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ARTE,

A BUSCA
PELA
ESSÊNCIA
HUMANA
MICHELANGELO

FERNANDA
ROCHA
FERNANDA ROCHA

ARTE, A BUSCA PELA


ESSÊNCIA HUMANA

MICHELANGELO
D esde o início dos tempos até os dias de
hoje, a humanidade se faz as mesmas
perguntas: De onde viemos? Quem somos?
Para onde iremos?
Há pelo menos 50 mil anos atrás, dentro das
cavernas, o homem utilizava a pintura nas grutas,
usando vários tipos de materiais, até mesmo
sangue de animais, para expressar o que viam
do mundo, suas preocupações e medos.
A pintura das cavernas foi a primeira linguagem
que o homem utilizou para se comunicar,
muitos anos antes da invenção da escrita.
A verdade é que existe um amplo mistério nas
questões “De onde viemos?” e “Para onde
iremos?”, porque, apesar de se tratarem de
questões existenciais, exigem de nós o exercício
da fé, do que cada um acredita, tema muito
particular de cada ser humano.

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Agora, se nos centrarmos na questão “Quem
somos?”, chegaremos à mais profunda dor do
ser humano... Qual é o nosso propósito?...Qual é
o sentido da vida? Isso verdadeiramente nos
angustia, nos incomoda, e passamos um longo
período da vida, voluntária ou involuntariamente,
em uma busca constante de um significado, um
sentido.
Ocorre que essa busca é um caminho sinuoso e
cheio de obstáculos. Por diversas vezes, o medo
nos paralisa, o medo de sofrer, o medo de não
ser aceito, o medo de sentir dor, entre outros.
Olhamos para o nosso lado e buscamos
modelos e, por vezes, nos iludimos, quiçá
indiretamente induzidos, e nos permitimos ser
igual a todos os outros. Desaprendemos o
fundamental, esquecemos que somos únicos
no mundo, e o que é maravilhoso para uns não
necessariamente será para outros, e assim

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seguimos nossa vida, apagando um pouco de
nós todos os dias, até que não exista mais nada .
Este livro oferece a você uma pequena, porém
profunda imersão na vida de um artista que
superou a si mesmo...Michelangelo!

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MICHELANGELO
DESCOBRINDO UM TALENTO

M ichelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni


nasceu em 06 de março de 1475, na
cidade de Caprese, na Itália, era de uma família de
4 irmãos e sua mãe faleceu quando tinha apenas
5 anos. Seu pai foi o primeiro obstáculo que

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enfrentou para conseguir se dedicar à arte, mas
mal sabia ele que seu pai seria talvez o mais
simples tirano que estaria por encontrar em sua
vida. O pai de Michelangelo, Ludovico
Buonarroti, não via com bons olhos as
aspirações artísticas de seu filho, mesmo
porque, sendo o segundo filho mais velho dos 5
irmãos deveria logo ajudar no sustento da
família, e seu pai enxergava em seu talento para
a arte algo de menor valor, insuficiente para
ascensão almejada pelo patrono da família. Mas
Michelangelo não desistiu, ele insistiu mesmo
após surras e não abdicou de sua vontade,
venceu o velho pai pelo cansaço, que por fim,
acabou permitindo que o filho fosse em busca
de se aperfeiçoar para se tornar um artesão,
como era de seu desejo. Nesse momento,
Michelangelo tinha 13 anos de idade.
Se fizermos uma reflexão, vamos nos perguntar:
Será que nos dias de hoje um adolescente
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teria tanta certeza de algo, tão precocemente?
E vem à minha mente a lembrança da minha
própria adolescência. Essa é sem dúvida
a época em que mais nos achamos donos de
nós mesmos, os sabidões, os que têm nas mãos
a verdade nua e crua, cheios de sonhos e
coragem para enfrentar o mundo e fazer a
diferença. Talvez essa seja a época exata de
sabermos o que queremos, ou ao menos uma
direção, é o momento em que o jovem está mais
livre, possui poucas amarras e preocupações e,
dependendo do tipo de educação que o jovem
tem, muitas vezes acredita que os pais são
obstáculos que o impedem de seguir seus
sonhos. No caso de Michelangelo, ter um pai
opressor naquele momento de sua vida foi um
facilitador para a tomada de decisão,
despertou nele uma vontade muito grande de
sair de casa, para poder ter a liberdade que
acreditava que teria.

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O INÍCIO

A
os13 anos Michelangelo foi para Florença,
uma outra cidade da Itália, para
frequentar Escola de escultura, criada por

Lorenzo o Magnífico, patrono da família Medici.


Enquanto Michelângelo fazia uma escultura, o
próprio Lorenzo se aproximou de Michelângelo
e disse-lhe que a figura que esculpia se tratava
de um asno, sendo assim, deveria ter uma
aparência velha, por isso não deveria ter todos
os dentes. Ao deixá-lo, Michelangelo sacou um
dente da escultura. .Quando Lorenzo voltou e
viu, se encantou ao ver a escultura, era possível
ver por trás dos dentes com muita perfeição de
detalhes. Lorenzo logo notou que e tratava de
alguém de talento, não para realizar uma cópia
ou uma execução simples do que era para ser
feito, mas alguém singular, com um talento

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único.
Lorenzo chamou Michelangelo para morar com
sua família, os Médicis. E acabou compartilhando
com ele a mesa da família Médici, dando a
Michelangelo a oportunidade de uma
convivência social extremamente rica para o
desenvolvimento de seu intelecto, pois aprendia
sobre literatura, filosofia e cultura pagã, o que
contribuiu para aperfeiçoar seu talento,
possibilitando assim uma visão mais ampla e
livre do mundo. O que esse menino não
sabia era que seu conforto se tornaria mais tarde
um de seus maiores conflitos. A família Médici, , a
quem ele aprendeu a amar e que detinha grande
gratidão iriam se tornar os causadores
de verdadeiros horrores sanguinários e,
mais à frente, a gota d'água para a grande divisão
da Igreja Católica iniciada por Lutero.

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Com 17 anos, ainda morando com os Médicis,
Michelangelo esculpiu a obra Centauromaquia.
Neste relevo, Michelangelo se inspirou em
referências como um sarcófago romano do
Campo Santo de Pisa e o relevo de bronze de
Bertoldo di Giovanni com a batalha.

Centauromaquia - Obra datada de 1491-1492 em


exposição na Casa Buonarroti, em Florença, Itália

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A centauromaquia representa para o povo grego
um mito da luta com os centauros, os homens
que eram metade homens e metade cavalos. A
escultura mostra uma massa de figuras
empenhadas numa luta intrincada. Ao
centro, destaca-se um jovem com o braço
erguido, representando o general. Em volta dele
vê-se um emaranhado de corpos mais salientes,
quase que criando pirâmides. Entre estes
personagens mais destacados pela faixa do
meio, à esquerda, um homem, cujo seu corpo
faz uma torção para a direita, está a ponto de
atirar uma grande pedra quadrada. Também
observamos um grupo de pelo menos cinco
personagens entrelaçados pelos braços
formando um nó, sendo que um deles, de
costas, arrasta pelos cabelos um segundo,
que é preso pela cintura por um terceiro homem
o qual, com o braço direito, agarra os ombros de
um grupo de duas figuras.
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Há ainda uma mulher que enforca um homem
que tenta se libertar. De forma metafórica,
também representa a luta do homem contra seus
instintos primitivos, e o motivo de estarem nus se
baseia na maneira que quase sempre se
representava os guerreiros na cultura grega. É
realmente de tirar o fôlego imaginar uma luta no
emaranhado, talhado em mármore, pensando em
cada personagem, cada movimento, cada ação
formando um nó humano.
Demasiado proveitoso foi esse tempo de
Michelangelo na casa dos Médicis, mas, em abril
de 1492, Lorenzo morreu. Dois anos depois,
houve um movimento liderado pelo monge
Savanarola, iniciando uma perseguição contra
tudo que fosse considerado uma
afronta à vontade de Deus na terra. As obras de
arte que continham nudez foram queimadas, as
jóias tiradas e por vezes jogadas ao fogo, as
prostitutas também eram perseguidas,
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tudo que fosse considerado pagão era proibido,
e a família Médici foi forçada a sair de Florença
temendo um motim, principalmente porque o
monge Savanarola acreditava que os Médicis
haviam disseminado cultura pagã na cidade de
Florença. Tudo que era ligada à família Médici era
perigoso, por isso Michelângelo fugiu por temer
ser capturado.

APERFEIÇOANDO SEU TALENTO

E m 1499, agora mais maduro e experiente,


o chamaram para esculpir uma pietà,
palavra italiana que significa piedade.
Naquela época existia a tradição de deixar uma
marca, um legado por pessoas que se julgavam
importantes. Por essa razão, os pintores,
escultores e arquitetos eram frequentemente
chamados para dar forma às ambições de
algumas figuras que queriam ter seus nomes

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eternizados de alguma forma. Foi neste contexto
que trabalhou por um ano e o resultado foi uma
das esculturas mais incríveis já realizadas.
A expressão de Maria, serena, resignada e jovem,
de um beleza ímpar, muito mais jovem que seu
filho que carrega nos braços, e Jesus
adormecido e entregue nos braços da mãe.
Alguns dizem que Michelangelo fez Maria jovem
porque ela era pura, sendo assim não teria as
marcas da corrupção da carne como os
outros teria algo de divino enquanto Jesus
envelheceu pelo grande desgaste sofrido
durante sua missão. Outra corrente cogita a
possibilidade de Michelangelo ter se inspirado
na “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, onde há
um trecho do Paraíso que diz: “Virgem Mãe, Filha
do Teu Filho”. Nesta escultura, Michelangelo
reproduz o corpo de Maria muito maior do que o
de Jesus, mas ao fazer as cabeças terem o

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mesmo tamanho ocorre a harmonia. O drapeado
das vestes impressiona, assim como os detalhes
do corpo, ressaltando as veias e os músculos de
Jesus. Lembrando que a escultura é feita de
mármore, isso mesmo, mármore......já mencionei
que era de mármore? Pois é, impensável esculpir
algo que transmite tanto movimento e
emoção em uma pedra bruta de mármore.

Pietá - Obra datada de 1498-1499 está na Basílica de São


Pedro, Vaticano.

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Michelangelo passou por vários apuros em sua
vida e foi diversas vezes salvo pelo seu talento.
Antes de Pietá se meteu em algumas encrencas
e somente oferecendo o que de melhor sabia
conseguiu sair ileso, seria um crime privar o
mundo desse talento. Quando nos deparamos
com uma escultura como Pietá, com uma beleza
estética que é sem dúvida um deleite para nós,
perfeita em todos esses detalhes, que vão muito
além do perfeccionismo, nos impressiona a
sensibilidade de retratar de forma tão profunda a
perda do filho, em uma dimensão superior, que
transcende a vida humana tal qual conhecemos.
Esta Maria é um ser muito mais divino que
humano.
Definitivamente vemos aqui que Michelangelo
sabe o que faz e é bom no que faz; os anos de
estudo aprimorando o seu talento fizeram com
que ele aperfeiçoasse a sua técnica e sua
mente.
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Agora, uma obra como essa e tantas outras que
Michelangelo produziu ao longo dos anos não
podem ter sido fruto apenas de técnica, há algo
além, mas vamos falar disso mais adiante.

Falando ainda sobre talento, descordo com a


ideia permeada hoje de aperfeiçoar o que não
somos bons, desenvolver novos talentos,
deixando de lado o desenvolvimento de nossos
próprios talentos porque, em princípio, já somos
bons o suficiente. Isso muitas vezes pode nos
impedir de crescer. Não somos bons em tudo. Às
vezes, vamos precisar da ajuda de outras
pessoas, que detêm outras habilidades diferentes
das nossas, essa é a graça da vida. Não somos
autossuficientes nem precisamos ser, pois desta
forma, temos a liberdade necessária para
desenvolver nossas habilidades e passar para os
próximos estágios de nosso talento.

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INSPIRAÇÃO PARA TODOS

C
om os Médicis ainda exilados de Florença,
com morte do tirano o Papa Alexandre VI
e seu violento filho César de Borgia fora do
caminho, Florença queria renovar sua política e
tinha como mentor político Nicolau Maquiavel,
aquele mesmo que escreveu o livro O Príncipe.
Pediram para Michelangelo algo que
simbolizasse essa liberdade e força, e foi na figura
de Davi que ele encontrou inspiração, uma
escultura de mais de 5 metros de altura, onde
metaforicamente o gigante Golias era tudo que
oprimia o povo e Davi, a força e a coragem para
mudar seu destino. Magnificamente,
Michelangelo esculpiu o corpo de Davi, inspirado
na arte grega onde os guerreiros gregos eram
representados com seus corpos nus e a beleza
representava a graça que recebera dos
deuses, Por isso, está nu, para ressaltar a
perfeição do
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corpo. Michelangelo concebeu assim um
símbolo de um novo recomeço para Florença.

Davi - Obra datada de 1501 - 1504 está na Galeria da


Academia de Florença, Itália.

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A escultura de Davi tem 5,17 metros de altura,
pesa 5,57 toneladas e está Localizada na Galeria
da Academia de Florença, na Itália.
Sem dúvida um orgulho para habitantes de
Florença, um exercício de superação de alguém
tão obstinado em fazer o máximo de si, com
tamanha perfeição, uma aliança entre
conhecimento, técnica, persistência, foco,
vontade de inspirar e transformar a todos à sua
volta, resultando em uma obra surpreendente,
poucos chegariam a esse resultado.
Dizem que Michelangelo era de temperamento
difícil, explodia facilmente, gostava de ficar só,
não tinha muita paciência, conversava com seus
desenhos e esculturas, mergulhava no mundo de
seus personagens, onde a maioria deles, de
alguma forma, mudou o mundo e
enfrentou conflitos internos e externos que o
inspiraram. Quanto mais ele esculpia as
esculturas, mais elas ficavam íntimos.

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Depois de atos de vandalismo em 1527 (revolta
popular contra os Médicis) e 1991 (um homem
atacou a escultura com um martelo),
Davi passou por um processo de restauração
apenas em 2003 - 2004.

Restauração de Davi em 2003-2004


(dimensão da escala de Davi)

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CAPELA SISTINA
UM GRANDE DESAFIO

E m 1508, Michelangelo foi convidado


para criar e pintar o teto da Capela Sistina.
Ele não queria fazê-lo porque, afinal, era escultor;
havia produzido pinturas, mas não era o que
estava habituado a criar. Havia também artistas
rivais que não gostavam de Michelangelo, os
quais, de todas as formas, queriam testá-lo com
intuito de enfraquecer seu prestígio. Até então,
não poderiam prever que sua performance seria
tão boa em pintura, e até mesmo ele quis sair de
todas as maneiras desta proposta. Entretanto,
não poderia negar um pedido do Papa, ainda
mais sendo quem era, o Papa Júlio, o terrível.
Como sugere o nome, era de temperamento
difícil, dizem que batia em seus súditos e que
constantemente ele e Michelangelo brigavam
dentro da capela. Segundo Vasari (Vasari's Lives
of the Artists,
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de1568, 2ª edição), antes de iniciar os trabalhos
Michelangelo fazia todos os esboços, sempre
falava da preocupação de que a arte não fosse
abandonada, mesmo com a pressa do Papa
Júlio II, contou com a ajuda de amigos artistas,
escolheu a dedo sua equipe. Porém, depois de
um tempo, com uma parte da obra pronta,
Michelangelo não gostou do resultado
e mandou todos embora. Não estava nem perto
do que ele desejava realizar, o que causou um
mal estar terrível tanto em seus amigos artistas
quanto no Papa. Nesse momento, ele
deixou Roma por um tempo, mesmo com a
capela inacabada. Na verdade, o motivo pelo
qual deixou o trabalho foi porque começaram a
aparecer problemas na capela por causa da
umidade, o que interferia no resultado da mistura
da tinta com o afresco, causando, em alguns
pontos, uma evaporação e deixando a tinta com
aspecto de "aguado".
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O Papa Julio II pediu que Giuliano de Sangallo
verificasse o problema, o qual, felizmente, sabia
como resolver e encorajou Michelangelo a voltar
para Roma. Nesse momento, o Papa, ansioso,
abriu a capela para o público mesmo antes de
terminá-la. Foi então que muitos artistas
conspiraram para que o Papa permitisse que
outros terminassem a obra, mas a Eminência
Papal não permitiu, já que era a arte de
Michelangelo que ele queria. Frequentemente, o
Papa visitava a capela para ver o andamento do
trabalho e apressá-lo em terminar a obra.
Michelangelo levou cerca de 4 anos para
terminar o projeto. Durante o processo usou
andaimes e, como comentado anteriormente, a
pintura era feita em afresco, que consiste na
técnica do uso de gesso ou argamassa úmida,
sendo que, logo após aplicar o material, o artista
deve ter uma pincelada firme e saber exatamente
o que irá fazer antes da massa
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secar. Usava poucos ajudantes, tinha fortes dores
no pescoço em razão da quantidade de horas
olhando para cima, sua saúde foi afetada. De fato,
ele dizia que quase não comia, parecia até um
mendigo, raramente tomava banho e quando ia
para cama nem mesmo tirava as botas, mas seu
zelo pela arte o deixava insensível perante a
própria dor.
Então, mais do que saber o porquê de ele ter
aceitado esse trabalho, a pergunta que devemos
fazer é: O que o fez permanecer, dia após
dia, nessa empreitada pesada durante longos 4
anos?
A vida dele não parece tão distante
da nossa: problemas no trabalho, pressão do
cliente e da comunidade, vontade de não
continuar, sensação de que seu fardo é pesado
demais. Fazer o que se gosta não é uma ponte
para felicidade, mesmo encontrando seu
propósito, não quer dizer que não haverá

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problemas, não há caminho fácil.
É certo que ele amava o que fazia e, mesmo
assim, se deparava com muitas dificuldades e as
superava, pelo amor ao seu propósito. Agora,
imagine as pessoas que não fazem o que amam
e sim o que a sociedade disse para elas que era
"o melhor", de onde essas pessoas irão tirar suas
forças para superar os desafios do dia a dia, se
não estão lutando por um propósito?
Temos que buscar constantemente, até
encontrar a nossa força motriz...que é o nosso
propósito de vida....Depois disso, a chave é
focarmos nosso pensamento naquilo que nos
move e não naquilo que nos detém.
Existe uma frase do filósofo alemão Friedrich
Nietzsche que me ajudou muito na minha
caminhada: Demore o tempo que for para decidir
o que você quer da vida, e depois que decidir
não recue ante nenhum pretexto, porque o
mundo tentará te dissuadir.

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Ao término da Capela Sistina, Michelangelo
estava muito orgulhoso do trabalho que havia
realizado, assim como o Papa Julio II e toda a
cidade também.
A obra retrata diversas cenas e histórias bíblicas,
como o Gêneses, pintando a criação do mundo,
a criação de Adão e Eva e sua expulsão do
Paraíso e a história de Noé. Também pintou os
principais profetas e sibilas, além dos ancestrais
de Jesus.

A Criação do Homem - Detalhe do teto da Capela Sistina,


no Vaticano.

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Teto da Capela Sistina - Obra datada de 1477-1480 está
localizada no Vaticano.

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UMA NOVA FASE

O Papa Julio II faleceu em 1513. Por votação,


quem o sucedeu foi um descendente da
família Medici, o segundo filho de Lorenzo
o magnífico, o Giovani de Médici, adotando o
nome de Papa Leão X. Alguns historiadores
dizem que Michelangelo estava temeroso com o
novo Papa, já que em determinando momento,
na época em que esculpiu Davi, estava do lado
da república e os Médicis poderiam vê-lo como
traidor, nada bom para nosso artista. Mas quando
o papa Leão X chegou à Capela Sistina
reconheceu a maravilha que fez
Michelangelo e se sentiu honrado de ter
tamanha obra em Roma...novamente seu talento
o salvou. Nesse momento, depois do término da
Capela Sistina, trabalhava muito, levava a arte
como um religião, adotando um
frenesi pelo trabalho, fazendo vários projetos ao

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mesmo tempo. Os aprendizes e ajudantes se
perguntavam como ele conseguia usar as duas
mãos ao mesmo tempo com tamanha destreza.
Não poderia deixar de citar que, depois de
muitos anos, Michelangelo foi chamado mais
uma vez na Capela Sistina, para pintar o Juízo
Final, mais uma belíssima e polêmica obra.
Nesta obra, Jesus está no centro julgando as
pessoas, decidindo se merecem ir para o céu ou
se serão condenadas à morte eterna, ou seja, ao
inferno. Maria está ao seu lado, mas não olha
para ninguém porque nada mais pode fazer.
Ao redor de Jesus, está a corte celeste, os
santos, os mártires, os patriarcas e os apóstolos.
Imediatamente abaixo da virgem Maria está São
Lourenço com a grelha que foi queimado vivo,
logo do lado de São Bartolomeu com a faca e a
pele que lhe foi arrancada com a qual o próprio

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Michelangelo se retratou, com a aparência
atormentada. No canto superior esquerdo e
direito, seus anjos carregam os símbolos da
flagelação, abaixo de Jesus os anjos tocam
trombetas e abrem o livro da
redenção e condenação.
Abaixo um demônio conhecido na Mitologia
como Caronte era o barqueiro que levava os
condenados para o mundo subterrâneo,
recebidos por Hades com chifres com uma
serpente em volta de seu corpo. O próprio
Hades na pintura é um retrato de um cardeal que
havia dito para Michelangelo que os corpos
estavam demasiado indecentes, então, para
provocá-lo, o pintou como um demônio.
Quando o cardeal foi se queixar ao Papa, ele
ironicamente lhe respondeu que sobre o inferno
não tinha nenhuma autonomia!
Vale mencionar que Michelângelo pintou a

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grande maioria dos corpos nús, pela influência da
cultura greco-romana, ou seja, a cultura
pagã, pois essa era a tônica do renascimento, o
resgate da cultura clássica.
Os paninhos que existem hoje cobrindo as partes
íntimas das personagens foram pintados depois,
por outro artista a pedido da Igreja, que queria
chamar a atenção para as cenas bíblicas e não
para o nú.

Juízo Final - Detalhes do painel de Michelangelo na


Capela Sistina, no Vaticano

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Juízo Final - Obra datada de 1537 - 1541 está no Capela
Sistina, no Vaticano

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UMA VIDA DE REFLEXÃO

M ichelangelo viveu mais que muitos de sua


época, escreveu inúmeras cartas a
amigos e familiares, mas foi em seus poemas que
conseguimos entrar um pouco mais em seus
pensamentos, entender suas motivações e
propósito.
Nesta fase, Michelangelo já estava mais maduro.
POEMA 62 - SOMENTE COM FOGO UM
HOMEM PODE SE FORJAR E SE ILUMINAR

"Somente homens de fogo podem ser forjados ,


através da chama, trabalhar com o ferro e
conceber o conceito; Sem esse fogo, nenhum
artesão é verdadeiramente atraído;
O fogo torna-o glorioso. Nem a fênix se torna
vitoriosa, exceto em chamas,
Então eu, morrerei na esperança de uma
sobrevivência brilhante, que o tempo da morte

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seja gentil. A sorte é minha amiga. O fogo de que
estou falando é uma luz profunda que poderá
revitalizar-me perto da morte, esperada com
expectativa. Fogo por sua própria natureza,
elemento próprio; O fogo me diviniza;
Eu sou fogo, e então, mesmo assim serei dirigido
ao céu?"

POEMA 30 - DOS OLHOS DO MEU AMADO


A CHAMA ME QUEIMA.

"Dos olhos do meu amado, saem chamas de fogo


tão brilhantes que, através dos meus olhos,
mesmo estando fechados, fluem, atravessando o
coração.
Tirando do equilíbrio, a má dor do Amor, trazendo
de você raios mais puros e cristalinos, sob minha
escuridão, trazendo um peso ao retornar."

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POEMA CVII

"Meus olhos, que cobiçam coisas bonitas


como minha alma anseia por sua saúde,
eles não mostram mais virtude
Isso para o céu aspira, que assistir a eles.
Das estrelas altas
um desdobramento desce
que leva a persegui-los
e aqui se chama amor.
Não encontra o coração de nada melhor
que se apaixonam e queimam e aconselham
que dois olhos que a duas estrelas se
assemelham."

Michelangelo também sofreu por amor, viveu


uma intensa vida e aos 88 anos faleceu, em 18 de
fevereiro de 1564, em Roma, na Itália.

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Ele produziu ao longo de sua existência obras
incríveis, esculturas, pinturas, arquitetura e
poesia, e certamente não cabem em um só livro,
obras como Moisés, Lia, Raquel, o escravo
moribundo, dois lutadores, o anjo da arca de
santo domingo, a crucificação de São Pedro, a
conversão de São Paulo, Bacus, Pietà de
Rondonini (sua última obra que ficou inacabada),
entre tantas outras.
Muito se comenta, com justa razão, sobre o
extraordinário legado artístico e cultural que
Michelangelo deixou para a humanidade,
entretanto, pouco se fala sobre como a Arte
influenciou a vida de Michelangelo,
principalmente no que tange ao seu propósito de
vida e como ele encarava a vida sob a
perspectiva da arte.
Michelangelo sempre sentiu a arte como “um
grande amor”, uma luz intensa que queimava, que
o movia, que transformava seus pensamentos,
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emoções e atos, que aos poucos foi fazendo
com que entendesse quem ele era realmente e
qual era o seu propósito. Foi na arte que
Michelangelo encontrou forças para continuar
mesmo diante de várias dificuldades.
E mais, ele transcendia, ele contemplava o
mundo, toda a criação de Deus e nela se
conectava com o Grande Criador, como
podemos observar nos trechos de dois poemas
de Michelangelo. Em um deles ele diz:

"Vejo em tua bela face, meu Senhor,


aquilo que não posso expressar nesta vida.
A alma, ainda vestida de carne,
com aquilo tantas vezes é transportada para
Deus."

E no outro:

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"Meus olhos, buscando coisas belas,
e minha alma, buscando a salvação
não têm outro poder de ascender ao céu
senão contemplando tudo que é belo".

Toda essa beleza e busca pela perfeição


encontramos em sua arte.

Mas a arte não transforma apenas a pessoa que a


produz, ela tem um poder transformador que
pode ajudar qualquer um a despertar emoções e
sentimentos adormecidos, a ser mais humano, a
refletir mais sobre a vida e, acima de tudo,
encontrar o seu propósito, levando uma vida mais
plena e feliz.
A arte, quando experimentada em sua plenitude,
entra na vida da pessoa de uma forma tão
profunda que muda tudo por dentro, é como uma
porta secreta que leva você para outra dimensão,
ou
40
uma força que transcende e o conecta com a
obra, de tal forma, que quando você retorna para
o mundo real nada mais parece ser o mesmo.
Muitas histórias de transformação através da arte
foram contadas ao longo dos anos, situações e
momentos extraordinários, pessoas incríveis que
queriam apenas ser livres e se encontrar, mas se
depararam com algo único, uma luz tão brilhante
que já não conseguem ficar aprisionadas em si
mesmo. Ela irradia por todos os lados, como um
farol, impossível esconder, mas este é um
presente só encontrado por aqueles que se
arriscam a buscar.

"O PROPÓSITO DA ARTE É PARAR O TEMPO"


BOB DYLAN

Se você tem interesse em se aprofundar mais


sobre o poder transformador da arte,
convidamo-lo a entrar nesta jornada conosco!
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41
SOBRE A AUTORA
Idealizadora e co-
fundadora da Galeria 419,
Fernanda Rocha utiliza os
conhecimentos
adquiridos nos cursos de
História da Arte, Curadoria
e Gestão de Galeria de
Arte, para cumprir sua
missão de democratizar a
arte, derrubar as barreiras e
tabus que impedem a maioria das pessoas a ter
acesso a este mundo extraordinário da arte. Mas,
dentre todos os seus anseios, o principal deles é
difundir e compartilhar o poder da arte, como força
transformadora na vida das pessoas.

42
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Conecte-se conosco e vamos compartilhar as


novidades do Mundo da Arte e as experiências
maravilhosas que a Arte pode trazer em nossas
vidas.

ARTE:

EXPRESSÃO,

SENSIBILIDADE E

TRANSFORMAÇÃO

43
BIBLIOGRAFIA

NIMS, Frederick. The complete poems of


Michelangelo,1998.

SAUTEL, Nadine. Biografia vida Michelangelo,


Ed. L&PM 2000.

SCHAMA, Simon. O poder da arte. Michelangelo


de Davi. 2006 http://www.dailymotion.com/br

©portal da arte foto e decoração Ltda. - galeria 419 - 2018


Todos os direitos reservados.

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