra
(Iconografia). Lisboa: Fundação da Casa de Bragança, 1989, n.º 1. a Ludovice, assumindo uma redação que justamente reabre a discussão: (…)
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Frei João de São José do PRADO — Monumento Sacro…, Lisboa: Officina de a sua traça [de Mafra] encontra­‑se atribuída a João Frederico Ludovice (…). Cf.
Miguel Rodrigues, 1751, p. 7. Intervenções no Património 1995­‑2000. Lisboa: IPPAR, 1997, p. 86.
28
Frei Cláudio da CONCEIÇÃO — Ob. cit., vol. VIII, pp. 107­‑108. D. José de 42
DGLAB/ANTT: Decretos remetidos ao Conselho da Guerra, maço 110, n.º 8.
CASTRO — Ob. cit., baseado em documentos do Arquivo Secreto do Vaticano Publicado por Sousa VITERBO — Dicionário Histórico e Documental dos Arqui‑
(Nunz. di Port., v. 74, fl. 186), afirma que de um lado da basílica (com 300 tectos…, Lisboa: Imprensa Nacional, 1890, vol. II, p. 101. Pais da Silva asse‑
palmos) se ergueria o convento e do outro o palácio real. vera que, a partir de 1731, as obras de Mafra foram “dirigidas” por Ludovice e
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Trabalho do pintor Ginnesi suspenso num dos arcos em que sustenta o zimbório António Baptista Garvo (Pais da SILVA — “Convento de Mafra”. Dicionário de
(o do corpo da igreja fronteiro ao da capela­‑mor). Exéquias feitas em Roma.... História de Portugal, vol. 3, p. 884). O processo de habilitação do Santo Ofício de
Roma: Off. De João Maria Salvioni, 1751, fl. XI, est. XIV (BN: HG 5795 A). João Pedro Ludovice, datado de 1734, dá­‑o como dirigente das obras de Mafra
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E continuou a prodigalizar, segundo Yves Bottineau, através da corte da rainha desde 1730, tarde de mais, portanto, para a concretização dos desígnios de
D. Mariana de Áustria, em cuja comitiva veio para Portugal o jesuíta alemão D. João V.
Antoine Stieff. Ver, Yves BOTTINEAU — “Le Gout de Jean V: Art et Gouver‑ 43
A correspondência trocada entre José Correia de Abreu e frei José Maria da
nement”. Bracara Augusta. Braga, 1973, vol. XXVII, t. II, n.º 64 (76), Actas do Fonseca e Évora revela que a demora de informações (…) tem atrasado muito o
Congresso A Arte em Portugal no Século XVIII, vol. 2, p. 343. Robert Smith pre‑ adiantamento da obra (…),carta de 6 de outubro de 1729. Numa escritura de 22
fere explicar a escolha do projeto de Ludovice pela (…) constante imitação de S. de dezembro de 1731 (celebrada com António Baptista Garvo e Manuel Antunes
Pedro (…). Ver, Robert C. SMITH — “Ludovice, an eighteenth century Architect Feio) é ainda contemplada a hipótese de as obras já realizadas poderem vir a ser
in Portugal”. Art Bulletin, p. 317. alteradas em função de novas providências.
50 DOSSIÊ monumentos 35 dossiê
monumentos 35 DOSSIÊ 51

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