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Essa busca revela duas faces preponderantes à religião. Por um lado, ela milita a favor
da religião em geral, ao trazê-la de volta ao cenário da discussão do desenvolvimento humano.
Mas por outro traz desafios e problemas a setores da mesma. É o caso da religião cristã, pois a
natureza deste misticismo que caracteriza a pós-modernidade é esotérica, e não teológica. E a
espiritualidade na ótica cristã é teológica, mais especificamente trinitária, fundamentando-se e
desdobrando-se a partir do ser de seu Deus-Trindade. Assim sendo, como frisa Horton – um
cristão-evangélico – a busca pós-moderna pela espiritualidade por não ser teológico-trinitária,
mas esotérica, caracteriza-se no desejo humano de “encontrar um deus que não nos surpreenda,
especialmente uma divindade que venha a nós, não como no paraíso para nos julgar pela nossa
rebelião, mas um Deus que seja bastante flexível, afável e amigável – um colega” (1999; p. XVI).
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Na verdade, alguns professores notadamente marxistas faziam resistência à realização desta “Feira Esotérica”,
exatamente por compreender o espaço universitário como inadequado à realização de eventos desta natureza, por
tratar-se de evento de caráter religioso, e não científico.
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Segmento evangélico classificado por Mariano como pertencente a terceira onda no corte histórico de instauração e
consolidação do pentecostalismo em terras tupiniquins. Segmento nascido na década de 1970 com a Igreja Universal
do Reino de Deus, a IURD, de Macedo; Igreja Internacional da Graça de Deus, de R. R. Soares; Igreja Evangélica
Cristo Vive, de Miguel Ângelo; todas de contexto carioca; e consolidado com a chegada da Renascer em Cristo, do
casal Estevam e Sônia Hernandes; Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, de Valnice Milhomens; de contexto
paulistano, e com a Igreja Sara Nossa Terra, de Robson Rodovalho, de contexto planaltino, além de uma centena de
outras menores, independentes e sem muita expressão nacional.
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A saber, a obra “Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo No Brasil”, das Edições Loyola.
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A tese de Siepierski, de título “De Bem Com a Vida: o Sagrado Num Mundo em Transformação: Um Estudo Sobre
a Igreja Renascer em Cristo e a Presença Evangélica na Sociedade Brasileira Contemporânea; está disponível
no banco eletrônico de teses da USP: <http://www.teses.usp.br/teses>
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Mais detalhes disso em “Verdade Absoluta – Libertando o Cristianismo de Seu Cativeiro Cultural” (CPAD; 2006).
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No palco de teatros, peças tais como “God’s Favorite” (O Favorito de Deus) de Neil
Simon e “The Only Problem” (O Único Problema) de Muriel Spark, centrando no drama de Jó
seu enredo principal, são produções que apontam, ainda que com tom sarcástico, à questão de
como um Deus amoroso e gracioso pode permitir algo vil como o sofrimento humano, dando
a entender a concepção de uma espiritualidade que não seja espinhosa ao homem como a mais
condigna à natureza de um Deus que é proclamado como amor, misericórdia e graça; além do
musical “Godspell”, de Stephen Schwartz, adaptado no Brasil por Miguel Falabella, que retrata,
segundo termos do próprio Falabella, as palavras de Jesus com humor e talento. 6
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Falabella declarou isso em entrevista a Jô Soares no seu talk-show “Programa do Jô”, veiculado pela Rede
Globo. Infelizmente não anotei a data da veiculação da entrevista, mas Falabella realmente disso isso da peça.
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com os mortos, a existência e influência de gnomos na vida humana, como algo não apenas
sobrenatural, mas, sobretudo, real. Assim, cineastas, dramaturgos, autores, atores, diretores e
produtores não mais se inibem em colocar na tela e no palco a sua fé. É a expressão do anseio
de espiritualidade humana nas artes cênicas. Mel Gibson, estrela de “Máquina Mortífera”, foi
às Escrituras do Novo Testamento, nos Evangelhos, para produzir sua maior obra: “A Paixão
de Cristo”. Gibson, diante das críticas suscitadas por seu filme, não hesitou em afirmar que o
mesmo tinha meta evangelística.
A literatura também tem usado a temática da espiritualidade para garantir lucros. Que
nos digam Mônica Bongfliole, com o seu esoterismo sobre anjos; Lair Ribeiro, com seus livros
de neurolingüística e auto-ajuda; Paulo Coelho, com a sua teoria da unissexualidade de Deus;
Zibia Gasparetto, com o seu espiritualismo mediúnico, entre os tupiniquins não-evangélicos; e o
evangélico norte americano Tim La Haye, com sua badalada série “Left Behind”, publicado no
Brasil pela United Press sob o título “Deixados Para Trás”, que também chegou aos cinemas.
A música é outro segmento artístico que também vem lucrando com a busca humana
pelo sagrado, tanto que o mercado fonográfico gospel é um dos que mais cresce no setor, de
forma que a conversão de certos “pop stars” da música brasileira ao segmento evangélico tem
sido alvo da desconfiança de muitos. Conversões tidas mais como oportunismo ganancioso do
que desejo sincero de amar a Deus, pois se verifica certos “artistas” levando carona na onda de
alta vendagem da fonografia gospel para aumentar a sua conta bancária e alavancar a sua
combalida carreira no mercado secular, mais do que preocupados em viver o Evangelho real.
A teologia, como não poderia deixar de ser, também se vê fortemente influenciada pelo
anseio humano contemporâneo pelo sobrenatural, notadamente o espetacular. Nítida evidência
disso é a proliferação de igrejas pentecostais e neopentecostais pelo Brasil e pelo mundo afora.
Estas, caracterizadas mais por uma espiritualidade esotérica que aquelas, a ponto de Ricardo
Gondim Rodrigues, da Assembléia de Deus Betesda, escrever: “Urge mostrar que é possível
ser pentecostal sem ser esotérico” (2001; p. 02). Este clamor de Gondim (como o autor é mais
conhecido entre os evangélicos) vindica o grande analfabetismo teológico que paira sobre as
igrejas cristãs nestes tempos, o que é facilmente percebido no fato da energização por cristais;
o uso de sal grosso e de folha de arruda para se espantar “mau olhado”; banhos de descarrego,
como terapia cultual; uso de técnicas orientais xamanistas de mentalização e visualização como
sinônimo de fé conquistadora; e de outras práticas esotéricas decididamente não mais serem
exclusividade da quimbanda afro-brasileira, espiritualistas e de adeptos da Nova Era, mas por
se revelarem distintivos evangélicos que autenticam a fé que realiza em muitas igrejas. Aliás,
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a forte ênfase dada pelo Movimento Pentecostal a experiências místicas, como legitimação de
espiritualidade viva, mereceu dura e severa crítica de conservadores e tradicionais da época, que
acusavam os pentecostais de sofrerem da síndrome de corintianismo: a busca do carismático
fenomenal destituído de caráter.7 Hoje, porém, como pode se ver em Gondim, e se constatar em
Bill Burkett (1999), pentecostais clássicos, (notadamente da Assembléia de Deus) reprovam a
espiritualidade neopentecostal, que se mostrando avessa à exegese bíblica e à Teologia Sistemática,
permite a ignorância doutrinária entre os seus fiéis, abrindo espaço para toda sorte de heresias
e blasfêmias travestidas de pseuda evangelicalidade, as quais sutilmente sufocam a integridade da
Igreja cristã, desfigurando-lhe a identidade neotestamentária.
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Cf. GARDINER (1991), BRUNNER (1983) e ROMEIRO (1996) sobre maiores detalhes destas críticas.
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Maiores detalhes deste assunto nas obras de HORTON (1999), HUNT & McMAHON (1999), LOPES (2001),
RODRIGUES (1997, 1999 e 2001) e VIEIRA (1999).
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A busca contemporânea pelo sagrado, contudo, não se justifica só nesta base histórica,
em que o homem dando sinais de cansaço do secularismo materialista do Iluminismo, volta-se
ao místico. Há também uma justificativa profética, o que releva, e em muito, a importância da
presente tendência de busca religiosa do homem, pois segundo a escatologia bíblica, quando
do surgimento e reinado do Anticristo, prodígios e sinais espetaculares serão feitos pelo Falso
Profeta, os quais seduzirão a humanidade com grande poder místico e servirá de credencial para
a legitimação da adoração que se demandará ao Anticristo.
Então vi outra besta que saía da terra, com dois chifres como cordeiro, mas que falava como
dragão. Exercia toda a autoridade da primeira besta, cujo ferimento mortal havia sido curado.
E realizava grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu a terra, à vista dos homens.
Por causa dos sinais que lhe foi permitido realizar em nome da primeira besta, ela enganou
os habitantes da terra. Ordenou-lhes que fizessem uma imagem em honra à besta que fora
ferida pela espada e, contudo, viverá (Apocalipse 13:11-14 – NVI).
Assim, para que tais eventos apocalípticos se cumpram, faz-se necessário um ambiente
de intensa religiosidade na humanidade novamente. Isto é, impera-se ambiente de anseio pelo
sobrenatural e místico. Ambiente esse que perdeu força e espaço com o materialismo secular
do Iluminismo racionalista que influenciou as gerações do século XIX e a da primeira metade
do século XX. E a busca pelo sobrenatural como vemos hoje ocorrer no mundo, incluindo-se
a adoção de filosofias e práticas religiosas orientais em igrejas outrora fiéis e ortodoxas, sobretudo a
velha mentira satânica de que os homens são deuses, vindica que o ambiente místico-profético
anunciado pelo apóstolo vem sendo preparado, aguardando a ocasião de sua plena revelação.
Além das justificativas históricas e proféticas, há ainda uma justificativa teológica para
a nova busca do homem pelo sobrenatural, a qual se fundamenta no fato da espiritualidade ser
intrínseca ao homem, porque criado a imagem e a semelhança de Deus, sendo inerente ao ser
humano, portanto, o anseio de comunhão com o transcendental. E sendo o ser humano um ente cuja
afirmação se configura na comunhão pessoal com Deus, a espiritualidade humana, na perspectiva
cristã, tem fundamentação e desdobramentos no Deus-Trindade que se revelou ao homem na
criação, salvação e santificação (SCHWARZ; 1999). Assim, na tese cristã, espiritualidade não
desenvolvida pela relação pessoal com o Deus Trino equivale a beber água que não mata a sede,
como disse Jesus à mulher junto ao poço de Jacó (João 4:1-14). Só em Deus Pai, pelo Filho, e
no Espírito Santo a sede espiritual humana é totalmente satisfeita (João 7:37-39). Assim, como diz
Caio Fábio D’Araújo Filho, o debate da espiritualidade humana, “não se baseia na demonstração
ou não de sua existência, mas, sim, em como ela pode manifestar-se em plenitude, de forma
totalizante, ou seja, como poderá ela ser uma espiritualidade integral” (1994; p. 11-12).
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Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em
Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições
de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais.
Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo
como mundanos? (NVI).
Em virtude da ausência de uma espiritualidade autêntica na vida daquela igreja, ainda
que desfrutasse dos mais carismáticos dotes serviçais (1 Coríntios 1:7), é que o apóstolo lhes
mostrou o caminho sobremodo excelente: o caminho do amor, cuja prática conduz ao centro
da vontade de Deus (Mateus 22:37-40). E quando reportamos a nossa atenção para a igreja de
Jerusalém, notamos como a presença de uma espiritualidade contagiante, pautada no exercício
do amor-ágape que faltava em Corinto, foi decisiva para o impacto que aquela igreja causara.
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A maior reivindicação de objetividade da fé cristã está na ressurreição de Jesus Cristo como evento espaço-temporal
verídico e verificável historicamente. Tese levantada pelo apóstolo Paulo no primeiro século A.D. na sua carta de
1 Coríntios, capítulo 15, quanto hoje pelo apologista americano Josh McDowell em seus livros “As Evidências da
Ressurreição de Cristo” e “Evidência Que Exige Um Veredicto”, Volume I, ambos publicados em português pela
Editora Candeia, de São Paulo; obras que dão evidências fundamentadas à singularidade histórica de Jesus.
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Expressão grega que aponta para a interpenetração de amor e amizade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A
saber, a comunhão intratrinitária desfrutada pelas pessoas da Santíssima Trindade desde a eternidade dentro daquilo
que a Teologia Sistemática denomina de Trindade Ontológica ou Trindade Imanente, que diz respeito às relações de
Pai, Filho e Espírito Santo dentro do ser trinitário, onde um está no outro (João 14:9-11) e só se configura como Pessoa
na relação fraterna interdependente e de glória mútua um com o outro (João 5:17-26; 16:12-14). Mais detalhes sobre
este conceito, ver “A Trindade e a Sociedade”, de Leonardo Boff (5.ed.; Petrópolis; Editora Vozes; 1999; 296p.).
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Até mesmo o crescimento das seitas heréticas se baseia no vigor com que vivem a sua fé,
supondo que seja a única fé verdadeira, ainda que lhes faltem elementos objetivos e históricos que
garantam veracidade à demanda de singularidade e exclusividade. E quando uma igreja perde a
paixão que tem por Deus, pode ver Deus perder o prazer no que ela faz, tem ou é como igreja.
“Para que me oferecem tantos sacrifícios?”, pergunta o SENHOR. Para mim, chega
de holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos gordos. Não tenho nenhum
prazer no sangue de novilhos, de cordeiros e de bodes! Quando vocês vêm à minha
presença, quem lhes pediu que pusessem os pés em meus átrios? Parem de trazer
ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim...” (Isaías 1:11-13).
Eis o desnudamento dos sentimentos de Deus para com o tipo de espiritualidade vivida
por Israel. Que nos sirvam de lição Israel e as igrejas da Ásia (Eféso, Pérgamo, Sardes, Tiatira
e Laodicéia) mencionadas no livro do Apocalipse, que receberam repreensões de Deus quanto
à prática de uma espiritualidade não condigna ao Deus que celebravam.
Espiritualidade condigna a Deus é a espiritualidade do coração, e não a de rituais feitos
em alguma catedral. É a espiritualidade fundamentada na pericórese dos divinos Três: Pai, Filho
e Espírito Santo. Espiritualidade onde o amor é a medida de padrão; onde o serviço altruísta ao
outro é caminho sine qua non para a realização do ser pessoa. Espiritualidade ética, que sabe
os seus limites e respeita os limites do outro; que não se vale de manipulações para se vindicar;
e que cresce na prática da verdade porque esta garante a liberdade de ser, como disse Jesus:
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
BIBLIOGRAFIA
BRUNNER, Frederick Dale: Teologia do Espírito Santo; São Paulo; Vida Nova; 1983; 304p.
GARD NER, Jorge: A Catástrofe Corintiana; São Paulo; Editora Batista Regular; 1993; 63p.
LOPES, Augustus Nicodemus: O Que Você Precisa Saber Sobre Batalha Espiritual; São Paulo;
Cultura Cristã; 2001; 223p.
______________________: O Evangelho da Nova Era; São Paulo; Abba Press; 2001; 150p.
ROMEIRO, Paulo: Epidemia de Pastores Picaretas; entrevista a Revista Eclésia; Niterói; n.09
p. 6-10. jul. 1996
FIM